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Sumário 1 Introdução ........................................................................................................................... 5

2 A ingratidão crônica ......................................................................................................... 7

3 Viver para si ou viver para os outros ........................................................................ 11

4 Riqueza e Jesus .............................................................................................................. 17

5 Aposentadoria ................................................................................................................. 21

6 Maturidade ........................................................................................................................ 25

7 Liberdade total ................................................................................................................. 30

8 A necessidade do perdão ............................................................................................. 33

9 Caridade material ............................................................................................................ 37

10 O fardo leve do cristianismo ...................................................................................... 41

11 Caridade silenciosa ...................................................................................................... 46

12 O pior chefe .................................................................................................................... 50

13 Vivendo na fronteira ..................................................................................................... 54

14 Trabalhar no que gosta ............................................................................................... 58

15 Reino dos céus .............................................................................................................. 62

16 Privilégios ....................................................................................................................... 66

17 Amar os inimigos .......................................................................................................... 72

18 Estar bem de vida ......................................................................................................... 76

19 As divisões da humanidade ....................................................................................... 80

20 Participação política .................................................................................................... 85

21 Contas a pagar .............................................................................................................. 90

22 A necessidade das guerras ........................................................................................ 95

23 O homem poderoso.................................................................................................... 101

24 Fazer a sua parte ......................................................................................................... 106

25 Lei moderna e lei cristã ............................................................................................. 110

26 Reforma Social ............................................................................................................ 117

27 Dificuldades que fortalecem .................................................................................... 122

28 O que virá depois? ..................................................................................................... 126

29 Insaciedade .................................................................................................................. 130

30 Voto de riqueza ........................................................................................................... 135

Referências: (referências em sistema numérico conforme item 6.2 da norma NBR

10520:2002) ............................................................................................................................ 140

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1 Introdução

A luz do evangelho de Jesus é simples e pura, uma luz tão pura e tão

forte que as vezes é até mesmo meio que difícil olhar diretamente para ela. Da

mesma forma que os animais acostumados à escuridão da noite ou que vivem

dentro de cavernas, nós, espíritos imperfeitos e ignorantes, sentimos muitas

vezes uma certa dificuldade de assimilar esta luz do evangelho.

Muitos ensinamentos de cristo ainda nos parecem meio que

incompreensíveis ou até mesmo ilógicos até os dias atuais, como também

pareciam ser a dois mil anos atrás. Por exemplo a passagem em que Jesus

ensina: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e

terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me.” (1). Quem já conseguiu seguir

este conselho ao pé da letra? Quem seria capaz de fazer exatamente como cristo

nos ensinou? Ou então quando Jesus nos diz que ao invés de revidarmos uma

agressão devemos oferecer a outra face? Será que alguém faz isto? Alguém já

viu esta cena em algum lugar, uma pessoa sendo agredida em um lado da face

e oferecendo o outro lado? E quando Jesus avisa que quem tentar se salvar si

mesmo se perderá; e “qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a

salvará” (2), como será que devemos proceder para nos perdermos por amor de

Jesus e então sermos salvos?

À primeira vista estas lições podem parecem contrariar o senso comum

e a razão, estarão os ensinamentos de Jesus errados? Foram eles distorcidos

pelos homens? Ou será que fazem parte de um sistema ainda acima da nossa

capacidade de compreensão?

A luz do evangelho de Jesus, assim como a luz do sol para uma criatura

das sombras, pode ao primeiro contato parecer agredir a visão, mas não existe

outra opção para aquele que deseja sair das trevas e viver na luz a não ser tentar

assimilar esta luz e se adaptar a ela.

Jesus nos ensinou que todas as leis estão contidas no mandamento:

Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Um

mandamento compacto e simples que contém todos os outros mandamentos,

mas ao mesmo tempo ele também nos deixou dezenas de parábolas e exemplos

de vida e de conduta que traduzem o significado deste mandamento de amor a

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Deus e amor ao próximo. A literatura cristã ainda prossegue esta missão de

explicar e reexplicar, traduzir e retraduzir este ensinamento básico de amor a

Deus e ao próximo, Chico Xavier nos trouxe centenas de livros, todos eles com

esta mesma missão de explicar o ensinamento simples de Jesus, e isto tudo

apenas pelas mãos de um único médium dentre vários outros.

Todo ensinamento, mesmo que simples, se não puder ser facilmente

compreendido, pode se tornar inútil, é por este motivo o evangelho de Jesus está

escrito e reescrito em tantas obras diferentes, todas elas sempre com o mesmo

conteúdo básico, mas que variam em grau de complexidade desde o evangelho

simples e puro contido no novo testamento, às obras de caráter mais filosófico e

também científico de Alan Kardec, passando pelas obras trazidas por espíritos

iluminados e outras ainda que nos trazem ensinamentos contidos em exemplos

mais simples e mais próximos do nosso do dia-a-dia.

Neste último tipo de obra, obra simples e sem grandes ambições, é que

se enquadra este livro, um livro simples que funciona como uma janela para a

luz do evangelho que está lá fora, em local ainda inacessível para nós espíritos

imperfeitos acostumados à escuridão. Na verdade é uma janela meio suja, por

não possuir o mesmo rigor filosófico ou a “mão” direta dos espíritos elevados,

livros simples e sem grandes ambições como este deixam penetrar um pouco da

luz do evangelho numa quantidade moderada, uma janela meio suja que nos

auxilia a abrirmos os nossos olhos de forma gradual e pouco a pouco nos

adaptarmos a esta luz forte e limpa que brilha lá fora.

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2 A ingratidão crônica

Gratidão é o sentimento positivo e harmonizador pelo qual

reconhecemos o bem que outra pessoa nos proporcionou.

O que seria a ingratidão crônica? A partir da frase acima, pode-se

concluir que a ingratidão é a característica da pessoa que não possui o

sentimento positivo de satisfação e reconhecimento do bem que lhe foi

proporcionado. De crônica chamaremos aqui aquela que apesar de esforços

feitos para que seja eliminada, permanece firme e forte e (aparentemente) sem

cura.

Você já viu uma destas pessoas que apesar de não terem uma vida nada

sofrida estão sempre reclamando de tudo à sua volta?

São pessoas que possuem uma qualidade razoável de vida, possuem

uma saúde, se não perfeita, pelo menos razoável, uma condição financeira

razoável, e que não passaram por grandes tragédias pessoais além daqueles

percalços comuns a que todos os seres humanos estão sujeitos.

Apesar disso, este tipo de pessoa está sempre a reclamar, mas não por

um sentimento de indignação pelas injustiças que sofrem as outras pessoas, o

que poderia ser compreendido dada a enorme carga de notícias negativas que

nos bombardeiam diariamente pelos noticiários, mas sim um sentimento de

indignação geral mas restrito apenas às situações que afetam a elas mesmas.

Ora, quem não se sente infeliz com algo lhe prejudique, isso é totalmente

natural, mas as pessoas de bom senso conseguem se desvencilhar de um

pensamento negativo rapidamente, principalmente porque numa sucessão

natural de eventos da vida de qualquer pessoa ocorrem coisas positivas e

negativas todo o tempo; como por exemplo: “passei com meu carro num buraco

que se abriu no asfalto depois da chuva, ao virar a próxima esquina descobri

que aquela outra rua que tinha um asfalto velho cheio de buracos foi recapeada”.

A pessoa com ingratidão crônica irá ficar o resto da semana comentando com

seus colegas de trabalho sobre o possível prejuízo ao seu carro (que nem

chegou a se materializar) e da incompetência da administração pública, dizendo

frases do tipo: “isso é culpa da incompetência desse governo” ou “se fosse em

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tal lugar isto não aconteceria” e se esquecerá de mencionar o fato da outra rua,

que era toda esburacada, agora estar “um tapete”.

Pessoas assim existem em todos os lugares, um dos assuntos mais

comuns e que mais desencadeia reclamações típicas deste comportamento é a

situação política, econômica, social, cultural etc. do Brasil; quantas vezes não

ouvimos frases como: “só no Brasil mesmo” ou “esse país é uma piada” ou ainda

“por isso é que o Brasil não vai pra frente”.

Estas pessoas reclamam da miséria, dos impostos, da corrupção, da

saúde, da educação etc. Mas vejamos, estão reclamando da miséria pelo

sentimento de compaixão pelos miseráveis e indignação pelas condições de

pobreza das pessoas das classes mais trabalhadoras e sofridas como os

pedreiros, faxineiras, garis e trabalhadores rurais? A resposta é não, estão na

verdade reclamando do fato de miseráveis baterem à sua porta pedindo ajuda

todo o tempo, de cruzar com a visão desagradável de uma rua suja com casas

feias de um bairro pobre, com o risco de assalto ao ter que cruzar uma região

cheia de favelas ou moradores de rua etc. Reclamam sempre também dos

impostos, estarão elas indignadas com a carga tributária de 50% que oprime por

exemplo uma família que possui renda de um salário mínimo no Brasil? Não,

estão indignadas mesmo é com a carga tributária de 20% típica das famílias

brasileiras que possuem renda acima de vinte salários mínimos, nos quais elas

por acaso se incluem. E a corrupção? Causa indignação poder oferecer propina

a um guarda, ou transferir a multa para um parente que não possui pontos na

carteira? Não, isso parece não ser problema, nem tampouco a corrupção que

criou um cargo bem remunerado a pessoa da sua família que possui bons

contatos políticos; a indignação é dirigida àquela corrupção que prejudica o

ingrato crônico, como a corrupção do fiscal tributário que “quebra um galho” para

o lojista da concorrência, se fizesse o mesmo para ele não estaria indignado,

também não causa indignação a baixíssima qualidade da educação oferecida às

camadas mais pobres (pois ele pode pagar ensino particular) nem o sistema

corrompido de educação superior teoricamente público e democrático que

praticamente só oferece chances reais de ingresso àqueles que não precisariam

do estado para bancar seus estudos.

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O típico ingrato crônico tem sempre muito a reclamar apesar de sua

condição social, econômica, de saúde etc. razoavelmente boa e

comparativamente ótima; uma analogia muito fácil pode ser feita com uma

criança que possui muitos brinquedos e está sempre reclamando de não possuir

mais ainda ou então por não possuir um igual ao do vizinho, que tem um único

brinquedo e ainda por cima é quase idêntico ao seu. É claramente uma questão

de imaturidade, as pessoas ficam mais velhas mas em relação a certos

comportamentos não conseguem amadurecer, mudam o foco de seus desejos e

reclamações mas permanecem os comportamentos imaturos.

A esta altura muitos de nós já mentalizamos algumas pessoas que se

enquadram neste perfil, mas dificilmente conseguimos nos auto enquadrar

nele, isto é natural, Gandhi certa vez disse que apenas olhando nosso próprios

defeitos com uma lente de aumento e os defeitos dos outros com a lente

invertida é que teremos uma noção aproximada da realidade. Todos

reclamamos daquela injustiça que nos afeta e, como criaturas imperfeitas que

somos, tendemos aceitar com mais facilidade as injustiças que nos beneficiam,

todos temos um pouco (ou muito) deste ingrato crônico, porque passamos

muito do nosso tempo mentalizando aquilo que nos prejudica e muito pouco

raciocinando sobre tudo o que nos foi concedido.

Como evitar então este comportamento? Como não se tornar uma

pessoa parecida um este tal ingrato crônico? Um passo essencial para se

desvencilhar deste comportamento é possuir fé em Deus. Mas por que? O que

Deus tem a ver com isso? O Motivo é que somente a pessoa que tem fé em

Deus , ou seja, aquela que acredita que existe uma força maior governando o

universo e também a sua vida, pode começar a perceber que existe algo a

agradecer além do mero acaso por ter uma condição de vida razoável ou até

mesmo ótima se comparada a uma grande parcela da população que enfrenta

diariamente necessidades e privações e que não é menor do que 70% no mundo

todo, pois no mundo todo aqueles que não sofrem com a pobreza, problemas de

saúde, liberdade, falta de oportunidades etc. constituem um minoria.

Apenas a pessoa que não acredita que seus privilégios comparativos

não são fruto do acaso (como a criança que acha que possui muito mais

brinquedos do que o vizinho por mero acaso) e que não acredita que já tenha

nascido mais merecedora de privilégios e regalias (como a criança que acha que

merece todos os brinquedos porque é a criança mais bonita do mundo), somente

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a pessoa que acredita que uma força maior comanda o universo e por algum

motivo lhe concedeu e ainda lhe concede uma situação física, econômica, social

etc. mais favorecida, sem esquecer também das oportunidades de trabalho e

estudo que lhe proporcionaram ter tudo o que têm, somente esta pessoa pode

possuir a gratidão por tudo o que conquistou.

Somente a pessoa que possui esta noção de que por algum motivo,

alguma força maior lhe colocou numa situação que está longe de ser das piores

e que lhe são oferecidas oportunidades que não são oferecidas à maioria das

outras pessoas, somente este indivíduo está apto a enxergar com clareza

suficiente para poder colocar na balança as suas dificuldades e as suas

facilidades, suas desvantagens e seus privilégios, e fazer a medição correta de

quantas pedras lhe são atiradas no caminho e quantas oportunidades lhe são

oferecidas, ou de quantos buracos existem no asfalto velho e quantas ruas

ganharam asfalto novo.

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3 Viver para si ou viver para os outros

Existem duas maneiras básicas de se viver a vida: para si ou para os

outros.

Algumas pessoas vivem quase que exclusivamente para si, outras vivem

quase que exclusivamente para os outros, mas a grande maioria de nós está

mesmo perdida entre estes dois opostos ou não sabe muito bem para o que vive

e vive na verdade um conflito eterno entre o que gostaria de viver e o que é

obrigada a viver.

Mas o que seria exatamente viver para si ou para os outros?

Não é muito difícil examinar o comportamento de algumas pessoas e

rotula-las como pessoas que vivem só para si (egoístas) ou para os outros

(altruístas), sendo que a grande maioria de nós aceita facilmente o egoísmo

como algo negativo e que temos de evitar, pouquíssimas são as pessoas que

aceitam ser chamadas de egoístas e se sentem bem com esse rótulo.

Mas existe uma certa distância entre entender basicamente o que

significa uma e outra coisa, aprovando uma como o modelo ideal e rejeitando a

outra, e adotar o comportamento socialmente aceito como o correto, ou seja, o

oposto do viver para si (egoísmo) o altruísmo. Entender o egoísmo e visualiza-lo

no comportamento alheio costuma ser muito mais fácil do que evitar este

comportamento em nós mesmos e então praticar o oposto dele.

Este conflito entre o que eu sei e considero que deva ser o correto e o

que meus desejos e vontades me fazem buscar é a causa de inúmeras

decepções na vida da maioria das pessoas e também a causa de inúmeros

conflitos sociais e familiares.

Vejamos alguns exemplos:

Para um pai de família, o que seria viver para si e viver para os outros.

Viver para os outros seria ocupar o papel esperado de um pai de família,

aquele que trabalha para prover o lar, não o lar como um ninho de descanso e

prazer para ele mesmo, mas o lar de sua família, tendo como principal objetivo

obter conforto e segurança para os outros integrantes da família, o pai de família

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que vive para os outros se preocupa com o bem estar da sua esposa e filhos em

primeiro lugar, a casa confortável em lugar seguro como local de descanso e

convívio para a educação e desenvolvimento dos filhos e que proporciona por

sua vez o necessário para que a esposa também desempenhe seu papel com

tranquilidade. O conforto, lazer e tranquilidade que ele obtém neste mesmo lar é

mera consequência do convívio sob o mesmo teto naquele lar que ele construiu

pensando nos outros em primeiro lugar.

Para um pai de família, viver para si é enxergar no lar um local de prazer

conforto e descanso para ele mesmo, o pai de família que vive para si coloca

suas prioridades acima das prioridades do restante da família, o conforto da

família é consequente do conforto que ele busca para si mesmo, e como

geralmente ele costuma concentrar uma maior parcela de poder nas decisões

de compra de itens para o lar, este pai de família acaba deixando de suprir

algumas necessidades básicas do lar; mas a pior face do comportamento do pai

de família que vive para si é que sendo o lar um território de convívio e

aprendizado coletivo em que surgem conflitos naturais, este pai de família

começa a criar meios de fuga deste ambiente, o futebol com amigos e o bar

estão entre os pretextos mais comuns que o pai de família do tipo que vive para

si encontra para conseguir manter distância dos conflitos familiares que não se

resolvem sozinhos sem a sua participação e, pelo contrário, vão se acumulando

e se transformando em grandes problemas e grandes falhas na educação dos

filhos. O pai de família que vive para si na verdade tenta fugir do papel de pai de

família, tentando manter de alguma forma os prazeres que tinha antes de

assumir este compromisso, está sempre procurando os amigos dos tempos de

solteiro, as bebedeiras dos tempos de solteiro, a falta de compromisso e de

horários que tinha no tempo de solteiro etc. Resumindo, o pai de família que vive

para si não é um bom pai de família.

E no mundo do trabalho, o que seria viver para si e para os outros?

Vamos tomar como exemplo a mais nobre das profissões, o médico. O médico

que vive para os outros coloca seus interesses em segundo plano, as ambições

naturais de construir uma carreira e ser retribuído e reconhecido adequadamente

são para ele muito menos importantes do que as imensas oportunidades de

ajudar, curar e salvar vidas; seu dia-a-dia é cada vez mais e mais dominado pelo

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intuito de corresponder às expectativas das dezenas de pessoas que depositam

nele a esperança de uma cura; o agradecimento sincero e emocionado das

pessoas que ele ajuda e que muitas vezes não tem a menor condição de

proporcionar para ele qualquer retribuição financeira é para este profissional algo

muito mais valioso dos que a multiplicação da sua renda.

Já o médico que vive para si fez, como todos os outros, o juramento de

salvar vidas, mas o seu estilo de vida acaba ofuscando este grande

compromisso. Assisti a algum tempo atrás o filme do Bezerra de Menezes e nele

o personagem principal afirma em certo ponto que: aquele médico que faz

exigências e cobra valores altos ou só atende as pessoas que tem condição de

pagar não é médico, mas negociante de medicina; atualmente vemos multiplicar

cada vez mais e mais o número destes negociantes de medicina, profissionais

que com o intuito de multiplicar sua renda assumem diversos cargos com cargas

de trabalho que se cumpridas integralmente passariam de 24 horas diárias, o

resultado é que ele não cumpre e nem poderia cumprir suas cargas horárias, o

que acaba refletindo na ausência destes profissionais justamente nos locais e

situações onde sua presença é mais necessária, e a população mais carente

que depende do sistema público de saúde é quem paga por este comportamento

do nobre trabalhador que exerce a nobre profissão mas que decidiu viver para

si.

E quanto à vida pública e os grandes compromissos sociais? O que seria

para um político viver para si ou viver para os outros?

É muito fácil imaginar como seria um político que vive para os outros, é

simplesmente o político que cumpre, ou pelo menos tenta cumprir, aquelas

maravilhosas promessas que vemos sempre no horário político da televisão. A

verdade é que no mundo real é quase que impossível encontrar um político, de

qualquer linha ideológica e em qualquer parte do mundo, que saiba o que

significa viver e viva para os outros; é inerente à própria luta pelo poder político

a corrupção moral dos cidadãos que deveriam representar o interesse da maioria

e principalmente os mais necessitados, sendo quase que uma regra geral que

políticos em todos os tempos sempre representaram os interessem das minorias

poderosas, seja em uma democracia em que o financiamento das campanhas é

feita pelos grandes grupos privados ou em uma ditadura em que a figura pública

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do político serve aos interesses das minorias privilegiadas que sustentam as

estruturas de poder autoritárias. O político que vive para si é aquele que ignora

o conteúdo de seus próprios discursos e vende seu cargo em troca dos títulos e

bajulações do poder e dos privilégios e rendas que obtém de diversas formas

como sobras de campanhas, caixa dois, cargos a familiares, investimentos de

empresários que jorram em empresas privadas que ele mantém paralelamente

à função pública e muitas outras formas de enriquecimento que quase sempre

possuem uma fachada de legalidade. O político que vive para si, assim como o

pai de família e o médico que vivem para si, desempenha muito mal a sua função,

é um mau político.

Vamos dar uma “olhada” agora em figuras que, ao contrário das

anteriores, exercem atividades nada respeitáveis.

Um criminoso vivendo para si está em seu habitat natural, seja sozinho

um em grupo o criminoso tem como regra de vida viver para si, não tem respeito

pela propriedade e vida alheias, para obter pequenas vantagens pessoais causa

desde prejuízos até grandes tragédias nas vidas das pessoas que cruzam o seu

caminho; se age em bandos não confia em nenhum de seus comparsas e eles

também sabiamente não confiam nele, o criminoso que vive para si é um grande

criminoso e respeitado entre seus pares, exerce bem sua função.

E quanto ao terrorista? Como poderia um terrorista não viver para si?

Somente munido de um sentimento egocêntrico e um total descaso pelas outras

pessoas uma pessoa pode achar que atacar pessoas inocentes e desarmadas,

entre elas mulheres, idosos e crianças, é uma boa ideia, seja qual for a causa e

qual a ideologia o terrorista só pode estar pensando em si mesmo, na futura

glória e poder que pode obter, quem sabe, de revoluções sangrentas iniciadas

por ataques covardes, um terrorista que vive para si está apto a agir como

terrorista, se vivesse minimamente para os outros não teria coragem de praticar

nenhum de seus atos.

Por último vamos ver o ditador. O ditador impõe sua vontade de forma

autoritária, se obedecesse à vontade popular poderia se sujeitar tranquilamente

ao sistema democrático, mas, pelo contrário, sua condição de ditador é

necessária para que imponha a sua vontade particular e também a vontade do

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pequeno grupo que o apoia contra a vontade da maioria; isto por si só já nos

mostra que o ditador não vive para os outros, vive para si; viver para os outros

significaria abdicar do poder quando as massas não acatassem voluntariamente

as suas ideias e decisões, vivendo para si pode tranquilamente ignorar o apelo

popular e usar a força para se manter no poder quando necessário. O ditador

que vive para si é com certeza um grande ditador.

Vimos que tanto na vida privada dentro da família, como no mundo do

trabalho e também na vida pública, a pessoa que vive para si ao mesmo tempo

que causa grandes decepções e sofrimento para todos à sua volta, também gera

para si decepções e tristezas equivalentes. Alguém tem dúvida de que o pai de

família que vive no bar e tem uma família desestruturada é muito infeliz se

comparado ao pai de família que troca o seu lazer egoísta pelo lazer em família?

Será que o médico que possui uma renda altíssima e que acumula riqueza ao

mesmo tempo em que gera sofrimento, tristeza e rancor das pessoas que

agonizam por causa de sua ausência, é mais feliz do que o outro médico que

mesmo numa jornada única de 8 horas diárias ainda recebe uma retribuição

bastante razoável e leva uma vida confortável ao mesmo tempo em que cumpre

suas obrigações e está sempre presente, acumulando gratidão e

reconhecimento dos seus pacientes? Será que o político que se vende aos

interesses dos poderosos e conquista grande prestígio mentindo e enganando a

população é mais feliz do que o outro político que não aceitou se vender e, em

consequência, não conseguiu se eleger, mas que possui ideais nobres e

sinceros, acredita no que diz e é realmente respeitado e admirado por pessoas

bem informadas que veem nele um modelo a ser seguido, enquanto que o

primeiro conquista votos dos ignorantes (de todas as camadas sociais) que

vedem o voto por uma dentadura ou por um favor no alto escalão?

O livre arbítrio nos permite viver como bem quisermos, mas a análise da

realidade nos mostra como é enganosa e infeliz a estrada daquele que escolheu

viver para si. De forma que só existe uma opção real para a busca de uma vida

melhor e mais feliz, viver para os outros. Contrária ao nosso instinto animal de

sobrevivência, a opção de viver para os outros, alimentar aos outros, dar conforto

aos outros, lutar pelos outros, acatar à vontade dos outros, trabalhar pelos

outros, sofrer pelos outros, é paradoxalmente o único caminho para uma vida

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feliz, mas essa é uma conclusão a que só o homem realmente racional consegue

chegar.

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4 Riqueza e Jesus

Jesus veio à terra com uma missão?

Acreditamos que sim.

Para o desempenho desta missão acreditamos também que ele tenha

vindo no momento em que escolheu, no local em que escolheu e também nas

condições em que ele mesmo escolheu.

Sabemos que Jesus era pobre, não um pobre miserável ou mendigo,

mas pobre no sentido de estar distante da riqueza, de ter de trabalhar para

merecer o próprio sustento, e assim ele fez durante toda a sua vida até o

momento em que iniciou suas andanças ensinando o evangelho.

Mas porque ele teria escolhido esta posição humilde? Porque escolher

nascer entre os trabalhadores simplórios em vez das posições de destaque?

Vamos então dar uma olhada em alguns de seus ensinamentos e

algumas de suas palavras e exemplos para, quem sabe, encontrar neles a chave

desta sua escolha.

Vamos imaginar por exemplo como seria o encontro de Jesus com

Zaqueu, aquele publicano (coletor de impostos) rico e corrupto como a maioria

em seu tempo. Diante do encontro com Jesus, emocionado ele

espontaneamente disse que iria doar metade de tudo o que possuía aos pobres,

e às pessoas que ele tivesse fraudado devolveria o valor quadruplicado. Jesus

então diz que a salvação veio àquela casa (casa de Zaqueu).

Como seria um Jesus rico diante desta cena à vista dos olhares da

multidão? Ficaria ele quieto e não diria nada sobre suas próprias riquezas? Não

iriam achar que ele era um hipócrita por abençoar um homem que abre mão de

metade de seus bens em benefício dos pobres ao mesmo tempo em que não diz

uma palavra sobre seus próprios bens? A única solução lógica seria ele, naquele

mesmo momento, também afirmar que abriria mão de igual porção de seus bens,

e ainda assim para apenas se igualar em bondade a um publicano conhecido

por todos como grande pecador, e lá se vão metade dos bens do nosso “Jesus

rico”.

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Em outra oportunidade, está Jesus no templo pregando próximo do local

onde eram feitas doações quando ele avista então uma pobre viúva que deixa

duas moedas que não valiam quase nada, diferentemente dos muitos ricos que

depositavam ali grandes quantias com a intenção de se exibir; Jesus então diz

que naquele dia a viúva havia feito a maior doação, porque teria doado o que

realmente lhe fazia falta, ao contrário dos outros que doaram o que lhes sobrava.

O nosso fictício “Jesus rico” cairia novamente em contradição, pois como

sendo rico não cometeria o mesmo erro dos outros ricos que estavam ali

depositando quantias expressivas, mas que não chegavam a lhes fazer falta? A

única solução seria doar também uma quantidade tão expressiva que lhe fizesse

falta real, ao ponto de que só poderia lhe restar de toda a sua fortuna o suficiente

para o básico, nada mais de luxos, supérfluos e objetos de ostentação; e lá se

vai mais uma vez a fortuna do “Jesus rico”.

Mais difícil ainda seria conciliar o ensinamento de Jesus quando ele

disse “meu reino não é deste mundo” (3), se o seu reino não é deste mundo e

ele não persegue as riquezas e o poder deste mundo, o que estaria fazendo

Jesus na posse de grande fortuna?

Também ensinou Jesus que na luta pela conquista de poder e riqueza o

homem obtém muitas vezes o que procura, mas neste caminho acaba deixando

naturalmente de lado os valores morais de solidariedade e amor ao próximo,

cometendo muitas vezes pequenos e grandes crimes que o fazem a chegar à

conclusão “que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua

alma?” (4), como se livraria o nosso “Jesus rico” desta contradição? Seria ele o

único a poder conquistar o mundo, conquistar e também manter, defendendo as

suas riquezas com a violência naturalmente necessária, e ainda assim manter a

sua alma? Soaria mais uma vez como hipocrisia, destas que vemos tantas vezes

nos discursos de inúmeros falsos profetas.

Imagine ainda a ocasião da crucificação; preso injustamente pelos

poderosos do seu tempo que o viam como uma ameaça ao seu poder, não

porque Jesus buscava o poder, mas porque seus ensinamentos contrariavam

as leis dos hipócritas, Jesus não dá gritos desesperados nem instiga a população

a livra-lo de seus perseguidores, nem promete vingança ou faz ameaças como

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agiria um homem rico e poderoso, possuidor de muitos guardas e escravos

sempre prontos a defende-lo; e se mesmo sendo rico e poderoso não se

utilizasse destes recursos estaria como que renegando o seu poder e os seus

subordinados, abandonando a posição de homem poderoso e adotando neste

momento a conduta de homem humilde.

Difícil seria também explicar o seu conselho ao jovem rico, ao qual disse para

vender todos os bens, doar tudo aos pobres e depois o seguir; o jovem romano

precisaria doar seus bens enquanto o “Jesus rico” não precisaria fazer o

mesmo?

O comportamento do mestre é sempre uniforme em sua jornada e não

conseguimos encontrar contradições. Quem entende este comportamento de

Jesus diante da humildade e do poder consegue facilmente entender por que ele

disse aos seus discípulos que aquele que quisesse ser o maior perante Deus

deveria ser o último entre os homens e o servidor de todos.

A lógica de suas lições e exemplos combina perfeitamente com o seu

ensinamento maior: Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si

mesmo, quem ama a Deus e também ao próximo como a si mesmo não irá

buscar posição de destaque sobre o próximo, não irá procurar os títulos o status

e o poder que o coloque acima do próximo, não irá buscar o conforto que o

próximo (ou a maioria dos próximos) não possui, não buscará luxos e supérfluos,

porque a própria noção de luxo e supérfluo é de algo que tem mais utilidade

como item de exibicionismo e exagero do que de utilidade e necessidade.

Se um dia ocupar uma posição de destaque ou comando, a pessoa que

ama a Deus sobre tudo e ao próximo como a si mesmo se sentirá desconfortável

com a posição de destaque sobre os seus próximos, que nada mais são do que

os outros filhos de Deus, e buscará nesta posição sempre ofuscar qualquer sinal

de sua superioridade ou poder e tentará ao máximo possível agir com humildade

para que, mesmo estando no comando, os seus próximos sintam que ele é um

servidor de todos.

Estamos todos sempre procurando andar com Jesus, estar com Jesus,

seguir Jesus e frequentemente nos esquecemos de que Jesus não procurou a

riqueza, não procurou o poder, não procurou o conforto e o luxo, Jesus não exibia

itens de valor, não andava de carruagem, não se gabava de possuir qualquer

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coisa, não se isolava do convívio dos humildes e ainda dizia que para estarem

com ele os poderosos é que deveriam aprender a trilhar o caminho dos humildes.

Se nós com tanta frequência nos vemos andando por estes caminhos por onde

Jesus não andou, como podemos querer ver ele no nosso caminho?

Disse ele ainda “é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha

do que entrar um rico no reino de Deus” (5) será que estão todos os ricos

condenados ao inferno? Será que não há salvação possível para aqueles que

estão no poder? Acreditamos no amor de Deus e por isso acreditamos que a

salvação é sempre possível e não pode existir condenação prévia ou eterna para

nenhuma alma, aliás como poderia ser justo Deus se fizesse nascer uma pessoa

numa posição de destaque e com isso já estivesse condenando-a a estar longe

do reino dos céus?

Temos sempre de lembrar que a vida é uma escola e a posição que cada

um ocupa nesta vida é exatamente a posição que Deus, movido apenas pelo

amor, escolheu para que pudéssemos ter o melhor aproveitamento. Seja a

riqueza ou a pobreza, tudo o que se passa diariamente em nossas vidas não é

nada mais do que um teste, seja um teste de resignação e fé para o pobre ou o

teste, muito mais difícil, de humildade para o rico. Na escola da vida a matéria

humildade é a que mais reprova a nós, alunos descuidados, e sem a aprovação

nesta matéria o diploma que estamos buscando é impossível.

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5 Aposentadoria

Quando irei me aposentar?

Esta é uma pergunta que todos nós fazemos mais cedo ou mais tarde.

É praticamente uma regra geral de nossa sociedade que o homem não só pode,

como deve em certo momento de sua vida deixar o lado produtivo da sociedade

e se dedicar ao descanso.

Mas vamos antes aproveitar para analisar outras ideias e conceitos

amplamente aceitos nessa nossa mesma sociedade.

Por exemplo, o trabalho. É um direito universal do homem, um dos

valores mais sagrados de nossa sociedade, as ideias ligadas ao trabalho trazem

quase sempre um conotação positiva, enquanto a abstenção voluntária do

trabalho traz ao mesmo tempo, quase sempre, uma conotação negativa. A

vagabundagem não é vista por nenhuma sociedade e em nenhuma época como

algo louvável, sendo inclusive sinônimo de criminalidade.

Outra ideia amplamente aceita é o conceito de céu ou inferno. Seja nas

concepções mais antigas e infantis ou nas doutrinas e filosofias mais racionais,

o conceito de céu e inferno se traduz na ideia de que as más ações trarão más

consequências para o seu autor da mesma forma como, de modo contrário, as

boas ações serão recompensadas.

Estes são conceitos que aprendemos desde criança, raros são os pais

que não ensinam os seus filhos a praticar boas ações e evitar as más para que

sejam recompensados de acordo, assim como raros são também os pais que

não ensinam desde cedo aos seus filhos os valores inerentes ao estudo e o

trabalho.

