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ESTRADA DE S. MAMEDE, 1 — 2705-637 S. JOÃO DAS LAMPAS • PUBLICAÇÃO PERIÓDICA BIMENSAL • ANO II • SETEMBRO DE 2006 • DISTRIBUIÇÃO GRATUITA 06 Editorial prio. No regresso, as consequências manifestam-se na predis- posição, que de maneiras diferentes abraça a todos e reflecte- -se nas atitudes. Os últimos dois meses de actividade da Associação incidi- ram na preparação, realização e no chamado folow up de dois encontros internacionais (na Grécia sobre energias renováveis e na Sérvia sobre os jovens e os media). Segue-se o trabalho de aplicar os conhecimentos adquiridos à realidade local. Durante este ano, queremos sensibilizar todos para os temas abordados nestes encontros procurando entusiasticamente transmitir-vos as preocupações que nos levaram a participar nestes eventos. Como última nota a 3pontos gostaria de agradecer ao Uto- pia Teatro pela agradável participação na última Feira do 31, em Fontanelas, com o espectáculo «O Espírito da Lua». Muito obrigado! ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS Com este primeiro artigo inauguramos uma série que resulta da participação da 3pontos no intercâmbio, realizado na Grécia, no passado mês de Agosto, subordinado ao tema «Re-Turn to the Renewable Energy Sources», onde os representantes dos países participantes tiveram a oportunidade de apresentar a situação real de várias fontes de energia renováveis no próprio país. (A ler nas páginas centrais) Para uns o mês de Setembro inicia um novo ano lectivo para outros um novo ciclo de projectos. Este reinício tem duas formas de abordar: uma com a força e motivação com que se inicia um novo percurso outra com a passividade, agressiva e consciente, resultado da ressaca do período de férias. Nesse sentido e uma vez que a edição do Contrapontos depende, obviamente e felizmente, da participação de voluntariosos e fiéis colaboradores, desde já pedimos a vossa compreensão pelo atraso na publicação do sexto número do jornal. «Uma vez li num livro ‘viajar cura a melancolia’» frase transcrita de um livro, que por sua vez será a transcrição de um outro. Não poderemos afirmar a veracidade do comentário mas, tendo em conta as actividades desenvolvidas durante o «verão 3pontos», o entusiasmo ou a motivação geral são uma reacção de experiências de viagens, de confrontos com outras culturas e do encontro do homem com a terra e consigo pró- Foto Nuno Jorge

Jornal contrapontos

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Jornal de expressão livre e criativa, tem como temas dominantes a Arte, o Ambiente e a Cultura. Visa dar voz à sociedade civil sintrense e não só, através de textos, fotografias, desenhos, etc. Este projecto corresponde a um núcleo de trabalho da Associação 3pontos

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ESTRADA DE S. MAMEDE, 1 — 2705-637 S. JOÃO DAS LAMPAS • PUBLICAÇÃO PERIÓDICA BIMENSAL • ANO II • SETEMBRO DE 2006 • DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

06Editorial

prio. No regresso, as consequências manifestam-se na predis-posição, que de maneiras diferentes abraça a todos e reflecte--se nas atitudes.

Os últimos dois meses de actividade da Associação incidi-ram na preparação, realização e no chamado folow up de doisencontros internacionais (na Grécia sobre energias renováveise na Sérvia sobre os jovens e os media). Segue-se o trabalhode aplicar os conhecimentos adquiridos à realidade local.Durante este ano, queremos sensibilizar todos para os temasabordados nestes encontros procurando entusiasticamentetransmitir-vos as preocupações que nos levaram a participarnestes eventos.

Como última nota a 3pontos gostaria de agradecer ao Uto-pia Teatro pela agradável participação na última Feira do 31,em Fontanelas, com o espectáculo «O Espírito da Lua».

Muito obrigado!

ALTERAÇÕES CLIMÁTICASCom este primeiro artigo inauguramos uma série que resultada participação da 3pontos no intercâmbio, realizado na Grécia,no passado mês de Agosto, subordinado ao tema «Re-Turn to theRenewable Energy Sources», onde os representantes dos paísesparticipantes tiveram a oportunidade de apresentar a situação realde várias fontes de energia renováveis no próprio país.

(A ler nas páginas centrais)

Para uns o mês de Setembro inicia um novo ano lectivopara outros um novo ciclo de projectos. Este reinício tem duasformas de abordar: uma com a força e motivação com que seinicia um novo percurso outra com a passividade, agressiva econsciente, resultado da ressaca do período de férias. Nessesentido e uma vez que a edição do Contrapontos depende,obviamente e felizmente, da participação de voluntariosos efiéis colaboradores, desde já pedimos a vossa compreensãopelo atraso na publicação do sexto número do jornal.

«Uma vez li num livro ‘viajar cura a melancolia’» frasetranscrita de um livro, que por sua vez será a transcrição de umoutro. Não poderemos afirmar a veracidade do comentáriomas, tendo em conta as actividades desenvolvidas durante o«verão 3pontos», o entusiasmo ou a motivação geral são umareacção de experiências de viagens, de confrontos com outrasculturas e do encontro do homem com a terra e consigo pró-

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Agenda

Estrada de S. Mamede, 1 — 2705-637 S. João das LampasTelefone: 96 805 79 85; e-mail: [email protected]

Publicação periódica bimensal • Ano II • Setembro de 2006 • N.o 6 • Distribuição gratuitaColaboram neste número: Ana Valentim, Ângela Antunes, Fernanda Botelho, Fernando Cer-queira, Isabel Marques, José Manuel Silva, Marco Cosme, Marta Rêgo, Nuno Jorge, PedroMonteiro, Rita Bicho, Verónica SousaGrafismo: Luís BordaloComposição e paginação: Alfanumérico, Lda.Impressão e acabamento: Gráfica Manuel Barbosa & Filhos, Lda.Tiragem: 1000 exemplaresDepósito legal n.o 233 880/05

Contrapontos destina-se a dar eco das opiniões dos sócios e não sócios, da Associação 3pontos— ambiente, arte, cultura, sendo uma tribuna de livre opinião e um espaço aberto a todos.Os artigos publicados responsabilizam unicamente o seu autor.

Espaço Cultural Casal de S. DomingosRua Dr. Alfredo Costa, 392710-524 Sintra.Horário: Das 9 horas às 12:30 h e entre as14 horas e as 17:30 hEncerra aos domingos e feriadosInformações: 21 924 04 11Exposição de Pintura «Percursos», de SilvinaLynce, entre 16 Setembro e 14 Outubro. Nor/c e 1.o andar.

POESIA

Os Meninos d’AvóIndomáveis patifes da palavra, traficantes deideias, contrabandistas de sentimentos, reú-nem-se, todas as 1.as e 3.as quartas-feiras decada mês, no restaurante Regalo da Gula, naQuinta da Regaleira, Rua Barbosa do Bocage,n.o 5, Sintra.

FEIRAS

I Encontro Alternativas de SintraEntre 29 de Setembro e 1 de Outubro, nosJardins da Biblioteca Municipal de Sintra —Casa ManteroInformações: 21 923 61 90R. Gomes de Amorim, n.o 12/142710-569 Sintra

Feira do 31 (organização 3pontos)Periodicidade: todos os primeiros sábadosde cada mês com 31 dias, a partir das9 horas, no Largo do Coreto, em Fontanelas

Feira ao LargoPeriodicidade: último Sábado de cada mês,entre as 9 e as 18 horas, no Largo da IgrejaMatriz de Colares

Mercado Brocante de SintraPeriodicidade: 1.o e 3.o sábado do mês, entreas 10 e as 19 horas, na Alameda dos Comba-tentes da Grande GuerraAlfarrabistas, antiguidades, artesanato evelharias

Feira de S. Pedro de PenaferrimPeriodicidade: 2.o e 4.o domingos do mês,entre as 9 e as 18 horas, Largo D. Fernando II,S. Pedro de PenaferrimNesta feira poderá agora encontrar a «ZonaBio». Um espaço destinado à agricultura eprodutos biológicos, onde está garantida afrescura dos produtos e a qualidade dos ali-mentos, a preços convidativos

Feira de AlmoçagemePeriodicidade: 3.o domingo do mês, das 8 às13 horas, no Largo Comendador Gomes daSilva

Feira de S. João das LampasPeriodicidade: 1.o domingo do mês, entre as8 e as 19 horas, no Largo da Feira de S. Joãodas Lampas.

