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nACIONAL DA JUVENTUDE “Cada um no seu quadrado”? A classe dominante quer que a nossa juventude seja in- dividualista e egoísta. Que cada um enfrente seus de- safios sozinhos, competindo um com o outro, correndo atrás individualmente. Mas qual seria a outra forma? Será que não podemos avançar conjuntamente? Já pensou se em todo acampamento e as- sentamento existisse coletivos de juventude? É importante debater a realidade e trocar experiências de organização, formação e mobilização. Existem di- versas formas de construir espaços que cumpram esse papel: grêmios estudantis, grupos de dança e teatro, times de futebol, basquete e vôlei... Nas escolas, os jo- vens também podem se organizar para cobrar politicas públicas para educação do campo. No assentamento, a organização pode contribuir com espaços coletivos de produção, de forma cooperada, garantindo a geração de renda e organizando as lutas. Esses coletivos podem densen- volver uma série de atividades. Por exemplo: a Agitação e Propaganda, que é possível ser feita em diversos momentos (ver ao lado). Durante as lutas e os cursos, pode também ter um momento para grafitagem e embelezamento do local. Os grupos de jovens podem organizar espaços de estudo O tempo bate forte e contundente no peito daqueles que estão inquietos... É tempo de andarmos firmes e convictos, unindo vozes ditas ou não ditas (na timidez do silêncio), juntando mãos, pés, olhares, frontes, sonhos, perspectivas e caminhos. É tempo mais do que nunca de nós! Nos últimos anos temos feito sentir nossa presença de forma mais organizada dentro do MST. A juventude que sempre esteve na linha de frente das lutas, começou a olhar mais para si, buscando debater os seus desafios, questionar, combater, integrar, fortalecer, organizar a luta e a participação onde estamos. Nossa Jornada Nacional da Juventude do MST está se consolidando cada vez mais com uma tarefa do conjunto da nossa organização, em especial, a partir das escolas. Em 2011, vários estados conseguiram mobilizar uma grande parte dos nossos jovens e fazer diversas ativi- dades, desde estudo, debates, oficinas de teatro, desenho, pintura, fotografia, artesana- to, capoeira, música, rádio, es- têncil, painéis, cinema da terra, e lutas por escola e direitos. Estamos assumindo nosso papel protagonista desta Jor- nada, debatendo, expondo, mas também organizando, planejando, propondo temas e metodologias. Temos que sem terra! nos desafiar cada vez mais, não podemos e nem queremos que façam as coisas por nós. Precisa- mos fortalecer nossos coletivos de jovens, con- spirar e colocar toda nossa rebeldia na construção de um mundo melhor para todos e todas. Esta jornada é um espaço importante para discu- tirmos sobre nossa realidade, para fazermos ou- vir nossa voz, refletir sobre qual é o nosso espaço dentro do MST, nas escolas. É um momento de refletir sobre temas que fazem parte de nossa vida no campo e da nossa organização. E claro, é tempo de agitação, mobilização e orga- nização de ações concretas para fortalecer a luta. E assim motivar e garantir que a organização da juventude aconteça durante todo o ano e em to- das as atividades do movimento. O presente jornal apresenta ele- mentos e provocações sobre alguns temas para estimular e alimentar a nossa participação e ajudar no debate nas escolas e nos grupos e coletivos de juventude nos as- sentamentos e acampamentos. Vamos reunir a juventude de todos esses espaços, e onde não existirem vamos criar, debater e se organizar! O debate sobre a organização da juventude nos leva a pensar o nosso tempo e projetar o futuro da socie- dade. Mas ainda prevalece a ideia de que ser jovem é um problema. De onde veio essa ideia? O que está por trás dela? “Quem não tem presente se conforma com o futuro” Somos 8 milhões de jovens no campo. Nos últimos dez anos, 2 milhões de pessoas deixaram o meio rural. Metade eram jovens. Ainda há um processo de esvazia- mento do campo. Você conhece alguma política pública dos governos para a juventude do campo? O agronegócio e os meios de comunicação de massas constroem a ideia de que o campo é atrasado e que a juventude quer sair do campo. Quem nunca foi ridicu- larizado porque mora no campo? É como se os jovens saíssem do campo apenas pela vontade individual e, não, pelas condições de vida e pela falta de perspectiva. Não é fácil sair do lugar onde nasceu... tem raízes, amigos, família... Por que não ficar no campo para mudar essa realidade? Por que antes de perguntar sobre os problemas que afas- tam a gente do campo, não questionar o que tem feito o jovem querer ficar no campo? O avanço da construção da Reforma Agrária que que- remos, para melhorar a vida da população do campo e criar oportunidades para o jovens, depende de enfren- tar o projeto do agronegócio. Só que para isso é preciso nos organizar e lutar. A LUTA É QUEM MUDA, O RESTO SÓ ILUDE! para discutir afetividade, sexualidade, geração de renda, cultura, formação política, comunicação, inserção da juventude na luta de classes, solidariedade... e ainda os temas gerais da luta pela terra, que o MST como um todo está discutindo em preparação ao 6° Congresso. Ideias para organizar a juventude não faltam. Mas pre- cisamos nos perguntar: o que falta para nos organizar cada vez melhor e com mais jovens? Como o conjunto do MST poderia contribuir com a organização de sua juventude? iii JORNADA Agitprop - AgitAÇÃo e propAgAndA Que bicho é esse? A Agitação e Propaganda (AgitProp) é um conjunto de métodos e formas que podem ser utilizados para fazer agitação, denúncia, fomento à indignação e chamar pra luta. Podem se usar diversas linguagens, como painéis, pinturas em muros e paradas de ônibus, peças de teatro, panfletagem, música, jornais... Tudo isso depois de fazer um diagnóstico da realidade local, ver quais as formas pos- síveis de organização a partir da arte e da cultura. 3 O Jornal da Juventude Sem Terra foi produzido pelos setores de Comunicação, Cultura, Educação, Formação e Juventude do MST. Endereço: Al. Barão de Limeira, 1232. CEP: 01202-002, São Paulo / SP email: [email protected] www.mst.org.br O que significa essa história de traba- lho e renda? Normalmente, as duas coi- sas aparecem ligadas. O trabalho é uma necessidade para cada um ter a renda, ter o próprio dinheiro e independência financeira. Aí é possível fazer as coisas sem ter que pedir dinheiro para o pai, mãe, amigo ou parente e, assim, sair da situação de dependência, construir a própria vida e até ajudar a família. Mas o trabalho também significa apren- dizado e crescimento, pois requer conhe- cimento para exercer a atividade e con- tribui para a sociedade. O trabalho pode ser realização pessoal e coletiva, ao fazer algo que gostamos e que con- sideramos importante. E qual a diferença en- tre trabalho e emprego? O próprio nome já diz: em- prego vem de empregado, ou seja, trabalhar para outra pes- soa ou empresa e receber um salário por isso. No emprego, a produção é para o patrão - seja ele quem for. No trabalho, a produção é para si próprio e para a coletividade. É aquela expressão “trabalhar por conta”. É tra- balhar com o que diz respeito à coleti- vidade da qual fazemos parte, como no lote, na escola ou na nossa cooperativa. Queremos ter uma renda própria, pois na sociedade em que vivemos precisa- mos de dinheiro para viver. Mas o que queremos para ter nossa renda, um trabalho ou um emprego? E quais são as possibilidades de trabalho que temos nos