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Ciências Jornal de SEMANA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E GEOGRAFIA Curso de Ciências Sociais - Centro Universitário Fundação Santo André - Ano II - N° 4 Página 2 Lançamento Confira a resenha do livro Suicídio Revolucionário: a luta armada e a herança da quimérica revolução em etapas, de Claudinei Cássio de Rezende. Semana acadêmica integrou os cursos de Ciências Sociais e Geografia, sob o tema “Geopolítica latino-americana: contradições e alternativas”. Diversas atividades marcaram o encontro que reuniu estudantes, professores e intelectuais de Ciências Sociais e Geografia Página 3 Recursos hídricos A gestão de recursos hídricos e cooperação internacional. Sociais Caravaggio e seus seguidores Passaram pelo Brasil sete quadros de Michelangelo Merisi, dito Caravaggio. O Jornal de Ciências Sociais esteve presente e apresenta os temas abordados na exposição. Página 9 Informação que não se vende Sarau Coletivo Música, arte, intervenções e muito mais marcou o Sarau Coletivo na FSA. Página 5 Página 4 Crise mundial As raízes da crise mundial e os impactos na América Latina. Página 6, 7 e 8 América Latina Estrutura agrária, os crimes das ditaduras militares e ideologia na América Latina.

Jornal de CIências Sociais 4

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Jornal de Ciências Sociais edição 4

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e

SEMANA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E GEOGRAFIA

Curso de Ciências Sociais - Centro Universitário Fundação Santo André - Ano II - N° 4

Página 2

LançamentoConfira a resenha do livro Suicídio Revolucionário: a luta armada e a herança da

quimérica revolução em etapas, de Claudinei

Cássio de Rezende.

Semana acadêmica integrou os cursos de Ciências Sociais e Geografia, sob o tema “Geopolítica latino-americana: contradições e alternativas”.

Diversas atividades marcaram o encontro que reuniu estudantes, professores e intelectuais de Ciências Sociais e Geografia

Página 3

Recursoshídricos

A gestão de recursos hídricos e cooperação

internacional.

SociaisCaravaggio e seus seguidoresPassaram pelo Brasil sete quadros de Michelangelo Merisi, dito Caravaggio. O Jornal de Ciências Sociais estevepresente e apresenta os temas abordados na exposição.Página 9

Informação que não se vende

Sarau ColetivoMúsica, arte, intervençõese muito mais marcou o Sarau Coletivo na FSA.Página 5

Página 4

Crisemundial

As raízes da crise mundial e os impactos

na América Latina.

Página 6, 7 e 8

AméricaLatina

Estrutura agrária, os crimes das ditaduras militares e ideologia na América Latina.

Jornal de Ciências Sociais - nº 4 novembro de 20122 www.colegiadosociais.com

Colaboraram nesta ediçãoJoana Darc Virgínia dos SantosRenata Solanas IgualRenata Adriana de SouzaRaul Henrique FlorindoLeonardo CóriaLívia XavierRoksyvan de Paiva SilvaSuelen Lopes SouzaVitor Mendes MonteiroCarlos Henrique Pereira da SilvaEuber FerrariVladmir Luís da SilvaBruno Monteforte

Fundação Santo AndréAv. Príncipe de Gales, 821, bairro Príncipe de GalesSanto André - SP - CEP: 09060-870Tel.: (11) [email protected]

Leia também no portal www.colegiadosociais.com

Ciências

Jor

nal

de

Sociais

Tiragem: 8.000 exemplares

Lançamento

O Jornal de Ciências Sociais é uma publicação do Colegiado de Ciências Sociais da Fundação Santo André, distribuído gratuitamente.

Jornalista ResponsávelEduardo Kaze - MTB: 62857

EditorialO quarto número do Jornal de Ci-

ências Sociais, produzido por alunos e ex-alunos do curso, com o apoio de professores, apresenta as atividades da Semana de Ciências Sociais e Geografia 2012, além dos artigos que enriquecem seu conteúdo.

Os temas tratados trouxeram à tona o tema da repressão, que vem se institucionalizando como resposta às manifestações sociais humanamente legítimas, mas in-cômodas para o capital.

Ao revisitarmos fenômenos mar-cantes da primeira década do terceiro milênio, é inevitável mencionar a queda das torres gêmeas (EUA-2001), a partir da qual se desencadeia uma massiva produção armamentista e uma violência militar “antiterroris-ta”, explicáveis, mas não justificá-veis, pelos resultados econômicos obtidos, que, ao preço dos massacres amplamente conhecidos, posterga-ram a crise para 2007.

Essa crise despertou movimentos sociais contra seus efeitos desuma-nos. Ações repressivas tão intensas quanto aquelas que a luta antiterror havia desencadeado foram também acionadas em resposta a esses movimentos, sempre interpretados pelas autoridades do capital como movimentos de baderna.

Certamente legítimos, esses mo-vimentos muitas vezes se ressentem de uma perspectiva reduzida pelo politicismo ou pela regressividade do nacionalismo, revelando uma incompreensão de que sua raiz e seu inimigo encontram-se consubs-tanciados no capital – em crise e, portanto, vulnerável. Desvinculando suas demandas da perspectiva de superação do capital, a politicização e o nacionalismo estiolam a força dos movimentos sociais, tornando-os

vulneráveis às estruturas conserva-doras e repressivas.

Apesar das derrotas, a história não traçou seu final. Continua presente, tanto na América Latina quanto na Europa, um amplo conjunto de ações em defesa dos direitos dos trabalhadores e contra a tentativa do capital de jogar sobre seus ombros os ônus da crise.

Ao lado da programação de uma greve geral na Europa, os trabalha-dores entram em greve na China, cuja transição para o capitalismo le-gou às classes trabalhadoras a opres-são política e o aprofundamento da miséria e da desigualdade social.

Todas essas lutas, ligadas às con-dições básicas da existência huma-na, apontam para a necessidade de superar o capital, o que, entretanto, não vem sendo posto como orienta-ção de sua atividade.

Não há como prever o futuro, mas é possível apontar a necessidade de ultrapassar os limites tão arraiga-dos do politicismo, nacionalismo ou economicismo, que impedem a percepção de que a miséria huma-na resulta das relações do capital em geral, e não apenas de um ou outro segmento parcial dele, ou da ausência de controle estatal; assim, induzem à perspectiva restrita de aperfeiçoar e democratizar a gestão do capital.

Ir além desses limites e visualizar uma sociabilidade efetivamente hu-mana, despojada da velha e caduca repressão, exige a análise científica das mudanças postas pela globali-zação, das derrotas das revoluções do trabalho, e a reavaliação dos instrumentos políticos utilizados.

Os debates apresentados neste jornal visam contribuir para essas reflexões.

Os equívocos da revolução etapista no Brasil

Intelectual marxista, Claudinei Cássio de Rezende valeu-se da

análise imanente dos escritos pecebistas pós-1958 e dos escritos dos revolucionários do pós-1964 para evidenciar a teoria da revolução social empreendida pela esquerda armada brasileira; esquer-da que padeceu de dupla derrota: um esvaziamento teórico e as mortes dos ati-vistas decorrentes do que o autor chama de genocídio promovido pela ditadura bo-napartista. O reordenamento teórico da esquerda brasileira tem centralidade na figura de Carlos Marighella, levado, pelo desenrolar das ações, a coordenador de uma luta armada iniciada com o acir-ramento da ditadura, a partir de 1968. As compreensões da esquerda brasileira sobre a entificação do capitalismo no Brasil constituem outro foco de análise do livro, pois expressa a ideia fundante que movimentou estes ativistas para a conclusão de uma revolução burguesa.

