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Emigração, um mergulho no abismo... O falhanço das políticas anti-crise do governo não tem visto repercussões nas exportações. Não falo nas exportações do ouro que as famí- lias portuguesas vendem nas lojas de penhores para compensar o facto do fim do salário chegar antes do fim do mês (que têm vindo a baixar expondo a falácia do toque de midas), falo no exportar do melhor que este país tem, os seus recursos humanos. É verdade que a Democracia e o 25 de Abril têm tido problemas em fazer-se cumprir na sua pleni- tude, mas, algo que é inegável, é que apesar de tudo aquilo que se possa dizer, e dos erros que o Ensino Público possa ter trilhado, chegámos aos dias de hoje com a geração melhor formada de sempre. Estes números são inegáveis! A visão democrática de que o acesso ao ensino deve ser para todos, ofereceu-nos este fabuloso recurso que somos nós mesmos. Conseguimos ir além do país em que o melhor que temos são os afectos e adicionámos à equação o conheci- mento e o saber fazer. As lógicas financeiras e os gráficos de Excel de Vitor Gaspar não o conseguem ver, nem nunca o hão-de conseguir. As pessoas não são números, como na recente rábula de Ricardo Araújo Pereira, quando apresenta um número e uma pessoa ao ministro das finanças para que ele perceba a diferença, conclui obviamente que os números não passam fome; eu atrever-me-ia a complementar os números não sonham! Ainda há pouco tempo, tivemos a infelicidade de ler a carta do jovem enfermeiro que emigrava endereçada ao Presidente da República. Pelo silêncio do senhor de Belém ficámos esclare- cidos que, tal como o Passos Coelho ou Paulo Portas, não conhece o país onde vive. Num país onde grassa a falta de médicos ou enfermeiros como é possível deixar este jovem e outros como ele saírem? Tanto investimento para jogar fora? Este sim, é o real esbanjamento de dinheiros públicos e das famílias. Passos e Portas, através da oferta de salários baixos, precariedade e desemprego, têm pontapeado para fora de Portugal vários de nós e dos nossos, deixando um cultivo de terra queimada onde nada floresce, a não ser o futuro de António José Seguro, que espera olhar-se ao espelho, como governante, apesar das ruínas, que serão o que restará à sua volta da passividade e ab- stenções violentas que realiza. O problema é que o que a realidade nos pinta, consegue ser ainda pior que esta lógica economi- cista totalmente incompreensível, que, com o tempo, destruirá o estado social e a segurança so- cial. Porque apesar dos papagaios das televisões não o referirem, o sistema é inter-geracional, os que trabalham hoje contribuem para as reformas dos que trabalharam antes. Ou seja, o aumento desmesurado do desemprego afecta-nos a todos e a todas, não só a quem sofre deste estigma. Intrinsecamente ligada a esta problemática, à vista fi- cam os danos de uma brutalidade tremenda para as famílias, que são separadas, dos afectos e amores que são estilhaçados pela distância, do desespero desta fuga obrigada, que muitas vezes só consegue transferir o local onde passeamos a nossa fome. Tornam-se demasiado comuns as histórias de portugueses transformados em sem-abrigo, que tentaram a sua sorte noutras paragens. Temos de parar já com esta sangria, resgatar as nossas vidas feitas reféns por juros agiotas de uma dívida que não criámos. Nós, as pessoas, valemos muito mais que os lucros da banca e da finança. Não podemos adiar mais a vida com sacrifícios para honrar dívidas que não contraí- mos. Já nos chega de Jonet ou de Pedro Mota Soares, que mais não fazem que alimentar a miséria, para que esta nunca passe de pobreza. Hoje, porque já vamos tarde, chegou a hora de exigir de volta a nossa vida e os nossos direitos. O direito a viver condignamente na nossa terra, a podermos escolher o lugar onde nascemos para ser felizes, com todos aqueles de outras paragens que o queiram fazer aqui connosco. Porque se as fronteiras são lógi- cas impostas por governos, o empurrar das gentes contra a sua vontade também o é. Exijamos o direito a emigrar porque queremos, direito a escolher onde queremos ser felizes, seja noutra terra ou na nossa. Quem tem de emigrar é este governo, temos de lhe comprar a passagem, com o devolver da voz ao povo, isso mesmo, nós todos, para que tomemos nas nossas mãos de volta o nosso Presente, o nosso Futuro e o nosso direito a viver. Leonardo Silva Presidente da Prima folia Cooperativa Cultural ano: 2012 . nr 28 . mês: Novembro . director: António Serzedelo . preço: 0,01 € http://jornalosul.hostzi.com / Saiba mais sobre nós em Prima folia Cooperativa Cultural 11 . 12 NR 28 Ilustração . www.DinisCarrilho.com

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Jornal o sul novembro nº28

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Page 1: Jornal o sul novembro

Emigração,um mergulho no abismo...

O falhanço das políticas anti-crise do governo não tem visto repercussões nas exportações. Não falo nas exportações do ouro que as famí-lias portuguesas vendem nas lojas de penhores para compensar o facto do fim do salário chegar antes do fim do mês (que têm vindo a baixar expondo a falácia do toque de midas), falo no exportar do melhor que este país tem, os seus recursos humanos.É verdade que a Democracia e o 25 de Abril têm tido problemas em fazer-se cumprir na sua pleni-tude, mas, algo que é inegável, é que apesar de tudo aquilo que se possa dizer, e dos erros que o Ensino Público possa ter trilhado, chegámos aos dias de hoje com a geração melhor formada de sempre. Estes números são inegáveis!A visão democrática de que o acesso ao ensino deve ser para todos, ofereceu-nos este fabuloso recurso que somos nós mesmos. Conseguimos ir além do país em que o melhor que temos são os afectos e adicionámos à equação o conheci-mento e o saber fazer. As lógicas financeiras e os gráficos de Excel de Vitor Gaspar não o conseguem ver, nem nunca o hão-de conseguir. As pessoas não são números, como na recente rábula de Ricardo Araújo Pereira, quando apresenta um número e uma pessoa ao ministro das finanças para que ele perceba a diferença, conclui obviamente que os números não passam fome; eu atrever-me-ia a complementar os números não sonham! Ainda há pouco tempo, tivemos a infelicidade de ler a carta do jovem enfermeiro que emigrava endereçada ao Presidente da República. Pelo silêncio do senhor de Belém ficámos esclare-cidos que, tal como o Passos Coelho ou Paulo Portas, não conhece o país onde vive. Num país onde grassa a falta de médicos ou enfermeiros como é possível deixar este jovem e outros como ele saírem? Tanto investimento para jogar fora? Este sim, é o real esbanjamento de dinheiros públicos e das famílias.Passos e Portas, através da oferta de salários baixos, precariedade e desemprego, têm pontapeado para fora de Portugal vários de nós e dos nossos, deixando um cultivo de terra queimada

