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Nº 103 SETEMBRO de 2012 Distribuição gratuita aos sócios STAL STAL O STAL reafirma a urgência de uma mudança de políticas a favor de quem trabalha e apela aos trabalhadores para que intensifiquem a luta contra os ataques sistemáticos aos direitos laborais, aos serviços públicos e à democracia. Pág. 2-3 Conferência do STAL Poder Local ameaçado O STAL realiza a 20 de Setembro, em Lisboa, uma conferência sob o lema «Impactos das políticas neoliberais no Poder Local». Centrais Formação Profissional Inscreve-te já! O programa de formação do STAL foi finalmente aprova- do, mas as acções têm de decorrer até final do ano, daí a urgência das inscri- ções. Pág. 14 Contra o desemprego Marcha nacional A CGTP-IN promove entre os dias 5 e 13 de Outubro uma marcha que parte em simultâneo das cidades de Braga e de Faro e terminará em Lisboa. Acção enérgica Trabalhadores respondem com luta à ofensiva anti-social 29 de Set. Todos a Lisboa Todos ao T. Paço

Jornal N.º 103

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Jornal do STAL - N.º 103

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nº 103 • SETEMBRO de 2012Distribuição gratuita aos sócios

STALSTALO STAL reafirma a urgência de uma mudança de políticas a favor de quem trabalha e apela aos trabalhadores para que intensifiquem a luta contra os ataques sistemáticos aos direitos laborais, aos serviços públicos e à democracia. Pág. 2-3

Conferência do STALPoder Local ameaçadoO STAL realiza a 20 de Setembro, em Lisboa, uma conferência sob o lema «Impactos das políticas neoliberais no Poder Local». Centrais

Formação ProfissionalInscreve-te já!O programa de formação do STAL foi finalmente aprova-do, mas as acções têm de decorrer até final do ano, daí a urgência das inscri-ções. Pág. 14

Contra o desempregoMarcha nacionalA CGTP-IN promove entre os dias 5 e 13 de Outubro uma marcha que parte em simultâneo das cidades de Braga e de Faro e terminará em Lisboa.

Acção enérgicaTrabalhadores respondem

com luta à ofensiva anti-social

29 de Set.Todos a Lisboa

Todos ao T. Paço

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SETEMBRO 20122 jornal do STAL

Responder com lutaOfensiva destruidora asfixia trabalhadores e ameaça futuro do País

A Comissão Executiva da Direcção Nacional do STAL reafirma a urgência de uma mudança de políticas a favor de quem trabalha e apela aos trabalhadores para que intensifiquem a luta contra os ataques sistemáticos aos direitos laborais e aos serviços públicos e «se unam neste combate tão difícil quanto necessário hoje na sociedade portuguesa.»

Reunida na primeira sema-na de Setembro, num mo-mento em que os repre-

sentantes da troika estrangeira procediam à quinta avaliação do programa de austeridade impos-to ao País, a Comissão Executiva da Direcção Nacional do STAL sa-lientou que não podem restar dú-vidas de que «as medidas de aus-teridade levadas a cabo pelo Go-verno não resolvem os problemas provocados pela crise, antes os agravam». Mas enquanto o País definha a olhos vistos, o desem-prego e a pobreza alastram e a democracia se degrada, o grande capital ganha terreno, aumentam as grandes fortunas e agrava-se a exploração.

este é o sector da Administração Pública coma a média salarial mais baixa, seja porque o Poder Local Democrático e os serviços públi-cos são alvo de um fortíssimo ata-que, de que constitui exemplo mais recente o Regime Jurídico da Acti-vidade Empresarial e das Participa-ções Locais, cuja aplicação poderá levar à extinção de centenas de empresas municipais, à privatiza-ção dos serviços que prestam e ao despedimento de milhares de tra-balhadores.

Neste quadro, a Comissão Exe-cutiva da Direcção Nacional do STAL considera que é fundamental aumentar a resistência e a luta dos trabalhadores, particularmente:

– Contra a aplicação das normas gravosas do Código do Trabalho, vergonhosamente subscrito pela UGT, fazendo valer nos locais de trabalho os direitos conquistados e defendendo os conteúdos das convenções colectivas em vigor. O STAL lembra, nesse sentido, que «um conjunto de matérias como a adaptabilidade dos horários de tra-balho ou a diminuição do valor do trabalho extraordinário não cons-tituem imperatividade nas empre-sas privadas e concessionárias de serviços públicos locais, pelo que é fundamental organizar e ampliar a resistência dos trabalhadores nos locais de trabalho contra a aplica-

ção abusiva de quaisquer medidas nesse sentido.

– Contra a regulamentação des-tas normas para a Administração Pública e a sua introdução nas au-tarquias locais.

– Em defesa da Proposta Rei-vindicativa Comum aprovada na Cimeira de Sindicatos da Adminis-tração Pública, pelo emprego, pelos direitos, pela recuperação do poder de compra perdido pelos trabalha-dores.

– Contra a destruição do Poder Local Democrático e a extinção de freguesias.

– Contra a aplicação do Regime Jurídico da Actividade Empresarial e das Participações Locais, a priva-tização de serviços públicos locais e o despedimento dos trabalhado-res que aí prestam serviço. O STAL considera neste aspecto que, inde-pendentemente do caminho que a lei tomar, é fundamental que sejam levadas a cabo medidas legislati-vas extraordinárias que permitam a integração dos trabalhadores nos mapas de pessoal das autarquias em caso de remunicipalização dos serviços.

– Pela reposição dos valores reti-rados nos salários e nos subsídios, contra o roubo do subsídio de Na-tal deste ano, medida que o próprio Tribunal Constitucional considerou ilegal e ilegítima.

Protesto permanenteLogo depois da grande manifestação da

Administração Local de 6 de Junho, milha-res de trabalhadores participaram, 9 de Ju-nho, numa grandioso desfile no Porto, en-tre a Boavista e S. Bento, convocado pela CGTP em defesa de uma nova política para o país.

Em 16 de Junho, nova manifestação da CGTP-IN, desta vez em Lisboa juntou mi-lhares pessoas.

Em 5 de Julho, o Plenário da CGTP-IN reuniu cerca de mil sindicalistas que deci-diram convocar uma quinzena de esclare-cimento e mobilização nos locais de traba-lho, entre 9 e 20 de Julho, e intensificar o combate aos ataques do Governo, dos pa-trões e da troika. No final os participantes desfilaram até à Assembleia da República.

No dia 20 de Julho, dezenas de dirigen-tes sindicais do STAL concentraram-se frente ao Tribunal Constitucional, onde entregaram uma Carta Aberta censurando aquele órgão por ter sancionado os roubos nos subsídios de férias e de Natal em 2012, apesar reconhecer a inconstitucionalidade de tais medidas.

No dia 26 de Julho, a Frente Comum orga-nizou um protesto no Terreiro do Paço a que chamou «A praia do nosso descontentamen-to», na qual participaram cerca de uma cen-tena de activistas sindicais. Caricaturas de Passos Coelho e de vários ministros senta-dos à volta de uma piscina foi o cenário mon-tado frente ao Ministério das Finanças, para condenar o corte nos subsídios de férias.

Acções marcadas

O Sindicato marcou para 26 de Setembro uma vigília e apelo à participação no pro-testo da CGTP-IN, dia 29 de Setembro, no Terreiro do Paço junto à residência oficial do primeiro-ministro.

Para 15 de Outubro está previsto o início de uma caravana de protesto que percorrerá todo o País até Novembro com iniciativas e contactos com as populações e os trabalha-dores.

Os trabalhadores da Administração Local terão ainda uma forte presença na Marcha Contra o Desemprego, organizada pela CGTP-IN entre 5 e 13 de Outubro.

A resolução aprovada sublinha que os trabalhadores da Adminis-tração Local sofrem com particular gravidade os efeitos nefastos das políticas de direita, seja porque

Frente ao Tribunal Constitucional, o STAL condenou a duplicidade daquele órgão ao permitir o roubo dos subsídios este ano

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SETEMBRO 2012 3jornal do STAL

Na «praia do descontentamento», os trabalhadores denunciaram o corte do subsídio de férias

Editorial

Nas mãos do capital

Do aumento do custo de vida ao encerramento de escolas e estabelecimentos de saúde, da

degradação dos salários ao agravamento dos impostos, da retirada de direitos ao roubo dos subsídios de férias e de Natal, da diminuição do valor do trabalho extraordinário à precarização das relações laborais, da mobilidade forçada à destruição do Poder Local e à extinção de freguesias, o cardápio de malfeitorias contra os trabalhadores e as populações avoluma-se e atinge proporções inimagináveis para muitos até há bem pouco tempo.

Apresentada como consequência inevitável da profunda crise que o sistema capitalista atravessa

a nível mundial, sem paralelo desde o pós-guerra, no bojo desta ofensiva em Portugal está o velho objectivo da burguesia de fazer um ajuste de contas com o 25 de Abril e as suas conquistas, restaurando o domínio absoluto do grande capital monopolista, agravando brutalmente a exploração dos trabalhadores e completando o processo de destruição e privatização de serviços públicos essenciais. Que se desenganem aqueles que ainda se deixam levar pelas patranhas de jornalistas, economistas, politólogos, sociólogos e outros que tais feitos comentadores de ocasião (e de serviço) nos órgãos de comunicação social, pois os sacrifícios impostos ao povo português não se destinam de forma alguma a combater a crise, mas sim a servir os interesses dos poderosos e a sua infinita gula lucrativa.

Nesta cruzada contra os trabalhadores, os serviços públicos e a própria democracia, o capital

não conta apenas com o triângulo composto por Cavaco Silva, pelo Governo de Passos Coelho/Paulo Portas e pela maioria parlamentar PSD/CDS-PP. Nesta contenda, o poder judicial, particularmente o Tribunal Constitucional, revela cada vez mais o seu claro posicionamento de classe, não hesitando em «suspender» a Constituição da República Portuguesa para se colocar ao serviço dos grandes interesses financeiros e do patronato. Talvez nem mesmo Sá Carneiro sonhasse ser possível no Portugal de Abril amarrar tão explicitamente o poder judicial à sua conhecida fórmula de «uma maioria, um governo e um presidente», objectivo que a direita revanchista precisou mais de 30 anos de contra-revolução para realizar.

E o resultado dessa política restauracionista, seguida implacavelmente e sem distinção pelos sucessivos

governos (do PSD e do PS, com e sem CDS-PP), é a dura e espinhosa realidade que o povo português em geral tem experimentado, sofrendo hoje com especial agudeza as consequências da entrega das principais alavancas da economia ao grande capital, nacional e estrangeiro, as quais lhe permitem em simultâneo manipular a seu bel-prazer os órgãos de soberania e as suas instituições, incluindo o poder judicial.

Resistir e lutar é pois a palavra de ordem que se coloca a todos os trabalhadores e às amplas

camadas da população, que são hoje alvo de um sinistro processo de espoliação e empobrecimento. Resistir à ofensiva do grande capital e lutar por uma mudança a favor de quem trabalha, pelo desenvolvimento e progresso económico e social, rumo a uma sociedade mais justa e igual.

Pelo aumento mínimo de 49 euros

Valores roubados devem ser devolvidos

A Cimeira da Frente Comum de Sindicatos da Administração Públi-ca aprovou, em 4 de Setembro, a Proposta Reivindicativa Comum para 2013 (disponível integralmen-te em www.stal.pt), na qual exige, entre outras matérias, uma actu-alização mínima de 47 euros para cada trabalhador, a devolução dos valores roubados nos salários, sub-sídios e pensões em 2011 e 2012, a reposição dos direitos retirados aos trabalhadores da Administração Pública e a integração dos traba-lhadores precários nos quadros de pessoal.

No documento, que esteve previa-mente em discussão junto dos traba-lhadores, a Frente Comum afirma que «o actual Governo PSD/CDS resolveu implementar um chamado Programa de Redução e Melhoramento da Ad-ministração Central (PREMAC) que, no aprofundamento do anterior Plano de Reestruturação da Administração Central do Estado (PRACE), preten-de pôr fim à prestação de serviços públicos essenciais às populações, subvertendo a matriz constitucional da Administração Pública e atacando brutalmente os direitos e salários dos seus trabalhadores.»

