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MICROFONIA MÚSICA .FILME .HQ .SHOW Ano 2 nº 07 João Pessoa, março 2012 Márcio Sno - Um Fanzineiro do Século Passado Quando você tomou conhecimento do que era fan- zine? Ao mesmo tempo em que eu era muito curioso, era muito tímido para perguntar o que era isso ou aquilo. Utilizava de artimanhas para obter determinada infor- mação. Da mesma forma foi como conheci os fan- zines. No auge da minha adolescência, eu lia muitas revistas de rock e a Rock Brigade era uma das minhas favoritas, principalmente por conta da coluna Head- banger Voice, e foi por aí que conheci minhas pri- meiras bandas independentes. Tinha uma parte dessa coluna que era para divulgação de fanzines. Eu não tinha a mínima ideia do que se tratava, nem mesmo sabia distinguir se essa palavra era feminina ou mas- culina. Lembrando que naquela época não tinha inter- net, tampouco um Google básico. Escrevi para alguns endereços e perguntei o valor necessário para ter o tal do fanzine. Descobri o que era fanzine quando ele chegou em minhas mãos. Me lembro que o primeiro que recebi foi o Secret Face. Qual foi o nome do seu primeiro fanzine? O primeiro que fiz foi o mais conhecido: Aaah!!, que durou seis números e chegou a ter 120 pági- nas na edição 4. Depois disso, editei também o Don’t Worry!! Com a Joelma (que hoje é minha esposa), o Ejaculação Precoce (que virou Lady Die!) e ainda o erótico Pleasure. Foi com a publicação de seus fanzines que você começou a ilustrar também? Eu já desenhava antes mesmo dos fanzines. Gostava muito de copiar dos desenhos do Angeli, Marcatti, que são minhas maiores influências. Também desen- hei muito o Garfield e o Snoopy (daí o Sno). Depois, como eu fazia desenhos para meus zines, as pessoas passaram a me convidar para fazer flyers, capas de zines, camisetas, adesivos e de demo-tapes. Fiz mui- tos desenhos nessa época, até chegou a um ponto de que eu não dava mais conta. Mas parei de desenhar. Algumas pessoas ainda me pedem coisas, mas é bem difícil eu aceitar, pois perdi o meu traço caraterístico da década de 1990. Recentemente um desenho que fiz como capa para o fanzine Aaagrh!! virou camiseta do Mukeka di Rato! Quem ou o que lhe inspirou mais a fazer fanzine? Assim que recebi o primeiro fanzine, já veio a ideia de publicar um. Claro que a minha inspiração foram esses primeiros. Com o passar do tempo, fui rece- bendo mais fanzines e a influência foi crescendo. Mas sempre tive o objetivo de fazer algo parecido (porém nunca consegui!) com o Abrigo Nuclear, Sociedade dos Mutilados, Papakapika, O Cabrunco, entre outros. Lógico que também a vontade e a oportunidade de estar do outro lado da notícia também foi algo que me motivou bastante. O fanzine proporcionava para mim essa realização, mesmo que de forma amadora, rústica, própria. Em entrevista a Adelvan Kenobi do blog Escarro Napalm, em janeiro do ano passado, você diz: “Pode parecer estranho você pensar que ainda exista neguinho que nade contra corrente, publi- cando em formato impresso, quando se tem uma internet toda, lhe dando de mão beijada todos os recursos do mundo para você criar um veículo de comunicação”. Você acha que é a mesma coisa? Explica isso... Mas não é? Pense: hoje você forma um blog e lá você fala de um determinado filme e você pode botar um link pro Wikipédia do cara, o trailer do filme e até o link pra baixar a película. O que os “normais” podem pensar de uma pessoa que insiste em publicar em pa- pel, com suas limitações de conteúdo, de distribuição e de recursos financeiros? Que o cara é doido! As pessoas que insistem nesse formato estão nadando contra a corrente desse leque de recursos que a inter- net proporciona. São loucos? Talvez. Mas com obje- tivos e valores que os mantém nesse formato. Muito podem achar isso ridículo nos dias atuais, mas quando você produz um zine impresso tem todo um ritual que se mistura com uma terapia que se transforma em realização pessoal. E essa realização é que faz es- ses malucos a continuarem no formato impresso. Só quem produz um fanzine pode ter ideia do que es- tou falando e no “Fanzineiros do Século Passado” eu tento passar um pouco desse sentimento. E realmente você atinge seu objetivo, especial- mente no depoimento do Renato Donisete, quando ele diz que tentou sair do papel para a internet e as pessoas cobravam dele o Aviso Final em papel... Pegando carona nessa constatação do Renato, as pessoas seguidoras do papel são todas do ‘século passado’? Existe uma geração desse século que produz zine impresso? Embora possa parecer meio estranho você pensar em publicações impressas em épocas de internet, blog, essas coisas, tem muita gente produzindo em formato de papel, fanzineiros desse século mesmo! E olha que não são poucos! Na próxima parte do documentário, muitos deles vão aparecer! Aguardem! Ainda com relação ao real e virtual, nem todo blog tem a atmosfera de um fanzine. Semana passada estive numa palestra do Bráulio Tavares que afir- mou que o blog mantido por ele não tem carac- terísticas de um blog, o que faz, segundo ele, as pessoas não se sentirem à vontade para deixar co- mentários, pois ele só republica textos. Qual seria o exemplo de blog fanzine que está na rede atual- mente? Sinceramente, acompanho pouca coisa na internet, geralmente vou aos locais que meus amigos me indi- cam, não tenho muita paciência pra fuçar, pois acabo sempre me perdendo, no caminho sempre esbarro em links que me levam para lugares que não têm nada a ver com o que eu queria no início da pesquisa. Mas existe três blogs fundamentais que tem cara de fan- zine e que falam de fanzines. Um é o Zinismo (http:// zinismo.blogspot.com), mantido pro Flávio Grão, Marcelo Viegas, Ideia e Edu Zambetti. Recente- mente, lançaram um fanzine impresso com algumas das principais matérias do blog! Outro é o Ugra Press (http://ugrapress.wordpress.com), do Douglas e Leandro, que lançaram o Anuário de Zines e publi- cam diversos textos sobre zines. E tem o Zinescópio (http://zinescopio.wordpress.com) que publica fan- zines em PDF para a galera baixar. Sou seguidor as- síduo desse e sempre baixo os zines que saem lá. Ainda na entrevista do blog Escarro Napalm você fala que já deu oficina sobre fanzines para educa- dores da ONG onde trabalha. Você tem conheci- mento do uso do fanzine em outras áreas? O fanzine atualmente está sendo muito utilizado em projetos socioeducativos, pelo viés da educo- municação. Muitos educadores e professores estão enxergando nos fanzines uma poderosa ferramenta para promover valores como o trabalho em equipe, autoestima, autonomia, criticidade, criatividade, mo- tivação e ainda controbui para a ampliação do vo- cabulário e repertório cultural, organizar e expressar melhor as ideias, além da melhoria no desempenho escolar. Isso é fato. Gazy Andraus, junto com Elydio Santos Neto aplicam o fanzine com turmas de mest- randos na área de Educação. Thina Curtis desenvolve oficinas de fanzines dentro da Fundação Casa (antiga FEBEM). Existem ainda diversos projetos em ONGs diversas que utilizam-se do fanzine como ferramenta e eu acho isso muito positivo e uma das formas para manter viva a chama do fanzine impresso. Será que a internet conseguiu atingir o público que os fanzines formaram ao longo dos anos? É muito difícil medir isso, pois não é difícil comparar o mundo das cartas com o universo da internet, são duas realidades distintas. Porém, acredito que é muito mais fácil você adquirir e medir a fidelidade de um fanzine impresso lá nos 80, 90, do que um blog. Você media a popularidade de seu fanzine pelo número que cartas que recebia da galera que pedia exemplares e como o seu fanzine era conhecido no meio underground. Fico muito em dúvida se as pessoas realmente lêem os conteúdos Existe alguém para realizar um documentário sobre fanzines como Márcio Sno? Talvez exista em um universo paralelo, porque do lado de cá, no nosso tempo trembalístico.com. br, a maioria não faz o que gosta. Poucos possuem paixão, obstinação e dedicação para que tal fato aconteça. Caso essa pessoa exista num universo paralelo certamente, não teria algumas sacadas, que podem ser detectadas ao longo do documentário “Fanzineiros do Século Passado” (coisa de quem estava lá). Numa edição simples e dinâmica, Sno entrevista fanzineiros mostrando apetrechos do século passado para confeccionar seus zines. Alguns se dividem entre o analógico - fanzine de papel/cola e os chamados blogs (páginas virtuais) que incorporaram características dos zines. Renegar ou absorver a tecnologia? Devemos, pelo menos, ter um pé no passado, buscando a todo custo, numa nostalgia, um pouco da instiga que reinava em tempos da pedra lascada? Márcio Sno, responde essa questão a sua maneira e responde outras tantas que fará vibrar tantos fanzineiros desse século como os do pas- sado. É a história. Confira a entrevista e assista o documentário! Distribuição gratuita

