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12 JULHO | AGOSTO | 2010 entrevista teresa almeida presidente da ccdr-lvt opinião cidades perfeitas fernanda câncio a inovação é para todos augusto mateus

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12JULHO | AGOSTO | 2010

entrevistateresa almeidapresidente da ccdr-lvt

opiniãocidades perfeitasfernanda câncio

a inovação é para todosaugusto mateus

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P r o p r i e d a d e

CCDR‑LVT

Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional

de Lisboa e Vale do Tejo

Rua Artilharia 1, nº 33 – 1269‑145 Lisboa

Tel.: 21 383 71 00 | Fax: 21 383 12 92

www.ccdr‑lvt.pt

D i r e c ç ã o

Presidência da CCDR‑LVT

D i r e c ç ã o e x e c u t i v a

Milene Cunha

P r o j e c t o e d i t o r i a l , d e s i g n e p r o d u ç ã o

DDLX [www.ddlx.pt]

José Teófilo Duarte [Direcção]

Eva Monteiro [Design]

Filipa Fernandes [Design]

C o l a b o r a r a m

Ana Sousa Dias

André Gago

Carla Amaro

Carla Maia de Almeida

Fernanda Câncio

Luís de Carvalho

Virgílio Gomes

R e v i s ã o d e Te x t o s

Passar Revista

F o t o g r a f i a

Câmaraardente, produções fotográficas

Flávio Andrade

Guto Ferreira

I m p r e s s ã o e a c a b a m e n t o

Corlito – Artes Gráficas

T i r a g e m 2500 exemplares

I S S N 1646‑1835

D e p ó s t i o L e g a l 224633/05

L V T # 1 2 – J u l h o | A g o s t o | 2 0 1 0 | Q u a d r i m e s t r a l

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ín dice Editorial Virar a Página............................................................................ 2 Teresa Almeida

Actualidade PME – Apoios são importantes..........................................4 Carla Amaro

Opinião Cidades Perfeitas....................................................................12 Fernanda Câncio

Entrevista Teresa Almeida Presidente da CCDR-LVT...................................................... 18 Ana Sousa Dias

Inovação Augusto Mateus A inovação é para todos.....................................................28 Luis de Carvalho

Acontecimento Desenvolver a Inovação e a Competitividade da Indústria Naval ...................34

Reportagem/Património Era uma vez uma casa de histórias...............................36 Carla Maia de Almeida

Destaque INDUSCRIA Uma Plataforma para as Indústrias Criativas........44

Comunidade Urbana Teatro Instável........................................................................46 André Gago

Roteiro Cozinha do presente Cozinha do futuro.................................................................52 Virgílio Gomes

Agenda cultural......................................................................58

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Editorial.|.Teresa Almeida

Virar a Página

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A Região de Lisboa e Vale do Tejo. encontra-se.num.momento.em.que.a.afirmação.no.contexto.ibérico.e.europeu.é.essencial.para.garantir.a.com-petitividade. das. suas. empresas. e. o. bem-estar.das.populações.

2010.é.um.ano.fulcral..Estamos,.precisamente,.a.meio.do.período.de.execução.normal.do.QREN.2007-2013..Torna-se,.assim,.neces-sário.fazer.um.balanço.dos.resultados.atingidos.e.traçar.o.futuro..Um. futuro. com. mudanças. de. rota. impostas. pela. conjuntura.actual,.de.escassez.de.recursos,.que.nos.obriga.a.seguir.um.caminho.ainda.mais.responsável..

Há. que. reconhecer. que. o. contexto. deste. ciclo. de. programação.–.profundamente.marcado.pelo.que.já.é.conhecido.como.a.Grande.Recessão. da. economia. mundial,. com. os. efeitos. sobejamente.conhecidos.na.capacidade.de. investimento.das.empresas.e.das.entidades.públicas.–.foi.adverso.a.uma.rápida.e.exigente.absor-ção.dos.recursos.disponíveis.

No.entanto,.está.na.hora.de.virar.a.página.e. tomar.as.decisões.que.se.impõem..

Conseguir.que.os.projectos.aprovados.no.âmbito.do.QREN.tenham.um.contributo.decisivo.para.o.relançamento.da.economia.e.para.a.sua.alteração.estrutural.é,.agora.mais.do.que.nunca,.um.impe-rativo.nacional.a.que.não.nos.podemos.eximir..Nesse.sentido,.até.ao.final.do.ano,.vai.apostar-se.numa.forte.melhoria.do.desempe-nho.das.suas.NUTS.III,.com.apoio.comunitário.do.POR.Lisboa.e.de.outros.Programas.Operacionais.Regionais.do.Continente,.no.que.se. refere. à. boa. e. efectiva. utilização. dos. fundos. comunitários..disponíveis.para.apoio.ao.desenvolvimento..

Enquanto.Presidente.da.Comissão.Directiva.do.POR. Lisboa,. vou.envolver-me. de. forma. particularmente. activa. no. acompanha-mento.próximo.de.todos.os.promotores.de.projectos.já.aprovados.ou. em. fase. de. preparação. de. candidaturas,. no. âmbito. do. POR.Lisboa..Queremos.ter.a.certeza.de.que.tudo.faremos.para.apoiar.o.desenvolvimento.tempestivo.dos.projectos.admitidos.(e.que.no.caso.do.POR.Lisboa.representam.quase.dos.fundos.disponíveis),.

mas.também.de.que.as.novas.iniciativas.que.venham.a.ser.apre-sentadas.possam.ter.todas.as.condições.para.um.rápido.desen-volvimento.

Numa. segunda. dimensão,. destacamos. a. necessidade. de. uma.maior. proximidade.na. relação. com.as. entidades. envolvidas.na.gestão.do.POR.Lisboa,.na.qualidade.de.Organismos.Intermédios,.com.responsabilidades.no.acompanhamento.da.Gestão.

Proximidade.e.diálogo.são,.aliás,.os.valores.pelos.quais.pauta-mos. a. nossa. conduta.. Queremos. ser. um. parceiro. facilitador.dos.municípios.e.não.um.obstáculo.ao.seu. trabalho..Só.através.da.cooperação.e.partilha.seremos.capazes.de.encontrar.soluções..eficazes. para. os. problemas.. Fazer. mais. e. servir. melhor.. É. este..o.futuro.traçado.para.a.CCDR-LVT.

Um.primeiro.passo.está.já.a.ser.dado.com.o.arranque.do.funcio-namento. do. Centro. de. Observação. das. Dinâmicas. Regionais.(CODR).. Um. instrumento. privilegiado. de. avaliação. dos. efeitos.dos.fundos.estruturais.nas.regiões,.previsto.no.modelo.de.gover-nação. do. QREN,. que. vê,. finalmente,. criadas. as. condições. para.avançar..Sem.capacidade.de.tratamento.da.informação.e.análise.estratégica.da.trajectória.da.nossa.Região,.não.poderemos.avaliar.com.segurança.e.inteligência.os.sucessos,.nem.identificar.os.pro-blemas.. O. nosso. objectivo. é. que. a. CCDR-LVT. consiga. combinar.a.análise. das. dinâmicas. de. desenvolvimento. regional. com. os.instrumentos. de. ordenamento. do. território,. e. capacitar-se. para.entrar.no.debate.das.perspectivas.financeiras.para.o.novo.período.de.programação. de. Fundos. Comunitários. com. um. conheci-mento.efectivo.das.dinâmicas. sociais,. económicas. e. territoriais.da.Região.

A.CCDR-LVT.quer.ser.um.agente.de.desenvolvimento.da.Região,.cuja.acção.contribui.para.marcar.a.diferença:.na.qualidade.dos.serviços.prestados,.na.oportunidade.da.abordagem.aos.seus.par-ceiros,. na. eficácia. das. soluções. que. propõe. e. ajuda. a. procurar..Voltar. a.página.não. é. uma.necessidade. ou.uma.oportunidade..Voltar.a.página.é.um.imperativo.de.consciência.para.todos.quan-tos.fazem.do.desenvolvimento.da.Região.de.Lisboa.e.Vale.do.Tejo.o.seu.objectivo.

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Desde o início da aplicação do QREN, em Julho de 2008, já foram distribuídos

pelos dezoito municípios da Área Metropolitana de Lisboa mais de metade

dos 306 milhões de euros de fundos de apoio destinados à região, agora

integrada no Objectivo II, Competitividade Regional e Emprego. Para as

Pequenas e Médias Empresas (PME), os montantes recebidos «são muito

importantes» para a sua sustentabilidade financeira e posicionamento nos

mercados, uma vez que não têm de suportar sozinhas o investimento nos

projectos de inovação e de investigação e desenvolvimento tecnológico que as

distinguem da concorrência.

PME

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Candidatamo-nos com o projecto HSUN,.que.tem.um.investimento. total. de. 800.mil. euros,. e. esperamos.receber.em.breve.o.primeiro.montante.de.um.incen-tivo.de.400.mil.euros»..Catarina.Matos,.do.gabinete.de. comunicação. da.WS. Energia,. reconhece. que. os.

apoios. financeiros. do. QREN. (Quadro. de. Referência. Estratégico.Nacional),.distribuídos.através.do.PORLisboa.(Programa.Operacional.Regional.de.Lisboa),.são.um.instrumento.importante.para.a.com-petitividade. das. pequenas. e. médias. empresas,. que. constituem.o.grosso.do.tecido.empresarial.português..

O.QREN.é.o.instrumento.que.enquadra.a.aplicação,.em.Portugal,.dos.fundos.da.política.de.coesão.da.União.Europeia.para.o.período.2007-2013,.estabelecendo.cinco.grandes.prioridades.estratégicas.nacionais:.qualificação.dos.cidadãos,.dinamização.do.crescimento.sustentado,.promoção.da.coesão.social,.qualificação.dos.territórios.e.das.cidades.e.aumento.da.eficiência.e.qualidade.dos.serviços.públicos..Os.incentivos.são.distribuídos.conforme.a.prioridade.esta-belecida.no.PORLisboa..Para.o.Eixo.1.foram.destinados.51%.da.verba.programada.(o.que.corresponde.a.155.273.945.euros),.para.o.eixo.2.cerca.de.23%.(70.723.914.euros),.para.o.eixo.3.a.mesma.percentagem.(e.os.mesmos.euros),.para.o.eixo.4,.apenas.3%.(9.967.398.euros).

No.caso.da.WS.Energia,.os.apoios.que.vai.receber.do.QREN.visam.ajudar.a.empresa.a.posicionar-se.na.fileira.da.investigação.e.desen-volvimento. tecnológico. (I&DT). –.a. I&DT.é.um.dos. três. tipos.de.sistemas.de.incentivos.do.QREN,.sendo.dirigido.a.empresas.que.

pretendem.investir.em.actividades.de.investigação.ou.desenvol-vimento.tecnológico.que.conduzam.à.criação.ou.melhoria.signi-ficativa.de.produtos.–.os.incentivos.são.a.fundo.perdido.e.os.pro-jectos.deverão. ter.um.montante.de.despesas.elegíveis.superior.a.cem.mil.euros..

Desde.o.início.da.aplicação.do.QREN,.Julho.de.2008,.já.foram.distri-buídos.pelos.dezoito.municípios.da.Área.Metropolitana.de.Lisboa.mais.de.metade.dos. 306.milhões.de. euros.de. fundos.de.apoio.destinados.à. região,.agora. integrada.no.Objectivo. II,.Competiti-vidade.Regional.e.Emprego.(o.Objectivo.I.é.o.estatuto.atribuído.às.regiões.mais.pobres,.que.têm.a.convergência.como.meta.a.atin-gir. numa. primeira. fase).. Integrar. o. Objectivo. II. significa. para.a.Grande. Área.Metropolitana. de. Lisboa. novos. desafios,. é. certo,.mas,. por. outro. lado,. coloca-a. numa. posição. menos. favorável.quanto. aos. incentivos. a. receber.. Por. ser. do.Objectivo. II,. recebe.agora.menos.dinheiro..

Os.projectos.apresentados.englobam.diversos.sectores.de.activi-dade,.como.a. tecnologia.e.desenvolvimento,.a. inovação,.a.reno-vação.do.parque.escolar,.a.qualificação.ambiental,.a.reabilitação.urbanística. de. centros. históricos,. entre. outras,. com. potencial.para.colocar.a.região.entre.as.mais.competitivas.da.Europa..É.que.o. QREN,. através. do. Sistema. de. Incentivos. ao. Investimento. das.Empresas. é. uma. das. ferramentas. de. dinamização. económica,.sobretudo.no.que.respeita.à.promoção.da.inovação.e.do.desen-volvimento. regional.. A. lista. de. candidatos. a. beneficiários. dos.

Actualidades.|.Carla AmaroFotografia.|..Guto Ferreira

Apoios são importantes

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apoios.do.QREN.é.igualmente.vasta:.administração.pública.central.e.local,. empresas. (incluindo. municipais),. associações. empresa-riais,. agentes. de. investigação. e. desenvolvimento. tecnológico,.agências.de.inovação,.centros.de.investigação,.centros.de.desen-volvimento.de.produto,. instituições.de.ensino,. IPSS.(Instituições.Particulares. de. Solidariedade. Social),. ONG. (Organizações. Não.Governamentais),. instituições. particulares. de. interesse. público.e.cidadãos.que.vivem.e.trabalham.na.Região.de.Lisboa..

Com.a.tecnologia.fotovoltaica.HSUN,.lançada.em.Setembro.de.2009,.a.WS. Energia. pretende. desenvolver. um. novo. sistema. concen-trador. com. óptica,. estrutura. e. módulos. fotovoltaicos. especial-mente.desenhados.para. trabalhar. sobre.a. concentração.de.dez.vezes.a.intensidade.normal.do.sol..O.objectivo.é.fabricar.até.2012.uma.gama.de.produtos.fotovoltaicos.de.concentração,.capazes.de.produzir. electricidade. a. preços. competitivos. relativamente. aos.combustíveis.fósseis..É.justamente.a.utilização.de.concentradores.fotovoltaicos.que.a.distingue.de.outras.tecnologias..Para.este.pro-jecto,.a.WS.Energia.contou.com.parceiros.nacionais.e.internacio-nais. de. ponta,. como. o. Instituto. Superior. Técnico,. a. Faculdade.de.Ciências.da.Universidade.de. Lisboa,. a. Faculdade.de.Ciências.e.Tecnologia.da.Universidade.Técnica.de.Lisboa.e.o.Centro.Ricerche.ISCAT.(Itália)..Recebeu.do.QREN,.através.do.PORLisboa,.um.incen-tivo. de. 400.mil. euros,. para. um. investimento. total. de. 800.mil.euros.

A.WS.Energia.foi.fundada.em.2006.e.para.este.ano.definiu.como.estratégia-chave.o.investimento.na.internacionalização.do.solar.fotovoltaico,. pelo. que. «a. seu. tempo. apresentaremos. projectos.que. se. enquadrem. na. tipologia. Internacionalização,. mas. para.

Com a tecnologia fotovoltaica HSUN, lançada em Setembro de 2009, a WS Energia pretende desenvolver um novo sistema concentrador com óptica, estrutura e módulos fotovoltaicos especialmente desenhados para trabalhar sobre a concentração de dez vezes a intensidade normal do sol.

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já.não»..Depois.de.nos.últimos.três.anos.a.percorrer.«com.sucesso.as.fases.de.star-up,.lançamento.de.produtos.inovadores.e.consoli-dação.da.equipa,.é.chegada.a.altura.de.apostar.forte.na.diversifi-cação. geográfica. da. sua. actividade. comercial.. Com. as. vendas.repartidas.igualmente.entre.Portugal.e.Itália.desde.2007,.a.inter-nacionalização.global.para.o.mercado.norte.e.sul.americano.tem.sido.preparada.com.a.identificação.de.parceiros.locais.e.de.estra-tégias.diferenciadas.para.cada.mercado..«Pretendemos.facturar.este.ano.mais.de. 15%.em.novos.mercados,. entrando.em.países.como.Brasil,.Estados.Unidos.e.Moçambique..Estas.são.as.primei-ras.apostas».

Depois. do.HSUN,. A.WS. energia. candidatou-se. aos. fundos. com.o.NPT,. que. entretanto. «também. já. foi. aprovado»,. avança.ainda.Catarina.Matos..Com.o.NPT.pretende-se.desenvolver.uma.meto-dologia.que.questiona.um.produto.de.alta. tecnologia.nas.suas.mais. diversas. fases. de. desenvolvimento.. «Se. o. produto. passar.todas.as.etapas,.significa.que.vai. ter.sucesso.no.mercado.e.via-bilidade.técnica..Digamos.que.se.trata.de.uma.metodologia.que.vai.testando.o.produto»..

A.Eurotrials,.uma.empresa.que.faz.consultoria.e.serviços.em.inves-tigação.na.área.da.saúde,.também.se.candidatou.aos.incentivos.do.QREN. com.o.projecto. Internacionalização.América.do.Norte.e.América.do. Sul,. SI.Qualificação. e. Internacionalização.de. PME..Segundo.Rui.Melo,.director.executivo.da.empresa,.a.actividade.da.Eurotrials.«depende.fortemente.da.sua.inserção.numa.rede.inter-nacional.de.prestadores.de.serviços.desta.natureza..A.capacidade.da.empresa.de.competir.neste.mercado.em.crescente.globaliza-ção.está.fortemente.ligada.à.sua.capacidade.de.oferecer.serviços.

Quem também reconhece a dificuldade em expandir o negócio sem os apoios do QREN é o director do departamento de marketing da New Vision. António Pedroso garante que a empresa «percorreria os mesmos passos», mas admite que a uma velocidade diferente, o que poderia revelar-se um factor de insucesso. «Sem dúvida, no nosso caso seria difícil conseguir expandir o negócio a este ritmo sem esse plano de incentivos».

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em.vários.países.de. forma. integrada»..A.expansão.dos. serviços.para.o.Brasil. em.2001,. o.desenvolvimento.de.novas.actividades.noutros.países.da.América.do.Sul.e.Europa,.bem.como.as.novas.oportunidades.nos.países. africanos.de. expressão. oficial. portu-guesa,. vêm. ao. encontro. da. estratégia. da. empresa.. No. âmbito.deste. objectivo. estratégico,. a. Eurotrials. tem. como. principais.clientes-alvo. a. indústria. farmacêutica. e. organizações. interna-cionais.promotoras.de.desenvolvimento.de.novos.fármacos.ou.de.novas.abordagens.terapêuticas..Estas.entidades.estão.principal-mente.sediadas.na.Europa.e.nos.EUA,.embora.se.assista.à.emer-gência.de.capacidades.de.I&D.nesta.área.em.países.da.Ásia.e.da.América. do. Sul,. entre. os. quais. o. Brasil.. Integrado. neste. plano.de.longo.prazo.está.o.projecto.com.que.a.empresa.se.candidatou.ao.QREN,.«cujo.principal.objectivo.é.o.crescimento.da.Eurotrials.nos.mercados. da. América. do.Norte. e. América. do. Sul,. estando.para. isso. previstas. um. conjunto. de. actividades. de. prospecção.e.de.mercados.e.marketing,.incluindo.a.participação.em.diversas.feiras.e.eventos.ao.longo.do.projecto»..

A.conclusão.do.projecto.estava.prevista.para.Junho.de.2010,.mas.a.Eurotrials.pediu.prorrogação.por.mais.um.ano,.«de.forma.a.con-seguir. cumprir. o. investimento. previsto».. Para. Rui. Melo,. estes.incentivos.«são.muito.importantes»,.pois.permitem.à.Eurotrials.o.reforço.do.investimento.na.internacionalização.e.possibilitam.uma.abordagem.integrada.e.mais.completa.num.menor.período.de.tempo..«Esperamos.potenciar.significativamente.o.crescimento.da.Eurotrials.nestes.mercados»..O.projecto.em.causa.é.estratégico.para.a.empresa,.e.teria.de.ser.desenvolvido;.no.entanto,.«o.investi-mento.teria.de.ser.distribuído.por.mais.anos,.diminuindo.neces-sariamente. a. velocidade. de. crescimento. da. Eurotrials. nestes.

Pedro Seabra (CEO

da Viatecla) e Ricardo

Raminhos, da Viatecla,

reconhecem importância

aos apoios atribuídos pelo

QREN: «este tipo de apoios

potenciam múltiplos

benefícios e ajudam

a dotar as empresas

de condições e capacidades

para avançar com deter-

minadas actividades (...)».

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.mercados»..Um.aspecto.que.Rui.Melo.gostaria.de.ver.melhorado.é. o. tempo. que. demora. a. receber. o. valor. do. incentivo:. «Para.empresas. como. a. Eurotrials. poderem. rentabilizar. da. melhor.forma. estes. incentivos,. a. taxa. de. esforço. necessária. para. uma.candidatura.de.sucesso.e.a.sua.respectiva.gestão.devia.ser.dimi-nuída,.simplificando.e.optimizando.o.processo».

Quem.também.reconhece.a.dificuldade.em.expandir.o.negócio.sem.os.apoios.do.QREN.é.o.director.do.departamento.de.marke-ting.da.New.Vision..António.Pedroso.garante.que.a.empresa.«per-correria.os.mesmos.passos»,.mas.admite.que.a.uma.velocidade.diferente,.o.que.poderia.revelar-se.um.factor.de.insucesso..«Sem.dúvida,.no.nosso.caso.seria.difícil.conseguir.expandir.o.negócio.à.velocidade.necessária.sem.esse.plano.de.incentivos..Para.uma.pequena.e.média.empresa,.principalmente.em.Portugal,.não.é.fácil.o.mercado.interno.conseguir.alavancar.o.negócio.de.forma.a.que.se.consiga.ainda.investir.na.internacionalização,.e,.quando.se.con-segue,.os.riscos.são.muitos.e.basta.um.erro.para.que.todo.o.negócio.seja.posto.em.causa»..

Neste.momento,.a.execução.do.projecto.com.que.a.New.Vision.se.candidatou. anda. perto. dos. 40. por. cento,. estimando-se. que.estará.concluída.em.Abril.de.2011..«A.fase.final.é.onde.se.registará.uma.execução.mais.forte,.já.que.é.na.presença.activa.nos.merca-dos. que. o. projecto. tem. mais. incidência».. O. projecto. da. New.Vision.abrange.quatro.grandes.áreas.para.o.desenvolvimento.da.empresa.no.mercado.externo:.expansão.da. internacionalização.(entrada.em.novos.mercados.através.de.pesquisas.de.mercados,.estudos.de.potencial.e.avaliação.de.parceiros);.reforço.da.equipa.comercial.e.de.apoio. (entrada.de.novos.elementos.nas.equipas.

Diz Nuno Duro, da Evolve

Space Solutions, que «antes

da empresa começar

a executar este projecto

no ano passado, cerca

de 70% a 80% das nossas

receitas eram oriundas

do estrangeiro;

candidatámo-nos ao QREN

para potenciar ainda mais

a internacionalização

e o crescimento dos nossos

clientes noutros países».

Nesse sentido, e no âmbito

deste projecto, a Evolve

já participou em oito feiras

internacionais – Coreia

do Sul, França, Alemanha,

Espanha e Itália, certames

essencialmente destinados

ao mercado aeroespacial

e das tecnologias

de inovação.

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comercial.e.marketing.que.permitiram.acompanhar.os.novos.mer-cados.conquistados);.propriedade.industrial.(registo.das.marcas.da.New.Vision.a.nível.internacional,.de.modo.a.permitir.uma.pro-tecção.sobre.os.seus.investimentos.de.desenvolvimento);.e.reforço.da.equipa.e.dos.projectos.de.I&DT.(entrada.de.novos.elementos.para.o. rápido.desenvolvimento.de.novos.produtos.ou. customi-zação.dos.produtos.existentes.às.solicitações.dos.novos.mercados)..O.projecto.tem.um.investimento.de.600.mil.euros.e.a.empresa.recebeu.um.incentivo.de.208.mil.euros..