Baseando-se nestas concepções amplamente aceitas é fácil se chegar

à conclusão de que o céu (seja qual for o conceito que cada um possui a respeito

de céu) é um lugar habitado por pessoas boas, ao contrário do inferno que seria

reservado aos maus; dentro desta mesma lógica podemos concluir que sendo o

trabalho um valor nobre e admirável, o céu estaria provavelmente sendo

habitado por muitas pessoas trabalhadoras e o inferno seria o local muito mais

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propício a encontrar as pessoas que não possuem a qualidade nobre de

trabalhadores, o inferno estaria assim cheio de vagabundos.

A ideia tradicional de céu que a igreja possui é de um lugar de descanso

e paz, num ócio eterno, estariam ali os eleitos num infinito deleite sem a

necessidade de esforço algum, num eterno descanso, vazio e improdutivo. A

contradição fica ai bem evidente, como poderiam se sentir em paz e felizes as

pessoas que naturalmente de dedicaram ao trabalho durante toda a vida? Não

aquelas que foram forçadas a trabalhar contra a vontade, mas sim aquelas que

por iniciativa própria se dedicaram sempre a atividades produtivas, os

verdadeiros trabalhadores de boa vontade.

O céu, dentro da lógica do valor moral do trabalho e do conceito de

recompensa pelas más e boas ações, seria um lugar habitado por trabalhadores

dedicados e ativos. Estas pessoas, sendo trabalhadoras e ativas, naturalmente

não conseguiriam obter paz de espírito e felicidade alguma se não fossem

oferecidas a elas oportunidades sempre novas de trabalho, colocando-se em

atividades produtivas e benéficas à coletividade, ou será que ao adentrar no céu

os eleitos mudariam automaticamente sua personalidade, adotando o

comportamento dos vagabundos?

Então o céu que buscamos para o momento em que não mais

precisaremos sofrer os desgastes e sofrimentos da vida na terra é obviamente

um local de muito trabalho, onde o descanso é o mínimo possível e o trabalho é

eterno, pois um lugar cheio de pessoas que não fazem nada e se sentem bem

assim não poderia ser o céu.

Mas ao mesmo tempo que buscamos o céu no nosso futuro, passamos

boa parte de nossa vida sonhando com a aposentadoria; muitos de nós

aguardamos a cada semana que um número de um sorteio de loteria nos livre

do trabalho para o resto de nossas vidas, muitos outros aguardam que o sucesso

em uma empreitada empresarial ou um investimento financeiro com grandes

retornos os livrem do trabalho até o final de suas vidas, quando então ao

entrarem no tão desejado céu, e ai está a grande contradição, passaremos a

eternidade trabalhando sem descanso.

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Porque afinal a vagabundagem eterna só pode ser o destino daqueles

que não merecem o céu, vagabundos, preguiçosos e ociosos devem haver aos

montes no inferno, mas não é para lá que queremos ir não é mesmo?

Tendo em mente como é a vida no nosso tão desejado destino, e

desejando o mais breve possível ingressar neste “reino dos céus” faz sentido se

preocupar tanto com a aposentadoria? Será que uns dez ou vinte anos de

descanso no final da vida fazem tanta diferença assim se o nosso destino é a

eternidade trabalhando pelo bem ao lado de Jesus? Não dez, cem ou mil anos,

mas sim a eternidade, sempre trabalhando cada vez mais, cada vez mais ativo

e produtivo, cada vez mais motivado.

Jesus respondeu aos judeus que o questionavam porque estaria ele

efetuando curas num sábado dizendo: “Meu pai trabalha até agora, e eu trabalho

também” (6). O descaso é uma necessidade natural do corpo humano, e o

sábado foi criado como dia reservado ao descanso para aquele povo que,

escravizado, não possuía qualquer oportunidade de descanso, meditação,

convívio em família e prática religiosa etc.; nós muito diferentemente de outros

povos em épocas antigas, possuímos nossos sábados e domingos, nossos

feriados e férias anuais.

A aposentadoria é um instituto criado como meio segurança social, para

que indivíduos em idade avançada (idade esta que varia conforme as épocas e

avanços da ciência) não sejam obrigados a trabalhar para terem seu sustento

quando o corpo já não é mais capaz de desenvolver qualquer atividade

produtiva, ou seja, a aposentadoria por tempo de trabalho ou por idade avançada

pressupõe uma invalidez do corpo após tantos anos de trabalho ou certa idade,

da mesma forma que um trabalhador acidentado na flor da idade também tem

direito a aposentadoria por esta invalidez, mas inexistindo a invalidez a

aposentadoria não se justifica.

Como é impossível para uma lei ou um sistema de previdência prever

todas as situações da vida real, são criadas regras gerais que servem para todos

mas que não são de forma alguma perfeitas; para se prevenir que pessoas

incapacitadas pelo trabalho desgastante ou pela senilidade sejam obrigadas a

continuar trabalhando, o benefício da aposentadoria é concedido a todos que

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atinjam certa idade ou certo tempo de contribuição e é assim, inevitavelmente,

concedido a muitas pessoas que não estão de forma alguma incapacitadas ou

inválidas.

Como uma regra geral genérica da lei nunca será capaz de regular todas

as situações da vida real, a única regra geral capaz de efetivamente conceder

aposentadoria a todos os incapazes e não conceder a nenhum trabalhador

capaz, seja de qual idade for, é a regra do amor ao próximo.

A regra ou lei do amor ao próximo, pode motivar o trabalhador que já

atingiu os requisitos mínimos da lei para obter a aposentadoria, a continuar a

trabalhar, por puro amor ao trabalho sempre útil ao próximo. O aplicador desta

lei será sempre o próprio indivíduo beneficiário da aposentadoria que deve

decidir quando parar de trabalhar, quando suas forças realmente o impedem de

continuar trabalhando e ser útil à sociedade, seja no emprego formal ou no

trabalho voluntário não remunerado, sendo que este último pode obrigar o

indivíduo a ter que obter o benefício governamental para tornar possível o

exercício da atividade voluntária necessariamente mais nobre e mais exigente.

Porque deixar de trabalhar para viver uma vida de descanso e deleite,

ao mesmo tempo em que tenho consciência de que meu corpo não me obriga a

isso, de que ainda posso ser produtivo e útil e na verdade minhas habilidades

intelectuais acumuladas, ao contrário do corpo envelhecido, me possibilitam ser

mais produtivo do que quando jovem e inexperiente?

A aposentadoria voluntária para se dedicar ao descanso improdutivo e o

ócio, em idade ainda produtiva e em condições físicas razoáveis, começa a não

fazer muito sentido na cabeça da pessoa que realmente tem o tal amor ao

próximo, essa regra essencial do evangelho de Jesus, e ai ele se pergunta:

Quando irei me aposentar? Se Deus quiser, nunca.

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6 Maturidade

Quanta coisa mudou desde quando eu era jovem.

Quando eu era mais jovem achava que o aborto era uma coisa normal,

que qualquer pessoa que tivesse uma gravidez indesejada poderia fazer uso

desse recurso indiscriminadamente, e que não seria problema nenhum; eu não

tinha consciência de que a lei proíbe prevendo penas severas e quando soube

da proibição na lei, não fazia muita ideia do por que desta proibição.

Hoje eu sei que, independente do debate político sobre direitos da

mulher e direito à vida e da influência da igreja católica sobre a nossa legislação,

o aborto é um crime; não apenas no sentido de ser proibido pela lei, mas,

principalmente, por ser um crime contra a vontade de Deus e as leis de Deus.

Não significa que Deus não gostando de ser contrariado tenha um espírito

vingativo, e por isso devemos temer contrariar suas determinações. Mas, muito

pelo contrário, o aborto contraria a vontade de Deus expressada unicamente pelo

seu amor, o amor de Deus que permitiu que uma vida fosse gerada, no melhor

momento possível; não aquele momento e situação que nós julgamos ser o

melhor, mas o momento ideal para que nós, criaturas imperfeitas, enfrentemos

os desafios e lições que só a experiência de cuidar de um outro ser humano

podem trazer. Da mesma maneira que uma professora sabe qual lição difícil

deve ser apresentada ao seu aluno em cada momento do seu aprendizado, a

professora, assim como Deus, apresenta a lição dura e difícil com a melhor das

intenções, no momento e situação que ela julga oportuno.

Quando eu era mais jovem também adorava carros, conhecia todos os

modelos, todas as especificações, todos os detalhes que não fazem a menor

diferença do dia-a-dia, ao mesmo tempo em que sonhava em ter uma Monza

(daquele modelo mais antigo) prateado com vidros escuros, rebaixado e pneus

largos. A aparência do carro afinal era mais importante que tudo, mais do que o

conforto a estabilidade, economia, potência etc.

Hoje enxergo os carros de forma totalmente diferente, não são para mim

mais do que um meio de transporte, ante a decisão entre comprar um zero

quilometro ou um semi-novo, hoje penso apenas nos custos e benefícios e entre

esses benefícios não estão de forma alguma a aparecia do carro ou o que os

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colegas, familiares e vizinhos vão achar do meu carro, aliás, colocando tudo na

ponta do lápis acabei decidindo ficar com os velhinhos, e não me importo nem

um pouco (ou pelo menos acho que não me importo) com o fato de a maioria

das outras pessoas terem carros bem mais novos que o meu.

Quando mais jovem também tinha outra visão sobre a honestidade.

Eu não era desonesto (graças a Deus), mas os motivos que me faziam

ser honesto, ou me abster da desonestidade, eram totalmente diferentes. A

razão pela qual eu não praticava pequenos crimes como por exemplo levar um

doce ou outra coisa de pequeno valor da prateleira de uma loja enfiando no bolso

para não pagar, ou roubar o caixa de uma loja em que trabalhasse, ou ainda

aplicar golpes ou trapaças causando prejuízo a pessoas desatentas, era o medo

de ser pego, o medo da humilhação pública e com o passar dos anos foi também

ficando mais forte o medo da certeza da justiça divina.

Hoje, muito diferentemente, o pensamento que primeiro me vem à mente

ao me deparar com uma situação ou “oportunidade” em que poderia ser

desonesto e obter algum tipo de vantagem é o medo de prejudicar aos outros e

não o medo da lei. A lei tenta delimitar os direitos e deveres de cada um para

impedir que uma pessoa seja prejudicada injustamente pela atitude de outra, e

tendo em mente que tudo o que a lei proíbe tem, em teoria, um prejudicado do

outro lado, hoje minha primeira reação ao me deparar com alguma proibição é

tentar imaginar quem seria o prejudicado pela minha atitude desonesta e,

baseando-me neste pensamento, evito praticar qualquer atitude desonesta, não

apenas aquelas consideradas desonestas segundo a lei, mas qualquer atitude

em geral que eu perceba ser capaz de prejudicar outras pessoas.

Quando era mais jovem o trabalho era uma obrigação, um fardo, um

incomodo a que era obrigado a me sujeitar para poder obter as coisas que

desejasse; trabalhar o mínimo e descansar o máximo era a norma e se fosse

possível tentaria sempre conseguir o trabalho que fosse menos cansativo ou o

trabalho no qual pudesse passar a maior parte das horas em distrações alheias

ao trabalho.

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Hoje também enxergo o trabalho de outra maneira, o trabalho cansativo

continua me cansando, a sexta feira ou o sábado continuam sendo dias

esperados, a hora de ir para casa ainda me anima, mas, muito diferentemente,

hoje vejo no trabalho além de uma obrigação também uma benção; a

oportunidade de trabalhar, de ser útil em qualquer tipo de atividade não pode

nunca ser desvalorizada. Hoje penso sempre em fazer o máximo possível dentro

das obrigações que possuo no trabalho; se o trabalho acaba, vou procurar mais;

se sinto sono eu cansaço e moleza, vou rapidamente procurar o cafezinho; sinto

vergonha de enrolar, fazer corpo mole, fingir que estou me esforçando muito

quando na verdade não estou e procuro pensar nas pessoas que não possuem

as oportunidades que eu tenho, o salário garantido no fim do mês que eu tenho

e como elas se sentiriam ao me ver fazendo pouco caso dos privilégios que

possuo.

Pra terminar vou lembrar também que quando era mais jovem a ideia de

ser muito rico ou de ganhar muito dinheiro sem esforço ou merecimento algum

parecia muito boa. Pensava em todas as futilidades e coisas inúteis que poderia

comprar, na vida boa e sem trabalho que poderia levar e naquelas maluquices

que só quem tem muito dinheiro, como os milionários excêntricos, pode fazer.

Hoje isso também mudou. Hoje vejo o dinheiro muito mais com uma

maneira de suprir necessidades do que como uma ferramenta para satisfazer

extravagâncias; vejo todas as tolices que as pessoas que tem muito dinheiro

fazem e não sinto inveja delas e tenho consciência de que quem leva uma vida

com uma renda mediana se livra de muitos problemas como intrigas, disputas

familiares, inveja, falsidade, além do constante estado de paranoia em que vivem

os mais ricos devido à criminalidade.

Ai eu penso: Quanta coisa mudou em pouco mais de vinte anos!

E essa mudança não é fruto somente da evolução normal no

pensamento de um jovem ou adolescente para o pensamento de um adulto, com

a aquisição de um pouco de experiência e cultura. Sei disto porque vejo muitas

pessoas, que pensavam como eu, ainda presas às mesmas ideias após todo

este tempo; e vejo também outras que deste a juventude já não possuíam estas

ideias infelizes, estavam desde quando jovens um passo já à minha frente. Ao

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mesmo tempo vejo pessoas mais velhas e até idosas que seguem estes

preceitos egoístas que não trazem felicidade para ninguém.

Acredito eu que estas mudanças de pensamento, a que todos estamos

sujeitos, se devem à evolução moral do espírito. Independente da nossa idade

contada em anos nesta vida, nosso espírito pode ser mais velho ou mais jovem,

ou, melhor dizendo, mais ou menos esclarecido, mais ou menos apegado às

ideias egoístas e imaturas. Esta seria a explicação para o comportamento sadio

e inteligente de algumas pessoas jovens e o comportamento imaturo e ignorante

de algumas pessoas mais velhas.

E enxergando a vida e esta evolução moral constante com o

conhecimento da imortalidade do espírito eu penso: Como será que eu serei

daqui mais vinte anos? Será que manterei ainda as mesmas ideias que tenho

hoje? Minha esperança, e quase certeza, é de que não. E muito provável é

mesmo que daqui vinte anos eu veja o meu “eu” de hoje como um sujeito

ignorante de muitas coisas, com muitas ideias e conceitos por melhorar; assim

eu quero, assim eu espero, porque esta é a lei natural da evolução do homem.

Vamos por final imaginar como estaremos não daqui a vinte, mas daqui

duzentos anos, ou ainda dois mil anos; uma boa ideia pode ser obtida ao se

acompanhar a evolução moral de um espírito como o de Emmanuel, uma

comparação simples entre o orgulhoso e ignorante patrício romano do livro Há

Dois Mil Anos (7) e o mentor espiritual iluminado de Chico Xavier. Imaginem mais

ainda, imaginem dois milhões de anos, quanta coisa por aprender, quantas

ideias das que temos hoje serão substituídas em nossa mente por outras muito

mais sábias e cristãs.

É por isso que temos sempre que ser humildes, o máximo que pudermos

e sempre considerarmos a grande possibilidade de estarmos completamente

enganados e assim nos prepararmos para adotar novos pensamentos, nos

desvencilhando de velhas ideias e preconceitos. Também devemos sempre

estar dispostos a estudar e tentar aprender algo novo a respeito do evangelho

de Jesus que traduz a lei de Deus e assim desta forma, quem sabe, estarmos

prontos para abandonar o mais rápido possível aquele velho “eu”, aquele “eu”

meio ignorante, egoísta e orgulhoso, o “eu” de hoje.

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7 Liberdade total

Como é bom ser livre, poder fazer o que quiser, na hora que quiser e do

jeito que quiser, não ter os seus desejos reprimidos por ninguém nem por

nenhuma imposição da lei.

Será que existe no mundo alguém assim? Alguém livre desse jeito?

Muitas pessoas sonham em ter uma grande soma de dinheiro para poder

desfrutar desta liberdade, mas a verdade é que nem mesmo as pessoas mais

ricas do mundo e nem os ditadores e reis mais poderosos tiveram algum dia esta

liberdade.

Algumas destas pessoas muito ricas acharam que o dinheiro compraria

tudo, inclusive a liberdade para fazerem o que quisessem, mas a realidade é que

na nossa sociedade todos estão sob o império da lei. Alguns destes acham que

com o dinheiro podem comprar a justiça e a opinião pública, mas a realidade é

que, se tentam fazer isso, fazem sempre com medo de serem descobertos e

nunca podem falar publicamente sobre o que fizeram sob pena de despertarem

a revolta geral e a efetiva punição pela lei, de modo que, por exemplo, nem

mesmo o filho do homem mais rico do Brasil pode dirigir seu carro em alta

velocidade de forma imprudente e após causar um acidente ficar impune.

Mas e quanto aos grandes ditadores e reis, terão eles a liberdade para

fazerem o que quiserem?

De jeito nenhum, muito pelo contrário, estas figuras públicas vivem

sempre cercadas de apoiadores que sustentam a sua figura e a sua permanência

no poder é sempre decorrente da concordância de um círculo próximo de

pessoas que se beneficiam do sistema ditatorial ou absolutista, ao mesmo tempo

em que contam com a apatia da população que sofre com as políticas adotadas

por estes governantes que beneficiam as elites e eliminam as liberdades

individuais. Mas basta uma decisão arbitrária que vá além de um certo limite ou

um prejuízo causado a um de seus apoiadores e o ditador já estará em perigo,

tendo que enfrentar uma traição na calada da noite ou uma turba furiosa nas

ruas.

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Vemos que o dinheiro e o poder em quaisquer quantidades não são

capazes de trazer a liberdade plena.

Quem poderá usufruir então da liberdade total? Da liberdade de fazer

tudo o que deseja do jeito que bem entender?

Conhecendo as leis de Deus através do de Jesus e do espiritismo, logo

percebemos que a liberdade é sempre proporcional ao grau de evolução da

alma. Será que então os espíritos evoluídos possuem a liberdade para fazerem

o que quiserem? A resposta é sim, na medida da sua evolução. Será que então

que possuindo esta liberdade eles se comportam como se comportaria aqui na

terra um homem com liberdade total, não se sujeitando à vontade de ninguém e

estando livre para desfrutar de prazeres infinitos ou descanso eterno? Com

certeza não, pois este comportamento seria contrário à sua condição de alma

evoluída.

Vamos imaginar então como seria um espírito evoluído encarnado na

terra e que devido ao seu estado evoluído possuísse imensa liberdade.

Como ele se comportaria diante do trabalho?

No trabalho, um espírito evoluído encarnado na terra, se comportaria

como um excelente trabalhador, dedicado, honesto, cumpridor de compromissos

e incansável. Tudo isso ele faria motivado exclusivamente pelo amor ao próximo,

pois em qualquer que seja o ramo de trabalho o homem sempre cria algo útil

para o seu semelhante e o espírito trabalhador é também um espírito caridoso,

na medida em que se abstém do ócio e da preguiça e não apenas se preocupa

em aparentar estar trabalhando, mas realmente trabalha, mesmo que nunca

reconhecido.

Seria este espírito evoluído que estamos imaginando, um espírito livre

em relação ao seu trabalho?

Com certeza, pois se sua única intenção é ajudar ao próximo ele não

precisa se preocupar com o reconhecimento das outras pessoas, com o trabalho

menos penoso e mais confortável, com as intrigas em busca de promoção.

Dentro do seu objetivo único que é ajudar ao próximo ele é totalmente livre,

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ninguém se incomoda com a sua dedicação, a sua falta de apego a bajulações

e sua predisposição a fazer o que outros não querem, ele é amplamente livre em

seu trabalho.

E com relação ao direitos e deveres dos cidadãos? Teria este espírito

evoluído liberdade na terra?

Uma regra fundamental do direito no mundo é que o direito de um

termina onde começa o direito do próximo. Mas sendo este espírito que estamos

imaginando, um espírito evoluído que somente deseja o bem ao próximo, ele

não é restringido pelos direitos do próximo, não está limitado por esta regra e

possui ele então a liberdade total.

Mas como assim não está limitado pelo direito do próximo?

Vamos a um exemplo: este espírito evoluído não está limitado pelo

direito à vida do próximo, porque ele respeita o direito à vida dos seus irmãos

por amor a eles e não por uma regra repressiva contida na lei; e o mesmo

acontece em relação ao direito à propriedade e quaisquer outros direitos

individuais que limitam os homens comuns na medida em que sua vontade

esbarra no direito alheio. Este espírito evoluído que estamos imaginando é

totalmente livre em relação a estes direitos e não vê diante dele limitação

alguma, sua vontade nunca é contrariada ao se defrontar com o direito alheio,

pois, ele respeita estes limites naturalmente por amor aos seus semelhantes,

sem que nem mesmo se dê conta de que age de acordo com a lei.

Como podemos ver a liberdade total existe sim; existem por ai muitos

espíritos realmente livres e alguns deles estão até mesmo aqui dentre nós

encarnados. Estes espíritos fazem o que querem, quando querem e do jeito que

querem e o motivo de tal liberdade é por que só fazem o bem.

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8 A necessidade do perdão

Jesus ensinou a oração na qual pedimos a Deus: “Perdoa as nossas

dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores” (8).

Perdoar e ser perdoado são duas necessidades básicas e todo ser

humano que viva neste planeta e o motivo é porque erramos muito, cometemos

erros e prejudicamos ao próximo o tempo todo.

A maioria de nós tem consciência de que somos todos, sem exceção,

seres imperfeitos; os ditados populares demonstram bem isto com frases como:

“ninguém é perfeito” e “errar é humano” e a também a popular recomendação de

Jesus: “Aquele que nunca errou, que atire a primeira pedra”. Estas frases usadas

no cotidiano nos lembram de que todos possuímos defeitos, mas elas não são

suficientes para esclarecer exatamente o quanto somos imperfeitos, quantos

defeitos possuímos e o quanto erramos. A nossa consciência egoísta nos leva

muitas vezes à conclusão de que “eu” sou um ser com muitas qualidades e

poucos defeitos, afinal os defeitos dos outros estão sempre me incomodando ao

mesmo tempo em que não me sinto muito incomodado pelos meus próprios

defeitos “se é que possuo algum” pensa o “eu” egoísta.

Por este motivo, esta tendência natural de enxergarmos com mais

facilidade os defeitos do próximo, é que Jesus deixou claro em sua doutrina que

somente devemos pedir a Deus ou somente é justo pedir a Deus, o perdão na

mesma medida em que temos perdoado, talvez para nos lembrar de que não

somos melhores do que a média e se possuímos muitas qualidades de que nos

lembramos sempre, possuímos também, quase sempre, defeitos em quantidade

equivalente. Portanto pedir perdão na medida em que temos perdoado serve

como um lembrete de que erramos muito, estamos sempre errando e

incomodamos ao próximo com os nossos defeitos na mesma proporção em que

os próximos nos incomodam constantemente com seus defeitos.

Para esclarecer melhor o porquê de termos de perdoar sempre,

constantemente e sem parar ou “setenta vezes sete” (9) vamos imaginar

algumas situações:

Imagine que você está em um ambiente tranquilo e calmo, num local

onde não circulam muitas pessoas, como uma mesinha num canto calmo de uma

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biblioteca, e de repente alguém que passava pelo local (que é bem espaçoso)

descuidadamente pisa no seu pé; você não irá é claro se levantar na mesma

hora e começar uma briga com troca de socos (ou tapas) e irá provavelmente

dizer: “não foi nada” imediatamente após a pessoa te dizer: “me desculpe”,

mesmo achando que a pessoa foi muito descuidada e que você provavelmente

jamais cometeria um erro tão grosseiro. Mas podemos concluir que a maioria de

nós, pessoas normais, se sentirá um pouco indignada com o “pisão” e ficará

tentando imaginar como uma pessoa pode ser desleixada a esse ponto de não

prestar atenção por onde anda e pisar no seu pé (que estava até meio

escondido), se perguntará porque aquela pessoa fez aquilo e pensará talvez até

se aquilo não foi de propósito.

Muito diferente é a situação e a sua reação quando você está em um

ambiente bastante agitado e cheio de pessoas, como numa festa por exemplo,

e uma pessoa pisa no seu pé da mesma maneira que aquele descuidado da

biblioteca; a reação imediata é de dizer “não foi nada” ou até mesmo olhar para

a pessoa e dizer “me desculpe” mesmo sendo ela quem tenha pisado em você.

Esta reação, bem diferente, é natural porque no ambiente da festa agitada é

bastante comum que as pessoas esbarrem ou pisem no pé uma das outras, é

um descuido e um acidente igual àquele da biblioteca, mas ninguém ficará

cogitando se foi ou não proposital porque é um fato bastante comum; muito

provável também é que eu mesmo daqui a alguns minutos esbarre ou pise no pé

de alguém por descuido no meio do ambiente tumultuado.

Estas duas situações e reações contrastantes, servem para tentar ajudar

a esclarecer o porquê de relutamos tanto em perdoar, porque guardamos tantos

rancores e magoas e achamos que o erro dos outros é indesculpável e até

mesmo fruto de perseguição pessoal. O motivo é simples, é porque nós não

temos a noção real do quanto erramos, nós achamos sempre que somos aquela

pessoa sentada no cantinho da biblioteca, quando na verdade estamos é no

meio de uma festa agitada, errando sempre e sendo afetado sempre pelos erros

alheios.

Nós agimos assim nas mais variadas situações do cotidiano. Por

exemplo um empregado meio relapso raramente tem a noção real de quanto o

seu comportamento irrita seu patrão, sua preguiça frequentemente flagrada pelo

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patrão, seu descaso com as situações importantes, tiram constantemente o sono

do seu patrão, principalmente quando esse patrão não pode demiti-lo e substituí-

lo facilmente por outro. Por outro lado um patrão meio “pão duro”, raramente tem

a noção real de quanto esse seu comportamento desagrada o funcionário, assim

como o patrão que não fornece condições adequadas de trabalho ou faz

exigências muito difíceis de serem cumpridas.

Mais comum ainda são as situações desagradáveis que criamos com o

comportamento quase automático e irracional das fofocas, reclamações e

comentários negativos a respeito das pessoas que não estão presentes. É fácil

constatar o quanto nos sentimos indignados ao saber que determinada pessoa

fez um comentário desfavorável a nosso respeito, mesmo quando, analisando

bem os fatos, vemos que ela na verdade tinha razão; porém raramente

pensamos nisso quando no meio de uma conversa qualquer soltamos nossas

apreciações negativas a respeito dos outros, parece mesmo que o que sai da

minha boca não faz mal a ninguém pois, pelo menos para mim, o que eu falo é

a mais pura verdade, e ninguém deveria ser afetado negativamente pela

verdade, e me esqueço de como eu mesmo reajo nestas mesmas situações.

Se fizermos um esforço mental e nos retirarmos da situação para

olharmos para nós mesmos pelo ponto de vista de uma terceira pessoa,

percebemos como é ilógico e irracional este nosso comportamento, esta

relutância em perdoar e consequentemente a facilidade com que guardamos

rancores. É irracional porque como seres ainda imperfeitos e em evolução, nós

erramos o tempo todo e deveríamos estar sempre aptos a fornecer o perdão

imediato e incondicional, como uma política de boas maneiras, pois, quem erra

muito deve estar sempre disposto a perdoar muito; como quando estamos na

festa e alguém pisa em nosso pé. Mas nos comportamos como aquela pessoa

que está na biblioteca e fica indignada com a “pisada”; o comportamento desta

pessoa que está na festa agitada e se demonstra indignado como se estivesse

na biblioteca calma, não faz o menor sentido; também não faz sentido não

perdoarmos o tempo todo (setenta vezes sete) os erros dos outros, porque eu

deveria imaginar que mesmo sem saber devo estar pisando no calo de muita

gente.

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9 Caridade material

Sabemos que “fora da caridade não há salvação” (10), portanto para nós

cristãos a caridade não é uma opção, é uma necessidade.

Mas quanta caridade devo praticar?

O máximo possível é claro, pois, deixar de praticar a caridade quando

ainda possível consiste sem dúvida em egoísmo, mas reconhecemos é claro que

todos nós, seres impuros e em evolução na terra, possuímos um pouco de

vontade de praticar a caridade em nossos corações e também um pouco desse

egoísmo.

E qual tipo de caridade devemos praticar?

Com certeza todos os tipos de caridade possível, dentro da capacidade

de cada indivíduo. A caridade da paciência; do perdão; da tolerância; do bom

animo ou das simples palavras de incentivo e também a caridade material

quando surge a oportunidade.

E todos nós, seres em evolução, contendo defeitos e qualidades, temos

o costume de praticar atos egoístas e também atos de caridade, seja para com

as pessoas próximas ou seja para pessoas totalmente estranhas. Mas

independentemente de quanta caridade de todos os outros tipos praticamos, nós

muitas vezes adotamos um comportamento estranho no que diz respeito à

caridade material, comportamento este que está ilustrado neste trecho de O

Evangelho Segundo o Espiritismo:

Muita gente deplora não poder fazer todo o bem que desejara,

por falta de recursos suficientes, e, se desejam possuir riquezas,

é, dizem, para lhes dar boa aplicação. É sem dúvida louvável a

intenção e pode até nalguns ser sincera. Dar­se­á, contudo, seja

completamente desinteressada em todos? Não haverá quem,

desejando fazer bem aos outros, muito estimaria poder começar

por fazê­lo a si próprio, por proporcionar a si mesmo alguns

gozos mais, por usufruir de um pouco do supérfluo que lhe falta,

pronto a dar aos pobres o resto? (11)

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Pois é assim mesmo que muitos de nós pensamos agimos; somos

praticantes da caridade em suas mais diversas formas, e podemos aprender a

praticar cada uma delas cada dia mais e melhor sem problemas. Mas a caridade

material é especialmente complicada porque possui esta armadilha, pois, para

poder praticar a caridade material mais e melhor, eu ao mesmo tempo preciso

me cercar dos tais bens materiais necessários e estes mesmos bens materiais

são também, ao mesmo tempo, os ingredientes necessários para que eu me

transforme em um grande egoísta.

Como exemplo, se me torno um empresário bem sucedido, passo a

possuir em minhas mãos as ferramentas para praticar a caridade material em

grande escala, ao mesmo tempo em que passo também a possuir as

ferramentas para proporcionar a mim mesmo um grande conforto material, bem

acima da média das outras pessoas. Posso agora comprar um carro muito

confortável, posso começar a fazer viagens turísticas acessíveis apenas a

poucas pessoas, posso construir uma grande casa com mais cômodos do que

uma família média necessita para viver, ou seja, passo a ter acesso a um pouco

do a maioria das pessoas já consideraria como exagero, um pouco de luxo e um

pouco de supérfluo que são as características de um materialista e egoísta.

Devemos sempre lembrar de que o homem possui o seu livre arbítrio e

é livre para gastar aquilo que obtém de seu trabalho digno e honesto da maneira

que bem entender, seja de forma totalmente egoística ou, pelo contrário, como

um grande benfeitor da comunidade, que abre mão de luxos e supérfluos e até

mesmo do seu próprio conforto em benefício de seus semelhantes. Esta é uma

lei de Deus, esta liberdade do livre arbítrio, e qualquer sistema de governo que

tente mudar esta lei natural irá certamente fracassar, pois os únicos sistemas

econômicos e sociais que são possíveis, de acordo com cada época, serão

sempre aqueles que se adaptam ao grau de evolução moral do homem de sua

respectiva época. Por mais evidentes que possam ser as falhas destes sistemas

políticos e econômicos injustos, eles não são nada mais do que um reflexo do

grau de atraso moral do homem egoísta.

Mas vamos imaginar agora que o nosso empresário de sucesso (aquele

que possuiu os recursos necessários para as grandes obras de caridade ou para

aquisição de grande quantidade de bens materiais supérfluos) decida contrariar

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a lógica predominantemente egoísta da nossa sociedade e se tornar um grande

promotor de obras de caridade. Quanto ele pode gastar consigo mesmo e sua

família e quanto deve destinar a obras de caridade? Até que ponto seus gastos

podem ser considerados necessários e a partir de que ponto começa o

supérfluo?

Como dito anteriormente, qualquer tipo de sistema neste sentido está

fadado ao fracasso, nunca devemos tentar criar regras que funcionem como

imposição de solidariedade, mas sim tentar inspirar nos outros a benevolência e

o desapego, para que eles mesmos decidam por si próprios, agir em prol do seu

semelhante, pois a imposição é contrária à lei do livre arbítrio e tira também ao

mesmo tempo o mérito pessoal daquele que resolve agir por livre e espontânea

vontade. Desta forma a única formula recomendável é a do bom senso, o bom

senso num espírito dotado de humildade e amor ao próximo é a ferramenta

suficiente para que ele saiba o que são necessidades básicas e o que é exagero

e supérfluo; e este espírito bem intencionado pode chegar facilmente à

conclusão de que é olhando para os seus semelhantes que ele irá descobrir o

que é o necessário, irá descobrir onde termina a necessidade e começa o

supérfluo; e quando digo seus semelhantes é claro não estaremos nos

restringindo aos semelhantes de seu meio social restrito, como outros

empresários e pessoas bem sucedidas financeiramente por exemplo, mas à

sociedade em geral, no aspecto mais amplo, quanto maior o grupo em que se

possa obter uma comparação melhor é claro.

