JOGO DA EXPRESSÃO GÊNICA: uma Ferramenta

Pedagógica para o Ensino de Biologia

GENE EXPRESSION GAME: a Pedagogical Tool for the Teaching of Biology

LISTENES KLAYTON LEITE DE SOUSA

FABIOLA DA SILVA ALBUQUERQUE Resumo A Expressão Gênica engloba uma série de passos que vão desde a síntese de uma molécula de RNA, a partir de uma sequência de bases na molécula de DNA (gene), até a síntese de uma proteína, a partir dessa molécula de RNA (RNA mensageiro). Apesar de ser o Dogma central da Biologia, grande parte dos alunos de ensino médio não compreende esse processo e talvez a dificuldade seja decorrente da natureza abstrata desse conceito. Com o objetivo de facilitar o entendimento do processo de transcrição e tradução, foi desenvolvido o Jogo da Expressão Gênica, no qual conceitos relacionados ao tema como, por exemplo, mutações também foram abordados. O jogo foi aplicado em uma turma de alunos do Ensino Médio de um Cursinho. Os alunos responderam a um pré-teste e um pós-teste sobre o tema e a melhora do desempenho no segundo sugeriu que o jogo foi eficiente como estratégia pedagógica para o ensino, unindo o aspecto lúdico ao cognitivo. Palavras-chaves: expressão gênica, jogo didático, ensino-aprendizagem. Abstract Gene expression encompasses a series of steps ranging from the synthesis of an RNA molecule, from a sequence of bases in the DNA molecule, the synthesis of a protein, from that molecule of RNA (messenger RNA). Although it is the central Dogma of Biology, most high school students do not understand this process and perhaps the difficulty arises from the abstract nature of this concept. With the purpose of facilitating the understanding of the process of transcription and translation, the Gene Expression Game was developed, in which concepts related to the theme such as, for example, mutations were also addressed. The game was applied to a class of high school students in a little school. The students answered a pre-test and a post-test on the subject and the improvement of the performance in the second one suggested that the game was efficient as pedagogical strategy for teaching, joining the ludic aspect to the cognitive one. Keywords: gene expression, didactic game, teaching-learning. Introdução

Expressão gênica é o termo referente aos processos por meio dos quais a informação contida nos genes é convertida em proteínas, estas determinam as propriedades da célula. Entender esse processo, desde a transcrição (DNA para RNA) até a tradução (RNA para

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proteínas), é algo essencial para a compreensão de vários outros temas relacionados à biologia molecular. O uso de ferramentas pedagógicas, como os jogos didáticos, pode ser um grande aliado no processo ensino-aprendizagem. Montenegro et al. (2012) sugere que a realização desse tipo de atividade por meio da participação ativa dos estudantes, como sujeito protagonista do processo ensino-aprendizagem, é algo positivo, tanto em aspectos cognitivos, quanto no que diz respeito ao desenvolvimento e à motivação para a aprendizagem.

Segundo Ventura et al. (2016), o processo de assimilação e apropriação dos conteúdos de Biologia é considerado por muitos discentes do ensino médio como algo muito complexo e de difícil absorção, logo, faz-se necessário que o professor busque estratégias que possam auxiliar o entendimento do conteúdo por parte dos alunos, e uma boa ferramenta é a implementação de jogos didáticos que possam ajudar na assimilação e apropriação do conteúdo ministrado. Campos (2003), além de considerar os jogos como uma alternativa viável e interessante, ressalta que eles podem preencher muitas lacunas deixadas pelo processo de transmissão-recepção de conhecimentos.

Entre as diversas áreas da biologia, a Biologia Molecular e a Genética são assuntos recorrentes em vários meios de comunicação, fazendo-se necessário que a sociedade compreenda os conceitos básicos, para que possa opinar sobre a aplicação dessa área da Ciência na sociedade contemporânea.

