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ANOS 60: A IMPRENSA ALAGOANA COMEÇA SUA MODERNIZAÇÃO “CONTINUA NA PÁGINA ...”. Essa era a mensagem que remetia as notícias dos jornais locais até a década de 60 para uma conclusão em página que reunia o restante das matérias de outras páginas, denominada não se sabe por que, “página da manteiga”. A ocorrência se dava porque os jornais não possuíam diagramação e a disposição de fotos e matérias se fazia sobre um esboço conhecido nas redações como “espelho”. Jornal de Alagoas, dos Diários Associados; Gazeta de Alagoas, do senador Arnon de Mello; O Semeador, da Arquidiocese e Correio de Maceió que surgira para dar sustentação ao Governo Luiz Cavalcante, além do Diário de Alagoas que no período teve circulação irregular, eram os jornais diários existentes em Alagoas sobrevivendo à custa da publicidade oficial do Governo do Estado e um pouco da iniciativa privada representada pela atividade econômica do açúcar. O Jornal de Hoje de Jorge Assunção era outro jornal, mas de menor presença e circulação. A estrutura das redações refletia a situação econômica do Estado cuja pobreza não permitia maiores avanços na comunicação. Dependíamos ainda do teletipo como forma de comunicação externa. Também não havia um notável desenvolvimento tecnológico na área. A chegada dos primeiros aparelhos de telex era uma novidade empolgante. O AMBIENTE DAS REDAÇÕES Os parcos meios técnicos faziam sobressair as figuras dotadas de intelectualidade ou mesmo as que tinham somente a garra e perspicácia da profissão repórter. O Escritor Arnoldo Jambo dirigia o Jornal de Alagoas, Carlos Moliterno era o editorialista. Como colunista se destacava entre outras figuras da terra o menestrel Teotônio Vilela. Na redação Alberto Jambo, Otávio Lima, Carivaldo Brandão, José Aldo Ivo, Ricardo Neto, Jurandir Queiroz, Hélio Jambo, Zito Cabral, Valter Oliveira, Hélio Nascimento e “focas” do nível de Freitas Neto. No Correio de Maceió faziam dupla Mário Lyra e Ilmar Caldas ao lado de Dêvis Melo, Esdras Gomes, Luciano Chagas, Márcio Canuto, Cavalcante Barros, Luciano Agra. A Gazeta de Alagoas com Valmir Calheiros, Teófilo Lins, Tobias Granja, Manoel Nunes, João de Deus, Genésio Carvalho. 1