nossos assentamentos? Muita gente acha que a cidade é a alterna- tiva para conseguir melhores condições de vida. Mas a cidade pode oferecer, no máxi- mo, um emprego. Uma situação em que é possível ter uma renda, mas continuar de- pendente. Não da família, mas do patrão. Muitos são os que voltam das grandes ci- dades desiludidos com as falsas promes- sas. O retorno é marcado pelas falsas expec- tativas com a sociedade de consumo e o desencanto com a experiência de privação, carência, violência e, principalmente, com saudades da vida familiar e dos amigos do assentamento. (...) Promete-se “desenvolvimento” Fala-se em emprego e renda Mas traz-se é mais sofrimento Faz que o povo se arrependa De ter acreditado nisso Como se fosse oferenda... Por isso vamos plantar Sem veneno e produzir Alimentos mais saudáveis Prontos pra consumir Com a agroecologia Sem a vida destruir Porque é preciso saber O que traz soberania: É o modelo agronegócio Ou a agroecologia? Essa questão, minha gente, Muitos de nós desafia! O futuro do planeta Depende da humanidade Precisamos construir Vida com mais qualidade Tratar os seres da terra Com menos brutalidade É necessário rever O jeito de produzir E mudar radicalmente A forma de consumir Um mundo mais sustentável Nós devemos construir Não vamos usar veneno No solo e nas plantações Mas cuidar da natureza Sem fazer devastações Hoje a natureza berra Vamos preservar a terra Para as próximas gerações Pressionar o agronegócio Usar a legislação Fazer valer os direitos Da nossa população Cobrar o que está escrito Dos governos como dito Pela Constituição (...) MST leva sua solidariedade para crianças palestinas O MST sempre esteve ao lado do povo palestino, e no ano passado, um grupo de militantes formaram uma brigada de solidariedade internacionalista que ficou durante 20 dias, contribuindo na colheita de azeitonas junto às famílias camponesas palestinas e conhecendo a realidade. Esta Brigada, que o MST pretende enviar to- dos os anos, é mais um exemplo concreto da luta dos trabalhadores e trabalhadoras pela construção de uma nova sociedade, mais justa, democrática e verdadeiramente humana. A Campanha pretende envolver toda a militância do Movimento em di- versas atividades, tais como seminários, debates, atos políticos etc, que divulguem a situação em que se encontra o povo pa- lestino. Como podemos também organizar ainda mais ações para nossa Campanha de soli- dariedade ao povo palestino? Ser solidário é ser humano Autor: Rogaciano Oliveira EXPEDIENTE O que podemos encontrar na cidade que o campo não pode nos oferecer? E o nosso assentamento? Tem o trabalho no lote, onde a renda obti- da com a produção é para si próprio e para a família. Mas muitas vezes a renda que se levanta é pequena. E isso é um problema real. E se construirmos cooperativas de produção, onde se produz junto com ou- tras pessoas, que podem ser os vizinhos no assentamento, e se divide o resultado da produção? No entanto, o trabalho na agricultura não é o único possível no assentamento. Na ver- dade, é necessário para o assentamento de- senvolver outros espaços de trabalho, para suprir todas as necessidades do conjunto. Por exemplo: a escola é um espaço que atende a necessidade de educação. As agroindústrias suprem a necessidade do beneficiamento da produção e podem gerar uma série de possibilidades diferen- tes de trabalho. Assim é com a saúde, o transporte, o lazer... Quais os tipos de trabalho possíveis no assentamento, para além do trabalho na roça? As demandas dos jovens por trabalho abrem possibilidades de desenvolvi- mento do assentamento, de inovação, de potencializar recursos e renovar as concepções. A responsabilidade de construir os assentamentos é dos as- sentados e suas famílias. O que podemos encontrar no campo, que a cidade não pode nos oferecer? O desenvolvimento das áreas de Re- forma Agrária pode proporcionar melhores possibilidades de trabalho, dependendo das conquistas. Por isso, a luta por crédito, por educação, por ca- pacitação técnica, pela implantação de agroindústrias, de escolas, de postos de saúde, de áreas de lazer e esporte, de espaços de desenvolver nossa cultura e nossa comunicação, é também a nossa luta por trabalho. Como geração herdeira de luta pela terra, somos também a geração que vai, por meio do nosso trabalho, construir o futuro do assentamento. Desafios do trabalho no campo Campanha de Solidariedade ao povo palestino Vocês já ouviram falar na Palestina e no seu povo? Sabiam que suas terras foram invadidas em 1948 pelo exército de Israel, apoiado pelos Estados Unidos da Améri- ca, e até hoje o povo palestino resiste e luta pela criação do seu país - o Estado da Palestina? Já pensaram se outro país viesse aqui, e usando de violência dissesse que aqui agora não seria mais Brasil e que a população não podia mais ficar nas suas terras? Pois é, não dá para aceitar, nem aqui e nem em nenhuma parte do mundo. O povo palestino, com sua coragem, sa- bedoria e resistência, é um exemplo para todos os povos que lutam e acreditam num mundo melhor, por isso precisamos ser sempre solidários e fazer pressão para que essa violência acabe de uma vez e a Pales- tina possa ser livre. “Trabalho voluntário é aquele em que contribuímos com o nosso trabalho sem receber dinheiro em troca, isso faz com que as pessoas tenham uma nova forma de ver as coisas na socie- dade, quando percebes que podes ser útil trabalhando por outro compan- heiro, ajudando outras pessoas, isso te engradece, nos faz melhores seres humanos” Aleida Guevara (médica cubana, filha de Che Guevara) Em homenagem a Ernesto Che Guevara, todos os anos, na semana do dia 08 de outubro, o MST realiza a Jornada de Solidariedade e Tra- balho Voluntário Che Guevara. To- dos e todas, em especial a juventude, são convocados a realizar atividades de mística, estudo e de trabalho voluntário como limpeza de locais públicos ou escolas, pinturas e ou- tras melhoras dos espaços, além de cultivos agroecológicos e refloresta- mento. Já participaste alguma vez? Vamos organizar e fazer uma bela ação na nossa região este ano? “Solidariedade não é dividir o que nos so- bra, mas o que temos, mesmo que seja pouco e nos faça falta também”. Podemos dizer que este é um dos grandes lemas do povo cubano, e também do nosso movimento. Solidariedade é um valor importante e deve ser prática co- tidiana. Ser solidário enriquece os seres humanos justamente porque reforça o que tem de mais bonito na relação en- tre as pessoas, que são os laços de com- panheirismo, amizade e afetividade. Na luta, também é assim. Ninguém luta sozinho, uns precisam ser solidários aos outros para que todos juntos possam avançar. Desde o começo do Movi- mento, sempre recebemos apoio e solidariedade de vários cantos do mundo. Um grande exemplo aqui na América Latina é Cuba, que continua até hoje sendo solidária, formando jovens para atuarem como médicos nos nossos as- sentamentos e acampamentos. E também, desde sempre, com muitas limitações e humildade, buscamos con- tribuir com movimentos camponeses e povos em todo o mundo. Hoje, temos militantes do MST em brigadas de solidariedade em vários países como a Bolívia, Haiti e até na China. Que ações de solidariedade aos povos em luta, sejam de longe, ou vizinhos, podemos fazer a partir de nossos luga- res? Já pensou você fazendo parte de alguma dessas brigadas? “Se você é capaz de sentir indig- nação perante qualquer injus- tiça cometida contra qualquer povo do mundo, então, somos companheiros” Che Guevara

