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CÂNON BÍBLICO - FTBB - Prof. Marcos Alexandre - 1º Sem/2003 AULA 1 - Capítulos 1, 2 e 5. "Bibliologia" = "a doutrina das Escrituras" - Teologia Sistemática - A Doutrina das Escrituras é a base e a fonte de todas as demais doutrinas. (SOLA SCRIPTURA) 1. DEFINIÇÃO BÍBLIA – BIBLOS (s) = livro, rolo - Ex. Mt 1.1 Biblia plural de Biblos = "bíblia" = "livro", diminutivo = Biblion = "livrinho". Biblos = cidade fenícia, importante produtora de papiro e papel antigo. Originariamente era o nome que se dava à casca de um papiro do século XI a.C. A designação formal de Bíblia é tão velha quanto a própria Escritura (2 Tm 4.13): "Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros( ta. bibli,a) , principalmente os pergaminhos", refletindo a grande importância que lhe era atribuída. Séc. II DC - os cristãos gregos já referiam às escrituras sagradas como Ta Bíblia = "os livros". Na versão Latina, este título lhe foi transferido no singular: Biblos = "o livro", se referindo à Bíblia. Na LXX, é usado Biblioi = "livros" 1 Mc 1.57 = "um livro da aliança" (bibli¿on diaqh/khj) 1 Mc 12.9 = "os livros santos" (ta\ bibli¿a ta\ aÀgia)

Cânon bíblico

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CÂNON BÍBLICO - FTBB - Prof. Marcos Alexandre - 1º Sem/2003

AULA 1 - Capítulos 1, 2 e 5.

 

"Bibliologia" = "a doutrina das Escrituras" - Teologia Sistemática

- A Doutrina das Escrituras é a base e a fonte de todas as demais doutrinas. (SOLA SCRIPTURA)

1. DEFINIÇÃO

BÍBLIA – BIBLOS (s) = livro, rolo - Ex. Mt 1.1

Biblia plural de Biblos = "bíblia" = "livro", diminutivo = Biblion = "livrinho".

Biblos = cidade fenícia, importante produtora de papiro e papel antigo.

Originariamente era o nome que se dava à casca de um papiro do século XI a.C.

A designação formal de Bíblia é tão velha quanto a própria Escritura (2 Tm 4.13):

"Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros( ta. bibli,a) , principalmente os pergaminhos", refletindo a grande importância que lhe era atribuída.

Séc. II DC - os cristãos gregos já referiam às escrituras sagradas como Ta Bíblia = "os livros".

Na versão Latina, este título lhe foi transferido no singular: Biblos = "o livro", se referindo à Bíblia.

Na LXX, é usado Biblioi = "livros" 1 Mc 1.57 = "um livro da aliança" (bibli¿on diaqh/khj) 1 Mc 12.9 = "os livros santos" (ta\ bibli¿a ta\ aÀgia)

 

2. ANTIGO TESTAMENTO E NOVO TESTAMENTO

Depois, e só depois de profundas reflexões de ordem teológica é que lhe foi dado o nome de

2.1. Antigo Testamento (palaia/j diaqh,khj), com base em Paulo - 2 Co 3.14

"Mas os sentidos deles se embotaram. Pois até ao dia de hoje, quando fazem a leitura da antiga aliança (palaia/j diaqh,khj ), o mesmo véu permanece, não lhes sendo revelado que, em Cristo, é removido" e em Jr 31.31-34 "31 Eis que dias vêm, diz o SENHOR, em que farei um concerto (Beriyth) novo (chadash) com a casa de

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Israel e com a casa de Judá. 32 Não conforme o concerto(Beriyth) que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito, porquanto eles invalidaram o meu concerto (Beriyth), apesar de eu os haver desposado, diz o SENHOR. 33 Mas este é o concerto (Beriyth) que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o SENHOR: porei a minha lei no seu interior e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.34 E não ensinará alguém mais a seu próximo, nem alguém, a seu irmão, dizendo: Conhecei ao SENHOR; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior, diz o SENHOR; porque perdoarei a sua maldade e nunca mais me lembrarei dos seus pecados".

Isto aconteceu, porém, muito mais tarde, quando o Novo Testamento já estava completo. As antigas promessas de Deus deviam ser distintas das novas, mas não separadas delas.

2.2.Novo Testamento - 1 Co 11.25 "Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue (h` kainh. diaqh,kh evsti.n evn tw/| evmw/| ai[mati\); fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim." Ver paralelo: Lc 22.20.

 

3. UMA OU DUAS ALIANÇAS? 02 TESTAMENTOS, OU UM SÓ? UNIDADE OU DIVERSIDADE?

Gn 15.12-21; 17.7

Testamento = "aliança" = pacto acordo ()

Aliança = "Um vínculo ou elo de amor (estabelecido a partir de um pacto de sangue), iniciado e administrado soberanamente pelo Deus triúno com a sua criação" (PALMER, O. Robertson. Cristo dos Pactos).

o 66 livros ou capítulos?

66 livros escritos ao longo de 1500 anos. 40 autores, diversas línguas, centenas de tópicos com uma unidade temática espantosa: Jesus Cristo.

 

4. AS DIVISÕES DA BÍBLIA Nossas versões seguem a LXX - ordem temática

4.1. A Bíblia Judaica:

Torá - lei - A Base

Nebiin - profetas e históricos (exposição objetiva da torá)

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Ketubin - escrituras (resposta subjetiva à mensagem da torá)

TA - Torá

NA - Nebiim

K - Ketubiim

4.2. As Divisões baseadas na LXX:

Nossa Bíblia não foi, inicialmente, escrita dividida em capítulos e versículos, muitos livros não tinham títulos e muitos menos divisões por temas.

A Bíblia como a temos hoje, cada livro com seu título, dividida em capítulos e versículos e com seus respectivos temas e sub-temas, é algo recente que foi feito a fim de facilitar a leitura e o endereçamento de cada passagem.

a. Em capítulos: Haviam divisões da Bíblia que estiveram em uso até o séc. XII. Mas a partir do Séc. XIII, com Estevão Langton - a partir da publicação da Vulgata Latina - ele propôs uma nova divisão para a Bíblia que veio a ser universal, e são mínimas as diferenças que existem entre as divisões atuais e as propostas por Langton.

b. Em versículos: Em seguida tivemos a compilação do NT grego em 1551 feita por Roberto Etienne (Stephanus) dividida em versículos e o AT e NT também editado com as divisões em capítulos e versículos na Bíblia de Genebra em 1551.

 

5. A DOUTRINA DA INSPIRAÇÃO, REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO

o Inspiração - Toda a doutrina depende da doutrina da inspiração.

o AS TRÊS DOUTRINAS BÁSICAS

I. Inspiração - O MEIO: O registro e a comunicação da verdade - (2 Tm 3.16) - (Jó 32.8) // 2 Pe 1.21. Recepção e registro das verdades reveladas por Deus. Meio que Deus usou para o seu registro.

Deus é o causador, o homem é o agente.

A palavra se aplica aos escritos e não aos escritores (recepção e registro da verdade).

É o meio. Inspirados só os autógrafos ("A Bíblia nas línguas de nossa época, por ser transmissão exata dos originais, é a Palavra de Deus inspirada.").

o 3 elementos da inspiração:

a. Causa : Deus- Nenhuma palavra veio aos escritores da Bíblia, sem que tenha vindo de Deus - 2 Pe 1.21.

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b. Meio : Mediação humana - O homem é o recipiente e instrumento da inspiração.

c. Autoridade : Divina

II. Revelação : O FATO : A descoberta da verdade. A exposição da verdade. É uma abertura objetiva da verdade.

Ato exclusivo de Deus.

o Natural - Geral - Sl 19.1-4; Rm 1.19-20; 2.14-15 - cfr. 1 Co 2.14

o Especial - Hb 1.1-2 (Cristo como revelação final) - Gl 1.11-12

III. Iluminação : O DOM: O entendimento e interpretação da verdade revelada que foi registrada. Compreensão desta verdade descoberta (o dom da compreensão).

Ato exclusivo de Deus.

Diferenças:

o O propósito da revelação é a comunicação de verdades que aprouve a Deus transmitir;

o O propósito da inspiração é assegurar a infalibilidade do registro daquilo que foi revelado.

o O propósito da iluminação é fazer com que entendamos a verdade revelada e registrada.

