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John Doe –o livro no mundo digitalMarta Borges
Trabalho de Projeto para obtenção do grau de Mestre
em Design Gráfico e Projectos Editoriais
Orientador Professor Doutor Mário Moura,
Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto
Co-orientador Professor Jorge Silva
Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, 2013
Marta Borges
n.º 111258001
John Doe –o livro no mundo digital
No decorrer desta investigação pude contar com o apoio de diversas pessoas
que, de diferentes modos, contribuíram para que este trabalho fosse possível.
Agradeço, em primeiro lugar, ao Professor Doutor Mário Moura e ao Professor
Jorge Silva, todo o apoio e trabalho de orientação ao longo de todo este processo.
Agradeço a André Letria e a Peter Bil'ak pela disponibilidade e abertura para
responder a algumas das minhas questões. A sua atenção foi fundamental
para o desenvolvimento desta investigação.
Agradeço a Jonathan Westin pelo interesse e apoio bibliográfico.
Agradeço aos professores e colegas do Mestrado em Design Gráfico e Proje-
tos Editoriais. Um obrigado especial ao Professor Doutor Eduardo Aires pelo
apoio e compreensão e ao Professor Doutor Dinis Cayolla pelo apoio bibliográ-
fico e metodológico, à Ana Palma, à Ana Timóteo e à Lara Meleiro, companhei-
ras de mestrado e de debate.
Agradeço à Ana Isabel Almeira, João Lopes Cardoso, José Pedro Lopes e
Pedro Pestana por todo o incentivo e apoio para a realização deste projeto.
Agradeço ao Pedro Quintela pela presença constante e apoio incondicional.
Agradeço também aos meus pais e família pela preocupação constante.
Agradeço ainda aos meus amigos pelo apoio e pelos momentos de evasão ao
trabalho. Uma palavra de especial apreço ao Tiago Romeu e à Vania Rodrigues
que, desde o início, me entusiasmaram a realizar este trabalho.
Por fim, o reconhecimento a todos os autores dos textos consultados ao longo
de toda esta investigação.
Agradecimentos
Este projeto de investigação, de cariz teórico-prático, centra-se na problemá-
tica da mudança e transformação do mundo editorial contemporâneo, pro-
curando analisar e discutir criticamente algumas das principais implicações
destas mudanças ao nível do designa gráfico e editorial, a diversos níveis.
Partindo do pressuposto de que são hoje ainda, em larga medida, impre-
visíveis os contornos desta mudança e o seu desfecho, procura-se analisar
os diversos modos como se tem vindo a pensar e concretizar esta passagem
da edição em papel para os novos suportes digitais. Em particular, procura-
-se discutir prospetivamente qual poderá ser o contributo do design para o
enriquecimento da experiência da leitura e as competências por ela desen-
volvidas, nomeadamente através de propostas criativas inovadoras capazes
de aproveitarem as potencialidades e desafios que o digital suscita, mas que,
simultaneamente, consigam compreender as especificidades destes suportes,
seus limites e constrangimentos, evitando assim, de algum modo, mimetizar
para o digital o tipo de propostas gráficas e editoriais existentes para o suporte
em papel.
Desenvolve-se, assim, uma análise de enquadramento teórico-concetual,
tendo por base a diversa literatura existente acerca do modo como se está a
desenvolver a passagem do papel para o digital. Este trabalho de discussão
teórica é complementado por três estudos de caso (o livro “Incómodo”, de An-
dré Letria, a revista “Work That Works” e a aplicação “dotdotdot”) que permi-
tem ilustrar e discutir criticamente essa passagem e, deste modo, identificar
"boas" e "más" soluções do ponto de vista gráfico, mas também do ponto de
vista da leitura.
Finalmente concluiu-se, a partir da revisão e discussão teórica e da análise
de estudos de caso, apresentando uma discussão acerca das soluções gráficas
e tecnológicas encontradas em cada um dos casos abordados, bem como da
identificação de problemas, dilemas e pistas de investigação que se considera
útil prosseguir futuramente.
Num segundo momento, e tomando em consideração a análise e discus-
são teórica realizada anteriormente, foi desenvolvida uma maqueta de um tra-
balho prático de design gráfico e direção de arte. A partir da análise do projeto
“Em cima da vila” e da organização e seleção dos diversos documentos por ele
produzidos, desenvolve-se uma proposta de trabalho que permita desenvol-
ver a “passagem” para o suporte digital. O objetivo deste exercício gráfico foi
evidenciar não só os principais constrangimentos que esta passagem implica,
mas também os desafios e as oportunidades que o design editorial em supor-
tes digitais suscita.
Resumo
Palavras-chave
leitura; livros; e-books;
design editorial;
design para suportes digitais.
This theoretical-practical research project focuses on change and transforma-
tion of contemporary publishing world, trying to analyze and critically dis-
cuss some of these changes’ major implications in what concerns graphic
and editorial design.
Assuming that the contours of this change and its outcome are largely un-
predictable, this research seeks to analyze the several and different ways this
passage from the paper edition to the new digital media has been thanked and
realized. In particular, we seek to prospectively discuss what might be the con-
tribution of design to enrich the reading experience and skills developed by it.
Thus, it is developed an analysis of theoretical and conceptual framework,
based on a diverse literature on this subject. This theoretical discussion is
supplemented with three case studies (the book "Incómodo" by André Letria,
the magazine "Work That Works" and application “dotdotdot") that allow us
to illustrate and critically discuss the transition from paper to digital publica-
tion and thereby identify "good" and "bad" solutions from the graphical point
of view, but also from the point of view of the reading.
Finally, from the theoretical discussion and the case studies analysis, we
conclude by presenting a discussion on graphic and technological solutions
found in each of the cases studied, as well as identifying problems, dilemmas
and future paths of research that we consider useful.
Secondly, and taking into account the previous analysis and theoretical
discussion, we developed a practical graphic design and art direction model.
From the analysis of the various documents that were produced during the
project "Em cima da vila", we seek to develop a proposal that allows a "transi-
tion" to digital. The purpose of this graphic exercise was to demonstrate not
only the main constraints that this passage implies, but also to highlight the
challenges and opportunities that the editorial design in digital media raises.
Abstract
Keywords
reading; books; e-books;
editorial design; design for the
small screens
Índice
Apresentação
John Doe: o livro no mundo digital
A morte do livro e a sua ressurreição
O “êxtase bibliográfico” em Portugal
A (des)ordem do livro
e-book: tentativa de definição
Reconcetualização do livro no mundo digital
Mediação tecnológica, remediação e intermediação
Questões cognitivas e práticas sociais
Design editorial para suportes digitais
Estudos de caso
“Incómodo”
“Work That Works”
"dotdotdot"
Em cima da Vila: uma possível aproximação ao formato eletrónico
Introdução ao projeto “Em cima da vila”
Aproximação ao livro eletrónico “Em cima da vila”
O trabalho desenvolvido e perspetivas futuras de trabalho a desenvolver
Notas finais
Referências bibliográficas
Referências de websites consultados
Referências das imagens figuras
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Índice de figuras
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À esquerda, Alan Kay apresentando o Dyna Book.
À direita, Rocket eBook da NuvoMedia Inc..
À esquerda, Manuscrito do início do século XIII.
À direita, Bíblia de Gutenberg, também conhecida por Bíblia de 42 linhas ou B-42, que
marcou o início da impressão de livros no Ocidente.
À esquerda, conjunto símbolos desenhados por Susan Kare para software do computador
pessoal Apple Machintosh 1.0, apresentado pela Apple Inc., em 1984, um ano
depois do lançamento do computador pessoal Lisa.
À direita, computador pessoal Lisa, apresentado pela Apple Inc., em 1983.
Detalhe d0 website da Amazon.com Inc., operadora de e-commerce de vários produtos e
serviços, nomeadamente, livros impressos e eletrónico. O motor de pesquisa do
website apresenta o livro escolhido, formatos disponíveis e respetivos preços, bem
como sugestões de outros títulos relacionados com a obra selecionada.
À esquerda, capa da revista semanal norte-americana Time, edição de 3 de janeiro de 1983.
Ao centro, capa da revista semanal norte-americana Time, edição de 25 de dezembro de 2006
a 1 de janeiro de 2007.
À direita, capa da revista semanal norte-americana Time, edição de 20 de maio de 2013.
À esquerda, diagrama de tablet e e-book reader (com ecrâ retroiluminado) e suas diferenças no
modo de emissão da luz.
Ao centro, e-book reader com "tinta eletrónica", tecnologia desenvolvida em 1996 pelo MIT
Media Lab e atualmente utilizada pela maioria dos e-readers.
À direita, e-book reader com imitação do papel amarelado.
exemplificação do estudo de Émile Javal relativamente ao modo como o cérebro apreende os
textos e ao tipo de movimentos oculares – saccades – realizados neste processo.
Diagrama da planificação dos conteúdos na “infinite canvas” que pode ser percorrida, pelo
leitor em todas as direções.
À esquerda, pormenor do sistema operativo iOS 6 da Apple Inc., aplicando os princípios do
"skeuomorphic design".
À direita, pormenor do sistema operativo iOS 7 da Apple Inc., recorrendo a alguns dos
princípios do"flat design".
Em baixo, pormenor sistema operativo Win8 da Microsoft Corporation (desenvolvido a partir
de 2009 e lançado ao público em meados de 2012) percursor do "flat design".
À esquerda, Capa da edição impressa e eletrónica do "Incómodo" (Letria, 2011).
À direita, pormenor da edição impressa do "Incómodo" – desdobrável em harmónio.
À esquerda, páginas da edição impressa do "Incómodo" (Letria, 2011).
À direita, pormenor do modo de leitura/interação da edição eletrónica do "Incómodo".
diagrama da digitalização "tradicional", digitalização"futura" e do workflow de ficheiros
Editorial do primeiro número da revista Work that Works (WTW).
Artigo "Dabbawallas: Delivering excellence" publicado no primeiro número da edição
impressa da WTW.
Artigo "Dabbawallas: Delivering excellence" publicado no primeiro número da edição
eletrónica (ePUB) da WTW.
Homepage do website https://worksthatwork.com/.
Pormenor da apresentação no browser do artigo "Dabbawallas: Delivering excellence"
publicado no primeiro número da WTW.
Área reservada do website https://worksthatwork.com/login/.
Pormenor da homepage do website https://www.dotdotdot.me.
Detalhe da “biblioteca” pessoal. Note-se que os human computer interfaces da aplicação (app)
para iPhone, iPod e iPad são idênticos aos da aplicação web based.
Pormenor das funcionalidades do "dotdotdot" – possibilidade de sublinhar e de associar tags e
comentários aos textos digitais.
Pormenor das funcionalidades do "dotdotdot" – possibilidade partilha de dados com outros
leitores da rede.
Artigo de imprensa – Duarte, Mariana (2011) "A rua cimo de vila está boa e recomenda-se" in
TimeOut Porto, Outubro 2011, pp. 10.
À esquerda, vista da exposição patente na loja térrea de Cimo de Vila.
À direita, dois visitantes munidos de auscultadores wireless, ouvindo a paisagem sonora
transmitida junto À Igreja da Ordem do Terço.
Em cima, pormenor do conjunto de 12 postais.
Em baixo, À esquerda, “Em cima da vila” apresentado por Pedro Pestana e João Lopes Cardoso
no Nau – Festival de Cinema e Fotografia Jovem.
Em baixo, À direita, a exposição patente no Nau – Festival de Cinema e Fotografia Jovem.
Diagramas das formas de interação – swipe up, swipe down, swipe left, swipe right e single tap.
Diagrama da arquitetura da publicação eletrónica "Em cima da vila" e dos conteúdos incluídos.
Maqueta do "capítulo" Apoio À leitura, com representação das metáforas gráficas utilizadas.
Em cima, maqueta do "capítulo" Índice sob a forma de startscreen.
Em baixo, maqueta do "capítulo" Gentes e estórias de Cimo de Cila a sua consulta exige o
recurso ao swipe up e down para a seleção de "páginas".
Maqueta da "página" José Vilela, incluída no "capítulo" Gentes e estórias de Cimo de Vila e
representação das metáforas gráficas para reproduzir o áudio e abrir a janela pop up.
Martins, Olinda – Bazar Medium – Espécime tipográfico da identidade cultural portuense. In:
VELOSO, A; DIAS, N; MARTINS, O.; AMADO, P – II Encontro Nacional de Tipografia.
Aveiro: Universidade de Aveiro, 2012. ISBN 978-972-789-348-5. Atas da Conferência.
ITC Officina Serif e ITC Officina Sans 95.
Maquete da "capítulo" Apresentação e detalhe da hierarquia de imagens assentes na cor e na
posição face ao texto.
Maqueta da "capítulo" Equipa com "página" na vertical e na horizontal segundo a grelha
modular previamente definida.
Em cima, maqueta do "capa" da publicação "Em cima da vila" com vídeo a ocupar a totalidade
do ecrã e icon da app.
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19
Apresentação
s Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC)
têm contribuido decisivamente para as rápidas e profun-
das transformações do contexto social, cultural e econó-
mico em que nos inserimos. À semelhança des outros
campos, também o setor editorial se tem alterado. Em
larga medida, os contornos desta mudança e o seu desfe-
cho ainda são imprevisíveis, pese embora o amplo e aceso debate em torno
desta problemática.
Esta investigação, realizada no âmbito do segundo ciclo de estudos em
Design Gráfico e Projetos Editoriais, da Faculdade de Belas Artes da Univer-
sidade do Porto, centra-se na análise e discussão de algumas questões rela-
cionadas com o modo como as NTIC têm transformado a produção, edição,
distribuição e receção dos livros e, em particular, dos livros eletrónicos.
O presente trabalho, é constituído, fudamentalmente, por duas partes:
uma componente teórica, que enquadra e discute as principais dimensões
que envolvem a produção, edição e distribuição de publicações digitais; e uma
componente prática, que consiste na tentativa de elaborar um livro eletrónico.
No primeiro momento da investigação procuramos discutir, com base na
diversa literatura existente, algumas das questões associadas com este tema.
Tentamos assim, acompanhar o intenso debate em torno da natureza do livro
impresso e do livro eletrónico, identificar as várias consequências – não só a
nível cultural e social mas também, físico e cognitivo – da mediação tecno-
lógica e, finalmente, enumerar e perceber alguns dos principais modos de
desenhar publicações eletrónicas.
Esta discusão teórica foi complementada pela análise de três estudos de
caso que permitem ilustrar a pluralidade de formas de produzir, editar e dis-
tribuir publicações no contexto eletrónico:
O primeiro caso selecionado foi o livro “Incómodo”, editado pela Pato Lógico
Edições em formato impresso e eletrónico (no formato app).
O segundo foi a revista internacional de design “Work that Works”, edi-
tada pelo designer Peter Bil’ak em edição impressa e eletrónica
(nos formatos PDF, ePUB e Mobi), tendo ainda alguns artigos
disponíveis, de forma gratuita, no próprio website.
Finalmente, o terceiro exemplo estudado foi o software gratuito “dotdotdot”,
desenvolvido por uma start up alemã. Destinado à leitura de pu-
blicações eletrónicas, este software pode ser utilizado quer online,
através da consulta no browser, quer através da aplicação (app)
em dispositivos iPod, iPhone ou iPad.
O nome John Doe é utilizado
para denominar indivíduos,
do sexo masculino, cuja
a identidade identidade
é desconhecida. Assim,
num contexto de
profundas alterações
com consequências ainda
incertas, onde se assiste
a um intenso debate em
torno da natureza do livro,
consideramos o título John
Doe – o livro no mundo
digital poderia sintetizar
algumas das principais
questões relacionadas com
o modo como as NTIC têm
transformado a produção,
edição, distribuição e
receção dos livros e,
em particular, dos livros
eletrónicos.
A
20
Através destes três exemplos distintos, procuramos abordar algumas das
principais tendências contemporâneas em matéria de produção, edição e dis-
tribuição de publicações eletrónicas, bem como retomar algumas das ques-
tões teóricas anteriormente discutidas.
No segundo momento da investigação produzimos a maqueta de uma pu-
blicação eletrónica, na tentativa de resolver alguns dos desafios e problemas
que a passagem de uma publicação impressa para o formato digital hoje colo-
ca aos designers. Para este exercício prático partimos do projeto “Em cima da
vila”, desenvolvido em 2011 no âmbito do programa Manobras no Porto, cujo o
objetivo foi documentar uma das mais antigas e emblemática ruas do centro
histórico da cidade do Porto. Neste contexto, foram produzidos diversos con-
teúdos textuais, não-textuais e multimédia.
O desenvolvimento da componente prática implicou, em primeiro lugar,
uma cuidadosa análise da publicação impressa já existente, bem como dos
conteúdos anteriormente produzidos. Em seguida, selecionou-se e adaptou-
-se os diversos conteúdos a partir de uma apreciação crítica dos mesmos e de
uma reflexão acerca da forma de comunicação mais eficaz para a produção da
maqueta do livro eletrónico. Finalmente, elaborou-se um conjunto de docu-
mentos capazes de expressar o projeto gráfico e editorial do livro eletrónico
“Em cima da vila”, detalhando as opções de user interface e user experience de-
sign, para que no futuro esta maqueta possa ser desenvolvido por uma equipa
multidisciplinar e especializada.
Neste projeto, interessou-nos explorar o contributo do design gráfico para
o enriquecimento da experiência da leitura, tentando aproveitar as potencia-
lidades e os desafios que o digital suscita. Desde modo pretendeu-se compre-
ender as especificidades destes “novos” suportes, os seus limites e constran-
gimentos, evitando assim, de algum modo, mimetizar o tipo de propostas
gráficas e editoriais existentes para o suporte em papel.
Do ponto de vista estrutural o presente trabalho de investigação divide-se
em quatro momentos fundamentais:
Apresentação, faz uma introdução ao trabalho de investigação, aos seus
objetivos e da metolodologia que norteou a sua elaboração.
Jonh Doe: o livro no mundo digital, expõe o resultado da pesquisa e revisão
bibliográfica realizada, fazendo uma breve abordagem de algu-
mas das principais questões que se colocam à produção, edição
e distribuição eletrónica de publicações.
Em cima da Vila: uma possível aproximação ao formato eletrónico, consiste
na apresentação da componente prática e na sua análise crítica.
Notas finais, apresenta breves conclusões acerca deste trabalho de investi-
gação téorico-prático, apontado ainda um conjunto de pistas de
investigação futura.
John Doe –o livro no mundo digital
23
s NTIC têm alterado significativamente não só o modo
como nos relacionamos com os outros, mas também o
contexto social, cultural e económico em que nos inse-
rimos. À semelhança de outros campos, também o setor
editorial se tem transformado.
Nas últimas décadas, surgiram novas formas de pro-
dução, edição e distribuição. As NTIC e, em particular, a Internet, têm pro-
movido novas formas de produção nos mais diversos tipos de documentos
eletrónicos (bases de dados, livros, revistas, jornais e outras publicações), bem
como o desenvolvimento de novas formas de distribuição e acesso (seja em
termos de hardware, como de software para a consulta desses documentos).
Justamente neste sentido, um representante do departamento de marketing
da Editorial Presença declarou num artigo recentemente publicado na edição
online do Jornal i que “para as editoras não é necessário espaço (físico) para
armazenamento, a correcção de erros/gralhas é mais rápida e simples. Futu-
ramente, a possibilidade de tornar o e-book um produto multimédia, em que
será possível visualizar vídeos, ouvir conteúdo áudio, etc. – o que tornará a
leitura uma experiência mais interactiva – é sem dúvida uma mais-valia face
ao livro em papel” (Marques, 2013).
No entanto, importa sublinhar que as NTIC não marcaram apenas o sur-
gimento de novas formas de produção, edição e distribuição associadas aos
documentos eletrónicos. Na verdade, também o livro impresso tem conheci-
do alterações profundas a este nível. Recorde-se, por exemplo, a vulgarização
da “auto-edição”1, isto é, da publicação de conteúdos originais pelos próprios
autores, e também do print-on-demand (traduzindo, em português, “impres-
são a pedido”), ou seja, a impressão mediante o número de exemplares soli-
citados, que tem vindo a facilitar a reedição, eliminando os custos associados
à manutenção de stocks. Por outro lado, também ao nível da distribuição se
têm registado alterações importantes – por exemplo, “a editora [Zita Seabra]
lembra o caso de França, em que os editores se associaram à distribuição de
águas engarrafadas, e em outros sítios houve associações com a distribuição
de tabaco ou de cerveja” (Coutinho, 2012: 25).
Neste contexto de profundas alterações e com consequências ainda incer-
tas, assistimos a um intenso debate em torno da natureza do livro onde as
opiniões se dividem entre a defesa e a contestação do seu desaparecimento.
Para José Afonso Furtado encontramo-nos num momento paradoxal em que
“se anuncia, por um lado, a eminência do fim do reinado do livro, ou seja,
estamos situados, pelo menos imaginariamente, perante a evidência do retro-
1 Segundo José Martínez
Sousa (2010: 195-196), a
“auto-edição” ganha forma
em 1985 quando a Apple
Inc. apresenta o conjunto
computador, impressora
Laser Write e o software
de paginação PageMaker.
Desde então multiplicaram-
se os editores de texto,
edição de imagem, desenho
e paginação, ao mesmo
tempo que o acesso a um
computador pessoal se
democratizou. Em conjunto,
estas transformações
permitiram que hoje
qualquer pessoa possa
produzir os seus próprios
elementos impressos,
sem necessitar de grandes
conhecimentos técnicos
ou sem ter de fazer
avultados investimentos
em equipamentos e
matérias-primas. Mais
recentemente, têm surgido
inúmeras empresas que
se dedicam à edição de
autores independentes
proporcionando um serviço,
mais ou menos completo,
que pode englobar desde
a conceção gráfica à
impressão, distribuição e,
em alguns casos, promoção.
“Os autores pagam e
concretizam um sonho de
criança: tornam-se escritores”
(Martins, 2013: 28).
A morte do livro e a sua ressurreição
A
24
cesso da cultura tipográfica a favor de um novo predomínio de meios prio-
ritariamente audiovisuais; mas por outro, não pode deixar de se reconhecer
o momento climático da eclosão da cultura baseada na tipografia” (2007:9).
Furtado caracteriza esta eclosão como um “êxtase bibliográfico” em que o se-
tor faz crescer “o discurso da citação a par do florescimento imparável das
novidades” (Guerreiro apud Furtado, 2007:10).
“Despite what is sometimes said, electronic devices are not eliminating printed books but are actually producing more of them” (Ong, 1999: 135).
25
ara melhor compreender o momento paradoxal em que nos
encontramos é importante fazer um rápido enquadramento
da produção, edição, distribuição e consumo de livros, revis-
tas, jornais e outras publicações em Portugal. Importa igual-
mente perceber qual a adesão dos portugueses aos diversos
dispositivos e conteúdos eletrónicos.
Analisando os dados estatísticos relativos ao setor da edição em Portugal
comprovamos precisamente o “êxtase bibliográfico” a que se refere Furtado,
bem como a sua importância para a dinamização da economia do país.
De acordo com o relatório “Estatísticas Culturais do Ministério da Cultura
2009”, tem-se assistido a um incremento do número dos títulos impressos
em Portugal. De facto, entre 2000 e 2008, registou um aumento consistente
de títulos impresso, passando de 9.925, em 2000, para 12.040, em 2008
(Neves e Santos, 2011: 55). Este aumento do número de títulos impressos
é ainda acompanhado pelo crescimento do número de leitores e por uma
diminuição do número de “não-leitores” (Neves e Santos, 2011: 59).
No que diz respeito à importância do setor da edição em Portugal para a di-
namização da economia, estatísticas recentes revelam que, em 2011, as ativida-
des de “Edição de livros, de jornais e de outras publicações” envolveram 15,4%
das pessoas empregadas em atividades culturais e criativas (INE, 2012: 17).
Estes dados atestam ainda a relevância do setor ao nível da geração de riqueza:
dos 5,6 mil milhões de euros de volume de negócios gerados, em 2010, pelas
empresas culturais e criativas existentes em Portugal, mais de 32% estão rela-
cionados com a edição e comércio de publicações2 (INE, 2012: 19).
Ainda no que se refere à geração de riqueza, dados estatísticos comprovam
o peso significativo deste setor ao nível das exportações e das importações de
bens culturais: em 2011 os “Livros, brochuras e impressos semelhantes” fo-
ram os bens que registaram maior valor das saídas (44,1 milhões de euros
num total de 64,7 milhões de euros) representando 94,4% das exportações
de bens culturais (INE, 2012: 19). Em igual período, os “Jornais e publicações
periódicas” e os “Livros, brochuras e impressos semelhantes” importam, res-
petivamente, cerca de 79,2 milhões de euros e 49,9 milhões de euros, num
universo global de importações de 174,9 milhões de euros (INE, 2012: 20).
Assim, e não obstante os sinais de uma profunda crise por que estão
atualmente a atravessar muitas das indústrias culturais e criativas em geral
e, em particular, o setor editorial – com vários casos de encerramento de
livrarias e de insolvência de editoras e distribuidoras3 – importa destacar,
desta breve análise dos dados estatísticos mais recentes, a relevância que,
2 Distribuídos pelas seguintes
atividades: empresas
de “Comércio a retalho
de jornais, revistas e
artigos de papelaria
em estabelecimentos
especializados” (13,4%),
empresas dedicadas à
“Edição de revistas e outras
publicações periódicas”
(7,2%), empresas de “Edição
de livros” (6,5%) e empresas
de “Edição de jornais” (5%)
(INE, 2012: 19).
3 Fernando Guedes lembra
que quando foi “presidente
da APEL pela primeira
vez, nos anos 60, havia
umas 600 casas que se
reclamavam de livrarias
em Portugal” estimando
agora que o número de
livrarias tenha diminuído
tragicamente (Guedes
apud Costa, 2012: 20). A
título de exemplo, refira-se
o destaque mediático
concedido, em 2012, ao
encerramento das livrarias
históricas: Livraria Portugal,
instalada há cerca de 70
anos na Rua do Carmo
(Chiado), em Lisboa, da
Livraria Camões, no Rio
de Janeiro, que pertencia à
Imprensa Nacional – Casa
da Moeda e, já em 2013,
ano em que comemora o
seu centenário, a Livraria Sá
da Costa, em Lisboa.
O “êxtase bibliográfico” em Portugal
P
26
apesar de tudo, mantêm em Portugal a impressão de livros, revistas, jornais
e outras publicações.
Alguns autores defendem que a crise do setor da edição está diretamente
relacionada com as NTIC e, em especial, com o surgimento dos livros ele-
trónicos. Contudo, as informações disponíveis contradizem estas opiniões,
evidenciando que o consumo de edições impressas é ainda significativo, ao
contrário do consumo de publicações eletrónicas que é ainda bastante redu-
zido em Portugal4.
