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JÚLIO CÉSAR MENDES DE SOUZA TRADIÇÃO E MODERNIDADE NO PROCESSO SUCESSÓRIO ENTRE PRODUTORES DE LEITE EM DOIS MUNICÍPIOS RURAIS DE MINAS GERAIS Dissertação apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural, para obtenção do título de Magister Scientiae. VIÇOSA MINAS GERAIS - BRASIL 2013

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JÚLIO CÉSAR MENDES DE SOUZA

TRADIÇÃO E MODERNIDADE NO PROCESSO SUCESSÓRIO ENTRE

PRODUTORES DE LEITE EM DOIS MUNICÍPIOS RURAIS DE MINAS

GERAIS

Dissertação apresentada à

Universidade Federal de Viçosa,

como parte das exigências do

Programa de Pós-Graduação em

Extensão Rural, para obtenção do

título de Magister Scientiae.

VIÇOSA

MINAS GERAIS - BRASIL

2013

Ficha catalográfica preparada pela Seção Catalogação e Classificação da

Biblioteca Central da UFV

Souza, Júlio César Mendes, 1980

Tradição e modernidade no processo sucessório entre

produtores de leite em dois municípios rurais de Minas Gerais / Júlio

César Mendes de Souza. – Viçosa, MG, 2013.

JÚLIO CÉSAR MENDES DE SOUZA

TRADIÇÃO E MODERNIDADE NO PROCESSO SUCESSÓRIO ENTRE

PRODUTORES DE LEITE EM DOIS MUNICÍPIOS RURAIS DE MINAS

GERAIS

Dissertação apresentada à

Universidade Federal de Viçosa,

como parte das exigências do

Programa de Pós-Graduação em

Extensão Rural, para obtenção do

título de Magister Scientiae.

APROVADA:

________________________________ ______________________________

Cláudia Maria Miranda Araújo Pereira Neide Maria de Almeida Pinto

________________________________________________

Ana Louise de Carvalho Fiúza

(Orientadora)

ii

Aos meus pais Maria Laura Mendes de Souza e José Mrad de Souza, que estiveram

presentes em todos os momentos de minha vida e me ensinaram a viver com dignidade.

iii

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela vida, saúde, família e pelos amigos.

A Danielle, pelo amor, companheirismo e paciência.

À minha orientadora Professora Ana Louise de Carvalho Fiúza, pela dedicação,

paciência, pelos incentivos e conhecimentos compartilhados, que proporcionaram meu

crescimento pessoal e profissional.

À CAPES e ao IF Sudeste-MG, pelo projeto MINTER em parceria com o

Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural da Universidade Federal de Viçosa e

corpo de docentes, em especial aos Professores Nora Beatriz Presno Amodeo, France

Maria Gontijo e Marco Aurelio Ferreira (Departamento de Administração).

Ao senhor Paulo Pio e aos técnicos da EMATER Leonardo Henrique F.

Calsavara (Coronel Xavier Chaves) e Eurides José Cominetti (Silveirânia), pela

disponibilidade e ajuda com a logística das entrevistas.

Ao meu grande amigo Antônio Cleber, pela hospedagem e apresentação aos

produtores de leite de Coronel Xavier Chaves.

Aos ex-presidentes da APLEI Antônio Nunes da Silva e José Antônio Resende

e ao presidente da APRUS José Silvério do Nascimento Líbero, pela autorização e pelo

apoio para a realização desta pesquisa.

À secretária da APRUS Jussandra, pela disponibilidade e cordialidade.

A todos os produtores que participaram deste trabalho, sem os quais não teria

sido possível a concretização deste trabalho.

A Patrícia Nascimento e Érika Amorin, por estarem sempre dispostas a ajudar.

Ao Cuco, amigo e o mais “figura” de todos - apesar do ronco, sem ele o quarto

não seria o mesmo.

A todos os funcionários do Hotel CEE, pela cordialidade.

À Valéria, amiga e companheira de viagem, pela amizade.

Ao Gustavo, pela valorosa ajuda com o SPSS.

Ao GERAR (Grupo de Estudos Rurais, Agriculturas e Ruralidades), pelas

contribuições desde o projeto até a conclusão da dissertação.

À minha coorientadora Professora Nora Presno Amodeo, pelos preciosos

auxílios.

iv

À minha também coorientadora Cláudia Maria Miranda, pelas contribuições

desde o início da escolha do tema para o projeto até a sua conclusão.

Aos meus colegas do Minter, do Mestrado em Extensão Rural e da disciplina

ADM663, pelo companheirismo.

A Anízia, Carminha e Romildo, pela cordialidade e disponibilidade de sempre.

v

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS .................................................................................. vi

LISTA DE ILUSTRAÇÕES ........................................................................ ix

LISTA DE QUADRO ................................................................................. xi

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................. xii

RESUMO ...................................................................................................... xiii

ABSTRACT .................................................................................................. xv

INTRODUÇÃO ............................................................................................ 01

1.1 Características dos municípios pesquisados ........................................ 04

1.2 Procedimentos metodológicos ............................................................... 10

1.2.1 Hipóteses ............................................................................................... 11

1.2.2 Amostragem ......................................................................................... 12

1.2.3 As entrevistas ....................................................................................... 13

1.2.4 Regressão .............................................................................................. 14

1.2.5 Análise exploratória dos dados, qui-quadrado e teste t ................... 16

CAPÍTULO I ................................................................................................ 18

FATORES INTERVENIENTES NA SUCESSÃO NAS UNDIDADES

PRODUTIVAS DE LEITE ..........................................................................

18

1.1 A influência dos costumes e tradições sobre o processo sucessório.... 19

1.1.1 O Minorato e a morgadia ................................................................... 20

1.1.2 Gênero e casamento ............................................................................. 23

1.2 A influência dos fatores ligados à modernidade sobre o processo

sucessório .......................................................................................................

25

1.2.1 A influência da tecnologia e do associativismo na produção

leiteira ............................................................................................................

28

1.2.2 Crédito .................................................................................................. 31

1.2.3 A relativização do tamanho da propriedade para a sucessão e a

influência da proximidade dos centros urbanos e do acesso à

escolaridade ...................................................................................................

32

CAPÍTULO II ............................................................................................... 36

A INFLUÊNCIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E DAS PRÁTICAS

DE CAPACITAÇÃO PARA A SUCESSÃO NA PECUÁRIA

LEITEIRA ....................................................................................................

36

2.1 A situação da eficiência produtiva nas unidades produtivas de leite

pesquisadas ....................................................................................................

46

CAPÍTULO III ............................................................................................. 56

O PROCESSO SUCESSÓRIO NAS UNDIADES PRODUTORAS DE

LEITE DE SILVEIRÂNIA E CORONEL XAVIER CHAVES ..............

56

3.1 Apresentação e análise dos dados para propriedades com sucessor

definido ..........................................................................................................

58

3.2 Apresentação e análise dos dados para propriedades com

possibilidade de sucessor ..............................................................................

68

3.3 Apresentação e análise dos dados sobre a percepção dos filhos dos

produtores .....................................................................................................

78

3.3.1 Fatores causais sobre o processo sucessório ...................................... 83

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 86

REFERÊNCIAS ........................................................................................... 90

APÊNDICE ................................................................................................... 96

vi

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - População no município de Coronel Xavier Chaves – MG .... 05

Tabela 2 - População no município de Silveirânia – MG ........................ 08

Tabela 3 - Distribuição dos tanques coletivos .......................................... 09

Tabela 4 - Valores críticos associados ao grau de confiança na amostra.. 13

Tabela 5 - Participação na produção animal ............................................ 28

Tabela 6 - Uso de tecnologia entre os agricultores familiares no Brasil... 30

Tabela 7 - Participação dos estabelecimentos familiares brasileiros ....... 32

Tabela 8 - Caracterização da pecuária leiteira nas mesorregiões Zona da

Mata e Campo das Vertentes .....................................................

43

Tabela 9 - Ponto de nivelamento para produção de leite em Minas

Gerais ........................................................................................

47

Tabela 10 - Teste T de amostras independentes para idade – Silveirânia .. 49

Tabela 11 - Teste T de amostras independentes para idade – Coronel

Xavier Chaves ...........................................................................

49

Tabela 12 - Teste T de amostras independentes para tamanho da

propriedade – Silveirânia ..........................................................

