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Jardins verticais: um novo modelo de urbanização sustentável Julho/2016 1 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016 Jardins verticais: um novo modelo de urbanização sustentável Simone Cristina Nienke Prado - [email protected] Design de Interiores Ambientação e Produção de Espaço Instituto de Pós-Graduação - IPOG Brasília, DF, 10 de março de 2015 Resumo Este artigo tem como objetivo o estudo da utilização de jardins verticais em ambientes compostos por paredes nuas. Trata-se de um novo modelo de urbanização que vem crescendo na ambientação urbana, principalmente pelo enfoque dado à questão da sustentabilidade tão difundida nos tempos atuais. Nesse contexto, diante do crescimento desordenado das cidades e com a intensa ocupação do solo, questiona-se até que ponto os jardins verticais podem auxiliar nesse processo, atuando como um instrumento mediador para amenizar a carência de áreas verdes no meio urbano, além de proporcionar outras vantagens, tais como a melhoria da eficiência energética, acústica e da qualidade do ar do interior das edificações. Para a realização do estudo, embora tenha sido encontrado pouco material sobre o tema, recorreu-se à pesquisa bibliográfica em artigos e dissertações disponibilizadas pela internet, bem como algumas publicações relacionadas ao assunto. O texto foi desenvolvido em tópicos, os quais versaram sobre a evolução urbana; a origem, a trajetória, os conceitos, as características e os pressupostos técnicos dos jardins verticais; bem como as vantagens e desvantagens da utilização desses modelos de jardins. Ao final, restou demonstrado que apesar do alto custo, os jardins verticais despontam como uma alternativa para a moderna arquitetura urbana, pois incorpora o conceito de sustentabilidade ao crescimento dos grandes centros urbanos. Palavras-chave: Jardins Verticais. Urbanização. Áreas Verdes. Meio Ambiente. Plantas. 1. Introdução Sob o tema “Jardins verticais: um novo modelo de urbanização sustentável”, o presente artigo tem a finalidade de cumprir o requisito exigido pelo Instituto de Pós-Graduação IPOG para o Curso de Design de Interiores Ambientação e Produção de Espaço. Além da sua importância dentro do contexto ambiental vivenciado atualmente, a escolha do tema foi motivada pelo interesse em conhecer mais a fundo os benefícios que a implantação desse projeto arquitetônico traz para o meio urbano, abrangendo não só o bem-estar humano, mas também como uma forma de contribuir para o aumento das áreas verdes das cidades, ou seja, uma maneira de devolver a natureza às áreas tomadas por edificações. Vale ressaltar que, por se tratar de tema relativamente novo, a bibliografia relacionada ao assunto ainda é escassa, fazendo com que se recorresse à pesquisa em trabalhos e artigos publicados em revistas e disponibilizados pela internet, com o intuito de reunir as informações

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Jardins verticais: um novo modelo de urbanização sustentável Julho/2016 1

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016

Jardins verticais: um novo modelo de urbanização sustentável

Simone Cristina Nienke Prado - [email protected]

Design de Interiores Ambientação e Produção de Espaço

Instituto de Pós-Graduação - IPOG

Brasília, DF, 10 de março de 2015

Resumo

Este artigo tem como objetivo o estudo da utilização de jardins verticais em ambientes

compostos por paredes nuas. Trata-se de um novo modelo de urbanização que vem crescendo

na ambientação urbana, principalmente pelo enfoque dado à questão da sustentabilidade tão

difundida nos tempos atuais. Nesse contexto, diante do crescimento desordenado das cidades

e com a intensa ocupação do solo, questiona-se até que ponto os jardins verticais podem

auxiliar nesse processo, atuando como um instrumento mediador para amenizar a carência

de áreas verdes no meio urbano, além de proporcionar outras vantagens, tais como a

melhoria da eficiência energética, acústica e da qualidade do ar do interior das edificações.

Para a realização do estudo, embora tenha sido encontrado pouco material sobre o tema,

recorreu-se à pesquisa bibliográfica em artigos e dissertações disponibilizadas pela internet,

bem como algumas publicações relacionadas ao assunto. O texto foi desenvolvido em tópicos,

os quais versaram sobre a evolução urbana; a origem, a trajetória, os conceitos, as

características e os pressupostos técnicos dos jardins verticais; bem como as vantagens e

desvantagens da utilização desses modelos de jardins. Ao final, restou demonstrado que

apesar do alto custo, os jardins verticais despontam como uma alternativa para a moderna

arquitetura urbana, pois incorpora o conceito de sustentabilidade ao crescimento dos

grandes centros urbanos.

Palavras-chave: Jardins Verticais. Urbanização. Áreas Verdes. Meio Ambiente. Plantas.

1. Introdução

Sob o tema “Jardins verticais: um novo modelo de urbanização sustentável”, o presente artigo

tem a finalidade de cumprir o requisito exigido pelo Instituto de Pós-Graduação – IPOG para

o Curso de Design de Interiores Ambientação e Produção de Espaço.

Além da sua importância dentro do contexto ambiental vivenciado atualmente, a escolha do

tema foi motivada pelo interesse em conhecer mais a fundo os benefícios que a implantação

desse projeto arquitetônico traz para o meio urbano, abrangendo não só o bem-estar humano,

mas também como uma forma de contribuir para o aumento das áreas verdes das cidades, ou

seja, uma maneira de devolver a natureza às áreas tomadas por edificações.

Vale ressaltar que, por se tratar de tema relativamente novo, a bibliografia relacionada ao

assunto ainda é escassa, fazendo com que se recorresse à pesquisa em trabalhos e artigos

publicados em revistas e disponibilizados pela internet, com o intuito de reunir as informações

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necessárias que auxiliem na percepção do tema e defina o seu papel na melhoria do meio

ambiente e na reabilitação das edificações.

