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Jornal da exposição

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Jornal explicativo da exposição da rádio

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Nós queríamos fazer da rádio a oitava arte e para isso era preciso criar uma estética própria, era preciso criar substância que pudesse definir a rádio como uma arte e não apenas como um meio técnico de transmissão á distancia do som. Portanto a rádio deu-me esse contributo mas nós quisemos ir mais longe.

* FERNANDO ROCHA,

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A IMAGEM DA RÁDIO

O que é que a rádio representou para o nosso país? De que forma somos hoje em dia influenciados pela sua imagem? Mas afinal, qual será a sua imagem?

A rádio é um meio que tem assumidamente uma relação privilegiada com o público, não só pela es-trutura da comunicação como por se assumir como um meio de comunicação bidireccional, que potencia a participação dos receptores na comunicação. Atravessamos numa fase de transição, um momento particular na rádio portuguesa, caracterizado essen-cialmente pela mudança, ou pela existência de elemen-tos que propiciam essa mudança. A rádio foi sendo ao longo dos tempos, um elemento fundamental para o desenvolvimento do país. Sendo um elemento sonoro, de que maneira podemos afirmar que a rádio tem imagem? Assim, esta exposição tem como objectivo mostrar que a imagem da rádio está nos acontecimentos, nas emoções e inforamções que se despoletaram com a sua intervenção. Depois de um longo percurso de carácter instrumental e com uma comunicação fundamentada num modelo consensual de subserviência ao regime, a rádio inovou a sua comunicação e desenvolveu novos modelos de carácter dialógico, baseados num cariz fortemente emotivo e experimentalista, contrastantes com o cun-ho monocórdico que vigorou até meados da década de setenta em virtude do regime político autoritarista que instalado até então.

Os chamados anos de ouro da rádio, que oscilam entre 1930 e 1950, traduziram-se num fenómeno de radiodi-fusão que procurava reconstruir a realidade dentro do estúdio, com dramatizações e espectáculos produzi-dos na própria estação emissora. As relações da rádio com o poder político centravam-se numa estratégia de manipulação da opinião pública em defesa dos valores proclamados pelo Estado Novo. Ao efeito de novidade da escuta deste novo meio, juntou-se o monopólio da comunicação, que consolidou o poder de Salazar. Nesta altura, a rádio servia para distrair a população, fazendo-a esquecer, ainda que por breves momentos, da situação de fecha- mento a que o país estava votado.

Os anos 50 foram marcados pelo aparecimento da televisão em Portugal. Perante o fascínio que o novo meio despoletou, a rádio foi obrigada a mudar. A cria-tividade não deixou de se revelar, e a rádio apresentou alguns programas que surpreenderam a sociedade. Foi o nascimento de uma nova fase na rádio portuguesa, mais moderna, em oposição à anterior. A década de 60 viu nascer vários pro- gramas impertinentes que se aproximavam demasiado dos limites impostos pela censura. Emergiu um sistema de comunicação que se emancipou do panorama instituído e passou a reagir, observando e criticando. A rádio, valendo-se da es-pecificidade do directo, conseguia escapar às malhas da censura prévia. O cenário político nacional e inter-nacional foi de extrema importância para a contestação ao regime, que se tornou cada vez mais acentuada.

O ano de 1974 é de grande relevância para Portugal, tendo a rádio desempenhado um papel decisivo na revolução que instaurou a democracia no nosso país. Foi através da rádio que se mobilizaram as forças mili-tares. Com objectivos definidos para cada estação im-plicada, o golpe contou com a rádio para transmitir as “senhas” que deram início, confirmaram e puseram em marcha o movimento das Forças Armadas.

A grande mudança na rádio portuguesa efectivou-se com a revolução que restabeleceu a democracia e a descolonização. O panorama alterou-se de forma gradual, passando de uma situação que se caracteri-zava, em termos muito gerais, pela existência de meios de comunicação social em poder do Estado, para o predomínio de media privados.

No pós 25 de Abril, encontramos três fases evolutivas: a da nacionalização das rádios em Portugal, aparecer-am por todo o país as rádios livres, ou rádios piratas, a criação de uma lei que regulamentasse e pusesse uma certa ordem no panorama radiofónico. Muitas rádios piratas desapareceram, em favor das mais fortes e or-ganizadas, numa tentativa para adequar a quantidade de rádios ao mercado nacional.Como em todos os campos da comunicação social, o mercado dita as regras, e as rádios tentam (sobre)viver dependentes das medidas de audiência, para angariar publicidade.

A rádio abandonou a sua estrutura de programação com base em programas diferentes e bastante concre-tos, para adoptar uma programação mais ligeira que se organiza em sequências horárias ao longo do dia. São rádios que adoptam um estilo concreto de pro-gramação que varia entre a emissão de notícias ou a emissão de música. Este tipo de programação radi-ofónica tem uma audiência muito bem definida, cuja única exigência é a de aceder a um “fundo” musical que as acompanhe enquanto desenvolvem outras ac-tividades.

Recentemente, pouco mais aconteceu na rádio. A única coisa importante tem que ver com a alteração do esquema de negócio, que gradualmente foi sendo concentrado em grandes empresas. Tratou-se de uma alteração empresarial, com as necessárias consequên-cias de adaptação a um novo estilo de negócio, do qual decorre um novo conceito que é o de produto radi-ofónico.