Este empresário bem sucedido e ao mesmo tempo com boa vontade e

coragem suficientes para contrariar a lógica do egoísmo, irá em certo momento

adquirir um bem material que fará o seu bom senso lhe dizer que este bem não

é algo comum, pelo contrário, é algo a que devido ao custo elevado apenas uma

pequena parcela da população tem acesso, ao mesmo tempo em que irá

perceber que poderia viver sem aquele bem material; concluirá então que este

bem material pode ser considerado um luxo ou um supérfluo. Neste momento

esta pessoa se perguntará: É para isto que me tornei um empresário de

sucesso? E se a resposta for sim, isto será uma evidencia do seu egoísmo

predominante, mas é claro que dotado de seu livre arbítrio ele será livre para

prosseguir no caminho que escolheu e colher os frutos do egoísmo.

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Da mesma maneira, irá em certo momento gastar grande quantia em

uma obra de caridade, e neste momento fará a mesma pergunta: É para isto que

me tornei um empresário de sucesso? E caso a resposta seja sim, isto será uma

evidência do seu desapego e da sua elevação moral a mais um degrau da

escada da ascensão para a luz e é claro que dotado de seu livre arbítrio ele será

livre para prosseguir no caminho que escolheu e colher os frutos da prática do

amor ao próximo.

Porque este empresário que estamos imaginando conhece os

ensinamentos de Jesus e ele se lembra antes de cada decisão que toma, de

posse do seu livre arbítrio, que o mestre certa vez disse: "Mas ai de vós, ricos!

porque já tendes a vossa consolação" (12); este homem de bom coração luta

para se livrar do senso comum, da lógica egoísta e não se importa nem mesmo

com a ridicularização pela sociedade quando decide praticar a caridade do

desapego e resolve ajuntar tesouros de amor ao próximo ou “tesouros no céu”

como disse também Jesus:

Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e a

ferrugem os consomem, e onde os ladrões penetram e roubam;

mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a

ferrugem os consomem, e onde os ladrões não penetram nem

roubam; porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu

coração. (13)

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10 O fardo leve do cristianismo

Os espíritas acreditam, como também os seguidores de muitas outras

religiões, que a felicidade do homem é alcançada na medida em que ele atinge

a sua evolução moral. Quanto mais moralmente evoluído o espírito, mais feliz

ele se tornará, podendo alcançar o “reino dos céus”.

Mas do que se trata esta evolução moral? A evolução moral nada mais

é do que a capacidade do espírito de praticar a lei de Deus, que é a lei do amor

ao próximo, ou seja, amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si

mesmo, sendo que a melhor maneira de demonstrar amor a Deus é amando os

seus filhos, nossos irmãos.

Muitas religiões impõem como pré-requisito ao encontro com Deus ou à

evolução moral, rituais muitas vezes desgastantes e um tanto incompreensíveis

e outras vezes ainda dolorosos e até mesmo seriamente prejudiciais à saúde.

São incontáveis os rituais mais variados que foram criados pelo homem (e não

por Deus) desde os tempos mais remotos até os dias modernos.

Nos tempos mais antigos, em que se acreditava que Deus tinha

interesses e sentimentos como dos humanos, eram comuns os sacrifícios e

oferendas, pois, o homem primitivo acreditava que um Deus (ou deuses)

vingativo poderia se acalmar com o sacrifício de uma virgem e poupar um povo

inteiro; ou então acreditava que Deus poderia ficar contente com a oferenda de

alimentos ou itens de valor em altares, da mesma maneira em que se ofereceria

a um conquistador estrangeiro poderoso e ganancioso com poder para invadir e

aniquilar uma cidade.

Já nos tempos mais modernos a evolução da inteligência e da moral do

homem fez com ele criasse também rituais, muitos deles sendo ainda absurdos

e despropositados, mas já contendo em sua maioria o pano de fundo da ideia de

um Deus que condena os maus hábitos e os comportamentos egoístas e

depravados. Destas religiões mais modernas surgem os rituais das rezas

constantes ou repetitivas ou em horas marcadas, que podem possuir como pano

de fundo a ideia de que devemos cultivar o habito de agradecimento e

reconhecimento a Deus pelas boas obras e também o hábito de pedir a Deus

auxílio para superar as dificuldades e praticar boas obras. Também surgem os

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rituais de auto-flagelo e outras punições dolorosas auto-impostas, estas práticas

têm como pano de fundo a ideia de que Deus é justo e que nós sofreremos as

consequências de nossos erros. Também existem os jejuns e a castidade, que

servem como maneira de controle da gula e do impulso sexual descontrolado,

mas que o homem acaba transformando em rituais e dogmas, fazendo com que

ele mesmo não consiga na maioria das vezes enxergar o fundamento moral e a

finalidade destas práticas.

Mas para os espíritas é diferente, no espiritismo não existem rituais

sagrados e mesmo a prece do pai nosso é praticada sempre com a memória

exata do significado de cada frase, evitando-se uma repetição de frases sem

significado para quem ora; neste aspecto o espiritismo é parecido com as ideias

do fundador do Budismo, que, apesar de ter fundado a religião que acabou por

adotar inúmeras práticas rituais, já ensinava ele há dois mil e quinhentos anos a

desnecessidade da prática de rituais e da adoração de objetos e imagens.

Neste sentido aparenta-se ser mais fácil a adoção do espiritismo por não

possuir rituais, nem torturas auto-impostas ou a obrigatoriedade de qualquer

contribuição em dinheiro ou também restrições de horas e locais para oração

que atrapalhem a vida cotidiana. Mas, como nas outras religiões, existe no

espiritismo também a obrigatoriedade de se seguir mandamentos de cunho

moral, a vontade de Deus, como nas outras religiões, também está presente na

doutrina espírita e nos ensinamentos do cristo. Existindo um único Deus, a sua

vontade, que é a evolução do homem pela prática do amor ao próximo, está

também claramente exposta no espiritismo, como nas outras religiões, mas

neste, pela não existência de uma cortina de rituais atrás da qual pode se

esconder uma alma preguiçosa, existe menos espaço, menos oportunidades de

desvio da verdadeira vontade de Deus.

Um espírito trabalhador e fiel, adotando qualquer religião, terá

oportunidades suficientes para alcançar sua elevação e felicidade pela prática

das leis de Deus, mas um espírito preguiçoso e ainda em dúvida quanto à sua

fé pode se apegar a rituais e dogmas sem utilidade prática e que não o auxiliam

na sua própria evolução. No espiritismo este espírito não encontra espaço para

este tipo de desvio de finalidade da religião e o resultado é que não possuindo

cortina atrás da qual se esconder o espiritismo acaba se tornando, para este

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espírito preguiçoso, uma religião dura e difícil de seguir, ou, por outro lado, pode

acabar por torná-lo um grande hipócrita que prega o bem externamente e não

se importa realmente em praticá-lo.

Mas, como dito, somente a alma preguiçosa e sem fé suficiente é que

visualizara grandes obstáculos para a adoção dos ensinamentos do espiritismo

ou da prática do cristianismo sincero em qualquer religião que seja, pois como

disse Jesus “meu jugo é suave, e o meu fardo e leve” (14), e é assim mesmo

que será para todos nós quando começarmos a praticar os ensinamentos de

cristo de forma dedicada e sincera.

Por exemplo, vamos analisar a prática cristã do desapego material. Para

o espírito materialista, ainda apegado a seus bens e suas posses e que ainda

orienta sua vida, sua carreira e suas prioridades para a conquista de bens

materiais, a prática do desapego parece uma punição muito dura. Preferiria ele

praticar o auto-flagelo com um açoite a ter que se desapegar da sua obsessão

por mais bens materiais supérfluos. Não sabe este espírito como este fardo é

leve; como o desapego é uma prática gratificante e tranquilizadora. A pessoa

que se desapega do materialismo ganha novos horizontes e novas metas de

vida, quase que automaticamente. A corrida enlouquecida pelo dinheiro, pelos

cargos mais bem remunerados, pelo sucesso comercial etc. transforma grande

parte da população em verdadeiros zumbis; o sujeito deixa de pensar

racionalmente e passa a raciocinar em função dos lucros e prejuízos possíveis;

deixa de expandir seus horizontes intelectuais e religiosos e gasta todo o tempo

disponível para estudo em busca de fórmulas mágicas de sucesso financeiro, ou

na obtenção de títulos e diplomas que podem alavancar sua carreira profissional.

Este sujeito materialista não faz ideia de como é gratificante empregar seu tempo

livre ou seus recursos materiais em função da ajuda ao próximo, o que para ele

parece um fardo pesado é na verdade um serviço altamente gratificante, o

sentimento de bem estar sincero em quem pratica uma boa ação é quase que

uma recompensa automática, imediata.

E quanto à prática cristã da humildade, será ela um fardo pesado? Para

o orgulhoso talvez possa parecer que sim. Quantas pessoas, por exemplo, não

gastam boa parte de seu tempo lendo textos de conteúdo preconceituoso em

que são criticados os pobres, os nordestinos, os negros, as pessoas que

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recebem algum auxílio do governo, os estrangeiros etc. e desperdiçam sua

inteligência e sua capacidade multiplicando ideias preconceituosas baseadas na

ideia de inferioridade de certos grupos e superioridade de outros, em que ele

convenientemente se encaixa. A ideia de igualdade entre todos os povos parece

sim um fardo pesado para o orgulhoso, assim como a ideia de igualdade moral,

intelectual e de direitos e deveres entre indivíduos de classes sociais diferentes.

Para o humilde, para aquele que já aprendeu as vantagens da humildade

sincera, este fardo é levíssimo; sua mente e seus ideais se abrem, ele começa

a enxergar a beleza da multiplicidade cultural, ao mesmo tempo em que se

aproxima o suficiente para sentir de perto a vida, as ideias e os corações

bondosos e generosos de pessoas de grupos e classes sociais com as quais ele

costumava evitar o convívio. Tanto nesse como em qualquer outro aspecto da

vida em sociedade, a humildade é sempre um fardo leve e, na verdade,

gratificante em si mesma.

O mesmo se aplica a todos os mandamentos da vida cristã. A prática do

perdão é também gratificante e é mais um fardo leve, fácil de ser praticada por

quem já aprendeu as suas vantagens. O costume de se preocupar com os

outros, expondo a si mesmo nas mais diferentes situações evitando o costume

comum do “isso não é problema meu” ou o “vou fingir que nem vi” para evitar

problemas e a exposição pessoal, não é nem um pouco lucrativo quando

comparado por exemplo ao costume da prática do “dar a cara a tapa”, o costume

de se expor para lutar pelos direitos dos semelhantes e dos menos favorecidos,

o fardo desta luta é leve e também gratificante. O que para uns parece um fardo

pesado e um sofrimento voluntario que poderia ser evitado, é, para quem põe

em prática o evangelho de Jesus, na verdade um fado leve e cheio de

recompensas.

Todos aprendemos desde criança a lição do ditado popular de que “o

crime não compensa”, ou seja, fazer o mal aos outros para obter vantagens

pessoais não compensa, mas estranhamente poucos são aqueles que

conseguem aprender e colocar em prática uma outra lição simples e que se

baseia na mesma lógica simples, a lição de que o amor ao próximo compensa.

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11 Caridade silenciosa

Jesus nos ensinou a necessidade da humildade em todas as situações

e em relação à maneira como devemos praticar a caridade não foi diferente,

dizendo: “não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita” (15).

Por que teria imposto Jesus esta regra? esta limitação? Porque ele nos

conhece é claro, sabe das fraquezas e tendências do homem e de como este é

capaz de transformar as atitudes mais belas em atos de egoísmo.

Existe na sociedade uma ideia geral de que não devemos ficar nos

gabando quando praticamos alguma boa ação ou algum ato de caridade e é

justamente assim que tentamos nos comportar quando nos vemos nestas

situações, mas, infelizmente, não demora muito e o nosso orgulho rapidamente

consegue falar mais alto. Basta por exemplo uma pessoa nos perguntar se

contribuímos com alguma instituição ou se exercemos algum serviço voluntário

ou alguma atividade beneficente e rapidamente, como que tentando deixar a

impressão de que tinha a intenção de permanecer no silencio e na humildade, já

vamos logo soltando uma frase do tipo: “eu não gosto de ficar falando, mas eu

ajudo tais e tais pessoas...” parece até que a língua estava coçando esperando

a primeira oportunidade de se gabar, se gabar “com humildade” é claro.

E nessa trilha, de oportunidade em oportunidade, acabamos sempre

fazendo divulgação dos mínimos atos de caridade que praticamos. Acabamos

por final nos acostumando com este comportamento e logo estamos parecendo

com aqueles políticos que gastam dez vezes mais com a divulgação da obra

pública do que com a própria obra. Um exemplo disso são, os gastos enormes e

a grande quantidade de tempo empreendidos na organização de jantares

beneficentes, em que os convidados acabam gastando mais com um vestido

luxuosíssimo, o cabeleireiro, a maquiagem, o smoking etc. do que com a própria

doação.

É muito comum que instituições de caridade, que deveriam investir 100%

do seu tempo e esforço em obras de caridade, gastem grande parte de seus

recursos e do trabalho de seus voluntários organizando eventos e jantares

beneficentes. Os frequentadores destes eventos, em sua grande maioria, estão

sempre muito preocupados com as roupas caríssimas, com os holofotes e com

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como aparecerão nas fotos para as colunas sociais, poucos deles se preocupam

alguma vez em visitar e ajudar ou até mesmo em fiscalizar o bom emprego dos

valores arrecadados nestes eventos beneficentes, a grande maioria mesmo está

é preocupada com o evento em si e com as possibilidades de ascensão social e

política e quase que se esquecem totalmente dos beneficiários necessitados.

Percebemos que a caridade praticada sem total humildade pode aos

poucos ir se desvirtuando e se transformar em um circo de vaidades e orgulho

que tiram todo o mérito de quem a pratica, ao invés da alegria e satisfação

sincera de quem exercita o desapego e o amor ao próximo, estes desvios podem

acabar aflorando mais ainda o orgulho, o egoísmo e o materialismo da

ostentação.

Mas a caridade mal praticada pode trazer consequências ainda piores a

quem a recebe.

É muito comum que ao ajudarmos uma pessoa diretamente com um

auxílio financeiro ou outro auxílio material, nos coloquemos numa posição de

superioridade em relação a quem recebe a ajuda, como um pai que entrega uma

quantia ao filho a título de mesada, e logo em seguida já emendamos os sermões

de advertência e fazemos uma série de exigências muitas vezes difíceis de

serem cumpridas.

Por melhores que sejam as intenções, como por exemplo a de evitar que

o auxílio seja desperdiçado, ou evitar que a pessoa beneficiada se acomode e

não aproveite as oportunidades de desenvolvimento pessoal, esta atmosfera de

exigências acaba criando um clima de certo desconforto para ambos e a prática

reiterada destas exigências e a repetição deste desconforto muitas vezes acaba

transformando um sentimento de gratidão inicial em uma aversão pela situação

e também pela pessoa que justamente tentava, com boas intenções, auxiliar o

seu próximo necessitado.

Uma consequência meio que natural é que o orgulho ferido da pessoa

necessitada de ajuda acaba impedindo que ela se sujeite a continuar recebendo

o auxílio, e cria-se então a embaraçosa situação em que o praticante daquela

caridade sabe da real necessidade de auxílio e sabe que a interrupção gerará

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uma falta real para a pessoa auxiliada, mas diante da recusa desta é obrigada a

concordar em não fornecer mais ajuda.

Outro problema na prática de auxílio financeiro ou outro auxílio material

direto a pessoas necessitadas é a própria desconfiança. É bastante natural que

na nossa sociedade “dinheiro-cêntrica” a prática da caridade desinteressada por

parte de uma pessoa diretamente a outra, ou outras, sem o intermédio de uma

instituição de caridade, gere bastante desconfiança. Pode demorar mesmo um

tempo ou pode ser que até que a barreira da desconfiança nem mesmo consiga

ser ultrapassada, pois os dizeres populares do tipo “ninguém dá nada de graça”

ou “quando a esmola é muita o santo desconfia” não são, infelizmente, nada

exagerados.

Vamos então colocar aqui algumas ideias básicas que podem talvez nos

auxiliar a colocar em prática o nosso desejo de auxiliar o próximo.

Uma boa ideia é nunca, em hipótese alguma, revelar ou divulgar que tem

praticado atos de caridade material ou os valores que foram “desapegados” a

não ser com pessoas do círculo familiar mais próximo, como as pessoas que

participam do orçamento familiar e que precisam necessariamente entender para

onde estão sendo direcionados estes recursos. Até mesmo na situação em que

for questionado e contestado sobre o fato de praticar ou não atos de caridade

(pois é natural que adotemos um discurso pró caridade) evitar divulgar o que tem

feito ou tem deixado de fazer, advertindo a pessoa que estiver lhe questionando

de que não lhe faz bem sair divulgando as suas boas ações, a menos que esta

divulgação sirva apenas como forma de encorajamento para que outras também

se proponham a praticar a caridade e nunca como exibicionismo, o que é difícil

de acontecer na prática e é um desafio para nós mesmos discernir onde termina

a nossa vontade de encorajar boas obras e onde começa o nosso orgulho em

exibir as boas obras.

Estes cuidados simples já servem para eliminar todo o exibicionismo e

com isso este sistema, estes costumes tão comuns dos jantares e grandes

eventos sociais beneficentes que geram trabalho extra àquelas pessoas

dedicadas a causas nobres e que na maioria das vezes ainda trabalham de

forma voluntária. Sem falar ainda que todos os recursos gastos com estes

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eventos, da organização das festas ao vestido de grife, podem ser efetivamente

transformados em recursos destinados à caridade.

A ajuda efetuada diretamente a pessoas necessitadas, como já

mencionado, é um obstáculo à nossa humildade e pode gerar aqueles problemas

tanto para quem doa quanto para quem recebe; então se você é uma pessoa

normal, como eu também acho que sou, é sempre preferível efetuar uma doação

a uma instituição confiável, esta prática traz o benefício do anonimato que é de

grande importância para nós, pessoas normais, que tão facilmente inflamos o

nosso ego por quase nada. É claro que esta preferência não pode nunca servir

de obstáculo para que ajudemos uma pessoa próxima e necessitada de auxílio

imediato, não faz sentido evitar este mal (o nosso ego inflado) se para isso

acabemos gerando um outro mal, que é a falta da ajuda urgente a uma pessoa

próxima.

E é claro que se caso venhamos a oferecer a ajuda de forma direta,

devemos lembrar de evitar ao máximo aqueles comportamentos desagradáveis,

não proferindo sermões em tom de superioridade, sempre lembrando a quem

recebe ajuda de que todos somos todos irmãos e iguais perante Deus, Deus

alias que é a fonte de toda riqueza e todas as conquistas que o homem

erroneamente julga possuir. Se necessário justificar os motivos pelos quais

pratica estes atos de caridade para evitar qualquer desconfiança, deixando claro

o seu entendimento de que não está fazendo mais do que a sua obrigação como

cristão que recebeu estes empréstimos de Deus.

Lembrando mais uma vez Jesus: “Guardai-vos de fazer a vossa esmola

diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto

de vosso Pai, que está nos céus” (16).

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12 O pior chefe

Sabemos que o trabalho é uma necessidade básica do homem, algo

essencial para sua evolução moral, conforme nos explica esta passagem de O

Evangelho Segundo o Espiritismo:

Se Deus houvesse isentado do trabalho do corpo o homem, seus

membros se teriam atrofiado; se o houvesse isentado do

trabalho da inteligência, seu espírito teria permanecido na

infância, no estado de instinto animal. Por isso é que lhe fez do

trabalho uma necessidade, e disse: Procura e achará; trabalha

e produziras (17).

O trabalho nos proporciona a nossa evolução intelectual, ao mesmo

tempo em que nos permite prestar auxílio aos nossos semelhantes, pois todo

trabalho possui a sua utilidade dentro da sociedade. Além destes dois aspectos

o trabalho ainda possui uma outra utilidade para a nossa evolução moral que é

a oportunidade de melhorarmos a nossa disciplina, pois na organização do

trabalho sempre está presente de uma forma ou de outra a figura do

organizador/comandante do trabalho ou simplesmente chefe.

Existem vários tipos de chefe e mesmo quando não temos formalmente

um chefe existem pessoas ou situações que passam a comandar o nosso

comportamento da mesma maneira que um chefe.

Mesmo quando se trabalha por conta própria, no que se costuma chamar

de “ser seu próprio chefe” a realidade costuma ser outra, pois, no nosso mundo

altamente competitivo e no sistema econômico em que as grandes empresas e

os grandes capitais possuem uma larga vantagem sobre os empreendimentos

pequenos, ser “seu próprio chefe” significa estar em uma corrida constante

contra a concorrência e em busca de uma renda melhor. Dessa forma, quando

não se possui uma renda assalariada fixa o nosso chefe se transforma nas

contas a pagar do fim do mês e este é um chefe implacável, que não dá

descanso. E mesmo quando possui uma renda razoável, muitas vezes o

trabalhador por conta própria sofre ainda com a pressão de pessoas próximas

da família que frequentemente cobram que ele mude de ramo e consiga um

emprego com renda fixa e garantida. Estes chefes também são bem incômodos

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e não te deixam ter a tranquilidade que se imagina de uma atividade

teoricamente livre de horários e de pressão.

Quando trabalhando em um emprego assalariado o trabalhador passa a

ter um daqueles chefes clássicos. Pode ser o próprio patrão que acompanha de

perto o andamento do trabalho ou um encarregado especialmente designado

para esta função de “capataz”. Neste tipo de trabalho o funcionário tende a

sempre mostrar serviço quando na presença destes chefes e, ao mesmo tempo,

relaxar quando na ausência deles. O que acaba acontecendo é uma espécie de

acordo implícito entre os subordinados que mantém um padrão mínimo de

qualidade nos momentos em que não são vigiados e, ao mesmo tempo, um

padrão apenas aparente de esforço e dedicação nos momentos em que estão

sob supervisão mais direta. Ao entrar neste esquema o funcionário é induzido a

se transformar em uma espécie de estelionatário, que tenta sempre parecer o

que não é e tirar vantagem desta situação fazendo o mínimo possível desde que

isto não lhe cause problemas.

Ainda neste ambiente de emprego subordinado a um patrão existe outro

tipo de chefe, o famoso “puxa-saco”. Aquele funcionário que mesmo não

participando diretamente dos lucros da empresa está sempre defendendo o

interesse dos patrões como se fosse um chefe ou o próprio patrão, este “puxa-

saco” se transforma frequentemente em um “dedo-duro”, e ai é que mora o

perigo para o funcionário acostumado ao esforço mínimo. O “dedo-duro” delata

o mau comportamento dos outros funcionários e quando estes percebem a

situação começam a se comportar na frente deste “puxa-saco” e “dedo-duro” da

mesma maneira que se comportariam na frente do chefe, é como possuir vários

chefes em um mesmo ambiente. Para a grande maioria dos funcionários

assalariados que querem entrar no sistema do esforço mínimo, o “puxa-saco” e

o “dedo-duro” são chefes difíceis de engolir, porque estão sempre ali no mesmo

ambiente de trabalho, desempenhando muitas vezes a mesma tarefa no curso

normal do dia de trabalho e que não podem ser facilmente enganados.

Existe também é claro o outro lado da moeda, que é quando o

funcionário é fiel cumpridor das suas obrigações e mesmo assim é cobrado

constantemente como se fosse um preguiçoso. Ai surge outro tipo terrível de

chefe, o chefe explorador que se aproveita de uma situação de necessidade dos

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seus funcionários e vai sobrecarregando cada vez mais e mais seus

subordinados sob constantes ameaças veladas de demissão, criando situações

típicas onde se verifica o assédio moral.

Mas existe ainda um outro ambiente de trabalho onde os chefes por mais

autoritários ou até mesmo perseguidores que possam ser, se vêem muitas vezes

de mãos atadas sem poder fazer muito para corrigir aqueles funcionários mais

desleixados e preguiçosos. É o ambiente do serviço público onde existe

estabilidade de emprego. É claro que a estabilidade não é absoluta e existem

processos de avaliação e processos disciplinares próprios, mas estes processos

são trabalhosos e provocam um certo desgaste para os superiores, como a

realidade brasileira é de que no serviço público das diferentes esferas os

ocupantes de cargos de chefia sejam em sua maioria indicados de confiança e

quase sempre por motivos também políticos, estes superiores tendem a evitar

conflitos com a intenção de manterem uma esfera de aparências no setor em

que chefiam e evitarem ao mesmo tempo o desgaste com superiores, também

políticos, que preferem sempre a omissão à ação.

Este ambiente no serviço público cria vantagens tanto para os bons

como maus funcionários, pois o chefe opressor não consegue ameaçar os bons

funcionários que não tem nada a temer ao mesmo tempo em que o chefe que

com razão tenta cobrar melhor desempenho dos maus funcionários acaba não

conseguindo muita coisa dentro desta atmosfera. O resultado é que no serviço

público assim como no setor privado temos uma maioria aproximada de 2/3 de

funcionários não dedicados e 1/3 de funcionários dedicados. Devemos lembrar

que a estabilidade no emprego é essencial na administração pública pois evita

que a massa de servidores públicos fique à mercê de interesses políticos ou

sofra pressões e ameaças para permitir que políticos e empresários corruptos

desviem dinheiro público. No final das contas, a estabilidade que privilegia

preguiçosos e protege os dedicados não faz com que no serviço público

tenhamos mais os menos funcionários dedicados, no final os bons continuam

bons e os maus continuam maus seja no público ou no privado.

É neste ambiente em que é mais comum que surja então o pior tipo de

chefe, o perseguidor implacável e incansável que não dá um segundo sequer de

sossego ao trabalhador, este chefe é a consciência.

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Na verdade o homem trabalhador, de espírito de boa vontade, poderá

trazer em si este “pior dos chefes” em qualquer tipo de atividade, seja por conta

própria, como assalariado na iniciativa privada ou no serviço público com

estabilidade. Trabalhando por conta própria, mesmo que já possuindo uma boa

renda ele pensará: “Hoje eu só trabalhei quatro horas e já ganhei meu “pão nosso

de cada dia”, mas a maioria dos trabalhadores trabalha oito horas, então, vou

trabalhar mais um pouco”. Trabalhando na iniciativa privada ele pensará: “O

patrão foi viajar e ninguém vai me incomodar se eu passar o resto da tarde

enrolando, mas vou trabalhar a tarde toda, mesmo que me chamem de puxa-

saco, porque eu ganho pra isso e não vou ficar aqui à-toa”. Já no serviço público

ele pensará: “Se eu trabalhar ou não, no final não vai me acontecer nada, mas

vou trabalhar porque o povo não me paga pra ficar enrolando”.

Esta é a voz da consciência, o pior de todos os chefes, quem possui esta

consciência sabe como ela é implacável, incansável e não deixa o bom

trabalhador parado um único segundo. Muito pior do que as contas a pagar, as

críticas familiares, os patrões, capatazes e “puxa-sacos” a consciência do

homem de bem não descansa nunca, mesmo quando o salário no fim do mês já

está garantido, quando as contas estão em ordem, quando o chefe não está

olhando ela está sempre lá.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Alan Kardec explica que

quando encarregado de uma tarefa, o espírita age:

[...] como quereria que seus subordinados procedessem para

com ele, caso fosse chefe. Por isso mesmo, mais escrupuloso

se mostra no cumprimento de suas obrigações, pois

compreende que toda negligência no trabalho que lhe está

determinado redunda em prejuízo para aquele que o remunera

e a quem deve seu tempo e seus esforços. Numa palavra:

solicita-o o sentimento do dever, oriundo da sua fé, e a certeza

de que todo afastamento do caminho reto implica em uma dívida

que cedo ou tarde terá de pagar (18).

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13 Vivendo na fronteira

A doutrina espírita nos ensina que a terra é atualmente um mundo de

provas e expiações e também ensina que em breve ela se transformará em um

mundo em regeneração.

Nos mundos de provas e expiações os espíritos sofrem as

consequências dos desvios das leis de Deus que cometem, sofrem duramente

as consequências dos seus próprios erros e são também provados/testados

pelas dificuldades e tribulações típicas destes mundos inferiores que são

mundos atrasados tanto em evolução científica como em suas instituições

políticas, sociais etc. e dessa forma expiam e aprendem a superar os seus

defeitos; já nos mundos em regeneração, os espíritos, que também são ainda

imperfeitos, têm uma maior consciência dos seus defeitos e repudiam o mal

combatendo seus próprios impulsos inferiores com mais empenho.

A ideia desta mudança no planeta terra, ensinada pela doutrina espírita,

muitas vezes se mistura com ideias de outras doutrinas e também com ideias

oriundas de profecias e crenças catastróficas, como as que fizeram boa parte da

população mundial acreditar que na virada do milênio ocorreriam desastres

terríveis ou que no dia 21/12/2012 ocorreriam também tragédias e catástrofes.

Não é difícil perceber que estas ideias são exageradas e que na verdade

as mudanças são sempre sutis e graduais. Na verdade já estamos passando por

esta mudança neste exato momento, más ela é, é claro, um pouco menos óbvia

e requer um pouco mais de atenção e de conhecimento para ser percebida. Por

outro lado não deixa de ser uma grande mudança e algo realmente admirável,

pois, é um momento único para nós habitantes deste planeta.

Imagine se você pudesse vivenciar o exato momento em que o ser

irracional, aquele símio, meio macaco meio homem, começou a adquirir a sua

racionalidade, a sua consciência de si mesmo, de que é um ser único, passando

a ter por exemplo consciência de que um dia iria morrer por exemplo; ou então

em outro momento mais adiante vivenciar em primeira pessoa o momento exato

em que nós humanos cultivamos pela primeira vez plantas nativas criando a

agricultura e passamos então em seguida a viver dentro de grandes sociedades

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complexas. É exatamente por um momento marcante destes que passa a terra

no dia de hoje, após esta transformação ela nunca mais será a mesma.

Esta diferença entre o mundo de antes e o mundo que virá depois me

faz lembrar do texto A Diferença (19) de Bezerra de Menezes em que uma

pessoa presente a uma reunião numa organização mediúnica, questiona e critica

duramente o mentor espiritual e se diz indignado com a hipocrisia da parte dos

espíritas, que apesar de adeptos da doutrina são, como também as outras

pessoas, cheios de defeitos e ao que Bezerra de Menezes responde:

Todas essas qualidades negativas ainda me acompanham… Só

existe, porém, um ponto, meu caro, que não posso esquecer. É

que, antes de ser espírita-cristão, eu fazia força para correr atrás

de todas elas e agora, que sou cristão e espírita, faço força para

fugir delas todas (19).

Pois é exatamente esta a diferença que devemos esperar do mundo de

antes e o mundo de depois, a diferença entre o mundo onde as pessoas correm

atrás dos seus vícios e desejos egoístas e o outro mundo onde as pessoas, ainda

cheias de defeitos, se esforçam para fugir deles e tentam colocar em pratica a

lei do amor ao próximo.

Esta mudança é um verdadeiro despertar de uma nova era, mas uma

era que se desperta dentro dos indivíduos e não no planeta através de mudanças

físicas, da mesma maneira como o despertar do ser irracional que toma

consciência de si mesmo, esta é uma nova era no pensamento e na maneira de

agir dos habitantes da terra. Não apenas uma mudança no discurso ou nas

aparências, como é infelizmente frequente observar em pessoas que se tornam

adeptos de algumas religiões e de repente passam a dizer frases do tipo “agora

eu sou um novo homem” ou “agora eu sou de Deus” mas sem que tenham ainda

assimilado profundamente novos valores de benevolência, perdão, caridade,

abnegação etc., mas sim uma mudança real e sincera do tipo que faz o indivíduo

olhar para si mesmo e seus comportamentos do passado próximo e se

envergonhar deles sentindo o desejo forte de reparar seus erros fazendo mais e

melhor pelos seus semelhantes.

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E todos nós neste momento vivemos bem próximos desta fronteira,

poderíamos dizer que estamos “em cima da linha do gol”, alguns mais em cima

outros menos e outros já entrando e passando pela linha. Por este motivo o

momento atual é um momento especial, justamente por faltar muito pouco para

percebermos e sentirmos com sinceridade como o egoísmo não vale a pena e

como a caridade vale a pena; como não valem a pena a ociosidade, a ganância,

a ambição, a vingança, o rancor, a inveja etc. e como valem a pena o trabalho,

a humildade, o perdão, o desapego etc. Só o que precisamos é um pouco mais

de esforço pessoal, um pouco mais de fé em Deus e começar a exercitar estas

e outras qualidades que já conhecemos na teoria e que ainda relutamos em

adotar plenamente.

Este é um caminho sem volta e a partir do momento em que o indivíduo

cruza esta linha estreita e conhece as vantagens de viver principalmente em

função do próximo e não para si mesmo, não existe mais possibilidade de

retorno. A prática sincera do perdão, da caridade, do serviço ao próximo, do

desapego etc. são tão gratificantes que por mais que a maioria dos nossos outros

irmãos, que ainda não tiveram a oportunidade de aprender estes valores, nos

ofereçam obstáculos, é impossível que o indivíduo volte atrás e adote novamente

valores egoístas. Este caminho sem volta para este novo mundo é o que fará por

final com que toda a população da terra seja gradualmente renovada.

