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Jâmblico de Calcis, uma abordagem introdutória ao filósofo do Neoplatonismo Fernanda Lemos de Lima   UERJ Resumo Jâmblico de Cálcils, autor do século III d.C. cuja escrita se insere na esfera do neoplatonismo, apresenta um texto que lida com as temáticas da relação entre o divino e o humano, valendo-se de uma argumentação em que entram elementos da filosofia e da teurgia. O presente artigo pretende apresentar uma primeira abordagem da figura de Jâmblico enquanto filósofo do neoplatonismo, além de pretender lançar olhar introdutório à leitura da obra “Resposta do mestre Abamon à carta de Por fírio dirigida a Anebo e soluções às dúvidas nela Expressas”, mais conhecida pelo título “Sobre os mistérios”. Nessa imensa missiva em resposta às questões de Porfírio, observa -se como a voz que responde às indagações constrói sua argumentação através de recursos retóricos específicos, bem como, a partir de uma estrutura que se vale das “erotapokríseis”. Palavras-chave:  Jâmblico  Neoplatonismo  Teurgia  Filosofia  Erotapokríseis A filosofia da antiguidade grega é muito conhecida e trabalhada no que tange as  produções do século V e IV a. C., em que Sócrates, Platão e Aristóteles ditam os rumos do pensamento metafísico. A profusão de exegeses em torno do trio de filósofos que marcou o pensamento a partir do século de Péricles traduz muito bem isso. Aliás, algo que já marcava a continuidade do pensamento filosófico do Mediterâneo posterior a eles, visto que tanto a metafísica socrático-platônica quanto as reflexões aristotélicas serviram de base para novos embates no campo do saber abstrato. É possível observar tal fato a partir das publicações de traduções e livros sobre temas relacionados a Sócrates, Platão e Aristóteles, bem como a partir da quantificação de dissertações de mestrado e teses de doutorado defendidas nos últimos cinco anos, em programas de Pós-Graduação voltados para filosofia e para a Língua e Literatura Grega. 1 A exceção  parece ter sido a realização do I Simpósio Ibero-Americano , que ocorreu, em Natal, no ano de 2007. 1 Um bom exemplo é a observação das dissertações e teses defendidas no Programa de Pós-Graduação em Filosofia da USP, em que temos mais cerca de cinco teses de doutorado e oito dissertações voltadas para algum tema em Platão, cerca de três dissertações e duas teses ligadas a Aristóteles (além de dissertações que colocam o estagirita como contraponto de outros filósofos), três dissertações voltadas para algum dos Pré-socráticos e apenas um trabalho dedicado a Plotino. Cf. http://filosofia.fflch.usp.br/posgraduacao/teses, acesso em 06 de setembro de 2013.

Jâmblico de Calcis, uma abordagem introdutória ao filósofo do Neoplatonismo

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    Jmblico de Calcis, uma abordagem introdutria ao filsofo do Neoplatonismo

    Fernanda Lemos de Lima UERJ

    Resumo

    Jmblico de Clcils, autor do sculo III d.C. cuja escrita se insere na esfera doneoplatonismo, apresenta um texto que lida com as temticas da relao entre o divino eo humano, valendo-se de uma argumentao em que entram elementos da filosofia e dateurgia. O presente artigo pretende apresentar uma primeira abordagem da figura deJmblico enquanto filsofo do neoplatonismo, alm de pretender lanar olharintrodutrio leitura da obra Resposta do mestre Abamon carta de Porfrio dirigida aAnebo e solues s dvidas nela Expressas, mais conhecida pelo ttulo Sobre osmistrios. Nessa imensa missiva em resposta s questes de Porfrio, observa-se comoa voz que responde s indagaes constri sua argumentao atravs de recursosretricos especficos, bem como, a partir de uma estrutura que se vale das

    erotapokrseis.

    Palavras-chave:JmblicoNeoplatonismoTeurgiaFilosofiaErotapokrseis

    A filosofia da antiguidade grega muito conhecida e trabalhada no que tange as

    produes do sculo V e IV a. C., em que Scrates, Plato e Aristteles ditam os rumos

    do pensamento metafsico. A profuso de exegeses em torno do trio de filsofos que

    marcou o pensamento a partir do sculo de Pricles traduz muito bem isso. Alis, algo

    que j marcava a continuidade do pensamento filosfico do Mediterneo posterior a

    eles, visto que tanto a metafsica socrtico-platnica quanto as reflexes aristotlicas

    serviram de base para novos embates no campo do saber abstrato. possvel observar

    tal fato a partir das publicaes de tradues e livros sobre temas relacionados a

    Scrates, Plato e Aristteles, bem como a partir da quantificao de dissertaes de

    mestrado e teses de doutorado defendidas nos ltimos cinco anos, em programas dePs-Graduao voltados para filosofia e para a Lngua e Literatura Grega.1 A exceo

    parece ter sido a realizao do I Simpsio Ibero-Americano, que ocorreu, em Natal, no

    ano de 2007.