A.empresa.de.soluções.informáticas.Viatecla.também.se.candida-tou.aos.incentivos.do.QREN,.com.dois.projectos:.o.VideoforTravel,.de.investigação.e.desenvolvimento.tecnológico,.e.outro.de.quali-ficação. e. internacionalização.. O. primeiro. visa. a. aplicação. das.capacidades.das.redes.de.nova.geração.ao.domínio.do.turismo.–.é.proposta.a.endogeneização.do.conteúdo.vídeo.na.sua.vertente.estática.e.dinâmica/interactiva.em.plataformas.de.gestão.do.negó-cio.do.turismo;.o.segundo.pretende.dotar.a.empresa.de.condições.de.potenciação.da.sua.competitividade,.através.do.aumento.da.flexibilidade.e.da.sua.capacidade.de.resposta.à.evolução.do.mer-cado..

O.VideoforTravel.encontra-se.ainda.numa.fase. inicial.de. imple-mentação.e.o.projecto.de.qualificação.e.de. Internacionalização.está.em.fase.de.análise.para.prorrogação.do.seu.período.de.imple-mentação..«A.conjuntura.económica.e.alguns. factores. internos.fizeram. com. que. a. implementação. fosse. desacelerada»,. como.justificam. Pedro. Seabra. (CEO. da. Viatecla). e. Ricardo. Raminhos.(innovation.manager),.para.quem.«os.valores.dos.incentivos.atri-buídos.pelo.QREN.a.ambos.os.projectos.são.muito.importantes»..Estes. responsáveis.garantem,.no.entanto,.que.a.empresa.consi-deraria.à.mesma.desenvolver.os.projectos.embora.«em.moldes.diferentes,.na.medida.em.que.este.tipo.de.apoios.potenciam.múl-tiplos. benefícios. e. ajudam. a. dotar. as. empresas. de. condições.e.capacidades.para.avançar.com.determinado.tipo.de.actividades,.as. quais. dificilmente. poderiam. ser. colocadas. em. prática. sem.apoios»..O.investimento.total.de.ambos.os.projectos.ronda.os.1.5.milhões.de.euros;.quanto.aos.incentivos.a.receber,.Pedro.e.Ricardo.não.avançam.valores.

A.criação.e.sustentação.de.relações.de.parceria.dinâmicas.e.fortes.com.o.mercado,. centros. de. I&D. e.universidades. tem. sido.uma.das.apostas. da.Viatecla. e. estes.projectos,. concretamente,. «vêm.reforçar.a.cooperação.e.as.parcerias.com.a.Universidade.de.Évora,.com. o. ISCTE,. com. a.UNINOVA. da.Universidade.Nova. de. Lisboa.e.com.outras.entidades»..

«Relevantes».é.como.a.VIAPONTE.avalia.a.importância.dos.apoios.financeiros.recebidos.por.dois.projectos.que.apresentou.ao.QREN..Um.destina-se.ao.aperfeiçoamento.dos.fluxos.e.posicionamento.eficaz,. diversificado. e. sustentável. no. mercado. internacional;.o.outro.é.de.desenvolvimento.e.engenharia.de.produtos,.serviços.e.processos.de.internacionalização..Com.o.primeiro,.a.VIAPONTE.pretende. um. reforço. das. estruturas. e. ferramentas. produtivas,.através.do.apoio.de.consultores.experientes.na.optimização.e.siste-matização.de.modelos.operativos..Faz.parte.deste.projecto.também.a.«aquisição.de.equipamentos,.a.concretização.de.fluxos.eficien-tes.de.trabalho.através.da.criação.de.uma.plataforma.laboratorial.de.realização.de.projectos,.orientados.pelos.pressupostos.de.con-tenção.e.de. credibilização.da. informação.base».. Paralelamente,.a.produção.dinâmica.de.produtos.que.levem.a.ganhos.de.eficiên-

cia.na.comunicação.consultor/cliente..O.investimento.total.é.de.110.917. euros,. dos. quais. 32.866. correspondem. ao. incentivo. que.a.VIAPONTE.recebe.do.QREN..

Maior.é.o.investimento.do.projecto.de.desenvolvimento.e.enge-nharia.de.produtos,.que.ronda.os.221.203.euros.e.pelo.qual.foi-lhe.atribuído.um.incentivo.de.58.743.euros..Este.projecto.visa.a.melhoria.das.capacidades.de.desenvolvimento.de.produtos,.materializado.no. reforço. das. capacidades. de. desenvolvimento. e. engenharia.de.produtos,.serviços.e.processos,.através.da. implementação.de.um.projecto.de.reforço.das.estruturas.e.ferramentas.produtivas..Como?.«Através.da.formação.de.um.técnico.de.informática.nos.diferentes. programas,. para. que. seja. dotado. de. conhecimentos.que. lhe. permitam. a. instalação,. configuração,. implementação.final,.manutenção.e.segurança.da.infraestrutura.existente,.ficando.assim.habilitado.a.proceder.às.alterações.solicitadas,.ajustando--as.às.necessidades.pretendidas,.à.sua.implementação.no.mais.curto.espaço. de. tempo. (minimizando. custos. de. aplicação),. verificar.com.regularidade.a.segurança.da.infraestrutura.e.aplicar.as.actua-lizações. disponíveis».. Prevê-se. ainda. a. aquisição. de. software.específico,.que.permitirá.a.produção.de.um.produto.melhorado.e.tecnicamente.mais.avançado.

A. internacionalização.é.uma.estratégia.chave.para.a.VIAPONTE,.nomeadamente.a.procura.de.estratégias.que.permitam.o.«aumento.do.volume.de.vendas.em.2%».e.uma.maior.independência.face.ao.volume. de. vendas. com. origem. nacional. («obtenção. de. um.rácio. de. 55%. do. volume. de. negócios. internacional,. contra. 45%.de.origem.nacional»),. fundamentado.num.processo.de. interna-cionalização. estável,. diversificado. e. exequível.. Estes. objectivos,.segundo.informações.do.gabinete.de.comunicação.da.empresa,.«serão. fortalecidos.através.da.definição.de.estratégias.de.abor-dagem.diversificada.de.mercados,.de.forma.a.permitir.o.estabele-cimento.de.contactos.comerciais.que.se.materializem.na.activi-dade. sustentável. nos. mercados-alvo,. opção. de. mercados. alvo.potenciadores.da.experiência.da.empresa.e.a.formação.e.qualifi-cação.de.recursos.humanos.de.forma.a.sustentar.o.processo.de.internacionalização».. Este.projecto. estará. concluído.em. Janeiro.de.2011.

Três.são.os.projectos.com.que.a.Evolve.Space.Solutions.se.candi-datou. aos. fundos. do. QREN,. um. de. internacionalização. e. dois.de.investigação. e. desenvolvimento. tecnológico.. Com.o.projecto.de.internacionalização,.que.tem.um.investimento.total.de.176.mil.euros. (45%. deste. valor. é. subsidiado. pelo. QREN),. a. empresa..pretende.promover.no.estrangeiro.os.seus.clientes.(outras.empre-sas),.através.de.técnicas.de.marketing.directo.(por.exemplo,.publi-cações.técnicas.em.conferências).e.a.participação.em.feiras.noutros.países..Diz.Nuno.Duro,.da.Evolve,.que.«antes.da.empresa.começar.a.executar.este.projecto.no.ano.passado,.cerca.de.70%.a.80%.das.nossas.receitas.eram.oriundas.do.estrangeiro;.candidatámo-nos.ao. QREN. para. potenciar. ainda. mais. a. internacionalização. e. o.crescimento.dos.nossos.clientes.noutros.países»..Nesse.sentido,.e.no.âmbito.deste.projecto,.a.Evolve.já.participou.em.oito.feiras.internacionais.–.Coreia.do.Sul,.França,.Alemanha,Espanha.e.Itália.–,.certames. essencialmente. destinados. ao. mercado. aeroespacial.e.das.tecnologias.de.inovação.

A. inovação. é. justamente. a. aposta. da. Evolve. Space. Solutions..O.VIRTU.e.o.Mobile-Geo,.os.projectos.de.investigação.e.desenvol-vimento.tecnológico.com.que.se.candidatou.aos.incentivos.comu-

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nitários.são.disso.prova.óbvia..Até.agora,.a.criação.de.uma.infra-estrutura.de.tecnologia.de.informação.era.demorada:.era.preciso.configurar.o.hardware,.instalar.e.configurar.o.sistema.operacional,.instalar.os.aplicativos.necessários,.configurar.cada.aplicação.para.o.usuário,.etc..Com.o.VIRTU,.essas.tarefas.podem.ser.executadas.automaticamente,. através. de. um. pedido. simples. de. aceitação,.bastando.para.isso.alguns.cliques.no.rato..O.VIRTU.também.oferece.muitas. vantagens. para. testes. e. desenvolvimento. de. software:.exige.menos.tempo.para.implantar.vários.sistemas.e.testar.várias.configurações,.a.automação.leva.a.uma.minimização.dos.riscos.de.fracasso,.permite.uma.melhoria.da.gestão.de.utilizadores.da.infra-estrutura. e. alocação. de. máquinas.. Por. outras. palavras,.o.VIRTU.é.um.produto.de.virtualização.de.software.para.automa-tizar.testes.e.reduzir.as.possibilidades.de.erro..Surgiu.no.âmbito.de.um.projecto. que. a. Evolve. executou.para. a.Agência. Espacial.Europeia..«Achámos.que.esta.ferramenta.tinha.potencial.para.ser.aplicada.noutros.mercados.e.foi.por.isso.também.que.nos.candi-datamos.ao.QREN..Quisemos.“produtivizar”.o.produto,.rentabilizá--lo. e. aplicá-lo. noutras. áreas,. por. exemplo. telecomunicações,.produção.farmacêutica,.industrial.e.energia»..Quanto.ao.Mobile-Geo,.trata-se.de.um.produto.de.posicionamento.de.levada.preci-são..Se.com.um.receptor.de.GPS.normal.existe.uma.precisão.de.3.a.15.metros,.com.o.Mobile-Geo.a.precisão.é.de.20.cm..O.objectivo.do. GEO-Mobile. é. a. visualização. e. a.manipulação. de. dados. de.informação. geográfica. sobre. um. dispositivo. móvel.. O. produto.destina-se. a. profissionais. das. áreas. de. cartografia,. topografia.e.levantamento.cadastral..

Observatório do QRENPara.assegurar.a.aplicação.eficaz.e.eficiente.dos.fundos.comuni-tários. foi.criado.o.Observatório.do.QREN..Além.de.desenvolver.um.conjunto.de.actividades.de.coordenação.e.acompanhamento.do.modo. como.estão.a.prosseguir. as.prioridades.estratégicas,.tem. como. funções. analisar. as. questões. económicas,. sociais.e.territoriais. associadas. ao. contexto. de. aplicação. dos. fundos.comunitários,. elaborar. a. estratégia.global.de. comunicação.do.QREN.e.dos.PO.(Programas.Operacionais),.prestar.apoio.técnico.e.administrativo.ao. funcionamento.da.Comissão.de.Avaliação.das. Estratégias. de. Eficiência. Colectiva. (previstas. no. QREN),..contribuir.para.a.elaboração.dos.relatórios.anuais.de.monitori-zação.do.QREN,.entre.outras.

Constituído.por.30.elementos,.desenvolve.a.sua.acção.em.par-ceria.com.as.autoridades.dos.PO,.as.autoridades.de.coordenação.nacional.e.certificação.dos.fundos.comunitários.envolvidos.–.tais.como.o. Instituto. Financeiro. para. o.Desenvolvimento. Regional.(IFDR),. no. que. respeita. ao. FEDER. e. ao. Fundo. de. Coesão,. e. o.Instituto. de. Gestão. do. Fundo. Social. Europeu. (IGFSE),. no. que..respeita.Fundo.Social.Europeu.–,.a.Inspecção.Geral.de.Finanças,.os.Gabinetes.de.Planeamento,.Estudos.e.Relações.Internacionais.dos.diversos.ministérios,.e.os.serviços.competentes.da.Comissão.Europeia.

No. site. www.observatorio.pt. encontra-se. toda. a. informação.sobre.o.Observatório,.os.números.da. implementação.do.QREN.e.dos. respectivos. programas. operacionais. (quer. em. termos.financeiros. quer. de. realizações. e. resultados),. os. indicadores.de.contexto.socio-económicos.nacionais.e.internacionais,.a.ava-liação.da.utilização.dos.fundos.comunitários.em.Portugal,.a.polí-tica.de.coesão.da.União.Europeia. (passado,.presente.e. futuro).e.muito.mais.em.documentos.de.referência..

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cidades

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Não existem, diz o senso comum.

Mas podemos tentar construí-las, vivê-las, dizê-las.

Imaginá-las. Como seriam? Como seria a nossa

cidade se tudo estivesse no lugar e a funcionar na

perfeição? Como que se pareceria? O que mudaria?

Opinião.|.Fernanda CâncioFotografia.|..ca, produções fotográficas [Fotografias.realizadas.no.Parque.das.Nações,.Lisboa]

perfeitas

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Andar a pé. Passeios largos, sem pedras soltas.nem. desníveis. traiçoeiros. a. torcer. pés. e. a. fazer.laguinhos. quando. chove,. com. espaço. e. rampas.para.cadeiras.de.rodas.e.carrinhos.de.bebé.e.sem.pilaretes.e.mupis.a.barrar.o.caminho..Passeios.onde.

se.possa.caminhar.de.bengala.ou.de.andarilho,.com.dificuldades.de.visão.ou.mesmo.cego,.e,.orgulhosa.e.galhardamente,.de.salto.agulha. ou. de. plataformas. daquelas. de. 12. centímetros,. sem. ter.de.contratar.um.seguro.contra.todos.os.riscos;.passeios.que.não.sirvam.só.para.galochas.e.ténis.e.gente.ágil.e.inquebrável,.passeios.onde.se.passeie,.com.prazer.e.despreocupação,.olhando.o.céu,.os.prédios,.as.montras.e.os.outros,.e.não.como.num.campo.minado..Passeios. dignos. do. nome,. correspondentes. à. função,. pensados,.mantidos.e.apropriados.para.passear..(Se.a.calçada.à.portuguesa,.tão.bonita.para.as.fotos.e.os.guias.turísticos,.é.escorregadia,.cara.e. tão. difícil. de. manter. em. condições. mínimas. de. estabilidade.e.viabilidade,.não.será.altura.de.pensar.em.alternativas.que.não.transformem.os.transeuntes.em.mártires.de.postal.ilustrado?).

Uma.cidade.perfeita.não.admite.rupturas.de.ligamentos,.quedas.e.pés.partidos.de.cinco.em.cinco.metros.nem.se.faz.contribuinte.líquida.do.negócio.dos.sapateiros.que.mudam.capas.e.endireitam.saltos..Uma.cidade.perfeita.não.é.um.caminho.de.cabras,.nem.um.museu.de.pavimentos.tradicionais..É.para.usar.e.viver,.com.o.máxi-mo.de.prazer.e.o.mínimo.de.prejuízo..É.uma.cidade.cuja.autarquia.tem.brigadas.para.verificar.o.estado.dos.pavimentos.–.o.dos.pas-seios.e.o.das.faixas.de.rodagem.para.veículos.–,.para.os.reparar.

diariamente.e.para.certificar.que.não.há.obstáculos.à.cidadania.(ao.viver.da.cidade,.portanto).das.pessoas.em.geral.e.das.pessoas.com.dificuldades.de.locomoção.em.particular,.uma.cidade.capaz.de.repensar.o.tipo.de.pavimento.utilizado.se.chegar.à.conclusão.de.que.não.serve..

Uma. cidade. perfeita. privilegia. os. transeuntes,. os. peões,. sobre.o.tráfego.automóvel..Não. transforma. todas. as. zonas.da. cidade.em.vias.rápidas.nem.«o.escoamento.do.tráfego».em.prioridade..Não.admite.que.o. império.do.automóvel. comprima.os.direitos.das.pessoas,.não.permite.que.as.suas.artérias.centrais.sejam.pistas.de.corridas.em.que.mesmo.em.passadeira.e.com.sinal.verde.para.peões.se.arrisca.a.vida.a.cada.atravessamento..Não.permite.que.o.nível.de.ruído,.vibração.e.poluição.atmosférica.transformem.as.ruas.em.túneis.de.tortura,.nem.que.todos.os.espaços.livres.sejam.assaltados.pelo.estacionamento.selvagem..Numa.cidade.perfeita.não.é.sequer.pensável.ver-se,.todos.os.fins-de-semana.ou.de.cada.vez.que.há.um.espectáculo.nas.salas.adjacentes,.a.avenida.princi-pal.transformada.em.parking.grátis.e.ao.ar.livre,.numa.obscena.demonstração. de. desprezo. e. incúria.. Numa. cidade. perfeita. as.autoridades.policiais.actuam.no.sentido.de.garantir.que.a.lei.seja.cumprida.–.não.estabelecem.níveis.arbitrários.de.aceitabilidade.para.as.faltas,. fechando.sistemática.e.aparatosamente.os.olhos.ao.estacionamento.ilegal,.com.alegação.espúrias.(«é.muito.com-plicado». ou. «temos. de. compreender»),. como. se. alguém. lhes.pagasse. para. fazer. interpretações. psicanalíticas. ou. aconselha-mento.emocional.de.automobilistas.e.não.para.manter.as.ruas.

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Uma cidade perfeita privilegia os transeuntes,

os peões, sobre o tráfego automóvel. Não transforma

todas as zonas da cidade em vias rápidas nem

«o escoamento do tráfego» em prioridade.

Não admite que o império do automóvel comprima

os direitos das pessoas, não permite que as suas

artérias centrais sejam pistas de corridas em que

mesmo em passadeira e com sinal verde para peões

se arrisca a vida a cada atravessamento.

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seguras.e.verificar.o.cumprimento.das.leis..Numa.cidade.perfeita.não.é.possível.colocar.carros.a.barrar.portas.de.prédios.nem.a.ocupar.completamente.passeios..Numa.cidade.perfeita.nem.os.automo-bilistas. são. selvagens. nem. a. polícia. é. inepta. e/ou. autocrática,.nem.quem.foi.eleito.para.a.função.de.administrar.acha.essas.coisas.de.somenos.e.negligenciáveis,.só.dignas.de.atenção.e.discurso.em.tempo.de.campanha.eleitoral..

Numa.cidade.perfeita.o.transporte.público.é.rei,.imperando.sobre.o.transporte.individual,.e.procura.corresponder.às.necessidades.dos.seus.clientes,.antecipando-as.e.estimulando-as..Numa.cidade.perfeita. não. há. planeamento. urbano,. seja. ele. habitacional. ou.comercial,. sem.articulação.com.a. rede.de. transportes.públicos;.nem.zonas.densamente.habitadas.mal.servidas.de. transportes..Numa.cidade.perfeita.não.se.retiram.ou.evitam.paragens.de.eléc-trico. e. autocarro. porque. tornam. a. circulação. de. automóveis.«lenta».. Numa. cidade. perfeita,. os.meios. de. transporte. público.menos.poluentes.e.mais.rápidos,.como.o.metro,.subterrâneo.ou.de.superfície,.são.desenvolvidos.de.modo.a.assegurar.um.máximo.de.acessibilidade.e.na.perspectiva.de.que.o.investimento.se.paga.sempre.em.ganhos.de.competitividade.e.ambiente,.mesmo.que.não.do.ponto.de.vista. financeiro..Numa.cidade.perfeita.não.há.mega-centros.comerciais,.culturais.e.de.entretenimento.construí-dos.sem.garantir.que.a.rede.de.metro.os.serve.(e.eles.a.ela)..

Uma.cidade.perfeita.não.vive.obcecada.com.o.turismo,.com.hotéis.de.charme.e. lojas.e.restaurantes.de.alta.gama;.vive.para.quem.

a.vive.diariamente.e.pensa.e.pensa-se.de.dentro,.conhecendo-se.e.imaginando-se.de.acordo.com.desejos.e.necessidades.intrínsecos,.que.a.façam.feliz.e.portanto.atraente.–.não.se.faz.atraente.como.se.isso.fosse.a.receita.da.felicidade..

Uma.cidade.perfeita.preocupa-se.em.encontrar.soluções.rápidas.e.eficazes.para.os.edifícios.abandonados.e.recusa.aceitar.que.no.seu. tecido. haja. focos. de. infecção. estética. e. ética,. quarteirões.inteiros.à.espera.de.uma.qualquer.oferta.milionária.ou.de.uma.habilitação.ou.divisão.de.herdeiros.que.se.arrasta.nas.décadas,.propriedades.públicas.ou.privadas.em.decadência.total.a.exibir.a.incúria.e.a.indiferença.da.administração.autárquica.e.a.nega-ção. da. cidadania.. Uma. cidade. perfeita. não. permite. o.martírio.burocrático.na.aprovação.de.projectos.de.adaptação.do.seu.casco.antigo,.nem.faz.um.bicho.de.sete.cabeças.da.alteração.do.uso.de.fracções,.sobretudo.quando.se.trata.de.as.transformar.em.habita-ção:. despacha-as. o.mais. depressa. que. for. possível,. queimando.etapas.e.estimulando.o.interesse.em.vez.de.escorraçar.os.interes-sados..Uma.cidade.perfeita.não.pensa.só.em.termos.de.grandes.projectos.imobiliários.e.de.intervenções.de.grande.escala:.percebe.que. a. renovação. e. a. reabilitação. se. faz. também,. ou. talvez. até.sobretudo,.de.esforços.individuais.e.modestos,.de.paixões.pessoais.e.voluntariosas.que.em.rede.a.levantam.e.revigoram..

Uma. cidade. perfeita. cuida. das. suas. árvores,. dos. seus. jardins..Jamais.permite. .que.sejam.arrasados.e.extintos.sem.satisfação.ou. sequer. aviso. público. –. graças. a. um. estatuto. de. protecção.

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.inexistente,. que. os. faz,. a. seres. vivos. e.multiplicadores. de. vida,.menos.dignos.do.ponto.de.vista.das.regulamentações.e.leis.que.uma.janela,.a.cor.de.uma.porta.ou.de.uma.fachada..Uma.cidade.perfeita.não.permite.que.o.seu.espaço.seja.desfeiteado,.coloni-zado.ou.apropriado.por.empresas.cuja.lógica.de.funcionamento.e.objectivos. lhe.é.alheia.e.que.se.arrogam.o.direito.de. impedir.vias.durante.meses.sem.o.menor.respeito.pelos.direitos.dos.pas-santes/residentes.ou.colocam.equipamentos.de.qualquer.manei-ra.e.em.qualquer.sítio,.desrespeitando.em.absoluto.as.caracterís-ticas. e.dignidade. de. locais. e. ambientes,. sem. sequer. solicitar.permissão.para.o.efeito.e.funcionando.numa.lógica.economicista.que. ignora. a. dimensão. estética. das. intervenções.. Uma. cidade.perfeita.pensa.meticulosa.e.pragmaticamente.a.sua.recolha.de.resíduos.e.jamais.permite.que.a.inércia,.a.incivilidade.ou.caracte-rísticas.do.edificado.lhe.transformem.as.ruas.em.lixeiras.e.mon-turos;.organiza.recolhas.diferenciadas.e.viabiliza.a.separação.de.lixo,.em.vez.de.a.transformar.num.suplício.ao.qual.só.fundamen-talistas.aderem.

