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Introdução ao AT - H 7.

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O LIVRO DE JOSUÉINTRODUÇÃO 

Diz-se que a história do mundo é a história dos grandes homens. Algo da história domundo encontramos, pois, na história de Josué, precisamente no livro que tem o seu nome:“Livro de Josué”. Começando pela vocação divina e pela missão que lhe foi confiada, acabao livro por descrever a morte do grande chefe, cujo nome anda ligado à conquista de Canaãna história do famoso povo de Israel.

TÍTULO

Este livro recebe seu título do nome do personagem central da narrativa, Josué, filhode Num, um efrateu nascido no Egito, a quem Moisés havia preparado para ser seu sucessor,e que efetivamente liderou Israel na conquista da Terra Prometida. O título hebraico éYehoshua, enquanto a LXX usa a forma helenizada Iesous.

DATA E AUTORIA

A tradição talmúdica sustenta que Josué foi o autor do livro, e a nota de sua morte foiregistrada por Eleazar, filho de Arão. O último versículo teria sido acrescentado por umeditor mais recente. O conteúdo do livro sustenta tal tradição.

Por duas vezes Josué ordena que se façam registros escritos dos eventos recentes dahistória israelita (18.8 e 24.25). A isso deve-se acrescentar narrativas pessoais como adescrição da reação dos cananeus à travessia do Jordão por Israel (5.1-6).

Além disso, o autor demonstra notável conhecimento de nomes arcaicos delocalidades em Canaã (e.g. Baalá para Quiriate-Jearim [15.9], Quiriate-Arba para Hebrom[15.13], e Quiriate-Saná para Debir [15.49]). Com exatidão histórica, a toda prova, eleindica que Sidom era a mais importante cidade dos fenícios (cf. 13.4-6; 19.28), o que seriaimprovável se o autor tivesse vivido depois do século 12 a.C., quando a supremacia passou

 para Tiro.

QUEM ERA JOSUÉ 

Vários fatores guindaram Josué à chefia do povo escolhido do Senhor. Eradescendente da família de José, tão prestigiada na história de Israel. O seu avó Elisama fora

orientador da tribo de Efraim através do deserto e talvez encarregado do corpoembalsamado do seu antecessor, para condignamente ser sepultado na Terra da Promissão.O contato que teve com a civilização e a cultura egípcias (já que no Egito nascera e tomara

 parte no êxodo: Nm 32.11 e segs.), preparou-o, como aliás a Moisés, para a grande missãode dar a estrutura e a independência a um novo país. É de frisar como numa das suas últimas

 proclamações ao povo, lhe lembrou que os seus antepassados prestaram culto a outrosdeuses no Egito (Js 24.14). Como auxiliar principal e adjunto de Moisés, em íntimocontacto com ele no cargo de orientador do povo, Josué estava naturalmente indicado comosucessor daquele de quem tanto recebera e com quem tanto aprendera na dura travessia dodeserto.

Perante as informações de Calebe, mostrou-se corajoso e homem de fé excepcional,desprezando o relatório apresentado pelos outros dez espias. Confiança no Senhor, acima detudo.

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Já em Refidim mostrara as suas qualidades invulgares de militar, chefiando as tropasisraelitas que repeliram um repentino ataque dos amalequitas, desencadeando contra aretaguarda dos hebreus, composta quase exclusivamente por mulheres, crianças e bagagem(Dt 25.18). Levou-os de vencida Josué e, talvez como recompensa, serviu-se o Senhor dasua intervenção para responder às suplicas de Moisés no alto do monte (Êx 17.8 segs.).

Eis a largos traços o homem, de cujos dotes naturais, educação e experiência Deus seserviu para chefiar um grande povo e introduzi-lo na Palestina. De nada lhe serviriam,

 porém, tais qualidades, se a força dinâmica de que dispunha não revelasse a presença deDeus. Foi na realidade ao chamamento do Senhor que brotaram quase em tropel as suas

 poderosas energias, que haviam de conduzir à soberania de Israel um homem escolhido porDeus. Enfim, estamos em presença dum soldado que se revestiu da completa armadura doSenhor.