Quando cruzarmos esta linha, mesmo após desencarnar e reencarnar

em uma nova vida sem memória do passado, teremos a intuição natural de que

a violência nunca compensa e seremos unânimes em repudiá-la, as guerras

serão totalmente inaceitáveis e não teremos mais apenas 1% da população

protestando nas ruas contra os conflitos armados, mas sim 100% de todos os

homens mulheres e crianças, e nem mesmo se conseguirá encontrar soldados

dispostos a lutar; também serão inaceitáveis em nossa consciência a ociosidade,

não suportaremos a ideia de viver uma vida sem trabalho nem aceitaremos

também a ideia de deixar qualquer pessoa, mesmo que por culpa de seus

próprios erros e falhas, desamparada e em condição de miséria.

Este dia está bem próximo e logo seremos todos assim, pois, a cada dia

um adulto desperta para este caminho sem volta, e a cada dia nasce uma criança

dotada destas intuições adquiridas em outra vida, e nós que estamos ainda em

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cima da linha, temos que fazer o máximo possível de esforço para entrarmos

logo para este “outro lado”, nos livrarmos logo destes últimos impulsos egoístas

e colocar em prática as ações em favor do próximo. Eu que ainda sou uma

criatura cheia de defeitos, tenho a intenção de quem sabe estar entre os

“primeiros da fila” neste novo planeta terra que se inaugura, quem sabe o meu

egoísmo, que me diz para ser sempre o primeiro em tudo, não consegue me

motivar a estar entre os primeiros da fila, entre os primeiros daqueles que não

pensam em si e se dedicam só ao próximo.

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14 Trabalhar no que gosta

É bastante comum ver na televisão e também em outros meios de

comunicação, reportagens sobre os desafios enfrentados pelos adolescentes na

hora de escolher uma profissão. É um assunto que poderíamos dizer até mesmo

saturado, daqueles tipos de reportagens que aparentemente os jornalistas tiram

da manga quando não possuem muito sobre o que falar e então, de repente, se

lembram que é época de vestibular e pronto, lá vem mais uma reportagem sobre

adolescentes e a hora de escolher uma profissão.

Diferentemente do que estas reportagens podem fazer parecer, a

realidade é que, em geral, apenas uma minoria dos trabalhadores tiveram a

oportunidade de escolher a sua profissão, é fácil perceber isso se verificarmos

que menos de 10% dos trabalhadores no Brasil possuem o ensino superior

completo, aquelas reportagens dizem respeito na verdade a apenas uma

pequena parte dos jovens em nosso país. E outra informação muito importante,

é que a grande maioria das carreiras, dos cursos de faculdade, são escolhidos

em função da oferta do curso em local acessível ao estudante mas também e

principalmente em função do preço das mensalidades, mas está é uma

informação que costuma passar desapercebida ou até mesmo propositalmente

ignorada por estas reportagens.

A ideia de trabalhar no que gosta me faz lembrar aquelas declarações

espontâneas feitas por crianças pequenas quando um adulto pergunta: “O que

você quer ser quando crescer?” e as respostas são quase sempre simples e

diretas, a criança costuma escolher aquelas profissões que lhe proporcionam

mais admiração, como médico ou professor, difícil seria explicar para uma

criança de família humilde o motivo porque ela pode sem grandes dificuldades

um dia se tornar um professor, mas muito dificilmente conseguirá se tornar um

médico.

No meio termo entre as crianças inocentes e sonhadoras e a realidade

dos adultos mais maduros, que raramente trabalham na profissão que

escolheram, estão justamente os jovens que se encontram neste momento

decisivo em que entram para o mercado de trabalho ou escolhem uma carreira

para estudos de nível superior. A ilusão infantil de poder escolher a carreira que

quiser e trabalhar naquilo que mais gosta é confrontada com a realidade difícil

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dos altíssimos custos do ensino superior em determinadas carreiras e da

altíssima concorrência em vagas de universidades públicas, que possuem

sistemas de seleção exclusivos (que excluem) e que acabam só admitindo

justamente os candidatos que teriam condições de pagar o curso particular. Não

esquecendo é claro que os dados dos institutos de pesquisas mostram que a

grande maioria dos jovens acaba, por necessidade, entrando para o mercado de

trabalho antes de conquistar um diploma e nele permanecem na maioria das

vezes a vida toda sem ter tido uma única chance sequer de obter um diploma de

uma carreira bem remunerada qualquer, muito menos ainda de poder escolher

uma entre várias opções.

Mas será que a sociedade sai prejudicada neste processo? Será que as

pessoas trabalhariam mais e melhor se pudessem sempre escolher a sua

profissão?

A ilusão de trabalhar naquilo que gosta, que é vendida pelos meios de

comunicação, está sempre meio que atrelada a uma outra ilusão típica da mente

dos jovens, a ilusão de que é possível viver sem trabalhar. Trabalhar naquilo que

se gosta parece sempre mais fácil, “é como se a pessoa não estivesse nem

mesmo trabalhando” acreditam muitos; me recordo uma propaganda de uma

universidade com cartazes que diziam: “Trabalhe naquilo que gosta e não

precisará trabalhar um dia na sua vida”, é curioso ver a propaganda de uma

instituição voltada para a preparação de pessoas para o mercado de trabalho,

atrair candidatos com a promessa de nunca precisarem trabalhar, é como se

trabalhar naquilo que gosta fosse igual a ganhar na Mega-sena, uma vida inteira

de diversão sem trabalho.

Acreditando nas vantagens da ideia de trabalhar naquilo que gosta e não

precisar trabalhar de verdade, muitos jovens de classe média e alta escolhem

cursos superiores em áreas ligadas ao entretenimento como música, fotografia,

cinema ou publicidade e jornalismo, enquanto apenas uma minoria escolhe, de

livre e espontânea vontade, carreiras como por exemplo: fisioterapia, professor

da rede pública, cuidador de idosos ou de mecânico; estas últimas são profissões

que geralmente não são tão bem remuneradas ou não proporcionam um

destaque pessoal mas, são profissões extremamente úteis, de grande valor para

a sociedade. Entre estes, que voluntariamente escolheram estas profissões de

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menor destaque, é que mais facilmente encontraremos pessoas que realmente

possuem vocação, pois o que as motiva é a vontade de trabalhar.

Sob o ponto de vista puramente materialista, parece haver somente

vantagens em nascer em uma família de melhores condições financeiras e poder

escolher a profissão que quiser. Mas sob o ponto de vista da evolução espiritual

a verdade é que estas aparentes vantagens podem se tornar geradoras de

grande prejuízo para o indivíduo, pois, no geral, o pobre tende a abandonar mais

cedo estas ilusões de muita diversão e trabalho fácil fazendo aquilo que gosta;

enquanto o rico muitas vezes adia por muito tempo o início da sua contribuição

para a sociedade em um ofício útil. Quantos casos não conhecemos de pessoas

que, por possuírem condições financeiras, abandonam cursos perto da data de

conclusão, desperdiçando anos de estudo para uma nova tentativa ou aventura,

recomeçando os estudos do zero.

Muitas são também as pessoas que procurando realizar o sonho do

“trabalhar naquilo que gosta” e ter pouco trabalho e muita diversão, acabam

abandonando carreiras já sólidas ou com grandes oportunidades pela frente e

embarcando em aventuras em busca deste sonho. O resultado muitas vezes é

que o indivíduo não consegue obter o resultado financeiro esperado e começa a

trabalhar mais e mais na sua profissão dos sonhos, correndo atrás de clientes e

oportunidades e aos poucos transformando sua carreira dos sonhos em um

verdadeiro tormento de agonia e incerteza. Sem falar na decepção que muitas

vezes ocorre entre a idealização da profissão dos sonhos e a realidade dos

bastidores do ofício; porque existe uma grande diferença entre a diversão de

assistir a um show de música e os problemas e desafios dos bastidores de um

show de música, assim como o prazer de tirar fotos por diversão e os desafios

de agradar clientes como fotografo profissional. Melhor seria para estes

trabalhadores se tivessem permanecido fazendo aquilo que fazem bem e são

bem reconhecidos e remunerados e deixassem as atividades prazerosas para

os horários de folga como forma de lazer.

O que precisamos aprender é que a vida nos leva ao nosso trabalho

ideal, a nossa verdadeira vocação, porque os planos que Deus possui para nós

são sempre melhores do que os planos que traçamos para nós mesmos, quase

sempre baseados em sonhos adolescentes de trabalho fácil e diversão. Isso

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porque Deus traça planos visando a nossa evolução espiritual e nos coloca em

ocupações que representam desafios que precisamos aprender a superar. Cada

trabalho difícil, chato, com chefes exigentes e clientes difíceis é cuidadosamente

planejado para que aprendendo a suportar e superar estes desafios nos

tornemos pessoas melhores, mais pacientes, mais dedicadas. Enquanto que

quando motivados pela ideia de trabalho fácil e vida mansa estamos sempre

sujeitos a decepções que nos forçam a retornar ao nosso local ideal de trabalho

nos planos de Deus.

Muito importante também lembrar que os trabalhos mais duros, mais

pesados e desgastantes e que são mais evitados são também aqueles trabalhos

onde o indivíduo tem a oportunidade de ajudar número maior de pessoas se

comparados aos trabalhos mais leves e prazerosos. Além disso, a vida de um

trabalhador destas profissões “dos sonhos” é quase sempre muito mais

tumultuada e cheia de perigos, estando muito mais propensos a vícios e

desequilíbrios. Basta comparar, por exemplo a porcentagem de casais que se

casam e se separam diversas vezes entre as pessoas anônimas e entre os

artistas de televisão; ou a porcentagem dentre estes mesmos artistas que vem

a ter problemas com drogas em comparação com os trabalhadores anônimos.

Muito mais tranquila e feliz por exemplo é a vida de um médico do que a de um

jogador de futebol, o médico com talento para o futebol poderia ter ajudado muito

mais pessoas e ter tido uma vida muito mais feliz na obscuridade da profissão

comum do que na vida de artista e estrela do esporte.

Devemos então aprender a agradecer o posto humilde ou o trabalho duro

que possuímos; este é o posto que Deus nos forneceu pensando unicamente

em nós, pois, mais do que uma peça útil a serviço da vontade de Deus e do

serviço ao próximo, esta ocupação tem como finalidade essencial a nossa

felicidade, pois é aprendendo as lições da humildade, tolerância, benevolência e

bom animo nos desafios do trabalho diário e na convivência forçada com

pessoas que em outras situações tentaríamos evitar é que vamos conquistar os

valores que nos proporcionarão a nossa felicidade; felicidade esta que costuma

ficar distante dos artistas famosos, das estrelas do esporte e das celebridades

que fazem o que gostam mas vivem perdidas em vícios e desilusões.

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15 Reino dos céus

A ideia de céu está presente em muitas religiões e em muitas das

religiões cristãs existem representações de céu bastante curiosas, como o

clássico céu onde as pessoas andam sobre nuvens em meio a anjos e ficam lá

eternamente ociosas vestindo roupas brancas e olhando, até com certo

desprezo, os pobres infelizes que estão lá em baixo no inferno. Existem também

religiões que pregam uma ideia curiosa de céu onde os seres humanos ficariam

felizes e sorridentes em campos gramados e em ambiente familiar, como em um

parque, ao mesmo tempo que conviveriam lado a lado com animais selvagens,

como leões e tigres por exemplo, que deixariam de ser carnívoros e se tornariam

dóceis como animais domésticos.

Estas ideias um tanto antigas e infantis a respeito do céu geram na

mente das pessoas mais esclarecidas mais descrédito do que fé, muitas vezes

dificultando a assimilação dos princípios cristãos, princípios estes sérios e

realistas, que estas religiões tentam de boa vontade ensinar. Já no espiritismo,

muitos seguidores tem uma ideia de céu um pouco diferente (mas não muito)

onde o que chama a atenção é a tecnologia avançada e as paisagens e jardins

maravilhosos, como os relatados nos livros de André Luiz, e infelizmente muitos

espíritas acreditam também ser este um lugar para ociosidade e vida

contemplativa, como prêmio pela sua elevação moral.

O ponto fundamental onde erramos muitos de nós espíritas e também

muitos outros cristãos é que o céu, ou reino dos céus de que nos fala Jesus, é

nada mais do que um estado de espírito, como o também é um estado de espírito

o estado descrito no Budismo chamado de Nirvana, um estado de elevação

espiritual. O céu não é por tanto um lugar físico, com coordenadas definidas, na

terra, na camada atmosférica ou no mundo espiritual invisível.

Esta concepção de céu como um lugar cheio de confortos e beleza, feito

para o deleite dos sentidos é também um fruto do nosso materialismo, pois, como

seres atrelados à matéria, temos como prioridade a satisfação de desejos e

conquistas materiais e naturalmente construímos um céu ideal como um lugar

onde seriam satisfeitos os nossos desejos materialistas de conforto e descanso.

A necessidade de atrelar a felicidade futura à possibilidade de viver em um local

materialmente mais agradável (seja no plano físico ou no plano espiritual

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invisível) é na verdade um indicador do nosso atraso e do nosso materialismo

dominante, pois acreditamos que esta felicidade futura só será possível quando

conquistarmos este privilégio de habitar um local distante dos problemas da

terra.

Podemos imaginar, por exemplo, o que acontece quando um espírito

superior, que atingiu a elevação necessária para viver no que chamamos de céu,

vem visitar regiões atrasadas como a terra. Este espírito é certamente um

espírito feliz, sua felicidade é uma consequência automática de sua elevação

moral e ao deixar as regiões mais agradáveis e se deslocar para a terra ele não

perde sua felicidade, não muda seu estado de espírito e não perde nem um

pouco sua elevação moral, poderíamos dizer que ele carrega o seu céu consigo,

o céu deste espírito vai com ele onde ele for.

Existem é claro muitos exemplos de espíritos elevados que, em missão

e encarnados na terra, enfrentaram grandes dificuldades e aflições, mas estas

aflições com certeza faziam parte de pequenas lições de elevação moral que

aquele espírito, muito mais elevado que nós, ainda precisava enfrentar, como se

fossem aulas de reforço para um aluno mais adiantado que já concluiu aquela

série que ainda estamos cursando, mas deixou de assimilar algumas pequenas

lições e por isso vem se juntar a nós para fazer este pequeno reforço, sem que

por isso perca seu estado de adiantamento. Já outros espíritos elevados e em

missão na terra enfrentam dificuldades, perseguições, e punições, como algo

natural sem que sua alegria e elevação interior seja abalada nem um pouco. Um

exemplo que podemos citar é o comportamento tranquilo dos espíritos mais

elevados quando aprisionados por “autoridades” na região do umbral, conforme

relatado no livro Libertação, de André Luiz, estes espíritos superiores

conservavam sua tranquilidade e paz interior, ao contrário de outros espíritos

que acompanhavam estas mesmas excursões e que ficavam sempre tensos e

preocupados; outro exemplo é a tranquilidade e até mesmo a felicidade que

demonstrava Gandhi nas suas diversas passagens pela prisão durante o

movimento de resistência pacífica na Índia, em que ele aproveitava o tempo livre

da cadeia para meditar e escrever ótimos livros, enquanto que seus parceiros de

luta tinham verdadeiro pavor de serem presos.

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Podemos imaginar assim que Jesus, durante sua prisão e seu martírio,

não teve sua paz interior abalada em nenhum instante e fica então fácil de

entender como o enorme sofrimento físico foi suportado por aquele espírito

elevado, graças à sua imensa superioridade moral, que o levou a pedir o perdão

de Deus, em seus momentos finais, a nós pecadores que, segundo disse, não

sabíamos o que estávamos fazendo.

Analisando o que a doutrina espírita nos ensina e refletindo sobre o que

significa ser um espírito superior, chegamos à conclusão de que os espíritos

superiores devem passam a maior parte de seu tempo na verdade em serviço

de auxílio aos espíritos mais atrasados como nós e em regiões atrasadas como

a terra. Isto é uma consequência lógica, pois se ser moralmente superior é

equivalente a pensar no próximo antes de si mesmo e desejar praticar o bem, é

muito difícil acreditar que os espíritos superiores se esquivariam do serviço árduo

de auxílio aos seres mais infelizes nas regiões mais atrasadas. Na verdade, o

suposto privilégio de sempre poder evitar este trabalho difícil, se assim fosse,

funcionaria na verdade como uma punição ao espírito que se eleva moralmente

e passa então a possuir mais vontade de trabalhar e ajudar. A vida de ociosidade

longe do estudo e da prática do trabalho, seria na verdade castigo ao espírito de

boa vontade.

O espírito elevado carrega consigo o seu céu interior, sua paz e sua

felicidade onde quer que esteja e o que nos diferencia destes espíritos que estão

sempre no “seu céu”, onde quer que estejam, são os nossos defeitos morais,

nosso orgulho, egoísmo, maiores ainda do que nossa humildade e boa vontade.

Os espíritos elevados sentem-se sempre no céu, seja na arena do circo romano

no momento de serem devorados pelos leões, ou seja na condição de escravo

ou de trabalhador assalariado encarregado da limpeza dos esgotos; já os

espíritos ainda em luta com os próprios defeitos, como nós por exemplo, não

conseguimos sentir esta mesma paz de espírito e esta mesma tranquilidade nem

mesmo estando no trono do imperador, no conforto de uma mansão luxuosa ou

na posição superior sentado na cadeira de presidente de uma grande empresa.

Portanto, preciso sempre me lembrar de que o meu céu, ou meu reino

dos céus, está dentro de mim, e eu sou o único responsável por não deixa-lo

ainda aparecer, por não conseguir manter esta paz e esta tranquilidade dentro

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de mim o tempo todo. A todo momento em que a vida, por exemplo, me trouxer

uma dificuldade, um obstáculo ou uma situação desagradável, preciso tentar me

lembrar de como um espírito superior reagiria àquela mesma situação, se seria

tão impaciente como eu, se perderia sua calma como eu costumo perder ou se

deixaria se levar pela atitude mais fácil e menos trabalhosa, deixando de se

esforçar um pouco mais para fazer a coisa certa em benefícios de todos. Todas

estas atitudes elevadas que conhecemos na teoria, mas que temos tanta

dificuldade em colocar em prática na hora certa, são o que ainda nos separa do

nosso céu.

Não vamos mais então esperar um céu futuro, um céu em que podemos

ser convidados a habitar como prêmio pela nossa prática religiosa e onde

desejamos viver em eterna felicidade em meio a tecnologia avançada, conforto

ou paisagens paradisíacas. Vamos, ao contrário, criar nós mesmos um céu bem

aqui onde vivemos, sendo pessoas melhores que criam um círculo de felicidade

à sua volta, sendo pessoas que irradiam paz e tolerância, que praticam o

trabalho duro e o estudo incessante, que demostram na prática a humildade e o

desapego, esquecendo aquela ideia de ser privilegiado com o convite para morar

num céu exclusivo de poucos. Este céu que você mesmo criará, o único céu real,

estará dentro de você para sempre e dele ninguém poderá te expulsar.

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16 Privilégios

Na vida de qualquer pessoa normal, o trabalho e o estudo são coisas

completamente naturais, estudar e trabalhar, para qualquer pessoa normal, não

é mais do que uma obrigação. É natural também que sempre nos empenhemos

em fazer aquilo que sabemos fazer de maneira cada vez melhor. Dedicar-se ao

que faz, melhorando sempre a qualidade do seu trabalho, não é também mais

do que uma obrigação de qualquer pessoa normal.

O trabalho bem executado (que não passa de uma obrigação) com o

passar do tempo leva o bom trabalhador a ter alguns privilégios, estes privilégios

são dos mais variados tipos e estão presentes nas mais diversas profissões;

podem ser desde a promoção ao cargo de executivo com salário melhor, sala

própria e menos vigilância dos superiores sobre a execução das suas tarefas ou

pode ser a simples elevação ao status de funcionário de confiança, como a

humilde chefe das faxineiras de uma empresa de limpeza, que ganha o mesmo

salário mínimo e tem o mesmo trabalho duro, mas pode ter o privilégio por

exemplo de coordenar as tarefas distribuindo as diversas atividades ao grupo

chefiado.

Os trabalhadores de causas nobres, de grande destaque e influência

sobre grande número de pessoas, também estão sujeitos a este acesso, esta

oferta, a certos privilégios. Pessoas que se destacaram na defesa dos

trabalhadores, dos pobres, dos perseguidos políticos e religiosos, dos que

sofrem preconceito racial etc. em meio a grandes dificuldades e grandes

sacrifícios, também passam a ter muitas vezes acesso a certos privilégios.

É comum que líderes sindicais, religiosos, líderes de movimentos

sociais, de movimentos contra o preconceito racial, religioso etc. passem muitas

vezes a circular entre os meios que costuma-se chamar de “elite” e também é

comum que voluntariamente seus admiradores e seguidores (e muitas vezes

também seus adversários mal intencionados) passem a proporcionar a estes

líderes certos privilégios, que podem ser por exemplo: grandes salários dentro

da organização que comandam; direito a motoristas particulares e carros

luxuosos para se locomover; moradia gratuita; subsídios para financiar custos

pessoais e diversos outros mimos que pouco a pouco vão corrompendo o estilo

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de vida e despertando a ganancia nestas pessoas que no início se destacaram

pela disposição ao sacrifício pessoal em prol dos interesses do próximo.

É neste momento que precisamos mais uma vez lembrar a

recomendação de Jesus ao seu grupo de seguidores eleitos que abriram mão

de tudo para seguir o mestre: “Sentando-se, chamou os Doze e disse-lhes: Se

alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos” (20). Esta

recomendação, não é simplesmente um capricho, é algo essencial, pois, sendo

seres imperfeitos como somos, é natural que admiremos os grandes líderes e

quase que involuntariamente começamos a querer oferecer certos privilégios às

pessoas em posição de destaque; da mesma maneira que sendo seres

imperfeitos também acabamos aceitando estes privilégios quando somos nós

que estamos na posição de destaque.

E é neste momento que estes líderes colocam toda a causa nobre e toda

luta a perder. Acostumando-se com os privilégios, as pessoas em posição de

destaque começam a exigir cada vez mais e mais, e logo se comportam como

se aqueles privilégios fossem um direito adquirido e o que acontece em seguida

é que acabam distanciando-se das lutas e do auto sacrifício dos primeiros

tempos. Da mesma forma, com o passar do tempo, muitos destes líderes

acostumam-se com a posição de superioridade e privilégios e não conseguem

mais aceitar o sacrifício pessoal e nem mesmo as opiniões divergentes, pois se

colocam numa posição de falsa superioridade, superioridade esta que eles

acreditam ser condizente com seu novo estilo de vida e começam a olhar com

inveja e desconfiança os outros membros do grupo, que por qualquer motivo

também se destaquem e aos poucos transformam esta inveja e desconfiança em

perseguição injusta. Resumindo, é a partir do momento em que a pessoas em

posição de destaque começam a aceitar os privilégios que lhes são oferecidos,

é que começa a lenta e gradual transformação dos grandes heróis do povo em

charlatões e ditadores arrogantes.

Assistindo ao filme sobre a vida de Chico Xavier, reparei em uma cena

(que provavelmente aconteceu na vida real) onde o seu pai propunha que se

cobrasse pequena quantia de cada uma das pessoas que iam visita-lo e assim

iriam “enricar”, ao que o médium sabiamente recusou prontamente e assim

procedeu até o fim, se reservando uma vida simples e digna. Mas imaginemos o

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que aconteceria se ele tivesse aceitado a proposta? O que aconteceria é que

provavelmente nunca teríamos ouvido falar de Chico Xavier e até mesmo muitos

de nós nem espiritas seriamos, pois os espíritos bons teriam se afastado dele e

ele seria então apenas mais um na longa lista de médiuns (ou ex-médiuns)

charlatões e quase anônimos, que se venderam aos privilégios e facilidades.

A mesma pergunta podemos fazer sobre Gandhi, o que seria do grande

líder Indiano se tivesse permanecido na sua vida de advogado formado na

Inglaterra, herdeiro de uma casta da elite indiana, vestido em roupas europeias,

distante do povo tanto fisicamente como no seu modo de vestir e de viver? Sua

liderança seria fraca ou inexistente e sem a sua influência aquele pais poderia

ter mergulhado por muitas décadas em conflitos muito mais sangrentos do que

aqueles que ocorreram.

Outro exemplo, mas no sentido contrário, é o que poderia ter sido a vida

e a missão de Maomé, que nas palavras do espírito Emmanuel:

Maomé, contudo, pobre e humilde no começo de sua vida, que

deveria ser sacrifício e exemplificação, torna-se rico após o

casamento com Khadidja e não resiste ao assédio dos Espíritos

da Sombra, traindo nobres obrigações espirituais com as suas

fraquezas (21).

Da mesma maneira, podemos ainda imaginar o que seria de São

Francisco caso tivesse se recusado a abandonar a vida de luxos ao lado de seu

pai. Ou também em sentido contrário, podemos imaginar como seriam

governadas as nações ditas comunistas, se seus líderes, impulsionados por

movimentos de luta dos povos contra a exploração e a opressão, não aceitassem

nunca os privilégios oferecidos após as conquistas políticas e se mantivessem

numa vida de humildade, longe dos palácios e dos luxos, preservando os valores

da liberdade, igualdade e justiça; eles desta forma poderiam se manter num

patamar de superioridade moral inquestionável frente aos seus adversários

ideológicos, o que acabaria por atrair mais admiração e respeito às suas ideias,

que poderiam inspirar mudanças reais e muito mais amplas do que qualquer

grupo armado jamais conseguiria obter por meio da violência.

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O nosso mundo está cheio de espíritos que encarnaram com grandes

planos para executar grandes e pequenas missões, mas que na maioria das

vezes falham e desperdiçam o tempo e o trabalho de planejamento e acabam

acumulando mais dividas ainda para com aquelas pessoas que deveriam ajudar.

O motivo de grande parte destes fracassos é a nossa natureza egoísta que nos

torna propensos a aceitar os privilégios que nos são oferecidos, privilégios estes

que nos desvirtuam do caminho traçado e podem se tornar a estrada de acesso

para que nos tornemos na terra o oposto do que havíamos planejado no mundo

espiritual. No campo da política por exemplo é comum o político que, ao ser

confrontado com o questionamento de jornalistas que cobram explicações sobre

atitudes suspeitas, solta um discurso do tipo “eu fui eleito com tantos milhões de

votos” é como se dissesse “o povo me ama e eu mereço estes privilégios, por

mais que sejam ilegais e imorais”. Também o homem rico, que nasce muitas

vezes com a missão de colocar sua fortuna a serviço dos necessitados, abrindo

mão de multiplicar seu capital em prol do bem estar comum, acaba muitas vezes

assumindo uma postura do tipo “se eu nasci rico é porque Deus quis, e então eu

mereço viver esta vida de privilégios porque eu sou especial”

Não só as figuras de destaque, incumbidas de grandes missões, mas

também o homem comum está sujeito a grandes desvios da sua missão graças

a este assédio dos privilégios. Conforme o exemplo do início, o executivo ou a

faxineira, podem transformar seus pequenos privilégios pessoais em uma forma

de fuga aos compromissos e usar da sua posição para transferir sua carga de

trabalho aos seus subordinados, aos poucos se acomodando em uma postura

de pouco trabalho e muita arrogância. Outros profissionais, como o médico ou o

advogado por exemplo, podem transformar o simples privilégio do exercício da

profissão conquistada com muito estudo e dedicação, em uma ferramenta para

explorar as pessoas que dependem do seu trabalho, colocando sempre em

primeiro lugar o proveito financeiro pessoal acima da justiça e até da saúde do

seu próximo.

O que não podemos esquecer nunca é que os privilégios são sempre um

teste, tudo o que nos é oferecido em nossa vida e que não está disponível à

maioria das outras pessoas pode ser considerado um privilégio, como por

exemplo um salário muito acima da média dos outros trabalhadores ou uma

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carga de trabalho muito abaixo da média dos outros trabalhadores, a posição de

destaque e comando sobre os outros, tudo isso que gostamos de enxergar como

um prêmio de Deus pelo nosso merecimento, na verdade se trata de um teste,

Deus deseja saber o que vamos fazer com o dinheiro extra, o que vamos fazer

com as horas vagas adicionais e como nos comportaremos quando tivermos o

poder de comandar os outros.

Chico Xavier e São Francisco de Assis são claramente espíritos que

foram testados com privilégios e passaram no teste com louvor, mas quantos

outros espíritos não são testados todos os dias e fracassam? Quantas grandes

e pequenas obras fracassaram pela fraqueza do ser humano?

Existe um teste psicológico em que uma criança é colocada sentada em

frente a uma mesa, nesta mesa é colocado um doce bem ao seu alcance, então

um adulto diz para a criança que ela não deve comer aquele doce e que, caso

ela resista e passe no teste, ela recebera outro doce e terá então dois doces

para comer; a criança é então deixada a sós por alguns minutos e quase sempre

não resiste, a maioria das crianças acaba não tendo paciência e quando não

está sendo vigiada pega o doce e come, a maioria das crianças de uma certa

idade, devido ao seu grau de amadurecimento, não passa por este teste. Em

nossas vidas nós somos colocados em uma posição muito parecida com esta no

momento em que nos são oferecidos privilégios, neste momento são testados

nossa humildade, nossa paciência, nosso desapego, nossa fé, nossa disposição

para o sacrifício e para o trabalho etc. portanto temos que ser mais inteligentes

que uma criança e aprender a recusar certos privilégios e quem sabe nos

tornarmos um exemplo para as pessoas que estão à nossa volta.

Nós também estamos prestes a engordar a longa lista dos que

fracassam nas suas missões, ou quem sabe entrar para o grupo reduzido dos

que são aprovados após resistirem às tentações dos privilégios. Naquele

momento em que sua vida parecer estar melhorando, por exemplo sob o ponto

de vista financeiro, ou em que obtiver uma atribuição de destaque em qualquer

tipo de organização ou no momento em que for colocado numa posição em que

pode influenciar a vida de muitas pessoas, lembre-se: chegou a hora do seu

teste, neste momento você está sendo testado.

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17 Amar os inimigos

Jesus nos ensinou: “Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos

maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos

perseguem” (22).

À primeira vista não parece fazer muito sentido esta recomendação de

Jesus, como podemos amar e bendizer os inimigos? A resposta (a única

resposta lógica) é bem simples: não ter inimigos.

Já que somos cristãos e estamos tomando Jesus por exemplo, devemos

nos perguntar primeiramente: Jesus tinha inimigos? Certamente muitas pessoas

o consideraram como seu inimigo, mas Jesus alguma vez disse que possuía

inimigos? Ou disse que considerava Fulano ou Sicrano como seu inimigo?

O ensinamento por detrás do “Amai a vossos inimigos” é na verdade o

ensinamento de que não devemos e não podemos possuir inimigos, nunca.

Talvez o termo “vossos inimigos” não esteja representando o significado fiel das

palavras que Jesus utilizou por um erro de tradução, ou talvez Jesus tenha

usando esta contradição propositalmente para causar choque, assim como

causou choque o “se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a

outra” (23), mas o ensinamento para o cristão é mesmo esse, o ensinamento de

que a pessoa que erra, ou que consideramos como errada, é digna de pena e

não de ódio e isto Jesus exemplificou ao pedir perdão por nós a Deus na cruz

dizendo “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (24).

Na verdade, seguindo uma outra recomendação de Jesus, a de perdoar

setenta vezes sete, fica mesmo impossível possuir inimigos, pois só poderíamos

considerar alguém como inimigo depois desta pessoa nos prejudicar e termos

perdoado ela quatrocentos e noventa vezes. Nós temos que assimilar a ideia de

que estamos sempre errados quando consideramos alguém como nosso

inimigo, o espírito de bem, o espirito cristão, não possui inimigos. Pode ter e

provavelmente tem muitos adversários de ideal que se consideram seus

inimigos, mas se quisermos ser pessoas de bem temos não só que esquecer a

ideia de possuir inimigos, mas também deixar claro para aquelas pessoas que

se consideram nossas inimigas, que não a consideramos como inimiga.

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Muitas vezes uma criança pequena pode acreditar por um momento que

sua mãe ou seu pai não estão do seu lado porque não fazem as suas vontades

e as vezes até soltar uma frase do tipo “você é meu inimigo”, esta frase na boca

de uma criança com a inocência que é dita soa até engraçado por um instante,

mas a mãe ou pai irão com certeza explicar no mesmo momento para a criança

que isto não é verdade, que ela sempre será uma amiga e sempre faz tudo para

ela pensando no seu próprio bem. No mundo dos adultos é necessária a mesma

cautela e atenção, quando percebemos que alguém, por qualquer motivo,

começou a nos considerar como inimigo, devemos deixar claro para aquela

pessoa que o sentimento não é reciproco e que apesar de quaisquer

divergências, estamos sempre procurando agir no melhor interesse de todos e

em consequência também no melhor interesse deste nosso adversário.

Imagine um investigador da polícia ou do ministério público que está se

esforçando em desbaratar uma quadrilha de fraudadores que desviam dinheiro

público; esta pessoa que investiga não deve considerar seu investigado como

seu inimigo, deve pelo contrário, como cristão, pensar sempre no bem estar

deste, pois, sob o ponto de vista espiritual, o pior para o fraudador seria que

continuasse a roubar dinheiro público e aumentar suas dividas perante a justiça

divina. O investigador, motivado quase sempre pela vontade de fazer justiça e

fazer com que o dinheiro chegue aos devidos beneficiários, deve aprender a ser

motivado também pelo amor àqueles que ele investiga, pois, sua ação fará com

que os criminosos parem de cometer mais crimes e percebam que o crime não

compensa. O pior que se poderia fazer neste caso seria deixar estes fraudadores

pensando que seus crimes estariam sempre impunes, pensando que a justiça

divina não os pode atingir e que a atitude egoísta que prejudica às pessoas

necessitadas é um bom negócio. Mais adiante, este investigador poderia explicar

para seu investigado que o que ele estava fazendo é na verdade um favor, e que

um dia a alma arrependida deste pecador ainda irá agradecer por ter sido tirada

à força do caminho do crime, graças à ação daquele investigador.

