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Na capa: O mítico rei-ferreiro Ngola Mussuri (Ngola Musudi) ,.- _lqr-rE do Padre João António Cavaãzi ae Vtontecìcïãtã Ìmeaaos do sec. XV[). "Missione Evangetica...", manuscrito panicurar d" il;üõ;ü, er"raiiúóã"-r"ììâi"l FICHA TÉCMCA Autor: Joseph C. Miller Título: Poder político e parentesco. Os antigos estados Mbundu em Angola. Título original: Kings and Kinsmen. Early Mbundu States in Angola. Copyright @ 1976 Oxford University press ïbadução: Maria da Conceição Neto Edlçãor - ARQUIVO HISTÓRICO NACIONAL Ministério da Cultura Execução gráÍical Fotocomposição e montagem: Litocor,Lda., Rua Emílio Mbidi, 6g-A Impressão e acabamentos: Litotipo,Lda., Rua 1.. Congresso, 39/41 Capa: Sérgio Carvalho Depósito legal n," 1430/96 Tiragem: I 500 exemplares 1. edição: Luanda, Dezembro de 1995 .*.e: 20.. ANTvERSÁRro DA TNDErENDÊNcrA DE ANcoLA EDrÇÃO SUBSIDTADA PELA COOPERAçÃO PORTUGTIESA E O INSTITUTO CAMÕES NOTA DO EDITOR O Arquivo Histórico Nacional tem como função principal a salva- guarda, tratamento e classificação do vasto acervo documental do país, sobre variados supoúes de informação, e ainda o desenvolvimento da pesquisa histórica. Dando hoje à estampa a obra do professor Joseph Miller, Kings and Kinsmen - Early Mbundu States in Angola, numa primeira edição em língua portuguesa, pretende, deste modo, cumprir a função de divulgação de obras de carácter científico cuja difusão, na maioria dos casos, se condicionada pelas leis do mercado, porqué estas não se compadecem com os interesses dum público muito especí- fico (e entre nós ainda limitado) das ciências sociais. pensamos compete às instituições do Estado ajudar a suprir esta lacuna, desempenhando sempre e cada vez mais o papel de mola impulsio- nadorâ para que o cônhecimento da História e demais Ciências possa coabitar Connosco, na proporção dos interesses dos investigadores e dos interesses úais gerais da nossa sociedade. Esta publicação não teria sido possível sem o empenho do Ministério da Cultura que, no âmbito do programa de actividades do 20" Aniversário da Independência de Angola, financiou a tradução, e sem o apoio da Embaixada de Portugal; graÇas ao qual a Cooperação Portuguesa e o Instituto Camões financiaram a edição. Abriu o Arquivo Histórico Nacional esta vertente editorial ele- gendo o trabalho do Professor Miller porque entende que ele responde aos anseios de uma historiografia renovada que se reclama entre nós e se constrói corn base numa metodologia de complementaridade das fontes disponíveis para o exercício do "fazer" histórico. O recurso às fontes orais, aliado à exploração das fontes escritas, como se demons- tra no trabalho rigoroso de Josefh Miller, reveste-se de uma importân-

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Na capa:

O míticorei-ferreiroNgola Mussuri (NgolaMusudi),.- _lqr-rEdo Padre João AntónioCavaãzi ae VtontecìcïãtãÌmeaaos do sec. XV[)."Missione Evangetica...",manuscrito panicurar d" il;üõ;ü, er"raiiúóã"-r"ììâi"l

FICHATÉCMCA

Autor:Joseph C. Miller

Título:Poder políticoe parentesco. Os antigos estados Mbundu em Angola.

Títulooriginal:Kings and Kinsmen. Early Mbundu States in Angola.

Copyright@ 1976 OxfordUniversitypress

ïbadução:Mariada Conceição Neto

Edlçãor- ARQUIVOHISTÓRICONACIONAL

Ministérioda Cultura

Execução gráÍicalFotocomposiçãoe montagem: Litocor,Lda.,Rua EmílioMbidi,6g-AImpressão e acabamentos: Litotipo,Lda.,Rua 1.. Congresso, 39/41

Capa: Sérgio CarvalhoDepósitolegal n," 1430/96Tiragem: I 500 exemplares

1. edição: Luanda, Dezembro de 1995

.*.e: 20.. ANTvERSÁRroDATNDErENDÊNcrADEANcoLAEDrÇÃOSUBSIDTADAPELACOOPERAçÃOPORTUGTIESA

E O INSTITUTOCAMÕES

NOTADO EDITOR

O ArquivoHistóricoNacionaltem como funçãoprincipala salva-guarda, tratamento e classificaçãodo vasto acervo documentaldo país,sobre variados supoúes de informação,e ainda o desenvolvimentodapesquisa histórica.Dando hoje à estampa a obra do professor Joseph

Miller,Kingsand Kinsmen- EarlyMbunduStates in Angola,numaprimeiraedição em línguaportuguesa, pretende, deste modo, cumprirafunção de divulgaçãode obras de carácter científicocuja difusão,namaioriados casos, se vê condicionadapelas leis do mercado, porquéestas não se compadecem com os interesses dum públicomuitoespecí-fico(e entre nós ainda limitado)das ciências sociais. pensamosque compete às instituiçõesdo Estado ajudar a supriresta lacuna,desempenhando sempre e cada vez mais o papel de mola impulsio-nadorâ para que o cônhecimentoda Históriae demais Ciências possacoabitar Connosco, na proporção dos interesses dos investigadores e dosinteresses úais gerais da nossa sociedade.

Esta publicaçãonão teria sidopossível sem o empenho do

Ministérioda Culturaque, no âmbito doprograma de actividades do20" Aniversárioda Independênciade Angola, financioua tradução, esem o apoio da Embaixadade Portugal; graÇas ao qual a CooperaçãoPortuguesa e o InstitutoCamões financiarama edição.

Abriuo Arquivo HistóricoNacionalesta vertente editorialele-gendo o trabalhodo Professor Millerporque entende que ele respondeaos anseios de uma historiografiarenovada que se reclama entre nós ese constróicorn base numa metodologiade complementaridadedasfontes disponíveispara o exercício do "fazer"histórico.O recurso àsfontes orais, aliadoà exploraçãodas fontes escritas, como se demons-tra no trabalho rigorosode Josefh Miller,reveste-se de uma importân-

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cia capital,tendo em conta as características das sociedades africanascujo passado pretendemosreconstituir.Não sendo novidade no meiocientíficotal prática,pois hoje, mais do que nunca, se reconhece aimportânciado testemúnho- ori .o,,,o irfr"rcindívelpara o estudo dassociedade africanas, é também^verdadeque, pÍìra o caso de Angola,otrabalhodo professor Millerfoipioneiio.Ëxemploa. in""rtfiaaoonde se relacionamos métodos da História" Auentffiogucom apoioda Linguística),abriuurn "urnrntoessencial ao conheci-mento do passado angolano.

. .Outra razã,o para esta escolha prende_se com o próprioconteúdoda obra, simultaneamentecontribuìoà problemáticateórica sobre aorigem-e formação do Estado n" noriu-regiãode Áfricae umaprofundaanálise interpretativade factos hiítóricosqu"-,,,ui-"uru,decisivamente,no sécuio dezassete, o .rpuçoonde emergiu a Angolaactual' o impactodos Imbangarae da instituiçaodo kiïomio',ulrirncomo o conflitoentrpoderescentrarizadoiqilïüi:;i,lïn:ï,ïïHrn:ïïï::de língua Kimbundue dos,célebr".,rruã, do Ndongoe Matamba.O presente livro,cujoponto de partidafoiuma pesquisa sobre Kasa_nje, envolve tambémaspectos dã históriados Lunda, Cokwe,Luvale,Kongo,ovimbundue, nà domíniomerod;ú;ico,e iguãiÀ"nàlipor-tante para outros povos que. hoje são parte integru""r"ã. ï"g;i;ï;,ortanto, com justificadasatisfação que o arquivoHistóricoríuJnurentrega esta obra ao públicode língúa portuguesa.

Rosa Cruz e SilvaDirectorado A.H.N.

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Glossáriode termos africanosusados no texto . . .

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À memória de meu pai, John W. Millert903-t974

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NOTADE TRADUÇÃO

O autor, há vinte anos, explicouas suas razões para a grafiausadanos.vocábulos em línguas bantu (p. xvi).Actualmente existJjá, emboraainda não suficientemente divulgada, uma grafia angoìana oficialpara oKimbundue ouüas línguas presentes no texto, qu. não se afasta muitodaque Millerusou. Considerando a variedade de leitores e da sua formação,em distintospaíses, decidimos nesta primeiratradução para o portuguêsmanter no essencial a ortografiada versão original,ãpção discutívelmasque pareceu o menor dos males. A tentaüva de .,aportuguesar,, termos daslínguas bantu resultaria em distorções grors"irur,'r*aomal aceite peloseruditos.Alterámos o sá da versão inglesa para x, dado que aqui coincidemT lfog:1,bantu e a línguaportuguesa (leia-se como em ,.xadrês,,).Os etnónimos mantiveram-se_invariáveis,independentementedo género enúmero, com maiúsculainicialmesmo quanoo n ncioiam como adjectivos.Recoúecendo o barbarismoque tal repiesenta na língü ponuguesa, é usoconsagrado internacionalmente e pareceu-nos de seluir. Lemtramos aosmenos familiarizadoscom as línguasbantu que o g õ te sempre como em"gato",o r sempre como em ..rupo',,

^.ìro lue seia intervocálico,e o c coÍÍespondeao som próximode tcá.

Quando o autor se refere a vilase cidades .,portuguesas,,(noséculodezassete ou à data da pesquisa, 1969),manteve_r, o norn. por eÌe usado,colocaàdo-se entre [ ] o nome angolano actual.

Prefácio

Embora os historiadores estejam acostumadosa trabalhar com infor-mação registada de úAo imperfeito,ou pelo menos imperfeitoem relaçãoaos objectivosde cada um, os dados em que se apoia este estudo têmcaracterísticas especiais que exigem umadeclaração preliminarsobre amaneiÍa como foram recolhidose as técnicas que forÍÌm utilizadaspaÍa osaÍìalisar.Qualquer estudo que se proponha combinardados diversos, obti-dos a partirde materiais etnográficos, linguísticos,documentaise trans-mitidosoralmente, está necessariamente imbuídodos estudos pioneirosdoProfessor Jan Vansina sobre o significado histórico dostestemunhos nãoescritos. Vistoque o nosso conhecimento dosprimórdiosda formação doEstado entre os Mbundudepende de todo este tipode fontes e, sobretudo,vistoque alguns destes dados foram registados muitoantes de qualqueruma destas disciplinaster atingidoo seu grau actual de sofisticação,oproblemada metodologia adquire umaimportância superior àquelaquehabitualmente teria.

Os dados recolhidosdurante o meu trabalhode campo de 1969-70entre os Imbangala deAngolarequerem uma análise o mais aprofundadapossível. Consistem em cerca de trinta horas de entrevistas gravadas emKimbundue em Pornrguês; paÍa além disso, há uma quantidadeum poucomais pequena de traduções inglesas dos textos em Kimbündu.Muitomaishoras de enftevistâsforamregistadas sob formade notas manuscritas, embruto, e desenvolvidasdepois sob a forma de fichas de trabalho dactilo-grafadas. Actualmente,todo este materialestá na minha posse e enconaa-se,evidentemente,à disposiçãode quem desejar utiüzá-lopaÍa fins de investi-gação. Espero que num futuropróximose possÍrm colocar cópias em locaisadequados em Áfricae nos arqúvos orais da Universidadede Indiana.

Gravei as primeirasentrevistas na íntegra, com a intenção deprepa-rar transcrições e traduções segundo os padrões delineados pelo ProfessorPhilip D.Curtin,rmas as condições locais rapidamentefizeram comquefosse mais úúl abandonar a gravação e continuarcom notas de campoescritas. Não consegui obter nenhum tradutorcapaz de produzirumatradução portuguesa correcta - ou mesmo coerente - dos textos emKimbundu. Isso obrigou-me aentrevistar tantoquanto possívelem Por-tuguês. Embora um certo número de entrevistas tenha sido gravado em' Philip D. Curtin(1968b).

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xll PREFÁCIo

Português, os problemasdecorrentes de se niuïaremhistórias Imbangalanuma língua estrangeira, num contexto totalmente ,rtifi;i"1";"*eelimi_nou aquelas características de subtileza a cuja captação o gruuuao, ,"adapta melhor.o modelode entrevista gravada também se tornouineficazdevidoaum certo desvio do conteúdo abrangido no decorrer d"

"onu"rraçã"sulte-riores com os informantes.A maiorparte dos testemunto, fãrt"rior",onsistiu em genealogias e discussões informaissobre inrormaçao ringuís-tica e etnográfica,as quais podiamser preservadas de um modo tão exac-to e eficaz por meio de notas escritas como por meio de um gravador.Embora no decurso das

-entrevistas posteriores tenham surgido argumascomposições narrativas dignas de serem gravadas (no geralJas tentativasde as repetir para gravação falharam),foirelativamentãpouco o materialdeste tipo que ficoupor gravar. A utilizaçãode apontamentos escritos teve,por outro lado, a vantagem de permitiruma invèstiguçao-uirupràfunda-da do que a que permitiriaa gravação, sobre váriosassuntos consideradosdemasiado sensíveis para serem discutidos diante de un' g.uuuJo..'As limitaçõesde tempo e de dinheiro,assim "o-o"áu, restrições àsactividades de pesquisa em portugale em Angola,restringiiam_meapossibilidadede pôr em prática o prano

depesquisa

que seria tãoricamenteóptimo.É óbvioque os historiador"ra" Ári.usó utilizarãoprenamente asfontes disponíveisquando abordarem os dados obtidos oominanão racit-mente tanto as línguas como as culturas implicadas.Naquela epoca, eradifícilpara um historiadoln.1o residente aoquiriro n"."rràrioupi.r.içou-mento nestes domínios.As linguas africanas de Angolaainda não foramdevidamente estudadas e, embora se possa adquirirem Lisboa umconhecimento duma variante de Kimbunáusuficiente para t abalhar, umafamiliaridadecom a ìíngua, que seja verdadeiramente útil,.*ig.-.rtuao,no 'terreno. A etnografiaangolana sofre de uma negrigência seÃeurante eiTpo"ao pesquisador constrangimentos da mesma ordem. De um modoideal,o historiadordeveria fazer preceder os seus estudos históricos deuma prorongadaaprendizagem lirrguísticae de uma pesquisu "rnÇari.u,as a impossibilidadede dispor de materiais importantes fora de ïngotatoma isso impossíver. As condições em Angoiatomavam impossívelplanificarum projectode pesquisa metódico,que se estendesse por viíriosmeses ou anos. por isso, considereimais eficiente juntara maiãr quanti_dade de informaçãopossível.numcurto espaço de tanpo e optei poàei*a,de lado um rigoroso e preliminartrabalho àe fundo,

"tnograd"o"'ri"guírri_o, preferindogravar o ltiTo de informaçãoacessúl o mais ,ãpiAu_mente que fosse exequível. Esta estratégia orientoua minta-perquiradurante os cinco meses que passei vivãndoperto dos Imbaniala,noDistritode Malanje.

pRBr'Ácto

Comecei por localizaros indivíduosque, de um modogeral, eramconsiderados como tendo maior probabilidadede fomecer uma informaçãoabrangente e exacta sobre o passado dos Imbangala.AfortunadaÍnentl,tendo em conta as limitações prevalecentes no plano da pesquisa,revelou-se que a maior parte das tradições históricasImbangala sobrevi-ventes eram coúecidas por apenas um punhado de indivíduos,dos quaistodos falavam um pouco de Português. Estes homens, o ndala lçandumbu(historiadoroficialda corte do antigo estado de Kasanje) e os balu amusendo ("hi$toriadores"não oficiaismas profissionais)tornaram-se osinformantesprimáriosdeste estudo. Tornou-se claroque a maioriadas ou'tras potenciais fontesde informação,a que poderemosdar o nome de infor-mantes secundários, pouco poderiam acrescentar aos dados que se podiamobter dos informantesprimários.Contudo, a presença de um informantesecundário numa entrevista, estimulavamuitas vezes um informanteprimário(agiçrdoostensivamentecomo intérprete) a recordar algumainfor'mação que, de outro modo, não lhe viriatão prontamente à memória'

A maior parte das entrevistas começavam com uma declaragãovoluntáriapor parte do informante,em que este dava a sua versão pessoalda história do seu títuloe/ou linhagem.No caso de informantcs

secundários, estas declarações, muitas vezes expressas sem uma habili'dade ou mestria particulares,tinhamtendência paÍa ser muitobrevos cincompletas. Algunsinformantessecundários decidiamomitiresta fasO daenffevista.O informanteprimário,que no geral me acompanhava nasentrevistas aos informantes secundários, a seguir à declaração inicialfaziaperguntas que se destinavam a incitaro informantesecundárioa aPer'feiçoar ou resolver contradiçõesinternas. O informanteprimárioacom'panhante dava então a sua versão pessoal da mesma história, com o pts-texto de inspirar o informantesecundário. A maiorparte das entrevistgsterminavam com as minhas perguntas sobre pontos pouco claros, contradi-ções que eu úúa notado e novos conceitos e termos que tinham surgidono decorrer da entrevista.

As entrevistas iniciaiscom informantesprimáriosseguiram mais oumenos o mesmo formato,mas levaram a toda uma óérie de enconEos subse'quentes que tinham uma amplitudemuitomaior, não seguindo neúummodelo particular. No geral, eu abria as sessões posteriores comum pontohistóricoretirado de uma entrevistaprévia e pedia ao informanteque orepetisse ou se alargasse sobre ele. Geralmente,a discussão avançavarapidamente,por meio de mais perguntas e respostas, para problemasetnogËíficose linguísticosgerais, à medida que o informantetentavaesclarecer pontos obscuros. O formatodestas enüevistas posteriores,muitas vezes repetitivo,de pergunta-e-resposta, tornousupérfluaa utili-zaçáo do gravador para a maiorparte delas.

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xtv PREFÁCIO PREFÁCIO XV

espalhados pela Itiília,Espanha, Inglaterra,França e Brasil,para nomearapenas os repositóriosmais importantes, só foime possível consultar pes-soalmente os do Museu Britânico.As riquezas pouco exploradas do Arqui-vo Históricode Angola, queestavam facilmenteacessíveis, dizem intei-ramente respeito a períodos ulteriores.

Dadas aq limitaçõescriadas pelas condições acima sintetizadas, ten-tei tomarum mmoentre Cilae Caribde, ou seja, entre reconhecer asimperfeições dos dados a ponto de

não dizercoisa nenhuma e buscar umareconstrução coerente de acontecimentos que projectasse os dados paraalém das limitações que lhes são inerentes. Este dilematem uma importân-cia especial no que respeita aos materiaisorais, já que são menos bemconhecidos que, os escritos e já que a análise depende deles em muitosaspectos. Por isso dediquei uma secção do CapítuloI à descrição dashistóriasformaise informaisdos Imbangalâe a uma análise do seu sig-nificadopara os historiadores ocidentais.Ditoisto, apenas necessitoexplicaras considerações que me levaram a utilizaras tradições do modocomo o fiz.Estas tradições são susceptíveis de serem estudadas a muitosoutrosúveis - nomeadamente, a intrigante possibilidadede uma críticaliteráriaformalque vem sendo desenvolvida pelo Professor Harold

Scheub da Universidadede Wisconsin- mas os constrangimentosqueactuavam neste caso tomaram necessária a elaboração de um "denomi-nador comum"de um nívelrelativamentebaixo, que fìzesse com que astradições que eu coligiem 1969 pudessem ser comparadas a outrasvariantes registadas por escrito nos séculos dezassete, dezanove e iníciodoséculo vinte.

O método escolhido,dada a situação anofiadadas tradições, nãopoderia estar dependente da comparação de um grande número devariantes que já deixaram de existir.Nem poderia exigirum grau defacilidadelinguísticaimpossívelde obter neste caso. Foi tambémnecessário recoúecer que -todas as tradições publicadas evidenciavammudanças drásticas em relação ao que deve ter sido a sua forma oral

original.As versões destas mesmas tradições por mimrecolhidassofremde mutilações semelhantes (embora menos extensas) já que fuiincapaz deassegurar transcriçõesexactas ou traduções dos textosem Kimbundu.Mesmo as versões gravadas em Português devem ter sofrido modificaçõesconsideráveis à medida que o informanteas ia traduzindo,no meuinteresse. Tal como ficaclarono CapítuloI, assim espero, mesmo o factode se recitarem estas histórias paraum investigadorvindode fora in-fluenciouinevitavelmentea maneira comoforamnarradas. Não podia serempregue nenhuma análise que dependesse da explicação literaldo texto;as próprias palavras ou não tiúam sido gravadas, ou não podiamsersuficientementecompreendidas para justificartal abordagem.

Embora tarvez tivesse sido merhor basear os inquéritosetnográficosno método de observação participante,desenvolvidopelos antropólogos,osobstáculos que os investigadoresestrangeiros brancos enfrentavamemAngolaimpossibilitavam-nosde vivernuría ardeia. Algumaaì inrormaçaoetnográficadeste estudç provém de perguntas directassobre pontos queareciam imporranresà luz do mat"riihistóricoror-a. úã- r"gunoométodo ríe' invesügação.foio de_ fazer perguntas com base numa lista de ter_mos em Kimbunduretiradosde fonüesãscritas ,"u. "r-iÃï*ï"ra,querecuam até ao século dezasseis. Eu simplesmenteapresentava cadã palavraaos informantes, perguntava_lhes se a conheciam

", .uro uR*ìJ*,o qu"significava.Esta técnica abriu caminhouu,uu, novas e frutuosas linhas deesquisa, muitas vezes em sítios bastante inesperados. outras concrusõessobre a estrutura e a cosmologiuro.iJ àãs Imbangara emergiram dumaanálise posterior,tanto das ãirtó.iu.rorn'ui.como de outros dados.O historiadortem de^ rogar aos ,"u, .Çu, antropólogosque teúamaciência perante a fartide uma inv".tiiaçaoehográfica sistemática.A pesquisa ringuísticade base .onririiïnuma tentativa de coligirocabulários de 200 palavras em todos o, iid".to,o.irntui,oã ir-,ouunou,com base na lista que os linguistasut'izarÃem hgação com os seus estu_dos sobre glotocronorogiul

e in*rrÇçáoetnogriíficageral permitiumelhorara compreensãolinguísticu,,oï àiu"rrosdicionáriosdisponíveissobre as línguas bantu de engofa.ornpi.-rn"n,aramaquelas listas.A documentação escrita sobre a,Angolados séculos dezasseis e dezas-sete encon*a-seagora disseminadapú t c, continenás,-;;i;;"""r.A colecção rte longe mais importuntrin"oìna-se nos vários arquivosdeisboa, grande parte da quâr nur .ot..çà",de manuscritos da BibriotecaT:"1on{,do ArquivoNâcionalau roi"ão Tombo e da Bibriotecadaduda' Especialistas estrangeiros interessados em temas africanosviram,e vez em quando, restringiaoo u."*oï ag;ì, ã"*l'ï"iïn'"","r.,Solicitei,mas nunca

1ceUi,uuroriruçaoiara "onrultara colecção daibliotecaNacional,elquT.toqu" u .ão.gu*zaçao que se dizia estar emurso na BibliotecadaAjuda" nà Ton dJromuã me impeaiirae u". ,,,ui,9: qit uma pequena parte, do importantcmaterialque aí se enconrra.Fiqueipor conseguinte, em Lisboa,."f""ã""t"de versões pubricadas daaiorparte dos documentos,à excepçaà aos qu" ," encontramno ArquivoHistóricoultramarino.por sorte, a,iorãrì"úmentoscoúecidosdo sécu_lo dezasseis e anteriores, assim como u.u gÀ0"quantidadede documen_tação do século dezassete foram publicud;,;os mais importantes muitasvezes em diversossítios. Dos'muitosãã*,n"nro,que se enconüam

' D. H. Hymes (1960), n.6.t Sobre as experiências de um outro estrangeiro, ver Salvadorini(1969), pp. 16_19.

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xvl PREFÁCIO PREFÁCIO

é mais fonémicado que fonéticae assim, por exemplo,a pronúnciaci-Mbangala/Cokwe/Lundasurge aqui na formageral em Kimbundu,Èi-.

As referências nas notas de rodapé são dadas de forma abreviada,mas a bibliografiacontém as habituais citações completas que, assimespero, virão clarificaralgumas das referências obscuras que se enconffamem'muitaspublicações mais antigassobre este tema. Muitosdos docu-mentos utilizados forampublicados em vários sítios por diversos editorese, nestes casos, tentei incluirtodas as localizações que conhecia. Aopôr os

nomes portuguesespor ordem alfabética, segú as regras da BibliotecadoCongresso dos Estados Unidos,embora a maiorparte dos leitoresdevamestar conscientes de que diferentes bibliotecas(sobretudoas localizadasfora dos Estados Unidos)podem seguir convençõesdiferentes. As citaçõesdo "testemunho" de um indivíduofazem referência, em todos os casos, aentrevistas realizadasdurante o meu trabalhode campo em Angola(para a listade informantes,ver Bibliografia).

Segui a convenção inglesa,geralmeúe aceite, de não utiüzarprefixosBantu antes dos nomes de'grupos etnolinguísticos,à excepção do nomeOvimbundu(correctamenüe,os Mbundu)para distinguiresses habitantes dosplanaltosdo Sul, dos Mbunduque vivema norte do Kwanza.O pluraldarnaior parte das palawas Bantu apaÍece ente parênteses depois da sua

primetaocorrênciano texto e um glossáriode termos Bantu,que se encon-ha no finaldeste estudo, deve facilitara identificaçãode termos que nãosejam familiaresao leitor.

É um prazer agradecer, de formamais breve do que desejaria, a algu-mas das pessoas e instituiçõesque contribuírampara areahzação deste estu-do. O DoutorDavid Birminghame a sua farníliaacolheram-nosem Londrese contribuÍrampara que da nossa estadia ali retirássemos proveitoe ptazet.Mme Marie-LouiseBastin Ramos deu-me a coúecer alguns dos materiaisque se poderiam encontrarno Musée Royal de I'AfriqueCentrale emTenruren, Bélgica.Em Lisboa,acrescento a miúa graúdão aos agradeci-mentos de muitos ouffosque beneficiaram dos amigáveis conselhos e do

apoio prestável do Professor DoutorAntónioda Silva Rego. Desejo tambémexprimiro meu apreço ao DoutorAlbertolria,directordo ArquivoHistóricoUltamarinoe ao pessoal desse arquivoe ao da Bibliotecada Sociedade deGeografiade Lisboa,que me apoiaram noexame das ricas colecções docu-mentais de Lisboa.O Doutor Dauril Aldenpartilhoucomigo,de modo maisdo que generoso, os frutosdas suas explorações tanto nos arquivoscomo noslocais menos bemcoúecidos e contribuíucertamente para a educação de umhistoriadornoviçonum novopaís. A Sra. Asta Rose J. Alcaide,o Sr. RobertoBentlye esposa, o Sr. Grayson Tennison e esposa, também contribuíramparao propseguimento da miúa investigaçãoenquanto estive em Lisboa.

xvii

. A pesquisa que conduziu ao presente estudo começou como umainvestigação,bastante vaga, sobre a históriade Kasanje, o rËino tmuangatafundado no finardo período que acabei por escorher como tema destetrabalho. Amudança de períodó e de tema resurtou do facto de os estudosexistentes não forneceremantecedentes úteis sobre os quui, uur"u,urnuhistóriade Kasanje.,Nogeral, a bibliografiaconfundiao. r-u-gulacomos chamados "Jaga", guerreirosfamoús e temíveisque, provavelmente,nunca existiramda maneira como foramdescritos. Alémáirro,náo tiúamsido publicadosestudossistemáticos sobre a etnografiados Mbundu,emgeral, e menos ainda sobre os Imbangala.Resúnindo,

"rui.porrfu"tdescrever o ambiente:. qu: os Imbangãa fundaram K;j;,;mesmosaber quem tiúam sido os Imbangara io século dezassete. Náo rn"p*-cia que se pudesse esperar escrever uma históriadaquere reino, qu" n""rr"sentido, sem uma certa compreensão das condições qu""r ilb;;alaen-contraram quando atingiramo seu rar actual e r"Àup ,ànrr"ii,n"nrorazoale.lm-e1les.eguro das tendências que trouxeram consigo.A incidênciado presente trabarhoem processos de forinação do Esta-do resultouda minha.compreensão de que pouco do que havia lidosobrea emergência de estado_s farava do qu"

"or*tiuqu".*r,i*r,

"pr"bremacentral no espírito dos Imbangala cõm quem tinha falado:a tensão entre assuas lealdades

ao parentesco e o seu iespeito pelos r"ir.ún,uli,n"i.uvista.geral da bibliografiasobre o tema .oìurn."u-*ede que a experiên-cia. dos Mbundupoderia.realçar um aspecto da históriapàrrti.u'J ,o"iaafricanaque tinha passado relativamentedespercebido. Foi com.bastanteptzeÍ que descobri, enquanto estava a escrever este estudo, quehistoriadorese antropólogosna Nigéria,como Abdulrúismiú, RobinHortone E.J. Alagoa,tinham"*porioteoria e factos, duma manãira quede imediatoclarificouo meu própriop"nrÀ"nio" .*pi'i'ãï^""*,incertezas persistenres que obscurãciam a rninhaur.ao rouÃãfãiJuaooo,Mbundu.Espero que eles concordem que a hisróriuaor úúur,ãïpla, ,".sujeita ao tipode análise de que eles fórampioneÌros.

Na ausência de uma ortografiaoficialmentepadronizada do Ki_mbundu, tentei empregaruma versão da "ortografiaprática das línguasafricanas",simprificadapara se adaptar às possibilidadesdum alfabetopadrão da língua ingres.a.o .A.*i"rãivergenìia entre o rirtr.usugerioopelo InstitutoInrernacionarde Línguas ã cultoru,Africanas" I qu.utilizeiaqui, é a minhartilizaçãodoiJ" francês para indicaro som repre-sentado pol -r- na palavra inglesa pleasure. irtonão poderá teva, aambiguidades,já que o ' j" inglêsnão ocorre em Kimbundì.e ortograna

mffi,,ofer,i"unLanguagesandCultures(l930).ParaestaediçãoemPortuguês,

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Oil'ltaaaaaDaaaaaaaaoaIDoIItttIttI,

I

PREFÁCIO

Sua Excelência o Dr. carlos Garcia de Azevedo, Governadordo Dis-tritode Malanjeem Angolae o Sr. AdministradorJosé ManuelFernandesde MotaTorres concederam a autorização necessária para levar a cabo otrabalho de campo no concelho do euJla. o Sr. Eng..ìgrónomoManuelAntóniocorreia de pinho,directordo Institutooo-etgolaao, t.nrilrrr"n,"me concedeu facilidades de alojamento em instalaçoes ão Insiiiuto,sem asquais não poderia ter trabalhado com êxitono ,"iodos Imbangala.para

{éyoa dívidaprofissionalque tenho para com os padres e

irmãos leigosda Missão católicados Bângalas, peló trabalho quã realizeina missão, ad1h1 famíliae eu jamais poderembs retribuira gentirezae a cordialhos-pitalidadedo padre AlfredoBeltránde otaloia,do padre José LuisRodríguez Sáez, de Esteban Arribas,carmelo ortegas e de José LuisMar_tinez..outrosque gentilmentecontribuírampara o sucesso das minhasinvestigações no terreno incluemo Sr. AdjuntovitorAntóniodos Santose esposa' o Sr. AdministradorAmândioEduardo correiaRamos e esposa,o sr. AdministradorAdelinocorreia da Silvae esposa, o Sr. Administra-dor Fredericode MelloGarcês e esposa, o sr. Adminirtuoo.sig;rdvonVillerSalazar, o Sr. AlbegoManuelpires, o padre pedro Uría,o í. I_toyaSchaad e esposa' e muitoscidadãos do euera. Evidentemente,a miúaobra tem a sua maiordíyidapara com os Imbangala

cujos nomes aparecemnas notas de rodapé ao rqngo de todo o rivroe cuSo cõúecimentohistóri_co especializadofornecEos fundamentossobre os quais foiconstruídoqualquer um dos outros aspectos deste estudo. uma eipressão especial degratidão vai para o sr. Sousa calunga e o sr. Apolooe Matos quã vierama aceitar-me, segundo espero, como colega de profissão.Em Luanda, o falecldoSr. Eng.9 AgrónomoVirgílioCannas Martinsgentilmentepôs à minha disposiçãoor *.urro,do Institutode Investi-gação científicade Angola.ADra. MariaAngelinaTeixeiracoelho aju-dou-me pacientemente a abrircaminhoatravés da vastíssima documen-tação do ArquivoHistóricode Angolae forneceu-me orientaçãoeassistência de muitas outras formur;u ,uu ajuda generoru

"o, ,"u,conselhos abriram novas rotas

de pesquisa. o sr. ÃquitectoFernandoBatalha e o Dr. José Rerrinha gentímentepartilharamos frutosda suaincomparávelfamiliaridadecom o purúdoangolano. o faiecidoDr. MárioMilheirosdispôs benevolameìË do seu tJrnpo p*u-" u;uo*a familiarizar-mecom os arqúvos de Luanda. Desejo iurnïe-agradecerao Padre AntóniocustódioGonçalves,directordo Arquivoda"câmaraEclesiástica e ao vice-presidenteRamos do Amaral,da câmara Munici-pal, pela autorização concedida para consultaras colecções da Bibliotecae do Arquivoda câmara Ecresiástica e a Bibliotecadá câmara Munici-pal' o coronel AltinoA.p.de Magalhães deu-me a conhecer o ArquivoHistóricodo QuartelGenerar. Tenho uma especial dívidapaÍa com o pes-

pnBr'ÁCtO xlx

soal de todos estes arquivos, demasiado numerosos para os poder citaraqui,que de bom grado e com eficiêncialocalizaramos muitos volumesde documentosque,requisitei.O Sr. AdjuntoSá Pereira, da Missão deInquóritosAgrícolasde Angola,e o Eng." Mendesda Costa, dos ServiçosGeográficose Cadastrais, permitiram-meque examinasse documentosúteis que estavam à sua guarda. O Sr. AcácioVideira,da CompanhiadeDiamantes de Angola,apresentou-me a informantescujo conhecimento

contribuíupara completaros meus estudos. Estou também agradecido,por muitas razões, a MichaelChapman, ao Dr. LuisPolonah e esposa, aoSr. Peter de Vos e esposa, ao Sr. RichardWilliamse ao Sr. Lester Gladeesposa.

Ninguémque tenha estudado sob orientaçãodo Professor JanVansina poderá deixar de beneficiar do exemplo e dos encorajamentosque ele dá aos seus estudantes e colegas. A sua larga experiênciamarcoua pesquisa e a redacção deste estudo desde o seu início; aele devooriginalmentea escolha do assunto. Inevitavelmentesente-se que, afinal,o estudo corresponde a pouco mais do que a investigação pormenorizadasobre uma ideia por ele mencionada umavez, num contexto de algo muitomais vasto. Os professores PhilipD. Curtin,John Smaile Harold Scheub

da Universidadede Wisconsin leram os primeirosrascunhos eofereceram as suas inestimáveiscríticas.Durante os meus anos em Madi-son, o Professor Curtin,em especial, exerceu uma influênciaconstante edisciplinadasobre o meu pensamento e a minhamaneira de escrever.Uma estadia de um ano do Professor Steven Feierman na UniversidadedeWisconsin, comoprofessor visitante,deu-me a oportunidadede beber dasua visão profunda e das suas agudas capacidades analíticas; eleorientou-mepara muito do materialteóricosobre formação do Estado.Se outros encontraremalgo de si própriosno meu trabalho,a minha falhaem não reconhecer explicitamenteo seu contributonão resulta de umafalta de gratidão. Nenhumdos citados é responsável por qualquerfraqueza que possa restar e aceito plena responsabilidade por todas as que

existam.A pesquisa nem sequer teria tido lugar sem o generoso financia-mento do "ForeignArea FellowshipProgram" de Novalorque,que mepermitiu viajarpara a Europa e Áfricae gastar, na preparação da disser-tação original(Universidadede Wisconsin,1972), mais tempodo que, deoutromodo, teria sido possível. Contudo, o Programanão tem relaçãocom as conclusões expressas. Estou também grato à Universidade deVirgíniapela boÌsa de investigaçãodo WilsonGee Institutee os fundosadicionaisque apoiaram a preparação do manuscritorevisto. GlynHew-son, Beth Roberts e Paul Zeiglerpermitiramque eu beneficiasse das suasespeciais competências.

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PREFÁCIO

Aprecieio olhar atento e o bom senso dos editores da clarendonPress na preparação do manuscritopara publicação.Embora as notas defd1pÍjá não estejam de acordo con' o estiio preferidonos textoshistóricos'aceitei a forma mais económicasugËrida peros editores,reconhecendo as actuais realidades da indústriaeditorial.

Aminha maiorgratidão pessoal dirige_se, evidentemente, à minhaesposa Janet e aos meus, filhos,que seguiramde bom grado os trilhos,por,vezes sinuosos, que levaramà forma finaldeste ruüUho.De algummodo Janet encontroutempo para dar conselhos editoriaisvaliosos, paraalém de manter a famíriaem funcionamento,e a ela pertence uma boaparte de quaisquer louvores que este estudo possa vira merecer.

J.C.M.

Londres, Fevereirode l9i5

Índice de Mapas

L Geografiados Mbundu e seus vizinhos(c. 1970) 33III.Autoridades lungana Baixa de Cassanje (século dezasseis e mais cedo). . 7lm. Subgrupos Mbundue instituições polÍticasanteriores ao século dezassete 77tV. Expansão do Ngola a Kiluanje(antes de 1560). . 80V. Kulembe e Libolo(c. secs. XV-XVI?) 9l

VLhimórdiosda história dos Songo e'dos Mbondo 107V[I.Expansão do reino Mbondodo ndala &isaa e estados subsidiários

(c. século dezasseis?) ll0Vm.Dispersão das instituições políücàs Lunda (antes de c. 1600) 141IX. Os Imbangalae os Portugueses (c. 1600-1650). 193X. OslmbangalaasuldoKwanza(séculodezassete)......2ll

Índice de Figuras

L Uma genealogia nasendo reptesentatwa. . . , .

U. Diagrama mostrandocomo as genealogias se combinam para descreverum reino.

m. Diagrama esquemáticoda estrutura e inter-relaçõesdas genealogiashistóricas Mbundu

ry, Inter-relaçõesdos títulos ngola. ,

V. Genealogia ilustativadas alegadas origens de antigos títulos políticosLunda. .

Indice de Quadros

l:7

20

2285

I. Cronologia do ngola akiluanje

)

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I

Abreviaturasutilizadasnas Notas de rodapé

AAA.C.E.ACUA.c.s.A.H.A.A.H.C.M.L.A.H.U.AjudaA.N.T.T.AMCARSOM

A.Q.C.BIICAB.M,B.N.L.B.N.M.B.N.R..J.B.S.G.L.BSGLCACEAcssãEHAIRCBI.S.C.S.P.U.JAHJHSNMAMMCM.R.A.C.PA

RIJSWJA

e na Bibliografia

Arquivosde Angola(Luanda)Arquivoda Camara Episcopal (Luanda)Annaes do Concelho Illtramarino(parte não fficial)ArquivoGeral, SalamancaArquivoHistóricode Angola(Luanda)ArquivoHistóricoda Câmara Municipalde LuandaArquivoÉlistóricoUltamarino(Lisboa)Bibliotecada Ajuda(Lisboa)ArquivoNacional da Torre do Tombo (Lisboa)Annaes Marítimose Coloniaes (Lisboa)Académie royale des sciences d'outreme4MémoiresN.S. (Histoire)Arquivodo Quartel General (Luanda)Boletiudo Institutode Investigação Científicade AngolaBritishMuseum (Londres)BibliotecaNacional de LisboaBibliotecaNacional, MadridBibliotecaNacional do Rio de JaneiroBibliotecada Sociedade de GeograÍìade LisboaBoletimda Sociedade de Geografrade LísboaCurrentAnthropologyCahi e rs d'é tude s africai n e sComparativeStudies in Societyand HistoryÉ,tude s d' histoire africaineInstitutroyalcoloníalbelge, Mémoires in 8."InstitutoSuperior das Ciências Sociais e políticaUltramarina(Lisboa)Journal of AfricanHistoryJournal of the HistoricalSocietyof NigeriaMensório Administrativo (Luanda)Musée royal de l'Afriquecentrale (Tervuren),Annales, sér. in g."Musée royal de I'AfriquecentralePortugale^ ÁtricaRhode s Livingstone J ournalSouthwesternJournal of Anthropology

CAPÍTULOI

Introdução

À medida que as modernas nações africanas caminhavampara a

independênciapolítica,nos finaisdos anos 50 e no inícioda década de 60,os historiadoresdavam o seu contributobuscando no passado africanoprecedentes que justificassema capacidade e o direitodos Africanosentrarem no tão longamenteesperado "reinopolítico"de KwameNkrumah.rEles encontraram abundantes provas nos impériossudaneses,nos Zulu,nos estados da região interlacustre,e nos reinos da savana, osquais se tornaram mÍìrcospontuando o ensino e o estudo da Flistóriaafricana até aos nossos dias. Todavia,todos eles se achavam em aparenteabsolutocontraste com áreas "sem Estado", vagamente apercebidas nosinterstíciosdos estados, e os especialistas deram por si a perguntÍìr porquêe comoas assim chamadas "sociedades sem Estado" tinhamum dia feitoa transiçãopara as diversas formas de governo que preocupavamigüal-mente os académicos e os políticos.Os seus esforços, que esta introduçãoresume de forma bastante esquemática,apoiaram-sede modo ecléticonum certo número de conentes intelectuaispresentes nos círculosacadémicos ocidentais,mas tiveram tendência para se agrupar em tornode um dos mais antigos mitosdo passado africano- a hipótese "hamita"- e frzeÍam derivardaí uma variedade de conclusões que o presente estu-do questiona, através da análise do processo de formaçãodo Estado entreo povo Mbundude Angola.

A primeirageração de historiadores profissionaisenvolvidoscomÁfricaaceitoucomo quadro para estudar a históriapolíticaafricanososconceitos basicamente dicotómicosde sociedades "comEstado" esociedades "sem Estado".2Ao fazerem isto, eram levados a ignorar asimplicaçõesde viíriosestudos antropológicos,os quais não só retiravamênfase ao contraste entre "estados" territoriaiscentralizados e sociedadesacéfalas "sem Estado", organízadasem termosde grupos de filiação,classes de idade, sociedades secretas e coisas semelhantes, mas tambémmostravÍÌmque muitos,senão todos, dos "estados" africanosincorpo-

' Se aceitarmos que os manuais podem servir de buómetro das concepções básicas de uma geraçãode historiadorei,os de Robert i. Rotberg (1965) e de Basil Davidson (por ex. 1959 e 1961, que sereferem ambos a reinos, apesar dos respectivos títulos) fornecem exemplos adequados.

': Apresentada formalmentepela primeira vez noestudo clássico dirigidopor MeyerFortes e E.Evans-Pritchard ( 1940),na introdução.

2 Ã

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2 TNTRoDUÇÃo

ravam uma" variedade. de fortes rinhagens e outras instituiçõesnão políti_cas, como elementos básicos da sua estrutura.JEstes historiadores,estando mais relacionadoscom a mudança doque alguns dos seus colegas antropólogos, acharam que a literaturadisponívelofereciapouca inspiraçao iara ãs ajudar u *unàj*asiectos aedesenvolvimentoe transformâçaonos,einos que eles estudavam. A maiorparte contentava-se em explicaras "origens"dè um estado lpu,uura. u trr_minologia,de certo modo excessivameìrtesimplificada,luáffi.iu.o*ais proeminência na lirerarura)e depois nao

"onr"iuiuããr"r"u",uaisquer mudanças posreriores nas instituiçõesassiá "úú"t..iour. contraste evidente entre os estados extraordinariamentecomplexos,conhecidos dos historiadores, e a superficiar"simplicidad."o" .ãJ"dud.,sem quaisquer instituiçõesp-olíticasdo tipoque era familiaraos ocidentais,colocavanas mãos dos analistas o dilema à. tentu, "*pt.r.ã.oé queuma forma de sociedade se tinha transformado na outra. eau pra"nrr,",ovazio,a maioriadas primeirasexpÌicações apoiou-se .;;;;."*"*essen_cialmente"oatastrófrcos"de iormáçao ào Estado: '"onquirtuoor",migrantes, secessões, reacções defensivas, etc. preencheram a literatura,àmedidaque sucessivos especialistas se juntavam na busca de uma formade relacionarsociedades acéfalas "sem Êstado,, com as centralizadas for_

T"r,9:controropolíticoe social que se observavam nos

clássicos estadosda AfricaOrientale Ocidentalconhecidos nessa época.auma nova geração de historiadores da África'ociãentatdirigiurecen-temente a atenção dos académicos para direcções que eliminanïo antigocontraste entre "comEstado" e "sem Estado" e, concomit**-"n,",reduzem a necessidade de teorias catastróficas para as origens dos estados.Eles reconhecem oue**ip.[ giE9-ei-{9_lip.9-gsjgB_l:_Ep-:co4ce1iogg9 eg _FÈÌcni-raneo derinirïõ.,'õ;;,o);*i#*gry sociedades anreriormenreolhadas como "seú Ës1aao; è"qiíêÌ'Ë;ffi=b=iã,,n*#taï"ï;;a-Túitâs-ve23 ï:::f ::lp$g911..t_ti3=91ú"o.rrà, inútuiç0",*

-.%.*

' E E Evans-pritchard,t9"1g:,1^9j91e A.w.Southhalr (1953) rinham anreriormente fornecidoonografias que nào só Drovavamo pouco contraste enÈe ,,com Estado,,e ,,sem Estadã,,, comoambém descreviam sisremas em procèsso de transição'Jis_e^gurdapara a primeiraforma.A con_ribuiçãode AudrevRichard em fin;;li;il:Ëi,lï"o,ftrs+_oi_.encionâva, mas não punha emelevo, o paper dai rinhasens na poìítica aors.^úì]p"i",c..pr."víiïõiì)ïrá;;i;q"" ,..posição das rinhaeens nos*reinosrirui,a".rì*úiàìrì*u"r.n,.roi iuurìníãjáãËïàilà"ua"qru_a" Jan vansinaÌ1962a) mosrrou a grande u*iãuã"ìËuiu.p;ilã;ilËd;ruïïïritr.u,jaocumentadas se relacionavam com as suas partes componentes. Mas foisó com Méyer Fortes1969) que a arencão dos antropórójãs";""Ë;,""õli|iìamenre,para a questão dos"estados einhagens. Enrre oi antr"noroeo. irãï;il,ê,;,;ü;ïüündier0970) estáva céptico acerca daicotomiaque prevaÌecia ôntre'os-seus colegas uatãnL*l,u.um aeuat. aiurgaaïïãüi"ï qu"r,aoo apaÍeceu em Franca em r973 quando-claude i-ãìir.rrsz3iï1""ì-tïiiã."ëïó<rs73)esafiaram a prevalecènre associaçãã l;; ;;*;;dï",,.r*ururu,

"l"menrares,, lgroísomodo;i"ï;il"StrÉ.,':i:::*""om

"sòci"aaaes il Ê;i;dd e a identificaçãode "esrruturas com-'

|]ïd;:"nì"ilustrativodas teorias corentes no iníciodos anos ó0 aparece em HerberrLewis

A METODOLOGIA

t ' P\'i- í:f

-gq€g$-.Pq*qma:pqsiç4q4e ts 99@qic3qa s-o_c-iodade.

rA,sóciedade " sem F sta d o " seriaassinçonvç$i-d-4.en_llqqdo" gúqEc-gumts-ériejlq passos quase_impslrqpptív.ei$,,.gg*qq4ig-ggr-$lativamentÊvãoalterar o significadorelativodas muitíssimasestmtu{giq,ôënúãiãatÍas o--+tq"[email protected]",- sociais . P:]gTLgg{-gencontram na maioriadas culturas africanas.s

ue eu considero comoumnovoe impoÍanteênfase no estudo da formaçãodo Estado em África,

revendo os dados sobre os Mbunduda região noroeste de Angola,povoque vivianuma pafre do continenteaté à data pouco atingida por estasreviravoltasde inovação. _O "rtq$t {gj: lg.1gglgqry19algpn dos .Mbunduconstruiramyglladasesrruturas políticàsdürúte os séôülôs quep-recõõer@lêC i mèmo ao péQúèno è ítãd;1;b;--iüsïèïïê-Àngõiãõó s*4 _yirg-sq[.q9 ;ç.ïiô-ÌVii. S "noo o-

"rrudo

ïisìffico,ëmonstrãou sugere, como as peiòoáô'ôiganiiaramestados noquadro de uma estrutura social e intelectualparticular,mas tem pouco aver com imagináriastaxinomiasou coma construçãode pgras genera-lizadas sobre o "processo".Estas últimastarefas ficammais bem entregues

qlnas mãos competentes dos antropólogos.No_ eqtaqrql_.lggdg_.gp_g$Igohistóricosobre africanosque não usam a escrita, necessariamente toma

" Oóí.éïü,.Offiios,dè fórmqegteti-'

"ãq--ççp"9rernos-.tç-om-s-abedona,.c,"emgist-a a explicaro- pgnsa-

_p_9nto9 q l9_-._dg-s"..-c_qnsgutoresde estados Mbundu."@iíïêsôióïer agúmâs aãs diversas formãï de'"instituiçõesde tipo estatal" dos séculos XVIe XVII,em termos que tor-niÌma experiênciados Mbunducomparávelà de outros povos noufoslocais de África.Poderá igualmentesugerir os modos como cada institui-ção transformouo meio social e políticono qual floresceue, simultanea-mente, foitransformadapor ele. -Aquestão básica, para fins comparaüvos,pode ser formulada*assirn:cotLoE;que fgiúFrInaoas rnstrucoes slml-

--.J---. --*---: comoZïue foram6rmãffiinstituiõõãísimïr

"_lg"jg*9çao*ç-olt:gts"o_s@rÍ9i9g{up-oqge-flççapfortemente autónomos, no caso dos,\{Lq1g g_deAngola?Esta formulaçãò%

do problemapretende deixar para mais tarde a necessidade de umadefiniçãode "Estado"exacta e a priori,uma vez que todo este estudo

jepresenta, em certo senúdo, uma busca de uma identificaçãoempírica das'estruturas políticasI Mbunducom base na sua experiência histórica.Talvez os estados Mbunduvenham a contribuir,em últimaanálise, paÍa adefiniçãouniversal que mais alguém veúa a dar do "Estado",mas a medi-da, considerável,em que os,estados Mbunduforam condicionadospela

' Refro-me paíprçsgntou abordagens

Refro-me particularmente aos recenres trabalhos de E.J. Alagoa (1970, l97Ia, 1971b), Abdu[úiSmiú (1970), e Robin Horton(1969,1971). Steven Feieiman (1974) aprçsentou'abordagensdiferentês, mas igualmente impoÍantes, para á históriaantiga dos eìtados aã Ámõ"Oiónia.

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rNrR.oDUçÃO

sociedade na quar existi4am,mantem-se como um aviso contra definiçõesabrangentes' que não conseguem ter em conta os aspectos da sociedadeditos "não-políticos".

O "mitohamita,,e o seu legadoos primeirosanalisrtas da formação do Estado em Áfricaconfiavamexcessivamento em elaborações teóricas traçadas a partirdas simplistassuposições dos Europeus a respeito do que então era olhadocomo a

"Áfricatradicional".Éoss"m quui, rorr"Àa's airicutoaaes práticas de reen_contrar dados históricosglobais sobre os remotos períodos em que se con_solidaramos mais coúecidos estados africanos,a maioriados primeiroshistoriadorespermitiramque o pano de fundo intelectuaÌ'europeuimperasse, quer sobre os factos conirecidosquer, por vezes, sobre o sensocomum' quando muitas vezes colocavuÌm,na bãse dos antigos reinos,grotescos "elefantes, à faltade cidades".6 uma vez que os antropórogosdevários credos se encontravlm entre os primeirosespecialist"as ãurop"u,utomar a sério as civilizaçõesOa Áfricasubsariana, u. pr._irü,qu"estavam subjacentes às suas obras tiveram,no início,u .uio. influênciasobre a questão de como os estados tinham começado ; Àfrr;;.;r'ia"iu,fundamentais das duas principaisescolas da etnografia europeia do perío-9g^ "l*"as duas guerras,r a ãscora da Kurturkreise,históriËo-.ol*ruloudifusionista,representada em Áfricapor Seligmane Baumann e wester-mann-,t e aantropologiasocial funcionalistabriìânica descendente de Mali_nowskye Radcliffe-Bro1vn,'foramas que tiverammaiorefeito.A procu-ra pelos difusionistasde origens "*i"-u,para certos elementos desociedades esparhadas por todo o mundo,urroiiudua soa p.eait"cfâopo,migrações que seriam responsáveis pela propagação desses erementos,levouos historiadoresa aceitarem, p*uur origeÃdos estados, ì"oriu,baseadas na "cataclismo",geralmen-te sob a forma de ,,teoriade con-qüista".o ênfase dos funcionalistasna integração e no harmonioso modode operar das sociedadeS, por s€u Uào,

-ã"i*uuapouco espaço para amudança e condicionou.os historiadoresa presumi-re.

qo" u'o pi.ioooessencialmente a-históricode estabilidadese seguiu I runoaçao aa

Jonathan Swift,On poetry:A Rhapsody(London1733)linhaI77.só muito recentemente os evoruciònistas-curturais;;.;; influenciaramos escritos históricosobre.Africa. Roben F. Stevenson ffSOS)i.j"iü"'"ipji;i;;primitivorúü""iiì.ì"-õ"í"0e'r. *Íç1ïõìãi;t:il:iï,ffillïïffiïIi:ï:ïÍ:i3j"l":ocuparíìm-se do problema dâs origens ao.etúo í"iuluutn"tttea dois casos africanos clássicos.m Honon (lg7l)oodem detecïar-se"rg"t"ã i-"ïüéiàìiiindirectas (por exemplo de R.L.l*:::":"0::,1_:11ir:::p pressao popu-racìã;"i';ï";;ã"do Esrado ( re68)).uhaÍtes c' seligman (1957). Hermann Baumanne D. wËstermann(1g62). para os Mbundu,er sobrerudo H. C. de Decker ( I 939).

A maioria dos estudos em inglês qntellgrgsa 1970, incluindoFortes e Evans-pritchard(1940),epresentam variações sobre as teorias básicas aesta escãia-'-'

O "MITOHAMITA"E O SEU LEGADO

maioriados estados e peÍmaneceu até à mudança ("declínio")querecomeça durante a conquista europeia no finaldo sec. XIX.'o

A-t"tgg9gr-ee41l--da -&.L 44çgp-do- *E-qtado**ç qÁfr.rçaveio as sim a

jgrgl4"rgg--.-bgee{"+'{.J-qla,s. 'eir9-9"-p-9**999-ipqg-o"qYe 'mpT-eÌT-iT;tìtuiçõesestatais plenamente desenvolvidas q'g?+Pol9ses'1t919-9_-91p-aci:"*iaoc;

"o;nçfr]4aïtëiãçôes iüü"q"lrlifi,s*11 ,gsiiüúaspotitiòãi"baiìôasestabelecidas no momentó oa "conquïíiâ".-"Úmâtal têoiia recebeü úú"ïëfõïÇo,que nãô'fiíi"iiëqúènti,dó-õôïtilüã'osuperficialde muitas tradiçõesorais africanasque sustentavam que "o mundo tal como foicriado é omundo tal como é hoje".'tEm resultado disto, poucos dos primeiroshisto-riadores perspectivaram teoriasmais complexas da formação do Estado ouolharam demodo sistemáticopara a evolução das estruturas do Estadoatravés dos tempos.'2

O "mitohamita",hoje em dia mal-afamado,faziaprever e continhaem si estas correntes de pensamento e, num certo sentido,forneceu a basesobre a qual a maioria das primeirashistórias dos estados africanos foiconstruída.'3 Certamente, iá não é necessiíriorefutaras conotações racistasdesta teoria, que foram postas em evidênciade vários pontos de vista,r'mas pode ainda ser útilconsiderar o "mitohamita" comoo protótipode

viíriasversões posteriores e mais subtis da mesma lógica de formaçãodo

Estado. Na sua forma original,o "mitohamita"tendia a fazer coincidirtodas as "civilizações"em Áfricacom grandes estados centralizadoseargumentava que

à parte as influênciassemitas relativamente tardias (...) a civiliza-ção da Áfricasão as civilizaçõesdos Hamitas,a sua história é oregisto destes povos e da sua interacção com os dois outrossubstractos populacionais africanos, os Negros e os Bosquímanos,quer esta influênciateúa sido exercida por egípcios altamentecivilizadosou por pastores mais selvagens, tal como são hojerepresentados pelos Beja e os Somali.(...) os Hamitas que

l2

Os evolucionistas neo-marxistas têm tido relativamente pouco ti dizer a respeito da formaçãodoEstado em Áftca,devido à óbvia impossibilidade de aplièação do "modo de produção asiático"àscondições de África;ver por exemplo Jean SureçCanale (1964). Revisões recentes sugeridas p{rCatheiine Coquery-Vidrovitch(1969), para reduzira dicotomiaentre "sociedades com Estado" e"sociedades sem Éstado", procuram pressões locais que possam ter levado as estruturas do Estadoa formarem-se. Emmanuel Tenay (tSZ+), embora ainda tendendo pam subestimar o potencialpolíticoe económicodas sociedades baseadas em linhagens, começou a integrar os grupos defiliaçãona análise marxista dos estados africanos.Jan Vansina (1965), p. 105.Lloyd A.Fallers (1965) ilustra lindamente a convicção prevalecente de que a "mudança", ou pelomenos as mudanças visíveis, começaram quando a influênciaeuroPeia penetrou.Seligman (195?) deu a formulaçãoclássica à ideia, presente na tradição cultural europeia desdelongã data, de que um grupo vagamente raciaVcgltural/linguísticoconhecido como "Hamitas"seexpandiu, bem como muitoda sua cultura.pela Africasubsariana.J. Greenberg (1949),St. Clair Drake(1959),R.G. Armstrong(1960), B. A. Ogot (1964),e EdithSanders (1969), para citar apenas algumas das mais sistemáticas críticas.

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chegavam eram "europeus" criadores de gado _ chegando emondas sucessivas - melhorarmados e oe inúigênciamãs vivadoque os escuros Ìrlegrosagricultores.(...)rs

Para a história das rorigensdo Estado, a vívidaimagemnansmitidapor seligrnan,de "Hamitas"criadores de gado, brandindJlanças, descen-do sobre populações de agricultores prácidos e broncos, encoia.iouos his-toriadoresa aceitarem a hipótese do "Estado conquista', ,"gunãoa qual a

maioriados estados africanos teria resultado da imposiçao-rleinstiúçoesestrangeiras sobre os indígenas agricultores.,r, prãcurâ de origens não-africanas para os estados do Sudão ocidentaljá tinha levado a prãcúmaaadescoberta de Judeus de tipo europeu no, *i"purradosdos reis do Gana;a derivaçãode todos os estados sudaneses ocidentaisposteriores(Mali,Songhai etc') a partirdos precedentes gâneses disseminava largamente ainspiração estrangeira por toda a Áfricaocidental.r.Historiaãores dasregiões dos Grandes Lagos, da ÁfricaOriental,com uma justificaçãoapenas um poucomaior,baseada na clara associação dos govàrnantes dosec' XIXcom o gado, aribuiramorigens "hamitas"ao Buiyoroe a todosos outros estados alegadamente derivadosdele.rz os "Harútas"irrompe-ram também pela história de outros reinos tão para sur como a Rodésia,mas basta mencionar aqui um únicoexemplõpara demonsüar a suainfluênciana historiografiasobre os Mbundu.um prestigiado etnógrafo eestudioso dos Mbundu,ainda há bem pouco tempo , em r962,reracìonavaas origens do mais poderoso estado Mbundudo sec. XVIcom o ímpeto deinvasores conquistadores avançando para sudoeste, cuja influêncià"civi-,lizadora",mesmo sem o gado dos clássicos "Hamitis",era fortemente

sglg afric_ano.

semelhante aos protótiposde Seli gman. rsfg,d_o,r_ estrs . invas,ql.gs _ fun-

S"9E:t de estados,. q.eiarn':Hqqltqql,'lsemìiãiou I'cu4i1aÍ,;G-r9g;penharam papéis essenciaÌmente idêntiòos: trazgr i1qi1tg.içgSrpg[,iíg.r_qg*E..3T"nteformadas para estabelecer os estados africanos que emer-gram e vieram a ser os mais bêrütóífiètrcÍos'dosobseúâcíóiõô *r"p-çJ,-do qeç. XIXe XX.o rigordesta imagem

"srau;ìi#ilt;;;â;..*a ,eryr qge-1eflçctiaos miroseu.opeus dà vúàgeq iíó iêcüi",auat6s:

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r5 Seligman (1957), pp. 85, 140-1.r^ Mauric.e^Delafosse(Ì912),II,22-5,3g:E.W. BoviÌlt196g), p.50: as primeirasedições de J.D.Fage (1961)p. 18. repetiam.esta noçào. Arnbuíu-sea fundaçào aur"iaiua.ì-.ììãao-iÌãu.uu run-. ,afores iguatmente estrangeiros; smltn (tqzO),pp.1ãs ã-r"gr.r7 Veja os aurores citados em Ogot (196a), pp. lga_ .

'8 José Redinha (1962'1 e AntónioMirandai4ggalhaes (r934)_, pp.540-t.os chamados,'Jaga,,emAngolatambém foram exoliciramente identifiEado,òoro:'Éui,.iitu.',,;, õ;;;;Ëi;rËË t rs+zlp.49-51, e a minha crítiàa0973a).'' Uma modificação introduzidapor George p. Murdock.lgl9),p.4a.

O *MITOHAMTIA"E O SEU LEGADO

Despidodas suas características racistas mais susceptÍvcisdoobjecção, o velho mito"hamita"obteve uma renovada respeitabilidadc omfinaisdos anos 50, sob a forrna de uma remendada "hipótese deeqtadosudanês", apresentada na primeirasíntese moderna da Históriade África.DDe acordo com esta argumehtação, uma "civilizaçío"de origemvaga-mente egipto-sudoesb-ãsiáticadifundiu-separa grande parte da Áfricasub-sariana numa data remota e trouxe com ela os primeirosreinos cen-tralizados em larga escala que houve nesta região:

O estado "sudanês"era essencialmente uma excrescência parasita,alimentando-se da base económicadas preexistentes sociedadesde agricultores.Para estas sociedades ele contribuíucom determi-nadas ideias novas de organização política,e certas novas técni-cas, nomeadamente no campo da actividademineira,da metalur-gia e do comércio.Os seus propagadores mais antigospaÍecemter-se movidopara sudoeste a partirdo vale do Nilo,e ter-seestabelecido, provavelmentecom a ajuda do cavalo e de umacavalariamilitar,entre os povos agricultoressituados imediata-mente ao sul do Sara...lmais tarde] os primeirosmineirosecomerciantes de marfimatingirama região dosLagos, o Katanga

e a Rodésia, usando as suas técnicas superiores para estabele-cerem um poder políticode acordo com os seus própriospadrõestradicionais...2'

Esta hipótese conservava a premissa centraldo velho"mitohamita"- a de que forasteirosteriamt uiidoo aparelho de Estado pua a Áfricasubsariana - mas substituindo"Hamita"por "Sudanês" em conformidadecom o efeitoevidente da nova hipótese, o de fazer desviar o julgamentodevalorque está implícito nocontraste entre os estrangeiros a cavalo e osagricultoreslocais.A teoriado "estado sudanês" favoreciaclaramente osindígenas agricultoresque, podia agora ver-se, tinhamtido de sofreraexcrescência de uma formade estrutura políticaessencialmenteestrangeira, imposta no seu todo, através da tecnologia mais complexa dosinvasores, e não tanto pela sua superioridade racial. O velho"mitohami-ta" dos finaisdo século dezanove tinha alcançado a respeitabilidadenosmeados do século vinte, vestidocom a terminologiamenos pejorativadatecnologia em vez daraça.22

'?o Roland Olivere J.Fage (1962),pp.44'52.'' Olivere Fage 1962, pp. 51-2,' Uma observação também feita por Robin Horton (1971), p. 110, n. 47. O paralelismoentre as

"hipóteses sulanesas" e as teorias outrora conentes acerca da imposiçãodo domínio colonialeurbp"uem Áf.i"aé demasiado óbviopara mereceÍ um comentário mais desenvolvido.

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| '-ã"e,..ï'ìiffiãinovaçãonasabordasenscroshisroÍiadorcsàror-| triffiï:Lïïn.Hff,t"oi;:rXï::;ï::ffi.*i:"ÏiP",*t/' "llt rnação do Eslado em Áftiá."^pr"*;;-;;.;ffi;;ïï*". I pÍofetassem honra enrÍ€ os s€us p&€s.Alémdo mais, a idemificaçãodo . ilílI mudânças estrunrais na6 instiruiçõ€i*,rti" p̂ie-J[ïtL

"ii-l'."r0".I sr-:s*9-* -.èo_enho - eg.a:gde qu3lquqrconexão_c"- e* q"-ü '. nll

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Mesmouma panorâmicasobre as teorias relativas à formação doEstado tão esquemálic1 cgmo a que aqui foi apresentada,2e mostra a con_tinuada e generalizada influênciado "mitohamita,,depois de mais de umadécada de modemos esrudos históricos ,"ur"Àii.u.-pJr#iu*.nr"exposto em termos abertamente racistas durante o finaldo século XIX,foiem princípioabandonado após a IIGuerra Mundiar,mas manteve a suainfluênciasob a formadas hipóteses que lhe estavam ,uU.;*"nt"r.Oo,quarroprincipaiselementos do "mitohamita"presentes;;'áril;;ausnamaioria das abordagens posteriores

- a formação do Estado por conquista,a identificaçãodos conquistadorescomo estrangeiros, a atribuiçãodealgum-tipode superioridade a esses conquistadore;;;;;ü;ïogsta_do de forma rotale instantânea com pouca modificaçãoposteriàiàu,.r*-uras políticas- todos sobreviveram,de uma forma apenas tigJarnentemodificada,na "hipótese do estado sudanês',. Apesar das tentativas feitaspelos críticos para chegarem a uma interpretaçãomais sofisticada de"migrações","conquista'fe "origens,',ro os historiadores continuaram a serinfluenciadospor versões das mesmas ideias, mesmo depois de teremabandonado a ideia de uma única fonte externa para todos os reinosatricanos' os historiado^resestão.agora a ampriar u ,uu oor.u ã" irouu, oumudança nos estados africanos, à medida que desenvorvemtécnicas

maisapuradas de recorha e análise dos dados. Mais recentemente, começaram aexaminar com maiorcuidado o significadohistóricooo, on'ìffi.nt",migrantes forasteirosque aparecem como tendo fundado muitosreinosafricanos.3tA históriados mais antigos estados entre os Mbundu fomece umaoportunidadepaÍa testar mais amplamente a apricabilidadede novas abor_dagens, actualmenteem desenvolui."ntopor historiado."a" ouí^purt",de África.os Mbundu,

_nitidamente,aiJpuntramde estruturas políticasamplas e complexas na época em que o, po.tugu"r",ai "fr"glil,*u,teriam elas de facto sido fundadas p.to trpo clássico de migrantes conquis-tadores vindos do interior,c9-9 ur interpretações literaisïe urÀrnu,au,tradições pareciam

indicar?32 Será que a hiìtóriapolíticaMbundunão revera" [ï]lïiï,ïtïi,iï.'ôïJ;ï"taçàopor Jack coody ( reó8), John D. Fage (re65), DaryilForde" I^"^l"^:t:"lleVansina {19óóa)'.pp.l4-t8, e Lewis-fl966).os alerras expressos nesres esrudosiïrii::ïrïlïïï"r?ïã- contã.por toda a g"nt'ü"i'ãíue.;iil;;;ã;#ï;',;,M"""y'' Feierman(1974):JanVansina(l97lb):JohnD.Fage(1974);eRexS.O,Fúey(1970)chamama

l:ïffi:"3#,'l#lrasdimensões oo c.e,ciÀenro ; ;;à;;; na formação e desenvorvimenro dos'r os relatos ponuÊueses tíoicos que focam actividades dos Europeus entre os Mbundusão: Arfredoe AÌbuquerque Felner r i933)eRrtpl-oàr ìa.ììõ+"s:s;.ïa"tasirmingham1t966.y. esp. pp. l7-o' ?6-4r, deu às Í'ontes escr;tu. u. Iaúã-iriluìàíü"ií.o'*ur, ao integrarmateriais da tràdição,Al:i;l"lff;:ï,il:ïljr,r"jï:,a;;ie.",ç"ã,üïiiìtããliïïü"a"i".-aia"Ëìïcïïii,".ïiJirs3+r.

A METODOLOGIA

mais do que o estabelecimentode um estado já plenamenüe desenvolvido,que se expandiu geograficamentemas não mosfrou qualquerevoluçÍtointcr-na? Há, alguma evidência históricade superioridade üecnológicaassogiadaaos fundadoresdo Estado enffe os Mbundu?Os dados mostarão, em con-formidadecom os estudos que prosseguem noutras frentes, quea formaçãodo estado no noroeste de Angolapode úer sido um procegso muitomais com-plexo do que Íìs análises anteriores têm sugerido.

A metodologiat3Uma das evoluçõesque forçouos historiadoresa abandonarem o

"mitohamita"foium afastamentoprogressivo da Históriado géneroSeligman, largamenie"conjectural",{üÍrs€exclusivamentobaseada nospreconceitoseuropeus e não tanto nos dados, afastamento realizado no sen-tidoduma abordagem mais verdadeiramente histórica,fundamentada emmais e melhores tesüemunhos factuais. De muitas formas,a crescente com-plexidade na recolha de informaçãoacerca do passado africanoforneceu ocatalizador queforçouos historiadoresa descartarem as teorias dos anos50, uma vez que elas eram simplesmenteimpossíveis de ajustar aos factosque emergiam da pesqúsa publicada duranüe adécada de 60. A dependên-cia do historiadorrelativamente

àsprovas,

contudo,obrigam-noa exercerum cuidadosocontrolosobre os métodos através dos quais ele analisa a suainformação,especialmenüe se ele tenta desenvolver novas vias paraelucidar o conteúdohistóricoda tradição oral,do testemunho linguístico,edos materiais etnogriáficos.Uma vez gueantropólogos,linguistasehistoriadores,de forma alguma chegaram a um consenso universal sobre oscritériospara a interpretação destas fontes, especialmenúequando lidamcom o passado mais remoto,o historiadortem de dar a conhecer a naturezados seus dados tão explicitamentequanto possível, especificaros meiospelos quais ele os coligiu,e expor a lógicaem que se apoia a sua interpre-tação dos mesmos. A presente secção refere-se à primeirae à últimadestasresponsabilidades.

Quem quer que se proponha escrever aceÍca da históriapolíticaMbundu antes da chegada dos Portugueses no finaldo sec. XV[,incorrena especial obrigação de explicarporque é que uma tal reconstrução,baseada predominantementeem fontes não escritas, pode pretenderdisporde qualquer grausignificativode precisão sobre acontecimentos queocor-reram há mais de 400 anos atrás.s Uma via para justificaresta abordagem

Uso aqui o termo-'metodologia'parame referir à lógica quegoverna a minha interpretação dasfonte_-s para_a históriaMbundu; o Prefáciocontém um breve iesumo das técnicas uiadas para arecolha de dados.Christopher Ehret(1917).eDavidW._Cohen (1972)encontram-se entre outros estudos recentes queexploram os limitestécnicos nos dados sobre o passado africano longínquo.