MÚSICA

Kumpa’nia Al-GazarraConcertos agendados:7 Outubro, Lisboa, Maxime (c/ Cartel70)

Casino do EstorilConcertos com entrada livre, às quintas, pelas23:30 h.Informações: 21 466 77 00www.casino-estoril.ptSetembro: dia 28, The GiftOutubro: dia 5, Luís Represasdia 12, Santos & Pecadores

DANÇA & CIRCO

Centro Cultural Olga do CadavalHorário: Terça a sexta-feira, das 14 às 18horas e das 14 às 18 horas aos sábados; Diasde espectáculo: uma hora antes do seu inícioInformações: 21 910 71 10/18;www.ccolgacadaval.pt

Espectáculo «Dois», pela Companhia RuiLopes GraçaDia 29, Auditório Jorge Sampaio, às 22horas. Preço: entre 10 e 15 euros

TEATRO

Utopia Teatro/ByfurcaçãoEspectáculo de Teatro de Rua «O Espírito daLua — estórias com sabor a queijadas deSintra!».Entrada gratuitaInformações: 21 242 31 788 a 24 de Setembro, Sextas, Sábados eDomingos, às 22 horas, no Largo do Palácioda Vila de Sintra30 de Setembro, 22 horas, Largo da IgrejaMatriz de Colares

Chão de Oliva — Centro de Difusão Cul-tural em SintraEspectáculo «Casa de Boneca», a partir deOutubroInformações: 21 923 37 [email protected]. Veiga da Cunha, n.o 20, 2710-627 Sintra

AR LIVRE

Parque da LiberdadeVolta do Duche, 2710-501 SintraHorário: Entre as 9 e as 19 horasInformações: 21 923 88 11Até 30 de Setembro «A Patinagem está deRegresso ao Parque da Liberdade», aos sába-dos domingos e feriados, entre as 11 e as 18horas, no Ringue do Parque da Liberdade.Apoio e orientação de um monitor da OKMania — Escola de Patinagem. Preço: 1,50euros/hora (inclui: patins em linha, capacetee touca descartável)

Passeios e Companhia, Turismo emEspaço RuralInformações: 96 808 45 84/91 927 42 21«Passeio Astronómico». No dia 30 de Setem-bro, ao final da tarde, alguns astrónomoslevam-no a descobrir mais sobre os astros e ocosmos. Preço: 15 euros

EXPOSIÇÕES

Quinta da Regaleira«Luigi Manini — Imaginário e Método»Até OutubroEsta exposição reúne centenas de reprodu-ções de projectos do arquitecto e cenógrafoitaliano Luigi Manini, que veio para Portugalem 1876 para trabalhar no Teatro de SãoCarlos e projectou edifícios como a Quintada Regaleira, em Sintra, e o Palácio Hotel doBuçaco. Manini foi ainda responsável peloTeatro Scala de MilãoTel. 21 910 66 50Horário: aberto todos os dias das 10:00 h às18:30 hÚltima entrada às 18:00 h

Galeria Municipal de SintraPraça da República, 232710-616 SintraHorário: De terça a sexta, das 9 às 12 horase das 14 às 18 horas; sábados, domingos eferiados, entre as 14:30 h e as 19 horas.Informações: 21 923 87 28.Exposição de Pintura «Percursos e Sensa-ções», de Ana Carrasqueiro, entre 23 Setem-bro e 11 Outubro.

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O prazer de existir e a consciência de serconduzem frequentemente a ocasos/coinci-dências...

Maio de 2006, comemoração dos 150anos do nascimento de Sigmund Freud(Morávia, 1856-2006).

Elogio da metapsicologia psicanalítica.Húmus para outros génios, seguidores,

desertores e por vezes detractores domédico austríaco.

Entre eles... Carl Gustav Jung (Kesswil1875-1961)

Teoria do inconsciente colectivo.Fnac, Lisboa. 2006O acaso descobre.Livro cuja capa, desenhada, mostra

mulheres de longos cabelos, acocoradascomo se em cima de vassouras, a voarentre troncos densos e lobos negros acaminhar com elas.

Título: Mulheres Que Correm com osLobos de Clarissa Pinkola Estés, editoraRocco — Temas e Debates, 2004.

Abre-se o livro e folheia-se as primei-ras páginas, na introdução, lê-se:

«A fauna silvestre e a Mulher Selva-gem são espécies em risco de extinção.

Observamos, ao longo dos séculos, apilhagem, a redução do espaço e o esmaga-mento da natureza instintiva feminina.

Durante longos períodos, ela foi mal gerida,à semelhança da fauna silvestre e das flores-tas virgens (...) As terras espirituais daMulher Selvagem, com os seus refúgiosdestruídos e os seus ciclos naturais transfor-mados à força, em ritmos artificiais paraagradar os outros (...) os lobos saudáveis eas mulheres saudáveis têm certas caracterís-ticas psíquicas em comum: percepção agu-çada, espírito brincalhão e uma elevadacapacidade para a devoção. Os lobos e asmulheres são gregários por natureza, curio-sos, dotados de grande resistência e força.São profundamente intuitivos e têm grandepreocupação para com os filhotes, seu par-ceiro e matilha. Têm experiência em seadaptar a circunstâncias em constante muta-ção. Têm uma determinação feroz eextrema coragem (...)».

A autora desenvolve o conceito doarquétipo da Mulher Selvagem.

Propõe como causa dos sintomas de«vazio, fadiga, medo, depressão, bloqueioe falta de criatividade» a domesticação damulher pela actual sociedade industrializa-da e asséptica.

Através da análise de dezanove lendase histórias antigas como as de Barba Azul,O Patinho Feio, ou Sapatinhos Vermelhos,conduz-nos ao conceito da Mulher Selva-

gem — ou, da essência feminina e da psi-que instintiva profunda, presente em todosnós. Mas atordoada pelos i-pods!

A 7 de Setembro de 2006, lua cheia,sobre o céu de Lisboa.

E coincidência, a Associação 3pontos— ambiente, arte e cultura. Convida.

Serendipidade: Palavra criada porHorácio Walpole em 1754.

Inspirada no conto «Os três Príncipesde Serendip».

Traduz a faculdade de se descobrir algosem, conscientemente, se estar à procura.

MARTA RÊGO

SERENDIPIDADE

I Encontro de Alternativas em Sintra

LIVROS E LEITURAS

mente ao estilo de vida quotidiano conven-cional. Actualmente, as diversas formas deestar na sociedade são cada vez maispadronizadas por princípios muito poucoquestionados, que seguem muitas vezesuma filosofia de vida demasiado circuns-crita e que se esgota em objectivos pura-mente consumistas. É por isso importantea valorização de alternativas para estaforma de estar, para assim permitir umaescolha consciente baseada num conheci-mento critico.

Na banca da 3pontos, poderão encon-trar, em primeiro lugar,informações sobre a Asso-ciação, suas actividades eeventos, mas também, deuma forma geral, sobre aimportância do papel doassociativismo na promoçãodo desenvolvimento. Pro-curaremos também informar

e sensibilizar sobre a utilização de energiasrenováveis, um tema ambiental pelo qual aassociação se tem debatido, bem comodivulgar o conceito de consumo crítico.

Como quem promove deve, antes demais, saber dar o exemplo, a banca da3pontos irá contar com uma decoraçãobaseada na reutilização de materiais. Paraque isto aconteça, apenas será necessárioum pouco de imaginação e dedicação.

O horário do encontro será o seguinte:Sexta-feira, dia 29 15:00h-24:00hSábado, dia 30 10:00h-24:00hDomingo, dia 1 10:00h-22:00hAparece e participa neste evento!

A 3pontos vai participar nos próximosdias 29, 30 de Setembro e 1 de Outubro,no 1.o encontro de alternativas em Sintra,no jardim da Biblioteca Municipal, CasaMantero, junto ao Jardim da Correnteza.Este é um evento organização pela«Voando em Cynthia», com o apoio daCâmara Municipal, e irá contar com activi-dades nas seguintes áreas:

• Música, teatro, animação e poesia;• artesanato e ateliers;• terapias alternativas e práticas de

desenvolvimento humano;• palestras e exposições;• produtos biológicos e cozinha vege-

tariana;• homenagem e celebração do Cente-

nário do nascimento do ProfessorAgostinho da Silva.

O propósito da 3pontos neste encontrode alternativas é demonstrar às pessoas quepoderão existir outras opções relativa-

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O significado da palavra saloio foiassim estabelecido pelo sábio arabistaProf. David Lopes em 1917. Esta definiçãocontinua a ser aceite e pode ser conside-rada como algo estabelecido.

Na segunda metade do século XIX e iní-cios do século XX, o saloio era visto como«o agricultor do termo de Lisboa, que traza vender os frutos e pão à cidade».

Se a palavra saloio deriva de um termoárabe, é natural que a sua raiz provenha depessoas que falavam essa língua, fossemos invasores muçulmanos ou seus descen-dentes, fossem peninsulares islâmicos.

Alguns investigadores defendem que apalavra saloio provém dos Mouros queD. Afonso Henriques, após a conquista deLisboa (1147), deixou ficar em seus luga-res e fazendas, mediante certo tributo quelhe pagariam (Mouros forros).

No entanto, nos arredores de Lisboanão havia apenas Mouros, mas tambémCristãos (Moçárabes), que constituíam apopulação nativa. Se saloio é o habitantedo campo que contrasta com o da cidade,saloios deveriam ser todos aqueles queviviam no campo nos arredores da cidade,ainda no decurso do período muçulmano.

Também parece pouco provável que,depois da reconquista definitiva de Lisboapelos cristãos, eapós os muçulma-nos terem sidomortos ou, namaior parte, expul-sos de Lisboa,tivesse surgidoaqui um termo deorigem árabe. E atéobserva Herculanoque, quanto àpopulação dacidade e arredores,depois da recon-quista, o elementocristão absorveuem si o mourisco.

Tendo porbase estes argu-mentos, outros

investigadores defendem que o termosurge obviamente depois da invasão islâ-mica, mas numa fase anterior à reconquistaCristã, em 1147.

O cruzado e autor da narrativa da con-quista de Lisboa em 1147 testemunhou oseguinte: «Ao tempo que a ela [Lisboa]chegamos era o mais opulento centrocomercial de toda a África e duma grandeparte da Europa (...) À nossa chegada tinhaa cidade sessenta mil famílias que paga-vam tributos (...) teve esta cidade centoe cinquenta e quatro mil homens (...)A causa de tamanha aglomeração dehomens era que não havia entre elesnenhuma religião obrigatória; e como cadaqual tinha a religião que queria, por isso detodas as partes do mundo os homens maisdepravados acorriam aqui».