O estabelecimento de uma contradição com a proposta pecebista de revolução pací-fica não conseguiu congregar os dissidentes do PCB e es-facelou a representação das lutas sociais, fator determi-nante para o enfraquecimen-to da luta por transformação social. A novidade da análise de Rezende situa-se na per-cepção de que o movimento armado jamais abandonou a herança do movimento co-munista internacional: a te-oria da revolução em etapas. Em contraposição à teoria etapista e sob a verve do

momento histórico da auto-cracia burguesa bonapartista, o teórico J. Chasin propôs o que convencionou chamar de “dupla transição”, constituída na centralidade da organização das classes operárias na luta pela superação das bases de dominação, condicionando a produção às necessidades da classe trabalhadora, estabele-cendo o elo entre desenvol-vimento nacional e progresso social. A partir desta estratégia, os fatores impeditivos para o acesso das frações da clas-se trabalhadora à produção genérica da humanidade e realização de suas atividades com autonomia, poderiam ser superados para a fundação de uma nova sociabilidade baseada na satisfação das ne-cessidades sociais.

Diante de uma burguesia autocrática e antidemocrática restou às esquerdas brasi-leiras atuais a bandeira da democracia, o privilégio da política em detrimento das questões econômicas e das mudanças na esfe-ra produtiva. Subsumida a uma burguesia estrangeira, a classe proprietária brasileira, desprovida de condições de exercer domínio social

moderno, ainda utiliza-se do recurso da autocracia políti-ca, por meio da democracia inconclusa, para realizar suas tarefas: explorar a força de trabalho, extorquir a riqueza gerada e remunerar as bur-guesias centrais.

Em tempos obscuros para as lutas sociais pela autode-terminação humana, Claudi-nei Cássio de Rezende traçou uma compreensão lúcida e urgente sobre a falência das ações da última esquerda brasileira que empunhou os ideais da revolução social. Sua compreensão sobre as causas da inviabilidade das revoluções propostas pelas esquerdas, como a falta de apoio popular e a repressão da autocracia burguesa bona-partista, aliada à debilidade de análise das especificida-des brasileiras, nos remetem à importância das elabora-ções teóricas lastreadoras das lutas sociais. A publicação deste livro traz à tona, pela sua originalidade de análise e proposta temática, um novo e fundamental desafio aos inte-lectuais e membros da classe trabalhadora contemporâne-os: construir uma nova teoria revolucionária concatenada à realidade histórica brasileira.

Serviço: Livro:. Suicídio Revolucio-nário: a luta armada e a herança da quimérica revo-lução em etapasAutor: Claudinei Cassio de RezendeEditora: Unesp (pode ser baixado gratuitamente em: www.culturaacademica.com.br)

Joana Darc Virgínia dos SantosBacharel em Ciências Sociais pelo Centro Universitário Fundação Santo André. Doutoranda em História pela PUC-SP

3www.fsa.br Jornal de Ciências Sociais - nº 4 novembro de 2012

Semana de Ciências Sociais e Geografia

Gestão de recursos hídricos e cooperação internacionalDurante a semana

que integrou os cursos de Ciências

Sociais e Geografia a segun-da-feira foi reservada para discutir a questão da água. Fernanda Mello Santanna, doutoranda em Geografia pela USP cuja pesquisa en-globa a Bacia Amazônica, falou sobre a cooperação e conflitos que a envolvem, começando pelos distintos sentidos vinculados à palavra “Amazônia”: seu critério político-administrativo, hi-drográfico e ecológico.

Passando por um breve histórico das regiões que compreendem os oito países e uma colônia que hoje são chamados de amazônicos, foram abordados aspectos gerais da vegetação, hidro-grafia e ocupação. A pes-quisadora enfatizou que a formação territorial se deu voltada para o mercado ex-terno, seja no ciclo da bor-racha e na decadência do mesmo, seja na política da década de 1940 de “ocupar espaços vazios”.

Na questão hidrológica, por se tratar de gestões compartilhadas, como é o caso do Rio Amazonas que nasce nos Andes, qualquer fator pode virar um desen-tendimento entre os países, como a poluição, hidrelétri-cas e o problema do desma-tamento. Hoje, a principal questão que norteia essa região são as tentativas de integração dos territórios, como a IIRSA (Integração

da Infraestrutura Regional Sul-Americana), que adota a lógica da integração físi-ca dos corredores globais, tendo o eixo Peru-Brasil--Bolívia como o principal projeto, deixando a ques-tão: integrar a quem?

Já a segunda palestrante, Pilar Carolina V. Lainié, também doutoranda em Ge-

ografia pela USP, tratou das águas subterrâneas, uma questão mais complexa do que as águas superficiais, já que não estão ao alcance da população e só em perí-odos de crises são buscadas. Também desmistificou o senso comum de que só em áreas de grandes bacias hidrográficas se encontram

No Rio Amazonas, que nasce nos Andes, qualquer fator pode virar um desentendimento entre os países

Renata Solanas IgualEstudante de Geografia da Fundação Santo André

os aquíferos. Os estudos de aquíferos são recentes e pouco divulgados; o aquífero Guarani, centro de sua pesquisa, só foi oficializado em 1996, após terem sido identificados vários sistemas interliga-dos de água.

Há uma ausência de con-flito na questão das águas

subterrâneas ao longo da história, mesmo que em gestão coletiva, já que não há muita fiscalização. A questão mais delicada quan-do se trata desses recursos é a poluição das águas pelo contato do solo contamina-do ou pelo despejo de subs-tâncias, poluindo todo o sistema de água do aquífero.

Jornal de Ciências Sociais - nº 4 novembro de 20124 www.colegiadosociais.com

Semana de Ciências Sociais e Geografia

As raízes da crise mundial e os impactos na América Latina Ao longo das discus-

sões presentes na semana de curso re-

cebemos os palestrantes Vitor Schincariol, professor da UFA-BC que versou sobre a crise econômica dos Estados Unidos e seus impactos na América Latina, e o professor Fábio Luiz B. dos Santos, da UNILA (Univ. Fed. de Integração Latino--Americana) que apresentou um panorama geral do signifi-cado da IIRSA (Iniciativa para a Integração de Infraestrutura Regional Sul-Americana).

A exposição de Schincariol buscou as raízes que impul-sionaram a crise econômica norte-americana, que é, segundo alguns economistas e historia-dores, a maior do século XX, inclusive em relação à crise de 1929, e também tratou de como se dá a reverberação desta crise na América Latina. Assim, ele indica duas plataformas prin-cipais do governo de George Bush no inicio dos anos 2000 que servirãode alicerce para a crise financeira. A primeira é o aprofundamento da liberaliza-ção econômica, favorecendo os mercados privados; a segunda, a militarização da economia, verificada nas ações políticas que marcaram o governo Bush contra o “forjado inimigo exter-no”, principalmente em relação com o chamado “terrorismo islâmico”. De tal forma que o averiguou-se, sobretudo, o aprofundamento, nos EUA, da forma política chamada de neoliberalismo.

Schincariol chama atenção a estas políticas que serviram de

Renata Adriana de Sousa e Raul Henrique FlorindoEstudantes de Ciências Sociais da Fundação Santo André

base ao primeiro e a parte do segundo governo de Bush; no segundo mandato, entretanto, devido à crise já iniciada, houve uma diminuição dos déficits fiscais com base na redução dos custos de reprodução social. Para o governo, de acordo com Schincariol, não seria preciso regular, nem controlar; a mão invisível do mercado, suposta-mente infalível, resolveria tudo; o livre mercado seria superior a qualquer tipo de intervenção, e, além disso, seria preciso evitar o “risco moral” derivado do proteção e regulamentação go-vernamental: os indivíduos su-

põem que o governo vai salvar a economia, então não atentam para os riscos.

