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Arrocha NOVEMBRO DE 2011. ANO II. NúMERO 8 DISTRIBUIçãO GRATUITA - VENDA PROIBIDA Jornal JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAçãO SOCIAL/JORNALISMO DA UFMA, CAMPUS DE IMPERATRIZ Imperatriz: múltiplas culturas ADRIANO ALMEIDA

Jornal Arrocha 08

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Arrocha 08 corrigido

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Page 1: Jornal Arrocha 08

ArrochanOVEMBRO dE 2011. AnO ii. núMERO 8 distRiBuiçãO GRAtuitA - VEndA PROiBidA

Jorn

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jORnAl lABORAtÓRiO dO cuRsO dE cOMunicAçãO sOciAl/jORnAlisMO dA ufMA, cAMPus dE iMPERAtRiz

Imperatriz: múltiplas culturas

ADRIANO ALMEIDA

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Quantas vezes o leitor já deve ter ouvido a expressão: “Imperatriz não tem cultura!”? Intrigados com essa dúvida e entendendo o conceito como algo muito mais amplo do que apenas manifestações de lazer, os acadêmi-cos do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz encararam o desafio de desvendar a multiplicidade de influên-cias que constituem a formação cultu-ral da cidade. Nesta edição, o leitor vai encontrar matérias com temas varia-dos, mas todas apontam para respos-tas semelhantes para a equação: a cul-tura de Imperatriz é híbrida e plural, resultado, sim, das muitas correntes migratórias que a cidade tem recebi-do ao longo de toda sua história seja pelos ciclos econômicos ou, mais re-centemente, pela consolidação de um polo universitário. Entre as reporta-gens, o jeito de falar imperatrizense; as

impressões dos que vieram de outros locais e por aqui ficaram; o que pen-sam os que foram embora; contribui-ções artísticas que herdamos, como as quadrilhas e a dança do Lindô e sobre o que os estrangeiros acham de uma cidade com costumes tão diferentes de suas terras natais. Para iluminar ainda mais a questão, uma entrevista com o escritor, jornalista e vereador Edmilson Sanches. Ele acredita que a miscelânea de culturas no “caldeirão” de Imperatriz é “a cara do Brasil”. Boa leitura e vamos refletir mais sobre essa questão.

Arrocha: É uma expressão tí-pica da região tocantina e também é um ritmo musical do Nordeste. Signi-fica algo próximo ao popular desem-bucha. Mas lembra também “a rocha”, algo inabalável como o propósito éti-co desta publicação.

EDITORIAL - Miscelânea cultural

Ensaio Fotográfico

CHARGE

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Ano II. númEro 8 ImPErATrIZ, novEmbro dE 2011

ExpEDIEnTE

Fotografia: Adriane Barreto, Adriano Almeida, Antonio Wagner, clésio Mendes, diana cardoso, Elen cris, Gleziane sobrinho, isabela crema, jael Martins, Karlanny farias, Maiely cabral, Maria josé, Mariana sousa, Marta nunes, Mikaelle Martins, safira Pinho, sara Batalha e Karla carvalho (tratamento de imagens).

reportagem: Adriane Barreto, Antonio Wagner, Azaias ferro, carla Rejane dutra, clésio Mendes, diana cardoso, Elen cris, Esaú Moraes, Geovana frasão, Gleziane sobrinho, isabela crema, jael Martins, juliana Guimarães, Karlanny farias, Maiely cabral, Mariana de sousa, Marta nunes, Mikaelle Martins, Paula de társsia, safira Pinho e sara Batalha.

Professores: diagramação: Adriano ferreira da silva, Amanda da silva Oliveira, Antônio carlos santiago freitas, carlos Eduardo nascimento Oliveira, caroline coelho Mateus, cristina santos da costa, danyllo Batista da silva, dayane souza silva, denise de sousa da silva, Edynara Vieira da silva, Evanilde Miranda de souza, Heider Menezes de sousa, Helene santos silva, Heliud Pereira dos santos, Hilton Marcos ferreira dos santos, janilene de Macedo sousa, jéssika Roberto Ribeiro, júlio Oliveira lima filho, Karla Mendes santos, Keylla nazaré das neves silva, larissa leal de sousa, lineker costa silva, luís Guilherme Barros, Mauro Oliveira Ribeiro, Millena Marinho de Oliveira,

Publicação laboratorial interdisciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da Universidade.

Jornal Arrocha. Ano II. número 8. novembro de 2011

reitor - Prof. dr. natalino salgado filho | diretor do Campus de Imperatriz - Prof. dr. Marcelo donizetti chaves | Coordenadora do Curso de Jornalismo - Profa. M. Roseane Arcanjo Pinheiro.

M. Alexandre Maciel (jornalismo impresso), M. Marco Antônio Gehlen (Programação Visual), M. li chang shuen cristina (fotojornalismo). Revisão: dr. Marcos fábio Belo Matos.

www.imperatriznoticias.com.brFone: (99) 3221-7625

Email: [email protected]

Contatos:

Patricia Araújo, Pedro Barjonas Elias lima, Priscila sa da silva, Raimundo nonato cardoso, Ramon André cordeiro cardoso, Rebeca de Andrade Avelar silva, silvanete Gomes de sousa, suzaira Bruzi nogueira Oliveira Menezes.

ELEN CRISANtONIO WAgNER

MIKAELLE MARtINS

MAIELY CABRAL

JADIEL REIS

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JAEL MArtINS

- E aí? Quanto é a maçã?- Pergun-ta um homem de meia idade, camisa azul e calça de brim cinza.

- É dois real fí, as sete. Vivian mermã, vai guardano binhí aquelas cebola.

- tia, eu já terminei aqui! deu dois saco - Grita a sobrinha de Deu-silene, 10 anos, que hoje ficou na barraca da tia, enquanto ela visitava o netinho recém -nascido.

É meio-dia de um domingo es-caldante e na banca ao lado um ami-go brinca com a vendedora, enquan-to desmonta a sua barraca:

- rumbora, rumbora Deusilene, arruma rápido aí, vamo pra casa que olha a polícia!

- Dexa a pulícia vim que eu faço é gostar de pulicial, ainda mais se fô bunitu.

Deusilene de Sousa é uma mu-lher rechonchuda com mais de 40 anos, usa blusa e legue azul com san-dálias de dedo, tem o rosto pintado de manchas escuras e seus cabelos são crespos em um tom amarelado e castanho. Ela nasceu em Barra do Corda, mora em Governador Edson Lobão, mas está aqui todos os dias vendendo suas maçãs e cebolas.

Deusilene usa uma linguagem bastante popular, recheada de ex-pressões regionais e sotaque carrega-do. O professor de Língua portugue-sa do Instituto Federal do Maranhão (IFMA), André Santos, explica que esse modo de falar é mais regional que local. “Imperatriz influencia muito e é também muito influencia-da.”

Características“O falar imperatrizense”, livro

escrito por Elaine Feitosa a partir de uma pesquisa monográfica, explica algumas razões para o modo como Deusilene e muitos imperatrizenses falam.

“Imperatriz não deixa de ter al-gumas peculiaridades pertencentes ao falar nordestino. O falar carrega-do, cheio de sotaques e a sonoridade

é a característica do imperatrizense [...], outra característica muito perti-nente é a eliminação das marcas do plural”.

O livro também cita a famosa assimilação: trocar a letra d pelo n, como o guardano, ao invés de guar-dando, dito pela vendedora. “78 por

cento dos falantes entrevistados ten-dem a esse fenômeno”.

O blog Cultura ItZ publicou um minidicionário das expressões do imperatrizense, entre elas: Benhí- an-tônimo de lá, acolá; enfarento- en-joado; marrapá- afirmação positiva; magote- multidão e jazim- pequena

demora. Que Imperatrizense nunca usou um desses dizeres?

“O que temos em Imperatriz é uma miscelânia de falares, resultado do contigente migratório oriundo das mais diversas regiões do país, atraído pelas inúmeras possibilida-des de emprego”, explica a linguista

Orleane Santana, que pesquisa em seu doutorado aspectos do falar im-peratrizense.

E para quem pensa que Impe-ratriz não possui indentidade lin-guística, ela faz uma ressalva: “A diversidade de falares são as marcas linguísticas que a particularizam”.

ExpREssãOforma de falar do imperatrizense é caracterizada pelas múltiplas influências regionais, expressões bem próprias, como “benhi” e eliminação de marcas do plural

“É dois real as laranja, fi. As sete”. “Vai guardando binhi aquelas cebola”: Feirante Deusilene de Sousa usa diversas expressões regionais para se comunicar com os clientes e sua fala comprova várias influências

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JAEL MARtINS

Um jeitinho todo próprio de se comunicar

ISABELA CrEMA

Quando chegou a Impera-triz, em 1969, Augusto Quiroga, 71 anos, tinha a esperança de ala-vancar sua carreira médica. “Me falaram que aqui dava malária até em macaco e que todo dia tinha cirurgia para fazer”. Além disso, os “paus-de-arara” traziam mi-grantes de Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo e como as estradas não eram asfaltadas, essas pesso-as chegavam doentes ou machuca-das.

Como em uma balança, Qui-roga explica que a primeira se-melhança que encontrou entre Imperatriz e a Bolívia, país onde nasceu e de onde veio faz 51 anos, foi o nível cultural da população, de maioria pobre.

O vocabulário já impressio-nava. “Boca do estômago, pé da barriga, gurgumim [nariz], eram coisas que eu não entendia.” A

avaliação que ele faz é que, com a miscigenação, a cultura da cida-de melhorou consideravelmente e promete muito mais com os proje-tos de investimento das empresas locais. “A iniciativa privada levan-tou a cidade”, afirma, simulando com as mãos um elevador.

