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8/17/2019 Jornal Da PUC_Especial Anchieta
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H o m e n a g e m à c a n o n i z a ç ã o d e J o s é d e A n c h i e t a
Vice-Reitoriapara AssuntosComunitários
Projeto ComunicarJunho 2014
8/17/2019 Jornal Da PUC_Especial Anchieta
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Editorial
São José de Anchieta foi santo antes de ser. Em sua vidaexemplar, dedicada ao outro diferente dele, experi-mentou métodos educativos novos, piedade profun-
da, orações cotidianas originais, mediações e encontros depaz. Poeta, teatrólogo, linguista, botânico, artesão – elefazia o próprio calçado para pisar o chão das selvas brasi-leiras com elementos da própria natureza – Anchieta, decorpo frágil e saúde precária, tornou-se um gigante espi-ritual da missão católica no Novo Mundo. Tal grandeza é
testemunhada pela própria história e pelas obras que dei-xou como legado de sua passagem por terras brasileiras.Milagres os fez, sim, em vida. Evocá-lo é comovente e deuma religiosidade sublime.
Este número especial do Jornal de PUC é um peque-no tributo ao santo, agora canonizado pelo Papa Francisco,para o seu dia, no calendário dos Santos da Igreja, 9 de junho. Aqui o leitor vai encontrar um painel de algumasfacetas do Apóstolo do Brasil, registros e interpretações
de sua vida. Publicamos também pequenos trechos de seustextos, correspondências e poesia.O Jornal da PUC une-se assim ao coro dos que re-
conhecem o exemplo de vida santa que José de Anchietadedicou aos brasileiros e aos que ajudaram a fundar umanação de profunda religiosidade como a nossa. Seu exem-plo de mediador da paz é o caminho que as sociedadescontemporâneas mais necessitam.
Prof. Miguel Pereira
Coordenador-Geral do Projeto Comunicar
Coordenador-Geral: Prof. Miguel
Pereira. Coordenadora-Adjunta:
Profª. Julia Cruz. Coordenadora-
Administrativa: Rita Luquini.
Jornalista Responsável e Editora:
Profª. Julia Cruz (MTE 19.374).
Subeditora e Chefe de Reportagem:
Profª. Adriana Ferreira. Projeto
Gráfico e Diagramação: Profª.
Mariana Eiras. Fotografia: Prof.
Weiler Finamore Filho. Ilustração:
Prof. Diogo Maduell. Consultor: Prof.
Fernando Ferreira. Colaboração:
Equipe da Assessoria de Imprensa da
PUC-Rio. Redação e Administração:
Rua Marquês de S. Vicente, 225,
sala 401-K, 22451-900, Gávea, RJ.
Telefone: 3527-1140. E-mail - Redação:
Administração: [email protected].
Expediente
Anchieta, o mediador da paz
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Índice
Padre César Augusto dosSantos organizou o processo decanonização do Apóstolo
Anchieta é patrono da cadeirado presidente da Academia Fé eRazão, padre Aníbal Gil Lopes
O nome de Anchieta está emdiversos espaços que vão alémdo campus Gávea da PUC
13 16
Santidade reveladadesde jovem
Anchieta, o filme
Artigo
José de Anchieta: um íconeda evangelização
Anchieta, missionáriotambém com a pena
Anchieta, a Companhiade Jesus e o Brasil
A Igreja notempo de Anchieta
Academia Fé e Razão:Patrono da presidência
O nome de Anchietapor toda parte
19
4
5
6
7
8
Cultura
Artes
Poema da Virgem
Os primórdios doteatro brasileiro
Entrevista
Um jesuíta na
formação do brasileiro15
18
17
Anchieta, o Brasil ea função catequistado seu teatro
9
Registros
Cartas aos Jesuítas12
Tradição
Hino a São José
de Anchieta 14
José de Anchieta:o sentido teológicode uma canonização
A colonizaçãoe Anchieta
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Crônicas de Memória | Para Não Esquecer
Clóvis Gorgônio
Núcleo de Memória da PUC-Rio
Leia mais em www.puc-rio.br/nucleodememoria
Anchieta, o filme
Em 22 de junho de 1980,Anchieta foi beatificado,uma das etapas do pro-
cesso de canonização. A PUC--Rio comemorou o fato a par-tir de 9 de junho de 1980, DiaNacional de Anchieta, institu-ído em 1965 pelo PresidenteCastelo Branco. Houve eventos
artísticos e acadêmicos, entreeles, a exibição do filme dePaulo César Saraceni, Anchieta, José do Brasil .
Saraceni foi um dos propo-nentes do Cinema Novo. Apóso Golpe de 1964, e especial-mente após o AI-5, o cinemasofreu com a Censura. Filmesforam impedidos de serem exi-
bidos ou mutilados.Em 1969, foi criada a Em-
brafilme, que financiava a pro-dução nacional e tentava enqua-drá-la às diretrizes do GovernoFederal. Neste contexto, o fil-me-símbolo é “Independênciaou Morte”, que reforçava a fi-gura de Dom Pedro I como he-rói nacional, sempre em trajesmilitares. O filme foi sucessode público e elogiado pelo Pre-sidente Médici.
A Embrafilme criou umaverba específica para filmes his-tóricos, cujos roteiros teriamque ser aprovados pelo MEC.A produção de “Anchieta”, ini-ciada em 1975, recebeu recur-
sos superiores à média. A vida
do “Apóstolo do Brasil”, vistocomo construtor da nacionali-dade e da integração harmônicaentre brancos, negros e índios,era valorizada pelo regime.
Saraceni disse ter se inspira-do em Dom Pedro Casaldáliga,ligado à Teologia da Libertação.Para o papel-título, escolheu
Ney Latorraca, sucesso nasnovelas da TV. Queria atrair ogrande público, embora não fi-zesse concessões na linguagemcinematográfica: o filme tem140 minutos, com longas ce-nas contemplativas, alegóricase montagem não linear, caracte-rísticas do Cinema Novo.