    1 Um bom exemplo a observao das dissertaes e teses defendidas no Programa de Ps-Graduaoem Filosofia da USP, em que temos mais cerca de cinco teses de doutorado e oito dissertaes voltadaspara algum tema em Plato, cerca de trs dissertaes e duas teses ligadas a Aristteles (alm de

    dissertaes que colocam o estagirita como contraponto de outros filsofos), trs dissertaes voltadaspara algum dos Pr-socrticos e apenas um trabalho dedicado a Plotino. Cf.http://filosofia.fflch.usp.br/posgraduacao/teses, acesso em 06 de setembro de 2013.

    http://filosofia.fflch.usp.br/posgraduacao/teseshttp://filosofia.fflch.usp.br/posgraduacao/teseshttp://filosofia.fflch.usp.br/posgraduacao/teses
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    Entretanto, as chamadas escolas helensticas e os movimentos filosficos sob

    tutela do Imprio Romano recebem ainda uma ateno consideravelmente menor em

    nossas academias, algo que se evidencia pelas poucas tradues de seus textos em

    lngua portuguesa2 e pelo nmero diminuto de publicaes voltadas para os autores do

    perodo.

    As reflexes filosficas de base estoica e epicurista ainda so mencionadas com

    mais frequncia, bem como o ceticismo. Basta que se observe boa parte das obras

    voltadas para a histria da filosofia grega, em que h um espao consideravelmente

    maior para a apreciao do pensamento de Epicuro e para as reflexes do Prtico 3. Um

    bom exemplo o volume segundo de Chau (2010) voltada para uma introduo

    histria da filosofia. A despeito de haver uma meno do neoplatonismo dentre as

    escolas helensticas (CHAU, 2010, p.14), os filsofos a ele relacionados no recebem

    tratamento algum na obra.

    O neoplatonismo, exceo do filsofo Plotino, fica relegado a um segundo

    plano em obras que se pretendem mais abrangentes. Em Reale (2008), observa-se o

    volume VIII da Histria da filosofia grega e romana, um espao extremamente amplo

    para tratar, no apenas vida e da atuao das escolas de Plotino, mas uma exegese das

    relaes entre o pensamento plotiniano com o mdio-platonismo e igualmente uma

    apreciao das hipstases presentes emEnadas.

    Reale aponta como uma das possveis causas para haver um desinteresse com os

    filsofos do final da era pag e incio da era crist um certo preconceito que considera

    os trabalhos desse perodo monotonamente revisionistas e no criadores de uma

    percepo nova do sistema do mundo (REALE, 2008, P. XII). Todavia, a despeito do

    diferente espao oferecido aos autores do neoplatonismo, Reale (REALE, 2008, p. 140-

    141) busca oferecer uma viso abrangente dos pensadores que compe esse perodo,

    baseando-se em dois estudos mais antigos de Zeller (final do sculo XIX) e dePraecher (a partir de 1910) para estabelecer as tendncias e divises dos diversos

    autores do neoplatonismo. Uma tal diviso, mesmo que deva ser revisitada e revista, j

    2 Um bom exemplo o fato de no termos ainda traduo alguma de textos de Jmblico e apenas umatraduo parcial de Os tratados dasEnadas de Plotino (PLOTINO, 2007).3

    Em publicaes mais recentes, como a coleo Filsofos da Antiguidade, da UNISINOS, o volume 2oferece uma abordagem do helenismo Antiguidade tardia, entretanto, se o epicurismo e o

    estoicismo so percebidos de maneira mais ampla, em captulos que perpassam seus representantes,apenas Plotino representar a vertente neoplatnica dos sculo III e IV da era crist. Cf. ERLER, Michael,GRAESER, Andreas (2005).

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    parece tratar de maneira mais interessante as diversas correntes e manifestaes do

    neoplatonismo.

    Valendo-se de uma percepo mais recente das manifestaes do neoplatonismo,

    como a de OMeara (2005), em seu estudo Platonopolis: Platonic Political Thought in

    Late Rome, pode-se dizer que o Neoplatonismo dataria do sculo III da era crist e que

    poderia ser dividido em quatro crculos: o de Plotino, em Roma, em meados do sculo

    III; a escola de Jmblico na sia Menor do sculo IV; a escola ateniense dos sculo V e

    VI; a escola alexandrina no Egito, nos sculo V e VI igualmente. Essa diviso, como

    alis qualquer diviso de escolas filosficas, tem algo de arbitrrio. Todavia, pode

    satisfazer a apresentao breve do neoplatonismo necessria para situar o autor aqui

    estudado, alm disso, escapa-se ao reducionismo de se ver em Plotino apenas como a

    tese que ser refutada por Jmblico a anttese de Plotino e conciliada por Proclo,

    resultando numa espcie de sntese dos seus dois antecessores, como queria ver Zeller

    (apud REALE, 2008, p.141).