Jornalmicrofonia#07

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Márcio Sno (entrevista) - Um Fanzineiro do Século Passado, Dead Set, Gloom, Drama Beat, Surfadélica, Hazamat, Flávio C, Fawcett

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MICROFONIA MÚSICA .FILME .HQ .SHOWAno 2 nº 07 João Pessoa, março 2012

Márcio Sno - Um Fanzineiro do Século Passado

Quando você tomou conhecimento do que era fan-zine?Ao mesmo tempo em que eu era muito curioso, era muito tímido para perguntar o que era isso ou aquilo. Utilizava de artimanhas para obter determinada infor-mação. Da mesma forma foi como conheci os fan-zines. No auge da minha adolescência, eu lia muitas revistas de rock e a Rock Brigade era uma das minhas favoritas, principalmente por conta da coluna Head-banger Voice, e foi por aí que conheci minhas pri-meiras bandas independentes. Tinha uma parte dessa coluna que era para divulgação de fanzines. Eu não tinha a mínima ideia do que se tratava, nem mesmo sabia distinguir se essa palavra era feminina ou mas-culina. Lembrando que naquela época não tinha inter-net, tampouco um Google básico.Escrevi para alguns endereços e perguntei o valor necessário para ter o tal do fanzine. Descobri o que era fanzine quando ele chegou em minhas mãos. Me lembro que o primeiro que recebi foi o Secret Face.