onde nada floresce, a não ser o futuro de António José Seguro, que espera olhar-se ao espelho, como governante, apesar das ruínas, que serão o que restará à sua volta da passividade e ab-stenções violentas que realiza.O problema é que o que a realidade nos pinta, consegue ser ainda pior que esta lógica economi-cista totalmente incompreensível, que, com o tempo, destruirá o estado social e a segurança so-cial. Porque apesar dos papagaios das televisões não o referirem, o sistema é inter-geracional, os que trabalham hoje contribuem para as reformas dos que trabalharam antes. Ou seja, o aumento desmesurado do desemprego afecta-nos a todos e a todas, não só a quem sofre deste estigma.Intrinsecamente ligada a esta problemática, à vista fi-cam os danos de uma brutalidade tremenda para as famílias, que são separadas, dos afectos e amores que são estilhaçados pela distância, do desespero desta fuga obrigada, que muitas vezes só consegue transferir o local onde passeamos a nossa fome. Tornam-se demasiado comuns as histórias de portugueses transformados em sem-abrigo, que tentaram a sua sorte noutras paragens.Temos de parar já com esta sangria, resgatar as nossas vidas feitas reféns por juros agiotas de uma dívida que não criámos. Nós, as pessoas, valemos muito mais que os lucros da banca e da finança. Não podemos adiar mais a vida com sacrifícios para honrar dívidas que não contraí-mos. Já nos chega de Jonet ou de Pedro Mota Soares, que mais não fazem que alimentar a miséria, para que esta nunca passe de pobreza.Hoje, porque já vamos tarde, chegou a hora de exigir de volta a nossa vida e os nossos direitos. O direito a viver condignamente na nossa terra, a podermos escolher o lugar onde nascemos para ser felizes, com todos aqueles de outras paragens que o queiram fazer aqui connosco. Porque se as fronteiras são lógi-cas impostas por governos, o empurrar das gentes contra a sua vontade também o é. Exijamos o direito a emigrar porque queremos, direito a escolher onde queremos ser felizes, seja noutra terra ou na nossa.Quem tem de emigrar é este governo, temos de lhe comprar a passagem, com o devolver da voz ao povo, isso mesmo, nós todos, para que tomemos nas nossas mãos de volta o nosso Presente, o

nosso Futuro e o nosso direito a viver.

Leonardo SilvaPresidente da Prima folia

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02 CULTURAPUBLICIDADE

Jorge Fonseca lançou, há poucos dias, mais um livro. A sua extensa e importantíssima obra, desta feita, in-cidiu sobre Setúbal. O antigo coordena-dor da Biblioteca e Arquivo Histórico de Montemor-o-Novo, diretor da prestigia-da revista cultural Almansor, doutorado em Estudos Portu-gueses na Universi-dade Nova, investi-gador do Centro de História da Cultura da FCSH - UNL e au-tor de incontáveis livros e arti-gos de referência internacional fez sair, através da editora Coli-bri, “Setúbal, o Porto e a Comu-nidade Fluvial e Marítima (1550 – 1650)”. É raro, muito raro mes-mo, um tão aureolado cientista dedicar-se a fazer um estudo sobre um local algo excêntrico face às suas principais linhas de investigação, que no caso são a escravatura em Portugal, sendo um dos representantes nacio-nais do tema junto da UNESCO,

sem se tratar de um trabalho de encomenda regiamente remune-rado. E é o próprio autor, com uma simplicidade desconcer-tante, que nos explica porque investiu um vintena de anos a revolver documentos antigos, a compilá-los, a dar sentido ao caos e a ressuscitar toda uma narrativa totalmente esquecida – simples-mente fê-lo porque ele gosta de Setú-bal, gosta de aqui passar temporadas com pessoas amigas, gosta das gentes e, pasme-se, quis ser útil, retribuir-lhes de alguma forma.

O livro versa sobre histó-ria económica e social. Desde o primordial estudo de Virgínia Rau sobre o sal de Setúbal, saído há cerca de 50 anos atrás, que não existia nenhum outro que viesse transformar tanto a nossa perceção sobre o passado da cidade. Não digo que não exis-

tam estudos importantes, que os há, de autores probos e cons-cienciosos, mas existem obras que, numa determinada altura, refundam a nossa visão de de-terminados enigmas – mudam paradigmas. É o caso. Nele, pá-

gina a página, linha a linha, vemos reve-lar-se toda a enorme grandeza da Setúbal que, altaneira, riva-lizava com a cidade do Porto a segunda posição no ranking urbano português na era das desco-bertas e de maior grandeza nacional. Ele, paciente e or-

ganizadamente explica-nos o porquê dessa pretensão. É certo que essa abastança se alicerça-va na exploração do peixe e do sal, nos ofícios de cantaria e de construção/reparação naval, todos relativamente simples, porém, o realmente valoriza-do e que é destacado, é a ri-queza proveniente do maior

capital existente, as pessoas. As pessoas, a sua capacidade de associação e cooperação em prol do bem comum é o fator que desvenda o mistério desta equação.

Há quinhentos anos atrás Setúbal ombreava com o Porto, a partir de produtos básicos e ofícios simples que tem vindo a destruir. Recentemente, um estudo da DECO presenteava Setúbal com a última posição no ranking urbano do país . Ler “Setúbal, o Porto e a Co-munidade Fluvial e Marítima (1550 – 1650)” revela-se, conse-quentemente, não apenas uma leitura educativa para conhe-cer o passado, mas como uma obra de fundamental inspiração e instrução para aqueles que procuram voltar a fazer de Se-túbal um local onde viver não é apenas possível, mas igual-mente apetecível. Fica, então, uma útil sugestão para o Natal.

