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Eu assino embaixo Ano III - dezembro - nº 21 www.oduque.com.br PORQUE DOÇURA NUNCA É DEMAIS A chef maringaense Giovana Tintori descreve o doce e o amargo de trabalhar nas cozinhas do mundo ESCULTORES DA ENERGIA A importância do ofício do fotógrafo de palco RIGOLETTO, DE VERDI, ABRE A TEMPORADA DE ÓPERAS Clássicos como O Barbeiro de Sevilha e A Flauta Mágica também serão exibidos no cinema pág 10 pág 12 pág 17 e mais 2016: para onde remar?

Jornal O Duque #21

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Jornal de cultura do Paraná

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Page 1: Jornal O Duque #21

Eu assino embaixo Ano III - dezembro - nº 21www.oduque.com.br

PORQUE DOÇURA NUNCA É DEMAIS

A chef maringaense Giovana Tintori descreve o doce e o amargo de

trabalhar nas cozinhas do mundo

ESCULTORES DA ENERGIA

A importância do ofício dofotógrafo de palco

RIGOLETTO, DE VERDI, ABRE A

TEMPORADA DE ÓPERAS

Clássicos como O Barbeiro de Sevilha e A Flauta Mágica também serão

exibidos no cinemapág 10

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2016:para onde remar?

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Porque doçura nunca é demais...A chef maringaense Giovana Tintori conta sua experiência nas cozinhas europeias e as delícias da profi ssão (Página 17)

charges

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CONSELHO EDITORIALEdição nº 21 / Ano III

Eu assino embaixo

CEOMiguel Fernando

MKT E RELACIONAMENTOGustavo Hermsdor�

EDITORALuana Bernardes

REVISORZé Flauzino

COLABORADORES

Miguel Fernando - Especial (páginas 04 a 07)Victor Simião - Literatura (página 09)Gus Hermsdor� - Reportagem (página 10)Álvaro Sasaki, Rafael Saes, Bulla Jr.e Renato Domingos - Fotogra� a (páginas 12 e 13)Paolo Ridol� - (página 15)Ademir Demarchi - (página 15)Cínthia Carla - Mundo Livre (página 16)Giovana Tintori - Gastronomia (página 17)Dee Freitag e Renato Crozatti - Música (página 18)Cibele Chacon - Cinema (página 20)Ludmila Castanheira - Performance (página 21)Cris Agostinho - (página 22)Jary Mércio e Vinicius Campiolo - IndiQue (pág 23)

O Duque não se responsabiliza pelas opiniões, comentários e/ou ideias aqui expostas, sendo o conteúdo de única e exclusiva responsabilidade civil e penal do autor.

Impressão: Editora CentralTiragem: 3.000 exemplares24 Páginas / Tablóide Americano

FILIADO FOMENTADO POR

AS MATÉRIAS DA EDIÇÃO EM 5 MINUTOS

expresso

Rigoletto, de Verdi, abre temporada de Óperas

Das coisas para as quais não se encontra função

Escultores da Energia

A partir de dezembro o Cinefl ix Cinemas começa aexibir clássicos de grandes compositores como Verdi, Mozart e Bellini no Festival Ópera na Tela (Página 10)

A performer e professora Ludmila Castanheira apresenta os conceitos dessa modalidade de arte e fala

mais sobre o Festival de Apartamento (Página 21)

A importância do ofício do fotógrafo de cenadescrita por Álvaro Sasaki, Rafael Saes, Bullar Jr. e

Renato Domingos (Páginas 12 e 13)

2016: para onde remar?expectativas e perspectivas

do mercado culturalMiguel Fernando faz uma retrospectiva do que

aconteceu de mais relevante no setor da produção cultural e economia criativa e apresenta as questões

prioritárias para enfrentar o que o próximo anoestá reservando (Páginas 04 a 07)

Matéria de capa

ARTISTA DO MÊS

Alan Bariani CapaDESIGN EDITORIAL

Gustavo Hermsdorff

www.oduque.com.br

Departamento Comercial(44) 3346-4214

Receba em casa!assineoduque.com.br

Fale com O [email protected]

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os reflexos das (in)decisões do cenário nacional em números

Contingenciamento de orçamentos; falta de recursos; redução de patrocínios; retração econômica; embates políticos; aumento de custos. Não teve jeito. A tônica de 2015 foi a crise.

Apesar de maior impacto para uns do que para outros, o mercado cultural nacional sofreu um revés ainda mais significativo. Embora o Ministério da Cultura (MinC), por meio do Fundo Nacional de Cultura (FNC), tenha injetado milhões por diversos editais que, inclusive, chegaram ao interior do Brasil, na outra ponta, os aportes para mecanismos de financiamento por meio de Leis de Incentivo reduziram-se drasticamente: a Lei Rouanet, por exemplo, deverá fechar o ano com um encolhimento próximo a 50% de captação no Paraná. Até à data do fechamento desta matéria, (27/11), o estado apresentava uma queda na arrecadação desta plataforma de 63,76% em comparação a 2014.

Vale a ressalva que, mesmo antes do agravamento da atual situação da economia brasileira, o MinC teve uma grande baixa em seu orçamento. O Governo Federal contingenciou, no início de 2015, 33% dos recursos previstos para o fomento, incentivo, preservação e manutenção da Cultura Nacional, resultando na redução de seu potencial financeiro de R$ 1,39 bilhões para R$ 927 milhões.

Este encolhimento orçamentário ocorreu durante um dos períodos mais significativos do Ministério, que teve Juca Ferreira retomando a pasta com a saída de Marta Suplicy no final de 2014: revisão do Plano Nacional de Cultura, apresentação da Política Nacional para as Artes,

Criação de Redes Culturais e Novos Pontos de Cultura, abertura dos CEUs das Artes e mais outra leva de programas que democratiza a participação popular na construção de políticas públicas.

Se fizermos uma conta rápida, considerando o número de habitantes (204.450.549) divulgado pelo IBGE em julho deste ano, cada brasileiro investiu, em média, R$ 4,53 em cultura em 2015 (cultura per capita). A título de comparação, segundo seu Consulado Geral no Brasil, a França teve de orçamento para o Ministério da Cultura em 2007, o valor de 3,2 bilhões de euros (R$ 12,7 bilhões, ou seja, mais de doze vezes o valor aplicado pelo Brasil oito anos depois), resultando na média de cultura per capita aproximada de R$ 194,18 –mais que aqui, 42 vezes.

Para maior desespero, no meio do balaio armado de ajustes e contenção de gastos, a possível fusão do Ministério da Cultura com o da Educação voltou à agenda de alguns debates. Por sorte ou juízo, a junção foi só um alarde.

O novo projeto de Lei de Incentivo Fiscal para a Cultura, nomeado ProCultura (PL 6722/2010), se arrasta desde 2010 no Congresso Nacional. Apesar de ter avançado nos últimos dois anos, será difícil que ele seja aprovado em meio ao atual cenário de crise política. De toda sorte, ele viria em um cenário nada favorável, pois ainda teria de contar com o bom desempenho das empresas para reverterem parte de seu Imposto de Renda aos projetos culturais.

Esse contexto nacional gera reflexos diretos e imediatos nos Estados, sem exceção.

PARA ONDE REMAR?

2016, Miguel [email protected]

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Com uma previsão estabelecida pela Lei Orçamentária Anual para o exercício de 2015 (Lei Nº 18.409/2014) de pouco mais de R$ 86 milhões, o Paraná também apresentou um complexo cenário de fomento à sua Cultura. Ainda mais com o cancelamento dos R$ 30 milhões previstos para o Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura (PROFICE), perdidos às vésperas da saída de Paulino Viapiana, então secretário de Cultura. João Luiz Fiani – gestor de equipamentos teatrais, ator e dramaturgo – assumiu a Secretaria e o desafio de levar os recursos para o interior do estado. Fato até então quase inédito na gestão anterior.

