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www.simplybeing.co.uk © James Low 1 Ação relaxada e cuidadosa O coração dos ensinamentos dzogchen J AMES L OW W ILD HEART G ATHERING , E AST S USSEX , UK S EPTEMBER 2010 T RANSCRITO E E DITADO POR S ARAH A LLEN T RADUZIDO PARA O P ORTUGUÊS (B RASIL ) POR J OÃO V ALE N ETO You can also listen to a recording of this talk at http://soundcloud.com/simplybeing

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AçãorelaxadaecuidadosaOcoraçãodosensinamentosdzogchen

JAMES LOW

WILD HEART GATHERING, EAST SUSSEX, UK

SEPTEMBER 2010

TRANSCRITO E EDITADO POR SARAH ALLEN

TRADUZIDO PARA O PORTUGUÊS (BRASIL) POR JOÃO VALE NETO

Youcanalsolistentoarecordingofthistalkathttp://soundcloud.com/simplybeing

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Trechos:

Nãosomosoconteúdodasnosasmentesaindaquesejamosinseparaveisdoconteúdodanossamente.Oconteúdodanossamenteéexperiência,nãoéauto-definição,nãoéaessência.Assim,sevocêtevetemposdificeis,essestemposnãodefinemquemvocêé.Sevocêficoumeioloucoporumtempo,sesentiucolapsadoousemvaloreavidaperdeuosentido, você pode relaxar e ficar presente com o que está acontecendo: então issopassa...

Assim,émuitoimportantenãosesentirmuitonocomando.Amaiorpuniçãovocêquepode ternavidaésentir: “Sempre foiminharesponsabilidade”.Esseéum lugarmuitotriste e solitário.Na verdade, nossa vida é reveladapor estarmos comoutraspessoas.Nossavidavematénós,elanosédadaquandonósfazemosogestodesaudaçãoparaela.E em algunsmomentoshá felicidade e emoutrosmomentoshá tristezamas sempre éumarevelação;nãoéalgoquevocêpodesegurar.Esteérealmenteocoraçãobásicodosensinamentos dzogchen; que não há coisas, há apenasmomentos de uma experiênciaalém de toda captura que surge no campo aberto da consciência. E o quãomais nóspercebemos que estamos integrados na espacialidade aberta, mais os momentos sãoadequadoscomoelessão.

Abrir-nos e ver o que há é amais pura forma da fenomenologia. É permitir que omundopossaseroqueeleéenósmesmospossamosseroquesomos.Nóspodemosdizerqueesta éabaseprofundadanão-violência.Mesmoqueodesejodedesenvolver-noseaumentarnossasboasqualidadespareçaserumabelaintenção, istoé,naverdade,umlimitanteobscurantismo.Porquetodososmomentosemquenóstemosumaideiasobrecomo nós deveríamos ser e nós tentamos nos tornar essa ideia, o que nós estamosrealmentefazendoénosengajaremviolênciasobrecomonóssomosagora.Nósestamosdizendo:“Eunãosoubomosuficiente.Eudevoserdiferentedisso.Euseriabemmelhorseeupudesseseroutrapessoa.”Dessemodo,nossaesperançademelhoracomeçacomum ato de ataque contra nós mesmos, tentando transformar-nos sem mesmo ver anaturezadestequedesejasetransformar.Ahostilidadedestaatitudereinforçaanossaestruturadualistica:“Euestoutomandoumaposiçãocontramimpelomotivoderecriaramimmesmodeum jeitoqueeumesintomaisaprovação -minhaedosoutros.”Vocêpode ver como esse entrelaçado rapidamente se torna um pressuposto que seretroalimenta.Nóssomossimplesmentecomoumpequenoratoemumagaiolagirandoem uma roda de exerícios. Não há um fim para esse enredo porque sempre há novasideiassobrequemnósdeveriamosser.Destaforma,achaveérelaxarparaseabriresetornarpresenteconsigocomoseé.

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Nós estamos aqui, vivos – então simplesmesnte esteja presente a esta imediatapresençade lucidezqueéanossabaseaberta,o fundamentosemprepresentede todanossaexperiência.Simplesmenteestejaconsciente,estejanopresente:esseéofluxodaexperiência.Observecomoummovimento,umgestonoespaçoetempoéaexpressão,arevelaçãodapresençaquenãopodeseragarrada.Nossopotencialabertosemostradevárias formas, comonósmesmoseoutros, aindaquenenhumaaparênciadefinaquemnóssomos.

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Contents:

Introdução...............................................................................................Error!Bookmarknotdefined.

...............................................................................2Purificaçãoedesenvolvimentojáestãopresentes

Vivemosemumateiadehistórias......................................................................................................2

Comopodemosestarabertosatudooqueocorresemnossentirmossobrecarregados?...................3

Permanecendoinfinitoeaberto–nãoexistindocomoumacoisa...........Error!Bookmarknotdefined.

..............................8Apenasestejaverdadeiramentepresentecomomundoecomvocê–................

Oquechamamosdenósmesmoséummovimentodediálogo........................................................10

Três‘Aa’meditação..........................................................................................................................12

Reconhecendoaintegraçãoderepousoemovimento........................................................................12

Sabedoriaecompaixão:aestéticanaturaldaconectividade..................Error!Bookmarknotdefined.

Estandocomosingredientespuros......................................................................................................15

Perguntaserespostas.......................................................................................................................16

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Introdução

Nósagoravamosterumpoucodetempoparaencontrarumjeitoparticulardeolharparanóserevelarosentidodanaturezadanossaexistência.Euvoufalarsobreestanaturezadopontodevistadodzogchenqueéumaspectodobudismotibetano.Dzogchennãoestápreocupadocomelaborar estruturas particulares de crença ou prática formal mas muito mais ajudar adesconstruiroudeixariralgunsdosnóselimitaçõesemquenóspodemosternosfixado.

Todos temos algum tipo de agenda. Nós vivemos em ummundomuito comercial e em algumsentidotodosnósestamosvendendoalgumacoisa–basicamente,nósestamosdizendo:“Eusouumapessoalegal,vocêdeveriagostardemim”.Nóstentamosdesenvolverformasdefazerisso,acharonossonichodemercado–encontrar aquelesqueestãoconvencidosdequenóssomosbons.Detodaforma,issoenvolvedesenvolveralgo,estabelecerumpapel.Ditodeoutraforma:nósnos tornamos identificadoscomumaspectoparticulardanossapersonalidadeoudonossojeito de ser. Através desta identificação pode haver um incremento da nossa competência e,também, talvez, da nossa auto-estima e fluidez. Da mesma forma, acabamos por nos sentirrestritosporqueestamosidentificadoscomumaformaçãoouconexãomuitoparticular.Istoquerdizer, assim que nós tomamos uma forma, esta natureza da forma vai determinar aspossibilidadesdeconexãocomasoutrasformas.Assim,oquãomaisdensamenteformadosnóssomos–quefrequentementeéumaqualidadequenósdáconfiança–maisestreitaéaáreadeinteraçãoquetemosnomundo.Aoinvésdenosestreitar,ojeitodzogchendeolharavidasugerequenóspodemos relaxarenosabrirparaaexperiênciadeparticipardomaisamplocampodeencontrospossíveiscomoutraspessoas.Euireidesenvolveristoumpoucoedepoisnósiremosfazermeditação.

Purificaçãoedesenvolvimentojáestãopresentes

EugostariadecomeçarcomaideiadeBuda.Budanalínguatibetanaéexpressocomosanggye.Esta palavra é feito de dois termos sang significa “purificar” e gye significa “aumentar”. Nóspodemos entender de forma muito básica, achando que é sobre nós termos todo o tipo deproblemas, dificuldades, coisas que nós não gostamos sobre nós e então nós precisamos depurificação.Nóspodemostambémreconhecerqueexistemboasqualidadesquenósnãotemoseque gostaríamos de ter; então há o tópico sobre como nos desenvolvermos, talvez através decursos,workshopseporaívai.Essaéanossaposiçãoculturalmaiscomum.Noentanto,éclaro,há uma dificuldade porque não há um fim para o desenvolvimento. Há muitas pessoasinteressantes nomundo e nós as vemos e pensamos: “Oh, eu gostaria de ser um poucomaisassim”Ou“Oh,queinteressante,eununcaacheiqueeupoderiaaprenderisso”.Eentãoháalgocomoumaextensãonossa,seenvolvendocomalgumapossibilidadequepodenosserútilenoscompletar.

Noentanto,dopontodevistadodzogchenestesdoisaspectosdepurificaçãoedesenvolvimentojá estão presentes em nós. Acontence apenas é que nas nossas preocupações, na nossaidentificação com os pensamentos e ideias, nós não frequentemente reconhecemos nossasituaçãoverdadeira.Nóspodemosexploraristoemtermosdedoisaspectosconectados,repousoemovimento.Quandonósestamosapenassentadosconosco,nósnãoestamosnecessariamente“imóveis”; geralmente muita coisa está acontecendo, muito. Há sensações no corpo,pensamentos e sentimentos.Quemestá tendo esta experiência?Nós estamos.Quer dizer, nósestamosemrelaçãocomanossaexperiência,oquenospermitedizercoisascomo,“Euestouumpouco cansado” ou “Eu estou com fome” ou “Eu estou realmente interessado nisto”. Nós nospegamos fazendo comentários sobre a nossa experiência nos quais aquele que está tendo a

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experiênciaé tomadocomogarantido.“Eusoueu”,“Eusoueumesmo”.Esevocê jáviveuumpouco, esta noção de “sendo você mesmo” se desenvolve um tanto: você tem ummonte dememórias, você participou de tempos bons, tempos ruins, você viu portas se abrindo e depoisvocêasviusefechar.Logo,háumsensomuitofrequente,determosquenosproteger;que,nestemundo, algumas coisas são boas para nós e outras são mais perigosas. Nosso senso de “nósmesmos”éfrágilporque,pelarazãodeestarmosvivos,nóstemosqueestaremcontatocomasoutraspessoas. Tocaremover sãoaessência verdadeiradaexistênciamas,paranosproteger,nós queremos controlar o que nos toca e nós queremos controlar como nós podemos sermovimentados. Contudo, quantomais nós definimos a nósmesmos,muitomais limitados nósficamosnonossorepertórioderespostaspossíveis.

