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Aprovada regulamentação com emendas trabalhistas A luta é por direitos, crescimento e valorização do trabalho > Pág. 3 DIA DO TRABALHADOR SALÁRIO MÍNIMO O “Março Mulher” priorizou a luta pela igualdade e contra a violência > Pág. 15 ÓRGÃO OFICIAL DA FORÇA SINDICAL Ano 24 – N o 97 – abril de 2015 – DISTRIBUIÇÃO GRATUITA – www.fsindical.org.br – www.twitter.com/centralsindical A Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei (PL) 4.330, que amplia a terceirização para todas as atividades das empresas, com a incorporação das emendas apresentadas pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, do Solidariedade-SP. Se também passar pelo Senado, a matéria vai estender os direitos trabalhistas e previdenciários dos 35 milhões de empregados efetivos aos cerca de doze milhões de terceirizados. > Págs. 8 a 11 FOTO: JAÉLCIO SANTANA Política de valorização do mínimo é prorrogada até 2019 > Pág. 4 TERCEIRIZAÇÃO DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Jornal da Força Sindical ed. 97

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Aprovada regulamentação com emendas trabalhistas

A luta é por direitos, crescimentoe valorização do trabalho > Pág. 3

DIA DO TRABALHADOR SALÁRIO MÍNIMO

O “Março Mulher” priorizou a luta pela igualdade e contra a violência > Pág. 15

FORÇA SINDICALFORÇA SINDICALFORÇA SINDICALFORÇA SINDICALFORÇA SINDICALFORÇA SINDICALFORÇA SINDICALFORÇA SINDICALÓRGÃO OFICIAL DA FORÇA SINDICAL Ano 24 – No 97 – abril de 2015 – DISTRIBUIÇÃO GRATUITA – www.fsindical.org.br – www.twitter.com/centralsindical

A Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei (PL) 4.330, que amplia a terceirização para todas as atividades das empresas, com a incorporação das emendas apresentadas pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, do Solidariedade-SP. Se também passar pelo Senado, a matéria vai estender os direitos trabalhistas e previdenciários dos 35 milhões de empregados efetivos aos cerca de doze milhões de terceirizados. > Págs. 8 a 11

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DIA DO TRABALHADORDIA DO TRABALHADOR

Política de valorização do mínimo é prorrogada até 2019 > Pág. 4

TERCEIRIZAÇÃO

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

JORNAL DA FORÇA SINDICAL — NO 97 JORNAL DA FORÇA SINDICAL — NO 97

Uma vida melhor

Os cerca de doze milhões de empre-gados terceirizados brasileiros que ainda não tinham seus direitos pre-

videnciários e trabalhistas garantidos por lei, certamente terão uma vida melhor daqui para a frente. É que a Câmara dos Deputados aca-ba de aprovar o Projeto de Lei (PL) 4.330, que amplia a terceirização da mão de obra para todas as atividades das empresas privadas, com a incorporação das emendas do deputa-do federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, do Solidariedade-SP.

Até agora os terceirizados ainda não sabiam, em caso de demissões, de quem cobrar seus direitos, se da empresa à qual pertencem ou se da companhia na qual executam deter-minado serviço. Com a regulamentação, os direitos dos terceiros serão preservados, e a normatização vai assegurar o cumprimento das obrigações trabalhistas, tributárias e pre-videnciárias por parte das empresas.

O projeto original que autoriza a terceirização nas atividades-meio e fi m, do então deputado federal Sandro Mabel, iria ser aprovado na Câ-mara dos Deputados e precarizaria as relações de trabalho. É que os deputados ligados aos

empregados não teriam como opor-se à matéria porque somam apenas cinquenta parlamentares na Casa, ante os mais de duzentos ligados aos patrões.

Por isto, as seis principais Centrais Sindicais do País nomearam o deputado Paulinho seu interlocutor, com a tarefa de apresentar e nego-ciar as emendas com o relator do PL, o depu-tado federal Arthur Maia, do Solidariedade-BA.

No entanto, as Centrais (com exceção da Força Sindical e da CSB) desistiram da pro-posta e passaram a acusar Paulinho de não representar os interesses dos trabalhadores, apesar de as entidades o terem escolhido para a negociação. São tempos complicados!

O projeto determina que a empresa con-tratada terá de ser especializada, o que vai impedir a proliferação de intermediários de mão de obra. Se a empresa terceirizada não pagar os direitos trabalhistas e previdenciá-rios, a contratante vai arcar com os custos. Além disso, os terceirizados que exercerem atividades-fi m serão representados pelos mesmos sindicatos dessas categorias, e não pelas entidades sindicais dos funcionários terceirizados.

EDITORIAL Miguel Torres, Presidente da Força Sindical

ARTIGO

Projeto impedirá o caos nas relações de trabalho

Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, deputado federal do Solidariedade-SP

Está seis a zero a votação no Supremo Tribu-nal Federal (STF) pela derrubada da Súmu-la 331, a única regra clara que determina a

terceirização da mão de obra apenas da atividade--meio. Quase ao mesmo tempo, a Câmara dos De-putados havia decidido aprovar o texto original do Projeto de Lei (PL) 4.330, do então deputado fede-ral Sandro Mabel, que favorece as empresas e não garante nada aos trabalhadores.

Seria o caos nas relações de trabalho caso pas-sasse o PL do Mabel. Fui designado pelas seis prin-cipais Centrais Sindicais brasileiras para elaborar e debater as quatro emendas com o relator do pro-jeto, o deputado Arthur Maia (Solidariedade-BA).

Elas foram aprovadas, e o projeto vai para apre-ciação do Senado. A partir de agora, os mais de doze milhões de trabalhadores terceirizados, que têm direitos suprimidos por empresas inescrupu-losas, vão receber os seus direitos trabalhistas e

previdenciários. Estas pessoas voltarão

a ser representadas pelos seus sindicatos de origem, e vários empresários já admitiram que não deverão terceirizar tantos trabalhadores por-que a tendência é que, com as mudanças, eles passem a ter mais direitos do que os efetivos. As empresas se tornarão companhias especia-lizadas em uma única atividade justamente para acabar com as fi rmas fornecedoras de mão de obra para várias atividades.

O projeto, modifi cado por nossas emendas, asse-guram, também, que, se a empresa terceirizada não pagar os direitos trabalhistas e previden-ciários, a contratante vai arcar com os custos. Os terceirizados que exercem atividades-fi m serão representados pelos mesmos sindicatos dessas categorias, e não pelas entidades sindicais dos funcionários terceirizados.

Melquíades de Araújo, Antonio de Sousa Ramalho, Eunice Cabral, Levi Fernandes Pinto, Almir Munhoz, João Batista Inocentini,Paulo Roberto Ferrari, Carlos Alberto dos Reis, José Lião,Wilmar Gomes dos Santos, Abraão Lincoln Ferreira da Cruz,Antonio Silvan Oliveira, Carlos Antonio Figueiredo Souza, Terezinho Martins da Rocha, Valdir de Souza Pestana, Maria Augusta C. Marques, Fernando Destito Francischini,Francisco Soares de Souza, Gidalvo Gonçalves Silva, Luiz Carlos Gomes Pedreira, Rubens Romão Fagundes, Nilton Rodrigues da Paixão Jr., Nilton Souza da Silva (Neco),Geraldino dos Santos Silva, Anderson Teixeira, Arnaldo Gonçalves, José Pereira dos Santos, Paulo José Zanetti, Maria Auxiliadora dos Santos, Jefferson Tiego da Silva, Aparecido de Jesus Bruzarrosco, Adalberto Souza Galvão,Ruth Coelho Monteiro, Helena R. da Silva, Luiz Carlos Anastácio,Hebert Passos Filho, Carlos C. Lacerda, Elmo Silveira Léscio,Walzenir Oliveira Falcão, Valdir Pereira da Silva,Milton B. de Souza Filho, Jamil Dávila e Eliana Aparecida C. Santos

FORÇA SINDICAL NOS ESTADOS (presidentes)