O PROFICE habilitou pouco mais de 700 projetos que aguardam, agora, o resultado final para iniciar o processo de captação que, infelizmente, deve prosseguir somente em 2016, com uma previsão de teto de R$ 20 milhões, por meio da destinação do ICMS das empresas paranaenses.

Com alguns poucos editais, certamente, o programa mais interessante até o momento de Fiani foi a democratização ao acesso dos recursos via Lei Rouanet das estatais. Antes, a decisão estava quase que exclusivamente nas mãos da COPEL, SANEPAR, COMPAGÁS, Fomento Paraná. A partir do segundo semestre deste ano, uma chamada pública, por meio do Programa Circula Paraná, trouxe a decisão para a Secretaria de Estado da Cultura (SEEC). É uma forma remodelada do Conta Cultura, programa similar executado por três oportunidades anos antes e que foi duramente criticado e rebatido.

De toda sorte, os recursos são limitados, obrigando a SEEC a se responsabilizar também por diversos equipamentos públicos, em boa parte, na capital do estado, como é o caso do Museu Oscar Niemayer (que também capta recursos por meio da Lei Rouanet), do Museu Alfredo Andersen, Biblioteca Pública do Paraná, Centro Cultural Teatro Guaíra, só para citar alguns. Portanto, quais são as ações prioritárias e que dariam sustentação para o desenvolvimento de políticas públicas perenes e que oxigenariam a sociedade para um olhar mais crítico do papel da arte na vida dos cidadãos? A resposta não está pronta e não é de simples composição.

O caso Paraná:decentralização àvista?

Para uma sociedade que deseja melhorar e estruturar suas linguagens artísticas, valorizando as tradições e costumes com a cultura contemporânea, mais recursos geraria uma corrente desleal. Ou seja, estabeleceria vícios de priorização de projetos e o balcão clientelista que muitas Secretarias Municipais de Cultura tendem a estabelecer.

As discussões que permeiam os Conselhos ou Colegiados Culturais é a melhoria das Políticas Públicas. De nada vale mais recursos se não há mecanismos para democratizá-los ou levá-los até onde a carência é maior. Neste caso, vale a máxima de que igualdade não significa justiça.

Ao participar do Fórum Setorial Nacional de Patrimônio Material, entre os dias 17 e 20 de novembro, onde tive a honra de ser um dos eleitos para o Colegiado Cultural deste segmento, pude descobrir que as necessidades percebidas pelos agentes culturais do Sul não são as mesmas do Norte e Nordeste. Parece retórico, mas pude conversar com mestres e representantes de terreiros e quilombolas que sequer tinham internet em suas casas. Então, como falar de editais que disponibilizam prêmios para todas as regiões do país se, em determinadas áreas, as pessoas sequer sabem de sua existência?

O questionamento anterior poderia ser respondido grosseiramente com: mais recursos!Esse quesito também vale para o Paraná, onde diversas tradições e

culturas populares ainda ficam à margem do financiamento cultural. Seja por falta de conhecimento ou, pior, por preconceito.

Vejamos outro exemplo que pude constatar nos dias em que estive em Brasília com diversos representantes culturais. “Os diferentes não são errados. São só diferentes”. Essa foi uma das muitas sábias frases proferidas por Tata Konmannanjy, um representante das culturas tradicionais da Bahia. Ele me disse que há muito preconceito para se buscar patrocinadores e, para ele, não há como viabilizar projetos por meio da Lei Rouanet. “Chamamos a pessoa de branca não por sua pele, mas por seus costumes, que são limitados. Como vamos conseguir patrocínio para um projeto de resgate das tradições do Candomblé em um Estado prioritariamente católico? Não é fácil”.

Por mais que se crie mecanismos por meio de editais específicos para as tradições populares e culturas tradicionais, acredito que se precisa ir além, abrindo a mente de todos os potenciais financiadores da Cultura. Um desafio nada fácil.

A cultura como prioridade

João Luiz Fiani (direita) atuando. Fiani também é gestor de equipamentos culturais, diretor, dramaturgo e recentemente assumiu o cargo de secretário da Cultura do Estado do Paraná.

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Questões prioritárias

Acredito que a questão primordial será a implantação com acompanhamento do Plano Estadual de Cultura na sua integralidade. E aqui cabe ressaltar a implantação dos Planos Setoriais e temáticos

Laura Chaves

É consenso que, quase que diametralmente, a grande maioria dos gestores públicos da Cultura, com experiência e formação técnica, estabelecem como um dos desafios a amplificação da potência cultural existente no interior do Estado.

Segundo o presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Marcos Cordiolli, as cinco questões emergenciais para o desenvolvimento do segmento no Paraná seriam: “(...) estruturação e fortalecimento dos Arranjos Produtivos Locais (APLs) das áreas da economia da cultura (...); criação de rede de espaços culturais que garantam a circulação das ações e produtos culturais (...) entre as cidades do estado; reverter a baixa visibilidade da cultura paranaense fora do Estado (...); ampliar o acesso de produtores paranaense aos recursos federais da cultura (...); fortalecer os gestores culturais dos municípios e implementar os sistemas (...)”.

Ao perceber que, além de recursos escassos ainda há a limitação técnica da grande maioria dos municípios, Cordiolli complementa que “(...) diversos segmentos da economia da cultura apresentam diversas falhas, algumas estruturais, como falta de profissionais, de prestadores qualificados de serviços ou disponibilização insumos importantes”.

A produtora cultural de Curitiba Eloah Petreca, que abriu várias discussões contra ações centralizadoras da Secretaria de Estado da Cultura durante a gestão de Paulino Viapiana, destaca prioridades com raízes ainda mais profundas e complexas que, sobretudo, se mostram de fundamental importância.

Segundo Petreca, “Um dos problemas que terá que ser resolvido é quanto ao PROFICE (Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura). Da forma que foi aprovado, não está alinhado ao SNC (Sistema Nacional de Cultura) e isso pode dar uma ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade). Isso já aconteceu no tempo do Requião e foi justamente por isso que a Lei Estadual de Cultura não vingou”.

Efetivamente, o PROFICE apresentou diversas dificuldades de tramitação. Apesar de, no apagar das luzes de 2014, o Governo ter aprovado um teto de captação por meio do ICMS de R$ 30 milhões, 2015 abriu com uma grande surpresa para a Cultura: este orçamento havia sido cancelado. Com a entrada de João Luiz Fiani na pasta estadual, em julho deste ano, algumas articulações conseguiram garantir algo próximo a R$ 20 milhões para o Programa. Os projetos aprovados, depois de quase oito meses, deverão ser apresentados ainda no final deste ano. Captação mesmo só haverá para 2016, se a economia reagir.

Em nível mais amplo, Eloah Petreca também destaca a necessidade de se agilizar a aprovação da PEC 421, que prevê percentuais mínimos de aplicação para a Cultura em todos os orçamentos das esferas do Governo: 2% pela União; 1,5% pelas Unidades da Federação; 1% aos municípios. “Temos que nos unir e lutar pela PEC 421 (antiga PEC 150), que no momento está sujeita à apreciação do plenário”, ressalta Petreca.

A visão dos agentes curitibanos não é diferente de especialistas do interior do Paraná. Para a atriz e mestre em política públicas, Laura Chaves, tudo acaba se amarrando a partir da priorização do Plano Estadual de Cultura. “Acredito que a questão primordial será a implantação com acompanhamento do Plano Estadual de Cultura na sua integralidade. E aqui cabe ressaltar a implantação dos Planos Setoriais e temáticos”, coloca.