Embora se tenha assistido, nos últimos anos, a um ampla difusão das NTIC,
em especial do computador e do acesso à Internet (Neves e Santos, 2011: 36),
a verdade é que, a consulta de diversos tipos de documentos eletrónicos (ba-
ses de dados, livros, revistas, jornais e outras publicações) é ainda uma prá-
tica relativamente pouco comum. Isso mesmo é confirmado por um recente
inquérito do Observatório das Atividades Culturais (OAC) acerca do modo
como os portugueses utilizam as TIC: “a maioria dos inquiridos Nunca utili-
za o computador (52%), seja porque Não sabe utilizar (22%), seja porque Não
tem acesso a computador (16%) ou porque Não tem necessidade de o usar (14%)”
(Neves e Santos, 2011: 123). Relativamente à utilização da Internet, “a situação
de lazer é claramente a mais frequente (74%). Tanto a situação profissional
(40%) como a de estudo (29%) têm pesos significativos, mas relativamente
mais baixos” (Neves e Santos, 2011: 123). No entanto, Manuel Castells salienta
o potencial da edição eletrónica de manuais e compêndios e revistas académi-
cas têm: “entre outras coisas, porque as bibliotecas carecem de espaço físico
suficiente para fazer frente à explosão informativa” (2007:234).
O mais recente relatório do Observatório da Comunicação (OberCom) so-
bre o modo como os Portugueses se relacionam com a Internet revela que
86,7% dos inquiridos nunca lê livros online ou faz download de livros5. Embo-
ra cerca de metade dos inquiridos disponha de computador pessoal (fixo e/ou
portátil), a posse de tablets (1,5% dos inquiridos) e de e-book readers (1,0%) é
ainda marginal6 (Cardoso e Espanha, 2012: 13).
Já em 1983, Fernando Guedes, numa conferência que proferiu no âmbito
do ciclo “Que Cultura em Portugal nos próximos 25 anos”, salientava o atraso
de Portugal face a outros contextos7: “Aquilo, porém, a que se chama corren-
temente a revolução da novas tecnologias e sua consequência que directamente
nos interessa, a edição electrónica, estão tão distantes de Portugal que dificil-
mente se acredita que Lisboa esteja separada por duas ou três horas de voo
de Paris, Londres ou Frankfurt” (Guedes, 2001: 196). Trinta anos depois a
realidade portuguesa altera-se lentamente.
Um indício de mudança desta realidade é o lugar que estas questões co-
meçam a ocupar na agenda política. Uma recente resolução do Conselho de
Ministros, publicada em Diário da República a 31 de dezembro de 2012, apro-
va a Agenda Portugal Digital, que transpõe para o nosso país uma diretiva
4 No caso de Espanha, Iñaki
Vasquez Alvarez chegou a
conclusões semelhantes
(Álvarez, 2012: 113).
5 No que respeita aos
hábitos de leitura,
relatórios recentes
apontam para uma
realidade distinta noutros
países. Por exemplo,
segundo o Pew Internet &
American Life Project, em
2012, 23% dos norte-
-americanos com mais
de 16 anos leu um e-book
(Rainie et al., 2012).
Também de acordo com
o último “Kids & Family
Reading Report”, entre
2010 e 2012, 46% das
crianças e jovens norte-
-americanos dos seis aos
17 anos leu um e-book
(Robinson (coord.), 2013).
6 No que se refere à posse
de e-book readers dados
recentes apontam para
uma realidade distinta
noutros países. Segundo
um relatório anual do
GfK Emer (http://
www.gfk-emer.com) o
Reino Unido foi o país
com maior número de
dispositivos vendidos
(968.000 unidades),
seguido da Espanha
(190.000 unidades), Itália
(120.000 unidades),
França (100.000 unidades)
e Alemanha (89.000
unidades). O mesmo
relatório estimava que
em 2012 vendas destes
dispositivos crescesse
40% no Reino Unido
e 30% em Espanha
(Álvarez, 2012:112).
27
7 Notícias recentes apontam
para uma realidade distinta
noutros países: no início de
2011, a Amazon comunicou
que nos Estados Unidos da
América (E.U.A.). registava
maior volume de venda de
e-books comparativamente
ao número de livros
impressos; e recentemente,
a Association of American
Publishers, anunciou que
em 2012 a venda de e-books
nos E.U.A. gerou uma
receita equivalente a
22,55% do total de 7,1 mil
milhões de dólares das
vendas de livros. Apesar
de ainda não ser possível
encontrar informação
detalhada relativamente ao
número absoluto de obras
produzidas e distribuídas
será certamente importante
acompanhar a evolução do
setor, quer a nível nacional
como internacional,
de forma a melhor
compreender o seu rumo.
8 A Agenda Portugal Digital
responde às indicações da
“Digital Agenda for Europe”
promovida pela União
Europeia (U.E.). A U.E. tem
solicitado aos vários Estados
Membros, entre outras
iniciativas, a preservação
e divulgação, através da
Internet, das coleções de
museus, bibliotecas e outros
arquivos. Com o objetivo
de preservar e divulgar
o património cultural e
científico europeu, a União
Europeia criou ainda,
em 2008, o Europeana.
Atualmente, podemos
encontrar em http://www.
europeana.eu cerca de
15 milhões de títulos de
diferentes naturezas.
comunitária8. A Agenda é composta por seis áreas de intervenção, entre as
quais se incluiu a literacia, qualificação e inclusão digitais. Entre outras medi-
das propostas, a resolução aponta para a criação de medidas de promoção da
criação e a digitalização de conteúdos, bem como de promoção da disponibi-
lização e utilização de e-books, nomeadamente, através do incentivo a políticas
de aluguer de e-books.
Este breve enquadramento permite, assim, afirmar que (ainda) não assistimos ao desaparecimento do livro impresso em Portugal, bem pelo contrário, pese embora existam indícios que apontam para uma alteração da sua natureza e relevância.
28
o longo da nossa História, o livro é frequentemente apre-
sentado como um símbolo de civilização, fundamentando
a comparação “evolucionista, entre sociedades letradas e
pré-letradas” (Medeiros, 2012). Essa importância quase
“sagrada” do livro, deve-se à sua capacidade de, ao longo
do tempo, transportar e comunicar coerentemente o co-
nhecimento, constituindo-se como memória da nossa existência (Johannot
apud Furtado, 2007: 14; Lúcia, 2012: 23).
“Da palavra de Deus à palavra do Homem, o livro tornou-se a garantia da
memória, da existência da ordem e da lei, parecendo ter recolhido da Bíblia
esse suplemento da ordem do sagrado que lhe confere um claro privilégio
de autoridade” (Furtado, 2007: 13). Deste modo, a informação veiculada pelo
livro tem sido entendida “como auto-suficiente, auto-explanativa e auto-legiti-
madora” (Duguid apud Furtado, 2007: 78).
Não surpreende, portanto, que para alguns autores, a transformação da
natureza do livro corresponda a um certo declínio da sua “dimensão auráti-
ca” pela alteração da sua posição dominante, capaz de influenciar o contex-
to cultural, social e político. Segundo estas perspetivas, a transformação da
chamada “ordem” do livro “terá certamente implicações não apenas ao nível
dos suportes e modos de transmissão de informação e do conhecimento mas
induzirá transformações mais gerais nas formas de organização cultural e
social” (Furtado, 2007:12).
De facto, ao longo da História, o livro sofreu profundas transformações
que influenciaram e foram, simultaneamente, influenciadas pelo contexto
económico, cultural e social. Primeiro, a introdução do codex, que substituiu
gradualmente os rolos de pergaminho9; e depois10, a introdução e desenvolvi-
mento da impressão com caracteres móveis, que substituiu o codex e permi-
tiu a duplicação mecânica de originais. Em conjunto, estes dois momentos
contribuíram decisivamente para a passagem de uma cultura predominan-
temente oral para uma cultura escrita e, consequentemente, para uma nova
organização cultural e social (Darnton, 2009; Furtado, 2007; Guedes, 2001;
Lucía, 2012).
Apesar da rutura a que se assistiu nos dois momentos históricos ante-
riormente referidos, alguns autores consideram as alterações atuais são mais
radicais. Este entendimento fundamenta-se na importância que as NTIC vêm
assumindo como agentes transformadores dos suportes de escrita e leitura,
impulsionando, simultaneamente, mudanças nos modos de produção, edi-
ção, distribuição e receção dos textos.
A (des)ordem do livro
9 O vídeo satírico http://
www.youtube.com/
watch?v=M1NbUI1TQpo
poderá, de certa forma,
transportar-nos para o
momento da introdução
do codex, ou códice,
revelando as dificuldades
em assimilar as “novas”
formas de escrita e de
leitura.
10 Neste segundo momento,
foi igualmente importante
a substituição do
pergaminho pelo papel
sem a qual impressão
não seria sustentável já
que “para imprimir os
35 exemplares da Bíblia
de Gutenberg foram
necessárias as peles
de uns 5000 animais”
(Guedes, 2001:24).
A
29
São precisamente este conjunto de fatores que levam vários autores a afir-
mar que as transformações a que assistimos atualmente são tão, ou mais,
complexas quanto a passagem da cultura predominantemente oral para a
cultura escrita (Lucía: 2012; Ong: 1999). A natureza complexa destas mu-
danças implica, assim, que façamos uma análise necessariamente transversal
e multifacetada do processo. De facto, as discussões em torno da produção,
edição e distribuição de livros eletrónicos “envolvem a interação de factores
tecnológicos, psicológicos, sociológicos, económicos e culturais que influen-
ciam o modo como as pessoas criam, usam, procuram e adquirem informa-
ção” (Borgman apud Furtado, 2007:19). Em larga medida, este entendimento
recupera a reflexão iniciada, na década de 1990, por Roger Silverstone em
torno da necessidade de uma “sociologia dos ecrãs”. A partir da observação
da importância crescente que a televisão e o computador pessoal assumiam
nesse período, defendeu a importância de analisar estes objetos não só como
produto das NTIC, mas também como objetos simbólicos, sociais e culturais
(Cardoso, 2013:15-16).
Vivemos, contudo, num período de transição, que se revela na enorme
rapidez e volatilidade com que acontecem alterações ao nível da produção,
distribuição e consumo de livros eletrónicos. Por esse motivo, é difícil anteci-
par que importância simbólica terá o livro impresso no futuro. Como indicam
os dados estatísticos anteriormente mencionados, as publicações tal como
tradicionalmente as conhecemos continuarão, num futuro mais ou menos
próximo, a ser escritas, distribuídas e consultadas. No entanto, os mesmos
dados evidenciam o surgimento e desenvolvimento de novas práticas relacio-
nadas com as NTIC, que nos levam a afirmar, com segurança, que a escrita e
leitura se encontram em transformação.
Num exercício de antecipação de tendências, vários autores defendem
que o livro impresso não só continuará a ser importante, como terá um va-
lor acrescido. Esta opinião assenta, por um lado, na ideia de que, no futuro,
os livros impressos serão destinados a preservar informação relevante para
conhecermos e compreendermos determinados momentos históricos. Por
outro, como terão um número reduzido de exemplares e um maior cuidado
a nível de impressão e acabamentos, vão ganhar um estatuto de raridade,
tornando-se objetos mais preciosos (Knufinke, 2012:125; Ludovico, 2012:93).
Atualmente, os livros eletrónicos não beneficiam (ainda) desse estatuto
“sagrado” que parece estar reservado aos livros impressos, a quem cabe a
“La técnica digital revoluciona al mismo tiempo el soporte de lo escrito, las relaciones con los textos y su inscripción y difusión. Por ende, ninguna comparación histórica supone una revolución semejante a la revolución digital, que propone nuevos soportes de lo escrito y nuevos modos de lectura” (Chartier apud Marín, 2013).
30
nobre missão de preservar e transmitir a “palavra” e a “verdade”. De facto,
a fluidez do texto eletrónico, a par das dúvidas relativas à sua autoria e ori-
gem, dificultam a sua credibilização e institucionalização (Catarino: 2013: 17;
Reichenstein, 2012). No entanto, num futuro mais ou menos próximo, é
possível que a importância dos livros eletrónicos possa vir a ser reavaliada,
alterando-se o seu estatuto.
11 Entende-se por nativo
digital todo o indivíduo
que, desde cedo, tenha
convivido com as NTIC.
O uso quotidiano
do e-mail, do instant
messaging (chat online) e
das short messages (sms
e mms) torna as “novas”
formas de escrita e leitura,
mediadas pela tecnologia,
práticas familiares. Vários
autores consideram que
os nativos digitais
“processam a informação
de um modo
completamente diferente
dos seus antecessores,
já que desde cedo se
habituaram a receber
e transmitir grandes
quantidades de informação
em curtos períodos de
tempo. Por isso, a
necessidade de
concentração profunda
acaba por conduzir à
procura de novos
estímulos. Estes autores
acreditam também que,
de uma forma geral, os
nativos digitais, gostam
do multitasking; preferem
gráficos a texto; são
adeptos do acesso
aleatório (como no
hipertexto); funcionam
melhor quando estão em
rede” (Furtado, 2012: 178).
Uma vez mais, o contexto económico, social e cultural é fundamental para compreendermos qual o sentido da mudança. É, por isso, plausível admitir que, a crescente relevância de novas gerações de leitores, cada vez mais habituados a utilizar as NTIC, poderá vir influenciar decisivamente no modo como entendemos o livro digital. Esta é a perspetiva de Roger Chartier, para quem o valor simbólico do livro, impresso e eletrónico, será definida pelos chamados nativos digitais11: “son sus prácticas más que nuestros discursos los que van a decidir sobre la sobrevivencia o la muerte del codex como realidad material y la del libro como discurso” (Chartier, 2012:14-15).
31
e-book: tentativa de definição
conceito de livro eletrónico não é novo. Sem procurar
sem exaustivos, podemos identificar alguns momentos
que demonstram como, progressivamente, as NTIC e,
em especial a Internet, penetraram na produção, edição
e distribuição dos conteúdos (Furtado, 2007:25) multi-
plicando-se os formatos, os meios e canais de edição,
distribuição, comercialização e proteção de livros eletrónicos.
Em 1971, Michael Hart (1947-2011) iniciou o projeto Gutenberg12, provavel-
mente a primeira coleção gratuita de livros eletrónicos. Disponível em CD-ROM
desde 1986, o projeto Gutenberg oferece atualmente para download mais de
42 mil títulos (de acordo com a atualização do website a 30 de janeiro de 2013)
em diferentes formatos.
Em 1993, Glenn Hauman fundou o BiblioBytes13 um dos primeiros web-
sites a permitir o download de e-books estando, por isso, na vanguarda da edi-
ção electrónica “abrindo caminho às negociações dos direitos de propriedade
intelectual em ambiente digital e, desde 1994, às soluções seguras para as
transacções através da Internet” (Furtado, 2007:24).
Em 2000, é lançado pela Simon & Schuster “Riding The Bullet”, de Stephan
King, que se veio a revelar um grande sucesso comercial, despertando a aten-
ção do setor para estas novas formas de produção, edição e distribuição. Edi-
tada apenas em formato eletrónico, esta novela contou com mais de 400 mil
downloads logo nas primeiras 24 horas após o seu lançamento.
Em 2004, com a ambição de criar o maior arquivo online de livros e revis-
tas, a Google Inc. lançou o Google Print, atualmente conhecido como Google
Books. Este serviço da Google Inc. apresenta, mediante uma pesquisa, títulos
digitalizados e arquivados na sua base de dados, que conta já com mais de 20
milhões de obras.
Num contexto em que se multiplicam, a um ritmo acelerado, os formatos,
meios e canais de edição, distribuição e comercialização de livros eletrónicos,
torna-se difícil definir14 adequadamente o conceito de e-book. Embora o termo
derive do inglês eletronic book – precisamente, livro eletrónico15 – a verdade
é que, como refere António José Furtado, esta designação é bastante abran-
gente, indo “desde um simples ficheiro digital do conteúdo dum livro até ao
ficheiro digital acompanhado pelo software que possibilita o acesso e a nave-
gação do conteúdo (...) ou até o hardware que contém os ficheiros electrónicos
de livros” (Furtado, 2007:32).
Christine L. Borgman refere precisamente que as definições mais elemen-
tares de e-book tendem a concentrar-se na questão da distribuição. Segundo
12 O projeto Gutenberg está
disponível em http://www.
gutenberg.org/
13 O BiblioBytes, originalmente
disponível em http://www.
bb.com/, está offline desde
novembro de 2001.
14 Note-se que a própria
definição de objeto digital
é abrangente. Este termo
remete para qualquer objeto
representado através de
um sistema de numeração
binária, por isso engloba
tanto “informação nascida
num contexto tecnológico
digital (objectos nado-digitais),
como informação obtida a
partir de suportes analógicos
(objectos digitalizados)”
(Ferreira, 2006: 21).
15 A par do termo e-book,
surgem muitos outros, que
resultam da combinação da
letra “e”, como abreviatura
do termo eletrónico
(seguido, ou não, de hífen),
com a designação do tipo
de publicação, por exemplo,
e-magazine, e-paper, entre
outros (Pinto, 2012:215).
O
32
esta investigadora, a dificuldade em estabelecer os contornos do livro eletró-
nico deve-se, em parte, ao modo como o termo e-book foi apropriado pelas
empresas que produzem e/ou comercializam dispositivos para apresentação
de conteúdos eletrónicos (Borgman, 2000 apud Furtado, 2007:23). Vários
outros autores chamam a atenção para a ambiguidade do termo, sugerindo
a necessidade de distinguir o objeto (hardware e/ou software) que permite a
consulta do conteúdo eletrónico, do conteúdo propriamente dito.
Assim, no que diz respeito ao objeto, podemos distinguir:
Os e-book readers ou simplesmente, e-readers: todos os dispositivos
portáteis, com softwares próprios, destinados essencialmente à
leitura de livros eletrónicos embora possam permitir outras ope-
rações (por exemplo, acesso à Internet);
Em 1968, Alan Kay projetou o Dynabook, um computador
portátil com bateria interna e software próprio, que ambicionava
proporcionar o acesso multimédia a crianças. O Dynabook foi
comercializado pela Toshiba, apenas no Japão, a partir de 1989
mas acabou por ser descontinuado, dez anos mais tarde, já que
tanto o tamanho como o preço eram considerados excessivos.
Em 1998, a NuvoMedia Inc. apresentou o Rocket eBook,
precursor dos e-book readers que hoje conhecemos, foi comer-
cializado até ao ano 2000.
Atualmente, os e-readers mais populares, são talvez o Sony
PRS, lançado em 2006, pela Sony; o Kindle, lançado em 2007,
pela Amazon.com Inc.; o Nook, lançado em 2009, pela livra-
ria Barnes & Noble Inc.; e o Kobo, lançado no mesmo ano pela
Kobo Inc., propriedade da Rakuten, operadora de e-commerce Ja-
ponesa, e comercializado em Portugal, desde 2012, pela FNAC.
Nos últimos anos, o mercado de e-book readers tem vindo a
desenvolver-se16. Não só tem aumentado a quantidade de mo-
delos disponíveis, como se tem verificado uma melhoria das
suas características.
Em baixo: à esquerda,
Alan Kay apresentando
o Dyna Book; à direita,
um Rocket eBook da
NuvoMedia Inc.
16 No entanto, e de
acordo com um recente
comunicado da empresa
de pesquisa IDC, a venda
destes dispositivos
tem, desde 2012, vindo
a diminuir. Apesar de
se esperar, ao longo
2013 e 2014, um ligeiro
crescimento, a IDC prevê
que, entre 2015 e 2017, se
assista a uma queda de
16,6% nas vendas.
Cf. http://www.idc.com/
getdoc.jsp?containerId=
prUS24002213
33
Os equipamentos com várias funcionalidades17, entre as quais se in-
clui a leitura de livros eletrónicos – neste grupo, podemos consi-
derar os computadores portáteis, smartphones, phablets18, tablets e
PDAs. Embora alguns destes equipamentos tenham já disponí-
vel software “nativo” adequado à leitura de livros eletrónicos19, a
maior parte exige a instalação de software.
Relativamente ao software de leitura de livros eletrónicos, atualmente exis-
tem inúmeras opções disponíveis no mercado. À semelhança do hardware,
estes softwares são também designado por e-book readers ou e-readers, o que
contribui para acentuar a ambiguidade dos termos.
A nível de conteúdo, a definição de livro, revista, jornal ou outra publica-
ção eletrónica torna-se uma tarefa ainda mais complexa:
Num extremo, temos as edições que se limitam a converter o conteúdo
impresso para o formato digital, preservando o aspeto original
de forma mais ou menos fiel.
São muito frequentes as publicações eletrónicas em forma-
to PDF (Portable Document Format). Este formato desenvolvi-
do em 1993 pela Adobe Systems é, desde 2008, um formato
standard aberto definido pela International Organization for
Standardization como ISO 32000-1. Enquanto formato aber-
to tem a vantagem de ser compatível com grande parte dos
dispositivos, uma vez que qualquer pessoa poderá desenvolver
software que escreva e/ou leia este formato. Tem ainda a mais
valia de poder incluir outros elementos para além de texto e
imagens, como elementos multimédia e hiperligações. Contu-
do, constata-se que o mais frequente é encontrarmos publica-
ções eletrónicas que se limitam a converter o conteúdo impresso
para este formato, preservando integralmente o aspeto original.
A ampla utilização deste formato deve-se, em larga medida, à
facilidade com que poderá ser desenvolvido. Os diversos textos,
agora resultado de um workflow exclusivamente digital, podem
facilmente ser apresentados em formato PDF, permitindo as-
sim reduzir os custos da produção e distribuição de publicações
eletrónicas e gerar novas receitas (Furtado, 2008: 235).
Importa também mencionar que existem inúmeros websites,
aplicações e/ou plug-ins que permitem apresentar publicações
online, e em alguns casos também offline, com mais ou menos
conteúdos multimédia. Embora não tenham sido desenvolvidos
especificamente para os diversos e-book readers (seja hardware
seja software) estes formatos são também muito populares.
17 De acordo com um recente
comunicado da empresa de
pesquisa IDC, a venda de
equipamentos com várias
funcionalidades tem vindo
a aumentar. Recentemente,
os leitores têm preferido
equipamentos mais
acessíveis, mais pequenos
(com ecrâ igual ou inferior a 8
polegadas) e mais versáteis.
Estes dados económicos ao
revelarem uma inversão nos
hábitos de consumo poderão
ser importantes para a análise
e desenvolvimento de livros,
revistas, jornais ou outras
publicações eletrónicas que
correspondam às expectativas
dos “novos” leitores.
18 O termo phablet surge no
início de 2012 para descrever
smartphones com ecrâ de 5 a
6,9 polegadas.
19 Por exemplo, o iPad, tablet
lançado em 2010 pela
Apple Inc., tem disponível a
aplicação iBooks que permite
simultaneamente procurar,
comprar, descarregar e ler
livros eletrónicos.
34
No extremo oposto, encontramos uma enorme diversidade edições em
vários de formatos, disponibilizando ao leitor mais ou menos
conteúdos multimédia e diferentes funcionalidades.
Encontramos publicações eletrónicas em diferentes forma-
tos adaptados aos diversos e-readers (hardware e/ou software)
disponíveis no mercado. Os formatos mais populares são o
ePUB e o Mobi.
O ePUB é o formato recomendado pela International Publi-
shers Association, pelo International Digital Publishing Forum
e pelo World Wide Web Consortium (W3C) para a apresenta-
ção de publicações eletrónicas. Enquanto formato aberto tem a
vantagem de, por um lado, ser compatível com grande parte do
hardware e software disponível no mercado e, por outro, permi-
tir que qualquer pessoa colabore no seu aperfeiçoamento. Em-
bora inicialmente só possibilitasse a apresentação de texto, este
formato, tem vindo a evoluir. A sua terceira versão, lançada no
final de 2011, mantém a estrutura em XML (Extensible Markup
Language) que poderá ser complementada com outras lingua-
gens20. Estes desenvolvimentos permitem a apresentação não
só de textos e imagens mas também de outros elementos mul-
timédia em layouts gráficos mais complexos e interativos.
O formato Mobi, é utilizado para publicações eletrónicas
especialmente desenvolvidas para o leitor Kindle da Amazon.
Contudo, este formato poderá ser lido em qualquer outro dis-
positivo, desde que disponha de software compatível. No pas-
sado mês de julho, a Amazon registou uma nova patente: a
”Customized Electronic Book with Supplemental Content” (n.°
8478662). Este registo anuncia a transformação dos seus
e-books que, muito provavelmente, passarão a apresentar con-
teúdos multimédia, à semelhança dos formatos utilizados pela
concorrência.
Importa ainda destacar as publicações eletrónicas disponí-
veis como aplicação (app). Trata-se de um formato no qual o
conteúdo é acompanhado de software próprio. Bastante comum
no mercado da Apple Inc., este formato tem sido apontado, por
diversos investigadores, como o “futuro” da edição digital já
que, mais do que qualquer outro, explora as potencialidades do
ecrã multitoque e dos conteúdos multimédia.
20 Nomeadamente, com
MathML (Mathematical
Markup Language) e SVG
(Scalable Vector Graphic),
HTML5(HyperText Markup
Language, versão 5), CSS3
(Cascading Style Sheets,
versão 3), entre outras
linguagens.
Atualmente, verifica-se uma coexistência, quase sempre em simultâneo, destes diferentes objetos (hardware e/ou software) e formatos, o que denota o carácter ainda experimental da
35
Existem, contudo, alguns autores que contestam este amplo entendimen-
to do termo livro eletrónico chamando a atenção para a necessidade de o res-
tringir. “Estamos numa primeira fase de definição e difusão do texto digital,
em que se tem priveligiado a acumulação da informação. Contudo, só pode
ser uma primeira fase” (Lucía, 2012: 117).
Segundo esta perspetiva, o termo livro eletrónico não deverá considerar as
edições que se limitam a reproduzir digitalmente o conteúdo impresso e/ou
copiam modelos de apresentação e transmissão do livro tradicional. Deste
modo, a designação e-book deverá referir-se apenas a edições pensadas, pre-
ferencialmente desde a sua origem, para a visualização em ecrâ, que aprovei-
tam as potencialidades do hipertexto, dos conteúdos multimédia e dos pró-
prios objetos (hardware e/ou software) que permitem a sua consulta e que, de
uma forma geral, não podem ser impressas reproduzindo de forma fiel o seu
aspeto e conteúdos.
Para Todd Sattersten, neste período de profundas transformações com des-
fecho ainda imprevisíveis, a definição de livro eletrónico deve concentrar-se so-
bretudo nos elementos ausentes: “For several decades, what we know today as a
“car” was referred to as a “horseless carriage.” It was easier to describe this new
invention as what it was not, rather than what it was” (Sattersten, 2012: 10). As- As-
sim, este autor sugere o termo “Paperless Books” referindo a característica ausen-
te de todos os livros eletrónicos e comum a todos os livros impressos, o papel.
Giuseppe Laterza sublinha, por seu turno, que a integração conteúdos
multimédia e interativos conduz à produção de edições diferentes e afastadas
dos formatos lineares e fechados dos livros que tradicionalmente conhece-
mos. Neste sentido, sugere que a esta combinação de conteúdos multimédia e
interativos se chame DIASS, abreviatura de “Digital Assembly” (Laterza, 2001
apud Furtado, 2007: 28). Esta conceção pressupõem não só a adoção de novas
terminologias como também o desenvolvimento de géneros literários espe-
cialmente adaptados a este novo contexto.
