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JOSÉ ALEX PICCOLO SANT'ANNA SUBSÍDIOS PARA SELEÇÃO DE MATERIAIS POLIMÉRICOS TERMOPLÁSTICOS São Paulo 2007

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JOSÉ ALEX PICCOLO SANT'ANNA SUBSÍDIOS PARA SELEÇÃO DE MATERIAIS POLIMÉRICOS TERMOPLÁSTICOS

São Paulo 2007

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JOSÉ ALEX PICCOLO SANT'ANNA SUBSÍDIOS PARA SELEÇÃO DE MATERIAIS POLIMÉRICOS TERMOPLÁSTICOS

Dissertação apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Engenharia.

São Paulo 2007

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JOSÉ ALEX PICCOLO SANT'ANNA SUBSÍDIOS PARA SELEÇÃO DE MATERIAIS POLIMÉRICOS TERMOPLÁSTICOS

Dissertação apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Engenharia. Área de Concentração: Engenharia Metalúrgica e de Materiais Orientador: Prof. Doutor Hélio Wiebeck

São Paulo 2007

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Este exemplar foi revisado e alterado em relação à versão original, sob responsabilidade única do autor e com a anuência de seu orientador. São Paulo, de agosto de 2007. Assinatura do autor ____________________________ Assinatura do orientador _______________________

FICHA CATALOGRÁFICA

Sant Anna, José Alex Piccolo

Subsídios para seleção de materiais termoplásticos / J.A.P. Sant Anna. -- ed.rev. -- São Paulo, 2007.

104 p.

Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais.

1.Seleção de materiais e processos de fabricação 2.Seleção de materiais poliméricos termoplásticos (Aplicações industriais) 3.Metodologia I.Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais II.t.

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Às minhas meninas.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus avós Valentim (in memorian) e Lídia que, mesmo estando longe, estavam

muito perto na influência de minha formação.

Aos meus pais Alex e Cléia, que sempre me deram o suporte necessário para

chegar aonde cheguei.

Ao Prof. Dr. Márcio Morelli, meu orientador na Iniciação Científica e que muito

colaborou na minha formação acadêmica, mesmo que tenha tentado me desviar do

caminho dos plásticos.

Ao Prof. Dr. Hélio Wiebeck, meu orientador nesta jornada, por acreditar nesta nova

área de estudos que começamos no LMPSOL.

A todos no LMPSOL que, de alguma maneira colaboraram com meu trabalho,

mesmo que fosse nas conversas durante o churrasco anual.

A todos na Solvay Química Ltda, que acreditaram no meu potencial e me acolheram

tão bem, especialmente a Maria Clara Pipitone, Alexandre Guimarães e Mônica

Martins.

A aqueles na Solvay Advanced Polymers, LLC. que, direta ou indiretamente

trabalham comigo, e especialmente Edgar Benjamim, Kirit C. Desai, John Perry,

“Chuck” Rooney, Matthew Howlett e Mark Saltsman que, muitas vezes discutiram

aspectos de seleção de materiais termoplásticos na indústria comigo.

Aos meus amigos e companheiros de tantas horas Murilo, André, Rafael, Alberto,

Marreco e Cauê, principalmente aos dois primeiros que enfrentaram junto comigo as

dificuldades de fazer um mestrado enquanto se trabalha em uma grande empresa.

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Ao Yuri, que me passou o “vírus” da seleção de materiais e me incentivou a seguir

este caminho e que por tantas vezes colaborou, em longas conversas, com este

trabalho.

Aos funcionários do sistema de bibliotecas da Escola Politécnica, pois sem eles,

seria muito mais difícil reunir toda a bibliografia necessária para este trabalho.

Aos funcionários da Secretaria do Departamento de Engenharia de Metalúrgica e de

Materiais, especialmente ao Franklin e a Vera, por todo o apoio necessário.

Um beijo e um agradecimento especial a minha esposa Priscilla e minha filha Stella,

que sempre acreditaram em mim e me incentivaram, muitas vezes sem nem mesmo

perceber. À Priscilla ainda devo o crédito por muitas das imagens geradas ou

adaptadas para este trabalho.

Finalmente, uma frase retirada da Dissertação do Yuri: a você, que procurou pelo seu nome nestas páginas e não encontrou, minhas desculpas e meu muito obrigado!

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É melhor acender uma vela

do que praguejar contra a escuridão.

(Adágio)

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RESUMO

A constante evolução dos Materiais Poliméricos e seus compostos, a procura por um

melhor desempenho e redução de peso em peças técnicas, têm levado a busca de

soluções inovadoras em materiais termoplásticos para peças tradicionalmente

produzidas em materiais metálicos. Nestes casos, a fase inicial de um projeto deve

ser realizada com muito cuidado e é onde as metodologias de Seleção de Materiais

e Processos de Fabricação (SMPF) mais podem contribuir para o sucesso de um

produto. Existem muitas ferramentas para seleção de materiais, algumas delas até

mesmo voltadas especificamente aos polímeros, mas nota-se que uma metodologia

adequada – e talvez específica - ainda seja necessária. O objetivo deste trabalho foi

analisar os métodos utilizados na academia e na indústria para a seleção de

materiais termoplásticos, bem como os bancos de dados e programas de

computador disponíveis, na busca de subsídios para auxiliar profissionais de projeto

de produtos, sejam eles engenheiros ou não. Assim, tratou-se inicialmente de

aspectos de Engenharia de Materiais e de SMPF e especificamente de Materiais

Poliméricos termoplásticos, na busca de oferecer uma base comum por meio de

definições e premissas utilizadas. Como é de interesse entender a inserção da

filosofia de SMPF na indústria de transformação de materiais termoplásticos,

investigou-se os processos de SMPF na academia e na indústria. A partir desta

investigação, é apresentada uma discussão entre as semelhanças e uma possível

intersecção entre estas duas realidades, analisando-se os sistemas existentes de

maneira a apontar caminhos para estas duas áreas e culminando com uma proposta

de modificações nas metodologias atuais para adequá-las as necessidades dos

projetistas que trabalham com materiais poliméricos.

Palavras-chave: SMPF. Metodologia. Ferramentas. Polímeros. Design. Termoplásticos.

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ABSTRACT

The constant evolution of polymers and its compounds, the search for better

performance and weight reduction in parts have been leading to innovative solutions

in thermoplastic replacing metals in parts traditionally made of the later. In such

cases, the initial stages of a project needs a special care and are where the Material

and Process Selection (MPS) tools can really shine. If the designer chooses wisely

and take advantage of the design freedom made possible by the use of plastics, a

part can not only be made more economically but also with a better performance.

Many tools are available in the marketplace, some even designed to deal specifically

with polymers, but it is becoming clear that a more adequate and specific polymer

selection methodology is needed. The objective of this work is to analyze the

methodologies used in the academy and in the industry in the area of thermoplastic

materials selection, together with the databases and software available, in search for

subsidies to help product designers in their work. In this way, this work deals initially

with materials engineering, materials and process selection (MPS) and thermoplastic

materials basic knowledge, in a way to offer a basis for discussion. As it tries to

understand the MPS in the industry, these processes are investigated in the

academy first, leading to a discussion on the similarities and possible intersection

between both worlds, an analysis of the existing tools, and finally pointing towards

modifications on the actual methodologies to bring the theory of MPS to the real

world of designers.

Keywords: MPS. Methodology. Polymers. Design tools. Thermoplastics.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Pirâmide ilustrativa dos requisitos de um projeto de produto

e a divisão em projeto de engenharia e projeto industrial............................2

Figura 2: Custo operacional e comprometimento final de custos em

função das etapas de um projeto. ...............................................................3

Figura 3: Custo relativo de uma alteração no projeto em função da

etapa de projeto. .........................................................................................4

Figura 4: Esquema ilustrativo de Ciência e Engenharia de Materiais (CEM). ...........7

Figura 5: Esquema ilustrativo das áreas de Ciência de Materiais, Engenharia

de Materiais e da Ciência e Engenharia de Materiais, com suas

distinções e intersecções em relação ao escopo de trabalho em

torno do conceito, composição, estrutura, propriedades, função e

aplicação dos materiais. ..............................................................................8

Figura 6: A evolução dos materiais de engenharia. ..................................................9

Figura 7: Relação entre estrutura, propriedades e processamento dos

materiais, mostrando a sua interdependência. .........................................10

Figura 8: Da relação entre estrutura-propriedades-processo e aplicação

define-se o escopo da Seleção de Materiais (SM). ...................................12

Figura 9: O problema central da Seleção de Materiais, a interação entre

função, material, processo e forma. ..........................................................13

Figura 10: As interações que definem o volume do duplo tetraedro definem

também o escopo de atuação da Seleção de Materiais. ..........................13

Figura 11: Representação esquemática de uma estrutura de polímero

amorfo. ......................................................................................................16

Figura 12: Representação esquemática da estrutura de um polímero

semi-cristalino com domínios cristalinos (ordenados) e amorfos

(desordenados). ........................................................................................16

Figura 13: Estrutura molecular do polietileno. .........................................................17

Figura 14: representação esquemática de um esferulito. ........................................17

Figura 15: Micrografia utilizando luz polarizada mostrando a estrutura

esferulítica do polietileno. ..........................................................................18

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Figura 16: Classificação dos materiais poliméricos quanto a sua

característica mecânica, térmica e de sua estrutura. ................................18

Figura 17: Comparativo de resistência à tração e módulo para alguns

polímeros carregados e metais. ................................................................20

Figura 18: Comparativo de resistência a tração resistência a tração

específica para alguns polímeros carregados e metais. ...........................21

Figura 19: Pirâmide dos polímeros destacando as diferentes classes

de polímeros quando a estrutura e desempenho, número de

produtores e volume anual produzido de cada polímero. ............................21

Figura 20: Modelo de projeto de Pahl & Beitz. .........................................................25

Figura 21: Modelo de design e seleção de materiais. .............................................26

Figura 22: Custo operacional e comprometimento final de custos em

função das etapas de um projeto. .............................................................34

Figura 23: Custo relativo de uma alteração no projeto em função da

etapa de projeto. .......................................................................................35

Figura 24: Foto de uma xícara descartável em PS. ................................................42

Figura 25: Crescimento do número de tipos diferentes de termoplásticos. ............43

Figura 26: Reprodução da tela de busca sequencial do serviço IDES em

23 de Janeiro de 2007. .............................................................................47

Figura 27: Reprodução de uma tela de comparação entre produtos

do serviço IDES em 23 de Janeiro de 2007. ............................................48

Figura 28: Reprodução da tela inicial de trabalho do serviço CAMPUS

para os materiais da empresa Solvay Advanced Polymers em

11 de dezembro de 2006. .........................................................................49

Figura 29: Reprodução de uma tela do CES Material Selector, onde

podem ser observados dois mapas de propriedades dos

materiais e linhas referentes a um determinado índice de mérito. ...........50

Figura 30: Exemplo de tela de busca avançada do serviço Matweb em

13 de Fevereiro de 2007. .........................................................................52

Figura 31: Reprodução da tela de busca do serviço AZoM em 13 de

Fevereiro de 2007. ...................................................................................53

Figura 32: Reprodução da tela de busca do serviço Omnexus em

11 de dezembro de 2006. .........................................................................54

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Figura 33: Reprodução de uma tela do tutorial do serviço MAS 2.0

em 11 de dezembro de 2006. ...................................................................58

Figura 34: Reprodução de uma ficha de material do serviço Material

ConneXion em 12 de dezembro de 2006. ................................................61

Figura 35: Reprodução da tela de busca do serviço Material Connexion

em 12 de dezembro de 2006. ...................................................................61

Figura 36: Reprodução da tela de busca de materiais do serviço Matério

em 25 de fevereiro de 2007. .....................................................................62

Figura 37: Reprodução de uma ficha de material do serviço Matério em

25 de Fevereiro de 2007. ..........................................................................63

Figura 38: Reprodução da tela de busca do serviço Material Explorer em

25 de Fevereiro de 2007. ..........................................................................65

Figura 39: Reprodução de uma ficha de material do serviço Material

Explorer em 25 de Fevereiro de 2007. ......................................................65

Figura 40: Esquema de um processo de SMPF e projeto tradicional. ....................69

Figura 41: Digrama esquemático para projeto de peças plásticas. .........................70

Figura 42: Módulo de Young versus Temperatura para polímeros amorfos

e semicristalinos. .......................................................................................83

Figura 43 Comportamento da tensão e deformação de um termoplástico

carregado (Amodel AS-1145 HS da Solvay Advanced Polymers, LLC). ..89

Figura 44: Gráfico de barras mostrando a temperatura de distorção térmica

de diversos materiais. Cada barra mostra o quanto a propriedade

pode variar para uma mesmo material. .....................................................98

Figura 45: Mapa de propriedade dos materiais, Resistência mecânica versus

densidade para diversos materiais. ...........................................................99

Figura 46: Mapa de propriedade dos materiais no espaço Módulo de

Elasticidade versus densidade. Aparecem as diversas classes dos

materiais assim como as linhas guia para minimização de peso. ...........102

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Análise de similares de alguns serviços disponíveis de bancos

de dados informatizados para auxílio de seleção de materiais

poliméricos. .................................................................................................68

Tabela 2: Efeito da adição de 30% de fibra de vidro na temperatura de

deflexão térmica em alguns termoplásticos amorfos. .................................87

Tabela 3: Alguns índices de mérito utilizados em projeto. ......................................101

Tabela 4: Principais propriedades dos materiais segundo Ashby. ..........................102

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT – Associação Brasileira de normas técnicas

ABS – Polímero de Acrilonitrila-Butadieno-Estireno

ASA – Polímero de Acrilonitrila-Estireno-Acrilato

ASTM – American Society for Testing Materials – Organismo de normatização

Estadounidense equivalente à brasileira ABNT, embora específico para materiais

BS – British Standards – Organismo normatização britânico, equivalente à brasileira

ABNT

CLTE – Coeficiente Linear de Expansão Térmica, do inglês Coefficient of Linear

Thermal Expansion

CEM – Ciência e Engenharia de Materiais

CM – Ciência dos Materiais

DIN – Deutsche Institut für Normung – Organismo de normatização alemão,

equivalente à brasileira ABNT

DMA – Análise Dinâmico Mecânica, do inglês Dynamic Mechanical Analysis

DTUL – deflexão sob carga, do inglês deflexion under load, similar a HDT

EM – Engenharia de Materiais

FV – Fibra de Vidro

HDPE – Polietileno de Alta Densidade, do inglês High Density PolyEthylene

HDT – Temperatura de deflexão térmica, do inglês Heat deflection temperature,

também conhecido como DTUL

HIPS – Poliestireno de alto impacto do inglês High Impact PolyStyrene

HTS – Sulfona de alta temperatura, do inglês High Temperature Sulfone

IEC – Padrão para testes de propriedades elétricas

IM – Indice de Mérito

ISO – International Standard Organization – Organismo Internacional de

normatização

JIS – Japanese Industrial Standards – Organismo de normatização Japonês,

equivalente à brasileira ABNT

LCP – Cristal líquido polimérico do inglês Liquid Crystal Polymer

LDPE – Polietileno de Alta Densidade, do inglês Low Density PolyEthylene

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LLDPE – Polietileno Linear de Baixa Densidade, do inglês Linear Low Density

polyethylene

MFI – Índice de fluidez, do inglês Melt Flow Index

PA6 – PoliAmida 6

PA6.6 – Poliamida 6.6

PAA – Poliarilamida

PAI – Poliamidaimida

PBT – Poli (tereftalato de butileno)

PC – Policarbonato

PE UHMW – Polietileno de ultra alta massa molar, do inglês Ultra High Molecular

Weight PolyEthylene

PEEK – Polieteretercetona

PEI – Polieterimida

PES – Polietersulfona

PET – Poli (tereftalato de etileno), do inglês PolyEthylene Teraphtalate

PMMA – Poli (metacrilato de metila)

POM – Poli óxido de metileno, também conhecido como Poliacetal

PP – Polipropileno

PPA – Poliftalamida, do Inglês PoliPhtalAmide

PPc – Polipropileno copolímero

PPC –Polifenilcarbonato

PPh – Polipropileno homopolímero

PPO – Poli óxido de fenileno, do inglês PoyPhenyleneOxide

PPr – Polipropileno random

PPS – Polisulfeto de fenileno, do inglês PolyPhenyleneSulfide

PPSU – Polifenil sulfona, do inglês PolyPhenylSulfone

PS – Poliestireno, do inglês PolyStyrene

PSAI – Poliestireno de alto impacto

PSU – Polisulfona

PVC – Poli (cloreto de vinila), do inglês PolyVinylCloride

PVC plast – Poli (cloreto de vinila) plastificado

PVC rig – Poli (cloreto de vinila) rígido

SAN – Polímero de Estireno-Acrilonitrila

SM – Seleção de Materiais

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SMPF – Seleção de Materiais e Processos de Fabricação

SP – Seleção de Processos

Tg – Temperatura de transição vítrea, do inglês Glass transition temperature

Tm – Temperatura de fusão cristalina, do inglês Melting temperature

UL – Underight Laboratories

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LISTA DE SIMBOLOS

� – Tensão

� – Densidade

E – Módulo elástico

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO. ......................................................................................................1

CAPÍTULO 1 – DEFINIÇÕES E PREMISSAS. ..............................................6

1.1 Aspectos de engenharia de materiais e SMPF. ....................................6

1.2 Aspectos de materiais poliméricos. ....................................................15

CAPÍTULO 2 ASPETOS ACADÊMICOS E INDUSTRIAIS DA SMPF. ..25

2.1 Seleção de Materiais e Processos de Fabricação na academia. ......25

2.2 Seleção de Materiais e Processos de Fabricação na indústria. .......33

CAPÍTULO 3 – DISCUSSÃO E PROPOSTA. ..............................................41

3.1 Seleção de polímeros e a necessidade de uma metodologia

adequada. .....................................................................................................41

3.2 Análise de Similares...............................................................................46

3.2.1 IDES...........................................................................................46

3.2.2.CAMPUS....................................................................................48

3.2.3 Granta CES Optimal Polymer Selector.......................................50

3.2.4 MatWeb......................................................................................51

3.2.5 AZoM A to Z of materials............................................................52

3.2.6 Omnexus Polymer Selector 2.0..................................................54

3.2.7 E-Funda......................................................................................55

3.2.8 Manufacturing Advisory Service 2.0...........................................56

3.2.9 Fabricantes de materiais Poliméricos Termoplásticos...............59

3.2.10 Materiotecas.............................................................................60

3.2.10.1 Material ConneXion....................................................60

3.2.10.2 Matério........................................................................62

3.2.10.3 Materioteca®...............................................................63

3.2.10.4 Material Explorer.........................................................64

3.2.11 Comparação entre os sistemas................................................66

3.3 Propostas ...............................................................................................69

3.4 Sugestões ..............................................................................................72

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................73

APÊNDICE A – Propriedades dos materiais poliméricos

termoplásticos. ......................................................................................................80

APÊNDICE B: Métodos de ensaio. ..................................................................95

APÊNDICE C: Mapas de Propriedades dos Materiais. ..........................98

APÊNCIDCE D: Biografia. ................................................................................104

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INTRODUÇÃO

“Good design works, excellent design also gives pleasure”1

(ASHBY; JOHNSON, 2003)

Assim começa e termina um dos mais comentados artigos do professor

Michael Ashby, da Universidade de Cambridge, nos últimos tempos. O Design ou

Desenho Industrial (DI), como é conhecido no Brasil, é a arte de projetar e planejar

um produto. Neste sentido, a atividade de desenho industrial no Brasil abrange tanto

o que é conhecido no exterior como projeto de engenharia (Engineering Design)

como o projeto industrial (Industrial Design).

O desenho industrial é “uma atividade projetual que consiste em determinar

as propriedades formais dos objetos produzidos industrialmente. Por propriedades

formais não se deve entender apenas as características exteriores, mas sobretudo

as relações funcionais e estruturais que fazem com que um objeto tenha uma

unidade coerente, do ponto de vista do produtor e do ponto de vista do usuário”

(MALDONADO, 1991 apud WALTER, 2006)2.

O projeto de engenharia é aquele que visa atender funções técnicas

específicas e tem procedimentos sistematizados, amplamente conhecidos e

estudados nos diversos cursos de engenharia. Já o projeto industrial não é tão

sistemático como o nome pode sugerir e leva em conta aspectos como forma, cor,

textura e outras características estéticas do produto, e a literatura que trata deste

tema raramente menciona os aspectos básicos do projeto de engenharia,

funcionalidade e eficiência.

Para que um produto tenha sucesso, ele deve ao mesmo tempo atender aos

requisitos de Funcionalidade e Usabilidade e também dar satisfação ao usuário

(ASHBY, 2003). A Figura 1 ilustra estes requisitos.

1 Em uma tradução livre, Um bom design funciona, um design excelente também dá prazer. 2 MALDONADO, T. Design industrial. Lisboa: Edições 70, 2006. 128p.

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Figura 1: Pirâmide dos requisitos de um projeto de produto e a divisão em projeto de engenharia e projeto industrial. Adaptada de Ashby (2003).

Geralmente, em países desenvolvidos, equipes diferentes cuidam de cada

uma destas áreas, mas no caso brasileiro, o Engenheiro, ou o Projetista (também

chamado de Desenhista Industrial ou Designer) tem a árdua tarefa de trabalhar entre

estes dois campos, que podem ser complementares, mas muitas vezes são

conflitantes.

“Um produto permanece um conceito, uma idéia, ou talvez um

desenho, se nenhum material estiver disponível para convertê-lo numa

entidade tangível” (EVBUOMWAN et al., 1995).

A sociedade atual é muito dependente de vários materiais e conforme a

compreensão sobre eles foi aumentando ao longo do tempo, novos objetos e

artefatos puderam ser manufaturados e construídos. Pode-se dizer que a evolução

da espécie humana está intimamente ligada à utilização e ao desenvolvimento dos

materiais e dos processos de fabricação e transformação destes em objetos úteis ao

homem (COHEN, 1975a). No caso do projeto de um produto, pode-se dizer que

mesmo em sua concepção inicial deve-se ter a preocupação da escolha de um

material e de um processo de fabricação para que ele se torne realidade.