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1900-1910

Primeiras experiencias de telegrafia sem fios (TSF) em portugal. A 12 de Fevereiro de 1901, o jornal “Diário de Notícias” dava conta do interesse do governo portu-guês na Telegrafia Sem Fios para fins comerciais, tendo incumbido a Direcção Geral dos Correios e Telegraphos de adquirir os aparelhos de T.S.F., e realizar uma ex-periência entre o castelo de S. Jorge e Palmela. Estas experiências não chegaram a ser efectuadas e o mate-rial que chegou a Portugal foi destinado ao exército. A 9 Março é feito o primeiro contacto via rádio (em Morse), em Portugal, entre o Forte da Raposeira, na Trafaria, e o forte do Alto da Ajuda. Foram operadores desta primeira ligação o capitão João Severo da Cunha e o tenente Pedro Alvares.Nas manobras militares navais conjuntas com navios da armada inglesa, a 19 de Agosto, trocaram-se men-sagens via T.S.F. entre o cruzador “D. Carlos” e navi-os ingleses.São aprovados em finais de Dezembro, os princípios gerais dos Correios e Telegraphos.

1910-1920

Em 25 de Maio, é criada a Administração Geral dos Correios e Telégrafos, que fica incumbida e passar as licenças para radiotelegrafistas.Em Lisboa, Fernando Medeiros põe em funcionamento um emissor de radio com capacidade de transmitir em fonia. Na primeira emissão Fernando Medeiros disse: «Está Lá? Ouve Bem?» O único “senfilista” à escuta, o Dr. Lomelino, ouviu-o numa Galena a 100 metros de distância. Fernando de Medeiros voltou a emitir no dia do seu aniversário, a 24 de Abril, mas desta vez com música - ligou uma grafonola ao microfone e emitiu o “Festival de Wagner. Foi ouvido por 3 “senfilistas”.Com a entrada de Portugal na 1ª Guerra Mundial, o Cor-po Expedicionário Português colocou em cada divisão do exercito uma secção de Telegrafia Sem Fios. Dois oficiais operavam o posto de T.S.F..

* ANTIQUE BRASS HORN

Desde 1900 que o Gramofone existe. Este é o Antique Brass Horn, execuções 78 RPM, o som é impressionante. O gramofone é ligado a uma base de madeira maciça experiente quadrados.

CRONOLOGIADA RÁDIO DE PORTUGAL

HISTÓRIA GRAVADA NA RÁDIO PORTUGUESA

FORMA DA RÁDIO

* ANTIQUE BRASS HORN

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1920-1930A 2 de Junho é inaugurado o posto de T.S.F. da ilha da Madeira. É ratificada a lei que autoriza o governo a con-ceder à Marconi´s Wireless Telegraph Company Limit-ed a exploração de postos de comunicação via rádio. A companhia Inglesa fica assim com o monopólio da “via rádio” internacional, mas em contrapartida a Marconi tem de criar uma companhia portuguesa para explorar a Telegrafia Sem Fios em território nacional.Abílio Nunes dos Santos cria a primeira emissora com programação regular: a rádio Lisboa. Em Maio, é fundado o Rádio Clube de Torres Vedras por quatro radiófilos locais. Em 23 de Agosto, Marconi termina a sua visita a Portugal. A 9 de Novembro, sai o primei-ro número da revista “T.S.F. em Portugal”. Começam a surgir divergências na Rádio Academia de Portugal e alguns dissidentes fundam a Sociedade Portuguesa de Amadores de T.S.F. Os auscultadores utilizados na recepção radiofónica começam a ser substituídos por altifalantes, o que permite a escuta colectiva. A Polícia de Segurança do Estado encerra cinco postos

1930-1940O jornal “O Século” organiza em 29, 30 e 31 de Maio o primeiro Congresso Nacional de radiotelefonia. Mais rádios aparecem em Lisboa: a “CT1DS”, a “Rádio Luso”, a “Rádio Graça” e a “Rádio Amadora”, futura “Rádio S. Mamede”. No Porto surge a “Invicta Rádio”. O decreto nº 22783, lança o plano de modernização das telecomunicações e também uma estação radi-ofónica oficial.Uma nova estação emissora surge no Porto: a “CS1RG - Rádio Gaia”. A 18 Maio são feitas emissões experimen-tais da “Emissora Nacional de Radiodifusão”(EN), de que António Joyce é nomeado director artístico, sendo criada a Orquestra sinfónica da EN. Instalação dos es-túdios na Rua do Quelhas, em Lisboa. A EN nasce ofi-cialmente já em Agosto de 1935.

No dia 28 de Maio de 1936, foi gravado o excerto do mais antigo discurso gravado de Salazar, proferido no Parque Eduardo VII, em Lisboa.

* PHILCO 90

Em 1930 começaram a aparecer rádios desenhados com muito cuidado, geralmente construídos a madeira e com contornos elegantes.Este é um Philco 90 “cathedral” de 1931. Desenhado por Scott Robinson.