Os eventos culturais e a visão comercial de empresários contri-buíram para a explosão imobiliá-ria e o crescimento vertical. “Ain-da precisam fazer estudos para melhorar a questão de estaciona-mento e deslocamento de pedes-tres, porque as calçadas são ver-dadeiras armadilhas, arapucas”.

Críticas à parte, o que mais lhe agrada na cidade é o fato de ter um rio perene. E sua maior saudade é do frio da Bolívia.

TuristaDiariamente Imperatriz rece-

be pessoas de vários lugares do país. São 34 voos semanais, que trazem turistas, residentes no município e novos moradores. Em

um deles veio a capixaba rosane Xavier, 49 anos. A passeio na casa de amigos, ela diz que já se sur-preendeu de dentro da aeronave quando viu as casas. “É tudo cola-da uma na outra, eu achei muito estranho” recorda, com os olhos esbugalhados.

Apesar disso, percebeu que as críticas negativas não eram assim tão procedentes. Um dos alimen-tos mais consumidos nas ruas da cidade, a panelada, fez o gosto da cliente. “Com certeza foi o que eu mais gostei aqui e queria que ti-vesse lá” Ela se refere ao Espírito Santo, estado de onde veio.

O sotaque e as expressões locais também chamaram a aten-ção. “Aqui chamam as pessoas de ‘mulher’”. As expectativas quanto ao futuro da cidade são positivas. Para rosane, ainda há muito que melhorar, mas o potencial comer-cial de Imperatriz pode elevá-la a um nível bem alto.

particularidades de Imperatriz chamam a atenção de quem veio de foraISABELA CREMA

Médico Augusto Quiroga, em Imperatriz desde 1969, acompanhou suas profundas mudanças

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SArA BAtALhA

Cabelo branco, fala mansinha, óculos no rosto, este é o jeito da enfermeira aposentada Maria de Lourdes Alves Melo, 81 anos, que veio de Castelo do Piauí (PI) com o esposo e cinco filhos. Não se engane com a idade da vovó, ela lembra bem o dia em que chegou: 30 de julho de 1972. A mudança de ambiente, a separação logo ao chegar a Imperatriz e o fato de ter que trabalhar ela e os filhos, fo-ram as maiores dificuldades que eles experimentaram.

Lourdes emocionou-se sen-tada bem ali naquela cadeira, do lado da redinha no quintal de sua casa, ao lembrar-se do “Piauisão” como ela chama. E, mesmo com o passar do tempo, ainda guarda no coração o desejo de voltar. Mas os filhos já são casados e ela re-conhece que Castelo não lhes dá mais oportunidade para viverem como aqui. No fim da rua Eu-clides da Cunha, no bairro Vila Nova, moram mais de sete famí-lias de cearenses e piauienses. A maioria veio para Imperatriz tra-balhar como crediarista.

“A roça não é lugar de coita-dinho”, lembra a dona de casa Zu-lene Leite Setubal, 55 anos, uma cearense que já lutou muito por aqui. teve que sustentar sozinha, por cerca de quatro anos, os três filhos, mas continua dona de um ânimo invejável. Ela veio atrás do marido e primo legítimo, José Acena Setubal, que já chegara por volta de 1982, para trabalhar como crediarista. Não passava necessidade na roça, mas queria uma vida melhor. hoje possui um bar bem no “setor” dos cearenses e piauienses ou na “baixada”, como eles batizaram.

A rua é tranquila, de asfalto, as casas são bem arrumadas, bem coloridas e limpas também, as-sim como o bar do seu José (“Bar dos Crediários”), todo em cerâmi-ca preta e branca por dentro. Ele veio acompanhado do primo, João Farias Neto, 60 anos, um senhor gordinho que usa dentes de pra-

ta como o cangaceiro do filme “O Auto da Compadecida”, brinca-lhão como todo cearense.

Já possuiu um minimercado no bairro, era suficiente, mas a falta de liberdade o fez voltar para o crediário. Ele vai uma ou duas vezes por ano em Parambu (CE), pois possui terras e plantação lá. Assim como seus primos, José e Zulene, ele também não pensa em voltar para Parambu, mas não

descarta essa possibilidade, caso precise.

maridos Quem também veio atrás dos

maridos foram Cícera henriques Sirqueira, 55 anos e rita Emília Barbosa de Moura, 60 anos. Cíce-ra, paraibana de Princesa Isabel, não tinha planos de morar em Im-peratriz, mas o marido já estava aqui há cinco meses.

Foi aí que ela veio acompa-nhada do pai e da filha, Maria Pau-la, em outubro de 1982. hoje ela é comerciante autônoma e lembra com saudade do povo trabalhador da Paraíba, que “aproveita cada pingo d’água que cai na terra”.

Já a professora Emília veio de trindade (PE) com quatro das cin-co filhas em fevereiro do mesmo ano. O marido partiu sem avisar, ela não tinha ideia de onde ele es-

tava e, quando soube, embarcou para a cidade maranhense. E hoje as três filhas que permaneceram se formaram e são professoras na “Escolinha tia Emília” – homena-gem a ela – e também atuam na coordenação. Emília dá uma pau-sa, chora com as mãos no rosto de saudade do pai que já faleceu. Mas, apesar de tudo, os seis nor-destinos entrevistados não aban-donam o sorriso.

GEOVANA FrASãO

“Inverno no Piauí quase num tinha, era muito fraco”. Dona Cha-tinha, do alto de seus 83 anos, lem-bra da difícil vida na terra natal, um dos motivos que a fizeram mu-dar com o marido e os filhos para Imperatriz, na década de 1960.

“Veio primeiro meu sogro. Ele recebeu uma carta de um genro dele, que tinha vindo antes e era pastor, dizendo que tinha uma ci-dade na beira de um rio que era muito boa. tinha muita terra sem dono. Chovia muito e era boa de plantação. Aí ele veio em 52”.

A piauense de Vargem Grande conta que o sogro veio com alguns filhos em 4 de setembro. A partir de então, todos os parentes o se-guiram ano após ano. “todo 4 de

setembro chegava uma ruma de gente”. Os últimos chegaram em 1970.

“Eu cheguei em 64. Eu vim de carro, no pau-de–arara do Galinha, foi quatro dias de viagem. Eu tava grávida, dez dias depois a criança nasceu”. A estrada para cá era só areal e as pessoas vinham cortan-do cipó com o facão. “Naquele ano veio muita gente, foi um ano de grande seca. Quando cheguei tinha muita gente de olho amarelo, aí eu disse comigo: meu Deus, aonde eu fui me socar?”

Susto e medo tomaram con-ta de dona Chatinha ao chegar em Imperatriz. Um surto de ma-lária assolava a população.“tinha um cemitério cheio de cova nova, tudo morto pela malária”. Dona Chatinha lembra que a cidade era

“pequenininha, num tinha quase casa”, só duas ruas, a “coronel” e a 15 de novembro. Não havia energia, nem água encanada, as ruas eram só lama. “Era o tempo da lampari-na, tudo era mato”.

mudançasO relato da retirante que mi-

grou para Imperatriz fugindo da seca e em busca de terra para tra-balhar ilustra o cenário da vinda e chegada de milhares de pessoas, o que sonhavam e encontraram.

Em pouco mais de seis déca-das, Imperatriz passou de cidade isolada e rural a movimentado cen-tro econômico e cultural. Confor-me o censo de 1950, naquele ano, a população imperatrizense era de 5.015 habitantes. No último censo realizado em 2010, nossa popula-

ção chegou à marca de 247.505.A explosão populacional se deu

a partir da construção da rodovia Belém–Brasília, iniciada em 1958. O historiador Adalberto Franklin afirma que “para cá vieram princi-palmente maranhenses de outras cidades, piauienses, cearenses, baianos. Os nordestinos chegavam fugindo da seca”. há anos vagavam pela região, ressabiados pelas con-dições climáticas e empurrados pelos grandes latifúndios. “Eles foram atraídos pelas riquezas da região. O latifúndio tomou conta do Nordeste desde o século XVII. terras devolutas só existiam na pré-Amazônia”.

Segundo a socióloga e antro-póloga da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), rosa Maria Nunes, os migrantes do Centro-

Oeste e Sudeste vieram interes-sados na exploração de madeira. E por isso, a princípio, não se fi-xaram. Imperatriz, durante muito tempo, foi uma cidade de passa-gem. Essas pessoas trabalhavam, mas não permaneciam. “Meu pai mesmo chegou em 74, comprou fazenda, eram muito baratas as terras. Eu cheguei em 80. A minha família voltou pra Bahia. Eu fiquei, trabalhei, constitui família. Quem para cá veio trouxe consigo sua culinária, seus costumes, seus há-bitos”.

O historiador Adalberto co-menta que, antes da “invasão” fo-rasteira, as manifestações culturais por aqui praticadas eram predomi-nantemente sertanejas. “Isso expli-ca, por exemplo, o gosto musical da cidade pela música sertaneja”.

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ACOLHIDAMigrantes de outros estados do nordeste, como ceará, Piauí, Pernambuco e Paraíba, sentem saudade, falam de suas origens e sobre como vivem em imperatriz

“nor-destinos” de emoção, fé e sorrisos

João Farias Neto (esquerda), que já teve um minimercado no bairro e seu primo José (direita), dono do popular Bar dos Crediários, vieram do Ceará para Imperatriz

FOtOS: SARA BAtALHA

Imperatriz sempre adotou pessoas em busca de oportunidades de vida

Cícera Sirqueira saiu da Paraíba para Imperatriz com o marido e hoje é comerciante Maria de Lourdes tem saudades do Piauí, mas fica em Imperatriz por causa dos filhos

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GLEZIANE SOBrINhO

‘’Eu acho tudo muito engraça-do aqui no Brasil’’, afirma a chinesa Liu Chan Xia. Ela conta sobre sua vida aos poucos, com muita caute-la, cheia de caras e bocas, como alguém que, na verdade, não está entendendo no fundo o que se pas-sa.

