8
ORGANIZAÇÕES JORNAL-LABORATÓRIO SOBPRESSÃO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIFOR MAI/JUN 2009 ANO 6 N° 18 JORNAL DAS Qual é a expressão de um Brasil que envelhece? FOTOS: OTÁVIO NOGUEIRA

Jornal das Organizações#18

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Jornal laboratório do curso de jornalismo da Unifor

Citation preview

Page 1: Jornal das Organizações#18

ORGANIZAÇÕESJORNAL-LABORATÓRIO SOBPRESSÃO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIFOR MAI/JUN 2009 ANO 6 N° 18

JORNAL DAS

Qual é a expressão de um Brasil que envelhece?

FOTO

S: O

TÁV

IO N

OG

UEI

RA

Page 2: Jornal das Organizações#18

2SOBPRESSÃOMAIO / JUNHO DE 2009ORGANIZAÇÕES

JORNAL DAS

Nesta edição, uma abordagem aprofundada sobre o envelhe-cimento do brasileiro, que tem expectativa média de vida de 72 anos de idade

Otávio Nogueira

Maturidade, terceira idade, melhor idade ou simplesmen-te velhice. Polêmicas à par-te, o envelhecimento é uma etapa implacável na vida da maioria das pessoas. Tema complexo que envolve pes-soas de sexos, raças, credos, condições socioeconômicas e culturais diferentes, vivendo realidades distintas. Fenô-meno universal e comum aos seres humanos, com ritmos diferentes para cada pessoa, em função de fatores como estilo de vida, ambiente, ati-vidades, bagagem genética e estado de saúde. Processo construído social e cultural-mente, com características diferentes para cada época e cultura.

Muitos acreditam ser a ve-lhice um estágio etário que só não passa quem não teve a felicidade de viver até essa época. Outros a conside-ram um estado de espírito e de mente, ponderando que aquilo que passa pela cabeça vai para o corpo.

Pessoalmente, como can-didato mais próximo a atingir a condição ou o “status” de idoso entre os colaboradores dessa edição do “Jornal das Organizações”, acredito que chegar à velhice é, por si só, uma vitória.

Biologicamente, o enve-lhecimento manifesta-se através do declínio das fun-ções dos órgãos do corpo, ao longo do tempo, sem que haja um ponto exato a partir do qual possa ser definido. Como regra, perdemos cerca de um por cento da função

desses órgãos a cada ano vi-vido depois dos trinta.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera ido-sas as pessoas com mais de 60 anos, residentes em pa-íses em desenvolvimento, e com 65 anos ou mais, as resi-dentes em países

desenvolvidos. Alguns estu-diosos do assunto definem a aposentadoria como um marco inicial da velhice.

No caso brasileiro, com as últimas alterações nas regras da Previdência, a idade míni-ma para aposentadoria é de 60 anos para as mulheres e de 65 anos para os homens, pelo menos para a maioria

da população, já que no caso dos servi-

dores públicos a idade cai para 55 e 60 anos respec-

tivamente. Sinal evidente de que vi-vemos num país de

contrastes. O que essa matéria

pretende é partir de duas referências oficiais - os

dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD-2007) e

os da Síntese de Indicadores Sociais 2008, ambos produ-zidos e divulgados pelo Ins-

tituto Brasileiro de Geogra-fia e Estatística (IBGE) - e duas referências do mundo corporativo - a pesquisa so-bre o perfil da terceira idade, chamada “Panorama da Ma-turidade”, feita pela empresa de consultoria Indicator GFK (2008) e o estudo “A Idade do Poder”, do diretor geral de mídia e negócios da agên-cia de propaganda Talent (responsável pela campanha “Talentos da Maturidade” do Banco Real) Paulo Stephan - para identificar/mostrar os números e as diferenças des-se universo que é a maturida-de, contextualizando/delimi-tando a realidade local.

A realização de pesquisas sérias sobre essa importante e crescente camada da popu-lação e suas características é fundamental para o planeja-mento do País e para a for-mulação de políticas públicas que atendam às necessidades dos cidadãos com mais de 60

anos, dentro de um contexto de transformação dos pró-prios indivíduos e da socie-dade de maneira geral.

É fundamental conhecer e entender as várias “caras” que compõem esse univer-so. Não basta ter leis, como o “Estatuto do Idoso”, é pre-ciso que elas sejam respeita-das, cumpridas na totalidade e estendidas a todos os brasi-leiros com mais de 60 anos. Somente assim a qualidade de vida acompanhará o de-senvolvimento.

Novos traçosQual é a cara desse Bra-

sil? Quantos são, onde estão e como vivem os nossos ido-sos? No Brasil, a expectativa média de vida ao nascer pas-sou em 2007 para 72,7 anos (70,3 no Ceará) e a taxa mé-dia de fecundidade, que cor-responde ao número de fi-lhos que uma mulher tem ao longo de todo o seu período reprodutivo, para 1,95 (2,29 no Nordeste). A associação desses números é respon-sável por uma importante mudança na composição da população brasileira, o au-mento expressivo da chama-da terceira idade.

As últimas pesquisas mos-tram que há mais mulheres do que homens na terceira idade, 100 mulheres para cada 93,3 homens. No Cea-rá 55,4% da população é do sexo feminino. O fenômeno da feminização da velhice é conhecido por “razão de sexo” e explicado por vários fatores: maior taxa de mor-talidade desde o nascimento, maior número de óbitos por causas violentas (acidentes de trânsito e homicídios), maior número de mortes por doenças e problemas de saú-de (enfarte), dentre várias outras.

Na zona rural, onde vivem 17% dos idosos, a situação se inverte. O número é de 107 homens para 100 mulheres, fruto da maior exigência fí-sica nas atividades rurais, da migração de mulheres do campo para as cidades e também do incremento no número de novos municí-pios, que saltou de 3952 na década de 70 para 5564 em 2008, o que explica, além do inchaço das regiões me-tropolitanas, porque essa parcela da população está fortemente concentrada nas áreas urbanas (80%). As duas cidades com as maio-res proporções de idosos são Rio de Janeiro (13%) e Porto Alegre (12%).

