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JORGE LUIZ VIANNA STEGMANN
ESTUDO DE CASO - SUSTENTABILIDADE NO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA
ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Trabalho de Formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Diploma de Engenheiro de Produção.
São Paulo 2006
JORGE LUIZ VIANNA STEGMANN
ESTUDO DE CASO - SUSTENTABILIDADE NO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA
ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Trabalho de Formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Diploma de Engenheiro de Produção.
Orientador: Prof. Dr. Laerte Idal Sznelwar
São Paulo 2006
“O futuro dependerá daquilo que fizermos no presente.”
Mahatma Gandhi
AGRADECIMENTOS
A toda minha família pelo apoio e dedicação indispensáveis, em especial a minha
mãe, Tereza Vianna, pelo suporte incondicional durante toda minha vida.
Aos amigos que fiz nesses anos de faculdade, que por mais breve que tenham
sido os momentos vividos juntos foram eles que me definiram como pessoa,
profissional e cidadão.
Aos funcionários do PURE, PURA e USP Recicla, representados nas figuras dos
engenheiros Leonardo Favato, Humberto Tamaki e o educador Paulo Diaz,
respectivamente, pela atenção e apoio durante o trabalho e pelo trabalho que
realizam na universidade.
Aos funcionários do departamento de Engenharia de Produção e as equipes de
limpeza, em especial a Maria Olívia e Ana pela ajuda e atenção durante todo o
trabalho.
Aos professores da Escola Politécnica, especialmente aos professores do
departamento de Engenharia de Produção pelos conhecimentos e experiências
compartilhados, cujos quais ainda não posso avaliar o quanto me serão úteis ao
longo de minha vida.
Aos colegas de trabalho pela compreensão e motivação durante todo projeto .
E em especial ao Professor Doutor Laerte Idal Sznelwar pela proposta do trabalho
e suporte durante todo ano .
RESUMO
O presente trabalho apresenta o conceito de desenvolvimento sustentável por
uma ótica humana. Faz uma análise da situação atual do departamento de
Engenharia de Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
quanto à utilização de recursos (uso de materiais, água e energia) e apresenta
propostas para solucionar os problemas encontrados. O trabalho, em última
estância, pretende iniciar a discussão sobre desenvolvimento sustentável no
departamento através do início da implantação do processo de reciclagem e um
projeto para substituição de equipamentos não favoráveis ao uso racional de
energia. Os resultados mostram que ainda há diversas ações a serem tomadas
para que o departamento possa tratar seus resíduos de maneira e usar a energia
mais racionalmente.
Palavras-chave: Desenvolvimento sustentável, reciclagem e meio ambiente.
ABSTRACT
This paper presents the concept of sustainable development through its human
side. It analyzes the use of natural resources (materials utilization, water, energy
and waste) by the Departamento de Engenharia de Produção da Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo and presents suggestions to solve
problems found. Ultimately, the paper pretends to start a debate around
sustainable development in the department through the implementation of the first
steps of a recycling process and a project to substitute equipment that interfere in
a rational energy use. The results show that there are several actions to be taken
in order to the department take good care of its waste correctly and use wisely the
energy.
Keywords: Sustainable Development, recycling and environment.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Cogumelos provenientes dos grãos usados na fabricação de cerveja (ZERI, 2006). ..................................................................................................................... 20 Figura 2: Modelo do desenho dos processos .............................................................. 41 Figura 3: Fluxo para papel A4......................................................................................... 42 Figura 4: Fluxo para copo descartável (180ml)............................................................ 43 Figura 5: Fluxo para papel higiênico.............................................................................. 45 Figura 6: Fluxo para água sanitária ............................................................................... 46 Figura 7: Fluxo para o álcool........................................................................................... 47 Figura 8: Fluxo para o limpador multiuso...................................................................... 48 Figura 9: Fluxo para o detergente .................................................................................. 49 Figura 10: Fluxo para filtro de papel .............................................................................. 50 Figura 11: Fluxo para cartuchos de impressora .......................................................... 51 Figura 12: Fluxo para pilhas e baterias ......................................................................... 52 Figura 13: Fluxo para papel toalha ................................................................................ 53 Figura 14: Ciclo dos principais materiais usados pelos professores........................ 56 Figura 15: Ciclo dos principais materiais usados pelos funcionários da secretaria............................................................................................................................................. 56 Figura 16: Ciclo dos principais materiais usados pelo funcionário da copa............ 57 Figura 17: Ciclo dos principais materiais usados pelos alunos ................................. 57 Figura 18: Coleta de papel.............................................................................................. 58 Figura 19: Coleta de plástico .......................................................................................... 59 Figura 20: Coleta de vidros ............................................................................................. 60 Figura 21: Coleta de metal.............................................................................................. 61 Figura 22: Fluxo de eletrônicos ...................................................................................... 62 Figura 23: Coleta e doação de eletrônicos ................................................................... 64 Figura 24: Compostagem de material orgânico........................................................... 65 Figura 25: Descarte comum ............................................................................................ 66 Figura 26: Descarte de pilhas ......................................................................................... 67 Figura 27: Cartaz para separação de copos ................................................................ 71 Figura 28: Coletores na entrada do departamento ..................................................... 72 Figura 29: Coletores de papel e pilhas.......................................................................... 73 Figura 30: Processo do piloto de reciclagem ............................................................... 75 Figura 31: Processo revisado do piloto de reciclagem ............................................... 76 Figura 32: Comunicação revisada dos coletores do pátio ......................................... 77 Figura 33: Comunicação revisada dos coletores de copos ....................................... 77 Figura 34: Comunicação revisada dos cartazes.......................................................... 78 Figura 35: Processo implementado para coleta de papel.......................................... 82 Figura 36: Processo implementado para coleta de plástico ...................................... 82 Figura 37: Processo implementado para coleta de metal.......................................... 83 Figura 38: Processo implementado para coleta de pilhas e baterias....................... 83 Figura 39: Coletores de lixo com cores (NATURAL LIMP, 2006) ............................. 85 Figura 40: Coletores de lixo em cores (unidades separadas) (NATURAL LIMP, 2006) ................................................................................................................................... 85 Figura 41: Coletor com compartimento para lixo comum (NATURAL LIMP, 2006)............................................................................................................................................. 86 Figura 42: Coletor simples com cesta (NATURAL LIMP, 2006) ............................... 86
Figura 43: Coletor simples em tubo (NATURAL LIMP, 2006) ................................... 87 Figura 44: Contêiner (NATURAL LIMP, 2006) ............................................................. 88 Figura 45: Base de gastos com materiais em 2005 (base analisada) ..................... 89 Figura 46: Rede viva do papel........................................................................................ 93 Figura 47: Fluxo do açúcar ............................................................................................ 106 Figura 48: Fluxo do adoçante ....................................................................................... 107 Figura 49: Fluxo do açúcar sache ................................................................................ 108 Figura 50: Fluxo para lanches ...................................................................................... 110 Figura 51: Fluxo para biscoitos e bolachas ................................................................ 111 Figura 52: Fluxo para frutas .......................................................................................... 112 Figura 53: Fluxo para o café ......................................................................................... 113 Figura 54: Fluxo para o chá .......................................................................................... 114 Figura 55: Fluxo para guardanapos ............................................................................. 116 Figura 56: Fluxo para lã de aço .................................................................................... 117 Figura 57: Fluxo para luva cirúrgica............................................................................. 118 Figura 58: Fluxo para sucos.......................................................................................... 119 Figura 59: Fluxo para papel almaço ............................................................................ 120 Figura 60: Fluxo para jornais ........................................................................................ 121 Figura 61: Fluxo para revista Exame ........................................................................... 122 Figura 62: Fluxo para revista Harvard Business Review.......................................... 123 Figura 63: Fluxo para envelopes .................................................................................. 124 Figura 64: Fluxo para bobinas de papel...................................................................... 125 Figura 65: Fluxo para geléia.......................................................................................... 126 Figura 66: Fluxo para refrigerantes.............................................................................. 127 Figura 67: Fluxo para copo descartável (110ml) ....................................................... 128 Figura 68: Fluxo para canetas ...................................................................................... 129 Figura 69: Fluxo para lápis ............................................................................................ 130 Figura 70: Fluxo para clipes de papel.......................................................................... 131 Figura 71: Fluxo para papel lembrete .......................................................................... 132 Figura 72: Fluxo para pastas plásticas........................................................................ 133 Figura 73: Fluxo para transparências .......................................................................... 134 Figura 74: Fluxo para papel toalha .............................................................................. 135 Figura 75: Fluxo para protetor de assento sanitário.................................................. 136 Figura 76: Fluxo para placas de mictório .................................................................... 137 Figura 77: Consumo de energia elétrica de fevereiro a maio de 2006 (PURE-USP, 2006) ................................................................................................................................. 170 Figura 78: Consumo de energia elétrica em maio de 2006 (PURE-USP, 2006) . 170 Figura 79: Luminárias eficientes (ARCOWEB, 2006) ............................................... 172 Figura 80: Consumo de água no dia 30 de maio (PURA-USP, 2006) ................... 176 Figura 81: Consumo de água no ano de 2005 (PURA-USP, 2006) ....................... 176