AC – Luiz Anute dos Santos; AL – Albegemar Casimiro Costa;AM – Vicente de Lima Filizzola; AP – Moisés Rivaldo Pereira;BA – Nair Goulart; CE – Raimundo Nonato Gomes; DF – Carlos Alves dos Santos (Carlinhos); ES – Alexandro Martins Costa; GO – Rodrigo Alves Carvelo (Rodrigão); MA – José Ribamar Frazão Oliveira; MG – Vandeir Messias Alves; MS – Idelmar da Mota Lima; MT – Manoel de Souza; PA – Ivo Borges de Freitas; PB – Evanilton Almeida de Araújo; PE – Reinaldo Alves de Lima Jr.; PI – Vanderley Cardoso Bento; PR – Nelson Silva Souza (Nelsão); RJ – Francisco Dal Prá; RN – José Antonio de Souza; RO – Francisco de Assis Pinto Rodrigues;RR – José Nilton Pereira da Silva; RS – Marcelo Avencurt Furtado;SP – Danilo Pereira da Silva; SC – Osvaldo Olavo Mafra;SE – Willian Roberto C. Arditti; TO – Carlos Augusto M. de Oliveira

ESCRITÓRIO NACIONAL DA FORÇA SINDICAL EM BRASÍLIA:SCS (Setor Comercial Sul) – Qd 02 – Edifício Jamel Cecílio – 3o andarSala 303 – ASA Sul – 70302-905 – Fax: (61) 3037-4349 – Fone: (61) 3202-0074

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é uma publicação mensal da central de trabalhadores FORÇA SINDICAL

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Luiz Antonio de Medeiros

PRESIDENTE: Miguel Eduardo Torres

SECRETÁRIO GERAL: João Carlos Gonçalves (Juruna)

TESOUREIRO: Ademir Lauriberto Ferreira

empregados não teriam

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ABRIL DE 2015ABRIL DE 2015

Direitos e crescimento com valorização do trabalho

Mais direitos com crescimento econômico é o tema que vai nortear o 1º de Maio, Dia do Tra-balhador, da Força Sindical. A Central preten-

de provocar os trabalhadores a fazer uma refl exão acerca do momento político, econômico e social do Brasil, tendo em vista viabilizar a Agenda da Classe Trabalhadora, que aponta para o desenvolvimento com soberania, democracia e valorização do trabalho. Num momento em que o Brasil enfrenta difi culdades que vão prejudicar os trabalhadores, seja retirando direitos trabalhistas e previdenciários ou seja aumentando a infl ação, reduzindo a atividade econômica e aumentando o desemprego, cabe aos trabalhadores, à Força Sindical e às demais Centrais apontar soluções para resolver o imbróglio e impedir que a conta da crise seja co-brada dos empregados.

Pauta TrabalhistaPor isto, a Força Sindical e as demais Centrais reivindicam

redução da jornada semanal de trabalho, sem o corte nos sa-lários; manutenção da política do salário mínimo; revogação da lei do Fator Previdenciário; redução da taxa de juros; corre-ção da tabela do Imposto de Renda na Fonte e revogação das Medidas Provisórias (MPs) 664 e 665, que difi cultam o acesso das pessoas a benefícios trabalhistas e previdenciários.

“Assim, pretendemos recolocar o Brasil na rota do desen-volvimento sustentado com valorização do trabalho”, propôs o presidente licenciado da Força Sindical e deputado federal pelo Solidariedade-SP, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho. “Por causa da presidenta Dilma Rousseff, o País passa por um mo-mento complicado, pois ela mudou a equipe econômica para jogar a conta da crise nas costas dos trabalhadores”, comple-tou o deputado.

Petrobras“Além disto”, continuou Paulinho, “como a corrupção to-

mou conta da Petrobras, há uma séria ameaça de quebra-deira de empresas fornecedoras de equipamentos à estatal, e o desemprego se espalha por toda a cadeia produtiva do petróleo”.

O 1º de Maio da Força Sindical também será de festa. Ha-verá sorteio de dezenove automóveis HB 20 zero quilômetro da Hyundai e shows com grandes atrações musicais, como Paula Fernandes, Zezé di Camargo & Luciano, Leonardo e Bru-no & Marrone, entre outras. Local: praça Campo de Bagatelle, próximo à estação Santana do Metrô, das 9 às 15 horas.

3 1º DE MAIO >>>

www.fsindical.org.br

Mais direitos

Correção da tabela do Imposto de Renda

Redução da jornada de trabalho

Manutenção da política de valorização do salário mínimo

Aumento para os aposentados

Juros menores

Revogação da lei do Fator Previdenciário

Mais investimentos em saúde, educação e transporte

Igualdade de oportunidades entre homens e mulheres

Valorização do servidor público

BANDEIRAS DE LUTA

Foto: Arquivo Força Sindical

Valclécia e Arakém participam de reunião organizativa do Dia do Trabalhador

JORNAL DA FORÇA SINDICAL — NO 97 JORNAL DA FORÇA SINDICAL — NO 97

Resultado da luta dos trabalhadores, a política de valorização do salário mínimo, que perderia a validade este ano, foi

prorrogada pela Câmara dos Deputados até 2019. Falta ainda analisar os destaques ao Projeto de Lei (PL) 469/14, que sugerem aplicar o reajuste também às aposentadorias e estabelecer um percentual mínimo de reajuste de 2%, propostas rejeitadas pelo governo.

A versão do projeto aprovada é do deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (Solidariedade-SP), do ex--líder do PSDB, Antônio Imbassahy (BA) e do deputado licenciado Fernando Francischini (Solidariedade-PR).

Pela regra atual, o salário mínimo é rea-justado em percentual equivalente à infl ação acumulada no ano an-terior mais o percen-tual de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos an-tes. A fórmula é usada desde 2007, e foi insti-tuída por lei em 2011, no governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com validade até janeiro de 2015. A presidenta Dilma Rousseff já havia prometido manter o modelo até 2019, embora a pro-posta encontrasse resistências na equipe econômica.

Ganho realCom a fi xação do piso em R$ 788,00, em janeiro

deste ano, o salário mínimo acumula um ganho real de 76,54% em comparação com os R$ 200,00 verifi ca-dos em 2002, de acordo com levantamento do Dieese. Segundo Paulinho, 46,7 milhões de trabalhadores ga-nham o mínimo no País, dos quais 21,9 milhões rece-bem o benefício via INSS.

O projeto, no entanto, não tocou no reajuste para aposentados e pensionistas, defendido por alguns deputados, entre os quais Paulinho (Solidariedade). Outra regra que permanece inalterada no texto da lei é o cálculo e a divulgação dos valores no início de cada ano por meio de decreto do Executivo, sem a necessidade de um novo projeto de lei.

“Aprovamos um projeto importante, de minha auto-ria, que garante aumento real para o salário mínimo até o ano de 2019”, disse o deputado. Ele e os de-mais parlamentares argumentam que, “embora tais índices de correção estejam ainda longe do ideal, já representam um grande passo e devem ser mantidos para preservar o direito fundamental de crescimento da renda em percentuais mínimos”.

Política vai até 2019

SALÁRIO MÍNIMO >>>4

Foto: Arquivo Força Sindical

O projeto passou na Câmara por causa da pressão dos trabalhadores

milhõesde trabalhadores

ganham o mínimo no País

46,7

O mercado de trabalho deverá sofrer grande impacto com as medidas de ajuste implementadas pelo gover-no, segundo o ‘Boletim de Conjuntura’, divulgado pelo Dieese em março. “A política monetária, de elevação da taxa básica de juros, e a política fi scal, de redução dos gastos públicos, terão refl exos no emprego, tanto público quanto privado”, destaca o documento.

Para o instituto, os sinais são preocupantes porque aparecem nas estatísticas. Em que pesem os resultados anuais das pesquisas, que apontam redução das taxas de desemprego em 2014, comparativamente a 2013, o mercado de trabalho passou a enfrentar um processo de retração a partir do segundo semestre do ano passado.