50

Tabela 13 - Teste T de amostras independentes para tamanho da

propriedade – Coronel Xavier Chaves ......................................

51

Tabela 14 - Teste Qui Quadrado – Silveirânia – Tabela 2 x 2 – 1 ............. 52

Tabela 15 - Teste Qui Quadrado – Silveirânia – Tabela 2 x 2 – 2 ............. 53

Tabela 16 - Teste Qui Quadrado – Coronel Xavier Xaves – Tabela 2 x 2

– 1 ..............................................................................................

53

Tabela 17 - Teste Qui Quadrado – Coronel Xavier Chaves – Tabela 2 x 2

– 2 ..............................................................................................

53

Tabela 18 - Percepção sobre a possibilidade de existir sucessor nas

propriedades nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e

Coronel Xavier Chaves .............................................................

57

Tabela 19 - Possibilidade de existir sucessor nas propriedades rurais de

leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves – frequência .......

57

Tabela 20 - Possibilidade de existir sucessor nas propriedades rurais de

leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves – porcentagem ...

58

vii

Tabela 21 - AED perfil – sucessor definido nas propriedades rurais de

leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves ............................

59

Tabela 22 - Regressão sucessor definido nas propriedades rurais de leite

de Silveirânia e Coronel Xavier ................................................

59

Tabela 23 - AED das variáveis com sig < 0,10 presentes na regressão –

sucessor definido nas propriedades rurais de leite de

Silveirânia e Coronel Xavier Chaves ........................................

60

Tabela 24 - AED tecnologia – sucessor definido nas propriedades rurais

de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves .......................

61

Tabela 25 - AED estrutura fundiária sucessor definido nas propriedades

rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves .............

63

Tabela 26 - AED escolaridade e capacitação, sucessor definido nas

propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier

Chaves .......................................................................................

64

Tabela 27 - AED associação e IN 51, sucessor definido, nas

propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier

Chaves .......................................................................................

65

Tabela 28 - AED crédito, sucessor definido, nas propriedades rurais de

leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves ............................

66

Tabela 29 - AED sucessão, sucessor definido, nas propriedades rurais de

leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves ............................

67

Tabela 30 - Regressão possibilidade de sucessor nas propriedades rurais

de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves .......................

69

Tabela 31 - AED das variáveis com sig < 0,10 presentes na regressão

com possibilidade de sucessor nas propriedades rurais de leite

de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves ..................................

69

Tabela 32 - AED perfil dos produtores com possibilidade de sucessor

nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel

Xavier Chaves ...........................................................................

71

Tabela 33 - AED tecnologia, possibilidade de sucessor nas propriedades

rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves .............

72

Tabela 34 - AED crédito, possibilidade de sucessor nas propriedades

rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves .............

73

viii

Tabela 35 - AED estrutura fundiária, possibilidade de sucessor nas

propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier

Chaves .......................................................................................

73

Tabela 36 - AED área média nas propriedades rurais de leite de

Silveirânia e Coronel Xavier Chaves ........................................

74

Tabela 37 - AED escolaridade e capacitação, possibilidade de sucessor

nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel

Xavier Chaves ...........................................................................

75

Tabela 38 - AED participação em associações e IN 51e possibilidade de

sucessor nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e

Coronel Xavier Chaves .............................................................

76

Tabela 39 - AED sucessão, possibilidade de sucessor nas propriedades

rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves ............

77

Tabela 40 - AED idade dos filhos dos produtores entrevistados nas

propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier

Chaves .......................................................................................

79

Tabela 41 Teste Qui Quadrado ser sucessor e estudar 1 para os filhos dos

produtores rurais nos municípios de Silveirânia e Coronel

Xavier Chaves ...........................................................................

84

Tabela 42 Teste Qui Quadrado ser sucessor e estudar 2 para os filhos dos

produtores rurais nos municípios de Silveirânia e Coronel

Xavier Chaves ...........................................................................

84

Tabela 43 Teste Qui Quadrado realizar investimento e ser sucessor 1

para os filhos dos produtores rurais nos municípios de

Silveirânia e Coronel Xavier Chaves ........................................

85

Tabela 44 Teste Qui Quadrado realizar investimento e ser sucessor 2

para os filhos dos produtores rurais nos municípios de

Silveirânia e Coronel Xavier Chaves ........................................

85

ix

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Mapa de localização dos municípios estudados – MG, 2012. 05

Foto 1 - Loja agropecuária no município, em frente à praça ................ 06

Foto 2 - Praça central em Coronel Xavier Chaves ............................... 06

Foto 3 - Marca na parede deixada pelo alagamento de jan./2012. ....... 07

Foto 4 - Entrega do leite no tanque coletivo ......................................... 09

Foto 5 - Da esquerda para a direita, o pesquisador, o produtor e o Sr.

Eurides, técnico da Emater, após a entrevista. Silveirânia, MG

14

Foto 6 - Sr. Paulo Pio, aposentado, acompanhante do pesquisador em

Coronel Xavier Chaves .............................................................

14

Foto 7 - Tanque coletivo na Comunidade Mina – Silveirânia .............. 41

Foto 8 - Tanque coletivo na Comunidade Tejuco – Silveirânia ........... 41

Foto 9 - Tanque individual, utilizado por produtor em Coronel Xavier

Chaves .......................................................................................

42

Foto 10 - Capacitação dos produtores em Coronel Xavier Chaves –

EMATER e SMQL ....................................................................

46

Foto 11 - Capacitação dos produtores em Silveirânia – EMATER e

SMQL ........................................................................................

46

Foto 12 - Gado criado a pasto em Silveirânia-MG ............................ 61

Foto 13 - Momento de entrega do leite no tanque coletivo em

Silveirânia ..................................................................................

65

Foto 14 - Capela construída na propriedade de produtor – Coronel

Xavier Chaves ...........................................................................

70

Foto 15 - Pesquisador e família de produtores em Silveirânia ............... 77

Foto 16 - Pesquisador, pai e filho produtores de leite em Coronel

Xavier Chaves ...........................................................................

78

Gráfico 1 - Sexo dos filhos presentes nas propriedades ............................ 79

Gráfico 2 - Percepção do(s) filhos sobre quem irá assumir a propriedade

nos municípios pesquisados ......................................................

80

Gráfico 3 - Percepção dos filhos sobre como as decisões são tomadas no

estabelecimento nas propriedades rurais de leite de Silveirânia

e Coronel Xavier Chaves ...........................................................

80

x

Gráfico 4 - Pretensão de capacitação pelos filhos dos produtores nas

propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier

Chaves .......................................................................................

81

Gráfico 5 - Local de residência e trabalho dos filhos dos produtores nas

propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier

Chaves .......................................................................................

82

Gráfico 6 - Local onde pretendem residir e trabalhar os filhos dos

produtores nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e

Coronel Xavier Chaves .............................................................

82

Gráfico 7 - Pretensão profissional dos filhos dos agricultores nas

propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier

Chaves .......................................................................................

83

xi

LISTA DE QUADRO

Quadro 1 - Variáveis presentes na regressão ............................................ 15

xii

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AED - Análise exploratória de dados

APLEI - Associação dos Produtores de Leite de Coronel Xavier Chaves

APRUS - Associação dos Produtores Rurais de Silveirânia

CBT - Contagem Bacteriana Total

CCS - Contagem de Células Somáticas

DAP - Declaração de Aptidão ao Pronaf

EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EPAMIG - Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MDS - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome

NATUDOCE - Associação de Produtores e Produtoras Artesanais de

Silveirânia

PAA - Programa de Aquisição de Alimentos

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SMQL - Sistema Mineiro de Qualidade do Leite

SILEMG - Sindicato da Indústria de Laticínios do Estado de Minas Gerais

SPSS - Statistical Package for Social Sciences

VBP - Valor Bruto da Produção

xiii

RESUMO

SOUZA, Júlio César Mendes, M. Sc., Universidade Federal de Viçosa, outubro de

2012. Tradição e modernidade no processo sucessório entre produtores de leite em

dois municípios rurais de Minas Gerais. Orientadora: Ana Louise de Carvalho Fiúza.

Coorientadoras: Cláudia Maria Miranda Araújo Pereira e Nora Beatriz Presno Amodeo.