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(história)e do presente, e a semelhança que existe en,.e os cacos par-tidose a panela anteriormentecompleta; ì- outru, ocasiões, eres assi-nalam por vezes que a históriaé como um espíritoancestral (nzumbi,plural jinzumbi)em relação ao antepassado quando"rruuìvivo.*Na medida em que os Imbangara visualiiamo passado como pouco maisdo que um aspecto do presente, a sua concepção do passado não se afas-ta de modosignificativoda de muitas outras sociedìdes que não domi-nam a escrita.

A íntimaassociação que os Mbunduvêem entre a históriae asociedade e a políticamodernas, obviamenteafecta o modo comoos his_toriadores letrados devem interpretarestas tradições. uma vez que astradições modernas tendem a incluirapenas aqueles acontecimentosdopassado que têm manifestações visíveisno presente, elas não fornecemuma série coerente ou integrada de acontécimentosdo passado rela-cionados uns com os outros através de qualquer sentiào causal oucronológico.Em vez disso, referem-se a um conjuntode acontecimentospassados, não relacionados entre si, que os modernos historiadorestradi-cionais Imbangala implantamfirmementenuma estrutura narrativa arti_ficialmenteforjada, sempre que querem que os seus materiaisfaçamsentido, intuitivamente,para a sua audiência.s portanto,as conexõesimplícitasentre os episódios narrados numa exposição históricaImbangala,aparentemente antecedentes e consequentes, raramentecorrespondem a causa e efeito em sentidohistóricã,uma vez q"; ;;acontecimentos que o historiadortradicionalliga, para obter efeitodramático ou didáctico,podem ter estado sepúadôs no tempo pordécadas.e Não se pode fazer depender as interpretações destas ouoiçã",do conteúdo literalda narrativa,para obter infôrmaiaoacercadas moti-vações dos actores ou das condições que determinarâ. u.u dada acção.Doisacontecimentospodem "p*"""i"msequência numa tradição, nãoporque um se tenha seguido aooutro no passado, cronologicamente,masporquE alguma outra lógica(geográfica,estrutural,etc.) fez com que omodernohistoriadortradicionalImbangalaos relatasse nessa ordem.A visão Imbangala do seu passado, tal como é expressa nas tradições,

consiste numa série de pontos, historicamentenão ielacionados,extraí-dos do passado; não há uma cadeia evorutivade acontecimentosrela-

Depoimento de Kiluanjekya Ngonga.Entre_os Imbangaìa' a recitação da história tem muitode uma actuação públicae, obviamente, osrstonadores tradicionaistenram moldar.a.s.ua_replesentação

"ogosìo aã, ,"uiãüniÃ.'-lïìouinha sensibilidade oara esra dimensão da históriâ Imu"n-jaú

"opror"ssor Harord scheub da uni_ersidade de Wsconiin;cr. rrercniluem ü;;i;; iïbïï'i.'++0. n. s.Veja-se, por exemplo, os reinados de três antigos ."i,huuniau aos quais se diziaque abarcaramapenas alguns dias mas que. na realidad€, goï"**i*pãi{uuse crnquenüa anos, de acordo comontes documentais; Joseih C. MillerAsit e-ísïg,,."'" ,-

l5 METODOLOGIA

cionados entre si estabelecidosnum continuumtemporal.a?Isto excluiquaisquer cálculos de cronologiaabsoluta baseados exclusivamentenoconteúdo das tradições.s

A influênciadas condições contemporâneas sociais e políticas sobro asnadições históricas Imbangala compensa a falta de uma cronologiaexactalevando-as a reter registos de alguns acontecimentosmútoantigos. ondequer que as instituiçõesteúam sobrevividopor muito tempo, elas tiveramüendência para preservar os concomitanües testemunhos orais dessas for,massociais e políúcas muitoanúgas (embora de uma daüa impossível de deter-minarno calendrário).Algunsdignitáriosagora encontrados,nas,triúagensMbundu,bem como muitosdos própriosgnuposde filiação,claramenüoexistem desde há centenas de anos.ae Podemos partirdo princípioque astradições quedão contâ da origem destes títulose grupos podem ter vindode períodosigualmenteremotos, na medida em que as instituiçõesnão pas-saram por modificações estruturais substanciais nos anos deConidos.Evi-dentemente, muitasinstituiçõesMbundusofreram mudanças substanciais nopassado, e as concomitantesradições podem, correspondendoa isso, ter-seafastado das suas formas originais,mas no geral parecem ter sobrevividoelementos suficientes parapermitiremàs rnodemas tradições fornecerumretato parcialmas confiáveldas estrutuÍas sociais e políticasMbundudatando de bem antes do século dezasseis. As fonúes documentaismostraÍrque as insútuições dominantes em finais,do sec. XD((estados, linhagensetc.) se tiúam estabelecido pelo menos em meados do século xvl.As üadições modemas completas correspondentes oferecem; portanto,umguia relativamenÍeseguro para os acontecimentosa partirdessa época.A estreitâ associação ente as tadições históricase a estrutruainstitucionalda sociedade Mbundu intoduz ainda maiorestabüdade nasradições que sobreüveram. uma vez que as mudanças sociais e políticastendem a causÍìr o desaparecimento das antigas versões das nadições, as quepeÍmanecem pareceriamdescrever, com um altograu de precisão, os acon-tecimentoshistóricosrelacionadoscom o estabelecimento das suas respecti-vas estruturas. Assim,interpretações de Eadições descrevendo a origem

detítulosreais que ainda hoje existem (ou exisúam no fimdo século xD()con-

É evidente a analogia da esautura da visão do passado dos Imbangala com noções de cálculodotempo observadas noutras sociedades; cf. a afimiação de Evans pritõhaÍdde quebs Nuer seàoòìamem pontos de referência, mais do que.num continuumabstracto, para exprimiro t".po (ïel9;.A mesma noção foiparafraseadacoúo'tempg e.ve1tu.al"["eventualìime"]i,oro.r. eoc&t<iieo+j.os.Imbangala, evidentemente, têm uma vüedade de outros sistemas dd cflculooo temió quepodem usar em funçãodos objectivoLAquiinteressam-me, especificamente, as percepçbes dotempo e não o tempo no sentido Íilosófico..go.pt9p"g desenvolvi-e:tg ponto_com alguma profundidaderelativameni"u o,n aspecto dastradições Imbangala, in Miller(1979).com base nos testemunhos documentais (ver adiante). BeatrixHeintze (1970) descrcve uma esta-biüdade similar entre grupos remotamente aparentados, a sul do Kwaàza,de ant"s ae i-ooo atecerca de 1900.

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16 INTRODUçÃO

têm uma probabilidade$e veracidade relativamenteala. A prova documen-al desa esabilidade, a( aqui deduzida apenas da lógiginerente às tadiçõeshistóricasünbangala, re$ulta da comparação de tadições modernas com uma'tradiçãode meados do jsec. xvlloque coresponde a essÍrs tadições emquase todos os aspectos pelevantes. Mesmo onde mudanças polÍúcas impor-tantes' opemdas no cenüo de um estado, modificaran; ttil;th.ipaldetransmissão, nadições paralelas lidando com os mesmos.dtulospodem con-servaras

suas mals antigas formas, foradaáreanaqual.as modificaçõesocor-Í€ram; tais nadições arcaicas fornecemmúas vezes bons dados sóbre acon-tecimentos antigos que, . na fuea central, foramobscurecidospordesenvolvimentosposteriiores.A esabiüdade inerente às tadições pode por-tanto permitira recuperação de dados que se baseiam nas fases de lormaçãode estados, mesmo daqueles com as mais turbulentas histórias.sr

A maioriados materiais usados neste estudo incluem-seem duasgrandes categorias da çpresentação* da históriados Imbangala: genealo-gias, ou os musendo prgpriamente ditos,e episódios narrativos chamadosmalundn(singularlunda)'2. outras fonnas da arte oral Imbangala contêmmateriais úteis para : â Írecoostnrçãohistórica;nelas se inciuem váriosgéneros; como provérbios (iisabu,singular sabu), expressões de louvor

(hnnbu, sing. e plural),canções e outas realizações .air p*urn"nteestéti-cas ou didácticas.o tempo disponívelpara a pesqúsa de campo não me deuoporrunidadede recolher material sufrcientepara permitiro úpo de sofisti-cada análise crÍtica,necessária para retirar sentido históricoáe tal tipodefontes. como justificaçãoparcial da miúa decisão de limitara análise aosdois modos básicos de representação histórica,ela é coerenüe com uma firmedistinção queos Imbangalafraçam enüe, por um lado, os musendo e osmalunda e, por outro lado, todas as ouftas categorias de representação oral.s3As breves descrições que se seguem, de genearogias Imbangala e de narra-tivas históricas,ilustramcomo elas dão corpo a aspectos do pensamentohistóricoImbangala, tal como acima foiexposto.

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As genealogias históricas, on musettdo. consistem em conjuntosde

nomes pessoais ligados ente si pelas relações convencionaisde filiaçãoeafinidade:pars têm filhos,maridostêm esposas, irmãos, filhas,sobriúosetc.,s P. Joao AntónioCavazzi deMontecúccolo(1965). Umaanátise detalhada seú apresentada no Cap. VLt'

-o_-çyrnenlode que testemunhos históricosrclevantes podem ser pr"r"*ìdor,sob a forma deaÍcarsmos, roÍada âÍea centÍal de desenvolvimento,é análogo ao que foiusado Dor Vansina(1962b) para reconsrruira antiga história do Rwanáqoú ÍïõnaenJiu aì, io-ãL'iú"utr,i"".arcarcas aparccercm em regiões periféricas,Sobrc esta última tendênci4 ver Joseph GËenberg(t972),pp. t%-a.

jl_"{_"qlr:l'tem aquio.sentidode reprcs€ntação ou apÍesenração pública. A história orarlT_.:,,o1u11."n perante de-terminada assisrência e segun-do rcgraiprêdetermlnadas de ',ence-naçao . U termo 'reprcsentação" paÍ€ceu_nos o mais adequado.(Ì.ID-

o-termofoiconfirmadoemchatelain(1994),p.21;etambémsigurdvonwillersalazar(s.d.,c.1965?) lI:160.Testemunho de DomingosVaz.

17 MF,TODOLOGIA

e todos figuramnas árvores genealógicas que os historiadores tr.adicionaisImbangala recitan numa clássica forma bíbüca.

Ngola a Kiluanje[umtítulopolíticomasculino]veiode KongodyaMbululumgupo étricoapresentado aqú como se fosse uma mulher]e geÍou NdaÍnbia Ngolae MwijimwaNgol4Kangunzuka Ngola(que é do Negage [uma localidade no noroeste de Angola]),e Mbandea-Ngola [todoseles únúos políticos mascúinossubordinados]'

Mbande a Ngol4agora rei em Marimba[Posto administativopor-tuguês juntodo rio Kambol,gerou Kambalaka Mbande e Kingongokya Mbande.Kingongokya Mbandegerou Mbande a Kingongo'Mbande a Kingongofoipara nganal(abarikaNzungani[isto é, tomouuma múher desta linhagemle geÍou Ngonga a Mbande, Fula dyaMbande,Kamana ka Mbande,Ngola a Mbande,e Njtnjea Mbande'Ngolaa Mbande casou com Mbomboya Ndumbu[uma mulher deoma liohag"-não identificadal..'. Kabilaka Ngolagerou KalnrngakaKabila,Múiwa Kabila,Nzungiya KabilaNgolaa Kabila...Aquelesque acabo de nomear são os actuais soáas [tinrlarespolíticos Mbundurecoúecidos pelo governo portuguêsl próximode Mucari[antigoPosto administrativoa leste de Malanjel.s

O testemunho citado, que tem àtípicaformado musendo Imbangala,pode ser representado em forma de rírvoregenealógica como Se mostra naFig.I.Embora tais "árvoresde famflia"pareçam retratÍìrum processo de

Ftc. I. Uma genealogia musendorepresentativa

KongodYa Mbulu(f)

Ngola a Kiluanje(m)

"offidea- (mulhernãoNgola rulota Ngola Ngolaï mencionada)

Kambala ka KingongokyaMbande Mbande

I

(mulhernãomencionada)

Kamana kaMbande

NjinjeaMbande

(mulhernãomencionada)

Kakunga kaKabila

MuhiwaKabila

(mulhernão identificada-

Mbande ada linhagem deKabarika Nzungani)I Kingongo

'

Mbomboya - Ngolaa Ngonga a Fula dYaNdumbu(0 | Mbande MbandeMbande

(o informantenãoespecificou esta ligaçào)

I

í Testemuúo de Domingos Vaz

Nzungiya Ngola aKabila Kabila

18 rNïRoDUçÃO MET D t A

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rNïRoDUçÃO

ge-ração biológica,com casamentos e descendentes etc., de factoreferem-seexclusivamentea títulospolíticos(no caso das figuras mas_culinas)e a gïupos de frriação (as figúrasfemininas),todos reõrindo-se ainstituiçõesque sobreviveramaté ao presente. Isto empresta à genearogiauma qualidade sincrónica, a quar pode ser confirmada,ìomoo tirtoriudo,tradicionalfezno fimda passagem citada, referindo-se a indivíduosvivosque detêm os mencionados títulos.

A genealogia tem efectivamente conteúdo históricosignificativo,embo-ra de um tipoespecífico e limitado.As relações enne út'lo'sporíticos ügadoscomo"pai"e "filho"na genealogia, indicamna esfera contemporânea que oportadordo título-"filho"deve ftatar o portadordo título-"pai'i1po.

"*"o,ptodambi a Ngola relativamenúea NgolaKituanje)com o ,Ësp"itounaogo uoque é devidopela progeniturahumana ao seu pai biorógico/sociu.úÀte s"n-tido,o poÍador do únrlojriniorestá poriticu."ìt"subordinado ao portador dotítulosenior. Historicarnente,.estas relações significamt -ue- qi"o- o.*pante do título-"pai"criouo título-"frlho",conòedendo-o em atgú o'o*"nro,no passado, a um não mencionado membrode uma linhagemftossivelmente,mas não necessariamente, também um filhobiológicoa" [oe*ïaquet"**poera o portadordo títuro_senior).Agenearogia identificaa-liúagem quer peloseu próprionome (ex. Kabarika Nzungani),quer pelo nome A"o,nâ ;,il;;histórica dessa linhagem(ex. Mbomboya Ndumbuj.

os,,casamentos,,

mostra_dos na-genealogia rigam assim (sobretudo) úturos políticos,,mascurinos,,,como filhos,às linhagens "femininas"como "mães;'; a mrragemmaternadetém o direitode designar os que vão ocupar a posição de "fiIho;e assim üema posse do título,no mesmo sentido em que ar *ut iiiúug"nstmuantata con-lolamos seus própriosmembros. os mais velhos ou ,,tios,, oa ínnagem(makota,singularl<ota)acuamcomo guardiães e conserheiros em relação aoportadordo título.

Embora a maioriados úturos esteja associada a uma única rinhagem"matema",é significativoque as posiçõei de maiorrelevo,como a aoìgoh okiluanje,paraa qual muitas tiúageni podem designar, rotativamente,o o"u-pante da posição'não teúam qualquer liúagem específica (ou nome femini-no) associado a elas (comouma "esposa").Neste caso, o ngora a kituanjedescende de Kongodya Mburu,um nome representando vagamenüe todas asliúagens dos Mbundusetenffionais. Historiôamente,contuão,uma genearo-

gia como a que acima foicitada deve ser lida como um registodiacrãnicodadispersão da autoridade políticaderivada de um rei Mbundrïprin"ipÃ,i "sot kiluarle.simultaneamente,a genealogia indicao nome das liúagensincor-poradas no reinoem associação com os tít'ros confiados ao seu roitolo.sio_cronicamente, a mesma genealogia é eqúvarente a um roteiroda organização

do Esüado, uma vez que especifica as áações hierrárqúcas ente únios e, porextensão, enfe as linhagens a eles associadas.

AMEToDotocrA 19

Uma genealogia composta de títulos não revela nadaacerca dacronologiaabsoluta do processo de construção do Estado. Não se podecalcular com base no suposto tempo de duração da vida humana,,porexemplo,o tempo mínimoou máximodecorridoentre a criação do títulodo ngol.a kiluanjee a posição muhi wakabila. Umnúmero descoúecidode representantes humanos poderia ter ocupado ambas essas posigões, talcomo todos os títulos intermédios,e cada um dos ocupantes, o primeiro,oterceiroou o décimo, poderia ter concedido a posição subordinada indica-

da na genealogia como "filho".Apenas é permitidoEaçÍìra conclusãolimitadade que a criação de um título"filho",necessariamente, sucede-secronologicamenteà origemdo seu título"pai",mas em teoria este inter-valo pode variarde um ano, ou menos, até vários séculos. Nem istoimpli-ca que os útulos de "irmãosgermanos"(por ex. Ndambia Ngola,M*tjimwa Ngola,Kangunzu kaNgola e Mbande a Ngola)teúam sido criadosmais ou menos na mesma época, uma vez que os ocupantes que sucessi-vamènte se sucederam no título-"pai"podem conceder posições subordi-nadas de igual escalão genealógico. Em geral, posições nos níveis seniorda genealogia tendem a ser mais antigas do que as que estão na base, porrazões históricas,mas são conhecidas excepções suficientespara que seconsiderem altamenteduvidosas as inferências históricasfeitas nesta base.

O facto de apresentar todos estes nomes como uma únicae complexagenealogiadistorce ligeiramenteo conceito que os Imbangala têm dosseus musendo,uma vez que eles recoúecem um certo número de árvoresgenealógicas distintas, cada uma correspondendo a uma instituiçãosocialou políticaprincipal,como umestado ou um grupo étnico.A genealogiaacima reproduzida começacom um nomeretiradode uma genealogia dis-tinta,semi-mítica e etiológica(Kongodya Mbulu)'se depois traça o desen-volvimentode uma parcela do estado do sec. XVIdo ngolaa kiluanieatravés da linhaprincipalda descendência "masculina"(isto é, política).As figuras femininasnesta genealogiavêm todas de outras genealogiasindependentes, que descrevem relações estruturais de linhagens gover-nadas pelo ngolaa kiluanje eos títulossubordinadosa ele associados.

Devidoao factode os meus dados virembasicamente do extremo leste daárea etnolinguísticaMbundu, não posso dar uma listaexaustiva de todasas genealogias de liúagemMbundu,mas a estrutura regular destas

55 Utilizoo termo "mítico"no seu sentido técnico, referindo-se a acontecimentos que se acraCita quedecorrem numpeíodo fôra da história, atemporal, composto de episódiosdesÌigados, o perÍodo de"Deus na ïbrrai', como foidescrito, por exeúplo, por M.LFinley( 1965). Embora todaa "história"Imbangalaapresente certas características "míticas"de acordo com os padrões letrados_(magia,etc.), os Mbúndudistinguem claramente entre a sua tradição etiológicae as genealogias históricasmusendo. Os nomes contidos nestas últirnas "existem"no sentido em que têm representantes vivos;os daquela não têm nem nunca tiveram.Se os Imbangala têmuma elaborada cosmologia expressaem tennos mitológicos, tal não se revelou no contexto das discussões sobre história; para os Mbun-du em geral, veja Chatelain ( I 894).

Do

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20

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INTRODUçÃO

Genealogia etiológica

Para cada entidadepolíticarecoúecida pelos Mbunduexistemgenealogias políticasseparadas, compostas por títulosem vez deliúagens; assim, existe uma para o ngola a kilianje,outra para o estado

tradições sugere que devem existiruns seis ou sete conjuntosde nomes aotodo, um para cada umrdos nomes que aparecem na genealogiaetiológica(dos quais Kongo dya Mbulué apenas um).A forma internar destas genealogias de linhagempode variarconsideravelmente.Das três para as quais tenho informaçdòadequada,uma apresenta certas características de uma genealogia segmentar clássicana qual os grupos de filiaçãoque a compõem estão articuladosnuma únicae abrangente árvore genealógica, que vai longe (doze

ou mais "gerações,')e de forma piramidal.As outras duas mosframlaços explíciiorup"nu,entre linhagensestreitamente aparentadas, raramente ultrapassando duasou três gerações em profundidadee saltando directamente destes níveispara um suposto antepassado no topo; esta estrutura assemelha-se à de umclã, com muitaslinhagens de nível aproximadamente igual,nenhuma dasquais pode fraçar a sua exacta descendência a partirdo fundadorcomum.'.No entanto,a variaçãonas estruturas internas destas genealogias delinhagemnáo faz qualquer diferençapara a sua interpreiaçaoh[tórica,uma vez que o mesmo tipode "casamento" as relacionaa todas com asgenealogias políticas.t?

Ftc. II.Diagramamostrando como as genealogiasse combinam paradescrever um reino

conrudo, estes agrupamentos de liúagens apenas de modo incipienteconstituem clãs, uma vezque não descendem de. antepassados ãpónirirosdistintos (várioiug*pu-nto,"ó.n ãirËi"n,",nomes anrmaÍn descender do mesmo antepassado). Eles não têm ..toÌems" nem impõem aos seusmembros obrigações polÍticas signilicativaì.

l^lp_;Jlry:F"sïgações sob a formade diagrama. Boston (1964), p. I 12, descreve um ..casa_

mento ' slmbóhco slmilarentre os lgala.

(laçosfcestrais (laços'4rcestraisfratícios) fictíiiqs)

REINO

A METODOLOGIA

Mbondo do ndala kisua,o\ÍÍapara o impérioLunda, outra ainda para oestado Imbangala de Kasanje, etc.ss Algunstítulos isolados, não relaciona-dos com qualquer destas genealogias coerentes,sobrevivemcomoremanescentes de estados antigos que já não existem'A sua separação dasestruturas genealógicas invariáveisdo musendo principal,liberta-asparaireme viremnos outros campos genealógicos, de acordo com a fantasia ouo desígnio de cada historiadortradicional;alguns destes títulospodem serdatados de antes de meados do século dezasseis a partirdas fontes docu-mentais. Os musendo Mbundupodem portantoser vistos como um certonúmero de conjuntosgenealógicos distintosque se enquadram em doistiposbásicos:

genealogias de linhagem,que mostram relações estruturais entrelinhagens existentes e ao mesmo tempo revelam aspectos dos processoshistóricosde cisões de linhagensque levaram à actual distribuiçãodosgrupos de filiação;

e genealogias políticas que, simultaneÍunente,mostram a composiçãodos estados Mbundue dão testemunho da evolução históricadesses reinos.

O historiadortradicionalindividual,tal como o "bricoleur"de LéviStrauss,se idealizagenealogias compósitas, como a que está reproduzida naFig. I, para ligar liúagens individuaisa uma ou outra das esffuturas deestado, retratando estas ligações como "casamentos" entre títulospolíticosmasculinos e linhagens femininas. Umagenealogia etiológicadominanteligaentre si os subgrupos Mbundu reconhecidos e relacionaos Mbundu,como um todo, a alguns dos seus vizinhos(verFig. III).

Os episódios narrativos malunda,a segunda das formas usadas pelosImbangala para recitara sua história, sãoanexados aos nomes' sejados títulospolíticos,seja das linhagens indicadas nas genealogias.o Ohis-toriadororal pode, depois de recitar uma genealogia, contarpor suasprópriaspalavras muitosou poucos episódios que ele queira escolher' deum conjuntobastante estereotipado de episódiosnarrativosrelacionadoscom cada um dos nomes que constam do musendo. Ele serve-se de umconjuntorelativamente pequeno de discursos para comporum determina-do número de pontos acerca das origens, direitosou responsabilidades dostítulos oulinhagens envolvidos.Cada lunda explicaa tazão de um deverou privilégioreconhecido, e o factode o conjuntode malundaassociadoscom cada títuloserem em número finito eestereotipados,derivado

A Fig. IIImostra as principais estruturâspolíticas reconhecidas pelos Mbundu, representadas comocírculosna metade inferiordo diagrama.Claude Lévi-Strauss (196ó), pp. l6-36.Os malunda históricos constituem um subconjunto de um corpo muito rnais vasto de composiçõesem Drosa. estruturadas de modo similarrnas não históricas(histtlriasde animais, histórias rela-cionadas com temas domésticos, etc.). Châtelain(1894) publicou um certonúmero de malundaMbundu em Kimbundu,com traduções em Inglês.

21

INTRODUÇÃO2 AMETODOLOGIA 23

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número limitadode relações formaisque a maioriadas posições mantémcom linhagens ou com outros ítulos.

Aoque parece, os historiadorestradicionaisusam episódiosnaÍra-úvos similares,seguindo o mesmo padrão, para comporos mesmos pon-tos aceÍca de títulose liúagens, ao longo de extensos períodos de tempo.Esta conclusão ressalta da comparação entre variantes, recolhidas desde oséculo dezassete até ao século vinte, de alguns dos mais bem coúecidosnnlunda.Contudo, cada historiadotindividualmente,pode empregar ima-gens, metáforas, clichés ouenredos notavelmente diferentes,aplicando as

suas capacidades criaúvas para dar às palavras das suas representações umvalor tanto estético como histórico.A flexibilidadedos pormenoresdaÍresultante, nas variantes dos malunda, contrasta fortemente com a evidenteestabilidade do aspecto cental de cada episódio que, em cÍrsos que podemser verificados,peÍrnaneceu Constanteatravés de décadas e, em algunscasos, de séculos, Em todos os casos coúecidos em que recolhas docu-mentais ou testemunhos oculares de um acontecimento puderam ser com-paÍados com episódiosnarrativosposteriores referentesà mesma ocgrrên-cia, os malunda preservam com precisão um núcleo factualhistórico,mesmo quando os historiadores que recitamo episódioo rodeiamde umaartística elaboração ficcional.6lUma vez que o contextode uma autênticarepresentação históricac,geralmente define o propósitodo historiadornadicionalao seleccionar certos episódios para incluirna sua narativa(por ex., para reivindicardireitosde uma linhagema determinado título,paÍa estabelecer um precedente, para ensinar, para honrar um útularqueesteja presente etc.), e uma vez que o núcleo históricodo episódio narrati-vo escolhidousualmente se relacionadirectamente com os objectivosdohistoriador,a análise da representação permitedeterminar(pelomenos anívelde uma primeiraaproximação passível de ser trabalhada) o signifi-cado históricoda maioriados episódios narrativos.As probabilidadesdeexactidão tornam-se um tanto mais elevadas quando um certo númerodevariantes do mesmo lunda podem ser comparadas, a fimde identificaraparte estável que reapÍrece em todos os exemplos.

o'Refro-meaquiaorelatodoséculodezasseteregistadoporCavazzi(1965),testemuúoquaseocu-i*," -5 maiunda dos séculos dezanove e vintãdescreÍendo os mesmos acontecimentos; tambémôUi"tno,confirmação adicionala partir da análise de recolhas pessoais e relatos escritos de tesüe-muúos ocularcs dãs guerras de mèados do século dezanove, as_quais estavam a com€çaÍ â ser con-úA^de nouo sob a íorma de malunda na década de 1960. Oìúcleo estável do facto histórico,ii^ U"ao Mbundu,pode ser comparado aos "core clichés"dbs intsozidos Xhosa analisados porilroldScheub ttSiSl.n origeà da ideia de um núcleoestável rcmontaa lévi-Strauss;cf. J.S.Boston (1969), p. 36.

ó? Uma "reoresentacão históricaautênúca" só pode brotar, por definição,das actividades normais dooouó eni socieaa'Oe, geralmente em conexão com dispútas legais ou outras ocasiões que fazemãúú ú retuço"s forãais entre títulos e/ou linhagens.-Tais cirõunstâncias ocoÍÌemcom uma frc-ã'"*i" d"i; diminuindograndemente.na Aúlamoderna, e esta circunstância é responsávelfela situaçao de atrofiadas tradições actuais'

24 INTRODUÇÃO AMEToDoLoGIA 25

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ODUÇ O

As metáforas,os símbolos,até o enredo que os historiadorestradicionaisescolhem para esclarecer o significadode cada lundnaos setsouvintes, pertencemmaisrà rica e complexa reserva dos temas artísticos eintelectuaisMbundudo que à história.*o nívelartístico e intelectualdos malunda pode fornecerum terreno fértilpara o tipode análise estru-turalistaque provou ser válida na compreensao dos prã."rro,intelecruaise das cosmologiasdos povos iletradosem todo o mundo, mas o facto deas narrativashistóricasdos Imbangalaapresentarem esta dimensão a umcerto nível não elimina,a um

outronível,o seu valorcomo fontes históri-cas.ú A comparação dos malunda com fontes documentaisdemonstra,empiricamente,que o conteúdo históricoestá presente; por outo lado, alógica interna de uma representação histórica,a qual relaciona osmalunda com títulos e liúagens específicos e com uma gama restrita depontos históricos,permite disúnguiro conteúdo menos obviamentehistórico,que o historiadortradicionalpode acrescentar por sua própriainiciativa,da estrutura históricaestável do episódionarrativo.*acríticaocidental,ao fazer cuidadosamente a disünção enhe o núcleohistóricoeos enfeites artísticos,pode com confiançausar os malunda como fontespara a limitadagama de tópicossobre os quais incideo presente estudo.6

os malundapodem ser ainda subdivididosem episódios políticosou

de linhagem,de acordo com o tipode nome ou ítulóao qual estão asso-ciados. os que estão ligados às genealogias políticãsgeralmentedescrevem circunstâncias que rodearam a criação dos títulosiestabele-cem o direitodas liúagens "proprietárias"ao seu controlo.outros malun-da, ligadosao mesmo títuIo,podem relatar acontecimentos que se acredi-ta justificaremas suas reflações formaiscom outras posiçães políticas.Podem também referir-seà origem de insígniasde autoridade associadasao útulo,esclarecer os sens poderes mágicos,ou explicaras prescriçõesrituaisque atingem os detentóres do útuú. Episódios narrativos anexadosàs genealogias de liúagem quasq,sempÍe justificama cisão de uma nova

Ver VictorTtrmer(1967) para uma anárise de sistemas simbólicos, de idêntica complexidade, dosNdembu do noroesteda ãmbia.pongordg com a analogia.a-presentada por Vansina (l9z1b),p.455, onde ele arsumenta que asImPlcaçoes altamente simbólicas das versões dos textos escolarcs convencionais aáericanos'sobre

3.hi9tó.da- {oMavflowernão destoem o seu conreúdo histórico;o simboüsmo "pd;;i;f*ç""_'jÍ:.1._Y-":-ry"_,9pjljõ"'mais cépticas, ver Beideknã-lúzoiJ-úiã'ti-üãcifr"|ìrïzol,qu$:19,1destes dois últimos, segundo me par€ce, exigem que a "históha"atinia unierau deprooaDrlroademars elevado acerca.do passado.(próximo de umã virtualcerteza) do lue muítos doshistoriadores modernos considerariarn necessáriì.o tÍabalho de campo relativamente limitadono qual se baseia o presente estudo. não me permiúuestudar de modo sistemático o importante rema do simbolis.oúuuìàu.À*ãirlã" ïLiiii*a.históricoda dimensão artística àos matunda p"r'onilì;;;;;'ilffiã;, ïË"#La"importância potencial, e daí eu qualificarde "men'os obuiamenrc; r,-iitã'ri""'ü.1i"ìiãã ã.?:;"-tos artísticos dos malunda.

P1t^|:::11*-Ílï-t)91d9gngo.ntrar-se a tentativa mais sofisricada que eu conheço para elaboraro conteúdo histórÍco de materiais similares.

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63

AMEToDoLoGIA 25

linhagem a pârtirdo grupo de filiaçãodo qual descende, traça a rota segui-da pelos membros da liúagem "sobrinha"para chegarem até ao seu laractual, e relatam as condições sob as quais o grupo recebeu os direitosdeocupação das suas terras actuais.6' Outros malundaesclarecem as relaçõesda linhagemcom os seus vizinhos,defendem a sua reivindicaçãodo con-trolode títulospotíticose assim sucessivamente. A importânciafuncionalóbviados episódios narrativos na legitimaçãodos direitosda linhagemoudo títulonão obsta a que seja um facto que a maioria,senão todas, das

actuais relações se baseiam em precedentes históricos,os quais podem -com cuidado- ser identificadosatravés da análise dos malunda. O pre-sente, como dizemos Imbangala,é como os ossos de um antepassado, epode considerar-se apropriadaa analogia entre a reconstruçãohistóricabaseada nos episódios narraúvos Imbangalae as técnicas de reconstruçãofisiológicados paleozoólogos.

É importante reconhecer que cada episódionarativopode ser narra-do em total independência de todos os outros. Todos os malunda devida-mente representados têm o seu próprioe completoenÍedo, um começo e

um final,e não dependem dos ouffos episódios parafazer sentido nem paraa sua integridade artística. Porém, o historiadortradicionalImbangalapode recitar sucessivamente qualquer númerode malunda relativoa um

dado títuloe, se ele for competente, pode conseguir tecer conjuntamenteos enredos, temas e jogos de imagens que ffanscendem cada um do episó-dios e ligar os distintoselementos da sua representação numa composiçãohistóricae estética integrada, muitomais longa. Mas o historiadorociden-tal cometeriaum erro se confundissea üama do enredo, construída p'orquern está a representar, com a prova de uma evolução históricacoerente,desdobrando-se através da sequência completados episódios narrativos.Os malunda seleccionados para qualquer representação, em parte depen-dem mais do contexto em que esta decorre do que da lógica dos aconteci-mentos históricos,e não é provável que duas representações incluamomesmo conjuntode episódios narrativos'Daqui se segue que estas repre-sentações mais extensas não estão sujeitas à análise, a qual depende, de

qualquer modo, da ligaçãodas implicaçõesde um lunda às de um outro,em algum sentido directo;pelo connário,o conteúdo históricode cadaepisóúo deve provirda suã próprialógica interna, É evidente que nãopode haver qualquer cronologia,ainda que relativa,baseada na ordem emque os episódios podem ser contados. Por outrolado, é muitas vezes pos-

6t A estruturâ destas tradições assemelha-se à das tradições de linhagemanalisadas -.e._rejeitâdascomo história - por Mcóaffey(1910), passim mas espècialnrente pp. l8_e_.segs-Aestabilidade dasgenealogias de linhagem dos Mbundu é a maior coerência das linhagens Mbundu.tornam os.mlun'"dalmbíngalamenoíestereotipadose dão-lhes um valorconsideravelmente maior, como história,do que asïadições Kongo deicntas por McGaffey.

26 INTRODUçÃO AMETODOLOGIA 27

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sível encontrar indicaçõesindirectasdas sequências históricasdos acon-tecimentos descritos nos episódios. Se, por exemplo, os malundaespecifi-cam as fases de um movimentofísicode uma zona geográfica para outa,colocandoos episódios ao longo de uma linha recta ligandoor doi, pon-tos, podem aproximar-se bastante da ordem pela qual os verdadeiros acon-tecimentos ocorreram.

A interpretaçãodos malunda históricosdos Imbangala exige,obviamente, queo historiadoruse todas as fontes externas dispãníveis queo possam ajudar a distinguiros factos da ficção.Tais fontes incluempalavras, em especial nomes própriose topónimos, termos para os símbo-los de autoridade relacionados com os títulose linhagens dãs genealogias,e outros termos técnicosque podem indicarprocessos históricosdedifusãoou movimentospopulacionaisatravés de barreiras linguísticasoudialectais conhecidas.A análise de testemunhos etnográficoi,especial-mente símbolosde autoridade ou práücas esfreitamente associadas a dis-tintos gruposde pessoas, pode fornecerum apoio semelhante. uma vezque qualquerdestes tipos de testemunhos pertence ao presente e, muitasvezes, é difícilde comprovar directamenteno passade (exceptocom arecolha arqueológicade objectos materiais),a sua aplicaçao ã tradiçoesque se referem aos séculos dezasseis ou dezassete impõe a obrigação dedeterminarse as fronteiraslinguísticasnão se moveram enüretanto, ou se

os sistemas sociais e de crepgas não se modificaramsignificativamente.*A regra habitualde que "a ausência de provas de mudança autoriza o his-toriadora presumira estabilidadedo passado" parece cada vez menosaceitável à luz do acumular de provas, para o qual os Mbunducontribuem,de que impoÍarìtesalterações podem oconer, e de factoocorïem,mesmonaqueles aspectos da vida africana queem tempos se pensava serem maisresistentes à mudança. Eu tentei que a minha análise se apoiasse nessaestabilidadeda estrutura social e da língua apenas quando havia provasque indicavamcategoricaÍnente a probabilidadede não ter havidonenhu-ma mudança significativa.

Nestas circunstâncias, as fontes documentais tornam-se complemen-tos cruciaisp$a o uso das fontes não escritas focadas nos parágrafosprecedentes. É o factode dispormosde suficientematerial"."rito,i.u uAngolados séculos dezasseis e dezassete, que possibilita,na análise final,a tentativa de reconstruira história políticaMbundunesse período. Já jus-tifiqueia utilizaçãodos musendo e malundnImbangala com o fundamen-to de que os materiais documentais antigos confirmam,quer a ausência demudanças significativasno seu conteúdo ao longo de três séculos, ou aindamais, quer a estreita correspondência entre as tradições e os acontecimen-

tos descritos poÍ testemuúas oculares. Fiz depender o uso de provaS otnO'gráficas e linguísticasda possibilidadede determinar,em grande-modldrãnavés de métodos documentais, que se mantém a necessária condiçãO dC

estabilidade. Os registos escritos, para o caso dos Mbundu,são relativa'mente abundantes e acessíveis, devidoàs actividades que nos séCUlOg

dezasseis e dezassete, naquela região, foram levadas a cabo pelo goVOrnO

português, pelas companhias comerciaisholandesas e pelos missionÍlriogã" nárior países europeus (principalmenteitalianos).ÓAfoúrnadamontcpÍtra o moderno coúecimentoda história Mbundu,alguns dessss

È*op"urtiveremum inüeresse activopelas coisas africanas e Oscreveramrelatos dando conta das suas impressões sobre as tradiçõesMbundutalcomo elas existiam no século dezássete. É importantesalientar'a distinçãoentre as históriasMbundu, tal como eÍam ent?lo contadas, e a percepçãoque os Europeus do sec. xvIIúnham delas, pois poucos desses escritorescompreendiam muitodo que ouviam.A comparação dos registos escritoscom os modernos testemunhosorais e os dados etnográficos mosüa que ag

fontes documentais estão apenas ligeiramentemeÌos revestidas pela per-sonalidadedos seus autores do que os malunda estão revestidos pela habi-lidadeartísticade cada historiadornadicionalMbundu.Os documentossão também comparáveis às tradições orais no factode fornecerem umavisão da realidade do sec. XVtrquase tão selectiva como a das genealo-gias.ToMuitasvezes, as fontes escritas e não escritas sobrepõem-se o sufi'ãi"ntp*uestabelecer uma base de complementaridadepara a crÍticamútua, mas tamMmtratam, com bastante frequência,de facetas comple'tamente diferentesdos acontecimentos, permitindofazer luz sobre umagama relativamenteampla de aspectos da históriapolíticaMbundu.PorãXemplo,é tÍpicodos documentos descreverem batalhas con6a os porta-dores de títulosMbundu,ítulos cujas origens e significadoem termosafricanos podem ser deduzidos das tradições.

Esteìsboço das formas e características das fontes para os primór-dios da históriapolíticaMbundufornece o pano de fundo necessário parauma apresentação explícitada metodologiaque está por detrás da recons-truçao históri"àqoe se segue.,As principaisdificuldadestécnicas depen-dem de encóntrar uma fundamentação lógicapara

(a) projectar no tempo, três séculos para trás, factos observados nos

séculos dezanove e vinte (listas de palavras, dados etnográficos,mas também tradições orais)

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Para além de Cav azzi (1965\,o relato de Antóniode OliveiraCadome ga (1940-42)foP*,ilto',*"aã-ïufior".In Aìtónio'Brásio(1952-71) estãopublicadog--qua_s9_t_odos os documentosl,.ilrt*iáãrËiJt"it*iot unot antes dè 1600 e muitos de entre 1600 e 1655'Cf. G.I. Jones (1963),p' 391, que afirmaque os documentos europeus paÍa

" I9.q1"-9:^P-:Yd"úin"ì;ooOirnòr unr "àtá"t",

rirais lendáriô do que os dos Africanose estar sujeito.s-precisamenteaoi;"fi;õ"ttó, í" ló.ft"tsãoe à mesmâ dependência do 'tempo estrutual"" DanielF. McCall(1964) e Vansina (1968 e 1970)são introduções úreis.

)) 28 TNTRoDUÇÃo

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(b) projectarno espaço, para leste, os testemunhos documentais doséculo dezassete que se referem, fundamentalmente, às partesmais ocidentais,da região Mbundu,e(c) fazer generalizações para toda a área Mbundua partir de dadosde campo recblhidosprincipalmenteentÍe òs Imbangala,subgrupo dos Mbundu.

. Reconhecendo que toda a história é uma questiío de probabiüdadesmais do que de ceÍteza\ e tendo consciênciaà" qo"* ;;rú;úiil;;;(;a uç r{uE4s Pluoaoulgaqes \. i-..neste caso podem não se aproximardo nível que é iossív"iul"*ç*o;; ,

t"'9oqo_r tempos e lugares, as caracterísücas dos-dados disponíveis;*"i".{*-;

29 PERSPECTIVA

tempo numa única região, relativamentepequena, e mosEa os seus con-tactos políticoscom áreas vizinhas, comvista a avaliar como as influên-cias externas afectaram e, por sua vez, foÍamafectadas por um processo

justificarque se tracem conclusões acerca da históriainstituciáúaosMbundu,uma vez que(a) os pritrcipai'risemas dos Mbútu,a úvel social, poríticoê .T . msj.u'rg 99.t s=9-l 9999:ïry+3e.Pg'=E=Ë+4"

" ÁE"*ia'.q*vu,ims.r.Eceó8)6tui,r.,€kia'...Ínpdaçio,,.pp.,0ôs.:ffii*1ilêffiffi;1$#'i'T$tr#trJ:A:"if5il"',f.'ffih".'ff

hintelectual,cobrem toda a região; - f:o) tal como todas as estruturas deste tipo,eles estÍlofortementei {integrados uns nos outros, de forma que o conhecimentodaexisiênciade um aspecto da culturanum local nos permite .i to

iacqFnrandooutlos aepertDr <ta bisrúia rios tvíbúã;"-o;o;;ï; ,, {t" ' $o's-ti^çao de uÌna.poprrlaçãopÍeexir"1"99 loyo:-"gga4çs_,de indivÍduose coisas do gc""-,q""r,a,oI. [rr*i;;ffiï.ï: t t'I"r./.õ@EõaGF-4trÀ-ãõiiíì6nõèõõ-unros?fiõ6õioJdaunidadedealpcctoratavés dâs font"i*ú"i,"i".- "'*"r"

. {J, ,'"

inferirmuitosobre outros aspectos correlacionado,O"rrutì.,*culturanoutros locais, e(c) é lógicoesperar que mudanças numa parte da culturainduzam I e dezassete-mudanças

noutras partes da mesma. I Ostestemunhos

arespeito dos MbundumostrÍìmuma história

Fcúla o' sê uoa inrtituiçaoeìoooior"o. ago-poÍEênorpúa o sécu- | insllucromlgues'e *"f:*ì qg:- "dryão de plitrcípiosde orgaaizâção

9P*. 9o o.r*Fo.vinre,e p6Íres deta sõ;fu, j#;ffi;: I p"lídq,e úo de, "E tâdos".,Estespriddpiorye*_*1-*9"P:

l(,3.doqrEeDtosdo éculo dezisréto, o histoÍiâdüpodc ;.;*ft ; s; I t"hüa das geryalggiqtqge lqscÍeJe4 4s l€lacõ€.s gtrFe tíqdgg:reles

1g::T:Slgi"snuôlf.€xistissemuEoÈdd;;;p",á;rl ...,plg\"-:ryItp*j9 ï. 0.ïSi+iery..fg "^-qEn"Eoão,'r-pu;ã-oì'Ë;t"ïffiffiJ:Ë##, {h."gl@4"-.-;"d":"b*.;' l't-@0",*.---3;-llsllii*iDsdrdçõcsôrd"*;Ã;"""fi;;;ffi;,ffi,lr ï',1, yularïcuç* 'a:&-gia:i@er" -

\, 4t 1-, ' a, nõva inÍgniade autorid3lqìqg8la que ela se dift.nde.o prircipÂl* Apenpcctiva , 'af , -, pro-lema histórico envolvea consEução de uúa sequêrcia em qÌre se

. Urna er.pos4ão iniciâlsobr€ â perspectiva sdopbda neste.".*,f, rïÌ,.),")possaconfiar..pâra a rnultiplicidade desímbolos de autoÍidade actual-podê om Ío leu raciochioÍnâis facilmentecomFertrsível.Eu esoua . ."VJi ,. ;-f*. o*,srâ{iLod.mss. hlbibr.tmDEeiÈ como um po turrdo p.n ú priEiÌivsÍú-Eútú.ssüniÍo ponto dc üstr dc um obs€rvadorexr-".r"*a.-".i"."_. "\ i,.' Ë;G**ìã;õï-i:ïËõ.#Ëpï,iË.il*"r"a"q"i"**rmú.o,tÊ@.

do.algurÊspóxiúodo centro do renitírioMbunú.il;;d;;ï. ,"'"'1. ,. g#"ïl'ffi':ïffi,tf"*:iiJtH;ffi.ffif:ffiïitrffi,'H.l*,,"^11"]1t"-"ï.ffi::queocorreseminnu&rci;;*;;ì;íffi;

.q t .#Shmf:f$IHffifïJï'iHCïH#Jf;SËïffi*oeiodopovoqueviveaÍpio-i.".,p"'ì"*-ü..ïoiï,fi""1ij.ïlll- .' ; â,o;ff;ffi.liffL**ffi""ÍH"ï,ïïilÏi,:Lïilïi-*J:f"?"tr"tr;de arud.úçás estimuladâs por contados entÍEos Mbu"a"".r*.p."".,,'{,.'",., ;ãi#H"ffiil';ãïúS*"#"m.*tï:ff":ff"'lïï""ffif-ï.ff;ï.:Ëffi:ü€ vivernà sua volI".o estudo descÍ€ve. pois. as."ú"d;;;;À;;/ Ii,, ' ffi*ffitfg*mif1X-._*l*ïWti:.#*tìjUffiUffi

basicamente contínuode evoluçãohistórica tocal.Wda, portanto, a abordagem que segue conquistadores migrantesatravés da

Mbundudo século dezasseis, e que esta

conta movimentos menoresde indivíduos(não grupos) em todas as épocas e lugares.

30iI IÌ'[TRODUÇÃO

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muúos etnográfi cos tenta evitar " sobrevivênciasi.limutáveis,preferindoìËtençOêS",tràí qüaüípoàeú-tèt passado por modificações consideriíveis'ïo -decõnèì õõS -íéc-ü19s, EE_te slng- â 9y_lq$*_9q+_çmp9lâIg1*gg-s"_,

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*M'5ünfrjïilit?xJë-õêi-.iïoãïõrno u-- acü;ltdo-de símboiõi;lata"ras,-"raãÏçoes,'-i"nstïtuìfreí"-piátìõasÌndepënôerÌtea_ G_m-Uotïìpqãgaçhp1,. -vindo s de diferente s tenilios .rio paó SafõT .{(_qlgg9 -C-oSqre.gl9$-S -e_ óqrugn:v"qg-l-q:gse-",qil-{grïL$i{e*Tgljs-Jese.pj*ee-0-e--_grnq_gUltug lu:4 l_ç9"-eJ9Jgç4-o_,_g |i-'-tqradçr_podqsu_g-q11"H9Í q:"qq

.quq expliça1n gomg e- porquê as pessoas o9 g$o4qg3 E r. lq {pyç.,spr .

aceite como h etapa inicialda históriapolíúca dos Mbundu.

IÌ [TRODUÇÃO

mente presentes entre os Mbundu, comprovaüvosda sua históriapolíticaaltamente complexa.Os processos de difusão são manejados como itemsseparados movendo-se numa área limitadae, assim, evitam-seas pioresciladas da escola da Kulturkreise comas suas difusões de "complexos"detraços culturaispor todo o mundo._A minha forma demanej_qq oç. tES ,:,

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7r Um termo que me foisugerido por Jan Vansina em conversa pessoal.

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ciadiããftftqpqts"=entssp-"ee-ry4*--ssdtrFó-ç911"so-í|iki,aÍaâ-***'< F I r- -,-- ^a:-- õ -1:í:3:'i:-cffi tln3çã"".d4,Ë*go-iffS"gqrSóiiõÌleïi<isí4òõfrpõíderplenamente os primórdiosda históriapolítica.dos Mbunduse

tivermosem conta o seu cenário geográfico- montaúas, rios, recursos

CAPÍTI.JLOIIO Ceniário

económicos, produção agrícola e clima- e também todo o pano de fundosocial e intelectualda sua cultura.Uma vez que os aspectos da geogfafiafísica do tenitóriodos Mbundupouco mudaramdo século dezasseis dtéhoje, não há problemas técnicosque ensombrem a exposição que se segue'sobre ai principais influênciasecológicas na históriapolíticados Mbundu.A geografia humana dos Mbundudo século dezasseis não nos dá tantascertezas, não apenas porque desde então se alteraram as fronteiras dosprincipaissubgrupos etnolinguísticosMbundu,mas também porque nem

i"qo"ras distinções étricas modernas dentro da região Mbundusão bemconhecidas. Bastante mais spgura, devidoà documentação já analisada noCapítuloI, é a passagem em revista de determinados aspectos d1 antigaestrutura social Mbundu,com a qual se concluio pr€sente Capítúo, com-pletando assim a revisão dos materiais que formamo pano de fundonecessário para avaliaros mais antigos estados M-bunducoúecidos.

O rneioflsicoOs contornosgerais da geografia angolana estão em conformidade

com o padrão geral da metade sul do continente africano,comparada pelosgeógfafos a um grande pires invertido:no oeste, uma faixabaixa e estrei-

ta de terras arenosassepaÍa

oAtlânticode fileirasde colinas,que se

erguem em terraços em direcção a um planalto interior,a leste. Este padrãobáiico do relevo é menos marcado no norte junto da embocadura do riocongo (ou Zaire), onde as elevações do interiorsão mais baixas, rnasto-ã-r"muito bem marcado para sul onde os planaltos atingemaltitudesque excedem bem os 1 800 metros, erguendo-se por vezes abruptamenteaìima das planícies costeiras. Numerosos rios correm geralmente de lestepara oeste, inigandoas encostas das montanhas em leitos rochosos e

pou"o fundos que não se alargam para dimensões navegáveis até se

ãproximarem muitoda costa. Mesmoos maiores rios - o Congo, o Kwan-za e o Kunene - permitem à navegação oceânica penetrar apenas

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32 OCENÁRIo

160 quilómetrosou ainda menos e, no interior,todos excepto o congo têmapenas pequenos troços de águas sem obstáculos. os riosào interiornortet1:ndema correr para leste le norte em direcção aos principaisafluentes doCongo, enquanto que os do sul alimentamos sistãmas

^triarolrafrcosOocurso superior do Kwanza,do Kubango-okavangoe do zantóeze. o rioKwangoé o principalaflupnte do Congo no territórioMbundu.A chuva decresce de norte para sul; üai desde chuvas geralmente

regulares, embora sazonais, juntô do rio congo, uc utingirïonoiç0".próprias do deserto à medida que nos aproxirhamosdo báxo Kunene.Também diminuide leste fara oeste, de acordo com o sisüema pr"ua"."n-te de ventos de leste. A mâioriadas precipitações no interiorvem de lestedurante os mbses querites, que vão de setembro a Abrilno noÍe, mas comum perÍodode chuvas acerituadamentemenor parasul. Toda a baixa faixacosteira é significativ*-"1çmais seca do que as terras altas, uma vez queos' ventos dominantesdo litoralempuÍramo ar frioda corrente friadeBenguela,vinda do sul dâ África,para bem longe, quase até à foz docongo, a norte. Este ar aqirece e secã à medidaq.i"pu.ru sobre a i",,u"ão deixa cair quase nenhuma precipitação,excepto quando encostas demontanhas viradas aos ventos forçam estes ventos a subir. uma estaçãqseca, geralmente sem nuvens e agradável nos 'planaltos do interior,contfasta com um invernofrio,húmidoe enevoado (mas sem chuva)coúecido por cacimboao longo da maiorparte da costa.r

A disnibuiçãodemográfica dos Mbunduno século dezasseis corres_po.ndia, em traços largos, à hidrografiada parte noroeste de Angola.As fron-teiras etnolinguísticast:ndiam a acompanha, os principais

"u.ro,de água; aexcepção era a parte ocidental,onde as montanhas a leìte da ilhade Luandaforneciamuma fronteiranatural que separava os Mbundu,nas terras allas,dos Kongosituados nas terras baiias, oistinturdo ponto de vista geogriáficoe meteorológico.2Por ouftolado, os Mbunduestavam de um modõ geralconfinados à região banhada pelo rio Kwanza. o afluente mais importanteda margem norte do Kwanza,o Lukala,corre por

um planalto que vaisubindo, de elevações na ordem dos 900 metos, na sua faixa ocidental aolongo do curso médio do rio, até mais de I 200 mefros na zonaqu"

"ru,"-969, a parte orientâldo distritode Malanje.As fronteirasnorte dosMbundu,que os dividemdos Kongo,acompanham azonamontaúosa que9o.9"jueste planalto juntoàs nascentes aoi rios Nzenza re"ngo)ì-óano.(a ârea coúecida mais tarde por "Dembos"),até ao seu curi"luntoda,modernas cidades pornìguesas de Carmona [Uíje]e Negage.

I Veja F. Mouta e H' o'Donner (r933),D. s. whittlesley(rgz4),eDomingosH. c. Gouveia (t956).' i:lt,:9Tiq",timpressão generarizada, mas evidentemente errónea, de que os rerritórios dos Mbun-u se esrendiam até ao oceano; ver Joseph Uiller( t 97ãb) i o, oUlervifo".qu; ;;;;;"Ë.

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Os afluentes da margem sul do Kwanza,vindosdo chamado planal-to dos ovimbundu,ou planaltode Benguela, corïem aEavés de tenitóriohabitado pelos Mbundu, pelomenos até ao rioLonga, a sul, o primeirorioimportanteao sul do Kwanza.As populações do planaltoquè viviamnaregião a sul e sudoeste, onde as águas se dividem,foram mais tardeconhecidas por Ovimbundu3e diferizÌmum pouco mais dos Mbundu,pelalíngua e cultura,do que os Kongo.os habitantes das terras baixas da faixalitoralimediatamentea sul do Kwanza- chamados Kisamaaté ao baixoLonga,Sumbe entre o Longa e o Kuvo,e Seles, Mundombe

etc. mais parasul - parecem ter tidomais em comum com os Ovimbundudo que com osseus vizinhosdo norte, Kongoou Mbundu.Os ocupantes do chamadoplanaltode Luanda, a área irrigadapelos rios Kwijee Luhando, a leste docurso superior do Kwanza,tarnbêm pertencemaos Mbundu;neúUmafronteiradefinidademarcava o seu limitesudeste e os Mbundudo sudristediluíam-segradualmente nos Cokwee Ngangela.

A principalexcepção a um meiode tenas altas, no geral, ocupadopelos Mbundu,ocorriano longínquonordeste; aí, populações comparti-lhando as mesmas características etnolinguísticasviviamna ampla baciaformada pelos rios Kambo,Luie Kwango,de altitude relativamentebaixa(365 a 600 metros). Uma escarpa quase vertical,variando em altura desdealgumas dezenas

de metros até 600 metros, corre no sentido sudoeste desdeas nascentes do Kwaleaté para lá do Kwangoe separa estas terras baixas,conhecidas em tempos mais recentes como Baixade Cassanje, das ele-vações muitomais altas imediatamente a oeste. os Mbunduda região norteda Baixade Cassanje parecem ter-se fundidogradualmente nos Kongo,enquanto que os das margens do Kwango tenderam a assemelhar-se aosCokwe/Lwenae Lunda que habitavamas altas savanas que se estendempara leste deste riopor cerca de 1 600 quilómetros.Excluindoesses daBaixade Cassanje, os Mbundugeralmente viviamapenas nas elevaçõesmais alta.s dos planaltos que circundavamo Kwanza, a leste das montanhasque separam a sua bacia interiordas terras baixas do litoral.

O padrão de vegetação dominante dos planaltos dos Mbunduconsiste

em savana aberta intercalada ocasionalmentecom savana arborizada,actualmente reduzida a umas poucas áreas mas provavelmentemais exten-sas no século dezasseis, antes de muitas árvores terem sido destruídas, emépocas mais recentes, com o incremento das caçadas com queimada.outras excepções ao predomíniode savanas incluemas florestas húmidasque cobrem as montanhas ao longodo limiteoeste do planaltode Luanda,algumas manchas de florestas-galeria(mixito,singularmuxito)ao longo

' Para efeitos deste estudo, os Mbundusão o povo de forma genóricaaqui examinado, e falam a lín-gua Kimbundu.Os Ovimbundu vivemno planalto de Beng-uela e falama língua Umbundu,

do curso inferiordos maiores rios, e manchas de floresta na escarpa daBaixa de Cassanje a. Geralmente, o crescimento de vegetação mais densaé impedidopelas quantidades moderadas de chuva,variandoentre 90centímefiospor ano, no oeste, e 137 cenímetros por ano junto ao rioKwango.As chuvas caem segundo um padrão sazonal extremamentedesigual- ligeirase irregularesde Setembro ou Outubroa Dezembro,depois um período seco altamente variável,ao qual se seguem as maioresprecipitações,em Fevereiroe Março- e' por consequência, as chuvas

iinfru*uma importanteinfluênciana actividadeeconómica das pessoas.sEmborapouca pesquisa tenha incididosobre as técnicas agrícolas dos

Mbundudo século dezasseis, é evidenteque a maioriada população se

dedicava à agriódturae é provávelque produzisse, principalmente,variedades de painço e sorgo. Na ausência de uma culturabásica resistente

tiraro máximofifiõientespaÍadúãeãáolotggsgg eLl9991-{e$g-o-e**Lq*9fg'ffiúos não chove (embora uma ou duas üo-urante os ggqlq]qa*lll*-__* ,--:.-_----_---*-_.*j-*,-i-

-"'"'.*.**fiiialmente a estação sec"a),-9.3p lo,ngo daprime-iraoarte da estacão que se segue, fase do crescimento das plantas. Os Mbun-ãrr"mflëaa;A;mesi; Adfi;as-i.açõìi . vesëtsi i--e frutossëlvagsïq, -

tanâõ êipecia ïAõiài plantas encontradas nas florestas muxitoao longo

John Gossweiler (1939): E. K. AiryXaw (1947\ fez um resumo de Gossweiler em inglês.Angola,Serúços úeteorológicos [eSS; inctoimapas.mostr.ando padrões recentes das quedas plu-uioinéri"urr ietttp"raturas i'a regào; eótudos paláclimatológicos não existem.Os Mbunduda m*"".oort"do kwanza dependem hoje da mandioca como produto.agícola bási-C".ïã.,úïirìfr"ãJ". Oiiõã"a"*de planos (sobretudo manihot uüliisima)imponadas doBrasilno sec. XVILJosé Redinha (19ó8)'pp. 96-7'Mesmocom a mandioca, as técnicas de cultivoainda se baseiam numa estratégia demáxima uti-tii"cãoaa nu.iaadé do solo; ver relatórios no arqúvo da Missão de Inquéritos Agícolasq" Aog9-i""inLuanaa. Testemuúo de Sousa Calunga, 27 Jú. 1969, para a região-da.Barxa de cassanJe.José Redinha (1958), p.228, confirmaque as_antigas aldeias em Angolase ÍoramconcenEanoo aolongodos vales dos rios desde tempos neolíticos.

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36 ocENÁRro suBDrvlsoEssrNouNcuÍsrlcAsNo sÉcut-oDEZASSEIS37

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algumas lagoas acessíveic. Não há ruzão paranão afirmarque a maioriados.Mbunducriava galinhas, cabritose talvez algumas on"rhur;o gadobovino,provavelmente, eia criado apenas naimaiútaselevações a sul doKwanza,uma vez que a inosca tsé-tsé tornava a criação de gado poucosegura nas outras zonas.

os Mbundutinhamuma formade tecnologiaprópriada Idade doFerro, baseada principalmenteno abastecimento localde minériode feno.Depósitos de minérioachavam-se quer a norte do Kwanza,no vale do rioNzongeji,quer a sul do rionas montanhas que subiam para o planaltodeBenguela-Algumferrodeve ter chegado aos Mbunduorientais ã partirdoscokwe/Lwenaa leste do Kwango,se os Mbundumeridionaissem dúvidatiúamacesso aos fornecimentosde ferro existentes no territóriodosovimbundu,próximodo Anduloe da moderna vilade Teixeirada Silva[Bailundo].'osal, cuja importânciapaÍa as sociedades africanas da Idadedo Ferro apenas paÍece ter sido superada pela do próprioferro,rovinha querdo mar quer das salinas de terrenos pantanosos

"spalhadaspelo interior.

uma das fontes de sal mariúo, as lagoas do cacuaco imediatamente anordeste da Ilha de Luanda, estava bem desenvolvida no século dezasseis,mas incluía-se na área de suserania do Kongoe as provas disponÍveis nãopermitem saber se a sua produção ia para norte, para o Kongo, ou paÍaleste subindoo Bengo/Ì.{zenza,prÍa os Mbundu.ro mais prõávelera oabastecimento de sal dos Mbundu virdo sul do Kwanza,na Kisama;osprimeirosPortugueses que por ali viajaramrelataram que os Mbunducomerciavameste sal através de uma grande extensão do interior. 2o salvinha também de pântanos localizadosalgures mais a leste no Libolo,eainda nos finais do século dezoitoos Mbunduusavam este sal como meiode troca nas duas mÍìrgensdo Kwanza.ÉA Baixade cassanje incluíadoisimportantescentros de produçãode sal. o Lutoa, um afluentedo médioLui,forneciasal para muitos dos Mbunduorientaise para oscokwe/Lwenaa sudeste; o rioKihongrva,um afluentedo Luhanda,ali-

Testemuúo de Mwa Ndonje.Pró,ximoda nascente

do rio Kuvo-(amoderna vila de Teixeira da silva [que rccuperou o nome ofi-cial.de Bailundoapós a independência do país _ NTllããt"ììda docurso.up";ãiàõi{*ãiujunto ao Ànduro;oã,,iau. Ã";Ï#:flì:ïfifffiï:iiìtsËï.300.P.i.*vt. Fagan(1969) sublinhaa pÍ€coc€ importânciado sal e do feno na Rodésia. À luz dosdados apresenrados nos capítulos sübsequentej àã pre-sente estuao, pu,õ; jüü;;;;;ü;*t"hipótese aos Mbundu.o aparecimento de uma rota comerciar srrbindo. o rio Bengo, baseada na exportação de escravosffi3lnft?lï,lnffïÍ"'Â""i:'Jlïiïï,Hï:"5ili"f,i,*'i,ï',"r1íìï;'ïãË"ïïËiïa'AntónioMendes oara o padre Ger-al, 9_de Maio_de 1563 (B.N.R.:tj,1-5, i, 38); nrá.io (rg5z-il),^tr;l?lllZ*tiTM,ser. z, >dm,nãs.Ì?ft0'(úò;,^ì4-27.Ant6nioLeite de Maealhães(rvzí+r'mapa e p')' deu a locarização exacta como póximode Ndemba, cerca de 40 km

" ,íaã"s.da Muxim4 poiestrada.R. J. da Cunha Manos (1963), p. 312.

mentava extensos pântanos salgados ao longo doseu curso inferiore, noséculo dezasseis, os residentes daquela área exportavam asua produçãopara os Mbundu setentrionais e mesmo para os Kongoorientais.raEstasfontes de sal e de ferro provavelmenteformavamos núcleos de um con-juntocomplexode redes de comércioregionalque regularmente punhamos Mbunduem contacto unscom os oufros, e também com os seus vizin-hos. Certamente, pelo século dezassete, chegavam até aos Mbunduo cobredo Katanga e o tecido de rrífiadas regiões de floresta, a norte, e não há

razão par:a duvidarque outros contactos económicos, cobrindouma largaárea, se tenham desenvolvidomuitoantes da chegada dos comercianteseuropeus ao litoral.'s

Subdivisõesetnolinguísticasno século dezasseisOs contornos dos subgrupos etnolinguísticosMbundudo século

dezasseis são ainda menos visíveis doque a natureza das antigas acti-vidades comerciaisno vale do Kwanza.A apreciação de Murdock,feitanos finaisda década de 50, de que os Mbundu se encontravam"entre os[povos]menos adequadamente descritos em todo o continenteafricano"r'mantém-se verdadeira hoje, no que respeita às actuais caraçterísticas dopovo, mas aplica-se com especial ênfase igualmente aosséculos mais

recuados, uma vez que os estreitos contactosde alguns Mbunducomobservadores letrados desde antes de 1600 não conseguiram, de um modogeral, produzir dados etnográficossignificativos.A despeito de esforçosintermitentes de etnógrafos amadores e profissionaisportugueses, duranteos últimostrês séculos,r'permanecem a um nívellamentavelmente baixo,quer os estudos linguísticossobre a sua língua,o Kimbundu,quer apesqúsa sobre a cultura materialdos Mbundue a informaçãosobre as suasinstituiçõessociais e políticas.Em consequência disso, nem as fronteirasexternas dos Mbundu nemas variações dentro da fuea Mbundu são bemconhecidas. O meu trabalhode campo clarificoualguns aspectos daetnografiados Mbundu,especial.mente do povo que vivena parte sul daBaixa de Cassanje, e sugeriu a necessidade de grandes revisões na atitudeconvencional emrelação a muitosdos restantes aspectos.

A maioriados esquemas de classificaçãoetnográfica limitam-seadistinguirtodo o conjuntode povos Mbundu dasigualmente grandes

r' Miller(1973a) fornece provas desta rota comercial.ú No geral, veja David Birmingham(1970) e Jan Vansina (1962c).ú Murdock(1959), p. 292.'? Os primeirosdados etnográficos registados sobre os MbunduapaÍ€cem na correspondência dos

MissionáriosJesuítas que forampara Angolana década de 1560; ver Gastão Sousa Dias (1934).As descrições etnográficas modernas ainda se apoiam basicamente em compilações feitas no sécu-lo dezanove, comoJosé Joaquim Lopes de Lima(1846)e na de José de Oliveira.FerreiraDiniz(1918).

38 ocENÁRro

t g i d K i d ksusur'rsÕEs BrNornrcúsrrcAsr{osÉcut.o DEzAssHs gg

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categorias dos Kongorionorte, dos cokwe/Lwenano leste, e váriosgupos de ovimbundua sul. Estas distinçõesassentam basicamentp emdiferengas linguísticas,ufna vez queos ringuistastêm podidoidentificaroKikongo,o Kicokwee o umbundu como línguas diferenciadasdoKimbundu,embora o Kimbundue o KikongopaÍeçaÍn estar mais esüeita-mente relacionadosdo que qualquer das óutrasJí Línguas que revelamcaracterísticas quer do Kikongoquer do Kimbundu(como as dos Hungu,Ndembu e soso) apagani a hipotética.liúadivisóriaentre estes dois gru-pos.re Da mesma forma,ôs dialectos Kimbunduque apresentam uma simi-lar natureza de transição (Xinjee Minungo)podem còuú o fosso enfe osMbunduorientais e os seus viziúoscokwe/Lwena.auma ausência quasetotalde informaçãoconcreta sobre os dialectos KimbundufaJados a sul doKwanza obscurece a natüteza, da fronteiraringuísticanessa zona, mas háalgumas indicações de que ela se situa próximodo rioLonga, uma vez quea varianüe de Kimbundufalada no Libolose torna ininteligívela sul dessaliúa.2rPortanto, de acordo com provas linguísticasmodÃas, os falantesde Kimbunduda zona ocidental vivem,sensivelmente,entre o rioLonga asul e o Bengo/Ì.[zenzaa norte; paraleste, os seus limitesvão aproximada-mente do rioLúando no sul, até ao curso inferiordo KarnLo,no norte.

Apenas a oeste estas fronteirasextemas parecem ter-se alüeradosignificativamentedesde o século dezasseis, estendendo-se a língua Ki-mbundu actualmente até ao oceano Atlântico,a sul do rio Bengo,pio*i.oda cidade de Luanda e também para a região da Kisama,p*uú do rioKwanza.nvários testemuúos sugerem que esta evolução é relativamenterecente, poisjuntoa Luanda viviamdurante o século dezasseis falantes deKikongo;a línguada região terá mudado a partirdo momento em que osEuropeus começÍuam a frazeÍ um grande número de escravos falanles deKimbundupara a planície costeira durante o século dezassete e seguintes.aAindanuma data tão recente como os finaisdo século dezoito os hãbitantes

'' Ma\omGuthrie(1967); o Kikongocorresponde à sua Zona H, Grupol; o KimbunduestánazonaH, Grupo 2. As línguas Umbunãu estão'naZona R, Grupo l: iokwenwina"rúì" Zonu f-.No seü mars rccente CompatativeBantu (1967-72\,n, Grithrierefere as suas incertezas sobre a

l:i:,:lt]:3 i._ï."-ad€prouparaos subgn:pos da tíngua Kimbundu.À luz dos meus dados, puae

JusurrcaÍ-se a sua precaução.ro Guy Atkins(1954, 1955).

,CS+ Ug*na comparação de léxicos básicos de- 200 palavras (D.H.Hymes ( 1960))dos Mbangala,Xinje,Minungo,Cokúe (ocidentais), Songo e Mborido.fj{o.9oúe99glalquerlista de palavras Kisama regisrada anües do século vinte;veja Mattenkjodr(.1944, pp. 106-7, para os anos 201. Um curtovocaËuláriode i2 patavras tincfúina,jã.rïiÀãoslí^1jl:..il,l.t': ãggonfcida. sobre as línguas do r.iqoro('r.iuoró,ìSãrrr,-N"""ii à'iìa",f:"F-1",tiy."lft1'Amboim,.Quibala,e Gango");Leite de Magalhães (1924), pp. 55-7 (reimpressoem Josó rubelro da Cruz (1940),pp. 166-?). para a fronteirilin-g-uísticaaóióirgo ao Àfiõ[ó"g",l:":_l:yg"{.LTt],y,226.eAitónioMiiandaMagalhães trszïp. ii R.-áfi"-;#;;pãh..as lontes em que baseou as suas conclusões.Ver José Redinha ( l96t).Miller(1972b).