A elevação do desemprego altera a lógica do mer-cado de trabalho e a atuação sindical. O Dieese avalia que a queda na criação de postos de trabalho e a elimi-nação de vagas já existentes no mercado deverão ter impacto negativo sobre os salários, pois as empresas vão promover maior rotatividade para se benefi ciar do

aumento da oferta de mão de obra. Por esse expedien-te, elas substituem os funcionários ativos, contratados quando o mercado estava aquecido, por novos, com salários menores.

Redução de salário“Assim, em breve espaço de tempo, os salários

nominais médios terão se reduzido”, frisa o boletim. Esses sinais já aparecem nas pesquisas. Levando em conta esta conjuntura, os sindicatos terão difi culdades na barganha por aumentos reais de salários, uma vez que a preocupação do movimento estará voltada mais para a manutenção do emprego do que para o aumento da remuneração dos trabalhadores. Nesse estado de coisas, não é difícil imaginar que as entidades sindicais, ao longo do ano, com o desaquecimento do mercado de trabalho, passem de uma posição mais ofensiva, que vinham mantendo até agora, para uma mais defensiva diante da nova realidade.

DIEESE

Ajuste causa desemprego e reduz salário

ABRIL DE 2015ABRIL DE 2015

Capital e trabalho já vêm ensaiando há tempos um acordo comum com vistas a defender a indústria

nacional de transformação, que sofre os efeitos da estagnação econômica motivada pela queda do nível de investimentos públicos e privados, com reflexos negativos sobre o emprego e a renda.

Acossados pela conjuntura adversa, repre-sentantes de cerca de quarenta entidades de classe, lideradas pela Força Sindical e demais Centrais, e Abimaq, por parte dos empresá-rios, formalizaram a ‘Coalizão Indústria-Tra-balho para a competitividade e o desenvolvi-mento’, em março.

Patrões e empregados lançaram um ma-nifesto alertando a sociedade sobre os gra-ves problemas enfrentados pela indústria de transformação, que passa por um processo de destruição, com perda de participação na for-mação do PIB. Na década de 80, por exemplo, o setor, que abocanhava uma fatia de 35% do Produto Interno Bruto, viu sua participação

despencar para 12% em 2014.Além disto, o setor enfrenta problemas

com o câmbio, juros muito altos (a taxa Se-lic está em 12,75% e deve subir apara 13%), cumulatividade de impostos e elevada carga tributária. No ano passado, os investimentos públicos e privados caíram 4,4%, a indústria verificou queda de produção de 1,2%, porém a recessão prejudicou com mais intensidade a indústria de transformação, cuja retração chegou a 3,8%.

Futuro do País“Não estamos fazendo ato contra o go-

verno, mas em favor do Brasil. O que está em jogo é o nosso futuro”, declarou Miguel Torres, presidente da Força Sindical. Para o secretário-geral da Força Sindical, João Car-los Gonçalves, o Juruna, o governo precisa reduzir a infl ação, baixar juros, privilegiar os investimentos públicos e privados e apostar no crescimento econômico com valorização do trabalho.

COALIZÃO >>>5 www.fsindical.org.br

Medidas ProvisóriasAlém de enfrentar o desemprego e a re-

dução da renda, os trabalhadores passam por maus momentos, pois seus direitos têm sofrido ataques tanto do governo fe-deral como do Congresso. É o caso das Medidas Provisórias (MPs) 664 e 665, que difi cultam o acesso das pessoas a benefí-cios trabalhistas e previdenciários, como seguro-desemprego, abono salarial, auxí-lio-doença, pensão por morte, seguro de-feso e auxílio-reclusão.

“O ajuste fi scal do governo atinge com muita força os trabalhadores, que, se não fi zerem nada, vão pagar a conta da crise”, acredita a presidenta do Sindicato das Costureiras de São Paulo, Eunice Cabral. “O ajuste é necessário, mas o trabalhador não pode sofrer os prejuízos proporciona-dos pela redução de gastos”, reclamou ela. O deputado do Solidariedade-SP, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, observou que a indústria na-cional vem sofren-do com o descaso do governo. “Ou os trabalhadores e em-presários de aliam ou nosso País não terá futuro”, avaliou.

Estratégias da IndustriALLOs sindicatos de trabalhadores precisam

usar sua força na defesa dos direitos traba-lhistas, na luta contra o trabalho precário e na promoção do emprego industrial sus-tentável, considerando fatores ambien-tais e as alterações climáticas. O desafi o foi proposto pelos delegados de quator-ze países que participaram da 2a Reunião Regional da IndustriALL Global Union da América Latina e Caribe, realizada em abril, no México.

De acordo com Edson Dias Bicalho, se-cretário-geral da Fequimfar e integrante da diretoria da IndustriALL, o evento debateu a crise mundial e na América Latina, e o consequente impacto na vida dos traba-lhadores, na implementação do trabalho decente e na participação de jovens e mu-lheres no mercado de trabalho.

FOTO: FORÇA SINDICAL

Capital e trabalho se unem por uma indústria forte

Cerca de quarenta entidades de classes empresariais, a Força Sindical e demais Centrais formalizaram a Coalizão Indústria -Trabalho

Eunice: “O ajuste fi scal atinge com muita força os trabalhadores”

JORNAL DA FORÇA SINDICAL — NO 97 JORNAL DA FORÇA SINDICAL — NO 976 CAMPANHA SALARIAL >>>

Apesar do cenário adverso da economia, com desaceleração da atividade produtiva e infl ação em alta, os sindicatos de

trabalhadores ainda têm fechado acordos em 2015 com índices de aumento real. Para o presidente da Força Sindical, Miguel Torres, “o movimento sindical precisa centrar a luta pela unifi cação das campanhas salariais para conquistar um substancial ganho real de salário, ampliação de benefícios sociais e manutenção do emprego”.

Os dirigentes comerciários de Força Sindical, CUT, UGT e CTB, que representam em torno de dez milhões de em-pregados no País, pretendem lutar unidos por piso salarial unifi cado, PLR e aumento real. Para o secretário nacional dos Comerciários da Força e presidente do Sindicato dos Comerciários de Porto Alegre, Nilton Souza da Silva, o Neco, esta iniciativa visa “valorizar e fortalecer a catego-ria contra a resistência patronal nas negociações”. Den-tro desta estratégia de união, os dirigentes preparam um seminário nacional da categoria para os dias 20 e 21 de maio, em São Paulo.

Com o reajuste salarial de 9,325% para os cem mil fren-tistas do Estado de São Paulo, a categoria conquistou pra-ticamente 1% de aumento real, informou o presidente do Sinpospetro-SP, Rivaldo Morais da Silva. “A campanha foi

difícil, porém mostramos união, habilidade e serenidade nas negociações com os empresários”, assinalou.

Já o Sinpospetro-RJ, presidido por Eusébio Pinto Neto, mobiliza os vinte mil trabalhadores dos postos de com-bustíveis de 48 municípios do Estado para conquistar aumento real e piso de R$ 1.030,92. Diante do impasse nas negociações, o Ministério do Trabalho e Emprego vai promover mesa-redonda com as entidades dos emprega-dos e patrões.

Os aeroviários (ligados ao Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias e às entidades que compõem a Federação Nacional dos Trabalhadores em Transporte Aéreo) que ganham até R$ 10 mil vão receber aumento salarial de 7%.

FarmacêuticoAvançaram as negociações entre os 45 mil trabalhado-

res do ramo farmacêutico no Estado de São Paulo (doze mil são representados pela Fequimfar) e os patrões. A Fequimfar e seus sindicatos fi liados, que representam em torno de 35 mil trabalhadores nas usinas e destilarias de etanol no Estado, lutam por aumento real e avanços na PLR. “Queremos o fi m da rotatividade da mão de obra, igualdade de oportunidades e melhorias nas condições de saúde”, diz o secretário-geral Edson Bicalho.