Jornal da Juventude Sem Terra

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Jornal produzido para a Juventude do MST

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Page 1: Jornal da Juventude Sem Terra

nACIONAL DA JUVENTUDE

“Cada um no seu quadrado”?

A classe dominante quer que a nossa juventude seja in-dividualista e egoísta. Que cada um enfrente seus de-safios sozinhos, competindo um com o outro, correndo atrás individualmente. Mas qual seria a outra forma? Será que não podemos avançar conjuntamente?

Já pensou se em todo acampamento e as-sentamento existisse coletivos de juventude?

É importante debater a realidade e trocar experiências de organização, formação e mobilização. Existem di-versas formas de construir espaços que cumpram esse papel: grêmios estudantis, grupos de dança e teatro, times de futebol, basquete e vôlei... Nas escolas, os jo-vens também podem se organizar para cobrar politicas públicas para educação do campo. No assentamento, a organização pode contribuir com espaços coletivos de produção, de forma cooperada, garantindo a geração de renda e organizando as lutas.

Esses coletivos podem densen-volver uma série de atividades. Por exemplo: a Agitação e Propaganda, que é possível ser feita em diversos momentos (ver ao lado). Durante as lutas e os cursos, pode também ter um momento para grafitagem e embelezamento do local.

Os grupos de jovens podem organizar espaços de estudo

O tempo bate forte e contundente no peito daqueles que estão inquietos... É tempo de andarmos firmes e convictos, unindo vozes ditas ou não ditas (na timidez do silêncio), juntando mãos, pés, olhares, frontes, sonhos, perspectivas e caminhos. É tempo mais do que nunca de nós!