José Luís NetoSubdirector do jornal O Sul

Uma justa homenagem aos Pescadorese Marítimos de Setúbal

“ o realmente valorizado e que é destacado, é a riqueza proveniente do maior capital existente, as pessoas.

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Convém esclarecer, antes de mais, que não existe uma farmácia ideal, padronizada para toda a fa-mília. É verdade que há conteúdos de referência como sejam alguns medicamentos para a febre e do-res, utilizados em automedicação, e utensílios como um termómetro, bem como artigos de primeiros socorros como compressas es-terilizadas, pensos, ligaduras e adesivos. A restante composi-ção fica dependente da natureza do agre-gado familiar e da existência, ou não, de doenças crónicas ou de tratamentos prolongados.

Isto para subli-nhar que a farmácia ou armário dos medi-camentos está desti-nada a guardar os medicamentos prescritos, os medicamentos e ou-tros produtos aconselhados pelo farmacêutico bem como os tais produtos usados numa emergên-cia. Esta farmácia familiar não se substitui à prescrição do médico nem ao aconselhamento farma-cêutico, o facto de se ter medica-mentos ao alcance da mão não deve ser interpretado como se o medicamento fosse um produto como os outros, não, o medica-mento ou é prescrito pelo médico ou indicado pelo farmacêutico, tem que se tratado com muito respeito e ter um uso racional.

Esta restrição sugere que se fale um pouco mais sobre o que é e como atua o medicamento.

O medicamento é um produto que contém uma substância ati-va que permite tratar, cuidar, ali-viar ou prevenir. Ele trata e cuida quando destrói micróbios, corrige um mau funcionamento (caso da diabetes) e compensa uma carên-cia (caso do comprimido de ferro contra a anemia). O medicamen-

to alivia quando luta contra a dor e alivia certos sintomas (caso da febre), ele previne quando tem por ob-jetivo evitar certas doenças (é o caso da vacina contra a gripe).

E como atuam os medicamentos? Eles

circulam no corpo no sistema sanguíneo. A sua ação não se cir-cunscreve a um órgão específico, tem repercussões no conjunto do organismo. Uma vez absorvidos, os medicamentos são transfor-mados pelo fígado e eliminados pelos rins, a respiração, o suor e mesmo pelas unhas. Os medica-mentos atuam consoante o seu modo de administração: pela boca (administração oral), pela pele (administração cutânea), pelo ânus (administração rectal), pela respiração (caso dos aerossóis) e pela injeção.

Vamos regressar aos con-

teúdos da farmácia familiar. Não há padronização possível porque o conteúdo tem a ver com a idade de quem toma me-dicamentos, se há pessoas com doença crónica, enfim, cada um tem necessidades diferentes em medicamentos e em cuidados de saúde. Esta farmácia familiar não é um armazém de medica-mentos. É certo que todas as opiniões recomendam pro-dutos como o ter-mómetro, tesoura, material essencial para os primeiros-socorros, incluindo um desinfetante ou pomadas no caso de um entorse ou contusão. Há medi-camentos com prazo de validade bastante reduzido, caso das vacinas, a insulina, gotas para os olhos, certos xaropes, é indispensá-vel estar atento ao seu modo de conservação e validade.

Organizar a farmácia familiar é, pois, uma das nossas obriga-ções. Separar medicamentos de uso interno (analgésicos, antipi-réticos, xaropes para a tosse…), dos medicamentos para uso ex-terno (caso dos desinfetantes, produtos para as picadas dos

insectos, contra as queimadu-ras ou entorses…), do material diverso e que tem a ver com a chamada parafarmácia e o estojo de primeiros-socorros.

Os medicamentos postos no armário precisam de ser escru-tinados regularmente, há que

os conservar na sua embalagem de ori-gem, ler sempre o folheto informativo e, acima de tudo, es-tar consciente de que a nossa saúde tam-bém depende da boa utilização dos medi-camentos, o mesmo é dizer que estamos sempre dependen-tes do bom medica-mento (conservado em boas condições e dentro do prazo de validade), tomado de forma personalizada (por que cada é um caso, a toma do me-

dicamento está dependente do estado de saúde geral, do peso, idade, sexo, hábitos de vida, etc.), tomado na hora certa, na dose correta e no modo indicado.

Pelo menos uma vez por ano, convém levar os medicamentos que estão na farmácia familiar e mostrá-los ao farmacêutico. Se estiverem fora da validade, vão para a Valormed, que é a entidade

que trata os resíduos medica-mentosos. Passe em revista com o profissional de saúde quais os medicamentos e produtos que devem estar lá guardados. Por exemplo, há quem advogue em inclusão de álcool a 70º, antia-lérgicos, água oxigenada, me-dicamentos para os vómitos, um laxante suave e um produto para gargarejar. Insista-se que a organização do armário é um factor essencial para que não haja acidentes, pelo que se su-gere o seguinte: os medicamentos prescritos pelo médico devem estar claramente separados dos restantes; os medicamentos para adultos devem estar separados dos das crianças.

E atenção, há produtos a que se deve barrar a entrar no armá-rio de farmácia. Estão neste caso: produtos de limpeza doméstica, cosméticos e todos aqueles que não tenham qualquer relação com os cuidados médicos; e, claro está, os restos de medicamentos pres-critos em tratamentos anteriores.

Por último, sugere-se que na porta do armário deva ser colo-cada uma lista de números de te-lefone a utilizar em caso de emer-gência (médico, farmácia, polícia, centro antivenenos, hospital mais próximo, centro de enfermagem.