Os sindicatos alertam que Gover-no pretende impor aos trabalhado-res da Administração Pública mais duas horas de trabalho diário e duas por semana, através do banco da adaptabilidade e do banco de ho-ras, a mobilidade forçada, os des-

pedimentos por extinção do posto de trabalho, sem direito a subsídio de desemprego, a redução brutal das compensações por caducidade de contrato, a diminuição para me-tade do valor do trabalho extraordi-nário e a extinção de quatro feria-dos mais o dia de Carnaval, em que tradicionalmente não se trabalhava.

Ao mesmo tempo, para além da devolução dos valores roubados nos salários, subsídios e pensões em 2011 e 2012, a Frente Comum exige uma actualização remunera-tória que permita compensar o au-mento brutal do custo de vida, bem

como a actualização do subsídio de refeição para 6,50 euros, a fixação da pensão de sobrevivência em 65 por cento da pensão do cônjuge falecido e a actualização das res-tantes prestações pecuniárias na percentagem do valor da inflação.

Só entre Janeiro e Março verifica-ram-se aumentos de todos os ser-viços e produtos essenciais, de que são exemplo a electricidade (24,4%), o gás (13,7%), as taxas moderado-ras (104% em média), os serviços hospitalares (20,8%), os transportes combinados de passageiros (24,6%) e a alimentação (10%).

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SETEMBRO 20124 jornal do STAL

Consultório Jurídico ✓ José Torres

Apesar das funções atribu-ídas por lei às Comissões Paritárias (artigo 22.º do D.

Regulamentar 18/2009, de 4/9) serem de natureza meramente consultiva, estes órgãos têm-se distinguido pela eficácia da inter-venção, que, em muitos casos, tem dado um contributo assinalá-vel para o deferimento das preten-sões dos trabalhadores.

De facto, a intervenção das Co-missões Paritárias, compostas em igual número por representantes dos trabalhadores e da Adminis-tração, pode ser decisiva para o correcto desenvolvimento dos pro-cessos de avaliação, constituindo deste modo mais um instrumento de defesa dos trabalhadores.

Por isso, contrariando a tendên-

cia errónea de alguns trabalhado-res para subestimar o seu papel, o STAL tem insistido na necessi-dade de exigir a eleição das Co-missões Paritárias, cuja realização está dependente de despacho do dirigente máximo do serviço, ca-bendo aos trabalhadores eleger, por escrutínio secreto, dois vogais efectivos e quatro suplentes, para um mandato de dois anos.

Intervenção garantida

A este propósito, lembramos que o trabalhador avaliado, após tomar conhecimento da proposta de ava-liação, pode requerer, de forma de-vidamente fundamentada, no prazo de dez dias úteis, ao dirigente máxi-mo do serviço, que o processo seja objecto de avaliação por parte da Comissão Paritária (n.ºs 1 e 2 do art. 70.º da Lei 66-b/2007, de 28/12).

A mesma lei impõe (artigo 70.º, n.ºs 3 e 4) que a audição da Co-

missão não pode em caso algum ser recusada, podendo esta so-licitar ao avaliador, ao avaliado ou ao Conselho Coordenador de Avaliação os elementos que julgar convenientes para o seu esclare-cimento, bem como convidar o avaliador e o avaliado a exporem a sua posição, em entrevista apra-zada para esse efeito

Posto isto, a Comissão deverá elaborar o seu relatório, no prazo

de dez dias úteis, contados a par-tir da data em que haja sido soli-citada a sua intervenção, e apre-sentar uma proposta de avaliação consensual ou, não havendo con-senso, propostas alternativas e respectiva fundamentação.

Como se constata, o papel das Comissões Paritárias, ainda que de natureza consultiva, não é me-ramente decorativo, bem pelo con-trário. Se assumido com a serieda-de e o sentido de rigor jurídico e de justiça que naturalmente se exige, poderá resolver, logo à partida, um substancial conjunto de incorrec-ções, sejam de natureza formal, sejam de natureza substancial.

É pois do interesse dos traba-lhadores que estes órgãos sejam instituídos em todas as entidades e reforçados com representantes vocacionados para esta matéria e que melhores garantias ofereçam de pugnarem por avaliações rigo-rosas, isentas e justas.

Comissões paritárias

Exercer um direitoNo próximo mês de Dezembro, os trabalhadores têm oportunidade de eleger os seus representantes para as comissões paritárias, cujos mandatos de dois anos estão a chegar ao fim, ou, nos casos em que ainda não existam, de constituir estes órgãos que têm um papel importante no âmbito dos processos de avaliação do desempenho.

«Os novos escravos»«Também nos últimos dias ficamos a saber em que consistiam as medidas de apoio ao emprego jovem incluídas no programa Impulso Jovem, criado pelo Governo. Essas medidas consistem em subsídios dados às empresas que empreguem jovens desempregados há mais de um ano e com menos de 30 anos de idade. Os subsídios são pagos durante os primeiros 18 meses de vigência dos contratos de trabalho, sendo os benefícios máximos para salários até aos 980 euros (para contratos a prazo) e até aos 735 euros (para contratos sem termo). O que este sistema de incentivos diz às empresas é simples: contratem jovens até aos 30 anos, contratem-nos por prazos não superiores a 18 meses, paguem-lhes salários baixos, de forma a maximizar os vossos reembolsos de TSU (taxa social única). E, naturalmente, este incentivo à precariedade e aos baixos salários é financiado pelos nossos impostos.»

José Vítor MalheirosPúblico, 7/08

«Às portas do trabalho escravo»«O princípio é este: de cada um segundo as suas capacidades até à exaustão; a cada um segundo a sua subserviência devota ao capital. Eis o sonho colorido do liberalismo radical: o regresso do trabalho escravo.»

Elísio EstanquePúblico, 6/08

«Em defesa das freguesias urbanas»«Fora das cidades, dizem, as freguesias têm sentido e fazem muita falta; nas cidades, não são precisas. Temos uma opinião diferente que parte de uma concepção global de freguesia. Esta é, excepto nos poucos municípios que têm apenas uma, a entidade político-administrativa mais próxima dos cidadãos e assim em condições de estabelecer com estes uma relação muito particular. (…) Extingam-se as freguesias urbanas e serão necessários serviços desconcentrados dos municípios com pessoal nomeado pelas câmaras. É esta a escolha que importa fazer: estruturas eleitas próximas dos cidadãos e representativas destes ou estruturas nomeadas. É ainda um problema de democracia que está em causa. A experiência de outros países mostra-nos que para o bom governo das cidades, se recorre à desconcentração territorial dos serviços, havendo diversas formas de a concretizar algumas próximas já da descentralização democrática. Nós, em Portugal, não precisamos de inventar nada nesse domínio. Temos as freguesias.»

António Cândido de OliveiraPúblico, 7/08

Para pior…já basta assim!

O Ministério Público ordenou o arquivamento do processo, desencadeado pela Inspecção-Geral Admi-nistração Local (IGAL), que pretendia a anulação das progressões remuneratórias atribuídas pela Câmara de Grândola a 179 trabalhadores, em 2009 e 2010, ao abrigo da chamada «opção gestionária».

Contrariando a interpretação da IGAL, a procuradoria considerou que não houve «desvio da lei» nos actos em causa, segundo declarou à imprensa, dia 13 de Julho, o presidente da autarquia alentejana, Carlos Beato, eleito como independente pelo PS.

O edil lembrou que caso fosse declarada a nulidade das referidas alterações da posição remuneratória, os trabalhadores teriam de devolver os acréscimos salariais à autarquia, no valor global de cerca de 150 mil euros.

Convicto de que tudo foi feito no rigoroso cumprimen-to da lei, Carlos Beato não acatou o parecer da IGAL, sublinhando que «só admitiria que se pusesse a questão da reposição das verbas se o tribunal o decretasse, ao contrário de outras entidades e pessoas, que mandaram logo os trabalhadores devolverem o dinheiro», afirmou, congratulando-se com a decisão da justiça.

GrândolaProgressões respeitam a lei

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SETEMBRO 2012 5jornal do STAL

A Câmara afirma que o acordo, válido por dois anos, permi-tirá garantir a sustentabili-

dade económica e a viabilidade fi-nanceira do serviço de transportes urbanos, hoje assegurado pela Mo-veaveiro, empresa que registou no ano passado um prejuízo de 1,4 mi-lhões de euros, cujos capitais pró-prios negativos são superiores a um milhão de euros, e que a autarquia pretende extinguir posteriormente.

O STAL nota que a concessão privará a Moveaveiro dos percursos mais rentáveis, que representam mais de metade do serviço da em-presa, o que apenas poderá agravar a sua situação financeira.

A isto acresce a intenção da Câ-mara de concessionar o estaciona-mento tarifado, bem como o trans-porte fluvial, medidas que igualmen-

te se traduzirão numa redução da re-ceita e terão reflexos económicos e sociais negativos para a população.

Por outro lado, a decisão da maioria PSD/CDS-PP põe em risco cerca de 150 postos de trabalho, ameaçando lançar no desemprego os trabalhadores com vínculo pri-vado e na mobilidade aqueles que pertencem aos quadros da câmara.

A própria autarquia admite impli-citamente a eliminação de postos de trabalho, ao afirmar no memo-rando que a concessão das carrei-ras permitirá no imediato uma «re-dução dos custos salariais mensais directos estimada em 12,5%».

Pela gestão municipal

Numa carta aberta, de 15 de Agosto, dirigida ao presidente da

autarquia aveirense, o STAL recor-da que «sempre foi desfavorável à criação de empresas municipais», sublinhando que «os apregoados benefícios para os utentes e os tra-balhadores que resultariam da cria-ção da Moveaveiro, não só não se verificaram, como pelo contrário, resultaram numa crescente inca-pacidade para promover uma po-lítica integrada de transportes, na degradação dos serviços e redução da oferta que é cada vez mais in-suficiente, culminando numa grave situação económica e financeira».

O Sindicato defende que a solu-ção para a Moveaveiro passa pela gestão pública municipal, reiteran-do a posição transmitida ao pre-sidente da autarquia, em reunião realizada dia 13 de Agosto, de que «o caminho não é “atirar a carga ao

mar”», ou seja, o desmantelamento da empresa e a sua entrega a reta-lho aos interesses privados.

Tal opção criará mais desempre-go, piores serviços, preços mais elevados e desigualdades entre utentes, acarretando gravíssimos impactos para a vida da comunida-de aveirense.

Moveaveiro com futuro ameaçado

Câmara concessiona carreiras rentáveis

A Câmara de Aveiro aprovou, dia 16, um memorando de entendimento com várias empresas do grupo Transdev, que prevê a suspensão da actividade da Moveaveiro nos percursos cobertos pelos operadores privados.

Os trabalhadores da Moveaveiro contestam a concessão de metade do serviço da empresa

A Comissão Sindical da empresa municipal de Sintra EDUCA repu-dia o plano de reordenamento da rede educativa, considerando que se trata de uma «inaceitável revira-volta» na política da autarquia, que prejudica a população e os traba-lhadores.

Em comunicado distribuído à po-pulação, entre outros locais, na Praia das Maçãs, Praia Grande, Praia do Magoito e S. Julião e ainda no Mer-cado Municipal do Cacém, aquela estrutura sindical recorda que, ain-da há um ano, a Câmara Municipal de Sintra manifestou-se totalmente contra a constituição dos chamados «mega agrupamentos» escolares.

Agora, inesperadamente, o execu-tivo municipal muda diametralmente de posição, pondo em risco o bom funcionamento do sistema educati-vo no concelho e lançando na incer-teza os trabalhadores da empresa municipal EDUCA, que será extinta por esvaziamento de funções.

Segundo refere a Comissão Sin-dical do STAL, a intenção da Câma-

ra é «colocar na esfera de decisão dos directores dos “mega agrupa-mentos” competências próprias da autarquia e funções da empresa municipal EDUCA», nomeadamente a gestão dos refeitórios escolares de 1.º ciclo ou transportes escola-res, hoje assegurados pela empresa municipal.

A Comissão Sindical comunicou as suas preocupações ao presiden-te da autarquia, obtendo deste a garantia de que não haverá despe-

dimentos na EDUCA. Todavia, no-tando que «mais do que intenções importam as acções», o STAL alerta que as políticas do Governo, nas quais se insere a criação dos «mega agrupamentos», têm como propó-sito entregar os serviços públicos locais ao sector privado, e «se a au-tarquia privatizar os serviços, quem acredita que quererá integrar nos seus mapas de pessoal os traba-lhadores das empresas municipais, qualquer que seja o seu vínculo?»