No que tange aos impactos da crise em 2008 verificados na América Latina, abarcando o México, Argentina e Brasil, ele aponta: queda de exportações da América Latina para os EUA; queda das remessas de lucros e rendas aos EUA; queda do nível de atividade econômica, caindo também as remessas de rendas dos EUA para a América Latina; e estratégia de recomposição de carteiras, com menor colocação de capital dos EUA na área. O que ele destaca é que, mesmo

diante da crise, os Estados Uni-dos imperam com toda força, principalmente na economia latino-americana.

A palestra do professor Fá-bio Luiz agregou novos ele-mentos à situação, expondo o significado da IIRSA e examinando-a pelo ângulo dos Estados Unidos e dos países latino-americanos.

A IIRSA nasceu em uma reunião, no ano 2000, em Bra-sília, dos chefes de estado dos doze países sul-americanos, visando, oficialmente, impul-sionar o processo de integração política, econômica e social da América do Sul. De fato, sig-nifica uma política econômica implantada sob o prisma de reconfigurar a infraestrutura latino-americana. O enfoque da IIRSA dá-se no marco de três esferas de territorialização, hierarquizadas: a reestruturação das vias de transportes, energia e telecomunicações. Organizada em dez eixos, a IIRSA envolve 31 megaprojetos, desdobra-dos em 523 projetos. Tendo com financiadores principais o BNDES, CAF, FONPLATA e BID, o volume aproximado de recursos envolvidos chega a 10.188,20 milhões de dóla-res. Sua finalidade é simples: agilizar o escoamento das mer-cadorias produzidas no cone sul americano para os países centrais, diminuindo custos e tempo. Para ilustrar, o prof. Fá-bio Luiz levantou o exemplo do eixo interoceânico central, cuja finalidade particular é interligar o oceano Atlântico ao Pacífico –através de rodovias e ferrovias,

serão interligados os pontos de escoamento portuário para a Europa e China. O professor ressaltou que a IIRSA tende ao esgotamento dos recursos naturais latino-americanos, uma vez que flexibiliza a inserção do capital estrangeiro extrativista, pois , além do direcionamento econômico, envolve também uma desregulamentação jurí-dica ecológica e do trabalho – por exemplo, a construção da usina de Belo Monte para a subsequente produção de soja, e a licença, em tramitação, para uma empresa canadense mine-rar ouro muito próximo da hi-drelétrica, ao longo de 20 anos. É neste ângulo que Fabio Luiz trouxe à discussão as análises de Ruy Mauro Marini, entendendo a IIRSA no âmbito do aprofun-damento da dependência eco-nômica, discorrendo que para a América Latina se configura um presente de especialização pro-dutiva exportadora. Recorrendo a um conceito de Marini, situou o Brasil na posição de país sub--imperialista, submetendo os países vizinhos dependentes ao mesmo tempo em que está submetido às determinações do grande capital estrangeiro.

O prof. Fabio avalia que, para o governo Lula, a IIRSA é um projeto neo-desenvolvimentista de combate ao neoliberalismo. Entende também que, para os EUA, este projeto de reestru-turação produtiva tem uma importância pequena perto dos interesses relativos ao Oriente Médio. O professor finalizou enfocando brevemente o recen-te golpe no Paraguai.

IIRSA: Eixos de integração e desenvolvimento

5www.fsa.br Jornal de Ciências Sociais - nº 4 novembro de 2012

Semana de Ciências Sociais e Geografia

Voltado ao aprimoramento da formação de cientistas sociais e profissionais vinculados a áreas correlatas, o curso visa a atender demandas relativas às atividades de pesquisa, docência e outras formas de atuação social e política, aprofundando o conhecimento dos dilemas contemporâneos da existência humano-societária e ampliando a capacidade de discernir alternativas. O curso conta com professores doutores em diferentes campos (sociologia, política, antropologia, história, filosofia, letras), oriundos tanto do Centro Universitário Fundação Santo André quanto de outras universidades.

Inscrições Abertas! Mais informações em www.fsa.br

Pós-Graduação: Ciências SociaisEconomia-mundo, Arte e Sociedade

O encerramento da Semana de Ciên-cias Sociais e Ge-

ografia contou com a rea-lização do Sarau Coletivo, atividade organizada por estudantes de diversos cur-sos da FSA com intuito de reunir as pessoas que estão dispostas a produzir ou fruir as mais variadas vertentes artísticas que possibilitam ao ser humano tornar-se mais humano de fato. Este encon-tro consistiu na interação dos diversos participantes através da poesia, música, fotografia e teatro e eviden-ciou a grande necessidade de um espaço destinado aos estudantes (principalmente da FAFIL, onde o espaço que

pertencia aos estudantes vi-rou um arquivo morto) para realizarem suas produções artísticas e organizarem dis-cussões politicas.

Durante o Sarau, houve também protestos contra medidas tomadas pela atual reitoria, como a proibição da fixação de cartazes e a pu-nição de estudantes que pro-testam fora da universidade.

Há fases em que os sonhosnão se convertem em planosnem as instituições em co-nhecimentonem a nostalgia nos incitaa nos movimentarmos.Esses são maus tempos para a arte.

Bertold Brecht

Sarau Coletivo traz arte e poesia à FSA

O pudor desfalece a vistaEnrijecido o corpo apodrece

dureza plantadafranzida.

E os corpos suados de sêmen e secreção

no escuro, do outro lado do muro dos olhares,onde se esconde o jocoso contentamento.

As mucosas misturadas ao sangue menstrual,sangue que banha a vida

dividida em banquetes e escassez.

Entre dois ladostúnel que separa

o nobre do vagabundo.como o que pode e o que não pode

tenha a mesma importância!Entre a culpa e o prazer

que se completam no sacrilégioda neurose.

Nesta dança humanamovimento

para o nascer de novodesperta(dor)

vir a ser.

VertigemLívia Xavier

Desenho: Leonardo Cória

Jornal de Ciências Sociais - nº 4 novembro de 20126 www.colegiadosociais.com

Semana de Ciências Sociais e GeografiaIdeologia na América Latina

O debate sobre ideo-logia na América Latina contou com

a presença de Simone Ishi-bashi, socióloga, diretora da revista Estratégia Interna-cional Brasil e militante da LER-QI e de Pedro Augusto, petroleiro na região do ABC e militante do PSTU.

Ishibashi resgatou as lutas de classes na América Latina, como em Chiapas, com o exér-cito Zapatista de Libertação Nacional, as greves dos minei-ros na Bolívia e o ascenso na Venezuela no início dos anos 2000. Segundo a socióloga, estes levantes ocorreram du-rante a “etapa da restauração burguesa”, marcada por trinta anos sem revolução, durante os quais a classe operária deixa de ser o sujeito central da transfor-mação social, cedendo lugar a outros, como “os pobres em geral” ou as “multidões”. A primavera árabe marcaria o inicio de uma nova etapa histórica e da luta de classes mundial. Estes processos rea-tualizam a definição de Lênin da etapa atual do capitalismo como época de crises, guerras e revoluções. Já no inicio da década de 2000, delinearam-se novos cenários na luta de clas-ses. Na Argentina derrubam-se cinco presidentes. Em 2003 os mineiros vão às ruas na Bolí-via e um amplo movimento popular derruba o presidente Gonzalo Sanchez de Lozada. Tais processos, disse a pales-trante, deveriam ser pensados à luz das definições do marxista russo Leon Trotsky, resga-tando sobretudo o conceito de bonapartismo sui generis. De acordo com Trotsky, as burguesias latino-americanas seriam pressionadas de um lado pelo imperialismo, e de

Euber FerrariEstudante de Ciências Sociais da Fundação Santo André

outro por um proletariado fortemente mobilizado; nes-sas condições, podem surgir governos bonapartistas espe-cíficos que, apesar da dureza na gestão do estado, vêem-se obrigados a fazer concessões ao proletariado (como Cárde-nas, Vargas ou Morales).