Qual foi o nome do seu primeiro fanzine?O primeiro que fiz foi o mais conhecido: Aaah!!, que durou seis números e chegou a ter 120 pági-nas na edição 4. Depois disso, editei também o Don’t Worry!! Com a Joelma (que hoje é minha esposa), o Ejaculação Precoce (que virou Lady Die!) e ainda o erótico Pleasure.

Foi com a publicação de seus fanzines que você começou a ilustrar também?Eu já desenhava antes mesmo dos fanzines. Gostava muito de copiar dos desenhos do Angeli, Marcatti, que são minhas maiores influências. Também desen-hei muito o Garfield e o Snoopy (daí o Sno). Depois, como eu fazia desenhos para meus zines, as pessoas passaram a me convidar para fazer flyers, capas de zines, camisetas, adesivos e de demo-tapes. Fiz mui-tos desenhos nessa época, até chegou a um ponto de que eu não dava mais conta. Mas parei de desenhar. Algumas pessoas ainda me pedem coisas, mas é bem difícil eu aceitar, pois perdi o meu traço caraterístico da década de 1990. Recentemente um desenho que fiz como capa para o fanzine Aaagrh!! virou camiseta do Mukeka di Rato!

Quem ou o que lhe inspirou mais a fazer fanzine?Assim que recebi o primeiro fanzine, já veio a ideia de publicar um. Claro que a minha inspiração foram esses primeiros. Com o passar do tempo, fui rece-bendo mais fanzines e a influência foi crescendo. Mas sempre tive o objetivo de fazer algo parecido (porém nunca consegui!) com o Abrigo Nuclear, Sociedade dos Mutilados, Papakapika, O Cabrunco, entre outros.Lógico que também a vontade e a oportunidade de estar do outro lado da notícia também foi algo que me motivou bastante. O fanzine proporcionava para

mim essa realização, mesmo que de forma amadora, rústica, própria. Em entrevista a Adelvan Kenobi do blog Escarro Napalm, em janeiro do ano passado, você diz: “Pode parecer estranho você pensar que ainda exista neguinho que nade contra corrente, publi-cando em formato impresso, quando se tem uma internet toda, lhe dando de mão beijada todos os recursos do mundo para você criar um veículo de comunicação”. Você acha que é a mesma coisa? Explica isso...Mas não é? Pense: hoje você forma um blog e lá você fala de um determinado filme e você pode botar um link pro Wikipédia do cara, o trailer do filme e até o link pra baixar a película. O que os “normais” podem pensar de uma pessoa que insiste em publicar em pa-pel, com suas limitações de conteúdo, de distribuição e de recursos financeiros? Que o cara é doido! As pessoas que insistem nesse formato estão nadando contra a corrente desse leque de recursos que a inter-net proporciona. São loucos? Talvez. Mas com obje-tivos e valores que os mantém nesse formato. Muito podem achar isso ridículo nos dias atuais, mas quando você produz um zine impresso tem todo um ritual que se mistura com uma terapia que se transforma em realização pessoal. E essa realização é que faz es-ses malucos a continuarem no formato impresso. Só quem produz um fanzine pode ter ideia do que es-tou falando e no “Fanzineiros do Século Passado” eu tento passar um pouco desse sentimento.

E realmente você atinge seu objetivo, especial-mente no depoimento do Renato Donisete, quando ele diz que tentou sair do papel para a internet e as pessoas cobravam dele o Aviso Final em papel... Pegando carona nessa constatação do Renato, as pessoas seguidoras do papel são todas do ‘século passado’? Existe uma geração desse século que produz zine impresso?Embora possa parecer meio estranho você pensar em publicações impressas em épocas de internet, blog, essas coisas, tem muita gente produzindo em formato de papel, fanzineiros desse século mesmo! E olha que não são poucos! Na próxima parte do documentário, muitos deles vão aparecer! Aguardem!

Ainda com relação ao real e virtual, nem todo blog tem a atmosfera de um fanzine. Semana passada estive numa palestra do Bráulio Tavares que afir-mou que o blog mantido por ele não tem carac-terísticas de um blog, o que faz, segundo ele, as pessoas não se sentirem à vontade para deixar co-mentários, pois ele só republica textos. Qual seria o exemplo de blog fanzine que está na rede atual-mente?Sinceramente, acompanho pouca coisa na internet,

geralmente vou aos locais que meus amigos me indi-cam, não tenho muita paciência pra fuçar, pois acabo sempre me perdendo, no caminho sempre esbarro em links que me levam para lugares que não têm nada a ver com o que eu queria no início da pesquisa. Mas existe três blogs fundamentais que tem cara de fan-zine e que falam de fanzines. Um é o Zinismo (http://zinismo.blogspot.com), mantido pro Flávio Grão, Marcelo Viegas, Ideia e Edu Zambetti. Recente-mente, lançaram um fanzine impresso com algumas das principais matérias do blog! Outro é o Ugra Press (http://ugrapress.wordpress.com), do Douglas e Leandro, que lançaram o Anuário de Zines e publi-cam diversos textos sobre zines. E tem o Zinescópio (http://zinescopio.wordpress.com) que publica fan-zines em PDF para a galera baixar. Sou seguidor as-síduo desse e sempre baixo os zines que saem lá.