Umpontocentralaquiéexaminardequeformanosdefinimosparanósmesmose,atravésdisto,começaravercomoasoutraspessoasnosdefinem.Istoquerdizer,nósvivemosemumcírculoderetornonoqualaspessoasgostamdenósounãogostamdenós,estãochateadasconoscoounãoestão, e estas respostas dos outros não surgem de uma estado estável neles, e também nãogeram um estado estável em nós. Nosso senso de ‘nósmesmos’ e ‘outros’ flutuamomento amomentonamedidaemqueonossohumormudaeohumordosoutrosmuda.Émuitofácilsever pego em uma reatividade complexa para essas oscilações e pensar: “Oh, não, eu fiz issoerrado.Eudeveriatentarcommaisempenho;devehaverumaformamelhordefazerisso,umaformamelhordeserquemsou”.Comsorte,vocêvocêpodeverque issocriaumsensode“Eusouumtrabalhoemevolução.Eunãopossodescansar;sempretemalgomaisafazer”.Então,nocentrodanossaexistênciatemcomoumadesorganizaçãoquesenteumpoucodeansiedade:“Eudeveria sermaisconfiante.”Nósolhamosparao ladoevemosqueasoutraspessoasparecemconfiantes. Nós imaginamos que todas as pessoas arrumaram suas vidas e olhamos para nósmesmos e pensamos: “Oh, não, eu estou totalmente desorganizado”. O risco então é que nósfingimos estar mais organizados do que estamos, desenvolvendo uma persona, uma imagemsobrequemsomosnaqualesperamosquenós–eosoutros–acreditemosnela.Noentanto,issocriaumproblemafamiliar:umaimagem,umavezcolocadaali,vaisertantoumarestriçãoquantoumaformadedefesa.

Issonoslevaaopontofundamentalsobredequeformacomeçamosaestarpresenteconosconanossa verdadeira natureza, de forma que isso se revele de forma direta, nomomento vivo danossa experiência – não necessitando qualquer sistema elaborado do mundo externo, e,especialmente, nãoprecisandoqueninguémnos diga quem somos.Do tempoemque eramosjovens até agora, nós tivemos uma quantidade bem grande de pessoas dizendo quem nóseramos;dando-nosinformaçãosobreaformaçãodenósmesmos.Eissocriouatendênciaairmosparaumsensodeserdeumaformaespecífica,serumtipoparticulardepessoa -masqueméestequeestátendoestaexperiência?

Vivemosemumateiadehistórias

Aqui estamos nós, sentados juntos e estamos inspirando e expirando – nós estamos vivos.Presumivelmente vocês tem pensamentos, sentimentos e sensações neste exato momento.Queméestequeestáexperimentandopensamentos, sentimentose sensações?Normalmente,respondemos:“Soueu.Euseiqueestouvivoporquecoisasestãoacontecendocomigo.”Assim,ofatodequeeusintooimpactodascoisasquevemparadentrodemim,sobremime,paraforade mim, na direção do mundo, afirma a integridade da minha existência. No entanto, o quepodemosveréqueissoéapenasumanarrativa,umahistória.Euestouusandoalinguagemparafalar de mim mesmo sobre “quem eu sou” como se o “eu” existisse como um fenonêmenoarrogante – a primeira pessoa do singular: “Eu sou eu.” “Eu sou eu mesmo”. Embora essas

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afirmaçõesaparecemapontarnadireçãodealgumacoisaquerealmenteexiste,naverdadeelesestãocriandoailusãodealguma-coisa.

Por exemplo, se eu digo “Este é o meu relógio”, isto é uma afirmaçãomuito óbvia. Eu estousegurandonaminhamãoalgumacoisaaqualtodosnóspodemosreconhecer,porqueistoéumrelógio e nós já vimos relógios antes uma vez que eles são parte domundo. Nós tomamos aqualidade-do-relógioserrelógiocomogarantida.Noentanto,comoalinguagemseconectacomarealidade?Acoisanaminhamãoaparentasercapturadapelapalavra ‘relógio’. Istoquerdizer,quandoeudigo‘relógio’,apalavraaparentaterumarelaçãodiretacomistoqueestánaminhamão.Noentanto,aqualidadede ‘serrelógio’dorelógioéumconceitoculturalquepertenceanóssenóstivermossidoiniciadosnocultodesaberoquesãorelógios.Quandocriançastemdoisoutrêsanosdeidadeelessabemqueistoéumobjetobrilhantequedesejamcolocarnabocaoutalvezamarrarnacabeçaoubotarnocarrinhoesairdirigindo.Maistarde,quandotiveremseis,seteouoitoanosvãocomeçaraterumaideiadetempoeentãoelesvãocomeçaraaprenderacontarotempo.Assim,cadaumdessesestágioséumainiciaçãonaformadelerumfenômeno.Istoquerdizer,semumconceitode‘relógio’,oqueistopoderiaser?

Nósvivemosemumateiadelinguagem,umateiadehistórias;históriasasquaispodemsermuitobonitas,muito terríveis, amedrontadoras, depressivas, desencadeadoras de ansiedade e por aívai. E o nosso real senso de sermos quem somos, no seu movimento ordinário, é,predominantemente,umacriaçãolinguística.Issoquerdizer:“Eusouaquelequeéreveladopelashistórias que eu conto sobre mim, e pelas histórias que os outros contam sobre mim”. Nóssurgimoscomo‘nósmesmos´deacordocomasformaçõesparticularesdoentorno,e,aomesmotempo, esse movimento constituinte de palavras, pensamentos e sensações é experienciado.Estapresençanãoéapresençadealgumaoutracoisa,éexatamentequemnós somoseaindaque seja ‘impessoal’ nisso, não é definida por quaisquer aparerências momentâneas que nósacreditamos ser. Há uma atenção que, como um espelho, revela o que está surgindo. Porexemplo,quandonósacordamospelamanhã,escovamososdentesenosolhamosnoespelho.Oquevemos somosnós,oquenãovemoséoespelho. Issoquerdizer,nós vemoso reflexoeotomamos como sendo a verdade de quem somos. No entanto, a reflexividade do espelho, acapacidadedemostrarquemnóssomos,nãoédeterminadapelaimagemquehánele.Sefosseassim,quandoaprimeirapessoanoseu lar for seolhar,a facedele iria ficarpresanoespelho,então, a próxima pessoa que fosse ao banheiro iria ver o rosto de outra pessoa e não teriacondiçõesdeverasimesma.Averdadeiranaturezadoespelhoéqueelesepreencheasimesmoe se esvazia a simesmo, e ele faz isso porque nele não há nenhum conteúdo fixo. Em outraspalavras, isso é a vacuidade, ou a abertura do espelho que permitemostrar tantas diferentesimagens.

Como podemos estar abertos a tudo o que ocorre sem nos sentirmossobrecarregados?

Desde que nascemos cada um de nós tem sido muitas diferentes pessoas: felizes, tristes,expansivas, contraídas, cheias de alegria, cheias demedo e ansiedades, etc. Esses estados que‘nós’ fomos, com quem nós nos identificamos e que foram extremamente reais nomomento,foram contigentes. Isso quer dizer, eles surgiram em relação com as coisas que estavamacontecendo.Atéondepossomelembrar,nósnãotemosnenhumaessênciafinal,algumacoisaemnósquenãomudadeacordocomascircunstâncias.Euvimolhandoistoporumbomtempoenuncaencontrei,vocês tambémpodemolharparavocêsmesmosparasabersepodemachara“coisa”definitivasobrevocês,algocomoumaentidadequeperdurou.Noentanto,aausênciadeuma essência definitiva fixa é na verdade um potencial que revela nósmesmos, que se revela

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comonósmesmos,atravéscircunstâncias.Porexemplo:sevocêvaiaumlugardeencontrocomoesseevocênãoconheceninguém,vocêpodesesentirumpoucosozinho, tristeou intimidado,entãoumapessoaamigáveldiz,“Olá,bomdia!”evocêsubitamentesesenteumpoucomelhor.Vocêsenteocalordogestodeconexãoeoseutemperamentomuda.Estaéasuaexperiência?Comovocêestavaantes,quesensaçãoexatavocêteve,talvezvocêestivessepensando“ÓDeus,porqueeuvimparacá?”repentinamentemudaevocêsente,“Estátudobem”.Nestecaso,nóspodemos ver como a identificação momentânea com estados emocionais é a experiência emcurso de como nós nos sentimos no mundo com as outras pessoas. No entanto, se nós nostomamoscomoumpontofixo,entãovamosacabarnossentindocomoumarolhanasondasqueemergemeafundamdeacordocomoseventos.Assim,comonóspodemosestarabertosatudooqueocorre semnos sentirmos sobrecarregados, estressadosoudesgastados? Esse é umpontoimportantenavidamodernaquandohátantasdemandas, tantas formasdecomunicaçãovindoaténós,todootempo.

Do ponto de vista do dzogchen, o ponto principal é relaxar e se abrir. Isso significa deixar ir anossa tendência a se identificar demasiado, de concretizar, de reificar e de tomar comopermanente e real, experiências que na verdade são efêmeras. Você não pode agarrar omomento.Aquinósestamosjuntoseeucomeceiafalar.Euvoufalarumpoucomaiseentãoissoacabará e outra coisa irá começar. Nenhuma experiência de mudança pode ser congelada oubloqueada.Mais cedo vocês estavam dormindo, então acordaram, então foram ao banheiro eentão tomaram o café da manhã, agora vocês aqui e em breve vocês estarão fazendo outrascoisas.Issoéanossavida.Issoéumfluxocontinuodeexperiênciaquenãopodeseragarradoeéinfinitamentevariado.