O “envelhecimento” da população é uma realida-de no mundo desenvolvido. No Brasil, os maiores de 60 anos já representam 10,50%

Brasil experiente: as diversas

Longevidade: pesquisas são feitas para compreender melhor essa tendência do ser humano FOTO: OTÁVIO NOGUEIRA

Contraponto: no Brasil, são 100 mulheres para cada 93,3 homens. No Ceará, a população feminina é de 55,4% FOTOS: OTÁVIO NOGUEIRA

Page 3: Jornal das Organizações#18

3SOBPRESSÃO

MAIO / JUNHO DE 2009 ORGANIZAÇÕESJORNAL DAS

faces da melhor idade

Como vive e consome o idoso brasileiro

Fortaleza, capital do Estado do Ce-ará, é um município com 2.431.415 habitantes, sendo a capital de maior densidade demográfi ca do país, com 7.764,6 habitantes por quilômetro quadrado. É a cidade mais povoada do Ceará, a quinta do Brasil e a 91ª mais povoada do mundo. A cidade tem o 12º maior Produto Interno Bruto (PIB) munici-pal da Nação e o segundo do Nor-deste, com 19,7 bilhões de reais e é um importante centro industrial e comercial com o sétimo maior po-der de compra do Brasil.

Por outro lado, se aprofundar-mos a análise, o Índice de Desen-volvimento Humano (IDH) mos-tra Fortaleza em 148º lugar no ranking de municípios brasileiros e em 166º lugar quando conside-rado o PIB per capita. Em resumo, há alguns ricos, uma classe média signifi cativa, muitos pobres e mi-seráveis em excesso.

Em Fortaleza, 7,5% da popula-ção é constituída por pessoas com 60 anos ou mais, a maior concen-tração de idosos no Estado. O cres-cimento da população na terceira idade foi vertiginoso ao longo dos últimos vinte anos. Enquanto a população total cresceu 63%, o número de idosos teve um au-mento de 130%.

São mais de 180 mil pessoas, com predominância de mulhe-res (100 para cada 89,1). Desse total, 61,7% é de analfabetos e/ou pessoas com curso primário incompleto, especialmente entre os homens, que, além de terem uma menor expectativa de vida, têm também menor escolarida-de média.

Como era de se esperar, For-taleza concentra números posi-tivos e negativos no Ceará. Sen-do o maior e mais populoso dos 184 municípios, é natural que infl uencie signifi cativamente os números totais do Estado. Apesar disso, não existe um trabalho sis-tematizado e abrangente de in-terpretação e divulgação dos da-dos coletados pelo IBGE, em suas pesquisas com a população idosa local, fato esse que necessita ser urgentemente corrigido. Fica re-gistrada a sugestão.

O Estatuto do IdosoApesar das difi culdades para

a sua implantação em todo o Ter-ritório Nacional e em todos os níveis, o Estatuto é considerado como a maior conquista do seg-mento idoso na história do País.

Mais abrangente que a Políti-ca Nacional do Idoso, Lei nº 8.842, de 04 de janeiro de 1994, que dava garantias à terceira idade, o Estatuto Nacional do Idoso – Lei nº. 10.741, de 01 de outubro de 2003, – ampliou os direitos dos cidadãos com idade acima de 60 anos. Declara que a pessoa idosa goza de todos os direitos humanos fundamentais e visa a assegurar-lhe as oportunidades e facilidades para a preservação da saúde física e mental, o aper-feiçoamento moral, intelectual, espiritual e social em condições de liberdade e dignidade.

Saiba mais

A situação local

Segundo as pesquisas citadas, a renda média mensal dessa parcela da população é de R$ 866. No entanto, o potencial de consumo dessa faixa etá-ria atinge 7,5 bilhões de reais por ano, o dobro da média nacional. Conforme os estu-dos analisados, existem 13 milhões de brasileiros acima de 50 anos nas classes A e B. No entanto, 7,7% dos idosos ainda vivem em estado de po-breza, com rendimento médio mensal inferior a um salário mínimo. Os números são ain-da maiores na zona rural.

Em 67,3% dos domicílios onde vivem, os idosos são responsáveis por pelo menos 50% da renda familiar, nú-mero que no Nordeste sobe para 73%. No Ceará, 21% dos idosos com 60 anos ou mais têm rendimento domiciliar per capita de até meio salário mínimo e 18,53% são consi-derados indigentes.

Em relação ao nível de ins-trução, apesar dos avanços nas últimas décadas, os ido-sos ainda representam 32,2% dos brasileiros sem instrução ou com menos de um ano de estudo, sendo 27,5% nas cida-des contra 55% no campo. No Nordeste, esse número é maior - 52,20% das pessoas com 60 anos ou mais estão nessa con-dição. No Ceará, 50% das pes-soas com 60 anos ou mais são

analfabetas ou têm menos de um ano de estudo.

No aspecto consumo, a maturidade tem um peso muito significativo. Seus in-tegrantes são responsáveis pela manutenção de 25% dos lares nacionais e pela maioria das decisões de compra dos mesmos.

Como a maioria da popu-lação brasileira, a principal atividade dos idosos em casa é assistir televisão, seguida de ouvir rádio; a leitura de jornais e revistas está entre as ativida-

des mais frequentes entre os que dominam a leitura.

As maiores despesas orça-mentárias são com supermer-cado (24%), planos de saúde (9%), luz e telefone (6%). No item despesas pessoais, a compra de remédios lidera o ranking, com 10% do total de gastos, e viagens têm expres-sivos 5%.

Outro indicador é o uso do cartão de crédito, prática que também aumentou entre a chamada terceira idade. Em 2005, respondeu por 10%

das compras feitas com car-tão no país, totalizando R$ 13 bilhões.

Uma pesquisa realizada pelo Credicard, denominada “A terceira idade e o cartão de crédito”, mostra que o nú-mero de portadores de car-tão com mais de 60 anos tem crescido mais do que a média do mercado. Na prática, todas essas informações significam que estão diante de um pú-blico que consome cada vez mais, procurando mais quali-dade e conforto do que osten-tação e luxo.

Como podemos perceber, o envelhecimento da população é um processo natural, ine-vitável e em curso acelerado. Isso influencia o consumo, a arrecadação e a distribuição de impostos, a previdência e os benefícios sociais como as pensões, a saúde pública e a assistência médica, além da própria composição e organi-zação familiar.

Os dados das diversas pes-quisas existentes e consulta-das ainda não dão conta de importantes interações entre saúde, cuidados com o cor-po e vaidade; esporte, lazer e qualidade de vida; emprego, renda e informalidade.

É de alguns desses aspec-tos que trataremos a seguir, nas matérias desta edição do Caderno das Organizações.

da população, quase 20 mi-lhões de pessoas. Por outro lado, o número de jovens com até 14 anos de idade caiu para 25,40% e a taxa brasileira de fecundidade já está abaixo do nível de repo-sição da população.

Esses dados mostram que estamos envelhecendo, e numa velocidade surpreen-dente, ainda mais se consi-derarmos que até bem pouco tempo o Brasil era conside-rado e planejado como um “jovem país de jovens”.