O filme não obteve o im-
pacto esperado, nem apoio parasua divulgação: não era a “his-tória como se queria”, era umAnchieta “catequizado pelos ín-dios”, a inversão do papel do co-lonizador frente ao colonizado.Nas universidades, o filme foidiscutido enquanto se iniciava oprocesso de redemocratização,com a Anistia e a reestruturaçãodo sistema partidário.
Uma releitura do filmehoje permite identificar o quepermanece e o que muda nasrelações entre arte, Estado,história e construção de identi-dades, e entender o que signi-ficava a produção de um filmehistórico naquele momento vi-
vido pelo Brasil.
C a p a d o D V D c o m e r c i a l , V e r s á t i l H o m e V i d e o
Cartaz do filme ‘Anchieta, José do Brasil’,
lançado em 1978
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Artigo
Padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J.
Reitor da PUC-Rio
Acanonização do Padre
São José de Anchieta,missionário jesuíta, feitarecentemente pelo Papa Fran-cisco, é um reconhecimento his-tórico de um homem que deu asua vida pelos valores e princí-pios do Evangelho, tão impor-tantes no início do processo demiscigenação cultural de nossanação. A sua visão missionária
vai além de seu tempo, deixan-do um legado religioso e cultu-ral para a história do Brasil, ain-da hoje reconhecido por muitosintelectuais e historiadores denosso país. É difícil, em poucaspalavras, expressar a riquezadesse legado, sobretudo quandoeste se estende desde o campoda literatura, da poesia, da an-tropologia e dramaturgia, che-gando até mesmo aos primór-dios da biogeografia brasileira.
Sem nenhuma intençãode proselitismo, não podemosdeixar de reconhecer a gran-de contribuição deste homem,considerado um ícone da evan-gelização nos primórdios das
raízes de nossa brasilidade. Es-
tar ligado à fundação das duasmaiores cidades do país, SãoPaulo e Rio de Janeiro, não éalgo trivial, pois isto supõe ca-pacidade de dialogar, de aceitardiferenças, de ser inovador, deromper barreiras religiosas eculturais, de integrar culturasdistintas e, extraordinariamen-te, de entregar sua vida por
uma causa mais nobre, sempretensões de poder, benefíciopróprio ou ambições econômi-cas. A maneira como Anchietaviveu e morreu aqui em nossopaís é um testemunho inques-tionável de alguém que procu-rou trabalhar e gastar a sua vidacom gratuidade e simplicidade,sempre defendendo aqueles quesofriam os efeitos nefastos doprocesso colonizador, como ospovos indígenas na sua época.
Além deste árduo traba-lho de inculturação da fé, a suacontribuição literária foi fun-damental, lançando as bases daarte da poesia lírica e épica noBrasil, além dos sermões, car-
tas e uma gramática tupi-guara-
ni, a língua mais falada naquelaépoca na costa do país. Junto com outros que pro-
curaram narrar em cartas osaspectos etnológicos, etoló-gicos e históricos no início doprocesso de colonização, comoPero Vaz de Caminha, PedroLopes de Souza, Hans Staden,André de Thevet, Jean de Lery,
Pedro de Guimarães Gândavo,entre outros, a carta escrita por José de Anchieta em 1560, do-cumento pouco conhecido pe-los brasileiros, têm um papelrelevante para os primórdios dachamada biogeografia brasilei-ra. Neste relato pré-biogeográ-fico, aparece a riqueza e o usoda biodiversidade pelos povosnativos, revelando também as-pectos etológicos de alguns ani-mais. O que chama a atenção éa preocupação de Anchieta emmostrar a visão integradora dohomem com a fauna e com aflora, agregando informaçõessobre os fenômenos climáti-cos. A sua maneira holística em
olhar a realidade antropológica,
etnológica, teológica e ambien-tal integradamente é, sem dúvi-da, uma referência para o nossomundo atual, carente de umavisão mais sistêmica da realida-de socioambiental.
Ao canonizar o Padre An-chieta, o Papa Francisco foi alémdos milagres baseados apenasnas curas e nas graças alcança-
das, mostrando que é preciso vertambém o legado e a contribui-ção cultural que uma pessoa dei-xa na história de um país, sendosempre estímulo às futuras gera-ções. Que o exemplo do Santo José de Anchieta nos estimule abuscar sempre a abertura e o di-álogo com as diferentes culturase religiões que fazem parte denossa brasilidade, exercendo asolidariedade entre os povos, emostrando o quanto temos queconhecer e aprender com estarica biodiversidade de nosso país,mesmo sabendo que a mesma seencontra cada vez mais vulnerá-vel pela exploração e destruiçãode nossos ecossistemas.
José de Anchieta:
um íconeevangelizaçãoda
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Padre Jesús Hortal, S.J.
Ex-reitor da PUC-Rio
Artigo
Anchieta, missionário
também com a penaAmultiplicidade de as-pectos que encontra-mos na vida de Anchie-ta somente é comparável às
múltiplas faces de um diaman-te: reflete a luz recebida e no-ladevolve com toda a gama colo-rida do arco íris. A sua origemfamiliar une os dois extremosda Espanha: o país basco, ex-tremo Norte da Península Ibé-
rica – terra do seu pai – e asIlhas Canárias, de fronte às cos-tas africanas, lar de sua mãe, a
qual, por certo, para acrescen-tar mais um traço diferente, eradescendente de judeus conver-sos, ou cristãos novos, como sedizia naquela época.