Para José Manuel Lucía (2012: 117), só este amplo entendimento do con-
ceito será capaz de afirmar o livro eletrónico como motor da revolução no
modo como produzimos e transmitimos o conhecimento.
publicação eletrónica. Atendendo, assim, a esta grande variedade de suportes e formatos, considera-se útil utilizar uma definição de e-book suficientemente abrangentes para contemplar as várias situações existentes. Neste sentido, partilhamos da definição de livro eletrónico sugerida por José António Furtado: “qualquer texto (...) disponível num formato electrónico que permita – entre outras – a distribuição em rede e a leitura através de um qualquer tipo de dispositivo hardware dedicado ou não” (2007: 43).
36
Reconcetualização do livro no mundo digital
o debate sobre a (nova) natureza do livro os autores apre-
sentam duas posições distintas: a primeira, de continui-
dade, aponta uma prevalência dos elementos textuais, da
narrativa linear e fechada; a segunda, de rutura, valoriza
os elementos multimédia, a narrativa hipertextual, multi-
linear e aberta (Furtado, 2007: 47).
De uma forma geral, nos formatos eletrónicos existentes assistimos ainda
à predominância de uma atitude de continuidade, com a representação quase
literal do modo como tradicionalmente conhecemos os livros. Esta postura
considera, por um lado, que o objetivo do livro eletrónico não é substituir o
formato anterior mas antes explorar as potencialidades destas NTIC na ma-
nutenção e transmissão de conhecimento (Furtado, 2007: 49); por outro, que
os livros eletrónicos serão melhor compreendidos e assimilados se não entra-
rem em rutura total com a conceção que temos do seu formato tradicional.
Historicamente, esta atitude de continuidade tem marcado a evolução do
livro. De facto, também quando surgiu a impressão de Gutenberg, existiram
algumas resistências. Talvez por isso os primeiros livros impressos se asse-
melhavam aos manuscritos medievais. Os impressores seguiram os padrões
e as convenções estéticas do seu tempo, tomando como modelo os caracteres
góticos e frequentemente acrescentando manualmente capitulares ilumina-
das e outras decorações (Borges, 2012; Guedes, 2001). Alguns autores defen-
dem mesmo que, desde esse período, pouco se modificou: “The majority of
our books today have come no further in their typographical, visual, synopti-
cal form that Gutenberg’s productions, despite the technological transforma-
tion” (Moholy-Nagy apud Hollis, 2010: 51).
Em baixo: à esquerda,
manuscrito do início do
século XIII; à direita,
a Bíblia de Gutenberg,
também conhecida por
Bíblia de 42 linhas ou
B-42, que marcou o início
da impressão de livros
no Ocidente.
N
37
Atualmente, para além da predominância dos elementos textuais, encon-
tramos nos livros eletrónicos metáforas que nos são familiares: para além de
continuarem a ser utilizados termos como livro, revista e jornal, encontramos
ainda outro tipo de expressões como índice, capítulo, página (Sousa, 2010: 198).
Também nas NTIC se utilizam frequentemente as noções de biblioteca, livra-
ria, estante e prateleira para designar os espaços de armazenamento, distri-
buição e comercialização de publicações eletrónicas.
A necessidade introduzir novos conceitos de forma facilmente reconhe-
cida, compreendida e memorizada, tem justificado o recurso a metáforas no
desenvolvimento dos chamados human computer interfaces21.
Nestes interfaces o utilizador opera num espaço "virtual" mediado por
objetos físicos e simbólicos. Por exemplo, numa aplicação de desenho “o uti-
lizador actua sobre o interface (dispositivo físico) e este actua sobre o sujeito
simbólico (o ponteiro do rato) que por sua vez representa a metáfora do lápis
a riscar uma folha de papel” (Vairinhos, 2002: 60-61). Esta aplicação apresen-
ta então ferramentas e operações "virtuais" que são metáforas de instrumen-
tos e ações comuns. Assim, nestes human computer interfaces encontramos
paralelismos não só nos termos e signos utilizados, mas também, no modo
como manipulamos os interfaces (físicos e simbólicos) e nas respostas que
estes interfaces dão às nossas ações.
Também os e-readers (hardware e software) e os websites, aplicações e/ou
plug-ins destinados à publicação de livros, revistas, jornais e outras publica-
ções eletrónicas procuram simular o manuseamento destes diversos objetos
tal como tradicionalmente os conhecemos (Ludovico, 2012: 91-92). Determi-
nados formatos permitem mesmo que o leitor "folheie" as publicações digitais
assistindo ao virar de cada página com a correspondente "paisagem sonora".
Tentando melhorar esta experiência, em janeiro de 2012, o Korea Advan-
ced Institute of Science and Technology (KAIST) apresentou o protótipo do
21 Lisa, apresentado pela
Apple Inc. em janeiro
de 1983, foi o primeiro
computador pessoal a
apresentar um interface
gráfico. Desde então todos
os computadores pessoais
e, mais recentemente, os
telemóveis e os tablets
têm seguido o mesmo
princípio. Alguns autores
consideram que nestes
human computer interfaces
o grau de abstração é
muito superior, já que estas
analogias são metáforas
de outras metáforas: “text
editors are a analogy of type
writers, type writers are
an analogy of writing with
pen and paper, writing with
pen and paper is, initially, a
substitute for our memory”
(Reichenstein, 2012).
Em baixo: à esquerda,
conjunto símbolos
desenhados por Susan Kare
para software do computador
pessoal Apple Machintosh 1.0,
apresentado pela Apple Inc.,
em 1984, um ano depois do
lançamento do computador
pessoal Lisa (em baixo, à
direita).
“All media are extensions of some human faculty-psychic or physical” (McLuhan, 2008: 26).
38
que chamou smart e-book22. Neste protótipo, o KAIST explora as potencialida-
des do ecrâ multi-toque suprimindo algumas das limitações dos interfaces
existentes. Através de um conjunto de gestos, já patenteados pela instituição,
o smart e-book permite, por exemplo, "virar" rapidamente várias páginas ou
marcar o canto da página, e "folhear" as seguintes. Desta forma, mimetiza a
experiência de leitura e manuseamento de um livro impresso procurando apro-
ximar, tanto quanto possível23, a perceção do livro eletrónico à do livro impresso.
Neste contexto, também o comércio digital de e-books tem procurado imitar
alguns dos serviços que tradicionalmente se poderia encontram em livrarias
e bibliotecas. “Uma libréria virtual que ofrece nuevos servicios intentando
rescatar aquellos outros que deban las librerías tradicionales: asesoramiento
y consejo” (Lucía: 2012:82). É, assim, frequente que ao comprar um livro
online, o leitor receba várias sugestões e informações adicionais sobre esse e
outros livros, os seus autores e temáticas relacionadas.
Em contraponto a esta visão de evolução na continuidade, encontramos
uma posição de evolução enquanto rutura. Este entendimento recupera a tese
de Marshall McLuhan (2008), segundo a qual o conteúdo de qualquer meio
(medium) é sempre outro meio.
Ao reforçar o papel desempenhado pelos vários mediadores (humanos e
"não-humanos"), esta posição considera que estes intervêm ativamente na
translação de um medium para outro. Este processo não é, por isso, uma sim-
22 O vídeo http://
www.youtube.com/
watch?v=rVyBwz1-
AiE&feature=player_
embedded evidencia as
potencialidades deste
protótipo.
Em baixo: detalhe d0 website
da Amazon.com Inc.,
operadora de e-commerce
de vários produtos e
serviços, nomeadamente,
livros impressos e
eletrónico. O motor
de pesquisa do website
apresenta o livro
escolhido, formatos
disponíveis e respetivos
preços, bem como
sugestões de outros
títulos relacionados com a
obra selecionada.
39
ples tradução, mas antes, uma interpretação que condiciona a forma como
o conteúdo é apresentado. “As the content is later re-mediated through sub-“As the content is later re-mediated through sub-
sequent formats, additional processes of translation take place. All transla-
tions are both transformations and interpretations, by virtue of existing in a
network of reliances consisting of a variety of actants. This network does not
flow in one direction but operates through negotiations that make every act-
ant reliant on the other actants” (Westin, 2011: 6).
Neste sentido, Slowinski (2003 apud Furtado, 2007), defende que as expres-
sões livros, revistas, jornais, entre outras, devem ser abandonadas libertando os
"novos textos" da carga simbólica que estes termos carregam e permitindo que
sejam desenvolvidos, desde a sua origem, para os suportes eletrónicos que os
apresentarão. Esta abordagem deverá basear-se na interação entre os diversos
elementos – as ligações hipertextuais e multilineares, conteúdos multimédia e
serviços em constante atualização – e o leitor/utilizador.
A par da reconcetualização do livro enquanto objeto assistimos, assim, à
redefinição do papel do editor, do autor e do leitor através da proposta de uma
nova experiência de escrita e de leitura.
Como nota José Afonso Furtado (2008: 235) a produção e edição de livros
e dos textos e elementos gráficos que lhes dão origem, resulta cada vez mais,
de um processo de trabalho maioritariamente (ou até, totalmente) digital. Es-
tes conteúdos podem ser, por isso, explorados de diferentes formas para além
da tradicional edição impressa.
“One major consequence of the shift to the digital is the addition of the
graphical, audio, video elements to the written word” (Stein apud Gottlieb,
2010: 67). Neste sentido, Giuseppe Laterza considera que nos encontramos
“perante uma realidade completamente nova na sua concepção, na sua reali-
zação e na sua fruição. E que, nessa medida, implica autores e editores com
capacidade inéditas, entre a edição de livros, a realização televisiva ou cinema-
tográfica e a produção musical” (Laterza apud Furtado, 2007: 28-29).
Por seu turno, o leitor passa a ter um papel ativo na co-construção do texto,
na medida em que pode organizar o argumento, atribuir novos significados
e ampliar o seu sentido (Barthes, 1968). “A contextualização da escrita é cada
vez menos assegurada explicitamente pelo texto e cada vez mais entregue
ao leitor (...) o texto torna-se um objecto móvel (...) de modo que compete ao
leitor reconhecer os limites do texto e mesmo colocar ou não a questão desses
limites” (Furtado, 2007:95).
Três capas da revista semanal norte-americana Time ilustram precisa-
mente não só a crescente “ecrãnização” (Cardoso, 2013: 18), ou seja, a impor-
tância que o computador pessoal e outros dispositivos têm vindo a assumir
nas sociedades contemporâneas, mas também, a transformação do papel
do leitor.
23 Importa salientar que as
tecnologias (hardware
e software) existentes
(ainda) não são capazes de
reproduzir características
essenciais do livro
diretamente relacionadas
com a experiência tátil
destes objetos: “the
experience of reading a
small duodecimo, designed
to be held easily in one
hand, differs considerably
form that of reading a
heavy folio propped up on a
book stand. It is important
to get the feel of a book
– the texture of its paper,
the quality of its printing,
the nature of its binding”
(Darnton, 2009:39). Outro
aspeto associado a esta
experiência tátil, que ainda
não é possível reproduzir
pelas NTIC, é a destreza
com que identificamos
quantas páginas lemos e
quantas temos ainda por
ler, permitindo desenhar,
com relativa facilidade, um
mapa mental do livro e
dos assuntos tratados em
cada momento. Também a
experiência olfativa não é
(ainda) reproduzida pelas
NTIC existentes. “Books
also give a special smells.
According to a recent
survey of French students,
43% consider smell to be
one of the most important
qualities of printed books -
so important that they resist
to buy odorless electronic
books” (Darnton, 2009:39).
Por outro lado o hardware
e software existente facilita
a pesquisa de determinada
frase ou expressão bem como
o registo e partilha de notas.
40
A imagem da edição de 3 de janeiro de 1983, evidencia a forma como
o computador pessoal “entra” no quotidiano, assumindo uma importância
crescente em diversos contextos (escolar, profissional, lúdico, etc.). Apesar
do mote “The Computer moves in”, a fotografia de duas esculturas, a de um
homem e de uma mulher, acompanhadas dos seus computadores pessoais
reflete ainda uma certa passividade na utilização desta ferramenta.
Já a capa da edição de 25 de dezembro de 2006 a 1 de janeiro de 2007, evi-
dencia a importância que o leitor/utilizador tem na construção e transmissão
de informação. Recorrendo à personificação, esta capa sugere que o computa-
dor pessoal se dirige ao leitor chamando-o a atenção do seu novo “papel”: “Yes
you. You control the Information Age. Welcome to our world.”.
Finalmente, a imagem da edição de 20 de maio de 2013, com o título “The
Me Me Me Generation” ilustra claramente a Web 2.024 e a “importância do
ecrã baseado no eu com escolha de ser activo, participativo, interactivo e em
rede” (Cardoso, 2013: 18).
Note-se ainda que, as NTIC e, em especial, a Internet, têm libertado o edi-
tor, autor e leitor das limitações inerentes a uma localização temporal e espa-
cial. Por outro lado, libertam a escrita do suporte rígido e permanente. “Para
Pierre Lévy, o novo dispositivo determina uma escrita diferente, descentrada
e heterogénea” (Babo, 2006: 90).
Finalmente, importa considerar ainda posições mais moderadas, que de-
fendem que as metáforas do livro, revista ou jornal, bem como dos vários
elementos que o constituem (capa, contracapa, índice, capítulos, etc.), podem
ser importantes num primeiro momento, permitindo uma melhor e mais
rápida compreensão e assimilação. Admite-se, contudo, que, à medida que
as publicações eletrónicas se desenvolvam, as comparações com os produtos
impressos tornar-se-ão desnecessárias e tenderão gradualmente a desapare-
cer (Furtado, 2007: 52).
Em baixo: capas da revista
semanal norte-americana
Time – à esquerda, edição
de 3 de janeiro de 1983;
ao centro, edição de 25 de
dezembro de 2006 a 1 de
janeiro de 2007; à direita,
de 20 de maio de 2013.
24 O termo Web 2.0 surge,
em 2004, para descrever
uma segunda geração da
World Wide Web, centrada,
entre outros aspectos, na
comunicação e partilha de
informações online entre
utilizadores.
41
Independentemente da postura adotada, importa reconhecer que atravessamos um período marcado por profundas transformações que envolvem uma reconcetualização da noção de livro, mas também das clássicas definições de autor e leitor. Em conjunto, estas mudanças estão a motivar profundas alterações nas formas de escrita e leitura, cujas consequências não são ainda possíveis de vislumbrar e avaliar com clareza.
42
Mediação tecnológica, remediação e intermediação
advento das NTIC dá lugar à emergência de uma nova
realidade em que, pela primeira vez, os textos se de-
param com questões relacionadas com a mediação
tecnológica25 (Ferreira: 2006: 17; Furtado, 2007: 75).
A longevidade do livro tal como o conhecemos
deve-se, em grande medida, à ausência de mediação
tecnológica – “o livro impresso sempre teve a vantagem de não exigir qual-
quer dispositivo técnico para ser lido, de ser imediatamente visível e consul-
tável” (Furtado, 2007: 75). Pelo contrário, nos livros eletrónicos são necessá-
rios objetos (hardware e/ou software) que permitam a sua leitura e ainda uma
fonte de energia para alimentar esses equipamentos. Muito embora os livros
eletrónicos existam independentemente dos objetos (hardware e/ou software)
utilizados para os ler, como refere Emmanuel Souchier “sem energia e sem
dispositivos técnicos apropriados, a escrita informática não existe, ou no má-
ximo, pode ser considerada como invisível” (Furtado, 2007: 77).
Para além disso, a (curta) história das Tecnologias de Informação e Co-
municação (TIC) apresenta inúmeros exemplos26 de obsolência tecnológica, o
que, em função dos suportes de armazenamento e leitura existentes, poderá
via a colocar em risco a longevidade de alguns textos. Perante esta nova reali-
dade, colocam-se várias questões controversas: “estaremos dispostos a sobre-
carregar as nossas bibliotecas pessoais (e/ou institucionais) de livros, música
e filmes com esses custos [da substituição de uma coleção] para assegurar a
transição de tecnologia em cada dez ou vinte anos, para satisfazer os modelos
económicos das indústrias de conteúdos? E a perder algumas obras precio-
sas, mas talvez não muito populares, em cada transição tecnológica, por não
serem disponibilizadas na nova tecnologia? Temos e continuaremos a ter os
direitos e a capacidade de preservar o conteúdo que já adquirimos perante as
mutações tecnológicas?” (Lynch apud Furtado, 2007: 80).
Apesar de todos os avanços tecnológicos não é possível preservar toda a
informação produzida. Contudo, é importante garantir que num futuro, mais
ou menos próximo, todos os dados relevantes para conhecer e compreender
determinados momentos históricos continuam acessíveis.
O Google Books, serviço lançado em 2004 pela Google Inc., tem sido elo-
giado precisamente por facilitar o acesso ao que é, muito provavelmente, uma
das maiores bibliotecas da nossa História e, deste modo, por contribuir para
democratizar o acesso ao conhecimento.
No entanto, este serviço também tem sido alvo de alguma contestação.
25 Note-se que estes autores
se referem exclusivamente
à relação estabelecida pelas
NTIC não considerando as
caraterísticas físicas dos
livros impressos. Estes são
aspetos, contudo, bastante
revelantes na prática
do design editorial, que
deve ter em conta, para
além da funcionalidade
da publicação, aspetos
estéticos e formais
– “effective use of
materials can succinctly
communicate a book’s
content, imbue it with
a certain character and
simply compel a reader
to pick it up”(Goggin,
2010: 23). Nesse sentido,
Gyorgy Kepes defende
que os designers devem
considerar estes aspetos,
já que “a book has weight,
size, thickness and tactile
qualities, qualities which
are handled by the hand, as
its optical form is handled
by the eye” (Kepes apud
Hollis, 2010: 49). Não
analisaremos a discussão
em torno da forma do livro
impresso, importa contudo
sublinhar que esta questão
tem sido amplamente
discutida e trabalhada
entre artistas e designers.
O
43
Para além das críticas relacionadas com a violação dos direitos de autor27,
Robert Darnton (2009) chama a atenção para algumas questões associadas
com preservação dos textos nomeadamente, os possíveis riscos da monopoli-
zação ou da perda de informação.
Por um lado, através desta iniciativa a Google Inc. garante o monopólio da
informação. Os critérios de seleção das obras poderão promover os interesses
comerciais do Google Inc. e não, necessariamente, o interesse público. As-
sim, a base de dados do Google Books poderá, por diversos motivos, excluir
inúmeras obras importantes para, como anteriormente afirmamos, conhecer
e interpretar determinados momentos da nossa História. Darnton sublinha
ainda a necessidade garantir que este projeto, ou outros semelhantes, ficam
disponíveis como digital commons28, de modo a evitar que o património histó-
rico, cultural e social fique refém de entidades que poderão, de alguma forma,
limitar a sua divulgação: “Yes, we must digitize. But more important, we must
democratize” (Darnton, 2009:13).
Por outro lado, a dependência tecnológica torna o Google Books vulnerável.
Numa situação ideal, qualquer objeto digitalizado será em tudo semelhante ao
objeto que lhe deu origem. Para garantir o acesso a longo-prazo à informação
é necessário assegurar que todo o processo de mediação tecnológica decorre
sem qualquer perturbação, caso contrário, a informação poderá ficar corrom-
pida ou até mesmo perder-se para sempre29 (Ferreira, 2006: 24-25). A tecno-
logia utilizada pelo Google Books digitaliza cerca de mil páginas por hora
e, como em qualquer outro processo de digitalização, poderão surgir erros
arquivando páginas, parcial ou totalmente, ilegíveis.
Finalmente, a preservação a longo-prazo deste arquivo está dependente
do próprio sucesso do Google Books. Como aconteceu noutros momentos
da história das TIC este serviço poderá, por qualquer motivo, desaparecer,
perdendo-se assim toda a informação até então digitalizada.
As várias questões apontadas por Robert Darnton (2009) acerca do Google
Books podem ser, de um modo geral, colocadas relativamente a qualquer
conteúdo eletrónico. Por isso, as questões relacionadas com a preservação
dos textos são talvez as que mais preocupam os diversos autores que, de for-
ma quase unânime, afirmam que “tudo vai passando, e o livro, tranquilo, vai
resistindo, com cada vez mais títulos publicados no mundo” (Guedes apud
Costa, 2012: 43).
Além disso, estes mediadores tecnológicos são parte intrínseca da leitura e
a relação “directa e física com o objecto livro – incluindo no plano das posturas
corporais – são aspectos postos agora em causa com os novos dispositivos
de leitura” (Furtado, 2007: 75). Para além das questões ergonómicas, ainda
mal documentadas, a transição do suporte impresso para o eletrónico coloca
questões cognitivas que estão também pouco investigadas. Contudo, a “trans-
lação de um medium para outro” (Allègre apud Furtado, 2007: 79), isto é,
26 Miguel Ferreira (2006: 18-19)
recorda a decadência do
formato de vídeo Betamax
e das disquetes de 3,5
polegadas. Poderíamos
facilmente enumerar outros
formatos e suportes cuja
dificuldade em encontrar
hardware e software capaz de
ler a informação aí registada
é hoje evidente.
27 Em 2005, a Authors Guild e
a Association of American
Publishing – respetivamente,
a associação de autores e
de editores dos E.U.A. –
moveram ações judiciais
contra a Google Inc.
acusando-a de violar os
direitos de autor e de não
compensar adequadamente
autores e editores das obras
digitalizadas. Desde então,
têm sido movidas ações
semelhantes em diferentes
países, nomeadamente, na
Alemanha e em França, pela
associção La Martinière,
pelo Sindicato Nacional das
Editoras e pela Sociedade
dos Literatos (SGDL). Após
longos processos judiciais, a
Google Inc. tem conseguido
chegar a diferentes acordos
com os vários lesados.
28 Software de acesso gratuito
desenvolvido pela Bepress
(também conhecida por
B.E. Press ou Berkeley
Electronic Press) que
permite a universidades e
outras instituições preservar
e disponibilizar as suas
bibliotecas.
44
as diversas questões técnicas e cognitivas relacionadas com a passagem dos
conteúdos impressos para o formato eletrónico tem vindo despertar um cres-
cente interesse por parte de vários investigadores.
A noção de "remediação", que descreve a transferência de conteúdos entre
suportes (Bolter et al., 2010), revela-se útil para esta discussão. Segundo Bol-
ter e Grusin, existem duas estratégias de "remediação": a primeira, a "imedi-
cacia" ou "imediacia transparente" (respetivamente, immediacy e transparent
immediacy) tem por objetivo levar o indivíduo a acreditar que está perante o
objeto representado, contribuindo assim para a sensação de autenticidade da
experiência; a segunda, a "hipermediacia" (hipermediacy), sublinha a presença
do mediador. Atualmente, os novos media oscilam numa permanente alter-
nância entre a "imedicacia" e a "hipermediacia".
De facto, também nos livros, revistas, jornais e outras publicações eletró-
nicas assistimos a esta alternância. Como vimos, os mediadores tecnológicos
procuram, por um lado, mimetizar a experiência de leitura e manuseamento
de publicações impressas; por outro lado, as ações que este tipo de media-
dores exigem (iniciar o hardware e/ou software de leitura, abrir o documento
eletrónico, entre outras) sublinham a sua presença (Reichenstein, 2012).
Importa ainda referir que nenhum medium opera isoladamente, condi-
cionando e sendo condicionados pelos outros meios existentes, bem como
pelas forças sociais, culturais e económicas dominantes (Guedes, 2001: 239;
Furtado, 2007). Estes agentes são responsáveis pelo que alguns autores defi-
nem por intermediação e não devem ser negligenciados.
Recorde-se que a própria introdução da impressão foi marcada pelo con-
texto cultural, social e económico de então. Embora o comércio do livro já
existisse, este objecto ainda não era de uso quotidiano. Este facto deve-se,
em parte, ao reduzido número de exemplares produzidos já que eram in-
teiramente manuscritos. Com a fundação das primeiras universidades, no
século XII, e consequente alargamento da instrução foi necessário descobrir
métodos mais rápidos e económicos de produzir livros. A escrita deixa assim
de ser património exclusivo das ordens religiosas, laicizando-se.
Assim, o surgimento da impressão, em meados do século XV, esteve re-
lacionado com a necessidade de reduzir o tempo implicado na produção de
livros (Smeijers, 1996: 43), num contexto de alargamento do número de leito-
res e de crescimento do ritmo de procura, ao qual os escribas não conseguiam
já responder convenientemente (Baines e Haslam, 2005: 45). “O princípio
inventado por Gutenberg permitiu imitar a escrita manuscrita, conseguindo
a transformação desta numa escrita mecanizada” (Bacelar, 1998: 10), contri-
buindo, assim, para aumentar quer a produção de livros, quer a circulação da
informação escrita.
Também o livro eletrónico é condicionado por forças sociais, culturais e
económicas dominantes. A título de exemplo Rui Aragão, director da Wook,
29 Apesar das fragilidades
deste processo importa
salientar algumas
das vantagens da
digitalização. Por
um lado, permite o
processamento de uma
grande quantidade de
informação, de forma
mais ou menos detalhada,
com relativa facilidade.
Por outro, permite
armazenar um grande
volume de informação
com pouco dispêndio de
espaço. Por isso, muitos
autores acreditam que
“El sueño de la biblioteca
universal parece hoy
más próximo a hacerse
realidad que nunca
antes, incluso más que
en la Alejandría de los
Ptolomeos. La conversión
digital de las colecciones
existentes promete la
constitución de una
biblioteca sin muros,
donde se podría acceder a
todas las obras publicadas
en algún momento, a
todos los escritos que
constituyen el patrimonio
de la humanidad.”
(Chartier, 2012: 7).
45
refere que “não se pode ainda falar num verdadeiro mercado português de
ebooks – pelo menos, com verdadeira massa crítica. Não pelo preço dos ebooks
em si, mas pelo custo dos dispositivos móveis cujas características favorecem
o acesso e a leitura de ebooks” (Marques, 2013). Além disso, refere ainda a re-
levância do regime fiscal atual, que penaliza o comércio de livros eletrónicos,
sujeitos a um Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) superior aos impres-
sos (respetivamente, com taxa de IVA de 23% e 6%).
Para além de algumas notícias dispersas, não é ainda possível encontrar dados que documentem devidamente o "peso" e as implicações das diversas forças sociais, culturais e económicas no processo de desenvolvimento de um mercado de livros eletrónicos em Portugal. No entanto, avaliando o contexto atual e a própria evolução das NTIC, poderemos afirmar com relativa segurança que o livro eletrónico será fortemente marcado por agentes de intermediação de pendor económico relacionados com o surgimento e desenvolvimento de soluções tecnológicas (tanto a nível de hardware como de software), bem como pelo desenvolvimento do mercado editorial e a alteração, a diverso nível, das práticas de consumo dos leitores.
46
Questões cognitivas e práticas sociais
s NTIC têm transformado profundamente a escrita e a lei-
tura, como temos vindo a analisar ao longo deste trabalho.
Estas transformações têm vindo a contribuir para o que
alguns autores denominam por "terceira revolução da
leitura"30, que se caracteriza precisamente pela crescente
diversidade de formas de escrita e de leitura que estas tec-
nologias possibilitam. A leitura torna-se, assim, numa prática cada vez mais
complexa, já “que põe em jogo um conjunto importante de variáveis que de-
terminam a sua forma e funções e relações de manipulação, de compreen-
são e de interpretação, gestos que se completam para assegurar a progressão
através dos textos, quaisquer que sejam as suas particularidades ou os seus
suportes” (Gervis apud Furtado, 2007: 92).
