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UNIVERSIDADE INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕE S
CAMPUS DE ERECHIM
JOSIANE CARLA BAIOCCO
RELAÇÃO ENTRE A ÁLGEBRA APRENDIDA NA LICENCIATURA E
A ÁLGEBRA ENSINADA NA EDUCAÇÃO BÁSICA
ERECHIM
2010
1
JOSIANE CARLA BAIOCCO
RELAÇÃO ENTRE A ÁLGEBRA APRENDIDA NA LICENCIATURA E
A ÁLGEBRA ENSINADA NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Monografia apresentada para obtenção do título de Licenciado em Matemática, no Curso de Matemática, Departamento de Ciências Exatas e da Terra da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - Campus de Erechim.
Orientador: Prof. Hélia Valério Thibes
ERECHIM
2010
2
A minha família (Salete, Jandir e André) cujo amor
e auxílio me enriquecem a cada dia.
A minha orientadora (Prof. Hélia) pelo auxílio,
cuja amizade é um privilégio.
3
RESUMO
A álgebra é uma das disciplinas de maior importância dentro de nossa educação atual, ocupando papel de destaque dentro do cenário educacional. Infelizmente pode-se notar que muitos alunos possuem certas restrições quanto à aprendizagem desta disciplina, tratando-a como uma mera mistura de letras e números. Através do resgate histórico da função que a Álgebra exercia antigamente e que a mesma exerce sobre a educação atual, percebemos o quanto esta precisa estar relacionada com situações que envolvam o dia a dia. As Licenciaturas em Matemática devem levar em consideração especialmente o ensino de temas que estejam ligados ao que o futuro educador ensinará na Educação Básica, enfatizando neste sentido a relação que o ensino de Álgebra das Licenciaturas possui com a Álgebra do Ensino Fundamental e Médio. A utilização de atividades que façam com o que o aluno estabeleça uma relação da álgebra da escola com a álgebra do dia a dia, torna-se de extrema importância. Isso pode ser verificado principalmente na resolução de problemas que possibilitam ao aluno uma melhor compreensão do mundo em que vive, assim como uma melhor relação dos cálculos algébricos com as situações problema evidenciadas no cotidiano.
Palavras-chave: Álgebra. Pensamento Algébrico. Resolução de Problemas.
4
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 5
2 HISTÓRIA E INVESTIGAÇÃO MATEMÁTICA NO DESENVOLVIM ENTO
DO PENSAMENTO ALGÉBRICO ..............................................................................
7
2.1 UM POUCO DA HISTÓRIA.................................................................................... 7
2.2 AS INVESTIGAÇÕES MATEMÁTICAS NO DESENVOLVIMENTO DO
PENSAMENTO ALGÉBRICO.......................................................................................
9
3 ORIENTAÇÕES CURRICULARES NACIONAIS (PCN) PARA A
LICENCIATURA EM MATEMÁTICA .....................................................................
13
3.1 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO
FUNDAMENTAL E MÉDIO..........................................................................................
13
3.2 ORIENTAÇÕES CURRICULARES NACIONAIS PARA A LICENCIATURA
EM MATEMÁTICA.........................................................................................................
15
4 A ÁLGEBRA APRENDIDA NAS LICENCIATURAS E A ÁLGEBRA DO
ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO .......................................................................
17
5 EDUCAÇÃO ALGÉBRICA E RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS ...................... 24
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 30
REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 33
5
1 INTRODUÇÃO
Segundo Bussmann e Savioli (2008) uma das grandes questões enfocadas na formação do
professor é a ausência de articulação entre a formação específica e a formação pedagógica
para sua futura prática profissional. Os professores são agentes de mudanças, mas para que
estas ocorram, muitas são as questões enfatizadas para esta transformação. É preciso saber o
que se precisa para saber ensinar, que saberes devem ser aprendidos ou constituídos para
ensinar e que saberes são necessários para constituir novas práticas avaliativas que permitam
identificar avanços, dificuldades e possibilidades para reconstrução das aprendizagens dos
alunos.
A aprendizagem matemática envolve muitas variáveis que ultrapassam as questões
cognitivas, ancorando-se, muitas vezes, nas questões de uso estabelecidas nas relações de
convivência. Geralmente na Licenciatura em Matemática, um elemento importante é o
“conteúdo” que, na maioria das vezes, é visto como autônomo dentro do processo de
formação de professores.
Deveria ter-se uma conexão entre conteúdo específico e conteúdos pedagógicos. Assim os
conteúdos algébricos, que de uma forma ou de outra o professor se depara no seu trabalho na
Educação Básica, são vistos de forma isolada e aparecem em muitas das disciplinas no curso
de Matemática. É justamente nestes tópicos algébricos que se verifica um distanciamento
maior entre a formação específica e a formação pedagógica.
Fundamentando-se nesta necessidade de entender quais relações se estabelecem entre a
Álgebra aprendida no Curso de Licenciatura em Matemática e a Álgebra ensinada no Ensino
Fundamental e Médio, que esta monografia está sendo realizada. Tendo por objetivos analisar
e verificar quais são estas relações estabelecidas e identificar as perspectivas dos Parâmetros
Curriculares Nacionais para o ensino de Álgebra.
Nesta perspectiva, este trabalho está organizado em quatro capítulos, os quais enfatizam
temas importantes para um trabalho algébrico de qualidade. O seu primeiro capítulo traz uma
retomada sobre a história e investigação matemática no desenvolvimento do pensamento
algébrico, enfatizando como esta disciplina é importante no cenário educacional. Em seu
6
segundo capítulo enfoca a ideia dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino
Fundamental, Médio e as Orientações Curriculares Nacionais para a Licenciaturas em
Matemática. No terceiro capítulo encontramos a relação estabelecida entre a Álgebra
aprendida nas Licenciaturas em Matemática e a Álgebra do Ensino Fundamental e Médio. Por
fim, em seu último capítulo apresenta a relação da Álgebra com a resolução de problemas e a
importância deste ao aprendizado dos alunos.
“O estudo da Álgebra constitui um espaço bastante significativo para que o aluno
desenvolva e exercite sua capacidade de abstração e generalização.” (BRASIL, 98, p.15)
7
2 HISTÓRIA E INVESTIGAÇÃO MATEMÁTICA NO DESENVOLVIM ENTO DO
PENSAMENTO ALGÉBRICO
Ao tratarmos de um tema de suma importância para a comunidade educacional
matemática, como as investigações matemáticas no desenvolvimento do pensamento
algébrico, torna-se imprescindível remontarmos inicialmente a história desta ciência que por
muitos é tratada apenas como uma mistura de letras em meio aos números sem muitos
significados, porém poucos consideram realmente a sua utilidade e seu grande papel dentro da
Matemática.
2.1 UM POUCO DA HISTÓRIA
A Educação Matemática compreende o estudo das relações de ensino e aprendizagens
matemáticas dentro do contexto educacional. As primeiras manifestações matemáticas
ocorreram no período paleolítico e estavam ligadas as necessidades das práticas impostas pelo
contexto social, até que seu ensino começou a ter um desenvolvimento independente. Passou
por vários períodos, desde o que a tratavam como uma ciência destinada apenas aos nobres,
aos que a consideravam fundamental para a formação dos indivíduos. Junto a Matemática
estiveram presentes as suas diversas áreas como Geometria, Cálculo e Álgebra, esta última a
qual se torna nossa referência de pesquisa.
Conforme Miorin (1998) durante muito tempo, a Álgebra foi considerada a parte da
Matemática que estuda as operações entre números, principalmente a resolução de equações.
Se levarmos em consideração que esta se inicia a partir do desenvolvimento da escrita,
podemos dizer que sua origem é tão antiga quanto à história da humanidade.
As origens da Álgebra fazem referência a antiga Babilônia onde se desenvolveu um
sistema aritmético avançado com o qual os babilônios puderam realizar os cálculos
algébricos, aplicando fórmulas e calculando soluções para incógnitas, esses cálculos são o que
hoje chamamos de equações lineares, quadráticas e indeterminadas. Os povos gregos,
egípcios, indianos e chineses dessa era, utilizavam para estes cálculos métodos
8
geométricos, como uso de papiros e tabuletas de argila, que após deram a base para a
generalização de novas fórmulas, como cita Lins e Gimenez (2001) no trecho abaixo:
[...] começamos com os babilônios e os egípcios (cerca de 1700 a.C.) que desenvolveram regras eficientes para cálculos vários e para a resolução de problemas, embora não tenham desenvolvido notação alguma para apresentar essas regras de forma geral [...] (LINS e GIMENEZ, 2001, p.91)
De acordo com Lauand (2003), a Álgebra surgiu no Califato de Abássida, no seio da
“Casa da Sabedoria” de Bagdá, ciência nascida na língua árabe e criada por Al-khwarizmi.