Ainda na entrevista do blog Escarro Napalm você fala que já deu oficina sobre fanzines para educa-dores da ONG onde trabalha. Você tem conheci-mento do uso do fanzine em outras áreas?O fanzine atualmente está sendo muito utilizado em projetos socioeducativos, pelo viés da educo-municação. Muitos educadores e professores estão enxergando nos fanzines uma poderosa ferramenta para promover valores como o trabalho em equipe, autoestima, autonomia, criticidade, criatividade, mo-tivação e ainda controbui para a ampliação do vo-cabulário e repertório cultural, organizar e expressar melhor as ideias, além da melhoria no desempenho escolar. Isso é fato. Gazy Andraus, junto com Elydio Santos Neto aplicam o fanzine com turmas de mest-randos na área de Educação. Thina Curtis desenvolve oficinas de fanzines dentro da Fundação Casa (antiga FEBEM). Existem ainda diversos projetos em ONGs diversas que utilizam-se do fanzine como ferramenta e eu acho isso muito positivo e uma das formas para manter viva a chama do fanzine impresso.

Será que a internet conseguiu atingir o público que os fanzines formaram ao longo dos anos?É muito difícil medir isso, pois não é difícil comparar o mundo das cartas com o universo da internet, são duas realidades distintas.Porém, acredito que é muito mais fácil você adquirir e medir a fidelidade de um fanzine impresso lá nos 80, 90, do que um blog. Você media a popularidade de seu fanzine pelo número que cartas que recebia da galera que pedia exemplares e como o seu fanzine era conhecido no meio underground. Fico muito em dúvida se as pessoas realmente lêem os conteúdos

Existe alguém para realizar um documentário sobre fanzines como Márcio Sno? Talvez exista em um universo paralelo, porque do lado de cá, no nosso tempo trembalístico.com.br, a maioria não faz o que gosta. Poucos possuem paixão, obstinação e dedicação para

que tal fato aconteça. Caso essa pessoa exista num universo paralelo certamente, não teria algumas sacadas, que podem ser detectadas ao longo do documentário “Fanzineiros do

Século Passado” (coisa de quem estava lá). Numa edição simples e dinâmica, Sno entrevista fanzineiros mostrando apetrechos do século passado para confeccionar seus zines. Alguns se dividem entre o analógico - fanzine de papel/cola e os chamados blogs (páginas virtuais) que

incorporaram características dos zines. Renegar ou absorver a tecnologia? Devemos, pelo menos, ter um pé no passado, buscando a todo custo, numa nostalgia, um pouco da instiga que reinava em tempos da pedra lascada? Márcio Sno, responde essa questão a sua maneira

e responde outras tantas que fará vibrar tantos fanzineiros desse século como os do pas-sado. É a história. Confira a entrevista e assista o documentário!

Dis

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ição

gra

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MICROFONIA2

que têm escrito em blogs e sites. Creio que a internet tem muito público num contexto geral, mas a fideli-dade a um determinado site e blog é algum muito questionável.

Você acredita que o uso de ferramentas modernas para criar/fazer qualquer tipo de publicação in-dependente desvirtua o conteúdo dela?Não acho. Tapar os olhos para os recursos que a tec-nologia oferece é, no mínimo patético. Ontem estava em uma palestra com a Ana Mae Barbosa e ela citou algo que tem tudo a ver com essa pergunta: “a arte tem que dialogar com as mudanças” e penso que é isso mesmo, não podemos ignorar ou mesmo ir con-tra os recursos: temos que nos aliarmos a eles!Hoje os fanzineiros não estão mais tão radicais em relação à internet ou recursos. Gosto muito mais de um fanzine bem diagramado, mais profissional, me sinto mais à vontade lendo, e os fanzines que mais me inspiraram, como o Papakapika e O Cabrunco tinham lá atrás essa proposta de aliar a tecnologia ao impresso sem perder o espírito e proposta sub-versiva e alternativa dos fanzines. E acho que essa é a fórmula.

Você tem idéia de quem faz fanzines à moda anti-ga hoje em dia? Mesmo que use ferramentas mais modernas para obter o mesmo resultado...Claro. Muitas pessoas ainda produzem fanzines im-pressos. Um grato exemplo é o Aviso Final que o Renato Donisete mantém por mais de 21 anos! Ai-nda tem o QI do Edgard Guimarães... Tem muitos fanzines resistindo nesse período e outros surgindo. Qual foi o gatilho para começar o documentário?Eu estava pesquisando documentários sobre o as-sunto na internet para uma pesquisa que ainda estou fazendo, e percebi que não havia um doc que falasse essencialmente dos fanzines, só alguns que comen-tavam sobre zines, mas não se aprofundavam. Não tive dúvidas: precisava fazer algo! E deu no que deu!

Algum documentário ou diretor lhe influenciou?Na verdade, acho que diretamente não. Antes desse doc, havia feito um outro chamado “INGs - Indi-víduos Não Governamentais - Reciclando a Cultura do Lixo”, com meu amigo Fi Rocha, na época da fac-uldade, preferi manter a mesma narrativa do INGs, ou seja, as falas dos personagens conduzem todo o filme. Isso dá um trabalho medonho, mas acho que esse é e sempre será uma marca na minha produção audiovisual.