Começa por explicar que está sendo difícil ficar longe do país em que nasceu, alega sentir muita falta de seu povo e seus costumes e mais uma vez deixa bem claro que acha muito engraçado como as pessoas falam e agem. “Eu nem entendo o que as pessoas me falam, e acho às vezes que elas me enganam”.

Liu Chan Xia, 21, casada, nas-cida na China, atualmente mora no Brasil com o marido, Chen Wei Ming, 30. Ambos passam por um processo ainda de adaptação, pois estão na cidade há quase um ano. “Já tou com vontade de voltar pro meu país”, declara Chen Wei. Eles vieram para o Brasil apenas para visitar seu irmão, Zen Chan, que imigrou com intenção de montar um negócio próprio, que acabou dando certo. Zen foi morar em São Paulo e sua irmã ficou adminis-

trando o lanche. Liu começa a entrevista de-

monstrando nervosismo, esfrega uma mão na outra enquanto conta um pouco sobre sua infância. Fala dos seus pais, de como eles sem-pre foram rígidos: “Acho que foi por isso que me casei tão cedo”. E revela como conheceu seu esposo: “Conheci o Chen quando eu tinha 13 anos e ele 22. Nunca pensei que ia casar com ele’’. Alguns anos de-pois, Liu viu-se casada e esperan-do seu primeiro filho.

HábitosFalando em costumes, ela se

empolga lembrando do seu país, das tradições e das pessoas. Con-fessa que é cristã e conta que a religião na China é politeista, e isso gera conflito às vezes. “Minha família é toda cristã. Sempre tive o costume de ir pro templo com minha mãe e meu pai. Eu e meus irmãos fomos educados segundo a religião e assim vou educar meu filho”.

Ao comentar sobre impacto das tradições, Liu solta um riso e comenta: “As mulheres daqui são muito bonitas e sexuais. Aqui na pastelaria sempre vem mulheres

bonitas e eu fico de olho para ver se o Chen está olhando, sou muito ciumenta”. Ela acha o povo de Im-peratriz “muito diferente”, já que usam roupas que mostram o corpo quase todo. “Lá não é assim”. Ape-sar de não entender o português muito bem, o casal afirma que gos-ta do Brasil e de Imperatriz e desta-

ca, inclusive, que o povo da cidade é muito acolhedor .

O local começa a encher mui-to rapidamente. Já se ouvem os gritos afiados da chinesa “Eiiiiii. Cinco pastéis com frango catupi-ry de massa fesquinha”. Do outro lado do balcão, o freguês pergunta quanto é a coca KS 290 ml. Liu ri

e fala que já decorou o preço: 1,25. “Vai querer?” E o cliente: “um real?” Ela, tentando explicar: “Não! Um real mais 0,25 centavos. Viu como as pessoas pensam que eu não en-tendo?”. O tumulto é inevitável. Algumas pessoas sentadas, outras em pé, esperando o famoso pastel chinês.

KArLANNy FArIAS

São apenas 9 horas da manhã e o cheiro de pão quentinho da pada-ria da dona Samia já expirou. Já é tarde para conseguir o pão de quei-jo do desjejum. Bolinhos de chuva ainda permanecem em exibição na vitrine. Um rapaz atende aos que

ainda chegam. Dona Samia é quem recebe o dinheiro, sentada ao cai-xa da panificadora da qual ela e o marido hassan são donos há vários anos.

Nascida na pequena cidade de Karron, no Líbano, Samia yassin hassan, 48, veio ao Brasil apenas para visitar alguns parentes que

moravam na cidade de Marabá, no estado do Pará. Mas o destino en-carregou-se de traçar novos planos, pois foi em terras tupiniquins que ela conheceu o colega de trabalho do seu irmão, que mais tarde viria a tornar-se seu marido, o também libanês hassan youssef Moussa. “Namoramos por alguns meses e

fomos para São Paulo só pra casar, pois aqui não havia Mesquitas”. Logo depois, voltaram para Marabá e após alguns anos, e já com três fi-lhos, o casal decidiu mudar-se para Imperatriz. há 19 anos residem na cidade.

Na época em que era “caloura” no Brasil, Samia conta que não teve

muitas dificuldades para aprender o português, mas ainda hoje o sota-que árabe – junto com a pele clara e o olhos de um azul intenso - de-nunciam que brasileira ela não é.

Adaptação Para ela, foi mais difícil apren-

der a escrever. “Quando eu fui ma-tricular os meus filhos na escola, a moça me deu uma ficha para preen-cher. Eu comecei a chorar, pois eu não sabia escrever!”. Depois disso, ela decidiu estudar supletivo em uma escola da cidade para melhorar a escrita. Conseguiu.

Alguns costumes também con-tribuíram para o choque cultural da libanesa. “Aqui os jovens namoram em qualquer lugar, saem muito. No meu país não é assim. A moça só namora na casa dos pais, e só sai acompanhada deles”.

E por falar em jovens, ela con-ta que, apesar de tudo, não impõe a cultura do Líbano no cotidiano dos filhos. “Eu os ensino como os meus pais me ensinaram: respeitar os mais velhos, serem honestos, es-sas coisas”.

Já sobre religião, ela segue fiel-mente o Islamismo. Ora cinco vezes ao dia, sempre no mesmo horário. A leitura do Alcorão não falha. tentou frequentar algumas igrejas daqui, mas não deu. “Na minha religião, as mulheres rezam com trajes específi-cos e separadas dos rapazes. Aqui é tudo realmente muito diferente”.

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IMIGRAçãOcasal de chineses considera aqueles que moram em imperatriz acolhedores, mas “muito diferentes”, com seu jeito mais sensual e “engraçado” de falar e agir

Orientais tentam superar choquede nova cultura

gLEZIANE SOBRINHO

“Eu não entando o que as pessoas me falam e acho que às vezes me enganam”. A chinesa Liu Chan tem uma lanchonete e busca se adaptar a Imperatriz

Libanesa Sâmia Yassin Hassan segue fielmente o Islamismo, ora cinco vezes ao dia, sempre no mesmo horário e nunca deixa de lado o Alcorão, livro sagrado dessa religião

De Karron, no Líbano, a Imperatriz: uma história de surpresas e impactoKARLANNY FARIAS

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MArtA NUNES

“Não dá para dizer nesse mo-mento que nós temos uma cul-tura definida. Mas eu creio que estamos caminhando para ter uma cultura genuinamente Impe-ratrizense”. A visão do professor de Filosofia da UEMA, Domingos Furlan, contribui para o grande debate: Imperatriz tem uma iden-tidade cultural?

“A nossa cultura está sendo criada”, afirma Furlan. Assim, em sua opinião, o processo de mani-festações culturais de uma cida-de deve ser lembrado e revivido a cada data, simbolizando seus aspectos culturais. Não ocorren-do tais manifestações, acontece o fenômeno da aculturação. Fur-lan dá um exemplo: “Quanto mais você movimenta a economia mais você movimenta a cultura”.

tendo ao fundo buzinas de carro e canções como “Entre ta-pas é beijos”, além de sucessos da banda Calypso, Berguisom do Nascimento atende a uma cliente no balcão de celulares de uma loja de móveis e eletrodomésticos no centro do Mercadinho. Desenrola-do, mostra os aparelhos do expo-sitor à cliente.

“tem muita gente de fora em Imperatriz, não só do Maranhão, mas de cidades vizinhas, que vie-ram para estudar e trabalhar. É muita gente que vem durante o dia é volta à noite para suas casas, fazer compras. Isto influencia a nossa cultura”.

Berguisom veio de Sítio Novo do Maranhão procurar melhoria de vida e cursa o quinto período do ensino superior. “Pena que vim para Imperatriz um pouco velho, aos 20 anos”.

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DIvERsIDADEPela proximidade com dois estados e características de crescimento econômico que atraem pessoas de outras regiões, imperatriz é naturalmente plural

FOtOS: HYANA REIS

Imperatriz não tem cultura! será mesmo?

A Cia Sotaque de Rua utiliza a dança como forma de expressão cultural, misturando ritmos e coreografias do bumba-meu-boi, quadrilha e louvação do Divino

Movimento na economia influencia nas transformações da cultura local MARtA NUNES

Fato de Imperatriz receber fluxo constante de pessoas até mesmo de lugares próximos é apontado como fator determinante para sua diversidade cultural

AZAIAS FErrO

Imperatriz não tem cultura. Você, possivelmente, já ouviu essa frase. É óbvio que ela está incor-reta, pois, como afirma o antropó-logo roberto DaMatta, “pode haver cultura sem sociedade, embora não possa existir uma sociedade sem cultura”.

A dificuldade em “definir” a cultura imperatrizense se dá pelo fato de associar a ideia a uma ma-nifestação cultural registrada. Mas será que há mesmo uma manifes-tação que seja capaz de identificar tão peculiarmente uma cidade, em específico Imperatriz?

Voltemos à cidade na década de 50, quando o presidente Jusce-lino Kubitschek iniciou a constru-ção da rodovia Belém-Brasília. O índice de crescimento econômico e populacional aumentou em rit-mo acelerado com a migração de pessoas dos diversos estados da fe-deração. A cidade foi influenciada culturalmente pelo contato com os migrantes.

Além do fator histórico, Im-peratriz localiza-se na região oeste do Maranhão e tem proximidade com municípios dos estados Pará e tocantins. “É natural que seja plu-ral”, diz Zeca tocantins, coordena-dor de Cultura da Fundação Cultu-ral de Imperatriz. Para ele, não há necessidade de se ter uma carac-terística cultural própria. “O boi de Imperatriz não é o boi de São Luis”, diz Zeca, que defende a ideia de não haver uma manifestação ge-nuína do município, o que, segun-do ele, não é um problema. “tudo é uma releitura. Não necessita ter uma música que nasceu aqui”.