Desenho Industrial

Projeto Técnico

Projeto de produto

Produto deve funcionar, ser seguro e econômico

Produto deve ser de fácil entendimento e uso

Produto deve dar prazer

Usabilidade

Funcionalidade

Satisfação

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E é neste ponto em que podem surgir complicações, pois embora no caso

do projeto de engenharia as metodologias de Seleção de Materiais e Processo de

Fabricação (SMPF) estejam se estabelecendo, no caso do projeto industrial o

designer tem que se valer de sua formação, de sua experiência prática e das

informações que porventura tenha acesso. Isto ocorre pela falta de acesso dos

designers a informações sistematizadas sobre materiais que atendam suas

necessidades e que ao mesmo tempo não sacrifique e até estimule a criatividade

que deve ser inerente à atividade do projetista (LOVATT; SHERCLIFF, 1998).

No Brasil, isso fica claro em uma pesquisa que indicou que metodologias de

SMPF não são utilizadas por designers e arquitetos, embora os dois grupos se

mostrem muito interessados pelo tema. Esta aparente contradição se explica

justamente pelo fato de que as metodologias e sistemas disponíveis atualmente são

contraproducentes no que tange a sua utilização de maneira efetiva e, acima de tudo,

sacrificam a criatividade neste processo (ASSUNÇÃO, 2002).

A não utilização das metodologias de SMPF pode levar a complicações no

decorrer do projeto que poderiam ser evitadas pela utilização destes, uma vez que

estas complicações muitas vezes levam a um aumento no custo e no tempo para se

finalizar um projeto. Os custos decorrentes aumentam consideravelmente a medida

que ele avança e cerca de 85% dos custos totais são determinados antes mesmo da

fase de detalhamento do projeto (CHARLES et al., 2001). Este fato pode ser visto na

Figura 2.

Figura 2: Custo operacional e comprometimento final de custos em função das etapas de um projeto. Adaptado de: Charles, et al., 2001.

100

85

50

0

%

Idéia Design Conceitual e Representativo

Design Detalhado e Protótipos

Design para Manufatura

Em produção

Comprometimento de Custos Custos da Etapa

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Analogamente, pode-se entender que é bastante caro mudar um material

escolhido erroneamente para uma aplicação crítica depois de o produto pronto, ao

mesmo tempo em que pode ser relativamente mais barato modificar o desenho da

peça logo no início de um projeto para que ela não necessite utilizar um material

mais custoso, como ilustrado na Figura 3

Projeto Conceitual

Detalhamento

Construção de ferramental

Testes e validação

Pós-lançamento

1 10 100 1000 10000 100000

Custo Relativo de uma alteração Figura 3: Custo relativo de uma alteração no projeto em função da etapa de projeto. A partir de dados tabelados por Charles et al., 2001.

Os projetistas não têm como conhecer todos os materiais e todos os

processos de fabricação, embora muitos deles sejam cobrados exatamente por isso.

Por este motivo é que foram desenvolvidas ferramentas para o auxílio de seleção de

materiais e processos de fabricação.

Embora bastante discutidos no meio acadêmico nos últimos tempos, a

sistematização dos procedimentos de SMPF ainda está longe de ser difundida na

indústria. Percebe-se que ela tem um tratamento teórico já bastante aprofundado,

mas que muitas vezes não tem relacionamento com a realidade industrial, já que

esta nem sempre segue os caminhos traçados nos modelos simplificados da sala de

aula ou do laboratório.

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Especificamente, tem-se que:

• Existe um distanciamento muito grande entre a Academia e a Indústria;

• Teoria e prática de SMPF são bastante distantes;

• Para SMPF na indústria, formação e experiência valem mais que

metodologia e sistematização;

• Poucos recursos humanos na indústria com formação de base em

polímeros.

O objetivo deste trabalho foi analisar os métodos utilizados na academia e

na indústria para a seleção de materiais termoplásticos, bem como os bancos de

dados e softwares disponíveis, na busca de subsídios para auxiliar profissionais de

projeto de produtos, sejam eles engenheiros ou não.

Assim sendo, o Capítulo 1 trata de aspectos de Engenharia de Materiais e

de SMPF e especificamente de Materiais Poliméricos, na busca de oferecer uma

base comum por meio de definições e premissas utilizadas durante este trabalho.

Devido ao interesse em entender a inserção desta filosofia de SMPF na

indústria de transformação de materiais termoplásticos, o Capítulo 2 investiga os

processos de SMPF na academia e na indústria.

Finalmente, a partir desta investigação, o Capítulo 3 apresenta uma

discussão entre as semelhanças e uma possível intersecção entre estas duas

realidades, faz uma análise dos sistemas existentes, aponta caminhos para estas

duas áreas, culminando com uma proposta de modificações nas metodologias atuais

para adequá-las as necessidades dos projetistas que trabalham com materiais

poliméricos.

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CAPITULO 1 – DEFINIÇÕES E PREMISSAS

1.1 Aspectos de Engenharia de Materiais e Seleção de Materiais e Processos

de Fabricação

Os materiais estão intrinsecamente ligados a cultura humana e podem ser

apontados como recursos básicos da humanidade, juntamente com energia e

informação (COHEN, 1974). Pode-se perceber este fato prestando atenção nos

objetos que nos rodeiam, que são feitos de um ou outro material.

Na busca de se determinar a natureza e o escopo da Ciência e Engenharia

dos Materiais, assim como apontar subsídios teóricos e práticos para que a pesquisa

básica em materiais pudesse ser aplicada industrialmente, a National Academy of

Sciences dos Estados Unidos criou em fins de 1970 uma comissão para estudar o

campo da Ciência e Engenharia dos Materiais denominado Committee on the Survey

of Materials Science and Engineering (COSMAT), tendo o Prof. Morris Cohen como

presidente.

Entre 1970 e 1974, o COSMAT procurou por uma base comum entre

diferentes áreas do conhecimento como metalurgia, cerâmica, química e física dos

polímeros, física do estado sólido, engenharia mecânica, processos de fabricação

entre outras, adotando as seguintes definições:

• Materiais são substâncias com propriedades que as tornam úteis em

máquinas, estruturas, dispositivos e produtos.

• Ciência e Engenharia de Materiais (CEM) é a área da atividade humana

associada com a geração e aplicação de conhecimento que relacione

composição, estrutura e processamento dos materiais às suas propriedades

e usos (COHEN, 1974).

Nota-se o foco no interesse humano pelos materiais e posicionamento da

CEM como “área meio”, fornecendo subsídios para outras áreas do saber

entendidas como “áreas fim”, usuárias deste conhecimento, como por exemplo, a

Engenharia mecânica, a Engenharia Civil, a Arquitetura e o Desenho Industrial

(WALTER, 2006).

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O relatório desse trabalho (COHEN, 1974) também deixa claro a exclusão

de substâncias que em outros contextos também são denominados materiais, como

alimentos, drogas, água, biomassa, fertilizantes, combustíveis fósseis e o ar, que

são melhor estudados e compreendidos por outras áreas de estudo.

Foi ainda indicada a necessidade da criação de cursos de graduação

específicos de Engenharia de Materiais3 . A Figura 4 apresenta os âmbitos não

excludentes de atuação da Ciência de Materiais (CM) e da Engenharia de Materiais

(EM). Demonstra-se os conhecimentos manipulados na CEM e faz a distinção entre

as áreas de atuação da Ciência de Materiais (CM), de A a D, e da Engenharia de

Materiais (EM) de C a G.

Figura 4: Esquema ilustrativo de Ciência e Engenharia de Materiais (CEM). Fonte: Silva (1986).

3 Já neste mesmo ano era criado na Universidade Federal de São Carlos o curso de Engenharia de Materiais, pioneiro no Brasil. O relatório completo do COSMAT, particularmente o Volume 1 (COHEN, 1975a) é uma boa referência sobre a história, o escopo e a natureza da CEM e que mereceria ser abordado em qualquer curso de história da engenharia, ou mesmo em um curso introdutório a Engenharia dos Materiais. Já os volumes restantes, particularmente o Volume 2 (COHEN, 1975b), foi muito importante para traçar o desenvolvimento da CEM como área de pesquisa nos Estados Unidos, e influenciando o rumo das pesquisas em materiais ao redor do mundo. No Brasil, nunca houve um esforço semelhante, embora a CPMI presidida por Mario Covas (CONGRESSO NACIONAL, 1992) tenha tratado do assunto em meio a seus trabalhos.

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A distinção entre essas duas sub-áreas, bem como a intersecção entre elas

pode ser visualizada na Figura 5.

Figura 5: Esquema ilustrativo das áreas de Ciência de Materiais, Engenharia de Materiais e da Ciência e Engenharia de Materiais, com suas distinções e intersecções em relação ao escopo de trabalho em torno do Conceito, Composição, Estrutura, Propriedades, Função e Aplicação dos materiais. Fonte: COHEN (1985).

Embora as definições formais e o campo de trabalho tenham sido

determinados a relativamente pouco tempo, deve-se lembrar que os materiais são

estudados empiricamente há centenas de gerações. Na antiga Grécia, por exemplo,

havia até uma palavra própria: Hilogogia, a doutrina ou ciência da matéria (COHEN,

1975a).

Historicamente, o desenvolvimento e os avanços da humanidade sempre

estiveram intimamente ligados à capacidade do homem em explorar, produzir e

manipular materiais para suprir suas necessidades. Pode-se perceber este fato pela

maneira como se denomina as eras ao longo da história:

“Nós denominamos as Civilizações pelos principais materiais que elas utilizam: a Era da Pedra, Era do Bronze, Era do Ferro. Uma civilização é tanto desenvolvida quanto limitada pelos materiais de que dispõe. Hoje, o Homem vive na fronteira entre a Era do Ferro e a Era dos Novos Materiais.”

Sir George Paget Thompson, Premio Nobel de Física de 1937, citado por SILVA (1994).

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Os primeiros seres humanos tinham à sua disposição um número de

materiais bastante limitado, apenas os de ocorrência natural como pedra, madeira,

barro, peles de animais, por exemplo. Nesta época remota, alguns aspectos da

moderna seleção de materiais já se faziam presentes, quando, por exemplo, havia a

busca dentre esses materiais aquele que mais se adequava a uma determinada

utilização. O homem experimentou ossos e chifres, mas o material mais duro e

denso que estava disponível para ser atirado em um animal era a pedra. Pode-se

dizer que quando ele aprendeu a dar forma aos materiais e a selecioná-los e

também a comunicar o que sabia sobre eles, aí nasceu a civilização (COHEN, 1985).

Com o domínio do fogo e com o passar do tempo, o homem descobriu

técnicas para modificar esses materiais, criando as cerâmicas (como recipientes e

jarros, por exemplo.) e alguns metais, o que possibilitou um grande avanço para a

humanidade. A evolução dos materiais ao longo da história pode ser observada na

Figura 6.

Figura 6: A evolução dos materiais de engenharia. Adaptado de Ashby (1992).

CERÂMICAS, VIDROS

POLÍMEROS, ELASTÔMEROS

COMPÓSITOS

METAIS

Ferro Ferro fundido

Aços Aços liga Ligas leves

Super ligas Ligas Ti, Zr

Madeiras Peles Fibras Colas

Borracha

Bakelite Nylon

PE PMMA PC PS PP

Poliésteres Epóxi Acrílicos

Polímeros de alta temperatura Polímeros de alto módulo

Sapê Papel

PRFK PR

PRFC

Pedra Flint Cerâmica Vidro Cimento FV

Refratários Cimento Sílica Cerâmicas de engenharia Portland fundida Cermets Piro-cerâmica

Metais amorfos Desenvolvimento Ligas de Al-Li lento: Aços multifásicos principalmente Aços micro-liga controle de qualidade Novas super ligas e processamento

10000 5000 0 1000 1500 1800 1900 1940 1960 1980 1990 2000 2010 2020

DATA

IMP

OR

NC

IA R

ELA

TIV

A

Ouro Cobre Bronze

Compostos cerâmicos

100%

75%

50%

25%

0%

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Recentemente, principalmente após a segunda metade do século XX os

cientistas começaram a entender as relações entre a estrutura e as propriedades

dos materiais e como os processos de fabricação alteram estes dois itens. Pode-se

dizer que estes três fatores estão mutuamente relacionados, como pode ser

visualizado na Figura 7.

Figura 7: Relação entre Estrutura, Propriedades e Processamento dos materiais, mostrando a sua interdependência. Adaptado de Tomasi e Botta, 1991.

A estrutura de um material está relacionada com o arranjo interno de seus

componentes e envolve não apenas átomos, mas também a maneira pelo qual eles

se associam por meio de ligações químicas ou interações eletromagnéticas e a

disposição tridimensional destas combinações. Compreende, portanto, muito mais

que a simples composição química do material, embora seja influenciada por ela, e é

responsável pela formação do conjunto de propriedades que define um material.

A propriedade de um material é o modo – tipo e magnitude – com que ele

responde a um dado estímulo, sendo geralmente independente da forma ou

dimensões do corpo estimulado. Para fins didáticos estas propriedades são

geralmente agrupadas em 6 diferentes categorias: mecânicas, elétricas, térmicas,

magnéticas, óticas e deteriorativas (CALLISTER, 1994).

Processamento

Estrutura Propriedades

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Propriedades mecânicas são aquelas que relacionam a resposta de um

material (em geral uma deformação) com uma carga aplicada. Propriedades

elétricas são as respostas a um campo elétrico. Nas magnéticas o estímulo é um

campo magnético; nas térmicas, o calor; e nas óticas, as radiações eletromagnéticas

(luz). Para as propriedades deteriorativas, em geral mede-se a resposta do material

à sua interação com o meio ou outros materiais, como água, ácidos, bases, oxigênio

e chama, entre outros.

Mais recentemente tem-se estudado dois outros conjuntos de propriedades,

as sensoriais e as de percepção. Aquelas são advindas da mensuração direta das

propriedades dos materiais pelo tato, visão audição, paladar e olfato e incluem as

sensações de macio ou duro, quente ou frio, aspectos de som e de odores, por

exemplo. Já as de percepção, advém da associação que uma pessoa faz com

experiências adquiridas ao longo de sua vida. Como exemplo, pode-se citar os

atributos de valioso ou barato, velho ou novo, divertido ou sério (WALTER, 2006)4.

Os materiais precisam ser processados para que se possa dar a eles as

formas desejadas e compor um objeto. Normalmente, o processamento altera as

propriedades dos materiais, pelo simples fato de que este altera de alguma forma a

sua estrutura. Como exemplo, pode-se citar que uma poliamida pode ter

propriedades completamente distintas se resfriada a partir da fusão de modo lento

ou abrupto, pelo fato de que esta velocidade de resfriamento altera o percentual e o

tamanho dos cristais em sua estrutura.

Entender estas relações faz parte do escopo de atuação do engenheiro de

materiais, assim como a área de SMPF. A SMPF forma um só campo de atividades

– e não dois, Seleção de Materiais (SM) e Seleção de Processos de Fabricação

(SPF), como se poderia esperar – pelo já citado fato de que os processos de

fabricação influem nas propriedades do material e, portanto, nas propriedades de

uma peça produzida com ele.

4 A definição destas propriedades ainda é bastante vaga, apesar dos inúmeros estudos surgidos recentemente. Destaca-se o trabalho de Ashby e Jonhson (2003), Van Benzooyen (2002) e, no Brasil, o de Walter (2006).

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As atividades de SMPF passam pelo estabelecimento das condições de

contorno de um projeto e sua otimização, além de adequar o material a estes

requisitos, bem como aos meios de produção disponíveis, de forma

economicamente viável. Desta maneira, a natureza destas atividades é altamente

interativa. Já o projeto de um objeto, assim como sua fabricação e desempenho – o

que pode ser entendido como a aplicação dos materiais – depende da tríade

Estrutura-Propriedade-Processamento, o que levou a Tomasi e Botta (1991) a

estabelecer a Figura 8, onde indicam o campo de ação da seleção de materiais.

Figura 8: Da relação entre Estrutura-Propriedades-Processamento e Aplicação define-se o campo da seleção de materiais. Adaptado de Tomasi e Botta (1991).

Já Ashby (1992) estabelece que o processo de SM está centrado na

interação entre material, função, forma e processamento, já que a função dita a

escolha do material, assim como a forma é escolhida para que um material realize

uma função. Por sua vez, o processamento depende do material e influencia na

escolha da forma para que se realize uma função. Essas interações se realizam em

dois sentidos, uma vez que a especificação da forma restringe a escolha dos

materiais e dos processos disponíveis para fabricar um objeto com aquela forma.

Isto pode ser explicitado na Figura 9.

Estrutura

Aplicação

Propriedades

SSeelleeççããoo ddee MMaatteerriiaaiiss Processamento

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Figura 9: O problema central da Seleção de Materiais, a interação entre Função, Material, Processamento e Forma. Adaptado de Asbhy (1992).

Para o propósito deste trabalho entende-se que a união destas duas

definições é o que poderia definir de forma mais completa e abrangente o campo da

área de SMPF. Utilizando a tríade Estrutura-Propriedades-Processamento como

base, somam-se a eles a Forma e a Função como pontos de interação, de maneira

que todos os cinco estejam ligados entre si, como pode ser visto na Figura 10.

Figura 10: As interações que definem o volume do duplo tetraedro definem também o campo de atuação da Seleção de Materiais.

PROCESSAMENTO

MATERIAL FORMA

FUNÇÃO

Estrutura

Forma

Proprie dades

Função

Processamento

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Nota-se que as interações formam uma figura fechada com um eixo interno.

Pode-se estabelecer que a SMPF, apoiada sobre a tríade Estrutura-Propriedades-

Processamento, deve ser levada em consideração quando da escolha da forma e da

função de um objeto, fazendo com que seja necessária desde o início de um projeto.

A SM também tem uma forte ligação com a arte, embora de maneira menos

estruturada. Os artistas, artesãos, escultores, designers e arquitetos, entre outros,

sempre precisaram lidar com materiais em seu campo de trabalho. No princípio da

Era Industrial não havia a divisão clara entre arte e ciência e, nesta cisão, os artistas

ficaram com as propriedades estéticas e culturais, enquanto aos cientistas e

engenheiros couberam as propriedades mecânicas, elétricas, térmicas, magnéticas,

óticas e deteriorativas.

Este distanciamento ocorreu pelo fato de que os métodos científicos não são

os mais apropriados para se deduzir as propriedades culturais dos materiais.

Tipicamente, as escolas de arte e design desenvolveram um conhecimento sobre as

primeiras propriedades, mas não sobre as outras, e os profissionais destas áreas

têm que lidar com isso pela experiência, prática e muitas vezes por tentativa e erro.

Nota-se que a propalada interdisciplinaridade não cobre áreas do

conhecimento distintas, e a fronteira entre ciência e arte nem sempre é transposta.

Falta comunicação entre as pessoas do meio acadêmico que fazem ciência e

aquelas que fazem arte. Embora isto aconteça no meio industrial, notadamente em

empresas especializadas em design5 e no passado fossem parte de uma única

disciplina, ainda são escassas as pesquisas que unam as áreas, como por exemplo,

pesquisas sobre os aspectos culturais dos materiais, o que pode ser atribuído a falta

de recursos para tal fim, uma vez que é muito difícil justificar uma pesquisa onde

opiniões podem valer tanto quanto fatos (MIODOWNIK, 2005).

Um exemplo digno de nota é o esforço do grupo dirigido pelo Prof. Ashby

em Cambridge, que tenta levar adiante esta linha de pesquisa (ASHBY, 2003);

(LJUNBERG; EDWARDS, 2003), com ramificações em escolas de design (VAN

BENZOOYEN, 2002) e, no Brasil, um grupo coordenado por Walter6, que começa a

estabelecer as bases de um trabalho neste sentido.

5 Como exemplo podemos citar a Seymour Powell (www.seymourpowell.com) e a IDEO (www.ideo.com), esta última cujos métodos de trabalho, especialmente com os materiais, podem ser melhor compreendidos por meio do trabalho de Kelley e Littman (2001). 6 MARAR, J. F. Design & Materiais: elaboração e execução de um sistema de informações para Projeto de Produto. Projeto de Pesquisa, UNESP, Bauru: 2004.

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1.2 Aspectos de Materiais Poliméricos

Os polímeros naturais ou sintéticos são constituídos de macromoléculas

formadas por unidades que se repetem milhares de vezes, ao longo de uma cadeia

sequencial. Em grego, muitas unidades repetitivas podem ser escritas como poli

(muitas) merés (partes) e daí a denominação desta classe de materiais. Se estas

partes são sempre iguais, os materiais são ditos homopolímeros e quando se

apresentam dois ou mais tipos diferentes de unidades repetitivas (monômeros) eles

são chamados de copolímeros.

De acordo com seu comportamento mecânico, os polímeros podem ser

divididos em elastômeros, ou borrachas, e plásticos. Elastômeros são materiais

macromoleculares exibindo alta elasticidade a temperatura ambiente (23°C),

enquanto que plásticos são materiais que contém, como componente principal, um

polímero orgânico sintético e que, embora sólidos a temperatura ambiente (23°C),

tornam-se fluidos e possíveis de serem moldados pela ação de calor e pressão. O

termo “plástico” vem do grego plastikós e significa “adequado a moldagem” (MANO,

1985).

Uma outra maneira de classificar estes materiais é de acordo com a sua

resposta ao aumento da temperatura. Assim, eles podem ser classificados em

termoplásticos e termorrígidos. Termoplásticos são materiais poliméricos que

amolecem sob a ação do calor e enrijecem quando resfriados, de modo reversível.

Termorrígidos são materiais poliméricos que se tornam permanentemente rígidos

quando submetidos ao calor uma primeira vez e não amolecem se este for aplicado

novamente. Isto se deve a formação de ligações químicas entre as cadeias

moleculares. Se um calor excessivo for aplicado, essas ligações podem ser

quebradas, mas o polímero estará degradado.

Também se podem classificar os materiais poliméricos pela sua estrutura,

como sendo amorfos ou cristalinos.

Os polímeros amorfos apresentam uma baixa ou nenhuma ordenação de

curto alcance das cadeias poliméricas, como pode ser observado na Figura 11. Eles

não apresentam cristalinidade e, portanto, não apresentam ponto de fusão cristalino,

mas podem se tornar um fluido suficientemente menos viscoso para que possa fluir

e ser moldado. A temperatura em que isso começa a ocorrer é denominada

temperatura de transição vítrea, Tg.

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Figura 11: Representação esquemática da estrutura de um polímero amorfo.

Cada polímero possui uma temperatura de transição vítrea característica e

quanto mais alta ela for, maior será a máxima temperatura de uso deste material.