O STAL e a administração da HPEM–Sintra assina-ram, em 30 de Julho, a renovação da do acordo de empresa, que concilia a legislação da Administração Pública com o código de trabalho e tem como princípio subjacente a harmonização de direitos entre trabalha-dores com vínculo público e os do regime privado.

Concluído após um período extenso de negociação entre as partes, sempre acompanhada e discutida pe-los trabalhadores nos plenários realizados pela estrutura sindical do STAL, o novo documento é visto pelo Sindi-cato como «um importante contributo para a melhoria da prestação do serviço público de higiene urbana, ten-do inegáveis benefícios para a autarquia, para os traba-lhadores e para a própria população do concelho».

Na assinatura estiveram presentes, em representa-ção do STAL, o seu presidente Francisco Braz e a coor-denadora da Direcção Regional de Lisboa, Isabel Rosa, e, em representação da empresa, o presidente do Con-selho de Administração e edil do município, Fernando Seara, e o administrador executivo, Nuno Abreu.

O STAL realça que a assinatura deste acordo de em-presa assume particular importância num momento em que se assiste ao maior ataque aos direitos trabalhado-res desde o 25 de Abril de 1974.

HPEM – Sintra

Acordo garante direitos

Mega agrupamentos escolares

Mau modelo ameaça postos de trabalho

A reorganização da rede educativa em Sintra esvazia de funções a empresa municipal EDUCA

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SETEMBRO 20126 jornal do STAL

Procedimentos abusivos e ilegais

Concessionárias atacam vínculo público

A pretexto de um parecer do Governo sobre o pagamen-to dos subsídios de férias

e de Natal aos trabalhadores em regime de cedência de interes-se público, algumas concessio-nárias dos sistemas de abasteci-mento de água e de saneamento, entre as quais a Águas do Sado e a Águas de Gondomar, tentaram pôr em causa o seu estatuto de origem, pressionando-os a aceita-rem o aumento da sua jornada de trabalho e a diminuição dos dias de férias.

O STAL denunciou de imediato estas tentativas, esclarecendo em comunicado (de 28 de Junho) que estes trabalhadores, estando ao ser-viço de empresas privadas, não são abrangidos pelos cortes salariais ou dos referidos subsídios, impostos no sector do Estado, nem podem ser prejudicados nos direitos inerentes ao seu estatuto de origem.

Pressões inaceitáveis

No caso da Águas do Sado, a ad-ministração chegou mesmo fazer uma proposta para que os trabalha-dores aceitassem a aplicação do re-gime privado, designadamente o au-mento do horário de trabalho de 35 para 40 horas semanais e redução das férias de 25 para 22 dias úteis.

Segundo cálculos do Sindicato, o aumento das horas de trabalho representaria um ganho para a em-presa de 90 euros por mês a que se somam mais 183 euros relativos aos dias de férias perdidos, isto para um

trabalhador que aufere um venci-mento mensal de 683,13 euros.

Ora, o que a empresa ofereceu como contrapartida resume-se a um pequeno aumento do subsídio de al-moço, no valor de 97 cêntimos por dia, ou seja, 21,34 euros mensais. Tal é o montante ridículo com que a Águas do Sado se propõe remunerar 20 horas suplementares de trabalho e três dias a menos de férias.

Em plenário realizado dia 2 de Ju-lho, o STAL aconselhou os 122 os tra-

balhadores com vínculo público (num total de 163) a não assinarem contra-tos individuais, salientando que o ob-jectivo da empresa é reduzir o preço da hora de trabalho para aumentar os lucros. O STAL alerta ainda que um aumento do horário de trabalho leva-ria seguramente ao despedimento de trabalhadores que deixariam de ser necessários à empresa.

A maioria dos municípios do Alto Tâmega, à excepção do concelho de Boticas, rescindiu os contratos de recolha de resíduos sólidos ur-banos com a Resinorte, queixando-se dos elevados preços cobrados pela empresa.

Depois de Chaves, que foi o pri-meiro município a procurar alterna-tivas mais baratas, seguiram-se Vila Pouca de Aguiar e Valpaços, tendo Montalegre e Ribeira de Pena tam-bém admitido um eventual rompi-mento com a Resinorte.

No caso de Chaves, o serviço até já foi adjudicado à empresa Rede Ambiente, colocando de imediato em causa o futuro de dezenas de trabalhadores da Resinorte que até aqui realizam asseguravam a reco-lha no concelho.

Preocupado com a iminente ca-tástrofe que tal significaria para de-zenas de famílias, o STAL reuniu, no início de Junho, com a administra-ção da Resinorte para exigir a sal-vaguarda dos postos de trabalho, tendo sido informado de que nem a autarquia de Chaves nem o novo concessionário tinham acautelado a situação dos trabalhadores.

O Sindicato condena a atitude dis-plicente dos municípios envolvidos e apela à sua responsabilidade social no sentido de envidarem todos os esforços para que os trabalhadores sejam afectados aos novos opera-dores, evitando-se a tragédia de um despedimento colectivo.

A Águas do Sado pressiona os 121 trabalhadores com vínculo público a aceitarem o aumento do horário de trabalho

Aproveitando a maré da crise a ampla ofensiva antilaboral, algumas empresas privadas do sector do ambiente têm tentado retirar direitos e alterar as condições aos trabalhadores que mantêm o vínculo público.

Municípios rescindem com Resinorte Salvar os empregos

Os municípios do Alto Tâmega devem encontrar solução para evitar o despedimento colectivo

Loures Concretizarreivindicações

As comissões sindicais do STAL no município de Loures entregaram, em sessão pública da reunião de Câmara, de 11 de Abril, os cadernos reivindicati-vos dos trabalhadores da Câmara Municipal e Servi-ços Municipalizados.

Ambos os documentos, previamente discutidos e aprovados em plenário, contestam o recurso abu-sivo a empresas externas para a realização de ac-tividade municipais, considerando que tal política põe em causa não só os postos de trabalho como a própria natureza do serviço público.

Os trabalhadores exigem também a definição de objectivos adequados e o cumprimento dos prazos legais no âmbito da avaliação do desempenho (SIA-DAP), um plano de formação que responda às ne-cessidades, bem como a resolução de outras ques-tões relacionadas com a valorização e dignificação profissional.

Durante o mês de Junho, este conjunto de rei-vindicações foi discutido aprofundadamente com o Departamento de Recursos Humanos da Câma-ra Municipal e com o Conselho de Administração dos SMAS. As Comissões Sindicais continuarão a acompanhar o processo com vista a garantir a con-cretização das aspirações dos trabalhadores.

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SETEMBRO 2012 7jornal do STAL

Mais de três centenas e meia de trabalhadores participaram no tra-dicional convívio anual organizado, dia 23 de Julho, pela Direcção Re-gional de Lisboa do STAL.

Desta vez o encontro teve lugar no aprazível Parque Ecológico de Oeiras, onde associados e respecti-vas famílias desfrutaram das zonas verdes, dos petiscos ali prepara-dos, bem como do ambiente festi-vo, animado por música ao vivo que puxou o pezinho para a dança.

Atenta às necessidades dos mais novos, que ali estiveram em gran-

de número, a organização prepa-rou um «Espaço Criança», onde foi possível brincar em segurança, sob o olhar vigilante de dirigentes sindi-cais, que nesse dia fizeram prova de aptidões multifacetadas.

Para saudar os presentes e lem-brar a necessidade de retemperar forças para os duros combates do presente em defesa dos direitos sociais e laborais, intervieram re-presentantes da CGTP-IN e da USL e ainda da Direcção Nacional do STAL, bem como o vice-presidente da autarquia anfitriã da iniciativa.

Centenas de trabalhadores da região de Lisboa participaram no convívio do STAL

Região de Lisboa

Convívio junta trabalhadores

Em luta desde há vários meses pela satisfação de legítimas aspirações, os trabalhadores

da higiene urbana realizaram uma série de greves parciais, entre 11 e 18 de Junho, conseguindo obter o pagamento integral do subsídio noc-turno, com direito a retroactivos, a li-quidação dos valores em dívida refe-rentes a trabalho extraordinário pres-tado em Junho de 2011, bem como o preenchimento das 43 vagas exis-tentes para motoristas.

Todavia, a autarquia continuou a protelar as restantes exigências, de-signadamente o pagamento de 25 por cento sobre o trabalho extraor-dinário nocturno, o suplemento do subsídio de alimentação e as ajudas de custo, apesar de o próprio pre-sidente da Câmara, António Costa, ter assumido compromissos com os sindicatos relativamente a estas ma-térias.

Convictos da justeza das suas exigências, os trabalhadores pros-seguiram a luta sobre diversas for-mas. No dia 27 de Junho, o STAL e o STML (Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa) entregaram uma Carta Aberta ao presidente da Câmara, sublinhando que a falta de vontade política dos responsáveis da autarquia levaria ao prolongamento do conflito.

Uma semana depois, a 2 de Julho, cerca de três centenas de trabalha-dores concentraram-se na Praça do Município e desfilaram até Intenden-te, onde está instalado o gabinete do presidente. Na resolução aprovada insistiram nas suas reivindicações e manifestaram-se dispostos a voltar à greve.

Entretanto, com o claro objectivo de refrear a sua luta, a Câmara optou pela via da intimidação levantando 81 processos disciplinares aos tra-

balhadores que haviam participado numa paragem solidária, em Maio, nas garagens dos Olivais.

Os trabalhadores reagiram de imediato, concentrando-se, a 6 de Agosto, frente ao edifício do Campo Grande, onde reclamaram a anula-ção dos processos instaurados.

Perante a concentração de protesto e já com nova greve marcada às duas últimas horas de cada turno e a todo o trabalho extraordinário, para o perí-odo de 13 a 31 de Agosto, os respon-sáveis autárquicos viram-se forçados a recuar. No próprio dia anunciaram a suspensão das inquirições e mais tarde comunicaram aos sindicatos o arquivamento de todos os processos.

O STAL aguarda o reinício das ne-gociações, reafirmando que as exi-gências dos trabalhadores são justas e exequíveis quer do ponto de vista jurídico quer do ponto de vista orça-mental.

Os trabalhadores da higiene urbana desfilaram, dia 2 de Julho, da Praça do Município para ao Intendente

Higiene urbana de Lisboa

Firmeza e unidade dão frutos Os trabalhadores da higiene urbana da CM de Lisboa obtiveram o compromisso, dia 8 de Agosto, por parte da autarquia, de arquivamento dos 81 processos disciplinares injustamente instaurados, bem como a reabertura do diálogo sobre várias reivindicações do sector.

LourinhãFuncionários para todo o serviço

Os funcionários da Câmara da Lourinhã foram in-cumbidos de limpar os respectivos locais de trabalho e equipamentos, tendo chegado aos diversos departa-mentos panos de pó e produtos de limpeza.

A decisão inédita consta numa circular interna emi-tida, em 18 de Julho, e assinada pelo presidente da autarquia, José Manuel Dias Custódio (PS). Segun-do declarações à imprensa do vereador dos Recur-sos Humanos, José Tomé, trata-se de uma situação temporária resultante da suspensão do contrato com a empresa que assegurava a limpeza das instalações municipais.

Para o STAL a solução encontrada é «no mínimo cari-cata», não sendo aceitável que os trabalhadores sejam obrigados a executar tarefas de limpeza para além das funções que lhe estão atribuídas.

Além de uma «questão de princípio» – os trabalhado-res têm a sua dignidade e não podem ser vistos como pau para toda a obra –, o Sindicato salienta que está também em causa o desempenho profissional pelo qual são avaliados, dado que terão de interromper as suas funções para fazer limpezas, ou então fazer horas extraordinárias para manter as instalações limpas.

Motoristas de pesados Incongruências da lei penalizam pensões

Desde a introdução do chamado «factor de susten-tabilidade» que os motoristas de pesados se sentem gravemente prejudicados no seu direito à aposentação.

O factor de sustentabilidade, introduzido em 2007 (DL 187/2007), assenta no pressuposto de que a es-perança média de vida tem tendência para aumentar, evolução que passou a ser considerada no cálculo do valor da pensão.