Nos últimos anos temos feito sentir nossa presença de forma mais organizada dentro do MST. A juventude que sempre esteve na linha de frente das lutas, começou a olhar mais para si, buscando debater os seus desafios, questionar, combater, integrar, fortalecer, organizar a luta e a participação onde estamos.

Nossa Jornada Nacional da Juventude do MST está se consolidando cada vez mais com uma tarefa do conjunto da nossa organização, em especial, a partir das escolas. Em 2011, vários estados conseguiram mobilizar uma grande parte dos nossos jovens e fazer diversas ativi-dades, desde estudo, debates, oficinas de teatro, desenho, pintura, fotografia, artesana- to, capoeira, música, rádio, es-têncil, painéis, cinema da terra, e lutas por escola e direitos.

Estamos assumindo nosso papel protagonista desta Jor-nada, debatendo, expondo, mas também organizando, planejando, propondo temas e metodologias. Temos que

sem terra!nos desafiar cada vez mais, não podemos e nem queremos que façam as coisas por nós. Precisa-mos fortalecer nossos coletivos de jovens, con-spirar e colocar toda nossa rebeldia na construção de um mundo melhor para todos e todas.

Esta jornada é um espaço importante para discu-tirmos sobre nossa realidade, para fazermos ou-vir nossa voz, refletir sobre qual é o nosso espaço dentro do MST, nas escolas. É um momento de refletir sobre temas que fazem parte de nossa vida no campo e da nossa organização.

E claro, é tempo de agitação, mobilização e orga-nização de ações concretas para fortalecer a luta. E assim motivar e garantir que a organização da juventude aconteça durante todo o ano e em to-das as atividades do movimento.

O presente jornal apresenta ele-mentos e provocações sobre alguns temas para estimular e alimentar a nossa participação e ajudar no debate nas escolas e nos grupos e coletivos de juventude nos as-sentamentos e acampamentos.

Vamos reunir a juventude de todos esses espaços, e onde não existirem vamos criar, debater e se organizar!

O debate sobre a organização da juventude nos leva a pensar o nosso tempo e projetar o futuro da socie-dade. Mas ainda prevalece a ideia de que ser jovem é um problema. De onde veio essa ideia? O que está por trás dela?

“Quem não tem presente se conforma com o futuro”

Somos 8 milhões de jovens no campo. Nos últimos dez anos, 2 milhões de pessoas deixaram o meio rural. Metade eram jovens. Ainda há um processo de esvazia-mento do campo. Você conhece alguma política pública dos governos para a juventude do campo?

O agronegócio e os meios de comunicação de massas constroem a ideia de que o campo é atrasado e que a juventude quer sair do campo. Quem nunca foi ridicu-larizado porque mora no campo?

É como se os jovens saíssem do campo apenas pela vontade individual e, não, pelas condições de vida e pela falta de perspectiva. Não é fácil sair do lugar onde nasceu... tem raízes, amigos, família...

Por que não ficar no campo para mudar essa realidade? Por que antes de perguntar sobre os problemas que afas-tam a gente do campo, não questionar o que tem feito o jovem querer ficar no campo?

O avanço da construção da Reforma Agrária que que-remos, para melhorar a vida da população do campo e criar oportunidades para o jovens, depende de enfren-tar o projeto do agronegócio. Só que para isso é preciso nos organizar e lutar.

A LUTA É QUEM MUDA,

O RESTO SÓ ILUDE!

para discutir afetividade, sexualidade, geração de renda, cultura, formação política, comunicação, inserção da juventude na luta de classes, solidariedade... e ainda os temas gerais da luta pela terra, que o MST como um todo está discutindo em preparação ao 6° Congresso.

Ideias para organizar a juventude não faltam. Mas pre-cisamos nos perguntar: o que falta para nos organizar cada vez melhor e com mais jovens?

Como o conjunto do MST poderia contribuir com a organização de sua juventude?

iii JORNADA

Agitprop - AgitAção e propAgAndA Que bicho é esse?

A Agitação e Propaganda (AgitProp) é um conjunto de métodos e formas que podem ser utilizados para fazer agitação, denúncia, fomento à indignação e chamar pra luta. Podem se usar diversas linguagens, como painéis, pinturas em muros e paradas de ônibus, peças de teatro, panfletagem, música, jornais... Tudo isso depois de fazer um diagnóstico da realidade local, ver quais as formas pos-síveis de organização a partir da arte e da cultura.

3

O Jornal da Juventude Sem Terra foi produzido pelos setores de Comunicação, Cultura, Educação, Formação e Juventude do MST.

Endereço: Al. Barão de Limeira, 1232. CEP: 01202-002, São Paulo / SP

email: [email protected]

www.mst.org.br

O que significa essa história de traba-lho e renda? Normalmente, as duas coi-sas aparecem ligadas. O trabalho é uma necessidade para cada um ter a renda, ter o próprio dinheiro e independência financeira.

Aí é possível fazer as coisas sem ter que pedir dinheiro para o pai, mãe, amigo ou parente e, assim, sair da situação de dependência, construir a própria vida e até ajudar a família.

Mas o trabalho também significa apren- dizado e crescimento, pois requer conhe- cimento para exercer a atividade e con-tribui para a sociedade. O trabalho pode ser realização pessoal e coletiva, ao fazer algo que gostamos e que con-sideramos importante.

