Jardim

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No conto O Jardim Selvagem, Lygia Fagundes Telles narra a histria atravs das impresses que Ducha, uma menina que vive com a tia, tem de Daniela a recente esposa do tio. Ducha, que parece ser uma menina que no pretende seguir os passos da tia, fica intrigada com a personalidade misteriosa de Daniela. Convivendo com a tia e empregada, a menina parece estar imersa em um universo onde as mulheres agem de forma tipicamente feminina. A empregada e a cozinheira, por exemplo, quando conversam cochicham sobre os homens. A tia, aparentemente sem filhos, direcionou seu instinto maternal primeiro para o irmo e depois para a sobrinha que por vezes a faz lembrar de Ed, fazendo com que ela fique toda sentimental. Ducha a caracteriza como sendo uma mulher sem vaidades: com unhas cortadas, mo enrugada, meias murchas cor de cenoura; Supersticiosa e simples: os sonhos e pressentimentos da tia, para Ducha so sem sentido e normalmente horrveis, e podem ser justificados por um possvel cimes dela, e as histrias que a tia conta so bobagens que no lhe despertam interesse. Durante todo o dilogo, enquanto a tia assume uma postura supersticiosa e sentimental, a menina responde de uma forma mais racional e realista, quando a tia diz que terrvel sonhar com dentes, Ducha diz que pior trat-los, de certa forma, Ducha parece querer ser o oposto da tia, ao ver suas mos velhas e ressecadas, a menina tenta umedecer as suas.Daniela, por outro lado, desde o comeo do conto apresentada como uma personagem ambgua, um jardim selvagem. Mas o que significa isto? Algo belo, mas indomvel? Um jardim pressupe organizao humana, um pedao de terra que foi cultivado e projetado para ser agradvel aos nossos olhos. Como pode ento ser selvagem? algo belo por natureza, por acaso, e foi transformado em decorativo, portanto algo bruto que foi lapidado, domado? Ou foi feito para ser jardim mas em algum momento deixou de ser controlado e ali cresceram plantas selvagens, sem terem sido plantadas por ningum? No temos como saber, j que Ed no responde a pergunta de Ducha. Mas sabemos que Daniela, sem dvida bastante civilizada, usa roupas finamente costuradas, toca piano, carinhosa com Pombinha e delicada com os empregados.Mas seu lado misterioso que chama a ateno de Ducha, essa mulher to fina, toma banho de cachoeira pelada, monta em pelo como um ndio, consegue atirar no prprio cachorro a sangue frio e usa uma luva na mo direita o tempo todo. A luva, embora Lygia no explique porque, o que parece causar mais estranheza na menina.Como se a menina quisesse mesmo saber o que Daniela esconde e no o que deixa transparecer.O conto se encerra com a doena e ento morte de Ed. Mais uma vez, no temos como saber se Daniela teve alguma participao na morte do marido, mas sabemos que Ducha pensa que sim. Talvez, mesmo no querendo ser como a tia, ela tenha internalizado o preconceito das pessoas com quem convivia, e tende a desconfiar desta mulher que, ao contrrio das outras que conhece, no to transparente e previsvel.