* PHILCO 90

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1940-1950

Transformação da “Emissora Nacional” num organismo autónomo, com separação dos CTT. Em Junho encerra no Porto a “Sonora Rádio”. Entrada em funcionamento do emissor de 50kW, Onda Média, de Castanheira do Ribatejo da “Emissora Nacional”. A 17 de Abril, começa a ser emitido no “Portuense Rá-dio Clube” ,“A voz dos ridículos” - o mais antigo pro-grama da rádio portuguesa (e provavelmente do mun-do) que ainda é radiodifundido. A Rádio Festival ainda transmite este programa aos fins-de- semana. Excerto da manifestação de agradecimento a Salazar pelo não envolvimento de Portugal na 2ª Guerra Mundial .É transmitido o primeiro golo do Futebol Clube do Por-to. É também transmitido o primeiro golo do Sporting. Egas Miniz agradece o apoio à candidatura do Prémio Nobel da medicína.António Eça de Queirós toma a posse como presi-dente da EN. Indicativo do fecho do programa Rádio Mocidade. Reportagem sobre a chegada de Winston Churchill ao Funchal, em férias.

1950-1960

Santos Fernando e Ferro Rodrigues assinam, na “Emis-sora Nacional”, um programa que acabou por fazer história: “Ouvindo as Estrelas”. É inaugurado oficial-mente o Centro Emissor de Onda Curta de S. Gabriel em Pegões. A “Emissora Nacional” inaugura os seus dois primeiros emissores de Frequência Modulada em Lisboa e Lousã. O “Rádio Clube Português” inaugura o seu emissor de Onda Média, em Miramar, perto do Porto, com uma potência superior a 50 kw. Efectua-se o arrendamento de uma garagem na rua Sampaio e Pina, em Lisboa, para instalar os estúdios e demais serviços do “Rádio Clube Português”. Actualmente funcionam neste edifí-cio os estúdios e demais serviços da “Rádio Comercial”.Posse de Jaime Bernardino Martins Ferreira como presidente da EN.

CRONOLOGIADA RÁDIO DE PORTUGAL

* ZENITH ROYAL

Com o desenvolvimento da técnica e eletrónica, aparecem em 1940, rádios mais pequenos, transpor-táveis. Este rádio tem uma marca que foi conceituada, ZENITH Royal 3000-1 TransOceanic Radio.

* PYE R32

Os rádios foram evoluindo e tornando-se cada vez mais pequenos e práticos.PYE R32. Este rádio é de cerca de 1950 e é bastante incomum pois embora pareca um conjunto de válvu-las, é na verdade uma bateria alimentado dum modelo transistor.

Em 1945 é gravado o excerto das manifestações de agradecimento a Salazar pelo não envolvimento de Portugal na grande guerra.Em 1948 foi emitido o teatro de Frei Luis de Sousa.Em 1949 foi transmitido pela primeira vez o golo do Futebol Clube do Porto e do Sporting.Em 1949 foi transmitido o excerto da mensagem lida por Ega Moniz a agradecer o Prémio Nobel.

HISTÓRIA GRAVADA NA RÁDIO PORTUGUESA

Em 1950 é ouvido o indicativo de fecho do programa “ rádio mocidade”.Também em 1950 foi possível ouvir um excerto da re-portagem de Winston Churchill no Funchal. Em 1957 é emitida a chegada da rainha Isabel II a Lisboa.

FORMA DA RÁDIO

* ZENITH ROYAL

* PYE R32

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1970-1980

Reportagem sobre a morte de António de Oliveira Sa-lazar. País estava mergulhado no obscurantismo da ditadura, a guerra colonial fazia as misérias do povo, vivia-se ao nível do terceiro mundo enquanto que, aqui ao lado, a Europa se desenvolvia a passos largos.Com este cenário às 3 horas e 12 minutos do dia 25 de Abril, um grupo de militares ocupa os estúdios de Lisboa do “Rádio Clube Português”, transformando-o no “Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas”. Co-municado das Forças Armadas. Excerto sobre o 1 de Maio. São nacionalizadas as rádios em Portugal, com excepção da “Rádio Renascença”, “Rádio Altitude” e da “Rádio Pólo Norte” que se passaria a chamar mais tarde “Rádio Clube do Centro- Emissora das Beiras”. Com a nacionalização das rádios em Portugal, é criada a “E. P. R. - Empresa Publica de Radiodifusão”.

1960-1970

Início das transmissões da Rádio Escolar, como a primeira emissão dedicada a momentos da história de Portugal e a segunda dedicada a ensinar o cancioneiro nacional.Morre o major Jorge Botelho Moniz, presidente da di-recção do “Rádio Clube Português” e seu fundador com o Eng.º Alberto Lima Bastos.Registado o primeiro golo do Benfica. É transmitida uma reportagem sobre a queda da Índia Portuguesa. Entra em funcionamento o novo emissor de Frequên-cia Modulada” de Lisboa do “Rádio Clube Português”, com programação independente. Desde aí a frase de identificação da estação passou a ser «Rádio Clube Português... Sempre no ar... sempre consigo». Posse de José Sollari Allegro como presidente da EN.Aquando das grandes inundações de Lisboa, em 1968, o trabalho de reportagem e de cobertura do aconteci-mento foi de tal ordem que o programa acabou por se transformar numa espécie de centro de informações e de comunicações. Tem início, na onda média do “RCP”, o programa “Tempo Zip”, realizado por Carlos Cruz e Fialho Gouveia.