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ANOS 60: A IMPRENSA ALAGOANA COMEÇA SUA MODERNIZAÇÃO

“CONTINUA NA PÁGINA ...”. Essa era a mensagem que remetia as notícias dos jornais locais até a década de 60 para uma conclusão em página que reunia o restante das matérias de outras páginas, denominada não se sabe por que, “página da manteiga”. A ocorrência se dava porque os jornais não possuíam diagramação e a disposição de fotos e matérias se fazia sobre um esboço conhecido nas redações como “espelho”.Jornal de Alagoas, dos Diários Associados; Gazeta de Alagoas, do senador Arnon de Mello; O Semeador, da Arquidiocese e Correio de Maceió que surgira para dar sustentação ao Governo Luiz Cavalcante, além do Diário de Alagoas que no período teve circulação irregular, eram os jornais diários existentes em Alagoas sobrevivendo à custa da publicidade oficial do Governo do Estado e um pouco da iniciativa privada representada pela atividade econômica do açúcar. O Jornal de Hoje de Jorge Assunção era outro jornal, mas de menor presença e circulação.A estrutura das redações refletia a situação econômica do Estado cuja pobreza não permitia maiores avanços na comunicação. Dependíamos ainda do teletipo como forma de comunicação externa. Também não havia um notável desenvolvimento tecnológico na área. A chegada dos primeiros aparelhos de telex era uma novidade empolgante.O AMBIENTE DAS REDAÇÕESOs parcos meios técnicos faziam sobressair as figuras dotadas de intelectualidade ou mesmo as que tinham somente a garra e perspicácia da profissão repórter. O Escritor Arnoldo Jambo dirigia o Jornal de Alagoas, Carlos Moliterno era o editorialista. Como colunista se destacava entre outras figuras da terra o menestrel Teotônio Vilela. Na redação Alberto Jambo, Otávio Lima, Carivaldo Brandão, José Aldo Ivo, Ricardo Neto, Jurandir Queiroz, Hélio Jambo, Zito Cabral, Valter Oliveira, Hélio Nascimento e “focas” do nível de Freitas Neto. No Correio de Maceió faziam dupla Mário Lyra e Ilmar Caldas ao lado de Dêvis Melo, Esdras Gomes, Luciano Chagas, Márcio Canuto, Cavalcante Barros, Luciano Agra. A Gazeta de Alagoas com Valmir Calheiros, Teófilo Lins, Tobias Granja, Manoel Nunes, João de Deus, Genésio Carvalho.Destacamos estes nomes pela convivência que tivemos. Não eram, claro, os únicos nas redações.Cabia aos destemidos profissionais a busca da informação, basicamente no meio político, na administração pública e na polícia, afora o noticiário esportivo.Quisesse auferir maior remuneração o jornalista tinha que ser também corretor de anúncios vendendo matérias redacionais e não publicidade, a chamada “matéria paga” que não era identificada pelo jornal, misturando-se assim ao noticiário comum.O noticiário externo dependia da remessa pelas incipientes agências noticiosas nacionais (Meridional, AJB, Folha) de material impresso, quase sempre reprodução dos seus próprios jornais e que nos chegava em malotes trazidos pelos aviões da Sadia (Transbrasil), Vasp e Real Aerovias que uma vez por dia pousavam no acanhado Aeroporto. A prestimosa “tesoura press” era instrumento essencial para recortar noticiário impresso no dia anterior nos jornais do sul.Lembramo-nos que na época não havia repórteres setoristas nos jornais. Os setores cobertos eram o Palácio do Governo e Repartições, além da Assembléia e Câmara de Vereadores, fora naturalmente polícia e esporte. Os jornalistas que cobriam Assembléia e Câmara eram indicados pelos jornais para exercer função comissionada de Assessor Parlamentar e em muitos casos o jeton era o único dinheiro recebido, pois os patrões se eximiam de pagar salário de seus cofres.Foi na amargura de esperar o material trazido pelos aviões que despertamos para colocar repórteres setoristas em locais que eram fonte de notícias e o Aeroporto foi o