Chaves ainda destaca o papel da Cultura na formação do cidadão e, principalmente, como um direito de todos, conforme consta na Constituição Federal. “Interiorização do processo de conscientização da importância da Cultura como política pública e dever do Estado”, aponta também como um prioridade.

Laura Chaves ainda se lembra de que os Pontos e Pontões de Cultura foram fundamentais há alguns anos para a formalização de coletivos e entidades quando receberam ajuda de custo, mesmo que pequena, do

para a cultura no Paraná

Laura Chaves também é atriz e diretora

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MinC. Além disso, foi neste processo que se criaram grandes redes de relacionamento, troca de experiências e ideias. Por isso, Chaves é enfática, “Abertura imediata do edital CULTURA VIVA - Pontos de Cultura”.

Já Amauri Martineli, da Fundação Cultural de Paranavaí – cidade com o festival de música e poesia mais antigo ainda em execução no país (FEMUP) – estabelece críticas ao formato de captação de recursos pelas Leis de Incentivo. Martineli disse que seria mais interessante haver “Lei de Incentivo à Cultura através de premiação ao invés do mecenato”. Aproveitou para destacar um fato pouco debatido entre os gestores: a retomada dos “Salões de Artes Visuais com premiações divididas entre governo e municípios”.

Assim, considerando algumas das questões apontadas não só pelo entrevistados, mas também por estudos e notícias relacionadas ao tema, podemos considerar alguns tópicos prioritários para o avanço da Cultura no Paraná ao longo do próximo ano. (Confira no quadro ao lado).

Entretanto, por consequência de alguns corporativismos, muitos produtores culturais ainda tendem a travar processos como esses para o avanço de políticas culturais, evitando, assim, dividir o bolo de recursos. Este é um dado ainda nebuloso, mas que também está entre nós, nos mercados do interior paranaense.

Para além das políticas públicas, em períodos de retração econômica, mais que fundamental, é necessário entender como navegar contra a maré para se chegar ao destino com o menor número de danos na embarcação.

Nesse platô entra em cena a Economia Criativa. A economista especialista no tema, Ana Carla Fonseca Reis, explica que “a economia criativa (...) não é política cultural, não se propõe a definir os rumos da política cultural e tampouco defende que a cultura deve se curvar à economia ou (...) ao mercado. Ao contrário, a economia criativa oferece todo o aprendizado e o instrumental da lógica e das relações econômicas da visão de fluxos e trocas; das relações entre criação, produção, distribuição e demanda; das diferenças entre valor e preço; do reconhecimento do capital humano; dos mecanismos mais variados de incentivos, subsídios, fomento (...) e muito mais”.

Em outras palavras, a Economia Criativa deve ser aplicada mais ainda neste período em que o Paraná e o Brasil enfrentam dificuldades. A aproximação de projetos culturais como solução de problemas de diversos segmentos é um bom exemplo de apropriação e empoderamento inteligente deste conceito. E projeto cultural não é tão somente circo, teatro, dança e música. É muito mais amplo no seu conceito de Cultura. Segundo Teixeira Coelho é “o centro da sociedade”. Por isso, as cidades precisam ampliar o foco quando se trata de cultura: vincular propostas com as áreas de tecnologia, turismo, meio ambiente, arquitetura, urbanismo e mobilidade.

De maneira pragmática, essa é uma forma estratégica de fortalecer a Cultura para além das fundamentais políticas públicas, explorando outras métricas, formas de consumo e produção, apropriando-se do compartilhamento de conhecimentos e informações para reforçar a identidade das cidades.

Temos experiências de projetos como da empresa Sabiar (www.sabiar.com), que é especializada no Turismo Criativo, em que se alia a experiência ao destino. Um modelo de serviços oferecidos é a visita a Salvador para jogar capoeira com os mestres no Pelourinho, ao lado do elevador Lacerda. Ou mesmo ir para Buenos Aires e preparar seu próprio jantar com cozinheiros tradicionais. Os exemplos são referências não distantes para serem aplicados no Paraná, onde existem diversas danças típicas, como a congada lapiana; pratos quase que exclusivos, como o barreado e, porque não destacar, o tradicional cachorro quente prensado de Maringá.

Leia a matéria "Cachorrão para prato típico", na página 14.

Nessa época, vemos ao longe um paraíso criativo que, embora pareça distante, muitas cidades já estão a caminho dele. A questão é: você vem com a gente?

E a economia criativa?Em outras palavras, a Economia Criativa deve ser aplicada mais ainda neste

período em que o Paraná e o Brasil enfrentam dificuldades. A aproximação de projetos culturais como solução de problemas de diversos segmentos é um bom exemplo de apropriação e empoderamento inteligente deste conceito.

Aprovação, regulamentação e estruturação do Sistema Estadual de Cultura, que já contempla a aplicação do Plano Estadual de Cultura e, por consequente, incremento orçamentário da Secretaria de Estado da Cultura;

Aprovação da PEC 421 (antiga PEC 150);

Revisão do PROFICE, elevação de seu orçamento e sensibilização do setor privado para financiar os projetos aprovados em seus territórios de origem;

Criação de um ciclo constante de capacitações técnicas para gestores públicos e privados;

Democratização integral dos recursos disponíveis pelas estatais por meio de leis de incentivo (editais como Circula Paraná e similares);

Disseminação de cursos superiores de Gestão Cultural e Economia da Cultura nas Universidades Estaduais do Paraná.

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#Confraria / Dezembro-Janeiro 09

Livros, leitores e um clube de leitura

Ainda me lembro quando, em dezembro de 2012, avisei algumas pessoas que queria criar um clube de leitura em Maringá. Eu tinha 18 anos na época e todos os sonhos do mundo. Ainda bem. A utopia me movia e ainda me move. Não fossem os sonhos nem a ajuda de pessoas como os professores Antônio Gabriel, Alessandra Ferreira e Antônio Neto, muito provavelmente este texto nem existiria. Eles foram os primeiros grandes incentivadores do Clube de Leitura Bons Casmurros, que realizou o primeiro encontro oficial em março de 2013.

De lá para cá, mais de 40 livros foram lidos. O primeiro deles foi “Memórias de minhas putas tristes” (Gabriel García Márquez). Depois, clássicos e contemporâneos da literatura nacional e mundial pautaram nossas discussões. Obras como “O vampiro de Curitiba” (Dalton Trevisan), “As meninas” (Lygia Fagundes Telles), “Lavoura Arcaica” (Raduan Nassar), “O mal-estar na civilização” (Sigmund Freud), “O amor de uma boa mulher” (Alice Munro) e “Graça Infinita” (David Foster Wallace) foram amadas ou odiadas (sempre com bons argumentos!) pelos casmurros.

“Graça Infinita”, aliás, merece um parágrafo à parte. O catatau com mais de mil páginas rendeu uma discussão para lá de especial. O tradutor da obra no Brasil, Caetano Galindo, participou do encontro. Foi um momento histórico. Na tarde de um sábado de agosto deste ano, mais de 30 pessoas

se reuniram na Livrarias Curitiba para falar sobre uma obra gigantesca (em tamanho e conteúdo). Eis aí uma das grandes maravilhas proporcionadas por um clube de leitura. Uma graça infinita, sem dúvida (com perdão do trocadilho, cher lecteur).

O clube de leitura vai além do espaço para discutir livros. É um espaço de encontro e troca de relações interpessoais – tão raras em tempos de internet, WhatsApp e afins. É tomando um café, um chá ou uma cerveja (Heineken, de preferência), que ideias são compartilhadas e debatidas. Desde outubro de 2014, nos reunimos na Livrarias Curitiba, no Shopping Maringá Park, aos sábados, sempre às 17h. Os encontros são realizados a cada três semanas.