Pedro Augusto analisou as manifestações ideológicas presentes nos movimentos de massas ocorridos na América Latina a partir do fim do sé-culo XX. Resgatando as lutas dos trabalhadores brasileiros durante as décadas de 1970 e 80, que ele caracteriza, ba-seado na concepção de revo-lução democrática de Nahuel Moreno, como um processo revolucionário, o palestrante destacou a constituição da frente única de trabalhadores, expressa na CUT, e do PT. No entanto, com essas duas enti-dades de massas fortaleceram--se burocracias partidárias e sindicais que passaram a dirigir os trabalhadores pelo caminho da conciliação de classes. Por essa razão, para o palestrante, a classe operária não pôde enfrentar os ataques

da política neoliberal iniciada na década de 1990. Augusto ressaltou que no Brasil não houve um acirramento da luta de classes como no Equador e Argentina, mas sim um acir-ramento do questionamento popular à direção do Estado pela direita neoliberal repre-sentada pelo PSDB. Disso teria resultado a eleição de Lula à presidência, cuja polí-tica econômica paternalista e populista teria levado o país à passividade social. O pales-trante entende que é tarefa da esquerda revolucionária levar os trabalhadores a romper com a ideologia burguesa e de conciliação de classes.

Concordando com a neces-sidade de construir um partido mundial dos trabalhadores – a IV Internacional (fundada por Trotsky nos anos 1930), os palestrantes divergiram quan-to à forma dessa refundação, Pedro afirmando que ela se dará através da construção da LIT (Liga Internacional dos Trabalhadores), enquanto para Simone dependerá de rupturas e fusões dentro do movimento revolucionário.

Protesto na Praça Tahrir. Foto de Márcia Camargos

Perdas e legados Os meses de setembro e outu-

bro deste ano foram marcados por duas perdas irreparáveis nos cenários intelectual e político.

Pioneiro na introdução de pen-sadores como Georg Lukács e Antonio Gramsci no Brasil, mor-reu em 20 de setembro o ensaísta Carlos Nelson Coutinho. Nascido a 28 de junho de 1943 em Itabuna (BA), Coutinho tornou-se cedo um comunista, muito em função da leitura dos célebres Manifesto Comunista, de Karl Marx e Frie-drich Engels, e Do socialismo utópico ao socialismo científico, de Engels.

Um dos temas mais frequentes na obra de Coutinho era a moder-nização brasileira, algo evidente já em seu ensaio de estreia, O processo das contradições e a revolução brasileira (1961). De seu período juvenil, destacam-se Literatura e humanismo (1967) e O estruturalismo e a miséria da razão (1972). Além da ensaística, Coutinho dedicou-se ao trabalho de tradutor, realizando cerca de 90 traduções.

Em 1979, Coutinho lançou o ensaio que colocou seu nome nas rodas de discussão na esquerda brasileira, A democracia como valor universal. Se no período ju-venil o filósofo havia direcionado sua militância ao âmbito estético e filosófico, valendo-se da tradi-ção humanista e do marxismo em suas diversas vertentes, es-pecialmente a lukacsiana, em sua fase tardia passou a desenvolver estudos diretamente políticos, à luz das obras de Antônio Gramsci e de eurocomunistas.

Coutinho Militou no PCB entre 1961 e 1982, ingressando nos quadros do Partido dos Trabalha-dores em 1989, agremiação da qual se desligou em 2003. No ano seguinte, ajudou a fundar o Partido Socialismo e Liberdade.

No dia 1° do mês de outubro, foi a vez de perdermos o historiador marxista Eric John Ernest Hobsba-wm. Nascido em 1917 em Alexan-dria, no Egito, Hobsbawm viveu

Vladmir Luis da SilvaGraduado em Ciências Sociais pela Fundação Santo André; mestre em História pela PUC-SP; professor de sociologia.

e formou-se em Viena, Berlim, Londres e Cambridge. É figura de destaque na historiografia britânica e reconhecido internacionalmente como um dos maiores intelectuais do século XX.

O historiador abordou uma infinidade de temas em seus diversos trabalhos. Do jazz ao nacionalismo, passando pela his-tória de trabalhadores e rebeldes, tudo parecia ser objeto de estudo aos olhos abrangentes e genero-sos de Hobsbawm. Sua erudição e originalidade vinham sempre acompanhadas de incrível ca-pacidade de síntese, baseada na consciência da articulação inter-na dos fenômenos históricos.

Em meio a sua vasta obra (mais de 30 livros), destaca-se uma trilogia sobre a história moderna, composta pelos livros A era das revoluções (1962), A era do ca-pital (1975) e A era dos impérios (1987). Com eles, Hobsbawm nos entregou um quadro amplo e detalhado do período compre-endido entre 1789 e 1914, por ele chamado de “longo século XIX”. Já o “breve século XX” foi tema de A era dos extremos (1994), no qual o autor narra os acontecimentos de sua própria época. É de sua responsabilidade ainda a organização de uma His-tória do marxismo, publicada em 12 volumes.

Comunista precoce, tal como Coutinho, Hobsbawm esteve vinculado ao Partido Comunista desde os 14 anos. Primeiro ao alemão e, depois, ao britânico, no qual permaneceu até a sua dissolução, em 1991.

Maiores que o sentimento de perda são os legados deixados por Coutinho e Hobsbawm, seja para os que compartilhavam de suas convicções ou para seus críticos no campo da esquerda. Trata-se da convicção comum e exemplar, evidente em suas obras, de que a busca do conhe-cimento e o debate constituem armas fundamentais na luta pela transformação social.

7www.fsa.br Jornal de Ciências Sociais - nº 4 novembro de 2012

Semana de Ciências Sociais e GeografiaEstrutura agrária, movimento camponês e geopolítica na América Latina

Mecanismos de ocu-pação e usufruto da terra da época

colonial (sesmarias no caso do Brasil), a transformação da terra em mercadoria após as independências dos países latino-americanos através das leis de regulamentação do mercado fundiário, violentos conflitos do passado e do pre-sente são expressões concretas da relevância do controle da terra como meio de produção, mas também como condição para a reprodução da socieda-de. Sendo, portanto, elementos fundamentais para se entender a realidade, a estrutura agrária e o trabalhador rural foram temas de uma das conferências da Semana de Ciências Sociais e Geografia que teve como tema a geopolítica latino--americana. Recebemos João Pedro Stédile, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e Val Lisboa, da Liga Estratégia Revolucio-nária – Quarta Internacional (Ler-Qi).

Stédile fez um histórico do movimento camponês na América Latina, contemplan-do sua relação com as tendên-cias ideológicas e políticas adotados nos governos que se seguiram nas últimas décadas.

Segundo Stédile, o MST, fundado em 1984, é o reflexo da efervescência política da época em que surgiu, mas também do atraso cronológi-co do movimento camponês no Brasil em relação a outros países nos quais os povos pré-colombianos já possuíam capesinato e o movimento é mais experiente, o que inclusi-ve explica vocação internacio-nalista do movimento nacional

Vitor Mendes MonteiroEstudante de Geografia da Fundação Santo André

que já em seu congresso de fundação recebeu delegações de 12 países.