Nas situações mais comuns do nosso cotidiano, podemos tentar explicar

de forma amistosa para os nossos adversários mais próximos que estamos

agindo em benefício dele mesmo e que só desejamos o seu bem, já para aqueles

que se afastam um pouco mais, e evitam a nossa amizade, devemos tentar

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sempre que possível atrair esta pessoa de volta ao nosso círculo de amizades

e, quem sabe, utilizar o recurso de uma palavra espontânea ou até mesmo uma

observação bem humorada para quebrar o gelo e fazer aquela pessoa refletir a

respeito da nossa suposta inimizade (que ela muitas vezes considera como

reciproca) deixando claro que não desejamos nos afastar e não guardamos

rancores por qualquer fato passado.

O importante é deixar claro para qualquer pessoa que se considere

nossa inimiga, que o sentimento não é reciproco, e sejam quais forem os motivos

que ela possua para achar que somos seu inimigo, esta pessoa começara a se

questionar o porquê de não retribuirmos a antipatia e talvez tentará entender as

razões que nos levam a agir de forma diferente. Se nossos motivos forem

sinceros e formos impulsionados exclusivamente pela vontade de fazer o bem

ao próximo, podemos abrir uma porta para que aquele adversário abandone

aquele caminho prejudicial a ele mesmo e venha se juntar a nós na causa do

bem.

Já sob o ponto de vista do nosso interesse pessoal, não podemos nunca

esquecer de que aquelas pessoas que se colocam em nosso caminho e testam

a nossa paciência são na verdade de grande ajuda para a nossa evolução moral,

estas pessoas foram colocadas em nosso caminho propositalmente por Deus,

pensando na nossa evolução espiritual, e sem estas pessoas e estas situações,

estaríamos estagnados sem possibilidade ganho e de evolução. É no contato

com os defeitos do próximo que aprendemos a enxergar os nossos próprios

defeitos e nos motivamos a tentar sermos melhores.

Todo aquele stress, mal estar e irritação que muitas vezes estes

adversários conseguem despertar em nós, são um claro sinal da nossa

imperfeição moral, pois um espírito mais evoluído não está sujeito a este tipo de

sofrimento. Um espírito evoluído não se irrita com um adversário que se coloca

em seu caminho, ele vê esta atitude do adversário como uma oportunidade para

tentar ensinar algo de bom ao seu adversário através do exemplo, demonstrando

sua tranquilidade e falta de interesse pelas disputas materialistas que este

adversário pensa estar travando. O stress pelas contrariedades provocadas

pelas atitudes impensadas daqueles que se consideram seus inimigos, não

atingem o espirito superior, porque sendo mais experiente ele já sabe das

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contradições e imperfeições do homem e já antecipa a possibilidade destes

ataques ocorrerem e já perdoa por antecipação a atitude infeliz do suposto

inimigo.

Nós também, quando atingirmos este nível de evolução moral, iremos

nos ver frequentemente em missão de auxílio aos nossos irmãos mais atrasados

e em meio a eles seremos sempre hostilizados pelas ideias de paz e fraternidade

que trouxermos. Jesus nos disse: “Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não

vim trazer paz, mas espada; Porque eu vim pôr em dissensão o homem contra

seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; E assim os inimigos

do homem serão os seus familiares” (25) Esta é uma consequência natural ao

se divulgar as ideias renovadoras de paz e fraternidade universal para o homem

acostumado à discórdia e apegado aos interesses materialistas, as novas ideias

sempre geram conflito com as ideias antigas e naturalmente a ideia da pratica

do bem e da fraternidade gera conflito num mundo onde predomina o

individualismo.

Ao contrário do que se poderia supor, quanto mais evoluído é um

espírito, mais ele tende a provocar conflitos quando se aproxima dos homens

acostumados ao orgulho e egoísmo e estes conflitos são bem vindos e até

desejados pelo espírito de bem, pois ele aproveita estas oportunidades para

demonstrar a superioridade da humildade sobre o orgulho e do desapego sobre

a ganância, ao abandonar as disputas tolas e abrir mão voluntariamente de

vantagens e privilégios que o homem procura desesperadamente, o espírito

mais evoluído ensina através do seu exemplo que nenhuma disputa por

vantagens materiais de qualquer tipo vale a pena e que a paz deve sempre

prevalecer pois também disse Jesus: “Bem-aventurados os mansos, porque eles

herdarão a terra” (26). Amar os inimigos é perfeitamente natural para o espírito

de bem, porque na verdade ele não tem inimigo nenhum, somente irmãos

necessitados de ajuda, irmãos que ele ama.

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18 Estar bem de vida

Este é o desejo de todas as pessoas: Estar bem de vida.

Mas o que seria mesmo “estar bem de vida”? Dinheiro é claro, a resposta

é automática, quando pensamos em “bem de vida” pensamos automaticamente

em dinheiro, mas quando foi que estar bem de vida se transformou em estar na

posse de muito dinheiro? Será que estar bem de vida é isso mesmo? Para que

a resposta seja positiva, é necessário que o sentido da vida seja ganhar dinheiro,

ou seja, que você seja 100% materialista.

Mas ai eu penso: Eu não sou 100% materialista, é claro que não, logo

então eu acrescento: Estar bem de vida é ter uma boa família, filhos, bom

emprego, segurança, saúde etc., ou seja, todas aquelas coisas que parecem ser

muito mais fáceis de se conseguir quando se tem muito dinheiro. Não é à toa

que foi criado o ditado que diz “O dinheiro não traz felicidade...mas manda

buscar”, na verdade mudamos um pouco o foco, mas continuamos no domínio

do materialismo, pois ainda acreditamos que tudo se resolve com dinheiro, que

bem de vida é a pessoa que é feliz, feliz porque resolveu todos os seus

problemas (e ambições) financeiros.

É verdade que a falta de dinheiro pode trazer muitos problemas, ou

muitas infelicidades, pois sem saúde, emprego, segurança e morando em um

local sem as mínimas condições de habitação o espírito vai se encontrar sempre

aflito, por si e também pelas pessoas de sua família que ele tem a obrigação de

cuidar e proteger. Mas não é verdade que o inverso, ou seja, o excesso de

dinheiro, traz aquela felicidade que o espírito ainda não possui depois de ver

satisfeitas suas necessidades básicas de saúde, moradia, emprego, segurança

etc.; a prova inquestionável deste fato é que as pessoas que ganham uma

enorme quantidade de dinheiro, na loteria por exemplo, não se tornam felizes só

por este motivo, a euforia inicial costuma durar cerca de um ano e após este

período a pessoa (a não ser aquela que se encontrava em estado de extrema

necessidade) volta ao estado mental de felicidade ou infelicidade que possuía

antes de ganhar aquele dinheiro.

Não é difícil perceber também que a maioria das pessoas que possuem

muito dinheiro e deveriam estar “bem de vida”, na verdade são muito infelizes,

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mais infelizes ainda que a média das outras pessoas e até mesmo mais infelizes

que as pessoas que possuem menos do que o necessário. Não é preciso nem

ser rico e conviver na “alta sociedade” para saber das histórias de intrigas,

disputas e todo tipo de conflitos em que vivem constantemente as pessoas que

possuem muito dinheiro, como o exemplo dos filhos que tentam tirar dinheiro dos

pais, os golpes do baú, o envolvimento com o mundo sujo da política, sem falar

no constante medo de ser roubado por bandidos violentos ou por quadrilhas de

golpistas que fazem os ricos viverem em constante estado de paranoia. Além

destes problemas a riqueza da ainda acesso a uma vida de excessos e

desiquilíbrios como o mundo das drogas e os desiquilíbrios sexuais que pode

destruir as famílias mais bem estruturadas. Com certeza o mundo da riqueza

não é por dentro igual àquela fachada de felicidade dos sorrisos forçados nas

colunas sociais.

Mas ainda um dos principais motivos que trazem a infelicidade para

aquela pessoa que conquistou suas ambições materiais é a desilusão. Na nossa

sociedade “dinheiro-cêntrica” onde tudo parece se resolver com dinheiro, uma

vez satisfeitas estas ambições, surge a confrontação com a realidade de que a

felicidade não vem automaticamente acompanhada da riqueza e o indivíduo

percebe então que estava o tempo todo remando na direção errada (apesar de

não saber ainda qual a direção certa) ele chega à conclusão de que passou boa

parte de sua vida numa corrida desesperada por algo que não é capaz de lhe

fazer realmente feliz.

O que pode fazer uma pessoa feliz é conseguir cumprir a sua missão

nesta vida e não podemos acreditar que a missão de nenhuma pessoa possa

ser ganhar muito dinheiro, ficar “bem de vida”, e morrer. Qual seria o sentido de

encarnarmos na terra só para desesperadamente ajuntar uma riqueza material

temporária e logo depois abandonar tudo? O espírita sabe que a sua missão

neste mundo é a de evoluir moralmente, de elevar a sua alma a um estado mais

aperfeiçoado do que possuía antes desta experiência. Como sabemos: “fora da

caridade não há salvação” (10), portanto é a caridade que pode ajudar o espírito

a se aperfeiçoar e somente assim estará na direção correta, cumprindo sua

missão e ai começar a experimentar uma vida feliz.

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A caridade de que falamos é caridade de todos os tipos, além de muitos

outro podemos citar a caridade da paciência, da tolerância, da boa vontade, da

humildade e também a caridade do serviço ao próximo e a caridade material.

Não é difícil perceber que a pratica da caridade tanto no sentido amplo da

humildade e paciência quanto no sentido mais restrito do serviço ao próximo e

da doação material, na verdade tendem a afastar o indivíduo do caminho da

riqueza. Seja quando doa do que possui ou gasta seu tempo em atividade não

lucrativa, ou seja, quando se abstém de tentar obter mais status e poder e deixar

para trás seus adversários, o espírito está se afastando daquele caminho da

riqueza material que deveria fazer ele ficar “bem de vida”.

E muitas pessoas só conseguem chegar a esta conclusão muito tarde

em suas vidas, as vezes já próximos da hora da morte, quando começam a

avaliar seu passado e como as suas atitudes contribuíram ou não para a sua

felicidade, percebem como estiveram enganadas por tanto tempo. Muitas vezes

tentam às pressas reverter o quadro construído após décadas de atitudes

egoístas e saem distribuindo suas grandes fortunas acumuladas. Este

comportamento provoca por sua vez o desespero de seus familiares que

aguardavam pela sua herança, estes familiares, que foram influenciados no

passado pelas atitudes egoístas daquele parente mais velho, se tornaram eles

mesmos também obcecados por dinheiro e então por ironia do destino correm à

justiça para tentar tirar do velho pródigo o poder de dispor dos seus próprios

bens.

Portanto, da próxima vez que ouvir alguém comentar que Fulano está

“bem de vida”, vamos parar e pensar: Fulano está bem de vida ou bem de

dinheiro? Porque a maioria das pessoas “bem de vida” porque possuem muito

dinheiro estão na verdade distantes da sua missão, e isso lhes provoca

constantes desgostos e infelicidades, basta pensar no mundo das celebridades

de vida instável, das socialites viciadas em drogas, dos mega-ricos com

constantes problemas com a justiça. O mundo destas personalidades

endinheiradas é quase sempre um mundo deprimente e nem mesmo precisamos

ter poderes mediúnicos para poder imaginar que tipo de companhia espiritual

sombria deve acompanhar de perto estas personalidades.

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A maioria das pessoas realmente bem de vida não tem muitas posses e

nem se importam com isso, pois não fazem disso o motivo de suas vidas.

Independente de qual religião possuem, as pessoas realmente bem de vida são

as pessoas que são felizes porque conseguiram encontrar o seu caminho, a sua

missão nesta vida e conseguem se melhorar como pessoas ajudando ao

próximo. Pode ser o trabalhador dedicado que executa bem o seu trabalho com

humildade; a mãe que faz todo o possível para educar bem os filhos abrindo mão

de quase tudo em favor deles; a pessoa dedicada ao serviço voluntario ou à

defesa dos interesses dos necessitados ou o empresário que abre mão de altos

lucros e faz o melhor pelos seus funcionários transformando um grupo de

desconhecidos ligados apenas pelo trabalho em uma verdadeira família.

É bem provável que ainda escutemos alguém dizer por exemplo que tal

empresário ou tal político conseguiu muito dinheiro causando prejuízo aos outros

e ficou “bem de vida”, neste momento podemos ter certeza de que aquela pessoa

não está de forma nenhuma bem de vida, ela está na verdade é em grandes

apuros pelas dividas que acabou de contrair perante a justiça divina e quem sabe

neste mesmo momento poderemos dizer: bem de vida estou é eu com o

pouquinho que tenho.

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19 As divisões da humanidade

O ser humano adora criar divisões.

Criamos divisões em tudo e somos realmente viciados nesta prática,

gostamos tanto de divisões que até a palavra “exclusivo” ou seja, aquilo que

exclui, que discrimina, que separa, tem um sentido positivo em vez de soar como

algo negativo.

Diz o espiritismo que a humanidade é uma só e que todos somos irmãos

e também sabemos que, como cristãos, devemos amar ao próximo como a nós

mesmos, mesmo assim nós insistimos em criar todo tipo de divisões, são

divisões políticas, sociais e muitas outras divisões totalmente sem sentido.

Primeiro criamos as divisões de raças entre diferentes regiões do

planeta, se sou branco ou asiático já começo a me achar diferente do árabe ou

africano por exemplo; depois se vai mais além e se criam divisões dentro dos

povos de aparência similar e eles se dividem em diferentes países, como os

ingleses e alemães por exemplo; depois dividem-se ainda pela religião dentro de

um mesmo país, como os cristãos que se acham muito diferentes dos judeus;

depois ainda diferenciam-se os pequenos reinos ou cidades, depois até os

bairros e quando não se resta mais nada para dizer que “eu” sou diferente de

outra pessoa, ai apelamos até para times de futebol e fico achando que o outro

é muito diferente de mim só porque torce para outro time.

Mas qual o sentido de tudo isso? Porque adoramos criar estas infinitas

divisões, todas absolutamente fictícias e baseadas apenas na imaginação do

homem?

A chave para a resposta está novamente nos nossos defeitos, é o nosso

orgulho e egoísmo que nos mandam criar estas infinitas divisões inúteis, pois

não é por coincidência que sempre que criamos ou resolvemos aderir a alguma

divisão fictícia, criamos também ao mesmo tempo uma graduação entre elas, ai

inventamos o lado melhor e o lado pior e, não por coincidência, sempre nos

colocamos do lado melhor.

Por exemplo se sou um homem branco, brasileiro, de classe média,

trabalhador da iniciativa privada, corinthiano, católico e voto num partido de

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direita; é bem provável que ao conversar comigo se note que eu tenda a achar

que homens são melhores que mulheres (no volante, nos negócios, na política

etc.); que brancos descendentes de europeus são mais inteligentes ou mais

afeitos ao trabalho honesto (apesar de hoje este tipo de divisão ser considerado

crime) do que descendentes de africanos, asiáticos etc.; que brasileiros são mais

humildes que argentinos; que a classe média é mais inteligente que a classe

pobre; que funcionários da iniciativa privada são mais competentes que os

funcionários públicos; que corinthianos são mais heterossexuais que os são-

paulinos (se eu for heterossexual é claro, senão vou dizer que é o contrário); que

católicos são mais fiéis à vontade de Deus do que evangélicos; e finalmente que

a direita é mais honesta que a esquerda.

E, não por coincidência, todas estas opiniões seriam todas invertidas, se

por acaso eu pertencesse aos grupos opostos, pois as pessoas dos grupos

opostos tendem a ter as opiniões inversas às minhas. Existem exceções é claro,

como em alguns casos em que a pessoa idolatra um grupo ao qual não pertence,

como por exemplo alguns brasileiros que acham que os americanos são

melhores em tudo, desde valores morais até capacidade intelectual etc., mas

estes brasileiros costumam se referir a si mesmos como pessoas que não

pertencem ao local em que vivem, como se tivessem nascido aqui por engano e

tivessem na verdade um “alma de americano”, pois ninguém gosta de se ver no

grupo inferior. O mesmo se pode aplicar a muitas pessoas que apesar de terem

traços raciais africanos, demonstram um pouco de racismo velado em relação

aos próprios negros, pois o racismo é tão enraizado em nossa cultura que chega

a influenciar até mesmo algumas pessoas de raça negra.

Todas estas constatações, fáceis de se averiguar no dia a dia, só

demonstram como são ridículas as divisões que nós criamos. Parece que temos

uma necessidade desesperada de inflarmos sempre um pouco mais o nosso ego

criando algum tipo de divisão e imediatamente nos colocando no degrau de cima,

deixando outros no degrau de baixo.

Esta tendência do ser humano, esta constante necessidade de se sentir

melhor criando diferenças, já foi muito manipulada e serviu como ferramenta

para que fossem cometidos grandes crimes na história da humanidade. Foi

criando-se divisões artificiais e alimentando um ódio injustificado sobre os outros

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grupos, que políticos e grandes líderes mal intencionados conseguiram mover

nações inteiras para a guerra, guerras em que todo tipo de barbáries e crimes

inimagináveis foram cometidos por pessoas comuns motivadas por um ódio real,

alimentado por divisões imaginárias.

Entre vários exemplos, podemos citar a perseguição aos judeus em toda

a Europa durante o período da segunda guerra mundial e os crimes de guerra

cometidos por japoneses nas invasões à china no mesmo período; motivados

também por este mesmo ódio podemos incluir os ataques dos Europeus aos

povos do oriente médio durante as cruzadas e os ataques das potencias

modernas também contra os países do oriente médio, durante todo o século

vinte, motivados por um sentimento de desprezo por aqueles povos. Em todos

estes casos de barbáries e crimes que entraram para a história, os agressores

que estavam na linha de frente, cometendo os crimes com suas próprias mãos,

eram sempre pessoas do povo, simples e ignorantes e que não faziam ideia das

reais motivações econômicas escondidas por detrás dos discursos mentirosos

que pregavam o ódio contra os “diferentes”.

As infinitas diferenciações criadas pelo homem, deste a simples gangue

de adolescentes que usam roupas parecidas, até os sistemas políticos baseados

em castas, não são apenas ridículas mas também muito perigosas, pois podem

levar o homem comum a odiar o seu próximo sem motivo algum e o ódio é um

veneno perigoso que muitas vezes sai fora de controle.

Além dos casos que que as divisões políticas e imaginárias terminam em

conflitos sangrentos, existem os casos muito mais comuns de povos (que se

julgam cristãos) que assistem ao sofrimento de outros povos com total

indiferença. Vejamos por exemplo o caso do Haiti, um país miserável que sofre

a séculos com guerras e ditaduras financiadas pelas potências estrangeiras e

também mais recentemente também com um desastre natural. Desesperados,

alguns habitantes daquele país começaram a tentar migrar para o Brasil, qual

então a reação das autoridades, dos políticos e da mídia em geral no Brasil?

Uma aversão total, exatamente como já se poderia esperar, conhecendo o nosso

modo egoísta de pensar. A vinda de uma minúscula parcela da população

daquele pais provocou imediatamente enormes esforços e medidas de polícia

para coibir a vinda daqueles cidadãos desesperados.

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Ninguém nem mesmo cogitou as possibilidade de incentivar a vinda

destas pessoas com o restante de suas famílias, o Brasil com uma economia

média e uma população de duzentos milhões de habitantes poderia com muita

facilidade abraçar toda a população do Haiti se quisesse e nem sentiríamos

impacto algum na economia, mesmo se nenhum haitiano que viesse para cá

quisesse trabalhar. Mas aquelas pessoas (quase 100% delas cristãos)

acostumadas a uma vida de luta e trabalho não seriam de forma alguma um

peso, poderiam pelo contrário dar uma grande contribuição a alguns setores da

economia, como também deram um impacto positivo à economia no passado os

italianos e japoneses que migraram para o Brasil. O mesmo impacto positivo

também foi sentido com a chegada de todos os povos estrangeiros que formam

hoje os Estados Unidos da América, apesar da “natural” aversão inicial dos

“nativos” (descendentes de europeus nascidos neste lado do atlântico) que já

haviam chegado a mais tempo no continente americano.

Mas não é com este espírito de solidariedade que preferimos agir,

preferimos criar divisões imaginarias baseadas em cor da pele, língua, costumes

etc. e sem remorso algum viramos as costas para um povo cristão enquanto em

nossa constituição está escrito que: “A República Federativa do Brasil rege-se

nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: [...] II - prevalência

dos direitos humanos; [...] IX - cooperação entre os povos para o progresso da

humanidade;” (27).

Encontramos em O Livro dos Espíritos uma pergunta relacionada a este

assunto:

789. O progresso fará que todos os povos da Terra se

achem um dia reunidos, formando uma só nação?

“Uma nação única, não; seria impossível, visto que da

diversidade dos climas se originam costumes e

necessidades diferentes, que constituem as

nacionalidades, tornando indispensáveis sempre leis

apropriadas a esses costumes e necessidades. A caridade,

porém, desconhece latitudes e não distingue a cor dos

homens. Quando, por toda parte, a lei de Deus servir de

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base à lei humana, os povos praticarão entre si a caridade,

como os indivíduos. Então, viverão felizes e em paz,

porque nenhum cuidará de causar dano ao seu vizinho,

nem de viver a expensas dele” (28).

Outro dia eu estava eu assistindo a um documentário sobre vida animal

que mostrava a vida de macacos que viviam na neve, bem ao lado de um lago

aquecido e o narrador explicava que “macacos sendo macacos” estes criavam

divisões sociais e assim alguns macacos podiam ficar aquecidos nas piscinas

quentes, que tinham muito espaço de sobra para todos, enquanto os outros

macacos, da classe inferior, tinham que ficar, sem motivo algum, do lado de fora

e no frio. Sabemos que, enquanto ainda moralmente atrasado, é o materialismo

que predomina sobre o homem e faz com que o seu lado animal e irracional fale

mais alto que o lado espiritual e racional e então agimos assim como os macacos

criando divisões absurdas. Por ironia, aqueles torcedores que atiram bananas

no campo de futebol para os jogadores negros, são na verdade os únicos que

estão agindo exatamente como agem os macacos.

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20 Participação política

Qual é a participação do espiritismo na vida política?

A resposta pode ser encontrada neste trecho do livro Conduta Espírita

ditado pelo espírito André Luiz: “A rigor, não há representantes oficiais do

Espiritismo em setor algum da política humana” (29)

Dado o aspecto geral da política, é até mesmo um alívio saber que o

espiritismo não deseja possuir representantes oficiais neste meio. A política, num

mundo como a terra, acaba naturalmente sendo dominada por homens distantes

de quaisquer aspirações nobres e ideais sinceros, se tornando nada mais do que

um mecanismo de disputa de vantagens e privilégios entre algumas elites e

também um mecanismo de manutenção das injustiças.

O filme Bezerra de Menezes - O Diário de um Espírito, mostra como uma

pessoa bem intencionada tende a se desiludir rapidamente em contato com o

meio político, tão dominado pelas paixões humanas. Também Sócrates na

Grécia antiga já explicava que uma das razões pelas quais um homem de bem

pode desejar entrar para a política é como uma forma de castigo, segundo

Sócrates, para uma pessoa de bem a participação no meio político pode ser um

castigo, um castigo alto imposto, pois, segundo ele, o homem de bem só se

sujeitaria a entrar para o meio político para impedir que uma outra pessoa, mal

intencionada, ocupe aquela posição e acabe causando um dano maior a toda a

coletividade, Sócrates diz ainda que: “Se surgisse uma cidade de homens bons,

é provável que nela se lutasse para fugir do poder, como agora se luta para obtê-

lo” (30).

E quanto ao homem comum, que não deseja participar diretamente no

meio político? deve ele se abster totalmente e não se importar com o que se

passa neste meio?

Certamente que não, primeiramente porque o voto é obrigatório e

mesmo quando votamos em branco ou nulo estamos na verdade indiretamente

referendando e passando mesmo um cheque assinado em branco para aquele

político que consegue ser eleito. É muito comum ver o político corrupto ao ser

pressionado por jornalistas por causa de suas condutas dizer uma frase do tipo:

“Eu fui eleito com tantos milhões de votos, o povo está do meu lado” e é nessa

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hora que percebemos como aquele nosso voto, que foi desperdiçado, fez falta e

acabou fazendo com que o político “menos pior” perdesse para o político pior. O

resultado desta omissão afeta toda a sociedade e principalmente a população

mais necessitada, e este é um risco que o homem de bem não pode correr.

Já que a participação do homem comum na política é inevitável, nos

perguntamos então: com qual das correntes políticas básicas o espiritismo

estaria mais afinado? Com a esquerda ou com a direita?

Tradicionalmente a esquerda representa a mudança, enquanto a direita

representa a manutenção do estado atual das coisas. Considerando apenas este

sentido, poderíamos dizer que o cristianismo está sempre mais alinhando à

esquerda, por ela representar a mudança, desde que a mudança signifique

melhoria é claro. Numa sociedade como a nossa, marcada por uma profunda

injustiça social, podemos dizer que muitas mudanças ainda são bem vindas e

que para os homens possam um dia viver em um estado de maior harmonia,

muitas mudanças ainda devem acontecer. Mas é fácil também enxergar que o

espiritismo discorda profundamente de muitas bandeiras levantadas pela

ideologia esquerdista, podemos citar a inclinação para o ateísmo como a

principal delas, portanto podemos concluir que a doutrina espírita e o cristianismo

não se alinham a uma corrente política específica.

O homem de bem procura naturalmente o lado do bem em cada questão

da vida política, não apoiando nunca qualquer tipo de injustiça ou abuso, por isso

temos a obrigação de nos manter sempre distantes do fanatismo político e nunca

abraçar o pensamento de qualquer ideologia, principalmente as que pregam

qualquer tipo de violência como forma de atingir qualquer objetivo político,

sempre guiando nossa visão pelo critério da paz e do bem estar geral. Devemos

apoiar sempre as boas ideias e sermos contrários às más, não importando se

elas partem deste ou daquele partido e desta maneira nos mantermos longe do

fanatismo e da ideologia.

Podemos citar como exemplo, uma questão que tem se tornado central

no debate político no Brasil: O governo deve ou não fazer caridade, ou seja, deve

ou não fornecer ajuda financeira às pessoas mais necessitadas? Sobre esta

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questão podemos citar uma pergunta em O Livro dos Espíritos, a respeito da

esmola a pergunta nº888:

Que se deve pensar da esmola? R: Condenando-se a pedir

esmola, o homem se degrada física e moralmente: embrutece-

se. Uma sociedade que se baseie na lei de Deus e na justiça

deve prover à vida do fraco, sem que haja para ele humilhação.

Deve assegurar a existência dos que não podem trabalhar, sem

lhes deixar a vida à mercê do acaso e da boa vontade de alguns

(31).

Ou seja, segundo os espíritos superiores, a esmola é degradante e se

quisermos ser homens de bem, devemos construir uma sociedade que deva

“prover à vida do fraco, sem que haja para ele humilhação”, com sistemas de

benefícios sociais que provenham ao menos o mínimo de dignidade. É claro que

não é possível para a nossa realidade econômica criar sistemas como os da

maioria dos países ricos, em que boa parte da população recebe do governo

auxílios que equivalem no Brasil à renda de uma família de classe média alta,

mas, como o óbolo da viúva, temos a obrigação de oferecer o máximo possível,

dentro da nossa realidade, aos trabalhadores de boa vontade e aos

incapacitados de trabalhar que realmente estejam necessitados.

Contrário a esta ideia de solidariedade, existe um perigoso discurso

recorrente que esconde uma ideologia de ódio aos pobres, ódio este que é

disfarçado com eufemismos e discursos sutis na boca de alguns políticos, que

são assimilados e depois traduzidos para a linguagem do dia a dia, usada no

bate papo comum dos seguidores destes políticos, em frases infelizes do tipo

“tem que acabar com esses vagabundos que recebem bolsa” ou “os pobres tem

que morrer” num fanatismo que lembra os discursos de líderes nazistas e

também as frases de “morte ao ocidente” pronunciadas por alguns radicais

islâmicos. Enquanto que, como cristãos, deveríamos estar na verdade exigindo

que aquela ajuda realmente miserável (que gira atualmente no Brasil em torno

de R$120,00 mensais por família) fosse multiplicada, pelo contrário, a maioria

daqueles que não precisam desta ajuda torcem é para que ela desapareça, ao

mesmo tempo em que, como espiritas, afirmamos estar seguindo o ideal de Alan

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Kardec, que afirma ser homem de bem aquele que “toma a defesa do fraco

contra o forte”.

E existem muitos outros pontos em que podemos concordar com a

esquerda, como as constantes lutas por melhores salários, pois, no geral,

melhores salários significam maior igualdade, como exemplo temos a política de

altos salários com a finalidade de diminuir a desigualdade que foi muito utilizada

no Japão. Mas existem muitos outros pontos que podemos questionar, como por

exemplo a constante luta por diminuição da jornada de trabalho para 6 horas

diárias ou até menos, muito diferentemente dos tempos em que os trabalhadores

eram obrigados a passar em frente a uma máquina todas as horas do dia em

que conseguiam se manter acordados em troca de apenas um prato de comida

e mesmo assim acabavam morrendo muito jovens por desnutrição, nos dias

atuais uma luta por uma menor jornada de trabalho se parece mais com uma luta

por mais tempo para o ócio em atividades inúteis como o fanatismo por times de

futebol ou o vício em programas de fofoca e novelas na TV, muito diferente seria

se estivesse o discurso pela redução da jornada de trabalho baseado em um

desejo de obter mais tempo livre para atividades voluntárias em prol dos

necessitados, mas isso jamais passa pela mente de algum sindicalista.

O mesmo se pode dizer da luta pelo direito à aposentadoria em idade

cada vez menor, que parece contrariar bastante o ideal contido na frase de Karl

Marx: “De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas

necessidades” (32), a ideia de aposentadoria voluntária para pessoas em plenas

condições de contribuir com a sociedade, contraria não só os princípios cristãos

de amor e serviço útil ao próximo, mas também o próprio ideal comunista.

Como vimos, o fanatismo político leva constantemente a

posicionamentos contraditórios. Levado pela ideologia o homem deixa de pensar

por si próprio e é constantemente manipulado e muitas vezes levado ao caminho

do ódio às minorias ou até mesmo a defender políticas prejudiciais a si próprio.

Nos tempos antigos por exemplo, o homem comum, manipulado pelos

poderosos, aceitava e até defendia a ideia da escravidão, e constantemente se

via transformado em escravo, seja por motivo de dividas ou capturado durante

período de guerra. De forma parecida, os poderosos dos tempos atuais pregam

através da mídia a ideia do “Estado mínimo”, com a intenção de verem

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aumentados os lucros e diminuídos os impostos para as classes mais altas, esta

ideia chega então, a ser defendida até pelas classes mais pobres, que acabam

sendo elas mesmas as vítimas da ausência do estado na segurança pública, na

educação pública e na saúde pública.

Todas estas questões levantadas são um tanto complexas e devemos

pensar e refletir, caso a caso, qual é o lado que um homem de bem deveria

apoiar, hora afinando-se com a esquerda e hora até mesmo com a direita, como

por exemplo naquelas questões em que claramente o fanatismo partidário e a

ideologia do menor esforço acabam levando os defensores dos trabalhadores a

tomarem posições que no final prejudicam aos próprios trabalhadores e a toda a

sociedade. Guiando-nos pela ideologia e pelo sentimento de fidelidade

partidária, acabamos por apoiar más ideias vindas de um lado e ignorando boas

ideias vindas do outro. O homem de bem portanto deve ser o máximo possível

apartidário e desconectado de toda ideologia e nós espíritas já somos

privilegiados por temos além de Cristo como guia, também toda a literatura

espírita que é de grande ajuda para se encontrar o lado do bem em cada questão

da vida cotidiana.

Na hora de cumprir a obrigação do voto, devemos sempre orar antes de

tomarmos nossa decisão, orar para que possamos escolher livres de qualquer

fanatismo e espirito de competição, não se importando nunca se tivermos de

escolher o lado que tem chances mínimas de vitória, pois cada voto representa

uma voz de uma minoria que deseja ser ouvida e ao longo da história os

perdedores de hoje são sempre os agentes da mudança de amanhã. Mais

importante ainda é orar pelos políticos eleitos, ao em vez da crítica inútil devemos

fazer sempre que possível críticas construtivas em quaisquer canais de

comunicação disponíveis, mas devemos sempre também orar para este político

alvo das nossas críticas, para que ele consiga enxergar o grande prejuízo que

trará à sua própria alma, caso continue no rumo da política suja baseada apenas

em interesses pessoais, orando para que ele possa refletir a respeito do grande

mal ou do grande bem que ele está sempre prestes a provocar a cada decisão.

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21 Contas a pagar

É muito comum quando algo dá errado ou então ao enfrentar uma

situação difícil as pessoas usarem expressões como “eu devo ter jogado pedra

na cruz” ou “eu devo ter sido o Hitler em outra encarnação” ou algo parecido.

Além do caráter irônico, estas expressões revelam a intuição que nós todos

temos de que fatos desagradáveis do presente devem possuir alguma relação

com algo que fizemos no passado.