 

6. Evidências da inspiração: 1. Sua unidade. Período de 1500 anos; mais de 40 autores! 2. Sua mensagem. 3. Seu poder. Rm 1.16. - Capaz de transformar vidas e situações

 

7. Natureza da inspiração:

1. Inspiração mecânica. A superintendência do Espírito não anulou as características individuais dos autores bíblicos.

2. Inspiração dinâmica. O oposto da "dinâmica". Influência liberal do MHC (Método Histórico-Crítico). Reduz-se a "inspiração" a "iluminação". Não há um caráter sobrenatural nos escritos, e sim a pena de homens iluminados. Portanto, a Bíblia é passível de erros.

3. Inspiração orgânica. É a concepção bíblica. "O Espírito Santo, o autor primário das Escrituras, dirigiu, guiou e supervisionou os autores secundários, a fim de garantir que tudo quanto escrevessem como canônico fosse isento de erro e correspondesse perfeitamente à

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revelação de Deus." Leva-se em consideração as particularidades do autor, contexto, etc..

8. A Extensão da inspiração

A questão principal aqui é: "A Bíblia contém ou é a palavra de Deus?"

I. A posição liberal: "inspiração parcial"

(A última palavra é do homem (juiz) que define o cânon)

3 Escolas:

a. ortodoxa: A Bíblia é a Palavra de Deus

b. modernista: A Bíblia contém a Palavra de Deus

c. neo-ortodoxa: A Bíblia se torna a Palavra de Deus

II. A posição ortodoxa: "inspiração total" 

 

4 Formas:

1. É verbal ( ou plenária). Provenientes de Deus                                         O Testemunho de Jesus: Mt 5.17-18; Jo 10.34-35; Mt 22.43-45.             Os textos são inspirados: 2 Tm 3.16, Ex 24.4, Is 30.8, 2; Sm 23.2, Mt    4.4,7; Lc 24.27,44; I Co 2.13; Ap 22.19. A Bíblia diz que suas palavras vieram da parte de Deus.

2. É plena. Todas suas partes são inspiradas. 2 Tm 3.16; Rm 15.4. 3. É autoritativa. Sua inspiração lhe concede autoridade. Jo 10.35; Mt

4,7,10-15.3,4-22.29; Lc 16.17. Sua autoridade é divina.   4. É inerrante. Não contém erros. Hb 6.18; Jo 17.17. A Bíblia não

reclama para si ser um livro científico, mas, quando trata de assuntos científicos ou históricos, o faz sem cometer erros.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura: a doutrina reformada das Escrituras. São Paulo: Editora Os Puritanos, 1998.

BOICE, James Montgomery (Ed.). O alicerce da autoridade bíblica. São Paulo: Vida Nova, 1989.

GEISLER, Norman e NIX, William. Introdução Bíblica: como a bíblia chegou até nós. São Paulo: Editora Vida, 1997.

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1. INTRODUÇÃO – REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO Por Marcos Alexandre e João Alves

1.1. INTRODUÇÃO BÍBLICA - Autoridade do AT/ Revelação e Inspiração

Bíblia – Caracterização

BÍBLIA – BIBLOS (s) = livro, rolo - Ex. Mt 1.1

Originariamente era o nome que se dava à casca de um papiro do século XI a.C.

A designação formal de Bíblia é tão velha quanto a própria Escritura (2 Tm 4.13): "Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros( ta. bibli,a) , principalmente os pergaminhos", refletindo a grande importância que lhe era atribuída. Depois, e só depois de profundas reflexões de ordem teológica é que lhe foi dado o nome de Antigo Testamento (palaia/j diaqh,khj), com base em Paulo - 2 Co 3.14 "Mas os sentidos deles se embotaram. Pois até ao dia de hoje, quando fazem a leitura da antiga aliança (palaia/j diaqh,khj ), o mesmo véu permanece, não lhes sendo revelado que, em Cristo, é removido" e em Jr 31.31-34 "31 Eis que dias vêm, diz o SENHOR, em que farei um concerto (Beriyth) novo (chadash) com a casa de Israel e com a casa de Judá. 32 Não conforme o concerto(Beriyth) que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito, porquanto eles invalidaram o meu concerto (Beriyth), apesar de eu os haver desposado, diz o SENHOR. 33 Mas este é o concerto (Beriyth) que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o SENHOR: porei a minha lei no seu interior e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.34 E não ensinará alguém mais a seu próximo, nem alguém, a seu irmão, dizendo: Conhecei ao SENHOR; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior, diz o SENHOR; porque perdoarei a sua maldade e nunca mais me lembrarei dos seus pecados". Isto aconteceu, porém, muito mais tarde, quando o Novo Testamento já estava completo. As antigas promessas de Deus deviam ser distintas das novas, mas não separadas delas.

02 TESTAMENTOS, ou um só?

Testamento = "aliança" = pacto acordo ()

Aliança = "Um vínculo ou elo de amor (estabelecido a partir de um pacto de sangue), iniciado e administrado soberanamente pelo Deus triúno com a sua criação" (PALMER, O. Robertson. Cristo dos Pactos).

66 livros escritos ao longo de 1500 anos. 40 autores, diversas línguas, centenas de tópicos com uma unidade temática espantosa: Jesus Cristo.

 

Divisões do AT e NT

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LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO

A Lei (Pentatêuco) - 5 Livros Poesia - 5 Livros

Gênesis

Êxodo

Levítico

Números

Deuteronômio

Salmos

Provérbios

Eclesiastes

O Cântico dos Cânticos

História - 12 Livros Profetas (Posteriores) - 17 Livros

Josué

Juízes

Rute

1 Samuel

2 Samuel

1 Reis

2 Reis

1Crônicas

2 Crônicas

Esdras

Neemias

Ester

A. Maiores B. Menores

Isaías

Jeremias

Lamentações

Ezequiel

Daniel

Oséias

Joel

Amós

Obadias

Jonas

Miquéias

Naum

Habacuque

Sofonias

Ageu

Zacarias

Malaquias

 

LIVROS DO NOVO TESTAMENTO

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Evangelhos "História"

Mateus

Marcos

Lucas

João

Atos dos Apóstolos

EPÍSTOLAS

Romanos

1 Coríntios

2 Coríntios

Gálatas

Efésios

Filipenses

Colossenses

1 Tessalonicenses

2 Tessalonicenses

1 Timóteo

2 Timóteo

Tito

Filemon

Hebreus

Tiago

1 Pedro

2 Pedro

1 João

2 João

3 João

Judas

PROFECIA

Apocalipse

Divisões da Bíblia Hebraica

TANAK

TA - Torah - A Lei

NA - Nebhim - Os Profetas

K - Kethubhim - Os Escritos

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DISPOSIÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO HEBRAICO

A LEI ( TORÁ) OS PROFETAS (NEBHIIM) OS ESCRITOS (KETHUBHIM)

Gênesis

Êxodo

Levítico

Números

Deuteronômio

Profetas Anteriores

Josué

Juízes

Samuel

Reis

Profetas Posteriores

Isaías

Jeremias

Ezequiel

Os Doze

Livros Poéticos

Salmos

Provérbios

Cinco Rolos (Megiloth)

O Cântico dos Cânticos

Rute

Lamentações

Ester

Eclesiastes

Livros Históricos

Daniel

Esdras - Neemias

Crônicas

Esta é a disposição encontrada nas edições judaicas modernas do Antigo Testamento. Cf. The Holy Scriptures, according to the Masoretic Text e Bíblia Hebraica, organizada por Rudolph Kittel e Paul E. Kahle.

Em nossas Bíblias os livros do AT estão classificados segundo seus gêneros literários

 

A ESTRUTURA DO CÂNON JUDAICO DO AT

Torá - lei - A Base

Nebiin – profetas e históricos (exposição objetiva da torá)

Ketubin – escrituras (resposta subjetiva à mensagem da torá)

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Embora a estrutura do cânon não seja inspirado, mas nos ensina como os hebreus entendiam a relação das várias partes do AT.

E não somente o VT, mas toda a Bíblia pode ilustrar em forma de uma pirâmide.