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primeiro, o qual nos rendeu grandes entrevistas com autoridades nacionais uma vez que, os aviões vinham do Sul com destino ao Recife e demoravam uma hora ou mais no Aeroporto. A notícia estava dentro do avião.E como fechar uma edição? Os jornais circulavam em média com oito ou dez páginas. Somente as edições especiais (aniversário do jornal ou algum outro evento) feitas para vender anúncios é que aumentavam generosamente o número de páginas. Como era caro o material havia uma limitação de fotos ou gravuras, normalmente duas a no máximo três fotos nas páginas externas, impressas através de clichês processados na técnica da zincogravura, montada sobre retalho de madeira da mesma altura da linha de chumbo moldada pelas linotipos.Os trabalhos de redação terminavam após a meia-noite, quando as últimas matérias iam para a oficina e o pessoal faminto procurava as ”macarronadas”, únicos estabelecimentos ainda abertos àquela hora na Maceió de então, para saciar a fome.O Secretário da Redação correspondente ao Editor Geral de hoje era o cérebro do jornal. Cabia-lhe ler toda a matéria repassada pelo repórter, fazer a primeira revisão, diminuir ou acrescentar o assunto, titular e fazer o esboço gráfico de sua publicação.Trabalho insano que piorava no dia de sábado quando o jornal tinha que ser encerrado às 18,00h. É que o pessoal da redação ficava no Bar do Chope e lá para as 16,00h é que chegava para entregar suas notícias. O Secretário tinha que se virar e como eu passava a ser especialista em tudo, escrevendo sobre moda, fazendo colunismo social, criando horóscopos, enfim tendo que preencher os espaços das colunas com sua própria produção se quisesse encerrar o jornal na hora. O esporte foi o único setor em que não escrevemos: havia sempre alguém disposto a fazê-lo.Na oficina a tipagem era moldada em máquinas chamadas linotipo: a máquina era dotada de matrizes feitas em bronze com o caracter. Cada vez que o linotipista teclava uma letra essa matriz de molde era deslocada e recebia o chumbo quente moldando a letra em uma pequena barra que suportava uma porção de palavras, representando uma linha da coluna do jornal.A linotipo já era um grande progresso na edição do jornal, assim como a impressora rotativa, a qual somente os três principais jornais possuíam, embora das primeiras gerações de fabrico. O custo da linotipo, porém não justificava sua compra para feitura dos títulos feitos em tipos bem maiores para edição das manchetes.As manchetes e títulos de maior tamanho continuavam, portanto sendo compostos manualmente letra a letra. Daí ocorria situações inusitadas. Como não havia diagramação, quando a matéria ou título não cabia no espaço era o gráfico que cortava a seu bel prazer o excedente para encaixar na página. Lembramo-nos de um fato interessante decorrente dessa prática: assumiu a presidência do então relevante politicamente Instituto do Açúcar e do Álcool o usineiro alagoano Evaldo Inojosa e veio a Alagoas para anunciar a construção pelo IAA do Terminal Açucareiro do nosso porto. A manchete do jornal seria: INOJOSA GARANTE: ALAGOAS TERÁ O MAIOR TERMINAL AÇUCAREIRO DO MUNDO. Como, pelo tamanho da letra não coube no alto da página houve a redução pelo tituleiro na oficina, circulando o jornal naquele dia com a manchete: INOSOJA GARANTE: ALAGOAS TERÁ O MAIOR AÇUCAREIRO DO MUNDO. O pior é que a matéria, embora redacional, era paga para a divulgação. Naquela época não se fazia a distinção da matéria de redação com a “matéria paga”.Na década a que nos reportamos o ambiente político foi determinado pela ditadura militar. O executivo tinha o Major Luiz Cavalcante como chefe, e sendo militar foi também partícipe do golpe. Assumiu o Poder em decorrência de eleição democrática em razão do seu carisma e da demonstração popular do interesse em renovação política.

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Na sucessão, com o veto à eleição de Muniz Falcão, mediante artimanhas eleitorais, assumiu o Poder o General João Batista Tubino como interventor, para ocupar o vácuo e preparar a eleição do novo Governador de Alagoas, de forma indireta.Eleito pela Assembléia Legislativa, nos últimos anos da década Lamenha Filho governou o Estado. Economicamente, o período foi de estruturação do Estado. A década começou com o fim do Governo Muniz Falcão, realizador de obras de infraestrutura como o trecho alagoano da Rodovia Maceió/Recife, construção de colégios no interior, prédio do fórum de Maceió e outras obras de relevo.O governo do agora General Luiz Cavalcante criou a estrutura administrativa de um Estado mais moderno, descentralizando a administração através de sociedades de economia mista e empresas públicas. Em matéria de obras também foi de relevância seu governo. A estrada litorânea do Norte está entre seus grandes feitos. Nos jornais de Alagoas o peso da ditadura só se fez sentir nos anos 1964/1965. Não havia censores na imprensa embora a guilhotina sempre estivesse suspensa. No Jornal de Alagoas o fato mais relevante se deu conosco: a publicação de fotos de muros pichados condenando a revolução. É que a pretexto de mostrar a pichação de muros, mostravam-se as palavras de ordem contra a ditadura. Chamados ao quartel do 20º. BC para explicações salvou-nos a publicação que também vínhamos fazendo de material produzido pelos Diários Associados sobre o aniversário da Revolução.A relação do Governo Estadual com os jornais tinha no Assessor de Imprensa o interlocutor. Era ele quem fazia a ponte da divulgação cuidando para que houvesse destaque no noticiário “chapa branca”, intermediava a agilização do pagamento das matérias pagas, dos jetons nas Secretarias de Estado e se apresentava como algoz dos considerados persona non grata ao Poder, que determinava até o afastamento dos que não lhe eram simpáticos.Na época destaque para Mario Lyra e Alberto Jambo, figuras de enorme carisma, sendo o último ainda um grande defensor da classe jornalística.A CONCORRÊNCIA ENTRE JORNAISEra prática dos jornais colarem em sua parede frontal a edição do dia que atraia os transeuntes para a leitura das notícias estampadas. Desses tempos memoráveis eram as filas para ver notícias de fatos de repercussão no Estado. As maiores, certamente, foram também as correspondentes às maiores vendas de jornais na época como assassinato do então prefeito de Palmeira dos Índios, Robson Mendes, a cheia de São José da Laje, a morte de Robert Kennedy, a chegada do homem à lua e outras menos lembradas.A notícia de crimes, como não seria diferente, também marcou alta tiragem dos jornais, (entenda-se alta tiragem na época como mais de três mil exemplares). No Jornal de Alagoas uma notícia sobre um crime ocorrido no município de Maragogi alcançou um dos maiores recordes de venda da imprensa alagoana no período. O crime: uma mulher torturada e enterrada ainda viva por um indivíduo alcunhado de Zé Pezinho. Interessante ainda no caso foi o erro da manchete, alvo de gozação dos jornais concorrentes. Nesse dia, esperou-se o repórter Zito Cabral, encarregado da missão, até às 6,00h da manhã com a notícia. Com a sua chegada fomos ávidos para a velha máquina de datilografia em busca de uma manchete que trouxesse impacto para a primeira página do jornal. Instantes depois estava pronta a manchete e assim foi publicada em três berrantes linhas: MATOU A MULHER E ENTERROU AINDA VIVA. A manchete tinha passado ainda pelo crivo de Oliveira Junior, Diretor do Jornal e Alberto Jambo, únicos na redação à espera conosco pelo Zito. O cansaço nos traiu.