Os 370 mil trabalhadores da construção civil de São Paulo (data-base em 1º maio) estão em campanha sala-rial. O presidente do Sindicato que representa a catego-ria (Sintracon-SP), Antonio de Sousa Ramalho, lembrou que o setor ganhou muito nos últimos anos e os traba-lhadores merecem ser valorizados com aumento real. “Vamos, neste mês de abril, intensifi car as negociações, mas não descartamos a greve se não houver uma pro-posta digna de reajuste”.

A Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Ali-mentação do Estado de São Paulo (Fetiasp) e os 64 sin-dicatos negociam reajuste de salário e PLR para mais de 120 mil trabalhadores dos setores de doces, suco, usinas de açúcar, frigorífi cos, carne embutida e rações. Segundo Wilson Vidoto, secretário-geral da Fetiasp, o emprego é prioridade, mas o trabalhador precisa ga-rantir seu poder aquisitivo com ganhos reais de salário.

“Para conquistar aumento real neste ano, nossos sindicatos vão intensificar a mobilização dos traba-lhadores para conquistar a unificação dos pisos sa-lariais”, declarou Eunice Cabral, presidenta da Con-federação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias do Setor Têxtil, Vestuário, Couro e Calçados, um setor que emprega em torno de 2,8 milhões de trabalhado-res no País.

Apesar da crise, trabalhadores buscam aumento real e emprego

Os trabalhadores da Mitsubishi de Catalão aprovaram em assembleia a segunda parcela da PLR, no valor de R$ 6 mil

FOTO: FORÇA SINDICAL

ABRIL DE 2015ABRIL DE 2015 7 www.fsindical.org.br

O Sindicato negocia reajuste salarial de 12% para os vinte mil trabalhadores da base e cesta básica de R$ 400,00 entre outras reivindicações, informou o presidente da entidade, Adalberto Galvão, o Be-beto. Como não houve avanço nas negociações, o Sindicato solicitou mediação da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego. “Os trabalhado-res poderão entrar em greve se os patrões não oferecerem uma boa proposta”, ameaçou o sindi-calista.

O Sindicato dos Metalúrgicos de Catalão (GO) conquistou reajuste salarial de 7,5% para os traba-lhadores das indústrias menores, com data-base em novembro, e negocia o aumento para o pessoal das ofi cinas, com data-base em abril. Os trabalha-dores da Mitsubishi vão receber R$ 6 mil a título de segunda parcela da PLR, cuja proposta foi aprova-da por unanimidade na assembleia.

O Sindicato dos Metalúrgicos de Videira/SC, pre-sidido por Neri Rubini, conquistou reajuste de 8,5% para os companheiros das ofi cinas e indústrias de reparação de veículos e acessórios (data-base em março).

A Federação dos Metalúrgicos do Rio de Janei-ro, presidida por Francisco Dal Prá, e o Sindicato dos Metalúrgicos de Campos, presidido por João Cunha, reivindicam reposição salarial de 7,68% e cartão de alimentação de R$ 300,00 negociada

com o Consórcio Integra Offshore Ltda, que cons-trói módulos para plataformas da Petrobras.

ServidoresO Sindicato dos Servidores Municipais de Osas-

co, presidido por Jessé de Castro Moraes, nego-ciará com a prefeitura reajuste salarial, novos es-tatutos e piso salarial único para toda a categoria (data-base em maio).

A convenção coletiva de 2014 dos trabalhadores do Sesi-Senai-Iel (data-base julho) foi encaminha-da para dissídio coletivo no TRT. Segundo o Senal-ba-RN, presidido por Edinaldo Gomes, não houve acordo com a Federação das Indústrias, que recu-sou as propostas de reajuste, vale-alimentação e outras reivindicações da categoria.

Vestuário“Para conquistar aumento real neste ano, nos-

sos sindicatos vão intensifi car a mobilização dos trabalhadores e lutar pela unifi cação dos pisos salariais, porque as empresas costumam mudar de município para pagar valores diferentes e me-nores”, declara Eunice Cabral, presidenta da Con-federação Nacional dos Trabalhadores nas Indús-trias do Setor Têxtil, Vestuário, Couro e Calçados, um setor que emprega em torno de dois milhões e oitocentos mil trabalhadores no País.

Lutar unidos por um piso salarial unifi cado, PLR e aumento real para valorizar e fortalecer a categoriaNeco

A categoria e o Sindicato mostraram unidade, habilidade e serenidade nas negociações da campanha salarialRivaldo

Ramalho aprova na assembleia a pauta de reivindicações, alertando que greve pode ser defl agrada se os patrões não apresentarem uma proposta digna

FOTO: FORÇA SINDICAL

Sintepav-BA reivindica aumento salarial de 12%

O trabalhador quer manter seu poder aquisitivo com ganho real de salário, mas o emprego é prioritárioWilson Vidoto

““

JORNAL DA FORÇA SINDICAL — NO 97 JORNAL DA FORÇA SINDICAL — NO 978 TERCEIRIZAÇÃO >>>

A Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei nº 4.330, que autoriza a terceirização em todas

as atividades das empresas, porém incorporou ao texto final as emendas do deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, do Solidariedade-SP. No caso de passar no Senado, a matéria vai estender aos cerca de doze milhões de terceirizados no País os mesmos direitos recebidos pelos 35 milhões de empregados contratados pelas empresas.

“O projeto vai assegurar aos terceirizados os mesmos direitos trabalhistas e previdenciários concedidos aos funcionários da empresa que con-tratou tal relação laboral”, avaliou o presidente da Força Sindical, Miguel Torres, ao destacar que trezentos dirigentes filiados à Força Sindical par-ticiparam de uma Plenária Nacional e chegaram a um consenso sobre a necessidade de a Câmara

aprovar a regulamentação do PL da terceirização, com as modificações negociadas pelas seis Cen-trais Sindicais com o deputado Paulinho.

O projeto regula a terceirização das ativida-des-meio e também das atividades-fim nas em-presas privadas, mas blinda a guarda portuária da terceirização. O projeto estendeu, ainda, os direitos trabalhistas e previdenciários aos ter-ceirizados das atividades-meio empregados no setor público. O prestador de serviço terceiri-

zado na atividade-fim será representando pelo mesmo sindicato da contratante quando a ativi-dade terceirizada pertencer à mesma categoria econômica. Valerão, também, os mesmos acor-dos ou convenções coletivas.

Além disto, a contratante terá de informar ao sindicato da correspondente categoria pro-fissional os setores envolvidos na terceirização até dez dias após a assinatura do contrato. A empresa contratante terá de fiscalizar se o pagamento dos encargos trabalhistas e previ-denciários estão em dia, assim como fazer o desconto antecipado apenas da contribuição patronal para o INSS.

Processo trabalhistaCom a aprovação do PL 4.330, os terceirizados

terão mais garantia em receber seus direitos trabalhistas e previdenciários. Se não forem pa-

Câmara aprova emendas que regulamentam projeto

Miguel: “Vamos assegurar aos terceirizados os mesmos direitos concedidos aos funcionários da empresa contratante”

FOTOS: JAÉLCIO SANTANA

Com a aprovação do projeto, os terceirizados terão mais garantia em receberseus direitos trabalhistas e previdenciários

ABRIL DE 2015ABRIL DE 2015 9 www.fsindical.org.br

gos, a empresa fornecedora de mão de obra e a contratante poderão ser acionadas na Justiça do Trabalho. “É a tal responsabilidade solidá-ria”, explicou Juruna.

A regulamentação do PL determina, ainda, que a firma contratada terá de ser especializa-da numa só atividade, justamente para impedir a proliferação de empresas que somente forneçam mão de obra. “Isto acaba com companhias que fazem a intermediação tanto de pessoal de lim-peza como vigilantes”, afirmou Paulinho. A con-tratante só poderá terceirizar a mão de obra para companhias da mesma categoria econômica.

“Estamos convencidos de que a regulamen-tação vai criar empresas especializadas, forta-lecer os sindicatos combativos e gerar empre-gos”, calculou Paulinho, ao acrescentar que os sindicatos “de carimbo” tenderão a desaparecer com a nova legislação.