Muhammad Ibn Musa Al-Khwarizmi foi membro da ‘Casa da Sabedoria’ e alcançou seu
esplendor sob Al-Ma’amun (califa de 813 a 833 a.C ou d.C?). A este, Al-khwarizmi dedicou
Al-kitab al-muhtasar fy hisab al-jabr wa al-muqabalah – livro breve para o cálculo de jabr
(redução – ‘força que obriga a entrar no devido lugar’) e da muqabalah (estar frente a frente) ,
o livro básico sobre cálculos por transposição e redução. Este livro é considerado como o
livro fundador da álgebra, que constituía um trabalho extremamente didático e com o objetivo
de ensinar soluções para os problemas matemáticos cotidianos de então.
A palavra Al-jabr significa reunião, conexão ou complementação, a reunião das partes
quebradas, ou analogamente, forçar cada termo a ocupar o seu devido lugar. Para um
contemporâneo de Al-khwarizmi era evidente a aplicação prática da Álgebra, entendia que
através da criação desta ciência, sua preocupação fundamental era a de atender à necessidade
da comunidade muçulmana de equacionar as prescrições do Alcorão para os problemas de
partilha de herança, naturalmente de extremo interesse da comunidade.
Devido ao significado da palavra al-jabr, este era muitas vezes utilizado para designar
outras situações. Como por exemplo, quando os mouros levaram a palavra para a Espanha,
seu significado enfatizava um algebrista que por sua vez era um restaurador ou alguém que
consertava ossos quebrados, este é citado por Miguel de Cervantes em Dom Quixote falando
de um algebrista que atendeu ao infeliz Sansão. Ou em certo tempo era comum ver em placas
de barbearia as palavras “Algebrista e Sangrador”.
Ao longo de seu desenvolvimento na história, a Álgebra percorreu diversos caminhos até
chegar ao século XIX, onde começaram a surgir as estruturações dos conjuntos numéricos dos
inteiros e racionais, e após os irracionais e reais. A estrutura destes números exigiu o
desenvolvimento de axiomas de estruturas operatórias, surgindo após as estruturas de grupo e
9
corpo, através de trabalhos de Galois, e ideal e anel, por Ernest Eduard Krummer (1810 -
1893) e Souza (2004).
Quem estuda a história da Álgebra e da Matemática propriamente dita, observa que a
busca de soluções para problemas cotidianos e para dúvidas não resolvidas, nos leva a uma
série de descobertas e construções que são ampliadas ao longo do tempo. A história nos volta
há tempos antigos, onde os conhecimentos, as fórmulas, entre outros, foram constituídos
através de problemas e soluções para o dia a dia. O que conhecemos hoje sobre Álgebra e a
Matemática é fruto do trabalho de matemáticos e filósofos que tornaram possíveis, através de
suas descobertas, a melhoria de sua vida e também da sociedade.
2.2 AS INVESTIGAÇÕES MATEMÁTICAS NO DESENVOLVIMENTO DO
PENSAMENTO ALGÉBRICO
Observar os alunos felizes e apreciando suas novas descobertas e invenções, é algo
extremamente gratificante para o professor, independente da série que este esteja trabalhando.
A possibilidade de trazer para as aulas de matemática uma forma atraente e motivante ao
aluno é uma das grandes preocupações que a maioria dos professores questiona-se ao preparar
uma aula. As investigações matemáticas são uma forma de levar os alunos à busca por
descobertas, soluções, conjecturas e de explorar idéias e pensamentos muitas vezes deixados
de lado no conteúdo propriamente dito.
Lins e Gimenez (2001) afirmam que:
[...] as propostas para sala de aula não são nunca “neutras” ou “ingênuas” em relação a pressupostos de toda ordem: relativos à natureza do processo cognitivo, relativos à natureza dos objetos que ali são apresentados ou relativos a concepções de conhecimento, para citar apenas alguns aspectos envolvidos. (LINS e GIMENEZ, 2001, p.105).
Mas ao tratarmos de um tema tão relevante é necessário que entendamos seu significado,
pois as investigações matemáticas diferenciam-se de explorações. De acordo com Ponte
(2003, apud FIORENTINI, FERNANDES e CRISTOVÃO, 2004) as explorações necessitam
de um tempo relativamente pequeno, são utilizadas para a introdução de conteúdos ou para a
problematização e produção de significados para um determinado conceito. Já as
10
investigações matemáticas necessitam de um tempo maior, podendo variar de dias até um
semestre, e consideram quatro momentos: a exploração e formulação de questões
investigativas, a organização de dados e construção de conjecturas, a realização de testes,
refinamentos e sistematização das conjecturas e a construção de justificativas, argumentações
ou demonstrações, tendo como meta a validação dos resultados.
Em suma as investigações matemáticas são situações-problema desafiadoras e abertas, que
permitem aos alunos realizar de várias formas investigações e descobertas, assim o aluno é
chamado a agir como um matemático, na busca, apresentação, discussão e argumentação dos
resultados com seus colegas e professores.
Fiorentini, Fernandes e Cristovão (2004) afirmam que:
O estudo desenvolvido com utilização de investigações matemáticas, mostra que é um contexto rico de mobilização e desenvolvimento do pensamento algébrico dos alunos, apresentando indícios de que as investigações matemáticas apresentam um momento rico e desafiador de aprendizagem, tanto para alunos quanto para professores. (FIORENTINI, FERNANDES E CRISTOVÃO, 2004, p.1)
De acordo com Fiorentini, Miorim e Miguel (1993, apud FIORENTINI; FERNANDES e
CRISTOVÃO, 2004) há três concepções de educação algébrica que vem exercendo maior
influência no ensino de matemática elementar. A primeira conhecida como Linguístico-
pragmática predominante no século XIX e metade do século XX, entendia que o papel do
ensino da Álgebra era fornecer um instrumento técnico para a resolução de equações ou
problemas equacionáveis. Para o aluno adquirir esta capacidade era necessário inicialmente,
mesmo que de forma mecânica, dominar as técnicas requeridas pelo transformismo algébrico.
O currículo de Álgebra tinha como ponto de partida o Cálculo Literal (quatro operações
envolvendo expressões algébricas) desenvolvido através de exercícios de fixação, a fim de
capacitar os alunos no manejo das mesmas. A segunda concepção, a fundamentalista-
estrutural, predominante em 1970 e 1980, tinha por base as propriedades estruturais, servindo
para fundamentar e justificar as passagens do transformismo algébrico. Entendia que o papel
do ensino de Álgebra era fornecer fundamentos lógico-matemáticos para toda a matemática
escolar, através da introdução dos campos numéricos, teoria dos conjuntos, estruturas e
propriedades, entre outros. A terceira concepção, fundamentalista-analógica, tenta recuperar o
valor instrumental da Álgebra e preserva a preocupação fundamentalista só que não com base
11
em propriedades estruturais e sim no uso de modelos analógicos ou físicos que visualizam ou
justificam as passagens do transformismo algébrico.
Porém, segundo Fiorentini (1993, apud FIORENTINI; FERNANDES e
CRISTOVÃO, 2004):
O ponto problemático e comum entre essas três concepções, é que elas praticamente reduzem o ensino da álgebra aos seus aspectos lingüísticos e transformistas, dando mais ênfase à sintaxe da linguagem algébrica que ao pensamento algébrico e seu processo de significação (a semântica). Em outras palavras, as três concepções enfatizam o ensino de uma linguagem algébrica já constituída, priorizando o domínio, por parte do aluno, de habilidades manipulativas das expressões algébricas. Além disso, a álgebra não se reduz a um instrumento técnico-formal que facilita a resolução de certos problemas. Ela é, também, uma forma específica de pensamento e de leitura do mundo. (FIORENTINI, 1993, apud FIORENTINI, FERNANDES E CRISTOVÃO, 2004, p.3)
Essas diferentes concepções nos fazem repensar o ensino da álgebra utilizando como foco
a relação entre o pensamento e a linguagem. Para muitos o pensamento algébrico só se
manifesta através de cálculos ou da linguagem simbólica utilizada na Álgebra.