CaldeirãoImperatriz possui uma rique-

za cultural vasta, manifestada por meio da dança, música, culinária, teatro e artesanato. A cidade “é um caldeirão de vários hábitos e vários costumes”, afirma Osório Neto, produtor cultural e fundador do Instituto de Cultura e Artes Sota-que, uma ONG que abrange proje-

tos nas áreas da música e dança, principalmente.

A Cia Sotaque de rua, que uti-liza a dança como forma de ex-pressão cultural, mistura ritmos e coreografias do bumba-meu-boi, cacuriá, coco, quadrilha e louvação do divino. O trabalho vem sendo realizado há dez anos e tem noto-riedade tanto em Imperatriz quan-to em diversos lugares, inclusive em São Luís.

O artesanato é um espetáculo à parte. Uma volta pelo Centro de Artesanato de Imperatriz revela a diversidade de cores, formas, ma-teriais e texturas encontradas nas peças expostas. Por conta dessa diversidade, fica difícil definir, por meio do artesanato, qual é a ”cara” da cidade. “Nós não encontramos, ainda, um produto que identifique, exclusivamente, Imperatriz”, afir-ma a vice-presidente da Associação dos Artesãos de Imperatriz (Assa-ri), Francisca Veras.

Com tanta pluralidade, será que a cultura imperatrizense não sofre uma crise de identidade? “Sim”, a resposta é do historiador, antropólogo e mestre em Educação e Cultura pela Universidade do Es-tado do Pará (UEPA), Witembergue Zaparoli. Segundo ele, a cultura imperatrizense é marcada pelo fe-nômeno e “toda baixa de fenôme-no gera crise de identidade”.

Para o antropólogo, não há problema em ter uma cultura plu-ral. Imperatriz não poderia ser di-ferente, visto que a cidade é uma “sociedade de fronteiras e que so-fre constantes mudanças mediante as relações cíclicas econômicas e sociais”. Zaparoli destaca que não há obrigação de ter uma identida-de marcada e afirma que a manu-tenção do fenômeno gera o marco de identidade.

“Eu sou mil possíveis em mim, mas não posso me resignar a que-rer apenas um deles”. A frase de roger Bastide parece “definir” bem a cultura imperatrizense, que se mostra cada vez mais híbrida e plural como uma grande e intermi-nável colcha de retalhos.

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ELEN CrIS

São vários os motivos que le-vam as pessoas a deixarem suas cidades e procurarem outros lu-gares do Brasil e do mundo para viver. Apesar de estar crescendo, Imperatriz ainda não possui con-dições suficientes para satisfazer o desejo profissional e pessoal de muitos dos seus moradores.

O aumento de cursos em uni-versidades públicas e privadas proporciona a Imperatriz a vinda de muitos estudantes, mas isso ainda não é suficiente para evitar que estudantes daqui saiam para estudar fora. “Fui embora para estudar porque Imperatriz não me proporcionou a realização de um sonho, o curso de engenharia civil”, afirmou o estudante Juan Clímaco, 20 anos, que atualmente reside em Manaus (AM).

Apesar de estar em uma gran-de capital, com muitas oportuni-dades de emprego na área civil, ele pretende retornar a Imperatriz assim que se formar, já que aqui segundo ele, não há muitas pes-soas com formação na sua área.

Não é difícil encontrar pelas calçadas da cidade pessoas sen-tadas nas portas de suas casas. E esse é um dos costumes imperatri-zenses que muitos sentem falta de fazer quando estão longe. “Sinto

saudade de ficar sentada na porta de casa até altas horas conversan-do com meus vizinhos. Aqui onde

eu moro as pessoas não possuem esse costume”, declarou Lydiane Dourado, 20 anos, que atualmen-

te mora em Goiânia (GO). Sempre que possível ela vem à cidade para reencontrar seus laços de amiza-

de e familiares. Lydiane declara que a melhor época do ano para visitar Imperatriz é nas férias de julho, tempo de praias.

Internacionalramon Allencar, 17 anos, se

mudou para a capital da Bélgica, Bruxelas, há um ano e sete meses para tentar melhores chances na carreira de jogador de futebol. Isso proporcionou a ele conhecer outra cultura totalmente dife-rente da nossa e aprender outros idiomas.

ramon comenta que essa ex-periência é única em sua vida e quer aproveitá-la ao máximo an-tes de voltar para Imperatriz. “A humildade das pessoas daí não se encontra em outro lugar. A infân-cia aí é mais bem aproveitada e apesar de a comida daqui ser mui-to boa, sinto falta da comida daí”, comenta, ao comparar Bruxelas a Imperatriz.

Estudar, conseguir um em-prego, aprender uma nova língua, conhecer outras culturas é o que muitas pessoas que saem de suas cidades de origem buscam alcan-çar em outros lugares. São várias as saudades que Imperatriz deixa nas pessoas que por aqui passam. Para Juan Clímaco, “quem bebe da água do rio tocantins jamais es-quece.”

ANtONIO WAGNEr

No senso comum, para alguns, Imperatriz é só um lugar de passa-gem. Não foi o que aconteceu com Lucas Alves, 30 anos, mineiro de Santa rita de Cássia. Um e-mail bas-tou para ele mudar de vida e encarar três longos dias até a “terra do frei”. Nas idas e vindas, grandes histórias e um amor.

toca o sinal. Intervalo numa ci-dadezinha ao pé da Serra da Canas-tra. Sai o professor de sua sala em

direção ao único computador dis-ponível na salinha do mimeógrafo. Sim, um mimeógrafo em pleno sécu-lo XXI. O cheiro de álcool ainda no ar, e Lucas ali, abrindo sua caixa de e-mails, totalmente despretensioso. Meio subitamente, uma mensagem de um colega que desde o término da faculdade não tinha contato.

– Ei Lucas, o quê você está fa-zendo aí no sudoeste de Minas? tra-balhando? Ei, larga tudo aí e vem pro Maranhão! – Assim, estranhís-simo receber um e-mail de alguém

com quem teve pouco contato, e mais estranho, com uma proposta de emprego para o Maranhão.

Bom, para quem não sabe, o Nordeste ainda é visto como um lu-gar precário e de vida difícil. tudo resquício do tempo dos retirantes e que ainda hoje deixa sua marca, causando medo de encarar uma mo-rada pra estas bandas.

Pronto. Um simples e-mail bas-tou para a vida de Lucas mudar totalmente. Apesar de um rumo in-certo, a curiosidade e a vontade de

alçar voos longe de casa o fizeram arrumar sua malinha, no feriado do 7 de setembro de 2007, para conhe-cer o território que inesperadamen-te seria sua nova morada. Dois mil e cem quilômetros, 36 horas dentro de um ônibus repleto de maranhen-ses e paraenses e ele ali, começando seu primeiro processo de osmose cultural. Fato... Sotaques agudos e conversas calorosas o deixavam mais animados em conhecer a tal cidade.

três dias aqui, numa bagatela de aulas, testes, em um estranha-mento necessário, fizeram Lucas pesar na mente se valeria mesmo a pena largar as raízes pela semente, os laços pelos nós, o certo pelo du-vidoso, as Minas pelo Mara.

Janeiro de 2008, mala feita e decisões também... Lucas já é um dos mais novos professores do Maranhão. E aqui vieram a trans-bordar as suas vivências, o encon-tro consigo mesmo, suas doações e trocas. tudo em meio aos folguedos do sol escaldante, do calor humano, das danças, dos cheiros, sabores e cores particulares que fizeram o seu “arco-íris” desembocar no pote de ouro imperatrizense.

FloresA partir daí vieram as flores,

não metaforicamente usadas, mas

realmente recebidas e intituladas de amor. Aqui, Lucas encontrou o gran-de amor da sua vida (tá bom, mais uma história de amor piegas com um finalzinho fuleiro? talvez, mas foi realmente o que aconteceu).

recebidas à porta de uma li-vraria, as flores marcaram o rapaz profundamente. Mas elas tiveram conotações diferentes. Ele tem um irmão anjo, que faleceu aqui, neste lugar cheio de sonhos e prosperida-de. O irmão não conseguiu realizar suas autopropostas e as flores aqui vieram cobri-lo de saudade.

Em momentos trágicos, buscou de imediato as pessoas tidas como de sangue, para apoiarem uns aos outros. Foi assim que largou o Ma-ranhão e voltou para Minas. Ué?! Mas o título da matéria não inci-ta à permanência em Imperatriz? Claro! Mas lembra aquela primei-ra flor, chamada amor? Ela exalou seu cheiro pelo serrado, enfrentou as montanhas de Minas e voltou a despertar, nos corações separados, a magia do enfrentar tudo pela fe-licidade.

E foi assim, voltou para ficar. O tempo curou tudo e Lucas pôde vir para ver a semente florescer, ver os nós serem desfeitos, o duvidoso ser transformado em certeza e compro-var que o Mara é realmente mara-vilhoso.

7ArrochaJorn

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Ano II. númEro 8 ImPErATrIZ, novEmbro dE 2011

DECIsãOHistória do mineiro Lucas Alves, que hoje atua como professor em Imperatriz, condiz com outras tantas de quem escolheu a cidade como lar

não pensava em ficar, masacabei ficando

Estudantes universitários, profissionais das mais diversas áreas e moradores de regiões vizinhas tentam a vida na “terra do frei” em busca de reconhecimento

Ex-moradores têm saudades, mas alegam que foram buscar novos rumos

ANtONIO WAgNER

Praias de Imperatriz fazem parte da lembrança daqueles que partiram da cidade, como Lydiane Dourado, que mora hoje em Goiânia, mas retorna nas férias

ELEN CRIS

Page 8: Jornal Arrocha 08

CLÉSIO MENDES

Quem anda pelas ruas de Im-peratriz em meio ao intenso movi-mento de veículos e pessoas, ainda não deve ter notado um detalhe bastante curioso em relação a seus moradores: são poucas as pessoas negras ou, como muitos dizem, “de cor” transitando pelas ruas.

historicamente, os negros sempre formaram uma minoria na cidade. Dados do IBGE obti-dos no censo de 2010 comprovam esse fato. Dos 247.505 moradores, 20.146 se declararam negros, ou seja, 8,14% da população de Impe-ratriz.