Já os terceirizados que exercem atividades--fim serão representados pelos sindicatos des-tas categorias, e não pelos sindicatos dos fun-cionários terceirizados. “Pela regulamentação, não haverá precarização da mão de obra tercei-rizada”, avaliou o secretário-geral da Força Sin-dical, João Carlos Gonçalves, o Juruna.

VantagemComo a regulamentação vai elevar o nível da

garantia dada aos terceirizados, pode-se ante-ver não ser vantajoso terceirizar algumas ativi-dades. “Os empregados terão o dobro de prote-ção”, assegurou Miguel Torres.

Caso não houvesse a regulamentação, as re-lações de terceirização de mão de obra seriam regidas pela Súmula 331, do Tribunal Superior do Trabalho (TST), até que fosse derrubada pelo Su-premo Tribunal Federal (STF). Em votação parcial, está seis a zero pela extinção do documento.

Ainda assim, sem a incorporação das emen-das pelo relator do projeto, o deputado federal Arthur Maia (Solidariedade-BA), o projeto apro-vado pela Câmara seria do então deputado fede-ral Sandro Mabel (PMDB-GO), que propunha um modelo de terceirização desregrado, apontando para uma total precarização da mão de obra.

Cerca de trezentos dirigentes fi liados à Força Sindical de todo o País participaram da Plenária

“Se não houvesse negociação, o projeto do Mabel iria passar leve, livre e solto”Fracisco Dal PráPresidente da Força Sindical-RJ

“A regulamentação acaba com a proliferação de empresas que forneçam mão de obra ”Paulo Pereira da SilvaPresidente do SOLIDARIEDADE

“De acordo com a regulamentação, não haverá precarização da mão de obra terceirizada”João Carlos Gonçalves (Juruna)Secretário-geral da Força Sindical

A iniciativa do deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, do Solidariedade-SP, de apresentar emendas que regulamentaram o Projeto de Lei (PL) 4.330, foi das principais Centrais Sindicais. Elas autorizaram o parlamentar a redigir e negociar as propostas com o relator do PL, deputado federal Arthur Maia (Solidariedade-BA). “Acusar o Paulinho de traidor por causa da aprovação do projeto é um crime”, indignou-se o presidente da Força Sindical, Miguel Torres.

Segundo ele, Força, CSB, CUT, CTB, Nova Central e UGT autorizaram o de-putado a negociar as emendas. “Houve reuniões das quais participaram os representantes dos trabalhadores, o Dieese, o Diap e, inclusive, o relator do projeto de lei, Arthur Maia”, completou o sindicalista. Só houve divergência em relação à terceirização da atividade-fi m.

Já o 1º secretário-geral da Força, Sergio Luiz Leite, o Serginho, revelou que havia entendimento entre as Centrais de que a proposta era boa. “O projeto aprovado agora não precariza, mas regulamenta e amplia direitos”, completou ele.

Em comum acordo com as Centrais Sindicais, Paulinho apresentou quatro emendas ao PL, a fi m de igualar os direitos entre terceirizados e contratados, assim como estabelecer regras claras para nortear as relações de trabalho dos doze milhões de trabalhadores terceirizados que não têm seus direitos trabalhistas garantidos por lei.

Calote“E, o pior, não sabiam de quem cobrar seus direitos. É o caso dos funcio-

nários que trabalhavam para subempreiteiras da Petrobras”, destacou Pau-linho, ao acrescentar que estes trabalhadores são considerados de segunda categoria diante dos cerca de 35 milhões de empregados não terceirizados.

Paulinho observou que, com as modifi cações, o terceirizado deverá ter mais garantias do que os outros trabalhadores, cenário que poderá inviabili-zar a terceirização de algumas atividades. “É que a contratante poderá pagar duas vezes caso a fi rma terceirizada não pague os direitos trabalhistas e pre-videnciários dos empregados”, garantiu o deputado.

Centrais autorizam Paulinho a negociar emendas

Como o projeto vai elevar o nível da garantiadada aos prestadores de serviço, poderá servantajoso não terceirizar algumas atividades

JORNAL DA FORÇA SINDICAL — NO 97 JORNAL DA FORÇA SINDICAL — NO 9710

“As emendas do Paulinho melhoram as condições do projeto original, do Mabel”Cláudio Magrão de Camargo Crê, presidente da Federação dos Metalúrgicos de SP

“A precarização das relações de trabalho vai diminuir com as emendas”Osvaldo Mafra, presidente da Força Sindical-SC

“Temos que sair da plenária unidos e defender as emendas”Marcelo Furtado, presidente da Força Sindical-RS

“Somos contra a terceirização, mas as emendas do Paulinho representam um avanço”Eduardo Annunciato (Chicão), presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo

TERCEIRIZAÇÃO >>>

A aprovação do Projeto de Lei (PL) 4.330, que regulamenta a terceirização das atividades-meio e fim nas empresas privadas, vai exigir sindicatos mais combativos, que deverão estar atentos para

defender os direitos trabalhistas e previdenciários dos empregados, avaliou o presidente da Força Sindical, Miguel Torres.

Para ele, essas entidades precisarão fiscalizar as empresas para garantir os direitos dos empregados e também para assegurar que os terceirizados das ati-vidades-fim não recebam salários inferiores aos dos contratados. “Nesta nova realidade, os sindicatos “de carimbo”, aqueles que estão apenas interessados nas contribuições sindicais, tenderão a desaparecer”, avaliou o presidente da Força Sindical.

Caso seja aprovado também no Senado, o projeto vai exigir empresas especiali-zadas em apenas uma atividade, aumentando a eficiência dos serviços prestados. Isto vai tirar do mercado firmas que fornecem, por exemplo, mão de obra de lim-peza, segurança e refeitório.

Outro dados importante ressaltado por empresários é que as exigências no novo texto poderão ter um efeito contrário nas empresas e fazer com que algumas atividades deixem de ser feitas por terceiros, por causa do alto nível de garantia dado aos terceirizados.

Projeto vai exigir sindicatos mais combativos

ABRIL DE 2015ABRIL DE 2015 11 www.fsindical.org.br

“As emendas vão diminuir a escravização dos trabalhadores”Luiz Anute dos Santos, presidente da Força Sindical-AC

“A luta contra o PL 4.330 é inglória porque nossos representantes são minoria no Parlamento”Ivo de Freitas, presidente da Força Sindical-PA

“Defendemos a unidade da nossa Central com os trabalhadores”Vandeir Messias, presidente da Força Sindical-MG

“Precarização das relações de trabalho existe onde o sindicato é fraco”Rodrigo Carvelo, presidente da Força Sindical-GO

“Não temos votos na Casa legislativa para brecar a terceirização da mão de obra”Nilson Bahia, vice-presidente da Força Sindical-BA

“Estou contrariado, as emendas do Paulinho são para doer menos”Sérgio Marques, presidente do Sindicato dos Têxteis de São Paulo

Como fi ca o PL 4.330 com as emendas do deputado Paulinho

Como fi cam os sindicatos?

Continuarão os intermediários de mão de obra ?

Trabalhadores poderão ser demitidos e recontratados como terceirizados?

Como fi cam os contratos atuais?

Quem será o responsável pelos encargos trabalhistas e previdenciários ?

O que poderá ser terceirizado numa empresa e quem poderá terceirizar ?A

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COs terceirizados das atividades-fi m serão re-presentados pelos sindicatos dessas catego-rias, e não pelas entidades de empregados terceirizados; está garantida a mesma con-venção coletiva dos efetivos para os terceiros;

A contratante terá de informar ao sindicato da correspondente categoria profi ssional os setores envolvidos na terceirização até dez dias após a assinatura do contrato;

Os sindicatos terão de ser mais ativos na fi s-calização dos salários e direitos os trabalha-dores, e os sindicatos sem representativida-de tendem a desaparecer.