Esta narrativa também se refere aosarredores da cidade: «Os seus terrenos,bem como os campos adjacentes, podemcomparar-se aos melhores, e a nenhum sãoinferiores, pela abundância de solo fértil,quer se atenda à produtividade das árvores,quer à das vinhas (...) Nada há nela incultoou estéril; antes, os seus campos são bonspara toda a cultura».

Sendo Lisboa uma cidade populosa etendo em seu redor campos tão férteis,

aptos para as culturas, nomeadamentehortícolas, parece inevitável terem-se tor-nado a principal fonte de abastecimentodos lisboetas dando origem a intensa acti-vidade agrícola nos campos dos arredores,cuja população seria, predominantemente,constituída por agricultores.

Logo, por um lado teríamos a popula-ção de Lisboa, de uma cidade onde abun-davam os comerciantes e, como o comér-cio se fazia em grande parte pelo mar,muitos barcos convergiam para o seuporto. À cidade afluiam gentes vindas deoutras terras e os seus habitantes teriamcom eles contacto, convívio. Nos arredo-res, pelo contrário, existia uma populaçãode agricultores, ligada ao cultivo da terra, àprodução dos alimentos para trazer paraLisboa, portanto uma população muitofechada, sem horizontes.

Tudo indica, pois, ter-se desenvolvidoao longo do período muçulmano umaacentuada diferença entre os habitantes deLisboa e dos arredores, existindo noentanto entre eles um frequente contacto,pois eram os próprios agricultores quevinham à cidade vender os seus produtos.

Este contraste entre o habitante dacidade e o do campo, entre comerciantes,marítimos, funcionários, população cosmo-

polita com contac-tos frequentes comoutros povos, eos agricultores, deperspectivas limi-tadas representauma dicotomiade carácter social,económico e segu-ramente cultural.

Após 1147 oscontrates agra-varam-se. Apósa expulsão dosmouros para osarredores, Lisboapassou a ser umacidade cristã. Poroutro lado, a fortedensidade de popu-

[...] de origem árabe, significa habitante do campo, em oposição ao da cidade; apelidação, pois,de desdém com que a gente polida da cidade designava a população inculta dos campos,campónio, enfim.

SALOIO, ORIGEM E SIGNIFICADO

ESTÓRIA DA HISTÓRIA

Page 5: Jornal contrapontos

lação mourisca que passa a viver nos arre-dores estabelece um forte factor de diferen-ciação. Os mouros, para além da religião,tinham os costumes e a forma de vivermuçulmana, visíveis nas suas praticas querreligiosas quer pagãs.

A todas estas diferenças se deve a ori-gem do termo saloio.

Considera-se então ser o termo saloiouma designação (alcunha) que os citadinosde Lisboa deram aos habitantes do campoque abasteciam a cidade de produtos fres-cos e também interiorizada aolongo dos tempos pelos pró-prios camponeses.

A questão da proximidade edo contacto directo com os lis-boetas é também consideradacomo fundamental para o apare-cimento do termo saloio.

Apesar de objecto de diver-sas discussões ao longo da His-tória, as zonas a considerarcomo saloias foram tambémestabelecidas e são geralmenteaceites, tanto pelos actuaisinvestigadores como pelos pró-prios habitantes. Hoje denomi-namos em diversas circunstân-cias como Região Saloia.

Considera-se que a regiãodos saloios foi dilatando paranorte (oeste), não ultrapassandoo Tejo para Sul. Os habitantes damargem sul eram também agri-cultores como os saloios, masestavam separados de Lisboapelo amplo estuário, o que osimpedia de abastecer directa-mente a cidade com os seus produtos. Alémde pouco significativos, os abastecimentoseram feitos por intermédio de tripulantesque os deixavam no cais. Os camponeses damargem sul não vinham portanto à cidadevender os seus produtos, tendo permanecidodespercebidos aos lisboetas que assim nãoos identificava com a figura de campónioque tinham dos saloios.

Ainda que integrada em zona saloia,também não se consideravam saloios oshabitantes da Ericeira (a estes chamava-sejagozes). Considera-se que esta situação éresultado de ser a Ericeira uma vilapiscatória e não agrícola – terra de gentedo mar e não de campónios.

A visão que o citadino tinha do saloioé aparentemente depreciativa, conside-rando-os campónios com horizontes limi-tados, incultos, de rudes modos e costu-mes. O termo saloio era geralmentepejorativo quando se referia aos campone-ses. Por outro lado, quando o termo era

empregue aos seus produtos tinha um sen-tido valorativo, que indicava uma melhorqualidade. De facto, ainda nos nossos diasse utiliza o adjectivo saloio para valorizaralguns produtos (exemplo: pão e queijosaloio).

A economia saloia baseava-se na vendade produtos frescos (pão, manteiga, queijo,legumes, fruta) e do vinho (Colares,Bucelas), mas os saloios eram tambémprestadores de serviços. Como exemplotemos as lavadeiras de roupa e os antigos

intermediários entre a cidade e o campo —transportadores como carreiros, estafetas,almocreves, bufarinheiros.

Quando a vida citadina começou arevelar os efeitos negativos, sejam elesdecorrentes da poluição, da difusão de epi-demias ou da vida frenética, os saloiosconstituíram o refúgio para a cura de certos

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União Recreativa e DesportivaFontanelas e Gouveia

males ou como retiro da vida quotidiana dacidade.

O ar puro, a água límpida e leve, acomida fresca da região saloia eram tam-bém bens procurados e apreciados pelacasa real, pelos nobres e pela burguesia lis-boeta. Os palácios e as quintas da regiãosão exemplo desses refúgios.

O termo saloio não teve origem numapolítica, numa raça ou religião, nem tãopouco resultou de qualquer divisão regional(administrativa, judicial, militar, etc.).

Saloio não passa original-mente de uma alcunha, criadapelos árabes e depois adoptadapelos cristãos, para os campo-neses que vendiam em Lisboa eque muito contrastavam com oscitadinos.

O termo saloio se distinguiusobretudo por aspectos deordem económica e sociocultu-ral, que acabaram por definir eisolar um quadro humano local,pelos seus hábitos e costumes.

Ainda com as suas raízesvisíveis aos nossos olhos, otermo saloio chegou até aosnossos dias para ser usado talcomo na sua origem (com ver-tente valorativa e pejorativa).Dele surgiu o nome de umaregião. Dele surgiu a marca deprodutos agrícolas, que conti-nuam a significar qualidadesuperior. Mas hoje existemnovos produtos e serviços pro-curados junto dos saloios: opovo que se dizia inculto vê

agora a sua própria cultura como um pro-duto muito apreciado (turismo rural, fol-clore, artesanato, habitações de arquitec-tura saloia, etc.).

Saloios é agora mais que uma alcunha,é uma designação étnico geográfica.

ANA VALENTIM

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Somos um país pobre e, no entanto,gastamos muito e mal. Somos também umpovo de brandos costumes, diz-se, por issoé que perante iniquidades, abusos, gerên-cias danosas, irresponsabilidades várias,etc., etc., a nossa resposta é sempre amesma: resmungamos, dizemos mal e...com um pouco mais de mágoa, um poucomais de desânimo, continuamos até aofutebolês ou a outro qualquer aconteci-mento que venha a seguir, brilhantementeimpingido («perdoai-lhes, Senhor, porqueeles sabem o que fazem» — Sophia deM. B. Andresen). Seguimos alegrementeem frente e NUNCA ninguém presta res-ponsabilidades a ninguém!

Já um grande cantor português o disse:«A culpa é de todos,/ A culpa não é de nin-guém/ Quer-se dizer,/ A culpa é de todos nogeral,/ A culpa não é de ninguém em parti-cular.» José Mário Branco in F.M.I.

Mas isso são outras músicas.Ora, na primeira metade do século pas-

sado, uma ilustre família de Colares quepôs o seu empenho e fortuna ao serviço daterra e do seu desenvolvimento, exemplode postura cívica e de generosidade, dei-xou valiosos bens para serem postos aoserviço da comunidade. Falamos domédico António Brandão de Vasconcelos,também fundador da Adega Cooperativa

de Colares, e de sua esposa, quedeixaram, em testamento aoEstado, entre outros bens, aQuinta da Sarrazola, para: «(...)ouvido o Sindicato Agrícola,em memória de sua filha, AldaB. Vasconcelos, que muito hon-rou e amou a sua terra, ser ins-tituída uma Escola MénagèreAgrícola, ou uma Escola dePomicultura, nas quais teriampreferência as alunas e alunosda região de Colares e a queseria dado o nome de sua filha.Mais dispôs que, se dentro dequatro anos não estiver apli-cada a Quinta da Sarrazola aofim acima descrito, ou, emqualquer época sejam desvia-dos do destino marcado, todosesses bens passarão para aMisericórdia de Sintra para,com o seu produto, construirum pavilhão ou dependência hospitalar aque será dado o nome de sua filha Alda.(...)» excerto do testamento de D. Rufinade Vasconcelos que, confirma o dispostopor seu marido, falecido vinte anos antes.