Esta pesquisa teve por objetivo identificar quais fatores influenciavam no processo

sucessório das unidades familiares produtivas de leite, contrapondo fatores relativos à

modernidade, como tecnologia, gestão da propriedade e práticas associativistas; e

fatores ligados à tradição, como o minorato, a preferência pelo homem como sucessor e

o baixo nível educacional. Consideraram-se cinco hipóteses: 1ª) O nível tecnológico

interferiria na presença de sucessor nas unidades produtivas de leite; 2ª) O tamanho da

propriedade interferiria na presença de sucessor nas unidades familiares da produção de

leite; 3ª) O acesso ao crédito interferiria no processo sucessório dos produtores de leite;

4ª) A proximidade com o perímetro urbano da cidade influenciaria na presença ou

ausência de sucessor nas unidades familiares de produção de leite; e 5ª) A escolaridade

do produtor interferiria no processo sucessório. A pesquisa foi realizada através de um

survey, com entrevistas semiestruturadas contendo questões abertas e fechadas. Foram

aplicados 83 questionários: 52 em Silveirânia e 31 em Coronel Xavier Chaves, em

Minas Gerais. Após a aplicação dos questionários, realizou-se a análise dos dados,

através do software Statistical Package for Social Sciences (SPSS), utilizando-se

análises descritivas, de frequências, testes de regressão, qui-quadrado e teste t. Os dados

levantados na pesquisa negaram a hipótese de que o nível tecnológico presente em uma

unidade produtiva se constituiria em um fator interveniente na presença de sucessor nas

unidades produtivas de leite e confirmaram as outras quatro hipóteses. Concluiu-se,

através desta pesquisa, que a influência dos valores relativos à tradição e à modernidade

sobre a conduta e as práticas dos produtores rurais era muito influenciada pelo tipo de

cidade onde a unidade produtiva estava inserida. Em Silveirânia, cidade distante de

centros urbanos, percebeu-se mais a prevalência dos valores e das práticas tradicionais

sobre o processo sucessório, enquanto em Coronel Xavier Chaves, cidade próxima a um

centro urbano, a influência dos valores e práticas advindos da modernidade se mostrou

mais prevalente. Por traz dessa constatação, pode-se destacar que a prevalência de

xiv

valores modernos ou tradicionais sobre o processo sucessório em unidades produtivas

de leite é muito influenciada pelo tipo de cidade em que o campo está inserido.

xv

ABSTRACT

SOUZA, Júlio César Mendes, M. Sc., Universidade Federal de Viçosa, October of

2012. Tradition and modernity in the succession process among dairy farmers in

two rural municipalities of Minas Gerais. Adviser: Ana Louise de Carvalho Fiúza.

Co-Advisers: Cláudia Maria Miranda Araújo Pereira and Nora Beatriz Presno Amodeo.

This research aimed to identify the factors influencing the succession process in family

units of milk production, by contrasting factors related to modernity, such as

technology, property management and associative practices, with factors related to

tradition, such as minorato, preference for having men as successors and the low

education level of these men. The study considered five hypotheses: 1. the level of

technology would affect the presence of a successor in milk production units; 2. the size

of properties would affect the presence of a successor in family milk production units;

3. access to credit would affect the succession process of milk producers; 4. proximity

to urban areas would affect the presence or absence of successors of milk production

family units; and, finally, 5. the level of education of producers affects the succession

process. The research was conducted through a survey with semi-structured interviews,

consisting of multple-choice and written questions. Eighty-three questionnaires were

applied: 52 in Silveirânia and 31 in Coronel Xavier Chaves, in Minas Gerais. After the

application of the questionnaires, the data analysis was conducted using the Statistical

Package for Social Sciences (SPSS) software system. Descriptive and frequency

analyses were carried out, as well as regression, chi-square and t tests. The data

obtained denied the hypothesis that the present level of technology in a production unit

is a factor that influences in the presence of successors in milk production units and

corroborated the other four hypotheses. This research leads to the conclusion that the

influence of values related to tradition and modernity on the behavior and practices of

farmers greatly depend on the type of city in which production units are located. In

Silveirânia, a town that is far from urban centers, traditional values and practices

prevailed in the succession process, while in Coronel Xavier Chaves, which is closer to

a urban center, the influence of values and practices of modernity prevailed. Therefore,

it must be highlighted that the prevalence of modern or traditional values in succession

processes in milk production units depends on the type of city where the property is

located.

1

INTRODUÇÃO

Nesta dissertação, propôs-se estudar o processo sucessório entre produtores de

leite em dois municípios rurais de Minas Gerais. A motivação para o tema surgiu do

interesse do pesquisador em analisar um setor que pode ser considerado de suma

importância para a economia local, setor cujo mercado passou por consideráveis

transformações quando o Estado deixou de nele intervir na década de 1990, época em

que regulava o preço do leite e era o principal comprador dos produtores. Como

consequência da não intervenção estatal, novas formas de gestão e tecnologia foram

introduzidas e vêm sendo utilizadas, provocando significativas melhorias na produção

leiteira e na qualidade de vida dos produtores. Entretanto, essas novas formas de gestão

e tecnologia podem, porém, desestimular aqueles que não acompanham o

desenvolvimento tecnológico e gerencial da pecuária leiteira e mantêm, em seu processo

produtivo, formas tradicionais fundamentadas nas práticas passadas de geração a

geração, ocasionando, assim, consequências em relação à definição da sucessão na

unidade produtiva de leite.

Outros fatores que chamam a atenção para o tema são os dados sobre a

população brasileira, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), nos quais, em comparação com o Censo 2000, o Brasil, em 2010, diminuiu sua

população no campo. Em 2010, 15,65% dos brasileiros viviam no campo, ao passo que

em 2000 essa população representava 18,75% (IBGE, 2010). A redução e

envelhecimento da população residente no campo, aliados à desvalorização da profissão

de agricultor e à diminuição no número de filhos nas famílias rurais em algumas regiões

do país, podem reduzir o número de possíveis sucessores nas unidades de produção

familiar. Segundo Toledo (2008), os filhos de produtores rurais possuem, hoje, maior

acesso à educação, crescem com cultura diferente daquela dos pais e veem nos centros

urbanos melhor expectativa de vida e desenvolvimento do que no campo. O Censo

Agropecuário 2006, publicado em 2009, mostra que os agricultores familiares1

representam 84,4% dos produtores, mas ocupam apenas 24,3% da área de

1 O termo agricultor familiar é definido pela Lei 11.326 (2006). Alguns produtores, denominados não

familiares, possuem as mesmas características dos familiares; entretanto, são classificados como não

familiares devido às diferenças no tamanho da propriedade, no número e forma de contratação de

empregados ou no volume produzido. Em termos científicos, contudo, essa diferenciação não se sustenta.

Assim, neste trabalho não se fez distinção entre agricultores familiares e pequenos produtores, tendo em

vista que eles apresentam muitas semelhanças no processo produtivo e na estrutura da propriedade.

2

estabelecimentos rurais no Brasil, sendo responsáveis por 58% do leite nacional (IBGE,

2009).

A produção leiteira de 1998 a 2008 em Minas Gerais cresceu 45% em volume,

sendo o Estado o principal produtor do país (FONSECA, 2009). Gomes (2008)

ressaltou a situação dos pequenos produtores de leite no Estado, afirmando que, embora

representem cerca de 44% dos envolvidos na atividade, são responsáveis por apenas 8%

da produção estadual. Esse fato pode ser explicado, em parte, pelas alterações no

ambiente institucional, com legislações que podem ser desfavoráveis aos pequenos

produtores. Como exemplo, pode-se citar o caso da Instrução Normativa Nº 51, de

18/09/20022, que fixa os requisitos mínimos a serem observados para produção,

identidade e qualidade do leite cru refrigerado.