Acima da Tg, as moléculas começam a se mover e as propriedades do material são

bastante modificadas. Já os polímeros cristalinos apresentam áreas onde há uma

ordenação das cadeias poliméricas de maneira que elas formem estruturas

regulares denominadas cristais, como pode ser observado na Figura 12.

Figura 12: Representação esquemática da estrutura de um polímero semi-cristalino com domínios cristalinos (ordenados) e amorfos (desordenados).

Esta ordenação pode ocorrer de várias maneiras, sendo a mais comum a de

lamelas onde as cadeias se dobram sobre si mesmas, como pode ser observado na

Figura 13.

Região amorfa Domínios cristalinos

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Figura 13: Estrutura molecular do polietileno. Fonte: Hayden, Moffatt e Wulff (1965).

Em alguns casos, essas lamelas se arranjam em uma estrutura

tridimensional altamente ordenada a partir de um núcleo, e são chamadas de

esferulitos. Entre as diversas lamelas há também certa quantidade de material

amorfo e isto pode ser visualizado na Figura 14.

Figura 14: Representação esquemática de um esferulito. Fonte: Callister (1994).

Durante a cristalização de um polímero, vários destes esferulitos são

formados e, eventualmente se encontram, sendo deformados, o que pode ser visto

na Figura 15. Eles podem ser considerados os análogos poliméricos dos grãos dos

materiais metálicos e cerâmicos poli-cristalinos, embora cada esferulito seja na

verdade formado por vários cristais menores e um pouco de material amorfo.

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Figura 15: Micrografia utilizando luz polarizada mostrando a estrutura esferulítica do polietileno. Fonte: Callister (1994). Os polímeros semi-cristalinos apresentam duas temperaturas características.

Uma devido a modificações na porção amorfa, a Tg, e outra devida a porção

cristalina, a temperatura de fusão cristalina, Tm, que é aquela em que os cristais são

destruídos. Na Figura 16 é mostrada a classificação dos materiais poliméricos

quanto as suas características mecânica e térmica e a sua estrutura.

Figura 16: Classificação dos materiais poliméricos quanto a sua característica mecânica, térmica e de sua estrutura.

POLÍMEROS

ELASTÔMEROS PLÁSTICOS

TERMO- PLÁSTICOS

TERMO- RÍGIDOS

TERMO- PLÁSTICOS

TERMO- FIXOS

AMORFOS SEMI - CRISTALINOS

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As características dos materiais poliméricos advêm principalmente de suas

longas cadeias moleculares, embora elas possam variar bastante, em função da

composição química das unidades repetitivas e de sua estrutura cristalina, além é

claro da variação de tamanho das moléculas.

Por melhores que sejam estas propriedades, os polímeros quase nunca são

utilizados em seu estado puro. Eles são formulados com aditivos especiais ou na

forma de blendas poliméricas (misturas de dois ou mais polímeros) com o intuito de

melhorar ou modificar as propriedades intrínsecas dos polímeros de maneira a que

um mesmo polímero possa vir a ser transparente ou opaco, isolante ou condutor

elétrico, e que tenha alta ou baixa resistência ao impacto.

Este fato permite que um mesmo polímero base dê origem a uma ampla

gama de tipos com diferentes propriedades e consequentemente possam ser

utilizados em aplicações diversas. O exemplo mais comum é o do Poli (Cloreto de

Vinila) ou PVC, que é tanto utilizado em tubos e conexões (rígido, resistente à

pressão hidráulica), como em embalagens transparentes para acondicionamento de

sangue e plasma (flexível, transparente) ou ainda na confecção de solados para

calçados (expandido).

Em muitas aplicações, os polímeros e plásticos reforçados vêm sendo

crescentemente utilizados na substituição de outros materiais tradicionais ou são

escolhidos exclusivamente por causa de suas propriedades, muitas vezes singulares:

• Baixo peso específico, o que leva a peças inerentemente mais leves;

• Maior liberdade de desenho, o que muitas vezes permite desenhos que

seriam impossíveis em metal, por exemplo;

• Possibilidade de redução do número total de peças, o que permite

ganhos produtivos na fase de montagem das peças;

• Melhor acabamento, uma vez que a peça pode sair pronta do molde,

eliminando a necessidade de operações secundárias;

• Melhor resistência química e à corrosão, quando o material é escolhido

corretamente;

• Possibilidade de produção diretamente em cores, novamente eliminando

a necessidade de operações secundárias;

• Possibilidade de redução de custo da peça final, fator muitas vezes

determinante para a conversão de uma peça de metal para plástico.

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Mas nem tudo são vantagens. Os plásticos são tipicamente isolantes

térmicos e elétricos e, embora possam ser aditivados para serem eletricamente

condutores, estes tipos ainda estão longe de ter o mesmo desempenho dos metais.

A baixa condução de calor ainda é um problema onde a dissipação deste é

necessária, embora os fabricantes de polímeros de alto desempenho (High

Performace Engineering Plastics) e compostos a partir destes estejam se

empenhando para acabar com essas dificuldades.

Alguns polímeros reforçados, como a Poliarilamida (PAA, como o IXEF®, da

Solvay Advanced Polymers, LLC.), já têm algumas de suas propriedades

semelhantes à de metais, como resistência à tração e acabamento superficial. Na

Figura 17 é mostrado que a resistência à tração já é comparável à do alumínio e,

embora o módulo elástico (E) seja menor, a resistência específica (resistência à

tração dividida pela densidade – �/�) é maior (SANNER; NUYTTENS, 1998), como

mostrado na Figura 18.

POMPP

PBTFV30

PA66FV30

PA66FV50PAAFV50

PAAFV60Al

Zn

Aço

0

50

100

150

200

250

300

350

400

1 10 100 1000

Módulo Elástico (GPa)

Res

istê

ncia

à T

raçã

o (M

Pa)

PA66

PVC ABS

Figura 17: Comparativo de resistência à tração e módulo para alguns polímeros carregados e metais. Adaptado de Sanner e Nuyttens (1998).

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21

Mg

PAAFV60PAAFV50

Al

ZamakAço

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200 250 300 350 400

Resistência a Tração (MPa)

Res

istê

ncia

Esp

ecífi

ca (M

Pa/

cm3 )

Figura 18: Comparativo de resistência à tração versus resistência à tração específica para alguns polímeros carregados e metais. Adaptado de Sanner e Nuyttens (1998). Embora já seja bastante conhecida e utilizada, a representação em forma de

pirâmide mostrada na Figura 19 continua a ser um bom descritivo do mundo dos

plásticos. Por outro lado, ela pode ser falha quando se traça uma linha horizontal

para dividir esses polímeros em commodities, de engenharia e finalmente de alto

desempenho (também chamados de polímeros de engenharia de uso especial ou

ainda polímeros de engenharia de alto desempenho).

Figura 19: Pirâmide dos polímeros destacando as diferentes classes de polímeros quando a estrutura e desempenho, número de produtores e volume anual produzido de cada polímero. Adaptado de Solvay Advanced Polymers, LLC.

Número de Fabricantes

1-3

1-7

5-10

50-70

Volume Anual de Vendas

<0,4 -2 K Tons

10-50 K Tons

1 -3 M Tons

> 20 M Tons

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22

Os materiais na parte mais baixa desta pirâmide são aqueles conhecidos

como de uso geral ou commodities, sendo consumidos em grande escala,

normalmente com fornecimento regional e caracterizados pelo seu baixo custo,

facilidade de processamento e utilizados geralmente onde não se necessita de

desempenho mecânico.

Os materiais na parte central da pirâmide são os conhecidos como

termoplásticos de engenharia, que apresentam um custo moderado, e propriedades

bastante melhores com relação aos de uso geral, despertando o interesse para

aplicações de engenharia. O fornecimento regional ainda é uma forte vantagem em

termos de custos.

No entanto, para muitas aplicações, propriedades mecânicas extremas, boa

estabilidade dimensional, bom desempenho a altas temperaturas são muito

importantes. Nestes casos, quando plásticos convencionais (commodities ou mesmo

de engenharia) não atendem os requisitos ou estão muito perto do limite, entram em

cena os Polímeros de Engenharia de Alto Desempenho e os de Ultra Desempenho.

Estes produtos ocupam a parte superior da pirâmide dos plásticos e

tipicamente oferecem elevada resistência química e mecânica, mesmo a altas

temperaturas. Normalmente, estes materiais não são substitutos para outros

polímeros, mas para metais, vidro e até mesmo cerâmica em casos específicos

(SANT’ANNA; WIEBECK, 2006a)7. São fabricados por poucas empresas e em escala

global, já que os volumes empregados fazem com que as fábricas tenham tamanho

reduzido e, aliado ao enorme esforço em pesquisa e desenvolvimento destes

materiais, leva a que estes produtos tenham um custo por quilo mais elevado.

Para fins didáticos essa divisão é adequada, mas o que se vê é uma zona

de transição entre essas categorias, principalmente no que se refere à parte mais

baixa da pirâmide. Em termos de propriedades, estes materiais têm às vezes

desempenho semelhante, embora os seus custos possam ser bastante diferentes, o

que faz com que sejam posicionados mais para baixo ou mais para cima nesta

escala. A divisão entre amorfos e semicristalinos é bastante interessante, já que é

uma divisão que leva em conta as diferenças estruturais e de propriedades entre os

polímeros e faz com que a visualização seja facilitada.

7 Boas descrições dos materiais de engenharia e de uso especial podem ser encontradas em Brydson (1995), Mano (1991), Margolis (1995) e Wiebeck e Harada (2005).

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23

Os materiais semicristalinos em geral apresentam melhor resistência

química e à fadiga, além de aumentarem consideravelmente sua temperatura de uso

com a adição de cargas minerais ou fibra de vidro. Já os materiais amorfos

apresentam quase sempre melhores propriedades óticas (como transparência, por

exemplo) e melhor estabilidade dimensional após a moldagem, mas têm suas

propriedades muito pouco afetadas por cargas de reforço.

Para que todos estes materiais sejam transformados em objetos, eles

precisam ser processados. A indústria dos plásticos desenvolveu poucos processos

específicos para estes materiais, sendo a maioria deles uma adaptação de

processos já existentes como, por exemplo, a termoformagem (derivada da

prensagem de chapas), o processo de sopro (derivado do sopro de vidro), a

sinterização do PTFE (da sinterização cerâmica e da metalurgia do pó), a

rotomoldagem, adaptada da colagem de barbotinas, e a extrusão (derivada da

extrusão de argila e outras matérias-primas cerâmicas). Um dos poucos processos

desenvolvidos especificamente para o processamento de polímeros é o da injeção

(embora apresente certa analogia com a fundição de metais).

Pode-se dizer que a quase totalidade dos produtos produzidos em materiais

termoplásticos nos dias de hoje passou em algum momento por uma injetora ou uma

extrusora. Da extrusora obtém-se um produto contínuo e uniforme com seção

constante e é utilizada na produção de tubos, perfis, chapas, placas, fibras, tarugos

e recobrimentos em fios, cabos, chapas, filme ou papel. Muitas vezes estes produtos

semi-acabados passam por um outro processo, como usinagem ou termoformagem,

por exemplo. Na moldagem por injeção, um polímero fundido é forçado em um

molde e se solidifica enquanto esfria, quando então o molde é aberto e o processo

se reinicia. É o método mais comum para se produzir peças plásticas, pois embora o

molde tenha um custo elevado, ele permite uma alta produtividade e um baixo custo

por peça, se os volumes forem elevados.

Como citado anteriormente, deve-se levar em consideração que as

propriedades do objeto não são ditadas somente pelas propriedades dos materiais em

si, mas também pelo seu processamento8.

8 Em português, boas referências sobre o processamento de polímeros são os trabalhos de Blass (1988) e de Manrich (2005)

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24

As taxas de resfriamento empregadas tipicamente nos processos de

materiais poliméricos são relativamente altas e apresentam sensível variação com a

posição do material na peça. Assim, camadas mais superficiais das peças sempre

estão expostas a taxas de resfriamento maiores. Para polímeros capazes de se

cristalizar, essas taxas diferenciais podem ter conseqüências importantes, já que vão

levar diferentes tempos de permanência do material na faixa de temperaturas de

cristalização e, portanto, a variações no grau de cristalinidade e consequentemente

densidade da peça (FERRANTE, 1996).

O gradiente de temperatura resultante leva a que em algum momento a

camada mais externa já estará solidificada, mas o centro ainda estará resfriando (e

contraindo). Quando finalmente esta peça estiver totalmente resfriada, irão existir

tensões residuais de compressão na superfície e de tração na sua linha central.

Essas tensões podem levar a empenamentos ou a formação de poros internos,

enfraquecendo substancialmente a peça e afetando sua resistência química e aos

agentes externos.

Durante o processamento, as moléculas dos polímeros tendem a adotar um

alinhamento preferencial, seja por uma tensão axial aplicada, seja por uma tensão

de cisalhamento unidirecional como, por exemplo, nas camadas superficiais de

material junto a parede do molde, criando um gradiente de alinhamento da superfície

para o centro. Como a contração é menor na direção transversal à cadeia polimérica,

haverá contração diferencial na peça.

Quando do encontro de duas frentes de fluxo, forma-se a chamada linha de

solda, e ela implica em queda nas propriedades mecânicas na sua direção, uma vez

que a interação das cadeias poliméricas ao longo deste plano é deficiente. Essa

queda de propriedades é ainda maior no caso de polímeros reforçados, já que as

interações neste caso são ainda menores e naquela região o efeito do reforço é

praticamente nulo (FERRANTE, 1996), uma vez que o reforço não ocorre ao longo

desta linha.

O desenvolvimento dos polímeros e seus compostos é um campo em franca

evolução e deve-se estar muito atento para não fechar as portas para uma

possibilidade de inovação por absoluta falta de conhecimento das possibilidades de

materiais e processos disponíveis atualmente.

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CAPÍTULO 2 – ASPECTOS ACADÊMICOS E INDUSTRIAIS DA SMPF

2.1 Seleção de Materiais e Processos de Fabricação na academia: a teoria e

suas implicações em materiais poliméricos

O objetivo principal de um projeto mecânico é definir a forma de um

componente e os materiais de que ele será feito para satisfazer sua função

(EDWARDS, 2004). Assim, a melhor solução para um projeto somente pode ser

determinada se a partir de uma função necessária, as decisões de escolha de

material, forma e processo forem considerados simultaneamente. No entanto, a

maioria dos projetos ainda leva em consideração o modelo de design proposto por

Pahl e Beitz (1996), que é considerado um dos trabalhos fundamentais em projetos

de engenharia e que pode ser observado na Figura 20.

Figura 20: Modelo de projeto de Pahl e Beitz. Adaptado de Pahl e Beitz (1996).

O princípio básico por trás da filosofia de projeto destes autores é o de dividir

o problema em partes menores e resolvê-las separadamente, trabalhando com três

tipos possíveis de projetos (original, adaptativo e variante) e com três níveis de

detalhamento durante o projeto (conceitual, representativo, e detalhado).

NECESSIDADE DO MERCADO

CONCEITO

DETALHE

PRODUTO

ITE

RA

ÇÕ

ES

• Determinar requisitos • Considerar todas as opiniões • Avaliar viabilidade

• Analisar/modelar componentes, funções e requerimentos

• Determinar medidas aprox., layout, material e processo

• Análise detalhada/ otimização • Especificação da rota do prod. • Especificações/ desenhos

técnicos detalhados

DESIGN REPRESENTATIVO

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Para melhor controlar o processo de projetação, esse modelo leva a uma

sequência de ações estanques, onde cada uma delas necessita de informações em

níveis diferentes de detalhamento e este processo pode ser visualizado em termos

de SMPF na Figura 21 (SAPUAN 2001).

Figura 21: Modelo de design e seleção de materiais. Adaptado de Sapuan (2001).

Uma solução alternativa que tem sido muito utilizada é a de considerar as

implicações do processo de manufatura desde o começo do projeto, o que

certamente facilita a fabricação do componente projetado, mas implica em uma

complexidade maior durante seu projeto. Ainda que estas soluções de Desenho para

Manufatura (Design For Manufacturing – DFM) estejam em uso por algum tempo,

estima-se que muitos produtos ainda tenham entre 50 e 150% mais partes montadas

que o realmente necessário

Uma possível saída para este dilema é a utilização de um modelo de projeto

de produto em termos modulares, com adição ou remoção de componentes a

medida que o projeto avança, o que pode ser facilitado pelos métodos de

engenharia simultânea atuais, sempre levando em consideração que, acima de tudo,

os procedimentos de SMPF devem estimular, e não suprimir, a criatividade do

projetista (LOVATT; SHERCLIFF, 1998).

NECESSIDADE DO MERCADO

CONCEITO

DETALHE

PRODUTO

DESIGN REPRESENTATIVO

SELEÇÃO DE MATERIAIS

TODOS OS MATERIAIS

(BAIXA PRECISÃO)

AGRUPAMENTO DE MATERIAIS

(MAIOR PRECISÃO)

UM MATERIAL

(MELHOR PRECISÃO POSSÍVEL)

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Um comentário corrente sobre os processos de SMPF é que eles são muito

bons na teoria, mas que a complexidade dos problemas encontrados nas indústrias

não podem ser resolvidos por meio deles (BRECHET et al., 2001). No modelo de

Pahl e Beitz (1996) e em suas variantes, SM e SPF são realizados separadamente e

Brechet et al. (2001) sugere que SPF realizada desta maneira é pouco efetiva,

especialmente quando envolve processos secundários.

Já o método de Ashby pode ser melhor entendido como um procedimento de

seleção pelo método de questionário aberto, que não restringe o formato dos

requisitos de projeto e permite uma evolução destes requisitos ao longo do processo,

desde que estes requisitos possam ser traduzidos para buscar informação no banco

de dados. Estudos indicaram algumas possíveis melhorias do método de Ashby,

sendo que há necessidades latentes de desenvolvimento para lidar com situações

onde uma seleção simultânea de forma e material é necessária, e também quando o

objeto a ser produzido é muito complexo (BRECHET et al. op. cit.).

Para o caso de seleção de processos, este é em geral tratado da mesma

maneira, mas de forma separada e seqüencial, embora Brechet et al. (op. cit.)

aponte que quando já se tenha uma definição de qual classe de material se vai

utilizar, seja mais viável partir para uma estratégia de questionário fechado, que

aponta rapidamente para uma solução e não dá margem a erros de interpretação.

Esses aspectos também podem ser adaptados para o uso em projetos, onde uma

estratégia de questionário aberto, menos restritiva é utilizada nos estágios iniciais de

um projeto e a estratégia de questionário fechado é utilizada em suas etapas finais.

Neste estágio, o processo de SM está quase sempre focado em comparar

diversos materiais quanto a requisitos específicos de propriedades e escolher dentre

eles o que melhor se adequa ao projeto. Por isso mesmo, este tipo de SM é o mais

estudado nos meios acadêmicos. Já a introdução dos processos de SMPF nos

estágios iniciais de um projeto tem recebido bem menos atenção do mundo

acadêmico (DENG; EDWARDS, 2007), talvez pelo fato de que nesta etapa as

propriedades dos materiais não sejam tão críticas, mas sim a funcionalidade do

objeto em projeto.

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Para a comparação entre diversos materiais, informações muito completas

estão disponíveis sobre materiais e processos de fabricação, muito embora a grande

maioria delas não esteja sistematizada de forma que um projetista consiga recuperar

informações de acordo com sua necessidade. A grande maioria das informações se

encontra no formato de folhas de dados (datasheets), muito úteis quando se deseja

informações específicas de um dado material, mas de muito pouca utilidade quando

se faz a busca a partir das condições de uso do material9.

Considerando que os procedimentos de SMPF devem estimular, ao invés de

suprimir a criatividade durante o processo de projetação10 (LOVATT; SHERCLIFF,

1998), e que exercer esta criatividade implica na necessidade de uma percepção

real do material, principalmente pelo contato do projetista com os materiais, algumas

pesquisas nesta área tiveram inicio.

Destaca-se o trabalho em andamento sobre bibliotecas físicas de amostras de

materiais, mais conhecidas por “materiotecas”, coordenado por Walter (2006) e

também aquele da empresa Material ConneXion, uma vez que mesmo que um

banco de dados virtual seja muito rico em informações, ele é incapaz de substituir a

experiência de contato entre o projetista e uma amostra do material acabado

(WALTER, 2005).

Segundo Walter (op. cit.), uma materioteca que sirva de fonte de informação e

inspiração para projetistas deve permitir acesso a amostras, informações sobre elas

e também sobre o relacionamento entre os diversos materiais, desta forma

permitindo que quando um usuário analise uma amostra, ou uma folha de dados, ele

seja instigado a buscar informação sobre outros materiais, por similaridade ou

contraposição.

Com a máxima de que “um bom design funciona, um excelente design

também dá prazer”, Ashby e Jonhson (2003) buscaram enfatizar o papel dos

materiais e a importância da SMPF para o desenho industrial, destacando a

importância do design como criador de personalidade dos produtos, personalidade

esta que é grandemente influenciada pelos materiais escolhidos para sua fabricação

e o acabamento dado a eles em um processo de fabricação.

9 Deve-se ter cuidado ao interpretar os dados de uma folha de dados de um material. Algumas informações úteis sobre propriedades dos materiais e sobre métodos de ensaio podem ser encontradas nos apêndices A e B respectivamente. 10 Sobre a relação entre materiais, processos de fabricação e o processo criativo, duas boas referências são os trabalhos de Manzini (1989) e Reis (2003).

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Diferentes personalidades são atribuídas às diferentes classes e materiais11.

Por exemplo, a madeira é um material com um toque quente e considerado macio,

associado a certos sons e cheiros e tradição. Já os metais são frios, precisos,

podendo ser brilhantes e com um distinto som. Sua natureza e usos correntes

remetem a idéia de que os objetos produzidos com eles são “fortes”. As cerâmicas e

vidros têm uma tradição bastante longa e suas resistências ao risco, abrasão,

descoloração e corrosão dão certa imortalidade a objetos produzidos com esses

materiais, o que só é ameaçado pela sua inerente fragilidade. Além dessas

associações tradicionais, as cerâmicas hoje em dia remetem a associações com a

alta tecnologia, como fogões avançados, válvulas de alta temperatura e pressão,

bocais de foguete.