O palestrante explicou que o processo de aglutinação das organizações populares do campo culminou em 1994 na Coordenação Latino-Ameri-cana de Organizações Cam-ponesas (CLOC), que articula entidades de toda a América, inclusive EUA e Canadá, e em 1995 na Via Campesina, unindo as lutas de diversos continentes. Um dado interes-sante da Via Campesina é que, pela vanguarda da América Latina, o nome se mantém em espanhol no mundo todo. Essa articulação internacional dos camponeses é uma reação ao processo de internacio-nalização do capital sobre a agricultura que se desenrolou com muito vigor na década de 1990 com o neoliberalismo (que é um rótulo para a nova etapa do capitalismo que é do-minada pelo capital financeiro e pelas grandes corporações internacionalizadas). Além da força do capital externo esse processo contou com a subserviência dos governos

locais. A resposta organizativa se deu a partir da percepção dos camponeses de que seus problemas objetivos são cau-sados pelas mesmas empresas em diversos lugares.

Stédile entende que, com a eleição de Hugo Chávez na Venezuela, em 1999, esse cenário sofre mudanças; a partir de então diversos países elegem governos com discur-sos anti-imperialistas. São fundados a ALBA e Banco do Sul como alternativas à OEA e ao FMI respectivamente. FMI que, ressaltou o palestrante, mesmo com o discurso do go-verno federal brasileiro de que a dívida foi quitada, continua impondo políticas econômi-cas; por exemplo, para manter o superávit primário, são des-tinados 43% do orçamento da União para pagar juros, regra que entrou na economia bra-sileira com o governo FHC e que os governos petistas não modificaram.

O palestrante também res-saltou que, na luta contra a ALCA “se formou um caldo de unidade nos movimentos sociais”, e em 2013 aconte-

cerá uma assembleia para se constituir uma articulação formal com mais de 200 mo-vimentos.

Val Lisboa trouxe à pa-lestra a crítica aos governos classificados como progres-sistas, mais especificamente no Brasil, afirmando que os dados mostram que o governo Fernando Henrique Cardoso assentou mais famílias do que os governos de Lula e Dilma.

Segundo o palestrante, os governos de apelo popular que se espalharam pela Amé-rica Latina nos anos 2000 chegaram ao poder se unindo à burguesia e por isso estão amarrados a esta classe, e as-sim não tomarão medidas pro-fundas para mudar a realidade de desequilíbrio na estrutura fundiária no campo ou em qualquer outro setor. Lisboa recordou o desabastecimento de alimentos proposital reali-zados por Abílio Diniz à épo-ca do Plano Cruzado (1986), e pelo venezuelano Gustavo Cisneiros para forçar o au-mento dos preços, ilustrando como a burguesia está voltada somente para a acumulação de capital, mesmo que isso im-plique em situações extremas para a população. Para Val Lisboa, é impossível qualquer alternativa progressista com alianças com essa burguesia “que tem na policia paulista seu exemplo mais carniceiro”, citando o fato de o escudo da polícia contar com deco-rações alusivas a Canudos e outras repressões. Portanto, apenas a luta que surge na união dos camponeses com os operários urbanos poderia dar uma solução contra o imperialismo.

Região e Paisagem

Durante a semana de Geogra-fia e Ciências Sociais, foram rea-lizadas diversas atividades, entre as quais, o mini-curso proferido pela profª. Cecília Cardoso so-bre Região e Paisagem. O obje-tivo foi levar o alunado a refletir sobre a elaboração do conteúdo que requer a análise geográfica mediante a ordenação lógica dos respectivos conceitos e ca-tegorias. Avaliar os significados teórico-metodológicos, dentro dos diferentes campos investi-gativos da Ciência Geográfica, e os limites da correspondência entre realidade e representação. Posteriormente, discutir a for-mulação das categorias Região e Paisagem.

Trabalho de campo

Como encerramento da Se-mana de Ciências Sociais e Geografia 2012, foi realizado um trabalho de campo à Praça Kantuta, reduto de imigrantes bolivianos no bairro do Pari, município de São Paulo. Os participantes reuniram-se no domingo, 30 de setembro, na estação Armênia de metro, que resgata um pouco da história da imigração armênia em São Pau-lo. Após uma caminhada pelo bairro, que resguarda caracte-rísticas de um bairro operário, o grupo encontrou lojas que abrigam as oficinas das confec-ções que empregam atualmente grande número de bolivianos. Chegando à Praça Kantuta, os participantes degustaram as iguarias bolivianas oferecidas nas dezenas de barracas de co-midas típicas. No final da tarde, fomos recebidos pela Profa. Márcia Cabreira, da PUC/SP, que falou ao grupo sobre as ca-racterísticas atuais da imigração boliviana em São Paulo.

Perdas e legados

João Pedro Stédile, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

Jornal de Ciências Sociais - nº 4 novembro de 20128 www.colegiadosociais.com

Semana de Ciências Sociais e Geografia

Brasil e Argentina: crimes similares, punições opostasAs ditaduras militares

ocorridas no Brasil e na Argentina também

estiveram no centro do debate na Semana de Ciências Sociais e Geografia. Para discorrer so-bre a necessidade de identificar e punir os responsáveis pelos crimes então cometidos fo-ram convidados os professores Carlos Gasparini e Vânia N. F. Assunção.

Segundo o prof. Gasparini, no Brasil o golpe militar de 1964 contou com o apoio da burgue-sia brasileira e estrangeira e da classe média. Por isso, entende que a melhor denominação para o regime implantado seja ditadura burguesa-militar ou empresarial-militar. Embora o pretexto tenha sido o supos-to “perigo comunista”, o real motivo do golpe foi o combate ao trabalhismo, à mobilização popular em curso na época que reivindicava reformas de base dentro do modo de produção ca-pitalista e não a superação dele. Mas, frisou o professor, para a tacanha burguesia brasileira, mesmo essas reivindicações limitadas eram consideradas inaceitáveis.

Gasparini destacou que a repressão política comandada pela ditadura militar brasilei-ra, – envolvendo cassações de parlamentares, intervenção em sindicatos, prisões, tortura, assassinatos e desaparecimen-tos – teve a função de manter o arrocho salarial, que permitiu aumentar os lucros das empre-sas nacionais e transnacionais localizadas em território brasi-leiro. Como resultado, tivemos

Carlos Henrique Pereira da Silva Estudante de Ciências Sociais da Fundação Santo André

o chamado “milagre econômi-co” (1968-1973), responsável por uma grande acumulação de capital e alta concentração de renda, essencialmente nas mãos da burguesia nacional e internacional e setores da

http://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/09

classe média, às custas da superexploração da classe trabalhadora.

Com o fracasso do “mila-gre econômico” a partir de 1973, inicia-se o processo de transição, controlado pela ditadura, da autocracia para a democracia dos proprietários dos meios de produção. O professor destacou que esse controle se deveu principal-mente à desorientação da esquerda, que luta, correta-mente, pelas franquias de-mocráticas, mas restringe-se a isso, não questionando a proposta econômica base-ada no arrocho salarial: “O

combate ao falso milagre econômico e especialmente ao fracasso desse plano não é compreendido pela esquer-da brasileira porque ela está desarmada de seu principal material referencial que seria

a teoria marxiana”, afirmou Gasparini. Apesar das greves do final da década de 1970, que chegaram a questionar o programa econômico da ditadura, a transição transada prosseguiu e foi concluída e, 1989, com a eleição à presidência de um dos repre-sentantes da ditadura militar: Fernando Collor de Mello, mostrando o fracasso das oposições e fundamental-mente da esquerda no Brasil.