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Estrutura do Departamento de Engenharia da Produção em janeiro de 2006 ...................................................................................................................................... 3 Tabela 2: Redução porcentual nos gastos de processos de reciclagem em relação aos processos de produção com matéria prima virgem (WORLDWATCH INSTITUTE, 1987) ............................................................................................................ 24 Tabela 3: Estimativa de uso de copos descartáveis por mês ................................... 44 Tabela 4: Padrões sugeridos para impressão de documentos ................................. 92 Tabela 5: Impacto nos gastos com papel A4 pelo uso de papel reciclado ............. 94 Tabela 6: Exemplo de informações para requisição de projeto no PURE .............. 98
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BASF Empresa química
BTU British Thermal Unit
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior
CECAE -USP Coordenadoria Executiva de Cooperação
Universitária e de Atividades Especiais da USP
CODAGE -USP Coordenadoria de Administração Geral da USP
COESF-USP Coordenaria do Espaço Físico da USP
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
EPUSP Escola Politécnica da USP
FAPESP Fundação de Ampara a Pesquisa do Estado de São
Paulo
FUNDUSP Fundo de Construção da USP
IPPC Intergovernmental Panel on Climate Change
IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas
LSP Laboratório de Sistemas Prediais
PCC Departamento de Construção Civil da POLI
PEA Departamento de Energia e Automação da POLI
PEAD Polietileno de Alta Densidade
PET Polietileno Tereftalato
POLI - USP RECICLA Projeto de análise de resíduos da EPUSP
PURA Programa de Uso Racional da Água
PURE Programa de Uso Eficiente da Energia
PUREFA Programa de Uso de Fontes Alternativas de Energia
SISGEN Sistema de Gestão da Energia Elétrica
TR Tonelada Refrigerada
UNEP United Nations Envinronment Programme
USP Universidade de São Paulo
USP RECICLA Programa de reciclagem da USP
ZERI Zero Emissions Research & Initiatives
SUMÁRIO 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ...........................................................................................................................2
1.1. HISTÓRICO E ESTRUTURA FÍSICA ................................................................................................................ 2 1.2. FUNDAÇÃO VANZOLINI................................................................................................................................... 4 1.3. SITUAÇÃO ATUAL............................................................................................................................................. 4
2. CONCEITOS ...........................................................................................................................................................8 2.1. EMPRESA VIVA ................................................................................................................................................ 8 2.2. IMPACTO AMBIENTAL...................................................................................................................................... 9 2.3. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL - CONCEITO.................................................................................... 11 2.4. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL - PRÁTICA ....................................................................................... 14
3. CASOS DE SUCESSO .....................................................................................................................................17 3.1. GENERAL MOTORS DO MÉXICO ................................................................................................................. 17 3.2. BASF .............................................................................................................................................................. 17 3.3. CERVEJARIAS SUSTENTÁVEIS..................................................................................................................... 19 3.4. AMBEV .......................................................................................................................................................... 20
4. CONCEITOS APLICADOS .............................................................................................................................23 4.1. OS 3 R’S ......................................................................................................................................................... 23 4.2. GESTÃO COMPARTILHADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS............................................................................... 25
5. ESTUDOS DE CASO ........................................................................................................................................28 5.1. USP RECICLA................................................................................................................................................ 28 5.2. POLI - USP RECICLA .................................................................................................................................. 32
6. ESTRUTURA DO TRABALHO......................................................................................................................35 6.1. ANÁLISE DO USO DOS MATERIAIS ............................................................................................................... 35 6.2. ANÁLISES DO USO DE ENERGIA E USO DE ÁGUA ..................................................................................... 37
7. ANÁLISE DO USO DOS MATERIAIS ........................................................................................................39 7.1. LEVANTAMENTO DE DADOS ......................................................................................................................... 39 7.2. FLUXO DOS MATERIAIS ................................................................................................................................. 40 7.3. RECICLAGEM .................................................................................................................................................. 54 7.4. PILOTO DE RECICLAGEM.............................................................................................................................. 69 7.5. DEFINIÇÃO DO PROCESSO DE RECICLAGEM............................................................................................ 81 7.6. REDUÇÃO DO USO E REUTILIZAÇÃO .......................................................................................................... 88
8. GESTOR DO LIXO .............................................................................................................................................96 9. ANÁLISE DO USO DE ENERGIA ELÉTRICA E DE ÁGUA...............................................................98
9.1. PROJETO - PURE ......................................................................................................................................... 98 10. CONCLUSÃO .............................................................................................................................................. 101 LISTA DE REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 103 ANEXOS ........................................................................................................................................................................ 106
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1
CONSIDERAÇÕES
INICIAIS
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
2
1. Considerações iniciais
1.1. Histórico e Estrutura Física
O Departamento de Engenharia de Produção foi fundado em 1958, com a
participação, entre outros, dos professores Ruy Aguiar da Silva Leme, Américo
Oswaldo Campiglia e Marcos Pontual. Inicialmente, funcionou no Bairro da Luz e
em 1965 mudou-se para o prédio de Engenharia Mecânica na Cidade
Universitária, onde ficou até o final de 1973. Em janeiro de 1974, transferiu-se
para o 2o andar do prédio J. O. Monteiro de Camargo, onde está instalado até
hoje.
Em 1967 houve a criação da Fundação Carlos Alberto Vanzolini pelos professores
do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo, com a finalidade de divulgar os conhecimentos
científicos e tecnológicos inerentes à Engenharia de Produção e à Administração
Industrial, visando ao aperfeiçoamento de estudo das disciplinas pertinentes, e
respectiva didática.
Na tabela 1 é possível ver a estrutura do Departamento da Engenharia de
Produção, na estrutura física foi considerado o espaço ocupado pela Fundação
Vanzolini no campus porque toda a estrutura física é de responsabilidade do
departamento. E mesmo porque nas considerações de consumo de água e luz a
estrutura ocupada pela Vanzolini é considerada em conjunto com o departamento .
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
3
Tipo Nº ComentárioProfessores - Período Integral 25 RDIDPProfessores - Período Parcial 16 RTC / RTPFuncionários Administrativos 7Funcionários - Limpeza 6 TerceirizadosAlunos de Graduação 301Alunos de Pós-Graduação 132
Salas de Professores 29Salas de Reunião / Projetos 7Salas de Escritório 11 Incluindo salas de secretáriasSalas de Aula 12Copa 2Almoxarifado 1Sala de Café 1Sala de Manutenção de Informática 1Salas de Computadores 2Laboratório LTE 2Banheiros 7
Salão 1Secretaria 1Salas de Estudo 9Copa 1Banheiro 1
Telefones 40Impressoras 43Copiadoras 2Computadores 102Projetores 14Bebedouros 10 Apenas 3 são de responsabilidade do DepartamentoMáquinas de Café 2Fogões 2Pias - Copa 3Pias - Banheiros 19Vasos Sanitários 24Mictórios 14
Biblioteca (responsabilidade do serviço de bibliotecas da POLI)
ESTRUTURA DE EQUIPAMENTOS (Departamento de Engenharia de Produção)
ESTRUTURA DE PESSOAL (Departamento de Engenharia de Produção)
ESTRUTURA FÍSICA (Departamento de Engenharia de Produção e Fundação Vanzolini)
Tabela 1: Estrutura do Departamento de Engenharia da Produção em janeiro de
2006
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
4
1.2. Fundação Vanzolini
A intenção do trabalho nas análises de materiais era considerar a Fundação
Vanzolini, mas não houve como coletar as informações de consumo da fundação,
já que não havia os dados de consumo, havia apenas os dados contábeis.
No segundo semestre de 2006 foi montada uma equipe da fundação para
elaborar planos de ação para reciclagem, este trabalho também será base para o
trabalho desta equipe.
1.3. Situação atual
Departamento
No Departamento de Engenharia de Produção da EPUSP não há ações
institucionais quanto ao tratamento do lixo gerado, economia de água ou de
energia. Houve ações do PURE - USP (Programa de Uso Eficiente de Energia da
Universidade de São Paulo) relativas à economia de energia entre 2001 e 2002
devidas ao racionamento. A situação atual do departamento não condiz com a
situação ideal de uma instituição de ensino público, seja pelo papel educador da
instituição frente à sociedade, seja pelos recursos escassos no ensino público
superior no país.
Lixo
Estima-se que diariamente produz-se 2 milhões de toneladas de resíduos sólidos
domiciliares no mundo, o que ao ano significa 730 milhões de toneladas. Nos
países do norte do hemisfério, a média de geração de resíduos por habitante é
bastante superior a de países do sul: o Canadá chega a produzir 1,9 kg por
pessoa/dia, os Estados Unidos 1,5 kg/dia, na Índia já desce para 0,4 kg/dia e no
Brasil a média é de 0,7 kg/dia. De fato, em alguns segmentos sociais mais
pobres, com poder aquisitivo mínimo, este número pode baixar para 0,3 kg ou até
menos. Nos países mais pobres, a média oscila entre 0,4 e 0,9 kg/dia por
habitante (World Health Organization, 1995).
