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estratégia para fazer de Portugal um país mais amigo dos idosos É hoje entregue ao Governo um programa que pretende mudar o paradigma ligado ao envelhecimento Pl2/14

Já há estratégia para fazer de Portugal um mais amigo dos · como a entrada progressiva na reforma e ... dável, para que envelhecer deixe de ... a inserção de mensagens promotoras

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Já há estratégiapara fazer dePortugal umpaís mais amigodos idososÉ hoje entregue ao Governoum programa que pretendemudar o paradigma ligadoao envelhecimento Pl2/14

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Governo acolhe estratégia paratornar o país "amigo dos idosos' 9

Num país em que os idosos são 20% dapopulação, estratégia para 2017-2025, hojeentregue ao Governo, propõe medidascomo a entrada progressiva na reforma e

criação de lojas móveis do cidadão idoso

Envelhecimento activoNatãlia Faria

Da instituição de um exame de saúde

obrigatório logo aos 65 anos à adap-tação do sistema de triagem nas ur-gências hospitalares, passando pelapromoção da entrada progressiva nareforma e pela adaptação da tempo-rização dos semáforos aos mais ve-lhos, o Governo recebe hoje em mãosum vastíssimo leque de propostasque visam preparar o país para umcenário não muito distante em quemais de um terço da sua populaçãoterá 65 ou mais anos de idade.

A Estratégia Nacional para o Enve-lhecimento Activo e Saudável 2017-

-2025, que é hoje entregue ao secre-tário de Estado adjunto e da Saúde,Fernando Araújo, levou mais de umano a ser preparada. Numa altura em

que as pessoas com 65 e mais anosde idade representam já 20% da po-pulação portuguesa, o documentopropõe a abertura de várias frentesde combate ao isolamento, estigma-tização e às dependências, económi-

cas, físicas e mentais dos mais velhos."A promoção de um envelheci-

mento activo e saudável não se podeadiar. É urgente que o país se adaptea uma estrutura demográfica enve-lhecida, porque o que está em causaé toda a sustentabilidade do sistemaem que vivemos", resume José Perei-

ra Miguel, professor na Faculdade deMedicina da Universidade de Lisboa

e coordenador do grupo de trabalho

que, a partir de um despacho dos mi-nistros da Saúde, Finanças, adjunto e

do Trabalho e Solidariedade Social,

se pôs a estudar formas de garantira sustentabilidade do país face a umduplo desafio: o que decorre do en-velhecimento demográfico e o queresulta de as pessoas estarem a vivermais tempo mas com pouca saúde.

Situemo-nos. Entre os consecuti-vos recordes negativos no númerode nascimentos - que a ligeiríssimarecuperação dos últimos dois anosestá longe de conseguir inverter - e

a emigração de jovens, Portugal é jáo quarto país mais envelhecido daUnião Europeia (20,5% da popula-ção tem 65 ou mais anos de idade),ultrapassado apenas pela Grécia, Ale-manha e Itália. Em 2015, os octogená-rios, por seu turno, já representavam5,84% da população. Nas últimasprojecções do Instituto Nacional de

Estatística, no cenário mais modera-damente optimista (que ainda assim

pressupõe uma recuperação do índi-

ce sintético de fecundidade para as

1,55 crianças por mulher em idadefértil - contra as actuais 1,36 - e o re-

gresso a saldos migratórios positivosque se mantém negativo desde 2011)o país terá em 2080 7,5 milhões deresidentes. Destes, 2,8 milhões terão65 ou mais anos de idade. Haverá en-tão 317 idosos por cada 100 jovens.