* SONY TR-610

Seria impensável falar de rádio sem falar do modelo Sony TR-610. Rádio Sony transistor de maior sucesso. Tem muitas parecenças com o que nós chamamos ag-ora de Ipod. Este rádio foi um marco importantíssimo para os anos 60.

* RÁDIO PORTÁTIL DOS ANOS 70

Este é um rádio portátil dos anos 70. Conhecido pelo seu design simples e prático. Completamente forrado a madeira.

Em 1961 é transmitida a chegada do paquete Santa Maria após o seu sequestro. com a intervenção de Sa-lazar.Em 1961 foi transmitido pela primeira vez o golo do Futebol Clube do Benfica e é transmitida uma reporta-gem sobre a queda da Índia Portuguesa.Em 1965, os portugueses tiveram a alegria de poder ouvir mensagens natalícias dos seus familiares mili-tares na Guiné.Em 1966, Eusébio converte penalti no Portugal-Coreia do norte (5-3). Em 1967, é transmitido um excerto da reportagem da vinda do Papa Paulo VI a Fátima.Em 1969 é transmitido em directo a chegada do primeiro homem à lua.

Em 1970, é transmitida a reportagem sobre a morte de Salazar. Em 25 de Abril de 1974, Joaquim Furtado transmite em directo o comunicado do Movimento das Forças Armadas. Em 1974, é emitida a reportagem sobre o 1º de Maio

* SONY TR-610

* RÁDIO PORTÁTIL

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(*)

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Aqui posto de comando do Movimento das Forças Armadas.As Forças Armadas portuguesas apelam para todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas, nas quais se devem conservar com a máxima calma. Es-peramos sinceramente que a gravidade da hora que vivemos não seja tristemente assinala-da por qualquer acidente pessoal, para o que apelamos para o bom senso dos comandos das forças militarizadas no sentido de serem evi-tados quaisquer confrontos com as Forças Ar-madas. Tal confronto, além de desnecessário, só poderia conduzir a sérios prejuízos individ-uais que enlutariam e criariam divisões entre os portugueses, o que há que evitar a todo o custo.

(*)

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muito surpreendido quando o director da rádio uni-versidade que fazia parte da mocidade portuguesa e fiquei muito surpreendido quando o director disse que aquilo não podia ir e aí passei a perceber que havia a possibilidade de censura na rádio.

Recordamos também um grande repórter da época - Alfredo Alvela.

è verdade, um grande amigo na dupla condição de pessoa, que era uma excelente pessoa, e na de grande repórter, ele era um repórter que consolidava um pou-co aquelas características que nós considerávamos um repórter clássico. Quer dizer que na rádio nunca se intimidava perante a necessidade de falar de impro-viso, o que fosse necessário, descrevendo com grande qualidade os acontecimentos que testemunhava e ao mesmo tempo tinha um ar algo boémio que fazia do repórter a imagem tradicional dum jornalista român-tico.

Estiveste no tempo Zip da rádio renascença que en-tretanto teve que fechar as portas e foste para o rá-dio clube português?

Depois fui para o rádio clube português e entreguei a redacção dos noticiários depois de ter feito um pro-grama que se chamava “ no mundo aconteceu”.

Os noticiários do rádio clube tinham marcas muito próprias. Sei que demoravam precisamente dois minutos e em dois minutos contava a história todo do mundo daquela altura.

Bem, os noticiários eram feitos a partir dos telegramas que nós disponhamos e que eram oriundos de duas fontes estrangeiras, a roiters e france pass, recebíamos também a ANI que era a empresa que depois veio mais tarde dar a lusa. A ANI era uma empresa controlada

Desde muito miúdo que tinhas assim uma “chamada” pela rádio não é?

Eu acho que comecei a trabalhar na rádio, já nos anos 60, quando o meu pai me ofereceu um transístor, um pequeno rádio. E foi daí que eu comecei a ouvir rádio com mais frequência e a achar que eu também era ca-paz de fazer certas coisas daquelas que ouvia.

Portanto eras ainda um miúdo nessa altura...e esse interesse da rádio ficou bem fixo nessa altura?

Sim ficou. Quando me questionava o que fazer, como qualquer jovem, só me via como profissional de rádio. Aliás lembro-me duma aula de inglês em que os alunos estavam a dizer o que é que queriam ser e a professora dizia em inglês como se dizia essa profissão e eu disse que gostava de trabalhar na rádio e ela disse “radio an-nouncer”. (risos)

Essa tua aventura na rádio teve os seus primeiros mo-mentos na rádio universidade.

Na rádio universidade fiz um concurso como havia na época, era um concurso exigente, não fui dos mais bens classificados antes pelo contrário, mas fiquei.

Que idade é que tinhas aqui?

Eu acho que tinha 18 anos.