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da Kisama falavamuma variante de.umbundu,aantes de epidemias dadoença do sono, no inícodo nosso século, tprem reduzidodrasticamentpapopulação originalda Kisama ã e, provavelmenüe,terem contibuídoparaa mudança lingústicaatravés do repovoamentopor populagõesque falamKimbundu.Emboragrandementeperturbadas por violentasmudançaspolíticasdurante o século dezassete, as fronteiras sul dos Mbundunão pare.cem üer-se deslocado.As mudanças no norte, causadas pela expansão parasul do reino do Kongo,parecem ter terminado no século dezasseis e,provavelmente,contribuírampaÍa a formação

degrupos que

actualmenüesão de transição, como os Ndembu e os Hungu.xMudanças de maioramplitudepaÍecem ter afectado as subdivisões

inüernas dos Mbundu:a sua tradição etiológica,a qual podemos deduzirquereflecte mais as divisõeshistóricas do que as divisões modernas no seio dogrupo,não corresponde bem à presente dlstribuiçãode dialectos eliúagens.27No geral, as diüsões no seio dos Mbundueram maiores do quesão hoje. Em termos lingústicos,por exemplo,dois dialectosde origemrecente, uÍn na zona orientale outrona região ocidental, incorporaramumcerto nrímerode palavras porfliguesas e tendem a substituir alguns dosdialectos mais antigos. centrada em Luanda, a variante ocidentalresultouda concentração, na cidade, dos Mbundue douEos africanosde todas aspartes

de Angola.Começaram a identificar-sea si próprioscomo "Akwa-luanda' ou "Ambundu"para se distinguirem,a eles e à sua língua, dos seuspaÍentes rurais.a o dialecto pan-Kimbunduda zona oriental,coúecido porAmbaquista, teve a sua origemno crescimento de uma comunidadeLuso--Mbundude comerciantes, junto ao presídio pornrguês de Ambaca, nomédio Lukala,durante os séculos dezassete e dezoito;o seu dialecto, cominfluênciasde Português, espalhou-se como línguacornercialatravés degrande.parte da ârea orientalMbundudurante ò século XIX.Ambos estesdialectosseryem agora como linguae francae Kimbundue em 1969-70tiúa começado a emergir um estilode vida pan-Mbundu,com uma com-ponenüe pseudo-portuguesa, como resultado das experiências compar-tilhadas nas cidades de Luanda e Malanje,do recrutamento obrigatóriode

jovens de cada canto da região Mbundupara as forças armadas, e dadifusãoda educação letrada. O sentimentode uma identidadecomum

Bernardo Mariade Cannecattim (1854), p.XV.Heintze. (1970), p..170. Birmingham(1966),p. 145, implicitamenüe conflrma.queesta mudançalinqú.sticaprovavelmente comelgy um tanto mais cedo,-uma vez que ele faz no'tar que u risúnse tiúa tornado um localde refúgio.Lar.9.-escravos (presumivelmerite falantes de Kiinbundu)quefugiamde Luanda nos Íinaisdo sec. XVII.Para oreino do_Kongg,sobre-o qual nãopretendo aqui debruçar-me, veja Vansina (1966a), pp. 3g-40. e Georges Balandier (1969), capítulo IAnalisado na miúa dissertação (não publicada)"Kingsand Kinsmen', (1972), capírulo ltr.o mais exaustivo estudo sociológico da população africana de Luanda é, de longe, Ramiro LadeiroMonteiro(1973).

(l1f(frt(l(lrl(t(l(l(t(l(lIt\l

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IDI 44 ocENÁRro ASPECTOS DAESTRUTURA SOCIALMBTJNDU 45

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Os rapazes, por outo lado, regressavam à aldeiado seu própriongundumúto mais cedo do que as suas irmãs. Também eles cresciam ente os

pSrentqs do sgF plima:, pouco depois da pübeiãade,ìenaiam u u.-l.g1rSÈS;_tgq1"9"ntç"par"a..o'Fe_ú-Bõffiãffi3Êilgm-rescõ,ía ãldeia aoJ-iríiaóJ"àï*1ll1g:93ggpggglpglep-p4go resto da tidãõmo'paÍre dô núcleo de59fgryI&ffit$_-çgffi,*g"Ãd'iüariêspõsâsefrtïiãS,todosmembiôJ"de ounosjrngundu,viviamcomelesdurante os seus anos de maturidade masiam partindo,à medida qup Íls mulheres envelheciam,as filhascasavam e osfilhospartiampara se junfaremaos tios. Dopontode vista dos grupos defiliação,o movimentoconstante de gente dentro destes padrões significavaque os membros de cada liúagem nasciam e cresciarÍìlonge da aldeia dasua própria liúagem,mas voltavama ela quando eram mais velhos,osvar6es um tanto mais cedo do que as múheres.

Se bem que, colectiivamente,os gruposde filiaçãodos Mbundutendessem para o tipode estrutura que acabámos de esboçar, cada ngunduindividualmentepàssava por uma série de fases, bastante previsíveis.Tipicamente,uma ünhâgetn em fase de maturidade tinha um únicohomemmais velhona sua geração mais idosa, com um certo número de sobrinhosde meia idade (behwa, sing. rnwehwa,"filhosda irmã")que geralmenteestavaÍn encarregados de dirigirÕs assuntos da linhagem.$_ggs_ glo queum entre estes sobriúos aspirasse a dirigiro seu própriongundu, a morté

ou cada conjuntode irmãosde uma mesma mãe dento do grupo delg-_bggb_oç; -deixava_dç se bentfu constrangidoa manter a unidade impostapela presença do mais-velhoe partiacom as suas esposas, as crianças

- peÍlqgn4 e gs filhosvarões das irmãs, a fimde estabelecer um novoe

-i$gptl.q*9ry91gundu.Os novos grupos podiamdividiras terras anterior-menüe possuídas em ôomum, ou algunsdos novosjlngundu podiamir paraoutros locais fixar-secomo convidadosnas terras de linhagensaparentadas. Este tipo de cisão da linhagemgerava, constantemente,novosgrupos de filiaçãomas raramente eliminavaas velhas linhagens comogrupos formais,*uma vez que um dos sobrinhos tradicionalmenteassumia a posição do tio falecidoe preservavaa identidadedo antigo* Em Inglês, "corporate groups" - nas sociedades sem regras escritas, os grupos que têm ,'oersonali_

dade.moral" no sentido jurÍdico(por oposição a outias colectividadãs queião têm nem con-tinuidade no tempo nem capacidade para exercer direitos).(N.T.)

ngundu. Assim,as linhagens podiamsobreviverindefinidamente,mesmoque o infortúnioreduzisse o número doq seus membros vivos de formatão

' drástica que os poucos sobreviventes se dispersassem para ir vivercomouftos parentes. Nesse caso, a identidadeformal dongundu podia aindamariter-se, conservando-se viva como uma referência na memóriadosgrupos a ele aparentados, mesmo se já não tinha membros vivos.

A capacidade dos Mbundupara preservarem esta espécie de ngunduabstacto sem membros vivos, tinha uma explicaçãono seu sistemacosmológico.Os Mbundu,em comumcom os Cokwe, os Lunda,osNdcmbu, os Bemba, e oufrosque viviammais para leste, concebiam a suasociedade como um conjunto de funções com designações específicas,estatutos sociais personificados,associados a direitose obrigaçõesbemdeterminados, que certos indivíduosvivospodiam transitoriamenteassumil, com exclusão de qualquer outra pessoa.3' Tradicionalmente,osMbundudescreviam a relação entre cada posição titulare as outrasposições titularesusando a linguagemdo parentesco - "pai-filho","tio-sobrinho","irmão-irmão"etc. - e consideravam imutáveistodas estasligações entreas funções existentes.* *Na ÁfricaCentral, este aspecto darede de posições titularesdaí resultante tem sido chamado "parentescoperpétuo",por causa dos termos do parentesco usados para descrever a

estrutura sociale a permanênciadas relações entre os seus elementos.Os indivíduos,portanto, poderão tomar posse de uma ou mais destasposições titularespermanentes ou, como dizemos Mbundu,"entrar"(kuhinga)no título,mantê-lo por algumtempoe depois legá-loa umsucessor. Cada posição dessas teve, ao longodos tempos, um certo númerode diferentes ocupantes,todos eles tendo tomado para si próprioso nomeda posição, tratando os detentores de outras posições "irmãs"eaparentadas como se fossem biologicamenteirmãos e parentes, eexercendo os direitose deveres que competem a tal posição. Daí a desig-nação "sucessão na posição"ou "sucessão no título"f"positionalsucces-slon"]usada para indicara dimensão temporaldo sistema no qual osherdeiros sucedem aos seus antecessores nas respectivas funções titulares.

Nestesistemadeparentescopeqp3|qo*,ç.4ç*s-US-ejsggn1ppSlEp-ltlf.lar,aìJrEãÃï,i,rümAt;õ;G"dat;-4eïô:;st.ti"r-J*t"olygspsT3,s"litn".çm..ppsiçõescom o.s-eu rç$pectivo título,as quqrs exis-liam

'independenLe_ryrgn ç.d-q-s qep.-s gç.qpanlgs vivos,As genealogias perpétuas

dêscievìan âs relações formaisentre os nóúes dentro das linhagens, e um

r? Ian Cunnison ( 1956).Se bem que estas ideias sejam conhecidas noutros lugares, sobretudo comotécnicas políticas, elas estão presentes em qualquer área da estrutura social dos Mbundu.

*+Escolheu-se "posição titular"para traduzir"named position",para indicar que se trata de uma com-ponente dumá estrutura hierárquica, com nome próprio,hereditário, correspondendo a um deter-minado título, indicador de funções específicas. (N.T.)

O CENÁRIO

ngundu era constituídopor um conjuntode posições t it t subordinado ;":ïï*iïïiï " ïIII

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ngundu era constituídopor um conjuntode posições estreitamenteaparentadas. os descendentes matrilineares dos u.upant",do conjuntodenomes continuavam.responsáveis por fornecer, perpefuamente,oËupantesvivospara essas posições. portantò,os Mbunduiazìama-gignçao-enqe q,eltruturyf_orytal-d*e-.guìr gundy,oq o nqmel que_o constituíq4r-e-.aspes_"19.1 .tl-e,Jeltporariamentepreenchiam essas pòíiçoes,e era nèiià,"niooque as linhagens ãparentadas podiam .onr.ry*posiçOes*,4ongg-@ _._-"vaziasl',qqando não haviaenre os parenies vivóJqú"rnu, p*r".."o"u-* ï. rtgg,lgnteBgrrtg,.,ejrì-quaÌquer-momentoda tuu'tirtoriu.u, rinrrug.n,apresenüararn-alguns dos seus nomes por preencher, ou então, "*ro"lu"-99+TP1glï$9,ngmes do rlgundupodia ficarvago se a tiúa a"ãLrc"aen_cra respgpsável por ele se extinguisse.

Dentrode cada ngundu, alguns nomes conferiamaos seus portadoresresponsabilidadesespeciais para o bem-estar do grupo.EstËs deveresesüavam associados às posições hierarquicamentemais importantesnagenealogia do ngundu,posiçõesàs quaiJos Mbundu se referi'amsimples_mente como os "tios"da linhagem(maremba,sing. remba). os membrosda linhagematribuíamao primeirodetentor de um destes ;ítulossenioresa sua separação dos outro_s grupos de filiaçãocom ela aparentados e, gerar-mente, acreditavam que fora ele quem guiara os antepásôados até às tenasactuais. o nome colectivodo ngunduãerivavadestã títuro,o remba dyangundu, e esperava-se daquele que o assumia que realizasse muitosoosritosque, como acreditavam, asseguravam cohãitas abundantes, taziamchuvas copiosas, atraíam caça com fartura e garantiama fertilidadedasmulheres da linhagempüa que elas pudeisem produziros futurosocupantes dos nomes da rinhagem. o remba dya ngindu servia de inter-mediárioentre os membros. vivosda linhageme os ocupantes já farecidosdessas mesmas posições titulares,os aniepassado, qu" colËctivamenterepresentavam a dimensão espiritualde cada título.Ele era também omediador entre os membros do ngundue os espíritosdas terras e das águasque eles possúam. Era em torno da sua posição que giravaa vida sociar eritualda liúagem.os ocupantes de um número variávelde ouEasposições seniores agiam como conselheiros do le:mba àyo nguoau

"slram a designação de makota (sing.kota ou dikota,literámenïe"maisvelho").-se_assuas responsabilidadesÈvidenteseram um tanto menores doQle as do lemba dya ngundu, as suas funções políticase sociais menosvisíveis,comoconselheiros e juízes, "r* iulu",maiores. ,Esta breve descrição da estrutura e dos dignitárior'du,linhagensMbundu conduz a uma explicaçãomais aprofunúda das genealogias deliúagem, analisadas como fontes históriìasno capítulo-I. os -nomesincluídosnestas genealogias eram os nomes dos'marimba de cada ngun-du. No contextodas genealogias, o lemba representava todos os nomes

subordinado,,,; :ïï*iïïiï;,",,,n,no,,ïngundu inüernas (as quais também eram diferentesdas iencalqlgbiológicasdos membros das ünhagens, relativamente pouco iriportantoroque apenas mostravam laços biológicose não sociais).oi tembe omakota concediam aos membros do grupo de parentesco o direitodc aban.donar o seu ngunduancestral para estabel""",nouo, $upos indopcn.dentes; quando assim faziam,eres concediam um nono ão,n" ao paruntcque ficavacomo chefe da nova linhagem.Este nome ou títuloconslltlrnum nome própriodistinto,seguindo-se

como sobrenome o título dolembahierarquicamentesuperior e a nova linhagem,através do nomo doseu chefe, seria assim identificadacomo descendánte do velho ngunduiso,por exemplo, o ngundu de Múaxina pakasa se dividisse,deveiia lovarIcriação de um novo$upo de fiüaçãochamado Nzenza yaMaha,ri,e cadalinhagem teria chefes com os mesmos nomes.@_b. gg:",:g*11-qlg gygç3g.dos velhos tlur6i'l"rar,ut a"ãOoìlõa,-4tif g_@_$eess_ãe_ a _.ps rpec-par4gqdtÀzggepgf ggllsd,C,jí'@jawrlnduggç -lelacionavam ente si toao J ãï j*ã

"."a"&isiffis,ausvér4oltggt or g-4Ëlg9p-rftió..*' -\É"'Estes grupos de Íiliaçãoconstituem,provavelmente,algumas dalmais antigas insriruiçõessobrevivenües4q -9..{gqÍÌieaçõ-o_sogld.l{lg$Uepodem-tïataf'dà

introdüçâoôâ'âgiiõúiiüa e da fixação dos anrepassadordos Mbunduem aldeias-linhagens peÍïnanentes. Na ausência de àgorocorestudos arqueológicos,esta hipótese só pode ser verificadaanavés dcdemonstrações do tipo t'hipóteseperíodó-área"que postulague "umtmaiordistribuiçãoespacial geralmentesignificamaioiduração no t ÍÍr.po".ilDe acordo com isto,a generalizada distribuiçãode linhàgens comoas dos Mbundu,e dos sírrbolosa elas associados, demonstrariam a gutgrande anúguidade. Aoincluiremgeqealogias que os ligama povos quolif:E_b-e-nO$taatqç, co-r;rg_ 9.s únda do Katangã, as traúções áo, lfOün.$1n*u_",Tgry deslaque.a amptidi4eo9 gis1em,a 1iryc9de liúagehs iloQErff-"rgrjlopaÍre lntegmnte.Esrruhffas de liúagèìs úúto semelh:Àl,itooFü'ecem éiisiira sul da'florestaequarorial muitõpara r"rt",utingiiaoã,Grandes Lagos.o remba dya ngundudos Mbundu,tal como os sousequivalentespor toda a regiãodas savanas meridionais,por exemplo,' usava um pó branco sagrado chamado pemba para assegurar a fertilidadodas mulheres da sua linhager-n.Aos homens do ngunduele forneciaum póvermelho chamado takula,igualmente muitódifundido.eA sua autoridadoestava estreitamente associada à mulernba,árvore que os Mbundu sempt

" "-.* arrr; o autoÍ acrescenta que "nem sempre é esse o cÍlso; portãnto, a prova é Bpcnar pü.cial"(p. 169).3e obtem-se reduzindoa pó a madeira do pterocarpus tinctorius,segundo w. D. Hambly (1934),p..117-

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DDI 48 OCENÁRIo ASPECTOS DAESTRUTURASOCIALMBI.JNDU 49

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plantavam em funte da suh residência, na aldeia.{As exactas conotaçõessimbólicas da mulemba,no contextoMbundu,continuam duvidosãs;ntporém, paÍaagÍicultoresiünerantes quedeslocavam as suas aldeias ao fimde poucos anos, assumia àlgum significadoo facto prático d.e os ramosdesta árvore criaremraízes quando fixadosao solo e crescerem rapida-mente (para além dos seüs possfueis significadossimbóücos).O lembadya ngundu e os makota valorizavama ampla sombra que a árvore forne-cia para as suas deliberações.n2

Os jingundzinspiravamà maioriados Mbunduuma profundalealdade. Em muitosaspectos, o ngundu representava a instituiçãofun-damental nas suas vidas,pois desempenhava funções cruciais dalinhagem:providenciandoo acesso à terra, uma vez que todas as terrasaráveis se encontravamno tenitórioduma ou doutra liúagem;forçandoa chuva a cair na época própriae em quantidade suficiente;sendointermedifuioentre os vivose os mortos;e definindoo lugar decadaindivíduona sociedade ÌvÍbundu.Os Mbunduapenas aceitavam comoseres humanos seus semelhantes as pessoas que tinham algumaposiçãono seu sistema de linhagens, quer como detentores de um dos nomes dosngundu, quercomodependentes formalmentede algumgrupo de filiação("escravos","penhores"etc.).4t Em teorip,não pertencer a um ngunduexcluíauma pessoa do direito deapelar ao apoio dos seus parentes,impedia-ade casar ou de cultivaralimentos,negava-lhe conforto espiri-tual; na prática, muitas vezes erâ equivalentea escolher entre umamoúe certa ou uma subordinação abjecta aos desejos de um senhor comlugar na estruturada linhagem.Por todas estas rzvões,os Mbundudavam às suas linhagensgrande importânciae é evidenteque consegui-ram preservar a sua estrutura básica sem grandes mudanças através devários séculos.e

Se um indivíduoapenas podia sobreviver na sociedade Mbunducom o escudo protector fornecido peloseu ngundu, a linhagem comogrupo apenas podia sobreviveratravés de estreita cooperação com os seusvizinhos.A regra da exogamia linhageiraforçavaos membros dalinhagema casÍìr fora dos limitesdo seu grupo de filiação,e pode deduzir-

41

Ficus psilopoga;Chatelain (189a), p. 267,n. 17l.A mesma árvcire tem um papel proeminente no complexo sistema simbólicodos Ndembu da Zâm-bia, por exemplo; Turner (1967), passin.Testemünho de.Sousa _Calunga,_I Our. 1969; cf. Otto Schütt(1831),pp. g4-5. É também muitolmgfa.a 1o19- e distribuiçãoda mulemba como um símbolo da áutòiidadeda linhagem;JoséRedinha (19ó3), p. 72.Joseph C. Miller(1977).Esta é, evidentemente, a,hipótese crucialpara toda a análise que se segue. Na ausência de dadoscompletos para o século dezassete, tal-suposição deve afoiar-se,-po, u. lado, nos dadostiagmentares qu9 ep9s para sugeú que nada de imponantemudou e, por outro.lado,em aÍgu_mentos do tipo da hipótese "relação período-área de e-xpansão',.

-se qüe uma certa variedade de alianças matrimoniaisunia as linhagensMbunduumas às ouüas. Não possuo quase neúuns dados para sugerir otipoou o âmbitodestas combinaçoes, muitomenos paÍa o;éculodezas-seis, mas os que-teúo indicamque regÍas de casamento preferencial,capazes de produzirempares permanentes de jingundupara troca deesposas, tendiama ocoÍrer mais vulgarmenteenfieaqueles Mbundu quenão dispunham das extensas genealogias de tiposegmentar como as dosSongo. A genealogia de linhagemmais abrangente dos Songo parece ter

organizado as relações inter-linhagenssem necessidade dos laçosadicionais fornecidos por regras de casamento preferencialou obrigatórionitidamentedesenvolvidas. Portanto, é impossível dizermuitoacerca dasalianças de afinidade como meiode estruturar relações entre os grupos defiliação;apenas se pode dizer que a sua importânciadeve ter variadonarazão inversada abrangência dos diferentes conjuntosde genealogias deüúagens.s

Do ponto de vista de um indivíduoMbundu,as relações formaisentreos jingunducomo colectiv.idades,quer sejam laços genealógicosresul-tantes de cisões de linhagens, quer sejam laços de afinidadecriadospelocásamento, nem sempre fornecem umarede viávelatravés da qual elepossa ir em busca de oportunidades em áreas às quais não se estende essa

rede de parentes consanguíneos ou por afïnidade.Os laços de parentescopessoal decorrentes das relações do seu grupo podiam ser manipulados,dentro de certos limites,para produzirpressões variáveisdentroda estru-tura, mas não reflectiamnecessariamente os interesses pessoais que umhomem podia partilharcom não-parentes que, por exemplo, estivessemenvolvidosna mesma actividadeeconómica queele. A soqigdg4qlbun-du contiúa váriosourrosripos de instituiçóesque ,".púOiu*ï tuitïËcèibiãaciês piáticas,uo p..rrriti,unir pessoás, atravessanão as frontJ'asaõôïais-rsüiiíãtpefããàeigáriâ -lèaldade'dámaioiiã-&iíMuünOúãã- suaslinhagens. Em termos estruturais. tais instiruições cortam através da estru;rura liúageira que domina a sociedade. Se as classificarmos segundo a suaduração e a especialização dos seus objectivos,estâs instituiçõãs"transver-

ìáiS iafrìdêsde acordos bastante fnfonn4r-s.g-g{fr,o--c.,gnÌrg.esfranhosque sevi_amlgçados na prossecução comum de ob_j991fyo9{9âmlito limitado,até viíriostipos de_ sociedades sec(etas institucionalizadase de grande

"4pggçS.Evidentemente queé impossívelreconstituirqualquer das insti-tuições mais efémeras do passado remoto,mas as comparações entre insti-tuições dosMbundumodernos com organizações similaresexistentes

ar A recolha de informação fidedignasobre a práticasocial dos Mbundu,posta em confrontocom as.u_a teoria social, foi impedida porlimitações de tempo e do campo de acção da minha pesquisa emAfrica.De qualquermodo, na Angolamoderna, essas prática alterarâm-se nitidarirente,e emgrande escala, sob o impacto da guena e da urbanização.

50 ocENÁRIoentre outros povos, com eles relacionados, dão uma boa ideia das carac_terísticas gerais que teriam aquelas que deverão t i id há

AspEcrosDAESTRUTURAsocIALMBLTNDU Sl

genealogias das linhagens. Eles constituíam uma espécie de incipiontc

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gerais que teriam aquelas que deverão ter existidohá muitotempo.*- v;/ profissionaisespeciarizados de vários tipos - especialmente osadivinhose os curanãeiros lngongì,il. jingaiga,ou-iíÃiàa".prural- yimbanda)- manttnham,retaçOes infàrmaismas intensas uns com osou'os, independentemente das suas filiaçõesde rinhagem. Esúe género desolidariedade profissional.permitia, -aos praticantes destas artes mais bemsucedidos, viajarpara muitolonge da esfera d" ;;g*p" i;"parnt"r"o receber boas-vindas respeitosas dos colegas rò'"ai,

"J"spectivos

pàrentes, onde quer que fossem. Mesmo uma rede infonnar de interessesprofissionais recíprocos, como esta, fornecia a cada Mbunduuma redesupra-linhageirade contactos e servia p*uo_.Jri"-"1'iJn'riu*"nr",competências e coúecimentos através oa socieoaae. Ã;õ" parece,os adivinhos favoreciamos filhosem de*imentodos'sobrinhos,comoherdeirosdo seu estatuto profissional

", .";;;;;dã;"L.d"_*_

H#iìrt#Xtendênciadominanre,que enfatiza"uu ;"";; ao srupo

Mais estruturados, embora também mais efémeros, erain os curtosde cura e os movimentospara erradicação de feitiçaria.{7Estes forneciammeios institucionais.ne,log,Cuaisu, pãrrou, podiam, temporariamente,abandonar a sua lealdade básica p-u

"o*os respectivo s

ngundua favorde laços com não-parentes, laçós que se baseavam quer numa afliçãocomum a propósito duma doença, quer num esforço cãmuÀfara "timi-ar os feiticeirosdo seu seio. Entre os Mbundu,era característico destesrituaisenvolveremtécnicas de possessão pelos espíritor, o'nu noçao qu"se relaciona muitode perto com a teoriaìa sucessão "",pÃi'io*,i*_ares' em que o ocupante de um nome buscava, ritualmente,a identifi-cação com a essência espiritualda sua posição ,irf*",

po,"rJ. n,"io,ucomunicaçãocom arguns ou todos os seus anteriores-o"up-t"*.ertu,técnicas actuavam cruzandoas fronteirasdas linhagen,

" úituã, pÍ*aaestrutura sociar Mbundu,consequências muitodiferlntepoe ounas tecni-cas mediúnicas(o kuxingilisa,ver adiante)que funcióiravamexclusiva_mente no seio das rinhagens e tendiama refoiçaru,orio-i"auJ"de cadagrupo de filiação.

Os grupos de viziúosMbunduorganizavam,regularmente,acam-pamentos de circuncisão nos quais os jou"n,de uma locaridadeeramcolocados .todos juntos, independentemente das suas posições nas

: lrï""Ëïllttrà"iíJi#rp;iiJJ;1ïïieÌ.re3-200,dá um cerro número de poÌmenorcs que'' Neste ponto apoio-me ba .

vi"ri"ïìïõzrï.-ruwuasrcanente na terminologiae nos conceitos de VictorTumer (19ó8) e Jan

p pclasse de idade, temporariamente unida peras experiências partilhadasnoacampamento da circuncisão,e conservavam certos laços àurante toda avida.A cerimónia,àparte a sua funçãoeducativa e o seu carâcts de con-firmaçãodos rapazes Mbundu como homens Mbundu,tarnbém fornecialigações transversais entre os jovens do sexo masculinoque residiam nomTmg localco.los seus pais. euando esres jovens dispeisavamapós ascenmómas de iniciação,paÍa se irem juntar aos irmãosdas suas mãesnouLas aldeias, talvezdistantes, criavamuma teia associativa que acaba-va por se estender por uma vasta

área. os que se fonnavaur noi mesmosacampamentos de circuncisãorecebiamnomes especiais da circuncisão,que indicavamas suas ligações uns aos outros, de um modo análogo aosnomes e genealogias pennanentes dos jingundu.

uma associação de mestres caçadores (ltibinda,singularkibinda)forneciaum bom exemplode como estas associações óriavam laçospessoais, que uniam pessoas fora das estruturas do parentesco. Dada apermanência da associação kibindae a sua estreita conexão com algumasdas posteriores formasde autoridade políúcaentre os Mbundu,n"te upena nma descrição mais exaustiva que noutros casos. o kibindanãoeraapenas um caçador especializado no uso do arco, fleshas e ztgaia,u,sadospara mataÍ hipopótamos,leões, leopardos, javalis,grandes anúopes,pacaças

ejacarés;

acreditava-se que era também rrm especialistaconhecedor das artes mágicas que lhe permitiamtornar-se inviiÍvel,paraa sua presa, voar pelos aÍes, ou manejar annas enfeitiçadas quènuncafalhavamo alvo. Fossem quais fossem os métodos pelos quais o libindaperseguia e matava a sua presa, ele desempenhava várias funções essen-ciais para o bem-estar do ngundu.Tiúa a responsabilidade de entrar naflorestaem busca de certos animais,que se acreditava serem necessáriospara adivinharas intenções dos espíritosda linhagem,ou para augurar osucesso de algumempreendimento previsto.se o kibindacaçava bem; osmembrosda linhagem podiarnficardescansados quanto à hannonia dassuas relações com o mundo espiritual;mas se não aparecesse qualquercaça, tomariam esta má sorte como sinal de que deveriam descobrir a

fonte do evidente desagrado sobrenatural. Desta e doutras formas, asactividadesdos mestres caçadores yibindareforçavama integridadedosgrupos de filiaçãoMbundu.

Porém, um outro aspecto da associação dos kibindaunia todos oscaçadores profissionaisMbunduuns aos outros, independentemente doseu estatuto de linhagem. Um aspirante a caçador (mona a yanga, otJ"filhodo kibinda",que também era coúecido como yanga) podia iornar--se aprendiz de qualquer mestre para ser treinado nas artes do caçadorprofissional.A relação entÍe mona e mestre era vistacomo análoga à

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relação entre pai e filho,iou seja, cmzava os laços matrilateraisentre tio

o crNÁRroASPECTOS DAESTRUTI.JRASOCIALMBI]NDU 53

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ç p ,iou seja, cmzava os laços. matrilateraisentre tioesobriúo (rnwehwa):for ocasião da .mortede um kibinda famoso,reuniam.se os yibindae bana a yanga, de longe e de perto, fara participar nas cerimónias, que culminavani,com a extracção de .m dente domaxilardo caçador fglecidoe_ uma caçada comunitária.os ìuç"rqu"ïy* os yibinda,que se reconheciam enne si por sinais ,..r",oi.rr"n.$T-r"muitopara alérn dos limitesdo parentesco e mesmo da etnici- aCe, nga incluirigualmenteos Songo, pende, Imbangala, Cokwe eLunda.Dizia-seque encontrar um outro kibindana floresta era como

:l:9n-tr*um paÍente, e o estatuto de mestre caçador obrigava umkibindaa tornar extensivosaos seus coregas todos os benefícioã que eleretirava do seu própriongundu gsà fortes laços faciliiavamosmovimentosdos caçadores, que penetravam muitalvezes em regiõesdesconhecidas quando perseguìanr-caça grossa, e forneciamum mecanis-mo-potentede integraçãoda sociedade Mbundu,para lá da rede consti-tuída pela estrutura das linhagens.Por fim,algumas indicações sobre as ideias dos Mbundua respeito danatureza da autoridadepodem ajudar a preparÍ*o terreno para a análise dosprimórdiosda históriapolíticados Mbundu,que viú a seguir. os Mbunduunr'isuãffi

"::-'ffff:.ïÌl9Tl. $l"S.l.e*qçequsdetenioresvJüoó:'ÂâüË;ïA;d;ïüés€ baseava na capacidade de invocara aprovação-sobrenaturar, não eramerente aos Seres humanos, mas sim aos símbol,os de autoridade associa_do:..ugr t{núos.Algumas vezes, os Mbunduexpressavam .*ün"iusubliúandoa íntimaconexão enüe um re?resentanüe vivo,sem qualquerpoder em si próprio,e os detentores do tíúrojáfalecidos,,* pi"o"""r-sores, os quais "eram",colectivamente,a autoridadecontida ,i"aau ,u"posição. os nomes implicavamdiferentes graus de autoridadea"r",up","s nomes mais influentesnas vidas da maioriadas pessoas, antes doaparecimento dos esüados, erÍìmos títulosa quem incümuiaa responsa-bilidadepelo bem-esg d* liúagens, os ntalemba dya ngundi e osmakota. Profissionaisde grande reputação .o.o .uçuáãr"r,-uaiïinrro.,

mediums e outros do gépero, exerciam basicamente a sua autoridade sobreanimais, oráculos ou forças espirituais, e não sobre as pessoas.O detentor de um nome poderoso geralmen" ,i"fr""."*oàs forçasespirituaisque lhe estavam subjacenles através da posse de algumo j99to' o qual se acreditava quá servia de mediador enüe o mundovisíveldos vivose o mundo invisíveloo sourenaturat.^õ-u*ï)ar"ngundu, por exemplo,era impotenüesem a árvore ^"trìU"--r"rárïu,uu

* Testemunhos de Alexandre vaz e Ngonga a Mbande, 23 Set. 1g6g;sousa calunga, 2 .ut. 1g6g.

pemba, tal como os adiviúostrabalhavam por intermédiode uma varie-da$ede objectos físicosaos quais atribuíampoderes especiais, e o mestecaçador kibindaalcançava os seus êxitos através da posse do dente do seumestre ou pela manipulação de figuriúastalhadas na madeira, cornos ouplantas. Todos estes objectos mediadores serviam também como distin-tivos visíveisda função, como insígnias do estatuto especial concedido aodetentor do nome ou útuloao qual pertenciam.

A noção de autoridade visra como o acesso a forças espirituais,obti-do'afravés da posse ,de objectos especiais, signifitavalue qualquerMbundu que controlasse uma insígnia de autoriãade podia deleg*u,nuporção do seu poder, simplesmente concedendo a ouhem uma parte desseobjecto. Este é o tipode lógica subjacente às cerimóniasque assinalavama cisão das liúagens; o fundadordo novongundu, usualriente, tiravaumramo da mulemba da linhagemdonde saía e, onde quer que fosse fixarasua nova aldeia, plantava.o,implantandocom ele a essêniia espirirualdogrupo de filiação,bem como a autoridade do remba. os ìaçadoresiniciavamos aspirantes no estatuto de kibindadando-lhesamúteto, que sepresumia darem acesso aos mesmos poderes mágicos a que o mestreãeviao seu própriosucesso. os adivinhostransmitiamas suas competências nãosó.aEavés da instrução, mas também através da entrega ãu venda deobjectos que davam aos seus herdeiros e clientes u,n á"".ro,mais oumenos limitado,aos mesmos segredos de que eles eram detentores. A umnível mais efémêro, o lemba dya ngundu podia indicaragentes que eramempossados para agir em seu nome, dando-lhes simplesmente um símbo-lo materialda sua autoridade.

-Y A formação dos primeiros-e-pça-dp; Mbunduocorreu num contextosocial não muitodiferentedaquele que acàbámos de descrever: linha-gens matrilineares,fortes e independentes, que tendiama monopolizaraslealdades da maioriados indivíduos.A coesão e autonomia daslinhagens diminuíaa importânciade instituiçõesque atravessavam asfronteiras sociais erguidas pela regra da descendência unilinear,mas umcerto número dessas instituiçõesesbatia as linhas que separavÍìmospaÍentes dos não-parentes. Destas, a mais durável e géneralizada pareceter sido a associação dos caçadorès kibinda.Ip_g"1 $ggn_qgqg -lgg_instituiçõespermitiamaos homens contornarïriFõëã-arËì*ôd.filiaçãobaseados na sucessão das posições titulares . no i.Ënt"..o

.-peì{LéqPo'-ejas--amplreyama escala da interacção entre os il4bundueforneciam à9_ pgsgoas opor.tunidadesËara*õôópË;àém

"nõ- seniiõõ dè'

objectivosqu-e á çst'uÍurá da ünhug'n nao rrres jenáitia.;i;gtrÀ.Jida que algumas destas instituiçõesmanifestavamtenoenciálaraje_qqu-

":ar no tempo, èlas assemelhavam-se a "instituiçõesde tipoËrtuá;q\r,"$":lf"n-e*n "?-Y*L$$9çl_p-gll.ltçq.ll,A parte restante desìe üvro exami-

54 ocENÁRro

na as vias pelas quais oç Mbundu através da distribuiçãod í b l d

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na as vias pelas quais oç Mbundu,através da distribuiçãode sírnbolosdeautoridadee da delegação da autoridade, transformaram instituiçõespolitica:nentetão incipientescomo estas em várias estruttúas políticas,as quais no iníciodg século dezassete se assemelhavam muitoa"estadoô",

CAPÍTULOtrI

OrigensEndógenas

Contam os Mbunduque o mundo começou quando Ngola Inenochegou de tenas longínquasdo nordeste e se estabeleceu onde os Mbunduhoje vivem.Ngolaprocriouuma filha,Samba, e Samba por sua vez deu àluz Kurinjekwa Sanrba e Kiluanjekya Samba. KurinjekwaSanrba(deixandomomentaneamente de lado os descendentes de KiluanjekyaSamba) foio progenitorde Mbuluwa Kurinjee Mbuluwa KurinjegerouZundu dyaMbulu,Kongo dya Mbulu,Mumbanda a,Mbulu,MatambaaMbulu,Kajingaka Mbulu,Mbumba a Mbulu,e talvez Kavunjeka Mbulu,os fundadores dos Ndongo,dos Hungu,dos Pende, dos Lenge, dos Mbon-do e Imbangala,dos Songoe dos Libolo,respecúvamente. O mundo,aindade acordo comos Mbundu,começou quando os antepassados desses mes-mos actuais subgrupos etnolinguísticosvieramcom malunga do mar epararam quando chegarain às colinase vales onde hoje se podem encon-ftaÍos seus descendentes. Outrosacrescentam que o mundo pode tercomeçado com Adãoe Eva, duas pessoas que viverammúto longedalietiverammuitos descendentes. Entre eles havia Caim,o pai de todos ospovos negros.

Para a maioriados Europeus,por outro lado,as origens do mundo sãodemasiado remotas para esüarem associadas à formaçãodos Mbundu,e émais fácilacreditar que diversas populações locais tabalhandoa pe{raeo ferro,conhecidas apenas pelos artefactosque deixaram em locaisdeacampamento há muitoabandonados, ocuparam durantemuitosséculos onoroeste de Angola. Nãomenos conEaditoriamentedo que as históriasantagónicas de NgolaInene e dos malunga vindosdo mar, a línguabantuque os Mbunduactualmente falamassocia-os a povos que hoje em diavivemmuitodistantes para noroeste, na modema Nigéria.Em face dosfactos arqueológicos e linguísücos, será que a tradição acerça de NgolaInene e dos malungarevela alguma coisa sobrea históriados Mbundu,eo quê, que não seja uma mera lenda? A resposta mais plausívelé que asnadições não se referem às origens do povo mas sim, tal como a adaptaçãoMbunduda história de Caim e Abel, indicamo aparecimento de novosmodos de organizaçãopolíticae são, portanto, pertinentes parc aquest?Ío de como os grupos de filiaçãoMbundupela primeiravez seorganizaram segundo padrões diferentes dos decorrentes da cisão daslinhagens.

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56 ORIGENSENDÓCENAS

Para os Mbundu as tradições de Ngola I e d t

oRIcENs sNDóceÌ.Ìns

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Para os Mbundu,as tradições de Ngola Inene e dos marungaperteu-cem claramente a um "tempo histórico"e não aos anteriores'períodos'imíticos"e "proto-históricos-",que se encontram na oralidadede muitospovos africanos.t Muitas sociedades sem escrita concebem o seu passadoremoto em três etapas, evoluindodesde uma época míticu,Ë- qu"monsfos de pernas para o ar vagueavÍrmpelo mundo, passando por umaidade de transição de super-homens, até um períodototalmente históricopovoado por seres humanos não muitodiferentes dos homens modernos.2os Mbündunão fazem neúuma tentaüva para

relacionarquaisquer:renças filosóficasque possam ter acerca da òriaçaodo mundo com asdescrições, relativamente fáceis de entelder, sobre ó processo de formaçãodas suas estruturas políticase sociais. É evidente quàque, Ngola Inene ea sua progenitura,quer o povo que trouxe os malunga-do mú são vistospelos Mbunducomo muito iguais aos próprios Mbundu.Mesmose argunsdestes protodpicoshumanos sabiam usar magias poderosas, neúum ãelescamiúava de cabeça para baixo, tal como sã

"ontade antepassados mais

rníticosde ouüas sociedades, nem de qualquer outro modo davam sinaisda sua não-humanidadecom comportamentosgÍotescos ou chocantes.As suas qualidades, essencialmente humanas, sugerem que eres represen-tam acontecimentos históricos autênticose não-corresiondem apenas àafirmaçãoda cosmolog-ia

Mbunduactual posta numa lìnguagemmítica.As idades míticas e heróicas do passado, geìalmente, imprìcariaescriçoesda formação de estnrturas sociais do presãnte mediante à apresentaçaã docontraste entre um primeiroperíodode caos e a emergência da ordenadaorganização social modema.3 A humanidade essenciJ de NgolaInene edos que trouxeram os malunga,se assim é para os Mbundu,silnifica,poiqque os Mbunduacreditam que o esboço das suas instituiioessociaisactuais estava já presente na época em que as suas tradiçoóshistóricascomeçam.

Mesmo se a escassez de informaçãosobre as mais antigas etapas dahistória políticados Mbuüdu deixa uma maÍgemde conjecõ'a em qua-quer interpretação que se faça deste período,determinadas continuidades

na estrutura da sua sociedade permitemao historiador,pelo menos,delingaras áreas em que são possíveis reconstruções fiáveisà recoúeceraquelas paÍtes do passado dos Mbundu.que pennanecem na penumbra oucompletamente descoúecidas. usando' dadoì ehográficos recolhidosdosMbundrie dos seus viziúosdurante os últimoscem anos, pode afirmar-se

] lmqregoaryi a terminologiade E. V. Thomas e D. Sapir (19ó7).I FÍank E. e FritzicP. Manuer (1972), pp. g4-90, ilustramesìa sequência na mitorogiagrega.' Lq*pser apreciadas análiscs como-as de John MiddletonAS6S), pp. fA_Z+]oís?iad._1970)' sem condenar todas &s tadições tristoã"as ao rulariúgin'driïae-,auüoJìí"ãiàgi"o.,'(Beidelman, p. 96).

com razoável certeza que uma forma de mudança na sua sociedade, antesde 1600, consistia em inovações frequentes e em pequena escala na orga-nização social, com ideias que constantemente apareciam e brilhavamfugazmente, dentro dos limitesde um únicogrupo de filiação ou confi-nadas a algumas linhagens, antes de se extinguireme deixareminalteradas, em grande medida, as instituiçõessociais pan-Mbundu.Novascrenças religiosas, por exemplo,assim se espalharam e se desvaneceraÍn;chefes de liúagem inventarame testaram novas técnicas mágicas que,

esperavam eles, lhes trariam chuvas abundantes ou numerosos sobriúos.Por todo o ladoos homens estabeleciam acordos formaismas temporárioscom os seus viziúosou gente conhecida, fabricandoe exibindosímbolosvisíveisdas suas inüenções: um amuleto, chapéus, peles, braceletes,pedaços de ferro, figuriúastalhadas em madeira, bengalas, sinetas, gon-gos, e uma variedade de outras insígnias.

A maior parte de tais inovações falhou, pois a disparidadeentre aselevadas expectativas que criavame a inadequaçãb dos meios disponÍveisas condenava a falhafe, por isso, a grande maiorianão teve qualquerefeitoduradouro sobre a sociedade Mbundu,excepto no que toca a algumresíduo de menor importância,sob a forma de um obscuro amuletonoarsenal mágico de algumdignitário.deliúagem, ou de um novo penacho

no barrete de um titular.Essas estrÍo pÍra sempre perdidas para a história.Contudo, algumas inovações permaneceram e tornaÍam-se parte integranteda estrutura socialMbundu, fornecendonovas ligaçõesenffe as pessoas,ali onde não as havia anteriormente,reforçando a autoridadede certosdignitáriosa expensas de outros e, cumulativamente,impelindoos Mbun-du afravés de uma sequência de desenvolvimentoshistóricosque, vistosem retrospectiva, parecem possuir uma estrutufa identificável,paradefinirum padrão que se repste. Portanto, estabelecer os primórdiosdahistóriapolíúcados Mbunduconsiste em identificare colocar pela respec,tiva ordem cronológicaas mais importantes e inovadoras iécnicas de orga-nização social, aquelas que afectaram de modopermanente a estrutuÍasocial Mbundu e encorajaram, desse modo, a conservação dos sÍmbolosfísicos correspondentes, como fragmentosde provas vindos do passado.Thdo o resto teú de continuardesconhecido.

Amulúplicidadede símbolosactualmente em uso entre os Mbundumostra que sucessivas gerações de dignitáriosincorporaram novasin-sígnias, de formaeclética, sem abandonarem os mais antigos símbolos deautoridade dos seus antepassados, mesmo depois de a sua fé no poder dasantigas relíquias ter começado a desaparecer, Sem dúvida, o significadoexacto e o uso de cada insígniafoivariando ao longodo tempo. Porexem-

a Um ponto mencionado.porJack Goody (1971).

58 oRIcENsENDócENAS

plo, muitosdos actuais símbolos de autoridadede menor importânciaÍ álid

A VINDADO LUNGA TéË

59

gfande númerode símbolos e técnicas organizativas a eles associadol nãOflí l

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peÍmanecem como pálidos resíduos de objectos cuja reputaçãoem temposinspirou verdadeiroterror aos corações {e todos os Mbundu.Os titularesacumulavarh conjuntos completosde tais símbolos,acrescentando-os àssuas colecções à medida que reivindicavamnovos poderes para sipróprios,em resposta aos tempos de mudança, em certa medida do mesmomodo que a legislação ocidentalassenta num espesso sedimento deregulamentações que reflectemas circunstâncias dos tempos passados.O observador externo deve,pois, interpretara panópliade objectos asso-

ciados aos actuais titulares Mbunducomo um registode técnicas degovernação tentadas no passado.As radições orais Mbundu,descrevendo as suas "origens"em termos

de Ngola Inene e dos malunga. explicama proveniênciae significadodedois importantessímbolos destetipo.Elas são, portanto,o registoconsciente do desenvolvimentopolítico,o qual, embora expresso nalinguagempersonalizadade fundadoreshumanos, pretende ser a expli-cação de duas das numerosas insígnias de autoridadeque se enconEam nasmãos de actuais chefes de linhageme detentores de útulospolíticos.É porcausa distoque as linhagens cujos chefes hoje em diasão responsáveis poruma insígnia de autoridadechamada lunga(pluralmalunga) nÍurÍìmasradições acerca de antepassados que vieram do mar. As histórias de Ngola

Inene explicama relíquia centrale sagrada de grupos de filiaçãoqueatribuemos poderes do seu chefe a um pequeno pedaço de ferrochamadongola (phxal,jingola).E as adaptações Mbundu dos mitos.deorigembíblicos, coincidindocom o padrão de explicação das "origens"em termosde dispositivosprotectores encarados pela liúagemcomo fundamentais,tendem a aparecer em aldeias situadas nas propriedades de uma Missão ounaquelas que contam com umasubstancial proporção de cristãos entre osseus membros.

Não é seleccionando como definitivauma única "origem"Mbunduque be resolvem as aparentes contradições encontradas nos múltiplosmitosacerca de Adão eBva, malunga, NgolaInene e oufios.Eles resultamde uma longa e complicada história,na qual um certo númerode diferentes

princípiosde organização social e políticateve diferentes efeitos nasactuais linhagens Mbundu.Os dados disponíveis, por complexos quesejam, ainda representam apenas uma pequena parte da históriatotal:representam aqueles insígnias de autoridade e tradiçõesa elas associadasque sobreviveram à passagem dos anos, para perrnaneceremcomo símbo-los respeitados no presente. Presumivelmente,são as que conseguirammais ampla difusãoe Íbrneceramvantagens suficientesao povoque asadoptou para serem integradas no seio da sua estrutura linhageira.Se bemclue tais símbolos devam tersido "os mais importantes",neste sentido, um

ll I t.,

Ë.IâËFF;IdílrÇrdË

éa6JaédÇéÇr

FéjF;]ÇJ

gãonseguiram difundir-se,ou úveram apenas uma importâncigEmPgflítlqantes

-cleserem abandonados a favorde ideias mais novas' maig raüf'

fatórias ou mais oportunas.O processo de contínua invengão,difUrãO'alteração e desaparecimento de movimentosreügiosos enfieum povo doséculo vinteque dispõe de instituiçõessociais similares,como oil{descritopara os Kubada provínciazairense de Kasai com pornÌonolElfascinantès,t não pode diferirsigniÍicativamenteda atitudede eXpcrimcn'tação social e religiosaque deve ter animado os Mbundu há mútas contl'nas de anos atrás,ãtitudóque ainda hoje os moüv4apesAr dos embrutôC6'dores efeitos da dominaçíocolonialsobre as mutáveis instituiçõessocirlrafricanas. Movimentosdeste género podem fornecera chave p8ra o

aparecimento de estados enEe os Mbundu.uma vez que os registos disponíveisapenas mostramuma fracção

das instituiçõesiociaise políticasque os Mbunduexperimentaram'S plç'sente anfliJeümita-se a duas evoluções que os Mbundurecordam como 8lmais fundanentaisdesde a aglutinação das matrilinhagensbásicasilngun'du e asua aceitação das árvores mulemba e dos chefes de linhagema olarassociados (os ntnlemba dya ngundu). Ambas essas insígnias, o lunga o ongol.a, em épocas diferentes, paÍecem ter apoiadodois moVimentosCOn'

trLtantesqui estão subjacentes à históriapolíticados Mbundu:tendênciar

pafa o púcúarismoã-localismocentrado nas linhagens' e as tentativaãportur, de transcender o úvçlda organização linhageiraafiavés do dcson'volvimentode estruturas políticascentralizadas e a uma escala maiOr.

A vindadolungaAs liúagens Mbunduque vivemou p* média e norte do rio Lui

venerÍrmumúspécie de insígniade linhagemchamada lunga, uma rclí'quia sagrada qoe us.om" formasfísicas variadas mas, geralmente, tomouu-for-ãde uma figurinhahumana talhada em madeira.Estes mglunga,explicamos Mbundu,vieramoriginariamentede'Kalunga"que eles iden'tificamcomo''agrandeágla',,semqualquernoçãoclaradeondesclocalizaesta fonte aquática. Pelo facto de quase todos os observadoreg

europeus terem interpretado a palavra comoreferindo-se ao Oceano AtlâÍt'tico, ou aos "grandeilagos"de África,os Mbundu,hoje em dia, dão tam-

bém esse significadoao nome "Kalunga"e acreditam que os seus antepas'sados que, há muitotempo atrás, trouxeramos primeirosmalungapaÍtiramda ilhade Luanda,onde os Portugueses tiveramum centro

administrativodurante aproximadamente 400 anos. ó obviamente, não há

5 Vansina(l97la).* Umexemplojá publicado deste tipo de tradição aparece em Haveaux (1954)'

)I)

60 oRTcENsENDócElrAs

neúum facto em que se possa b t afimação N l d d

A V[\DADOLUNGA 6lciados a formas muitoantigas de autoridade desde os Kuba rtizsrnqr

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neúum facto em que se possa basear esta afimação.Na actualidade, osmalunga têm uma ïtr€itaassociação com a õhuva e com a água,"habitüldo"em rios e ragps e ajudanão os seus guardiães a atrairas chu-vas. Eles estão tambémrefacionadoscom o.o."irooa agriculturae,?or- mto'co$ a própriavi.rh,na visão do mundo do caniponês Mbundu.os antepassados que primeirochegaram cop r;s maiungàroramKajingaka Mbulu,que fundou os Mbondõ, Matambaa tvtuutu]an"p*ì"dãJã,Lenge, Mumbandaa.Mbulu,mãe de todos os pende, ttongoaya Mbuludonde nasceram

os Hungu,e Zundudya Mbulu,a grande un"tepasruau CosNdongo,e talvez outros actualmente ásquecidos. üm ouservaao, u*,",nopoderia também notar que os marungatinhamalguma coisa a ver com umap.nmilvtorganização ãas ünhageni tntuunàu nos subgrupos etnoringuís-ticos hoje reconhecidos.várias caracterÍsticasdos mnrunga sugerem que estes se difundiram

enffe as ü4hagens Mbundunum pedoão,"üto,àãio.Í ;;;*; .*"-claeão .gT . água e com a_terra, unn vez que as tintragenscám--oturgosão também os gÍupos de filiaçãoque posjue. . t"rri.pont"p* o*uconexão com o mais antigodos estatos significativosnaïctuallestuturasocial e políticados Mbuüdu.o agrupameãto dos Mbundu,de um modogeral, em Ndongo, Lenge; pende, et", ie eshva prcsente pelo.menos no

finaldo século dezasseis, quando as primeira.fonrcí-Aocuir;;;recolheram alguns desteç nomes. os Mbundu,expressament., p*itrru,ouopiniãode que os seúores da tena são os grupoide par"nt"scómais anti-gos nos seus territórios.As tnhagens detõntõras di lurgo,ali onde elassobrevivem,governamo uso da tãrra, autorizando mudingas de residên-cia, seleccionando os sítios para novas aldeias, localizandoa águaatravésde técnicas divinatóriasbaseadas na manipulação do objectofísico lunga,assim como invocandoas chuvas no fimãe cada estação seca.r o runga,em alguns casos, veio a ser assimilado ao complexo de símboloscentradosna árvore mulemba e nos remba dya ngundu,jà que o guardião trurnano aoIunga üsfrbui a pernha da liúagem ás mutherós ao grupo de parentescoe desempenha outras funções normalmente associadas com estesdignitários.A identidade femininados antepassados que trouxeram osmalunga reforça a sua ligação às linhagens, pois os Mbunduconcebem osseus grupos de filiçãocomo femininos,em conffaste com a maioriadasinstituiçõesextra-linhageiras que eles consideram',masculinas,,.A impressão de grande antiguidade é_nos dada; também, pelaextensãó da distribuição,nos tempos modernos, de antepassados e iunda-dores de Estados com nomes basiados no radicar -funja.Estes pÀona-gens apÍ'ecem numa rarga faixa através das savanas meridionais,asso-

' Testemunho de Kimbwete.

ciados a formas muitoantigas de autoridade, desde os Kuba Que rtizsrnqr."Keloong" (Kalunga)vem de tempos muitoantigos,rpassanão pelos Lubaonde as tradições reftatam Kalala Ilungacomo o antepassado fundador queEouxe uma nova ordem políticasob a formado "segundo impérioLubã",,até ap extremosul do lago Malawionde as nadições ieferem "Kalonga"chegando guase no inícioda história políticacom novas instituiçõestrazi-das do Katanga.l. Maisperto dos Mbundu,os povos yaka, que vivemime-diaüamente ajuzante dos Mbunduorientais, no rioKwango,incluemdeter-minados "clãs"Kalunga

muito'antigos,e os cokwe,para leste do Kwango,'recoúecem um Kalungacomo um dos "pais" fundadores das suasliúagens:trDenffodo tenitórioMbundu,os malunga sobròviverncomoinsígnias de linhagem dominantes fundamentalmenteenüe as residuaispopulações Pende, os Harie os Paka do baixo Lui,os quais parecem terescapado à incorporação em qualquer dos reinos quesuplantaram os lungaem muitas ouFas regiões. Provas deste tipo são demasiado fragmentáriaspara poderem sugeú um ponto de origempara os lungiz;tzmai o própriocarácter vago dos dados testemuúa a sua grande antiguidade,uma vezque as evoluções políticassubsequentes intervierampara obscurecer a suahistóriana maiorparte das regiões.r3

As modernas característicasdo lunga, onde ele sobreviveusem

mudanças significativas,sugerem alguma coisa sobre o modo como osantigos chefes de liúagem Mbunduassimilaram os lungaàs suas posiçõesnos grupos de filiaçãoe modificaramas suas alianças linhagôirasemfunção destas insígnias de autoridade. Em contraste com a árvoie mulem-àa dos Mbundu,a qual representava uma estrutura de linhagem puramentebaseada no parentesco, não diferente do clássico sistema ae ü*àgens seg-mentares,r' o lunga trouxepara a vida dos Mbunduuma forma de autori-dade baseada no território,uma vez que o detentordo lunga reclamavaautoridade sobre qualquerum que vivesse num domínioteÍïitorialmente

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Jan Vansina, informação pessoal.E. Verhulpen (1936),pp. 90 e segs.HârÍyW. Langworthy(1971),M.Plancquaert (1971). Para os Cokwe,Redinha (195g).,vr'auters.(?) (s.d.), p. l,.verificouque os modernos pende se lembravam de um ,'reino,,chamadoÃarunga oaseaoo na lnsignla lunga, na sua terÍa natal entre os Mbundu.Na maioriadas fontes secundárias, reina a confusão acerca do significadodo radical -luzec e dochamado "deus supremo"Kalunga. A pesquisa rutura poaerÀreifrterp;tr;;-Àõ; ;;ã-";-.uma ÌoÍrnaaÍcarca de autondade po-lÍúcae_ reavaliaÍas suas alegadas ,'origens" nã ocerão comouma simples associação enúe-est forma de auroridade e a Águã. ',Ka-,'aËarece rrcqueniemente."_?T-:"_p-1t*"bantu. (ctasse 12) denotando um ramanho não habitual,seja'grande ou pequeno, eransÌoÍïna-see.speclticamente em preÍixoem palavras referentes a sÍmbolosãe autoridaàe,'prcfixo:ïjr^f_ïyl11acomo "anrepasiados fundàores"e, sirnultaneamente, repÍ€senta os priircÍpiosaDstractos da própna auroridade (por ex.: Karunga,Kanuma e Kaiineaüo *t"purràdóiiun-oaoores oe estados que tem o lunga, o numa, e o kijingacomo insígnlaJda autoridaãe central),X- y::^f: ":9:lq",g".visra, enre os Mbundu, como o símbolo do ,'Tipo I _ sistemalrnnageúo segmenttr'de Horron(1971, pp. g4_93).

ilffiliffiii[1

62 oRIGENSeNnÓceNes

definido,independentementeda sua relação com ele ou com a sua

linhagem De acordo com a análise feitapor Hortonsobre as condições

o NGqLAcoMO uMsÍnau<-lLt-tDtr, LtNuAollM fì.l

do. Mas as qualidadesessencialmente estáticas dos malunga,fïxado$a unrlocalpela sua associação a determinadas massas de água, davam à hierur-

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linhagem.De acordo com a análise feitapor Hortonsobre as condiçõesecológicas e demográficas que favorecem determinados tipos de organiza-ção social e política,esta espécie de territorialidade'5tende a surgir quan-do grupos "estrangeiros" barramo camiúodos grupos de parentesco nosextremos de um sistema liúageirosegmentffem expansão.r6Seria exces-sivamente especulativo explicaro aparecimento, na bacia do Kwango,daautoridade baseada no lunga, pela aplicação desta hipótese a vagas noçõesde movimentospopulacionaise num período tãoarcaico da história dos

Mbundu,l?mas a natureza da estrutura associada aos lungaparece clara-

ç9gJyc --::yi-q]ryry9"{qglgggri9-9u}ag-o,sob os cuidados dumgg3 g 1i9güi ú1-g_úUig3"i.qr'iÈIo-.9i_9ry49da comunic aç ão com a9

forçts espffuuais de que ele estava invrstido,segundo se acreditava. Estegu;diãó oo luìga èxercia os poderes de conceder o acesso à tena às

Íinhqggnqforaste-iraqquç nãp tinham-podidoencontrffum territóriovagoparáG estabelecerem. Ele controlavaa fertilidadedos campos e as chuvasgg"-gi-g"-ii"'baóiahidrográficadg qualqugr ribeiro.ou rioocupado peloíeu t"i.,sa,"é os güardiães dós malunga dos principaiscursos de água

.-rgivi_ndicavamuma vaga superioridade sobre os malunga e populaçõesqueviviamnos afluentes. ô controloque os guardiães dos malungaexerciamJbre â-ièr,Ìãã â õhúva dava-lhes um yt9-B 9,i-o-$9-pr"99sãopara exigirem

o respeito e, provavelmente,o tributodos agricultoreslocais qúe delesdependiaqr pÍìra assegurar colheitasconvenientes. Eles podiam,também,i-poiuma subserviência sem reservas aos forasteirosque lhes deviamoseu direitode ocupação da terra.. Para além de chamar a atenção para as potencialidades do lunganoestabelecimento de uma incipientehierarqúade liúagens no interiordeum dado território,nada indicacomo a políticadeve realmente teÍ fun-cionado sob estas insígnias. Presümivelmente, então como agora, o con-Eolo dos malungadeve ter passado por via mâtrilinear,dentro dos gfuposde filiação.Nessa medida, os malunga reforçavam a solidariedadedongundu como instituiçãosocial básica na vida dos Mbundu.Inicialmente,pelo menos, os malunganão precisavam de ter introduzidoum grau signi-

hcativode centralização, para além da formalrestruturação de partes dahìerarquia linhageiracom base na hidrografia.Portanto,eles devem terligadoentre si, pela primeiravez, linhagens que não estavam ligadas pelasgènealogias dos grupos de filiaçãoque a cisão das linhagens ia produzin-

,' segundo Horton"Tipo2 - comunidade dispersa, territoúalmentedefinida"( I 97 I , pp. 93-7).

'ó MarshallD. Sahlins (1961).,t Uma das possibilidades pode ser a interacção de Ìinhagens Kongo.enl.expansõo para sul, com

fi"ttãg"Ã'lúu"noumou"ildo-s.para norte, á partirdo centro do sfstema linhageirosegmentar dosSongo.

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quia uma igidez e artificialidadeque impediamas linhagensde consti-tuiremnovas alianças, fosse em resposta a mudanças nas condiçõeseõonó'micas, ou à ascensão de um líderparticularmentecapaz, ou ao con-ïÍonfoCom uma ameaça militarexterna que requeresse reorganização ecenfialização para a defesa. Os malungaJorneceramuma resposta parçialàs necessidades dos Mbundu,quanto a instituiçõesque atravessassem asgenealogias de linhagemque constituíam abase da sua sociedade,,masisso não satisfazia a necessidade de flexibilidade, oque levou,por fim,muitos Mbundua substituíJos por outro método de unir os grupos defiüaçãodentro de novos e mais vastos agregados. :, , :. ; .'\.:ì .

O ngola como um símbolo delinhagem í I'

--*ìh-O princípiode autoridade que forneceu maiorflexibilidadeà maio-ria dos Mbundu veio coma difusãode pequenos pedaços de ferro conhe-cidos por jingola.Esta insígniachegou até aos Mbundumuito maisrecentemente do que o lunga e aindaé venerada pela maioria das liúa-gens como o seu símbolo fundamental.Em consequência, sobreviverammuitomais ponnenores acerca da sua oriieme funçãona históriapolíÍicados Mbundu. Originalmente,era um objectode ferrode uma formabemdefinida,um martelo, um sino, umaenxada ou uma faca. A sua im-portânciadeclinou nostempos reoentes, paralelamente à dos malunga, àmedida que estados mais recentes, incluindoa administração portuguesa,fizeramos seus alegados poderes parecerem menos eficazes; actualmente,as linhagens aceitamcomrr seu ngolaprattcanente qualquer deformado oufemrgentopedaço de metal. Tal comoos malunga, o ngola começou po'rser incorporado nos grupos de filiaçãoe tendia a reforçara sua inde-pendência, sem que houvesse uma significativa centrúzaçáoda autori-dade acima do úvel da liúagem. Essencialmente, o ngola forneciamaisuma formade construirlaços não hierarquizados entre linhagensMbundu.

r Quando uma linhagemÌvÍbundurecebia tmngola, nomeava para eleum guardião, na crença de que, tal como os seus ouEos símbdlosde auto-ridade, aquele lhe dava acesso a especiais forgas espirituais úteisna regu-lação dos assuntos dos homens. Eles atribuiramao ngota algmas dasmesmas funções outroradesempenhadas poÍ relíquiase insígniasobsole-tãí e, finalmente,adoptarÍrm-nocomo a mais importanúeinsígniadaU4fuigeÍn.Tal comooutros objectosassociados à árvore mulemba, ele erao mediador enfte osmembros vivose mortosda linhagem. Eleajudava oseu guardião a resolver disputas,pela prática da adivinhação para sêber dajusteza da causa de cada paÍte em litígio,e dava-lhe apoiona tomada dedecisões referehtes ao bem-estar dos seus parentes. As linhagens Mbundu

& ORIGENSEÌ.IDÓGENAS I O NGOIACOMOUMSh4BOLO DELINHACEM 65

gg:L9fç1g9a1dj{es-dongotaao.e; 4 ttgdeimportqltdsgqlÍánosd ït gë ìf 4ãõï díà ;tios"í à

i, coügações de linhagens nasquais.4,çtipt el{Ì4 pglição principal.O ngola

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da ïtragëm;ìfam4ãõï,natemUq díà nso;,k1os ;tios ío'ãità1," ,.,^

?d?utog:{eqBúE-s.-4t-"uris.?s9çligç.go-'ààa.sr-p.*uaa .p,,ç 1 iN

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,,, , coügações de linhagens nasquais.4,çtipt el{Ì4 pglição principal.O ngola

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ãí õuri-gaçoes,mènos riundanas,ãe distribuir^ ;;;;; àr:ÃË,;; 'l 'grupo de parentesco, enqpanto os malemba dyangotase tornavaÍio, af""-i ,,

tivos chefes da liúagern e os dignitáriosporíúcos dominanresdo grupo.Através do aumento da mobilidadefísica e social oa, túu "nri

Mbundu,o ngola resolveu o problema da sua rigideze inflexibilidadeestruturais, que haviam permanecido mesmo depois da difusãodo lunga.Ljh*gfal li*3.g--:l:dâs suas amanas a um único p_-edaçode chão ef-omeceuumsíni6õl'óq_-_"-ïHè-úffiffi:$q_rïelÇg^_Sp_Çe..Baggpqgerii-ôe-_áõsragregarcfi-rur*o a árvoremulìiíìsnaohzaraa integridaffi;''À;iuiiõ-dë"paièntesco,as suas raízes tinhamrepresentado o vínculode cadangundu ao solo onde a árvore crescia. A identificaçãodos malungacomdetenninados rios e lagos tinriatambém associado ã uÀ-"rií-"rpi.i*"rde cada ngundu às terrasr por ele ocupadas sob a direcção do guaráiao dolunga. Estas características dos sistemas políücos iniciaistintiamtendên-

lalgqqgçiéIãçóei'iiudnao enôontravam

o áúúento de mobilidâdefísica foi,piovâvêlmente,acompánhadopelo aumento dos índices de cisão das linhagens, uma vez que as técnicasde divisãodos jingola forneciammeios fáceis de iegitimara criação denovos grulos. De acordo com padrões estabelecidos de divisãoda áutori-dade, os üomens mais jovens que queriam escapar ao domíniodos seuspaÍentes mais velhos, requeriam simplesmente um,novongola dequalquerlinhagemque desejasse apadrinhá-los, em

troca do seu acordo em dar aoprotectorapoio na gueÍïa ou noutros empreendimentos. Assim, ossobriúos podiam abandonar as aldeias dos seus tios e estabelecer novossegmentos de liúagemsob seu próprioconfolo,com base no poder dejingoladerivadosde grupos de filiaçãocom os quais não estavamaparentados. {s liúag9ns*pgdiam_qUghf-ef.d:.gnç_lseiistentes, baseadas^---r--- - ,-r

Todas as provas apontampara as regiões planálticaspróximasdas nascentès do rioLukalacomo a origemaproximada dongola que pro-duziu estas mudanças na natureza da estrutura social dos Mbundu.O povoque frouxe os jingolapara os Mbundué recordado como "Samba", obvia-mente o "Samba a Ngola"da lenda etiológicado ngola.ts Emboraos

Samba originaistenham actualmente desaparecido como grupo étnicoidentificável,os seus herdeiros actuam ainda como guardiães destes sím-bolos na maioriadas liúagens Mbundu.Matamba,g norye kikgn*qg$oséculo dezasseis paÍa a antiga provínciasituada neste mesmo planalto,ieíúfrõâa ôii$emquef õciÉ Samba quer do ngola, uma vez que a fo-rmap9-*g.:gf-{S.}91er]l{glg1pglel? a mesma palavra do termo Ki4 ol-t-dtt""'lS4$ e".As variações fonéticasque distinguemo KimbundudoKikongomostram que a formaoriginaldo nome tinha rs- como consoanteinicial.'eUma vezque a língua Kimbundunão tem a consoante inicial/s-,r os Mbundu evidentemente deixaramcair o Í-, nasua pronúncia dapalavra, e dizem "Samba"em vez de "Tsamba".A interpretaçãopornr-guesa da mesma palavradeixou cair o -s- do Kikongo original,uma vez

que ós Portugueses também não têm um ts-inicial,e -tamba tomou-se adesignação padrão para esta região em todas as fontes escritas. A adiçãodo prefixobantu de pluralma-, que é comum para designar gruposétnicos,2r completoua transformaçãode Tsamba em Matamba e prova,pois, a exacta correspondência entreas duas palavras.

A localizaçãodos chefes que detêm os títulosSamba mais antigos,nas genealogias históricas dos Mbundu, confirma'asua origem naáreaagora conhecida como Matamba.Amais antiga posição Samba recordadaentre os Mbundu,a que é chamada Kiluanje kyaSamba, pertencia alinhagensque viviamno médio.Lukala,imediatamentea sul da antigaMatamba.22Umcerto númerode outros títulospolíticos,menos impor-tantes em períodos posterioresmas igualmente antigos,preservarÍrm o

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70

Embora outros autores não tenhamdestacado o papeÌ dos Samba na históriados Mbundu,o nometem aparecido em relatos escritos de outras tradições Mbundu.Veja em Vy'auters (?) (s.d.), pp. a-5,uma nota segundo a qual as liúagens Pende (ele chamou-lhes "clãs")reclamam descender de um"GangilaSamba" (Kanjila(ka) Samba? o "grande pássaro dos Samba"). Atkins(1955), p. 344,verificouque os Holo (antigos Pende junto do médio Kwango)se lembravam de uma mulher anti-ga coúecida por Samba.A pronúncia actual em certas regiões do Zaire preservou a formaoriginal dapalavra; verPlancquaeÍ (1971), p.13, onde ele dá o nome de Tsaam e Tsamba.Veja Atkins(1955), p. 328, que dá Tsotso como a forma usada na Matamba para o nome que osfalantes de Kimbundupronunciam "Soso".ex: Masongo, Múolo,Mahungu.Estes desvios fonéticos explicamporque é que o nome próprioKimbundu"Matamba",como em Matamba a Mbulu,não tem relação com o reinoda Matamba; aformaem KimbundupaÍa o nome do reino seria Masamba.Lopes de Lima (1846), III:l3l-2.

mais ricas ou mais

66 ORIGENS ENDÓGENAS

nome de Samba na fuea do alto Lukala,até ao século dezanove.ã Uma dasirnportantes e antigas divisões nas genealogias políticasdos títulosSamba

O NGOIACOMOIJM SÍVüOLODE LINHAGEM

corte do Kongo ,tçntou,evidentemente,distinguiros povos doe $urgovernantes aúavés do uso cuidadosode "de"e "e",mas não conscgtlu

61

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p g g g psubdividiu-osem dois grupos principaisnum localpróximoda Matambachamado Kamboka Mana,no curso médiodo rio Karnbo.u TradiçõesdosNkanue dos Soso, vizinhosdas linhagens Samba qúe actualmente vivemno Zaíre,dão como origem destes Samba as nascentes do Kwilu,um rioque coÍre para norte em direcção ao Kwango,a partir da antiga provínciada Matamba.È

Provas dgguúgnt{s,tlllojlo:I oJg,o_çg no-4._o_s.IÁb_UUdu,.confirnam*"

,ainda m4s as origensdos

Samba na Mataúba. Os lyt q 4U_qg_slcu g_dezassete descendentes dos Samba davam aoj **s_"goJru gp-"gIigl gj_" ü,paÍÀ1tffi,.,.1u-p,;úõ rnai;cedo, em 1535, o rei doKongo, AfonsoI, identificara-sej asi próprionasua coÍrespondência oficialcomo "senhor dos Ambüdos,e d'Amgolla,daQuisyma,e Musuru,de Matamba, e Muyllu,de Musucu,e dos Amzicoseda cõquista de Pamzualübu..."."Se bem que as inegularidadesestilísticasdo Português escrito do século dezasseis possam permitircombinarestasequência de nomes própriosde várias maneiras, semviolaras poucorígidas regras gramaticaisdaquele tempo, a maioriados estudiosostraduziu oselementosda série como termosparalelose indeperidentes:"Senhor dos Mbundu,do Ngola(i.é, um rei dos Mbundu)da Kisama

(a região a sul do Kwanza),de Musuru(não identificado),da Matamba(a província),de Mwilu(não identificado),de Musuku(uma região a lestedo Kongo)..."etc.

Surgiráqlqa Lnte_rpftaçig_"di{erentej.qaii_,9};1ç"e"_q-9-s-Le-*tÍgt9_qq _"

reagrupaÍïnos os seus elementos com base na distinção implícita4qqSqdq_,#*.-':"e"@gação. Com grafias modernas, a passagem

-affiXl-g Ëi;â;*À[atam6eïeDe factõ,' õ rel óio Kongo tinhá-dádõ Ìfâõïdõs ïõiÌësfoSpõ-üõIviziúos,*.-. _;-*_*,mas taËb-ffiõç ïíffiIô-S"üÕSteüS"governantes" com vi$taà sua localizAçLq

fl-Ug,t-frf"q*frtè passando pelos S.gkrL-4_lg lg:_g(uolfygnllgrg51g.Um escriba na

" Veja, por ex., o mapa de Chateiain (1894). O uso de Samba como um apelido indica descendênciadirecta do povo Samba. Os títulos Samba ocupavám posições subordinadas nos estados Ìüembu(provavelmente mais taÍdios)tveja Matos (1963), p. 321.2' Testemunho de Sousa Calunga, 29 Set. 1969.It Plancquaert (1971).Este rio não deve ser confundido com ouho(e mais coúecido) Kwiluque

^corre a leste do Kwango.

.'") Cavszzi ( I 965), I: 253', cf. J. Pereira do Nascimento ( 1903),p. 5 1.