Uma. cidade. perfeita. aposta. nas. energias. renováveis. e. apresenta.projectos.e.soluções.para.a.sua.utilização.e.incremento.em.todas.as.situações,.ao. invés.de.obstaculizar.e.protelar..Uma.cidade.perfeita.não.expulsa. . os.mercados.de. frescos.para.as.periferias,. . desman-telando.os.existentes.e.oferecendo.nada.em.troca:.percebe.que.um.mercado.é,.no.seu.essencial.encontro.de.oferta.e.procura.e.troca.de.competências.e.interesses,.o.embrião.da.sua.ideia.fundadora,.a.con-tinuar.e.adaptar,.não.a.anular.e.extinguir.

Uma. cidade. perfeita. respira,. flui,. não. se. submete. a. nenhuma.outra. lógica. senão. a. sua,. a. de. acolher. pessoas,. ofícios. e. ideias.e.proporcionar-lhes.o.máximo.de.conforto,.segurança.e.troca..

Uma.cidade.perfeita.aposta.na.criatividade.e.na.energia,.disponi-bilizando.espaço,.atenção.e.financiamento.aos.que.as.providen-ciam.e.garantem,.viabilizando.a.ocupação.de.zonas.centrais.com.ateliers. e. habitação. acessível. para. artistas. e. outros. criadores/aceleradores.. Antecipa. tendências,. acolhe-as. e. incrementa-as..Oferece.internet.livre.nas.zonas.onde.pretende.atrair.gente.–.para.viver,.lazer,.trabalho.–,.acarinha.projectos.comerciais.inovadores,.e.tem.a.noção.de.que.é.preciso.haver.oferta.para.todas.as.faixas.etárias.e.capacidades.económicas.. Intui-se.a.partir.dos.próprios.fluxos,.conhece-se,.analisa-se,.não.copia.modelos.mas.desenvolve.uma.personalidade.própria..Não.faz.planos.como.quem.projecta.no. vazio,. em. tábua. rasa,. nem. importa. ideias. feitas:. descobre.quem.é,.o.que.é,.o.que.quer.ser..

Uma.cidade.perfeita.não.se.preocupa.só.em.criar.museus.–.sabe-se.e.assume-se.celebração.global.do.tempo.e.da.história,.preservando.aquilo. que. vive. em. vez. de. deixar.morrer. para. depois. valorizar.a.memória.do.que.morreu..Uma.cidade.perfeita.não.se.preocupa.em.ser.perfeita,.mas.em.ser.e.fazer-se.cidade.–.uma.construção.de.encontros,.de.visões.e.de.interesses,.um.pacto.de.não.agressão.e. de. cumplicidade.. Um. lugar. onde. se. queira. parar. e. ficar,. que.amemos.e.nos.ame.de.volta..

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A mão esquerda tem de saber o que a mão direita faz, diz a presidente da Comissão

de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR-LVT),

para explicar como as questões de planeamento e de financiamento devem andar a par.

Chegou em Fevereiro à Comissão e começou por avaliar «a casa», depois da drástica

redução dos efectivos para menos de metade causada pela transferência para

a Administração da Região Hidrográfica do Tejo.

A recente decisão governamental de adiar os projectos do novo aeroporto

e da Terceira Travessia do Tejo permite-lhe, diz nesta entrevista, fazer planeamento

a sério. Os instrumentos de planeamento estão preparados, mas estão a terminar

os Polis, a precisar de avaliação, e há alguma frustração neste campo.

Para o acompanhamento do QREN, Teresa Almeida diz que precisa de uma grande

capacidade diplomática: Os atrasos na concretização podem ser inultrapassáveis

nuns casos, negociáveis noutros.

Mais do que ter os dossiers arrumados, a presidente da CCDR-LVT diz que o que

lhe importa são as pessoas.

Teresa AlmeidaPresidente da CCDR-LVT

Entrevista.|.Ana Sousa DiasFotografia.|.Flávio Andrade

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Depois de ter sido governadora civil de Setúbal e de ter dirigido o Departamento de Urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa, a CCDR-LVT representa um âmbito muito maior. Foi difícil adaptar-se?

Em.termos.territoriais,.pode.dizer-se.que.é.um.«upgrade»..Mas.na.Câmara.de.Lisboa,.embora.seja.uma.área.mais.limitada,.o.número.de.funcionários.existentes,. .os.desafios.inerentes.a.uma.grande.capital.e.as.contradições.do.tecido.social.deram-me.uma.grande.noção.de.complexidade.da.gestão.do.território..Nem.sempre.uma.área.territorial.maior.está.associada.a.uma.contradição.ou.a.uma.maior.complexidade..Não.posso.dizer.que.este.cargo.seja.extraor-dinariamente.mais.complexo.do.que.aquele.que.exerci.nos.últimos.anos..São.situações.distintas.

Nas.câmaras,.passa-se.de.uma.escala.de.estratégia.política.e.ter-ritorial,.de.planeamento.para.o.problema.da.calçada,.e.da.vivência.diária.do.cidadão..Esta.diferença.de.escala,.que.diariamente.tem.de. ser. equacionada,. respondida. e. desejavelmente. adequada,. é.um.exercício.muito.difícil..Trabalham-se.estas.diferentes.escalas.e.é.preciso.integrá-las,.saber.o.que.é.suposto.fazer..Pensa-se.o.ter-ritório.e.perspectivam-se.políticas.e.no.momento.seguinte.encon-tra-se.o.cidadão.na.rua.que.nos.fala.de.uma.coisa.banal.para.essa.escala.de.pensamento.estratégico,.mas.que.é.de.uma.importância.extrema. para. cada. uma. das. pessoas. e,. portanto,. não. pode. ser.vista.com.uma.atenção.diferente.Tudo.tem.de.ser.visto.ao.nível.da..escala.do.que.estamos.a.tratar.

A sua experiência como governadora civil afastou-a um pouco do urbanismo. Aí houve uma situação diferente na sua actividade?

A.maior.diferença.talvez.tenha.sido.nessas.funções.políticas.que.exerci,.na.percepção.e.acompanhamento.de.uma.realidade..diversa..e.complexa:.Por.um.lado,.o.litoral.alentejano.com.uma.afirmação.tranquila.mas. já. com. novos. desafios. a. despontar,. e. uma. área.metropolitana. sul.muito.urbana,. com.situações.de.pobreza,.de.marginalidade,.de.tensões.sociais,.e.também.muita.expectativa.de.crescimento.assentes.nas.potencialidades.do.seu.território.Mas.são.sempre.as.pessoas..Eu.trabalho.para.as.pessoas,.é.essa.a.área.em.que.me.foco..O.que.é.que.as.pessoas.querem?.O.que.é.que.as. faz. felizes?.O.que.é.que.pensam.que.nós,.urbanistas,.

.podemos.assegurar.ou.prever.para.alcançar.esse.objectivo?.É.esta.a.expectativa,.num.exercício.dificílimo..Quando.fazemos.planos.–.a.dez.ou.quinze.anos.–.temos.de.saber.antecipar.uma.realidade.Mas.não.valorizo.demasiado.o.perfeccionismo.associado.à.apre-ciação.de.cada.dossier..Os.funcionários.têm.a.preocupação.de.ter.um.processo.bem.feito.e.adequado,.e.não.falhar.em.termos.de.legalidade..Há.tanto.saber.concentrado.num.processo,.tanta.com-plexidade.associada.ao.cumprimento.de.obrigações.legais!.E.eu.digo:.pensem,.em.simultâneo,.no.território.que.está.lá.fora,.pensem.no.que.isto.pode.representar.para.melhorar.as.condições.de.vida.dos.cidadãos.e.na.correspondência.às.legítimas.expecta-tivas.dos. investidores..Se.não.equacionarmos.esta.na.realidade,.

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são.exercícios.que.podem.permanecer.desinteressantes.e.desa-dequados..Ao. fim. de. 10. ou. 15. anos,. fazemos. uma. avaliação. de.como..foram.cumpridas.aquelas.previsões,.naquele.documento,.e.às. vezes. rimo-nos,. porque. a. realidade. concretizou-se. de. uma.forma.completamente.diferente.

Aqui, num sítio onde o planeamento e o ordenamento do território são centrais e a coordenação é fundamental, não está no entanto a tomar decisões.

Condicionamos.as.decisões,.mais.do.que.tomamos,.mas.este.trabalho.tem.de.ser.feito.em.grande.cooperação..Tenho.uma.posição.distinta.das.atitudes..que.são.atribuídas.a.uma.administração.central.que.

decide. nalgum. distanciamento,. nalguma. incapacidade. de. se.relacionar..O.privilégio.de. se. fazer.uma.administração.próxima.dos.cidadãos.não.pode.ser.só.das.autarquias,.tem.de.ser.também..de. toda. a. administração,. quer. neste. organismo,. que. tem.uma.dimensão.regional,.quer.na.própria.administração.central..Hoje,.as.ferramentas.tecnológicas.permitem-nos.interagir.muito.com.as.pessoas.e.com.a.vida.Temos.de.saber.ter.uma.atitude.mais.transparente,.mais.partici-pativa,.até.porque.no.cômputo.final.os.resultados.nunca.foram.muito.satisfatórios.

Qual foi a sua primeira preocupação quando chegou aqui?

A. primeira. preocupação. foi. olhar. para. esta. casa.. Sou. bastante.pragmática.e.gosto.de.trabalhar.com.os.instrumentos.que.tenho.Neste. caso,. prioritariamente. para. os. nossos. funcionários,. e. de.seguida.para.as.obrigações.e.as.competências.legais.que.temos,.e.as.formas.como.as.podemos.exercer.A.prioridade.foi.saber.que.meios.tínhamos.para.incrementar.as.polí-ticas.que.nos.competem.e.devo.dizer.que.me.assustei.um.pouco.Esta.casa.diminuiu.o.número.de.funcionários.de.510.para.208,.em.dois.anos..Parte.das.competências.e.dos.funcionários.que.a.CCDR.tinha. passaram. para. a. Administração. da. Região. Hidrógráfica.do.Tejo..Saíram.pessoas.afectas.a.essas.funções.mas.que.também.

exerciam.funções.em.questões.ambientais.ou.de.ordenamento.do. território..Quando. se. fazem.estas. amputações,. leva-se. tudo..Esta.perda.tão.significativa.tirou.saber,.tirou.competências.e.capa-cidade.de.resposta.Actualmente,.a.administração.pública.não.pode.fazer.novas.con-tratações.e,.portanto,.estamos.obrigados.a. . fazer.o.exercício.de.aumentar. a. capacidade. de. resposta,. conseguindo.uma.melhor.formação.das.pessoas.que.cá.estão,.reforçar.as.novas.tecnologias.e.–.faço.questão.de.implementar,.isso.desde.já.–.redimensionar.o.âmbito.da.nossa.intervenção.no.domínio.da.gestão.do.territó-rio. ao. reconhecer. as. adequadamente. crescentes. competências.municipais.

O privilégio de se fazer uma administração próxima dos cidadãos não é só das autarquias, tem de ser também destes organismos, quer neste que tem uma dimensão regional, quer na própria administração central. Hoje, as ferramentas tecnológicas permitem-nos interagir muito com as pessoas e com a vida.

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A.Administração.Central.tem.alguma.tendência.para.exorbitar.as.suas.funções,.exercer.mais.competências.do.que.as.que.a.legislação.lhe.confere.O.último.quadro. legislativo,.aprovado.no.mandato.anterior,.acres-centou..aos.municípios.a.legitimidade.para.implementarem.as.suas.políticas,. nomeadamente. no. ordenamento. do. território.. Aliviar. a.nossa. intervenção,. no. respeito.mútuo. e. no. reconhecimento.de.que. os. municípios. têm. essas. competências,. pode. retirar-nos.parte.da.nossa.carga.administrativa.

Os municípios estão preparados para isso?

Os.municípios.da.Região.de.Lisboa.e.Vale.do.Tejo..têm.equipas.e.tempo.de.efectivo.exercício.nestes.domínios..Mas.muitas.vezes.pecam.pelo.mesmo.defeito.em.relação.aos.projectos.dos.muníci-pes..Tutelam.mais. do. que. devem..O.munícipe. apresenta. o. seu.projecto,.assumido.e.sob.responsabilidade.do.seu.autor,.e.dentro.do.município. verificam. aquilo. que. não. é. da. sua. competência.verificar..Temos.de.adaptar-nos.aos.novos.tempos,.ao.princípio.da.responsabilização,.cada.vez.maior,.das.entidades.e.do.cidadão..É.imperioso.porque.a.lei.assim.o.diz,.é.imperioso.porque.a.maturi-dade.democrática.leva.a.que.os.organismos.e.os.cidadãos.tenham.mais.responsabilidade.pelas.suas.iniciativas..Com.a.diminuição,.quer.financeira.quer.de.recursos.humanos,.não.nos.resta.outra.hipótese.se.não.fazê-lo.e.fazê-lo.bem.Este.é.o.exercício.que.nos.compete.fazer,.mas.alterar.mentalidades.não.é.fácil..Lá.está,.trabalhar.com.pessoas.é.o.que.eu.gosto.mais.e.por.isso…

Portanto, chegou aqui e tratou primeiro da casa?

Fiz.o.reconhecimento,.tomei.medidas.para.que.não.tenha.queixas.permanentes. através. de. contactos. diários. a. dizer:. «não. posso.fazer.este.trabalho.ou.assumir.esta.ou.aquela.responsabilidade.

porque. não. tenho. meios. humanos. ou. financeiros».. Isto. não. é.forma.de.gestão..Tornou-se.necessário.fazer.algumas.alterações.fun-cionais,.instituir.regras,.tranquilizar,.dar.capacidade.e.reconheci-mento.aos.técnicos.e.funcionários.Mas.acho.que.as.pessoas.reconhecem.esta.necessidade..Claro.que.não.gostam.que.lhes.tirem.alguns.privilégios,.mas.os.funcionários.estão.ansiosos.por.reconhecimento.de.competências.e.por.maior.responsabilização..Isso.é.primordial.nestes.serviços.

Mas entretanto não havia trabalho premente para fazer?

A.alteração.do.Plano.Regional.de.Ordenamento.da.Área.Metropolitana.de.Lisboa.(PROTAML).está.a.ser.concluída,.depois.dos.pareceres.da.Comissão. Consultiva.. O. Programa. Regional. de. Lisboa. do. QREN.está.a.ser.gerido.todos.os.dias..Os.Polis.estão.a.terminar..Não.se.trata.de. resolver.por. fases,. temos.de.assegurar.eficazmente. todas.as.solicitações.e.ir.fazendo.este.trabalho.de.adequação.funcional.até.entrarmos.numa.estabilidade.

O PROT já tinha sido reformulado por causa das grandes obras, mas agora com o adiamento dos grandes projectos o que é que acontece?

Digo.por.graça.(as.coisas.não.podem.ser.vistas.assim).que.agora.podemos.finalmente.fazer,.atempadamente,.um.exercício.de.pla-neamento,.porque.estávamos.a.trabalhar.um.pouco.ao.contrário,.numa.situação.de.adaptação.a.decisões.políticas.diferentes.das.que.constavam.do.PROT.em.vigor,.datado.de.2002..Estes.processos.nunca.se.fazem.só.assim..Quando.se.analisa.um.documento.passados.anos.–.neste.caso,.oito.–.a. realidade. já.se.transformou..Ressaltaram...aspectos.que.precisavam.de.ser.reflectidos,.porque.já.havia.necessidade.de.aferição.das.pretensões.municipais.e.sectoriais,.dos.organismos.do.Governo.que.careciam.de.adequação...O.documento.terminado.em.Maio.é.mais.ambicioso.do.que.uma.

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mera.alteração.para.pôr.o.aeroporto.e.a.Terceira.Travessia.no.sítio..Com.o.adiamento.da.sua.concretização,.recentemente.anunciada,.essa.dinâmica.não.se.perdeu,.continuamos.a.trabalhar.As. localizações. dos. grandes. empreendimentos. não. estão. em.causa..O.que.está.em.causa.é.o.timing.da.sua.execução..Claro.que.havia. perspectivas. de. uma. dinâmica. mais. positiva,. com. uma.expectativa.de.crescimento,.que.essas.sim,. reflexo.de.regressão.económica.sentidas.no.país.e.na.Europa.poderão.estar.mais.pre-judicadas.O. carácter. optimista. reflectido. no. documento. tem.de. ser. ade-quado..As.políticas.fazem-se.para.que.não.se.percam.dinâmicas,.mas.temos.de.perceber.que.estas.dinâmicas,.na.realidade.actual,.estão.feridas.relativamente.às.questões.do.financiamento.O.financiamento.para.a.concretização.destes.investimentos.está.difícil,.está.caro,.e.em.muitos.casos.está.mesmo.esgotado..A.loca-lização. dos. grandes. equipamentos. e. infra-estruturas. vão-se.manter. no. PROT,. na. proposta. que. temos. estado. a. trabalhar,.nomeadamente.com.as.mesmas.localizações.–.a.Terceira.Travessia.do.Tejo,.a.plataforma. logística.do.Poceirão,.o.aeroporto..Mas.na.questão.das..dinâmicas.a.terminologia.tem.de.ser.adequada,.porque.estamos.a.perspectivar.o.futuro.e.o.futuro.hoje.está.mais.condi-cionado..Por.outro.lado,.e.como.resultado.positivo.desta.crise,.pode.haver.nesta.fase.uma.maior.contenção.na.dispersão.urbana.Em.termos.de.política.de.urbanismo.cada.vez.se.torna.mais.claro.a.necessidade.de.densificação.das.zonas.consolidadas,.no.segui-mento.do. que. tem. sido.uma.preocupação.de. revitalização.dos.centros.históricos..No.entanto,.os.centros.históricos.estão.muito.condicionados.na.aptidão.de.fixação.de.residentes. tradicionais..São.as.habitações.que.não.têm.dimensão,.existem.as.questões.de.segurança,.de.pouca.mobilidade,.do.acesso.do.automóvel,.dos.ele-vadores,.etc..Os.centros.históricos.têm.de.ter,.quanto.a.mim,.políticas.de.con-servação,.de. renovação,.que.passam.por. chamar. jovens.e.outro.tipo.de.residentes.para.os.revitalizar..Mas.as.áreas.consolidadas.

dos.Centros.Urbanos.não.podem.ser.abandonadas,.pode-se.assistir.a.um.mercado.emergente.de.reabilitação.que.até.hoje.não.fun-cionou,.porque.economicamente.ficava.mais.barato..aos.promotores.abrir.novas.frentes.de.urbanização.

Defende que haja menos construção e mais reabilitação?

Exactamente..Isso.pode.ser.um.factor.positivo.na.inversão.de.ten-dência.que.estava.há.muito.anunciada.pelos.urbanistas.mas.que.as.políticas.municipais.traduzidas.em.planos.e.propostas.muni-cipais.não.correspondiam..Continuaram-se.a.abrir.novas.frentes.de.promoção.habitacional.A. Grande. Lisboa. já. tem. o. número. de. fogos. suficiente. para. as.dinâmicas.urbanas.associadas.

Em termos demográficos, não temos perspectivas de vir a aumentar a população?

Não,. de. facto.. Assistiram-se. a. fenómenos. nas. últimas. décadas.que.hoje.não.se.perspectivam..O.litoral.será.sempre.mais.denso.em.termos.populacionais.do.que.o.interior,.por.muitas.políticas.que.se.promovam..É.uma. tendência.mundial.que,. inquestiona-velmente,. tem.a. ver. com.a. qualidade.de. vida,. a. segurança.das.populações,.com.o.bem-estar,.com.a.procura.de.melhores.níveis.de.ensino,.de.acesso.ao.lazer,.à.convivialidade..Quando.se.fizeram.as.auto-estradas.e.se.pensou.que.isso.poderia.ser.um.factor.de.voltar.ao.interior,.percebeu-se.que.as.pessoas.ainda.vinham.mais.rapidamente.para.o.litoral..Têm.que.se.manter.políticas.de.fixa-ção,.de.criação.de.emprego.e.melhores.condições.nas.zonas.do.interior,.mas.sabemos.que.esta.tendência.está.instalada.e.dificil-mente.será.invertida..Mas.não.terá.um.fenómeno.de.atracção.à.semelhança.do.que.aconteceu.nas.décadas.de.60.e.70.e.que.se.manteve.com.tendência.crescente.até.hoje.

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Também não perspectivávamos que houvesse a imigração que houve nas últimas décadas.

Mas.isto.está.muito.associado.ao.consumo.e.ao.bem-estar.a.que.as. pessoas. legitimamente. aspiraram..Hoje. percebemos. que. há.situações.muito.carentes.em.termos.de.orçamento.familiar,.mas.as.pessoas.não.têm.aceite.trabalhar.sob.qualquer.condição,.e.portanto.houve.esta.camada.de.imigrantes.para.substituir.estas.lacunas..de.mão.de.obra.que.não.estavam.a.ser.preenchidas.pelos.nossos.cidadãos..Obrigatoriamente,.com.a.crise.e.o.desemprego.instalado.também.aí.algo.se.vai.alterar.

No território que a CCDR coordena, há situações diferentes ao nível do QREN. Qual é a situação neste momento?

O.QREN.na.sua.aplicação.na.Região.de.Lisboa,.veio.criar.uma.alte-ração.significativa.na.área.territorial.abrangida,.que.se.percebe.Duas.grandes.áreas.territoriais.da.região.de.Lisboa.e.Vale.do.Tejo..agregaram-se.a.outros.Programas.Operacionais.Regionais.–.a.Lezíria.ao.Alentejo.o.Oeste.ao.Centro..Continuamos.a.ter.o.mesmo.número.de.municípios,.mas.ao.nível.do.Programa.Operacional.Regional.de.Lisboa,.ficámos.restringidos.aos.18.municípios.da.AML.A.verba.atribuída.ao.Programa.Operacional.de.Lisboa.(PORLisboa).não.é.vultuosa,.até.porque.já.estamos.com.patamares.de.desen-volvimento.equivalentes.às.regiões.mais.desenvolvidas.da.União.Europeia..Por.outro.lado.oitenta.por.cento.das.verbas.destinadas.a.esta.área.estão.comprometidas.mas,.à.semelhança.com.a.maioria.dos.Programas.Operacionais,.com.uma.taxa.de.execução.abaixo.da.nossa.ambição..Aí.voltamos.às.questões.económicas.e.financeiras.

E terminando o prazo desses financiamentos, o que vai acontecer?

Temos.de.fazer.uma.avaliação.até.ao.final.deste.ano.e.encarar-mos.a.possibilidade.de.fazermos.reprogramação.em.2011..Não.quere-mos.decidir.de.ânimo.leve.o.que.poderia.ser.uma.conclusão.natu-ral:. aqueles. que. não. cumprem. deixam. de. ser. beneficiários,.podendo. abrir. outras. frentes. de. candidatura.para. quem.possa.mostrar. melhores. condições. de. acesso.. Em. termos. políticos,. é.muito.difícil.penalizarmos.quem.não.cumpriu..Mas.não.podemos.ignorar.a.situação.e.chegar.ao.fim.do.QREN.–.2013.–.para.encerrar.os.programas. sem. tomar. atitudes. e. arriscarmo-nos. a. taxas.de.realização.baixíssimas.Isto.vai.exigir.de.mim,.pessoalmente,.um.exercício.diplomático.de.conhecimento.de.cada.uma.das.situações.concretas.e.de.perceber,.com.os.nossos.parceiros,.quais.as.melhores.aplicações.alternativas.possíveis.para.os.recursos.que.devem.concretizar-se.até.ao.final.do.Programa.Onde.podemos.contribuir.para.que.as.candidaturas.se.concretizem.ou.onde.teremos.de.fechar.essas.expectativas.para.abrir.outras.