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Valeu, contudo a matéria que vendeu tanto quanto a do dia da morte de Robson Mendes. A rotativa funcionou três vezes com a edição do dia. E quando os colegas telefonavam para gozar da manchete, o convite era feito para ver a quantidade de pessoas que se enfileirava na velha Rua Boa Vista para ler ou comprar o jornal.A BATALHA DA CIRCULAÇÃOComo as redações terminavam seus trabalhos no início da madrugada, a composição tipográfica só findava cerca de duas horas da manhã, ficando ainda na dependência da revisão das matérias. O revisor, diante de rolos de páginas impressas numa máquina manual usava uma técnica própria de apontar os erros para que o linotipista os corrigisse, refazendo as linhas de chumbo com os caracteres corretos.Só então preso o material composto em um retângulo de metal do tamanho da página, entre quatro e cinco horas da manhã iniciava-se a impressão dos dois a três mil exemplares que iriam para as bancas.Começava aí a batalha da circulação do jornal. Bicicletas distribuíam a edição entre as bancas de Maceió e os poucos assinantes que existiam. Para o interior os pacotes eram deixados na Estação Rodoviária do bairro do Poço seguindo em ônibus do Expresso Santanense para o Sertão e Sul do Estado e em coletivos de outras empresas para o Norte e demais regiões, como a Santa Luzia, de Viçosa, Expresso Palmeirense de Palmeira dos Índios, Penedense, enfim o transporte coletivo que pudesse ser utilizado.Os destinatários do Jornal eram os pontos de distribuição em cada cidade do interior, onde havia um representante, geralmente alguém que tradicionalmente fazia esse serviço ou o próprio correspondente jornalístico do Jornal.Destaque-se o trabalho que esses correspondentes, jornalistas amadores, não remunerados que municiavam o jornal, prestavam com as notícias do interior e que não se dava tanta importância. As notícias do interior eram reunidas em uma única seção do jornal dando-se o crédito do correspondente.Cidades havia como as do alto sertão, que só recebiam o jornal cerca de 15,00h quando o ônibus que partia de Maceió chegava em sua primeira viagem do dia ao município.