Nesse contexto, o estudo faz inicialmente uma abordagem sobre o processo da evolução

urbana desde o surgimento das primeiras civilizações até a sua generalização durante o século

XX. Na sequência, mostra-se a origem dos jardins verticais, criados ainda no século VI a.C.

Dando seguimento, é apresentada a evolução desse modelo, que foi implantado pelos vikings

na Islândia; em países da América do Norte, como o Canadá, os Estados Unidos; na Europa

pelos italianos e franceses, especialmente pelo arquiteto austríaco Adolf Loos; e no Brasil

pelo renomado paisagista Roberto Burle Marx na década de 1970. São apresentados os

conceitos e as características dos jardins verticais, para depois serem descritos os pressupostos

técnicos das fachadas verdes e das paredes vivas, categorias atribuídas aos jardins verticais

dadas por Costa (2011) e adotada para o contexto do presente artigo. Em seguida, são

relatadas as formas empregadas para manutenção desses jardins. E, por fim, são exibidas as

vantagens e desvantagens da implantação dos jardins verticais. Portanto, a intenção é mostrar,

de maneira sucinta, como o uso sustentável dos espaços urbanos por meio da projeção de

jardins verticais poderá suprir a ausência de áreas verdes, melhorar a biodiversidade e a

qualidade do ar nos grandes centros urbanos.

2. A evolução urbana

Os relatos históricos apontam que as primeiras civilizações urbanas surgiram na

Mesopotâmia, numa região localizada entre os rios Tigre e Eufrates. Por causa dos recursos

hídricos e da fertilidade do solo, essa região facilitava o acesso de povos de culturas

diferentes, fato que contribuiu para o surgimento de vilas e povoados, que mais tarde

evoluíram para a formação das cidades. Assim sendo, as primeiras cidades datam de 3500

a.C. (MURUCCI, 2014).

A formação da civilização egípcia teve início no ano 3100 a.C. com as aglomerações urbanas

situadas ao longo do rio Nilo. Assim, surgiram nessa região cidades como Mênfis e Tebas.

Aproximadamente em 2.500 a.C., nos vales do rio Indo (Índia) e do rio Amarelo (China),

foram criadas as cidades de Mohenjodaro e Pequim, respectivamente. Desse modo, nota-se

que essas regiões, por serem abastecidas por rios, facilitaram a irrigação e a produção de

alimentos, motivo pelo qual estão associadas à escolha para construção e desenvolvimento

dessas cidades (MURUCCI, 2014; PORTAL UOL – EDUCAÇÃO, 2014).

Os maias e os astecas foram os maiores responsáveis pela formação dos grandes centros

urbanos, conforme se depreende das informações prestadas por Murucci (2014).

Em Tical, cidade maia localizada na Guatemala, foi encontrada 3000 construções,

com 60% de propriedades residenciais. Em Dzibilchaltun, outra cidade maia em

Lucatã, uma pesquisa realizada em menos da metade da área total da cidade revelou

mais de 1500 construções. Teotihuacán, atualmente ocupada pela cidade do México,

apresentava um número incrível de aproximadamente 100 mil habitantes no

primeiro milênio d.C.

Para Abiko, Almeida e Barreiros (1995), não restam dúvidas de que as primeiras cidades com

características de civilização urbana foram as criadas na Mesopotâmia, Índia e China.

As cidades foram de desenvolvendo, alcançando dimensões expressivas. Atenas, por

exemplo, chegou a possuir 250 mil habitantes; e Roma, enquanto capital do Império Romano,

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atingiu a marca de um milhão de pessoas (FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA, 2003). A

expansão do Império Romano fez com que outras cidades surgissem na África, Grécia, Gália

e Bretanha (PORTAL UOL – EDUCAÇÃO, 2014).

Posteriormente, a queda do Império Romano fez diminuir o ritmo do crescimento das cidades,

algumas inclusive chegaram a desaparecer. Esse fato marcou o início da Idade Média, período

em que ocorreu um retrocesso na urbanização. O poder centralizador cedeu lugar ao sistema

feudal, o qual, por ser fundamentalmente agrário, manteve uma produção autossuficiente,

dando lugar ao consumo (ABIKO; ALMEIDA; BARREIROS, 1995).

A urbanização voltou a crescer após a primeira Revolução Industrial. Inicialmente, o

crescimento demográfico ocorreu na Inglaterra, seguido da França e da Alemanha. Isso

porque “a evolução das técnicas agrícolas, trazidas por ela, permitiu que o trabalho humano

fosse sendo substituído pela força das máquinas”, fazendo com que “que o êxodo rural se

tornasse a maior causa da urbanização nos últimos dois séculos” (PORTAL UOL –

EDUCAÇÃO, 2014). Nesse sentido, “a população a viver nas cidades multiplicava-se por 10,

graças aos progressos científicos, melhores condições de vida, criação de postos de trabalho, e

consequente crescimento econômico”. Tudo isso alavancou o crescimento das cidades

(ABIKO; ALMEIDA; BARREIROS, 1995). Mas foi no século XX que o processo de urbanização realmente se generalizou, graças ao

crescimento da industrialização. Esse crescimento teve relação direta com o aumento da

população que passou a viver nas cidades, tanto que atualmente cinquenta por cento da

população mundial pode ser encontrada nos centros urbanos. (PORTAL UOL –

EDUCAÇÃO, 2014).