O que o seu documentário tem lhe proporcionado em termos de descobertas, surpresas, novidades?Muita coisa. Uma delas é essa de que ainda tem mui-ta gente resistindo nos impressos, mesmo com a con-corrência da internet. O que achei curioso é que os depoimentos são muito parecidos e isso pode ser no-tado no primeiro capítulo no qual as falas acabam se parecendo com uma apenas. As pessoas compartil-ham dificuldades, conquistas e macetes para produz-ir fanzines em uma época em que tudo era analógico.Algo muito bacana também é ir à casas das pessoas para e, independente da classe social, sou recebido

EXPEDIENTE

Editores Responsáveis: Adriano StevensonOlga Costa(DRT – 60/85)

Colaboradores:Josival Fonseca/Beto L./Jesuíno Oliveira/Erivan Silva/Laví Kíssinger

Editoração:Olga Costa

Ilustração:Josival Fonseca

Agradecimentos:Portal Rock Press Contato/Anúncios:3512 2330

E-mail:[email protected]

Facebook.com/jornalmicrofonia

Twitter:@jmicrofonia

EDITORIALQual a motivação de fazer um jornal im-presso? Qual a motivação de nadar con-tra a maré? Nadar contra a maré sempre foi uma escolha de vida. Num mundo onde se procura desesperadamente a busca de aprovação (casa, carro, roupas, grifes) ficar na situação é a escolha pra se dar bem, mas existe gente que liga o foda-se e vai de encontro: principio básico do Microfonia. Alguns se iludem como se fossem personagens num filme de Walt Disney, tornam-se tristes como o próprio Walt Disney e morrerão não menos tristes. Márcio Sno nada contra a maré e em entrevista fala sobre seu documentário “Fanzineiros do Século Passado”. Na coluna Matou a Família e foi ao Cinema, o diretor Daniel Schweiz-er vai de encontro aos skinheads e tira a radiografia de um movimento curioso e contraditório. Beto Luxuria vence o medo do sobrenatural e fala das mortas vivas... É isso, pra gente só faz sentido bater com a cara no muro, depois é só curar os hematomas e partir pra outra.

Zumbilandia

Vocês já sabem como começa: o locutor informa que as inscrições já começaram, uma infinidade de gente disposta a passar três meses confinado numa casa cheia de câmeras sem direito a nenhuma privacidade e de olho na fama e no dinheiro. Sim caro leitor, estou falando do BBB. Foi daí a ótima idéia da TV inglesa E4 de transformar o reality show num filme de zumbi. O argumento é o seguinte: enfiam vários candidatos a fama na “desejada” casa. Os mesmos desfrutam de festas, fofocas, brigas e conchavos, enquanto isso a epidemia de zumbi come solta no mundo. Quando a comunicação da casa é cortada os participantes pens-am que é algum teste, quando aparece alguém en-sangüentado continuam pensando ser um teste do di-retor do programa, por sinal muito bem feito pelo ator Andy Nyman, que encarna o estereótipo do diretor mal humorado e arrogante, enquanto os participantes alienados vivem como se nada estivesse acontecendo. Neste instante vem a minha cabeça: tem gente que vive em sua casinha e não sabe o que acontece ao redor, acreditando piamente no que é veiculado no jornal da Globo todas as noite. Em tempos de internet o “rebanho que saca” descrito pelo Pepe Escobar nos anos 80 soa ainda mais atual. Todos os personagens do reality show agem como se vivessem no mundo fantástico de Bob e acordam um pouco tarde para a ver a vida como ela realmente é! É uma produção inglesa feita pra TV com boas sacadas e momentos hilários. Assisti vários filmes de zumbis esse mês e garanto que Dead Set esta entre os melhores dessa leva. Em tempos de BBB nada melhor. Imagine o Pedro Bial como zumbi, nem precisa de maquiagem, né? A.S.

da mesma forma, com a mesma humildade e carinho.Com a distribuição do doc tanto em formato físico quanto virtual e as exibições em diversos eventos, a repercussão está muito além do que eu poderia imaginar e, com isso, o reconhecimento também tem sido muito grande. E isso motiva demais para dar an-damento ao projeto.

Você já iniciou a segunda parte do documentário?Já sim. Na verdade, eu tenho material não utilizado no primeiro e que vou usar agora. Já entrevistei pes-soas muito bacanas, entre elas, o Edgard Guimarães, que uma das maiores autoridades quando se fala em fanzines no Brasil. Mas ainda falta muita coisa para gravar. O foco do segundo capítulo (talvez o último) está nos fanzineiros que resistiram com o boom da internet e os que surgiram depois do aparecimento dela, também apontarei as iniciativas que fomentam a produção de fanzines impressos e papel dos fan-zines como ferramenta pedagógica. Portanto, tenho muuuuito trabalho ainda pela frente!

Você enveredou para outro tipo de midia, além do documentário “Fanzineiros do Século Passado” I e II, existe algum projeto ou planos de fazer mais documentários?Assim que eu fechar a edição do segundo capítulo do Fanzineiros, vou editar o documentário “Sexta-feira da Mundinha”, que é sobre uma tradicional mani-festação cultural mantida pela minha sogra e o lan-çamento será na próxima sexta-feira da paixão. Não vejo a hora de terminar a série Fanzineiros, que ainda terá mais um capítulo, pois quero muito pesquisar e registrar coisas diferentes, acho que já falei demais sobre fanzines! Projetos, tenho muitos! Muita gente já me convidou para futuras parcerias que só poderão ser concretizadas quando eu terminar a trilogia Fan-zineiros.

Dead Set - Mini série para TV (2008)Tempo de duração - 141 minutos

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MICROFONIA 3

Enquanto isso na redação...

