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Dissertação apresentada à Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto
para prestação de provas de
Mestrado em Controlo de Qualidade
(Especialização em Água e Alimentos)
Trabalho realizado sob a orientação da Professora Carmen Diniz
e co-orientação da Professora Paula Fresco
Joana Beatriz A. S. P. Sousa Dezembro 2008
i
Agradecimentos À Prof. Doutora Carmen Diniz pela orientação do mestrado, pelo seu apoio e
disponibilidade em todos os momentos, ao longo destes dois anos.
À Prof. Doutora Paula Fresco pela atenção, preocupação e amabilidade de sempre.
À Ana e à Carolina pelos momentos de “partilha” mas sobretudo pelas suas amizades.
Aos membros do serviço de Farmacologia da Faculdade de Farmácia da Universidade do
Porto, por me terem recebido com simpatia e pelo auxilio que me prestaram sempre que
precisei para a realização deste trabalho.
Ao Serviço de Química Orgânica da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto,
especialmente à Prof. Doutora Fernanda Borges pela cedência dos compostos fenólicos.
À minha família, de modo especial aos meus pais e irmãos, pelo apoio e incentivo em
todos os momentos da minha vida e ao Pedro por ter estado sempre presente com um
apoio incondicional e por me ter ajudado a seguir em frente nos momentos mais difíceis.
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Resumo
ii
Resumo
Os compostos fenólicos, nomeadamente os ácidos fenólicos, são compostos
bioactivos que se acredita estarem envolvidos no processo de defesa contra danos
oxidativos, pelo menos em parte, devido à sua capacidade antioxidante. A xantina
oxidase serve como uma fonte de radicais livres (EROs) derivados do oxigénio havendo
diferentes mecanismos conhecidos que conduzem a um aumento da formação de
superóxido por parte desta enzima. Nos processos inflamatórios e em determinadas
situações patológicas como o cancro, doenças cardiovasculares e doenças
neurodegenerativas, observa-se uma elevação na formação de EROs, com consequente
aumento dos danos atribuídos a estes radicais livres. Nos últimos anos, têm sido
desenvolvidos estudos de novos inibidores que, ao contrário do alopurinol (inibidor
padrão), apresentem efeitos adversos menos relevantes. Actualmente o interesse reside
em compostos estruturalmente diferentes das purinas/pirimidinas (cuja estrutura se
acredita ser causa dos efeitos adversos mais relevantes) como, por exemplo, os ácidos
fenólicos. Os ácidos fenólicos exibem, para além de actividade antioxidante, actividade
inibitória para as ciclooxigenases (COXs), enzimas que conduzem à formação de
prostaglandinas. Há ainda evidência na literatura de que alguns ácidos fenólicos podem
apresentar actividade quimiopreventiva, relacionada com a sua actividade
antioxidante/anti-inflamatória ou ainda relacionada com a sua capacidade em intervir nas
vias de transdução de sinal das células neoplásicas.
Neste trabalho estudou-se a actividade inibitória exibida sobre a xantina oxidase e
a COX do tipo 1 e 2, por três compostos derivados do ácido cafeico (um ácido fenólico
hidroxicinâmico), sintetizados no Laboratório de Quimica Orgânica da Faculdade de
Farmácia da Universidade do Porto: ácido trans-3-(3,4,5-trihidroxifenil)-2-propenóico
(THPPE) e dos respectivos ésteres, trans-etil-(3,4,5-trihidroxifenil)-2-propenoato
(ETHPPE) e dietil-2-(3,4,5-trihidroxifenilmetileno) malonato (E2THPPE). Para o efeito, os
compostos foram submetidos a ensaios experimentais utilizando kits enzimáticos de
elevada sensibilidade tendo os valores de inibição obtidos sido calculados como média ±
desvio padrão (DvP) de n experiências. Calculou-se ainda o valor de concentração capaz
de inibir 50% da actividade enzimática (IC50). Para a análise do significado estatístico
entre os diversos grupos de tratamentos utilizou-se ANOVA “one way” análise de
variância seguido pelo teste t-Tukey´s (p ≤ 0,05, valores estatisticamente diferentes).
Os resultados obtidos demonstram que os compostos THPPE, ETHPPE e
E2THPPE são capazes de inibir a actividade da enzima xantina oxidase, confirmando
dados da literatura que atribuem a outros ácidos fenólicos propriedades antioxidantes por
inibirem esta enzima. O E2THPPE revelou-se o composto mais promissor em estudo,
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Resumo
iii
apresentando IC50 E2THPPE=IC50 alopurinol. A diferença estrutural do E2THPPE
relativamente às estruturas de ETHPPE e THPPE consiste na existência de grupos etilo
substituintes do grupo carboxilo, a qual poderá explicar a ocorrência de um maior número
de interacções (ligações de hidrogénio e/ou interacções electrostáticas) com os resíduos
de aminoácidos da enzima conduzindo, desta forma, a uma maior estabilização da
ligação enzima-inibidor. Como estes grupos etilo são mais volumosos do que os
substituintes do grupo carboxílico presentes no ETHPPE e THPPE, esta poderá constituir
uma explicação para a ordem de eficiência de inibição obtida (alopurinol = E2THPPE>
ETHPPE> THPPE). O E2THPPE revelou-se como um inibidor reversível do tipo misto
com valores de Vmáx e de Km que diminuem na sua presença. Estes compostos
mostraram-se igualmente eficazes na inibição da COX-1 e COX-2, requerendo
concentrações mais elevadas do que o composto de referência, a indometacina (ordem
de eficiência de inibição obtida, COX-1: Indometacina> E2THPPE= THPPE> ETHPPE e
COX-2: Indometacina> E2THPPE> THPPE= ETHPPE). O E2THPPE exibe uma inibição
mais relevante sobre a COX-2 relativamente aos outros compostos em estudo e até
mesmo relativamente à isoforma COX-1. O índice de especificidade relativa entre as
isoformas da COX (IC50 para COX-2/COX-1) permite comparar a potência dos fármacos:
as razões de IC50 COX-2/COX-1 encontradas para os compostos E2THPPE, ETHPPE e
THPPE são da mesma ordem de grandeza, 0,33; 0,59 e 0,94, respectivamente. Contudo
o E2THPPE parece ser o inibidor que pode causar efeitos adversos menos intensos (IC50
COX-2/COX-1=0,33). Este efeito mais promissor do composto E2THPPE poderá ser
explicado pelo facto de a COX-2 ser capaz de “acomodar” melhor os inibidores mais
volumosos no seu local activo resultando numa maior inibição desta. Este facto deve-se a
variações estruturais relacionadas com alterações nos resíduos de aminoácidos,
tamanho e o ambiente químico do local de ligação à COX-2 (COX-2 tem um local activo
maior (em cerca de 17%) do que o da COX-1) em que a diferença de tamanho pode
beneficiar uma ligação mais forte dos ácidos gordos e inibidores ao local activo da COX-
2, e aumentar o acesso ou permitir uma ligação mais rápida de inibidores não acídicos à
COX-2.
Os compostos em estudo exibiram uma promissora actividade antioxidante por
inibirem a xantina oxidase e anti-inflamatória, pois actuam como inibidores da
ciclooxigenase. Assim, perspectiva-se que este tipo de inibidores, após os devidos
ensaios farmacológicos de fase I, II e III, possam ter novas aplicações terapêuticas e ser
usados em quimioprevenção e no tratamento de patologias que apresentem danos por
elevados níveis de EROs.
Palavras chave: ácidos hidroxicinâmicos, actividade antioxidante, actividade anti-inflamatória,
xantina oxidase, ciclooxigenase 1-2
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Abstract
iv
Abstract
Phenolic compounds, including phenolic acids, are bioactive compounds that
are believed to be involved in protection against oxidative damage, at least in part, due
to its antioxidant capacity. Xanthine oxidase is used as a source of free radicals (ROS)
derived from oxygen and different mechanisms are known to lead to increased
formation of superoxide by this enzyme. In inflammatory processes and in certain
pathological conditions such as cancer, cardiovascular disease and neurodegenerative
diseases, there is an increase in the formation of ROS, with consequent increase of the
damage attributed to these free radicals. In recent years, studies have been developed
for new inhibitors that, contrary to allopurinol (inhibitor default), have less relevant
adverse effects. Currently the interest is to structurally different compounds of
purine/pyrimidine (whose structure is believed to be the cause of the most relevant
adverse effects), such as phenolic acids. In addition to antioxidant activity, phenolic
acids exhibit inhibitory activity for the cyclooxygenase (COXs), enzymes that lead to
the formation of prostaglandins. There is evidence in the literature that some phenolic
acids may have quimiopreventive activity, related to its antioxidant/anti-inflammatory
activity or related to their ability to intervene in the process of signal transduction of
neoplastic cells.
In this work is displayed inhibitory activity on xanthine oxidase and COX type 1
and 2, of three derivatives of caffeic acid (an hydroxycinnamic phenolic acid),
synthesized in the Laboratory of Organic Chemistry, Faculty of Pharmacy, University of
Porto: acid, trans-3-(3,4,5-trihydroxyphenyl)-2-propenoic (THPPE) and their esters,
trans-ethyl-(3,4,5-trihydroxyphenyl)-2-propenoate (ETHPPE) and diethyl - 2 - (3,4,5-
trihydroxyphenylmethylene) malonate (E2THPPE). For this purpose, the compounds
were subjected to experimental testing using enzymatic kits of high sensitivity and the
values of inhibition obtained were calculated as mean ± standard deviation (DVP) of n
experiments. It has also been calculated the value of concentration able to inhibit 50%
of enzyme activity (IC50). For the analysis of statistical significance between different
treatment groups ANOVA was used, "one way" analysis of variance, followed by
Tukey's t-test (p ≤0.05, values statistically different).
The results show that the compounds, THPPE, ETHPPE and E2THPPE, are
able to inhibit the activity of the enzyme xanthine oxidase, confirming data from other
studies that attribute the antioxidant properties of phenolic acids by inhibiting this
enzyme. The E2THPPE was the most promising compound under study, showing IC50
E2THPPE = IC50 allopurinol. The structural difference of E2THPPE for structures of
ETHPPE and THPPE is the existence of ethyl groups of the carboxy group
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Abstract
v
substituents, which may explain the occurrence of a greater number of interactions
(hydrogen binding and / or electrostatic interactions) with the amino acid residues of
the enzyme leading thus to greater stabilization of the enzyme-inhibitor binding. As
these ethyl groups are more bulky as the substituents of the carboxylic group present
in ETHPPE and THPPE, this could be an explanation for the order of inhibition
efficiency obtained (allopurinol = E2THPPE> ETHPPE> THPPE). E2THPPE proved to
be a reversible inhibitor of mixed type, with values of Vmax and Km reducing in its
presence. These compounds were shown to be equally effective in inhibiting COX-1
and COX-2, requiring higher concentrations than the reference compound, the
indomethacin (order of inhibition efficiency obtained, COX-1: Indomethacin> E2THPPE
= THPPE> ETHPPE and COX-2: Indomethacin> E2THPPE> THPPE = ETHPPE).
E2THPPE displays a more significant inhibition on COX-2 than the other compounds
under study and even on the COX-1 isoform. The index of relative specificity between
COX isoforms (IC50 for COX-2/COX-1) compares the power of drugs: the reasons of
IC50 COX-2/COX-1 found for compounds E2THPPE, ETHPPE and THPPE are of the
same magnitude, 0,33, 0,59 and 0,94, respectively. However, E2THPPE seems to be
the inhibitor that can cause adverse effects less intense (IC50 COX-2/COX-1 = 0.33).
This effect of the most promising compound E2THPPE may be explained by the fact
that COX-2 be able to better "accommodate" inhibitors in its larger active site resulting
in its increased inhibition. This is due to structural variations related with changes in
amino acid residues, size and chemical environment of the binding site of COX-2
(COX-2 has a larger active site (around 17%) than COX - 1) where the difference in
size can benefit a stronger binding of fatty acids and inhibitors to the active site of
COX-2, and increase access or allow a faster binding of the non-acidic inhibitors to
COX-2.
The compounds under study showed a promising antioxidant activity with the
inhibition of xanthine oxidase and an anti-inflammatory activity, acting as
cyclooxygenase inhibitors. Thus, perspective is that this type of inhibitors, after the
proper pharmacological trials of phase I, II and III, may have further therapeutic
applications and be used in chemoprevention and treatment of diseases that have high
levels of damage by ROS.
Key words: hydroxycinnamic acids, antioxidant activity, anti-inflamatory activity, xanthine oxidase,
cyclooxygenase
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Índice
vi
ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 1
1.1 Radicais livres e substâncias com actividade antioxidante ...................................... 1
1.1.1 Antioxidantes naturais e sintéticos .................................................................... 4
1.1.2 Antioxidantes na dieta....................................................................................... 6
1.2 Actividade antioxidante – Xantina Oxidase .............................................................. 8
1.3 Actividade anti-inflamatória e anti-neoplásica – COX-1/ COX-2 ............................. 11
1.4 Ácidos fenólicos..................................................................................................... 17
1.4.1 Ácidos hidroxicinâmicos .................................................................................. 19
1.5 Biossíntese dos ácidos fenólicos na natureza ....................................................... 20
2. OBJECTIVOS ............................................................................................................. 22
3. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................................... 24
3.1 Reagentes e compostos testados .......................................................................... 24
3.2 Preparação das soluções ...................................................................................... 24
3.2 Ensaios de inibição ................................................................................................ 25
3.2.1 Medição da Actividade da Xantina Oxidase .................................................... 25
3.2.2 Medição da Actividade da Ciclooxigenase ...................................................... 26
3.3 Ensaios de cinética enzimática com a Xantina Oxidase ........................................ 28
3.4 Cálculo e Tratamento Estatístico dos Resultados .................................................. 28
4. RESULTADOS ............................................................................................................ 29
4.1 Ensaios de inibição com a Xantina Oxidase .......................................................... 29
4.1.1 Ensaios de Cinética Enzimática com a Xantina Oxidase do composto
E2THPPE ................................................................................................................. 31
4.2 Ensaios de inibição com a Ciclooxigenase 1 e 2 ................................................... 34
5. DISCUSSÃO ............................................................................................................... 39
6. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS .......................................................... 56
7. REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 57
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Abreviaturas
vii
Abreviaturas
AChE Acetilcolinesterase
ADN Ácido desoxirribonucleico
ADP Adenosina difosfato
AMP Adenosina monofosfato
ARA Ácido araquidónico
Arg Arginina
ATP Adenosina trifosfato
BHA Butil-hidroxianisol
BHT Butil- hidroxitolueno
CAPE Cafeic Acid Phenil Ester
COX-1 Ciclooxigenase 1
COX-2 Ciclooxigenase 2
DGLA ácido di-homo--linoleico
DMSO Dimetilsulfóxido
EPA ácido eicosapentaenóico
ERO Espécie Reactiva de Oxigénio
ETHPPE trans-etil 3-(3,4,5-trihidroxifenil)-2-propenoato
E2THPPE dietil 2-(3,4,5-trihidroxifenilmetileno) malonato
FBS Fetal bovine serum (Soro fetal bovino)
FTIR Fourier-Transformed Infrared Spectroscopy (Espectroscopia de
Infravermelho com Transformadas de Fourier)
GMP Guanosina monofosfato
Hist Histidina
HRP horseradish de rabano picante
IC50 Concentração a 50% de Inibição
IMP Inosina Monofosfato
Iso Isoleucina
Km Constante de Michaelis
MAPK MAP cinase
PBS Phosfate Buffer Saline (Tampão Fosfato Salino)
PG Prostaglandina
PGG2 Prostaglandina G2
PGH2 Prostaglandina H2
PGD Prostaglandina desidrogenase
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Abreviaturas
viii
PKC Proteína cinase C
RMN Ressonância Magnética Nuclear
RF Ressonância de Fermi
RMN Ressonância Magnética Nuclear
RPMI Roswell Park Memorial Institute
REA´S Relações Estrutura-Actividade
ROS Reactive Oxigen Species
Ser Serina
TBHQ 2-terc-butil-hidroquinona
THPPE Ácido trans-3-(3,4,5-trihidroxifenil)-2-propenóico
UV Ultra Violeta
Val Valina
Vmáx Velocidade máxima
XDH Xantina desidrogenase
XO Xantina oxigenase
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Introduç ão
1
1. INTRODUÇÃO
Os fitoquimicos das plantas são dádivas da natureza (Wattenberg et al, 1985). Os
compostos fenólicos são um exemplo destas dádivas e representam a classe mais
abundante de produtos naturais vegetais existindo já uma longa história de investigação
científica sobre estas. Para além das suas funções biológicas em plantas, os compostos
fenólicos, estão presentes em grande abundância em produtos alimentares e em
matérias agrícolas e florestais (Boudet, 2007).