Finalmente há os polímeros, uma classe de material que pode ter muitos

aspectos e, deste ponto de vista, nenhuma outra classe de material pode apresentar

tantas diferentes personalidades. Inicialmente com uma má reputação – os primeiros

projetos de objetos em plástico deixavam muito a desejar – ainda hoje esta classe

carrega algum preconceito, apesar de existir uma infinidade de plásticos, que podem

cumprir as mais diversas funções, em alguns casos funções que não seriam

possíveis a nenhuma outra classe de materiais.

Dependendo de sua cor e textura, eles podem ser parecidos com cerâmicas

ou madeira, e quando metalizados, podem ter o mesmo brilho do metal.

Dependendo de sua aditivação, podem ser transparentes como o vidro ou opacos

como o chumbo, muito flexíveis ou tão rígidos quanto o alumínio, mantendo sua

personalidade própria, sendo considerados materiais quentes e adaptáveis as mais

diversas situações.

11 Vários autores vêm trabalhando na definição destas propriedades para sua utilização nos processos de SMPF, destacando-se os trabalhos de Ashby e Jonhson (2003), Ljunberg e Edwards, (2003), Van Benzooyen (2002) e, no Brasil, Kunzler et al. (2002) além de Walter e Silva (2005).

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A partir desta análise, Ashby e Johnson (2003) realizaram uma

sistematização e agrupamento dos materiais e identificaram 4 tipos de métodos ou

estratégias para SMPF:

• Por análise: Consiste na busca de materiais e processos em bancos de

dados numéricos pelos atributos desejados ou de condições restritivas.

Atributos desejados são condições que se deseja otimizar, em geral,

trabalhadas por meio de Índices de Mérito. Condições restritivas são

requisitos de desempenho mínimos ou indesejáveis. Este método é

aquele que as pessoas tradicionalmente associam ao termo seleção de

materiais e utilizado quase sempre como sinônimo deste nos meios

acadêmicos;

• Por similaridade: todos os atributos da solução existente são

enumerados e ordenados segundo sua importância. São determinados

critérios de maior e menor importância, assim como seus valores

relativos. Pela utilização de um banco de dados sobre materiais e

processos os valores podem ser comparados com os de outros

materiais, em busca de similares. É geralmente empregado quando se

deseja substituir um material ou se utiliza um projeto como ponto de

partida para outro, uma otimização. É o método intuitivamente utilizado

na indústria de plásticos, embora sem uma formalização de

procedimentos, quando se busca um material alternativo, ou concorrente

para substituir aquele em uso;

• Por síntese: consiste da busca de informações sobre materiais e

processos em produtos existentes, pelos seus atributos de percepção. A

partir de atributos desejados de percepção, num banco de produtos, é

possível verificar quais materiais e processos são empregados para tal e

estudá-los a fim de reproduzir tal percepção;

• Por inspiração: consiste da livre busca por materiais, processos e

produtos de maneira aleatória ou por interesse do projetista, que busca

livremente pelo banco de dados e os exemplos deste na busca de uma

inspiração para o seu projeto.

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Ashby e Johnson (2003) destacam ainda que os quatro métodos são

complementares e devem ocorrer em todas as etapas de projeto para que ele seja

mais efetivo.

A maioria dos trabalhos teóricos sobre SMPF é centrado em SM relevando a

SPF a um papel secundário. Um dos motivos para isso é que, pelas mais diversas

razões, a seleção de processos de manufatura não é sempre uma escolha livre e

nem sempre ela pode ser baseada em questões puramente técnicas e econômicas.

Isto pode ocorrer por questões estratégicas, por logística, por necessidade de

flexibilidade de produção, ou mesmo pelo tempo disponível para se realizar o projeto.

Devido a isso o projetista, mesmo tendo que considerar todas as hipóteses de

manufatura, pode acabar tendo que escolher processos que estão longe do ideal

(CHARLES, et al., 1989).

Assim, desde os primeiros trabalhos em seleção de processos (NIEBEL,

1966 apud LOVATT; SHERCLIFF, 1998)12, os pesquisadores desta área tendem a

não levar em consideração os motivos citados e consideram a SPF a partir de um

caso ideal, geralmente seqüencial a SM. Desta maneira, pouca atenção tem sido

dada ao estudo da sistematização da SPF durante os estágios iniciais de um projeto

(LOVATT; SHERCLIFF, 1998).

As metodologias de SMPF usuais hoje em dia evoluíram a partir do

empirismo e da busca aleatória de dados em handbooks e folhas de dados para

uma atividade sistematizada e, sobretudo, científica. Essa sistematização começou a

aparecer nos anos 80 com a primeira edição do trabalho de Crane e seus

associados (CHARLES, et al. op. cit.), quando foram formalizados os procedimentos

de Seleção de Materiais.

Esta formalização iniciou-se com o que se pode chamar de “funil” de

possibilidades, onde o processo de seleção ocorre pela sucessiva eliminação de

candidatos quando comparados aos requisitos. Muitas vezes, porém, os requisitos

eram tão exigentes, que frequentemente não sobravam materiais ao final do

processo. Este era então reiniciado, baseado em requisitos menos restritivos até que

se encontrasse um candidato viável.

12 NIEBEL, B.W. An analytical technique for the selection of manufacturing operations. Journal of Industrial Engineering, New York, v. 17, n. 11, p.598-603, 1966.

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32

O conceito básico dos procedimentos de seleção de materiais pode ser

entendido pela “filosofia do compromisso”, onde o sacrifício de uma ou mais

propriedades é realizado em troca de uma otimização do projeto geral. Este conceito

simples pode tornar-se bastante complexo, principalmente quando as grandezas

estão inter-relacionadas como é o caso entre resistência mecânica e a resistência a

propagação de trincas, por exemplo.

Na tentativa de se facilitar a comparação de materiais, geralmente é

empregado o conceito matriz de propriedades, atribuindo pesos diferentes as

diferentes propriedades quando se compara dois materiais, como formalizado por

Pahl e Beitz (1994).

Um outro ponto pode ser, por exemplo, a influência dos processos de

fabricação sobre as propriedades dos materiais, onde muitas vezes deve-se abrir

mão do desempenho máximo para se conseguir fabricar economicamente uma peça,

ou então trabalhar com tolerâncias menores para as peças. Justamente por isso é

que SM e a SPF formam uma só problemática, a SMPF, que deve ser trabalhada de

forma única.

O trabalho de Ashby (1989) deu um grande impulso a esta área de estudos,

com a introdução do conceito de Mapas de Propriedades de Materiais (Materials

Properties Maps), que facilitaram muito a visualização das relações entre distintas

propriedades e a comparação entre elas por meio de Índices de Mérito (IM)13 ,

levando a uma generalização do procedimento de tal maneira que este deixou de

ser tratado apenas como uma ferramenta de ensino, passando a ser explorado em

casos reais (FERRANTE, 2000).

A partir desses, Ferrante (1996) define a filosofia da seleção de materiais,

como procurar entre os materiais existentes (calcula-se entre 50 e 100 mil tipos

diferentes) aquele mais adequado, por meio de sucessivas etapas de eliminação, de

modo a não ignorar possibilidades anteriormente não reconhecidas pela experiência

ou percepção do projetista.

13 Uma breve explicação sobre os mapas de propriedades dos materiais, assim como dos índices de mérito pode ser encontrada no Apêndice C.

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33

2.2 Seleção de Materiais e Processos de Fabricação na indústria: a prática com

materiais poliméricos

Várias tentativas foram feitas no sentido de se adaptar as teorias de SMPF

para a utilização industrial. Nesta seção foram analisadas as mais utilizadas pelos

projetistas. Como já exemplificado, ao longo de um projeto existe uma etapa

específica onde o processo de SMPF está incluído. Nesta fase, o projetista procura o

material mais adequado baseado em seus requisitos para a aplicação.

Inglis apud Charles (1989)14 considera que seria desejável que todo escritório

(ou departamento) de design de porte tivessem em seus quadros um grupo de

pessoas dedicadas a materiais, de maneira que as informações sobre materiais e

processos de fabricação estivessem presentes nos projetos desde o seu início.

Infelizmente, no caso do Brasil este modelo é a exceção e não a regra, com a

grande maioria das empresas tendo uma equipe ou mesmo um único projetista

responsável por todas as etapas do projeto com seu conhecimento de materiais

restrito a sua experiência e a soluções tradicionais.

Existe uma necessidade de conhecimento dos materiais e de experiência

prévia por parte dos projetistas para que o procedimento de tomada de decisões nos

processos de SMPF tenha êxito, e isto tem levado a criação dos chamados expert

systems ou Knowledge Based Systems (EDWARDS 2005) como os desenvolvidos

por Sapuan (2001).

Bancos de dados e sistemas computadorizados não são muito utilizados em

países em desenvolvimento ou em pequenas empresas com poucos recursos. O

que realmente faz a diferença nestes casos é a experiência e o que sabidamente

funciona, o que, na maioria das vezes, leva a soluções conservadoras (EDWARDS,

2004).

É justamente pelo fato de que na maioria dos projetos o conteúdo de

inovação tem sido muito pequeno, que a SM tradicionalmente só entra em cena

quando o trabalho já está num estágio avançado (CHARLES et al, 2001), e que o

conhecimento de materiais e a experiência de um projetista com eles são vitais para

as tomadas de decisão durante o projeto.

14 INGLIS, N. P. Selection of Materials and Design: lectures delivered at the Institution of Metallurgists and the Institution of Mechanical Engineers refresher course, October 1966. , London: Institution of Metallurgists/Iliffe, 1967.

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34

As metodologias atuais de SMPF são mais adequadas às etapas finais de

projeto de produto e algumas escolhas de material/processo na fase de projeto

conceitual podem levar a problemas insolúveis ou a complicações na fase de

detalhamento que poderiam ser evitadas se os métodos de SMPF estivessem

melhor sedimentados para a fase conceitual dos projetos. Esses problemas implicam

muitas vezes em um retorno a fase conceitual, com um aumento no custo e no

tempo para se finalizar o projeto (WALTER et al, 2005).

Sobre isso, Charles et al. (2001) procurou quantificar estes valores,

apresentando os custos relativos de uma mudança em cada etapa do projeto e

também o comprometimento de custos versus os custos ao longo deste, como pode

ser visto na Figura 22 e na Figura 23. Nota-se que os custos para se modificar um

projeto aumentam consideravelmente à medida que ele avança e que cerca de 85%

dos custos totais são determinados antes mesmo da fase de detalhamento do

projeto.

Figura 22: Custo operacional e comprometimento final de custos em função das etapas de um projeto. Adaptado de: Charles, et al., 2001.

100

85

50

0

%

Idéia Design Conceitual e Representativo

Design Detalhado e Protótipos

Design para Manufatura

Em produção

Comprometimento de Custos Custos da Etapa

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35

Projeto Conceitual

Detalhamento

Construção de ferramental

Testes e validação

Pós-lançamento

1 10 100 1000 10000 100000

Custo Relativo de uma alteração Figura 23: Custo relativo de uma alteração no projeto em função da etapa de projeto. A partir de dados tabelados por Charles et. al., 2001.

Analogamente, pode-se entender que é bastante caro mudar um material

escolhido erroneamente para uma aplicação crítica depois de o produto pronto, ao

mesmo tempo em que pode ser relativamente mais barato modificar o desenho da

peça para que ela não necessite de um material mais caro quando do início do

projeto.

Por estes motivos, é tão importante que os processos de SMPF estejam

presentes de maneira consciente e participativa desde o mais absoluto começo de

um novo projeto. Uma escolha incorreta de um material, processo de fabricação, ou

a não modificação de um desenho para uma combinação material-processo podem

levar a custos totais muito mais altos do se poderia esperar.

O processo de SMPF, conjuntamente com a incorporação de elementos de

design específicos para estes materiais, no começo de um processo de

desenvolvimento, pode eliminar muitos problemas e modificações no desenho da

peça, reduzindo o tempo de desenvolvimento e os custos do projeto até que se

chegue ao desenho final.

A constante evolução dos materiais poliméricos e seus compostos, a busca

por um melhor desempenho e redução de peso, têm levado um grande número de

empresas a buscar soluções inovadoras em materiais termoplásticos para a

produção de peças tradicionalmente produzidas em outros tipos de materiais ou

mesmo na busca de um melhor desempenho das peças existentes.

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Esses materiais podem, na grande maioria das vezes, atender aos requisitos

de projeto com uma outra importante vantagem: a redução do custo total da peça.

Todos esses benefícios advêm principalmente das vantagens dos materiais

poliméricos em termos de possibilidades de design e processos de fabricação.

No caso de conversão de peças de outros materiais para plásticos, a maioria

dos designers ainda pensa em uma substituição pura e simples de material, e como

resultado tem-se um longo ciclo de desenvolvimento, o que pode tornar o processo

todo muito custoso e muitas vezes frustrante. Em um mercado global e cada vez

mais competitivo, esse é um luxo que os projetistas raramente têm, já que o tempo

entre o desenvolvimento e a chegada do mesmo a prateleira é um importante fator

no sucesso ou fracasso de um produto.

As diferenças inerentes entre as classes de materiais devem ser levadas em

consideração desde o começo do projeto. Uma peça desenhada para ser produzida

em metal deve ser devidamente redesenhada para que possa não só ser produzida

adequadamente, que as vantagens da utilização dos plásticos sejam efetivamente

aproveitadas para que os objetivos sejam plenamente atingidos (SANT’ANNA;

WIEBECK, 2006b).

Embora algumas vezes a conversão de uma peça de metal para plástico

seja impossível, em geral não se consegue realizá-la de maneira satisfatória por não

se realizar modificações no design da peça para a utilização de materiais poliméricos,

por não se adotar uma metodologia para isso e tolerâncias muito justas ou ainda

uma combinação de todos esses fatores (SANT’ANNA; WIEBECK, 2006a).

Para peças plásticas (injetadas) seu desenho é provavelmente o ponto mais

importante quanto a custos. De acordo com Desai (2004), pesquisas na indústria de

plásticos nos EUA indicam que estes fatores correspondem a 20% do tempo total de

desenvolvimento e afeta 80% do custo total de uma peça.

Desta maneira, é muito importante implementar ferramentas como

Engenharia Simultânea, Desenho para Usinagem e Montagem (Design for

Machining and Assembly – DFMA) e Engenharia Auxiliada por Computador

(Computer Aided Engineering – CAE), antes que o desenho definitivo seja adotado e

se comece a construção do molde.

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Embora a filosofia de SMPF seja muito debatida entre os engenheiros em

geral, ela ainda é bastante incipiente entre aqueles que trabalham com materiais

poliméricos. Ainda assim, o processo de seleção de materiais é tradicionalmente um

dos primeiros passos de um novo projeto de peça técnica. Como o fator

preponderante nos dias de hoje é sem dúvida o custo, um processo de SMPF deve

levar em conta vários fatores para se chegar a uma boa relação de desempenho

versus custo.

Uma das metas gerais do projeto de produto é assegurar a forma mais

simples para que um objeto atenda aos requisitos do processo, uma vez que

aumentar a complexidade geométrica de uma peça limita os processos de

fabricação possíveis e aumenta seus custos. Já o principal critério de SMPF em

projeto de produto é o de maximizar a qualidade de um produto ao mesmo tempo

em que se minimiza o seu custo. Desta maneira, o projetista deve trabalhar para que

ao final de uma única etapa de processamento o objeto esteja o mais próximo

possível do objeto final, requerendo apenas um mínimo de montagem e acabamento.

É justamente neste momento onde uma das vantagens do processo de

injeção de plásticos aparece. Quando o projeto de produto é bem feito, este

processo pode produzir muitas vezes uma peça com a forma, a cor, o acabamento e

as tolerâncias desejadas a custos comparativamente mais baixos que outras

combinações material/processo de fabricação.

A Seleção de Materiais para Design requer um bom entendimento das

propriedades requeridas na aplicação envolvida, já que alguns termoplásticos têm

propriedades que nem sempre obedecem à lógica do senso comum de um leigo e

mesmo aquelas que são conhecidas por este, ainda podem apresentar surpresas.

Como exemplo, pode-se citar que existem plásticos que podem resistir vários minutos

sob a intensa chama de um maçarico, – PrimoSpire™ da Solvay Advanced Polymers

(SELF REINFORCED POLYPHENYLENE) – e o PVC que embala os alimentos

também é utilizado no transporte de água para residências.

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Às vezes pode ser difícil assimilar todas essas características, mas o

projetista responsável por SMPF deve entender muito bem a aplicação da peça em

que trabalha e também estar aberto às possibilidades que os plásticos lhe trazem do

ponto de vista de design. É altamente recomendável trabalhar conjuntamente com os

fornecedores de matéria-prima desde o começo do projeto, para maximizar essas

possibilidades.

No atual estágio de desenvolvimento dos plásticos (commodities, de

engenharia ou de alto desempenho), muito do que se pode projetar e produzir era

impensável até bem pouco tempo e outras só não são produzidas por não se ter

informações a respeito de determinado material ou processo.

O projeto de peças em plástico pode ser dificultado devido ao fato de que a

maioria dos projetistas ainda tem uma mentalidade muito influenciada pelas

propriedades dos metais (SANT’ANNA; WIEBECK, 2006a) e não tem experiência de

sucessos em projetos com termoplásticos.

Devem ser levadas em consideração as diferenças inerentes entre estas duas

classes de materiais, como por exemplo, o menor módulo de elasticidade e os efeitos

da temperatura e do processamento nas propriedades dos polímeros. Além disso,

muitas vezes os materiais plásticos utilizados são na verdade compósitos, pois levam

uma combinação de fibras e outros aditivos em sua composição e, por causa disto,

são normalmente anisotrópicos.

Um outro ponto a ser levado em consideração é que as propriedades da peça

são ditadas não só pelas propriedades dos materiais em si, uma vez que o

processamento e o próprio desenho da peça (e do molde no caso de peças injetadas

ou termoformadas) podem influenciar as propriedades. Assim, é sempre importante

ter em mente que as propriedades podem variar dentro de uma mesma peça. Em

português, duas referências sobre o processo de injeção e do projeto de moldes são

os trabalhos de Manrich (2005) e Harada (2005).

Devido a toda esta complexidade e a necessidade de se contar com dados

confiáveis para todo o projeto, a fase inicial do mesmo (Concept Design) deve ser

realizada com muito cuidado e vários autores insistem para que os processos de

SMPF façam parte do projeto desde o seu mais absoluto início de forma

sistematizada.

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Nesta fase aparece um outro problema, já que muitas vezes o projetista não

sabe realmente os requisitos do projeto, ou os requisitos não têm conexão com a

realidade, o que faz com que produtos sejam muitas vezes projetados com

excessiva cautela, o que é conhecido como overdesign.

Este fato leva a que em um processo posterior que poderia ser de

otimização acabe sendo um processo de redesign, muito mais custoso. Nunca é

demais lembrar que um trabalho bem feito de definição de requisitos de uma peça

pode permitir mais opções em termos de combinações de materiais e processos.

Por outro lado, uma definição de requisitos excessivamente conservadora e

segura pode levar que não existam combinações de materiais e processos possíveis

em uma etapa conceito, ou mesmo que exista apenas uma combinação material e

processo, de maneira que isto limite a criatividade do projetista.

Neste sentido, as atividades de desenho industrial e de projeto técnico estão

mais distantes. Enquanto no primeiro caso a busca por inovação e os processos

criativos são estimulados, no segundo quase sempre se busque a segurança e o

conservadorismo, apesar do discurso em contrário. Tradicionalmente, a inovação em

projetos técnicos só ocorre por necessidades específicas, como aquelas da indústria

aeroespacial ou das competições automobilistas de alto nível.

Estas diferenças são levadas também para as escolhas de materiais em

projetos, e o exemplo mais latente disto é o conceito de materiotecas. Pode-se dizer

que este conceito nasceu de uma necessidade dos designers em ter contato com os

materiais que eles iriam trabalhar de modo a estimular a sua criatividade. Uma união

de materiais em um lugar específico deu origem então a um banco de dados

relacionado a diversas amostras de materiais e produtos fabricados com eles.

As idéias e os métodos de trabalho dos designers da IDEO tornaram-se

conhecidas (KELLEY; LITTMAN, 2001) de tal maneira que pesquisas acadêmicas

começaram a aparecer nestas áreas, como por exemplo, Ashby; Johnson (2002),

Van Bezooyen (2002) e, no Brasil, Marar e seu grupo15.

15 MARAR, J. F. Design & Materiais: elaboração e execução de um sistema de informações para Projeto de Produto. Projeto de Pesquisa, UNESP, Bauru: 2004.

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Atualmente os projetistas envolvidos em projetos técnicos estão tomando

conhecimento destes sistemas, ou mesmo de sistemas dedicados especificamente a

seleção de materiais. No caso específico dos materiais poliméricos, a utilização de

bancos de dados de materiais é praticamente exclusividade das empresas

multinacionais, sendo utilizados muito mais como fonte de informação do que como

ferramenta de auxílio a projeto.

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CAPÍTULO 3 – DISCUSSÃO E PROPOSTA

3.1 Seleção de polímeros e a necessidade de uma metodologia adequada.

Embora a seleção de materiais tenha evoluído muito nos últimos tempos,

ainda há uma tarefa enorme que é a de fazer com que ela seja utilizada de modo

eficaz no dia-a-dia dos projetistas (engenheiros e designers) de produto. Neste

sentido, os materiais poliméricos, por serem aqueles mais novos e enfrentarem uma

grande carga de preconceito, são os que talvez mais necessitem de uma

metodologia específica.

A variação de propriedades que um mesmo polímero pode apresentar pela

mudança em sua aditivação (fibras, cargas, modificadores de impacto, reticuladores,

espumantes, nucleantes, etc) é tão grande que os gráficos de Ashby tornam-se de

pouca utilidade para aqueles com algum conhecimento na área de polímeros.

Uma vez que se vislumbra possibilidade de se projetar algo em plástico, toda

uma nova concepção de projeto deve ser pensada. Uma ótima peça projetada com

um metal como matéria-prima provavelmente é um projeto apenas mediano quando

apenas “traduzido” para plástico.

Por sua vez, uma conversão de uma peça de outro material para plástico

exige todo um retrabalho e repensamento das bases do projeto. As diferenças

inerentes entre as classes de materiais devem ser levadas em consideração desde o

começo do projeto. Uma peça desenhada para ser produzida em metal deve ser

devidamente redesenhada para que possa não só ser produzida adequadamente,

mas que as vantagens da utilização dos plásticos sejam efetivamente aproveitadas

para que esta conversão atinja plenamente seus objetivos.