Recordaste qual foi o teu primeiro trabalho?

o meu primeiro trabalho, que eu considero como tal, ou seja, já uma coisa mais elaborada, foi um trabalho em que eu passei a ter conhecimento que havia uma coisa chamada “censura” porque travasse de um programa de Natal e o principal do trabalho era um poema sobre António Gedeão e o poema fazia uma reflexão sobre a sociedade de consumo, a ideia do amor universal mas ao mesmo tempo os interesses pelas pessoas e fiquei

ENTREVISTA

Foi ele que leu os primeiros comunicados do movi-mento das forças armadas aos microfones do rá-dio clube português na madrugada de 25 de abril. O Joaquim Furtado tem consigo o documento, que está obviamente religiosamente guardado, onde es-tão os primeiros comunicados do movimento das Forças Armadas.

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pelo governo e de vez em quando recebíamos umas folhas duma agencia lusitana. Mas a maioria dos no-ticiários eram feitos a partir das agencias internacio-nais. Quando recebíamos os programas tínhamos que esperar pela censura que nos ia explicar o que não po-dia ser dito da linha x á linha x. Este era o procedimen-to oficial. Mas evidentemente que nós, devo dizer que com frequência, não respeitávamos essas indicações até porque eu pensava que não haveria um serviço de escuta permanente para ficar a fazer a comparação entre os telegramas que tinham sido analisados e os que afinal estavam a ser lidos na rádio. Achávamos assim que era mais difícil controlar-nos. Depois havia uma outra censura aplicada aos programas gravados. Estes eram sujeitos a uma apreciação duma comissão de fiscalização que existia uma no rádio clube e outra na rádio renascença que autorizava ou não a emissão dos programas.

Era um facto que muitas vezes era preciso escrever nas entrelinhas para contornar a censura...

Sim, eu acho que muitos de nós ganharam um traquejo, uma experiência, um treino para transmitir por metáfo-ras ou nas entrelinhas aquilo que não podia ser dito. Também não estou nada seguro que os ouvintes per-cebessem todas aquelas metáforas.

Bem sei que estamos a falar da rádio mas não posso deixar de lembrar uma série que tem a tua assinatura chamada “a guerra”, que retrata a guerra colonial na guiné, angola e Moçambique.

Não há muito material de arquivo sobretudo se pen-sarmos em reportagens da guerra, não se faziam e a principal razão é a censura. Apesar de tudo há muitas imagens, como é natural que existam e procurei uti-lizar tudo isto e aproveitei para utilizar imagens que não tinham propriamente que ver com a guerra mas que ajudam a contextualisar num plano social, político o conflito.Mas fiz 230 entrevistas a a pessoas que vão aparecen-do na série que testemunharam ou participaram.

O teu nome vai ficar para sempre ligado a um fac-to histórico, na verdade foste a pessoa que leu os primeiros comunicados das forças armadas, já na madrugada do 25 de abril, ás 4 da madrugada. Uma data inesquecível para ti, um momento muito espe-cial na tua vida. Pois, vai ficar na pequenas história graças aos militares que entraram na rádio clube portuguesa, esses sim vão ficar na grande história.

Queres recordar como é que tudo aconteceu?

Estava sossegadinho a ver os tais telegramas que falá-vamos á pouco, a ver quais podiam ser lidos, quais não

podiam, a preparar portanto o noticiário, era de madru-gada e só estavam algumas pessoas presentes na rá-dio. Era o caso dos técnicos, o Franquelino Rodrigues e o Fernando Roberto, e nós de vez em quando faláva-mos como é natural quando se prepara o noticiário. E foi o que eu pensei quando senti uma presença junto á secretária. A presença manteve-se, não disse nada nos primeiros instantes, eu olhei e era um dos militares que estavam a ocupar o rádio português para fazer dele o posto de comando das forças armadas. Era o capitão Santos Ferreira que estava á minha frente de pé com um revolver, não estava com um ar nada agressivo, es-tava armado simplesmente e não foi muito explicito em relação á natureza que o levava ali. Disse-me qualquer coisa muito genérica sobre o movi-mento militar e saiu. Fiquei pensativo uma vez que não percebia a natureza do que se estava a passar e na altura já haviam rumores de que se preparava um golpe de estado. Uns segundos depois dirigi-me ao corredor onde estavam os outros militares onde estava o capitão Santos Coelho a quem eu perguntei: “desculpe, o que é que se está a passar?”. Ele disse: “Isto é um movimento militar para derrubar o regime, pedir eleições livres, acabar com a PIDE, acabar com a censura, acabar com a guerra colonial e libertar os presos políticos.” E este era o programa do MFA...e eu aderi á ideia! (risos)

Bom, já não fazes rádio á imenso tempo...

Sim, há uns 15 anos, ou talvez mais...

Estás mais vocacionado para a televisão actual-mente?

Sim. A partir de certa altura achei que a televisão me permitia fazer certas coisas que eu gosto muito e que a rádio nao me permite fazer. Como por exemplo, séries, “ A guerra”, grandes reportagem. A televisão permite ter um outro impacto naquilo que se faz, é um investi-mento diferente. A componente imagem é muito exi-gente, tudo deve estar condicionado á imagem e esta está dispensada da rádio.