Uma das exigências introduzidas pela implantação da I.N. Nº 51 foi o

resfriamento do leite logo após a ordenha, com a utilização de tanques térmicos. Essa

exigência pôs fim ao tradicional “caminhãozinho do leite”, responsável pela coleta da

produção dos pequenos produtores. Diante da dificuldade para aquisição do tanque para

resfriamento do leite, observou-se, em alguns municípios, articulação entre a

Associação de Produtores com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural

(EMATER), no intuito de adquirir tanques coletivos para o armazenamento do leite. A

aquisição dos tanques representou, além da possibilidade de sobrevivência dos

pequenos produtores de leite, a melhoria da organização entre eles. Assim, tornou-se

possível aumentar, além da qualidade do leite, o preço cobrado aos laticínios. A

profissionalização do setor vem gerando, de forma concomitante, o aumento da

eficiência e a tecnologização das unidades produtoras, mas, também, a redução do

número de produtores, mesmo com as ações desenvolvidas pelas instituições do Estado,

no sentido de mitigar os efeitos da modernização do setor. Esse fato é confirmado pela

comparação de dados entre o Censo Agropecuário de 1996 e o de 2006, que mostra o

aumento de 19,53% na produção de leite e a redução de 25,91% no número de

estabelecimentos agropecuários no Brasil.

2 A Instrução Normativa nº 51 foi alterada em 30/12/2011 pela Instrução Normativa nº 62. A principal

regra já começa a valer em 1º de janeiro de 2012, quando os produtores das Regiões Sul, Sudeste e

Centro-Oeste terão novos limites para Contagem Bacteriana Total (CBT) e Contagem de Células

Somáticas (CCS). Atualmente, esses índices podem chegar a 750 mil/ml. Agora, a tolerância será de até

600 mil/ml. Já no Norte e Nordeste do país a mesma exigência valerá a partir de janeiro de 2013.

3

A redução no número de estabelecimentos de produtores de leite é compensada

pelo aumento na produção, conforme relatado no parágrafo anterior, mas é certo que a

queda de rentabilidade é sentida por todos, devido ao aumento superior dos custos

perante a receita, principalmente para os pequenos produtores, que por terem produção

menor perdem poder de negociação do preço de venda do leite. O baixo preço de venda

do leite em relação aos custos de produção, conjuntamente com as alterações

demográficas no campo e a exigência de novas formas de gestão da atividade leiteira,

apontam para a possível falta de sucessores entre os pequenos produtores de leite. Na

agricultura, o tema sucessão não é tratado de forma clara e aberta como nas empresas

capitalistas. Os costumes e a tradição se colocam de forma velada sobre as leis. Assim,

pesquisar a sucessão em meio a um momento de crise constitui desafio ainda maior.

As normatizações da pecuária leiteira e a introdução da tecnologia, com

utilização de ordenhadeiras mecânicas, tanques térmicos para resfriamento do leite e

métodos de gestão que aumentam a produção com a utilização de menor espaço pelos

produtores, foram instituindo novas práticas que tornassem a atividade leiteira

sustentável socioeconomicamente. Tais mudanças nas práticas produtivas repercutem,

assim, nas possibilidades de manutenção da atividade e, consequentemente, nas

possibilidades de se efetivar um sucessor. Para Abramovay (1998), Sacco dos Anjos

(2003), Mello (2003) e Costa (2006), o processo sucessório entre os produtores rurais

atualmente apresenta mudanças relacionadas ao modelo tradicional, como: a) o número

de filhos é menor; b) a sucessão não é mais uma obrigação moral; c) a falta de

perspectivas na agricultura traz como consequência o aumento do êxodo; d) a tecnologia

reduziu a necessidade de mão de obra; e e) o crescimento das atividades não agrícolas

no campo. Silva (2000) acrescentou que o contato dos jovens do campo com a cidade é

cada vez maior, de tal modo que em sua trajetória assimila valores urbanos aos rurais.

De acordo com Schneider (2009), as alterações provocadas nos sistemas

produtivos, proporcionadas pela tecnologia, pelos equipamentos de produção, pelos

insumos utilizados e pelas alterações no ambiente institucional, que resultaram na

melhoria da qualidade de vida da população residente no campo, nos países

desenvolvidos, não foram acompanhadas pelo Brasil nem pela maioria dos países latino-

americanos. Para Stropasolas (2004), esse modelo reduz as relações sociais que se

estabelecem entre os agricultores à lógica do econômico, quebrando os laços afetivos

que mantinham com a terra. Schneider (2009) acrescentou, ainda, que a busca por

4

assegurar novas fontes de renda para investimentos e manutenção da propriedade

estimula os filhos de agricultores a buscarem esse recurso em atividades não agrícolas.

Assim, analisaram-se nesta pesquisa duas perspectivas interpretativas acerca

dos fatores que estariam influenciando no processo sucessório nas unidades produtivas

de leite na atualidade: na primeira, vislumbrou-se a permanência dos costumes e da

tradição sobre a sucessão. Nesse sentido, alguns padrões culturais continuariam a

estabelecer o perfil do sucessor: a regra da primogenitura ou do minorato, do masculino

sobre o feminino, do menos escolarizado sobre o mais e do casado sobre o solteiro. Já a

segunda vertente interpretativa acerca do processo sucessório contemplou a influência

de fatores ligados à modernidade, como: o uso de tecnologias e de novas formas de

gestão, a proximidade dos estabelecimentos agropecuários das cidades e a participação

em associações e o acesso ao crédito.

1.1 Características dos municípios pesquisados

A pesquisa foi realizada com os produtores associados no Município de

Silveirânia, MG, localizado na mesorregião da Zona da Mata mineira, e no Município

de Coronel Xavier Chaves, MG, na mesorregião Campo das Vertentes. O mapa da

Figura 1 apresenta a localização dos dois municípios pesquisados.

5

Figura 1 – Mapa de localização dos municípios estudados – MG, 2012.

Fonte: Elaborado por SOUZA, J.C.M.; AMARAL, M.S., 2012.

Ambos os municípios têm a pecuária leiteira como sua principal atividade

econômica. De acordo com Rabelo (2012), a mesorregião da Zona da Mata mineira

totaliza 10% da produção mineira de leite e a mesorregião do Campo das Vertentes, 4%.

O Município de Coronel Xavier Chaves está a 168 km da capital mineira, Belo

Horizonte. Tem densidade demográfica de 23,42 hab/km2 e população em torno de

3.000 habitantes, podendo, assim, ser caracterizada como cidade rural3.

Tabela 1 – População no Município de Coronel Xavier Chaves, MG

População Ano % Ano %

2000 2000 2010 2010

Rural 1502 47,0 1501 45,0

Urbana 1683 53,0 1800 55,5

Total 3185 100,0 3301 100,0 Fonte: Censos do IBGE de 2000 e 2010.

3 A elaboração da tipologia para classificação dos municípios foi construída com base na concepção de

Veiga (2002). Segundo esse autor, classificam-se em municípios rurais aqueles com menos de 20.000

habitantes e, ou, densidade demográfica inferior a 20 hab/km2.

6

O município possui supermercado, lojas agropecuárias, lanhouse, padaria,

restaurante, algumas lojas, a prefeitura municipal, a sede da Associação dos Produtores

de Leite (APLEI), a sede da Polícia Militar, o Posto de Saúde e o Parque de Exposições.

Alguns produtores de leite residiam ao redor da praça central4. A população contava

também com os serviços da Universidade Federal de São João Del Rei, localizada a 12

km do município.

Foto 1 - Loja agropecuária no município, em frente à praça.

Fonte: Pesquisa de campo – fevereiro de 2012.

Foto 2 - Praça central em Coronel Xavier Chaves.

Fonte: Pesquisa de campo – fevereiro de 2012.

4 Outra parcela dos produtores que não residiam no campo eram de outros municípios, como São João Del

Rei e Belo Horizonte, e utilizavam a propriedade para lazer e a atividade leiteira como forma de gerar

renda para a sua manutenção.

7

A economia do município era sustentada na atividade agropecuária, mas o

turismo vem-se destacando devido à arquitetura de sua antiga capela e sobrados, à

existência de artesanato e às paisagens naturais, com destaque para as cachoeiras. O

município conta com a Associação dos Produtores de Leite de Coronel Xavier Chaves

(APLEI), que atualmente conta com 45 associados. A Associação mantém uma fábrica

que produz a ração utilizada pelos produtores e a revende para eles a preço mais

acessível. Os associados produzem em média 13.700 litros diários, estocados em 44

tanques térmicos individuais e um coletivo.