NT (culminação da revelação de Deus; precisa repousar sobre uma base)

AT (a base é o AT)

Os profetas (Nebiin) - Objetiva

Os profetas avaliam a conduta do povo de Israel à base da lei. Por exemplo: quando lemos Samuel, não temos uma descrição histórica do que estava passando nos tempos de Samuel e Saul, não é uma narração histórica, mas é como uma mensagem ao povo, chamando a atenção à conduta errônea do povo e chamando-os a uma conduta correta e conforme à lei de Deus, ao pacto de Deus com seu povo. Por isso é objetiva – até que ponto segue e desobedece a vontade de Deus.

Os escritos (Ketubin) - Subjetiva

Nos livros de Salmos e Eclesiastes, vê-se a resposta ou reação do indivíduo (reação subjetiva), que questiona algumas coisas: exemplo: prosperidade dos ímpios – é reflexão, reação, confusão por algum tempo.

Mas ainda há certas dificuldades para algumas explicações.

Em nossas Bíblias temos uma divisão em gênero literário.

Mas a Torá é a base, o fundamento, sem a qual o resto da revelação não se pode entender. Sem o Pentatêuco não se pode entender os profetas, e nem o NT.

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Mas sem Gênesis, não se pode entender o Pentatêuco, muito menos toda a Escritura.

Mas ainda, sem os capítulos de Gn. 1-11, que são fundamentais, pois estabelecem os conceitos mais basais e profundos sem os quais não se poderia entender o resto da Bíblia. Nestes primeiros 11 capítulos, embora com muitas controvérsias, é necessário compreender as bases teológicas da revelação de Deus.

A mensagem principal dos 11 primeiros capítulos de Gn. são a mensagem de Deus e seu relacionamento com o homem, mas estas mensagens estão relacionadas com os eventos históricos nos 11 primeiros capítulos.

(Este assunto será desenvolvido mais adiante durante nosso curso)

 

A INSPIRAÇÃO DO AT

O Testemunho de Jesus da Bíblia Hebraica: Lc. 11.51, 16.16, 24.44 e Mt 5.18

O testemunho do NT sobre o VT:

Escritura (grafh): 2Tm 3.16; Jo 10.35; Mt 21.42, 22.29; At 17.2,11.

Palavra de Deus (logon tou Deou): Mc 7.13; Rm 9.6; 2 Co 4.2; Hb 4.12; At 10.43; Lc 24.27,44.

Lei (nomon ): Jo 10.34, 12.34; At 25.8; I Co 14.21; Mt 5.18.

A Lei e os Profetas (o nomon kai oi profhtai): Mt 5.17, 7.12; Lc 16.16, At 13.15, 24.14

Os Profetas (oi profhtai) : Mt 26.56; Lc 24.25,27.

Oráculos de Deus: (twn logiwn tou Deou) Hb 5.12

Está Escrito (gegraptai): + 90x no NT. Mc 9.12, 14.21; Lc 18.31, 21.22)

Para que se cumprissem as Escrituras (oti dei plhrwyhnai panta ta gegrammena) Lc 24.44; Mt 5.17.

 

- A INSPIRAÇÃO DO NT

A comissão dos doze. Mt 10.7,19,20

O envio dos setenta. Lc 10.9,16,17-19

O Sermão do Monte. Mc 13.11

Os ensinos durante a última ceia. Jo 14.26, 16.13

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A grande comissão. Mt 28.19,20

Os apóstolos dão prosseguimento ao ensino de Cristo. At 1.1; Lc 1.3,4; Hb 2.3

O testemunho de Pedro sobre Paulo: 2 Pe 3.16

O testemunho de Paulo sobre Lucas: 1 Tm 5.18 // Lc 10.7

O reconhecimento da Igreja Primitiva e a circulação dos livros: Cl 4.16; 2 Pe 3.15.16

Judas(18) cita 2 Pe 3.2,3

João faz alusão ao seu próprio evangelho I Jo 1.1

O testemunho dos 1os Pais da Igreja:

Epístola de Barnabé (70-130): Cita Mateus

Clemente de Roma (95-97): Chama os Sinóticos de "Escrituras".

Inácio de Antioquia (110): Faz numerosas citações do NT em seus escritos.

O Didaquê (100-120): Citações livres do NT.

Papias (130-140): Citações do NT.

Justino Mártir (165): Evangelhos: "A voz de Deus".

Hipólito (170-236):

"Esses homens abençoados [...] tendo sido aperfeiçoados pelo Espírito da profecia, são dignamente honrados pela própria Palavra, foram trazidos a uma harmonia íntima [...] como instrumentos, e, tendo a Palavra dentro deles, por assim dizer, a fim de fazer ressoar as notas [...] pelo Senhor foram movidos, e anunciavam o que Deus queria que anunciassem. É que eles não falavam de sua própria capaciadade [...] falavam daquilo que lhes era [revelado] unicamente por Deus."

 

Capítulos e Versículos da Bíblia

Nossa Bíblia não foi, inicialmente, escrita dividida em capítulos e versículos, muitos livros não tinham títulos e muitos menos divisões por temas.

A Bíblia como a temos hoje, cada livro com seu título, dividida em capítulos e versículos e com seus respectivos temas e sub-temas, é algo recente que foi feito afim de facilitar a leitura e o endereçamento de cada passagem.

Haviam divisões da Bíblia que estiveram em uso até o séc. XII. Mas a partir do Séc. XIII, com Estevão Langton - a partir da publicação da Vulgata Latina - ele propôs uma nova

Page 13: Cânon bíblico

divisão para a Bíblia que veio a ser universal, e são mínimas as diferenças que existem entre as divisões atuais e as propostas por Langton.

Em seguida tivemos a compilação do NT grego em 1551 feita por Roberto Etienne (Stephanus) dividida em versículos e o AT e NT também editado com as divisões em capítulos e versículos na Bíblia de Genebra em 1551.

Inspiração (2 Tm 3.16) – (Jó 32.8) – // 2 Pe 1.21. A palavra se aplica aos escritos e não aos

escritores (recepção e registro da verdade). É o meio. Inspirados só os autógrafos ("A Bíblia nas línguas de nossa época, por ser transmissão exata dos originais, é a Palavra de Deus inspirada.").

3 Escolas: a. ortodoxa: A Bíblia é a Palavra de Deus

b. modernista: A Bíblia contém a Palavra de Deus

c. neo-ortodoxa: A Bíblia se torna a Palavra de Deus

4 Formas:

a. É verbal. Os textos são inspirados: 2 Tm 3.16, Ex 24.4, Is 30.8, 2; Sm 23.2, Mt 4.4,7; Lc 24.27,44; I Co 2.13; Ap 22.19. A Bíblia diz que suas palavras vieram da parte de Deus.

b. É plena. Todas suas partes são inspiradas. 2 Tm 3.16; Rm 15.4 c. É autoritativa. Sua inspiração lhe concede autoridade. Jo 10.35; Mt 4.4,7,10-15.3,4 -

22.29; Lc 16.17. Sua autoridade é divina. d. É inerrante. Hb 6.18; Jo 17.17. A Bíblia não reclama para si ser um livro científico,

mas, quando trata de assuntos científicos ou históricos, o faz sem cometer erros.

Revelação: a exposição da verdade. É uma abertura objetiva da verdade.

Iluminação: compreensão desta verdade descoberta (o dom da compreensão)

(Sobre inspiração e Revelação veja em detalhes o item 1.2)

Os Livros que Compõem o Cânon Sagrado (Datas)

ANTIGO TESTAMENTO

Nome do Livro Quando Foi Escrito Quem Escreveu

Gênesis 1.450 - 1.410 a.C Moisés

Êxodo 1.450 - 1.410 a.C Moisés

Page 14: Cânon bíblico

Levítico 1.450 - 1.410 a.C Moisés

Números 1.450 - 1.410 a.C Moisés

Deuteronômio 1.410 a.C Moisés

Josué 1.400 - 1.370 a.C Josué

Juízes 1.050 - 1.000 a.C Anônimo

Rute 1.000 a.C Desconhecido

I Samuel 930 a.C Samuel e outros

II Samuel 930 a.C Samuel e outros

I Reis 550 a.C Jeremias

II Reis 550 a.C Jeremias

I Crônicas 450 - 425 a.C Esdras

II Crônicas 450 - 425 a.C Esdras

Esdras 456 - 444 a.C Esdras

Neemias 445 - 425 a.C Neemias

Ester 465 a.C Incerto

Jó Data incerta Incerto. Talvez Moisés

Page 15: Cânon bíblico

Salmos Data incerta Daví e outros

Provérbios 950 - 700 a.C Salomão e outros

Eclesiastes 935 a.C Salomão

Cantares 965 a.C Salomão

Isaías 740 - 680 a.C Isaías

Jeremias 627 - 585 a.C Jeremias

Lamentações 586/5 a.C Jeremias

Ezequiel 592 - 570 a.C Ezequiel

Daniel 537 a.C Daniel

Oséias 710 a.C Oséias

Joel 835 a.C Joel

Amós 755 a.C Amós

Obadias 586 a.C Obadias

Jonas 760 a.C Jonas

Miquéias 700 a.C Miquéias

Naum 663 - 612 a.C Naum

Page 16: Cânon bíblico

Habacuque 607 a.C Habacuque

Sofonias 625 a.C Sofonias

Ageu 520 a.C Ageu

Zacarias 520 - 518 a.C Zacarias

Malaquias 450 - 400 a.C Malaquias

 