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1980-1990

Após um aumento discreto desde 1977, outras estações piratas de radiodifusão, vão aparecendo em Portugal. “Rádio Antena Livre”, “Rádio Universo”, “Rádio Nova Era”, “Rádio Livre Internacional”, “Rádio Hertz”, e mui-tas outras. Há notícias de que terão estado em fun-cionamento, entre 1977 e 1988, perto de 800 estações piratas de radiodifusão.É publicado, finalmente, o Decreto Lei 167/84 22 de Maio, que institui o Estatuto da Radiodifusão Portu-guesa, EP. A 17 Junho começam as emissões experi-mentais da “TSF - Rádio Jornal”, só em Lisboa e não legalizada.Reportagem sobre a adesão à CEE. Calcula-se que neste ano emitam clandestinamente entre 500 e 800 rádios. Processo de legalização das “rádios piratas” portuguesas. Para participarem na le-galização, as emissoras teriam de deixar de emitir a 24 de Dezembro. Todas as rádios “Piratas” encerraram, centenas nunca mais voltaram a emitir, só seriam le-galizadas cerca de 40%.

1990-2000

Criação do museu da Rádio.A “Rádio Comercial”, herdeira do “Rádio Clube Por-tuguês”, é privatizada. Tinha estado até esta data in-tegrada na “RDP”.Transformação da RDP em Sociedade Anónima, cri-ação da Antena 3.Durante a “Expo 98” de Lisboa, a “RDP” inicia as emis-sões em Digital Audio Broadcasting. Indicativo e notí-cia da atribuição do Prémio Nobel da Literatura a José Saramago.

* PHILIPS ROLLER D 8007

A partir de 1980 surge o Radio Cassette. Os rádios são maiores mas continuam a ser portáteis. Passear com o rádio na rua torna-se moda. O rádio tem um design de caracter mais moderno, mais “pop”. É essencialmente usado o plástico para construção mais barata, prática e eficiente. Este é um rádio da marca Philips Roller D 8007.

* RC-550

Este rádio é um aparelho de som, com 4 altifalan-tes. Todos o controlo e botões estavão no topo. Uma grande ressonância (40 watts de potência), a respos-ta de graves num grande momento de música heavy bass, funk e R & B foram importantes para iniciar o Rap e Movimento Hip Hop. Este rádio também tinha um cinto especial para alçar ao ombro e ainda tinha uma mala de transporte especial.

Em 1985 é transmitida uma reportagem sobre o ambi-ente em Lisboa no dia da adesão de Portugal à Comu-nidade Económica Europeia.Em 1988, é noticiado o incêndio no Chiado.

Em 1998 é noticiada a atribuição do Prémio Nobel da Literatura a José Saramago, por Francisco Sena San-tos.

HISTÓRIA GRAVADA NA RÁDIO PORTUGUESA

CRONOLOGIADA RÁDIO DE PORTUGAL

FORMA DA RÁDIO

* PHILIPS ROLLER D 8007

* RC-550

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2000-2010

Indicativo e notícia dos atentados nos EUA de 11 de Setembro.A RDP passa a integrar a Rádio e Televisão de Portugal, RTP, SGPS, S.A.A Rádio Televisão de Portugal, constitui-se em socie-dade de capitais exclusivamente públicos. A RDP inaugura 5 emissões on-line: Rádio Lusitânia, Antena I Vida, Antena 3 Rock e Antena 3 Dança.

* IPOD

Auto intitulado como o “O dispositivo perfeito”O iPod surge em 2001, foi desenvolvido por Jonathan Ive e pela equipa da Apple Design. É talvez o exemplo mais popular e contemporâneo de um clássico “design “, o iPod da Apple incorpora os fatores de simplicidade, usabilidade e novas tecnologias.

Em 2001, no dia 11 de Setembro, a rádio transmite a desgraça dos atentados nos EUA.Em 2004, no mundial de futebol. é emitida a conversão de penalti de Ricardo, o que permite a passagem de Portugal às meias- finais do campeonato.

* IPOD

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Estive nas pequenas rádios até 52, depois o Humberto Mergulhão foi para a rádio oficial de Angola e abriu uma vaga na locutora do emissário regional do norte. e o Fernando Vitorino de Sousa avisou-me que havia essa vaga.comecei propriamente na ideal rádio, na orseque, rádio clube do norte, rádio porto, sonora rádio...

Acha que estas pequenas emissoras apesar de tudo tiveram a sua importância e e foram, de alguma for-ma a sua própria escola da rádio?

Sim, nós jovens procurávamos mundificar caminhar no sentido de que a rádio deveria transformar-se na oi-tava arte. Oitava arte porque nós éramos um grupo de rapazes e poucas raparigas que já tínhamos alguns conhecimentos, estávamos a frequentar o liceu, tínha-mos o curso secundário, alguns já tinham entrado na universidade e então, como éramos também apaixona-dos pelo cinema, o cineclube do porto foi o primeiro, creio, da península ibérica, que nasceu de uns colegas meus um pouco mais adiantados que criaram o clube portuense de cinematografa, que era a sétima arte, e nós queríamos fazer da rádio a oitava arte para isso era preciso criar uma estética própria, era preciso criar substancia que pudesse definir a rádio como uma arte e não apenas como um meio técnico de transmissão á distancia do som. portanto rádio deu-me esse con-tributo mas nós quisemos ir mais longe.

Porque é que não foram mais longe?