Que tipo de situações surge?

Ao.nível.regional,.um.dos.objectivos.é.a.revalorização.das.frentes.ribeirinhas,.o.que.tem.muito.de.intervenção.física.concreta..Outro.objectivo.primordial.é.o.apoio.à.renovação.do.parque.escolar,.que.é. o.que. tem.mais. taxa.de. realização.. Foi.um.desígnio.nacional.definido.pelo.Governo.e.aceite.unanimemente.Não.há.cidadão.que.não.perceba.a.utilidade.de.um.parque.escolar.renovado..Os.municípios.que.tiveram.essa.disponibilidade.aderiram.de.uma.forma.maciça,.ao.nível.do.ensino.básico.e.pré-escolar.

Os.problemas.surgem.na.concretização.de.intervenções.nas.can-didaturas.aos.programas.de.regeneração.urbana,.porque.na.rea-lidade. se. trata. de. uma. Área.Metropolitana.muito. assimétrica,.com.a.riqueza.e.o.desenvolvimento.que. lhe.são.reconhecidos.a.conviver.com.fenómenos.de.pobreza.e.de.exclusão.tremendos.e.dificílimos.de.resolver..Também.neste.eixo.foi.dada.aos.municípios.a.possibilidade.de.se.candidatarem.com.programas.de.regeneração.urbana.muito. focalizados. na. intervenção. em. bairros. sociais. e,.sendo.possível,.na.construção.de.novos.equipamentos,.reabilitação.do.espaço.urbano,.sempre.associado.com.necessidade.de.contra-tualização.com.parceiros.sociais.A. ideia. é. trabalhar. o. espaço. físico,. a. reabilitação. urbana,. mas.também.intervir.ao.nível.social,.directamente.com.as.pessoas.e.os.agentes.sociais.que.estão.no.terreno.num.trabalho.conjunto.E.temos.abertura.de.candidaturas.para.promoção.de.novas.for-mas.de.mobilidade..Este.programa.está.a.financiar.candidaturas.apresentadas.para.as.pistas.cicláveis.que.hoje.são.equipamentos.urbanos.não.só.para.os.ciclistas.mas.para.os.peões..Nas.nossas.cidades.estas.pistas.estão.muito.ocupadas.pelos.cidadãos,.porque.são.muito. fáceis. para. caminhar,.muito. lisinhas,. vencem.muito.bem.os.desníveis.

Mas isso é perigosíssimo para os ciclistas.

É.um.fenómeno.e.temos.de.olhar.para.ele:.os.peões.apropriaram-se.das.pistas.cicláveis..Os.municípios.perceberam.que.isto.contribuía.até.para.uma.sociabilização,.para.a.prática.do.exercício.do.final.do.dia..É.espantoso.ver.como.é.que.as.pessoas.ao.fim.do.dia.caminham.em.grupos..É.uma.forma.de.sociabilização.e.de.bem-estar.físico.Há.um.programa.interessante.dos.eco-bairros,.virados.para.novas.formas.de.gestão.mais.ecológicas.e.sustentáveis,.em.que.se.pede.a.uma.comunidade.que.encontre.soluções.de.poupança.de.energia,.de.valorização.de.resíduos,.de.envolvimento.de.uma.comunidade.por.forma.a.atingir.objectivos.de.economia.e.sustentabilidade.

Onde são esses eco-bairros?

Estão.dois.financiados.neste.momento,.um.deles.em.Lisboa,.o.bairro.da.Boavista,.em.Monsanto..É.uma.zona.muito.apta.a.poder.ter.uma.forma.de.gestão.de.comunidade.porque.é.isolada.do.resto.da.cidade.e.permite.uma.experimentação.de.novas.atitudes.relativamente.à.vivência.do.bairro,.com.uma.população.maioritariamente.carente.e.carenciada.de.apoios..A.tentativa.é.criar.uma.forma.de.gestão.em.que.as.pessoas.se.responsabilizem.para.atingir.objectivos.A.EDP.é.um.dos.parceiros,.associou-se.imediatamente.a.esta.iniciativa.para.a.poupança.de.energia..As.comunidades.escolares.trabalham.os.temas.e.os.mais.idosos.também.podem.contribuir.na.gestão.do.espaço.público..Com.a.valorização.de.resíduos,.pretende-se.que.as.pessoas.saibam.o.que.deitam.fora,.o.que.é.aproveitável,.o.que.pode.ser.recuperável,.parar.uma.maior.consciencialização.na.comunidade.sobre.o.desperdício..Vamos.ver.no.que.este.projecto.vai.resultar.ao.fim.de.três.anos.Vamos.ver.como.se.vai.desenvolver.a.execução.destes.dois.projectos,.o.impacto.que.terá.no.território.e.o.efeito.demonstrativo.que.possa.ser.daí.retirado..A.CCDR.irá.avaliar.este.investimento.e.perceber.a.sua.possibilidade. de. réplica. em. outros. territórios.. Acredito. que. num.futuro. Programa. Operacional. Regional,. pós. 2013,. haverá. segura-mente.fundos.estruturais.para.mais.iniciativas.desta.natureza.A.CCDR-LVT.tem.o.papel.de.acompanhar.a.execução.destes.projectos,.em.estreita.articulação.com.a.estrutura.de.monitorização.do.projecto.que.está.no.terreno..Esta.estrutura.é.obrigada.a.responder.a.um.

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certo.número.de.indicadores.que.irão.contribuir.para.alcançar.as.metas.que.foram.estipuladas..Este.concurso,.ao.contrário.dos.res-tantes.de.regeneração.urbana,.estabeleceu.metas.concretas.que.os.municípios.têm.de.cumprir..Esta.é.uma.condição.imposta.por.nós,.de.forma.a.garantir.resultados.de.sustentabilidade.e.de.efici-ência.energética.nestes.territórios.A.CCDR.quer.orgulhar-se.destes.projectos.e.fazer.deles.uma.«ban-deira.de.desenvolvimento.sustentável».para.a.região.e.para.o.país..É.importante.apoiar.estas.experiências.piloto.e.ver.como.podem.ser. introduzidas.no.planeamento. futuro..O.mais. interessante.é.podermos.analisar.como.é.possível.intervir.numa.óptica.ambien-tal.e.energeticamente.eficiente.em.territórios.consolidados.

É uma experiência de cidadania?

É..Aliás,.estas.candidaturas.estão.muito.associadas.a.essa.temática,.porque.temos.de.reflectir.sobre.o.que.foram.estes.anos,.desde.o.final.dos.anos.1980,.em.que.vivemos.apoiados.por.Quadros.Comu-nitários,.com.as.comunidades.a.serem.altamente.financiadas..Às.vezes.é.assustador.perceber.como.há.dinheiro.público.investido.em.determinadas.comunidades.e..como.se.perpetua.a.exclusão.Temos.de.ser.capazes.de.sair.deste.ciclo.e.o.assistencialismo.não.pode.continuar..As.pessoas.têm.de.ser.envolvidas.e.encontrar.formas.de. sair. do. ciclo. de. pobreza.. Estas. comunidades. já. estão. com.segundas.e.terceiras.gerações.de.pessoas.que.resolveram.o.pro-blema.habitacional,.que.era.a.sua.prioridade.Fui.vereadora.da.habitação.na.Câmara.de.Setúbal,.a.par.de.outras.responsabilidades.em.áreas.como.o.urbanismo.e.as.obras.muni-cipais.que,.aparentemente.seriam.atribuições.mais.pesadas,.mas.nunca.me.vi.tão.em.apuros.como.a.gerir.os.problemas.habitacionais..Atribuir.a.uma.família.só.uma.casa.não.é.solução,.mas.não.tenho.dúvidas. de. que. é. . prioritário. resolver. o. problema. habitacional.para.dar.dignidade.às.pessoas..Tínhamos.que.ter.consciência.de.que.o.trabalho.não.podia.acabar.aí.

Era preciso dar uma sequência?

Sim.. Estas. comunidades. resolveram. o. seu. primeiro. problema,. a.questão.de.acabar.com.as.barracas.na.Área.Metropolitana.foi.um.desafio. dos. anos. 1990..Mas. agora. estamos. a. falar. dos. jovens,. de.novas.gerações.que.querem.ter.perspectiva.de.futuro..Já.têm.casa..Mas.continuamos.a.falar.de.exclusão.e.temos.de.encontrar.formas.de.resolver.e.de.integrar.Em.Lisboa,.o.peso.da.habitação.social.é.muito.significativo..Um.terço.da.população.vive.em.bairros.sociais.

Os Polis estão a acabar. E depois?

Os. Polis. surgiram. a. seguir. ao. êxito. da. valorização. associada. à.Expo’98..Percebeu-se.que.era.possível.valorizar.uma.área.comple-tamente. degradada,. excluída,. . que. podia. ter. uma. reabilitação.profunda.e.cujo.resultado.ainda.é.exemplar.em.todo.o.mundo...O.Governo.resolveu.replicar.essa.ambição.em.muitas.outras.regiões.do.país..Houve.uma.primeira.decisão.de.atribuição.de.interven-ções. por. escolha. do. Governo,.mas. depois. houve. uma. segunda.fase. de. abertura. de. candidaturas. dos. municípios.. Durante. os..últimos.anos.muito. foi. feito.mas.nada.comparável.com.aquela.dimensão.Na.Região.de.Lisboa.e.Vale.do.Tejo.há.alguma.frustração.quanto.aos.resultados.e.à.capacidade.de.execução.e.de.concretização.das.sociedades.Polis.constituídas.

Os Polis surgiram a seguir ao êxito da valorização associada à Expo’98. Percebeu-se que era possível valorizar uma área completamente degradada, excluída, que nunca ninguém imaginaria que podia ter uma reabilitação àquela medida e que é exemplar em todo o mundo.

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Isso aconteceu por falta de dinheiro?

Não. sei. como.posso. caracterizar. o. que. ficou. aquém,.mas. acho.que.houve.algum.desajuste.entre.a.ambição.e.a.capacidade.de.concretização..Ainda.temos.o.Polis.da.Caparica.para.concretizar,.não.é.uma.situação.pacífica..As.pessoas.de.uma.forma.abstracta.desejam.a.requalificação.do.espaço.mas..no.concreto.não.querem.perder.regalias.pessoais.adquiridas..Ora.agora,.para.que.o.espaço.seja.de.todos,.muitos.têm.que.ser.deslocalizados..Havendo.con-testação,.estes.processos.foram-se.arrastando.e.há.alguma.amargura.na.prossecução.dos.desígnios.O.caso.do.prédio.do.Coutinho.em.Viana.do.Castelo.é.paradigmático..Qualquer. urbanista,. qualquer. cidadão,. qualquer. decisor. . diria.que.aquela.massa.construída.ali.não.era.a.melhor..Mas.para.os.seus.habitantes.era.o.melhor.que.havia..O.processo.de.demolição.arrastou-se.em.tribunal.O.prédio.ainda.lá.está..Houve.muitos.que.aceitaram.as.condições.que.lhes.foram.oferecidas,.e.já.saíram,.a.maioria,.mas.há.uns.que.resistem.e.continuam.a.habitar..O.resultado.ao.fim.destes.anos.todos.não.é.brilhante.

É uma questão de pessoas, como disse.

E.não.podemos.ignorar..Aquilo.que.lá.está.é.o.pior.de.tudo..Já.não.é.o.edifício.a.ser.vivido.na.sua.plenitude,.porque.muitos.já.saíram,.mas.não.se.fez.a.implosão.e.os.residentes.estão.angustiados.porque.não.sabem.bem.o.que.lhes.vai.acontecer..Estas.situações.têm.de.ser.muito.bem.dirimidas.para.que.não.se.chegue.a.estes.impasses..E.a.Caparica.tem.um.pouco.disto..Não.tem.o.prédio.do.Coutinho.mas.tem.também.este.fenómeno.de.deslocalização.associado.e.há.amargura.na.forma.de.fechar.o.processo.

Qual é o seu objectivo agora?

Agora. temos.as.questões.de.valorização.ambiental.a.assegurar..Nas.CCDR’s,.as..competências.associadas.às.questões.dos.depósi-tos.de.resíduos.estão.na.ordem.do.dia..Nas.questões.do.ordena-mento,.temos.planos.de.Ordenamento.a.acompanhar,.nomeada-mente.as.Revisões.dos.PDM’s,.critérios.a.estabelecer,.metodologias,.assunção.de.competências.e.vamos.estabilizar.o.relacionamento.com.os.nossos.principais.interlocutores.que.são.os.municípios.As.questões.ambientais.não.são.tão.fáceis.de.caracterizar,.porque.temos. realidades. tremendas..Temos. abandono. de. resíduos. um.pouco.por.toda.a.parte..Temos.uma.orla.costeira.com.problemas.de.erosão.e.de.derrocada.Há.que. intervir.na.estabilização.do. território.nestas.condições,.na.sua. valorização,. investindo. contra. situações. instaladas. e. práticas.habituais.que.têm.estado.impunes..Temos.que.ser.mais.musculados.a.reagir,.a.intervir.e.a.apontar.caminhos..São.desígnios.que.nós.temos.que.cumprir.neste.ano,.marcar.o.caminho.que.queremos.seguir. para. intervir. em. relação. a. . estas. questões. e. encontrar.recursos.para.evitar.situações.angustiantes.Por.vezes.há.medidas.que.não.se.concretizam.porque.há.todo.um.processo.jurídico.ou.social,.com.intervenção.da.comunicação.social.que.normalmente.se.põe.mais.do.lado.dos.infractores,.não.ajudando.num.processo.com.inevitáveis.conflitos.de.interesses,.mas.em.que.obrigatoriamente.o.interesse.público.tem.que.ser.vencedor.Todos.estes.processos.tem.uma.história.e.uma.justificação,.mas.a.nossa. responsabilidade. é. não. permitir. que. estas. situações. se.eternizem.nem.sejam. impunes..Para.agir,. temos.de.ser.sempre.muito.adequados.e.ponderados,.porque.se.exageramos..nos.nossos.propósitos.as.reacções.são.negativas.e.os.impasses.acabam.por.ser.quase.inultrapassáveis.

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Teresa Almeida

Serena.e.elegante,.Teresa.Almeida,.56.anos,.formou-se.em. Arquitectura. na. então. Escola. de. Belas. Artes. de.Lisboa.em.1977.e.tem-se.dedicado.principalmente.ao.urbanismo..No.gabinete,.com.uma.vista.ampla.sobre.Lisboa.e.o.Tejo,.tem.a.arrumação.funcional.de.quem.trabalha.com.método..Bem.à.vista,.um.livro.com.receitas.da.cozinha.tradicional.de.Lisboa,.que.consulta.quando.quer.fugir.às.comidas.banais.

Entrou.em.funções.como.presidente.da.CCDR-LVT.em.Fevereiro.último,.tendo.sido.anteriormente.Directora.Municipal. de. Planeamento. Urbano. da. Câmara.Municipal.de.Lisboa.

Foi. governadora. civil. de. Setúbal,. depois. de. ter. sido..vereadora.da.habitação,.urbanismo.e.obras.na.Câmara.de.Setúbal,.e.foi.ainda.assessora.do.Instituto.de.Estradas.de.Portugal.para.as.relações.com.as.autarquias.

A.geógrafa.Paula.Santana,.professora.catedrática.do.departamento.de.Geografia.da.Universidade.de.Coimbra.e.especialista.em.questões.de.gestão.da.Saúde,.é.uma.das.duas.vice-presidentes.da.CCDR..A.outra.é.a.jurista.Vanda. Nunes,. formada. na. Faculdade. de. Direito. da.Universidade.de.Coimbra,.e.que.foi.vereadora.e.presi-dente.da.Câmara.Municipal.de.Alpiarça.

«Somos.três.mulheres.mas.não.reparo.nisso.no.dia-a--dia»,. diz.Teresa.Almeida..Trata-se.de. caso.único. em.organismos.desta.natureza,.mas.a.presidente.defende.que.«não.andará.longe.o.tempo.em.que.encontraremos.executivos.municipais.que,.por.coincidência,.são.mais.femininos.do.que.masculinos».

«As.mulheres.entraram.no.mundo.do.conhecimento,.mais.do.que.no.mundo.do.trabalho,.nas.últimas.déca-das»..Esta.mudança.processa-se.hoje.com.naturalida-de.mas.para.se.chegar.aqui.houve.um.caminho:

«Senti.sempre.no.meu.percurso.profissional.que.tinha.que.mostrar.mais.competência.para.poder.progredir..Mas. foi.óptimo,.ainda.bem.que.me.foi.exigido.mais.e.que. eu. tive. que. dar. mais. também,. e. agarrar-me.àquilo.que.para.mim.era.fundamental..Foi.estimulante,.não.lamento.nada..Quando.se.passa.para.patamares.de.mais. responsabilidade,.as.mulheres. têm.que.dar.provas.de.que.não.vão.falhar.»

E.o.que.é.diferente.na.gestão.feita.por.mulheres?.

«Um.carácter.mais.humano,.mais.prático.até,.de.ade-quação.à.realidade..As.mulheres.transportam-no.em.si.porque.normalmente.têm.uma.vida.familiar.agre-gada,. estão. habituadas. a. fazer. muitas. coisas. ao.mesmo.tempo,.abrir.às.solicitações.»

Falou há pouco de uma acção diplomática para resolver os problemas do QREN. O que quer dizer com isso?

Quero. que. a.mão. esquerda. saiba. o. que. a.mão.direita. faz..Nós.temos.responsabilidades.nas.políticas.de.ordenamento.do.terri-tório,.no.assegurar.da.valorização.ambiental...Quando.em.simul-tâneo.temos.um.Quadro.Operacional.com.capacidade.de.opera-cionalizar.políticas.de. incentivos,. temos.que.saber.encontrar.as.melhores.soluções.para.o. território.que.gerimos..Verifica-se.em.muitas. situações.em.que.há.um. interesse. conjugado.para.que.seja.objecto.de.financiamento.uma.determinada.operação.mas.para.a.qual.seria.necessário.aprovar.um.plano.nesta.mesma.casa.e.que.essa.aprovação.se.eterniza.porque,.por.qualquer.razão,.ou.não.se.conseguiu.agilizar,.ou.por.este.ou.aquele.condicionalismo.o.processo.se.atrasa.e..no.fim.se.perde.o.financiamento.Temos.que.ter.a.capacidade.de.ser.muito.objectivos.e.muito.ope-rativos,.para.não.sermos,.nós.próprios,.na.mesma.casa,.a.criar.difi-culdades.a.quem.quer.concretizar.Consegui.resolver.aqui.o.apoio.a.uma.candidatura.de.um.município.que.queria.implementar.um.sistema.que.estamos.a.considerar.o.mais.adequado.no.âmbito.do.Planeamento,.mas.que.noutro.sector.deste.mesmo.organismo,.na.apreciação.concreta.da.candidatura.se.estava.a.questionar.a.sua.pertinência.Não.pode.ser..Temos.de.ser.exemplares.nisto..Se.temos.um.instru-mento.de. financiamento.em.simultâneo. com.um. instrumento.de. planeamento,. não. há. altura.melhor. para. se. dizer. «óptimo!.Vamos.apoiar.este.Projecto..e.torná-lo.exemplar»..Temos.de.assumir.o.papel.de.conselheiros.e.dizer.«concorram.àquele.programa.de.financiamento.porque.vão..ter.possibilidades.de.conseguir.logo.con-cretizar.esta.intenção»..Esta.dicotomia.entre.a.mão.esquerda.e.a.mão.direita.tem.que.ser.muito.facilitadora.

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Augusto Mateus explica o que é a inovação e os seus múltiplos efeitos na economia

global, na organização das empresas e na sociedade. Fala das transformações

que a crise financeira e económica que se vive vai trazer ao mercado de trabalho

e da urgência de o país saber construir sinergias para enfrentar os desafios

do desenvolvimento.

Augusto Mateus

A inovação é para todos

Inovação.|.Luís de CarvalhoFotografia.|.Luísa Ferreira

Há, muitas vezes, a tendência para se confundir inovação com invenção. O que é, de facto, a inovação ?

A. inovação. é,. em. termos.muito. simples,. o.melhor. processo. de.melhoria. do. ponto. de. vista. da. organização,. da. satisfação. das.necessidades.das.pessoas,.das.organizações,.das.empresas..Obvia-mente,.não.pode.haver.inovação.sem.conhecimento,.investigação,.experimentação.. É. por. isso. que,. do. ponto. de. vista. da. política.pública,.as.experiências.mais.interessantes.acabaram.por.se.situar.na. referência. I+D+i,. isto. é,. da. investigação,. desenvolvimento.e.inovação,.e.não.tanto.do.I&D..A.investigação.e.desenvolvimento.é.uma.condição.mas.não.uma.garantia.de.que.vamos.ter.inovação..Muito.do.que.nós. inovamos.num.determinado.país. foi. investi-gado.noutro.país;.uma.das.vantagens.da.globalização.é.conhecer-mos. trabalhos. de. investigação. que. foi. feita. à. escala. mundial,.noutras.regiões,.noutras.cidades,.noutros.países...Esta.é.a.primeira.ideia.–.a. inovação.acontece.do. lado.do.quotidiano,.acontece.no.mercado,.acontece.do.lado.das.coisas.simples..Mas.é.alimentada.e. catalisada. por. coisas.muito. complexas,.muito. difíceis,.muito.desiguais..Portanto,.ao.contrário.do.que.muitas.vezes.se.pensa,.convém.ter.a.noção.de.que.não.há.inovação.fora.do.mercado,.fora.das.empresas,.fora.das.organizações..E,.sobretudo,.que.a.inovação.é.tudo.menos.uma.coisa.pomposa..E.que.há.inovação.no.sector.privado,.e.não.no.sector.público,.que.não.há.inovação.no.sector.público.e.privado,.ou.no.sector.social..A.inovação.não.fica.à.porta.

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de.nenhuma.actividade.humana,.económica.e.social..É.por. isso.que.hoje.em.dia,.à.escala.global,.falamos.de.cidades.inovadoras,.regiões.inovadoras,.empresas.inovadoras..O.processo.de.inovação.não.é.um.processo. individual.. É.um.processo.sistémico.–.é.um.pouco.como.a.Primavera;.não.há.Primavera.sem.andorinhas,.mas.cem.andorinhas.não.fazem.uma.Primavera!.Portanto,.a.inovação.é.um.processo.cumulativo.que.tem.de.atingir.massa.crítica.para.uma. determinada. região,. uma. determinada. economia,. uma.determinada.sociedade.se.poderem.apresentar.a.si.próprias.como.inovadoras.

O Prof. António Câmara deu um dia o exemplo da Y-Dreams e das dificuldades que encontram em Portugal para a comercialização das sua inovações. No fundo, só lá fora é que conseguem comercializar e encontrar mercado. Quer comentar?