O INÍCIO DA MODERNIZAÇÃOTodas as dificuldades da época para produzir um jornal conduziram também ao início da modernização da nossa imprensa. Fomos nós que iniciamos a técnica de diagramação das páginas dos diários. Com uma régua trazida do Diário de Pernambuco por um funcionário trazido de lá e que não deu conta do recado, fomos capazes de dar uma nova feição ao jornal. O modelo era o do Jornal do Brasil que na época fizera uma revolução gráfica: notícias curtas na primeira página e chamadas de matérias para as páginas internas, com manchetes e submanchetes que não atingiam a totalidade das colunas.Nada dos infames cortes que alterava o teor das matérias, tampouco às remissões às páginas internas para continuação das notícias da primeira página ou de outras que não cabiam no espaço imaginado.Os jornais ficaram mais leves, de leitura mais atraente. Manchetes e outros títulos, até o próprio logotipo alcançavam mais destaque pela limpeza que os espaços em branco podiam oferecer.Novas rotativas (máquinas de jornais de estados maiores que implantavam equipamentos mais modernos) aumentavam a capacidade e a qualidade de impressão. Nessa época o Jornal de Alagoas substituiu a sua impressora por uma que fora do jornal Estado de Minas, com condições de impressão em duas cores e em formato tablóide.Nesse momento fizemos circular por breve tempo um suplemento dirigido pelo colunista Josué Júnior, espécie de revista da sociedade de Maceió.

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O Telex e a telefoto substituíram o teletipo. Já não dependíamos do malote recebido via aérea. Tínhamos o material das agências Associated of Press e Radiopress, além da agência Folha, Agência Jornal do Brasil e Meridional (dos Diários Associados) fresquinho para editar. Havia agilidade para publicar edições extras, dada a capacidade de impressão. As redações, com o crescimento da Universidade, incorporavam um material humano oriundo dos bancos universitários, que abraçavam a profissão jornalística, mesmo sem a formação específica. Dessa época é também a exigência de registro profissional obtido após dois anos como estagiário contratado do órgão de imprensa.Dentro do universo sócio-econômico cultural da época, a década de 1960 representou ao seu final o início do enorme desenvolvimento da imprensa local, mantendo-se nesse progresso até a modernização contemporânea que a década de 1990 com sua parafernália eletrônica nos legou.

ALGUMAS HISTORINHAS DA ÉPOCAO Major Jorge, de notória presença na vida policial, era o Comandante da Radiopatrulha, divisão de policiamento itinerante da Polícia Militar. Por costume ficava com seus subordinados durante parte da noite, na ausência de chamados, em conversa junto a veículos da corporação em frente ao prédio sede situado na esquina da antiga Rua Boa Vista com a Praça dos Martírios. Num desses momentos em que jogava conversa fora aproveitou a inexperiência de um “foca” do Jornal de Alagoas para gracejar sobre um assunto sério: informou que um tiroteio em Atalaia resultara na morte do Delegado local chamado Tenente Brasil. O “foca” chegou esbaforido na redação relatando a notícia. Tentou-se checar maiores dados sobre a ocorrência e não se encontrou àquela hora, cerca de 23,00h mais ninguém para corroborar a informação do chefe da Radiopatrulha. Notícia em mãos, com aquele apelo público não poderia ser desprezada e a manchete do dia seguinte foi crucial: DELEGADO DE ATALAIA ASSASSINADO EM TIROTEIO. O homem, mais que vivo, veio às carreiras para Maceió abraçar a família, depois de saber pelo jornal de sua morte. A “barriga” além dos transtornos da falsa informação arranhou a credibilidade do jornal e causou um problema doméstico, pois a filha do militar era amiga do pessoal da imprensa, dado o seu namoro com um fotógrafo de jornal.

Os jornais tinham seus repórteres fotográficos, uns competentes, outros desastrados. Um da época foi destacado para fazer cobertura de inauguração da iluminação de uma praça pública situada na subida da Ladeira da Catedral, ao lado da LABRE a Liga dos Radioamadores. Divaldo Suruagy era o prefeito do município e iniciara uma série de inaugurações desse tipo de obra a que denominava de “Banho de Luz”. Nosso fotógrafo, dizem os que lá estavam, contorceu-se todo para fazer as fotos, só que ao revelá-las em vez das luminárias apareceu só os postes. Raiva e gozação, gozação e raiva foi a nossa reação. Afinal de contas tratava-se de matéria paga pela Prefeitura. O fotógrafo voltou para refazer as fotos dos postes com as luminárias e nós ganhamos a