Beja SantosDocente Universitário

Dar um bom uso à farmácia familiar(ou o armário dos medicamentos)

“ Esta farmáciafamiliar não se substitui à pres-crição do médico nem ao acon-selhamento farmacêutico

“ (...) há produtos a quese deve barrar a entrar no armá-rio de farmácia. Estão neste caso:produtos de limpeza doméstica,cosméticos e todos aqueles quenão tenham qualquer relação comos cuidados médicosPERFUMARIA CREMILOU

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Propriedade e editor: Prima Folia • Cooperativa Cultural, CRL / Morada: Rua Fran Paxeco nº 178, 2900 Setúbal

/ Telefone: 963 683 791 • 969 791 335 / NIF: 508254418 / Director: António Serzedelo / Subdirector: José Luís Neto • Leonardo da Silva / Consul-tores Especiais: Fernando Dacosta •

Raul Tavares / Conselho Editorial: Catarina Marcelino • Carlos Tavares da Silva • Daniela Silva • Hugo Silva • José Manuel Palma • Maria Madalena Fialho • Paulo Cardoso / Director Artístico:

Dinis Carrilho / Consultor Artístico: Leonardo Silva / Morada da Redacção: Rua Fran Pacheco nº 176 1ª 2900-374 Setúbal / Email: [email protected] / Registo ERC: 125830 / Deposito Legal:

305788/10 /Periocidade: Mensal / Tira-gem: 45.000 exemplares / Impressão: Empresa Gráfica Funchalense, SA - Rua Capela Nossa Senhora Conceição, 50 - Moralena 2715-029 - Pêro Pinheiro

Carta Aberta[Em Português do Brasil] Linguistas denunciam a manipulação do noticiário pela grande imprensa para camuflar o massacre do povo palestino, apelam a jornalistas para que não sirvam de joguetes e para que as pessoas se informem pelos média independentes. Entre os sig-natários, Noam Chomsky

Enquanto países na Europa e América do Norte relembravam as baixas militares das guerras presen-tes e passadas, em 11 de Novembro, Israel estava a alvejar civis. Em 12 de Novembro, leitores que acordavam para uma nova semana tiveram já ao pequeno almoço o co-ração dilacerado pelos incontáveis relatos das baixas militares pas-sadas e presentes. Não havia, porém, nenhu-ma ou quase nenhuma menção ao facto de que a maioria das baixas das guerras modernas de hoje são civis. Era também difícil alguma menção, nessa manhã de 12 de Novembro, aos ataques mi-litares à Gaza, que continuaram pelo final de semana. Um exame superficial comprova isso na CBC do Canada, Globe and mail, na Gazette de Mon-treal e na Toronto Star. A mesma coisa em New York Times e na BBC

De acordo com o relato do Cen-tro Palestiniano para os Direitos Hu-manos (PCHR, pela sigla em inglês) de domingo, 11 de Novembro, cinco palestinianos, entre eles três crian-ças, foram assassinados na Faixa de Gaza, nas 72 horas anteriores, além de dois seguranças. Quatro das mortes resultaram das granadas de artilharia

disparadas pelos militares israelitas contra jovens que jogavam futebol. Além disso, 52 civis foram feridos, seis dos quais eram mulheres e 12 crianças. (Desde que este texto começou a ser escrito, o número de mortos palesti-nianos subiu, e continua a aumentar.)

Artigos que relatam os assassina-tos concentram-se esmagadoramente na morte de seguranças palestinianos. Por exemplo, um artigo da Associa-ted Press publicado no CBC em 13 de Novembro, intitulado Israel estuda retoma dos assassinatos de militantes de Gaza, não menciona absolutamen-te nada de civis mortos e feridos. Ele retrata as mortes como alvos “assas-sinados”. O facto de que as mortes

tenham sido, na imensa maioria, de civis, mostra que Israel não está tão empenhado em “alvos” quanto em assassinatos “colectivos”. Assim, mais uma vez, comete o cri-me de punição colectiva. Outra notícia de AP na CBC de 12 de Novem-bro diz que os rockets de Gaza aumentam a pressão sobre o governo

de Israel. Traz a foto de uma mulher israelita a olhar para um buraco no tecto da sua sala. Novamente, não há imagens, nem menção às numerosas vítimas sangrando ou cadáveres em Gaza. Na mesma linha, a manchete da BBC diz que Israel é atingido por rajadas de rockets vindos de Gaza. A mesma tendência pode ser vista nos grandes jornais da Europa.

A maioria esmagadora das no-tícias enfatiza que os rockets foram lançados de Gaza, nenhum dos quais causaram vítimas humanas. O que não está em foco são os bombarde-amentos sobre Gaza, que resultaram

em numerosas vítimas graves e fatais. Não é preciso ser um especialista em ciências da comunicação para en-tender que estamos, na melhor das hipóteses, diante de relatos distor-cidos e de má qualidade e, na pior, de manipulação propositadamente desonesta.

Além disso, os artigos que se re-ferem às vítimas palestinianas em Gaza relatam consistentemente que as operações israelitas se dão em res-posta ao lançamento de rockets a partir de Gaza e à lesão de soldados israelitas. No entanto, a cronologia dos eventos do recente surto come-çou em 5 de Novembro, quando um inocente, aparentemente mental-mente incapaz, homem de 20 anos, Ahmad al-Nabaheen, foi baleado quando passeava perto da fronteira. Os médicos tiveram que esperar seis horas até serem autori-zados a ir buscá-lo. Eles suspeitam que o ho-mem pode ter morrido por causa desse atraso. Depois, em 8 de Novembro, um me-nino de 13 anos que jogava futebol em frente de sua casa foi morto por fogo do IOF (força de ocupação israelita), que chegou ao território de Gaza com tanques e helicópteros. O ferimento de quatro soldados israelitas na fronteira em 10 de Novembro, portanto, já era parte de uma cadeia de eventos que começou quando os civis de Gaza foram mortos.

Nós, os signatários, voltámos re-centemente de uma visita à Faixa de Gaza. Alguns de nós estamos agora ligados aos palestinianos que vivem em Gaza através dos média sociais. Por duas noites seguidas, palestinia-nos em Gaza foram impedidos de dormir pela movimentação contínua de drones, F16, e bombardeamentos

indiscriminados sobre vários alvos na densamente povoada Faixa de Gaza . A intenção clara é de ater-rorizar a população, e com sucesso, como podemos verificar a partir de relatos dos nossos amigos. Se não fosse através dos posts no Facebook, não estaríamos conscientes do grau de terror sentido pelos simples civis palestinianos em Gaza. Isto con-trasta totalmente com a consciência mundial sobre cidadãos israelitas

chocados e aterrori-zados

O trecho de um relato enviado por um médico canadiano que esteva em Gaza, servindo no hospital Shifa ER no final de se-mana, diz: “ os feridos eram todos civis, com várias perfurações por estilhaços: lesões cere-brais, lesões no pescoço, hemo-pneumotórax, tamponamento car-díaco, rotura do baço, perfurações intesti-nais, membros estra-çalhados, amputações traumáticas. Tudo isso

sem monitores, poucos estetoscópios, uma máquina de ultra-som. Muitas pessoas com ferimentos graves, mas sem a vida ameaçada foram manda-das para casa para ser reavaliadas na parte da manhã, devido ao grande volume de baixas. Os ferimentos por estilhaços penetrantes eram as-sustadores. Pequenas feridas com grandes ferimentos internos. Havia muito pouca Morfina para analgesia.”