3. Origem e trajetória dos jardins verticais

A história aponta os jardins suspensos da Babilônia (Figura 1) como as primeiras referências

desse modelo no mundo. Criados no século VI a.C. por Nabucodonosor II como presente para

sua esposa, os jardins foram construídos sobre o palácio, “acerca de 20 metros de altura e

conformavam-se através de inúmeros terraços arborizados, irrigados a partir do rio Eufrates,

impondo uma cultura botânica e estética” (SOUSA, 2012:33).

Figura 1 – Jardins suspensos da Babilônia

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Fonte: Reis, Algayer, Taglieti (2013)

Reis, Algayer e Taglieti (2013:4) explicam porque os jardins suspensos são considerados os

precursores desse modelo de paisagismo:

Embora, no caso dos Jardins Suspensos, o crescimento das plantas se desse em

plano horizontal, é possível considerá-los os precursores dos jardins verticais, uma

vez que o visual assumido à distância é semelhante ao que encontramos no

paisagismo vertical atual, além do seu sistema ter servido de modelo para a criação

dos processos de plantio e irrigação atuais.

De acordo com Pereira (2014:3), não há “um registro fiel ou vestígios científicos quanto à

configuração e técnica executiva empregada” na construção dos jardins suspensos da

Babilônia.

Desde então, foi possível observar a evolução dos jardins construídos em terraços na

Antiguidade Clássica. São exemplos dessa prática os jardins do Mausoleo de Augusto e o

Castelo de Santo Ângelo, localizados em Roma. A ornamentação de pátios das habitações se

tornou uma prática comum, inclusive nas fachadas das vilas romanas, utilizando-se para tal

flores, árvores, arbustos e plantas trepadeiras, posto que além de deixarem o ambiente

esteticamente mais bonito, minimizavam as amplitudes térmicas (ARAGÃO, 2011).

Aragão (2011) aponta as Turfhouses (Figura 2), na Islândia, como outro exemplo dos

primeiros jardins verticais. Os vikings construíam suas casas com uma estrutura de “madeira

assente numa base de pedra e preenchida por uma espécie de tijolos de terra relvada” e

coberta por bétula, uma árvore nativa da Islândia. Ao utilizar esses materiais, a intenção era

amenizar as extremas condições climatéricas e, ao mesmo tempo, integrar as paredes cobertas

de relvado à paisagem. Esse tipo de construção foi expandido pelos próprios vikings para a

América do Norte (no Canadá), sendo que os Estados Unidos adotaram o mesmo método nas

construções das pradarias no século XIX.

Figura 2 – Turf houses

Fonte: Pereira (2014:5)

Outra obra considerada precursora por Taylor (apud PEREIRA, 2014) é a cidade peruana de

Machu Picchu, construída no século XV. O solo fértil aliado ao clima subtropical permitiu a

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composição de terraços e paredes cobertos pela vegetação, proporcionando uma paisagem

exuberante da cidade no alto de uma montanha.

A evolução dos jardins verticais alcançou a Europa, especificamente na Itália, que passou a

cultivar a videira – planta trepadeira – junto às fachadas das casas. Por ocupar um espaço

menor, fornecer alimentos e oferecer às habitações um maior conforto climático no verão, os

europeus adotaram essa técnica para cultivar outros tipos de frutos. Posteriormente, países

como a França e a Inglaterra também empregaram o mesmo sistema, fazendo com que essa

prática se popularizasse na segunda metade do século XX. A proposta da “cidade jardim”

elaborada por Ebenezer Howard em 1898 for marcante nesse sentido, pois além de aproveitar

as vantagens da cidade e do campo, também tentou evitar o crescimento urbano

desproporcional. Portanto, foi a partir desse momento que a concepção de usar a vegetação

para cobrir os muros pôde ser “considerada como um elemento que prestigia a fachada”

(SOUSA, 2012:38).

A questão ambiental tornou-se tema de preocupação na sociedade entre o final do século XIX

e início do século XX. Nesse contexto, os jardins verticais ganharam espaço, chamando a

atenção dos estudiosos, uma vez que poderiam trazer aos grandes centros urbanos um ganho

sustentável ao desgaste provocado pelo crescimento urbano desordenado (SOUSA, 2012).

Uma obra de referência nesse sentido foi a Casa Scheu (Figura 3), construída por Adolf Loos

em Viena, na Áustria, que utilizou terraços superiores em substituição aos telhados

convencionais e uma cobertura vegetal em uma de suas fachadas (SOUSA, 2012). Noutra

obra – a Casa Steiner –, Adolf Loos também empregou o mesmo recurso, revestindo uma das

fachadas com plantas trepadeiras (PEREIRA, 2014), conforme se observa na Figura 4.

Figura 3 – Casa Scheu

Fonte: Pereira (2014:6)

Figura 4 - Casa Steiner

Fonte: Pereira (2014:6)

Segundo Sarnitz (apud SOUSA, 2012), o arquiteto austríaco foi pioneiro ao colocar em

prática o princípio da cobertura vegetal em terraço e no uso dos jardins verticais (fachadas

verdes), pois combinou esses elementos de maneira que “representassem um símbolo de

liberdade pessoal e proporcionassem uma ‘sensação de ar livre’.”

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Na década de 1930, com a introdução de novas técnicas de construção, a utilização de plantas

trepadeiras em fachadas sofreu um declínio, pois havia certa preocupação com as

consequências trazidas à estabilidade das paredes (SÉGUIN apud PEREIRA, 2014).