No momento, ainda não há es-tudos completos sobre a história da população negra de Imperatriz. Como toda minoria, os negros so-frem diariamente com os mais di-versos tipos de discriminação, seja por meio das falas das pessoas, em piadinhas, frases e vícios de lin-guagem.

“Fui discriminada uma única vez, na adolescência e pela mãe de um colega de escola. É uma sen-sação horrível”, afirma a estudan-te negra Estela Silva. há também quem não se importe com as ofen-sas: “Quando alguém me chama de preto eu simplesmente digo: Sou!

E com muito orgulho!”, responde o vendedor ambulante Antônio dos Santos. Além desses, são inúmeros os relatos de preconceito e essa manifestação racista acontece de forma explícita ou indireta.

racismoPesquisa feita pelo Datafolha em

2008 mostra que o racismo no Bra-sil diminuiu em comparação a outro estudo organizado em 1995. No en-tanto, ainda há uma forte percepção

de que o brasileiro continua sendo racista. Em 2008, para 91% dos entre-vistados, os brancos tinham precon-ceito de cor em relação aos negros. No entanto, quando a pergunta era pessoal (excluindo os autodeclarados

negros), só 3% admitiram ter precon-ceito.

Percebendo a necessidade da união e luta dos negros por seus di-reitos na região, foi fundado em Im-peratriz em março de 2002 o Centro de Cultura Negra Negro Cosme. A iniciativa partiu de um grupo de pro-fessores e universitários da UEMA, campus de Imperatriz. Segundo a vice-presidente Doralice de Assunção Moura: “A ideia de criação de um Cen-tro de Cultura Negra local surgiu pelo fato de que até então, não se falava ou discutia sobre o racismo em Im-peratriz”.

Inspirado em outros movimen-tos já existentes no Maranhão, o Cen-tro tem sido o porta-voz dos negros em grande parte da região tocantina. tem por objetivo combater o racismo na tentativa de despertar a consciên-cia crítica das pessoas para que o res-peito e a valorização do ser humano independam de sua raça ou etnia. Ou-tra de suas finalidades é a luta pela construção de uma sociedade sem preconceito ou discriminação racial. Para isso, promove eventos educati-vos e culturais, bem como palestras em escolas públicas e privadas, com o intuito de conscientizar toda a po-pulação sobre as dificuldades vividas historicamente pelo negro e a impor-tância do seu papel na sociedade.

8 ArrochaJorn

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Ano II. númEro 8 ImPErATrIZ, novEmbro dE 2011

RAízEssegundo o cadastro da funai de imperatriz, 58 indígenas moram atualmente na cidade, sendo que 23 deles são estudantes, motivo comum para deixar as aldeias

Indígenas retornam em outro contextoFOtOS: ADRIANO ALMEIDA

Guajajara, Krikati e Gavião são as etnias que ainda povoam a região tocantina, totalizando oito mil pessoas. Já foram 18 etnias

negros lutam por mais respeito e valorização de sua identidade

Dificuldades diárias não desanimam a comunidade negra de Imperatriz na conquista do seu espaço. Na cidade, eles representam cerca de 8,14% da população

PAULA DE tárSSIA

Com novo estilo de vida, aos poucos eles voltam a morar em Im-peratriz. Camisa bege, short jeans, sapato, 23 anos, sorridente, desco-lado e características físicas indí-genas marcantes, Alvino Guajajara, que residia na aldeia Coquinho, em Barra do Corda, agora mora em Im-peratriz há dois anos.

“Vim para cá pra trabalhar. De-pois cursei até o segundo semestre de administração numa faculdade particular. Na aldeia a gente não tem muita oportunidade. Então a gente tem que buscar melhorias fora dela. Gosto da cidade, mas sin-

to falta dos amigos e das brincadei-ras da aldeia”.

A presença de índios no Mara-nhão foi catalogada desde de 1612. registros do Conselho Indiginista Missionário estimam que, no esta-do, existiram 80 etnias, formando uma população de aproximada-mente 500 mil pessoas. hoje, são 27 mil divididos em oito povos, origi-nados de dois troncos linguísticos: tupi (Guajajara, Guajá e Caiapó) e Jê ( Gavião, Krikati, ramkokamekra –Canela- , Apaniekra –Canela- e timbira).

“A chegada de sertanejos ne-gros que vieram tangendo gado do Piauí, Pernambuco e Bahia para cá,

permitiu a união com os indígenas que viviam aqui, formando uma população afro–indígena no Sul do Maranhão”, explica a historiado-ra e pesquisadora da cultura afro-indígena de Imperatriz, Maristane Sousa.

EtniasGuajajara, Krikati e Gavião são

as etnias que ainda povoam a região tocantina, totalizando oito mil pes-soas. No século XIX, na região sul do Maranhão, foi destacada a pre-sença de 18 etnias indígenas: ama-najós, angetgês, apinagés, augutgês, canaquetgês, capiecrãs, gamelas, guajajara, macramecrãs (krahô),

noroagês, gaviões krikati, pone-cras, purecamecrãs, sacamecrãs, ta-camedus, xavantes e xerentes. Elas foram expulsas das terras pela ex-pansão pecuária, escravizadas e ex-tintas dessa região devido aos con-flitos entre índios e não índios.

Segundo o cadastro da Funda-ção Nacional do Índio (Funai) de Imperatriz, 58 indígenas moram aqui. Um total de 23 são estudan-tes, sendo desses oito da etnia ga-vião, sete Guajajara e oito krikati. Fazem parte desse cadastro aqueles que têm vínculo com órgão ou re-cebem algum benefício do governo, portanto, não há precisão de quan-tos residem na cidade.

A formação cultural indígena de Imperatriz é uma união de várias culturas aborígenes que ocuparam essa região. Cada povo com língua, artesanato, pintura, rituais, for-mando características próprias de-les, que, em contato uma com a ou-tra e com os não índios, formaram essa cultura na região tocantina.

“O que chamamos de forma-ção cultural indígena na região de Imperatriz não vem de uma matriz cultural, mas, sim, culturas de po-vos diferentes que se somam, dan-do um caráter plural a essa forma-ção cultural. O certo é chamarmos culturas indígenas”, afirma o antro-pólogo hemerson rubem.

A formação cultural indígena de Imperatriz não vem de uma matriz cultural, mas, sim, das culturas de populações diferenciadas

CLÉSIO MENDES

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EnTREvIsTAEscritor, vereador e jornalista Edmilson sanches

“Imperatriz é como são paulo da região”DIANA CArDOSOJULIANA GUIMArãES

A cultura brasileira é a miscigenação de todas as etnias que aqui passaram, pisaram e fizeram morada. Impera-triz também é desse povo que aqui se estabeleceu?

Sim, Imperatriz é uma espé-cie de São Paulo na pré-Amazônia maranhense. Para cá vieram pes-soas de todos os estados brasi-leiros e também imigrantes dos diversos continentes. Até 1959, essa cidade tinha menos de dez mil habitantes, mas depois, com a construção e inauguração da Br Belém-Brasília, vieram pessoas de todos os cantos e recantos do país e de diversas outras partes do mundo. hoje nós temos uma sociedade formada por diversas pessoas, que vão do mineiro ao japonês. Eu mesmo me pergunto onde sou filho de Caxias do Mara-nhão, terra de Gonçalves Dias, de Coelho Neto e tantas pessoas que se destacam na cultura em geral. Costumo dizer que tenho amor por Caxias, mas tenho paixão por Imperatriz.

Qual foi o meio comercial que fez Im-peratriz ganhar a categoria de polo? Qual foi o marco dessa consolidação no desenvolvimento de Imperatriz?

Sobretudo o comércio vare-jista, embora nós tenhamos nos destacado como um dos cinco maiores polos atacadistas do Bra-sil. Ao nível de grandes cidades como Uberlândia, em Minas Ge-rais. Mas, houve uma redução do comércio atacadista e o comércio varejista ainda subsiste de manei-ra forte, tanto que atrai a atenção de milhares de pessoas diariamen-te vindas do Sul do Pará, do Norte do tocantins, do Goiás e do Su-doeste do Maranhão. O comércio continua sendo uma representa-ção forte e, como ele é parte do setor de serviços, faz com que este setor em Imperatriz chegue a mais de um bilhão de reais na economia, que é o PIB da cidade. O comércio faz com que a saúde e a educação sejam os maiores seto-res que constituem a economia de Imperatriz.

Imperatriz, sendo vista como polo universitário, tem estrutura? Ou seja, campo de trabalho para todos os cur-sos aqui ofertados?

Não tem. Nós temos cerca de 70 cursos universitários em Impe-ratriz, do A de Administração ao Z de Zootecnia, envolvendo aí pelo menos perto de 20 mil estudantes universitários. Enfim, Imperatriz hoje tem cerca de 100 mil pessoas estudando em algum tipo de curso formal. Que vão da educação in-fantil até pós-graduação, incluin-do mestrados e alguns doutorados não presenciais, semipresenciais ou presenciais mesmo. Com cer-teza nós não temos emprego para todas as pessoas que aqui se for-mam. Nossa economia não é tão diversificada assim, é preciso que cada administração incorpo-re maneiras de ampliar isso para dar uma expectativa realista para

aqueles estudantes quando se for-marem. Não estamos formando só pessoas de Imperatriz, temos aqui milhares de estudantes de vários estados e municípios. Então não dá para nós suprirmos com em-pregos a todas as pessoas que aqui concluem seu curso superior.