Nesse sentido, o presente trabalho analisou o potencial pedagógico de uma ferramenta didática, o jogo da expressão gênica, para alunos do ensino médio. Referencial Teórico

Muitos dos conteúdos biológicos são trabalhados em sala de aula, no ensino da Ciência e de Biologia, de maneira abstrata e distinta da realidade dos alunos. Isto consequentemente implica na falta de entusiasmo pelos envolvidos nas atividades, por não assimilarem e compreenderem coerentemente o que está sendo descrito (BARROS; SILVA, 2016). Vivemos um tempo de valorização da pluralidade de estratégias de ensino, com uma tendência a considerar os alunos agentes ativos nos ambientes de ensino e os professores, permanentemente em formação, como atuantes na constituição dos saberes e práticas pedagógicas ressignificadas (GUSMÃO et al., 2011).

Segundo Montenegro et al. (2014), um dos grandes desafios no ensino de Biologia no ensino básico é tornar as aulas mais atrativas para o aluno, sendo necessário aplicar novas estratégias didático-pedagógicas, de forma que elas possam se constituir em uma via de estímulo para a busca do conhecimento por parte do aluno. Os jogos didáticos constituem uma ferramenta alternativa neste processo.

Os jogos didáticos são instrumentos comumente utilizados como metodologias alternativas à aula tradicionalmente expositiva, de modo a motivar a interação e aumentar o interesse dos alunos pelo conteúdo proposto e favorecer a construção do conhecimento (OLIVEIRA et al., 2016). Notoriamente, as atividades lúdicas - como as brincadeiras, os brinquedos e os jogos - são reconhecidos pela sociedade como meio de fornecer ao indivíduo um ambiente agradável, motivador, prazeroso, planejado e enriquecido, que possibilita a aprendizagem de várias habilidades (PEDROSO, 2009).

Oliveira et al. (2016) trabalhou com jogos didáticos e relata que, além do aspecto didático relacionado aos conteúdos, os jogos contribuem significativamente para o desenvolvimento de habilidades como comunicação e relacionamento interpessoal, visto que podem ser utilizados por dois ou mais participantes, além do raciocínio lógico e criatividade. Cabe ressaltar que a simples implementação do jogo didático não garante a aprendizagem. Para os jogos atingirem seu real potencial didático como recurso na sala de aula da Educação Básica, especialmente, nas disciplinas das Ciências Naturais, não deve ser apenas “lúdico”, mas também “educativo” (PEDROSO, 2009).

Sendo assim é necessário propormos novas metodologias que (re)encantem os alunos continuamente, para que a ciência possa se fazer mais presente no dia-a-dia de nossos discentes e para que seja possível o desenvolvimento não apenas de aspectos cognitivos, relacionados a linguagem e conceitos científicos, mas também o desenvolvimento de

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habilidades, de maneira a desenvolver estratégias de raciocínio lógico, criatividade, agilidade e valores éticos, para que estes possam atuar de maneira justa e consciente na comunidade em que se encontram inseridos (MONTENEGRO et al., 2012).

Metodologia

Este trabalho relata um estudo de caso, com análise qualitativa da aplicação de um jogo didático como ferramenta pedagógica em uma turma de 28 alunos do ensino médio de um cursinho em Itaporanga-PB. O assunto abordado na atividade foi a expressão gênica (transcrição, tradução do material genético e mutações).

O jogo constitui de uma caixa (Figura 1) com as dimensões 70x60x15 cm, com um fundo preenchido com uma tela feita a partir de uma chapa de ferro, adesivada com uma imagem de um processo de transcrição e tradução, com alguns espaços em branco, para a interação com os alunos; além disso, imãs (Figura 2) representam as bases nitrogenadas. Na sua parte mais baixa da caixa, há espaços para serem introduzidas cartas (Figura 3) que representam os aminoácidos (peptídeos) na construção da proteína.

Figura 1: Caixa do DNA – Jogo da Expressão Gênica

Fonte: acervo próprio

Figura 2: Imãs representando as bases nitrogenadas

Fonte: acervo próprio

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Figura 3: Cartas do jogo Fonte: acervo próprio Inicialmente os alunos foram submetidos a um pré-teste (Figura 4), com cinco perguntas

objetivas, cada pergunta com cinco alternativas, para que o professor pudesse avaliar o grau de conhecimento sobre o assunto que seria trabalhado no jogo didático (Expressão Gênica), cujo tema já havia sido apresentado há dois meses através de aula expositiva.