As projeções do IBGE apontam para uma idade mediana da população bra-sileira de 46 anos, em 2050. Curiosamente a ONU, em recente estudo demográfico mostra que a idade media-na nos países desenvolvidos será exatamente a mesma. Outras pesquisas afirmam que o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos e que atualmente so-mos o oitavo colocado.

Das 19 milhões de pes-soas com 60 anos ou mais existentes no Brasil na épo-ca da pesquisa, 14,6 milhões (76,6%) eram beneficiá-

rias da Previdência Social. Quando considerados os indivíduos com 65 anos ou mais, esse percentual eleva-se para 84,6% dos idosos.

Vale lembrar que apenas 1,3% deles vivem exclusi-vamente com aposentado-ria privada e que no caso da saúde, somente 38% dos gastos totais são públicos. Além disso, mais da metade dos idosos brasileiros de-pende dos serviços de saúde do governo.

Na época considerada, 5,9 milhões de idosos ainda trabalhavam (7% deles como empregadores) e 3,6 milhões continuavam trabalhando, apesar de aposentados. No Ceará, onde 9,6% da popu-lação esta na terceira idade, 37% dos idosos continuam trabalhando, o que mostra que quando têm aposenta-doria, o valor do benefício não é suficiente. Em 61% dos casos são chefes de família, geralmente trabalhando por conta própria.

A universalização da apo-sentadoria após os 65 anos de idade para os idosos ca-rentes, feita em 2004, au-

mentou o poder aquisitivo dessa camada da população, mas, como sempre existem dois lados na mesma moeda, aumentou também a depen-dência dos mais jovens da

família. Em algumas cidades do interior brasileiro, espe-cialmente nas regiões Norte e Nordeste, a aposentadoria é uma das principais fontes de renda da população local.

Economicamente ativos, os mais velhos sustentam 25% dos lares brasileiros FOTO: OTÁVIO NOGUEIRA

Mais da metade depende dos serviços de saúde pública FOTO: OTÁVIO NOGUEIRA

Page 4: Jornal das Organizações#18

4SOBPRESSÃOMAIO / JUNHO DE 2009ORGANIZAÇÕES

JORNAL DAS

No Centro de Integração para a Terceira Idade (CITI), os idosos participam de diversas atividades para sair da ociosidade, como au-las de pintura e cursos de idiomas

Aline Veras, Pedro Victor Freire

e Rachel Castelo

Os tempos mudam. Em épo-cas antigas, as mulheres cui-davam dos filhos, do marido e do lar; os homens tinham seus empregos e quando ido-sos ficavam em casa desfru-tando do resultado do traba-lho que tinham feito outrora. Hoje, está tudo diferente. As mulheres saem de suas casas para trabalhar e os homens, muitas vezes, cuidam dos fi-lhos, fazem a faxina e a co-mida - enfim, são “donas de casa”. E os idosos? Bem, esses também tiveram pequenas mudanças nas suas rotinas. Alguns perceberam que ainda é possível estudar e continuar aprendendo sempre coisas di-ferentes, enquanto outros são obrigados a aprender para se sustentarem no mercado de trabalho. Algumas pessoas notaram que seria importante abrir cursos para essa parcela da população que tem tanto direito e vontade de aprender quanto qualquer outra.

Em 2004, Marta Ferreira, uma aposentada que morava na Aldeota, resolveu transfor-

mar sua casa num lugar onde pudesse dar cuidados especiais aos seus pais que já estavam idosos. Contratou, então, uma fonoaudióloga, uma professo-ra de dança e uma terapeuta. Mesmo após a morte dos pais, Marta resolveu, junto com as três fi lhas, abrir sua casa para que outros idosos pudessem ter a chance de se ocupar com diversas atividades e criou o Centro de Integração para a Terceira Idade (CITI).

Corpo e almaAndréia Fontenelle e Fá-

tima Menezes, que trabalha-vam com Marta e em 2006 compraram o Centro, dizem que a metodologia utilizada tem como finalidades a so-cialização e o estímulo à au-toestima. O CITI se mantém com uma taxa que os próprios aposentados ou a família des-tes pagam. Segundo Andréia, aproximadamente 50 idosos frequentam os cursos, a hi-droginástica e outras ativida-des. As duas sócias também contam que os motivos para a família dos idosos ou os pró-prios procurarem o lugar são diversos. “Se o idoso sofre de alguma demência ou doen-ça neurológica, a família nos procura para dar aos paren-tes na terceira idade uma boa ocupação. Mas quando o ido-so está com a sanidade per-feita, ele ou ela nos procuram exatamente pelo fato de se

sentirem solitários”, explica.Juliana Colier, terapeuta

ocupacional que trabalha no CITI desde 2008, diz que os idosos começam a chegar ao Centro por volta das 8 horas da manhã e vão para casa às 11 horas. “No primeiro horá-rio, fazemos condicionamento físico e alongamentos. Essas atividades são feitas com elas (as senhoras) sempre senta-das, pois não queremos cor-rer riscos de quedas. Após o primeiro horário, fazemos um pequeno lanche para descon-tração. No segundo horário, os exercícios são mais voltados para o cognitivo, que é traba-lhando mais com a atenção, concentração e outras dinâmi-cas relacionadas às necessida-des delas. Entre as atividades estão jogos, artes e leitura de textos”, conta Juliana.

Enfrentando o AlzheimerMiriam Benevides, apo-

sentada, tem 92 anos e fre-quenta diariamente o CITI há três anos. Ela sofre do Mal de Alzheimer e por isso vê como uma vitória poder ainda fre-quentar as aulas. “Eu venho para cá para estudar e, para mim, estar dentro dessa sala de aula é uma glória”, afirma dona Miriam. A família des-sa simpática senhora a levou para o Centro para que ela não perdesse completamente a memória, tivesse a opor-tunidade de aprender coisas

novas e convivesse com ou-tras pessoas.

Outra senhora que também está nas sessões de terapia ocu-pacional é a aposentada Maria Wanda Coelho. Como Miriam, ela também tem Mal de Alzhei-mer. Para ela, é sempre uma alegria quando vai ao Centro para estudar e encontrar os amigos. “Me sinto feliz aqui, pois me distraio”, garante.

Maturidade com qualidade de vidaAprendizado : o Centro de Integração para Terceira Idade oferece um ambiente sociável e produtivo para desenvolver a criatividade e a concentração dos idosos que participam dos cursos FOTO: RACHEL CASTELO

Arte: idosas interagem e fazem artesanato e pintura em grupo FOTO: RACHEL CASTELO

Centro de Integração para a Terceira Idade (CITI):Rua General Joaquim de Andrade, 54, entre Torres Câmara e Eduardo SalgadoTelefones: 32641376 / 91550946Atividades oferecidas: terapia ocupacional, ginástica cerebral, curso de memorização, hidroginástica, oficina de artes e dança de salão.