Uma segunda fonte de va-riedade está na sua formação.Até os catorze anos, na Ilhade Tenerife, consegue um do-mínio do latim que nos causaadmiração. Depois, em Coim-
bra, não chega a completar ocurso universitário. Enviado
para o Brasil, será o maisextraordinário autodida-ta. Numa terra onde não
existia uma única es-cola de Teologia, An-chieta consegue ser
um notável teólogo, ao mesmotempo que um agudo observa-dor da natureza e das popula-ções da Terra de Santa Cruz.
Depois, será o maior cate-quista que já tivemos, mas tam-bém um excelente administra-dor, não só no Colégio de SãoPaulo de Piratininga, mas tam-bém como Superior Provincialde todos os jesuítas de nossopaís. Igualmente, por força dascircunstâncias, acabou sendoum grande professor, um fun-
dador de confrarias e um mag-nífico enfermeiro.Finalmente, ele foi um es-
critor poliglota e fecundo. Do-minava quatro línguas e nasquatro nos deixou a sua variadaprodução literária. Em espanholconservamos uma boa parte dascartas, com a primeira histórianatural do Brasil. Dominava tãobem o latim que o provincialque o precedeu encarregou-ode redigir naquela língua os lon-gos relatórios que devia enviar aRoma, pois não havia um outro jesuítas tão capaz quanto ele.E, em latim, escreveu sobre asareias de Ubatuba, enquanto erarefém dos Tamóios, o Poema a
Nossa Senhora, modelo de versona língua do Lácio, assim como aobra um tanto aduladora De Ges-tis Mendi de Sá (As Façanhas de
Mem de Sá). Com o seu raciocí-nio límpido, elaborou a primeiragramática da língua tupi (“a maisfalada nas costas do Brasil”), con-tribuindo para o surgimento da“língua geral”, veículo de comu-nicação não só entre as diversastribos indígenas, mas tambémentre índios e portugueses.
Mas Anchieta, mesmo lite-
rato, não esqueceu nunca queele era, sobretudo, um missio-nário. As suas obras teatrais, quecontinuaram a ser representa-das repetidamente mesmo apósa sua morte, nos mostram essaânsia de espalhar a boa nova.Nesses autos sacramentais se en-trelaçam o espanhol, o portu-guês e o tupi e constituem umaespécie de catequese popular,facilmente compreensível paraos mais simples.Talvez o me-lhor seja o Auto de São Maurí-cio. Mas o Auto de Santa Isabel,escrito nos momentos em queque já vislumbrava a morte, nosmostra essa ânsia missionária,incontida do Apóstolo do Brasil.
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Anchieta, a Companhia
de Jesus e o Brasil
Padre Carlos Palácio, S.J.
Provincial do Brasil
Artigo
Ninguém poderia negarque José de Anchieta
é uma referência in-dispensável e constitutiva paraa história do Brasil. Junto comseus primeiros companheiros,ele é o elo que une a missão daCompanhia de Jesus à gênese daidentidade social e cultural donosso país. Esse vínculo consti-tui um título de honra, mas tam-bém um desafio para a missão
atual da Companhia no Brasil.A canonização de Anchietaé, antes de tudo, um aconteci-mento eclesial. Por meio dele,a fé cristã reconhece o valorevangélico da vida e da missãodeste grande jesuíta e sua atua-lidade inspiradora. Não só paraa Igreja ou para a Companhia de Jesus, mas também para todosaqueles e aquelas que anseiam eestão comprometidos na cons-trução de um Brasil melhor.
Para nós jesuítas, essa cano-nização tem lugar no momentopreciso em que a Companhiade Jesus organiza sua missãono Brasil como uma unidade,tanto de estrutura quanto de
horizonte, a ‘Província do Bra-sil’. Após quase cinco séculos,
estamos, hoje, portanto, mui-to próximos da realidade deAnchieta e seus companhei-ros, para os quais a missão erao Brasil, como uma totalidadeem construção.
Um dos traços caracterís-ticos da figura de Anchieta foisempre a busca incessante da‘união dos diversos’. Traço este
que aparece de forma paradig-mática na missão de São Paulo.O núcleo do que viria a ser agrande metrópole foi construí-do com persistência, num diá-logo nem sempre pacífico entreos diversos atores: um ‘Colégiodiferente’, com ensino do latime as outras línguas, constituídopor alunos portugueses, mame-lucos e índios, com uma Igrejarestaurada, afluxo crescente decolonos portugueses e cateque-se itinerante dos índios. Essa‘união de diversos’ continua aser o grande desafio e a enormepotencialidade para a constru-ção social e eclesial do Brasil.
Em sintonia com essa ins-
piração, também nós, como jesuítas, experimentamos e es-
tamos convencidos que a mis-são de anunciar a ‘boa nova’do evangelho hoje, no Brasil,passa pelo encontro com o ou-tro, pela acolhida do diferente,pelo respeito da alteridade. Notrabalho de construção da nova‘Província do Brasil’, descobri-mos e aprendemos a conviver edialogar com as diversidades re-
gionais e culturais; a não fecharos olhos para novas fronteiras – humanas, culturais, e sociais –que desafiam nossa capacidadede abrir-nos para o desconhe-cido; a experimentar a riquezadessa diversidade para a missão.
Passados mais de quatroséculos, essa diversidade repre-senta ainda a grande riqueza econtinua a ser o grande desafiodo nosso país. O Brasil não podeser compreendido sem um olharatento a esta diversidade (regio-nal, de culturas, de raças e etnias;social, religiosa, etc.) que cons-titui a fonte da sua riqueza hu-mana e da criatividade cultural esocial que lhe é reconhecida.
Para a Companhia de Jesusé um compromisso inadiável
comprometer-se com a cons-trução de um “projeto Brasil”que integre, de fato, essa di-versidade, de modo que ela en-contre, finalmente, seu lugar eseja reconhecida na construçãocomum do futuro.