Deste modo, para aceder à pensão completa sem penalizações, o trabalhador terá de continuar a vida activa após ter atingido a idade de reforma. Sucede porém que os motoristas de pesados perdem a carta de condução precisamente aos 65 anos e não podem continuar por isso a exercer a sua profissão, ficando impossibilitados de compensar com mais tempo de trabalho a redução da pensão decorrente da aplica-ção do factor de sustentabilidade.

Com vista a corrigir esta gritante injustiça, o STAL, a Federação dos Transportes e Comunicações (FEC-TRANS) e o Sindicato do Município de Lisboa (STML), numa posição conjunta divulgada em 12 de Julho, exi-gem que a lei seja alterada de modo a permitir que o cálculo das pensões destes profissionais não inclua o factor de sustentabilidade.

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8 jornal do STAL/SETEMBRO 2012jornal do STAL/SETEMBRO 2012

A iniciativa, subordinada ao le-ma «Impactos das políticas neoliberais no Poder Local –

Serviços públicos, trabalhadores e democracia, contará com a partici-pação de Arménio Carlos, secretá-rio-geral da CGTP-IN, Avelãs Nunes, especialista em direito, bem como dos antigos eleitos autárquicos, De-métrio Alves, engenheiro, e Abílio Fernandes, economista.

Como se salienta no projecto de documento-base (do qual transcre-vemos de seguida alguns extractos, podendo ser acedido na íntegra em www.stal.pt), o STAL está consciente dos «fortes impactos negativos que o aprofundamento das políticas ne-oliberais está a ter no Poder Local». Por isso, ao organizar a presente conferência, é seu objectivo «contri-buir para o debate e avaliação dos perigos e consequências da actual ofensiva antidemocrática, convicto de que é imperioso cerrar fileiras em torno da defesa do Poder Local, en-quanto pilar da democracia, dos ser-viços públicos, dos interesses dos trabalhadores e das populações».

O documento recorda que «o imenso património construído ao longo das últimas décadas pelo Po-der Local Democrático é em si a de-monstração cabal da sua importân-cia para o desenvolvimento do País».

«Apesar da intensa ofensiva e dos constrangimentos reais que têm limi-tado a autonomia e a acção criadora e dinamizadora das autarquias lo-cais, a elas se devem, essencialmen-te, os enormes progressos no plano económico, social e cultural, que tão fortemente concorreram para a dimi-nuição das assimetrias regionais ao longo das últimas três décadas.»

«Se em alguns concelhos, ainda hoje, as autarquias constituem os principais empregadores, não é me-nos verdade que a sua crescente intervenção não só obrigou à acu-mulação de novos saberes e compe-tências na Administração Local, mas também veio incentivar e impulsio-nar diferentes agentes económicos

locais, com efeitos sensíveis no de-senvolvimento local e no progresso geral do País.»

Uma conquista de Abril

«O que melhor distingue o actu-al Poder Local, como conquista de Abril, é a imensa participação popular na variedade dos seus órgãos, é o seu sistema de eleição directa e propor-cional, são as importantes funções que já desempenham, os recursos a que têm acesso, isto é, a descentra-lização administrativa e a autonomia financeira que, apesar de tudo, foi possível alcançar nos anos seguintes à revolução e que nas últimas déca-das os vários governos, constituídos pelo PS, PSD e CDS, têm por todos os meios procurado aniquilar.

«Como expressão da amplitude da participação popular no Poder Local, cerca de 50 mil portugueses são membros eleitos dos diversos órgãos do Poder Local (assembleias e juntas de 4259 freguesias; assem-bleias e câmaras de 308 municípios).

O Poder Local é uma conquista de Abril como instrumento da melhoria das condições de vida das popu-lações. Não é de mais lembrar, por exemplo, que em 25 de Abril de 1974 havia carência de 700 mil fogos; 57% das habitações não tinham água cor-rente; 68% não tinham casa de ba-nho; 50% não possuíam qualquer sistema de drenagem de esgotos, 36% não tinham energia eléctrica, 87% das sedes de concelho não rea-lizavam o tratamento de águas polu-ídas e de esgotos; muitos concelhos estavam privados de assistência mé-dica; a taxa de analfabetismo atingia os 25,5%; 1500 povoações com mais de 100 habitantes estavam privadas de acessos rodoviários; a população que praticava desporto não atingia 5%, incluindo crianças e jovens; eram necessários infantários para mais de 420 mil crianças e só cerca de 12 mil idosos tinham aces-so aos precários equipamentos de apoio existentes.»

«Foi graças à revolução de 1974 e à Constituição da República, apro-vada em 2 de Abril de 1976, que os trabalhadores das autarquias passa-ram a ser considerados funcionários e agentes do Estado e que as au-tarquias viram criadas as condições para, com os seus próprios recursos humanos e financeiros, intervirem localmente na resolução de muitos dos atrasos seculares de que o nos-so País padecia.»

«Nos anos 80, as autarquias em-pregavam já cerca de 80 mil traba-lhadores, perto de 17% do total dos trabalhadores da Administração Pú-blica, e nos nossos dias empregam 20% desse total, com pouco mais de 122 mil trabalhadores».

«No final dos anos 90, o período de maior crescimento económico, o investimento local chegou a atingir mais de 50% do investimento público total e mesmo agora, em anos de for-

te recessão e de ataque à capacidade de intervenção do Poder Local, o seu peso é ainda de cerca de 30%.»

Um alvo da contra-revolução

«Tal como outras transformações democráticas operadas na sequên-cia da revolução de Abril, desde muito cedo que a autonomia e a democraticidade do Poder Local se

tornaram alvo de ataques por parte dos vários governos.»

«No plano da democraticidade acentuou-se o presidencialismo nos órgãos executivos municipais, em prejuízo da colegialidade, e a sua au-tonomia tem sido cada vez mais co-arctada pelo Poder Central; no plano dos recursos financeiros assistiu-se a uma redução cada vez maior de ver-bas, com o Governo a não cumprir sistematicamente a Lei das Finanças

O Poder Local Democrático e a ofensiva neoliberal

Conferência do STAL analisa impactos políticas destruidoras Os impactos das políticas destruidoras do Governo ao nível dos direitos dos trabalhadores, da qualidade e acesso aos serviços públicos e da acção geral do Poder Local são o tema de uma conferência promovida pelo STAL que terá lugar, dia 20 de Setembro, no auditório do Metropolitano de Lisboa, no Alto dos Moinhos.

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jornal do STAL/SETEMBRO 2012 9jornal do STAL/SETEMBRO 2012

O Poder Local Democrático e a ofensiva neoliberal

Conferência do STAL analisa impactos políticas destruidoras

Locais e a proceder à transferência de competências (desclassificação de estradas, habitação social, escolas, unidades de saúde e pessoal), sem os correspondentes meios financeiros.

Estes sucessivos ataques têm-se traduzido num empobrecimento do carácter democrático do Poder Local, com consequências no esbatimento da participação popular e na identifi-cação e reconhecimento pelas popu-lações do seu papel e importância.»

A campanha contra o Poder Lo-cal tem procurado transmitir a fal-sa ideia de que as autarquias são um sorvedouro de dinheiro públi-co e um exemplo de má-gestão. Todavia, como se demonstra no documento-base da Conferência, «a dívida das autarquias portugue-sas representava em 2011 apenas 3,3% do PIB, enquanto a dívida to-tal do Estado representava 107,8% do PIB.

Por outro lado, enquanto nos pa-íses da União Europeia a dívida pú-blica local e regional contribuiu em média 15,5% para a dívida pública total, no nosso País o seu peso não foi além dos 6%.

Também se ouve com frequência que os funcionários públicos aufe-rem salários mais elevados que no sector privado. Ora, se isso não cor-responde à verdade no que respeita à Administração Pública em geral, no

caso da Administração Local essa falsificação é ainda mais óbvia.

Nas autarquias, lê-se no docu-mento-base, «cerca de 78% dos trabalhadores integram as carreiras profissionais de Assistentes Opera-cionais/Operário/Auxiliar, Assisten-tes Técnicos/Administrativos, Polícia Municipal e Bombeiros, cujas remu-nerações são as mais baixas nas ta-belas remuneratórias da Administra-ção Pública».

Assim, «na Administração Local, o salário base médio em Abril do cor-rente ano situava-se em 914,6 euros, cerca de 60% do salário base médio da Administração Central.»

«A verdade é que os salários são baixos e a quebra no salário real, que se tem vindo a verificar, empurra os salários líquidos de grande parte dos trabalhadores da Administração Lo-cal para níveis ainda mais baixos.

«Os vários cortes salariais e de ho-ras extraordinárias e os congelamen-tos de promoções e progressões na carreira têm levado a que muitos tra-balhadores recebam mensalmente remunerações líquidas inferiores ao salário mínimo nacional e até mesmo ao chamado limiar mínimo de pobre-za, o qual se situava no final de 2009 em 434 euros.»

Um ataque sem precedentes

Entre as alterações legislativas mais perniciosas, o documento base destaca as seguintes:

– O desvirtuamento do regime de aposentação (Lei 60/2005, de 29/12), com gravosas restrições dos direitos e legítimas expectativas dos trabalhadores;

– O congelamento das progres-sões e suplementos (Lei 43/2005, de 29/8 e Lei 53-C/2006, de 29/12);

– A instituição do regime de «mobili-dade especial» (Lei 53/2006, de 7/12);

– A revisão do regime de avaliação do desempenho, instituído em 2004, mantendo as características buro-cráticas desse regime e solidificando a iniquidade do sistema de «quotas» (Lei 66-B/2007, de 28/12);

– A revisão dos regimes de víncu-los, carreiras e remunerações (Lei 12-A/2008, de 27/2 e subsequente regulamentação), que perverteu o estatuto dos trabalhadores da Admi-nistração Pública e teve o efeito de uma autêntica derrocada de direitos.

Foi assim que, de uma penada, se generalizou o contrato de trabalho na Administração Pública (chamado

Contrato de Trabalho em Funções Públicas), se destruiu o regime de carreiras e se acentuou o desvirtua-mento do sistema retributivo.»

No que respeita à chama reforma da administração autárquica, o STAL considera que é seu objectivo «pro-vocar a derrocada do Poder Local» através designadamente das seguin-tes medidas:

– A extinção de mais de um milhar de freguesias, à luz de parâmetros que o Governo arrogantemente quer impor (Lei 22/2012, de 30/5), à reve-lia de uma discussão pública alar-gada às respectivas populações e a todos os sectores da sociedade;

– O convite à agregação de municí-pios, com promessas de benefícios que não passam de aliciamentos falaciosos;

– O propósito de extinção de um número indeterminado de entidades do sector empresarial local, em fun-ção da sua rentabilidade, o que pode conduzir à extinção de milhares de postos de trabalho.

– A redução substancial dos cargos dirigentes, especialmente de chefes de divisão, que esconde o propósi-to de suprimir os departamentos em causa e as respectivas actividades, podendo igualmente conduzir à ex-tinção de postos de trabalho;

– A constituição de executivos mu-nicipais monocolores, a pretexto de uma racionalidade funcional, que se traduzirá na ditadura do presidente e seus acólitos;

– O propósito de revisão de um enorme conjunto de diplomas ligados à organização do Poder Local Demo-crático, tendente à gradual fragiliza-ção das respectivas instituições.

Também a chamada «Lei dos com-promissos» (Lei 8/2012, de 21/2) insti-tuiu uma série de procedimentos que, articulados com o acordo celebrado, no passado dia 28 de Maio, entre o Governo e a ANMP, colidem manifes-tamente com a autonomia do Poder Local e ameaçam tornar-se em mais um garrote asfixiante quer das atribui-ções e competências das autarquias quer dos cidadãos em geral.»

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SETEMBRO 201210 jornal do STAL

Governo desmantela serviços do Estado

Emprego público e salários em queda

A destruição do emprego, a desvalorização dos sa-lários, o desmantelamen-

to e privatização de serviços do Estado não constituem propria-mente uma novidade, visto que, apesar da resistência e intensa luta dos trabalhadores e popu-lações, têm sido objectivos per-seguidos sistematicamente pe-los sucessivos governos.

Porém, nos últimos tempos, o ritmo da ofensiva intensificou-se, como nos mostra a síntese estatística do emprego públi-co da DGAEP, referente ao se-gundo trimestre de 2012, bem como a execução orçamental do primeiro semestre, divulgada no final de Julho.