Os participantes do clube são personagens à parte. Se eles não existissem, não haveria clube. Tem professores universitários, filósofo, jornalista, advogados, psicólogos e estudantes em busca de uma graduação. Não fazemos distinção. Os especialistas em literatura são bem-vindos. Os que nada entendem, academicamente falando, também.

Vez ou outra ocorre troca de acusações mútuas entre os membros para defender um autor ou um personagem, como quando o Bons Casmurros discutiu “Lolita” (Vladmir Nabukov). Houve uma clara dicotomia: havia os que defendiam Humbert Humber (“Ele era um doente, por isso fazia o que

fazia”) e os que o culpavam (“Um homem de 40 anos com uma menina de 12? Pedofilia pura!”). Hay que endurecer pero sin perder la ternura jamás, como disse Che Guevara.

Mas é por isso que o sujeito-leitor, costumeiramente tão solitário, torna-se pleno em um clube. É devido à troca de experiências. É por meio desse contato, dessas visões e opiniões divergentes que é possível entender, a partir da leitura do outro, aquele trecho complexo de “Além do bem e do mal” (Friedrich Nietzsche), que ficou tão confuso na cabeça, por exemplo, para um ou outro membro do clube.

Sim, 2015 está acabando, mas tem mais ano que vem. Marcos Peres, o premiado autor maringaense, participará com o Bons Casmurros da discussão do mais novo livro dele, “Que fim levou Juliana Klein?”. Será no dia 16 de janeiro, a primeira do ano.

Em 2016, o clube vai dividir a leitura de forma igualitária. Livros de homens e mulheres serão lidos alternadamente. A nossa agenda está definida até abril. Entre outros livros, vamos ler e falar sobre “Orgulho e Preconceito” (Jane Austen), “Frankenstein” (Mary Shelley), “O sol é para todos” (Harper Lee) e “As intermitências da morte” (José Saramago).

Deixo aqui meus agradecimentos a todos que apoiam e participam do clube, incluindo O Duque, Companhia das Letras, Livrarias Curitiba e participantes.

Por fim, é por essa e outras que, quando alguém me diz que o leitor é um ser solitário, eu concordo em partes. O clube está aí para mostrar que agora não é bem assim. Você ainda duvida? Vamos conversar.

O clube de leitura vai além do espaço para discutir livros. É um espaço de encontro e troca de relações interpessoais – tão raras em tempos de internet, WhatsApp e afins

VictorSimião

L I T E R A T U R A

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Norma, Bellini

#Confraria / Dezembro de 201510

Rigoletto, de Verdi, abre a temporada de óperas

Para quem gosta de ópera e não pretende visitar o velho continente nos próximos meses, uma boa notícia: a partir de dezembro será possível assistir aos clássicos de Verdi, Mozart, Puccini, Bellini e Bizet no conforto de uma sala de cinema. É o Festival Ópera na Tela que o Cineflix Cinemas começará a exibir dia 12.

Segundo o curador e diretor do festival, Christian Boudier, as parcerias firmadas com exibidoras cinematográficas são fundamentais para democratizar o acesso às grandes Óperas e, assim, mostrar que não se trata de um espetáculo elitista. "A ópera em si não é elitista, o acesso a ela, por questões geográficas, financeiras e também preconceituosas, é que a torna exclusiva a certas plateias", defende. "Mas queremos lembrar que o gênero, na sua concepção inicial, dirigia-se a uma ampla audiência como espetáculo visual e lúdico".

A primeira obra a ser apresentada será Rigoletto, uma ópera em um prólogo e três atos do compositor italiano Giuseppe Verdi que estreou no teatro La Fenice, em Veneza, em 11 março de 1851. A versão que será transmitida para Maringá é da Orquestra Sinfônica de Londres com o Coro Filarmônico da Estônia, dirigido pelo canadense Robert Carsen e conduzida pelo italiano Gianandrea Noseda.

Reconhecido mundialmente como um dos maiores condutores da sua geração, Noseda foi nomeado em 2015 Condutor do Ano pelo musical

"America". A apresentação de Rigoletto, que será transmitida, foi encenada, originalmente, no Festival d’Aix-em-Provence na França. A venda dos ingressos ocorrerá tal qual a adotada para filmes convencionais no balcão do cinema.

Lembrando que assinantes do Jornal O Duque ganham 12 entradas para qualquer

sessão e qualquer filme no Cineflix Cinemas. Que tal já fazer a assinatura

e garantir entrada para você e um acompanhante curtir "Rigoletto"?

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EU ASSINO EMBAIXO!Parceria fechada pelo Cineflix Cinemas traz Óperasconsagradas para as telas da cidadeGus

Hermsdorff

Dom Giovanni, Mozart

Rigoletto, Verdi

O Barbeiro de Sevilha, Rossini

Os Capuleto e os Montéquio, Bellini

A Flauta Mágica, Mozart

Rapto no Harém, Mozart

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Dezembro de 2015 /F O T O G R A F I A12

ESCULTORES Da energia:

O VALOR OFÍCIO DO FOTÓGRAFO DE CENA

álvaro sasaki

Como descrever uma experiência? Talvez essa seja uma das perguntas fundamentais do estudo da arte. Para o fotógrafo que se dedica a registrar apresentações ao vivo, a resposta não pode demorar para aparecer. Quando baixarem as cortinas e as palmas estalarem, a única lembrança daquilo que passou estará gravada no cartão de memória da máquina.

Quantos espetáculos, shows e performances (re)conhecemos sem ter assistido de fato? O registro extrapola barreiras geográficas e temporais, mantendo viva a experiência, mesmo que fragmentada, da arte que esteve no palco. Para essa edição, O Duque conversou com quatro fotógrafos maringaenses para saber como se preparam e quais os desafios que encontram quando se dedicam ao ofício da cena.

Há o lado de perceber (ou já conhecer) a platéia nestes shows, pois muito do espetáculo se dá nessa relação de energia entre os lados. Fora que é comum estar na pista com a platéia. Observo o ânimo das pessoas, o quanto o artista está afim de interagir com as pessoas, ou se sequer essa troca de energia será saudável nesse show. Algo que se deve levar em conta também é o lado físico do show: se o pessoal ficará no lugar, se haverá círculo, se a casa está cheia, se rolará pogo, se haverá dive, se alguns terão a brilhante idéia de tomar algo em um copo americano na mão em meio às pessoas se jogando umas em cima das outras, etc. Digo isso em referência às casas pequenas, mas em palcos maiores os problemas geralmente são só multiplicados, com alguma sorte a produção pensou um pouco e colocou alguma contenção e montou um pit para os fotógrafos.

Álvaro Sasaki

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Dezembro de 2015 /Dezembro de 2015 / 13F O T O G R A F I A

rafael saes

A partir da troca de ideias com atores, passei a entender a importância do meu registro de palco durante um espetáculo de teatro.

Por muitas vezes, escutei comentários como “através da sua foto eu pude ver a linguagem corporal que estávamos exercendo e notar coisas que nem mesmo eu sabia que aconteciam”. A partir daí, sempre que fotografo uma peça, procuro conseguir registrar tais linguagens corporais (inclusive expressões faciais) para que, de alguma forma, através da foto, o espectador consiga sentir algum tipo de sensação sem ter presenciado a peça. Com toda a certeza a foto não substitui a ida ao teatro, longe disso, mas preciso, através da imagem, despertar sensações.