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madrugada de trabalho com seu atraso uma vez que a matéria não poderia deixar de ser publicada no dia seguinte.Falando em repórter fotográfico, naquela década e em anos seguintes o nome de Pedro Farias imperou como o maior entre os profissionais da fotografia jornalística. Fotógrafo da Assessoria de Imprensa desde o Governo Luiz Cavalcante, a ele sempre recorriam os jornais quando precisavam de uma fotografia mais precisa, imagem de seu vasto arquivo fotográfico ou para uma reportagem de maior responsabilidade. A Gazeta teve em José Ronaldo um grande fotógrafo; no Jornal de Alagoas, Arlindo Tavares, Vaz; Pereira no Correio de Maceió, mas sempre era o Pedrinho que nos salvava com a sua experiência e com o seu acervo e ainda com o seu equipamento, sempre o mais moderno. Onde anda o arquivo fotográfico de Pedro Farias? Alagoas tem o dever de resgatá-lo, pois representa duas décadas de reportagem fotográfica dos governos de Alagoas, resumindo grande parte da vida política do Estado.

Jornalistas sempre estão junto do Poder. Almoço, jantar, bebida, boca livre, o Poder sempre oferece. Naqueles anos os mimos eram as passagens para congressos, uma “assessoria” em Secretaria de Estado e refeições em restaurantes regados a bom whisky.Na Assembleia Legislativa muitos deputados cortejavam os cardeais do jornalismo e muitas vezes acompanhamos estes em bares e restaurantes.O Zinga Bar, na Praia de Jacarecica era na época o restaurante em que deputados faziam ponto. Estabelecimento que inovou no serviço de garçons em Maceió trazendo profissionais de outros Estados tinha conforto, a beleza da natureza, dancing e a conta generosa, como sempre, dos políticos no pagamento da despesa.Político de Arapiraca, o deputado estava na mesa do Zinga Bar com os jornalistas e após o almoço lá vinha o garçom despejando do alto um fio de licor que enchia o pequeno cálice. Era um deslumbramento ver aquela cena. Mas o deputado quis mostrar que podia pagar a conta e quando o garçom ia se retirando, o chamou em tom de advertência dizendo que trouxesse copos grandes. Não podiam os seus amigos jornalistas beber o licor naqueles mirrados copos. Era pra beber à vontade.

Secretário de Segurança que viria a ser assassinado por um soldado da tropa da Polícia Militar em plena revista, o Coronel Adauto Barbosa era conhecido pela rigidez de sua atuação, mas também por alguns disparates no exercício do cargo quando animado pelo embalo do whisky. Com a imprensa tinha relação de amizade ou ódio quando contrariado. Alberto Jambo é que o controlava nos excessos contra a imprensa.A Banda da Polícia Militar programara um concerto para o Teatro Deodoro e em uma coluna do jornal o cochilo da redação trocou a BANDA DA POLÍCIA POR BUNDA DA POLÍCIA. Coisa de menor importância porque se tratava de texto sem destaque e o título estava correto. Alguém, contudo “tocou fogo” no Coronel e a chama do seu whisky provocou uma tempestade sobre os autores não identificados da matéria. De outra feita, em um coquetel para apresentação do prédio do Banco do Estado de Alagoas na Rua do Comércio, da janela de um dos andares avistou-se

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um dentista que dentro do seu consultório atendia o paciente com um revólver na cintura, no andar superior da Farmácia Minerva. Era o depois vereador Milton Pessoa Falcão que viria a ser desarmado por um soldado designado após provocação de alguém ao Coronel Adauto, sob a presença da plateia de jornalistas presente no Produban.

DADOS SOBRE O AUTOR:

Advogado em pleno exercício, Amauri Soares Ferreira exerceu relevantes cargos na administração pública, tendo ocupado os cargos de Secretário do Gabinete Civil, Presidente da FIDAM e Fundação Lamenha Filho, Conselheiro e Presidente do Conselho Estadual de Educação de Alagoas.Na área jurídica além de ter exercido o cargo de Procurador Geral do Estado, exerceu funções jurídicas na Consultoria Geral do Estado, EMATER, Secretaria da Educação e outras instituições públicas e privadas.Na imprensa trabalhou em diversos órgãos, com atuação mais relevante no Jornal de Alagoas, onde foi repórter, chefe de reportagem e Secretário de Redação, correspondente hoje ao Editor Geral.

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