Serviço

4SOBPRESSÃOMAIO / JUNHO DE 2009ORGANIZAÇÕES

JORNAL DAS

Na edição anterior, na matéria intitulada “Ela virou o jogo duas vezes”, na página 4, 6º parágrafo, onde se lê: “Ao voltar para casa à noite, exausta, recebe o abraço afetuoso do segundo marido”, leia-se: “Ao voltar para casa à noite, exausta, recebe o abraço afetuoso do marido”.

Errata

Page 5: Jornal das Organizações#18

5SOBPRESSÃO

MAIO / JUNHO DE 2009 ORGANIZAÇÕESJORNAL DAS

Direcionado, especifi camente, para o público da terceira idade, o Projeto Raízes da Vida oferece atividades, tanto físicas quanto de integração

Gustavo Nunes, Mirtila Facó

e Rodrigo Castro

“Eu acho que quem não come-çou ainda a fazer algum tipo de atividade física está perdendo muito tempo na vida”. Apesar de parecer, este não é o de-poimento de nenhum jovem preocupado em manter o cor-po em forma. Essas palavras são de Antoneide Evangelista de Araújo, uma senhora de 57 anos e mãe de dois fi lhos.

Há sete anos, Antoneide participa do Projeto Raízes da Vida, que ocorre desde junho de 1999 no Instituto Federal do Ceará (antigo CEFET-CE), sob a coordenação da profes-sora Maira Grassi. Através da prática de atividades físicas, a iniciativa tem o intuito de propiciar melhorias na vida de cerca de 430 participantes, com idades que variam de 50 a 70 anos.

Desenvolvida pela Coorde-nadoria da Área de Educação Física (CAEF) da instituição, a ação, que possui uma men-salidade simbólica (R$ 15,00), conta com três modalidades esportivas – ginástica, hidro-ginástica e musculação. Para o acompanhamento das ativida-des, o projeto tem o auxílio de cinco professores.

Com movimentos e exercí-cios voltados, especifi camente, para indivíduos de idade mais avançada, os três esportes al-cançam os objetivos pretendi-dos: manter a saúde das pesso-as em dia e mostrar para todos que exercitar-se é possível, in-depende da faixa etária.

“Após começar os exercí-cios, tive uma melhora de qua-se 80% nos problemas de co-luna que tinha”, revela Rosália Oliveira Lussena, 60 anos, mãe de quatro fi lhos e integrante do projeto desde 2004.

Atividade físicaDe acordo com Maira Gras-

si, coordenadora do Raízes da Vida, a iniciativa é puramen-te gerontológica, pois as pre-ocupações vão bem além da atividade física. “Através da socialização, ou seja, do con-vívio com as pessoas de mes-ma idade, esses idosos conse-guem, muitas vezes, resgatar a autonomia de suas próprias vidas. Eles trocam vivências e, muitas vezes, conseguem em outros integrantes do grupo, apoio para enfrentar difi culda-des”, explica.

Além da prática dos espor-tes, os participantes têm di-reito a toda uma programação sócio-cultural, que inclui pales-tras – câncer de mama, saúde bucal, auto-estima, nutrição na 3ª idade - passeios turísticos, festas comemorativas – baile de carnaval, festa junina, Natal - e cursos de informática. Por conta do grande número de in-tegrantes, a comemoração dos

aniversários é realizada a cada dois meses.

Como informou Maira Grassi, a cada ano um local da cidade é selecionado para as comemorações dos aniversá-rios. SESC de Iparana, Guara-miranga, Museu da Cachaça e Praia da Tabuba foram alguns dos lugares escolhidos em anos anteriores. Em 2009, a cada bimestre, o Centro Dragão do

Mar vem sendo palco das co-memorações. O Instituto Fede-ral do Ceará cede o ônibus para o transporte.

Outro diferencial são as cha-madas viagens de adesão. Des-de 2007, a iniciativa organiza passeios turísticos por diversos locais do Brasil. No primeiro ano, os participantes conhece-ram Gramado, no Rio Grande do Sul e, em 2008, visitaram as cidades históricas de Minas Gerais. Este ano, o passeio será feito pelo Rio de Janeiro.

O Raízes da Vida já dura dez anos, e é um excelente exem-plo de que envelhecer de forma saudável há muito deixou de ser mera utopia.

Saiba o que fazer para envelhecer de forma saudável

Ginástica gerontológica é apenas uma das três modalidades esportivas oferecidas pelo projeto FOTO: ANDRÉ GOLDMAN

Para fortalecer a interação entre as participantes, atividades sócio-culturais são organizadas durante o ano FOTO: GUSTAVO NUNES

Para participar, inscreva-se na Coordenadoria da Área de Educação Física (CAEF) do Instituto Federal do Ceará, na Avenida 13 de maio, 2081, Benfica. Telefone: (85) 3307 3669Horário de atendimento – 2ª à 6ª de 06:30 às 10:30 horas e de 15:00 às 18:30 horas.

Serviço

- Fortalece a elasticidade dos músculos das pernas e das costas.- Melhora a mobilidade. - Melhora o condicionamento físico e incrementa a fl exibilidade.- Melhora os refl exos, o equilíbrio e a coordenação.- Contribui na manutenção e/ou aumento da densidade óssea.- Ajuda no controle do diabetes e da artrite. - Diminui a depressão, a ansiedade e a insônia. - Diminui o risco de doença cardiovascular. - Estimula a interação social. - Melhora a ingestão alimentar. - Mantém o peso corporal e melhora a auto-estima.

Fonte: http://www.sitemedico.com.br

Benefícios

A prática da atividade física na melhor idade:

O que o senhor acha do projeto Raízes da Vida?Raimundo – É ótimo, pois nos leva a praticar atividades físicas, conhecer pessoas, arranjar amigos, além de nos propiciar atividades como passeios, danças, comemorações de aniversário, Natal, São João, e Carnaval.

Como o senhor conheceu o projeto?Raimundo – Eu o conheci há cerca de um ano, por intermédio de uma vizinha e de uma irmã. Foi ótimo, pois eu já conhecia a Instituição por ser ex aluno. Estudei tipografi a, na antiga escola Industrial.

O que o senhor diria ao público sobre esta iniciativa?Raimundo – Eu gostei bastante. Um projeto como este valoriza a pessoa da terceira idade. Deviam existir mais projetos assim.