Neste contexto, um fator determinante é o aumento da complexidade dos
textos, que partilham agora o espaço com elementos multimédia e/ou não-
-textuais (Furtado, 2007: 93). Se com a evolução da cultura oral para a cultura
escrita assistimos à transferência da importância do som e da audição para
os elementos gráficos e para a visão, hoje assistimos a uma nova alteração
(Ong, 1999: 117). O conhecimento deixa de ser adquirido unicamente através
do que alguns autores designam por visão alfabética, passando a ser também
alcançado através da visão "não-alfabética" e da audição (Furtado, 2007).
As alterações nas formas de escrita e de leitura devem-se também à emer-
gência dum novo entendimento do "tempo". Com as NTIC temos assistido
progressivamente à passagem do linear para o simultâneo – o tempo real.
“É plausível que a leitura, como aliás outras práticas culturais, esteja a ins-
crever-se no registo da aceleração da temporalidade que Manuel Castells cha-
ma tempo atemporal (...) da sensação do imediato, a mistura de tempos no
mesmo canal de comunicação” (Furtado, 2007: 98). Gonçalo M. Tavares na
sequência da sua participação no seminário “Biblioteca do Futuro/Futuro da
Biblioteca” na Fundação de Serralves, em maio de 2013, refere precisamente
que, ao contrário da leitura mediada pelas NTIC, a leitura “tradicional” não
privilegia a simultaneidade: ela é linear, sequencial e demorada.
As transformações nas formas de escrita e de leitura devem-se ainda ao
novo exercício da memória, não no sentido simbólico que anteriormente as-
sinalamos, mas antes a nível cognitivo. As NTIC questionam “a capacidade
de restituir integralmente e sem ajuda exterior dados de que se tinha conheci-
mento (...) a partir do momento em que suportes externos podem armazenar
as informações que nos interessam e restituí-las a pedido, pode parecer inútil
atafulhar o nosso espírito. Ao libertar o cérebro humano da necessidade de
30 A primeira revolução da
leitura ocorre nos séculos
XII e XIII com a fundação
das primeiras universidades
em diversos pontos da
Europa. Neste período
assiste-se ao aparecimento
de uma cultura laica e ao
abandono paulatino do
dogma religioso. A escrita,
a leitura e o livro deixam de
ser património exclusivo
das ordens religiosas
assistindo-se à passagem
gradual de uma leitura
essencialmente em voz alta
para uma leitura silenciosa
relacionada com o ensino
(Cavallo, 2002; Chartier,
1999). A segunda revolução
da leitura ocorre em
meados do século XVIII,
e está relacionada com o
alargamento da instrução
e consequente o aumento
do número de leitores.
Assim, assiste-se a uma
passagem da chamada
leitura "intensiva" – na
qual um número reduzido
de leitores tinha acesso
um conjunto limitado de
livros com a finalidade de
memorizá-los e recitá-
los transmitindo o seu
conteúdo de geração
em geração – para uma
nova forma de leitura,
"extensiva" – na qual um
maior número de leitores
passa a ter acesso a um
conjunto alargado de livros
de diferentes naturezas
noutros contextos
para além do secular e
universitário (Cavallo, 2002;
Chartier, 1999).
A
47
registar duradouramente informações, confere-se-lhe a possibilidade de consa-
grar os seus recursos a outras tarefas” (Vandendorpe apud Furtado, 2007: 100).
De uma forma geral as consequências cognitivas destas alterações estão
ainda, como já referimos anteriormente, muito pouco documentadas31. Ainda
assim, é possível encontrar algumas referências que nos permitem identificar
duas posições distintas: uma, que critica precisamente o modo como as NTIC
podem condicionar negativamente a experiência da leitura; e outra, oposta,
que valoriza os elementos multimédia, a narrativa hipertextual, multilinear
e aberta sugerindo que as NTIC podem contribuir para o enriquecimento da
experiência da leitura e das competências por ela desenvolvidas.
É, no entanto, consensual a ideia de que a leitura mediada pelas NTIC é
fragmentada. Gonçalo M. Tavares (2013), compara a leitura mediada por estas
“novas” tecnologias ao olhar quotidiano, que seduzido por estímulos suces-
sivos, vagueia constantemente, percorrendo os elementos dispersos no espa-
ço. Para Teresa Silveira (2013:45-47) esta leitura fragmentada tem um caratér
instrumental já que procura responder, tão rapidamente quanto possível, a
questões pontuais, e sobretudo, práticas.
Vários autores entendem que esta leitura tecnologicamente mediada,
para além de fragmentada, é superficial já que o hipertexto, os elementos
multimédia e os diversos serviços proporcionados pelas NTIC interrompem
sistematicamente a leitura, acentuando a dificuldade que os leitores têm em
se concentrarem de modo duradouro e, consequentemente, em sedimentar
o conhecimento.
De uma forma geral, são definidos dois níveis de concentração: a concen-
tração profunda (deep attention), caracterizada pela atenção sobre o mesmo
assunto, durante um longo período de tempo; e a “hiperatenção” (hyper atten-
tion), caracterizada pela mudança súbita e constante de pontos de interesses
e de tarefas em função dos estímulos existentes (Katherine Hayles apud Fur-
tado, 2012: 208).
Segundo diversos autores, a leitura de um livro remete-nos para o pri-
meiro nível de concentração, em profundidade. “Reading a book was a me-
diatative act, but it didn’t involve a clearing of the mind. It involved a filling,
or replenishing, of the mind. Readers disengaged their attention from the
outward flow of passing stimuli in order to engage it more deeply with an
inward flow of words, ideas, and emotions. That was – and is – the essence
of the unique mental process of deep reading.” (Carr apud Ulin, 2010:134).
Defende-se, assim, que só o livro tal como tradicionalmente o conhecemos é
capaz de envolver o leitor e instaurar o silêncio necessário para o isolamen-
to que a concentração profunda exige (Ulin, 2010:98; Tavares, 2013). Nesta
perspetiva, o recolhimento é um elemento fundamental para que os leitores
possam exercitar a sua imaginação, fazer as suas associações e tirar as suas
próprias conclusões (Tavares, 2013).
31 Giselle Beiguelman (2003: 14)
sugere que a ampla discussão
em torno da morte do livro,
que considera ser um “falso
problema”, tem impedido
uma verdadeira reflexão
acerca das consequências
cognitivas destas
transformações.
48
Os autores com posição contrária, acreditam que também os livros ele-
trónicos são capazes de estimular a imaginação e reflexão. Esta é, de resto,
a conclusão de um recente estudo do PewInternet Center segundo o qual as
NTIC encorajam a criatividade e a expressão pessoal (Purcell, 2013). Os vários
autores, reconhecem, contudo, que esse potencial é muitas vezes sacrificado
pelo excesso de informação e pelo recurso desmedido à interatividade (Gil et
al, 2011; Neves, 2012). “Words, pictures, music, sound effects, dynamic cha-
racters and objects, all together should be expressed consistently, avoiding the
tendency to use technology just because it is available and makes something
possible. Other way we are building distraction points” (Neves, 2012: 439).
O exagero de elementos multimédia e/ou não-textuais, bem como com o
excesso de interatividade, tem sido, de resto, um argumento recorrentemen-
te apontado por vários autores para justificar a superficialidade dos conheci-
mento adquirido através da leitura mediada pelas “novas” tecnologias (Ulin,
2010: 133).
O aumento da complexidade dos textos, que agora partilham o espaço com
conteúdos multimédia e/ou não-textuais, exige não só a capacidade de iden-
tificar os elementos representados mas também de os descodificar e inter-
pretar. Assim, poderíamos concluir que escrita e a leitura exigem, neste novo
contexto, um ensino e aprendizagem específico (Vaz, 2006: 446).
A necessidade de um novo tipo de literacia orientada para as NTIC não
está, contudo, ausente de gerar riscos, podendo vir a acentuar desigualdades
já existentes ou até mesmo para criar de novas formas de exclusão, conforme
apontam Paisana (2013: 43) e Catarino (2013: 16).
Neste sentido, as investigações recentes sobre “digital divide”32 contrariam
a ideia de que as formas de escrita e leitura mediadas pela tecnologia são, para
os “nativos digitais”, práticas familiares. Pelo contrário, estes estudos defen-
dem que o “facto de os mais jovens usarem com mais frequência e facilidade
as novas tecnologias não significa que sejam mais críticos e alfabetizados”
(Paisana, 2013: 62). Como nota Miguel Paisana não é a maior ou menor fre-
quência com que utilizamos as NTIC que, por si só, determina a utilização
esclarecida dessas tecnologias: “Receber informação e replicá-la, ainda que
possa requerer algum tipo de conhecimento técnico e capacidade de mani-
pulação técnica, não implica necessariamente um posicionamento crítico por
parte do utilizador” (Paisana, 2013: 44). Neste contexto, avalia-se a literacia
para os media pela capacidade de receber e replicar conteúdos eletrónicos de
forma crítica e consciente.
Assim, para promover o desenvolvimento de competências, ou pelo me-
nos não contribuir para acentuar as desigualdades ao nível do acesso e rece-
ção da informação, a conceção e produção de livros eletrónicos deve potenciar
alguns dos aspetos relacionados com o processo de receção, manipulação e
32 O termo “digital divides”
define exclusão económica,
social e cultural, resultado
de diferentes condições de
acesso às NTIC (Cardoso et
al., 2013).
49
transmissão da informação e que contribuem para o desenvolvimento da cha-
mada “cultura participativa” (Paisana, 2013). Livros, revistas, jornais e outras
publicações eletrónicas deverão então fomentar a interação, a apropriação e a
transmissão de informação com a capacidade de identificar diferentes perspe-
tivas e procurar alternativas, resolvendo problemas.
Embora vários autores defendam que as NTIC poderão promover o desen-
volvimento de diferentes competências, constata-se que são ainda escassos os
estudos relativos às especificamente desenvolvidas pelos livros eletrónicos.
Analisando a literatura disponível, encontram-se algumas referências no que
diz respeito aos impactos da Internet (e mais especificamente, do hipertexto)
e dos videojogos que nos permitem, pelo tipo de interações em causa, estabe-
lecer alguns paralelismos.
Numa análise acerca do hipertexto, Richard A. Lanham considera que
este, ao substituir as abordagens lineares, “encoraja as tendências associati-
vas, holísticas e visuais das pessoas” (Furtado, 2007: 54). No mesmo sentido,
Rui Vaz assinala “o desenvolvimento da capacidade de negociação e descons-
trução de imagens, visuais e verbais” (2006: 447).
Estudos realizados sobre a prática de jogos electrónicos destacam ainda
dois outros tipos de competências: “a capacidade de processar fluxos múlti-
plos de informação de forma simultânea e a propensão para resolver proble-
mas através da experimentação (tentativa e erro)” (Vaz, 2006: 447). Note-se
ainda que os jogos eletrónicos podem também promover a comunicação e
interação social já que, nestes contextos, os jogadores partilham estratégias
de atuação (Cuello, 2008).
Teresa Silveira nota ainda que a repetição de estímulos visuais e sonoros é
fundamental para ensinar a automatização de tarefas e procedimentos. Refe-
re, contudo, que esses impulsos devem ser suficientemente diferentes entre
si, visto que o cérebro humano tende a preferir estímulos novos (2013: 82-83).
Conjuntamente, estas investigações parecem contrariar a ideia que as
NTIC contribuem para acentuar as dificuldades de concentração. De facto, al-
guns estudos defendem mesmo que os jogos eletrónicos “podem melhorar a
atenção visual seletiva, isto é, em contextos em que estão simultaneamente a
ocorrer vários acontecimentos, os jogadores são capazes de identificar e de se
concentrar naquilo que é mais importante, filtrando toda a informação irrele-
vante” (Lopes, 2012: 54). José Pereira, neurocirurgião no Hospital de S. João,
defende ainda que os jogos eletrónicos podem contribuir para desenvolver a
coordenação motora e agilidade (Mota, 2013).
Por outro lado, constata-se que são ainda muito pouco debatidas as con-
sequências físicas e psicológicas relacionadas com a saúde e bem-estar dos
leitores de e-books. Para procurar ultrapassar esta dificuldade, consultamos
alguns estudos de âmbito mais geral sobre os impactos das NTIC na saúde e
bem-estar dos seus utilizadores.
50
Foi recentemente publicado pela American Optometric Association um
estudo em que se reconhece que 70% dos cerca de 143 milhões de norte-
-americanos que utilizam computadores pessoais durante longos períodos de
tempo sem interrupções sofrem de Computer Vision Syndrome – olhos secos
e/ou irritados, visão turva ou dupla, tonturas, fadiga e dores de cabeça. Estes
sintomas podem ser agravados por uma postura inadequada, bem como pelo
reflexo ou brilho excessivo dos ecrãs.
Importa salientar que, tendo em conta estes aspetos, alguns produtores de
e-book readers têm desenvolvido soluções de ecrã mais adequadas à leitura. A
título de exemplo, a utilização da chamada “tinta eletrónica” (e-ink), da retroi-
luminação ou, até mesmo, a imitação do papel amarelado procuram reduzir
o reflexo e o brilho de forma a proporcionar um maior conforto, sobretudo
durante longo períodos de tempo de leitura.
Um outro estudo, desenvolvido em 2007, pela Universidade de Stanford
(Califórnia, E.U.A), demonstra que, durante a utilização das NTIC, nenhum
dos inquiridos adopta uma postura adequada, sacrificando, por isso, o desen-
volvimento do seu tecido ósseo e muscular (Gil, 2011: 175). Para além de le-
sões na região lombar, são também frequentes inflamações nos dedos, mãos
e pulsos (como, por exemplo, a Tendinite de DeQuervain e o Sindrome do
Tunel de Carpo)33.
Embora estes sintomas sejam recorrentemente diagnosticados em utiliza-
dores de computadores pessoais, não existem ainda dados relativamente aos
efeitos das novas formas de interação com dispositivos mais pequenos e por-
táteis e com ecrãs multitoque. Atendendo à alteração das posturas adotadas
pelos leitores, importa investigar as suas consequências, adequando tanto os
e-book readers como os próprios e-books.
Vários estudos dispersos revelam que a ocorrência de falhas técnicas, não
só afetam o bom funcionamento NTIC, como contribuem também para um
aumento da ansiedade consequente desenvolvimento do chamado Computer
Stress Syndrome. Também este aspeto é relevante para o desenvolvimento de
publicações eletrónicas, uma vez que estas se deverão adequar aos software e
33 Num artigo de imprensa,
recentemente publicado,
aborda-se este tipo de
problemas de sáude
relacionados com o
mau uso das NTIC em
Portugal: “Rita Gonçalves
(nome fictício), de 40
anos, teve uma tendinite
no pulso. A designer
gráfica pagou caro os
movimentos repetitivos
feitos ao longo de 12 anos
numa editora, em que
fazia a paginação de livros
escolares no computador.
Começou com um
desconforto, as dores
aumentaram e ao fim de
sete meses foi operada”
(Silva, 2010).
Em baixo: à esquerda, tablet
e e-book reader (com ecrâ
retroiluminado) e suas
diferenças no modo de
emissão da luz; ao centro,
e-book reader com "tinta
eletrónica", tecnologia
desenvolvida em 1996
pelo MIT Media Lab e
atualmente utilizada pela
maioria dos e-book readers;
à direita, e-book reader
com imitação do papel
amarelado.
tabl
et
e-re
ader
(co
m e
crã
retr
oilu
min
ado)
Dirige a luz para dentro
Emite luz para fora
51
hardware existentes, minimizando as dificuldades de processamento e, deste
modo, reduzindo os níveis de ansiedades provocados nos leitores.
Outras análises revelam ainda que comunicação online e em rede pode
contribuir para aumentar o sentimento de frustração já que os utilizadores
estão sistematicamente expostos a mensagens, mais ou menos explícitas, de
pessoas bem-sucedidas a nível pessoal e profissional. Tendencialmente, na
comunicação online e em rede, os utilizadores partilham fotografias, vídeos
e textos de momentos mais positivos levando a comparações sociais e conse-
quente desencadeando estados de depressão.
Embora este seja uma tendência ainda pouco explorada, a verdade é que
existem já alguns e-book readers e e-books que promovem a comunicação
online e em rede, envolvendo interação entre diferentes leitores (por exemplo,
através da criação de salas de conversação ou da partilha de comentários e de
notas de leitura). Por esse motivo, é relevante atender às recomendações dos
estudos já realizados sobre os riscos psicológicos associados a estas formas
de comunicação.
Assim, e sem prejuízo de serem realizados estudos específicos sobre a leitura de e-books, considera-se que os vários estudos mencionados apontam aspetos a ter em conta, conceção e produção de livros, revistas, jornais e outras publicações eletrónicas. Em nosso entender, tratam-se de indicações relevantes que podem contribuir, ou não, para o desenvolvimento de competências proporcionadas pela leitura.
52
Design editorial para suportes digitais
onforme temos vindo a assinalar, as NTIC têm transfor-
mado significativamente os modos de produção de publi-
cações eletrónicas. O aumento da complexidade dos textos,
que agora partilham o espaço com elementos multimédia e
não-textuais, a par das possibilidades e dos constrangimen-
tos impostos pelas próprias NTIC, têm contribuído para o
surgimento de novas formas de pensar e desenhar estas publicações.
Importa salientar que o desenho de publicações eletrónicas é hoje forte-
mente condicionado pelas NTIC que suportam a sua produção, edição, distri-
buição e consulta. As características do e-books e dos e-book readers (hardware e
software), a par das definições escolhidas pelos leitores, são alguns dos aspetos
a considerar no desenho de livros eletrónicos.
Contudo, também os modos de desenhar publicações eletrónicas estão
pouco documentados. São, por isso, fundamentais os estudos relacionados
com a experiência da leitura e com a composição dos textos e das páginas
impressas, que apesar de abordarem um suporte distinto, nos permitem es-
tabelecer alguns paralelismos. Note-se que designers e developers recorrem
com frequência a formas de composição dos textos e das páginas impressas
para o desenho e desenvolvimento de páginas Web: “When Doug Bowman
and his design team at Twitter redesigned their site, the golden ratio defined
the structure of the layout” (Walter, 2011: 21). São igualmente importantes as
referências relativas ao desenho de páginas Web e de aplicações para smart-
phones, phablets e tablets que nos permitem identificar algumas das práticas
mais comuns e mais adequadas aos suportes digitais.
A reflexão sobre o modo como o arranjo dos textos e das páginas pode
condicionar a experiência da leitura não é nova. No final do século XIX, Louis
Émile Javal (1839-1907) descobriu que o cérebro não apreende os textos atra-
vés de movimentos oculares longos e lineares, mas sim, movimentos ocula-
res breves e inconstantes (saccades) definidos por alguns dos elementos pre-
sentes nos textos.
Em baixo: exemplificação
do estudo de Émile Javal
relativamente ao modo
como o cérebro apreende
os textos e ao tipo de
movimentos oculares –
saccades – realizados neste
processo.C
53
Javal constatou também que, durante a leitura, o cérebro não fixa todas
as palavras e ignora, com frequência, palavras curtas ou repetidas, confun-
dindo caracteres semelhantes (como por exemplo, o “e”, “c” e “o”, o “i” e “l”,
e os pares “p” e “q”, e também “b” e “d”). Este autor notou ainda que as letras
maiúsculas, os ascendentes e descendentes das letras minúsculas e os vários
sinais de pontuação conduzem o olhar e, por isso, tendem a facilitar a leitura.
Manuel Gil salienta que o leitor é capaz de identificar apenas sete a nove
caracteres num conjunto de palavras sucessivas: “las comprobationes empí-
ricas más notables a este respecto simulaban en una pantalla una frase com-
pleta compuesta por uns pocos caracteres reales seguidos de “x” (…) ningún
lector se dio cuenta nunca del truco”(Gil et al., 2012: 188). Embora não nos
interesse aqui abordar em profundidade os vários estudos relativos ao modo
como o cérebro apreende os textos, convém salientar que tanto Javal como
outros autores notam que o desenho dos caracteres (em especial, algumas
das suas características morfológicas) e a composição dos textos e páginas
contribuem decisivamente para facilitar ou dificultar a leitura.
Assim, no âmbito desta investigação, importa referir, ainda que de forma
sucinta, algumas das principais conclusões de vários autores relativamente ao
desenho das letras e à composição dos textos e das páginas.
Um dos aspetos apontados é a necessidade de reconhecer facilmente a
forma dos caracteres: “the eye of the reader must not be distracted by an
unfamiliar form” (Hochuli, 2008: 13). Alguns autores sugerem mesmo que
os ornamentos devem ser eliminados e a altura dos ascendentes e descen-
dentes deve ser reduzida ligeiramente de forma a enfatizar a “altura-x”: “La
intención es que en una Bodoni de 6 pt la equis tenga una altura de, digamos
3 pt, en vez de los 2 pt que proporcionalmente le corresponden, lo que pro-
bablemente la haría tan legible como una del cuerpo 9” (Unna, 2012: 102).
Para a composição de textos é importante selecionar fontes que apresentem
conjuntos de glifos familiares com formas e proporções harmoniosas. Porém,
como anteriormente mencionamos, os caracteres devem ser suficientemente
diferentes de forma a facilitar a sua apreensão. Vários autores consideram,
assim, que os tipos serifados são mais adequados à composição de textos cor-
ridos. Também no desenho de páginas Web, os autores sugerem a escolha de
fontes com maior “altura-x” e a utilização de fontes serifadas para o corpo de
texto e fontes não-serifadas para os restantes elementos (Lynch et al, 2004).
Muitos dos e-book readers34 apresentam os caracteres com uma resolução
inferior à apresentada em páginas impressas por isso, os traços demasiado
curtos ou finos podem ficar deformados. Uma vez que a mesma letra pode
assumir desenhos diferentes mediante os suportes, é fundamental selecionar
fontes cujo desenho tenha sido otimizado35.
O tamanho do corpo da letra também pode condicionar a apresentação e
legibilidade dos textos que, por isso, não deve ser demasiado grande, nem de-
34 Importa salientar que, de
uma maneira geral, os
e-book readers apresentam
ecrãs com resoluções
inferiores condicionando
a apresentação de textos e
outros elementos gráficos.
Note-se ainda que alguns
deles apresentam um
conjunto de cores muito
limitado (branco, preto e
alguns tons de cinzento).
Os equipamentos com
várias funcionalidades, entre
as quais, a leitura de livros
eletrónicos apresentam
ecrãs com resoluções
superiores. Embora os
primeiros “small screens” de
alta resolução tenham sido
criados em 1998 pela IBM
Research, só em 2010, com
a apresentação do iPhone 4,
da Apple Inc., ganharam
expressão. Nessa altura
a empresa introduziu os
chamados Retina Display
nos seus produtos: iPhone e
iPod Touch (com 326 ppi),
iPad (com 264 ppi) e
computadores pessoais
(com 220 ppi).
35 Os softwares utilizados
para o desenho de tipos
disponibilizam ferramentas
– hinting – que permitem
determinar o desenho
ideal de cada traço
evitando deformações na
apresentação dos caracteres
em vários tamanhos e nos
diversos suportes.
54
masiado pequeno. Importa aqui salientar que alguns dos suportes (hardware
e software) e formatos eletrónicos permitem ao leitor ajustar o tamanho do
corpo do texto às suas próprias necessidades.
Outro aspeto mencionado é o espaçamento entre caracteres (tracking e
kerning) e entre linhas (leading). Émile Javal sugeriu a sua redução, contudo,
hoje sabemos que as composições mais “claras” – ou seja, com um espaça-
mento razoável – são mais legíveis (Unna, 2012: 105). O espaçamento entre
caracteres e entre linhas deve ser ajustado mediante o próprio desenho das
letras, o tamanho do corpo utilizado e a largura das colunas. De uma forma
geral, entende-se que este espaçamento deve corresponder a 10 ou 20% do ta-
manho do corpo da letra. No entanto, as colunas de texto mais largas poderão
necessitar de um maior o espaçamento entre linhas: “uma entrelinha maior
permite um aumento do comprimento da linha sem prejudicar a legibilida-
de” (Lynch et al., 204: 124).
Também a largura das colunas de texto são consideradas um aspeto fun-
damental para a legibilidade. Vários autores entendem que, idealmente, uma
coluna de texto deve ter 10 a 12 palavras por linha (aproximadamente, cerca de
60 a 70 caracteres) incluindo, além das palavras, o espaço entre elas e os sinais
de pontuação. Relativamente ao desenho de páginas Web, alguns autores su-
gerem que, idealmente, uma coluna de texto deve ter entre 9 a 10 palavras por
linha (Lynch et al., 2004: 124). Estes valores dependem de inúmeros fatores,
nomeadamente, o desenho das letras, a composição do texto e da página, o tipo
de publicação e até o idioma36 (Hochuli, 2008: 34; Unna, 2012: 117). A largura
das colunas de texto deve ser, assim, ajustada aos vários fatores, com devida
cautela, já que linhas demasiado longas “exigem que o leitor mova a cabeça
ligeiramente ou force os músculos oculares para conseguir lê-las. Há uma
perda de legibilidade porque, no longo caminho de volta à margem esquerda,
o leitor pode perder a localização da próxima linha” (Lynch et al., 204: 123).
O alinhamento das colunas de texto é outro aspeto importante. Os atuais
softwares de desktop publishing utilizados para a diagramação de publicações
– como, por exemplo, o Adobe InDesign – oferecem um inúmeras de ferra-
mentas que permitem otimizar o trabalho de paginação independentemente
do alinhamento escolhido (esquerda, direita ou justificado). No entanto, as
linguagens de desenvolvimento Web e os softwares de edição Web não ofere-
cem as mesmas ferramentas, sendo, por isso, frequente encontrar espaços
irregulares e indesejados entre as palavras. Assim, no desenho de páginas
Web considera-se que o texto alinhado à esquerda é mais legível. O ritmo
estabelecido entre a margem esquerda, regular e previsível, e a margem di-
reita, irregular, facilita a passagem de uma linha para a seguinte. Por outro
lado, evita o aparecimento de espaços indesejados entre palavas, já que todo
o espaço vazio fica condensado no fim de cada linha, minimizando assim
ocorrência dos chamados “dentes de cavalos”.
36 Note-se que, por exemplo,
a língua alemã tem
palavras mais longas e, de
um modo geral, a inglesa,
palavras mais curtas que a
francesa ou a portuguesa.
55
A legibilidade do texto depende ainda da relação que este estabelece com
elementos não-textuais e com espaço vazio. As margens assumem um papel
fundamental37 já que facilitam o manuseamento das publicações. Permitem
também aumentar o contraste visual entre os vários elementos destacando os
mais importantes. Um estudo recentemente desenvolvido na Universidade
de Stanford revelou que os leitores tendem a ler uma página Web de forma
totalmente distinta de uma página impressa: em primeiro lugar, veem o ro-
dapé e as margens laterais e, só depois, o conteúdo central (Gil et al., 2011:
174). Um outro estudo publicado, em 2010, por Jakob Nielsen salienta que
apenas 20%, utiliza a scroll bar, ultrapassando a linha imaginária que separa
os conteúdos visíveis dos restantes. A mesma investigação indica que os 69%
leitores da margem retêm sobretudo a margem direita (Gil et al., 2011: 187).
O conteúdo é consultado da esquerda para a direita, e de cima para baixo.