Nos Estados Unidos, o uso de jardins verticais foi ainda menos frequente. Lá, o professor de

paisagismo Stanley Hart White da Universidade de Illinois foi pioneiro nesse estudo, tendo

inventado os tijolos botânicos, descritos em 1937 “simplesmente como unidades de plantas

que podiam ser superpostas a qualquer altura, de modo a criarem rápidos efeitos paisagísticos

e superfícies verticais cobertas por trepadeiras floridas ou algo semelhante”. Em 1938 o

professor patenteou sua invenção denominando-a de Vegetation-Bearing Architectonic

Structure and System, “o qual pode ser considerado precursor dos vertical gardens de todo

mundo, estabelecendo precedentes para o modernismo verdejante no pré-guerra do centro-

oeste americano” (HINDLE apud PEREIRA, 2014:6).

No Brasil, a história dos jardins verticais teve início com Roberto Burle Marx na década de

1970. O renomado paisagista desenvolveu vários projetos no exterior, entre eles o Parque Del

Este, situado em Caracas, na Venezuela, que incluíram paredes verdes, sendo que sua

primeira obra brasileira relacionada aos jardins verticais encontra-se na sede do Banco Safra

em São Paulo (Figura 5) além de outras obras como a sede da Xerox do Brasil, no Rio de

Janeiro (Figura 6). Na estrutura vertical desse edifício foram colocadas espécies de plantas

tropicais de porte médio, com mecanismos específicos para absorver a umidade do ar

(JARDINS verticais ..., 2012). Conforme o site Wallgreen (2014), Burle Marx se utilizou de

bromélias, orquídeas e outras epífitas para moldar esculturas naturais e paisagens verticais,

demonstrando sua clara preferência pelas plantas nativas brasileiras, o que mais tarde

consolidou a arquitetura moderna do Brasil.

Figura 5 – Jardim Vertical da sede do Banco Safra,

São Paulo, 1983

Fonte: Finotti (apud GUIMARÃES, 2013:13)

Figura 6 – Jardim Vertical da Sede da Xerox

do Brasil, Rio, 1980

Fonte: Finotti (apud GUIMARÃES, 2013:13)

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Cabe salientar que a técnica de usar plantas trepadeiras em fachadas de edificações em muito

contribuiu para difundir a concepção de jardim vertical, porém, à época se aplicava mais às

construções de até dois andares de altura. Contudo, esse conceito foi modificado pelos

estudos do botânico francês Patrick Blanc referente à parede vegetalizada (mur végétalisé),

por meio da qual era aplicada a mistura de substrato de nutrientes e água sobre as paredes, o

que permitia cultivar plantas fora do solo. Tratava-se, assim, do sistema hidrópico, que

consiste:

Na sobrevivência das plantas em ausência de solo, sendo a água a responsável pela

sua vitalidade. No que confere às paredes vivas, que é um tipo de jardim vertical

explicado no capítulo seguinte, a hidroponia é fundamental, visto que as plantas

dispostas ao longo das paredes, suportadas por materiais como, feltro, turfa ou geo-

têxteis, se alimentam pelos nutrientes que a água lhes faz chegar. Desta forma, a

água é considerada o suporte vital das plantas em soluções hidrópicas (GROULT,

2008 apud SOUSA, 2012:42).

Patrick Blanc é considerado o criador do conceito de jardim vertical e o “representante mais

significativo dos paisagistas que atuam na área”. O botânico cria, por meio da combinação

gráfica de plantas, um mosaico de expressiva complexidade inspirado nos vegetais que se

desenvolvem de forma natural em superfícies rochosas e úmidas. Ele criou um sistema

próprio com painéis de feltro acrílico irrigados automaticamente para reproduzir a vegetação

no sentido vertical tanto no interior quanto no exterior de edificações. Suas obras encontram-

se espalhadas em várias partes do mundo, dentre as quais podem ser citadas a do Musée du

quai Branly, inaugurada em Paris no ano de 2005 (Figura 7), e a do Shopping Dolce Vita em

Lisboa, concluído em 2009 (Figura 8).

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Figura 7 – Jardim Vertical do Musée du quai Branly

Fonte: Blanc (2011 apud Lima Júnior (2014:49)

Figura 8 – Jardim Vertical do Shopping Dolce Vita

Fonte: Costa (2011)

Atualmente, os jardins nos tetos dos edifícios já são amplamente utilizados, principalmente

em alguns países da Europa e da Ásia. Em Cingapura e Hong Kong, essa paisagem é

amplamente difundida por causa da restrição para expansão de suas áreas. Quanto ao uso de

jardins verticais, embora ainda seja considerado incipiente, algumas cidades alemãs, por

exemplo, possuem programas de incentivo à construção ecológica, em que as edificações

possuam fachadas verdes, principalmente com o objetivo de melhorar o clima urbano.

(COSTA, 2011).

4. Conceitos e características dos jardins verticais

Há vários termos atribuídos à designação de cobertura vegetal em edificações: “paredes

verdes, fachadas vivas, jardins verticais, mur vert, mur vegetal, facade garden, living walls,

green curtain, fassadenbegrünung etc.”. Na visão de Costa (2011), a terminologia “jardins

verticais” é a mais adequada, pois engloba todos os demais tipos de paredes cobertas por

vegetação, o que varia de um simples acessório estético de pequeno porte até uma grande área

cultivada por vários tipos de plantas.

Jardim vertical pode ser conceituado como o resultado da intervenção de vegetalizar paredes

internas ou externas de prédios, por meio de técnicas especializadas (REIS, ALGAYER,

TAGLIETI, 2013). Trata-se de um termo que descreve as formas de vegetalização total ou

parcial de fachadas de edifícios, ou seja, anexar plantas às estruturas de engenharia civil e

paredes de prédios (MIR, 2011; OTTELÉ, 2011 apud SOUSA, 2012).