E, na acta da Reunião Ordinária daCâmara Municipal de Sintra realizada a25 de Novembro de 1954, lê-se: «(...) che-

gou a ocasião de o Estado entrar na possedos bens (...) conviria que o beneficiáriodeclarasse as suas intenções para, no casode renunciar à herança, o faça, entrando,desde já, a Misericórdia de Sintra nopleno uso dos referidos bens. Assim, aCâmara, sem tomar qualquer posição noassunto, entende do seu dever e assim o

ESTÓRIA DA HISTÓRIA

SARRAZOLAEm memória do Dr. Brandão Vasconcelos e sua famíliaou de como é curta a memória dos políticose grande a sua incúria...

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deliberou por unanimidade de votos, quese oficie à Direcção-Geral da FazendaPública (...) solicitando que o Estado defi-na, com a possível urgência, a sua posiçãono sentido de dar execução à vontade dotestador. (...)»

Efectivamente, até finais de 1960 a von-tade do testador foi cumprida, ali tendo fun-cionado um Curso de Extensão AgrícolaFamiliar, onde os jovens aprendiam técni-cas agrícolas, puericultura, artesanato, culi-nária e costura, após o que ficaram as insta-lações votadas ao abandono até que, em1975, um grupo de cidadãos da freguesiaconsegue, por protocolo entre os Ministé-rios da Agricultura e da Educação, que alifuncionasse a Escola Preparatória de Cola-res. Tendo-se tornado exíguo o espaço porforça do crescimento da população escolar,o Ministério da Educação construiu em1982, numa faixa de terreno da mesmaquinta, no lado oposto da estrada, os pavi-lhões onde até à actualidade funciona aEscola C+S da Sarrazola, voltando asvelhas instalações a ficar à mercê do tempo,até que, em 1988, o Ministério da Agricul-tura decidiu criar ali estruturas de nívelnacional na área da formação e de encontrosde técnicos nacionais e internacionais liga-dos ao sector agrícola e a iniciativas no qua-dro da Comunidade Europeia.

Nesse sentido e, ainda que nada tendoa haver com os fins previstos no testa-mento, em 1990 iniciaram-se as obras quesó viriam a terminar em 2001 e que com oscostumeiros arranques, paragens e derrapa-gens (nos) custaram ao erário público ummilhão de contos, isto é, cinco milhões deeuros.

Como, porém, ao longo do processo adegradação no que ia estando feito se acen-

tuava, de novo um grupo de cidadãos seorganiza em 1996 num grupo de trabalho,questionando as autoridades responsáveis eapresentando um projecto educativo por sielaborado, consentâneo com o espírito dolegado. Em 1997 este grupo é informadode que as instalações iriam destinar-se àimplementação de cursos de formaçãointermédia e de pós-graduação para técni-cos agrários nacionais e dos PALOP.

As obras terminam em 2001, ficandoentão as instalações dotadas de excelentese confortáveis salas de aula, de um auditó-rio, campo de jogos e de quartos de habi-tação para os futuros estudantes, bemcomo de uma vivenda que se destinaria aofuturo director…

E, de novo, o tempo e o vandalismo seforam encarregando de ir destruindo…

ficaram os edifícios e os equipamentosvotados aos ladrões, ao esquecimento e àincúria. Tudo foi vandalizado, roubado,destruído!

Em 2003, um responsável do Ministé-rio da Agricultura, numa entrevista condu-zida pelo programa «Regiões», da RTP,adiantou a hipótese aventada de que viria aser estabelecido um protocolo com umauniversidade privada porque, dizia, nãohaver dinheiro que chegasse para que tudopudesse voltar a funcionar…! Isto, depoisde mais de sete milhões de euros ali gastose destruídos!

Em Maio de 2004 sai uma reportagemna revista Sintra Regional e, posterior-mente, a 5/11 e a 14/11 de 2005, o jornalPúblico edita extensas reportagens sobre ocaso, tendo entrevistado o vice-provedorda Misericórdia de Sintra que disse não seraté ali do conhecimento público a 2.a dis-posição do testamento da família Vascon-celos, que tornaria a instituição a legalbeneficiária dos bens. Também o Jornal deSintra, em Novembro do mesmo ano, fezdas suas páginas arauto deste escândalo…mas as entidades responsáveis continuamsurdas à voz da comunicação social e doscidadãos da terra.

Em verdade se diga que, em país ondeos responsáveis não têm vergonha de onão ser, não há razão que lhe valha. Pelosvistos, é importante deixar o aviso a quemque, por qualquer razão, quiser deixar osseus bens ao património público, melhorserá ponderar bem a quem os lega poisestá provado que nem todos são pessoa debem.

ISABEL MARQUES

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ENERGIAS RENOVÁVEISINTERCÂMBIO NA GRÉCIAO debate internacional sobre as altera-

ções climáticas continua intenso, à medidaque as negociações sobre o protocolo deQuioto avançam. Como é do conheci-mento de todos, o clima do nosso planetaestá a mudar. Isto porque o ser humano,desde o início da revolução industrial, temvindo intensificar a libertação de gasespoluentes para a atmosfera, que incremen-tam o seu efeito estufa e, consequente-mente, provocam o aumento da tempera-tura média da Terra, com resultadosnegativos para o meio ambiente, economiae sociedade.

Os grandes responsáveis por este cata-clismo são os processos e actividadeshumanas que em larga escala tem consu-mido combustíveis fósseis. Principalmentenos países desenvolvidos e industrializa-dos. Com isto, tona-se cada vez mais pre-mente recorrer a fontes de energia renová-veis, não poluentes, para alimentar toda aactividade humana, desde os processosindustriais, aostransportes e aosc o n s u m o sdomésticos emnossas casas.

Neste sen-tido, todos nósdeveremos assu-mir esta respon-sabilidade e pres-tar um contributopara lutar por umdesenvolvimentomais sustentávele pensar nofuturo das gera-ções mais novas.Foi com esteintuito que a3pontos elegeu 5 colaboradores para parti-cipar num intercâmbio sobre o tema«Re-Turn to the Renewable EnergySources», realizado entre os dias 21 deAgosto e 1 de Setembro na Ilha de Lesbos,Grécia.

Este encontro internacional, organi-zado pela associação ambiental Mediter-

ranian SOS (MEDSOS), no âmbito do pro-grama Europeu da Juventude, contou coma participação de 9 organizações nãogovernamentais de diferentes países daregião Mediterrânica: Egipto (AOYE),Eslovénia (SEEE), Grécia (MEDSOS), Itá-lia (ARCI e MATE), Jordânia (FOEME),Portugal (3pontos), Tunísia (APNEK) eTurquia (CIP).

O programa comunitário, que permitiua realização deste evento, é destinado aos

jovens europeus, e dos seus países parcei-ros, e tem como intuito estimular a suaparticipação em intercâmbios, acções devoluntariado e criação de projectos e ini-ciativas. O seu objectivo é prestar umcontributo para o desenvolvimento dacidadania dos jovens, permitindo-lhesdesempenhar um papel activo na socie-

dade, incentivar a aprendizagem ao longoda vida e o desenvolvimento de aptidões ecompetências que promovam a cidadaniaactiva, incentivar a aprendizagem intercul-tural e promover o conceito e o valor daeducação não-formal.

Este intercâmbio foi estruturado em va-rias sessões plenárias, onde cada país par-ticipante apresentou a sua realidade nacio-nal relativamente às consequências dasalterações climáticas nos seus ecossis-

temas, nas activida-des económicas e nasociedade, às diferen-tes fontes de energiarenováveis já utiliza-das e com potencialde utilização, ao «con-sumo crítico» e a ins-trumentos de educa-ção ambiental.

Relativamente àsdiversas fontes deenergia renováveis,neste encontro falou--se em primeiro sobrea energia eólica, ondese procurou conhecero funcionamento dos

parque eólicos existentes, a tecnologia uti-lizada e futuros projectos a implementarem cada país. De igual forma para a ener-gia solar, procurou-se conhecer em quemedida o seu aproveitamento é aplicado,ou seja, se para a conversão em energiaeléctrica, com recurso a painéis fotovoltai-cos, ou simplesmente para o aquecimentode águas domésticas. Sobre a energiahidroeléctrica, foi debatido a utilização debarragens de grande e pequena dimensão,as suas diferentes capacidades energéticas,bem como as respectivas consequênciasambientais. No que respeita à bioener-gia, foram conhecidas as suas diversasformas de aplicação, seja pelo uso debiodiesel ou pela combustão de resíduosflorestais ou agrícolas. E por último, tra-tou-se também as diferentes formas deaproveitamento da energia geotérmica,sobre a qual ficou sublinhado o facto de

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nem todos os países terem potencialidadepara a sua aplicação.

A bioarquitectura foi outro tema abor-dado, uma vez que surge como respostaaos consumos excessivos de energia nosedifícios, bem como pelo facto de a suaaplicação ter em conta a utilização dematérias-primas mais amigas do ambiente.Um ponto também a favor desta vertenteda arquitectura, deve-se à sua vantagemeconómica sobre os edifícios convencio-nais, uma vez que resulta na diminuiçãodas despesas em energia. Foram aindaabordadas algumas práticas tradicionais,bem como as novas e modernas formas debioarquitectura.

Um dos aspectos fulcrais para o desen-volvimento sustentável resulta de uma pos-tura mais crítica por parte do consumidor.É por isso necessário implementar o con-ceito de «consumo crítico». Este conceitofoi igualmente debatido e concluiu-se quecada um de nós deverá escolher, de formaresponsável e informada, aquilo que pre-tende adquirir. Esta atitude terá reper-cussões em toda a cadeia produtora debens e serviços e, consequentemente, osagentes económicas desta cadeia serão for-çados a adoptar medidas sustentáveis.