Umarespostacomumaissoétentarimporumsensodeordem.“Eutenhodeestarnocontroleda ‘minha’ vida. Eu preciso perceber o que está acontecendo e se possível eu preciso fazer ascoisasdomeu jeito.”Entretanto, issogeramuitoestresseporque,é claro,nósnãoestamosnocomando da nossa existência. Além do mais, nós co-construímos nossas vidas com as outraspessoas;nossaexistênciamaisverdadeiraéparticipativaeparticipandodoqueestáacontecendo,nós nos revelamos a nós mesmos. Nós não existimos como coisa alguma antes de nosmanifestarmos.Nospodemospensar:“Sim,maseutenhomuitasmemórias,euseicomoaminhavida vem sendo e eu sei quem eu sou.” Todavia, isso é apenas uma ideia. Nós podemos fazerduplas e eu posso pedir a vocês para se apresentaram ao seu parceiro e vocês vão começar acontaralgumacoisaparaeles.Vocêspodem falarondevocêsnasceram,oquevocês fazemouque tipo de comida vocês comem. Isso quer dizer, vocês irão construir algum tipo de história.Vocêpodefazerissoporcincominutos,cincohorasoucincoanos,masvocêspodemperceberasinfinitashistóriasquevocêspodemcontarsobrevocêsmesmos?Mesmoquandoestãocontandoasuaverdadeirahistória,oprópriocontaréemsimesmoumanovaexperiência.Então,vocêvaiprecisarcomentarsobreessaexperiênciaquevocêestátendo,edepoisvaiprecisarcomentarocomentário e por aí vai.Nãoháum final para a contaçãodehistórias.Nãoháum final paraopensamento,paraasensaçãoouparaosentimento.Sãoondasincessantesdecoisasquevemevemevem.Logo,háumaformadeevitarseperdernisso?

Permancendoinfinitoeaberto–nãoexistindocomoumacoisa

Nós temosduaspossibilidades como sereshumanos.Umaéde sermospequenose aoutradesermosgrandes.Nóssabemosoqueéserpequeno;nóssofremosumapancadadavida,nósnossentimosesmagadosenóscomeçamosaencolher.Nósnossentimosumpoucoansiosos,nósnãoqueremosresponderotelefoneetalveznósnãoqueiramosabrirascartas;nemnoslevantardacama – tudo é tão pesado. Nessa experiência omundo parece sermuito,muito grande e nós

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somos pequenos; nós somos uma coisa e há ummonte de coisas ao nosso redor,mais dessascoisasdoquedemim,eessas coisas sealargamemminhadireção. Tudoestá vindoemnossadireçãoenóssóqueremosdizer,“Váembora.Deixe-meempaz.”Issoéumestadoterrívelparaseestar,dopontodevistabudistaessaformadeexperienciaroseventosexemplificaadailusãoprimário:aquenóssomosumacoisa,umacoisaentreoutrascoisas.Pareceóbvioqueeusoualgovulnerávelequeeuprecisomeprotegeremelhoraromeubenefício.Porcausadessacrença,nósestamossempretentandolançarforaascoisasruins,encontraroqueébomemnóseconseguirmaisdisso.Nóspassamosumtempoterríveldasnossasvidasfazendoisso,checando:“Istoébompara mim? Isso é ruim para mim? Eu gosto disto? Eu não gosto disto?” E isso segue, ummomentoapósooutro.

Mas o que é esse semesmo tão pequeno?Nós sentimos um pouco demedo. O que é estemedo?Éalgumacoisaqueestásurgindo.Elenãoestavaaquiantes,mas,devidoacircunstânciasecausasespecífica,snós ficamossubitamentecommedo.Nessemomento omedopareceserquem nós somos – mas nós não éramos isso antes. Isto é, nós nos perdemos no que estáacontecendodeformaquecadamomentoparecedefinirquemnóssomos.Logo,senósestamostendo um bom dia ou uma boa fase na nossa vida, na qual tudo flui, nós somos inclinados apensar,“Ei,nãoétãoruim”,eentãoascausasecondiçõesmudameavidaparecedifícilenóspensamos“Comoissopodeserpossível?Eufuifelizantes.Eufizmuitosworkshops.Eufizmuitayoga e meditação e eu continuo me sentindo um merda mais uma vez. Como isso pode serpossível?”Bem...Issoépossívelporquenãohánenhummuroentrenósmesmoseomundo.Nóssomospartedomundo.Ealgumasvezesomundoestásorrindoeoutrasnãoestá.Coisasterríveisacontecemnomundoe,senóssomoshumanosporcompleto,nósvamosnossentirafetadosporisso. A questão é: nós podemos permanecer abertos para nos sentir em movimeto e emmudança,queéoaspectodaparticipação,semnossentirmoslevadosnasmaisvariadasdireções,amercêdasexperiências?Respostaparaissoépermanecergrande.Oqueistoquerdizer?

Muitograndesignifica ilimitado, infinito.Significanãoexistir comoumacoisaque temcomeço,fim, um ápice e um fundo, que tem um formato único. Isso é bem diferente da forma comonormalmenteexperimentamosanósmesmos,aindaquenãosejanecessáriofazerqualquercoisaparaobterasvantagensdesseestado.Nossanaturezainfinitaestáaquiporelamesma,nãoéoresultado de quaisquer esforços nossos ou dos outros. Nós estamos aqui, vivos – entãosimplesmente esteja atento à esta imediata presença de lucidez que é a nossa base aberta, ofundamentosemprepresentedetodanossaexperiência.Simplesmenteestejaconsciente,estejanopresente:esseéofluxodaexperiência.Observecomoummovimento,umgestonoespaçoetempoéaexpressão,arevelaçãodapresençaquenãopodeseragarrada.Nossopotencialabertosemostra de várias formas, comonósmesmos e outros, ainda que nenhuma aparência definaquemnóssomos.

Noentanto,nossopequenoeuévunerávelaoserdefinidopelosoutros,e,defato,almejaumadefiniçãocomoumaformadeestabeleceridentidadde.Oegodesenvolveasimesmoatravésdeuma fusão com eventos chaves e por isso cria um sentido limitado de funcionalidade. Porexemplo, muitas crianças, de tempos em tempos, experienciam dificuldades na escola. Elespodem achar que algumas matérias são um pouco difícil para eles e isso é muitas vezessintetizadoemalgocomo‘eunãoposso’:“Eunãopossoestudarlinguasestrangeiras”,“Eunãoposso fazer matemática”, etc. Esta crença então atua como uma narrativa definitiva queinfluenciatodasasescolhasquesãosubsequentementefeitas.Senóscrescemosemumafamíliaondenãohaviamuitaternuraouafeto,entãodesolaçãoeabandonosetornamumterritórioquenos visita uma vez após a outra. Ou se nós tivemos bastante intrusão das outras pessoas etivemosquenosadaptaraestasdemandas,nostornamostãosubmissosqueédifícildesenvolverquem nós somos. Há muitas maneiras em que nós podemos perder o equilíbrio das nosas

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interações com outras pessoas e conosco porque nós esperamos um ponto específico doequilíbrio, uma certeza confiável, boa ou ruim. Entretanto, o ponto de equilíbrio é sempremutável no campo dinâmico da experiência. Nós perdemos o frescor da presença pormanterenrendos sobre nós que são limitantes e parciais. Contudo, uma vez que tais enredos sãohabituais, elesparecemestar expressandoalgumaverdadedefinitiva – eprofunda– sobrenósmesmos,e,porisso,nóstendemosanosagarraraelessemexaminarsesãorealmenteacuradosoumesmoutéis.

Assim,nóspodemostomarnossapresenteboasaúdecomoumagarantia.Aindaque,dentrodedenós,tenhamostodosostiposdesistemas incrivelmentecomplexosquepodemdarerrado-nóspodemosterumataquedocoração,desenvolvercancereporaívai.Nossoestadopresentepodesimplesmentemudar.Oquenós tomamoscomodefinitivamente ‘eusou isso’,ascrençasfixasquenoshabitam,nãosãoconfiáveis.Todosos tiposdeventos internoseexternospodemnos assoprar por aí, uma vez que nossa identidade não é uma essência mas uma forma emtransformaçãosemanifestandodentrodocampocausaledinâmicodasaparências.

Logo,qualéostatusdestespressupostosqueeucontoamimmesmosobrequemeusou?Elesrealmente definem uma essência? Ou eles são partes do processo em curso de criar sentido,partes com as quais nós nos tornamos particularmente identificados? Por exemplo, você podepensar:“Eunãogostomuitodemimmesmo,eeunãoachoqueoutraspessoas irãogostardemim”. Esta crença, esta identificação com conceitos, está propensa a nos tornar socialmenteansiosos. Nós vamos evitar oportunidades porque nós acreditamos que o resultado já estádeterminado.Porcausadapré-ocupaçãocomesteestado,nósprovavelmentenãovamoschecaroqueestáacontecendonomundo.Vocêrealmentenãosabeseaspessoasgostamdevocêounão porque você estámuito assustado para pergunta-las. Imaginando que elas não gostamdevocê,vocêcriaumabarreiradefensivadeprevenção.Araizdetodaessadolorosaedesnecessáriaatividadeéacrençadequeeusouumaentidadefixaejáconhecida.

Avisãododzogchensugerequesimplesmentepossamossoltaraidentificaçãoe,repousandoemrelaxamentotranquilo,vermosacriaçãodenósmesmos,momentoamomento.Sem interferir,simplesmente observamos todos os constituintes da nossa existência como eles surgem epassam.Noseufluxo,estesconstituintesconstroempadrõesparticulares,umpoucocomoumacriança girando um caleidoscópio. Algo está aqui e então...girando...passa a haver algo dediferente.Alémdisso, devidoaosnossos condicionamentos, paramuitosdenósnãohámuitaspartes constituintes; nós temos um repertório de movimentos que, em sua repetição,estabelecemnossapersonalidadepadrão.Quantomaisnósvemosofluxodinâmico-aoinvésdefixá-lo nas nossa crenças sólidas, passamos a perceber como, de acordo comas circunstâncias,diferentesaspectosdanossapersonalidadesurgemadiante-comoumasenovareformulaçãodonosso‘simesmo’viesseanascer.

Ao ver claramente, nós começamos a entender que nossa situação é dinâmica. Tudoo que eutomocomoeuecomomeumundoéestámudandonasuaimediatezfenomenológica.Conceitoscriama ilusãodacontinuidade.Cadamomentoépresenteaindaquenãopossaseragarrado.Oquequerqueeuacreditequecadamomentopossaserétransitórioecontingente.Assim,minhaexsitência não é alguma coisa dentro de mim que emerge para dentro do mundo.Verdadeiramente,eunãoseiquemeusouatéqueeumerevelonaatividade,eacadamomentoem que surjo, eu sou alguém novo. Isso é incrível porque revela o nosso potencial comoliberdade. Ao invés de procurar encontrar uma fórmula definitiva dentro de nósmesmos, nóscomeçamosaverquenóssomoschamadosaserpelassituaçõesqueparticipamos.Começamosaverquesomosrealmenteco-emergentescomooutro,queonosso“simesmo”éalgoqueépartedeumaco-existênciacomasoutraspessoas.Porexemplo,seaspessoassãocalorosasconosco,nós nos tornamos, manifestamos, num sentido correspondente, e se elas são frias, nós nos

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tornamosoutracoisa. Nãohánenhumafixaçãonanossamanifestação.Averdadeéquesomostãofacilmenteorientadospelapossibilidadedeinfluenciarosoutros,desesecomportardeumaformaqueexpliciteoaspectomaisabertoeconectadodooutro.Numaperspectivabudista,esteéoaspectodacompaixão,umaatitudequeaqueceomundoatravésdocontato.