No Brasil são produzidas 130 mil toneladas de resíduos domiciliares ao dia, por
ano são 47,5 milhões de toneladas. Uma parcela mínima dos municípios destina
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
5
seus resíduos para reciclagem, são cerca de 135 municípios com sistemas de
coleta seletiva no país . (CEMPRE, 2006).
Já São Paulo, produz 15 mil toneladas de lixo por dia e como menos de 1% é
reciclado, o aterro sanitário acaba sendo o destino de quase todo ele. Acontece
que os dois aterros sanitários estão no limite. No maior, as camadas de lixo e
terra já atingiram 130 metros de altura. Os aterros não têm mais para onde
crescer, estão cercados por estradas, a cidade e a mata atlântica, o que é um
péssimo sinal. Pelo estudo da empresa de controle ambiental do Estado, a
capacidade dos aterros esta se esgotando e até agora não se tem um plano para
definir o que fazer com o lixo nos próximos anos e não há mais terrenos
adequados para serem transformados em aterros sanitários no município de São
Paulo. (CEMPRE, 2006).
Energia
A crise energética no Brasil teve seu momento mais crítico entre 2001 e 2002 com
os apagões, todo o país se mobilizou para economizar energia naquele período
quando se sentiram ameaçados pela sua escassez num futuro próximo. Poucos
anos se passaram e a questão foi esquecida e só relembrada agora com o
período eleitoral, graças às propostas de crescimento econômico dos candidatos.
A grande questão é como o Brasil será capaz de crescer o quanto os políticos
prometem sem um plano energético adequado a este crescimento. O primeiro
passo seria reduzir o consumo de energia atual. Convencer os maiores
gastadores, a indústria nacional, é mais simples, pois reduzir seu consumo leva a
reduzir significativamente seus gastos, o que pode ser feito para ajudá-las é
incentivar a compra de equipamentos mais eficientes, através de redução de
impostos, por exemplo. Já convencer as pessoas de mudarem seus hábitos, tanto
em seus domicílios quanto em seus ambientes de trabalho se torna mais
complicado.
Compreender que a energia elétrica não é um recurso simples de gerar é um
passo enorme para que as pessoas passem a entender que os seus custos
tendem a aumentar consideravelmente se o seu uso não for racional.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
6
Água
A situação dos recursos hídricos no país ainda não foi exposta da mesma
maneira que o problema energético, pois se trata de um recurso em abundância
para parte da população brasileira. Os problemas que ocorrem são isolados e, em
geral, devidos a problemas climáticos que se refletem no esvaziamento de
reservatórios, impedindo que algumas cidades e comunidades tenham acesso a
água tratada, mas não que este problema seja pequeno ele é relevante e mostra
que há problemas no gerenciamento dos recursos hídricos no país.O que pode
ser feito é evitar o desperdício, que é o que todo cidadão e toda instituição pode
fazer, através de mudanças de hábitos e troca de equipamentos.
CONCEITOS
7
CONCEITOS
CONCEITOS
8
2. Conceitos
2.1. Empresa Viva
O mercado, conforme evoluiu com o capitalismo, se tornou imprevisível, dinâmico
e em permanente busca pelo crescimento econômico, o qual se caracteriza pelo
aumento progressivo de lucros e valores das ações das empresas. Já estas, na
figura dos seus líderes, se mostram inseguras pela falta da plena compreensão
das regras que ditam esse mercado e, logo, não conseguem prever o que deve
ser feito para se adequar ao que ainda está por vir.
Para atender o dinamismo desse mercado foram criados sistemas complexos,
que representam avanço tecnológico e o aumento de possibilidades que para o
ser humano. Mas, com o passar do tempo, estes sistemas passaram a reger o dia
a dia das pessoas, da sociedade, das empresas e demais organizações e hoje se
percebe que a falta de controle desses sistemas criados por nós mesmos resulta,
concomitantemente, num temor da destruição do nosso habitat, ameaçando a
própria sobrevivência da humanidade.
Uma empresa viva para poder solucionar esse problema muda sua concepção,
deixa de priorizar o lucro e valor das ações e passa a focar nos seres humanos,
institucionalizando projetos de auto-sustento.
Os líderes das empresas não conseguem extrair o resultado esperado das
propostas implementadas nesse sentido e apontam obstáculos para essa
mudança. Segundo Capra (2002), há um paradoxo nas organizações atuais
quanto suas intenções: aumentar o lucro, o valor das ações, o poder político e ao
mesmo se constituírem por grupos de pessoas (ou comunidades) que interagem
entre si buscando atingir seus objetivos pessoais, que cada vez mais se
distanciam dos interesses das empresas.
Isso nos esclarece a dificuldade das organizações quanto à unidade de ação
frente às transformações. As pessoas têm uma resistência natural às imposições
e isso torna mais dificultoso o processo de mudança, e é isso que os líderes
desconhecem, que as transformações devem ser vivenciadas como um processo,
ou seja, as pessoas são atraídas pelas mudanças ao seguir um percurso mais
natural possível.
CONCEITOS
9
Para isso Capra (2002) sugere que compreender a vida na natureza é passo
fundamental para estabelecer essa transformação, porque num sistema vivo as
mudanças sempre são absorvidas por todos seus elementos e toda força está na
rede criada dentro do sistema, é ela que dissemina a transformação e torna a
adaptação do sistema viável. Num sistema vivo maduro nada é desperdiçado,
tudo se transforma, o que um elemento da rede considera resíduo o outro
considera alimento assim tornando tudo cíclico e todos interdependentes. Assim o
grande salto está em inserir esse conceito nas empresas, encarando a empresa
como um sistema vivo dentro de um sistema maior em que todos participam, e
que uma mudança em qualquer elemento da rede requer transformações e
adaptações em todos seus elementos. Com essa rede em funcionamento todos
seus elementos ficam mais sólidos e preparados para mudanças porque a
informação e os materiais fluem naturalmente entre eles tornando todos sensíveis
ao estado global do sistema.
Essa concepção de empresa contrasta com a visão atual, na qual a empresa é
tida como uma máquina que tem seus processos independentes do sistema a sua
volta, que tem um fluxo linear que deve ser seguido a todo custo e impossibilita a
flexibilidade e criatividade de quem a controla.
Enquanto na organização viva se articulam os conceitos de compreensão,
parceria, renovação, flexibilidade e reconhecimento, na organização máquina
utilizam-se conceitos de controle, demandas, exigências, hierarquia e coerção.
2.2. Impacto ambiental
Segundo os economistas, líderes políticos e líderes empresariais a nova
economia global, ratificada com o desmoronamento do socialismo no fim da
década de 1990, leva a uma expansão que beneficia em cadeia todas as pessoas
com o crescimento econômico.
Porém percebe-se um equívoco, pois o capitalismo atual, por eles formulado,
somente agravou a pobreza e a exclusão social. (Capra apud Castells, 2000). A
nova economia não previu esse resultado porque foram desconsiderados pelos
economistas os custos sociais e ambientais na busca contínua e indiferenciada
pelo crescimento econômico.
CONCEITOS
10
As novas atividades financeiras privilegiaram quem já possuía o capital,
concentrando-o ainda mais nas mãos destes indivíduos, contrário do previsto
pelos neoliberalistas, acentuando a exclusão social. Da mesma forma o meio
ambiente natural foi prejudicado, com o crescimento econômico, também cresce,
a necessidade do uso de recursos naturais, seja na forma de matéria prima,
energia, água, combustíveis, etc. A falta de consciência e prioridade ao atender
as demandas crescentes do mercado em expansão levou as empresas a tomar
iniciativas unilaterais sem se preocupar com os problemas ambientais que
surgiriam das suas ações.
Nesse sentido, os países ricos, representados por suas empresas, acabaram se
utilizando dos recursos naturais dos países pobres, que por sua vez se
submeteram a essa exploração, pois se tratava da única maneira de participar da
economia global e tentar compartilhar deste crescimento. Essas empresas se
aproveitaram de leis ambientais menos rígidas, mais abrangentes ou de falta de
fiscalização adequada (poucos fiscais, subornos, pressões políticas, etc.) de
países subdesenvolvidos e protegeram seus lucros com a desculpa do livre
comércio. Da mesma maneira, com a exaustão dos mercados nos países ricos,
essas empresas entraram nos mercados destes países pobres interferindo no
estilo de vida das pessoas, impondo um consumismo incompatível com a
sustentabilidade do planeta. Segundo Capra (2002), “é instrutivo comparar essas
situações a das redes ecológicas... A dominação (ou soberania) existe, mas é
sempre exercida dentro de um contexto maior de cooperação, mesmo nas
relações entre predador e presa. As múltiplas espécies do ecossistema não se
distribuem em hierarquia, como se diz equivocadamente, mas existem melhores
dentro de redes. Há uma diferença crucial entre as redes da natureza e as redes
empresariais da sociedade humana. Num ecossistema nenhum ser é excluído da
rede, até mesmo as menores dentre as bactérias, contribuem para a
sustentabilidade do todo, já no mundo humano da riqueza e do poder, grandes
segmentos da população são excluídos das redes globais e se tornam
insignificantes do ponto de vista global”. Logo, a exclusão desses grupos, cada
vez mais numerosos, impossibilitam o sucesso do sistema como um todo.