Deste modo, as margens e espaços vazios ajudam a definir hierarquias entre
os vários conteúdos e a conduzir o olhar do leitor. Estes elementos permitem
ainda instaurar um certo repouso que a concentração profunda exige: “Não
importa quão cheia ou vazia, a página precisa de respirar, e num livro – isto é,
num texto longo feito para ser habitado pelo leitor – é preciso que ela respire
em ambas as direções” (Bringhurst, 2005: 47).
O contraste visual depende ainda da relação estabelecida entre o texto e
o fundo. De uma forma geral, entende-se que preto sobre o branco, ou qual-
quer outra cor clara e pouco saturada, garante maior contraste e por isso, é
mais legível. Considera-se que os fundos escuros são significativamente me-
nos legíveis, mesmo quando o texto surge a branco. Importa aqui mencionar
que o fundo branco aumenta o brilho dos ecrãs o que, como mencionamos
anteriormente, poderá ter implicações na saúde e bem-estar dos leitores. As-
sim, o que, por um lado, promove a legibilidade do texto poderá, por outro,
comprometer a sua leitura.
Importa salientar que a composição do texto e da página deve ter uma
estrutura clara e organizada, evitando alterações sucessivas no arranjo do tex-
to ou qualquer outro elemento da página (Unna, 2012: 116). Para além das
metáforas familiares, é fundamental definir códigos compreensíveis e cons-
tantes ao longo da publicação. Também, por isso, é importante selecionar
fontes cujas famílias tenham a quantidade de pesos adequados aos textos e
às hierarquias definidas. O desenho de human computer interfaces consistentes
contribui decisivamente para minimizar a interrupção sistemática da leitura,
promovendo a capacidade de concentração de modo duradouro e, consequen-
temente, para sedimentar o conhecimento.
Para além deste conjunto de questões relacionadas com o desenho das
letras e a composição dos textos e das páginas importa ainda mencionar al-
gumas das práticas mais comuns no desenho de páginas Web que se come-
çam também a verificar no desenho de aplicações para smartphones, phablets e
37 Note-se que nas
publicações impressas as
margens permitem ainda
proteger os textos durante
o processo de produção
nomeadamente, no
corte das páginas e sua
encadernação.
56
tablets. Vários autores destacam o papel central que os conteúdos agora ocu-
pam: “Content is King” said Bill Gates back in 1996 and we waited quite a
long time to fully feel the wisdom of these words in web design” (Treder et al,
2013:5). De uma forma geral, as páginas Web passam a ser “content-centric”
apresentando uma composição do texto mais cuidada e um grande conjunto
de elementos não-textuais e multimédia. Importa ainda salientar que a aten-
ção dada aos conteúdos não se traduz apenas na quantidade mas também
sua qualidade – os vários autores têm vindo a desenvolver estilos de escrita
mais adaptados a este medium e as ilustrações, fotografias e vídeos apresen-
tam uma maior resolução. Este conjunto de alterações deve-se, por um lado, à
tomada de consciência das especificidades destes novos suportes e, por outro,
à própria evolução das NTIC – tanto os melhores equipamentos (câmaras
de fotografar/filmar e computadores pessoais mais robustos e softwares mais
avançados), como as ligações mais rápidas à Internet têm contribuído decisi-
vamente para esta transformação.
Outra tendência emergente no modo de apresentação dos conteúdos é
o “storytelling” que se destaca pelo desenvolvimento de pequenas narrativas
com o objetivo de seduzir e envolver o leitor: “when organizations, causes,
brands or individuals identify and develop a core story, they create and display
authentic meaning and purpose that others can believe, participate in, and
share” (Brown apud Treder et al., 2013: 21).
Relativamente aos modos de interação assiste-se à substituição progressi-
va dos menus no topo ou nas margens laterais das páginas Web por formas
de interação menos convencionais. Importa aqui realçar duas das estratégias
amplamente utilizadas na produção de publicações digitais. Destaca-se, por
um lado, a “gamification”, prática que se caracteriza pela utilização do jogo
com o objetivo de envolver os leitores. Esta técnica distingue-se essencial-
mente pelo carácter lúdico das publicações e pela relação que os leitores es-
tabelecem com os conteúdos textuais e não-textuais: “a diferença estará na
imposibilidade do trabalho de interpretação do leitor alterar o texto lido, en-
quanto as acções dos jogadores determinam, efectivamente, os acontecimen-
tos do jogo. Além disso, os textos não avaliam o esforço dos leitores, nem os
desafiam a atingir novas competências, como fazem todos os jogos digitais
(…) [que] permitem a constatação dos progressos no jogo, do que se evoluiu
enquanto jogador, e o confronto com o desempenho de outros jogadores”
(Pinto, 2007: 192). Por outro lado, salienta-se a planificação dos conteúdos
sobre uma “folha” ilimitada – a “infinite canvas” – que pode ser percorrida,
pelo leitor em todas as direções.
57
Outra tendência importante é o desenvolvimento dos chamados responsive
layouts – desenhos assentes em grelhas dinâmicas com conteúdos flexíveis
que se ajustam às dimensões do ecrã. O conceito “Responsive Web Design”
foi introduzido em 201038 pelo designer e developer Ethan Marcotte com o
objetivo de desenvolver de páginas Web capazes de melhorar a experiência
de leitura independentemente do equipamento utilizado pelo leitor para con-
sultar a determinado conteúdo. A nível técnico este desenvolvimento exige,
por exemplo, que as dimensões dos elementos textuais e não-textuais sejam
definidos por unidades relativas como por exemplo percentagem, em vez de
unidades absolutas como os pixéis ou pontos.
É também evidente o abandono progressivo do chamado “skeuomorphic
design” em detrimento do “flat design”. Amplamente utilizado nos human
computer interfaces, o “skeuomorphic design” caracteriza-se pelo uso de exaus-
tivo de formas geralmente arredondadas, texturas, vasto conjunto de cores,
gradientes e sombras. Por oposição, o “flat design” caracteriza-se pelo desenho
simples e minimal com gráficos predominantemente retos e pela escolha de
um número reduzido de cores, geralmente, planas e opacas.
Este modo de pensar e desenhar os human computer interfaces foi adotado,
desde 2009, pela Microsoft Corporation, desde 2010, pela Google Inc. e, mais
recentemente, pela Apple Inc. O novo sistema operativo iOS7 da Apple Inc.,
lançado no início do mês de setembro, segue também esta tendência ainda
que mantenha alguns traços característicos do skeuomorphic. Note-se, assim,
que estas tendências marcam não só o desenho de páginas Web mas também
o desenho de aplicações para smartphones, phablets, tablets e computadores
pessoais.
Outra tendência que poderá ser associada ao "flat design" é a utilização do
"parallax scrolling", técnica proporcionada pela evolução do HTML5 e CSS3, e
amplamente utilizada no desenvolvimento de páginas Web, que sugere a tri-
dimensionalidade através do movimento de layers em sentidos e velocidades
diferentes em resposta ao scroll.38 Cf. http://alistapart.com/
article/responsive-web-
design
Em cima: diagrama da
planificação dos conteúdos
na “infinite canvas” que pode
ser percorrida, pelo leitor
em todas as direções.
58
Finalmente, importa ainda mencionar que a clareza e legibilidade dos
elementos textuais e não-textuais dependem também da própria organização
dos conteúdos. Vários autores consideram fundamental dividir o conteúdo
em unidades lógicas, estabelecendo hierarquias capazes de estruturar as rela-
ções entre essas unidades (Lynch et al., 204: 38).
Robert Darnton sugere que as publicações eletrónicas devem obedecer a
uma organização vertical onde, num primeiro nível se encontra a informa-
ção elementar e nos níveis seguintes a informação complementar: "Top layer
could be a concise account of the subject (…) the next layer could contain ex-
panded versions of different aspects of the argument (…) the third layer could
be composed of documentation, possibly of different kinds (…) a fourth layer
might be theoretical or historiographical (…) a fifth layer could be pedagogic,
consisting of suggestions for classroom discussion (…) and a sixth layer could
contain readers’ reports, exchange between the author and the editor, and let-
ter form readers" (2009:76). O autor defende que desta forma, os leitores po-" (2009:76). O autor defende que desta forma, os leitores po-
dem ter acesso a informação mais superficial ou mais aprofundada mediante
o número de níveis consultados.
Em conjunto, estes vários fatores têm contribuído decisivamente para
uma maior clareza e legibilidade dos human computer interfaces. Assim, e sem
prejuízo de serem realizados estudos específicos sobre o desenho de e-books,
considera-se que os vários fatores anteriormente mencionados são aspetos
a ter em conta39 no desenho de livros, revistas, jornais e outras publicações
eletrónicas.
39 Digital Book Awards
(anteriormente conhecido
por Publishing Innovation
Awards), criado em 2010,
pelo grupo Digital Book
World visa distinguir a
publicação de e-books
inovadores em diferentes
categorias. Este galardão
é atribuído mediante
a avaliação de 13
parâmetros relacionados
com os aspetos que aqui
mencionamos: http://qed.
digitalbookworld.com/
why-qed/criteria
Em cima: à esquerda,
pormenor do sistema
operativo iOS 6 da
Apple Inc., aplicando
os princípios do
"skeuomorphic design";
à direita, pormenor do
sistema operativo iOS 7
da Apple Inc., recorrendo
a alguns dos princípios
do"flat design".
Em baixo: pormenor sistema
operativo Win8 da Microsoft
Corporation (desenvolvido a
partir de 2009 e lançado ao
público em meados de 2012)
percursor do "flat design".
61
Estudos de caso
40 Define-se por picture
book, ou picture story
books, os livros que,
embora possam ter alguns
elementos textuais, são
predominantemente visuais.
Procurando aprofundar a discussão em torno da pluralidade de formas de
produzir, editar e distribuir livros eletrónicos, procedemos neste segundo mo-
mento da investigação à análise de três casos distintos:
O primeiro estudo caso é a obra “Incómodo”, de André Letria, picture
book40 lançado pela Pato Lógico Edições, em 2011. Trata-se de
uma publicação inicialmente impressa, tendo sido, posterior-
mente, editada em formato eletrónico, em colaboração com a
empresa Biodroid Entertainment. Este e-book está disponível
gratuitamente no formato de aplicação (app), na loja iTunes da
Apple Inc. podendo, assim, ser consultado nos dispositivos iPod,
iPhone ou iPad.
O segundo estudo de caso é a revista internacional de design “Work that
Works”. Editada recentemente pelo designer checo Peter Bilak,
a revista conta com dois números: o primeiro lançado em fe-
vereiro de 2013 e o segundo em julho. Ambos os números da
“Work that Works” foram lançados simultaneamente em edição
impressa e eletrónica (nos formatos PDF, ePUB e Mobi). Alguns
artigos da revista estão ainda acessíveis, de forma gratuita, no
próprio website.
Finalmente, o terceiro estudo de caso realizado é o software gratuito “do-
tdotdot”. Desenvolvido por uma start up alemã, em 2012, este
software destina-se à leitura de publicações eletrónicas, podendo
ser utilizado quer online, através da consulta no browser, quer
através da aplicação (app) em dispositivos iPod, iPhone ou iPad.
As escolhas destes estudos de caso prendem-se sobretudo com a oportu-
nidade de, através destes exemplos distintos, abordarmos algumas das prin-
cipais tendências contemporâneas em matéria de produção, edição e distri-
buição de publicações eletrónicas. Simultaneamente, esta análise permitirá
retomar algumas das questões teóricas abordadas no capítulo anterior. Con-
sidera-se ainda que, através da realização destes três estudos de caso, haverá
oportunidade de aprofundar o nosso conhecimento específico em matérias
relacionadas com a produção, edição e distribuição de publicações eletróni-
cas, esboçando pistas para o terceiro momento desta investigação: o desenvol-
vimento de uma nova publicação eletrónica, capaz de explorar algumas das
potencialidades das NTIC.
62
Para concluir, importa salientar que, para a elaboração da análise de cada
um dos casos, utilizou-se uma metodologia de análise documental, consul-
tando os exemplos selecionados nos diversos suportes, bem como outros do-
cumentos adicionais disponíveis em papel e online (nomeadamente, entrevis-
tas, artigos e reviews técnicos). Uma vez concluída esta análise documental,
realizamos ainda entrevistas (presenciais e por e-mail) aos autores de cada um
dos casos selecionados, de modo a enriquecer e complementar a informação
previamente recolhida.
63
“Incómodo”
41Em parceria com a Biodroid
Entertainment, a Pato Lógico
Edições publicou três títulos
em formato digital, todos
disponíveis no iTunes, loja
da Apple Inc.: Incómodo
(2011), Estrambólicos (2012)
e De Caras (2012).
42 Importa, contudo, salientar
que algumas vozes se têm
insurgido contra a Apple Inc.,
empresa multinacional que
controla o desenvolvimento
e distribuição dos livros.
Por um lado, a Apple Inc.
gere o desenvolvimento e
distribuição das aplicações
não só ao nível do seu
funcionamento mas também
dos seus conteúdos –
assim, aplicações com um
desempenho deficiente ou
conteúdos considerados
explicítos não serão
distribuidas no iTunes.
Por outro lado, a Apple
Inc. tem sido acusada
(e recentemente, foi
considerada culpada) da
concertação dos preços
dos e-books que distribui
com o objetivo de eliminar
a concorrência e assim
aumentar a sua margem
de lucro (cf. http://www.
dinheirovivo.pt/Buzz/
Artigo/CIECO200828.html).
Assim, conforme alertaram
vários autores (Darnton,
2009) a respeito de outras
plataformas, é fundamental
não negligenciar a forma
como, por diversos motivos,
inúmeras obras podem sair
de circulação.
“Incómodo” (2011) é o primeiro título da Pato Lógico
Edições lançado em formato eletrónico. Com nove tí-
tulos editados, três41 dos quais, em formato eletrónico,
a Pato Lógico Edições – fundada, em 2010, pelo autor
e ilustrador André Letria – é pioneira na produção,
edição e distribuição de livros eletrónicos em Portugal.
Editado em parceria com a Biodroid Entertainment, empresa de produ-
ção e distribuição de conteúdos de entretenimento, sedeada em Lisboa, o
“Incómodo” insere-se no vasto conjunto de publicações eletrónicas dispo-
níveis sob a forma de aplicação (app). Conforme explicamos anteriormente,
neste formato, o conteúdo é indissociável do software que permite a sua con-
sulta. Este tipo de publicações eletrónicas é muito comum no iTunes, merca-
do da Apple Inc., e tem sido apontado como o “futuro” da edição digital já que,
mais do que qualquer outro formato, permite explorar as potencialidades dos
conteúdos multimédia e dos próprios dispositivos de leitura 42.
Em entrevista43, André Letria afirmou que a edição eletrónica do “Incó-
modo” surgiu da sua vontade de explorar as NTIC. Esta intenção acabou por
ganhar forma quando Tiago Ribeiro, co-fundador da Biodroid Entertainment,
demonstrou interesse em colaborar neste projeto. A colaboração estabelecida
acabou por determinar o próprio percurso da editora que, desde o “Incómodo”,
adaptou mais dois títulos para formato eletrónico e iniciou ainda o projeto
Nave Especial44, que procura fomentar a discussão em torno da produção,
edição e distribuição digital, bem como o desenvolvimento de projectos ino-
vadores em formato eletrónico.
Para a análise deste caso importa, em primeiro lugar, abordar o modo de
produção da sua edição eletrónica. Segundo Antré Letria, era importante co-
meçar a incursão pelo universo da produção e edição digital através da reali-
zação de histórias curtas e simples, contadas apenas com imagens. Esta opção
prende-se essencialmente com a necessidade que o ilustrador sentiu de tomar
consciência, de forma gradual, das especificidades deste novo contexto, que até
então não dominava plenamente.
De facto, do ponto de vista do seu argumento, o “Incómodo” releva-se bas-
tante simples: uma mosca, ao longo das páginas, voa incomodando um rapaz;
subitamente, o leitor é surpreendido com o aparecimento de uma terceira
personagem – um sapo – e com um desfecho inesperado – em vez de comer
a mosca, o sapo engole o rapaz, deixando a mosca voar.
Tal como os outros títulos em formato eletrónico da Pato Lógico Edições, o
“Incómodo” surgiu a partir de uma versão impressa, o que permitiu a André
O
64
Letria estudar a transformação para e-book. Neste sentido, referiu em entre-
vista que o formato da edição impressa, desdobrável em harmónio de 11 cen-
tímetros de largura por 15 centímetros de altura, foi escolhido pensando já
na adaptação ao formato digital. Para André Letria, este formato apresentava
algumas semelhanças a um storyboard45 já que cada página poderia corres-
ponder a um momento da animação dos elementos gráficos. Nesta “mini-
-narrativa contada em frames” seria possível equacionar a sequência da nar-
rativa, identificar o modo de apresentação dos elementos gráfico e, a partir
daí, estudar as possíveis formas de animação e interação do leitor com esses
elementos, facilitando a adaptação do livro ao formato eletrónico.
Apesar desta possível aproximação, Letria confessa que “a adaptação não
foi fácil. Tivemos nesta experiência o primeiro choque com a realidade: a ne-
cessidade de pensar na adaptação para o digital como um projeto autónomo”
(Letria apud Brites, 2013: 52). Esta observação de Letria vai de encontro ao en-
tendimento de Christian Allègre que considera que a “translação de um me-
dium para outro exige uma muito cuidadosa reconfiguração intelectual dos
conteúdos, [que] deve ser decidida a partir da compreensão da nova natureza,
da sua genealogia, da sua contextualização cultural e estratégias de leitura
prevista; os conteúdos devem ser reclassificados e reordenados no sistema de
conhecimentos com o fito de assegurar uma nova eficácia simbólica exigida
pelo novo meio” (Allègre apud Furtado, 2007: 79).
Este processo serviu também para Letria reforçar a sua convicção de que,
por um lado, o objetivo do livro eletrónico não é substituir o formato anterior
e que, por outro, para explorar as potencialidades destes novos formatos não
fará sentido transpor rigorosamente tudo o que existe na edição impressa
para a digital: “As coisas, de facto, não podem ser feitas da mesma forma. O
facto de haver uma história idealizada não significa que se possa pensar da
mesma forma e seguir o mesmo processo de trabalho quando se passa para
o digital. Por vezes é necessário criar ramificações ou conclusões diferentes
porque o formato digital só faz sentido se for dinâmico, caso contrário, desa-
proveita todo o potencial que este meio tem”.
43 No âmbito desta
investigação foi realizada
uma entrevista presencial
ao editor, autor e
ilustrador André Letria,
no dia 30 de abril de
2013, em Lisboa. Todas
declarações de André
Letria utilizadas na
elaboração deste estudo
de caso foram recolhidas
nesta entrevista, exceto
quando assinalado.
44 A primeira iniciativa
promovida no âmbito do
projeto Nave Especial foi a
conferência “ABC da Edição
Digital – Conferência Para
a Edição Digital de Livros
Para Crianças”, realizada
a 28 de janeiro de 2013,
na Fundação Calouste
Gulbenkian, em Lisboa
(cf. http://www.nave-
especial.pt/conferencia).
Inserido neste projeto
encontra-se também o
concurso “Prémio Nave
Especial - Histórias Digitais
Ilustradas” que visa
incentivar a produção de
publicações eletrónicas
em Portugal. Cf. http://
www.nave-especial.pt/
regulamento/
45 Muito comum no cinema
e televisão, o storyboard
é constituido por uma
sequência de ilustrações
que descreve as principais
momentos de uma
narrativa. Genericamente,
cada uma dessas imagens
apresenta todos os
elementos visíveis em cada
momento bem como a
posição em que surgem.
65
Por outro lado, existe necessidade de compreender as limitações dos dis-
positivos de leitura digital. Neste sentido, Letria sublinha que é necessário
adaptar as ilustrações pois “no livro [impresso] o formato duplica quando o
abrimos. No iPad temos um ecrã que tem uma dimensão limitada, que não
muda, e só pode variar entre formato horizontal ou vertical”.
Ainda no que se refere à translação dos conteúdos de um medium para
outro, André Letria defende que esta decisão deve ser devidamente refletiva,
pois implica um grande investimento. Neste sentido, refere: “qualquer livro,
com mais ou menos esforço, pode ser adaptado ao formato eletrónico, não sei
é se vale a pena” já que “a produção é cara, investe-se muito sem os resultados
esperados e o investimento mais básico num e-book não compensa o esforço,
é preciso mais qualquer coisa”. É, por isso, necessário, defende, um maior
investimento dos editores, preocupando-se em editar novos títulos ou títulos
já existentes em formato eletrónico que aproveitem as potencialidades e os
desafios que o digital suscita.
André Letria salienta ainda que um livro eletrónico, ao contrário do im-
presso, nunca é uma obra acabada. Para Letria há a necessidade de lançar,
com relativa frequência, novas versões com melhorias ou outras opções. Esta
opinião de Letria parece ir de encontro à perspetiva de vários outros autores:
“More profound, however, is the book’s reinvention in a networked environ-
ment. Unlike the printed book, the networked book is not bound by time or
space. It is an evolving entity within an ecology of readers, authors and texts.
Unlike he printed book, the networked book is never finished: is always a
work in progress” (Stein apud Gottlieb, 2010: 67).
Importa também perceber de que modo a conceção e produção de livros
eletrónicos introduz alterações nas equipas de trabalho e, de algum modo,
redefine o papel do autor.
Em entrevista, André Letria salientou que, ao contrário das edições im-
pressas, as digitais “têm mais componentes artísticas: agregam o texto, som,
imagens com ou sem animações… as imagens mesmo que estáticas têm que
transmitir algum movimento”. Como notam outros autores, a edição eletró-
nica exige equipas multidisciplinares, agregando profissionais com as com-
petências técnicas e científicas necessárias à produção destes conteúdos, ex-
plorarando, assim, as potencialidades destes novos formatos (Laterza apud
Furtado, 2007: 28-29). No caso da Pato Lógico Edições, e conforme reconhe-
ceu André Letria, a parceria com a Biodroid Entertainment revelou-se funda-
mental para a concretização do “Incómodo”.
Interessa também perceber se estes novos formatos digitais contribuem
para redefinir o papel do leitor, designadamente através da proposta de uma
nova experiência de leitura.
A este propósito, André Letria identifica algumas diferenças no modo
como o leitor interage com a edição impressa e a digital. No caso concreto do
Página anterior: à esquerda,
capa da edição impressa e
eletrónica do "Incómodo"
(Letria, 2011); à direita,
pormenor da edição
impressa do "Incómodo" –
desdobrável em harmónio.
66
“Incómodo”, Letria refere que “apesar de ser a mesma história, ela teve de ser
contada utilizando outros recursos, não só técnicos, mas também narrativos,
que envolvessem o leitor como participante ativo no desenrolar da ação” (Le-
tria apud Brites, 2013: 52). De facto, na edição eletrónica do “Incómodo” é pe-
dido ao leitor que interaja com as personagens para dar continuidade à histó-
ria: “Para passar ao passo seguinte, o leitor teria que perceber o sítio específico
onde a mosca pousa. Só depois de acertar é que se passa ao momento seguin-
te”. Desta forma, o “Incómodo” assume um carácter lúdico46 aproximando-se
de um jogo eletrónico. Desta forma, “Incómodo” segue uma das principais
tendências emergentes na produção de publicações digitais – a gamification.
Neste ponto, será talvez oportuno compararmos o “Incómodo” com o e-
-book “Alice in Wonderland”47, lançado pela editora inglesa Atomic Antelope
Ltd. em março de 2010, pouco depois da apresentação do iPad (a 27 de ja-
neiro do mesmo ano). O sucesso comercial de “Alice in Wonderland” cha-
mou a atenção48 para este “novo” dispositivo enquanto plataforma de leitura.
Também neste e-book a interação é utilizada como forma de envolver o leitor
que é desafiado a interagir com os vários elementos gráficos quer através do
toque, quer do movimento do dispositivo49. No entanto, a manipulação dos
vários elementos gráficos desenvolve-se de forma “paralela” ao texto não sen-
do essencial para o desenrolar da narrativa. Independentemente da qualidade
das ilustrações e dos vários elementos multimédia, a interação proposta em
“Alice in Wonderland” poderá ser considerada acessória, não contribuindo
por isso, como alegam alguns autores, para o enriquecimento da leitura. Por
outro lado, as ilustrações e os vários elementos multimédia e as formas de
interação propostas são demasiado literais deixando, por isso, pouco espaço
para o leitor explorar a sua imaginação. Como vimos no capítulo anterior, é
precisamente este tipo de interação que se desenvolve de forma paralela à
narrativa que tem contribuído para reforçar a opinião de que os elementos
multimédia e/ou elementos não-textuais interrompem sistematicamente a
leitura acentuando a dificuldade que os leitores têm em se concentrarem de
modo duradouro.
46 Note-se que também
nos outros títulos
digitais publicados pela
Pato Lógico Edições
encontramos esta forte
componente lúdica.
Por exemplo, em
“Estrambólicos” e “De
Caras” o leitor pode
manipular as diferentes
partes das personagens
encontrando, em cada
uma das publicações,
mais de 4 mil conjugações
possíveis.
47 Cf. http://www.
atomicantelope.com/alice/
e https://itunes.apple.com/
en/app/alice-for-the-ipad/
id354537426?mt=8
48 “Alice in Wonderland”
suscitou, desde logo,
opiniões diversas.
Num artigo de opinião
publicado no New York
Times a 14 de abril de
2010, Verlyn Klinkenborg
criticou severamente esta
edição pela forma como
a interatividade poderia
alterar os hábitos de
leitura, especialmente
dos mais novos (Cf.
http://www.nytimes.
com/2010/04/15/
opinion/15thu4.
html?_r=0). Os mesmos
argumentos levaram
Oprah Winfrey a elogiar
esta adaptação no seu
programa de televisão (Cf.
http://www.youtube.com/
watch?v=w5FFS4eojeY).
49 Cf. http://www.
youtube.com/
watch?v=gew68Qj5kxw
67
Neste ponto André Letria salienta o modo como os mediadores tecnoló-
gicos e as suas potencialidades são parte intrínseca da leitura. André Letria
refere que “a forma como as pessoas lidam com estes livros é naturalmente
diferente pois têm contacto com outras aplicações – são sempre distrações.
São questões que também temos que ter em conta”.
A utilização do jogo com o objetivo de envolver os leitores leva-nos a reto-
mar aqui o debate sobre a (nova) natureza do livro e a necessidade encontrar
expressões que melhor se adequam a estas formas edição eletrónica. De fac-
to, estas formas de apresentação dos conteúdos são totalmente distintas das
tradicionais fazendo com que as expressões atualmente usadas, como “livro”,
por exemplo, sejam pouco esclarecedoras desta nova realidade.