Quando nos tomarmos mais abertos para as outras pessoas nos sentimos mais relaxados.Gradualmente, começamos a ter confiança que a vida pode ser mais fácil sem barreirasprotetivas.Seeumemovonasuadireçãoapenassevocêcabenomeumapadomundoentãoeu estou usando você para reafirmarminhas crenças. Seus hábitos confirmammeus hábitos ejuntosnósvivemosnumaamávelprisãoalcochoada.Podeserconfortávelporummomento,maséumafantasiaqueé restritivaenãovaidurar.Aqui,nesteevento,pessoaschegamnocampo,montamtendas,algoécriadoempoucosdias,eentão,acaba.Eesteéopadrãodanossavida,momento a momento. Nós montamos nossas tendas na manhã, desmontamos ao meio-dia eremontamos a tenda à tarde. Então, ao anoitecer, nósmontamos a tenda para dormir. Dessaforma nós vivemos em cada um desses pequenos ambientes como se eles fossem algo real, eentãoelessevão.

Apenasestejaverdadeiramentepresentecomomundoecomvocêmesmo

Então, quem é este que está tendo a experiência? Há muitos, muitos ensinamentos budistassobreissomasexperimentalmentenãoémuitodifícilperceber,umavezqueapráticaprincipaléapenasobservar anósmesmosemcadamomentoemquenos tornamosnósmesmos.Aquelequeestáobservando,porobservar,nãopodeterumaagenda.Nãopodeestarprocurandopor’algumacoisacasocontrárioeleapenasvaiacharoqueestáprocurando.Por isso,oobservadorprecisarealxar,deixarirtodasospressupostos,receberoqueestádianteeverclaramente.

Essa tarefamuito simplespode serespecialmentedifícil nonossomundomodernoporquenóstendemos a ser recompensados por estamos em atividade. Desde uma idademuito tenra nóssomosencorajadosaacreditarqueprecisamosmontarnossasvidascomofazedoresdecoisas.Aoentendermos o que está acontecendo e controlarmos isso, nós aperentamos validar a nósmesmos,fortalecernossaenergiaecriarsentido.Poroutrolado,essaatividade,umavezqueelaé intencional eopera comumquadrode referênciapre-existente, instalaum fechamento.Nósacreditamosestarnosabrindo,porquenóssabemosoquequeremos,masissoemsinosfecha.Porexemplo,sevocêsaiparacomprar farinhaquandovocêestá fazendoumboloevocêentraem uma loja, você não está interessado emmais nada. Émuito importante que você pegue afarinhaaindaqueoshoppingtenhamuitasoutraspossibilidades.Nomesmosentido,oquãomaisficamos ligados a um padrão particular, uma forma particular, a atenção seletiva quemantémesta fixação é tomada como algo garantido e é difícil de ser reconhecida. Portanto, a primeiracoisaéexplorarmosarelaçãoentrerelaxamentoeabertura.Épraticarrecebendoouvendooqueestá ali. Quantomais nós nosmantemos procurando uma sucessão de coisas particulares, nosbloqueamos para os incidentes do momento que podem parar-nos na nosso rastreio usual eliberar-nosdosnossosfardos.

Observaranósmesmoséadotaraposiçãodenãosabernada.Quantomaisvocêsabe,maisesseconhecimentovaideterminaraformaeparaondevocêvaiolhar.Logo,apráticaésimplesmenterelaxar e estar presente com o que está acontecendo. Assim, começamos a observar quãorapidamente nós nos fechamos, quão rapidamente somos pegos nestes nós, preconceitos epremissasquenosdãoumsensode‘éassimqueeusou’.Umavezquenóssomoshabituadosaacreditaremalgo;nósqueremoseprecisamosseralgo.Assim,procurandoparaonossosimesmoverdadeiro,procurandonossanaturezadeBuda,procurandoquemrealmentesomos,noscolocaemumabusca inútil.Querdizer:esta jáéotipodequestãoerradaporqueestáassumindoquenósvamossimplesmenteencontrarumaversãomelhordenósmesmos:“Vousereumesmosem

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ansiedade,semdepressão,sempreocupações.Euvousersimplesmentemais legal,umaversãomaisrelaxadademimmesmo”.

Comestepontodevista,nós tentamoseditaremelhorarnosso sensode ’simesmo’ existente.Tem tantas pessoas oferecendo workshops sobre sobre como editar nossa história, comointroduzir novos símbolos nela ou enriquecê-la com técnicas e habilidades. No entanto, nósprecisamos ser muito cuidadosos e ver como facilmente somos seduzidos, encantados ehipnotizados por enredos. Ao observar-nos livres, com uma abertura realmente livre deesperanças e medos, nós começamos a ver que a principal pessoa que nos trai somos nósmesmos.Porquequandonósestamosabertosparaveroquetemosdentro,naverdade,estamosprocurando alguma coisa em particular. Nós estamos procurando aprovação, procurando serbons, procurando terumaboahistóriapara contarparaaspessoas,procurandoprogredirnosestágiosdocaminhodemodoquepossamosserreconhecidospelasoutraspessoasevistoscomoum tipoespecial depessoa.Há tantosbecos semsaídanosmovendopara forado caminhodaabertura.Elestodostemamesmanatureza;procuramacharalgoquepodeserencontrado.

Abrir-noseveroqueháéamaispuraformadafenomenologia.Épermitirqueomundopossasero que ele é e nósmesmos possamos ser o que somos. Nós podemos dizer que esta é a baseprofunda da não-violência. Mesmo que o desejo de desenvolver-nos e aumentar nossas boasqualidadespareçaserumabelaintenção,istoé,naverdade,umlimitanteobscurantismo.Porquetodososmomentosemquenóstemosumaideiasobrecomonósdeveríamosserenóstentamosnos tornar essa ideia, o que nós estamos realmente fazendo é nos engajar em violência sobrecomo nós somos agora. Nós estamos dizendo: “Eu não sou bom o suficiente. Eu devo serdiferente disso. Eu seria bem melhor se eu pudesse ser outra pessoa.” Desse modo, nossaesperançademelhoracomeçacomumatodeataquecontranósmesmos,tentandotransformar-nos sem mesmo ver a natureza deste que deseja se transformar. A hostilidade desta atitudereinforçaanossaestruturadualistica:“Euestoutomandoumaposiçãocontramimmesmopelomotivoderecriaramimmesmodeumjeitoqueeumesintomaisaprovaçãodemimmesmoedosoutros.”Vocêpodevercomoesseentrelaçadorapidamentesetornaumpressupostoqueseretroalimenta.Nóssomossimplesmentecomoumpequenoratoemumagaiolagirandoemumarodadeexerícios.Nãoháumfimparaesseenredoporquesemprehánovas ideiassobrequemnósdeveriamosser.Destaforma,achaveérelaxareseabriresetornarpresenteconsigocomoseé.Assim,nossodesejoésemoverparaforadojulgamento,daaspiração,daintençãoeapenassercomoumespelho,abertoeclaro,revelandooquequerquehajaaliseminterferir.

Interferir,ouodesejopelopoder,adeterminaçãodefazerascoisasaconteceremnosentidodequenósesperamosqueelassejam,nãoéumaqualidaderuimmasprecisaseraplicadanolugarcorreto.Facasafiadassãomuitoúteisemumacozinha,masvocêrealmentenãoquerencontrarumadolescentebêbado segurandoumana rua, ànoite,porqueéo lugarerradoparaverumafacaafiada.Nomesmosentido,terumadeterminaçãopararealizaralgoédealgumaformaumamanifestação da nossa energia no mundo, e se isto estiver sintonizado através da nossaparticipaçãocomosoutros,podesermuitoútil.Noentanto,sevocêaplicaristoasimesmoparatentar determinar quem é você, tudo o que você consegue é transformar a si mesmo numaespéciedeargilaquevocêdescobreestarnoformatoerrado.Entãovocêestásecondenandoaseamassare a se comprimir infinitamenteparaquevocêpossamaisumavezentrarna formacorreta – mas a forma correta para que? O observador, a lucidez, a nossa própria presençaimediata,nãoéumacoisa.Éabasedamanifestaçãonaqualtudoquesurgeseilumina,aindaqueelamesmanuncasejaumaaparência.Paravermosanósmesmoséprecisosevercomoumserpuro, o qual é inseperável – ainda que nunca condicionado – da revelação incessante dessapureza,aquieagora.

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Nósvivemosemummundocomoutraspessoaseoquenóspodemosfazerédeterminadopelasnossasideiaseasideiasdosoutros.Oqueécertofazeraosvintenãoécorretoquandovocêtemquarenta,equandovocêtemsescenta,vocênãopodefazeroquevocêfaziaaosquarenta.Emcada estágio da vida nós funcionamos dentro de sistemas de expectativa.Mesmo quando nósresistimos às expectativas dos outros, nós continuamos agindo com limitações, definindopressupostos.Nósvivemosemumasociedadeondenósvamosterummontedepessoasidosas,eaindanóstemosumaqueculturadesdenhabastanteosidosos,naqualhámuitopoucosensosobreoquesignifica‘servelho’.Servelhosignificasaberprimeiroquevocênãoémaisnovo:“Eunãotenhomaisvinteeum,entãoeunãoposso fazeroqueaspessoasdevinteeumfazem.Obom tempo se foi...meu tempo passou...ocaso, aqui estou” Isso pode ser tomado como umadestituição insultante,umanegaçãode tudooquenós fomos,aindaquepossa serumconvitepara reconhecer as mudanças reais que ocorreram. A aparente continuidade de você mesmocomoumaessênciaúltimaéumailusãoquelevaao lutoquandovocêexperienciadessaforma:“Eunãopossomais fazeras coisasque eu fazia”. É como se aodizer “eu” a continuidadedasubstância é criada de forma que aquele que podia fazer e aquele que não pode mais fazerfossemamesmapessoa.Umavezqueopassadosefoi,quemnósfomosnãoexistemais.Oquenóssomosagoraé,aomesmotempo,aaberturalivredecondiçõesdanossaverdadeiranaturezaeaformaprecisadessamanifestação.Éanaturalintegraçãodessesdoisaspectosquesãoanossaliberdadebásicaenãoailusãodaliberdadeencaixadaemumalutaparamanterumaformacujotempopassou.