Uma análise racional mostra a insustentabilidade da nova economia global. Esse
capitalismo tem que ser revisado desde suas bases tendo em vista a
CONCEITOS
11
imprevisibilidade e o caráter auto-destruidor que ameaça a sobrevivência do
sistema no qual vivemos.
Toda ação gera uma reação, e a natureza sempre converge para um equilíbrio
dinâmico, uma situação estável, mas as ações atuais estão gerando reações que
aos poucos tornam o meio-ambiente inóspito. O desmatamento, crescimento
populacional, o não tratamento de rejeitos industriais (sólidos, líquidos e gasosos),
tudo isso fragiliza os ecossistemas e desregula as condições climáticas.
Para muitos não há como mudar o sistema capitalista em que vivemos, alegam
que apesar de ser o mais correto rever os valores que imperam hoje não há como
mudar as regras atuais, entretanto o sistema foi criado por homens e assim pode
ser revisto ou repensado, há diversos estudos com propostas de meios para
inserir esses novos valores na sociedade, o que falta é vontade política para a
viabilização.
Os primeiros passos para estabelecer a direção deste novo modelo seriam uma
legislação rigorosa, uma atividade empresarial ética e tecnologia (processos) eco-
eficientes.
A comunidade sustentável se constitui de maneira que seu tipo de vida ou seu
jeito de viver não se oponha à capacidade intrínseca da natureza sustentar a vida.
Como membros da comunidade global, que inclui todos os seres vivos e os
ambientes que os hospedam, é preciso ter essa consciência, mesmo como
cidadãos, de buscar e garantir a qualidade de vida, da nossa e de gerações
futuras, sendo este o significado da sustentabilidade.
2.3. Desenvolvimento Sustentável - Conceito
O conceito de sustentabilidade foi criado na década de 1980 por Lester Brown,
fundador do Worldwatch Institute que definiu a sociedade sustentável como
aquela que é capaz de satisfazer suas necessidades sem comprometer as
chances de sobrevivência das gerações futuras.
Como já foi discutido o atual modelo de crescimento econômico gerou enormes
desequilíbrios; se, por um lado, nunca houve tanta riqueza no mundo, por outro
lado, a pobreza, a degradação ambiental aumentam dia-a-dia. Diante desta
constatação, surgiu a idéia do Desenvolvimento Sustentável, buscando conciliar o
CONCEITOS
12
desenvolvimento econômico com a preservação ambiental e com o fim da
pobreza no mundo.
Para se garantir a sustentabilidade, a proteção do ambiente tem que ser
ressignificada como parte do processo de desenvolvimento , ela não pode ser
considerada isoladamente. Para tal, passa a ser importante entender a diferença
entre crescimento e desenvolvimento, o primeiro não conduz automaticamente à
igualdade nem à justiça social, pois não leva em consideração nenhum outro
aspecto da qualidade de vida a não ser o acúmulo de riquezas, que se faz nas
mãos apenas de alguns indivíduos da população. O desenvolvimento, por sua
vez, preocupa-se com a geração de riquezas sim, mas tem a intenção de
distribuí-las e de melhorar a qualidade de vida de toda a população, levando em
consideração, portanto, a qualidade ambiental do planeta. O desenvolvimento
foca o todo enquanto o crescimento somente o indivíduo.
Capra (2002) sugere dois passos para as organizações chegarem ao
desenvolvimento sustentável usando os conceitos básicos da vida. O primeiro
passo é o que ele chama de alfabetização ecológica, ou seja, a compreensão dos
princípios dos sistemas vivos. Entender o desenvolvimento dos ecossistemas
para sustentar a vida através de seis princípios básicos:
• Redes: as redes são as ligações que os sistemas vivos fazem entre si para
atingir o equilíbrio do sistema maior a qual pertencem;
• Ciclos: para sobreviver, os sistemas, recebem fluxos contínuos de matéria
e energia do ambiente, mas no processo também são gerados resíduos,
que desaparecem no sistema maior, como um todo, já que o resíduo de um
sistema é o alimento de outro, logo, os resíduos circulam continuamente
dentro da rede, dentro de ciclos;
• Energia solar: fonte primária de toda a energia;
• Parcerias: a cooperação, através das redes formadas, promove a
sustentabilidade de todos dentro de um sistema;
• Diversidade: quanto maior a diversidade de seus elementos (sistemas
menores) mais forte é o sistema e mais capaz é ele de se recuperar de
eventuais desequilíbrios, quanto mais sistemas vivos em rede um sistema
CONCEITOS
13
possuir, menor é o impacto da falta de funcionamento de um de seus
sistemas;
• Equilíbrio dinâmico: cada sistema não pretende chegar num valor máximo,
todos estão interligados dentro de redes e buscam o valor ótimo do sistema
maior no qual estão inseridos.
Esses conhecimentos devem estar alinhados em todas as esferas da sociedade
para que seja possível a implementação do desenvolvimento sustentável. Aqui
eles estão apresentados de maneira genérica, mas caso a caso é possível
organizar as redes formadas entre as organizações.
O segundo passo se trata de estabelecer um projeto ecológico e aplicar esses
conhecimentos da alfabetização ecológica na reformulação de tecnologias e das
organizações. É a moldagem de fluxos de energia e de materiais feita em vista
dos fins humanos, é montar os processos de interesses econômicos dentro da
grande rede e fluxos do meio-ambiente, em seu estado natural.
Ainda não há unidade de concepção e ação de desenvolvimento sustentável entre
os grupos envolvidos: governos, empresas, grupos que atuam com o meio-
ambiente e grupos interessados em acabar com a exclusão social, isso impede
que o movimento ganhe força chegando ao grande público. Visto que grupos
ambientais questionam o termo desenvolvimento e também ressentem não terem
sido ambientalistas os criadores do conceito, a UNEP (United Nations
Environment Programme) também tem as mesmas restrições por não ter
participado da concepção do modelo, grupos desenvolvimentistas não acham que
o modelo atenderá às necessidades atuais da população, governos evitam o tema
por não se enquadrar dentro de um ministério ou departamento sendo um
conceito que exige um nível de integração e alinhamento inatingíveis pela
estrutura atual das instituições públicas, acadêmicos não gostam do tema por não
conseguirem enquadrá-lo em uma disciplina e por considerar o tema vago com
várias definições recorrentes, e por último, o grande público se incomoda com as
mudanças necessárias não só nas organizações, mas no estilo de vida delas
mesmas que na visão delas será afetado retirando o conforto e acrescentando
tarefas (separar o lixo, reduzir o uso de água e energia, etc.). (Capra, 2002).
CONCEITOS
14
2.4. Desenvolvimento Sustentável - Prática
O que foi apresentado até aqui foi uma visão ideológica do desenvolvimento
sustentável, que não reflete as razões reais pelas quais as corporações investem
neste conceito .
O conceito por trás da sustentabilidade que as empresas empregam é o conceito
dos 3P’s, Planet, People e Profit (planeta, pessoas e lucro). Sempre a
sustentabilidade está vinculada ao lucro, nenhuma ação é levada à frente por ser
uma boa ação ou um ato altruísta.
Medidas sustentáveis podem ajudar uma corporação a aumentar os lucros de
diversas maneiras: diminuindo custos, eliminando desperdícios, aumentando o
faturamento e aumentando a produtividade dos processos da empresa em geral.
Aqui estão algumas maneiras pelas quais a sustentabilidade se paga e levam as
empresas a investirem no conceito.
Empresas sustentáveis conseguem atingir um público mais criterioso, que vê
valor nessas ações e está disposto a pagar mais por produtos destas empresa,
logo as empresas que investem em sustentabilidade tem uma estratégia de
diferenciação com foco no mercado de consumidores eco-conscientes. O ganho
com essa melhoria de imagem e subseqüente valorização da marca é difícil de
ser mensurado, mas é possível ver o reflexo do valor de medidas sustentáveis
nas estratégias de precificação de empresas que promovem o desenvolvimento
sustentável.
A sustentabilidade envolve utilizar os recursos da melhor maneira possível, logo
envolve trabalhos para a redução do uso e reutilização de matérias primas, água
e energia, por exemplo, e assim leva a empresa a gastar menos com esses
recursos, reduzindo gastos e/ou aumentando a produtividade de seus processos.
Da mesma maneira as empresas sustentáveis trabalham para reduzir e tratar
seus resíduos, assim elas evitam gastos com multas, reduzindo o risco do
negócio e diminuindo também os prêmios de seguro para riscos ambientais.
Em alguns casos as empresas também conseguem ganhar através de créditos
ambientais, estes créditos funcionam da seguinte maneira, empresas de um setor
CONCEITOS
15
da indústria recebem bônus negociáveis, metas e prazos para redução de
emissão de poluentes das agências reguladoras, as empresas que falharem em
atingir as metas nos devidos prazos são obrigadas a comprarem os bônus das
empresas que obtiveram sucesso.
Segundo Scharf (2004), há três meios que fazem com que as empresas mudem,
passando a seguir um modelo sustentável: mecanismos de comando e controle,
instrumentos econômicos e auto-regulação.