Os compostos fenólicos, incluindo ácidos fenólicos, apresentam múltiplas
actividades biológicas tais como propriedades antitumoral, anti-mutagénica, anti-
inflamatória, antibacteriana e antioxidante (Shui & Leong, 2002), por poderem proteger as
células, contra danos oxidativos. Além destes efeitos, foram ainda atribuídas
propriedades pró-inflamatórias e actividade moduladora carcinogénica aos compostos
fenólicos pois alguns deles têm capacidade pró-oxidante podendo induzir, em algumas
situações, danos oxidativos no ADN, proteínas e lípidos celulares (Bhandari & Kawabata,
2004).
A actividade de sistemas fenólicos, relacionada com as suas propriedades
antioxidantes/anti-inflamatórias, é influenciada pelas características estruturais (Esteves
et al, 2008). Por outro lado, a natureza do alvo biológico, as condições ambientais e a
dosagem aplicada, juntamente com a biodisponibilidade dos compostos fenólicos são, do
mesmo modo, factores que influenciam a eficácia deste tipo de compostos.
1.1 Radicais livres e substâncias com actividade an tioxidante
O organismo utiliza cerca de 98 a 99% do oxigénio que consome para produzir
energia. A pequena parcela que sobra (1 a 2%) não participa do processo, formando as
espécies tóxicas reactivas de oxigénio (ERO´s) – os radicais livres (Fig. 1).
A maioria dos danos causados pelos radicais livres pode ser restaurada por sistemas
de reparação internos (Ruffin & Rock, 2001) contudo há radicais que permanecem no
organismo por este não ter forma de eliminá-los.
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Introduç ão
2
Figura 1. Esquema representativo dos principais factores que dão origem aos radicais livres e o seu
efeito a nível celular.
Os radicais livres correspondem a átomos ou grupos de átomos com um electrão não
emparelhado na sua órbita mais externa, sendo, portanto, muito reactivos, pois, para
recuperar o equilíbrio, precisam «doar» o electrão desemparelhado. Os radicais livres
têm vida média de milésimos de segundo, mas eventualmente podem tornar-se estáveis,
produzindo reacções biológicas lesivas (http://www.geocities.com).
O oxigénio molecular (O2) é um birradical de 16 electrões que, embora apresente um
electrão não-emparelhado na última camada de cada átomo, é estável porque este
electrão gravita na mesma direcção, impedindo o O2 de agir como radical livre. Esta
condição confere-lhe características de potente oxidante, ou seja, receptor de electrões
de outras moléculas. Se ocorrer a entrada de energia, os electrões não emparelhados
tomam direcções opostas, formando então uma molécula extremamente reactiva, o
radical livre de oxigénio (são exemplos, o superóxido O2•- e o peróxido de hidrogénio
H2O2). A água oxigenada (H2O2) diferentemente dos outros radicais livres, tem um
número par de electrões, podendo "navegar" por células e, assim, aumentar o risco de
interagir com átomos de ferro (Fe2+ e Fe3+) e dessa forma adquirir mais um electrão,
formando o terceiro e mais destruidor dos radicais, o hidroxilo (OH-), que tem a
capacidade de reagir instantaneamente com moléculas presentes na célula.
Um desequilíbrio no estado de oxidação-redução num sistema vivo conduz a uma
desregulação celular, que poderá, eventualmente, conduzir ao surgimento de várias
patologias incluindo cancro, degeneração neurológica, artrite, doenças cardiovasculares,
inflamação ou no envelhecimento precoce. De facto, muitas destas doenças são iniciadas
por ERO´s e moléculas de sinalização oxigenadas (Gebhardt et al, 2007; Naito et al,
2005; Griffiths et al, 2000). Como factores de risco que facilitam a actividade dos radicais
livres, podemos citar o tabagismo, a poluição do ar, fármacos (que tenham alguns
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Introduç ão
3
oxidantes), radiações ionizantes e solares, maior consumo de gorduras e choques
térmicos.
As reacções químicas com intervenção de radicais podem ser inibidas pela presença
de certas substâncias, denominadas de antioxidantes, capazes de reagir com esses
radicais formando outros radicais muito menos reactivos que os anteriores. Halliwell
define o termo antioxidante como sendo aplicável a qualquer substância que, quando
presente em baixas concentrações em comparação com as de um substrato oxidável,
atrasa ou inibe significativamente a oxidação desse substrato (Halliwell & Gutteridge,
1995).
Os antioxidantes podem inibir a oxidação de diversos substratos, desde moléculas
simples a polímeros e biossistemas complexos inibindo a formação de radicais livres,
promovendo a eliminação de radicais pela doação de átomos de hidrogénio (Soares,
2002; Namiki, 1990, Simic & Jovanovic, 1994), sequestro de radicais e, algumas vezes,
através da quelatação de metais. Por exemplo, a actividade antioxidante dos compostos
fenólicos conduz à formação de produtos intermediários relativamente estáveis devido à
ressonância do anel aromático presente na estrutura destes compostos. Por outro lado, a
sua natureza aromática faz deles alvos potenciais dos oxidantes pró-inflamatórios
(D’Alessandro et al, 2003).
In vivo, existem sistemas enzimáticos (por exemplo: superóxido dismutase, catalase,
glutationa peroxidase, glutationa redutase, glutationa S-transferase) e proteínas
sequestradoras de metais que são capazes de produzir o radical HO˙ (por exemplo:
albumina, ceruloplasmina, metalotioneína e ferritina ou ferrina, incluindo a apoferritina,
fitoferritina, transferrina e lactoferrina). Estas enzimas e proteínas, apesar de não serem
habitualmente incluídas na categoria de antioxidantes, podem exercer actividade
antioxidante (Pardini, 1995).
Um aspecto relevante que deve ser tido em consideração é o facto de uma
substância antioxidante poder, em determinadas circunstâncias, alterar o seu
comportamento de forma a potenciar mais os danos oxidativos do que a inibi-los, ou seja,
exibir uma actividade pró-oxidante. A presença de alguns metais de transição, por
exemplo Fe3+ e Cu2+, em determinadas concentrações podem ocasionar essa alteração
de comportamento dos antioxidantes (Moran, 1997; Toyokuni & Sagripanti, 1993; Hadi et
al, 1998; Ahsan et al, 1999; Khan et al, 2000). Em suma, um antioxidante pode em
determinadas circunstâncias proteger um sistema enquanto que noutras circunstâncias
pode, pelo contrário, não proteger ou pode inclusive causar-lhes danos (Halliwell et al,
1995 b); Gazzani et al, 1998; Podmore et al, 1998 a) e b); Levine et al, 1998; Moran et al,
1997).
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Introduç ão
4
Alguns compostos fenólicos, particularmente flavonóides polifenólicos tais como a
quercetina, exibem uma elevada capacidade antioxidante que os torna capazes de inibir
os mecanismos que envolvem radicais livres nas células: i) na geração (pela
sequestração do O2˙¯), ii) na peroxidação lipídica (quer pela reacção com os radicais
peroxilos quer com os radicais peroxilos lipídicos) e iii) na formação de radicais HO˙
(provavelmente pela quelatação dos iões ferro) (Metodiewa et al, 1999). Contudo, a
quercetina é um dos compostos antioxidantes que, para além de actividade antioxidante,
pode, sob outras circunstâncias, exibir uma actividade pró-oxidante e actuar directamente
como mutagénico (Metodiewa et al, 1999). Em determinadas condições experimentais, os
compostos fenólicos podem aumentar (efeito pró-oxidante) ou inibir (efeito antioxidante) a
formação de radicais hidroxilo por reacções do tipo Fenton (Puppo, 1992).
1.1.1 Antioxidantes naturais e sintéticos
O oxigénio singuleto é um radical livre que pode ser encontrado nos alimentos como
resultado da fotossensibilização (por exemplo, os fortes raios solares podem alterar o
leite através de reacções químicas que envolvem a riboflavina) (Halliwell et al, 1995 b).
Um outro exemplo da formação de radicais livres em alimentos está descrito em
alimentos que foram irradiados para esterilização ou prevenção da germinaçãona medida
em que o processo de irradiação conduz à formação de radicais HO˙ e possivelmente
HClO (Halliwell et al, 1995 b). Este último, sabe-se que é extremamente reactivo na
presença do radical superóxido originando radicais HO˙ (1).
HClO + O2˙¯ → HO˙ + O2 + Cl¯ (1)
Durante o processamento dos alimentos, especialmente carnes, os iões de ferro
(Fe2+), e possivelmente os iões de cobre (Cu2+), podem ser libertados e catalisar
reacções que originam a produção de radicais hidroxilo (reacção de Fenton) (Halliwell et
al, 1995 b).
Os exemplos atrás descritos reforçam a necessidade de combater os ataques oxidativos
de ERO’s no organismo ou nos alimentos utilizando-se para o efeito, antioxidantes de
origem natural ou de síntese.
Na indústria alimentar é permitido e, por isso frequente, o uso de uma grande
variedade de substâncias com propriedades diversas: conservantes, acidificantes,
emulsionantes, intensificadores de sabor e espessantes e, ainda, os antioxidantes. Na
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Introduç ão
5
indústria alimentar os antioxidantes mais utilizados são de origem natural
(nomeadamente α-tocoferol, ácido ascórbico e citratos). Contudo são também utilizados
alguns antioxidantes sintéticos tais como Butil-hidroxianisol (BHA); butil-hidroxitolueno
(BHT); galhato de propilo, galhato de octilo, galhato de dodecilo e 2-terc-butil-
hidroquinona (TBHQ) (Tabela 1).
Tabela 1 – Antioxidantes de origem natural e de síntese aprovados pela União Europeia
E 300 Ácido L-ascórbico E 315 Ácido eritórbico
E 304 Palmilato de ascorbilo
E 316 Eritorbato de sódio
E 307 α-Tocoferol E 320 Butil-hidroxianisol (BHA)
E 308 β-Tocoferol E321Butil-hidroxitolueno (BHT)
E 309 δ-Tocoferol E 330 Ácido cítrico
E 310 Galhato de propilo E 331 Citratos de sódio
E 311 Galhato de octilo E 332 Citratos de potássio
E 312 Galhato de dodecilo E 333 Citratos de cálcio
Os compostos antioxidantes derivados de plantas, especialmente fenóis, tais como a
quercetina, carnosol, timol, ácido carnósico, hidroxitirosol, ácido gálhico e seus derivados,
taninos (Rubbo et al, 1994), catequinas, rutina, ácido elágico, eugenol e ácidos
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Introduç ão
6
rosmarínicos, têm despertado particular interesse na indústria alimentar por constituírem
um suplemento dietético, serem antioxidantes e contribuírem para a preservação dos
alimentos (Halliwell et al, 1995 b). Por exemplo, o licor de cacau (solução aquosa com
polifenois na sua constituição) mostrou ter propriedades antioxidantes pois foi
demonstrado que protege as mucosas gástricas de ratinhos de lesões induzidas pelo
etanol (Osakabe et al, 1998), assim como o hidroxitirosol e a oleuropeina (compostos
polifenólicos do azeite) que mostraram uma actividade antioxidante contra o superóxido e
o ácido hipocloroso (Visioli et al, 1998).
Inicialmente os diversos galhatos foram utilizados para prevenir a rancidez de óleos e
gorduras. Posteriormente, a sua utilização foi alargada para outros fins: o galhato de
propilo, galhato de octilo e o galhato de dodecilo são ácidos fenólicos usados como
antioxidantes na indústria cosmética, nomeadamente em perfumes e cosméticos, mas
também na indústria farmacêutica e alimentar (Wade & Weller, 1994). Actualmente, estes
compostos são permitidos na indústria alimentar em determinados alimentos tais como
produtos cárneos desidratados, frutos secos transformados, temperos e condimentos,
misturas para bolos, cereais pré-cozidos, aperitivos à base de cereais, leite em pó para
máquinas de distribuição automática, sopas e caldos desidratados, molhos, batatas
granuladas desidratadas, gomas de mascar e suplementos dietéticos (Decreto-Lei n.º
363/98). Como os galhatos na presença de Fe3+ e Cu2+ apresentam uma actividade pró-
oxidante, é recomendado o seu uso juntamente com citrato (quelante) (Shahidi & Naczk,
1995). Outro aspecto a ter em consideração na utilização destes ácidos fenólicos é a
existência de efeitos sinergéticos com outros antioxidantes descritos na literatura
nomeadamente com compostos como o butil-hidroxianisol e o butil-hidroxitolueno (Hirose
et al, 1998).
1.1.2 Antioxidantes na dieta
Para além do Zinco, Cobre e Selénio (sais minerais), as vitaminas e também os
compostos fenólicos (presentes em quantidades consideráveis nos frutos e vegetais), são
compostos que fazem parte da dieta habitual dos humanos e que têm actividade
antioxidante (Fig. 2).