    Em especial, interessa ao presente estudo, os dois primeiros crculos

    mencionados por OMeara, uma vez que as divergncias entre os dois movimentam a

    discusso filosfica apresentada no texto que o objeto central de estudo da pesquisa

    que empreendo em projeto financiado pela FAPERJ e no ps-doutorado que realizo na

    UFRJ, sob a superviso da Professora Doutora Tania Martins Santos.

    O primeiro crculo conduzido por Plotino filsofo provavelmente nascido no

    Egito e estabelecido em Roma depois de 244no era uma escola formal, mas procedia

    leitura e explicao dos textos de Plato em reunies abertas a qualquer interessado.

    Dois discpulos e ajudantes de Plotino foram Amlio e Porfrio, o ltimo tem papel

    preponderante na edio dos tratados de seu mestre e, igualmente, atravs de sua Carta

    a Anebo, ser o elemento de provocao para Jmblico de Clcis escrever o texto que

    serve de objeto de investigao do presente artigo Sobre os mistrios como serdemonstrado mais frente.

    O segundo crculo ser aquele comandado por Jmblico de Clcis, filsofo

    nascido em cerca de 245 em Clcis, e que, aps ter estudado com Porfrio, retorna

    Sria para estabelecer uma escola em Apamea (OMeara, 2005, p. 16), na qual as

    investigaes filosficas sero colocadas em correlao com as prticas da teurgia,

    ligando uma tradio filosfica grega especialmente em relao a concepes

    platnicas e s hipstases plotinianass tradies tergicas orientais.

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    Nesse sentido, preciso refletir a respeito da maneira como o neoplatonismo

    conduziu as discusses j iniciadas por Plato a respeito da concepo do Uno e dos

    processos de constituio da Alma e seus desdobramentos, para poder-se compreender o

    lugar dessas reflexes na histria da filosofia.

    Evidentemente, no se pode olvidar de maneira alguma que o pensamento

    platnico revisitado pelos Neoplatnicos j carregue em si uma preocupao com a

    religio. Como afirma Simon (1972, p.81), ao buscar a herana religiosa platnica em

    representantes do mdio-platonismo e do neoplatonismo, preciso reconhecer que:

    La recherche intellectuelle sy associe troitemente unedmarche qui est de loedre de la pit, ou plutt elle est

    em elle-mme um acte de pit: cest lme tout entire, enon pas seulement lintellect, qui est appele la

    contemplation du Vrai et du Bien.

    Simon chama a ateno para o papel da Alma como um todo, na percepo do

    mundo inteligvel: essa parte emanada do Uno que convidada contemplao do

    Verdadeiro e do Belo . Sua reflexo prossegue buscando perceber ainda a aspirao

    mstica da alma religiosa em Plato, algo a ser reiterado e aprofundado pelos filsofos

    posteriores, acentuando uma orientao mstica atravs do acrscimo de outras fontes de

    reflexo para alm do texto platnico (SIMON, 1972, p.81).

    Tal orientao estar presente, como j se mencionou, nos pensadores do

    neoplatonismo, entretanto, so tendncias que se afiguram desde o I sc. a. C., no

    mdio-platonismo de Antioco de Ascalon, mais tarde, retomadas por Plutarco e

    Numenio de Apamea (Cf. SIMON, 1972, p.81).

    Friedrich Solmsen, em Platos Theology, postula a necessidade de se buscar

    mais profundamente as concepes teolgicas no pensamento do ateniense, mais

    especificamente, no livro X da Repblica e em Leis. Nesse processo de abordagem,

    Solmsen oferece reflexes sobre o tema do Movimento (SOLMSEN, 1967, p. 72) e

    retoma a problemtica do Uno e da multiplicidadeponto explorado noParmnides de

    Plato , chegando problemtica diviso entre alma e corpo. Tais especulaes so

    retomadas pelos Neoplatnicos e, especialmente, por Plotino em suas Enadas, tratado

    estruturado por seu discpulo Porfrio, que editou seus cinquenta e quatro tratados em

    seis captulos compostos de nove tratados cada um, da a ttulo Enadas, por se referir

    ao nmero nove em grego.