Mecanismos de comando e controle são normas governamentais que definem
padrões máximos de emissões ou limites para toxicidades de um determinado
produto ou processo, estes mecanismos pressupõe uma estrutura eficaz de
fiscalização.
Instrumentos econômicos são também ações do governo, se tratam de impostos,
taxas e subsídios diretos ou indiretos. São incentivos do governo para que as
empresas tomem o rumo da sustentabilidade.
A auto-regulação se trata de ações das empresas sem incentivo do governo,
estas ações são realizadas para se aproximar dos stakeholders de modo a reduzir
algum efeito negativo sobre os lucros da empresa, seja através de certificações
ou de um trabalho para melhorar a sua imagem.
Portanto as empresas têm diversas razões para buscar a sustentabilidade, razões
estas que envolvem ganhos ou evitam gastos, mas nunca se tratam de ações de
caridade. Logo, os principais impulsos em direção da sustentabilidade estão nas
mãos da sociedade e seus representantes, o governo, que deve regular e
incentivar as ações das empresas.
CASOS DE SUCESSO
16
CASOS DE SUCESSO
CASOS DE SUCESSO
17
3. Casos de sucesso
Nesta seção serão apresentados casos de sucesso de empresas que
conseguiram modificar as maneiras de realizar suas atividades considerando o
sistema a sua volta, mudando paradigmas e atingindo novos patamares de
sustentabilidade.
3.1. General Motors do México
O complexo Automotivo Ramos Arzipe está localizado numa região árida do
México, onde a única e pequena fonte de água contém um alto grau salino. Com
o crescimento do complexo industrial, cresceu a sua necessidade de água, mas,
ao mesmo tempo, decresciam os níveis de água, assim como os limites de
retirada e os nível de efluentes que poderiam ser despejados na água.
Com esse cenário, foram definidos passos para economizar o consumo de água
dos poços. O primeiro passo foi buscar oportunidades de economia da água
através da busca por vazamentos e desperdícios. O segundo passo foi reduzir o
consumo de água para eliminar dejetos sanitários e industriais, e reutilizar essa
água tratando os efluentes.
Mesclando técnicas simples como bacias de evaporação solar e técnicas com alta
tecnologia como filtragens por membranas, foi possível reutilizar quase 70% das
águas desperdiçadas anteriormente.
Assim, de 1986 para 2000 o consumo de água do poço caiu de 1.470.000 m³ de
água para 700.000 m³, o consumo de água para fabricação de um veículo caiu de
32 m³ para 2,2 m³ e o mais impressionante é que esses indicadores caíram e a
produção de veículos da fábrica aumentou em sete vezes, a produção de motores
subiu 50% em volume e foi aberta uma nova fábrica de transmissões em 2000
(SCHMIDHEINY et al., 2002).
Com a água se tornando um recurso escasso na região, a General Motors se viu
obrigada a buscar alternativas para reutilização e redução do uso deste recurso,
fazendo isso evitou o investimento em uma nova fábrica em outro local e ainda
criou uma referência para o uso de água nas suas outras fábricas.
3.2. BASF
CASOS DE SUCESSO
18
A BASF em conjunto com a consultoria Roland Berger criou uma ferramenta
estratégica para incluir os custos ambientais em análises de diversos projetos
relacionados a importantes produtos e processos da empresa.
A ferramenta gera um gráfico de dois eixos, um com o custo ambiental e outro
com o custo total do produto ou processo. Assim é possível comparar vantagens
ecológicas e econômicas dos projetos.
A avaliação ambiental do projeto leva em consideração:
• Consumo de matérias-primas;
• Consumo de energia;
• Emissões e descarte de resíduos;
• Toxidade potencial dos materiais;
• Riscos potencias; e
• Uso da terra.
A ferramenta foi utilizada, por exemplo, para avaliar a maneira mais barata e
menos danosa ao meio-ambiente de transportar 25.000 toneladas de estireno por
115 quilômetros entre duas cidades holandesas, havia as opções de levar de trem
ou de caminhão. Economicamente o transporte rodoviário era mais vantajoso,
mas ao avaliar o consumo de energia, as emissões de resíduos e danos a saúde
dos trabalhadores, o meio de transporte escolhido foi o ferroviário.
Com a ferramenta a BASF, desde 2000, consegue aprimorar seus produtos e
processos. Ao mesmo tempo permite que ela crie condições de monitorar as
metas de pesquisa e desenvolvimento (SCHMIDHEINY et al., 2002).
A avaliação do custo ambiental por empresas químicas como a BASF não pode
ser considerada uma boa ação, se trata um movimento que faz parte de um
trabalho para reconstruir a imagem da empresa frente a um crescente público
eco-consciente. A indústria química foi uma das primeiras a sofrer com críticas de
ambientalistas nas décadas de 1970 e 1980, logo hoje ela é a indústria que mais
evoluiu no caminho da sustentabilidade, modificando seus processos e tratando
seus resíduos. Outras indústrias só estão começando a sofrer impactos
CASOS DE SUCESSO
19
significativos na sua imagem agora, na medida em que a consciência ecológica
de seus consumidores evoluiu.
3.3. Cervejarias sustentáveis
Uma cervejaria tradicional produz cerveja, mas também produz lixo orgânico
jogando fora um material rico em nutrientes. Como o lixo é orgânico ele poderia
ser considerado de baixo impacto ambiental, mas devido ao alto uso de água na
produção de cerveja (mais de 20 litros de água para 1 litro de cerveja) ele é
considerado um problema.
No processo muitas proteínas e nutrientes dos grãos não são aproveitados, os
grãos usados poderiam servir de alimento para animais, só que estes grãos não
são facilmente digeridos por eles e o resultado dessa indigestão é a emissão de
gás metano por esses animais.
Os grãos usados são ricos em fibras e proteínas, logo são um excelente
substituto para farinha em pães. Outra oportunidade é misturar esses grãos com
outras fibras, nessas condições os grãos se tornam um ingrediente valioso para a
produção de cogumelos. A figura 1 mostra um saco com cereais usado para
produzir cogumelos.
A vantagem de usar os grãos para produzir cogumelos é que os cogumelos
tornarão os grãos digeríveis para os animais aumentando sua quantidade de
proteínas, e ajudando no crescimento dos animais e a qualidade da carne deles.
Em seguida, os dejetos dos animais podem ser levados a um biodigestor junto
com a água desperdiçada na produção da cerveja. O biodigestor gera biogás e
uma solução nutritiva, por sua vez esta pode ser levada a um dique raso onde
algas, através de fotossíntese, poderão digerir a solução e mais tarde serem
levadas a um viveiro de peixes, onde os peixes comerão as algas e o sistema do
viveiro já estará preparado para lidar com os futuros dejetos desta e tapa.
Agregando valor, foram usados todos os resíduos da produção da cerveja e os
resíduos dos processos subseqüentes de maneira a criar mais empregos, maior
receita e um ambiente melhor. Existem cervejarias funcionando desta maneira no
Canadá, na Namíbia e na Suécia (ZERI, 2006).
CASOS DE SUCESSO
20
Essas cervejarias já foram criadas com os conceitos de sustentabilidade, mas ao
mesmo tempo que ela nasce com um sistema completo, onde todo resíduo é
reaproveitado de alguma maneira, ele também fornece mais fontes de receita
para empresa e gera diferenciação da marca.
Figura 1: Cogumelos provenientes dos grãos usados na fabricação de cerveja
(ZERI, 2006).
3.4. AMBEV
Poucos negócios no país têm resultados financeiros tão bons quanto a AMBEV,
com 70% do mercado de cervejas no país teve, nos últimos três anos, um
aumento de 50% da produção e dobrou o seu faturamento.
Nessa busca por melhores resultados uma diretriz foi definida pelos executivos da
empresa: produzir mais com menos. Foi essa idéia fixa que levou a empresa a se
tornar um modelo de eco-eficiência.
Energia
Para reduzir o uso de óleo combustível e gás natural algumas fábricas da
empresa passaram a usar o biogás, a partir da decomposição do material
orgânico gerado no processo de tratamento de água, e a queima de biomassa,
queimando paletes velhos de madeira, cascas de babaçu e serragem. Com essas
medidas foi gerada uma economia de 5,6 milhões de reais em 2005.
CASOS DE SUCESSO
21
Resíduos
Para a empresa o processo de fabricação de cerveja não gera mais resíduos,
mas sim subprodutos. O bagaço do malte é vendido para fábricas de rações, o
fermento rejeitado pode ser vendido tanto para fábricas de rações quanto para a
produção de sopas e caldos, e as embalagens como latas e cacos de vidros são
100% reaproveitadas, tendo seus rótulos retirados e vendidos como matéria-
prima para empresas de papel. Com a venda desses subprodutos a AMBEV
conseguiu, em 2005, 51milhões de reais.
Água
A empresa passou a reaproveitar a água do processo industrial para lavar o chão
por exemplo, passou a enxaguar os engradados com a mesma água que havia
enxaguado as garrafas e passou a utilizar a mesma água que, na pasteurização,
aquece a cerveja para esfriá-la. Com isso a AMBEV conseguiu criar uma nova
referência mundial para uso de água na fabricação de cerveja, 3,4 litros de água
para cada litro de cerveja produzido (a referência anterior era de 3,7 litros).