Cada forma é apenas o que ela é, uma ilusória e inalcancável manifestação que pode sermanipuladapeloegoemseuprocessodecontroleouaceitanaaberturadapresença.Cadasessãodavidaofereceessasduasopções.Aceitaçãoeparticipaçãocomoqueérealéabasedaprática.No envelhecimento, aceitação do nosso ciclo é liberdade. Há algo para se aprender em cadaestaçãodavida. Inesperadamente,avacuidadedoinvernosetornaaabundânciadoverãoque,inevitavelmente,setornamaisumavezavacuidadedoinverno.Apulsaçãoentreavoltaparaaformaeavoltaparaavacuidadeécontínua,comcadavoltailustrandoanaturezailusóriadecadaaspectodonossoenvelhecimento.Easecretaflutuaçãodosnossospensamentos,sentimentosesensações nãosãodomíniosseparados.Todasasmanifestaçõestemamesmabaseeamesmanatureza:naturezavaziacomoarco-írisnocéu,comomiragensdeverão,comoosreflexosdaluanaágua.

Outonoé sobre receber, é sobredeixar ir de formaquea terra receba as folhas eos frutos; ésobremergulhar de volta à origem. Relaxar a fixação na forma é também parte da prática demeditação,umvezquenósdeixamosparatrásafantasiadodomíniodoegodocrescimentosemfim da primaveira e do verão. O ego não pode nunca ter tudo: o quãomais ele se coloca emmovimento,maisele temoque fazer,umpoucocomoahistóriadoaprendizde feiticeiro. Nameditaçãonósnosmovemosemumciclodiferente,distantedodesejoegóicodeumverãosemfim e mais dentro da espacialidade do inverno. Este terreno é revelado pelo soltar e relaxar,esvaziandonossospressupostosedeixandoirtudooquesabemos.

Oquechamamosdenósmesmoséummovimentodediálogo

“Masquemeuvouserseeunãotivernada?”Bem, issoéoqueprecisamosdescobrir.“Maseunão quero investigar a mim mesmo, eu apenas quero ser quem eu acho que sou” Por quê?“Porque eu sei como fazer isso e porque eu sei que isso faz sentido.” Esse é o ponto em quedecidimospermanecernanossahabitualnarrativafamiliar,nossoenredo,oqual,maisumavez,éaconchegante. Issonãoé ruim,podeserútil,éapenas limitado.Nósnuncavamosexperienciarnossanaturezailimitadasenóscontinuamosnosindentificandocomoqueélimitado.Assim,há

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um tipo de confiança que se desenvolve em deixar ir a nossa forma para experimentar a nósmesmos sem forma, sem tamanho. Nessa qualidade sem forma, muitas formas podem surgir.Esseéoparadoxodequedonadatudopodesurgir,aindaquequandonósagarramosalgo,issocontinueescapando.Essaéarealidadedasnossasvidas;nãoumtipodeteoriaabstrata.

Porexemplo,vocêtevecincoanoseentãovocêfaziacoisasquevocêaosdezperdemsentido.Equandovocêtinhaquinze,ascoisasdosdezanostambémnãosãomaisfeitas.Cadaumdenóspassoupor isso:nós fomosmuitasdiferentespessoas. Issoéum fato.Agora, vocêpode somartodasessasexperiênciasjuntas,camadaporcamadacomoumaimensalasanha:“Estaéaminhavida,écomoelaé”oualguémpodepensar“Ondeestouvivo?...apenasaqui....apenasagoranestepontotransitóriode infinitadissolução.Estáacontecendomomento-a-momento.Algumacoisanovaestáacontecendoetudooquejáaconteceujásefoietudooqueaindanãosurgiuaindanãochegou”.Issoquerdizer,senóspermanecemosnaimediatezdaexperiênciaaoinvésdeficarelaborandoumanarrativa,nósvemosquetodosnóstemosessemomento.Atransitoriedadedetodasascoisasqueaconteceramnosajudamaverqueestemomentotambémvai,e,por isso,estemomentonãopodeseranossaessênciamaisverdadeira.Estemomentonãopodedefinirquem nós realmente somos, apenas podemostrar como, aqui e agora, nós, no contexto, nosrevelamos.

Nossamanifestaçãoéaexibiçãoeomovimentodanossaenergianomundocomosoutros.Masde onde ela vem?Você podedizer de deus, do karma, ou você podeolhar diretamente e ver:ondevocêsurge,momento-a-momento?Deondeessemundovem?VocêpodeestudarCharlesDarwinoupodeapenasestarpresentecomvocêmesmo.Tudoestáacontecendomasqualéabasedesseacontecer?Nósnãovemosessabasecontandohistóriasporqueelascobremabasenatentativaderevelá-la.Omundoécheiodehistóriassobredeondenósviemos.Todaculturatemumtipodemitodefundaçãoprimordialsobredeusesdescendodeumaescadaouumpedaçodebarro sendo respiradoeporaí vai.Mais localmentenós temosashistóriasdasnossas famílias;nossos pais e avôs. Através da terapia nós podemos ver como nossas personalidades sedesenvolveramdentrodeumamatrizfamiliar.Issopodeajudaragerarumahistóriaquenosdêmaisapoio.Mascontinuasendoumahistória.

Aquestão ,então,éolharparaestemomentoe seperguntar:deondeelevem?Porexemplo,agoraestoufalandoeaspalavrasestãosaindodemim.Nãoháumafábricadepalavrasdentrodemim;eunãotenhoumaespéciedepequenoscriptqueestoupuxandodaminhalínguacomoumtipodeectoplasma.Euestoufalandocomvocês.Aquieuestou,euolhoaoredor,euolhoparaassuasfaceseaspalavrassaemdaminhabocaedepoisdeumtempoelasvãoparar.Issoéoqueéserhumano.Deondeissovem?Issovemdanossaexistênciaconjunta.Aspalavrassótemsentidosevocêsestiveremaqui.Talvezeupossometornarumdessespregadores:eupossopegaromeucaixote, colocá-lo no campo junto das vacas e contar para elas as boas notícias e a palavrasagrada.Masissonãofariamuitosentido.Issoquerdizer:nósemergimosnassituações.Enóssópodemos fazer isso se estivermos abertos para a situação, não tendo nada para vender, nãotendoumaagenda.Éclaroquetemosmuitasmicro-agendaseelasfazempartedomixmaselaspodem limitar nossa intenção e disponibilidade. Ao nos abrirmos a todos os ingredientesdisponíveis,todososrecursosempotencial,nóspodemosrelaxarepermitiraco-emergênciadesie do outro como gestos temporários. Se nós começamos a nos abrir para a imediatez eimprevisibilidadedanossaco-emergênciacomoambiente,arealidadedanão-dualidadedesiedooutro,sujeitoeobjeto,entãonósnãoprecisamosmaistermedoporquenósvemosquenãoésempresobrenós.Realmente,asoutraspessoasnosdãooquenósprecisamos.Elasnosdãoumsorriso,umacenoouumacarafechadaenósestamosnaquelemomentocomelas.

Há umaenorme solidão em viver dentro de si.Nossa educação e cultura humanas geralmenteencorajam um tipo dementalização, um tipo de sentido de que nósmoramos dentro de nós,

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talvez,defato,dentrodasnossascabeçascomoummontedeideias:“Eutenhoumaexistênciamentaleeutenhoquedescobrircomosairdedentrodemimparaomundoondevocêsvivem–vocês estão realmente no mundo mas eu estou em mim”. Isso é o que a maioria de nósexperiencia:nósenxergamosforadosnossosolhos,nósescutamosforadosnossosouvidos,ondetudoestáacontecendo,comasensação:“comoeualcançoomundo?”

Isso, é claro, é uma ilusão. No budismo, isso é a ilusão fundante de acreditar numa dualidadeessencial entreo simesmoeomundo, sujeitoeobjeto. Emoutraspalavras, onosso sensode‘nós’foidespedaçadopelohábitodeignorarmosanossanaturezaeassumirmosumaseparaçãofundamentalentrenóseooutro.Issonoslevaaumapré-ocupaçãocomasnossasprópriasideias,nossaspróprias coisas ‘internas’.Na verdade,nósestamosnisso tudo juntos: nósnascemosnomundocomopartedomundo,nósestamossempreparticipandonaexistênciacomosoutros.E,porisso,somoscriadosnapresençadosoutros,incluindooquenóstomamosparadentrodenósmesmos – nossos pensamentos, sensações, sentimentos e por aí vai. Se você sair para umacaminhadanobosque, coisas vão surgir, internamente,maselas surgemem relaçãoa algo.Háalgumahistóriasobreistoesobreaquilo,ecertossentimentossurgem.Emoutraspalavras:vocêestáeminteração,vocênãotemum‘simesmo’singular.Oquenóschamamos‘nósmesmos’éummovimentodediálogo,ummovimentodeenergia‘saindo’edeenergia‘entrando’.

Três‘Aa’meditação

Eu agora irei mostrar uma forma muito simples de meditar que pode exemplificar o que nósestamos conversando. A função da prática é integrar repouso e movimento, e porque nóstendemos a ser pegos no movimento um monte de vezes, neste exercício nós tendemos aprivilegiarorepouso. Issonãosignificaqueameditaçãoépredominantementesobreumretiroou um recolhimento; é mais sobre explorar o lugar ou o ponto desde onde você tem aexperiência.

Nocomeço,nóssentamosdeformacalma,masdepoisdeumtemponóspodemoscontinuarapráticanonossomovimentonatural,participandonoquerqueestejaacontecendo:conversando,comendo,etc.Apráticanãoésobrefazeralgumacoisadediferenteesimdespertarasuapróprianatureza.Todoopontodestapráticaénão fazerqualquercoisadeartificial;e simencontraropontodeaberturarelaxadaquepermitetudooquesurgeocorrerseminterferência.Comoquequerqueassome,incluindotudoaquiloquevocêpensaservocê,deixesercomoé.