Ao ler livros espíritas que narram a trajetória de espíritos em épocas

passadas, como os livros de André Luiz ou a série de livros iniciada pelo livro Há

Dois Mil anos (7) narrados pelo espírito Emmanuel, podemos perceber como até

espíritos moralmente superiores possuem muitas vezes um passado tenebroso,

tendo cometido faltas graves em um tempo não muito remoto. Outro exemplo é

o do médium Chico Xavier que certa vez explicou que toda vez que cometia

alguma falta ou algum deslize, espíritos inferiores com os quais ele possuía

alguma relação no passado sempre apareciam para debocharem da sua falha,

tentando faze-lo se sentir mal.

Não é difícil imaginar então que se até espíritos como Emmanuel

cometeram faltas graves no passado e até Chico Xavier ainda era incomodado

por adversários de outras encarnações, nós pessoas comuns vivendo neste

mundo onde “ninguém é perfeito” não devemos ser exceção, na verdade é bem

provável que tenhamos cometido crimes ainda piores no passado e ainda

podemos possuir adversários e dividas muito maiores que estas destes espíritos

bons. Na série André Luiz existem vários relatos de situações em que espíritos

desencarnados desejam, no mundo espiritual, conhecer o seu passado e o que

fizeram em períodos anteriores à ultima encarnação e quase sempre estes

pedidos são negados pelos seus superiores, o motivo desta recusa é que a

lembrança das situações e ações cometidas em períodos mais distantes

causaria um transtorno mental a estes espíritos pela falta de preparo em lidar

com o próprio passado. A amnésia temporária causada pelas sucessivas

encarnações, funciona como um filtro que nos ajuda a lidar com um remorso, às

vezes muito pesado, por grandes faltas que cometemos em tempos distantes.

Sabemos que a justiça divina é infalível e deveremos pagar nossas

dividas, mais cedo ou mais tarde, centavo por centavo, de forma que nenhum

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espírito encarnado no mundo, sujeito naturalmente à amnésia temporária da

encarnação, pode ter certeza sobre como será sua vida amanhã. Podemos estar

bem hoje em matéria financeira, com saúde razoável e dentro de uma família

mais ou menos bem estruturada sem vivenciar grandes tragédias pessoais. Mas

nunca teremos certeza absoluta sobre o dia de amanhã, tudo pode mudar do dia

para a noite, uma doença, uma prejuízo enorme, um desajuste familiar etc. A

única certeza que temos é de que Deus é justo e tendo fé em Deus não

poderemos alegar sermos vítimas de injustiça, injustiça humana talvez, mas não

injustiça perante a lei divina.

Muitos de nós vivem como grandes devedores que desconhecem suas

dívidas. Imaginemos por exemplo um empresário que foi à falência e após alguns

anos acredita que todas as dívidas já prescreveram e não podem mais ser

cobradas; ele então se estabelece em uma nova atividade, com um emprego

bem remunerado e começa a adquirir bens e ter uma vida confortável com carro

novo, casa, casa de praia, sítio, aplicações financeiras etc. Um belo dia aparece

na porta deste empresário um oficial de justiça com uma intimação para pagar

uma dívida imensa que, por causa de um detalhe da lei que o empresário não

conhecia, não caducou e então lá se vão a tranquilidade e os bens acumulados

em tantos anos, todos penhorados agora para pagar a dívida antiga.

Muitos de nós vivemos assim como este empresário, sem nenhum

conhecimento das enormes dividas morais que acumulamos em encarnações

passadas e podemos receber amanhã mesmo, e sem aviso, a visita do nosso

“oficial de justiça divina” e a hora do resgate terá que começar.

Agora imagine uma outra situação: Imagine que em uma prisão da idade

média se encontram três ladrões que acabaram de ser pegos roubando pequena

quantia. Imagine que nesta cidade medieval o líder local acumula as funções de

juiz, promotor, diretor da prisão etc. Então o líder local manda trancafiar os três

ladrões e informa que terá que se ausentar por um tempo e somente quando ele

voltar é que irá decidir qual será a pena pelo crime cometido.

Dois destes três prisioneiros então decidem que irão tentar fazer algo

para tentar aliviar sua pena. O primeiro deles então começa a se comportar de

forma exemplar na cadeia, obedecendo todas as regras e tenta também se tornar

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amigo dos carcereiros, com a intenção de que eles digam que ele é um

prisioneiro de bom comportamento, também começa a ajudar em pequenas

tarefas do presídio como limpeza e preparo das refeições. O segundo prisioneiro

vai mais além, ele percebe que o prisão tem paredes com rachaduras e

convence os carcereiros a deixa-lo consertar estas paredes, também acaba

ajudando a tampar tuneis cavados por prisioneiros fujões, pinta paredes, e acaba

trabalhando em diversas outras atividades pesadas por quinze horas ao dia

durante o mês inteiro, além disso ele convoca também seus amigos e familiares

para que emprestem dinheiro para que ele possa devolver em dobro aquilo que

roubou. O terceiro prisioneiro, ao contrário dos outros dois, não faz nada para

tentar melhorar a sua situação e passa o mês preso sem fazer nada só

aguardando a sentença.

Quando o chefe finalmente retorna os carcereiros contam para ele em

detalhes o comportamento de cada um dos prisioneiros. Então ele decide que,

por causa do bom comportamento, o primeiro prisioneiro deverá aguardar mais

um pouco pela sentença e ficará preso mais um mês até que ele decida qual

será a pena. Decide também que o segundo prisioneiro, aquele que reformou o

presídio e devolveu em dobro o que roubou, pode ser solto imediatamente e não

deve mais nada à justiça. Ele informa então que o terceiro prisioneiro, aquele

que não fez nada, se comportou exatamente como se esperava que um

prisioneiro se comportasse e por isso irá receber a pena apropriada para ladrões

naquele reino e é então condenado à morte.

A nossa estadia na “prisão da carne” se assemelha um pouco com esta

história, nosso futuro será traçado em razão dos nossos atos do passado, mas

sempre podemos aliviar ou até piorar nossa situação perante a justiça divina.

Mas uma diferença fundamental é que, ao contrário dos três prisioneiros da

história, nós não temos conhecimento dos nossos crimes passados, e por esse

motivo o mais comum é que nos comportemos igual ao terceiro prisioneiro e

acabamos fazendo muito pouco ou nada para aliviar nossas dívidas.

Ao encarnarmos, a amnésia temporária a que somos submetidos é um

recurso essencial para que possamos abafar velhos ressentimentos e criar laços

de afeto com antigos adversários que, quase sempre, reencontramos na terra

por meio dos laços familiares. Está amnésia é também essencial para que

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tenhamos o mérito pelas nossas boas ações e então possamos agir motivados

pela vontade real de fazer o bem e não apenas motivados pelo medo da punição

certa como fizeram os prisioneiros. Fazer o bem é sempre necessário, seja

porque temos uma certa intuição de que temos ainda dividas perante a justiça

divina ou seja apenas pela pura e simples vontade de fazer o bem, o máximo

possível, sem estarmos preocupados com o peso que estas boas ações terão

na balança da justiça.

Mas o que não podemos fazer de forma alguma é estacionarmos e

ficarmos acomodados como aquele terceiro prisioneiro. Já seria muita presunção

para qualquer um de nós, encarnados neste mundo de provas e expiações,

achar que não possui dividas e não precisa se mover para agir em prol dos

semelhantes. Mas mesmo que fosse este o caso, mesmo que não possuíssemos

dívidas passadas, devemos recordar que a vida já é uma dádiva por si só e uma

oportunidade que não é concedida sem motivo, portanto o desperdício de uma

vida cheia de oportunidades de ajudar o próximo já é motivo para que fiquemos

em débito para com Deus.

Mas um espírito realmente bom, que realmente não possui grandes

dividas a resgatar, não costuma perder seu tempo em atividades inúteis e

egoístas e está sempre procurando ser útil ao próximo, e por isso já podemos

imaginar que um espírito que prefira ignorar as oportunidades de ser útil e decida

viver só para si, deve na verdade estar mais próximo do nosso prisioneiro

número três (o prisioneiro preguiçoso) do que da verdadeira elevação moral.

Sendo assim não devemos nos iludir, muito provavelmente somos todos

devedores, provavelmente grandes devedores e o nosso tempo de ser útil e

aliviar nossa dívida está se passando neste exato momento e se não possuímos

ainda uma vontade natural de fazer o bem pelo bem, sem interesse algum,

deveríamos estar pelo menos, como espíritos imperfeitos que somos, praticando

o bem como forma de aliviar as nossas dívidas.

O espiritismo não é uma religião que se baseia no medo para atrair e

manter seus fiéis, muito menos uma religião que apresenta a possibilidade de

barganhar com Deus, mas como uma doutrina que prega a fé raciocinada, seria

muito ilógico se ele não aconselhasse a prática sincera e desinteressada do bem

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a nós espíritos que nos encontramos ainda distantes da perfeição e com tantas

dívidas a resgatar.

A caridade é a forma natural de agir do espírito bom, mas para nós,

devedores esquecidos, é uma oportunidade imperdível de agir hoje em prol do

nosso próprio bem.

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22 A necessidade das guerras

As guerras são necessárias? Devemos aceitas as guerras como algo

normal ou que seja inevitável em determinadas situações?

No velho testamento Moisés conduz o “povo de Israel” do Egito até a

terra prometida e, quando finalmente chega o momento de se assentarem

naquelas regiões, Moisés lidera seu povo travando diversas guerras contra os

outros povos que já habitavam a região os derrota, um por um, tomando toda a

palestina com o uso de muita violência.

Porque Deus, que se fazia representar a Moisés por meio do “anjo do

Senhor” (33), ordenaria que ele comandasse seu povo à guerra e provocasse

tantos massacres?

Na verdade, Moisés também ordenou que fosse tentada a paz com as

cidades das regiões onde o povo fugido do Egito iria habitar:

Quando te achegares a alguma cidade para combatê-la,

apregoar-lhe-ás a paz.

E será que, se te responder em paz, e te abrir as portas, todo o

povo que se achar nela te será tributário e te servirá.

Porém, se ela não fizer paz contigo, mas antes te fizer guerra,

então a sitiarás.

E o SENHOR teu Deus a dará na tua mão; e todo o homem que

houver nela passarás ao fio da espada (34).

Mas esta desejada paz naqueles tempos era uma hipótese remota, a

regra eram as invasões e os combates sem quaisquer chances de negociação

pacifica. Eram povos violentos e acostumados a iniciar guerras por qualquer

pretexto, num mundo onde não existiam grandes impérios e grandes forças

militares organizadas e capazes de manter o controle sobre os povos, desde as

pequenas tribos até líderes poderosos de grandes cidades viviam em estado

constante de guerra, a mera aproximação de qualquer grupo grande de pessoas

já significava uma declaração de guerra.

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Outro motivo que dificultava a paz era que os “anjos do senhor” que

conduziram o povo que era oprimido no Egito, fizeram claramente um grande

esforço para convencer aquele povo a adorar um Deus único, uma pratica

completamente incomum naqueles tempos, os grandes esforços de ajuda a este

povo através de eventos que eram enxergados por eles como milagrosos

serviram para reforçar o poder deste “novo Deus” que deveria ser seguido com

exclusividade. Os outros povos da região, que não vivenciaram este poder deste

novo Deus, não se convenceriam tão facilmente a adotar o novo sistema de um

Deus único e é provável ainda que, ao se misturarem, a influência destes povos

fizesse com que grande parte dos israelitas voltassem à adoração dos múltiplos

deuses, motivo pelo qual os espíritos que guiavam o povo de Israel proibiram a

mistura de culturas. Na mentalidade daqueles tempos isto só poderia significar

que todos os outros povos e culturas deveriam ser destruídos.

Nestas e em outras situações, em que a paz entre homens rudes não é

possível, Deus permite que os homens façam guerra entre si, da mesma maneira

que dois adultos podem permitir que duas crianças briguem (sem violência é

claro) dizendo coisas do tipo: “estou de mau” ou “não quero mais ser seu amigo”,

os adultos deixam de intervir porque sabem que este tipo de comportamento faz

parte do aprendizado e do amadurecimento. Ao invés de tentar evitar e proibir

que as crianças briguem (até porque seria quase impossível evitar que elas,

mesmo após repreendidas, fizessem caretas e ficassem sem conversar uma

com a outra) os adultos permitem que elas se expressem e soltem estas falas

tipicamente infantis, dando ao mesmo tempo conselhos maduros e explicando

que elas não devem brigar e que inevitavelmente elas logo farão as pazes. O

resultado é que tendo liberdade para brigar e se arrepender elas logo percebem

o comportamento tolo e resolvem sozinhas terminarem com a desavença,

enquanto que se fossem proibidas de falar e se expressar, ficariam com um

sentimento repreendido uma contra a outra e a birra infantil tenderia a demorar

mais tempo para acabar.

Esta analogia serve para que possamos entender que Deus em certas

situações chega a permitir que a guerra aconteça, porque simplesmente não

existe outra alternativa melhor, os seres humanos ignorantes como crianças

birrentas não conseguem se comportar de outra maneira, mas Deus, assim como

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os pais das crianças briguentas, não possui nenhum apreço pela guerra, nunca

vê nenhum tipo de guerra com bons olhos e, como os pais das crianças

briguentas, espera também que seus filhos parem o mais rapidamente possível

com o comportamento irracional.

Passados vários milênios e mesmo após a ampla divulgação dos

ensinamentos de Cristo, a humanidade ainda vive promovendo guerras como

nos tempos do velho testamento. Existem nações que se encontram em estado

permanente de guerra a mais de duzentos anos, sempre começando um novo

conflito antes de ter encerrado o conflito anterior. São invasões catastróficas,

golpes militares seguidos de repressões violentas (como a que aconteceu no

Brasil por exemplo), bombardeios “cirúrgicos” que matam dezenas de milhares

de civis, sem contar o apoio a ditadores e o financiamento de grupos de

guerrilheiros no mundo todo. Os líderes de países como os EUA e também em

menor escala os da Inglaterra, França, Rússia entre outros, estão a séculos

promovendo todo tipo de conflitos sangrentos, e quase sempre estes líderes

agem sem o apoio da maior parte da população destes países (uma população

em sua maioria pacífica) e seja um pequeno bombardeio ou seja uma guerra

mundial com até uma centena de milhão de mortos e ainda outras centenas de

milhões de feridos, os motivos ocultos destas guerras são sempre os interesses

econômicos de homens gananciosos e enlouquecidos pela cobiça que

comandam os bastidores da política nestes países.

Qual seria a opinião do espiritismo a respeito deste tipo de guerra

moderna?

Podemos relembrar a resposta à pergunta nº 745 de O Livro dos

Espíritos:

745. Que se deve pensar daquele que suscita a guerra para

proveito seu? R.: Grande culpado é esse e muitas existências

lhe serão necessárias para expiar todos os assassínios de que

haja sido causa, porquanto responderá por todos os homens

cuja morte tenha causado para satisfazer à sua ambição (35).

Até mesmo o hoje quase pacífico Japão, chegou a adotar por um tempo

a filosofia imperialista europeia e durante o seu auge na 2ª guerra mundial esteve

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prestes a invadir a Índia, nesta ocasião Gandhi aconselhou que o povo indiano

deveria simplesmente abandonar as áreas que fossem ocupadas para evitar

serem forçados a fabricar armas para o Japão e, ao mesmo tempo, adotar

também contra o Japão a mesma técnica de resistência pacífica que já adotavam

contra a Inglaterra. Este comportamento pregado pelo líder indiano está de pleno

acordo com o ideal cristão, onde a guerra nunca é aceitável em hipótese alguma.

Agir com violência física contra um inimigo que deseja tomar bens materiais vai

contra tudo o que ensinou Jesus, que entre outras coisas disse “Meu reino não

é deste mundo” (36).

Quando uma nação é invadida por uma força estrangeira, as alternativas

disponíveis são a aceitação pacífica ou então, caso decidamos não dar “a Cesar

o que é de Cesar” (37)a resistência, que pode ser pacífica ou violenta. Seguindo

Jesus aprendemos também que “Bem-aventurados os mansos, porque eles

herdarão a terra” (38) e então, seguindo Jesus, as únicas opções que restam

para o cristão são a aceitação pacífica ou a resistência pacífica. Lembrando que,

como cristãos, esta resistência deve ter como base a vontade de ajudar ao

próximo e não uma vontade apenas egoísta de ver melhorada a sua condição

de vida, mas sim a vontade de ver diminuída a opressão sobre os nossos irmãos.

Citando mais uma vez Gandhi, o líder indiano disse certa vez que o

corajoso não é aquele que promove uma ataque violento contra uma força

opressora e em seguida corre para fugir da punição, mas sim aquele que tem a

coragem de desobedecer uma lei injusta mostrando sua cara e ficar para sofrer

a punição. Além desta questão moral (entre a coragem e a covardia) e além

também do fato de ser inaceitável para o cristão a prática de qualquer violência,

a resistência violenta também possui um outro problema: a manipulação política.

Os grandes poderes que arquitetam golpes e invasões sempre possuem

ao seu lado, além do poder militar, também o poder econômico e o controle da

mídia, por este motivo os grupos que tentam resistir de forma violenta a uma

invasão injusta acabam sempre sendo rotulados de terroristas ou de insurgentes

(quando na verdade deveriam ser chamados de resistentes) apesar de

sabermos que, ao longo da história, quem quase sempre praticou o terrorismo

em larga escala foi o poder estabelecido e opressor que usa sempre de violência

brutal para amedrontar e desencorajar as revoltas populares.

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Sendo assim, não só a resistência violenta é o caminho do covarde

segundo Gandhi e também inaceitável segundo os ensinamentos cristãos, como

também serve de justificativa para que os grupos poderosos cometam suas

atrocidades sob o pretexto de “defesa do estado” ou “defesa da nação”. Ao final,

para cada gota de sangue derramada pela resistência em nome de uma causa

aparentemente justa, dez vezes mais sangue acaba sendo derramado pela

repressão violenta praticada pelos poderosos. Neste círculo vicioso de violência,

a carga de culpa pelos crimes cometidos deve pesar não somente sobre o poder

repressor mas também sobre aqueles que decidiram partir para a resistência

violenta, sabendo das consequências deste tipo de resistência.

Seria muito perigoso anunciarmos para todo mundo que temos o

costume de dormir com as portas abertas e não nos preocupamos com possíveis

ladrões em nossa casa, assim como também é muito perigoso, no mundo atual,

qualquer país não manter exércitos bem treinados e prontos para combater. Mas

a resistência violenta é sempre a pior opção, seja ao surpreender um ladrão

dentro de casa ou ao ter o país invadido por uma força estrangeira.

Por outro lado, no mundo atual, onde a opinião pública exerce uma

influência fundamental sobre as ações governamentais, seria extremamente

embaraçoso para os governantes gananciosos destes países que planejam

invasões e golpes se, ao invés de uma resistência violenta, a população inteira

de uma nação invadida resolvesse abandonar o pais, deixando todo o objeto da

cobiça à disposição do invasor, como nos ensinou Jesus “E, ao que quiser

pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa;” (39), imaginem

quanto tempo duraria a invasão e como seria embaraçoso se 100% da

população do Iraque por exemplo, tivesse abandonado o país e dito “podem ficar

com este petróleo, não vamos brigar por ele” e a ocupação ocorresse sem

nenhum tiro disparado e sem nenhuma resistência.

Oferecer a outra face é muito melhor do que resistir contra quem age

com violência, mostrando que não possuímos nenhuma intenção de sujar as

mãos de sangue para brigar por bens materiais, a vergonha da guerra acaba

recaindo toda sobre o agressor, o discurso do bom moço ou “o lado do bem” ou

o suposto papel de “polícia do mundo” fica insustentável.

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Chegará o dia num futuro não muito distante, em que um os líderes de

um país começarão a arquitetar uma invasão a um país mais fraco sob um

pretexto qualquer e (como sempre acontece) estarão na verdade de “olhos

grandes” em alguma riqueza material do país a ser invadido. A população deste

país que será invadido, comandada por algum líder realmente cristão, dirá então:

“Podem vir e levar tudo, nós nos recusamos a pegar em armas por causa de

qualquer riqueza material”, cairá então a mascará do “lado do bem” e os líderes

do país invasor então enfrentarão grande desaprovação interna, a população

deste país invasor marchará nas ruas contra a guerra, muitos soldados

desertarão e ficará muito difícil conseguir novos recrutas para a invasão. A

pressão da opinião pública fará com que os interesses econômicos que

financiariam a guerra decidam retirar o seu apoio e os planos de invasão serão

então abandonados. E quando outros líderes de outros países também

resolverem copiar esta atitude e disserem ao seu povo que “deixem levar”

finalmente humanidade poderá deste dia em diante viver sem guerras.

Muito se especula sobre quando a humanidade poderá finalmente viver

em paz e quando as guerras deixarão de existir, e procura-se então uma “formula

mágica da paz”, sendo que a resposta mais natural que temos é que as guerras

deixarão de existir quando acabar também a ganância humana. Mas Jesus nos

ensinou há dois mil anos um caminho mais rápido, pois se conforme o ditado

popular “quando um não quer, dois não brigam” então: “Não resistam ao

perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra. E, se

alguém quiser processá-lo e tirar de você a túnica, deixe que leve também a

capa” (40).

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23 O homem poderoso

Vivendo neste mundo material, o homem está sempre lutando pela

própria sobrevivência, da mesma forma que também estão os animais. Assim

como o animal selvagem, o homem também sempre possui algum nível de

incerteza sobre o seu dia de amanhã, não podemos ter sempre 100% de certeza

sobre se teremos o que comer ou um teto para morar e assim convivemos

sempre com uma certa insegurança, alguns de nós mais preocupados e outros

menos preocupados com futuro.

Esta insegurança e a natural busca por mais segurança a respeito do

nosso futuro faz com que o homem busque automaticamente se tornar mais e

mais poderoso. Pela lógica de que quanto maior o poder que possui, maior

também a segurança contra quaisquer ameaças, vivemos sempre em busca de

mais dinheiro ou mais status ou um melhor cargo numa posição de direção ou

então quem sabe se tornar o próprio patrão e ter o poder de comandar as

pessoas com quem se trabalha e não estar subordinado a ninguém etc.

Enquanto marcha em sua jornada por mais segurança para a sua vida e

se torna mais poderoso, o indivíduo também se torna, mesmo sem perceber,

cada vez mais e mais perigoso. Pois o homem poderoso é sempre um homem

perigoso e vice-versa.

Vejamos por exemplo o policial, mesmo sendo um policial honesto, ele

desperta naturalmente um certo receio nas pessoas com quem ele lida no dia a

dia, não só os bandidos o temem, mas também as pessoas normais ficam um

pouco intimidadas com a figura da autoridade policial. Pode ser que nos sentimos

intimidados as vezes por um receio de que possamos estar fazendo alguma

coisa ilegal mesmo sem saber e temos medo então de sermos repreendidos pelo

policial, ou então ao se fazer algum tipo de negócio com o policial podemos ficar

com o receio de que caso algo saia errado (como por exemplo, caso ele não

fique satisfeito com um produto que vendemos) o policial poderia vir a exigir uma

reparação por meio de intimidação e até fazer alguma ameaça ou acusação

indevida. É bem comum também que, sabendo deste receio que a maioria das

pessoas possuem, alguns policiais gostem de exibir sua identificação ou sua

farda mesmo quando tratando de assuntos particulares fora do serviço, é uma

maneira de “impor respeito” através de uma intimidação natural que exercem.

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O mesmo tipo de intimidação existe também naturalmente quando se

lida com figuras como políticos por exemplo, ou pessoas muito ricas e poderosas

ou até mesmo certos profissionais como médicos ou advogados famosos. Não

é exatamente um receio de que possamos ser punidos por algo de errado que

possamos fazer, mas sim um receio de que (caso esta pessoa não seja uma

pessoa decente e honesta) ela possa fazer algum tipo de retaliação injusta caso

não fique satisfeita com a nossa conduta, pois estas figuras geralmente possuem

poder, dinheiro, influencia, contatos políticos, amizades com autoridades de

diversos tipos etc. Por isso é tão comum ainda hoje a famosa “carteirada” quando

estes personagens exibem seus documentos de identificação esperando que

fiquemos imediatamente intimidados ou então mais explicitamente soltem a frase

arrogante: “você sabe com quem está falando?”

Mais óbvia é a relação entre poderoso e perigoso, quando falamos de

pessoas ligadas ao crime, como o chefe do tráfico no morro, ou então os

poderosos que não respeitam qualquer lei como o ditador impiedoso que

comanda um país. Dentro de seus respectivos ramos de atuação, estas figuras

estão sempre em busca de mais e mais poder e se tornam cada vez mais e mais

perigosos dentro de suas organizações. E isto é uma conduta natural do “bicho

homem”, exatamente como os primatas, o homem busca sempre mais

segurança através da conquista de mais e mais poder dentro dos grupos de que

participa, se tornando mais poderoso e mais perigoso para seus adversários.

Este caminho, que parece natural para a maioria das pessoas, é na

verdade o caminho mais arriscado para quem realmente busca segurança e

tranquilidade para a sua vida. Na sua jornada para se tornar poderoso/perigoso,

tanto o animal social homem quanto o chipanzé conquistam diversos aliados e

também diversos inimigos, de forma que, a suposta segurança construída a partir

de um suposto poder, se assemelha mais a um castelo de cartas, que quanto

mais alto e imponente também mais frágil e mais fácil de cair. Como diz o ditado

popular “quanto mais alto, maior o tombo”, os adversários naturais do homem

poderoso estarão sempre tentando descobrir formas de derrota-lo e mesmo seus

aliados são uma ameaça constante, não é à toa que ditadores e chefes de

gangues de criminosos são sempre muito paranoicos e constantemente agem

com extrema violência contra possíveis traidores. De forma parecida, os políticos

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(que deveriam estar sempre preocupados com a administração pública) passam

quase todo tempo nos bastidores arquitetando alianças e tentando prever

possíveis passos de seus adversários com medo constante de serem passados

para trás. Até mesmo a autoridade policial que impõe o respeito às pessoas

comuns vive em constante estado de alerta contra criminosos assim como

também o rico arrogante está sempre preocupado com alguma denúncia ou

alguma retaliação que algum desafeto poderia fazer.

A segurança obtida através do poder e da intimidação é sempre uma

“faca de dois gumes”, ao se agir com arrogância e intimidar o mais fraco, o

homem poderoso está sempre criando inimigos em potencial, ao mesmo tempo,

a escalada social para as posições de destaque e poder é sempre um caminho

cheio de disputas e traições e o homem poderoso e perigoso está sempre

cercado de adversários invejosos e também inimigos declarados e não

declarados.

Na contramão do senso comum, está o homem humilde que busca a sua

segurança e tranquilidade na simplicidade. Ao contrário da maioria, este homem

humilde busca propositalmente ser “o menor e o servo de todos” vejamos:

Ao invés do cargo de direção, ele busca o cargo mais subalterno, pode

até buscar naturalmente um salário melhor, através do estudo e da conquista de

novas habilidades, mas procura abrir mão da posição de líder, posição esta

disputada pelos seus colegas.

Quando possui posição hierárquica superior, ao invés de exibir sua

posição, ele procura esconde-la, não deseja intimidar nem criar

constrangimento, nunca esperando qualquer favor ou privilégio não disponível a

todos.

Ignora títulos, honras e premiações, recusando qualquer tipo de

distinção que possa faze-lo parecer melhor do que as pessoas comuns.

Não aceita promoções e benefícios que incluam a atribuição implícita de

fazer vista grossa a qualquer coisa que considere errado, preferindo sempre a

consciência tranquila no lugar do comprometimento com aqueles que possuem

o poder.

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Ironicamente, este homem que age de forma oposta ao senso comum,

possui a tranquilidade e segurança que o homem poderoso não têm.

Por não possuir o chamado “rabo preso” este homem pode falar o que

pensa procurando sempre a verdade e a justiça e sua voz é difícil de ser ignorada

ou desmentida, pois as pessoas com quem ele lida sabem que ele não possui

ambições políticas e motivos para mentir e dissimular, por isso fala também sem

medo de retaliações de possíveis desafetos, possuindo paz de espírito e a

consciência tranquila de que procura fazer sempre o que é certo sem se

comprometer.

Não está preocupado com o seu possível “tombo” porque procurando a

humildade ao invés do status ele vive uma vida simples e consome coisas mais

simples e não possui um status ou “casca” artificial de boa imagem pública que

precise que defendida contra caluniadores.

Por causa do seu jeito simples ele também quase não provoca inveja de

outras pessoas, suas roupas não são de grife e os bens que consome são

sempre escolhidos pela utilidade ao invés do exibicionismo.

Não possuindo inimigos nem aliados que precisem ser combatidos ou

bajulados ele pode, ao contrário do político, se preocupar apenas com o seu

trabalho e por isso trabalha mais e melhor, sem gastar seu tempo tramando

alianças e evitando traições.

Existem muitos homens assim, quase todos anônimos, mas algumas

vezes alguns deles acabam adquirindo, mesmo sem querer, um certo destaque

pelas suas condutas e opiniões na sua luta constante por mais justiça e, ao

mesmo tempo, conquistam também alguns adversários poderosos.

Mesmo nesta posição de destaque e lutando contra inimigos poderosos

o homem humilde está mais tranquilo e seguro que o homem poderoso, seus

adversários sabem que ele não pode ser subornado, sabem que ele não se

venderá por cargos bem remunerados nem por títulos e posições de destaque,

sabem que ele não procura a posição de liderança e se alguns o consideram

como seu líder isso acontece contra a sua vontade de homem humilde.

Resumindo, todas as ferramentas que servem para corromper o homem comum

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que busca obter segurança através do poder, não servem para comprar ou

intimidar o homem humilde.

Do ponto de vista dos poderosos, este tipo de homem, o homem

realmente humilde, é o mais perigoso de todos os homens. As tentavas de

difama-lo serão logo descobertas e os criadores das mentiras serão

ridicularizados. As ofertas de suborno explicito ou disfarçadas de cargos, títulos,

posições etc. serão recusadas imediatamente e aquele que tentar compra-lo

será também exposto à reprovação pública. Este tipo de homem não teme nem

mesmo a violência física contra si ou sua família, pois da mesma maneira que

as calúnias e as tentativas de suborno, o agressor teme ser desmascarado

rapidamente, pois uma agressão injusta contra uma pessoa de conduta

irrepreensível provoca indignação geral e a suspeita imediata sobre seus

adversários.

O materialismo faz a maioria dos homens entrarem numa corrida louca

em busca de tranquilidade e segurança através da obtenção de mais e mais

poder, mas a fé em Deus e o conhecimento das suas leis faz com que o homem

espiritualizado corra no sentido contrário. Desta maneira ele obtém maior

segurança na sua vida de simplicidade do que a segurança instável do castelo

de cartas do homem rico e poderoso.

Mas a verdadeira segurança e tranquilidade que adquire o homem

humilde é a segurança de estar agindo em nome do bem e a tranquilidade da

consciência tranquila, e dentro deste estado de espírito de tranquilidade ele não

teme nada, nem mesmo uma atitude louca e agressiva de algum adversário, pois

como ensinou Jesus: “Porque, qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-

á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará” (2).

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24 Fazer a sua parte

Existem diversas situações na vida, seja no trabalho ou nas relações

pessoais por exemplo, em que gostamos de dizer “pelo menos eu fiz a minha

parte”, é como se disséssemos: apesar de as coisas não terem saído tão bem

quanto poderiam ter saído, pelo menos eu cumpri a minha parte.

Mas quem determina qual é esta “parte” que teríamos conseguido

cumprir?

No trabalho por exemplo podemos dizer que a “minha parte” é aquilo que

meu chefe esperava que eu fizesse, mas qual chefe não gostaria de ver seu

funcionário fazer mais do que o esperado? E nas relações familiares? como

podemos delimitar qual é a parte que cabe a cada um no dever de resolver

conflitos por exemplo? Como poderíamos dizer que alguém cumpriu a parte que

lhe cabia em matéria de paciência, boa vontade, perdão etc. e que não poderia

ter feito algo mais para trazer a paz de volta aos relacionamentos?

O “fazer a minha parte” na verdade não é uma medida de alta qualidade

ou de grande esforço, “fazer a sua parte” soa mais como uma medida do esforço

mínimo, o mínimo que tínhamos a obrigação de fazer, ou o mínimo que as outras

pessoas exigiriam que fizéssemos para que não fossemos criticados pela nossa

omissão.

Esse mínimo é determinado geralmente pelo conceito próprio do que se

acha minimamente justo, um esforço mínimo medido pelo nosso próprio critério

de justiça (critério este que tende sempre a nos colocar do lado dos certos e

justos) ou então um mínimo baseado naquilo que é o comportamento médio, a

atitude mais comum das pessoas em geral, diante daquela situação.

Os defeitos da nossa sociedade não são um segredo para ninguém, no

nosso mundo de provas e expiações a região onde vivem os homens encarnados

é conhecida por ser um ambiente pesado e sombrio, que nada mais é do que a

soma dos pensamentos e atitudes do ser humano ainda distante da perfeição

moral. Portanto quando dizemos “eu fiz a minha parte” estou dizendo que fiz

nada mais do que o mínimo esperado ou o mínimo tolerado para que não seja

repreendido, mas ao mesmo tempo também um mínimo dentro de um padrão de

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aceitação num mundo dominado pelo egoísmo, ou seja, um mínimo dentro de

padrões muito baixos.