Como você analisa a questão da iden-tidade cultural de Imperatriz?

No aspecto cultural Impera-triz não tem do que se envergo-nhar. Nós temos uma Academia de Letras com membros que têm uma formação consolidada. Uma produção literária e técnica de alto nível, assim como temos re-presentantes da cultura popular, desde a tradicional da dona Fran-cisca do Lindô e o Elias do Boi, os grupos de quadrilha junina, as associações dos artesãos, a Fun-dação Cultural. Nós temos uma identidade cultural.

Você afirmou que Imperatriz tem uma identidade cultural. Qual é a cara de Imperatriz?

É a cara do nosso país, que, no nível geral, recebeu pessoas de diversos lugares do mundo. Os habitantes do Brasil se cruzam a

cada estado. Nenhum estado aqui tem muros e as pessoas migram de um lado para o outro.

A miscigenação ameaça a cultura de Imperatriz?

Não, ao contrário: diversifica e a enriquece. Primeiro porque o contrário disso seria criar guetos culturais, o que não é bom em canto nenhum. Então não há jogo de pressão para que pessoas pos-sam participar deste ou daquele aspecto cultural, mas a própria sociedade, em seus fluxos dinâmi-

cos, vai envolvendo os cidadãos de maneira que um participa do que é próprio da cultura do ou-tro. Ou seja, desse produto vasto uma identidade que começa a se “Imperatricizensiar”, mas nunca deixa de ser brasileiro.

Essa miscigenação cultural também está na linguagem oral do impera-trizense? Imperatriz tem ou não tem sotaque?

Eu quero acreditar que possa haver palavras ou expressões que sejam próprias das pessoas que habitam o município. Em relação a sotaque, que é mais identificado como a maneira que se pronuncia e não o que se pronuncia, eu não vejo sotaque aqui. O r dos goia-nos que diz “guarda”. Eu não vejo aqui outros aspectos, a não ser por escolarização ou linguagem in-formal de pronúncia dos dígrafos nh, lh. A gente diz banho e só por comodismo dizemos “bain”. Não vejo sotaque, posso acreditar que haja jargão ou palavras próprias de Imperatriz, assim como tem no Piauí. O piauiense, em Minas Gerais, o mineiro, no Maranhão deve ter o “maranhês”. Imperatriz deve ter o “Imperês”, ou o “impe-

ratrizense”, o nome que quiserem dar. Aqui não se vê pronúncia de maneira cantada, como a gente vê no Sudeste e Sul do país.

Esse posicionamento geográfico, pri-vilegiado de Imperatriz, que liga as quatro grandes capitais, Palmas, Te-resina, Belém e São Luis, foi impor-tante para esse desenvolvimento da cidade?

Sim, porque essas capitais estão muito distantes de Impe-ratriz. Assim, a cidade se torna, em termos econômicos e de refe-rência, a capital para o conjunto dos municípios que ficam entre Imperatriz. Então podemos nos considerar, de maneira informal ou econômica, ou romântica tam-bém, uma espécie de capital do sul do Goiás, do norte do tocan-tins, do sul do Pará e do sudoeste do Maranhão.

Neste posicionamento geográfico Im-peratriz fica realmente no Norte ou Nordeste?

Nós estamos em uma zona de transição econômica e, geo-graficamente, na pré-Amazônia. Portanto nós somos, de maneira ambiental, norte, geograficamen-te e politicamente, nordeste. Per-tencemos à região Nordeste e são fortes as características do norte, que, aqui em Imperatriz, o gover-no reconhece como meio norte, que é a junção de Maranhão e Piauí.

A música diz que o rio Tocantins é o imperador de Imperatriz. Ele foi esse imperador no desenvolvimento de Im-peratriz?

Este é um recurso da liber-dade poética artística musical, dando uma espécie de marido a Imperatriz. Sem o rio tocantins provavelmente nossa cidade de-moraria muito a ser fundada. Por-que o rio tocantins tem mais de dois mil quilômetros, nasce com o nome de Maranhão, no Goiás e morre quando deságua em Be-lém. É um rio pelo qual veio o frei Manoel Procópio e sua comitiva. Parte da história de Imperatriz deve-se ao rio tocantins, sem fa-lar no transporte de alimentos e de outras coisas que vinham pelo rio, na ausência de muitas estra-das. Então Imperatriz tem o rio tocantins como, se não seu impe-rador, no mínimo como uma via que possibilitou a fundação dessa cidade .

Hoje, após todas essas transforma-ções na cidade, qual é a cara de Im-peratriz?

há uma cidade cosmopolita, cujo rosto é a soma dos diversos rostos que existem nela. É uma cidade nitidamente com a face ur-bana, já que tem 12 mil habitantes na zona rural e os outros 235 mil são urbanos. Imperatriz, apesar dos problemas, tem um rosto mais do Brasil do que do Maranhão, porque nós somos uma cidade ni-tidamente povoada por pessoas dos diversos estados brasileiros e países estrangeiros.

Edmilson Sanches é jornalista, escri-tor, professor, membro da Academia Impe-ratrizense de Letras e atualmente exerce o

mandato de vereador em Imperatriz. Licen-ciado em Letras e técnico em contabilidade, escreveu diversos livros nas áreas de comu-

nicação, administração e desenvolvimento, tendo atuado como palestrante e conferen-cista em diversos pontos do país. Em entre-

vista ao Arrocha, Edmilson Sanches aborda, entre outros assuntos, a questão polêmica da existência ou não da identidade cultural

na cidade, Imperatriz como local de atração de várias culturas e sua posição como polo comercial.

DIANA CARDOSO

“A miscigenação diversifica e enriquece

Imperatriz. Do contrário seria criar guetos

culturais, o que não é bom em canto nenhum”

Page 10: Jornal Arrocha 08

MArIANA DE SOUSA

-Na porta, uma inscrição: médi-

co. Mas quem atende lá dentro é a enfermeira Paola Letícia Damasce-no Brito Coelho, 28 anos. Os pacien-tes chegam, e ela, muito atenciosa, examina, encaminha-os para os mé-dicos e solicita exames.

há seis anos, desde quando ela

e o marido, que também é enfer-meiro e farmacêutico, resolveram vir morar em Imperatriz ouve mui-to a seguinte frase: “Não vai que lá é muito perigoso. É a cidade dos pistoleiros”.

Por questões políticas o casal teve de se mudar da cidade de ori-gem, Bacabal. E o destino escolhi-do? “Meu marido colocou na cabeça

que queria vir pra cá por que aqui era bom, que já tinha vindo aqui e gostado muito”. Mesmo com o medo da violência, não teve jeito, vieram os dois e a filha que estava para nascer. Pouco tempo depois foi aberto um concurso público municipal e os dois passaram. Essa foi a desculpa para ficarem de vez.

Paola não pretende ir embora

e, com os olhos marejados, declara: “Imperatriz foi um berço pra mim. Aqui que eu me identifiquei e fui valorizada como profissional”. Ela chegou deprimida, mas hoje é só sorrisos. Na Beira-rio, na romanos, no Boteco do Frei e por aí vai.

No posto de saúde onde tra-balha, PSF Santa Lúcia, não faltam elogios. Ela é tão querida que quan-do quiseram transferi-la para outro posto, os moradores do bairro fo-ram em um programa de tV e até fizeram abaixo-assinado para que isso não acontecesse. “Num tira a Paolinha não. As crianças tão tudo chorando querendo a Paolinha de volta”, conta, em meio a risos.

Já o professor doutor Adenilson Oliveira dos Santos nem sabia des-sa fama da “pistolagem” na cidade. Mas várias pessoas disseram para ele não vir, pois aqui era interior. Ele veio. O objetivo era simples: ajudar a desenvolver o curso que estava bem no início, engenharia de alimentos, no campus da UFMA.

Natural de Londrina no Paraná, ele tem pós-doutorado em Física e já morou em São Paulo, em Fortale-za e até na Inglaterra. Mas foi aqui que ele decidiu ficar. “Vi que aqui tinha infraestrutura, aeroporto, Universidade Federal, poderia me proporcionar uma boa qualidade de vida, daí decidi mudar”. A espo-sa, que também é pós-doutora em física e dá aulas de cálculo, assim como ele, no curso de engenharia, veio junto.

AlteraçõesSempre com um sorriso no

rosto, ele explica que desde que chegou há dois anos e meio, muita coisa mudou. Os cursos do cam-pus de Imperatriz evoluíram com os projetos de iniciação científi-ca, inclusive arrecadando cerca de três milhões de reais (só o curso de engenharia) para compra de equi-pamentos e melhorias do campus do Bom Jesus.

Ele já recebeu outras propos-tas de emprego, mas não aceitou. “Quero que aqui dê certo. Já recebi várias propostas, mas resolvi ficar aqui mesmo”.

Em meio a tantas perguntas e respostas, uma coisa chama a atenção: o sotaque. É diferente, o r é carregado. Ele esclareceu que não teve dificuldades, nem com a língua nem com a cultura impe-ratrizense, pois já morou no Nor-deste e estudou com pessoas dessa região.

Mas os alunos não perdoam. As brincadeiras são constantes em sala de aula, apesar de o professor considerar que o pessoal do rio Grande do Sul tem o r bem mais puxado.

O bom humor, o sorriso cons-tante e a disposição para ensinar são claramente visíveis. E os alu-nos, só elogios. “Ele é um ótimo professor. Nos incentiva e, quan-do temos alguma dúvida, ele está sempre pronto para esclarecer,” afirma o estudante Iago hudson.

SAFIrA PINhO

Imperatriz está em constan-te desenvolvimento econômico e a prova disso são os investimen-tos no município, como os novos shoppings, supermercados e na área da construção civil. Segundo a Junta Comercial do Estado do Maranhão - Imperatriz (Jucema), são 10.803 empresas registradas na cidade em diferentes ramos.