Tudo somado, chega-se ao prog-nóstico do país invertendo a decla-

ração que dá título ao romance donorte-americano Cormac McCarthy e

que dará qualquer coisa como "Este

país terá de ser para velhos". "Va-mos ter de nos adaptar e isso implica

dar passos arrojados. Esta estratégianão resolverá tudo, mas é muito im-

portante", avisa José Pereira Miguel,dizendo-se esperançado que este não

seja mais um documento para ficar

esquecido numa gaveta e que, aocontrário, receba do Governo "o avale os meios necessários" para levar à

prática as suas propostas.Enquadradas por quatro eixos fun-

damentais - que vão da saúde à par-ticipação, passando pela segurança e

monitorização e investigação -, este"modelo orientador da intervenção"propõe-se "dar substância e coerên-cia" à acção no domínio da promo-ção do envelhecimento activo e sau-

dável, para que envelhecer deixe de

significar estar mais exposto a riscos

como o isolamento social e a solidão,a dependência física, mental e econó-

mica, a estigmatização, os abusos e aviolência. Na saúde, e porque cercade 23% da carga global da doença nomundo é atribuível às pessoas com60 ou mais anos de idade e porqueno caso português as pessoas vivemmais mas em pior estado de saúde,a estratégia aposta, sem surpresas,na promoção de hábitos de vida sau-

dável, por forma a, como diz Perei-ra Miguel, prevenir "retrocessos emcomportamentos como o consumode tabaco e álcool e sedentarismo".

Parece mais do mesmo, mas do

que se trata aqui é de procurar ga-nhar em anos de vida saudável apósos 65, sobretudo porque se soube,como o PÚBLICO noticiou em Março,que, contra todas as expectativas, os

portugueses "perderam" cerca detrês anos de esperança de vida saudá-vel em 2014 face ao ano anterior.

Aos 65 anos, as mulheres podiamesperar viver em média apenas mais6,5 anos sem incapacidades ou doen-

ças, enquanto aos homens se pers-pectiva mais 6,9 anos nas mesmas

condições. É um indicador em quePortugal faz muito má figura na foto-

grafia da União Europeia (UE) a 28.

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Portugueses vivem cada vez mais tempo, mas em pior estado de saúde

E a não ser que o consiga melhorarserá muito difícil ao país garantir o

sucesso noutra das apostas destaestratégia: promover uma transiçãomais suave do trabalho para a refor-ma. "Esta transição não tem de serfeita em termos de tudo ou nada. Aideia é que haja transições em que a

pessoa possa continuar a contribuir

com um trabalho mais leve e estru-turado de outra maneira. Que não

seja passar do oito para o 80. Mas,claro, isso implica que as pessoas lá

cheguem com saúde e energia", notao coordenador. A criação de um pro-grama de vigilância da saúde das pes-soas idosas, que engloba avaliaçõesregulares logo a partir dos 50 anos,a obrigatoriedade de um diagnósticocompreensivo aos 65 anos, o estabe-lecimento de um plano individual decuidados que inclui um sistema de"bandeiras vermelhas" que alertemos profissionais para situações comoo recurso frequente às urgências hos-

pitalares, faltas sucessivas a consul-

tas ou sinais de negligência ou maustratos são outras das medidas que se

conjugam no capítulo da saúde.A par disto, propõe-se um sistema

de diferenciação positiva dos idosos

nas urgências dos hospitais, a apostano projecto Centros de Saúde Amigosdas Pessoas Idosas, instituído pelaOrganização Mundial de Saúde em2010, e a sinalização e a justificaçãodos casos de idosos que tomam maisde cinco medicamentos. "Esta adap-tação dos serviços", diz José PereiraMiguel, "é fundamental e tem de es-

tender-se aos cuidados de toda a es-

pécie e feitio." Quanto aos cuidadoresdos idosos, e em consonância com aideia de que é preciso apostar na do-

miciliação dos cuidados até porque"não se pode hospitalizar toda a gen-te, nem meter toda a gente em lares",a estratégia prevê que lhes seja dada

formação, sobretudo se forem fami-liares não qualificados para o efeito,bem como uma avaliação periódicado seu estado de saúde e exaustão.

Noutras frentes, o documento pro-põe integrar a temática da valoriza-ção da pessoa idosa nos programase metas curriculares, apoiar o desen-volvimento de universidades sénior e

desenvolver o Erasmus Sénior, que,à semelhança dos estudantes do su-

perior, visa promover o intercâmbiono espaço europeu dos idosos quefrequentem a universidade.