Os antioxidantes da dieta podem proteger o organismo humano contra danos no
ADN celular, lípidos e proteínas, infligidos por radicais livres, por terem capacidade de
inibir oxido-reductases. O ião ferroso (Fe2+), habitualmente encontrado nos alimentos, é
conhecido como um pró-oxidante efectivo (Hsu et al, 2003). Os compostos fenólicos
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Introduç ão
7
podem quelatar iões metálicos pró-oxidantes (como Fe2+/Fe3+ e Cu2+), prevenindo a
formação de radicais livres a partir destes elementos (Kris-Etherton et al, 2002; Bhandari
& Kawabata, 2004). Os bioflavonóides, como a ginkgobilina e a rutina, são exemplos de
fitoquímicos que actuam no equilíbrio e controlo de ferro no organismo, e que impede a
formação de radicais hidroxilos.
Os compostos fenólicos presentes nos frutos e vegetais, e em particular no vinho e
chá, têm sido alvo de diversos estudos devido às suas propriedades antioxidantes
(Sánchez-Moreno et al, 2000; Caccetta et al, 2001; Pearson et al, 1999; Miller et al, 1996;
Cartron et al, 2001; Satué-Gracia et al, 1999; Goldberg et al, 1999; Kähkönen et al, 1999;
Friedman & Jürgens, 2000; Pulido et al, 2000; Chalas et al, 2001). O vinho tinto é uma
bebida que contém vários compostos fenólicos, entre os quais, ácido tánico, olenina e
ácidos fenólicos como o ácido gálhico e, são estes compostos que explicam as
propriedades antioxidantes que são atribuídas ao vinho (Larrauri et al, 1999; Gaulejac et
al, 1999; Burns et al, 2000; Pellegrini et al, 2000).
Figura 2 – Classificação dos antioxidantes. (adaptado de Ratnam et al, 2006)
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Introduç ão
8
No chá também existem compostos fenólicos como o ácido gálhico, facto que explica
a actividade antioxidante que lhe é atribuída (Lin et al, 2000; Degenhardt et al, 2000).
Prevenir a formação de radicais livres a partir de iões metálicos, constitui uma
estratégia para evitar a actividade pró-oxidante destes iões. Uma outra forma de
prevenção consiste no consumo de compostos fenólicos, na dieta habitual do ser
humano, pois estes compostos são capazes de quelatar estes iões impedindo a formação
de radicais livres.
1.2 Actividade antioxidante – Xantina Oxidase
O stress oxidativo tem sido relacionado com um conjunto de processos
fisiológicos e fisiopatológicos, na medida em que os ERO podem iniciar um grande
número de reacções de oxidação, algumas das quais tóxicas, no organismo (Cuzzocrea
et al, 2001). De facto, os ERO libertados por células inflamatórias (tais como células do
sistema mononuclear fagocitário, como por exemplo os macrófagos) constituem
elementos de ligação entre a inflamação e o cancro. Actualmente considera-se como um
factor determinante do surgimento de muitos efeitos genotóxicos uma formação
excessiva e persistente de ERO por células inflamatórias.
Em 1981 Granger e seus colaboradores sugeriram que em situações de
isquemia-reperfusão, a produção de superóxido e de peróxido de hidrogénio seria devida
à conversão de xantina desidrogenase em xantina oxidase, hipótese que mais tarde foi
confirmada (Rasmussen et al, 2000; Saksela et al, 1999). A xantina oxidase é uma
enzima secretada, formada no fígado, sob a forma de xantina desidrogenase estando
presente em quantidades apreciáveis no fígado de indivíduos saudáveis. Quando o
fígado se torna isquémico ou ocorrem danos hepatocelulares os níveis de mRNA da
xantina desidrogenase e da xantina oxidase ficam sobre-regulados (Saksela et al, 1998)
verificando-se a libertação de xantina oxidase para a corrente sanguínea que,
consequentemente, pode ser transportada para todo o organismo (Sanhueza et al, 1992).
A xantina oxidase serve como uma fonte de radicais livres derivados do oxigénio
que induzem quer danos celulares quer edema, assim como alterações na
permeabilidade vascular uma vez que esta enzima se pode ligar às células endoteliais,
presentes na túnica íntima dos vasos sanguíneos, iniciando a produção de radicais
(Houston el at, 1999). A xantina oxidase é reconhecida pelo seu papel como enzima
reguladora dos ácidos nucleicos, através da qual todas as purinas são canalizadas para o
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Introduç ão
9
terminal de oxidação. O ATP, bem como as demais purinas, podem sofrer um processo
de degradação sequencial que culmina na formação de hipoxantina, e depois na
conversão desta em xantina (Fig. 3).
Figura 3 – Diagrama esquemático da via de degradação das purinas
(adaptado de Pacher et al, 2006)
A xantina, por acção irreversível da xantina oxidase, transforma-se em ácido úrico
e este em urato de sódio. A velocidade bem como a quantidade de ácido úrico formado a
partir das purinas tem como factor limitante a quantidade de xantina oxidase; quanto
maior for a quantidade desta enzima maior a formação de ácido úrico. Por outro lado, a
xantina oxidase nesta conversão reduz o oxigénio molecular formando-se O2.- e, se estes
radicais não forem neutralizados pelos mecanismos de defesa no organismo, o ião
superóxido na presença do Fe2+ pode conduzir à produção de espécies muito reactivas
como o H2O2 e/ou a radicais hidroxilo e peroxilo, HO2º. Estas espécies reactivas podem
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Introduç ão
10
perturbar a fisiologia normal das células e conduzir, eventualmente, à morte celular e
falência de vários órgãos (Anup & Balasubramanian, 2000; Papathanassoglou et al,
2000).
A actividade da xantina oxidase aumenta o nível oxidativo do organismo. A
hidroxilação tem lugar no centro de molibdopterina (Mo-pt) através da formação de uma
ligação de hidrogénio entre um oxigénio Mo-OH e um átomo de carbono do substrato, de
tal forma que o átomo de oxigénio deriva de uma molécula de água e não do oxigénio
molecular (Okamoto et al, 2004). A forma activa da xantina oxidase é um homodimero
com um peso molecular de 290 kDa, com cada um dos monómeros a actuar
independentemente durante a catálise. Cada subunidade contém um cofactor
molibdopterina (Fig. 4), dois centros distintos [2Fe-2S] e um cofactor FAD (Olson et al,
1974). Vários resíduos de aminoácidos, como Arg 880, Fen 914, Fen 1009, Thr 1010 e
Glu 1261, são importantes para a formação de ligações de hidrogénio e interacções
electrostáticas.
Figura 4 – Ilustração representativa da estrutura da XO, destacando o centro de molibdopterina.
(adaptado de Bayse, 2009)
Vários estudos têm sido feitos de forma a avaliar os níveis de xantina oxidase em
tecidos neoplásicos tendo-se verificado uma tendência para existirem níveis de xantina
oxidase mais elevados nestes tecidos do que nos tecidos histologicamente normais
(Kökoglu et al, 1990; Kaynar et al, 2005). Como consequência, nos tecidos neoplásicos,
são formados mais EROs derivados da actividade da xantina oxidase sendo, por
consequência, maiores os danos resultantes da sua acção (activação de factores de
indução de hipoxia directamente ou por indução de cascatas de sinalização específicas:
Corinne et al, 2006).
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Introduç ão
11
1.3 Actividade anti-inflamatória e anti-neoplásica – COX-1/ COX-2
O processo inflamatório constitui uma tentativa do organismo em repor a
homeostasia removendo o estímulo lesivo e iniciando o processo que conduz à
recuperação tecidual. A inflamação local, quer causada por lesão tecidual quer por
infecções ou outro estímulo conduz a uma série de alterações nos níveis plasmáticos das
designadas proteínas de fase aguda, que incluem proteínas envolvidas no complemento
e na coagulação, seus inibidores, etc. Estas alterações constituem sinais clínicos que
permitem a identificação clínica de um processo inflamatório, mesmo que este seja
silencioso (sem manifestação evidente de sintomatologia). A causa subjacente ao
aparecimento destes sinais está directamente relacionada com a resposta inflamatória,
isto é, com a activação de diversos mediadores da inflamação.
De entre os diversos mediadores da inflamação envolvidos na resposta
inflamatória estão os eicosanóides. Os eicosanóides são compostos derivados do ácido
araquidónico. O ácido araquidónico é formado por acção da fosfolipase A sobre os
fosfolípidos da membrana plasmática, podendo, por este motivo, encontrar-se em
diversos tipos de células. O ácido araquidónico, por sua vez, pode ser convertido em
prostaglandinas e tromboxanos por acção da ciclooxigenase (COX) (Fig. 5), ou em
leucotrienos por acção da lipoxigenase.
Figura 5 – Ilustração da formação do ácido araquidónico e sua conversão prostaglandinas e tromboxanos
(adaptado de flipper.diff.org)
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Introduç ão
12
A COX é, por vezes, mencionada como “prostaglandina sintase” ou
“prostaglandina sintetase”. A COX converte o ácido araquidónico a prostaglandina H2
(PGH2), o percursor dos prostanoides de série 2 (Fig. 6). A enzima contém dois locais
activos: um heme com actividade de peroxidase, responsável pela redução de
hidroperoxi endoperoxido prostaglandina G2 (PGG2) a PGH2, e um local de
ciclooxigenase, onde o ácido araquidónico (ARA) é convertido a PGG2. A reacção
começa com a extracção do hidrogénio do ácido araquidónico por um radical tirosina
gerado pelo local activo da peroxidase. De seguida, duas moléculas de oxigénio reagem
com o radical do ácido araquidónico, formando a PGG2.
Figura 6 – Ilustração da conversão do ácido araquidónico em PGG2 e PGH2, pelas COXs
(adaptado de flipper.diff.org).
As COXs (COX-1 e COX-2) também oxigenam dois outros ácidos gordos
essenciais – ácido di-homo--linoleico (DGLA, ω-6) e ácido eicosapentaenóico (EPA, ω-3)
– para dar origem à série 1 e 3 dos prostanoides, que são menos inflamatórios do que os
da série-2 (Das, 2005). Estes ácidos gordos, DGLA e EPA, são inibidores da COX,
competitivos com o ácido araquidónico (ARA). Esta inibição constitui o mecanismo
habitual de actuação de fontes dietéticas de DGLA e EPA (p.e. óleo de peixe) na redução
da inflamação (Guivernau et al, 1994).
A estrutura das ciclooxigenases consiste em três domínios distintos: um domínio
amino terminal semelhante ao factor de crescimento epidérmico (EGF), seguido por
domínio de ligação da membrana e domínio catalítico carboxílico terminal, que contém os
locais activos de actividade ciclooxigenase e peroxidase. A análise estrutural da COX
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Introduç ão
13
revela diferenças na região peptídica sinalizante amino-terminal e na cadeia peptídica
carboxílica terminal, mas de importância desconhecida. O local activo com actividade de
ciclooxigenase está localizado num longo canal hidrofóbico formado no centro de α-
hélices associadas à membrana, permitindo que o ácido araquidónico tenha acesso
directamente ao local activo sem deixar a membrana. A função de peroxidase está
localizada do outro lado da enzima, sendo semelhante em ambas as isoformas
enzimáticas (Fig. 7).
Figura 7 – Representação das diferenças estruturais do local activo da COX-1 e COX-2 que
conferem a sua especificidade (adaptado de Moore & Simmnons, 2000).
Actualmente são conhecidas três isoenzimas da COX (COX-1, COX-2 e COX-3).
A COX-3 é uma variante da COX-1 e alguns autores preferem chamá-la COX-1b
(Chandrasekharan et al, 2002). A COX-1 contém uma sequência de 17 aminoácidos na
cadeia peptídica amino-terminal, que não está presente na COX-2, enquanto a COX-2
tem uma inserção adicional de 18 aminoácidos no terminal carboxílico. A sequência
remanescente do núcleo da COX-1 e da COX-2 é idêntica e todos os resíduos
identificados como essenciais para a actividade catalítica são conservados (Needleman
1994; Jouzeau et al, 1997; Cryer & Dubois, 1998).
Diferentes tecidos expressam níveis variáveis de COX-1 e COX-2. A COX-1 é
considerada uma enzima constitutiva, sendo encontrada na maioria das células dos
mamíferos e, que garante a produção normal de PGs tendo, por esse motivo, um papel
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Introduç ão
14
definido na protecção gástrica e na homeostasia do organismo. A COX-2, por outro lado,
é indetectável na maioria dos tecidos normais. É uma enzima indutível por estímulos pró-
inflamatórios (em locais de inflamação), tornando-se abundante em macrófagos activados
e noutras células (Fig. 8).
Apesar de ambas as enzimas actuarem basicamente da mesma forma, a inibição
selectiva de cada uma pode fazer a diferença em termos de efeitos adversos.
Figura 8 – Representação esquemática das vias metabólicas desencadeadas pela COX-1 e COX-2
por estímulos fisiológicos e estímulos inflamatórios (adaptado de Balasubramaniam).
Embora notáveis diferenças tenham sido observadas na estrutura e regulação dos
genes da COX no ADN e ARN, a estrutura da proteína e a função enzimática são
similares. As isoformas COX-1 e COX-2 são semelhantes no peso molecular (70 e 72
kDa, respectivamente), têm 65% de homologia genética nas regiões codificantes e os
seus genes estão localizados nos cromossomas 9 e 1, respectivamente. A sequência de
aminoácidos e locais catalíticos são quase idênticos. A diferença mais significativa entre
estas isoenzimas é a substituição da isoleucina na posição 523 na COX-1 pela valina na
COX-2, aspecto que parece permitir a inibição selectiva de cada uma delas. Por
conseguinte, o resíduo de valina na COX-2, relativamente mais pequeno que o de
isoleucina na COX-1, permite o acesso a um local hidrofóbico da enzima (Fig. 9). Desta
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Introduç ão
15
forma, moléculas consideradas como inibidores selectivos da COX-2, estabelecem
ligações a este local alternativo (Nature, 1996 Macmillan Magazines Ltd.).
Figura 9 – Resíduos de isoleucina e valina na COX-1 e COX-2, respectivamente.
(Nature ©1996 Macmillan Magazines Ltd).
O desenvolvimento de inibidores selectivos da COX-2 efectuou-se com a
perspectiva de se excluírem os efeitos adversos gastrointestinais habitualmente
associados aos anti-inflamatórios não-esteróides tradicionais (fármacos cujo mecanismo
de acção envolve a inibição não selectiva das COXs e logo a biossíntese das
prostaglandinas que são importantes mediadores lipídicos da inflamação como já
anteriormente descrito). Porém estudos recentes mostraram que os inibidores selectivos
da COX-2, até hoje disponíveis na clínica, mostraram estar associados a um aumento de
fenómenos tromboembólicos em populações de doentes com doença cardiovascular
(Dundar et al, 2009).