Refere-se a uma nova vertente do paisagismo, uma tendência da nova arquitetura, que designa

a jardinagem urbana, uma vez que é utilizada em espaços de solo limitados e de alto custo.

(REIS, ALGAYER, TAGLIETI, 2013).

No site Wallgreen (2014:1) pode ser encontrada a seguinte definição para jardins verticais:

“[...] uma opção de paisagismo onde as plantas se desenvolvem numa parede ou muro que

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pode ser implantado em ambientes internos e externos, pequenos espaços ou amplas paredes

sem limite de tamanho ou altura, ou seja, as possibilidades são infinitas”.

Inspirado na natureza, os jardins verticais prometem revolucionar a concepção e o uso das

edificações, trazendo benefícios para o clima, melhoria da qualidade do ar, isolamento

térmico, biodiversidade, absorção do dióxido de carbono e, principalmente, impactar

positivamente na saúde da população (SOUSA, 2012).

Loh e Köhler (apud SOUSA, 2012) classificam os sistemas de jardins verticais internos e

externos em três espécies: sistema painel, sistema com superfícies porosas e sistema de

containers ou vasos. O sistema painel comporta o substrato distribuído por câmaras no interior

dos painéis, os quais são pré-plantados e afixados na parede por meio de um suporte de metal

e com um sistema de irrigação. No sistema de superfícies porosas, as plantas são postas em

bolsões com substrato, devidamente impermeabilizados com policloreto de vinila (PVC) e

mantidos umedecidos constantemente. O sistema de containers ou vasos compreende o

cultivo de plantas em recipientes, sendo que estas podem subir por treliças e sua irrigação é

feita por gotejamento, através de sensores dentro dos recipientes que permitem controlar a

água e os nutrientes. Já Costa (2011) divide os jardins verticais em duas categorias: fachadas verdes e paredes

vivas. Nas fachadas verdes, o sistema empregado é mais simples e depende do substrato para

que as plantas sobrevivam, ou seja, as plantas são fixadas ao substrato em caixas ao longo da

parede. Nas paredes vivas, o sistema é mais complexo (semelhante ao inventado por Patrick

Blanc); é produzido no próprio local e consiste no plantio em camadas de feltro atreladas à

estrutura de PVC, requerendo um eficiente sistema de rega, uma vez que as plantas possuem

características que lhes permitem desenvolver sem a presença do substrato. A classificação de

Costa (2011) pode ser observada na Figura 9.

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Figura 9 – Tipos de jardins verticais

Fonte: Sousa (2012:62) 5. Pressupostos técnicos

Diante da classificação adotada por Costa (2011), passa-se agora à avaliação técnica das

fachadas verdes e das paredes vidas.

5.1. Fachadas verdes

Conforme já mencionado, o cultivo feito nas fachadas verdes requer o uso de um sistema

hidropônico para que as plantas se desenvolvam de forma aderente.

Costa (2011) explica que o modo de cultivo da vegetação pode variar, isto é, a planta pode ser

fixada em qualquer tipo de solo, por “auto-apego”, independente do solo e em caixas de

substrato.

5.1.1. Fachada verde plantada no solo

Embora seja considerado o sistema mais simples, apresenta a desvantagem da lentidão no

tempo dispendido para que a fachada seja inteiramente coberta pela vegetação, dependendo

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ainda do tipo de planta e da altura da fachada. Subdivide-se em sistemas de plantas de auto-

apego (diretamente na parede) e sistemas de plantas que precisam de estruturas de suporte

complementares (indiretamente na parede).

No plantio por “auto-apego”, são utilizadas trepadeiras com capacidade de aderir à fachada,

principalmente quando a parede tem superfície rugosa; entretanto, em alguns casos, suas

raízes podem danificar a parede.

Quando a planta – que deve ser trepadeira – não possui capacidade de aderir à parede, deve

ser empregado o sistema de cabos ou painéis modulares, que servirão para orientar o seu

crescimento (Figuras 10 e 11). Tem a “vantagem de contribuir com o resfriamento da

superfície, que é possível por conta da camada de ar que é criada pelo afastamento entre a

parede e o sistema orientador das plantas”, além de auxiliar na “preservação da estrutura e

acabamento da parede”. (COSTA, 2011).

Figura 10 – Fachada Verde em painel modular

Fonte: Mir (2011 apud SOUSA, 2012:65)

Figura 11 – Fachada verde em sistema de cabos

Fonte: GreenRoofs (2008 apud SOUSA, 2012:65)

5.1.2. Fachada verde em caixa suspensa de substrato

As espécies plantadas em caixas têm acesso à quantidade de substrato colocada nos

recipientes; este sistema, além de promover um bom desenvolvimento da vegetação também

traz a vantagem de ser facilmente mantido, apesar de a frequência das regas ser maior. Costa

(2011) expõe que esse sistema comporta um ou mais níveis de substrato, o que limita o

crescimento das plantas na vertical e na horizontal, logo se a parede for grande “devem ser

usadas caixas de substrato de dois ou mais níveis, os quais aceleram o processo de

preenchimento”. As caixas de substrato são posicionadas na margem das fachadas, das

coberturas ou em sistemas de suspensão.

A Figura 12 demonstra esses tipos de fachada verde.

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Legenda: a) auto-apego; b) com dependência da parede; c) em caixa de substrato de

1 nível e d) caixa de substrato de 2 ou mais níveis.

