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John Doe – o livro no mundo digital Marta Borges

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John Doe –o livro no mundo digitalMarta Borges

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Trabalho de Projeto para obtenção do grau de Mestre

em Design Gráfico e Projectos Editoriais

Orientador Professor Doutor Mário Moura,

Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto

Co-orientador Professor Jorge Silva

Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, 2013

Marta Borges

n.º 111258001

John Doe –o livro no mundo digital

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No decorrer desta investigação pude contar com o apoio de diversas pessoas

que, de diferentes modos, contribuíram para que este trabalho fosse possível.

Agradeço, em primeiro lugar, ao Professor Doutor Mário Moura e ao Professor

Jorge Silva, todo o apoio e trabalho de orientação ao longo de todo este processo.

Agradeço a André Letria e a Peter Bil'ak pela disponibilidade e abertura para

responder a algumas das minhas questões. A sua atenção foi fundamental

para o desenvolvimento desta investigação. 

Agradeço a Jonathan Westin pelo interesse e apoio bibliográfico. 

Agradeço aos professores e colegas do Mestrado em Design Gráfico e Proje-

tos Editoriais. Um obrigado especial ao Professor Doutor Eduardo Aires pelo

apoio e compreensão e ao Professor Doutor Dinis Cayolla pelo apoio bibliográ-

fico e metodológico, à Ana Palma, à Ana Timóteo e à Lara Meleiro, companhei-

ras de mestrado e de debate.

Agradeço à Ana Isabel Almeira, João Lopes Cardoso, José Pedro Lopes e

Pedro Pestana por todo o incentivo e apoio para a realização deste projeto.

Agradeço ao Pedro Quintela pela presença constante e apoio incondicional.

Agradeço também aos meus pais e família pela preocupação constante.

Agradeço ainda aos meus amigos pelo apoio e pelos momentos de evasão ao

trabalho. Uma palavra de especial apreço ao Tiago Romeu e à Vania Rodrigues

que, desde o início, me entusiasmaram a realizar este trabalho.

Por fim, o reconhecimento a todos os autores dos textos consultados ao longo

de toda esta investigação.

Agradecimentos

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Este projeto de investigação, de cariz teórico-prático, centra-se na problemá-

tica da mudança e transformação do mundo editorial contemporâneo, pro-

curando analisar e discutir criticamente algumas das principais implicações

destas mudanças ao nível do designa gráfico e editorial, a diversos níveis.

Partindo do pressuposto de que são hoje ainda, em larga medida, impre-

visíveis os contornos desta mudança e o seu desfecho, procura-se analisar

os diversos modos como se tem vindo a pensar e concretizar esta passagem

da edição em papel para os novos suportes digitais. Em particular, procura-

-se discutir prospetivamente qual poderá ser o contributo do design para o

enriquecimento da experiência da leitura e as competências por ela desen-

volvidas, nomeadamente através de propostas criativas inovadoras capazes

de aproveitarem as potencialidades e desafios que o digital suscita, mas que,

simultaneamente, consigam compreender as especificidades destes suportes,

seus limites e constrangimentos, evitando assim, de algum modo, mimetizar

para o digital o tipo de propostas gráficas e editoriais existentes para o suporte

em papel.

Desenvolve-se, assim, uma análise de enquadramento teórico-concetual,

tendo por base a diversa literatura existente acerca do modo como se está a

desenvolver a passagem do papel para o digital. Este trabalho de discussão

teórica é complementado por três estudos de caso (o livro “Incómodo”, de An-

dré Letria, a revista “Work That Works” e a aplicação “dotdotdot”) que permi-

tem ilustrar e discutir criticamente essa passagem e, deste modo, identificar

"boas" e "más" soluções do ponto de vista gráfico, mas também do ponto de

vista da leitura.

Finalmente concluiu-se, a partir da revisão e discussão teórica e da análise

de estudos de caso, apresentando uma discussão acerca das soluções gráficas

e tecnológicas encontradas em cada um dos casos abordados, bem como da

identificação de problemas, dilemas e pistas de investigação que se considera

útil prosseguir futuramente.

Num segundo momento, e tomando em consideração a análise e discus-

são teórica realizada anteriormente, foi desenvolvida uma maqueta de um tra-

balho prático de design gráfico e direção de arte. A partir da análise do projeto

“Em cima da vila” e da organização e seleção dos diversos documentos por ele

produzidos, desenvolve-se uma proposta de trabalho que permita desenvol-

ver a “passagem” para o suporte digital. O objetivo deste exercício gráfico foi

evidenciar não só os principais constrangimentos que esta passagem implica,

mas também os desafios e as oportunidades que o design editorial em supor-

tes digitais suscita.

Resumo

Palavras-chave

leitura; livros; e-books;

design editorial;

design para suportes digitais.

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This theoretical-practical research project focuses on change and transforma-

tion of contemporary publishing world, trying to analyze and critically dis-

cuss some of these changes’ major implications in what concerns graphic

and editorial design.

Assuming that the contours of this change and its outcome are largely un-

predictable, this research seeks to analyze the several and different ways this

passage from the paper edition to the new digital media has been thanked and

realized. In particular, we seek to prospectively discuss what might be the con-

tribution of design to enrich the reading experience and skills developed by it.

Thus, it is developed an analysis of theoretical and conceptual framework,

based on a diverse literature on this subject. This theoretical discussion is

supplemented with three case studies (the book "Incómodo" by André Letria,

the magazine "Work That Works" and application “dotdotdot") that allow us

to illustrate and critically discuss the transition from paper to digital publica-

tion and thereby identify "good" and "bad" solutions from the graphical point

of view, but also from the point of view of the reading.

Finally, from the theoretical discussion and the case studies analysis, we

conclude by presenting a discussion on graphic and technological solutions

found in each of the cases studied, as well as identifying problems, dilemmas

and future paths of research that we consider useful.

Secondly, and taking into account the previous analysis and theoretical

discussion, we developed a practical graphic design and art direction model.

From the analysis of the various documents that were produced during the

project "Em cima da vila", we seek to develop a proposal that allows a "transi-

tion" to digital. The purpose of this graphic exercise was to demonstrate not

only the main constraints that this passage implies, but also to highlight the

challenges and opportunities that the editorial design in digital media raises.

Abstract

Keywords

reading; books; e-books;

editorial design; design for the

small screens

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Índice

Apresentação

John Doe: o livro no mundo digital

A morte do livro e a sua ressurreição

O “êxtase bibliográfico” em Portugal

A (des)ordem do livro

e-book: tentativa de definição

Reconcetualização do livro no mundo digital

Mediação tecnológica, remediação e intermediação

Questões cognitivas e práticas sociais

Design editorial para suportes digitais

Estudos de caso

“Incómodo”

“Work That Works”

"dotdotdot"

Em cima da Vila: uma possível aproximação ao formato eletrónico

Introdução ao projeto “Em cima da vila”

Aproximação ao livro eletrónico “Em cima da vila”

O trabalho desenvolvido e perspetivas futuras de trabalho a desenvolver

Notas finais

Referências bibliográficas

Referências de websites consultados

Referências das imagens figuras

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Índice de figuras

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À esquerda, Alan Kay apresentando o Dyna Book.

À direita, Rocket eBook da NuvoMedia Inc..

À esquerda, Manuscrito do início do século XIII.

À direita, Bíblia de Gutenberg, também conhecida por Bíblia de 42 linhas ou B-42, que

marcou o início da impressão de livros no Ocidente.

À esquerda, conjunto símbolos desenhados por Susan Kare para software do computador

pessoal Apple Machintosh 1.0, apresentado pela Apple Inc., em 1984, um ano

depois do lançamento do computador pessoal Lisa.

À direita, computador pessoal Lisa, apresentado pela Apple Inc., em 1983.

Detalhe d0 website da Amazon.com Inc., operadora de e-commerce de vários produtos e

serviços, nomeadamente, livros impressos e eletrónico. O motor de pesquisa do

website apresenta o livro escolhido, formatos disponíveis e respetivos preços, bem

como sugestões de outros títulos relacionados com a obra selecionada.

À esquerda, capa da revista semanal norte-americana Time, edição de 3 de janeiro de 1983.

Ao centro, capa da revista semanal norte-americana Time, edição de 25 de dezembro de 2006

a 1 de janeiro de 2007.

À direita, capa da revista semanal norte-americana Time, edição de 20 de maio de 2013.

À esquerda, diagrama de tablet e e-book reader (com ecrâ retroiluminado) e suas diferenças no

modo de emissão da luz.

Ao centro, e-book reader com "tinta eletrónica", tecnologia desenvolvida em 1996 pelo MIT

Media Lab e atualmente utilizada pela maioria dos e-readers.

À direita, e-book reader com imitação do papel amarelado.

exemplificação do estudo de Émile Javal relativamente ao modo como o cérebro apreende os

textos e ao tipo de movimentos oculares – saccades – realizados neste processo.

Diagrama da planificação dos conteúdos na “infinite canvas” que pode ser percorrida, pelo

leitor em todas as direções.

À esquerda, pormenor do sistema operativo iOS 6 da Apple Inc., aplicando os princípios do

"skeuomorphic design".

À direita, pormenor do sistema operativo iOS 7 da Apple Inc., recorrendo a alguns dos

princípios do"flat design".

Em baixo, pormenor sistema operativo Win8 da Microsoft Corporation (desenvolvido a partir

de 2009 e lançado ao público em meados de 2012) percursor do "flat design".

À esquerda, Capa da edição impressa e eletrónica do "Incómodo" (Letria, 2011).

À direita, pormenor da edição impressa do "Incómodo" – desdobrável em harmónio.

À esquerda, páginas da edição impressa do "Incómodo" (Letria, 2011).

À direita, pormenor do modo de leitura/interação da edição eletrónica do "Incómodo".

diagrama da digitalização "tradicional", digitalização"futura" e do workflow de ficheiros

Editorial do primeiro número da revista Work that Works (WTW).

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Artigo "Dabbawallas: Delivering excellence" publicado no primeiro número da edição

impressa da WTW.

Artigo "Dabbawallas: Delivering excellence" publicado no primeiro número da edição

eletrónica (ePUB) da WTW.

Homepage do website https://worksthatwork.com/.

Pormenor da apresentação no browser do artigo "Dabbawallas: Delivering excellence"

publicado no primeiro número da WTW.

Área reservada do website https://worksthatwork.com/login/.

Pormenor da homepage do website https://www.dotdotdot.me.

Detalhe da “biblioteca” pessoal. Note-se que os human computer interfaces da aplicação (app)

para iPhone, iPod e iPad são idênticos aos da aplicação web based.

Pormenor das funcionalidades do "dotdotdot" – possibilidade de sublinhar e de associar tags e

comentários aos textos digitais.

Pormenor das funcionalidades do "dotdotdot" – possibilidade partilha de dados com outros

leitores da rede.

Artigo de imprensa – Duarte, Mariana (2011) "A rua cimo de vila está boa e recomenda-se" in

TimeOut Porto, Outubro 2011, pp. 10.

À esquerda, vista da exposição patente na loja térrea de Cimo de Vila.

À direita, dois visitantes munidos de auscultadores wireless, ouvindo a paisagem sonora

transmitida junto À Igreja da Ordem do Terço.

Em cima, pormenor do conjunto de 12 postais.

Em baixo, À esquerda, “Em cima da vila” apresentado por Pedro Pestana e João Lopes Cardoso

no Nau – Festival de Cinema e Fotografia Jovem.

Em baixo, À direita, a exposição patente no Nau – Festival de Cinema e Fotografia Jovem.

Diagramas das formas de interação – swipe up, swipe down, swipe left, swipe right e single tap.

Diagrama da arquitetura da publicação eletrónica "Em cima da vila" e dos conteúdos incluídos.

Maqueta do "capítulo" Apoio À leitura, com representação das metáforas gráficas utilizadas.

Em cima, maqueta do "capítulo" Índice sob a forma de startscreen.

Em baixo, maqueta do "capítulo" Gentes e estórias de Cimo de Cila a sua consulta exige o

recurso ao swipe up e down para a seleção de "páginas".

Maqueta da "página" José Vilela, incluída no "capítulo" Gentes e estórias de Cimo de Vila e

representação das metáforas gráficas para reproduzir o áudio e abrir a janela pop up.

Martins, Olinda – Bazar Medium – Espécime tipográfico da identidade cultural portuense. In:

VELOSO, A; DIAS, N; MARTINS, O.; AMADO, P – II Encontro Nacional de Tipografia.

Aveiro: Universidade de Aveiro, 2012. ISBN 978-972-789-348-5. Atas da Conferência.

ITC Officina Serif e ITC Officina Sans 95.

Maquete da "capítulo" Apresentação e detalhe da hierarquia de imagens assentes na cor e na

posição face ao texto.

Maqueta da "capítulo" Equipa com "página" na vertical e na horizontal segundo a grelha

modular previamente definida.

Em cima, maqueta do "capa" da publicação "Em cima da vila" com vídeo a ocupar a totalidade

do ecrã e icon da app.

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Apresentação

s Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC)

têm contribuido decisivamente para as rápidas e profun-

das transformações do contexto social, cultural e econó-

mico em que nos inserimos. À semelhança des outros

campos, também o setor editorial se tem alterado. Em

larga medida, os contornos desta mudança e o seu desfe-

cho ainda são imprevisíveis, pese embora o amplo e aceso debate em torno

desta problemática.

Esta investigação, realizada no âmbito do segundo ciclo de estudos em

Design Gráfico e Projetos Editoriais, da Faculdade de Belas Artes da Univer-

sidade do Porto, centra-se na análise e discussão de algumas questões rela-

cionadas com o modo como as NTIC têm transformado a produção, edição,

distribuição e receção dos livros e, em particular, dos livros eletrónicos.

O presente trabalho, é constituído, fudamentalmente, por duas partes:

uma componente teórica, que enquadra e discute as principais dimensões

que envolvem a produção, edição e distribuição de publicações digitais; e uma

componente prática, que consiste na tentativa de elaborar um livro eletrónico.

No primeiro momento da investigação procuramos discutir, com base na

diversa literatura existente, algumas das questões associadas com este tema.

Tentamos assim, acompanhar o intenso debate em torno da natureza do livro

impresso e do livro eletrónico, identificar as várias consequências – não só a

nível cultural e social mas também, físico e cognitivo – da mediação tecno-

lógica e, finalmente, enumerar e perceber alguns dos principais modos de

desenhar publicações eletrónicas.

Esta discusão teórica foi complementada pela análise de três estudos de

caso que permitem ilustrar a pluralidade de formas de produzir, editar e dis-

tribuir publicações no contexto eletrónico:

O primeiro caso selecionado foi o livro “Incómodo”, editado pela Pato Lógico

Edições em formato impresso e eletrónico (no formato app).

O segundo foi a revista internacional de design “Work that Works”, edi-

tada pelo designer Peter Bil’ak em edição impressa e eletrónica

(nos formatos PDF, ePUB e Mobi), tendo ainda alguns artigos

disponíveis, de forma gratuita, no próprio website.

Finalmente, o terceiro exemplo estudado foi o software gratuito “dotdotdot”,

desenvolvido por uma start up alemã. Destinado à leitura de pu-

blicações eletrónicas, este software pode ser utilizado quer online,

através da consulta no browser, quer através da aplicação (app)

em dispositivos iPod, iPhone ou iPad.

O nome John Doe é utilizado

para denominar indivíduos,

do sexo masculino, cuja

a identidade identidade

é desconhecida. Assim,

num contexto de

profundas alterações

com consequências ainda

incertas, onde se assiste

a um intenso debate em

torno da natureza do livro,

consideramos o título John

Doe – o livro no mundo

digital poderia sintetizar

algumas das principais

questões relacionadas com

o modo como as NTIC têm

transformado a produção,

edição, distribuição e

receção dos livros e,

em particular, dos livros

eletrónicos.

A

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Através destes três exemplos distintos, procuramos abordar algumas das

principais tendências contemporâneas em matéria de produção, edição e dis-

tribuição de publicações eletrónicas, bem como retomar algumas das ques-

tões teóricas anteriormente discutidas.

No segundo momento da investigação produzimos a maqueta de uma pu-

blicação eletrónica, na tentativa de resolver alguns dos desafios e problemas

que a passagem de uma publicação impressa para o formato digital hoje colo-

ca aos designers. Para este exercício prático partimos do projeto “Em cima da

vila”, desenvolvido em 2011 no âmbito do programa Manobras no Porto, cujo o

objetivo foi documentar uma das mais antigas e emblemática ruas do centro

histórico da cidade do Porto. Neste contexto, foram produzidos diversos con-

teúdos textuais, não-textuais e multimédia.

O desenvolvimento da componente prática implicou, em primeiro lugar,

uma cuidadosa análise da publicação impressa já existente, bem como dos

conteúdos anteriormente produzidos. Em seguida, selecionou-se e adaptou-

-se os diversos conteúdos a partir de uma apreciação crítica dos mesmos e de

uma reflexão acerca da forma de comunicação mais eficaz para a produção da

maqueta do livro eletrónico. Finalmente, elaborou-se um conjunto de docu-

mentos capazes de expressar o projeto gráfico e editorial do livro eletrónico

“Em cima da vila”, detalhando as opções de user interface e user experience de-

sign, para que no futuro esta maqueta possa ser desenvolvido por uma equipa

multidisciplinar e especializada.

Neste projeto, interessou-nos explorar o contributo do design gráfico para

o enriquecimento da experiência da leitura, tentando aproveitar as potencia-

lidades e os desafios que o digital suscita. Desde modo pretendeu-se compre-

ender as especificidades destes “novos” suportes, os seus limites e constran-

gimentos, evitando assim, de algum modo, mimetizar o tipo de propostas

gráficas e editoriais existentes para o suporte em papel.

Do ponto de vista estrutural o presente trabalho de investigação divide-se

em quatro momentos fundamentais:

Apresentação, faz uma introdução ao trabalho de investigação, aos seus

objetivos e da metolodologia que norteou a sua elaboração.

Jonh Doe: o livro no mundo digital, expõe o resultado da pesquisa e revisão

bibliográfica realizada, fazendo uma breve abordagem de algu-

mas das principais questões que se colocam à produção, edição

e distribuição eletrónica de publicações.

Em cima da Vila: uma possível aproximação ao formato eletrónico, consiste

na apresentação da componente prática e na sua análise crítica.

Notas finais, apresenta breves conclusões acerca deste trabalho de investi-

gação téorico-prático, apontado ainda um conjunto de pistas de

investigação futura.

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John Doe –o livro no mundo digital

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23

s NTIC têm alterado significativamente não só o modo

como nos relacionamos com os outros, mas também o

contexto social, cultural e económico em que nos inse-

rimos. À semelhança de outros campos, também o setor

editorial se tem transformado.

Nas últimas décadas, surgiram novas formas de pro-

dução, edição e distribuição. As NTIC e, em particular, a Internet, têm pro-

movido novas formas de produção nos mais diversos tipos de documentos

eletrónicos (bases de dados, livros, revistas, jornais e outras publicações), bem

como o desenvolvimento de novas formas de distribuição e acesso (seja em

termos de hardware, como de software para a consulta desses documentos).

Justamente neste sentido, um representante do departamento de marketing

da Editorial Presença declarou num artigo recentemente publicado na edição

online do Jornal i que “para as editoras não é necessário espaço (físico) para

armazenamento, a correcção de erros/gralhas é mais rápida e simples. Futu-

ramente, a possibilidade de tornar o e-book um produto multimédia, em que

será possível visualizar vídeos, ouvir conteúdo áudio, etc. – o que tornará a

leitura uma experiência mais interactiva – é sem dúvida uma mais-valia face

ao livro em papel” (Marques, 2013).

No entanto, importa sublinhar que as NTIC não marcaram apenas o sur-

gimento de novas formas de produção, edição e distribuição associadas aos

documentos eletrónicos. Na verdade, também o livro impresso tem conheci-

do alterações profundas a este nível. Recorde-se, por exemplo, a vulgarização

da “auto-edição”1, isto é, da publicação de conteúdos originais pelos próprios

autores, e também do print-on-demand (traduzindo, em português, “impres-

são a pedido”), ou seja, a impressão mediante o número de exemplares soli-

citados, que tem vindo a facilitar a reedição, eliminando os custos associados

à manutenção de stocks. Por outro lado, também ao nível da distribuição se

têm registado alterações importantes – por exemplo, “a editora [Zita Seabra]

lembra o caso de França, em que os editores se associaram à distribuição de

águas engarrafadas, e em outros sítios houve associações com a distribuição

de tabaco ou de cerveja” (Coutinho, 2012: 25).

Neste contexto de profundas alterações e com consequências ainda incer-

tas, assistimos a um intenso debate em torno da natureza do livro onde as

opiniões se dividem entre a defesa e a contestação do seu desaparecimento.

Para José Afonso Furtado encontramo-nos num momento paradoxal em que

“se anuncia, por um lado, a eminência do fim do reinado do livro, ou seja,

estamos situados, pelo menos imaginariamente, perante a evidência do retro-

1 Segundo José Martínez

Sousa (2010: 195-196), a

“auto-edição” ganha forma

em 1985 quando a Apple

Inc. apresenta o conjunto

computador, impressora

Laser Write e o software

de paginação PageMaker.

Desde então multiplicaram-

se os editores de texto,

edição de imagem, desenho

e paginação, ao mesmo

tempo que o acesso a um

computador pessoal se

democratizou. Em conjunto,

estas transformações

permitiram que hoje

qualquer pessoa possa

produzir os seus próprios

elementos impressos,

sem necessitar de grandes

conhecimentos técnicos

ou sem ter de fazer

avultados investimentos

em equipamentos e

matérias-primas. Mais

recentemente, têm surgido

inúmeras empresas que

se dedicam à edição de

autores independentes

proporcionando um serviço,

mais ou menos completo,

que pode englobar desde

a conceção gráfica à

impressão, distribuição e,

em alguns casos, promoção.

“Os autores pagam e

concretizam um sonho de

criança: tornam-se escritores”

(Martins, 2013: 28).

A morte do livro e a sua ressurreição

A

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cesso da cultura tipográfica a favor de um novo predomínio de meios prio-

ritariamente audiovisuais; mas por outro, não pode deixar de se reconhecer

o momento climático da eclosão da cultura baseada na tipografia” (2007:9).

Furtado caracteriza esta eclosão como um “êxtase bibliográfico” em que o se-

tor faz crescer “o discurso da citação a par do florescimento imparável das

novidades” (Guerreiro apud Furtado, 2007:10).

“Despite what is sometimes said, electronic devices are not eliminating printed books but are actually producing more of them” (Ong, 1999: 135).

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ara melhor compreender o momento paradoxal em que nos

encontramos é importante fazer um rápido enquadramento

da produção, edição, distribuição e consumo de livros, revis-

tas, jornais e outras publicações em Portugal. Importa igual-

mente perceber qual a adesão dos portugueses aos diversos

dispositivos e conteúdos eletrónicos.

Analisando os dados estatísticos relativos ao setor da edição em Portugal

comprovamos precisamente o “êxtase bibliográfico” a que se refere Furtado,

bem como a sua importância para a dinamização da economia do país.

De acordo com o relatório “Estatísticas Culturais do Ministério da Cultura

2009”, tem-se assistido a um incremento do número dos títulos impressos

em Portugal. De facto, entre 2000 e 2008, registou um aumento consistente

de títulos impresso, passando de 9.925, em 2000, para 12.040, em 2008

(Neves e Santos, 2011: 55). Este aumento do número de títulos impressos

é ainda acompanhado pelo crescimento do número de leitores e por uma

diminuição do número de “não-leitores” (Neves e Santos, 2011: 59).

No que diz respeito à importância do setor da edição em Portugal para a di-

namização da economia, estatísticas recentes revelam que, em 2011, as ativida-

des de “Edição de livros, de jornais e de outras publicações” envolveram 15,4%

das pessoas empregadas em atividades culturais e criativas (INE, 2012: 17).

Estes dados atestam ainda a relevância do setor ao nível da geração de riqueza:

dos 5,6 mil milhões de euros de volume de negócios gerados, em 2010, pelas

empresas culturais e criativas existentes em Portugal, mais de 32% estão rela-

cionados com a edição e comércio de publicações2 (INE, 2012: 19).

Ainda no que se refere à geração de riqueza, dados estatísticos comprovam

o peso significativo deste setor ao nível das exportações e das importações de

bens culturais: em 2011 os “Livros, brochuras e impressos semelhantes” fo-

ram os bens que registaram maior valor das saídas (44,1 milhões de euros

num total de 64,7 milhões de euros) representando 94,4% das exportações

de bens culturais (INE, 2012: 19). Em igual período, os “Jornais e publicações

periódicas” e os “Livros, brochuras e impressos semelhantes” importam, res-

petivamente, cerca de 79,2 milhões de euros e 49,9 milhões de euros, num

universo global de importações de 174,9 milhões de euros (INE, 2012: 20).

Assim, e não obstante os sinais de uma profunda crise por que estão

atualmente a atravessar muitas das indústrias culturais e criativas em geral

e, em particular, o setor editorial – com vários casos de encerramento de

livrarias e de insolvência de editoras e distribuidoras3 – importa destacar,

desta breve análise dos dados estatísticos mais recentes, a relevância que,

2 Distribuídos pelas seguintes

atividades: empresas

de “Comércio a retalho

de jornais, revistas e

artigos de papelaria

em estabelecimentos

especializados” (13,4%),

empresas dedicadas à

“Edição de revistas e outras

publicações periódicas”

(7,2%), empresas de “Edição

de livros” (6,5%) e empresas

de “Edição de jornais” (5%)

(INE, 2012: 19).

3 Fernando Guedes lembra

que quando foi “presidente

da APEL pela primeira

vez, nos anos 60, havia

umas 600 casas que se

reclamavam de livrarias

em Portugal” estimando

agora que o número de

livrarias tenha diminuído

tragicamente (Guedes

apud Costa, 2012: 20). A

título de exemplo, refira-se

o destaque mediático

concedido, em 2012, ao

encerramento das livrarias

históricas: Livraria Portugal,

instalada há cerca de 70

anos na Rua do Carmo

(Chiado), em Lisboa, da

Livraria Camões, no Rio

de Janeiro, que pertencia à

Imprensa Nacional – Casa

da Moeda e, já em 2013,

ano em que comemora o

seu centenário, a Livraria Sá

da Costa, em Lisboa.

O “êxtase bibliográfico” em Portugal

P

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apesar de tudo, mantêm em Portugal a impressão de livros, revistas, jornais

e outras publicações.

Alguns autores defendem que a crise do setor da edição está diretamente

relacionada com as NTIC e, em especial, com o surgimento dos livros ele-

trónicos. Contudo, as informações disponíveis contradizem estas opiniões,

evidenciando que o consumo de edições impressas é ainda significativo, ao

contrário do consumo de publicações eletrónicas que é ainda bastante redu-

zido em Portugal4.

Embora se tenha assistido, nos últimos anos, a um ampla difusão das NTIC,

em especial do computador e do acesso à Internet (Neves e Santos, 2011: 36),

a verdade é que, a consulta de diversos tipos de documentos eletrónicos (ba-

ses de dados, livros, revistas, jornais e outras publicações) é ainda uma prá-

tica relativamente pouco comum. Isso mesmo é confirmado por um recente

inquérito do Observatório das Atividades Culturais (OAC) acerca do modo

como os portugueses utilizam as TIC: “a maioria dos inquiridos Nunca utili-

za o computador (52%), seja porque Não sabe utilizar (22%), seja porque Não

tem acesso a computador (16%) ou porque Não tem necessidade de o usar (14%)”

(Neves e Santos, 2011: 123). Relativamente à utilização da Internet, “a situação

de lazer é claramente a mais frequente (74%). Tanto a situação profissional

(40%) como a de estudo (29%) têm pesos significativos, mas relativamente

mais baixos” (Neves e Santos, 2011: 123). No entanto, Manuel Castells salienta

o potencial da edição eletrónica de manuais e compêndios e revistas académi-

cas têm: “entre outras coisas, porque as bibliotecas carecem de espaço físico

suficiente para fazer frente à explosão informativa” (2007:234).