De acordo com estes dados (ver quadro 1), só nos últimos

seis meses perderam-se 2 176 empregos na Administração Local (1,8%), com especial in-cidência nas carreiras de as-sistente operacional, operário e pessoal auxiliar, que perderam 2,5 por cento dos efectivos. Note-se que estas carreiras re-presentam quase 52 por cento do pessoal da Administração Local.

Assim, no final do segundo trimestre do ano, a Administra-ção Local contava com 120 636 trabalhadores, ou seja, 19,9 por cento do emprego público.

Se nos lembrarmos que um dos aspectos acordados com a troika era a redução de dois por cento do emprego público em 2012, constatamos que tal meta já foi quase atingida na Administração Local em apenas meio ano.

Remunerações reduzidas

No que respeita aos salários, os dados relativos à Administra-ção Local mostram-nos que, no período entre Outubro de 2011 e Abril de 2012, a par do con-gelamento das remunerações base, se verificou uma redução

dos ganhos médios mensais, onde se incluem prestações como trabalho suplementar, subsídios ou suplementos re-gulares.

A este propósito vale a pena reter que a remuneração base média mensal se manteve nos 914 euros brutos, isto é, antes dos descontos para a segu-rança social e para o IRS, que representam cerca de 20 por cento do vencimento.

Porém, demonstrando que as médias são muitas vezes en-ganadoras, podemos ver que a remuneração média mensal das carreiras de assistente opera-cional, operário e auxiliares se ficou pelos 630,1 euros brutos.

Ora, se tivermos em conta, como atrás referido, que estas carreiras abrangem mais de metade do universo de traba-lhadores da Administração Lo-cal, concluímos forçosamente que os baixos salários preva-lecem no sector, contrariando a falsa ideia de que a generali-dade dos funcionários públicos ganham acima do privado.

Como seria de esperar, a re-dução de efectivos, o congela-mento dos salários, bem como o corte do subsídio de férias já efectuado aos trabalhadores com vencimentos superiores a 600 euros (que ficarão também privados do subsídio de Natal) traduziram-se numa sensível redução de 10,3 por cento nas despesas com pessoal na Ad-ministração Local, segundo in-dicam os dados da execução orçamental referentes ao pri-meiro semestre do ano.

Uma falsa solução

Também sem surpresa, nos primeiros seis meses do ano, verificou-se uma diminuição da despesa do Estado em resul-tado dos cortes nas despesas com pessoal, nas despesas de aquisição de bens e serviços, nas despesas de investimento e nas transferências para a edu-cação, para a saúde e para a segurança social.

Em simultâneo, este apertar de cinto aos portugueses, em muito em particular aos fun-cionários públicos, aprofundou a recessão económica e esta, por sua vez, traduziu-se numa acentuada diminuição das re-ceitas do Estado.

Consequentemente, ao invés da propaganda do Governo, a política de austeridade não contribuiu para reduzir o défice orçamental, mas, pelo contrá-rio, está a agravá-lo.

Atingiu-se o ponto a que os economistas chamam «de exaustão fiscal», isto é, quan-do qualquer aumento da carga fiscal em vez de provocar uma subida da receita fiscal produz o efeito oposto.

Isto acontece porque as fa-mílias e as micro, pequenas e médias empresas já estão de tal modo sobrecarregadas, que qualquer agravamento fiscal gera uma nova contracção do consumo, e por conseguinte da actividade económica, ao mesmo tempo que a evasão fiscal sobe para níveis muito mais elevados.

Apesar dos desastrosos im-pactos sociais desta política, que se traduzem em mais de um milhão e 250 mil desemprega-

dos e em mais de dois milhões e meio de portugueses a viver abaixo do limiar de pobreza, o Governo prepara-se para impor mais medidas que irão afectar todos os trabalhadores e apro-fundar ainda mais a recessão em que estamos mergulhados há sete trimestres.

À boleia do acordo assinado com a troika, que tem servi-do de desculpa para tudo, o verdadeiro objectivo do Go-verno e do grande capital que representa é destruir todas as conquistas obtidas pelos trabalhadores e pelo povo português com o 25 de Abril, fazendo retroceder para o pe-ríodo negro do fascismo as relações laborais, a distribui-ção do rendimento e os direi-tos sociais.

É contra este rumo de desas-tre económico e social que os trabalhadores, em particular da Administração Local, conduzem a sua luta, exigindo uma política alternativa que tenha como ob-jectivos centrais o crescimento económico, o combate ao de-semprego, a subida dos salá-rios, uma distribuição mais justa do rendimento e a melhoria das condições da vida de todos os portugueses.

✓ José Alberto Lourenço Economista

Os dados divulgados, dia 15 de Agosto, pela Direcção-Geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP) revelam uma drástica diminuição do emprego nos diferentes subsectores da Administração Pública.

Quadro 1

Emprego no sector da Administração Local

Unidade: postos de trabalho

Cargo/Carreira/Grupo31-Dec-11 30-Jun-12 Variação Semestral

Nº Nº Peso % Nº %

Total 122,812 120,636 100 -2,176 -1.8

Representantes do poder legislativo 2,968 2,873 2.4 -95 -3.2

Dirigente Superior 242 245 0.2 3 1.2

Dirigente Intermédio 3,243 3,135 2.6 -108 -3.3

Técnico Superior 18,415 18,271 15.1 -144 -0.8

Assistente Técnico/Administrativo 28,264 28,075 23.3 -189 -0.7

Assistente Operacional/Operário/Auxiliar 64,213 62,622 51.9 -1,591 -2.5

Informático 1,433 1,424 1.2 -9 -0.6

Educ Infância e Doc Ens Básico/Sec. 491 496 0.4 5 1.0

Médico 1 2 0.0 1 0.0

Enfermeiro 7 7 0.0 0 0.0

Bombeiro 2,264 2,239 1.9 -25 -1.1

Polícia Municipal 1,271 1,247 1.0 -24 -1.9

Fonte: Síntese Estatística do Emprego Público 2º trimestre 2012 (DGAEP);

Quadro 2

Remunerações de base e ganhos médios mensais na Administração Local

Unidade: euros

Remuneração base

média mensal

Ganho médio

mensal

Cargo/Carreira/Grupo Oct/11 Apr/12 Var.% Oct/11 Apr/12 Var.%

Total 914.0 914.6 0.1 1,062.3 1,051.8 -1.0

Representantes do poder legislativo 2,052.5 2,055.0 0.1 2,538.1 2,533.2 -0.2

Dirigente Superior 2,770.2 2,859.0 3.2 3,335.8 3,429.9 2.8

Dirigente Intermédio 2,437.6 2,422.3 -0.6 2,712.4 2,689.8 -0.8

Técnico Superior 1,498.4 1,491.9 -0.4 1,593.8 1,584.2 -0.6

Assist Téc/Administrativo 887.6 888.4 0.1 994.3 991.0 -0.3

Assist Operac/Operário/Aux. 628.4 630.1 0.3 774.8 761.0 -1.8

Informático 1,526.6 1,523.6 -0.2 1,631.1 1,618.4 -0.8

Ed Infânc e Doc Ens Básico/Sec. 1,680.5 1,559.1 -7.2 1,774.7 1,644.0 -7.4

Enfermeiro 1,191.9 1,240.1 4.0 1,446.9 1,443.9 -0.2

Bombeiro 992.7 999.7 0.7 1,540.9 1,506.3 -2.2

Polícia Municipal 943.1 932.0 -1.2 1,398.1 1,380.4 -1.3

Fonte: Síntese Estatística do Emprego Público 2º trimestre 2012 (DGAEP);

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SETEMBRO 2012 11jornal do STAL

As contradições do Tribunal Constitucional

Apologiada ilegalidade?

Não é a primeira vez que as decisões do Tribunal Cons-

titucional (TC) levantam fundadas dúvidas acer-ca da isenção desta ins-tância judicial suprema, sobre a qual recai a cru-cial responsabilidade de garantir a conformidade das leis com o Texto Fun-damental, em que assen-ta o regime democrático criado com o 25 de Abril de 1974.

Já em 2011, o STAL expressou a sua indig-nação e revolta contra o polémico acórdão do TC, de 21 de Setembro, (ver Jornal do STAL n.º 100, Dezembro), que não re-conheceu a clamorosa inconstitucionalidade dos cortes salariais impostos aos trabalhadores da Ad-ministração Pública e do seu sector empresarial, designadamente no que se refere aos princípios da confiança e segurança ju-rídica e da igualdade.

Entre outros argumen-tos, o TC evocou o que então chamou de «inte-resse público prevale-cente» e sentenciou que «quem recebe por verbas públicas não está em po-sição de igualdade com os restantes cidadãos».

Ora, a vingar essa tese, em nome do referido in-teresse público prevale-cente, seria possível con-tinuar a praticarem-se as maiores aleivosias. Por isso, dissemos na altura que o acórdão ressoa-va como «eco da voz do dono», fazendo na práti-

ca o frete a um governo que ataca trabalhadores e pensionistas para sal-var os lucros dos grandes grupos económicos e do capital financeiro.

Quando se consumou o roubo dos subsídios de férias e de Natal no Or-

çamento do Estado do corrente ano, questioná-mo-nos sobre qual seria agora a posição do TC, tanto mais que o próprio Presidente da República, Cavaco Silva, se havia adiantado, afirmando que «há limites aos sacrifícios que se podem pedir aos portugueses» e que o cor-te dos subsídios de férias e de Natal «viola um prin-cípio básico de equidade fiscal».

Contraditoriamente, tam-bém o mais alto magistrado da Nação não foi conse-quente com as suas pala-vras e apressou-se a pro-mulgar uma lei duvidosa, sem sequer suscitar a sua prévia fiscalização, iniciati-

va acabou por ser tomada posteriormente por via par-lamentar.

O apadrinhamento de um roubo

Talvez querendo salvar uma face onde aparente-mente ainda pendem uns pingos de vergonha, o TC declarou inconstitucional a suspensão dos subsí-dios de férias e de Natal.

Concluiu que «a dimen-são da desigualdade de tratamento que resultava das normas sob fiscaliza-ção, ao revelar-se mani-

festamente desproporcio-nada perante as razões que a fundamentavam, se traduzia numa violação do princípio da igualdade».

Brandiu, portanto, o seu cacete contra a violação do princípio da igualdade, ad-mitindo assim que, afinal, o «interesse público prevale-cente», antes evocado, não anula essa inconstituciona-lidade. Mas logo aliviou a pancada derrogando a apli-cação da sua decisão, ou seja, permitindo que o rou-bo dos subsídios se faça impunemente este ano, com a justificação de que não pretende pôr em risco o «cumprimento da meta do défice público imposta nos memorandos».

Ora, este desvelo dos magistrados para que as metas do défice sejam cumpridas não só extra-vasa claramente o âmbito da fiscalização requerida, como carece de funda-mentação.

Isto mesmo foi assina-lado por três conselheiros que defenderam a aplica-ção imediata da incons-titucionalidade. Foi por exemplo o caso de Pam-plona de Oliveira, que na sua declaração de voto salientou: «O Tribunal não pode afirmar – com a se-gurança e o rigor que lhe são exigidos – que há ra-zões de excepcional inte-resse público que impõem uma restrição dos efeitos do seu julgamento, pois fá-lo com base na mera suposição do “perigo” de insolvabilidade do Estado como decorrência da nor-mal vigência dos efeitos do seu julgamento, cir-cunstância que, como se viu, não foi sequer invoca-da pelo órgão [o governo] a quem cabe, em primeira linha, a defesa de um tal interesse.»

Constata-se assim que apesar de o próprio go-verno não ter invocado razões de excepcional interesse público para suspender dos subsídios, o TC decidiu fazê-lo de mote próprio, como base em conjecturas, bastan-do-lhe mais uma vez o tal «eco da voz do dono».

Como salientou o STAL em comunicado, este acórdão é de facto «o apadrinhamento de um roubo» pelo Tribunal Constitucional. Por isso a luta dos trabalhadores continuará pela reposição dos subsídios, contra as ilegalidades e entorses sistemáticos à Constitui-ção, e em defesa dos di-reitos, liberdades e garan-tias nela consagrados.

Uma acção de denúncia e esclarecimento na frontei-ra de Vilar Formoso foi levada a cabo, dia 28 de Julho, pelo STAL, em conjunto com o Sindicato da Função Publica do Centro e a União dos Sindicatos da Guarda.