E qual a diferença en- tre trabalho e emprego?O próprio nome já diz: em-prego vem de empregado, ou seja, trabalhar para outra pes-soa ou empresa e receber um salário por isso. No emprego, a produção é para o patrão - seja ele quem for.

No trabalho, a produção é para si próprio e para a coletividade. É aquela expressão “trabalhar por conta”. É tra-balhar com o que diz respeito à coleti-vidade da qual fazemos parte, como no lote, na escola ou na nossa cooperativa.

Queremos ter uma renda própria, pois na sociedade em que vivemos precisa-mos de dinheiro para viver.

Mas o que queremos para ter nossa renda, um trabalho ou um emprego? E quais são as possibilidades de trabalho que temos nos nossos assentamentos?

Muita gente acha que a cidade é a alterna-tiva para conseguir melhores condições de vida. Mas a cidade pode oferecer, no máxi-mo, um emprego. Uma situação em que é possível ter uma renda, mas continuar de-pendente. Não da família, mas do patrão.

Muitos são os que voltam das grandes ci-dades desiludidos com as falsas promes-sas.

O retorno é marcado pelas falsas expec-tativas com a sociedade de consumo e o desencanto com a experiência de privação, carência, violência e, principalmente, com saudades da vida familiar e dos amigos do assentamento.

(...)

Promete-se “desenvolvimento”Fala-se em emprego e renda

Mas traz-se é mais sofrimentoFaz que o povo se arrependa

De ter acreditado nissoComo se fosse oferenda...

Por isso vamos plantarSem veneno e produzir

Alimentos mais saudáveisProntos pra consumirCom a agroecologiaSem a vida destruir

Porque é preciso saberO que traz soberania:

É o modelo agronegócioOu a agroecologia?

Essa questão, minha gente,Muitos de nós desafia!

O futuro do planetaDepende da humanidade

Precisamos construirVida com mais qualidadeTratar os seres da terraCom menos brutalidade

É necessário reverO jeito de produzir

E mudar radicalmenteA forma de consumir

Um mundo mais sustentávelNós devemos construir

Não vamos usar venenoNo solo e nas plantaçõesMas cuidar da naturezaSem fazer devastaçõesHoje a natureza berra

Vamos preservar a terraPara as próximas gerações

Pressionar o agronegócioUsar a legislação

Fazer valer os direitosDa nossa população

Cobrar o que está escritoDos governos como dito

Pela Constituição

(...)

MST leva sua solidariedade para crianças palestinas

O MST sempre esteve ao lado do povo palestino, e no ano passado, um grupo de militantes formaram uma brigada de solidariedade internacionalista que ficou durante 20 dias, contribuindo na colheita de azeitonas junto às famílias camponesas palestinas e conhecendo a realidade. Esta Brigada, que o MST pretende enviar to-dos os anos, é mais um exemplo concreto da luta dos trabalhadores e trabalhadoras pela construção de uma nova sociedade, mais justa, democrática e verdadeiramente humana. A Campanha pretende envolver toda a militância do Movimento em di-versas atividades, tais como seminários, debates, atos políticos etc, que divulguem a situação em que se encontra o povo pa-lestino. Como podemos também organizar ainda mais ações para nossa Campanha de soli-dariedade ao povo palestino?

Ser solidário é ser humano

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EXPEDIENTE

O que podemos encontrar na cidade que o campo não pode nos oferecer? E o nosso assentamento?

Tem o trabalho no lote, onde a renda obti-da com a produção é para si próprio e para a família. Mas muitas vezes a renda que se levanta é pequena. E isso é um problema real.

E se construirmos cooperativas de produção, onde se produz junto com ou-tras pessoas, que podem ser os vizinhos no assentamento, e se divide o resultado da produção?

No entanto, o trabalho na agricultura não é o único possível no assentamento. Na ver-dade, é necessário para o assentamento de-senvolver outros espaços de trabalho, para suprir todas as necessidades do conjunto.

Por exemplo: a escola é um espaço que atende a necessidade de educação. As agroindústrias suprem a necessidade do beneficiamento da produção e podem gerar uma série de possibilidades diferen-tes de trabalho. Assim é com a saúde, o transporte, o lazer...

Quais os tipos de trabalho possíveis no assentamento, para além do trabalho na roça?

As demandas dos jovens por trabalho abrem possibilidades de desenvolvi-mento do assentamento, de inovação, de potencializar recursos e renovar as concepções. A responsabilidade de construir os assentamentos é dos as-sentados e suas famílias.

O que podemos encontrar no campo, que a cidade não pode nos oferecer?O desenvolvimento das áreas de Re-forma Agrária pode proporcionar melhores possibilidades de trabalho, dependendo das conquistas. Por isso, a luta por crédito, por educação, por ca-pacitação técnica, pela implantação de agroindústrias, de escolas, de postos de saúde, de áreas de lazer e esporte, de espaços de desenvolver nossa cultura e nossa comunicação, é também a nossa luta por trabalho.

Como geração herdeira de luta pela terra, somos também a geração que vai, por meio do nosso trabalho, construir o futuro do assentamento.