O mais recente relatório do Observatório da Comunicação (OberCom) so-

bre o modo como os Portugueses se relacionam com a Internet revela que

86,7% dos inquiridos nunca lê livros online ou faz download de livros5. Embo-

ra cerca de metade dos inquiridos disponha de computador pessoal (fixo e/ou

portátil), a posse de tablets (1,5% dos inquiridos) e de e-book readers (1,0%) é

ainda marginal6 (Cardoso e Espanha, 2012: 13).

Já em 1983, Fernando Guedes, numa conferência que proferiu no âmbito

do ciclo “Que Cultura em Portugal nos próximos 25 anos”, salientava o atraso

de Portugal face a outros contextos7: “Aquilo, porém, a que se chama corren-

temente a revolução da novas tecnologias e sua consequência que directamente

nos interessa, a edição electrónica, estão tão distantes de Portugal que dificil-

mente se acredita que Lisboa esteja separada por duas ou três horas de voo

de Paris, Londres ou Frankfurt” (Guedes, 2001: 196). Trinta anos depois a

realidade portuguesa altera-se lentamente.

Um indício de mudança desta realidade é o lugar que estas questões co-

meçam a ocupar na agenda política. Uma recente resolução do Conselho de

Ministros, publicada em Diário da República a 31 de dezembro de 2012, apro-

va a Agenda Portugal Digital, que transpõe para o nosso país uma diretiva

4 No caso de Espanha, Iñaki

Vasquez Alvarez chegou a

conclusões semelhantes

(Álvarez, 2012: 113).

5 No que respeita aos

hábitos de leitura,

relatórios recentes

apontam para uma

realidade distinta noutros

países. Por exemplo,

segundo o Pew Internet &

American Life Project, em

2012, 23% dos norte-

-americanos com mais

de 16 anos leu um e-book

(Rainie et al., 2012).

Também de acordo com

o último “Kids & Family

Reading Report”, entre

2010 e 2012, 46% das

crianças e jovens norte-

-americanos dos seis aos

17 anos leu um e-book

(Robinson (coord.), 2013).

6 No que se refere à posse

de e-book readers dados

recentes apontam para

uma realidade distinta

noutros países. Segundo

um relatório anual do

GfK Emer (http://

www.gfk-emer.com) o

Reino Unido foi o país

com maior número de

dispositivos vendidos

(968.000 unidades),

seguido da Espanha

(190.000 unidades), Itália

(120.000 unidades),

França (100.000 unidades)

e Alemanha (89.000

unidades). O mesmo

relatório estimava que

em 2012 vendas destes

dispositivos crescesse

40% no Reino Unido

e 30% em Espanha

(Álvarez, 2012:112).

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7 Notícias recentes apontam

para uma realidade distinta

noutros países: no início de

2011, a Amazon comunicou

que nos Estados Unidos da

América (E.U.A.). registava

maior volume de venda de

e-books comparativamente

ao número de livros

impressos; e recentemente,

a Association of American

Publishers, anunciou que

em 2012 a venda de e-books

nos E.U.A. gerou uma

receita equivalente a

22,55% do total de 7,1 mil

milhões de dólares das

vendas de livros. Apesar

de ainda não ser possível

encontrar informação

detalhada relativamente ao

número absoluto de obras

produzidas e distribuídas

será certamente importante

acompanhar a evolução do

setor, quer a nível nacional

como internacional,

de forma a melhor

compreender o seu rumo.

8 A Agenda Portugal Digital

responde às indicações da

“Digital Agenda for Europe”

promovida pela União

Europeia (U.E.). A U.E. tem

solicitado aos vários Estados

Membros, entre outras

iniciativas, a preservação

e divulgação, através da

Internet, das coleções de

museus, bibliotecas e outros

arquivos. Com o objetivo

de preservar e divulgar

o património cultural e

científico europeu, a União

Europeia criou ainda,

em 2008, o Europeana.

Atualmente, podemos

encontrar em http://www.

europeana.eu cerca de

15 milhões de títulos de

diferentes naturezas.

comunitária8. A Agenda é composta por seis áreas de intervenção, entre as

quais se incluiu a literacia, qualificação e inclusão digitais. Entre outras medi-

das propostas, a resolução aponta para a criação de medidas de promoção da

criação e a digitalização de conteúdos, bem como de promoção da disponibi-

lização e utilização de e-books, nomeadamente, através do incentivo a políticas

de aluguer de e-books.

Este breve enquadramento permite, assim, afirmar que (ainda) não assistimos ao desaparecimento do livro impresso em Portugal, bem pelo contrário, pese embora existam indícios que apontam para uma alteração da sua natureza e relevância.

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o longo da nossa História, o livro é frequentemente apre-

sentado como um símbolo de civilização, fundamentando

a comparação “evolucionista, entre sociedades letradas e

pré-letradas” (Medeiros, 2012). Essa importância quase

“sagrada” do livro, deve-se à sua capacidade de, ao longo

do tempo, transportar e comunicar coerentemente o co-

nhecimento, constituindo-se como memória da nossa existência (Johannot

apud Furtado, 2007: 14; Lúcia, 2012: 23).

“Da palavra de Deus à palavra do Homem, o livro tornou-se a garantia da

memória, da existência da ordem e da lei, parecendo ter recolhido da Bíblia

esse suplemento da ordem do sagrado que lhe confere um claro privilégio

de autoridade” (Furtado, 2007: 13). Deste modo, a informação veiculada pelo

livro tem sido entendida “como auto-suficiente, auto-explanativa e auto-legiti-

madora” (Duguid apud Furtado, 2007: 78).

Não surpreende, portanto, que para alguns autores, a transformação da

natureza do livro corresponda a um certo declínio da sua “dimensão auráti-

ca” pela alteração da sua posição dominante, capaz de influenciar o contex-

to cultural, social e político. Segundo estas perspetivas, a transformação da

chamada “ordem” do livro “terá certamente implicações não apenas ao nível

dos suportes e modos de transmissão de informação e do conhecimento mas

induzirá transformações mais gerais nas formas de organização cultural e

social” (Furtado, 2007:12).

De facto, ao longo da História, o livro sofreu profundas transformações

que influenciaram e foram, simultaneamente, influenciadas pelo contexto

económico, cultural e social. Primeiro, a introdução do codex, que substituiu

gradualmente os rolos de pergaminho9; e depois10, a introdução e desenvolvi-

mento da impressão com caracteres móveis, que substituiu o codex e permi-

tiu a duplicação mecânica de originais. Em conjunto, estes dois momentos

contribuíram decisivamente para a passagem de uma cultura predominan-

temente oral para uma cultura escrita e, consequentemente, para uma nova

organização cultural e social (Darnton, 2009; Furtado, 2007; Guedes, 2001;

Lucía, 2012).

Apesar da rutura a que se assistiu nos dois momentos históricos ante-

riormente referidos, alguns autores consideram as alterações atuais são mais

radicais. Este entendimento fundamenta-se na importância que as NTIC vêm

assumindo como agentes transformadores dos suportes de escrita e leitura,

impulsionando, simultaneamente, mudanças nos modos de produção, edi-

ção, distribuição e receção dos textos.

A (des)ordem do livro

9 O vídeo satírico http://

www.youtube.com/

watch?v=M1NbUI1TQpo

poderá, de certa forma,

transportar-nos para o

momento da introdução

do codex, ou códice,

revelando as dificuldades

em assimilar as “novas”

formas de escrita e de

leitura.

10 Neste segundo momento,

foi igualmente importante

a substituição do

pergaminho pelo papel

sem a qual impressão

não seria sustentável já

que “para imprimir os

35 exemplares da Bíblia

de Gutenberg foram

necessárias as peles

de uns 5000 animais”

(Guedes, 2001:24).

A

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São precisamente este conjunto de fatores que levam vários autores a afir-

mar que as transformações a que assistimos atualmente são tão, ou mais,

complexas quanto a passagem da cultura predominantemente oral para a

cultura escrita (Lucía: 2012; Ong: 1999). A natureza complexa destas mu-

danças implica, assim, que façamos uma análise necessariamente transversal

e multifacetada do processo. De facto, as discussões em torno da produção,

edição e distribuição de livros eletrónicos “envolvem a interação de factores

tecnológicos, psicológicos, sociológicos, económicos e culturais que influen-

ciam o modo como as pessoas criam, usam, procuram e adquirem informa-

ção” (Borgman apud Furtado, 2007:19). Em larga medida, este entendimento

recupera a reflexão iniciada, na década de 1990, por Roger Silverstone em

torno da necessidade de uma “sociologia dos ecrãs”. A partir da observação

da importância crescente que a televisão e o computador pessoal assumiam

nesse período, defendeu a importância de analisar estes objetos não só como

produto das NTIC, mas também como objetos simbólicos, sociais e culturais

(Cardoso, 2013:15-16).

Vivemos, contudo, num período de transição, que se revela na enorme

rapidez e volatilidade com que acontecem alterações ao nível da produção,

distribuição e consumo de livros eletrónicos. Por esse motivo, é difícil anteci-

par que importância simbólica terá o livro impresso no futuro. Como indicam

os dados estatísticos anteriormente mencionados, as publicações tal como

tradicionalmente as conhecemos continuarão, num futuro mais ou menos

próximo, a ser escritas, distribuídas e consultadas. No entanto, os mesmos

dados evidenciam o surgimento e desenvolvimento de novas práticas relacio-

nadas com as NTIC, que nos levam a afirmar, com segurança, que a escrita e

leitura se encontram em transformação.

Num exercício de antecipação de tendências, vários autores defendem

que o livro impresso não só continuará a ser importante, como terá um va-

lor acrescido. Esta opinião assenta, por um lado, na ideia de que, no futuro,

os livros impressos serão destinados a preservar informação relevante para

conhecermos e compreendermos determinados momentos históricos. Por

outro, como terão um número reduzido de exemplares e um maior cuidado

a nível de impressão e acabamentos, vão ganhar um estatuto de raridade,

tornando-se objetos mais preciosos (Knufinke, 2012:125; Ludovico, 2012:93).

Atualmente, os livros eletrónicos não beneficiam (ainda) desse estatuto

“sagrado” que parece estar reservado aos livros impressos, a quem cabe a

“La técnica digital revoluciona al mismo tiempo el soporte de lo escrito, las relaciones con los textos y su inscripción y difusión. Por ende, ninguna comparación histórica supone una revolución semejante a la revolución digital, que propone nuevos soportes de lo escrito y nuevos modos de lectura” (Chartier apud Marín, 2013).

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nobre missão de preservar e transmitir a “palavra” e a “verdade”. De facto,

a fluidez do texto eletrónico, a par das dúvidas relativas à sua autoria e ori-

gem, dificultam a sua credibilização e institucionalização (Catarino: 2013: 17;

Reichenstein, 2012). No entanto, num futuro mais ou menos próximo, é

possível que a importância dos livros eletrónicos possa vir a ser reavaliada,

alterando-se o seu estatuto.

11 Entende-se por nativo

digital todo o indivíduo

que, desde cedo, tenha

convivido com as NTIC.

O uso quotidiano

do e-mail, do instant

messaging (chat online) e

das short messages (sms

e mms) torna as “novas”

formas de escrita e leitura,

mediadas pela tecnologia,

práticas familiares. Vários

autores consideram que

os nativos digitais

“processam a informação

de um modo

completamente diferente

dos seus antecessores,

já que desde cedo se

habituaram a receber

e transmitir grandes

quantidades de informação

em curtos períodos de

tempo. Por isso, a

necessidade de

concentração profunda

acaba por conduzir à

procura de novos

estímulos. Estes autores

acreditam também que,

de uma forma geral, os

nativos digitais, gostam

do multitasking; preferem

gráficos a texto; são

adeptos do acesso

aleatório (como no

hipertexto); funcionam

melhor quando estão em

rede” (Furtado, 2012: 178).

Uma vez mais, o contexto económico, social e cultural é fundamental para compreendermos qual o sentido da mudança. É, por isso, plausível admitir que, a crescente relevância de novas gerações de leitores, cada vez mais habituados a utilizar as NTIC, poderá vir influenciar decisivamente no modo como entendemos o livro digital. Esta é a perspetiva de Roger Chartier, para quem o valor simbólico do livro, impresso e eletrónico, será definida pelos chamados nativos digitais11: “son sus prácticas más que nuestros discursos los que van a decidir sobre la sobrevivencia o la muerte del codex como realidad material y la del libro como discurso” (Chartier, 2012:14-15).

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e-book: tentativa de definição

conceito de livro eletrónico não é novo. Sem procurar

sem exaustivos, podemos identificar alguns momentos

que demonstram como, progressivamente, as NTIC e,

em especial a Internet, penetraram na produção, edição

e distribuição dos conteúdos (Furtado, 2007:25) multi-

plicando-se os formatos, os meios e canais de edição,

distribuição, comercialização e proteção de livros eletrónicos.

Em 1971, Michael Hart (1947-2011) iniciou o projeto Gutenberg12, provavel-

mente a primeira coleção gratuita de livros eletrónicos. Disponível em CD-ROM

desde 1986, o projeto Gutenberg oferece atualmente para download mais de

42 mil títulos (de acordo com a atualização do website a 30 de janeiro de 2013)

em diferentes formatos.

Em 1993, Glenn Hauman fundou o BiblioBytes13 um dos primeiros web-

sites a permitir o download de e-books estando, por isso, na vanguarda da edi-

ção electrónica “abrindo caminho às negociações dos direitos de propriedade

intelectual em ambiente digital e, desde 1994, às soluções seguras para as

transacções através da Internet” (Furtado, 2007:24).

Em 2000, é lançado pela Simon & Schuster “Riding The Bullet”, de Stephan

King, que se veio a revelar um grande sucesso comercial, despertando a aten-

ção do setor para estas novas formas de produção, edição e distribuição. Edi-

tada apenas em formato eletrónico, esta novela contou com mais de 400 mil

downloads logo nas primeiras 24 horas após o seu lançamento.

Em 2004, com a ambição de criar o maior arquivo online de livros e revis-

tas, a Google Inc. lançou o Google Print, atualmente conhecido como Google

Books. Este serviço da Google Inc. apresenta, mediante uma pesquisa, títulos

digitalizados e arquivados na sua base de dados, que conta já com mais de 20

milhões de obras.

Num contexto em que se multiplicam, a um ritmo acelerado, os formatos,

meios e canais de edição, distribuição e comercialização de livros eletrónicos,

torna-se difícil definir14 adequadamente o conceito de e-book. Embora o termo

derive do inglês eletronic book – precisamente, livro eletrónico15 – a verdade

é que, como refere António José Furtado, esta designação é bastante abran-

gente, indo “desde um simples ficheiro digital do conteúdo dum livro até ao

ficheiro digital acompanhado pelo software que possibilita o acesso e a nave-

gação do conteúdo (...) ou até o hardware que contém os ficheiros electrónicos

de livros” (Furtado, 2007:32).

Christine L. Borgman refere precisamente que as definições mais elemen-

tares de e-book tendem a concentrar-se na questão da distribuição. Segundo

12 O projeto Gutenberg está

disponível em http://www.

gutenberg.org/

13 O BiblioBytes, originalmente

disponível em http://www.

bb.com/, está offline desde

novembro de 2001.

14 Note-se que a própria

definição de objeto digital

é abrangente. Este termo

remete para qualquer objeto

representado através de

um sistema de numeração

binária, por isso engloba

tanto “informação nascida

num contexto tecnológico

digital (objectos nado-digitais),

como informação obtida a

partir de suportes analógicos

(objectos digitalizados)”

(Ferreira, 2006: 21).

15 A par do termo e-book,

surgem muitos outros, que

resultam da combinação da

letra “e”, como abreviatura

do termo eletrónico

(seguido, ou não, de hífen),

com a designação do tipo

de publicação, por exemplo,

e-magazine, e-paper, entre

outros (Pinto, 2012:215).

O

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32

esta investigadora, a dificuldade em estabelecer os contornos do livro eletró-

nico deve-se, em parte, ao modo como o termo e-book foi apropriado pelas

empresas que produzem e/ou comercializam dispositivos para apresentação

de conteúdos eletrónicos (Borgman, 2000 apud Furtado, 2007:23). Vários

outros autores chamam a atenção para a ambiguidade do termo, sugerindo

a necessidade de distinguir o objeto (hardware e/ou software) que permite a

consulta do conteúdo eletrónico, do conteúdo propriamente dito.

Assim, no que diz respeito ao objeto, podemos distinguir:

Os e-book readers ou simplesmente, e-readers: todos os dispositivos

portáteis, com softwares próprios, destinados essencialmente à

leitura de livros eletrónicos embora possam permitir outras ope-

rações (por exemplo, acesso à Internet);

Em 1968, Alan Kay projetou o Dynabook, um computador

portátil com bateria interna e software próprio, que ambicionava

proporcionar o acesso multimédia a crianças. O Dynabook foi

comercializado pela Toshiba, apenas no Japão, a partir de 1989

mas acabou por ser descontinuado, dez anos mais tarde, já que

tanto o tamanho como o preço eram considerados excessivos.

Em 1998, a NuvoMedia Inc. apresentou o Rocket eBook,

precursor dos e-book readers que hoje conhecemos, foi comer-

cializado até ao ano 2000.

Atualmente, os e-readers mais populares, são talvez o Sony

PRS, lançado em 2006, pela Sony; o Kindle, lançado em 2007,

pela Amazon.com Inc.; o Nook, lançado em 2009, pela livra-

ria Barnes & Noble Inc.; e o Kobo, lançado no mesmo ano pela

Kobo Inc., propriedade da Rakuten, operadora de e-commerce Ja-

ponesa, e comercializado em Portugal, desde 2012, pela FNAC.

Nos últimos anos, o mercado de e-book readers tem vindo a

desenvolver-se16. Não só tem aumentado a quantidade de mo-

delos disponíveis, como se tem verificado uma melhoria das

suas características.

Em baixo: à esquerda,

Alan Kay apresentando

o Dyna Book; à direita,

um Rocket eBook da

NuvoMedia Inc.

16 No entanto, e de

acordo com um recente

comunicado da empresa

de pesquisa IDC, a venda

destes dispositivos

tem, desde 2012, vindo

a diminuir. Apesar de

se esperar, ao longo

2013 e 2014, um ligeiro

crescimento, a IDC prevê

que, entre 2015 e 2017, se

assista a uma queda de

16,6% nas vendas.

Cf. http://www.idc.com/

getdoc.jsp?containerId=

prUS24002213

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33

Os equipamentos com várias funcionalidades17, entre as quais se in-

clui a leitura de livros eletrónicos – neste grupo, podemos consi-

derar os computadores portáteis, smartphones, phablets18, tablets e

PDAs. Embora alguns destes equipamentos tenham já disponí-

vel software “nativo” adequado à leitura de livros eletrónicos19, a

maior parte exige a instalação de software.

Relativamente ao software de leitura de livros eletrónicos, atualmente exis-

tem inúmeras opções disponíveis no mercado. À semelhança do hardware,

estes softwares são também designado por e-book readers ou e-readers, o que

contribui para acentuar a ambiguidade dos termos.

A nível de conteúdo, a definição de livro, revista, jornal ou outra publica-

ção eletrónica torna-se uma tarefa ainda mais complexa:

Num extremo, temos as edições que se limitam a converter o conteúdo

impresso para o formato digital, preservando o aspeto original

de forma mais ou menos fiel.

São muito frequentes as publicações eletrónicas em forma-

to PDF (Portable Document Format). Este formato desenvolvi-

do em 1993 pela Adobe Systems é, desde 2008, um formato

standard aberto definido pela International Organization for

Standardization como ISO 32000-1. Enquanto formato aber-

to tem a vantagem de ser compatível com grande parte dos

dispositivos, uma vez que qualquer pessoa poderá desenvolver

software que escreva e/ou leia este formato. Tem ainda a mais

valia de poder incluir outros elementos para além de texto e

imagens, como elementos multimédia e hiperligações. Contu-

do, constata-se que o mais frequente é encontrarmos publica-

ções eletrónicas que se limitam a converter o conteúdo impresso

para este formato, preservando integralmente o aspeto original.

A ampla utilização deste formato deve-se, em larga medida, à

facilidade com que poderá ser desenvolvido. Os diversos textos,

agora resultado de um workflow exclusivamente digital, podem

facilmente ser apresentados em formato PDF, permitindo as-

sim reduzir os custos da produção e distribuição de publicações

eletrónicas e gerar novas receitas (Furtado, 2008: 235).

Importa também mencionar que existem inúmeros websites,

aplicações e/ou plug-ins que permitem apresentar publicações

online, e em alguns casos também offline, com mais ou menos

conteúdos multimédia. Embora não tenham sido desenvolvidos

especificamente para os diversos e-book readers (seja hardware

seja software) estes formatos são também muito populares.

17 De acordo com um recente

comunicado da empresa de

pesquisa IDC, a venda de

equipamentos com várias

funcionalidades tem vindo

a aumentar. Recentemente,

os leitores têm preferido

equipamentos mais

acessíveis, mais pequenos

(com ecrâ igual ou inferior a 8

polegadas) e mais versáteis.

Estes dados económicos ao

revelarem uma inversão nos

hábitos de consumo poderão

ser importantes para a análise

e desenvolvimento de livros,

revistas, jornais ou outras

publicações eletrónicas que

correspondam às expectativas

dos “novos” leitores.

18 O termo phablet surge no

início de 2012 para descrever

smartphones com ecrâ de 5 a

6,9 polegadas.

19 Por exemplo, o iPad, tablet

lançado em 2010 pela

Apple Inc., tem disponível a

aplicação iBooks que permite

simultaneamente procurar,

comprar, descarregar e ler

livros eletrónicos.

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No extremo oposto, encontramos uma enorme diversidade edições em

vários de formatos, disponibilizando ao leitor mais ou menos

conteúdos multimédia e diferentes funcionalidades.

Encontramos publicações eletrónicas em diferentes forma-

tos adaptados aos diversos e-readers (hardware e/ou software)

disponíveis no mercado. Os formatos mais populares são o

ePUB e o Mobi.

O ePUB é o formato recomendado pela International Publi-

shers Association, pelo International Digital Publishing Forum

e pelo World Wide Web Consortium (W3C) para a apresenta-

ção de publicações eletrónicas. Enquanto formato aberto tem a

vantagem de, por um lado, ser compatível com grande parte do

hardware e software disponível no mercado e, por outro, permi-

tir que qualquer pessoa colabore no seu aperfeiçoamento. Em-

bora inicialmente só possibilitasse a apresentação de texto, este

formato, tem vindo a evoluir. A sua terceira versão, lançada no

final de 2011, mantém a estrutura em XML (Extensible Markup

Language) que poderá ser complementada com outras lingua-

gens20. Estes desenvolvimentos permitem a apresentação não

só de textos e imagens mas também de outros elementos mul-

timédia em layouts gráficos mais complexos e interativos.

O formato Mobi, é utilizado para publicações eletrónicas

especialmente desenvolvidas para o leitor Kindle da Amazon.

Contudo, este formato poderá ser lido em qualquer outro dis-

positivo, desde que disponha de software compatível. No pas-

sado mês de julho, a Amazon registou uma nova patente: a

”Customized Electronic Book with Supplemental Content” (n.°

8478662). Este registo anuncia a transformação dos seus

e-books que, muito provavelmente, passarão a apresentar con-

teúdos multimédia, à semelhança dos formatos utilizados pela

concorrência.

Importa ainda destacar as publicações eletrónicas disponí-

veis como aplicação (app). Trata-se de um formato no qual o

conteúdo é acompanhado de software próprio. Bastante comum

no mercado da Apple Inc., este formato tem sido apontado, por

diversos investigadores, como o “futuro” da edição digital já

que, mais do que qualquer outro, explora as potencialidades do

ecrã multitoque e dos conteúdos multimédia.

20 Nomeadamente, com

MathML (Mathematical

Markup Language) e SVG

(Scalable Vector Graphic),

HTML5(HyperText Markup

Language, versão 5), CSS3

(Cascading Style Sheets,

versão 3), entre outras

linguagens.

Atualmente, verifica-se uma coexistência, quase sempre em simultâneo, destes diferentes objetos (hardware e/ou software) e formatos, o que denota o carácter ainda experimental da

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Existem, contudo, alguns autores que contestam este amplo entendimen-

to do termo livro eletrónico chamando a atenção para a necessidade de o res-

tringir. “Estamos numa primeira fase de definição e difusão do texto digital,

em que se tem priveligiado a acumulação da informação. Contudo, só pode

ser uma primeira fase” (Lucía, 2012: 117).

Segundo esta perspetiva, o termo livro eletrónico não deverá considerar as

edições que se limitam a reproduzir digitalmente o conteúdo impresso e/ou

copiam modelos de apresentação e transmissão do livro tradicional. Deste

modo, a designação e-book deverá referir-se apenas a edições pensadas, pre-

ferencialmente desde a sua origem, para a visualização em ecrâ, que aprovei-

tam as potencialidades do hipertexto, dos conteúdos multimédia e dos pró-

prios objetos (hardware e/ou software) que permitem a sua consulta e que, de

uma forma geral, não podem ser impressas reproduzindo de forma fiel o seu

aspeto e conteúdos.

Para Todd Sattersten, neste período de profundas transformações com des-

fecho ainda imprevisíveis, a definição de livro eletrónico deve concentrar-se so-

bretudo nos elementos ausentes: “For several decades, what we know today as a

“car” was referred to as a “horseless carriage.” It was easier to describe this new

invention as what it was not, rather than what it was” (Sattersten, 2012: 10). As- As-

sim, este autor sugere o termo “Paperless Books” referindo a característica ausen-

te de todos os livros eletrónicos e comum a todos os livros impressos, o papel.

Giuseppe Laterza sublinha, por seu turno, que a integração conteúdos

multimédia e interativos conduz à produção de edições diferentes e afastadas

dos formatos lineares e fechados dos livros que tradicionalmente conhece-

mos. Neste sentido, sugere que a esta combinação de conteúdos multimédia e

interativos se chame DIASS, abreviatura de “Digital Assembly” (Laterza, 2001

apud Furtado, 2007: 28). Esta conceção pressupõem não só a adoção de novas

terminologias como também o desenvolvimento de géneros literários espe-

cialmente adaptados a este novo contexto.

Para José Manuel Lucía (2012: 117), só este amplo entendimento do con-

ceito será capaz de afirmar o livro eletrónico como motor da revolução no

modo como produzimos e transmitimos o conhecimento.

publicação eletrónica. Atendendo, assim, a esta grande variedade de suportes e formatos, considera-se útil utilizar uma definição de e-book suficientemente abrangentes para contemplar as várias situações existentes. Neste sentido, partilhamos da definição de livro eletrónico sugerida por José António Furtado: “qualquer texto (...) disponível num formato electrónico que permita – entre outras – a distribuição em rede e a leitura através de um qualquer tipo de dispositivo hardware dedicado ou não” (2007: 43).

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Reconcetualização do livro no mundo digital

o debate sobre a (nova) natureza do livro os autores apre-

sentam duas posições distintas: a primeira, de continui-

dade, aponta uma prevalência dos elementos textuais, da

narrativa linear e fechada; a segunda, de rutura, valoriza

os elementos multimédia, a narrativa hipertextual, multi-

linear e aberta (Furtado, 2007: 47).