Os produtores de leite do município se capacitavam e realizavam investimentos

em tecnologia com o intuito de aumentar a produtividade e a qualidade do leite e suprir

a falta de mão de obra. A ordenha mecânica predominava entre os produtores. Cabe

ressaltar que os produtores já recebiam por qualidade do leite: no mês de março de

2012, receberam R$0,91 por litro, sendo esse valor possível de ser melhorado em

função do aumento da qualidade do leite produzido. A coleta do leite no município era

realizada diariamente, mas havia intercalação entre os produtores, de acordo com a sua

localização, sendo o leite recolhido em sua propriedade a cada dois dias. A cada dois

dias também um caminhão (com capacidade para 30.000 litros) do laticínio que

comprava o leite da Associação buscava o produto, que era estocado na Associação e

transportado para São Paulo. As estradas, no geral, apresentavam boas condições, mas

alguns produtores ainda costumavam ficar isolados no período de fortes chuvas, como

aconteceu no início de 2012.

Foto 3 - Marca na parede deixada pelo alagamento de jan./2012.

Fonte: Pesquisa de campo – fevereiro de 2012.

8

O segundo município pesquisado foi Silveirânia, localizado na Zona da Mata

mineira, a 241 km de Belo Horizonte, e apresentava perfil diferenciado de Coronel

Xavier Chaves, em termos da forma como se realizava a atividade leiteira. Silveirânia

também pode ser definida como cidade rural, com população que não ultrapassava os

3.000 habitantes, densidade demográfica de 13,92 hab/km2 e economia baseada na

produção leiteira.

Tabela 2 – População no município de Silveirânia, MG

População Ano % Ano %

2000 2000 2010 2010

Rural 1117 52,0 763 35,0

Urbana 1021 48,0 1429 65,5

Total 2138 100,0 2192 100,0 Fonte: Censos do IBGE de 2000 e 2010.

Os dados do Censo 2010 indicam o esvaziamento da população residente no

campo no Brasil, embora isso não necessariamente aponte para o abandono das

atividades rurais em razão, principalmente, da facilidade e rapidez de deslocamento

entre o campo e a cidade. O município conta com mercado, padaria, lotérica, pousada e

as sedes dos órgãos públicos, como da prefeitura, da câmara de vereadores, da Polícia

Militar e da Emater. A cidade está situada próxima ao Município de Rio Pomba, onde

está localizado um dos campi do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia

Sudeste de Minas Gerais, que oferece cursos de nível médio, ensino técnico, ensino

tecnológico e superior, em diversas áreas.

O município contava com uma associação de produtores rurais, a Associação

dos Produtores Rurais de Silveirânia (APRUS), com 211 produtores associados e uma

associação de produtores de doce artesanal, a NATUDOCE. Mais da metade (110) dos

associados da APRUS são produtores de leite. O município produzia de 10.000 a 13.000

litros diários de leite, que eram armazenados em 10 tanques coletivos, conforme

divididos na Tabela 3.

9

Tabela 3 – Distribuição dos tanques coletivos

Localidade Capacidade (Litros)

Cascalhau 2000

Córrego do Ribeiro 2000

Sítio Paraíso 3000

Córrego da Mina 2000

Fazenda São José 3000

Sítio São Pedro 4000

São José da Soledade 4000

Japão 3000

Quindiuba 3000

Bota Fogo (Japão) 3000

Anísio Inácio da Silveira Junior (Tanque individual) 2000

Nilson M. de Miranda Junior (Tanque Individual) 1500 Fonte: APRUS.

Conforme demonstrado na Tabela 3, o município é dividido em comunidades,

sendo a de São José da Soledade a mais distante do centro de Silveirânia. O percurso

para se chegar à comunidade tem a extensão de aproximadamente 18 km e é realizado

em cerca de 40 min, através de estradas que não apresentam boas condições para

veículos pequenos. Devido à considerável distância entre as residências, as unidades

produtivas e a cidade e às condições precárias das estradas, é comum que a realização

de festas e eventos fosse dividida por comunidades. O leite era entregue aos tanques

diariamente, entre 7 e 9 horas da manhã, e daí recolhido a cada dois dias, sendo a

carroça o transporte mais utilizado (Foto 4).

Foto 4 - Entrega do leite ao tanque coletivo.

Fonte: Pesquisa de campo – março de 2012.

10

Atualmente, a APRUS não mantém mais a fábrica de ração, mas compra o

produto e o revende aos produtores por preço mais acessível do que o das lojas

agropecuárias. A Emater, em parceria com o Sistema Mineiro de Qualidade do Leite

(SMQL), realiza, atualmente, treinamentos com o objetivo de aumentar a qualidade para

que os produtores possam pleitear a participação em programas dessa natureza. Entre os

produtores era predominante a ordenha manual, sendo o gado tratado no pasto durante

longo período, para minimizar os custos. O local de entrega do leite era também

utilizado para os produtores receberem o pagamento, sempre no dia 20 de cada mês. À

época da pesquisa, os produtores recebiam R$0,81 por litro de leite.

1.2 Procedimentos metodológicos

Para investigar como ocorria o processo sucessório entre os produtores de leite

familiares nos Municípios de Coronel Xavier Chaves e Silveirânia, foram utilizados

dois tipos de estratégias de pesquisa: um descritivo, descrevendo as características

socioeconômicas dos produtores, como o nível tecnológico, economia e formas de

produção; e o outro explicativo, para identificar os fatores que estavam interferindo no

processo sucessório das unidades produtoras de leite, utilizando para tanto a aplicação

de um survey.

A pesquisa com a utilização do survey permite que o pesquisador identifique

fatores que influenciam no comportamento da população estudada. Para sua realização,

elaborou-se um questionário, aplicado à população ou, na maioria dos casos, a uma

amostra desta. Grande parte dos surveys é destinado a descrever determinado fenômeno,

entretanto muitos objetivam, adicionalmente, fazer asserções explicativas. Explicar

quase sempre requer análise multivariada, ou seja, o exame simultâneo de duas ou mais

variáveis (BABIE, 2005).

Foram elaborados dois tipos de questionários, a fim de analisar os fatores

intervenientes no processo sucessório das unidades produtivas de leite: um modelo

direcionado ao gestor do estabelecimento agropecuário e outro aos filhos do

proprietário. No modelo aplicado ao gestor, o questionário foi estruturado em sete

partes: 1ª) Questões relativas ao perfil do produtor (idade, profissão, renda bruta

11

mensal, composição familiar e local de residência); 2ª) Questões relativas ao nível

tecnológico da atividade leiteira (máquinas utilizadas para redução do trabalho manual;

forma de aquisição; sistemas de ordenha utilizados, forma de reprodução do rebanho;

percepção da influência das associações no sistema produtivo, itens produzidos); 3ª)

Questões relativas à estrutura fundiária (tamanho da propriedade, situação em relação à

propriedade da terra, forma de aquisição das terras); 4ª) Relação com a cidade (forma e

frequência de acessibilidade à cidade); 5ª) Relação com o crédito (utilização, finalidade,

valor, modalidade); 6ª) Nível de capacitação do produtor (escolaridade do produtor,

cursos de capacitação já realizados); e 7ª) Questões relacionadas à sucessão no

estabelecimento. No modelo aplicado aos filhos dos produtores, foram relacionadas

questões sobre o perfil dos filhos (idade, escolaridade, estado civil) e perspectivas

futuras em relação ao trabalho e à moradia e sobre a sucessão no estabelecimento

agropecuário.

1.2.1 Hipóteses

As análises foram realizadas com o intuito de inferir sobre a veracidade das

seguintes hipóteses:

H1- O nível tecnológico em uma unidade produtiva constitui fator interveniente na

presença de sucessor nas unidades produtivas de leite.

H2- O tamanho da propriedade constitui fator interveniente na presença de sucessor nas

unidades familiares de produção de leite.

H3- O acesso ao crédito proporciona o desenvolvimento e interfere no processo

sucessório dos produtores de leite.

H4- A proximidade com a cidade interfere na presença de sucessor nas unidades

familiares de produção de leite.

H5- A escolaridade do produtor interfere no processo sucessório.