Que São José de Anchietanos ajude a transformar nossasfragilidades, pessoais e sociais,
em força de comunhão que bro-ta do conjunto das diferenças;Que ele nos ensine a arte de
acolher, respeitar e integrar asdiferenças numa unidade maior;
Que ele abra nossos olhospara a realidade polivalen-te das nossas raízes culturais.Só tendo a coragem de entrarpelo caminho da convivênciaplural poderemos contribuirpara a integração. É na con-vivência da pluralidade reco-nhecida que aprenderemosa recriar consensos. E, dessaforma, poderemos reinventarum futuro mais rico e mais justo, porque mais orig inal eoriginário.
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Artigo
A Igreja no
tempo de Anchieta OBrasil nasceu como umaexpansão civilizatóriade Portugal na Améri-ca. Era o tempo da cristandade,de união entre Igreja e Estado,
cujo ideal era ter apenas um rei,uma fé e uma lei. Os monarcaseram sagrados nas catedrais, ju-rando defender a religião e anação, e aplicar as leis. As terrasrecém-descobertas no caminhopara as Índias foram partilhadaspelos reis ibéricos com o apoioda Igreja Católica. A colonizaçãovisava expandir simultaneamen-
te a fé e os reinos católicos.No tempo de Anchieta, acivilização luso-brasileira eraapenas uma franja litorânea narota comercial das índias, compovoações recentes, comérciode pau-brasil e engenhos deaçúcar, que atraíam fazendeirose a cobiça de piratas. A popula-ção indígena era estimada entredois milhões e meio a quatromilhões e meio de habitantes,com centenas de etnias e lín-guas. As longas distâncias doterritório demoravam mesespara serem percorridas, pormar ou por terra, em condiçõesmuito precárias. A penetraçãono interior só era possível com
a aliança dos indígenas que co-nheciam as rotas.
A Coroa portuguesa cobra-va os impostos que se destinavamà Igreja, decidia sobre a criação
de dioceses e paróquias, e apro-vava as residências e as missõesdas ordens religiosas. No Brasil,foi criado o Bispado de Salvador.Os jesuítas tiveram uma rápidaexpansão, atendendo a índiose colonos com escolas, aldeias,capelas e residências. Em 1581,cerca de 70 jesuítas controlavam140 estabelecimentos missioná-
rios. Outros 40 haviam morrido,atacados por piratas nas proximi-dades das Ilhas Canárias. Nessamesma época se deu a união en-tre as coroas ibéricas, favorecen-do a vinda de franciscanos, bene-ditinos e carmelitas ao Brasil.
Um dos grandes desafiosmissionários era a incorporaçãodos indígenas à Igreja. Os jesu-ítas toleravam a sua nudez, rea-lizavam confissões por meio deintérpretes e incorporavam à li-turgia cantos e danças dos índios.Isso causou fortes conflitos entreo primeiro bispo brasileiro, domPero Fernandes Sardinha, e oprimeiro superior jesuíta no Bra-sil, padre Manuel da Nóbrega.
Prof. Padre Luís Corrêa Lima, S.J.
Departamento de Teologia
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Prof.ª Emérita Cleonice Berardinelli
Departamento de Letras
Artigo
balho, mais de uma vez Superior
e Provincial, catequista acimade tudo, achou tempo para can-tar mais insistentemente o seuamor e a sua devoção a Deus e àVirgem Maria, entremeando osensinamentos da fé e da virtude,docens et delectans (educando edeleitando) ou expôs os malesda humanidade – sobretudo osda pequena humanidade com
que convivia, feita de brancose índios, criticados e louvadossem discriminação.
De cerca de 1561 até aoano de sua morte, 1597, An-chieta escreveu 12 autos, dosquais ficaram textos completosou fragmentários. Destes, doissão trilingues, quatro bilingues,os outros seis monolingues –três em tupi, dois em espanhole um em português. O tupi estáem oito autos, o português emsete e o espanhol em cinco. Dastrês línguas, o tupi é a mais em-pregada em número de autos ede versos. Isso se explica facil-mente: os “atores” e os ouvinteseram predominantemente ín-
Optei por falar do An-
chieta dramaturgo, portrês razões principais:por achar que o melhor veículopara a persuasão é o teatro: aliaao poder do texto as inflexõesda fala dos atores, a expressi-vidade dos gestos, as vestes, osmovimentos em cena, algumcenário, mesmo natural, enfim,todos os recursos da dramatiza-
ção, possíveis já àquele tempo;pela ternura que demonstrapor alguns de seus tipos, pelaprofunda religiosidade, pela uti-lização de processos vicentinos,dando-lhes o seu cunho pro-fundamente pessoal, como, porexemplo, no tratamento dadoaos diabos, personagens mar-cantes de seu teatro, aos quaisdeu nomes indígenas; enfim,por fazer de seu teatro a armaque brandia contra os vícios e oserros, o escudo com que tentavaproteger aqueles a quem que-ria ensinar a doutrina e a mo-ral cristãs. Foi sobretudo comodramaturgo que este sacerdote,sempre sobrecarregado de tra-
Anchieta, o Brasil e
a função catequistado seu teatrodios; a eles se dirigia em espe-
cial a mensagem do autor.Como chegaram até nósesses textos? O padre Arman-do Cardoso, jesuíta, na Apre-sentação do seu Teatro de An-chieta, de 1977, diz que dispôsde cópias fotográficas do Opús-culo Poético 24 do Arquivo Ro-mano da Companhia de Jesus,trazidas para o Brasil por um
padre da Companhia, e com-pulsou, em Roma, o próprio li-vro de Anchieta,podendo es-tudar como
se uniram seus caderninhos,
autógrafos e apógrafos, em umvolume. Em 1947, essas cópiastinham sido cedidas à tupinólo-ga Maria de Lourdes de PaulaMartins, que, em 1954, editoua obra completa de Anchieta,traduzindo os textos tupis.