" Carta de el-Reido Congo a Paulo III,2l Fev. 1535 (A.N.T.T.,C.C., I-3-6e I-48-45);pubücada emBrásio (1952-71), II:38-40.rr Estô interpretação presume que "Quisyma"envolve uma excentricidade ortográÍica que também secncontro um século mais tarde em Cavazzi (1965), I: 253.

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governantes, aúavés do uso cuidadosode e , as co scgt uüansmitiÍa importânciade tal disúnção à maioriados leitoreseurqpêUt,"Musg4l"dq UglggUa-egt99e.-sgfs ILelTgmus ur i (ou .Ng.ola-Mueu{")mencionado mais de cfr anos*depõiil;as traAÇtíesoiaiúó-qM.Fodu-dp

rei fur&dar-da-ngola'Ã*com"cioe--* giaÍelr-'eq.9-]ll.n--g3y1:1lo-jpg9"p1{e-rd-e$Ë&g[aMaknba.

--omo a terra.natal dos Samba.-**li*trãeËs=NiËffidìtrïôséculo dezassete associavam os Sarnba r

uma sofisticadatecnologiado ferro e podem, portanto, sugeú umadag

razões pelas quais o ngola se difundiurapidamente entre as suas linhagcna,O lendáriorei fundadordos Samba, "Ngola-Musuri",trouxea com'petência técnica no trabalho dq feno que permitiuaos Mbundu fazer polaprimeira vez machados, machadinhas, facas e pontas de flecha.ÚAs tradições de grupos modernos vivendonoZaíre c6ncordam em ÍefrAtAÍos Samúa como excelentes ferreiros,que há muito tempo introduairamnovos métodos de trabalhodo ferro a leste do rio Kwango.'Aconfirm4ra ligação entre os Samba e novas técnicas metalúrgicas, está o factode osjingola.que eles difundiramentre os Mbundusempre terem tomado &

formade objectos fabricados em ferro.Isto contrastava fortemente com qg

anteriores insígnias de autoridade que incluíamuma variedade de objectoe

não metálicos:figurinhastalhadas em madeira, toucados, penachos,esteirasetc.Ar gsíg 3j-tr-glgeg 91o9$qmtq:simbgfizava1n,3prg4gtg'mente,ut"õggg@*qí9g:3p.S1"qg-ç"rygep-bem-vi1$gse3eg.o-sMbundu.* ,õï jingola,provavelmente,chegaram como uma nova formadesímbololinhageirodifundidopacificamentêde liúagempara linhagem'sem aquelas ondas de conquistadoresmigrantes brandindomachados,facas e pontas de flecha,que dominaramalgumas descrigões destes acon-tecimentos feitas pelos Europeus. Uma variedade de condições locais terápredispostomuitosjdngunduaadopíar voluntariamente os jingol,a.Podiamúr*o ngola paru reafirrnara sua autonomia em oposição às pressõesimpostas por forasteiros, tais como os chefes detentores de lunga associ+

dos aos rios principais.Os poderes atribuídosao ngola permitiama cadangund.uignorargovernantes externos existentes, colocandoo ngola emrubrtitoiçaode qualquer insígniade autoridade subordinadaque estestivessern nessa altura.As linhagens preferiamo ngolaa outros símbolosporque eram oS seus maiS-ve$os, em Yez de foraSteiros,quem nomeavaOS

representantes que preenchiama função de lernba dya ngola' Estes titu-

xe lbid.'n Plancquaert (1971).

ti

68 oRIoEÌ.ts ENDóoENAs

lattc, ao pâ$aÍem pcla iniciaçãoa essa posição, teoricamente adquiriam od "S b " i d d f d id l l

O NGOLACOMOUMSÍMBOLODE LINHACEM 69

embora os Mbunduainda hçsitem em tocaÍ numcamaleão, eles já não

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ogtatutodc um "Samba"vindode fora, mesmo tendo nascido no local,eassim tinhün o prestÍgioe a neutralidade,nos assuntos liúageiros, quelhos pcrmitiamactuar como árbitros nasdisputas entre as liúagens;aesumindo esta função, eles substituíamos conselhos de linhagem,os teis-Iunga,os chefes de grupos de filiaçãocom posições seniores nasgonealogias perpétuas, e outros. As poderosas sanções sobrenaturaisafibuídas ao ngola permitiama uma linhagemdetentora desta insígniaignorar, sequisesse, outros grupos de filiaçãoe dignitáriosde quemanteriormentetinhadependido. A..L"::pÉyi9gg9_d4.*lfnbegç{rt*-llgqqg_Jt

forasteiros

através da inic: .osl{Sgndulocaisque o_adopps-bç-ggg$ps-tsnalésiçamsb-asssffdas.

Se bem que o ngola, que de inícionão exigia lealdades liúageirasmais exclusivasdo que qualquer outrosímbolo deautoridade, possa tercoexistidodurante algum tempo com insígnias rnaisantigas, as suas van-tagens pouco a pouco fizeramdele a formapredominante de poder políti-co entre os Mbundu.No final,produziuuma revoluçãonas relações entreas linhagensque ultrapassou largamente as mudanças internas operadaspor ele na estrutura de cada grupo de filiação.À medida qve o ngola cres-cia em prestígio, reagrupava as liúagens Mbunduem unidades completa-mente novas, baseadas na distribuiçãodos jingolaem vez dos antigoslaços da cisão liúageiraou da contiguidadegeográfica. Cada ngola car-regava consigoum nome perpétuo o qual, simultaneamente, designava opróprioobjecto,as forças espirituais porele representadas e o seu lembaou guardião. 9:N:y?g-4yglApQ:q$-o_ry-lpodiam concede,r a ourraslrtlrqgg1:.{glog:tiS*lú"{mas iúuoioriados,çontemplando-as comporçoea

-,{Qsiiqusi-ú.ó.pjlgl*ip$e g,._VpL.,l,o:u-e pennanente rehfâô,termos de como todas as outras, ügava os títulos

crenças devem ter chegado até aos Mbundu a partir dos Samba. Umdes-ses costumes proibiaqualquer contacto com o camaleão. A mesma práti-ca de evitamento distingueos grupos Samba doZafte, actualmente viven-do na margem direitado Kwango,dos seus viziúosnão-Samba.3'Muito

n /àrd-O

facto de os Ko-ngo teÍem igr'FJmente esta proibição pode confirmaros laços entre os Sambae a Matamba. região fronteiriçado Kongo.

associam esta proibição, explicitamente,à ascendência Samba' Parecemter perdidode vista a origem de tal ideia, uma vez que originalmenteelaservia para distinguiras linhagens que possuíam o ngola daquelas que nãoo tinham. Uma vez adoptaão unifoi*"-"nteo ngola por todas asliúagens Mbundu,o evitamento do camaleão perdeu a sua funçãodistin.tivae os MbunduesquecerÍÌma sua associação com os Samba. Todos osmembros de plenodireitodos grupos de filiaçãodos Mbundu se conside-ram hoje a si próprios"Samba" e o evitamento do camaleão persisteapenas como um vestígio que hoje em dia faz a distinçãoentre os naturaisda terra e os escravos de origemnão-Mbundu.32

Nenhuma pessoa elegívelpara preencher uni cargo relacionado comuma liúagem detentora de ngola podia comer a caÍne do golungo.sO ngola acabou por exercer uma influênciatão fundamentalnas crençasdos Mbunduque eles alargaram esta proibiçãoa toda e qualquer posiçãotitulare fizeramdela uma marca distintivada'plena pertença à liúagem.Os Mbunduexplicameste costume fazendo notar uma imagináriasemelhança das pintas brancas no dorso deste antflopecom as chagas dalepra e argumentando que podem contrairlepra se comerem a carne dogolungo.Uma vez que eles sabem que os escrâvos e outros não-Mbundu,que

não se reclamamdaancestralidade Samba, comem o golungosem

receio de infecção,é evidente que a proibição tem umvalorbasicamentesimbólico,relacionando-os com os ngola e os Samba.

As formas como oufios símbolos,ainda em uso entre diversosagrupamentos de linhagensMbundu,também afectaramos modelos deautoridadee aliança, não se esgotam nesta descrição do modo comoongola sewiu para glygr-prollerrlËnum períodoem que a organizaçãosocial dos Mbundúdependia principalmentedas linhagens e dos malunga.Mas estes dois - lunga e ngola - ilustramalguns dos princípiosqueregeram a origem e difusão de tais símbolos. Cadaum deles vinhaassociado a determinados poderes, expressos em termos de forças ,.sobrenaturais escondendo-se algures para lá do próprio objectofísico em/

si, q-{pyagg-q seus possuidores uma formade -?}tqqde4çque as liúagems r

u..i-ii*m,-Sg.iii-1&gi-q5-e-.alfUiüg_{ã-*ã soctedade basicamé.nte Iõffintada;útunç49,ôõ:iüËqiõúô:'Ëias-õoÍifèiïànio cuidadodestessímbolos a determinadas funções titularespermanentes, tal como sempretinham dado aosmalemba poderes especializados similarese, muitas

O receio do camaleão não é raro noutros locais da ÁfricaCentral; os Luba, entre outros,evitam-no cuidadosamente. Veja por ex. Verhulpen ( 193ó),p. 70.Umantílope com manchas brancas no dorso chamado ngulungu -em KimbunduiJohn.Charles.Baron Staiham (1922\, p.281, e GladwynM. Childs (1949),p. 43, consideram a espécie comolraEelaphutscriptus.

t2

ORIGENSENDÓCENAS

vezes, limitaram-sea condensar numa única posição de liúagemospoderes do guardiãodo lunga e, por vezés, mesmo os dos malemba dya

ESTADOS INCIPIENTESBASEADOSNO IUNCÁ

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g , p , dos a e ba dyangola.Pgrtanto.adifusíodoSwtha,glt-p_fugolq-S.gìàcqg-o-Ltgb.úg-ggf-Adiminui a impq{â{ì9ia_-{+s__-l$hegglrt_g_olt}g_iqqgÍyiçõe _,básig_asdasojlgqadgN qg4g.Se bem que o lunga contivesse'.ümêËneriiõ"dd*territorialidade,inicialmenteele não implicouqualquer significativacentralizaçãodo poder nem aumento na escala da organizaçãosocial.o ngola representou um regresso, da autoridade territorialmentedefinidaaos laços que uniam grupos de filiaçãosem ter em conta a distância física

Se bem que, no início,a adopção do lungateúa levado apenas a umrealiúamento parciale não hierárquicodas relações entre linhagengMbundu,alguns detentores de lunga levaram as suas posições aorganizar-se em algo que os Mbundurecordam comomúto semelhante a

"estado". os dados disponíveisindicamque estes atingiramo ponto maisalto do seu desenvolvimentoentre as linhagensque se considera teremsido Pende, habitandoo planaltode Luanda,para leste da actualviladeLucalaaté à escarpa da Baixade cassanje. Eles ocupavamtambém asterras de depressão da Baixa,a leste do rio Kambo.vos descendentesdestas linhagensconservaram alguns malungaoutrorapertencentes a reisde bastante notoriedade.' Umdos mais poderosos reis lunga dos Pende foiButatua Kuhongokwa Wutu wa Nyama.As tradições actualmente relembram apenas o ítu-lo deste rèi, provavelmenteporque a sua autoridade declinoumuitoantesda formaçãodas actuais genealogias perpétuas, no século dezassete.No auge da influênciados reis que deúnham este título, "Butatu"gover-nava todas as terras para além do rio Kambo, provavelmentecom basenum lunga habitando o rio Luhanda ou Lui.Uma fontede poder maisconcretadeve ter residido no seu controlosobre as salinas ao longodobaixoLuhanda. A posse destes valiosos recursos económicos permitiaaosreis que usavam este títuloestender a sua autoridade ao longo das rotas

'' Váriostestemunhos de Sousa calunga. o testemunho dos pende, reproduzido em Haveaux ( I 954),tem s€ralmente.sido interprerado como indicaçãode que os pende viviampróximoda baía deLuanda nos finaisdo século dezasseis. Já foramapresentadas provas suficienles do conrrário. tor-nando desnecessário fornecer umarefutação formãÌdesse ponto.

Pakasa ?Kabatukila

'rÒ.*lò',

"$iì-.* I rp 2p 3p 4p lp lnì

taKAYONGOKAKUPAPA'(BUTATU)(pre-XVlth)

Mape II.Autoridades lungana Baixa de Cassanje

(Sec. XVIe mais cedo)

comerciais que canalizavam o sal do Luhandapara grande parte da zonasetentrionalda Baixa deCassanje. Estes reis entraram" em declínioemconsequênçia dos reveses sofridos duranteos primeirosanos do çéculodezasseis, às mãos de governantes do estado da Matambaem expansão.sEmbora o títulode Butatu tenha progressivamente diminuídode importân-cia depois de o seu reino se ter desfeito, não desapareceu totalmente.A posição passou para a linhagem de um titularPende chamado Kanjequeviviadistante, a sudeste, e esta linhagem preservou o nome de Butatucomo um títulosubsidiáriodo seu própriochefe até aos nossos dias,trO caso de Butatu fornece um bom exemplode como os antigos títulosesímbolossobreviveram,sob formas modificadas,fornecendo-nos nopresente provas sobre o passado.

Cavazzi (1965), I: 22, mencionou um "Batuta"como vítimada expansão do reino da Matamba. Asversões impressas dos manuscritos deste período vulgarmente confundiamas letras fechadas'a'e'o' com o 'u' aberto.Testemunhos de SokolalKasanje ka Nzaje; DomingosVazi Sousa Calunga, l6 Jun. 1969; mapasde Schüu(1881) eH.Capelloe R.lvens (1882), II.Todos concordam emque Kanje nos finais doséculo dezanove viviana margem oeste do rioLui, próximodo monte Mbango(ver Mapa II).

72 ORIGENS ENDóGENAS

A figurade um ouforemoto reilunga,Kayongoka Kupapa,emerged b d t di õ t t d P d d i

REINOS BASEADOSNO NCOI,{

A constante ascensão e queda de governantes' que maÍcoua históriad Y d l d édi Luie do rio Luhanda não aconteceu na

73

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das brumas das tradições tremanescentes dos Pende como sendo o antigogovernante de Yongo, a região entre os rios Luie Kwango a norte doactual posto administrativode longo. Umavezque, muitas vezes, os títu-los políticosMbundu subordinadostoÍnavam para seu sobrenome o nomeprópriodo seu chefe hierárquico,o títuloalternativodestes reis, Kayongoka Butatu,3? indicaque os homens que detêm esta posição pagavam outro-ra tributoao Butatua Kuhongokwa Wutuwa Nyama. Kayongoka Butatu(ou Kupapa)aparentemente separou-se de Butatu a Kuhongo kwaWutuwa Nyama quando o reino govemado pelo títulosenior entrou em declínio.O sobrenome Kupapa pode ter sido adquiridonaquela altura,de umaorigemdescoúecida, ou pode ter sido um útuloque peÍtencesse já àque-les governantes antes de eles'se tornaÍemsúbditos do grande Butatu.s

Outros çeis lunga dos Pende govemarama parte sul da BaixadeCassanje sob títulos deum género conhecido comoyilamáa (singular,kilamba).eTitulares chamados Múaxina Pakasa confiolavam aregiãoonde o rioLuivirapara leste, abaixodo vale chamado Baixade Kafuxi.A sua influênciaestendia.se para norte até aos pântanos salgados do rioLúanda.{Os titulares de Múaxina Pakasa concederam aos seus vizi-úos do sul pelo menos um título lungaslbotünado,e Nzenza ya Múaxitornou-se o governante das terras planas ao longodo curso superiordo rioLui.atUm outro títuIo,Swaswa dya Swali,controlavaas colinas forte-mente arborizadas entre o Luie o monte Mbango.a2lJm rci lungaconhecidopor Kikungokya Njinjedominavaos Pende da bacia do rioMoa,na margem sul do h,ui. Numaépoca descoúecida, provavëlmentedepois do declíniode Butatu, Kikungokya Njinjeexpandiutemporaria-mente a sua autoridade para norte, para Yongo.6

a2

o

A formamodema do.lome,àparccc gomg $aygngo ka Kutatu; osobrenome repr€sentaprovavelmente uma distorção do ítúo arcaicd Butatu.I(upapa e 08 útulosda maioriados outros reis lznga dos Pende parecem ter sido nomes de louvor.O rcmrc htpapa, por exemplo, pode ser uma palavra arcaica do Itimbunduque tem a ver com fazerum núdo de estalidos, como os çstalidos do fogo.Antóniode Assis Júnior

-(n.d.), p. 221, apresen-ta derivaçõcs veÍbais aparentadas, como kupapajana, kupapana, e kupapanesa, todas relacirmadascom provocar estalidos.

InformantesImbangalq na 4écada de 1850, descrevem-nos como yilamba;Francisco de sallesFerreir.a (l85rt-8r,p. 29. Henrique de Carvalho(1898),p. 15, -parafraseouSalles Ferrcira.A antiguidade_destes útulos era evidente pelo facto de os Portujgueses do século dezassetecoúegcrem a Baixa de Cassanje como a "Kinakya Kilamba";Èl'na désignava qualquer depressãono solo, como uma caverna ou um túmulo, ver Assis Jr. (s.d.), p. l3l.Auiorcimais-tardiosatribuiramao termo um ou outro sentido mais lato: chatelain tig9+1, p. g, L€ite de Masalh:iesç924),p:73. O termo érdoptado aqui por conveniência, com vista a diStinguirestes govelrnantesdoutros tiposde chefes. Para o uso do tèrmo no século dezassete, ver adianté p.215,í. l2O.Tcstemuúo de Sousa Calunga, 22lt:/..1969,Testemuúo de AlexandreVaz, 3 I Jul. 1969, mahaxi são jonos de sangue e, por extensão, váriasdoenças graves que se acredita sercm causadas por excesJo de sangue;l,ssis jr. (s.d.), p. 27 1.A swaswa é uma espécie de árvore não identificada;Assis Jr. (s.d.), p. 358.Testemuúos de Sousa Calunga,24 Jul. e 29 Set. 1969. Este título,ao contráriode outros, é com-posto por nomes próprios.O njinje é um pequeno gato selvagem.

t

n

de Yongo e dos vales do médio Luie do rio Luhanda,não aconteceu naparte sul da Baixa deCassanje.' Aí,uma série estável de rcis lungagovernou tenitóriosrelativamenteinalteráveis.Kangongo ka Pango con-trolavaas mais altas elevações da região Kembono extremosul da Baixa'próximoda entrada do rio Kwangono vale.s Umoufro,Uxiwa Nzumbi,governava as colinasarÌorizadasque se inclinavampara leste, a partiÍdaregião de Xá-Mutebaem direcção ao vale doKwango'6 Kokona Mumbiúúa o controlosobÍe as planíciesda bacia do rio Lutoae explorava as

valiosas salinas que ali se localizavam.4?

Reinos baseados no ngolaAlgumaslinhagens Mbundu fransformaramo ngola, de insígnia de

linhagem,no fundamento de um novo tipode estrutura política, talcomooufras tinham,anteriormente, realizadoidêntica transformação no lunga.Na época em que os primeiÍosPortugueses chegaÍam a Angola,no séculodezasseis, os Mbundudo oeste ainda eram governados pelo mais poderosodos reis que baseavam a sua autoridade no ngoln; por isso, dispomo'sdemais informaçãopara esclarecer a históriadestes estados do que paraaqueles que se basèavam no lunga.O mais bém sucedidodos reinos ngolaatingiuum certo grau de centralização, tiúa uma hieraÍquiacom diversosníveis e expandiu-se numa dimensão maiordo que qualquer um dos seus /\predecessores. A determinaçãodos seìrs reis apoiava-se em exércitos/

ãup-". de derotar as forçaimilitareseuropeias e que lhes permitiram,rtalvezpelaprimeiravez, estabelecer um efectivoconholo sobre os aÍisun- Í

tos de muitas linhagens. Aocriarelnfqs -tU ç9ps19 Í rc4 ç-g q1 gadas ehierarqgizalas*ço-m--b.aqeìõ-z-f-o/a,qt-ç-s-Éúisl*iuy-çfiép-g*liellÍiledo>-affiúAde uma insígniaque- inicialment€,"Çhçgarg--aos-UDunducomoffi üãá-le*-Oç,idei-as.çs- qlb-plqsaPsorvidospelos-istema-liúsgeuedos..Mb-undu."

Conúnuamos a poder apenas especular sobre comoos primeirosreisngolafransfonnÍÌrama sua autoridade, de alianças de liúagens essencial-

As tradições que sobrcviveram, fragmentadas, apenas descrevem a situaçÃo polÍticano momento"m

que ie deo'a conqústa de KasanJe pelos Imbângala. Pon&nto,podem dar uma falsa imagem deestã6ilidade nesta paÍte da Baixade cassanje.O nome deste rei linga rcfere-se,aparentemente, a um bastão de função dado a um emissário- dumclrcfe;kangongo é uõt pau com deienhos entalhados, enquanto pdnSo (ou pangu) significa"notí-cias", de acordo com Assis Jr. (s.d.), pp. 96,332.De acordo com Assis Jr. (s.d.) p. 374, uxirefere-se a um vendedor de me[; no contexto aquidescrito, o significadoé obsçuro. Umnzumbi é um espírito ancestral.Os títulos de Kokona Mumbireferiam-se à sua reputaçõo como a única pessoa que conhecia osegrcdo que permitia trepar até ao cimo de Kasala, uma escarpa venical de trezentos.metros dealt-ura,qui fièava acimaãas suas teÍras e onde inúmeras cegonhas faziamninho.A palavra /<okorefere-sè a uma espécie de planta trepadeira (den'is nohilis\e mumbié uma cegonha emKimbundu;Assis Jr. 1s.d.1 p. i5a, RoOriluesNeves ( I 854), p. 35; testemunho de Sousa Calungal0 Set. 1969.

74 opJGENSENDócENAs

mente igualitárias,em alguma coisa que era claramente um reino; a menosque consideremos que as tradições orais dos Mbundudo século dezassete

REINOS BASEADOSNOTVGOIá 75

esú numa posição subordinada, nooriginalestado do kiluanjelqa samba,Os reis empossados no útulongola a kiluanjeeclipsaram depoisos detcn-

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forneceminformaçãosignificativaquando descrevem o primeirogrande"Ngola"como aquele que trouxe "machados, machadinhos, facas e setas,coisas que ajudavam os pretos na caça e na guerra".d A predominânciadosfundadores reis-ferreiros,nas tradições orais dos estados por toda a África,torna altamentesuspeita a imagem de conquistadores brandindoo ferro,que criamestados em virnrdeda superioridade do seu arnÌamentoe da suatécnica. O cepticismoa esse respeito parece especialmente adequado se

tivermosem conta os serviços que tais conquistadoresutilizadoresdo ferroprestaram ao "mitohamítico"e a outras duvidosas teorias da formação doEstado por conquista. No caso dos reis ngola, nenhuns dados etnográficosconhecidos sugerem um.influxomassivo de forasteirosconqústadores,quer durante a inicialdifusão do ngolacomo um símbolode linhagem,quer durante a posterior expansão dos estados ngola.Pelo contrário, um ououüo dos dignitáriosdas linhagensMbundu locais, detentores do ngola,deve ter estendido a sua autoridade sobre as linhagens vizinhasem virtudede novos útulos ngolasubordinados, mais do que através do relaciona-mento coordenado de liúagens aliadas.

Na genealogia etiológicabásica Mbundudo "NgolaInene" detectam--se as principaisliúas de evoluçãodestes novos governantes. O "NgolaInene",ou seja, o "grande ngola" representa o princípioabstracto da orga-ntzaçáo políticabaseada no ngolae pode ser conespondente ao períodoantes de o ngolase ter tornado um símbolopolíticoimporlanteentre osMbundu."Samba a Ngola",a quem a genealogia retrata como a "fi.lha"de"Ngola Inene",representa o povo da Samba da Matambaque os Mbunduassociam ao ngola nesse período.O resto desta genealogia, como a rnaio-ria das genealogias políticasMbundu,descreve a génese de uma hierar-quia de ítulos políticoscomposta por sucessivas gerações de títulos"filhos"criados por detentores de títulosem posições imêdiatamente supe-riores, ou de "pai".Assim,o primeirotítulopolíticongola de que hámemóriaentre os Mbundufoio kiluanjelqa samba de que eram deten-toras as linhagens que viviamnão múto longe da origemdo ngolanaMatamba. O significadodo títulokiluanje,"conqústador",aeparece indicarque os Mbunduencar m este títulocomo a ponta de lança do avanço dasinstituições políticasSamba no territóriodos Mbundu.

O ngola recebeu o reconhecido méritoentre os Mbunducom a ascen-são de uma segunda posição chamada ngola a kiluanje.O seu estatuto nagenealogia como "filho"de Kiluanje kyaSamba implicaque a sua origem

" Cavazzi (1965), I'" Assis Jr. (s.d.)

2s3. a' Cavazzi (19ó5), I:253-5.

p g j p ptores do útulo senior, nos primórdiosdo século dezasseis, continuandoassim o movimentopara sul que úúa começado com a deslocação daMatamba pma kiluanjelqa samba. A ngola a kiluanjeestabeleceu as suascapitais entre o baixo Lukala eo Kwanza,próximodas montanhas qucümitam a oeste o planaltode Luanda.

Uma tradição narratiya'doséculo dezassete descreveu a ascensão dongola a kilunnjeem termos que corïespondemà sequência evidenciada

pelas modtirnasgenealogias. Apesar de alguma confusão da parte do mis-sioniárioque registouesta tradição,ficouclaro que o grande "NgolaMusuri'(equivalente a Ngola Inene), na Matarnba, setinha deixadovencer por linhagens que pertenciamao subgrupo dosMbunduque viviano alto Lukala.De acordo coma narrativa, Musuri,rci na Matamb4casoucom nma mulherconhecida apenas por um título, nganainene ou grandÊsenhor. Esta "esposa", eue evidentementenão passa de uma referênciadistorcidaa algumoutro títulohonoríficopertencente a Musuri,deu à luztrês filhas,"Zunda dyaNgola","Ti.rmbadya Ngola"e uma terceiracujonome o missionárionão se interessou em registar. Um escravo do grandorei-ferreiroarquitectou a mortedo seu senhor e o títuloreal passou para afilha"Zundadya Ngola".A outra filha,"Ttrmbadya Ngola' , casou com

um homem chamado Ngolaa Kiluanje kyaSamba ("AngolaChiluuangiQuiasamba") e acabou poÍ entraÍ em conflitocom a sua irrrã.Depois deuma conveniente série de actos fraiçoeiÍos, "Tbmba"e o seu maridoderrotaram"Zumba"pela forçade um poder militarsuperioç e NgolaaKiluanjepassou a ser o primeirogrande rei conqústadordos Mbundu."Das suas numerosÍls concubinas,teve muitíssimosdescendentes, queforam os chefes das mais importantes famfliasdo reino".s

Em conformidadecom os cânones das actuais genealogias perpétuasdos Mbundu,esta tradiçãomostxavaos pares de linhagens e títulosa elasassociados, que dominaramos reinos ngola dos séculos quinze e dezas-seis. "NgolaMusuri"representava os reis ngola na Matamba.O nome de"Zundadya Ngola"foialterado em relação à sua forma própria,que

apíìrece nas modernas genealogias etiológicas como zundu dya mbulu,afimde o fazer corresponder à regra segundo a qual um título"filha"tomapara seu sobrenome o primeironome da posição "pai"(neste caso, Ngola).Zundu dyaMbulu(Ngola)foia lendária antepassada do subgrupo dosMbunduchamado Ndongo,precisamenteas linhagens que viviamnomédio Lukala onde viviao kiluanjekya samba (mencionadona tradiçãoapenas implicitamente,através do aparecimentodo seu títulocomo um

ftlI

76 oRTcENsENDócENAs

sobrenome para Ngolaa Kiluanjekya Samba). portantoa tradiçãoestabelece qup as liúagens do alto Lukala(leia-se ,'o kiluanjelqa

REINOS BASEADOSNO NCOLA

circulavamno reino comouma espécie de "moeda"na esfera de üocas depresúgio trMesmo mais tarde em 1798 sucossores dos governantes da

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II])lì)lI)),t))II))tI)

))))))))

g ( j qsamba") edificaramum reinocom base nos poderes que elas obtiveramdogrande ngola da Matamba.

Uma vezque o missionárioque registoua tradiçãoconfessou a suaconfusão a respeito dos nomes correctos das fiês "filhas"de "Ngola-Musuri",não há razío para supor que ele teúa registado correctamente"T[mbadya Ngola".O nome "Tbmba"não aparece em neúuma variantemoderna das tradições dos Mbundue, neste caso, foiprovavelmenteinüo-

duzidoa partiÍdas histórias de povos que viviarna leste do Kwango,ondeesse nome figuraacnralurente como uma antepassada dos Cokwe.Muitoprovavelmenüe, "Tbmbaf'tomouo lugar de Matamba a Mbulu,o ante-passado etiológicodo povo lrnge do baixoLukala.pela regra segundo aqual os casamentos nesras genealogias significamque uma liúagemougrupo de linhagens reivindicaum título,o casaÍnento de "Tumba a Ngola"(leia-se"Matambaa Mbulu"ou o povo Lenge)com Ngolaa Kiluanjee asua vitóriafinalsobre ps Ndongodo Lukala setentrional,descreve asbatalhas nas quais os Mbundudo sul arrancaram a liderança akiluanjer<yasarnba e edificaram,com base no ngola, um novocentro de poder políti-co no baixoLukala.

Segundo sugere a tradição,as capitais do estado de ngola a kiluanje

ficamna provínciaIrngee, provavelmente,factores económicoscon-tribuirampara a expansão do poder destes reis, tal como as salinas do Luitiúam constituídoum suporte para alguns dos reinos baseados no lunga,na Baixa de cassanje. A região dos Lenge inclúaas minas de ferrodo valedo rio Nzongejie, aparentemente, as apuradas técnicas metalúrgicasconhecidas dos samba fizeramdestas reservas de minériouma valiosaeestratégica presa. os ngola a kiluanjenão só instalaramâs suas capitaismuitopróximasdas minas, como também mais tarde resistiram tenaz-mente a todos os avanços portugueses em direcção a esta área, enquantomostravàm relativamentepouca preocupação com a penetração dos por-tugueses nouhos lugares dos seus domínios.A especial sensibilidade dosreis à ameaça de perda desta região pode ter resultado do desejo de prote-ger as suas capitais, comoos atacantes portugueses deduziram, mas a suadependênciado controlodos depósitos de minériode ferro poderátambémter influenciadoas suas tácticas. um eixoeconómico de segundo plano noreino dependia da posse das minas de sal de Ndemba, a sul do Kwanza, naKisama. Aoque parece, foibastante cedo na históriado reino que os ngolaa kiluanjeestabeleceram a sua hegemonia sobre as autoridades políticaslocaispróximas destas minas pois, por voltada década de 1560, elestinham impostoum tributoem sal que os titularesda Kisamaenviavampara a corte, estabelecida próximodo Nzongeji.Blocos deste sal

presúgio.trMesmo mais tarde, em 1798, sucossores dos governantes daKisama ainda enviavam tributoaos herdeiros dos anúgosngola a kiluanjeque, nessa data, se úúam deslocado para o rioWamba e usavam os tÍtu-los portugueses de "reis jingas".52

Mapn III.Subgrupos e instituiçõespolÍticasMbundu

Uma vez fìrmemente'controladosos recursos económicos do reino,os reis que detinham o títulode ngola a kiluanjeestenderam a sua influên-cia para as linhagens que viviamdistantes, através da distribuiçãode títu-los de nobreza subordinados, derivadosdo seu ngola. Numaperfeiçoa-mento da clássica técnica dos Mbundu,de associar linhagenspelaatribuiçãode uma novaposição perpétua, eles concederam títulos"filhos",com sobrenomede -a ngola, a muitosgrupos de filiação.Sempre que pos-sível, tomavampara si uma esposa dessa liúageme concediamo tÍtulo

anteriores ao século dezassete

'' AntónioMendesparaoPadreCeral,Lisboa,9deMaiodel563; Brásio(1952-7lt,ll:495-í12," "Notíciasdo paiz..."(1844),pp.123-4.

78 ORIGENSENDÓGENAS

originala um filhobiológiconascido desse casamento; confiavamnele, emais tarde nos seus sucessores, para representar os interesses reais perante

li h l d U d i i iá i

REINOS BASEADOSNO NGOI.A

Recoúecer que "NgolaInene" era uma ideia e não uma pessoa, o qucos nomes dos seus "descendentes",Kiluanjekya Samba e Ngola a Klluan.je t tít l ét ã i di íd t f

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os seus parentes e linhagenscorrelacionadas. Um dos missioniáriosquevisitoua corte de ngola a kiluanjena década de 1560 forneceu-nos a con-firmação,como testemunha ocular, para a tradição do século dezassete emque se afirma que o rei tinha "das suas numerosas concubinas,(...) muitíssimosdescendentes, que foram os chefes das mais importantesfamílias doreino";ele relatouque o governante dos anos 1560 mantinhana sua corte mais de 400 esposas.ss Tendo em conta a óbvia má tradução

dos termos em Kimbundu"esposa" (traduzidopor "concubina")eliúagem(traduzidopor "família")na versão escrita da tradição do séculodezassete, a tradição originalteria claramente. consistido numagenealogiapolíticaclássica que moshava os laços entre títulospolíticossubordinados("descendentes") e as linhagens ("concubinas")que os detiúam.

Apoiando-senestas bases económicase neòtes disposiüvosestruturais,os reis ngola a kiluanjecomeçarÍÌmcerca de 1510 a estender a sua influênciaem todas as direcções a partir do baixo Lukala.A provapara a datação destaevoluçãovem de Jesútas que os visitaramdurante a década de 1560 e calcu-laram que um "Ngolalnene" tinhacomeçado a subjugar os muitospequenosestados que tiúamprecedido o reino cerca de cinquenta anos antes.s Não hárazão que nos impeça de fazer corresponder o "Ngolalnene", por eles men-

cionado,ao primeirodos reis ngola a kilunnje, emvezde o fazer colrespon-der ao kilunnjelcya samba ou ao "Ngola-Musuri"da Matamba. Osmis-sionáriosconfundiramo princípiopolíticodo ngola("NgolaInene" é ahabitual frase dos Mbundu)com os primeirosdetentores da posição ngola akilunnje. Oerro pode expücar-se pelo costume dos Mbundude se refeúemao principaldetentor de um títulopolíticode cada subgrupoMbundupelonoSne da sua antepassada simbólica.Kilamba kyaNdungu,por exemplo,umdos mais poderosos titulares Pende, é mútas vezes chamado "MumbandaaMbulu",a lendáriafundadorado povo Pende. No caso dengola a kiluanienoséculo dezasseis, os Mbundudevem ter louvado o rei perante os visitanüeseuropeus como "NgolaInene",o fundadordo povo Samba. Uma talconvenção terá simplesmente reflectidoa predominância políticado ngola a

kiluanjeà data em que os Jesútas recolherama informação.'] AntónioMendes para o Padre Geral, Lisboa,9 de Maio de1563; Brásio (1952-71),Ill.495-512.Í Pe. Pero Rodri g:ues et al., "Historiada residencia dos Padres da Companhia de Jesus em Angola_e

cousas tocanteó ao reino e conquista", I de Maio de1594, ArquivoRomano da Companhia deJesus, Lus., 106, fols. 29-39;publicadopelo Pe. Francisco Rodrigues (193ó), e Brásio(1952-71),IV:546-81.Também AntóniõMendes para o Padre Geral, Lisboa,9 de Maio de l5ó3;Brásio(1952-7l), II:5 12. Alusões em documentos do Kongoparecem apoiar esta data. Em l5l2 o rei doKongo(AfonsoI) reivindicavaainda a sua autoridade sobre os "Ambundos"a sul, mas cerca de1520=os Portugueses estavam a preparar uma expedição para ir visitar o"rey d'Amgola",obvia-mente o ngolaT kiluanje.O emissário dos Portugueses que, por fim, atingiua capital do rei Mbun-du encontiou um monarca suficientementepoderoso e arrogante paÍa o manter como seu pri-sionciroaté 1526. Ver Birmingham(1966), pp. 28-30, e os documentos citados.

je, representavam títulosperpétuos e não indivíduosgovernantes, faz rccuaras datas dos primórdiosda históriados estados Samba para, pelo menog, oséculo quinze. A data do iníciodo século dezasseis para a emergência dongola a kiluanjecontinuaa ser aceitável, com base no registo quasccontemporâneo fomecidopelos Jesuítas na década de 1560. hovavel-mente, o kilunnjelcya.samba precedeu o ngola a kiluanjeem muitomais doque uma única geração biológica,que estaria implícitase interpretásseúosa genealogiacomo se se tratasse de

uma linhagemhumana; neúuns dados,de meu conhecimento, sugerem uma data mais definitivapara a ascensãodesta posição política.Uma vez que o ngola começou por se difundircomouma insígniade linhagemnum períodoainda muitomais remoto,glepoderia ter chegado aÉ aos Mbunducomoparte da geral difusãopara sulda influênciae estruturas políticas do Kongo,ainda no século treze oucatorze.

Da rede de títuloscriados pelo ngola a kiluanje doséculo dezasseis,as genealogias políticasmodernas preservaÍam o suficientepara permitirtraçar os limitesdessa expansão, qüe estendeu a sua influênciaa todas asregiões Mbundue mesmo para além delas. Um Ndambi a Ngolae umKangunzu ka Ngola,inferindo-seda inclusão de "ngola"como segundô

termo nos seus nomes que ambos são evidentemente títulosconcedidosdirectamente por portadores do Íítulorngolaa kiluanje,tornaraú-seposições importantes no planaltoda Matamba,a norte do centro do reino.O, estabelecimento destes útulose, sem dúvida, tambémde outros, deveter-se segúdo à denota do povoda Matamba nas guerras enffe os Mbundudo norte ("Zundudya Ngola")e as linhagens do centro ("TümbadyaNgola"),guenas descritas nas tradições dos Mbundudo século dezasseüe.Ouftos útulos,Kalunga kaNgola,Múiwa Ngola,e Nzungia Ngolaentreoufros, colocaram as linhagens do planaltocenüal dos Mbundu,juntoaosrios \Íukari,Luxirtrbie T[mba,sob o domíniodo ngola a kiluanje.stA concessão de outros útulosngola a oeste do alto Lui,estendeu a influên-cia dos reis do centro para leste, entre as üúagens Pende que.viviamna

Baixa de Cassanje. A expansão para norte e pÍìra leste dependeu, na suamaiorparte, da incorporação de títulospolíticosnão relacionados entre si,talvez osde estruturas políticasindependentes que teriamprecedido oaparecimento do ngola naquelas regiões. Um casamento enf;e o ngola aiituaniee uma linhagemcoúecida comoMbekesa a LukungaestenOìu aautoridade desses reis para a margem nortedo médioKwanza.s6 Mais para

55 Testemunhos de Sousa Calunga,2l Ago.1969 e 30 Set.56 Testemunho dc Sousa Calunga, 2l Ago.1969.

1969; também DominiosVaz.

80 ORIOENSENDÓCENAS

oooto,o ngol,a a kiluanjë absoileuum grupo de tÍtulos,na região doshngo, cuJo sobrcnomc eÍa-a keta, A existência de diversas posições com

ã b i di i ú id i

REINOS BASEADOS NONCOI'{ 8I

Foram váriosos títulosque transportarÍrma autoridadedo ngola a kilu-anje pwao sul do Kwanza numafase inicialda história do reino,mas esses

tiú l id l d

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o mãsmo sobrenome indicaque um reino pouco coúecido mas muitoantigo tiúa-se desenvolvidonaquela área antes da expansão do ngola akllwrfe.No inÍcio dosóculo dezassete, todas estas posições se tiúamtornado representanües locais dos reis ngola, incluindoa mais poderosadentre elas, os detentores do títulongolemea keta na região Ilamba,aoesto do rio Lukala.sTOs,keta originaistinhamprovavelmente baseado oseu estado no conüolodos depósitos de minériode ferro localizadosnas

montanhas ali existentes.fEstes reis keta nunca chegaram, apaÍentemente,a desenvolver plenamente o potencialdas minas, talvez porque a sualimitadaüecnologia metalúgicaos impediade fazer uma utilizaçãomilitardo minério tiioefectivacomo fizeramos Samba sob o domíniodo ngola akiluanje.A sua falta de habilidadepara fabricarannas tê-los-à deixadowlneráveisperante os forasteiros, mais bem armados.

Mapn IV.Expansão do Ngola a Kiluanje(antes de 1560)

Ngoleme a Keta tornou-se mais tarde um destacado inimigodos Portugueses. Detinha certaprocminência quando Paulo Dias de Novaes chegou pela priúeiravez, na ãécada de 1560, e eraainda um qoder de primeiroplano quandoern 1575 cliegoua Angolaa segunda expediçãoponuguesa. Veja "carta de Paulo Dias de Novaes a el-Rei,3 de Julho dè l5B2'(8.M.,Add.MSS.20,786, fols.182-183v);Búsio (1952-71), IV:341-5. Um Ngoleme posterior ainda possuía forçaslficiente,eq-ló44,paÍa derrotaÍo exércitoponuguês, maJacaboü por sucumbirìosfinais áa é9q{a,{eló50quardo os Europeus se desforraram da sua vitóriade j644; Cadornega (19&-2),I: 349-55 e II:l4l-9.Os documento do século dezassete geralmente soletram o nome "Caita"ou "Gaeta". G. Weeckx(19 Z p, l5l, identificavaKetâ com Musurie Mbumbaa Mbulu, confirmandoimplicitamenteaantiguidade do título.Sousa Calunga, testemunhos de I I e 30 Set. 1969, fomeceu geirealogias paraos tÍtulosdeste estado e acrescentou que ngola a kiluanje mais tarde desposou mulheres ddstaslinhagens (isto é, integrou-as).

nobres tiúam tendência para romper como controlo exercidopelo poderreal cenfral, logo que peneffavampara além da área da cultura Mbundu.Deacordo com os anciãos do reino da Kibala,no planalto dos Ovimbundupara1á do rio Longa, os quais são descendentes de alguns dos portadores de títu-los ngola que mais longeforam nesta diáspora, vários títulosteriamatravessado o Kwanza quase ao mesmo tempo; estes incluíamposições quenão eram ngola, como Kitekekya Bengela, Kafuxika Mbari,MbumbaaMbundoe Mbumbaa Kavenge, alémda posição Ngama a Ngola,que cor-respondia mais aopadrão habitual. Os titulares do kafuxilca mbari deslo-câram-se para sudoeste até que o título finalmentese deteve entre os povosnão Mbundu,junto às minas de sal da Kisama. Os outros fixaram-seemambas as margens do rio Ngango, com Ngama a Ngolae MbumbaaKavenge movendo-seao longoda margem esquerda, no Hako, e Kiteke kyaBengela indo mais para sul, para o planalto,onde se estabeleceram comogovernantes do povo "Marimba",a sul do rio Longa.s'Alguns títulosisola-dos, descendentes do ngola a kiluanje,podem ter peneffado mais para sul,chegando aos Hanya que viviamnas montaúas acima do que foidepois acidade portuguesa de Benguela;os seus descendentes actuais ainda atribuema sua origem ao"grande Ngola donorte".e Todosestes titularesdo sulfizerama secessão em relação ao ngola a kiluanjee tornaram-se politica-mente independentes, à medidaque as pessoas que controlavam as posiçõesse adaptavam às culturas locais,às quais faltava a sensibilidadedosMbundurelativamente às subtilezas do parentesco perpétuo e da sucessãonas posições titulares.

Uma breve história,do século dezassete, apresentando a lista dosprimeirosdetentores do título ngolaa kiluanje, fornece-nosuns fugidios vis-lumbres da históriapolíticainternado reino. A sua estrutura básica, umaaliança de liúagens ligadas por "casamentos" fictíciosa um único títulodominante,significavaque os grupos de filiação naposse das posiçõessubordinadasmais poderosas do estado lutavamentre si pelo controlodotítuloreal. As versões escritas desta tradição,distorcidas comohabitual-mente, tomaram a forma de uma lista de reis:ul

Brandão (1904),pp. 71, 407-8. A notâ de Brandão de que os Kisama reconheciam como seusenhor o kiluanjekya samba e não o ngola a kíluanje stgeteque esta fÀse de expansão deve terprecedido a ascensão deste último títl|o ngola. Embora provavelmente seja impossívelchegar aestabelecer uma data exacta para estes acontecimentos, é bastante prováveÌ queestes títulos seteúam difundidopara sul muitoantes da chegada dos Portugueses, contrariamente aos ingénuoscálculos cronoiógicosde Brandão que argumentou que as posições em causa eram de dignitáriosngola que fugiam diantedas forças militaresportuguesas em 1582. Apresença de Ngama a Ngolano Libolofoidocumentada na década de 1650; Cavazzi (19ó5), I: 28.AlfredHauenstein ( 1967b),pp. 229 segs. e ( 1960), p.222. A, suposição de Hauenstein de que esteschefes ngola se deslocaram para sul após o fantoche ngola a kiluanje ter sido derrotado em 1671,em Pungo Andongo,não se baseia em qualquer prova. E muitomais plausível que este título cor-responda ao peíodo expansionista do estado do que aos seus últimos suspiros.Cavazzi (1965), l:256-7.As fontes contemporâneas habitualmente confundiam ostítulosdosgovernantes com os nomes dos seus detentores.

82 ORIGENSENDÓGENAS

l. Ngola a Krluanje:2, Ndambia Ngola;3, Ngolaa Kiluanje:

REINoS BASEADoSNo Ncol"A 83

Aomesmo tempo, é óbvioque o ndambi a ngola hesitou em tratâfOãseus convidados deforma demasiado rude. A sua consequente incapml.dade em conciliar t ditó i i iõ i t t t b

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4. Jinga a Ngola a Kilombokya Kasenda (um usurpador);5. Mbande a Ngola.

o missionário queregistouestes "nomes"confundiuo título daposição, ngola a kiluanje(números I e 3), com os nomes dos títulossubordinadosse revezavam no controloda realeza (números2, 4 e 5).uma comparação desta listareal com as genealogias políticasmodemasdo estado do ngola a kiluanjemostra que a sucessão do presumível ngolaa kiluanjeoriginalpara o ndambia ngola assinalou a passagem do poderdas linhagens quedetinhamo títulosenior para aquelas que detinhamaposição subordinada ndambia ngola. Geograficamente, houve um movi-mento,a partirdas linhagensfundadoras no baixo Lukala,de retorno àslinhagensdo norte que viviamnão longe da área da Matambaonde osSamba tinhama sua origem.o seu acesso ao poder marcou um ressurgi-mento dos samba setentrionais sobre os seus paÍentes db sul, que tinhamfeitoa secessão para elevar o ngolaa kiluanjeao seu estatuto indepen-dente. A tomada do poder pelo ndambia ngola deve ter ocorridodurantea década de 1540, quando o ocupante da posição meridionaldo ngola akiluanjetentou entrar em contacto com o rei português.ó2o desejo decontactar os Europeus poderáter decorridode pressões que este rei Sambado sul estivesse a sofrer por parte dos seus parentes setentrionaisdaMatamba.

A hipótese de que esra iniciarivadiplomáticada década de 1540tenha vindode um rei que se achava numa posiçãodefensiva contra deten-tores de uma posição "filho"subordinada, o ndambia ngola,explica ocomportamentodo rei que lhe sucedeu, do norte. Este recebeu de modohostilos missioniíriosque a coroa portuguesa finalmenteenviouaosMbundu,vinte anos mais tarde, na década de 1560. o rei que esses Jesuí-tas encontraram apresentou-se a si mesmo como "Ndambia Ngola",um'filho"do ngolaa kiluanjeque os tinha mandado chamar duas décadasantes, e tornouclaro que ele, ao contriíriodo seu "pai",considerava osEuropeusuma ameaça. A sua hostilidadeem relação aos estrangeiros podeter nascido do receio de que eles pudessem descobrir a mudança naslinhagens que conrrolavamo título;a localizaçãoda capital entre aslinhagens do sul. longedo seu própriogrupo de parentesco, tê-lo-ia tor-nado l'ulnerárela uma tentatila de restauração do anteriorregime.u.

."*'r",*te \ r(ìPxdr ' Geral. Lirhou.9 de Muiotie I56.t: Brásio(1952-71),II:497. Eu con-eo1l1y 91111 a an.ilr'c upre:cnrJdd por Brlrninehurn( ì966). p. -ì-+.' :\idL'nrcÌÌÌcnre.como uhernatr\iìa c\la hipótese. pode ser que as atitudes dos Mbundu relativa-

dade em conciliaras contraditóriasopiniões existentes na corte sobrc amelhor forma de lidarcom a presença deles, conduziua polÍtlcaovacilantes que manúveram cativos na capital,durante a maior partoda década, o líderda expedição, PauloDiasde Novaes, e os sgus cotn.panheiros Jesuítas.n

Durante as décadas de 1570, 1580 ou 1590, o poder parece ter pagi&-do das linhagens que estavam por detrás do ndambi a ngola para outroc

grupos de filiaçãoque controlavamum outro títulopolítico,recordado naotradições como um "usurpador".Uma vez que neste período os Portuguo.ses estiveram emgrande medida confinadosa uma posição avançad8 àbeira-mar,que tiúamestabelecido em Luanda em 1575, e ao vale dobaixo Kwanza,as fontes escritas quase nada acrescentam à históriainter.na do reinode ngolaa kiluanje.O intruso,chamado "Jingaa NgolaaKilombokya Kasenda" pode ser, provavelmente,identificadoatravés dasmodernas genealogias dos Mbundu.Certas linhagens Pende do valedoLui,num dos antigos reinoslunga,o de Swaswa dya Swali, tinhamcriadoum pequeno estado subsidiáriono qual o títulocentralusava o nomoKasenda ka Swaswa (dya Swali)."Jinga a Ngolaa Kilombokya Kasenda"deve portanto ter sido um títulongola, o jingaa ngola, que pertenciaà

linhagemPende de Kilombokya Kasenda (ka Swaswa dya Swali),As genealogiasperpétuas. do médio Luisugerem que linhagens rela.cionadas com Swaswa dya Swali se encontravam entre as mais poderosaslinhagens na Baixa de Cassanje, muitopoucos anos mais tarde, durantc asdécadas de 7620 a 1640.A sua proeminêncianeste últimoperíodopodomuitobem ter derivadode um períodode controlosobre o ngola akiluanjedurante o finaldo século dezasseis. Eles poderão ter, original-mente, obtidoo títulongola emconsequência da sua proximidadedassalinas do Luhanda,em tempos controladas pelo rci lunga Butatu.A oscilação no equilíbriopolíticointernodo estado do ngola a kiluanjeafavorda Baixade Cassanje pode ter coincididocom a difusãodos tÍtulosngolapnaos Pende do médioLui.6

O acesso ao poder de "Mbandea Ngola",o títuloseguinte na listadereis do século dezassete, representou a transferênciado poder polÍtico

mente aos Europeus teúam mudado em consequência das histórias que até eles chegaram a putltdo Kongo,onde os Portugueses Íesidentes na coÍte do mani Kongoestavam a perder a poolçüopreferencialde que tiúam gozado durante os anos anteriores. A sua capacidade de perturbarepolíticaintema daquele gstado estava a tomÍu-se cada vez mais evidente.A documentação sobre a visita de Dias de Novaes e dos Jesuítas à corte do ngola a kiluanJc nadécada de 1560 foipubücada nos ÁÁ,série 2, XVErf 67-70 (1960), 8-32; essas cartas aparocomtambém em Brásio(1952-'11),tr e [V, e em Sousa Dias (1934).Cf. Muhiwa Ngola,etc, p. 79.

84 ORIGENS ENDÓGENAS

êfectivopara uma terceira linhagemou grupo de linhagens. Tambémestesgrupos de filiaçãoviviamna Baixa deCassanje, um tanto a oeste de

REINOSBASEADOSNO NGOI,A

Ftc. IV, Inter-relações dos tÍtulos Ngola

85

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g p ç j ,Swaswa dya Swali,na bacia do rio Kambo.O posteriorngola a kiluanjeevocava o mbande a ngola como um rei legítimo,em contraste com ousurpador "Jinga a Ngola a Kilombokya Kasenda", mas a aparentedescontinuidadeem terrnos de legitimidadeescondia uma continuidadesubjacente, em termos das linhagens quecontrolavama posição, como éindicadopelo facto de o poder ter permanecidono leste, na BaixadeCassanje. O detentordo títulombande a ngola que reivindicavao títulongola a kiluanje tinha sidoum "filho"do usurpador "Jinga a Ngola aKilombo kyaKasenda". IJma vez que as fontes para esta tradição(regis-tada na década de 1650) poderiam ter relembrado estes acontecimentos apartirde memóriaviva(não mais de sessenta a oitenta anos mais cedo),elas referiam-se,provavelmente,a um filhobiológicodo intrusoque foidetentor do jingaa ngola, e não a um títulodele derivado.Este jinga angola, com toda a evidência, tiúa casado com uma mulherde umalinhagemque possuía a legítimaposição ngola do mbande a ngola e,depois, teria manobrado para colocaro seu verdadeiro filhono títuloemque ele seria plenamente empossado, denho das regras da sucessão matri-linear.A entrada do filho,cujo nome pessoal obviamente nãoficouregis-tado, manteve a linhagemdo pai (Kilombokya Kasenda) em posição deekercer um fortepapel nos assuntos do reino. Embora não haja provas paraa data de ascensão ao poder do primeirombande a ngola, o ngola akiluanjeque moÍïeu em1617 era provavelmentedesta linha$em,e o reique morreuem 1624 de certeza usava este título.66

As derrotas causadas pelos exércitos portugueses interromperamos processos políticosautónomos do estado do ngola a kiluanjedurante a década de 1620. Os Portugueses, vitoriosos, transferiramotítulocentral para outro grupo de linhagens, detentoras do hari akiluanje',uma posição ngola seniotr numa linha colateral,uma posição"irmão"do ngolaa kiluanjee um descendente directo do velhotítulokiluanjekya samba, Se bem que, tecnicamente falando, o hari a

kiluanjetivesse legitimidadeou mesmo senioridade, nunca os deten-tores dessa posição, aparentemente, tinham exercidomuita influêncianos assuntos do reino, e os Mbundununca os reconheceram comoherdeiros do mbande a ngola. O títulonão aparece de formanenhumanas modernas genealogiaspolíticas, e o reino de harí a kiluanjepertence mais à históriada conquista portuguesa do que ao estudo daformação do estado no contextodas linhagens Mbundu.

-

' BilPg D.Slmão de Mascarenhas a el-Rei,2 de Março de 1624 {A.H.U.,Angola,cx.l);Brásio(1952-71),VII:199-203.

-r'/'rI

i

I

:

Ngola Inene / Ngola MusuriI

ngola a kiluanje

kiluanjelqa samba

'. .. ''' Governante(s)

1., 'Ngola Inene'/'NgolaMusuri', ,; ' kiluanje lqa samba-, ngolaakiluanje

Ìì (, , ndambia ngolat i jingaa ngola (usurp.)mbanle a ngola

* I tufra kíluanie (fantoche)INzinga

jinga a ngola

Qunono 1

Cronologiado Ngola a Kiluanje

LocalizaçãoMatambaAltoLukalaMédioLukalaMatambaBaixa de CassanjeBaixa de CassanjePungo AndongoBaixa de Cassanje

Datas?

(sec. quinze)c.151O-déc.1540c. déc. 1 550-déc. 1 560c.déc.1570-déc.1590?c.déc,1600-16241624-t671déc.1620-presente

ndambí a ngola mbande a ngolaI

nzingaa mbande (?)

(Rainha Nzinga)

tr-:, ì,1, '

iflt

\/ ., ,"

*governantes dos estados sucessores distintos('Hari"e "Matamba")

Até àquela altura, a políticano reino do ngola a kiluanjetinhagirado à volta da concorrência entre linhagens ou coligações de linhagensque se baseavam em agrupamentosde linhagens anteriores ao ngola,Cada um desses grupos tinha tentado colocarna posição central do ngolaa kiluanjeos membros da sua próprialinhagem, detentores dos títulosseniores do estado. Os reis, no poder central,presumivelmentetentavamquebrar a solidariedadedestes grupos de linhagens através da colocação dc

Itó ORIGENSENDÓGENAS

posições ngola subordinadas naquelas linhagens que mais provavelmentese manteriam leais à realeza central. Embora os portadores do ngola akiluanjetenham crescido em poder através do controloque exerciam sobrea região rica em ferro próximado rio Nzongejie ao que parece t h

-'--'ì it-lt CONCLUSÕES

sucessão nas posições titularesem preservar os laços históricosentre gru-pos de parentesco. uma vez que os Mbundunão tinham a liberdadJ doalterar as suas genealogias de linhagempara reflectircondições i i

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a região rica em ferro próximado rio Nzongejie, ao que parece, tenhammantidoas suas capitais nessa região, os homens que exerceram tal autori-dade vieramde uma grande variedadede linhagenslocalizadasnoutroslugares do reino.No geral, as linhagenslocalizadasno norte e no lesteparecem ter dominadoatravés da posse de títulosseniores do estado, comoo ndambia ngola e o mbande a ngola.

os detentores de tífulos pré-ngolano sul e oeste nunca conseguiram

adquirirgrande influênciano centro do reino, embora alguns ietes -nomeadamente Ngolemea Keta, Kafuxika Mbari,e Kitekekya Bengela- se tenham tornado senhores regionaispoderosos por sua própriaconta.os titularesdo longínquosul tendiama fazer a secessão, especialmentequando se fixavamentre populações não-Mbundu,onde o ngota exerciauma atracção menor do que a que exercia mais próximodas suas origens,na Matamba.o recuo dos herdeiros do ngola a kiluanjepara a Baixa decassanje, depois de os Portugueses terem derrotado o rrinoprincipalnadécada de 1620, representou portanto uma retirada da capitalè.m direcçãoàs liúagens que tinham detido a autoridade efectivadõsde a década de1560. Esta hipótese explicaarazão da sobrevivênciado estado sucessor"Jinga",na Baixade cassanje, durante os séculos dezoito e dezanove.

o fantoche hari a kiluanje,que pennaneceu no planalto,representava umconjuntointeiramente diferente de linhagens, sendo olh4do pelosMbunducorno umestado à parte, que existiaapenas por vontade dos portugueses e

'ïrão tinha qualquer legitimidadeem termos tradicionais.

Conclusões. os rcis lungada Baixade cassanje e o reinodo ngora a kiluanje

foramapenas os dois mais bem conhecidos exemplosde uma categoriamuiüomais ampla de antigos estados Mbunduque nasceram de raízesinteiramentelocais. Embora muitas das outras antigas estruturas similaresa estados que surgiramentre os Mbundu,como os reis keta dos Lenge,tenham ficadoquase completamente fora do registo histórico,todas elasdevem ser analisadas, inteiramente,em termos das crenças locais dosMbundua respeitoda autoridade, da distribuiçãode objectos simbólicospara conferirautoridade sobre as pessoas, e das crenças no parentesco per-pétuo e na sucessão nas posições titulares.As provas, que mutuamente seconoboram,das fontes documentais e das tradições orais, sugerem que astécnicas usadas pelos Mbunduna edificaçãodo Estado erÍÌmum pr-odutode uma estrutura linhageira fundamentalmenteinflexível,iornadaparticularmente rígida pela capacidade do parentesco perpétuo e da

alterar as suas genealogias de linhagempara reflectircondições sociais epolíticasem mudança, como noutros lugares frzeram socieãades estrutu-radas de modo semelhante,ó7 eles tiveramde dispor de outros canaissociais através dos quais os homens pudessem concretizarambições pes-soais ou responder a circunstânciasque não eram abrangidas peloÃpadrõesdo parentesco. Embora as tradiçõesnão indiquemas condiçõesexactasque incitaramcertas liúagens a adoptar novos símbolos e a r;sffuturaras

suas relações com outros gruposde filiação,numerosas linhagensclara-mente fizeramtais ajustamentos, repetidamente, ao longo da súa história.os malunga e jingola dos primeirostempos fomecemãxemplosde reor-ganizações deste tipo,não centralizadas e basicamente não hierfuquicas.

contudo,uma vez difundidoentre as riúagens Mbunduum novosímbolo de autoridade,com frequência indivíduósdetentores de certostítulos foram capazes de expandir as suas esferas pessoais de influênciapara além dos limitesdas suas liúagens, para reivindicarum certo grau deautoridade sobre pessoas que não estavam com eles relacionadas. No casodos reis malunga da Baixade cassanje, o conftolosobre uma extensa redede comérciodo sal, a partirdas sarinas localizadasno interiordos seusterritórios,parece explicara ascensão das dinastias Butatu e, mais tarde,da de swaswa dya swali.Factores de idênticanatureza económica oare-cem_e_s-tarsújâcentesao c.escir"entoao ; kiúà;j>,vmtvê;quãl31te qlojgg.9p"lte-q ggy"-egry{_€-s.,9-erivavqdo. s-ç-g d-omí.rriosobre ãp minasmHn -f ongË;i-Ã gipansão @terr".i.npippnuvaclaramegtqparaias salinas da Kisama, e. a evolução políticainte-rna posterior iòvetouaióiôâory lnrrrugns cLe nolÇç sse, *qs-púximasà;r-ddãd* ;-";;Lõ;;lubgaqg-Fossequal fosse a importânciadas causas económicas no cresci-mento e expansão dos mais antigos reinos Mbundu,estes elementosinevitavelmenteatraem a atenção dos historiadores, pois as provas da suapresença sobrevivem, à vista de todos, nas salinas existentes e nosabandonados pedaços de ferro.o que se perdeu para a História,em todosestes casos, foio papel do géniohumano individual,a intervençãodoacaso, e a maior partedas intricadasmanobras políticasque tambémdevem ter contribuídopara o desenvolvimentodestes estados.

o modelogeneralizado da formaçãoendógena dos estados Mbunduassume como seu ponto de partidaa afirmação de que, entre os grupos defiliaçãoMbundu,apareceram constantemente novas instituiçõestransver-sais. A força dos grupos de parentesco era, em muitos casos, suficientepara converteros símbolosdestes movimentosem insígniasda estruturaot Um caso clásssico são os Tivda Nigéria;paul e Laura Bohannon ( 1953).

88 oRTcENSENDóoENAS

liúagoira,como inicialmenteocorreu, quercom os malungaquer com osjlngola.Entre os incontáveisanónimos detentores de {ítulosaisociados aestcs símbolos algunstalentosos ou afortunados individuos i

. CAPÍTULOIV

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estcs símbolos, algunstalentosos ou afortunados individuosconseguiram,de tempos a tempos, converterem efectivopoder políticoo controloquetinhamsobre algumrecurso económicovalioso.os seus estados tomarama forma de coligações de linhagens, mais ou menos exüensivas, baseadasna concessão a ouhos grupos de filiaçãode útulos políúcossubordinadosao que eles própriosdetinham. Algunsdestes estados iam crescendoprecisamente quando outros entravam em declínio,através de todo o

período anterior a 1600. Os reis lungaiam muitobem, na sua história,antes de os detentores do ngola atingiremo seu auge, nos meados do sécu-lo dezasseis. o estado do ngola a kiluanjeeclipsorrtodos os reis runga queo antecederamììãxeépíãõ dos mais-rãmotòs,útes de, rambém "ï",i"..subjugadopor fo.r.4s_tçir.os- os l4b3rng_ala_e.os pgrnrgueses que, nasprimeiras {ég_adas .do--século dezassete, intróduziramnovas estruturaspolíticasde um tipofundamentalmente diferente.

CAPÍTULOIV:

Novas Ideias Vindas do Sul

A particularincidência do capítuloprecedente nos métodos endó-genos usados pelos Mbundu na edificaçãode estados, que levaram à

expansão do ngola a kiluanjeno século dezasseis, excluíuqualquer

men-ção a um importantereino da mesma época chamado Libolo.O Libolo,cujo centro se encontrava entre osMbunduao sul do rioKwanza,exigeum tratamentoseparado porque os seus reis recorreru[n,como meio dereorganizar as linhagensMbundu numreino, a instituiçõespolíticasinteiramentediferentes dos títulosperpétuos e dos grupos de filiaçãocorrespondentes, usados pelo estado Mbunduno norte. Se bem que asorigens do Liboloaté agora permaneçam ainda mais obscuras do que as doIunga e do ngola, a sua principaltécnica de cirganização, um títulochama-do vunga, deixouprovas claras de que veiode regiões exteriores àzonados Mbundu,onde a sucessão nas posições titulares e o parentescoperpétuo reinavam incontestavelmente. O vunga envolviauma concepção

de autoridade que era estruturalmente oposta aos títulos hereditáriosconcedidos às linhagenspelos reis lungae pelo ngola a kiluanje,poisintroduziapela primeiravez um tipode posição que peÍmaneciafora docontrolodos grupos de filiação.

O kulembeEmbora os vunga tivessem chegado atéaos Mbundupor intermédio

do sistema políticodo Libolo,esses títulos tinhamtidoa sua origemnumestado mais remoto conhecidoapenas pelo título,kulembe,de uma obscu-ra linhade reis que reivindicavaautoridadesobre partes do planalto deBenguela, viíriosséculos antes de os actuais reinos Ovimbunduse teremformadonessa região.A capital destes governantes ficava algures próxi-mo das nascentes dos três principaisrios que correm na parte noroeste doplanaltode Benguela, oLonga, oKuvoe o Ngango.r Fontes documentaise orais coincidemem situar a ascensão do kulembe numadata muito ante-

' Na década de 1850, reis usando o título de Kulembe kwa Mbandiainda preservavam este nome,vivendo no"Selles",que corresponde genericamente à área do planaltoprecisamente a oeste dasnascentes do rio Kuvo.Ver László Magyar(1859) p. 379. Uma área coúecida por "Lulembe"ainda existia algures no planalto a sul do Kwanza nosfinais doséculo dezassete; Cadomega(194U2\,IIl:.249.O prefixopara o radical-lembe vanava consideravelmente nas fontes escritasdeste período.

90 NoVAs IDEIASVINDASDo sUL

riora meados do século dezasseis.2 Foi, portanto, um dos mais antigosreinos do planaltode Benguelade que ainda sobrevivemvesúgios com-provativos.Não obstante isso, o significadodo estado kulembeescapou àmaioriados hi t i d q e d a â l d

EXPANSÃODOLIBOLO 91

dos reis cenfrais.Embora, támbémneste caso, uma ausência quase totaldCdados históricos sobre o Liboloimpeça umapoÍmenorizada reconstituigãoda ascensão do reino, ele foium dos mais antigos dosgrandes estadog quc

d lí ki b d d l

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maioriados historiadores,que descreverama ârea ao sul do Kwanzareferindo-se quase exclusivamente aos estados ovimbundumais recentes,o desinteresse pelo kulembe resultou,provavelmente,do facto de astradições dos posteriores estados dos ovimbudu,tar como as dos Mbundu,datarem da formação destas entidades poríticas(finaisdo século dezassete,aproximadamente)e terem eliminadopraticamentetodos os traços depeúodos históricosmais antigos.3 Fora da area dos Ovimbundu,porém, asgenealogias perpétuas dos Mbundupreservrìrama memóriado títulokulembecomo o progenitorde uma série de títulospolíticosderivadosque,finalmente,levouà subsequente dinastia dos reis Mbondo.aAs estuturaspolíticase sociais destes estados pré-ovimbunducontinuíÌma ser demasi-ado mal conhecidas para justificarespeculações, a não ser o facto de okulembe,aparentemente, se ter situado entre os mais importantesdosprimitivose$tados no planaltode Benguela.5

Expansão do LiboloAs instituiçõespolíticasespecíficas que originalmenteemanaram do

kulembeatingiramos Mbunduindirectamente,através de uma dinastiaintermediáriade reis que usavam o títulode hango. Estes governantes

eri-giram um outro reino,agora conhecido por Libolo,6localizadoalgures anorte do kulembe,entre os Mbunduque viviamjuntoao Ngango, aÍluenteda margem sul do Kwanza.Em parte, os hango ampliaramo seu controloconcedendo às linhagens títulosperpétuos subordinados,tal comofrzeranros ngola a kiluanje,mas eles apoiaram-se também num tipode posiçõestemporiíriasque permitiater uma maiorconcentração de poder nas mãos

'? Testemunho de Alexandre Vaz, 3 1 Jul. 19691 a data é deduzida da posição do títulotule mbe numagenealogiaque incluinomes perpétuos mais tardios, os quais, segui:doós documentos, ie lornarampoderosos. bastanre tempo antes de 1600. E.G. Ravenstein (ts-0t),p. g5 (onde o nômeãpareceescrito "Elembe"\,e Cavazzi ( I 965), I: I 88-90.ì O melhor resumo da história dos estados mais tardios dos Ovimbunduencontra,se em Childs(1949)pp. 164-9a Há neces<idade urgente de novos trabalhos de campo sobre estôs ,eúo, " o,seus sucessores. Uma direcção óbvia para a qual tais estudos se devem ôrientar é pÍua os constru-tores das numerosas construções em pedra, iujas ruínas se dispersam, actualmenie, peló ptanaltode Benguela.n Este exempÌode tÍadições remânescentes, sobrevivendofora da sua área de origem, é similara outros exemplos de tradições que já não existem entre os Imbangala mas ainda es-tão vivas entreos cokwe, Songo e Ovimbundu;os capítulos seguintes fornecem èxemplos disso.' Paraalém da posição do kulembe nas genealogias perpétuas, a maior parte das fontes documentaisclo século dezassete contém referênciàs ao kúlembe òomo um "granãe e poderoso rei".Á formavngl destas referências conÍirmaa impressão de que por esta altúa ia o relno tinha declinado.

' Os lntigos Mbulduprovavelmente usavam o nome Liboloapenas para as regiões ao sul do Kwan-zt ondc.os rcis hango tinham as suas capitais. Os reinos Mbúndu gèralmenúomavamo nome dostítulon doc seue rcis, rlcste caso os frangb. contudo, Liboloé o noïe hoje em dia uiidopetos his-torisdorcBtradicionaisMbundu.

surgiram entrepovos de língua kimbundu,sendo provavelmentecontom-porâneo dos reis lunga dos Pende e, certarnente, sendo mais antigo do quoo ngoLaa kiluanje. Eevidente que floresceubastante antes de meadoe doséculo dezasseis, quando os documentos, implicitamente,revelam que elojá tinhaentrado em declínioe tinha sido substituídopelo ngola a kiluanJepor toda a paÍte, a norte do Kwanza.

MnpnV. Kulembee Liholo(c. secs. XV-XVI?)

As genealogias perpétuas dos MbondoidentificamHango dyaKulembe,o rei do Libolo,como um "filho"do kulembe, Emboraestasnadições indiquemcom rigora derivação da autoridade reivindicadapelohango, elas não descrevem o processo históricopelo qual os reis do Libo-lo cresceram em poder e, finalmente, fizeramrecoúecer a sua inde-pendência em relação ao mais antigoestado, a sul. Os predecessores dosreishango devem terexistidoentre os Mbundu meridionaisdurante algum

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92 NOVASIDEIASVINDASDO SUL

tempo, provavelmentesob um outronome, antes de terem obtidoum títu-lo "filho"do' kulembe, seja qual for a época em que a influênciado reinomais antigo teúa penetrado na região do alto Ngango Como hipótese

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estava havia algumtempo, embora a sua presença não tenha sido regista-da mais cedo.ro Um outrotitularcuja capital ocupava üma das ilhasno

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antigo teúa penetrado na região do alto Ngango. Como hipótesealternativa,os kulembepodem ter começado por afirmara sua autoridadesobre as linhagens Mbundu do sul, impondosimultaneamenteum gover-nador provincialpara as governÍu,com o títulode hango. Seja qual for aorigemdestes reis, a históriado Libolosó aparece de modo nítidodepoisde os hango terem prosperado durante algum tempo e difundidoa suaautoridade paraos Mbunduque viviama norte do Kwanza.No seu auge,

o reinoestendia-se para nordeste até aos Pende, que viviamnas terras alüasdas nascentes do rio Kambo,acima da Baixade cassanje. As suas provín-cias orientaisincluíamos songo, que habitavama norte do rioLuhando.A fronteirameridionaldo Libolocom o reino do kulembemantém-se inde-terminada por falta de provas.