Não. O projeto determina que a companhia contratada seja especializada justamente para impedir a proliferação de meros inter-mediários de mão de obra.

O projeto reduz de 24 para doze meses o tempo de proibição de recontratação, como pessoa jurídica, de pessoas que trabalha-ram na empresa.

Os contratos em vigor devem ser alterados de acordo com as novas regras no prazo de 180 dias após a sanção presidencial.

Se a empresa terceirizada não pagar, ela e a companhia contratante vão responder jun-to à Justiça;

A empresa contratante terá de fi scalizar se o pagamento dos encargos trabalhistas e previdenciários estão em dia, assim como fazer o desconto antecipado apenas da con-tribuição patronal para o INSS.

As atividades-meio e fi m apenas nas empresas privadas;

Os direitos trabalhistas e previdenciários serão estendidos aos terceirizados das atividades-meio que hoje prestam serviços no setor público.

JORNAL DA FORÇA SINDICAL — NO 97 JORNAL DA FORÇA SINDICAL — NO 97

Em janeiro, mais de vinte mil pessoas participaram, em Sertãozinho/SP, de um “Ato pela Recuperação do

Setor Sucroenergético”. O presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação do Estado de São Paulo (Fetiasp), Melquíades de Araújo, afirmou que foi uma ação importante, pois “o governo só atende quando há mobilização na rua”. Ele lembra que, na cadeia sucroalcooleira, com o fechamento de usinas de açúcar e álcool e a falta de incentivos, já foram extintos trezentos mil empregos no País.

“A pressão está valendo a pena! O governo de São Paulo simplificou normas tributárias para o setor, e o governo federal subiu para 27,5% a adição de etanol na gasolina. Mas outras medidas de apoio ao setor precisam ser tomadas”, explicou Araújo.

Wilson Vidoto, secretário-geral da Fetiasp, explica que, sem escoamento da produção de 2014, não é possível corte, moagem, estoque e renovação de etanol e açúcar em 2015. Vidoto critica o monopólio no setor e o difícil acesso das usinas familiares aos recursos do BNDES.

“As multinacionais não têm compromisso com o Brasil, só com a remessa dos lucros para o exterior. As empresas brasileiras, que são me-nores, têm mais sensibilidade social e aber-tura para negociar melhorias nas condições salariais e de vida dos trabalhadores”.

CompromissoSérgio Luiz Leite, o Serginho, presidente da

Federação dos Químicos do Estado de SP, des-taca a maior tributação da gasolina, via Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Eco-nômico) e PIS/Cofins, que encareceu o com-bustível frente ao etanol, e diz ser importante a tecnologia flex (bicombustível) garantir veí-culos mais econômicos. “Os grandes grupos produtores de açúcar e álcool têm de ter com-promisso com o desenvolvimento do Brasil e com os trabalhadores”, diz Serginho. Para ele, os governos e os patrões precisam investir na qualificação profissional. “Com maior escola-ridade, melhores salários e mais qualidade de vida, as categorias que integram o setor terão mais condições de contribuir para o cresci-mento da produtividade”.

SUCROALCOOLEIRO >>>

Só com mobilização de rua se garante emprego

12 Foto: Arquivo Fetiasp

Araújo: “A pressão está valendo a pena, pois os governos federal e de São Paulo começaram a se mexer”

PROMOTORES/PROCURADORES

Sindicato conquista benefícios

O promotor de Justiça Moisés Rivaldo Pereira vai sugerir a fundação de sindicatos nos Estados para representar a categoria. Presidente da Força Sindical do Amapá e do Sindicato dos Promotores e Procurado-res de Justiça do Estado, ele declarou que a categoria tem problemas semelhantes aos dos demais trabalhadores, como questões relacionadas a salários, saúde, negociação coletiva e liberdade sindical.

“É preciso tirar este estigma de que não somos trabalhadores normais. Antes, bus-cávamos soluções por meio de associações de classe, mas temos problemas, desafi os que, para serem resolvidos, é necessário ter representação sindical”, acentuou Moisés Pereira.

Depois da fundação do Sindicato, a enti-dade entrou com um mandado de seguran-ça no Tribunal de Justiça do Estado para ga-rantir que os membros inativos continuem a receber seus proventos pelo próprio ór-gão onde trabalharam durante o período que estiveram na ativa. Com isto, garantem a paridade de vencimentos entre ativos e inativos. O Sindicato recebeu a liminar ga-rantindo o benefício.

Como o serviço público é responsável por 80% da formação do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado, o sindicalista propõe a abertura de fronteiras a fi m de que as in-dústrias se estabeleçam no Estado para ge-rar emprego e renda. “Precisamos libertar a nossa população dessa escravidão que é a economia do contracheque, e ver com bons olhos os empresários que aqui estão”, apontou ele.

Precisamos libertar a nossa população da economia do contrachequeMoisés Pereira

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ABRIL DE 2015ABRIL DE 2015

A Secretaria Nacional de Relações Sindicais da Força Sindical planeja intensifi car o fortalecimento das instâncias estaduais da

Central e dos sindicatos fi liados em 2015. Segundo o planejamento, plenárias estão marcadas para as 27 unidades da Federação, de março a agosto, e têm por objetivo debater temas específi cos e gerais que afl igem o movimento sindical e os trabalhadores.

Com o recrusdecimento da crise econômica e po-lítica no País, a Central e os sindicatos fi liados terão de criar condições para manter e ampliar direitos, ne-gociar com os patrões aumento real de salário, man-ter os empregos, reivindicar junto ao governo federal medidas para retomar o crescimento econômico com valorização do trabalho e exigir mais investimentos na saúde, educação, segurança e mobilidade urbana.

“Para superar as difi culdades e alcançar nossos ob-jetivos, precisaremos de unidade na luta, organização da Central nos Estados e fortalecimento dos sindica-tos. Assim, poderemos negociar com os patrões e o governo em pé de igualdade”, declarou o secretário de Relações Sindicais, Geraldino dos Santos Silva.

O sindicalista observou que o fortalecimento dos

sindicatos se dá com o aumento do número de asso-ciados, investimentos na infraestrutura organizativa, em pessoal, em assessoria de imprensa, econômica

e política, e em cursos de formação sindical e política. “A Central precisa encarar estes desafi os se quiser atuar como protagonista no processo político brasilei-ro”, aponta o secretário de Relações Sindicais ao con-cluir: “Caso contrário, será superada pela história”, completou.

Plenárias“Uma crise sem precedentes, que vem tirando com-

petitividade do setor produtivo, cobra ações ofi ciais no sentido de implementar medidas estruturais urgentes e necessárias”, avaliou o presidente da Força-MG, Vandeir Messias, durante a plenária estadual da Cen-tral, realizada em 8 de abril.

“A unidade dos trabalhadoes fortalece a luta por mais direitos e emprego”, explicou o presidente da Central-TO, Carlos Augusto de Oliveira, durante a ple-nária estadual realizada nos dias 30 e 31 de março.

Na primeira plenária, realizada nos dias 17 e 18 de março em São Luís (Maranhão), o presidente da Força estadual, José Frazão de Oliveira, disse estar nego-ciando com a Assembleia Legislativa a aprovação de projeto de lei estabelecendo o piso salarial no Estado.

PLENÁRIAS >>>

Central quer assumir protagonismo político

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Marcio, Valclécia, Carlos Augusto, Geraldino e Magri em Tocantins

Para superar as difi culdades e alcançar nossos objetivos, precisaremos de unidade na luta, organização da Central nos Estados e fortalecimento dos sindicatos Geraldino dos Santos

Uma crise sem precedentes, que vem tirando competitividade do setor produtivo, cobra ações oficiais no sentido de implementar medidas estruturais urgentes e necessárias

Vandeir Messias

PROMOTORES/PROCURADORES

“Mato Grosso passa por um momen-to preocupante em função do desem-prego crescente na base metalúrgica, que reúne cerca de vinte mil trabalha-dores”, afi rmou o presidente da Força Sindical-MT, Manoel de Souza, que acumula ainda o cargo de presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Cuiabá.