Pensar algebricamente é produzir significados para situações em termos de números e operações aritméticas (e igualdades ou desigualdades) e com base nisso transformar as expressões obtidas operando sempre com as três características fundamentais: produzir significados apenas em relação a números e operações aritméticas (chamamos a isso aritmecismo), considerar números e operações apenas segundo suas propriedades e não “modelando” números em outros objetos (chamamos a isso internalismo) e operar sobre números não conhecidos como se fosse conhecidos (chamamos a isso analiticidade). (LINS e GIMENEZ, 2001, p.151).
O pensamento algébrico refere-se especialmente a simbolização, utilização e resolução de
situações matemáticas, utilizando símbolos algébricos ao estudo de estruturas (compreender
funções e relações) e modelação, implica em conhecer, compreender e utilizar esses símbolos
para representar o problema matematicamente, aplicar os procedimentos e saber avaliar os
resultados obtidos. (BARBOSA e BORRALHO, 2010)
O pensamento algébrico pode ser desenvolvido gradativamente, antes mesmo da
existência de uma linguagem algébrica simbólica, ligada também as noções aritméticas e a
12
forma como as mesmas são ensinadas. Isso acontece especialmente nos primeiros anos de
escolarização, quando a criança estabelece relações e comparações entre expressões
numéricas ou padrões geométricos; percebe e tenta expressar as estruturas aritméticas de uma
situação problema; produz mais de um modelo aritmético para uma mesma situação-
problema; ou produz vários significados para uma mesma expressão numérica; interpreta uma
igualdade como equivalência entre duas grandezas ou entre duas expressões numéricas;
transforma uma expressão aritmética em outra mais simples; desenvolve algum tipo de
processo de generalização; percebe e tenta expressar regularidades ou invariâncias;
desenvolve e cria uma linguagem mais concisa ao expressar-se matematicamente. Ao longo
dos anos o desenvolvimento do pensamento algébrico e as novas noções algébricas irão sendo
aprimoradas e seu nível de dificuldade começa aumentar gradativamente. (FIORENTINI,
FERNANDES e CRISTOVÃO, 2004)
Para a realização de tarefas investigativas não existe regra, nem um manual que ensine
como criá-las. Elas são construídas juntamente com a colaboração do olhar e auxílio do outro,
um processo que só se aprende tentando. As investigações exploratório-investigativas
proporcionam um contato maior entre os alunos e o resultado que se propõem alcançar, é a
maneira de chamar a atenção destes para algo que lhes desperte o interesse, levando-os a
pensar genericamente, perceber irregularidades e exemplificá-las através de estruturas ou
expressões matemáticas, podendo ser uma alternativa de relacionamento do pensamento com
a linguagem algébrica.
Através da interação dos alunos com as atividades investigativas, estes passam a dar mais
significado à Matemática, experimentando outra relação com a mesma, uma relação mais
prazerosa de aprendizagem e motivação. Um momento em que os professores observaram os
alunos produzindo e vibrando com suas conclusões, realizando um aprendizado mais
significativo e concreto para algo que consideravam abstrato.
13
3 ORIENTAÇÕES CURRICULARES NACIONAIS (PCN) PARA A L ICENCIATURA
DE MATEMÁTICA
A educação torna-se cada vez mais, papel fundamental no desenvolvimento das pessoas e
de uma sociedade, sendo foco em muitas discussões acerca de melhorias no sistema
educacional, na forma de educar e em como os educandos estão tratando essa educação.
Vivemos em um momento onde as tecnologias e os progressos científicos estão cada vez mais
presentes exigindo dos jovens um maior empenho para a conquista no mercado de trabalho.
3.1 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL
E MÉDIO
A qualidade da escola é condição essencial de inclusão e democratização de
oportunidades, o desafio de oferecer uma educação de qualidade a todos não é tarefa apenas
de poucos, mas de todos nós. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) enfatizam a
importância de nossa educação para o desenvolvimento de uma sociedade, e são ferramentas
necessárias para o diálogo entre o professor e escola sobre a prática docente.
O papel fundamental da educação no desenvolvimento das pessoas e das sociedades amplia-se ainda mais no despertar de cada milênio apontando para a necessidade da construção de uma escola voltada para a formação de cidadãos. (BRASIL, 1998, p. 5)
Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática (1998) tem como finalidade
[...] fornecer elementos para ampliar o debate nacional sobre o ensino nesta área do conhecimento, socializar informações e resultados de pesquisa, levando-os ao conjunto dos professores brasileiros. Visam a construção de um referencial que oriente a prática escolar de forma a contribuir para que toda a criança e jovem brasileiro tenham acesso a um conhecimento matemático que lhes possibilite de fato
14
sua inserção, como cidadão, no mundo do trabalho, das relações sociais e da cultura. Norteando a formação inicial e continuada dos professores. (BRASIL, 1998, p. 15)
Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de Matemática
enfatizam principalmente a necessidade de um trabalho que transmita significado ao aluno
sobre o conteúdo enfatizado. Buscando evidenciar o ensino da Álgebra no currículo
educacional, os PCNs enfatizam que este estudo compreende um espaço bastante significativo
para que o aluno desenvolva e exercite sua capacidade de abstração e generalização, sendo
uma poderosa ferramenta na resolução de situações problemas. (BRASIL, 1998)
Embora nas séries iniciais do Ensino Fundamental o ensino de Álgebra já se encontra
presente juntamente com o ensino de aritmética, é nas séries finais do ensino fundamental que
as atividades algébricas serão ampliadas, com a exploração de situações-problemas que farão
com que os alunos reconheçam as diferentes funções da Álgebra e representem problemas por
meio de equações e inequações.
No ensino fundamental o conteúdo explorado sobre Álgebra engloba reconhecer que as
representações algébricas permitem representar generalizações, propriedades, interpretar
tabelas e gráficos, reproduzir estratégias de cálculo, representar situações-problemas, produzir
e interpretar diferentes escritas algébricas, observar regularidades e estabelecer leis
matemáticas que expressem relação entre as variáveis. Em continuidade os alunos passam ao
Ensino Médio onde as noções formais destes conceitos serão mais ampliadas.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (2006):
Ao final do ensino médio espera-se que os alunos saibam usar a Matemática para resolver problemas práticos do cotidiano; compreendem que a Matemática é uma ciência com características próprias que se organiza via teoremas e demonstrações; percebam a Matemática como um conhecimento social e historicamente construído; saibam apreciar sua importância no desenvolvimento cientifico e tecnológico. (BRASIL, 2006, p. 69)
No ensino médio o trabalho com matemática volta-se aos conceitos de Números e
Operações, Funções (dadas de forma algébrica), Geometria, Análise de dados e Probabilidade,
sendo que estes não devem ser trabalhados isoladamente, mas sim realizando sempre que
possível uma ligação entre os mesmos.
15
A ligação realizada entre os conteúdos matemáticos do Ensino Médio busca a
interdisciplinaridade dos conteúdos, retomando ideias do ensino fundamental, necessária para
a construção de um novo conhecimento. De acordo com os PCNs (2006) a ampliação e o
aproveitamento da explicitação da estruturação lógica da Matemática são necessárias para o
aluno, devendo-se valorizar o pensamento matemático (intuição, imaginação, raciocínio
indutivo e lógico-dedutivo) e fornecer a construção progressiva do método dedutivo em
Matemática.
3.2 ORIENTAÇÕES CURRICULARES NACIONAIS PARA A LICENCIATURA EM
MATEMÁTICA
As aplicações e a utilização da Matemática tem se expandido cada vez mais atualmente,
porém muitas vezes nos questionamos qual a relação de alguns dos conteúdos ensinados no
curso de licenciatura em Matemática com os conteúdos trabalhados no Ensino Fundamental e
Médio.