Por várias razões, uma delas é o disco ter alimentado a substancia da rádio, quem tivesse disco, punha os dis-cos e preenchia o tempo e portanto, para mim o disco, que era um objecto para se comprar e ouvir em casa...

Mas pensa que a rádio é uma forma de arte?

É uma forma de arte em muitos dos seus aspectos, não quer dizer que tudo o que se faz na rádio tenha que ter essa marca de arte.

Algum tempo mais tarde profissionalisou-se, começou na emissora nacional como locutor e mais tarde como arquivista musical.

Exactamente, eu fui locutor e entretanto abrem o con-curso para o serviço da emissão musical, e eu como tinha estudado no conservatório de musica do porto, tinha as habilitações necessárias para poder concorrer ao concurso e isso permitia-me, se passasse, poder participar como locutor na rádio particular, porque os locutores da emissora eram vozes exclusivas da emis-sora nacional. felizmente assim aconteceu, ganhei o concurso e instalo os serviços: arquivos musicais, mu-sica viva, arquivo histórico.

Isso deve ter dado um enorme prazer sendo um serviço criado de raiz.

Exactamente, e é claro que vim a conhecer o serviço que havia já em Lisboa, e foi á imagem do que já se fazia que eu criei o que chamamos uma “discoteca de base” onde se podia fazer a história da musica, na qual podiam ir buscar elementos para ilustrar.

Numa outra fase da sua vida profissional, também prestou provas para a rádio renascença.

Sim, como eu depois podia ser locutor cá fora, respon-di a um anuncio do jornal para ser locutor e recebi o convite da renascença para me apresentar e entretanto apresentei-me nos estúdios, prestei provas e fiquei.

Pensa que os concursos que se faziam na altura eram exigentes na forma de selecção?

Na emissora nacional, primeiro havia uma prova de voz e depois tínhamos que ler textos dos mais diversos, prosa, verso, também tínhamos que ler em francês e inglês, tínhamos que ler o mapa horário do programa dois, e havia títulos por exemplo em alemão, italiano, não exigiam que nós dominássemos essas línguas mas que tivéssemos conhecimento básico das mesmas. fazer diálogos, textos técnicos...depois havia uma pro-va de improviso em que nos davam 4 minutos em que tínhamos que improvisar.na renascenca era menos rigoroso.

Acha que, de hoje em dia, é mais fácil ter acesso a um microfone na rádio?

Eu não sei como é que está controlado esse acesso, estou um bocado afastado de tudo isso e até não sou propriamente um ouvinte de rádio.

Não é um ouvinte de rádio?

Não estou zangado com a rádio mas é muitas coisas que não me interessam. cansa-me...sei que há coisas boas mas são tantas e dispersas que eu tenho que andar á procura delas. sei que há coisas que estão a ser bem feitas, de resto é de manha á noite sempre o batimento. além disso cansa-me também a forma pou-co rica do léxico da improvisação, pouco riqueza na comunicação, linguagem codificada, frases feitas, er-ros cristalizados que se repetem, e portanto a prosódia não foi nada enriquecida e isso também empobrece o próprio auditório.

Julgo saber que está ligado ás primeiras rádio novel-as que foram feitas em Portugal?

Não sei se ás primeiras porque não conhecia bem o que se fazia na pequena rádio em Lisboa, eu visitei alguns emissores como clube peninsular, rádio graça, etc, em 1950 em Lisboa, onde vim fazer o meu curso na tropa.Nos anos 40 já a ideal rádio fazia radio novelas, lembro-me da Marta mesquita da câmara, poetiza do norte, que escrevia no primeiro de janeiro, fazia adaptações de coisas de Camilo, portanto fazíamos adaptações de romances em directo dos anos 40. Mas não sei, não posso garantir que foram as primeiras.

ENTREVISTA

Fernando Rocha, em Outubro de 1959 foi uma das vozes da inauguração com a Maria Eugénia dos es-túdios da rádio renascença. Começou na rádio por volta dos 10, 11 anos em programas infantis, clube infantil.

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Mas houve uma rádio novela á qual esteve ligado, a rádio novela que se chamava “sonho de amor”.

A novela não se chamava “sonho de amor”. Chamava-se “o rapto”. O protagonista dessa novela era um boé-mio, que era eu (fiz quase sempre papel de mau, eu e a Olga Cardoso, era o meu par), e então eu andava muito pela vida nocturna, boates, cabarés, e então ás vezes cantava no cabaré, espontaneamente. Então o “sonho de amor” era uma cantiga incluída na novela e do próp-rio autor da rádio novela.

Portanto o Fernando também cantava nessa novela.

O autor diz-me: á, tenho uma surpresa para ti! á qual eu disse que não cantava, não era dessa área. apesar de já ter tido uma dessas brincadeiras na rádio. cantei o meu primeiro fado de Coimbra na rádio. porque nós fizemos uma coisa na rádio ideal que se chamava “murmúrios de Mondego”, veja bem. Transformava-mos o estúdio numa “ republica de Coimbra”, e então fazíamos uma série de piadas, havia uns rapazes que estudavam me-dicina que faziam uns textos. levávamos um garrafão com vinho, umas coisas para comer e portanto aí cantei pela primeira vez na rádio um fado de Coimbra, mas não voltei a fazer uma coisa dessas. O sonho de amor foi incluído nessa novela e começou a ser pedida a música pelos ouvintes. até que a Valentim de carvalho mostra-me interesse em gravar esse disco.