As localizações de um certo número de títulospolíticosexistentes noséculo dezassete, com o sobrenome "hango",estabelecem as antigas fron-teiras do Libolo,no noroeste, ao longo do baixoLukalae para além dele.Aindaem 1592 dignitáriossubordinados ao ngola a kiluanje,intituladosKakuluka Hango, govemavamaregião de Museke e Ilambaao longodocurso inferiordo rioLukalp.tSe bem que, por essa altura, eles se tivessemtornado governadores provinciaisdo reino do ngora, os seus títulosrevelavamque originalmentehaviamsido postos avançados do Liboloetiúamsobrevividóao declíniodo Libolopara serem incorporados,seguindo o padrão típicodos Mbundu, Çomo componentes das uit utoruspolíticasmais tardias. outras posições hango dispersas nesta área fornece-ram provas de ur4 antèrior controlo porparte do Libolo:KiluanjekyaHango viviana área de Lrlkambano médioLukala,e Ngungu ya Mbukuwa Hango detinhao poder na margemnorte do Kwanza imediatamenteabaixo das quedas, em Kambambe.s

Nos restantes locais, apenas alguns títuloshereditários originráriosdoLiboloaparecem nas fontes escritas ou nas tadiçõesorais. Lukunga,umaposição identificadacomo subordinadado hango,governavâa área a norteda confluênciado Kwijee do Kwanza.e Lungudya Hango viviaem Amba-ka durante a últimametade do século dezassete e, provavelmente, já ali' c.d"-rg"(1r19-zi,m, 1.Jt5,240,nos Íinais do século dezassete, situava Kakuluka Hango namargem sú do Kwanza, próximodaMuxi_ma,para onde provavelmente teria iao fugiaoãã1vanço

clos Portugueses; por esse tempo, Sala a Hango permanecia na llamba' poni..1e91-dg_A ryy9 Brito '.\9llaga9 breve das_cousas, que se contem neste tratado dangola efry-zil"(n f.1., MS. 294); publicad-oin Alfredode Albuqui:rqueFelner (1931), e ú, ú, nã ZS_Z(1937),249-90também exèeftos in_ Brásio(1952-it),rvisrâ-+s. Àtàúúãs;".u ,i*au roi,g1ig"lyltqU."Q]',iloange.quiambo',,e "Guirguambo cambo',; u .õlnparáçao .-o. õuão-rgu(l94tJ'2) não deixa dúvidas de que todas estas formas de soletrar reprcseritavim "Hango".' Testemuúo de sousa calune-a,5ambo ka Kikasa;de Lukungadisse-se que tiúa sidà'um',tora',do lango, ou seja, um título-deliúagempertencente a um gírpo ae rrtiiçaocoì ãireitoã epgerrEpresentântes seus para o tltttlorcal hango.

curso superiordo Kwanza, Mbolana Kasaxe, aparentemente servia deguardiãodas fronteirasdo sudeste do Libolo,trA fronteiranordeste doLibolo,da qual voltareia falar, corriaao longoda escarpa acima da'Baixade Cassanje.

As provínciascentrais do reino doLibolo,durante os seus períodosmais prósperos, situavam-se no vale do rioNgango. O nome portuguêsposteriormentedado a esta área, "Hako",identifica-a comoa sede dos reishango, uma vezque o topónimoeuropeu provavelmente representava umacomrptelaeuropeia do títuloem Kimbundu."As genealogias perpétuasmostram umaconcentração de títulosderivadosdo hango na região deHako,incluindoo kaza ka hango, uma posição cujos representantes setornaram famososna década de 1620 como aliadosda rainha dos Mbundu,Nzinga,nas suas batalhas contra o avanço da ocupação militarportugüe-sa. A exacta localizaçãodas capitaisdestes reis não foiencontrada nem,que eu saiba, sistematicamente procurada.

As fronteirassetentrionais do Libolocontrairam-sesob a pressão daexpansão do reino do ngola a kiluanjeao longo do século dezasseis.Os títulosLenge, como ode Kakuluka Hango, foramperdidos quandosetornararndignitáriossubordinadosdos reis Samba; para além disso, outrasantigas posições titulares pertencentes ao Libolo,como o Lukunga,enviarammulheres para desposarem o ngola a kiluanjee receberam, emtroca, posições ngola subordinadas, tornando-se agentes dosgovernantescentrais. A expansão para sul de portadores de títulosngola, como oKitekekya Bengela, o Ngama a Ngola, e outros, expulsouos reis hangodas suas provínciasde origemno Hako.Apenas uns poucos útulos hangoali sobreviveram, como dignitáriosmenores nas cortes dos novos repre-sentantes do grande ngola do Ndongo.t3Cerca de 1600, apenas a provín-cia do extremosudoeste do grande Libolo,a ârea mais próximadaKisama, permaneciacomoo últirnorefúgio dosseus reis outrorapoderosos. Algunsrcis hango mantiveram-secomo govemantes locaismenores neste estado residual, na maÍgem sul doKwanza,pelo menos atéao fimdo século dezassete.ra

Cadornega (19 40-2), lll:.244.Váriostestemunhos de Sousa Calunga.Cf. nota 6, p. 90 a propósitoda tendência dos Mbundu para designarem as regiões a partirdadesignação dos funcionáriospolíticos,por exemplo Hango/Hako.As inegularidades, já de-monstradas, nas grafias usadas no século dezassete para as palavras em Kimbundu("Hango"emespecial) e desvios de pronúncia similares que ocorrem com outraspalavras, estabelecem a identi-dade entre "Hango"e "Hako".Brandão (1904), p. 137, refere um mukilaa hango numa posição dessas no finaldo séculodezanove.Cadornega (1940-2), III:240, registou a presença de titulares deste nome.

94 NoVASIDEIASVINDASDo SUL

Os hango do Liboloconseguiramdominaruma área mais vasta do quequaisquer anteriores reis Mbundu(antes do ngola a kiluanje)pelaconcessãode um título políticode nomeação, chamado vunga (pluralmavunga).Aocontráriodos títulos hereditiírios perpétuosdos Mbundu o vunga üs

EXPANSAODO LIBOLO

Os mavungados Mbondoe Imbangala irnpunhamaos seus titularocodesempeúo de deveres especializados em apoio ao,rei e à sua cortc.lAlgungdeüentores de útulos vunga,porexemplo,enúavam suprimenüos alimentarcg

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Aocontráriodos títulos hereditiírios perpétuosdos Mbundu,o vunga üs-puúa apenas de autoridade temporáriadelegada pelo rei naquele quedesignava para tal função.Aoque parece, apenas na sua provínciade origèmdo Hako e enüe as liúagens trnge do noroeste os reis do Libologovernaramaüavés das posições titulares perpétuas, clássicas dos Mbundu.Em todos os restarÌtes locais, paralá,doslimitesdo tenitóriode origemondeo controloera relativamentefácil,os h.ango exerciamo seu poder aEavés degovemadoresprovinciaisdeüentores de mavunga.os reis hango conceüatrrestes útulos por sua própria iniciativa,geralmente atavés da apresentaçãode determinado símbolo que indicava o mandato de quem o recebia, e estasnomeações duravam apenas até serem revogadas ou até à morte do indiví-duo detentordo ítuIo.Nessa alnrra, a insígnia da nomeação voltava para oseu seúor em vez de ficarcom os herdeiros.

Uma vez que os titulares do vunganão podiam legar as suas posiçõesaos respectivos paÍentes,os mavunga não se tornaram títulospassíveis deserem herdados e confrolados pelaslinhagens,como acontecia com asposições perpétuas dos Mbundu.Os esforços dos reis lunga pwa engirgrandes estados centralizados tiúam sido obstruídos pela tendênciadas liúagens individuaispara conquistaremo

controrosobre os útulos per-pétuos; quanto ao reino do ngola a kiluanje,sofriaconstantes querelas enfteas liúagens que o integravam.Mas, uma vez que os reis hango podiamnomear homens que deviamas suas posições apenas e unicàmenteaogovernante centrale cuja lealdade seria exclusivamente para com ele,neúuma instabilidade desse tipo limitariaa expansão de um estado basea-do nos nwvunga.O vunga permitia ao hango vencer uma ouffadesvantagemque havia pernrbado consüantemente os reis detentores dos malunga.A rígi-da correspondênciaenfte as posições lunga e a hidrografiado terãtórionaodavam qualquer flexibilidadea esses ítulos como meios de expansão, aopasso que os reis do Libolo,pelo contário, poiliam nomeaÍ tantos porta-dores de vunga quantos achassem necessários e podiamcolocá-losem qual-

quer momento e lugar que desejassem.A nafueza das nadições orais dos Mbundulevou-asa excluirqualquerinformaçãodirecta sobre o modo como as posições nrcwunga funcionavamno século dezasseis. As genealogias perpétuas apenas preservarÍÌmoregisto dos títulosde linhagem hereditáriose, vistoque os mrwunganão seencaixavamem quaisquerdas limitadas categorias de informaçãopreserva-da, neúuma recolha destes ítulos podia sobreviver.Contudo, testemuúosindirectos derivadosdos mavunga concedidos muitomais tarde peloshcrdeiros políticosdos hango, os reis Imbangala e Mbondo, permitemumcsboço das funçõese significadosdos antigos títulosdo Libolo.

para a capitalreal; ouhos mantinhamforçasarmadas prontas a defender o reiconta invasores extemos. .ounos aind4 deviam manter em boas condiçõesos caminhose atalhos que atavessavam determinadoterritório.cada dotcn-tor dovunga cumpriaasua obrigação paracom o rei exfaindo a forçade ta-balhoe a riqueza do povo que viviana âtea que lhe estava anibúda.As exigências feitas pelostitularesvwtga criavamtensões que os separavam

das linhagens e, os colocavarn em oposição aos interesses autonoÍnistasdaquelas. Portanto, eles dependiamexclusivamentedo rei pam manter a suaautoridadee tinhampoucas hipóteses de sublevar os grupos de parentescolocais numa rebeüão conta o lango. os títúos mírvmgaproduziram assimuma estrutura de estado relativamentecenftalizad4estrutura que ficava forado alcance das irreqúetas liúagens dos Mbundue que ajudouos reis hangoa expandirem-se para norte e para sul do Kwanza.

A históriada provínciado Libolodo ndala (kisra) (que seria mais tardeo reinoMbondo)oferece a melhorprova, até à data, da natureza do domÍniodo hango enffe os Mbundusetentrionais. Fornece poÍmenoressobre osnomes e funções de alguns mÍNungae mosta como, quando declinouopoder cenüal dos reis hango,os útulos de govemadores atribúdospelo Libolo perderam a sua independência face ao contolodas liúagens e se tornaÍarnpouco mais do que útulos linhageiros.Outora, as linhagens da zona que veioa ser a provínciandal"a do Libolotinham feitoparte da popúação pende,relaüvamenteindiferenciada, quese estendia do Kwangopara oesüe, até aocurso médiodo rio Lukala.os Pende das terras altas a leste do rioLuxindoea norte do rioKwije1ó adquiriramuma identidadedistinúa, como Mbondo,quando osreis hnngo os integraramno reino do Libolosob a autoridade imç-diata de um titularvunga chantado ndala, uma espécie de serpente altamentevenenosa que se enconffapor toda a parte nas regiões meridionaisde Ango1a.17 Aprevalênciade posições similares n^dala ao sul do Kwanza permiterelacionara origemdo ndaln dos Mbondocom o planalto de Benguela, para

lá do Libolo,talvezno própriokulembe.Por todo o restante planalto,osOvimbundu,os actuais descendentes do antigopovo do kulembe,encÍÌramacobra ndala com gmnde temor supersticioso, descrevendo-a como umaserpente mágica que morarianas alturas, nas escarpas inacessíveis das mon-tanhas, e poderiavoar misteriosamente pelosares. Os modernos Ovimbundusugerem, indirectamente,que o ndala é uma das mais antigas representações

Testemunhos de Alexandre Vaz,DomingosYaz,26 Jun. 1969; Alexandre Vaz,30 Jul, 1969;Alexandre Vaz, Domingos Vaz, Ngonga a Mbande.Testemuúo de Kasanje ka Nzaje.Ver Statham (1922),p,280,que indicaa espécie como Dendraspis anguisücep.

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98 NOVASIDEIASvINDAsDo sUL

sul do Kwanza.O conteúdo literalda tradição obviamente não tem qual-quer significadohistórico,uma vez que Kajingaka Mbuluera umarepresentação puramente metafóricade um grupo de linhagense nuncapoderia ter "vindo"de lado algum da forma como a tradição descreve a sua

EXPANSÃODoLIBoLo 99

culpa lançandoao rioKori4 um preparado mágico feitode uma misnradcovos, óleo de palma e uxila-DKajingaassim fez e, quase imediatamentc,ficougúvida;ao todo,ela deu à luz cinco filhos,Kikato kya(ajinga, Kigglkya Kajinga Nyangea Kajinga Yivoya Kajinga e Mupolo walkjinga

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poderia ter vindo de lado algum, da forma como a tradição descreve a suaviagem.

Uma vez que a tradição necessita uma críticapormenorizada,começarei por parafrasear a versão da narraüva que está registada.s Kajin-ga ka Mbuluviviaoutrorapróximode Luanda,zcom Ngolaa Kiluanje.Quando os Portugueses aí chegaram, Kajingaka Mbulue Ngola a KiluanjecomeçarÍìmpor combater juntos contra os invasores europeus mas, por fim,foramobrigadosa fugir. Ngolaa Kiluanjeseguiu para nordeste, onde sefixoujunto ao rio Wamba. Kajingaka Mbulufugiu nadirecção oposta,atravessando o rio Kwanza, parao "Bailundo".aEmbora o Kwanza repre-sentasse um sério obstáculo à fuga de Kajinga,ela conseguiu atavessá-locom a ajuda de Katumbika Ngolaa Nzenza, um chefe que coúecia apeffe-chos mágicos capazes de fansportar as pessoas pualá do rio. ElecolocouKajinganum grande baú, ou caixa,que flutuoue cruzou o rio como umbarco. Katumbika Ngolaa Nzenza, porém, tinha enganado Kajinga,porquepretendia capturá-la e matá-la quando ela desembarcasse na outa margem.Quando ela chegou sã e salva à margem sul do rio, ele tentou prendê-la nointeriorda caixa sentando-se sobre a tampa do baú. Kajinga,bem eqúpadacom a fortemagia que ela própria possúa, conseguiuescapaÍ-se da caixa eassassinou Katumbika Ngolaa Nzenza. Cortou o corpoem pedaços e fez,com a pele dele, uma corda, um tambor,uma marimba, e uma corda de arco,o que lhe permitiucontrolar os poderes mágicos do seu inimigo..

Kajingaka Mbuluretomou, então, a fuga dosPortugueses que conti-nuavam a perseguiJa. Para evitarque os seus inimigosos pudessem cap-furar, o seu feiticeiro,Muta a Kalombo,ãcaus4va inundações em cada riodèpois de eles o atavessarem. Por fi.m,ela apaixongu-sepor um homemchamado Kimaa Pata. Eles casarÍÌm,mas o casÍÌmento nãogerou filhos,atéque, depois de alguns anos, Kajingaconsultou um adiviúoaceÍcada suaesterilidade.Ele afibúu o problema a qualquer transgressão, não especifi-cada" comeúda duranüe afuga dos Portugueses, quando ela afiavessara o rioKazanga sem permissão.21 O adivinhoaconselhou Kajinga

a expiar asua

Testemuúo de Fernando Comba, reproduzido em Salazar (n.d.), tr: 1210-1.Um anacronismo: a capitaladministrativa portuguesano litoralé mais tardia.Um anacronismo: os Mbundu actualmente usam este termo paÍadesignar todos os estados dosOvimbunduno planalto de Benguela. Neúum estado do MbaiÌundoexiitiana época em que estesacontecimentos alegadamente ocoÍreram.O significadode l<alombo emY;tmbundué "esterilidade";Assis Jr. (n.d.), p. 87.O nome "Kazanga" permite eom quase toda a certeza datar e localizaresta narrativa, pois era umnome arcaico dado às terras planálticas a sul do Libolo,mais tarde conhecidas como Mbailundo;A.V.Rodrigues.(1968), p.183,indirectâÍnentesugere que o nome provavelmenteé anterioÍ aomovimcnto do tÍtulokiteke l<yabengela para a Kibala,nò século dezasseis (?).

kya Kajinga,Nyangea Kajinga,Yivoya Kajinga,e Mupolo walkjinga,Depois, viajoucom o mmidoe os filhospara norte; para Kabatukila"ondËse fixarampróximodas escarpas que rodeiarn a Baixade Kafirxi,um valenos limitesda Baixa de Cassanje.

A interpretação desta narrativa que se segue, elucidaos modos pelosquais ela, repetidamente, indicaas origens meridionaisdos modernos títu-los cujos nomes aparecem como personagens na narrativa.Os primeirosdois episódios, os que descrevem a estadia de Kajingaka MbulucomNgolaa Kiluanjeem Luanda e a retirada de Ngolaa Kiluanjeem direcgãoa Wamba, são modos convencionais de começar a maioriadas recitaçõesda história dos Mbundue são pouco mais significativas,historicamente,do que o i'era uma vez..."com que se dá inícioàs históriasem Português.Se bem que nunca tenha vividoem Luanda nenhuma rainha KajingakaMbulu,os modemos historiadorestradicionaisMbondocolocam-na aí,por tradição, paÍa estabelecer a sua igualdade em relação ao NgolaaKiluanje,que é entre os Mbundua peúà de toque da grandeza histórica.A referência à chegada dos Portugueses explica,normalmente,tanto aactual localizaçãodo ngola a kiluanjeno rio lVamba, uma nítida interpo-lação que vai muitopara além da linhaprincipalda narrativa,como a paÍ-üda de Kajingado seu "larancestral". Estes episódiosnão têm qualquerimFortânciado ponto de vista histórico.

O episódio seguinte,porrrenorizandoo encontro de KajingacomKatumbika NgolaaNzerz4 incluios primeirosdados históricosna nar-rativa, umavez que serve para explicaralguns sÍmbolosde autoridadepos-suídos por reis Mbondosubsequentes, particularrrenteum tanboç umacorda fina,e uma corda de arco, que se dizia serem feitosde pele humana,assim como uma marimba.A imagem de um rei em dificuldadesparaatravessar um rio é um lugar-comumque aparece frequentementeemepisódios das narrativas MbundupaÍa explicaruma inovação na estrutuapoÍticaou social.O rio representa um obstáculoque o governante deve

superaÍ pela introdugão de algumas mudanças drásticas nos rituaise sím-bolos relacionados eoma sua posição. Neste caso, o Kwanza constituiumametáfora efrcaz pan dificuldadeshistóricasespecíficas não registadas natradição, uma vezque todos os Mbunduestavam familiarizadoscom osobstácúos da travessia deste largo curso de água.

Provavelmente o "Guri",um pequeno cuÍso de água próximoda embocadura do rio Luhando; vermapa VI.No mapa de Anton E. Lux(18E0) aparece como "vila".Cf. Petermanns GeographischeMittheilungen,II (1856), Tafel 17.Palavra não identificada.

100 NOVASIDEIASVINDASDO SUL

A alegada locúzaÇão de Katumbika Ngolaa Nzenza'no baixoKwanza, próximode l-uFnda,derivade dois tipos de factores, algunshistóricose outros nãehi[tóricos.o cenário, estereotipado e não.históri-

d Ít i i i l f

EXPANSÃoDo LIBoLo

o restante deste episódio consiste numa série de imagens queé lulgarencon-tarmos nos episódios das narraüvas Mbundü.o lugar-comumque descreve ouso de poderes mágicos para aumentaÍ o caudal do rioe assim impediro

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co, da paÍte inicialda nafrativa,localizadoem Luanda,obrigao histori-ador Mbondoa levarKqiingaa atravessar aquele rio a fimde a colocar nasregiões a sul, onde se deüerá passar o resto da história.De certo modo, afravessia do Kwanzapor Kajinganão é rnais do que um artifícioficcionalutilizadopara relacionarduas partes diferentesdo enredo-do historiador

, fiadicional,uma localização determinada mais pela lógiqada narrativa do

que pelo facto histórico.Na realidade, contudo,provavelmenteKatumbika Ngolaa Nzenza viviade facto imediatamente a sul do Kwanza,poisfontes documentais localibamum dito"Jaga" Nzenza a Ngombe no Libo-lo numa ópoca tão tardia como o iníciodo século dezassetã.* os símbolosde autoridade mencionados neste ponto da narrativa, o cordão, o tambor, acorda de arco, e a marimba,foram associados aos reis "Jaga" por toda aparte em Angola.Apresença do nome Nzenza em ambos os títulose acoincidênciados símbolos "Jaga" relacionam,com probabilidade,oKatumbika Ngola a Nzenza desà tradiçaocom o Nzeniaa Ngomueaosdocumentos. o episódiode Katumbika Ngola a Nzenza repreõnta o pri-meiroelementohistóricona viagem imagináriade Kajingaka Mbulueexplicaa razão de ser das insígniasde poder do Libolo,adquiridospelo

ndala kisun muitoantes da elúoração dãs tradições actuais.ri- o historiadorMbondointroduziuMutaa Kalombo na narrativadaviagemde Kajingaka Mbuluporque o títuloque lhe serviu de protótipo,\tuta a kalombo,teve a sua origemnum títulovunga do Libolàa quemfoiconfiadoo controlode certos poderes sobrenaturais. Dignitiíriosnomeados, portadores deste ítulo,actuam hoje em dia como "onúlh.iro, especialistas do sobrenaturalnas cortes do principaistifulaÍesMbondo.i,

Bispo p. simão'Mascareúas a el- .ei,2Mar. r624;Brásio (1952-71),vII:199-203.Ver tambémElias Alexandreda Silvaconea (1937), I: zls, Jlôã"õ*rà,Feo cúdoso á" cãaio sï;* "ones (1825), p. 164.Foi a- localização doep.isódio a sul do Kwanza que levou o historiador tradicional Mbondo a incluir1l\slona de Kakxmbika Ngora a Nzenza nesta narrariva. A narrativa fome""um bo,n

"*"ÀoiàdoT9d_9:o.qorybondo.reorganizaÍamfragmentos muitomais antigos de tradições para or fã1"r".a€equÍu-se â estrutura do novo musendo,desenvolvidono séculoãezassete. Üma^viaeem

hctÍciad-a fundadorasimbólicasegundo as novas radições, tiijmÁ"lã úïüì"ilïï.r'iã'"ïilriìàa.roÍÌnaaventÌfosaatÌavés de todas as regiõe-s-onde se originaramas formas mais antigas de auìori_dade Mbondo;poÍrÍrnto,reva:a parâ suúo Kwanzi,p.iãiiuoro.Devidoao ra"to'ã"u Ãtrururaoasrca oa naraüva ser uma viagem que_ se presume (falsamente) que teve o seu inícioem Luandae g-seu terrnoemLambo'-éa.geógrafiu 1. nâ. úrnu i"que-*ìããLacontecimentos reais) ò que deter-Tl11-o.o"n' pera quar KaJlnga é apresentâda obtendo os símbolos em causa. De ácorào com aq::gitllf-"ljl9m.plo,ela. necessariamente teria atingidoKatumbika Ngolaa Nzenza anies dechegar ao rio Kuri.A narrativa, de facto, não fomece qüalquer b_ase para aúii-ãìãi. pËã1""ros diferentes símbtrlos e tÍruloschegaÍam, na reataaaè, atË ao, rrlúó"àã.-

*'- : '.--"'r-'-'Testemunho de Sousa carunga, r6Jun. 1969. chatelain (1g49),p. 11, riúa Mutaa Kalombo comoum."demónio"na.mitorogiaïos Mb-undu,

" qú"r ;;';Ji;-éà;;;# d"^fË.*,ììlJá"ïïi-a"l.I:::,,"^',:T:-d:l::-:--"':jT*r.Manos.(i963),p. 337, ãisse queele era o,,deus da caça..A capacloaoe oe controlaÍos nos era especialmente atribuída à clasìe dos caçadores profrssionais

uso de poderes mágicos para aumentaÍ o caudal do rioe assim impediroavanço dos. inimigosperseguidores aparece, frequentemente, noutrastadições; tais palawas mágicas constiúúamuma capacidade essencial atibuí-da a alguns reis e estavam esfteitamente associadas às técnicas de fazer chover.Q aparecimento de Mutaa Kalomboneste ponto dà nanativaexplica comoKajingateria conseguidoescapar do exército pornrguêsque lhe seguia noencalço, um feitoconsiderado (pelo menos neste últimoséculo, ente osMbondo)muitodifícilde conseguir, senão impossível.

Kimaa Pata,s o "marido"de Kajingana narrativa, era um únrloque per-tencia ao grupo linhageiroSwela, o qual habita, nos nossos dias, ambas asmargens do rio Kwanzaacima da sua confluênciacom o Lúando. Esta áreade origem,no limiteda provínciacental do antigoLibolo,o Hako, coincideç66 4loçalizaçãodo rio Kori,mencionado na narrativ4no sentido de identi-ficaro kimacomo uma posição do Libolo.Os Mbondomodemos citamosSwela apenas como convenientes substitutos dos Libolo,os verdadeiroscriadorés do útuIo,uma vez que eles esqueceram a antiga filiaçãodaquelaposição e invocamosswela porque estas são as únicas linhagensactuais dosMbunducom útuloscuja ancesúalidade remete para o sul, ou seja, para o"Bailundo".De facto, os swela adquiúam os seus actuais títulosovimbunduapenas no século dezoito;múto tempo depois dos acontecimentos descritosnesta tradição. A referência a Kimaa Pata, portanto, vem de um período mútomais remoto,em que os swela tinhamútulosLibolo,e assim reitera a cone-xão de Kajingacom o Libolomesmo se os modernos historiadorestadi-cionais Mbondojá não recoúecem o verdadeirosignificadodo título.' O "casamento" entre Kajingae Kimaa paÍa, descrito no episódioseguinte, é uma imaginativadescrição da uniãodo úhrlokimaa pata com aslinhagens representadas pela figurade Kajinga.A imagemde um "casamen-to"está em concordânciacom o generalizadomodelode emparelhamentostírulo-linhagem,nas genealogias perpétuas. Metaforicamente,representa aincorporaçãode um rítuloLibolopor pârte dos gmpos de filiaçãoMbondoresidentes no Lambo.

Estes acontecimentos provavelmentetiveram lugar entre os Mbondo,enão algures mais para sul, uma vez que sÍmbolose ideias políticascomookimnviajavanmaisfacilmente, pordifusão,do que as linhagens se poderiamdeslocm, por migração.O útulode kimaa pata unda sobrevivenos Mbondo

kib.inda.Análises linguísticasapresentadas em vários outros locais mostram que a raiz -lombounicamente pode ser associada com línguas umbundu, reforçandoassim a hip'ótese das origensmeridionais paÍaeste título.

" Kimaaparecenasgenealogiascomváriossobrenomes. Okinnêumaespéciedebabuínocstrcitâ-mente associado a certas posições políticas.

IO2 NoVASIDEIAS VINDASDO SIJL

como resíduo do período do domÍniodo Libolo,quando portadoresdesteItulo,provavelmentesubordinadosaos ndala, viviamna área de Kabatukila.A esterilidade de Kajingarepresent&metaforicamente, ofacto de os Mbunduconsiderarem as mais antigas insígnias deautoridade como sendo, de alguma

ncnNsÃoDoLIBoLo 103

Os títulosde várias posições na corte dos Mbondoconfirmamestainterpretaçãoda úadição, uma vez que mostram claras afinidades lin"güísticas com títulosconhecidos, noutros locais,apenas a sul do Kwanza.Nas capitais da maioriados outros reis Mbundu, as posições equivalentes

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g g , gform4inadequadas para assegurar a sua prosperidade.As circunstânciashistóricaspoderão üer envolvidoquase todo o tipode infortúnios:doenças,faltade chuvas, ou a incapacidade de reunir forçasarmadas suficientes pararepeliralgum invasoç mas a tadição, como é típico,não fomece quaisquerpistas sobre a natureza das dificuldadeshistóricas. A incapacidade de Kajingapara gerar filhosindica,portanto,que as linhagens lvt-bondoderam as

boas-vindasao novosistema políticotazido pelo ndaln e pelo kima a pata.Esta ideia confrasta com ouEos episódiosnesta úadição t nouúas narrativas,nos quais se explica a intodução'de novos sÍmbolos políticosem úermos deconflito,o que sugere a necessidade de explicarporque ó que os Mbondonãoresistiramà imposiçãodo domíniodo Libolo.Nenhuns dados, por mimcoúecidos, permitemresolvereste quebra-cabeças.

A imagem de um acto mágico especial que envolveofertas aos espíri-tos da água s alude, metaforicamente,aos poderes sobrenaturais que osMbondoatribuíam aos seus reis vunga.Eles viamestes poderes como cru-ciais para a prosperidade dos Mbondo ede grande ajuda na difusãodossímbolos de autoridade do Liboloenfe as linhagens vizinhas.A uniãodokimacom as linhagens Mbondoprovouser "fértil",na medidaem que

levou àcriação de pelo menos cinco (mas provavelmentemais) títulossubordinados, os 'tfilhos"nomeados na narrativa.Estas novas posições,quase de cetteza, usÍtramoutrora"Kima"como sobrenome para indicaras

fontes da sua legitimidade,no Libolo;mas o posteriordeclíniodos reishango permitiuaos Mbondo modificaros sobrenomes a fimde indicarumaassociação mais autónoma com Kajinga.De uma forma similaràs óbviasmudanças de sobrenome sofridas por alguns dos títuloslunga dos Yongo,esta táctica forneciauma fonte de legitimidadelocal, embora falsificada;para titulÍÌresque tinhamperdidoo seu protectoresüangeiro. Se bem queestas posições possam em tempos ter sido importantes elementosna estru-tura do estado do Libolo,tornaram-se obsoletas quando os Mbondo con-seguiram ver-se livres dodomíniodos hango, e sobreviveram atéao pre-sente com funções muitíssimodiminuídas.Anarrativada deslocação deKajingade Luanda para os Mbondo,interpretada de acordocom as regÍasque regem as tradições orais dos Mbundu,apontam assim repetidamentepara o sul, ou seja o Libolo,como a fonte dos mais antigos títulospolíticosMbondoconhecidos.

" Mulungu'lA tÍsdiçãonão os identifica,mas novos governantes do sul teriam, logicamente,rculirsdoccrimónios propiciatóriasaos espíritos dos antigos Pende, senhores da terra.

pàquelas utilizamnomes diferentes.Os três títulosmais importantesnacorte dos Mbondo, todoseles nuvunga, usÍÌmos nomes de balanga(ou palanga), kasanje e kituxi.3sPelo menos desde o século dezasseis, osdignitáriosdos Mbundusetentrionais que desempenham as mesmasfunções têm sido chamados tandala, ngolaa mbole e muzumbo.%Dos termos unicamenteMbondo, balangacom certeza vem directamente

de fontes na regiãodo planaltode Be4guela; o termo não existeemKimbundumas no Umbundumoderno refere-se a um dignitárioda cortecom os mesmos deveres que essa posição tem nos Mbondo.3t

Apesar da grande confusão, nas fontes europeias, sobre o significadodo termo kasanje (que aparece como o nome do mais tardioreino Imban-gala na Baixa de Cassanje, como o títulodos seus reis, e como o nome dasregiões por onde.se estendia o seu domínio),é evidenteque teve a suaorigemnum cargo de nomeação vunga, alguresa sul do Kwanza,provavelmente nosreinos do kulembeou do Libolo.Por toda a região delíngua Umbundu,os reis nomeavam dignitáriosvunga com este título,aopasso que os Mbundue os seus vizinhosdo norte, aparentemente,não têmtal termo.O reino dos Ovimbundudo Wambu incluíaum "subchefe"chamado kasanje,n O títuloapaÍeceu de novo na margem sul do Kwanzaquando os Portugueses enconffaramum chefe coúecidopor Kasanjeka Yela, próximoda Baía de Quicombo,durantea década de 1640;a região era por essa altura habitada por falantes de Umbundu.eO Ítulo,habitualmente escrito como Mbolana Kasaxe, o nobre doLiboloque ocupava as ilhas do alto Kwanza,deve ter sido mbole na l<asanie antssde ter sido distorcidopela língua portuguesa dos doiumentos,poruma transcriçãopouco rigorosa.{O termo l<asanje sigtttficava, origina-riamente, qualquer tipode guardião, estando implícitoque este dignitário

35

3?

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Testemunhos de Sousa Calunga,16 Jun. 1969: Kasanje ka Nzaje; Kasanje ka Nzaje'Kitubiko,eNzaje. Ver também Salazar (n.d.), tr: 102.

Para tandala è ngola a mbole, ver Rodrigues (1936).Alves(1951), II:lM5.GladwynMunay Childs (1964), p. 37ó. A referência deveria ser a de um digniúrio-degomeagão'não uní "subcheie" propriàmenteãito, e representaria um títulode origem pré-Ovimbundu, em vezde ser uma prova dà pãssagem posterior dos Imbangala, como Childs sugere.Carta de AntónioTeixeira de Mendonça,14 Set. 1645 (A.H'U',Angola, cx.3' cap. 8)'o terÍno mbole

^paÍeceno contexto de um título políticode um dignitárioMbundu,o ngop a rybole.

Os Songo que vìviamem redor de Mbola naKasaxe falavamKimbundue teriam utilizadoestetermo pía ê..e cargo. o nome kasanje veio de falantds de umbundu,através do domíniodo Libo-lo na règião. Porquão rermo I asanje-náo signihcava nada em Kimbundu(de facto, tinha um senti-do pejoiativo),esìe chefe adquiriu-um títulõduplo que. incorporâva um elemento decada uma daslínluãs. Assim ele tornou-se ingolaa\ mbole (em Kimbundu)e (na) kasanie (em Umbundu)'

fIIII

104 NOVASIDEIASVINDASDO SI,JL

não tlnha quaisquer poperes autónomos limitando-seunicamente a admi-nisfraras forças inerentes a objectos pertencentes a outos. os Imbangalaainda usavam a pal4vracom este signiÍicadono século dezanove, paradesignar um adivinho qo lmsanje ka mbambo o t d iid

EXPANSAO DOLIBOLO

políticas. Finalmente,o própriotítulo ndala kisuapode apoiar a hipóteseafravés da evidência linguísticaque nos oferece. Uma vez que a palavrandnlaidennfrcauma cobra venenosa, tantoem Kimbunducomo em Umbun-

í l l ki

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designar um adivinho,qo .lmsanje ka mbambo.o seu nome, traduiidoliteralmente,significava"o guardião do mbambo',,o cesto dos objectos deadiviúação.alA palalvra também aparecia em kasanje ka ngongo,designando o guardião do gongo em fórmade duplo sino pertencJnte aorei de Kasanje.a,

A palavrakituxirrão aparece no Kimbundupadrão, mas a ruz -tusiem umbundu(equivalente

a-tuxi

em Kimbundu)significaum insultoouinjúriano sentido muitoespecíficode uma ofensa=quepermiteà parrelnjuriadareclamar uma reparação através do tribunardo chefe.*o prefixokj-"^Kimbundupode indicara pessoa responsável pelo objectoà"notu-do pela raiz lexicalque se segue ao prefixo.sO küuxidos Mpondo,defacto, escuta os casos trz\zidosperante os titulares nobres;, a raiz'umbundu-tusi e o prefixokirnbundu/çi- õombinam-separa indicarexactamente estafunção na forma"kimbundizada",kituxi.os Mbondotambém têm um dig-nitáriochamado lumbo,um títuloigualao de um títulpvunga do séculodezassete trazido do Liboloou do kulemàe.cEstes tírulos'úbondopos-suem traços característicosdos originusmavunga,pois são cargos denomeação e os homens que os detêm servem apenas em conformidadecom a vontade do seu

rei.Dois poÍmenores finaiscompletama sucessão de provas que rela-cionamo ndala kisua dos Mbondocom o antigoreino do iluoto. os nouresMbondosão os únicos, enhE os seus viziúosMbundu,que não podcmcomer a came do boi. Uma vez que, e.m Angola,apenas os povosque vivemao sul do Kwanza[açam esta espécie de ligação enme a suu iobrerue o gado,a.exüensão de tal costume aos Mbondoaponta, uma vez mais, para o Liboloe o kulembe(cuja "esposa", Mbumbaya Nyasi,tomava banhos de solsobre uma pele de boi, segundo foidito)como o berço das suas instituições

.r Capello e Jvens ügg2). I: 3g4, e o deseúo em face. Os Imb,lgalagn{a ugam o termo paÍadesignar um dos seus especialistas a""aiuinhuçãoltJ"À"rr.a""npor"-ã"ü"t"r,oôït.rsos.A palawa kasanje tambéin aparece em referêniiàa outraiãspeciesae r*aìã"r.sãËil õãsrl,

""apa, observou com orecisão que.o exacto

.igoit"uaõãa parawa Ì<asanje era,'guardião,,; eretraduziu.-a por. verwaÌter, uma'palavra"úã-;ãilà i.a"- ,ãããà aio.oìï*g;.,or".,responsáveis de propriedades, tutãrias de 'n"nor"""i",tãão. Ë"a. "Á*"àïi-ï"i*,Ëï5"*"*ar propriedades que pertencem a outros.'1 Salles Ferreira (1854-8).a3' Alves(1951), tr: 1576.* Héli Chatelain (1888-9), pp. 120-1.a5 Testemuúo de Kasanje ka Nzaje; cf. Cavazzi (r96s),I:192. se bem que os dicionários modernostorneçam pouca ajuda para localizaras origens de oútros tttutos nauonão oest" Ipã]"ì'"áËq"" :aescrevemos demonstrmconvincentemeãte a tigaçãoa"r úà"aïiãà'ïiïí"ìË1,Ë",irì,"i,"o.Kisuakva Njinie;sousa calunga,16 Jun. e s ilï.iõãs;ì"kã;;K;-j;-k""ïï;":"ïiiú"

r."Nz.je, Kitubikoe Nzaie: tamÈm sarazar tn.o.l,n:-úi,^aa nir,líü*i.riïìlsï,'à";tu^ui,lwamba, e ndala a malíin_

du, este termonão ajuda a estabelecer a origemdo título,Mas a palavrakisuafornece umaetimologiahistórica emUmbundu,mas não em Kimbundu,oque parece identificaro Libolocomo o originalsuserano do estado dosMbondo. A formakisua não aparece em neúuma das línguas modernas, masno séculodezassete a palavra tiúa o seu reflexona forma,tlsubaou kisuva,6que é comprovadamente uma palavrado Kimbunduocidental,que significa

"aqúloque sobra ou algumacoisa deixadapara mais tards".r Otítulocom-pletodo rei Mbondo,ndala kisua,designaria portanto "o ndnlaque sobrou"ou"ondala que ficoupara depois", oupaÍa ffás,.enÍe os Mbundudo séculodezassete que recordavam o declínio doLibolo.

Noufto local,o domíniodos Songo pelos reis hango estendeu-se apenaspara as linhagens setentrionaisdeste grupo, mas durou o tempo suficientepamdeixar marcas que ainda distinguemestes jingundu,chamados Kirima,dosseus parentes do sul, os Songo propriamenteditos. O subgrupo Kirimaviveaoeste do altoLuie a norte dorioLúando, até ao distante Kwije,grosso mododentro das fronteiras daextensão máxima do domínio doLibolo. Ogrupomaior, do sul, os Songo propriamenteditos, viveao longodo rioLúandoe aleste do Kwango.4A distinção entre Songo e Kirima tinhamúto maior

signiÍicadono século dezassete do que as poucas e subtis diferenças dialectaisque hoje em dia se podem obpervar.As maisantigas referênciasdopumentaisà região faziarr,de acordo com isso, a diferença ente as suas duas partes,como "Baixa"ou "Pequena"Ganguella e "Alla"ou "Grande"Ganguella.a'O nome veio dos Mbundlocidentaisque usavirmo termo ngangelapuadesigrrar todos os povos quehabitavama leste do Ndongoe, embora o teÍïno,tal como os Mbunduo empregavam, nãoindicasse neúuma região geográfi-ca específica, os Portugueses geralmente aplicavam-noapenas para distinguiras duas regiões "Ganguellas"dos Songo. A Pequena Ganguella ficavaanort€e correspondiaà iárea Írctualmentehabitada pelos Kirima; aGrandeGanguellaeram os Songo propriaÍnenteditos. Uma vezque os reis lwngotinhamgovernadoos Kirimado norte durante o século dezasseis, mas não

tiúamconqústado os Songo do sul, foiprovavelmentea herança da sobera-nia do übolo a responsável pela distinção feitanão muitodepois, no séculodezassete, enfre estes dois grupos de linhagens Songo.

Balúasar Rebello de Aragão,"Rellação";Brásio (1952-71),Yl 332-43: também em LucianoCordeiro(1881), Itr:15. Os enos acumulados de escribas e editores levaram a palavra a apaÍecernesta fonte como "chicova".Assis Jr. (s.d.), p. 143.Testemuúo de Sousa Calunga, 21 Ago.1969.Por exemplo, Cavazzi (1965\,l: 214.

106 NovAs rDErAsvINDAsDo sut.

Os Mbondodepois do declíniodo LiboloÀ medida que o ngolqa kiluanjese expandia para sudeste durante o

século dezasseis, os Mbondo fïcavam isolados do Libolo,deixando pelaprimeiravez a província do,tndalaliwepara se desenvolverde acordo com

107s MBoNDo Dsporsoo ppclhrtoDo LIBoLo

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p , pcondições políticase'sociaip locais.

A históriasubsequente deste Estado ilustracomo as linhagensMbundu da região de Lambo,correspondendo em linhasgerais às terrasaltas do promontórioque se projectapara nordeste na direcção da Baixade Cassanje, se aproveitaram do relaxamentoda autoridadedo hangopaÍa converteros mavunga origináriosdo Liboloem títulosde liúagemhereditários,muitosemelhantes às suas própriasposições perpétuas comos respectivos nomes. Uma vez que nenhuma liúagem, por si só, conse-guiu reivindicar parasi o títulocenffal dendala kisua;os grupos defiliagão Mbondoacabaram por estabelecer uma formade sucessão rotati-va, na qual diferentesgrupos de jingundupartilhavam,sucessivamente,oexercíciodo poder.

Por razões já indicadas, a propósitoda minhaargumentação sobre asorigens no Libolodo títulondala, as genealogias que se referem à for-mação do reino Mbondocontêm muitíssimas ambiguidades,mas algumaspassagens nas tradições parecem oferecqra esperança de uma razoâvelinterpretação histórica.A maiorparte das variações nos útulos resulta dofacto de eles terem sido em tempos mavunga e, portanto,não terem umaposição "pai"capaz de fixá-loscom segurança em relação aos outros títu-los, nas genealogias perpétuas. Os termos que compõem a priúeirapartedos nomes, que derivamda sua originalimportânciacomo mavunga,variammenos do que os sobrenomes e, de facto, revelamque dependemde quatro posiçõesidentificáveis,as quais maÍcÍÌm quatrofases na históriaremota dos Mbondo: Kajinga,Kikasa,Kima,e Kingwangwa.

Kajingarepresenta, claramente, as linhagens locaise afirma-se numaoposição implícitaaos outros títulosna genealogia, sendo quase todos elestítulospolíticos,a maioriamavunga do Libolo.Os Mbondoreconheciamvárias subdivisões dentrodo grando grupodos jingunduque, alegada-mente, descendiam de Kajinga:Ndala a Kajinga,Nyangea Kajinga,Mupolowa Kajinga, Mbambaa Kajinga, Zombodya Kajinga,KabarikaKajinga,e sem dúvidaainda outros.s A localização das terras destes agru-pamentos de linhagens, os quais representam provavelmente as mais antigas subdivisões de que há memória na região, é desconhecida, excepto noque diz respeito às de Kabari ka Kajingae Zombo dya Kajingaque ocu-pavam domíniosa oeste e a leste do médio Lui,respectivamente.

'" Compure com us linhugens cujos nomes são apresentados como de descend€ntes de KajinganelrrdiçilonurÍ&tivâ,p. 99.

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108 NovAs rDErAsvrNDAsDo sut-

os-restantes parecem ter vividonas-terras altas algures nas proximidadesde Lambo.As conexões históricas ente estes grupos também não podemser detectadas, uma vez que oqMbondo não têírJJ;;;ãü;ì"r."n_tar coerenre e articulada, ãomo no caso dos Songo; uËilã;?rr" g*

os MBeNDoDppots no oscLÍNroDo LrBoLo 109

de Lambo.Eles governaram até à década de 1640, quando uma posiçãolfilho't,o kingwangwatqta kima,substituÍuo seu "progenitor"como títu-lo dominanteentre os Mbondo, conjuntamentecom 4 ascensão do novo

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articulada, ãomo no caso dos Songo;"uËilã;?rr ,g*-pos de uma descendência directa de Kajinga;r;""à;:-r;ãju-àu,u_uboa dose de compressão das genealogias.

A segunda fase da evoruçãopoliti.udos Mbondoveiocom o que asgenealogias descrevem como um "casamento" entre Kajinga" úkuru.rtKikasa,cujo títuroparece ter estado associado a títulosde linhagemapelidados mwingaouKyango a Mbaxia Kitatakya Mukombi,ìerasidoum antigo rei lunga dos.p.ende,

Tl-"-.du expansão do Libolopara a regiãode Lambo'o "casamento" entre Kikasae ifujingarep*"niu'uÃ|erioooremoto,em que os portadores do títurokikasa- detirúr"i"agr-"l"iuênciaentre as linhagensnaquela ârea, e não afecta o significaãodo fosteriorcasamento" ente Kajingae Kimaa pata.De facto,Kimaé o que apárece logo a seguir, na maiorparte das ge_n9a]osias Mbondo e prenuncia o adveú da soberania do Libolo.Ele usaváriossobrenomes diferentes, uma variabilidadeque erd O"pr.uãr, OuOu uorigem prováveldo útulono Libolo,como kima i pata.iO tìtúovunga dondala não aparece' de maneira nenhuma, nas genealogias tvtuonaoïas,em seu lugar, o kimaa pataperman".".orno-,'ir;;;;il;';";tolopeloLibolo'o kima poderia

ter àdquirido.ro p"riiãoilË.;Ëir, ,uro. tivessedecaído para o estatuto dè umu posição ünhageira hereditária quan_do os Mbondose liúaramdo domínioáo Libolõ;n"r.uuft*u,u, fiagens detentoras do kima terão fornecidoos .atur"i,-i"r-'p*uuposição do ndala kisua, aparentemente arravés oa"ìe4ao i"itaoL u,ndeterminadonúmero de grupos de filiaçãoMbondoque, em ."";;";;:escolhiam os Íepresentanres paÍa o títuiocenraJi ü;; iã.à "r,usserção vem da idenúficaçãoquase unânime do kima.comoum ,,fiIho,,

quer de Kajingaka Mbuluquer, dependendo aa variante ,-ío-íiür'o;e "u,ente que os historiadores fradicionaisMbunduvacilam entre as duas maisantigas figurascomo progenitoresdo vunga Kima,por rata o" Lmo.conhecimenro das suas verdadeiras".ig*rlú,ou ui":qu.i naou-it xuolnunca- ficouna posse

de uma única iiohug"rn,nao pode up*à ou,genealogias de nomes permanentes"*."ptJocasionarmente, como umainterpolação. Os titularesdo kimaa pata,'"p*""*."*;;;*;",*"inhalem nãô identificada,gozavam a" uuiãg"ns estratégicas através daocupação deum tocal chamado Kabatukita,onã" uru ";;"i;;;*h"r"ornece o único acesso à Baixa o" cu*anj"a partirdas terras altas a sul

t Testemuúo de Kingwangwakya Mbaxi.'r 'lêstemuúo de Kisua kya Njinje,Kambo ka Kikasa,Sousa Calunga.

reinode Kasanje que, por essa altura, estava em forrnação na Baixa.uA conversão do ndala kisuctque, de um vunga nomeado por um

hango, passou para um títulosob controlode um número reduzidode li-nhagens centrais dos Mbondo, permitiuo reaparecimento, entre os Mbon-do, da velha tendência dos Mbundupara a fragmentação política,Algumasdas liúagens Mbondo mais a leste, conhecidas como Zombo dya Kajin-ga, ïrzeram a secessão com a autoridade do ndala kisua durante o perÍodono qual o reino Mbondoestava iilorescente,independente da influênciadoLibolo.Na regiãode Yongo,entre o Luie o Kwango, eles estruturaÍamuma rede de títulosde linhagens, distinta e bastante extensa. Maisumavez, as genealogias mostramesta evoluçãocomo um "casamento", destafeitaentre as linhagens de Zombo dya Kajingae o antigo reilunga dosPende naquela região, Kayongoka Kupapa. É evidente que portadores detítulosde linhagemderivados de Zombo dya Kajingasubjugaram os reislunga, já, que o Ítulode Kayongoka Kupapa entrou em declínioe os títu-los derivados de Zombo dya Kajingaramificaram-se,através de NdunguyaZombo,na geração seguinte, para cinco ou seis posições nd nível queimediatamente lhe sucedeu. Kilambakya Ndungutornou-sç o mais impor-tante dentre estes, nos finaisdo século dezasseis, de tal forma que, cefcade 1600, toda a Baixade Cassanje era conhecida como o kina (depressão,cova) lqta kilamba.As linhagens de Zombo dya Kajinganunca perderamcompletamente o contacto com o reino Mbondooriginal,nas terras altaç,como é indicadopelas genealogias, através de um certo número de "casa-mentos" entre os antigos mavunga do Libolo(tais como KikululukyaHango e mesmo o kimaa pata) e as linhagens Mbondo de além-Lui.

O desenvolvimentodesse estado Mbondo subsidiário,o de Kilambakya Ndungu, apresentou a maioriadas características clássicas da for-mação do Estado entre os Mbundu. Fez uso da habitualrede Mbundüdetítulosperpétuos, em vez de desenvolver o potencial dos mavunga segun-do o modelo doLibolo.Absorveutambéú títulosmais antigos presentesna região,neste caso os reis lunga dos Pende, dando às posições antigasnovos apelidos que indicavama sua incorporaçãono novo estado. Foidesta forma,por exemplo,que o sacerdote lungaMahaxina pakasa, umdos antigos títulos próximosdas salinas do Luhanda, se tornouMahaxinMúongi,a partirde Mahongi a Ndungu yaZombodya Kajinga,um dostítulos"iÍmãs"de Kilambaa Ndungu.Se a incorporaçãode Múaxiindi-53 Testemunhos d-o.grupo-Mbondo;Alexandre Vaz, 30 JuÌ. 1969; Kimbwetc;Kingwnngwakya

t qra;^S,gsa Calunga, 22 Jut.,29 e 30 Set.. 1969; Múaxi;Kabarika Kajingn;Apìrlo.tã Mnr,ir,8 Jul. I969.

110 NOVASIDEIAS VINDASDO SUL os MBoNDoDEpoIs oo oecI.hüo Do LIBoLo

e se moveu para o vale do rioKambo,a norte da capital Mbondo.O perÍo'do em que o reino do ngol.a akiluanieesteve dominado pelas liúagens deJinga a Ngolae Mbande a Ngola(década de 1570 - década de 16?0?)reduziuo estado Mbondo às suas linhagensnucleares, acima da escaÍpa

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Mepr, Vtr.Expansão do reino Mbondodo ndala kisuae estados subsidiários(c. século dezasseis?)

cou um movimentoem direcção às salinas, o reino de Kilambaa Ndungutambém correspondeu ao modelo já comprovado, de estados que tendiam

,a concentrar-se próximode recursos económicos valiosos.Ahistóriado originalestado Mbondodo ndala kisua apresenta carac-

terísticasbastantes diversas das dos outros antigos reinosMbunduaquiconsiderados. Aocontráriodas origens essencialmente locaisdos estadosbaseados no ngola e no lunga, ele foigerado pela implantação de um ítu-lo vunga vindode fora, omanando do sul do Kwanza.Sobreviveuaodeclíniodo seu patrono original,os reis hango doLibolo,mas apenas pÍuase tornaÍ umítulolocal reivindicadopelas liúagens Pende da região deLambo.Aí,ele prosperou num períodoem que outros dçtentoresde ítu-los do Libolorecuavam perante o avanço do ngola a kiluanjeou, como naregião Leng-e, se tornavaÍn parcelas subordinadasdo reino do ngola.A localização do ndala kisua, eminacessíveis picos montaúosos ao longoda escarpa que bordeja a Baixade Cassanje, deve ter fornecidoa estes reisuma posição defensiva inexpugnávelmesmo para os exércitos dongola akiluanje.À medida que o estado Mbondose expandia, afastava-se dogrande reino Mbunduocidentale, talvez por mera coincidência, aproxi-mava-se das salinas que tinham desempeúado um papel tão proeminentena históriapolíticae económica mais remotada Baixa de Cassanje.Ele soÍïeu os seus primeirosreveses quando o ngola a kiluanjesecxpandiu para sul do ndala kisua, em direcção ao curso superior do rio Lui

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próximade Lambo.s

e O trabalho de KarlHiifersobre esta região, referidona edigão inglesa, nunca foi terminado, devl'do ao falecimento do seu autor. (N.T.)

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CAPÍTI.JLOVO P bl d ã

pRÌMóRDrospn msrónn polfncnsoNco

Pende tiúamcoúecido váriosestados baseados no runga, o Liboloumadinastia de reis hango, os Lenge um obscuro estado baseado no tera e osMbondo o seu ndala kisua.A razáo para a anómara históriapolíticadossongo d i t d f d f l

113

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O Problema da Formação do Estadoentre as LinhagensSêgmentares,

a Leste dos Mbúndu

A ausência de reinos grandese estáveis é a característica maissaliente da históriapolíticadãs áreas a leste oo, rraúunau.È,n

"-onour,"om as regiões a oeste, onde a históriapolíticados Mbunduestá marcadapor vastos e duradourosestados, o mesmo sucedendo com a dos ovi-mbundua sul e a doì Konso,a-lorte,""q""r"rããii"ãi,ãï'ffir"iro,tinhamemergido cerca de- 1600 mas n"iúu*tinha crescido muitoe amaioriadeles tinha-se desintegradopouco tempo depois da sua fundaÇão.ruma históriacomo essa, de estruturas polítiôas

"r?..ru,. ã"-pàqo"nuescala, explica porque é que as modernas liúagens songo" cot'i"a"te.numerosos útulosantigos,rnas não concedem-a neúuãr oetes o grau decentralizaçãoou extensão geográÍicacomparávelao do maniKoïgonoKongo,ae do ngola a kiluanjeent e os Mbundu,ou ao katìmu,n"ir*ur-to de Benguela.

otema principal

deste capítuloserá a in"ufulìãua"generalizada dos detentores de títulosem unir estas li,úagen,p*u formarestados viáveis.A linha principarda narativa u"o,,'punrrïu,ã;;;*."p_ções que confirmamaÍegr*,oestado Lunda do mwitayamvono rà,uogue as hordas de gente rideradas por detentores dum títutóchamado H"g;7;,que começafam a sua históriana Lunda mas acabaram por atacar violen_tamçnte a própriaexistência das linhagens Mbunáu, próximodasnascentes do Kwango..por,oda a parte, excãpto nestes dois cãsos, a escalapolíticapouco se ampliouno períòdo anteriora 1600.

Os primórdiosda históriapolíticados Songo

.^^^l:r:$/ossubgrupos etnolingústicúdos Mbundu, os Songo des_

'ucÍÌm-secomoos únicos que não tiveramqualquer

reino forte.2 cãrca oe1550, aproximadamente,oi Ndongotintramïooo seu ngora a krfuìnie,os

ffi::T.:]j:ry1".1::]ageneraIização,ochamadoimpérioLunda.provavelmentenãomeÍsru como um estado foÍemente.õentrarizado ant"s ã" ffi'àã;ffiá"ilïs'"",;,";;'.';;"""r.,ltura, a centralizacão efecrivaestenaiu-r" u un,u ãJá'ãu-,ï*ro"nt.pe{luena, de modo algum a tota-idade da região hãbitualmentemosnata nos Àãpã-ià.ãï 91n,69 r-unda,,. sem qu.r"-. -r""ip-s conclusões deste caDíturo,a."o úr"iqu"'u',ãnïï'ãÀr"apora as daras sugeridas em verìur, Í?13Ì,n^9r"]: ï.";.*.re""úãã-",tãããã;'ï,,;,;';;,".compreraÍnenrerormado.A ruronaoos songo é a menos.coúecida.detodas as dos Mbundusetentrionais. para além de algumasotas esparsas deixadas oor üajantes ao século ããanJvi ;ú.""-f;ilJ Ài;JËËi"iaËïËrrr"g"-hães (t9a8)' p. 38. Esne'remosilue as recentes inuesãluçêã" ru Htir.;;;"ü;-Ëffi;r-irg**acunas do nosso coúecimento sobre

".tuimpon"nt""Ëãiïü;r-il;;Ëõâffiffir'iï".,ï

songo deriva, em parte, do factode os seus grupos de filiação,caso únicoentre os Mbundu,pertencerem ao sistema em expansão daJünhagens seg-irnentares que, pelo século dezasseis, ia desde o Kwanza,onde os songoformavamo seu limiteoeste, até pelo menos aos Lunda setentrionais doKatanga, a leste. obviamente,apenas podemos imaginaraté que ponto osSongo do século dezasseis ainda se assemelhavam ao tipo ideat ãe estru-tura social segmentar, na qual os laços genealógicos gerados pela cisão dasliúagens coincidiamcom a distribuiçãoespacial dos grupos de filiação.Porém, a falta de notoriedade das estruturas políticasna ârea sugere que,até ali,pouco tiúa perturbado o ffanquilofuncionamentode um sistemadescentralizadoque podia ainda, de formaeficiente,repartir recursosescassos (principalmentea terra) e mobilizarpara a defesa um númerosuficiente de homens.

uma genealogia segmentar abrangente articulavaas relações enffe osjingundudos Songo e, também, entre os Songo e os CokwellwenaeLunda. No seu topo, encontrava-se o nome de Mbumbaa Mbulu,umafigurasimbóüca largamente coúecida na Áfricacentral ocidental,mas designificadohistóricoincerto.As três principaissubdivisões na genealogiaaparecem na sua primeirageração de descendência, em que Tembo aMbumba surge como a antepassada das linhagensdos songo e cokwe,T[mbaa Mbumba como a fundadorade um antigoconjunto de títulospolíticoscokwe,e Ngamba a Mbumbacomo o progenitordos mais anti- ,

gos títulosrecordados no coração das tenas Lunda, próximodo rioKalanyino Katanga.3

Na parte songo desta genealogia coordenada, os nomes referem-sequase exclusivamentea relações entre grupos de filiação,mas mesmo asversões incompletasdas genealogiasque eu registeide Imbangala deascendência Songo sugerem, indirectamente,a presença de um cónjuntode nomes extra-linhageiros,que se diz serem homens que "casaram" comTembo a Mbumba,a mulherancestral fundadoradas linhagens. De acor-do com a característica linguagemdas genealogiasperpéruas dos Mbundu,os "maridos"de Tembo a Mbumba representam as autoridades políticas

' T.d;;t*,"munhosImbangala.9g9 se referemao período etiorógicoda história Mbundu sãoconcordantes-.Mesquitela Lima(1971), p. 43, apresenta_um NgãmbeNgõmúa õuüçri àogenealogiados Lunda. Tembo e_ Tumbaaparecà em diversas"tradúõd-õ;i";áã sécul<rdezanove' por vezes "caiqdo dos céus".como os arquétipos dos seres rtomàhãr no uniuirücoti*ll::^9.:rlf B1o.3u: os Cokwe reivindicamTembõ coino uma antepassada da linhagim,cnqunn_to que-os songo tenram distinguir-sea si própriosdos cokweusanão Tembo e Turãba, vor Hcr-TrT-B."9ll*"(le3s). pp._139-I40;.FoniecâCardoso (1919), pp. ra_io; É Ciüi,icÌrsìb:iij,p.p. //-E ( o_grupo [Cokwe]é formado dg clãs que recoúecem õomo sua antcpassa<ta n mulhóiTembo...'). crine-Mavar(r9i3),p.72, refere TtÀba,Tembo e samba u funiiàËiónien r"un,ra,

II4 oPROBLEMADAFORMAçÃODOESTADO

que emergiram, de tempos a tempos, enüe váriossegmentos dos iingunduSongo. Embora cada um dos nomes represente alguma formade poderpolítico(uma lista não exaustiva incluipersonagens como KalulukaWambwa,Mukoso,Mwili,e Kunga dya Palangaa), os limitadosdados de

di b históriados Songo não permitemidentificara maio

INsrïTtrIçoEscENTRALZADAsENTREos LLTNDA 115

centralizadas e conduzindoà emergpncia do mwatayamvo,nos finaisdoséculo dezassete. Ao longodeste percurso, algumas linhagens Lundaopuseram-se a tais mudanças e acabaram por afastar-se do centro do esta-do Lunda. Nesse processo, elas difundiramum certo número de"títulospolíticose símbolos de autoridade Lunda os quais se tornaramposições

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que dispomos sobre a históriados Songo não permitemidentificara maio-ria destes incipientes reise, muitomenos, determinar a sua exacta locali-zação ou colocá-losnuma sequência cronológicaconecta.

Conrudo,parece claroque a maioriadestes títulostiveram origemfora da região ocupada pelas linhagens segmentares e foramalterados àmedida que se incorporavamcomo posições titularespermanentes ligadas

a linhagens,em certa medida tal como os Mbondoconverteram osnwvungado Libolo.Os Songo modernos localizamas origens destas posi-ções políticasa sudoeste, onde as dinastias do kulembee dos reis hango,documentadas por fontes independentes,fornecem antecedentes prováveispara autoridades políúcas deste tipo.Dos nomes registados, apenas o deKungadya Palanga pgde ser provisoriamenteidentificado:o seu útulopoOe Oatar do sécúlo dezasseis,-ou ainda antes, quando uma das principaisfigurasno Mbailundousava o títulode "kungo".sAlgunsdestes títulosainda exisúam nos finaisdo século dezanove, quando os Songo relatarama certos viajantes que um rei chamado Kunga dya Palanga detinha algumaforma de autoridade sobre o povoque viviaa norte do rio Luhandoe aleste do rio Kwanza.6Em geral, contudo,poucos dos antigos reis Songoconseguiram venceÍa resistência das liúagens e imporum poder políticocentralizado.O grande númerode títulos recordados como "maridos"deTembo a Mbumbae as discrepâncias das suas posições na genealogiasugerem que eles não exerceram por muito tempo um verdadeiro poder enão estenderam muitolonge a sua influência.

Creìcimentode instituiçõescentralizad.as entre os LundaPara encontraruma imposiçãode títulospolíticosalienígenas sobre

linhagens segmentares, similarà que ocorreu comMbümbaa Mbulu,é necessário deixaros Mbundue partirpara longe, até aos Lunda setentri-onais do Katanga, onde tiveraminíciodesenvolvimentospolíticosquemais tarde afectaram os Songo e, finalmente,aúngiram todos os Mbundu.Os primórdiosda história Lundadevem ser analisados tendo como panode fundo as liúagens matrilinearesfortementesegmbntares, e devem servistos como um movimentogradual, através de muitos estágios deevoluçãopolíticacaracterizadospor estruturas progressivamentemais

' Testemuúos de Alexandre Vaz, 30 e 31 Jul. 1969; Sousa Calungê, 29 e 30 Set. 1969; DomingosVaz'' A.V.Roúigues (1968), p. 183. Palanga é também um títuloencontrado com muita frequência na

Árca Libolo/ÌvÍbailundo.. Lux (1880), p.96.

políticose símbolos de autoridade Lunda, os quais se tornaramposiçõescenfraise símbolosde chefia da maioriados reinos Mbundudepois demeados do século dezassete.

Uma vez que estas conclusões derivam de uma análise da históriadosI unda que se afasta da interpretação convencionalde algurnas fadiçõesbastante bem coúecidas, desejo fazer preceder os meus próprioscomen-

tários de uma revisão da informaçãoanteriormentedispoúvelsobre osperíodos mais antigosda históriapolíticaI unda. As radições orais publi-cadas, sobre as mais antigas fases da formaçãodo estado Lunda, provêmde uma ampla variedade de fontes - na sua rnaiorparte Lunda, Cokwe,ePende - e, portanto,dão-nos a oportunidadede fazq comparações entreelas, comparáções essas que permitem indicaros modos comoo meioquerodeou a transmissão de cada fadição afectou o seu oonteúdo e estrutura.?Contudo,elas têm sido interpretadas,geralmênte, sem uma adequadaatenção às instituiçõespolíticase sociais dos povos que as relatam.Evoluçõespolíticasrelativamente recentes (ou seja, desde 1650) naLunda, por exemplo, afectaram claramentea forma como os Lunda doséculo ã"r*ou"i do sécrrlovinte rememoram acontecimentosmuitoremotos que, ao que parece, ocorreram num contexto que diferia,emmútos aspectos, das condições políticase sociais actuais.

Outras tradições, encontradas fora da região central dos Lunda, taiscomo ÍÌs dos Imbangala(cujos reis sQ reclamamdescendentes de prede-cessores que deixaram a Lunda antes das mudanças que, mais tarde, altbra-ram o conteúdo'das narrativas Lunda),podern preservar uma perspectivaarcaica qqe já nãg se enconfrapresente na terra natal dos Lunda.De modoidêntico,as modernas estruturas sociais dos Cokwe assemelhatn-se maisàs antigas instituiçõesLunda do que as actuais condições no povomaispróximodo rioKalanyi;as tradições dos Cokwe podem, portanto, ser maisricas de informaçãosobre as fases mais antigas da históriaLunda do que

' O r4elhor registo das tradigões dos Lunda setentrionais ainda é o relato de Henrique Augusto Diasa" d*uufftoifSS0a),o maìs antigo que foiregistado e o qle incluimais pormenores sobre aconte-ãi-"otoiaãirúodô mais remotõ.úctor W.-Turner(1955)traduziupartes do texto deCarvalhonra inslês. Àssemelha-se múto a um texto Cokwe(talvez contamiìado com interpolações {a íiõa. ã" É"úquede Carvalho)reproduzido em Lima (1971), pp.42-51 (?).-Asextraordináriasii-.iii-tìGr""triotexto de Limá e õ de Henriquede Carvalho põdem, contudo, explicar-se pelofacto de à informação de Henrique de Carvalhoter vindoem grande parte.de chetes Lunda cuJosanteoassados tiúú. por muitoiempo, vividoentre os Cokwe, e foram os descendentes desteg gue '

ãuir"tutA"uofúrto á tont"tu ."rttãversão dessa hadição a Lima.Ver também os relatos de llonO"vriõiitSi3),M. van den Byvang(1937), e DanielIiiebuyck(1957) para relaros mais tardios emenos completos. Crine-Mavar( 1973) dá uma versão recente e relatrvamente tndependenle' a pÍìÍ-ú de fontes Lunda próximas da moderna corte real.

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116 opRoBLEMADAFoRMAçÃoDoEsrADo

os relatos dos própriosLunda.Pretendo reinterpretara históriaantiga dosLunda incorporandona afiálise novas tradições, provavelmente maisanti-gas, que se encontram entre os Inlbangala,oferecendo algumassugestõessobre o sistema social no qual teve lugar a evolução políticados Lunda, e

li d à di õ b i h id é i í i d l id

INSTITUIçÔESCENTRALTZADASENTREOS LUNDA ll7Váriosúpos de provas sugerem que os antigos Lunda tinham

liúagens de tiposegmentar similaresàs dos modernos Songo. Os títulosLunda aparecem nâ secção das genealogiasperpétuas encabeçada porMbumba a Mbulu.uma vez que esta genealogia contémapenas nomes que

f ili h / títulospolíticosperpétuos associados

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aplicandoàs tradições bein conhecidas as técnicas críticasdesenvolvidasno manejo das narrativas e genealogias dos Mbundu,analisadas nos capí-tulos anteriores. Esta abordagem parece justificar-se,uma vez que as nar-rativasdos Lunda se enquadram, claramente, na estrutura das genealogiase episódiosnarativos que se encontram naS tradições dos Mbundu'Além domais, uma vezique sabemos que os Lunda têmsucessão nasposições titularese paÍentesco perpétuo, paÍece justificávellidarcom assuas radições comose elas possússem características similaresàs dosMbundu.sMaisconcretamente, consideroqut-todos os nomes nasgenealogias se referem a útulos perpétuos e que as partes narrativasdasradições podem separar-se umas das outras e descrevêm acontecimentoshistóricosem termos metafóricose não em termos literais.

As tradições dão-nos todas as possíveis indicações de que os antigosLunda tinhaminstituições sociaismuitosemelhantes às matrilinhagenssegmentares actuais dos Songo e dos Cokwe.e Apesar de parecer que asinstituiçõessociais dos Lunda setentrionaisse modificarammuitomais emséculos recentes do que aconteceu com as dos Mbundu,'oas práticasdasucessão nas posições titulares e do parentesco perpétuo vêm de um perío-do muitoremotoda sua história.l'Fragmentos das genealogias perpétuasdos Mbundu que datam do século catorze ou quinze, por exemplo, esten-dem-se aos Lunda e, uma vez que estas genealogias incluemapenas títu-los de tipopermanente, a sucessão nas posições titulares eo parentescoperpétuo devem ter existidona Lunda, naquela época. A vasta distribuiçãoàesias práticas,numa larga faixaque atraves'sa a Áfricacentralmas temcomo centroa área Lunda, tambémsugere que estas instituiçõesdevem terfeitoparte da vida dos T.unda há muito tempo atrás.l2

Frru.os7a'pp.65-6,feznotaresteaspectodastrapiçõesmasnãoresolveuoproblemadasimplicações desse facto paÍa o perÍodoantenor ao mwai4 yamvo (c, 17C0)-e Uma surpreendente escâssez de dados etnográficos fiáveisimpede o progresso da reconstrução dahistória iocial dos Lunda pâÍa um tempo tão remoto. Os mais importantes materiais pubücadossobre os Lunda aparecem em Femand Crine(1963), Crine-Mavar(1963, 1968, 1973),e Biebuyck(1957).A informaçãosobre grupos com eles relacioriados e os limitadosdados disponíveisnosrelatos dos viajantes permitem traçar algumas conclusões com bastante certeza.

ro Crine-Mavarpor diversas vezes afirmou que os Lunda modemossão bilaterais sem linhagensfortes (1963, pp. 158, 165-6, e 1973, p. 69). Mas continua por esclarecer se todos os Lunda,ouapenÍrs os detèntores de títulos políticos,são hoje "bilaterais"e em que contexto a descendênciabilateralvigora.

' Esta interpretaçãodiscorda em particular da de Duysters (1958), p. 82, que afirmaque ospersonagens nai tradições Lunda erampessoas e não títulos perpétuos. Uma vez que qualquerImbangala exprimiriaa mesma opinião se lhe perguntassem dircctamente sobre a distinção entrenomes e títuloiem Kasanje, Duysters pode ter chegado às suas erróneas conclusões através de umaconfiança acrítica nas observações doi seus informantes.