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    O tratado 8 do captulo VI dasEnadas apresenta uma reflexo especfica sobre

    a descida das almas nos corpos e, justamente, busca auxlio no pensamento de Plato:

    Devemos recorrer ento ao divino Plato, que em muitaspassagens de seus dilogos disse muitas coisas a respeito

    da Alma (psykh) e de sua descida no corpo, de maneiraque podemos esperar algum esclarecimento por seuintermdio. (PLOTINO, 2007, p.82)4

    O interesse em compreender a constituio da Alma e sua relao como o

    sw~ma/ sh~ma(corpo/sepultura) pensado por Plato ser algo ainda bastante debatido

    por Porfrio, Jmblico e, mais tarde, Proclus. Entretanto, o maior interesse na presente

    pesquisa est centrado na percepo jambliqueana para os temas suscitados pela

    teologia platnica e, no apenas por ela, mas pela questo dos processos tergicos quesero rechaados por Porfrio, alm de suas posturas que entram em choque com o

    pensamento de Plotino.

    Jmblico de Clcis, como sua alcunha indica, teria nascido nessa cidade da Sria

    Meridional, em uma famlia de origem real e abastada (Cf. JURADO, p.16), teria

    vivido, de acordo com as informaes da Suda, no perodo do reinado do imperador

    romano Constantino5:

    , , , , , . .

    Traduo: Um outro Jmblico, de Clcis na Sria, filsofo,aluno do filsofo Porfrio, (o qual foi aluno) de Plotino,nascido nos tempos do rei Constantino, escreveu livrosdiversos de filosofia.6

    A datao de seu nascimento problemtica. Taormina indica o ano de 244d.C7; por sua vez, Jurado indica a segunda metade do sculo III; a edio grega das

    obras de Jmblico apresenta a data de 270 d.C.8 De qualquer modo, h a indicao do

    4Traduo de Amrico Sommerman. Cf. PLOTINO, 2007.

    5Verifica-se na Suda on line SOL, entrada iota-27, a descrio de Jmblico como outro, para desfazer

    qualquer confuso com seu predecessor homnimo, Jmblico, autor do romance Babilnica. Cf. Suda online. In:http://www.stoa.org/sol-bin/search.pl. Acesso em: 09 de abril de 2012.6

    Minha traduo.7

    De acordo com TAORMINA, 1999, p. 7.8 Cf. JMBLICO Peri\ tw~n Ai)gupti/wn musthri/wn. Atenas: Edies OdisseasChatzpoulos, 2005, p. 9.

    http://www.stoa.org/sol-bin/search.plhttp://www.stoa.org/sol-bin/search.plhttp://www.stoa.org/sol-bin/search.plhttp://www.stoa.org/sol-bin/search.pl
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    perodo em que ele viveu e atuou como filsofo, ou seja, entre o III e IV d.C, perodo de

    grandes mudanas no contexto do Imprio Romano.

    O reinado de Constantino I, o Grande, durou cinquenta anos, e sucedeu

    mudanas drsticas na maneira de comandar o imprio, implantadas por Diocleciano,

    responsvel pela diviso do territrio imperial, no ano de 293 d. C., em quatro partes,

    cabendo a ele o Oriente e as outras trs partes a Maximiano, a Galerio, e a Constantino

    Chloro, pai de Constantino I. Com a abdicao do trono por Dicleciano, Maximiano

    tambm abdica e o imprio se v dividido entre Maxentio, Licnio e Constantino, agora

    proclamados augusti. Aps a morte de Chloro, e idas e vindas de candidatos ao trono,

    chega-se situao de guerra declarada entre Maxentio e Constantino e famosa viso

    de Constantino, no dia 28 de outubro de 312, em Saxa Rubra na Via Flaminia. Na

    ocasio, conta-se que Constantino viu um sinal em formato de cruz vindo cu, abaixo, a

    inscrioHoc Vince.9 Tal viso e a vitria na batalha asseguraram a converso daquele

    que viria a ser imperador ao cristianismo, provocando mudanas profundas no Imprio

    Romano que, aos poucos, adota oficialmente o credo cristo e, paulatinamente, cerceia

    e, finalmente, probe as prticas pags.

    O reinado de Constantino I, ao lado de Licnio, at 323 aps nove anos de

    guerra contra o outro Augusto , segue com afirmaes cada vez mais veementes da

    converso do Imprio ao Cristianismo. Constantinopla, a cidade fundada em 11 de maio

    de 330, ser consagrada Me de Jesus.

    importante explicitar os acontecimentos do perodo de Constantino para que se

    possa compreender a complexidade de mudanas poltico-religiosas que se operam

    naquela ocasio. Tem-se, no apenas a questo fortssima do reconhecimento do

    cristianismo e da perseguio ao paganismo, mas o deslocamento do centro de poder do

    Imprio Romano, paulatinamente, para o Oriente.