A HISTORICIDADE DO LIVRO

Teorias sobre a não-historicidade do relato bíblico em Josué estão relacionadas,inicialmente, à data da invasão israelita. Há duas linhas de argumento: a primeira sustentaque jamais houve uma invasão pelos israelitas, e sim várias ondas de imigração por uma

 população racialmente mista designada pelo nome genérico de habiru/hapiru, em meio àqual se achavam os israelitas (Martin Noth,  History of Israel , pp. 64-84). Uma variaçãodesta teoria argumenta que houve realmente duas invasões: uma no século 15 a.C.[associada à figura semilendária de Moisés] e outra no século 13 a.C. [associada à figuramais histórica de Josué], quando já havia um segmento da população israelita na terra (H. H.Rowley, From Joseph to Joshua, pp. 109-163).

O segundo argumento é de natureza arqueológica. Especialistas nesse campoafirmam que a ausência de provas de destruição em massa de cidades por volta da virada doséculo 14 a.C. exige uma data na segunda metade do século 13 a.C. para os eventos ligadosao livro de Josué.

Há boas razões para rejeitar tais argumentos. Em primeiro lugar, a identificação dosisraelitas com os habiru/hapiru é muito tênue. Os israelitas se distinguiam claramente doshabiru/hapiru (cf. 1 Sm 13.6, 7), embora tal distinção não fosse óbvia para os escribas dacorrespondência de Tell-el-Amarna. Essas cartas sugerem que os habiru/hapiru atacaramcidades contra as quais Israel não guerreou, pelo menos de acordo com o registro bíblico.As cartas que podem ser ligadas a localidades mencionadas na narrativa bíblica nãoapresentam conflito com a evidência das Escrituras, servindo-lhe, ao contrário, de

suplemento. Merrill afirma que não há nada na correspondência de Amarna ou no AntigoTestamento que milite contra uma data de conquista no começo do século 14 a.C. (EugeneH. Merrill, História de Israel no Antigo Testamento, p. 106).

A alegada falta de evidência arqueológica para uma conquista de Canaã no século 14a.C. conforme descrita na Bíblia se origina de duas pressuposições equivocadas. A primeiraé a de que Israel levou a cabo uma guerra de extermínio e destruição sistemática durante aconquista, uma teoria obviamente negada pelo relato bíblico (cf. Js 10.19). Apenas trêscidades foram designadas de fato como (ḥerem), alvo de destruição cerimonial, Jericó, Ai, eHazor. Enquanto Jericó e Ai não oferecem provas conclusivas para qualquer das teorias, asevidências obtidas em Hazor apontam para uma destruição no século 14 a.C. (J. J. Bimson,

 Redating the Exodus and the Conquest , pp. 185-200).Além disso, a pressuposição de que a evidência de destruição no século 13 a.C., que parece ser inequívoca, é resultado da conquista israelita é infundada, pois não há

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documentos literários que provem que os habitantes de tais cidades fossem cananeus ou queseus atacantes fossem israelitas. Artefatos não-literários poderiam ter sido preservados deum grupo de ocupantes para outro, no caso de uma conquista anterior por Israel ( cf. Dt 6.10,11), e a própria destruição se coaduna com a violenta opressão sofrida pelos israelitas de

 parte de seus vizinhos durante o período dos juízes (cf. Jz 5.7, 8; 6.2).Outro argumento contra a historicidade de Josué está relacionado ao elemento

sobrenatural contido em sua narrativa, particularmente na queda das muralhas de Jericó e nomais longo dos dias na batalha de Gibeão.