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Artigo
A colonização
e Anchieta
Prof.ª Eunícia Fernandes
Departamento de História
referências europeias em soloamericano. Nesse ponto, Joséde Anchieta é, talvez, o símbolomaior, pois foram dele as pri-meiras iniciativas e resultados,com seu esforço de sistematiza-ção da língua tupi-guarani que,ainda como manuscrito, circu-lou entre os missionários e foi,inclusive, utilizado na coloniza-ção espanhola, quando da cons-tituição das Missões do Paraguai.
A produção de Anchieta,entretanto, não se destaca ape-nas pela primazia, pois sua obra
ultrapassou a gramaticalizaçãode uma língua desconhecida e al-cançou a literatura, com a reda-ção de poemas e peças teatrais,sendo as últimas importantesinstrumentos evangelizadoresentre os indígenas. Ontem, An-chieta se destacara entre os seuscom seu compromisso e eru-dição, tendo atuado na Améri-ca como missionário, reitor deColégio e Provincial do Brasil.Hoje, se os historiadores da co-lonização geralmente contamcom as fontes inacianas, José deAnchieta ainda se destaca poisabre o leque de possibilidadesinvestigativas pelo volume e va-riedade de seus textos.
ACompanhia de Jesusteve papel axial no pro-cesso de colonizaçãoda América portuguesa, pois,muito além da imagem clássicada catequese dos indígenas, osinacianos foram edificadores desuportes materiais para que odomínio luso se concretizasse.Com a construção de colégiosque garantiam a formação denovos religiosos e a dos colo-nos, dos engenhos que permi-tiam a manutenção do projetomissionário e dos aldeamentos
que eram espaços de convívioprivilegiado com os índios, osreligiosos ampliaram e consoli-daram o território para a Coroa,além de auxiliarem na manuten-ção da própria vida colonial.
Mas a prática catequéticae pedagógica também resultouem suportes materiais signifi-cativos, pois tanto as cartas queajudavam no conhecimento eadministração colonial, a pro-dução de gramáticas e dicioná-rios para as línguas nativas fo-ram instrumentos poderosos no
contato com os indígenase consolidação das
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Prof.ª Maria Clara Bingemer
Vice-Decana do CTCH
Artigo
tupi que, na América Portu-guesa, foi chamada de “línguageral” e se tornou o principalinstrumento de comunicaçãoentre europeus e nativos.
Sua canonização é o selo desua vida, inteiramente dedicadaa Deus e aos outros, em incan-sável doação e incessante tra-
balho. Canonizando Anchieta,a Igreja reconhece e proclamaque aquele batizado, aquelecristão seguiu de muito pertoas pegadas do Mestre e Senhor Jesus Cristo e por isso podeservir de testemunho e exem-plo para todos os cristãos.
Ao mesmo tempo em quenão hesita em denunciar e con-denar pecados, a Igreja não fazo mesmo com pecadores, indi-víduos que possam ser classifi-cados como “perdidos” por seucomportamento negativo. Partedo princípio que por maior queseja o pecado, a graça de Deus osupera e pode salvar aquele quese distanciou do caminho da
Ocanário de ascendên-cia judaico cristã nova José de Anchieta nem
imaginava que tantos séculosdepois de sua passagem pela*terra brasilis* seria objeto detamanha atenção por parte damídia e subiria aos altares comosanto. Era bem jovem quando
sentiu o chamado de Deus eentrou na Companhia de Jesuscomo irmão.
Chegou ao Brasil com 20anos de idade. De suas mãosfloresceu a cidade que hoje é amais importante do país: SãoPaulo. Além disso, é de enormeimportância sua atuação juntoaos índios, aos quais cuidava nãoapenas de catequizar como tam-bém de defender dos abusos doscolonizadores portugueses, quemuitas vezes os brutalizavam,escravizando-os e tomando-lhesas mulheres e filhos.
Também se destacou nocampo das letras. Compôs aprimeira gramática da língua
José de Anchieta:
o sentido teológicode uma canonização
verdade e do amor mesmo noúltimo minuto de sua vida.
No entanto, após cuida-doso processo que pode duraranos – como foi o caso com An-chieta – a mesma Igreja se ale-gra em canonizar santos. É com júbilo que proclama que aqueleou aquela que é conduzido aos
altares é como um farol que ilu-minará as vidas de seus irmãos eirmãs mostrando que na fragili-dade humana o Espírito triunfada argila e da fraqueza realizan-do coisas grandes que atestam apresença e a força de Deus.
Assim foi com José de An-chieta, que consentiu em queDeus se apossasse de toda a suapessoa e dele fizesse um instru-mento para a paz, a justiça e averdade. O Brasil conta, pois,com mais um santo para o qualpode olhar para inspirar suavida e ao qual pode pedir inter-cessão e ajuda.
São José de Anchieta, rogaipor nós.
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Registros
Cartas aos Jesuítas“A história póstuma de José de Anchieta
merece vir à luz. Reunir as suas cartas, seus
escritos vários, em prosa e verso, é uma dívida
que não admite mais moratória”
Introdução de Capistrano de Abreu
ANCHIETA, José de. Cartas: Informações, fragmentos históricos e sermões.
Editora Itatiaia:
Editora da Universidade de São Paulo
Carta de Piratininga, 1562 - Referência ao
padre Manoel da Nóbrega
Carta ao Padre Geral de São Vicente, 1560
Carta ao Padre Geral de São Vicente, 1560
“Prega o Padre Manoel da Nóbrega a mi-údo em todas elas, ainda que com muitotrabalho de sua pessoa por suas muitas econtínuas enfermidades que cada dia pade-ce, se lhe vão acrescentando, ordenando-oassim a divina disposição, para maior me-
recimento seu. Esta quaresma esteve al-gum tempo em uma das povoações, que éa principal, chamada Santos, pregando trêsvezes em a semana e confessando muitosdos escravos por intérprete. E perseverouem este ministério até que mais não pôde,pondo sua alma por seus Irmãos, porqueadoeceu tão gravemente que foi necessá-rio traze-lo às costas até S.Vicente, à nossaCasa, por ele não poder vir por seus pés: aenfermidade é perigosa”.