De uma forma geral, nos formatos eletrónicos existentes assistimos ainda

à predominância de uma atitude de continuidade, com a representação quase

literal do modo como tradicionalmente conhecemos os livros. Esta postura

considera, por um lado, que o objetivo do livro eletrónico não é substituir o

formato anterior mas antes explorar as potencialidades destas NTIC na ma-

nutenção e transmissão de conhecimento (Furtado, 2007: 49); por outro, que

os livros eletrónicos serão melhor compreendidos e assimilados se não entra-

rem em rutura total com a conceção que temos do seu formato tradicional.

Historicamente, esta atitude de continuidade tem marcado a evolução do

livro. De facto, também quando surgiu a impressão de Gutenberg, existiram

algumas resistências. Talvez por isso os primeiros livros impressos se asse-

melhavam aos manuscritos medievais. Os impressores seguiram os padrões

e as convenções estéticas do seu tempo, tomando como modelo os caracteres

góticos e frequentemente acrescentando manualmente capitulares ilumina-

das e outras decorações (Borges, 2012; Guedes, 2001). Alguns autores defen-

dem mesmo que, desde esse período, pouco se modificou: “The majority of

our books today have come no further in their typographical, visual, synopti-

cal form that Gutenberg’s productions, despite the technological transforma-

tion” (Moholy-Nagy apud Hollis, 2010: 51).

Em baixo: à esquerda,

manuscrito do início do

século XIII; à direita,

a Bíblia de Gutenberg,

também conhecida por

Bíblia de 42 linhas ou

B-42, que marcou o início

da impressão de livros

no Ocidente.

N

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Atualmente, para além da predominância dos elementos textuais, encon-

tramos nos livros eletrónicos metáforas que nos são familiares: para além de

continuarem a ser utilizados termos como livro, revista e jornal, encontramos

ainda outro tipo de expressões como índice, capítulo, página (Sousa, 2010: 198).

Também nas NTIC se utilizam frequentemente as noções de biblioteca, livra-

ria, estante e prateleira para designar os espaços de armazenamento, distri-

buição e comercialização de publicações eletrónicas.

A necessidade introduzir novos conceitos de forma facilmente reconhe-

cida, compreendida e memorizada, tem justificado o recurso a metáforas no

desenvolvimento dos chamados human computer interfaces21.

Nestes interfaces o utilizador opera num espaço "virtual" mediado por

objetos físicos e simbólicos. Por exemplo, numa aplicação de desenho “o uti-

lizador actua sobre o interface (dispositivo físico) e este actua sobre o sujeito

simbólico (o ponteiro do rato) que por sua vez representa a metáfora do lápis

a riscar uma folha de papel” (Vairinhos, 2002: 60-61). Esta aplicação apresen-

ta então ferramentas e operações "virtuais" que são metáforas de instrumen-

tos e ações comuns. Assim, nestes human computer interfaces encontramos

paralelismos não só nos termos e signos utilizados, mas também, no modo

como manipulamos os interfaces (físicos e simbólicos) e nas respostas que

estes interfaces dão às nossas ações.

Também os e-readers (hardware e software) e os websites, aplicações e/ou

plug-ins destinados à publicação de livros, revistas, jornais e outras publica-

ções eletrónicas procuram simular o manuseamento destes diversos objetos

tal como tradicionalmente os conhecemos (Ludovico, 2012: 91-92). Determi-

nados formatos permitem mesmo que o leitor "folheie" as publicações digitais

assistindo ao virar de cada página com a correspondente "paisagem sonora".

Tentando melhorar esta experiência, em janeiro de 2012, o Korea Advan-

ced Institute of Science and Technology (KAIST) apresentou o protótipo do

21 Lisa, apresentado pela

Apple Inc. em janeiro

de 1983, foi o primeiro

computador pessoal a

apresentar um interface

gráfico. Desde então todos

os computadores pessoais

e, mais recentemente, os

telemóveis e os tablets

têm seguido o mesmo

princípio. Alguns autores

consideram que nestes

human computer interfaces

o grau de abstração é

muito superior, já que estas

analogias são metáforas

de outras metáforas: “text

editors are a analogy of type

writers, type writers are

an analogy of writing with

pen and paper, writing with

pen and paper is, initially, a

substitute for our memory”

(Reichenstein, 2012).

Em baixo: à esquerda,

conjunto símbolos

desenhados por Susan Kare

para software do computador

pessoal Apple Machintosh 1.0,

apresentado pela Apple Inc.,

em 1984, um ano depois do

lançamento do computador

pessoal Lisa (em baixo, à

direita).

“All media are extensions of some human faculty-psychic or physical” (McLuhan, 2008: 26).

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que chamou smart e-book22. Neste protótipo, o KAIST explora as potencialida-

des do ecrâ multi-toque suprimindo algumas das limitações dos interfaces

existentes. Através de um conjunto de gestos, já patenteados pela instituição,

o smart e-book permite, por exemplo, "virar" rapidamente várias páginas ou

marcar o canto da página, e "folhear" as seguintes. Desta forma, mimetiza a

experiência de leitura e manuseamento de um livro impresso procurando apro-

ximar, tanto quanto possível23, a perceção do livro eletrónico à do livro impresso.

Neste contexto, também o comércio digital de e-books tem procurado imitar

alguns dos serviços que tradicionalmente se poderia encontram em livrarias

e bibliotecas. “Uma libréria virtual que ofrece nuevos servicios intentando

rescatar aquellos outros que deban las librerías tradicionales: asesoramiento

y consejo” (Lucía: 2012:82). É, assim, frequente que ao comprar um livro

online, o leitor receba várias sugestões e informações adicionais sobre esse e

outros livros, os seus autores e temáticas relacionadas.

Em contraponto a esta visão de evolução na continuidade, encontramos

uma posição de evolução enquanto rutura. Este entendimento recupera a tese

de Marshall McLuhan (2008), segundo a qual o conteúdo de qualquer meio

(medium) é sempre outro meio.

Ao reforçar o papel desempenhado pelos vários mediadores (humanos e

"não-humanos"), esta posição considera que estes intervêm ativamente na

translação de um medium para outro. Este processo não é, por isso, uma sim-

22 O vídeo http://

www.youtube.com/

watch?v=rVyBwz1-

AiE&feature=player_

embedded evidencia as

potencialidades deste

protótipo.

Em baixo: detalhe d0 website

da Amazon.com Inc.,

operadora de e-commerce

de vários produtos e

serviços, nomeadamente,

livros impressos e

eletrónico. O motor

de pesquisa do website

apresenta o livro

escolhido, formatos

disponíveis e respetivos

preços, bem como

sugestões de outros

títulos relacionados com a

obra selecionada.

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ples tradução, mas antes, uma interpretação que condiciona a forma como

o conteúdo é apresentado. “As the content is later re-mediated through sub-“As the content is later re-mediated through sub-

sequent formats, additional processes of translation take place. All transla-

tions are both transformations and interpretations, by virtue of existing in a

network of reliances consisting of a variety of actants. This network does not

flow in one direction but operates through negotiations that make every act-

ant reliant on the other actants” (Westin, 2011: 6).

Neste sentido, Slowinski (2003 apud Furtado, 2007), defende que as expres-

sões livros, revistas, jornais, entre outras, devem ser abandonadas libertando os

"novos textos" da carga simbólica que estes termos carregam e permitindo que

sejam desenvolvidos, desde a sua origem, para os suportes eletrónicos que os

apresentarão. Esta abordagem deverá basear-se na interação entre os diversos

elementos – as ligações hipertextuais e multilineares, conteúdos multimédia e

serviços em constante atualização – e o leitor/utilizador.

A par da reconcetualização do livro enquanto objeto assistimos, assim, à

redefinição do papel do editor, do autor e do leitor através da proposta de uma

nova experiência de escrita e de leitura.

Como nota José Afonso Furtado (2008: 235) a produção e edição de livros

e dos textos e elementos gráficos que lhes dão origem, resulta cada vez mais,

de um processo de trabalho maioritariamente (ou até, totalmente) digital. Es-

tes conteúdos podem ser, por isso, explorados de diferentes formas para além

da tradicional edição impressa.

“One major consequence of the shift to the digital is the addition of the

graphical, audio, video elements to the written word” (Stein apud Gottlieb,

2010: 67). Neste sentido, Giuseppe Laterza considera que nos encontramos

“perante uma realidade completamente nova na sua concepção, na sua reali-

zação e na sua fruição. E que, nessa medida, implica autores e editores com

capacidade inéditas, entre a edição de livros, a realização televisiva ou cinema-

tográfica e a produção musical” (Laterza apud Furtado, 2007: 28-29).

Por seu turno, o leitor passa a ter um papel ativo na co-construção do texto,

na medida em que pode organizar o argumento, atribuir novos significados

e ampliar o seu sentido (Barthes, 1968). “A contextualização da escrita é cada

vez menos assegurada explicitamente pelo texto e cada vez mais entregue

ao leitor (...) o texto torna-se um objecto móvel (...) de modo que compete ao

leitor reconhecer os limites do texto e mesmo colocar ou não a questão desses

limites” (Furtado, 2007:95).

Três capas da revista semanal norte-americana Time ilustram precisa-

mente não só a crescente “ecrãnização” (Cardoso, 2013: 18), ou seja, a impor-

tância que o computador pessoal e outros dispositivos têm vindo a assumir

nas sociedades contemporâneas, mas também, a transformação do papel

do leitor.

23 Importa salientar que as

tecnologias (hardware

e software) existentes

(ainda) não são capazes de

reproduzir características

essenciais do livro

diretamente relacionadas

com a experiência tátil

destes objetos: “the

experience of reading a

small duodecimo, designed

to be held easily in one

hand, differs considerably

form that of reading a

heavy folio propped up on a

book stand. It is important

to get the feel of a book

– the texture of its paper,

the quality of its printing,

the nature of its binding”

(Darnton, 2009:39). Outro

aspeto associado a esta

experiência tátil, que ainda

não é possível reproduzir

pelas NTIC, é a destreza

com que identificamos

quantas páginas lemos e

quantas temos ainda por

ler, permitindo desenhar,

com relativa facilidade, um

mapa mental do livro e

dos assuntos tratados em

cada momento. Também a

experiência olfativa não é

(ainda) reproduzida pelas

NTIC existentes. “Books

also give a special smells.

According to a recent

survey of French students,

43% consider smell to be

one of the most important

qualities of printed books -

so important that they resist

to buy odorless electronic

books” (Darnton, 2009:39).

Por outro lado o hardware

e software existente facilita

a pesquisa de determinada

frase ou expressão bem como

o registo e partilha de notas.

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40

A imagem da edição de 3 de janeiro de 1983, evidencia a forma como

o computador pessoal “entra” no quotidiano, assumindo uma importância

crescente em diversos contextos (escolar, profissional, lúdico, etc.). Apesar

do mote “The Computer moves in”, a fotografia de duas esculturas, a de um

homem e de uma mulher, acompanhadas dos seus computadores pessoais

reflete ainda uma certa passividade na utilização desta ferramenta.

Já a capa da edição de 25 de dezembro de 2006 a 1 de janeiro de 2007, evi-

dencia a importância que o leitor/utilizador tem na construção e transmissão

de informação. Recorrendo à personificação, esta capa sugere que o computa-

dor pessoal se dirige ao leitor chamando-o a atenção do seu novo “papel”: “Yes

you. You control the Information Age. Welcome to our world.”.

Finalmente, a imagem da edição de 20 de maio de 2013, com o título “The

Me Me Me Generation” ilustra claramente a Web 2.024 e a “importância do

ecrã baseado no eu com escolha de ser activo, participativo, interactivo e em

rede” (Cardoso, 2013: 18).

Note-se ainda que, as NTIC e, em especial, a Internet, têm libertado o edi-

tor, autor e leitor das limitações inerentes a uma localização temporal e espa-

cial. Por outro lado, libertam a escrita do suporte rígido e permanente. “Para

Pierre Lévy, o novo dispositivo determina uma escrita diferente, descentrada

e heterogénea” (Babo, 2006: 90).

Finalmente, importa considerar ainda posições mais moderadas, que de-

fendem que as metáforas do livro, revista ou jornal, bem como dos vários

elementos que o constituem (capa, contracapa, índice, capítulos, etc.), podem

ser importantes num primeiro momento, permitindo uma melhor e mais

rápida compreensão e assimilação. Admite-se, contudo, que, à medida que

as publicações eletrónicas se desenvolvam, as comparações com os produtos

impressos tornar-se-ão desnecessárias e tenderão gradualmente a desapare-

cer (Furtado, 2007: 52).

Em baixo: capas da revista

semanal norte-americana

Time – à esquerda, edição

de 3 de janeiro de 1983;

ao centro, edição de 25 de

dezembro de 2006 a 1 de

janeiro de 2007; à direita,

de 20 de maio de 2013.

24 O termo Web 2.0 surge,

em 2004, para descrever

uma segunda geração da

World Wide Web, centrada,

entre outros aspectos, na

comunicação e partilha de

informações online entre

utilizadores.

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Independentemente da postura adotada, importa reconhecer que atravessamos um período marcado por profundas transformações que envolvem uma reconcetualização da noção de livro, mas também das clássicas definições de autor e leitor. Em conjunto, estas mudanças estão a motivar profundas alterações nas formas de escrita e leitura, cujas consequências não são ainda possíveis de vislumbrar e avaliar com clareza.

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42

Mediação tecnológica, remediação e intermediação

advento das NTIC dá lugar à emergência de uma nova

realidade em que, pela primeira vez, os textos se de-

param com questões relacionadas com a mediação

tecnológica25 (Ferreira: 2006: 17; Furtado, 2007: 75).

A longevidade do livro tal como o conhecemos

deve-se, em grande medida, à ausência de mediação

tecnológica – “o livro impresso sempre teve a vantagem de não exigir qual-

quer dispositivo técnico para ser lido, de ser imediatamente visível e consul-

tável” (Furtado, 2007: 75). Pelo contrário, nos livros eletrónicos são necessá-

rios objetos (hardware e/ou software) que permitam a sua leitura e ainda uma

fonte de energia para alimentar esses equipamentos. Muito embora os livros

eletrónicos existam independentemente dos objetos (hardware e/ou software)

utilizados para os ler, como refere Emmanuel Souchier “sem energia e sem

dispositivos técnicos apropriados, a escrita informática não existe, ou no má-

ximo, pode ser considerada como invisível” (Furtado, 2007: 77).

Para além disso, a (curta) história das Tecnologias de Informação e Co-

municação (TIC) apresenta inúmeros exemplos26 de obsolência tecnológica, o

que, em função dos suportes de armazenamento e leitura existentes, poderá

via a colocar em risco a longevidade de alguns textos. Perante esta nova reali-

dade, colocam-se várias questões controversas: “estaremos dispostos a sobre-

carregar as nossas bibliotecas pessoais (e/ou institucionais) de livros, música

e filmes com esses custos [da substituição de uma coleção] para assegurar a

transição de tecnologia em cada dez ou vinte anos, para satisfazer os modelos

económicos das indústrias de conteúdos? E a perder algumas obras precio-

sas, mas talvez não muito populares, em cada transição tecnológica, por não

serem disponibilizadas na nova tecnologia? Temos e continuaremos a ter os

direitos e a capacidade de preservar o conteúdo que já adquirimos perante as

mutações tecnológicas?” (Lynch apud Furtado, 2007: 80).

Apesar de todos os avanços tecnológicos não é possível preservar toda a

informação produzida. Contudo, é importante garantir que num futuro, mais

ou menos próximo, todos os dados relevantes para conhecer e compreender

determinados momentos históricos continuam acessíveis.

O Google Books, serviço lançado em 2004 pela Google Inc., tem sido elo-

giado precisamente por facilitar o acesso ao que é, muito provavelmente, uma

das maiores bibliotecas da nossa História e, deste modo, por contribuir para

democratizar o acesso ao conhecimento.

No entanto, este serviço também tem sido alvo de alguma contestação.

25 Note-se que estes autores

se referem exclusivamente

à relação estabelecida pelas

NTIC não considerando as

caraterísticas físicas dos

livros impressos. Estes são

aspetos, contudo, bastante

revelantes na prática

do design editorial, que

deve ter em conta, para

além da funcionalidade

da publicação, aspetos

estéticos e formais

– “effective use of

materials can succinctly

communicate a book’s

content, imbue it with

a certain character and

simply compel a reader

to pick it up”(Goggin,

2010: 23). Nesse sentido,

Gyorgy Kepes defende

que os designers devem

considerar estes aspetos,

já que “a book has weight,

size, thickness and tactile

qualities, qualities which

are handled by the hand, as

its optical form is handled

by the eye” (Kepes apud

Hollis, 2010: 49). Não

analisaremos a discussão

em torno da forma do livro

impresso, importa contudo

sublinhar que esta questão

tem sido amplamente

discutida e trabalhada

entre artistas e designers.

O

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43

Para além das críticas relacionadas com a violação dos direitos de autor27,

Robert Darnton (2009) chama a atenção para algumas questões associadas

com preservação dos textos nomeadamente, os possíveis riscos da monopoli-

zação ou da perda de informação.

Por um lado, através desta iniciativa a Google Inc. garante o monopólio da

informação. Os critérios de seleção das obras poderão promover os interesses

comerciais do Google Inc. e não, necessariamente, o interesse público. As-

sim, a base de dados do Google Books poderá, por diversos motivos, excluir

inúmeras obras importantes para, como anteriormente afirmamos, conhecer

e interpretar determinados momentos da nossa História. Darnton sublinha

ainda a necessidade garantir que este projeto, ou outros semelhantes, ficam

disponíveis como digital commons28, de modo a evitar que o património histó-

rico, cultural e social fique refém de entidades que poderão, de alguma forma,

limitar a sua divulgação: “Yes, we must digitize. But more important, we must

democratize” (Darnton, 2009:13).

Por outro lado, a dependência tecnológica torna o Google Books vulnerável.

Numa situação ideal, qualquer objeto digitalizado será em tudo semelhante ao

objeto que lhe deu origem. Para garantir o acesso a longo-prazo à informação

é necessário assegurar que todo o processo de mediação tecnológica decorre

sem qualquer perturbação, caso contrário, a informação poderá ficar corrom-

pida ou até mesmo perder-se para sempre29 (Ferreira, 2006: 24-25). A tecno-

logia utilizada pelo Google Books digitaliza cerca de mil páginas por hora

e, como em qualquer outro processo de digitalização, poderão surgir erros

arquivando páginas, parcial ou totalmente, ilegíveis.

Finalmente, a preservação a longo-prazo deste arquivo está dependente

do próprio sucesso do Google Books. Como aconteceu noutros momentos

da história das TIC este serviço poderá, por qualquer motivo, desaparecer,

perdendo-se assim toda a informação até então digitalizada.

As várias questões apontadas por Robert Darnton (2009) acerca do Google

Books podem ser, de um modo geral, colocadas relativamente a qualquer

conteúdo eletrónico. Por isso, as questões relacionadas com a preservação

dos textos são talvez as que mais preocupam os diversos autores que, de for-

ma quase unânime, afirmam que “tudo vai passando, e o livro, tranquilo, vai

resistindo, com cada vez mais títulos publicados no mundo” (Guedes apud

Costa, 2012: 43).

Além disso, estes mediadores tecnológicos são parte intrínseca da leitura e

a relação “directa e física com o objecto livro – incluindo no plano das posturas

corporais – são aspectos postos agora em causa com os novos dispositivos

de leitura” (Furtado, 2007: 75). Para além das questões ergonómicas, ainda

mal documentadas, a transição do suporte impresso para o eletrónico coloca

questões cognitivas que estão também pouco investigadas. Contudo, a “trans-

lação de um medium para outro” (Allègre apud Furtado, 2007: 79), isto é,

26 Miguel Ferreira (2006: 18-19)

recorda a decadência do

formato de vídeo Betamax

e das disquetes de 3,5

polegadas. Poderíamos

facilmente enumerar outros

formatos e suportes cuja

dificuldade em encontrar

hardware e software capaz de

ler a informação aí registada

é hoje evidente.

27 Em 2005, a Authors Guild e

a Association of American

Publishing – respetivamente,

a associação de autores e

de editores dos E.U.A. –

moveram ações judiciais

contra a Google Inc.

acusando-a de violar os

direitos de autor e de não

compensar adequadamente

autores e editores das obras

digitalizadas. Desde então,

têm sido movidas ações

semelhantes em diferentes

países, nomeadamente, na

Alemanha e em França, pela

associção La Martinière,

pelo Sindicato Nacional das

Editoras e pela Sociedade

dos Literatos (SGDL). Após

longos processos judiciais, a

Google Inc. tem conseguido

chegar a diferentes acordos

com os vários lesados.

28 Software de acesso gratuito

desenvolvido pela Bepress

(também conhecida por

B.E. Press ou Berkeley

Electronic Press) que

permite a universidades e

outras instituições preservar

e disponibilizar as suas

bibliotecas.

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44

as diversas questões técnicas e cognitivas relacionadas com a passagem dos

conteúdos impressos para o formato eletrónico tem vindo despertar um cres-

cente interesse por parte de vários investigadores.

A noção de "remediação", que descreve a transferência de conteúdos entre

suportes (Bolter et al., 2010), revela-se útil para esta discussão. Segundo Bol-

ter e Grusin, existem duas estratégias de "remediação": a primeira, a "imedi-

cacia" ou "imediacia transparente" (respetivamente, immediacy e transparent

immediacy) tem por objetivo levar o indivíduo a acreditar que está perante o

objeto representado, contribuindo assim para a sensação de autenticidade da

experiência; a segunda, a "hipermediacia" (hipermediacy), sublinha a presença

do mediador. Atualmente, os novos media oscilam numa permanente alter-

nância entre a "imedicacia" e a "hipermediacia".

De facto, também nos livros, revistas, jornais e outras publicações eletró-

nicas assistimos a esta alternância. Como vimos, os mediadores tecnológicos

procuram, por um lado, mimetizar a experiência de leitura e manuseamento

de publicações impressas; por outro lado, as ações que este tipo de media-

dores exigem (iniciar o hardware e/ou software de leitura, abrir o documento

eletrónico, entre outras) sublinham a sua presença (Reichenstein, 2012).

Importa ainda referir que nenhum medium opera isoladamente, condi-

cionando e sendo condicionados pelos outros meios existentes, bem como

pelas forças sociais, culturais e económicas dominantes (Guedes, 2001: 239;

Furtado, 2007). Estes agentes são responsáveis pelo que alguns autores defi-

nem por intermediação e não devem ser negligenciados.

Recorde-se que a própria introdução da impressão foi marcada pelo con-

texto cultural, social e económico de então. Embora o comércio do livro já

existisse, este objecto ainda não era de uso quotidiano. Este facto deve-se,

em parte, ao reduzido número de exemplares produzidos já que eram in-

teiramente manuscritos. Com a fundação das primeiras universidades, no

século XII, e consequente alargamento da instrução foi necessário descobrir

métodos mais rápidos e económicos de produzir livros. A escrita deixa assim

de ser património exclusivo das ordens religiosas, laicizando-se.

Assim, o surgimento da impressão, em meados do século XV, esteve re-

lacionado com a necessidade de reduzir o tempo implicado na produção de

livros (Smeijers, 1996: 43), num contexto de alargamento do número de leito-

res e de crescimento do ritmo de procura, ao qual os escribas não conseguiam

já responder convenientemente (Baines e Haslam, 2005: 45). “O princípio

inventado por Gutenberg permitiu imitar a escrita manuscrita, conseguindo

a transformação desta numa escrita mecanizada” (Bacelar, 1998: 10), contri-

buindo, assim, para aumentar quer a produção de livros, quer a circulação da

informação escrita.

Também o livro eletrónico é condicionado por forças sociais, culturais e

económicas dominantes. A título de exemplo Rui Aragão, director da Wook,

29 Apesar das fragilidades

deste processo importa

salientar algumas

das vantagens da

digitalização. Por

um lado, permite o

processamento de uma

grande quantidade de

informação, de forma

mais ou menos detalhada,

com relativa facilidade.

Por outro, permite

armazenar um grande

volume de informação

com pouco dispêndio de

espaço. Por isso, muitos

autores acreditam que

“El sueño de la biblioteca

universal parece hoy

más próximo a hacerse

realidad que nunca

antes, incluso más que

en la Alejandría de los

Ptolomeos. La conversión

digital de las colecciones

existentes promete la

constitución de una

biblioteca sin muros,

donde se podría acceder a

todas las obras publicadas

en algún momento, a

todos los escritos que

constituyen el patrimonio

de la humanidad.”

(Chartier, 2012: 7).

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45

refere que “não se pode ainda falar num verdadeiro mercado português de

ebooks – pelo menos, com verdadeira massa crítica. Não pelo preço dos ebooks

em si, mas pelo custo dos dispositivos móveis cujas características favorecem

o acesso e a leitura de ebooks” (Marques, 2013). Além disso, refere ainda a re-

levância do regime fiscal atual, que penaliza o comércio de livros eletrónicos,

sujeitos a um Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) superior aos impres-

sos (respetivamente, com taxa de IVA de 23% e 6%).

Para além de algumas notícias dispersas, não é ainda possível encontrar dados que documentem devidamente o "peso" e as implicações das diversas forças sociais, culturais e económicas no processo de desenvolvimento de um mercado de livros eletrónicos em Portugal. No entanto, avaliando o contexto atual e a própria evolução das NTIC, poderemos afirmar com relativa segurança que o livro eletrónico será fortemente marcado por agentes de intermediação de pendor económico relacionados com o surgimento e desenvolvimento de soluções tecnológicas (tanto a nível de hardware como de software), bem como pelo desenvolvimento do mercado editorial e a alteração, a diverso nível, das práticas de consumo dos leitores.

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46

Questões cognitivas e práticas sociais

s NTIC têm transformado profundamente a escrita e a lei-

tura, como temos vindo a analisar ao longo deste trabalho.

Estas transformações têm vindo a contribuir para o que

alguns autores denominam por "terceira revolução da

leitura"30, que se caracteriza precisamente pela crescente

diversidade de formas de escrita e de leitura que estas tec-

nologias possibilitam. A leitura torna-se, assim, numa prática cada vez mais

complexa, já “que põe em jogo um conjunto importante de variáveis que de-

terminam a sua forma e funções e relações de manipulação, de compreen-

são e de interpretação, gestos que se completam para assegurar a progressão

através dos textos, quaisquer que sejam as suas particularidades ou os seus

suportes” (Gervis apud Furtado, 2007: 92).

Neste contexto, um fator determinante é o aumento da complexidade dos

textos, que partilham agora o espaço com elementos multimédia e/ou não-

-textuais (Furtado, 2007: 93). Se com a evolução da cultura oral para a cultura

escrita assistimos à transferência da importância do som e da audição para

os elementos gráficos e para a visão, hoje assistimos a uma nova alteração

(Ong, 1999: 117). O conhecimento deixa de ser adquirido unicamente através

do que alguns autores designam por visão alfabética, passando a ser também

alcançado através da visão "não-alfabética" e da audição (Furtado, 2007).

As alterações nas formas de escrita e de leitura devem-se também à emer-

gência dum novo entendimento do "tempo". Com as NTIC temos assistido

progressivamente à passagem do linear para o simultâneo – o tempo real.

“É plausível que a leitura, como aliás outras práticas culturais, esteja a ins-

crever-se no registo da aceleração da temporalidade que Manuel Castells cha-

ma tempo atemporal (...) da sensação do imediato, a mistura de tempos no

mesmo canal de comunicação” (Furtado, 2007: 98). Gonçalo M. Tavares na

sequência da sua participação no seminário “Biblioteca do Futuro/Futuro da

Biblioteca” na Fundação de Serralves, em maio de 2013, refere precisamente

que, ao contrário da leitura mediada pelas NTIC, a leitura “tradicional” não

privilegia a simultaneidade: ela é linear, sequencial e demorada.