El Mariachi Atrás da Porta Verde

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Finalmente os mortos vivos entraram no sindicato e disseram: “não queremos só comer cérebros, que-remos transar e sentir prazer duas vezes”. Então o diretor Rob Rotten e outros diretores acataram o pedido. É isso que vamos ver neste filme: Mortas vivas sendo violadas e também arrancando pe-nis a dentadas. Iremos ver uma garota sonhando com um morto vivo e até provando que ele não está tão morto assim e outras insanidades mais. A trilha sonora é composta por bandas como: Dei-cide, Impaled, Exmortem, Decapitated e Blood Red Thryn. Mas a cena que mais chama a atenção é um cenário de um filme pornô que é invadido pelos zumbis, na qual toda a equipe é devorada, menos a atriz principal (que zumbis espertos!). Também, seria um desperdício, matar uma atriz tão “talentosa”, onde ela é submetida a sexo oral, anal e até dupla penetração com todos os requintes que um filme do gênero tem. Se você gosta de filmes porno-trash esse junta a fome com a vontade de comer. Mas cuidado com as mortas vivas, elas es-tão por aí! Huhahaha... Segundo Dri me falou! B.L.

Porn of the Dead (2006) 85 minutos. Direção de Rob Rotten , com Buster Good, Dirty Harry, Jenner.

GLOOM - S/T CD (GO) - Banda dita como a ‘’esperança’’ do rock goiano e com o lançamento do primeiro álbum a tal ‘’esperança’’ torna - se realidade. O quinteto chuta o balde, vai contra tudo e todos, agregando ao som instrumentos como trom-bone, trompete e até pandeiro. Fazendo assim uma mistura sonora muito bacana de se ouvir, e que não é visto por aí com tamanha criatividade e qualidade. O grupo tem como referência para os arranjos as bandas Los Hermanos, Paralamas do Sucesso e Móveis Coloniais de Acaju, onde o vocalista faz uma participação especial em duas das doze faixas: ‘’Você Percebeu?’’ (versão da música ‘’ Do You Realize? ‘’ - Flaming Lips), feita por Niela e Fabrício Nobre (MQN), e ‘’Menina’’, um samba adoravelmente torto com uma letra meio melancólica. L.K. www.myspace.com.br/bandagloom

DRAMA BEAT – EXIST CD (SP) – Numa atmosfera a la Gang of Four,pela simplici-dade da capitação, Cristina Tavelin (guitarra e vocal), Tatiana Yuri (baixo) e Eduardo Pe-droso (bateria) criam e recreiam em cima do pós punk músicas de sonoridade vigorosa, le-tras niilistas e refrões regozijantes. A voz de Cristina somada a sua postura relembra bons momentos de musas como Danielle Dax, Toyah e Siouxsie Sioux. Destaques para Morn-ing Off (exit I), Life is a Joke, The Reaper e Happy to be Drama, faixa que fecha o CD, mas não desligue tem mais um pouco depois de 7:38 numa faixa escondida, uma espécie de “golden slumbers” densa, sem as orquestrações. http://www.myspace.com/dramabeat

SUFADELICA – Search and Not Destroy CD (SP) – Procurar e destruir – conheci-da estratégia de guerra usada no Vietnam, mas a missão aqui é procurar e não destruir, mesmo que o destino seja desconhecido e que venha a ultrapassar limites de tempo e espaço. O trio paulistano concebeu um álbum onde todas as músicas giram em torno de um mesmo tema: o espaço sideral. Cenário perfeito para a exploração e experi-mentação do terceiro trabalho. Em diversos momentos o clima criado pelo experiente guitarrista Carlos Nishimiya, Fábio McCoy (bateria) e Carlos Rodrigues (baixo) nos leva a atmosferas não apenas da surf music, pois incorporam diversos outros estilos a sonoridade, comprovando assim, que podem transpor limites reais e/ou imaginários em sua música. Destaques para Lurking Behind The Asteroids, The Voyage Suite: For Tomorrow e Landscape I (Ice Cold Weather). http://www.myspace.com/surfadelica

HAZAMAT –S/T CD (PB) – Diogo Egypto (baixo/voz), João Araújo (guitarra/voz), Pedro Araújo (bateria) e Pedro Guimarães gostam de fazer rock: Vou em frente/Essa é minha vez/Pouco importa o que vão dizer – os versos da música Confessional servem para exemplificar, assim como a banda antecessora Molestrike formada em 2003 e que teve atividades encerras em 2010. A maioria das músicas, apesar da tônica pop, adentra outro universo quando não cai na mesmice de rimas nas letras – muito bem expressas no vocal do Diogo – e também quando usam diversos elementos de outros gêneros musicais. As influências passam pelas sonoridades regionais, alternativas e heavy metal. Produção muito bem dosada de Edy Gon-zaga. Destaque para Última Noite, Danado e Cativeiro. http://www.myspace.com/hazamat

WARCURSED – Escape from Nightmare CD (PB). Quando fui tocar em Souza no Rock Cordel, recebi um livreto onde tinha uma banda chamada Warcused formada por Jean Sauvé (vocal/baixo), Richard Senko (guitarra), Marsell Senko (bateria) e Eduardo Sontag (guitarra). Quando recebi o CD tive a chance de conhecer o som da banda, muito bom por sinal. Death trash de primeira linha com músicas muito bem executadas, com pitadas de heavy metal tradicional nos solos de guitarra, coisa que não poderia ser dife-rente devido as influencias. A bateria e o baixo estão muito foda! Com levadas rápidas e certeiras. O vocal é muito bom, principalmente porque você entende a pronuncia das pala-vras. Destaque para: Iron Bird, Gates of War (que no inicio chega a lembrar banda de Pow-er metal), Eye of Judgement e Spectral Whisper. http://www.myspace.com/warcursed