Vocêpondetentaristocomosseusolhosfechadosouabertos.Geralmente,nósfazemoscomonossoolharmirandooespaçoàfrente.Sevocêfecharosseusolhos,issopodedaraimpressãodeexistir,comosehouvesse,dentrodevocê,algocomo‘issoéoquerealmentesou’.Noentanto,oqueeuestoutentandopartilharcomvocêséqueoquesomosétudoissojunto.Tudooqueestáocorrendo momento-a-momento está acontecendo de uma vez. Por isso, nesta tradição, nósfazemosapráticacomoolharaberto.Nósnãoestamosfixadosemnada,masonossoolharestágentilmenteposicionadoaumaboadistânciaànossafrente.Nósnosacomodamosnoespaçodeformaquenãoficamosdispersosnemcomavisãoembaçada.Nósestamosapenasrelaxadoseabertos.Eentão,parasoltarastensõeseasformasatravésdasquaisnósnosidentificamoscompensamentosesensações,nósapenasfazemosumsimplessom,normalmentefazendoosom‘Aa’.Vocêpodefazerissoatravésdasuaprópriaexpiração,deformasilenciosa,sevocêestivernotrabalho,masaquinóspodemosfazerosomdo‘Aa’trêsvezes.

‘Aa’na tradiçãorepresentaabertura,anaturezadamenteeabasede todososbudas.Essesom libera tudo sem estabelecer nada no lugar. ‘Aa’ como um som é considerado a base de

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todososoutrossons.Nosalfabetossânscritoetibetanotodasasconsoantestomamo‘Aa’comosuavogaleentãoháumacompreensãodequetodasaspalavraseconstruçõessurgemdela.Dessa forma, ‘Aa’, é o ponto de elaboração de toda linguagem, todas as palavras, todos osnomes,mastambémopontoondeelespodemcolapsardentrodosilêncio.Eé istoquenósfazemos quando pronunciamos ‘Aa’; nós permitimos todas as nossas construçõesdissolverem-se na vacuidade. Todas as entidades do mundo, incluindo nós mesmo, sãosustentadospelanossaatividademental.Naverdade,elassãovaziasdeexistênciaintrinsca;elasnão temumaessência internadefinitiva. Quandoamenteestáemrepousoháapenasespaçoeclaridade.Estavacuidadeabertaéoinfinitoatravésdoqual,deformacontínua,todoomovimento,todaaexperiênciaestájáintegrada.

Depoisquenós fizemososomdo ‘Aa’nósapenassentamosdeuma formaaberta, relaxadacomoquequerquesurja.Seissoseassemelhacomoosseuspensamentoshabituais,apenasseabra,nãomergulhedentrodeleseossigaporqueistojáéumaatividade.Otantoquantopossível, permita que o que surja venha e vá. Isso inclui tudo o que emerge dos nossossentidos, e todos os pensamentos, sensações, sentimentos. O ponto chave é observarpensamento como pensamento. Se um pensamento alcança você, por exemplo, se vocêrepentinamente toma consciência da parede e você entra nos pensamentos que surgemsobreisso,elesvãolevarvocêparaumapequenajornada,semrealmenteiraqualquerlugar.Tãologovocê reconheçaque issoaconteceu,apenasestejapresente como fatoealgumespaço jásurge. Nós entramos em mundos criados pela justaposição de pensamentos, sensações,sentimentosepercepções,ecadaumdessesmundos, transitóriosecativantes,estãoemfluxo.Assim,nãoéquenósaquiestamosaesvaziaramente:amentevaziajáestáconstanementeseesvaziando e constantemente se preechendo. Sem resistir a padronização, sem tentar manterumadireçãoparticular,apenassentamoscomtranquilidadepermitindonossaexperiênciaserdaformacomoelapodeser.Vamosexperimentar istoporumcurtoperíodode tempo, talvezdezminutosoualgoparecido.

Reconhecendoaintegraçãoderepousoemovimento

Ao praticar desta forma, nós não estamos tentando encaixar a mente em qualquer direçãoparticular. Por exemplo, se você fazmeditação shamata ou vipassana, acalmando amente oudesenvolvendoinsightnosurgimentoenaliberaçãodaexperiência,háumaintençãoparticular,na qual você está tentando fazer algo: se tornar mais calmo ou mais lúcido. No entanto, adificuldadecomaintenção,comoeuhaviaindicadoanteriormente,éofatodequeháumtipodeformataçãoqueocorre:alguémestáformatandoasimesmonadireçãodealgo.A‘boa’ideiasetornaummodelonoqualtentamosnosforçaraumalinhamento.Amaioriadenósviveemumacomplexidade de demandas diárias cheias de imprevistos. Nós não estamos vivendo em ummonastério onde podemos sentar por muitas horas em um dia de forma particularmenteritualizada. Nós precisamos estar em interação com outras pessoas com toda a suaimprevisiblidade. Dessa forma,senósprivilegiamos umtipodecalmaqueéapenasalcançadapornóssepararmosdoqueestáacontecendo,nósvamosacharomundoumtantoproblemático.E, é claro, muitas pessoas que vão em retiros demeditação experienciam isso. Enquanto elesestão no retiro: tudo é calmo e claro, mas quando elees retornam ao mundo se sentempertubados, de fato, talvez derrotados, porque, comparado com a pureza do espaço sagrado,tudoaparentaestarcontaminado.

Detodaforma,amenteelamesmanãopodesercontaminada.Aconsciêncianãoépoluídaporqualquercoisaqueocorre.Comoumespelho,elanãoficafelizsealgofeiooubonitoécolocadodiante dela. O que quer que assome na consciência apenas surje através dela. Ela não deixanenhumtraço.Noentanto,oquesurgeemnóscomouma‘pessoa’temumimpactoedeixaumtraço.Logo,opontovitaléveradiferençaentreanossaconsciênciaparticipativa,issoquerdizer,

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a forma como processamos nossa experiência, e a consciência de base que revela estaexperiência.Serhumanoéserfelizetriste,eporaívai,seriatrágiconãoteressaexpeiência.Sevocêforparaolugarsagrado,vocêpodeveraspessoassagradassendosagradaseoqueelasteméuma‘vidasagrada’.Estaéaescolhadelas,quetemvantagensedesvantangens.Masvocêpodeaindaterumavidaordinária:vocêpodevertelevisão,comerumapizza,ouvocêpodecorrerporaí e causar um pouco de caos. O ponto central é ver a verdadeira natureza do que estáacontecendo.Sevocêébom,sevocêémal,qualéarealqualidadedisto?Issoéaatividade.Issoéomovimento.Nossa atividademostra nossa energia, nossomovimento– ela não define quemnós‘realmente’somos.Istoéporquenossabase,nossafonte,nossoser,nossa‘essência’,éumaaberturanão-nascidaequenãopodeseragarrada. Nossomovimentoé importanteapenasnoquedizrespeitoaonossoimpactonosoutros.Elenãoestabelecenadaalémdomomentodesuaatuação.Tentarfazeramentenãosemover,comoseamentefosseentendidacomosendoumcomposto,asomade‘tudooqueeusou’,éimpossível,ridículo.Noentanto,muitastécnicasdemeditação buscam esse objetivo. Uma vez que a mente como consciência de base é semprecalma,amentecomomanifestação–pensamento,sensação,sentimento,experiência–sempreestásemovendo.

Movimento é a qualidade da compaixão; nós vamos na direção domundo e omundo vemnanossadireção.Nósexperienciamossempremundoenósmesmossimultaneamente.Masqueméoexperienciadordofluxodestacompaixão?Éamenteelamesma,comoumespelho.Oespelhonuncamudamasanossaformaçãonomundocomosoutrosestámudandotodootempo.Destaforma,tentarpararnossospensamentos,paratentarfazercomquesejamovelhasdomesticadas,indoumaatrásdaoutra,éumapráticaquerequerumaimensaquantidadedeesforçoequenãovai nos levar a lugar algum. Isto é porqueela sópode sermantida por um tempo sob certascondições,equandoascondiçõesmudam,tudomuda.Émuitolibertadorverissodessaforma.

Háum conceitonobudismo chamadooriginação co-dependente, o que significa, simplemente,‘na base disto, aquilo surge’: ‘este evento’ e ‘aquele evento’ estão sempre ligados juntos. ‘Simesmo’ e ‘outros’ não sãodoismundos separados. Por exemplo, aspessoasnos insutal enossentimosraivososouchateados.Ouaspessoassãodocesconoscoenósnossentimosaquecidose conectados; isto é como isso funciona. Estas são as pulsações da vida. É como uma ponteflutante. Assim que você coloca o sue pé em um lado, outro lado semove. É constantementedestaforma.Aideiadequevocêpodeestabilizá-laéimpossível:pontesflutuantessemovem,éoqueelasfazem.Atotalidadedaexistênciaéumcampointerativo–nadasemantémseparadoousozinho.

Destaforma,reconhecermovimentocomomovimentopermite-nosveradiferençaentrerepousoemovimento, e tambémverqueosdois estão integrados,queeles são inseparáveis. Eles sãodiferentesmas são realmente inseparáveis. Se você tentar fazer comque o lado que está emrepousoentreemmovimento, issonãovaiacontecer.Esevocêtentar fazercomoqueo ladoque semovimento que fique em repouso, isso também não vai acontecer. Então, ter clarezasobreadiferençaentrerepousoemovimentoémuitoimportante.

Assim,quandonóssentamos,movimentoestáacontecendo,eissoestábem.Nósnãoprecisamosbloquearisto.Oquenóscomeçamosaversãoosdiferentesníveisdomovimento.Porexemplo,umpensamento surgee entãonós temosuma reação a ele. Se gostamosdopensamento, nósqueremossegurá-loemergulhamosdentrodele. Vamoseentramosemumapequenahistóriaporumtempo.Esenósnãogostamosdele,ouachamosquenósnãodeveríamospensarsobreele, tentamos empurrá-lo embora e nos desidentificarmos comele. Essas reações também sãomovimento. Este é um movimento de edição: auto-definir aspectos da nossa exisência não éerrado, apenas um pouco desnecessário, uma vez que está baseado na ideia de que: ‘eu souaquelequevaideterminaroquevaiacontecercomigo’. ‘Eusouaquelequeestánocomando’–

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issoaparentesernatural,comosefosseverdade.Aindaquesejaapenasmaisummovimentosemexistênciaoulugarfixoparaseestabelecer.Nãoháum‘eu’defintivoqueestánocomandodasuavida, um ‘eu’, que pode forçar o que está acontecendo. Isso é ainda mais claro se você tivercrianças,umavezquesuavidanuncamaisvaisersuanovamente;vocêvai terquesemoverotempo tododeumcantoparaooutro.Participar significa serpartedealgoe isso signfiicanãoestarnocomandodesdeumpontodesuperioridade,mastambémnãosersubjugado.Participarsignificar ser juntodoque surge. Se vocêestánumaconfusão, vocêestá semovendo comela,comopartedela.Estaéanaturezadomovimento.