As transformações nas formas de escrita e de leitura devem-se ainda ao

novo exercício da memória, não no sentido simbólico que anteriormente as-

sinalamos, mas antes a nível cognitivo. As NTIC questionam “a capacidade

de restituir integralmente e sem ajuda exterior dados de que se tinha conheci-

mento (...) a partir do momento em que suportes externos podem armazenar

as informações que nos interessam e restituí-las a pedido, pode parecer inútil

atafulhar o nosso espírito. Ao libertar o cérebro humano da necessidade de

30 A primeira revolução da

leitura ocorre nos séculos

XII e XIII com a fundação

das primeiras universidades

em diversos pontos da

Europa. Neste período

assiste-se ao aparecimento

de uma cultura laica e ao

abandono paulatino do

dogma religioso. A escrita,

a leitura e o livro deixam de

ser património exclusivo

das ordens religiosas

assistindo-se à passagem

gradual de uma leitura

essencialmente em voz alta

para uma leitura silenciosa

relacionada com o ensino

(Cavallo, 2002; Chartier,

1999). A segunda revolução

da leitura ocorre em

meados do século XVIII,

e está relacionada com o

alargamento da instrução

e consequente o aumento

do número de leitores.

Assim, assiste-se a uma

passagem da chamada

leitura "intensiva" – na

qual um número reduzido

de leitores tinha acesso

um conjunto limitado de

livros com a finalidade de

memorizá-los e recitá-

los transmitindo o seu

conteúdo de geração

em geração – para uma

nova forma de leitura,

"extensiva" – na qual um

maior número de leitores

passa a ter acesso a um

conjunto alargado de livros

de diferentes naturezas

noutros contextos

para além do secular e

universitário (Cavallo, 2002;

Chartier, 1999).

A

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47

registar duradouramente informações, confere-se-lhe a possibilidade de consa-

grar os seus recursos a outras tarefas” (Vandendorpe apud Furtado, 2007: 100).

De uma forma geral as consequências cognitivas destas alterações estão

ainda, como já referimos anteriormente, muito pouco documentadas31. Ainda

assim, é possível encontrar algumas referências que nos permitem identificar

duas posições distintas: uma, que critica precisamente o modo como as NTIC

podem condicionar negativamente a experiência da leitura; e outra, oposta,

que valoriza os elementos multimédia, a narrativa hipertextual, multilinear

e aberta sugerindo que as NTIC podem contribuir para o enriquecimento da

experiência da leitura e das competências por ela desenvolvidas.

É, no entanto, consensual a ideia de que a leitura mediada pelas NTIC é

fragmentada. Gonçalo M. Tavares (2013), compara a leitura mediada por estas

“novas” tecnologias ao olhar quotidiano, que seduzido por estímulos suces-

sivos, vagueia constantemente, percorrendo os elementos dispersos no espa-

ço. Para Teresa Silveira (2013:45-47) esta leitura fragmentada tem um caratér

instrumental já que procura responder, tão rapidamente quanto possível, a

questões pontuais, e sobretudo, práticas.

Vários autores entendem que esta leitura tecnologicamente mediada,

para além de fragmentada, é superficial já que o hipertexto, os elementos

multimédia e os diversos serviços proporcionados pelas NTIC interrompem

sistematicamente a leitura, acentuando a dificuldade que os leitores têm em

se concentrarem de modo duradouro e, consequentemente, em sedimentar

o conhecimento.

De uma forma geral, são definidos dois níveis de concentração: a concen-

tração profunda (deep attention), caracterizada pela atenção sobre o mesmo

assunto, durante um longo período de tempo; e a “hiperatenção” (hyper atten-

tion), caracterizada pela mudança súbita e constante de pontos de interesses

e de tarefas em função dos estímulos existentes (Katherine Hayles apud Fur-

tado, 2012: 208).

Segundo diversos autores, a leitura de um livro remete-nos para o pri-

meiro nível de concentração, em profundidade. “Reading a book was a me-

diatative act, but it didn’t involve a clearing of the mind. It involved a filling,

or replenishing, of the mind. Readers disengaged their attention from the

outward flow of passing stimuli in order to engage it more deeply with an

inward flow of words, ideas, and emotions. That was – and is – the essence

of the unique mental process of deep reading.” (Carr apud Ulin, 2010:134).

Defende-se, assim, que só o livro tal como tradicionalmente o conhecemos é

capaz de envolver o leitor e instaurar o silêncio necessário para o isolamen-

to que a concentração profunda exige (Ulin, 2010:98; Tavares, 2013). Nesta

perspetiva, o recolhimento é um elemento fundamental para que os leitores

possam exercitar a sua imaginação, fazer as suas associações e tirar as suas

próprias conclusões (Tavares, 2013).

31 Giselle Beiguelman (2003: 14)

sugere que a ampla discussão

em torno da morte do livro,

que considera ser um “falso

problema”, tem impedido

uma verdadeira reflexão

acerca das consequências

cognitivas destas

transformações.

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Os autores com posição contrária, acreditam que também os livros ele-

trónicos são capazes de estimular a imaginação e reflexão. Esta é, de resto,

a conclusão de um recente estudo do PewInternet Center segundo o qual as

NTIC encorajam a criatividade e a expressão pessoal (Purcell, 2013). Os vários

autores, reconhecem, contudo, que esse potencial é muitas vezes sacrificado

pelo excesso de informação e pelo recurso desmedido à interatividade (Gil et

al, 2011; Neves, 2012). “Words, pictures, music, sound effects, dynamic cha-

racters and objects, all together should be expressed consistently, avoiding the

tendency to use technology just because it is available and makes something

possible. Other way we are building distraction points” (Neves, 2012: 439).

O exagero de elementos multimédia e/ou não-textuais, bem como com o

excesso de interatividade, tem sido, de resto, um argumento recorrentemen-

te apontado por vários autores para justificar a superficialidade dos conheci-

mento adquirido através da leitura mediada pelas “novas” tecnologias (Ulin,

2010: 133).

O aumento da complexidade dos textos, que agora partilham o espaço com

conteúdos multimédia e/ou não-textuais, exige não só a capacidade de iden-

tificar os elementos representados mas também de os descodificar e inter-

pretar. Assim, poderíamos concluir que escrita e a leitura exigem, neste novo

contexto, um ensino e aprendizagem específico (Vaz, 2006: 446).

A necessidade de um novo tipo de literacia orientada para as NTIC não

está, contudo, ausente de gerar riscos, podendo vir a acentuar desigualdades

já existentes ou até mesmo para criar de novas formas de exclusão, conforme

apontam Paisana (2013: 43) e Catarino (2013: 16).

Neste sentido, as investigações recentes sobre “digital divide”32 contrariam

a ideia de que as formas de escrita e leitura mediadas pela tecnologia são, para

os “nativos digitais”, práticas familiares. Pelo contrário, estes estudos defen-

dem que o “facto de os mais jovens usarem com mais frequência e facilidade

as novas tecnologias não significa que sejam mais críticos e alfabetizados”

(Paisana, 2013: 62). Como nota Miguel Paisana não é a maior ou menor fre-

quência com que utilizamos as NTIC que, por si só, determina a utilização

esclarecida dessas tecnologias: “Receber informação e replicá-la, ainda que

possa requerer algum tipo de conhecimento técnico e capacidade de mani-

pulação técnica, não implica necessariamente um posicionamento crítico por

parte do utilizador” (Paisana, 2013: 44). Neste contexto, avalia-se a literacia

para os media pela capacidade de receber e replicar conteúdos eletrónicos de

forma crítica e consciente.

Assim, para promover o desenvolvimento de competências, ou pelo me-

nos não contribuir para acentuar as desigualdades ao nível do acesso e rece-

ção da informação, a conceção e produção de livros eletrónicos deve potenciar

alguns dos aspetos relacionados com o processo de receção, manipulação e

32 O termo “digital divides”

define exclusão económica,

social e cultural, resultado

de diferentes condições de

acesso às NTIC (Cardoso et

al., 2013).

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transmissão da informação e que contribuem para o desenvolvimento da cha-

mada “cultura participativa” (Paisana, 2013). Livros, revistas, jornais e outras

publicações eletrónicas deverão então fomentar a interação, a apropriação e a

transmissão de informação com a capacidade de identificar diferentes perspe-

tivas e procurar alternativas, resolvendo problemas.

Embora vários autores defendam que as NTIC poderão promover o desen-

volvimento de diferentes competências, constata-se que são ainda escassos os

estudos relativos às especificamente desenvolvidas pelos livros eletrónicos.

Analisando a literatura disponível, encontram-se algumas referências no que

diz respeito aos impactos da Internet (e mais especificamente, do hipertexto)

e dos videojogos que nos permitem, pelo tipo de interações em causa, estabe-

lecer alguns paralelismos.

Numa análise acerca do hipertexto, Richard A. Lanham considera que

este, ao substituir as abordagens lineares, “encoraja as tendências associati-

vas, holísticas e visuais das pessoas” (Furtado, 2007: 54). No mesmo sentido,

Rui Vaz assinala “o desenvolvimento da capacidade de negociação e descons-

trução de imagens, visuais e verbais” (2006: 447).

Estudos realizados sobre a prática de jogos electrónicos destacam ainda

dois outros tipos de competências: “a capacidade de processar fluxos múlti-

plos de informação de forma simultânea e a propensão para resolver proble-

mas através da experimentação (tentativa e erro)” (Vaz, 2006: 447). Note-se

ainda que os jogos eletrónicos podem também promover a comunicação e

interação social já que, nestes contextos, os jogadores partilham estratégias

de atuação (Cuello, 2008).

Teresa Silveira nota ainda que a repetição de estímulos visuais e sonoros é

fundamental para ensinar a automatização de tarefas e procedimentos. Refe-

re, contudo, que esses impulsos devem ser suficientemente diferentes entre

si, visto que o cérebro humano tende a preferir estímulos novos (2013: 82-83).

Conjuntamente, estas investigações parecem contrariar a ideia que as

NTIC contribuem para acentuar as dificuldades de concentração. De facto, al-

guns estudos defendem mesmo que os jogos eletrónicos “podem melhorar a

atenção visual seletiva, isto é, em contextos em que estão simultaneamente a

ocorrer vários acontecimentos, os jogadores são capazes de identificar e de se

concentrar naquilo que é mais importante, filtrando toda a informação irrele-

vante” (Lopes, 2012: 54). José Pereira, neurocirurgião no Hospital de S. João,

defende ainda que os jogos eletrónicos podem contribuir para desenvolver a

coordenação motora e agilidade (Mota, 2013).

Por outro lado, constata-se que são ainda muito pouco debatidas as con-

sequências físicas e psicológicas relacionadas com a saúde e bem-estar dos

leitores de e-books. Para procurar ultrapassar esta dificuldade, consultamos

alguns estudos de âmbito mais geral sobre os impactos das NTIC na saúde e

bem-estar dos seus utilizadores.

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50

Foi recentemente publicado pela American Optometric Association um

estudo em que se reconhece que 70% dos cerca de 143 milhões de norte-

-americanos que utilizam computadores pessoais durante longos períodos de

tempo sem interrupções sofrem de Computer Vision Syndrome – olhos secos

e/ou irritados, visão turva ou dupla, tonturas, fadiga e dores de cabeça. Estes

sintomas podem ser agravados por uma postura inadequada, bem como pelo

reflexo ou brilho excessivo dos ecrãs.

Importa salientar que, tendo em conta estes aspetos, alguns produtores de

e-book readers têm desenvolvido soluções de ecrã mais adequadas à leitura. A

título de exemplo, a utilização da chamada “tinta eletrónica” (e-ink), da retroi-

luminação ou, até mesmo, a imitação do papel amarelado procuram reduzir

o reflexo e o brilho de forma a proporcionar um maior conforto, sobretudo

durante longo períodos de tempo de leitura.

Um outro estudo, desenvolvido em 2007, pela Universidade de Stanford

(Califórnia, E.U.A), demonstra que, durante a utilização das NTIC, nenhum

dos inquiridos adopta uma postura adequada, sacrificando, por isso, o desen-

volvimento do seu tecido ósseo e muscular (Gil, 2011: 175). Para além de le-

sões na região lombar, são também frequentes inflamações nos dedos, mãos

e pulsos (como, por exemplo, a Tendinite de DeQuervain e o Sindrome do

Tunel de Carpo)33.

Embora estes sintomas sejam recorrentemente diagnosticados em utiliza-

dores de computadores pessoais, não existem ainda dados relativamente aos

efeitos das novas formas de interação com dispositivos mais pequenos e por-

táteis e com ecrãs multitoque. Atendendo à alteração das posturas adotadas

pelos leitores, importa investigar as suas consequências, adequando tanto os

e-book readers como os próprios e-books.

Vários estudos dispersos revelam que a ocorrência de falhas técnicas, não

só afetam o bom funcionamento NTIC, como contribuem também para um

aumento da ansiedade consequente desenvolvimento do chamado Computer

Stress Syndrome. Também este aspeto é relevante para o desenvolvimento de

publicações eletrónicas, uma vez que estas se deverão adequar aos software e

33 Num artigo de imprensa,

recentemente publicado,

aborda-se este tipo de

problemas de sáude

relacionados com o

mau uso das NTIC em

Portugal: “Rita Gonçalves

(nome fictício), de 40

anos, teve uma tendinite

no pulso. A designer

gráfica pagou caro os

movimentos repetitivos

feitos ao longo de 12 anos

numa editora, em que

fazia a paginação de livros

escolares no computador.

Começou com um

desconforto, as dores

aumentaram e ao fim de

sete meses foi operada”

(Silva, 2010).

Em baixo: à esquerda, tablet

e e-book reader (com ecrâ

retroiluminado) e suas

diferenças no modo de

emissão da luz; ao centro,

e-book reader com "tinta

eletrónica", tecnologia

desenvolvida em 1996

pelo MIT Media Lab e

atualmente utilizada pela

maioria dos e-book readers;

à direita, e-book reader

com imitação do papel

amarelado.

tabl

et

e-re

ader

(co

m e

crã

retr

oilu

min

ado)

Dirige a luz para dentro

Emite luz para fora

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hardware existentes, minimizando as dificuldades de processamento e, deste

modo, reduzindo os níveis de ansiedades provocados nos leitores.

Outras análises revelam ainda que comunicação online e em rede pode

contribuir para aumentar o sentimento de frustração já que os utilizadores

estão sistematicamente expostos a mensagens, mais ou menos explícitas, de

pessoas bem-sucedidas a nível pessoal e profissional. Tendencialmente, na

comunicação online e em rede, os utilizadores partilham fotografias, vídeos

e textos de momentos mais positivos levando a comparações sociais e conse-

quente desencadeando estados de depressão.

Embora este seja uma tendência ainda pouco explorada, a verdade é que

existem já alguns e-book readers e e-books que promovem a comunicação

online e em rede, envolvendo interação entre diferentes leitores (por exemplo,

através da criação de salas de conversação ou da partilha de comentários e de

notas de leitura). Por esse motivo, é relevante atender às recomendações dos

estudos já realizados sobre os riscos psicológicos associados a estas formas

de comunicação.

Assim, e sem prejuízo de serem realizados estudos específicos sobre a leitura de e-books, considera-se que os vários estudos mencionados apontam aspetos a ter em conta, conceção e produção de livros, revistas, jornais e outras publicações eletrónicas. Em nosso entender, tratam-se de indicações relevantes que podem contribuir, ou não, para o desenvolvimento de competências proporcionadas pela leitura.

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52

Design editorial para suportes digitais

onforme temos vindo a assinalar, as NTIC têm transfor-

mado significativamente os modos de produção de publi-

cações eletrónicas. O aumento da complexidade dos textos,

que agora partilham o espaço com elementos multimédia e

não-textuais, a par das possibilidades e dos constrangimen-

tos impostos pelas próprias NTIC, têm contribuído para o

surgimento de novas formas de pensar e desenhar estas publicações.

Importa salientar que o desenho de publicações eletrónicas é hoje forte-

mente condicionado pelas NTIC que suportam a sua produção, edição, distri-

buição e consulta. As características do e-books e dos e-book readers (hardware e

software), a par das definições escolhidas pelos leitores, são alguns dos aspetos

a considerar no desenho de livros eletrónicos.

Contudo, também os modos de desenhar publicações eletrónicas estão

pouco documentados. São, por isso, fundamentais os estudos relacionados

com a experiência da leitura e com a composição dos textos e das páginas

impressas, que apesar de abordarem um suporte distinto, nos permitem es-

tabelecer alguns paralelismos. Note-se que designers e developers recorrem

com frequência a formas de composição dos textos e das páginas impressas

para o desenho e desenvolvimento de páginas Web: “When Doug Bowman

and his design team at Twitter redesigned their site, the golden ratio defined

the structure of the layout” (Walter, 2011: 21). São igualmente importantes as

referências relativas ao desenho de páginas Web e de aplicações para smart-

phones, phablets e tablets que nos permitem identificar algumas das práticas

mais comuns e mais adequadas aos suportes digitais.

A reflexão sobre o modo como o arranjo dos textos e das páginas pode

condicionar a experiência da leitura não é nova. No final do século XIX, Louis

Émile Javal (1839-1907) descobriu que o cérebro não apreende os textos atra-

vés de movimentos oculares longos e lineares, mas sim, movimentos ocula-

res breves e inconstantes (saccades) definidos por alguns dos elementos pre-

sentes nos textos.

Em baixo: exemplificação

do estudo de Émile Javal

relativamente ao modo

como o cérebro apreende

os textos e ao tipo de

movimentos oculares –

saccades – realizados neste

processo.C

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Javal constatou também que, durante a leitura, o cérebro não fixa todas

as palavras e ignora, com frequência, palavras curtas ou repetidas, confun-

dindo caracteres semelhantes (como por exemplo, o “e”, “c” e “o”, o “i” e “l”,

e os pares “p” e “q”, e também “b” e “d”). Este autor notou ainda que as letras

maiúsculas, os ascendentes e descendentes das letras minúsculas e os vários

sinais de pontuação conduzem o olhar e, por isso, tendem a facilitar a leitura.

Manuel Gil salienta que o leitor é capaz de identificar apenas sete a nove

caracteres num conjunto de palavras sucessivas: “las comprobationes empí-

ricas más notables a este respecto simulaban en una pantalla una frase com-

pleta compuesta por uns pocos caracteres reales seguidos de “x” (…) ningún

lector se dio cuenta nunca del truco”(Gil et al., 2012: 188). Embora não nos

interesse aqui abordar em profundidade os vários estudos relativos ao modo

como o cérebro apreende os textos, convém salientar que tanto Javal como

outros autores notam que o desenho dos caracteres (em especial, algumas

das suas características morfológicas) e a composição dos textos e páginas

contribuem decisivamente para facilitar ou dificultar a leitura.

Assim, no âmbito desta investigação, importa referir, ainda que de forma

sucinta, algumas das principais conclusões de vários autores relativamente ao

desenho das letras e à composição dos textos e das páginas.

Um dos aspetos apontados é a necessidade de reconhecer facilmente a

forma dos caracteres: “the eye of the reader must not be distracted by an

unfamiliar form” (Hochuli, 2008: 13). Alguns autores sugerem mesmo que

os ornamentos devem ser eliminados e a altura dos ascendentes e descen-

dentes deve ser reduzida ligeiramente de forma a enfatizar a “altura-x”: “La

intención es que en una Bodoni de 6 pt la equis tenga una altura de, digamos

3 pt, en vez de los 2 pt que proporcionalmente le corresponden, lo que pro-

bablemente la haría tan legible como una del cuerpo 9” (Unna, 2012: 102).

Para a composição de textos é importante selecionar fontes que apresentem

conjuntos de glifos familiares com formas e proporções harmoniosas. Porém,

como anteriormente mencionamos, os caracteres devem ser suficientemente

diferentes de forma a facilitar a sua apreensão. Vários autores consideram,

assim, que os tipos serifados são mais adequados à composição de textos cor-

ridos. Também no desenho de páginas Web, os autores sugerem a escolha de

fontes com maior “altura-x” e a utilização de fontes serifadas para o corpo de

texto e fontes não-serifadas para os restantes elementos (Lynch et al, 2004).

Muitos dos e-book readers34 apresentam os caracteres com uma resolução

inferior à apresentada em páginas impressas por isso, os traços demasiado

curtos ou finos podem ficar deformados. Uma vez que a mesma letra pode

assumir desenhos diferentes mediante os suportes, é fundamental selecionar

fontes cujo desenho tenha sido otimizado35.

O tamanho do corpo da letra também pode condicionar a apresentação e

legibilidade dos textos que, por isso, não deve ser demasiado grande, nem de-

34 Importa salientar que, de

uma maneira geral, os

e-book readers apresentam

ecrãs com resoluções

inferiores condicionando

a apresentação de textos e

outros elementos gráficos.

Note-se ainda que alguns

deles apresentam um

conjunto de cores muito

limitado (branco, preto e

alguns tons de cinzento).

Os equipamentos com

várias funcionalidades, entre

as quais, a leitura de livros

eletrónicos apresentam

ecrãs com resoluções

superiores. Embora os

primeiros “small screens” de

alta resolução tenham sido

criados em 1998 pela IBM

Research, só em 2010, com

a apresentação do iPhone 4,

da Apple Inc., ganharam

expressão. Nessa altura

a empresa introduziu os

chamados Retina Display

nos seus produtos: iPhone e

iPod Touch (com 326 ppi),

iPad (com 264 ppi) e

computadores pessoais

(com 220 ppi).

35 Os softwares utilizados

para o desenho de tipos

disponibilizam ferramentas

– hinting – que permitem

determinar o desenho

ideal de cada traço

evitando deformações na

apresentação dos caracteres

em vários tamanhos e nos

diversos suportes.

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masiado pequeno. Importa aqui salientar que alguns dos suportes (hardware

e software) e formatos eletrónicos permitem ao leitor ajustar o tamanho do

corpo do texto às suas próprias necessidades.

Outro aspeto mencionado é o espaçamento entre caracteres (tracking e

kerning) e entre linhas (leading). Émile Javal sugeriu a sua redução, contudo,

hoje sabemos que as composições mais “claras” – ou seja, com um espaça-

mento razoável – são mais legíveis (Unna, 2012: 105). O espaçamento entre

caracteres e entre linhas deve ser ajustado mediante o próprio desenho das

letras, o tamanho do corpo utilizado e a largura das colunas. De uma forma

geral, entende-se que este espaçamento deve corresponder a 10 ou 20% do ta-

manho do corpo da letra. No entanto, as colunas de texto mais largas poderão

necessitar de um maior o espaçamento entre linhas: “uma entrelinha maior

permite um aumento do comprimento da linha sem prejudicar a legibilida-

de” (Lynch et al., 204: 124).

Também a largura das colunas de texto são consideradas um aspeto fun-

damental para a legibilidade. Vários autores entendem que, idealmente, uma

coluna de texto deve ter 10 a 12 palavras por linha (aproximadamente, cerca de

60 a 70 caracteres) incluindo, além das palavras, o espaço entre elas e os sinais

de pontuação. Relativamente ao desenho de páginas Web, alguns autores su-

gerem que, idealmente, uma coluna de texto deve ter entre 9 a 10 palavras por

linha (Lynch et al., 2004: 124). Estes valores dependem de inúmeros fatores,

nomeadamente, o desenho das letras, a composição do texto e da página, o tipo

de publicação e até o idioma36 (Hochuli, 2008: 34; Unna, 2012: 117). A largura

das colunas de texto deve ser, assim, ajustada aos vários fatores, com devida

cautela, já que linhas demasiado longas “exigem que o leitor mova a cabeça

ligeiramente ou force os músculos oculares para conseguir lê-las. Há uma

perda de legibilidade porque, no longo caminho de volta à margem esquerda,

o leitor pode perder a localização da próxima linha” (Lynch et al., 204: 123).

O alinhamento das colunas de texto é outro aspeto importante. Os atuais

softwares de desktop publishing utilizados para a diagramação de publicações

– como, por exemplo, o Adobe InDesign – oferecem um inúmeras de ferra-

mentas que permitem otimizar o trabalho de paginação independentemente

do alinhamento escolhido (esquerda, direita ou justificado). No entanto, as

linguagens de desenvolvimento Web e os softwares de edição Web não ofere-

cem as mesmas ferramentas, sendo, por isso, frequente encontrar espaços

irregulares e indesejados entre as palavras. Assim, no desenho de páginas

Web considera-se que o texto alinhado à esquerda é mais legível. O ritmo

estabelecido entre a margem esquerda, regular e previsível, e a margem di-

reita, irregular, facilita a passagem de uma linha para a seguinte. Por outro

lado, evita o aparecimento de espaços indesejados entre palavas, já que todo

o espaço vazio fica condensado no fim de cada linha, minimizando assim

ocorrência dos chamados “dentes de cavalos”.

36 Note-se que, por exemplo,

a língua alemã tem

palavras mais longas e, de

um modo geral, a inglesa,

palavras mais curtas que a

francesa ou a portuguesa.

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A legibilidade do texto depende ainda da relação que este estabelece com

elementos não-textuais e com espaço vazio. As margens assumem um papel

fundamental37 já que facilitam o manuseamento das publicações. Permitem

também aumentar o contraste visual entre os vários elementos destacando os

mais importantes. Um estudo recentemente desenvolvido na Universidade

de Stanford revelou que os leitores tendem a ler uma página Web de forma

totalmente distinta de uma página impressa: em primeiro lugar, veem o ro-

dapé e as margens laterais e, só depois, o conteúdo central (Gil et al., 2011:

174). Um outro estudo publicado, em 2010, por Jakob Nielsen salienta que

apenas 20%, utiliza a scroll bar, ultrapassando a linha imaginária que separa

os conteúdos visíveis dos restantes. A mesma investigação indica que os 69%

leitores da margem retêm sobretudo a margem direita (Gil et al., 2011: 187).

O conteúdo é consultado da esquerda para a direita, e de cima para baixo.

Deste modo, as margens e espaços vazios ajudam a definir hierarquias entre

os vários conteúdos e a conduzir o olhar do leitor. Estes elementos permitem

ainda instaurar um certo repouso que a concentração profunda exige: “Não

importa quão cheia ou vazia, a página precisa de respirar, e num livro – isto é,

num texto longo feito para ser habitado pelo leitor – é preciso que ela respire

em ambas as direções” (Bringhurst, 2005: 47).

O contraste visual depende ainda da relação estabelecida entre o texto e

o fundo. De uma forma geral, entende-se que preto sobre o branco, ou qual-

quer outra cor clara e pouco saturada, garante maior contraste e por isso, é

mais legível. Considera-se que os fundos escuros são significativamente me-

nos legíveis, mesmo quando o texto surge a branco. Importa aqui mencionar

que o fundo branco aumenta o brilho dos ecrãs o que, como mencionamos

anteriormente, poderá ter implicações na saúde e bem-estar dos leitores. As-

sim, o que, por um lado, promove a legibilidade do texto poderá, por outro,

comprometer a sua leitura.

Importa salientar que a composição do texto e da página deve ter uma

estrutura clara e organizada, evitando alterações sucessivas no arranjo do tex-

to ou qualquer outro elemento da página (Unna, 2012: 116). Para além das

metáforas familiares, é fundamental definir códigos compreensíveis e cons-

tantes ao longo da publicação. Também, por isso, é importante selecionar

fontes cujas famílias tenham a quantidade de pesos adequados aos textos e

às hierarquias definidas. O desenho de human computer interfaces consistentes

contribui decisivamente para minimizar a interrupção sistemática da leitura,

promovendo a capacidade de concentração de modo duradouro e, consequen-

temente, para sedimentar o conhecimento.

Para além deste conjunto de questões relacionadas com o desenho das

letras e a composição dos textos e das páginas importa ainda mencionar al-

gumas das práticas mais comuns no desenho de páginas Web que se come-

çam também a verificar no desenho de aplicações para smartphones, phablets e

37 Note-se que nas

publicações impressas as

margens permitem ainda

proteger os textos durante

o processo de produção

nomeadamente, no

corte das páginas e sua

encadernação.