Vários guias de desenho de peças plásticas estão disponíveis 16 ,

principalmente para peças injetadas, que ajudam os projetistas. No caso de extrusão

ou termoformagem, no entanto, as opções são muito restritas e a falta de

conhecimento ou experiência do projetista pode levá-lo a eliminar opções que

exigem uma visão do todo.

16 Infelizmente, um bom guia geral não está disponível em português. Só encontramos, quando muito, roteiros bastante genéricos ou os guias de desenho dos fabricantes de matérias-primas.

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Um bom exemplo é que normalmente não seria levada em consideração a

produção de uma xícara pelo processo de termoformagem a partir de uma chapa de

material polimérico. Por conta da “asa” do objeto, a escolha natural seria o processo

de injeção. No entanto, se seu formato puder ser modificado para se adequar ao

processo, isto pode se tornar viável, como se pode ver na Figura 24, que mostra

uma xícara descartável produzida em Poliestireno (PS) a custos módicos. Esta é

uma boa alternativa aos copos descartáveis para se consumir café, por exemplo.

Figura 24 : Foto de uma xícara descartável em PS.

No dia-a-dia de projetos, a seleção de materiais ocorre de algumas formas

pouco sistemáticas: ou se faz uma pesquisa procurando que material é utilizado para

aquela aplicação (o que seria equivalente a SM por análise, embora sem método),

ou se busca uma alternativa imediata a ele, de preferência com alguma redução de

custo (equivalente a SM por similaridade, sem método). E muitos casos, estas duas

formas de SM trazem apenas evoluções a um projeto já existente, de modo que os

projetistas deixam de aproveitar todos os benefícios de um processo de SMPF

integrado ao projeto.

Isto dá pouca margem à inovação, já que poucos são aqueles que pensam

no problema e muitos são os que pensam na solução. Um típico exemplo disso é o

corpo de borboleta que controla a mistura ar/combustível do motor de automóveis.

Os projetistas pensam em como transformar a solução utilizada hoje em dia em

alumínio, em uma peça plástica, quando na verdade deveriam estar procurando uma

solução mais eficiente (mais leve, mais barata, mais simples, etc.) para o problema

de se regular o fluxo da mistura ar/combustível entrando no motor.

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A vasta gama de propriedades dos materiais poliméricos, e muitas vezes o

desconhecimento por parte dos engenheiros/projetistas sobre isso, leva a

necessidade de se adequar as metodologias de SMPF à problemática da seleção de

materiais poliméricos e sua popularização, para que sejam melhor aproveitados na

indústria em geral.

O desenvolvimento dos materiais poliméricos e seus compostos é um campo

em franca evolução e um projetista deve estar sempre atento para não desprezar

uma possibilidade de inovação por absoluta falta de conhecimento. A SMPF possui

um valor muito grande em todo o processo de design e deveria ser pensada de

modo mais holístico.

Existem hoje em dia mais de 60.000 diferentes tipos (grades) de materiais

termoplásticos disponíveis no mercado, e este número cresce dia-a-dia (KMETZ,

2006), como se pode ver na Figura 25.

0

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

70.000

1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010

Ano

Núm

ero

de ti

pos

disp

onív

eis

Figura 25: Crescimento do número de tipos diferentes de termoplásticos. Adaptado de Kmetz (2006).

Pode-se notar que mesmo com todo o esforço de racionalização dos tipos e

da globalização, nos últimos anos o número de tipos diferentes vem aumentando

rapidamente, embora tenha apenas poucas introduções de novas famílias de

materiais poliméricos.

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Isso se deve principalmente ao fato de que os fabricantes de matérias-

primas procuram desenvolver tipos cada vez mais específicos para uma dada

aplicação, no intuito de melhorar a relação custo versus benefício e garantir seu

espaço no mercado.

O esforço para compilar dados de todos estes materiais é grande, o que leva

ao problema de limitar a carga de trabalho ao mesmo tempo em que se busca tornar

a informação disponível o mais relevante possível. Embora existam folhas técnicas

de dados bastante completos que listam até 64 propriedades, a maioria delas lista

um número bem menor, uma vez que se estima que uma folha de dados

relativamente completa possa custar ao redor de 15.000 dólares (IDES, 2003).

Mesmo com a maior quantidade de dados possíveis, vários problemas ainda

persistem. A grande maioria das propriedades listadas em uma folha de dados de

um fabricante de matérias-primas é gerada a temperatura ambiente (geralmente

23˚C). Sabe-se 17 que praticamente todas as propriedades dos polímeros são

dependentes da temperatura, o que faz com que os dados apresentados sejam, na

melhor das hipóteses, uma aproximação do que pode acontecer na realidade da

aplicação de um material. Além disso, os números apresentados representam em

geral apenas um ponto do comportamento de uma propriedade que segue uma

curva, esta sim muito mais informativa do ponto de vista do engenheiro projetista.

O exemplo clássico é a curva de tensão x deformação de um ensaio de

tração, tão enfatizada nos livros texto de Ciência e Engenharia de Materiais (VAN

VLACK, 1984); (CALLISTER, 1994); (SMITH, 1995). Ela representa muitas

informações, e não somente dados isolados, ainda mais quando se tem informações

disponíveis como o comportamento da curva sob diferentes condições. Infelizmente,

para que se pudessem incluir vários gráficos em uma folha de dados, além de suas

respectivas explicações, ela se tornaria demasiadamente extensa, deixando de ser

prática, embora os fabricantes de materiais poliméricos termoplásticos,

especialmente os de engenharia e de uso especial façam exatamente isso nos seus

design guides (SOLVAY ADVANCED POLYMERS, 2003); (BASF, 2004); (GE

PLASTICS, 2006).

17 Por exemplo, Billmeyer (1971), Brydson (1975), Callister (1994), Mano (1991), Margolis (1995) Ogorkievicz (1974).

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Por praticidade, colocam-se simplesmente os números representativos de

módulo, tensão de ruptura e alongamento de ruptura, que permitem uma rápida

comparação (embora superficial e muitas vezes errônea) entre diferentes materiais.

Com o advento de bancos de dados computadorizados, torna-se muito simples

classificar e categorizar materiais baseados nos dados pontuais publicados pelos

fabricantes.

E essa simplificação pode levar a falsa idéia de que a tarefa de seleção de

materiais e especialmente a de materiais poliméricos seja bastante simples, não

passando de uma escolha que se afunila conforme se entram as características

(quase sempre numéricas) que atendam aos requisitos de um projeto. Ainda assim,

ou justamente talvez por isso, muitas peças falham em serviço por que a seleção de

materiais não levou em consideração todos os fatores necessários.

Para que se possa traduzir esses números em informação real para

utilização em projetos sem gastar um tempo desproporcional a importância dele, é

necessário um entendimento básico da ciência dos materiais poliméricos. Uma vez

que um pouco da teoria é entendida, padrões de comportamento para as diferentes

famílias dos polímeros podem ser deduzidos, e os números nas folhas de dados

podem ser melhor entendidos dentro do seu contexto.

Uma breve explanação sobre algumas das propriedades comumente

encontradas em folhas de dados pode ser encontrada no Apêndice A, onde se

procura enfatizar os aspectos importantes para o projeto de peças, como o método

de teste, seu significado e também os efeitos da temperatura sobre essas

propriedades. O Apêndice B apresenta uma breve discussão sobre os métodos de

teste utilizados na determinação destas propriedades.

Page 66: JOSÉ ALEX PICCOLO SANT'ANNA - Biblioteca Digital de Teses ... · SUBSÍDIOS PARA SELEÇÃO DE MATERIAIS POLIMÉRICOS TERMOPLÁSTICOS São Paulo 2007 . ... Figura 33: Reprodução

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3.2 Análise de Similares

Durante a década de 80 começaram a aparecer os bancos de dados

informatizados que visavam a busca de materiais para auxiliar na seleção de

materiais, embora com dados limitados sobre materiais poliméricos e sem uma base

teórica bem fundamentada, até porque os procedimentos de SMPF ainda não

haviam sido sistematizados e tornados eficientes para o uso não acadêmico. Esses

bancos de dados evoluíram a ponto de se tornarem ferramentas bastante utilizadas

na indústria, embora com algumas limitações, como pode ser entendido a seguir.

3.2.1 IDES (www.ides.com)

O IDES apareceu pela primeira vez em 1986 como um handbook, a partir de

uma necessidade da IBM sobre informações confiáveis sobre materiais poliméricos e

logo foi transformado em um banco de dados eletrônico e disponibilizado na internet

na metade da década de 90, sendo hoje amplamente reconhecido como a maior

ferramenta de busca vertical sobre materiais poliméricos e folhas de dados de

fabricantes.

Para isso, aceita dados de qualquer fabricante que se disponha a enviá-los,

não confirma nenhum dos dados, mas ao mesmo tempo não cobra nada dos

fabricantes. Se um produto não for encontrado durante uma busca, a IDES busca o

fabricante e o produto e o adiciona ao banco de dados a partir das informações do

solicitante, uma maneira interessante de aumentar o número de produtos em seu

catálogo.

Estão disponíveis 64.630 fichas técnicas de produtos termoplásticos

provindos de 453 fabricantes de matérias-primas (IDES, 2006a), além de alguns

termorrígidos e elastômeros. Essas fichas técnicas variam muito em quantidade de

dados disponíveis, já que dependem dos fabricantes em si. Os dados seguem às

normas ASTM, sendo os dados ISO disponíveis somente quando o fabricante as

disponibiliza voluntariamente ou o mesmo material pode ser encontrado no banco de

dados do sistema CAMPUS.

Page 67: JOSÉ ALEX PICCOLO SANT'ANNA - Biblioteca Digital de Teses ... · SUBSÍDIOS PARA SELEÇÃO DE MATERIAIS POLIMÉRICOS TERMOPLÁSTICOS São Paulo 2007 . ... Figura 33: Reprodução

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Segundo o próprio IDES, 42.143 (IDES 2006b) empresas utilizam seu

sistema regularmente e serve de base para muitos materials selectors de fabricantes

de termoplásticos incluindo Solvay, GE, BASF, Bayer, Basell, Dow, Dupont,

ExxonMobil, Lanxess, LG (IDES, 2006c).

Sua usabilidade é muito boa, embora as ferramentas mais úteis em um

verdadeiro processo de SMPF sejam cobradas (entre US$ 500 e US$ 700 por ano).

A parte “livre” da página é uma boa fonte de informação geral, além de possibilitar o

acesso a folhas de dados individuais. Comparações, materiais alternativos e buscas

avançadas, entre outros, estão na área paga. Está disponível somente em língua

inglesa. A reprodução de uma tela de busca por propriedades pode ser encontrada

na Figura 26, e uma comparação entre diferentes materiais na Figura 27.

Figura 26: Reprodução da tela de busca seqüencial do serviço IDES em 23 de Janeiro de 2007.

Page 68: JOSÉ ALEX PICCOLO SANT'ANNA - Biblioteca Digital de Teses ... · SUBSÍDIOS PARA SELEÇÃO DE MATERIAIS POLIMÉRICOS TERMOPLÁSTICOS São Paulo 2007 . ... Figura 33: Reprodução

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Figura 27: Reprodução de uma tela de comparação entre produtos do serviço IDES em 23 de Janeiro de 2007.

Seu foco original eram os projetistas buscando materiais para suas

necessidades e daí se explica a boa usabilidade, mas é também muito utilizado por

moldadores e provedores de matéria-prima buscando informação consolidada em

um único lugar. Bons atributos são a lista de materiais aprovados pelas grandes

indústrias automobilísticas (FORD, GM, Daimler-Chrysler) e a busca por materiais

alternativos. Infelizmente, ainda não oferece possibilidade de integração de dados

com sistemas de análise de elementos finitos como Abaqus® ou Ansys®.

3.2.2 CAMPUS (www.campusplastics.com)

Este sistema de acesso livre nasceu da idéia de que para se poder comparar

diferentes materiais, é necessário que eles sejam testados de acordo com os

mesmos parâmetros, e levou ao seu nome: Computer Aided Material Preselection by

Uniform Standards – pré-seleção de materiais auxiliada por computador por normas

uniformes.

Funciona baseado em dados fornecidos pelos fabricantes – 25 nos dias de

hoje (CAMPUS, 2006) – de acordo com normas específicas, baseadas nas normas

ISO 10350 e ISO 11403. Com mais de 300.000 sistemas instalados gratuitamente

em oito diferentes línguas, mas não em português, pode ser considerado o maior em

número de usuários.

Page 69: JOSÉ ALEX PICCOLO SANT'ANNA - Biblioteca Digital de Teses ... · SUBSÍDIOS PARA SELEÇÃO DE MATERIAIS POLIMÉRICOS TERMOPLÁSTICOS São Paulo 2007 . ... Figura 33: Reprodução

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Existe uma versão com mais recursos para ser instalado em rede, com um

custo de cerca de US$ 400 por ano, mas que permite não só acesso a um maior

número de dados (9.000 versus 6.000 do tradicional), mas também ferramentas de

busca e integrações com sistemas de análise de elementos finitos.

Sua usabilidade é um tanto difícil, e não é possível fazer comparações entre

diversos materiais. É muito bom como ferramenta para levantar dados sobre um

determinado tipo de material, mas acaba sendo pouco utilizável como ferramenta de

SMPF por não oferecer informações gerais ou uma filosofia de SMPF por trás do

software. Mesmo para comparações, seu alvo principal, tem sérias limitações pelas

dificuldades para se comparar produtos de diferentes fabricantes. A reprodução da

tela de trabalho inicial do sistema é reproduzida na Figura 28.

Figura 28: Reprodução da tela inicial de trabalho do serviço campus para os materiais da empresa Solvay Advanced Polymers em 11 de dezembro de 2006.

Por representar somente os fabricantes tradicionais pode estar deixando de

lado materiais específicos de alto conteúdo tecnológico e também aqueles mais

comuns que são fabricados por empresas menos tradicionais do Oriente Médio, Ásia

e América do Sul, que tem crescido substancialmente nos últimos anos.

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3.2.3 Granta CES Optimal Polymer Selector (www.grantadesign.com)

Esse sistema se baseia nas idéias originais de Ashby (seu fundador) de

mapas de propriedades dos materiais e índices de mérito com o intuito de dar uma

aplicação prática à teoria. A idéia é fazer a seleção por etapas, fazendo uma pré-

seleção baseada em alguns fatores para somente depois ir a materiais com

propriedades específicas determinadas com o auxílio de sucessivos mapas.

Deste modo, o sistema permite que o usuário identifique onde cada uma das

alternativas analisadas é mais forte ou fraca, o que, segundo os desenvolvedores do

sistema, permite uma tomada de decisão “científica”. Para isso, parte de um banco

de dados próprio de cerca de 600 materiais genéricos e depois avança para os

bancos de dados licenciados de IDES e CAMPUS.

Segundo Coulter apud Neilley (2004), este é um sistema atrativo e poderoso

para empresas com requerimentos técnicos bem definidos, embora o projeto gráfico

torne a usabilidade ruim. Oferece buscas por propriedades comuns em folhas de

dados, mostrando todo o caminho percorrido até se achar um determinado material

e as possibilidades de buscas múltiplas são praticamente infinitas, embora possam

se tornar bastante complexas devido a uma falta de metodologia definida para as

mesmas. Uma tela de trabalho do CES é reproduzida na Figura 29.

Figura 29: Reprodução de uma tela do CES Material Selector, onde podem ser observados dois mapas de propriedades dos materiais e linhas referentes a um determinado índice de mérito.

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3.2.4 Matweb (www.matweb.com)

O Matweb se propõe a ser um banco de dados com ferramentas de busca

de folhas de dados de materiais. Inclui termoplásticos e termorrígidos, além de

materiais metálicos e suas ligas, materiais cerâmicos, semicondutores, compósitos,

fibras e outros materiais de engenharia, perfazendo um total de mais de 59.000

folhas de dados (MATWEB, 2006), sendo 34.532 folhas de dados de termoplásticos,

sendo que a principal fonte de dados são os próprios fabricantes dos materiais.

O serviço básico é livre enquanto as ferramentas mais avançadas requerem

no mínimo um cadastro, mas podem custar até US$ 75 por ano para sua utilização.

Deve-se destacar que o serviço cadastrado é bastante compreensivo, permitindo

fazer comparações entre diversos materiais (inclusive de classes diferentes),

comparações gráficas de diversas propriedades – uma ferramenta muito mais útil e

dinâmica que a simples comparação direta de números. Já o serviço pago adiciona

ferramentas de busca e organização de dados mais poderosas, permitindo

comparações mais complexas em uma única etapa, além da exportação de dados

em diversos formatos.

Alega ter cerca de 14.000 usuários por dia e cerca de 91.000 registrados

(MATWEB, 2006). Também alega ser utilizado como ferramenta de busca por um

grande número de empresas, embora elas em geral sejam menores que aquelas

atendidas pelo IDES.

Apresenta uma programação visual bastante simples, de fácil usabilidade,

mas é muito difícil encontrar um material se o usuário não tiver um conhecimento

básico sobre o que se procura, sendo necessário um bom conhecimento sobre as

propriedades dos materiais. A tela de busca avançada deste sistema é reproduzida

na Figura 30.

Page 72: JOSÉ ALEX PICCOLO SANT'ANNA - Biblioteca Digital de Teses ... · SUBSÍDIOS PARA SELEÇÃO DE MATERIAIS POLIMÉRICOS TERMOPLÁSTICOS São Paulo 2007 . ... Figura 33: Reprodução

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Figura 30: Exemplo de tela de busca avançada do serviço Matweb em 13 de Fevereiro de 2007.

3.2.5 AZoM A to Z of materials (www.azom.com)

A ferramenta AZoM foi criada em 1999 por um grupo de cientistas dos

materiais australianos. Está baseado na premissa de que hoje mais de 21 milhões

de engenheiros utilizam a internet rotineiramente para desempenhar partes de seus

trabalhos, mas eles desconhecem o que os materiais ditos “avançados” (novas ligas

metálicas, matérias cerâmicos, compósitos) podem lhes ajudar em seus projetos.

Com a missão de ser a principal fonte independente de informações sobre

materiais – folhas de dados, notícias, opiniões, etc. – não cobra por seus serviços e

nem mesmo pede um cadastro. Pretende ser uma base de informações que permita

a engenheiros e projetistas tomar suas decisões SMPF de maneira fundamentada.

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A ferramenta é mantida por organizações de pesquisa em materiais e uma

rede de colaboradores ao redor do mundo (AZoM, 2006), que produzem a maioria

do conteúdo disponível. Fabricantes de materiais e equipamentos não são fontes

oficiais. É interessante notar que uma das instituições que fornecem dados e

também fazem parte do planejamento estratégico é a Granta Design, cujo produto já

foi analisado anteriormente.

Possui muita informação na forma de artigos, de difícil busca, e ferramentas

de busca de materiais muito simples, que deixam muito a desejar quando

comparados a de outros softwares, já que se necessita saber exatamente o que se

busca para se encontrar qualquer informação, algo que inibe o poder criativo dos

engenheiros e projetistas como já discutido por Walter (2006).

Além disso, as informações ali contidas, como em qualquer outro sistema

“aberto” devem ser utilizadas com cuidado, já que não há meios de se checar sua

veracidade. Como exemplo, algumas buscas simples por materiais conhecidos

retornaram resultados bastante diferentes dos que constam nas folhas de dados dos

fabricantes. A tela de busca deste sistema é reproduzida na Figura 31.

Figura 31: Reprodução da tela de busca do serviço AZoM em 13 de Fevereiro de 2007.

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3.2.6 Omnexus Polymer Selector 2.0 (www.omnexus.com )

Da mesma maneira que os serviços IDES e Matweb, o Omnexus pretende

ser um ponto de parada na internet para engenheiros e designers a procura de

informações sobre materiais poliméricos. Deste modo, oferece a oportunidade de

buscas por propriedades e comparações, embora nos dois casos de modos mais

limitados que os outros serviços. Como exemplo pode-se mencionar que é muito

difícil encontrar um material, a menos que se tenha muitas informações sobre ele,

algo que nem sempre é verdade para um usuário buscando materiais em um banco

de dados. Uma reprodução da tela de busca deste serviço pode ser visualizada na

Figura 32.

Figura 32: Reprodução da tela de busca do serviço Omnexus em 11 de dezembro de 2006.

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Não são permitidas comparações entre termoplásticos e termofixos e,

apesar de inicialmente possibilitar somente buscas numéricas, agora já permite usar

uma escala qualitativa em algumas propriedades (como muito alto, alto, médio, baixo,

muito baixo, por exemplo) e também foi introduzida possibilidade de se comparar

graficamente até cinco propriedades.

Bons atributos são as referências de preço (escala comparativa), uma breve

explicação para cada propriedade que se busca e os exemplos de algumas

aplicações existentes para certos materiais.

Já alguns problemas são a pouca informação sobre cada material, limitada

e muitas vezes irrelevante, muito geral, sem citar as possibilidades de cada um e

com poucos exemplos.

O mais grave, porém, é que materiais importantes não fazem parte da lista

de materiais disponíveis para busca, como as poliamidas 6.9; 6/6.6; 6.12, além de

MDPE, mPEs, PPA´s, acrilatos, etc. Os materiais disponíveis para busca, assim

como aqueles que apresentam estudos de caso são somente aqueles de

companhias anunciantes, o que certamente tira a credibilidade do banco de dados

como fonte de comparações entre materiais e também quando, pela busca de uma

aplicação, o serviço indica somente o material do anunciante.

3.2.7 E-Funda (www.efunda.com/materials/polymers)

Este site, sobre os fundamentos da engenharia contém uma grande

quantidade de informações genéricas úteis ao projetista, como fórmulas,

conversores de unidades, informações sobre materiais, processos e guias de projeto.

Na área dedicada ao projeto com polímeros, estão disponíveis informações

sobre características básicas, comparações de propriedades com outros materiais,

uma lista dos principais materiais e suas características e informações genéricas

sobre o seu processamento.

Existe também uma área dedicada especificamente a seleção de polímeros,

onde a metodologia geral de projeto com materiais poliméricos é apresentada. Ela é

muito parecida a aquela preconizada por quase todos os fabricantes e por isso é

listada aqui em seus principais pontos.

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• Experiência: Com que material os produtos concorrentes são fabricados?

Que materiais falharam ou tiveram sucesso em aplicações similares e

por quê?

• Requisitos: Quais os reais requisitos que o objeto produzido com o

material deve atingir?