A despeito dos virulentos ataques de Kathleen Kenyon e outros eruditos à teoria deque as muralhas de Jericó ruíram para fora em algum momento do começo do século 14a.C., esta permanece como a melhor opção arqueológica e confirma o relato de Josué (JohnGarstang defendeu essa teoria no livro The Story of Jericho e oferece como provaarqueológica a presença de escaravelhos (amuletos em forma de tais insetos) com o cartucho[símbolo] de Amenófis III (1413-1377 a.C.) e a completa ausência de tais objetos com osímbolo de faraós posteriores (Story of Jericho, p. 120). Bimson,  Redating , oferececonfirmações de outras fontes).

O dia prolongado descrito em Josué 10 tem sido objeto de muito debate. Críticosradicais do AT descartam a narrativa como uma importação de mitologia pagã redigida emlinguagem poética e hiperbólica; estudiosos mais conservadores tentam (a) mitigar oelemento sobrenatural da passagem, argumentando que o verbo hebraico tradicionalmentetraduzido por ‘ parou’  realmente significa ficou quieto (i.e., escurecido ou menos quente);(Robert Dick Wilson, “Understanding ‘The Sun Stood Still’”,  Princeton Theological

 Journal, 16 (1918): 46-54, republicado em Classical Evangelical Essays in Old Testament

 Interpretation, editado por Walter C. Kaiser, Jr., pp. 61-67) ou (b) provar que a passagemexige um retardamento real no tempo.

Esta última posição parece encaixar-se melhor com os dados do texto sem exigirexplicações etimológicas incomuns. Cientificamente ela envolve uma intervenção divina namecânica celeste, o que não chega a ser problema para uma fé humilde. Relatórioscientíficos (não documentados, infelizmente) citados por Bernard Ramm atestam queastrônomos computaram a falta de um dia no relógio astronômico da terra, e que tal dia foisituado na época de Josué (Bernard Ramm, The Christian View of Science and Scripture, p.159) Outra teoria conservadora sugere que Deus alterou o ângulo de refração da atmosferaterrestre, assim permitindo ao sol ficar visível por mais tempo (Karl F. Keil e FranzDelitzsch, Commentary on the Old Testament , 2:112).

O mais provável é que o ponto de vista adotado pelo leitor de Josué 10 será ditado

 pelas pressuposições que trouxer para o texto.CONTEXTO HISTÓRICO

Tomando por base uma data no século 14 a.C. para a conquista de Canaã,descobrimos que a cronologia divina foi perfeita. A Palestina encontrava-se em um vácuode poder que duraria por mais de um século.

O império hitita ainda não havia adotado sua política imperialista (que surgiu comSuppiluliumas [1377-1358 a.C.]); os hurrianos, do reino de Mitani, estavam limitados aoextremo norte da Síria, e os egípcios, da 18ª dinastia, perdiam aos poucos seu controle sobre

Canaã, como demonstram as cartas de Amarna. A Assíria permanecia na obscuridade, e suaascensão ao  status de potência mundial só aconteceria dois séculos depois. O cenário fora

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 preparado por Yahweh para que Seu povo invadisse Canaã e tomasse posse da terra que lhefora prometida séculos antes.

Os habitantes de Canaã eram uma mistura de raça com população amorita (chamadosna Bíblia de amorreus), que habitavam o sul e a região montanhosa, e os cananeus, queocupavam a parte norte da Palestina. Essa população era de religião politeísta, sofisticadaem arte e cultura e bem protegida por cidades-Estado muradas, que, a despeito de guerrasocasionais, costumavam unir-se contra inimigos comuns.

A estrutura social que se pode depreender da evidência arqueológica consistia de uma pequena minoria de nobres cananeus e oficiais egípcios vivendo às custas de uma imensamaioria, cujo destino era a mais abjeta pobreza. Tais circunstâncias iluminam a escolha dosgibeonitas, que preferiram lançar sua sorte com os invasores a manter uma lealdadesimbólica ao Egito, que era o único beneficiário de tal acordo (Siegfried Schwantes, A Short

 History of the Ancient Near East , p. 160).O cenário religioso de Canaã era muito variado. A religião dos cananeus era baseada

em dois conceitos. O primeiro era o de que as forças da natureza eram expressões daatividade divina; o segundo era o princípio do reencenamento, ou seja, de que a

 prosperidade e o bem-estar dependiam de uma identificação ritual apropriada com asatividades dos deuses, de modo a assegurar o exercício de seus poderes criativos quesustentavam a vida em uma sociedade agrária. O culto das principais divindades, Baal,Asera, e Anate envolvia prostituição cultual e apelava à natureza depravada do homem.