Como tal, é necessário promoveracções de educação ambiental para dar aconhecer ao público em geral, e em espe-cial, aos mais jovens, as consequênciasambientais das actividades humanas.Assim sendo, para que esta seja praticávelde forma eficiente e eficaz, é fundamental,antes de sensibilizar, adquirir conheci-mento sobre estes aspectos e sobre os ins-trumentos de comunicação e educação,pelo que foram também abordados nesteevento diferentes métodos de educaçãoambiental. Foram ainda realizados traba-lhos de grupo, trabalhos práticos e sessões

de debates sobre alguns dos temas mencio-nados.

Do ponto de vista pessoal, foi umaexperiência muito gratificante, uma vez quese proporcionou o convívio entre pessoas devários lugares, com pontos de vista e cultu-ras diferentes, mas todas muito interessadase com intuitos comuns. Foi sem dúvida umexcelente exercício de comunicação e deaprendizagem, e ao mesmo tempo, umaoportunidade para fazer novos amigos.

Do ponto vista associativo, deu-se tam-bém mais um passo em frente. Dos váriosaspectos tratados neste encontro, um delesfoi a discussão para o início de umanetwork de organizações não governamen-tais. Esta irá funcionar como instrumentode trabalho e colaboração, entre as 9 orga-nizações participantes, para a promoção demais iniciativas conjuntas relacionadascom o desenvolvimento sustentável.

No final do encontro foi elaborada umadeclaração, produto do trabalho realizadodurante os 12 dias de intercâmbio, e na qualse assinala uma posição comum entre todas

as organizações participantes e onde se real-ça uma series de recomendações relativa-mente às tecnologias, aos meios de comuni-cação, ao «consumo crítico» e aos gruposde interesse que poderão intervir na promo-ção da utilização de energias renováveis ede uma nova conduta para o desenvolvi-mento sustentável. Esta declaração seráfuturamente publicada no Contrapontos.

Já neste Contrapontos, irá dar-se inícioa uma série de artigos sobre esta área doambiente, a qual pretende tratar as altera-ções climáticas e as várias fontes de ener-gias renováveis utilizadas no nosso país. Énosso objectivo informar o leitor sobre arealidade energética nacional e as possíveisopções mais ecológicas. Pretende-se tam-bém dar a conhecer formas de actuaçãoalternativas, que contribuirão certamentepara a construção de um futuro mais verdee, por isso, mais acolhedor para as gera-ções futuras.

RITA BICHO

MARCO COSME

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O conceito «alterações climáticas»,num nível global, é um tema comum abor-dado e estudado há já algum tempo, noentanto, a sua aplicação ao nível nacionalcomeça agora a ser mais divulgado. Astemperaturas médias anuais em Portugalvariam entre os 7°C nas zonas altas e 18°Cna costa centro e sul. A temperatura médiaanual do ar entre 1931 e 2000 mostra umaumento desde os anos 70. Os diversosdados das estações climáticas mostram2 períodos climatéricos distintos 1910--1945 e 1976-2000, mas o aumento noperíodo de 1976-2000 foi significativa-mente maior do que o de 1910-1945. Tam-bém a precipitação no período de 1931--2000 mostra um aumento, especialmentea partir de 1976. O facto de se terem veri-ficado valores distintos entre as estações,mostra que houve um decréscimo da preci-pitação média na primavera.

As mudanças climáticas afectam osciclos de precipitação. Têm sido feitosmuitos estudos, mas os impactos reais sãoainda inconclusivos em vários sectores,como nos recursos hídricos, na agriculturae nas florestas. O padrão geral da distribui-

ção da precipitação mensalindica um aumento noinverno e um decréscimosubstancial na primavera, par-ticularmente em Abril e Maio,e ainda sinais mais fracos noverão e outono.

De acordo com o planonacional da água a médiaanual da precipitação ronda os960 mm/ano. A distribuiçãoespacial da precipitação estálonge de ser uniforme, com o rioTejo a constituir uma divisão entre onorte chuvoso e o sul seco. Por exemplo,enquanto o rio Douro apresenta uma preci-pitação anual com valores aproximados de2200 mm/ano, o rio Guadiana apresentaapenas 570 mm/ano. No período de 1940--1991 a precipitação variava entre 1450mm/ano e 550 mm/ano respectivamente.

Os rios Sado e Guadiana mostram sermais vulneráveis às alterações climáticas,aqui os riscos de períodos de seca e deser-tificação serão muito prováveis. Por umlado, um aumento das necessidades derega, devido às altas temperaturas e à redu-

ç ã odo caudal

dos rios, mos-tram já um impacto negativo na agri-cultura, por outro, esta redução da dispo-nibilidade dos recursos hídricos, e aconsequente redução dos caudais, condu-zem a processos de estratificação térmicanos rios, provocando a diminuição da qua-lidade da água.

Tal como para as bacias hidrográficas,as zonas junto ao mar também estão asofrer consequências. A zona costeira dePortugal Continental tem uma extensão deaproximadamente 950 km, classificada em4 áreas principais: praias, estuários, zonasmontanhosas e arribas. Destas, as praias eas arribas são dominantes, com 591 e348 km, respectivamente. Cerca de 75% dapopulação vive na zona costeira onde cida-des como Porto, Aveiro, Lisboa, Setúbal eFaro estão localizadas. As necessidades dasociedade em recursos marítimos tendem aobstruir o bom funcionamento da preserva-ção dos ecossistemas e biodiversidadesnestas zonas provocando diversas altera-ções: temperatura das águas, aumento donível das águas, dinâmica das ondas, cor-rentes marítimas, salinidade e movimentotectónico. Combinando estes aspectos, osestudos prevêem que até 2080 o nível domar sofrerá um aumento entre 25 e 110cm. No entanto, durante o século XX jáaumentou entre 10 e 20 cm.

No que diz respeito à actividade agrí-cola e florestal, a produtividade das colhei-tas será também fortemente afectada, tantopelas alterações climáticas como peloaumento da concentração do CO2. Tendoem conta que a quantidade de água dispo-nível para rega será substancialmente redu-

O efeito de estufa: a radiação (luz) solar entra livremente na atmosfera terrestre (setas brancasdo lado esquerdo da figura). Alguma dessa radiação directa é imediatamente reflectida

pelas nuvens, poeiras e superfícies reflectoras (setas brancas a meio da figura). A restanteradiação é absorvida e aquece a Terra. Os gases de efeito de estufa reduzem significativamente

o escape de radiação para o espaço exterior (setas a cinzento na figura)

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zida, particularmente no sul, a agriculturaficará dividida entre o aumento da necessi-dade em água, devido ao aumento da tem-peratura, e a diminuição da água disponí-vel. Por exemplo, as necessidades docarvalhos serão insuficientes logo estesserão naturalmente substituídos por espé-cies que requerem menos água. As neces-sidades para a produção de arroz serãotambém insuficientes, logo esta será subs-tituída por plantações de algodão. O aque-cimento global irá levar-nos também auma maior incidência de pragas e doençasque, em espécies específicas, poderão cau-sar sérias perdas.

As actividades económicas tambémserão afectadas. A ideia geral demonstraque as indústrias portuguesas, incluindo asmais produtivas, como é o caso da fileirada cortiça, serãoconduz idas auma diminuiçãodo número det r a b a l h a d o r e sisto porque osefeitos sobre osrecursos naturaisque estas indús-trias utilizam,poderão implicaruma redução dasua actividadeeconómica.

Durante asúltimas 3 déca-das o progressoeconómico temsido aplicado nasaúde e, por con-sequência, noaumento da espe-rança média devida. Hoje emdia doenças cró-nicas como can-cro e disfunçõesno sistema circulatório são as maiores cau-sas de morte. No entanto, os acidentes eproblemas asmáticos são as maiores preo-cupações nas crianças. Apesar do melhora-mento no sistema de saúde no geral, o pro-gresso na identificação e na redução demortes devido a questões ambientais temsido muito lento. Presentemente, a má qua-lidade da água e do ar apresentam-se comoo principal risco para a saúde, sendo osgrupos mais vulneráveis os socialmentedesfavorecidos, os idosos, as crianças ejovens, os seropositivos, os imigrantes e ascomunidades rurais, por falta de infra-estruturas básicas. O aumento de mortesdevido às vagas de calor são um impacto

directo das mudanças climáticas. O cenáriofuturo indica-nos períodos de altas tempe-raturas mais frequentes e mais longos.

O sector de energia é definido, noâmbito nacional, como um ramo de activi-dades relacionadas com carvão, petróleo,gás, electricidade e abastecimento deáguas. Durante o período de 1990-2000estas actividades representaram 3,5-4,0%do produto interno bruto. Portugal nãopossui recursos fósseis e, sendo a energiahidroeléctrica o único recurso energéticovastamente explorado, obriga à dependên-cia de outros países para a importação deenergia. Relativamente às necessidades,constatamos uma diminuição no uso doaquecimento em edifícios e um aumentomais significativo no uso de sistemas dearrefecimento.

