Jerónimo mudou de opinião a respeito do cânon do Antigo Testamento?

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  • 7/31/2019 Jernimo mudou de opinio a respeito do cnon do Antigo Testamento?

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    Jernimo mudou de opinio a respeito do cnon doAntigo Testamento?

    Num artigo de James Akin e traduzido para portugus pode ler-se:

    Alm do mais, deve ser documentado que em anos mais tardeJernimo de fato aceitou certos deuterocannicos como inspirados. Emsua resposta a Rufino, ele defendeu bravamente as partesdeuterocannicas de Daniel mesmo que os judeus de seu tempo no ofizessem.

    Ele escreveu, "Que pecado eu cometi se segui o julgamento da Igreja?Mas ele que traz acusaes contra mim por relatar as objees a queos judeus estavam acostumados a formar contra a histria de

    Susana... e a histria de Bel e o drago, que no se acham nosvolumes hebraicos, provam que ele apenas um bajulador insensato.Eu no estava relatando minha prpria viso, mas antes as questesque eles (os judeus) estavam acostumados a fazer contra ns" (ContraRufinus 11,33 [402 d.C.]). Desta forma Jernimo reconheceu oprincpio pelo qual o cnon foi fixado: o julgamento da Igreja, no dosjudeus.

    Ora, esta uma vergonhosa deturpao que os apologistas catlicosfazem do pensamento de Jernimo, que revela bem a sua falta de

    honestidade intelectual.

    Vejamos todo o texto de Jernimo e todo o seu contexto. A parte emnegrito a poro citada pelo apologista catlico.

    Em relao a Daniel a minha resposta ser que eu no disse que eleno era um profeta, pelo contrrio, eu confessei no incio do Prefcioque ele era um profeta. Mas queria mostrar qual era a opiniodefendida pelos judeus, e quais eram os argumentos em que eles quese baseavam para a sua prova. Eu tambm disse ao leitor que a

    verso lida nas igrejas crists no era a dos tradutores daSeptuaginta, mas a de Teodocio. verdade, eu disse que a versoSeptuaginta era neste livro muito diferente do original, e que ela foicondenada pelo recto julgamento das igrejas de Cristo, mas a culpano foi minha que apenas afirmei o facto, mas daqueles que leram averso. Temos quatro verses escolha: a de quila, de Smaco, dosSetenta, e de Teodocio. As igrejas escolheram ler Daniel na verso deTeodocio. Que pecado eu cometi seguindo o julgamento dasigrejas? Mas quando eu repito aquilo que os judeus dizemcontra a Histria de Susana e o Hino dos trs jovens, e as

    fbulas de Bel e o drago, que no esto contidas na Bbliahebraica, o homem que faz disto uma acusao contra mim

    http://www.bibliacatolica.com.br/historia_biblia/56.phphttp://www.bibliacatolica.com.br/historia_biblia/56.php
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    mostra ser um tolo e um caluniador, porque eu no expliquei oque pensava, mas o que eles habitualmente dizem contra ns.Eu no respondi sua opinio no Prefcio, porque estava a serconciso, e temia que parecesse que estava a escrever no um Prefciomas um livro. Por isso disse, Quanto a isso este no o momento

    para entrar em discusso. De outra forma, uma vez que eu afirmeique Porfrio disse muitas coisas contra este profeta, e chamei, comotestemunhas deste, Metdio, Eusbio e Apolinrio, que responderam sua estultcia em muitos milhares de linhas, tambm poder acusar-me por no ter escrito no meu Prefcio contra os livros de Porfrio. Sehouver algum que d ateno a coisas tolas como esta, devo dizer-lhe em alto e bom som e livremente que ningum obrigado a ler oque no quer, que eu escrevi para aqueles que me pediram, no paraaqueles que escarnecem de mim, para os agradecidos no para osqueixosos, para os zelosos no para os indiferentes. Contudo, admiro-

    me que um homem possa ler a verso de Teodocio o herege ejudaizante, e possa desdenhar a de um cristo, ainda que simples epecador. (Contra Rufino, II; 33)[www.ccel.org]

    O contexto imediato o Prefcio de Jernimo ao livro de Daniel[www.ccel.org]. Os trs livros de Jernimo contra Rufino so umaresposta a um nmero de acusaes especficas e pessoais de Rufinocontra Jernimo escritas naApologia [www.ccel.org] endereada a umamigo comum Apropianus.

    Vejamos ento qual a acusao e a resposta que Jernimo d.