Em agosto de 1979 o con-gresso nacional, tutelado pelos militares, aprovou a lei de anistia, anistiando tanto os torturadores quanto os tor-

turados. Com essa manobra, disse o palestrante, tentou-se apagar da história os crimes contra a humanidade come-tidos pela ditadura militar, perdoando os que haviam torturado, assassinado, etc.

Foi uma anistia bilateral que camuflou uma autoanistia dos militares. É fundamental, finalizou o professor, con-tinuar lutando não só pela verdade sobre tais crimes, mas pela punição dos res-ponsáveis.

A profª. Vânia Assunção abordou a situação da Ar-gentina, em que os que se opunham à ditadura também foram tratados como inimi-gos internos, terroristas que deveriam ser combatidos sem nenhum tipo de nego-ciação. Vários segmentos da sociedade, como a igreja católica, grupos empresa-

riais, alguns intelectuais, etc. deram apoio à ditadura.

Contudo, enquanto o Brasil é o país mais atrasado no que se refere ao julgamento dos crimes ocorridos durante a ditadura, “a Argentina é de longe o país do Cone Sul que mais avançou na tarefa de julgamento dos crimes cometidos no período ditato-rial”, conclui Assunção. Para isso, destacou a professora, o congresso daquele país tem legislado e criado inovações em direito civil, penal e constitucional, tem incorpo-rado pactos internacionais de direitos humanos a sua constituição, tem impedido a posse eventual de ditadores que tenham sido eleitos, etc. A palestrante informou que já foram condenados mais de duzentos repressores da dita-dura e outros oitocentos estão sendo processados; mas esse número é considerado peque-no pelos grupos de direitos humanos, tendo em vista que só os desaparecidos no período militar foram cerca de trinta mil pessoas. Tam-bém os julgamentos sobre o roubo sistemático de bebês, filhos de militantes oposicio-nistas presos, estão ocorren-do desde 2011, tendo sido já identificadas 105 crianças, que tiveram suas identida-des restituídas. A profes-sora conclui dizendo que, atualmente, discute-se na Argentina a responsabiliza-ção dos grupos empresariais e dos civis que participaram ativamente do golpe.

9www.fsa.br Jornal de Ciências Sociais - nº 4 novembro de 2012

Arte e CulturaCaravaggio e seus seguidores no BrasilRoksyvan de Paiva Silva e Suelen Lopes SouzaEstudantes de Ciências Sociais da Fundação Santo André.

Passaram pelo Brasil sete quadros de Mi-chelangelo Merisi

(1571-1610), dito Carava-ggio, mais treze obras de “caravaggescos”. A ex-posição esteve em Belo Horizonte, São Paulo e, antes de ir a Buenos Aires, passou por Brasília – quan-do, na abertura, a presidenta queixou-se da ausência do Cupido dormindo (1608). Dilma Rousseff declarou ainda ser o autor maneirista, contra a opinião de que ele é barroco.

Há dúvidas quanto à auto-ria de algumas obras e par-tes da biografia. Sabe-se que sua vida em Roma foi cheia de conflitos. Muitas vezes foi preso por circular arma-do sem a licença de porte de espada. Numa ocasião, apedrejou a polícia; noutra, foi processado por jogar alcachofras num garçom. Quando em 1606 matou um homem num duelo, teve de fugir. Andou por Nápoles, Sicília, Malta. Pobre e só, morreu perto da Toscana – de malária ou assassinado.

“Caravaggio pôs todos os renascentistas no bol-so”, disseram-nos. Então, fomos ao Masp e vimos que: 1. seu “chiaroscuro” (claro-escuro) é uma forma de composição da tela que deixa um feixe de luz em primeiro plano contra um fundo escuro; 2. mestre e seguidores gostam de per-sonagens e cenas bíblicas: São Francisco em medi-tação, São Jerônimo que escreve, Sacrifício de Isa-

ac, Coroação de espinhos, Negação de Pedro etc. Os “caravaggescos” Orazio Borgianni e Tommaso Sa-lini são exceções, com um autorretrato e uma cena do “Interior de cozinha (O macaco e o gato)”. Recente-mente reconhecida a autoria de Caravaggio, em lugar de destaque, protegida por vidro blindado, lá estava a Medusa Murtola, um óleo sobre tela de linho sobre um escudo de madeira – em referência a Perseu.

A exposição custou 5,5 milhões; a Medusa Murtola (foto) teve um seguro de 55 milhões de euros, pagos ao dono Alberto Zoffli em caso de roubo ou incêndio. Con-vergem cultura e negócios. Como defende Otília Aran-tes , a produção cultural não é mais um ramo entre outros ramos da árvore do capital, com seu papel estra-tégico, ideológico –, agora está no centro da produção econômica. Grandes negó-cios usam iscas culturais, produção cultural integra políticas empresariais e, assim, pelas mãos de Fiat e Bradesco podemos ver a humanidade atormentada liberta pelas luzes de Ca-ravaggio.

Atividade aberta e gratuita Curso de Extensão em Ciências Sociais

INTÉRPRETES DO BRASIL

O curso abordará o pensamento de Caio Prado Júnior, Florestan Fernandes, José Chasin, Mário de Andrade, Maurício Tragtenberg e Fernando Henrique Cardoso. V e n h a d e b a t e r c o m p r o f e s s o r e s d o c u r s o d e C i ê n c i a s S o c i a i s s o b re a s d i v e r s a s a n á l i s e s d a s o c i e d a d e b r a s i l e i r a .

24 de novembro, 01 e 08 de dezembro, das 08h30 às 12h30 e das 13h30 às 17h30

Informações: www.colegiadosociais.com – [email protected]ções: www.fsa.br/proppex

Jornal de Ciências Sociais - nº 4 novembro de 201210 www.colegiadosociais.com

Vestibular

Profissão: Cientista SocialNum mundo em que

as transformações econômicas, polí-

ticas e culturais têm sido tão constantes e profundas, são as Ciências Sociais que oferecem os meios mais ade-quados para a compreensão

teórica das novas condi-ções humano societárias, sua complexidade e instrumental teórico para a intervenção transformadora.

Pré-requisitos fundamentaisCapacidade de investiga-

ção científico-social - ob-servação, pesquisa e aná-lise dos fenômenos sociais (políticos e econômicos) e o interesse pela renovação da sociedade. São esses os atributos de que necessita o Cientista Social, profis-sional que lida diariamente com os desafios do mundo contemporâneo, seus mean-dros históricos e as perspec-tivas de sua transformação.

Demanda em altaAlém da já consolidada car-

reira de pesquisador e docente no ensino superior, no ensino médio e no fundamental, uma ampla gama de atividades de planejamento, consultoria e pesquisas sociais são do universo do profissional de Ciências Sociais (veja ao lado): Sociólogo (profissão reconhecida pela Lei 6.888, de 10/12/1980), Cientista Político ou Antropólogo. O curso de Ciências Sociais

da Fundação Santo André pre-para o estudante para exercer essas atividades, oferecendo o bacharelado integrado à licenciatura, necessária para atuar como professor no ensino médio e fundamental.

Depoimentos de ex-alunos de Ciências Sociais da FSA“O curso de Ciências So-

ciais na FSA me possibili-tou uma formação teórica sólida, oferecendo suporte para uma postura crítica e reflexiva da realidade social em seus múltiplos aspectos. Ao oferecer uma rica forma-ção humana e acadêmica, esse curso me possibilitou uma atuação profissional competente.” Felipe Henrique Gonçalves

(Mestre em História pela PUC/SP e Professor de So-

ciologia e História do Ensino Médio).