NOVO TESTAMENTO

Nome do Livro Quando Foi Escrito Quem Escreveu

Mateus 60 - 70 A.D. Mateus

Marcos 50 - 60 A.D. Marcos

Lucas 60 A.D. Lucas

João 85 - 90 A.D. João

Atos 61 A.D. Lucas

Romanos 58 A.D. Paulo

I Coríntios 56 A.D. Paulo

II Coríntios 57 A.D. Paulo

Page 17: Cânon bíblico

Gálatas 49 ou 55 A.D. Paulo

Efésios 61 A.D. Paulo

Filipenses 61 A.D. Paulo

Colossenses 61 A.D. Paulo

I Tessalonicenses 51 A.D. Paulo

II Tessalonicenses 51 A.D. Paulo

I Timóteo 63 A.D. Paulo

II Timóteo 66 A.D. Paulo

Tito 65 A.D. Paulo

Filemon 61 A.D. Paulo

Hebreus 64 - 68 A.D. Incerto. Talvez Paulo

Tiago 45 - 50 A.D. Tiago

I Pedro 63 A.D. Pedro

II Pedro 66 A.D. Pedro

I João 90 A.D. João

II João 90 A.D. João

Page 18: Cânon bíblico

III João 90 A.D. João

Judas 70 - 80 A.D. Judas

Apocalipse 90 A.D. João

 

BIBLIOGRAFIA

GEISLER, Norman L & NIX, William E. (1997). Introdução Bíblica: como a Bíblia chegou até nós. São Paulo: VIDA.

ROBERTSON, O. Palmer (1997). Cristo dos Pactos. Campinas-SP: Luz Para o Caminho.

WOLFF, H. W. (1978). Bíblia, Antigo Testamento: introdução aos escritos e aos métodos de estudo. São Paulo: Edições

Paulinas.

 

1.2. REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO

João Alves dos Santos

Abraão é uma lenda, a legislação mosaica foi formulada séculos depois da existência de Moisés, os hititas nunca existiram, o livro de juízes são apenas historietas interessantes e não fatos, e Sargão e Sambalate nunca existiram!

Deus tão profundamente interessou-se em revelar a si mesmo que deixou registro histórico. Creio, particularmente, que a importância do registro histórico é em virtude dele saber que somos, por causa de pecado, ruins de interação. Como vocês já devem saber, isso começou desde que nossos primeiros pais romperam com a interação comum que havia entre Deus e eles. Aqueles que fizeram as afirmações acima não aceitavam a precisão histórica da Bíblia, e, consequentemente, lançaram fora também todo o clamor teológico associado à história. Diversos críticos têm procurado negar a historicidade das Escrituras como as reais e fidedignas palavras de Deus, como revelação ímpar, em função de uma ausência temporária de evidência externa. Entretanto, descobertas arqueológicas têm demonstrado que as críticas (acima) e diversas outras estão equivocadas e que a Escritura é digna de confiança em tudo o que afirma.

A Bíblia é um livro histórico e as verdades do cristianismo estão baseadas nos fatos históricos revelados. Se o fato de Moisés separar as águas do mar Vermelho, o fato do nascimento virginal de Cristo, o fato da crucificação e o fato da ressurreição forem deixados de lado, a fé cristã é completamente sem fundamento e sem sentido. E a essa altura dos acontecimentos

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ninguém poderia sequer reclamar como fonte de autoridade apenas o Novo Testamento, pois ele está totalmente alicerçado na Escritura mais antiga, o Antigo Testamento.

É verdade que a verdade histórica (a existência de alguém chamado Jesus, por exemplo) não demonstra a validade da verdade teológica (de que ele era Deus, por exemplo). Mas deve-se levar em conta, pelo menos, que a veracidade histórica da Escritura credencia a mensagem teológica.

REVELAÇÃO

Basicamente o fundamento de toda religião está em uma revelação. E quanto a isso, ao menos, há um certo consenso entre as religiões. Quanto ao nosso assunto, a Bíblia, nada poderia ser dito de mais correto! Se Deus não tivesse se revelado nenhum ser humano seria capaz de conhecê-lo.De acordo com o testemunho interno da Escritura esse ponto de vista — da incompreensibilidade de Deus — é explícito. Vejam as passagens de Jó 11.7; Isaías 40.12-14; Romanos 11.33-36 e 1 Coríntios 2.10,11.Ao mesmo tempo Deus é incognoscível, pois só ele pode esquadrinhar as coisas como elas são; e cognoscível na medida da necessidade que o ser humano tem. E mesmo o conhecimento que o ser humano possa vir a ter de Deus é porque aprouve ao próprio Deus revelar-se.

Deus criou o ser humano para ter interação com ele. Mas depois do ocorrido no jardim do Éden (Gênesis 3) essa interação passou a ser possível somente porque haveria a "semente da mulher", vitoriosa, que restauraria a interação perdida. Essa semente, através dos descendentes, foi tipologicamente se apresentando como diversos personagens da Escritura mais antiga, o Antigo Testamento, até que viesse o descendente, Jesus Cristo. E nesse período Deus continuou a revelar-se. Sua revelação, depois do evento da desobediência da mulher e do homem, não seria mais apenas verbalizada como a que certamente havia antes da Queda; sua revelação seria registrada. E observe-se que, diferente de qualquer outro povo antigo, sua revelação foi tão estrondosa que nunca houve dúvidas de que ele não tivesse falado objetivamente, e de que era ele mesmo a falar.

A palavra revelação significa colocar a descoberto o que era anteriormente desconhecido. Na teologia judaico-cristã o termo refere-se à comunicação divina, de Deus ao ser humano. Deus se revela. Ele se dá a conhecer e à sua vontade. Essa revelação ocorre de várias maneiras: oral (Gn 3.14-17; 6.13; 9.1, 17; 12.1), através de epifanias (Gn 16.7-14; Ex 3.2; Jz 2.1), por escrito (Ex 17.14; 34.27; Sl 119.130; Is 30.8; Jr 30.2; Ap 1.11) e a mais perfeita revelação - Jesus Cristo (Gn 3.15; Ef 1.15-23; Cl 2.13-15; Hb 1).

Costuma-se fazer distinção entre revelação natural e sobrenatural e entre revelação geral e especial. A distinção entre revelação natural e sobrenatural (apesar de ambas serem de fato sobrenaturais) está no modo, na maneira como a revelação se dá. Os fenômenos naturais, sem palavras, são essa revelação natural — no micro e macro mundo. A revelação sobrenatural é quando se vê Deus intervindo no curso natural das coisas, podendo utilizar palavras nessa etapa. Nessa revelação sobrenatural os fatos explicam as palavras e vice-versa. A distinção entre geral e especial não está na maneira da revelação ocorrer, mas em saber quem é o objeto da revelação de Deus. A revelação geral de Deus baseia-se na criação do mundo e do ser humano. Envolve em seu escopo as relações entre Deus e o mundo e entre Deus e os seres humanos. Nesse sentido, a revelação geral tem por objetivo sinalizar ao ser humano o que ele deveria ser como imagem de seu Criador. A revelação especial de Deus é o descortinar da

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redenção ao ser humano pecador: o motivo, o processo, as palavras e os atos maravilhosos envolvidos — culminando no Deus encarnado, Jesus Cristo. Nesse sentido, a revelação especial tem por objetivo levar eficazmente o pecador de volta a Deus.