    Diz Rufino na Apologia:

    Eu no tenho nada a ver com uma verdade que os Apstolos noaprovaram. Estas so as tuas prprias palavras: "Os ouvidos doshomens simples entre os latinos no devem, aps 400 anos sermolestados pelo som de novas doutrinas". Ora tu prprio dizes:"Todos tm estado num erro ao pensarem que Susana proporcionouum exemplo de castidade para os casados e os solteiros. No verdade. E todos ao pensarem que o jovem Daniel foi cheio do Esprito

    Santo e condenou os homens adlteros, tm estado num erro. Issotambm no foi verdade. E cada congregao pelo universo, sejadaqueles que esto no corpo ou daqueles que j partiram para estarcom o Senhor, mesmo que tenham sido santos mrtires ouconfessores, todos os que cantaram o Hino dos trs jovens estiveramem erro, e cantaram o que falso. (A Apologia de Rufino, III:35)[www.ccel.org]

    Rufino acusa Jernimo de dizer que 1) Daniel no um profeta, 2) quea histria de Susana no verdadeira, 3) que a histria do cntico dos

    trs jovens no uma histria verdadeira. Rufino alega que Jernimo

    http://www.ccel.org/ccel/schaff/npnf203.vi.xii.ii.xxvii.htmlhttp://www.ccel.org/ccel/pearse/morefathers/files/jerome_preface_daniel.htmhttp://www.ccel.org/ccel/schaff/npnf203.vi.xi.i.htmlhttp://www.ccel.org/ccel/schaff/npnf203.vi.xi.iii.xl.htmlhttp://www.ccel.org/ccel/schaff/npnf203.vi.xii.ii.xxvii.htmlhttp://www.ccel.org/ccel/pearse/morefathers/files/jerome_preface_daniel.htmhttp://www.ccel.org/ccel/schaff/npnf203.vi.xi.i.htmlhttp://www.ccel.org/ccel/schaff/npnf203.vi.xi.iii.xl.html
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    faz estas afirmaes contra o que entendido pela Igreja comoverdade. Jernimo responde a estas erradas afirmaes e diz:

    Em relao a Daniel a minha resposta ser que eu no disse que eleno era um profeta, pelo contrrio, eu confessei no incio do Prefcio

    que ele era um profeta. Mas queria mostrar qual era a opiniodefendida pela judeus, e quais eram os argumentos em que eles quese baseavam para a sua prova. Eu tambm disse ao leitor que averso lida nas igrejas crists no era a dos tradutores daSeptuaginta, mas a de Teodocio. verdade, eu disse que a versoSeptuaginta era neste livro muito diferentedo original, e que ela foicondenada pelo recto julgamento das igrejas de Cristo, mas a culpano foi minha que apenas afirmei o facto, mas daqueles que leram averso. Temos quatro verses escolha: a de quila, de Smaco, dosSetenta, e de Teodocio. As igrejas escolheram ler Daniel na verso de

    Teodocio. Que pecado eu cometi seguindo o julgamento dasigrejas?(Contra Rufino, II:33) [www.ccel.org]

    Agora j se pode ver que a pergunta retrica de Jernimo Que pecadoeu cometi seguindo o julgamento das igrejas? no seu contexto temum significado muito diferente. Na verdade, a pergunta que ele faz referente verso do texto grego usada nas igrejas, no aocnon bblico usado nas igrejas.

    Diz que no condenou Daniel como profeta (como Rufino afirmava)

    mas a verso grega de Daniel traduzida pela Septuaginta que seopunha verso de Teodocio. Jernimo diz que a traduo daSeptuaginta era muito diferente do original (que seria em hebraico) eacreditava que a verso de Teodocio era a melhor. As igrejasescolheram ler esta verso, e ele concorda com as igrejas. Que pecadoele cometeu? Que pecado as igrejas poderiam encontrar nele se eleconcordava com elas? A resposta para ambas as questes : Nenhum.

    Jernimo prossegue e passa a responder acusao de Rufino de queele acreditava que as histrias dos ltimos captulos de Daniel eram

    falsas, chamando o acusador de tolo e caluniador e que tem a certezaque o leitor perceber que ele estava a referir o pensamento de algunsjudeus e no o seu prprio pensamento. Jernimo diz:

    porque eu no expliquei o que pensava, mas o que eles habitualmentedizem contra ns

    Mas por que razo Jernimo no respondeu a estas acusaes dosjudeus no prefcio de Daniel. Ele explica.

    Eu no respondi sua opinio no Prefcio, porque estava a serconciso, e temia que parecesse que estava a escrever no um Prefcio

    http://www.ccel.org/ccel/schaff/npnf203.vi.xii.ii.xxvii.htmlhttp://www.ccel.org/ccel/schaff/npnf203.vi.xii.ii.xxvii.html
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    mas um livro. Por isso disse, Quanto a isso este no o momentopara entrar em discusso.

    Mas, ento, qual foi o momento em que Jernimo entrou emdiscusso sobre a verso mais longa de Daniel e podemos ver o

    que pensava da histria de Susana e da histria de Bel e odrago?