“Graças ao curso de Ciên-cias Sociais, minha ‘visão de mundo’ mudou muito, em particular no que se refere ao que é o ser humano, a história, a política, etc. Uma coisa que acho fundamental foi o curso ter me fornecido uma bagagem teórica que me permite até hoje não apenas me indignar com as contradições, as misérias e desigualdades etc., desse mundo, mas saber quais as razões reais disso e qual a melhor ferramenta para combatê-la. (...) Para finali-zar, se um dia meu filho qui-ser fazer Ciências Sociais recomendarei a Fundação (...). O historiador Eric Ho-bsbawm afirmou que Marx o fez tomar consciência de que a história é um instrumento sem o qual não se pode com-preender o que se passa no mundo. Eu diria a mesma coisa do curso de Ciências Sociais da Fundação” .Eraldo Ramos de Souza

(Funcionário da Biblioteca Municipal de São Bernardo).

“A formação de cientista social na FSA me possibi-litou analisar o desenvolvi-mento e os fatos da socieda-de de uma forma ampliada e crítica, aumentando meus conhecimentos a respeito das mudanças e mazelas de uma sociedade global cada vez mais integrada pelo de-senvolvimento tecnológico. Ao mesmo tempo, trouxe-me um espaço maior no merca-do de trabalho”. Cleber José de Toledo (Mes-

tre em Ciência Política pela PUC-SP e professor de Econo-mia e Sociologia na Uninove).

Bolsas de estudo na FSA

A Fundação Santo André oferece as seguintes bolsas de estudo:

aPrograma de Extensão Cien-tífica Sabina: 162 bolsas - R$ 750,90 cada.

aProjeto Formadores do Saber: 100 bolsas - R$ 750,90 cada.aIniciação Científica/FSA: 40

bolsas - R$ 263,00 cada.

aPIBID/CAPES - Programa Institucional de Bolsa de Inicia-ção à Docência: 310 bolsas - R$ 400,00 cada.

aIBIC/CNPq - Programa Ins-titucional de Bolsa para Iniciação Científica: 3 bolsas - R$ 360,00 cada.

aMonitoria: 237 bolsas Moni-toria, no valor de R$ 12,30/hora.

aPrograma Ciência sem Fron-teira/CAPES/CNPq: 3 bolsas para estudo em cursos de graduação no exterior (EUA, Europa e Ásia).

aFIES – Fundo de Financia-mento Estudantil (leia mais na p. 12)._____________________

Campo de TrabalhoaPesquisa acadêmica e docên-

cia no ensino superior.

aDocência no ensino médio e fundamental.

aAnálises sociais para órgãos públicos e privados, sindicatos, partidos e ONG’s.

aAssessoria política em ONGs, sindicatos, partidos, associações, movimentos sociais, institutos de cultura e memória e meios de comunicação.

a Planejamento urbano e desen-volvimento social.

aPesquisas em institutos pri-vados e públicos como SEADE, DIEESE, IBGE e outros.

aPesquisas de mercado para empresas e agências publicitárias.

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11www.fsa.br Jornal de Ciências Sociais - nº 4 novembro de 2012

Educação

Hoje, muito se discute sobre a crise da edu-cação e suas possíveis

resoluções, envolvendo várias opiniões, posições. A política educacional vigente no Brasil baseia-se em parâmetros defi-nidos por organismos mundiais como ONU, UNESCO, FMI. Em contrapartida, no mun-do todo, surgem movimentos contrapondo-se aos efeitos mais perversos desta política (Chile, Argentina, EUA). A questão é: que educação está promovendo esta política educacional mun-dial? Serve a que(m)? Às reais necessidades da sociedade atual e dos problemas que apresenta? Vejamos:

Essência e consequências sociais da educação formal atual

A política educacional vi-gente privilegia dois aspectos, distintos e interligados: 1) a concepção pedagógica, voltada ao desenvolvimento de compe-tências e habilidades diversas nos indivíduos, secundarizando a formação baseada no conheci-mento legado pela humanidade; 2) os parâmetros gerenciais e administrativos, baseados na máxima redução de recur-sos do Estado, privilegiando a participação de “toda socieda-de”, comunidade, empresas, Ong´s. Elaborações teóricas e discursos políticos apresentam tais princípios como “inova-dores”, capazes de “salvar” a educação do caos e crise atual, transformando-a e à sociedade. Contudo, uma análise deta-lhada nos permite identificar sua ligação com interesses político-econômico-sociais mais amplos: do mercado e do capitalismo em crise.

Educação, sociedade capitalista e transformação socialBruno Monteforte Graduado em Ciências Sociais pela Fundação Santo André; especialista em História pela PUC-SP; professor de sociologia.

A educação não existe isolada da sociedade. Faz parte dela, compartilha seus conflitos e contradições. Isso pode ser nota-do nas “sociedades primitivas”, sem divisão de classes, nas quais a educação realizava-se simul-tânea à produção da vida; nas sociedades de classe escravista e feudal, promotoras da divisão entre educação para a classe dominante, voltada à formação para gestão e dominação social, e para a classe dominada, ainda identificada ao processo produ-tivo; e na sociedade capitalista, cuja educação formal gene-ralizada torna-se responsável pela formação de indivíduos adequados à reprodução do sistema, seja em relação aos requisitos técnicos necessários (alfabetização, formação téc-nica para maquinaria), seja em termos ideológicos, relativos à aceitação e concordância indi-vidual do sistema social.

Assim, a concepção edu-

cacional vigente vincula-se à sociedade atual. Atende neces-sidades do capitalismo em crise (estrutural) e sua corresponden-te política neoliberal (mínimo investimento estatal em serviços sociais), pois busca: 1) formar indivíduos com habilidades e competências capazes de adequá-los às mais variadas e instáveis situações, desde diver-sidade e intensidade de tarefas no emprego, até sobreviver em condições de precariedade, desemprego, miséria, tornando a formação qualificada desne-cessária - e inconveniente – para a maior parte da população; 2) deslocar recursos e serviços pú-blicos às empresas via isenções, empréstimos, obras de interesse empresarial, parcerias público--privadas, privatizações.

Os resultados são: educação voltada aos interesses do merca-do, hierarquizada, estratificada e precarizada, pois forma, em sua maioria, força de trabalho

precária e instável, e cumpre papel de contenção de proble-mas sociais (miséria, violência, drogas), tornando a educação de qualidade monopólio de escolas privadas, de poucos que podem pagar (que, assim, reservam-se postos de trabalho mais qualifi-cados); intensificação do traba-lho, cobrança e precarização de professores e alunos (políticas de bônus, mérito, contratação precária, avaliações de desem-penho), numa lógica de inves-timento mínimo e cobrança máxima, responsabilizando-os pelos problemas educacionais, justificativa ideológica para não investimento em condições es-truturais; degeneração crescente de parcelas da população, pela ausência de educação qualifica-da, mantendo e aprofundando a precariedade, desigualdade e caos social prevalecentes.

Necessidade de contra-posição e de outro projeto educacional/social

Nota-se que o projeto educa-cional vigente serve às empre-sas, ao capital, cada vez mais contrário às necessidades dos trabalhadores, da sociedade, do ser humano. Não por acaso, em vários lugares do mundo, so-mam-se movimentos contra este projeto neoliberal de educação, em defesa de educação pública de qualidade. Contudo, a edu-cação formal serve, sobretudo, à manutenção do sistema capi-talista, e não pode realizar, por si só, quaisquer transformações significativas. Assim, a busca de outro projeto educacional de-manda, ao mesmo tempo, a luta por outro modo de organização social. A contraposição a esta lógica educacional deve aliar-se

a uma perspectiva mais ampla, de um projeto social voltado a satisfação de interesses sociais e humanos, não mercadológicos, empresariais, capitalistas, pro-jeto este que demanda, por sua vez, uma sociedade baseada na auto-organização e autodetermi-nação coletiva dos indivíduos, no controle social da produção da vida. Para isso, a educação – não só formal – deve assumir dupla função transformadora: 1) formar indivíduos autodeter-minados; 2) buscar estratégias adequadas de transformação social. Isso torna-se imperati-vo, pois o capitalismo atual em crise estrutural compromete cada vez mais a existência dos trabalhadores, da sociedade, do meio-ambiente. É a própria sobrevivência da humanidade em questão. Portanto, cabe a todos nós assumirmos esse “de-safio e fardo” do nosso “tempo histórico”!