As flores-tas cobrem3 200 000 hec-tares do terri-tório portuguêsque corres-ponde a 36%da área totaldo país. Doponto de vistaeconómico aimportância dosector florestalestá estabele-cida, sendo umdos sectoreslíder na econo-mia nacional(estimado em3,4%). A maio-ria do territórioflorestal é pri-vado, sendo85% de parti-culares, 3% doestado e 12%de comunida-

des locais. Para além do seu valor econó-mico, o ecossistema florestal desempenhaum papel importante na purificação daágua e do ar. As florestas são uma fonte debiodiversidade e devem ser preservadas.Estas são o habitat de várias espécies emextinção como a cegonha negra (ciconianigra) e o lince ibérico (lynx pardina).A presente capacidade de armazenamentode carbono das florestas portuguesas é ele-vada, contudo no futuro poderá não ser tãoelevado devido a um desequilíbrio nabiomassa, causado por alterações na vege-tação, pelo aumento da frequência deincêndios e falta de respiração no solo,devido a invernos mais quentes. As altera-

JOSÉ ALBERTO SANTOS CARVALHO

Projectos de:• Estabilidade• Águas e esgotos• Térmica• Acústica• Electricidade• Gás

Responsabilidade técnica de obrasPlanos de segurança e saúdeCoordenação e fiscalização de obras

Av. de Portugal, n.o 61 — 1.o Dt.MAFRA — Telef.: 91 969 59 19e-mail: [email protected]

ções na vegetação implicam a substituiçãodos tipos de florestas em certas áreas, quepoderá por sua vez provocar migração dedeterminadas espécies.

O mesmo acontece com os ecossiste-mas oceânicos. O cenário das mudançasclimáticas indicam um aumento da tempe-ratura do mar em cerca de 4°C até ao fimdo século XXI. São ainda esperadas altera-ções nos padrões de direcção dos ventos epoderão causar alterações significativasnos processos de evaporação da água paraa atmosfera. A média da intensificação daturbulência do vento será uma potencialcausa para a perda da abundância e distri-buição dos organismos marinhos assimcomo na sua alimentação. Existe noentanto um factor negativo e um factorpositivo no desenvolvimento destes seres.Após grandes períodos de seca podemverificar-se momentos bastantes chuvososo que é prejudicial para a alimentação edesenvolvimento das comunidades maisjovens e adultas, por outro lado, o facto denão se verificarem grandes variações nosmeses mais frios provavelmente asseguraráa permanência de larvas junto à costa,dando às comunidades mais jovens a opor-tunidade de sobrevivência. Contudo estesdois factores juntos não reúnem condiçõespara a abundância das espécies.

VERÓNICA SOUSA

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Parteda energiairradiada

voltaao espaço

Energiairradiada

Parteda energiaé absorvida

Atmosfera

TERRA

EFEITO ESTUFA

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AMBIENTE

Dificilmente concebo um Inverno pas-sado sem o calor aconchegante da aveia.

A aveia foi um dos primeiros cereais aser cultivado na Ásia Ocidental e naEuropa. Há quem atribua a sua origem àPérsia, mas também ao Egipto e à Índia.Os gregos já a utilizavam para fins medi-cinais e na Itália parece ter sido os legio-nários de César que introduziram estagramínea durante a ocupação da Gália eda Germânia. Os soldados verificaramque aqueles povos usavam regularmente aaveia na sua alimentação, em forma depão ou de sêmola; notaram ainda queeles tinham uma saúde de ferro e quemorriam muito velhos. Daí a existênciaainda hoje de um ditado alemão querefere «as papas de aveia produzemhomens de ferro».

Os hunos alimentavam-se com papasde aveia.

Os escoceses e ingleses são tambémgrandes consumidores de porridge (flocosde aveia cozidos).

É um cereal de inverno e de regiõesfrias e fornece uma energia quente.

A aveia que noutros tempos cresciacomo erva daninha nos campos de trigo, éhoje cultivada como cereal nas regiõestemperadas do mundo inteiro. É um cerealpouco exigente e é colhido no fim doVerão, mais ou menos quatro semanasdepois da cevada.

A aveia é uma herbácea da família dasgramíneas, cujo nome científico é Avenasativa. É uma erva anual que atinge ummetro de altura, tem caules erectos e ocos,folhas semelhantes a pequenas lâminas epequenas espigas que acumulam a luz doSol e onde estão guardadas as sementes.Utilizam-se todas as partes da planta.

É rica em saponinos, alcalóides, este-róides, flavonóides e amido. É um doscereais mais ricos em proteínas, em maté-rias gordas e substâncias estimulantes,especialmente a avenina; é rica em mine-rais entre os quais se destacam o ferro,cálcio, cobre, magnésio e zinco. É aindarica em vitaminas do grupo B, mas tam-bém vitamina PP e pró-vitamina A e D.Tem ainda alto teor de silício, fibras e,betaglucano, e uma hormona semelhante àfoliculina.

PROPRIEDADES

Alto valor nutritivo, o componenteavenina estimula o sistema nervoso central,daí o seu uso para combater depressões eestados convalescentes. Esta substânciaajuda no esforço atlético: na Austrália, fez--se um estudo com atletas cuja dieta foi àbase de aveia que revelou um aumento de4% nos níveis de energia e resistência, con-siderando-se que a aveia mantém a funçãomuscular durante o treino e o exercício.É afrodisíaco e desinibidor. Estimula o fun-cionamento da tiróide, e melhora a resistên-cia ao frio e humidade.

A sua riqueza em silício tem efeitosdiuréticos e laxativos, enquanto que obetaglucano reduz o nível de colesterol nosangue.

Ajuda a combater a obstipação e ashemorróidas. Controla a glicemia, aju-dando no combate à diabetes. Protege con-tra o cancro do cólon. Combate a anemia ea falta de apetite especialmente nas crian-ças. Recomenda-se principalmente àscrianças e desportistas.

Ajuda a eliminar a inflamação dasparedes do interior do estômago, prote-gendo-as e evitando úlceras gástricas, diar-reias crónicas e prisão de ventre.

A dietética chinesa refere que a aveia éútil no combate à diarreia, provoca transpi-ração, suprime a humidade, estimula asglândulas endócrinas dos pâncreas e datiróide.

As pessoas idosas ou sedentáriasdevem tentar moderar o consumo da aveia.

UTILIZAÇÃO

Utiliza-se em flocos, sob a forma demuesli, papa, pão, galetes, bolos, etc.

Os flocos quando cozinhados durante15 a 20 minutos são mais digestivos,podendo juntar-se frutos secos, nozes, ave-lãs ou outras oleaginosas. Pode ainda jun-tar-se mel depois da cozedura (o mel nuncadeve ser sujeito a altas temperaturas poisperde as suas propriedades).

A aveia não cozinhada é um poucoindigesta, por isso o muesli deve ficar demolho em água ou leite quente durante anoite e ser consumido cru na manhãseguinte.

O CALOR ACONCHEGANTEDA AVEIA

Devido a alto teor energético, é maisindicada para o pequeno-almoço e nuncapara o jantar.

A farinha de aveia é refrescante,diurética e ligeiramente laxativa.

Em cataplasmas recomenda-se para asdores intercostais; tostar a veia em seco,colocá-la em sacos e aplicá-la sobre a partedorida. Podem também aplicar-se cataplas-mas quentes feitos a partir de aveia cozidaem vinho ou vinagre.

A casca de aveia servia outrora paraforrar colchões das pessoas nervosas oucom insónias.

A aveia é muito utilizada como forra-gem especialmente na alimentação doscavalos.

A tintura de aveia é um medicamentohomeopático que contém um sedativo (aavenina) utilizado para combater insónias estress, actuando como regulador do sis-tema nervoso.

COSMÉTICA

É muito utilizada no fabrico de cremesde beleza, sabonetes e shampoos.

Um simples lava-pés prepara-se fer-vendo 3 a 5 punhados de aveia durante20 minutos, depois lavando os pés nessaágua, é bom para os calos, bolhas e unhasencravadas.

As cataplasmas de aveia aplicadassobre a pele aliviam erupções cutâneas esão excelentes para limpeza e tratamentoda pele incluindo o eczema.

AGRICULTURA

Ajuda a prevenir a erosão do solo,especialmente se eles forem ácidos epobres.

FERNANDA BOTELHO

Page 13: Jornal contrapontos

www.d-eficiente.net, espaço de encontro e de informação

A INTOLERÂNCIAÀ DEFICIÊNCIA E A EFICIÊNCIADA TOLERÂNCIA…

Perante um mundorepleto de novas opor-tunidades, mais tecno-lógico e mais livre,qualquer indivíduodeve ser consideradoúnico e não pode sermenosprezado, nemcategorizado para fins discriminatórios. Associedades democráticas são em si umaposição política de reconhecimento dosdireitos do indivíduo, das suas diferençase, em todo o seu conjunto, do direito àdiversidade.

Num mundo cheio de incertezas, cadaser humano vive uma procura constantepela sua identidade e ambiciona sempreuma integração plena na sua sociedade.Há, no entanto, muitas barreiras para aque-les que são portadores de deficiência emrelação a este processo de inserção. Infeliz-mente, ficam muitas vezes à margem doconvívio com os grupos sociais e são pri-vados do normal exercício de cidadania e

da sua autonomia, numa socie-dade que, por definição, deveriade lutar pela igualdade de opor-tunidades. Afinal de contas, ademocracia, a liberdade e aigualdade de oportunidadesdeverão ser uma constante, epara todos, e não apenas sóquando nos convém a nós.

É do entendimento geral eactual que uma pessoa com defi-ciência é a que, em resultado daconjugação de uma anomalia ouperda de alguma função ouestruturas do corpo, incluindo aspsicológicas, terá de enfrentardificuldades acrescidas, suscep-tíveis de lhe restringir o decorrerdas suas actividades. Mas istonão implica que estas pessoassejam privadas das devidas, ejustas, acessibilidades.