Não existe só um desafio, ou que seja maior, são vários desafios e todos eu considero na mesma escala. Mas duas coisas são fundamentais, do ponto de vista técnico. Uma é entender a iluminação do palco. Cada espetáculo tem uma luz diferente que varia muito. É preciso estar afinado com o iluminador (quando existe um) e quando não há um profissional dedicado para isso é preciso analisar o timing dessa variação, é preciso muita agilidade para conseguir a exposição correta dentro desta variação. A outra coisa tem mais relação com a estética do palco, ou seja, de como as pessoas (no meu caso os músicos) se comportam no palco. É dever do fotógrafo analisar esta dinâmica, pois cada espetáculo tem uma sequência, os artistas têm seus trejeitos e vícios no palco. Quando você entende essa dinâmica é possível prever o que vai acontecer e assim consegue registrar momento únicos.

O fotógrafo de teatro pode encontrar pela frente duas situações, aquela de quando vai ao teatro registrar um espetáculo que já conhece e aquela quando entra no teatro para fotografar um acontecimento que nunca viu. De qualquer modo, me preparo sabendo que cada apresentação é sempre viva, única e aberta a qualquer imprevisto. Procuro o melhor lugar disponível para me tornar o mais invisível possível e ter uma boa visão tanto para fotografar quanto para acompanhar as ações dos atores e a iluminação do espetáculo. Com relação ao equipamento busco fazer o melhor com o que tenho à disposição. Fotografar teatro é estar disposto ao novo, a olhar atentamente tanto o incrível quanto o banal.

bulla jr.

renato domingos

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#Confraria / Dezembro de 201514

No início de dezembro artistas, produtores e especialistas em economia criativa de toda a região de Maringá se reuniram na sede da concessionária Viapar para café da manhã que marcou o lançamento do terceiro edital Viapar Cultural, gerido pelo Instituto Cultural Ingá. As inscrições estão abertas e só podem participar projetos aprovados ou em vias de aprovação junto ao Ministério da Cultura (MinC).

Ao todo serão disponibilizados R$ 230 mil para até sete projetos, divididos de forma crescente, um valor 15% maior em relação às edições anteriores. Segundo o diretor executivo do Instituto Cultural Ingá, Miguel Fernando, o edital se mostrou uma forma viável e moderna de facilitar o acesso de produtores culturais às verbas disponíveis por meio de dispositivos legais, como a Lei Rouanet. “O edital é uma forma de conhecer melhor esses trabalhos

culturais e democratizar o acesso aos recursos disponíveis, via destinação fiscal da empresa patrocinadora”, afirma Miguel Fernando.

Durante o café da manhã foi apresentado o regulamento para participar do edital e um dos principais critérios foi mantido: a circulação obrigatória em três ou mais cidades atendidas pela malha viária da concessionária. Segundo o assessor de imprensa da concessionária, o jornalista Marcelo Bulgarelli, os trabalhos também serão avaliados com base no ineditismo, histórico de projetos realizados, período de circulação e distribuição, abrangência

e difusão da cultura. "Nosso objetivo principal é fomentar a cultura regional, beneficiando as diferentes formas de expressões artísticas", completa.

Contemplada em edições anteriores, a atriz e produtora Leiza Maria lembra que a experiência de gestão de um projeto que circule por várias cidades do interior é muito importante para o fazer artístico. "Nossa proposta era atender escolas de difícil acesso e isso contribuiu para a circulação que fizemos", explica. "Descentralizar é uma palavra que soa muito bem à Cultura em geral.

Acredito que essa seja um ótimo caminho, literalmente".

O Viapar Cultural teve início em 2014 quando foram ofertados R$ 200 mil para financiar projetos nas diversas áreas de expressão cultural como o circo, o teatro, a dança, a música e outros. Desde então, já foram patrocinados 15 projetos e disponibilizados R$ 430 mil por meio da Lei de Incentivo Cultural.

As inscrições devem ser feitas exclusivamente pelo site do Instituto Cultural Ingá (www.institutoculturalinga.com.br), e o prazo se encerra em 24 de março de 2016.

"Descentralizar é uma palavra que soa muito bem à Cultura em geral. Acredito

que essa seja um ótimo caminho, literalmente", diz Leiza Maria

Seis projetospara o EditalViapar Cultural

O que define uma comida como prato típico de uma região? Se depender da opinião do público, o famoso "dogão" larga na frente para ostentar o posto. Segundo resultados da pesquisa Maringá+Criativa, 49% das pessoas indicaram o "Cachorrão" como o prato típico mais ideal para Maringá. O segundo mais votado foram o churrasco e o porco no tacho, ambos com 11%. Foram 313 formulários respondidos e auditados pelo DEPEA, Departamento de Pesquisa e Estatísticas da Acim.

Outros resultados indicados na pesquisa podem servir de indicativos para entendermos o sucesso do Dogão. Cerca de 83% das pessoas afirmaram que saem para almoçar ou jantar pelo menos uma vez por semana. Em outra

questão, cerca de 40% afirmou escolher estabelecimentos que ficam nos bairros e, quando perguntados qual prato se destaca nestes estabelecimentos, mais uma vez o glorioso Dogão apareceu em primeiro lugar com 32% das menções, à frente da pizza que foi lembrada por 18% das respostas.

A divulgação de todos os dados da pesquisa será feita por meio de um site próprio da campanha Maringá+Criativa, uma iniciativa do Instituto Cultural Ingá para identificar e mapear aspectos culturais, gastronômicos e de comportamento que possam ser melhor aproveitados na Economia Criativa. O projeto tem o apoio do Sebrae, Acim, Convention & Visitors Bureau Maringá, Prefeitura Municipal de Maringá, Retur, Sivamar e Jornal O Duque.

Cachorrão como prato típico!Resultado da Pesquisa Maringá + Criativa aponta hábitos de consumo,turismo e lazer dos maringaenses

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Dezembro de 2015 / #Confraria 15

Ino rio saem de carro cinco jovens negrospara comemorar o primeiro empregologo são fuzilados pela pm cariocanum carro parecido com o do lamarca63 furos de bala na lata mais marcasnas faces espantadas daquela arcadesta vez não foram amarrados ao postenão foram escondidos os restos como pestede nada disso precisaram os homicidasque confundem arma com macaco hidráulicopois a zona sul está como nunca unidana ordem da sunga áulica contra a tanga bucólica

IIem sp o nefelibata que desgoverna fecha escolas e sentaos alunos contra ocupam quase cento e oitentaprofessoral ele manda que a pm os retire a paue ensina que pm é o novo professor para o bem e para o mala coisa é tensa com tantos mortos e carandiru na memóriaengravatados se achando donos do cu da históriaorgulhosos por bater em aluno após ter batido em professoresperam logo mais serem aprovados nas urnas com louvor

IIIem minas a vale do ex rio doce diz não é dela a lama tóxicaque saiu das mineradoras gerais até o mar como zicasebastião patrocinado diz que não salgou a terrae basta mais uma graninha que tudo se desinfeta

IVem Brasília um senador preso um banqueiro engaioladoem mar de almirante o cunha alheio nadando de ladobandido, joga tudo, dá truco e blefa: impeachmentenfatizando o enredo de teatrinho que é todo o parlamento

Vna área da saúde a indústria da dengue prosperaagora ansiosa por mais recursos tensa à esperaapós criar a geração dos nascidos microcéfaloscom engenho gestada por políticos eunucos e sem falos

VIdo meu canto quase impotente vociferopois o que digo é vero por isso sincero e fero

ESTA SEMANA NO PAÍS DO FUTURO

POEMAS DO MOMENTO PRESENTE

Contista, cronistae poeta

AdemirDemarchi

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Mundo Livre //16

O ano de 2015 está no fi nalzinho e a gente já começa a criar expectativas para 2016. Junto com esse ar de novas possibilidades, oportunidades e muita atitude que vem chegando, surge também aquele sentimento de missão cumprida com relação a 2015. Afi nal, nosso objetivo sempre foi levar atitude aos rádios e às ruas de Maringá e, assim, movimentar a cidade! E não tem como negar: 2015 foi cheinho de atitude. Nosso segundo ano em solo maringaense, fortalecendo ainda mais a cena musical e cultural da cidade canção, foi lindo de verdade! Abriu portas, janelas, ouvidos, sorrisos... A gente veio mesmo para fi ncar nossas raízes nesse solo e fazer brotar um monte de frutos nessa cidade. Por isso, a gente resolveu revirar os HDs e relembrar um pouquinho do que rolou em 2015 com a Mundo Livre e, consequentemente, com você que ouve a gente todo dia. Venha relembrar com a gente!