Matou a Família e Foi ao CinemaOs skinhead devem amar seus “dr. martens”, amar a música ska, ter atitude correta no cora-ção e na cabeça, tem que gostar de futebol, tem que gostar de agitar com qualquer pessoa de outra subcultura e o que creio ser mais importante: ser antirracista. Com esse depoimento de Buster Bloodvessel, skinhead e vocal da banda inglesa de ska Bad Manners, tem inicio o documentário alemão Skinhead Attitude filmado na Alemanha, França, Suíça, Polônia, Canadá e Estados Unidos. Pra quem não conhece, o movimento originou-se no final dos anos 60 no Reino Unido e se espalhou mais tarde no resto do mundo. Ini-cialmente composto de brancos e negros vivendo em harmonia, no entanto, ao longo do documentário vemos o surgimento de outras ramificações como os skinheads da White Power (Força Branca) e em contraponto os skinheads S.H.A.R.P. (Skinheads Against Racial Prejudice – Skinheads Contra o Preconceito Racial). Recheados de depoimentos sem pedidos de desculpas pela violência usada nos dois lados, nesse documentário a contradição é visível onde um movimento dito racista (White Power) tem origem na Jamaica. Uma das cenas hilárias do documentário é quando uma família de imigrantes mexicanos que vive no Texas estão fazendo uma festa e tem como vizinho uma família de skins whitepower, detalhe, os latinos estão armados até os dentes... Vai encarar?A.S.

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MICROFONIA4

E o Vento Levou...

MICROFONIA NA MUSICA URBANA

João Pessoa, 28/01/2012 Fala Claybom, beleza?Aqui tudo tranquilo. Cadê você no show, fresco? Diz que vem, mas nunca aparece.Esse foi o primeiro trabalho do jornal Microfonia na parte de gigs e foi muito satisfatório, tivemos a ajuda de Law-rence da Comedores. Fizemos ao ar livre, no pátio da Música Urbana. Robério, o proprietário liberou o local que ajuda muito, pois já é um point e a acústi-ca facilita na propagação do som não exigindo equipamentos monstruosos. Vou falar do que você perdeu:Telegramadoistresmeia - foi a primeira banda a tocar e como diria Olga Costa: ‘sincronicidentemente’ foi capa do Mi-crofonia nº 6. A banda não tem nem baixista, nem baterista, eles usam uma programação. Esaú é o guitarrista que se-gura a base e Fabio é o cantor da ban-da. Lembra umas paradas de Manches-ter, tem umas coisas meio nubladas, toda vez que escuto me lembro do Bauhaus, mas na real, ao vivo você tem outra im-pressão. Fabio canta com uma insanidade controlada. É uma nova ‘velha’ banda.Comedores de Lixo – Essa você saca! Hardcore nervoso com uma nova forma-ção, o gordo Klaton saiu e Roninho entrou na guitarra, o baixista não conheço, Law-rence e Beto são “puta véia”. Faz tempo que não assistia os caras e a banda está bem melhor, Ainda esse ano sai um cd, se for igual ao show vai ser massa. Edgney que o diga, mandando ver no pogo!Outlaw Blessed - É um trio rockabilly, algo raro em João Pessoa, quiçá no nor-deste! Os caras tocam bem e fazem var-ias versões de ‘crássicos’: Highway to Hell do AC/DC e também Ace Of Spade do Motorhead. Sabe aquele momen-to que ninguém conhece a banda e de-pois todos ficam- “Porra o que foi isso!”.Rotten Flies – Chegou chegando com Velha Geração, música do mais recente CD “Rota de Colisão”. A galera do pogo atin-giu o máximo da insanidade já acionada pelo gatilho da Comedores. Além de músi-cas do novo trabalho o quarteto relem-brou as que os fãs de carteirinha (leia-se Francisquinho e Vitor) adoram cantar: Mini Psicopata, Revolta Programada e IML. Frase marcante do show: “toca um hardcore de verdade, por favor!”. Matou a pau! - É isso véio, as coisas continuam assim, devagar e sempre, mas a gente ta caminhando. É provavel que o Microfo-nia faça algo do tipo de vez em quando, dependendo do nosso estado de espírito. No mais é isso, fico no aguardo de con-tato e vê se parece. Lembrança a todos e manda o Robson se foder. Valeu! A.S.