Mas.é.uma.boa.dificuldade..Nós,.em.Portugal,.como.noutros.pontos.do.mundo,.cometemos.uma.falta.de.apreciação.em.relação.aos.verdadeiros.problemas.e.oportunidades.da.globalização..A.globa-lização,.como.todos.os.processos.sociais,.comporta.riscos,.coisas.profundamente.positivas.e.negativas,.desafiantes..Mas.no.essencial.é.um.mundo.de.oportunidades.e.tem.um.saldo,.na.minha.opinião,.muito. favorável..Obriga. é. a.mudar. radicalmente.a.organização.da.economia,.do.poder.politico,.obriga.a.uma.maior.cooperação.internacional..Portanto,.obriga.a.fazer.um.conjunto.de.mudanças.que,. obviamente,. vão.na.boa.direcção..A.globalização.permitirá.aproveitar.as. suas.grandes.oportunidades. se. conseguirmos. ter.mais. paz,.mais. segurança,.maior. cooperação. à. escala.humana,.politica,.económica.e.social..Neste.processo.há.enormes.oportu-

nidades. porque. a. globalização. veio. trazer. uma. coisa. muito.importante,. que. é. o. prémio. à. diferença,. o. prémio. à. excelência.e.à.qualidade.Obviamente.que.para.um.pais. com.dez.milhões.de.habitantes,.para.uma.região.de.Lisboa.que.na.sua.grande.configuração,.num.espaço.onde.há.uma.polarização.de.um.conjunto.de.actividades.que. terá. 4.milhões. de. habitantes,. cerca. de. 40%. da. população..portuguesa,. e. para. uma. área.metropolitana. que. anda.na. casa.dos.dois.milhões.e.qualquer.coisa,.e.para.uma.cidade.central.que.já.extravasou.há.muito.o.concelho.de.Lisboa,.embora.uma.parte.do.concelho.de.Lisboa.não.seja.cidade.central,.para.algo.que.será.inexoravelmente.uma.cidade.em.torno.do.Tejo,.e.não.uma.cidade.a. Norte. do. Tejo,. para. esta. realidade. que. é. muito. importante..à.escala.europeia.–.nós.em.Portugal. temos.alguma.dificuldade.em.perceber.a.importância.de.Lisboa.no.contexto.europeu,.porque.Lisboa.é.uma.das.doze.grandes.aglomerações.urbanas.da.Europa,.e.por.isso.não.é.propriamente.uma.cidade.periférica.de.um.pais.periférico.–,.nesta.realidade.nós.não.temos.alternativa.a.não.ser.produzir.bens.e.serviços.para.o.mercado.mundial..Portanto.não.vale.a.pena.ter.ilusões.de.que.é.fácil.próximo.de.casa.e.é.difícil.longe.de.casa..Ou.é.fácil.em.qualquer.sítio.ou.não.será.fácil..Sobre-tudo.trabalhando.em.tecnologia.de.informação.e.comunicação,.isso.então.ainda.é.mais.óbvio.A.inovação.tem.de.ser.um.processo.que.permita.reforçar.a.interna-cionalização..Hoje.não.é.muito.relevante.onde.é.que.um.determi-nado.bem.ou.serviço.é.feito,.até.porque.não.há.hoje.nenhum.bem.ou. serviço. que. seja. basicamente. feito. num. único. sitio.. O. que.importa.saber.é.quem.distribui.esse.bem.ou.serviço,.quem.é.res-ponsável.pela.sua.chegada.ao.mercado..Nós.hoje.falamos.muito.

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de.produtos,.porquê?.Porque.há.uma.lógica.de.continuidade,.uma.lógica. de. serviço. pós-venda,. uma. lógica. de. acompanhamento.do.consumidor,. uma. lógica. da. capacidade. do. consumidor. em.definir.a.utilização.dos.produtos.que.vai.adquirindo..Desse.ponto.de.vista.a.inovação.não.é.tecnológica,.a.inovação.é.social..A.econó-mica,.a.organizacional,.é.tecnológica.obviamente..Eu.costumo.dar.um.exemplo:.inovar.é,.por.exemplo,.abrir.uma.biblioteca.quando.tem.procura.e.não.quando.não.tem..Portanto,.inovar.uma.biblio-teca.é,.digamos,.ter.horários.de.relacionamento.com.o.público.para.satisfazer.as.procuras.que.são,.como.se.sabe,.muito.mais.centra-das.no.princípio.da.vida.e.no.fim.da.vida..A.população.activa.usa.menos.a.biblioteca.do.que.a.população.que.está.no.princípio.da.sua.vida.ou.da.população.que.já.saiu.da.vida.activa.mas.que.tem.hoje,. felizmente,.um. longo.período.de.vida. ..Portanto,.as. inova-ções.são.coisas.deste.tipo..Obviamente,.o.equilíbrio.no.processo.da.inovação.é.fundamental..Por.exemplo.hoje,.na.educação,.temos.uma.moda.,.uma.espécie.de.surf,.sob.a.forma.de.inovação,.que.é.o.caminho.para.a.incorpo-ração.de.tecnologias,.uma.certa.escola.high-tech.,.mas.se.isso.for.mal. feito.a.escola.não.é.sustentável,.nem.é.high-tec.e.perde-se.a.relação. entre. o. professor. e. o. aluno,. e. que. é. a. capacidade. de.incorporar.cada.vez.mais.melhorias.no.processo.educativo..A.ino-vação.tem.estas.dimensões,.não.é.um.processo.tecnológico,.nem.estritamente.económico,. é.um.processo. simples,.não.pomposo,.complexo,. e.que.exige.um.conjunto.de. condições,.de.processos.e.uma.monitorização.permanente.dos.resultados.

Tendo em conta a sua experiência, e estando nós a viver uma crise global sem precedentes, acredita que há condições de sustentabilidade para os princípios que defende?

Seguramente,.ainda.mais..Esta.crise.económica.e.financeira.que.estamos. a. viver. é. uma. crise. profunda,. e. como. todas. as. crises,.é.uma.crise.que.ela.própria.vai.eliminar.um.conjunto.de.realida-des.que.tinham.ficado.obsoletas,.e.vai.alterar.–.e.não.há.saída.da.crise.enquanto.não.se.fizer.essa.alteração.–,.os.próprios.mecanis-mos.de.regulação.da.economia.e.da.sociedade..Há.crises.que.por.si.só.são.apenas.crises.reguladoras.,.na.medida.em.que.funciona.um.pouco.como.alguém.que.depois.de.ter.comido.de.mais.tem.de.fazer.dieta,.sentiu-se.mal,.enfim,.o.excesso.alimentar.é.corri-gido. com.uma.excessiva.poupança.alimentar.e.as. coisas. ficam.resolvidas.. Temos. tido. regularmente. crises. desse. tipo.. Isto. é,.mesmo. quando. há. boas. políticas. públicas. e. boas. práticas. de.regulação.o.mercado.é.algo.que.tende.a.desequilibrar,.os.agentes.económicos.tomam.decisões.sem.se.consultarem.uns.aos.outros;.em.Portugal. tomam-se.milhões.de.decisões.por.dia.e.ninguém.telefonou.previamente.a.ninguém.a.perguntar.se.aquilo.ia.fazer.sentido.. Há. coisas. que. fazem.muito. sentido. e. coisas. que. não.fazem.tanto.sentido..Os.saldos.começam.com.x.por.cento.e.aca-bam. com. y. por. cento,. se. não. correm.muito. bem,. ou. começam.com.x.e.acabam.com.z.se.correm.muito.bem,.enfim,.a.economia.funciona.assim..Felizmente.vive.de.incertezas,.de.expectativas,.e.esse.é.um.dos.mecanismos.que.conduz.à.perda.da.regulação.por-que.,.de.um.modo.geral,.os.agentes.económicos.tendem.a.sentir-se.bem.demais.quando.as.coisas.estão.bem,.e.mal.demais.quando.as.coisas.estão.mal..Os.seus.comportamentos.produzem.excessi-vas.euforias.ou.excessivos.pessimismos.Esta.é.também.uma.crise.em.que.vamos.alterar.necessariamente.os.mecanismos.de.regulação,.porque.os.que.entraram.em.crise.precisam. de. ser. alterados.. Não. é. uma. revolução,. mas. é. uma.mudança.significativa..É.um.pouco.como.não.poder.regressar.ao.

sítio.de.onde.se.partiu..A.economia.mundial,.a.europeia,.a.portu-guesa.não.vão.poder.regressar.a.2005,.2006..Vão.ter.que.regressar.a.uma.coisa.um.pouco.diferente..Já.temos.um.desenho.claro.de.um.desafio.enorme,.que.é;.as.boas.notícias.económicas.não.são.boas.notícias.em.emprego..Estamos.a.sair.desta.crise.ganhando.algum.dinamismo.económico,.mas.com.muito.pouco.conteúdo.de.emprego..O.que.significa.que,.continuando.a.aumentar.o.peso.do.trabalho.indirecto.nas.actividades.económicas.e.sociais.,.aumen-tamos.a.qualificação.e.as.competências.das.várias.pessoas.que.tra-balham.nas.diferentes.organizações;.nós.estamos.a.ter.que.inovar.no.nosso.modelo.de.produção.e.no.nosso.modelo.de.consumo.para.podermos.ter.um.nível.de.emprego.relativamente.elevado.O.século xxi vai.ser,.provavelmente,.um.século.onde.não.vamos.ter.pleno.emprego,.mas.vamos.ter.trabalho.para.todos..Esse.é.um.terreno.decisivo.de.inovação..Eu.diria.que.nunca.foi.tão.necessá-rio.inovar..Inovar.do.ponto.de.vista.de.aceleração.do.processo.de.sermos.capazes.de.criar.mais.riqueza..Uma.das.razões.desta.crise,.na.Europa,.em.Portugal,.no.mundo.mais.avançado,.foi.a.quebra.de.capacidade.de. fazer. aumentar. aquilo. que. os. economistas. cha-mam.produto.potencial,.isto.é,.nós.há.cerca.de.quinze.anos.temos.sofrido.no.mundo.mais.desenvolvido.a.incapacidade.de.aumen-tar.o.ritmo.a.que.fazemos.crescer.a.riqueza,.e.não.baixámos.as.expectativas,.aquilo.que.as.populações.querem.e.felizmente.bem,.mas.temos.aqui.uma.contradição..E.resolvemos.temporariamente.este.processo.com.o.aumento.do.endividamento..Ora,.o.aumento.do.endividamento.não.é.sustentável..Esse.aumento. foi.possível.porque.o.mundo.emergente.começou.a.crescer.muito,.a.poupar.muito,. e. essas. poupanças. foram. recicladas. através. do. sistema.financeiro.para.o.mundo.mais.desenvolvido,.mas.este.não.é.um.processo.que.possa. continuar.desta.maneira.. Esta. crise. tem.aí,.aliás,.uma.das.suas.razões..Portanto,.nós.vamos.ter.que.inovar.do.ponto.de.vista.de.darmos.um.sentido.útil.às.nossas.grandes.rea-lizações. da. segunda. metade. do. século xx.. Para. além. de. um.ambiente.com.muito.mais.paz,.nós.aumentamos.drasticamente.a.produtividade.,.o.conhecimento.e.o.nosso.tempo.de.vida..Tudo.isto. são. factores.muito.positivos..Mas. isto.para. ser. sustentável.exige.um.enorme.esforço.de.inovação.que.mude.a.maneira.como.vivemos,.que.mude.a.maneira. como.consumimos,.que.mude.a.forma.como.gerimos.as.cidades.(.temos.aí.um.enorme.desperdí-cio,. um. enorme. custo. em. termos. de. recursos. não. renováveis,.associados.aos.sistemas.energéticos.ou.à.água,.por.exemplo),.e.teremos.de.gerir.bastante.melhor.certos.recursos.escassos..O.con-gestionamento. é. um. problema. decisivo,. que. precisa. de.muita.inovação,.precisamos.de.ter.sistemas.de.mobilidade.a.sério,.por.exemplo.. Há. inúmeros. terrenos. onde. a. inovação. é. pão. para. a.boca,.do.ponto.de.vista.económico.e.social.

As sociedades necessitam destas reformas de modo urgente. Acha que as populações estão conscientes destas transformações tão prementes, nomeadamente os agentes económicos ?

As.transformações.fazem-se.sempre.por.uma.mistura,.uma.espé-cie.de.salada.que.tem.de.ser.bem.temperada.entre.inteligência.e.necessidade.. Nós. mudamos. não. apenas. pela. inteligência;. nós.não.mudamos.apenas.porque.nos.convencemos.por.esforço.inte-lectual. ou.por. informação.que.devemos.mudar..Nós.mudamos.sempre.sob.o.empurrão.da.necessidade..Os.problemas.humanos.e.sociais.dos.nossos.dias.são.suficientemente.fortes.para.haver.uma.pressão.de.necessidade.muito. forte..Nós.necessitamos.de.um.conjunto.de.mudanças..Por.outro.lado,.temos.os.meios.para.

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fazer. essas. mudanças.. Obviamente,. temos. uma. resistência. à.mudança,.uma.resistência.politica,.ao.nível.do.poder,.para.além.do.poder.politico,.há.o.poder.económico,.o.poder.social..A.mudança.que.é.preciso.fazer.altera.a.relação.entre.gerações,.altera.a.relação.entre.homens.e.mulheres,.altera.a.relação.entre.as.normas.e.as.diferenças,. cria. novas. convenções. sociais,. altera. os. contratos.sociais..Nós.temos.vindo.a.ter.uma.alteração.de.um.dos.contratos.sociais.fundadores.da.democracia.e.das.economias.em.que.vive-mos.de.uma.forma.muito.casuística,.que.é.o.contrato.social.que.liga.as.gerações.aos.sistemas.de.pensões.e.reformas..Esses.contra-tos.vão.todos.mudar..Eu.creio.que.vai.ser.alterado.o.contrato.que.nasceu.com.a.Segunda.Guerra.Mundial.e.com.o.keynesianismo,.que. é. o. contrato. de. obrigar. os. governos. a. garantir. o. pleno.emprego..Isso.já.não.se.passa,.embora.esteja.nas.Constituições.e.nos. objectivos. de. todos. os. governos,. que. não. têm. capacidade.para.garantir.o.pleno.emprego.Muito.provavelmente.a.sociedade.civil.vai.assumir.uma.parte.da.responsabilidade.que,.a.meio.do.século.xx,.passou.para.os.gover-nos.. Nessa. altura,. havia. condições. para. essa. lógica. do. pleno.emprego..Havia.uma.demografia.mais.dinâmica,.havia.uma.esta-bilidade.do. ciclo.de. vida.dos.produtos. e.das. tecnologias.muito.mais. forte,. ciclos.de. vida.muito.mais. longos,.muito.maior.ade-quação. entre. o. nível. da. formulação. das. politicas. nacional. e. a.dimensão.do.mercados.nacional.–.hoje.os.mercados.são.globais.e.as.politicas.muitas.vezes.formulam-se.à.escala.nacional.,.apenas,.e,.portanto,.aquilo.que.eu.digo.é.que.há.realmente.uma.resistên-cia,.mas.que.será.ultrapassada.na.medida.em.que.a.inovação.seja.completa,.na.medida.em.que.não.se.pode.ser.ingénuo.ou.parcial.nos.processos.de. inovação..Na.minha.opinião,. para.quem.quer.promover.a.inovação,.tem.de.ter.a.sabedoria.de.criar.as.chamadas.armadilhas.da.inovação,.porque.se.criaram.algumas.armadilhas.da.qualidade..Uma.empresa.que.se.certifica.como.empresa.que.preenche.normas.de.qualidade.,.seja.ao.nível.do.produto,.dos.pro-cessos,.seja.ao.nível.do.ambiente,.seja.ao.nível.dos.recursos.huma-nos,.etc,.é.uma.empresa.que.entra.numa.armadilha..A.partir.do.momento.em.que.se.certificou,.nunca.mais.pode.deixar.de.pres-tar. atenção. à. qualidade.. E. esse. processo. é. cada. vez. mais. exi-gente..Nós.temos.uma.leitura.errada.da.inovação.em.dois.contextos.–.lemos. a. inovação. como. uma. coisa. pomposa,. uma. coisa. para.génios,.para.um.mundo. restrito.de.pessoas.e.a. inovação.não.é.isso..Isso.são.as.condições.da.inovação..A.descoberta.científica.não.é.para.todos..Mas.a.inovação.é.para.todos..A.inovação.é.democrá-tica,.a.invenção.não.é..A.inovação.pode-se.difundir.por.todas.as.pessoas,.organizações.ou.empresas..A.descoberta.científica,.não..Portanto,.as.condições.da.inovação.precisam.de.ser.cuidadas.por.politica. públicas,. por. apostas. colectivas.. Assim. como. todas. as.sociedades.que.apostaram.na.educação,.não.do.ponto.vista.pom-poso. ou. propagandístico,. ou. meramente. declarativo,. mas. que.cuidaram. a. sério. da. educação.. O. Norte. da. Europa. entrou. no.século.xx. sem.analfabetos.e.ainda.hoje.colhe.dividendos.disso..O.sul.da.Europa.entrou.no.século.xx com.uma.esmagadora.maio-ria.da.população.analfabeta.,.ainda.hoje.tem.alguns.analfabetos.e.paga.o.preço.disso..Na.inovação.a.mesma.coisa..Temos.de.fazer.algumas.ousadas.afectações.de.recursos.às.condições.da.inova-ção..Mas.sem.nenhuma.ilusão,.pois.isso.não.vai.dar.um.resultado.por.si.só..Apenas.cria.um.ambiente.mais.favorável..Depois.é.preciso,.ao.nível.das.políticas.públicas,.dos.agentes.eco-nómicos,.dos.professores,.dos.estudantes,.investigadores,.comer-ciantes,.clientes,.de.toda.a.gente,.vai.ser.necessário.um.esforço.no.dia.a.dia..De.alguma.maneira,.voltamos.a.coisas.que.têm.milha-

res.de.anos:.devo.eu.apostar.no.progresso.ou.na.melhoria?.Se.eu.apostar.na.melhoria,. estou.centrado.nos. resultados;. se.apostar.no.progresso,.estou.centrado.nas.condições..Não.posso.ter.melho-ria.sem.progresso,.mas.nem.todo.o.progresso.produz.melhoria,.e.toda.a.melhoria.é.suportada.em.progresso..Se.eu.for.às.políticas.públicas,.aos.fundos.estruturais,.ao.sistema.fiscal,.e.der.os.sinais.correctos. para. premiar. a. inovação. e. não. estar. disponível. para.premiar.a.não.inovação,.se.a.inovação.que.é.premiada.for.supor-tada.por.resultados.e.baseada.num.equilíbrio.entre.a.oferta.e.a.procura,.porque.o.grande.potencial.que.temos.na.situação.actual.é.o.de.uma.economia.cujo.dinamismo.principal.está.na.procura,.então.vale.a.pena..Por.isso,.temos.desafios.suficientes.do.lado.da.procura.–.sociais,.económicos,.que.pedem.inovação,.que.querem.bens.e.serviços.com.mais.qualidade.e.a.mais.baixo.custo..É.um.desafio.colossal.que.permite.organizar.as.empresas,.a.adminis-tração.pública..A.inovação,.para.além.de.poupar.muito.dinheiro,.muitas.vezes.faz-se.sem.custos..Não.tem.nenhum.custo.estabili-zar. o. quadro.de. decisão.dos. agentes. económicos.. Por. exemplo,.uma.coisa.que.é.decisiva.nos.próximos.tempos,.que.é.a.reabilita-ção. e. a. regeneração. urbana,. que. é. estabilizar. as. condições. de.colaboração. entre. os. investidores. privados. e. os. responsáveis.públicos...Isto.não.custa.um.euro..Uma.resposta.rápida.aos.pro-jectos.apresentados.em.termos.de.«faz.sentido.-.não.faz.sentido»,.«não.pode.fazer.–.faça-se».,.poder.reduzir.em.2.,.3,.4.anos.os.perí-odos.em.que.se.faz.regeneração.e.reabilitação.urbana,.perceber.que. reabilitação.urbana.não. é. apenas. reabilitação.de. edifícios,.mas.de.habitat.e.revitalização.do.tecido.económico,.e.que.isto.se.faz.de.modo.integrado,.são.coisas.que.não.custam.um.euro.e.são.inovadoras..É.pela.inovação,.numa.altura.de.crise,.que.nós.vamos.construir.uma.resposta.que.nos.possa.satisfazer.em.matéria.de.oportunidade. e. equidade.. Para. mim,. o. século. xxi. vai. ser. um.século.com.menos.assalariados.e.com.mais.trabalhadores.inde-pendentes..Claro.que.o.trabalho.não.assalariado.responsabiliza-nos.mais,.nos.torna.mais.donos.do.nosso.destino,.do.nosso.nível.de.vida,.da.nossa.qualidade.de.vida..Claro.que.tem.muitos.mais.riscos,.mas. também.permite. acelerar. os.processos.de. inovação.e.torná-los.cumulativos.

Qual é o balanço que faz da aplicação dos fundos estruturais na área da inovação, no âmbito do QREN, na região de Lisboa e Vale do Tejo, com 20 projectos aprovados e investimentos que rondam os 35 milhões de euros ?

Lisboa.esteve.em.2000.e.em.2006.numa.situação.de. transição.por. duas. razões:. tornou-se. numa. região.mais. desenvolvida. no.contexto.europeu.que.outras.e.tem.neste.QREN.2007-2013.uma.situação.muito. particular. –. é. uma. região. completamente. fora.das.prioridades.dos.fundos.estruturais.e,.portanto,.na.prática.tem.meios.muito.limitados.de.acesso.aos.fundos.estruturais..Os.mon-tantes.para.a.região.de.Lisboa.são.quase.insignificantes..O.papel.que.os.fundos.estruturais.tiveram.na.região.de.Lisboa.é.comple-tamente.diferente...A.Santa.Casa.da.Misericórdia,.em.termos.de.acção.social,.tem.mais.meios.por.ano.que.os.fundos.estruturais.para.todo.o.período.de.programação..Nesse.ponto.de.vista,.esta-mos.a.falar.de.um.número.limitadíssimo.de.projectos.que.devem.valer. pela. sua. qualidade.. A. região. já. deu. saltos. significativos,.revela.uma.capacidade.de.atrair.empresas.altamente.qualifica-das..Na. região. de. Lisboa,. o. peso. do. ensino. superior. é. sensivel-mente. o. dobro. do. pais;. por. outro. lado,. as. actividades. de.especialização.das.empresas.que.estão.em.Lisboa.estão.centra-das.na.escala,.na.diferenciação,.na.I&D,.o.que.permite.que.o.tecido.