“Há também outros animais do gêne-ro anfíbio, chamados capiyûára, isto é,“que pastam ervas”, pouco diferentesdos porcos, de cor um tanto ruiva,com dentes como os da lebre, excetoos molares, dos quais alguns estão fi-
xos na mandíbulas e outros no meio docéu da boca; não têm cauda, comemervas, donde lhes provêm o nome; sãopróprios para se comer; domesticam--se e criam-se em casa como os cães:saem para pastar e voltam para casapor sim mesmos”.
Carta de Piratininga, 1556
“Também visitamos outros lugares dePortugueses e Índios semeando em todasas partes a palavra de Deus, a qual paraque dê fruto abundante, roguem nossosIrmãos continuamente a Nosso Senhor,e tenham assídua memória de nós outros
para que não deixemos de semear por-que em seu tempo colheremos”.
“Deste, soube o Governador os projetosdos Franceses e com naus armadas veiocombater a fortaleza. Daqui foi socorroem navios e canoas, e nós outros demos ocostumado socorro de orações, além dasparticulares que fazia cada um: diziam-se
cada dia umas litanias na Igreja, acabada amissa: também se mandou daqui um Pa-dre, com o Irmão intérprete, a rogos doGovernador, para que se ocupasse em con-fessar os soldados, e ensinar aos Índios quecom eles haviam vindo. Voltou o Irmãomui doente de febres e câmeras de sangue,pelo muito trabalho e frio que sofreu, maslogo sarou pelo favor da Divina Bondade”.
Carta de São Vicente, 1565
“De maneira que os Índios me tinhammuito crédito, máxime porque eu lhesocorria as suas enfermidades, e comoalgum enfermava logo me chamavam,aos quais eu curava a uns com levantara espinhela, a outros com sangrias e ou-tras curas, segundo requeria sua doen-
ça, e com favor de Cristo Nosso Senhorachavam-se bem”.
Sermão da Conversão de São Paulo, 1568
“Desta maneira converteu hoje a Saulo,que foi grandíssimo e especialíssimo pri-vilégio arrebatando-lhe a vontade e mu-
dando-lhe o mal em bem sem ele podera isto resistir...”.
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Vocação
Santidade revelada
desde jovem
Um evangelizador jovial,terno e amigável. Pa-dre César Augusto dosSantos, pesquisador responsá-vel por organizar o processode canonização de Anchieta
dentro da Igreja Católica, con-sidera que essas eram algumasdas principais característicasdo Apóstolo do Brasil. José deAnchieta, que demonstrou san-tidade desde cedo, chegou aoBrasil aos 19 anos e foi nome-ado por padre Manuel da Nó-brega não apenas como mestredo colégio de Piratininga, mastambém como mestre de seuscompanheiros. Um reflexo davasta cultura e do espírito co-rajoso do jesuíta, que nasceu naEspanha, estudou em Portugal,mas viveu 44 anos no Brasil.
Padre César, que trabalha naRádio Vaticano, em Roma, consi-dera que a canonização do beato
significa um reconhecimento daboa ação dos jesuítas. – Simboliza a legitimação
das nossas origens. Embora te-nha havido alguns enganos, a
ação dos missionários foi umaação correta. Os jesuítas pre-servaram o tupi, que é a línguados indígenas. Anchieta ensinouescrita, a evangelização era deacordo com o modo de ser dos
indígenas, ele foi conhecer a me-dicina desses povos. Tudo den-tro da concepção da medicina,vamos chamar assim, indígena.Não foi uma imposição, mas umaencarnação dentro daquela reali-dade – afirma.
O pesquisador ressalta ahabilidade do jesuíta em evan-gelizar os índios dentro da cul-
tura nativa, com o cuidado de seadaptar aos costumes desses po-vos sem impor a cultura católica.Ao contrário de alguns coloniza-dores que queriam impor o cris-tianismo, o interesse de Anchie-ta, aponta padre Cesar, era levaro Evangelho de Jesus Cristo.
O pesquisador lembra do
episódio em que Anchieta seofereceu como refém e ficoudois meses em Iperoig, hojeUbatuba, a fim de ajudar na pa-cificação dos tamoios. Segundo
padre César, isso faz com que osanto seja referência de como épossível enfrentar os desafios enão fugir a eles.
As cartas de Anchieta sãoapontadas pelo pesquisadorcomo os documentos mais re-presentativos do levantamento
que realizou. Em uma delas, naqual descreve as característi-cas naturais da Capitania de SãoVicente, Anchieta fala da fauna,flora, dos acidentes geográficos
e sobre o clima. Esses textos, es-critos em maio de 1560, servi-ram de inspiração para a criaçãodo dia 30 de maio como o DiaNacional da Mata Atlântica.
– Anchieta deixou de ser daCompanhia de Jesus, da Igreja edo Brasil. Ele é para todo mundo
e isso a história mostra, as pesso-as procuram. Por isso, faz senti-do essa canonização e faz sentidonós desenvolvermos o conheci-mento sobre Anchieta – afirma.
O Apóstolodo Brasil foi
nomeado
aos 19 anos
mestre do
colégio de
Piratininga edos demais
os padres
Ericka Kellner
Colaboração de Fernando Loureiro
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Tradição
Missionário incansável, padre, amigo e irmão,Homem forte e valente, todo entregue à missão!Das Canárias ao Brasil há uma voz que se levanta:São José de Anchieta, tua vida nos encanta!