• Análise: A análise computacional tem evoluído muito ultimamente, e é

de grande valia na busca de se aperfeiçoar uma geometria, embora ela

deva ser utilizada com cuidado, pois os polímeros possuem

características visco-elásticas que nem sempre são levadas em

consideração por estes programas;

• Processamento e efeitos de superfície: O processamento afeta as

propriedades dos plásticos e é muito difícil modelar todos os efeitos que

ele pode produzir (anisotropia, efeitos de superfície, etc.) e são

tipicamente mais pronunciados nos materiais carregados e também

naqueles semi-cristalinos;

• Prototipagem e validação e testes: Justamente pelo fato de que a

análise computacional não reflete em 100% a realidade e que o

ferramental tipicamente é bastante custoso, é prudente se adicionar uma

fase de prototipagem para validar o projeto;

3.2.8 Manufacturing Advisory Service 2.0

(http://bmi.berkeley.edu/Me221/mas2/html/applet/index.html)

Concebido a partir de uma conversa entre dois professores da Universidade

de Berkeley, na Califórnia, o MAS se tornou realidade em um projeto de mestrado

(BROWN, 1997). A idéia original era ter uma ferramenta para selecionar projetos e

peças para serem usinadas nos laboratórios daquela Universidade, que depois

evoluiu para se tornar um programa disponível na internet para ajudar engenheiros

na escolha de processos de produção. (MAS 2.0, 2006); (BROWN; WRIGHT, 1998).

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A versão 2.0 foi desenvolvida para tornar a ferramenta mais abrangente e ao

mesmo tempo mais utilizável. Se auto-entitula como uma ferramenta para seleção

de processos e materiais para a fase conceitual de projetos, ou seja, é uma

ferramenta para se procurar um bom método de fabricação para um produto ainda

em sua fase inicial do projeto. Para isso, utiliza o método do questionário fechado,

onde o usuário responde a uma série de perguntas sobre tamanho de lote,

tolerâncias, dimensões, formas e custo, por exemplo. A cada pergunta respondida

(não há necessariamente uma ordem) o usuário é apresentado a uma lista de

possíveis processos, que são classificados por barras maiores ou menores com

cores, juntamente com a classificação anterior à última pergunta, em cinza.

Permite também a realização de estimativas de custo, e processos em

cadeia, indicando que em situações onde há tolerâncias variadas ou extremamente

precisas em uma mesma peça este pode ser o melhor caminho.

O mesmo princípio chegou a ser desenvolvido para a seleção de materiais,

embora com pouco detalhamento, uma vez que só se define classes genéricas de

materiais: ferro fundido, aço carbono, aços inoxidáveis, ligas de alumínio, ligas de

cobre, ligas de zinco, ligas de magnésio, ligas de titânio, ligas de níquel, metais

refratários, termoplásticos, termorrígidos, materiais cerâmicos, fotopolímeros e

madeiras. Pela lista, fica bastante clara a ênfase em materiais metálicos e uma

generalização bastante excludente para as outras classes de materiais, uma vez que

características como resistência mecânica, preço e densidade são tomadas pela

média da classe, o que certamente induz a erros grosseiros de avaliação.

Há links para tutoriais, e também para informações adicionais sobre cada

processo (razoavelmente detalhado) e material (muito pouco detalhado), além da

descrição minuciosa sobre o assunto de cada pergunta. A reprodução de uma tela

do tutorial pode ser visualizada na Figura 33.

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Figura 33: Reprodução de uma tela do tutorial do serviço MAS 2.0 em 11 de dezembro de 2006.

Ele declaradamente ignora alguns processos e materiais, como por exemplo:

vidros, borrachas, metais preciosos, papeis, compósitos, processos de união como

soldagem, brazagem, feixe de elétrons, ultrasom, adesivos, união mecânica e

processos de corte como corte a laser ou a água.

O fato de ser um questionário fechado faz com que o usuário seja “guiado” a

uma resposta de maneira intuitiva e permite a um usuário experimentado customizar

os valores relativos de cada pergunta, como por exemplo, fazer com que as

características mecânicas tenham um valor relativo maior do que o custo de

maquinário.

Infelizmente esta ferramenta teve o seu desenvolvimento abandonado em

fins de 1999 e sua interface e usabilidade são bastante limitadas. Continua a ser

utilizado na Universidade de Berkeley como ferramenta de ensino e está disponível

pela internet, apesar de bastante defasado, mas com bastante potencial de

desenvolvimento.

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3.2.9 Fabricantes de Materiais Poliméricos Termoplásticos

Os fabricantes de resinas que disponibilizam seletores de materiais em seus

sítios de internet são tipicamente os fabricantes de polímeros de engenharia ou de

uso especial, já que estes materiais são os que requerem dos projetistas uma maior

atenção devido ao seu uso técnico.

Estes fabricantes utilizam softwares de outras empresas 18 para buscas

limitadas somente aos seus materiais e as aplicações típicas destes, sem

possibilidades de comparação com produtos concorrentes. Normalmente se inclui

uma busca por aplicação, útil quando se deseja saber as diversas utilizações de um

material ou que materiais são utilizados em uma determinada aplicação com rapidez.

Por outro lado, estes seletores limitam muito a possibilidade de inovação por

parte do projetista, uma vez que relacionam sempre uma aplicação a determinado

produto. Assim, a menos que se procure por um material específico, que se esteja

fazendo um benchmarking ou que se tenham todas as especificações do projeto já

fechadas – o que remete aos pontos anteriores – estes seletores são de pouca

utilidade.

Uma possibilidade de comparação entre os dados de alguns fabricantes é o

serviço CAMPUS (Cf. descrição CAMPUS), mas este funciona muito mais como uma

ferramenta de comparação de materiais do que propriamente um seletor de

materiais.

Para o caso das empresas fabricantes de plásticos commodities,

normalmente não se encontram seletores e sim mecanismos de busca simples entre

os produtos da empresa em questão. Quase sempre se utiliza de um sistema de

questionário fechado que é bastante efetivo em se encontrar um determinado

material para determinada aplicação, mas que oferece muito pouca possibilidade de

inovação. Alguns fabricantes (principalmente os que não são líderes de mercado)

colocam em seus sítios de internet tabelas de contra-tipos, uma maneira indireta de

comparar os seus produtos com aqueles que são o padrão de mercado, ou aqueles

mais conhecidos.

18 O IDES é o maior provedor de mecanismos de busca entre as grandes empresas de polímeros de engenharia e de uso especial. Cf. descrição IDES.

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Um outro fato a se destacar é que raramente os fabricantes colocam em

suas páginas muitas informações de seus mais novos desenvolvimentos.

3.2.10 Materiotecas

Há algum tempo começaram a surgir serviços que tentavam estabelecer

uma coleção de materiais catalogados, algo similar a uma biblioteca física de

materiais, onde se pode não só ter informações sobre eles, mas também manuseá-

los. Estas bibliotecas foram chamadas de materiotecas, e tinham seu foco inicial nos

designers de interiores e arquitetos em busca de inovações para seus projetos.

Nesta seção alguns destes serviços são avaliados.

3.2.10.1 Material ConneXion (www.materialconnexion.com)

Esta empresa, fundada em 1997 em Nova Iorque, EUA tem a proposta de

apresentar uma materioteca e um banco de dados informacional de “materiais

inovadores” para designers. Trata-se de um empreendimento muito conhecido entre

os profissionais da área de design, atualmente com filial em Milão, Bangkok e

Colônia e que abriga cerca de 3.500 tipos diferentes de materiais ditos “inovadores”

(MATERIALCONNEXION, 2006).

As principais contribuições deste exemplo estão na associação de uma

Materioteca a um banco de dados via Internet, com sistema de recuperação de

dados (buscador) e em sua estrutura física, que conta com uma estrutura

semelhante a uma biblioteca para exposição dos materiais, além de salas de

reuniões, lojas e espaço para exibições. Como pontos falhos podem-se destacar: a)

a quantidade de informações sobre os materiais disponibilizadas via Internet, que

consiste de um breve texto e um par de imagens, como pode ser visualizado na

Figura 34; b) a ineficácia da busca por palavras chave no texto citado, destacado na

Figura 35, sem possibilidade de uma busca por atributos; c) a pré-seleção por um

júri de profissionais, de “materiais inovadores”, sem dúvida uma definição muito vaga

e que pode ter várias interpretações, já que a inovação dá-se tanto pela aplicação de

um novo material quanto pelo uso de um material tradicional numa nova aplicação, e

pela possibilidade criada por um novo material de criar uma nova aplicação.

Page 81: JOSÉ ALEX PICCOLO SANT'ANNA - Biblioteca Digital de Teses ... · SUBSÍDIOS PARA SELEÇÃO DE MATERIAIS POLIMÉRICOS TERMOPLÁSTICOS São Paulo 2007 . ... Figura 33: Reprodução

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Figura 34: Reprodução de uma ficha de material do serviço Material ConneXion em 12 de dezembro de 2006.

Figura 35: Reprodução da tela de busca do serviço Material Connexion em 12 de dezembro de 2006.

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3.2.10.2 Matério (www.materio.com)

Com o mesmo conceito de biblioteca física de materiais mais um banco de

dados associado, esta empresa francesa tem seu foco em artistas e designers de

interiores que buscam materiais inovadores para suas obras. Infelizmente, a pré-

definição do que é um material inovador é muito subjetiva e não é explicado como

um exemplar pode entrar para esta materioteca.

Possibilita diversos tipos de acesso (pessoal ou virtualmente, pela internet)

e a possibilidade da realização de consultorias para auxílio na busca de um produto

para determinado projeto, com diversas faixas de preços dependendo do tipo de

serviço solicitado.

Podem ser feitas buscas numéricas, mas o mais comum são as buscas

qualitativas, tanto para propriedades físicas como para propriedades sensoriais. A

reprodução de sua tela de busca e de uma ficha de material podem ser vistos nas

Figuras Figura 36 e Figura 37 respectivamente.

Figura 36: Reprodução da tela de busca de materiais do serviço Matério em 25 de fevereiro de 2007.

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Figura 37: Reprodução de uma ficha de material do serviço Matério em 25 de Fevereiro de 2007.

3.2.10.3 Materioteca® (www.materioteca.com)

Esforço realizado pelo consórcio para a promoção da cultura do plástico

(Proplast) da Itália, tem sede na pequena cidade de Alessandria, e é a primeira

materioteca dedicada exclusivamente aos materiais poliméricos e idealizada de

maneira a valorizar tantos os aspectos técnicos dos materiais como os sensoriais.

Utiliza amostras de materiais em formas de placas com determinadas cores

e texturas, além de disponibilizar informações técnicas e de processamento dos

materiais. As amostras são produzidas pelo próprio consórcio, seguindo a orientação

dos fornecedores de matérias-primas. Por ser uma iniciativa relativamente nova

(iniciada em 2005) e que demanda muito trabalho, seu acervo ainda é bastante

limitado, mas seu projeto deve se tornar uma referência para materiotecas na área

de plástico.

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3.2.10.4 Material Explorer

Um trabalho de graduação que se transformou em uma ferramenta de

auxílio a designers resume bem o que é o serviço Material Explorer. Arnold Van

Bezooyen começou a trabalhar em seu projeto de conclusão de curso na

Universidade de Delft sobre um problema proposto pelo professor Michael Ashby, o

de se criar uma interface amigável para que a seleção de materiais fosse mais bem

explorada por designers (VAN BEZOOYEN, 2002).

Ele partiu do princípio de que técnicas e ferramentas estão disponíveis para

a seleção de materiais baseados em requisitos técnicos e funcionais, mas que para

atender requisitos estéticos e sensoriais elas não estão disponíveis. Também

considerou o fato de que a SM não se restringe a informações sobre os materiais,

mas sim em um constante intercâmbio de considerações que devem levar em conta

os materiais, o objeto em projeto e também a tecnologia envolvida.

Finalmente, considerou que o desenvolvimento de novos materiais e

tecnologias permite uma maior liberdade para os designers, de maneira que estes

deveriam se atualizar constantemente sobre as novas possibilidades e estarem

aptos a explorar as propriedades destes novos materiais.

Neste serviço, aos materiais são atribuídas propriedades funcionais e

estéticas, e a partir disto os designers podem realizar suas buscas, com os

resultados sendo subsequentemente apresentados em seu contexto (ou aplicação)

para que os aspectos funcionais e estéticos possam ser mais bem compreendidos. A

Figura 38 reproduz uma tela de busca, enquanto que a Figura 39 reproduz uma ficha

de material deste serviço.

O sistema foi repetidamente testado por designers e engenheiros e hoje se

pode dizer que é o sistema que melhor consegue unir os aspectos técnicos e os

sensoriais dos materiais. No entanto, da mesma maneira que outros serviços, este

faz uma pré-seleção de materiais inovadores, o que por si só já é uma contradição e

não permite uma comparação entre produtos. No entanto, o projeto original de

mestrado previa vários recursos que não foram aplicados na versão atualmente

disponível.

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Figura 38: Reprodução da tela de busca do serviço Material Explorer em 25 de Fevereiro de 2007.

Figura 39: Reprodução de uma ficha de material do serviço Material Explorer em 25 de Fevereiro de 2007.

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3.2.11 Comparação entre os sistemas

É muito difícil uma comparação direta entre os diversos bancos de dados

disponíveis, ainda mais quando nem sempre os mesmos materiais ou dados sobre

estes estão disponíveis em todos eles. O IDES cita mais de 60.000 tipos (KMETZ,

2006), o Matweb diz ter 34.536 termoplásticos (MATWEB, 2006) enquanto que o

CAMPUS tem somente cerca de 6.000 (NEILLEY, 2004), mas indica que eles são

inteiramente comparáveis entre si, embora de maneira pouco prática.

No caso específico do CAMPUS, o fato de todos os materiais ali disponíveis

apresentarem todos os seus dados de acordo com as mesmas normas ISO,

possibilita uma comparação direta. Embora o número de grades seja limitado e bem

inferior ao de seletores concorrentes, Baur apud Neilley (2004) cita que os tipos ali

apresentados representam cerca de 90% dos termoplásticos utilizados no mundo.

Essa é uma afirmação um tanto otimista, visto que há poucos fabricantes ali

representados.

O CES Optimal Polymer Selector lista apenas 600 materiais genéricos, mas

acordos com CAMPUS e IDES permitem uma busca mais refinada conforme o

processo evolui e o fato de haver uma filosofia de Seleção de Materiais por trás do

software é um grande avanço, embora ainda esteja muito aquém das necessidades

dos projetistas de hoje em dia.

O Omnexus Polymer Selector permite comparações diversas em forma de

gráficos, mas induz o usuário a uma gama de materiais dos seus patrocinadores, o

que exclui diversas possibilidades de materiais que podem ser melhores para uma

dada aplicação, ou ainda mais baratos. O fato de disponibilizar bastante informação

sobre algumas aplicações e de propriedades gerais é um atenuante.

Percebe-se que a grande maioria dos sistemas ainda é desenvolvida por

especialistas para especialistas. Uma rara exceção talvez seja o MAS 2.0, já que

este pode ser utilizado e customizado por não especialistas, além de ser um dos

poucos desenvolvidos desde o início para seleção de processos. Dos seletores

disponíveis comercialmente, o único que trata da problemática de seleção de

processos é o CES, embora somente em um módulo separado do analisado

anteriormente.

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O Material Connexion é uma referência para o estilo “materioteca” dos

sistemas. Este serviço pioneiro certamente mudou a maneira como os designers

desejam trabalhar com SMPF, embora do ponto de vista dos engenheiros ainda

esteja muito aquém de suas necessidades, por disponibilizar muito pouca

informação técnica dos materiais em si e seu processamento.

O Matério é bastante utilizado por designers e como tal tende a ser mais

utilizado como um explorador de informações, sem uma metodologia específica de

SMPF. Destaca-se a sua usabilidade e o foco nas propriedades sensoriais dos

materiais, algo que tipicamente não é explorado nos seletores utilizados por

engenheiros.

O serviço Materioteca® tende a se estabelecer como um modelo para este

tipo de serviço, dada a sua capacidade de reunir em um único ambiente as

necessidades do desenho industrial e do projeto técnico. Seria interessante que este

sistema pudesse se valer dos conceitos estabelecidos por Van Bezooyen (2002) e

que estão sendo utilizados no serviço Material Explorer.

Estes sistemas ainda estão aquém do potencial de público que podem

atingir, já que existe uma necessidade enorme desse tipo de informações, e não só

dados, por parte de engenheiros, projetistas, técnicos e designers, entre outros. O

conceito de materiotecas tende a se desenvolver e, se realizado com método e com

objetivos claros, pode se tornar um ponto de encontro entre as realidades do design

e da engenharia, hoje tão distantes.

A Tabela 1 apresenta um comparativo dos principais sistemas

informatizados para auxílio de seleção de materiais poliméricos utilizados na

indústria.

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Tabela 1: Análise de similares dos serviços disponíveis de bancos de dados informatizados para auxílio de seleção de materiais poliméricos mais utilizados na indústria.

Serviço IDES Prospector

CAMPUS / Material Data

Center

CES4 Optimal Polymer Seletor

Matweb AZoM

Provedor IDES, Inc. M-Base Engineering Granta Design Ltd. Automation Creations, Inc.

AZoM™.com Pty.Ltd

URL www.ides.com www.campusplastics.com www.grantadesign.com www.matweb.com www.azom.com

Fundação 1986 1988 1994 1997 1999

Descrição Maior banco de dados de datasheets, com mais de 60.000 produtos, boa usabilidade, muitas informações complementares, base para muitos seletores de fabricantes de resinas, muito utilizado na indústria.

Completo dentro de seus limites; As informações completas estão disponíveis sem custos.

Aplicação do modelo de Ashby com suas vantagens e desvantagens; Único software de SMPF verdadeiro; Com o sistema completo, permite comparações infinitas entre as diferentes classes de materiais, mas tem um custo bastante elevado

Por ser um sistema generalista, permite comparar plásticos com outros materiais; Em plásticos, é menor e menos poderoso que o IDES, mas com os mesmos problemas;

Banco de dados independente, embora impreciso. Fontes oficiais (fabricantes) não são aceitas; informações em artigos, o que dificulta busca.

Custo Datasheets: livre. Comparações, auto specs, contratipos, e outros recursos avançados: entre US$ 500 e US$ 700 / ano

Campus: livre. MDC: US$ 350 / ano

Não divulgado. Busca de datasheets: livre; Recursos como comparações necessitam de registro; Recursos de comparações avançadas e de exportação de dados: US$ 75 / ano.

Livre

Critérios de busca 200+ possibilidades, simples ou complexas.

Ilimitado, mas depende de experiência do usuário.

Busca por propriedades ilimitada, incluindo possibilidades bastante complexas, dependente da definição de índices de mérito e podem exigir experiência do usuário.

Propriedades, tipo de resina, nome comercial, comparações até 10 materiais.

Propriedades (máx 2), aplicações, palavras chave e texto.

Vantagens Maior quantidade de produtos, bastante informação, usabilidade, atualizado constantemente.

Todos os produtos testados com os mesmos padrões; Dados confiáveis, por serem testados independentemente; Sistema pago possibilita integração com softwares de elementos finitos.

Possui uma filosofia de SMPF integrada; Acordos com IDES e Campus permite acesso a um número grande de dados.

Parte livre bastante compreensiva, permitindo comparações com outras classes de materiais; Comparações gráficas são bastante úteis.

Qualquer pessoa pode contribuir com dados; É mantido vivo por uma comunidade de cientistas, sem fins lucrativos.

Desvantagens Dados de datasheets fornecidos pelos fabricantes, e difíceis de comparar. Comparações complexas somente no sistema pago.

Poucos fabricantes e produtos disponíveis, embora sejam os mais conhecidos; Difícil usabilidade; Difícil comparar materiais de fabricantes diferentes.

Difícil usabilidade, particularmente por não engenheiros; O custo da licença, embora não informado, é bastante alto para usuários não acadêmicos, da ordem de milhares de dólares.

Necessário conhecimento sobre propriedades dos materiais; Dados de datasheets fornecidos pelos fabricantes, nem sempre completos.

Difícil usabilidade; informações imprecisas; difícil encontrar informações; deve-se ter cuidado com o uso das informações.

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3.3 Proposta

A revisão da literatura e a análise de similares indicam a necessidade de

uma modificação na metodologia de SMPF para materiais poliméricos, para que os

processos de SMPF realmente ajudem no projeto de produtos industriais, já que as

metodologias tradicionais não se adequam a realidade desta classe de materiais. O

processo tradicional de projeto pode ser visto na Figura 40.

Figura 40: Esquema de um processo de SMPF e projeto tradicional (SAPUAN, 2001).

Para o caso específico de materiais termoplásticos, normalmente o primeiro

passo é o de se escolher o processo de fabricação. Isto ocorre por diversos motivos,

sendo os principais a disponibilidade de maquinário, a forma geral do objeto e o

número total de peças a serem produzido em um determinado período de tempo.

Os termoplásticos oferecem inúmeras possibilidades de desenho, e toda

esta liberdade acaba por definir rapidamente o processo a ser utilizado, mesmo que

o projeto ainda esteja em seu início.

NECESSIDADE DO MERCADO

CONCEITO

DETALHE

PRODUTO

DESIGN REPRESENTATIVO

SELEÇÃO DE MATERIAIS

TODOS OS MATERIAIS

(BAIXA PRECISÃO)

AGRUPAMENTO DE MATERIAIS

(MAIOR PRECISÃO)

UM MATERIAL

(MELHOR PRECISÃO POSSÍVEL)

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O processo de fabricação pode ser escolhido rapidamente pelo método do

questionário fechado. Em seguida, faz-se uma pré-seleção dos materiais juntamente

com o processo inicial de se projetar o produto, utilizando-se para isso informações

básicas sobre o processo escolhido e suas capabilidades, além de informações

básicas sobre os materiais advindos de uma materioteca ou de métodos de

questionário aberto. Em um passo seguinte, faz-se o detalhamento do projeto

concomitantemente com o refinamento da seleção do material mais adequado, por

meio de sucessivas análises.

Para produtos onde é feita uma conversão de materiais (por exemplo, de

metal para plástico), este processo é ligeiramente modificado para incluir uma etapa

de análise anterior à seleção de processo, de modo a se redefinir o problema a ser

estudado e os novos requisitos para o projeto. Um diagrama esquemático do

processo proposto pode ser visto na Figura 41.

