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João Nogueira: uma releitura fotográfica

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Livro feito para a disciplina de Fotojornalismo da Universidade do Vale do Itajaí. 2011/2.

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Adriano Assis

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Fotografia e edição: Adriano de Camargo AssisDiagramação: Ricardo Gonçalves de SouzaUniversidade do Vale do ItajaíDisciplina: FotojornalismoProfessor: Robson Souza dos Santos

ASSIS, Adriano de Camargo. João Nogueira: uma releitura fotográfica. Itajaí: Univali, 2011.

1. Fotografia. 2. Fotojornalismo. 3. Samba. 4. João Nogueira. I. ASSIS, Adriano de Camargo

Esse livro foi realizado com fins didático-pedagógicos e, portanto, não pode ser comercializado.

Dados de Catalogação da Publicação

“Aos meus parentes, amigos e a todos que vêem no samba o mais fiel retrato do povo brasileiro”

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Introdução Dono de uma voz forte e marcante, João Nogueira (Rio de Janeiro, 12 de novembro de 1941 — Rio de Janeiro, 5 de junho de 2000) foi um dos principais sambistas da década de 1970. Composi-tor e intérprete foi marcado por abordar diversos temas em seus sambas, mas tinha como principal característica o estilo suburbano. Com seu principal parceiro, Paulo César Pinheiro, compôs dezenas de sambas, entre eles, a “Trilogia do Alumbramento”: Súplica (a música), O poder da criação (o com-positor) e Minha missão (o intérprete). Da trilogia, a música O poder da criação é recriada nesta obra. Portelense e flamenguista, João Nogueira gravou 20 discos em 30 anos de carreira. Foi funda-dor da escola de samba Tradição, ao romper com a Portela, e fundador do clube do samba. Esse trabalho tem como objetivo fazer uma releitura de suas principais composições através da fotografia. Para sua realização, a releitura também faz a adaptação da realidade carioca (princi-palmente das décadas de 1970 e 1980), cantada em seus versos, para o cenário itajaiense de 2011. O principal objetivo da obra é fazer uma homenagem a esse importante nome da Música Popular Brasileira.

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Ofício

A música me amaEla me deixa fazê-laA música é uma estrelaDeitada na minha cama

Ela me chega sem jeitoQuase sem eu perceberQuando dou conta e vou verEla já entrou no meu peito

No que ela entra a alma saiFica o meu corpo sem vidaVolta depois comovidaE eu nunca soube onde vai

Meu olho dana a brilharMeu dedo corre o papelE a voz repete o cordelQue se derrama do olhar

Quando termino meu cantoDepois de o bem repetirSinto-lhe aos poucos partirQuebrando enfim todo o encanto

Fico algum tempo perdidoAté me recuperarQuase sem acreditarSe tudo teve sentido

A música parte e eu despertoPro mundo cruel que aí estáCom medo de ela não voltarMas ela está sempre por perto

Nada que existe é mais forteE eu quero aprender-lhe a medidaDe como compõe minha vidaQue é para compor minha morte

(Paulo Cesar Pinheiro, principal parceiro de João Nogueira)

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Espelho(João Nogueira e Paulo César Pinheiro)Gravação original: 1977Disco: Espelho (EMI-Odeon)

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Nascido no subúrbio nos melhores diasCom votos da família de vida felizAndar e pilotar um pássaro de açoSonhava ao fim do dia ao me descer cansaçoCom as fardas mais bonitas desse meu paísO pai de anel no dedo e dedo na violaSorria e parecia mesmo ser felizEh, vida boaQuanto tempo fazQue felicidade!E que vontade de tocar viola de ver-dadeE de fazer canções como as que fez meu pai

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Num dia de tristeza me faltou o velho

E falta lhe confesso que ainda hoje faz

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E me abracei na bola e pensei ser um diaUm craque da pelota ao me tornar rapazUm dia chutei mal e machuquei o dedoE sem ter mais o velho pra tirar o medoFoi mais uma vontade que ficou pra trás

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Eh, vida à toaVai no tempo vaiE eu sem ter maldadeNa inocência de criança de tão pouca idadeTroquei de mal com Deus por me levar meu pai

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E assim crescendo eu fui me criando sozinhoAprendendo na rua, na escola e no larUm dia eu me tornei o bambambã da esquinaEm toda brincadeira, em briga, em namorarAté que um dia eu tive que largar o estudoE trabalhar na rua sustentando tudoAssim sem perceber eu era adulto já