Importa mencionar que a edição digital do “Incómodo” apresenta algu-
mas fragilidades, que decorrem essencialmente do facto de ser uma primeira
abordagem da Pato Lógico Edições ao universo digital. A dificuldade que al-
guns leitores têm em encontrar a solução para chegar ao final do livro é talvez
o aspeto menos bem conseguido da obra. Refletindo sobre este aspeto, André
Letria reconhece que o “Incómodo” “tem características muito experimentais,
nem sequer dá pistas às pessoas, o que é uma prática muito mal vista. As
pessoas têm que perder o seu tempo a explorar aquele objeto, aquele pro-
duto”. Nota ainda que é necessário atender aos diferentes leitores, já que se
percebe “que há uma diferença clara entre os adultos e as crianças: as crianças
percebem imediatamente o que é que têm de fazer e descobrem muito mais
facilmente a solução; os adultos têm algum receio, não têm iniciativa de estar
a mexer e perceber quais são as interações possíveis”. André Letria evoca, as-
sim, a conceção tradicional do termo “nativos digitais”, considerando que os
indivíduos que desde cedo conviveram com as NTIC apresentam uma maior
facilidade em ler estas publicações. Contudo, e conforme mencionamos an-
teriormente, esta visão não tem sido comprovada em estudos recentemente
realizados em Portugal (Paisana, 2013). Por esse motivo, a opção por publi-
cações de caráter mais experimental devem ser cuidadosamente equacionada
já que poderá, ainda que inadvertidamente, contribuir para o abandono da
leitura e, num limite extremo, para o designado Computer Stress Syndrome.
Aproveitando a oportunidade de entrevistar um autor e editor português,
interessou-nos recolher o seu testemunho relativamente à forma como, na
sua perspetiva, as diversas forças sociais, culturais e económicas intervém,
positiva ou negativamente, neste novo contexto da edição digital em Portugal.
André Letria chama a atenção para as dificuldades associadas à posição pe-
riférica do país, bem como ao seu escasso número de leitores interessados em
e-books: “numa primeira fase, somos confrontados com um mercado muito re-
duzido como o português, sem consumidores em quantidade suficiente para tor-
nar rentáveis os produtos que estamos a criar. Logo a seguir, deparamo-nos com
a dificuldade de mostrar ao mundo que existimos” (Letria apud Brites, 2013: 52).
Página anterior: à esquerda
e ao centro, páginas
da edição impressa do
"Incómodo" (Letria, 2011);
à direita, pormenor do
modo de leitura/interação
da edição eletrónica do
"Incómodo".
68
Neste sentido, Letria defende que, num contexto de mercado globalizado
altamente competitivo e concorrencial, os aspetos de comunicação e marke-
ting são fulcrais para o sucesso de um e-book. Defende, por isso, uma mudan-
ça de postura nos editores portugueses: “temos um problema por resolver
que, aliás, todas as editoras, independentemente da dimensão, têm: que é
perceber como pode ser feita a divulgação (...), perceber como se chega aos
leitores (…). As editoras também têm que se transformar nesse sentido, pas-
sar a ter pessoas que façam esse trabalho porque um título que é lançado
na App Store, entra imediatamente em competição com milhares de livros e
corre o risco de passar despercebido, com a agravante do valor da venda ser
muito mais baixo, [por isso] é preciso trabalhar também esse contacto intenso
e constante com o público”50.
André Letria vai ainda de encontro às opiniões que defendem que um con-
teúdo digital é, na sua essência, universal, beneficiando do acesso potencial a
um mercado global, sendo que, em princípio, a única limitação à compra será
o idioma (Gil, 2011: 154). Estas transformações e, em particular, a afirmação
crescente do comércio eletrónico, contribuíram para o fim da exclusividade da
distribuição. Por outro lado, os suportes digitais permitiram resolver proble-
mas relacionados com o armazenamento de stocks de livros e a sua distribui-
ção. No seu conjunto, todas estas alterações contribuíram para modificar as re-
lações entre editores e autores, conforme nota André Letria: “deixa de haver as
fronteiras nas negociações de contratos, abrindo também muitas portas para
os autores. As editoras também vão ter contratos necessariamente diferentes”.
Para concluir, parece-nos importante salientar a forma como o “Incómo-
do” integra as tendências emergentes ao nível produção de publicações eletró-
nicas. Para além da escolha do formato aplicação (app) destaca-se a utilização
de técnicas de gamification como forma de forma a envolver o leitor.
50 Note-se, contudo, que
apesar da atenção ao
universo digital André
Letria não subestima
o contacto direto e
presencial com os leitores,
realizando frequentes
apresentações das
suas obras em escolas,
livrarias, galerias e outros
espaços públicos.
69
“Work That Works”
“Work That Works” (WTW) é uma revista semestral edi-
tada pelo designer Peter Bil’ak50. Atualmente, esta revista
tem dois números editados, ambos em 2013: o primeiro
número, lançado em fevereiro, e o segundo, em julho.
Importa começar por destacar que, de acordo com Peter
Bil'ak51, foi desde o início uma premissa do projeto que a
WTW não se resumisse à mera apresentação de portefólios, diferenciando-
-se, assim, de grande parte das publicações periódicas de design atualmente
existentes. A WTW explora a criatividade em diversos campos do quotidiano,
através de artigos de investigação sobre assuntos que, de alguma forma, estão
relacionados com o universo do design.
Relativamente ao modo de produção e edição da WTW existem alguns
aspetos que interessa destacar neste estudo de caso.
Em primeiro lugar, o modo inovador de financiar a produção da revista. De
acordo com o editor, após um ano de preparação, foi lançada uma campanha
online de crowdfunding52, que obteve grande sucesso. De facto, só na primeira
semana de angariação de fundos, foi possível garantir o financiamento com-
pleto para a edição do primeiro número da WTW. Até ao final da campanha,
no início de 2013, foi possível angariar cerca de 30 mil euros, que asseguram
para além da edição do primeiro número, a criação da plataforma de trabalho
capaz de otimizar a produção e edição da revista impressa e eletrónica.
Uma das particularidades da WTW prende-se com a variedade de versões
em que a revista está disponível. Ambos os números contam com uma edição
impressa e uma edição eletrónica, disponível em diferentes formatos – PDF,
ePUB e Mobi. Alguns dos artigos estão ainda acessíveis, de forma gratuita,
no website da WTW.
De acordo com Bil’ak, a opção pela edição conjunta, e em simultâneo, da
publicação em formato impresso e eletrónico, deveu-se à resposta53 dos leito-
res ao inquérito online, realizado durante o período de angariação de fundos:
49% indicou que gostaria consultar as duas edições em simultâneo, 42% ape-
nas edição impressa e 9% apenas a edição eletrónica. “It seems that the ques-It seems that the ques-
tion is not one or the other, but one in addition to the other” (Bil’ak, 2013).
Estes dados indiciam que as opções de formatos estão relacionadas, em
grande medida, com os usos que os leitores fazem dos próprios textos. Neste
sentido, Bil’ak avança: “Print is great for long-form reading; the tangible qual-Print is great for long-form reading; the tangible qual-
ity of hard copy seems to be very engaging, and high-quality photographs look
great in print. On the other hand, digital information is indexable, searchable
and accessible in many different ways” (Bil’ak, 2013).
50 Peter Bil’ak, nascido na
Checoslováquia (1973) vive
e trabalha, como designer
e professor, em Haia. Entre
outros projetos, destaca-se
o seu trabalho na foundry
Typotheque, bem como a
revista “Dot Dot Dot”, que
também fundou. Cf. http://
www.typotheque.com/ e
http://www.dot-dot-dot.us/
51 No âmbito desta
investigação foi realizada
uma entrevista por email ao
editor Peter Bil’ak, no dia
1 de maio de 2013. Todas
declarações de Peter Bil’ak
utilizadas na elaboração
deste estudo de caso foram
recolhidas nesta entrevista,
exceto quando assinalado.
52 Cf. Bil’ak, Peter. (2013).
https://worksthatwork.com/
blog/wtw1
53 Cf. Bil’ak, Peter. (2013).
https://worksthatwork.com/
blog/print-and-digital
A
70
Encontramos na reflexão do editor de WTW nítidas ressonâncias de ten-
dências gerais, apontadas em diversos relatórios sobre o impato das NTIC
nos hábitos de leitura. Embora exista uma propensão dos leitores para uma
“acumulação ansiosa de informação” em formato digital (Furtado, 2007: 98),
já que as NTIC permitem compilar um grande volume de informação num
“espaço” reduzido, o caso da WTW parece comprovar que tal não contribui
necessariamente para a diminuição da leitura da versão impressa. Pelo con-
trário, os leitores tendem a acumular os dois suportes de leitura, numa lógi-
ca que alguns autores têm vindo a designar por “mais/mais” (Neves, 2010;
Pinheiro, 2013; Villarroya, 2013; Silveira: 2013).
A produção e edição da WTW nesta diversidade de formatos é também o
resultado do investimento feito na otimização de um processo de trabalho to-
talmente digital. Neste sentido, Bil’ak afirma: “It was clear that we want to try
hybid publishing, in print and screen, so we've developed our publishing sys-
tem that allows exporting structured text to InDesign to HTML and e-books”.
Esta prática tem sido frequentemente destacada pela capacidade de explorar
os conteúdos originalmente produzidos reduzindo, a longo prazo, os custos
associados à produção e edição de uma publicação em múltiplos formatos
(Furtado, 2007; Gil et al., 2011).
“Traditionally, screen and print design are separate activities. I wanted to
be sure that we keep one source of text which we can use for both, and that's
why we developed a publishing platform, which allows collaboration of writers
and editors, and eventually can publish the text to any format” (Bil’ak, 2013).
A produção da WTW envolveu uma equipa de trabalho alargada. Ao nível
da produção e revisão de contéudos, o projeto conta com uma equipa fixa com-
posta pelo editor Peter Bil’ak, pelo redator Ted Whang e pela revisora Johanna
Robinson. Esta equipa é complementada pelos vários autores convidados que
colaboraram em cada número da revista. Na conceção gráfica, a WTW contou
com duas equipas distintas: por um lado, os designers Susana Carvalho e Kai
Bernau – responsáveis pelo Atelier Carvalho Bernau54 – assegura a conceção
da edição impressa; e, por outro, Ondrej Jób55 é responsável pela conceção
da edição eletrónica (website, ePUB e Mobi). Note-se que, por opção expres-
sa do editor, os designers trabalharam separadamente – “I coordinated work
on both, and dealt separately with Ondrej and Atelier. (…) I didn't want any of
them to be superior to the other”. Finalmente, o desenvolvimento web ficou a
cargo da equipa da SLONline56. 54 Cf. http://www.carvalho-
bernau.com/
55 Cf. http://www.behance.
net/urtd e http://www.
urtd.net/
56 Cf. http://www.slonline.eu/
Manuscrito Editorial
e-Books
PDFProcesso técnico
Agregadores
Arquivo digital
Widgets
Impressão
Retrodigitalização
em baixo: Diagrama da digitalização "tradicional" (Gil et al., 2011: 88)
XML
Autores
Editores
Designers
Developers
PDF Impressão
e-Books Agregadores
Widgets Internet
Arquivo digital
em baixo: Diagrama da digitalização "futura" (Gil et al., 2011: 88)
Papel
Digital
XML
ePuB
Mobypocket
Impressão
Impressão (baixa resolução)
Outrosdispositivos
Dispositivosmóveis
em baixo: Diagrama do workflow de ficheiros na digitalização "futura" (Gil et al., 2011: 89)
72
Para a análise da produção e edição da WTW, importa ainda abordar um
dos aspetos singulares relacionados com a sua distribuição – adiante retoma-
remos esta questão, sob outro ponto de vista. A revista é vendida online e pode
ser consultada mediante três formas de subscrição, definidas de acordo com
o perfil de leitores identificado no inquérito online:
A primeira contempla apenas o acesso à edição impressa;
A segunda incluiu somente a disponibilização da edição digital, embora
em diversos formatos: PDF, ePUB, Mobi e online. Ao contrário
do habitual, em que o leitor opta por um formato específico, nes-
te caso o custo associado a esta forma de subscrição garante o
acesso à revista em todos os formatos;
A terceira garante o acesso conjunto à edição impressa e digital.
Não fazendo uma análise exaustiva do desenho gráfico e editorial da edi-
ção impressa importa salientar o cuidado57 na seleção do formato, materiais e
acabamento que, conforme salienta58 Bil’ak, apesar da aparente simplicidade
foram criteriosamente escolhidos de forma a proporcionar uma melhor expe-
riência de leitura. De facto, tanto as dimensões relativamente reduzidas – 17
centímetros de largura por 28 centímetros de altura – como a forma como o
miolo foi associado à capa – com dois pontos de agrafe – fazem com que a
WTW seja mais facilmente manuseada. Não obstante as críticas de inúmeros
leitores, que consideram este tipo de acabamento pouco “nobre”, Bil’ak sa-
lienta as suas qualidades59: “Our criteria were practical: we believe that a mag-Our criteria were practical: we believe that a mag-
azine should be easy to read with one hand (so you can hold your cup of coffee
with the other). When you open it, it should lie flat and stay flat without your
having to hold it open. It should open fully, so that you can enjoy the double
spread photography and read the text by the inside margins” (Bil’ak, 2013)60.
Destaca-se ainda a utilização de um conjunto alargado de papéis61, na sua
maioria fine papers, e a adequação da impressão – a quatro cores, duas ou
uma cor – a cada tipo de papel.
A nível de desenho gráfico saliente-se a utilização exclusiva da Lava, fonte
serifada, desenvolvida e distribuída pela Typotheque. Conforme anteriormen-
te mencionamos, inúmeros autores defendem a utilização de tipos serifados
para a apresentação de textos mais longos.
Finalmente, note-se ainda que a forma como são apresentados os apoios62,
patrocínios e anunciantes contribuem não só para manter a coerência gráfica,
mas também para assegurar o enfoque nos conteúdos principais da revista.
O tipo de opções gráficas adotadas na WTW demonstra a importância
comercial de valorizar o objeto impresso, de modo a diferenciá-lo da edição
digital. Este aspeto é, de resto, salientado por alguns autores (Knufinke, 2012;
Ludovico, 2012) que defendem que estes aspetos distinguem as edições im-
pressas das eletrónicas, valorizando-as significativamente, bem como à pró-
pria experiência física da leitura.
57 Cf. http://vimeo.
com/52840586
58 Cf. Bil’ak, Peter. (2013).
https://worksthatwork.
com/blog/binding
59 Cf. http://vimeo.
com/61195060
60 Cf. Bil’ak, Peter. (2013).
https://worksthatwork.
com/blog/binding
61 O miolo do primeiro
número da WTW foi
impresso em Lessebo
Design White 80 g/
m2 – papel uncoated –
utilizado para as páginas
maioritariamente de
texto (note-se contudo
que este papel reproduz
cores com bastante
naturalidade); Magmo
Star 100 g/m2 – papel
coated – utilizado nas
páginas com fotografias de
maiores dimensões; e em
EOS Volume 2.0 80 g/m2 –
papel uncoated – utilizado
num dos artigos da revista.
A capa foi impressa em
Symbol Freelife Country
E/E 250 g/m2. Todos
os papeis utilizados são
ecológicos.
62 Importa salientar que
Bil’ak pretende, a longo
prazo, eliminar totalmente
a publicidade. Para tal,
será necessário garantir
um número suficiente de
doações dos leitores que,
em troca do seu contributo
monetário, recebem 1, 2 ou
3 exemplares impressos.
Cf. https://worksthatwork.
com/patrons/
73
A edição eletrónica em formato PDF reproduz, quase integralmente, os
modelos de apresentação da publicação impressa. A diferença relativa à edi-
ção impressa – para além das questões relacionadas com a experiência física
do objeto – reside na utilização de algumas hiper-ligações que remetem quer
para conteúdos apresentados na revista, quer para páginas Web.
Neste sentido, não assistimos à reconfiguração intelectual dos conteúdos
que, para alguns autores, a translação de um medium para outro exige (Allè-
gre apud Furtado, 2007: 79). Importa, contudo, salientar que a preservação do
aspeto visual da edição impressa é, relativamente aos outros formatos digi-
tais, uma mais-valia. Muito embora o design gráfico e editorial não tenha sido
pensado tendo em vista a leitura eletrónica, a sua qualidade gráfica acaba por
proporcionar uma experiência agradável e bastante confortável.
Importa ainda salientar que a utilização de hiperligações é muito comedi-
da, pelo que não poderemos considerar que interrompam sistematicamente
a leitura contribuindo, dessa forma, para a acentuar as dificuldades de con-
centração. De facto, apenas encontramos nesta edição algumas ligações “in-
ternas”, estabelecidas a partir do índice da publicação, e alguas hiperligações
que constam na ficha técnica e nas páginas de publicidade, remetendo para
e-mails e websites.
em cima: editorial do primeiro
número da WTW.
75
No caso da edição eletrónica em formato ePUB e Mobi assiste-se, ao con-
trário da versão em PDF, a uma reconfiguração dos conteúdos. Não havendo
constrangimentos físicos relacionados com o limite de páginas e o tipo de pa-
péis escolhidos, foi possível estabelecer uma nova organização na apresenta-
ção dos conteúdos. Assim, alguns artigos foram excluídos e outro ampliados,
passando a incluir imagens suplementares. Esta versão conta ainda com uma
nova sequência dos conteúdos, distinta da revista impressa.
Importa ainda notar que, nesta versão, Ondrej Jób optou por utilizar dife-
rentes fontes: uma serifada para textos mais longos e outra não serifada para
textos curtos, nomeadamente, para as legendas das imagens.
Na análise das edições eletrónicas, em formato ePUB e Mobi, é relevante
salientar o modo como estes formatos sacrificam o aspeto visual dos con-
teúdos (sobretudo, dos não-textuais) e, consequentemente, sua a perceção.
Embora esta opção nos pareça redutora do ponto de vista gráfico, ela vai de
encontro a uma tendência geral e segue as indicações da International Pub-International Pub-
lishers Association e do International Digital Publishing Forum. Como vimos
no capítulo anterior, diversos autores criticam esta opção, defendendo que a
utilização destes formatos é mais adequada para a apresentação de conteúdos
predominantemente textuais e especialmente longos.
Página anterior: artigo
"Dabbawallas: Delivering
excellence" publicado no
primeiro número da edição
impressa da WTW;
Em baixo: artigo
"Dabbawallas: Delivering
excellence" publicado no
primeiro número da edição
eletrónica (ePUB) da WTW.
76
Também na edição mediada pelo browser os conteúdos foram reconfigura-
dos. Saliente-se, contudo, que nesta edição, foram eliminados um maior nú-
mero de conteúdos (nomeadamente, a publicidade) e as fotografias assumem
um maior destaque.
A nível de desenho de interfaces destaca-se a utilização de uma paleta de
cores limitada: predominam o branco e uma escala reduzida de cinzentos,
sendo pontualmente usados tons de laranja e azul. O blog e a área reservada
aos leitores apresenta a predominância de uma escala reduzida de azuis.
A nível de formatação de textos é utilizado o mesmo critério do formato
ePUB e Mobi: uma fonte serifada para textos mais longos e uma outra não
serifada para hiperligações e textos mais curtos.
Destaca-se ainda a utilização de elementos gráficos predominantemente
retos de distribuídos no “espaço” segundo uma grelha dinâmica que se adapta
às dimensões da janela do browser. Importa aqui realçar que, de uma forma
geral, estas opções vão de encontro às tendências, anteriormente menciona-
das, do web responsive design e do “flat design”. Saliente-se ainda a utilização de
metáforas gráficas claras e intuitivas que orientam a navegação no website –
por exemplo, a imagem de um cadeado aberto anuncia que artigo é de acesso
gratuito. Assim, os modos de interação lógicos e familiares combinados com
as opções gráficas facilitam a utilização do website.
Em baixo: homepage
do website https://
worksthatwork.com/;
Página seguinte: Pormenor
da apresentação no
browser do artigo
"Dabbawallas: Delivering
excellence" publicado
no primeiro número da
WTW.
78
Finalmente importa salientar o modo inovador escolhido para a distribui-
ção da WTW. Para além da venda online, Bil’ak tem promovido o que designa
por “social distribution”63 – resumidamente, a distribuição é maioritariamente
assegurada pelos próprios leitores. Esta forma de distribuição torna possível
a disponibilização da revista a um preço mais acessível mantendo, ou até au-
mentando, a margem de lucro do editor.
Por outro lado, esta forma de distribuição potencia o contacto com os leito-
res e contribui para o desenvolvimento de um sentimento de pertença a deter-
minada “comunidade de fãs”, na medida em que, de certa forma, os envolve
no sucesso da WTW. A implementação de novas formas alternativas de dis-
tribuição, como a que propõe Bil’ak, parece ir de encontro à opinião de vários
autores, que defendem a necessidade de transformar o modelo tradicional de
distribuição editorial. Esta perspetiva considera que o paradigma da distribui-
ção exclusivamente em papel está hoje esgotado, visto que as vendas já não são
suficientes para suportar os elevados custos associados à prestação deste ser-
viço, quer pelas editoras, quer pelas distribuidoras (Gil et al., 2011: 106-108).
Ainda relativamente à distribuição, importa salientar que os leitores po-
dem ainda adquirir online (por um euro) cada um dos os artigos de acesso
reservado. Também esta forma de distribuição vai de encontro às práticas de
outras editoras relativamente à distribuição de publicações eletrónicas.
63 Cf. http://vimeo.
com/59732766 e http://
worksthatwork.com/
distribution/
Em cima: área reservada
do website https://
worksthatwork.com/
login/;
79
Em jeito de conclusão, importa salientar alguns aspetos que, em nosso enten-
der, se destacam, positivamente e negativamente, da análise realizada à WTW.
Em primeiro lugar, destaca-se positivamente o modo como a adoção de
um processo de trabalho predominantemente digital, através do recurso a
plataformas adequadas, pode otimizar a edição em diferentes formatos. Um
outro aspeto positivo prende-se com a opção por uma diversificação dos mo-
dos de distribuição desta publicação, introduzindo transformações relevantes
no modelo tradicional de distribuição editorial. Em conjunto, estes aspetos
podem contribuir decisivamente para optimizar e rentabilizar recursos e,
deste modo, assegurar a necessária sustentabilidade do projeto. Note-se, con-
tudo, que apesar destes sinais positivos, o facto desta revista ser ainda muito
recente, exige forçosamente alguma cautela na avaliação destes resultados.
Contudo, parece-nos que a análise realizada evidencia também alguns as-
petos menos bem conseguidos.
Como vimos anteriormente, os formatos ePUB e Mobi atuais apresentam
alguns constrangimentos do ponto de vista gráfico que penalizam a apresen-
tação de elemento não-textuais. Consequentemente, a versão da revista nestes
formatos é sacrificada. Parece-nos, por isso, que poderia ser experimentados,
e eventualmente adotados, outros formatos que melhor se adequassem à
apresentação do tipo de conteúdos que a WTW pretende apresentar. Como
já mencionamos, existem outras opções disponíveis que permitem um maior
controlo do aspeto visual das publicações eletrónicas, destacando-se, nomea-
damente, as aplicações (app) e, a nível de ePUB, o formato Fixed Layout ePUB.
Outro aspeto menos bem conseguido da publicação, é o recurso ainda
limitado a conteúdos não-textuais (excluindo totalmente conteúdos multimé-
dia). Este tipo de opções poderia aumentar o nível de profundidade e de inte-
resse suscitado pelos artigos apresentados. Na entrevista que nos concedeu,
e quando confrontado com essa questão, Bil’ak não descartou a possibilidade
de vir a rever esta opção em futuros número da WTW, notando, porém, que
tal depende dos recursos encontrados: “if we find the resources, we might
employ a special editor for digital edition. but this is still far off”. Novamen-
te, esta observação chama-nos a atenção para a complexidade da produção e
edição de publicações eletrónicas, e das várias exigências tanto ao nível de
recursos humanos e técnicos, como de recursos financeiros e logísticos.
80
"dotdotdot"
64 Disponível numa versão
beta importa salientar que
a equipa do “dotdotdot”
conta com os próprios
leitores para testar o seu
funcionamento e, caso
pretendam, identificar e
assinalar os problemas
técnicos (bugs).
65 Software executado
através de um browser na
Internet ou numa intranet
(rede de computadores
privada).
66 Cf. Mohl, Madeleine.
(2012). http://betahaus.
de/2012/10/10629/
“dotdotdot” desenvolvido, pela start up alemã homóni-
ma, fundada no início de 2012, por Thomas Schinabeck,
Thomas Weyres, Christian Klingler, Christian Beer é
um software que se destina essencialmente à leitura
de livros, revistas e outras publicações eletrónicas.
Este software, ainda em fase testes64 e avaliação está
disponível gratuitamente como aplicação (app) para iPhone, iPod e iPad, ou
como aplicação web based65 para computadores pessoais.
Para a análise deste estudo de caso importa, em primeiro lugar, salientar
o principal argumento, avançado pelos fundadores da “dotdotdot” para o seu
desenvolvimento.
Em entrevista ao betahaus66, Weyres refere dois principais motivos para
a criação do “dotdotdot”. Por um lado, o seu interesse pessoal pela leitura, e
por outro, o descontentamento face às soluções disponíveis para a leitura de
publicações eletrónicas que, para o autor, não aproveitavam devidamente as
potencialidades das NTIC. O “dotdotdot” procura colmatar lacunas identifica-
das noutros e-book readers atuando em três domínios essenciais:
Tem, em primeiro lugar, a capacidade de importar livros, revistas e outras
publicações eletrónicas (de diferentes natureza) agrupando-os
num único “espaço” – criando, assim, uma “biblioteca” pessoal
do leitor, acessível online.
Em segundo lugar, permite criar e arquivar notas que facilitem a pesquisa
e acesso a essas publicações eletrónicas.
Finalmente, o “dotdotdot” permite ler e partilhar, online e em rede com ou-
tros leitores, as obras e notas de leituras efetuadas por cada leitor.
Note-se que nenhuma destas características é totalmente nova. No entan-
to, é pouco frequente encontrar e-book readers que agreguem estas qualidades
em simultâneo. Parece-nos, assim, que esta inovação contribui, por si só, para
a otimização da leitura, na medida em que, permite eliminar o tempo dispen-
dido na alternância entre diferentes softwares e hardwares.
No âmbito desta investigação, interessa analisar, ainda que brevemente, algu-
mas questões relacionadas com cada um dos três aspetos anteriormente referidos.
Relativamente à capacidade de importar livros, revistas e outras publica-
ções eletrónicas Schinabeck salienta que a maioria dos e-book readers (software
e/ou hardware) apresenta uma falha na capacidade de agregar publicações
eletrónicas num único “espaço”: “It’s quite hard to bring them all together on
one place, which would enable you to use the full potential of digital texts”
(Kozlowski, 2013). Weyres explica que o “dotdotdot” pretende, precisamen-
O
81
te, colmatar esta lacuna permitindo que os leitores compilem, neste software,
publicações eletrónicas de diferentes naturezas e origens: “We’re working on
building a solution to make reading texts (not only books, you can read and
archive any text from the web or RSS as well with Dotdotdot) more social and
to build a solution to read and archive all the texts that are important for a
reader in one place” (Weyer apud Fowler, 2013)67.
De facto, esta possibilidade de associar num mesmo “local” todas as pu-
blicações eletrónicas revela-se especialmente útil não só para organizar “co-
leções” eletrónicas (uniformizando, de certa forma, as suas características),
mas também para facilitar a sua consulta.