Há quanto tempo a senhora faz parte do projeto?Antoneide – Já estou há cinco anos.

O que a motivou a participar?Antoneide – Problema de Coluna. Tinha bico de papagaio e vi que a ginástica gerontológica podia me ajudar bastante. Atualmente ela melhorou praticamente oitenta por cento. Eu me consulto anualmente com um ortopedista e ele já atestou minha melhora. Sempre me dá os parabéns e me incentiva a continuar.

Quais melhorias o projeto pode propiciar?Antoneide – Além das melhorias físicas, o projeto nos leva a fazer vários amigos. Um dos pontos que eu mais gosto são os passeios e as festas organizadas em datas comemorativas.

Entrevista

Raimundo Evangelista Pereira, 70 anos, pratica hidroginástica

Antoneide Evangelista de Araújo, 57 anos, pratica ginástica e hidroginástica

Page 6: Jornal das Organizações#18

6SOBPRESSÃOMAIO / JUNHO DE 2009ORGANIZAÇÕES

JORNAL DAS

Alegria é o que não falta aos idosos que frequentam a Carlinhos Araújo Escola de Dança. Lá, eles mostram quem são os verdadeiros donos do salão

Joicy Muniz e Patrícia Mendes

Ar de descontração, olhares, sorrisos, conversas, um pé pra lá, outro pra cá, saias roda-das, fl ores no cabelo e eis que surge a dança. Aos poucos, a música vai tomando conta do ambiente e do espírito de cada um dos presentes. É inú-til procurar alguém nas mesas que se distribuem pelo local. Estão todos no centro do sa-lão. Os dançarinos não dei-xam a desejar, dominam qual-quer ritmo. Dança é o que eles querem, e nada mais. Este é o baile da terceira idade.

A dança de salão originou-se nos bailes das cortes reais europeias. A forma de dan-ça em casal foi levada pelos colonizadores para diversas regiões da América onde deu origem às muitas variedades. No Brasil, sete ritmos são os mais praticados: Bolero, Sol-tinho, Samba, Forró, Lamba-da/Zouk, Salsa e Tango. Em Fortaleza, todos esses ritmos são praticados, com exceção

da lambada. A partir dos anos 1990, começaram a surgir várias organizações preocu-padas em atender ao público idoso, desde academias espe-cializadas em dança de salão aos bailes realizados em clu-bes tradicionais de Fortaleza, como, por exemplo, o Círculo de Militar e o BNB Clube.

A Carlinhos Araújo Dança de Salão, principal academia de dança de Fortaleza, é muito frequentada por idosos, tendo 60 a 70 alunos distribuídos pelas suas turmas. Em 1994, o dançarino abriu sua escola de dança, que a princípio, fora

montada para o público geral. Porém, notou que o interesse maior partia dos idosos. Então, direcionou as aulas para essa faixa etária. A quantidade de alunos idosos homens é bem menor que a de mulheres. Pen-sando nisso, surgiu a ideia de criar um grupo de rapazes para auxiliar as senhoras nas aulas e nas festas. No fi nal de 1995, Carlinhos criou o grupo “Baila comigo”, com dançarinos con-tratados para os bailes.

Um dos cuidados que a esco-la tem com o público da tercei-ra idade é de separar as turmas a fi m de que os alunos possam

ter seu próprio ambiente e se sentir mais à vontade. Outro cuidado é com a escolha dos ritmos. Os gêneros mais indi-cados pelo professor são o bo-lero, por ser um ritmo calmo, e o forró, por ser mais agitado. Durante a aula, os ritmos são alternados para a dança não fi -car cansativa ou monótona.

A indicação médica tam-bém direciona vários pacien-tes para os bailes. A geriatra Danielle Menezes afi rma que a dança é um exercício aeróbi-co que proporciona a melhoria das capacidades físicas, como a fl exibilidade, o fortalecimen-

to da musculatura e o estímulo do sistema cardiovascular. A aposentada Maria da Concei-ção Fiúza, 61 anos, tem duas pontes de safena e uma mamá-ria e precisa fazer exercícios. Ela afi rma ter juntado o útil ao agradável, porque sempre teve grande amor pela dança.

O baile termina. Aos pou-cos, a grande quadra vai sendo desocupada. O cansaço no ros-to é visível, assim como a feli-cidade. É isso que a dança tem proporcionado aos seus segui-dores: sorrisos! O baile deixa a certeza de que daqui a poucos dias se repetirá e isso conforta os desapontados que deveras gostariam de estar ainda ao som de um bolero.

Disposição: a melhor idade é maioria nos bailes e nas academias de dança em Fortaleza FOTO: JOICY MUNIZ

Carlinhos Araújo Escola de Dança: Av. Antonio Sales, 2238.Fone (85)3244-2999

Bailes:BNB Clube - Av. Santos Dumont, 3646. Fone (85) 4006-7200

Círculo Militar de FortalezaRua Canuto Aguiar, 425. Fone: (85) 3205-5050)

Náutico Atlético Cearense Av. Abolição, 2727. Fone: (85) 3242-9300

Restaurante Alpendre da Vila Rua Armando Monteiro, 555. Fone: (85) 3247-1563

Serviço

Eles revivem o som de um Bolero

Há algum tempo, os velhinhos (na melhor das intenções, cla-ro) têm deixado de lado o tri-cô, as cadeiras de balanço e o rádio de pilha para ingressar no mundo da dança. Em várias escolas de dança de Fortaleza se encontra uma turma espe-cial. E bem especial. Os vovôs e vovós estão voltando a ser jovens e sua atividade favorita não é mais a hidroginástica.

A terceira idade deixou de ser associada a uma fase inativa, cheia de limitações físicas e psicológicas, e os re-presentantes dela estão cada vez mais “saidinhos”. Eles continuam trabalhando e sen-do economicamente ativos; viajam, malham, namoram, dançam, enfi m, buscam uma melhor qualidade de vida para esse novo momento.

E as baladas de sábado à noite deixaram de ser progra-mas só para jovens. Os bailes estão cada vez mais cheios de senhoras e senhores prontos para aproveitar e reviver mo-mentos de alegria.

Em Fortaleza, clubes como Náutico, Oásis, Círculo Militar e BNB são tradicionais no que se trata de bailes para terceira idade. Mas esses bailes mu-daram. “E como mudaram!”, diz a coordenadora do Liceu

do Ceará, Eurides Montene-gro, 64 anos, frequentadora do Círculo Militar há 22. “An-tes só se vinha ao baile acom-panhada. Hoje, eu venho só. Conheço todo mundo. Chego aqui, reencontro meus ami-gos, danço, me divirto e de-pois vou pra casa dormir mais leve. Meus sábados têm muito mais alegria”, diz.