Desafios do trabalho no campo

Campanha de Solidariedade ao povo palestino

Vocês já ouviram falar na Palestina e no seu povo? Sabiam que suas terras foram invadidas em 1948 pelo exército de Israel, apoiado pelos Estados Unidos da Améri-ca, e até hoje o povo palestino resiste e luta pela criação do seu país - o Estado da Palestina? Já pensaram se outro país viesse aqui, e usando de violência dissesse que aqui agora não seria mais Brasil e que a população não podia mais ficar nas suas terras? Pois é, não dá para aceitar, nem aqui e nem em nenhuma parte do mundo. O povo palestino, com sua coragem, sa-bedoria e resistência, é um exemplo para todos os povos que lutam e acreditam num mundo melhor, por isso precisamos ser sempre solidários e fazer pressão para que essa violência acabe de uma vez e a Pales-tina possa ser livre.

“Trabalho voluntário é aquele em que contribuímos com o nosso trabalho sem receber dinheiro em troca, isso faz com que as pessoas tenham uma nova forma de ver as coisas na socie-dade, quando percebes que podes ser útil trabalhando por outro compan-heiro, ajudando outras pessoas, isso te engradece, nos faz melhores seres humanos” Aleida Guevara (médica cubana, filha de Che Guevara)

Em homenagem a Ernesto Che Guevara, todos os anos, na semana do dia 08 de outubro, o MST realiza a Jornada de Solidariedade e Tra-balho Voluntário Che Guevara. To-dos e todas, em especial a juventude, são convocados a realizar atividades de mística, estudo e de trabalho voluntário como limpeza de locais públicos ou escolas, pinturas e ou-tras melhoras dos espaços, além de cultivos agroecológicos e refloresta-mento. Já participaste alguma vez? Vamos organizar e fazer uma bela ação na nossa região este ano?

“Solidariedade não é dividir o que nos so-bra, mas o que temos, mesmo que seja pouco e nos faça falta também”.

Podemos dizer que este é um dos grandes lemas do povo cubano, e também do nosso movimento. Solidariedade é um valor importante e deve ser prática co-tidiana. Ser solidário enriquece os seres humanos justamente porque reforça o que tem de mais bonito na relação en-tre as pessoas, que são os laços de com-panheirismo, amizade e afetividade.

Na luta, também é assim. Ninguém luta sozinho, uns precisam ser solidários aos outros para que todos juntos possam avançar.

Desde o começo do Movi-mento, sempre recebemos apoio e solidariedade de vários cantos do mundo. Um grande exemplo aqui na América Latina é Cuba, que continua até hoje sendo solidária, formando jovens para atuarem como médicos nos nossos as-sentamentos e acampamentos.

E também, desde sempre, com muitas limitações e humildade, buscamos con-tribuir com movimentos camponeses e povos em todo o mundo. Hoje, temos militantes do MST em brigadas de solidariedade em vários países como a Bolívia, Haiti e até na China.

Que ações de solidariedade aos povos em luta, sejam de longe, ou vizinhos, podemos fazer a partir de nossos luga-res? Já pensou você fazendo parte de alguma dessas brigadas?

“Se você é capaz de sentir indig-nação perante qualquer injus-tiça cometida contra qualquer povo do mundo, então, somos companheiros” Che Guevara

Page 2: Jornal da Juventude Sem Terra

Computadores, celulares, câmeras fotográficas, projetores de filmes, fil-madoras, videogames e televisores de última geração... Os jovens do campo querem ter acesso a essas tecnologias.

A televisão, novelas e filmes dia-riamente fazem propaganda das novas tecnologias. Esse é um dos motivos que leva boa parte da juventude que vive no campo a querer mudar para as cidades.

Mas será que os jovens do campo pre-cisam ir até a cidade para ter acesso a tudo isso? Não seria melhor que todas as pessoas que vivem no campo e na cidade tivessem as mesmas condições de acesso à tecnologia?

A vida no campo não é melhor nem pior que na cidade. Na cidade, as pes-soas trabalham muito, têm pouco tempo livre e o salário é pouco. Você deve conhecer alguém que mudou do campo para a cidade, pergunte se lá não tem problemas?

E a tecnologia, você sabe como ela é produzida? A tecnologia não foi criada pelas empresas, é fruto do trabalho humano desenvolvido ao longo da história para melhorar a humanidade.

Desde os satélites no espaço sideral ao chip dos celulares, carros, tratores, maquinários agrícolas, etc; o trabalho de homens e mulheres está presente em tudo.

Na sociedade capitalista as empresas transformaram a tecnologia em um produto de consumo. Assim, os trabalha-dores pobres do campo e da cidade, que não têm dinheiro para comprá-las, não têm acesso às mesmas. Aumentado as diferenças entre ricos e trabalhadores. Por você acha que isso acontece?

Uma família que mora nas periferias urbanas não consegue pagar 100 reais

por mês para um pacote de internet. Sem contar que antes precisa comprar um computador, que está ficando mais bara-to, mas depois de um ano já está velho e travando...

É impossível discutir o acesso às novas tecnologias da informação sem a democra-tização da internet. A universalização da internet banda larga – pública, gratuita e de qualidade – é fundamental para per-mitir aos assentados essa ferramenta.

A proposta do governo federal é implan-tar um Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). O plano foi criado em 2010 e promete a instalação de telecentros com internet nos assentamentos e acampa-mentos de Reforma Agrária.

Mas até agora quase nada saiu do papel. Por que será que até hoje os governos não instalaram o que prometeram?

Precisamos cobrar do governo federal a garantia desse acesso à internet nos as-sentamentos. Todos queremos celular, computador e internet para nos comu-nicar com o mundo. Mas por que não montar uma rádio comunitária no as-sentamento?

Em alguns momentos de nossas vidas achamos que a escola é um problema. Seja por que achamos um “saco” ir todos os dias, seja por que temos dificuldade de saber para que servem todos aqueles conteúdos que precisamos aprender e que nem sempre sabemos se vão ser úteis no futuro.