Uma vez que Baal era considerado o Deus da chuva, adorá-lo era uma garantia de boas colheitas para os cananeus. Como estes haviam permanecido entrincheirados nas terrasmais férteis de Canaã, uma dedução natural para o israelita médio era que Baal cuidavamelhor de seus adoradores do que Yahweh. O baalismo tornou-se uma religião muitoatraente por essas duas fortes razões.

É claro que uma religião tão corrupta, que era adaptável a ponto de produzir um Baallevemente diferente em cada localidade, se espalhava como um câncer na sociedade em queexistia e contaminava cada segmento da vida. A religião cananita foi, sem dúvida, a

 principal justificativa para o herem (edito de aniquilamento) imposto sobre os habitantes deCanaã. A presença de tal depravação sócio-religiosa foi certamente uma das razões pelasquais Josué celebrou duas renovações da aliança em menos de 40 anos, (Eugene H. Merrill,

 História de Israel no Antigo Testamento,  pp. 139, 149) deixando bem claro a ambas asgerações os perigos que as rondavam e as possibilidades de vitória pela obediência (caps. 8e 24).

CARACTERÍSTICAS LITERÁRIASForma

O livro de Josué divide-se em três partes claramente definidas em seu estilo econteúdo. A primeira parte (caps. 1 – 12) é uma narrativa resumida das atividades militaresque resultaram na conquista da Terra Prometida. O primeiro parágrafo do capítulo 1 e ocapítulo 12 indicam que a conquista foi parte integrante do processo que começara comMoisés e culminaria com Josué e seu triunfo sobre os reis de Canaã. Estrategicamentecolocado nesse contexto está o encontro de Josué com o capitão das hostes de Yahweh

(5.13-15), que indica que a guerra para a conquista da terra de Canaã era,fundamentalmente, uma atividade de Yahweh.

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Os capítulos 12 a 22 alistam, de maneira quase monótona, a divisão da terra entre astribos, pontilhada aqui e ali por acontecimentos que ressaltam a fidelidade de Yahweh paracom Seus fiéis (a conquista e posse de Hebrom por Calebe, 14.1-15) e a necessidade deunidade espiritual entre as tribos (o episódio do altar erigido pelas tribos da Transjordânia).

Os dois capítulos finais adquirem um estilo sermônico ligado à renovação da aliançasob forma de tratado de suserania, com o capítulo 23 contendo uma exortação nacional deJosué, o mediador, a título de introdução, e o capítulo 24 renovando o compromisso delealdade devida a Yahweh, o suserano, por Israel, o vassalo.

O epílogo do livro, que contém a nota obituária de Josué, traz uma nota de confiançaao relatar a colocação dos restos mortais de José no sepulcro adquirido por Abraão quase600 anos antes do desaparecimento da geração de Josué (24.25-27). Esse incidentedemonstra a fidelidade de Yahweh no cumprimento de Suas promessas e sugere que Israelseria bem-sucedido desde que se mantivesse leal ao Deus que os trouxera em segurança atéali.