Inicialmente precisamos ter em mente que existem os Cursos de Bacharelado em
Matemática e os Cursos de Licenciatura em Matemática, esse último o qual estaremos
enfatizando neste capítulo. Os Cursos de Bacharelado destinam-se a preparar profissionais
habilitados para o mercado de trabalho de ensino superior e pesquisa, enquanto os Cursos de
Licenciatura tem como objetivo a formação de professores para a educação básica. Estes
cursos preparam profissionais qualificados para atuarem, além das áreas de ensino, em outras
posições no mercado de trabalho fora do ambiente acadêmico, pois despertam habilidades e
competências desenvolvidas ao longo de sua formação, como raciocínio lógico, postura crítica
e capacidade de resolução de problemas, já que estes são também ferramentas necessárias em
outras áreas de nossa sociedade. (Brasil, 2001)
As Orientações Curriculares Nacionais para os Cursos de Matemática Bacharelado e
Licenciatura (2001) afirmam que:
Ao chegar à universidade o aluno já passou por um longo processo de aprendizagem escolar e construiu para si uma imagem dos conceitos matemáticos que foi exposto durante o ensino básico. Assim a formação do matemático demanda o aprofundamento da compreensão dos significados dos conceitos matemáticos, afim de que ele possa contextualizá-lo adequadamente. É preciso que estes
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conhecimentos também sejam considerados ao longo de sua formação como professores. (BRASIL, 2001, p. 4)
De acordo com Brasil (2001) o curso de Licenciatura em Matemática deve garantir que
seus egressos tenham uma visão de seu papel social como educador e capacidade de se inserir
em diversas realidades; visão de contribuição que a aprendizagem da Matemática possa
oferecer a formação dos indivíduos como cidadãos; visão de que o conhecimento matemático
pode e deve ser acessível a todos e consciência de superação dos papéis exercidos pela
Matemática na visão de muitos alunos.
O acadêmico em Matemática deverá possuir ao longo e ao final do curso, competências e
habilidades tais como: as capacidades de selecionar e produzir materiais didáticos adequados
e eficientes para o ensino; elaborar e analisar criticamente propostas curriculares de ensino
aprendizagem; desenvolver estratégias de ensino que favoreçam o desenvolvimento do aluno
em todas as suas capacidades cognitivas e intelectuais no estudo de matemática; perceber a
prática dinâmica como um processo onde os conhecimentos podem ser gerados e modificados
continuamente, de acordo com as necessidades, do meio e dos educandos em questão, e
contribuir para a realização de projetos de ensino. Ao educador matemático cabe também a
visão global dos conteúdos para uma significativa aprendizagem dos alunos, partindo dos
conhecimentos, representações e aprendizagens já adquiridos e demonstrados pelos mesmos.
Alguns dos conteúdos ensinados nas Licenciaturas em Matemática são comuns a todos os
cursos de Licenciaturas, podendo estes, serem distribuídos ao longo de cada curso de acordo
com o currículo proposto pelo Instituto de Ensino Superior (IES). Podemos citar nesta linha, o
Cálculo Diferencial e Integral, a Álgebra Linear, Fundamentos da Análise, Fundamentos da
Álgebra, Fundamentos da Geometria e Geometria Analítica. A parte comum deve ainda
incluir os conteúdos da Educação Básica nas áreas de Álgebra, Geometria e Análise; os
conteúdos das áreas afins de Matemática e conteúdos de Ciência da Educação, da História,
Filosofia da Ciência e da Matemática. (BRASIL, 2001)
Para a Licenciatura serão incluídos, no conjunto dos conteúdos profissionais, os conteúdos da Educação Básica, consideradas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores em nível superior, bem como as Diretrizes Nacionais para a Educação Básica e para o Ensino Médio. (BRASIL, 2001, p. 6)
17
Torna-se necessário, principalmente nos dias atuais onde as escolas estão cada vez mais
informatizadas, a familiarização com o uso de tecnologias, softwares e outros mecanismos
que possam tornar o ensino mais eficaz e atraente ao aluno. Nos cursos de Licenciatura estão
presentes além de trabalhos, artigos, participação em atividades, monografias e construção de
jogos e atividades, os estágios que possibilitam aos futuros educadores um maior contato e
aproximação com os mecanismos de ensino e com a realidade encontrada nas diferentes
escolas de atuação, sendo guiados por profissionais atuantes e com conhecimentos necessários
para o crescimento e aprimoramento de cada educando.
18
4 A ÁLGEBRA APRENDIDA NA LICENCIATURA E ÁLGEBRA DO EN SINO
FUNDAMENTAL E MÉDIO
Ao refletirmos sobre as atividades do mundo atual, observamos como a matemática esta
presente no nosso dia a dia, podendo encontrá-la nas mais diferentes atividades da vida
humana. Muitas dessas atividades requerem em certos momentos um conhecimento mais
específico voltado a determinados assuntos à medida que avançamos nossas relações sociais e
de produção. Em um mundo científico - tecnológico, são necessários conhecimentos
matemáticos voltados, por exemplo, a funções ou análise de gráficos, e para o
desenvolvimento dessas atividades observamos a necessidade de termos além de
conhecimentos voltados a área de cálculos, àqueles que evidenciam assuntos algébricos e ao
desenvolvimento de conjecturas que busquem alcançar o resultado procurado.
As atividades matemáticas no mundo atual requerem, desde os níveis mais básicos aos mais complexos, a capacidade de contar coleções, comparar e quantificar grandezas e realizar codificações. Ainda nesse campo, convém lembrar a necessidade de se compreender os vários significados e propriedades das operações fundamentais e de se ter o domínio dos seus algoritmos. Saber utilizar o cálculo mental, as estimativas em contagens, em medições e em cálculos e conseguir valer-se da calculadora são outras capacidades indispensáveis. Tais competências podem ser associadas a aritmética, a álgebra, e a combinatória, mas evidentemente, não são as únicas a serem visadas. (BRASIL, 2007, p. 15)
É imprescindível hoje, dentro de nosso meio social e especialmente dentro do meio
escolar, a importância que o ensino de Matemática tem perante a formação dos educandos, e
por conseqüência o ensino de álgebra. A Álgebra é um dos elementos fundamentais para a
formação do futuro professor de Matemática, porém a mesma torna-se muitas vezes, como um
temido conteúdo a ser ultrapassado, ou apenas uma disciplina que busca inserir letras no lugar
de números para obter valores desconhecidos, sem muita utilidade. Poucos são os estudantes
que entendem o papel da variável no desenvolvimento do pensamento algébrico e muitos se
formam sem reconhecer os papéis que esta variável pode assumir (incógnita, parâmetro e
variável propriamente dita).
19
A linguagem algébrica envolve muitas etapas, a percepção de regularidades que leva a
criação de modelos simbólicos, e a capacidade de traduzir simbolicamente situações
problemas de nosso dia a dia devem ser gradativamente desenvolvidos de modo a se chegar
ao uso pleno da linguagem e das técnicas da álgebra. Outra função importante desenvolvida
pela álgebra está relacionada ao uso da linguagem algébrica que constituem - se propriedades
de outros campos da matemática. (BRASIL, 2007)
House (1995, apud BUSSMANN e SAVIOLI, 2008) ainda afirma que:
[...] há muito tempo a álgebra desfruta de um lugar de destaque no currículo de Matemática, representando para muitos alunos tanto a culminação de anos de estudo de aritmética como o início de mais anos de estudo de outros ramos da Matemática. Poucos contestam sua importância, embora muitos só tenham noções superficiais de seu significado e seu alcance. (HOUSE, 1995, p.1, apud BUSSMANN e SAVIOLI, 2008)
Para Souza (2009) existe uma dificuldade muito grande em achar professores para
lecionar a disciplina de Álgebra nos cursos de Licenciatura em Matemática. E quando o
professor apresenta esta matéria, a resistência dos alunos é ainda maior. O título geral de
Álgebra acaba compreendendo diversas disciplinas, como por exemplo: teoria dos conjuntos,
teoria dos números, Álgebra Linear, entre outras. Embora sua essência aponte para estruturas
operatórias, que obviamente, se juntam a outros elementos para constituir os diversos
"objetos" matemáticos.