A instância estadual da Central tem 86 sindicatos fi liados, represen-tando em torno de quatrocentos mil trabalhadores do setor privado e da área pública. “Nosso Estado é rico

e destaca-se no agronegócio, mas acredito no crescimento da indústria na região e nas negociações entre a Força e o governo estadual para evi-tarmos prejuízos aos trabalhadores”, explicou.

Mato Grosso do SulIdelmar da Mota Lima, presidente

da Força Sindical-MS, reclamou que muitos postos de trabalho foram per-didos em Três Lagoas por causa das paralisações em obras da Petrobras.

“Esperamos que o novo governo esta-dual tome medidas que alavanquem a economia na região, e que as ma-nifestações sindicais chacoalhem o Brasil em defesa dos direitos e da re-tomada do desenvolvimento”, sugeriu Idelmar.

Segundo ele, a Força-MS reúne setenta entidades fi liadas, represen-tando cerca de quatrocentos mil tra-balhadores, com destaque para os do comércio, da indústria de açúcar e álcool, hoteleiros e metalúrgicos.

PROPOSTAS

Luta para impedir avanço do desempregoMuitos postos de trabalho foram perdidos em Três Lagoas em função das paralisações em obras da Petrobras

Idelmar

JORNAL DA FORÇA SINDICAL — NO 97 JORNAL DA FORÇA SINDICAL — NO 9714 ACIDENTE DE TRABALHO >>> NOTAS >>>

Sempre tivemos grandes ações sindicais em que a pauta era a saúde do trabalhadorArnaldo Gonçalves

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Falta de investimento pôs o Brasil no quarto lugar do ranking mundial de mortesÁlvaro Ferreira da Silva

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O sindicalista e vereador de Pi-racicaba José Luiz Ribeiro, do So-lidariedade, tomou posse na Se-cretaria do Emprego e Relações do Trabalho (Sert), em março. Ele disse não ter dúvida da respon-sabilidade em conduzir a pasta e pediu o apoio dos representantes dos trabalhadores e empresários. “Espero que, todos juntos, possamos buscar alternativas. Temos, primeiro, de conhecer toda essa estrutura, esses departamentos”, disse. A cerimônia de transmissão de cargo reu-niu cerca de 350 pessoas na Secretaria.

O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gon-çalves (Juruna), e o secre-tário de Relações Sindicais, Geraldino dos Santos Silva, receberam João Paulo Ro-drigues e Walter Gomes, representantes do Movimento Sem Terra (MST), para discutir a unidade de ação que envolve os movimentos sociais e sin-dicais. Segundo eles, há problemas políticos, econômicos e sociais que atingem indistintamente trabalhadores das cidades e do campo.

“Eu sempre tenho falado que a pauta de promoção da igualdade ra-cial não é uma pauta complicada, porque sabemos o que queremos”, afi rmou a ministra da Igualdade Racial, Nilma Lino Gomes, em au-diência concedida aos representantes do Instituto Sindical Interame-ricano pela Igualdade Racial (Inspir) para debater políticas de com-bate ao racismo. Ela se reuniu com Francisco Quintino, presidente do Inspir (Força Sindical); Jana Silverman, secretária-geral do Inspir (AFL-CIO); Walmir Siqueira, tesoureiro (CUT); e Ana Cristina Duarte, diretora do Inspir (UGT).

Elaborado a partir dos arquivos do Sindicato, documento relata mais de 25 anos de desrespeito aos trabalhadores e à liberdade de organização sindical praticados pela multinacional alemã. O dossiê, intitulado ‘Bosch Curitiba – Uma história de desrespeito aos direitos humanos e à liberdade de organização sindical’, o trabalho denun-cia um histórico de assédio moral, de perseguições e ameaças, de advertências e demissões ilegais, além de outros mecanismos con-trários à dignidade humana e ao Estado de Direito, que a fábrica da Bosch – unidade Curitiba – tem utilizado ao longo de mais de 25 anos.

JOSÉ LUIZ RIBEIRO TOMA POSSE COMO SECRETÁRIO DO EMPREGO

CENTRAL DEBATE UNIDADE DE AÇÃO COM REPRESENTANTE DO MST

TRABALHADORES DEBATEM POLÍTICAS PARA COMBATER RACISMO

METALÚRGICOS DE CURITIBA LANÇAMDOSSIÊ SOBRE ASSÉDIO MORAL NA BOSCH

Luta em defesa dos direitos e da saúde do trabalhador

O 28 de abril, Dia Mundial em Memória às Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho, será marcado, mais uma vez, pela luta por justiça e em defesa dos direitos

e da saúde do trabalhador. A saúde e a segurança nas empresas são consideradas prioridade pelo movimento sindical. Mesmo assim, o número de vítimas fatais e doenças ocupacionais ainda são alarmantes. Segundo o secretário de Segurança e Saúde no Trabalho da Força Sindical, Arnaldo Gonçalves, estatística da Organização

Internacional do Trabalho (OIT) mostra que as doenças profi ssionais continuam sendo as principais causas das mortes relacionadas com o trabalho. Do total de 2,34 milhões de acidentes mortais de trabalho a cada ano, somente 321 mil se devem a acidentes. O restante, 2,02 milhões de mortes, é causado por diversos tipos de enfermidades relacionadas com o trabalho, o que equivale a uma média diária de mais de 5.500 mortes. “Historicamente, sempre tivemos grandes ações sindicais das quais a pauta era a saúde do trabalhador, e em tempos atuais não pode ser diferente; temos que intensifi car a luta”, propôs. Além de atos e manifestações, Gonçalves destacou que, hoje, as Centrais Sindicais têm representantes em organismos dos governos que tratam dos acidentes e das doenças ocupacionais, e o tema já começa a ser discutido nas escolas de todo o Brasil. “Agora temos espaço nas escolas para debater com os alunos as ações com vistas a abolir a violência no mundo do trabalho”, afi rmou o secretário.

Legislação é descumpridaNo Brasil, as principais causas dos acidentes são o descumprimen-

to de normas básicas de proteção e péssimas condições de trabalho nos ambientes das empresas, acredita Álvaro Ferreira da Costa, pre-sidente do Sindicato dos Gráfi cos de Barueri e Região (Sindigráfi cos). “É pela falta de investimento das empresas na segurança do traba-lhador que ocupamos o quarto lugar no ranking mundial das mortes provocadas por acidentes de trabalho, perdendo apenas para China, Estados Unidos e Rússia”, revelou o presidente do Sindigráfi cos. Em 28 de abril de 1969, a explosão de uma tina nos Estados Unidos matou 78 trabalhadores. Encampando esta luta, mas com foco na prevenção, a OIT instituiu, em 2003, o dia 28 de abril como o Dia Mundial de Segurança e Saúde no Trabalho.

ABRIL DE 2015ABRIL DE 2015 15 www.fsindical.org.br

Em termos gerais, as mulheres ganham 30% menos do que os homens, apesar de possuir tempo

maior de estudo, e têm maior difi culdade de ascensão profi ssional para chegar aos cargos de chefi a. A secretária nacional da Mulher da Força Sindical, Maria Auxiliadora dos Santos, lembrou que a desigualdade salarial ocorre em quase todas as ocupações no Brasil.

Segundo a Pnad – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (IBGE), ao comparar salários de quarenta ocupações de homens e mulheres para uma jornada semanal de 40 horas, em 2013, somente em duas funções (produtores agrícolas e instrutores e profes-sores de escolas livres) elas têm um ganho superior ao deles.

Maria Rosângela Lopes, presidenta da Fe-deração dos Metalúrgicos de Minas Gerais, denuncia que a mulher negra é discriminada por sexo e raça no mercado de trabalho. “A grande maioria está no emprego doméstico ou em setores sem proteção social, receben-do menores salários”, conta.

HumanizaçãoPara Maria Euzilene Nogueira, a Leninha,

diretora do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, o movimento sindical precisa lu-tar também pela humanização nas relações

de trabalho. “Faltar ao trabalho para levar fi lho ou dependente ao médico não pode ocasionar desconto no salário.”