A inibição farmacológica da COX, além de impedir a progressão da inflamação,
pode ainda ter uma acção quimioprotectora podendo ser útil na quimioterapia do cancro e
de doenças neurológicas degenerativas (Shiff & Rigas, 1997; van Gool et al, 2003; Aisen
et al, 2003). O mecanismo subjacente a esta acção quimiopreventiva pensa-se que está
relacionado com a componente peroxidase da COX, que está suprimida por inibição das
prostaglandinas (as quais por sua vez podem agir como co-carcinogénios e promotores
tumorais). Outro mecanismo parece estar relacionado com o facto de, se ter demonstrado
que a COX-1 está sobre-regulada em vários carcinomas e, por conseguinte, assumir um
papel central na carcinogénese.
Estes dados recentes renovam o interesse na investigação referente ao
desenvolvimento de compostos com capacidade de inibir selectivamente a COX-2.
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Introduç ão
16
Alguns compostos fenólicos foram descritos como apresentando actividade anti-
inflamatória (Fresco et al, 2006) pela sua capacidade em inibir a COX-2, mas também
anticancerígena (Marques et al, 2006). Tendo em consideração o anteriormente exposto,
o uso de anti-inflamatórios (como por exemplo substâncias inibidoras da COX) parecem
constituir uma forma eficaz de combater o cancro.
Estima-se que a exposição aos carcinogénios e a inflamação crónica sejam
condições importantes subjacentes ao desenvolvimento de um cancro, sendo que esta
última é tida como responsável por cerca de 20 por cento dos cancros humanos. Existem
ainda dados da literatura que suportam a existência de uma relação entre a inflamação
crónica e o aparecimento do cancro. Em ratinhos geneticamente modificados que
desenvolveram espontaneamente hepatite e cancro do fígado, verificou-se que à medida
que os sintomas se agravavam, a inflamação desencadeava a activação do factor nuclear
κβ (NF−κβ) e que este, ao ser “desactivado”, evitava o aparecimento do cancro (Surh,
2003). Por outro lado, sabe-se que o NF−κβ é um factor de transcrição nuclear que
regula a expressão de genes que estão relacionados com a inflamação e a
carcinogénese.
O NF−κβ normalmente encontra-se inactivo no citoplasma ligado ao κβ (I-κβ). A
fosforilação deste elemento I-κβ por I-κβ cinases (IKK) conduz à clivagem deste
elemento, libertando o NF−κβ que poderá, subsequentemente, ser translocado para o
núcleo celular e ir activar a expressão de vários genes tais como c-myc, iNOS, bem como
outros genes proliferativos (Kong et al, 2001). Existe ainda uma grande quantidade de
informação na literatura que dá relevância aos compostos fenólicos como agentes
inibidores do crescimento de células neoplásicas, por serem compostos capazes de
interferir com a via de sinalização anteriormente descrita (ex: resveratrol, carnosol,
EGCG) tendo como tal uma actividade quimioprotectora (Fresco et al, 2006). Contudo a
relação entre a actividade anticancerígena e a estrutura química dos compostos fenólicos
está longe de ser esclarecida.
Pelo anteriormente exposto, é compreensível que a avaliação da actividade
antioxidante/antiproliferativa dos derivados fenólicos quer de origem natural quer sintética
seja actualmente, uma área de investigação atractiva estando direccionada ao
desenvolvimento de novas e mais eficientes drogas anticancerígenas/anti-inflamatórias.
De facto, numerosos estudos têm sido desenvolvidos com o objectivo de encontrar novos
“compostos líder”, favoráveis à obtenção de agentes quimiopreventivos e/ou
quimioterapêuticos do cancro.
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Introduç ão
17
1.4 Ácidos fenólicos
Os ácidos fenólicos são substâncias abundantes no reino vegetal, possuindo um
ou mais anéis aromáticos com pelo menos um grupo hidroxilo e que estão divididos em
dois grupos, os ácidos benzóicos que possuem sete átomos de carbono (C6-C1) e os
ácidos cinâmicos (Fig. 10), com nove átomos de carbono (C6-C3) que existem
predominantemente na forma hidroxilada (Fresco et al, 2006).
a) b)
Figura 10 – Estrutura química dos a) ácidos benzóicos e b) ácidos cinâmicos (adaptado de Soares, 2002)
Os ácidos fenólicos naturais quer na forma livre quer na forma conjugada a
açúcares ou proteínas (Croft, 1998), normalmente aparecem como ésteres ou amidas
(Fiuza et al, 2004; Gomes et al, 2003). Em geral podem reagir com radicais livres, devido
à facilidade com que o átomo de hidrogénio do grupo hidroxilo pode ser capturado por um
radical livre, resultando numa estrutura de ressonância que suporta a presença de um
electrão desemparelhado. A literatura descreve que compostos fenólicos dihidroxilados
apresentam actividade antioxidante crescente na seguinte ordem: meta < orto < para
(Dziedzzik & Hudson, 1984).
Análises conformacionais deste tipo de compostos revelaram a predominância de
uma geometria planar ou quasi-planar devido ao efeito estabilizador da deslocalização de
electrões-π entre o anel aromático coplanar e a ligação dupla C=C da cadeia de carbono
(Fiuza et al, 2004). Por outro lado, a mesma orientação dos grupos hidroxilo do anel,
minimiza os efeitos repulsivos entre estes grupos, resultando numa estrutura mais estável
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Introduç ão
18
(Sousa et al, 2006). O conhecimento das preferências conformacionais é de extrema
importância para o entendimento das propriedades biológicas deste tipo de sistemas.
Na Tabela 2 podemos observar a fonte dietética para diversos ácidos fenólicos e
análogos, bem como referência a modelos experimentais que permitiram, até à data,
avaliar alguns dos possíveis efeitos biológicos destes compostos.
Tabela 2 – Ácidos fenólicos e Análogos, efeitos biológicos em diversos modelos experimentais Composto Fenólico
Estrutura Geral Mecani smos quimiopreventivos
Modelo experimental
Fonte dietética
Ácidos hidroxibenzóicos e seus derivados Ácido Gálhico e seus ésteres alquílicos
ÁCIDOS BENZÓICOS
Efeitos antioxidantes Indução de apoptose Interferência no ciclo celular Supressão das vias mediadas pelo GFR Supressão da activação do NF-kβ
Células de cancro humanas: pulmão, estômago, cólon, mama, leucemia, cólo uterino, neoplasma linfóide, epitelial Ratos CD-1
Plantas Vegetais Bebidas Aditivos
Ácidos hidroxicinâmicos e seus derivados Ácido cafeico e derivados (ésteres, nomeadamente fenetil éster do ácido cafeico-CAPE e amidas) Ácido ferúlico Ácido sináptico
ÁCIDOS CINÂMICOS
Efeitos antioxidantes Indução de apoptose Interferência no ciclo celular Efeitos anti-inflamatórios Supressão da activação do NF-kβ Supressão da angiogénse
Células de cancro humanas: leucemia, cólo uterino, células de cancro oral
Plantas Frutos Vegetais Azeite Arroz Aveia Sementes de mostarda Bebidas (café, vinho, chá) Café torrado Propolis (resina do mel de abelha) Cacau
Curcumina e derivados Yakuchinona A Yakuchinona B
ANÁLOGOS
Efeitos antioxidantes Indução de apoptose Interferência no ciclo celular Efeitos anti-inflamatórios Supressão da activação do NF-kβ Supressão de proteínas cinases (inibidor de cinases de serina/treonina, cinases de tirosina) Supressão de angiogénse Supressão das vias mediadas pelo EFR
Células de cancro humanas: cancro de pele, leucemia
Turmerico (rizoma de cúrcuma longa) Curry (Caril)
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Introduç ão
19
Capsaicina, dihidrocapsaicina e derivados
Efeitos antioxidantes Indução de apoptose
Células de cancro humanas: leucemia
Pimenta
Ácido rosmarinico e derivados
Efeitos antioxidantes Efeitos anti-inflamatórios
Cancro de pele
Plantas Anthocerotophyta
[6]-Gingerol [6]-Paradol e derivados R1=OCH3; R2=OH [6]-Gingerol R1=OCH3; R2=H [6]-Paradol
Efeitos antioxidantes Efeitos anti-inflamatórios Indução de apoptose
Células de cancro humanas: cancro de pele, leucemia, carcinoma oral
Zingiberaceae Raiz de ginger Grãos do paraíso
Tirosol R1=H Hidroxitirosol R1=OH
Efeitos antioxidantes Indução de apoptose
Células de cancro humanas: pulmão, cólon, mama, cancro ovárico
Azeite Óleos comestíveis Vinho
(adaptado de Fresco et al, 2006)
1.4.1 Ácidos hidroxicinâmicos
O maior grupo dos ácidos fenólicos são os ácidos hidroxicinâmicos que são
encontrados em quase todas as plantas. Actualmente, as funções biológicas de ácidos
hidroxicinâmicos foram determinadas como sendo intrinsecamente dependentes do
número e orientação relativa dos substituintes hidroxilo do anel, assim como da presença
de cadeias laterais alquil-éster e da sua natureza química e orientação espacial (Sousa et
al, 2006).
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Introduç ão
20
Os ácidos hidroxicinâmicos são, normalmente, esterificados a açúcares, ácidos
orgânicos e lípidos sendo o ácido cafeico o maior representante destes ácidos. Na Fig. 11
estão representados os ácidos hidroxicinâmicos e seus derivados mais relevantes.
Figura 11 – Os ácidos p-cumárico, ferúlico, caféico e sináptico são os hidroxicinâmicos mais comuns na
natureza. Estes ácidos existem nas plantas, usualmente na forma de ésteres, a exemplo do ácido clorogénico, éster do ácido quínico, cuja molécula é constituída pelo ácido quínico esterificado ao ácido caféico.
1.5 Biossíntese dos ácidos fenólicos na natureza
Entre os milhares de compostos secundários existentes nas plantas, encontram-
se os ácidos fenólicos, em especial os derivados dos ácidos cinâmico e benzóico, que se
sabe interferirem em muitos processos vitais das plantas apesar do seu mecanismo de
acção ainda ser pouco conhecido. Nas plantas, as funções alteradas por estes
compostos, com maior frequência, são a utilização de água e assimilação de nutrientes, o
crescimento das raízes e expansão de folhas. Para além destes efeitos descritos nas
plantas ou vegetais, os ácidos fenólicos podem ainda interferir com outros processos
biológicos tais como síntese de proteínas, respiração celular, permeabilidade da
membrana celular e com a actividade de algumas enzimas.
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Introduç ão
21
Figura 12- Esquema representativo da via metabólica que conduz à sintese natural de compostos fenólicos
(adaptado de Taiz & Zeiger, 2004)
Apenas alguns grupos de vegetais são capazes de desenvolver etapas
bioquímicas que, através da desaminação da fenilalanina e da tirosina, possibilitam a
síntese de compostos em C6-C3, os fenilpropanos e os seus polímeros, os polifenóis. Os
ácidos cinâmico e o p-cumárico, obtidos respectivamente da fenilalanina e da tirosina,
constituem o ponto de partida de duas importantes vias de síntese nos vegetais: a dos
polifenóis e a das lenhinas (ver Figs. 12 e 13).
Figura 13 – Etapas que culminam com a formação do ácido cafeico ácido hidroxicinâmico a partir do ácido
xiquimico.
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Objectivos
22
2. OBJECTIVOS
Estudos com o ácido cafeico (um ácido hidroxicinâmico natural amplamente
investigado) e respectivos ésteres revelaram existir um papel protector deste tipo de
ácidos fenólicos relativamente a uma grande diversidade de patologias: as suas
propriedades estruturais conferem-lhes capacidade antiradicalar e antioxidante (Lee et al,
2008), antiviral (Fruehauf & Meyskens, 2007), anti-inflamatória (Orban et al, 2000),
antitumoral (Nagaoka et al, 2003), neuroprotectora (Ilhan et al, 2004), and
antiaterosclerótica (Hishikawa et al, 2005).
Figura 14 – Representação dos derivados hidroxicinâmicos estudados, o ácido trans-3-(3,4,5-
trihidroxifenil)-2-propenóico (THPPE) e seus ésteres trans-etil-(3,4,5-trihidroxifenil)-2-propenoato (ETHPPE) e dietil-2-(3,4,5-trihidroxifenilmetileno) malonato (E2THPPE).
Tendo em conta o potencial terapêutico desta família de compostos, foram-se
desenvolvendo e sintetizando novos derivados de ácidos hidroxicinâmicos, com diversas
alterações conformacionais, com a expectativa de optimizar as suas propriedades
benéficas para a prevenção e tratamento de várias patologias humanas. Na sequência
deste esforço foram sintetizados, pelo grupo da Professora Doutora Fernanda Borges, no
Departamento de Química Orgânica da Faculdade de Farmácia da Universidade do
Porto, três novos derivados do ácido cafeico.
Neste estudo, foi analisado o potencial efeito antioxidante e anti-inflamatório dos
compostos, ácido trans-3-(3,4,5-trihidroxifenil)-2-propenóico (THPPE) e dos respectivos
ésteres, trans-etil-(3,4,5-trihidroxifenil)-2-propenoato (ETHPPE) e dietil-2-(3,4,5-
ETHPPE
E2THPPE
THPPE
C O H
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Objectivos
23
trihidroxifenilmetileno) malonato (E2THPPE) (Fig. 14) avaliando a capacidade que estes
compostos exibem em interferir com a actividade de enzimas como a xantina oxidase e a
ciclooxigenase, enzimas reguladoras chave na formação de radicais livres e moléculas
inflamatórias que, por sua vez, são elementos despoletadores do processo
inflamatório/cancro. Para tal, foi determinado o efeito inibitório que os compostos THPPE,
ETHPPE e E2THPPE têm sobre a actividade enzimática das enzimas xantina oxidase e
ciclooxigenase 1 (COX-1) e ciclooxigenase 2 (COX-2).
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Materiais e Métodos
24
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Reagentes e compostos testados
Os compostos fenólicos (não comerciais) estudados neste trabalho foram
sintetizados pelo grupo da Professora Doutora Fernanda Borges, no Departamento de
Química Orgânica da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto. A sua
identificação foi levada a cabo por espectroscopia de infravermelho (FTIR), ultravioleta
(UV) e ressonância magnética nuclear (RMN); espectrometria de massa, cromatografia
em camada fina e análise elementar.
Neste estudo, foi analisado o potencial efeito inibidor dos derivados
hidroxicinâmicos do ácido cafeico, o ácido trans-3-(3,4,5-trihidroxifenil)-2-propenóico
(THPPE) e respectivos ésteres, trans-etil-(3,4,5-trihidroxifenil)-2-propenoato (ETHPPE) e
dietil-2-(3,4,5-trihidroxifenilmetileno) malonato (E2THPPE) (Silva et al, 2000) nas enzimas,
xantina oxidase (XO) e ciclooxigenase (COX).