Para empresa isso representou ganhos financeiros claros, e ao mesmo tempo
trouxe benefícios ambientais para a sociedade com suas medidas.
ESTUDOS DE CASO
22
CONCEITOS
APLICADOS
ESTUDOS DE CASO
23
4. Conceitos Aplicados
4.1. Os 3 R’s
Os 3 Rs: Redução, Reutilização e Reciclagem - são os passos para que
indivíduos, instituições e governos, segundo a Agenda 211, consigam realmente
minimizar a exploração de recursos naturais, o impacto ambiental de nossa
sociedade urbano-industrial e, enfim, a quantidade do nosso lixo (USP RECICLA,
2006).
A redução é o passo inicial e mais efetivo na diminuição do impacto ambiental, é a
adoção de medidas para se reduzir o gasto na outra ponta em relação à geração
do lixo, implica uma diminuição no próprio uso, no consumo e no desperdício de
materiais. Assim, a redução é uma revisão nos atuais padrões de consumo.
A reutilização, por sua vez, é representada pelas atividades que aproveitam
produtos antes de seu descarte como reuso direto (usar o verso de folhas de
papel e guardar vasilhames, por exemplo), restauros, trocas de usados,
artesanato com sobras, etc.
A reciclagem é o tratamento dos materiais descartados, com alteração de suas
características físicas. Diferente da reutilização, a reciclagem envolve um
reprocessamento do material. A reciclagem pode ser direta (pré-consumo) ou
indireta (pós-consumo), a direta é mais comum em processos industriais quando
são reprocessados materiais descartados na própria linha de produção, como
aparas de papel, rebarbas metálicas, etc., já os indiretos se trata da reciclagem
mais comum quando são reprocessados materiais que foram descartados como
lixo por seus usuários.
Como é possível observar, os 3 Rs estão numa seqüência relacionada ao impacto
ambiental de cada ação. É melhor evitar o descarte de materiais do que reutilizar
os materiais usados, que por sua vez é melhor que separar os materiais
1 “A Agenda 21 é um plano de ação para ser adotado global, nacional e localmente, por organizações do sistema das Nações Unidas, governos e pela sociedade civil, em todas as áreas em que a ação humana impacta o meio ambiente. Constitui-se na mais abrangente tentativa já realizada de orientar para u m novo padrão de desenvolvimento para o século XXI, cujo alicerce é a sinergia da sustentabilidade ambiental, social e econômica, perpassando em todas as suas ações propostas”. (Ministério do Meio Ambiente, 2006).
ESTUDOS DE CASO
24
descartados para reciclagem. Deixar de produzir lixo é mais interessante do que
reciclá-lo, parece óbvio, mas quando começou a onda de reciclagem no mundo
isso deixou de ser claro, as pessoas tendiam a se concentrar em buscar
oportunidades de reciclagem em vez de diminuir o uso desses materiais
descartáveis. Quando o consumo e o desperdício diminuem, a própria
necessidade de produção de bens e, portanto, o uso de matéria-prima, água e
energia diminuem conjuntamente, preservando diversos outros recursos naturais.
A reciclagem, ainda que contribua para diminuir o volume de lixo destinado aos
lixões e aterros e contribua para a recuperação de materiais, água e energia, não
deve ser uma ação desvinculada dos 2 primeiros Rs, pois caso contrário ela
poderia servir para legitimar o desperdício. (USP RECICLA, 2006).
Na tabela 2 é possível ver que apesar de apresentar menor impacto ambiental
que o processo de produção original de cada material, a reciclagem, como
atividade industrial, também consome água e energia, polui o ar e a água, e gera
seus próprios resíduos. A reciclagem de papel, por exemplo, embora polua o ar e
a água menos que o processo tradicional (35% e 74%, respectivamente), produz
um efluente com fibrículas e sulfato de alumínio e libera gases como monóxido de
carbono e dióxido de enxofre, quando da queima de combustíveis durante a
secagem, e fuligem, se for usada lenha (CEMPRE, 1995).
Papel Vidro Ferro Alumínio Plástico
Uso de energia 23-74 % 4-32 % 47-74 % 90-97 % 89 %
Uso de água 58 % 50 % 40 % - -
Poluição de
água
35 % - 76 % 97 % -
Poluição do ar 74 % 20 % 85 % 95 % -
Uso de
matéria-prima
Redução de
20 árvores /
ton. papel
100 % 90 % 75 % -
Tabela 2: Redução porcentual nos gastos de processos de reciclagem em relação aos processos de produção com matéria prima virgem (WORLDWATCH
INSTITUTE, 1987)
ESTUDOS DE CASO
25
Uma ressalva se torna necessária, apesar da redução do uso e a reutilização
serem amplamente favoráveis ambientalmente, elas perdem força socialmente
quando atrapalham a economia que envolve os processos de reciclagem, nas
grandes cidades brasileiras existem milhares de pessoas que vivem da economia
do lixo. Elas vivem de recolher, separar, vender e reciclar lixo, sejam catadores
autônomos, cooperativas ou recicladores (empresas ou cooperativas que
transformam o material descartado em matéria-prima para as empresas que
produzem e comercializam os materiais). A redução drástica do uso afeta
diretamente a subsistência desse grupo.
4.2. Gestão Compartilhada de Resíduos Sólidos
Antes a gestão de resíduos era vista como uma questão de engenharia. A coleta
do lixo e sua destinação estariam resolvidas se houvesse um eficiente sistema de
limpeza urbana.
Embora, segundo a Constituição Brasileira, o poder público municipal seja
responsável pela coleta de lixo nas cidades, o acondicionamento e,
principalmente, a geração dos resíduos compete a cada um de nós. Neste
sentido, profissionais da área ambiental e saneamento têm mudado o foco de
seus esforços. Mais do que aprimorar sistemas e investir em tecnologias,
equacionar o problema do lixo depende da co-responsabilização da comunidade,
de um novo modelo de gestão socialmente compartilhada dos resíduos.
Os programas de gestão compartilhada de resíduos enfrentam hoje alguns
desafios que não foram e dificilmente poderiam ser previstos há alguns anos.
Estas iniciativas de parcerias entre prefeituras e cooperativas/associações de
catadores de materiais recicláveis, criadas visando a eficiência dos programas de
coleta seletiva de lixo e a valorização do trabalho feito por grupos organizados de
catadores, defrontam-se com uma redução significativa na quantidade e na
qualidade de resíduos coletados. A principal causa deste cenário é o aumento do
número de catadores autônomos, de organizações da sociedade civil e de
empresas privadas interessadas na coleta e comercialização deste material.
Assim, embora o aumento de interesse pelos resíduos recicláveis se apresente
como positivo face à lógica do mercado, esta nova realidade ameaça a
sustentabilidade destes projetos de gestão compartilhada que dependem de um
ESTUDOS DE CASO
26
fluxo constante de resíduos para as centrais de triagem. (Demajorovic et al.,
2005).
ESTUDOS DE CASO
27
ESTUDOS DE CASO
ESTUDOS DE CASO
28
5. Estudos de caso
5.1. USP Recicla
O USP Recicla é um programa interno da Universidade de São Paulo,
coordenado pelo CECAE-USP2, que contribui por meio de iniciativas de gestão
ambiental e de formação de pessoas capazes de compreender e aceitar este
desafio nos campi da universidade.
Usando os princípios dos 3 R's e os ideais da participação, autonomia,
tecnologias ambientalmente adequadas e avaliação continuada, o programa
caracteriza-se por:
• Um modelo de gestão ambiental que se constrói por meio de Comissões
Internas nas unidades e órgãos dos 6 campi da Universidade; por
estudantes interessados que atuam como estagiários, por contribuições de
docentes e por uma equipe de Coordenação, técnicos e educadores.
• Um trabalho que requer envolvimento de todos, e que, por isso, forma e
fortalece os envolvidos, como o debate, a reflexão, o resgate e a
constituição de valores, a revisão de hábitos e costumes e a modificação
de comportamentos.
O programa tem como missão: "contribuir para a construção de sociedades
sustentáveis através de ações voltadas à minimização de resíduos, conservação
do meio ambiente, melhoria da qualidade de vida e formação de pessoas
comprometidas com esta missão". (USP RECICLA, 2006).
O USP Recicla desenvolve na comunidade universitária, (alunos, servidores e
visitantes) uma mentalidade voltada para a recuperação, conservação e melhoria
do ambiente e da qualidade de vida com o objetivo de estimular e apoiar a
formação de práticas voltadas à sustentabilidade, através da gestão
2CECAE-USP (Coordenadoria Executiva de Cooperação Universitária e Atividades Especiais) é um órgão da Reitoria da Universidade de São Paulo que atua como centro aglutinador e articulador de atividades que envolvem pesquisa, extensão e ensino, e como uma estrutura de interface facilitadora dos projetos de cooperação da universidade com os diversos segmentos da sociedade, gerando assim novas soluções e projetos para a Universidade e para a Sociedade. (CECAE-USP, 2006)
ESTUDOS DE CASO
29
compartilhada e integrada de resíduos. Em linhas gerais, o programa tem como
objetivos:
• Estimular valores, atitudes e comportamentos voltados à minimização de
resíduos e à adoção de práticas ambientalmente adequadas, mediante a
implementação de um programa educativo na USP;
• Articular e fomentar o desenvolvimento de projetos em torno do tema,
englobando aspectos de pesquisa, ensino, extensão e gestão cotidiana da
Universidade;
• Contribuir para o estabelecimento de diretrizes para uma política interna de
conservação, recuperação, melhoria do meio ambiente e da qualidade de
vida na USP, no seu entorno e interfaces.