    Nesse contexto, floresce Jmblico. As poucas informaes que temos a seurespeito indicam que foi discpulo de Anatlio enquanto estudou na prpria Sria e, mais

    tarde, passou a estudar com Porfrio em Roma, como visto atravs da informao da

    Suda. Ao retornar Sria, funda uma escola filosfica na cidade de Apameia. Teria

    falecido em 325 d.C., segundo Bidez e Dalsgaard (apudJURADO, 2008, P.16) poca

    do conclio de Niceia.

    9Cf. traduo do texto de Eusbio em que consta a passagem da viso em NORWICH, 1998, 5-6.

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    Sua obra bastante ampla e oferece uma srie de textos sobre temas do

    platonismo e do pitagorismo revisitados, infelizmente, pouco foi conservado. Temos

    fragmentos de uma Coleo de doutrinas pitagricas, que estariam parte de obras

    como Protrptico, Vida de Pitgoras, Sobre a teoria geral da matemtica; o texto

    equivocadamente intitulado A respeito dos mistriosnico texto que chegou em sua

    integridade ; Sobre a alma; Cartas; uma srie de comentrios sobre obras de

    Aristteles tais como Analtica primeira, Categorias e, possivelmente, Sobre a

    interpretao, Do cu e Fsica; muitos comentrios acerca da obra de Plato:

    Alcebades I, Fdon,Fedro, Timeu eParmnides; Teologia Caldeia; Sobre os deuses;

    Sobre a apreciao oratria; Contra Numnio e Amlio; Vida de Alpio; Sobre as

    esttuas; Sobre os smbolos; Sobre a migrao da alma e, finalmente, Teologia

    Platnica.

    A obra mais conhecida de Jmblico, sem dvida, o texto mais comumente

    conhecido comoDe mysteriis, em que encontramos, em verdade, uma carta que serve de

    rplica aos questionamentos de Porfrio sobre as prticas da teurgia.

    Por mais que parea estranho e tenha suscitado, em boa parte da posteridade,

    uma certa desconfiana em relao ao texto jambliqueano, inegvel a autenticidade

    das concepes expostas em Peri\ musthri/wn, uma obra cujo ttulo verdadeiro :

    )Aba/mmwnov didaska/lou pro\v th\n Porfuri/ou pro\v

    )Anebw\ e)pistolh\n a)po/krisiv kai\ tw~n e)n au)th|\ e)n

    a)porhma/twn lu/seiv (Resposta do mestre Abamon carta de Porfrio

    dirigida a Anebo e solues s dvidas nela expressas). Tal ttulo traz em si

    informaes preciosas a respeito da concepo da obra. Embora seja intitulada carta, ela

    foi dividida por tradutores posteriores em dez livros, atravs dos quais os temas

    suscitados na missiva Profrio so examinados. Tem-se a ideia de que h uma

    argumentao cujo modo de construo se dar pelo dilogo indireto, mas de carterdialtico, das perguntas de Porfrio e das respostas do filsofo srio.

    Com relao ao ttulo, preciso esclarecer como a obra passou a ser conhecida

    porDe mysteriis forma reduzida do ttulo De mysteriis Aegyptiorum, Chaldeorum,

    Assyriorum. O ttulo latino, que passa a ser adotado para a obra jambliqueana, surge a

    partir da traduo ou parfrase (como quer Jurado10) empreendida por Marslio Ficino,

    em 1497. Ficino, filsofo da escola platnica de Florena, foi tradutor para o latim de

    10Cf. JURADO, 2008, p.7.

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    vrios autores ligados ao platonismo e da obra completa de Plato, alm de ter escrito

    textos voltados para teologia em Plato, para a magia, entre outros (cf. HANKINS,

    2007, p xii-xiii).

    A partir da nomeao de Ficino do texto de Jmblico, as edies passaram a

    seguir esse ttulo, indicando, apenas em seu interior, o nome original da obra. Os

    manuscritos Vallicellanus F20 (de 1460) e Marcianus Graecus 244 (anterior a 1458),

    apresentam o ttulo original do texto Resposta do mestre Abamon carta de Porfrio

    dirigida a Anebo e respostas s dvidas nela expressas. O segundo tradutor da obra

    para o latim, Nicols Scutelio, manteve o ttulo adotado por Ficino, em sua traduo de

    1556. A editio priceps de 167811, elaborada por Thomas Gale mantm o ttulo de

    Ficino, entretanto, o ttulo original da obra continua a figurar como uma espcie de

    subttulo e aparecer na traduo para o ingls, realizada por Thomas Taylor e publicada

    em 1821.

    Note-se que a edio de Taylor12 e as edies mais antigas costumam apresentar

    a Carta a Anebo, de autoria de Porfrio, antes do texto de Jmblico, algo de fundamental

    importncia por ditar o ritmo das respostas presentes na obra de Jmblico.