A DOUTRINA RELIGIOSA DO LIVRO 

O valor religioso de qualquer livro mede-se pelas respostas: que nos diz a respeito deDeus este livro? Que verdade divina nos vem anunciar? Três aspectos pelo menos dasrelações de Deus com o homem. Vejamo-los:

a) A fidelidade de Deus 

Já há muito se falava na promessa feita a Israel de que um dia viria a ser senhor daTerra Prometida. Mas o homem desobedecera e pecara. Iria porventura ser privado daquele

 privilégio? Não. Os planos de Deus são infalíveis. E a promessa cumpriu-se. Como?Percorramos as páginas do livro de Josué.

b) A santidade de Deus 

Podemos admirá-la no castigo infligido aos primitivos habitantes da terra. Ainiqüidade dos amorreus atingira o ponto culminante e Israel foi escolhido para castigar osseus crimes. Mas a santidade de Deus exige que seja santo também o Seu instrumento. Aguerra é também santa, pois só pretende salvaguardar a santidade do instrumento e, no fimde contas, honrar a santidade da mão que o orienta.

c) A salvação de Deus 

A palavra Josué significa "Yahweh é a salvação" e é a forma hebraica de Jesus, onome que está acima de todos os nomes. Será de surpreender que Josué tenha sido uma“figura” ou um “símbolo” de Cristo? Por certo que não! E o livro não simbolizará também anossa vitória em Cristo? A travessia do Jordão era a morte; mas, para além dele, raiava umaaurora de plenitude, de felicidade e de bênção, que também a nós está prometida.“Temamos, pois, que porventura, deixada a promessa de entrar no Seu repouso, pareça quealgum de vós fica para trás” (Hb 4.1).

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A TEOLOGIA DE JOSUÉ (A PESSOA E O CARÁTER DE DEUS)

Yahweh é poderoso

Três incidentes específicos são usados pelo autor do livro para destacar o poder deYahweh como a causa fundamental do sucesso de Israel: a travessia do Jordão, a queda dasmuralhas de Jericó, e o prolongamento do dia durante a batalha de Gibeão. Cada um dessesacontecimentos tem uma conotação polêmica, já que envolviam forças naturaissupostamente sob controle dos deuses cananitas. O uso de estratégias claramente contráriasà lógica humana (no caso bem conhecido de Jericó e no caso da inutilização dos cavalos ecarros de guerra na batalha contra Hazor, 11.6-9) ressalta o fato de que a capacidade bélicade Israel estava não em seus exércitos, mas no poder de seu Deus, que lutava por ele.

Yahweh é fiel

O livro abre com a garantia divina de que Sua fidelidade capacitaria Josué para atarefa de substituir Moisés e conquistar a terra. Os memoriais erguidos no Jordão e as suasmargens demonstravam que Israel percebia a fidelidade de Yahweh como a razão de suachegada à Terra Prometida (4.3-9,18). A construção do altar no monte Ebal (8.30-35)reforça tal convicção, principalmente por sua associação geográfica com o local ondeAbraão primeiro recebeu a promessa de posse da terra (Gn 12.6, 7) e Jacó enterrou seusídolos ao voltar de Padã-Arã para Canaã (Gn 33.18-20; 35.1-4).

Outros dois memoriais encontrados nesse livro indicam que Israel entendia seutriunfo como resultado da fidelidade de Yahweh: o altar das duas e meia tribos (22.24, 25) ea estela erigida por Josué (24.26, 27).

Fiel em todas suas aparições nas Escrituras, Calebe é o troféu da fidelidade deYahweh em sua corajosa conquista da terra dos anaquins. O poder de Deus em vencer osmais temíveis inimigos (gigantes) é ressaltado no triunfo de Calebe, que tinha 85 anos aoempreender a sua conquista.

O resumo deste tema em Josué encontra-se nos capítulos 11.15, 16 e 23.14, 15, emque se enfatiza não apenas a fidelidade de Deus em realizar as bênçãos, mas também ocastigo pela infidelidade da nação.

Yahweh odeia o pecado

Uma das figuras usadas para Yahweh no Pentateuco é a de um guerreiro (Êx 14.4;15.3; Dt 3.22). No livro de Josué a figura ganha contornos ainda mais evidentes com amanifestação do príncipe da hoste do SENHOR), que é entendido como uma cristofania(5.13; 6.5).

