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João Manuel Pereira Da Silva

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JOÃO MANUEL PEREIRA DA SILVA 

Pereira da Silva (João Manuel Pereira da Silva), político, romancista, historiador, crítico

literário, biógrafo, poeta e tradutor, nasceu em Iguaçu, atual Nova Iguaçu, RJ, em 30 deagosto de 1817, e faleceu em Paris, França, em 14 de junho de 1898. É o fundador dacadeira n. 34, que tem como patrono Sousa Caldas.

Cadeira:

34

Posição:

Fundador

Sucedido por:

Barão do Rio Branco (José Maria da Silva Paranhos)

Data de nascimento:30 de agosto de 1817

Naturalidade:

Nova Iguaçu - RJBrasil

Data de falecimento:

14 de junho de 1898

Local de falecimento:

Paris, França

BIOGRAFIA 

Pereira da Silva (João Manuel Pereira da Silva), político, romancista, historiador, crítico

literário, biógrafo, poeta e tradutor, nasceu em Iguaçu, atual Nova Iguaçu, RJ, em 30 deagosto de 1817, e faleceu em Paris, França, em 14 de junho de 1898. É o fundador da

cadeira n. 34, que tem como patrono Sousa Caldas.

Era filho do negociante português Miguel Joaquim Pereira da Silva e de Joaquina Rosa de

Jesus. Em 1834 foi estudar Direito em Paris, formando-se em 1838. Lá participou dasatividades do grupoNiterói, escrevendo para o segundo número um artigo importante, o

primeiro em que um brasileiro expunha certas diretrizes da crítica romântica. De volta àpátria, foi advogado e político. Pelo Partido Conservador elegeu-se deputado provincial,

depois geral, quase sem interrupção, de 1840 a 1888, quando entrou para o Senado. Eratitular do Conselho do Império.

Trabalhador ativíssimo, deixou obra abundante em vários gêneros. Estreou comoficcionista, em 1838, com o romanceUma paixão de artista, ao qual se seguiram as novela

históricasO aniversário de D. Miguel em 1828, em 1839, e Jerônimo Corte Real, em 1840.

Em história e crítica literária publicou notadamente os dois volumes doParnaso brasileiro,o primeiro em 1843 e o segundo em 1848, boa antologia com um longo ensaio sobre a

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nossa literatura; e ainda oPlutarco brasileiroe Varões ilustres do Brasil durante os temposcoloniais, ambos também em dois volumes. Quase todas as biografias são de intelectuais,retomando em grande parte, sem contribuição pessoal a mais, o trabalho de biógrafos

como Januário da Cunha Barbosa, Varnhagen e outros. Como historiador, a sua obraprincipal é aHistória da fundação do Império do Brasil, em sete volumes, publicados

entre 1864 e 1868, seguida doSegundo período do Reinado de D. Pedro I no Brasil, em1871, e daHistória do Brasil de 1831 a 1840, em 1879.

Muitas restrições têm sido feitas quanto à produção biográfica e histórica de Pereira daSilva, e não foi sem a sua proverbial maldade que o terceiro Martim Francisco declarouque a ninguém era lícito assegurar que desconhecia a história do Brasil, sem ter lido oslivros do velho conselheiro.

Essa irônica asserção não invalida a obra que realizou o infatigável polígrafo, testemunhade tantos dos acontecimentos que relata, é certo, mais confiado na sua memória do quena pesquisa de documentos.

Pereira da Silva, um dos fundadores da Academia, quando contava já oitenta anos, foi umacadêmico que ficou sem elogio nesse ilustre cenáculo. Tendo falecido dois anos após afundação, foi sucedido pelo Barão do Rio Branco, que tomou posse por meio de carta,deixando por isso de estudar a figura e a obra de seu antecessor. Os sucessores do Barãonão estavam obrigados a esse estudo, e assim permaneceu sem exame profundo tudoquanto fez aquele acadêmico, polígrafo e historiador com muitos volumes publicados.

Além dos já citados, vários outros livros escreveu e ainda pouco antes de falecer, em Paris,aos 81 anos, havia publicadoMemórias do meu tempo. Muitos outros trabalhos deixou,quase todos esparsos, o que mostra a sua produtividade.

BIBLIOGRAFIA 

Uma paixão de artista, 1838.

O aniversário de D. Manuel em 1828, 1839.

Religião, amor e pátria, 1839.

 Jerônimo Corte-Real, 1840.

 Aspásia, (s.d.).Parnaso brasileiro, 2 vols., 1843-48.

Plutarco brasileiro, 2 vols., 1847.

Varões ilustres do Brasil durante os tempos coloniais, 1858.

Obras literárias e políticas, 2 vols., 1862.

História da fundação do Império, 7 vols., 1864-68.

Segundo período do Reinado de D. Pedro I no Brasil, 1871.

História do Brasil de 1831 a 1840, 1879.

Nacionalidade da língua e literatura de Portugal e do Brasil, 1884.

Felinto Elísio e sua época, 1891.Memórias do meu tempo, 1897.

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TEXTOS ESCOLHIDOS

INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A LITERATURA BRASILEIRA 

[...]