Para Ler:Frigotto Gaudêncio; Ciavatta,

Maria. “Educação básica no Brasil na década de 1990: subordinação ativa e consentida à lógica do mercado”. Revista Educação e Sociedade, Cam-pinas, vol. 24, n 82, p. 93-130, abril 2003. Disponível em: www.scielo.br;

Saviani, Dermeval. “Trabalho e educação: fundamentos ontológicos e históricos”. Revista Brasileira de Educação, v. 12, n° 34. Disponível em: www.scielo.br;

Duarte, Newton. “As pedagogias do ‘aprender a aprender’ e algumas ilusões da assim chamada socie-dade do conhecimento”. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, nº 18. Disponível em: www.anped.org.br;

Mészáros, István. “A educação para além do capital”. In: O Desafio e o Fardo do Tempo Histórico. São Paulo: Boitempo, 2007.

Escola Elementar Gambela, na Etiópia. Foto: Julian Germain

Jornal de Ciências Sociais - nº 4 novembro de 201212 www.colegiadosociais.com

Vida AcadêmicaNa FSA, alunos podem estudar sem custos

Estudantes cujos cur-sos proporcionam diploma de licen-

ciatura, como é o caso das Ciências Sociais e da Ge-ografia na Fundação Santo André, podem ingressar na vida acadêmica sem que isso lhes pese no bolso. Por meio do Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), programa do Ministério da Educação (MEC) destinado ao finan-ciamento estudantil de nível superior, o aluno pode optar em quitar integralmente a dívida por meio da atuação como professor na rede pú-blica de ensino.

Cada mês trabalhado em regime de 20 horas semanais abate 1% do débito, sem qualquer desconto no salário. Caso o estudante atue em es-colas públicas no decorrer da graduação, o tempo é conta-bilizado a partir do momento que a atuação como docente é comprovada.

O estudante de cursos da Fundação Santo André que proporcionam diploma de licenciatura, como é o caso das Ciências Sociais e da

Geografia, também não ne-cessitará de fiador para se inscrever no FIES, já que o Centro Universitário aderiu ao Fundo de Garantia de Operações de Crédito Edu-cativo.

O abatimento das mensa-lidades pagas com recursos do Fies foi regulamentado em portaria normativa e publicada no Diário Oficial da União em 3 de março de 2011. O sistema pode ser usado pelo professor que faz a primeira ou a segunda licenciatura, desde que não tenha usado o financiamento do Fies em cursos de gradu-ação anteriores.

Para exigir o benefício, o docente ou estudante deve acessar o portal www.fnde.gov.br, do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Edu-cação (FNDE) e formalizar o pedido por meio do link do FIES, localizado no can-to esquerdo da página; os candidatos da FSA deverão encaminhar a documentação necessária ao setor de Servi-ço Social da Fundação André para dar início ao processo.

Sociologia no ensino médio

No Grupo de Trabalho “A prática docente de So-ciologia no Ensino Médio” sob coordenação dos profs. Carlos César Almendra e Terezinha Ferrari, foram discutidas as condições atu-ais desta disciplina na rede de ensino no que tange aos programas curriculares; a ampliação de uma para duas aulas semanais de Sociologia nos três anos letivos; a po-breza qualitativa e quantita-tiva das apostilas oficiais; as temáticas desenvolvidas nas aulas; as possibilidades de novos temas a serem abor-dados diante da amplitude de opções que os PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais) oferecem.

Convidado para participar do Grupo como expositor, Marcelo Coelho, ex-aluno do curso de Ciências Sociais da Fundação Santo André, advertiu que na rede estadu-al, onde leciona, não existe uma discussão sistematiza-da entre os professores de Sociologia acerca dessas temáticas e sobre a produção de material didático; também não há encontros regionais desses profissionais do ensi-no, enquanto os professores de Filosofia já têm uma dis-cussão acumulada e já con-quistaram, por intermédio da APEOESP, abono de ponto para reuniões regionais. O Grupo de Trabalho entende que cabe aos professores de Sociologia se organizar para discutir aqueles temas, e que o curso de Ciências Sociais da Fundação Santo André, sendo o único de região que oferece ao mes-mo tempo a Licenciatura e o Bacharelado, poderia colaborar, em parceria com a APEOESP, para a realiza-ção destes propósitos.

Visita à Escola Nacional Florestan Fernandes

No dia 22 de setembro os estudantes do CUFSA parti-ciparam de um trabalho de campo em Guararema – São Paulo, coma visita à Escola Nacional Florestan Fernan-des (ENFF), do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), sob a orientação da profª. Marineide do Lago Salvador dos Santos. Para a turma do 4º ano de Ciências Sociais tratou-se da conti-nuidade dos estudos sobre a questão agrária e os movi-mentos sociais no Brasil, rea-lizados no ano anterior. Ago-ra a atenção voltou-se para a temática educacional no âmbito do movimento, sen-do a ENFF responsável pela formação dos professores. Para a turma da Pedagogia, o destaque é para a educa-

ção formal e não-formal nos movimentos sociais e através dos movimentos sociais. O MST estabeleceu como princípio básico a pedagogia da alternância, pelo qual a formação dos educadores e a vivência educacional das comunidades estão em relação dialética. A ENFF tem compromisso internacio-nalista, acolhendo também formadores originários de outros países, com os quais há afinidades de propósitos.

A escola homenageia o so-ciólogo Florestan Fernandes, considerado o fundador da sociologia no Brasil e que, por sua vida, obra acadêmica, participação política, inspira aqueles que desejam e se empenham pela construção de uma sociedade mais justa.

PIBID eleva o nível do ensinoO Programa Institucional de

Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) é um programa que oferece bolsa para estudan-tes de cursos de licenciatura, com objetivo de investir na valorização do magistério por meio do contato com a prática escolar dos educadores, ainda no momento de sua formação. Na Fundação Santo André, a atividade também ocorre e tem dado resultados.

Podem participar do projeto tanto estudantes cursando a graduação, quanto professores da rede. No primeiro caso, o auxílio financeiro é de R$ 400, no segundo (função de supervisor), R$ 765. Para os alunos, uma das vantagens é poder arcar com grande parte da mensalidade, por até dois anos.

De acordo com Carlos César Almendra, coordenador da subárea de sociologia na Funda-ção Santo André (FSA), desde o primeiro semestre o estudante

já pode participar do projeto. Uma das vantagens, inclusive, é a possibilidade do participan-te dispor de tempo para elabo-rar as atividades propostas pelo programa. “Um bolsista pode fazer uma oficina, por exemplo, após um bimestre. Ele pode ficar lá assistindo, se preparan-do, lendo textos indicados pelo supervisor”, explica César.

Ivan Cotrim, também coor-denador pela FSA, destaca que “é importante para o aluno essa formação, esse contato. Além de existir as bolsas, ele passa a ter uma noção de educação melhor, fica mais preparado para a docência”.

Idealizado pela Capes, o programa procura integrar, de maneira dinâmica, os futuros professores no processo coti-diano da educação pública, para que possam antever o potencial existente e extrair dele as pos-sibilidades de orientação para seu desenvolvimento.