Figura 12 – Tipos de fachada verde

Fonte: Sousa (2012:64)

5.2. Paredes vivas

Diferentemente das fachadas verdes, no sistema de paredes vivas são requeridas técnicas mais

complexas, incluindo cuidados maiores com a manutenção e a execução de regas com mais

frequência. Contudo, permite a formação de jardins verticais com interessantes jogos de

plantas (PEREIRA, 2012).

Figura 13 – Exemplo de parede viva no museu de QuaiBranly, em Paris

Fonte: Vialard (2010 apud SOUSA, 2012:69)

Esse sistema é montado no local ou é pré-fabricado. Nele são utilizados materiais e outras

técnicas (sistema hidrópico, substrato leve, muro-cortina etc.) que facilitam a sobrevivência

da planta na parede. O uso do substrato, por exemplo, é reduzido de modo a diminuir o peso

total do jardim e assegurar o equilíbrio da estrutura, por isso há necessidade de constantes

regas (GARRIDO apud SOUSA, 2012).

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5.2.1. Sistema produzido no local

A montagem direta nas paredes, também conhecida por in situ, é feita por meio da aplicação

de camadas de feltro, lã-de-rocha ou outros materiais geotêxtis, que “substituem o substrato

como suporte e armazenamento de nutrientes para a vegetação” (PEREIRA, 2014:10). Assim,

opta-se por plantas que cresçam rapidamente, com dimensões reduzidas e que combinem

biologicamente entre si. Garrido (apud SOUSA, 2012) recomenda o uso de espécies nativas e

com alta capacidade de adaptação ao tipo de ambiente.

A técnica de sistema hidrópico, amplamente utilizada por Patrick Blanc, é a mais simples e é

executada da seguinte maneira:

A sua estrutura consiste na instalação de ripas verticais (e algumas horizontais)

sobre o muro, com a finalidade de obter uma superfície perfeitamente vertical e

independente da parede, a fim de garantir afastamento entre a parede e a estrutura

verde, para a circulação de ar. Sobre este sistema de ripas fixa-se um painel de

polietileno reticular ou PVC. Este painel tem a finalidade de suportar as camadas de

feltro armado que aguentará o peso das plantas. Em geral, com este sistema, pode-se

colocar uma média de 20-30 plantas/m² (GARRIDO apud SOUSA, 2012:70).

Sousa (2012) aponta como vantagens desse sistema: o reduzido peso e a facilidade de suporte

na parede, além da fácil adaptação a diferentes edifícios e tipos de parede ou vãos. Todavia,

tem como desvantagens: custo elevado; grande consumo de água e nutrientes; necessidade de

um sistema complexo de rega e filtragem; sensibilidade às falhas da rega, podendo incorrer no

perecimento das plantas; grande reposição de plantas por secagem; alto custo de manutenção.

O sistema de substrato leve tem estrutura semelhante ao hidrópico, porém se diferencia na

cobertura das ripas, sobre as quais são colocadas “bandejas com pequenas quantidades de

substrato, onde são introduzidas as raízes das plantas”, o que permite uma densidade superior

se comparada ao sistema hidrópico. A rega desse sistema deve ser feita por gotejamento,

ensejando um baixo consumo de água, que por sua vez requer menor quantidade de

nutrientes, os quais podem ser acumulados no substrato (SOUSA, 2012).

As vantagens desse sistema descritas por Garrido (apud SOUSA, 2012) são: baixo consumo

de água, reciclagem de água da chuva; desnecessidade de sistema de recolha inferior de água

e reciclagem; baixo custo de manutenção, preço moderado e menor reposição de plantas.

Como desvantagem, o autor expõe a lenta instalação e a necessidade de mão de obra

especializada.

No sistema de muro-cortina a montagem é considerada mais simples. Assim, são colocados

montantes metálicos verticais (perfil em ômega) sobre o muro do edifício que são presos a

montantes horizontais (alumínio reciclado e perfurado), sendo que estes servirão para

sustentar o substrato e fornecer água. A rega é feita por entre os perfis (SOUSA, 2012).

Nesse sistema é possível combinar vidro, vegetação e outros tipos de material de forma

homogênea. Também permite utilizar uma média de 80 a 100 plantas de tamanhos reduzidos

por metro quadro. Apresentam como vantagens: simplicidade e rapidez na instalação; baixo

consumo de água e nutrientes; reaproveitamento de águas pluviais nas regas; pequena

incidência de falhas nas regas e baixo custo em função da pouca manutenção (GARRIDO

apud SOUSA, 2012; PEREIRA, 2014).

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5.2.2. Sistemas pré-fabricados

Os sistemas pré-fabricados são produzidos por várias empresas de maneira relativamente

simples. A título de exemplos, serão descritos algumas dessas montagens.

a) Caixas de substrato: confeccionadas em materiais leves, compreendem módulos verticais

de plástico, com baixa capacidade de armazenamento para diminuir o peso; são fixadas por

estruturas de aço presas à parede através de parafusos. Os recipientes plásticos têm a

função de armazenar o substrato da planta, a água e seus nutrientes. Sistema de rega

funciona por meio de tubulação posicionada na parte superior do jardim, através de uma

“pequena torneira por coluna de módulos que distribui a água para os recipientes em um

efeito cascata”, possibilitando o controle do desperdício (PEREIRA, 2014:12).

b) Caixas de suporte plástico: são compostas por módulos plásticos (vasos de vários

formatos) nos quais são aplicadas as plantas, e, posteriormente, são facilmente instalados

nas paredes. Com estrutura de sustentação individual, os vasos se encaixam em qualquer

tipo de parede. Portanto, cada módulo suporta seu próprio peso, sem sobrecarga para a

estrutura, o que os tornam ideais para paredes altas (SOUSA, 2012). Conta com

gotejadores individuais, o que evita o desperdício de água (PEREIRA, 2014).

c) Painéis de alumínio: compreendem uma “série de painéis modulares de espuma branca

obtida através de resina de aminoplásto (organitos que podem aparecer em algumas células

vegetais), que servirá de substrato às plantas”. De confecção rápida e fácil instalação, esse

sistema permite um processo de rega automática, através do gotejamento por gravidade.