Algumas correntes negam um lado ou outro da revelação:

Panteísmo

Revelação é uma palavra que não se encaixa no sistema panteísta. A revelação, no panteísmo, é algo desnecessário uma vez que tudo revela um ser maior. Além disso, a idéia atrelada ao termo cristão "revelação", traz a idéia de um Deus pessoal, mas fora do ser humano.

Ateísmo Uma vez negada a existência de Deus ou, como preferem alguns existencialistas, ignorando essa questão, certamente o termo revelação não fará o menor sentido.

DeísmoO deísmo reconhecia a revelação geral de Deus. Entretanto, negavam a necessidade, a possibilidade e a realidade de uma revelação especial. Segundo esse pensamento a revelação geral seria suficiente até mesmo para salvar alguém do pecado.

Liberalismo

Muitos movimentos liberais, neo isso e neo aquilo, têm trabalhado basicamente com uma parte da revelação geral. Verbalizam nos discursos, mas negam na prática a necessidade da revelação especial. Em geral desprezam ou negam a revelação sobrenatural afinal, quem ainda acredita em milagres!?!?!

Teologia NegraA teologia da minoria (já acho que não são minoria...mas...) negra entende revelação de uma forma mais pragmática. Sua experiência de opressão é o padrão autoritativo.

Teologia Neo-ortodoxaPara estes a Bíblia contém a Palavra de Deus. Apesar da Palavra ser revelada através da pregação da Bíblia e de Cristo, por causa da falibilidade da Bíblia, Deus revela-se somente quando há um encontro místico na Escritura.

Teologia da Libertação

Para essa corrente a Bíblia não é um livro de verdades e regras eternas, mas um livro de história que auxilia a vivenciar movimentos de libertação. A revelação que importa aqui é a obtida através da "Nova hermenêutica", ou seja, o que vale é a interação direta e imediata do leitor com o texto.

Teologia Existencial

Para estes a revelação se esconde atrás dos mitos criados pelos autores do primeiro século acerca de Jesus, dos milagres e até mesmo da ressurreição. Dessa forma, rejeitando a revelação objetiva é que a pessoa vai encontrar direção para a sua vida. A Bíblia é apenas um pretexto para um "encontro existencial". Bem poderia ser num romance qualquer.

 

Apesar da distinção entre revelação geral e especial, sua revelação é de fato uma unidade. A divisão é mais para nosso proveito didático. O primeiro casal, antes de desobedecer, recebeu instruções por meio de revelação: para ser fecundo, para se multiplicarem, para encherem a terra e a sujeitarem; para dominarem sobre os animais e para se alimentarem de todas as

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árvores em que há fruto que dê semente. Apenas não deveriam tomar do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal.

O resultado já é conhecido. Pois assim, devido à corrupção do ser humano este não pode mais se apoiar em quaisquer conclusões baseadas na criação: animais, astros, ou até mesmo exclusivamente em sua razão, seu raciocínio. É por isso que se afirma que é uma arbitrariedade basear-se na revelação geral para conhecer a Deus. A criação e o próprio ser humano permanecem, sim, como um testemunho à verdade de Deus. A Bíblia afirma a revelação geral (Sl 19.1-6; 50.1-6; Rm 1.16-23), mas a relaciona com a revelação especial redentora. A Escritura declara em um mesmo lugar que o Verbo é criador e redentor (Jo 1.1-18). Em passagens como esta em João, a Escritura apresenta a revelação geral junto com a especial, a fim de que todos percebam que são indesculpáveis. A revelação de Deus, portanto, mostra a real situação da raça humana — uma criatura finita, mas com um destino eterno. Uma criatura feita para desfrutar comunhão com o Criador, mas agora separado de seu Criador pelo pecado.

A revelação anuncia ainda as boas novas do Deus santo e misericordioso que dá a salvação como um presente ao ser humano que não pode salvar-se. O presente se fez completo em Cristo, em quem todos devem crer para desfrutarem da eternidade junto ao Criador. A razão ainda é um reflexo de que a imagem de Deus habita em todo ser humano. Mas a revelação, insistimos, é a fonte da verdade. A razão, à medida que é iluminada pelo Espírito Santo, é o instrumento para compreender a revelação.

INSPIRAÇÃO

A Escritura é o livro soprado por Deus (2 Tm 3.16, theopneustos). Ao se falar de inspiração, portanto, está-se falando de inspiração para a revelação escrita. Houve muito mais revelação do que o registro que se possui. O evangelista João atesta essa verdade, pois Jesus fez muitos outros sinais que não foram registrados. Somente uma parte da revelação que Jesus fazia de si mesmo através também dos sinais é que foi registrado (Jo 20.30,31). Isso significa que os autores humanos foram guiados pelo Espírito Santo. Como resultado dessa ação, o que eles escreveram era sem erro, sem falhas e de profundo valor para o ser humano. O resultado da revelação, a Bíblia, constitui-se na regra infalível de fé e prática para a humanidade. A revelação escrita é a forma de Deus tornar permanente sua revelação, e a forma de fazer isso é através da inspiração. Infelizmente a Bíblia não descreve exatamente como Deus inspirou os autores humanos. Assim, surgem muitas perguntas. Que papel os autores tiveram na escrita da Escritura? Até que ponto Deus lhes deu latitude, liberdade no registro?

Aqueles que têm examinado as Escrituras tentando resolver esse problema propõem várias teorias. Existem quatro mais comuns: A Teoria Neo-Ortodoxa, a Teoria do Ditado, a Teoria da Inspiração Limitada e a Teoria da Inspiração Verbal Plenária.

 

TEORIANEO-ORTODOXA

A teoria Neo-ortodoxa sustenta que Deus é totalmente transcendente, ou seja, ele é absolutamente diferente de nós e muito além da nossa compreensão. Só podemos conhecer alguma coisa a seu respeito se ele se revelar a nós, como fez em Jesus Cristo.

Até aqui parecemos estar de acordo, não é mesmo? Mas a diferença entre este ponto de vista e a visão reformada é que esta última sustenta que a Bíblia é a Palavra de Deus; a visão neo-ortodoxa é de que a Bíblia é uma testemunha à Palavra de Deus, ou, em outros termos, que a

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Bíblia contém a Palavra de Deus. Segundo essa teoria as pessoas dos tempos bíblicos experimentaram Deus e registraram seus encontros da melhor forma que podiam fazer. Mas, como eram criaturas finitas, encontram-se alguns paradoxos ou até mesmo erros. Mesmo assim, continua a teoria, a descrição que fizeram ajudou a outros a entenderem a Deus melhor. Assim, à medida que outros experimentavam Deus através das narrativas, aqueles escritos tornavam-se a Palavra de Deus novamente.

Avaliação

Certamente devemos elogiar a neo-ortodoxia por ter uma visão de Deus tão elevada (transcendente, diferente de nós e além da compreensão). Entretanto a Bíblia é mais do que um mero testemunho da Palavra de Deus. Segundo 2 Timóteo 3.16,17 a Escritura ér a Palavra de Deus. A Bíblia reivindica que Deus revelou-se e que o Espírito Santo inspirou pessoas para registra-la (2 Pe 1.20,21). E eles puderam fazer isso porque Deus acomodou-se à compreensão limitada deles. Essa teoria, portanto, falha em dar uma explicação adequada para toda a evidência bíblica.

TEORIA DO DITADO

Essa teoria sugere que Deus simplesmente ditou a Bíblia para os escribas humanos. Segundo a teoria, Deus escolheu certas pessoas para registrar suas palavras e então lhes concedeu as palavras que queria. Afirmam assim que os autores somente escreveram o que Deus lhes ditou.

Avaliação

A Escritura, na verdade, sugere que algumas vezes Deus comunicou-se com extrema precisão, palavra por palavra aos autores (Jr 26.2 e Ap 2.1,8). Em outros lugares ele permitiu que os escritores expressassem suas próprias personalidades (Gl 1.6; 3.1; Fp 1.3,4,8). Ainda assim, o Espírito Santo assegurou o término da obra, comunicando precisamente a intenção de Deus. Sendo assim, a teoria do ditado se encaixa em algumas ocorrências e em muitas outras, não.

TEORIA DA

INSPIRAÇÃO LIMITADA

Essa teoria sustenta que Deus inspirou os pensamentos dos escritores bíblicos, mas não as palavras que viriam a escolher. De acordo com a teoria, Deus guiou os escritores à medida que escreviam, mas lhes deu liberdade para expressar seus pensamentos do seu próprio jeito. Por isso, argumentam, é que pode haver certos detalhes escritos que contenham erros. Ainda assim, acrescentam, o ensino doutrinário foi resguardado assim como a mensagem de Deus acerca da salvação.