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Eh, vida voaVai no tempo, vaiAi, mas que saudadeMas eu sei que lá no céu o velho tem vaidadeE orgulho de seu filho ser igual seu paiPois me beijaram a boca e me tornei poetaMas tão habituado com o adversoEu temo se um dia me machuca o versoE o meu medo maior é o espelho se quebrar

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E lá vou eu(João Nogueira e Paulo César Pinheiro)Gravação original: 1974Disco: E lá vou eu (Odeon)

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E lá vou euMelhor que mereçoPagando a bom preçoA evoluçãoAi, se não fosse o violão

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E o jeito de fazer sambaDo tempo que quem faziaCorria do camburãoHoje não corre nãoHoje o samba é decenteE ninguém agüenta, oh, genteA força de um samba não

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Pois que faz samba falaE quem fala, atenção!Força nenhuma calaA voz da multidãoE cantar inda vai ser bomQuando o samba primeiroNão for prisioneiroDesse desesperoE resignação

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E lá vai minha vozEspalhando entãoO meu samba guerreiroFiel correioDa população

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Bares da cidade(João Nogueira e Paulo César Pinheiro)Gravação original: 1978Disco: Vida Boêmia (EMI-Odeon)

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AnoiteceuOutra vez vou sairSem nada a esperarSem ter pra onde ir

Vou caminhar por aí a cantarTentando acalmar as tristezas por onde eu passar

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A minha vida boêmia de bar em barÉ o meu amor sem pazPor um amor vulgarQue me abandonouChorando os meus aisMe deixando também por maldadeSaudades demais

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E eu vou levando minha alma aflitaÀ noite a cidade é tão bonitaDo Lamas ao Capela, e da Mem de SáPasso no Bar LuísE no Amarelinho é que eu vou terminar

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Poder da criação(João Nogueira e Paulo César Pinheiro)Gravação original: 1980Disco: Boca do Povo (Polydor)

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Não, ninguém faz samba só porque prefereForça nenhuma no mundo interfereSobre o poder da criaçãoNão, não precisa se estar nem feliz nem aflitoNem se refugiar em lugar mais bonitoEm busca da inspiração

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Não, ela é uma luz que chega de repenteCom a rapidez de uma estrela cadenteQue acende a mente e o coraçãoÉ faz pensar que existe uma força maior que nos guia

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Que está no arBem no meio da noite ou no claro do diaChega a nos angustiarE o poeta se deixa levar por essa magiaE o verso vem vindo e vem vindo uma melodia

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E o povo começa a cantar, lá laia laiáLá lá laía laia

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Canto do trabalhador(João Nogueira e Paulo César Pinheiro)Gravação original: 1979Disco: Clube do Samba (Polydor)

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Vamos trabalhar sem fazer alardePra pisar com força o chão da cidadeA vida não tem segredoQuem sentado espera a morte é covardeMas quem faz a sorte é que é de verdade

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É só acordar mais cedo

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É só regar, pra alimentar o arvoredoPor essa luta eu não retrocedoPra ver toda a mocidadeCom os frutos da liberdadeEscorrendo de entre os dedosQue é pra enterrar de uma vez seus medos

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Se não mudar, o barco bate no rochedoE vai pro fundo como um brinquedoÉ bom cantar a verdadePro povo de uma cidadeE deixar de arremedoE aí vai virar mais um samba-enredo

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Adriano de Camargo Assis é for-mando em Comunicação Social com habilitação em jornalismo pela Universidade do Vale do Ita-jaí. Natural de Santos, foi criado em Itajaí e trabalha no Jornal Diário do Litoral – Diarinho. Tem contato com a música desde cedo, mas foi no final da adolescência que começou a passou a pesquisar sobre samba e conhecer gênios do estilo como João Nogueira, retratado nessa obra.

Sobre o Autor

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Esse trabalho tem como objetivo fazer uma releitura de suas principais composições através da fotografia. Para sua realização, a releitura também faz a adaptação da realidade carioca (principalmente das décadas de 1970 e 1980), cantada em seus versos, para o cenário itajaiense de 2011. O principal objetivo da obra é fazer uma homenagem a esse importante nome da Música Popular Brasileira.