    A autoria daResposta carta de Porfrio indica a autoria da mesma como sendo

    a do mestre Abamon, o que coloca um problema bastante debatido em relao exegese

    do texto jambliqueano, a questo da autoria da resposta. Proclo atribuiu a autoria a

    Jmblico, o que oferece um testemunho relativamente prximo do perodo de autoria do

    texto e de vida do filsofo srio.

    A questo da autoria, se seguirmos Proclo e a atribuirmos a Jmblico, acarreta

    outras interrogaes que sero aprofundadas no item dois do presente projeto, a saber,

    por qual motivo h a autoria dessa resposta a Porfrio imputada ao mestre Abamon?

    Essa atribuio estaria em acordo com uma escolha formal de texto para a apresentao

    das concepes tergico-filosficas? Mais especificamente, a criao de umapersonagem que apresenta um nome to singular pode ser uma estratgia para sua forma

    de resposta?

    H, sem dvida, um formato especfico em que se pode enquadrar o texto de

    Jmblico e que implica necessariamente em uma proposta depaidea bastante explorada

    11Cf. a introduo de De Mysteriis, edio bilngue do texto de Jmblico, com comentrios ao texto

    grego em edio que coteja os manuscritos diversos aos quais se tem acesso hoje (JMBLICO, 2003, P.

    xlviii).12 Cf. JMBLICO. On The Mysteries of The Egyptians, Chaldeans, and Assyrians (trad. Thomas Taylor).Cambridge. Cambridge University Press, 2011.

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    no perodo do III para o IV sculos. Papadoyannakis, em seu artigo Instruction by

    Question and Answear: The Case of Late Antiquity and Byzantine Erotapokriseis,

    comenta a popularidade desse formato didtico de perguntas e respostas adotado em

    textos de diversas reas de saber:

    (...) in the late antique and Byzantine literature thequestion and answer collections became one of the most

    preferred means of organizing and imparting knowledge ina number of such fields as: medicine, grammar,

    philosophy, theology, law. (PAPADOUYANNAKIS,2006, p. 91)

    Justamente a formulao desse processo de argumentao, construdo por

    Jmblico, constitui-se como elemento de suma importncia para pesquisa que encontra-

    se em andamento, uma vez que implica na construo especfica de um determinado

    formato de argumentao filosfico-tergica com fins propeduticos.

    A hiptese com a qual se trabalha busca afirmar no apenas a validade filosfica

    do texto de Jmblico, j ratificada por outros autores, a despeito de ressalvas de tantos

    outros13, mas ressaltar como o carter tergico e filosfico esto imiscudos em uma

    argumentao dialtico-filosfica em forma das erotapokriseis, inserindo perfeitamente

    a forma argumentativa jambliqueana no contexto, no s do neoplatonismo, mas de uma

    forma de se refletir filosoficamente, em que o dilogo, como construo da retrica

    filosfica entra em decadncia.

    Entretanto, se a forma do dilogo est em decadncia, levanta-se a hiptese de se

    proceder de maneira semelhante ao dilogo platnico na constituio de personagens do

    discurso. No caso da obra de Jmblico, a hiptese seria a de o uso de uma personagem

    que traria um carter religioso sagrado, oferecendo um elemento de maior ratificao da

    argumentao, visto que a resposta no teria sido dada por Jmblico, ex-discpulo de

    Porfrio, mas por um dida/skalov, mais especificamente, o mestre de Abamon aquem a carta de Porfrio era endereada. Dessa maneira, a cena do teatro filosfico

    estaria montada, mas em forma de um monlogo que responde a outro, resultando,

    ainda assim, em uma dialogia.

    Para compreender a situao do gnero dilogo, interessante recorrer ao estudo

    The End of Dialogue in Antiquity, em que vrios especialistas discutem as razes que

    13 Dodds parece ser um dos autores que mais virulentamente ataca a posio de Jmblico, reduzindo-a no

    apenas a uma argumentao irracional, mas a um retrocesso no processo filosfico mesmo. Por outrolado, Shaw ressalta o carter filosfico da teurgia de Jmblico, em especial, no trato do conceito de alma.Outros autores ainda sero perpassados na reviso bibliogrfica.