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tablets. Vários autores destacam o papel central que os conteúdos agora ocu-

pam: “Content is King” said Bill Gates back in 1996 and we waited quite a

long time to fully feel the wisdom of these words in web design” (Treder et al,

2013:5). De uma forma geral, as páginas Web passam a ser “content-centric”

apresentando uma composição do texto mais cuidada e um grande conjunto

de elementos não-textuais e multimédia. Importa ainda salientar que a aten-

ção dada aos conteúdos não se traduz apenas na quantidade mas também

sua qualidade – os vários autores têm vindo a desenvolver estilos de escrita

mais adaptados a este medium e as ilustrações, fotografias e vídeos apresen-

tam uma maior resolução. Este conjunto de alterações deve-se, por um lado, à

tomada de consciência das especificidades destes novos suportes e, por outro,

à própria evolução das NTIC – tanto os melhores equipamentos (câmaras

de fotografar/filmar e computadores pessoais mais robustos e softwares mais

avançados), como as ligações mais rápidas à Internet têm contribuído decisi-

vamente para esta transformação.

Outra tendência emergente no modo de apresentação dos conteúdos é

o “storytelling” que se destaca pelo desenvolvimento de pequenas narrativas

com o objetivo de seduzir e envolver o leitor: “when organizations, causes,

brands or individuals identify and develop a core story, they create and display

authentic meaning and purpose that others can believe, participate in, and

share” (Brown apud Treder et al., 2013: 21).

Relativamente aos modos de interação assiste-se à substituição progressi-

va dos menus no topo ou nas margens laterais das páginas Web por formas

de interação menos convencionais. Importa aqui realçar duas das estratégias

amplamente utilizadas na produção de publicações digitais. Destaca-se, por

um lado, a “gamification”, prática que se caracteriza pela utilização do jogo

com o objetivo de envolver os leitores. Esta técnica distingue-se essencial-

mente pelo carácter lúdico das publicações e pela relação que os leitores es-

tabelecem com os conteúdos textuais e não-textuais: “a diferença estará na

imposibilidade do trabalho de interpretação do leitor alterar o texto lido, en-

quanto as acções dos jogadores determinam, efectivamente, os acontecimen-

tos do jogo. Além disso, os textos não avaliam o esforço dos leitores, nem os

desafiam a atingir novas competências, como fazem todos os jogos digitais

(…) [que] permitem a constatação dos progressos no jogo, do que se evoluiu

enquanto jogador, e o confronto com o desempenho de outros jogadores”

(Pinto, 2007: 192). Por outro lado, salienta-se a planificação dos conteúdos

sobre uma “folha” ilimitada – a “infinite canvas” – que pode ser percorrida,

pelo leitor em todas as direções.

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Outra tendência importante é o desenvolvimento dos chamados responsive

layouts – desenhos assentes em grelhas dinâmicas com conteúdos flexíveis

que se ajustam às dimensões do ecrã. O conceito “Responsive Web Design”

foi introduzido em 201038 pelo designer e developer Ethan Marcotte com o

objetivo de desenvolver de páginas Web capazes de melhorar a experiência

de leitura independentemente do equipamento utilizado pelo leitor para con-

sultar a determinado conteúdo. A nível técnico este desenvolvimento exige,

por exemplo, que as dimensões dos elementos textuais e não-textuais sejam

definidos por unidades relativas como por exemplo percentagem, em vez de

unidades absolutas como os pixéis ou pontos.

É também evidente o abandono progressivo do chamado “skeuomorphic

design” em detrimento do “flat design”. Amplamente utilizado nos human

computer interfaces, o “skeuomorphic design” caracteriza-se pelo uso de exaus-

tivo de formas geralmente arredondadas, texturas, vasto conjunto de cores,

gradientes e sombras. Por oposição, o “flat design” caracteriza-se pelo desenho

simples e minimal com gráficos predominantemente retos e pela escolha de

um número reduzido de cores, geralmente, planas e opacas.

Este modo de pensar e desenhar os human computer interfaces foi adotado,

desde 2009, pela Microsoft Corporation, desde 2010, pela Google Inc. e, mais

recentemente, pela Apple Inc. O novo sistema operativo iOS7 da Apple Inc.,

lançado no início do mês de setembro, segue também esta tendência ainda

que mantenha alguns traços característicos do skeuomorphic. Note-se, assim,

que estas tendências marcam não só o desenho de páginas Web mas também

o desenho de aplicações para smartphones, phablets, tablets e computadores

pessoais.

Outra tendência que poderá ser associada ao "flat design" é a utilização do

"parallax scrolling", técnica proporcionada pela evolução do HTML5 e CSS3, e

amplamente utilizada no desenvolvimento de páginas Web, que sugere a tri-

dimensionalidade através do movimento de layers em sentidos e velocidades

diferentes em resposta ao scroll.38 Cf. http://alistapart.com/

article/responsive-web-

design

Em cima: diagrama da

planificação dos conteúdos

na “infinite canvas” que pode

ser percorrida, pelo leitor

em todas as direções.

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Finalmente, importa ainda mencionar que a clareza e legibilidade dos

elementos textuais e não-textuais dependem também da própria organização

dos conteúdos. Vários autores consideram fundamental dividir o conteúdo

em unidades lógicas, estabelecendo hierarquias capazes de estruturar as rela-

ções entre essas unidades (Lynch et al., 204: 38).

Robert Darnton sugere que as publicações eletrónicas devem obedecer a

uma organização vertical onde, num primeiro nível se encontra a informa-

ção elementar e nos níveis seguintes a informação complementar: "Top layer

could be a concise account of the subject (…) the next layer could contain ex-

panded versions of different aspects of the argument (…) the third layer could

be composed of documentation, possibly of different kinds (…) a fourth layer

might be theoretical or historiographical (…) a fifth layer could be pedagogic,

consisting of suggestions for classroom discussion (…) and a sixth layer could

contain readers’ reports, exchange between the author and the editor, and let-

ter form readers" (2009:76). O autor defende que desta forma, os leitores po-" (2009:76). O autor defende que desta forma, os leitores po-

dem ter acesso a informação mais superficial ou mais aprofundada mediante

o número de níveis consultados.

Em conjunto, estes vários fatores têm contribuído decisivamente para

uma maior clareza e legibilidade dos human computer interfaces. Assim, e sem

prejuízo de serem realizados estudos específicos sobre o desenho de e-books,

considera-se que os vários fatores anteriormente mencionados são aspetos

a ter em conta39 no desenho de livros, revistas, jornais e outras publicações

eletrónicas.

39 Digital Book Awards

(anteriormente conhecido

por Publishing Innovation

Awards), criado em 2010,

pelo grupo Digital Book

World visa distinguir a

publicação de e-books

inovadores em diferentes

categorias. Este galardão

é atribuído mediante

a avaliação de 13

parâmetros relacionados

com os aspetos que aqui

mencionamos: http://qed.

digitalbookworld.com/

why-qed/criteria

Em cima: à esquerda,

pormenor do sistema

operativo iOS 6 da

Apple Inc., aplicando

os princípios do

"skeuomorphic design";

à direita, pormenor do

sistema operativo iOS 7

da Apple Inc., recorrendo

a alguns dos princípios

do"flat design".

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Em baixo: pormenor sistema

operativo Win8 da Microsoft

Corporation (desenvolvido a

partir de 2009 e lançado ao

público em meados de 2012)

percursor do "flat design".

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Estudos de caso

40 Define-se por picture

book, ou picture story

books, os livros que,

embora possam ter alguns

elementos textuais, são

predominantemente visuais.

Procurando aprofundar a discussão em torno da pluralidade de formas de

produzir, editar e distribuir livros eletrónicos, procedemos neste segundo mo-

mento da investigação à análise de três casos distintos:

O primeiro estudo caso é a obra “Incómodo”, de André Letria, picture

book40 lançado pela Pato Lógico Edições, em 2011. Trata-se de

uma publicação inicialmente impressa, tendo sido, posterior-

mente, editada em formato eletrónico, em colaboração com a

empresa Biodroid Entertainment. Este e-book está disponível

gratuitamente no formato de aplicação (app), na loja iTunes da

Apple Inc. podendo, assim, ser consultado nos dispositivos iPod,

iPhone ou iPad.

O segundo estudo de caso é a revista internacional de design “Work that

Works”. Editada recentemente pelo designer checo Peter Bilak,

a revista conta com dois números: o primeiro lançado em fe-

vereiro de 2013 e o segundo em julho. Ambos os números da

“Work that Works” foram lançados simultaneamente em edição

impressa e eletrónica (nos formatos PDF, ePUB e Mobi). Alguns

artigos da revista estão ainda acessíveis, de forma gratuita, no

próprio website.

Finalmente, o terceiro estudo de caso realizado é o software gratuito “do-

tdotdot”. Desenvolvido por uma start up alemã, em 2012, este

software destina-se à leitura de publicações eletrónicas, podendo

ser utilizado quer online, através da consulta no browser, quer

através da aplicação (app) em dispositivos iPod, iPhone ou iPad.

As escolhas destes estudos de caso prendem-se sobretudo com a oportu-

nidade de, através destes exemplos distintos, abordarmos algumas das prin-

cipais tendências contemporâneas em matéria de produção, edição e distri-

buição de publicações eletrónicas. Simultaneamente, esta análise permitirá

retomar algumas das questões teóricas abordadas no capítulo anterior. Con-

sidera-se ainda que, através da realização destes três estudos de caso, haverá

oportunidade de aprofundar o nosso conhecimento específico em matérias

relacionadas com a produção, edição e distribuição de publicações eletróni-

cas, esboçando pistas para o terceiro momento desta investigação: o desenvol-

vimento de uma nova publicação eletrónica, capaz de explorar algumas das

potencialidades das NTIC.

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Para concluir, importa salientar que, para a elaboração da análise de cada

um dos casos, utilizou-se uma metodologia de análise documental, consul-

tando os exemplos selecionados nos diversos suportes, bem como outros do-

cumentos adicionais disponíveis em papel e online (nomeadamente, entrevis-

tas, artigos e reviews técnicos). Uma vez concluída esta análise documental,

realizamos ainda entrevistas (presenciais e por e-mail) aos autores de cada um

dos casos selecionados, de modo a enriquecer e complementar a informação

previamente recolhida.

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“Incómodo”

41Em parceria com a Biodroid

Entertainment, a Pato Lógico

Edições publicou três títulos

em formato digital, todos

disponíveis no iTunes, loja

da Apple Inc.: Incómodo

(2011), Estrambólicos (2012)

e De Caras (2012).

42 Importa, contudo, salientar

que algumas vozes se têm

insurgido contra a Apple Inc.,

empresa multinacional que

controla o desenvolvimento

e distribuição dos livros.

Por um lado, a Apple Inc.

gere o desenvolvimento e

distribuição das aplicações

não só ao nível do seu

funcionamento mas também

dos seus conteúdos –

assim, aplicações com um

desempenho deficiente ou

conteúdos considerados

explicítos não serão

distribuidas no iTunes.

Por outro lado, a Apple

Inc. tem sido acusada

(e recentemente, foi

considerada culpada) da

concertação dos preços

dos e-books que distribui

com o objetivo de eliminar

a concorrência e assim

aumentar a sua margem

de lucro (cf. http://www.

dinheirovivo.pt/Buzz/

Artigo/CIECO200828.html).

Assim, conforme alertaram

vários autores (Darnton,

2009) a respeito de outras

plataformas, é fundamental

não negligenciar a forma

como, por diversos motivos,

inúmeras obras podem sair

de circulação.

“Incómodo” (2011) é o primeiro título da Pato Lógico

Edições lançado em formato eletrónico. Com nove tí-

tulos editados, três41 dos quais, em formato eletrónico,

a Pato Lógico Edições – fundada, em 2010, pelo autor

e ilustrador André Letria – é pioneira na produção,

edição e distribuição de livros eletrónicos em Portugal.

Editado em parceria com a Biodroid Entertainment, empresa de produ-

ção e distribuição de conteúdos de entretenimento, sedeada em Lisboa, o

“Incómodo” insere-se no vasto conjunto de publicações eletrónicas dispo-

níveis sob a forma de aplicação (app). Conforme explicamos anteriormente,

neste formato, o conteúdo é indissociável do software que permite a sua con-

sulta. Este tipo de publicações eletrónicas é muito comum no iTunes, merca-

do da Apple Inc., e tem sido apontado como o “futuro” da edição digital já que,

mais do que qualquer outro formato, permite explorar as potencialidades dos

conteúdos multimédia e dos próprios dispositivos de leitura 42.

Em entrevista43, André Letria afirmou que a edição eletrónica do “Incó-

modo” surgiu da sua vontade de explorar as NTIC. Esta intenção acabou por

ganhar forma quando Tiago Ribeiro, co-fundador da Biodroid Entertainment,

demonstrou interesse em colaborar neste projeto. A colaboração estabelecida

acabou por determinar o próprio percurso da editora que, desde o “Incómodo”,

adaptou mais dois títulos para formato eletrónico e iniciou ainda o projeto

Nave Especial44, que procura fomentar a discussão em torno da produção,

edição e distribuição digital, bem como o desenvolvimento de projectos ino-

vadores em formato eletrónico.

Para a análise deste caso importa, em primeiro lugar, abordar o modo de

produção da sua edição eletrónica. Segundo Antré Letria, era importante co-

meçar a incursão pelo universo da produção e edição digital através da reali-

zação de histórias curtas e simples, contadas apenas com imagens. Esta opção

prende-se essencialmente com a necessidade que o ilustrador sentiu de tomar

consciência, de forma gradual, das especificidades deste novo contexto, que até

então não dominava plenamente.

De facto, do ponto de vista do seu argumento, o “Incómodo” releva-se bas-

tante simples: uma mosca, ao longo das páginas, voa incomodando um rapaz;

subitamente, o leitor é surpreendido com o aparecimento de uma terceira

personagem – um sapo – e com um desfecho inesperado – em vez de comer

a mosca, o sapo engole o rapaz, deixando a mosca voar.

Tal como os outros títulos em formato eletrónico da Pato Lógico Edições, o

“Incómodo” surgiu a partir de uma versão impressa, o que permitiu a André

O

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Letria estudar a transformação para e-book. Neste sentido, referiu em entre-

vista que o formato da edição impressa, desdobrável em harmónio de 11 cen-

tímetros de largura por 15 centímetros de altura, foi escolhido pensando já

na adaptação ao formato digital. Para André Letria, este formato apresentava

algumas semelhanças a um storyboard45 já que cada página poderia corres-

ponder a um momento da animação dos elementos gráficos. Nesta “mini-

-narrativa contada em frames” seria possível equacionar a sequência da nar-

rativa, identificar o modo de apresentação dos elementos gráfico e, a partir

daí, estudar as possíveis formas de animação e interação do leitor com esses

elementos, facilitando a adaptação do livro ao formato eletrónico.

Apesar desta possível aproximação, Letria confessa que “a adaptação não

foi fácil. Tivemos nesta experiência o primeiro choque com a realidade: a ne-

cessidade de pensar na adaptação para o digital como um projeto autónomo”

(Letria apud Brites, 2013: 52). Esta observação de Letria vai de encontro ao en-

tendimento de Christian Allègre que considera que a “translação de um me-

dium para outro exige uma muito cuidadosa reconfiguração intelectual dos

conteúdos, [que] deve ser decidida a partir da compreensão da nova natureza,

da sua genealogia, da sua contextualização cultural e estratégias de leitura

prevista; os conteúdos devem ser reclassificados e reordenados no sistema de

conhecimentos com o fito de assegurar uma nova eficácia simbólica exigida

pelo novo meio” (Allègre apud Furtado, 2007: 79).

Este processo serviu também para Letria reforçar a sua convicção de que,

por um lado, o objetivo do livro eletrónico não é substituir o formato anterior

e que, por outro, para explorar as potencialidades destes novos formatos não

fará sentido transpor rigorosamente tudo o que existe na edição impressa

para a digital: “As coisas, de facto, não podem ser feitas da mesma forma. O

facto de haver uma história idealizada não significa que se possa pensar da

mesma forma e seguir o mesmo processo de trabalho quando se passa para

o digital. Por vezes é necessário criar ramificações ou conclusões diferentes

porque o formato digital só faz sentido se for dinâmico, caso contrário, desa-

proveita todo o potencial que este meio tem”.

43 No âmbito desta

investigação foi realizada

uma entrevista presencial

ao editor, autor e

ilustrador André Letria,

no dia 30 de abril de

2013, em Lisboa. Todas

declarações de André

Letria utilizadas na

elaboração deste estudo

de caso foram recolhidas

nesta entrevista, exceto

quando assinalado.

44 A primeira iniciativa

promovida no âmbito do

projeto Nave Especial foi a

conferência “ABC da Edição

Digital – Conferência Para

a Edição Digital de Livros

Para Crianças”, realizada

a 28 de janeiro de 2013,

na Fundação Calouste

Gulbenkian, em Lisboa

(cf. http://www.nave-

especial.pt/conferencia).

Inserido neste projeto

encontra-se também o

concurso “Prémio Nave

Especial - Histórias Digitais

Ilustradas” que visa

incentivar a produção de

publicações eletrónicas

em Portugal. Cf. http://

www.nave-especial.pt/

regulamento/

45 Muito comum no cinema

e televisão, o storyboard

é constituido por uma

sequência de ilustrações

que descreve as principais

momentos de uma

narrativa. Genericamente,

cada uma dessas imagens

apresenta todos os

elementos visíveis em cada

momento bem como a

posição em que surgem.

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65

Por outro lado, existe necessidade de compreender as limitações dos dis-

positivos de leitura digital. Neste sentido, Letria sublinha que é necessário

adaptar as ilustrações pois “no livro [impresso] o formato duplica quando o

abrimos. No iPad temos um ecrã que tem uma dimensão limitada, que não

muda, e só pode variar entre formato horizontal ou vertical”.

Ainda no que se refere à translação dos conteúdos de um medium para

outro, André Letria defende que esta decisão deve ser devidamente refletiva,

pois implica um grande investimento. Neste sentido, refere: “qualquer livro,

com mais ou menos esforço, pode ser adaptado ao formato eletrónico, não sei

é se vale a pena” já que “a produção é cara, investe-se muito sem os resultados

esperados e o investimento mais básico num e-book não compensa o esforço,

é preciso mais qualquer coisa”. É, por isso, necessário, defende, um maior

investimento dos editores, preocupando-se em editar novos títulos ou títulos

já existentes em formato eletrónico que aproveitem as potencialidades e os

desafios que o digital suscita.

André Letria salienta ainda que um livro eletrónico, ao contrário do im-

presso, nunca é uma obra acabada. Para Letria há a necessidade de lançar,

com relativa frequência, novas versões com melhorias ou outras opções. Esta

opinião de Letria parece ir de encontro à perspetiva de vários outros autores:

“More profound, however, is the book’s reinvention in a networked environ-

ment. Unlike the printed book, the networked book is not bound by time or

space. It is an evolving entity within an ecology of readers, authors and texts.

Unlike he printed book, the networked book is never finished: is always a

work in progress” (Stein apud Gottlieb, 2010: 67).

Importa também perceber de que modo a conceção e produção de livros

eletrónicos introduz alterações nas equipas de trabalho e, de algum modo,

redefine o papel do autor.

Em entrevista, André Letria salientou que, ao contrário das edições im-

pressas, as digitais “têm mais componentes artísticas: agregam o texto, som,

imagens com ou sem animações… as imagens mesmo que estáticas têm que

transmitir algum movimento”. Como notam outros autores, a edição eletró-

nica exige equipas multidisciplinares, agregando profissionais com as com-

petências técnicas e científicas necessárias à produção destes conteúdos, ex-

plorarando, assim, as potencialidades destes novos formatos (Laterza apud

Furtado, 2007: 28-29). No caso da Pato Lógico Edições, e conforme reconhe-

ceu André Letria, a parceria com a Biodroid Entertainment revelou-se funda-

mental para a concretização do “Incómodo”.

Interessa também perceber se estes novos formatos digitais contribuem

para redefinir o papel do leitor, designadamente através da proposta de uma

nova experiência de leitura.

A este propósito, André Letria identifica algumas diferenças no modo

como o leitor interage com a edição impressa e a digital. No caso concreto do

Página anterior: à esquerda,

capa da edição impressa e

eletrónica do "Incómodo"

(Letria, 2011); à direita,

pormenor da edição

impressa do "Incómodo" –

desdobrável em harmónio.

Page 66: John Doe – o livro no mundo digitalbiblioteca.fba.up.pt/docs/Marta_Ferreira/MDGPE_Marta... · 2013. 12. 19. · de 2009 e lançado ao público em meados de 2012) percursor do "flat

66

“Incómodo”, Letria refere que “apesar de ser a mesma história, ela teve de ser

contada utilizando outros recursos, não só técnicos, mas também narrativos,

que envolvessem o leitor como participante ativo no desenrolar da ação” (Le-

tria apud Brites, 2013: 52). De facto, na edição eletrónica do “Incómodo” é pe-

dido ao leitor que interaja com as personagens para dar continuidade à histó-

ria: “Para passar ao passo seguinte, o leitor teria que perceber o sítio específico

onde a mosca pousa. Só depois de acertar é que se passa ao momento seguin-

te”. Desta forma, o “Incómodo” assume um carácter lúdico46 aproximando-se

de um jogo eletrónico. Desta forma, “Incómodo” segue uma das principais

tendências emergentes na produção de publicações digitais – a gamification.

Neste ponto, será talvez oportuno compararmos o “Incómodo” com o e-

-book “Alice in Wonderland”47, lançado pela editora inglesa Atomic Antelope

Ltd. em março de 2010, pouco depois da apresentação do iPad (a 27 de ja-

neiro do mesmo ano). O sucesso comercial de “Alice in Wonderland” cha-

mou a atenção48 para este “novo” dispositivo enquanto plataforma de leitura.

Também neste e-book a interação é utilizada como forma de envolver o leitor

que é desafiado a interagir com os vários elementos gráficos quer através do

toque, quer do movimento do dispositivo49. No entanto, a manipulação dos

vários elementos gráficos desenvolve-se de forma “paralela” ao texto não sen-

do essencial para o desenrolar da narrativa. Independentemente da qualidade

das ilustrações e dos vários elementos multimédia, a interação proposta em

“Alice in Wonderland” poderá ser considerada acessória, não contribuindo

por isso, como alegam alguns autores, para o enriquecimento da leitura. Por

outro lado, as ilustrações e os vários elementos multimédia e as formas de

interação propostas são demasiado literais deixando, por isso, pouco espaço

para o leitor explorar a sua imaginação. Como vimos no capítulo anterior, é

precisamente este tipo de interação que se desenvolve de forma paralela à

narrativa que tem contribuído para reforçar a opinião de que os elementos

multimédia e/ou elementos não-textuais interrompem sistematicamente a

leitura acentuando a dificuldade que os leitores têm em se concentrarem de

modo duradouro.

46 Note-se que também

nos outros títulos

digitais publicados pela

Pato Lógico Edições

encontramos esta forte

componente lúdica.

Por exemplo, em

“Estrambólicos” e “De

Caras” o leitor pode

manipular as diferentes

partes das personagens

encontrando, em cada

uma das publicações,

mais de 4 mil conjugações

possíveis.

47 Cf. http://www.

atomicantelope.com/alice/

e https://itunes.apple.com/

en/app/alice-for-the-ipad/

id354537426?mt=8

48 “Alice in Wonderland”

suscitou, desde logo,

opiniões diversas.

Num artigo de opinião

publicado no New York

Times a 14 de abril de

2010, Verlyn Klinkenborg

criticou severamente esta

edição pela forma como

a interatividade poderia

alterar os hábitos de

leitura, especialmente

dos mais novos (Cf.

http://www.nytimes.

com/2010/04/15/

opinion/15thu4.

html?_r=0). Os mesmos

argumentos levaram

Oprah Winfrey a elogiar

esta adaptação no seu

programa de televisão (Cf.

http://www.youtube.com/

watch?v=w5FFS4eojeY).

49 Cf. http://www.

youtube.com/

watch?v=gew68Qj5kxw

Page 67: John Doe – o livro no mundo digitalbiblioteca.fba.up.pt/docs/Marta_Ferreira/MDGPE_Marta... · 2013. 12. 19. · de 2009 e lançado ao público em meados de 2012) percursor do "flat

67

Neste ponto André Letria salienta o modo como os mediadores tecnoló-

gicos e as suas potencialidades são parte intrínseca da leitura. André Letria

refere que “a forma como as pessoas lidam com estes livros é naturalmente

diferente pois têm contacto com outras aplicações – são sempre distrações.

São questões que também temos que ter em conta”.

A utilização do jogo com o objetivo de envolver os leitores leva-nos a reto-

mar aqui o debate sobre a (nova) natureza do livro e a necessidade encontrar

expressões que melhor se adequam a estas formas edição eletrónica. De fac-

to, estas formas de apresentação dos conteúdos são totalmente distintas das

tradicionais fazendo com que as expressões atualmente usadas, como “livro”,

por exemplo, sejam pouco esclarecedoras desta nova realidade.

Importa mencionar que a edição digital do “Incómodo” apresenta algu-

mas fragilidades, que decorrem essencialmente do facto de ser uma primeira

abordagem da Pato Lógico Edições ao universo digital. A dificuldade que al-

guns leitores têm em encontrar a solução para chegar ao final do livro é talvez

o aspeto menos bem conseguido da obra. Refletindo sobre este aspeto, André

Letria reconhece que o “Incómodo” “tem características muito experimentais,

nem sequer dá pistas às pessoas, o que é uma prática muito mal vista. As

pessoas têm que perder o seu tempo a explorar aquele objeto, aquele pro-

duto”. Nota ainda que é necessário atender aos diferentes leitores, já que se

percebe “que há uma diferença clara entre os adultos e as crianças: as crianças

percebem imediatamente o que é que têm de fazer e descobrem muito mais

facilmente a solução; os adultos têm algum receio, não têm iniciativa de estar

a mexer e perceber quais são as interações possíveis”. André Letria evoca, as-

sim, a conceção tradicional do termo “nativos digitais”, considerando que os

indivíduos que desde cedo conviveram com as NTIC apresentam uma maior

facilidade em ler estas publicações. Contudo, e conforme mencionamos an-

teriormente, esta visão não tem sido comprovada em estudos recentemente

realizados em Portugal (Paisana, 2013). Por esse motivo, a opção por publi-

cações de caráter mais experimental devem ser cuidadosamente equacionada

já que poderá, ainda que inadvertidamente, contribuir para o abandono da

leitura e, num limite extremo, para o designado Computer Stress Syndrome.

Aproveitando a oportunidade de entrevistar um autor e editor português,

interessou-nos recolher o seu testemunho relativamente à forma como, na

sua perspetiva, as diversas forças sociais, culturais e económicas intervém,

positiva ou negativamente, neste novo contexto da edição digital em Portugal.

André Letria chama a atenção para as dificuldades associadas à posição pe-

riférica do país, bem como ao seu escasso número de leitores interessados em

e-books: “numa primeira fase, somos confrontados com um mercado muito re-

duzido como o português, sem consumidores em quantidade suficiente para tor-

nar rentáveis os produtos que estamos a criar. Logo a seguir, deparamo-nos com

a dificuldade de mostrar ao mundo que existimos” (Letria apud Brites, 2013: 52).

Página anterior: à esquerda

e ao centro, páginas

da edição impressa do

"Incómodo" (Letria, 2011);

à direita, pormenor do

modo de leitura/interação

da edição eletrónica do

"Incómodo".