A atividade de Yahweh como o líder de Israel no campo de batalha precisa serentendida como Sua vindicação da santidade divina ofendida por vários séculos devido aoestilo de vida depravado dos cananeus. O câncer moral que se instalara em Canaã nascera natenda de Noé, após o dilúvio (Gn 9.20-27), e se perpetuara no caráter e na conduta dosdescendentes de Cão (a maldição corporativa de Noé foi lançada contra o neto, porque elehaveria de reproduzir o caráter profano do pai).

Depois de séculos em que os testemunhos piedosos de Abraão e Melquisedequeforam ostensivamente rejeitados e toda sorte de maldade se tornara lugar-comum, Yahweh

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lançou-se à luta contra os cananeus e usou os israelitas para eliminar do mundo umasociedade corrupta e corruptora.

A prova de que tal tratamento não era cruel, arbitrário e caprichoso é que o pecado deIsrael foi punido com igual severidade (Js 7), de modo que a santidade de Deus ficasseevidente a todos, israelitas e cananeus. Outra prova é que a misericórdia divina podia seestender a não-israelitas, desde que, pela fé, se colocassem sob a mão de Yahweh(diretamente no caso de Raabe e indiretamente no caso dos gibeonitas).

Josué percebeu claramente que a absoluta santidade de Yahweh tornava impossível aIsrael adorá-lo sem incorrer em falhas, que haveriam de suscitar a ira disciplinadora do Deusda aliança (24.19, 20). Em certo sentido, Josué profetizava os acontecimentos trágicos dolivro de Juízes e apontava para a necessidade de uma provisão ainda maior que a oferecida

 pela lei mosaica.

A ADMINISTRAÇÃO DOS PROPÓSITOS DE DEUS

O livro de Josué apresenta uma série de incidentes que realça a intervenção de Deusna História –  tempo e espaço  –  para o cumprimento de Seu propósito maior, a restauraçãode Sua soberania mediada sobre a criação. O estabelecimento de Israel em Canaã era parteintegrante desse processo, como já fora prometido aos patriarcas e reiterado a Moisés,quando da saída do povo do Egito (Êx 15.17, 18).

A permissão do pecado

O episódio mais marcante é certamente o pecado de Acã, que combinou ganânciacom hubris, (termo usado com freqüência em comentários teológicos, que indica umamescla de arrogância e precipitação) presumindo ser capaz de melhor prover suasnecessidades ou desejos do que Yahweh. A visão de que Yahweh obteria glória, mesmo pormeio de tal situação, aparece em Josué 7.19. O efeito corporativo de uma transgressãoindividual ressalta a razão pela qual Yahweh, no final do livro, se mostra tão severo emSuas exortações contra o pecado da infidelidade. O temor que o próprio Josué sentiu (8.1),indica que mesmo uma tragédia desse porte tem seu efeito benéfico, quando o povo de Deusleva a sério Sua santidade e o zelo que Ele tem por Seu nome.

Outro episódio que ressalta esse aspecto do propósito de Deus é a trama dosgibeonitas, levianamente aceita por Josué e pelos anciãos de Israel (9.1-27). Este foi o

 primeiro de vários enclaves cananitas que restariam entre os israelitas, e que Deus usaria

 para pôr à prova o coração de Seu povo (cf. Jz 1.19-36; 2.1-3, 20-23).A promessa/ação de julgar o pecado

Mais uma vez é o incidente de Acã que fornece o principal exemplo da ação divinacontra o pecado. A verdade é que, se levarmos em conta Gênesis 15.16, todo o livro é umexemplo dessa ação.

A circuncisão dos israelitas ao atravessar o Jordão é um episódio que revela oempenho de Yahweh em remover barreiras de pecado e desobediência que impeçam Seu

 povo de desfrutar plenamente as bênçãos que Ele deseja lhes conceder. A geração que no

deserto fora privada da participação formal na aliança abraâmica precisava, agora, nomomento mais crítico de sua breve estada na Terra Prometida, aprender o sentido dadependência de Yahweh. A desobediência e alienação, características de Israel no Egito,

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foram ali extirpadas simbolicamente e o povo foi preparado para desfrutar as bênçãos dasduas alianças (Js 5.1-12).