Figura 4: Aplicação do Pré-teste

Fonte: acervo próprio

Após a aplicação do pré-teste, a segunda etapa constituiu de explanação sobre o conteúdo inerente ao jogo didático e sobre como seria aplicado o jogo didático, utilizando como ferramenta auxiliares o data-show e notebook (Figura 5).

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Figura 5: Explanação sobre o jogo

Fonte: acervo próprio

Após as orientações sobre o funcionamento da ferramenta didática, os alunos foram submetidos ao uso do jogo didático, em grupos de 3 alunos (Figura 6). Cada equipe escolheu um número de 1 a 10 para que o professor aplicasse um dos gabaritos do jogo (Figura 7). O processo seguiu com a realização de uma transcrição e, em seguida, uma tradução, utilizando para isto uma tabela com os códons e seus aminoácidos (Figura 8). Os erros nos processos de transcrição implicaram na perda de pontos, sendo 10 pontos para erros que não alterassem a sequência de aminoácidos na proteína, 20 pontos para erros que alterassem a sequência de aminoácidos na proteína e 30 pontos para aqueles que não conseguissem completar a sequência dos seis aminoácidos da proteína. A pontuação máxima obtida seria 100 pontos. Para o acompanhamento das três etapas, o professor utilizou o gabarito, com as respostas da fita Ativa de DNA, a fita transcrita e a sequência de aminoácidos produzida.

Figura 6: Aplicação do jogo didático

Fonte: acervo próprio

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Figura 7: Gabaritos do jogo

Fonte: acervo próprio

Figura 8: Tabela com os códons e seus aminoácidos

Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/biologia/codigo-genetico.htm

Após isso, foi aplicado um pós-teste, com as mesmas questões, para avaliar a assimilação dos conhecimentos trabalhados no jogo didático e foi pedido aos alunos que respondessem a seguinte pergunta: O que você achou da aplicação do jogo como ferramenta pedagógica? Resultados

Os resultados do pré-teste e o pós-teste estão apresentados no gráfico 1. Nele foi evidenciado que os alunos melhoraram significativamente o número de acertos na maioria das questões aplicadas no pós-teste, demonstrando a assimilação dos conceitos relacionados ao conteúdo do Jogo Didático (Gráfico 1).

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Gráfico 1: Porcentagem dos acertos das cinco questões do pré-teste e pós-teste

Também foi observado que, das cinco questões aplicadas, apenas uma não houve melhora no rendimento entre o pré-teste e o pós-teste, no entanto as outras quatro questões tiveram uma melhora significativa nos resultados. O Gráfico 2 mostra a média aritmética das notas do pré-teste e pós-teste.

Gráfico 2: Média aritmética das notas do pré-teste e pós-teste

O questionário aplicado para analisar o nível de satisfação dos alunos em relação ao jogo e

a assimilação dos conhecimentos revelou que os alunos se mostraram satisfeitos, o que pode ser percebido por meio de trechos retirados dos questionários:

“O jogo foi bem mais prático que uma aula normal. Conseguimos aprender com mais facilidade

o funcionamento da transcrição e tradução”. “O Jogo pelo qual foi aplicado em sala é de grande importância, por vários fatores: primeiro,

que a forma pela qual nós alunos estamos adquirindo o assunto é dinâmico e de fácil compreensão; e segundo, é algo inovador e diferente dos métodos tradicionais, pelos quais muitas vezes torna a aula cansativa e enfadonha. Diante do jogo foi uma aula bem produtiva”.

Assim, por meio dos resultados dos testes e da análise dos questionários, conclui-se que o

Jogo atingiu o objetivo didático. Considerações Finais

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A princípio os alunos ficaram logo encantados com a caixa do Jogo Expressão Gênica e muito atentos a nova atividade que estava por vir, o que facilitou o transcorrer do trabalho. A medida que o trabalho foi sendo desenvolvido, já se observava um maior interesse dos alunos pelo conteúdo, principalmente através de perguntas sobre as imagens presentes na caixa, o que colaborou com a compreensão do processo de transcrição e tradução, relacionando com outros conceitos, como mutações, que no dia-a-dia das aulas tradicionalmente expositivas é um dos desafios para muitos professores de Biologia, tanto fazer o aluno entender o processo como sua aplicação e importância no seu cotidiano.