Para atingir esses objetivos o USP Recicla realiza, com suas equipes, projetos
nas entidades da USP. Os projetos consistem basicamente de quatro etapas
descritas abaixo:
• 1a ETAPA: Explorando o lixo
A implantação do Programa em cada Unidade ou órgão da USP começa
pela caracterização dos resíduos produzidos.
Neste "diagnóstico" amostras de lixo são estudadas para:
o Desvendar hábitos de consumo e desperdício dos geradores;
o Identificar a quantidade (peso e volume) e a qualidade dos materiais
descartados;
o Estimar o potencial de minimização de resíduos (3 Rs): quais
materiais podem ser evitados, reutilizados e/ou reciclados;
o Obter um parâmetro para avaliação da diminuição do lixo gerado, já
que novos diagnósticos são feitos periodicamente após a
implantação do programa nas unidades; desta forma, os dados
comparativos do lixo (antes e depois da implantação) refletem a
evolução das mudanças comportamentais almejadas.
ESTUDOS DE CASO
30
Ainda com esse diagnóstico fica-se mais próximo da realidade de
"descarte" da Unidade, enriquecendo a discussão a ser desenvolvida
durante as atividades educativas com os geradores.
Na Unidade onde o programa será implantado, além do diagnóstico do lixo,
são levantadas informações acerca:
o Da comunidade, identificando-se o número de servidores, alunos,
visitantes, associações e lideranças
o Das linhas de pesquisa em resíduos sólidos, realizando-se um
mapeamento dos pesquisadores que atuam na área e a maneira
com que poderiam integrar-se ao programa
o Das iniciativas anteriores de coleta seletiva, resgatando (se houver)
seu histórico e funcionamento
o Das fontes de desperdício
o Dos locais para armazenamento provisório dos recicláveis, antes do
recolhimento dos materiais na unidade
o Das alternativas de destinação dos materiais (catadores?
sucateiros? indústrias recicladoras? programas municipais de coleta
seletiva?
• 2a ETAPA: Conversando com os geradores de lixo
Após os levantamentos, os servidores e alunos da Unidade são convidados
a participar de um dos vários encontros educativos realizados pelos
educadores do Programa.
Os encontros, que duram aproximadamente 90 min., abordam tópicos
como geração, acondicionamento e destinação do lixo, impacto ambiental
na exploração de recursos naturais, redução, reutilização e reciclagem,
compostagem, consumismo, desperdício etc.
Os encontros são momentos de maior sensibilização e incentivo à
mobilização da comunidade, durante os quais, valoriza-se o fortalecimento
de vínculos afetivos e a revisão de valores para com o ambiente. Desta
ESTUDOS DE CASO
31
forma, a participação nestes encontros é considerada fundamental para o
sucesso do programa de minimização dessa unidade.
• 3a ETAPA: Mudando rotinas
Após os levantamentos, e com as sugestões apresentadas pelos
participantes dos encontros educativos, é estruturado o Programa de
minimização de resíduos da Unidade, incluindo a coleta seletiva de
materiais, de acordo com a situação de cada campus.
Um exemplo de mudança de rotina é a implementação do descarte seletivo
de papéis, realizado pelos servidores que nos encontros educativos
receberam coletores para estes fins. Estes papéis são coletados
seletivamente pelas equipes de limpeza, beneficiados em centrais
preparadas para este fim em cada campus, e encaminhados a sucateiros,
entidades assistenciais ou empresas recicladoras.
A opção pela coleta seletiva do papel em todos os campi da USP se deu
pela facilidade de escoamento desse material e pelo fato dele representar
cerca de 70% do peso total do lixo uspiano.
Os demais resíduos são descartados em cestos de lixo, coletados e
destinados como tal.
Nos campi de Ribeirão Preto e Bauru, onde o USP Recicla está integrado
aos programas municipais de coleta seletiva, as caixas distribuídas
também recebem outros recicláveis como metais, plásticos e vidros, uma
vez que o escoamento destes materiais está garantido.
• 4a ETAPA: Avaliando e divulgando o Programa
Passado o período de implantação, a equipe do USP Recicla retorna às
unidades periodicamente para acompanhar o desenvolvimento do
programa, realizando atividades como:
o "Pentes-finos": visitas regulares para verificação de mudanças de
hábitos e rotinas e da geração de resíduos. Busca-se, nestes
momentos, reforçar a motivação e participação ativa das pessoas
junto ao programa de minimização de sua unidade. Recolhem-se
comentários e sugestões (veja nossas conquistas).
ESTUDOS DE CASO
32
o Re-diagnósticos de lixo: novas pesagens e triagens são realizadas
para comparação destes dados com os obtidos na fase de
implantação.
As informações coletadas são repassadas à comunidade pelos meios de
comunicação da Universidade (boletins internos, Jornal e Rádio USP, etc.).
O USP Recicla também tem ampla divulgação fora da Universidade. É
regularmente apresentado em seminários e congressos no Brasil e exterior. Tem
sido tema de monografias e dissertações acadêmicas e citado em diversos artigos
e publicações. O contato do USP Recicla se encontra no anexo B.
5.2. POLI - USP Recicla
A comissão da EPUSP no USP Recicla criou o projeto POLI – USP Recicla que
foi iniciado na segunda quinzena de maio. O projeto conta com total apoio da
diretoria da Escola. Com o projeto a POLI se distancia do padrão de atuação do
USP Recicla buscando um rumo que atenda melhor as suas reais necessidades.
O projeto visa diagnosticar a situação atual dos resíduos gerados na Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo, incluindo os tipos de resíduos gerados,
locais de geração, quantidades geradas, tratamentos e destinos atuais. O objetivo
é fornecer embasamento para a implantação de um programa de gerenciamento
de resíduos sólidos.
O trabalho será realizado em etapas, conforme descrito a seguir:
• Planejamento: O planejamento tem como objetivo orientar a execução do
projeto, de forma a otimizar a coleta e consolidação dos dados. Os
instrumentos utilizados foram:
o Questionários e entrevistas com professores, funcionários e alunos;
o Observação do material descartado na EPUSP;
o Inspeções de área para verificar os locais de descarte;
o Caracterização física dos prédios da EPUSP;
o Análise de documentos.
• Coleta de Dados:
ESTUDOS DE CASO
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o Visitas aos departamentos, laboratórios, restaurantes, xerox, bem
como todas às áreas geradoras de resíduos da Escola;
o Levantamento dos resíduos gerados em condições de rotina de
todos os departamentos, bem como os já armazenados;
o Avaliação das práticas atuais relacionadas à gestão de resíduos,
incluindo os processos de reciclagem existentes;
o Exame de documentos, incluindo autorizações e documentação dos
receptores de resíduos (caso exista);
o Levantamento da legislação relativa aos resíduos perigosos
gerados.
o Consolidação dos dados obtidos.
• Conclusão, entrega do relatório final contendo:
o Levantamento dos resíduos gerados nas atividades de ensino,
pesquisa e extensão e seus agentes;
o Classificação e quantificação destes resíduos, especialmente, os
potencialmente perigosos e potencialmente recicláveis e/ou re-
aproveitáveis levantados, estabelecendo prioridades para o
tratamento e destinação dos mesmos.
o Avaliação das necessidades para implantação da coleta seleti va,
incluindo recursos humanos, equipamentos, benfeitorias e serviços
externos;
o Avaliação do nível de adesão para futura implantação de um
sistema de gerenciamento de resíduos na Escola.
Assim o trabalho resultará numa série de propostas que serão avaliadas pela
diretoria e comissão do POLI – USP Recicla, em seguida serão levados em frente
os projetos considerados prioritários, sempre considerando a escola como um
todo.
ESTRUTURA DO TRABALHO
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ESTRUTURA DO TRABALHO
ESTRUTURA DO TRABALHO
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6. Estrutura do trabalho
6.1. Análise do uso dos materiais
Uma estrutura de trabalho aplicado no Departamento de Engenharia de Produção
foi desenvolvida considerando os estudos de caso observados na USP.
O trabalho foi dividido nas seguintes etapas:
• Levantamento de dados: nesta etapa procurou-se entender qual a situação
da coleta do lixo e qual a origem dos materiais, isso através do:
o Entendimento de como é realizada a coleta interna do lixo (quem a
realiza, freqüência, onde o lixo é armazenado, etc.);
o Entendimento do processo de compras (quem a realiza, quais são
as fontes, como as compras são aprovadas);
o Montagem de uma base de dados dos materiais comprados, suas
quantidades e preços para o período regular selecionado (é
importante que o período selecionado seja representativo do lixo
gerado no ano).