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empresarial. seja. um. tecido.mais. preparado. para. o. desenvolvi-mento.I+D+i.,.que.é.fundamental...Eu.diria.que.o.papel.actual.dos.fundos.estruturais.nesta.região,.é.um.papel.de.reforço.da.exce-lência,.é.um.papel.de.concentração.em.poucos.projectos.que.pos-sam.fazer.a.diferença.em.relação.a.algumas.oportunidades.que.ainda.não.estejam.agarradas.ou.que.possam.a.vir.ser.reforçadas...É.esse.o.balanço.que.tem.de.ser.feito..Por.outro.lado,.penso.que.a.própria.região,.e.esse.é.um.desafio.muito.grande.para.a.CCDR.e.para. a. gestão. dos. fundos. estruturais,. tem. de. estabelecer. uma.nova.relação.com.o.país..A.Estratégia.de.Lisboa,.que.está.definida.nos.sucessivos.programas.em.que.eu.colaborei,.é.uma.estratégia.que. visa. criar. uma. Lisboa.mais. forte. à. escala. internacional,. e.menos.pesada.à.escala.interna..Creio.que.tem.feito.falta.e.espero.bem.que.sejam.tomadas.iniciativas.no.sentido.de.um.novo.diá-logo.entre.a.região.de.Lisboa.e.o.resto.do.país,.particularmente.com.a.região.Centro,.com.a.região.Alentejo.que.têm.um.conjunto.de. actividades. que. são. polarizadas. por. Lisboa.. É. fundamental.para.o.país,.e.para.Lisboa,.que.os.efeitos.multiplicadores.do.que.se.faz.em.Lisboa.se.difundam.pelo.país..Há.uma. segunda.dimensão.que.não.pode. ser. esquecida.que.é.saber.em.que.medida.o.que.o. resto.do.país. faz. com.os. fundos.estruturais,.é.apoiado.por.Lisboa.ou.cria.oportunidades.para.Lis-boa.. Porque. esta. é. uma. questão. chave,. uma. vez. que. há. uma.grande.concentração.de.recursos.nas.chamadas.regiões.de.con-vergência.–.o.Norte,.o.Centro.e.Alentejo,.e.essa.concentração.de.recursos,.que.é.feita.à.custa.de.Lisboa,.e.bem,.porque.precisam.de.ganhar.um.outro.dinamismo.e.de.recuperar.o.seu.nível.de.vida.em.relação.à.média.comunitária,.mas.o.sucesso.dessas. regiões.

deve.ser.não.à.custa.de.Lisboa,.mas.com.Lisboa,.e.com.o.reforço.das.relações.entre.uns.e.outros,.na.medida.em.que.o.bom.apro-veitamento.dos.fundos.estruturais.precisa.de.usar.as.competên-cias,.nomeadamente.em.matéria.científica.e. técnica,.mas. tam-bém.em.prestação.de.serviços,.que.estão.concentrados.em.Lisboa..Estas.actividades.precisam.de.procura,.para.poderem.continuar.a.desenvolver-se..Por.exemplo,.quando.com.os.fundos.estruturais.viabilizámos.a.Auto.Europa,.estivemos.ao.mesmo.tempo.a.desen-volver.a.Península.de.Setúbal,.mas.também.estivemos.a.desen-volver. a. Alemanha.. . A. Alemanha,. como. grande. contribuinte.líquido.para.os.fundos.estruturais,.tira.resultados.positivos,.por-que.a.utilização.desses.fundos.estruturais.na.Península.de.Setú-bal.criou.procura.para.empresas.alemãs.que.vieram.investir.aqui..De.alguma.maneira.são.essas.sinergias.com.que.nós.devemos.ver.aquilo.que.é.a.novidade.no.quadro.2007-2013..Agora,. pela. primeira. vez,. Lisboa. é. uma. região. desenvolvida. no.contexto. europeu. faz. papel. de.uma.Alemanha.na. comparação.com. Portugal,. e. as. regiões. de. convergência. em. Portugal. têm.desafios.muito. grandes. de. desenvolvimento. e. de. convergência.nos.seus.ritmos.de.crescimento..O.que.se.podia.fazer.está.feito,.isto.é,.concentrar.em.poucos.pro-jectos.que.façam.sentido.do.ponto.de.vista.dos.desafios.da.inova-ção.sem.esquecer.esta.nova.relação,.sem.a.qual.nem.Lisboa,.nem.o.resto.do.país.conseguem.consolidar.as.suas.posições.à.escala.das.centenas.de.regiões.europeias.com.as.quais.se.mede.o.ritmo.de.inovação,.de.crescimento,.e.o.desempenho.em.relação.à.com-petitividade.e.à.coesão..

É pela inovação, numa altura de crise, que nós vamos construir uma resposta que nos possa satisfazer em matéria de oportunidade e equidade.Para mim, o século xxi

vai ser um século com

menos assalariados

e com mais trabalhadores

independentes.

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Fotografia.|.Flávio Andrade

Realizou-se no passado dia 28 de Maio, no auditório da Administração do

Porto de Lisboa – Rocha do Conde de Óbidos, o II Encontro Transnacional de

Demonstração Tecnológica da Indústria Auxiliar do Naval.

Desenvolver a Inovação e a Competitividade

da Indústria Naval

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OEncontro insere-se no conjunto de actividades a.desenvolver.no.âmbito.do.Projecto.Aux-Navalia,.que. tem. como. parceiros. entidades. do. Reino.Unido,. Espanha. e. Portugal,. sendo. a. AI. Navais.o.representante.nacional.

Estes.Encontros.destinam-se.a.divulgar.os.conhecimentos.e.com-petências.dos.centros.tecnológicos.e.dos.grupos.de.investigação.de. cada. um. dos. países. integrantes. do. Projecto,. a. descrever. os.principais.serviços.e.projectos.I+D+i.que.realizaram.nos.últimos.anos,.especialmente.os.focalizados.na.indústria.auxiliar.do.naval,.e.decorrentemente.a.estimular.a.adopção.de.uma.generalizada.cultura.de.inovação.e.competitividade.junto.das.empresas,.pro-curando.o.fomento.de.parcerias.

A.forma.como.decorreu.o.Encontro,.com.destaque.para.a.qualida-de. técnica. das. comunicações,. o. interesse. suscitado. pelas.mes-mas,.a.diversidade.e.número.de.assistentes,.culminando.com.a.presença.e.discurso.proferido.pelo.Secretário.de.Estado.da.Defesa.

Nacional.e.dos.Assuntos.do.Mar,.Dr..Marcos.Perestrello,.permiti-ram.que. os. objectivos. e. responsabilidades,. que. como. entidade.organizadora.cabiam.à.AI.Navais,.fossem.claramente.superados.

Também. as. expectativas. que. ao. longo. do. tempo. foram. sendo.criadas.sobre.o.número.e.diversidade.da.assistência,.foram.igual-mente.excedidas,.tendo.em.conta.os.assistentes.efectivos.(autori-dades.civis,.militares,.embaixadas,.câmaras.de.comércio,.estabele-cimentos. de. ensino,. empresas. e. diversas. outras. entidades),.sobretudo.num.encontro.de.natureza.tão.específica.e.técnica.

A.Associação.das.Indústrias.Navais,.não.só.excedeu.o.que.lhe.era.exigível.no.âmbito.do.Projecto.Aux-Navália,.como.deu.uma.clara.demonstração.da. capacidade.de. organização.de.uma. entidade.portuguesa,. o. que,. aliás,. foi. reconhecido.pela. generalidade.dos.participantes.e,.em.particular,.pelo.líder.do.Projecto,.contribuindo.colateralmente.para.prestigiar.o.nosso.país.perante.os.parceiros.estrangeiros.e.as.entidades.a.quem.os.mesmos.têm.de.reportar,.quanto.à.realização.do.Projecto.

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O mundo de “uma pintora de histórias” revela-se por entre cedros de formas

caprichosas. Mais de cem mil pessoas já passaram pela Casa das Histórias

Paula Rego, um projecto sonhado há alguns anos pela própria artista, singular

quanto baste para não ser chamado de “museu”. Concretizado pelo Município

de Cascais, teve como cúmplice o arquitecto Eduardo Souto de Moura. É um

bom exemplo de como as artes podem estar ao alcance de todos e contribuir

para a expansão do turismo cultural.

Era uma vez uma casa de histórias

Reportagem.|.Património.|.Carla Maia de Almeida..Fotografia.|..Guto Ferreira

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DDesde a sua inauguração, em Setembro de 2009,.um.público.ecléctico.chega.diariamente.ao.insólito. edifício. avermelhado.. Vista. de. longe,. a.porta.de.vidro.automática,.sensível.à.aproxima-ção. do. visitante,. mais. parece. a. boca. de. uma.

caverna.escura,.para.lá.da.qual.é.impossível.ver.com.clareza..Por.ali. entram. crianças. agrupadas. aos. pares,. estudantes. de. artes.visuais.ligeiramente.barulhentos,.turistas.equipados.com.óculos.de.sol.e.bermudas,.excursionistas.que.aproveitam.os.descontos.da.idade.sénior,.senhoras.que.compram.religiosamente.a.Caras,.homens.de.meia.idade.e.colarinho.desabotoado,.famílias.inteiras.que.chegam.armadas.de.carrinho.de.bebé,.saco.de.fraldas.e.leitu-ras.de.fim-de-semana..

Como.se.reflectisse.a.diversidade.humana.da.obra.de.Paula.Rego,.também. este. espaço. parece. ter. o. dom. de. atrair. públicos. para.quem. a. fruição. cultural. faz. parte. das. mais. descomplexadas.modalidades.de.lazer..Não.há.aqui.lugar.para.uma.visão.elitista.e.sacralizada.da.arte,. o.que,.na.opinião.de.Helena.de. Freitas,. «só.pode. ser. positivo».. A. segunda. directora. da. Casa. das. Histórias.Paula.Rego,.que.em.Fevereiro.substituiu.Dalila.Rodrigues.e.assu-miu.os.destinos.da.instituição.durante.dois.anos,.é.assertiva.ao.fazer.o.balanço.dos.primeiros. três.meses.de. trabalho:.«O.senti-mento.prevalecente.é.de.entusiasmo..Trabalhar.aqui.é.uma.coisa.viva,. sentimos.muitas.emoções..O.próprio.espaço.é.um.desafio..Sob.o.ponto.de.vista.da.programação,.também.é.muito.estimu-lante.pensar.nos.artistas.que.podemos.cá.trazer.».

Observadora.do.público.que.tem.acorrido.em.força.ao.novo.equi-pamento. cultural. de. Cascais,. Helena. de. Freitas. afirma:. «É. um.museu.que.tem.um.público.contínuo.e.regular.bastante.forte..Há.quem.goste.muito.e.há.quem.não.goste.nada.e.se.mostre.inco-

modado,.mas.maior.parte.das.pessoas.reage.de.uma.forma.muito.positiva..O.público.infantil.é.extremamente.sensível.ao.trabalho.plástico.da.Paula.Rego..As.pessoas.mais.velhas. têm.outra. reac-ção.”.E.conclui:.“O.que.é.facto.é.que.ela.não.deixa.ninguém.indife-rente,.e.isso.é.sinal.de.uma.obra.poderosa.»

Licenciada. em.História. e.mestre. em.História. da.Arte,.Helena.de.Freitas.revê-se.como.uma.daquelas.pessoas.que.teve.«a.felicidade.de. ser. conduzida. pela. vida. até. aos. sítios. certos».. Hesitou. entre.Letras.e.Ciências,.chegou.a.querer.ir.para.Agronomia,.considerou.Arqueologia,. mas. a. disciplina. de. História. da. Arte. no. curso. da.Universidade.Nova.de.Lisboa.fê-la.perceber.que.«era.por.ali»..Em.meados.dos.anos.1980.começou.a.colaborar.em.projectos.de.inves-tigação.para. a. Fundação.Calouste.Gulbenkian. (onde.Paula.Rego.teve.direito.à.sua.primeira.exposição.retrospectiva,.em.1988)..Aí.se.manteve.como.curadora.até.aceitar.este.desafio..Para.quem.con-fessa.só.saber.«trabalhar.em.equipa»,.a.necessidade.de.criar.uma.nova.estrutura.e.firmar.as.raízes.do.projecto.museológico.foi.um.factor.estimulante:.«O.que.me.seduziu.foi.a.possibilidade.de.poder.experimentar.uma.zona.de.trabalho.não.propriamente.nova,.mas.com.meios.diferentes.daqueles.a.que.eu.estava.habituada..Era.um.grande.desafio.pensar.como.poderia.trabalhar.com.outra.estrutu-ra.e.transportar.a.minha.experiência.para.este.espaço.»

Sobre.a.sua.antecessora,.afastada.do.cargo.por.alegada.falta.de.consenso,.num.processo.não.isento.de.polémica,.Helena.de.Freitas.prefere.não.tecer.comentários,.atitude.que.assumiu.desde.o.iní-cio.e.mantém.até.agora..Afirma.ter.partido.«do.zero».no.que.toca.ao.plano.museológico:.«O.que.encontrei.aqui.foi.uma.exposição.bastante. bem. construída. sobre. a. Paula. Rego. e. uma. equipa.incompleta,.que.estou.a.reconstruir.para.que.fique.coesa,.dinâmi-ca.e.polivalente.».A.falta.de.gabinetes.para.a.equipa.técnica.de.

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dez.pessoas,.operando.em.áreas.tão.diversas.como.a.conservação,.a.produção,.a.gestão.do.edifício.ou.o.serviço.educativo,.tem.sido.um. dos. poucos. obstáculos. a. contornar:. «No. geral,. tem. corrido.tudo.bem..Talvez.os.tempos.em.que.as.coisas.se.processam.sejam.um.pouco.mais.lentos.do.que.eu.estava.habituada..Enquanto.a.Gulbenkian. tinha. uma.máquina. já.montada. há.muito. tempo,.aqui.não..Depois,.estou.ainda.a.sentir.a.necessidade.de.me.adap-tar.ao.próprio.edifício..Acho.que.ainda.não.tem.tudo.o.que.é.pre-ciso.para.funcionar.como.museu.».

A.falta.de.um.espaço.próprio.para.acolher.as.oficinas.e.ateliers.do.serviço.educativo,.uma.das.frentes.de.actuação.imprescindíveis,.é.uma.das.ausências.percepcionadas.pela.nova.directora:.«Também.sinto.a.falta.de.um.centro.de.documentação..Sempre.vivi.rodeada.de.livros.e.a.primeira.coisa.que.fiz.foi.trazer.uma.grande.parte.da.minha. biblioteca. para. aqui.. Vai. ser. necessário. construir. esse.espaço,. que. será. extremamente. útil. ao. público. investigador. e.universitário:.um.centro.de.estudos.bibliográfico,.visual.e.multi-média.à.volta.da.obra.de.Paula.Rego..Neste.momento.estamos.a.fazer.o.levantamento.das.obras.da.artista.em.colecções.particula-res.e.públicas.»

Indissociável.do.fascínio.que.os.seus.interiores.guardam,.a.arqui-tectura.da.Casa.das.Histórias.Paula.Rego.também.não.deixa.nin-guém.indiferente..A.pintora.pediu.a.Eduardo.Souto.de.Moura.que.criasse.um.lugar.«de.histórias.e.desenhos,.divertido,.despretensio-so,. vivo,. cheio. de. alegrias. e. de.muitas.maldades»,. como. recorda.Nuno. Grande. num. texto. sugestivamente. intitulado. «O. Palácio.Escarlate».*. Localizada. no. terreno. adjacente. ao. Museu. do. Mar,.aproveitando. os. relvados. e. a. esplanada. dos. courts. de. ténis. em.desuso,. a. proposta. arquitectónica. caracteriza-se. pelo. impacto.visual.decorrente.do.uso.de.betão.pigmentado.a.vermelho.–.cor.que.empresta.ao.edifício.uma.aura.de.fantasia,.a.lembrar.a.casa.de.doces.do.célebre.conto.dos.Irmãos.Grimm,.Hansel.e.Gretel..A.com-binação.de.várias. volumetrias,. com.um.núcleo. central.mais.alto.destinado.às.exposições.temporárias,.à.volta.do.qual.se.articulam.as. salas. de. exposição. permanente,. faz. destacar. de. imediato. as.duas.torres.piramidais.que.concorrem.para.acentuar.a.estranheza.do.lugar..A.explicação.para.estas.opções.encontra-se.bem.próxima,.na.região.de.Cascais-Sintra.e.na.marca.que.aí.deixou.um.dos.mais.distinguidos.arquitectos.do.século.xx:.Raul.Lino..

A.Casa.de.Santa.Maria.e.a.Casa.dos.Penedos,.duas.obras.de.Raul.Lino,.são.referências.assumidas.na.Casa.das.Histórias.Paula.Rego.(na.opinião.de.Nuno.Grande,.“a.mais. icónica.obra.de. Souto.de.Moura. desde. o. Estádio. Municipal. de. Braga”).. A. nomeação. do.arquitecto.teve.origem.numa.escolha.pessoal.da.própria.artista,.quando,.em.Novembro.de.2004,.o.convidou.a.visitar.o.seu.atelier.em. Londres. e. uma. exposição. organizada. pela. Tate. Britain.. Na.altura,. Paula. Rego. confessou. o. seu. fascínio. pelos. quadros. de.Francis.Bacon,.que,.no.enquadramento.da.sala.onde.se.encontra-vam,.provocavam.uma.explosão.cromática.de.tons.laranja.e.arro-xeados..O.episódio.terá.tido.influência.em.Souto.de.Moura,.quan-do.mais.tarde.desenhou.o.seu.“palácio.escarlate”..Não.se.trata,.de.resto,.da.única.alusão.ao.mundo.das.artes.visuais..Também.a.pin-tura.de.Paula.Rego.tem.acolhido.aquilo.que.Nuno.Grande.define.como. “imaginários. partilhados”,. citando. Bacon,. mas. também.Velázquez,. Goya,. Dubuffet,. Ernst,. Balthus,. Picabia. e. De. Chirico..“Há,. na. verdade,. uma. profundidade. espacial. de. chirichiana. na.obra.de.Paula.Rego.que.não.passa.despercebida.aos.arquitectos”,.conclui..

O que se pode ver no palácio escarlate.A.colecção.compreende.um.conjunto.de.obras.de.pintura,. desenho. e. gravura. assinados. por. Paula.Rego.e.concebidos.para.distintos.suportes.e.técni-cas,.abrangendo.um.período.cronológico.de.cerca.de.cinco.décadas..Este.acervo.constituiu-se.a.par-tir.da.doação.da.artista,.que.cedeu.ao.município.a.totalidade. da. sua. obra. gravada,. bem. como. um.conjunto.praticamente.inédito.de.desenhos,.num.total. de. 535. exemplares.. O. empréstimo,. por. um.período.mínimo.de.dez.anos,.de.52.das.suas.mais.emblemáticas.pinturas,.desde.Life.Painting.(1954).até. à. actualidade,. a. que. se. junta. uma. colecção.composta.por.duas.centenas.de.desenhos.e.estu-dos.preparatórios,.e.ainda.uma.série.de.trabalhos.de.Victor.Willing,.dão.força.a.este.projecto.muse-ológico.que.partiu.da.vontade.da.própria.artista.e.se. materializou. em. Cascais,. na. mesma. região.onde.Paula.Rego.construiu.o.núcleo.essencial.do.seu.vasto.imaginário.

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O.cruzamento.de.todos.esses.elementos.artísticos.e.criativos,.não.apenas.ligados.à.pintura.e.às.artes.visuais,.pretende.ser.uma.das.marcas.de.actuação.da.Casa.das.Histórias.Paula.Rego,.correspon-dendo.ao.imaginário.fértil.e.pluralista.da.sua.mentora..A.loja.do.museu.é.um.bom.exemplo.da.multiplicidade.de.fontes,.eruditas.e.populares,.que.encontram.eco.na.trajectória.artística.de.Paula.Rego..Desde.as.faianças.de.Rafael.Bordalo.Pinheiro.aos.sabonetes.Ach.Brito,.passando.pelos. lápis.de.cor.Viarco.e. terminando.nos.brinquedos.de. lata,.cada.objecto.pode.ser.um.ponto.de.partida.para.conhecer.a.artista.que.é.também.uma.“pintora.de.histórias”,.para. usar. a. expressão. feliz. de.Dalila. Rodrigues*.. Além. do.mer-chandising,.a.loja.engloba.também.uma.secção.de.livraria,.pensa-da.com.critério.e.criatividade,.na.qual.se.inclui.o.próprio.plano.de.edições. da. Casa. das. Histórias. Paula. Rego.. Álbuns. de. arte,.mas.também.obra.ensaística.à.volta.do.pensamento.filosófico.e.sim-bólico,.bem.como.uma.selecção.cuidadosa.de.literatura.(de.Jean.Rhys.às.Irmãs.Brontë,.passando.pelos.contos.populares.portugue-ses.recolhidos.por.Adolfo.Coelho).fazem.deste.espaço.um.local.de.visita.obrigatória.e.independente.do.museu.

Em.termos.de.programação,.a.ideia.é.manter.a.presença.artística.de.Paula.Rego.–.que,.recorde-se,.doou.ao.município.a.totalidade.da.sua.obra.gravada.e.centenas.de.desenhos.–,.articulando-a.com.exposições.temporárias.de.artistas.com.ela.relacionados.de.algu-ma. forma..Neste. âmbito,. terão. algum.destaque.artistas.portu-gueses.que.estudaram.ou.mantiveram.residências.em.Londres,.e.vice-versa..Promover.a.colecção.da.artista.no.estrangeiro.e.apre-sentar,.sempre.que.possível,.peças.novas.–.como.acontecerá.com.o.oratório.de.quase.três.metros.que.está.em.exposição.em.Londres.–.também.faz.parte.do.projecto.traçado.pela.directora..Sem.que-rer.desvendar.muito.do.que.ainda.está.em.preparação,.Helena.de.Freitas.sintetiza.a.estratégia.da.sua.direcção:.

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Casa das Histórias Paula RegoAv..da.República,.300.–.Cascais.(a.200.metros.da.Cidadela.de.Cascais).Aberto.todos.os.dias,.das.10h00.às.20h00..Entrada.gratuita.Tel..214826970www.casadashistoriaspaularego.com

“Este.é.um.trabalho.que.se.desenvolve.em.várias.frentes..Por.um.lado,.a.Casa.das.Histórias.Paula.Rego.tem.de.se.constituir.como.museu;.por.outro,.tem.de.ter.uma.dinâmica.expositiva..«Insere-se,.aqui,.a.necessidade.de.«honrar.os.compromissos».estabeleci-dos.anteriormente,.o.que.será.já.visível.em.Julho,.com.a.exposição.dedicada.a.Victor.Willing,.o.marido.de.Paula.Rego,.que.com.ela.partilhou.a.vida.desde.o.encontro.na.Slade.School.of.Art,.nos.anos.1950,.até.ao.seu.falecimento.em.1988..«É.uma.retrospectiva.que.incide.sobretudo.no.final.dos.anos.1970.e.80,.um.trabalho.muito.pouco.conhecido.em.Portugal.e.que.eu.acho.que.vai.ser.surpreen-dente..Em.Setembro,.no.primeiro.aniversário.da.casa,.vamos.tam-bém.editar.um.livro.com.textos.dele,.porque.foi.um.teórico.e.um.crítico.de.arte.importantíssimo.»

Abrir.o.museu.à.arte.contemporânea,.portuguesa.e.estrangeira,.é.a. prioridade. natural. de. alguém. que,. em. termos. de. produção.artística,.afirma.gostar.muito.do.tempo.em.que.vive:.«Gosto.de.acompanhar.o.percurso.dos.artistas.contemporâneos..Acho.fasci-nante. a. pluralidade. de. acções. que. desenvolvem,. sempre. com.aquela.capacidade.de.se.anteciparem.ao.seu.tempo..Depois,.é.um.território.multidisciplinar,. em. que. há.muitos. suportes,.muitos.cruzamentos.com.o.cinema,.a.fotografia.ou.a.literatura..Os.artis-tas,.actualmente,.têm.uma.liberdade.de.acção.e.de.pensamento.extraordinária..Como.sou.de.História,.gosto.de.compreender.isso.observando.também.o.que.se.passa.à.minha.volta.e.sabendo.o.que.aconteceu.no.passado.»

Ao.longo.da.sua.trajectória,.Paula.Rego.tem.adoptado.diferentes.estilos,.«passando.de.um.naturalismo.com.características.naïves,.nos.anos.1950,.às.ferozes.e.semiabstractas.pinturas-colagens.dos.anos. de. 1960,. e. das. improvisações. figurativas. semelhantes. a.banda.desenhada,.dos.anos.1980,.às.grandiosas.pinturas.de.figu-

ra,. à.maneira.dos.Grandes.Mestres,. obras.da. sua.maturidade.».Marco.Livingstone.sintetiza,.num.dos.textos.do.catálogo.dedica-do.à.colecção,.as.principais.etapas.criativas.da.artista.que.conti-nua. a. habitar. Portugal. por. dentro,. depois. de. ter. transportado.para.Londres. todas.as.suas.memórias.de.criança.e.adolescente,.quando.vivia.na.casa.de.família.do.Estoril..Etapas.de.um.percurso.que,.não.sendo.linear,.se.mantém.sempre.reconhecível..Ou.não?.A.palavra.final.a.Helena.de.Freitas,.uma.admiradora.óbvia.de.Paula.Rego,.mulher.e.artista:.