A determinação divina de punir o mal é reforçada pela exortação final de Josuéquanto ao perigo da miscigenação com os cananeus, que acabaria por produzir o castigo

 pactual de expulsão da Terra Prometida (23.12, 13).

O decreto de livramento para os eleitos e por eles

Em meio aos predestinados à destruição, em Canaã, uns poucos viveram por terlançado Sua sorte com o povo de Deus.

Raabe e sua família escaparam à destruição maciça de Jericó (caps. 2 e 6) e osgibeonitas escaparam duas vezes à destruição completa, uma vez por meio de mentira eengano, e outra pela fidelidade que um voto em nome de Yahweh impusera a Israel (caps. 9e 10).

O decreto de abençoar os eleitos

Essa determinação divina aparece sempre atrelada à obediência aos preceitos daaliança contidos na lei de Moisés (1.6-8; 23.6-8). Josué, o líder do povo, seria abençoado se

 perseverasse na observância da Lei, e igualmente toda a nação se beneficiaria se mantivesseYahweh como o único objeto de sua devoção.

O exemplo individual de Calebe se destaca no livro de Josué, como prova de que afidelidade a Yahweh, mesmo em meio à dúvida e à oposição, acabaria tendo recompensafiel e gratificante (14.6-15).

ESBOÇO

I. A CONQUISTA (1.1 — 12.24)a. O objetivo e método do livro (1.1-18)

i. Vínculos passados (1.1)ii. Promessas: o livro em esboço (1.2-5)iii. Responsabilidades: chamado à coragem e a fonte desta (1-6-9)iv. Obediência e o sinal de liderança: a organização de todo o Israel (1.10-11)v. As tribos da Transjordânia (1.12-18)

 b. Raabe e a missão dos espiões (2.1-24)i. Josué envia dois espiões (2.1)ii. A casa de Raabe (2.2-8)iii. A confissão e o pedido de Raabe (2.9-13)iv. Os espiões fazem juramento a Raabe (2.14-21)v. Os espiões voltam (2.22-24)

c. Ritos de passagem através do rio Jordão (3.1 — 4.24)i. Josué e todos os israelitas partem (3.1)ii. Instruções para a travessia, parte 1 (3.2-5)iii. Instruções para a travessia, parte 2 (3.6-13)

iv. Os sacerdotes atravessam (3.14-17)v. As doze pedras (4.1-10)vi. O povo atravessa (4.11-13)

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vii. Josué é exaltado (4.14)viii. Fora do Jordão (4.15-18)ix. A passagem para Gilgal (4.19-24)

d. Ritos de preparação: circuncisão (5.1-12)i. O temor dos cananeus (5.1)ii. Josué circuncida o povo (5.2-3)iii. O motivo da circuncisão (5.4-9)iv. Páscoa como o começar a herdar a terra (5.10-12)

e. O primeiro ataque: a captura de Jerico (5.13 — 6.27)i. As instruções prévias para a captura (5.13 — 6.5)ii. A captura de Jericó (6.6-25)iii. As conseqüências de Jericó para Josué (6.26-27)

f. O segundo ataque, parte 1: a derrota em Ai e suas conseqüências (7.1-26)i. A derrota em Ai (7.1 -5)ii. A humilhação de Israel (7.6-9)iii. a identificação da transgressão (7.10-21)iv. A solução final do problema do pecado (7.22-26)

g. O segundo ataque, parte 2: a vitória em Ai (8.1-29)i. Disse o Senhor  a Josué... (8.1-2)ii. Instruções para a batalha (8.3-8)iii. Os preparativos (8.9-13)iv. A reação de Ai (8.14-17)v. A vitória em Ai (8.18-29)