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68

Neste sentido, Letria defende que, num contexto de mercado globalizado

altamente competitivo e concorrencial, os aspetos de comunicação e marke-

ting são fulcrais para o sucesso de um e-book. Defende, por isso, uma mudan-

ça de postura nos editores portugueses: “temos um problema por resolver

que, aliás, todas as editoras, independentemente da dimensão, têm: que é

perceber como pode ser feita a divulgação (...), perceber como se chega aos

leitores (…). As editoras também têm que se transformar nesse sentido, pas-

sar a ter pessoas que façam esse trabalho porque um título que é lançado

na App Store, entra imediatamente em competição com milhares de livros e

corre o risco de passar despercebido, com a agravante do valor da venda ser

muito mais baixo, [por isso] é preciso trabalhar também esse contacto intenso

e constante com o público”50.

André Letria vai ainda de encontro às opiniões que defendem que um con-

teúdo digital é, na sua essência, universal, beneficiando do acesso potencial a

um mercado global, sendo que, em princípio, a única limitação à compra será

o idioma (Gil, 2011: 154). Estas transformações e, em particular, a afirmação

crescente do comércio eletrónico, contribuíram para o fim da exclusividade da

distribuição. Por outro lado, os suportes digitais permitiram resolver proble-

mas relacionados com o armazenamento de stocks de livros e a sua distribui-

ção. No seu conjunto, todas estas alterações contribuíram para modificar as re-

lações entre editores e autores, conforme nota André Letria: “deixa de haver as

fronteiras nas negociações de contratos, abrindo também muitas portas para

os autores. As editoras também vão ter contratos necessariamente diferentes”.

Para concluir, parece-nos importante salientar a forma como o “Incómo-

do” integra as tendências emergentes ao nível produção de publicações eletró-

nicas. Para além da escolha do formato aplicação (app) destaca-se a utilização

de técnicas de gamification como forma de forma a envolver o leitor.

50 Note-se, contudo, que

apesar da atenção ao

universo digital André

Letria não subestima

o contacto direto e

presencial com os leitores,

realizando frequentes

apresentações das

suas obras em escolas,

livrarias, galerias e outros

espaços públicos.

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69

“Work That Works”

“Work That Works” (WTW) é uma revista semestral edi-

tada pelo designer Peter Bil’ak50. Atualmente, esta revista

tem dois números editados, ambos em 2013: o primeiro

número, lançado em fevereiro, e o segundo, em julho.

Importa começar por destacar que, de acordo com Peter

Bil'ak51, foi desde o início uma premissa do projeto que a

WTW não se resumisse à mera apresentação de portefólios, diferenciando-

-se, assim, de grande parte das publicações periódicas de design atualmente

existentes. A WTW explora a criatividade em diversos campos do quotidiano,

através de artigos de investigação sobre assuntos que, de alguma forma, estão

relacionados com o universo do design.

Relativamente ao modo de produção e edição da WTW existem alguns

aspetos que interessa destacar neste estudo de caso.

Em primeiro lugar, o modo inovador de financiar a produção da revista. De

acordo com o editor, após um ano de preparação, foi lançada uma campanha

online de crowdfunding52, que obteve grande sucesso. De facto, só na primeira

semana de angariação de fundos, foi possível garantir o financiamento com-

pleto para a edição do primeiro número da WTW. Até ao final da campanha,

no início de 2013, foi possível angariar cerca de 30 mil euros, que asseguram

para além da edição do primeiro número, a criação da plataforma de trabalho

capaz de otimizar a produção e edição da revista impressa e eletrónica.

Uma das particularidades da WTW prende-se com a variedade de versões

em que a revista está disponível. Ambos os números contam com uma edição

impressa e uma edição eletrónica, disponível em diferentes formatos – PDF,

ePUB e Mobi. Alguns dos artigos estão ainda acessíveis, de forma gratuita,

no website da WTW.

De acordo com Bil’ak, a opção pela edição conjunta, e em simultâneo, da

publicação em formato impresso e eletrónico, deveu-se à resposta53 dos leito-

res ao inquérito online, realizado durante o período de angariação de fundos:

49% indicou que gostaria consultar as duas edições em simultâneo, 42% ape-

nas edição impressa e 9% apenas a edição eletrónica. “It seems that the ques-It seems that the ques-

tion is not one or the other, but one in addition to the other” (Bil’ak, 2013).

Estes dados indiciam que as opções de formatos estão relacionadas, em

grande medida, com os usos que os leitores fazem dos próprios textos. Neste

sentido, Bil’ak avança: “Print is great for long-form reading; the tangible qual-Print is great for long-form reading; the tangible qual-

ity of hard copy seems to be very engaging, and high-quality photographs look

great in print. On the other hand, digital information is indexable, searchable

and accessible in many different ways” (Bil’ak, 2013).

50 Peter Bil’ak, nascido na

Checoslováquia (1973) vive

e trabalha, como designer

e professor, em Haia. Entre

outros projetos, destaca-se

o seu trabalho na foundry

Typotheque, bem como a

revista “Dot Dot Dot”, que

também fundou. Cf. http://

www.typotheque.com/ e

http://www.dot-dot-dot.us/

51 No âmbito desta

investigação foi realizada

uma entrevista por email ao

editor Peter Bil’ak, no dia

1 de maio de 2013. Todas

declarações de Peter Bil’ak

utilizadas na elaboração

deste estudo de caso foram

recolhidas nesta entrevista,

exceto quando assinalado.

52 Cf. Bil’ak, Peter. (2013).

https://worksthatwork.com/

blog/wtw1

53 Cf. Bil’ak, Peter. (2013).

https://worksthatwork.com/

blog/print-and-digital

A

Page 70: John Doe – o livro no mundo digitalbiblioteca.fba.up.pt/docs/Marta_Ferreira/MDGPE_Marta... · 2013. 12. 19. · de 2009 e lançado ao público em meados de 2012) percursor do "flat

70

Encontramos na reflexão do editor de WTW nítidas ressonâncias de ten-

dências gerais, apontadas em diversos relatórios sobre o impato das NTIC

nos hábitos de leitura. Embora exista uma propensão dos leitores para uma

“acumulação ansiosa de informação” em formato digital (Furtado, 2007: 98),

já que as NTIC permitem compilar um grande volume de informação num

“espaço” reduzido, o caso da WTW parece comprovar que tal não contribui

necessariamente para a diminuição da leitura da versão impressa. Pelo con-

trário, os leitores tendem a acumular os dois suportes de leitura, numa lógi-

ca que alguns autores têm vindo a designar por “mais/mais” (Neves, 2010;

Pinheiro, 2013; Villarroya, 2013; Silveira: 2013).

A produção e edição da WTW nesta diversidade de formatos é também o

resultado do investimento feito na otimização de um processo de trabalho to-

talmente digital. Neste sentido, Bil’ak afirma: “It was clear that we want to try

hybid publishing, in print and screen, so we've developed our publishing sys-

tem that allows exporting structured text to InDesign to HTML and e-books”.

Esta prática tem sido frequentemente destacada pela capacidade de explorar

os conteúdos originalmente produzidos reduzindo, a longo prazo, os custos

associados à produção e edição de uma publicação em múltiplos formatos

(Furtado, 2007; Gil et al., 2011).

“Traditionally, screen and print design are separate activities. I wanted to

be sure that we keep one source of text which we can use for both, and that's

why we developed a publishing platform, which allows collaboration of writers

and editors, and eventually can publish the text to any format” (Bil’ak, 2013).

A produção da WTW envolveu uma equipa de trabalho alargada. Ao nível

da produção e revisão de contéudos, o projeto conta com uma equipa fixa com-

posta pelo editor Peter Bil’ak, pelo redator Ted Whang e pela revisora Johanna

Robinson. Esta equipa é complementada pelos vários autores convidados que

colaboraram em cada número da revista. Na conceção gráfica, a WTW contou

com duas equipas distintas: por um lado, os designers Susana Carvalho e Kai

Bernau – responsáveis pelo Atelier Carvalho Bernau54 – assegura a conceção

da edição impressa; e, por outro, Ondrej Jób55 é responsável pela conceção

da edição eletrónica (website, ePUB e Mobi). Note-se que, por opção expres-

sa do editor, os designers trabalharam separadamente – “I coordinated work

on both, and dealt separately with Ondrej and Atelier. (…) I didn't want any of

them to be superior to the other”. Finalmente, o desenvolvimento web ficou a

cargo da equipa da SLONline56. 54 Cf. http://www.carvalho-

bernau.com/

55 Cf. http://www.behance.

net/urtd e http://www.

urtd.net/

56 Cf. http://www.slonline.eu/

Page 71: John Doe – o livro no mundo digitalbiblioteca.fba.up.pt/docs/Marta_Ferreira/MDGPE_Marta... · 2013. 12. 19. · de 2009 e lançado ao público em meados de 2012) percursor do "flat

Manuscrito Editorial

e-Books

PDFProcesso técnico

Agregadores

Arquivo digital

Widgets

Impressão

Retrodigitalização

em baixo: Diagrama da digitalização "tradicional" (Gil et al., 2011: 88)

XML

Autores

Editores

Designers

Developers

PDF Impressão

e-Books Agregadores

Widgets Internet

Arquivo digital

em baixo: Diagrama da digitalização "futura" (Gil et al., 2011: 88)

Papel

Digital

XML

PDF

ePuB

PDF

Mobypocket

Impressão

Impressão (baixa resolução)

Outrosdispositivos

Dispositivosmóveis

em baixo: Diagrama do workflow de ficheiros na digitalização "futura" (Gil et al., 2011: 89)

Page 72: John Doe – o livro no mundo digitalbiblioteca.fba.up.pt/docs/Marta_Ferreira/MDGPE_Marta... · 2013. 12. 19. · de 2009 e lançado ao público em meados de 2012) percursor do "flat

72

Para a análise da produção e edição da WTW, importa ainda abordar um

dos aspetos singulares relacionados com a sua distribuição – adiante retoma-

remos esta questão, sob outro ponto de vista. A revista é vendida online e pode

ser consultada mediante três formas de subscrição, definidas de acordo com

o perfil de leitores identificado no inquérito online:

A primeira contempla apenas o acesso à edição impressa;

A segunda incluiu somente a disponibilização da edição digital, embora

em diversos formatos: PDF, ePUB, Mobi e online. Ao contrário

do habitual, em que o leitor opta por um formato específico, nes-

te caso o custo associado a esta forma de subscrição garante o

acesso à revista em todos os formatos;

A terceira garante o acesso conjunto à edição impressa e digital.

Não fazendo uma análise exaustiva do desenho gráfico e editorial da edi-

ção impressa importa salientar o cuidado57 na seleção do formato, materiais e

acabamento que, conforme salienta58 Bil’ak, apesar da aparente simplicidade

foram criteriosamente escolhidos de forma a proporcionar uma melhor expe-

riência de leitura. De facto, tanto as dimensões relativamente reduzidas – 17

centímetros de largura por 28 centímetros de altura – como a forma como o

miolo foi associado à capa – com dois pontos de agrafe – fazem com que a

WTW seja mais facilmente manuseada. Não obstante as críticas de inúmeros

leitores, que consideram este tipo de acabamento pouco “nobre”, Bil’ak sa-

lienta as suas qualidades59: “Our criteria were practical: we believe that a mag-Our criteria were practical: we believe that a mag-

azine should be easy to read with one hand (so you can hold your cup of coffee

with the other). When you open it, it should lie flat and stay flat without your

having to hold it open. It should open fully, so that you can enjoy the double

spread photography and read the text by the inside margins” (Bil’ak, 2013)60.

Destaca-se ainda a utilização de um conjunto alargado de papéis61, na sua

maioria fine papers, e a adequação da impressão – a quatro cores, duas ou

uma cor – a cada tipo de papel.

A nível de desenho gráfico saliente-se a utilização exclusiva da Lava, fonte

serifada, desenvolvida e distribuída pela Typotheque. Conforme anteriormen-

te mencionamos, inúmeros autores defendem a utilização de tipos serifados

para a apresentação de textos mais longos.

Finalmente, note-se ainda que a forma como são apresentados os apoios62,

patrocínios e anunciantes contribuem não só para manter a coerência gráfica,

mas também para assegurar o enfoque nos conteúdos principais da revista.

O tipo de opções gráficas adotadas na WTW demonstra a importância

comercial de valorizar o objeto impresso, de modo a diferenciá-lo da edição

digital. Este aspeto é, de resto, salientado por alguns autores (Knufinke, 2012;

Ludovico, 2012) que defendem que estes aspetos distinguem as edições im-

pressas das eletrónicas, valorizando-as significativamente, bem como à pró-

pria experiência física da leitura.

57 Cf. http://vimeo.

com/52840586

58 Cf. Bil’ak, Peter. (2013).

https://worksthatwork.

com/blog/binding

59 Cf. http://vimeo.

com/61195060

60 Cf. Bil’ak, Peter. (2013).

https://worksthatwork.

com/blog/binding

61 O miolo do primeiro

número da WTW foi

impresso em Lessebo

Design White 80 g/

m2 – papel uncoated –

utilizado para as páginas

maioritariamente de

texto (note-se contudo

que este papel reproduz

cores com bastante

naturalidade); Magmo

Star 100 g/m2 – papel

coated – utilizado nas

páginas com fotografias de

maiores dimensões; e em

EOS Volume 2.0 80 g/m2 –

papel uncoated – utilizado

num dos artigos da revista.

A capa foi impressa em

Symbol Freelife Country

E/E 250 g/m2. Todos

os papeis utilizados são

ecológicos.

62 Importa salientar que

Bil’ak pretende, a longo

prazo, eliminar totalmente

a publicidade. Para tal,

será necessário garantir

um número suficiente de

doações dos leitores que,

em troca do seu contributo

monetário, recebem 1, 2 ou

3 exemplares impressos.

Cf. https://worksthatwork.

com/patrons/

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73

A edição eletrónica em formato PDF reproduz, quase integralmente, os

modelos de apresentação da publicação impressa. A diferença relativa à edi-

ção impressa – para além das questões relacionadas com a experiência física

do objeto – reside na utilização de algumas hiper-ligações que remetem quer

para conteúdos apresentados na revista, quer para páginas Web.

Neste sentido, não assistimos à reconfiguração intelectual dos conteúdos

que, para alguns autores, a translação de um medium para outro exige (Allè-

gre apud Furtado, 2007: 79). Importa, contudo, salientar que a preservação do

aspeto visual da edição impressa é, relativamente aos outros formatos digi-

tais, uma mais-valia. Muito embora o design gráfico e editorial não tenha sido

pensado tendo em vista a leitura eletrónica, a sua qualidade gráfica acaba por

proporcionar uma experiência agradável e bastante confortável.

Importa ainda salientar que a utilização de hiperligações é muito comedi-

da, pelo que não poderemos considerar que interrompam sistematicamente

a leitura contribuindo, dessa forma, para a acentuar as dificuldades de con-

centração. De facto, apenas encontramos nesta edição algumas ligações “in-

ternas”, estabelecidas a partir do índice da publicação, e alguas hiperligações

que constam na ficha técnica e nas páginas de publicidade, remetendo para

e-mails e websites.

em cima: editorial do primeiro

número da WTW.

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75

No caso da edição eletrónica em formato ePUB e Mobi assiste-se, ao con-

trário da versão em PDF, a uma reconfiguração dos conteúdos. Não havendo

constrangimentos físicos relacionados com o limite de páginas e o tipo de pa-

péis escolhidos, foi possível estabelecer uma nova organização na apresenta-

ção dos conteúdos. Assim, alguns artigos foram excluídos e outro ampliados,

passando a incluir imagens suplementares. Esta versão conta ainda com uma

nova sequência dos conteúdos, distinta da revista impressa.

Importa ainda notar que, nesta versão, Ondrej Jób optou por utilizar dife-

rentes fontes: uma serifada para textos mais longos e outra não serifada para

textos curtos, nomeadamente, para as legendas das imagens.

Na análise das edições eletrónicas, em formato ePUB e Mobi, é relevante

salientar o modo como estes formatos sacrificam o aspeto visual dos con-

teúdos (sobretudo, dos não-textuais) e, consequentemente, sua a perceção.

Embora esta opção nos pareça redutora do ponto de vista gráfico, ela vai de

encontro a uma tendência geral e segue as indicações da International Pub-International Pub-

lishers Association e do International Digital Publishing Forum. Como vimos

no capítulo anterior, diversos autores criticam esta opção, defendendo que a

utilização destes formatos é mais adequada para a apresentação de conteúdos

predominantemente textuais e especialmente longos.

Página anterior: artigo

"Dabbawallas: Delivering

excellence" publicado no

primeiro número da edição

impressa da WTW;

Em baixo: artigo

"Dabbawallas: Delivering

excellence" publicado no

primeiro número da edição

eletrónica (ePUB) da WTW.

Page 76: John Doe – o livro no mundo digitalbiblioteca.fba.up.pt/docs/Marta_Ferreira/MDGPE_Marta... · 2013. 12. 19. · de 2009 e lançado ao público em meados de 2012) percursor do "flat

76

Também na edição mediada pelo browser os conteúdos foram reconfigura-

dos. Saliente-se, contudo, que nesta edição, foram eliminados um maior nú-

mero de conteúdos (nomeadamente, a publicidade) e as fotografias assumem

um maior destaque.

A nível de desenho de interfaces destaca-se a utilização de uma paleta de

cores limitada: predominam o branco e uma escala reduzida de cinzentos,

sendo pontualmente usados tons de laranja e azul. O blog e a área reservada

aos leitores apresenta a predominância de uma escala reduzida de azuis.

A nível de formatação de textos é utilizado o mesmo critério do formato

ePUB e Mobi: uma fonte serifada para textos mais longos e uma outra não

serifada para hiperligações e textos mais curtos.

Destaca-se ainda a utilização de elementos gráficos predominantemente

retos de distribuídos no “espaço” segundo uma grelha dinâmica que se adapta

às dimensões da janela do browser. Importa aqui realçar que, de uma forma

geral, estas opções vão de encontro às tendências, anteriormente menciona-

das, do web responsive design e do “flat design”. Saliente-se ainda a utilização de

metáforas gráficas claras e intuitivas que orientam a navegação no website –

por exemplo, a imagem de um cadeado aberto anuncia que artigo é de acesso

gratuito. Assim, os modos de interação lógicos e familiares combinados com

as opções gráficas facilitam a utilização do website.

Em baixo: homepage

do website https://

worksthatwork.com/;

Página seguinte: Pormenor

da apresentação no

browser do artigo

"Dabbawallas: Delivering

excellence" publicado

no primeiro número da

WTW.

Page 77: John Doe – o livro no mundo digitalbiblioteca.fba.up.pt/docs/Marta_Ferreira/MDGPE_Marta... · 2013. 12. 19. · de 2009 e lançado ao público em meados de 2012) percursor do "flat
Page 78: John Doe – o livro no mundo digitalbiblioteca.fba.up.pt/docs/Marta_Ferreira/MDGPE_Marta... · 2013. 12. 19. · de 2009 e lançado ao público em meados de 2012) percursor do "flat

78

Finalmente importa salientar o modo inovador escolhido para a distribui-

ção da WTW. Para além da venda online, Bil’ak tem promovido o que designa

por “social distribution”63 – resumidamente, a distribuição é maioritariamente

assegurada pelos próprios leitores. Esta forma de distribuição torna possível

a disponibilização da revista a um preço mais acessível mantendo, ou até au-

mentando, a margem de lucro do editor.

Por outro lado, esta forma de distribuição potencia o contacto com os leito-

res e contribui para o desenvolvimento de um sentimento de pertença a deter-

minada “comunidade de fãs”, na medida em que, de certa forma, os envolve

no sucesso da WTW. A implementação de novas formas alternativas de dis-

tribuição, como a que propõe Bil’ak, parece ir de encontro à opinião de vários

autores, que defendem a necessidade de transformar o modelo tradicional de

distribuição editorial. Esta perspetiva considera que o paradigma da distribui-

ção exclusivamente em papel está hoje esgotado, visto que as vendas já não são

suficientes para suportar os elevados custos associados à prestação deste ser-

viço, quer pelas editoras, quer pelas distribuidoras (Gil et al., 2011: 106-108).

Ainda relativamente à distribuição, importa salientar que os leitores po-

dem ainda adquirir online (por um euro) cada um dos os artigos de acesso

reservado. Também esta forma de distribuição vai de encontro às práticas de

outras editoras relativamente à distribuição de publicações eletrónicas.

63 Cf. http://vimeo.

com/59732766 e http://

worksthatwork.com/

distribution/

Em cima: área reservada

do website https://

worksthatwork.com/

login/;

Page 79: John Doe – o livro no mundo digitalbiblioteca.fba.up.pt/docs/Marta_Ferreira/MDGPE_Marta... · 2013. 12. 19. · de 2009 e lançado ao público em meados de 2012) percursor do "flat

79

Em jeito de conclusão, importa salientar alguns aspetos que, em nosso enten-

der, se destacam, positivamente e negativamente, da análise realizada à WTW.

Em primeiro lugar, destaca-se positivamente o modo como a adoção de

um processo de trabalho predominantemente digital, através do recurso a

plataformas adequadas, pode otimizar a edição em diferentes formatos. Um

outro aspeto positivo prende-se com a opção por uma diversificação dos mo-

dos de distribuição desta publicação, introduzindo transformações relevantes

no modelo tradicional de distribuição editorial. Em conjunto, estes aspetos

podem contribuir decisivamente para optimizar e rentabilizar recursos e,

deste modo, assegurar a necessária sustentabilidade do projeto. Note-se, con-

tudo, que apesar destes sinais positivos, o facto desta revista ser ainda muito

recente, exige forçosamente alguma cautela na avaliação destes resultados.

Contudo, parece-nos que a análise realizada evidencia também alguns as-

petos menos bem conseguidos.

Como vimos anteriormente, os formatos ePUB e Mobi atuais apresentam

alguns constrangimentos do ponto de vista gráfico que penalizam a apresen-

tação de elemento não-textuais. Consequentemente, a versão da revista nestes

formatos é sacrificada. Parece-nos, por isso, que poderia ser experimentados,

e eventualmente adotados, outros formatos que melhor se adequassem à

apresentação do tipo de conteúdos que a WTW pretende apresentar. Como

já mencionamos, existem outras opções disponíveis que permitem um maior

controlo do aspeto visual das publicações eletrónicas, destacando-se, nomea-

damente, as aplicações (app) e, a nível de ePUB, o formato Fixed Layout ePUB.

Outro aspeto menos bem conseguido da publicação, é o recurso ainda

limitado a conteúdos não-textuais (excluindo totalmente conteúdos multimé-

dia). Este tipo de opções poderia aumentar o nível de profundidade e de inte-

resse suscitado pelos artigos apresentados. Na entrevista que nos concedeu,

e quando confrontado com essa questão, Bil’ak não descartou a possibilidade

de vir a rever esta opção em futuros número da WTW, notando, porém, que

tal depende dos recursos encontrados: “if we find the resources, we might

employ a special editor for digital edition. but this is still far off”. Novamen-

te, esta observação chama-nos a atenção para a complexidade da produção e

edição de publicações eletrónicas, e das várias exigências tanto ao nível de

recursos humanos e técnicos, como de recursos financeiros e logísticos.

Page 80: John Doe – o livro no mundo digitalbiblioteca.fba.up.pt/docs/Marta_Ferreira/MDGPE_Marta... · 2013. 12. 19. · de 2009 e lançado ao público em meados de 2012) percursor do "flat

80

"dotdotdot"

64 Disponível numa versão

beta importa salientar que

a equipa do “dotdotdot”

conta com os próprios

leitores para testar o seu

funcionamento e, caso

pretendam, identificar e

assinalar os problemas

técnicos (bugs).

65 Software executado

através de um browser na

Internet ou numa intranet

(rede de computadores

privada).

66 Cf. Mohl, Madeleine.

(2012). http://betahaus.

de/2012/10/10629/

“dotdotdot” desenvolvido, pela start up alemã homóni-

ma, fundada no início de 2012, por Thomas Schinabeck,

Thomas Weyres, Christian Klingler, Christian Beer é

um software que se destina essencialmente à leitura

de livros, revistas e outras publicações eletrónicas.

Este software, ainda em fase testes64 e avaliação está

disponível gratuitamente como aplicação (app) para iPhone, iPod e iPad, ou

como aplicação web based65 para computadores pessoais.

Para a análise deste estudo de caso importa, em primeiro lugar, salientar

o principal argumento, avançado pelos fundadores da “dotdotdot” para o seu

desenvolvimento.

Em entrevista ao betahaus66, Weyres refere dois principais motivos para

a criação do “dotdotdot”. Por um lado, o seu interesse pessoal pela leitura, e

por outro, o descontentamento face às soluções disponíveis para a leitura de

publicações eletrónicas que, para o autor, não aproveitavam devidamente as

potencialidades das NTIC. O “dotdotdot” procura colmatar lacunas identifica-

das noutros e-book readers atuando em três domínios essenciais:

Tem, em primeiro lugar, a capacidade de importar livros, revistas e outras

publicações eletrónicas (de diferentes natureza) agrupando-os

num único “espaço” – criando, assim, uma “biblioteca” pessoal

do leitor, acessível online.

Em segundo lugar, permite criar e arquivar notas que facilitem a pesquisa

e acesso a essas publicações eletrónicas.

Finalmente, o “dotdotdot” permite ler e partilhar, online e em rede com ou-

tros leitores, as obras e notas de leituras efetuadas por cada leitor.

Note-se que nenhuma destas características é totalmente nova. No entan-

to, é pouco frequente encontrar e-book readers que agreguem estas qualidades

em simultâneo. Parece-nos, assim, que esta inovação contribui, por si só, para

a otimização da leitura, na medida em que, permite eliminar o tempo dispen-

dido na alternância entre diferentes softwares e hardwares.

No âmbito desta investigação, interessa analisar, ainda que brevemente, algu-

mas questões relacionadas com cada um dos três aspetos anteriormente referidos.

Relativamente à capacidade de importar livros, revistas e outras publica-

ções eletrónicas Schinabeck salienta que a maioria dos e-book readers (software

e/ou hardware) apresenta uma falha na capacidade de agregar publicações

eletrónicas num único “espaço”: “It’s quite hard to bring them all together on

one place, which would enable you to use the full potential of digital texts”

(Kozlowski, 2013). Weyres explica que o “dotdotdot” pretende, precisamen-

O

Page 81: John Doe – o livro no mundo digitalbiblioteca.fba.up.pt/docs/Marta_Ferreira/MDGPE_Marta... · 2013. 12. 19. · de 2009 e lançado ao público em meados de 2012) percursor do "flat

81

te, colmatar esta lacuna permitindo que os leitores compilem, neste software,

publicações eletrónicas de diferentes naturezas e origens: “We’re working on

building a solution to make reading texts (not only books, you can read and

archive any text from the web or RSS as well with Dotdotdot) more social and

to build a solution to read and archive all the texts that are important for a

reader in one place” (Weyer apud Fowler, 2013)67.

De facto, esta possibilidade de associar num mesmo “local” todas as pu-

blicações eletrónicas revela-se especialmente útil não só para organizar “co-

leções” eletrónicas (uniformizando, de certa forma, as suas características),

mas também para facilitar a sua consulta.

Para além disso, destacam-se os múltiplos modos de apresentação das pu-

blicações. Assim, no “dotdotdot” é possível visualizar todas as publicações

eletrónicas segundo o formato, título, autor, fonte (no caso das páginas web)

ou data. Escolhendo uma publicação, é possível pré-visualizar, além dessas

informações mais genéricas, a capa da publicação (caso exista), o número de

destaques e comentários, as opções de privacidade/partilha, bem como iden-

tificar outros leitores da rede que partilham o mesmo título. Estes aspetos

são fundamentais para organizar a “biblioteca” pessoal e facilitar a pesquisa

e consulta de publicações.