Sabedoriaecompaixão:anaturezaestéticadaconectividade

Necessitardemovimentoparaestarcalmoeemordeméumtipodeinsanidade.Aoinvésdisso,nós podemos simplesmente permitir aomovimento surgir na suaprópria condição, de formaquenóspossamosexperimentarasuabelezaefemêra.Assim,oprincípiodeorganizaçãonãoéocontrole mas a nossa apreciação estética. Posições fixas e crenças sólidas são um tpo deanestesia, elas nos colocam para dormir e nos ninam com sonhos do poder do ego e doconhecimento. Despertar é retornar para o estético, para a imanência dos sentidos, para ariqueza da experiência. Estar aberto ao que surge, revela umnovo senso de beleza, não comouma qualidade que está presente ou não em um objeto, mas ummodo de ser, a riqueza doengajamentocomocamponão-editado.Natradição,istoédescritocomosambogakaya,ocorpoouesferadafruiçãodetudo.

Umavezqueonossomedodomundodiminui,nóspodemosnosabrirparaumaatençãomaissintonizada com a forma que as pessoas são. Essa atenção nos pemite ser mais precisos,requintados na nossa relação com os outros. Então, nós estamosmais tendo que empurrá-losparadentrooupuxá-losparafora-deacordocomonossomapadecomoascoisasdevemser.Nósaceitamosqueasoutraspessoaspossamserquemelassãoepodemostrabalharcom isto.Entãoaquestão:“Comovousercomeles?”setornacriativa,abrindo-nosummomentoapósooutroparaonossoinfinitopotencial.Se,noentanto,nosfixamosaumrepertóriomuitoestreitodemovimentos, então vai haver ummomento em que pessoas que nós não queremos estarjuntovãosurgirenósnãopodemosimpressioná-lascomasnossascoisas:“Eunãopossodaromeu show porque eles não tocam o meu tom”. Esta é a limitação comum de estarmosidentificadoscomoquenóstomamoscomosendoafixaçãodanossapersonalidade.

Atarefaaquiévivernaatualidadevibranteondesabedoriaecompaixãoestãounidas.Napráticadosentar,quãomaisnóspermitimosasfronteirasselvagensdanossamenteserevelerem,maiscomeçamosavercomosomosestranhoseaverotipodecoisasesquisitasquesemovimentamdentrodenós.Quandonãonosassustamoscomisso,aaceitaçãonosafrouxa,deformaquenósestamos mais habilitados para fazer movimentos diferentes com as outras pessoas. Nóscomeçamosentãoasermoscapazesdeencontraraspessoascomoelassão,eresponderapartirdasituaçãocomoelaé.Porexemplo,sevocêvaisaircomascrianças,vocêfazoqueascriançasprecisamquevocêfaça.Então,sevocêfalacomadultosoucompessoasmaisvelhas,asuaformade sermuda. Você fala de uma forma diferente compessoas raivosas e também compessoastristes.Issosignifica,cadaumadessasinteraçõesnospermiteiralém,nospermitesemanifestardentrodasituaçãocomumasintonizaçãoadequadaquenãoéumatodevontademassimumaestéticanaturaldeconectividade.Nãoéalgoquevocêtemquefazermassimumfluxotranquilodeemergênciaqueserevelaquandovocêsecolocanadireçãodele.Enósfazemosaosoltarmostoda a intenção, planos e opiniões que são a nossa forma habitual de operar, e confiar que anossapresençaabertanomomentovaisersuficiente.

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Assim,quãomaisrelaxadosnóssomos,maistranquilidade,maisbemsintonizadosnostornamos.Equãomaismaisdificilnóstentamoscoisasdificieis,maisnósdesenvolvemeosagendasparanósmesmosquecriamumtipodevenda.Issotrazumestreitamentoqueumavezapósoutrainstalaumdesejodepoder,umdesejodecontrole,deterascoisasnosnossostermos.Detodaforma,quantomaisnósvemosanossaabertura,menostemosasensaçãodos‘nossostermos’-avidaécomoelaé.Sevocêsaietemumpiqueniquecomascriançasvocêfazoquetodosqueremquevocêfaça.Algumasvezesvocêfazdoseu jeitoeoutrasvezeselasfazemdojeitodelas:éassimqueacontece.Éumapulsação,nãoé?Nãoéumatentadocontraaauto-abnegação.Epartedistoésaberquandofazerdoseujeitoequandodeixarasoutraspessoasfazeremdojeitodelas.Detoda forma, não há um livro de regras que irão nosmostrar como fazer isso, isso vem da suabarriga,vemdeestarconectado.

Porexemplo, sevocêestá estáemumgrupoevocêestá falando, comovocê sabeo ritmodesaber quando usar a palavra? Muito frequentemente se as pessoas estão em suas própriascabeças,elasestãotãopre-ocupadascomoqueelasqueremdizerqueelasinterrompemoutraspessoaseentãoganhamumareaçãonegativa.Então,podemosdizer:“Ok,opontoéqueestoutentandofalarmasvocêsnãoestãoprestandoatenção”“Nósvamosescutarvocêmastambémtem outras pessoas falando”. “Sei, sempre é assim!”. E sempre vai ser assim se nós nãoconseguimos encontrar a porta, achar o momento. Achar o momento, estar na pulsação, noritmo,issosurgequandonãoestamosnosimpondo.Eháumaverdadebásicanisso:adequeháespaçoparatodos,vaihavertempoparatodomundosenóssabemosesperaronossomomento.

Quandonós perdemoso ritmoe nos envolvemos emauto-preocupação surge frequentementeumaurgênciaqueéumtipodeansiedade:“Eparamim?Euvouteroquepreciso?”Noentanto,oquãomaisnósrelaxamosenosabrimos,maisnósvemosqueaquelequeprecisadealgoéumsurgimento temporário. Por exemplo, quando você acorda demanhã e precisa ir no banheiro.Você então vai no banheiro e você não precisa ir novamente, durante um tempo. Foi precisoapenasali.Noentanto,quandovocêprecisa,éumaboaideiairnobanheiro.Issoquerdizer:háum imediatismonomundomas não há uma verdade nisso. Isso não estabelece nada. Amaiorparte das coisas que fazemos não estabelece nada. Se você tem filhos, eles estãomudando ecrescendoevocêestámudandoecrescendoeéissoéassim.Issoduraalgunsanosedepoiselesvãoembora–éassimqueé.Issotudoésobreoquê?Nãoésobrenada:nãohánenhumpacoteparalevarcomosrestosdarefeiçãonorestaurante,nãohánadaparalevarparacasaaofinaldaexperiência.Tudooquevocêtevefoisabersevocêestavealiounão,porquesevocêesteveali,entãovocêviveuaquilo.Sevocêestevealicomelesquandoeleserammuitopequenosvocêpôdeacompanharisso,esevocêosacompanhounasoutrasfases,foi issoquevocêconseguiu–esevocênãoesteve,vocênãoviveuisso.

Estandocomosingredientespuros

Avidanãoéuma teoria,nãoestábaseadaemconceitos.É sobreogosto,é sobreos sentidos.Entãooqueéissoquenospermiteestaramaiorpartedotemponesseestado?Nãoéoesforço,nem a ansiedade, não é forçando e sim encontrando nós mesmos onde nós estamos, que é‘dentrodaexperiência’. E o valor de cadamomento, ‘comoele é’, é reveladoquandoestamosnele,nãofazendodelealgoespecial.Especialéumapalavramuitoinfelizporqueestárelacionadaanãoserespecial.Dessemodo,sevocêsemovenadireçãoddomundocomumacategorização,com um princípio organizador que é um valor de atribuição, o que você vai fazer é ficaprocurandopelascoisasquetemessevalorparticular.Aqui,opontoéaprenderaestarcomascoisastaisquaiselassãoecomoelassão,comoseucorpocomoeleé,suasaúdecomoelaé,suasemoçõescomoelassão–apenasestandoabertoparaisso.

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Assim, se você está depremido você pode se sentir assim “Mas eu não quero me sentirdeprimido.” Bom, o fato de não querer se sentir deprimido não pára a depressão.Não quererestardeprimidofazcomquevocêtomealgunsantidepressivosmasissonãomudaaestruturadasua depressão. Se você está depremido, você pode deixar isso ter o seu lugar. O que é adepressão?Éalgoquesemovenoespaçoenotempo.Éumânimo.Esevocêestiverpresentecomissovocêpodeexperimentá-lacomomovimento.Massevocêtentarseseparardela,elasetornaalgoquetempodersobrevocê.Elasetornaumimpedimento,umfardo,evocêsesenteoprimido por ‘isso’. No entanto, ‘isso’ é ‘você’, quando você se sente deprimido. Então isso écomo eu sou. O que é isso? Se nós simplesmente estivermos presentes com abertura esimplicidadeparaopontodarestrição,vamosverqueaformasemoveemudaenquantoaquelequeestápresente–umavez relaxado,abertoe livredequestõespessoais,permanececomoaconsciência que não pode ser agarrada. O mesmo se aplica quando você está feliz. Para seperguntar:“oqueéfelicidade?”nãosignificaterqueescreverumensaiosobreissoumavezqueelasemostraquandooferecemosumahospitalidadedenão-identificação.