«Sim,. ela. tem. um. percurso. reconhecível. porque. também. tem.uma.identidade.autoral.fortíssima..Mas.sempre.com.a.capacida-de.de.nos.surpreender..Ela.é.uma.experimentadora,.alguém.que.chega.a.um.ponto.em.que.reconhece.que.esgotou.determinadas.experiências.e.resolve.partir.para.outras,.mantendo.uma.curiosi-dade.fascinante..Acho.que.é.um.privilégio.trabalhar.num.museu.que.gira.em.torno.desta.vivacidade.e.desta.atenção.ao.mundo.e.às.questões.deste. tempo.em.que. vivemos..Acho.que.é.possível.trazer.a.este.museu.sinais.disso,.através.da.Paula.Rego.e.de.outros.artistas..Era.essa.marca.que.eu.gostava.de.deixar.aqui.».

Acho que é um privilégio trabalhar num museu que gira em torno desta vivacidade e desta atenção ao mundo e às questões deste tempo em que vivemos. […] Era essa marca que eu gostava de deixar aqui.”

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INDUSCRIAUma Plataforma para as Indústrias Criativas

Vista parcial da exposição Daniel Blaufuks, “A Terra é Azul como uma Laranja”, 1992, Foto-vídeo instalação © Cortesia Galeria Luís Serpa Projectos, Lisboa

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As Indústrias Criativas são um

motor para o desenvolvimento da

Nova Economia da Cultura, razão

pela qual acaba de ser criada uma

Plataforma para apoiar Talentos

Emergentes e Projectos Inovadores.

Destaque.|.Luís Serpa.

Estes Centros Geradores de Negócios Criativos. (clus-ters),. compatibilizando.Arte,.Tecnologia. e. Empreen-dedorismo,.pretendem.contribuir.para.a.revitalização.e. desenvolvimentos. da(s). Cidade(s),. através. de. pro-jectos. inovadores. e. cosmopolitas,. (re)qualificando.

espaços. urbanos;. potenciar. uma.maior. participação. no. quoti-diano.das.populações.promovendo.a.coesão.e.a.inclusão.sociais,.a.integração.e.a.igualdade.de.oportunidades.das.diferentes.comu-nidades.que.constituem.a(s).cidade(s),.nomeadamente.universi-tárias,.de.modo.a.angariar.novos.públicos;.desenvolver.projectos.capazes. de. se. assumirem. com. pertinência. comercial. de.modo.a.concorrerem.no.mercado.único.global,.estimulando.a.revitaliza-ção.sócio-económica;.«articular.e.apoiar.estratégias.para.expor-tação.de.bens.e.serviços.culturais.com.aplicação.de.novas.tecno-logias,.incentivando.projectos.de.criação.ou.expansão.de.produtos.transaccionáveis.»;.permitir.o.desenvolvimento.de.competências.mais.criativas.e.inovadoras.com.constante.controlo.de.resultados.e.de.graus.de.eficácia,.inovando.nas.soluções.adoptadas;.reforçar.a.atractividade.das.cidades.através.da.preservação.e.valorização.de. espaços. de. excelência. urbana,. inscrevendo. este. projecto. no.âmbito. das. parcerias. para. a. regeneração. urbana. e. do. Plano.Tecnológico,.através.de.parcerias.público/privado.e.reforçar.a.par-ticipação.dos.agentes,.equipamentos.e.eventos.culturais,.inovan-do.nas.formas.de.governação.urbana.através.da.cooperação.com.os.diversos.actores.urbanos;

Quais são as Indústrias Criativas?

Arquitectura,. artes. visuais/antiguidades,. televisão/rádio,. artes.performativas/entretenimento,. cinema/vídeo,. design,. escrita/edição,. moda,. música,. software. educacional/lazer,. publicidade.e.gastronomia.

Associação INDUSCRIA Plataforma Para as Indústrias CriativasSede.Social:.Rua.Tenente.Raul.Cascais,.1-B.(a.S..Mamede),.1250-268.Lisboa,.Portugal.Tel.:.[+351].213.941.050.|.Telm.:.[+351].967.924.724Fax:.[+351].213.970.251.|.E-mail:[email protected]

Rui Sanches, “Corpos (e) Móveis II”, 1993

Lidija Kolovrat, “Instinizam”, 2001, Desfile de moda & instalação vídeo © Cortesia - Casa Museu João da Silva, Cortesia Galeria Luís Serpa Projectos, Lisboa

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O Teatro Instável, fundado em 2004, é uma micro-empresa cultural sediada

em Lisboa. Dedica-se à produção de espectáculos teatrais, mas também

à investigação e formação nesta área. Paralelamente, procura contribuir para

a animação cultural através da dinamização do Espaço Instável, através da

realização de exposições de artes plásticas, pequenas palestras e conferências,

e acções de formação que tenham uma relação directa com o seu objecto:

dança, voz, expressão corporal, etc.

Comunidade.Urbana.|.André Gago.

O Teatro Instável vive do mercado.. Isto.significa.que,.estando.aberto.a.parcerias.públicas.e.priva-das,. não. faz. depender. a. sua. existência. de. um.apoio. de. qualquer. espécie.. Isto,. naturalmente,.tem.consequências.ao.nível.da.sua.capacidade.

de.realizar.projectos,.pois.limita.as.suas.possibilidades.de.existir.de.forma.sustentada,.ou.sequer.de.manter.um.corpo.mínimo.de.funcionários,.mas.tem.sido.o.suficiente.para.pagar.o.aluguer.do.Espaço.Instável,.oferecer.a.um.núcleo.de.colaboradores.o.trabalho.intermitente. característico. do. sector. e.manter. uma. actividade.renovada.que,.como.se.verá,.é.profícua.

A.compra.de.espectáculos,.mormente.por.parte.das.autarquias.ou.instituições.públicas,.como.as.bibliotecas,.é.o.único.garante.da.viabilidade.das.produções.do.Instável..Essa.compra.é,.por.nature-za,. irregular:.depende.do.momento.financeiro.dos.municípios.e.demais. instituições,. da.maior. ou.menor. consistência. das. suas.políticas.culturais.e.da.oferta.com.que.são.confrontados,.que.terá.de.se.coadunar.com.os.objectivos.por.si.próprios.definidos..

O.Teatro.Instável,.embora.estando.em.Lisboa,.depende.essencial-mente.das.vendas.que.realiza.noutros.distritos,.em.particular.do.norte.do.país.e.no.Algarve..A.oferta.centralizada.de.pacotes.cultu-rais. na. área.metropolitana. de. Lisboa,. nos. quais. os.municípios.delegam.em.grande.parte.a.sua.programação.cultural,.poderá.ser.uma.explicação.para.o.facto.de.o.Teatro.Instável.ter.uma.presença.pouco.mais.que.episódica.nos.concelhos.limítrofes,.sobretudo.a.norte.do.Tejo.

«Um.pouco.mais.de.sol.e.era.brasa»,.como.escreveu.Sá-Carneiro:.evidentemente,. com.melhores. condições.de. sustentabilidade,. o.Teatro.Instável.realizaria.os.seus.projectos.com.mais.desenvoltu-ra.e.impacto..No.entanto,.uma.apreciação.do.que.tem.sido.a.sua.produção.revelará,.cremos,.uma.consistência.e.uma.implementa-ção.nacional.dignas.de.registo.

Teatro Instável

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Máscaras Portuguesas

Em. 1986,. passei. o. primeiro. Inverno. em. Trás-os-Montes. para.conhecer. a. tradição. mascarada. das. festas. dos. Rapazes,. dos.Caretos,.do.Chocalheiro.e.de.Stº..Estevão..Desde.então.fui.reunin-do.um.acervo.de.máscaras.representativo.de.toda.a.região.tras-montana,.que.tenho.tido.a.preocupação.de.dar.a.ver,.sob.a.forma.de.uma.exposição,. .que. tem.crescido.em. importância.ao. longo.dos.anos..O.Teatro.Instável.organiza.agora.estes.materiais,.a.que.se.juntaram.novas.aquisições.e.um.aparelho.expositivo.(suportes.concebidos.pelo.pintor.António.Viana).realizado.para.a.apresen-tação.na.Galeria.S..Jorge,.no.castelo.da.capital..Esta.exposição.iti-nerante.tem.tido.uma.visibilidade.apreciável.no.distrito:.Cascais,.Lisboa,.Pinhal.Novo,. Loures,.Samora.Correia,.Barreiro,.Odivelas.e.Alcochete. já.a.receberam,. tal.como.o.Porto,.Beja.ou.Vila.Real.de.Santo.António..Da.colecção,.foi.feita.uma.edição.de.9.postais.

Hamlet

É.até.à.data.a.única.colaboração.com.outra.entidade.(neste.caso.a.Fundação. Inatel). para. a. produção. de. um. projecto. de. grande.envergadura,.com.um.elenco.de.doze.actores.e.outros.tantos.cola-boradores.envolvidos.na.montagem.deste.clássico.de.Shakespeare..Depois.de.Sintra.e.Lisboa,.o.Teatro.Instável.desenvolveu.todos.os.esforços.para.rentabilizar.a.produção,.tendo.conseguido.mostrá-la.no.Montijo,.em.Leiria.e.em.Faro..A.fragilidade.financeira,.que.impede. a. fidelização. atempada. de. elencos,. e. a. dificuldade. em.contratualizar. em. tempo. útil. não. permitiram. que. a. produção.fosse.apresentada.em.mais.localidades..O.Instável.editou,.em.CD,.a.banda.sonora.original.do.espectáculo.

A Gargalhada de Yorick

É.a.primeira.produção.do.Instável,.e.mantém-se.em.cartaz.desde.a.sua.estreia,.em.2004..Trata-se.de.uma.abordagem.original.do.Hamlet.de.W..Shakespeare.por.dois.actores.(Joaquim.Nicolau,.um.actor.muito.querido.do.grande.público,. em.parte.devido.à. sua.popularidade. na. televisão,. e. André. Gago).. Num. registo. a. um.tempo.cómico.e.didáctico,.a.peça.conquista.audiências.de.todas.as.idades.e.estratos.sociais,.conseguindo.divertir,.comover,.e.inspi-rar.o.gosto.pela.singular.genialidade.de.Shakespeare..Nestes.seis.anos. em. repertório,. percorreu. o. país,. de. Norte. a. Sul,. apresen-tando-se.nos.mais.variados.espaços.e.perante.os.mais.variados.auditórios.

«Noite Antiquíssima», «Hamlet, Heterónimos, Pessoa» e «Poemas Cruzados»

A.palavra.poética.tem.ocupado.um.lugar.crescente.no.universo.das.propostas.do.Instável..Os.duetos.com.músicos.improvisado-res.de.primeira. linha,.como.o.contrabaixista.Carlos.Barretto.e.o.pianista.Nicholas.McNair,.têm.sido.uma.fonte.de.inspiração.para.a.criação.de.espectáculos.singulares..Mais.do.que.a.simples.decla-mação.acompanhada.por.um.músico,.quer.«Noite.Antiquíssima»,.com.a.poesia.de.Álvaro.de.Campos,.quer.«Hamlet,.Heterónimos,.Pessoa»,.com.a.poesia.portuguesa.influenciada.por.Shakespeare,.constituem.momentos.de.fusão.de.formas,.construindo.espectá-culos.contínuos,.em.que.o.todo.resulta.maior.do.que.a.soma.das.partes..Com.«Poemas.Cruzados»,.em.que.participa.a.actriz.Helena.Faria,.é.um.olhar.imparcial.sobre.uma.realidade.dura.(o.conflito.israelo-árabe),.através.das.palavras.de.poetas.dos.dois. lados.da.

A palavra poética tem

ocupado um lugar crescente

no universo das propostas

do Instável. Os duetos com

músicos improvisadores

de primeira linha,

como o contrabaixista

Carlos Barretto e o pianista

Nicholas McNair, têm sido

uma fonte de inspiração

para a criação de

espectáculos singulares.

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fronteira,. que. resulta. num. recital. que. interpela. directamente.o.espectador.para.uma. realidade,.difícil. e.próxima,.dos. tempos.que.vivemos.

Atrás das Máscaras

Gosto.de.conversar.com.o.público:.por.isso.concebi.esta.espécie.de. conferência,. a. que. prefiro. chamar. conversa. encenada,. para.falar.desta.paixão.pelas.máscaras,.durante.a.qual.faço.algumas.demonstrações. com. algumas. das. máscaras. da. Commedia.dell’Arte,. constituída. principalmente. por. máscaras. do. escultor.italiano.Renzo.Antonnelo.e.do.actor.Nuno.Pino.Custódio.

Espaço Instável

Palco.de.inúmeras.actividades,.sede.do.Instável,.espaço.de.produ-ção.e.ensaios,.o.Espaço.Instável.está.agora.apostado.numa.pro-gramação. regular. de. exposições. de. artes. plásticas.. Em. Março.inaugurou,.a.título.experimental,.a.exposição.«Ramais.do.Douro.Desactivados»,.do.fotógrafo.Carlos.Cardoso..Em.Setembro.será.a.vez.de.outro. fotógrafo,.António.Leal,.apresentar.uma.exposição.dos.seus.trabalhos.em.câmaras.estenopeicas,.dando.início.a.uma.programação.regular.de.exposições.de.escultura.e.pintura,.com.um.calendário.já.preenchido.até.ao.final.do.ano.

Teatro InstávelCç..de.Santana,.168,.r/c.f1150-306.Lisboa218861875teatroinstavel@sapo.ptwww.newopenart.com/teatroinstavelwww.bloginstavel,blogspot.comwww.youtube.com/user/teatroinstavel

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Cozinha do presenteCozinha do futuro

Roteiro.|.Virgílio GomesFotografia.|.ca, produções fotográficas

A velocidade do nosso tempo prega-nos surpresas ao ponto de nunca sabermos se estamos actualizados.Hoje alguém define a cozinha de fusão, alguns minutos depois, todo o mundo pode saber a sua definição... mas executá-la será diferente.

www.virgiliogomes.comFotografias.realizadas.no.restaurante.Bica.do.Sapato,.Lisboa

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Queremos melhor exemplo de cozinha de fusão do que a comida Baiana?..No.séc.xvi.já.os.por-tugueses.descobridores,.com.os.escravos.africa-nos.transportados,.e.no.encontro.com.os.indíge-nas,.juntaram,.no.seu.quotidiano,.os.seus.saberes.

com.os.produtos.novos.

Temos.assistido.ao.crescimento.de.espaços.de.refeições.rápidas,.e.baratas,.que.criaram.facilidades.no.ritmo.acelerado.da.vida.actual.

Desenvolveu-se.a.entrega.de.refeições,.ou.parte.delas,.ao.domicí-lio.com.uma.simples.chamada.telefónica.

A.multiplicidade.de.locais.e.opções.culinárias.ajudaram.também.a.desenvolver.cuidados.com.a.saúde.e.sobretudo.com.a.higiene.alimentar.

Mas.quais.são.as.tendências.deste.sector?.Que.preocupações.adi-cionais.deverão.ter.os.empresários.com.estes.progressos?

Não.vamos.criar.sintomas.de.culpas.como.Vatel,.no.tempo.do.Rei.Luís.XIV,.nem.angustias.das.referências.de.Grimod.de.la.Reynière.no.seu.Almanaque,. séc..xix,. verdadeiramente.o.primeiro.crítico.gastronómico,. e. nem. chegar. ao. desespero. do. Chefe. Bernard.Loiseau.cujo.suicídio.se.julga.associado.à.possibilidade.de.perder.uma.estrela.no.Guia.Michelin.

Discute-se.muito. a. criatividade. e. o. progresso. (ou. evolução). na.Arte.Culinária..Por.outro.lado,.os.elementos.moda,.e.nas.andanças.

de.copiar.(e.tantas.vezes.mal),.destroem-se.verdadeiros.progres-sos.da.cozinha.

Então.o.que.é. fundamental.para.o.sucesso.de.um.restaurante?.Começamos.pelo. investidor..Ou. sabe. da.Arte. ou. tem.a. arte. de.encontrar.alguém.que.saiba.gerir.uma.cozinha,.hoje.em.dia,.não.chega.pensar.que.se.sabe.comer.bem..É.preciso.saber.executar.com.qualidade,.satisfação.dos.clientes.e.rentabilidade.do.capital.investido.

Todos.sabemos.que.para.uma.boa.cozinha.precisamos.de.bons.produtos,.dar-lhes.cozeduras.exactas,.combiná-los.com.elemen-tos.compatíveis.e.que.ressaltem.o.seu.gosto,.e.por.fim.a.apresen-tação.

As. vontades. dos. consumidores. vão-se. modificando.. A. melhor.habilidade.do.restaurador.será.a.de.se.antecipar.ao.consumidor.

Fala-se.muito.na.Cozinha.de.Autor..Será.necessário.para.a.perso-nalidade,.alma,.do.restaurante.ter.essa.cozinha?.Parece-me.que.o.mais.importante.é.saber.da.regularidade.em.relação.à.qualidade.de.cada.casa.

Escreveu-se.muito.e.discutiu-se.sobre.a.Nouvelle.Cuisine,.tantas.vezes.mal. aceite.. Mas. quantos. se. preocuparam. realmente. em.evoluir.na.Nouvelle.Cuisine?.Se.analisarmos.atentamente.os.seus.principais. objectivos. facilmente. vemos. onde. se. falhou.. Quais.foram.as. linhas. orientadoras.desta.Nova.Cozinha?.Comecemos.pelos.produtos..De.primeira.qualidade.e.utilizados.de.acordo.com.

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o.mercado. (época. dos.melhores. sabores),. o. que. implica. visitas.regulares.aos.locais.de.abastecimento..Depois.as.técnicas.de.coze-dura,. geralmente. reduzindo. o. seu. tempo,.mas. assumirem.que.cada.produto.tem.o.seu.tempo.de.cozedura..Evitar.acompanha-mentos.desnecessários.e.evitar.molhos.pesados..Valorizar.as.cozi-nhas.regionais.e.aí.obter.inspiração.

Nos. cardápios. reduzir. o. número.de.pratos.. A. grande. solução. é.sempre.ter.menos.mas.melhores.

Outros. elementos. passaram. a. fazer. reflexões. para. as. listas..Preocupação.com.o.valor.alimentar.tendo.em.conta.a.componen-te. dietética.. E. também. acompanhar. o. aparecimento. de. novas.técnicas,. inovando. constantemente,. mas. com. segurança.. Quer.dizer,.inovação.com.consistência.e.saber.o.que.se.está.a.fazer.

Hoje.em.dia.existem.cada.vez.mais.restaurantes.onde.se.vai.por.saber.quem.é.o.Chefe.de.Cozinha..Ou.porque.se.sabe.da.atribui-ção.de.mais.uma.estrela.do.Guia.Michelin..Nem.sempre.tem.sido.

justa.a.apreciação.dos.restaurantes.em.Portugal..Mas.a.sua.visibi-lidade.é.seguramente.maior.e.o.restaurante.vai.querer.orgulho-samente.aumentar.o.número.de.estrelas.

E.o.recrutamento.de.mão-de-obra?.O.que.se.tem.feito.em.Portugal.na.formação?.Parece-me.que.estamos.na.altura.de.reflectir.sobre.os.programas.de.ensino.de.cozinha..Parece-me.que.nas.escolas.devem.incidir.mais.nos.produtos.e.nas.técnicas.culinárias.do.que.na.aprendizagem.de.receituário.

E.questionando.ainda.em.Portugal?.Que.futuro.para.a.Comissão.Nacional. de. Gastronomia?. Reconheçamos. o.mérito. a. algumas.Estruturas.de.Turismo.e.algumas.Confrarias.

Por.que.não.lançar.nesta.revista.um.espaço.permanente.de.dis-cussão.sobre.a.evolução.da.Cozinha.Portuguesa.perante.os.novos.desafios?.Não.será.decerto.obrigatório.aprenderem.as.espumas.e.as. gelatinas. quentes.. Mas. é. cada. vez. mais. obrigatório. fazer.melhor,.acompanhando.os.tempos.

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artemredeNa sequência do investimento realizado em conjunto

com as autarquias na construção, recuperação, modi-

ficação de cineteatros e outros equipamentos culturais

congéneres destinados à apresentação de espectáculos,

maioritariamente financiado através dos fundos estru-

turais europeus, decidiu a CCDR-LVT – Comissão de Coor-

denação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale

do Tejo promover a realização de um estudo que identi-

ficasse os meios e instrumentos mais adequados à dina-

mização, qualificação e criação de condições de sustenta-

bilidade desses equipamentos.

A realização do referido estudo incluiu um trabalho de

inventariação dos teatros e cineteatros e de análise das

dinâmicas culturais da Região, bem como uma ampla

discussão e troca de ideias com as autarquias, ao nível,

quer dos seus responsáveis políticos, quer de responsá-

veis dos departamentos culturais ou dos próprios teatros.

Este processo culminou com a proposta de criação de uma

rede formal que integrasse os teatros e equipamentos

culturais congéneres da região, entendida como a melhor

solução para dar resposta às necessidades de qualificação,

assistência técnica e desenvolvimento que as autarquias

sentem neste domínio. A criação da Rede foi consubstan-

ciada através da constituição de uma associação cultural

privada sem fins lucrativos «Artemrede – Teatros Asso-

ciados», integrando, presentemente, o projecto 16 autar-

quias: Abrantes, Alcanena, Alcobaça, Almada, Almeirim,

Barreiro, Caldas da Rainha, Cartaxo, Entroncamento,

Moita, Montijo, Palmela, Santarém, Sesimbra, Sobral

de Monte Agraço e Torres Vedras, e o Externato Coopera-

tivo da Benedita.

Patr

ícia

Poç

ão

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Rimo-nos..Os.sons.contam.histórias.que.não.precisam.de.palavras.nem.de.tradução..Levam-nos.a.sítios..Dentro.de.nós..Onde.nunca.antes.estivemos..Não.entendemos.tudo..Não.precisamos.de.entender.tudo..Pressentimos.uma.harmonia..E.partilhamos.esse.espaço.de.convergência..Encontramo-nos.neste.sítio.que.se.chama.agora..E.talvez.nunca.nos.voltemos.a.cruzar..Temos.isto.de.comum..O.estar.

Motofonia.é.um.espectáculo.musical.e.visual.para.todas.as.idades,.de.aproximadamente.45.minutos,.que.utiliza.elementos.naturais.e.objectos.do.quotidiano.como.material.de.uma.partitura.sonora.e.gestual.

Como.todas.as.brincadeiras,.o.carácter.da.performance.é.ritualista.

Uma.celebração.do.engenho.e.da.ingenuidade.da.infância.

Lúdica,.porque.procura.o.prazer.e.o.formigueiro.dos.sentidos.

Na.fina.linha.que.separa.(ou.une?).o.humor.da.poesia,.constroem-se.momentos.e.percursos.na.descoberta.dos.elementos.e.dos.seus.sons,.da.comichão.que.as.ideias.nos.fazem.no.instante.em.que.emergem.do.seu.oceano.

Entre.os.materiais.utilizados.estão.a.água,.o.ar,.a.terra,.areia,.folhas.e.ramos.de.árvores,.canas.e.objectos.como.mangueiras,.copos,.garrafas,.chaleiras,.regadores.e.bacias.de.metal,.vasos,.cabaças.e.outros.recipientes.