De janeiro a dezembro, a gente esteve pelas ruas, com rolês, várias ações, promoções e eventos maneiríssimos. Começando lá pela Páscoa, quando passamos por várias agências parceiras pra presentear e adoçar os dias da galera. Ainda em março, rolou Marinjah, com um tanto de bandas sensacionais reunindo muita gente de atitude na Chácara Vitória. Em abril nunca teve tanta atitude quanto nesse ano:

Dia Mundial do Jazz, com show de sax gratuito em vários pontos da cidade; festa de um ano da Mundo Livre com parceiros comerciais; 1º Mundo em Movimento, reunindo música, cultura, troca de livros e muita gente bonita na praça do Mercadão Municipal, tudinho de graça para todo mundo poder se divertir; show do Kiss com ouvintes da Mundo conhecendo os caras no camarim... Que mês lindo!

Nos meses que seguiram, tivemos a cidade invadida pelo Blues com um tanto de atrações internacionais no Armazém do Jô; Yoga na praça, com muitas cangas espalhadas pela praça da Catedral, para galera movimentar o corpo e a mente; dois Santo Rock lindos de viver, com muita gente bonita, alto astral e curtindo música boa; Paraíso do Rock, rompendo as fronteiras de Maringá e indo para toda a região conferir o que há de melhor no rock; shows inesquecíveis com Arnaldo Antunes, bandas Versalle e Scalene e um Maringá Jazz Festival memorável, com atrações sensacionais!

Na semana do Rock, em julho, a Mundo Livre trouxe para a praça pública a segunda edição do Mundo em Movimento, reunindo mais uma vez inúmeras atrações culturais para variados gostos, idades e tribos de maneira gratuita. Além disso, a rádio realizou ações de

conscientização como a Vaga Viva, ocupando uma vaga de carro com muito verde, cultura, música e livros no Dia Mundial Sem Carro e a ação do Dia Mundial da Gentileza, quando fomos para as ruas distribuir pequenos agrados, sorrisos, abraços e um monte dessas coisas lindas que enchem nossos dias de alegria.

Por fi m, rolou o último Mundo em Movimento do ano, no mês de novembro. Foi o rolê mais lindo que nossos olhos já viram! Mais de 5 mil pessoas passaram pela praça do Mercadão, quando vários parceiros e apoiadores da Mundo Livre estavam expondo seus produtos, artistas exibindo suas produções, ouvintes voando de balão, zombies caminhando pela praça, músicos e bandas levando ao palco sons de muita atitude e nosso público ali, curtindo, se divertindo, sorrindo e tornando aquele dia tão lindo. Misturando pessoas de todas as idades, cores e estilos mostrando que Maringá é uma cidade com mais atitude a cada dia.

Ufa! O ano foi lindo sim e nossa retrô mostra que estamos juntos na missão de tornar essa cidade cada dia melhor. Equipe da rádio, parceiros, amigos, ouvintes, todos juntos fi zemos de 2015 um ano incrível. E pode acreditar: 2016 será ainda mais sensacional!

RETRÔ MUNDO LIVRE: 2015 FOI UM ANO DE ATITUDE

Jornalista e locutora

CínthiaCarla

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Gastronomia // 17

Há quem admire as roupas de um chef de cozinha, suas facas e até admire todo o stress apresentado em reality voltado para gastronomia, mas a verdade é que, entre a enorme elitização da profissão, a verdadeira alma da cozinha está sendo esquecida. Tento transmitir que chef é apenas um status, um cargo hierárquico a ser ocupado e que, de fato, estudamos para sermos cozinheiros na constante busca por memórias gustativas e pela nossa própria alma.

Não me lembro ao certo quando descobri que queria passar a vida toda atrás de um fogão, mas não me esqueço do caminho que percorri até aqui. Fui do lixo ao luxo, passei por restaurantes de beira de estrada (sim, literalmente) até chegar em um estrelado Guia Michelin. Trabalhei com o maior nome da gastronomia brasileira e entendi que meu lugar não era ali. Como assim não era ali? Sempre tive um pé (ou melhor, os dois e mais o corpo inteiro) na confeitaria, mas minha formação em gastronomia me levou para lugares novos, me tirou de Maringá e me jogou na cozinha do melhor restaurante do Brasil. E ali, entre muitas lágrimas, muito stress, decidi que queria levar a vida de uma maneira mais doce. Doce não significa mais suave. E poucos sabem que para ser Doce é preciso ser Forte.

Comecei a ser lapidada por um chef patissier americano, que mesmo sem muito tato no que diz respeito à relação humana, tirou toda e qualquer

dúvida que ainda me restava sobre a Confeitaria. Mike me mostrou, pela primeira vez, um fato que se repete cotidianamente em minha vida: noites sem dormir. Quando comecei, não imaginava o quanto iria (e sei que ainda vou) chorar de sono e ter tremedeira lá pelas 4h da manhã com o corpo pedindo descanso.

A vida é engraçada, mesmo com Mike me mostrando aos poucos que isso aconteceria. Em Paris, onde me especializaria em confeitaria francesa, contratada para um estágio na Fauchon, toda semana, pelo menos um dia, entrava à meia-noite para trabalhar e saia só quando tudo estivesse limpo, chão lavado e ratinhos devidamente mortos.

Mike me ensinou a não dormir, e Paris me deixou mestre na arte de fazer doces de madrugada. Foi lá também que entendi o verdadeiro sentido do filme Ratatouille. Muita ingênua que sou, me iludi durante anos que a Disney achara um personagem bonitinho para ocupar a cozinha de um restaurante... mal sabia que, em pouco tempo, seria íntima dos ratinhos parisienses que habitam todas as cozinhas francesas (e garanto que sem exceção).

Paris é um capítulo à parte da minha vida, porque jamais será resumida em tão poucos carácteres (e deixo assim, minha participação inacabada por aqui). Foi lá que me tornei uma doceira de mão cheia, ou melhor, foi lá que tive a certeza que para viver de

cozinha é preciso um pouco de dom, um bocado de estudo e muita persistência. Não tive apenas êxitos desde que comecei. Errei, errei de novo, e persisti no erro inúmeras vezes. Levei broncas, gritos, e até mesmo tirei elogios dos franceses, que pouco entendem a arte de elogiar o próximo. Queimei, adocei, salguei. Errei o ponto, fiz, refiz. Perdi a hora, perdi o sono, ganhei uma infinidade de varizes, um dedo meio torto, um protótipo de coluna (já que a boa foi embora faz tempo). Perdi amigos que não entenderam minha rotina. Continuo perdendo. Não sei onde minha vida deixou de ser minha e passou a ser de todos. Mas ganhei muito. Ganhei mais amigos do que os que perdi. Ganhei filhos em forma de alunos. Ganhei um prêmio. Ganhei uma nova visão da vida, da profissão e principalmente da cozinha.

Hoje, sei que, mais importante que todas as técnicas, livros, e ensinamentos que adquiro constantemente, minha arte tem verdade, porque tem coração. Cozinhar é alma, é amor. É uma das maneiras mais sinceras de amar o próximo, de amar a si. Em meio a tanto para compartilhar, me perco diante de tantos pensamentos e de todo o amor que quero transmitir em forma de comida para alimentar a mente e a alma. Do pouco que vivi e do muito que ainda viverei, espero deixar esse cantinho ainda mais gostoso já que doçura nunca é demais, não é mesmo?