Há quantos anos é que deixou os microfones?

Ora bem, eu deixei a emissora nacional em 85 e de-pois saí da renascença em 95 e a ultima actividade que deixei foi a de leitor de livros para cegos na biblioteca nacional do porto em 2000. Aí cessou a minha activi-dade nacional.

Posso perguntar-lhe se tem saudades da rádio?

Não sei se podemos falar dessa maneira. Sabe que eu tenho esta sensação, eu comecei, desenvolvi um tra-balho que vem em crescendo, durante um tempo que me parece que foi o normal, e acabei quando devia ter acabado. E por isso fico com uma sensação de ter feito, julgo ter ido para além do mínimo, pelo menos o mínimo que devia ter feito neste tipo de actividade. e portanto não há propriamente uma saudade do que fiz, fico talvez com alguma saudade dos que me ouviram.

Ainda hoje tem manifestações de carinho por parte do público quando se cruzam consigo?

Tenho, é curioso que ultimamente, no sitio onde eu morreu e noutros sítios fora da cidade, há pessoas que me interpelam porque eu fui da rádio, Também um pouco da televisão e fiz centenas de es-pectáculos públicos. inclusive em Lisboa, apresentei dois espectáculos do inatel no coliseu dos recreios, um deles com a Maria Leonor.

A nivel nacional, partilha daquela ideia de que os profissionais de rádio no norte do país são porventu-ra menos conhecidos do que os do sul?

São menos conhecidos, porque a maioria dos nossos programas de origem no Porto, não chegam a Lisboa.Praticamente em todas as rádios, a renascença é que é uma rádio nacional mas mesmo assim, os programas que eu fazia eram de rede norte e o centro. O programa no qual eu comecei na renascença foi o “ a volta ao mundo em 80 minutos, com a Maria Eugé-nia, que depois deu origem á “manha musical”. Eu e a Maria Eugénia, começamos com este programa em 55. Suponho que na altura não havia programas de hora e meia com um par a apresentá-lo como este.

Podemos dizer com rigor que há uma nova fornada de profissionais da rádio a sair das universidades?

Há, de bons profissionais não sei mas pelo que eu ouço e vejo não sei se estão a ensinar bem. É curioso que eu predispus-me, não tenho curso superior, a dar o teste-munho da minha experiência nas universidades mas nenhuma aceitou ouvir-me para eu dar um testemunho

que se perde com o tempo, um testemunho vivo que tenha abarcado estas décadas de rádio.

Deixou-o incomodado essa rejeição?

Fiquei um pouco triste, não tenho nada escrito e há coisas empíricas, não totalmente empíricas, que tenho sobre o fenómeno da rádio e da televisão e portanto acho que podia ter algum contributo.

Com toda a sua experiência e sabedoria de muitos anos de rádio, aliada á experiência de vida dos seus magníficos 81 anos, a rádio aprende-se nos livros ou aprende-se com os profissionais mais antigos, pa-ralelamente mais experientes que podem partilhar essas vivências e experiências com os mais novos?

Olha há coisas que não se aprendem, nós estamos a falar de comunicação e a pessoa ou é comunicativa ou não é, no dia a dia. Agora podemos é aprender, disci-plinar a forma de comunicar. Podemos aprender técni-cas de comunicação, e o meio implica a aprendizagem de técnicas. conforme o meio que eu uso, assim tenho uma técnica, se escrevo tenho uma técnica, se falo tenho outra. Quem não tem a habilidade de comunicar não é por tirar um curso que vai adquiri-la, e também é preciso ter ousadia.

Mas é dos livros que se aprende?

Há que aprender, é claro que nós hoje temos escolas que têm essas disciplinas da comunicação social que abrange muita coisa.O que eu acho é que cada geração que chega faz a sua rádio e quem está sobretudo nas grandes rádios es-quece-se que há pessoas com outras idades. As vezes sinto que á profissionais que estão a brincar na rádio, e a rádio deixa de chegar a mim.

Que tipo de mensagem poderia interessar aos mais jovens que se sentem apaixonados pela rádio?

Primeiro, cultivem a língua portuguesa, aprendam a falar bem português. Segundo, treinem o improviso. terceiro, consigam adquirir a maior fluência possível na expressão. Quarto, sejam humildes, saibam ouvir as pessoas com quem falam nas entrevistas, não disparem as perguntas, conversem. Quinto, tenham uma cultura geral razoável, e tenham uma linguagem própria para cada área da cultura.

A rádio e um fascínio?

É, como a televisão, ou como foi o cinema, ainda é. Continuo fascinado pela rádio. A rádio em si, no sen-tido abstracto, o fenómeno rádio, fascina-me.

Com tantos anos de actividade profissional, o que é que sente quando olha para trás, para o passado?

Sinto que cumpri, cumpri as tarefas que me foram atribuídas, tomei iniciativas, acho que introduzi alguma inovação na forma de tratar alguns assuntos e acho que pus em prática alguns critérios pensados, não es-tive á busca da popularidade.

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