Aparentemente, tais cenas não são interessantes para o New York Times, a CBC, ou a BBC.

Preconceito e desonestidade com relação à opressão dos palestinia-nos não é nada de novo nos média ocidentais e tem sido amplamente documentado. No entanto, Israel con-tinua os seus crimes contra a huma-

nidade com a aquiescência plena e apoio financeiro, militar e moral dos nossos governos, os EUA, o Canadá e a União Europeia. Netanyahu está a ganhar apoio diplomático ocidental para operações adicionais em Gaza, que nos fazem temer que outro Cast Lead esteja no horizonte. Na verdade, os mais acontecimentos são a confir-mação de que tal escalada já começou, como a contabilização das mortes de hoje que aumenta.

A falta generalizada de indignação pública a estes crimes é uma conse-quência directa do modo sistemático em que os fatos são retidos e/ou da maneira distorcida com que esses crimes são retratados.

Queremos expressar a nossa indignação com a cobertura repre-ensível desses actos pelos média mainstream. Apelamos aos jornalis-tas de todo o mundo que trabalham nesses média que se recusem a servir de instrumentos dessa política sis-temática de camuflagem. Apelamos aos cidadãos para que se informem através de meios de comunicação independentes, e exprimam a sua consciência por qualquer meio que lhes seja acessível.

Texto divulgado a 15 de Novembro de 2012 por ciranda.net

Hagit Borer, linguist, Queen Mary University of London (UK)Antoine Bustros, composer and writer, Montreal (Canada)Noam Chomsky, linguist, Massa-chussetts Institute of Technology, USDavid Heap, linguist, University of Western Ontario (Canada)Stephanie Kelly, linguist, University of Western Ontario (Canada)Máire Noonan, linguist, McGill University (Canada)Philippe Prévost, linguist, University of Tours (France)Verena Stresing, biochemist, Univer-sity of Nantes (France)Laurie Tuller, linguist, University of Tours (France)

Palestina: "Nós sabemos!"

“ Não é preciso ser um especialista em ciências da comunicação para entender que estamos, na melhor dashipóteses, diante de relatos distor-cidos e de má qualidade e, na pior, de manipulação propositadamentedesonesta.

“ Israel con-tinua os seus crimes contra a humanidade com a aquiescência plena e apoio financeiro, militar e moral dosnossos governos,

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Há anos atrás, um dos maiores antropólogos portugueses já exis-tentes, Luís Lopes, confidenciou que “os mortos bem conversados, dizem mais do que a maior parte dos vivos”. Evidentemente falava de análise e interpretação de es-queletos. Estava eu ainda a dar os primeiros passos na arqueologia. Se se podiam pôr esqueletos e cacos a falar, também o poderíamos fazer com as múmias da cultura portu-guesa, cobertas de pó e arrumadas no sótão do esquecimento, na espe-rança de que oiça a sua voz, quem não fôr surdo. Um desses esquele-tos do armário da tumba nacional é António José Saraiva, marco da cultura portuguesa, nomeadamente da literária, do Século XX. Em 1946, estando a lecionar no liceu de Viana do Castelo, publica o “Para a História da Cultura em Portugal”. Quase 70 anos decorridos, a ele retornámos para lhe colocar algumas questões prementes e atuais.

O SUL – Hoje temos ativa a geração mais qualificada de toda a história portuguesa, mas parece totalmente impotente face à crise que atualmente se vive. O que jus-tifica isso?

António José Saraiva – Todos sabemos que em Portugal o ensi-no universitário é uma convenção. Existe com o nome de Universida-de um organismo dispensador de diplomas indispensáveis ao exer-cício de determinadas funções. A Universidade está destinada a ser ultrapassada pelos acontecimen-tos. Já hoje ela é uma pequena ilha resistindo com tenacidade à nova ordem das coisas e à nova cultura correspondente para a qual não está preparada.

Mas, não é suposto ser ela o motor da modernização do país?

Foi da Universidade que partiu a reacção contra a modernização da vida nacional e contra o movimento das tendências colectivas, a tal ponto que a elite universitária se revelou a parte menos esclarecida do País, tomando a posição reacionária.

Ahh, pois, o seu Professor Salazar, os nossos Professores Cavaco, Professor Marcelo. Todos eles tão vanguardistas! Mas então, o pro-blema português é um problema das suas elites?

A elite não significa classe à parte, como muitos pa-recem julgar. Se assim fosse, qualquer classe à parte constituiria uma elite, o que é um absur-do. Elite é propriamen-te uma palavra que se define em relação à massa. Elite e massa são dois termos mu-tuamente dependen-tes. Elite significa que, dentro de certo grupo, certa classe, certa mas-sa, se seleccionam os representantes mais perfeitos, de melhor qualidade, mais re-presentativos, dessa massa. Não sendo isso, só pode ser uma coisa: uma classe fechada e sequestrada da vida portuguesa.

O SUL – Está a querer dizer que não há verdadeira elite em Portugal?

Ora qual é a massa representada na cha-mada elite portugue-sa? Pode dizer-se que a massa nacional está representada? Como se explica, nesse caso, uma elitezinha re-sistente, impermeá-vel, abotoada na sua batina, consciente do seu carácter todo aristocrático em face da Nação? Como se explica que nenhum

dos problemas nacionais a tenha ocupado e o seu calmo desdém por todas as questões de carácter colec-

tivo? Como se explica que invente para seu entretenimento uma série de problemazinhos profissionais e bizantinos? Como se explica que a renovação da mentalidade nacional se tenha feito nos últimos vinte anos totalmente à margem dela e que esta não tenha tomado qualquer parte na obra de elevação do nível de cultura média que tem sido realizada com êxito de há alguns anos para cá?

Mas a causa disto por que agora passamos não é da aplicação das teorias neoliberais?