Pela manhã cedo, os activistas sindicais iniciaram a distribuição de um carta aos emigrantes e aos turistas que cruzaram a fronteira portuguesa, denunciando a violenta ofensiva do governo contra os trabalhadores portugueses, em particular da administração pública central e local.

Não muito longe estavam instaladas duas bancas de recolha de assinaturas, uma para a Iniciativa Legislativa de Cidadãos, lançada no âmbito da campanha «Água é de Todos», e outra contra o corte dos subsídios de férias e de Natal.

Uma delegação do STAL entregou uma carta aberta no Tribunal Constitucional, no final da manifestação de 27 de Julho, exigindo o pagamento dos subsídios de Férias e de Natal

No acórdão de 5 de Julho, o Tribunal Constitucional declarou inconstitucional a suspensão do pagamento dos subsídios de férias e de Natal aos funcionários públicos e pensionistas, mas, inadmissivelmente, decidiu manter essa ilegalidade até ao final do corrente ano!

SMAS SintraCondições melhoradas

Após a realização do plenário de 11 de Junho, frente à sede dos Serviços Municipalizados de Água e Sanea-mento de Sintra, a administração tomou finalmente medi-das para melhorar as condições de trabalho e higiene das instalações e satisfazer outras reivindicações há muito le-vantadas pelos trabalhadores e apresentadas pelo STAL.

Deste modo foi resolvida a questão da limpeza das casas de banho das oficinas aos fins-de-semana, a me-lhoria das condições dos balneários e vestiários, a distri-buição de fardamento de Verão, bem como a alteração da hora de jantar para o turno das 16 às 24 horas, a cria-ção de um espaço digno de refeições para o turno das 24 às 8 horas e a colocação de um livro de reclamações no refeitório.

Em comunicado distribuído aos trabalhadores, a Co-missão Sindical do STAL saudou os trabalhadores que participaram no plenário, salientando que «ficou prova-do que vale a pena lutar». Numa semana foi possível re-solver o que andava a ser adiado há cerca de um ano.

Acção na fronteirade Vilar Formoso

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SETEMBRO 201212 jornal do STAL

A campanha «Água é de Todos» assinalou, dia 28 de Julho, a pas-sagem do segundo aniversário so-bre o reconhecimento da água e do saneamento como direito humano fundamental pela Assembleia-Ge-ral das Nações Unidas, apelando à sociedade portuguesa para que se mobilize em torno da luta pela ges-tão pública deste bem essencial.

Em comunicado à imprensa, a Co-missão Promotora recorda que a re-solução da ONU (A/RES/64/292) foi aprovada com 122 votos a favor, 41 abstenções e nenhum voto contra.

Esta decisão histórica veio refor-çar deliberações anteriores, nome-

adamente a resolução do Comité dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais, que logo em 2002 re-conheceu a água como um direito humano (Observação Geral N.º 15).

Apesar de Portugal ter votado fa-voravelmente a resolução da ONU, estando também por isso obriga-do a respeitar, proteger e garantir o direito à água, a verdade é que estratégia privatizadora do actual Governo vai em sentido contrário, tornando cada vez mais difícil e oneroso o acesso a este bem es-sencial.

Como sublinha a Comissão Promotora da Campanha, o Go-

verno pretende criar «um grande mercado da água, ou seja, quem quer água paga cada vez mais». Nesse sentido tenciona «impor um aumento generalizado do preço da água, que poderá alcançar 2,5 ou 3 euros por metro cúbico». O objectivo é «tornar o sector mais lucrativo e a privatização mais apetecível».

Chamando a atenção para a ne-cessidade de travar esta perigosa estratégia privatizadora, a Cam-panha «Água é de Todos» apela à subscrição da iniciativa legislativa de cidadãos «Protecção dos direi-tos individuais e comuns à água».

Intitulada «A água e o saneamento são um di-reito humano! A água é

um bem público, não uma mercadoria», a iniciativa é promovida a nível euro-peu pela Federação Eu-ropeia de Sindicatos de Serviços Públicos, de que o STAL é membro.

A finalidade desta cam-panha é exigir à Comissão Europeia que apresente propostas no sentido de garantir o acesso à água e ao saneamento a todos os cidadãos da União Eu-ropeia, a prevalência dos direitos humanos sobre os interesses comerciais, im-

pedindo a liberalização dos serviços de água, e a pro-moção do acesso universal à água e ao saneamento.

A campanha decorre até Maio de 2013 e tem como objectivo recolher até esta data um milhão de assina-turas válidas, de pelo me-nos sete Estados. No caso de Portugal, o objectivo é recolher 30 mil assinatu-ras (o mínimo legal é de 16 500 assinaturas).

Para subscrever a iniciati-va é necessário descarregar o formulário em português

no site www.right2water.eu, uma vez que até ao mo-mento a Comissão Euro-peia não certificou a subs-crição por via electrónica.

Além dos 270 sindicatos que integram a Federação, representando mais de oito milhões de trabalha-dores, a Iniciativa conta já com o apoio de um vasto conjunto de organizações, como a Rede Europeia de Luta contra a Pobreza, a Aliança Europeia de Saú-de Pública ou a Federação Europeia de Organizações

Ambientais, e de presiden-tes de Câmara de impor-tantes capitais europeias, nomeadamente Bruxelas e Amesterdão.

Tal como em Portugal, no mesmo dia tiveram lu-gar apresentações seme-lhantes junto a fontanários em diversas cidades eu-ropeias, designadamente Roma, Barcelona, Madrid, Viena, Amesterdão, Berlim, entre outras, tendo inclusi-ve ultrapassado o espaço da UE, com acções em Moscovo, Kiev e Ancara.

O Tribunal Constitucional de Itália frustrou os pla-nos de privatização dos serviços públicos locais ao declarar inconstitucional, dia 20 de Julho, o artigo 4.º do Decreto-lei 138, aprovado em Agosto de 2011, que pretendia fazer letra morta do referendo realiza-do dois meses antes.

Com efeito, apesar de se ter comprometido a aca-tar o resultado da consulta popular de 12 e 13 de Junho de 2011, na qual 27 milhões de eleitores (95% dos votantes) se pronunciaram contra a privatização dos serviços públicos locais, designadamente da água, o governo do anterior primeiro-ministro, Silvio Berlusconi, apressou-se a fazer aprovar um decreto-lei que reintroduziu as disposições liberalizadoras re-vogadas pelo referendo.

Berlusconi ainda tentou camuflar a manobra an-tidemocrática, excluindo a água, principal bandeira da campanha referendária, do âmbito de aplicação da lei. Mas o ignóbil estratagema foi desmascarado pelos movimentos sociais italianos que de imediato denunciaram a inconstitucionalidade do diploma.

Quase um ano depois, o Tribunal Constitucional deu-lhes razão, lembrando que o referendo tinha revo-gado não só as normas que permitiam a privatização da água, mas também de todos os serviços públicos locais de relevância económica.

Invalidando o decreto privatizador, bem como todas as alterações e adendas posteriores, a decisão da su-prema instância constitui uma pesada derrota para o actual governo neoliberal de Mário Monti.

A Comissão Promotora da campanha «Água é de to-dos», que o STAL integra, congratulou-se com o acór-dão e felicitou o Fórum Italiano dos Movimentos pela Água por mais esta retumbante vitória popular sobre os poderosos interesses económicos que cobiçam o filão dos serviços públicos.

A campanha europeia foi apresentada pelo STAL nos jardins da empresa Águas do Porto

Iniciativa Cidadania Europeia

Campanha lançada no Porto O STAL lançou, dia 21, no Porto, junto ao fontanário dos jardins da Águas do Porto, a Iniciativa Cidadania Europeia, que visa garantir o acesso universal à água e ao saneamento e impedir a privatização deste sector.

2.º aniversário da resolução da ONU sobre a água

Garantir um direito humano

Ultrapassadas as 25 mil assinaturasMais perto do objectivo

A Iniciativa Legislativa de Cidadãos lançada no âmbito da campanha «Água é de Todos» já recolheu mais de 25 mil assinaturas, aproximando-se assim do objectivo de reunir 35 mil subscritores.

Tal é o número requerido para que o projecto inti-tulado «Protecção dos direitos individuais e comuns à água» venha a ser debatido e votado pela Assem-bleia da República.

Recorde-se que o texto (disponível na íntegra no site aguadetodos.com) defende a proibição da pri-vatização da água e impõe o regresso dos serviços concessionados a entidades privadas à esfera da administração directa exclusiva das autarquias ou do Estado central.

Agora pode também subscrever a Iniciativa atra-vés do site da campanha acima indicado, bastando descarregar o formulário, preenchê-lo, imprimi-lo, assiná-lo, digitalizá-lo e por fim enviar por e-mail para [email protected].

TC italiano faz valer referendo

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SETEMBRO 2012 13jornal do STAL

Conversas desconversadas✓ Adventino Amaro

O vómitoA minha tia Alzira está muito doente. Há cer-

ca de um mês sentiu uma dor muito forte no peito, pediu ao meu tio João que a levasse às

urgências do hospital mais próximo e para lá se diri-giram ambos. À chegada, foram informados de que urgências, ali, já não havia. Tinham de se deslocar a um outro hospital que ficava só a trinta quilómetros de distância.

O depósito do carro do meu tio João estava qua-se seco e a sua carteira ainda mais. O desemprego apanhou ambos há três meses, com o encerramento da fábrica onde trabalhavam. E agora viam-se numa situação de necessidade extrema, sem meios para se deslocarem onde a súbita doença da minha tia pudesse ser diagnosticada e tratada e sem hipó-tese de recorrer a outros serviços de saúde. O centro de saúde da freguesia onde moram já era, e SAP também ali não existe.

Voltaram para casa maldizendo a sua sorte. E ajoelharam na sala, aos pés do Santo da sua devoção, rogando-lhe que intercedes-se junto de Deus para que a doença da minha tia não tivesse a gravidade que as fortes dores prenunciavam. E as orações ao Além têm sido até hoje, (até porque por enquanto ainda são de borla), o único remédio que a minha tia vai consumindo. Com re-sultados nulos, é bem verdade, por-que as solicitações de milagres são tantas que, compreensivelmente, o Senhor não terá tempo para a todas atender. E nós sabemos que os Passos Coelho, os Paulos Por-tas, os Paulos Macedo e quejandos também ajoelham perante o mesmo Senhor (e outros, e outras…), também oram ao mesmo Senhor, também rogam ao mesmo Senhor para que este os ajude a reduzir o défice, roubando a quem menos tem. E o Senhor tem que atender a priorida-des, não é verdade?

A minha tia Alzira continua doente. E o País, todo o País, também.

Entretanto, nos corredores do Ministério a que chamam da Saúde, a azáfama é grande, proporcio-nal, aliás, à alegria que por ali reina.

O gabinete do ministro está transformado em sa-lão de festas. Todos os secretários de estado e res-pectivos assessores foram convocados para feste-jar os últimos dados conhecidos que dão conta do estrondoso êxito das políticas revolucionárias deste governo, no que à prestação dos cuidados de saúde respeitam.

- Nos primeiros cinco meses do ano de 2012, os centros de saúde registaram menos 562 mil consultas face ao mesmo período do ano anterior. Nos hospitais públicos, houve menos 283 mil recursos às urgências e os SAP fizeram menos 400 mil atendimentos. Com isto deveremos ter poupado uma pipa de massa, con-tribuindo decisivamente para o combate ao défice.

Como facilmente se concluirá, só com o encerra-mento dos centros de saúde, das urgências nos hos-

pitais e também de muitos SAP que já concretizámos, os portugueses até ficaram muito mais saudáveis, não precisando de recorrer com tanta frequência aos cuidados de saúde. Estes números comprovam-no em absoluto. Haverá melhor prova de que Portugal está no bom caminho, como os nossos patrões da troika não se cansam de afirmar, incentivando-nos a nele continuar?

Era o ministro que falava, enquanto enjorcava mais uma taça de champanhe que os contribuintes (in-cluindo os meus tios) pagaram, participando desse modo também na festarola.

– Se o senhor ministro me dá licença – atreveu-se o secretário de Estado a opinar enquanto trincava um

pastelinho de nata que os contribuintes (os meus tios inclusive) também tinham pago – deve tam-

bém ser dado o devido ênfase ao facto de ter-

mos, com o aumen-to significativo

dos valores das

taxas moderadoras, desencorajado muitos milhares de saudáveis cidadãos de, por manifesto prazer, irem passar dias inteiros para as filas de espera dos hos-pitais e centros de saúde, dando trabalho a muito pessoal que agora podemos dispensar, com todas as vantagens económicas que daí advêm.