Avaliação

É importante observar o ponto que essa teoria levanta. O reconhecimento de que a Escritura contém declarações difíceis de serem reconciliadas. Mas, perguntamos: a melhor solução é admitir o erro? Afinal, há abundante ênfase na Bíblia nos detalhes históricos. Assim, ao se ler Romanos 5.12-21 é preciso crer em um Adão histórico. As palavras de Jesus em Mateus 12.41 implicam que o livro de Jonas não é uma parábola. Além disso, as descobertas arqueológicas com freqüência têm resolvido os alegados problemas nos registros (como ressaltamos com os casos apresentados na abertura dessa aula). Parece então mais prudente afirmar a confiabilidade da Escritura, de toda a Escritura, à medida que aguardamos mais evidências para clarear as dificuldades.

  TEORIA DAINSPIRAÇÃO VERBALPLENÁRIA

Essa teoria também assevera que o Espírito Santo interagiu com os escritores humanos para produzir a Bíblia. A palavra "plenária" e "verbal" descrevem o ponto de vista particular que essa teoria dá à inspiração. Plenário significa "pleno", "completo". Assim, a inspiração plenária assevera que a inspiração de Deus se estende a toda à Escritura, de Gênesis a Apocalipse. Deus guiou os autores quer seja no registro dos detalhes históricos quer seja nas discussões doutrinárias. O termo "verbal" refere-se às palavras da Escritura. Assim, a inspiração verbal significa que a inspiração de Deus estende-se a cada uma das palavras que os escritores escolheram. Isso significa que tanto os escritores poderiam ter escolhido outras palavras quanto Deus teria dado liberdade para que os autores utilizassem seu próprio estilo. Mas, o Espírito Santo de tal forma guiou o processo, que as palavras que eles escolheram convergiam exatamente para o significado pretendido por Deus. A inspiração verbal e plenária sustenta

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então que Deus inspirou toda a Bíblia. A despeito de os escritores terem recebido liberdade para expressarem-se de acordo com seu estilo e personalidade, a inspiração compreende até mesmo as palavras que escolheram. Ao mesmo tempo o Espírito guiou o processo de tal forma que o produto final refletiu fielmente a mensagem de Deus.

Avaliação Essa teoria parece tratar melhor com as evidências bíblicas. Ela reconhece o elemento humano na Escritura e também afirma que o Espírito Santo é o seu autor.

 

É interessante observar que o fato de Deus soprar — dar vida, conhecimento e julgamento —, é uma realidade que permeia a Escritura de ponta a ponta. O livro de Gênesis 2.7 registra que Deus soprou nas narinas do homem o fôlego de vida; Jesus soprou sobre os discípulos antecipando em sua atitude a realidade que viria, o Espírito Santo (Jo 20.22); e, no dia final, o Senhor Jesus matará o iníquo com o sopro de sua boca (2 Ts 2.8). Ora, o Espírito Santo não suprimiu a personalidade de Moisés, de João ou de Paulo como se eles estivessem escrevendo algo psicografado. Não! O Espírito Santo capacitou os homens a quem escolheu a aplicarem corretamente seu ensino (João 14.26). A individualidade dos autores humanos não foi posta de lado, pois na Bíblia há várias formas de linguagem e estilos literários. A inspiração deve ser considerada de modo abrangente. Deus, o Senhor da história, fez com que um autor nascesse em determinado tempo e lugar, capacitou-o, equipou-o com uma educação definida, fez com que participasse de determinadas experiências e posteriormente fez com que lhe viesse à mente fatos e implicações desses fatos para que fossem cuidadosamente registrados. Nesse processo de escrita o Autor Primário da Escritura, Deus, em conexão orgânica com o autor e toda sua atividade precedente, sugeriu à mente do autor humano a linguagem (palavras) e o estilo para que fosse o veículo apropriado para a interpretação das idéias divinas, para o povo de todas as épocas.

IMPLICAÇÃO PRÁTICA

A doutrina da inspiração verbal plenária e a doutrina da revelação têm importante implicação para os cristãos. Em primeiro lugar, elas desembocam na conclusão de que a Bíblia é confiável (veja 1 Rs 17 e observe as repetições. A conclusão da mulher ao final foi essa — entendeu que a Palavra do Senhor através do profeta era confiável). Isso significa que a Bíblia fornece informação fidedigna. Ela proporciona entendimento da história do povo de Deus e também do plano de Deus para a salvação de todos os seus filhos. Ela revela ainda o tremendo significado da vida, contando para nós como nos tornarmos tudo aquilo que Deus pretende que sejamos.

Em segundo lugar a inspiração verbal plenária e a revelação significam que a Bíblia é autoritativa. Pode parecer lugar comum reconhecer isso novamente. Mas é uma conclusão inescapável. A Bíblia, por ser a Palavra de Deus, ela fala com a autoridade de Deus. A Bíblia assim nos convida a lê-la, a entender suas implicações e a nos submetermos a ela. E mesmo que alguém escolha não se submeter a ela, ainda assim ela continua sendo a verdade de Deus. A Escritura como um todo nos coloca diante de uma alternativa: obedecer a vontade de Deus ou se opor a ela.

Moisés chamou esta palavra de vida (Dt 32.47). Do que a chamaríamos hoje?

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Uma leitura auxiliar pode ser feita nos capítulos 1 a 3 do livro: Introdução Bíblica: como a Bíblia chegou até nós, de Norman Geisler e William Nix.

1.3. TEORIAS DA INSPIRAÇÃO

(Textos extraídos de Teologia Cristã em Quadros, de H. Wayne House, Editora Vida, 2000)

Teorias da Inspiração Formulação do Conceito Objeções ao Conceito

Mecânica ou

do DitadoO autor bíblico é um instrumento passivo na transmissão da revelação de Deus. A personalidade do autor é posta de lado para preservar o texto de aspectos humanos falíveis.

Se Deus houvesse ditado a Escritura, o estilo, o vocabulário e a redação seriam uniformes. Mas a Bíblia indica diferentes personalidades e modos de expressão nos seus escritores.

Parcial A inspiração diz respeito apenas às doutrinas da Escritura que não podiam ser conhecidas pelos autores humanos. Deus proporcionou as idéias e tendências gerais da revelação, mas deu ao autor humano liberdade na maneira de expressá-la.

Não é possível inspirar idéias gerais de modo infalível sem inspirar as palavras da Escritura. A maneira como as palavras de revelação foram dadas aos profetas e o grau de conformidade às próprias palavras da Escritura por parte de Jesus e dos escritores apostólicos indicam a inspiração de todo o texto bíblico, até mesmo das palavras.

Graus de

InspiraçãoCertas partes da Bíblia são mais inspiradas que outras ou inspiradas de modo diferente. Essa concepção admite erros de diferentes tipos na Escritura.

Não se encontra no texto nenhuma sugestão de graus de inspiração (2 Tm 3.16). Toda a Escritura é incorruptível e não pode falhar (Jo 10.35; 1 Pe 1.23).

Intuição ou

NaturalIndivíduos talentosos dotados de excepcional percepção foram escolhidos por Deus para escreverem a Bíblia. A inspiração é semelhante a uma habilidade artística ou ao talento natural.

Esta concepção torna a Bíblia não muito diferente de outras obras literárias religiosas ou filosóficas inspiradoras. O texto bíblico afirma que a Escritura vem de Deus por meio de homens (2 Pe 1.20-21).

Iluminação

ou MísticaOs autores humanos foram capacitados por Deus a redigirem a Escritura. O Espírito Santo intensificou as suas capacidades normais.

O ensino bíblico indica que a revelação veio por meio de comunicações divinas especiais, e não por meio de capacidades humanas intensificadas. Os autores humanos expressam as próprias palavras de Deus, e não simplesmente as suas próprias palavras.

Verbal,

PlenáriaElementos tanto divinos quanto humanos estão presentes na produção da Escritura. Todo o texto da Escritura, inclusive as próprias palavras, é um produto da mente de Deus expresso em termos e condições humanos.

Se toda palavra da Escritura fosse uma palavra de Deus, então não existiria o elemento humano que se observa na Bíblia.