A Álgebra está presente desde o início de nosso Ensino Fundamental, principalmente na
resolução de problemas, onde desde as crianças a utilizam, por exemplo, substituindo os
“quadradinhos” por valores ou letras que podem ocupar este lugar na atividade. Mediante esse
tipo de exercício os alunos são inseridos no mundo algébrico sem mesmo estarem conscientes
da própria Álgebra. De forma geral os professores desenvolvem desafios e situações
problemas que envolvem a ideia de “incógnita” onde os alunos são desafiados a descobrir
quais valores poderiam substituir determinada letra. A ideia de pensamento algébrico se
manifesta também na utilização de letras para representar situações matemáticas de forma
geral, constituindo assim, por exemplo, uma fórmula geral para uso em determinada
atividade.
De acordo com Moura e Souza (2004, p. 8) “o conteúdo algébrico representa algo em
torno de 50% do currículo dos Ensinos Fundamental e Médio e ao que parece muitos dos
20
alunos não compreenderam ainda que o pensamento algébrico compreenda modos de pensar
os movimentos do nosso viver”.
Perante este pouco interesse desenvolvido pelos alunos em relação à Álgebra, nos
perguntamos se o problema está compreendido no modo como esta é ensinada e na relação
com que os professores tem com esta matéria, ou nos próprios conteúdos que são ensinados
nas Licenciaturas em Matemática e na forma como estes estão ligados com a realidade do
Ensino Fundamental e Médio.
Há uma forte razão para se acreditar que as concepções dos professores sobre os conteúdos e seu ensino desempenham um papel importante no que se refere à sua prática pedagógica como mediadores do processo ensino-aprendizagem e entre o conteúdo e os alunos. Mas, muito pouco ainda é conhecido sobre o papel que estas concepções podem exercer e implicar na sua prática. A prática docente, comum aos professores que ensinam álgebra elementar, mostra-se contaminada por um ensino tradicionalista, sem preocupação para com o contexto dos alunos, com as suas experiências e sem levar em conta, principalmente, o apelo a situações do cotidiano no desenvolvimento dessa aprendizagem. Importa apenas o acúmulo de conteúdo para cumprir um programa extenso. Dessa forma, a reprovação às vezes chega a ser em massa, não dando chance ao aluno de perceber/estabelecer relações entre os conteúdos assimilados, ou simplesmente aprendidos para fazer as avaliações exigidas no dia-a-dia da sala de aula. ( SANTOS, 2007 p. 1e 2)
No Curso de Matemática têm-se as disciplinas de Introdução à Álgebra, Álgebra Linear e
Fundamentos da Álgebra. Essas disciplinas sofrem críticas, pois os estudantes não fazem
conexão entre seus conteúdos e os conteúdos de Álgebra a serem ministrados no Ensino
Médio e Fundamental. Com isso observa-se que para muitos essas disciplinas não se mostram
essenciais. O fato da Álgebra vista no ensino superior não ter aplicações imediatas de seus
tópicos assim como acontece em outras disciplinas como Cálculo, Equações Diferenciais,
Geometria Diferencial, etc., faz com que esta tenha tanta rejeição. “O estudo da Álgebra nos
cursos superiores envolve estruturas como grupos, anéis, domínio de integridade, corpos e
espaços vetoriais. Isso parece ter pouca semelhança com a Álgebra do segundo grau”
(USISKIN, 1995, p.17-18 apud BUSSMANN e SAVIOLI, 2008, p.3).
Mas quem são os responsáveis pela realização desta conexão entre os conteúdos
algébricos ensinados nas Licenciaturas e os conteúdos trabalhados no Ensino Fundamental e
Médio. Poucas pesquisas enfatizam realmente este tema que por sua vez é muito questionado
pelos educandos quando se deparam com situações que parecem não lhe serem utilizáveis
após.
21
Segundo Moreira (2005, apud BUSSMANN e SAVIOLI, 2008)
[...] a maioria dos professores da área específica argumenta que é responsabilidade dos professores da área pedagógica realizar esta conexão, e da mesma forma os professores da área pedagógica argumentam que os professores da área específica é que são responsáveis por isso. O que se nota é que nenhuma das partes estabelece tal conexão, os professores das áreas específicas, em um contexto geral, preocupam-se com o conteúdo a ser ensinado enquanto os professores da área pedagógica, também em um contexto geral, preocupam-se em ensinar metodologias que possam ajudar o futuro professor em uma sala de aula, pouco fazendo com os conteúdos pedagógicos. Obviamente que existem exceções, isto é, professores que realizam reflexões com seus alunos envolvendo tanto a parte específica como a parte pedagógica. (MOREIRA, 2005, apud BUSSMANN e SAVIOLI, 2008, p. 5)
Pesquisadores evidenciam certa preocupação em relação à aprendizagem em nível
superior. Observações cuidadosas mostram que ao falar sobre a didática relativa ao ensino da
Matemática encontramos alunos que superam barreiras para se engajar na aprendizagem.
Quando assumimos um compromisso de estarmos à frente de uma sala de aula sabemos da
complexidade que esta atividade exige, pois precisamos fazer com que o educando produza
um saber relativo ao saber instituído. (CURY, 2001)
Muitos dos acadêmicos consideram que a Álgebra ensinada nas Licenciaturas está longe
da Álgebra que será ensinada durante o Ensino Fundamental e Médio, porém muitos se
esquecem do que é trabalhado na Educação Básica sobre Álgebra, pensando somente nas
explicações mais complexas e aplicadas a qual aprendem. Durante o Ensino Fundamental as
crianças estão em contato com a Aritmética que por sua vez leva consigo os conhecimentos
algébricos, que após serão explorados e trabalhados. Ao trabalhar com situações problemas e
com a substituição de números por letras em fórmulas gerais, os alunos entram em contato
com a Álgebra propriamente dita.
Assim, de acordo com Santos (2007), o ensino de Álgebra deve considerar a construção
guiada de ferramentas conceituais e representacionais que permitem ao estudante usar a
álgebra como instrumento de resolução ou reconstrução de problemas.
Durante todo o percurso escolar os conceitos matemáticos são aprendidos e ampliados de
acordo com o nível de entendimento destinado a cada série e é na vida acadêmica que os
conhecimentos adquiridos inicialmente são agora ampliados de forma mais ampla e
complexa, desvendando conceitos e soluções antes desconhecidas ou não aprendidas durante
a fase inicial da vida escolar. O mesmo acontece com os conteúdos algébricos, ao longo dos
22
anos escolares aprendemos conhecimentos necessários para aquela etapa da vida, ao chegar à
vida acadêmica os conteúdos são mais complexos, o que fazem muitas vezes da Álgebra, esta
disciplina tão temida, e que para muitos não apresenta relação com o que aprendemos antes,
no Ensino Fundamental e Médio.
Enfatizando essa relação entre a álgebra da licenciatura e a álgebra do ensino
fundamental e médio podemos citar como exemplo, as questões relativas a propriedades da
potência, propriedades da adição, subtração, multiplicação, entre outras, todas estas possuem
sua relação de forma geral, com os conceitos algébricos que irão sendo introduzidos ao longo
dos anos. Quando tratamos das propriedades da adição observamos que “a + b = b + a”,
neste caso vemos que a álgebra mostra-se presente nas pequenas conjecturas já demonstradas
desde o início de nosso ensino fundamental.
Quando nos deparamos com a área de Licenciatura em Matemática vemos que os
conteúdos apresentam-se de forma bastante avançada, onde são estudadas as estruturas de
anéis, corpos, grupos, entre outros. Estas estruturas inicialmente não apresentam relações com
o que já foi trabalhado em outras etapas da escolaridade, porém se nos aprofundarmos dentro
das propriedades, características ou mesmo aplicações destas estruturas, veremos que estas
ligações tornam-se mais amplas.
Souza (2009) cita como exemplo as estruturas de anéis, é claro que se tomarmos por base
o conjunto dos números inteiros para desenvolver a teoria, dando exemplos que não sejam
somente o conjunto dos inteiros, o aluno deve ter as regras bem fundamentadas em sua mente,
pois se ele não entende ou não sabe que certa propriedade faz parte do conjunto dos números
inteiros, por ser um anel, dificilmente, ele consegue diante de um exemplo onde aquela
propriedade não valha, explicar o que é que funciona e o porquê. Um exemplo bem imediato é
o caso do conjunto das matrizes quadradas. Sabemos que é um anel, não comutativo, pois a
multiplicação de matrizes não é comutativa, com divisores de zero, ou seja, é possível
encontrar duas matrizes quadradas, não nulas, cujo produto seja a matriz nula. Diante de um
exemplo como este, o futuro professor tem que ter em mente as propriedades que aproximam
este conjunto do conjunto dos números inteiros e as propriedades que o distanciam deste.