PORQUE DOÇURANUNCA É DEMAIS...

Cheff eprofessora

GiovanaTintori

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Música //18apoia a ideia, divulga para os amigos, é relativamente pouco ainda”, ele complementa.

Apesar do cenário pessimista, a cena autoral está engatinhando para uma melhora. Aos poucos, nomes que antes eram desconhecidos, hoje se destacam nos eventos de música independente pela cidade. Esse é o caso do Corona Kings, que começou tocando músicas do Foo Fighters e hoje celebra o sucesso do segundo álbum de estúdio com músicas próprias. O álbum “Dark Sun”, lançado no início de 2015, contempla o rock alternativo, flerta com o experimentalismo e riffs pesados acompanhados de letras obscuras.

O Stolen Byrds também é um claro exemplo de grupo que decidiu largar o cover para se aventurar nas composições próprias. Resgatando o hard rock dos anos 70 e 80, eles buscam inspirações em Led Zeppelin e The Rolling Stones, porém com uma sonoridade contextualizada para os dias de hoje. No currículo, somam um álbum lançado e outro engatilhado para o próximo ano, assim conseguem atrair o público jovem interessado em novidades da música.

Há aqueles que apreciam uma instrumentação ainda mais pesada. O hardcore, que investe em um contexto social e político mais agressivo, possui uma cena sólida na cidade. A banda Comsequência, em que o baixista Gary faz parte, é uma das principais representantes do gênero na cidade. Ao longo dos anos aperfeiçoaram a sonoridade buscando referências no metal com composições críticas sobre a sociedade. “Ao longo dos anos, nos envolvemos em fazer música autoral, tivemos a liberdade de evoluir nosso modo de fazer hardcore com metal, expandindo nossos horizontes de ideias, timbres, melodias, distorções e letras que retratam a transformação que a sociedade precisa dentro do coletivo”.

O rock alternativo é um dos estilos que mais representam a cultura jovem no mundo. Nomes como Radiohead, Pixies e Joy Division somam positivamente na lista de influências para uma infinidade de bandas independentes. O Errorama, quinteto formado em Araruna, interior do Paraná, mistura guitarras distorcidas com vocais soturnos, flertando com o post-punk revival e mescla, no primeiro EP, letras em inglês e português. Questionado sobre o motivo de insistir em uma cena para poucos, o vocalista Gustavo Ferreira responde: “chega uma hora que cansa falar só com a voz dos outros”, referindo-se às músicas covers. Atualmente, estão em fase de finalização do disco de estreia, produzido em Curitiba pelo guitarrista Leandro Delmonico da experiente Charme Chulo.

Além de outras bandas que representam o rock em Maringá e região, como No Crowd Surfing, Draw The Line, Montanas Trio e a finada Inner Giants, a cena independente possui ótimos representantes em outros estilos. Rafael Morais, figurinha conhecida do Tribos Bar, Zona 2, combina o vocal suave com uma guitarra acústica para semear o solo perfeito da nova MPB, movimento que se alastra pelos eventos culturais do país, brilhantemente representado por nomes como Tiê, Tulipa Ruiz e Silva.

Conquistar o público é um grande passo, mas ainda está longe do que desejam. É preciso estender os braços para apreciar o que vem de dentro, do que é daqui. Ainda existem dezenas de opções, além das mencionadas neste texto, que não poupam criatividade e talento na hora de oferecer algo novo. Basta sair da zona de conforto para apreciar a obra na sua totalidade.

Acesse www.oduque.com.br para ouvir a playlist de bandas e artistas autorais de Maringá e região.

O pavilhão estava lotado. Centenas de pessoas abarrotadas em frente ao palco principal esperavam a primeira atração da noite. Apesar da fraca garoa que caía no lado de fora, elas não paravam de chegar. Com poucos minutos de atraso, os integrantes da banda subiram ao palco para o frenesi do público. Com os instrumentos afinados, o primeiro acorde da guitarra já anunciava a clássica “Sweet Child O’Mine”, do Guns N’ Roses. Era mais uma banda cover em meio a tantas outras que se apresentariam naquela noite.

Maringá é conhecida pela grande variedade cultural, mas no quesito musical ainda sofre com a falta de interesse por apresentações autorais em uma cultura predominantemente marcada pelo sertanejo universitário e covers. Já o amante da boa música anseia qualidade, diversão e originalidade ao descobrir novas bandas. Seja na internet, em bares ou casas de shows, a busca por quem quer novidades no mundo musical é sempre a mesma.

Foi-se o tempo, na década de 80, em que Maringá vivia a época efervescente do rock, período em que dezenas de bandas escreviam músicas sobre política e comportamentos da época. Segundo o vocalista da banda Errorama, Gustavo Luiz Ferreira Santos, para a cena independente crescer é preciso despertar o interesse do público e até fazê-los apostar neste tipo de trabalho. “Se não tem casa [de show] que divulgue, ninguém sabe que existe e não tem como construir público.” O baixista do Comsequência, César Azevedo (conhecido como Gary), afirma que, apesar de haver o interesse de um grande número de pessoas, ainda é pouco se comparado às lotações de shows covers nos principais estabelecimentos da cidade. “Público que apoia as bandas, curte o som,

ROCK AUTORALO ano chave paraa nova safra do

por Dee Freitag e Renato Crozatti

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Cinema //20

“Sinto que há um alien dentro de mim, que se nutre de mim e me impõe as regras”, é um dos diversos momentos em que “Olmo e a Gaivota” evidencia, ainda mais, a desconstrução da gravidez como algo lindo. Tem sua beleza, claro, mas que dá lugar a muitos outros sentimentos, como solidão, dúvida, dor e medo. Faltava esse olhar enquanto cinema. Ainda falta esse olhar enquanto discurso. Não poder admitir que este momento transita por fases ruins, faz com que a mulher tenha de lidar com todas as angústias sozinha, e é justamente nesse ponto que o filme ganha força, pois divide de maneira sincera e sensível, todos esses sentimentos com o espectador.

O longa ousa por brincar com estruturas narrativas típicas do documentário, fazendo um hibridismo entre ficção e não-ficção, que fica mais claro com as intervenções das diretoras Petra Costa e Lea Glob em alguns momentos. A única coisa que realmente temos certeza de ser real durante o filme é a crescente barriga de Olivia Corsini, atriz de uma companhia de teatro que, juntamente com seu marido e também ator, Serge Nicolai, está encenando a peça “A Gaivota”. Após um sangramento e a descoberta de um hematoma no útero, ela precisa ser substituída e fica de completo repouso em casa, o que, neste momento, torna-se realmente claro como a gravidez é, por sua essência, feminina e

realmente particular da mulher. “Olmo e a Gaivota” traz um olhar real da

gravidez, apresentando os pensamentos de Olivia, que se encontra impedida de afazeres simples, até de sair de casa. Fica bastante nítido o abalo emocional, constantemente à beira das lágrimas, quando reflete sobre o futuro, o trabalho que deixou e as limitações que um filho impõe exclusivamente a ela, que o carrega, e não ao pai, que segue com a rotina normal. É um filme com uma potência negativa, que se permite mostrar Olivia reclamando, chorando, irritada, afinal, sentir-se mal faz, sim, parte da vida. A tristeza não tem por que ser evitada de qualquer maneira e ninguém precisa se encaixar em uma gravidez considerada socialmente como maravilhosa. Ela vive uma clausura física e um esgotamento emocional difíceis de lidar. E tudo bem. É permitido.