 

1.4. TEORIAS EVANGÉLICAS DE INERRÂNCIA

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Posição Proponente Formulação do Conceito

Inerrância PlenaHarold Lindsell

Roger Nicole

Millard Erickson

A Bíblia é plenamente veraz em tudo o que ensina e afirma. Isso se estende tanto à área da história quanto da ciência. Não significa que a Bíblia tem o propósito primário de apresentar informações exatas acerca de história e ciência. Portanto, o uso de expressões populares, aproximações e linguagem fenomênica é reconhecido e entendido no sentido de cumprir com o requisito da veracidade. Assim sendo, as aparentes discrepâncias podem e devem ser harmonizadas.

Inerrância

Limitada

Daniel Fuller

Stephen Davis

William LaSor

A Bíblia é inerrante somente em seus ensinos doutrinários salvíficos. A Bíblia não foi concebida para ensinar ciência ou história, nem Deus revelou questões de história ou ciência aos escritores. Nessas áreas, a Bíblia reflete a compreensão da sua cultura e, portanto, pode conter erros.

Inerrância de

Propósito

Jack Rogers;

James OrrA Bíblia é isenta de erros no sentido de concretizar o seu propósito primário de levar as pessoas a uma comunhão pessoal com Cristo. Portanto, a Escritura é verdadeira (inerrante) somente na medida em que realiza o seu propósito fundamental, e não por ser factual ou precisa naquilo que assevera. (Esta concepção é semelhante àquela da Irrelevância da Inerrância.)

Irrelevância da

InerrânciaDavid Hubbard

A inerrância é substancialmente irrelevante por várias razões:

A inerrância é um conceito negativo. A nossa concepção da Escritura deve ser positiva.

A inerrância não é um conceito bíblico.

Na Escritura, erro é uma questão espiritual ou moral, e não intelectual.

A inerrância concentra a nossa atenção nos detalhes, e não nas questões essenciais da Escritura.

A inerrância impede uma avaliação honesta das Escrituras.

A inerrância produz desunião na igreja. (Este conceito é semelhante ao da Inerrância de Propósito.)

 

1.5. MANEIRAS DE HARMONIZAR AS DISCREPÂNCIAS DA ESCRITURA

Estratégia/Defensor Explanação

Abordagem AbstrataAqueles que seguem esta abordagem estão cientes de que existem dificuldades na Escritura, mas

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B. B. Warfield eles tendem a sentir que essas dificuldades não precisam ser todas elas explicadas porque o peso da evidência a favor da inspiração e da conseqüente inerrância da Bíblia é tão grande que nenhuma quantidade de dificuldades poderia derrubá-la. Eles tendem a usar como argumento final principalmente a consideração doutrinária da inspiração da Bíblia.

Abordagem Harmonística

Edward J. Young

Louis Gaussen

Os partidários desta abordagem sustentam que a crença na inerrância baseia-se no ensino doutrinário da inspiração. Eles afirmam que as dificuldades apresentadas podem ser resolvidas, e procuram fazê-lo - às vezes usando de conjecturas.

Abordagem Harmonística

Moderada

Everett Harrison

Esta abordagem até certo ponto segue o estilo da abordagem harmonística. Os problemas são encarados com seriedade, havendo um esforço em resolvê-los ou atenuar as dificuldades até onde isso é razoavelmente possível com os dados atualmente disponíveis. As tentativas não são feitas prematuramente.

Abordagem da Fonte Errante*

Edward J. Carnell

A inspiração somente assegura a reprodução precisa das fontes utilizadas pelo escritor bíblico, e não a retificação das mesmas. Assim, se a fonte continha uma referência errônea, o escritor bíblico registrou aquele erro exatamente como estava na fonte. Por exemplo, o Cronista podia estar apelando a uma fonte falível e errônea ao elaborar a sua relação dos números de carros e cavaleiros.

Abordagem da Errância Bíblica*

Dewey Beegle

A Bíblia contém erros - problemas reais e insolúveis. Eles devem ser aceitos e não racionalizados. A natureza da inspiração deve ser inferida daquilo que a Bíblia produziu. Qualquer que seja a inspiração, ela não é verbal. Não se pode considerar que a inspiração estende-se à própria escolha das palavras do texto. Portanto, não é possível ou necessário reconciliar todas as discrepâncias.

 

Estes nomes foram escolhidos somente para distinguir as concepções. Nem Carnell nem Beegle identificam as suas posições com

os nomes aqui mencionados.

A tabela foi adaptada de Gleason L. Archer, "Alleged Errors and Discrepancies in the Original Manuscripts of the Bible" [Supostos

Erros e Discrepâncias nos Manuscritos Originais da Bíblia), em Norman L. Geisler, ed., Inerrancy [Inerrância] (Grand Rapids:

Zondervan, 1979), pp. 57-82; e Millard J. Erickson, Christian Theology [Teologia Cristã] (Grand Rapids: Baker, 1983, 1984, 1985),

pp. 230-32. Estas obras foram usadas mediante permissão.

 

1.6. MODELOS DE REVELAÇÃO 1

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(Textos extraídos de Teologia Cristã em Quadros, de H. Wayne House, Editora Vida, 2000)

MODELO PARTIDÁRIOS DEFINIÇÃO DE REVELAÇÃO PROPÓSITO DA REVELAÇÃO

Revelação como doutrina*

Pais da igreja

Igreja medieval

Reformadores

B. B. Warfield

Francis Schaeffer

Concílio Internacional sobre Inerrância Bíblica

A revelação é dotada de autoridade divina, sendo transmitida de maneira objetiva e proposicional pelo meio (palavras) exclusivo da Bíblia.** As suas proposições em geral assumem o caráter de doutrina.

Despertar a fé salvadora por meio da aceitação da verdade revelada de maneira suprema em Jesus Cristo.

Revelação como

Evento Histórico

William Temple

G. Ernest Wright

Oscar Culiman

Wolfhart Parmenberg

Revelação é a demonstração da disposição e capacidade redentora de Deus conforme testificada por seus grandes feitos na história humana.

Instilar esperança e confiança no Deus da história.

Revelação como

Experiência Interior

Friedrich Schleiermacher

D. W R. Inge

C. H. Dodd

Karl Ralmer

Revelação é a auto-manifestação de Deus por meio de sua presença íntima nas profundezas do espírito e da psiquê humanos.

Propiciar uma experiência de união com Deus que equivale à imortalidade.

Revelação como

Presença Dialética

Karl Barth

Emil Brunner

John Baillie

Revelação é a mensagem de Deus àqueles que ele confronta com a sua Palavra na Bíblia e com Cristo na proclamação cristã.

Gerar a fé como a adequada consumação meta-revelatória de si própria.

Revelação como

Nova consciência

Teilhard de Chardin

M. Blondel

Gregory Baum

Leslie Dewart

Ray L. Hart

Revelação é atingimento de um nível superior de consciência à medida que se é atraído para uma participação mais frutífera na criatividade divina.

Obter a reestruturação da percepção e da experiência e uma concomitante auto-transformação.

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Paul Tillich

O modelo doutrinário reconhece a "revelação natural" (aquilo que pode ser discernido acerca de Deus pela razão ou pela criação) como algo distinto da revelação bíblica especial. Todavia, ela é considerada de pequena importância em virtude de não ser salvífica (ela simplesmente "fere" a consciência). Este modelo considera os milagres e os sinais apostólicos como confirmações da revelação.

Os teólogos católicos romanos que abraçam esse modelo acrescentam a essa definição as palavras "ou pelo ensino oficial da Igreja."Este gráfico baseia-se em Avery Dulles, Models of Revelation [Modelos de Revelação] (Maryknoll, KY: Orbis Books, 1992). Usado mediante permissão.

 

 

1.7. MODELOS DE REVELAÇÃO 2

MODELO VISÃO GERAL DA BÍBLIA

RELAÇÃO COM A HISTÓRIA

MEIO DE APREENSÃO HUMANA

Revelação como

DoutrinaA Bíblia é a Palavra de Deus (tanto na forma como no conteúdo).

A revelação é trans-histórica (ela é discreta e determinativa quanto à sua contigüidade com a história).

Iluminação (pelo Espírito Santo)

Revelação como

Evento HistóricoA Bíblia é um evento. Está ligada à auto-revelação de Deus manifesta indiretamente na totalidade de sua atividade na história. Ela nunca é extrínseca seja à continuidade ou à particularidade dessa história.