Figura 41: Digrama esquemático para projeto de peças plásticas.

definição do problema e novos requisitos

Análise

questionário fechado Seleção de processos

Pré SM polímeros +

Projeto Conceitual

Mercado

Validação

Detalhamento do projeto

SM Análise

questionário aberto +

materiotecas

banco de dados +

fabricante MP

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A análise de similares aponta para um sistema de biblioteca física de

materiais ao estilo a Materioteca® , ligado a um banco de dados com uma poderosa

ferramenta de busca (como por exemplo, o IDES), tendo os recursos de um

programa como o CES e baseado em uma filosofia de seleção de materiais e

processo de fabricação estabelecida de acordo com o modelo proposto. Um sistema

como esse que estivesse disponível livremente pode vir a ser de grande utilidade

para projetistas em geral, sejam eles engenheiros ou não, assim como poderia levar

a um aumento na utilização de termoplásticos e o avanço da indústria nacional.

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3.4 Sugestões

Este trabalho aponta a necessidade de que os projetistas (engenheiros ou

não) adquiram um maior conhecimento sobre os materiais termoplásticos, suas

propriedades e como elas são afetadas pelo ambiente a sua volta. Para isso, ainda

faltam textos de apoio voltados a este público, assim como um maior

desenvolvimento de metodologias de ensino de SMPF (hoje quase toda baseada

nos preceitos de Ashby) tanto para engenheiros como, principalmente, para

designers.

Uma maior integração entre as áreas de Engenharia de Materiais e Desenho

Industrial, a exemplo do que já ocorre em outros países, certamente colaboraria

bastante para que a necessidade apontada seja atendida mais rapidamente.

A análise de similares permite ainda apontar para um sistema híbrido de

SMPF para projeto de produto como as Materiotecas, como sendo aquele que mais

se aproxima das necessidades dos projetistas de peças plásticas. Embora as

metodologias para implantação e uso destas ainda estejam em desenvolvimento, e

maiores investigações sejam necessárias para se determinar o exato conceito a ser

utilizado nas áreas destinadas aos materiais poliméricos, elas devem ser melhor

desenvolvidas e popularizadas.

Finalmente, é necessário que as metodologias atuais de SMPF sejam

adaptadas para que se aproximem da realidade industrial e que possam, ao mesmo

tempo, levar um maior desenvolvimento tecnológico a estas indústrias. Neste sentido,

sugerem-se investigações similares à deste trabalho para outras classes de

materiais.

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APÊNDICE A – Propriedades dos materiais poliméricos termoplásticos

Uma breve discussão sobre as propriedades dos materiais poliméricos

termoplásticos apresentados em folhas técnica de dados.

Densidade ou Massa Específica

Este é um dos poucos casos em que um único número pode descrever

adequadamente uma propriedade, sendo a razão entre massa por unidade de

volume, medida a 23°C, e comumente expressa em g/cm3. Embora ela certamente

varie com a temperatura, o efeito desta não é importante até que o material já esteja

amolecido ou fundido. Um material menos denso leva a peças mais leves, o que

pode ser importante em certas indústrias como a automotiva ou aeroespacial, onde a

economia de peso se traduz diretamente em economia de combustível.

Mais importante que isso, porém, é que um quilo de um material menos denso

produz mais peças que um quilo de um material mais denso. Este é um fator muito

importante para ser levado em consideração, uma vez que em geral as matérias-

primas são compradas por peso e vendidas por unidade (peças, por exemplo).

Assim, é importante analisar o custo por volume de um material e não o custo por

quilo, algo que nem sempre é levado em consideração.

A densidade reflete a estrutura química e a organização molecular de um

material polimérico e regiões cristalinas de um material são mais densas que as

amorfas. A maioria dos plásticos comerciais apresenta densidades entre 0,9 e 1,4

g/cm3, e alguns, devidos a presença de halogênios, apresentam densidades por

volta de 2,3 g/cm3. Materiais com densidades menores que 0,9 são normalmente

celulares, com significativo volume de poros. O uso de aditivos nos plásticos

comerciais também faz com que a densidade apresentada nas folhas técnicas de

dados seja uma característica de cada tipo (grade) de material

No caso de esta propriedade ser utilizada como parâmetro de controle de

qualidade, vale lembrar que a densidade de um material polimérico varia em função

de sua cristalinidade (empacotamento dos átomos) e também pode variar com a

perda de aditivos (plastificantes, por exemplo) ou absorção de solventes.

Para sua determinação são comumente utilizados os métodos ASTM D 792

ou ASTM D 1895 ou ainda ISO 1183.

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Índice de Fluidez (MFI ou Melt Flow Index)

O número que consta das folhas de dados é determinado por um teste

específico (ASTM ou ISO, ver adiante) que expressa a fluidez do material sob

determinadas condições. Normalmente é expressa em g/10 min, refletindo o quanto

de material escoa por uma determinada passagem sob a ação de uma força no

tempo de 10 minutos. Por utilizar uma força constante, é um teste que ocorre a uma

força de cisalhamento constante e não a uma taxa de cisalhamento constante.

Assim, tem pouca semelhança com os processos usuais de moldagem de plásticos,

e é bastante sensível a pequenas variações de massa molar.

Justamente por isso, muitos fabricantes utilizam o MFI como uma

especificação para diferenciar tipos de um mesmo material, valendo-se de uma

correlação com a massa molar média e para monitorar a uniformidade do material

lote a lote ou até dentro de um mesmo lote. Tipos com maior massa molar média

apresentam menor MFI. Quanto mais alta a massa molar média (para um mesmo

material), tipicamente melhores as propriedades e maior a resistência ao fluxo.

Materiais commodities como, por exemplo, PE, PP e PS se baseiam

fortemente neste fator. Alguns materiais de engenharia como PC também. Nestes

casos, tipos com menores MFI são considerados de melhores propriedades

enquanto que materiais com maior MFI têm suas propriedades reduzidas em favor

de um melhor processamento, especialmente para artigos com paredes menos

espessas.

O significado do teste de MFI é historicamente mal interpretado por um

grande segmento da indústria. Muitos processadores colocam uma ênfase

desproporcional nos resultados de MFI por acreditarem que ele reflete corretamente

as diferenças em processabilidade. É certamente correto afirmar que para um dado

conjunto de parâmetros de processo um PP com um MFI de 20 g/10 min vai fluir

mais e preencher uma cavidade de geometria determinada com pressões menores

que um PP com MFI de 4 g/10min.

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Mas a diferença de fluxo não é de cinco vezes como os números podem

sugerir – a pressão não vai cair cinco vezes, ou o material não vai fluir cinco vezes

mais. Isso pode ser explicado pelo fato de que o teste de MFI é conduzido a taxas

de cisalhamento muito baixas quando comparados a realidade dos processos de

fabricação típicos. A taxas de cisalhamento maiores, a viscosidade medida é não só

sensivelmente menor, mas também diminui cada vez mais rápido, em um fenômeno

conhecido como shear thinning, e tem maior efeito quanto maior a massa molar de

uma polímero. A taxas de cisalhamento típicas de processos de injeção, a diferença

de viscosidade entre os dois tipos citados anteriormente é de somente 40%, e não

400% como se poderia imaginar pelos números de MFI.

Vale lembrar ainda que mesmo que tipos dentro de uma mesma família

apresentem comportamentos similares, o comportamento da viscosidade entre

diferentes famílias pode ser bastante diferente, já que o cisalhamento afeta de

maneira diferente as diferentes estruturas moleculares. Assim não se deve esperar

que um PP e um PS tenham o mesmo comportamento no processo só porque eles

têm o mesmo MFI, por exemplo. Além disso, as diferenças de densidade do fundido

fazem com que um mesmo volume de PS tenha massa cerca de 15% maior, o que

leva a que mesmo que os dois materiais apresentem o mesmo comportamento

reológico, e mesmo MFI, o PP terá menor viscosidade, já que é preciso uma maior

quantidade de PP para produzir o mesmo número de MFI de um PS.

Um último item que merece atenção quando se compara a fluidez de

materiais diferentes são as condições de teste. Muitas vezes mesmo para uma

mesma família de materiais, há diversas condições que podem ser utilizadas, e isto

pode variar de acordo com o fabricante. Um mesmo ABS pode ser testado de acordo

com a ASTM nas condições G, V, AL, ou I, por exemplo, o que correspondem as

condições seguintes: 200°C /5 kg, 210°C /2,16 kg, 220°C /10 kg ou 230°C /3,8 kg.

Os métodos mais comuns para este tipo ensaio são o ASTM 1238 (Melt Flow

Index), com resultados em g/10 min e ISO 1133 (Melt Volume-Flow Rate), com

resultados em cm3/10 min.

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Módulo de Flexão

Por definição, o módulo é a razão entre tensão e deformação produzida por

esta em um material. Nos estágios iniciais de uma curva tensão versus deformação,

esta relação é linear e o módulo é representado pela inclinação desta reta. Para

materiais homogêneos, os valores em flexão, compressão ou tensão são muito

parecidos (SOLVAY ADVANCED POLYMERS, 2003).

Para materiais poliméricos termoplásticos, o módulo em flexão varia

inversamente com a variação de temperatura e, mesmo que cada material apresente

a sua própria curva de módulo versus temperatura, normalmente o formato da curva

depende se polímero base de um produto é amorfo ou semi-cristalino (NIELSEN,

1993). Um exemplo das curvas de Módulo versus Temperatura pode ser visto na

Figura 42.

Figura 42: Módulo de Young versus Temperatura para polímeros amorfos e semicristalinos. Fonte: Solvay Advanced Polymers, LLC.

No caso de polímeros amorfos, eles são caracterizados por apresentarem um

módulo relativamente constante por uma ampla faixa de temperaturas, até que esta

atinja um ponto em que o material comece a amolecer e os valores de módulo caem

drasticamente em uma faixa estreita de temperaturas.

Após este amolecimento, um material amorfo perde cerca de 99% de sua

rigidez original e não tem mais utilização prática. A estreita faixa de temperatura

onde há queda acentuada de módulo é conhecida como temperatura de transição

vítrea.

Temperatura

Mód

ulo

Elá

stic

o

Amorfo Semi-Cristalino

Tg

Tm

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Para polímeros amorfos carregados (com fibra de vidro, por exemplo), o

comportamento geral é basicamente o mesmo, mas com algumas pequenas

diferenças. A primeira delas é que o módulo é sensivelmente maior. Enquanto que

um PC sem carga tem um módulo de 2,2 – 2,4 GPa, o mesmo PC com 20% de fibra

de vidro (PC+20 %FV) tem 5,5 GPa e com 40% (PC+40%FV) este valor é de 9,7

GPa. A segunda é que a queda em módulo anterior a Tg é sensivelmente menor, ou

seja, a presença de FV não muda a Tg, mas faz com que ele permaneça mais rígido

por mais tempo. (Ver descrição sobre HDT/DTUL).

No caso de polímeros semi-cristalinos, estes consistem de pequenos

domínios cristalinos distribuídos em uma matriz de material amorfo. As regiões

amorfas continuam a apresentar a Tg, mas como as regiões cristalinas ainda estão

rígidas, a Tg não amolece completamente o polímero.

Desta maneira, há uma perda substancial de módulo, mas um novo platô

intermediário é criado e mantido até que seja atingida a temperatura de fusão

cristalina Tm, quando toda a rigidez do material se perde. Assim a principal diferença

no formato da curva é que enquanto os materiais amorfos perdem toda a sua rigidez

de uma só vez (próximo a Tg) os semi-cristalinos a perdem em duas etapas (próximo

a Tg e Tm).

Um bom exemplo de material semi-cristalino é a Poliftalamida, ou PPA. Um

polímero base comum é o Amodel A-1000, que tem módulo de flexão a 23°C de 1,7

GPa. Este valor cai muito pouco até que a Tg deste material (123°C) seja atingida.

Entre 120 e 160°C este material perde cerca de 85%19 do valor de seu módulo a

23°C e um novo platô de valor de módulo é estabelecido a 0,21 GPa. Do final da

região de transição vítrea até a Tm, este valor cai linearmente até aproximadamente

0,075 GPa, quando então a fusão ocorre a cerca de 313°C.

Como praticamente todos os materiais semi-cristalinos não carregados

seguem este mesmo padrão, uma vez conhecido o módulo a temperatura ambiente

(23°C), e suas temperaturas de transição vítrea e de fusão cristalina pode-se ter

uma boa idéia da curva em si.

19 Há menor perda de módulo quanto maior a cristalinidade total de um polímero. Por isso é tão importante que materiais semi-cristalinos sejam corretamente processados e cristalizados, já que suas propriedades a altas temperaturas serão significativamente afetadas.

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Ao se adicionar uma carga ou reforço, o modelo da curva permanece o

mesmo. Como no caso de materiais amorfos, a presença de reforços não altera Tg

ou Tm, mas deixa o material mais rígido tanto abaixo quanto acima da Tg. Ainda no

exemplo do PPA, o Amodel A-1133HS com 33% de FV, tem um módulo a 23°C de

13,4 GPa (1940 Kpsi), que se mantém praticamente constante até os 123°C (Tg). Ele

novamente apresenta uma região de transição entre 120 e 160°C com uma queda

acentuada do módulo e um novo platô com queda gradual até a temperatura de

fusão cristalina.

A grande diferença está no fato de que ao final da transição vítrea o material

perdeu apenas 60% do valor do seu módulo a 23°C, ao invés dos 85% do material

sem reforço. Este comportamento pode ser esperado de todos os materiais semi-

cristalinos reforçados com Tg acima da temperatura ambiente.

Comercialmente, existem muito mais tipos (grades) reforçados de materiais

semi-cristalinos do que amorfos. Isto se deve ao fato de que independentemente da

quantidade e do tipo de reforço, o material amorfo perde suas propriedades de

carregamento quando acima da Tg. Abaixo desta temperatura o reforço não é

significativo quando comparado com aquele alcançado nos semi-cristalinos.

Já no caso de materiais semi-cristalinos, as vantagens podem ser sentidas

tanto abaixo quanto principalmente acima da Tg, mantendo estes materiais com

propriedades utilizáveis a temperaturas relativamente altas como é o caso por

exemplo do PPA + 33%FV (AMODEL A-1133HS), que tem Tg de 123°C mas ainda é

utilizável a temperaturas de até 285°C (dependente do desenho da peça), graças ao

reforço.

Para materiais semi-cristalinos com Tg menor que a temperatura ambiente

(23°C), como por exemplo PP, PE e POM, o mesmo princípio também é válido, mas

deve-se levar em conta o fato de que a esta temperatura o polímero já está no platô

pós-Tg, o que faz com que só haja um longo declínio no valor de módulo até a

temperatura de fusão cristalina. No entanto, quando se analisa um gráfico, incluindo

aí as temperaturas abaixo de Tg, tem-se o mesmo tipo de gráfico já apresentado.

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86

Deste modo, pode-se deduzir uma grande quantidade de informações a partir

de alguns poucos dados como, por exemplo, o módulo (sempre presente nas fichas

técnicas) e das temperaturas de transição Tg e Tm. Infelizmente, nem sempre estes

valores estão disponíveis nas fichas técnicas, mas existe um outro dado sempre

presente e que pode ser muito útil para um melhor conhecimento do comportamento

de um polímero a altas temperaturas, a temperatura de deflexão térmica (HDT ou

DTUL).

Os métodos ASTM D638 e ISO 527 são os mais utilizados para determinação

do módulo elástico.

Temperatura de deflexão térmica (HDT OU DTUL)

Para melhor entender a relação entre este teste e as temperaturas de

transição vítrea e fusão é importante entender o que realmente este teste avalia. A

medição é realizada como em um teste de deformação em três pontos, com uma

carga sendo aplicada no centro do corpo-de-prova de modo a gerar uma tensão

constante enquanto a temperatura é elevada. Quando uma deformação específica é

atingida, a temperatura máxima é anotada. Assim, o HDT representa a temperatura

a que uma carga determinada produz uma deformação determinada em flexão ou

ainda a temperatura a que o material atinge determinado módulo de flexão.

Especificamente, as duas condições padrão para teste são com tensões de

66 e 264 psi, o se reflete em um módulo de flexão associado a cada uma das

condições de 29 e 116 Kpsi respectivamente.

Como é sabido (Cf. seção anterior sobre Módulo Elástico) que para um

material amorfo os valores de módulo diminuem muito pouco entre a temperatura

ambiente (23°C) e sua transição vítrea, e que acima desta, estes materiais perdem

mais de 99% do valor de módulo a temperatura ambiente (23°C), pode-se inferir que

o valor de Tg de um polímero amorfo é alguns poucos graus (6 – 15°C) acima da

temperatura de deflexão térmica, sendo que para polímeros amorfos carregados

esta diferença é ainda menor. O efeito da adição de 30% de fibra de vidro em alguns

termoplásticos amorfos é apresentado na Tabela 2.

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Tabela 2: Efeito da adição de 30% de fibra de vidro na temperatura de deflexão térmica em alguns termoplásticos amorfos.

Material HDT sem fibra (°C) HDT com 30% FV (°C) Tg (°C)

PC 129 132 135

PSU 174 181 185

PPSU 207 214 220

Como é de se esperar, o caso dos materiais semi-cristalinos é um pouco

diferente e a presença de cargas afeta fortemente as análises. Para os semi-

cristalinos sem carga que apresentam Tg acima da temperatura ambiente (23°C),

uma pesquisa atenta revela que o módulo de flexão a temperatura ambiente (23°C)

para praticamente todos estes materiais fica entre 2 e 3 GPa.

De acordo com a generalização, após Tg esses valores devem cair cerca de

80% e estar entre 0,4 e 0,6 GPa, ou seja, estarão abaixo do módulo associado ao

HDT a 264 psi e a Tg deveria estar a uma temperatura muito próxima a este HDT

para materiais semi-cristalinos sem reforço.

Um bom exemplo disso é o PBT (Celanex 1300A) onde a Tg é de 60°C e o

HDT a 264 psi é 54,4°C (IDES, 2006a). No caso de uma Poliftalamida sem reforço

(Amodel A-1001L), a Tg deste material é de 127°C e seu HDT a 264 psi é 120°C

(IDES, 2006a). Esta proximidade de valores se deve a proximidade entre a curva

contínua de módulo de flexão versus temperatura - obtida por um ensaio de DMA20 –

e os pontos obtidos nos ensaios de HDT.

A temperatura de fusão cristalina também pode ser estimada pela análise do

comportamento dos materiais carregados. Neste caso, Tm pode ser estimada como

sendo alguns poucos graus acima da HDT a 66 psi. Se este valor não estiver

disponível, pode-se também utilizar o valor a 264 psi, embora este esteja um pouco

mais longe da Tm. Novamente, quanto maior o reforço, menor a diferença entre as

temperaturas de HDT a 66 e 264 psi e entre essas e a Tm.

20 Dynamic Mechanical Analysis – Análise Dinâmico-Mecânica, um tipo de análise térmica muito utilizada no estudo de materiais poliméricos.

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Deste modo, demonstra-se como um pouco de conhecimento de estrutura e

propriedades dos polímeros e uma análise cuidadosa dos dados de módulo de

flexão e HDT, podem dar uma boa idéia de como um material pode reagir a uma

larga faixa de temperaturas para as quais quase não se tem informação direta. Ainda

assim, alguns materiais, particularmente as blendas poliméricas, aparentemente

violam estas generalizações já que o comportamento destes é muito mais complexo

e muitos fabricantes não explicam exatamente a composição de suas blendas.

Esta propriedade é normalmente determinada seguindo as normas ASTD D

648 ou ISO 75.

Tensão e deformação

Como discutido anteriormente, a curva tensão versus deformação é uma das

ferramentas mais importantes com relação as propriedades mecânicas dos materiais

poliméricos. O trecho inicial é em geral caracterizado por uma linha reta e é

conhecida como região elástica, onde qualquer esforço é acompanhado por uma

deformação proporcional e reversível. Gradualmente esta relação deixa de ser linear

quando entram em ação os mecanismos de deformação plástica. Assim, menores

esforços são necessários para uma mesma deformação.

A partir desse ponto os materiais podem reagir de duas maneiras distintas.

Eles podem romper abruptamente (comportamento frágil) a uma tensão chamada

tensão de ruptura, como por exemplo, no caso dos plásticos com altos teores de

fibra de vidro. Eles também podem continuar se deformando até o ponto onde

nenhum esforço adicional é necessário para continuar a deformação, conhecido

como tensão de escoamento. Vale notar que o material pode continuar se

deformando bastante antes que uma ruptura venha a ocorrer e esta deformação

pode ser entendida como uma medida relativa da ductilidade ou resistência ao

impacto deste material.

A tensão que consta das folhas de dados pode ser tanto a de escoamento

quanto a de quebra. Materiais dúcteis também apresentam tensão e elongação de

ruptura, mas tipicamente este valor não é informado, embora seja importante

lembrar disso quando se compara materiais distintos.

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Estes valores limites (tensão de escoamento ou de ruptura) variam com a

temperatura e, com isso, um termoplástico que a 23°C apresenta um

comportamento frágil vai se tornar mais dúctil com o aumento de temperatura e, ao

mesmo tempo em que há uma diminuição na tensão de ruptura (ou de escoamento),

a deformação para atingir este ponto é cada vez maior.

O comportamento da tensão de ruptura (ou de escoamento) com a

temperatura é menos previsível que o módulo (NIELSEN, 1993). Este

comportamento é praticamente linear, independente se o polímero é amorfo ou

semicristalino, reforçado ou não, mas é muito difícil predizer a inclinação desta reta

simplesmente com base na estrutura do polímero. Neste caso, alguns fabricantes

fornecem as curvas deste comportamento para seus materiais, embora esta não

seja uma regra geral.

Na Figura 43 pode ser observado o comportamento da resistência à tração de

um polímero carregado (PPA com 45% de fibra de vidro), com a diminuição da

resistência a tração e o correspondente aumento da elongação com o aumento da

temperatura.

0

50

100

150

200

250

300

0 1 2 3 4 5 6 7 8

Elongação (%)

Res

istê

ncia

a T

raçã

o (M

Pa)

-40˚C23˚C100˚C120˚C150˚C200˚C

Figura 43 Comportamento da tensão e deformação de um termoplástico carregado (Amodel AS-1145 HS da Solvay Advanced Polymers, LLC). Fonte de dados: CAMPUS 2006.

Da mesma forma que para os valores de módulo, é normalmente determinada

seguindo as normas ASTD D638 ou ISO 527.