AJS – Poderia al-guém aceitar o raciocí-nio simplista de que as moscas possuem espí-rito universal porque se espalharam pelo mundo inteiro?

Crê, então, que os criadores cul-turais devem autonomamente assumir o combate social?

Há um problema da cultura em Portugal de que hoje temos consciência cada vez mais nítida, mas que antes de nós foi repeti-damente posto. O baixo nível da massa portuguesa. A elevação e eficiência dos órgãos dirigentes de qualquer grupo depende, em últi-ma análise, do nível médio desse grupo. Ora com um nível médio extremamente baixo, como que-remos ter dirigentes esclarecidos? Em primeiro lugar, não há uma base suficientemente larga para recrutar esse pessoal dirigente; em segundo lugar, o controle dele não pode ser feito satisfatoriamente, dado que esse controle compete ao cidadão, e o nível deste é o que sabemos. Enquanto, pois, o nível médio não subir suficientemente é inútil qualquer esforço.

Então e como perspetiva a cultura em Setúbal?

Temos consciência cada vez mais nítida que, desde o século XVI, sucede-se uma série de tenta-tivas para enraizar entre nós uma cultura, que se malogram umas atrás de outras. A história da cul-tura em Setúbal não apresenta um desenvolvimento seguido e consequente, mas estratifica-se em secções independentes: é uma série de irrupções descontínuas,

não tem uma linha directriz inter-na. Para usar de outra comparação ainda: é uma série de tentativas de aclimatização que só suportam uma ou duas gerações e que têm de ser renovadas se não se quer que o solo fique definitivamente estéril. Depois de malograda, toda

a actividade se torna fraseológica, panegíri-ca e exegética; regres-sa-se à Idade Média, mas a uma Idade Média estabilizada, estilizada e esterili-zada. A historiografia recua de uma maneira dificilmente imaginá-vel; até ao ponto em que a verdade não é já o seu objectivo. A falsificação de docu-mentos torna-se uma

arte inocente. Nega-se a crítica e, implicitamente, a razão. Um país pequeno não pode ser resolvido na base da autarquia.

Então propõe que nada se faça, que aceitemos e emigremos?

Quer isto dizer que o problema nacional tem de começar a ser re-solvido pela base. Quer-se primei-ramente uma população de cultura média suficientemente moderna. Mas aqui põe-se outro problema: Como pode ser elevado o nível cul-tural de uma população esfomeada? Como pode o nível cultural ser alto onde o nível económico é baixíssi-mo? Há, portanto, preliminarmente, problemas de aparelhagem técnica, de aproveitamento de recursos na-turais e de redistribuição de riqueza a resolver. É, portanto, uma equação a três termos: elite – massa – con-dições de vida. Da variação de cada um destes termos depende a varia-ção dos outros dois. E só deste ponto de vista teremos probabilidades de compreender cabalmente o proble-ma da viabilidade de Portugal que a nossa história tão repetidamente oferece.

As perguntas são nossas, as respostas são excertos fiéis do “Prólogo” e “O português e o uni-versalismo” de “Para a História da Cultura em Portugal” de António José Saraiva, 1946.

José Luís NetoSubdirector do jornal O Sul

Entrevista ficionada a António José Saraiva

“ A história da cultura em Setúbal não apresentaum desenvolvimento seguido e consequente, mas estratifica-seem secções independentes: é uma série de irrupções descontínuas,não tem uma linha directriz interna

“ Como pode ser elevadoo nível cultural de uma populaçãoesfomeada? Como pode o nívelcultural ser alto onde o nível eco-nómico é baixíssimo?

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Os vampiros estão mortos, mas os zombies estão vivos. Dupla-mente vivos, acrescentaria (e longa vida aos zombies!) Ou pelo menos assim parece. (E não é verdade que até já existe aquilo que já passa por uma espécie de tradição anual daquilo que é conhecido como a “zombie walk”, onde, por razões que me escapam, voluntariamen-te pessoas se reúnem e passeiam por aí mascaradas de cadáveres putrefactos?)

É claro que esta não é uma mera constatação de evidência biológica, mas antes uma cons-tatação de evidência cultural. (Até, porque, na verdade, e biológico-metafisicamente falando, como toda a gente sabe, esta é uma questão complexa, onde se pode certamente argumentar que os vampiros estão fundamentalmente mais vivos que mortos e os zom-bies mais mortos que vivos – uma circunstância que tem igualmente o proveito de nitidamente provar que, afinal, e ao contrário do que é já uma crença célebre, nem sempre

“estar vivo é o contrário de estar morto”.) É oficial: vivemos um tempo de um óbvio revivalismo zombie.

Falo de revivalis-mo e não me engano. O assunto claramente não é novo – apesar de ser agora clara-mente mais evidente. Que o diga o realiza-dor George A. Rome-ro que, basicamente, vez toda uma vida em torno dele, desde (confirmo) 1969, com o seu “Night of the Li-ving Dead”, filme que o tornaria no mais que evidente pai na cultu-ra popular moderna da ideia zombie. Outros filmes se seguiriam: “Dawn of the Dead” (1978), “Day of the Dead” (1985) e, mais recentemente, “Land of the Dead” (2005), “Diary of the Dead” (2007) e “Survival of the Dead” (2009), naquilo que é hoje já uma longa linhagem de obra de “auteur” do género. E isto, claro, para não falar nos vários remakes e inspi-rações avulsas (algumas melhores outras francamente piores) a que

os mesmos, ao longo dos anos, acabariam por dar azo.

Entendamo-nos. Mesmo a patética saga (de livros e filmes)

“Twilight”, que man-tém hoje a fraca cha-ma vampírica acesa, não passa já de uma estranha espécie de anacronismo, com-pletamente dedicada a alimentar as estranhas fantasias de pobres raparigas romanti-camente frustradas que, por alguma in-compreensível razão, sonham em enamo-rar-se por um vam-piro vegan com uma peculiar tendência

para a melancolia e a depressão. (E, não é por nada, mas, no exacto momento em que escrevo estas li-nhas, e por um feliz acaso, passa na televisão um filme qualquer coisa como medianamente divertido de vampiros.)