O THPPE e o ETHPPE foram sintetizados como descrito em (Fiuza et al, 2004) e
identificados por ressonância magnética nuclear (RMN) e Ei-MS. O E2THPPE foi
sintetizado de acordo com o processo descrito por Hubner et al (1952) com ligeiras
modificações.
O Alopurinol e a Indometacina (compostos de referência) foram adquiridos à
Sigma-Aldrich Chemical Co. (Sintra).
3.2 Preparação das soluções
Para os ensaios de inibição, foram preparadas soluções stock de THPPE,
ETHPPE e E2THPPE na concentração de 7,68 mM usando como solvente
dimetilsulfóxido (DMSO). Todas as soluções foram armazenadas ao abrigo da luz, a -
18ºC.
As soluções dos compostos THPPE, ETHPPE e E2THPPE utilizadas nos vários
ensaios foram preparadas diáriamente em intervalos de concentração de 8 µM a 512 µM
utilizando como solvente a solução tampão indicada no respectivo Kit.
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25
3.3 Ensaios de inibição
3.3.1 Medição da Actividade da Xantina Oxidase
A actividade da xantina oxidase foi determinada com o kit “Amplex® Red
Xanthine/Xanthine Oxidase Assay Kit” da Molecular Probes (Eugene, OR) que fornece
um método ultrasensível para monitorizar a actividade da xantina oxidase. No ensaio, a
xantina oxidase catalisa a oxidação das bases de purina (xantina ou hipoxantina) a ácido
úrico e superóxido (2). Na mistura de reacção, o superóxido degrada-se
espontaneamente a peróxido de hidrogénio (H2O2) que, na presença de peroxidase de
rábano picante (HPR), reage com o Reagente Amplex Red, dando origem a um produto
de oxidação vermelho fluorescente, resorufina (Mohanty et al, 1997)
Xantina/ Xantina Oxidase:
1) hipoxantina ou xantina + O 2 → ácido urico + superóxido (catalisada pela
xantina oxidase)
2) superóxido → H2O2 (degrada-se espontaneamente)
3) H2O2 + Amplex® Red → resorufina (na presença de HRP)
(2)
Este produto tem uma absorção máxima a aproximadamente 560nm (e uma
emissão de fluorescência máxima a aproximadamente 585nm) e como o coeficiente de
extinção molar é elevado (54000 cm−1 M−1), o ensaio pode ser desenvolvido quer
fluorimetricamente quer espectrofotometricamente.
Os inibidores em estudo foram adicionados à solução de trabalho contendo 50 µM
de Xantina, Reagente Amplex Red (0,0101 M), HRP (20 U), Xantina Oxidase (1 U) e
Tampão de Reacção (0,125 M). As reacções foram incubadas a 37ºC durante 30 min. As
leituras foram feitas num espectrofotómetro “PowerWaveXS (Bio-Tek Instruments Inc,
Vermont, EUA)”, em triplicado e em placas de 96 poços. A actividade inibitória da xantina
oxidase foi expressa como percentagem de inibição da xantina oxidase, a qual foi
calculada de acordo com a fórmula (3):
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26
% inibição XO= 100 − ( A/B ×100) (3)
Em que (A) e (B) são as absorvâncias com e sem inibidor, respectivamente e XO significa xantina oxidase.
É ainda de acrescentar que foi feita uma curva padrão para cada ensaio de
inibição com a xantina oxidase.
3.3.2 Medição da Actividade da Ciclooxigenase
A actividade das ciclooxigenases, COX-1 e COX-2, foi determinada com o kit
“COX Inhibitor Screening Assay” da Cayman Chemical, de acordo com protocolo do
fabricante.
Resumidamente, o heme e as enzimas (COX-1 e COX-2) foram adicionados a
tubos de ensaio contendo tampão de reacção da COX (0,1 M de Tris-HCl, pH 8,0,
contendo 5 mM de EDTA e 2 mM de fenol). A mistura foi agitada no vortex e incubada
com tampão de reacção e soro a 37ºC durante 10 min. A solução de ácido araquidónico
foi adicionada para desencadear a reacção da COX. Após uma incubação a 37ºC durante
2 min., foi adicionado ácido hidroclórico (1M) para parar a reacção catalítica da enzima
(4).
heme + COX-1/COX-2 + tampão de reacção + soro + áci do araquidónico + HCl (4)
De seguida, ocorre redução da prostaglandina (PG) PGH2 a PGF2α pela adição de
uma solução de cloreto de estanho saturado à temperatura ambiente durante 5 min (5).
COX COX SnCl ácido araquidónico → PGG2 → PGH2 → PGF2α (5)
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27
Os prostanóides obtidos são quantificados através de um ensaio imunoenzimático
(EIE), usando um anticorpo altamente específico que se liga a todos os principais
compostos de prostaglandina (Fig. 15).
Figura 15 – Esquema respresentativo dos passos relativos ao ensaio imunoenzimático efectuado com o kit
utilizado (adaptado do catálogo No. 560131 - “COX Inhibitor Screening Assay” da Cayman Chemical).
Este ensaio é baseado na competição entre as PGs e um conjugado (PG-tracer)
da PG-acetilcolinesterase (AChE) por uma quantidade limitada de antisoro (de coelho).
Como a quantidade de “PG tracer” é constante, enquanto que a quantidade de PGs varia,
a quantidade de PG tracer que se consegue ligar ao antisoro PG será inversamente
proporcional à quantidade de PGs que se encontrar no poço. Este complexo antisoro PG
liga-se ao anticorpo monoclonal anti-coelho que foi previamente fixado ao poço. A placa
é, então, lavada para remoção de todos os reagentes livres e o reagente Elman´s (que
contém o substrato para a AChE) é adicionado a cada poço. O produto desta reacção
enzimática possui uma cor amarela característica e absorve fortemente a 412nm. A
intensidade desta cor, determinada espectrofotometricamente, é proporcional à
quantidade de “PG tracer” ligado a cada poço, que por sua vez é inversamente
proporcional à quantidade de PG´s livres presentes durante o tempo de incubação:
Absorvância ∞ [”PG tracer”] ligado ∞ 1/ [PG]
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28
Assim, este ensaio da COX é mais preciso e fiável do que uma análise baseada
na inibição da peroxidase. O kit inclui a COX-1 ovina e a COX-2 recombinante humana
de modo a que seja possível detectar inibidores específicos das isoenzimas.
Da mesma forma que para a XO, também foi feita uma curva padrão para cada um dos
ensaios com a COX-1 e COX-2.
3.4 Ensaios de cinética enzimática com a Xantina Ox idase
Para os ensaios de actividade enzimática foi seleccionado o composto que
produziu uma maior inibição da xantina oxidase e determinado o tipo de cinética de
inibição, tendo sido calculado o respectivo Km e Vmáx. Para tal, utilizou-se o mesmo kit e
monitorizou-se a actividade enzimática com medição da absorção a 560nm a 37 ºC em
intervalos de 2 min., durante 32 min. (a reacção enzimática deve, em condições normais,
decorrer em 30 min.).
3.5 Cálculo e Tratamento Estatístico dos Resultados
Os resultados obtidos foram tratados usando o “Graph-Pad Prism 5”. Foram
determinados os valores de inibição obtidos, calculados como média ± desvio padrão
(DvP) de n experiências. Calculou-se ainda o valor de concentração capaz de inibir 50%
da actividade enzimática (IC50). Em cada experiência e para cada tratamento foram
efectuados duplicados (ensaios para avaliação da actividade da ciclooxigenase) ou
triplicados (ensaios para a avaliação da actividade da xantina oxidase).
Para a análise do significado estatístico entre os diversos grupos de tratamentos
utilizou-se ANOVA “one way” análise de variância seguido pelo teste t-Tukey´s (quando
aplicável). Consideraram-se como estatisticamente significativas as diferenças cujo valor
de p fosse inferior ou igual a 0,05.
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Resultados
29
4. RESULTADOS
4.1 Ensaios de inibição com a Xantina Oxidase
A xantina oxidase, cuja actividade se sabe estar aumentada em situações de
stress oxidativo (Adkins and Taylor, 1990; Koyama et al., 1999; Manach et al., 1999),
produz ácido úrico e ião superóxido (tal como anteriomente descrito na secção 1.2 da
introdução). A inibição desta enzima é medida por uma diminuição na produção de ácido
úrico.
Neste trabalho foram avaliados os potenciais efeitos de derivados de ácidos
fenólicos, particularmente compostos derivados dos ácidos hidroxicinâmicos, THPPE e
respectivos ésteres, ETHPPE e E2THPPE, sobre a actividade enzimática da xantina
oxidase. Neste estudo utilizou-se o composto alopurinol como inibidor de referência pois
na literatura o alopurinol é referido como um fármaco que é substrato e inibidor específico
potente da xantina oxidase (Nguyen et al, 2006), sendo amplamente utilizado como
composto inibitório de referência.
Figura 16 – Gráfico representativo das curvas de inibição obtidas para os ensaios enzimáticos com a Xantina
Oxidase na presença dos vários derivados dos ácidos fenólicos estudados e do alopurinol.
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Resultados
30
Na Fig. 16 podemos observar curvas representativas referentes ao perfil de
inibição individual obtido para cada composto. A concentração capaz de inibir 50% da
actividade enzimática (IC50) respeitante a cada composto foi calculada (Tabela 3) de
forma a comparar a capacidade de inibição exibida.
Tabela 3 – Inibição da xantina oxidase por derivados de ácidos fenólicos: três derivados do subgrupo dos ácidos hidroxicinâmicos.
IC50 ± DvP (µM) n (3x)
Alopurinol 6,92 ± 1,43 7
THPPE 784,01 ± 145,01** ++ ## 2
ETHPPE 299,07 ± 108,85 ** ++ 3
E2THPPE 9,29 ± 2,63 5
Alopurinol não é um derivado dos ácidos fenólicos mas é habitualmente utilizado como inibidor de referência da xantina oxidase. n representa o número de experiências efectuadas para cada composto. Resultados são médias ± DvP da concentração capaz de inibir 50% da actividade enzimática (IC50). Diferenças significativas (ANOVA- “one way” análise de variância seguido pelo teste t-Tukey´s) do composto de referência, *p≤0,05 e **p≤0,001; do composto E2THPPE, ++p≤0,001; do composto ETHPPE, ##p≤0,001.
Os resultados obtidos mostram que a inibição da xantina oxidase aumenta
significativamente com a adição dos compostos, alopurinol e E2THPPE. De facto, o perfil
de inibição exibido pelo E2THPPE é muito semelhante ao do alopurinol: o perfil inibitório é
promissor e os valores de IC50 obtidos são semelhantes aos obtidos com o composto de
referência (alopurinol), 9,29 e 6,92, respectivamente. Já para os restantes compostos
estudados (THPPE e ETHPPE), os resultados obtidos revelaram a necessidade de
recorrer a concentrações mais elevadas de forma a ser possível atingir um efeito inibitório
semelhante ao exibido pelo E2THPPE/alopurinol.
Em suma, dos compostos em estudo (THPPE, ETHPPE e E2THPPE) o E2THPPE
foi o composto que mais contribuiu para inibição da xantina oxidase. De facto, a ordem de
eficiência na inibição da xantina oxidase encontrada foi a seguinte:
Alopurinol = E 2THPPE> ETHPPE> THPPE
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Resultados
31
4.1.1 Ensaios de Cinética Enzimática com a Xantina Oxidase do composto E 2THPPE
Efectuaram-se ensaios de cinética enzimática com a xantina oxidase para o
composto E2THPPE. Para o efeito utilizou-se uma concentração constante de E2THPPE
(100 µM) e várias concentrações crescentes de substrato (xantina: 12,5 µM - 100 µM). As
reacções foram efectuadas na presença e ausência de inibidor tendo sido obtidas as
curvas de Michaelis-Menten apresentadas na Fig. 17.
Michaelis-Menten
0 50 1000.000
0.005
0.010com E2THPPE
controlo
[E2THPPE] µµµµM
% In
ibiç
ão X
O
Figura 17 – Ensaios de cinética enzimática para o composto E2THPPE. Gráfico de
Michaelis Menten representativo do perfil cinético da reacção da xantina oxidase na presença e ausência de inibidor, o E2THPPE (100 µM).
Como esperado, a velocidade da reacção vai gradualmente aumentando à medida
que a concentração de substrato (xantina) aumenta. Verifica-se ainda que, a velocidade
da reacção observada é consideravelmente superior na ausência do inibidor.
Os resultados obtidos foram analisados pela representação gráfica Lineweaver-
Burk (Fig. 18), tendo sido determinados os valores de Km e Vmáx (Tabela 4) para ambas
as condições (presença e ausência de E2THPPE).
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Resultados
32
Figura 18 – Ensaios de cinética enzimática para o composto E2THPPE. Gráfico de
Lineweaver-Burk foi construído para a inibição da xantina oxidase pelo composto E2THPPE. O gráfico está expresso como 1/velocidade versus 1/concentração de xantina (µM-1) na presença e ausência de inibidor nas soluções.
Tabela 4 – Ensaios de cinética enzimática para o composto E2THPPE
Km (Média ± DvP)
Vmáx (Média ± DvP)
n
E2THPPE (a) 29,30 ± 4,18 0,00080 ± 0,00004 4
Controlo (b) 60,34 ± 7,29 0,01890 ± 0,00111 4
Os valores apresentados foram calculados para a inibição da xantina oxidase pelo composto E2THPPE: valores de Km, Vmáx, desvios padrão de n experiências. (a) 100 µM de E2THPPE; (b) 0 µM de E2THPPE
A análise do perfil de inibição obtido através da representação gráfica de
Lineweaver-Burk permite avaliar o tipo de inibição do composto em estudo e que pode
indicar uma das seguintes possibilidades: inibição reversível ou inibição irreversível
(Tabela 5). Na inibição reversível o tipo de inibição classifica-se segundo o efeito que
produzam nas constantes cinéticas Km e Vmax. Este efeito dependerá da união do inibidor
à enzima E, ao complexo enzima-substrato ES ou a ambos. Porém os inibidores
enzimáticos podem ainda unir-se e inactivar uma enzima de forma irreversível,
Lineweaver-Burk
-0.05 0.05 0.10
2000
4000110742820 += xy
20,503336 += xy
1/ [E2THPPE]
1/ V
com E2THPPE
controlo
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33
geralmente por meio de modificações covalentes de resíduos do local catalítico da
enzima.
Estas reacções decaem de forma exponencial e são habitualmente saturáveis.
Abaixo dos níveis de saturação, mantêm uma cinética de primeira ordem em relação ao
inibidor.