O fato é que atribuímos a este espaço chamado escola muitas alegrias e muitas decepções. Além das aulas, é lá que muitas vezes conhecemos as nossas melhores amizades, nossos primeiros namorados e namoradas. Afinal de contas, a escola é o lugar onde passamos boa parte da vida, desde a infância até a adolescência.

Mas será que as escolas são todas iguais? Será que existem escolas para ricos e escolas para pobres?

Parece até brincadeira, mas isso existe! Todos têm direito à educação, mas quando olhamos a realidade vemos que existem muitas diferenças.

Você já se perguntou por quê? Já se perguntou por que muitos jovens que moram no campo têm que sair do campo para continuar seus es-tudos, pois têm dificuldade de ter acesso a boas condições de estudo, acesso aos livros, a bibliotecas? É aí que está o problema!

As diferenças no acesso ao direito às políticas públi-cas não podem existir!Mas por que existem? O que explica isso? Será que essas diferenças não são apenas parte de uma sociedade injusta, que ainda se divide entre ricos e pobres, patrões e empregados?

Refletir sobre essas e outras questões nos leva a entender que somos parte de uma sociedade onde ter escola é um DIREITO, onde ter acesso ao conhecimento é uma CONQUISTA. Assim, começamos a fazer parte de um coletivo que quer mudar a ideia da “ESCOLA PROBLEMA” e construir a escola VINCULADA à vida dos TRABALHADORES e TRABALHA-DORAS, uma escola comprometida com a EDUCAÇÃO das crianças, JOVENS e adultos.

Se é isso, como podemos transformar a escola? Se é um direito nosso, por que não nos consideramos, muitas vezes, como construtores desse espaço? Por que não identificamos esse espaço como um espaço nosso?

Ficam aí algumas perguntas para serem debatidas!

LUtAMoS por:

edUCAção eM todoS oS nÍVeiS pArA oS JoVenS do CAMpo!

edUCAção de QUALidAde pArA todoS oS BrASiLeiroS!

No assentamento, uma rádio pode ser um instrumento importante para os campone-ses comunicarem-se entre si e com quem vive na cidade, fortalecer a cultura cam-ponesa, além de ajudar na organização de quem vive no campo.

A Lei de rádios comunitárias está fora da realidade do meio rural hoje no Brasil, pois essas rádios só podem atingir o raio de 1 km e ter um transmissor com potên-cia máxima de 25 watts. Quando instalada

nos assentamentos, esse modelo de rádio não consegue atingir as famílias da maioria assentadas, que vivem em lotes, distantes.

Da mesma forma que lutamos pela terra e por Reforma Agrária, também é importante criar tec-nologias alternativas e outros me-canismos para montar rádios co-munitárias e lutar pelo acesso às novas tecnologias da informação, como a internet.

Para isso, também precisamos de políticas públicas que democrati-zem a comunicação no campo e na cidade.

Somente com luta e organização essas transformações serão pos-

Educação pra quêe pra quem

Por que a tecnologianão chega no campo?

síveis. Em vez de mudar para a cidade, va-mos nos organizar e fazer do campo um lugar bom de viver, com acesso à comuni-cação, às novas tecnologias da informação, à cultura, lazer, esporte, educação etc.

A juventude Sem Terra tem papel funda-mental nessa batalha. E você, o que acha? Pronto para a luta?

Vocês já repararam que muita gente diz que nós jovens dos assentamentos e acampamentos só queremos saber de música, esporte e festa e não nos interessamos por nada “sério”? E ainda que a música que a gente ouve é ruim, que não é da “nossa cultura camponesa”?

Já pensaram nisso? Mas será que a cultura, a arte e o lazer também não são uma parte muito importante das nossas vidas? E qual é mesmo a nossa cultura camponesa que os mais velhos tanto gostam de falar?

Não é nada simples responder essas questões. Afinal, para falarmos sobre música, cultura, festas, temos que refletir so-bre tudo o que fazemos na vida, o nosso modo de viver. Não dá para separar as coisas. Se olhar- mos para a origem, a cul-tura tem a ver com o cultivo da terra, logo com o trabalho. Então, não podemos dizer que não se trata de coisa séria. Pelo contrário, antes as músicas, o teatro, as festas, mesmo os esportes, tinham tudo a ver com o trabalho no campo, os plantios, as colheitas etc. Todos e todas eram produtores de cultura.

O que acontece é que as coisas foram se modificando bas-tante. Quando olhamos, por exemplo, para as músicas que ouvimos hoje, a maioria não tem muito a ver com o nosso modo de viver. O comum é ouvir músicas sobre mulheres bandidas e homens traídos. Sem falar no sucesso do “eu quero tchú, eu quero tchá...”

Vocês acham que essa é a nossa realidade? Em geral, o ritmo é tão contagiante que nem prestamos atenção nas letras... mas a maioria de nós está fora dessa história de homem traído ou mulher que gosta de apanhar, não é?!

Na maioria das vezes, somos apenas consumidores e meros espectadores da cultura, que passa na televisão, nos grandes shows, nos jogos de futebol milionários, ou mesmo da nossa própria comida, roupas...

Não é verdade? Quantos de nós abrem mão de fazer uma programação com o grupo de amigos e jovens do assenta-mento para ficar em casa pra ver televisão ou trocar men-sagens no celular?