Amor à Queima Roupa

O nome da banda remete ao lendário apresentador de televisão Flávio Cavalcanti, conhecido por sua postura conservadora. Não há duvidas que soe em-blemático para uma turma de jovens paraibanos. Agitaram nos fins dos anos 90 e começo dos 2000, era a favorita dos universitários e alternativos da época pelo astral juvenil, irreverências nas apresentações e refer-encias musicais diversas. Destacavam-se pelas letras inteligentes e os riffs poderosos das guitarras. Vi shows memoráveis, impagáveis, com a despretensiosa veia rock, que destilava letras inteligentes e com pitadas de bom humor, um punch punkster e uma alegria incon-testável – uma verdadeira celebração! Os vocalistas Fábio e Josimar, junto com o guitarrista Edy e a cozinha poderosa formada por Toni (bateria) e Marcelo (baixo), tinham personalidades distintas, mas como banda, fa-zendo música, era marcante a harmonia entre eles. Em 1999 gravaram e lançaram independente o clássico disco – “Flávio Cavalcanti na Praia, vol.1”, gravado em Recife, um álbum completo apresentando a banda no auge de inspiração com ótimos e grudentos hits popster: “Rede elétrica”, a faixa título, a funky “Animais em você”, a quatro por quatro “Enquanto os garotos jogam bola” é a sua melhor canção pop escrita. Constam ainda quatro faixas cantadas em inglês com poemas de reconhecidos poetas americanos, onde expõem sua faceta indie-rock. Em suma, o disco tem a forma certeira que abrange o rock feito nos anos 80 e 90, com a ambigüidade festeira e séria que caracterizou o grupo. O grupo tinha em vista uma possível carreira nacional, mudaram o nome para O Flávio C e aí o carro desandou... Desfeitas, desilusões e desentendimentos internos puseram fim ao promissor combo. Ficou a lenda incontestável dos bons sons. J.O.

Em 1925, o coronel inglês Percy Harrison Faw-cett chegou ao Mato Grosso em busca de ruí-nas de uma cidade originária da Atlântida, e desa-parece para sempre sem deixar nenhum vestígio. Esta é a trama que se verá desde o começo em Fawcett, escrito por André Diniz Fernandes (7 vidas, O Morro da Favela) e desenhado por Flávio Colin (1930-2002, O Boi das Aspas de Ouro, O Curupira). Em sua companhia vi-eram o filho Jack Fawcett e outro jovem de nome Rim-mel. O objetivo era adentrar as selvas brasileiras em busca de uma antiga cidade conhecida por outras culturas como Muribeca, ou ainda, Eldorado. Foi este aventureiro de carne e osso que deu origem ao personagem Indiana Jones, que todo o mundo conhece através do cinema.A primeira versão do gibi foi publicado em 2000 pela editora Nona Arte, foi quando tive a oportunidade de ler emprestado de um amigo que veio do Rio de Janeiro. Achei a história fascinante, despertando um ar de misté-rio sobre o que realmente aconteceu com o explorador e a curiosidade de buscar mais sobre sua vida nos muitos livros contando sua história. Foi neste também que apre-ndi a gostar da arte de Flávio Colin, que inicialmente achava grosseira e com cara de cordel, e depois mudei totalmente de idéia. Logo fui conseguindo outros gibis que tinham seus traços de pinceladas grossas e precisas.Em 2010, fiquei sabendo da republicação, entrei em con-tato com o autor e ele realmente confirmou. Isso me deixou ansioso pelo lançamento para que eu pegasse logo meu exemplar, pois é um dos meus quadrinhos na-cionais preferido. Vale a pena conhecer a trajetória deste explorador, seja neste ou mesmo nos livros, ga-ranto que só restará a curiosidade e o mistério. J.F.

À Caminho do Inferno

Editora: Devir novembro de 2010Número de páginas: 42Formato: (16 x 23 cm)Preto e brancoLombada coladaPreço de capa: R$ 13,5

O Festival Mundo em sua sétima edição dividiu o palcão do Espaço Cultural ao meio, para que a música não parasse nas duas noites, porém nem tudo é como se imagina e quer. Infelizmente o festival enfrentou percalços nunca dantes experimentados... Alguns destaques da primeira noite se fizeram presentes no Mundo e para o mundo via site, blog e twitter. Brasis: Rafa Araújo é um frontman com todas as letras, o domínio de palco é algo raro e bonito de se ver. Em breve lançarão material novo. Na sequencia Chico Limeira com uma entrosada banda teve a missão de con-quistar um publico basicamente rock: show conciso com boas composições. O Monstro chegou logo em seguida com seu rock instrumental, experimental, progressivo e psicodélico. Mesmo com alguns problemas com o som de palco, a banda impressionou pela criatividade e punch. Dalva Suada tomou de assalto o mundo e se fez um ex-emplo a ser seguido, imitado e apreciado com moderação, porque pode se tornar um vício! A sonoridade vinda de terras sergipanas ecoava distante na memória: Plástico Lu-nar, ótimo! O paulistano Cérebro Eletrônico liderado pelo inquieto Tatá Aeroplano (Jumbo Elektro) fez sua primeira apresentação em terras paraibanas. Em 2010 lançou CD que constou entre dos melhores do ano, show açulador! Segundo dia do Mundo abriu com a Warcursed, banda de Campina Grande, death trash de primeira pra ninguém botar defeito. Tem CD resenhado nessa edição. A Rotten Flies tirou a poeira de meses ausente dos palcos com a volta ao mundo dos vivos e mortos vivos também! A banda tocou pela primeira vez músicas do primeiro CD Rota de Colisão com a instigação de um estilo que nunca envel-hece: o hardcore! Zefirina na sequencia, com o novo batera Rangel, mesclou músicas do Noisecore, Só Precisamos de 20 Minutos e as ainda não lançadas oficialmente em ingrês, inspirações vindas d’além mar depois de tour pela zuropa!

FESTIVAL MUNDO NO ESPAÇO CULTURALJoão Pessoa, 10 e 11 de dezembro 2011