Desde que sejam garantidasas acessibilidades ao meio envol-vente, isto é, aos serviços, pro-

dutos e equipamentos, de forma conscientee solidária, ficará assim possibilitado tantoo seu exercício de cidadania como a suaautonomia pessoal, levantando, destemodo, as barreiras que, por norma, pode-rão restringir a participação na vida social,económica e cultural.

Segundo o Secretariado Nacional paraa Reabilitação e Integração das Pessoascom Deficiência, em Portugal existemmais de 900 mil pessoas portadoras deincapacidade ou deficiência, o que se tra-duz numa taxa superior a 9% da populaçãonacional. Portanto, por mais que se queira,são valores em nada são desprezáveis.Como dado importante ainda a reter, e amerecer certamente uma melhor atenção, éa constatação duma tendência crescente depessoas com pelo menos uma incapacidadeao longo da vida. Dentro deste grupo, afaixa etária entre os 45 e os 54 anos deidade representa hoje um período crítico,dado o crescimento acentuado nos últimostempos da sua taxa de incapacidade, pormotivos de saúde ou acidente. É impor-tante considerar estes factos e não pensar-mos que os problemas acontecem só aosoutros.

No entanto, é talvez nas idades maisjovens que a vida de uma pessoa portadorade deficiência se pode tornar mais dura.A infância é um período de grande desen-volvimento, marcado por um crescimentogradual. Mais do que isto, é um períodoonde o ser humano se desenvolve psicolo-gicamente, envolvendo graduais mudançasno comportamento da pessoa, e ondeadquire as bases para a sua personalidade.

É necessário sensibilizar as famílias, eo seu grupo social duma forma geral, paraa existência de factores de stress inerentes

A intolerância é uma atitude mentalcaracterizada pela falta de habilidade ouvontade em reconhecer e respeitar diferen-ças. É uma forma de incapacidade intelec-tual ou emocional e está essencialmentebaseada no preconceito, que muitas vezesleva à discriminação que menospreza aspessoas por causa dos seus pontos de vista,características físicas e/ou culturais. A tole-rância, em oposição, define a capacidade deuma pessoa ou grupo social em aceitar umelemento contrário a uma norma moral,civil ou física. É uma componente essencialàs doutrinas multiculturais (ou, duma formageral, ao pluralismo) sobre quais as socieda-des contemporâneas mais desenvoltas seprocuram fundamentar. Estas doutrinaspluralistas chegam a ser consideradas comoum factor valioso para o enriquecimento eabertura de novas e diversas possibilidades,como têm confirmado alguns sociólogos ehistoriadores, ao demonstrarem que o hibri-dismo e a maleabilidade das culturas sãofactores positivos de inovação.

SOCIEDADE

Page 14: Jornal contrapontos

ao nascimento de uma criança com defi-ciência. Estes factores, conjugados com aexistência de outros fenómenos sociais,como o isolamento social, a baixa auto--estima, o sentimento de culpa e a inexis-tência de uma rede social de apoio, podemagravar o normal relacionamento dentro dafamília. Ainda assim, é essencial perceberque o nascimento de uma criança defi-ciente não é o fim do mundo. Existem tra-tamentos e oportunidades, tanto em Portu-gal como no estrangeiro. O que não podeser feito é deixar essa criança em estado deabandono. Nesta fase da vida, é importantea tomada de consciência de todos estes fac-tores, bem como a promoção do adequadoapoio familiar e do fomento da confiançanas capacidades dessas crianças e jovens,no sentido de salvaguardar o seus direitosfundamentais e um desenvolvi-mento harmonioso.

Ainda assim, é talvez na ado-lescência que se encontra a etapamais critica do desenvolvimentodo ser humano. Caracteriza-sepor alterações físicas, psíquicas eaté mesmo sociais, que resultamna descoberta da identidade e nadefinição duma personalidadeadulta. Com este processo, refor-mulam-se os valores adquiridosna infância, os quais são assimi-lados numa nova estrutura maismadura. Quando se é portador deuma deficiência, esta etapapoderá sofrer dificuldades acres-cidas, se não forem garantidos osapoios emocionais, educacionaise sociais necessários ao seudesenvolvimento.

Quando chega a altura dosamores, e desamores, ai a vida doadolescente pode ser bem com-plicada. No entanto, isso não sig-nifica impossibilidade de serfeliz. São muitas as pessoas por-tadoras de deficiência com umavida realizada do ponto de vistaafectivo. É preciso lutar por isso e a espe-rança é sempre a última a morrer. Não sepode deduzir que, por se ser portador deuma deficiência, isso seja sinónimo desolidão. É importante não desistir ao pri-meiro «não», e isso funciona para qualquerum de nós. Como ninguém manda no cora-ção, há que ter alguma paciência na pro-cura duma companhia e nunca deixar queuma característica diferente se transformenum trauma. A vida sentimental duma pes-soa portadora de deficiência não é dife-rente da de uma pessoa dita normal, oumelhor ainda, são todas diferentes e depen-

dem do coração de cada um. É talvez porisso que cada qual se apaixona pela suarespectiva cara-metade — ou pelo menos,naquela altura de vida, aquele amorparece-nos ser a nossa cara-metade. Paraconsegui-lo é preciso procurar, sair para omundo e participar na sociedade em que sevive. Somos muitos a habitar este planeta emal será que não exista uma cara-metadepara cada um de nós.

É normal que a determinada altura davida se comece a pôr a hipótese de ter umrelacionamento mais sério com uma outrapessoa. Isto porque queremos sair da pro-tecção dos pais, começar uma vida com apessoa amada e, quem sabe, construir anossa própria família. É preciso esperarpelo momento certo, porque há-de apare-cer alguém que nos aceita como somos,

com igual vontade, e com quem podere-mos partilhar os nossos sonhos.

E no que diz respeito ao sexo, é neces-sário descomplexar o assunto. Todos que-remos, todos procuramos fazê-lo quandonos faz sentido, e mais uma vez, não é porse ser portador de uma deficiência que esteassunto tem de ficar esquecido. O direitoao prazer é algo que tem de ser abordadoporque, tanto no amor como na sexuali-dade, todos temos o direito em procuraruma concretização e esse direito não podeser negado a ninguém. Ainda assim, a vidasexual do indivíduo só pode ser concretiza-

da por iniciativa pessoal do mesmo.A única coisa que há a fazer, por parte dafamília, é garantir a educação básica eessencial sobre o assunto e, por parte dosamigos, o apoio habitual.

Já na vida adulta as dificuldades nãosão menores. Aqui as acessibilidades e orespeito são de novo o ponto fulcral parauma vida normal. A maioria das áreaspúblicas e dos empregos não estão adapta-das para as diferentes necessidades espe-ciais. Os deficientes são muitas vezes vis-tos como aqueles que só recebem subsídiose, por isso, considerados «lixo» da socie-dade, ou então, estão condenados a seremconsiderados «os coitadinhos», aquelesque nunca vão chegar a lado nenhum.É assim que muitas pessoas ditas normaispensam e, assim sendo, é necessário com-

bater este preconceito, perceber oquanto próximo estamos destarealidade e admitir que muitasvezes subestimamos, ou ignora-mos, as verdadeiras potencialida-des das pessoas portadoras dedeficiência.

Encontram-se facilmente evi-dências do quanto estas pessoasnão são fardos da sociedade enão são, de modo algum, «coita-dinhos». Pelo contrário, são pes-soas muito inteligentes e capazes,por vezes até mais competentesque muitos ditos normais e são,na grande maioria dos casos, epara exemplos de muitos, cida-dãos bastante solidários.

Na verdade, uma empresaque recrute pessoas portadorasde deficiência pode ser bemmais competitiva e produtivaque uma empresa que opereexclusivamente com pessoasditas normais. O ambiente detrabalho pode ser bem superior.Estas pessoas não estão semprede mal com o patrão, a reclamarde tudo e de todos e sempre mal

com o que os rodeia. São pessoas comdificuldades, que sabem dar valor à vida eàs pessoas com quem convivem. Nãofazem intrigas e não têm a mentalidade do«trabalhar pouco e ganhar muito». Sãopessoas que se esforçam para dar o seumáximo de produtividade, pois para elasisso é o mais gratificante: fazer, ser capaze ser útil. Como é óbvio, cada indivíduoresponde por si e a sua personalidadeacaba por ditar o seu nível de empenhonaquilo que faz.

São várias as personalidades portadorasde deficiência admiradas em todo o mundo

Ray Charles, um génio da música negra americana

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pelas suas qualidadesexcepcionais. A estas, asociedade soube dar valor,mas antes disso, e acimade tudo, soube dar umaoportunidade para teremvidas normais. São exem-plo, entre outros, o per-curso de vida do músico ecantor Ray Charles e dofísico investigador Ste-phen Hawking.

Ray Charles nasceu emAlbany, uma cidade locali-zada no Estado americanoda Geórgia, a 23 de Setem-bro de 1930, e faleceu a 10de Junho de 2004. É consi-derado um dos maiores génios da músicanegra americana. Foi pianista e cantor pio-neiro de música soul, jazz e, até mesmo,rock. Além de inovador, foi também intér-prete do género musical rhythm and blues,sendo um dos principais responsáveis pelaintrodução do ritmo gospel neste géneromusical.