Muitos empreendedores es-tão aqui por mais tempo, como é o caso do empresário João Borges Lira, 43 anos, que chegou a Impe-ratriz com 14 anos. “Sou de origem humilde e vim para cá em busca de condição de vida razoável por meio de estudo e trabalho”. Ele é de Ananás (tO) e, antes de montar o GrupoLyra, no ramo de autope-ças, com seu irmão roberval Bor-ges Lira, já falecido, trabalhou na prefeitura, no escritório de contabilidade e em uma indústria gráfica. “Meu irmão tinha experi-ência no ramo, então nos unimos e abrimos a Motordiesel em 1995”. Ao todo são cinco lojas de autope-ças na cidade e uma em Marabá. todas as lojas têm a mesma ati-vidade, diferenciando-se nos seg-mentos de atuação.

A rede de autopeças tem 15 anos no mercado e atua nos es-tados do tocantins, Pará e em outros municípios do Maranhão. “Estamos bem posicionados no mercado, considerando o ponto de localização e a dinâmica flexível. O cliente vem aqui e facilitamos

todas as formas de pagamento”.Graças aos novos shoppings

chegaram novas franquias como o Giraffas, que já garantiu uma loja no tocantins Shopping e também deverá ter no Imperial Shopping. No Maranhão, ao todo, são qua-tro fast foods da mesma franquia, sendo três na capital e, agora, se instalou a primeira no interior do estado. “O Giraffas não é só hambúrguer, lanches, temos gre-

lhados, uma refeição completa com uma diferença mínima de um prato de panelada”, ressalta o pro-prietário, Joaquim Pontes Maria-no, 49 anos.

A expansão econômica na ci-dade acontece por Imperatriz ser um grande polo comercial, centro de abastecimento em toda região tocantina. “Qualquer investimen-to em Imperatriz faz sucesso”, en-fatiza Joaquim Mariano.

CArLA rEJANE DUtrA

“O que faz a cultura de Impera-triz é a miscigenação de povos, cada qual trazer, partilhar as suas raízes. Mas em Imperatriz existe sua espe-cificação”. É assim que a universitá-ria Bruna Ferreira define a cultura da cidade.

Em Imperatriz, o polo universi-tário tem crescido muito, e isso aju-da na atração de pessoas de outras cidades do Maranhão e de outros estados. São quatros instituições particulares e duas públicas, com o acréscimo do Instituto Federal do Maranhão (IFMA), que oferece o curso de Licenciatura em Física.

Bruna Ferreira é uma das mui-tas estudantes que optaram por fa-zer seu curso em Imperatriz. tem 23 anos, é natural da cidade de São Paulo, mas com cinco anos foi mo-rar em rondon do Pará, no Pará. há cinco anos veio para Imperatriz cur-sar história Licenciatura, na Uni-versidade Estadual do Maranhão (UEMA). Conclui seu curso este ano, já trabalha na área, e por enquanto não pensa em voltar para rondon. “Já criei um ciclo de amizade até grande, me adaptei, me acostumei com a cidade”, comenta entusias-mada.

Assim como Bruna, tiago Cruz, 23 anos, veio também de outro es-tado, de Juazeiro da Bahia e faz o 2° período de enfermagem, na Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Entrou na universidade por meio do Sistema de Seleção Unificada (SISU). Depois que termi-

nar o curso, pretende voltar para seu estado.

têm alguns hábitos de Im-peratriz com que ele ainda não conseguiu se acostumar, como a culinária, a música e a forma de falar. “Gostar, gostar, assim de Im-peratriz... Não me adaptei à cidade, questão de costume mesmo”, expli-ca, sorrindo.

IdentificaçãoO processo de adaptação, estar

em um lugar novo sem conhecer ninguém, não é fácil. Só depois de um longo período é que se afeiçoa às pessoas, aos hábitos e costumes.

Josiene Lima, 24 anos, estuda na Faculdade de Imperatriz (Fa-cimp), faz o 2° período de Enferma-gem, mora na cidade desde 2007 e veio de Pacajá, Pará. Antes, passou por outros municípios, mas foi de Imperatriz que mais gostou. Mas quando terminar o curso, promete voltar para perto da família. O na-morado é um dos fortes motivos que a levam à sua cidade.

A enfermeira Nereauite Corrêa, 25 anos, de Brejo Grande do Ara-guaia, Pará, formou-se em fevereiro de 2010, na Facimp. No momento está desempregada, mas nem por isso pretende deixar Imperatriz. “Como eu vim de uma cidade pe-quena, lá não poderia me oferecer muitas coisas. Aqui me possibilita crescer na minha área, eu não que-ro voltar para lá”. Durante esses seis anos na cidade, já conquistou mui-tos amigos e leva uma vida pratica-mente enraizada.

10 ArrochaJorn

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Ano II. númEro 8 ImPErATrIZ, novEmbro dE 2011

sERvIDOREscom o benefício da estabilidade, profissionais chegam a imperatriz muitas vezes com medo da fama de “pistolagem” e costumam ter uma grata surpresa

Concursos públicos atraem novos habitantes

Paola Damasceno é mais um exemplo de profissional que encontrou seu caminho vindo morar em Imperatriz: “Aqui eu me identifiquei e fui valorizada”

MARIANA DE SOUSA

Imperatriz: berço da economia tocantinaSAFIRA PINHO

Empresário João Borges Lira chegou a Imperatriz com 14 anos e hoje trabalha no ramo de autopeças

Universitários migrantes

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ADrIANE BArrEtO

Fim de tarde de um dia nublado com promessa de chuva no come-ço da noite. rodeado de cajueiros e árvores frondosas, esconde-se um casarão que é admirado por seu tamanho e pelos proprietários que tem. No interior, com seis quartos, duas salas, cozinha grande e área que se estende por mais de 14 me-tros, moram seu Francisco e dona Maria, conhecidos por todos no bairro em que vivem há mais de 50 anos.

Francisco de Jesus ou “Chico rebaceira” como é conhecido, 71 anos, é natural de Parrusul, Piauí. tem cabelos grisalhos, expressão forte e mãos calejadas que denun-ciam vários anos de trabalho na lavoura, de onde tira seu sustento até hoje. Lembra dos 30 dias no lombo de um jumento com sua fa-mília “procurando lugar melhor” até chegar a Imperatriz, no ano de 1958, com 18 de idade.

Morou em vários terrenos, que foram abandonados por achar que o progresso não chegaria tão cedo à região mesmo com a construção da Belém-Brasília. Conquistar seu pequeno pedaço de terra fora da cidade lhe trouxe muita alegria, que acabou se estendendo quando conheceu Maria.

EncantoMaria Olindina, 65, é natural

de Feira de Santana, Alagoas. More-

na de cabelos escuros e descenden-te de indígenas, encantou o jovem quando foi morar em frente à sua casa. “Encontrei o meu príncipe encantado e consegui os melhores presentes, meus oito filhos legíti-mos e mais dois que adotei”.

O pouco estudo de seu Fran-cisco o privou de ser um homem bem sucedido hoje, mas mesmo assim recebeu prêmios e medalhas como um dos fundadores do Sin-dicato de trabalhadores rurais de Imperatriz.

Desfez-se de metade de sua propriedade por uma carroça, pois era de grande utilidade na época. E hoje pode dizer que não se arre-pende de tudo que fez para criar dez filhos. Está muito satisfeito pela família que tem. Dona Maria ainda está na luta cotidiana, doen-te por causa de seu esforço e seu excesso de peso.

“Sou muito feliz e realizada com meus dez filhos, 29 netos e sete bisnetos apesar da dificuldade que passei” afirma, com lágrimas nos olhos e mãos trêmulas de emo-ção em falar de sua história.

Na casa mais à frente se encon-tra Gerusa Maria da Silva, 81 anos. Natural de Nazaré, Piauí, cabelos brancos, magra e fraca por ter per-dido seu Benedito, o homem de sua vida, e um dos filhos em menos de quatro meses. Chegou à cidade em 1972, pegando o último pedaço de terra doado pelo governo na época, adquirindo a quarta casa do bair-ro. “Não lembro muito bem, tinha

muito mato e areia”, interrompe, com lágrimas nos olhos lembrando que quase todo o bairro foi cons-truído pelo marido já falecido.

Segundo o IBGE, o Brasil tem

16,2 milhões de pessoas em extre-ma pobreza. O Maranhão é o Esta-do que tem a maior concentração de pessoas em condições extremas de pobreza. Da população de 6,5

milhões de habitantes, 1,7 milhão está abaixo da linha de miséria (ganham até r$ 70 por mês), isso representa 25,7% dos habitantes do estado.

MIKAELLE MArtINS

O que terá acontecido há 60 ou 70 anos em Imperatriz? Quem não gostaria de saber sobre as pri-meiras ruas, casas e as tradicio-nais famílias? Fatos do passado são conhecidos por poucos e, vez ou outra, despertam curiosidade até nos mais leigos, incitando a descoberta histórica de sua pró-pria cidade.

Em 1852, frei Manoel Procó-pio aportou na margem direita do rio tocantins e fundou o po-voado de Santa teresa. terra essa que atraiu olhares de diversas famílias, por conta da sua imen-sa riqueza natural. Foram muitas dessas famílias que contribuíram para a formação política, cultural e social da cidade.

Cortez Moreira, Milhomem e herênio são sobrenomes fortes em Imperatriz e carregam até hoje parte da bagagem histórica da ci-dade. “Meu avô, Coriolano Milho-mem e meu pai viram diante do rá-pido crescimento a necessidade de Imperatriz emancipar-se”, ressalta Lamartine Milhomem, 63 anos. Ele é filho de Gumercindo Milhomem, primeiro prefeito da cidade, que ajudou elevar a vila de Imperatriz à categoria de município.