Emoção e saudadeEles são idosos, mas seus

corações são jovens. E, ao en-trar no salão de dança, é possí-vel ver o colorido, a alegria e a saúde presente na vida daque-las pessoas. As histórias que cada uma delas tem para con-tar são emocionantes e saudo-sas. Mas não há quem os tire daquele ambiente que os reju-venesce a cada novo encontro.

Com sorriso no rosto, eles fazem círculos pelo salão, pa-queram e namoram. Algumas senhoras pagam homens mais novos para dançar com elas. Alguns clubes disponibilizam acompanhantes de dança para as senhoras e os senhores. Isso os revitaliza.

Ainda há aqueles que não dançam por algum motivo, mas não abrem mão de fazer parte daquele ambiente. Dona Mirtes Carneiro, de 98 anos,

é a mais velha frequentadora do Círculo Militar, mas hoje já não dança mais. Ela diz que frequentou o Náutico por mais de 20 anos e depois passou a ir ao Círculo Militar. “Nossa, eu já dancei muito com meu

marido. Hoje, ele não está mais aqui e eu venho com meu fi lho e sua esposa. Preciso vir, mesmo sem dançar. É a úni-ca forma de reviver tudo que vivi com meu amado. Olhar para os outros dançando me

faz bem. Mesmo sem dançar, a dança é a atividade que me dá mais prazer e, neste fi nalzinho de vida, ela me faz sentir viva e jovem para sempre”, diz.

A psicóloga e educadora física Cibele Cortez diz que dançar estimula a criativida-de, a espontaneidade, trabalha aspectos da essência humana e ativa as áreas do cérebro li-gadas ao prazer. A atividade é lazer e diversão garantida para essa turma. Além disso, pro-fessores de dança para terceira idade dizem que é visível a ale-gria dos alunos e até os fami-liares percebem isso.

Os “namoridos” Fátima Fonteles e Waldir Vitore se co-nheceram em um baile há seis anos. Hoje, suas noites de sá-bado não são as mesmas sem a dança.

“Quem não gosta de dançar já morreu e não sabe.”, afi rma o aposentado Edson Gomes, de 78 anos. A dança faz parte da sua vida. E ele só vai parar de dançar quando estiver saindo deste mundo. Seu Edson vai todos os sábados ao Círculo Militar desde os 50 anos. E, de-pois de todo esse tempo, ainda vemos seu Edson admirando a pista de dança, encantado.

Nos animados bailes de sábado à noite

“Namoridos”: Fátima e Waldir se conheceram dançando FOTO: CAMILA ANGELIM

Camila Angelim e Társylla Vasconcelos

Page 7: Jornal das Organizações#18

7SOBPRESSÃO

MAIO / JUNHO DE 2009 ORGANIZAÇÕESJORNAL DAS

Desejo sexual, companheiris-mo e fuga da solidão. Depois dos 60, o amor traz mais vida para quem não esperava ser surpreen-dido pelo cupido

Amanda Santos, Bárbara Barroso e

Sara Rebeca Aguiar

É difícil imaginar a sensuali-dade, a atração e o amor de-satrelados de um casal jovem, em que a união marca o início de uma vida inteira junto. Se é assim que você pensa, é bom desconstruir seus conceitos. A terceira idade também é um bom momento para amar e entregar-se a paixões.

Segundo o médico geriatra Luiz Aires, a libido não desa-parece com a idade; a vonta-de e frequência em que o sexo acontece é que diminuem. “Depende muito de casal para casal e do nível de intimidade que eles têm. Se já estão há muito tempo juntos, sempre se deram bem e existe amor, não é a idade que vai atrapalhar o sexo”. Conforme dados do Ins-tituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE), a taxa de envelhecimento no Brasil, registrada pelo último censo (2000), cresceu 19,77%. des-de o levantamento anterior. A consciência em torno da qua-lidade de vida traz o aumento da expectativa de viver mais e, consequentemente, melhor que gerações passadas. Tudo

isso interfere diretamente nos relacionamentos pesso-ais. Para Aires, que também é presidente regional da Socie-dade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, os idosos não se sentem velhos, ao contrário de antigamente. “Todos nós possuímos idades biológica, cronológica e psicológica que se diferenciam pelos anos que você aparenta ter, que você tem e que você próprio se percebe. Nos últimos anos, é comum ter psicologicamente menos anos do que registra a certidão de nascimento, e aparentar isso. Claro que essa percepção traz refl exos para a demonstração da virilidade também”.

E quando as paixões afl oram depois dos 60, 70 anos? “Nada muda”, garante Aires. “Lógico que o amor é mais maduro. A maioria já passou por relacio-namentos que não deram cer-to, tem fi lhos criados e a vida profi ssional está mais do que estabilizada. Querem ter um companheiro e sair da solidão. Quando se apaixonam nesta idade, querem mais é viver o amor e só!”. Dona Adalgisa Lo-pes, 61, e Seu Raimundo Alba-no, 65, se conheceram no Lar Torres de Melo e, entre beijos e abraços, relembram os primei-ros encontros. “Foi nas festas juninas que tudo começou. Ela era o meu par na quadrilha. E eu sempre dizia a ela que eu tinha vontade de gostar dela, não foi, meu amor? Até que, graças a Deus, ela aceitou”. E

quando o assunto é sexo, eles não fogem do assunto.

Apesar da vergonha exter-nada no tom enrubescido que a pergunta indiscreta fez cobrir o rosto, dona Adalgisa afi rma: “Ainda não aconteceu, não; ele é muito respeitador. Mas a gente sente vontade. Estamos deixando para quando a gen-te estiver no nosso canto”. Os

dois moram hoje no Lar Tor-res de Melo, namoram há um ano. O pedido de casamento já foi feito por seu Raimundo ao fi lho de dona Adalgisa. Com a benção consentida, eles já se preparam para casar ainda neste ano: “Vamos para o nos-so apartamento, morar junto mesmo como marido e mu-lher”, festeja seu Raimundo.

O amor pode nascer outra vez

Adalgisa e Raimundo se conheceram há um ano no Lar Torres de Melo FOTO: SARA REBECA

Veja algumas dicas essenciais para a sua qualidade de vida - Médico geriatra não é só para remediar males, mas também para prevenir. De preferência ainda antes da velhice. O ideal é que a partir dos 35 a visita a um bom geriatra seja feita a cada dois anos; - Cerca de 50% dos bons resul-tados de uma vida sexual ativa aos 70 ou 80 anos recebem interferência direta do estilo de vida que se leva desde cedo. A genética colabora com apenas 25% do total; - É importante ter projetos e buscar alcançá-los. A realização profi ssional gera autoconfi an-ça e mais tarde infl uenciará na aceitação de si e do seu parcei-ro tal como se encontram.