67 Cf. Fowler, Nina. (2013).

http://venturevillage.eu/

dotdotdot-seed-funding-htgf

Em baixo: pormenor da

homepage do website https://

www.dotdotdot.me

Page 82: John Doe – o livro no mundo digitalbiblioteca.fba.up.pt/docs/Marta_Ferreira/MDGPE_Marta... · 2013. 12. 19. · de 2009 e lançado ao público em meados de 2012) percursor do "flat

Ao lado e em baixo:

detalhe da “biblioteca”

pessoal. Note-se que os

human computer interfaces

da aplicação (app) para

iPhone, iPod e iPad são

idênticos aos da aplicação

web based.

Page 83: John Doe – o livro no mundo digitalbiblioteca.fba.up.pt/docs/Marta_Ferreira/MDGPE_Marta... · 2013. 12. 19. · de 2009 e lançado ao público em meados de 2012) percursor do "flat

83

Note-se que a facilidade em pesquisar as publicações eletrónicas agrupa-

das no “dotdotdot” não está só relacionada com a capacidade de agrupar num

mesmo “espaço” todas as publicações mas também com a possibilidade de

sublinhar, associar tags e comentários aos textos digitais: “While you read on

dotdotdot, you are building your own personal library of long-format texts,

essentially an archive of your read knowledge. You can search all your high-

lights and quotes, tag them, sort them and never lose a inspirational thought

or text again” (blog “dotdotdot”).

Para Schinabeck também este aspeto contribui para otimizar a leitura ele-

trónica: “we believe that filtering content, linking relevant contexts, creating

a high-quality reading experience (…) are the true added values a reading plat-

form should be able to deliver” (Kozlowski, 2013).

Muito embora esta funcionalidade seja disponibilizada por outros e-book

readers (software e/ou hardware) a verdade é que, o grau de profundidade que

“dotdotdot” permite “trabalhar” os textos – sublinhando, associando comen-

tários e tags – contribui para que os resultados das pesquisas sejam mais

assertivos. Esta questão é, aliás, apontada por vários autores como um aspeto

negativo relativamente aos e-readers existentes que frequentemente apresen-

tam resultados pouco ajustados às pesquisas, criando dificuldades de seleção

para o leitor.

Através da possibilidade de associar notas às publicações eletrónicas o

“dotdotdot” contribui para o “novo” exercício da memória que anteriormente

assinalamos – sendo capaz de “armazenar as informações que nos interes-

sam e restituí-las a pedido (…) confere-se-lhe [ao cérebro humano] a possi-

bilidade de consagrar os seus recursos a outras tarefas” (Vandendorpe apud

Furtado, 2007: 100).

Em baixo: pormenor das

funcionalidades do

"dotdotdot" – possibilidade

de sublinhar e de associar

tags e comentários aos

textos digitais.

Page 84: John Doe – o livro no mundo digitalbiblioteca.fba.up.pt/docs/Marta_Ferreira/MDGPE_Marta... · 2013. 12. 19. · de 2009 e lançado ao público em meados de 2012) percursor do "flat

84

Relativamente à possibilidade de ler e partilhar, online e em rede com ou-

tros leitores, as obras e notas de leituras efetuadas por cada leitor importa notar

que para utilizar o “dotdotdot” é necessário criar um profile – através do e-mail,

Facebook ou Twitter. Esse profile permite ao leitor, ler, agrupar e “trabalhar”

os textos eletrónicos – sublinhando, associando comentários e tags –, e tam-

bém partilha-los com outros leitores da rede. Em entrevista ao goodereader68,

Schinabeck salienta precisamente este aspeto: “dotdotdot’s innovation lies in

its solutions to unite social reading features with as much content as possible

without having to host the texts centrally. Users can manage content in their

own private archives — that is, decentralized — and yet still enjoy the full

functionality of a social reading platform”.

Deste modo, o leitor passa a fazer parte de uma rede, mais ou menos alar-

gada, de outros leitores, partilhando as suas publicações e tendo igualmente

acesso às publicações partilhadas pelos restantes membros da sua rede. A

leitura mediada pelo “dotdotdot” inscreve-se, assim, numa prática social em

que as publicações eletrónicas e apontamentos relativos a essas obras são o

ponto de união entre leitores com gostos semelhantes (Collado, 2012: 44).

Vários autores assinalam a importância das bibliotecas e das comunida-

des de leitores para o desenvolvimento da criatividade, expressão e comu-

nicação, investigação e troca de conhecimento (Gil et al.,2011: 192; Tavares,

2013). Analisando as formas de comunicação e interação, online e em rede, do

“dotdotdot”, poderíamos afirmar que operam no contexto online, exatamente

da mesma forma. Como notam os fundadores do “dotdotdot” – “Interact in

and collaborate on all your texts; highlight, tag quotes, make comments, and

see what others are reading and commenting on. Get inspired by what other

people are reading via your community of like-minded people”. Desta forma,

o “dotdotdot” poderá também contribuir ativamente para promover a aquisi-

ção e transmissão de conhecimento.

Note-se ainda como esta característica do “dotdotdot” contribui para a re-

concetualização do leitor, tal como anteriormente mencionamos, já que os lei-

tores passam a ter um papel ativo na construção dos textos, ampliando o seu

em baixo: pormenor das

funcionalidades do

"dotdotdot" –possibilidade

partilha de dados com

outros leitores da rede.

68 Cf. Kozlowski, Michael

(2013). http://goodereader.

com/blog/electronic-

readers/dotdotdot-wants-to-

be-your-mobile-library?utm_

source=rss&utm_

medium=rss&utm_

campaign=dotdotdot-wants-

to-be-your-mobile-library

Page 85: John Doe – o livro no mundo digitalbiblioteca.fba.up.pt/docs/Marta_Ferreira/MDGPE_Marta... · 2013. 12. 19. · de 2009 e lançado ao público em meados de 2012) percursor do "flat

85

sentido. Reforçando esta ideia, Weyres sublinha69: “Texts expand from a sta-

tic medium to a ‘platform of knowledge’ that’s constantly growing” (Weyres

apud Wilson, 2013).

Relativamente à otimização da leitura é importante mencionar que os fun-

dadores do “dotdotdot” consideram ser determinante eliminar todos os ele-

mentos que possam contribuir para dificultar a concentração dos leitores. Para

tal, o “dotdotdot” elimina automaticamente qualquer elemento acessório ao

texto que possa interromper a leitura70: “Read texts from webpages, like blog

posts or articles, in a distraction-free format on your iPad. When you import

webtexts via our browser bookmarklet, dotdotdot clears away everything but

the content. Long-format text clean and easy to read”. Esta opção parece res-

ponder às críticas apontadas pelos autores mais resistentes à leitura de publi-

cações eletrónicas que, como vimos antes, consideram que interrupção siste-

mática da leitura – pela utilização frequente de conteúdos multimédia, hiper

e não-textuais – acentua as dificuldades de concentração dos leitores e, conse-

quentemente, cria obstáculos à aquisição e sedimentação de conhecimentos.

A par desta eliminação de conteúdos acessórios ao texto, o “dotdotdot” dis-

tingue-se ainda pela “simplicidade” do interface que se traduz, por um lado,

a nível do aspeto gráfico e, por outro, a nível da “user experience” do software.

Assim, a nível de desenho de interfaces destaca-se a utilização de uma

paleta de cores limitada, predominando o branco, preto e uma escala redu-

zida de cinzentos, sendo ainda usados pontualmente tons de azul e amarelo

que indicam os elementos selecionados. Também se destaca a utilização de

elementos gráficos predominantemente retos de distribuídos no “espaço” se-

gundo uma grelha bastante rígida. De uma forma geral, estas opções vão de

encontro à tendência do “flat design”, mencionada no capítulo anterior.

No que diz respeito à formatação do texto, salienta-se a utilização de uma

fonte serifada com um contraste e “altura-x” reduzida. No corpo de texto, são

utilizadas linhas com um comprimento de nove a onze palavras e um es-

paçamento suficientemente confortável para a leitura de textos mais longos.

Apesar do texto estar sempre justificado, a correta hifenização evita o apare-

cimento de “rios”. Saliente-se também estas opções respeitam, de um modo

geral, as recomendações da formatação de texto adequadas à leitura em ecrã.

A nível de “user experience” note-se que os modos de interação lógicos e

intuitivos, combinados com as opções gráficas mencionados, facilitam a uti-

lização do software.

Importa ainda salientar que o “dotdotdot” exclui a possibilidade de o leitor

formatar qualquer aspeto do texto. Esta opção vai, assim, de encontro à opi-

nião de alguns autores que, como vimos, consideram que, por um lado, este

tipo de opções sobrecarrega os processadores dos e-book readers, dificultando

o seu normal funcionamento e, por outro, poderá conduzir a uma formatação

deficiente do texto, dificultando a sua leitura.

69 Cf. Wilson, Mark. (2013).

http://www.fastcodesign.

com/1672489/an-app-that-

turns-digital-reading-into-a-

social-activity#1

70 Importa salientar que

existem outros sofwares

destinados à leitura de

publicações eletrónicas,

especial de páginas Web,

que também eliminam

elementos que possam ser

considerados acessórios

e que, de certa forma,

contribuem para distrair o

leitor do objecto cental – o

texto. Os mais populares

são talvez o Instapaper (Cf.

http://www.instapaper.com)

e o Readability (Cf. http://

www.readability.com).

Page 86: John Doe – o livro no mundo digitalbiblioteca.fba.up.pt/docs/Marta_Ferreira/MDGPE_Marta... · 2013. 12. 19. · de 2009 e lançado ao público em meados de 2012) percursor do "flat

86

Note-se também que na produção de software as equipas de trabalho se

tornam mais complexas. Este software contou, ao longos dos primeiros dez

meses do seu desenvolvimento, com uma equipa multidisciplinar constituída

por designers e web developers com diferentes competências técnicas e cien-

tíficas: Thomas Schinabeck, UX (user experience designer); Thomas Weyres,

UI (user interface designer) e diretor criativo; Jacopo Bortolato, UI; Christian

Klingler, backend developer; Christian Schlesinger e David Goldwich, frontend

developer; e Christian Beer e Oliver Greschke, iOS Developer. Contou ainda

com a ilustradora Ina Liesefeld e com Etienne Heinrich e Shai Levy para a

conceção e edição dos vídeos. As ilustrações e os vídeos presentes na landing

page destinam-se essencialmente a promover e explicar o funcionamento e

principais características do “dotdotdot”.

Atualmente, esta empresa procura71 designers e developers. Em nosso en-

tender a concentração de profissionais relacionados com design e o web de-

velopment (iOs e Javascript) denota a importância que a melhoria do software

tem para os seus fundadores.

Ainda antes de concluir a análise deste estudo de caso, interessa aqui anali-

sar o modo como as diversas forças sociais, culturais e económicas poderão in-

tervir, positiva ou negativamente, no desenvolvimento e sucesso desta aplicação.

A start up alemã apresenta o “dotdotdot” como uma plataforma indepen-

dente. Tendo incialmente contado com um investimento da High-Tech Grün-

derfonds e do investidor privado Heiko Schere, Schinabeck72 e Weyre defen-

dem que a autonomia é um fator fundamental para prosseguir a missão e

alcançar os objetivos. Segundo estes dois fundadores a dependência de apoios

ou patrocinios poderia, de alguma forma, condicionar desenvolvimento do

software e consequentemente, a a experiência da leitura que tencionam pro-

porcionar: “To us, a place or a platform that functions like a merchant and

makes money by selling content isn’t very independent. There will always be

a conflict of interest in trying to provide you the best possible reading experi-

ence and the most relevant content on one hand while trying to maximize

profits by selling you as much content as possible on the other (…) And, no,

we don’t like ads either” (blog “dotdotdot”). Assim, a manutenção deste soft-

ware estará dependente da manutenção dos apoios atuais ou pela definição

de novas formas de financiamento. Note-se que o acesso e utilização deste

software é, atualmente, gratuito.

Por outro lado, a continuidade deste software está dependente do sucesso

das várias NTIC que o sustentam. Ainda que hoje seja pouco provável o de-

saparecimento do iPhone, iPod e iPad, ou das linguagens utilizadas para o

desenvolvimento da aplicação web based, a obsolência de qualquer uma destas

ferramentas condicionará o “dotdotdot”.

Muito recentemente (julho de 2013), esta empresa assistiu a uma profun-

da remodelação na sua equipa nomeadamente com o abandono de alguns

71 Cf. http://connectingdts.

tumblr.com/jobs

72 Cf. http://connectingdts.

tumblr.com/

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87

dos seus co-fundadores. As consequências da restruturação desta jovem

empresa alemã são incertas contudo, importa salientar, que essa alteração

poderá afetar, positiva ou negativamente, o desenvolvimento deste software

de leitura eletrónica.

Estes fatores levam-nos a retomar as preocupações relacionadas com a

preservação dos textos eletrónicos (Lynch apud Furtado, 2007; Darton, 2009).

Estando a preservação, a longo-prazo, das publicações eletrónicas dependente

do próprio sucesso do “dotdotdot” podemos, como aconteceu noutros mo-

mentos da breve história das NTIC, assistir ao desaparecimento do “dotdo-

tdot” consequentemente ao desaparecimento dos e-books aí arquivados.

Em jeito de balanço, existem alguns aspetos, que em nosso entender, de-

veriam ser melhorados em futuras versões deste software. Não fazendo uma

descrição exaustiva desses vários pontos, destacamos aqui alguns dos que nos

parecem ser mais pertinentes.

Em primeiro lugar, saliente-se que embora o modo de pesquisa seja mais

aprofundado relativamente a outros e-book readers, deveria, em nosso enten-

der, ser mais desenvolvido em versões posteriores, uma vez que apresenta

algumas limitações – por exemplo, não é possível pesquisar uma publicação

pelo título, pelo autor, ou outras informações relativas à edição a não ser que

o leitor tenha associado esses dados através de tags ou comentários.

Outra medida prende-se com a tentativa de eliminar elementos que pos-

sam acentuar a dificuldade de concentração. Neste ponto, parece-nos que a

possibilidade de todos os leitores poderem adicionar tags ou comentários aos

textos, poderá sobrecarregar os textos de informação, dificultando a sua con-

sulta devendo, em nosso entender, ser melhorada.

Outro aspeto que carece desenvolvimento é a capacidade de suportar um

maior leque de formatos, nomeadamente PDF. Atualmente, o “dotdotdot”

suporta apenas páginas Web e publicações eletrónicas, até 50 MegaBytes em

formato ePUB sem Digital Managment Rights (DMR) bem como publicações

RSS do Google Reader, serviço descontinuado pela Google Inc. em julho. Po-

deria também ser interessante, num futuro próximo, o desenvolvimento da

aplicação para o sistema operativo Android e, eventualmente, para Windows 8.

Importa ainda mencionar o tempo que algumas publicações eletrónicas

demoram a ser importadas e exibidas bem como a dificuldade em apresentar

corretamente algumas publicações eletrónicas em formtato ePUB (note-se

que esta falha podem decorrer da própria formatação do ePUB que, só re-

centemente, começou a ver definidas, pelo W3C, as primeiras sugestões de

formatação). Conforme vimos antes, estas questões relacionadas com o tem-

po de processamento de informação e outras falhas técnicas poderão causar

algum desconforto na utilização das NTIC.

Outra ponto que poderá ser considerado, simultaneamente um aspeto po-

sitivo e negativo, é a necessidade de funcionar online e em rede. Este modo de

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88

funcionamento tem a vantagem de libertar os leitores dos constrangimentos

espaciais no entanto, a necessidade do acesso permanente contínuo a uma

ligação à Internet pode condicionar a sua utlização.

Parece-nos também importante melhorar alguns aspetos relacionados

com o modo de interagir do software e com o hardware que o sustenta. Por um

lado, passar a permitir a utilização do software em modo “portrait” e “landscape”

e não apenas num deles como acontece atualmente. Por outro, passar a recor-

rer ao scroll up/down para leitura do mesmo texto em vez do swipe, no iPhone,

iPod e iPad, e ao mouse click, no browser. As opções atuais, não só contrariam

a noção de “infinite canvas” que anteriormente salientamos como, no que res-

peita à utilização do “dotdotdot” como aplicação web based, multiplica desne-

cessariamente o número de mouse clicks necessários para ler um único texto.

Um outro aspeto a salientar, é a utilização do branco como cor dominan-

te. Esta cor contribui para o aumentar o brilho e luminosidade, o que, como

assinalamos anteriormente, pode afetar negativamente não só a leitura, mas

também a saúde e bem-estar dos leitores.

Não obstante as lacunas identificadas na versão atual do “dotdotdot” e as

melhorias necessárias em futuras versões parece-nos importante salientar

que este software se destaca, através de alguns dos aspetos apontadas, dos

outros e-readers atualmente disponíveis. Acreditamos por isso, que algumas

das características deste software, serão tidas em conta no desenvolvimento de

outros e-readers ou e-books.

Dos vários aspetos que analisamos consideramos importante salientar po-

sitivamente por um lado, a forma como o “dotdotdot” promove uma nova ex-

periência de leitura em que os leitores participarem ativamente, online e em

rede, na aquisição e transmissão de conhecimentos. Por outro, a forma como

o “dotdotdot” integra algumas das tendências emergentes ao nível do desenho

de interfaces digitais de forma a otimizar a leitura de publicações eletrónicas.

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Em cima da vila –uma possível aproximação

ao formato eletrónico

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91

ste capítulo tem por objectivo descrever e fundamentar as op-

ções tomadas na conceção da maqueta de uma publicação ele-

trónica. Importa, contudo, antes de iniciarmos a apresentação

desta aproximação ao livro em formato eletrónico, enquadrar o

contexto em que foi desenvolvido o projeto “Em cima da vila”

que deu origem a esta nossa proposta.

“Em cima da vila” foi produzido na segunda metade de 2011, no âmbito

do programa Manobras no Porto73, que selecionou o projeto e apoiou financei-

ramente a sua realização.

Com um carácter multidisciplinar, “Em cima da vila” procurou documen-

tar a história e cultura de uma das mais antigas e emblemáticas ruas do centro

histórico do Porto: a Cimo de Vila. Fruto de muitas e múltiplas transforma-

ções, a Cimo de Vila é hoje uma das mais cosmopolitas e multiculturais ruas

da cidade do Porto, um exemplo ímpar de convívio de uma multiplicidade

usos e costumes.

Ao longo dos meses de agosto e setembro de 2011 uma equipa constituída

por quatro elementos74 recolheu os testemunhos das pessoas que aí residiam,

trabalhavam e/ou frequentavam os seus estabelecimentos comerciais, e regis-

tou também alguns dos ambientes sonoros que caracterizavam Cimo de Vila.

Paralelamente, realizou-se um trabalho de pesquisa histórica, através da con-

sulta de bibliografia existente, que permitiu compreender a importância desta

antiga artéria medieval no contexto da história da cidade, bem como algumas

das profundas transformações urbanas e sociais que aqui ocorreram ao longo

dos tempos.

Em termos públicos, o projeto concretizou-se através:

Da criação e dinamização de uma página do Facebook75 que, ao longo do

tempo, permitiu comunicar o trabalho em curso, através da pu-

blicação de imagens relacionadas com o projeto, bem como dis-

ponibilizar informações e outras notícias associadas à Rua Cimo

de Vila ou aos apoios e parceiros institucionais.

De uma exposição, que entre 28 de setembro e 2 de outubro de 2011,

esteve patente em Cimo de Vila. Nesta mostra foi proposto um

circuito visual e sonoro constituído por 12 retratos fotográficos

de alguns comerciantes e moradores de Cimo de Vila, divididos

por dois locais de exposição – uma loja térrea, voltada para a rua,

cedida gratuitamente por uma moradora, e o largo junto à Fonte

do Cativo, um dos espaços de maior visibilidade da rua –

73 Para mais informações

sobre o programa Manobras

no Porto, cf. http://www.

manobrasnoporto.pt/

74 João Lopes Cardoso,

responsável pelo registo

fotográfico; Marta Borges,

responsável pela gestão,

produção e comunicação,

design gráfico e registo

fotográfico do projeto;

Pedro Quintela responsável

pela pesquisa histórica

e redação dos textos e

Pedro Pestana responsável

pelo registo aúdio. Contou

ainda com a participação

pontual da Ana Almeira e

José PedroLopes (Anexo 82

Produções), que registaram

em vídeo alguns dias

de trabalho.

75 Cf. http://www.facebook.

com/pages/Em-cima-da-

vila/128320217265324

EIntrodução ao projeto

“Em cima da vila”

Página anterior: artigo

de imprensa – Duarte,

Mariana (2011) "A rua

cimo de vila está boa

e recomenda-se" in

TimeOut Porto, Outubro

2011, pp. 10

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92

e por um percurso sonoro que permitiu aos visitantes munidos

de auscultadores wireless, disponibilizados pela equipa, percor-

rerem a rua em busca dos cinco transmissores. Em cada um

deste locais era possível ouvir diferentes paisagens sonoras que

combinavam sons ambiente e excertos de entrevistas. A conce-

ção de cada um dos cinco excertos foi pensada tendo em conta o

local onde o transmissor estava colocado, de modo a relacionar

as paisagens sonoras em audição (as histórias, os locais e pro-

tagonistas mencionados, os sons ambiente característicos) com

local da rua em que o visitante se encontrava.

Uma pequena publicação constituída por um conjunto de 12 postais, de

210 por 148 milímetros (formato A5, na horizontal), impressos

a uma cor, em papel couché de 250 gramas. A frente de cada

postal apresentava uma imagem, tendo sido selecionadas 12 fo-

tografias distintas daquelas que foram utilizadas na exposição.

Com carácter diverso, este conjunto de imagens retratava dife-

rentes ambientes de Cimo de Vila e dos usos e costumes das

suas “gentes”. Distribuído pelo verso dos vários postais, cons-

tava uma apresentação genérica do projeto e da equipa; um tex-

to acerca da evolução histórica, económica e social de Cimo de

Vila; os agradecimentos a todos que contribuíram direta ou in-

diretamente para a concretização do projeto; e ainda um mapa

da rua Cimo de Vila, Cativo e Chã com a sinalização dos cinco

pontos de transmissão áudio e a indicação da força do sinal ao

longo do percurso. Foram impressos 250 exemplares (de cada

um dos 12 postais) que foram cedidos gratuitamente a quem

visitou esta exposição.

Em baixo: à esquerda, vista

da exposição patente

na loja térrea de Cimo

de Vila; à direita, dois

visitantes munidos de

auscultadores wireless,

ouvindo a paisagem sonora

transmitida junto à Igreja

da Ordem do Terço.

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93

Da criação de um website4, que possibilitou apresentar a um público mais

alargado, o projeto, a equipa, e as fotografias expostas. Este website

permitiu também, através da hiperligação a várias galerias de

Flickr, comunicar alguns resultados do trabalho realizado ao longo

do tempo e ainda disponibilizar, em formato PDF, a publicação de

12 postais anteriormente descrita.

Já em 2012, o projeto “Em cima da vila” foi apresentado, a 29 de fevereiro, no

Workshop Internacional musiCULT II, que decorreu na Faculdade de

Letras da Universidade do Porto, e a 3 de junho, no Nau – Festival de

Cinema e Fotografia Jovem, que se realizou na Casa do Alto (Maia).

4 Originalmente disponível em

http://www.emcimadavila.

com/ está offline desde 2013.

5 Embora não exista um

apontamento rigoroso, ao

longo dos meses de agosto

e setembro de 2011, foram

tiradas cerca de 8000

fotografias, registadas cerca

de 20 horas de áudio e uma

hora de vídeo.

Em cima: Pormenor do

conjunto de 12 postais;

Em baixo: à esquerda, “Em

cima da vila” apresentado

por Pedro Pestana e João

Lopes Cardoso no Nau

– Festival de Cinema

e Fotografia Jovem e, à

direita a exposição patente

no mesmo festival.

Apesar das vários suportes e contextos de comunicação e apresentação do

projeto “Em cima da Vila”, a verdade é que muitos5 dos registos dos ambien-

tes que caraterizavam Cimo de Vila, bem como os testemunhos das pessoas

que residiam, trabalhavam ou frequentavam os estabelecimentos comerciais

aí existentes, inevitavelmente acabaram por ser excluídos.

Esta aproximação ao livro em formato eletrónico, ao recuperar e sistemati-

zar os diversos materiais produzidos no âmbito do projeto – registos sonoros,

visuais (fotográficos e videográficos) e textuais –, contribui para consolidar

o trabalho realizado, restituindo alguma da riqueza que foi encontrada em

Cimo de Vila e que, por diversos motivos, não foi anteriormente exposta.

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94

Aproximação ao livro eletrónico “Em cima da vila”

esta primeira abordagem ao livro em formato digital era

fundamental invocar os conhecimentos adquiridos ao

longo deste ano lectivo e, em particular, articular a nossa

proposta com a discussão teórica apresentada no capítulo

anterior em torno de algumas das questões que hoje envol-

vem a produção, edição e distribuição de livros eletrónicos.

Assim, e recuperando o entendimento de Christian Allègre acerca dos

modos de produção de livros eletrónicos (Allègre apud Furtado, 2007: 79),

para a concretização de maqueta procedemos a uma reclassificação e reor-

denação dos conteúdos existentes tendo em conta as especificidades deste

“novo” suporte. Não só toda a documentação já apresentada publicamente foi

objeto de revisão crítica para esta nova publicação, como existem ainda nesta

proposta alguns textos, fotografias, vídeos e excertos áudio de entrevistas e

ambientes da Rua Cimo de Vila inéditos, que foram aqui reunidos pela pri-

meira vez, na sequência da avaliação realizada.

Neste trabalho de reclassificação e reordenação dos conteúdos para a

nova publicação “Em cima da Vila”, destacam-se duas estratégias fundamen-

tais que nortearam a nossa aproximação ao livro em formato eletrónico – o

storytelling e o content-centric. Esta opção é coerente com as tendências aponta-

das por diversos autores que, como vimos no capítulo anterior, as identificam

como formas emergentes de apresentação de conteúdos, capazes de tornar de

envolver, de modo mais eficaz, os leitores.

Assim, e embora a preocupação em dar a conhecer a multiplicidade de

usos e costumes encontrados em Cimo de Vila – através dos registos visuais,

sonoros e textuais – já fosse central nos vários suportes de comunicação produ-

zidos em apresentações anteriores do projeto, procurou-se nesta proposta de

livro eletrónico reforçar o storytelling como modo de seduzir o leitor. Neste novo

contexto, a história de Cimo de Vila e as estórias das pessoas que aí viviam, tra-

balhavam ou frequentavam os seus estabelecimentos comerciais ganham uma

maior visibilidade. Para além de terem sido incluídos os 12 retratos apresenta-

dos no website e na exposição, foram selecionados outros registos fotográficos

de modo complementar e enriquecer a informação, transmitindo ao leitor os

gestos e expressões destes protagonistas, bem como os ambientes em que os

envolvem. Por outro, complementou-se a informação visual com registos so-

noros e textuais que corroboram as narrativas, de forma emotiva e pessoal. Fi-

nalmente, note-se que a seleção inicial de 12 pessoas retratadas foi enriquecida

com seis novas estórias de moradores e comerciantes de Cimo de Vila.

N

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95

76 URL é a abreviatura de

Uniform Resource Locator

que indica o endereço

global de documentos na

World Wide Web.