Também a consequência lógica quando dizemos “eu fiz a minha parte”

é que a partir daquele ponto eu não farei mais, ou seja, já fiz este mínimo e agora

posso me acomodar.

O funcionário que “faz a sua parte” é o funcionário que deseja alcançar

um ponto em que possa, a partir daquele momento, não precisar fazer mais

nada. Se por exemplo ganhar o seu salário em função de uma jornada de 8 horas

diárias (de trabalho), o funcionário que “faz a sua parte” irá procurar executar

determinada função antes do termino desta jornada e então se acomodar, ao

contrário do bom funcionário que é aquele chamado de funcionário proativo, que

vai imediatamente procurar o que fazer após encerrar “a sua parte”.

Em família, o pai ou a mãe que “faz a sua parte” irá sempre traçar um

limite de obrigações pessoais como por exemplo cuidar da casa e dos filhos ou

prover o sustendo financeiro do lar. A partir deste ponto o indivíduo se abstém

de procurar fazer mais do que “a sua parte” e começa a ignorar certos problemas

chatos de difíceis de resolver quando estes problemas estão fora do que

considera sua parte, deixando então estes problemas para o outro companheiro.

Ou então ignora as dificuldades por que passa o companheiro já que não estão

dentro da “sua parte” e assim muitas vezes problemas que seriam fáceis de

resolver, caso agissem em conjunto, permanecem sem solução e causando

rachaduras na harmonia do lar, tudo porque um dos dois resolveu que faria

somente “a sua parte”.

Quando temos problemas com parentes difíceis, é natural que digamos

“eu fiz a minha parte” e não existe mais nada que eu possa fazer para ajudar

aquela pessoa, e certamente é isso o que a sociedade espera de nós, essa

obrigação mínima. Mas porque, sendo cristãos, não procuramos tentar só um

pouco mais? por que não procuramos por exemplo o conselho de alguém que já

passou por uma situação parecida para, quem sabe, conseguir ajudar um pouco

mais?

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Também é comum dizermos que demos a melhor educação possível

para nossos filhos, ai eu digo: “eu tentei educar o melhor que pude, mas desisti”,

é como se a obrigação de educar fosse algo com prazo certo para acabar e que

cessasse aos 18 anos com a maioridade legal, quando na verdade esta

obrigação é um compromisso de vida, que foi assumido mesmo antes de

nascermos neste mundo.

E quando vamos ajudar aos necessitados, é bem comum que ao surgir

qualquer dificuldade já dizermos logo que: “eu fiz a minha parte mas o sujeito

não quer ser ajudado” por isso digo que cansei de ajudar as pessoas. Mas se

aquela pessoa realmente não quer ser ajudada, porque eu não procuro então a

pessoa certa? A que quer ser ajudada e realmente merece um incentivo moral

ou financeiro.

No texto O homem de bem” contido em O Evangelho Segundo o

Espiritismo, aprendemos que o homem de bem é aquele que se interroga “se fez

todo o bem que podia, se não deixou escapar voluntariamente uma ocasião de

ser útil” (40), pois é isso mesmo que Jesus espera de nós, muito mais do que

“fazer a sua parte” como quem procura dizer “já fiz bastante e não farei mais”,

pelo contrário, o homem cristão se interroga se fez tudo o que pôde, com a

intenção de, quem sabe, descobrir uma maneira de fazer algo mais.

No trabalho, como já dissemos, o cristão procura fazer jus ao seu salário,

trabalhando sempre o máximo possível dentro do seu horário de trabalho. Dentro

do lar, busca sempre dar o máximo de si, ao invés de traçar limites para reduzir

as suas obrigações, busca sempre ajudar o companheiro e ajuda-lo sempre que

necessário a cumprir as suas tarefas ao invés de se limitar em criticar o outro

pelas tarefas não cumpridas. Também não desiste nunca do dever de ajudar os

seus parentes difíceis, seja uma ajuda financeira quando necessária e oportuna

ou um conselho mesmo que já repetido, não adotando nunca a postura de “lavar

as mãos”, muito menos ainda quando se referindo aos próprios filhos. O cristão

está sempre tentando aprender com os próprios erros e descobrindo formas de

fazer mais e melhor.

Devemos mudar a nossa forma de enxergar as nossas obrigações, ao

invés de algo limitado pelos valores sociais ou até pelas obrigações legais

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mínimas, o dever do cristão é algo ilimitado, quanto mais evoluído o espírito,

maior a sua consciência de que a pratica do bem é uma tarefa sem fim, que só

fica limitada pelas nossas próprias imperfeições. Será que Jesus descansou e

se encontra apenas contemplando a humanidade após a sua grande missão

executada a dois mil anos atrás? Temos certeza de que não, assim como é difícil

imaginar também que neste momento espíritos como Alan Kardec ou Chico

Xavier estejam vivendo uma vida de sossego e tranquilidade no mundo espiritual,

longe do trabalho duro de ajuda a nós espíritos inferiores.

Devemos ter sempre em mente que a “nossa parte” é algo sempre

ilimitado, pois sempre é possível ter mais paciência, trabalhar um pouco mais,

ajudar um pouco mais, portando dizer “eu fiz a mina parte” deixa de fazer sentido

na mente do homem de bem, pois ele imediatamente pensa em seguida: “Mas

será que poderia ter feito mais?” e a resposta é sempre: “É claro que sim”, não

tendo dúvida de que sempre é possível fazer mais, só resta então ao bom cristão

descobrir “como” fazer mais.

Devemos substituir a ideia de “fazer a minha parte” pela ideia de que “fiz

o máximo que consegui, mas ainda tenho que fazer muito mais”, ou então “fiz o

melhor que pude naquele momento, mas queria ter feito melhor e irei continuar

tentando fazer melhor”. O amor de Deus é infinito e o trabalho dos trabalhadores

da obra do bem deve ser também sempre infinito.

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25 Lei moderna e lei cristã

Cristo nos ensinou o seu evangelho a dois mil anos e neste período de

tempo que se passou o cristianismo foi adotado como religião oficial ou religião

predominante em boa parte do mundo, principalmente entre os países com maior

influência política e cultural.

Sabemos que muitos valores cristãos estão enraizados na cultura dos

povos, mas, ao mesmo tempo, muitos outros valores também foram

simplesmente ignorados ou então distorcidos pelos homens e pelas próprias

organizações religiosas, fazendo então com que muitas vezes os líderes das

igrejas cristãs fossem até mesmo vistos como pregadores de uma religião que

não tem o amor ao próximo e a justiça como valores fundamentais.

Também no transcorrer deste tempo a evolução da sociedade e dos

direitos sociais criou um distanciamento entre os dogmas distorcidos de algumas

das religiões ditas cristãs e os valores modernos de justiça, igualdade e

liberdade.

Somando-se a isso, o fanatismo religioso cego de alguns cristãos leva

também muitas pessoas à descrença na religião como um todo e em

consequência à descrença também nos valores cristãos, isto porque os relatos

cheios de histórias fantásticas (como as histórias sobre a criação do mundo

presentes na Gênese bíblica) não podem ser aceitos e sustentados quando

confrontados pela ciência moderna, que explica a evolução do mundo com muito

mais precisão e detalhe embasando-se em provas concretas e isto resulta em

uma inclinação para o ateísmo que aproxima o homem da ciência, ao mesmo

tempo em que o distancia dos valores cristãos, que são enxergados então como

parte de uma doutrina ultrapassada pregada por pessoas ignorantes.

A soma destes fatores pode fazer com que a lei cristã seja vista então

como algo ultrapassado e inferior às leis modernas que são fruto das lutas

sociais que resultaram na conquista de direitos modernos como o voto, a não

discriminação por raça, sexo e origem, a proteção ao meio-ambiente etc.

Mas estaria mesmo a lei cristã de dois mil anos atrás ultrapassada? Ou

deixaria a lei cristã algo a desejar em comparação com os modernos sistemas

jurídicos que visam estabelecer a justiça, solidariedade e igualdade?

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Vamos então comparar algumas leis ou valores cristãos com as leis de

três outros tempos, quais sejam: a lei dos tempos antigos, em seguida, a lei dos

tempos de Moisés e finalmente com as leis modernas.

Por exemplo vejamos a assistência aos pobres e desamparados.

Nos tempos antigos valia a lei do “cada um por si”. Assim como entre os

animais selvagens, o homem antigo não sentia a necessidade de ajudar a

pessoa em dificuldade e caso esta pessoa ficasse impossibilitada de se sustentar

sozinha, o normal é que estivesse mesmo condenada a morrer de fome.

Já a lei de Moisés trouxe uma série de mandamentos que visavam

proporcionar algum amparo aos necessitados como por exemplo a passagem

bíblica contida em deuteronômios 15:7:

Se houver algum israelita pobre em qualquer das cidades da

terra que o Senhor, o seu Deus, lhe está dando, não endureçam

o coração, nem fechem a mão para com o seu irmão pobre. Ao

contrário, tenham mão aberta e emprestem-lhe liberalmente o

que ele precisar (41).

Já as leis modernas pregam a assistência aos desamparados com

sistemas de proteção variados, como a saúde e educação gratuitas, a

previdência social e o salário mínimo, que impedem que os necessitados fiquem

totalmente abandonados e estejam condenados a morrer de fome numa situação

de incapacidade para o trabalho ou então que sejam obrigados por exemplo a

sobreviver com um salário abaixo do salário-mínimo, um salário tão baixo que

não seja suficiente nem para comprar a comida do tipo mais barato possível.

Estas leis modernas criam um sistema organizado que não depende da boa

vontade do próximo, proporcionando um direito garantido por lei, mas por outro

lado fazem muito pouco ou quase nada para acabar com a miséria e a

exploração, não estando portanto muito distantes das leis dos tempos de Moisés.

Já o mandamento cristão do “amar ao próximo como a ti mesmo”

ensinado a dois mil anos é ainda algo muito distante da nossa realidade e

impraticável pelos homens dos nossos tempos. Imaginem por exemplo um

empresário que decidisse tratar seu próximo como a ele mesmo, e decidisse que

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cada um de seus empregados deveria ter o suficiente para ter a mesma

qualidade de vida que ele, comprar o mesmo carro que ele, uma casa igual à

dele e em todos os aspectos ser tratado como igual, proporcionando ao

funcionário o mesmo padrão de vida que ele deseja para si mesmo. Seria

rapidamente tido como louco e sem nenhuma vocação para os negócios.

Outra questão que podemos analisar é o adultério.

Nos tempos antigos antes de Moisés a regra era a liberdade total para o

homem e a morte certa para a mulher adultera.

Já na lei mosaica não se altera muito a possibilidade de poligamia

masculina e a condenação da mulher pelo mesmo comportamento, mas já

aparecem algumas exceções, como uma complicada regra contida em Nm 5:12-

31, em que caso uma mulher cometa adultério e não haja testemunha contra ela,

ela deve ser levada para ser amaldiçoada pelo sacerdote e então após o ritual

de maldição “o homem será livre da iniqüidade, porém a mulher levará a sua

iniqüidade” (42) escapando ela, porém, da pena de morte.

Já nas nossas leis modernas, o adultério somente foi recentemente

descriminalizado. Já era um crime que possuía uma pena muito leve (de no

máximo seis meses de detenção) mas que na prática era ignorado a muito

tempo, sendo que pela legislação atual no Brasil o adultério é um comportamento

sem importância para a lei penal, não podendo a pessoa que o comete sofrer

qualquer tipo de punição criminal, seja homem ou mulher.

Já para o cristianismo o adultério é um comportamento digno de pena.

Jesus livrou a mulher adultera da condenação pelas duras leis dos israelenses,

mas isto não significa que este comportamento seja irrelevante ou aceitável, pelo

contrário, o cristianismo pregando o amor ao próximo e mais uma vez o “amar

ao próximo como a ti mesmo” funciona como um freio moral contra o

comportamento que abala a confiança e a estrutura das famílias. Mas pregando

a compaixão pelos que erram, a lei cristã substitui o ódio pelo sentimento de

pena, também prezando a vida espiritual em vez da vida material, o cristianismo

mostra a futilidade dos prazeres materiais e valoriza o respeito e a confiança

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reciproca do casal, algo que a lei moderna, desprovida de fundamentos

religiosos moralizantes, não é capaz de oferecer.

Vejamos também o homicídio culposo, quando alguém comete um

homicídio sem a intenção de matar, por acidente.

Pela lei dos tempos antigos a regra era a vingança, não interessava se

houve ou não intenção, havendo sido cometido o homicídio o culpado

provavelmente seria assassinado pela família do morto.

Já Moisés ameniza o comportamento irracional dos antigos criando

regras como o banimento temporário do culpado pela morte acidental para uma

cidade distante, para que fique longe da família do morto por um certo tempo.

Outra regra era a de que caso um animal provocasse a morte de uma pessoa, o

animal deveria ser apedrejado, ao invés de se apedrejar o dono do animal.

Já as leis medievais sobre o assunto possuíam uma inclinação para as

leis dos tempos antigos, com a chamada responsabilidade criminal objetiva, em

que o sujeito é considerado culpado independentemente de ter praticado o ato

intencionalmente ou por acidente. Estas leis foram substituídas ao longo dos

séculos pelas leis modernas nas quais prevalece a teoria do dolo, onde a

vontade ou o consentimento do sujeito em praticar um determinado ato são mais

importantes para determinar a sua punição do que o puro resultado dos seus

atos.

A lei cristã neste ponto se assemelha muito à lei moderna dizendo “a

cada um segundo suas obras” (43), a lei cristã ensina que cada um é culpado ou

inocente na medida da sua própria consciência, da sua intenção ou não de

cometer um ato. Além disso a lei cristã, diferentemente das leis dos estados

laicos, também ensina que independente da condenação ou não pela lei dos

homens, todos nós infalivelmente enfrentaremos a justiça divina, sendo assim a

fuga da lei e a negação da culpa são inúteis.

E nos crimes cometidos com dolo, quando existe a intenção de se

cometer por exemplo um roubo, agressão ou assassinato.

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Como já mencionado, os antigos não viam diferença entre um crime

cometido com ou sem intenção, cabendo a vingança em qualquer caso, mas

ainda existe um outro porém, para os povos antigos causar um mal maior do que

aquele sofrido era uma questão de honra, quanto maior a vingança maior a honra

da família do ofendido.

Já Moisés implanta o conhecido “olho por olho” limitando a vingança na

mesma proporção do mal sofrido, era uma freio à barbárie dos povos antigos.

As leis modernas possuem um caráter ao mesmo tempo punitivo e

educativo, tenta-se frear a prática destes atos pela punição na forma da lei, está

punição não inclui mais a característica de vingança em que o agressor deve

sofrer exatamente o mesmo mal que causou. A punição inclui o afastamento do

convívio em sociedade e uma privação da liberdade que inclui (em teoria)

medidas educativas.

Já Jesus nos apresentou a dois mil anos a chocante regra do “oferecer

a outra face”, nos ensinando que não devemos procurar a vingança e não resistir

com violência a uma agressão. É uma regra impossível de ser seguida à risca

no mundo de espíritos inferiores em que vivemos ainda nos dias de hoje, mas

funciona como um guia para as pessoas que sofram um prejuízo, ensinando que

a vingança só traz desvantagens e a busca da punição pelas leis dos homens é

inútil se não for motivada por um sentimento de amor pelos “seus inimigos”. O

sujeito prejudicado deve buscar o auxílio da lei apenas para evitar que o agressor

continue a prejudicar outras pessoas e em consequência também prejudicando

a ele mesmo ao acumular mais dívidas perante a lei divina.

Por final verifiquemos a forma de gratidão a Deus.

Muitos povos antigos incluindo-se os povos dos quais descendem os

israelitas possuíam o costume de agradecer a Deus por meio de muitos rituais,

inclusive praticando sacrifícios e qual o maior sacrifício na visão destes povos?

Justamente o sacrifício humano, assassinando-se por exemplo uma virgem,

acreditavam estar agradando ou quem sabe pelo menos amenizando a fúria dos

deuses.

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Moisés ensina dezenas de procedimentos em elaborados rituais para

agradecer a Deus com muitos sacrifícios mas proibindo sempre o sacrifício

humano. Um exemplo: “o rei Salomão ofereceu sacrifícios de bois, vinte e dois

mil, e de ovelhas, cento e vinte mil; e o rei e todo o povo consagraram a casa de

Deus” (44).

As leis modernas instituíram, com a finalidade de evitar a perseguição

religiosa, um estado laico que ignora propositalmente a presença de Deus,

apenas com raríssimas e modestas exceções como na frase “Deus seja louvado”

impressa em nosso dinheiro ou a frase “...promulgamos, sob a proteção de Deus,

a seguinte CONSTITUIÇÃO...” (27) presente no início da nossa constituição.

Como resultado desta ausência de participação do estado na vida religiosa, em

nosso tempo podemos encontrar basicamente dois grupos principais de

pessoas: os mais religiosos que se apegam a uma série de rituais elaborados e

os menos religiosos que possuem uma certa tendência para o ceticismo, que se

traduz numa completa ingratidão para com os “empréstimos” de Deus.

O cristianismo obviamente coloca Deus e sua lei como fator principal de

julgamento das nossas condutas e guia de nossos comportamentos, apesar

disso, Jesus já nos ensinava a dois mil anos a inutilidade de todo tipo de ritual,

como a proibição de se trabalhar aos sábados e os rituais na hora da alimentação

etc., ao mesmo tempo em que diz que devemos “amar a Deus sobre todas as

coisas”. Assim, se não devemos gastar nosso tempo em adoração e rituais

inúteis, a melhor forma de amarmos a Deus é amando aos seus filhos,

trabalhando sempre para ajudar o nosso próximo, pois sempre existe um filho de

Deus precisando de nossa ajuda.

É fácil perceber que o mundo de Moises não estava preparado para as

leis modernas, pois já foi muito difícil para ele implantar as suas leis,

relativamente inferiores às leis modernas, naqueles tempos. Da mesma forma é

fácil perceber que o nosso mundo atual não está preparado para aceitar

plenamente as leis de cristo. Mas com certeza um homem que decidisse viver

nos tempos de Moisés guiando sua própria conduta pela lei moderna (mais

evoluída) em vez das leis daqueles tempos, seria um homem à frente de seu

tempo, e um espirito digno de respeito e mais feliz que os homens rudes

daqueles tempos. Também podemos concluir que o homem que conseguir viver

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plenamente a lei cristã nos dias de hoje estará à frente de seu tempo e também

muito digno de respeito e admiração, se tornando com certeza muito mais feliz

que a média dos homens.

Para nós, simples pecadores, a lei cristã deve funcionar como um guia.

Os legisladores modernos devem sempre tentar buscar na lei cristã um rumo e

um ideal de justiça, com a intenção de sempre melhorar as nossas leis, ainda

inferiores, na medida em que evoluem a sociedade e os homens. Já as pessoas

comuns devem sempre se inspirar nos ensinamentos de cristo e tentarem

imaginar como cristo reagiria ou qual seria sua opinião sobre cada aspecto

comum do nosso dia-a-dia e, na medida da nossa inferioridade, tentar imitar a

sua bondade. Tendo a certeza de que a lei e os ensinamentos de dois mil anos

atrás ainda estão muito acima das leis atuais que nos governam e também da

nossa inferioridade, só nos resta então estudar e tentar imitar Jesus.

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26 Reforma Social

No nosso mundo de provas expiações, prevalece ainda a lei do mais

forte.

O egoísmo é o sentimento predominante entre os homens e sendo assim

é natural que as grandes lideranças, os grandes poderes e a própria lei sejam

construídos de forma a privilegiar o comportamento egoísta, em outras palavras,

podemos dizer que “o mundo é dos espertos”.

Um exemplo bem claro de como funciona a nossa sociedade é a forma

egoísta com que os empresários devem conduzir os seus negócios se desejam

se tornarem bem sucedidos, como diria o economista John Ruskin no livro Unto

This Last (45), o empresário está sempre tentando obter o máximo para si

enquanto oferece o mínimo para os outros, segundo a lei do mercado, deve-se

comprar pelo menor preço e pagar o menor salário ao mesmo tempo em que se

tenta vender o mínimo de produto pelo maior preço possível.

O resultado desta lei de mercado está em toda parte: são empresas que

tentam se aproveitar da dificuldade alheia para tirar vantagem, como os planos

de saúde que tentam fugir do controle governamental para subir seus preços e

sempre que possível também dificultar o acesso aos tratamentos,

principalmente os tratamentos melhores e mais caros; são empresas que fazem

promessas que não podem cumprir, como as construtoras que se aproveitam da

alta dos preços de mercado e depois de fechada a venda atrasam a entrega por

até vários anos; as concessionárias de serviços públicos que subornam políticos

corruptos e constroem monopólios a partir de concessões que foram quase que

dadas “de presente” e depois ainda se tornam elas mesmas as campeãs de

reclamações dos consumidores; os bancos que fazem todo o possível para atrair

os clientes para uma armadilha de juros abusivos de onde eles terão muita

dificuldade de sair etc. e poderíamos citar ainda uma infinidade de outros

exemplos.

Mas isto então será culpa do capitalismo? Devemos acabar com ele?

A culpa na verdade é do ser humano. O capitalismo é apenas um

sistema criado por nós mesmos e que se adapta perfeitamente ao nosso jeito

egoísta de ser.

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Mas e se eu não quiser ser assim? E se eu não quiser fazer parte deste

mundo injusto, o que devo fazer então?

Podemos viver em estado de constante revolta com todas estas

injustiças “naturais” do nosso mundo e estar sempre correndo atrás de nossos

direitos, por exemplo, entrando com processos judiciais que custariam a nossa

tranquilidade e possivelmente também todo o nosso dinheiro e ainda assim

estaríamos sempre mais propensos a perder, pois, estaríamos sempre lutando

contra grupos poderosos.

Podemos também tentar promover reformas sociais através de lutas

organizadas por meio de sindicatos, associações, partidos políticos etc. Mas se

é verdade que através dos tempos estas organizações conseguiram muitas

vitórias, também é verdade que, apesar das muitas conquistas, a sociedade

tende sempre a regredir após um período de melhora, e a maior parte das

reformas sociais acabam sendo desmanchadas, voltando-se novamente quase

à estaca zero para então se começar um novo ciclo de lutas.

O motivo destes retrocessos é que a sociedade, formada por uma

maioria egoísta, não está preparada para grandes mudanças, não está

preparada para viver em um mundo mais justo. E assim os grupos poderosos

sempre contra-atacam para desmontar as conquistas populares promovendo

reformas, como por exemplo as reformas do neoliberalismo e o estado-mínimo

que pregam a redução dos direitos sociais e o fim da ajuda aos necessitados,

outro exemplo são as medidas de “austeridade” que provocam pobreza e

desespero de parte da população em muitas regiões da Europa.

Também os partidos políticos e associações que defendiam os humildes

tendem a se corromper com o passar do tempo e aqueles que se apresentavam

antes como defensores dos trabalhadores, acabam sendo desmascarados

envolvidos na corrupção dos poderosos.

As lutas por reformas sociais e o ciclo de constante melhoria e posterior

retrocesso é a regra natural do nosso mundo atrasado, tanto é que podemos

encontrar leis que tentam combater a exploração desde os tempos de Moisés.

Apesar de naqueles tempos ainda serem aceitas várias formas de exploração

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(como a escravidão por exemplo) também naquele tempo já existiam leis para

se combater a exploração, como por exemplo a lei que proibia que, em caso de

endividamento, fossem penhoradas as partes do moinho usado para se moer

grãos, procurava-se assim evitar que o dono do moinho perdesse o seu “ganha

pão” e fosse obrigado a trabalhar para os outros como assalariado: “Não se

tomará em penhor ambas as mós, nem a mó de cima nem a de baixo; pois se

penhoraria assim a vida” (46). Outro exemplo é a lei antiga que proibia que

fossem feitos empréstimos a juros, se alguém quisesse emprestar dinheiro teria

de ser de boa vontade e não com o interesse de lucrar com a necessidade alheia.

E sempre foi assim na história da humanidade, criam-se as leis benéficas

aos humildes, mas então elas são combatidas pelos poderosos e depois

parcialmente abandonadas para então se começar um outro ciclo de lutas por

leis mais justas.

No livro A República, Sócrates descreve com vários detalhes como

deveria ser governada uma cidade justa e de homens bons, mas ao final explica

que não existirá cidade assim em lugar nenhum do mundo, e concluindo: “Mas

talvez haja um modelo no céu” (47). Também Leon Denis no livro “Socialismo e

Espiritismo” se refere às pessoas “que desejariam estabelecer na Terra o regime

social que reina, provavelmente nos mundos superiores, lá, onde todos

trabalham para cada um e cada um por todos, no espírito de devotamento

absoluto a uma causa comum” (48), deixando claro que este regime social ainda

é impraticável na terra.

Estará então o nosso mundo condenado e sem esperança de melhoria?

Não devemos então fazer nada para tentar melhora-lo?

É claro que não, devemos ter sempre em mente que o nosso mundo

evolui de forma gradual e devemos sempre fazer parte daqueles que promovem

esta mudança.

Existem muitas pessoas que dedicam as suas vidas na defesa das

causas justas, promovendo protestos, organizando a defesa dos necessitados,

chamando a atenção de políticos, produzindo documentários etc. sem nenhum

interesse próprio e que não desejam o poder, nem se envolver em organizações

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políticas de nenhum tipo. Mas nem todos nós temos o talento ou o tempo para

se dedicar a promover estas ações. O que nós todos podemos e devemos fazer

é promover a justiça a honestidade e a igualdade através das nossas atitudes do

dia-a-dia.

A reforma social é inútil se não for acompanhada da reforma íntima do

ser humano e, caso não mudem as atitudes e os pensamentos, toda reforma

social tende a ser perdida e um novo ciclo de lutas terá que começar novamente.

Estaremos sempre perdendo tempo promovendo mudanças nas regras do jogo,

se os participantes não mudarem sua tendência a tentar burlar estas regras.

Devemos tentar mudar a sociedade ao fazer a nossa parte na reforma

social, não apenas exigindo leis mais justas para serem cumpridas por todos,

mas, principalmente, praticando a justiça e exigindo um comportamento mais

justo de nós mesmos, vigiando mais e melhor a nossa própria conduta.

O motivo de estarmos encarnados em um mundo inferior é porque ainda

temos o que aprender sobre a justiça e a lei do amor ao próximo e é convivendo

com a injustiça e o egoísmo que podemos obter este aprendizado. Observando

os erros dos outros, aprendemos sobre nossos próprios defeitos e temos então

a chance mostrar que somos capazes de fazer melhor. Devemos aprender a

praticar nós mesmos a justiça e o amor ao próximo para só depois então

exigirmos que a justiça e o amor ao próximo se tornem regra para todos.

Devemos aprender a praticar a caridade desinteressada antes de exigir

a distribuição de renda.

Devemos aprender a praticar a honestidade em cada atitude antes de

exigir políticos menos corruptos.

Devemos praticar a dedicação ao trabalho antes de exigirmos mais

direitos trabalhistas.

Em outras palavras, a solução para os conflitos da sociedade e a reforma

social é praticarmos a justiça e a solidariedade antes de exigirmos uma

sociedade mais justa e solidária. Sem isto estaremos sempre voltando à estaca

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zero, enquanto que com a prática destes deveres, a reforma social acontecerá

naturalmente e sem grandes conflitos.

Na verdade, quando já tivermos aprendido estas lições, já estaremos

vivendo sem perceber em um mundo melhor. Esse mundo melhor é o nosso

próprio mundo interior, governado pela nossa consciência e guiado por leis

justas. Quando tivermos alcançado a capacidade de agir sempre com justiça, a

injustiça a nossa volta não nos afetara tanto, pois a justiça infalível de Deus age

sempre para que cada um receba segundo suas obras.

Também conhecendo melhor a natureza humana, não nos

decepcionaremos tanto com os comportamentos egoístas dos outros e sim

enxergaremos neles uma oportunidade de ajudar um irmão ignorante, lhe

ensinando algo sobre a justiça e a humildade. Devemos nos lembrar de que

Jesus não se decepcionou com a ingratidão do povo do seu tempo, ele sabia

exatamente o que lhe esperava e via na nossa inferioridade sempre uma

oportunidade de transmitir algum conhecimento superior. Devemos tentar seguir

o seu exemplo e tentar conhecer melhor a natureza humana e assim, ao mesmo

tempo, também aprenderemos sobre os nossos próprios defeitos, desta forma

podemos começar a mudar o mundo a partir de nós mesmos.

Sócrates é citado por Alan Kardec em O Evangelho Segundo o

Espiritismo como um precursor da doutrina cristã (49), Sócrates conclui o seu

pensamento sobre aquela cidade imaginária (a cidade justa, governada por leis

justas) explicando que realmente ela não existe em lugar algum do mundo:

Mas talvez haja um modelo no céu para quem quiser contemplá-

lo e, a partir dele, regular o governo da sua alma. Aliás, não

importa que essa cidade exista ou tenha de existir um dia: é

somente às suas leis, e de nenhuma outra, que o sábio

fundamentará a sua conduta (47).

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27 Dificuldades que fortalecem

Existem pessoas que possuem uma grande capacidade de lidar com

situações difíceis. Enfrentam problemas graves de vários tipos sem se abaterem

muito e recuperam seu otimismo com muita facilidade. Em compensação

existem outras pessoas que se desesperam facilmente e abandonam a luta

muito rápido.

O que diferencia estes dois tipos de pessoas?

Além da fé é claro, outro fator fundamental que as diferencia é o histórico

de lutas que cada uma destas pessoas já enfrentou e venceu. Podemos dizer

que, em geral, a pessoa que consideramos como pessoa forte, já enfrentou

(nesta encarnação mesmo) muito mais dificuldades e, desta forma, aprendeu a

lidar com os problemas de forma muito mais tranquila que a outra pessoa (a que

se desespera facilmente) que chamamos de pessoa fraca.

O resultado desta capacidade de enfrentar desafios adquirida pela

experiência é que, no geral, as pessoas fortes obtém uma vida muito mais

tranquila do que as pessoas fracas. Elas possuem uma maior disposição para

enfrentar por exemplo um chefe chato ou uma crise financeira, sem se

desesperarem e sem apelar para soluções aparentemente fáceis, como por

exemplo abandonar o emprego ou então fazer um empréstimo com um agiota.

Já as pessoas fracas acabam, ironicamente, tendo uma vida com muito

mais problemas do que a pessoa forte, que enfrenta os problemas de frente. Ao

tentarem fugir dos seus desafios pela porta mais fácil, por exemplo abandonando

uma boa carreira por causa de alguns problemas comuns no trabalho ou então

tentando resolver problemas financeiros fazendo um empréstimo fácil com juros

altíssimos ao invés de tentar uma solução mais trabalhosa, ou até mesmo

partindo para o mundo do crime (que pode ser tanto o crime comum do pobre ou

o crime do colarinho branco, quando por exemplo aceitamos trabalhar como

auxiliar de um político corrupto), o resultado é que esta pessoa fraca acaba se

envolvendo em muito mais problemas do que teria se resolvesse enfrentar as

dificuldades de frente (como por exemplo trabalhar algumas horas-extras ou

fazer um “bico”) pelo caminho aparentemente mais difícil.

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A maioria destas pessoas ao se depararem com as complicações que

foram causadas pela sua própria conduta e vendo os problemas se acumularem,

acabam passando a viver dentro de um misto de preguiça e ingratidão. Acham

que as coisas deveriam ter sido mais fáceis para elas, se recusando assim a

lutar pelas conquistas ao mesmo tempo em que não agradecem e desperdiçam

as oportunidades que lhes são oferecidas.

Muitas destas pessoas fracassam profissional e financeiramente por não

terem disposição para enfrentar os problemas comuns do mundo do trabalho;

outras fracassam nos relacionamentos familiares por não terem disposição para

enfrentar os problemas comuns da vida em família. O padrão se repete nos

vários aspectos da vida, as pessoas fracas, por terem sido poupadas no passado

das lutas comuns do dia-a-dia, não sabem enfrentar nem grandes nem pequenos

desafios e acabam fracassando justamente por não terem aprendido a lutar.

Olhando para pessoas assim, ou até mesmo olhando para nós mesmos

em épocas passadas, aprendemos como são importantes as dificuldades na vida

de qualquer pessoa. Devemos sim sempre agradecer todas as dificuldades que

nos são apresentadas, pois elas funcionam como uma vacina: uma pequena

dose de um mal, que nos ensina a enfrentar e vencer males muito maiores.

Uma pessoa que não enfrenta dificuldades em sua vida se parece um

pouco com uma criança que é educada sem limites; uma criança que faz o que

quer, quando quer e pode ter tudo o que desejar, esta criança se torna mimada

e cheia de birras, não aprecia o que possui e vive constantemente reclamando

de tudo, não sabendo o significado do “fazer por merecer”.

Também a fé, que que foi citada no início como um dos fatores que

fortalecem uma pessoa, só é adquirida, na maioria das vezes, após enfrentarmos

e vencermos problemas que pareciam sem solução. Geralmente é a partir de

uma vitória improvável contra um problema muito difícil é que ganhamos a

consciência de que alguém olha por nós e que não estamos abandonados ao

acaso, em outras palavras, a fé em Deus e no futuro também é na maioria das

vezes um fruto das lutas que uma pessoa já venceu.