Retornandoa imagemdoespelho, ele é completamento aberto aoquequerque surja.Nãoélimitadoouenviesado,nuncadiz:“Euestoufartodisto”.Alémdomais,tudoiráporsimesmo.Oensinamentobásico doBuda, omais básico e talvez omais profundo, é sobre impermanência.Issoquerdizer:oquequerquesurjatambémestáindo.Quernóspensemosnaexperiênciacomoexterna ou interna, ela estámudando. E porque cada experiência está sempremudando, cadamomentoéinalcançável.Porissoagarrar-seaalgonãoémuitoútil.Issoémeioóbvio.Poroutrolado,nóspassamostantotempodasnossasvidastentandomoldareventoscomoumaformadeapropriação,tentandoconseguiroquenósqueremos.Claroqueprecisamosformatarcoisas.Sevocêvaicozinharumapizza,vocêprecisaformatá-la.Sevocêvaicozinharumbolo,vocêprecisadimensioná-lo.Sevocêvaifalarcomascriançaseajudá-lasafazerodeverdecasa,vocêprecisacalcularotempo.Nãoéodimensionamentoqueéerradonelemesmo,umavezquedimensionaré uma forma dinâmica de interação como campo que habitamos. No entanto, se nós usamosnossahabilidadeparainfluenciaroqueestáacontecendocomoummétododegerar‘meusensodequemeusou’entãonósnostornamosdominados.Aonosfocarmosnanossaagenda,nossaatitudesetornaauto-referenteetudoestáemjogoacadamomento.Écomofazeramanteigasairdavaca:avacadáavocêleite,eentãovocêprecisafazeralgocomoleiteparaquepossatermanteiga.Emoutraspalavras:sevocêquerconstruirumagrandeteoriasobrevocê,podefazê-lomasouniversonãovaifazerissodieretamente.Ouniversodáavocêingrediantespuros.

Sevocêpermanececomosingredientespurosdaexperiênciaimediata,infinitaspossibilidadesseabrem.Noentanto, se vocêestá sempre tentandoaplicar a suaprópria receitaparaquaisqueringredientes que ocorram, sua dieta vai se tornar muito limitada e poucas pessoas vão tercondiçõesdecomercomvocê.Quandonósretraímosenos tornamosrigidos,decepçãonosdáuma pertubarção, mas quando nós relaxamos, a decepção é apenas ummomento transitóriosem nenhum aspecto fundamental. Bons tempos vem e vão e tempos dificeis vem e vão. Afelicidadevemeosofrimentotambém.Cadamomentopossívelestáassentadonoirevirdofluxoda experiência. Não somos o conteúdo das nosas mentes ainda que sejamos inseparaveis doconteúdodanossamente.Oconteúdodanossamenteéexperiência,nãoéauto-definição,nãoéaessência.Assim,sevocêtevetemposdificeis,essestemposnãodefinemquemvocêé.Sevocêficoumeio loucoporumtempoousesentiucolapsadoousemvaloreavidaperdeuosentido,vocêpode relaxare ficarpresente comoqueestáacontecendo: isso tudovaipassarenãovaificarnada.

Assim,émuito importantenãosesentirmuitonocomando.Amaiorpuniçãovocêpodeternavidaésesentir:“Semprefoiminharesponsabilidade”.Esseéumlugarmuitotristeesolitário.Naverdade,nossavidaéreveladoporestarmoscomoutraspessoas.Nossavidavematénós,elanos

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édadaquandonósfazemosogestodesaudaçãoparaela.Eemalgunsmomentosháfelicidadeeemoutrosmomentoshátristezamassempreéumarevelação;nãoéalgoquevocêpodesegurar.Este é realmente o coração básico dos ensinaemtnos dzogchen; que não há coisas, há apenasmomentosdeumaexperiênciaalémdetodacapturaquesurgenocampoabertodaconsciência.E o quão mais nós percebemos que estamos integrados na espacialidade aberta, mais osmomentossãoadequadoscomoelessão.Issoéobásico.

Perguntaserespostas

Temalgumaquestãoouconsideraçãoquevocêsgostariamdelevantar?

Algumas vezes nós apenas aparentamos ser um aspecto de nósmesmos, comoQuestion:vocêdissemaiscedo.Émuitofácilretornarparaalgumacoisaquevocêconhece,comaqualvocêestámuitoconfortável.Comopodemos lidaressesoutrostiposdeaspectospersistentesdenósmesmoquesurgememnossocomportamentoàsvezesesãocomo:“Oh,vocêdenovo?”

Essa é uma questão muito útil porque há dois aspectos nela: alguma coisa estáJames:surgindoeháuminvestimentonisso,umaidentificaçãocomisso.Porexemplo,comalgumacoisaqueaparentaserumapartefamiliardesimesmo.“Euestouapenassendoeumesmo”,issoéumtipodefusãodentrodopensamentoeumarotulação:“Issodefinequemeusou”.Semparardeser desse jeito, mas sim estando presente - ao invés de mergulhar dentro - você começa aperceber a natureza dinâmica. Isso quer dizer, a sensação, “Isto sou eu”, é, aomesmo tempo,verdadeira e falsa. É verdade no sentido de que você está se sentindo assim agora, nestasciruncstâncias,masnãoéverdadeiraumavezqueissonãodefine‘quemévocê’.

Dessemodo,umsegundoaspectoaquiéumsuperinvestimento,asensaçãodefusão:“Agoraeumeachei”ou“Issoéoqueeumesintoconfortávelemser”.Aspessoasàsvezesdizem:“Oh,eunãoestouconfortávelfazendoisso”.Noentanto,ummontedecoisasnavidanãoéconfortável.Ese você faz do conforto e felicidade a base da sua existência hámuita coisa que você precisaevitar. É mais útil considerar: “No que estou assentado? Qual é o chão ou a base da minhaexistência?” Se é um pensamento, então você senta nele por um tempo mas então eledesapareceevocêestáparadonoar comoumdessesdesenhosanimadosondeopersonagemcorrealémdotopodomorroesuaspernasseguemcorrendoatéqueele,repentinamente,cai.Istoé,oquequerquenósnosmisturemosnãovaidurar. Issonãosignificaquetemosquenosfundir completamente. É mais sobre achar o caminho domeio em estar presente, relaxado eabertoetrabalhandocomaformaquenósestamosnasituação.

Por exemplo, digamos que você encontrou algo que é fácil para você fazer, mas depois issoparecemaisdifícil.Equandoédifíciléapenasdifícil.Vocêpodesesentirapenas:“Eunãogostodisso,euprefirominhavidacomoelaeraantes”.Nestemomento,vocêsefoi,vocêestánoseumundodeconceitualizaçãoabstrata:“Eufizumaanálise:ontemestavabomehojeestáruim.Eunãoquero isso.Euprecisodeumaoutracoisa”Então,vocêpodeativar todososmétodosquevocêconheceparamudarasituaçãoeentão...“Ah,issoémelhor”.Noentanto,oquevocêfezfoidizer:“Eusóestouseguroseeuestouemumasituaçãoartificial.Nãopossohabitarminhavidacomoelaé.Eusópossohabitarosaspectosqueeugosto”.Écomoserumacriançabirrentadecincoanosquenãovaicomeroseujantar.Ospaisseesforçamdeformasdiferentes paralidarocmestasituação,masseelesdisserem:“Ok,vocêpodeterpalitosdepeixeempanadotodososdiasdasemanaenocafédamanhãtambém”,issonãovaisermuitoútil.Seacriançaforparaacasa de alguém onde o anfitrião não cozinha palitos de peixe, o que a criança vai fazer? Éexatamenteamesmaestrutura,nãoé?Assim,éumgrandepassoaceitare,de fato, saudaras

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coisasque–donossopontode vistahabitual –nósnãodesejamos ser porquenóspensamos:“Issonãosoueu.Eunãogostodisso.Issonãomecaibem”Émelhorrelaxaresetornarflexívelporqueanossaonipotêncianãovaidurarmuito.

Comooseucorpomuda,comovocêsentenasuaexperiência?Question:

Ocorpo?James:

Sim,comovocêexperienciaoseucorponasuaprática.Participante:

Háumamudançanosentidodequeomeucorpoéalgoqueeutenho,dequeomeuJames:corpoéalgoqueeusouparaalgomaiscomoparanãoterrealmenteumcorpo.Ocorpoépartedo meu ser no mundo. Então o que eu chamo de ‘meu corpo’ vai ser influenciado por umadiversidade de coisas. Por exemplo, eu estou sentado nesta cadeira que é um pouco instávelentãominhacolunanãoestámuitobemapoiada.Assim,euexperimentoaminhaposturadeumaformaparticular,algunsmúsculosestãotensosenãoétãofácilmanteromeupeitoaberto.Issoéo que acontece: onde que que nós estejamos nós estamos confortáveis ou desconfortáveis,apoiadosounãoapoiados,eissoéoaspectodeserumcorponomundodasformas.

Se eu tiver uma noção de como eu gostaria quemeu corpo fosse então eu deveria estar commuita raiva da cadeira, sentindo que ela estáme atacando.Ou, eu posso experienciar: “Isso écomo meu corpo é neste tipo de cadeira”. Eu não necessariamente gostaria de sentar nessacadeiraparasempremasissomostraqueacadeiraeocorpoestãonomesmomundo.Significaqueondequerquenósvamosnossocorpovaisermoduladopelascircunstâncias.Porexemplo,quando nós conhecemos pessoas aqui, nosso corpo pode relaxar e se abrir ou pode se sentirtensosevocêestáumpoucocauteloso. Issoéotipodemudançaqueestáacontecendotodootempo,umapulsaçãopara láeparacácomoalgasnomar,abrindoe fechando.Nestesentido,meu corpo não é algo que eu tenho mas é parte do campo dinâmico da experiência que sedescortinacomominhaexistência.

Comocamponão-dualdaemergência,nósexperienciamosoritmodenósmesmosedosoutros.Algumasvezesnossamúsicaestátocandoeasoutraspessoasestãodançando,eoutrasvezeséamúsica deles que está tocando e nós estamos dançando com isso. Isso se alterna, flui, pulsa.Então nós precisamos de uma qualidade refinada para estar presente no momento comointeraçãoouparaexistirconjuntoaosoutros.Sevocênãotemmuitasolidãooufome,vocêpodeouviroritmodooutroepodeconfiarqueamúsicadeleébomporumtempo,eentãosuamúsicapodesurgir também.Hámuitoespaçoparaomovimentode liderareseguirocorrer,e issonoslibertadodesesperodeseperguntar:“Esobreomeumomento?”

Nós estamos perto de acabar o nosso t empo aqui. Talvez nós possamos fazer um pouco demeditaçãoenóspossamos fazer issonabasede relaxar profundamentenossa respiração.Nãoprecisamos fazer nenhum som, e isso é algo que vocês podem fazer em qualquer situação.Apenasrelaxemexpirandoefiquecomascoisascomoelassão.

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