Ficou cego aos sete anos de idade,devido a um glaucoma, e ficou órfãodurante a sua adolescência, quando tinhaquinze anos. Segundo a sua autobiografia,Ray Charles considerava que o facto deperder a vista não se tornou tão mau comose possa pensar à partida. Ele foi perdendoa vista de forma gradual, mas contou comum enorme apoio por parte da sua mãedurante este período. Isso ajudou-o imensoa lidar com a sua nova condição. Teve umavida cheia de atribulações, sem dúvida,mas também soube deixar a sua marca naluta contra o racismo. Foi o primeiroartista na história da América a recusar-sea actuar numa sala de espectáculo comsegregação racial. Um acto que lhe custoua proibição de actuação no estado da Geór-gia durante longos anos.

Ray costumava dizer em relação àmúsica jazz: «Não consigo compreendercomo é que nós enquanto Americanos,possuidores de um património musical tãorico e de artistas que o tocam, não conse-guimos reconhecer todas essas pessoastalentosas».

Stephen Hawking nasceu a 8 deJaneiro de 1942, em Oxford, Inglaterra.Estudou na escola de St. Albans e depoisfoi para o Colégio Universitário de Oxford,onde se formou em Física. Mais tarde,começou a fazer investigação em Cosmo-logia na Universidade de Cambridge.Desde então, já exerceu a sua carreira deinvestigador e professor em varias institui-ções e universidades inglesas. Tem uma

longa lista de publicações e de resultadoscientíficos, pelos quais já foi premiadovarias vezes. É considerado um dos maio-res génios da Física de todos os tempos,igualando personalidades como AlbertEinstein, Isaac Newton, Galileu ou Aristó-teles.

Stephen é portador de esclerose lateralamiotrófica, uma doença neurológica pro-gressiva que provoca invalidez física. Estadoença só foi detectada quando tinha 21anos. Perdeu o movimento dos seus braçose pernas, assim como do resto da muscula-tura voluntária, incluindo a força paramanter a cabeça erguida. Em 1985, foisubmetido a uma traqueotomia e desdeentão utiliza um sintetizador de voz paracomunicar. Actualmente, recorre às maismodernas tecnologias, para auxiliar a suainvalidez, das quais algumas são invençãode sua autoria.

Sendo um físico teórico bastante con-ceituado, para além da carreira de investi-gação e professor, tem um extenso pro-grama de viagens e de lições académicas acumprir em várias partes do globo. Noentanto, procura conciliar ao máximo asua vida profissional com a sua vida fami-liar — é casado, tem três filhos e um neto.

Em testemunho na sua página pessoal,ele comenta: «Perguntam-me muitas vezes:como é que se sente em relação à suadoença? A resposta é, nada em especial.Tento levar a vida o mais normal possível,e não pensar muito na minha condição, ouarrepender-me das coisas que ela meimpede de fazer, as quais não são assimtantas».

Estes, e muitos outros que existem pelomundo fora, são para nós exemplos devida. São uma oportunidade para pensar-mos na importância da tolerância à dife-rença e na igualdade de oportunidades, eno quanto estes princípios se traduzem num

aproveitamento humanode valor incalculável.

Quando pensamos noque é preciso para se serfeliz, muitas vezes acha-mos logo à partida que aresposta nunca virá com-pleta. Talvez porque sabe-mos, consciente ou incons-cientemente, que isso nãodepende só de nós, quepara se ser feliz é preciso,em primeiro que tudo, tervontade de lutar pela feli-cidade, mas não só, énecessário também quehaja a boa vontade eincentivo daqueles que nos

rodeiam para permitir que isso aconteça.Esta teoria aplica-se a todo o ser humano,seja ele portadora deficiência ou não. Porisso, a melhor coisa que uma pessoa porta-dora de deficiência pode fazer para lutarpela sua felicidade é sair à rua, afirmar-sena sociedade em que vive, impôr o seudireito ao ar puro, ao sol e à lua, à vidasocial, dizer boa tarde às pessoas que pas-sam e sorrir a uma rapariga gira (ou rapazgiro), investir em si próprio e exigir decada um o espaço adequado para a sua feli-cidade.

REFERÊNCIAS

paginaseducacao.no.sapo.pt; www.d-eficiente.net; www.hawking.org.uk;www.raycharles.com; www.snripd.pt;www.wikipedia.org

Marco COSME

PEDRO MONTEIRO

Stephen Hawking, um dos maiores físicos de todos os tempos.

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O nome de Beirute já aparecia nas ins-crições cuneiformes do século XIV a. C.Pátria histórica dos fenícios, cuja culturamarítima floresceu na região durante maisde 2000 anos e os criadores do primeiroalfabeto, do qual saíram todos os demais,tanto semita como indo-europeu.

No momento em que esta cidade, capi-tal do Líbano, voltava a encantar o mundocomo um enclave de calma e prosperidadena região eis que a «Paris do Oriente»regressa às primeiras páginas da imprensainternacional pelo ódio, sangue e devas-tação.

Situada na costa Leste do Mar Mediter-râneo, Beirute era a mais bela e desenvol-vida cidade do Médio Oriente quando, em1975, facções cristãs e muçulmanas entra-ram em conflito, dando início a um con-fronto armado que durou quinze anos e dei-xou mais de cento e cinquenta mil mortos eprejuízos da ordem de bilhões de dólares.

As origens deste conflito têm o seuinício aquando da independência do Líbano,nos anos 40, ao ser firmado um pactonacional dividindo o poder entre as diver-sas comunidades religiosas cristãs e muçul-manas que mesclavam o país. Na época oscristãos, maioria da população, tiveramdireito a um percentagem superior de luga-res no Parlamento e a uma presença maisforte na política, na economia e nas forçasarmadas. Até hoje, o presidente da Repú-blica deve ser sempre um cristão maronita;o primeiro-ministro, um muçulmano sunitae o presidente do parlamento, um muçul-mano xiita.

A partir de 1970, o estabelecimentono país das dezenas de milhares de pales-tinos expulsos pela guerra civil na Jordânia— num episódio conhecido como «Setem-bro Negro» — fez aumentar consideravel-mente o número de muçulmanos no país,levando-os a reivindicar uma redivisão dopoder. Simultaneamente a presença deguerrilheiros da Organização para a Liber-tação da Palestina, a OLP, lançando ata-ques contra Israel a partir do Sul do país,constituía um forte elemento desestabiliza-dor. Os cristãos contrários a esta presençaapelavam à sua expulsão, enquanto osmuçulmanos se manifestavam a favor dacausa palestina. A 13 de Abril de 1975a tensão política chega ao limite. Umcomando cristão ataca um autocarro numsubúrbio de Beirute matando mais de vintepalestinos e muçulmanos. Estava iniciadauma guerra de 15 anos.

Beirute, um mosaico étnico do Líbano,foi a cidade que mais sofreu as conse-quências da guerra civil. A antiga Paris doMédio Oriente foi dividida em duas: o ladoLeste da cidade permaneceu sob o controledos cristãos, enquanto o outro serviu decampo de batalha entre as diversas facçõesmuçulmanas e entre palestinos e israelitas.

Beirute Ocidental ficou praticamentereduzida a escombros. O centro histórico eos bairros ao longo da chamada «linhaverde», que durante anos dividiu a cidadeem duas, foram reduzidos a ruínas.

Em Maio de 1994, após quatro anos depaz, o governo e em particular o primeiro--ministro Rafik Hariri empenharam-se no

reerguer da cidade. Uma empresa de capi-tal privado, a Solidere, foi fundada comesse propósito. Em vez de simplesmentedeitar abaixo os escombros e levantarconstruções modernas, a Solidere investiuna restauração das fachadas originais dosantigos prédios de estilo otomano, assimcomo em infra-estruturas numa área de 1,8milhões de metros quadrados, 500 delesconquistados ao mar.

Assistiu-se em Beirute há fascinantetransformação de uma cidade arruinadanuma metrópole moderna e sofisticada.

Com o renascer da sua capital, oLíbano passou a receber milhares de turis-tas e inicia a atracção de capital que ajudaa relançar a economia. O porto recupera aimportância estratégica do antigamente.Um novo e moderno aeroporto é inaugura-do e os bancos readquirirem o status deque gozavam antes da guerra (Beirute foium dos cinco principais centros financei-ros do mundo até aos anos 70, com umsistema semelhante ao suíço, que atraía,sobretudo, investimentos dos países árabesprodutores de petróleo).

Este era o Líbano e a sua capital, quetinhamos, antes da trágica invasão do Suldo país e dos bombardeamentos sobre Bei-rute e outras cidades libanesas, de 12 deJulho de 2006, por parte de Israel.

Beirute está de novo em escombros e oexemplar esforço de reconstrução foi ani-quilado por uma guerra de destruição quese prolongou por 34 dias longos dias.

FERNANDO CERQUEIRA

UM POVO DESCARTÁVEL[...] O que eu invejo, doutor, é quando o jogador cai no chão e se enrola e rebola a exibir bemalto as suas queixas. A dor dele faz parar o mundo. Um mundo cheio de dores verdadeiras páraperante a dor falsa de um futebolista. As minhas mágoas que são tantas e tão verdadeiras enenhum árbitro manda parar a vida para me atender, reboladinho que estou por dentro,rasteirado que fui pelos outros. Se a vida fosse um relvado, quantos penalties eu já tinhamarcado contra o destino?

MIA COUTO, in O Fio das Missangas

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