A revelação é intra-histórica (a Bíblia revela a história dentro da história).

Razão

Revelação como

Experiência InteriorA Bíblia contém a palavra de Deus (misturada com os elementos humanos de erro e mito: a Bíblia é uma "casca" que envolve o "cerne" da verdade). Essa verdade somente pode ser apreendida (experimentada) por meio da iluminação pessoal.

A revelação é psico-histórica (ela relaciona-se com a história como uma imagem mental da continuidade humana).

Intuição

Revelação como

Presença Dialética

A Bíblia torna-se a palavra de Deus a nós (a revelação não é estática, mas dinâmica, e tem que

A revelação é supra-histórica (a Bíblia revela a "história além da história").

Razão "transacional" (interação com a

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ver com a contingência da resposta humana) na medida em que é dinamizada pelo Espírito Santo.

fé intrínseca à revelação)

Revelação como

Nova Consciência

A Bíblia é um paradigma - um mediador pelo qual se pode obter auto-transformação e transcendência (mas ela é somente um esforço humano que utiliza uma linguagem humana "claudicante" com vistas a esse objetivo).

A revelação é a-histórica (a história torna-se virtualmente irrelevante ao ser submetida a contínuas reinterpretações de transcendência pessoal).

Meditação racional/mística

 

 

1.8. MODELOS DE REVELAÇÃO 3

MODELO HERMENÊUTICA BÁSICA

PONTOS FORTES ALEGADOS

PONTOS FRACOS ALEGADOS

Revelação

como DoutrinaIndução (objetiva) Deriva do próprio testemunho da

Bíblia sobre si mesma. É a concepção tradicional, desde os pais da igreja, até o presente. É distintivo em virtude da sua coerência interna. Provê o fundamento para uma teologia consistente.

A Bíblia não reivindica a sua própria infalibilidade proposicional. Os exegetas antigos e medievais eram abertos a interpretações alegóricas/espirituais. A diversidade de termos e convenções literárias milita contra esse modelo. A ciência moderna refuta o literalismo bíblico e outras noções ligadas a esse modelo. Sua hermenêutica ignora o poder sugestivo do contexto bíblico.

Revelação

como Evento

Histórico

Dedução (objetiva/subjetiva)

Tem valor religioso pragmático por causa de seu caráter concreto. Identifica certos temas bíblicos subestimados ou ignorados, pelo modelo proposicional. (Revelação como Doutrina). É mais orgânico em sua abordagem e aponta para um modelo de história. É não-autoritário, sendo assim mais plausível para a mentalidade contemporânea.

Relega a Bíblia a uma posição de "fenômeno". É virtualmente desprovido de sustentação teológica. Apesar de sua alegada plausibilidade, não promove o diálogo ecumênico.

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Revelação

como

Experiência

Interior

Ecletismo (subjetiva) Oferece defesa contra uma crítica racionalista da Bíblia. Promove a vida devocional. A sua flexibilidade incentiva o diálogo inter-religioso.

Faz uma seleção arbitrária de dados bíblicos. Substitui o conceito bíblico da eleição pelo elitismo natural. Por sua ênfase na experiência, faz um divórcio entre revelação e doutrina. Sua orientação experimental também apresenta o risco de uma excessiva introspecção na prática devocional.

Revelação

como Presença

Dialética

Indução (subjetiva) Procura apoiar-se sobre um fundamento bíblico. Evidencia um claro enfoque cristológico, porém não ortodoxo. A sua ênfase ao paradoxo afasta muitas objeções quanto à implausibilidade da mensagem cristã. Oferece a oportunidade de encontro com um Deus transcendente.

Embora fundamentado na Bíblia, carece de coerência interna. Sua linguagem paradoxal é confusa. Sua obscuridade ao relacionar o Cristo da fé com o Jesus histórico enfraquece a sua validade.

 

 

1.9. CONCEPÇÕES ACERCA DA REVELAÇÃO GERAL

Definição Revelação geral é a comunicação de Deus acerca de si mesmo a todas as pessoas, em todos os tempos e lugares. Ela refere,se à auto -manifestação de Deus por meio da natureza, da história e do ser interior (consciência) da pessoa humana.

Tomás de

AquinoAquino é um defensor da teologia natural, que afirma ser possível obter um conhecimento verdadeiro de Deus a partir da natureza, da história e da personalidade humana, à parte da Bíblia. Toda verdade pertence aos dois reinos. O reino inferior é o reino da natureza e é conhecido por meio da razão; o reino superior é o reino da graça e é aceito com base na autoridade, pela fé. Aquino insistiu que podia demonstrar pela razão a existência de Deus e a imortalidade da alma.

Teologia Católica Romana

A revelação geral fornece o fundamento para a formulação da teologia natural. A teologia católica romana tem dois níveis:

Primeiro Nível: A teologia natural é construída com blocos de revelação geral cimentados pela razão. Inclui as evidências da existência de Deus e da imortalidade da alma. E insuficiente para um conhecimento salvador de Deus. A maior parte das pessoas não atinge este primeiro nível pela razão, mas pela fé.

Segundo Nível: Uma teologia revelada é construída com blocos de revelação especial cimentados pela fé. Inclui a expiação vicária, a trindade etc. Neste nível a pessoa chega à salvação.

João Calvino Deus oferece uma revelação objetiva, válida e racional acerca de si mesmo na natureza, na história e na personalidade humana. Ela pode ser observada por qualquer pessoa. Calvino tira essa conclusão

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de Salmos 19.1-2 e de Romanos 1.19-20. O pecado deturpou as evidências da revelação geral e o testemunho de Deus ficou obscurecido, A revelação geral não capacita o descrente a obter um conhecimento verdadeiro de Deus. Existe a necessidade dos óculos da fé. Quando alguém é exposto e regenerado por meio do revelação especial, ele é capacitado a ver claramente o que está na revelação geral. Mas o que se vê sempre esteve lá de maneira genuína e objetiva. Seria possível encontrar uma teologia natural em Romanos 1.20, mas Paulo passa a demonstrar que o ser humano caído empenha- se na supressão e substituição da verdade. A menção da natureza no Salmo 19 foi feita por um homem piedoso que via essa natureza da perspectiva da revelação especial.

Karl Barth Barth rejeita a teologia natural e a revelação geral. A revelação é redentora por natureza. Conhecer a Deus e ter informações correntes sobre ele é estar relacionado com ele na experiência salvífica. Os seres humanos são incapazes de conhecer a Deus à parte da revelação em Cristo. Se as pessoas pudessem obter algum conhecimento de Deus fora da sua revelação em Jesus Cristo, elas teriam contribuído de algum modo para a sua salvação. Não existe revelação fora da Encarnação. Romanos 1.18-32 indica que as pessoas de fato encontram a Deus no cosmos, mas somente porque já o conhecem por meio da revelação especial comunicada pelo Espírito Santo quando se lê a Palavra de Deus. A Bíblia é apenas um registro da revelação, um indicador da revelação, dotado de autoridade.

Passagens Bíblicas

O Salmo 19 pode ser interpretado no sentido de que não há linguagem ou palavras cuja voz não seja ouvida. Os versículos 7 a 14 mostram como a lei vai além da revelação do cosmos.

Romanos 1.18-32 enfatiza a revelação de Deus na natureza. Romanos 2.14-16 enfatiza a revelação geral na personalidade humana. Paulo argumenta em 1.18 que as pessoas têm a verdade mas a suprimem por causa da sua injustiça. Os ímpios ficam sem desculpa porque Deus mostrou por meio da criação o que pode ser conhecido sobre ele. Romanos 2 observa que o judeu deixa de fazer o que a lei requer e que o gentio também sabe o suficiente para ficar responsabilizado diante de Deus.

Atos 14.15-17 observa que as pessoas devem voltar-se para o Deus vivo, que fez os céus e a terra. Embora Deus tenha permitido que as nações andem nos seus próprios caminhos, ele deixou um testemunho na história e na natureza.

Atos 17.22-31 registra a proclamação de Paulo aos atenienses sobre o Deus desconhecido como sendo o mesmo Deus que ele conhecia pela revelação especial. Eles haviam discernido esse Deus desconhecido sem nenhuma revelação especial. O versículo 28 admite que até mesmo um poeta pagão, sem revelação especial, pôde alcançar a verdade espiritual, ainda que não a salvação.