– Tem o senhor secretário de Estado toda a razão. E mais medidas poderíamos aqui referir, mas não vale a pena porque todos as conhecemos. Proponho en-tão um brinde para comemorar…

Peço desculpa aos leitores que tiveram a pachorra de ler esta coisa até aqui, mas não consigo reprimir por mais tempo o vómito que, desde o início, está para rebentar na minha boca e, por isso, vou termi-nar já.

Apenas acrescento que, se a minha tia morrer como resultado dos desvarios desta gente que al-guém pôs no governo deste desgraçado País, os criminosos que a assassinaram, que ainda deverão estar na comemoração acima narrada, irão respon-der por isso. Ai isso vão.

Fica a promessa.

O STAL condenou os actos de violência policial regis-tados, dia 15 de Agosto, contra os operários em greve da mina de platina em Lonmin, no Nordeste da África do Sul, de que resultaram 34 mineiros mortos e 78 feridos.

Manifestando as mais sentidas condolências aos familiares das vítimas e às suas estruturas sindicais representativas, o STAL subscreve a posição do Sin-dicato Nacional dos Mineiros (NUM), filiado na central COSATU, que considerou «desnecessária» «a perda de vidas humanas».

O NUM salientou ainda que «a violência nunca po-derá sobrepor-se ao diálogo» e que «os culpados da violência e dos assassinatos, alguns já presos, têm de ser condenados». O STAL nota que por trás destes acontecimentos que chocaram o mundo está a tentati-va de a empresa mineira de sabotar os processos e es-truturas de negociação e de bloquear unilateralmente a aplicação do actual contrato colectivo, fomentando ao mesmo tempo manobras de divisão entre os traba-lhadores e os sindicatos.

Lamentando que «a violência e a repressão policial possam estar a regressar ao país de Mandela, que foi um brilhante exemplo de uma das mais corajosas lu-tas pela democracia, pela liberdade e pela igualdade», o STAL expressou a sua «profunda solidariedade para com os trabalhadores e o povo sul-africano na luta por uma vida mais digna, rejeitando o caminho da explora-ção, da violência e da repressão».

O Senado de Berlim assinou, dia 18 de Julho, um contrato com a multinacional RWE, no valor de 618 mi-lhões, que lhe permitiu recuperar cerca de 75 por cento do capital da empresa de abastecimento de água.

Desde 1999 que a distribuição de água na cidade e a região de Berlim estava nas mãos dos grupos priva-dos RWE (alemão) e Veolia (francês), dois gigantes do sector, a quem fora dada a concessão por 30 anos.

Todavia, em 2011, a população pronunciou-se em re-ferendo pela remunicipalização da água, manifestando o seu descontentamento contra a subida dos preços (dos mais elevados da Alemanha) e as cláusulas se-cretas do contrato, que garantiam aos privados lucros escandalosos.

Na sequência da esmagadora vitória do Sim (98% num universo de 660 mil votantes), os movimentos de utentes voltaram a conquistar terreno, conseguindo que a autoridade da concorrência (BWB) impusesse uma redução dos preços da água de 18 por cento, já este ano, e mais 17 por cento entre 2013 e 2015. Numa decisão inédita, divulgada em 5 de Junho, o regulador considerou que a empresa tinha sobrecarregado os seus clientes nos últimos anos. Os novos preços entra-ram em vigor em 1 de Julho.

Sentindo que as novas condições não lhe são fa-voráveis, a Veolia decidiu seguir os passos da RWE, mostrando-se disponível para vender a sua parte no negócio.

Concretizada a reivindicação de colocar a água sob gestão pública, os movimentos berlinenses já definiram um novo objectivo: reunir 30 mil assinatu-ras para convocar um referendo sobre a gestão pú-blica da energia.

Crime bárbaro na África do Sul

Berlim recupera gestão da água

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SETEMBRO 201214 jornal do STAL

N.º 103SETEMBRO 2012Publicaçãode informação sindical do STAL

PropriedadeSTAL – Sindicato Nacional dos Trabalhadoresda Administração Local

Director:Santos Braz

Coordenação e redacção:José Manuel Marques e Carlos Nabais

Conselho Editorial:Adventino AmaroAntónio AugustoAntónio MarquesHelena AfonsoIsabel RosaJorge FaelJosé TorresMiguel VidigalVictor Nogueira

Colaboradores:Adventino AmaroAntónio MarquesJorge Fael,José Alberto LourençoJosé TorresRodolfo CorreiaVictor Nogueira

Grafismo:Jorge Caria

Redacção e Administração:R. D. Luís I n.º 20 F1249-126 LisboaTel: 21 09 584 00Fax: 21 09 584 69Email: [email protected] Internet: www.stal.pt

Composição:pré&pressCharneca de BaixoArmazém L2710-449 Ral - SINTRA

Impressão:LisgráficaR. Consiglieri Pedroso, n.º90, 2730-053 Barcarena

Tiragem:50 000 exemplaresDistribuição gratuitaaos sócios

Depósito legalNº 43-080/91

Formação profissional STAL/2012

Oportunidade a não perder

Infelizmente, só no mês de Agos-to as entidades competentes co-municaram ao Sindicato a apro-

vação integral do seu projecto de formação.

Se, por um lado, o STAL se con-gratula com a decisão, dado que lhe permite voltar a oferecer oportu-nidades de valorização profissional a um vasto conjunto de trabalha-dores das autarquias, por outro, a realização do programa será dificul-tada pelo curto prazo deixado para a sua conclusão.

Efectivamente, todo o programa de formação, apresentado pelo STAL em Novembro de 2011 e con-

cebido para se realizar ao longo do ano, tem de ser concluído até final de Dezembro, ou seja, dentro de quatro meses.

Esta circunstância torna especial-mente urgente a tarefa de divulga-ção do projecto e exige grande cele-ridade na inscrição dos interessados nos diferentes cursos propostos dis-poníveis. Só assim se poderá mar-car e organizar convenientemente as acções nos vários locais.

Quem pode participar?

Contrariamente a outras organiza-ções, a inscrição nas acções de for-

mação promovidas pelo STAL não está limitada aos seus associados. Todavia, no caso de o número de inscritos ultrapassar as vagas dispo-níveis, será dada prioridade aos tra-balhadores sindicalizados no STAL.

A participação nestas acções não acarreta quaisquer encargos para os trabalhadores ou para a respec-tiva autarquia, uma vez que todo o programa é financiado pelo Fundo Social Europeu e pelo Estado por-tuguês.

Os formandos que terminarem a acção com aproveitamento recebe-rão o correspondente certificado de formação.

As inscrições devem ser entregues aos dirigentes e delegados sindicais do STAL em cada autarquia, empre-sa ou serviço. Também é possível fa-zer chegar as inscrições através do email: formaçã[email protected]

Saliente-se novamente que este processo deve ser feito com a má-xima celeridade, de modo a ser possível escolher em tempo útil os locais para a realização das acções.

Naturalmente que a escolha dos locais terá em conta o número de trabalhadores interessados, de modo a aproveitar ao máximo o projecto de acções aprovado.

É uma corrida contra o tempo, mas tudo faremos para correspon-der aos interesses e legítimas aspi-rações dos trabalhadores à forma-ção profissional.

Cursos disponíveis

À excepção da região do Algarve, onde a entidade competente não abriu candidaturas para projectos de formação, todas as restantes re-giões (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, e Alentejo) tem programas aprovados que incluem, com ligei-ras diferenças, (ver lista de cursos por região em www.stal.pt) os cur-sos seguintes cursos:

Informática Nível I (Word, Excel, PowerPoint, Internet; Informática

Após um longo interregno, resultante de uma política discriminatória, que nos últimos anos tem inviabilizado sistematicamente a formação promovida pelo Sindicato no continente, o projecto do STAL para este ano foi finalmente aprovado.

Programa reduzido na Madeira

O programa de formação pro-fissional apresentado pelo STAL para os trabalhadores das autar-quias da Madeira era composto por 20 cursos, num conjunto de 44 acções, que correspondiam às muitas solicitações quer dos trabalhadores directamente, quer das próprias autarquias.

Todavia, as autoridades regio-nais só aprovaram uma pequena parcela do programa, em conse-quência da aproximação do final do Quadro Comunitário e da con-sequente escassez das verbas.

Apesar de tudo, ainda foi pos-sível conseguir a aprovação de dez acções de formação, que se-rão escolhidas de acordo com as necessidades das autarquias e preferências dos trabalhadores.

Assim, os trabalhadores in-teressados deverão preencher ficha de inscrição provisória, en-tregá-la ao dirigente ou delegado sindical do STAL, ou ainda enviar por email para o seguinte ende-reço formaçã[email protected]

Concretizar compromissos nos Açores

Também nos Açores, o Governo Regional não abriu candidaturas à for-mação financiada pelo FSE para os trabalhadores da Administração Local. Todavia, em reunião com o STAL, foi demonstrada abertura para a reali-zação de três seminários e de projectos de formação geral, que também beneficiam de financiamento do Fundo Social Europeu, nas áreas de TICs – Informática; CAD – Desenho Assistido por computador; e Acções de sen-sibilização sobre a inserção da Mulher no local de trabalho.

Posteriormente, as autoridades regionais apenas aprovaram o projecto referente à sensibilização sobre a inserção da mulher no local de trabalho, alegando falta de verbas.

Na referida reunião, o STAL obteve ainda o compromisso da parte do Go-verno Regional de que, no âmbito de um protocolo específico, se realiza-riam acções de sensibilização sobre Segurança e Saúde no Trabalho e de sensibilização sobre os direitos e deveres dos trabalhadores da Adminis-tração Local, bem como cursos de formação para os representantes dos trabalhadores na Segurança e Saúde no Trabalho e para os representantes dos trabalhadores nas comissões paritárias.

No entanto, até ao momento, o Governo Regional não deu qualquer res-posta aos projectos apresentados, apesar das diligências feitas para que o protocolo se concretize.

Nível II (Word avançado + Excel avançado); POCAL - Contabili-dade Autárquica; Aprovisiona-mento e Gestão de Stocks; PO-CAL - Contabilidade de Custos; POCAL - Execução Orçamental;

POCAL – Responsabilidade financeira nas Autarquias; PO-CAL - Finanças para não finan-ceiros; Relações e Atendimento do Público; Liderança e Gestão de Conflitos;

Gestão do Stress; Motivação e Liderança; Técnicas de Comuni-cação e Assertividade;

Regime Jurídico de Forneci-mento de Bens e Serviços; Re-gime Jurídico das Empreitadas; CPA; Estatuto Disciplinar; Férias, Faltas e Licenças; Regime de Contrato de Trabalho em Fun-ções Públicas; SIADAP; SIADAP – Aspectos práticos de aplicação;

Higiene e Segurança Alimen-tar; Segurança e Saúde no Tra-balho; Igualdade de Género e de Oportunidades; Regime Jurídico da Edificação e do Urbanismo; Regime Jurídico dos Vínculos e Carreiras; Regime Jurídico das Contra-Ordenações; Contexto Educacional em Creches, In-fantários e Jardins-de-infância; Aplicação de Produtos Fitofar-macêuticos.

Ficha de inscrição (provisória)

Curso pretendido:_________________________________________________________________________________Nome______________________________________________________________ Data Nasc. _____/_____/______Telef. ________________________ Habilitações literárias_______________________________________________Profissão: _________________________________ e-mail________________________________________________Câmara; Serviço; Junta Freguesia: ________________________________________________________________

Nota: preencher uma ficha de inscrição por cada curso pretendido

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SETEMBRO 2012 15jornal do STAL

Um livro, um autor

José Carlos Ary dos Santos moldava palavras e dava-lhes a roupagem de canções. O poeta do povo, como o povo o recorda, permanece bem vivo na nossa memória, e os seus textos continuam na boca dos nossos grandes cantores.

✓ António Marques

Comemoramos os 75 anos do nascimento do poeta José Carlos

Ary dos Santos, declamador e autor de mais de 600 textos para canções, dramaturgo e publicitário.