Óbvio: a cultura zombie nunca foi assim. Mesmo nos seus primór-dios, esta sempre se firmou num pano de fundo mais geral de crítica política e social. Um zombie nunca

foi apenas um zombie, mas um elemento que, pela sua natureza (instintiva, animalesca, insaciável), sempre se permitiu a possibilitar a pensar a sociedade e aquilo que significa ser humano, num mun-do em risco de ser dominado por criaturas que, de facto, deixaram de ser humanas. Max Brooks, por exemplo, percebeu bem isto com o seu livro “World War Z: An Oral History of the Zombie War” (2006), um bestseller que, ao que parece, vai dar origem a um filme (duvidoso, duvidoso), com Brad Pitt a liderar o elenco (se é que isso realmente interessa) lá para Junho de 2013.

Mas perto de casa, não custa a perceber que “The Walking Dead” – a série de êxito que vai já na sua 3ª temporada – se insere natu-ralmente nesta linha. O sucesso é devido. Baseada num comic do mesmo nome, criado por Robert Kirkman e Tony Moore, a série re-trata a tentativa de sobrevivência de um pequeno grupo de pesso-as, num mundo completamente devastado por um apocalipse zombie. O seu slogan, “Fight the dead. Fear the living” (Combate os mortos. Teme os vivos), aliás,

não podia ser mais apropriado. Explico. Para um fraco apreciador destas coisas, é fácil confundir (e reduzir) a série a um simples misto do género da acção e fantasia e aventura pós-apocalíptica, de um ritmo muitas vezes frenético de aniquilação zombie. É claro que ela é tudo isto. Mas é igualmente claro que ela é muito mais que isto. Ela é também (ou principalmente) uma série de componente dramá-tica que coloca um conjunto de conhecidos (e desconhecidos), nas suas necessárias relações huma-nas, num mundo irreconhecível, onde, de facto, apenas uma regra impera: sobreviver.

Mas, e como sobreviver?, eis aí a questão. A natureza humana releva-se abertamente em situa-ções limite. O mundo dos zombies nunca foi realmente acerca dos zombies, mas um acerca daquilo que é ser humano, num mundo que, por qualquer definição, já não o é. É sobre sobrevivência claro, mas é também acerca do que esta-remos ou não dispostos a abdicar para sobreviver.

Tiago Apolinário [email protected]

Suburbanizam-nos a vida. Já eram as tradicionais cidades-dormitório e é agora também todo um degradar a cidade e degredar os/as cidadãos/ãs que vai avan-çando para o interior dos centros urbanos e para o exterior do que eram outrora espaços rurais. Com a exceção de pequenas ilhas de condomínios privados, avança o mar de betão.

No mar de betão luta-se para se manter à tona. Por entre tantos ca-minhos, a suburba-nização faz cidade traçando um sentido obrigatório que ora pendula para o tra-balho, ora regressa para um vazio cheio, e sempre confina o desempregado.

No mar de betão afoga-se a diversidade. Por entre tantas cores, a suburbanização faz cidade acinzentando os horizontes.

No mar de betão afoga-se a co-munidade. Por entre tanta gente, a suburbanização faz cidade amon-tando vidas sem criar encontros.

O mar de betão parece inun-dar-nos de sentimentos. De va-gas de inseguranças. De solidão e individualismo encaixotados em dispositivos de impedir vi-zinhanças. De luto de uma outra vida possível face ao recolher obri-

gatório nos transportes públicos que corta acesso à cultura e ao lazer. De impotência face à pena perpétua do empréstimo de uma habitação “fast food” feita para pa-recer agradável à primeira vista mas rapidamente degradável e acompanhada de espaços comuns desqualificados. De angústia de chegar ao momento da exclusão em que já nem essa pena perpétua se pode cumprir.

A suburbanização é a exploração urba-nizada. Uma lógica to-talitária que enfrenta resistências. É a isso que o verbo-ação des-suburbanizar se pretende referir e não a qualquer sentido técnico. Des-subur-banizar é o nome que se propõe aglomerar

os vários projetos e formas de resgatar a vida face à cidade da anti-estética que nos rouba o pra-zer de viver e da cidade das desi-gualdades que nos retira o direito à qualidade de vida.

Des-suburbanizar é, entre tan-tas outras coisas, redesenhar sub-versivamente a cidade por entre os seus traços duros. Criar praças, lugares de encontro e formas de democracia participativa. Rein-ventar os espaços, equipamentos e serviços públicos. Rasgar barrei-

ras, melhorar acessos, criar novas proximidades.

Des-suburbanizar significará intervir a vários níveis. Por exem-plo, a um nível macro, das políti-cas de ordenamento do território, implica intervir sobre os desequi-líbrios estruturais entre litoral/interior não através da penalização fiscal de quem foi obrigado a viver nos grandes centros urbanos mas através dos incentivos à fixação em zonas rurais e de criação de outras condições para que quem quer regressar à terra não seja obrigado a viver uma utopia de pobreza franciscana. Implicará

também intervir sobre a qualidade da construção através da legis-lação e da fiscalização e sobre a promoção da reabilitação urbana em vez da cedência à lógica insana de mercado de construir cada vez mais casas para ficarem devolutas.

Ou, por exemplo, a nível meso, das políticas regionais e de cidade, implica desenvolver estratégias de desenvolvimento sustentável criativas e participada numa lógica não concorrencial com os territó-rios vizinhos. Implicará também criar comunidade através da cultu-ra, do desporto, da história local. E implicará certamente muito mais

que aqui não se trata de apresen-tar um catálogo apenas de indicar alguns exemplos a complementar.

Para além destes dois níveis mais dependentes da intervenção do aparelho do Estado central ou local, é necessário um outro feito pela ação coletiva ou até individu-al. Assim, por exemplo, a um nível micro, das políticas de rua ou de bairro, implicará ações de “sabo-tagem criativa” tão simples com plantar um canteiro ou pintar um muro ou ações de coletividades e grupos de cidadãos que vão desde campanhas várias à construção de espaços de uso coletivo.

Ainda que o verbo-ação des-suburbanizar não consiga transmi-tir aquilo para que foi proposto, a urgência de des-suburbanizar sen-te-se na pele. Com mais veemência agora que a desqualificação urbana se agrava e o investimento público desaparece com a crise. Conjuntu-ralmente, des-suburbanizar será não aceitar que a austeridade se entranhe ainda mais na cidade. En-quanto que, estruturalmente, será ter a ousadia de, na expressão feliz de Daniel Bensaïd, pentear história a contrapelo. Não adorando uma utopia verde inatingível mas des-poletando processos multicolores variados.