Dispostos.pela.sala.como.um.jardim.de.tesouros.roubados.ao.mundo.dos.crescidos,.as.suas.funções.originais.são.esquecidas..Servem.agora.de.pretextos.para.brincar..Sugerem-nos.melodias,.espaços,.ritmos,.vozes.

Gira-discos.antigos.transformam-se.em.autómatos.tocadores.de.cordas.e.ventoínhas.criam.vento.para.cortinas.de.vidro...

Temos.ferramentas.que.nos.dão.para.a.mão..E.dizem-nos:.“O.lápis.serve.para.desenhar.”.E.se.servisse.para.escavar.um.buraco.na.terra.e.enterrar.um.relógio,.eternizando.este.segundo?.Se.cantarmos.como.os.pássaros,.conseguimos.voar...?.Não.temos.respostas..Por.isso.fazemos.perguntas.

A MÚSICA E A PERCURSSÃO Metropolitana Percurssão [Portugal]Domingo, 17 Outubro | 17h00Sesimbra | Cineteatro Municipal João Mota

Sexta, 19 Novembro | 10h30Abrantes | Cineteatro São Pedro

Direcção Artística: Marco Fernandes | Interpretação: André Camacho, Miguel Filipe, Tiago Loureiro, Tiago Ramos e Tomás Moital | Comentários: Rui Campos Leitão Duração Espectáculo: 60min. [s/ int.] | Público-Alvo: Escolar e Familiar Faixa Etária: m/6 anos

Os.instrumentos.de.percussão.constituem.um.universo.privilegiado.para.a.sensibilização.à.Música..Pela.sua.natureza,.proporcionam.simultaneamente.uma.aproximação.intensa.e.informal.aos.mais.variados.tipos.de.repertório..Prendem.a.atenção.de.quem.escuta,.parecendo.que.cada.instrumento,.ao.ser.percutido,.irradia.um.fascínio.essencial.que.todos.buscamos..Por.outro.lado,.proporcionam.a.quem.toca.o.exercício.de.competências.emocionais.e.motoras.de.grande.importância.para.o.seu.desenvolvimento,.enquanto.indivíduo..Assim,.a.música.com.instrumentos.percussão,.para.além.de.si.mesma,.tem.cumprido.funções.muito.particulares.ao.longo.do.último.século:.tem.aproximado.as.expressões.artísticas.popular.e.erudita;.tem-se.revelado.como.uma.singular.ferramenta.de.aprendizagem.e.um.meio.muito.especial.para.dialogar.com.o.mundo.

Os.alunos.de.percussão.das.escolas.da.Metropolitana.apresentam-se.com.regularidade.ao.vivo,.em.concertos.sempre.marcados.pelo.trabalho.metódico,.rigoroso,.e.pela.boa.disposição..Concilia-se.desta.forma.os.propósitos.artísticos.e.pedagógicos.numa.junção.por.vezes.indistinta,.mas.que.torna.o.projecto.da.Metropolitana.singular..São.concertos.em.que.se.exercita.a.aprendizagem,.mas.sempre.direccionados.para.a.audiência..Assim,.o.objectivo.desta.intervenção.artístico-pedagógica,.em.formato.de.concerto.comentado.e.participado.pela.audiência,.é.criar.uma.espaço.criativo.de.inspiração,.experimentação.e.reflexão,.quer.para.quem.sobe.ao.palco.quer.para.quem.fica.fora.dele.

MÚSICAMotofoniaFernando Mota[Portugal]Sábado, 2 Outubro | 22h00Cartaxo | Centro Cultural Município do Cartaxo

Sábado, 9 Outubro Alcobaça | Cine-Teatro de Alcobaça

Domingo, 17 Outubro | 16h00Sobral de Monte Agraço | Cine-Teatro do Sobral de Monte Agraço

Sábado, 4 Dezembro | 10h30Abrantes | Cine-Teatro São Pedro

Direcção Artística: Fernando Mota Duração Espectáculo: 45min. [s/ int.] | Público-Alvo: Geral | Faixa Etária: m/6 anos

…uma.sinfonia.de.berlindes?

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DANÇAHIP-HOP DANZA URBANACompañia Brodas[Espanha]Sábado, 25 Setembro | 21h30Montijo | Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida

Segunda, 27 Setembro | 11h50Benedita | Centro Cultural Gonçalves Sapinho

Quinta, 30 Setembro | 16h00Barreiro | Auditório Municipal Augusto Cabrita

Sexta, 1 Outubro | 21h30Torres Vedras | Teatro-Cine de Torres Vedras

Sábado, 2 Outubro | 21h30Palmela | Cine-Teatro São João

Domingo, 3 Outubro | 11h00Oeiras | Auditório Municipal Ruy de Carvalho

Quinta, 7 Outubro | 21h30Almada | Casa Municipal da Juventude – Ponto de Encontro/Cacilhas

Sexta, 8 Outubro | 10h30Abrantes | Cine-Teatro S. Pedro

Sábado, 9 Outubro | 21h30Alcanena | Cine-Teatro São Pedro

Direcção Artística: Pol e Lluc Fruitos | Coreografia: Cia. Brodas | Interpretação: Berta Pons, Clara Pons, Lluc Fruitos, Pol Fruitos, Bboy Plastik [Quim Marin], Bboy Kadoer [Angel Patiño] e Bboy Gravity [Albert Mendoza] | Figurinos: Clara e Berta Pons Duração Espectáculo: 50min. [s/ int.] | Público-Alvo: 0 aos 16 anos | Faixa Etária: m/10 anos

HIP-HOP.DANZA.URBANA.é.um.espectáculo.lúdico.e.didáctico.que.conta.a.história.e.evolução.do.hip.hop.como.cultura,.persistindo.sobretudo.na.dança.

Através.de.explicações,.coreografias.e.momentos.humorísticos,.os.diferentes.bailarinos.mostram.as.diferenças.entre.estilos.como.o.popping,.o.locking,.o.freestyle.e.o.bboying.[breakdance].

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TEATROO GINJAL A partir de Anton TchékhovCasa ConvenienteComédia em Quatro Actos [Portugal]Sexta, 30 Julho | 21h30Almada | Auditório Fernando Lopes Graça

Direcção Artística: Mónica Calle | Elenco: Amândio Pinheiro, Ana Ribeiro, David Pereira Bastos, Hugo Bettencourt, José Miguel Vitorino, Luís Fonseca, Miguel Moreira, Mónica Calle, Mónica Garnel, Rita Só, Rute Cardoso, Tiago Barbosa e Tiago Vieira Músicos: Gonçalo Lopes, João Madeira e Rini Luyks | Concepção do Espaço Cénico: Francisco Rocha | Desenho Luz José: Álvaro Correia | Montagem e Operação Luz: José Miguel Chã | Construção Cenográfica: Grande Palco Lda. | Consultoria Cenográfica: Luís Monteiro | Styling de Figurinos: Fernanda Pereira/GDE – Galeria de Exclusivos Execução de Adereços: Cristiano Câmara | Patines: Carine Demoustier | Filme Documental: Patrícia Saramago | Fotografia: Bruno Simão | Assistência de Encenação: Joana Estrela | Produção: Alexandra Gaspar e Catarina dos Santos | Tradução: Nina e Filipe Guerra (“O Ginjal”, de Anton Tchékov/Relógio d’Água Editores) Duração Espectáculo: 90min. [s/ int.] | Público-Alvo: Geral | Faixa Etária: m/12 anos

Desde.1992,.a.Casa.Conveniente.desenvolve.um.trabalho.artístico.que.procura.uma.interacção.privilegiada.com.a.palavra,.visitando.autores.como.Bernhard,.Beckett,.Handke.e.Tchékhov.

O.Ginjal.ou.O.Sonho.das.Cerejas.é.a.continuação.do.trabalho.iniciado.há.três.anos.em.A.Última.Ceia.ou.sobre.«O.Cerejal»,.onde.cinco.actrizes.e.o.público.partilhavam.o.texto,.à.volta.da.mesa.de.jantar.

O.sonho.das.cerejas..Contar.histórias.e.rir.enquanto.a.casa.é.destruída..E.continuar.a.viver.

Sabem.uma.coisa?.Eu.levanto-me.às.quatro.da.manhã..Às.vezes.quando.não.consigo.dormir,.penso:.meu.Deus,.deste-nos.florestas.enormes,.campos.infinitos,.horizontes.sem.fim,.e.por.isso.tudo,.nós,.vivendo.aqui,.devíamos.ser.autênticos.gigantes...

Em.Março,.a.Casa.Conveniente.foi.distinguida.pela.Associação.Portuguesa.de.Críticos.de.Teatro,.«pela.persistência.com.que.abraça.um.teatro.que.alia.músculo.verbal.e.exigência.interpretativa.raros.a.um.impreterível,.generoso.desígnio.de.repensar.formas.e.práticas».

CAFUNDÓONDE O VENTO FAZ A CURVACompanhia d’artes do Brasil Comédia [Brasil]Sexta, 10 Setembro | 21h30Abrantes | Cine-Teatro S. Pedro

Autoria, Encenação e Interpretação: Amauri Tangará | Operação Técnica: Tati Mendes Duração Espectáculo: 80min. [s/ int.] | Público-Alvo: Geral | Faixa Etária: m/7 anos

Este.espectáculo.é.um.painel.da.cultura.cabocla.brasileira,.fruto.de.mais.de.vinte.anos.de.andanças.e.investigações.sertão.adentro..Lendas,.causis,.crendices.populares,.rituais.indígenas,.festanças.religiosas,.apresentados.numa.verdadeira.«roda.de.prosa»,.dessas.que.acontecem.entre.uma.talagada.e.outra.de.boa.cachaça..Isso.tudo.alinhavado.e.entremeado.com.gostosas.e.autênticas.canções.caboclas.e.pontilhado.de.viola.de.nunca.mais.se.esquecer,.levam.o.espectador.aos.terreiros.da.casa-da-roça,.para.o.meio.das.matas.Amazônicas,.para.a.beira.de.rios,.para.as.farras.poéticas.e.gostosas.das.sabenças.caipiras...

CAFUNDÓ.é.uma.comédia.cabocla,.cuja.a.participação.do.público.e.a.multiplicidade.de.personagens.apresentada.torna-a.vibrante,.colorida,.divertidíssima,.mágica!....É.a.brasilidade.do.teatro.caboclo,.na.cor,.no.gesto,.no.cheiro.e.no.gosto!!!

A VELHAde Daniil Harms Miguel BorgesTragicomédia [Portugal]Sábado, 18 Setembro | 21h30Palmela | Auditório Municipal do Pinhal Novo

Sábado, 25 Setembro | 22h00Moita | Fórum Cultural José Manuel Figueiredo

Sábado, 16 Outubro | 21h30Torres Vedras | Teatro-Cine de Torres Vedras

Sábado, 23 Outubro | 21h30Cartaxo | Centro Município do Cartaxo

Texto: Daniil Harms | Tradução: Nina Guerra e Filipe Guerra | Assistência: Paulo João Fotografia e Grafismo: Miguel Nicolau | Produção Executiva: Marta Vieira | Apoio Técnico e montagem: Ana Rosa Abreu e Daniel Coimbra | Produção: João Garcia Miguel Duração Espectáculo: 50min. [s/ int.] | Público-Alvo: Geral | Faixa Etária: m/12 anos

Um.escritor.sem.inspiração.pergunta.as.horas.a.uma.velha,.que.lhe.responde.de.forma.irreal..Horas.depois.a.Velha.visita-o.e.morre.em.sua.casa,.no.seu.cadeirão.favorito..O.que.fazer?.Como.se.livrar.do.corpo.da.Velha?.Como.continuar.em.busca.da.sua.inspiração?.Pelo.meio.cruza-se.com.uma.“mulherzinha.simpática”.e.com.o.seu.amigo.Sakkerdon.Mickaelovik..Como.se.desfaz.da.Velha.é.uma.pergunta.para.a.qual.ironicamente.haverá.uma.resposta.

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ARTES DE RUAHUMANUN FATUMPIATeatro Físico [Portugal]

Sábado, 3 Julho | 21h30 Moita | Praça da República

Sábado, 24 Julho | 21h30 Alcobaça | Junto ao Mosteiro de Alcobaça

Autoria, Direcção Artística e Concepção Plástica: Pedro Leal | Encenação e Direcção de Actor: Sylvain Peker | Criação e Interpretação: Helena Oliveira, Pedro Leal, Ricardo Mondim e Sylvain Peker | Direcção Técnica: Pedro Leal | Direcção de Produção e Audiovisuais: Helena Oliveira | Cenografia: Pedro Leal e Ricardo Mondim Figurinos: Maria João Domingues, Olinda Cordas e Filomena Godinho Iluminotécnica: João Nunes | Sonoplastia: Álvaro Presumido Duração Espectáculo: 60min. [s/ int.] | Público-Alvo: Geral | Faixa Etária: m/6 anos

Uma.viagem.por.entre.memórias.de.uma.terra,.que.encontra.a.sua.identidade.com.a.chegada.da.máquina.a.vapor....Lugar.onde.os.homens.outrora.puxavam.costumes.e.tradições,.amassavam.o.corpo.e.pisavam.o.sangue.que.a.terra.lhes.oferecia..Agora.é.o.mastigar.dos.mecanismos.da.máquina.de.produção,.que.marcam.o.tempo,.rumo.a.um.futuro.ignoto….Remeter.a.Máquina.ao.Homem.ou.degradar.o.Homem.à.Máquina?

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ARTES CIRCENSESMERCI BIENMumusic CircusAcrobacia | Equilibrismo | Clown [Espanha]Sábado, 3 Julho | 11h00Torres Vedras | Teatro-Cine de Torres Vedras

Sábado, 3 Julho | 21h30Oeiras | Palácio Ribamar

Domingo, 4 Julho | 17h00Alcanena | Cine-Teatro São Pedro

Sexta, 9 Julho | 16h00Sobral de Monte Agraço | Cine-Teatro do Sobral de Monte Agraço

Sábado, 10 Julho | 17h00Oeiras | Porto Recreio

Sábado, 10 Julho | 21h30Palmela | Cine-Teatro São João

Domingo, 11 Julho | 16h00Cartaxo | Centro Cultural Município do Cartaxo

Direcção: Thibaut du Premorel | Interpretação: Dalmau Boada e Marçal Calvet Figurinos: Alex de Ponzoña | Assistente Cenografia: Clara Poch | Estruturas: Javier Godoy Vídeo: Mikel Tejada | Fotografia: Gerard Riera e Jordi Perdigó | Som: Joan Marín Duração Espectáculo: 60min. [s/ int.] | Público-Alvo: Geral | Faixa Etária: m/6 anos

Senhoras.e.senhores,.as.portas.estão.abertas..A.casa.é.vossa.

Esta.dupla.apresenta:

Um.espectáculo.fresco.e.divertido,.quente.e.generoso,.onde.se.mistura.acrobacia,.mastro.chinês,.as.verticais.mais.ousadas,.música.ao.vivo.e.muitas.mais.surpresas.

Sentem-se.e.desfrutem.das.formas.excêntricas.propostas.por.estas.personagens..Observem.como.se.resolvem.problemas.que.nunca.o.chegaram.a.ser.

E.os.convidados.especiais.do.dia.poderão.desfrutar.da.mesa.de.honra,.provar.um.mundo.da.contrariedade.e.participar.na.grande.orquestra.final.

Um.espectáculo.efervescente.em.que.a.palavra.é.música.

CRIANÇAS E JOVENSA CASAAldara BizarroDanca Contemporânea [Portugal]Sábado, 10 Julho | 21h30 Montijo | Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida

Terça, 17 Agosto | 18h00 Almada | Praça da Liberdade

Sexta, 3 Agosto | 21h30 Palmela | Castelo de Palmela

Domingo, 1 Agosto Alcobaça | Cine-Teatro de Alcobaça

Terça, 21 Setembro | 21h30 Sobral de Monte Agraço | Cine-Teatro do Sobral de Monte Agraço

Domingo, 3 Outubro | 16h30 Caldas da Rainha | Centro Cultural e Congressos das Caldas da Rainha

Domingo, 17 Outubro | 11h00 Alcanena | Cine-Teatro de São Pedro

Domingo, 7 Novembro | 10h00 Moita | Fórum Cultural José Manuel Figueiredo

Sexta, 19 Novembro | 11h00 e 14h00 Sesimbra | Cineteatro Municipal João Mota

Sábado, 20 Novembro | 16h00 Cartaxo | Centro Cultural Município do Cartaxo

Sábado, 4 Dezembro | 16h30 Montijo | Cinema-Teatro Joaquim D’Almeida

Um Projecto de Aldara Bizarro | Interpretação: Constaza Givone e Alban Hall Vídeo: João Pinto | Música: Paulo Curado | Fotografia: António Rebolo Produção Executiva: Andrea Sozzi e Rita Vieira | Produção: Jangada de Pedra Co-produção Teatro Maria Matos, Artemrede e A Oficina/Centro Cultural Vila Flor

A.CASA.é.um.espectáculo.de.dança.que.gira.em.torno.da.casa.ideal.de.cada.um.

Com.base.num.conjunto.de.entrevistas.recolhidas.entre.2009.e.2010,.tentamos.construir.a.casa,.a.partir.de.um.projecto.elaborado.com.a.arquitectura.das.vontades.das.muitas.pessoas.entrevistadas.

Pensada.tanto.para.uma.apresentação.ao.ar.livre.como.no.interior,.A.CASA.convida-nos.a..revisitar.os.diferentes.espaços.que.construímos.e.nos.constroem,.transportando-nos.simultaneamente.para.os.lotes.de.terreno.da.utopia:.«Na.minha.casa.ideal.eu.posso.escolher.a.vista.que.eu.quiser»;.«No.meu.bairro,.a.cozinha.é.de.todos,.um.enorme.comedouro.popular».

«A.minha.casa.ideal.tem.rodas,.é.o.meu.ponto.cardeal»..«Na.minha.casa.ideal,.a.cozinha.tem.braços.automático.»

«No.meu.bairro.todas.as.pessoas.se.mexem.»

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PERSONAGENS DE ÁGUAJangada de PedraDança Contemporânea [Portugal]

Sábado, 11 Setembro | 15h30 Oeiras | Biblioteca Municipal de Algés

Sábado, 16 Outubro | 15h30 Oeiras | Biblioteca Municipal de Carnaxide

Sábado, 13 Novembro | 15h30 Palmela | Centro Cultural de Poceirão

Sábado, 20 Novembro | 15h30 Palmela | Mercado Municipal do Pinhal Novo

Concepção, Direcção e Coreografia: Aldara Bizarro | Interpretação e Co-criação: Maria Radich e Tânia Matos | Concepção Musical: Antony Wheeldon Produção Executiva: Andrea Sozzi | Co-produção: Comédias do Minho e Jangada de Pedra Duração Espectáculo: 60min. [s/ int.] | Lotação Máxima: 30 espectadores [Escolar] + 25 crianças e 25 adultos [Familiar] | Público-Alvo: 6 aos 11 anos | Faixa Etária: m/6 anos

A.água.dissolve,.a.água.transporta,.a.água.limpa,.a.água.gasta,.a.água.é.um.espelho,.a.água.renasce,.a.água.é.forte,.a.água.é.um.espelho,.a.água.entorna-se,.a.água.engana.

Este.espectáculo,.sobre.as.qualidades.da.água,.propõe.tarefas.que.serão.executadas.durante.o.espectáculo,.levando.as.crianças.a.recriarem.situações.da.vida.real.e.a.experimentar,.de.outra.forma,.as.propriedades.da.água.

Como.se.a.água.pudesse.ser,.através.das.suas.características.mais.importantes,.uma.metáfora.da.vida.

TI-TÓ-TISDANÇA E MÚSICA PARA BEBÉSDançarte/Ária da MúsicaDanca Música [Portugal]

Quinta, 23 Setembro | 10h30 Almada | Biblioteca Municipal José Saramago - Feijó

Sábado, 13 Novembro | 10h30 e 11h30 Abrantes | Cine-Teatro S. Pedro

Coreografia: Sofia Belchior | Composição Musical: António Machado | Cenografia: Ricardo Mondim, Sofia Belchior e António Machado Boneco, Gato e Relógio Ricardo Mondim | Desenho de Luz: António Machado e Sofia Belchior | Figurinos: Sofia Belchior e Mariana Santos | Interpretação: DançArte – Companhia residente no Teatro S. João, Palmela e Ária da Música, António Machado, Rita Cardoso, Ricardo Mondim, Sérgio Oliveira e Sofia Crispim | Apresentação: Sofia Belchior e Joana Machado Duração Espectáculo: 40min. [s/ int.] | Lotação Máxima: 17 bebés + 17 acompanhantes Público-Alvo: dos 0 aos 36 meses | Faixa Etária: m/0 anos

Criámos.um.baú.de.brinquedos...

Um.baú.mágico.onde.a.imaginação.não.tem.limites.e.onde.todos.nos.sentimos.bem.

Um.baú.habitado.por.um.mundo.de.fantasia,.por.bebés.meninas.e.bebés.meninos,.mas.também.por.mamãs.e.papás.babados.

O.ti-tó-tis.dá.horas,.mas.horas.especiais,.num.mundo.de.brincar,.de.ilusão,.num.mundo.fantástico;.o.gato,.a.boneca,.o.soldadinho.e.o.comboio.são.alguns.dos.amigos.que.perdem.a.timidez.e.convidam.os.bebés.para.brincar.

Por.entre.notas.de.música.e.movimentos.de.dança,.ouvem-se.risos.e.gargalhadas.e.trocam-se.mimos.

Num.contexto.singular,.pensado.ao.pormenor,.partilham-se.instrumentos,.passos.de.dança.e.novos.amigos..E.quando.o.baú.se.volta.fechar.fica.a.memória.de.um.dia.muito.especial

DEBAIXO DA MESAActa – Compagnie Agnès DesfossesTeatro de Objectos [França/Portugal]

Domingo, 17 Outubro | 11h00 Alcanena | Cine-Teatro São Pedro

Domingo, 7 Novembro | 10h00 Moita | Fórum Cultural José Manuel Figueiredo

Sexta, 19 Novembro | 11h00 e 14h00 Sesimbra | Cineteatro Municipal João Mota

Sábado, 20 Novembro | 16h00 Cartaxo | Centro Cultural Município do Cartaxo

Sábado, 4 Dezembro | 16h30 Montijo | Cinema-Teatro Joaquim D’Almeida

Concepção e Encenação: Agnès Desfosses | Cenografia: Patricia Lacoulonche Criação Musical: Ivan Khaladji | Participação: Vocal Odile Dhenain | Palavras: Yves Nilly Interpretação: Ana Cloe e Miguel Fragata | Figurinos: Maria João Castelo Maquilhagem: Michelle Bernet | Criação Luz: François Martineau | Instalação Som: Pierre-Jean Horville | Produção e Técnica: Teresa Miguel Duração Espectáculo: 45min. [s/ int.] | Lotação Máxima: 40 crianças + 10 adultos Público-Alvo: dos 18 meses aos 4 anos | Faixa Etária: m/18 meses

Uma.mesa,.uma.toalha.imensa.e.bancos.à.volta..O.público.é.convidado.a.sentar-se.e.assim.fazer.parte.do.cenário..Um.sereio.e.uma.sereia.vivem.debaixo.da.mesa..A.toalha.é.tecto.do.oceano,.e.o.público.é.levado.ao.fundo.do.mar..Teatro.de.proximidade.que.reúne.numa.mesma.acção,.actores.e.público..Interactivo,.pois.é.preciso.trepar,.escavar,.tocar,.ouvir,.rastejar,.olhar.e.dançar.

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