Aumento da Temperatura

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Elongação

Como citado anteriormente, o alongamento é um bom indicativo da

ductilidade de um polímero e altos níveis de alongamento indicam boa capacidade

de absorver energia.

Uma modificação na composição que aumente a ductilidade leva ao aumento

nos valores de alongamento na ruptura, assim como um aumento na rigidez leva a

uma diminuição neste alongamento. Um bom exemplo é o PA 6, onde um tipo de

uso geral apresenta ruptura entre 25 e 50% de alongamento, enquanto que um tipo

modificado ao impacto apresenta ruptura entre 200 e 250% e um reforçado com fibra

de vidro entre 1 e 3,5% dependentemente dos níveis de modificação.

O alongamento aumenta com o aumento da temperatura (NIELSEN, 1993), e

isto ocorre mais rapidamente se este aumento de temperatura passar pela transição

vítrea de um polímero, o que pode ocorrer para os polímeros semicristalinos. Para

polímeros amorfos, pode-se esperar um aumento gradual no alongamento com a

elevação da temperatura, em uma razão inversamente proporcional a queda nos

valores de módulo em flexão.

É geralmente determinada seguindo as normas ASTD D 638 e ISO 527.

Impacto IZOD com entalhe

O teste de impacto IZOD foi adotado pela indústria de plásticos tal qual como

utilizado pela indústria de metais em uma época em que pouco se conhecia sobre o

comportamento em impacto dos materiais poliméricos. O conhecimento atual sobre

este tema provavelmente levaria a outra solução, mas o fato é que este teste se

tornou bastante comum e enraizado na indústria do plástico. Ainda assim, pode-se

utilizar melhor os dados deste teste quando se entende melhor o que ele realmente

mede.

Os corpos de prova utilizados neste teste apresentam um entalhe proposital

com um raio de 0,01 polegadas (0,25 mm). Praticamente todos os materiais

poliméricos são sensíveis ao entalhe, mas para alguns materiais como o PC o raio

crítico é menor que este valor e, portanto, este material apresenta resultados

bastante expressivos neste ensaio.

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Para o PA 6, por exemplo, o raio crítico está acima daquele do corpo-de-

prova e os resultados relativos a este material neste teste são relativamente baixos.

Assim, o teste não é realmente um teste de impacto representativo, já que não

compara todos os polímeros acima ou abaixo do seu raio crítico.

Embora nos manuais de design em plástico21 a utilização de raios mínimos

em todos os “cantos” seja recomendada, muitas vezes a construção do molde ou o

uso do produto (quando sujeito a impactos, por exemplo) pode levar ao

aparecimento de entalhes ou cantos vivos e a susceptibilidade ao entalhe pode ser

um fator decisivo entre a falha ou o sucesso de uma peça.

Como outras propriedades, a resistência ao impacto também é afetada pela

temperatura e, neste caso é diretamente proporcional a esta. Um fenômeno bastante

conhecido nos metais, também se faz presente. É a transição frágil-dúctil, que ocorre

normalmente em uma faixa estreita de temperaturas e está associada a

posicionamento da Tg em relação à temperatura do teste.

Deve-se atentar a este fato, uma vez que materiais que se saem muito bem

nos testes IZOD a 23°C podem apresentar valores muito menores se a temperatura

estiver apenas um pouco mais baixa. Este é o caso do PC sem reforço, por exemplo,

que apresenta uma queda de mais de 90% nos valores desta propriedade em uma

faixa estreita (até 8˚C) que é dependente da massa molar do polímero.

No caso de materiais semicristalinos reforçados, principalmente quando o

polímero base é frágil, existem algumas diferenças que devem ser analisadas mais

atentamente. Em alguns casos a resistência ao impacto cai linearmente com a

temperatura até certo ponto, quando então ela volta a subir. E aí aparece uma

limitação dos testes de impacto tradicionais.

Estes testes medem a energia total para a fratura, que é uma combinação da

energia para iniciá-la e da energia para propagar a trinca até a ruptura total do

corpo-de-prova. A primeira é bastante dependente da rigidez do material, enquanto

que a segunda é uma medida da ductilidade do mesmo.

Assim, um material bastante rígido pode apresentar altos valores neste teste,

mesmo sendo muito pouco dúctil, ou seja, um material frágil. Isto é ainda mais

influenciado pelo formato do corpo-de-prova e da localização do entalhe, que

maximiza a orientação dos reforços perpendicularmente ao entalhe.

21 Por exemplo, Solvay Advanced Polymers (2003), BASF (2004), GE Plastics (2006), Ogorkiewicz, (1974), entre outros.

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Logo, materiais semicristalinos reforçados com fibra de vidro, por exemplo,

apresentam valores que são artificialmente superiores ao que se poderia esperar e

não se deve considerar os testes de impacto como uma medida pura de ductilidade.

Este efeito é ainda mais exagerado com o uso de fibras longas, versus a tradicional

fibra curta.

No caso de materiais amorfos, a adição de reforços reduz sua ductilidade, e

isso pode ser exemplificado pelo PC que quando reforçado com FV tem seus valores

de impacto IZOD reduzidos em cerca de 80%.

O ensaio de impacto IZOD é tipicamente realizado seguindo as normas ASTD

D256 e D4812 ou ISO 180.

Flamabilidade UL

Os testes do Undewriter’s Laboratories (www.UL.com) são bastante

específicos na maneira em que são conduzidos e como os diversos níveis de

flamabilidade com que são graduados os polímeros. Todos os polímeros queimam

se a temperatura for suficientemente alta e o que os testes procuram determinar é o

quanto o material é (ou não) auto-extinguível.

Dois pontos importantes que devem ser considerados: a) os resultados destes

testes são muito dependentes da espessura do corpo-de-prova e b) alguns materiais

só se tornam auto-extinguíveis com o uso de aditivos, enquanto outros são

naturalmente auto-extinguíveis.

Para o primeiro caso, vale lembrar que alguns materiais são auto-extinguíveis

somente acima de uma determinada espessura (2 mm por exemplo), enquanto

outros apresentam esta mesma característica para espessuras inferiores a 1 mm e,

portanto, espessura mínima é um ponto importante a se observar se o projeto

necessitar de características auto-extinguíveis.

O segundo caso é importante porque a presença dos aditivos que promovem

a característica de auto-extinção normalmente compromete outras propriedades do

polímero base, além de aumentarem muito a sua densidade e normalmente não

poderem ser utilizados quando o produto final produzido terá contato com alimentos

ou água potável.

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Assim, sempre que possível, um produto naturalmente auto-extinguível (pela

sua estrutura química) é preferível a outro que tenha propriedades que atendam aos

requisitos mas necessite de aditivos para atingir a característica de auto-extinção

necessária.

Os métodos mais comuns de avaliação da inflamabilidade medem o tempo

para que uma chama percorra um corpo-de-prova, sob determinadas condições,

sendo os mais comuns os propostos pelo Undewriter’s Laboratories , como o UL 94.

Coeficiente Linear de Expansão Térmica (CLTE)

A maioria dos materiais, incluindo os polímeros, expande com o aumento da

temperatura. Esta expansão é avaliada pelo coeficiente linear de expansão térmica,

que mede a mudança de uma dimensão (comprimento) relativa á dimensão inicial e

a mudança de temperatura e é representada pela inclinação da reta resultante. O

mais comum é que este teste seja conduzido entre -30°C e + 30°C, porque nesta

faixa de temperaturas os valores de CLTE para a maioria dos polímeros são

relativamente constantes.

Para polímeros amorfos, o CLTE é praticamente constante até temperaturas

próximas a Tg, e para materiais semi-cristalinos com Tg acima de 30°C esta regra

também é válida. Para estes materiais, no entanto, acima da Tg o CLTE aumenta

abruptamente por um fator de 3,5, o que deve ser levado em consideração no

projeto de peças quando esses materiais serão utilizados acima de sua Tg.

Para materiais semi-cristalinos com Tg abaixo de 30°C, pode ser observado

um aumento gradual do CLTE com o aumento da temperatura. No caso de materiais

reforçados, vários fatores podem influenciar neste comportamento, como o tipo de

reforço, sua quantidade e sua orientação, por exemplo.

Em geral, os materiais poliméricos apresentam valores de CLTE muito

maiores do que o de metais, o que faz com que a utilização conjunta destes

materiais em um componente deva ser estudada com cuidado, para que o aumento

da temperatura não crie tensões superiores àquelas que os plásticos podem resistir.

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Nestes casos, torna-se muito importante que os valores de CLTE dos dois

materiais sejam os mais próximos possíveis na faixa de temperaturas a que a peça

estará exposta. Para casos muito específicos, são necessários CLTE idênticos e um

bom exemplo de polímero que pode apresentar valores de CLTE comparativos a

metais é a Poliamida Imida (PAI) comercialmente mais conhecida como Torlon®.

Esta propriedade é geralmente determinada seguindo as normas ASTD D696

(na Europa) ou E831 (nos Estados Unidos) ou ainda ISO 11359-2 e reportada em

°C-1.

Conclusão

Discutiram-se alguns dos testes mais comumente encontrados nas folhas

técnicas de dados dos materiais poliméricos. Existem muitos outros, específicos de

algumas aplicações, e por isto não se prestam a generalizações, uma vez que dados

não estão disponíveis se não para um número muito pequeno de produtos.

Além disso, é importante lembrar que os ensaios são conduzidos em corpos

de prova especialmente desenhados para estes ensaios, e por isso permitem uma

boa reprodutibilidade e representam geralmente as melhores propriedades

possíveis. Isso pode servir ao intuito de se comparar diversos materiais, mas indica

muito pouco sobre as propriedades do produto acabado, uma vez que o design de

uma peça tem grande influência nas propriedades e as empresas que utilizam estes

materiais no seu processo de produção produzem produtos, e não corpos de prova.

Embora esta tenha sido apenas uma breve discussão sobre propriedades que

constam das folhas de dados dos diversos polímeros, entende-se que estas

generalizações são uma contribuição importante para o entendimento do

comportamento destes materiais. Neste sentido, nenhum teste padrão é perfeito,

mas é importante entender o significado do que está sendo avaliado para poder

fazer um melhor uso das propriedades dos polímeros quando da escolha de um

material para um determinado projeto.

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APÊNDICE B – Métodos de Ensaio

Uma breve discussão sobre o significado dos resultados dos testes

apresentados em folhas técnicas de dados

Quando se analisa uma folha técnica de dados (datasheet), destacam-se os

resultados dos ensaios e as normas utilizadas para gerar estes resultados, sendo as

mais comuns as da ASTM, ISO e UL e em alguns casos específicos ABNT, IEC,

DIN, BS, ou JIS. Este texto ajuda a “navegar” por eles.

Primeiramente deve-se lembrar que cada um dos resultados expressos em

uma folha técnica de dados é o resultado de uma média de vários ensaios (cujo

número depende da norma específica) e normalmente as letras pequenas ao final da

folha de dados indicam que estes são “valores típicos, que não devem ser utilizados

como especificação“. Assim, quando se lê um valor de 100 MPa, deve-se interpretá-

lo como sendo “ao redor de 100 MPa” e um corpo-de-prova escolhido aleatoriamente

pode apresentar valores um pouco mais altos ou um pouco mais baixos que aquele

apresentado.

Outro ponto interessante a ser levado em consideração é que realizar os

testes para uma folha de dados completa tem um custo bastante elevado. Michael

Sepe (IDES, 2003) estima que este custo seja de aproximadamente US$ 15.000

para um único grade de material e isto não passa despercebido pelos fabricantes.

Multiplicando este valor pelo número de grades disponíveis de cada fabricante,

torna-se notório que é muito difícil que todos os materiais sejam testados para todas

as propriedades, mas somente aquelas mais comuns e também aquelas que estão

diretamente ligadas ao uso pretendido para o material.

É por isso que normalmente se encontra os valores de acordo com um único

padrão (normalmente ASTM ou ISO) ou ainda com resultados em duas unidades

(Kpsi e MPa por exemplo) apesar de o material ter sido testado de acordo com um

único padrão.

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Isso fica claro ao se comparar as folhas de dados de dois fabricantes

diferentes de PA 6.6 carregado com 30% de fibra de vidro como, por exemplo,

DuPont e RTP Company. A primeira apresenta os dados completos de acordo com

as normas ASTM e ISO enquanto a outra apenas “transforma” os valores entre os

diferentes sistemas de unidades. Muito provavelmente, a RTP Company não tem

tantos recursos disponíveis para gerar todos os dados, mas quer atingir o maior

público possível e por isso lista as propriedades nas diferentes unidades.

Vale lembrar que os resultados apresentados são obtidos em testes

realizados em corpos de prova corretamente moldados. Estes corpos de prova são

dimensionados (e cada norma geralmente determina dimensões próprias) para que

os resultados sejam reprodutíveis e os melhores possíveis para uma determinada

propriedade. Além disso, como citado anteriormente, as propriedades dos materiais

são afetadas pelo processamento e, para a obtenção dos corpos de prova, os

fabricantes utilizam as melhores condições possíveis, algo nem sempre encontrado

no dia-a-dia das empresas.

Adicionando-se a isso a incerteza dos dados em si, percebe-se que não se

deve dar uma importância demasiadamente grande ao padrão utilizado. Não que o

padrão utilizado não seja importante (é preciso ter um padrão), mas que a incerteza

dos dados e o distanciamento entre a realidade das normas e a realidade dos

projetos é muitas vezes maior do que a diferença que poderia vir da modificação do

padrão adotado.

Há ainda a diferença nas unidades em que os valores são reportados. Talvez

a mais intrigante é a das unidades dos testes de impacto Izod e Charpy entre ASTM

e ISO. A ASTM especifica a unidade de (J/m) como medida de energia, enquanto

que a ISO especifica que os resultados dos testes devem ser dados em (kJ/m2), que

é uma medida de energia por unidade de área. Assim, não é possível converter uma

unidade na outra, o que muitas vezes parece ser inconsistente e faz com que muitas

pessoas tentem comparar os resultados dos dois tipos de ensaio, sem sucesso.

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Outros pontos importantes:

• As empresas produzem produtos e não corpos de prova. Assim, não se

deve levar os resultados apresentados em uma folha técnica de dados

como especificações ou mesmo como propriedades dos materiais que serão

atingidas em uma peça durante a sua produção;

• As normas e os corpos de prova projetados para elas são pensados

para obter resultados consistentes, repetitivos e com pouca variabilidade.

Deste modo, a típica variabilidade de produção e de outros “designs” será

sempre maior que a variabilidade que se pode encontrar em resultados

obtidos em corpos de prova;

• Os materiais poliméricos podem apresentar muitas variações de

propriedades de acordo com a geometria da peça, com variações advindas

do processamento em si;

Assim, deve-se tomar muito cuidado quando se compara duas folhas

técnicas de dados de materiais para a escolha de um material para um projeto, pois

além dos aspectos discutidos no Apêndice A, outros fatores, como por exemplo,

forma, processamento e ambiente de uso da peça podem afetar grandemente as

propriedades de um material, fazendo com que elas sejam bastante diferentes

daqueles constantes das folhas técnicas dos materiais.

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APÊNDICE C – Mapas de Propriedades dos Materiais

Uma breve discussão sobre Mapas de Propriedades dos Materiais e Índices de

Mérito.

Os mapas de propriedades de materiais são uma maneira de se dispor as

propriedades dos materiais proposto por Ashby (1989). Normalmente elas são

apresentadas como uma lista ordenada ou ainda um gráfico de barras, como aquele

mostrado na Figura 44.

Figura 44: Gráfico de barras mostrando a temperatura de distorção térmica de diversos materiais. Cada barra mostra o quanto a propriedade pode variar para uma mesmo material. Adaptado de Mano (1991).

1. LDPE 2. HDPE 3. PP 4. PS 5. PVC 6. PTFE 7. PVAC 8. PMMA 9. PAN 10. ER 11. PET 12. PC 13. GRP 14. PA6 15. PA11 16. PA6.6 17. PA6.10 18. PR 19. UR 20. MR 21. PU 22. NR * Não aplicável

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99

Porém, o desempenho de um componente raramente depende de uma única

propriedade, e sim de uma combinação delas. Tem-se como exemplo a relação

rigidez/peso ou mesmo resistência mecânica/peso. Ashby (1989) propôs que se

fizesse uma representação gráfica de uma propriedade versus a outra, de maneira a

formar um mapa com campos definidos para cada uma das classes dos materiais,

sendo que os eixos do gráfico são formatados em escala logarítmica para que

possam incluir todas as classes de materiais. Isto faz com que estes mapas

permitam a visualização de todas as famílias de materiais em coordenadas

cartesianas que representam pares de propriedades.

Assim, esses mapas são representações gráficas bidimensionais nas quais os

eixos representam duas propriedades que são plotadas em escalas logarítmicas. Um

exemplo de mapa pode ser visto na Figura 45.

Figura 45: Mapa de propriedade dos materiais, Resistência mecânica versus densidade para diversos materiais. Fonte: Ferrante (1996).

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100

O verdadeiro valor do seu método, porém, aparece quando da utilização dos

Índices de Mérito (IM). Este conceito, também introduzido por Ashby (1989), é na

verdade uma fórmula algébrica que permite expressar o compromisso entre duas

propriedades de um material. Na sua forma mais simples, um IM pode ser

simplesmente a propriedade ou o seu inverso, mas na maioria dos casos ele é

descrito por uma fração, onde o denominador é aquela propriedade que deve ser

minimizada e o numerador aquela que deve ser maximizada (SANTOS; FERRANTE,

2003).

Para cada caso específico, é possível identificar ou deduzir um ou mais IMs

que sejam úteis para o projeto e, embora se apresente de forma bem simples, pode

se tornar bastante difícil em outras, principalmente nos caso reais onde múltiplos

objetivos conflitantes estão envolvidos.

Em seu artigo introdutório, Ashby (op.cit.) deduziu vários destes índices de

mérito. Para o exemplo de uma barra em tração, a barra de menor peso que resiste

a uma determinada força é aquela em que E/� tiver o maior valor. Para o caso de

uma barra em flexão, este índice é para o maior valor de E1/2/�. Para uma placa em

flexão, este índice é para o maior valor de E1/3/�.

Para facilitar a sua aplicação, os índices são representados por linhas retas

superpostas ao gráfico, e assim pode-se definir a eq.(1):

ρE

C = onde C é uma constante. (1)

Escrevendo de outra maneira, tem-se a eq. (2):

ρ×= CE (2)

Utilizando logaritmos para que o resultado no gráfico seja uma reta, tem-se a

eq.(3):

ρlogloglog += CE (3)

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A eq (3) representa uma família de linhas retas de inclinação 1, sendo uma

linha para cada valor de C. Os índices de E1/2/� e E1/3/�, conduzem a famílias de

retas de inclinação 2 e 3 respectivamente. Existem inúmeros critérios como estes, ou

índices de mérito (IM) que podem ser utilizados em SMPF, e alguns são

apresentados na Tabela 3, que foi adaptada por Ferrante (1996) a partir do trabalho

de Ashby (1989).

Tabela 3: Alguns índices de mérito utilizados em projeto. Fonte: Ferrante (1996).

Dentre todas as propriedades dos materiais, tipicamente dez se destacam

como sendo as mais importantes e estão listadas, juntamente com seus símbolos e

unidades, na Tabela 4.

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Tabela 4: Principais propriedades dos materiais segundo Ashby (1992).

Propriedade Símbolo Unidade Densidade � Mg/m3 Módulo Elástico (ou de Young) E GPa Resistência a tração �y MPa Tenacidade a Fratura KIc MPa.m1/2 Tenacidade GIc J/m2 Coeficiente de amortecimento � - Condutividade Térmica � W/m.K Difusividade Térmica A m2/s Calor Específico volumétrico Cp� J/m3.K Coeficiente de Expansão Térmica

� 1/K

Um exemplo de mapa de propriedades e a utilização dos índices acima,

marcadas como linhas-guia para minimização de peso, podem ser vistos na Figura

46.

Figura 46: Mapa de propriedade dos materiais no espaço Módulo de Elasticidade versus densidade, com as diversas classes dos materiais e as linhas guia para minimização de peso.

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Pode-se entender a utilização destas linhas por meio de um exemplo. Para o

mapa apresentado, se dois materiais estiverem sobre uma mesma linha, eles

apresentam desempenhos semelhantes, enquanto um material que esteja em uma

linha paralela acima terá um desempenho melhor e um abaixo terá um desempenho

inferior. Neste caso, um melhor desempenho significa ou uma deflexão menor para a

mesma massa do componente ou um mesmo valor de deflexão para uma massa

menor.

As mais diversas combinações de propriedades podem ser visualizadas desta

maneira, e no artigo original de Ashby (1989) são citadas o que o autor considera

como as dez mais importantes, e que dão origem a 10 mapas originais de

propriedades dos materiais. São eles:

• Módulo elástico versus densidade

• Resistência mecânica versus densidade

• Tenacidade a fratura versus densidade

• Módulo elástico versus resistência mecânica

• Tenacidade a fratura versus módulo elástico

• Tenacidade a fratura versus resistência mecânica

• Coeficiente de amortecimento versus módulo elástico

• Condutividade térmica versus difusividade térmica

• Coeficiente de expansão térmica linear versus módulo elástico

• Resistência mecânica especifica versus coeficiente de expansão

térmica linear

Quando da publicação destes gráficos em um livro (ASHBY, 1992) e apesar

de este estar protegido pelos direitos autorais, o próprio autor recomenda, no

prefácio do livro, que sejam feitas cópias dos gráficos publicados como maneira de

facilitar e disseminar o uso dos mesmos, desde que citada a referência.

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APÊNDICE D – Biografia

José Alex Piccolo Sant´Anna

Engenheiro de Materiais pela Universidade Federal de São Carlos,

Mestrando do Programa de Pós-graduação da Escola Politécnica da Universidade

de São Paulo na área de seleção de materiais. Atua na área de plásticos desde

1998 com os mais diversos tipos de polímeros, em extrusão, injeção e sopro, nas

áreas de vendas, assistência técnica, desenvolvimento de produto e de mercado.

Atualmente é Gestor de Clientes da área de Polímeros Especiais da Solvay Química

Ltda., sendo responsável por desenvolvimento de novas aplicações e mercados

para a América do Sul.

É autor de diversos artigos técnicos, científicos e de divulgação além de

palestrante sobre assuntos como astronomia, divulgação científica, ensino de

engenharia, embalagens, seleção de materiais, transformação de peças de metal

para plástico, nanocompósitos e polímeros de uso especial.