Carlos CarujoProfessor

A Obsessão e o seu Dia

Des-suburbanizar

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Eu costumava gostar imenso de conduzir, mas ultimamente dou co-migo a evitar a todo o custo conduzir e utilizar o carro dentro da cidade.

Circular nas nossas cidades é cada vez mais stressante e caótico. Ir do ponto A para o ponto B é por vezes uma missão quase impossível, não só para os condutores que desesperam nas filas de trânsito, como também para os restantes utiliza-dores da via publica que estão sujeitos aos mais diversos tipos de poluição que o tráfego automóvel representa. Se por um lado o barulho e a própria poluição visual incomodam, por outro os gases de escape afetam a respiração.

Ao longo de décadas, as cidades

foram sendo construídas e adapta-das em prol do automóvel e em de-trimento das pessoas. Está na hora

de devolver as cidades às pessoas que conse-quentemente terão uma melhoria substancial na sua qualidade de vida. Para que isto aconteça é necessário o contri-buto de todos adotando hábitos de mobilidade suave e sustentável.

E que melhor for-ma de começar do que de bicicleta?

Comece com um dia por semana. Vai ver que não se arrepende e que rapidamente estará a arranjar pre-textos para deixar o carro em casa.

Embora muitas vezes quem se desloca de bicicleta na cidade ainda seja por muitos visto como o coitado

ou coitada que não tem possibilidade de ter carro, a verdade é que quem se desloca diariamente de bicicleta pensa que os “coitados” são aqueles que se limitam ao seu automóvel e que parece já não saberem viver sem ele. Sim, estou a falar dessas pobres almas “enlatadas” protegidas pela redoma das suas várias centenas de Kg de metal e vidro alheados de tudo o que os rodeia.

Para além de ser um meio de transporte amigo do ambiente, está comprovado por diversos estudos internacionais que as deslocações até 7 km dentro dos grandes centros urbanos são mais rápidas de bicicleta do que de automóvel. Para além disso, quando circulamos de bicicleta esta-mos muito mais dispostos a obser-var o que nos rodeia e passamos por diversos locais onde não é possível circular de automóvel. Por este facto, as deslocações de bicicleta incenti-vam a economia local e o convívio entre os cidadãos, já para não falar que queimam calorias e não combustível.

Claro está que não estou a pensar em trans-formar a nossa cidade em Copenhaga do dia para a noite. Trata-se de uma mudança cultural e como tal terá o seu tem-po de maturação. Mas se pensarmos um pou-co, com os combustíveis aos preços proibitivos em que se encontram e com tendência a subir, se 30% das nossas deslocações diárias de automóvel fo-rem substituídas pela bicicleta, não seria essa uma das formas de pou-pança que facilmente poderemos implementar?

Dir-me-ão que não é possível le-var as crianças à escola, que não têm onde arrumar a bicicleta (em casa ou no trabalho) e que se sentem insegu-ros na utilização diária da bicicleta.

Para todas estas questões, e para muitas outras que possam assombrar um possível utilizador diário de bici-cleta, existem alternativas e respostas:

É possível levar as crianças à es-cola. Existem hoje em dia acessórios que se podem acoplar à nossa bici-cleta para podermos transportar as crianças ou até mesmo para atrelar a bicicleta do nosso filho/a à nossa própria bicicleta. Alem disso, qualquer bicicleta de cidade com um supor-te de bagagem traseiro é suficiente

para levar uma criança até aos 25/30Kg. Não acreditam? A minha fi-lha pergunta-me sem-pre “pai, hoje vamos na bicicleta azul?

Tenho onde ar-rumar a bicicleta em casa e/ou no trabalho porque as bicicletas de hoje não têm nada a ver com as da nossa infância. Os materiais são mais leves, o que

as torna mais fáceis de transportar, as rodas podem ter blocagens rápidas que as permitem desmontar com o mínimo de esforço e existem no mer-cado modelos dobráveis a preços já bastante acessíveis. Estas bicicletas para além de serem fáceis de arrumar em casa ou no trabalho, permitem ainda o seu transporte no carro ou nos transportes públicos;

Já no que respeita à insegurança, esta é absolutamente normal nas pri-meiras utilizações de qualquer meio de transporte. Até o mais experiente dos condutores já se sentiu inseguro

ao volante e foi adquirindo segurança à medida que a prática se acumulou. Iniciem por percursos curtos e pouco movimentados. Se possível nas incur-sões em hora de ponta pelo caos do trânsito, façam-se acompanhar por um ciclista experiente. Vão ver que a insegurança depressa desaparecerá.

É claro que não pretendo com isto ser fundamentalista ao ponto de defender que devemos substituir o carro pela bicicleta. Tal como disse anteriormente, se todos tentarmos utilizar a bicicleta em 30% das nos-sas deslocações a melhoria da nossa qualidade de vida e da dos que nos rodeiam seria significativa.

Por outro lado, quanto mais uti-lizadores de bicicleta existirem na nossa cidade, mais irão surgir e mais seguras se irão tornar as deslocações de bicicleta. Porquê? Porque os ciclis-tas terão cada vez mais visibilidade, terão tendência a circular em grupos e serão mais visíveis e mais respeitados pelos automobilistas e pelos peões.

Para que isto seja conseguido, para que esta bola de neve possa ser posta em movimento, é imperativo que sejam introduzidas políticas de divulgação e sensibilização dos ci-dadãos quer para a utilização deste tipo de meio de transporte, quer para o respeito dos não utilizadores pelos ciclistas.

Mário Artur Pereira [email protected]

A razão do pedal (parte 1)

“As Mãos da Terra”

Um documentário sobre ofícios manu-ais, técnicas com herança ecológica e alternativa, a relação entre a natureza e os processos criativos, a liberdade da cria-ção e a autonomia no trabalho.A sobrevivência de saberes ancestrais no sistema actual das relações sociais e na economia glob-al. Uma discussão aberta entre as “mãos” que resistem mantendo vivos saberes e práticas de autonomia.

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Exibição dia 14 de Dezembrosexta-feira, às 21h30

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Entrada Livrecom a presença dos realizadores

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