Assim, um problema que poderia ser resolvido, se suas variáveis fossem os números inteiros,
só poderá ser resolvido no conjunto das matrizes quadradas, se não houver necessidade do uso
das propriedades: comutativa e não divisores de zero. Então, está claro que é fundamental um
aluno de Licenciatura em Matemática, não só saber, mas dominar as propriedades dos anéis,
saber dar exemplos, contra-exemplos, discutí-los e resolver exercícios com as propriedades
23
pertinentes. Já nas estruturas de corpos, uma das propriedades fundamentais é, por exemplo, a
de não divisores de zero. É por causa desta propriedade que podemos resolver equações do 2º
grau, cujo termo independente é nulo, sem usar a fórmula de Báskara. Por exemplo, x² - 5x =
0. Neste caso, como a variável x aparece nas duas parcelas, podemos colocar em evidência,
partindo do princípio que a operação de multiplicação está definida no conjunto em que
estamos resolvendo a equação: x . ( x - 5 ) = 0. Se este conjunto é um corpo, ele tem a
propriedade de não haver divisores de zero, ou seja, se um produto é zero, é porque uma de
suas parcelas se anula, isto é, x = 0 ou x - 5 = 0. Este tipo de procedimento é feito de maneira
automática, sem muita explicação no ensino básico, mas o professor deve ter claro em sua
mente, que uma equação deste tipo pode ter como variável não só números reais, mas
elementos de outros conjuntos, que precisamos verificar se valem estas propriedades, para se
fazer estas operações.
As estruturas de grupo, que são as que têm menos propriedades e, por isso, as mais
abstratas, podemos começar a apresentar este ponto falando sobre o grupo das permutações. E
para tornar mais interessante, antes de apresentar a definição propriamente dita, pode-se
construir uma permutação com o triângulo no plano, e mostrar quais as propriedades básicas
que essa operação obedece. A partir da identificação destas propriedades, pode-se, então
denominar todo conjunto com estas mesmas propriedades de grupo. Para obtermos um grupo
precisamos saber se este possui as propriedades associativa [ (x . y) . z = x . (y . z) ], elemento
neutro (x . e = e . x = x), se possui elemento simétrico ( x . x‘ = x‘ . x = e), e comutativa ( x .
y = y . x ). Estas propriedades são de forma superficial tratadas no Ensino Fundamental e
Médio porém não sendo muitas vezes exploradas de uma forma tão complexas.
Assim, constatando a utilidade de alguns dos conteúdos trabalhados, torna-se importante o
trabalho nas Licenciaturas com conteúdos que por sua vez, virão a ser utilizados para o ensino
na Educação Básica. Mas não basta apenas entendê-los e saber sobre os mesmos, é necessário
dominar suas propriedades, dar exemplos e contra-exemplos, discutí-los, resolver exercícios
com as propriedades pertinentes e principalmente estabelecer relações com o mundo ao seu
redor. É necessário unir todos os conhecimentos adquiridos e levá-los aos alunos de uma
forma que despertem sua curiosidade e seu interesse, e sempre que possível utilizar recursos
concretos que busquem um melhor entendimento do conteúdo trabalhado.
Lins e Gimenez (2001) nos dizem:
24
Devemos entender a contribuição que a educação algébrica tem à formação das pessoas de maneira ampla. Primeiro em sua participação na educação aritmética e na formação de um sentido numérico. Segundo e muito naturalmente, em seu papel no desenvolvimento de instrumentos para a resolução de problemas e para processos investigativos - dentro e fora da matemática [...] (LINS e GIMENEZ, 2001, p. 162)
Torna-se assim, de extrema importância o ensino de estruturas algébricas em um curso de
Licenciatura em Matemática. Pois, sem esta disciplina o aluno sairá do curso sem o alicerce
básico para ensinar os princípios fundamentais da Matemática, e da Álgebra. Faz-se
necessário, porém, uma apresentação destes princípios, mostrando ao aluno a importância dos
mesmos, chamando a atenção para os pontos relevantes e não apenas cumprir currículo e
apresentar a teoria de forma vazia e abstrata.
Finalmente como qualquer outra disciplina, a Álgebra deve ser apresentada de maneira a
fazer sentido ao aluno, mostrando a este a importância de sua presença no currículo, porém se
esta não for tratada como uma matéria cheia de significados ela poderá sim, tornar-se algo de
“temor“ e descontentamento, sem significado nenhum. (SOUZA, 2009)
25
5 EDUCAÇÃO ALGÉBRICA E A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
Durante muitos anos o ensino da Matemática esteve associado a um mundo cheio de
regras e fórmulas, onde os alunos tinham apenas que aprender, mecanicamente, como
resolver cada exercício e praticar essas fórmulas em outros. Atualmente com o
aprimoramento do ensino e com uso de novas técnicas para o aprendizado o aluno é
convidado a, juntamente com o professor, construir seu conhecimento e criar novos
métodos para a resolução de situações-problema. Sendo que o aluno torna-se o centro do
trabalho e o professor o mediador dessa aprendizagem.
Marincek e Cavalcanti (2001) enfatiza que hoje é necessário ensinar muito mais do
que técnicas, números, operações, fórmulas, entre outros. Todos estes “itens“ formam o
conjunto de conteúdos que a escola deve assegurar que o aluno aprenda, mas não mais os
utilizando como memorização e sim como um conhecimento a ser construído através de
inúmeras oportunidades de estabelecer relações entre o que se sabe e o que se esta
aprendendo.
A Matemática é considerada por muitos alunos como uma disciplina que causa muitas
dificuldades, devido a muitos de seus conteúdos e das muitas regras, fórmulas e
propriedades que estão inseridas em seu contexto e precisam ser aprendidas para
construção de novos conhecimentos. Dentro destes muitos fatores está presente a questão
Algébrica, enfatizada por muitos em uma mistura de números com letras, mas que por sua
vez possuem significados muito interessantes de serem demonstradas aos alunos de uma
forma fácil e agradável. Cabe ao professor utilizar-se de métodos e maneiras que levem ao
aluno ha um entendimento mais favorável, fazendo com que este utilize a matemática da
escola na rua.
No primeiro capítulo observamos que desde os tempos mais remotos a Matemática e a
Álgebra estiveram presentes em muitos acontecimentos e situações do dia a dia. A
Álgebra era utilizada para resolução de problemas comuns entre a sociedade da época,
como temas de partilha de herança ou questões que eram de interesse comum. Hoje em
dia a Álgebra perdeu um pouco de sua importância e de seu significado tornando-se
simplesmente uma mistura de letras a números, exigindo propriedades muitas vezes
desconhecidas, e quando apresentada pela primeira vez aos alunos, estes tem uma
26
impressão negativa quanto ao uso destas letras.
A cada nova proposta governamental para a educação, os professores fazem esforços
para acompanhar essas mudanças de forma a levar os alunos a um aprendizado mais
significativo. Os livros didáticos ainda são um material de fácil aquisição para
acompanhar essas mudanças, porém em sua maioria são escritos aos alunos não dando
suporte suficiente ao trabalho do professor, pensando neste contexto o ensino de Álgebra
sofreu um processo de simplificação o que acabou por dificultar seu aprendizado.
Observa-se uma carência nos livros didáticos de situações-problema que venham a
envolver mais o aluno no conteúdo trabalhado fazendo com que este desenvolva técnicas e
questões que possibilitem uma maior aprendizagem e uma maior relação com o mundo em
que vivem. Alguns livros ainda que em pouca quantidade ou para iniciar um novo
conteúdo, vem a utilizar no caso da aprendizagem algébrica, de conteúdos relacionados a
situações-problema envolvidas no dia a dia ou apresentando formas de pesquisa que
possibilitem o aluno a uma melhor assimilação do conteúdo a ser trabalhado.