Tabela 5 – Tipos de inibição reversível e respectiv as variações do K m e Vmáx
Tipo de inibição Km
Vmáx
competitiva ↑ ↔
não competitiva ↔ ↓
incompetitiva ↓ ↓
mista ↑,↓ ou ↔ ↓
No estudo de cinética enzimática para o composto E2THPPE verificamos que o
valor de Vmáx obtido é menor na presença do inibidor do que na sua ausência e que o
valor de Km varia (diminui) indicando que o composto E2THPPE exerce uma inibição
reversível mista. Uma inibição incompetitiva por parte do E2THPPE foi excluída, apesar
de os valores de Vmáx e de Km diminuírem na presença do composto, pois na
representação gráfica de Lineweaver-Burk os perfis de inibição obtidos na ausência e
presença de inibidor são compatíveis com o que seria de esperar numa inibição mista
(ver Fig.18) e não com uma inibição incompetitiva (na qual os perfis obtidos com e sem
inibidor deveriam ser paralelos).
Em suma, dos compostos estudados, o E2THPPE revelou ser um potente inibidor
da xantina oxidase na forma mista (IC50 alopurinol= IC50 E2THPPE).
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Resultados
34
4.2 Ensaios de inibição com a Ciclooxigenase 1 e 2
A ciclooxigenase (COXs), que como anteriormente já foi descrito na secção 1.3 da
introdução, se apresenta sob a forma de três isoformas, COX-1, COX-2 e COX-3 ou
COX-1b, previne a biossintese das prostaglandinas (PGs), importantes mediadores do
processo inflamatório, pelo que a sua inibição diminui o processo inflamatório. Um dos
muitos anti-inflamatórios não esteroides habitualmente utiizados na clínica é a
indometacina, cujo mecanismo de acção envolve a inibição das COXs. Por este motivo, a
indometacina foi o composto de referência (Anti-Inflamatório Não Esteróide, AINE)
utilizado para estudar a actividade anti-inflamatória exibida pelos derivados dos ácidos
hidroxicinâmicos THPPE, ETHPPE e E2THPPE.
Foram desenvolvidos ensaios para avaliar a capacidade inibitória dos três
compostos sobre a COX-1 e COX-2. Nas Figs. 19 e 20 podemos observar curvas
representativas referentes ao perfil de inibição individual obtido para cada composto
sobre a actividade da COX-1 e COX-2, respectivamente.
O perfil de inibição obtido para a actividade da COX-1 revela uma diferença
considerável entre a concentração de indometacina necessária para inibir a COX-1
relativamente às concentrações exibidas, para o mesmo efeito, pelos três compostos em
estudo. Entre os compostos THPPE, ETHPPE e E2THPPE, o perfil de inibição da
actividade da COX-1 encontrado é muito semelhante, ficando aquém da inibição
conseguida com a indometacina (Fig. 19).
COX-1
-10 -8 -6 -4 -20
50
100 THPPEE2THPPE
ETHPPEIndometacina
log [Inibidor] µµµµM
% In
ibiç
ão C
OX
-1
A
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Resultados
35
COX-1
-5.0 -4.5 -4.0 -3.5 -3.00
50
100 THPPEE2THPPEETHPPE
log [Inibidor] µµµµM
% In
ibiç
ão C
OX
-1
Figura 19 – Gráficos representativos das curvas dose-resposta obtidas para os ensaios enzimáticos com a COX-1 na presença dos vários compostos fenólicos estudados e da indometacina (composto de referência). No painel A compara-se o perfil obtido para a indometacina com os dos restantes compostos derivados dos ácidos hidroxicinâmicos e no painel B apresentam-se apenas os perfis obtidos com os compostos em estudo.
Relativamente ao perfil de inibição obtido para a actividade da COX-2, verificou-se
que a concentração necessária de indometacina para atingir inibição total da COX-2 é
bastante mais baixa do que a concentração necessária dos compostos em estudo para
que estes consigam desencadear o mesmo efeito (Fig. 20). Verificou-se que, de entre os
compostos THPPE, ETHPPE e E2THPPE, os perfis de inibição sobre a COX-2 exibidos
pelo THPPE e pelo E2THPPE são semelhantes. O composto ETHPPE apresenta um
perfil de inibição em que para concentrações mais baixas se consegue atingir um efeito
inibitório mais acentuado, facto que não se verifica para concentrações mais elevadas.
B
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Resultados
36
COX-2
-10 -8 -6 -4 -20
50
100 THPPEE2THPPE
ETHPPE
Indometacina
log [Inibidor] µµµµM
% In
ibiç
ão C
OX
-2
COX-2
-5.0 -4.5 -4.0 -3.50
50
100 THPPEE2THPPEETHPPE
log [Inibidor] µµµµM
% In
ibiç
ão C
OX
-2
Figura 20 – Gráficos representativos das curvas dose-resposta obtidas para os ensaios enzimáticos com a COX-2 na presença de cada um dos vários compostos fenólicos estudados e da indometacina (composto de referência). No gráfico A compara-se o perfil obtido para a indometacina com os dos restantes compostos e no gráfico B os compostos em estudo entre si.
Para cada composto foi calculado o respectivo IC50 (Tabela 6) que permite avaliar
a potência de cada composto quanto à sua capacidade em inibir cada isoforma
individualmente, COX-1 e COX-2.
B
A
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Resultados
37
Tabela 6 – Inibição da COXs por derivados de ácidos fenólicos: três derivados do subgrupo dos ácidos hidroxicinâmicos.
Indometacina não é um derivado dos ácidos fenólicos mas é habitualmente utilizado como inibidor de referência da ciclooxigenase. n representa o nº de experiências efectuadas para cada composto. Resultados são médias ± DvP da concentração capaz de inibir 50% da actividade enzimática (IC50). Diferenças significativas (ANOVA- “one way” análise de variância seguido pelo teste t-Tukey´s) do composto de referência, * p≤ 0,05 e **p≤0,001; do composto E2THPPE, +p≤0,05 e ++p≤0,001; do composto ETHPPE, #p≤0,05.
Os resultados obtidos (Tabela 6) mostram que a actividade da COX-1 diminui
significativamente com a adição da indometacina e dos compostos em estudo, THPPE,
ETHPPE e E2THPPE. O composto mais potente na inibição da isoforma do tipo 1 foi o
composto de referência (indometacina). Dos derivados dos ácidos fenólicos em estudo, o
E2THPPE apresentou um perfil de inibição, semelhante ao obtido pelo THPPE, enquanto
o ETHPPE foi menos eficiente em inibir a COX-1.
Por conseguinte, estatisticamente, a ordem de eficiência na inibição da COX-1 é a
seguinte:
Indometacina> E 2THPPE= THPPE> ETHPPE
COX-1 COX-2 COX-2/
COX-1 Composto IC50 (µM) ± DvP n (3x) IC50 (µM) ± DvP n (3x)
Indometacina
0,034 ± 0,12
2
0,10± 0,15
2 2,94
THPPE
43,70± 2,01** #
10
41,05 ± 6,12** ++
8 0,94
ETHPPE
54,50± 8,96** +
8
32,13 ± 15,90* +
12 0,59
E2THPPE
35,22 ± 1,01**
2
11,76 ± 0,61*
2 0,33
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Resultados
38
A actividade da COX-2 fica significativamente diminuida na presença de indometacina e
dos compostos em estudo, THPPE, ETHPPE e E2THPPE. O composto que promove a
inibição da isoforma do tipo 2 com menores concentrações foi, à semelhança do que se
observou com os ensaios de inibição para a COX-1, a indometacina. Da mesma forma
que para a COX-2, dos derivados dos ácidos fenólicos em estudo, o E2THPPE foi o
composto que apresentou melhor perfil de inibição (IC50= 11,76), seguido pelo ETHPPE e
depois pelo THPPE (Tabela 6).
Em resumo, estatisticamente, a ordem de eficiência na inibição da COX-2 é:
Indometacina> E 2THPPE> ETHPPE = THPPE
A razão de IC50 COX-2/COX-1 permite uma comparação dos valores relativos dos
diversos compostos testados relativamente à selectividade exibida para as duas
isoformas: uma baixa razão de IC50 COX-2/COX-1 de um determinado composto indica
uma inibição preferencial da COX-2 (> 50 vezes COX-2 ou COX-2/COX-1 <0,02,
corresponde aos valores atribuídos para inibidores da COX-2 altamente selectivos. Neste
trabalho a razão de IC50 COX-2/COX-1 obtida para o THPPE e ETHPPE é de 0,94 e 0,54
respectivamente enquanto que para o E2THPPE foi menor, de 0,33. A razão de IC50
COX-2/COX-1 para o composto de referência foi de 2,94.
As razões encontradas são da mesma ordem de grandeza, pelo que os
compostos em estudo exibem actividade inibitória equiselectiva para ambas as isoformas.
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Discussão
39
5. DISCUSSÃO
A xantina oxidase é reconhecida como uma enzima com um papel importante nas
doenças geradas por radicais. De facto, a conversão de hipoxantina a xantina e de
xantina a ácido úrico por acção catalisadora da xantina oxidase na via de degradação das
purinas (Rundles & Wyngaarden, 1969) serve como uma fonte de radicais livres
derivados do oxigénio, os quais podem iniciar um grande número de reacções de
oxidação, algumas das quais tóxicas no organismo. O alopurinol (1,5-dihidro-4H-
pirazol[3,4-d]pirimidina-4-ona) é um fármaco utilizado como inibidor da xantina oxidase
(Nguyen et al, 2006) que se comporta como substrato e inibidor específico potente da
xantina oxidase. Contudo, a xantina oxidase pode catalisar o alopurinol em oxipurinol
(1H-pirazol [3,4-d] -pirimidina-4,6-diol) que por sua vez permanece ligado firmemente ao
local activo enzimático. Consequentemente, ocorre uma elevação das concentrações de
hipoxantina, enquanto a concentração de ácido úrico diminui (Fig. 21). Assim, a inibição
da enzima xantina oxidase ocorre através de uma competição directa do substrato na
degradação das purinas (Tamta, 2006), por conseguinte, o alopurinol é habitualmente
considerado como um inibidor competitivo da xantina oxidase enquanto o seu metabolito
activo, o oxipurinol, se considera um inibidor não competitivo da xantina oxidase (Fields
et al, 1996; O´Driscoll et al, 1999).
Figura 21 – Esquema representativo das reacções levadas a cabo pela Xantina Oxidase: conversão da
hipoxantina em xantina e desta em ácido úrico e a conversão do alopurinol, em oxipurinol, resultando na sua inibição.
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Discussão
40
O alopurinol é habitualmente utilizado na terapêutica de hiperuricémia primária e
secundária (Rott & Agudelo, 2003; Terkeltaub, 2003; Bieber and Terkeltaub, 2004;
Schlesinger, 2004; Pea, 2005; Wortmann, 2005; Nguyen et al, 2006) tendo-se verificado
que este pode desencadear um conjunto de efeitos adversos sendo os mais frequentes
as erupções cutâneas (que podem ser bastante severas e por vezes fatais: ocorrendo em
2-8% dos pacientes); alterações gastrointestinais, diarreia e náuseas (Rott & Agudelo,
2003; Terkeltaub, 2003; Bieber & Terkeltaub, 2004; Schlesinger, 2004; Pea, 2005); e em
pacientes com reações adversas mais graves: febre, calafrios, artralgias, icterícia
colestática, eosinofilia e leucocitose leve ou leucopenia, reacções de hipersensibilidade
(que podem aparecer meses ou anos após a toma da medicação).
Com base na boa capacidade inibitória do alopurinol têm sido desenvolvidos
estudos com o objectivo de sintetizar novos inibidores da xantina oxidase, dos quais se
destacam derivados sintéticos de purinas e pirimidinas (Tamta et al., 2005), mas que
apresentem efeitos adversos menos relevantes. Contudo, a estrutura de compostos com
base purinica ou pirimidinica, acredita-se ser responsável por alguns dos efeitos adversos
(como as erupções cutâneas), pois estas podem resultar da conversão metabólica dos
fármacos nos nucleótidos correspondentes, através da acção da fosforribosil transferase.
Este facto potenciou a procura de novos inibidores da xantina oxidase que sejam
estruturalmente diferentes das purinas (Borges et al, 2002; Wangun et al, 2006).
Os resultados obtidos neste trabalho demonstram que os ácidos fenólicos,
nomeadamente o ácido trans-3-(3,4,5-trihidroxifenil)-2-propenóico (THPPE), um derivado
do ácido cafeico, e seus respectivos ésteres são capazes de inibir a actividade da enzima
xantina oxidase, confirmando dados da literatura que atribuem a outros ácidos fenólicos
propriedades antioxidantes e acção inibitória sobre a xantina oxidase (Chan et al, 1995;
Lee et al, 2008; Ozyurt et al, 2006; Wang et al, 2009).
O perfil de inibição obtido com os compostos em estudo confirma os dados da
literatura que apontam os acidos trihidroxicinâmicos como tendo uma elevada capacidade
inibitória sobre a xantina oxidase. De facto, têm sido descritas relações estrutura-
actividade (REAs) dos derivados do ácido cafeico (ver Fig.9 na introdução), tendo sido
sugerido que o número e orientação dos grupos OH parecem influenciar a capacidade
antioxidante: os ácidos trihidroxicinâmicos parecem ser agentes antioxidantes mais
potentes do que os ácidos dihidroxicinâmicos (Silva et al, 2001; Siquet et al, 2006). Por
outro lado, as interações dos derivados hidroxicinâmicos com a xantina oxidase têm sido
discutidas (Chan et al, 1995). Também o efeito protector de alguns propenóides C6-C3
contra as EROs e a sua influência na ligação ao local activo da xantina oxidase tem sido
debatido, tendo em conta os vários substituintes e respectivas posições nos
fenilpropanóides e seus derivados (Chang et al, 1997; Chang et al, 1994; Chang et al,
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Discussão
41
2007), os quais constituem um grupo importante de fenólicos de baixo peso molecular
(Bravo, 1998).
Na literatura está descrito como mecanismo de inibição enzimática provável a
ligação dos inibidores ao local activo da xantina oxidase no domínio da molibdopterina,
formando várias ligações de hidrogénio com os resíduos da enzima (Chang et al, 2007).
Sabe-se que a forma activa da xantina oxidase é um homodimero cujos monómeros,
durante a catálise, podem actuar independentemente, existindo para cada subunidade
um cofactor molibdopterina, dois centros distintos [2Fe-2S] e um cofactor FAD (Olson et
al, 1974) e catalizam a hidroxilação oxidativa de uma variedade de compostos
heterocíclicos aromáticos e aldeídos em reacções que envolvem quebra de ligações C-H
(Fig. 22).