A criação, a nível municipal ou de

freguesia, de lojas móveis do cida-dão idoso e de gabinetes de apoioao idoso nas câmaras ou juntas das

freguesias integram também o lequede propostas a submeter à aprovaçãodo Governo para, como conclui Jo-sé Miguel Pereira, Portugal se tornenum bom país para viver "não ape-nas para os estrangeiros que chegamcom boas reformas mas para quem'moureja' por cá e luta para sobre-viver por cá".

[email protected]

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Propostas da Estratégia Nacional para o EnvelhecimentoActivo e Saudável 2017-2025

Saúde• Promover acções dirigidas aoautocuidado, à vigilância dasaúde, à vacinação, aos rastreios,aos exames médicos, adesãoao plano terapêutico e a outroscuidados de saúde;• Criar um programa de vigilânciada saúde das pessoas idosas queinstitua o registo da avaliaçãodas funcionalidades e quecompreenda a realização de

avaliações regulares com vistaà detecção precoce de déficesfuncionais, défices psíquicos oudoenças crónicas logo a partirdos 50 anos de idade;• Instituir diagnósticocompreensivo obrigatório aos65 anos;• Estabelecer um Plano Individualde Cuidados (PIC) comoinstrumento de intervençãointegrada em todos os idososcom várias patologias e queinclua um sistema de "bandeirasvermelhas" que sirvam de alerta

sempre que, por exemplo,haja um recurso frequente às

urgências, faltas sucessivasa consultas ou sinais denegligência ou maus tratos;• Referenciar a pessoaresponsável pelos cuidados aoidoso. Nos casos em que sejanecessário, aquela deve receberformação para os cuidados a dar

e o seu estado geral de saúde eo nível de exaustão devem seravaliados periodicamente;• Definir uma estratégia decombate à polimedicação,tornando-a de justificaçãoobrigatória quando inclua maisde cinco medicamentos;• Adaptar a triagem nas

urgências hospitalares aosidosos, criando um sistema dediferenciação positiva;• Generalização do projectoCentro de Saúde Amigo dasPessoas Idosas;• Criar unidades paradoentes idosos e equipasmultidisciplinares capazes dedar uma resposta integrada aosdoentes idosos.

Educação e participação• Investir na formaçãoe educação sobre oenvelhecimento em todos os

graus de ensino, integrando nos

programas e metas curricularesa valorização da pessoa idosa;• Incentivar a investigaçãoacadémica na área doenvelhecimento;• Alertar as instituições do ensinosuperior para as necessidadesde adequação dos planoscurriculares às característicaspopulacionais emergentes• Apoiar o desenvolvimentode universidades seniores edesenvolver o Erasmus Sénior

que promova intercâmbios no

espaço europeu dos idosos quefrequentem a universidade;• Acordar com empresas deentretenimento produtoras deprogramas de grande audiênciaa inserção de mensagenspromotoras da literacia emsaúde;• Combater o idadismo(discriminação em razão da

idade) através de campanhasque promovam aspectospositivos do envelhecimento eidentifiquem os contributos dosidosos para a sociedade.

• Promover a transiçãoprogressiva para a reforma eincentivar a criação de estruturasou recursos que sejam agentesfacilitadores desta mudança;• Criar, organizar e divulgarredes de prestação de cuidadosprestados ao domicílio e emambulatório e apoiar nasnecessidades pontuais demanutenção do conforto nodomicílio das pessoas idosas;• Criar ambientes de suportefísico e social nos bairros,permitindo a permanência das

pessoas idosas em suas casase comunidades o maior tempopossível;• Desenvolver sistemas demonitorização que permitam o

ageing in place com qualidade esegurança;• Cumprir a lei no que concerneà eliminação de barreiras

arquitectónicas;• Preparar zonas pedonaisque facilitem a deslocação de

pessoas a pé ou em cadeira derodas;• Criar lojas móveis do cidadãoidoso e gabinetes de apoio aoidoso nas autarquias ou juntas defreguesia.

Segurança• Avaliação sistemática em todasas pessoas idosas de sinais deviolência pelo menos uma vezpor ano, nos centros de saúde;• Generalizar a circulação deautocarros com piso rebaixadoe formar os condutores para o

transporte de pessoas idosas;• Semaforização comtemporização adequada aosidosos.

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