12

1.2.2 Amostragem

Para determinação da amostra da pesquisa, utilizou-se o método de

amostragem probabilística. De acordo com Triola (2008), o método de amostragem

probabilística seleciona os indivíduos, de modo que todos possam ter a mesma chance

de participarem da pesquisa. Ainda segundo esse autor, o planejamento da amostragem

é necessário para reduzir a possibilidade de erro amostral (diferença entre o resultado

populacional e o resultado amostrado). Os erros amostrais podem ocorrer devido à

coleta incorreta dos dados. Para estabelecer o número de produtores que deveriam fazer

parte da pesquisa, utiliza-se a fórmula da proporção finita quando se conhece o tamanho

da população (BOLFARINE; BUSSAB, 2005), dada por:

2

2

2 2

2

ˆ ˆ

ˆ ˆ ( 1)

Z p q Nn

Z p q N E

em que:

n = tamanho amostral

Z = valor tabelado

N = tamanho populacional

E = margem de erro ou erro máximo de estimativa

p = proporção populacional de indivíduos que pertencem à categoria estudada

q = proporção populacional de indivíduos que não pertencem à categoria estudada (q = 1 – p)

α = nível de significância

Segundo Hair et al. (2005), ao utilizar fórmulas estatísticas para determinar o

valor de uma amostra, três decisões devem ser levadas em consideração: 1) o grau de

segurança, ou seja, a máxima diferença aceitável entre o valor estimado da amostra e o

valor verdadeiro da população (geralmente 95%); 2) a margem de erro aceitável

(geralmente definida pelo pesquisador); e 3) homogeneidade da população. Na prática, é

improvável que se conheça a taxa de homogeneidade da população, devendo o

pesquisador utilizar estimativa de trabalhos anteriores ou, na falta destes, 50%. Neste

trabalho, utilizaram-se o valor de 50% (ou 0,5) como taxa de homogeneidade e 10% (ou

13

0,10) para erro amostral. De acordo com Triola (2008), os valores de confiança mais

utilizados e os valores de Z correspondentes são:

Tabela 4 – Valores críticos associados ao grau de confiança da amostra

Grau de segurança Valor crítico Zα/2

90% 1,645

95% 1,96

99% 2,575 Fonte: TRIOLA, 2008.

Assim, a amostra dos dois municípios pesquisados, utilizando-se 95% de grau

de confiança, foi determinada, conforme mostrado a seguir:

Coronel Xavier Chaves

n = (1,96)2 x 0,5 x 0,5 x 45 = 43,218 = 31

(1,96)2 x 0,5 x 0,5 + (45 – 1 ) x (0,10)

2 1,4004

Silveirânia

n = (1,96)2 x 0,5 x 0,5 x 110 = 105,644 = 52

(1,96)2 x 0,5 x 0,5 + (110 – 1 ) x (0,10)

2 2,0504

1.2.3 As entrevistas

Para entrevistar os produtores, o pesquisador foi acompanhado, em Coronel

Xavier Chaves, por um morador da região, aposentado, que possuía o hábito de

acompanhar a coleta do leite nas propriedades. Em Silveirânia, parte das entrevistas foi

realizada durante o período de capacitação dos produtores de leite pela Emater e do

Sistema Mineiro de Qualidade do Leite (SMQL). Nesse período, o pesquisador ia de

carona com o técnico da Emater até um dos tanques coletivos e aproveitava o momento

de entrega do leite para a realização da entrevista. Após o término da capacitação, o

14

técnico da Emater que se encontrava de férias acompanhou, gentilmente, o pesquisador

até a residência dos produtores para a realização das entrevistas.

Foto 5 – Da esquerda para a direita, o pesquisador, o produtor e o Sr.

Eurides, técnico da Emater, após a entrevista. Silveirânia,

MG.

Fonte: Pesquisa de campo – março 2012.

Foto 6 - Sr. Paulo Pio, aposentado, acompanhante do

pesquisador em Coronel Xavier Chaves.

Fonte: Pesquisa de campo – fevereiro 2012.

1.2.4 Regressão

Segundo Hair et al. (2005), a regressão é a técnica estatística que auxilia

determinar se há relação coerente e sistemática entre duas ou mais variáveis a

determinado nível de significância estatística. O programa Statistical Package for Social

Sciences (SPSS) representa a significância como a probabilidade de rejeitar a hipótese

nula quando ela é verdadeira. As orientações comuns dizem que, para ser considerada

15

estatisticamente significativa, a probabilidade deve ser menor do que <0,05. Contudo,

na área de ciências sociais é aceitável utilizar o nível de significância de 0,10, ou seja,

para uma probabilidade <0,10, considera-se que há associação entre as variáveis

analisadas. Se existir a relação entre as variáveis, devem-se analisar também a direção e

força de associação entre estas. A direção pode ser positiva ou negativa. Já a força de

associação pode ser classificada de leve até muito forte. Para o trabalho, foram

divididos dois casos: o primeiro considerando-se as propriedades que já possuíam

sucessor definido e o segundo levando-se em conta os casos em que ainda não estava

definido um sucessor, mas havia a possibilidade de isso acontecer. As variáveis foram

agrupadas conforme mostrado no Quadro 1.

Quadro 1 – Variáveis presentes na regressão

Regressão Variáveis Descrição

1 – Tecnologia

Máquina Se o produtor utilizava alguma máquina para

redução do trabalho manual.

Ordenha Sistema de ordenha utilizado (manual ou

ordenhadeira).

Criação Sistema de criação do gado (intensivo, semi-

intensivo e pasto).

Reprodução Monta natural, inseminação ou ambos.

2 – Estrutura

fundiária,

escolaridade e

gênero

Residência O produtor reside no campo ou na cidade.

Escolaridade Escolaridade do produtor.

Gênero Igualdade de direito para as mulheres.

Área Área da propriedade em hectare.

3 – Crédito

Crédito O produtor já utilizou algum financiamento.

Valor Valor financiado.

Modalidade Se foi Pronaf ou linha para produtor rural.

Finalidade Em que o produtor investiu na propriedade.

4 - Gestão

Associação Importância da associação para o produtor.

Capacitação Se o produtor já realizou alguma capacitação

Decisão Se os filhos participam nas decisões do

estabelecimento agropecuário.

Registros Se o produtor realiza algum registro.

5 – Perfil

Idade Idade do produtor.

Profissão Profissão do produtor.

Filhos Número de filhos residentes na propriedade.

Renda Renda bruta mensal.

6 – Composição

familiar

Composição

familiar

Composição familiar dos membros que

residem com o produtor.

Idade familiar Faixa etária do(s) filho(s) do produtor.

Ocupação

familiar

Ocupação dos membros da família, sem

considerar o proprietário.

Renda familiar Renda familiar total, considerando o

produtor e receita dos demais componentes. Fonte: Elaborado pelo autor.

16

As variáveis foram associadas levando-se em consideração o item a ser

analisado na regressão. Para análise de regressão, a soma das respostas de todas as

variáveis não poderia ultrapassar o número máximo de entrevistados, que em Coronel

Xavier Chaves foi de 31.

1.2.5 Análise exploratória dos dados, qui-quadrado e teste t

De acordo com Triola (2008), a análise exploratória de dados (AED) consiste

na utilização de técnicas estatísticas que fornecerão informações sobre medidas de

centro, medidas de variação e gráficos para investigação de um conjunto de dados, com

o intuito de compreender suas características mais importantes. Segundo esse autor, ao

utilizar a técnica, deve-se identificar e, se necessário, excluir os outliers que constituem

os valores discrepantes da média, que se localiza muito afastado de quase todos os

demais valores e pode influenciar nos resultados5.

Para AED foram utilizadas a média aritmética, definida como a soma dos

valores da variável dividida pelo número de valores e da mediana, que representa o

valor central dos dados, quando eles são organizados em ordem crescente ou

decrescente (KAZMIER, 2008). A AED foi utilizada para detalhar as principais

características das propriedades que possuíam sucessor definido e daquelas que

apresentavam possibilidade de sucessor, mas este ainda não estava definido, como

também foi utilizada para analisar os dados dos 21 filhos de produtores que

responderam aos questionários. Além da AED, utilizou-se o teste qui-quadrado.

Segundo Barbetta (2008), o teste qui-quadrado, designado por X2, é amplamente usado

em pesquisa social para testar a significância entre duas variáveis qualitativas. A

estatística do teste é uma medida de distância entre as frequências observadas e as

frequências esperadas. Para um “p” valor alto, deve-se considerar que as variáveis

analisadas são independentes.

5 Após realizar os testes de regressão com a presença dos outliers e excluindo-os, apenas a variável área

apresentou diferença significativa, e foram excluídos os outliers. Nas demais variáveis, nenhum outlier

foi excluído. Para a AED, os outliers serão excluídos quando apresentarem diferenças significativas e

relatados na análise dos dados.