• Fluxos dos materiais: com a base de dados montada foram selecionados
os materiais com volumes e valores relevantes ou com descarte crítico
(exemplos: pilhas e baterias) que devam ser avaliados melhor, esta análise
passou por:
o Identificar qual a principal fonte de recursos para cada material;
o Identificar onde cada material é armazenado;
o Identificar quem são os principais usuários;
o Entender como é o acesso desses usuários aos materiais (há algum
controle de uso, há regras para o uso dos materiais, etc.);
o Entender quais os principais usos de cada material;
o Identificar o material do produto, de sua embalagem e se há
resíduos no seu uso para definir os elementos recicláveis;
ESTRUTURA DO TRABALHO
36
o Estimar os tempos do fluxo e assim entender, para cada material,
qual o tempo entre a compra e o descarte (de todos os elementos:
produto, embalagem e resíduo);
o Entender como e onde os materiais são descartados.
• Processo de reciclagem: com os fluxos dos materiais estabelecidos se
definiu como fazer a separação deles. Esta etapa seguiu da seguinte
maneira:
o Identificar onde são os focos principais de descarte de cada
material;
o Analisar onde é necessário focar a coleta para algum material
específico e onde deve haver separação mais genérica dos
materiais, considerando os espaços necessários e a localização dos
usuários;
o Procurar parceiros para realizar a coleta dos materiais gerados;
o Identificar onde é possível armazenar o material separadamente até
a sua coleta;
• Piloto de reciclagem: realizou-se um piloto em menor escala para
sensibilizar a comunidade, para testar o processo elaborado e para
identificar os materiais que não foram observados no diagnóstico. Esta
etapa teve o intuito de reduzir o escopo do processo de reciclagem, de
acordo com os recursos disponíveis, para ter uma resposta prévia sobre o
diagnóstico realizado, ela passou pelos seguintes passos:
o Identificar materiais críticos para o processo;
o Identificar principais locais de passagem para analisar o descarte
(para identificar os materiais trazidos de fora);
o Comunicar para a comunidade o piloto;
o Realizar o piloto;
o Avaliações intermediárias;
o Analisar os resultados do piloto.
ESTRUTURA DO TRABALHO
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• Definir programação passo a passo para sair do piloto e estabelecer
processo final de reciclagem: o processo elaborado foi revisado a partir das
análises sobre o piloto e projetar a expansão do piloto até o processo final.
• Avaliar propostas de redução e reutilização dos materiais: com a base de
dados dos materiais montada, foram feitas, para os materiais críticos (em
quantidade ou em valor), propostas para redução e reutilização e foram
avaliadas estas propostas com os usuários:
o Entrevistar usuários e e laborar propostas para os materiais críticos;
o Validar as propostas com os usuários;
o Implementar propostas validadas.
A ordem das etapas do trabalho não foi necessariamente cronológica, sendo que
parte das etapas ocorreram paralelamente.
A intenção desta estrutura, montada para a implementação da reciclagem e de
propostas redução do uso e reutilização de materiais no Departamento de
Engenharia de Produção da EPUSP, é de, ao contrário dos outros modelos,
iniciar o processo pela reciclagem e levantar o interesse da comunidade a partir
dele, para que depois, com o processo de reciclagem já em funcionamento,
levantar o interesse da comunidade para oportunidades de diminuir o lixo gerado,
levantando os hábitos da comunidade.
6.2. Análises do uso de energia e uso de água
Nos casos de energia e água não foi feita uma análise estruturada, porque o
Departamento de Engenharia de Produção tem suas medições feitas
conjuntamente com o Biênio, o que torna difícil fazer uma análise exclusiva para o
departamento.
Logo, o que se verificou foi a aderência do departamento às indicações de
funcionamento do PURE e PURA.
ANÁLISE DO USO DOS MATERIAIS
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ANÁLISE DO USO DOS MATERIAIS
ANÁLISE DO USO DOS MATERIAIS
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7. Análise do Uso dos Materiais
7.1. Levantamento de dados
Compras
O Departamento de Engenharia de Produção teve disponíveis em 2005 três
fontes de verbas para compra de materiais. Há a verba do orçamento da EPUSP,
dos reembolsos aprovados pela Fundação Vanzolini e do PROAP (verba cedida
pela CAPES para compra de materiais para projetos de pós-graduação).
As compras são centralizadas na secretária, professores e funcionários
encaminham seus pedidos e a secretaria destina a compra à verba mais
adequada para a situação, com a validação do professor responsável por
controlar o orçamento do departamento, responsável pelo orçamento da EPUSP e
reembolsos da fundação, e/ou do professor responsável pelos programas de pós-
graduação que também é responsável pelo orçamento da PROAP. Cabe a estes
professores validar as compras de acordo com o orçamento prévio elaborado
para o departamento no ano em questão.
Coleta interna do lixo
No departamento há cinco diferentes órgãos ocupando o espaço comum, o
departamento, a Fundação Vanzolini, a lanchonete, o centro acadêmico e a
biblioteca. As salas de professores, de projetos, salas de computadores, salas
administrativas e reunião do departamento são limpas pela empresa terceirizada
contratada pela EPUSP, as salas administrativas da Fundação Vanzolini, todas as
salas de aula e pátio são limpas pela empresa terceirizada contratada pela
fundação e a área da biblioteca é limpa pela mesma equipe de limpeza contratada
pela EPUSP. O lixo de cada equipe de limpeza é misturado e levado para um
espaço externo ao departamento (onde a coleta simples da prefeitura o recolhe)
pela equipe contratada pela fundação.
As equipes recolhem o lixo duas vezes ao dia, pela manhã e à tarde, e
diariamente o lixo é levado, no fim da tarde, ao contêiner para ser recolhido pela
prefeitura.
ANÁLISE DO USO DOS MATERIAIS
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O área do Centro Acadêmico da Engenharia de Produção é limpa pelo pessoal
que trabalha no xérox e o lixo é recolhido por uma outra equipe da empresa
contratada pela EPUSP, responsável pela limpeza do prédio do Biênio por isso
não está considerado neste trabalho.
A lanchonete não é de responsabilidade do departamento nem da fundação, a
sua limpeza é realizada pelos próprios funcionários e o lixo é recolhido pela
equipe de limpeza contratada pela fundação, ela não será considerada nesta
análise, mas os materiais descartados lá estão na discussão sobre os próximos
passos, após o fim deste trabalho.
Base de dados de compras 2005
A montagem da base de dados foi elaborada de acordo com os pedidos do
departamento ao setor de compras da EPUSP (almoxarifado POLI), que são
registrados no sistema Mercúrio, com as notas fiscais reembolsadas pela
Fundação Vanzolini e com os materiais comprados com a verba do PROAP.
O material para os banheiros são comprados por reembolso da fundação e são
comprados por um contrato com a Kimberly Clark, por isso na identificação dos
fluxos abaixo eles estão com a fonte diferenciada (Kimberly Clark), mas a verba
para as compras é da fundação.
Não foram considerados na base de dados os copos fornecidos pela empresa que
aluga a máquina de café por não haver detalhes do volume no contrato e notas
fiscais do ano de 2005.
A base de dados inclui os materiais, suas quantidades e valores das compras, os
dados são referentes ao ano de 2005, a base completa de compras do
departamento esta no anexo C.
7.2. Fluxo dos materiais
Na figura 2 o modelo dos fluxos pelos quais os materiais passam no
departamento, com as informações relativas a cada material.
ANÁLISE DO USO DOS MATERIAIS
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PRODUTO
Volume anual: (Volume de material comprado)Valor anual: (Valor anual comprado)Embalagem: (Tipo de material da embalagem)
Fonte: (Fontes principais de recursos para compra)
Responsável: (Responsável pelo lixo)Usuários principais: (Usuários que mais usam o produto)
Armazenagem: (Onde o material fica o estocado)
EstoqueAção
Dia
Ator
Ação
Dia
Ator
Resíduo: (Tipo de resíduo causado pelo uso do produto, exceto o descarte da embalagem e do produto. Exemplo: o resto de café no copo descartável)
Destino Resíduo: (Destino desse resíduo)Produto: (Tipo de material do produto)
XCondição
Este campo diz o dia em que ocorre a ação. D0 representa o primeiro dia, DX representa X dias após D0, MY representa Y meses após D0. Dn é usado quando não há uma definição precisa do dia.
Local de estoque do produto.
Quem realiza a ação.Quando necessário, uma condição é criada para o fluxo, para que ele siga de uma ou outra maneira.
Direcionamento para os fluxos de reciclagem de cada tio de material (papel, plástico, metal, etc.).
Figura 2: Modelo do desenho dos processos
O objetivo de desenhar o fluxo dos materiais no departamento é clarificar os seus
caminhos até o descarte. Desta maneira é possível também definir os
responsáveis pelo descarte, o tempo entre o uso e o descarte e identificar
oportunidades dentro dos conceitos dos 3 R’s (Redução, Reutilização e
Reciclagem).
A análise não será feita par