Cuidado com remédiosÉ comum associar o bom de-sempenho sexual na terceira idade ao estímulo causado por medicamentos - mas remédios como Viagra, Ciallis, Levitra e Heleva só podem ser consumi-dos sob prescrição médica. Pes-quisa feita pela Sociedade Brasi-leira de Geriatria e Gerontologia registra um consumo além do normal desses medicamentos por jovens de 25 a 40 anos, o que é um erro. Quando receita-do a idosos, a autorização médi-ca exige ausência de problemas cardíacos, hipertensão, diabetes ou quaisquer doenças vascula-res. É recomendável também ter parceira fi xa a fi m de, a partir de uma compreensão e cuidado também da companheira, não exceder a dosagem prescrita.Fonte: Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia

Saiba Mais

A nova forma de enxergar a moda pelo público da terceira idade já rende lucros. Trata-se de um mercado em expansão, ligado à vaidade e ao bem-estar

Mariana Penaforte, Carolina

Benevides e Raone Saraiva

No mercado da terceira idade, a moda vem se transformando. É cada vez mais comum mães e fi lhas e até mesmo netas terem gostos similares na hora de es-colher a mais nova aquisição para o guarda-roupa. É o que explica Tânia Sancho, 62 anos, coordenadora do projeto Viva, da Universidade de Gerações, programa que oferece cursos em diversas áreas e foi elabo-rado prioritariamente pensan-do na terceira idade. “Existem muitas mães que podem com-prar nas mesmas lojas da fi lha, na minha própria família tem essa troca de roupas”. Vaidosa, Tânia faz parte daquela parcela do mercado que gera um lucro crescente para os lojistas. Se-gundo o Portal OnLine da Ter-

ceira Idade, 10% do valor das compras em cartão de crédito no Brasil são realizadas por este público, resultando num fatu-ramento de R$ 8,4 bilhões por ano.

Para a dona da loja Lamaior, Cristina Bezerra, que está no mercado de roupas há 25 anos, uma das principais mudanças foi nas cores. “Antigamente, a mulher mais velha não estava li-gada a cores. Hoje ela quer algo mais alegre, como rosa, azul, uva e lilás, em contraste com o bege, marrom e azul marinho, que eram mais requisitadas há 20 anos”, afi rma. Na moda praia, por exemplo, o maiô sério e mais discreto nunca deixou de ser procurado, mas os estampa-dos com mais detalhes e decotes também já começam a ser cogi-tados. A procura por acessórios como viseiras e sandálias orto-pédicas, que previnem dores nos pés e nas costas, também é alta, evidenciando a preocupa-ção também com a saúde, como conta a vendedora da loja Meio Tom, Sara Monteiro.

Aliado a isso, lojas esportivas investem nesse público de for-

ma específi ca, oferecendo peças como maiôs para hidroginásti-ca, esporte que é bem procura-do pelas mulheres. No entanto, o público-alvo da terceira idade na loja Centauro é o masculino. “A maioria é homem, que faz caminhada e corrida. A mulher já prefere academia”, diz o ven-dedor mais antigo da loja, Régis

Alves. Segundo ele, tanto nas roupas quanto nos tênis espor-tivos os idosos preferem cores mais neutras.

Essa tendência é confi rmada por Francisco Andrade, 55, ofi -cial da Marinha Mercante, que afi rma comprar e usar roupas dentro desse estilo. “Mesmo se eu não gostasse de um estilo

mais jovem, com certeza seria infl uenciado pela minha esposa porque ela escolhe muitas rou-pas pra mim também”.

Já na moda íntima masculi-na, o pijama de algodão comple-to ainda predomina. Na moda feminina, a tendência mudou. “Às vezes, as clientes entram na loja e já dizem ‘Não quero coisas para velho’. As senhoras preferem artigos mais jovens, porém não gostam que apareça o busto”, comenta a gerente da loja Tentacion, Diana Vieira.

Para Tânia, o motivo de tan-tas mudanças estarem ocorren-do se deve ao fato de as pessoas estarem envelhecendo e conti-nuarem com o espírito jovem. “Às vezes até esqueço a idade que tenho”.

A parcela do mercado que representa a terceira idade é lucrativa, está em alta e tende a crescer mais ainda. Empresá-rios, vendedores e lojistas en-xergam um futuro promissor, afi nal, os fatos nos mostram que cada vez mais terceira idade e vaidade se aproximam numa relação cada vez mais benéfi ca para todos os envolvidos.

Terceira idade no foco da moda

Sacolas cheias: envelhecer não impede a vaidade ou o consumo FOTO: WALESKA SANTIAGO

Page 8: Jornal das Organizações#18

8SOBPRESSÃOMAIO / JUNHO DE 2009ORGANIZAÇÕES

JORNAL DAS

Conhecimento e disciplina são só alguns dos diferenciais compe-titivos que os idosos apresentam na hora de buscar um novo em-prego ou se manter na profi ssão

Fernanda Feitosa, Samuell Monteiro

e Rebeca Lobo

Em 2050, estima-se que um em cada três brasileiros seja ido-so, o que representará a sexta maior população idosa do pla-neta. A sociedade, o governo e principalmente o mercado de trabalho devem estar prepara-dos para essa nova realidade. Todavia, em nosso país, quando se relaciona idoso e mercado de trabalho, tem-se um retrato típi-co da exclusão social e da discri-minação. Esse quadro agrava-se ainda mais com a evolução tec-nológica e com a globalização da economia, que têm acarretado para os trabalhadores, de um modo geral, a exclusão no pro-cesso produtivo, ocasionando assim o desemprego.

Em 2005, por exemplo, se-gundo pesquisa do IBGE, havia 5,6 milhões de idosos trabalhan-do. Deste universo, a propor-ção era maior no grupo de 60 a 64 anos de idade - 46,7%, com destaque para o Nordeste, com 53,1%. Esses números apontam a necessidade que milhares de idosos têm de melhorar a renda e ajudar nas despesas da família.