Para além disso, destacam-se os múltiplos modos de apresentação das pu-
blicações. Assim, no “dotdotdot” é possível visualizar todas as publicações
eletrónicas segundo o formato, título, autor, fonte (no caso das páginas web)
ou data. Escolhendo uma publicação, é possível pré-visualizar, além dessas
informações mais genéricas, a capa da publicação (caso exista), o número de
destaques e comentários, as opções de privacidade/partilha, bem como iden-
tificar outros leitores da rede que partilham o mesmo título. Estes aspetos
são fundamentais para organizar a “biblioteca” pessoal e facilitar a pesquisa
e consulta de publicações.
67 Cf. Fowler, Nina. (2013).
http://venturevillage.eu/
dotdotdot-seed-funding-htgf
Em baixo: pormenor da
homepage do website https://
www.dotdotdot.me
Ao lado e em baixo:
detalhe da “biblioteca”
pessoal. Note-se que os
human computer interfaces
da aplicação (app) para
iPhone, iPod e iPad são
idênticos aos da aplicação
web based.
83
Note-se que a facilidade em pesquisar as publicações eletrónicas agrupa-
das no “dotdotdot” não está só relacionada com a capacidade de agrupar num
mesmo “espaço” todas as publicações mas também com a possibilidade de
sublinhar, associar tags e comentários aos textos digitais: “While you read on
dotdotdot, you are building your own personal library of long-format texts,
essentially an archive of your read knowledge. You can search all your high-
lights and quotes, tag them, sort them and never lose a inspirational thought
or text again” (blog “dotdotdot”).
Para Schinabeck também este aspeto contribui para otimizar a leitura ele-
trónica: “we believe that filtering content, linking relevant contexts, creating
a high-quality reading experience (…) are the true added values a reading plat-
form should be able to deliver” (Kozlowski, 2013).
Muito embora esta funcionalidade seja disponibilizada por outros e-book
readers (software e/ou hardware) a verdade é que, o grau de profundidade que
“dotdotdot” permite “trabalhar” os textos – sublinhando, associando comen-
tários e tags – contribui para que os resultados das pesquisas sejam mais
assertivos. Esta questão é, aliás, apontada por vários autores como um aspeto
negativo relativamente aos e-readers existentes que frequentemente apresen-
tam resultados pouco ajustados às pesquisas, criando dificuldades de seleção
para o leitor.
Através da possibilidade de associar notas às publicações eletrónicas o
“dotdotdot” contribui para o “novo” exercício da memória que anteriormente
assinalamos – sendo capaz de “armazenar as informações que nos interes-
sam e restituí-las a pedido (…) confere-se-lhe [ao cérebro humano] a possi-
bilidade de consagrar os seus recursos a outras tarefas” (Vandendorpe apud
Furtado, 2007: 100).
Em baixo: pormenor das
funcionalidades do
"dotdotdot" – possibilidade
de sublinhar e de associar
tags e comentários aos
textos digitais.
84
Relativamente à possibilidade de ler e partilhar, online e em rede com ou-
tros leitores, as obras e notas de leituras efetuadas por cada leitor importa notar
que para utilizar o “dotdotdot” é necessário criar um profile – através do e-mail,
Facebook ou Twitter. Esse profile permite ao leitor, ler, agrupar e “trabalhar”
os textos eletrónicos – sublinhando, associando comentários e tags –, e tam-
bém partilha-los com outros leitores da rede. Em entrevista ao goodereader68,
Schinabeck salienta precisamente este aspeto: “dotdotdot’s innovation lies in
its solutions to unite social reading features with as much content as possible
without having to host the texts centrally. Users can manage content in their
own private archives — that is, decentralized — and yet still enjoy the full
functionality of a social reading platform”.
Deste modo, o leitor passa a fazer parte de uma rede, mais ou menos alar-
gada, de outros leitores, partilhando as suas publicações e tendo igualmente
acesso às publicações partilhadas pelos restantes membros da sua rede. A
leitura mediada pelo “dotdotdot” inscreve-se, assim, numa prática social em
que as publicações eletrónicas e apontamentos relativos a essas obras são o
ponto de união entre leitores com gostos semelhantes (Collado, 2012: 44).
Vários autores assinalam a importância das bibliotecas e das comunida-
des de leitores para o desenvolvimento da criatividade, expressão e comu-
nicação, investigação e troca de conhecimento (Gil et al.,2011: 192; Tavares,
2013). Analisando as formas de comunicação e interação, online e em rede, do
“dotdotdot”, poderíamos afirmar que operam no contexto online, exatamente
da mesma forma. Como notam os fundadores do “dotdotdot” – “Interact in
and collaborate on all your texts; highlight, tag quotes, make comments, and
see what others are reading and commenting on. Get inspired by what other
people are reading via your community of like-minded people”. Desta forma,
o “dotdotdot” poderá também contribuir ativamente para promover a aquisi-
ção e transmissão de conhecimento.
Note-se ainda como esta característica do “dotdotdot” contribui para a re-
concetualização do leitor, tal como anteriormente mencionamos, já que os lei-
tores passam a ter um papel ativo na construção dos textos, ampliando o seu
em baixo: pormenor das
funcionalidades do
"dotdotdot" –possibilidade
partilha de dados com
outros leitores da rede.
68 Cf. Kozlowski, Michael
(2013). http://goodereader.
com/blog/electronic-
readers/dotdotdot-wants-to-
be-your-mobile-library?utm_
source=rss&utm_
medium=rss&utm_
campaign=dotdotdot-wants-
to-be-your-mobile-library
85
sentido. Reforçando esta ideia, Weyres sublinha69: “Texts expand from a sta-
tic medium to a ‘platform of knowledge’ that’s constantly growing” (Weyres
apud Wilson, 2013).
Relativamente à otimização da leitura é importante mencionar que os fun-
dadores do “dotdotdot” consideram ser determinante eliminar todos os ele-
mentos que possam contribuir para dificultar a concentração dos leitores. Para
tal, o “dotdotdot” elimina automaticamente qualquer elemento acessório ao
texto que possa interromper a leitura70: “Read texts from webpages, like blog
posts or articles, in a distraction-free format on your iPad. When you import
webtexts via our browser bookmarklet, dotdotdot clears away everything but
the content. Long-format text clean and easy to read”. Esta opção parece res-
ponder às críticas apontadas pelos autores mais resistentes à leitura de publi-
cações eletrónicas que, como vimos antes, consideram que interrupção siste-
mática da leitura – pela utilização frequente de conteúdos multimédia, hiper
e não-textuais – acentua as dificuldades de concentração dos leitores e, conse-
quentemente, cria obstáculos à aquisição e sedimentação de conhecimentos.
A par desta eliminação de conteúdos acessórios ao texto, o “dotdotdot” dis-
tingue-se ainda pela “simplicidade” do interface que se traduz, por um lado,
a nível do aspeto gráfico e, por outro, a nível da “user experience” do software.
Assim, a nível de desenho de interfaces destaca-se a utilização de uma
paleta de cores limitada, predominando o branco, preto e uma escala redu-
zida de cinzentos, sendo ainda usados pontualmente tons de azul e amarelo
que indicam os elementos selecionados. Também se destaca a utilização de
elementos gráficos predominantemente retos de distribuídos no “espaço” se-
gundo uma grelha bastante rígida. De uma forma geral, estas opções vão de
encontro à tendência do “flat design”, mencionada no capítulo anterior.
No que diz respeito à formatação do texto, salienta-se a utilização de uma
fonte serifada com um contraste e “altura-x” reduzida. No corpo de texto, são
utilizadas linhas com um comprimento de nove a onze palavras e um es-
paçamento suficientemente confortável para a leitura de textos mais longos.
Apesar do texto estar sempre justificado, a correta hifenização evita o apare-
cimento de “rios”. Saliente-se também estas opções respeitam, de um modo
geral, as recomendações da formatação de texto adequadas à leitura em ecrã.
A nível de “user experience” note-se que os modos de interação lógicos e
intuitivos, combinados com as opções gráficas mencionados, facilitam a uti-
lização do software.
Importa ainda salientar que o “dotdotdot” exclui a possibilidade de o leitor
formatar qualquer aspeto do texto. Esta opção vai, assim, de encontro à opi-
nião de alguns autores que, como vimos, consideram que, por um lado, este
tipo de opções sobrecarrega os processadores dos e-book readers, dificultando
o seu normal funcionamento e, por outro, poderá conduzir a uma formatação
deficiente do texto, dificultando a sua leitura.
69 Cf. Wilson, Mark. (2013).
http://www.fastcodesign.
com/1672489/an-app-that-
turns-digital-reading-into-a-
social-activity#1
70 Importa salientar que
existem outros sofwares
destinados à leitura de
publicações eletrónicas,
especial de páginas Web,
que também eliminam
elementos que possam ser
considerados acessórios
e que, de certa forma,
contribuem para distrair o
leitor do objecto cental – o
texto. Os mais populares
são talvez o Instapaper (Cf.
http://www.instapaper.com)
e o Readability (Cf. http://
www.readability.com).
86
Note-se também que na produção de software as equipas de trabalho se
tornam mais complexas. Este software contou, ao longos dos primeiros dez
meses do seu desenvolvimento, com uma equipa multidisciplinar constituída
por designers e web developers com diferentes competências técnicas e cien-
tíficas: Thomas Schinabeck, UX (user experience designer); Thomas Weyres,
UI (user interface designer) e diretor criativo; Jacopo Bortolato, UI; Christian
Klingler, backend developer; Christian Schlesinger e David Goldwich, frontend
developer; e Christian Beer e Oliver Greschke, iOS Developer. Contou ainda
com a ilustradora Ina Liesefeld e com Etienne Heinrich e Shai Levy para a
conceção e edição dos vídeos. As ilustrações e os vídeos presentes na landing
page destinam-se essencialmente a promover e explicar o funcionamento e
principais características do “dotdotdot”.
Atualmente, esta empresa procura71 designers e developers. Em nosso en-
tender a concentração de profissionais relacionados com design e o web de-
velopment (iOs e Javascript) denota a importância que a melhoria do software
tem para os seus fundadores.
Ainda antes de concluir a análise deste estudo de caso, interessa aqui anali-
sar o modo como as diversas forças sociais, culturais e económicas poderão in-
tervir, positiva ou negativamente, no desenvolvimento e sucesso desta aplicação.
A start up alemã apresenta o “dotdotdot” como uma plataforma indepen-
dente. Tendo incialmente contado com um investimento da High-Tech Grün-
derfonds e do investidor privado Heiko Schere, Schinabeck72 e Weyre defen-
dem que a autonomia é um fator fundamental para prosseguir a missão e
alcançar os objetivos. Segundo estes dois fundadores a dependência de apoios
ou patrocinios poderia, de alguma forma, condicionar desenvolvimento do
software e consequentemente, a a experiência da leitura que tencionam pro-
porcionar: “To us, a place or a platform that functions like a merchant and
makes money by selling content isn’t very independent. There will always be
a conflict of interest in trying to provide you the best possible reading experi-
ence and the most relevant content on one hand while trying to maximize
profits by selling you as much content as possible on the other (…) And, no,
we don’t like ads either” (blog “dotdotdot”). Assim, a manutenção deste soft-
ware estará dependente da manutenção dos apoios atuais ou pela definição
de novas formas de financiamento. Note-se que o acesso e utilização deste
software é, atualmente, gratuito.
Por outro lado, a continuidade deste software está dependente do sucesso
das várias NTIC que o sustentam. Ainda que hoje seja pouco provável o de-
saparecimento do iPhone, iPod e iPad, ou das linguagens utilizadas para o
desenvolvimento da aplicação web based, a obsolência de qualquer uma destas
ferramentas condicionará o “dotdotdot”.
Muito recentemente (julho de 2013), esta empresa assistiu a uma profun-
da remodelação na sua equipa nomeadamente com o abandono de alguns
71 Cf. http://connectingdts.
tumblr.com/jobs
72 Cf. http://connectingdts.
tumblr.com/
87
dos seus co-fundadores. As consequências da restruturação desta jovem
empresa alemã são incertas contudo, importa salientar, que essa alteração
poderá afetar, positiva ou negativamente, o desenvolvimento deste software
de leitura eletrónica.
Estes fatores levam-nos a retomar as preocupações relacionadas com a
preservação dos textos eletrónicos (Lynch apud Furtado, 2007; Darton, 2009).
Estando a preservação, a longo-prazo, das publicações eletrónicas dependente
do próprio sucesso do “dotdotdot” podemos, como aconteceu noutros mo-
mentos da breve história das NTIC, assistir ao desaparecimento do “dotdo-
tdot” consequentemente ao desaparecimento dos e-books aí arquivados.
Em jeito de balanço, existem alguns aspetos, que em nosso entender, de-
veriam ser melhorados em futuras versões deste software. Não fazendo uma
descrição exaustiva desses vários pontos, destacamos aqui alguns dos que nos
parecem ser mais pertinentes.
Em primeiro lugar, saliente-se que embora o modo de pesquisa seja mais
aprofundado relativamente a outros e-book readers, deveria, em nosso enten-
der, ser mais desenvolvido em versões posteriores, uma vez que apresenta
algumas limitações – por exemplo, não é possível pesquisar uma publicação
pelo título, pelo autor, ou outras informações relativas à edição a não ser que
o leitor tenha associado esses dados através de tags ou comentários.
Outra medida prende-se com a tentativa de eliminar elementos que pos-
sam acentuar a dificuldade de concentração. Neste ponto, parece-nos que a
possibilidade de todos os leitores poderem adicionar tags ou comentários aos
textos, poderá sobrecarregar os textos de informação, dificultando a sua con-
sulta devendo, em nosso entender, ser melhorada.
Outro aspeto que carece desenvolvimento é a capacidade de suportar um
maior leque de formatos, nomeadamente PDF. Atualmente, o “dotdotdot”
suporta apenas páginas Web e publicações eletrónicas, até 50 MegaBytes em
formato ePUB sem Digital Managment Rights (DMR) bem como publicações
RSS do Google Reader, serviço descontinuado pela Google Inc. em julho. Po-
deria também ser interessante, num futuro próximo, o desenvolvimento da
aplicação para o sistema operativo Android e, eventualmente, para Windows 8.
Importa ainda mencionar o tempo que algumas publicações eletrónicas
demoram a ser importadas e exibidas bem como a dificuldade em apresentar
corretamente algumas publicações eletrónicas em formtato ePUB (note-se
que esta falha podem decorrer da própria formatação do ePUB que, só re-
centemente, começou a ver definidas, pelo W3C, as primeiras sugestões de
formatação). Conforme vimos antes, estas questões relacionadas com o tem-
po de processamento de informação e outras falhas técnicas poderão causar
algum desconforto na utilização das NTIC.
Outra ponto que poderá ser considerado, simultaneamente um aspeto po-
sitivo e negativo, é a necessidade de funcionar online e em rede. Este modo de
88
funcionamento tem a vantagem de libertar os leitores dos constrangimentos
espaciais no entanto, a necessidade do acesso permanente contínuo a uma
ligação à Internet pode condicionar a sua utlização.
Parece-nos também importante melhorar alguns aspetos relacionados
com o modo de interagir do software e com o hardware que o sustenta. Por um
lado, passar a permitir a utilização do software em modo “portrait” e “landscape”
e não apenas num deles como acontece atualmente. Por outro, passar a recor-
rer ao scroll up/down para leitura do mesmo texto em vez do swipe, no iPhone,
iPod e iPad, e ao mouse click, no browser. As opções atuais, não só contrariam
a noção de “infinite canvas” que anteriormente salientamos como, no que res-
peita à utilização do “dotdotdot” como aplicação web based, multiplica desne-
cessariamente o número de mouse clicks necessários para ler um único texto.
Um outro aspeto a salientar, é a utilização do branco como cor dominan-
te. Esta cor contribui para o aumentar o brilho e luminosidade, o que, como
assinalamos anteriormente, pode afetar negativamente não só a leitura, mas
também a saúde e bem-estar dos leitores.
Não obstante as lacunas identificadas na versão atual do “dotdotdot” e as
melhorias necessárias em futuras versões parece-nos importante salientar
que este software se destaca, através de alguns dos aspetos apontadas, dos
outros e-readers atualmente disponíveis. Acreditamos por isso, que algumas
das características deste software, serão tidas em conta no desenvolvimento de
outros e-readers ou e-books.
Dos vários aspetos que analisamos consideramos importante salientar po-
sitivamente por um lado, a forma como o “dotdotdot” promove uma nova ex-
periência de leitura em que os leitores participarem ativamente, online e em
rede, na aquisição e transmissão de conhecimentos. Por outro, a forma como
o “dotdotdot” integra algumas das tendências emergentes ao nível do desenho
de interfaces digitais de forma a otimizar a leitura de publicações eletrónicas.
Em cima da vila –uma possível aproximação
ao formato eletrónico
91
ste capítulo tem por objectivo descrever e fundamentar as op-
ções tomadas na conceção da maqueta de uma publicação ele-
trónica. Importa, contudo, antes de iniciarmos a apresentação
desta aproximação ao livro em formato eletrónico, enquadrar o
contexto em que foi desenvolvido o projeto “Em cima da vila”
que deu origem a esta nossa proposta.
“Em cima da vila” foi produzido na segunda metade de 2011, no âmbito
do programa Manobras no Porto73, que selecionou o projeto e apoiou financei-
ramente a sua realização.
Com um carácter multidisciplinar, “Em cima da vila” procurou documen-
tar a história e cultura de uma das mais antigas e emblemáticas ruas do centro
histórico do Porto: a Cimo de Vila. Fruto de muitas e múltiplas transforma-
ções, a Cimo de Vila é hoje uma das mais cosmopolitas e multiculturais ruas
da cidade do Porto, um exemplo ímpar de convívio de uma multiplicidade
usos e costumes.
Ao longo dos meses de agosto e setembro de 2011 uma equipa constituída
por quatro elementos74 recolheu os testemunhos das pessoas que aí residiam,
trabalhavam e/ou frequentavam os seus estabelecimentos comerciais, e regis-
tou também alguns dos ambientes sonoros que caracterizavam Cimo de Vila.
Paralelamente, realizou-se um trabalho de pesquisa histórica, através da con-
sulta de bibliografia existente, que permitiu compreender a importância desta
antiga artéria medieval no contexto da história da cidade, bem como algumas
das profundas transformações urbanas e sociais que aqui ocorreram ao longo
dos tempos.
Em termos públicos, o projeto concretizou-se através:
Da criação e dinamização de uma página do Facebook75 que, ao longo do
tempo, permitiu comunicar o trabalho em curso, através da pu-
blicação de imagens relacionadas com o projeto, bem como dis-
ponibilizar informações e outras notícias associadas à Rua Cimo
de Vila ou aos apoios e parceiros institucionais.
De uma exposição, que entre 28 de setembro e 2 de outubro de 2011,
esteve patente em Cimo de Vila. Nesta mostra foi proposto um
circuito visual e sonoro constituído por 12 retratos fotográficos
de alguns comerciantes e moradores de Cimo de Vila, divididos
por dois locais de exposição – uma loja térrea, voltada para a rua,
cedida gratuitamente por uma moradora, e o largo junto à Fonte
do Cativo, um dos espaços de maior visibilidade da rua –
73 Para mais informações
sobre o programa Manobras
no Porto, cf. http://www.
manobrasnoporto.pt/
74 João Lopes Cardoso,
responsável pelo registo
fotográfico; Marta Borges,
responsável pela gestão,
produção e comunicação,
design gráfico e registo
fotográfico do projeto;
Pedro Quintela responsável
pela pesquisa histórica
e redação dos textos e
Pedro Pestana responsável
pelo registo aúdio. Contou
ainda com a participação
pontual da Ana Almeira e
José PedroLopes (Anexo 82
Produções), que registaram
em vídeo alguns dias
de trabalho.
75 Cf. http://www.facebook.
com/pages/Em-cima-da-
vila/128320217265324
EIntrodução ao projeto
“Em cima da vila”
Página anterior: artigo
de imprensa – Duarte,
Mariana (2011) "A rua
cimo de vila está boa
e recomenda-se" in
TimeOut Porto, Outubro
2011, pp. 10
92
e por um percurso sonoro que permitiu aos visitantes munidos
de auscultadores wireless, disponibilizados pela equipa, percor-
rerem a rua em busca dos cinco transmissores. Em cada um
deste locais era possível ouvir diferentes paisagens sonoras que
combinavam sons ambiente e excertos de entrevistas. A conce-
ção de cada um dos cinco excertos foi pensada tendo em conta o
local onde o transmissor estava colocado, de modo a relacionar
as paisagens sonoras em audição (as histórias, os locais e pro-
tagonistas mencionados, os sons ambiente característicos) com
local da rua em que o visitante se encontrava.
Uma pequena publicação constituída por um conjunto de 12 postais, de
210 por 148 milímetros (formato A5, na horizontal), impressos
a uma cor, em papel couché de 250 gramas. A frente de cada
postal apresentava uma imagem, tendo sido selecionadas 12 fo-
tografias distintas daquelas que foram utilizadas na exposição.
Com carácter diverso, este conjunto de imagens retratava dife-
rentes ambientes de Cimo de Vila e dos usos e costumes das
suas “gentes”. Distribuído pelo verso dos vários postais, cons-
tava uma apresentação genérica do projeto e da equipa; um tex-
to acerca da evolução histórica, económica e social de Cimo de
Vila; os agradecimentos a todos que contribuíram direta ou in-
diretamente para a concretização do projeto; e ainda um mapa
da rua Cimo de Vila, Cativo e Chã com a sinalização dos cinco
pontos de transmissão áudio e a indicação da força do sinal ao
longo do percurso. Foram impressos 250 exemplares (de cada
um dos 12 postais) que foram cedidos gratuitamente a quem
visitou esta exposição.
Em baixo: à esquerda, vista
da exposição patente
na loja térrea de Cimo
de Vila; à direita, dois
visitantes munidos de
auscultadores wireless,
ouvindo a paisagem sonora
transmitida junto à Igreja
da Ordem do Terço.
93
Da criação de um website4, que possibilitou apresentar a um público mais
alargado, o projeto, a equipa, e as fotografias expostas. Este website
permitiu também, através da hiperligação a várias galerias de
Flickr, comunicar alguns resultados do trabalho realizado ao longo
do tempo e ainda disponibilizar, em formato PDF, a publicação de
12 postais anteriormente descrita.
Já em 2012, o projeto “Em cima da vila” foi apresentado, a 29 de fevereiro, no
Workshop Internacional musiCULT II, que decorreu na Faculdade de
Letras da Universidade do Porto, e a 3 de junho, no Nau – Festival de
Cinema e Fotografia Jovem, que se realizou na Casa do Alto (Maia).
4 Originalmente disponível em
http://www.emcimadavila.
com/ está offline desde 2013.
5 Embora não exista um
apontamento rigoroso, ao
longo dos meses de agosto
e setembro de 2011, foram
tiradas cerca de 8000
fotografias, registadas cerca
de 20 horas de áudio e uma
hora de vídeo.
Em cima: Pormenor do
conjunto de 12 postais;
Em baixo: à esquerda, “Em
cima da vila” apresentado
por Pedro Pestana e João
Lopes Cardoso no Nau
– Festival de Cinema
e Fotografia Jovem e, à
direita a exposição patente
no mesmo festival.
Apesar das vários suportes e contextos de comunicação e apresentação do
projeto “Em cima da Vila”, a verdade é que muitos5 dos registos dos ambien-
tes que caraterizavam Cimo de Vila, bem como os testemunhos das pessoas
que residiam, trabalhavam ou frequentavam os estabelecimentos comerciais
aí existentes, inevitavelmente acabaram por ser excluídos.
Esta aproximação ao livro em formato eletrónico, ao recuperar e sistemati-
zar os diversos materiais produzidos no âmbito do projeto – registos sonoros,
visuais (fotográficos e videográficos) e textuais –, contribui para consolidar
o trabalho realizado, restituindo alguma da riqueza que foi encontrada em
Cimo de Vila e que, por diversos motivos, não foi anteriormente exposta.
94
Aproximação ao livro eletrónico “Em cima da vila”
esta primeira abordagem ao livro em formato digital era
fundamental invocar os conhecimentos adquiridos ao
longo deste ano lectivo e, em particular, articular a nossa
proposta com a discussão teórica apresentada no capítulo
anterior em torno de algumas das questões que hoje envol-
vem a produção, edição e distribuição de livros eletrónicos.
Assim, e recuperando o entendimento de Christian Allègre acerca dos
modos de produção de livros eletrónicos (Allègre apud Furtado, 2007: 79),
para a concretização de maqueta procedemos a uma reclassificação e reor-
denação dos conteúdos existentes tendo em conta as especificidades deste
“novo” suporte. Não só toda a documentação já apresentada publicamente foi
objeto de revisão crítica para esta nova publicação, como existem ainda nesta
proposta alguns textos, fotografias, vídeos e excertos áudio de entrevistas e
ambientes da Rua Cimo de Vila inéditos, que foram aqui reunidos pela pri-
meira vez, na sequência da avaliação realizada.
Neste trabalho de reclassificação e reordenação dos conteúdos para a
nova publicação “Em cima da Vila”, destacam-se duas estratégias fundamen-
tais que nortearam a nossa aproximação ao livro em formato eletrónico – o
storytelling e o content-centric. Esta opção é coerente com as tendências aponta-
das por diversos autores que, como vimos no capítulo anterior, as identificam
como formas emergentes de apresentação de conteúdos, capazes de tornar de
envolver, de modo mais eficaz, os leitores.
Assim, e embora a preocupação em dar a conhecer a multiplicidade de
usos e costumes encontrados em Cimo de Vila – através dos registos visuais,
sonoros e textuais – já fosse central nos vários suportes de comunicação produ-
zidos em apresentações anteriores do projeto, procurou-se nesta proposta de
livro eletrónico reforçar o storytelling como modo de seduzir o leitor. Neste novo
contexto, a história de Cimo de Vila e as estórias das pessoas que aí viviam, tra-
balhavam ou frequentavam os seus estabelecimentos comerciais ganham uma
maior visibilidade. Para além de terem sido incluídos os 12 retratos apresenta-
dos no website e na exposição, foram selecionados outros registos fotográficos
de modo complementar e enriquecer a informação, transmitindo ao leitor os
gestos e expressões destes protagonistas, bem como os ambientes em que os
envolvem. Por outro, complementou-se a informação visual com registos so-
noros e textuais que corroboram as narrativas, de forma emotiva e pessoal. Fi-
nalmente, note-se que a seleção inicial de 12 pessoas retratadas foi enriquecida
com seis novas estórias de moradores e comerciantes de Cimo de Vila.
N
95
76 URL é a abreviatura de
Uniform Resource Locator
que indica o endereço
global de documentos na
World Wide Web.
Além disso, os conteúdos foram selecionados, ordenados e editados de
forma a ganharem um maior destaque. De entre as principais opções toma-
das com o objetivo de evidenciar os conteúdos, destacam-se duas: por um
lado, as fotografias ocupam, quase sempre, grande parte do ecrã e, por outro,
os textos são acompanhados de espaço branco suficiente para “respirarem”
(Bringhurst, 2005). De forma a destacar os vários elementos textuais e não-
-textuais procurou-se ainda definir uma organização clara dos conteúdos ao
longo da “página”, optando pelo um desenho flat – ou seja, um desenho sim-
ples, com recurso a gráficos minimais, predominantemente retos, e com um
número reduzido de cores. Nesta maqueta, predomina o branco no fundo da
“página”, pontuado pelo preto e amarelo (que já tinha sido utilizado nos vá-
rios elementos de comunicação desenvolvidos em 2011, o que contribui para
manter a coerência gráfica do projeto) para elementos textuais e não-textuais.