Originalmente, o filme não seria sobre a gravidez de Olivia, mas quando as diretoras descobriram a notícia, animaram-se em retratar esse período tão pouco discutido no cinema. Que sorte, a delas e a nossa. O tom natural que o filme traz, assim como os dilemas da protagonista, propõe ao espectador que se questione sobre conceitos impostos à mulher e ao homem durante a gravidez e, também, sobre o relacionamento. A maneira com que se abordou esse tema pelos olhos de quem está vivendo na

pele a situação, intensifica ainda mais a emoção que causa ao público, que acompanha de perto cada passo desse emaranhado entre vida e morte.

A Olivia de antes morreu. A do presente não se reconhece. A do futuro será uma novidade nunca pensada antes. Enquanto isso, Sergei parece perfeitamente confortável com a esposa e a vida que tem, afinal, continua a mesma, uma vez que, para ele, só se tornará pai ao pegar o bebê nos braços. Sim, para os homens, o conto da cegonha e do repolho podem realmente ser críveis. E é importante que as mulheres se vejam na tela dessa forma tão sincera, ainda que nunca tenham ficado grávidas. É o (re)conhecimento de um processo biológico, social e cultural que permeia o imaginário de todas desde sempre. Mesmo daquelas que nunca quiseram ser mães.

Petra Costa, com seu primeiro filme “Elena”, já havia feito um documentário em que revelava desejos e emoções por meio de uma câmera que percorria as ruas de Nova Iorque em busca do passado de sua irmã, que cometeu suicídio. Agora, com “Olmo e a Gaivota”, surge com mais uma criação sensível e angustiante, mostrando como algumas marcas, nem sempre tão visíveis aos olhos dos outros, existem e trazem dores, ainda que possam trazer amores também. Os dois filmes retratam a morte. A diferença é que em apenas um deles, bem ou mal, é possível continuar protagonizando a própria história.

REVOAR DAS GAIVOTASJornalista

CibeleChacon

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Performance // 21

Algumas palavras sobre a Arte da PerformancePerformances são materializações, no corpo, das

insatisfações sobre o entorno: inquietações fortes o suficiente para nos fazer agir. Elas se abastecem do cotidiano e são inseparáveis da vida comum.

Embora haja semelhanças entre performance e teatro, a “técnica”, a que se dedicam artistas da performance, está mais relacionada à abertura radical para as afetações diárias que ao polimento do corpo, voz e gestos.

A performance abdica do sentido ou de UM sentido. Desdobra-se em criações compartilhadas que se constituem na dança entre os imaginários daqueles que participam da ação empreendida. Participam: tomam parte, estão implicados na ação. As ideias de público e artista estão borradas nesse campo. A performance é acontecimento, estabelece conexões entre os presentes. Não interessa veicular UMA ideia, mas convidar à construção conjunta de todas aquelas possíveis.

Performances promovem disparos, flashs, cismas e toda sorte de associações no âmbito do concreto e do imaginário. Dispensam as noções de “certo” e “errado”, “bom” ou “ruim”. A medida passa a ser a efetividade do contato estabelecido. Desmistifica-se a figura do artista como ocupante de um posto elevado a que chegou pelo “dom”.

A performance mobiliza práticas e artistas encarregados de responder, desmontar, debochar do status quo; reinventar a apatia, elaborar comentários, problematizar e, sobretudo, criar determinadas condutas. Nestas negociações, o corpo é objeto/

suporte/discurso/resíduo; empreende denúncias, confissões sobre o vivido, escancaramentos da fragilidade dos limites entre arte e vida.

E outras sobre os Festivais de ApartamentoOs Festivais de Apartamento são uma

apropriação dos Apartament Festivals, surgidos na década de 1980 e realizados até 1995. Aconteciam periodicamente em cidades da Europa e América do Norte. Eram reuniões nas residências de artistas em que tinham espaço tanto performances como trabalhos malquistos pelos salões de arte. Tratava-se do agrupamento dos excedentes, das coisas para as quais não se podiam encontrar função, dos quebrados, tortos e desviantes.

Defendiam-se ideias como o plágio criativo, a partir do qual, em 2008, um grupo de artistas do interior do estado de São Paulo elaborou os Festivais de Apartamento, considerando as diferenças entre o Brasil atual e o “primeiro mundo” da década de 1980.

Existem em nosso tempo os meios de arte que admitem trabalhos irônicos ou de cunho denunciador. Porém, por diversos mecanismos, também estes circuitos estabelecem seus favoritos. Os critérios de eleição das obras se dão, comumente, por análises exteriores a ela ou mesmo pela ausência de análise.

Não há curadoria nos Festivais de Apartamento: aceitam-se os inscritos até o limite que o espaço e os produtores possam receber. Na maioria dos editais, é incomum artistas iniciantes serem admitidos, ou seja, para receber fomento, é preciso que o artista comprove a realização de trabalhos anteriores. Não

há apoio de quaisquer instituições aos Festivais de Apartamento, o que coloca artistas iniciantes e experientes em pé de igualdade.

Para que se realizem os Festivais de Apartamento, são postas em questão convenções sobre o que é arte, quem são as pessoas permitidas a exercê-la, onde ela deve se colocar e quais são as maneiras de dispô-la. Entre 2008 e 2015 aconteceram 15 edições do evento, cuja proposta é realizar-se sempre que um artista disponibilize sua casa para recebê-las. O encontro tem caráter itinerante e esteve em cidades do interior dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná. Temos recebido performers de todas as regiões do país e da América Latina: artistas que se deslocam às próprias expensas, assim como nós, organizadores.

Entre as convocatórias, o blog do Festival de Apartamento exibe o registro das edições. Elas têm a duração de uma noite, na qual se dão cerca de 25 performances. Tal formato diz respeito à geração de um território para empreender ações performativas, além de expressar o nosso desejo de trocas com nossos pares. O que só é possível ao mantermos um número de participantes humanamente visitáveis.

Talvez, por desenhar horizontes a que nos vemos desacostumados ou saudosos, os festivais têm encontrado alguma reverberação. O evento se comunica e é endossado por artistas que há anos têm se deslocado em direção às noites que parecem suspender o estabelecido.

DAS COISAS PARA AS QUAIS NÃO SE ENCONTRA FUNÇÃO

Performere professora

Ludmila Castanheira é performer e organizadora dos Festivais de Apartamento junto com Rodrigo Emanoel Fernandes.

LudmilaCastanheira

Foto: Angelita BorgesPerformance de Ludmila Castanheira:"Mapa Corpo/Rativo", realizada junto ao grupoLa Pocha Nostra, em Santos - SP

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Cris Agostinho //22

Gosto de pensar na relação Arte/Magia. E quando falo disso me refiro à espiritualidade/transcendência que é inerente a arte. Mas que magia é essa? Que espiritualidade é essa? Bem diferente da palavra religiosidade, a espiritualidade em que a arte transita deve abranger os místicos cosmos-sapientes, ou seja, a ideia de que o lugar da arte é onde existe a possibilidade de conexão com o universo ultra inteligente, que é o orgânico, sensível, onipresente e infinito. Portanto, é mágico no sentido de ultrapassar a barreira do intelectualismo. O nosso conhecimento lógico-racionalista põe limites à percepção do absurdo, do ilusório,

fazendo-nos crer que a realidade que nos cabe, a que é possível, é a realidade pautada no finito, nos limites. Quando se busca traduzir a arte através do que é intelectualmente reconhecível, em coisas que fazem parte da experiência do ego, perde-se o absurdo, o paradoxo! A palavra “traduzir” no italiano (traduttore, traditore) em português, tradutor significa “traidor".

Já a realidade espiritual é absurda, é paradoxal. Ela existe dentro das possibilidades ultraintelectuais. Assim, a arte que transcende percorre o caminho do incompreensível.

Cris Agostinho

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