Segundo Auxiliadora, nas atividades do “Março Mulher” os principais temas foram a luta pela igualdade de oportunidades de gêneros, os protestos contra a violência à mulher e a ampliação da presença feminina na política, no sindicalismo e nos demais espaços de decisão. “Queremos alcançar a igualdade e ajudar de forma efetiva a cons-truir uma sociedade mais justa”, fi naliza Au-xiliadora.

Feminicídio O Congresso aprovou o Projeto de Lei 8.305/14,

que classifi ca o feminicídio (assassinato de mu-lher por razões de gênero) como crime hediondo e homicídio qualifi cado.

A pena prevista para homicídio qualifi cado é de doze a trinta anos de reclusão.

O projeto, já sancionado pela presidenta Dilma, prevê ainda o aumento da pena em um terço se o crime ocorrer durante a gestação ou nos três meses posteriores ao parto, assim como contra menor de quatorze anos, maior de sessenta ou pessoa com defi ciência.

Para Mônica Veloso, diretora da Força, vice-presidente da CNTM, a nova lei “forta-lece a Lei Maria da Penha após oito anos de sua criação e implementação”.

MULHERES >>>FOTO: TIAGO SANTANA

Foco na luta pela igualdade e contra a violência

A grande maioria está no emprego doméstico ou em setores sem proteção social, recebendo menores salários

Maria Rosângela

A desigualdade salarial ocorre em quase todas as ocupações no Brasil para uma jornada semanal de 40 horasAuxiliadora

Ampliado seguro-desemprego de doméstica

As domésticas com carteira assinada poderão ter direito a ganhar até cinco parcelas do seguro-desemprego, como todos os demais trabalhadores, depois que a Câmara aprovou o Projeto de Lei Complementar 302/13. Os deputados ti-raram da PEC das Domésticas a regra que determinava a concessão do segu-ro-desemprego a três parcelas sobre o valor do salário mínimo (R$ 788).

O problema é que a proposta voltará a ser apreciada pelo Senado porque a Câ-mara modifi cou o projeto. Se aprovado, o projeto seguirá para sanção da presi-denta Dilma Rousseff. Ainda de acordo com a matéria, a jornada de trabalho de doze horas, com 36 horas de descanso, poderá ser efetivada no caso de acordo entre patrão e empregado.

A regra benefi ciará principalmente os vigilantes de segurança e os cuidado-res de idosos. O salário defi nido incluirá o pagamento do descanso semanal re-munerado e pela folga em feriados.

O “Março Mulher” também priorizou a luta pela presença feminina na política e no sindicalismo

JORNAL DA FORÇA SINDICAL — NO 9716

Departamento Intersindical de Esta-tística e Estudos Sócio-Econômicos – Dieese – foi criado em 1955, pelo mo-

vimento sindical, para suprir a necessidade de uma instituição confi ável de dados econômicos.

Na década de 1950, devido ao intenso de-senvolvimento industrial e urbano que o Brasil vivia, o agravamento das condições de vida e a suspeita de fraudes com relação aos índices econômicos prejudicavam os trabalhadores.

Em consequência, grandes greves contra a alta infl ação e contra a carestia marcaram o período. A principal delas, a Greve dos 300 mil, em 1953, protestou contra o alto custo de vida em São Paulo, paralisando por 29 dias traba-lhadores de diversas categorias. A greve teve como desdobramentos a formação do Comitê Intersindical de Greve e a criação do Pacto dos Quatro Sindicatos: têxteis, metalúrgicos, madei-reiros e vidreiros (todos de São Paulo).

Deste movimento surgiu, em 1954, o Pacto de Unidade Intersindical (PUI), considerado em-brião do Dieese. Luiz Tenório de Lima, o Tenori-nho (falecido em 2010), um dos fundadores do Dieese e ex-diretor do Sindicato dos Trabalha-dores em Alimentação e Indústria de Laticínios de São Paulo, explica esse processo:

“As lutas sindicais encontravam a barreira de como comprovar a percentagem que os traba-lhadores reinvidicavam. Os únicos órgãos em que a Justiça se baseava eram uma comissão do Ministério do Trabalho e da Secretaria de Abastecimento de São Paulo. Os dados dessas duas fontes nunca conferiam com aquilo que a gente achava que era custo de vida. E nós só levávamos vantagem quando fazíamos aque-las greves enfrentando polícia, como fi zemos em 1953. Então surgiu a ideia de criar o nosso próprio organismo de levantamento de custo de vida”.

Com este propósito o Dieese foi criado, em

O 22 de dezembro de 1955, por um grupo de vinte dirigentes sindicais paulistas, tendo como primei-ro presidente Salvador Romano Losacco, do Sin-dicato dos Bancários. O primeiro diretor técnico do Departamento foi o sociólogo José Albertino Rodrigues. Ele permaneceu no cargo entre 1957 e 1962, dando início a uma longa trajetória baseada no tripé pesquisa, assessoria e educação.

Um dos primeiros trabalhos do Dieese, ainda na década de 1950, foi uma pesquisa de padrão de vida das famílias paulistanas, que serviria como base para o Índice de Custo de Vida (ICV). A pesquisa era feita através do acompanhamento de famílias que concordavam em participar por um grupo de técnicos.

Após o golpe militar de 1964 o Dieese sofreu com a desarticulação do movimento sindical, e foi impedido de realizar suas funções devido à in-tervenção no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, onde estava sediado, retomando suas ati-vidades em 1965.

Mas, mesmo com a repressão, o Departamento conseguiu apoiar os trabalhadores, fornecendo cálculos e estudos sobre a política salarial, cada vez mais arrochada. Segundo Tenorinho, o Dieese chegou a realizar, clandestinamente, estudos para o MIA, Movimento Intersindical Anti-arrocho.

Além disso, foram os técnicos do Dieese, coor-

denados à época pelo economista Walter Barelli, que denunciaram, em 1977, que o índice ofi cial da infl ação de 1973 havia sido manipulado, resultan-do em um rebaixamento dos salários. Esta denún-cia abriu uma grande discussão na sociedade, de-fl agrando uma série de manifestações operárias pela reposição salarial como na base do Sindicato dos Metalúrgicos de S.Paulo, na época presidido por Joaquim dos Santos Andrade, o Joaquinzão. Isto deu grande visibilidade à entidade.

Em 1981, para renovar a base calculo do ICV, foi criada a Pesquisa de Padrão de Vida e Emprego, PPVE, que se estendeu até 1983. A PPVE está na origem da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), lançada no fi nal de 1984, em parceria com a Fundação Seade. A metodologia inovadora da PED aprofundava a identifi cação de componen-tes do desemprego que o IBGE camufl ava. Com isto a PED chamou a atenção da sociedade bra-sileira para a miséria do desempregado, em um contexto de elevados índices de desemprego.

Nas décadas de 1980 e 1990 o Dieese atraves-sou e superou vários momentos de crises fi nan-ceiras, e às vezes de ordem sindical e até política.

Em maio de 2010, foi concretizado um dos mais ambiciosos projetos do instituto: a Fundação Es-cola Dieese de Ciências de ensino superior, com disciplinas de especialização para dirigentes sin-dicais. Segundo o diretor técnico Clemente Ganz Lucio, o objetivo é que, “no futuro, jornalistas, economistas, advogados e juristas se especiali-zem na questão do trabalho”.

MÉMORIA SINDICAL >>>

por: Carolina Maria Ruy*

*Carolina Maria Ruy é jornalista, coordenadora de projetos do Centro de Cultura e Memória Sindical

ABRIL DE 2015

Os 60 anos do Dieese

Junto com Barelli, Joaquinzão denuncia o governo por manipular índice de infl ação à imprensa

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Em 1977 o Dieese descobriu que o índice ofi cial da infl ação, de 1973, havia sido manipulado pela ditadura militar

JORNAL DA FORÇA SINDICAL — NO 97