Relativamente aos conteúdos importa salientar que se procurou mini-
mizar a presença de hiperligações para páginas Web ou outros documentos
online, de forma a evitar a interrupção sistemática da leitura e a possível difi-
culdade de concentração de modo duradouro que, como vimos, constitui um
dos principais argumentos invocados para a desvalorização das publicações
eletrónicas. As únicas hiperligações consideradas foram o URL6 para website
do programa Manobras no Porto que, conforme mencionado antes, apoiou o
projeto do ponto de vista logístico e financeiro, e as hiperligações para alguns
dos artigos da bibliografia consultada.
Como mencionamos no capítulo anterior, no desenho de human computer
interfaces é fundamental definir estruturas claras, quer ao nível da disposição
dos conteúdos na “página”, como da organização dos conteúdos ao longo da
publicação. Assim, procurou-se definir uma estrutura consistente, em que
tanto os conteúdos, como as próprias secções, estivessem claramente hierar-
quizados, de modo a facilitar a identificação de ambos. Deste modo, pretende-
-se promover uma fácil consulta dos conteúdos, evitando uma informação
dispersa e de difícil identificação por parte do leitor, o que pode constituir um
obstáculo à leitura.
Para além de uma "arquitetura" compreensível procurou-se definir for-
mas de interação familiares e constantes ao longo da publicação:
Swipe left e right permite navegar sequencialmente entre capítulos e, no caso
de galerias de imagens, navegar sequencialmente entre imagens;
Swipe up e down permite “rolar” (scroll) os conteúdos;
Single tap permite abrir e fechar janelas “pop up” e reproduzir os trechos
de áudio e vídeo;
Single tap no topo do ecrã permite abrir o índice de conteúdos.
Finalmente, a rotação do dispositivo permite alterar o formato da "página"
horizontal para vertical, e vice-versa.
De cima para baixo:
diagramas das formas de
interação – swipe up, swipe
down, swipe left, swipe right
e single tap.
96
em baixo: Diagrama da arquitetura da
publicação eletrónica "Em cima da vila" e
dos conteúdos incluídos
legenda
T
▶
▶
"Página" com menu
Sucessão de "páginas"
Conteúdo textual
Conteúdo não textual: imagens
Conteúdo não textual: áudio
Conteúdo não textual: vídeo
"Página" de conteúdo
Conteúdo inédito*Página MasterN.º
Apresen- tação
Aponta-mentos
(...)
Com os ouvidos
(...)
Percursosonoro
(...)
Em cima da vila
(...)
Gentes eestórias
(...)
Equipa
Agradeci-mentos
T
T
T
T
T
T ▶
T ▶
T
T ▶
Capa Apoio à leitura
Índice
T T▶ * * *
*
*
*
*
*
*
1 2 2
1
2 6
3
4
4
3
5
5
97
Conforme mencionamos no diagrama, estes modos de interação apare-
cem descritos num "capítulo" próprio – Apoio à leitura –, de forma a facilitar
o manuseamento desta publicação por leitores menos habituados à utilização
de ecrãs multitoque (e-book readers, smartphones, phablets e tablets).
As formas de interação adotadas, em especial o conjunto de gestos swipe
(right, left, up e down), procuram explorar a noção de “infinite canvas” onde,
como anteriormente mencionamos, os conteúdos são organizados num pla-
no infinito que pode ser percorrido pelo leitor em todas as direções. Deste
modo, procura-se ultrapassar os constrangimentos físicos da página impres-
sa e, simultaneamente, evitar a sua mimetização nos suportes digitais. Parti-
lhamos, assim, da visão proposta por autores como José Manuel Lucía (2012)
que têm defendido a necessidade de estabelecermos um distanciamento críti-
co relativamente às publicações impressas, fundamental para que possam ser
concebidas e produzidas novas soluções de leitura especialmente adequadas
aos suportes eletrónicos.
Muito embora o leitor possa consultar os conteúdos de forma linear e sequen-
cial, quer através da combinação de gestos swipe left/right, quer através do índice
de conteúdos ativado pelo single tap no topo da “página”, optou-se por desenvolver
um índice de conteúdos sob a forma de “start screen” – onde por um lado, todos os
conteúdos estão imediatamente visíveis, e por outro, não define uma ordem clara
de consulta. Desta forma, procurou-se dar ao leitor autonomia para determinar o
seu percurso “em cima da vila”.
Ao lado: maqueta do
"capítulo" Apoio à leitura,
com representação
das metáforas
gráficas utilizadas.
98
Ao lado: maquete do
"capítulo" Índice sob a
forma de startscreen.
Em baixo: maquete do
"capítulo" Gentes e estórias
(...) exige o recurso ao
swipe up e down para a
seleção de "páginas"
99
Para além das formas de interação familiares para leitores com alguma
experiência na utilização de ecrãs multitoque, considerou-se fundamental de-
finir metáforas compreensíveis e constantes ao longo da publicação, nomea-
damente nas utilizadas para indicar a presença e modo de interação com hi-
perligações, janelas pop up, bem como os ficheiros áudio (Play, Stop e Pause).
Também a escolha das fontes mereceu a nossa atenção, entendendo-se
que estas poderão funcionar como um outro código importante para compre-
ender os conteúdos da publicação.
Nesta proposta, e novamente privilegiando a coerência com a linguagem
gráfica utilizadas nos suportes previamente desenvolvidos, optou-se por man-
ter a utilização da fonte Bazar para a descrição dos títulos. Esta fonte foi dese-
nhada pela designer Olinda Martins com o objetivo de criar uma fonte repre-
sentativa da identidade cultural da cidade do Porto. Como referido, esta fonte
foi utilizada no desenho dos vários elementos de comunicação desenvolvidos
em 2011, importando referir que foi o conceito proposto para esta fonte que
motivou a sua escolha para a identidade visual de um projeto que trabalha
justamente sobre a história e a identidade em transformação de uma rua em-
blemática do centro histórico da cidade do Porto.
Já no corpo de texto optou-se por substituir a fonte DIN, que tinha sido
escolhida por permitir a sua utilização em corpos muito pequenos, mantendo
a legibilidade do texto, pela família ITC Officina Serif e ITC Officina Sans. No
essencial, as razões para esta alteração prendem-se com o facto da DIN, fonte
não serifada, não ter uma correspondente serifada considerada necessárias
para a apresentação dos vários elementos textuais desta publicação eletrónica.
Ao lado: maqueta da
"página" José Vilela,
incluída no capítulo
Gentes e estórias de cimo de
Vila e representação das
metáforas gráficas para
reproduzir o áudio e abrir
a janela pop up.
101
Lançada em 1990, pelo designer Erik Spiekermann, a família ITC Officina
Serif e ITC Officina Sans foi criada procurando responder às necessidades
impostas pela impressão a laser com baixa qualidade. Entretanto, esta fonte
tornou-se bastante popular, tendo sido aplicada noutros media. A nível de de-
senho das letras, a fonte caracteriza-se por formas muitos simples e conden-
sadas. Apresenta ainda ascendentes e descententes curtas e uma altura-x con-
fortável. Tanto a ITC Officina Serif como a ITC Officina Sans permitem, em
nosso entender, uma leitura agradável e ainda uma boa conjugação com a Ba-
zar. Por outro lado, esta família apresentava a quantidade de pesos adequados
aos textos, bem como às hierarquias que era necessário definir. Optou-se por
utilizar a fonte serifada (ITC Officina Serif) em textos mais longos o que, como
vimos no capítulo anterior, tende a facilitar a leitura. Reservou-se a utilização
da fonte não-serifada (ITC Officina Sans) para legendas e outras indicações.
Também a cor e posição das fotografias permitiu estabelecer códigos facil-
mente compreendidos pelos leitores. Definiu-se uma hierarquia de imagens
assentes na cor e na posição relativamente ao texto:
As imagens apenas a uma cor correspondem a ilustrações não interativas.
Temos assim as imagens a amarelo, que estáticas e num layer
abaixo do texto, e as imagens a preto, que se movem acompa-
nhando o texto no swipe up/down.
As outras imagens, a várias cores, indicam a presença de galerias de fo-
tografias e que, de uma forma geral, têm maiores dimensões,
podendo inclusivamente ocupar a totalidade da “página”.
Através destas relações de layers, procurou-se simular o parallax scrolling
que descrevermos no capítulo anterior.
The quick brown fox jumps over the lazy dog
The quick brown fox jumps over the lazy dog
The quick brown fox jumps over the lazy dogThe quick brown fox jumps over the lazy dog
The quick brown fox jumps over the lazy dog
The quick brown fox jumps over the lazy dog
The quick brown fox jumps over the lazy dogThe quick brown fox jumps over the lazy dog
ITC Officina Serif Book
ITC Officina Serif Book italic
ITC Officina Serif Bold
ITC Officina Serif Bold italic
ITC Officina Sans Book
ITC Officina Sans Book italic
ITC Officina Sans Bold
ITC Officina Sans Bold italic
Página anterior: Martins,
Olinda – Bazar Medium
– Espécime tipográfico
da identidade cultural
portuense. In: VELOSO, A;
DIAS, N; MARTINS, O.;
AMADO, P – II Encontro
Nacional de Tipografia.
Aveiro: Universidade de
Aveiro, 2012. ISBN 978-
972-789-348-5. Atas da
Conferência.
Em cima: ITC Officina Serif
e ITC Officina Sans
102
103
A nível de formatação da página optou-se por uma grelha modular capaz
de traduzir, a nível concetual, a estrutura da Rua Cimo de Vila que, conforme
descrito no texto Apontamentos acerca da evolução histórica, urbana e social de
Cimo de Vila se desenvolve com ritmos relativamente diferenciados, contri-
buindo para uma certa heterogeneidade seja ao nível do perfil do edificado,
seja ao nível dos espaços públicos (ruas, pracetas, etc.). Por outro, a adoção da
grelha modular vai de encontro a algumas das exigências práticas do respon-
sive design – desenvolver de “páginas” capazes de melhorar a experiência de
leitura, independentemente do equipamento utilizado pelo leitor para consul-
tar a determinado conteúdo –, facilitando a reorganização dos conteúdos quer
o leitor opte pela leitura da “página” na vertical (portrait) ou na horizontal
(landscape).
Muito embora seja dada ao leitor possibilidade de alterar a orientação do
e-book reader, nos testes realizados concluímos que alguns dos “capítulos”
deste livro funcionam melhor apenas numa das posições. Por esse motivo, as
"páginas" incluídas no "capítulo" Gentes e estórias de Cimo de Vila apenas po-
dem ser consultadas no formato horizontal, sendo sugerido ao leitor, através
de uma mensagem gráfica, que altere a posição do e-book reader.
Definiu-se assim seis páginas master procurando, em cada situação, ade-
quar a disposição dos elementos textuais e não-textuais à sua natureza.
Página anterior: maqueta
da "capítulo" Apresentação
e detalhe da hierarquia de
imagens assentes na cor e
na posição face ao texto.
Em baixo: maqueta da
"capítulo" Equipa com
"página" na vertical e
na horizontal segundo
a grelha modular
previamente definida
104
77 Cf. http://www.magplus.
com/
A compreensão das especificidades destes “novos” suportes, os seus limi-
tes e constrangimentos, procurando evitar a mimetização o tipo de propostas
gráficas e editoriais anteriormente desenvolvidas para o suporte impresso e a
vontade de aplicar os conhecimentos adquiridos levou-nos, desde logo, a afas-
tar alguns dos formatos digitais frequentemente utilizados em publicações
eletrónicas. Como vimos anteriormente, o formato PDF para além da sua
universalidade tem a vantagem de permitir um grande controlo do desenho
das páginas. Já os formatos ePUB e Mobi apesar da sua universalidade e ade-
quação aos e-book readers não permitem um domínio rigoroso do desenho das
páginas. Pode-se considerar, portanto, que estes três formatos (PDF, ePUB e
Mobi) são ainda um pouco limitados no que toca aos modos de interação, não
permitindo concretizar alguns aspetos que, em nosso entender, são hoje con-
siderados fundamentais para o desenvolvimento de publicações eletrónicas
capazes de explorar as potencialidades deste “novo” contexto.
Neste ponto, importa referir que atualmente o formato ePUB3 – fixed
layout permite um maior controlo do aspetos gráficos da “página”. Contudo,
tende ainda a mimetizar contudo algumas caraterísticas do livro impresso
(nomeadamente, a tentativa de reproduzir o “virar da página”) que, em nosso
entender, não contribuem para melhorar a leitura e sacrificam o aspeto grá-
fico da publicação eletrónica. Por outro lado, este formato ainda não permite
algumas das formas de apresentação e de interação que aqui descrevemos.
Porém, como formato open source poderá conhecer melhorias significativas a
estes níveis, consideramos portanto importante acompanhar o seu desenvol-
vimento bem como a forma como os diferentes e-book readers o interpretam.
Concluiu-se, assim, que atualmente a alternativa mais adequada para a apre-
sentação da publicação eletrónica “Em cima da vila” é como aplicação (app).
Após uma pesquisa a nível de software, optámos por experimentar o
Mag+77, um plug-in para o software Adobe InDesign. Esta opção prendeu-se
com a possibilidade de, por um lado, trabalhar numa aplicação de que nos
é familiar – o Adobe InDesign – e, por outro, por permitir a ligação a um
dispositivo de leitura (neste caso, o iPad), possibilitando a realização de testes
sucessivos até se se chegar uma proposta de human computer interfaces consi-
derada satisfatória.
Contudo, a utilização deste plug-in evidenciou alguns dos constrangimen-
tos à conceção, produção, edição e distribuição de publicações eletrónicas. Em
primeiro lugar, confirmou-se a necessidade de reunir equipas multi e inter
disciplinares, capazes de trabalhar conteúdos de diferentes naturezas para este
meio específico e, sobretudo, garantir uma passagem bem sucedida do protó-
tipo ao produto final (a publicação eletrónica propriamente dita). Trata-se de
um aspeto-chave que, como vimos, não só é frequentemente apontado por
diversos autores, como também se revelou crítico para a concretização, mais
ou menos bem sucedida de todos estudos de caso anteriormente analisados.
105
8 Cf. http://developer.apple.
com/programs/ios/
Em segundo lugar, a utilização deste plug-in comprovou os elevados cus-
tos associados à produção de um livro eletrónico. Para além do oneroso in-
vestimento em honorários associados aos recursos humanos especializados,
importa considerar ainda os custos elevados relacionados com os recursos
logísticos – hardware e software. A este nível importa salientar que, apesar de
ser possível simular a utilização e leitura de um livro eletrónico no compu-
tador pessoal (por exemplo, simular o ecrâ do iPad num computador pesso-
al) com recurso a software específico, como vimos anteriormente, algumas
questões relacionadas ergonomia e outros aspetos físicas associados à leitura
são totalmente distintas, nomeadamente, a posição mais ou menos contraída
e a distância relativamente ao ecrã que poderá condicionar algumas opções
gráficas. Assim, idealmente, todos os testes devem ser realizados no hardware
específico para o qual as publicações estão a ser desenvolvidas.
Por outro lado, também os softwares têm custos elevados. No caso do o
Mag+, plug-in selecionado para esta publicação, será necessário suportar um
valor entre os 399 e os 999 dólares norte-americanos para a edição de “Em
cima da vila”, para um tipo de e-book reader. A estes custos somam-se os da
distribuição na respetiva loja (no caso do mercado da Apple, 99 dólares norte-
-americanos/ano pela licença de developer e 30% de comissão sobre o preço
da publicação8). Assim, para a concretização e distribuição deste projeto no
mercado da Apple seria necessário, pelo menos, um capital inicial entre os
295 e os 815 Euros.
Em baixo: maqueta da
"capa" da publicação
"Em cima da Vila"
(com vídeo a ocupar a
totalidade do ecrã) e, ao
lado, icon da app.
106
ntes de concluir-mos este capítulo de apresentação e fun-
damentação das opções tomadas no desenvolvimento
desta maqueta, importa salientar que o conjunto de docu-
mentos relativos à maqueta do livro eletrónico “Em cima
da vila”, apresentados neste relatório, pretendem ser uma
primeira aproximação ao formato digital. Efetivamente,
no âmbito da dissertação de final de mestrado em Design Gráfico e Projetos
Editoriais preocupamo-nos sobretudo em estudar um conjunto de soluções
ao nível do desenho dos human computer interfaces bem como editar os con-
teúdos selecionados de modo a faciliter o posterior desenvolvimento desta
publicação. Note-se que para esta maqueta:
Desenvolvemos, selecionamos e editamos todos conteúdos textuais e não
textuais;
Definimos a organização dos conteúdos e da publicação;
Definimos os modos de interação;
Desenhamos os human computer interfaces;
Realizamos ainda testes específicos dos modos de interação definidos e
dos human computer interfaces desenhados;
Realizamos uma maqueta, utilizando o plug-in Mag+, bem como produzi-
mos um breve vídeo descritivo acerca da organização dos conte-
údos da publicação e das formas de interação definidas.
O desenvolvimento desta maqueta permitiu-se ainda tomar contacto com
aspetos relacionados com a produção, edição e distribuição de livros eletró-
nicos. Embora não tenha sido publicado e distribuído o livro eletrónico “Em
cima da vila”, os estudos efetuados possibilitaram-nos ganhar uma maior
sensibilidade para a dimensão económica deste tipo de projectos e aos eleva-
dos custos de produção frequentemente associados. Atendendo aos elevados
custos de licenças para utilização dos softwares e plug-ins necessários à produ-
ção e distribuição do livro, considera-se fundamental reunir uma equipa inter
e multidisciplinar, dotada de competências sólidas a nível de domínio de lin-
guagens como, por exemplo, HTML5, XML, CSS3 e SVG. Uma equipa com
estas caraterísticas poderá estar em melhor posição para desenvolver uma
solução específica e independente para esta publicação, reduzindo significati-
vamente os custos logísticos.
De igual modo, considera-se fundamental que, no futuro desenvolvimen-
to do projeto, haja uma permanente preocupação em acompanhar a evolução
das NTIC, seja ao nível dos formatos, seja ao nível do software e hardware.
O trabalho desenvolvido e perspetivas futuras de trabalho
a desenvolver
A
107
Designadamente, parece-nos que será importante acompanhar – e, se pos-
sível, contribuir – a evolução do formato open source ePUB3– fixed layout, no
sentido de melhorar as formas de apresentação e de interação na produção de
publicações eletrónicas de caráter comercial ou independente.
Finalmente, enquanto designers gráficos importa assumir um papel proa-
tivo nestes processos, promovendo a discussão em torno dos modos de dese-
nho para suportes digitais, contribuindo para o desenvolvimento de soluções
mais adequadas ao nível user interfaces e sua manipulação. Estes desafios im-
plicam necessariamente uma predisposição do designer para um diálogo in-
terdisciplinar, reforçando as suas competências ao nível técnico e tecnológico,
integrando novas preocupações e saberes, ajustando-se às necessidades e às
exigências do contexto contemporâneo. Como refere Mário Moura (2013), os
designers devem hoje reunir um leque alargado de competências, combinan-
do novos e “velhos” saberes da profissão. Em primeiro lugar, devem conhecer
as estratégias mais adequadas para a composição e edição centradas no texto e
na leitura. Devem também dominar noções mínimas de programação, edição
de áudio, vídeo e imagem. “Um bom profissional deverá ter a capacidade para
decidir qual a ferramenta a usar num dado trabalho ou numa dada altura.”.
E, finalmente, devem desenvolver um discurso crítico e articulado em torno
do seu trabalho.
Para aceder à maqueta da publicação eletrónica
"Em cima da vila" utilize a hiperligação:
http://indigo.com.pt/mdgpe/
109
Notas finais
Ao longo deste trabalho, procuramos analisar e discutir al-
guns dos principais contornos do processo de transfor-
mação das publicações impressas para a miríade de novos
suportes eletrónicos. Importa, assim, aproveitar este últi-
mo capítulo para, em jeito de conclusão, apresentar algu-
mas notas finais que ajudem a sintetizar um conjunto de
aspetos que consideramos fundamentais, mas também que ajudem a identi-
ficar alguns domínios que nos parecem relevantes para futuras investigações.
Um primeiro ponto a destacar é o carácter profundamente circular e algo
hermético da longa discussão em torno da “morte do livro” que, desde me-
ados da década de 1990, vem animando os meios científicos. Embora seja
evidentemente importante e pertinente discutir questões como: que novas
formas o livro impresso vai assumir; quais os impactos da passagem do livro
impresso para o digital; ou ainda, de que modo podemos definir o livro elec-
trónico, a verdade é que, decorrida mais de década e meia, sob este debate,
se pode concluir que esta discussão se encontra hoje num certo impasse.
Contudo, um pouco à margem deste debate, tem-se vindo a assistir a uma
situação algo paradoxal: não só existe um notório incremento do mercado de
e-books e e-books readers, como o próprio mercado editorial “tradicional” se re-
vela resiliente face à anunciada “morte do livro”, com um contínuo aumento
do número de livros impressos, tanto em Portugal como um pouco por todo o
mundo. Pode-se, assim, concluir que, ao contrário do que foi frequentemente
anunciado, existe hoje uma coexistência entre estes dois tipos de publicações:
as impressas e as eletrónicas.
Um segundo aspecto a salientar da análise realizada, este agora diretamen-
te relacionado com as publicações eletrónicas, prende-se com o papel decisivo
que as indústrias de desenvolvimento de hardware e software têm vindo a as-
sumir neste processo de transformação do mundo editorial, condicionando-o
e orientando-o. De facto, como procurámos evidenciar neste trabalho, toda a
investigação, produção, edição e distribuição de e-books está fortemente condi-
cionada pelas tecnologias existentes, que por seu turno, estão dependente das
opções estratégicas definidas por estes novos agentes do universo editorial.
Constatou-se ainda, por outro lado, uma certa confluência de interesses da
indústria de desenvolvimento de hardware e software e do setor editorial em
torno do controlo e proteção da distribuição de livros eletrónicos. Neste sentido,
nos últimos anos, estas indústrias têm procurado desenvolver uma série de
medidas de controlo da produção e distribuição, implementando sofisticadas
técnicas de proteção contra a cópia e a “pirataria”.
110
As estratégias ao nível do desenvolvimento e comercialização de hardware
a par do enfoque nas questões da proteção da cópia tem penalizado a produ-
ção e distribuição de e-books e e-book readers inovadores, cuja evolução tem
sido, nesta perspetiva, relativamente lenta. Embora existam livros eletrónicos
verdadeiramente arrojados, como procurámos evidenciar através da análise
realizada neste trabalho, muitos dos e-books e e-book readers tendem ainda a
mimetizar o suporte “tradicional”, em papel.
Na realidade, como têm apontado diversos investigadores, e como também
foi afirmado pelo conjunto de autores entrevistados no âmbito desta investi-
gação, para contrariar a tendência para a cópia (hoje facilitada pela Web 2.0)
e motivar os leitores para a compra destas publicações, é urgente apostar na
melhoria dos conteúdos dos livros eletrónicos e nas formas de distribuição.
É igualmente crucial reforçar as estratégias de interação e contacto entre
leitores, autores e editores. Os estudos de caso realizados apontam justamente
neste sentido, evidenciando novas estratégias de partilha de conteúdos, enri-
quecendo a relação “tradicional” não só autor-leitor, mas também leitor-leitor.
Finalmente, os vários autores entrevistados sublinham ainda a importância
de questionar as formas tradicionais de distribuição, apelando à inovação, e
apontado novas direções ao nível dos apoios à edição e à distribuição direta,
numa lógica do-it-yourself e independente, que importa continuar a estudar e
problematizar do ponto de vista teórico e prático.
Um estudo recentemente publicado pelo CEPS Digital Forum revela
que, por um lado, os indivíduos tendem a combinar a aquisição ilegal com a
aquisição legal fazendo grandes investimentos na compra de conteúdos (seja
em formato digital, seja em formato “físico”), por outro, que a reincidência
na atividade ilegal se deve sobretudo à dificuldade de acesso aos conteúdos,
seja pelo seu preço elevado seja pela sua indisponibilidade: “According to the
study, Internet users infringe copyright because of excessive costs, prices, and
because of their limited financial resources. The study suggests that a cheaper
access to legal services, along with a wider availability and a faster release of
content, is the main factor that would encourage infringers to stop illegal ac-
tivities and subscribe to online content services” (Mazziotti, 2013: 130).
Um terceiro aspeto que gostaríamos aqui de salientar prende-se com o
facto de muitas questões relacionadas com a leitura em suportes digitais e as
suas consequências físicas e cognitivas estarem ainda pouco estudadas e do-
cumentadas. Neste trabalho procurámos, de modo exploratório, estabelecer
algumas relações com estudos realizados tanto ao nível da leitura em supor-
te impresso como digital (traçando alguns paralelismos com a consulta de
páginas Web) e ainda ao nível dos consumos de jogos eletrónicos. É contu-
do evidente a necessidade de aprofundar muitas destas questões, realizando
estudos específicos sobre as consequências físicas e cognitivas associadas à
leitura de livros digitais.
111
Finalmente, um quarto e último aspecto merece ser aqui salientado, leva-
-nos a citar as questões colocadas por Hugh McGuire: "How appropriate is
the visual narrative style for the format? What effect do the added features
of voice and movement have on the reading experience? What qualities do
the interactive features add to the experience? Are there features that inter-
rupt the comprehension experience for the reader? What experiences can
the digital world offer that print alone cannot readily do? What can the print
world continue to offer for which digital experiences may have limitations?"
(McGuire apud Webb, 2012: 11) – em resumo: que desafios este complexo
processo de transformação coloca ao modo de produzir, editar e distribuir
publicações eletrónicas?
Não cabe a este estudo dar uma resposta cabal este conjunto de questões,
podendo ser, contudo, apontadas algumas pistas para reflexão e investigação
profunda. Como vimos, o grande desafio que hoje se coloca às publicações
digitais é evitar mimetizar o suporte “tradicional” promovendo possibilitando
novas publicações e formas de leitura.
Para responder a este desígnio, os designers têm hoje que se reinven-
tar, não só reforçando algumas das suas competência tradicionais (ao nível
da tipografia e da legibilidade, por exemplo), mas também adquirindo novas
competências (ao nível da programação e da produção e utilização de conteú-
dos multimédia). Importa ainda que os designers contemporâneos ganhem
consciência da importância de conseguirem estabelecer um diálogo interdis-
ciplinar com profissionais de outras áreas que são hoje fundamentais para
concretizar projetos com a exigência e complexidade (técnica, tecnológica e
financeira) associada ao universo das publicações digitais. Este é pois, em sín-
tese, o grande desafio que hoje se coloca ao design gráfico e editorial: contri-
buir de forma crítica, informada e actualizada para o debate teórico e prático
acerca da evolução dos livros eletrónicos.
Procurámos também nós, através da elaboração deste trabalho de investi-
gação, análise e discussão crítica, bem como do projecto prático que o com-
plementa e que com ele se articula estreitamente, contribuir para este debate
e para este novo posicionamento da nossa profissão perante este conjunto de
importantes desafios contemporâneos.
113
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