Anchieta, santo, missionário e intercessor!Vem nos ajudar a bem servir ao reino do Senhor! (bis)
A maior glória de Deus, a glória maior do povo!Literato e poeta, profeta de um mundo novo.Da Bahia a São Paulo há uma voz que se levanta:São José de Anchieta, tua arte nos encanta!
De cidades, fundador; toda a vida um louvor!És um exemplo de luta, com as armas do amor.Do Espírito Santo ao Rio há uma voz que se levanta:São José de Anchieta, tua força nos encanta!
Defensor do oprimido, dos pequenos e dos pobres:Índios, crianças e negros, preferência mais que nobre.Das matas, ruas e tribos há uma voz que se levanta:São José de Anchieta, teu amor nos encanta!
Companheiro de Jesus, devoto da Mãe Maria,Boa nova a tua vida, servindo com alegria.Do ventre da terra mãe há uma voz que se levanta:São José de Anchieta, testemunho que encanta!
Missionário incansável, padre, amigo e irmão,Homem forte e valente todo entregue à missão!Das Canárias ao Brasil há uma voz que se levanta:São José de Anchieta, tua vida nos encanta!
Anchieta, santo, missionário e intercessor!Vem nos ajudar a bem servir ao reino do Senhor!
Hino a São José de Anchieta
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Entrevista
Padre Pedro Magalhães GuimarãesFerreira, S.J., descreve a importância
de José de Anchieta na história do país
Padre José de Anchieta foibeatificado, em 1980,
pelo Papa João Paulo IIe canonizado pelo Papa Fran-cisco por meio de um decretoeste ano. Padre Pedro Maga-lhães Guimarães Ferreira, S.J.,presidente da Associação Man-tenedora da PUC-Rio, presi-dente da Fundação Padre Leo-nel Franca, explica que PadreAnchieta foi fundamental para
a identidade do Brasil.
Qual a importância da ca-nonização de Anchieta?Ele era um santo, fazia milagres.O Padre Anchieta é chamado deApóstolo do Brasil, porque é apessoa mais importante na for-mação católica do Brasil. Com
ele, houve a evangelização dosprimeiros habitantes do país. OBrasil era colônia de Portugal.O Papa Francisco sabia da im-portância de Anchieta e da sua
santidade e resolveu canonizá--lo; efetivamente Anchieta foi
um poderoso taumaturgo, reco-nhecido como santo durante asua vida. Normalmente, para oprocesso de canonização é pre-ciso que a pessoa tenha feito doismilagres depois de morta. Du-rante a vida não vale. Havia vá-rios milagres de Padre Anchieta,mas o processo de canonizaçãofoi bruscamente interrompido
com a supressão dos jesuítas,pelo Marquês de Pombal.
Ele foi fundamental para acultura brasileira?As raízes católicas no Brasil sedevem principalmente a An-chieta, por isso ele é chamadode Apóstolo do Brasil. Os jesu-
ítas tiveram uma função muitoimportante no Brasil colônia.Ele escreveu a gramática da lín-gua tupi, compondo peças deteatro nesta língua: os índios se
encantavam com o teatro. Alémdo espanhol, sua língua materna,
escreveu com perfeição em por-tuguês, latim e tupi. Em latim,compôs duas obras magistrais:um poema sobre a Virgem Ma-ria com mais de 4 mil versos euma obra sobre os feitos do go-vernador Mem de Sá. O poemasobre a Virgem foi escrito pri-meiramente nas areias da praiade Iperoig, quando era refém
dos índios, para fixar a memóriae rezar; foi passado para o papelalguns anos depois.
Quais foram as outras con-tribuições de Anchieta?Contribuições científicas. Ele eraum observador da natureza. Es-creveu, não tecnicamente, sobre
a fauna e a flora. Foi o primeiroliterato do Brasil, pois escreveupoesias, peças de teatro, e foi es-critor e catequista. Ele tinha umainteligência excepcional.
Presidente da Mantenedora da PUC-Rio, padre
Pedro Magalhães Guimarães Ferreira, S.J.
Um jesuíta
na formaçãodo brasileiro
Gabriela Mattos
Foto: Weiler Filho
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Academia Fé e Razão:
Patrono da presidência
Valores
Instituição foicriada em 9
de junho, data
da morte do
jesuíta que
participou da
fundação daSanta Casa de
Misericórdia
Davi Barros
neiro e da criação da Santa Casade Misericórdia, instituição queserviu aos mais pobres, com altaeficiência, por vários séculos. Opresidente ainda afirmou que oSanto serve de exemplo para osintegrantes da Academia.
– Ele possuía uma educa-ção altamente requintada parasua época e foi capaz de esta-belecer o diálogo entre a fé e a
razão através de sua ação mis-sionária. Esta é a vocação daAcademia: através do exercícioda fé e da razão, ir ao encon-tro da sociedade que perdeu osentido do divino e do própriovalor da vida – ressaltou.
Além da vocação para aevangelização, José Anchietatambém escreveu peças de te-
atro, música e poesia. Segundopadre Aníbal, apesar da popu-lação brasileira não conhecermuito a obra de Anchieta, oApóstolo do Brasil tem um tra-balho reconhecido no campodas artes.
– Suas obras de teatro, mú-sica e poesia têm um único fim:
anunciar os valores do Reino.Escritor fluente em espanhol,sua língua materna, latim, por-tuguês e tupi, produziu extra-ordinária obra literária que
pode ser considerada expressãodo que de melhor foi produzidoem seu tempo – acrescentou opresidente da Academia.
Padre Aníbal lembra queAnchieta teve papel decisivo nacriação e formação de identi-dade brasileira, chegou a arris-car a própria vida para garantirnegociações entre portuguesese indígenas. O Presidente da
Academia Fé e Razão observaque o jesuíta está intimamenteligado aos valores culturais doBrasil. Em uma época que pou-cos europeus possuíam acessoà educação básica, São José deAnchieta iniciou a criação deescolas no país. Ele levava filhosde índios para estudar com osfilhos de colonos, para que eles
pudessem aprender português,latim e outras matérias básicas.