Nasceu a 7 de Dezembro de 1937, em Lisboa. Amava Al-fama e aí viveu quase toda a sua vida, na rua da Saudade, onde um Largo perpetua o seu nome e uma lápide, descerra-da em 18 de Janeiro de 1984, nos recorda a casa onde mo-rou, amou e escreveu os mais belos poemas sobre a vida, a condição humana, a solidarie-dade, a resistência, a paixão e o homem que luta e trabalha.

Curiosamente, nesse mes-mo prédio viveram, em épocas distintas, o grande romancista José Rodrigues Miguéis, ver-gonhosamente esquecido, o poeta Alexandre O’Neill e o cantor Fernando Tordo.

Descendente de uma velha família de aristocratas, filho de um médico, Ary dos San-tos continha em si a dignida-de e até a moral proletária do trabalhador infatigável, uma grandeza de alma e talento tamanho que faziam dele o devorador de mitos, arranjos e mentiras.

Aos 15 anos, por influência do pai, é publicada uma an-tologia com os seus versos intitulada Asas, onde Ramiro Guedes, à laia de prefácio, identifica um caso sério de precocidade poética, compa-rando o jovem criador a Guer-ra Junqueiro e a Eugénio de Castro.

Por causa desta obra, que viria a rejeitar, desentende-se com o pai e parte em busca da aventura, do mundo, de outros afectos. A princípio valeu-lhe a ajuda da avó que até morrer foi a ponte entre ele e as suas

irmãs, com quem sempre se relacionou. Depois mergulhou no trabalho a esmo, desde a estiva a caixeiro, passando por vendedor de máquinas até chegar à sua profissão onde se distinguiu, a publicidade.

Em 1954, alguns dos seus poemas são seleccionados para a Antologia do Prémio Al-meida Garrett. É reconhecido como poeta de mérito.

Em 1967, José Manuel Osó-rio grava o poema «Desespe-ro», da Liturgia do Sangue, e assim nasce a ligação do poeta à música portuguesa, mesmo se, com o compositor Nuno Nazareth Fernandes, já tivesse participado em alguns jingles promocionais.

Em 1969, um ano depois da frustrada «Primavera marcelis-ta», filia-se no Partido Comunis-ta Português e toma parte activa nas campanhas da Comissão Democrática Eleitoral (CDE).

Esse ano foi marcante para a sua vida. Já depois de ter publicado o livro Insofrimento In Sofrimento, ganha o Fes-tival da Canção com a «Des-folhada», pela voz de Simone de Oliveira, e concorre à Eu-rovisão em Madrid. Começa a gravar discos com poemas declamados que conhecem um enorme êxito.

Em 1970 publica Fotos-Gra-fias, livro imediatamente apre-endido pela PIDE. Mas nada o detém, nem o regime nem as criticas dos amigos que o cen-suram por escrever para fados e canções.

A sua carreira de êxitos não pára. Em 1970, a «Canção de Madrugar» alcança o 2.º lugar no festival. Em 1971 volta a ga-nhar com «Menina do Alto da Serra», interpretada por Tonicha, e defende Portugal em Dublin.

Ainda nesse ano, Amália Ro-drigues grava um poema seu, «Meu Amor, Meu Amor», que viria a ganhar o grande Prémio

da Canção Discográfica em Itália, abrindo as fronteiras aos textos do poeta e dando ao fado outra dimensão cultural. Amália, os fadistas portugue-ses, os intelectuais, todos se rendem finalmente a Ary dos Santos.

Em 1973, com a célebre «Tourada», cantada por Fer-nando Tordo, triunfa de novo no Festival.

Em 24 de Março de 1974, Ary dos Santos participa no 1.º Canto Livre – Encontro da Canção Portuguesa, onde re-citou o belo poema, «Sigla», lado a lado com figuras como José Afonso, Adriano Correia de Oliveira e tantos outros.

Um mês depois eis o 25 de Abril, e a liberdade assim vista por Ary dos Santos:

«Foi uma alvorada esplen-dorosa que, se bem que me entusiasmasse e deslumbras-se, se tornou uma primeira percepção real da liberdade e uma razão forte para lutarmos por ela. Foi um pouco isso que pretendi pôr em “As Portas que Abril Abriu”.»

Depois da Revolução, Ary dos Santos entregou-se de corpo e alma a uma intensa actividade cultural e política. Publica o poema «As Portas que Abril Abriu» (1975), gra-va outros discos com poesia declamada, é presença assí-dua nos comícios do PCP, em sessões de poesia e inúmeras acções culturais.

Em 1977 ganha mais uma vez o festival da canção com «Portugal no Coração», inter-pretada pelo grupo «Os Ami-gos». Como dramaturgo, es-creve para o teatro de revista e também várias peças dra-máticas.

Em 1979 publica O Sangue das Palavras, livro que seria o seu último conjunto de origi-nais poéticos publicados em vida. Segue-se, em 1983, a antologia Vinte Anos de Poesia.

Por terminar deixou o li-vro As Palavras das Cantigas, onde juntou os seus poemas para canções e fados, clas-

sificando-os por intérprete. Esta obra viria a ser lançada postumamente, em 1989, com prefácio de Natália Correia e coordenação de Ruben de Carvalho.

Todos os grandes intérpre-tes emprestaram a sua voz aos poemas sublimes de Ary dos Santos. Desde Fernan-do Tordo, Simone de Oliveira, Tonicha, Paulo de Carvalho, Carlos do Carmo, Amália Ro-drigues, Maria Armanda, Tere-sa Silva Carvalho, Vasco Rafa-el, entre outros, até aos mais recentes como Susana Félix, Viviane, Mário Barradas, Va-nessa Silva e Katia Guerreiro, entre outros. Certamente que nenhum autor moderno foi tão cantado.

Ary dos Santos foi o poeta da Revolução dos Cravos, o poeta comunista que nunca abdicou do seu dever revolu-cionário de dizer a verdade, de denunciar a desigualdade e a injustiça, de lutar por uma so-ciedade liberta da opressão e da exploração, como tão bem se define no poema «Poeta Castrado, Não!».

A sua coragem, o seu valor e a sua militância tudo venceram. Os seus poemas, muitos vesti-dos de canções, continuamos a ouvi-los e hão-de ser sempre cantados. Falam-nos do amor, da grandeza do trabalho, dos bairros de Lisboa, da luta in-cansável por dias melhores, da beleza dos amanheceres.

Ary dos Santos veio a fa-lecer na sua querida Lisboa, depois de uma longa doença, sem ver a comemoração dos primeiros dez anos da Revolu-ção de Abril, que tanto preza-

va e que tanto ajudara a con-cretizar com os seus textos e empenhamento político.

Quando morreu, a 18 de Ja-neiro de 1984, o povo emocio-nado rendia homenagem ao poeta no Alto de São João e gritou-se: «Viva Ary dos San-tos!». Uma multidão de punhos erguidos saudou o homem que escrevia sobre o povo, o seu fado e a revolução.

Ary dos Santos

Poeta Castrado, não!Poeta Castrado, Não!

Serei tudo o que disserempor inveja ou negação:cabeçudo dromedáriofogueira de exibiçãoteorema coroláriopoema de mão em mãolãzudo publicitáriomalabarista cabrão.Serei tudo o que disserem:Poeta castrado não!Os que entendem como euas linhas com que me escrevoreconhecem o que é meuem tudo quanto lhes devo:ternura como já dissesempre que faço um poema;saudade que se partisseme alagaria de pena;e também alegriauma coragem serenaem renegar a poesiaquando ela nos envenena.Os que entendem como eua força que tem um versoreconhecem o que é seuquando lhes mostro o reverso:Da fome já não se fala– é tão vulgar que nos cansa –mas que dizer de uma balanum esqueleto de criança?Do frio não reza a história– a morte é branda e letal –mas que dizer da memóriade uma bomba de napalm?E o resto que pode sero poema dia a dia?– Um bisturi a crescernas coxas de uma judia;um filho que vai nascerparido por asfixia?!– Ah não me venham dizerque é fonética a poesia!Serei tudo o que disserempor temor ou negação:Demagogo mau profetafalso médico ladrãoprostituta proxenetaespoleta televisão.Serei tudo o que disserem:Poeta castrado não!

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SETEMBRO 201216 jornal do STAL

A obra contém um valioso con-junto de dados que permitem avaliar a forma como a infor-

mação emanada do movimento sin-dical chega e é recepcionada, e que opinião têm dela os trabalhadores sin-dicalizados e portugueses em geral.

Os dados foram obtidos a par-tir de 1004 respostas a um inquérito realizado pela empresa Marktest, em Dezembro de 2010, mediante de en-trevistas telefónicas escolhidas alea-toriamente.

Entre as principais conclusões, o estudo revela que as actividades da CGTP-IN chegam ao conhecimento da população sobretudo através da

televisão e dos jornais diários, o que não constituiu surpresa dado o peso conhecido dos grandes meios de comuni-cação social na formação da opinião pública, já revelado por estudos anteriores.

Por outro lado, os próprios investi-gadores reconhecem ter ficado sur-preendidos com «a importância das publicações sindicais, que surgem em terceiro lugar, logo após a televisão e os jornais e antes da rádio, como fon-te de informação sobre as actividades da CGTP-IN».

Também se afirma na introdução do livro que as publicações sindicais são «fonte de informação muito usada e gozando de elevados índices de cre-dibilidade (81,6% dos sindicalizados na CGTP-IN acham-na “credível” e “muito credível”».

Os autores consideram que esta é «um via a desbravar: a boa receptivi-dade das publicações sindicais incita, com efeito, a um melhor aproveita-mento deste meio».

Inversamente, o estudo in-dica uma «deficiente penetração dos conteúdos veiculados pela CGTP-IN via Internet. Um quinto dos inquiridos sindicalizados afirma que nunca con-sultou o site da CGTP-IN».

A investigação revela igualmente que a CGTP-IN «beneficia de uma opinião favorável» no universo dos inquiridos e que, «independente-mente de se estar sindicalizado ou não e, para os sindicalizados, inde-pendentemente dos sindicatos que merecem as suas preferências, uma coisa é certa: a esmagadora maio-ria dos interrogados (91,5%) estima que “os trabalhadores precisam de sindicatos fortes”», salientam José Rebelo e Rui Brites na introdução do livro.

Resumo da luta

Estudo promovido pela CGTP-IN

A Comunicação Sindical da CGTP-IN é o título de um livro, apresentado dia 4 de Junho pela central, na Casa da Imprensa, que resultou de um estudo realizado pelos sociólogos José Rebelo e Rui Brites.

9 de Junho – Milhares de trabalhadores participam na manifestação promovida pela CGTP-IN no Porto.

11 a 17 de Junho – Os trabalhadores do sector da higiene urbana da CM de Lisboa realizam um período de greves parciais.

16 de Junho – Manifestação da CGTP-IN em Lisboa junta milhares de pessoas.

19 de Junho – O STAL apresenta, no Porto, uma Iniciativa de Cidadania Euro-peia em defesa da água pública, promo-vida pela Federação Europeia de Sindi-catos de Serviços Públicos.

2 de Julho – Cerca de três centenas de trabalhadores da higiene urbana da CM de Lisboa concentram-se na Praça do Município e desfilaram até ao Intenden-te, onde entregam uma Carta Aberta a ao presidente António Costa.

Dia 5 de Julho – Mil dirigentes e acti-vistas sindicais participam no Plenário Nacional de Sindicatos da CGTP-IN em Lisboa.

9 a 20 de Julho – A CGTP-IN promove em todo o País uma quinzena de luta.

20 de Julho – Dirigentes e activistas do STAL entregam uma Carta Aberta no Tri-bunal Constitucional contra o roubo dos subsídios de férias e de Natal.

26 Julho – A Frente Comum de Sindi-catos da Administração Pública realizar a acção «A Praia do nosso desconten-tamento», junto ao Ministério das Finan-ças.

24 de Agosto – O STAL assinala o seu 37.º aniversário.

4 de Setembro – A Cimeira de Sindica-tos da Frente Comum aprova a Proposta Reivindicativa Comum para 2012.

12 de Setembro – Os trabalhadores da Moveaveiro realizam uma manifestação em defesa dos postos de trabalho e con-tra a privatização dos transportes urba-nos de Aveiro.

12 de Setembro – A CGTP-IN contesta o novo plano de aumento de impostos e de redução de salários apresentado pelo Governo e convoca uma manifestação nacional para 29 de Setembro.

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A eficácia das publicações sindicais