PolíticaEm 1945, Simplício Moreira

foi eleito prefeito e lutou pelo progresso de sua terra. Construiu estradas e estimulou a educação, fundando a primeira escola públi-ca estadual de Imperatriz, a Go-vernador Archer.

Simplício deixou um discípu-lo e herdeiro, seu filho, renato

Cortez Moreira. Engajado, assu-miu o cargo de prefeito em 31 de janeiro de 1970 para um mandato de três anos. renato dedicou-se à educação e construiu 16 escolas municipais em Imperatriz e povo-ados. “Meu pai já enxergava que a educação era o alicerce para a for-

mação de uma sociedade”, revela o filho do ex-prefeito.

Na época, renato fundou o primeiro time de futebol, o renne. Proporcionou água, luz, construiu o aeroporto e importantes logra-douros como a avenida Bernardo Sayão. renato Cortez Moreira foi

assassinado, em 1993. hoje, La-martine Milhomem sente honra de ter contribuído para conduzir o município rumo a melhores con-dições de progresso econômico e social.

“Imperatriz hoje não é uma ci-dade, e sim uma explosão de pro-gresso. Eu só tenho o prazer de estar contribuindo e vivenciando todas essas épocas”.

memóriahildenê herênio, 75 anos, fi-

lha de Amélia herênio e Jonas ri-beiro, comenta que ouvia de seus pais histórias da construção da igreja de Santa teresa. “Eles di-ziam que os jovens faziam uma fila. Cada um pegava vários tijolos de barro. E foi assim que a igreji-nha foi construída”.

hildenê foi a segunda direto-ra da escola Governador Acher e ganhou do ministro da Educação, na época, Jarbas Passarinho, os primeiros instrumentos musicais da escola estadual para os desfiles de 7 de Setembro. “No dia que che-gou esses instrumentos, eu pulei de alegria de ver a criançada toda reunida batendo tambor”.

hildenê se considera filha de Imperatriz. “tenho orgulho de ter formado minha família e criado os meus seis filhos nesta terra que dei, de alguma forma, minha con-tribuição”.

11ArrochaJorn

al

Ano II. númEro 8 ImPErATrIZ, novEmbro dE 2011

TRADIçãOcortez Moreira, Milhomem e Herênio são sobrenomes fortes em imperatriz e carregam até hoje parte da bagagem histórica da formação cultural desta cidade

Contribuições dos antepassados famosos

Dona Hildenê Herênio se emociona ao recordar de sua família em velhas fotografias de estante: “Tenho orgulho de ter formado minha família nesta terra”

MIKAELLE MARtINS

Famílias humildes são importantes na história de uma cidade acolhedora

Desde 1958, Chico Rebaceira e Maria Olindina vivem em seu pequeno pedaço de terra no bairro que ajudaram a fundar: 10 filhos, 29 netos e sete bisnetos

ADRIANE BARREtO

Page 12: Jornal Arrocha 08

12 ArrochaJorn

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Ano II. númEro 8 ImPErATrIZ, novEmbro dE 2011

ALIMEnTAçãO“não tem nenhum prato que venda mais do que o outro, todos são vendidos da mesma maneira”, afirma a vendedora de tacacá Maria dos santos

Deliciosos pratos típicos têm vez na cidade

MAIELy CABrAL

Em Imperatriz existe uma grande variedade de alimentos trazidos de outras regiões do Bra-sil e do mundo. Da Bahia, o acara-jé e vatapá. Da região Norte, como Acre, roraima, Pará e outros, o ta-cacá. também se apreciam pratos de outros países, como o sushi, sashimi e o yakisoba, do Japão.

A vendedora Maria dos San-tos Lucena, 58 anos, trabalha há 25 vendendo tacacá, vatapá e aca-rajé. “Aprendi a preparar com a dona Eliza, que mora em uma rua estreita perto da Escola Santa te-

rezinha. Ela é uma pessoa muito especial pra mim”. Maria até ten-tou outras profissões nesse perí-odo. “Durante sete anos trabalhei como cabeleireira, mas tive pro-blemas com produtos químicos e acabei voltando a vender”.

Maria dos Santos diz ainda que os alimentos oriundos de ou-tras regiões que se instalaram em Imperatriz são bem aceitos. “Não tem nenhum prato que venda mais do que o outro, todos são vendi-dos da mesma maneira”. Atual-mente trabalha na avenida Beira-rio, mas quando há eventos como Natal e festejo de Nossa Senhora

de Fátima, se desloca para a Praça de Fátima.

Dona Maria de Fátima, 56 anos, trabalha há 15 com a ven-da dos mesmos produtos. “Morei no Pará com meu marido que era paraense e lá aprendi a fazer es-sas comidas”. No seu quiosque, o que mais vende é o tacacá, que custa seis reais, mesmo preço dos demais. Sua venda varia de 50 a 100 reais por noite e, em finais de semana, dona Maria chega a ganhar 300 reais. “tem época que as vendas não são muito boas, o tempo está chuvoso e dificulta as pessoas virem”.

PaneladaMesmo com a variedade de

comidas de outros lugares, um dos alimentos mais consumidos por imperatrizenses e visitantes é a famosa “panelada”, prato típico da cidade, que existe há cerca de 30 anos, encontrado em um dos pontos líderes de visitação: as Quatro Bocas, cruzamento da ave-nida Bernardo do Sayão com as ruas rio Grande do Norte e Ceará, no bairro Nova Imperatriz.

Maria rita de Sousa, 56 anos, natural da cidade de Brejo Parai-bano, veio para Imperatriz no ano de 1977. “Ao chegar na cidade tra-

balhei lavando roupas e na venda de chá-de-burro”. A família foi au-mentando e a renda de dona rita não estava suprindo as necessida-des. Começou, então, a trabalhar na venda de panelada, e continua há 13 anos. É o que sustenta sua família atualmente e não preten-de deixar a profissão tão cedo. “Estou doida pra ganhar uma casa de 10 metros de frente por 40 de fundo pra morar com minha famí-lia”. renata Soares Moreira con-clui: “A panelada é um dos pratos simples de se fazer e uma delícia, ótimo pra quem aprecia uma boa comida caseira”.

MAIELY CABRAL

Da Bahia, o imperatrizense adotou o vatapá. Em dias de mais movimento, comerciantes chegam a ter lucro de até 300 reais

MAIELY CABRAL

Vendedores dizem que é difícil indicar qual prato ‘importado’ pode ser considerado o mais querido dos moradores de Imperatriz

ESAú MOrAES

Quando se pergunta qual é a “cara” de Imperatriz, a resposta vem de supetão: aqui tem gente de todos os lugares desse Brasil.

E a arte local, que influência so-fre dessa mistura de regiões? A cul-tura de Imperatriz é, sim, marcada pela diversidade de manifestações artísticas. Como exemplo, as qua-drilhas dos vizinhos nordestinos e até o Lindô, trazido pelos coloniza-dores do país.

Lindô É em sua casa, numa conversa

muito receptiva, que Maria Fran-cisca Pereira da Silva, 67, nos conta a história do Lindô. Esse estilo de dança chegou, primeiramente, em Caxias (MA), junto com dois irmãos portugueses, no ano de 1722. Eles ensinaram à população o que, na Europa, recebia o nome de Lindo.

“O Lindô, como ficou conheci-do no Brasil, é uma dança de roda. Eu aprendi com a minha família, aos cinco anos, e, já ‘mulher’, vim para Imperatriz e ensinei aos meus filhos”, explica dona Maria do Lin-dô, como é chamada. Ela conta que veio para a cidade aos 34 anos e co-meçou as primeiras rodas no bairro Santa Inês, onde mora até hoje.

A Praça da Cultura e a Beira rio

foram os principais cenários desse espetáculo popular. “No começo, alguns tinham preconceito, diziam que era macumba. Mas, no geral, as pessoas gostavam, porque também queriam brincar”.

Em 2001, dona Maria recebeu a Comenda Frei Manuel Procópio, dada às personalidades que ajuda-ram no desenvolvimento de Impera-triz. Por causa de problemas de saú-

de, ela está um pouco afastada das apresentações, mas ainda compõe as músicas, baseada no que apren-deu em Caxias.

QuadrilhasImperatriz também possui ou-

tro patrimônio cultural vindo de fora. As quadrilhas, herança de For-

taleza (CE), já fazem parte dos feste-jos juninos. Segundo thaisia rocha, 20, integrante da quadrilha Arrasta Pé, os primeiros grupos foram tra-zidos por cearenses, cerca de duas décadas atrás.

A estudante lembra que seus pais já dançavam a quadrilha quan-do ela, aos 11 anos, começou a dar os primeiros passos na dança. A princípio, essa manifestação servia apenas para animar festas, como ca-samentos. Mais tarde, os grupos tra-dicionais se reuniram e formaram a Liga Imperatrizense de Quadrilhas. “A Liga ainda não é oficial. Por isso, a gente se une e, de forma amadora, realiza os eventos”, explica thaisia.

Juntas, quadrilhas como Suva-co de Cobra, Zé Comeu e Arrasta Pé organizam disputas para escolher as melhores equipes. Os vencedores vão para as competições: regional e, depois, nacional. “Vem gente de todo lugar do país. Você interage com outras pessoas e aprende mui-ta coisa”.

O antropólogo Emerson ru-bens acredita que essas contribui-ções artísticas não significam déficit para a cultura local. “Quando uma cultura se encontra com outra, ne-nhuma perde, pelo contrário, elas se somam”. Para dona Maria e thaisia, o Lindô e a quadrilha já são a “cara” de Imperatriz.

Lindô e quadrilhas já ganham marca local

Maria Francisca defende há anos a dança do Lindô, que já virou uma manifestação típica na cidade

MARIA JOSÉ

“No começo as pessoas tinham preconceito com

a dança do Lindô, diziam que era macumba. Mas

no geral, as pessoas gostavam, porque também

queriam brincar”