Pode ser usado em qualquer tipo de parede e superfícies internas e externas (SOUSA,

2012:77).

d) Blocos cerâmicos: sua composição compreende “tijolos pré-fabricados, não-estruturais,

com cavidade própria para a colocação de substrato para plantas”. A fixação das peças

deve ser feita com argamassa de cimento na parede estrutural, devidamente

impermeabilizada, para evitar infiltrações. Com um custo reduzido e fácil montagem, sua

única desvantagem é seu uso em paredes de até 2,5 metros de altura. (PEREIRA, 2014:12).

A Figura 14 ilustra os sistemas pré-fabricados.

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a) Corte explicativo de Parede Viva

Hidrópica: 1. Água;

2. Camada de feltro ou outro;

3. Ripa horizontal; 4. Raiz;

5. Grampo metálico;

6. Camada de polietileno ou PVC; 7. Caixa-de-ar ventilada;

8. Vegetação;

9. Isolamento térmico; 10. Parede estrutural

b) Corte explicativo de Parede Viva

de Substrato Ligeiro: 1. Ripa horizontal;

2. Água; 3. Vegetação;

4. Raízes da vegetação;

5. Bandeja de polietileno; 6. Substrato;

7. Tela de filtro geotêxtil; 8. Parede estrutural;

9. Isolamento térmico;

10. Caixa-de-ar ventilada;

11. Sistema de rega

c) Corte explicativo de Parede Viva

tipo Muro Cortina 1. Montante vertical de perfil Ω; 2. Painel de polietileno;

3. Travessão horizontal em alumínio;

4. Parafuso de fixação da malha; 5. Camada de feltro;

6. Malha de aço;

7. Substrato; 8. Vegetação;

9. Raízes da vegetação;

10. Isolamento térmico;

11. Caixa-de-ar;

12. Parede estrutural;

13. Sistema de rega; 14. Água

Figura 14 – Cortes explicativos de paredes vivas

Fonte: Garrido (2011 apud SOUSA, 2012:70-74)

Outro método que vem sendo utilizado com frequência no Brasil nos últimos tempos, segundo

Pereira (2014), é o do jardim vertical em parede-canguru. Formado por containers de floreiras

ou vasos, esse sistema é projetado para reservar água e repassar o que exceder ao vaso

posicionado logo abaixo, criando um efeito “cascata” até chegar ao último recipiente. Trata-se

de sistema cuja rega é determinada por um controlador automático ligado à rede de água,

podendo ser utilizado em jardins internos, terraços e fachadas.

6. Manutenção de jardins verticais

Por se tratarem de sistemas vivos, os jardins verticais de fachadas verdes e paredes vivas

requerem manutenção periódica. Tais manutenções englobam podas, adubações, limpeza e

substituição de plantas. Contudo, a manutenção dependerá do tipo de jardim e das espécies

cultivadas. Para o botânico Patrick Blanc (apud SOUSA, 2012:83), quanto maior a

diversidade de espécies, maior longevidade terá o jardim vertical, pois, segundo ele, trata-se

de um pequeno “ecossistema independente, um espaço silvestre dentro de um ambiente

urbano, altamente artificial”.

A manutenção do jardim vertical pode ser feita de maneira direta (com a poda ou a

requalificação do sistema) e indireta (rega ou adubação) (OTTELÉ apud SOUSA, 2012).

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Nos jardins verticais de fachadas verdes, as plantas utilizadas são trepadeiras e videiras, o que

implica em uma variedade maior de manutenção. Os processos de rega e adição de nutrientes

são frequentes; entretanto, a poda e a educação dos ramos para controle e direcionamento da

vegetação são menores. Quanto aos sistemas de cabos como de painéis modulares, estes

devem ser constantemente inspecionados, reajustados ou substituídos para garantir a plena

saúde do sistema. Caso a manutenção não seja feita, poderão ocorrer danos na fachada verde

ou no próprio edifício, além do ressecamento de algumas plantas (SOUSA, 2012).

Nos jardins verticais de paredes vivas, a manutenção deve ser mais frequente e intensa em

função da densidade e diversidade de vida das plantas. Todavia, irá depender também da

estética e da fluorescência pretendida (MIR apud SOUSA, 2012). A adição de nutrientes e a

rega devem ser feitas constantemente, mas a quantidade irá variar conforme a espécie. A poda

é outra manutenção a ser executada; o processo é de longo prazo e sua frequência depende

“[...] das plantas e sistema em causa”. Além disso, algumas plantas devem ser substituídas,

seja por causa da sua “seca” ou “eventuais arranjos no seu sistema de suporte”.

Em suma, a manutenção estrutural deve ser feita, preventivamente, em todos os tipos de

jardins verticais, caso contrário as consequências podem ser desastrosas, variando desde a

perda do jardim até o comprometimento da estrutura do edifício.

7. As vantagens e desvantagens dos jardins verticais

Na concepção de Pereira (2014) e Sousa (2012), ainda há dúvidas sobre a compreensão das

vantagens e das desvantagens dos jardins verticais, inclusive sobre a sua relação

custo/benefício, principalmente por causa da pouca exploração do assunto. Contudo, os

autores procuraram dividir os benefícios por categorias, a saber: comuns, específicos,

públicos e privados. Os comuns estão presentes em todos os tipos de jardins verticais;

enquanto os específicos se referem “a algum tipo ou técnica utilizada”; os públicos dizem

respeito a tudo que está ligado ao ambiente externo; já os privados são os que se situam

dentro das edificações.