12 A sucessão nas posições titulares e o parentesco perpétuo encon[am-sehoje desde os Mbundu,no

se referem a matrilinhagens,e/ou aos títulospolíticosperpétuos associadosa estes grupos de filiação,o hábitode os Mbundu colocaremaí os LundaindicaqUe eles tiveramoufroramatriliúagensorganizadas, pelo menosparcialmente, na base de oposição segmentar. Uma recente pesquisa entreãs Sala Mpasu,vizinhossetentrionais dos Lunda no Katanga, sugere que

também eles em tempos tiverammatrilinhagens,embora hoje em dia as

tenham abandonado, preferindo outrostipos de insútuições sociais.rs Algu-mas das tradições dos cokwepretendem daruma descrição das condiçõesde vida entre os antigosLunda em teÍmos que mencionam,explicitamente,caracterísúcas essenciais de um sistema de üúagens segmentares: umcerto númerode "chefes" (i.e., chefes de liúagem) relativamente indepen-dentes, que ocupavam distintos pequenos territóriose que, em caso de

necessidáde, se uniam sob um único "chefe".l4Portanto'a históriapolíticaantiga dos Lunda processou-se tendo como pano de fundolinhagens e seg-

mentos de liúagens que ocupavam uma área relativamente pequena juntoao rioKalanyi,cada uma delas vivendono seu pequeno domínio(chama-

do mpat). O aspecto segmentar da estrutura liúageirateria restringidoa

formàção de instituiçõespolíticas fortementecenEalizadas, em certa medi-da tal como instituiçõessimilaresimpedirama ascensão de reis ente osSongo. Por essa época, o "reino"Lunda, longe de se assemelhar a pos-

teriores estados da ÁfricaCentral ou às suas fases imperiaissubsequentes,era pouco mais do que um conjuntode aldeias baseadas nas linhagens.

Umconjuntode posições titularrsperpétuas, chamadas tubungu (sin-gular kabungz)forneciaa unidadesubjacente às linhagens Lunda nokatanyi.Alémdisso, um outroconjuntode títulospolíticosparece ter exis-tido nos mais remotos tempos de que há memória.lsNão estão claros nemo exacto relacionamentoentre estas posições nem a sua origem,mas a com-paração de genealogias referentes a este período (aproximadamenteo sécu-io quinze, mas impossívelde datar tó) revela a existência de um únicotítu-

oeste, através dos cokwee dos Lunda setehtrionais, até aos povos do Luapulae aos Bembe, noleste;.Cunnison (1956). Crine (1963), pp. 158' 162-3' assume.que o,paÍ-entesco p^erpétuo e aiu""iraonú'porições íitulares sào muitôãntigos. Ver também Biebuyck(19_57),_p. 794, que con-i11fr; il; "lóia"rt. tipo ligamas mais aãtigas das sobreviventes posições Lunda (os chefestubungu).

13 Estou gÍâto.ao Professot WiltiamPruittdo Kalamazoo Collegepor ter Senerosamente partilhadocomigõalguns dos resultados da sua pesquisa, não publicada, sobre este aspepto'I-ima(tSZl),p.43. O recente trabalho de Crine-Mavarparece confìrmá-lo(1973)' pp' 66-74o Lima (1971), p.43. 0 recente trabalÌìo de urrne-MavÍupaÍece çonlma-ru(rvlJ,,'PP. uu-

'5 Tal como no caso dos Mbundu,o mais antigo período recordado da história dos Lunda capta oc^-^^ã^ r^ t"i-ã^:6 . *Ài^,1^-^'-i.xN̂ãn fpmôsa meis neouena ideia das fasospr*ãri;aliì"ã"çãíaoÈstaOó.;a a úeio do"caìÌrinho.Não temos a mais pequena ideia dus

iue terão ocorr.idoantes disso.'6 Miller(19721).

I 18 orRoBLEMADAFoRMAÇÃoDoEsrADo

lo senior, que os Lunda colocavam açima de várias posições coÍn ele rela-cionadas mas subordinadas,Este conjuntode títulospolíticosLundagiravaem torno de um personagemchamado, conformeo caso, Kunda a Ngamba,Kondea Matitaou, às vezes, Yala Mwaku;em qualquer dos casos, aposição é retratada como oprogenitorde outras posições como o kinguri,

rNsïTrurçÕEsCENTRALZADASENTREOS LUNDA 119

pela descendência patrilinear,nos útulos políücos.A tradiçãoPende, po3outro lado, ignoraa tendência Lunda para encontrar a legitimidadepolÍti-ca aüavés da liúa masculina e é evidenteque tenta descrever KingurieLuejicomo sobriúos de Yala Mwakue, portanto, como seus legítimoeherdeiïos,de acordo com as suas própriasregras de descendência maüi-

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p ç p g p ç g ,kinyama,e lueji.A incertezasobre o nome coÍïecto a atribut à posiçãohierarquicamente superior indica,provavelmente, que o títuloüúa entra-do em declíniona época em que as tradições tomaram a sua formaactual,de modo que a sua exacta identidadejá não interessava àqueles que preser-vavam as tadições. Como é mosüado na narrativa que se segue, parece ter

sido esse o caso. A maioriados historiadores tadicionaisImbangala, queusa o nome da posição senior apenas comoo patronímico(ou mahoními-co) do título kinguríposteriormenteusado pelos reis de Kasanje, concordaque o nome devia ser Kunda.r?Outros Imbangalaapresentarn Kunda como"Konde"e tornam femininaessa posição, como a "mãe"de Kinguri.rtOs que fazem do kingarÍum descendente duma mulher,"Konde",indicamcomo sua origempatema Yala Mwaku,ou MutomboMukulu.le Taisrefe-rências a este último título,que era uma posição políticaimportante entreos Luba Kanyokou Kalundwe,que viviama nordeste dos Lunda, mostra aconexão da posição senior dos Lundacom os Estados muitoantigosque sesabe terem existidoentre os Luba.

As fontes T unda, contribuindopouco para clarificara situação,

retratam Konde de formas variadas, ou como a esposa de Yala Mwaku,oucomo uma filha/o(ou neta/o) de Yala Mwaku,ou como sua irmã.O histo-riadorofìcialda corte Lundanos anos 20 apresentava Mwakucomo ochefe tubungu maisimportante,que teve um fìlhoYala Mwaku,por suavez progenitorde Sakalende (varão)e Konde (varão).Konde foi,depois,o pai de Kinguri,Kinyamae Lueji.'10Os informantesLundado séculodezanove concordavam com os Imbangalana identificaçãode YalaMwakucomo o pai e Konde como a mãe de Kinguri,Luejie Kinyama.rrOs Pende representavam Yala Mwakue KondeMatita(mulher)cornoirmão e irmãe acrescentavam um não identificado"Kawla"como oesposo de Konde Matitae pai de Kinguri.zNo geral, as versões Lunda quedão Konde como varãoparecem reflectira modernapreferência dos Lunda

O mesmo fazem os 9ngo; Magalhães (19a8), p. 35. MaxBuchner (1883),pp. 57-8, tambémapre-senta o_so_lrenome Kulda para Kinguri.O "Kingurikya Bangela"de Schún (1881,p. ó0), ou"Bangala Kinguri"(p. 70), refere-se a um títulodiferente, okingurilcya bangela, uma posição quespaÍeceu no século dezoito e não tem relação coúecida com aposiçâo kinguridos Lúnda.Tcstcmunhos de Mwanyaa Xiba,14 Jun. 1969; Sousa Calunga, 16 Jun. 1969; Apolode Matos, 18Jun. l9ó9.'lbrlcmunhosde Apolode Matos, l8 Jun. 1969 e 8 Jul. 1969; e também Lima ( l97I),p. 43.Duystcrr( 1958),pp, 76, 79, 81.llcnriqucrlc (-'urvalho(1890a), p.60,llnvcuux(1954), p. 21. ChinyantaNankula (1961),p. 1; concordoucom os informantesPende

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linear. ColocandoKonde Matita comoo laço femininoentre Yala Mwakue Kinguri,a tradição cumpreesse prcpósito.aSe podemos extrairalgumaconclusão a partirdestes dados tão díspares, então a forma yala mwakureprêsenta provavelmenieo títulopotítlco(masculino)Luba e o nomcKunda (ou Konde) representa a liúagem Lunda que detiúa essa posigão.

Um "casamento" entre eles, do tipoque aparece em várias das tradições,representaria a àcgitação Lunda de uma formade autoridade políticaLubamuitoantiga (e de outro modonão identificada).

Outros pormenoresdas üadições reforçama impressão de que o yglamwaku üeve a sua origemnum conjuntode instituiçõespolíticasLuba, aequais se difundiramenfte os Lunda e os Cokwe algum tempoantes do perÍo-do em que se podem claramente divisaras estereotipadas tadilões Lunda,Para além da vaga associação de Yala Mwakucom MutomboMukulu,ou-tas genealogias mosüam um casan€nto enfre Walunda wa Nyama,umnome femininorepresentando um agrupamentode linhagensCokwe/Lwonadescendente de Tirmbaa Mburnba,e um masculino, Mangandda Kambam-ba a Musopo wa Nyama. Oútulomasculino (presumivelmentepolítico)ora

também de origemLuba. Por sua vez, um "filho'ldeste casamento, I(ata kaWalunda ou Kata ka Manganda, casou com Kunda para geraÍ KingurioLueji.Este.casaÍnento desempenha assim a mesma função do casamento dcYala Mwalin.noufiasgerìealogias,a de fazer derivaros principaisltulosLundade uma uniãoentre Luba (títulopolítico)e Lunda Qinhagem) - è con-firmaos antecedentes Luba para os títulospolíticosLunda.Esta interprc-tâção permitfuá reconciliartodas as versões coúecidas da genealogia,tântoImbangala comoLund4ao considerara hipóúese de uma origem Lubapuao mais antigoútulo seniorLunda recordado.z

Apesar de âs tradições mostraÍemque o yala mwakugozava de umestatuto socialformalmentesuperiorem relação às posições oontroladag

sobre o lugar de Matitana genealogia. Cf. BieQuyck(1957), pp. 801-3, que,inclúu o nomc do um

Matita nasuagenealogia, mútíssimo esquem6tic4r.Uma ouEa.genealrcgra @iebuyck(1957), pp. 801-3)mosEa um exemplo exEemo do modo comoos lnesmos nomes mudam de posição relativaruente.uns aos ouüos pàa se ajustarcm às intongõcrda pessoa que recita.a genealogia; nesrc caso, quaEò consercutivos empsÍ€lharnÊnlos deirmloroirmãs em "casameltos' envolvendo Yala Mwaku,Konde, Matit4etc., são utilizadospara rcduzlresta paÍte da história Lunda a um peíodo mítico,antes de o tempo e as liúagens se tornaÍcm paÍtdo mundo. A radiçiodos Cokwe relatada em Lirnarevela a mesma caracteútica (1971, p. 43),As tradiçõçs dos Cbkwçtambém contêm vesúgios de uma antiga difusão de títulosdos Luba ontroas matriliúagens descendentes de Mbumbaa Mbulu;alguns Cokwe do scc. XD(atibúamar orl"gens destes nomes diÌectamente a Kasongo Nyembo,o mais poderoso estado Lubadesse pcrÍodo;Grevisse (1946-7),p. 58. Haveaux (1954),pp.28-9,observa que os Pende dc, K&sai concordamque os títulos Luba desempeúaramum papel nos primórdiosda históriados Cokwe.

120 O PROBLEMADA FOPô'AÇÃODO ESTADO

por outras linhagensLunpa, elas pouco revelam acerca das relaçõeshistóricas entre estes títukis.Podemos supor que, de qualquermodo, osdetentores do títuloyala nwaku exerciam poucomais do que um domí-nio ritualsobre as outras linhagensLunda, uma vez que mais tarde ele érecordado como "primeiro t ig i " O d d i d líti

t2r,rsrrrurçÕEsCENTRALZADASENTREos LUNDA

-8òici E&4 gs<J .gH Ë8.9P EÈ

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recordado como "primeiroentre iguais".O verdadeiro poder políticodependia dos recursos económicose dos recursos em força de trabalhocontrolados pelas linhagens, e não há qualquer razão para supor queestes correspondessem, em todos os tempos, à hierarquiaformaldoparentesco indicada na genealogia.2s Uma vezque a genealogia nãopodia ser alterada para

reflectiras mudanças no equilíbriopolíticdhistórico,deve por vezes ter perdido a sua utilidadecomomeiode estru-turar as relações entre as linhagens. Nessas circunstâncias, tornava-sedesejável adoptar um novosistema políticomais em consonância com asrealidades políticas,ou então aboliro títulohierarquicamentesuperior,que mantinha todas as outras posições numa falsa subordinação emrelação a si.

Porque as tradições nada preservaram acerca das realidades históricasque se encontram por detás das genealogias formais, apenas nos é pos-sível especular sobre as circunstâncias que poderiamter provocadoumatal restrutuÍaçãodas relações entre os títulos políticosLunda. Apesar detudo, ocorreude factoum realinhamento. Os nomes de muitostítulosque

tomaram partenesta revoluçãodesapareceram, provavelmente, devido aos.efeitos das rnudanças ocorridas nos Lunda ainda mais tarde, mas os nomesdos títulosde três posições subordinadas ao yala mwaku sobreviveram: okinguri,úo lueji,e o kinyama,21O seu posterior signiÍicadocomo posiçõescentrais entre os Cokwe,na Lunda, e em Kasanje, fez com que eles apare-cessem em quase todas as variantes da lista dos antigos titulares da Lunda.Algumasversões da genealogia incluem várias outras posições classifi-cadas como irmãosgeÍmanos do kingurie subordinadas do yala mwaku.Uma históriaImbangala poucofrequente cita vagamente um Mawejeque,diz-se, deixou a Lunda ainda antes do kinguri.Os Imbangala nada sabemsobre a históriasubsequente de Maweje,excspto que ele alegadamenteabriua rota para oeste, mais tarde seguida pelo kingurie outros títulos

6

o poder e a senioridadç ÍaÍaúente coincidiam,em estados mais tardios como o de Kasanie ou odos Bemba, onde sistemas de títulos igualmente estáveis impediama alteração das gene'alogiaspara reflectiremas mudanças das circunstâncias históricas. Vèr a este respeitó a bem ãocumenta-da argumentação em AndrewRoberts (1974).O significadodeste dtulo não está esclarecido.Apalavra nyama, que signiÍicacame ou caça em Kirnbundue em mútas línguas Bantu, aparececom certa fr_equênciacomo títulono lado materno, ou da liúagem, das antigaígenealogias Lunda(e Luba?), (ex: Kinyama,Walunda wa Nyama etc.). RodrigueïNeves (lg5?),õ. gO. aã,'Nvu-a',como o nome do "país" ondeKinguritiúa vividona Lúda, confundindouma desisnaéao delinhagem co-m um "país" ou região, uma vez que as tradições dos Mbundunão fazem umidisi.Ìnçãonítida entre linhagens e territórios,que têm úuitas vezes o mesmo nome.

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122 oPRoBLEMADAFoRMAçÃoDoESTADoLunda.,os Imbangala recordam também um "irmão"de Kirtgurichama-do Munjumboque também deixoua Lunda a caminhodo oeú.r'Ouftos,acrescentam um Kayungo ou Kalungo,Kasongo e Iyala, ao clássico triode Kinguri,Lueji(ou Naweje, como os Imbangalalhe chamam) eKinyama.so restante da liistavaria, porqueos'historiadores tradicionaisjánão it l d i d i ò j tifi

INSÏTNNçÕESCENTRALTZADASENTREOS LUNDA I23

Emboraa história,tal como foiregistada no século dezapovç, gg1-tinuasse a partirdeste pontodirectamente para o relato de ouFog l0dtltl-cimentos, o que aqui citeida tradigão formava originalmenteum cplúdlonarrativodisünto, relacionadocòm umaúnica série de acontccimontorhistóricos.Se interpretarmosos personagens neste episódio como'tÍtulol

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não necessitzlm de mencionartodas essas posiçòes para justificarestadosque lhes eram familiaresdurante e após os finaisdo século dezanove,quando foram registadas todas as tradiçõesque conhecemos. provavel-mente, todas as modemas listas dessas posições incluemapenas umafracçãodos títulosoriginais.

um conjuntode episódios narrativos Lunda revela que oconeu runamudança de um sistema políticonão hierarquizado,chefiadoplo yalamwaku, paraurn Estado mais cenüalizado chefiado pot t"pt"sentot"s duposição lueji.De acordo com as radições que descrevem esta rupturanagenealogiaperpétua,3' certo dia, Kingurie Kinyama,os filhosde yalaMwaku,o rei Lunda, voltaram a casa ao cair da noite, depoió de terem.pas-sado a tarde a beber viúode palrna. Enconüaram o pai no pátio da suaresidência, ocupado a tecer uma esüeira das que se usam para dormir.A seulado estavaum pote com água, no qual ele mergulhavaas fibrasderáfiaparaas tomar flexíveise prontas para serem tecidas. Kingurie Kinyama,emparte devido à embriaguês,confundirama âguaturva com viúode palma qexigiramque o velho lhes desse de beber. euando yala Mwakunegoq que

o pote conüvesse vinhode palma, eles zangaram-se e bateram-he úolenta-mente. Lueji,a irmã,chegou mesmo a tempo de escutar os últimosdesejosdo seu pai, antes de ele morrer. Yala Mwakudeixouo seu títuloem herançaà filhaLuejicomo recompensa pela sua fideüdadee castigou KingurieKinyamapela desobediência,ignorandoos direitosdeles a essa posição.

Testemunhos de Sousa calunga, l6 Jun.. 9 Jul. l9ó9.o informantepode ter confundidoo nomede um "deus_superior" que se encontÍa a leste dos Lunda (Mawese oü Maweje.y com um dos títu_los tubungu, Pra Maweje,ver H_ermannBaumann (1936), p. 39. o nome encáúça"r genóat,ogi"s

Lunda regisradas ente os reinos Lunda do centro e leste; cirinyantaNanl-ula0961),D:l:tamúmBieb_uyck(1957), pp. 801-3. Nesre caso, pode represenrar uma confusa recohì oe ántgai innuen-cias Luba que se difundirampara sudoesie da Lúnda, em direcção aos CokweEste útulo tem uma históriamuitocomplexa, mas as suas origens situam-se claramente na Lunda;ver testemunhos de sousa calunga, 2ilSet., I out. 1969; bomingosvaz. os cokwe tambémrelembram um título com este nome que se moveu com o kingurifara oeste, a partir da Lunda;Lima(1971),p.46.Testemunho de.Apolo-de_Matos,l8 Jun. 1969. Iyata conesponde aos yala mencionados pelosLunda no finaldo século dezanove;_Henriquede cárvalho 1lggoa), p. 60. As duas mais longa's lis-tas de irmãos ggrmanqs (ambas dos Lunda) incluem Ndonje queapaiece como um títuloLuãda emposteriores tradições Imbangala; Biebuyck(1957), pp. 8Ol-j;Criìe-Mavar(1973), p.71, concor_da com isso e acrescenta outros.O relato de Henrique de Carvalho é, de entre as versões publicadas da nadição, a única cue ultra-plssa uma apresenração- muiro esquemática.dos episódioinarrativos; a paráfrase que aqui se ap..-sentt é retiruda de ( I 890a), pp. 59-75. Henrique dè Carvalho escreveu aìua versão da hístória numcstilo que obscureceu a estÍutura originaldás tradições Lunda, feitaem terrnos de senealósias ecpi.ródios.ntrrativos.A anáÌise seguinte renta reintroduzirestas divisões e fazer Oestícar o ifirin-r:lrlohislóricoda estnrtura originá1.

perpétuos, significaque os portadores dos tínrloskingurìe kinyarna,ou atsuas linhagens, se envolveramem hostilidades contrao yal.a mwahtrottasua liúagem, e tentaÍam em determina4o momento usurpaÍa autori-dadade daquela posição senior. O vinho depalma, pelo qual lutaramKinguri,Kinyamae Yala Mwaku,apresenta-se como Ìtma nletáforaPaÍE

os aspectos históricos verdadeiros, masnão claramenteexpreqsoS, quÊlevaram os titularesjunioresa eliminà a posição gue lhes era hierarquica.mente superior.No seu nodo característico, a tradiçãonada revela sobÍ€ anaf'Jtez,ada disputa histórica,excepto para indicarque se relacionava coma autoridade política,através do simbolismodo viúode palma quo oÉ

Lunda associÍrmaos varões e ao poder político.32Os nomes {o(s)compr.úeiro(s) de Kingurinest€ empreendimento,os quais variamem difcrontoeversões da narrativa,representam as linhagens'que se aliaramao klngurln:ts suas guenas confia.o yala mwaku.As variantes mais correntÊ8daüadição identificamos principaisaliados dokinguricomo a linhagcmquccontrolavao útulo kinyama;outras versões afirmamque um tÍtuloconhecidocomo yala também apoiouo assalto de kinguriao podor.ü

As variações confirmamsimplesmenteprovavelmente,uma lista incompletaenvolveramna disputa.

A morte de Yala Mwakuarrastou as velhas estrunrras políticas Lundade um períodode relativaestabilidade paÍa uma fase de transiçãò carac-tenzadapor guènas intestinas. Podemos presumir que o kingurie os sousaliados eliminaÍampor fima posição do yala mwakuda genealogia por-pétua dos Lunda,após lutas de intensidade e duração indeterminadac(embora a escala do conflitonão possa ter sido grande, considerandopadrões posteriores). A "morte"do yala mwaku,.nalinguagemdos episó'dios narrativos,,nãose refere ao assassínio da pessoa que detem o tÍtulo,embora isto possa ter ocorridouma-oumais vezes. A "morte" deuma

posição numa genealogia constituídapor títtrlospermanentes com desig-nação própria, significaque os seus inimigoslhe destruiramas insígniasde autoridadee, ritualmente,o eliminÍÌramda estrutura políticaà qualtinha pertencido.As tradições dos Imbangala mencionamvárioscasosposteriores, nos quais os oponentes usaram tais métodos para abolircertos

" C".""t""çã.pessoal de Jan Vansina,D Testemunho de Apolode Matos.

quedos

as tradições proservaÍün,gnipos que ïealmente so

IIIIII

124 opRoBLEMADAFoRMAÇÃoDoEsrADo

útulos entre os Mbundu,e as tradições de arguns dos grupos mais orien-tais da Áfricacenftal,que têm sucessão nas pósições titútares e parentescoperpétuo, revelama mesma coisa.a

A "morte"do yala mwaku libertouas outras liúagens Lunda paraestabelecerem um novo equilíbriopolíüco,já não condicionadopela

INsrrnnÇÕEs cENTRALIZADAsENTREos LUNDA 125

episódio narrativoindependente esboça, resumidamente, a formação eestrutura deste estado sucessor. Luejiera ainda uma criançaquando YalaMwakumorreu,nas palavras da tradição,e apenas podia governÍÌÍcom oconselhodos mais velhos e mais sábios tubungu, chefes das linhagens.Eles concederam-lhe uma forma de supremacia rituale permitiram-lhea

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IDIIDIIttIIIItIIIIIIt)I])I))

q p ,j não condicionadopelahierarquiado parentesco pelpétuoque anteriormente as tiúa amarrado auma subordinaçãocolectiva.A aboliçãode um útulomenos dominantecausaria mudanças relativamentemenos importantes no estatuto de umasquantas linhagens dos Lunda. contudo,a eliminaçãodo yala mwakusignificavaalgo bastante diferente,uma vez que os outos ututos depen-diam dele para a sua legitimaçãoe protecção sobrenatural. Deve ter-seseguido um período de instabilidade(que o plácidoestiloda narraçãoesconde) pois cada linhagemLunda competiacom as demais pelasupremacia, num ambientepolíticomodificado.sSe o yala mwaku tivertidoqualquerconexão directacom/ os Luba, como ulgu*u,tradiçõesindicam,o seu demrbe poderá também ter representado uma rebeliãodeliúagens Lunda contra a presença de títulos políticosLuba.

Apartirdas tradições, podemossupor que linhagens conduzidaspelokingurilutarampela preponderância, durante o período de instqbilidadeeque a liúagemdo títuloluejilideroua oposiçáo àquelas. uma vez que,como estabelece a narrativa;[,uejise tornou a herdeira do poder real deYala Mwaku,a posição luei,ideve ter construído,por fimfuma aliançasrficientemente forte para derrotar kingurie kinyàmae, portanto,paÍareivindiparo estatuto dominante anteriormente concedido aà yah mnaku.o erro de identiÍicaçãoque Kingurie Kinyamafrzeram,confundindoáguaturvacom viúode palma, no episódio narrativo,subüúa'metaforica-mente a ironiada sua derrota; eles üúam perseguido uma miragem,aca-bando por perder a batalha com lueji,a despeito de terem sido os lrimeirosa desaÍiar o yala mwaku.Ap tradições,evidentemente, não indicam porquanto lempo estas luüas coirtinuaram.um vez que os personagens na nar-rativarepreseníam posições políúcas p"r-*"nl"r,-úto, ano-s podem terdecorrido entreo ahque violentode um detentor do títuIo

-kingurtà

posição do yala mwakue as derrotas posterioresque atingiramo. ."u,sucessoresino mesmo título.

o ataque do kinguriao'yala mwakutinha iniciadomudanças políti-cas fundarpentaisnas estruturas políticasLunda,que culminaramnumnovo e rnals centralizadoestado, dominadopela poiiçaoheji. ÍJm ortor M.c. ltarniick(1963), p. 3S9. 5 {s tradiçpes dos Imbang-ala obscurccem todos os intenegnos e peíodos de instabilidade poÌítica.A plova qe. que uma tal Íase_ocorreu vein, no presente caso, da dlescontinuidadetógica na iinhada

ã:Ëiïr#jt}:.trXffr::,,1xïjï""**ros derentores de uÀ triúã, õ r-t,,,."

,f,iãìiiã,i"p"ro,

Eles concederam lhe uma forma de supremacia rituale pposse, no sentidoestritamente legal, das terras Lunda,mas erÍtmosguardiães tubungu que controlavamo lukano,o bracelete que incarnava asuprema autoridadepolíticados Lunda. Os guardiães tubungu transfeúamas suas residências dos seus própriosterritóriospaÍa os domíniosoriginaisdo luejinaquela época, criando assim a primeiracidade capitalpan-Lunda.Os tubungu excluiramda nova confederação as linhagens do kingurie dokinyama(oa yala), presumivelmente, pela sua fracassada tentativadeÍìrïancardo luejio controlodo luknno.xProvavelmente,o reino manteveesta forma durantealgumas décadas, pelo menos, uma vez que as tradiçõesafirmamclaramente que diversos chefes tubunguse revezÍÌram,preenchendo as funções na corte durante esse período.37Assim,se bem queo tuejiúvesse derrotado o kingurie o kinyama,os vitoriosostitularesti-úam ganho à custa da sua própria independência. Os chefes de linhagemtubungu ganharam direitoafazet ouvira sua voz nos assuntos do novoreino, comorecompensa pelo seu apoiodurante as guerras. A ameaça dokinguritinha forçadoos Lundaa desenvolveremuma nova estruturapolíti-ca, com um maiselevado grau de centralização do que os seus prèdecesso-rès, mas nessa estrutura os detentores do útulopolíticocental tinhamdesubmeter-se a um colectivode conselheiros saídos das linhagens Lunda.

Váriospormenores mencionados nos primeirosepisódios narrativos,os quais se apresentam como possivelmente históricos, já que contrastamcom as condições existentes no momento emque a tradiçãofoiregistada,apontam para a conclusão que o Yala Mwaku"morreu"muitomais cedodo que os finaisdo século dezasseis, data geralmenteassumida comosendo a dos primeirospassos da históriapolíticaLunda.s Indicações sub-tis a úvel da tecnologia,por exemplo,indicam repetidamente que estesdesenvolvimentos tiveramlugar antes de os Lunda teremadquiridoferrode uma qualidade suficiente para fabricararmas de lâminalarga. Por essaaltufa, a:cultura dos Lunda destacava mais a pesca do que'a caça, e oscaçadores Lundacapturavama caga apenas por meio dearmadilhasde

Ía1

Henrique de Carvalho (1890a), p. ó4.Haveaux (195a), p. 4; também Henriquede Carvalho(1890a), p. 64. Compare esta vaga referên-cia com o governõ interino dos makon Lundano kilombodos Imbangala (c.1560-1610); o peío-do de govelrnointerino,que recebeu nas tradições um tratamento igualmente sumário,durou-pclomenos-cinquenta anos: ier atrás, Cap. I, n.46. A tradiçãodos Cókwe, citada por Lima(1971),p. 44, assinaÌa explicitamente que "algumtempo passou" durante este período.Para o debate sobre esta data, ver Jan Vansina (1963a), David Birmingham(19ó5),Jan Vunsinu(1966b),e o meu resumo em (1972a), pp. 549-51. Vellut(1972),pp. 65-9, contém novas infor'mações.

126 o PROBLEMADAFoRMAÇÃoDoEsrADo

madeira, em vez de flechas ou zagaias com pontas de ferro.vFoi afirma-do que o títulodo yala mwaku significava"atiradorde rochas",{um nomede louvorque sugere talvez um período anterioià introduçãodo arma-mento de ferro.Kingurie o seu irmãoabateram violentamente o pai comuma moca de madeira em vez da tradicional pohue,a faca de ferroque setornoumais tarde a uìrma característica dos Lunda at

rNSTrrurçÕESCENTRALZADASENTREOS LUNDA 127

caçadores profissionaisque até àquela data não existia entre os Lundr.{De acondo com os Cokwe,a principalinsígnia da autoridade deCiblndrIlunga'erauma adaga mágica, o kapolalo;ele chegou também com atlolespeciais, yitumbo6 (sing.kitumbo)e a machadinha cimbwiyaquo alndase mantém como um importante sírnbolodo podep políücoento glCokwe trO factode a maioriadestas rinovações correspondentes tqmbém

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tornoumais tarde a uìrma característica dos Lunda.atO episódio seguinte, na narrativaLunda,pega no tema da renovada

influênciaLuba sobre o estado Lunda do lueji.A tradição relata que, umdia, Luejifoiaté ao rioKalanyionde enconhou um grupo de caçadoresacampados na floresta.Tiúam viajadoaté ali sob a liderança de um nobreLuba, mais tarde conhecidodos Lunda e dos

Cokwe como CibindaIlunga.Reparando que CibindaIlungae os seus companheirostinhamfalta de sal para a caÍne dos animais quehaviamabatido, Luejiofereceu-se para lhes arranjar todo o sal de que porventuranecessitassem. Após umaprolongadaconversa nas margens do rio,ela convidouCibindaIlungaapeÍmanecerno seu reino.Eles acabaram por se apaixonar e decidiramcasar, recebendo cada um a permissão dos conselheiros dos respectivosreinos.Depois do casamento, Luejideu a CibindaIlungao seu lukano,ainsígniada autoridade real dos Lunda, que lhe permitiagovernar os Lündaem seu lugil.

O "casamento" de Cibinda Ilungae Lueji iniciouum novoestágio nodesenvolvimentode insútuições políticascentralizadas na Lunda.Úniua

autoridade políticados Luba(representada

como masculina)com asliúagens detentoras do título lueji(representadocomo feminino)de acor-do com um padrão que já nos é familiar,das tradições dos Mbundu.A transferência do luleonoconfirmou,explicitamente,que os Lunda adop-taram alguma nova formade autoridade políticaLuba. A carne (masculi-no) e o sal (feminino),que Luejie Cibinda Ilungahocaram enEe si,reiterama complementaridade entre'os caçadores e os Lunda e sublinhama naturalidade com que os Lunda do século dezanove.encaravÍrma associ-ação entre os dirigentes "luba-izados"e as liúagens Lunda.a2

Aomesmo tempo, novas ideias e instituiçõesdos Luba se difundiamentre os Lunda.Técnicas mais avançadas de metalurgia do ferropodem terchegado associadas à sociedade de caçadores kibinda,anteriormenteigno-

rada,s CibindaIlunga representa, nitidamente,a sociedade kibindadeHenrique de Carvalho(1890a), pp. 60,61; tambem Lima (1971), p. zl4.Ndome foipossível.vèrificaratraduçãoque Henrique deCarvalho deu desse nome. De qualquermaneira, o significadoque lhe é dado pelos Lunda é mais importante do que uma traduçdo ütèraldas pulavras.llcnrique de Carvalho(1890a), p. 67.Sobre o simbolismode caçadores como reis fundadores, ver Boston (1964) e Lucas (1971).lldouurtlN Dua ( I 97 t, p. 39), em entrevist a(23 Jan. 197 I ) com Muhunga Ambroise,confirmadelìrrnurcxplÍcituquc Cibindu llungaera também ferreiro.

Cokwe.trO factode a maioriadestas.rinovações, correspondentes tqmbéma sÍmbolosda'associação de caçadored kibindn,envolveremtécnicas apor.feiçoadas de metalurgiado ferro sugere que, tal comocom os jingola doaSamba entre os Mbundu,ocoÍreu uma mudançatecnológica.Contudo, ocavanços na metalurgia doferronão implicamque tivesse tido lugar uma

conqústa militarmassiva Luba, uma vezque

os Lunda tinhamboas razõogpara adoptffvoluntariamenteas ideias e instituiçõesdos Luba.As razões que levaramo povo do tuejia apropriar-se destes novog

princípiosde organização políticaresi{emnas relações,,{ensas enüo &0

linhagens Lunda. A laeji tinhagovernado à cabeça de uma confederaçãopouco rígidaque se originaracomo uma aliançadefensiva contrao kingurle o kinyama. Estes tinham,evid€ntemente, peÍmanegido não muitolongodas franjas do estado Lunda,onde constituíarn uma contíüuaameaça pareas linhagensque tiúam apoiado o lueji.{Incapazes de destruirçmsozinhas o kinguü,para afastar de vez o inimigoestas tiveramde procu.rar novos e mais poderosos apetrechos mágicos,técnicas organizativas oaÍmas. A figura deCibindaIlunga simboliza achegada de todas estag

coisas. O perigo do kinguriacdbou por forgar a confederação Lunda doluejia oferecer o seu lukano ao detentor doprincipalútuloLuba,a fimdcconsoüdar, sob urna nova liderança, a unidade capaz de protegêJas contrauma renovada guerra civil,do tipoda que tinha ocorridodurante,o prece-dente peíodo de instabilidade.A aceitação pelos Lundadas inovações'representadas por CibindaIlunga, comou sem intervenção militardiÍectapor parte de exércitos Luba, assinala assim uma mudança importantenagatitudes dos Lunda;eles começaram a abandonar a orgulhosa independên-cia que anteriormente tiúa caracterizado as relações eútre as linhagens ecomeçaram a avançar no sentido das instituiçõessociais e políticasmaiscentralizadas doposteriorimpérioLunda.

Os Lunda meridionais.(os Ndembu do noroeste daZâmbia) afirmamque a associação ftibinda(úIçharnadawubinila, um cultode caçadores de arco) veio dos herdeiros de Cibinda Ilungana Lunda,os nwata yamvo; Turner (1967), p. 280. A experiência dos Ndembu, que subsequentementc adop-taÍam umoutÍo culwde caça (wunyanga), sugere que podem ter existidovárias ddstas associaçõorem diferentes peúodos do passado da AfricaCentral e, portanto, a intÍodução desta veÍsão do cultoentre os Lunda não exclú a possibilidadede uma instituição similarter estado presente entÍc ogMbunduem tempos tão ou mais antigos doque esses. Cf. no Cap. II,pp. 50-2:Os yitumbosão uma categoria de amuletos ou medicamentos feitosde substâncias vegetais que scencontram nas matas frequentadas pelos mestres caçadores kibindalLima(1971),pp. 79,303, Cf.Boston (19ó4), p. 124.Lima (1971), p. 45.Para uma úrmação explícitados Cokwea este respeito, ver Lima (1971), p. 46.

tIIIII

128 opRoBLEMADAFoRMAÇÃoDoEsrADo

Adifusãode títulos políticosLundapara o ocidenteAs consequências desta mudança fundamental na vida social e polí-

tica Lunda afectaram a mator parte do resto da Áfricacentralocidental.A aceitação das instituiçõespolíticascentralizadasdos Luba provocouumagmigração de liúagens Luridae uma difusãode ítulos Lunda que, numa

l

n nmusÃoDE TÍTULospolÍrrcosLUNDA 129

chefes tubungu liderados pelo título lueji,para um estado muitomaiscentralizado sob o comando dd um novotÍtuloLuba, o mwata yamvo.Asgenealogias Lunda mostram a posição do mwata yamvo comoum descen-dente de um "casamento" entre uma mulherchamada Luhasa Kamonga eCibindallunga.ae Ee acordo com as regras das genealogias perpétuas, isto

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q ,fase inicial,se estenderam para oeste até aos cokwee para sul até aosLwenae, mais tarde, se espalharam para os Mbundue os ovimbundu.Movimentosrelacionados com estes factos atingiramainda mais tarde osNdembu, juntoàs nascentes do zarrrbeze. bem como os povos vivendoaleste, até ao Lualaba.{com os portadores de útulos q,r"r. moverzrmparaoeste, principalmenteo kinguri,seguiu a associação de caçadores kibindaediversos novos amuletosdd guena que cibindaIlungatiúa üazido daLubapara a Lunda. Dada a propensão das tradições histõricaspara persona-lizaremprocessos históricosabstractos, é provávelqo"o -oui.ento devaser visto, em paÍte, como uÍrna difusãode títuloòe àp"nas em parte comouma migração de indivíduos(que é como até agoÍa tem sido asiumida).

As razões históricas- que são distintasdo enredo não históricodasnarrativasmetafóricas- que provocarÍÌma primeiraexpansão dos títulospolíticosLunda, parecemrelacionadas com a importaçãã de novos símbo-los de autoridade dos Luba,com efeito, os novos apetrechos mágicos etítulossubstituiramo codunto de posições anteriorrnentedominantes,onde se incluíamo lueji,o kingurte o kinyama.À medida que os velhostítulosforamperdendo a sua preponderância, algunsp"r-in"""ru-nu,mãos de grupos de filiaçãoiiundamas adquiriramnonó*norrr"r,de modosimilarao que aconteceu quando novas tècnicas de organização poríticaalteraram os útulos dos anúgos reis lunga dos pende e aígumas dasposições hango entre os Mbondo.Algunsdos outros títulosLu-nda,tendopérdi$oo seu valor aos olhos das linhagens nucleares Lunda, foramimpingidosou passados, de algum outromodo, para as linhagenssegmentares que viviamno oeste, onde nunca existiraqualquertipo deautoridade políticacom prestígio semelhante. Apenas núm rinico.ãro -o do kinguri-,existemprovas claras de um movimentode populações, eesta particularocorrênciaproduziu fevoluçõespolíticàsda maiorimportância,as quais afectaram todas as linhagens quô viviamao longo deuma rota que levava desde a Lunda até aos songo, através dos cokwe.o destino do títuloluejina Lunda ilustrao processo de mudança denome e de subordinaçãoenfre os mais antigos útulosLundaque per_manecerÍÌmno seio das linhagens das margens do Kalanyi.o estadoLunda transitoude uma federação relativamentefrouxa,constituída por

a Para um resumo, Vánsina(1966a), pp. g4-97. As fases mais tardias dessa exDansão não sãoanalisadas aqui, uma vez que não tiueìàmqualquii"i.liíairõL'..ürË;-NÃ5-";âí:*"'

g g g g p p , istosignificavaqae o mwata yamvoera originalmenteuma posição Luba su-bordinadaa uma outa, de que era detentora uma linhagemconhecidacomo Luhasa Kamonga.Por razões históricasdesconhecidas, este títulotomou-seo títulomais poderoso enEe as liúagens centrais Lundae ostubungu foram reduzidos ao seu estatuto actual de conselheiros do títuloreal central. A posição do luejiconservou um estatuto distintodo dostubungu,mas apenas como um títulosecundáriode uma novaposiçãoLuba, o swana mulunda;o novo nome veio-lhecom a sua incorporação noestado do mwatayamvo e reflectiaas.suas reduzidas responsabilidades emcomparação com a primaziade que desfrutaraanteriormente.A posiçãoyala mwaku foi igualmenteressuscitada, também com umnovo nome, oxakala.Não podemos calcularo espaço de tempo que transcorreuen-quanto estas mudanças tiveramlugar, embora dois séculos ou mais nãodevam ficarmúto longe da realidade.so

As circunstânciasque levaram os detentores do útulo kinguria aban-donar a Lunda podem ser observadas em episódios narrativosdos Imban-gala, os quais sugerem que as linhagens por detrás do títulose viram sub-jugadas pelos poderes mágicos Luba e peÍmanecerÍrmali apenas até teremadquiridopelo menos alguns dos poderes sobrenaturais do Cibindallun-ga.s'Naweje, como os Imbúgalachamam a Lueji,tinha tomado o contro-lo do reino da Lunda, mas governavaapenas como regente no lugar deKinguri,que era ainda de menor idade e não estava preparado para assumiros poderes reais que de direitolhe pertenciam.s2 Umdia, quando Kinguri

52

Lúasa Kamonga é habitualmentedescrita como uma das "aias" de Lueji.Eu não sou capaz de inter-p3larÌ.eln tegngs Lunda, o significado desta óbvia má trâdução. Descrições do mwata jamvocomo'Frlho"da própria Luejivêm apenas de fontes que não são Lunda e, provavelmente,nãó sÂo de con-frança. A distinçãoenue radições Lunda e não-Lunda,sobretudo cokwe,permite explicar melhor asdiferentes descrições da origem do títrlomwata yatnvo do que a distinçâo, em grúde medida cir-cunsEncial, entÍe hadições do século dezmove e tradições do século vinte,assinalada por Vellut(1972\ p.66. Aconteceque a maioriadas radições do século dezanove registadas por Euròpeus vie-râm de fontes Cokwe.Há abundantes dados comparativos queestabelecém a nat^ureza suipeita delaços genealógicos pai-filho,especialmente quandô fontes de'fora tentam descrever mudançaì polÍti-cas internas ocorridas nourros contextos políticos; DavidHenige (l9l.l;19j4,pp.7l-94),'O^laPso de_tempo aqui estabelecido derivados cálculos apresentados em Miller(1972a) e Vellut(1972't,p. 69. Esta questão foi tamMmdemonstrada pelos informantes Lunda de Henrique de Car-valho (1890a), pp.76-7. Algunsinformantes Lunda'do século dezanove conraram a Ffenriouedecarvalho, especificamenre, que os Luba tinhamchegado muirotempo depois das primeirajlutaseÍteluejiekinguri.HenriquedeCarvalhodeuestainformaçãonuniacaria(1886,'p.135)aqualparece apresentaÍ uma versão da tradição mais aproximada da forma oral originaldo que a verìãoretrabalhada publicada em ( I 890a).O relato seguinte é baseado nos testemunhos de Sousa Calunga, 2l u1,,2 Out. 1969.A ênfase dos Imbangala.neste ponto dispensa quaisquer comentários especiais, dada a evidenterntençao de se auto-valonzarem.

r30 o PROBLEMADA FORMAçÃODO ESTADO

e Naweje caminhavamao longodo rio Lukongolo53 na Lunda, Kingurideixou a irmãsozinha por momentos, enquanto foipara a mata procuraralguns homens que estavam a produzirmaluvo,algures perto dali.sNãomuito tempo depois de ele a ter deixado,um caçador chamado Lukokexaapareceu e faloucom Naweje,oferecendo-lhe de presente a cauda de umelefante que ele tinha morto.ss Nawejeaceitou e, em troca, deu ao caçadorl d l

A DIFUsÃooB rÍrulospolÍrtcos

LUNDAl3l

Lukokexaaceitouo acordo e revelou os seus amuletos a Kinguri.Estes incluíamalguma coisa chamada nzungu, feitada árvore mbamba sque cresce nas floresta-galeriaao longodos rios. Onzungu nãosó permi-tia a Lukokexarealizar os feitosque ele usara para assustar Kinguri,comotambém apartavaas águas dos rios e adiviúava a presença de cobras e asmatava em seguida. Lukokexadeu também a Kingurium arco mágicoque

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alguma comida, a qual este aceitou alegremente, uma vez que ele e os seushomens tinhampassado a noiteanteriorna mata sem nada pÍìra comer.

Kinguri,afastado no mato à procura dos homens que faziamo malu-vo, sentiu subitamente o coração começar a pulsar com força.Recoúecendo nisso um sinal de que alguma coisa indesejável tinha acon-tecidoem casd, regressou imediatamente e encontrou Nawejena residên-cia dela, comendo com Lukokexa.os requisitosda posição de Nawejeproibiama presença de homens na sua residência e os seus makota (guar-diães) geralmente mantiúam-na isolada de todos os homens, com excep-ção de Kinguri.uma vez que a presença de Lukokexana casa violavaestalei, Kingurificoudesconfiadocom o estrangeiro e inquiriusobre a suaidentidade. Nawejeexplicouo que se tiúa passado e mostrou a Kinguriacauda de elefante. Kinguriimediatamentereconheceu uma outra trans-gressão dos costumes dos Lunda, uma vez que apenas chefes políticosdevidamenteentronizadospodiam possuir caudas de elefante,que rece-biam como tributodos seus súbditos.Naweje,como regente, não tiúaqualquer direitode receber presentes que deviarn ter sido para Kinguri.

Kinguriameaçou Lúokexae ordenou-lheque saisse dali i6.61uo-menüe. Quando o caçador se Íecusou a partir,Kinguriatacou-o com uma facamágica (mwela)que tinha herdado de seu pai.tr A cabeça do caçadorvomitoufogo quando Kingunse aproximou,e entÍloeste fez meia vorüa e fugiucheiode medo. Regressou mais tarde, numa outa tentativade úater o usurpador,r{tas desta vez a boca do caçador üansformou-senas presas e mandíbutas deum perigoso felinoselvagem.e Kinguricompreendeu entlioque o sdl inimigopossúa forças sobrenaturais múto mais poderosas do qqe as suas. lricial-mente, ele resolveu roubaros talismãs quetornavaÍn Lukokexatão forte,masdescobriu quenão conseguia e concordouem abandonar a Lunda se, antes, ocaçador lhe ensinasse os seus segredos mágicos.

,io_não_identificado,mas possivelmenteuma indirecta,refer€nciaaos antecedentes Luba dahlstôna Lunda, u.ry v.ea qu9 o nome contém o prefixoJu-, vulgaÍmente usado para nomes de rios,e o tÍtulodo fundadoido primeiroimpério Lubàlver Vansina(1966a), p. ?l).'Vinhode palma fermentado, tombe na Lunda.As cerdas da cauda de elefante eram amuletos poderosos,Este é.um pormeror.anacrónico, dos que são característicos nas tradições dos Imbangala; os Lundanaquela época não iinhamo mwela. 'um leÀo_ou.umleopardo; o.informantenão foiclaro neste ponto, provavelmente porque o por-mcnor não altera o significadoda metáfora.

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g g g qpermitiaao seu proprietárioabater mesmo os mais perigosos animaisdafloresta. Equipado comestas Íìrmas, Kingurideixou a Lunda e iniciouasua viagem para oeste.

Esta ftadição knbangalapode ser conciüada com as narrativas dosLunda e Cokwe sobre a partida de Kingurida Lunda se reconhecermos queLúokexadesempeúa o papel do designado CibindaIlunganas outashistórias. Ambos são os "pais"do mwatayarnvoe representâÍn as instituiçõesLuba adoptadas pelo lueji.Os ImbangalausÍÌmo nome Lukokexaem vez deCibindaIlunga(do qual nunca ouviram falar),uma vez que os seus episódiosnarrativos vêmde um períodoque ocoÍre algumtempo depoisdos originaisútulos Lubaterem começado a perder o seu significadorelativament€aí)mwata yarnvo.TaI como a antiga posiçáo luejise tinhatomado swarut mulun-da à meüda que as estruturas políticasLunda evoluiram, o CibindaIlungatinha perdidoo seu nome originale tinha-se tomadoo lukonkcxn. Olukonlrzxnacabou por representar a "mãe"do títulomwatayarnvo,assimcomo o swetutmulundaprmaneceucomo "mãe"simbólicado povoLunda.e

Asduas "mães", swarutmuhnda e lulconl<cxa,substituiramLuejie Cibinda

Ilunga comoencamações metafóricasdo par de princípiosfundarnentais doestado Lundaposterior, respectivamente as linhagensLundae as autoridadespolíticasLuba.oO lulçonlçeta.embora originariarnente masculino, tornou-sefemininopara contrastar com a posição mascúina do mwatayarnvolr. A paixãode Kinguripelo vinhode palma repete-se nesta versão datradição, indicandoo significadoessencialmente políticodo episódio.Lukokexacomeçou por aparecer quando KingurideixouNawejeparaprocurarmaluvonas matas. Uma vez que tanto os Lunda comoosImbangala associam o maluvoaos homens e, portanto, à autoridade políti-ca, esta parte da história,refere-se,apaxentemente, ao período.em queokingurtabandonou a federação dos chefes tubungu chefiadapelo lueii,

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6t

Umamuleto especíÍico, não identifrcado. A ârvorcnbamba (imperata cylíndricaVar Thumbergü)é considerada de valor pela sua utilidadena preparaçõo dos remédios yitumbodo caçaóor kibinfuj;Lima (1971), p. 303. -

Biebuyck(1957), pp. ?91,802. Aproníncialukonkexaédos Lunda (e aqui-usada-quando merefiroao títrilo Lunda)ãó passo que Lúokexaé mais próximoda pronúnciados Imbangala(e é qquiusado quando pretendo referira meúfora Imbangaìa)Esta hipótese explicaa confusão que Schütt fez de Lúokexa com Lrreji(1881), pp. 82-3; tambémvan den Byvang(1937),p. 43. Esta confusão reaparece em Vellut(1972), p. 66.Os Imbangala têm uma posição iguàlmente masculina (o ndala lundumbu)que eles vêem como"mãe' do seu principaltítulopolítico,o kínguride Kasanje.

ItIIII

132 opRoBLEMADAFoRMAÇÃoDoEsrADoreprcsentado aqui porNaweje,e procurounoutros lugares forças mágicaspolÍticasindependentls. lste poÍmenorda história,-uirtopËioüào ookinguri,confirmaas descrlçõei qu. o, Lunda fazem dos acontecimentosna corte do ruejidurante p período de hostilidadesentre o iirguri" ufederação central Lunda-A ielação de Naweje com Lúoke*u,l-úrrou,directamenre, de Kingurit$ nroõuraoo ajuda externu l rou á"p"nãcn"i"

ADFUsÃons rfrulospolfncosLUNDA 133

segundo acreditavam,precisavamde poderes mágicos especiais que osajudassem a perseguira caça grossa atavés de tõnitóriosque não lheseram familiares.caçadores não especializados, que não goruis"rnda pro-tecção destes amuletos especiais, não empreenderiam tãõ perigosas aven-turas. Em particular,o seu medo de que as serpentes encarnassem seres

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, de Kingurit$ nroõuraoo ajuda externu lu rou á"p"nãcn"i"do. vinhode palma)e coúrma o qu" ,.-rogere nas narrativas Lunda,ouseja, que o luejise aliou aos Luba coo,o ,"rlortudirectau aguã tipoo"ameaça que o kingurireprêsentavaAoferta feitapor l-ukokexa,da cauda de elefante,significaaadopção pero

ruejidas instit'içõespolíticasLuba em oporiçá-a7-knguri,

dentro do quadro do sistema estatal Lunda entiioexistente,u,ou u", que osLundaacpditamque os pêlos da cauda de elefants porru"_lo*nr",forças mágicas. A aceitação da cauda de elefanre nd ú;;;j;."u ,uurecíproca ofertade comidáa Lukokexarii"rama união do poder políticoLuba com as linhagens Lunda. As tradições Imbangala ururri'uin'Jg",oo"uma oferta de comida no lragar da imagerncorrespondente(sal e carne) nastradições Lunda,uma vez que esta era uman,"táioru"o*on'nu, iluOç0".de Kasanje, em muitosoutros contextos.

A luta simbólicaenne Lukokexae Kinguridescreve as armas sobre-naturaiscom as quais ambos os lados comúateram durante u, *-ouru,políticase os confrontosarmados, históricos,que devem ter pontuado oconflitoantes de o kingurifinalmentedesistire abandonar a Lunda.A históriaimplica,niti_da{erye,que o kingurisó partiudepois de a supe_rioridade das instituiçõesLuba se ter toriado dernasiado ?üuiu p*.,".ignorada. A magia de Lúokexa corresponde ao que n* ,ugãrm u,tradições Lunda e cokwe sobre o factode cibindattunga t", inõoouriaonovas Íìnnas' apetrechos mágicose técnicas organizatiiassuperiores aoequipamento rudimentardas liúagens segmentares Lunda.os frustradosataques de Kinguria Lukokexapõem em õ"nu u insuficiênciaão, poa".r,dos úefes Lunda quando comparados com os dos Luba.tl,i,iiiniuri,a"

lorfo_com os Imbangala, não partiu antes de aprender alguns dos segre_dos de Lukokexa.uma vez que deve ter levadóalgum ;õ; urJqu"u,inovaçõesadoptadas pelos Lunda centrais se difundissemenhe os seusinimigosnas franjas do reino,o conhecimentode Kinguriaos jÀa"r.,mágicos de Lukokexaconfirmaoutras indicaçõesde que argum tempopassou entre a introduçãodas técnicas Luba e á partida â, *iriri.'

. .O: segredos mágicos que Kinguriaprendeu com Lukokexa vieramdo rol de aptidões sobrenaturairqu"o, imbangaraatribuemao mestrecaçador kibinda.Na sua opinião,o factode King-uri"r,*O.lo.r"ã"rr*talismãs explicacomo ele pôde deixar a Lunda para uugu"*uauuã. ou,tenas selvagens que ficavampara oeste. Os ìaçaOoie, pronrrion^ir,

p ,o seu medo de que as serpentes encarnassem seressobrenaturais potencialmentehostisú implicavaque os caçadores, quedeviampÍìss:' dias e semanas caminhandoatravéida espesia vegetaçãorasteira, buscassem protecção mágica contra elas. O nzurl,do Lukokexadesempeúou esta função pÍuao kinguri,cujo títuloLunaa não incluíaqualquer

amuletode potênciasimilar.6O nzungu possibilitouao kinguriempreender a sua viagematravés do mato infestado de cobras.Tâmbém acrediüavamque os rios apresentavam sérias dificuldades

para quem quer que viajasse em regiões estranhas, e a capacidade donzungu para lhes secar as águas teve vantagens óbvias pÍrrao kinguridurante a sua viagem.eouüas técnicas mágicas, p"rt"n."nt",ao caçadorprofissionalkibinda,protegiamcontra perigosque o kinguripoderiaenconhar em florestas onde seres espirituais escondidosnos corpos deanimais selvagens faziam emboscadas aos viajantesdesprevenidos.os Imbangalafaziamuma clara distinçãoente as criaüurasnaturaisquenormalmente ali enconftavam e os seres sobrenaturais que, sob a formadeferas, eram enviados pelos feiúceirespara atingiru, ,uuì vítimas.Animaisnormais

deixavam-sevencer por uma honesta perseguiçãocom fogo earmadilhas è podiamser mortos com zagaia, porrinhoóu flechas. As ferassobrenaturais, porém, apenas sucumbiamàs complicadas precauções eespeciais apetrechos mágicos dos caçadores profissionais.uma u", qu"o,dois tiposde animais tiúamaparência exactamente igual,o kibindarara-mente podia determinar com antecedêlciacom que tipose confrontavae,portanto, ia sempre para as *uturpi"p-adopara id* .o. quarquerdesses tipos.os viajantes também tinhamde ãstar atentos a possíveisperigos dos animais sobrenaturais, uma vez que os espíritos tËndiamaseguir trilhoshumanos aüâvés do mato. os viajantes levavamváriosamuletes para sua protecção, enquanto os yibindageralmente usavÍrmarcos especiais capazes de abater os inimigos,tanto naturais como sobre-naturais.

Lúokexaofereceua Kingurium aÍco mágico desse tipo,queum exemplo é a cobra chamada kindatandara-p,rosMbundu, mencionada em reração com osprimórdiosda história do estado Mbondo,p. ei acima. oiimbangara, p"."i;r;r"l-ü;;;. "apimnuma vasta clareiraao redor ds suas èasas paru --úi* co6ras (ã os espíritos) afalladosdas suas residências.Todos os Imbangala concordamque o Kinguri,ao contrário de Lukokexa,não era basicamente um"caçador" (ou se]a, kibinda\.compare a históriada aavessia do Kwanza porKajingae a capacidade de Muta a Kalombodeprovocar a enchen.e da corrente para travar oi perseluiãores de kajinga. rÃu* ã̂ ã.ìàì"ïiiãào.T-*Td^ águas se enconrre_poiquase toda a iarte ïo ru"aó."

"ãrplïüJ";;;;; ãiìiriïJi.áË'"a"rcura rmportãncraà sua lunção específica no simbolismodos Mbundu_

ól

134 o nRoBLEúADAFoRMAÇÃoDoFSTADo

protegia o seu proprietiíriotanto dos animaiscomo dos seres humanoshostis.ú' Embora os Imbangalareconheçam que o povo acfualperdeu atécnicade fabricarestes a]rcos, mantêm a sua fó na possibilidadedevoltaremum dia a descobrir'o segredo.

Outros símbolos de autoridade, todosde origem Lunda, difundiram--se igualmenteda Lunda para oeste, acompanhando o kinguri.Aposterior

ESTADOS COKWEBASEADOSNOKIIVCUÀ/ I35

(e mais tarde se tornaÍam osmakota ?0 que actuavam como guardiães dessaposição em Kasanje)vieramde duas liúagens aparentemente rela-cionadas uma com a outra mas não ligadas a Njimbana Kakundo.Posições chamadas Kinzunzukya Malembae dois títulos"sobrinhos",Mbongowa Imbe e Kalanda kaImbe, ambos "filhos"de uma irmãchama-d I b M l b d i d li h g (liúagens?)d K d k

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se igualmenteda Lunda para oeste, acompanhando o kinguri.Aposteriorpresença de quatro insígnias dos tubungu em Kasanje deixa poucas dúvi-das de que elas teúam chegado até aos Mbunduatravés da movimentaçãodo kinguria partirda Lunda. Incluíamos braceletes tuzekele(sing. kazekele), pequenas argolas de metal que significavamautoridade

liúageiranos Lunda mas autoridade políticaem Kasanje,fio sino duplosem badalo lubembe,6' o tambor falante mondo,e o tambor ngona yamukamba.$ Algunsoutros símbolos, enconüados simultaneamentenaLundae em Kasanje, tais comoo uso da pele de leopardo exclusivamentepelos chefes políticos,aparecem de modo demasiado generalizadonaÁfricaCenfralpara nos permitirdeterminaras exactas origens, quandotemos de optar entre grupos tão estreitamenterelacionadoscomo osMbundu, Lubae Lunda.

Se bem que apenas o kinguritenha deixado a Lunda com todoo com-plementode técnicas mágicas Luba, um certonúmero de outras posiçõestitularesse deslocaram para oeste nessa mesma época. Devemos dar algu-ma atenção às suas origens, pois as divisões que datam de antes da parti-

da influenciaram mais tardefragmentações dentro do originalgrupo detítulose levaram à criaçãode vários estados dos Mbundue dos Cokwe.A maioria dostitularesLunda que acompanhoa o kinguripertencia aliúagens diferentesda do seu líder. O nome da linhagemdo kinguri,deacordo com genealogias oficiaisdos Imbangala, era Njimbana Kâkundo,um nomeque também se refere às terras onde o povo do kinguritinha vivi-do (o seu mpat).$As posições ütulares que acompanharam o kinguri

r6 Este arco reaparece (nas mãos do sucessor de Kinguri, Kulaxingo)nas Fadições posteriores Imban-

gala, que vêm de fontes independentes não Lunda, ver adiante p. 191.6 Distintodolul<nno,obraceletefeitodetendõeshumanosquepertenciaunical:rrentaaomwatayamvo.61 O lubembe é definitivamente Luba nasua origem, mas também esú associado aos fiibuttguLvnda

comunicação pessoal de Jan Vansina. O seu aparecimentoem Kasanje emprestamaior apoioao argu-mento de que algum tempodecorreu após a chegada dos Luba e antes da puada do kingui,

s Duysters(1957),p.8l,apresentaalistadasinsígniasdoschefesnbungu.Paraasuaocorrênciaentreos Imbangala,ver testemuúo de AlexandreVaz e Ngongaa Mbande sobre a pele de leopardo (ciàaca kulwarna)i vários testemuúos sobre os tuzekele,especialmente Mwanyaa Xiba,14 Jun. 1969; olubembej6nío aparece em Kasanje, masCavazzi (1965),I: 162,201, menciona-ono século dezassete(chamandoìhe "longa");para o mondo, testemunho de Apolode Matos, 5 Out. 1969, e Henrique deCarvalho (1890a),p. 501; testemunhos de Ngonga a Mbande, 26 Jun. 1969, Sousa Calunge, ll Set.I 9ó9, c Mwanya a Xiba, 14 Jun. 1969, pala o ngoma ya mukamba.* Testemunhos de SousaCalunga,29 Set., I Out, 1969; compare-se com as tradigões Lundaque especi-lìcam apcnas que o tirrgrrripaíiu com membros da sua própria"fanúia";Henrique de Carvalho( I 8900),p, 76, O nome da linhagem do kinguriaparcntemente já não inteÍessa aos Lunda; isso nãorcrú surprcendenlcsc elcs parliram tão cedo como as tradições prêssupõem e se as matriliúagens setomutnÌnmlis turdc nrenos imponantesdo que eram na época em que eles partiram.

da Imbeya Malemba, derivamda linhagem(liúagens?)de Kandama.kaKikongwae Kandumaka Kikongwa.TtO lar ancestral deste grupo ficapróximodo rio Lukongolo,que se diz ser um rio algures na Lunda.zAoutra linhagem,Kandama ka Hite, contribuíupara as posições de MwaCangombe, Kangengo,Ndonga,Kibondokya Wulu,e Kambwizo.ã

Os historiadorestradicionaisImbangal4que preferem subliúar aunidade dos makon com o kinguriem vez de destacar o que os dividia,declaram que todos os dtulos Lundavieramde uma única "famflia",a deLucaze naMwazaz4Jlumafigurafemininanas genealogias segnentaresque simhlizaum vasto conjuntode liúagens rnatrilineaxesLundaque exis-tiramem algum momentono passado,tr Comoantepassado materno dasliúagens que conEolav4mos tubungnLunda o grupoLucaz'e na Mwazazainclúacada uma das linhagens particulaÍesmencionadÍNpor outros histo-riadoresúadicionais,nomeadamente a do kingurie dos seus companheiros.Uma vez que os Imbangala se referemmuitas vezes às unidades compo-nentes de urn grupopelo seu nome colectivomais genérico,as duas versõesda genealogia não são verdadeiramente discrepan0es uma da ouEa, nÌasmosuam apenas ligeiras diferençasno que cada uma prefere sublinhaÍ.

Provavelmente, as modemas tradiçõespreservam apenas os nomesde uma modesta percentagem de todos os títulose liúagens que deixarama Lunda no tempo do kinguri. Háainda ouüas dificuldadesna iden-tificaçãoda composiçãoexacta da facção que deixou aLunda, dificul-dades resultantes da acção do assim chamado efeito"pára-raios" t6 que üem

1t

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O rcrmo Lundaconpspot&nteékarula (pl. ,uruta); HenÍiquede Carvalho (1890a)'p.70'Tanbém coúecida pelo útulo da posição principal na ünhagem Kinzunzu kya Malembaa Kawanga'Uma variante aprcsênta "Mukongolo"oomo o nome da liúagemd€ todos os Lundaque úeramcom o *izguri;-tcstgmunhode Sõusa Calunga, 22 Jul. 1969..IstopaÍ€c€ ser confrrsão ent€ umtoúnimoúraOo Ao nome do rio e o título dC linhagem. Esta é uma práüca comum.Neúum dosno'nps foiidentificado.Se, porém, eles consistem na raiz -lcongolopt*edidapor pretxos lu- (dadoà maior parte dos rios na üunda) ou mu- (um prcfixode lugar comum nas lÍnguas bantu); o nomcpode taribém neste caso refeú-se às origens Lubadestes títulos;cf. arás' p. 130' n. 53.Testemunho de Sousa Calungc 9 Jul., 29 Set' e I Out. 1969. Esta listâ -qão colls€8uc expücar arazão da eústência de mais uú [otu, Kúete, que mais tarde apareceu em Kasanje e aparcnt€mentopertencia a Kandama ka Hite.Testemuúos de Alexandre Vaz, Domingos Vaz.Cf.Biebuyck (1957), p. 815, que apÍesenta MwazazaMutombo como um dos.tr€s principaisgruposLuída{ue diípónaraú.Á,Íwaiazapoae tamuem aPaÍscer como "Mwasanza", um útulo dosÓoËwe ou doslundrmeridionais.O povó Lucaze vive a sul do rio Lungwebungu,no sudesrc dcÀngola. Ambosos nonres, Lucaze e-Mwazaza,apontam para as conexões enEe este grupo dclinhagens e os Lwena/Cokwe. Ver Mapa l.Da tcndência de os rcis fundadores rccebercm os louros pelos feitosdos seus sucessores; Vansina( r96s).

15

aaaaIIt

136 o PROBLEMADAFORMAçÃODO ESTADO

lcvadoos historiadorestradicionaisposteriores a alargar o grupo originalmuitopara além das suas dimensões históricas,acrescentando-lheútulosde origeminteiramentedifelente.Algumasnarrativas recentes, por exem-plo,afirmamque a maioripdos títulospolíticosde maiorcategorianoséculo dezanove, entre os rios Kasai e Kwango, partiramda Lunãa junta-

ki i k

EsrADos coKvvEBASEADoSNo K/N6uRl 137

do o títulopara si própriosà medida que este atingia novas regiões. Se,como parece provável,as liúagens segmentares em expansão de Mbum-ba a Mbuluestavam a atingiros limitesda terra vaga disponívelnaquelaépoca, o concomitantee endémico conflitopelos escassos territóriospodeter levadoas linhagens a dar as boas-vindas aos portadores de um título

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mente com o kinguri.os cokwe do Katanga do sudoeste incluemna sualista Katende, Saluseke, Kandata, Kanyikaka Tembo, Cisenge, Ndumba,Mbumba,Kapenda, Kasanje e Kaita.tAlgunsdestes nome. p".t"n"".u.antigos títuloscokwe mas a maioriarefere-se a títulosque chàgaram pos-teriormentee que, em perÍodo recente, se tornaram impàrtantes na

r"giãoonde a nadição foicontadà (Katendee Saluseke). o conjuntoconven-cionaldos principaisreis cokwe (Ndumba, Mbumba,Kanyikae Kandala)aparece em companhia do títulode um recém-chegado do século dezanove(cisenge) e de alguns dos,ouEos títulosLundada região do Kwango(Kapenda ka Mulembados Xinjee Kasanjedos Imbangala).uma listaImbangalados cornpanheiros de Kinguri,publicadano sèculo dezanove,mostra a mesma tendência;acrescenta os nomes de várioschefes songoposteriores, de várias posições subordinadasexistentesem Kasanje, ealguns (mas não todos) dos verdadeiros mal<otal-unda.fr

Estados Colcwebaseados no kingurio povo que detinha a posição kingurimoveu-se da

Lundapara

oesternuito lentamente, aparentemente estabelecendo-se repetidas vezes, àmedida que tentava evitar a ârea de linhagens sob influênciadas ins-tituiçõespolíticasLuba,em expansão. o títulokinyama,que parece terpartidomais ou menos na mesma altura, deslocou-se núma direcçaod,iferente e acabou por se deter enfe os Lwenado alto Zambeze. os novosacontecimentos históricosque originaramo movimentodo kinguri,ocultonas radições sob a imagemde uma "viagem",Dderam continuidadeàsforças, fossem quais fossem, que inicialmentetiúam expulsado o títulokingurida federação das liúagens Lunda lideradaspeloiueji.os gruposde filiaçãoque controlavamo kingurtafastaram-se do contactoõ- o,Lundado Kalanyi,recentemente centralizados,e penetraram em áreasonde as liúagens que se organizavam

de acordo com as instituiçõesseg-mentaÍes dos cokwe e dos songo de bom gÍado adoptaxam o kingurié õspoderes mágicosa ele assooiados. É impossíveldizerse o títulõkinguripennaneceu nas mão dos descendentes biológicosdos Lunda quedeixaram o rioKalanyi,ou se empreendedoresgrupos locais foram toman-

g a as boas v das aos po tado es de um títuloprestigiado, fazendo deles árbitrosnos seus contínuos conflitos.m

Todavia, o útulo kingurinão podia peÍmanecernum únicolugar,porque técnicas políticasainda mais eficazes, baseadas nos títulosLubaadoptados pelos Lunda nucleares, se estavam a moverpara fora da região

do Kalanyi,seguindoo kinguride muitoperto. À medida que avançava aonda das instituiçõesLuba, atingindocada uma das áreas onde o kingurise estabelecera, este útulodesviava-se para mais longe para oeste e sul,fixava-se por curtoespaço de tempo como um rei efémero entre um nevogrupo de liúagens segmentares e, depois, movia-sede novoquando aonda seguinte de inovações políticasLuba voltavaa apanhá-lo. Por fim,estes repetidos confrontos, talvez precipitadosem alguns lugares pelarelutância localem aceitar qualquer autoridade política,levaramà criaçãode um cordão de estados cenüados no kinguri,ao longode uma linha quese estendia do Kalanyi,através do territórioCokwe,em direcçãoàsnascentes do Kwangoe às fronteirasdos Mbundu.

Apesar das reservas em geral colocadas pelas tradições neste nívelde

análise, um ceúo número de pormenores nos episódios narrativosajusta-se a esta interpretação. Os Lunda recordavam,mais tarde, que o grupo dokingurise tinha deslocado muitolentamente e que levou muitosanos atéque ele passasse para lá dos Cokwe.As téQnicas mágicas adquirirlasaosLuba forneceram a chave do seu sucesso na travessia de territóriosque nãolhes eram familiares.Eles caçavÍÌmusando, em paÍte, as pequenas armadi-lhas de laço e as grandes armadilhas ffadicionaisdos Lunda,mas tambémusavam os arCos e flechas que Kinguriobtiverade Cibindallun-gallukokexa.Uma adaga enfeitiçadachamada mukwale,em particular,ajudava-os a abú camiúo contra qualquer um que se opusesse à suachegada.tr O poder das novas armas do kingurie "da sua forte magia Lubacausou uma impressão duradouranos povos queviviarna oeste do Kasai,

onde os Cokwede finaisdo século dezanove ainda recordavamo kinguriNesta hipótese, o pano de fundo das estruturas sociais dos Cokwe/Lwena éposto cm confrontocom urna explicação modelo(Vansina,1966a, pp. 85-6). Algumasprova sugcÍrom quo a "fron-teira" das liúagens se deve ter encerrado por esta altura. As revoluçõcsquc tinham lugarna Lundapodiam ter resultado do contacto com os estados Lubaa noÍdeste e, por osta altura (c, úculo quin-ze?), certamente os Kongose conftontaraÍn, a sudoeste, com a oposição do *r.lcrrlàcdou dos èsta-dos do Libolo.Henrique de Carvalho (1890a), p. 7'l.Lima(1971), p.48, também cita ac rccordaçõce dor Cokwcdas guenas que acompanharam a chegada dç trngaria algumas áreas (sc bom quc trêr dos quatroadversários mencionados, Pende, Holo,e Xinje,se refiramI higtóriado*lnguríem Kasanjel nloentre os Cokwe).

] lan {en Byvang (1937),pp. 426-7,n.I(h), 432 n. e 435. Cf. Lima(197t), p. a6.il RodriguesNeves(1854),pp.97-l0l,incluioregistomaisantigodaversãolmbangaladessalista.D Cf. a "viagem"de Kajingade Luanda para os MLndo,pp.97_103.

I38 oPRoBLEMADAFoRMAÇÃoDoESTADoe a sua terrÍvelreputação.sz Tradiçõescomo estas pÍìrecem transmitiropontode vista de povosbasicamente sem Estado, testemunhando pelaprimeiravez a chegada de uma autoridade políúcaefectiva.

As modernas tradições retêm, unanimemente,esta aura de terroraFavés das suas descrições dot kinguricomo um títuloatemorizador queexigiaas vidas de membros do beu própriopovo com umadespreocupação

ESTADOS COKWEBASEADOS NOK/NGURI 139

maneceu por múto tempo. Finalmente,continuou emdirecção às nas-centes dos rios Kwangoe Kukumbie paÍou de novo, antes de continuar nadirecção dos Songo. Cada uma destas paragens representou o estabe-lecimentode um pequeno estado baseado no ltulokingart,que os Lundaviamcomo uma renovada ameaça.