A aposentadoria muitas vezes não é o sufi ciente para manter um lar. Isso é o que diz Francis-

co Neto, 72, taxista que atua em Fortaleza. “É muito difícil viver apenas com o dinheiro que rece-bo do governo. Por isso optei por trabalhar como taxista, que é um meio informal e não deixa de ser uma renda para meu sustento”. Com uma jornada de oito horas por dia e uma folga por semana, ele afi rma que o ofício é válido na sua idade. “Já trabalho como taxista há cinco anos. Enquanto Deus me der saúde continuarei trabalhando”, explica. Assim como Seu Francisco Neto, mi-lhares de idosos têm se ocu-pado em empregos informais. Segundo levantamento lançado em 2007 pelo IBGE, o grupo de

pessoas com 50 anos ou mais aumentou em participação no mundo profi ssional, em todo o

País, de 15,4% para 18,1% entre 2002 e 2006. A maioria dessas pessoas trabalha por conta pró-pria. Isso é um indício de que o preconceito da sociedade em re-

lação aos profi ssionais mais ve-lhos está diminuindo, ainda que timidamente.

O empresário Antônio Mon-teiro, dono de algumas lojas de atacado e varejo no centro da ci-dade, afi rma que a terceira idade precisa ser mais valorizada. “A experiência dessas pessoas pode contribuir de maneira positiva, principalmente no comércio, onde é necessário ter uma rela-ção mais pessoal com os clien-tes, a presença e o carisma deles contribui bastante”, ressalta.

Umas das razões para que milhares de idosos voltem ao mercado de trabalho são as mudanças ocorridas na Previ-

dência Social. Foi estabelecida a idade mínima de 65 anos para o homem e 60 para a mulher. Muitos trabalhadores têm difi -culdades para se aposentar com essas regras e, portanto, per-manecem ativos no mercado. Maria Bernardino, 67, trabalha em um Posto de Saúde como atendente de dentista, e explica por que continua na ativa: “Não completei o tempo de serviço que precisa para se aposentar, e não me aposento proporcio-nalmente porque perco 30% do salário que irei receber”. Em-bora seu ritmo de trabalho não seja como antes, ela está apenas aguardando o tempo certo para aposentar-se.

Na mesma situação Lour-des Almeida, 63, aguarda an-siosamente sua aposentadoria. “Ainda faltam dois anos para encerrar minha contribuição à Previdência”, explica. Para ter direito aos benefícios da Previ-dência, o idoso precisa estar ins-crito como segurado e manter as contribuições em dia. É preciso conscientizar as pessoas de que os idosos podem contribuir bas-tante com suas habilidades e ex-periências.

Ieda Chagas, 72, é cabelei-reira desde os 25 anos. Além de gostar do que faz, o seu salão de beleza é um modo de ajudar a suprir suas necessidades. Assim como Ieda, milhares de idosos demonstram que podem exercer novamente funções que tinham quando mais jovens, mostrando que são capazes, sim, de assumir e de realizar grandes atividades.

Mercado de trabalho quer experiência

Cabeleireira desde os 25, dona Ieda segue fazendo o que gosta e garante participação ativa no mercado FOTO: WALESKA SANTIAGO

Capacitação prof issional para idosos Há sete anos, a Unifor atua na

comunidade do Dendê com o intuito de facilitar a entrada de muitas pessoas no mercado de trabalho, principalmente de idosos

Monique Linhares e Viviane Sobral

Toda primeira semana do mês é sagrada - o bloco D do campus da Unifor, então ocupado pelas áre-as de saúde e tecnológicas, ganha um novo colorido e um movi-mento intenso de alunos e visi-tantes. É a feirinha promovida pela divisão de extensão da Uni-for em parceria com a Associação de Empreendedores de Fortaleza (Assef) e o projeto Dendê Arte.

Em cada bancada, onde se ex-põem os mais diversos produtos

artesanais como bijuterias, bor-dados, velas, cosméticos, choco-lates, roupas, bolsas, artigos de decoração entre outros, estão a simpatia e as mãos experientes de muitas senhoras da comu-nidade do Dendê, localizada no bairro Edson Queiroz.

De acordo com Raimundo Severo, coordenador do projeto Dendê Arte, atualmente cerca de 15 idosas da comunidade parti-cipam de cursos profi ssionali-zantes ofertados, gratuitamente, pelo Centro de Formação Profi s-sional (CFP) desenvolvido pela Unifor. A Vice-Reitoria de Exten-são e Comunidade Universitária coordenam o projeto, criado em 2002, com o objetivo principal de capacitar pessoas para o mer-cado de trabalho e de auxiliar na formação acadêmica de alunos da Unifor, que ministram os cursos

de capacitação, sob orientação de professores da universidade.

Com o apoio da Associação de Moradores da comunidade do Dendê, próxima ao campus da Unifor, mais de 1.500 pessoas participaram dos 43 cursos ofer-tados só no ano passado.

Estímulo e resultadosAlém de jovens e pessoas com

algum tipo de defi ciência física, o projeto atende à faixa etária mais desfavorecida pelo seletivo mercado de trabalho, a terceira idade. A partir dos cursos, abre-se um leque de oportunidades para essas pessoas, como a ge-ração de renda, formação de cooperativas e associativismos dentro da comunidade, que faci-litam a divulgação e a comercia-lização dos artesanato.

A feirinha da Unifor não é a

única em que eles trabalham.Durante todo o mês, esses ex-perientes artesãos, das quais a maioria são mulheres, percor-rem várias feiras pela cidade vendendo seus produtos.

O fato de terem uma ocupa-ção e um retorno fi nanceiro ra-zoável para ajudar nas despesas do lar - uma média de 300 reais

mensais - faz com que os idosos retomem a vontade trabalhar que antes lhes faltava, além de melhorar sua autoestima. “Nos-so objetivo é estimular e mostrar a eles que são capazes. Muitos se recusam até a trabalhar no pro-jeto, por acharem que não têm mais condições de produzir”, afi rma Severo.

Sugestões, comentários e críticas: [email protected]

Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza (Unifor) Fundação Edson Queiroz - Diretora do Centro de Ciências Humanas: Profª Erotilde Honório - Coordenador do Curso

de Jornalismo: Professor Eduardo Freire - Disciplina: Jornalismo e Gestão Empresarial (semestre 2009.1) - Projeto gráfi co: Prof. Eduardo Freire - Diagramação: Eduardo Freire e Felipe Goes - Orientação:

Professores Antônio Simões e Eduardo Freire - Revisão: Profa. Solange Teles - Supervisão gráfi ca: Francisco Roberto - Impressão: Gráfi ca Unifor - Tiragem: 500 exemplares - Editores adjuntos: Camila

Marcelo, Monique Linhares e Viviane Sobral - Colaboração: Professor Júlio Alcântara

Artesãos: o trabalho manual é o ponto forte dos idosos no projeto FOTO: CLARA MAGALHÃES

Enquanto Deus me der saúde, continuarei trabalhando

Taxista

Francisco Neto