Os portugueses, que eram então o povo mais heroico e cavalheiresco da Europa,

começaram a colonizar o Brasil, que, descoberto por um seu compatriota, era por elesconsiderado sua propriedade, tanto mais quanto o reconhecimento do Pontífice Romano a

havia sancionado. Tinham porém que dividir muito sua atenção e seus cuidados. A melhorparte da Ásia lhes pertencia; reinavam na África, e nas Ilhas do grande Oceano; suaspossessões estendiam-se a perder de vista: seu estandarte tremulava nas fortalezas deMalaca, de Diu, de Tânger, Ceuta e mil outras cidades importantes do mundo; seus navioscruzavam todas as costas; suas esquadras enchiam todos os mares: eles eram povo

pouco numeroso, cerrado seu território entre o Oceano e a Espanha, como poderiamatender e favorecer muito ao Brasil? Entretanto cumpre dizer, para sermos imparciais, que,ou pela proximidade em que o Brasil ficava de Portugal, ou porque descobrissem maioresrecursos e riquezas no País, desde logo o preferiram a todas as suas antigas possessões,e mais prezavam a nova colônia que aquelas de que até ali tinham tirado grandes riquezas

e proveitos.

Fundaram cidades nas melhores enseadas e costas; aqui elevaram o Rio de Janeiro, acoláBahia de Todos os Santos e Porto Seguro, ali Belém do Pará, e São Luís do Maranhão, eao pé do Cabo de Santo Agostinho a bela Recife. À proporção que se foram entranhando

pelo interior, formaram estabelecimentos, arraiais e povoações, que, com o andar dostempos, prosperaram e cresceram.

O século décimo sexto decorreu por entre estes primeiros trabalhos de colonização. Eramcontinuadas emigrações que deixavam a mãe pátria, e vinham habitar o novo país, do qual

tantos elogios se diziam, e onde se divulgava ser fácil ganhar a vida, entesourar ouro eprata, gozar-se de ameno clima, clima sempre de primavera, onde jamais chegava o

inverno com seus horrores, e a peste com suas devastações. A pobreza era grande emPortugal, e a população superior ao que podia conter e manter o território, por mais fértil

que fosse. Em vez de irem quebrar arneses com infiéis nos campos de Tunes e Alzira,

onde arriscavam a vida, melhor lhes parecia, e na verdade mais bem acertado era, mudarde terra e procurar um país novo e rico, que tão lisonjeiras esperanças lhes dava, e no qualviviam debaixo das mesmas leis, obedecendo ao mesmo Soberano, e falando a mesmalíngua.

Também a religião, a verdadeira e profunda religião animava ainda aqueles Portugueses:os conventos estavam cheios de frades e religiosos, que na vida solitária e pacífica doclaustro procuravam independência e liberdade; os conventos eram numerosos emPortugal, os Reis haviam-se esmerado sempre em animar e favorecer seusestabelecimentos; ali guardava-se a ciência, a ilustração; dali é que saíam os sábios, os

conselheiros e confessores dos Reis, os homens de mais conhecimentos e influência doreino. Os claustros, movidos por sentimentos de religião, começaram a mandar para o

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Brasil delegados seus, religiosos missionários, com o fim de catequizarem os selvagens,estabelecerem escolas na nova colônia, e estenderem a sua própria influência,ramificando-a por este modo em ambos os mundos.

Entre estes religiosos, é nosso dever declarar que os jesuítas foram os que mais se

esmeraram. Vieram muitos como missionários para o Brasil, espalharam-se por entre opovo, e por entre os selvagens; instruíam a uns nos mistérios da Religião CatólicaApostólica Romana, a outros aconselhavam nos transes arriscados da sua vida, a estes

mitigavam suas dores, àqueles ajudavam e socorriam, e por este modo granjeavamafeições e simpatias, de que restam ainda hoje vestígios e documentos.

Abria-se com a espada o caminho das brenhas, atravessavam-se com a lança asalcantiladas montanhas, venciam-se à força as torrentes e caudalosos rios, e aí, onde se

plantavam as cinco chagas de Cristo, um religioso, um jesuíta se achava, e a vitória dapersuasão, o triunfo da palavra por eles empregada, não eram inferiores às vitórias e

triunfos alcançados manobrando o gládio e dardejando a morte.

Uma e outra coisa eram precisas. A perícia das armas, a audácia dos invasores, a tática

dos europeus, ganhavam terras, edificavam povoações, estabeleciam o domínio do seuSoberano; a brandura e eloqüência dos religiosos, a santidade de vida que professavam,

os conselhos que sabiam dar, chamavam ao grêmio os selvagens, conciliavam-nos com osportugueses, faziam-nos desamparar a adoração do Sol, dos rios e das florestas, para

abraçarem o cristianismo. Indígenas e portugueses, todos deviam favores e serviços aos jesuítas; todos os adoravam.