Um episódio narrativoque aparece frequentemente nas tradições,

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p p çquase irresponsável.Kinguri,dizem as tradições, de cada vez que querialevantar-se ou sentar-se forçavadois escravos a ajoelharem ao seu lado edepois apoiava-se em dois punhais que lhes cravava nas costas.sA imagem retrata efectivamente o temor supersticioso com que os

homens das linhagens olhavamo kinguri.Não sugere que eles encaravamos representantes individuaisdo título kinguricorno cruéis ou dementes,mas que temiamas forças espirituais do títuloe presumiamque essasforças exigiamuÍn comportamentodrástico dos seuq guardiães humanos.e

A persistente oposição eütre o kingurie o avanço das instiüriçõesLuba que lhe seguiam no encalço, revela-se numa tradição Lunda que assi-nala que Kingurideixara o Kalanyiem busca de um exército sufi-cientemenüe forte para regressâr e reconquistar o poder que tiúa perdidona Lunda.üOs Cokwe fornecem um ponnenoizado iúneráriopara a"viagem"de Kinguri,mostrando queele parou por "muitotempo" pelomenos em três locais a leste do Kwango.e O títuloafavessara o Kasaipróximoda embocadura do l-onyi,um pequeno afluente.da margem

esquerda do grande rio.Avançou então, subindo o Loìyi,para t€rras maisaltas e abriucaminho para oeste e sul cruzando os rios Luhembe, Katimo,Lwana, Cihumbo,Sombo e Lwaximo,antes de fazpra sua primeiraparageÍü prolongada enffe as liúagens de uma .área coúecida comoItengo (na vizinhançada.moderna cidade de Henrique de Carvalho. [Sauri-mol).Deslocou-se depois para a região coúecida mais tarde como MonaKimburidu,não muitolonge de Itengo,a sudoeste, onde também per-

" I{"túq""d" Carvalho( 1890a), pp. %, â7 ,tamMm ( I 898), p. 2E.A.imagem de um governsnte que s€ levanta e se sent8 apoiado em puúais cravados nas costas dosescravos é um lugar-comumgeneralizado em Angola.TesrcmunÈo de Mwanyaa Xiba,15 Jun.1969; tamMmvários teslemunhos_i{e Sousa Çalunga; também AlbertoAugustd pires (1952), p. l;Rodrigues_Neves (1E54),pr 97; Schün (1881),p.79 - todos dando exeirplos que atribuêú talprática-a ngu1-O tesrcmuúod9 lgci-ano,porém, atribuio costume a Nzinga. A. A. de Maga-

$es( 948),p. 33, registou a partir de fontes Songo que o mwata yamvo o

fúana Luhda. Jo.-ão

VieiraCameiro(1859-61),pp:172-3, assinalou que também se diziâ que Ngola a Mbande, umreiNdongo do século dezassete, fazia tal coisa. A. Bastian ( 1 874-5), I: 313, atribuíu tal uso ao Duquede Sundi no Kongo.O estereótipo é comum, pelo menos nas 6reas dos Mbundue Kongo,Sc bcm quc os.historiadores tradicionaisImbangalaatribuam origensLunda aos posteriores edivorsos rituais de Kasanje envolvendo sacriÍíoiosìumanos,estes d;facto vieram de ôucas fontes,A hipótese de origens Lunda derivou, provavelmente,do seu coúecimento de que o rnwamyamvomatava muita_gente.parapropiciaros espíritos que estavam por derás dos seus'póprios sínibolos.os rltuais de Kasanje, de qualquer modo, não tinhamligaçãõ com as práticas ddscritas pelo clichéuprosentado.Honrlqucdc Carvalho(1890a), p. 76.Llmn(19?l),p,48.

p q p q ç ,quer dos Lunda quer dos Imbangal4parece referir-se à hostilidade'quemaÍcouas relações entre o kingurie os Lunda na época em que os emi-gïantes se detiveraÍn próximoda nascente do rioCikapa.nAlgumtempodepois de Kinguriter deixadoo Kalanyi,Luejienviou mensageiros paÍa

estabelecer contacto como seu irmão.Kingurirecebeu os emissários numacampamento próximode um rio chamado Nangwiji(a partirde entãorebaptizado Cikapa). OsLundasuplicaÍama Kingurique voltasse paracasa mas ele recusou dar ouvidos às insistentes solicitações e rejeitouqual-quer futuraassociação com os ,seus antigos parentes. Contudo, antes deprosseguir o camiúo,'Kingurideu ao rio o novo nome de "Cikapa",paÍacomemorar a sua separação definitiva.Actualmente,os Imbangalanadu-zem a palawa mutswalilepacomo "estamos separados" ü e alegam queeste acontecimento estabeleceu formalmenteas fronteiiasentre as terrasgovemadas pelos Lunda eas conffoladaspelo kingurt.Uma vez,que afronteiraentre os Lundae o estado do kingurimais recente, Kasanje,nunca esteve ao longo do rio Cikapa,este episódiodeve referir-se'a um

tempo anteriorao estabelecimentb do kingurina Baixade Cassanje.úPor-tanto, este episódio narrativodescreve a formação de um reino mais anti-go próximodo Cikapa (provavelmente ltengo),onde os porladores do títú-lo kingurise dispuseram a resistir contraa reincorporaçãono EstadoLunda emexpansão.

A expansão do impéiioLundapara oeste corresponde à vaga dasinstituiçõespolíticas Luba que afastou o kinguri,cadavezmais, para longedo Kalanyi.Titularesespalharam-se paÍa oeste, a partirdo centro doimpério,e foramformarpequenos estados que actuariam comobarreira enEe a capitalLunda e o kinguri.Váriosdestes governantes esta-beleceram-se entre os Cokwe, num movimentoque terá trazidoaos Cokwea figuraLubà do Cibindallungacomo um heróicivilizador.s Umdestes

governantes expulsou o kingurido estado secundário no alto Cikapa,e o

87 Ver Pires (1952), p. 1, para os Imbangala; também testemunho de Domingos Vaz. Paraos Lunda,Henrique de Carvalho (1890a), pp. 8ó-90.

88 Testemuúo de Apolode Matos,4 Out.1969.8'o Esta tentativa de reconciliação nãopoderia ter tido lugardepois de o kinguri tet atingido Kasutjc,

uma vez que a tradição especifica que foi luejique mandou chamar o /<irguri.Se tivesse ocorridomais tardé, sey'rt o mwata yamvo em vez do heji que leria tidoa iniciativade relações diplomÁti-cas entre a Lunda e Kasanje.s Ver Marie-Ì.ouiseBastin (1966).

o PROBLEMADAFORMAçÃoDo ESTADO

'cutÍtulo,mona kimburúu,pennaneceu como o nome da região que okingurideixouvaga.'r A dispersão de titularesa partirãa Lundacontinuouahavés do séculordezassete, quando nouo.ìi,se estabele-

ccraÍn enhe as linhagens Xinjeque viviama leste do médio_Kwango;outros ainda tornaram-segovernadores de provínciasocidentaisdoimpério Lunda que protegiarqo mwata yamvodì d

t4tS LINHAGBNSENTREOS LI.JNDADO KINGURI

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império.Lunda que protegiarqo mwata yamvodì nova ameaça que o cadavez mais poderoso estado de Kasanje, baseado no kinguri,'representavapara a Lunda,numa fase posterior.t

O declíniodas linhagensentre os Lundadokingurios anos de movimentaçãointermitentee a constante pressão deri-

vada do avanço Luba, produzirammudanças fundamentais nas estruturassociais e políticasassociadas ao títulokingurt.o número relativamenüereduzido de pessoas que, de início,tiúamabandonado a Lunda

".ouurganizadoem termos de algpmas poucas linhagens,esEeitamente rela-cionadas en[e si (sob Lucaze naMwazaza). Mõos.aetentores Jo ututohh8r"idqquido forçados, pelas e*igênciasffi"er-srvo no

T?Pi$:ïúFõ genffiËica'có-f;ïüüËïï#inr-

ao pequeno gnrpo coordenaras suas actividadescom propósitosdefen-sivo1,as suas possibilidadesdc sobrevivência, quando óoniiontados

comas técnicas mobilizadorasdoq Llba,dependiam da capacidade de atrairgrand€ número.de nwos sç.guidores, de outras o.igrn..gúu u""qilË99sEg-lqgl*is-beqqds-u+*Utrlnee$_lgssgnjglee_lmnsamdeil;ï;-H,S.lTÍg" s6drmA-

-ep9l3gg_f"tçdÌJïgsf {" .f p;mF-as,Ísidas;ilõmãiías-diffio",o"

- 11Sgem 4o inte.riõ-iìõ*sçúgnrpo-ões-éÉuitlorèirr"'---'-'------.-'*-'* .

um episódionarrativoÌïbïngaiâãata,ì; modo explíciro,comooflsud,msua viagemahavésús tenas dos cokwe, in.o'rpoiú**,e parentesco locaisonde quer que se detivesse. De acordo .o o. ni*à-riadores tradicionais,pe.la épcca em que Kinguriatingiu".giáopr".iru.mente a oesüe do rio cikapa (actualmente.conhecida por Mo.-na

Kimbun_du), a sqa exhelna crueldadotinha-se tornadopro.upãË;;;;;;;r"",esrlforeyLunda que comere tinhampartidodo Kalanyi.Eres viramquea prática de matar acompanhantesde cãda vez que se leiantava ou ." ,"n-

'' A hipótc'€ dc uma séric dc.rciryrscokweÍ.wcnagovcrnados pro kinguriexprica.osprobremas

ffiê:"trïJfr*àr*mï'*#iii*3trÍi:^,ffi#Ëi,r"tr#"':riìï*csenvolünrcntodos impéri' Henriquc.de Canralho (1890a),p. 9t.

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t42 o PROBLEMADAFORMAÇÃODO ESTADO

tava tinha reduzidograndemente o número desses seguidores e receavamque pudesse destruí-losa todos se não se acabasse com aquilo.o3 Contudo,sentiam-se impotentes para fazer fosse o que fosse, excepto continuarem aforneceras víúrnasque Kinguriexigia, enquanto os espíritos queapoiavam o títulopersistissem na sua necessidade de tais sacrifícios.

Os Lunda recoúeceram umaoportunidadepara satisfazer plena-mente o seu abastecimento de vítimaspotenciais quando chegaram às ter-

AS LINHAGENSENTREOS LTJNDADOKINGURI I43

sobrevividoenüe os Cokwe, aproximadamente na região do altoKasai,onde os efeitos da abolição das linhagens do kingurtparecem ter deixadoas marcas mais profundas.s

Tal como as tradições contam a história,uma das mulheres no $upode Kinguriestava prestes a dar à luzquando eles chegaran à uiargem doum rio,que dizem ser o Kasai. Isto irritouKanyika.ka Tembo, um com-panheiro de Kingurique tinha proibidoqualquercontacto sexual com o

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mente o seu abastecimento de vítimaspotenciais quando chegaram às terras dos Cokwe que viviampróximodas nascentes do Cikapa. O detentordo títulode maiorcategoria nesta região, Musumbiwa Mbali,tiúa nume-rosos súbditos e estava disposto a enviar um certo númerodeles para juntodo Kingurionde, esperavurm os Lunda, estes Cokwe substituiriamo seu

próprio povocomo sacrifícioshumanos oferecidosao seu irascíveltítulocentral. Musumbiwa Mbali,porém,suspeitou das reais intençõesdosLunda ao solicitaremaquelas pessoas, e concordou emenviá-lasapenassob protecção de um dos seus titularessubordinados, Kasanje ka Kibuna(também chamado Kulaxingo).qKasanje ka Kibunaprotegeria os Cokwede quaisquer perigosrepresentados pelos Lunda ou por Kinguri.Para oajudar, vieramtambém váriosgrupos relacionados com ele, conduzidospor sua mãe e os seus três irmãos,Kibunakya Musumbi,Pande yaMusumbi,e Mbumbaa Musumbi.es Foi deste modo que se juntou ao grupouma componente Cokwe, que mais tarde se tornou muitoimportantenahistóriados herdeiros do kingurt.Igualmente se lhe devem ter juntadooutros gÍupos Cokwe,cuja história subsequente menos ilusfiefez apagarda memóriaa sua incorporaEão.

De acordo com a estrutura das histórias oraisdos Mbundu,umamudança socialde importânciatão fundamentaldeveria ter ficadoregistada alguresnos episódios narrativos.Uma narrativadessas parece ter

Seìá isto uma refer€ncia aodeclínionumérico de membros de pleno direitodas liúagens Lunda,relativamente ao número de elementos externos no grupo?Será este um emissário nomeado, dotipo wnga, a julgar pelo útulo kasanje' MalLstaÍde, os deten-tores deste únüo tomaram o controloda posição /<ingurÍe fundaram oestado de Kasanje, na déca-da de 1620. A eümologiado nome vem de.ringo,termo kimbundupara a parte de-trás do pescoço;ver os acontecimentos que rodcaram o posterior acesso de Kulaxingoao poder (Cap. VII,n.32 adi-ante); testemuúo de Sousa Calunga.23 Ago. 1969. Embora esta tradição estabeleça as origens deKulaxingona região de MonaKimbundu,tradições Imbangalajá pubücadas aÍirmaram, erronea-mente, que Kulaxingo vierada Kisama,próximoda foz do rio Kwanza; OüveiraFerreira Diniz(1918); testemuúo de Apolode Matos, l8 Jun. l9ó9;Pires (1952), p. l.A etimologiamais divulgada, mas obüamente errada, para este dtulo, levou a importantes enos deconcepção acerca dos primórdiosda história de Kasanje. Salles Feneira (1854-8) descreveu Kula-xingocomo um "vassalo"do "MwataYamvo". FranciscoTravassos Valdez (1861), tr: 155-6,rcpctiucsta versão quase palawa por palawa, mas inventou o pormenor adicional de que Kulaxin-go tinha sido um nobrc Lunda. Vansina (1963a), p. 363, citou Valdez. Henrique de Carvalho, queobtcve de Salles Ferreira grande parte da sua informação e a maioria dos seus erros sobre a históriadc Kasanjc, scrcscentou-lhe nova dimensão ao especificarque Kulaxingo tinha sidoexpulso daLunda cquc não era outro senão o púprioKinguri(1898), pp. 15, 55. Nada disto encontra qual-qucr confirmaçÃonas tradições modernas.Óompilado apartirde testemunhos de Sousa Calunga, 16 Jun., 23 Ago.,29Set. 1969; SousaCulunjn, Kambo ka Kikasa, AlexandreVaz, 30, 31 Jul. 1969; ApolodeMatos,18 Jun. 1969.

s

panheiro de Kingurique tinha proibidoqualquercontacto sexual, com opretexto de evitaros atrasos causados por nascimentos e pela presçnça dôcrianças pequenas. Este nascimento causava dificuldadespouco habihraisporque naquela altura o grupo passava fome e precisava de manter-se ommovimento,em busca de comida.Mesmoos poderes rnágicos de KinguÍipareciam ter falhado, uma vez que o seu arco especial não tiúa fornecidocaça suficiente para os alimentaÍ.Apesar de o grupo ter adiado a üavessiado rio até a mulherdar à luz,ambos moÍïerarn,a mãe e a criança. TodosaceitÍìrama suas mortes como um sinal seguro de descontentamento dosespíritos ancestrais.

Kanyika ka ïbmboparece ter sido um chefede linhagem,tilnavezque a tradiçãoo retrata como o tio da mulherfalecidae uma vez que omaridqdela foi ter com ele para o informarda morte da mulher.,Kanyikaka Ternbo censurou violentamente o maridoquando ouviua notÍ-cia e bateu-lhe severamente por t€r violadoa sua regra contra o contactosexual com as mulheres.Por fim,ordenou ao homem que entonasse aesposa e o bébé. Esta ordem violavatodas os procedimentos nonnais numasociedade baseada nas liúagens, em que a responsabilidade pelosenüeÌïos pertencia aos parentes da pessoa falecidasob a supervisão do seuchefe de liúagem.O marido, que pertencia a uma liúagemdiferente,deveria ter tidoapenas deveres secundários a Íeahzú em relação aoenterro da sua esposa e filho.

O ponto importanteda tradiçãoé que Kanyikaka Tembo tiúa du-plamente ameaçado a segurança dos seus parentes. Com a sua proibiçãodecontactos sexuais, ignoraraos seus deveres pÍìracom os guardiães espiri-tuais da linhagem. Normalmente,as suas responsabilidades como lemba.teriam inclúdoa distribuiçãode pemba (argila branca) com que se pre-tende salvaguaÍdaÍa capacidade procriadoradas mulheres da linhagem, demodo a que possam sempre dar à luz e, portanto, garantira sobrèvivênciado gnfpO.Elecometera uma segunda transgÍessão áo fugiràs suas respon-sabilidades em relação à morte da sobriúa. Deixarde realizaros rituaisadequados poderia ser a causa de o espírito delavoltarpara perseguir osseus pÍuentes vivos.s VanderByvang (1937),pp.4334,' O sobrenome Tembo confirmaa hipótese; ïbmboaparece apenas como um nome de üúagcm no

lado da matriliúagemdas genealogias dos Songo e Cokwe.

tIIIII

lU opRoBLEMADAFoRMAçÃoDoEsrADo AS LINFIAGBNSENTREOS LTINDADO KINGURI

-nos hospitaleiramentee deram-lhes toda a comida que eles necessitavam.Ndonjee o kinguripartiramem seguida com paÍte do grupo, paracontinuarrumoao oeste e deixaramKanyikaka Tembo, e outros, para seestabelecerem próximodas nascentes do Kasai.

Este episódiorevela, com bastante ceÍteza; que o grupo do kinguridid i ã bá d l h l

t45O marido, finalmente,foienterrara esposa na margem do rio. Ali

dcfrontou-se com um grande bando de pássaros que voou do cimode qmaárvore.lconseguiu mataÍ uÍn dos pássaros, um pouco de sorte que cons-titufasinal de um favorsobrenatural, pois ele nãò poderia atingirumpás-saro na asa sem primeiroter oonseguidoestar em harmonia com os espíri-tos. Quando retirouas vísberas ao pássaro, encontrouJhena goela

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deles tentava saltar sobre o rio, as águas cresciam abruptamente e engo- .)üam-nos, fazendo com quemuitagenie caísse na ao*n*ru

" rrurogur"",t'o nzungu de Kinguri,assirilcomo o seu arco mágico,tinham aparente-mente perdidoo poder, já qüe uma das suas mais importantes faculdadesera a de permitiÍatravessaÍ os rios. As suas dificuldadesem obter comidae atravessaÍ o rioderivavamJimplicitamente,da violação porKanyikakaTembo dos antigos.costumes e rituaisda linhagemque haviamconhecidona Lunda.

Apesardo comportaméntoinstáveldo rio, atravessaram-no final-mente, sob're uma ponte de madeira de muyomboconstruída por um dosoltros homens do grupo, Ndonje.eOs Cokwe,tal como os Múundu,con_gjagrarnas árvores muyombocomoo local onde repousam os espíritos daüúagem.ro A especificação do tipode madeira usada na ponte subliúa,uma vez mais, que as dificuldadesde Kinguriresultavam do desagrado dosantepassados da liúagem. A ponte de madeira de muyomboforneceu aopovo do kingurium meio de ahavessar não apenas o rio mas também oabismo metafóricoque os separava da harmoniã ôom o mundo sobrenatu-ral. com o restabelecimento das boas relações, contudo, eles atravessaramo rio e depressa enconhararn uma aldeia cujo povotiúa armazenadasabundantes reservas de massango e massambala. os aldeãos receberam-

' I."^oj{} T*lu.e"ap*tivesse regisrado o tipo de piássaro e o tipo de árvore, teria com essamrormaçao tscrlrtado a lnterpretação da tradição.I Vulgarmente conhecidos por massmgo e massambala _ (N.T.)e No.tcxtopublicadovem "Ngondji",que certamente representa o útulobem conhecido Ndonje,dadas as numerosas irÍ€curúdadesn; ortogÍaÍiaaó uúïõi u propósito a" ãulàï'non1", p..roái.(cf. n. 17 no capÍtuloseg-uinte).ro Menan McCulloch(1951), pp. 75-6.

_ 'nleeglq. a sua proibiçao,-cor_rtraa congglìção @.-@ -

.I,*), 4p_?_gl"_p"qq"_ç$çid-L". { abolição das liúag_elsnum4 -so_ciedade matrilinear.No úomentoem que-"

- \ ffi o-tìti"tãõãõïmapnõ-b--mãtriliúagemtoma-.Í, , vâ formana relação enüe a mãe e o filho.A lei do kinguricontra o nasci-:t- .jrinento de crianças consrituía,assim, o mãõmaiíTrectcíftèiimfraras -

perdido a sua organização básica em termos de linhagensmatrili-pela assimilação de muitosestranhos sem relação com elas.

ia$q*e,üe4aln dev-ei9q-elì€Uggq9*?p:13.pltl99T o kinsyrí.maternidade-e, portanto, o parenresco déiiãffimããôïiaú.'idï'

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preferiuabandonar o kinguria perder a segurança das suas linhagens. por-tanto, está revestida do preconceito pró-linhagem,daqueles que não pode-

riam tolerara vida sem o p:rentesco. A sua hostilidadepara com o novomodode vida do kinguriaparece, muitoclaramente,na salvação con-seguida aftavés da reunificaçãocom os ofendidosespíritos linhageirosdaponte de madeira de muyombo.Pessoas ensinadas a pensar em termos dedescendência unilinearacham difícilconceber a sociedade humana semlinhagens.Para elas, qualquer outrosistema social aparece como caótico eperigoso. O episódio implicaque a fome e outras difìculdadesexperimen-tadas pelo grupodo kinguriresultaram do seu desprezo pelo princípiodaorganização linhageira.No seu ponto de vista,a reorganização deve terafectado mesmo o nzungu e o arco mágicoadquiridoaos I g[3, uma vezque estes não tinhamconseguido salvar o povo da morte pela fome.

Por outro lado,o maridoque violaraa proibiçãode contacto

sexual reafirmaraum dos princípiosbásicos dos grupos de filiaçãoe, porconsequência, gozaÍa da bênção do mundo dos espíritos. O presságio quelhe foienviado,sob a forma de sementes, apontava não apenas para uma

Quando as vísberas ao pássaro, encontrouJhena goelasem€nües de painço e sorgo.*As sementes de plantas domesúcadasequivúama provas seguras de habitação humana nas proximidades eofereciama possibilidadede aquele famintobando de gente poder obtercomida desses estranhos. Esta descoberta mostroumais uma vez oue o r

maridofora favorecidopelos espíritos. ' í' , 1,,.os lÍderesdo grupo, eÍrtre os quais Kingurie Kanyikaka Tembo, t -/ 1,lnÍiâÉfr acfa. avmriâ-^:^ ^^*^ --- ^:--r r- -,,, r í . ' \ \omaÍaÍn osta,experiência como um sinal de que deviamsem demora í . j u.

::flïf**l-ï:::::l15:T1" i"'um vez q:: o curso qe ásua bú .:::g:fll"ï:"TpfïTl"qleleponro pT"-le.sti.rranspô-loõ- 'u.siffi,-ïõüíasìfraniasenrr;ãam nõ- giübo ãliànfi-dãâãopçao ou" ãscra-.,:-:^i^":'';:.:---"i---, -, -- i'- -i iì-, ï''"- *- - '-- -'-'r'' : ';-.:*"-"2

'u' Algumasvezes, tem-se panido do princípioque a marcada hostilidademanifestada pelo kinguricontra as mulheres era resultante da necessidade militar.Argumenta-se que as mulherês aFapalha-vam as.campanhas mrlitares do bando.e, poÍanto,tinham dè ser eliminãdas. De facto, a presençade.mulheresnão impediaas actividades combativas dos homens. Pelo contrário,a maioria dósexórcitos atiicanos apenas podia combater contando com o apoio logísticodas suas esposas e fi-lhos, que funcionavam como coluna de abastecimento para os homenJque efectivamentê tomavamparte nas batalhas.

146opRoBLEMADAFoRMAçÃoDoEsrADo

fonte próximade comida,mas tÍìmbémpara um regresso à vida sedentáriaagrÍcolabaseada nas linhagens.As sementes simbolizavamtanto asmulheres como a economia agrícola que o kingurirejeitara a favorde umavida de deambulações e pilhagens. Ao níveldo quoüdiano, os Lunda asso-ciam estreitamente as mulheres e as sementes, uma vez que as suasesposas tradicionalmenteplantam e colhem a maiorpaÍe das culturas.Metaforicamente mulherese sementes tornam se equivalentes uma e

AS LINHAGENSENTREOS LIJNDADO KINGUN

um rio, para apontâr mais uma vezpara o declíniodas.linhagens no gnrpodo kingurt.Segundo os Imbangala, quandoKingurichegou ao rioKwan-go, naquele tempo chamado Moa, a grande largura des0e representava umaséria barreira ao seu avanço. O próprioKinguriatravessou o riofacilmente,dum salto, em virtudedos seus poderes mágicos, mas os seuscompanheiros acharam que era impossívelsaltar. Kinguritinha uma filha,

147

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Metaforicamente,mulherese sementes tornam-se equivalentes, uma vezque ambas fazem nascer uma nova vida. portanto,o presságio dassementes indicoua Kanyikaka Tembo (e aos que nÍurÍuÍìm,anadição) queo seu futuroestava numa existência normale "civilizada"em vez dascaóticas deambulações do kinguri.

outras indicações de que os Lundaabandonaram as liúagens apare-cem na constante oposição das mulheres ao kingurinas nadiçõis,em queas mulheres repetidas vezes põem em perigo Írs suas insígnias de autori-dade real. o tema subjacente de que as mulheres tornavam impuraaautoridadepolíticaderivada dos Lunda, em Kasanje, reaparece emvárias tradições para indicar, metaforicamente, a eliminação das linhagens.

--e {Pglas ol varggqgue-Ëügp:igg :ubmetidosaos ritos Lundada circun-.;ggp"Aeriggtjlg.g llllpAq.Em certãí iirõüirsiâriòãs,o braóeiete neàsequer tolerariaa presença de mulheres por perto.rmR incffiffiEiïiaaaedo lulranocom as mulheresé por vezes dada como a razão pcla qual olueji,um títulofeminino,nunca chegou a gaúar pleno controlodo

bracelete enquanto governoua Lunda.uma variante da tradiçãoestabelece isto explicitamente,afirmando que ela tinha de confiar.olutçanoaos seus guardiães tubungu durante os períodos mensEuais para evitaresüagá-lo e assim Eazer o infortúnioao seu povo.Numadessas ocasiões,Luejientregou o lukanoa cibindallunga, seu marido, emvezde o dar aoss'eus conselheiros. Isto irritouKingurie levou às disputas que resultaramna bua partida da Lunda.r6Este episódio narrativoutilizao temaomnipresentedas mulheres como ofensoras do títulokinguri,a fimdeexplicara partida deste da Lunda. Explicaa origem das interdiçõesqueproibiamqualquermulherde tocar nas insígniasdo kinguiou serdetentora dessa posição:..Uma vez que os Lunda tinham perdido a favordos Lubao seu símbolo sagrado de autoridade, estando ele na posse de

uma mulher,o kingurttomariano futuroo maiorcúdado quanto àpresença das mulheres.Existeentre os Imbangalauma ouEa tradição, talvezderivada do

mesmo incidentehistórico,mas seguindo um enredo diferente. Eles usama mesma imagem,duma jovemmulherque moÍïeudurante a travessia de

ro Tbrtcmuúosde DomingosVaz; Sousa Calunga, 2l Ago.1969.rD SchUtt (1881), pp. 82-3.

gchamada Kwango,que quis atravessar o rio tal como seu pai tinha feito,Os makota avisaram-na contra uma tentativa tão louca, dizendo-lheque não conseguiriatal proeza, sendo uma simples mulher. Ela tentou,falhoue afogou-se no rio,o qual desde então passou a ser conhecido peloseu nome.re

Apesar das diferenças no cenário e no enredo superficial,esta históriaé estruturalmente idênticaà de Kanyikaka Tembo e da ponte de madeirade muyombosobre o Kasai. Ambas assentarn na relação entre as mulherese a dificuldadede aEavessar rios. Ambas incluemo tema das mulherescomo um estorvopara Kinguri,e ambas usam os rios como metáforas paraobstáculos, doutra forma inexplicáveis,que os migrantes Lundaenftentaram.to5

Os diferentescenários atribúdos ao acontecimentonão afectam aequivalênciados episódios, uma vez que cada informantecolocou essecenário nomaiorriopróximodas terras do seu própriorei. Os Imbangalaescolheram o Kwango,que corre próximode Kasanje,enquanto aoutra versão da históriapertence a povos vizinhosdo Kasai.A es[uturaidêntica, em ambos os casos, chama a atengão paÍa o factode as mulherese as linhagens serem incompaúveis com a sobrevivênciado povo dokinguri.

A supressão das linhagenspermitiaa qualquerelementode fora juntar--se ao povo do kinguicom um estatuto igualao de todos os membros''maisantigos.Esta mudança vencia as limitaçõesdo recrutamento impostas pelaestrütura originaldo grupo, assente no parenüesco, e permitiaassimilar umnúmero ilimitadode novos membros.Significavatambém que as lealdadesde linhagemjá não diluiriama obediência totalque o kinguriexigiaao seupovo.Com as linhagens,o kingurittrúta sidoum titularnuma rede complexade chefes de linhagem,malatae outras posições controladaspor linhagens;a abolição das linhagens enfraquecia, necessariamen0e, os outros títulos ecenfralizavatoda a autoridade no kinguri. Anova e cenfralizadaorganizaçãotrazia vantagens óbvias em termos da unidade do grupo e da capacidadecombativa, o que permitiaao bando do kingurisobreviver, à medidaquepassava por tenitóriosestranhos e controladospor inimigos.

'* Testemunho de DomingosVü.''r5 Veja, mais uma vez, o significadodo rio na história da viagemde Kajinga atéaos Mbondo,

pp. 97- 103.

r48 o PR.OBLEìIADAPORMAçÃODO ESTADO

radical do fl,,*um sacn- v'

extensão ds-mrs, onde pararam, aaoptara- om;JoËïro"ïïïsedentário e estabeleceram-se eles próorios como nôvíìsoôvêmqnrêc G^hÉedentário e estabèleceram-sè eles próprios como novos govemantessobreas 'linhagens locais. o prestfgiodas suas iniígniasde ãutoridadeLundat l i

,'-L---?---:-*zruencra sob aa'-iodàã

iniígniasde autoridade Lunda

/. -,.l:o Lll''-'ì <'üfr-tY CAPTruLOVI

O Kilombodos Imbangala

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g g u datornavamrelativamente fácit -serea bem suõedidos, ent€ grupos quet:**.":tï".dfp*1de lealeza. Este processo de cisão é ãsionsável

gsucedidos, ente grupos que

pelo estabelecimento de vCrios ohefes mais tarde identificadoscoinoCokile,tais como Mwatâ t<ânAdae Ndumbaa ïbmbo.rú

--*......*r:;:":=-.*T-=_*r:i::_---.:í-.L:r1l #+.q9.gy.ò-ltwrpu+" l-ç_aìiqgegg33tgL:fc1|ejlj0,-ítulosreais em todos os iri""ipui,esrados

Atavés da contínua inoorporação de elementos de for. o bando dokingurttinhaevolúdo-,na époóa em que atingiuo afto fwaúo,O" urnpequeno grupo de linhagen$aparentadas paÍa um bando maior e maiscoeso, no qual não existia a presença de linhagsas segmentaÍes, com osseus particularismose o seu potencial de divisãõ. esta Ãuaançu ,-io"on_ribúu comoé resultado do contínuomovimentodo dtuloatravés de umasérie de estados cokwe baseados no kingurt.Este tipo de organizaçao

social e políticaresorveu os problemas da incorporação de novos recrutâsno grupo mas, simultaneamente, apresentou aos seus líderes novas difi-culdades,.à medida que-eles lutavampor manter a lealdade daqueles quese ressentiam da perda das linhagens. chefes descontentes, .o,nâ Kanyikaka Tembo, tinham começado a ãbandonar o gupo principalpara se esta-belecerem de novo, ainda antes de terem atingidão r*-go.No*,*,o,9ryP9;Pl{'s.'pql-{$l_:*,'.lgf4o--qI44felsfuopen_q.p_iobl;'na:Aâ"p'rHgr+Lry.e9.9^9.qs. {pgg1r_s*sesmeÍlta{elgf_rygjã"are-ste-dosItrlglldÈ--tglgçígqgç-"yllt.4 .ter nó sécúró-següiãti .on."qúên"ìuì9tts-í$g*::i.-+Éggí*gi,e1eq.açünhamaspeqiçõesp"Uoo";ã""

'6 "Mwandumba,'notexto de Byvang,

- Uma Solução Radicat

--P Nos meados do século dezasseis, três das principaislinhas quemarcaram os primórdiosdo desenvolvimentopolíticodos Mbunduconvergiramna região do alto songo, para produziruma solução inteira-mente nova das tensões que historicamenteúúam colocado4s üúagensMbundu,com o seu particularismo,contra as tendências centrúzadorasdos reis. Enfrentando o ngola a kiluanjee o Libolojunto ao alto Kwanza,o bando sem linhagens do kinguriconfrontou-se com reinos vastos ecentralizados,pela primeiravez desde que tinha fugidoaos Luba, naLunda. Igualmentepresente naquela região estava uma sociedade iniciá-tica masculina dos ovimbundu,chamada kilombo,umadas numerosas es-

-trutuÍiìssociais descritas no capítulo IIcomo "instituiçõestransversais".- [ sob a pressão dos grandes estados a oeste, os titularesLunda que únham

Ivindocom o kingurifundiram-secom o kilomboem algum momentodo

I século dezasseis, para constituirpoderosos bandos de guerreiros de grandeI mobilidade,conhecidos porImbangala, que se espalharam pela região dosI Mbunduapós 1610 e acabaram por se estabelecer, fundando um novo con-i juntode estados Mbunduque incluíamtodos os principaispoderes políti-I cos da região após 1650 - Kalandula,Kabuku ka Ndonga, Matamba, Holo,t Kasanje, Mwa Ndonje,e ouEos.III Estados Songo baseados nos títulosLunda"// As dissensões que tinhamlevado alguns seguidores do kinguriafixa-

rem-se enüe os cokwe, a leste do Kwango,acabaram por cindiro grupodepois de ter atravessado o rio para o territórioocupado pelos songo.Quando os detentores de posições, no conjuntode títulos Lunda

outroraunificado,seguiram os seus caminhos separados, espalhando-se até ao dis-tante planalto de Benguela, alguns deles permaneceram como efémerasposições Songo, de modo muitosemelhante aos outros títulosque ostinhamprecedido naquela área. o resultado foiuma reorganização daslinhagens segmentares Songo, num outro conjunto de estados de curtaduração, não ruuitodiferentes dos que o kinguritinha encabeçado entre oscokwe,nem das coligaçõesde linhagenssongo, estabelecidas anterior-mente por titularesvindosde sudoeste.

150 o KILoMBIDos TMBANcALA

Detentores do títulokinguriestabeleceram um quarto pequenoreinoentre as linhagenssegmentares de Mbumba a Mbulu,este,imediatámentea sudeste das fronteirasdo poderoso estado do Libolo,o qual, no auge doseu poder naquela época, se estendia para lá do Kwanza até ao curso supe-riordo rio Lui.Adespeito de algumas ambiguidades nas radições, esteestado provavelmentesituava-se próximodos rios Luhando e Jombo, nocurso superior do Songo. As maisantigas tradições Imbangala recolhidas

ESTADOS SONGOBASEADOS NOSÚN.JIOSLI,JNDA

151

mento",desta vez com o kinguri,representa o estabelecimento do útuloLunda entre as linhagens do que era, por essa época; o Libolooriental.TAs genealogiasSongo, que é de esperar que sejam Íìs mais pormenorizadassobre a expansão deste estado, mosFam "casamentos" entre o kingu'ìiepelo menos.duas ouffas figuras femininas querepresentam ünhagens daregião. Uma destas, Kúanda, deixoutrês descendentes, Kakende,Muxindae Kunga"como üesüemunho do anüerior reino Songo do kinguri,s

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identificavama área deste reino kinguricomopróximadas nascentes dosrios "Pulo"e "Lukombo",em terras ocupadas pelos Cokwedurante asdécadas de 1840 e l850.tUm curso de água chamado Lukumbi,provavel-mente o "Lukombo",coÍTepara o alto Jombo aproximadamentea10" 50' S.2 Uma Eadição dos Ovimbuirdude meados do século dezanovetambém contribuipara identificara região como próximado rio Luhando.sPorém, as modernas fontes Songo, talvezpor causa do seu mais íntimocoúecimento da região, referem-eà área onde o kinguriparou com umàexpressão de louvornão assinalada nos mapas disponíveis,"MutondeaKalamba Kizembe",aPortanto, continuamincertas as exactas fronteiras doreino Mbundudo kinguri,mas todas as indicações colocamo seu centronas terras do alto Songo irrigadaspelos rios Luhando e Jombo.

Durante umconsiderável númerode anos,s o kinguriaplicoua bemcomprovada técnicaMbundude conceder posições titularessubordinadas,para estender a sua influênciasobre as linhagens Songo de sudeste,imediatamentealém dos grupos Kirimacontroladospelos reis hango doLibolo.As linhagens que habitavam aquelaregião reclamavam-se,de umaantepassada comumchamada Manyungowa Mbelenge.A sua des-cendência de Tembo a Mbumba,através de laços femininosnas genealo-gias perpétuas, assinalavam-na como a progenitora simbólicade um grupode linhagensSongo. Um "casamento", do tipohabitual,enEe Manyungowa Mbelengee Hango mosúa que os reis do Libolotinhamconquistadoestas linhagensSongo antes da chegada do kinguri.6Um segundo "casa-

Rodrigues Neves (1854), pp. 98-9.O t'Pulo" não aparece em qualquer mapa que eu conheça; os historiadores tradicionais Imbangala.hoje em dia, não localizameste estado pelos nomes dos rios mas, de facto, recordam umaõutradesignação, pÍovavelmenteuma expressão de louvor,Kanzuluka Mbwa. Testemuúo de Domin-gos Vaz, Cf.Rodrigues Neves (1854),p.97, que indicou "Kahunzq" comonome de louvor.Osmodernos Imbangala coincidemna localização do estado vagamente a oeste do Kwango.Magyar(1859), p. 286. Childs(19a9), p. 173, argumentou que a tradição relatada por Magyar nãoviriado Bié, evidentemente baseando esta opiniãona sua incapacidade de obter èonfrmação dahistóriaentre os informantesde meados do século vinte na rcgião.A críticaintema apresêntadamais adiante, contudo, permite-nos identificardefinitivamentea tradição como origináriado Bió.A. A.de Magalhães (19a8), p. 35.Rodrigues Neves (1854), pp.98-9.Gcnealogias recitadas nos testemunhos de Sousa Calunga,16 Jun,, 9 e 2l Jul. 1969; ManuelVaz;DomingosVazi Alexandre Vaz,3l Jul. 1969; Apolode Matos, 5 Out. 1969. O cálculo destascquência apoia-se no facto de que os títulos derivados de Manyungo wa Mbelenge, alguns tão dis-',rnlcs como 0 tcrccirageração de descendentes, já se tiúam tornado proeminentes na década de

g do reino Songo do kinguri,sPara Kakende e Muxindanão se identificaramrepresentanúes modernos,provavelmenteem consequência das mudanças de nome que geralmenteobstaculizama reconstituiçãodas históriasdos títulosSongo, masaparentemente Kunga tiúa sido umdos mais antigos chefes Liboloesta-belecidos entre os Songo do baixoLthando,onde ele'governouünhagensque traçavama sua ascendência matrilinearaté Kavunjeka Tembo, umtítulorelacionado com o reino do Libolo.eA associação destas linhagenscom o Libolo,que se apoia igualmentena localiZaçãode Kunga próximodo posto avançado na ilhade Mbolana Kasa(e no rioKwanza,mostra queo kinguriveiosubsútut o domíniodos reis hango, quando elas se fixaramnesta região. Incorporaramas liúagens da área, absorvendo o títulomaisantigo Kunga,de acordo com os métodos de alteração de nomes empre-gados na expansão dos estados, tanto no do ngola a kiluanjecomo no esta-do Mbondo.

-o.-c,o-nfro,p -o*9, E-e*9-* esvri-9np,rpglg$gã.--99-rçiue.dp-,-L,ibolopareceter provocadoum período de intensas guerras civis.entre

os Lunda, no

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-.-------.dqcoúer õí@Fïãiïos*ddí-po'i{âõôiescititítulós'sécundáriosaban-

poderes sobrenaturais doseu líder.Alitinham-se movimentadoatravés deuma área de linhagens politicamentenão organizadas e podiam penetrarcadavezm4ispara diante, sempre que sentiam a ameaça dos titulares Lubaarás deles. Porém no Libolo,pela primeiravez, foi-lhesoferecidaoposição séria à progressão paÍa oest€. A pressão, conjugada dos chefesLuba, que continuavam a persegú-los a leste, com a resisência do Libolo

1620, nomeadamente o Kaza (ka Hango). Kalungaka Kilombokya Wabo wa Hango (uês gerações

decorridas depois de Manyungowa Mbclengc) tomou-scpoderoso mais ou rnenos pclimcimaépoca. A cronologia atribuídanão depende dc intervalosregulares de vida biológicqmas daded3ção d9.qge era_necessário um certo lempopara que um útulonovo e dependente ganhasscpoder por direitopóprio.Testemuúos de Domingos Vaz;Sousa Calunga,I Out. 1969; Apolode Matos, 18 Jun, 1969; cf.Rodrigucs Neves(1854), p. 97, que mencionou umaesposa de Kingurimas confundiu o ecunome./$tulo com o deLueji.A. A.de Magalhães (1948),pp. 33-5. Asgenealogias Imbangala assinaladas na n. 6, mais arás,mostram lambém um "Kunga",Ver mapa em Schütt (1881). Ver também Lux (1880), p. 96. Testemuúos de Sousa Calunga, 29 c30 Set. 1969; AlexandreVaz,3l Jul. 1969.

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152 o KrLoMBoDosTMBANGALA

a.ocgtc' forçouelementos menos leais do bando do kinguriasairem emdlrecção ao norte e ao sur, orhde ainda não existiam quaisq"uer esodo, "o.-aráveis em poder, e depoisJ como veremos, provocou reÈeliõés na peque-na paÍte do grupo que restorl.

Embora as dificuldadeshistóricas enconfradas pero kingurino Songoteúam, provavelmente,resulüado da incapacidade de oenãtar os gover-nantes do Libolode além K{vanza t di õ í

EsrADos soNco BASEADoSNos úrwos LUNDA

povo que, parece ter formado um subgrupoocidental das liúagens cokwe.Ali,a sua posição tornou-se o mwa ndonjee pennaneceu até temposmodernoscomoo títulode um importanterei Minungu.

Umoutro titularLunda,o munjumbo,parliupara ,sul enquanto okinguripermanecia estabelecidono Songo.r2o títulocompleiodestaposição, Munjumbowa Ngambaou Munjumbowa Konde, indicaa sua

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nantes do Libolode além-K{vanza,as tadições, como é típico,atribuemoseu fracasso ao uso de inadequados símboloimágicos de autoridade. segun-do relatam as fadições, ringu.itentou restaurar o poderio das suas insíg-nias, já confrontadas com sérias dúvidaspor causa da fome e frustraçãoexperimentadaspelos seus seguidores na tãvessia do Kasai (ou do Kwan-' go?),

-enviandode regresso à Lunda alguém em busca de màgia adicionalque lhe permitissevencer a oposição do Libolo,inesperadÃente forte.; Kingurisolicitoua um dos seus companheiros,Ndonje,dquefosse à Lundae regÍessasse com uma das insígniasdos chefes nbuigu,umtamborchama-ao ry49, \y?ry4e-Estetamborera um grandé rarispg,de guena etornou-semais tarde o mais poderoso tambor de guena do poderosã mwatayaryvo|to kinguri,apar.entemente, delegou essimissão no ndonje devidoao facto de as responsabilidades deste incluirema conservação das insígniasde autoridadedo kinguri,umahonra que lhe fora dada ".,Ëoiu"içaìda suaajuda ao construira ponte de madeiriz uyombosobre o Kasai.

Fsta manobrapode ter indicadoa cÍescente desilusão do kinguriarespeito dos símboros de poder Luba, que ere obtiverade cibindairunga,e daí a tentativa de resraurar as anúgas ìnsígnias de autoridad.iuiàu .o._respondentes à sua posição. A coincidênciãde o kingurit",."qo"idou,suas insígniasde liúageme de o ndonje estar associado à madeiramuyombo,também um símbolo de solidarièdadede liúagem,

"onnu.run_o cpm a magia Lubaessencialmente aissociaJaïu.'iinrrug"nr,provavelmenteindicaque o kingurise tinha fixadoentre os Songo, peromenos temporariamente, como um normalestado baseado nas üÃagens.A concessão de títulospermanentes que ali fez apoiaesta hipóteses e con-hasta com a falta de posições similaresa leste dó Kw;go,onde asliúagens tinhamdesaparecido.

A partida do detentor do títulondonje não conduziu à pretendidarevitalizaçãodos poderes do kinguri.u.,.à vez disso, levouàìriação deum novo estado entre as linhagens que viviamao longodo médior**-go' o ndonje não se preocupouem ir buscar o ngoma ya mukamba naLunda e abandonou o kinguripara se estabelecer ãntre ós Minungu,umIO

origemcomoum títulosenior dos tubunguLunda, ou seja, um irmão ouum tio do kinguri.t3Esta posição tinha abandonado a Lunda com o kingurimas separou'se dele no songo, e os seus detentores formaram,independentemente,pelo menos dois outros estados importântes, primeiroum entre os songo e, mais tarde, um outrono planaltodos ovimbundu.oprimeiroestado resultouda fixação temporáriado munjumbocomo umaposição titularpermanente, entre as linhagensSongo que viviama nortedo Luhando,ao longo do curso superiordo Lui;raaí, ós seus portadoresconcederam títulosLunda aos grupos aô fitiaçaoque viviamà sua volta.- Este estado songo expandiu-seentão para sudoeste ao longodasfronteirasdo Liboloe desenvolveu um centro secundário na área doplanaltode Benguela, nessa época dominada pelo kulembe. As tradições,quer as do núcleo do originalreino munjumbono Songo, quer as dosovimbunduQue ficaramsob o controlodeste títuloum tantomais tarde,confirmama direcção geral deste movimento.os Songo no rioMwiji,umafluentedo alto Luhando,relembravamque Munjumbotinha vinâo donorte, ou seja, do baixo Luhando.tsAs tradições dos songo setentrionaisafirmamque Munjumbofoidali para as montanhas chamadas ',Nzambi naNgom6,s".toEmboraeste nome não seja por si só suficientepara identifi-car estas montanhas, provas circunstanciais sugerem que pode estar a refe-rir-seao planalo dos ovimbundu."Nzambina Ngombl"raduz-se pormontanhas "do grande espíritoe do gado".os ovimbundunão só repre-sentam os mais próximoshabitantes de montanhas que os Songocoúecem, como também são geralmente vistos pelosMbunducomoassociados ao gado.

o estabelecimento dos estados munjumboforneceu um outro exem-plo da adopção pelos Mbundu de tínúos mavungq de além-Kwanza.Asúadições recordam que Munjumboadquiriuterríveisarmas sobrenaturais,que podem ser identificadascomo mavunga,a fimde edificaresles reinos.

As pronúncias modernas do nome variam de,Munjumboa Minjumboe Muzumbo,de acordo comas variações de som que caracterizam estes dialecios.Testemunhos de DomingoVaz; Ngandu a Kungu.Ver atrás Cap. V, n. 29.Testemunhos de sousa calunsa, 29 Let. 1969, I out. 1969; também Domingos Vaz. schutt (lggl),p. lll;Capello e Ivens (1882j,I; 19l.Capello e Ivens (1882), I: 158.

llj: Y"c"lhães (1948)..p. 33. Magvar (1859), p.243, assinala que a dinsstia do Bié, osneroerÍos mars bem conhecrdos do munjumbo,era conhecida como "karigombe,,.

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EsrADossoNco BAsEADosNos Úrul,osLUNDA 155

154 o KILoMBoDoSIMBANGALA

Conformeum episódio narrativoCokwgdescreve estes acontecimentos,Munjumboconquistouos sgrrgo do médio Kwanzacom a ajuda de umafaca ou machadinhamágica chamada mwela (os Cokweaparentementeestavam pouco esclarecidosa respeito da exacta natureza dessa arma,

obviamenteesfrangeira). O tnwelatiúa a capacidade de sair voandodasua baiúa e subjugar tudo o que resisüsse aos desejos do seu dono, gri-t d uma voz hurnana enquantoviajavapelas terras bravias

sobre os laços entre o nàata e o hanTo. o destinohistóricodos titularesuunga de,,dott"no estado munjumbofornece u{Í'routro paralelo comq

nistóriados Mbondo,uma vez que, tal como o ndala do'Lí.boloenüe os

Mondo, a provÍnciaOtimbundudo muniutnbosotreviveu.colounreino independente; múto tempo depois de o estado P.ro.genitor Songo

rcrdesaparecido.oestadomunjumbodesudoestecobriaasencostas,"""ú"ï"irão planalto de Beriguela,planaltoonde os reis- do Bié no

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tando com uma voz hurnana enquantoviajavapelas terras braviasperseguindoos inimigosdoiseu seúor. No final,porém, a facamágicauitoo-r"confiaMunjumboe matou-o. Os descendentes de Munjumbo,na sua próprialiúagem,herdaram a faca e depois disso guardaram-na

sempre para si.tt- o testemunho linguísticoidentifica.omwela comoum símbolo toma-do de empréstimode um estado pertencente a uma área de línguaumbundu.os posüerioresreis de Kasanje, cujosantecedentes inclúamfortes influênciãsOvimbundu,usavam uma faca para sacrifíciosrituaismúto semelhante à do munjumboe à qual chamavam tarnbém mwela.ttO termo genérico Umbundupara faca é rnwela,enquanto o Kimbunduuti-liza várias outras palavras diferentes,polo, mbele ou mulçwale.re Um sím-boloalternativodas mesmas forças sobrenatureisera, em Kasanje, a

machadinha chamada kimbuya.os modernos Imbangala recoúecem que

o formatoe a feituradakimbuyadiferiamda rnachadinhacomum entre os

Mbundue suspeitam que ela terá vindode origens não Mbundu.Apalawlkimbuyanão existe em Kimbundumas em umbundu refere-se à catana.xAmbaias palavras para designar esta arma devem as suas origens, clara-mente, à região dos Ovimbundu.Os historiadores tradicionaisImbangalaapoiam ur p*uurlinguísticasreferindo-se a ligações, vagamente conheci-das, enüe o munjumboe o "Bailundo".2r

' o própriocarácter vago destas conexões apoia a hipótese de que oestado muiiumbose expandiuahavés da apropriação de títulosvunga dosseus vizinhôsde sudoeste . O mwela ou mulaualeera por toda a parte usado

como uma insígniade autoridade nomeada e não era portador de qualquermandato permanente transmissível por herança.PoÍanto,as tradições não

conseguiram agaÍïar e preservÍu um registo nítidodos laços do muniumbocom o-sudoes6, da mesma formaque as Eadições Mbondonão são claras

Van der Bvvang ( 1937), p. 435. A versão publicada desta tradição distorceu este nome' assim comoo de ndoiie,dúdo nesté caso "Mungandja".poJs o mwela em Kasanje, testemuúo de sousa calunga, 2 Out. 1969; Apolode Matos, 18 Jun.

l 969.pereira do Nascimento(1903), p. 49. Alves(1951), I: 7ú. A palavraLunda era multwale;verMrttos (1963), pp. 308-9.[Jma ocsada e òómpridafaca, de lâmina larga, usada paÍa cortare também como cutelo.Teste-

ãï"hã i"G"rãôiïü"ú,tt Set.; Alves(tfSt),t: zod. [em Angola,"catana" é palavra conente,mas r cxplicaçõo pode ier útila outros leitores - NTITcstcmunho de Sousa Calunga' I Out. 1969.

, ú ï ir p g ,século dezanove preservavamo nome Munjurnbowa Tembo como o

fundadorda sua dinastia.,A conclusão do episódionarrativocúwè, no

íiÃi ^""i"mbornorteuquando a sua própriafaca mágica se voltoucon-

tra ele e o abateu,descrwia metaforicamentea derrota do:muniumbò

;""r"às maos de úomens detentores dos vunga de sudoeste e. qÌre empu-ú#;" rnwela.aA passagem da faca para descendent€s na linhagemdo

muniumbo,e não paÍa um outro títulopolíüco'significou-1ue as

iid;"r*Sor,go reivindicaramforrnalmenteaquela noslgio,deixando

ur*ittio.antep;sados dos futurosreis do Bié livrespara edificaremo seu

pstado sem restrições por paÍte do originalprotectordo seu própriotítulo'ó ar"ií*U"oriiinatãecaíu para o estatuto de uma posição localSongo e

mudoude nomã, para reflectira perda dos seus laços com as ouüas

posições Lunda'il"Aversão escrita das tradições Mbundu do século dezassete sobre a

chegadadosLundaàregiãoSongo,umtantoconfusa'confirma,naessên.

cia,ïs bstemuúos sobie o muniumboque se podem obterde genealogias

enarrativasmaistardias.Deacordocomestatradição'quedevelerm€ne-irau .o- grande circunspecção,ã um bydg de guerreiros' unidos sob a

"frrnuOe unf líder erradamente chamado "Zimbo"(mas provavelmente

"." ãÁ"çãodistorcidado títulodo muniumboã) tiúa alcançado uma

,"giuonão Ëspecificadado interior.Cada um dos subchefes que acompa-

Ï,Xtr'il:'":Ïtrï ''iilJJ;'"'i"i"S:,'tr:l'#ïìtHi'ilffiffiiiËËiïËiüüïffo Bié appndeu o.ourrno#"ïJ,o't"r"ï;;s*,óã."úisae a rórmaLu'nda desse nome se ter moú'do oara sul. deixano" "p""ïi" Ià'ffiü;s; õ" ilfi"jú'rúã t"*uono notte. Magvar (1859)'p' 266'

;üËiË; ;ïcdõ ;;.tE;r;-i;õyíízo rnsurí, nas não mcncinouo muruanüo pelo scu nomc;

iãããïtt""t","iiit"uma conexão implícita" As g"n"ur.gi"*Imbangalaacrescentam que depois d e o mtuitutrbo se tsr estabelecido entre os songo

e se ter expandido paÍ"*ü;;;*g#ãgÍúpr"ú, agrntores deste dtuloacabaram por rcgrersar

DaÍa norte, reafiÍmunooo ,irã uut*ioãa"rout" dgu*^a^ Ìiúagens dos songo, com base em novos

5fiËËËííú;;;ìinãosaos ovimtundu(o mwela)',. Ngandu a Kungu confirmaque o moderno tftuloé,-basicamente' uma posição Songo' Schütt

;ï.i1ü-"ffi;F*ü*""Ë"i,iì.iriiìÃ-Ëì-úo"aor'songoque veio com l(ngrú. A.A. de Mag-

alhães (1948), pp. rl . *etï.ãntiãi*úo"olnbo"omooËúó de "Gambo" (Ngamba?) e lfttuti(o

eouivalenre de Kafuxi"fàüËË$;g;)ì;ú"rt4capello e Ivens consideraram Munjumbowa

i;üË;"-;ï;ãi,ãiiaËï$ü,i;;ãô;fi;i'"à"i ràis tundadores dos cokwe e Imbangala.:' Joseph C. Miller(s.d.).,^ os informantes Mbundupodem ter contribuÍdopaÍa o etTo pronunciando o nome "munjimbo",

como resulrado ou t"na ì'Jü'quïiêr';-í"1úú ocideniais de KimbundupaÍa trocaÍEm'

nos nomes do songo " il'LïLË,̂ ì;"'fud;;i"" palatall 'f' e a posterior(ou velar) "u";cf. P. 153, n. l2 acima.

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156 o KrLoMBoDosMBANGALA

nhara "Zimbo"seguiu, entãd, o seu própriocaminho e estabeleceu-se entreos diversos habitantes da região. Chefes chamados "Ndumba"e ,'Kandon-ga" estabeleceram-se em regiões não identificadas,e o velhorei "Zimbo"por fimmorreu, deixando os seus antigos vassalos nÍìs suas respectivas ter-ras, onde ainda governavÍÌmcomo reis independentesem meaãos do sécu-lo dezassete.t' Todos os poÍmenores desta tradição relacionam estes acontecimentos

ESTADOS SONCO BASEADOST.IOS TTULOSLI.]NDA

Estes líderes decidiramabandonar os seus costumes canibais e o nomadis-mo, preferindouma vida sedentária baseada na agricultura.Com vista apromovertais objectivos,fundaram uma sociedade secreta. Porém o líderdo bando original,o kinguri,continuou devotado ao seu modo de vidaguerreiroe, recoúecendo que os seus oponentes ameaçavam minar-lheaautoridade, opôs-seà formação da nova associação. Seguiu-se uma séried b lh ki i b d

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Todos os poÍmenores desta tradição relacionam estes acontecimentoscom a chegada do kinguriao seio dos songo e a subsequente dispersão dobando originalde migrantes. Ndonje,especificava a tradição, tinha chega-do como um dos subchefes "Zimbo"mas tiúa-se fixadona "Grande

Ganguella",o nome dado no século dezassete ao alto Songo. O nome daesposa de Ndonje,"Musasa",fornece uma oufra chave para a identidadedeste grupo,uma vez que "Musasa"designava provavelmenteas matrili-úagens de (Lucazena)Mwazaza,ãgrupos de filiaçãoainda relacionados,pelas modernas genealogias, com os ítulos Lunda, um dos quais era ondonje. Os ouros dois títrlrlosreferidosna década de 1650, Ndumba(a Tembo dya Mbumba a Mbulu)e (Kabuku)ka Ndonga ("Kandonga',)apaÍecem ambos noutras fontes como compaúetos do kingurie domunjumbo.Aopinião do século dezassete localizavao reino originalde"Zimbo"(i.e. do munjumbo)algures no descoúecido planaltoao sul doKwanza.

Uma tradição do Bié,registada na década de 1840, apresenta umadescrição bastante literaldestes acontecimentos,a qual mais uma vezconfirmaesta interpretação da separação do munjurnbodo kingurie a suasubsequente expansão para isul. Tal como os Bienos contam a história,obando de KinguriatingiuoirioLúando, depois de muitos anos de lutaspara abrircamiúo através db povos hostis e terras estranhas, no leste. Elespratiçavam costumes (as,"leis kesila")que incluíamcanibalismogene-ralizado e matavam muitos seres humanos, sacrificando-osaos espÍritosrepresentados pelos séus ohdfes. De facto,esües espíritos requeriamìantasvítimas queo bando não sejpodia fixardurante múto tempo num únicolocal,sem fazer fugirou mataÍ a maioriados povos viziúos.Istocontinuamente os obrigavaa moverem-se em busca de novas populaçõespara devastar, a fimde satisfazer as cruéis exigências dos seus líderes.

Quando o bando finalmentese estabeleceu no Luhando, em breve.esgotou a capacidade dos songo de fornecerem gentepÍìra os sacrifícios eviraram-se uns contra os outros paÍa satisfazer a sua necessidade de carnehumana. Alguns líderes previramque o conflitointernoos enfraqueceriaao ponto dç se tornarem presas dos vingativosinimigosque os rodeavam.

n Cavazzi (19ó5), I: 176-7.tr Ver gencalogias reproduzidas na Figura V.

de sangrentas batalhas entre o kingurie os membros da sociedade secreta,mas sem que resultasse qualquervitóriaconclusiva.No final,os que sepropunhamlevar uma vida sedentária abandonaram os seus rivaisguer-reiros e migrarampara sudoeste, atravessando o Kwanza.Gradualmente,dispersaram-se e estabeleceram-se, governando as populações que aliyiviame adoptando o sedentário estilo de vida local.D

SF I A linhado enredo desta narrativa-L-l gÍupoü4ï.ffiËtrffi-Aüq-

resultou no estabelecimento de reis, no Bié e noutras partes do planaltodo_s-

=tFsce:ç*çl3ramçnçça"drçppr-qã_o_,.qêregi49"d9.-altoSongo,i fórfriu'ob';àu"ìahistóriafoipublicadá ieveÍããs suqs i4tgA;*tr"oponentes do kinguri;sem dúvi-da os descendentes bienos do munjumbo.O principaltema da narrativaconduz claramente à fundação doreino do Bié, ainda que a versão escritada eadição não mencione isso especificamente.rA ênfase no canibalismoe crueldade dokinguriera de se esperaÍ de descendentes do munjambo noBié, que justificavamo seu abandono do kinguriretratando-ocomo ummonsüo desumano.3l

O termo "empacasseiros", usado nesta tradição publicadapara desig-nar a sociedade secreta fundada paÍa se opor ao bingurt, identificao seulíder como munjumboe sugere também uma das vias pelas Quais o reinodo munjumboterá sido estruturado.O termo "empacasseiros" pode serequiparado à versão kibindada associação de caçadores profissionaistrazida da Lundacom o kinguri.A palavra "empacasseiros" era um termo

ã Magyar(1859), pp. 266 e segs.e Certos pormenores incluídos na versão publicada podemter resultado de fontes Cokwe ou Lwena,

quer directamente ouvidas pelo europeu que apresèntou a tradição e tiúa viajado a leste do Kwan-go, quer indirectamente, através dos comerciantes do Bié no léste; por exeriplo, a Xa Kambunje,um govemador Lunda do sécúo dezanove, do médio Kasai, foiatribuído uniestatuto igual ao ãe

-. Kinguri.'$ A associação dos rituais canibalescos, mencionados na tradição, com as ',leis tesila',, indicaprovavelmente a familiaridadedo escritor com oque é dito nas fontes escritas do século dezassetesobre os chamados "Jaga", as quais geralmente identiÍicavamo canibalismo com "kesiln". Ocisitaé a forma Umbunduda palavra em Kimtundukr)dla,usada pot Cavazzi e presumivelmente poÍP_ortugueses posteriores a ele, para se referiremàs "leis"entrè os AfricanosìaAngolado sécilodeiassete, leis que eles consid-eravam cruéis e inacionais; Alves (1951), IIItZgOl e,s hadiçõesorais correntes no século dezanove entre a população portuguesa de Angola,na maior parte-ile-trada, poderão ter incluídoestas histórias, ainda que o èscritôr não tenha-lidoas fontes iioséculodezassete.

entre membros de um

158.o

KrLoMBoDos TMBANGALA

porruguês paraftopas auxiliaresafricanas, de elite,associadas aos exérci-tos europeus em Angoladesde os alvores do século dezassete.

mercenáriosderivavada suaenvavacrasuahabilidadenapergggli_ç""q9-49jqs3.gn:$:":o*9.3"*l*lg:sc,Fb@sirêóidizaaos em ëâ{á giosiá 1iéãgôia

ORIGENSDO KIIAMBO 159

Tembo/Iklunga,etc.), através da concessão de posições vunga., baseadasna faca mágica dos ovimbundu,mwel,a.outras, comoo kinguri,expandi-ram-se por pouco tempo, através da criação de ítulos perpétuos subordi-nados, do üpo dos origináriosdo songo. A dispersão e fixaçãodos tÍtulosLunda cornoposições de liúagem,neste caso provocadas pela con-frontaçãocom o Libolo,limitou-sea continuaro processo de iisão quetiúa começado enquanto o bando do kingurise moviaatravés aas cìs-

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@ g 1iéãgôiaera puramente africano. Os homens que lutavam como empacasseiros paraos Pornrgueses devem também ter-se destacado como yibindaentre osseus paÍentes, nas aldeias. Uma vez que os historiadores tradicionais

Imbangalasublinhamo facto de o munjumbodeter o estatuto de kibindaenquanto que o kingurinão o tinha,s a identificaçãodos oponentes do /cin-guricomo "empacasseiros" assinala-os como yibindaliderados pelo mun-jumbo.Yp detentor de um títuloque esrivesse.óVid,o -de ediÍiç-Afl-rpyosr_uno9 lglq.nrocuradoum_l iqsti _uiçãoftansvg1qglapropriada, sotre a qual,fuoeiiê báÀëar'â-süá ôrganizaçao políticasupra-riìirrâgéira.Dádo que aãssoc-iação kib.indacortava através das divisões de üúagens existentes,fpügçj+^.Ugtgpótrutura-que o munjumboevidentemente ãonverteu, paraftr"s*pplítiçqs,em _conjunçãocgm os títulos de nomeação nuwunga, paraedificaros seus novos estados.*

Os estados Songo do kinguri,do mwandonje e do munjumba, ilus-tram temas que já nos são familiaresda históriamais antiga das liúagensMbundu.Títulosestrangeiros Lunda entrat'am na região, sem uma ligaçãoparticulara quaisquer especÍficos grupos de linhagens.Então, as liúagensSongo apropriaram-sedas posições Lundae fizeramdelas o núcleo depelo menos três pequenos reinos, através de processos que se assemelhamaos da conversão que os Mbondofizeramdos mavunga do Libolo,igual-mente títulossem linhagens.Pelo menos uma das posições Lundaexpandiu-se até formarum estado importante, o do Munjumbo(a Kafuxi/-

t2

3Como coziúa/cozinheiro,sapato/sapateiro, etc.Testemuúos de S_ousa Calunga, 29 Set. 196'9. Embora este episódio nanativopossa parecer quedescreve a formação dos empacasseiros ou do kibínda, originaimente referia-se âs orisèns dos reisdo Bié. A síntese que Magyarfez de várias radições,-africanas e europeias, reiultounumaimpressão enónea. Folam os Pomrgueses, e não os iúmigosdo kinguri,queim cribuos "empacas-seiros" no sentido própriode mercenários. A associaçãoliáinda piovavêlmente difundiu-sècomos títulos políticosLunda, a partir

de leste.Aoposição entre o kingurte o munjumbotambém opera ao nível metafórico.A selvajariadokinguri faziacom que ele_se compÍrasse a uma besta fèroz e sobrenatural, enquanto o minjutnbo,como kibindaque era, tinha atributos especiais para abater animais daquele tiio.A tradiçãodo Bié (bem como as versões songo destes acontecimentos) implicaque o kingurideixouo Songo e finalmentese estabeleceu em Kasanje, sem mais mudançaina composiçãõ doseu gÍupo. Isto permitedatar a tradição para o período anteriorao tempo eá que kingiriaÉando-nou. o Songo, já que os acontecimentos imediatamentè posteriores ìiveramcomdresultadoaqhlillodessa posição titulare uma longa série de guenas que fragmentaram o bando. A tradiçãodo Bié, portanto, é mais antiga do que a maioriadÁs outraiversõés e não sofreu as mesmas óis-torções que üs versões dos Imbangala e de outros grupos Mbundu,sobre estes mesmos aconteci-menlos. lsto Ìornu-aprcferível,como prova, para dêteiminaro que aconteceu no Songo.

q g se ov aatravés aas cìstantes terras orientais dos cokwe. A propensão dos títulosLundapararegressarem a uma existência sedentária sugeria que o bando ,semliúagens não ofereciaum arnbiente apropriadó,no qualeles pudessem

exercer efectivodomínioA sua experiênciaentre os songo prèssagiava,assim, mútas das mudanças que afectariamposições corretacionaoas anorte do Kwanza,durante o século dezassete.

Ortgens do kilomboos titularesLundaque restaÍam procruaramuma ioluçãopara osproUt@a experiência'tinharntido sob o domÍniodo

kinguri,Sdoptandguma associação guerreirados ovimbunducoúecidapor kilom6o.'ôtiitomüòforne"ciaouasõ'isasïueffi;nïaàooao-Ëanãò

"

ïnEïrõõiingurí:uma estrutura firme,capaz de unir um grande númerode estranhos que, como era evidente, nunca tinhamsubstituído as perdidasliúagens por instituiçõessociais ou políticasviáveisque se lhãs com-paÍassem; e uma discipüna militarcapaz de derrotar os grandes reinos que

- lloqueavam o seu movimentopaÍa norte, além Luhanõo,e para oeste doKwanza.Na sua fase de maturidade, o kilombo,que acabou por demons-traÍ ser capaz de derrotaros estados Mbundumais bem sucedidos até aoseu aparecimento a norte do Kwatza,consistia numa mistura dos títulosperpétuos Lunda,de posições míNunga originadas entre os pvimbundu,edum cultoguerreiro desenvolvidoalgures em terras do kulembe.

Tendo em conta a evidenterapidez com que o kilombopassou pormetamorfoses, de década para década, e a es,cassez de dados diÍectamentereferentes a ele antes de meados do século dezassete, seria provavelmenteimprudente qualquertentativade desenvolveruma descrição demasiadopormenorizada da sua estrutura interna riesta altura.s contudo, a informa-çãodisponívelqrostraefec[iy4r4gnteg1qg_kilqm-bqBËãiiiüigegpriméirocomo um complemento dos reis kulgyrbe,a su _$o Kwantà, e que{_epg9_ q I9U-s-1r,ra.f9qa-,eyolg_{dad9 qfrã dâs"i$nitpi,as iião linhageiràs,do14*".oTlg-j$Igtqf-*-g::ç g::f*iqiç-iú,ansversais.,7osigni_.T.. No CapítuloVIIIaparecerá uma análise completa sobre o kilombomais tardio,]'.iOs Europeus-em Angola no século dezassete, as únicas fontes anteriormente existentes sobÍr okilombodo3 Imb.angala, induziram em erro todos os subsequentes historiaaorei,Oeviãoï sua inca-pacidade de avaliaro significadoda instituiçãoaos olhoi dos Mbundu.ern "'onr"qún"iaairro,

D

tIaII)I

ló0ficadooriginale primárioda palawa desienava.gT,ra-?.s.s9qkgãg $g.yar-Qgs,3Ftt". ji"rtu**;,(qalos -membrosda associagão se- submetiam a impressionantes rituaisde inicia--

çfr Qüe ôs afastavam. do soio proteciordo seu grypode filiaçãj;át4_e;simultaneamenie, qliifglúgúènte os iniciadosãnÈã si, õóúiiãúrreirósnum regimentode super-homens, toúadirS ìhr;uInérávèisàs armas dos.s.-ejs ini4igos-

ORIGENS DO KILOMBO

pretação do missionárioque anotou a tradição, e introduziuleis e rituaisOijila,singularkijila)destinadgsa preservar o seu estafttocomo o maistemido e o mais respeitado governanteem Angola."TembaAndumba"proclamouas suas novas leis durante as cerimónias mais terríveisde queos Mbundutinham memória. Primeiro,mandou buscar a sua própriafilhaainda bébé, pegou na criança e lançou-a num grande almofariz,usadonormalmentepara reduziros cçreais a farinha. Depois,"Temba Andumba'l

Í ilã

161O KILOMBODOSIMBANGALA

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II IIIIìDII

IfIìì]t))

ttII)))

j g-"1t"-"Os temíveisbandos gúerreiros do kitomboemergiram, provavel--mente,de uma comtinação de instituiçõesdos Ovimbundue dos-cokwe/Lwena,

forjada quando o bando do kinguri,que tinha sido forte-

_mente influenciadopelos costumes dos cokwe durante a sua passagematravás'dë Itengoe MonaKimbundu,encontrou os povos de línguaumbundu,a oeste do Kwanza.os seguidores do kingurttinhamtrazidoum culto poderoso, mas relativamentepouco estrutuÍado,do qual setiúamapropriado algures entre os Cokwe,como sugerem as provas

expücitamente, a criação do kilomboa partirde instituiçõescaracterísticasdos Cokwee dos Ovimbundu,contando a históriade l'TembaAndumba",

uma raiúa lendária da qual se dizia ter fundado um grande reino com basenum cülto,designado "execúvelseita" por missionáriosescandalizados,oqual os europeus contemporâneosassociavam com a gente que eles;erroneaÍnente, coúeciam como "Jagas". A versão escrita desta tradição,gmboradistorcidade variadas formas,s especificacom precisão que as"leisdos'Jagas"', como eram enüio conhecidos os ritosdo kilombo,tiúamtidoa sua origem algures no leste e tinhamaparecido com "Zimbo"(o munjumbo),Ndonjee os outros, algures ao longodo curso superior dorio Kwanza.sA fundadora da seita, "Temba Andumba",era uma filhadeNdonje.Ela tomou-se uma corajosa rainha guerreirae conquistou muitasterras. Por fim,deixou-se embriagar pelo sucesso militar,segundo a inter-

agÍuïou num grande pilão e, sem misericórdia, reduziuo bébé a, umamassa informede carne e sangue. Adicionouàqueles restos humanoscertas Íaízes, ervas e pós e ferveu toda a migtura,para obter um unguentoa que

chamou majia samba. Untando como majia samba o seu própriocorpo e o dos seus mais próximosapaniguados, ela apelou ao seu. povopara uma nova campanha de terrore destruição. Após ter devastado todasas terras ao seu alcance, ordenou aos seguidores que pegassem nos seusprópriosfilhos,os cortassem em pedaços, e comessem o que daí restava,como um sinal da sua devoção às leis yijilado reino.