h. A aliança no monte Ebal (8.30-35)i. Sumário da ameaça contra Israel (9.1-2)

 j. O caso especial gibeonita (9.3-27)i. O engano gibeonita (9.3-15)ii. O desmascaramento dos gibeonitas (9.16-27)

k. Vitória sobre o líder de Jerusalém e a coalizão do sul de Canaã (10.1 -43)i. A estratégia amorréia (10.1-5)ii. A reação gibeonita (10.6)iii. Vitória (10.7-43)

a. Sumário (10.7-10) b. O papel de Deus na batalha (10.11-15)c. O papel de Israel na batalha (10.16-43)

1. Vitória sobre a coalizão nortista (11.1-11)i. A ameaça da coalizão nortista (11.1-5)ii. Vitória sobre a coalizão nortista (11.6-9)iii. Vitória sobre Hazor (11.10-11)

m. Como ordenara o Senhor: um sumário de toda a conquista (11.12-23)i. Título: Josué fez conforme tudo o que Deus lhe dissera (11.12)ii. Cidades conquistadas (11.13-17a)iii. Reis conquistados (11.17b-22)iv. Sumário e transição (11.23)

n. Um esboço da conquista (12.1-24)

i. Reis derrotados a leste do rio Jordão (12.1-6)ii. Reis derrotados a oeste do rio Jordão (12.7-24)

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Antigo Testamento II – Históricos e Poéticos 83

II. A DISTRIBUIÇÃO DE TERRAS ÀS TRIBOS ISRAELITAS (13.1 — 21.45)a. A terra restante (13.1-7)

 b. A distribuição de terras a leste do rio Jordão (13.8-33)c. Introdução à distribuição de terras a oeste do rio Jordão (14.1-5)d. A terra distribuída a Judá (14.6 — 15.63)

i. As terras designadas para Calebe, parte 1 (14.6-15)ii. As fronteiras de Judá (15.1-12)iii. As terras designadas para Calebe, parte 2 (15.13-19)iv. A lista de cidades de Judá (15.20-63)

e. A terra distribuída às tribos de José (16.1 — 17.18)f. A terra distribuída às demais tribos(18.1 — 19.51)

i.Introdução(18.1-10)ii. A terra distribuída a Benjamim (18.11 -28)iii. A terra distribuída a Simeão (19.1-9)iv. A terra distribuída a Zebulom (19.10-16)v. A terra distribuída Issacar (19.17-23)vi. A terra distribuída a Aser (19.24-31)vii. A terra distribuída a Naftali (19.32-39)viii. A terra distribuída a Dã (19.40-48)ix. A terra distribuída a Josué (19.49-51)

g. Cidades de refúgio (20.1-9)h. Cidades para os levitas (21.1 -42)

i. Introdução às cidades levíticas (21.1-8)ii. As cidades levíticas (21.9-42)iii. Conclusão da distribuição de terras (21.43-45)

III. A CONCLUSÃO: A DEVIDA ADORAÇÃO A DEUS (22.1 — 24.33)a. O altar em disputa (22.1 -34)

i. A orientação de Josué aos transjordanianos (22.1-8)ii. Os transjordanianos voltam para casa (22.9)iii. O altar (22.10-11)iv. Os cisjordanianos ameaçam guerra (22.12-20)v. Os transjordanianos explicam o altar (22.21-29)vi. A delegação aceita a explicação e volta para casa (22.30-33)vii. os transjordanianos dão nome ao altar (22.34)

 b. O discurso de despedida (23.1-16)i. Os feitos de Deus por Israel (23.1-5)ii. Um desafio à obediência (23.6-11)iii. Advertências quanto ao futuro (23.12-16)

c. A aliança em Siquém (24.1-27)i. Uma nova assembléia em Siquém (24.1)ii. A obra redentora de Deus por Israel (24.2-13)iii. O acordo da aliança (24.14-24)iv. A ratificação da aliança (24.25-27)

d. A instalação na terra (24.28-33)