Desse modo, dentre os benefícios públicos trazidos pelos jardins verticais, podem ser citados:

a) Redução do efeito ilha de calor, já que promove processos de arrefecimento

natural, reduzindo as temperaturas nas áreas urbanas;

b) Aumento da biodiversidade, porque recria sistemas semelhantes a ambientes

naturais, resgatando paisagens e meios importantes para a fauna e a flora;

c) Melhoria da qualidade do ar exterior, uma vez que captura partículas poluentes,

filtra gases nocivos, absorve gás carbônico (CO2) e libera oxigênio (O2), estimando-

se que uma fachada verde de 80 m² pode absorver até 60 kg/ano de CO2; e

d) Estética do edifício, pois contribui para uma paisagem urbana com características

mais naturais, criando oportunidade de maior contato com a natureza no cotidiano e

favorecendo o bem-estar das pessoas à sua volta. ( PEREIRA, 2014).

No que se referem aos benefícios privados, as vantagens são:

a) Eficiência energética melhorada, pois aprisiona uma massa de ar dentro da

camada vegetal; limita a circulação de calor por meio de densas massas de

vegetação; reduz a temperatura ambiente através do sombreamento e do processo de

evapotranspiração das plantas; e pode criar um amortecedor contra o vento durante

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os meses de inverno, além de reduzir a energia associada ao aquecimento e

resfriamento do ambiente;

b) Proteção da estrutura do edifício, já que protege os acabamentos exteriores da

radiação ultravioleta (UV), assim como dos elementos e flutuações de temperatura

que desgastam os materiais,garantindo assim melhor proteção contra as intempéries;

c) Melhoria na qualidade do ar interior, porque captura poluentes do ar, tais como

poeira e pólen, além de filtrar gases nocivos e partículas de tapetes, móveis e outros

elementos de construção; e

d) Melhoria acústica, uma vez que promove o isolamento contra ruídos e diminui as

reflexões sonoras. (PEREIRA, 2014).

Portanto, os jardins verticais podem ser o diferencial no futuro do ambiente urbano, pois além

de suprir a falta de superfícies verdes, podem ser uma forma alternativa para aumentar a

biodiversidade e melhorar a qualidade do ar nesse meio. Do mesmo modo, oferecem certos

benefícios para os edifícios, que tendem a se tornar mais sustentáveis, podendo até mesmo

trazer um retorno financeiro com a diminuição do consumo de energia (SOUSA, 2012).

Para Pereira (2014), tais benefícios também podem variar diante de algumas condições, como

é o caso da “densidade de folhagens, a localização da parede e a escala do projeto.”

Em relação às desvantagens, a mais comum, no entendimento dos especialistas, é o custo-

benefícios, ou seja, a construção e a manutenção desses jardins não são compatíveis com os

benefícios, até porque a técnica inferida nesses projetos é bem maior que a utilizada em um

jardim convencional, pois envolvem profissionais especializados, reposição de plantas, grande

necessidade de regas e nutrientes e reparos no sistema (PEREIRA, 2014; SOUSA, 2012).

8. Conclusão

Apesar da pouca disponibilidade de bibliografia sobre o assunto, o artigo se propôs a

apresentar um panorama sobre a utilização dos jardins verticais em paredes nuas e sua

importância para suprir a falta de áreas verdes nos grandes centros urbanos. Embora ainda

seja um elemento incipiente no Brasil, os jardins verticais já despontam como uma das

grandes inovações para melhorar o ambiente urbano, como já vem acontecendo em vários

países. Do conceito apresentado, pôde-se extrair que se trata da vegetalização de paredes

internas e externas de prédios, por meio de técnicas especializadas.

O estudo mostrou que essa técnica, na verdade, teve início na Antiguidade Clássica,

exemplificada pelos jardins suspensos da Babilônia, e ao longo dos anos foi se aprimorando

por novas pesquisas aplicadas em países como a Irlanda, Canadá, Itália entre outros.

Contudo, no Brasil, tal técnica demorou a ser implantada, sendo que a primeira experiência

com fachadas verdes só foi empregada nos anos 1970, pelo paisagista Roberto Burle Marx.

Foram apresentadas duas categorias de jardins verticais: as fachadas verdes, considerado o

sistema mais simples, pois as plantas (trepadeiras) são fixadas em caixas com substrato e estas

colocadas ao longo das paredes; e as paredes vivas, cujo plantio é feito no próprio local

através de camadas de feltro atreladas à estrutura de PVC.

Foi possível conhecer os principais sistemas de plantio, entre os quais estão o hidrópico, o

substrato leve e muro-cortina; discorrer sobre as técnicas e materiais disponíveis, os quais

evoluíram bastante, desde os sistemas de impermeabilização e aplicação até os sistemas de

cultivo e irrigação, bem como a manutenção desses jardins, que é feita por podas, adubações,

limpeza e substituição de plantas.

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A pesquisa também expôs como principais vantagens: a sustentabilidade, a melhoria do clima,

da qualidade do ar, da acústica e da biodiversidade; e como maior desvantagem o fator custo-

benefícios, pois se tratam de projetos de custo elevado.

Em suma, infere-se que os jardins verticais são uma ótima alternativa para a arquitetura

moderna, pois incorporam uma nova tendência muito defendida nos dias atuais, que é aliar o

crescimento urbano às questões ambientais, priorizando o conceito de sustentabilidade.

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