A Álgebra passou por um significativo processo desde o seu início até os dias atuais,
sendo uma disciplina considerada requisito para o ensino nas escolas. Ao mesmo tempo
seu ensino vem apresentando tantos fracassos que esta passou a ser elemento de exclusão
social, uma vez que os que não conseguem entendê-la vêem formarem-se barreiras
intransponíveis para a ascensão social. (CASTRO, 2003)
Dentro destes fatores duas opções pedagógicas podem esclarecer alguns pressupostos
em relação ao ensino desta disciplina. De acordo com Castro (2003) a primeira das opções
pedagógicas lida com as noções fundamentais da Álgebra, como se esta fosse uma espécie
de aritmética generalizada. No caso desta opção pedagógica é necessário que o aluno
saiba bastante aritmética para após ingressar no mundo algébrico, é como se a Álgebra
utiliza-se uma linguagem mais sofisticada que a aritmética, porém com o uso de mesmos
problemas e procedimentos. A segunda opção trata do “fazer matemático” ou de certo
modo pensar os problemas da matemática, pensar algebricamente. Caracteriza-se por um
conjunto de assuntos da Matemática e nos modos de abordá-los, propondo uma nova
prática para a sala de aula. Nesta opção considera-se que o aluno esta trabalhando com
Álgebra Básica se esta manipulando equações, expressões algébricas, entre outros.
Observando as duas concepções acima citadas, poderíamos considerar a importância
de ambas, pois o saber algébrico deve ser iniciado desde os primeiros anos do Ensino
Fundamental, mas de acordo com o tema proposto a Álgebra deve desenvolver-se
27
especialmente no fazer matemático, nas construções e observações dos alunos, por isso
nos caberia a segunda opção.
Podemos afirmar que fazemos Álgebra quando somos desafiados por problemas de geometria, de contagem, de finanças, de proporcionalidade, enfim, o fazer algébrico não só está presente em todos estes ramos da Matemática, como lhes é fundamental. (CASTRO, 2003, p. 1)
Planejar situações significativas que garantam realmente à aprendizagem e que
favoreçam a atividade matemática, em especial a atividade algébrica, é um dos grandes
desafios de um professor. São muitas as propostas e metodologias que podem ser
utilizadas em uma sala de aula: jogos, investigações e a resolução de problemas são uns
dos exemplos que podem ser citados.
A resolução de problemas é uma das atividades que favorecem ao aluno o
entendimento de como é possível esta relação de números com letras e como podemos
realmente utilizar este conteúdo fora da sala de aula, já que esta é uma questão muitas
vezes enfatizada pelos alunos ao aprenderem ou não um novo conteúdo.
A resolução de problemas é a atividade matemática essencial para a construção dos sentidos dos conhecimentos. Resolver problemas é o meio para a construção de conhecimentos matemáticos, é a essência da atividade matemática. É buscando respostas para problemas ainda não solucionados que os matemáticos avançam em direção a novas descobertas. (MARINCEK e CAVALCANTI, 2001, p.14)
De acordo com Marincek e Cavalcanti (2001)
Problema é toda situação em que os alunos necessitam por em jogo tudo o que sabem, mas que contêm algo novo, para o qual ainda não tem resposta e que exige a busca de soluções. É nesse movimento de busca de soluções que se estabelecem novas relações e se constroem conhecimentos que modificam os anteriores. (MARINCEK e CAVALCANTI, 2001, p. 15)
Quando desafiamos os alunos a resolver problemas estes se sentem instigados a
realizar novas descobertas. Quando estes se relacionam ou são problemas de natureza
28
algébrica, os alunos utilizam procedimentos que podem ser vistos como atividade
algébrica, onde as crianças destacam suas estratégias e o papel que esta simbologia
desempenha em seu raciocínio. E quando não compreendidas as situações-problema, são
uma ferramenta para instigar o pensamento algébrico nas crianças. Quanto mais
prestarmos atenção ao significado que os alunos atribuem para estas situações, mais
facilmente poderemos compreender suas dificuldades em Álgebra e ajudá-los a não
separarem tão fortemente o abstrato do concreto. (CASTRO, 2003)
Lins e Gimenez (2001) sugerem:
[...] a fala de uma pessoa que resolve um problema tende a explicar o “novo” e a silenciar o “dado”. Dessa forma, enquanto resolvemos um problema, falamos as coisas que estamos tentando entender ou descobrir, mas silenciamos as coisas que tomamos como certas, como dadas. (LINS e GIMENEZ, 2001, p. 122)
Através desta observação os autores consideram que a atividade algébrica e a
atividade aritmética acontecem juntas, embora em planos diferentes, e auxiliadas pelas
estratégias utilizadas na resolução de problemas.
A resolução de problemas utilizada através de números e após com modelos
matemáticos favorecem a aprendizagem e o entendimento de várias situações algébricas
pelos alunos. Realizando observações e anotações, fazendo tentativas e descobertas,
utilizando hipóteses, apresentando suas resoluções, realizando acertos e erros, fazem com
que o aluno utilize sua linguagem matemática e seu pensamento algébrico de forma mais
concreta. Assim torna-se mais fácil ao professor verificar a aprendizagem e o
entendimento do aluno, os fatores acima citados favorecem ainda mais a aprendizagem do
aluno.
A formulação de questões problemas é de responsabilidade do professor, que deve
escolher cuidadosamente o problema a fim de garantir que o aluno avance na construção
do saber e possa utilizá-lo nos momentos em que necessite. O professor é responsável
pelo alcance dos resultados de seus alunos, é ele que orienta os mesmos na busca de
soluções e que dá subsídios para que cheguem aos resultados corretos por suas próprias
conclusões.
Resolver problemas é uma das alternativas mais vantajosas para o aprendizado.
Precisa-se que a Álgebra retorne ao seu papel inicial, utilizando as “letras” para resolver
29
problemas úteis de nosso cotidiano. Castro (2003) nos diz que a ideia da Álgebra como
sendo uma atividade que envolva os alunos e faça com que estes participem da
aprendizagem sugere uma nova abordagem para seu ensino, pois as tarefas trazidas a sala
de aula são sempre transformadas pelos alunos na medida em que estes criam significados
próprios que dependem de seus objetivos. Assim ao invés de enfatizar as tarefas em si e
esperar que tenham um significado único e fixo, o professor deve tentar aproximar as
respostas dadas pelos alunos aos significados pretendidos pela tarefa.
Um dos problemas muito utilizados pelos professores é o uso da balança para
construção de noções de equações ou de equivalência. Esta situação problema já foi posta
em questão por muitos professores, pois nem todas as alternativas de equações podem ser
demonstradas com este recurso, porém este é um subsídio importante e pode ser
transformado, mesmo que em alguns casos, em uma situação problema que envolva e leve
os alunos a muitos questionamentos e os faça tentar de alguma forma chegar as
conclusões pretendidas através do raciocínio lógico e do pensamento algébrico e
aritmético.
Castro (2003) enfatiza alguns processos que o professor deve possibilitar que os
alunos realizem:
1- Permita que os alunos resolvam os problemas testando hipóteses para os valores das incógnitas; 2 - Mesmo que os alunos já apresentem as respostas corretas com o teste das hipóteses incentive-os a escrever equações sobre o comportamento do problema, e partilhem as ideias com os colegas; 3 - Convidem-os a registrarem todos os tipos de expressões produzidas (mesmo as que não estão escritas na forma algébrica); 4 - Incentivem cada aluno a apresentar sua equação explicando os detalhes de como a construiu; 5 - O professor não precisa descartar ideias incorretas do ponto de vista matemático assim que elas aparecem, deve organizá-las para fazer perguntas sobre o significado das ações dos alunos; 6 - Uma vez que os alunos tenham argumentado em favor de suas expressões, o professor poderia até promover votações entre os alunos para a escolha da equação mais adequada entre as apresentadas, a fim de tentar perceber em que direção a maioria da turma está organizando sua compreensão do problema; 7 - A resposta não precisa ser alcançada já no primeiro problema, pois uma resposta correta não indica que o aluno pensou melhor que o que obteve uma resposta errada, portanto planeja vários problemas e muitas situações, nos quais os alunos podem gradualmente exercitar sua capacidade de construir representações matemáticas e defender seus pontos de vista. (CASTRO, 2003, p. 1)
Sendo assim o autor considera que o trabalho realizado pelo professor é insubstituível em
todos os pontos citados acima, pois é assim que este cria oportunidades para o aluno aprender
30
a construir argumentos matemáticos para situações e problemas, e a justificar cada ação e se
motivar a participar das discussões nas quais a Álgebra funcione como uma ferramenta da
modelagem e resolução de problemas.