Além disso, os conteúdos foram selecionados, ordenados e editados de

forma a ganharem um maior destaque. De entre as principais opções toma-

das com o objetivo de evidenciar os conteúdos, destacam-se duas: por um

lado, as fotografias ocupam, quase sempre, grande parte do ecrã e, por outro,

os textos são acompanhados de espaço branco suficiente para “respirarem”

(Bringhurst, 2005). De forma a destacar os vários elementos textuais e não-

-textuais procurou-se ainda definir uma organização clara dos conteúdos ao

longo da “página”, optando pelo um desenho flat – ou seja, um desenho sim-

ples, com recurso a gráficos minimais, predominantemente retos, e com um

número reduzido de cores. Nesta maqueta, predomina o branco no fundo da

“página”, pontuado pelo preto e amarelo (que já tinha sido utilizado nos vá-

rios elementos de comunicação desenvolvidos em 2011, o que contribui para

manter a coerência gráfica do projeto) para elementos textuais e não-textuais.

Relativamente aos conteúdos importa salientar que se procurou mini-

mizar a presença de hiperligações para páginas Web ou outros documentos

online, de forma a evitar a interrupção sistemática da leitura e a possível difi-

culdade de concentração de modo duradouro que, como vimos, constitui um

dos principais argumentos invocados para a desvalorização das publicações

eletrónicas. As únicas hiperligações consideradas foram o URL6 para website

do programa Manobras no Porto que, conforme mencionado antes, apoiou o

projeto do ponto de vista logístico e financeiro, e as hiperligações para alguns

dos artigos da bibliografia consultada.

Como mencionamos no capítulo anterior, no desenho de human computer

interfaces é fundamental definir estruturas claras, quer ao nível da disposição

dos conteúdos na “página”, como da organização dos conteúdos ao longo da

publicação. Assim, procurou-se definir uma estrutura consistente, em que

tanto os conteúdos, como as próprias secções, estivessem claramente hierar-

quizados, de modo a facilitar a identificação de ambos. Deste modo, pretende-

-se promover uma fácil consulta dos conteúdos, evitando uma informação

dispersa e de difícil identificação por parte do leitor, o que pode constituir um

obstáculo à leitura.

Para além de uma "arquitetura" compreensível procurou-se definir for-

mas de interação familiares e constantes ao longo da publicação:

Swipe left e right permite navegar sequencialmente entre capítulos e, no caso

de galerias de imagens, navegar sequencialmente entre imagens;

Swipe up e down permite “rolar” (scroll) os conteúdos;

Single tap permite abrir e fechar janelas “pop up” e reproduzir os trechos

de áudio e vídeo;

Single tap no topo do ecrã permite abrir o índice de conteúdos.

Finalmente, a rotação do dispositivo permite alterar o formato da "página"

horizontal para vertical, e vice-versa.

De cima para baixo:

diagramas das formas de

interação – swipe up, swipe

down, swipe left, swipe right

e single tap.

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96

em baixo: Diagrama da arquitetura da

publicação eletrónica "Em cima da vila" e

dos conteúdos incluídos

legenda

T

"Página" com menu

Sucessão de "páginas"

Conteúdo textual

Conteúdo não textual: imagens

Conteúdo não textual: áudio

Conteúdo não textual: vídeo

"Página" de conteúdo

Conteúdo inédito*Página MasterN.º

Apresen- tação

Aponta-mentos

(...)

Com os ouvidos

(...)

Percursosonoro

(...)

Em cima da vila

(...)

Gentes eestórias

(...)

Equipa

Agradeci-mentos

T

T

T

T

T

T ▶

T ▶

T

T ▶

Capa Apoio à leitura

Índice

T T▶ * * *

*

*

*

*

*

*

1 2 2

1

2 6

3

4

4

3

5

5

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97

Conforme mencionamos no diagrama, estes modos de interação apare-

cem descritos num "capítulo" próprio – Apoio à leitura –, de forma a facilitar

o manuseamento desta publicação por leitores menos habituados à utilização

de ecrãs multitoque (e-book readers, smartphones, phablets e tablets).

As formas de interação adotadas, em especial o conjunto de gestos swipe

(right, left, up e down), procuram explorar a noção de “infinite canvas” onde,

como anteriormente mencionamos, os conteúdos são organizados num pla-

no infinito que pode ser percorrido pelo leitor em todas as direções. Deste

modo, procura-se ultrapassar os constrangimentos físicos da página impres-

sa e, simultaneamente, evitar a sua mimetização nos suportes digitais. Parti-

lhamos, assim, da visão proposta por autores como José Manuel Lucía (2012)

que têm defendido a necessidade de estabelecermos um distanciamento críti-

co relativamente às publicações impressas, fundamental para que possam ser

concebidas e produzidas novas soluções de leitura especialmente adequadas

aos suportes eletrónicos.

Muito embora o leitor possa consultar os conteúdos de forma linear e sequen-

cial, quer através da combinação de gestos swipe left/right, quer através do índice

de conteúdos ativado pelo single tap no topo da “página”, optou-se por desenvolver

um índice de conteúdos sob a forma de “start screen” – onde por um lado, todos os

conteúdos estão imediatamente visíveis, e por outro, não define uma ordem clara

de consulta. Desta forma, procurou-se dar ao leitor autonomia para determinar o

seu percurso “em cima da vila”.

Ao lado: maqueta do

"capítulo" Apoio à leitura,

com representação

das metáforas

gráficas utilizadas.

Page 98: John Doe – o livro no mundo digitalbiblioteca.fba.up.pt/docs/Marta_Ferreira/MDGPE_Marta... · 2013. 12. 19. · de 2009 e lançado ao público em meados de 2012) percursor do "flat

98

Ao lado: maquete do

"capítulo" Índice sob a

forma de startscreen.

Em baixo: maquete do

"capítulo" Gentes e estórias

(...) exige o recurso ao

swipe up e down para a

seleção de "páginas"

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99

Para além das formas de interação familiares para leitores com alguma

experiência na utilização de ecrãs multitoque, considerou-se fundamental de-

finir metáforas compreensíveis e constantes ao longo da publicação, nomea-

damente nas utilizadas para indicar a presença e modo de interação com hi-

perligações, janelas pop up, bem como os ficheiros áudio (Play, Stop e Pause).

Também a escolha das fontes mereceu a nossa atenção, entendendo-se

que estas poderão funcionar como um outro código importante para compre-

ender os conteúdos da publicação.

Nesta proposta, e novamente privilegiando a coerência com a linguagem

gráfica utilizadas nos suportes previamente desenvolvidos, optou-se por man-

ter a utilização da fonte Bazar para a descrição dos títulos. Esta fonte foi dese-

nhada pela designer Olinda Martins com o objetivo de criar uma fonte repre-

sentativa da identidade cultural da cidade do Porto. Como referido, esta fonte

foi utilizada no desenho dos vários elementos de comunicação desenvolvidos

em 2011, importando referir que foi o conceito proposto para esta fonte que

motivou a sua escolha para a identidade visual de um projeto que trabalha

justamente sobre a história e a identidade em transformação de uma rua em-

blemática do centro histórico da cidade do Porto.

Já no corpo de texto optou-se por substituir a fonte DIN, que tinha sido

escolhida por permitir a sua utilização em corpos muito pequenos, mantendo

a legibilidade do texto, pela família ITC Officina Serif e ITC Officina Sans. No

essencial, as razões para esta alteração prendem-se com o facto da DIN, fonte

não serifada, não ter uma correspondente serifada considerada necessárias

para a apresentação dos vários elementos textuais desta publicação eletrónica.

Ao lado: maqueta da

"página" José Vilela,

incluída no capítulo

Gentes e estórias de cimo de

Vila e representação das

metáforas gráficas para

reproduzir o áudio e abrir

a janela pop up.

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101

Lançada em 1990, pelo designer Erik Spiekermann, a família ITC Officina

Serif e ITC Officina Sans foi criada procurando responder às necessidades

impostas pela impressão a laser com baixa qualidade. Entretanto, esta fonte

tornou-se bastante popular, tendo sido aplicada noutros media. A nível de de-

senho das letras, a fonte caracteriza-se por formas muitos simples e conden-

sadas. Apresenta ainda ascendentes e descententes curtas e uma altura-x con-

fortável. Tanto a ITC Officina Serif como a ITC Officina Sans permitem, em

nosso entender, uma leitura agradável e ainda uma boa conjugação com a Ba-

zar. Por outro lado, esta família apresentava a quantidade de pesos adequados

aos textos, bem como às hierarquias que era necessário definir. Optou-se por

utilizar a fonte serifada (ITC Officina Serif) em textos mais longos o que, como

vimos no capítulo anterior, tende a facilitar a leitura. Reservou-se a utilização

da fonte não-serifada (ITC Officina Sans) para legendas e outras indicações.

Também a cor e posição das fotografias permitiu estabelecer códigos facil-

mente compreendidos pelos leitores. Definiu-se uma hierarquia de imagens

assentes na cor e na posição relativamente ao texto:

As imagens apenas a uma cor correspondem a ilustrações não interativas.

Temos assim as imagens a amarelo, que estáticas e num layer

abaixo do texto, e as imagens a preto, que se movem acompa-

nhando o texto no swipe up/down.

As outras imagens, a várias cores, indicam a presença de galerias de fo-

tografias e que, de uma forma geral, têm maiores dimensões,

podendo inclusivamente ocupar a totalidade da “página”.

Através destas relações de layers, procurou-se simular o parallax scrolling

que descrevermos no capítulo anterior.

The quick brown fox jumps over the lazy dog

The quick brown fox jumps over the lazy dog

The quick brown fox jumps over the lazy dogThe quick brown fox jumps over the lazy dog

The quick brown fox jumps over the lazy dog

The quick brown fox jumps over the lazy dog

The quick brown fox jumps over the lazy dogThe quick brown fox jumps over the lazy dog

ITC Officina Serif Book

ITC Officina Serif Book italic

ITC Officina Serif Bold

ITC Officina Serif Bold italic

ITC Officina Sans Book

ITC Officina Sans Book italic

ITC Officina Sans Bold

ITC Officina Sans Bold italic

Página anterior: Martins,

Olinda – Bazar Medium

– Espécime tipográfico

da identidade cultural

portuense. In: VELOSO, A;

DIAS, N; MARTINS, O.;

AMADO, P – II Encontro

Nacional de Tipografia.

Aveiro: Universidade de

Aveiro, 2012. ISBN 978-

972-789-348-5. Atas da

Conferência.

Em cima: ITC Officina Serif

e ITC Officina Sans

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102

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103

A nível de formatação da página optou-se por uma grelha modular capaz

de traduzir, a nível concetual, a estrutura da Rua Cimo de Vila que, conforme

descrito no texto Apontamentos acerca da evolução histórica, urbana e social de

Cimo de Vila se desenvolve com ritmos relativamente diferenciados, contri-

buindo para uma certa heterogeneidade seja ao nível do perfil do edificado,

seja ao nível dos espaços públicos (ruas, pracetas, etc.). Por outro, a adoção da

grelha modular vai de encontro a algumas das exigências práticas do respon-

sive design – desenvolver de “páginas” capazes de melhorar a experiência de

leitura, independentemente do equipamento utilizado pelo leitor para consul-

tar a determinado conteúdo –, facilitando a reorganização dos conteúdos quer

o leitor opte pela leitura da “página” na vertical (portrait) ou na horizontal

(landscape).

Muito embora seja dada ao leitor possibilidade de alterar a orientação do

e-book reader, nos testes realizados concluímos que alguns dos “capítulos”

deste livro funcionam melhor apenas numa das posições. Por esse motivo, as

"páginas" incluídas no "capítulo" Gentes e estórias de Cimo de Vila apenas po-

dem ser consultadas no formato horizontal, sendo sugerido ao leitor, através

de uma mensagem gráfica, que altere a posição do e-book reader.

Definiu-se assim seis páginas master procurando, em cada situação, ade-

quar a disposição dos elementos textuais e não-textuais à sua natureza.

Página anterior: maqueta

da "capítulo" Apresentação

e detalhe da hierarquia de

imagens assentes na cor e

na posição face ao texto.

Em baixo: maqueta da

"capítulo" Equipa com

"página" na vertical e

na horizontal segundo

a grelha modular

previamente definida

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104

77 Cf. http://www.magplus.

com/

A compreensão das especificidades destes “novos” suportes, os seus limi-

tes e constrangimentos, procurando evitar a mimetização o tipo de propostas

gráficas e editoriais anteriormente desenvolvidas para o suporte impresso e a

vontade de aplicar os conhecimentos adquiridos levou-nos, desde logo, a afas-

tar alguns dos formatos digitais frequentemente utilizados em publicações

eletrónicas. Como vimos anteriormente, o formato PDF para além da sua

universalidade tem a vantagem de permitir um grande controlo do desenho

das páginas. Já os formatos ePUB e Mobi apesar da sua universalidade e ade-

quação aos e-book readers não permitem um domínio rigoroso do desenho das

páginas. Pode-se considerar, portanto, que estes três formatos (PDF, ePUB e

Mobi) são ainda um pouco limitados no que toca aos modos de interação, não

permitindo concretizar alguns aspetos que, em nosso entender, são hoje con-

siderados fundamentais para o desenvolvimento de publicações eletrónicas

capazes de explorar as potencialidades deste “novo” contexto.

Neste ponto, importa referir que atualmente o formato ePUB3 – fixed

layout permite um maior controlo do aspetos gráficos da “página”. Contudo,

tende ainda a mimetizar contudo algumas caraterísticas do livro impresso

(nomeadamente, a tentativa de reproduzir o “virar da página”) que, em nosso

entender, não contribuem para melhorar a leitura e sacrificam o aspeto grá-

fico da publicação eletrónica. Por outro lado, este formato ainda não permite

algumas das formas de apresentação e de interação que aqui descrevemos.

Porém, como formato open source poderá conhecer melhorias significativas a

estes níveis, consideramos portanto importante acompanhar o seu desenvol-

vimento bem como a forma como os diferentes e-book readers o interpretam.

Concluiu-se, assim, que atualmente a alternativa mais adequada para a apre-

sentação da publicação eletrónica “Em cima da vila” é como aplicação (app).

Após uma pesquisa a nível de software, optámos por experimentar o

Mag+77, um plug-in para o software Adobe InDesign. Esta opção prendeu-se

com a possibilidade de, por um lado, trabalhar numa aplicação de que nos

é familiar – o Adobe InDesign – e, por outro, por permitir a ligação a um

dispositivo de leitura (neste caso, o iPad), possibilitando a realização de testes

sucessivos até se se chegar uma proposta de human computer interfaces consi-

derada satisfatória.

Contudo, a utilização deste plug-in evidenciou alguns dos constrangimen-

tos à conceção, produção, edição e distribuição de publicações eletrónicas. Em

primeiro lugar, confirmou-se a necessidade de reunir equipas multi e inter

disciplinares, capazes de trabalhar conteúdos de diferentes naturezas para este

meio específico e, sobretudo, garantir uma passagem bem sucedida do protó-

tipo ao produto final (a publicação eletrónica propriamente dita). Trata-se de

um aspeto-chave que, como vimos, não só é frequentemente apontado por

diversos autores, como também se revelou crítico para a concretização, mais

ou menos bem sucedida de todos estudos de caso anteriormente analisados.

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105

8 Cf. http://developer.apple.

com/programs/ios/

Em segundo lugar, a utilização deste plug-in comprovou os elevados cus-

tos associados à produção de um livro eletrónico. Para além do oneroso in-

vestimento em honorários associados aos recursos humanos especializados,

importa considerar ainda os custos elevados relacionados com os recursos

logísticos – hardware e software. A este nível importa salientar que, apesar de

ser possível simular a utilização e leitura de um livro eletrónico no compu-

tador pessoal (por exemplo, simular o ecrâ do iPad num computador pesso-

al) com recurso a software específico, como vimos anteriormente, algumas

questões relacionadas ergonomia e outros aspetos físicas associados à leitura

são totalmente distintas, nomeadamente, a posição mais ou menos contraída

e a distância relativamente ao ecrã que poderá condicionar algumas opções

gráficas. Assim, idealmente, todos os testes devem ser realizados no hardware

específico para o qual as publicações estão a ser desenvolvidas.

Por outro lado, também os softwares têm custos elevados. No caso do o

Mag+, plug-in selecionado para esta publicação, será necessário suportar um

valor entre os 399 e os 999 dólares norte-americanos para a edição de “Em

cima da vila”, para um tipo de e-book reader. A estes custos somam-se os da

distribuição na respetiva loja (no caso do mercado da Apple, 99 dólares norte-

-americanos/ano pela licença de developer e 30% de comissão sobre o preço

da publicação8). Assim, para a concretização e distribuição deste projeto no

mercado da Apple seria necessário, pelo menos, um capital inicial entre os

295 e os 815 Euros.

Em baixo: maqueta da

"capa" da publicação

"Em cima da Vila"

(com vídeo a ocupar a

totalidade do ecrã) e, ao

lado, icon da app.

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ntes de concluir-mos este capítulo de apresentação e fun-

damentação das opções tomadas no desenvolvimento

desta maqueta, importa salientar que o conjunto de docu-

mentos relativos à maqueta do livro eletrónico “Em cima

da vila”, apresentados neste relatório, pretendem ser uma

primeira aproximação ao formato digital. Efetivamente,

no âmbito da dissertação de final de mestrado em Design Gráfico e Projetos

Editoriais preocupamo-nos sobretudo em estudar um conjunto de soluções

ao nível do desenho dos human computer interfaces bem como editar os con-

teúdos selecionados de modo a faciliter o posterior desenvolvimento desta

publicação. Note-se que para esta maqueta:

Desenvolvemos, selecionamos e editamos todos conteúdos textuais e não

textuais;

Definimos a organização dos conteúdos e da publicação;

Definimos os modos de interação;

Desenhamos os human computer interfaces;

Realizamos ainda testes específicos dos modos de interação definidos e

dos human computer interfaces desenhados;

Realizamos uma maqueta, utilizando o plug-in Mag+, bem como produzi-

mos um breve vídeo descritivo acerca da organização dos conte-

údos da publicação e das formas de interação definidas.

O desenvolvimento desta maqueta permitiu-se ainda tomar contacto com

aspetos relacionados com a produção, edição e distribuição de livros eletró-

nicos. Embora não tenha sido publicado e distribuído o livro eletrónico “Em

cima da vila”, os estudos efetuados possibilitaram-nos ganhar uma maior

sensibilidade para a dimensão económica deste tipo de projectos e aos eleva-

dos custos de produção frequentemente associados. Atendendo aos elevados

custos de licenças para utilização dos softwares e plug-ins necessários à produ-

ção e distribuição do livro, considera-se fundamental reunir uma equipa inter

e multidisciplinar, dotada de competências sólidas a nível de domínio de lin-

guagens como, por exemplo, HTML5, XML, CSS3 e SVG. Uma equipa com

estas caraterísticas poderá estar em melhor posição para desenvolver uma

solução específica e independente para esta publicação, reduzindo significati-

vamente os custos logísticos.

De igual modo, considera-se fundamental que, no futuro desenvolvimen-

to do projeto, haja uma permanente preocupação em acompanhar a evolução

das NTIC, seja ao nível dos formatos, seja ao nível do software e hardware.

O trabalho desenvolvido e perspetivas futuras de trabalho

a desenvolver

A

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107

Designadamente, parece-nos que será importante acompanhar – e, se pos-

sível, contribuir – a evolução do formato open source ePUB3– fixed layout, no

sentido de melhorar as formas de apresentação e de interação na produção de

publicações eletrónicas de caráter comercial ou independente.

Finalmente, enquanto designers gráficos importa assumir um papel proa-

tivo nestes processos, promovendo a discussão em torno dos modos de dese-

nho para suportes digitais, contribuindo para o desenvolvimento de soluções

mais adequadas ao nível user interfaces e sua manipulação. Estes desafios im-

plicam necessariamente uma predisposição do designer para um diálogo in-

terdisciplinar, reforçando as suas competências ao nível técnico e tecnológico,

integrando novas preocupações e saberes, ajustando-se às necessidades e às

exigências do contexto contemporâneo. Como refere Mário Moura (2013), os

designers devem hoje reunir um leque alargado de competências, combinan-

do novos e “velhos” saberes da profissão. Em primeiro lugar, devem conhecer

as estratégias mais adequadas para a composição e edição centradas no texto e

na leitura. Devem também dominar noções mínimas de programação, edição

de áudio, vídeo e imagem. “Um bom profissional deverá ter a capacidade para

decidir qual a ferramenta a usar num dado trabalho ou numa dada altura.”.

E, finalmente, devem desenvolver um discurso crítico e articulado em torno

do seu trabalho.

Para aceder à maqueta da publicação eletrónica

"Em cima da vila" utilize a hiperligação:

http://indigo.com.pt/mdgpe/

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Notas finais

Ao longo deste trabalho, procuramos analisar e discutir al-

guns dos principais contornos do processo de transfor-

mação das publicações impressas para a miríade de novos

suportes eletrónicos. Importa, assim, aproveitar este últi-

mo capítulo para, em jeito de conclusão, apresentar algu-

mas notas finais que ajudem a sintetizar um conjunto de

aspetos que consideramos fundamentais, mas também que ajudem a identi-

ficar alguns domínios que nos parecem relevantes para futuras investigações.

Um primeiro ponto a destacar é o carácter profundamente circular e algo

hermético da longa discussão em torno da “morte do livro” que, desde me-

ados da década de 1990, vem animando os meios científicos. Embora seja

evidentemente importante e pertinente discutir questões como: que novas

formas o livro impresso vai assumir; quais os impactos da passagem do livro

impresso para o digital; ou ainda, de que modo podemos definir o livro elec-

trónico, a verdade é que, decorrida mais de década e meia, sob este debate,

se pode concluir que esta discussão se encontra hoje num certo impasse.

Contudo, um pouco à margem deste debate, tem-se vindo a assistir a uma

situação algo paradoxal: não só existe um notório incremento do mercado de

e-books e e-books readers, como o próprio mercado editorial “tradicional” se re-

vela resiliente face à anunciada “morte do livro”, com um contínuo aumento

do número de livros impressos, tanto em Portugal como um pouco por todo o

mundo. Pode-se, assim, concluir que, ao contrário do que foi frequentemente

anunciado, existe hoje uma coexistência entre estes dois tipos de publicações:

as impressas e as eletrónicas.

Um segundo aspecto a salientar da análise realizada, este agora diretamen-

te relacionado com as publicações eletrónicas, prende-se com o papel decisivo

que as indústrias de desenvolvimento de hardware e software têm vindo a as-

sumir neste processo de transformação do mundo editorial, condicionando-o

e orientando-o. De facto, como procurámos evidenciar neste trabalho, toda a

investigação, produção, edição e distribuição de e-books está fortemente condi-

cionada pelas tecnologias existentes, que por seu turno, estão dependente das

opções estratégicas definidas por estes novos agentes do universo editorial.

Constatou-se ainda, por outro lado, uma certa confluência de interesses da

indústria de desenvolvimento de hardware e software e do setor editorial em

torno do controlo e proteção da distribuição de livros eletrónicos. Neste sentido,

nos últimos anos, estas indústrias têm procurado desenvolver uma série de

medidas de controlo da produção e distribuição, implementando sofisticadas

técnicas de proteção contra a cópia e a “pirataria”.

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110

As estratégias ao nível do desenvolvimento e comercialização de hardware

a par do enfoque nas questões da proteção da cópia tem penalizado a produ-

ção e distribuição de e-books e e-book readers inovadores, cuja evolução tem

sido, nesta perspetiva, relativamente lenta. Embora existam livros eletrónicos

verdadeiramente arrojados, como procurámos evidenciar através da análise

realizada neste trabalho, muitos dos e-books e e-book readers tendem ainda a

mimetizar o suporte “tradicional”, em papel.

Na realidade, como têm apontado diversos investigadores, e como também

foi afirmado pelo conjunto de autores entrevistados no âmbito desta investi-

gação, para contrariar a tendência para a cópia (hoje facilitada pela Web 2.0)

e motivar os leitores para a compra destas publicações, é urgente apostar na

melhoria dos conteúdos dos livros eletrónicos e nas formas de distribuição.

É igualmente crucial reforçar as estratégias de interação e contacto entre

leitores, autores e editores. Os estudos de caso realizados apontam justamente

neste sentido, evidenciando novas estratégias de partilha de conteúdos, enri-

quecendo a relação “tradicional” não só autor-leitor, mas também leitor-leitor.

Finalmente, os vários autores entrevistados sublinham ainda a importância

de questionar as formas tradicionais de distribuição, apelando à inovação, e

apontado novas direções ao nível dos apoios à edição e à distribuição direta,

numa lógica do-it-yourself e independente, que importa continuar a estudar e

problematizar do ponto de vista teórico e prático.

Um estudo recentemente publicado pelo CEPS Digital Forum revela

que, por um lado, os indivíduos tendem a combinar a aquisição ilegal com a

aquisição legal fazendo grandes investimentos na compra de conteúdos (seja

em formato digital, seja em formato “físico”), por outro, que a reincidência

na atividade ilegal se deve sobretudo à dificuldade de acesso aos conteúdos,

seja pelo seu preço elevado seja pela sua indisponibilidade: “According to the

study, Internet users infringe copyright because of excessive costs, prices, and

because of their limited financial resources. The study suggests that a cheaper

access to legal services, along with a wider availability and a faster release of

content, is the main factor that would encourage infringers to stop illegal ac-

tivities and subscribe to online content services” (Mazziotti, 2013: 130).

Um terceiro aspeto que gostaríamos aqui de salientar prende-se com o

facto de muitas questões relacionadas com a leitura em suportes digitais e as

suas consequências físicas e cognitivas estarem ainda pouco estudadas e do-

cumentadas. Neste trabalho procurámos, de modo exploratório, estabelecer

algumas relações com estudos realizados tanto ao nível da leitura em supor-

te impresso como digital (traçando alguns paralelismos com a consulta de

páginas Web) e ainda ao nível dos consumos de jogos eletrónicos. É contu-

do evidente a necessidade de aprofundar muitas destas questões, realizando

estudos específicos sobre as consequências físicas e cognitivas associadas à

leitura de livros digitais.

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111

Finalmente, um quarto e último aspecto merece ser aqui salientado, leva-

-nos a citar as questões colocadas por Hugh McGuire: "How appropriate is

the visual narrative style for the format? What effect do the added features

of voice and movement have on the reading experience? What qualities do

the interactive features add to the experience? Are there features that inter-

rupt the comprehension experience for the reader? What experiences can

the digital world offer that print alone cannot readily do? What can the print

world continue to offer for which digital experiences may have limitations?"

(McGuire apud Webb, 2012: 11) – em resumo: que desafios este complexo

processo de transformação coloca ao modo de produzir, editar e distribuir

publicações eletrónicas?

Não cabe a este estudo dar uma resposta cabal este conjunto de questões,

podendo ser, contudo, apontadas algumas pistas para reflexão e investigação

profunda. Como vimos, o grande desafio que hoje se coloca às publicações

digitais é evitar mimetizar o suporte “tradicional” promovendo possibilitando

novas publicações e formas de leitura.

Para responder a este desígnio, os designers têm hoje que se reinven-

tar, não só reforçando algumas das suas competência tradicionais (ao nível

da tipografia e da legibilidade, por exemplo), mas também adquirindo novas

competências (ao nível da programação e da produção e utilização de conteú-

dos multimédia). Importa ainda que os designers contemporâneos ganhem

consciência da importância de conseguirem estabelecer um diálogo interdis-

ciplinar com profissionais de outras áreas que são hoje fundamentais para

concretizar projetos com a exigência e complexidade (técnica, tecnológica e

financeira) associada ao universo das publicações digitais. Este é pois, em sín-

tese, o grande desafio que hoje se coloca ao design gráfico e editorial: contri-

buir de forma crítica, informada e actualizada para o debate teórico e prático

acerca da evolução dos livros eletrónicos.

Procurámos também nós, através da elaboração deste trabalho de investi-

gação, análise e discussão crítica, bem como do projecto prático que o com-

plementa e que com ele se articula estreitamente, contribuir para este debate

e para este novo posicionamento da nossa profissão perante este conjunto de

importantes desafios contemporâneos.

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