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Devemos ter em mente que as dificuldades apresentadas em nossa

jornada foram desenhadas sob medida para cada um de nós, Deus coloca sob

nossos ombros o peso que cada um é capaz de carregar e se muitas vezes já

estamos cheios de problemas e ainda assim surgem novos, é porque Deus nos

conhece e sabe que ainda temos força para carregar um pouco mais. Mas o mais

importante é sabermos que Deus sempre nós mostrará o caminho correto para

vencer estas dificuldades, que é sempre o caminho do trabalho, do sacrifício e

do desapego em prol do próximo. Podemos aceitar este caminho correto que

nos leva à vitória ou então tentar fugir pelas alternativas mais fáceis que nos

levarão ao fracasso, como o aluno que cola na prova do começo do ano, mas é

depois reprovado no teste final justamente porque não aprendeu aquela matéria

do início do ano.

A pessoa forte, que costuma enfrentar de frente seus problemas,

também sabe que com o tempo eles tendem a parecer cada vez menores, a vida

de luta habilita o homem de boa vontade para vencer desafios cada vez maiores,

os grandes problemas do dia-a-dia de uma “socialite” parecem até piada para

um homem pobre acostumado a lidar com problemas reais; também os

problemas comuns da vida de um solteiro parecem coisa muito simples de se

resolver para um pai de família acostumado com problemas e desafios muito

maiores. As dificuldades nos dão experiência e coragem e desta forma

crescemos enquanto as dificuldades em nosso caminho parecem encolher.

As dificuldades também nos ajudam a reconhecer o quanto já temos e o

quanto já conquistamos. Uma pessoa que já enfrentou uma doença grave sabe

reconhecer melhor o valor da saúde perfeita; uma trabalhador que já foi

empregado de uma empresa que explora seus funcionários com baixos salários

e jornadas de trabalho abusivas sabe reconhecer melhor o valor de um emprego

público estável e bem remunerado.

Este reconhecimento do quanto já possuímos e quanto já nos foi dado

na vida, conhecimento este que quase sempre só adquirimos após enfrentarmos

grandes dificuldades, é essencial para que nos tornemos gratos pelo que temos

e assim possamos começar a pensar em ajudar ao próximo, ajudar aqueles que

possuem menos do que nós e que não tiveram ainda acesso a tudo o que nos

foi concedido por obra de Deus. O “ex-pião” de fábrica tende a se dedicar melhor

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ao seu emprego público mesmo que não se sinta ameaçado, ele faz isso

motivado pela voz da sua consciência e pela lembrança de tudo o que já

enfrentou.

Uma vida com maiores dificuldades e lutas forma pessoas mais

conscientes, pessoas que conseguem visualizar melhor as dificuldades do

próximo e também enxergar a situação privilegiada em que se encontram. Não

é à toa que a solidariedade é maior entre os mais pobres, longe dos holofotes

dos shows de caridade e das colunas sociais, o pobre é muito mais solidário que

o rico, procure um teto para se abrigar ou um prato de comida em uma situação

de calamidade pública em um bairro rico e encontrará muitos portões altos

fechados que não atendem à campainha, enquanto no bairro mais pobre, onde

moram pessoas com muito menos para oferecer, será muito mais fácil encontrar

ajuda.

O espírito encarnado neste mundo (onde ninguém é perfeito) precisa

enfrentar dificuldades que estão diretamente relacionadas com as suas

imperfeições. Além de nos dar a força a fé e a capacidade para vencer outros

desafios, as lutas que enfrentamos nos ensinam lições de humildade,

moderação, agradecimento a Deus e amor ao próximo. Se estamos nesta vida

tentando ser cristãos que seguem o maior de todos os mandamentos de cristo:

“amar a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo como a ti mesmo”,

devemos lembrar que as lições de que necessitamos para chegar ao “reino de

Deus” só podem ser aprendidas através das lutas e dificuldades que surgirão no

nosso caminho.

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28 O que virá depois?

Para praticamente todas as pessoas existe sempre um grau maior ou

menor de dúvida sobre para onde iremos após esta vida.

Para os materialistas a dúvida é se existe ou não uma vida após a morte.

Já para as outras pessoas, que são a grande maioria, a dúvida é sobre como

será esta vida posterior.

A maioria de nós, mesmo possuindo fé em Deus e acreditando agir

conforme a vontade dele, possuí algum grau de dúvida sobre se está mesmo a

caminho daquilo que tradicionalmente chamamos de céu, ou se por acaso não

está contrariando a vontade de Deus e está na verdade a caminho de algo

parecido com um inferno.

Neste ponto o espiritismo possui um diferencial em relação à maioria das

outras religiões, pois, para o nosso alívio (ou não) o espiritismo explica que não

ocorrerão mudanças drásticas em nossa condição de felicidade, nosso estado

de espírito ou na satisfação dos nossos desejos e vontades. O espirito

desencarnado continuará na mesma faixa de pensamento em que se encontra

atualmente, carregando consigo a paz ou perturbação que já possuía enquanto

ainda estava encarnado.

Portanto, não é difícil encontrar a resposta para dúvida sobre o nosso

destino no futuro próximo, basta questionarmos a nossa própria consciência e a

resposta já surge mais clara e simples do que qualquer dogma religioso poderia

explicar, pois, continuaremos no mesmo estado de felicidade ou infelicidade em

que já estamos, cada um continuará vivendo no seu próprio céu ou inferno

particular.

Assim, também não é difícil prever o futuro dos nossos companheiros de

jornada na terra, basta observarmos com atenção as tendências e as

preferências pessoais das pessoas mais próximas a nós e logo percebemos com

qual “frequência” de pensamento elas se sintonizam, se estão afinadas com o

egoísmo ou com o amor ao próximo, se se encontram infelizes e sem rumo ou

satisfeitas e confiantes.

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Os livros da série André Luiz, psicografados por Chico Xavier, nos

fornecem um bom exemplo de como as faixas de pensamento dos espíritos

desencarnados se mantém sintonizadas nas mesmas “frequências” após o

abandono da vida material. Tanto espíritos felizes como infelizes carregam

consigo a mesma felicidade ou infelicidade que possuíam antes na terra e

observando o comportamento e os discursos de muitos dos espíritos

desencarnados que são mostrados nestes livros, espíritos estes que habitam

regiões obscuras do mundo espiritual conhecidas como Umbral, podemos ver

como infelizmente muitos dos nossos companheiros encarnados se afinam

perfeitamente com o pensamento dominante nestas regiões sombrias.

Na terra existem, por exemplo, muitas pessoas obcecadas pela ideia de

liberdade, defendem a liberdade irrestrita em todos os sentidos, a liberdade para

acumular riquezas sem precisarem se importar com a miséria alheia, defendem

também a liberdade contra as leis em geral, liberdade do sexo, liberdade para

abusar das drogas etc. Estas pessoas enxergam a lei e as regras da sociedade

como um freio às suas paixões e vontades, gostariam elas de viver em um

mundo onde não existissem regras, onde a lei dominante fosse a lei do mais

forte, e nada fosse proibido.

Este tipo de pensamento está perfeitamente sintonizado com os relatos

encontrados nos livros da série André Luiz, como por exemplo uma passagem

no livro E a Vida Continua, onde os espíritos rebeldes gritam enfurecidos contra

uma equipe de espíritos bons que estavam em uma missão de auxílio, nestas

regiões de espíritos sofredores: “Anjos cotós! Cães enfeitados! Vocês são tão

humanos, quanto nós mesmos! Se são corajosos, deixem de ser burros velhos

no freio da disciplina e venham ser livres como somos!” (50). Já o discurso dos

espíritos felizes que encontramos neste mesmo livro, nos mostram uma outra

opinião sobre a ideia de liberdade, como por exemplo na passagem:

Temos aí, nessa faixa umbralina, todo um estado anárquico, em

que o individualismo se desborda na hipertrofia da liberdade,

sem os constrangimentos benéficos da disciplina, que nos faz

realmente livres pela voluntária sujeição de nossa parte aos

dispositivos das Leis de Deus (51).

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Opinião esta que se assemelha muito com a opinião de pessoas mais

tranquilas e experientes que encontramos aqui mesmo a terra, não por acaso,

são em geral também pessoas que possuem uma vida mais feliz aqui na terra.

O mesmo padrão se repete com outras características marcantes destes

espíritos infelizes no mundo espiritual. Os discursos de ódio e a ideia fixa de

vingança de algumas pessoas encarnadas são muito parecidos com os daqueles

espíritos obcecados por vingança nas regiões sombrias do mundo espiritual. O

mesmo se pode dizer sobre a paixão enlouquecida pelo dinheiro de certas

pessoas vivendo aqui na terra e também a mesma paixão enlouquecida pelo

dinheiro de espíritos que, mesmo longe da vida material, não conseguem pensar

em outra coisa a não ser em dinheiro. Enquanto isso, espíritos felizes, tanto na

terra como no mundo espiritual, estão sempre pregando o perdão e a humildade.

Se quisermos nos distanciar deste grupo de espíritos infelizes e nos

sintonizar com os espíritos felizes, devemos então começar hoje mesmo a agir

como agem os espíritos felizes no mundo espiritual e uma característica

marcante destes espíritos, observada nestes mesmos livros, é a constante luta

para trazer os companheiros infelizes para o lado bom. Deveríamos então,

sempre que possível, agir como agem estes espíritos bons e tentar também

mostrar para os nossos irmãos infelizes aqui da terra os benefícios da disciplina

e da moderação, do perdão e do amor ao próximo e do desapego e humildade.

Mostrando também como a vida neste mundo é uma oportunidade de

aprendizado que não deve ser desperdiçada e não, como pensa a maioria dos

espíritos infelizes, uma colônia de férias, que deva ser aproveitada ao máximo

de forma egoísta e inconsequente. Estaremos assim agindo como agem os

espíritos felizes do mundo espiritual, sempre preocupados com a felicidade do

próximo.

Podemos por exemplo tentar convencer o amigo ganancioso a dar mais

valor as coisas simples e à vida em família e talvez até quem sabe distribuir um

pouco do muito que tem; antes que esse amigo se transforme em mais um

daqueles espíritos desencarnados enlouquecidos que só pensam em dinheiro,

mesmo no mundo espiritual onde não podem gastar nenhum.

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Podemos também tentar convencer um companheiro cheio de mágoas

e ódio a relevar as ofensas e quem sabe até aprender a “amar aos vossos

inimigos” esclarecendo que o ofensor é sempre um espírito mais infeliz do que

ele e na verdade digno de pena; antes que este nosso companheiro se

transforme num obsessor, vivendo dentro uma prisão criada por ele mesmo e

amarrado à ideia fixa de vingança.

Quem sabe podemos também tentar convencer um parente orgulhoso a

abandonar o pedestal e a tratar todas as pessoas como iguais; antes que ele se

transforme num daqueles espíritos infelizes que se apegam à ideia de

superioridade e vivem no mundo espiritual dentro uma fantasia em que pensam

que ainda são aquele rei ou rainha que foram há muitas encarnações passadas,

aprisionados dentro de uma fantasia de superioridade.

A vida futura no mundo espiritual será provavelmente muito parecida

com a vida que levamos neste mundo, o espirito quando desencarnado tende a

fazer as mesmas coisas que já fazia antes na terra, carregando suas paixões e

vícios para o outro lado. Portanto a grande mudança para melhor que todos nós

esperamos em nossa existência não irá acontecer no momento em que nos

libertarmos da carne, ela é fruto do nosso próprio trabalho e esforço individual e

não existe razão para que esta nova forma de pensarmos e agirmos segundo a

vontade de Deus, que pode nos tornar pessoas felizes, se inicie somente depois

da nossa morte.

Uma vida feliz após a passagem para o outro lado depende do esforço

que fizermos em prol do bem hoje na terra, mas o espírito que não aprender a

amar ao próximo e a ser feliz (amando ao seu próximo) enquanto ainda estiver

vivendo neste mundo, não herdará felicidade gratuita no outro.

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29 Insaciedade

A alguns anos me casei e precisava comprar todos os móveis e

eletrodomésticos etc.

Entre eles estava a TV, o principal eletrônico da casa, o nosso querido

“abajur”.

Na época as condições financeiras me permitiram comprar uma TV

usada de 20 polegadas, recém consertada, com cara de novinha. Algum tempo

depois, resolvi comprar uma maior de 29 polegadas; como a nova ainda era

muito cara, comecei uma verdadeira peregrinação em busca de uma TV de 29

usada em boas condições e um precinho legal. Não encontrei a TV de 29 usada,

mas logo em seguida arranjei um novo emprego que me possibilitou comprar a

tão sonhada TV de 29 nova (em suaves parcelas), e estava completa a minha

sala dos meus sonhos.

O tempo passa e surgem as TVs de LCD, agora já estou eu novamente

sonhando com uma TV nova, apesar de a minha de 29 ainda estar ótima. E

depois de bastante tempo pesquisando e guardando dinheiro, lá estou eu

comprando uma TV de 42 polegadas, em fim posso sossegar e curtir minha TV

“enorme”. Não é bem assim, surgem as TVs de LED, TVs 3D, TVs de 50

polegadas, 60 polegadas e parece que isso não vai acabar nunca, sempre surge

uma melhor do que a que eu tenho e então recebo um e-mail com uma

propaganda de uma TV de 84 polegadas.

Nesse momento eu para e penso: aonde isso vai parar? Será que se eu

comprar a de 50, depois 60 e depois a de 84, não vai surgir logo em seguida

uma outra mais absurda ainda, daqui a pouco vou ter que ampliar a sala para

colocar uma TV de 200 polegadas; foi neste momento que eu desisti desta

“corrida maluca” e resolvi ficar com a minha de 42 mesmo.

Esse comportamento humano se repete em todas as partes do mundo e

em todas as classes sociais e culturas, e não é um produto do deslumbramento

com as maravilhas modernas da tecnologia, este comportamento sempre existiu.

Este nada mais é do que um reflexo da nossa insaciedade, estamos sempre

procurando algo maior e melhor do que possuímos e quando conseguimos, a

satisfação não dura nem mesmo uma fração do tempo que gastamos lutando

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para conseguir o objeto dos desejos, porque logo em seguida descobrimos um

novo objeto dos desejos.

Existe uma corrente de pensamento que afirma ser este um

comportamento salutar, a ganância seria uma mola propulsora da evolução do

homem e das condições de vida. É claro que é saudável e recomendável que o

homem use seu tempo disponível e sua força de trabalho para se desenvolver

profissionalmente e conquiste uma vida sem privações e necessidades. Muito

diferente disto é o homem que vive em função de satisfazer seus desejos.

Movida pela inveja e pela ganância uma grande parte das pessoas não consegue

se ver plenamente satisfeita com o que tem, porque o que eles possuem é

sempre inferior ao que alguma outra pessoa possui. É um comportamento

verdadeiramente irracional, pois o indivíduo nunca dá atenção ao que conquistou

e sempre atualiza seus objetivos mirando em alguém que possui algo mais do

que ele, e quando finalmente chega lá, atualiza suas pretensões e escolhe um

novo alvo, uma nova meta, e lá está ele novamente desprezando o que possui

e trocando a sua tranquilidade pela busca de mais bens materiais.

Por outro lado, se eu adotar o comportamento inverso, não procurando

sempre algo melhor do que aquilo que possuo, não procurando sempre uma TV

nova, um carro novo, uma casa maior num bairro melhor, corro o risco de acabar

dirigindo um fusca 67, assistindo uma de TV de 14 polegadas preto e branco e

morando numa casinha minúscula numa área sujeita a desmoronamentos de

terra.

Como escapar desta armadilha? Como não acabar exagerando para um

lado ou para o outro?

Para escapar destas armadilhas e não se tornar um obcecado por bens

materiais (ou também obcecado por títulos de honra, reconhecimento, status,

poder etc.) ou também não acabar exagerando no outro sentido, se tornando

uma pessoa desleixada que abre mão de coisas básicas e até da sua segurança

e de sua família, é preciso entender os motivos que fazem o homem agir desta

maneira.

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A explicação não poderia ser outra a não ser aquela mesma de sempre:

o nosso egoísmo, nossa inferioridade moral que se demonstra no nosso

comportamento egoísta, invejoso e insatisfeito.

Mas o problema é muito maior do que a simples obsessão individual. Na

busca constante de mais e melhores bens materiais o indivíduo gasta seu tempo

e suas forças satisfazendo estes interesses vazios e sem propósito. Desperdiça

o tempo que deveria gastar com a família na tarefa mútua de educar os filhos,

também desperdiça o tempo que poderia aprimorar seus conhecimentos, se

educar e iluminar seu espírito e desperdiça também algo mais importante ainda

que as duas primeiras atividades, desperdiça o tempo em que poderia estar

fazendo algum tipo de caridade, de ser útil de alguma forma, seja com trabalho,

com bens materiais ou com instrução, sob qualquer forma, das outras almas

necessitadas de esclarecimento.

O tempo deste indivíduo é desperdiçado em longas jornadas de trabalho

que possuem como única finalidade a obtenção destes bens materiais, nesta

louca corrida a que nunca se chega ao fim, pois, mesmo o homem mais rico do

mundo ainda deseja mais e luta dia e noite para obter mais do que o que possui.

Enquanto uma pessoa normal gasta cerca de oito horas diárias no

trabalho, o indivíduo ambicioso costuma gastar muito mais que isso, chegando

a absurdas jornadas de quase dezesseis horas diárias, seja em troca do dinheiro

das horas extras ou do reconhecimento do chefe para obter uma promoção ou

ainda se desdobrando em empregos múltiplos ou vários “bicos”.

Longe da sua família este individuo acaba indiretamente roubando a

vaga de trabalho de um outro trabalhador que gostaria de poder trabalhar

aquelas oito horas que foram ocupadas pelo trabalhador ambicioso. Este

trabalhador desempregado passa por necessidades para prover o sustento da

sua família por não encontrar o espaço para trabalhar, espaço este que foi

ocupado por um outro trabalhador, que apesar de honesto e de pensar estar

fazendo a coisa certa para si e para sua família (pois o indivíduo materialista

acredita que a felicidade e a paz podem ser obtidas com bens materiais) acaba

indiretamente causando o sofrimento das duas famílias, a família do

desempregado e sua própria família que sofre com sua ausência.

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A solução para esta verdadeira doença que ataca grande parte da

população começa pela humildade.

O homem humilde consegue ser feliz com o que conquistou e também é

capaz de ficar feliz ao ver as outras pessoas conquistando pequenas coisas

materiais que trazem conforto e alguma alegria. Como sua reação não é de

inveja, não sente a necessidade imediata de conseguir comprar uma coisa igual

ou então melhor do que seu vizinho.

Este outro indivíduo desapegado dos bens materiais e que se coloca

voluntariamente de fora desta “corrida do ouro” tem tempo suficiente para a

família, para se educar e esclarecer e também para se dedicar a alguma forma

de caridade.

Como consequência o humilde não consegue obter a riqueza material

(ou também os títulos de honra e reconhecimento, status, poder etc.) e vive uma

vida média. Se dedicando com empenho no tempo que dispõe para o trabalho e

crescimento profissional ele consegue obter um padrão de vida razoável, sem

privações. Também gastando o pouco que obtém sem ser movido pela inveja e

ganância ele faz escolhas mais racionais em suas compras, baseando-se mais

na utilidade do que no status atribuído ao produto, assim ele é mais feliz e

satisfeito com aquilo que obtém.

Com o passar do tempo este indivíduo humilde, trabalhador, dedicado à

família e ao engrandecimento da sua alma e não ao engrandecimento do seu

patrimônio, começa a desenvolver um outro tipo de insaciedade, parecida com

aquela do indivíduo materialista, mas com um foco totalmente diferente, a

insaciedade em fazer o bem. Mas esta insaciedade possui um efeito contrário,

pois tende a aproximar ele de sua família e quanto mais esta família desenvolve

em conjunto ações de caridade, mais unida e harmoniosa tende a se tornar,

quanto mais este indivíduo se empenha em obter, por exemplo, bens materiais

para o próximo necessitado e não para si, mais desapegado e menos invejoso e

também mais satisfeito com o que possui este indivíduo se torna.

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Esta é a única e verdadeira ganância salutar, mas que infelizmente não

é ainda compreendida pela ciência econômica, a ganância de trabalhar mais e

mais pelos outros.

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30 Voto de riqueza

“Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos

como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os

conhecereis.” (52).

Cristo nos avisou de que haveriam falsos profetas, ou seja, pessoas que

apareceriam pregando em nome de Deus, mas que na verdade não possuem

como interesse principal a divulgação do evangelho para promover o amor ao

próximo e a felicidade das pessoas, mas, pelo contrário, interesses

principalmente egoístas, como o interesse de promover a si mesmo e tirar

vantagem desta posição de destaque.

Todos conhecemos exemplos modernos daqueles que poderíamos

chamar de falsos profetas, os líderes sensacionalistas que promovem milagres

em massa que são transmitidos ao vivo pela televisão enquanto pedem doações

sem parar e os religiosos que fizeram voto de pobreza e mesmo assim vivem

cercados de luxo, são alguns dos principais exemplos.

A principal acusação que se faz a qualquer pessoa que resolva se

dedicar a transmitir a palavra de Deus é mesmo a cobiça pessoal, seja ela uma

pessoa bem ou mal intencionada, a principal acusação dos seus adversários

será sempre o apego ao dinheiro e à vida de luxos, mesmo que a pessoa seja

na verdade simples e humilde. Por isso a pessoa bem intencionada que resolva

tentar transmitir o evangelho para um grande número de pessoas através dos

meios de comunicação ou também que possua uma posição de destaque numa

organização religiosa deve tomar alguns cuidados para não causar uma

impressão errada a pessoas menos informadas. Alguns destes cuidados podem

até ser considerados difíceis de serem seguidos ou então parecerem mais uma

auto punição, mas eles possuem o potencial de mostrar o verdadeiro

desinteresse daquele que resolve assumir a posição divulgador da doutrina que

prega o amor ao próximo e a humildade.

Poderia por exemplo o divulgador do evangelho obter renda de sua

atividade religiosa para proveito pessoal?

Primeiro devemos lembrar que Alan Kardec, Chico Xavier e até mesmo

Jesus trabalharam e mantiveram seu próprio sustendo quase que durante a vida

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toda, provando que cumprir uma grande missão e trabalhar duro para gerar seu

próprio sustendo é perfeitamente possível.

Utilizar qualquer renda proveniente de qualquer atividade ligada à

divulgação do evangelho em proveito pessoal não é somente uma fonte imensa

de desconfiança como também um perigo. Devemos sempre nos lembrar da

nossa condição de espíritos imperfeitos e sujeitos sempre a errar e, no caso de

não possuirmos uma fonte totalmente separada de sustendo próprio, a vontade

natural de melhorar de vida pode em determinado momento acabar se

misturando com a nossa vontade de trabalhar em atividades de ajuda ao próximo

e divulgação da palavra de Deus. Com esta mistura de rendas e de interesses

particulares com interesses altruístas o divulgador do evangelho corre o grave

risco de se transformar em um comerciante ou negociador do evangelho e

acabar, por exemplo, dando preferência, mesmo que inconscientemente, pela

divulgação dos seus trabalhos através dos meios que lhe trazem melhor retorno

financeiro, ao invés de dar preferência aos veículos de divulgação que atinjam

maior número de pessoas ou então naqueles em que exista garantia maior de

que seus ensinamentos não serão distorcidos.

Alan Kardec em O Livro dos Médiuns informa que:

O médium que, com um fim eminentemente sério e útil, se

achasse impedido de empregar o seu tempo de outra maneira e,

em consequência, se visse exonerado, não deve ser confundido

com o médium especulador, com aquele que,

premeditadamente, faça da sua mediunidade uma indústria.

Conforme o motivo e o fim, podem, pois, os Espíritos condenar,

absolver e, até, auxiliar. Eles julgam mais a intenção do que o

fato material (53).

E também o espírito André Luiz no livro Conduta Espírita nos informa

que o espírita deve: “Jamais prevalecer-se das possibilidades de que disponha

no movimento espírita para favoritismos e vantagens na esfera profissional.

Quem engana a própria fé, perde a si mesmo” (54). Podemos concluir então que

a obtenção de qualquer renda ou benefício pessoal vinda de atividade religiosa

deve ser evitada o máximo possível, demonstrando a capacidade de exercer

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dupla atividade (a profissional e também a religiosa da qual não obtém nenhum

proveito) o obreiro do bem dá exemplo de desprendimento e dedicação.

O divulgador do evangelho, após assumir publicamente esta posição,

pode continuar a progredir a expansão do seu patrimônio pessoal?

A expansão do patrimônio pessoal de uma pessoa nesta posição será

sempre fonte de desconfiança, tanto de seus seguidores como principalmente

de seus adversários. Por melhor que sejam as intenções desta pessoa, a sua

fortuna pessoal, ou até mesmo uma pequena melhoria no seu padrão de vida,

será sempre uma inesgotável fonte de críticas e ataques pessoais. O divulgador

da doutrina do amor e do desapego aos prazeres materiais deve sempre tentar

enxergar a si mesmo pelos olhos das pessoas para as quais ele se expõe e

tentar entender que, sob o ponto de vista de um irmão ignorante, qualquer

melhoria no seu padrão de vida pode ser interpretada como charlatanismo. Ao

demostrar possuir uma vida confortável, o divulgador do evangelho pode acabar

afastando pessoas de bem, realmente interessadas em aprender os

ensinamentos de cristo, mas que não conseguiram vencer a barreira da

desconfiança; ao mesmo tempo em que pode acabar atraindo para perto de si

pessoas que na verdade invejam o seu estilo de vida e suas conquistas materiais

e erroneamente passam a enxergar na sua doutrina uma ferramenta de

progresso material, ao invés de uma doutrina libertadora que visa apenas o

progresso moral.

O simples apego às riquezas materiais também é uma fonte de

perturbação que pode se colocar como um obstáculo aos trabalhos de

evangelização, Jesus nos ensinou que não se pode “servir a Deus e a Mamom”

(55), lição esta explicada com detalhes no capítulo XVI de O Evangelho Segundo

o Espiritismo, esta afirmação que se pode fazer a respeito do apego ao dinheiro

também poderíamos fazer em relação aos prazeres da comida ou do sexo,

nenhuma destas coisas é essencialmente má, mas o apego a qualquer uma

delas é uma fonte natural de perturbação.

E quanto ao divulgador do evangelho que já era relativamente rico no

momento em que assumiu esta posição?

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Vamos nos lembrar de que Alan Kardec renunciou ao prestigio e ao

conforto da vida acadêmica, assim como Bezerra de Menezes renunciou à vida

confortável de médico e São Francisco renunciou à nobreza entre muitos outros

exemplos nobres. É claro que não podemos exigir o mesmo sacrifício de todos,

mas estes sacrifícios com certeza possuem o potencial de demonstrar a

superioridade moral da sua doutrina e a fé verdadeira daquele que divulga o

caminho para as riquezas do reino dos céus.

Na verdade qualquer minuto gasto em trabalhos em prol da divulgação

do evangelho já representa uma renúncia de um tempo que poderia ser gasto

em interesses pessoais, no mundo onde tempo é dinheiro, o tempo gasto

visando o bem de nossos semelhantes significa que na verdade já estamos

abrindo mão de algum tempo/dinheiro que poderíamos obter para nós mesmos.

Os espíritos que vêm à terra com uma missão de divulgação do

evangelho frequentemente são beneficiados com bens materiais e acesso ao

estudo e conhecimentos que nem sempre estão disponíveis para as classes

mais pobres do nosso mundo injusto. Estes empréstimos de Deus não são mais

do que ferramentas para execução do trabalho e os espíritos sensatos se

recusam a tirar proveito destas ferramentas e ainda frequentemente gastam tudo

o que possuem, além também de seu tempo e sua força de trabalho em

atividades beneficentes por amor aos seus semelhantes mais humildes.

O divulgador do evangelho de cristo encontrará muitos adversários e por

isso precisa estar sempre armado, armado de humildade e desprendimento,

sempre pronto, por exemplo, a admitir estar errado sobre determinado assunto

e aceitar uma nova ideia ou opinião divergente da sua, e também estar pronto

para o sacrifício e a renúncia dos seus interesses pessoais. Uma vida de

simplicidade é um escudo inviolável contra a maioria das acusações de que ele

certamente será vítima, vale lembrar que Chico Xavier já foi até acusado de

cobrar caro pelo “hot-dog” e pelo estacionamento próximo do local de seus

trabalhos, mas a sua simplicidade gritava mais alto do que qualquer acusação.

Jesus e os apóstolos foram condenados à morte e também os cristãos

dos primeiros tempos foram atirados aos leões no circo romano sem se

desesperarem ou acharem que este era um sacrifício alto demais. Comparado a

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estes exemplos, o sacrifício de humildade imposto aos divulgadores do

evangelho nos tempos modernos parece mesmo ser muito pequeno.

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140

Referências: (referências em sistema numérico conforme item 6.2 da norma

NBR 10520:2002)

1 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/mt/19>. Acesso em: 31 jan. 2014. 2 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/lc/9>. Acesso em: 31 jan. 2014. 3 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/jo/18>. Acesso em: 31 jan. 2014. 4 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/mc/8>. Acesso em: 31 jan. 2014. 5 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/mt/19>. Acesso em: 31 jan. 2014. 6 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/jo/5>. Acesso em: 31 jan. 2014.

7 XAVIER, Francisco Cândido. Há Dois Mil anos. Brasília: FEB, 1996. 8 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/jo/5>. Acesso em: 31 jan. 2014. 9 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/vc/mt/18>. Acesso em: 31 jan. 2014. 10 KARDEC, Alan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Rio de janeiro: FEB, 2002. p. 307. 11 KARDEC, Alan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Rio de janeiro: FEB, 2002. p. 269. 12 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/lc/6>. Acesso em: 31 jan. 2014.

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141

13 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/mt/6>. Acesso em: 31 jan. 2014. 14 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/aa/mt/11>. Acesso em: 31 jan. 2014. 15 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/mt/6>. Acesso em: 31 jan. 2014. 16 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/mt/6>. Acesso em: 31 jan. 2014. 17 KARDEC, Alan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Rio de janeiro: FEB, 2002. p. 457. 18 KARDEC, Alan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Rio de janeiro: FEB, 2002. p. 359. 19 XAVIER, Francisco Cândido. Momentos de Ouro. São Paulo: GEEM, 1977. p. 6. 20 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/vc/mc/9>. Acesso em: 31 jan. 2014. 21 XAVIER, Francisco Cândido. A Caminho da Luz. Rio de Janeiro: FEB, 2011. p. 78. 22 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/lc/6>. Acesso em: 31 jan. 2014. 23 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/mt/5>. Acesso em: 31 jan. 2014. 24 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/lc/23>. Acesso em: 31 jan. 2014. 25 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/mt/10>. Acesso em: 31 jan. 2014. 26 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/mt/5>. Acesso em: 31 jan. 2014.

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27 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diario Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 5 de outubro de 1988. 28 KARDEC, Alan.O Livro dos Espíritos. Brasília: FEB, 1995. p. 367. 29 XAVIER, Francisco Cândido. Conduta Espirita. Brasília: FEB, 1998. p. 21. 30 PLATÃO. A República. São Paulo: Nova Cultural, 1997. p. 35. 31 KARDEC, Alan.O Livro dos Espíritos. Brasília: FEB, 1995. p. 408. 32 MARX, Karl. Crítica ao Programa de Gotha. São Paulo: Ridendo Castigat Mores, 1999.

33 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/ex/3>. Acesso em: 31 jan. 2014. 34 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/dt/20>. Acesso em: 31 jan. 2014. 35 KARDEC, Alan.O Livro dos Espíritos. Brasília: FEB, 1995. p. 352. 36 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/jo/18>. Acesso em: 31 jan. 2014. 37 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/mt/22>. Acesso em: 31 jan. 2014.

38 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/mt/5>. Acesso em: 31 jan. 2014.

39 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/mt/5>. Acesso em: 31 jan. 2014.

40 KARDEC, Alan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Rio de janeiro: FEB, 2002. p. 347.

41 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/nvi/dt/15>. Acesso em: 31 jan. 2014.

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42 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/nm/5>. Acesso em: 31 jan. 2014.

43 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/vc/mt/16>. Acesso em: 31 jan. 2014.

44 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/2cr/7>. Acesso em: 31 jan. 2014.

45 RUSKIN, John. Unto This Last. Londres: Cornhill Magazine, 1860 Disponível em: <http://muff.uffs.net/skola/dejum/ruskin/texts/unto-this-last/unto_this_last.pdf>. Acesso em 04 fev. 2014.

46 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/dt/24>. Acesso em: 31 jan. 2014.

47 PLATÃO. A República. São Paulo: Nova Cultural, 1997. p. 319.

48 DENIS, Leon. Socialismo e Espiritismo. Londrina: Casa Editora O Clarim, 2001. p. 87. 49 KARDEC, Alan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Rio de janeiro: FEB, 2002. p. 45. 50 XAVIER, Francisco Cândido. E a Vida Continua. Rio de Janeiro: FEB, 2011. p. 101. 51 XAVIER, Francisco Cândido. E a Vida Continua. Rio de Janeiro: FEB, 2011. p. 94. 52 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/mt/7>. Acesso em: 31 jan. 2014.

53 KARDEC, Alan. O Livro dos Médiuns. Rio de janeiro: FEB, 1996. p. 413.

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54 XAVIER, Francisco Cândido. Conduta Espírita. Rio de Janeiro: FEB, 1998. p. 19. 55 ALMEIDA, J. Bíblia – Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994 Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br/acf/lc/16>. Acesso em: 31 jan. 2014.