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    levaram os autores do cristianismo nascente e outros escritores coetneos dentro do

    paganismo a no utilizarem a forma dramatizada do dilogo em suas discusses

    escritas. Especialmente no artigo Can we talk? Augustine and the possibility of

    dialogue, relevante perceber como mesmo os no cristos j de haviam deixado de

    lado a forma do dilogo nos moldes platnicos para se valer das estratgias de perguntas

    e respostas como gnero de debate filosfico. Um trecho do estudo possveis razes

    para Plotino, Porfrio e Jmblico deixarem de lado a forma dialgica, embora concorde

    que seja difcil explicar as razes para esse abandono do dilogo:

    But it is not easy to explain why Platonists did not usePlatos own dialogue form to report or to represent the

    discussions of teachers and students on the centralquestions of philosophy and the right interpretation of

    Plato. In the case of Plotinus, the answer is clear:according to Porphyry, Plotinus would not have writtenanything at all if Porphyry had not made him write notesafter his seminars. Sometimes there is a practical reason:for instance, if Porphyry is in Rome and Iamblichus inSyria, their discussion of religion and theurgy is a dialogueonly in that Porphyry writes a Letter to Anebo andIamblichus replies, with quotations from Porphyry, in theResponse of the High Priest Abammon (otherwise knownas De Mysteriis).(CLARK, 2009, p.124)

    So suposies levantadas pelo autor que, entretanto, oferecem, seno uma

    resposta ao problema do abandono do dilogo, uma indicao de que o mesmo

    sobrevive, em termos de essncia dialtica, na forma das erotaprokrseis . Embora Clark

    no afirme com essas palavras, ele indica que o formato de perguntas e respostas se

    inscreve em uma vereda dialtica ao mencionar o carter dialtico dos Evangelhos:

    (...) the teaching technique: the Gospels are oftendialogic or dialectic. Jesus tells stories, like the storyquoted here, that work by conversation, and he teaches byquestion and answer with his disciples, with the Phariseesand with people he meets. (CLARK, 2009, p. 117-118)

    Tais argumentos reforam a hiptese de que possvel ver no gnero filosfico

    das erotaprokrseis uma transformao do dilogo, que mantm seu carter dialtico e,

    ao mesmo tempo, pode vir a corroborar a hiptese apresentada de que h, sim, a criao

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    de um interlocutor para constituir a fico de uma dialogia indireta, algo a ser verificado

    e corroborado ao longo da pesquisa.

    Alm de se compreender o carter dialtico da desse processo, relevante

    destacar sua funcionalidade enquanto veculo de umapaidea a qual tem a inteno de

    conduzir a reflexo de seu leitor atravs da seleo das questes, da ordenao das

    mesmas e da resposta escolhida, indicando um caminho de cerdade, afirmado e

    indicado como sendo aquele a ser seguido.

    O artigo de Christian Jacob, "Questions sur les questions: archologie d'une

    pratique intellectuelle et d'une forme discursive"14, lida com a compreenso geral do

    papel dessa forma discursiva no contexto das discusses que teriam uma inteno

    pedaggica. Para Jacob, mesmo com um formato aparentemente informal de perguntas

    e respostas, a argumentao por esse meio estaria dentro de contextos formais, como os

    de consulta a orculos, na instruo em escolas e nos debates de simpsios.

    Tal assertiva em relao forma discursiva leva reiterao da hiptese de que

    h uma proposta instrucional na constituio da estrutura de perguntas e respostas e,

    mais especificamente no contexto da obra de Jmblico, que a escolha da personagem

    que assina aResposta do mestre Abamon se d para afirmar a validade de tais respostas,

    uma vez que trata-se da palavra de um dida/kalov e cujo nome leva a vrias

    interpretaes, inclusive como pai de Amon, ou seja, sacerdote do deus egpcio15. A

    voz do discurso seria, dessa maneira, no apenas a de um mestre, mas de um sacerdote,

    carregando consigo no somente um corpo de conhecimento marcado pela razo

    filosfica, mas pelo conhecimento das ligaes com o divino: a teurgia.

    Passando questo da argumentao, mas sem deixar de lado a importncia da

    forma escolhida para expressar as ideias, postula-se aqui a hiptese de se compreender o

    argumento jambliqueana como uma construo dialtica de carter tergico-filosfico

    com implicaes ticas e responsvel pela constituio de novas formas de definirconceitos em um vocabulrio filosfico inscrito anteriormente na tradio platnica e na

    reviso neoplatnica de Plotino.

    A estruturao temtica da Resposta do mestre Abamon demonstra por quais

    veredas conceituais Jmblico transita ao combater discursivamente as provocaes de

    seu mestre de outrora, Pofrio. Evidentemente, os temas abordados foram suscitados

    14 JACOB (2004, p. 26).15

    Cf.

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    pela Carta de Porfrio, todavia, ao desqualificar algumas perguntas de seu oponente, ele

    j demonstra concepes distantes daquelas postuladas por Porfrio.

    A Carta de Porfrio a Anebo perdeu-se, no obstante, muitos fragmentos

    mencionados em outros textos como os de Eusbio, Todoreto, Cirilo e Agostinho de

    Hipona (Cf. JURADO, 2008, p.22) , inclusive na recapitulao das questes

    apresentadas no trabalho de Jmblico permitem que se possa chegar a quase inteireza de

    seus argumentos interrogativos.