17

De acordo com Larson (2010), um teste de hipótese é utilizado para testar a

afirmação sobre o valor de um parâmetro populacional. Segundo Anderson et al. (2008),

ao testar hipóteses, deve-se iniciar pela hipótese experimental, denominada hipótese

nula (H0) e, posteriormente, formular a hipótese alternativa (Ha). Posteriormente,

segundo Bruni (2007), calculam-se a média e desvio-padrão da amostra. Com esses

dados, pode-se comparar a média alegada. Busca-se saber se a alegação é aceitável ou

não. Se ocorrerem grandes desvios, a probabilidade de a afirmação ser falsa é maior, e

vice-versa. Ou seja, procura-se identificar se existem diferenças significativas sobre as

médias analisadas.

Por fim, no que diz respeito à estruturação da dissertação, esta consta de três

capítulos. No primeiro foram abordados os fatores intervenientes no processo sucessório

entre os produtores de leite, considerando-se os fatores relacionados à tradição e à

modernidade. No segundo capítulo, contemplaram-se a pecuária leiteira e as políticas

públicas voltadas para a sucessão em Minas Gerais. No terceiro, e último capítulo, foi

realizada à análise dos dados relativos ao processo sucessório nas propriedades

familiares de produção de leite nos dois municípios pesquisados.

18

CAPÍTULO I

FATORES INTERVENIENTES NA SUCESSÃO DAS UNIDADES

PRODUTIVAS DE LEITE

A transmissão da propriedade da terra de uma geração para outra tem

envolvido a elaboração de estratégias orientadas por princípios diferenciados ao longo

do tempo. Nas sociedades pré-capitalistas, o acúmulo de terras sustentava o poder

fundiário das famílias tradicionais, sendo o casamento, inclusive, decisivo para que

estas aumentassem seu patrimônio. Com o surgimento e avanço do capitalismo no

campo, a tecnologia e as formas de gestão da propriedade passaram a ser decisivas para

a manutenção de uma propriedade. Assim, mais importante que o acúmulo de terras, a

sua produtividade tornou-se fator decisivo.

Atualmente, com a crescente proximidade entre campo e cidade, presencia-se

outra forma de valorização que se impõe sobre a propriedade: a da natureza. O turismo

rural, a alimentação natural, o ar puro, a calma e as tradições têm-se constituído em

balizadores para que as propriedades rurais busquem explorar novas alternativas

econômicas para se reproduzirem. Percebe-se, dessa forma, que os critérios que

orientam as práticas sucessórias podem se modificar ao longo do tempo. Neste primeiro

capítulo discutem-se, de forma detalhada, os fatores que poderiam influenciar na

sucessão, considerando-se tanto a influência de fatores ligados à tradição e aos costumes

quanto de fatores ligados à modernidade.

Assim, diferentemente do modo como era praticada, a sucessão agrícola tende a

associar-se a uma lógica de inserção profissional. Na cadeia produtiva do leite, essa

inserção é configurada por fatores relativos à modernidade, com considerável influência

da tecnologia utilizada, do tamanho da propriedade, acesso a crédito e educação e da

proximidade dos estabelecimentos agropecuários com os centros urbanos, contrapondo-

se aos fatores tradicionais tais como o minorato, no qual o filho mais novo é o escolhido

para ser o sucessor, com a condição de cuidar dos pais durante a velhice; a

primogenitura, casamento entre primos; a predileção por sucessores homens e por filhos

19

pouco escolarizados. Enfim, não existe uma única forma de sucessão entre os

produtores de leite, mas, sim, um conjunto de fatores que influenciam no processo

sucessório; fatores que emergem diante de complexas e exigentes normas que regulam o

setor frente às expectativas do mercado, mas, também, relacionados ao tradicional modo

de vida dos produtores. Para Brumer (2007), seria preciso considerar que, para além dos

fatores que incidem sobre o processo sucessório, existe, também, a distância entre a

intenção de se tornar sucessor e a efetivação do fato. Segundo essa autora, citando

pesquisa realizada na Finlândia por Foxall (1983):

Dados obtidos através de um estudo de painel de 348 estabelecimentos, disponíveis

para o período de 1996 a 2001, do total de entrevistados, 58 (17%) pretendiam fazer

a sucessão de seus estabelecimentos nos próximos cinco anos e 290 (83%) não

pretendiam fazer isso. Entre os que pretendiam fazer a sucessão, apenas 18 (31%)

efetivaram seu projeto e entre os que não pretendiam transferir o estabelecimento

para um sucessor a maioria (279 ou 96%) cumpriu o plano, embora 11 (4,0%)

tenham feito a sucessão sem tê-la planejado (BRUMER, 2007 apud FOXALL, 1983,

p. 45).

No Brasil, as expectativas dos jovens em assumirem o lugar dos pais na

propriedade vêm-se reduzindo. Assim, investigar os fatores que possam estar

influenciando na decisão daqueles que manifestaram a intenção de gerenciar a

propriedade e com aqueles que já a estão gerenciando pode, de fato, fornecer

informações importantes para frear a intensidade da diminuição na efetivação do

processo sucessório.

1.1 A influência dos costumes e tradições sobre o processo sucessório

Um dos fatores elencados como podendo estar relacionado à diminuição do

número de efetivos sucessores nas unidades produtivas rurais é o fato de os pais

retardarem o máximo possível o momento da transmissão do patrimônio, visando

manter sua autoridade na propriedade, inclusive na definição das técnicas e formas de

gestão que serão empregadas no processo produtivo. A tendência a não mudar aquilo

que “está dando certo” funciona como um freio em face do desejo dos mais jovens que

preferem modernizar e inovar (BRUMER, 2007).

20

O reconhecimento de todos esses aspectos abaliza a afirmação de que se tornar

o sucessor em uma propriedade rural é situação complexa. A certeza que se tinha para o

futuro da propriedade e da família cresce com insegurança. Os filhos manifestam, de

forma crescente, o interesse pelo trabalho assalariado na cidade e pela qualidade de vida

que esta oferece. Hoje, mesmo para os produtores considerados tecnificados, a sucessão

ainda é um problema, pois o desinteresse dos filhos em continuarem na atividade

herdada dos pais é considerável. Nesse sentido, uma pesquisa realizada no Uruguai por

Perrachón, em 2011, constatou que 90% dos agricultores em atividade se encontravam

entre 46 e 64 anos ou acima desse intervalo. Contudo, o que esperar em face do

processo sucessório: a manutenção dos costumes ligados à sucessão, mesmo mediante

as transformações socioeconômicas em curso ou a instauração de um processo de

aculturação gerador da adaptação aos valores e práticas trazidos pela modernidade?

Nesse sentido, seria importante considerar, segundo Costa (2010), que a

sucessão na agricultura familiar envolve não apenas a transferência de um patrimônio e

de capital imobilizado ao longo das sucessivas gerações, mas revela, também, a

existência de um verdadeiro código cultural que orienta as escolhas e os procedimentos

dirigidos a garantir que, pelo menos, um dos herdeiros possa reproduzir a situação

original. Ainda segundo essa autora, citando Brumer (2007), os critérios sucessórios

adotados pelos pais são orientados por fatores tradicionais, mas podem, também, ser

decorrentes de fatores conjunturais que, de alguma maneira, a eles se impõem. No

próximo tópico, inicia-se a apresentação dos costumes e tradições relacionados às

práticas sucessórias.

1.1.1 O minorato e a morgadia

Segundo Carneiro (1998), a estratégia sucessória nas famílias rurais europeias

estava estruturada sobre quatro critérios: a condição de produção da unidade, o número

de filhos do casal, em especial os do sexo masculino e a sua posição na ordem de

nascimento. O processo sucessório incluía duas fases: a primeira referia-se à escolha do

sucessor, aquele que, além de administrar a propriedade, iria herdar a casa, as terras

produtivas, os equipamentos e os “pais”, visto que o sucessor ficava com a obrigação de

21

deles cuidar. A segunda fase referia-se à distribuição dos bens familiares para os demais

herdeiros. Nesse caso, geralmente os bens eram as terras menos produtivas ou dinheiro:

para estudo, para começar a vida ou para o enxoval, no caso das mulheres. Com relação

ao estabelecimento da sucessão esta, geralmente, ocorria em três circunstâncias: a) pelo

casamento do filho sucessor; b) pela aposentadoria ou invalidez do chefe da família; ou

c) pela morte do chefe da família.