Na verdade o uso de situações-problema propõe que os alunos aprendam através da ação,
fazendo com que estes sejam capazes de tornar a Matemática, e a Álgebra necessária para
situações do dia a dia, ou como nos referem Lins e Gimenez (1997) “como recurso para
organizar o mundo“. Através destas situações propostas revela-se um número enorme de
novos modos de pensar, de novas estratégias, que podem ser ocupadas para a concretização de
novas conclusões e da própria atividade de forma que esta tenha um significado ao aluno,
estes conhecimentos podem ser em seguida tematizados e utilizados a outras situações, sem
contar que a partir desses novos modos de conhecimento é que surge a necessidade de novos
modos de pensar e de novas ferramentas para o ensino.
A educação algébrica, principalmente do fato da resolução de problemas, está fortemente
ligada à educação aritmética, e o grande objetivo destas duas educações é:
[...] encontrar o equilíbrio entre as três frentes: o desenvolvimento da capacidade de pôr em jogo nossas habilidades de resolver problemas e de investigar e explorar situações; o desenvolvimento de diferentes modos de produzir significado (pensar); o aprimoramento das habilidades técnicas, isto é, da capacidade de usar as ferramentas desenvolvidas com maior facilidade. (LINZ E GIMENEZ, 2001, p. 165)
O professor de matemática, em especial neste caso, o de Álgebra, tem em suas mãos a
responsabilidade de tornar o ensino desta disciplina mais agradável e que vá ao encontro da
Matemática presente na rua e no cotidiano. Fazendo com que os educandos encontrem
sozinhos e com satisfação o significado das “letras“ em meio a muitos números, e as
atividades de resolução de problemas são as ferramentas que maior possibilitam este encontro
da álgebra com a realidade.
31
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O interesse fundamental deste trabalho foi compreender a relação estabelecida entre a
Álgebra ensinada nas Licenciaturas em Matemática e a Álgebra aprendida no Ensino
Fundamental e Médio, pois muitos alunos ao ingressarem nas Licenciaturas e também alguns
professores que obtiveram sua formação não tão aprofundada, questionam-se sobre qual a
importância de aprender algo que não traz agrado e muito menos será utilizado posteriormente
quando em sua área de atuação. Acredita-se que a álgebra trabalhada na Licenciatura vem
muitas vezes, “complicar” a vida de muitos estudantes, pois estes a observam como algo
abstrato, sem significado, difícil de ser entendido e sem estabelecer relações com o que se
trabalhará com os alunos.
Infelizmente muitos professores estão em sala de aula e apresentam estas mesmas
concepções sobre o ensino de Álgebra e quando se deparam com situações em que precisam
utilizá-la, tratam-na como algo abstrato, sem significado, e fazem de seu ensino algo maçante
também aos alunos. Essa dificuldade em repassar o conteúdo aos educandos pode ter sido
gerada por possíveis dificuldades obtidas quando não ocorreu um aprendizado significativo
deste conceito, ou por medo de não ser compreendido pelos alunos de outra forma.
Os alunos e professores precisam estar cientes da importância que a Álgebra e a
linguagem algébrica possuem dentro do sistema educacional. As crianças estão cada vez mais
envolvidas em um mundo onde os conhecimentos são essenciais para novas descobertas e
para a criação de novos conceitos, precisamos incentivar os alunos a desvendar o mundo em
que vivem e uma das fórmulas que inclui essa descoberta é a própria Álgebra.
Muitas pesquisas, teses, livros, entre outros, são encontrados como ferramenta de apoio ou
subsídios para possíveis pesquisas em relação ao pensamento algébrico, mas pouco se fala na
relação entre a educação algébrica superior e a educação algébrica básica. Debates, fóruns,
mesas redondas, são utilizadas cada vez mais para discussões e tomadas de decisões acerca de
temas atuais para a educação, em especial para a educação matemática, mas temas que
relacionem conteúdos e situações de aprendizagem algébrica são difíceis de serem
encontrados.
32
Autores revelam opiniões acerca do trabalho com a educação algébrica, mas poucos
revelam se concordam ou não com os conteúdos tratados nas Licenciaturas e se estes buscam
um aprendizado para o ensino na educação básica. Por muitos momentos me questionei
quanto a esta relação, porém ao iniciar um trabalho como educadora pude perceber que só
compreendemos realmente porque aprendemos determinados conceitos, quando estamos
exercendo nossa função. Muitos alunos no início de sua Educação Fundamental ouvem falar
de Álgebra e questionam-se em qual conteúdo esta está inserida, se esta possui significado, se
podemos utilizá-la em todos os momentos ou mesmo no dia a dia. Mas estes nem se dão conta
de que já a utilizam sem mesmo perceber. A linguagem algébrica está presente em muitas
situações de nosso cotidiano, em especial quando resolvemos situações de áreas, compras,
divisões de materiais em partes aproximadamente iguais, entre outras, precisamos que nossos
alunos compreendam esta “abstração” como algo concreto que é utilizado em vários
momentos e que pode ser relacionado com muitas outras situações.
Muitos dos problemas que a álgebra enfrenta estão relacionados com a maneira como os
educadores tratam-na perante seu ensino, sem ligá-la à realidade e relacionando-a realmente
apenas com letras em meio a números. Estas concepções são em sua maioria as que geram o
fracasso da Álgebra, e os alunos ao ingressarem no Ensino Superior levam consigo estas
concepções mal formadas e ao se depararem com situações mais complexas e de mais
atenção, questionam-se se há relação entre o que estão aprendendo no momento e que irão
ensinar após.
A Licenciatura em Matemática em seu ensino de Álgebra trata de tópicos mais
aprofundados, onde os alunos podem compreender como surgiram e como são constituídas as
propriedades ensinadas na Educação Básica, porque utilizamos certas regras em determinados
momentos e como devemos ter em mente esses conceitos. Ao chegar ao campo profissional é
necessário que os professores tomem consciência que não basta apenas entender o básico para
ensinar determinado conteúdo, é necessário saber identificar as propriedades, fazer
comparações e generalizações e estar capacitado para responder possíveis dúvidas que podem
surgir, mas se estas não puderem ser respondidas de imediato, que através dos materiais e dos
conhecimentos adquiridos na Licenciatura, possam ser respondidas em outro momento.
Na educação fundamental os alunos entram em contato com a Álgebra propriamente dita,
e se deparam com um emaranhado de fórmulas e conceitos que relacionados a problemas
diários tornam-se de melhor entendimento e compreensão do conteúdo em destaque. As
situações-problema são a forma mais atraente de levar o aluno a questionar-se e criar
33
conceitos através de seus conhecimentos, e em relação à Álgebra são uma forma de melhor
entender o significado do que se esta trabalhando. Buscar levar os alunos a deduções e a
generalizações de uma maneira geral, aproxima o ensino a uma maneira mais favorável de
compreensão. As pequenas relações, os problemas questionados e resolvidos com auxílio de
um pensamento algébrico, e as fórmulas deduzidas através de regularidades, são o alicerce
para a construção de futuros conceitos.
Precisamos ter consciência de que nossos conhecimentos necessitam ser aprofundados a
cada dia e que só veremos realmente porque aprendemos determinados conceitos ao
utilizarmos durante a vida profissional e ao respondermos e questionarmos os nossos
educandos. Torna-se necessário que temas como estes sejam mais pesquisados e difundidos,
para que em um futuro bem próximo não tenhamos alunos e professores questionando o papel
de determinado conteúdo, ou simplesmente a relação que este possui com o mundo em que
vivemos.
34
REFERÊNCIAS
BORRALHO, A. BARBOSA, E. Pensamento Algébrico e Exploração de Padrões. Centro
de Investigação em Educação e Psicologia Da Universidade de Évora. 2010 Disponível em:
<www.apm.pt/files/_Cd_Borralho_Barbosa_4a5752d698ac2.pdf.> Acessado em: 12 fev.
2010.
BRASIL, Ministério da e Educação. Guia dos livros didáticos PNLD 2008: Matemática.
Ministério da Educação - Brasília, MEC 2007. 152 p. (anos finais do ensino fundamental).
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