    A resposta a isto a podemos encontrar no seu comentrio sobre Daniel[www.ccel.org] escrito no ano 407, cinco anos aps a disputa comRufino:

    Mas entre outras coisas, devemos reconhecer que Porfrio faz-nos estaobjeco sobre o Livro de Daniel, que ele claramente uma fraude queno deve ser considerado como pertencente s Escrituras Hebraicas

    mas uma inveno composta em grego.Isso elededuzdo factode quena histria de Susana, onde Daniel est a falar com os ancios,encontramos as expresses: "Para dividir da rvore de aroeira" (apotou skhinou skhisai) e viu no carvalho sempre verde (kai apo touprinou prisai), um jogo de palavras apropriadas para o grego, em vezde para o hebraico. Mas tanto Eusbio como Apolinrio responderam-lhe aps o mesmo teor, que as histrias de Susana e de Bel e oDrago no esto contidas no hebraico, mas constituem uma parte daprofecia de Habacuque, filho de Jesus, da tribo de Levi. Assim comoencontramos no ttulo dessa mesma histria de Bel, segundo a

    Septuaginta, "Havia um certo sacerdote chamado Daniel, filho deAbda, um ntimo do rei da Babilnia". E, no entanto, a SagradaEscritura testifica que Daniel e os trs jovens hebraicos eram da tribode Jud. Por esta mesma razo, quando eu traduzi Daniel muitos anosatrs, assinalei essas vises com um smbolo crtico,demonstrando que elas no estavam includas no hebraico.E aeste respeito, estou surpreendido ao ser informado de que certoscrticos reclamam que eu por minha prpria iniciativa trunquei olivro. Afinal de contas, quer Orgenes, Eusbio e Apolinrio e outroshomens da Igreja proeminentes e doutores da Grcia reconhecem que,

    como eu disse, estas vises no so encontradasentre os hebreus, eque portanto eles no so obrigados a responder a Porfrio porestas partes que no exibem autoridade como SagradaEscritura.

    As adies s Escrituras hebraicas - a histria de Susana, o hino dostrs jovens, e as fbulas de Bel e o Drago - j tinham sido colocadasem anexo na Vulgata por Jernimo assinaladas com um "Obelus" que um smbolo crtico usado em manuscritos antigos para marcar umapassagem questionvel, como se pode ler no seu prefcio ao livro deDaniel.

    http://www.ccel.org/ccel/pearse/morefathers/files/jerome_daniel_02_text.htmhttp://www.ccel.org/ccel/pearse/morefathers/files/jerome_daniel_02_text.htm
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    De Susana investigando o uso de um jogo de palavras Grego,Jernimo diz:

    Mas se tal derivao no pode ser encontrada, ento ns tambmestamos necessariamente forados a concordar com o veredicto

    daqueles que afirmam que este captulo [grego percope] foioriginalmente composto em grego, porque contm etimologia gregano encontrada em hebraico. [Ou seja, porque Daniel por duasvezes faz um sinistro jogo de palavras com base nos nomes gregosdestas duas rvores, e um trocadilho semelhante no poderia ser feitoa partir dos nomes hebraicos, se houvesse, destas rvores, a prpriahistria nunca poderia ter sido composta em hebraico.] Mas sealgumconseguir mostrar que a derivao das ideias de divisoe corte a partir dos nomes das duas rvores em questo vlida em hebraico, ento podemos aceitar esta escritura

    tambm como cannica.

    Aqui Jernimo faz um comentrio retrico. O jogo de palavras impossvel em hebraico, e Jernimo sabe-o. Diz que ningum podedemonstrar que o jogo de palavras possvel em hebraico, de modoque esta poro de Daniel no pode ser aceite como cannica.Voltemos a Jernimo:

    A declarao da Escritura nesta passagem: "Ele clamou com grandevoz", pode parecer, devido sua referncia a um idlatra ignorante de

    Deus, refutar a observao mencionada pouco atrs, que a expresso"grande voz" encontrada apenas em ligao com os santos. Estaobjeco facilmente resolvida, afirmando que esta particular

    histria no est contida no hebraico do Livro de Daniel. Se, no

    entanto, algum for capaz de provar que ela pertence ao cnon,

    ento seremos obrigados a procurar alguma resposta para esta

    objeco.

    Perante isto o que se pode pensar de algum que diz que Jernimo

    "defendeu bravamente as partes deuterocannicas de Daniel" e quemudou de posio?. No! Jernimo no mudou de posio! exactamente o contrrio.

    Problemas lingusticos e histricos mostram que "as partesdeuterocannicas de Daniel" no so de origem hebraica, mas grega.Foram uma adio posterior ao texto, rejeitada pelos judeus. Por issoJernimo ope-se categoricamente verso mais longa de Daniel e incluso da histria de Susana e da histria de Bel e o drago nocnon!!!

    Para uma resposta mais completa ver aqui

    http://theologica.ning.com/profiles/blog/show?id=2124612%3ABlogPost%3A227705http://theologica.ning.com/profiles/blog/show?id=2124612%3ABlogPost%3A227705
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