    Na recuperao das questes de Porfrio, o texto da Resposta se constri em

    eixos temticos mais explicitados atravs da diviso em dez livros realizada na editio

    princeps de Gale. Nela, o Livro I apresenta o argumento primeiro do pseudo-autor da

    Resposta, Abamon solicitando ao seu interlocutor que escute sua resposta como

    advinda de um sacerdote egpicio, ou do prprio Anebo ou:(...) melhor ainda, parece-me, deixe de lado o que fala,seja ele inferior, seja ele superior, e observe as coisas queso ditas, se dita verdade ou mentira, com veemnciaelevando (sua) inteligncia. (JMBLICO, 2003, Livro I,1, 3, 8-11)16.

    O apelo elevao da inteligncia (diano/ia) j um primeiro passo para

    captar a ateno e instigar a reflexo no leitor no apenas Porfrio, mas qualquer

    potencial leitor. Se a percepo se d pela inteligncia, j colocado um parmetro de

    compreenso no pelo palpvel e sensvel, mas pela esfera do inteligvel, o que remete

    imediatamente a uma proposta de compreenso que tangencia necessariamente o

    filosfico, a partir da nica maneira de se atingir Verdade dentro da metafsica

    platnica: o lo/gov.

    Pensando na estratgia argumentativa da Resposta, pertinente compreender

    esse prembulo do texto como um espao, no apenas para estabelecer parmetros para

    a interlocuo proposta, mas para captar o nimo daquele que ouve, o que nos remete

    a captatio beneuolentia da retrica.

    Necessrio ainda ter em mente que a Resposta no intentaria apenas combater

    o pensamento crtico de Porfrio, mas estabelecer parmetros dentro de umapaidea que

    uniria contemplao filosfica prtica religiosa, em um discurso de correo s

    proposies de seu oponente. Vale lembrar que tal obra se situa em um contexto do

    16Minha traduo.

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    paganismo tardio e que parece haver uma necessidade de ratificar parmetros para uma

    educao filosfico-religiosa da tradio pag. No necessariamente em funo do

    cristianismo ascendente, mas em funo da perda de valores tradicionais dentro da

    prpria cultura helenstica pag, como bem aponta Shaw (1995, p. 3).

    Nesse processo de argumentao, embora haja o reconhecimento da necessidade

    de se buscar os ensinamentos e legados dos sbios da Caldeia, dos profetas egpcios e

    da especulao filosfica (JMBLICO, 2003, Livro I, 1, 5, 10-12), h uma afirmao

    da separao dos temas, proposta pela explanador da Resposta, em que se afirma que

    ser respondida dentro dos parmetros da teurgia as questes referentes teurgia, dentro

    dos parmetros da teologia o que se refira a ela e, ainda, dentro dos parmetros da

    filosofia o que for de carter filosfico (JMBLICO, 2003, Livro I, 2, 7, 3-5).

    Todavia, h uma pista para a compreenso de que os campos de conhecimento

    podero se interpenetrar e ela est no prprio Livro I daResposta: a ideia de que poder

    haver a harmonizao das questes que tangncia dois ou mais campos. Alm disso, ao

    falar do apoio do pensamento filosfico, recorre-se a meno s tbuas de Hermes, que

    transitam, por seu carter, entre o filosfico e o campo dos mistrios (JMBLICO,

    2003, Livro I, 2, 6, 1-3). Esse detalhe auxilia a exegese que prope como hiptese a

    percepo de uma argumentao filosfico-tergica para esse texto e para as

    erotapokrseis com vistas a uma paidea que recupere a tradio. Alm disso, permite

    que, ao longo da leitura e traduo do texto, levante-se um vocabulrio conceitual

    singular do pensamento jambliqueano.

    Na pequena introduo aqui proposta, buscou-se demonstrar a potencial

    importncia do texto de Jmblico de Calcis, seja em termos de construo filosfico-

    tergica, seja no que tange ao formato dialtico das erotapokrseis. A pesquisa encontra-

    se em andamento, entretanto, j possvel perceber desdobramentos valiosos para a

    compreenso de um pensamento tergico-filosfico que se refletir no desdobramentodo Neoplatonismo, durante a Antiguidade tardia e no renascimento. A certeza de que a

    traduo da obra de Jmblico aqui estudada, bem como, sua publicao, se afiguram de

    extrema relevncia para o acesso mais amplo a um pensamento filosfico que agora

    comea a ser explorado em nosso pas17.

    Referncias Bibliogrficas:

    17 Vale mencionar os estudos publicados por Ivan Vieira Neto, na rea de Histria, que buscamesclarecer o lugar de Jmblico no Neoplatonismo.

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