Corroborando com Ventura et al. (2016), foi verificado durante a pesquisa que este tipo de estratégia auxilia na apropriação do conhecimento por parte do aluno, por fazer com que o momento de aprendizado seja algo prazeroso, fato esse que pode ser observado nas respostas dos alunos ao questionário aplicado após a atividade supracitada.

A realização deste trabalho resultou na participação ativa dos alunos, teve impacto positivo na assimilação dos conteúdos propostos pela atividade, além de despertar o interesse em aprofundar os conhecimentos sobre o assunto. Referências BARROS, G. D.; SILVA, D. M. S . O Uso de um Recurso Didático como Subsídio para o Ensino de Genética. Revista de Ensino de Biologia da Associação Brasileira de Ensino de Biologia (SBEnBio), v. 9, p. 4250-4261, 2016. CAMPOS, L. M. L.; BORTOLOTO, T. M.; FELICIO, A. K. C. A produção de jogos didáticos para o ensino de ciências e biologia: uma proposta para favorecer a aprendizagem. Cadernos dos Núcleos de Ensino, São Paulo, p. 35-48, 2003. Disponível em: <http://www.unesp.br/prograd/PDFNE2002/aproducaodejogos.pdf>. Acesso em: 16 junho 2018. GUSMÃO, G. A. S. B.; Capilé, B. ; GOLDBACH, T. . REFLEXÕES SOBRE MATERIAIS DE APOIO PARA ATIVIDADES PRÁTICAS PARA O ENSINO DE BIOLOGIA: PERCEPÇÕES DE DOCENTES E DE LICENCIANDOS. Revista Ciências & Idéias, v. 3, p. 1-13, 2011. MONTENEGRO, L. A.; Iorio, A. C. P. ; ARAÚJO, M.F.F. . Produção de Modelos Didáticos no Estudo de Poríferos no Ensino Básico: Relato de Atividades. Revista Educação Ambiental em Ação, v. 41, p. 2, 2012. MONTENEGRO, L. A.; ARAÚJO, M.F.F. ; PETROVICH, A. C. I. . LUDICIDADE EM SALA DE AULA: O JOGO DA PIRÂMIDE ALIMENTAR COMO UMA PROPOSTA PARA O ESTUDO DOS ALIMENTOS E DA NUTRIÇÃO NO ENSINO MÉDIO. Revista de Ensino de Biologia da Associação Brasileira de Ensino de Biologia (SBEnBio), v. 1, p. 356, 2014. OLIVEIRA, N. C.; TEIXEIRA, M. R. ; SERAFIM, N. T. ; FALONE, S. Z. . A PRODUÇÃO DE JOGOS DIDÁTICOS PARA O ENSINO DE BIOLOGIA: CONTRIBUIÇÕES E PERSPECTIVAS. In: II Encontro de Licenciaturas e Pesquisa em Educação do IF Goiano - ELPED, 2016, Urutaí. Anais do II Encontro de Licenciaturas e Pesquisa em Educação do IF Goiano - ELPED, 2016. PEDROSO, Carla Vargas. Jogos Didáticos no Ensino de Biologia: uma proposta metodológica baseada em módulo didático. In: IX Congresso Nacional de Educação e III Encontro Sul Brasileiro de Psicopedagogia, 2009, Curitiba/PR. Anais do IX Congresso Nacional de Educação e III Encontro Sul Brasileiro de Psicopedagogia. Curitiba: Champagnat, 2009. VENTURA, JULIANA PACHECO; RAMANHOLE, S. K. S. ; MOULIN, M. M. . A IMPORTÂNCIA DO USO DE JOGOS DIDÁTICOS COMO MÉTODO FACILITADOR DE APRENDIZAGEM. In: VI ENCONTRO NACIONAL DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA, 2016, São José dos Campos. Anais de Trabalhos Completos. São José dos Campos: Universidade do Vale do Paraíba, 2016.

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