Para eles os jesuítas eram os médicos do corpo e da alma, aqueles que lhes aplicavamremédios em suas moléstias, que eram alguns muito instruídos na medicina, ao menos na

medicina prática do país, e aqueles que lhes serviam de pais para os conciliarem esocorrerem, de párocos para os ouvirem e abençoarem: o domínio dos jesuítas eraextenso, e poderosa sua influência, porque ela fundava seu poderio no coração, sua baseno agradecimento, e seu principal núcleo na dependência material e espiritual em queesses povos se achavam deles.

E releva dizer, para glória da Companhia de Jesus, que jamais seus missionários no Brasil

abusaram da força que tinham para tentar contra a legitimidade de seus amos, contra avida dos seus monarcas, e para roubar ao coração dos homens deles dependentes ossentimentos de lealdade e fidelidade para com os reis de Portugal: o começo da civilizaçãono Brasil, a instrução que principiou o povo da colônia a receber, as luzes que se foramderramando, os primeiros estímulos de literatura, tudo é devido aos cuidados dosmissionários jesuítas.

A primeira escola de gramática estabelecida no Brasil foi criada na cidade da Bahia, noano de 1543. Aos jesuítas se deve ela. A segunda escola que se criou foi a dehumanidades, estabelecida também por eles em 1554, em um colégio nos campos de

Piratininga, e essas humanidades não passavam de curtos rudimentos de Teologia e deprincípios de gramática latina.

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Tão generosos sacerdotes, tão zelosos padres, dignos da nossa gratidão e respeito,verdadeiros intérpretes do seu divino mestre, pobres e miseráveis, não tinham receio de seexpor por entre os selvagens, a fim de os catequizar e instruir; sacrificavam-se para

desenvolver sua inteligência, para melhorar sua sorte, para fazer-lhes abraçar a verdadeirareligião, de que eram missionários, e para propagar a civilização e as luzes.

Entre eles havia um homem de grandes virtudes, e de muita instrução; estimado evenerado como um santo, contando-se até milagres por ele praticados, e autor de alguns

escritos e compêndios, pelos quais se ensinavam as humanidades em Piratininga.Chamava-se Padre José de Anchieta.

O sr. D. J. G. Magalhães, nos seus artigos literários há tempos publicados em diversos jornais, narra um fato importante deste digno missionário, que lhe faz a maior honra, e que,

segundo sua declaração, foi colhido pelo Padre Paternina, e reproduzido unicamente porSimão de Vasconcelos. O Padre Anchieta, levado não só pelo desejo de ilustrar e entender

o seu rebanho, senão também pela vontade de acabar com certas indecências, que serepresentavam nas igrejas nos atos sagrados, compôs um drama em verso, ou auto, com

o título de Pregação universal, que era aplicado aos portugueses e indígenas, constandode uma e de outra língua, para que de todos fosse entendido.

“Tinha este drama, diz o Sr. Magalhães, todos os caracteres da prisca comédia, e aindamais, os atores do drama, que não eram cômicos de profissão, mas sim particulares, a que

damos o título de amadores, falavam em seu próprio nome, e se acusavam de seuspróprios erros.”

É assim que os padres da Companhia ilustravam e moralizavam o povo, ao passo queespalhavam o gosto da metrificação e do ritmo melodioso do verso. Que salutares efeito

não devia produzir um semelhante ato, representado em pleno dia, a descoberto, e noadro da igreja, nas vésperas do jubileu, da festa de Jesus, a que concorria todo o povo!Como não se adoçariam os costumes e os hábitos! E que progressos não fazia a ReligiãoCatólica Apostólica Romana!

O século XVI decorreu e findou, por entre a luta dos portugueses com os selvagens, e acatequização destes pelos esforços dos religiosos missionários, únicos a quem eles

cuidadosamente atendiam, fiel e respeitosamente obedeciam. Pouco a pouco, graças aesses missionários, foi-se rasgando o véu da escuridão, foram desaparecendo as trevasda barbaria. O cristianismo chamou a si os selvagens e os colonos, serviu a uns e aoutros, ilustrou a uns e a outros, foi conciliando uns com os outros. Os missionários eram ocentro, a potestade, para quem todos recorriam; armados com o poder da palavra e dareligião, sua força era imensa, e cumpria a ela curvarem-se todos.

A poesia, essa melodia da alma e do coração, essa primeira voz do homem, que sedesprende balbuciando apenas, essa linguagem mística, que conhecem as emaranhadasflorestas, os caudalosos rios, os áridos desertos, e as alcantiladas montanhas; a poesia,

que é a alma do universo, e que existe entre os povos civilizados, e também no meio dastribos nômades, e desamparadas, a poesia foi o primeiro ramo da literatura, que cultivaram

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os povos do Brasil. Sua civilização não se estendia a muito, como acabamos de ver,apenas algumas escolas de gramática existiam; apenas alguns padres ensinavam osprimeiros rudimentos das ciências; e durante o século XVI, apenas de algum brasileiro, de

algum homem, que respirasse, nascendo, a atmosfera de amor e de delícias deste paísnovo e encantador, se contam versos e poesias, pela mor parte latinas, que constituem

toda a literatura brasileiro do século XVI, e que se perderam quase todas pelas livrariasdos conventos dos religiosos, poucas e muito poucas tendo chegado até nossos dias.

[...]

(Parnaso brasileiro, 1843.)