Segundo prossegue a história,"Temba Andumbal'apaixonou-se maistarde por um certo Kulembe, cujaposição social o fazia um tantoinferioràrainha guerreira, mas que a igualavaem bravurae crueldade. Ambi-ciosamente, Kulembe desejava reivindicarpara si próprioo presúgio de"Temba Antumba"e, portanto,resolveumatá-la e apropriar-se doseu reino.Durante muitosanos, enquanto "TembaAndumba"dilatava o seu reino, ele

camuflouas demoníacas intenções, acabou por ganhar-lhea confiançaatavés da lisonjae fingidaafeição e, por fim,casou com ela. Não muitotempo depois do çasamento, executou o plano que tão longamente escon-dera, convidandoa esposa para umjantarde cerimónia, tradicionalenffe oseu povo,e assassinou-a então, deitandolhe veneno na bebida.

Kulembeconseguiuesconder do.povodo reino a sua cumplicidadenamoÍe de "Temba Andumba"e induziu-oa aceitá-lo como legítimosuces-sor e governante dos adeptos das2 ita.'A fimde consolidara sua autori-dade, sacrificou um númeronão identificadode pessoas em memóriadafâfecida "Temba Andumba"e realizououtros actos, pretendendoEpggg:f_"$e--indigar,desse modo,a sua grande piedade e desgosto.Inicioudepois uma terrívelcampanha militar,em colaboração com vários

gqqol_{avos.generais (chamados "Calanda,Caete, Cassa, Cabuco,Caoimbae muitos outros") e, emconjunto,eles em breve se tornaramsenhores de uma área ainda maior do que a conquistadapela famosa"Temba Andumba".àda Oijaspectos significativosdestes episódios narrativossão as afirma-ções de que certos títulosde leste se juntararnao kulembe para formarumanova e muitopoderosa organização militar(o kilombo).A análise começapor incidirna posição da primeiramulherdo chefe dokilombo,conhecida

foramenfatizados os alipectos militarcsdo kiiombo(sendo por razões óbvias o asDecto oue maisrnt€rcssava aos soldados e administradores euÍopeus), com alxclusão das suas impiicaçõeisociaisepolíticasp.ara o.sistema de parcntesco dos MÈundu.A discussão qu. r" rigu"'róuã-oliu^tonão fará mais qualquer referêriciaàs deÍinições usuais, mas imprecisis,a" p"fã"i""-.ÃÌuìu"u*-pamentg de guena-perrencente aos chamados "Jaga" (Miller,'1973a;,1u1'umripo Je eìiabeleci-mento de escÍavos fugidos,.tantoem Angolacomõ no Brasil (cf. Keít,'l965,p.'r62),e (c) qual-quer -acampamento provisórioconstruÍdo pelascaravanas comerciais do séôulo dézanou. emAngola.

' cf. as distorções na história de "Zimbo",à qual se juntou esra narrariva; Miiler(s.d.).s p-ava.zziJ 9p5),-I:177-9.Embora Cavazzi nao usase o termonesre conrexro, "execrável seita,,e"ímpias leis"referem-se claramente a isso.

Irìf*vl-

162 o KrLoMBoDosTMBANcALA ]

mais propriamentepor tembanza, mas personificadanesta tradição como"Temba Andumba".Tjtuloscom a mesma raiz ile tembanza âp-"a"-para sudeste, através de toda a região dos cokwe,por vezes associados a irituais idênticos aos que na narrativados Mbundusão chamados l

majia samba, e sugerem que esta parte das instituiçõesqu"rorrnu*rn-o I

kilombo,na sua fase de maturidade, terão originalmentevindodessadirecção.

A prova de que a palavra tembanza, correspondendoao útuloda prin-

ORIGENS DO KILOMBO

A falta das liúagens privavaos Lunda de um meio eficaz de instilarnoseio do bando um fortesentido de pertença ao grupo,que não fossc pcloterrordo domíniodo kinguri;$Por outro lado,os rituaisdo mají a sambaconferiam umainvulnerahilidademágica aos membros dogrupo, de outromodo desprotegidos quanto ao sobrenatural,substituindo-seassim aosausentes grupos de filiação.Os rituaisconcomitantes explicavamosignificadoda mudança estruturalque tinhaocorrido,em dois sentidos.Num tid t fó i ã do majia b pelo(a) h f

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p pcipalesposa do líderdo kilombo,veiode algures no sudeste de Angola,reside numa distribuição,incompletamas sugestiva, de posições similarescom o mesmo nome. os maridosde certas irmãs, de chefes cokwe rece-

,biamo títulode sambaza, evidentemente da mesma raiz de tembanza.*Emboraos modemos Imbangalanunca tenham ouvidoo termo tembanza

alguns dos bébés nascidos das uniões incestuosas dã rei e da mambanje. ,. i^

os eleitores Mbukuxuescolhiam os sucessores dos seus reis entre'as "l

relacionadocom a esposa principaldos reis mais tardiosde Kasanje, que I

eram também chefes de kilombo,eles acham que esse termo prova- 1 ,'rrolmonfa"-;^,1^.fì^l-.',^4lA^^LJ-L^*-:---ri r - \ Ivelmente veio dos cokwe.ar A sobrinha mais velha do rei de um grupo de .,i \ ,l^ "povos actualmente vivendono norte do Botswana (os Mbukuxuar) tinha o \ \ \1) ì' r

títulode mambanje, também um termo da mesma raiz de tembanza.e r. \\ |A mambanjedesempenhava uma funçãocruciar na manutençao do \, | .l 'bem-estar do reino Mbukqxu,já que coabitava, para finsrituais,com o seu ì b , . l, .^ 'tio, o rei, e partilhavacom ele os segredos da produção da chuva. Afeitu-, t Úi],,-ra destes preparados mágicos para fazer chover requeriao assassínio de ,t t ,1llr'

Numsentido metafórico,a preparação do majia samba pelo(a)chcfc,através do assassííioìritual do seu filho(a),era um sÍmbolocorrente doexcessivo poder de unÌ governante sobre o seu povo. Os "filhos",na nar-r4iy-a,"rep"1g-e11q4gr-_qs,.qúb{i9osde.qm chefe político,em contraste com osseus paÍentes que são sempre descritos como "sobriúose sobrinhas".{'_qç4gpry,4,$gm3tat o(a)''filho(a)"si|nbolizavao poder absoluto doggyçIrlê-r,Ìl-e-so,b-rços s.eus-súbditos,talçomo a imagemdo kingurí,assassi-nando escravos de cada vez que se erguia ou se sentava, mostrava o üemor,qupersticiosoq-uóo r"upovo lhe dedicava. Npm sentido mais literal,porém,a matança dos filhos,quaildopraticadapor toda urna população,tornava-se um meiode aboliras linhagens, uma vez que o assassinato dosfilhos(ou a negação do significadosocialde um nascimento físico)tiúasobre os grupos de filiaçãoo mesmo efeito estruturalque a proibiçãodoseu nascimento, feita pelo kinguri;ambos eliminavamos laços doparentesco. A história domaji asamba de "Temba Andumba" está rela-cionada com os novos acontecimentosanteriormenteassinalados, combase em provas independentes, sobrea históriado bando do kinguri en$:'os Cokwe.

O uso do majia sambapode ter começado comoum ritualpraticadoapenas pelos líderes do grupo, como mais tarde entre os Mbukuxu,mas oseu significado estrutural mudoucompletamente, quando se estendeu dorei (simbolizadona narrativapor "TembaAndumba')para todos ossúbditos doreino. Deixouentão de servircomo um meiode separar o reido seu povoe, emvez disso, assinalou o efectivodesaparecimento daslinhagens.Esta mudança, que foiregistada de formabem clara na nar-4tiva do século dezasiete, ilustrao modo comò da,extensão de uma noçãoaìtigã së-podia produziruma inovação políticarelevante.

htiias similares, evidentements derivadasdo majia sambade

'"Tëffibaandumbai aparecefam mnftõmffitaroe, nas ccirfes de reisreconhecidos comodescendentes de ltulos trazidos de além-Kwangocomo kinguri.Os reis do Bié do século dezanove, herdeirosdo muijumbo,faziam os seus especialistas de magia tiraremo feto do útero dumamulhcrgrávidapara fazer um unguentoque, segundo acreditavam, conferia

crianças sobreviventes deste grupo.*A impressionante semelhança entreas cerimóniasde fazer chuva dos Mbukuxue a morte ritualde criançasnecessária à preparação do majia samba, reforça a idenúficação datembanza do kilombocom o títulomambanjedos Mbukuxu.

Migrante,sem linhagens, o bando do iinguriprovavelmenteadoptouos rituais do majia samba, assim como o títulofemininocenffalda tem- \

banza, quando abandonaram os seus rituaisliúageiros,entre os cokwe.

Y:9gTl^Í]11tÌ,^?:-18-.9: l1E_ Iolrd- e ra- (re-)^são equivaìentes nas línguas Bantu; ambos sig_runcam -per da palswa ouJÌome que se segue. A ausência de nasalação na forma resistada ãapalavra uokwe. pode ter Íesultado tanto de um erro na transcrição, comó de uma varianËnãiom.y^::y:1::ry: era o pai do herdeiro do rei (o filhoda sua-irmã), o que implicaque o próprioneroerÍo sena o mbanza ou mbaza.

'IEsr@os Mbukuxuvivemjunto ao .rio_okaúango aproximadamente a lg"s. Guthrie não mencionaespecificamente o simbúuxu(a lÍnguados-Mbiúuxu)mas Murdockcoloca-oino ** J., il".lgJrs-lcylas_lÍÍ-tguasÍicam naTnnaM de Guthrie.ver Murdock(1959), p. 365, e õutïrie (1967-72)' III:l5' sobre os Mbúuxu,ver Thomas J. Ianon (r971) e pìbticúõ ,

"ü ;it"d;---'--o prclixom.a- (ou na-.em algumas línguas) significa"mãe" donome seguinte. o termo Mbukuxumumt(41? c.oÍÍes;pondiade facto à mãe_do_herdeiro do rci,que ali seria c[amadozrbanzp, tal comoentro ofiCokwÉ (scndo o reflexoactusl mbanje).l)r, ThomrcTlou da univcrsidadedo lotswana, swazilândiae Lesotho, forneceu-me gentilmenter lnfrrrrnnç[.rohrc u mambanje c os Mbukuxu,incluÍdana ,uu p"rquirâãnãuilõBii;;d;:

al

'5 Compare com a teoria dos usos do tenor sugerida por E, V. Waltcr ( 1969).

ttIII)I

lil O KiI,OMB,Dos IÀ/ÍBANGALA FORìú{çÃODOS IMBANGALA

_go.s.Apesaf de ser possível que as paliçadas (lumbu)que rodeavam okilomboteúam dado o seu nome ao local,devidoà importânciamilitardemanter os inimigosà distância, ou por causa do seu significado simbólico,isolandoo interiorsacralizado do kilombodo profano mundo exterior,aanálise linguística mostraque lumbo e -lombosão duas palavrasdiferentes. A palavra kilombo,portanto, indicavacomo origemda associa-ção guerreirado kulembeum cÍÌmpode circuncisão dosOvimbundu,em

165

invulnerabilidade.{os Imbpngalado século dezassete, a norte do Kwan-za, também descendentes {obando originaldo kingurt,tinhamexacta-mente a mesma práúca.at A associação entre os ÍtulosLunda e o majiasarnba fornece uma confiryraçãofinaldé que as origens da "execrávelseiüa" ficama leste do Kwangó,na medida". qu""úuu-associadas àprimeiraesposa do chefe dQ kilombo.

A pormenorizadadesqrição do nanoro e casamento^de Kulembe e

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IIIIII)tIìIttt)tl))lì)l)))ì

ção g p ,vez de se referirao aspecto "amuralhado"do local./'\

y4. Formação dos Imbangala

A evolução crucialpara a fase de maturidadedo kilomboteve lugarquando os seguidores que restavam ao kinguri,os títulos secundáriosLunda conhecidospor makota, rejeitarama liderançada opressora posi-ção central Lunda eadoptaram, como base de üma novaorganizaçãopqli{qg,g3lqqgl?S ãg ín i cl{i:ica güè rrei ra dq Èa l e mQe, acre s c e n tando - lheum certo número dé posiçOéJ vunga de comprovadaorigemUmbundu.A união do kilombo,teoricamentecentralizado,comì multidãodeposições perpétuas Lunda, permitiuà associação iniciáticafragmentar--se e difundir-serapidamente,através das regiões ao sul do Kwanza, àmedida que se formavammuitos bandos separados de guerreiros, agorachamados Imbangala,s2 sob a chefia de detentores de novos títulossubordinados, de tipoLunda. A capacidade inata das posições perpétuaspara disseminaremnovas posições titulares, forneciauma estirpe legí-tima a qualquerchefe guerreiroque pudesse reunir umnúmero sufi-, ,',.ciente de seguidores para se libertardas autoridades políticase ''"' , ,

, . linhageiras existentesno planaltode Benguelu. lF homem ambicloso,'i, ,'podiaadoptaraorganizaçãodokilombo,reivindicarapèúêchósmágicos,g gm lítrllo,que dgrivagse.{ggutro chçf.q.9.ç- kilqll.tbo,e imporo seu nome f r 'como umrei Imbang_ala.,Mesmoas posições umbundu de origem local,r ' / r^ li-oãõ a-oo I;nlèmbãõíjá dependênôia dos mavunga mostrava que não .,i.,.r -tinham originalmenteexploradoa capacidade de nomear posições"filhos",adoptaramentão a técnica Lunda e passÍram a concederposições subordinadas, que aparecem nos documentos de meados doséculo dezassete. A fragmentação que acompanhou a introduçãodos títulos Lundaao sul do Kwanza representou o reverso da cen-tralização que os mavunga dos Ovimbundu tinhamproduzidoentre osMbundu.

q ç u e be e'Temba Andumba",contiddna narrâtivado século dezassete, descreve aunião da ideia do maiia qamba com urna instituiçãodos ovimbunduinteiramentediferente,aparentemente relacionada com o estado kulembe

no planaltode Benguela. lralcomo no modelo geraldas genealogiasperpétuas dos Mbundu,o 'fcasamento" entre um homem e uma mulher(a qual, habitualmente,significaum gupo de linhagens, mas neste casosignificaum bando sem liúagens) é a representação da subjugação dopovoâ um títulopolítico.Neste caso, o "casamento" representa a uniãodos aderentes do cultodo majia samba como kilomáo,a sociedade iniciá-4ca gueneira do kulembe.

Provas linguísticasrevelarn alguma coisa acerca da natureza do anú-go kilombo,mesmosem uÍna informaçãoclara sobre as instituiçõespolíti-cas e sociais do planaltode Benguela no tempo do estado kulembe.vários

i

oI*

termosdo umbundumoderno,todos relacionados com o que parece seruma arcaica raiz umbundureferente a circuncisãoou sangue, aparecemem.conexão com modernos ritos de circuncisãodos ovimbundu.A prova í) svr vvluvuuuu. ^ Ptuv4\ ., ,.1r1' Sals.qggg ? v9mdo povoMundombg,de língua Umb_undu,próximode

N r' ?"ngugll'queainda no século dezanóve chamava kilombouo seu campou , .,rr de.cir-991cição,{Pilbfú.s'io U,r"rìbundqpea.pq."{",p4:po,refere-se ão-., _ kjit S5o*de sangue de um pénis rec_{p-cfiçun-c.,i{aÇgiir-iêr'no aparentado,,'\'', ,/ &ÌY.; ..Yig1a_umuri üëntopféparado a fartirdosangue " âo, prep,i-',/ _cioídõ-s iiricì1,r-ò.9nós campos de circuncisão, para uso "*-."rto,rios lnao

Ftrecïficãïôï).ar.oradical -'rombo,que constiú a base de tooas esàspãlávras, identificao termo kitomboiomoexclusivamenteumbundu, jáque contrasta com a palavraMbundu e cokwe para as cerimóniasda cir-cuncisão,que é mulanda É, também distinrade -um Í+d,.ipal_de.gpAlQuçjargT€_rhTI:1-tumbs,q11e_^fifiiÏHmÏõ,,'ïi-4iidd;t;_;rnquurfriË1&s,priiiCipaiilínguaso.iiiiãntaiíiieËg"ttúinúúãu, ximuunãuó*t<iton-

llaq),aÍ(1q,59).,p. 316. As.esposas-.dos chefes, noutros locais a sul do Kwanza,executavamnruers srmrlares, envolvendo..saclfïcios-humanos, mas os seus títulos distinguiam-nasdatembanza. Ver, por ex., Childs (1949), p. 20.Cavazzi (19ó5), I: 126. *Magyar(1859), p. 23.Alves(1951), I:547. í

António.daSilva Maia (s.d.(a)), p. 141; Assis Jr. (s.d.), p. 26g; cordeiroda Maua fl89r).p. 87:J.Van Winge C. Penders (tçZA),-p.IfO.

ì1

.4'I" , \

I

I' No Kikongodo século dezassete havia uma nítida distinção entre a vogalalta (u),que se encontrana palawa correspondente a "parede" ou "paliçada"em qualquer das três lÍnguas é a vogalbaixa(o),que apenas ocoÍÍeem kilombo. No Kikongodaquela época, a palavra que signihcavaparede

. ., en lumbuiVan Winge Penders (1928), pp. 136-7.11 O termo Imbagala vemde um radicalUmbundu , -vangala,que significaser valente e/ou vaguearpelo território;Joseph C. Miller(19?l).

lóó o KILoMBIDos IMBANGALA

A instável históriado bando do kinguri,antesde ter atingidoo Kwan-za, explicaporque é que oq makotaprocurarÍÌmnovas formasde organi-zaçáo políttca queos libertassem da dependênciaque, nos termos da estru-tura políticaLunda,os ligavaao kinguri.O abandono por paÍte de algunstitularesainda no leste, em terra dos CokÌre,e as partidas mais recentes domwa ndonjee do munjumbo,conftmavama gravidadedas dissensões quetiúam fragmentadoo bando. Estas foram,explicitamente,mencionadasna tradição doBié que descrevia a formação da associação dos "empacas-

'1,\ ( : n,r.F '' ropçrçÃoDos IMBANGALA.r.. como a ,maioriados historiadorescoìcluíram.Ele "morreu"de facto àsnráos*dosmakota"qgeo_1i4}-rqqlacompanhado desde a Llnda, e essa "mor-"

-H *_igl{ ggua aboliç4o{os+r $Jql-or e não plgpriaÍnenteo falecimento_{Unqçg-;pp-r_epp,ns1rtq_g1diyidUgl*Estes aconüecimentosculminariun.nailhade Mbolana Kasaxe, no alto Kwanza,onde os reis do Liboloem üem-pos tiúam instalado um dos seus chefes vunga, como guardiãodasfronteiras orientais do reino. Poresta alÍura, porém,ss o ngola a kiluanjea-úa subsequentemente conquistado a área.e feitodela uma paÍte do

167,, iì'ltriI,,'

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seiros" e a elas aludia também, em termos metafóricos, a históriade comoKulembeclandestinamente se opôs à I'execrávelseita" de "TembaAndum-ba". Os seguidores do kingurijâ não concediam ao seu lídera lealdade

total exigidapelas forças sobrenaturaisque estavam por detrás no seu ítu-lo, e - uma vez que o desempeúo dos reis Mbundudependia da obediên-cia dos seus súbditos - os seus poderes mágicos tiúamdeixado de com-portar-se como se esperava. A insegurança daí resultante levou okinguria buscar novos métodos de controlaro seu povo; isto explicanão apenaso seu pedido do ngoma ya mukamba mas também o facto de ele conce-der às linhagensSbngo novos útulos, comoo kung4,entre outros. Todasestas medidas representavam tentativas de encontrar novas fontes de apoioentre as linhagens de Manyungo waMbelenge e Kavunjeka Tembo.

-&.-pS_":.- r"_tq". p$alcharqm vantajosa a sua associação com o

kkyb:*:WS"""9g_aJ_qglyq. a libertarem-sedo fardo dadominaçãodokinguri,o kukl\edeve ter considerado essa alianga com os numelgggq_q

Erep.t_9ffigã"P-nlÉf mei9-qè,resisiir,tantõ ã expansao Oo liuôrô19P9*19-3ySç9 :-:q:tff t: y?ryt: -:yasul. Fosse como fosse, seguiram--se guerras em que o kulembee os mnkota,de um lado, lutavamcontra okingurte os aliados Songo que lhe restavamn do outro. Asfadições Mbun-du do século dezassete referem-sea estas gueÍïas na sua evocação dasgrandes conquistas que se seguiram à adopção do majia samba pelokulembe,associado aos "ouÍxosbravos generais" que eram todbs, com umaúnica e parcial excepção, posições titularesdos Lunda."Calanda"eraKalandaka Imbe ("Caoimba"),"Caete"era Kúete, e "Cabuco"eraKabukuka Ndonga, umtítulosubordinadoao ndonga, que viera da Lundacom o kinguri;apenas :'Çassa" (o kaza) tinha origens diferentes.s

Asforçasunidas-úo kitombo empüïmam-entãoo kilrgvripaatortee oeste, tal como a tradiçãodo Biémais tarde recordava, afastando-odoscenhos da força do kulembe e em direcçãoao Ndongo.As tradições doséculo dezassete confirmavam,qge_ _o, Élti;po&,lSy_l_JiSá_g.omlgno-

-Ndo n g o,*ma g qio ls landó ç-pnúã. p s- pó.tugu-rJ.ií'oí.e ïso íü ^ 11í iàn1e,4,""'" Cavazzi ( 1965),1: 189. O caza era originalmente um títulodo Liboloaparentado com o hango,mas

pouco dcpoir tornou-sc um íntimoassociado dos títulosLunda;ver capítulo VII. Cavuzi (19ó5).l: 190.

úa subsequentemente conquistado a área.e feitodela uma paÍte do"Ndongo",no'sentidoem que este termoera usado no século dezassete. ,

Os mnl<otaLunda e o kulembeficarama devqr a sua vitóriasobre ospoderes do kinguri,ant€riormenteinvencíveis,à explosivacombinação deum bando móvel esem li,úagens com o potencial assimiladore esüu-,turador dasociedade iniciáticado kilombo.A aboliçãodas liúagens deraaos Lunda a capacidade de incorporar umgrande número de pessoas, mâ8esta solução tiúa eliminado,simultaneamente,a definiçãoestruturalfomecidapelas linhagens. Portanto,não conseguia irrtegraros seus rnem-bros num grupo efecúvamente unificado,como se evidencioupelas cons-tantes tendências para a cisão, presentes ao longoda históriado bando.A hostilidadedas linhagens dos Cokwe e dos Mbundu,em relação às insti-tuições sem linhagens doculto majia sannba, enfraqueceu também a suaeficáciacomo meiode formação de um gnrpo vasto mas ainda coeso.

O kilombo,por outro lado, era detentor de procedimentosde iniciação'bem definidosque, juntamente com as capacidades centalizadoras dostruwungados Ovimbundu,compensavam a fraqueza organizativado bandoLunda.Estas qualidades; mais a fortemagia associada aos títulos Lundados makota, criaramos bandos de guerreiros Imbangala,vastos, unidos edisciplinados,que devastaram os Mbundlmais tarde, no séciúodezassetp.

Ironicamente,o kulembe paÍece ter-se tornado umadas primeirascprincipaisvítimasdo kilomboresultante da combinação Lunda/Ovimbun-du. As tradiçõesdo século dezassete expressavam claramente que a expan-são resultante teve lugar, emprimeirolugar, soba liderança dosLunda.O reino dokulembe, em temposunificado,desintegrou-se emmuitospe-quenos chefados guerreiroslideradospor chefes de kilombo, algunsdosquais emergiram, mais tarde, comoreinos Ovimbundudos séculos dezoitoe dezanove. A instabilidadecrónicada região dosOvimbundu-poucodepois destes acontecimentos,aproximadamenteem meados do séculodezassete, sugere que um vaziode poder se seguira ao declíniode algumestado anteriormente centralizado.Por exemplo,'algunschefes de guona,que em muitosdocumentos aparecemreferidoscomo tendo-se envolvidoem lutas uns contra os outros nas proximidadesdas nascentcs dos rios

" Cerca das décadas de I 550- I 560?; Miller( I 972a), pp. 560-3.

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168 o KrLoMBoDosMBANcALAKuvoe Longa, durantea década de 1640, teriam assim sido antigossubordinadosdo kulembe,gpe se.libertaram doseu chefe supremo para pôrem acção um novo equilíbfiopolítico,o qual mais tarde solidificounosreinos Ovimbundudaquela rregião.O ítulodo kulembesobreviveu a estasmudanças, mas apenas como uma posição que não se distinguiaentre asde muitos outros governantes, mais ou menos iguais, na região onde ostitularesdo kulembe tinhamem tempos dominado.s

Devido f t d t t d kil b ã incluirq aisq er posi

nonvaçÃo Dos IMBANcALA 169

ferozesnomato.seU-"-ye_sg.::,Lq"-*-_*glgpp-qilhg g$gag9-çmle"ç-sos e,gg14g$fih4s,os mq.$q1gç9"+ EkiÃaa;usl4.4gnÌS$ilbe-qtnbítifn.#sEet: '-- ,

ïpï,ingsqrçegs-ç-'xr{11{glqt#39s-sJegg,.li u?donailha-delvÍbolana.Kâiaxeonde estavam acampado-s.{t-g,s-m"4lq}f4.nO cercado tinhaapenasffiã-ÏãiCaïntradâ (diferentementede todos os complexos residenciaisreais dos reís kinguriem Kasanje, os quais sempre apresentavam umasegunda entrada, como potencial viade fuga para Um govemante sitiado).S b prete to deque leões que rugiamna vizinhançaos colocavama

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Devidoao facto da estrutura do kilombonão incluirquaisquer posi-ções titularesperpétuas,'de tipo Lundaou Mbundu,as modernas tradiçõesdos Mbundunegligenciam totalmenteas guerïas e sublevações visíveis

nos documentos: Em vez disso, concentràm-se nosaspectos formaisdaslutas que alteraramas relações entre o títulokingurie os seus makota.Estas tradiçõescontam a históriaem termos metafóricos, evocativosdosprimórdiosda históriaLun$a, no teÍnpo do yala mwaku, segundo os quaisos makota "mataÍam"a posição do kinguripor meio da aplicação de téc-nicas mágicas especiais. Agarrando no tema da lendária ferocidadedeKinguri,as narrativas atribuema rebeliãodos makota à sua reacção contraas exigências do rei, sedento de sangue. Comoa interminávelopressão deKinguripesava cadà vez máis sobre o seu própriopovo, recordam asfradições, os makota reconheceramque ele constituíapara eles umaaqeaça pessoal e começaram a estudar formasde evitaro perigocrescente. Finalmente, resolveramdar um passo desesperado: tentariam

abater Kingurie conquistar a liderançado bando para si próprios.Con-centraram-se na procúra dos meios de desarmar as forças sobrenaturaisque protegiam o seu rei dos vulgares perigos. O simplesassassinato dequem estava investidona função nãoserviriapara nada, pois não afectariaos espíritos aos quais todos os kinguri devianoseu poder e; portanto, ape-nas.métpdos mágicos podiameliminar inteiramenteo problema e aboliraposição. Em especial, sentiam que não deviam permitirque Kinguride$co-brisse a conspiração pois, caso contrário,as forças que se encontravamportrás do título,provocadas e enfurecidas, iriamcertamente vingar-se, ant€sde os makota poderem executar o seu plano.s?

Os makotaescolherani,por fim,um método_ que funcionava emprimeirolugarao nível do simbolismodo títulodo seu rei. O kingurie os

espíritosque o acompanhavam eram vistos comôanimais carnívorosdafloresta.A sede do kinguripor sangue humano, por exemplo,fazia-lheslembrar umrugidode leão na noite.s O temor supersticioso do seu líderassemelhava-se ao terror dos homens que sQ confrontavam comos animais

Í Porexcmplo,verCadomega(1940-2),III249;elesolefiouestenomecomo"Lulenbe".' Testcmuúo de Sousa Calunga, 2l Jul. 1969. .

'* Váriostestemunhos de Sousa Calunga; também Mwanyaa Xiba,15 Jun. 1969.

Sob o pretexto deque os leões que rugiamna vizinhançaos colocavamatodos em perigo, os makota fingiramestar muitopreocupados coma segu-rança de Kingurie persuadiram-noa entraÍ no cercado onde, argu-

mentavam, a paliçada de grossas estacas o protegeria doperigo.

Os makota, evidentemente,conseguiram disfarçaro potenciâldereVolta inerente à situação, pois Kingurinão conseguiu ver a irónicareferência a ele próprionos supostos perigos atribuídosaos leões.6r Confi-ando nos seus conselheiros e parentes, Kingurinão compreendeu que apaliçadade pesadas estacas fora feitacom intenção de aprisionarquemeles proclamavamquerer proteger,e não para afastar o perigo.Kingurientrou no cercado e esperou, enquanto os makota lá fora procuravam umaoportunidadede fechar a única enEada e deixar o seu rei no interior,amoffer defome. Umavez que os poderes sobrenaturaisdo Kinguri,invariavelmente,o avisavam dos perigosantes de acontecerem, os mako-ta twerarn de esperar até ele adormecer e então, rapidamente, bararam a

única saída da prisão.62 Eles mantiveram-se nas proximidadesaté KingurimoÍrerde'fome,e depois partiÍam.Esta descrição da morte de Kinguriconta relativamentepouco acer-

ca das guerras históricas entre os Songo adeptos do kingurie os guerreirosImbangala do kilombo.Mas revela muitacoisa sobre o significadodestesacontecimentos para a posteriorhistória dosImbangala.Váriosaspectos'da narraúva exprimemas crenças dos Imbangalasobre as relações apro-priadas entre os súbditos e os seus governantes. A visão sobrenatural, porexemplo,pennaneceu até aos dias de hoje um ingredienteimportantedos-poderes dum chefe.A tradição toma isto em conta ao indicarque o kinguri59

@Henrique de Carvalho (1890a), pp. 60-1.Nome completo:Mbolana Kasaxe ka Masongo a Ndembi;testemuúo de Sousa Calung-l 2 Out.1969. Rodiigues Neves (1854), p. 99, deu ã área onde kingunmorrcu o. nome-dc "Sungc aMboluma".No seculo dezanove. Sunje a Mbolumareferia-se ao conjuntodÀ regilona mary9lnleste do Kwanza,próximo de Mbolana Kasaxe; testemuúo de Sousa Calunga'-l Out. 1969;também mapa de Cãpello e Ivens (1882). Para pormenores geográficos sobÍc a ilha, Eugénio Torrcdo Valle e Jôsé Velloso de Castro (1913), esp. pp. 35-al,98-9. Bra um dos raÍoe topónimos conhc'cidos dos èuropeus dos primeiros tempos, numâ regiÍioque Ìhcs era noutÍos rspcctoc.poucofamiliar;"Carta ao Imperibdo Monamoiapa"localizada no A.H.U.,provavelmentc umr cópirdomapa de João Teixeira Albernás II:1665 (AvelinoTeixeira da Mota ( I9ó4),Pp. 32-4), Prrr o úcu'lo dezanove, Vicenrc José Duarte (1859-61).Em alguns dialectos do Umbundu, nguri significaleão.Testemunho de Mwanyaa Xiba,15 Jun. 1969,quc prcstou o mclhordcpoimcntorobrou moll'vações subjacentes às acções dos makota.

170 o KILàMB}Dos MBANGALA

adormeceu (no sentidometafóricoda negagão dos seus mágicos poderesde percepção) a fimde explicarcomo umgovernantetllopoderoso e omni-sciente pôde ser vítimada evidente conspiração dos makota.Morrerdefome era um meio ideologicarnenteconveniente de matar um títuloper-manente, porque não envolviaderramamentó de sangue: de acordo Com asteorias dos Mbundusobre aJ te?leza, apenas os seres humanos sangramquando motïem, ao pÍlsso que isso não sucedr com os espíritos de um títu-lo, os verdadeiros alvos destô ataque

A t l f ã i ifi i d l

FORMAÇÃoDos IMBANGALA

comida e de lealdade mas o cumprimentodas exageradas exigênciasdokingy;rique,levouà indigestãoq à morte por apfixia.

.Algumashlstórias Imbangalarecorrem a uma irnagem diferenüe rÍiaseqúvalente baseada num cficheque, geralmente, apaÍece noutros lugaresno corpus das tradições narrativas dos Mbundu.nElas expücarÍr,tal comona versão mais corrente, comoos malcota aprisionaramo kinguri,masçompletarnanarr-ativaargumentandoque os mal<otacontinuarama abaste-cer o kinguridc comida,porém'apenÍtslhe davam sementes podres,imprópriaspara 6 M t d ê i d l lìt d

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A morte pela fome não significavaapenas,privar de alimentoumdetentor de um tÍtulo,mas thmbémo abandono de um títulopelos seussqguidores,uma vez que as imagens associadas à comida e ão acto de

alimerÌtarse apresentam couro uma metáfoÍade uma das crenças maisbásicas dos Mbundua respeito das suas relações com os chefes.O arquétipodos "casamentos" entre princípiospolíticosmasculinose li-nhagens femininasnas geneqlogias dos Mbundu,estabelece as responsa-bilidades de governantes e govçrnadosatravés da referênciaaos deveresanálogos de uma esposa para com o seu marido. As esposaS produziame preparavam os alimentospaÍa os maridos comerem e os súbditostinhamas mesmas obrigaçõpspÍlracom os seus governantes.Eles ali-mentavamos seus chefes num sentido literal,abastecendo de produtosalimentaresas populações das suas capitais, contribuindocom forçadetrabalho para os campos dos chefes, etc. Também alimentavamos seuschefes simbolicamente,uma vez que da lealdade do povo dependia overdadeirosustento dos títulospolíticos (enão propriamente os seusportadores).A tradição da "morte"do Kinguritem em si doisníveis designiÍicado:a negação de alimentos terá causado a morte do titularporinanição,sem dúvida,mas, mais importantedo que isso, o abandonopelo povo taÍnbémaboliuo própriotítuIo.

'A versão mais comum deste episódio (que acima foiparafraseada)salienta a questão essencial do abandono através da imagemde umafrontalrecusa de alimentos ao kinguri,mas outras variantesreferem-seao mesmo facto de um modo mais subtil,seja insistindono tema dainanição noutros termos, seja incorporando o seu oposto conceptual, aindigestão. De acordo com algumas versões, os conspiradoresconstru-iram um novoe esplêndidopalácio para o kingurie conduziram-nopÍrao seu interior,com grande cerimonial.O palácio, tal como a paliçadanaprimeiravarianteda tradição,tinha apenas uma única entrada. Quando okingurijá tinha entrado, os makota bloquearam a porta e asfixiaramoseu rei deitando uma grande quantidadede farinha de mandiocaatravésde um buracono tecto.a Neste caso, ironicamente,não foia negação de

i' Schütt (1881),pp,79-80,100,

imprópriaspara comer.6 Mantendo.sea aparência de lealìtade sem a suasubstânciq o kinguríem breve expirou.

Todas as variantes deste episódiosão concordanües ao subliúar quq

os malata.tinha:nde empregar meios sobrgnaturaise enganosos paramatar o kingurt.Os Imbangala utilizampor vezes uma oufra imagem paradèscrever a morte do kinluri,porqueenfatiza a necessidade do'engano. Osmakota., de açordo com. esta variante, cavaÍam um enonue fossoguecuidadosamentedisfarçaramcom uma coberhua de folhas e capimpara lhe dar a aparência de solo firme.Terminaramos preparativosdaarmadilhaacrescentando-lhe a esteira cerimonialque o kinguriocupavaem ocasiões formais.Convidaramentão o rei a reciber as suÍìs homena-gens sentado na esteira colocada sobre o fosso. O &ingrrisentou-se e caíuno buraco onde os makota o enterraram imediatamente.6A ênfase namisúficação,que Íeaparece em quase todas as variantes,sugeÍe tambémque os nnkon assassinaram o kipsurifazendo recurso a certos rituais do

kilombo,conhecidospor kiluvia Nokiluvia,os Imbangala honravam eenganavam os seus prisioneirosde guerra até ao momento da mortç.Tal como estes outros cativos,o kingurinunca suspeitou do'seu destinoatéser demasiado tarde. A aparente referência ao kiluviafomece a confirma-ção, nas narrativasorais, ôe que os malçota abraçaram o cerimonialdokilomboquando se rebelaram contrao kinguri.

Por fim,os makotaquebraram também a aliança do kinguricom aslinhagens Songo de Manyungowa Mbelenge. Tal como um episódionarrativoexplicao acontecimento,os makota atiraramManyungowaMbelenge paÍa a prisão com o kinguri.Ela morreuantes do kingurie ele,atormentado pela fome, comeu parte do corpo dela antes de ele própriomorrerde fome. A tadição especificaque o kinguricolneu apenas a parte

ótVer adiante, no CapítuloVII,a partida de Kulaxingoda colóniaportuguesa de Angola.Testemunho de Mwanyaa Xiba,14 Jun. 1969. Os historiadorcs tradicionaisImbangala sentem-selivrespara mudar tais est€r€ótipos,dentro das rcgras da composição histórica dos Mbundu,porqueas imagens alternativas funcionam comometáforas equivalentes peÍs os mcsmos aconteciúenioshistóricos.OliveiraFerrcira Diniz(1918), p. 93. Este mesmo cliché sparecs numa ampla área (por ex.,Balandier(1968), pp. 38, 271, n. 14, paÍa os Kongo)e muitas vezes surge nóutro contCxto nastradições dos Mbundu.Esta variante faz eco das qualidades animalescas do &izgari,jÉ que o fossopoderia também ter servido para a captura de caça perigosa e de grande poíe,

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t72 O KII.OMBODOSMBANGALAsupcriordo cadáver.'? Este episódio faz lembraras imagens usadas nas Ea-dições do Bié, que contavani comoas cruéis exigências do kingurtamea-çavam fazer desaparecer todôs os seus seguidores.6 Em üerrnos da políticado posterior reinode Kasanje, a narrativa mostrava que o kingurinão tinhadeixadoquaisquer tÍtulosâ ele aparentados entre os Songo e, assim,legiümavaa autoridadedos reis que posteriormente tomaÍamo útulodekinguri,sem terem as usuais qualificações do parentesco com os seus anti-gos detentores Se bem que a narrativa confirmeindirectamente as reivin-

,FoRMAçÃoDos IMBANGALA I73

rioKuvoem 1601, oumuitopouco tempo antes.Tr Ali,pela primeiravez,tomaram contacto directo com osEuropeus e começou então uma ouüafase da históriado kilombo.

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gos detentores. Se bem que a narrativa confirmeindirectamente as reivindicações dos Songo, segundoas quais em tempos existiram títulosderiva-dos do kinguri,os modernos historiadores tradicionaisImbangala sempre

subliúamque,

do seuponto

de vista, nenhum destes tiúa qualquerdireitode suceder ao ki4guri.oDepois de terem dehotado e abolido okinguri,os maknta conduzi-

ram o seu bando de Imbangalapara sudoeste, algures na margem suldorio Kwanza.Sem dúvida,consideraram vantajosoabandonar a área docrime por temor do espírito furiosodo sóu antigo governante e,provavelmente, não contindarama ser bem-vindos entre as linhagensSongo que se tinham aliadoao kinguri.As guenas contra o ngola a kilu-anje dutante a década de 1560 ro podem ter determinadoa direcção naqual avançaram, já que o seu percurso os levou directamente para longedo poderoso rei Mbundudo norte. Na sua esteira, os'makota deixaramum Írovoconjuntode títuloslpolíticobno Songo, centrados no rnunjumbo,

no ndonje e no kunga. Também deixaramo Libolomuito mais pequeno efraco do que o tinham encontrado, reduzido de um vasto reino para umpequeno estado, ocupando apenas a provínciamais ocidentaldo seu anti-go império.Tinham forçadbo estado de Kulembea desintegrar-se etinham reclamado para si próprios a lideranç a do kilombo,deixando parao rnqnjunpboo núcleo dast antigas terras do kulembe. A chegada dokingurie a formação dos Imbangala sob a liderança dos makntatinha cau-sado uma iniportarite revoluçãona estnrturapolíticados povos quehabitavama região do alto Kwanza.

Ao que parece, os Imbahgala, sob a liderançados makotalunda,via-jaram ern direcção ao litoral,lasul do lugar mais tarde ocupado pela cidadeportuguesa de Benguela. D-a[, foram-semovendopaÍa norte, ao longo da

casta, duranüe as décadas de 1580 e 1590, chegando às proximidadesdo

Tcstcmuúos dc Kilúqickva Ngo;rg4Domingoe Vaz.O simbolismoexâcto deste últimopor-mcno.r pcrmanccc @ ro, crccpto prÍa sslicntar a natuÍìcza sclvagem e bcstial do útulo. Podercfcrir-scà indccênciado facto de o varão *inglnenEar cm contacito com os órgãos genitais damulhcr Manyungowa Mbclcngc.Magyar (1859), pp. 266 c scgs.Pircs (1952), p.2; tcstcmunho de Apolodc Matos, l8 Jun. l9ó9,Millcr(1972a), pp. 5íL3. " Ibid.,pp. 563-5;este grupo de lmbangala provavelmente não derivou tãopara sul como ali se

sugere.

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CAPÍTULOVU

Os Imbangalae os Portugueses

Os Imbangala conduzidos pelos antigos makota do kinguri,encami-

OS PRIMEIROSCONTACTOS 175

Uag:t o_kl g1nbo,qye ali se estabelqcer4m ente os nlio-Mbundu,rnan-terem-se mais independeqtes. nas suas negociações com os Porruguescs.lgftiqtitçggl-pglgqp-qgs-Imtangala -dg ng.ryevoluiramno denüdo dasnonnas cuttuÌai3-ìËõ:I16--gdu;ãmgriigaque õ irïíõ:,iiqõ"seransfônii-avanümãídiie tÍé eóiãôõCìêtiènterios,enrã'16ió e aioSo.d , :-' '' - --ãffiÍÍ3úôaestrutuúi'ãó kitomboquè influenciouo pnmerra caÍìrumo dos contactos com os Portugueses, foia típicainstabilidade derelações enEe os titulares Lunda que começou a notaÍ-se muito tempo

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Os Imbangala, conduzidos pelos antigos makota do kinguri,encamiúaram-se para norte, ao longo da costa, em direcção ao Kwanza,duranteos mesmos anos em que um outro gTupo de alienígenas, representantes da

Coroa portuguesa da Europa, se aproximavados Mbundu pelomar.

A chegada simultâneaao Kwanzadestes dois grupos de forasteiros criouas condições paÍa uma aliançaentre os Imbangalae os PoÚugueses, naprimeirametade do século dezassete, que revolucionoua geogfafia e insú-tuições políticas dos Mbundu.Em conjunto,eles conseguiram fazer comque os ngola a kíIuanje se vissem reduzidosda situação de monarcas deum reinovigoroso e em expansão, em 1600, para a de governantes fan-toches e quqse sem poder após 1630, e criaram,em sua substituição, umconjuntocompletamente novo de estados, um€uropeu e ouftos africanos,assentes na expor'tação dç escravos da Áfricapara as Américas.um pequeno estado português, Angola,'substituíu os detentores de títulosKongo na planície costeira a norte do Kwanza 2 e o ngola a kiluanienas

antigas provínciascentrais de Ndongo e Lenge, enquanto os titularesLunda,à cabeça dos bandos dos Imbangala com o seu kilombo,se impuserampróximode Angola, nas terras onde anteriormente tinhamgovernado o hango do Libolo,os reis malunga dos Pende e diversoschefes subordinados do ngo,Ia a kiluanje.

A documentação escrita dispoúvel pÍua esta fase do desenvolvimentopolíticodos Mbundupermite,paÍa a formação dos estados dos Imbangalae dos Portugueses em Angola,uma reconstituição mais pormenorizada doque pÍrraos seus predecessores.3 Parecem implícitasnos testemuúos algU-mas características estruturais do kilomboknbangala que predispuseram os

detentores dos útulos makota Lunda a juntarem-se aos Portugueses naperseguição aos escravos. Mas tais,características impuúam-se mais nos

imbangala que se estabeleceram como forasteiros entre os Mbunduaonorte do Kwanza;9 qìgigqo9i4_diferente,ao sul do Kwanza, permitiuaos

' Refiro.meaos territóriosconquistados pelos Portugueses nestes termos p:ua tentaÍ manteÍ umap"Ãú.tú"t"tUondusobre os dcontecimèntos..Conséquentemente,as distinções legais que os Por-íüú'.rãr f.ri".entre donataria, reino, conquistae oútras formas de domínioetrÍopeu, são muitopouco signifrcativas.

' l'urapormcnorcs sobre esta parte da conquista portuguesa, ver Miller(1972b)'r A DÍ $cnlc abordacemomite as histórias, relativamente bem conhebidas,da expansão do controlo

niiliìú.p"itti"o-,torPortugueses em Angola_e a derrota-do ngola a kiluanje;sobre estesnconrccimôntor,Í€mclcmosoi leitores para Birmingham(1966).

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-i

relações enEe os titulares Lunda,que começou a notaÍ se muito tempoantes de o bando'do kingwriter atravessado o Krlvango.Ela afectou as suasrelações corn os-Europeus de duas formas. Em primeirolug3r, rebeldes

detentores tle títulossubordinados tiúam, repetidarnente, procuradofonües externas de apoio, à medida que rorrpiancom aaosição central nobando, tal como o munjumbotinha adoptado útuloqvunga baseados nafaca mágica mwela e tal comb os makota tinham originariamenteabragà-do o kilombo D_:ggfj:"SB.Pg4fg-terymestabeteci{ocòntacro com9s ,-r1.1rr-o-p9.ltp,a mes{{ffifl-líFnlËõeireà:áõ ãJieCffimüoalFãOe"àjüAà--fiáïËiïÍ'leïciül*múitasvezes, no século tlezassete, os titulâres'

"GlffiqentEõ:ã-4ìilêú:sô*ãõísôüeniàôorêô Portu$ãseC, qiianoô.runaaarnbiciososprocuravam manter ouãil.atwasuaautbúdade soblrti--õprópi{opïõ;ËmïèduiiAõÏüÈar,âteirdênciadeostitularëíbüboiÌÍiiialfoË=Lunìaabandonarem o kilombode que eram "filhos",significavaque os contac-tos Portugueses-Imbangala viriama resultarno estabelecimento de múlti.plos estados Imbangala, em vez dum únicoreiúo centralizado.Os gover-nadores portugueses, enfrentando por essa ép,o;a fortes disputas, à medidaque tentavam consolidarum conEolomuitoiénue entre os rios KwanzaeBengo, exploraram avidamenteas tendências secessionistas do kilomtioe,por fim,ajudaram a criar o anel de uma clientela de reis Imbangalaquerodeavqa área sob controloportuguês, cerca de 1650.\\

\O s'primeiroscontactos :' definindoum padrão de relacionamentoA tripulação de um navio mercante pornrguês, que encontrou os

q Imbangala chefiadospor Kalanda kaImbe 6 acampados nainargem sul do"rioKuvo,em 1601, desenvolveuuma parceria comercial,baseada na

' Umaanáliseparalelaparaos Imbangalaao sul doKwanza, não sóestá tecnicamente forado âmbitodo pesente estudo, como também aguarda pela recolha de novos dados, cxEemamcntcnecessários,5 Cf. o papel dos símbolos de autoridade Luba,também externos,nos primórdiosda históriaLuodano Katanga.6 Um membro desta ripulação, 4gÍlrejlbttell,contou màis tarde ahistóriadas suas experiênciasem Angolaao humanista britâiicoSÀmuelPurchas. Purchas pu_blicou o rclato de Battcll,intcr-polando infonnação respigada de outras fontes sobre a costa de Africa.Embora seja diÍIcildisün-guir, po.r vezes, entre as observações de Battelle os acrcscentos de Purchas, nüo há dúvida quantoà identificaçãodos hospedeiros deBattell com o povo dos makota Lunda. Eles chamavam-óea sipróprios "Imbangola"(sic) (Ravenstein (1901),p. 84); o nomedo govcmante do bando era "Calan-do" ou"Calandola" (pp. 31,33, 85-6), obviamente Kalandaka Imbe, o terceiro ftoraLunda a

aÇIaoIIIt

t76 OS IMBANGALAE OS PORTUGTJESES

escravatura, qu€ se tornou o protótipode toda a posterior cooperação"oO"Ios Imbangalae os Eurìpeus. Estes marinheiros,que se tiúam mostrado,'\.

acüvos desddo princípiodq século dezasseis,nas lides do fiáficoportuguês .,de escravos nas regiões do Kongo,a norte,T tiúam ido para a área do ü'

Kuvo tomando partena extensão dessas actividades para a âreada baía deLuanda, imediatamentea norte do Kwanza,.e paraas costas mais a sul.,.'.Na viragemdo século dezassete, a presença europeia próúmodo Kwanza-

9 n Angola.'Dado o alto nível da procura de escravos, e os esforços dosque org-ffizãvamo tráfico porconta da coroa para cobrar os impostossobre o tráficoem Luanda,não nos surpreende qú"ert",marinheirospor-tugueses, e sem dúvidaoutros também, frequentassem as costas não con_troladas próximasdo rio Kuvo,nem que o acÍrmpamentoImbangaladeKalandaka Imbeatraísse a sua atenção. Do oceano, eles podiam ver ogrande número de pessoas no grupo,o qual calcularamern váriosmi-

OS PRMEIROSCONTACTOS t77

estava divididaentre duas bsferas de actividade que se sobrepunhammas

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tIoItDiIDtIDtìDttI)DltI))ì,

q vá osmilhares.r' os Portugueses desembarcarurm para determinara identidadedogrupo' provavelmentena esperança de estabelecer com eles um rendosocomérciode escravos. uma semana de negociações

convenceu os Euro-peus de que estes Imbangalaconstituiriamparceiros comerciaisconve-nienles'o+{nuenedrry*s*+.tsg*edgespre-postesdosEuropeusemg1*d,apoio porruguêspãããtravessarem o Kuvo,a fimde utu"*"rnã, --p$ÈËFev**iàmn.ãïid;dêinnôrtê dci'iiõ.** '-' " ' -

SãmiffiiÌfà*ffi6"õï*oip.g{gffil*"J1lpaÍça{eÍnnesraempresaconjunta, Ì,i -+.-_..*.+45..gaçrpeçt+lye*4s-q[àortmüàúúrtaóaBruiass"*.içrayóï-_qJ-qurrìïõ'r"il;:tugueses en ã-o_gggp"Iggg1llgembarcari4lnpara Íìs Américas'Ësiefoio àcòrlcq_-bés_rçg_ggç_fgrr.rÌ?.9.1pç4a_ua.4gág pduç..as_posteúo1çs" atiançai{qryg*Lryrud?.Os gueneiróJ'aa títomto fornlceriam

"átiuo,"rn*gg_*"[email protected]"9_pg1çr"ti,_e_s]ç.Qas.,o,qs-"Idangáúa.ornprouuOurn"niàexecutaramcom êxito t11 allgtpa norte dqKgy-or_girpt_uaramescravos_ e

Fgk{taFsôparq

pio-9.9"1nercio

qu"Ë segúu, já que durante cincomeses contmuaramafazer razias e comérciopçó>çiq-lp--dacosta,-*'*Õis"ptïitfiüeiËi'retiraramruii"ièni".r"ï;ïH;Ë';:ï;;,apontodeenviarem um grupo de cinquenta homens para o interiorem busca de maisescravos e dos Imbangala,depois de os seus parceiros africanos teremfinalmenteabandonado o litorar.Ali,um governante local forçoua expe-dição europeia a deixarum dos seus homens como refém nu uld.iu,

"ornoaranúa de bom comportamento enquanto procuravÍrmos Imbangara nassuas terras. os Porrugueses escolheram para refémo únicoesõangeiroentre eles, um marinheiroinglêschamado AndrewBatteile, evidente-mente, deram-no por perdido, já que nunca voltarampaÍa o resgatar.Battellcompreendeu que não podia esperar ser sarvo p"io, ,"u, antigoscompanheiros e fugiudo cativeiropara

sejuntar

aos Imbangala,que eleconhecera próximoda costa. A opção de Battelrescorhendo o.'t t.úrgaucomo aliados, de preÍbrência ao povo da região, bem como a hostilidadeque os chefes locais mostraram em relação aos portugueses, revelamniti-damente que os Europeuse os Imbangala tinhamestabelecido uma base de

" Crrrtin(1969), pp. I l0-ó.r" Battellin Ravenstein (1901),p g5. Se bem qle Barre, tenha especifrcado 12 000 Imbangaìa, arccisão do númeroé claramente quesrionávelã iuz ããiìa .o...spònacncia com os ãoze ;càpitães,,do bando, a cada um dos quais atiibuium n,i*"io,ìo,úzìi.omas não exacro de l 000 homens.

e t e duas bsferas de actividade que se sobrepunhammaseçam distintas: funcionáriosnomeados pelo governoreclamavam um débilcontrolosobre uma base militar,na baíà de Luandã;e3úre.afgunspostos

dispersos ao longodas margens do baixoKwanza, enquántó um certonúmero de dtercadores poFtugueses privados comerciavamescÍavos emlocalidadesamplamenteespalhadas a norte do Kwanza e ao longodolitoral,d,e ambos os lados ilo rio.o territóriorealmente controladopelasforças governamentaisporfirguesas consistia em pouco mais do que osenclaves fortificadosjuntoà baía de Luanda e em Muximae Massangano,nas lnargens do Kwanza.s rL' Umaprocura, aparentemente insaciável,de forqa de frabalhoafri-icana para as plantações de açúcar de S.Tomé e, -mais recentemente, do :ïõïtlëstë ôci Blasil;mantiúao tráficode escravos.tanro no rongô.o-o"i

goYernsÍ_lepconcluir as requeridas cerimónias de iniciação.(Battellem outro lugarchamd-lhe . \knbc ya Kalandula, trocando o primeiroe o segundo eleméntos ào nome.) Kalanda [a Imberecia- i \mavr-se sucessolde um

grandecfrefe chamado "Elembe"(p. 85), quase cenamente o Kulembe das \tÍ.8dições.oÍais. Os Imbangala fdziam um enorme e geneidlizado úso do viúode palma nos seusrituais, decepqrdo as árvorcs (Elaeis Guíneensis õtndende em Kimbundu,sejundo teite de i l

Magalhães (1924),p,62)para obter ofruto,que comiam, e o viúo,que bebiam. Ãs suas ne"essr-dades eÍam tão desmesuradas qlp poronde passàvam.devastavam os palmares, vertendo o viúo .. .'sobte. as c^ampas dos antepassqdos è utilizanâo-onas tentativas a" çonfactãìiirottãi,-"tr"erì" i;embriaguês, Eanses e possessão espÍrita. A importânciado vinhode palma possivelmente deriva- .rva da estreita associação dos chefeí nbungu Lìrndacom tal bebida, já' assiniada em conexão coma.históriado kingurina Lunda.Os seus destruidores métodos de otter o viúode palma distin-guiam-nos das populaçóes locais, que sangravam as árvoJes em vez de as deitar abaixã, como fazi-am os ImbangalaA identificaçãoque Pur_chas fez dos Imbangala com os "Jaga" e até com os Mane da Serra Leoa(pna tl-392estava enada. Es.sa passagem foiprovavelmentã acrescentada com base na afirmaçãode Batteü de que os Imbangala tiúam-vindodà "Serra de kão". A verdadeira idenúdade da "Senade lrão' de Battellnão era a Serra Leoa na Gúné superior; o nome vem provavelmenre de umarefeÉnciaao Èrnguricujonome (nguliou ngui)signifiìava'ileão" no dideôto wambodo umbun-du (Alves(1959),n: 959; testemunho de Apolodé Matos), faladonas mais monranìosas regiões$o planalto dos ovimbundu. (Apalawa colive,Kimbundue Kikongopara leão é koxiot hoie; osLunda-utilizarlautllo;Hernqiede carvalho (ls90b),p. 347; tam--beinchatelain <ts88-9);i. 7,para o Kimbundu.)Esta hipótese ajusta-se a outros dadoi que indicam que os Imbangala. por essaépoca, usavam prcdominantemente vocabulárioUmbundú.Purchas su'bünhou noutïo laáo, con-tradizendoas.suas afirmações_acercâ da origem dos Imbangalana Se;ra koa, que apenâs osPonuF_ueses^lhes chamavam"Jaga" e que nãúum Europeu-poderiater sabido'as' sual origens(pp. 83-a). Outros pormenores dá descriião de Battellapôntam para uma origemalgures no inte-riore uma chegada a esta.paÍç da costa-relativamente recente, üma vez que-o rei dïs Imbangalanunca tinha vistohomens brâncos anteriormente. Os baixos precos pelos ouais os Imbansala íen-diam os seus cativos também traía a sua falta de familiariAdae toni a resião costeira prfiximadeLuanda,já_que.o tráfrcode escravos se tinha aliestabelecido muitos anoíanter ", s"r dúuídã, o.residentes locais conheciam os preços prevalecentes.

' Ver Vansina (1966a), pp.45-64, ou Birmingham(196ó), pp. 2l-41..' Miller(1971).

178

cooperaçãoque osprópriosinteresses.

As deambulações dos Imbangaladurante os dezasseis meses que

Battellpassou com eles em 1601-1602,mostamaté que ponto dominavamcompletamente a população local.Os Imbangalavagueavam pelas terrasenté o rio Kuvoe a margem sul do Kwanz4atacando os mais poderososgovernantesda região. Dos locais mencionadospor Banell,a povoaçãodeishillu-b*ra"era, de longe, a mais importante.lrEsta era a capital de um

OS IMBANGALAE OS PORTUGI]ESES

habitantesda região viamcorno conEária aos seus

OS PRIMEIROSCONTACTOS I79

tugueses e os únbangalaveio,pois, em consequência dos problemasporËlolcausados ao fiáficolegal de escavos, o qual estava a caÍgo dos govomâdonrportugueses em Luanda.ESta experiênciadeu aos funcionáriosda Corca ümcontacto directocom as capacidades combativasdos Imbangalae conflrmouas primeirasimpressões de que os Imbangala poderiam toÍnar-se valiosoaabastecedores de escravo's, para quem quer que garüasse a sua amizado.Embora não teúam sobrevividoquaisquer registos que documentcm'asreacções em Luanda, tais experiências devem ter convencidoos govort

d d A l d d t áfi d "ofiiial"d '

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, g , pimportantechefe, de quem se diziaser "tio"do ngoln a kiluanje.O estatutode XilaMbanzacomo"tio"significavaque ele era um lata do reino do

Ndongo,um dos guardiães dos símbolos reais deautoridade. Outraprovada

sua importânciavem-nosdo factode os Portugueses terem concebido oplano, posto em acção pouco depois,de construirum posto fortificadopróximodessa capital.r2O ataque dos Imbangala ao xilambanzpmostravaque eles não hesitavam em combater mesmo conEa os tihrlaresmaispoderosos,incluindoaliadospróximosdoprópriongolaakiluanje'

Esses bem sucedidos e continuadosataques às populações locais produziramnumerosos cativose rapidamente atrairama atenção de uma geração

de Europeus que buscava, activaÍnente,mão-de-obraescÍava para as plan-tações que brotavam no NovoMundo.De início,os Irnbangalamostrarampouco rèspeitopelos esforços dos funcionáriosreais portugueses ilara regu-

iarem a condução do táficode escravos no interiora favordoscontratadares

da coroa, e vendiamescravos a qualquer umque qúsesse pagar pelosseus

prisioneiros.P-or-ta4lg-el$-cAlaeçaÍam. q.. 991 'pn$.çipaçãg no- g{code

"r"ruuqrd. A4egJu.õõïarté iúgrgr,È ãô.õ,il;tió ítg"l,ditisi39-ryit;*rtõr-:fnn*q-étiO*de se, s$.çaperqm agq mónòpotióse imf'os-toídoïern-arneritais.Pelo menos numa ocasião, eles juntaram-se a um Supo de

hOnnaaõï aõ eÌèrcitopornrguês na procura de caúvos e do saque, na regiãoda Kisama imediatamente a sul do Kwanza.OS chefes locais da região

llI

Ravsnstein tentou identificartodos os lugaÍes mencionadospor Battell,masmútas -vezes.forçou a

il;ãü-;ìltrupu*.- ot lútes do-s dadog digponÍvgiìOl. 22-7);,shiltg f:{-i,,"t";;;rda"l"*orl neo o nome do póprioútulo, já lrc xilamïanzp em Umbundu signifrca "lou-var o nobre".Brito,"Rcllação breve", ÁÁ,III,n'25-7 (193?)' pp' 26G1.Battoll in Ravcnstcin(1901), pp.27-8. Cadomega (19a0-2),t 52, cita uma carnpanha contÍa o;;;;.ï;Ffiúo dò Mdádrïçaque se ajustaã descriçãó de Battell de uma batalha, vista doãúttãlìJõ. OJ cúlrcs do Libolo'edì KisarÁa,por essa época" c,omprovadamentechamarram aosImbangrh"Jingas" ou "Guindas";o primeironome estÁPoÍ exDlicaÍ,mas não tem rclaçao com a

iãìlr.tf?"ãlirúíNzinga,ao "onúari"iJqu" sugcre Hcnriquedè Carvalho (189E' p' 30)'

nadores de Angolade que o sucesso do tráficode escravos "ofiiial"dopon'dia da cooperação, ou pelo menos da neutralidade,dos mal<ota Lunda cdosseus '. guidores.

Os Portugueses defrontavam-secom outras dificuldades, duranteste período em Angola,que devem ler levado os governadores a Procu-rarem meios de controlaros Imbangala. Para além dos problemas quoafli'giam'todos osEuropeus que tentavaÍn estabelecer baseç territoriaisnaÁAi.uüopical, num ambìente de doenças mortais,tf assimoonio a'oposiçãode reis africanoshostis, os representantes governamentaiscmAngolatiúam de lutar conEa uma diversidade de intrusos que estavam IcomprÍuescravos ao longo das costas, tanto a norte coÍnoa sul de.Luul'

, da. Estes "contrabandistas'i, como se tornaramrcoúecidos nos círculos'oficiais,escapavam às taxas da Coroa portuguesa sobre o tráficodo

escravos, precisamente qqando a procurabrasileirade mão-de-obra atin'gia novo auge, após 1600;Aomesmo tempo, a presença obstinada do'umestado Kongo chamado Kasanze, no interiormaÍina vizinhançaimediatade Luanda, forÇava os govemadoresporfirguesesa desviarem as guas cam'panhas miütarespara o interiormais distante,em busca de mais caüvogpara embarcar para a América.ÚAnecessidade simultânea de'üoÌnensoarmas juntoà côsta e no interior,obrigavaas forças'portuguesas a estcn:derem-se por um grande espaço, ficandoperigosamente fracas êm amba['as frentes. Bento Banha Cardoso, governador deAngola de16[1 a1615,indicavaexplicitamentea pressão que se exercia sobre os seus recufsgsquando fazia notar que os suprimentos e hornens"recentemente enviadosde Lisboa estavam longe de corresponder às suas necessidades: Elequeixava-se particularmenteda faltade soldados e cavalos necessáriospara conduziras incursões militaresno interior'ló

Apanhado entre as ambições militaresno interiore a necessidade dedefesa no litoral,Cardoso teria inevitavelmentede procurar a ajuda de

philipD. Curtin(1968a) resume os asp€ctos teóricos e documenta as taxas de mortalidadcrceul'iunt"iparu as populações europeias não imunizadas, noutros tempos e locais.Miller(1972b).Consulta do Conselho Ultramarinosobre as coisas que fsltam no govemode Angolapara a suogovernação, c.l6l7,A.H.U.,Angola,cx. l.

180 OS IMBANGALAE OS PORTUGI,JESES

tropas auxiliaÍesafricanasìparacompensar a falta de homens e eqúpa-montos da Europa. Os tàlentos e a posição políticados Imbangalaconespondiamàs suas necgssidades em quase todos os aspectos. Tal comoos Pornrgueses, eles tiúa+ chegado à bacia do Kwanzacomo invasoresque viviamroubando os agriicultores locaisMbundu.Os Imbangala tiúamum forteincentivopaÍa c4pturarescravos a fimde serem utilizadosnoâmbito derituaisque envlolviam sacrifícios humanose, também, parasubstituiros guerreiros qpe tombavâm nas suas contínuas gueÍïas, e

OS PRIMEIROSCONTACTOS

Ylygltg_.9_gj(pgStr.Sela.s kilu,q7fie_, .O s Mbundu receavÍÌmos Imban-gala múto mais do que tinham receado os exércitos europeus, os quaisantes daquele lemponão se.tinham aventurado muitoalém do rioKwanzae de umas poucas posições fortificadasao longo das suas margens.2r Doponto de vista dos Mbundu,os Imbangala tiúam ajudado os Portuguesesa estabelecer um novoestado nas parcelas ocidentais do reino do ngola akiluanje.Do ponto de vista dos Portugueses, a participação dos Imbangalacomò mercenáriosna sua "conquistade Angola"tinha, providencialmente,

id í d

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únham desenvolvidoúctiqas militaresespecializadas, adaptadas a essespropósitos. O interesse dos Portugueses nestas mesmas especializações

resuÌtava do seu desejo de procurarescravos para exportarpara o Brasil.Era uma aliança naturalç, no tempo de Cardoso, cerca de dez anos(ou mais) passados sobre os primeirosenconfios, deve ter sido vista comoóbviapor todos, dadas as lições aprendidas com os primeiroscontactosPortugueses-Imbangala. Cardosoviuainda que a utlizaçãodos Imbangalacomo mercenáriosnas guerras do interior libertariaa magÍa guamição por-tuguesa para operações costeiÍas conffaKasanze e os traficantes ilegais deescravos."--',FCerca de 1612, tomou-seefectiva uml .allança formal"gnqq- "qs_Im qqd.g-g_g:Fgg:g gi'lEisa aliança resolveuqüase de imediatoosproblemas de Cardoso quanto à insuficiênciade meios para atacar os esta-dos africanos do interior,como ficoupatente nos vibrantes protestos do rei

do Kongo,ÁlvaroII.Queixava-se ele de que os Imbangala (ou "Jaga",como todas as fontes se lhes referem) estavam a"comer" muitosdos seussúbditos, assim fazendo delesas primeirasvítimasregistadas dessa novacombinação afro-europeia."Mglq-.r .up_g-qsg-.s_se _seguiram poÏgq_&pg_isjcerca de 1615,muitosgovemantes Mbundua sul do Bengo,que anterior-mËjrri-à'1Ìaüãfr-tqS {i$oà-autttfidâdepdfrugúesa,eStãï'âÊr a render-se em

_ggtsJqg-el9la das campaiúaq .que Cardoso éúrpreengèiã õom a ajuda dosmerãèn-áiïõí_tq"b.qngala.f'O -novos ,vaqgalgs Mbündü incluíamos mais-poderoios iitutúèìque ocupávam arnuaJuí tìiãgetiiïoKüaniã:K.àtuxi,õéIeritõidãS'ininasdè sal de Ndemba, na Kisama; o kasanje de Kakulu kax11gg_gg.:tu_fu_p_ró: nsq_{4W1jB$__q311lq1111b9,_gueguardavaoâ€es;so às lendárias "Montanhasda PÍata", imediatamente acimadas quedas do

r? Miller(1972a), pp. 567-8.r Carta de el-Reido Congo ÁlvaroIIao Papa, 27 Fev. 1613; Arch.Vat. Calfalonieri(Roma), t. 34,fls. 301 segs.; mencionado em L. Jadin e J. Cuvelier(1954),pp. 329-335. Os "Jaga" foram tam-bém referidos nas pp. 338, 344,351 e 423, em queixas que continuaram com certa regularidadeaolongo da década. A rcferência originaldeve dizer respeito à campanha de l6 I 2 contra os Dembos;ver Delgado (1948-55),II:34. Aprimeiraconfirmaçãode Cardoso sobre o uso que fez dos Im-bangala (sempre sob o nome de "Jaga") veio em 1615; ver Autode Banha Cardoso, l7 Ago.1615;A.H.U.,Angola, cx. l, doc.46.

" "Treslado dü aviso que mandou fazer o snõr. g.d' bento banha Cardozo, 2l Ago. 1615"; A.H.U.,Angola, cx. 1.

convertidouma situação desesperada num períodocaracterizado por bemsucedidas capturas de escravos e expansão tenitorial.

As fortespressões que motivaram os .Portugueses a estabelecer aaliança com os Imbangala,tiúam tidoas suas contrapartidasdo ladoImbangala, na amálgama de díspares instituiçõespolíticasque consútuíamo kilombodos makota Lunda.Face à centralização quase totalda autori-dade dentro do bando Imbangala,a aliança com gente de fora tornavà-seüriraperqpectiva átraente para os Imbangaladetentores de tïiulospen-na-ngntes que estavam em posição subordi_1ala. A limitadainformaçãodisponívelsobre a estrutura políticados Imbangalana primeiradécada doséculo dezassete 2 ajusta-se à hipótese de que um só rei, do tipokulembe,detiúa a única posição de poder, pennanente e autónoma, no seio dobando, enquanto todos os outros chefes detiúam ítulosde nomeação detipovunga. A estrutura formal do kilombodividiaos membros de cadabando do$Imbangala em cerca de doze secções distintas,cada uma das

-ggais sob a liderança do seu próprio"capitão".Estes regimentos viviamecombatiammais ou menos separadamente uns dos outros; doze entradasseparadas no acampamento guerreiroconjunto,uma para cada regimento,simbolizavamestas disúnções, ainda que todos se acolhessem ao mesmokilombopara efeitos de defesa.s

Os "capitães", provavelmente, eram detentores de útulos vunganomeados pelo únicorei dos Imbangala. Elese os regimentos que coman-davam tinhamsubstituído, como insútuiçõesbásicas da estrutura socialdos Imbangala,as liúagens côm que o grupo originaldos Lunda tinhacomeçado. Uma vez que esta estrutura não tiúa lugarpara os numerosostítulosperpétuos dos Lundae Cokwe,associados aos obsoletos grupos de

filiação,como as posições kota ol o kulaxíngo, os vários titularesnoAnónimo:"relaçâo",21 Out.l6l(5?);A.H.U., Angola,cx. l, doc. 172.Cana de AndréVelho da Fonseca a el-Rei,28 Fev. I ó l2; publicada em Brásio ( 1952-7 I ), VI:64-70i tambem emÁÁ,sér.I, III,nos. l9-21 (1937), 7l-90.Apenasexistembonsdadosparaadécadade l640lestesmerecerãoumaanálisepormenorizadanocapítuloseguinte.Battellin Ravenstein ( l90l ), pp. 28-91 isto está implícitona descrição de Battelldos doze capitlesque tinham vindodesde as remotas origens do bando, cada umcom a sua próprilsccçtro do tcunt.pâmento.

10

II

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