A questão é que essas músicas, as novelas e outros programas que pas-sam na televisão, mesmo muita coisa que tem na internet, tentam ma-nipular nossos desejos, ficam a toda hora nos dizendo que para sermos felizes temos que comprar cada vez mais coisas. E que devemos ficar em casa e esperar que a vida melhore,

que não precisamos nos organizar coletivamente para lutar pelos nossos direitos, ou mesmo para nos divertir. Ouvimos ainda que a vida no campo é um fardo, é só trabalho pesado, que as pessoas são atrasadas, não têm acesso à tecnologia, e que o melhor é ir para a cidade.

Vocês lembram de ter visto algum programa na tele-visão que fale de como os

assentamentos podem ser um lugar muito bom para viver, trabalhar, estudar, se divertir, ter acesso à internet, ter um grupo de teatro, uma banda de música? É difícil isso passar, né? E olha que tem assentamentos com bem mais coisas. Mas, em geral, só mostram o quanto as grandes fazendas do agronegócio produzem, com suas super máquinas e venenos (e sem precisar de gente).

O campo é espaço apenas de produção ou um lugar para viver? Vamos aceitar isso quietos e acreditar que esse é o único jeito de se viver? Vamos ficar só ouvindo as músicas que querem que a gente ouça, porque gera mais lucro, e seguir a onda do momento?

A juventude sempre teve muita garra, muita energia e vontade de fazer e criar coisas novas e transgredir as regras. Por isso, nossa cultura, nossa música, nossa roupa, nossas festas têm que mostrar isso.

Não precisamos ficar à espera. Por que não produzir nossas próprias músicas e fazer nossas festas diferentes? Não precisa ser como as festas “antigas”, só moda de viola, como os mais velhos às vezes querem. Por que não juntar diferentes ritmos e usar a tecnologia? Será que dá para juntar a viola com hip hop e música eletrônica? Vamos experimentar! Muitos jovens nos assentamentos já estão fazendo música, poesia, teatro, pintando, até mesmo fazendo vídeos.

Nossas famílias têm uma história de luta. Então, nossa vida e nossa cultura têm que ser também de luta, de resistência e de festa, alegre e coletiva. Feita por todos e para todos.

Por isso, estas coisas são muito importantes e sérias - na vida e na luta. Da mesma forma que temos que lutar para que a terra e os alimentos não sejam tratados como meras mercadorias, temos que lutar para que a cultura também não seja.

Precisamos discutir, estudar, aprender e experimentar. Fica aqui o desafio: por que não montar grupos de cultura nos assenta-mentos e nas escolas?

Para ouvir a música e pegar a melodia, acesse www.mst.org.br

Produção coletiva da turma do curso de artes do MST na Universidade Federal do Piauí (UFPI)Am DmAjuventudeéasementequerenasce E AmUnindoforçacomopovolutador DmFazendoestudoscuidandodanatureza E AmÉcomorgulhoquelutamoscomamor DmVocêainãofiqueparado

GCVamosadiantepeguefloresecançõesAm DmOquequeremoséconstruironovoE AmEtransformá-losemarmasecanhõesDmÔ juventude que ousa lutar E AmConstrói o poder popular

DmNãoseiludacomalienação E AmPoiséprecisoseconscientizar DmEmbuscadarevoluçãoEVocêvaiselibertar

Juventude que ousa lutar

EU QUERO: ( ) lu ( ) ta ( ) Eu quero luta, ta, ta, ta... Paw

la K

uczy

nski

ego

Um estêncil (do inglês stencil) é um molde furado (vazado) que se usa para podermos facilmente passar um desenho, uma frase e símbolos para várias superfícies como paredes, camisetas, faixas etc.È BeM fáCiL de fAzer!

1°- Escolher o que queremos pintar. Pode ser feito à mão ou no computador.

2º- Pegar uma cartolina, papelão, radio-grafia ou folha de acetato. Quanto mais grosso for o material do estencil, mais vezes poderemos usá-lo.

pArA fAzer UM eStênCiL

3°- Com o modelo por baixo, recortar com um estilete o que será vazado e depois preenchido com tinta.

4°-Depois é só colocar em cima da super-ficie a pintar e passar um spray ou tinta

(neste caso, podemos usar uma esponja de la-var louça ou mesmo um rolinho para pintar). 5°- Deixar secar e ver o resultado!

Agora é só ter boas ideias para comunicar e mãos à obra!

pASSo-A-pASSo

TÁ NA CHUVARacionais Mc’s

“É o Brasil é mó zica há quanto tempoE há quanto tempo o homem já não era violento

Mais uma coisa puxa outra. é triste inevitávelA miséria não acaba porque ainda é favorável

Imaginem só, o Brasil sendo melhorCom divisão de terra e espaço ao redor

(…)

Você tá vivendo na ilusão da cidadeDo ensino meia boca, lesando a mentalidade

Difícil é resistir, se pensar vai ser piorNossa cara é ir pra cima e fazer nosso melhor

Melhor dentro da escola, melhor que uma vitrineMelhor longe da esmola, melhor longe do crime

Que a vida nos ensine, traga o conhecimentoQue mostre o outro lado, e não o sofrimento

A rua violenta pode ser de outro jeitoNinguém é perfeito, mas ainda tem o direito

Direito de falar, direito de pensar

(…)

O nosso acesso é restrito O processo é só aumentar

Vâmo chegar, mudar, pra revolucionarRacionais está no ar, e o rap também tá

Em qualquer lugar, onde a mensagem váSei que um aliado, mais um? vou resgatar!”