Centro Grupo Prostético Estados de oxidação
Fe2S2I
[Fe2S2](S Cis)4
[Fe2S2]+; [Fe2S2]
2+ Fe2S2-II
Moço
Cofactor Molibdénio (Mo·molibdopterina) R = H (enzimas eucarióticas), AMP, CMP, GMP (enzimas procarióticas)
MoIV; MoV; MoVI
[MoSO](Smolibdopterina)2·H2O
(activa)
[MoO2](Smolibdopterina)2·H2O
(inactiva)
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Discussão
42
FAD
Flavina adenina dinucleótido (FAD)
FAD;
FAD· (semiquinona);
FADH2
Figura 22 – As enzimas da família da xantina oxidase contêm um cofactor de Molibdénio, centros [Fe2S2] e e
um cofactor FAD (adaptado de metallo.scripps.edu).
Sabe-se ainda que alguns resíduos de aminoácidos, como Arg 880, Fen 914, Fen
1009, Thr 1010 e Glu 1261, são importantes para a formação de ligações de hidrogénio e
interacções electrostáticas na ligação entre a enzima e o substrato/inibidor.
Por outro lado existem alguns dados que sugerem que a bolsa hidrofóbica do local
activo da xantina oxidase acomoda a fracção hidrofóbica volumosa dos bons inibidores:
os grupos hidroxilo e o grupo carbonilo parecem contribuir favoravelmente para o
estabelecimento de ligações de hidrogénio e interacções hidrofóbicas com os resíduos
Arg 880, Glu 1261 e Thr 1010 da enzima. Da mesma forma, uma bolsa hidrofóbica
rodeada pelos resíduos Fen 649, Fen 1013, Fen 1076, Leu 648, Leu 873 e Leu 1014
parece ser crucial para a estabilização dos substituintes do grupo carbonilo. Assim sendo,
o átomo de oxigénio do grupo hidroxilo da posição para poderá interagir com o grupo
guadinina da Arg 880 enquanto, por outro lado, os grupos OH das posições meta e orto
podem formar ligações de hidrogénio com o resíduo Thr 1010 (Chang et al, 2007).
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Discussão
43
Tabela 7 –Substratos e ou inibidores da xantina oxidase
Composto Estrutura Fórmula Química Peso Molecular
xantina
C5H4N4O2 152.11
hipoxantina
C5H4N4O 136.11
alopurinol
C5H4N4O 136.11
oxipurinol
C5H4N4O2 152.11
E2THPPE
C14H16O7 296,27
ETHPPE
C11H12O5 224,21
THPPE
C9H8O5 196,16
Estruturas, fórmulas químicas e peso molecular dos substratos da xantina oxidase, dos seus inibidores endógenos e actualmente em uso clínico, bem como dos compostos alvo de estudo neste trabalho.
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Discussão
44
Existem ainda dados na literatura que sugerem que o OH em posição meta
poderá formar ligações de hidrogénio com a ligação peptídica entre os resíduos de Thr
1010 e Fen 1009 e que os grupos etilo ligados ao grupo carboxílico poderão estabelecer
interacções hidrofóbicas com vários resíduos hidrofóbicos que rodeiam o local activo (Fen
1076, Fen 649, Leu 648, Leu 873 e Leu 1014) (Chang et al, 2007). Desta forma o
bloqueio do local activo por inibidores previne a entrada do substrato para o centro Mo-pt.
Recentemente Wang e seus colaboradores (2009) fizeram estudos de modulação
molecular com base na estrutura de alguns compostos para entender as características
de ligação de ésteres hidrofílicos e hidrofóbicos do ácido cafeico. Os estudos sobre
modulação molecular efectuados mostraram que o ácido cafeico se liga à região da
molibdopterina do local activo da xantina oxidase que forma várias ligações de hidrogénio
com os resíduos da enzima, promovendo a inibição enzimática. Já o ácido clorogénico
demonstrou ter uma ligação fraca à região molibdopterina da xantina oxidase, ligando-se,
no entanto, mais fortemente à região da flavina adenina do dinucleótido. Estes dados
fornecem uma base para um melhor entendimento das interacções base entre o ácido
cafeico e seus análogos com a xantina oxidase através de vários domínios de ligação
(Wang et al, 2009). Uma vez que os compostos em estudo, E2THPPE, ETHPPE e
THPPE que, como já se referiu, são derivados do ácido cafeico, podem estar sujeitos a
interações deste tipo com a xantina oxidase nos vários dominios de ligação constituindo
uma explicação para a diferença de comportamento inibitório encontrada entre estes
compostos.
O E2THPPE apresentou-se como o mais promissor enquanto inibidor da xantina
oxidase, com um valor de IC50 semelhante ao do alopurinol (Tabela 3, na secção 3.1 dos
resultados). A diferença estrutural do E2THPPE relativamente à estrutura dos restantes
compostos em estudo (ETHPPE e THPPE: ver Tabela 7) é a existência de grupos etilo
substituintes do grupo carboxilo. Esta diferença poderá explicar a ocorrência de um maior
número de interacções, como ligações de hidrogénio e interacções electrostáticas, com
os resíduos de aminoácidos da enzima conduzindo, desta forma, a uma maior
estabilização da ligação Enzima-Inibidor. Por outro lado, comparando a estrutura entre
E2THPPE, ETHPPE e THPPE, a xantina, o alopurinol e o seu metabolito principal, o
oxipurinol, o E2THPPE poderá ter uma maior semelhança conformacional com os
restantes substratos/inibidores pois os efeitos estéreos dos dois grupos etilo ligados ao
grupo carboxílico poderão, teóricamente, provocar efeitos aproximados aos do anel
penteno (presente na estrutura dos restantes substratos/inibidores: Tabela 7). Como
estes grupos etilo são mais volumosos do que os substituintes do grupo carboxílico
presentes no ETHPPE e THPPE, esta poderá constituir uma explicação para a ordem de
potência de inibição obtida (E2THPPE> ETHPPE> THPPE).
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Discussão
45
O E2THPPE foi capaz de travar a actividade da xantina oxidase de forma
semelhante ao alopurinol (ver Tabela 3, na secção 3.1 dos resultados). A inibição
exercida pelo alopurinol, como já referido nesta discussão, é do tipo competitivo (Fields et
al, 1996; O´Driscoll et al, 1999) enquanto o E2THPPE, nos ensaios de cinética enzimática
realizados mostrou ser um inibidor reversível do tipo misto (ver secção 3.1.1 dos
resultados) com valores de Vmáx e de Km que diminuem na sua presença.
Uma inibição reversível mista (Fig. 23) caracteriza-se por i) o inibidor se ligar a
um local específico da enzima que não o local activo, ii) o inibidor se ligar tanto à enzima
livre como ao complexo ES, iii) o inibidor misto não “afectar” a proporção de moléculas de
enzima que se ligam ao substrato, iv) a inibição não ser alterada pelo aumento da
concentração do substrato, v) a velocidade máxima (Vmáx) diminuir e vi) a constante de
Michaelis (Km) poder aumentar, diminuir ou manter-se. Assim, o E2THPPE estaria em
condições de interagir com os domínios da xantina oxidase fora do local de ligação do
substrato, resultando, possivelmente, em efeitos alostéricos que interferem, diminuindo a
actividade enzimática.
Figura 23 – Esquema ilustrativo do tipo de inibição mista. (adaptado de Marioto JR,
“Cinética enzimática”, 2006)
Os resultados de cinética enzimática obtidos para o composto E2THPPE podem ser
comparados com outros estudos publicados: o ácido cafeico e o seu éster fenetil,
mostraram ser inibidores reversíveis competitivos para a xantina oxidase (apresentam
valores de Vmáx constantes e de Km maiores na presença do inibidor). Já o ácido
clorogénico (que resulta de uma combinação entre o ácido cafeico e o ácido quinico:
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Discussão
46
Svilaas et al, 2004) se mostrou como um inibidor reversível misto, à semelhança dos
resultados obtidos com o composto E2THPPE pelo que, o inibidor se pode ligar a locais
diferentes do local activo da enzima (Wang et al, 2009).
A xantina oxidase é reconhecida como uma enzima com um papel importante nas
doenças geradas por radicais pelo que uso de inibidores desta enzima poderá ter uma
expressão terapêutica mais alargada do que o actual uso terapêutico do alopurinol
(tratamento de hiperuricémia primária e secundária). Como anteriormente descrito a
xantina oxidase serve como uma fonte de radicais livres derivados do oxigénio, havendo
diferentes mecanismos conhecidos que conduzem a um aumento da formação de
superóxido por parte desta enzima. O aumento dos níveis de radicais livres pode ser
consequência de um aumento de actividade da enzima xantina oxidase ou ocorrer devido
a um aumento na expressão da enzima com a subsequente elevação dos seus níveis de
expressão (tecidos tumorais: Kökoglu et al, 1990; Kaynar et al, 2005). Assim, uma
formação excessiva e persistente de radicais poderia ser responsável de forma decisiva
para que muitos efeitos genotóxicos possam surgir levando à carcinogénese e a outras
patologias, tais como doenças neurodegenerativas, doença cardiovascular, etc. Nestas
condições, em que o stress oxidativo ocorre (os níveis de xantina oxidase estão
aumentados), inibidores novos e eficientes desta enzima poderão ser muito úteis. Assim,
perspectiva-se que este tipo de inibidores, após os devidos ensaios farmacológicos de
fase I, II e III possam ter novas aplicações terapêuticas, por exemplo no tratamento da
gota (produção excessiva de ácido úrico) bem como na prevenção dos danos causados
em caso de isquemia/reperfusão (Adkins & Taylor, 1990; Hearse et al, 1986; Rose et al,
1998), na inflamação e no cancro (Cuzzocrea et al, 2001), etc.
Para além da xantina oxidase existem muitos outros sistemas enzimáticos que
podem contribuir para o aumento de radicais livres, tais como a fosfolipase e a sintetase
do monóxido de azoto (Adkins & Taylor, 1990; Koyama et al, 1999; Matsumura et al,
1998) que, per si ou no seu conjunto podem desencadear a activação do sistema
imunitário de forma a que o organismo reponha a homeostasia. O processo inflamatório
associado conduz na maioria dos casos à produção de eicosanóides, importantes
mediadores da inflamação, derivados do ácido araquidónico.
Os resultados obtidos com os compostos em estudo neste trabalho demonstraram
que estes para além da actividade antioxidante exibida, por inibirem a xantina oxidase,
têm ainda capacidade em refrear o processo inflamatório pois actuam como inibidores da
ciclooxigenase (Secção 3.2 dos resultados). A ciclooxigenase tem uma importante
actividade inflamatória pois é capaz (como descrito na secção 1.3 da introdução) de
converter o ácido araquidónico em prostaglandinas e tromboxanos promovendo a
inflamação.
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Discussão
47
Figura 24 – Diagrama do dímero da COX-1 ovina (Picot et al, 1994). Ambas as COX-1 e a COX-2 foram
localizadas na superfície do lúmen do retículo endoplasmático e das membranas nucleares, onde estão ancorados a uma única hélice da bicamada lipídica (dourado) composta por quatro hélices anfipáticas. O domínio catalítico está a azul, a Arg120 a verde e o heme a vermelho. (adaptado de DeWitt, 1999)
As COXs têm uma orientação única e invulgar na membrana (Fig. 24). Apesar
destas enzimas serem proteínas integrais de membrana, não contêm sequências
transmembranares. Quatro hélices anfipáticas formam uma superfície hidrofóbica que
flutua ou ancora estas enzimas numa posição vertical relativamente à membrana. Estas
hélices formam a base da molécula e a entrada para o local activo da COX, um local
hidrofóbico projectado interiormente a partir da superfície membranar da enzima. Como
estas hélices estão incorporadas na membrana, os ácidos gordos (substratos) e os anti-
inflamatórios não esteroides têm de atravessar a bicamada lípidica para chegar à entrada
para o local activo da enzima (Carvalho et al, 2004).
Por cristalografia de raios X determinou-se a estrutura tridimensional da COX-1
(Picot et al, 1994), iniciando-se um novo entendimento das acções terapêuticas dos
inibidores da COX, uma vez que o conhecimento das estruturas da COX-1 e da COX-2 e
de seus locais activos, constituem uma base fundamental no desenvolvimento de
inibidores específicos para a COX-2 bem como para a determinação da relação estrutura-
actividade destes produtos. Durante a actividade enzimática, o ácido araquidónico liga-se
a uma arginina na posição 120 (também necessária para a ligação de inibidores) e a uma
serina na posição 530. Por outro lado, uma transferência de electrões da tirosina na
posição 385 para um heme oxidado, que também está ligado dentro da enzima, inicia a
reacção de ciclooxigenase.
Na COX-2 a fracção carboxílica do substrato (ácido araquidónico) forma uma
ligação salina com o grupo guanidina da Arg120. O ácido araquidónico forma uma espécie
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Discussão
48
de gancho entre o carbono 9 (C9) e o carbono 11 (C11) e orienta-se de forma a que a
adição de 2 moléculas de O2 resulte na formação de PGG2. Na COX-2, a Arg120
carregada positivamente, parece ter apenas um papel acessório para a ligação dos anti-
inflamatórios não esteroides. Por um lado, este resíduo de Arg120 parece dificultar a
ligação de inibidores não acídicos à COX-2; por outro lado, os inibidores acídicos
parecem ligar-se à COX-2 auxiliados por interacções iónicas das suas fracções
carboxílicas com a Arg120 (Fig. 25, Kurumbail et al, 1996).
Figura 25 – Representação esquemática da ligação de um inibidor ao local activo da COX-2
(adaptado de Kurumbail et al, 1996)
A actividade da COX-1 é dependente da orientação correcta dos substratos, no
local activo, facilitado pela ligação iónica à Arg120. Contudo, também para esta isoenzima,
a Arg120 parece dificultar a ligação de inibidores não acídicos ao seu local activo.
A COX-2 tem um local activo maior (em cerca de 17%) do que o da COX-1 (Luong
et al, 1996) (Fig. 26). Esta diferença de tamanho pode beneficiar uma ligação mais forte
dos ácidos gordos e inibidores ao local activo da COX-2, reduzindo desta forma, a
importância das interacções iónicas com a Arg120. O maior tamanho do local activo da
COX-2 relativamente à COX-1 pode reduzir a carga e a acumulação estérea da Arg120 à
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Discussão
49
entrada do local activo e, consequentemente, aumentar o acesso ou permitir uma ligação
mais rápida de inibidores não acídicos à COX-2.
Figura 26 – Comparação do volume do local de ligação ao substrato da COX-1 e da COX-2
(adaptado de www.nature.com – Nature Reviews/ Drug Discovery).
Assim sendo, a Arg120 pode contribuir indirectamente para a selectividade do
fármaco, desfavorecendo mais eficazmente a ligação de anti-inflamatórios não esteroides
não acídicos ao local da COX-1 (mais pequeno) relativamente ao da COX-2 (maior).