– Isso tinha um valor nãosó cultural, como representavauma nova ordem social, que erasemeada pelo trabalho evange-lizador. Foi esse o motivo quelevou às perseguições e expul-são dos jesuítas, não só do Bra-
sil, como de Portugal e outrasáreas da Europa, culminando,por um tempo, com a própriaextinção da Ordem – disse pa-dre Aníbal.
Em 9 de junho de 2011foi fundada a Academia
Fé e Razão. A escolha dadata não foi à toa, é neste diaque a Igreja celebra a memórialitúrgica de São José de Anchie-ta. Cada cadeira da Academiatem um patrono e o Apósto-lo do Brasil foi escolhido paraabençoar o lugar ocupado pelopadre Aníbal Gil Lopes, presi-
dente da instituição.Padre Aníbal conta que An-chieta foi escolhido como umdos patronos por ter participa-do da fundação do Rio de Ja-
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De acordo com a profes-sora, Anchieta inovou ao tra-balhar com a língua e aspectoshistóricos. Todas as obras deleutilizavam três idiomas: portu-guês, tupi-guarani e castelhano.Para Miriam, essa característicaliterária é interessante, porqueele abandona a escrita em la-tim, que era a língua culturaldurante a Idade Média.
– As peças eram escritasprincipalmente em tupi, e erammais voltadas para os indígenas.Há peças em que ele misturaas línguas tupi, português e es-panhol. Isso dá a ele um saborliterário, uma preocupação lite-rária com o público.
A professora explica queAnchieta foi o primeiro a tratar
desse gênero dramático. Miriamaponta que Anchieta não preser-vava somente a língua do públi-co alvo, mas utilizava os mitos,as danças e as histórias indígenas.
Segundo a professora, eleproporcionou a criação de novaspalavras e um trabalho com oimaginário dos índios.
– A prática de usar as cren-ças indígenas criou uma síntesede que o ideário não era somentecristão e indígena, mas um ideá-rio de mito, analisa.
Os primórdios do
teatro brasileiro
Artes
Obra de Anchieta preservava
a língua do público-alvoe utilizava os mitos, as danças
e as histórias indígenas
Professora Miriam Sutter
Oteatro brasileiro sur-giu com a Companhiade Jesus, em meadosdo século XVI, e teve como pre-cursor Padre José de Anchieta.Por viver uma transição entreo período Medieval e o Renas-
cimento, o jesuíta utilizou oteatro como instrumento paracatequizar e educar os índios.Influenciado pelo dramaturgoGil Vicente, Anchieta buscou oideário medieval, com referên-cia na Sagrada Escritura. A obramais conhecida foi o Auto de SãoLourenço, de 1587.
As produções teatrais de
Padre Anchieta tiveram predo-minância no gênero Auto. Esseestilo apresenta, em diálogos,às vezes cantados, ensinamen-tos morais e personagens querepresentavam as virtudes e ospecados. Para a professora Mi-riam Sutter, do Departamentode Letras e Artes Cênicas, os
autos de Anchieta apresentamdois aspectos: historicamente,remete ao período medieval, eestilisticamente, a forma comoele apresenta esse teatro.
Mariana Sales
Foto: Weiler Filho
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Cultura
Poema da VirgemTrechos retirados do livro Poema da Bemaventurada Virgem Mãe de Deus, Maria .
ANCHIETA, José de, 1534-1597, disponível na Biblioteca Central da PUC-Rio
Eis os versos que outrora, ó Mãe Santíssima,te prometi em voto,vendo-me cercado de feros inimigos.Enquanto entre os Tamoios conjurados,Pobre refém, tratava as suspiradas pazes,tua graça me acolheuem teu materno mantoe teu poder me protegeu intactos corpo e alma.A inspiração do céu,eu muitas vezes desejei penar
e cruelmente expirar em duros ferros.Mas sofreram merecida repulsa meus desejos:só a heróiscompete tanta glória!
Salve, ó Maria! adorna-te beleza tão divina,que teu esplendor sobrepuja o dos coros angélicos.Salve ó Maria! Teu humano semblante é tão nobre,que sua formosura vence todas as belezas terrenas.Tu has de restaurar o firmamento,
restituindo aos céus a primeira firmeza.Apoiada na força invencível de teu Filho,repararás com a nossa gente a ruína dos anjos.
Dedicatória
Beleza, força e glória
Bemaventurados aqueles,cujo peito e aspirações todas vai devorandoo fogo do teu amor!Bemaventurado quem
na solidão bendita de uma noite serena,de tanto te amar, em ti medita,e de tanto meditar mais te ama!Bemaventurado quemse assenta ao limiar de tua virgindadee vigia de contínuo às tuas portas.Quem no peito amanterevolve as altas glórias de tua conceição,que é a porta de ouro de tua vida.
Ele experimentaráo carinho inefável do teu amore envolverá num corpo casto uma alma pura.
Tesouro do justo
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Imagens
O nome de Anchieta por toda parte
3. Anchieta está
presente no nome
da Pastoral da PUC
4. Baía de Guanabara:
local da luta de Anchieta
contra os franceses
1. Casa de Retiros Padre
Anchieta, localizada
em São Conrado
5. Auditório da PUC
presta homenagem
ao Apóstolo do Brasil
2. Santa Casa de
Misericórdia foi fundada
com ajuda do jesuíta
6. Santo é lembrado em
rua do Leme, esquina
com Avenida Atlântica
Busto do padre
José de Anchieta no
campus da PUC
1
6
4 5
2 3
Diego Roman
Gabriela Doria
Gabriela Doria
G a b r i e l a D o r i a
W e i l e r F i l h o
Gabriela Doria
Camille Valbusa
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