Os factores estruturais da COX-2 que parecem ser mais importantes por
conferirem sensibilidade à inibição pelos anti-inflamatórios não esteroides selectivos, são
variações dos aminoácidos, o tamanho e o ambiente químico do local de ligação à COX-
2. A troca de um aminoácido entre a COX-1 e a COX-2 altera o ambiente químico do
local de ligação. Existem duas diferenças entre os locais activos da COX-1 e COX-2,
responsáveis e essenciais para a diferença de sensibilidades entre estas duas
isoenzimas:
a) a presença de Valina (a.a. pequeno) na COX-2 em vez da Isoleucina (a.a.
maior) na COX-1, na posição 523, permite o acesso a uma espécie de bolsa
lateral no local activo da COX-2, aumentando o tamanho efectivo deste local e
consequentemente permitindo a ligação de anti-inflamatórios não esteroides
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Discussão
50
mais volumosos à COX-2 do que à COX-1. Para além disso, a presença de
Valina (COX-2) em vez de Isoleucina (COX-1) na posição 434, na 2ª camada
em redor do local de ligação, pode contribuir indirectamente para a
selectividade, por permitir um aumento da mobilidade das cadeias laterais do
local activo (na COX-2) e consequentemente aumentar o tamanho efectivo
deste local.
Um maior local activo, adicionado ao acesso à bolsa lateral, resultam num
local de ligação dos anti-inflamatórios não esteroides cerca de 25% maior na
COX-2 do que na COX-1 (Luong et al, 1996; Gierse et al, 1996; Guo et al,
1996);
b) A presença de Histidina (COX-1) em vez de Arginina (COX-2), na posição 513,
resulta numa maior sensibilidade aos fármacos pela COX-2 (Wong et al,
1997).
Figura 27 – Representação esquemática da estrutura da COX-1 e COX-2, determinada por Cristalografia de
Raios-X (adaptado de Kurumbail et al, 1996)
A selectividade relativa dos inibidores entre as COXs é influenciada pelo facto de
os anti-inflamatórios não esteróides inibirem a COX-2 através de um mecanismo lento,
reversível e dependente do tempo, enquanto que inibem a COX-1 através de um
mecanismo reversível e competitivo. O mecanismo dependente do tempo ocorre quando,
após a ligação ao local activo da enzima, o complexo reversível “inibidor-COX” sofre uma
mudança conformacional para formar complexos fortemente ligados. Dependendo da
concentração e do inibidor pode levar entre vários segundos a minutos para atingir um
equilíbrio entre os complexos enzima-inibidor reversível e pseudo-reversível e para atingir
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Discussão
51
a inibição total. Apesar destes complexos firmemente ligados não serem covalentes, eles
dissociam-se lentamente e acabam por efectivamente inactivar a enzima (Fig. 28).
Figura 28 – A) Os inibidores competitivos simples da COX apenas formam complexos facilmente reversíveis
(EI) com a enzima. O inibidor dependente do tempo pode ainda formar complexos lentamente reversíveis (EI*) firmemente ligados. Este processo parece envolver alterações conformacionais dos AINEs após se ligarem ao local activo das COX. B) Todos os AINEs são inibidores dependentes do tempo da COX-2 mas apenas inibidores competitivos simples da COX-1. Então, em concentrações apropriadas, a incubação com inibidores da COX-2 selectivos podem levar a uma inibição quase-completa da COX-2 sem afectar significativamente a actividade da COX-1. (adaptado de DeWitt, 1999)
O resultado prático deste tipo de inibição misto é que, se a concentração de um
inibidor selectivo no sangue for inferior ao valor de IC50 para a COX-1, então a formação
de complexos “enzima-inibidor” irá apenas resultar numa redução mínima da actividade
da COX-1 mas irá levar à inactivação da maioria ou de todas as COX-2. Todos os
inibidores da COX-2 são inibidores dependentes do tempo mas apenas inibidores
competitivos da COX-1 por isso, em concentrações apropriadas, a incubação com
inibidores selectivos da COX-2 pode levar a uma inibição gradual e quase completa da
COX-2 sem afectar significativamente a actividade da COX-1 (DeWitt, 1999).
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Discussão
52
Tabela 8 – Substratos e ou inibidores da ciclooxigenase
Composto Estrutura Fórmula Química Peso Molecular
Ácido araquidónico
C20H32O2 304.5
Diclofenac
C14H11Cl2NO2 296.14
Ibuprofeno
C13H18O2 206,3
Indometacina
C19H16ClNO4 357.8
E2THPPE
C14H16O7 296,27
ETHPPE
C11H12O5 224,21
THPPE
C9H8O5 196,16
Estruturas, fórmulas químicas e peso molecular dos substratos da ciclooxigenase, dos seus inibidores endógenos e actualmente em uso clínico, bem como dos compostos alvo de estudo neste trabalho.
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Discussão
53
Os compostos em estudo demonstraram ser capazes de inibir quer a isoforma
constitutiva quer a isoforma indutível (por estímulos inflamatórios e citoquinas: Raz et al,
1989) mas requerem o uso de concentrações mais elevadas do que o composto de
referência, a indometacina. A ordem de eficiência de inibição encontrada para a COX-1
(Indometacina> E2THPPE= THPPE> ETHPPE) e para a COX-2 (Indometacina>
E2THPPE> THPPE= ETHPPE) mostra que o E2THPPE (ver Tabela 6 dos resultados),
indicam uma inibição significativamente maior da COX-2 relativamente aos outros
compostos em estudo e até mesmo à isoforma COX-1, facto que poderá ser explicado
por a COX-2 ser capaz de “acomodar” melhor os inibidores mais volumosos no seu local
activo (já descrito anteriormente), resultando numa maior inibição desta.
Vários são os estudos descritos na literatura que avaliaram a capacidade de
compostos de natureza fenólica em inibir as isoformas da ciclooxigenase (Mada et al,
2008), porém poucos compostos foram capazes de exercer actividade inibitória com
valores baixos de natureza micromolar (Laporta et al, 2007). A inibição exercida pelos
compostos em estudo neste trabalho, enquadra-se neste conjunto de dados, pois a
inibição para a COX-1 e COX-2 é conseguida com valores de IC50 entre 12 e 55 µM.
Para a avaliação dos anti-inflamatórios não esteroides é utilizado um índice de
especificidade relativa entre as isoformas da COX, expresso como o índice IC50 para
COX-2/COX-1. De acordo com este critério, quanto menor o valor do quociente relativo
ou razão de IC50 COX-2/COX-1, maior será a selectividade do inibidor sobre a COX-2
(para inibidores selectivos da COX-2 IC50 COX-2/COX-1 <0,002). Estes índices de
proporcionalidade de inibição das duas isoformas são usados para comparar a potência
dos fármacos e teoricamente deveriam também estar correlacionados com a
predisposição clínica aos efeitos adversos gastrintestinais. De facto o valor de IC50 não
reflecte necessariamente a complexidade da interação inibidor-enzima e a quantidade
real de inibição in vivo e, desta forma, não deve ser utilizado como medida da eficácia
clínica. As razões de IC50 COX-2/COX-1 encontradas para os compostos em análise
neste trabalho são da mesma ordem de grandeza (0,33; 0,59 e 0,94 para E2THPPE,
ETHPPE e THPPE, respectivamente) não havendo um composto que se possa destacar
pela sua maior selectividade relativa em relação à inibição da COX-2. Significa que o
E2THPPE, ETHPPE e THPPE apresentam uma quase equiselectividade para as
isoformas COX-1 e COX-2 pelo que os efeitos adversos que potencialmente possam
desencadear serão semelhantes, apesar de provavelmente com o inibidor E2THPPE
esses efeitos possam ser menos intensos (IC50 COX-2/COX-1=0,33).
Os compostos em estudo neste trabalho, THPPE, ETHPPE e E2THPPE, foram
previamente sujeitos a ensaios para determinar a sua actividade citotóxica em diferentes
linhas celulares cancerígenas humanas – adenocarcinoma de glândula mamária (MDA-
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Discussão
54
MB-231), adenocarcinoma de cérvix uterino (HeLa), e epitelioma escamoso de língua
(HSC-3) – assim como em células não neoplásicas – fibroblastos de tecido epitelial (BJ).
Os resultados deste estudo anterior foram obtidos no grupo de Quimica-Física Molecular
do Departamento de Química da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de
Coimbra (Tabela 9).
Tabela 9 – Composto e respectivo efeito citotóxico em linhas celulares cancerígenas humanas e reversibilidade do efeito.
Composto
Linha Celular
HeLa
HSC-3
MDA-MB-231
BJ (sã)
THPPE ++ ** ++ * +++ ** ++ **
ETHPPE ++ ** +++ * +++ ** +++ **
E2THPPE + ** +++ * ++ *** + **
efeito citotóxico relativo: + < ++ < +++ reversibilidade relativa do efeito citotóxico: * < ** < ***
Na determinação do efeito citotóxico destes compostos, verificou-se que o
monoéster ETHPPE apresentou actividade relevante para as linhas celulares HeLa, HSC-
3 e MDA-MB-231 e uma reduzida toxicidade para as células não-neoplásicas (BJ), o que
está de acordo com estudos previamente realizados para os ésteres análogos dos ácidos
cafeico e gálhico (Fiuza et al, 2004). A esterificação do THPPE parece aumentar assim a
actividade citotóxica destes derivados hidroxicinâmicos. É possível estabelecer relações
entre as características estruturais dos compostos e a sua actividade anti-tumoral
(relações estrutura-actividade, REA´S), as quais permitem entender melhor a
especificidade de acção e a reversibilidade do efeito da droga.
Para além da capacidade demonstrada dos ácidos fenólicos como inibidores da
xantina oxidase e da ciclooxigenase, isto é, como antioxidantes/anti-inflamatórios,
existem dados na literatura que os descrevem ainda como agentes com uma elevada
capacidade antiproliferativa e citotóxica (Rice - Evans et al, 1996; Esteves et al, 2008;
Teixeira et al, 2005; Fresco et al, 2006, Fiuza et al, 2004; Gomes et al, 2003;Yang et al,
2001). Alguns destes autores consideram que esta capacidade resulta das propriedades
antioxidantes e anti-inflamatórias exibidas pelos compostos e que é fortemente
dependente das suas características estruturais, porém existem ainda autores que
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Discussão
55
demonstraram a participação de ácidos fenólicos em mecanismos intracelulares de
transdução de sinal que regulam a proliferação, sobrevivência e transformação celular
(ver revisão Fresco et al., 2006). Muitas alterações moleculares associadas à
carcinogénese ocorrem em vias de transdução de sinal que regulam a proliferação e
diferenciação. Como exemplos dos constituintes destas vias temos diversas cinases,
PKC, MAPK etc, as quais contribuem para a manutenção da homeostasia do organismo.
Uma activação anormal ou o silenciamento destas cinases ou das suas vias de
sinalização subsequentes poderá conduzir a um crescimento celular descontrolado e, em
última análise, ao cancro. Alguns ácidos fenólicos podem conduzir a alterações
moleculares associadas à carcinogenese via término do ciclo celular, tal como descrito
para o CAPE (células HL-60) ou através da inibição do mecanismo de transdução de
sinal de enzimas tais como a PKC (Lin et al, 1997), a cinase da tirosina (Markovits et al,
1989) etc. Assim, a atribuição de propriedades quimiopreventivas a alguns ácidos
fenólicos tem sido suportada por dados da literatura que descrevem a sua influência na
indução da apoptose, na supressão da activação do NF-KB e da angiogénese e, ainda
por exibirem efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes, como anteriormente referido. O
ácido cafeico e o CAPE são exemplos de ácidos fenólicos que têm esta capacidade
quimiopreventiva.
Pelo exposto, seria interessante desenvolver experiências que permitissem avaliar
o potencial efeito dos compostos THPPE, ETHPPE e E2THPPE sobre as vias de
transdução de sinal de células neoplásicas e, desta forma, estabelecer o mecanismo pelo
qual estes compostos exercem o seu efeito anti-cancerígeno.
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Conclusões e Perspectivas Futuras
56
6. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS
Os resultados obtidos nesta dissertação demonstraram que os compostos E2THPPE,
ETHPPE eTHPPE, para além da actividade antioxidante exibida por inibirem a xantina
oxidase (capacidade inibitória E2THPPE> ETHPPE> THPPE), têm ainda capacidade em
refrear o processo inflamatório pois actuam como inibidores da ciclooxigenase
(capacidade inibitória da COX-1: E2THPPE= THPPE> ETHPPE e da COX-2: E2THPPE>
THPPE= ETHPPE). Assim, perspectiva-se que este tipo de inibidores, após os devidos
ensaios farmacológicos de fase I, II e III possam ter novas aplicações terapêuticas, por
exemplo no tratamento da gota (produção excessiva de ácido úrico) bem como na
prevenção dos danos causados em caso de isquemia/reperfusão (Adkins & Taylor, 1990;
Hearse et al, 1986; Rose et al, 1998), na inflamação e no cancro (Cuzzocrea et al, 2001).
A eficácia quimiopreventiva dos constituintes da dieta é actualmente objecto de
intensa investigação. Em virtude do melhor entendimento da segurança da sua ingestão
e do facto de não serem considerados “medicamentos”, os produtos derivados da
alimentação despertam um grande interesse perspectivando a sua utilização como
agentes quimiopreventivos. Os constituintes da dieta com tais propriedades poderão
originar resultados positivos quando consumidos a longo prazo. Os ácidos fenólicos são
responsáveis por cerca de um terço da ingestão diária total de compostos fenólicos
porém é muitas vezes insuficiente para proteger contra agentes mutagénicos (exógenos
ou endógenos) o que leva a pensar na hipótese de proceder a uma suplementação
dietética como abordagem alternativa. Apesar da importância inequívoca dos compostos
fenólicos como agentes quimiopreventivos e, embora a maioria deles sejam considerados
seguros, acredita-se que o seu consumo deva ser precedido de estudos cuidadosos uma
vez que foram já relatados casos de toxicidade no uso deste tipo de compostos. Os
potenciais efeitos tóxicos dos compostos fenólicos estão associados ao equilíbrio entre
as propriedades antioxidantes e pró-oxidantes, fortemente dependentes da sua
concentração e ambiente químico e que devem, portanto, ser esclarecidas antes de se
utilizarem quer como suplementos, na prevenção ou na terapêutica.
Pelo anteriormente exposto, é compreensível que a avaliação da actividade
antioxidante/antiproliferativa dos derivados fenólicos quer de origem natural quer sintética
seja actualmente, uma área de investigação atractiva estando direccionada ao
desenvolvimento de novas e mais eficientes drogas antioxidantes/anti-inflamatórias/anti-
cancerigenas. De facto, numerosos estudos têm sido desenvolvidos com o objectivo de
encontrar novos “compostos líder”, favoráveis à obtenção de agentes quimiopreventivos
e/ou quimioterapêuticos do cancro.
Dissertação do Mestrado em Controlo de Qualidade Referências
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