Para Sacco dos Anjos e Caldas (2006), critérios como o minorato, que

representa a designação, meio sigilosa, mas de conhecimento de todos, do filho mais

novo como sucessor, evidenciam a supremacia do padrão tradicional na orientação do

processo sucessório. Outra estratégia utilizada era a primogenitura. Assim, quando uma

filha era a mais velha entre os irmãos, procurava-se arrumar um marido para ela,

geralmente algum primo. Essa estratégia, muito utilizada por colônias alemãs no Sul do

Brasil, visava resolver três problemas ao mesmo tempo: o casamento para a filha, o

impedimento de que o filho do irmão seguisse o caminho do celibato e a garantia de que

a propriedade tivesse um sucessor (WOORTMANN, 1995).

Segundo Santos (1996), a primogenitura era também adotada em Portugal. Em

um estudo de caso realizado no Entre Douro e Minho, constatou-se que a primogenitura

atendia à necessidade de não fragmentar a parte produtiva do estabelecimento

agropecuário. Assim, criou-se o costume de que os filhos menores se educariam para se

tornarem padres, médicos ou advogados, enquanto o direito à sucessão era majorado ao

filho mais velho. Essa estratégia se baseava no fato de que o filho padre abriria mão dos

bens familiares; o médico ou o advogado, pelos rendimentos advindos da profissão,

teria bens próprios suficientes, “justificando”, assim, a partilha desigual e possibilitando

a continuidade das atividades no estabelecimento agropecuário. A estratégia de

conceder ao filho primogênito o direito à sucessão era denominada no país por

morgadio.

Para Carneiro (1998), a mudança do morgadio para o minorato esteve

associada, em muitos contextos, ao fato de ter começado a haver a prática de se atrasar o

casamento do primogênito até o momento em que o pai fosse se retirar da produção.

Assim, a passagem da propriedade para o mais novo entre os filhos coincidiria de forma

mais próxima com o casamento e a passagem para a idade adulta do filho caçula do que

22

do mais velho. Abramovay et al. (1998) também apontaram que o atraso na passagem

do comando da propriedade favoreceria que a sucessão recaísse sobre o filho mais novo.

Esse atraso, segundo Carneiro (1998), não seria vivido sem tensão pela família;

no entanto, as insatisfações por parte dos filhos raramente são manifestadas antes do

falecimento dos pais, pois o controle do patrimônio fundiário é o último e mais forte

controle simbólico e material que o pai exerce sobre a sua família. Em alguns casos, o

filho sucessor, inclusive, já gerencia a propriedade, mas, legalmente, ela ainda

pertenceria a seus pais, o que, inclusive, asseguraria que o filho sucessor cuidaria dos

pais durante a velhice. Nesse caso, mesmo parecendo uma situação humilhante para

todos os filhos, inclusive o sucessor, eles não externam sua insatisfação com a situação,

mais uma vez respeitando a autoridade do pai, que nesse ato de discriminação com os

demais filhos não sucessores neutraliza possíveis conflitos entre eles.

Mesmo não estando em situação confortável, o momento em que o filho

sucessor gerenciava a propriedade, ainda sob o comando do pai, lhe era útil para que ele

pudesse acumular recursos para indenizar os demais irmãos quando fosse assumir

legalmente a propriedade. Com o predomínio do minorato, outro fato que indicava

quem seria o sucessor na propriedade era a nomeação de um filho específico para

receber o nome do pai. No Brasil, essa estratégia recebeu a denominação também de

ultimogenitura. A prática dessa estratégia sucessória, além de gerar a constituição de

uma nova família, renovava a força de trabalho ali existente (CARNEIRO, 1998).

Entretanto, a prática do minorato punia duplamente os não escolhidos como

sucessores quando estes, além de não receberem a mesma quantidade de bens como

herança, eram claramente preteridos da escolha para se tornarem sucessores. Esse ato

era inclusive garantido pela Lei de 7 de fevereiro de 1938, que defendia a não

fragmentação do patrimônio fundiário e, ao mesmo tempo, garantia aos demais

herdeiros indenização justa. Essa indenização era, por muitas vezes, realizada com

terras não produtivas, o que na prática favorecia ao herdeiro-sucessor, ao qual era

garantido também um quarto a mais na divisão do patrimônio em relação aos irmãos

(CARNEIRO, 1998).

23

1.1.2 Gênero e casamento

Com relação às relações de gênero em sociedades rurais, estudos como os de

Stropassolas (2004) vêm indicando que as mulheres ao saírem do campo para estudar ou

trabalhar dificilmente têm regressado. Ao buscarem estudo e trabalho na cidade, as

mulheres têm demonstrado a recusa em reproduzir a vida que as suas mães levavam no

campo. No que diz respeito ao processo sucessório no campo, o qual geralmente é

conduzido pelo pai, a escolha por uma mulher como sucessora ocorre apenas na falta do

filho homem (MALÁN, 2005)6. Além disso, segundo Woortmann (1995), no processo

sucessório as mulheres, além de herdarem a terra em quantidade menor que os seus

irmãos, quando o herdam, não usufruem de sua parte, pois esta passa a ser administrada

pelo marido.

Nas sociedades rurais tradicionais, a mulher era um objeto importante nas

estratégias de casamento. Na França, por exemplo, até antes da Primeira Guerra

Mundial, nas famílias abastadas, nas quais o sucessor era um primogênito, a noiva ideal

para esse seria oriunda de uma família de posses que pudesse pagar um dote à família

do noivo. Esse dote serviria para indenizar os não sucessores. Quando o primogênito de

uma família abastada era uma mulher, as terras da família poderiam ser aumentadas

através da união com outro primogênito ou com um “segundão” que tivesse recebido

dinheiro que servisse para a compra de mais patrimônio. Nesse caso, o genro

geralmente ficava sob o poder do pai da esposa até a morte deste, passando a gerir a

propriedade após a morte de seu sogro. Ou seja, a mulher praticamente não tinha a

oportunidade de conduzir ela própria, nem mesmo as terras herdadas da sua família,

com raras exceções (CARNEIRO, 1998).

Ainda no que diz respeito ao casamento, assim como o filho mais velho era o

preferido como sucessor em algumas estratégias de herança no campo; no que diz

respeito ao casamento, a preferência recaía sobre a filha mais velha. Para as famílias

6 Lo normal em este sentido, ES que el proceso sucesorio se articule em torno a este, quien es el que

decide, cuando y como se transferirán las responsabilidades sobre la gestión de la empresa, a los hijos...

de este modo la gestión por parte de mujeres resulta ser excepcional y geralmente solo posible, em casos

de ausência de um sucesor váron em la familia. Em este sentido se senala, que la mayoria de los jóvenes

declara que los padres no han ejercido influencia sobre su didación laboral, lo cual contrasta com las

respuestas de la generación anteriror... (MALÁN, 2005, p. 4 e 6).

24

mais ricas, a estratégia era realizar o casamento mais cedo, pois a partilha das terras não

comprometia a reprodução social da nova família. Já para as famílias mais pobres, além

de retardarem ao máximo o momento da transferência do estabelecimento, é função do

sucessor ajudar nos dotes das irmãs, para só após ter a permissão para assumir a

propriedade (WOORTAMANN, 1995). Essa situação leva à conclusão de que para as

famílias mais capitalizadas a quantidade de terras produtivas disponíveis seria suficiente

para todos os filhos. Já nas famílias mais pobres existiria terra produtiva apenas para o

sucessor, devendo o escolhido contribuir para a indenização, mesmo que simbólica, das

irmãs. Essa tradição “administrada” pela autoridade do pai no estabelecimento

colocava-se como tentativa de, ao mesmo tempo, amenizar possíveis conflitos

decorrentes da desigualdade na hora da partilha, além de contribuir para que a(s) filha(s)

tivesse(m) um dote, que poderia servir de incentivo para o casamento dela(s) e sua

manutenção no campo.

Nesse sentido, Silvestro et al. (2001) ponderaram que, para as mulheres de

menor renda permanecerem no campo, era muito mais uma fatalidade do que uma

opção. Ainda segundo esses autores, a falta de participação das mulheres no acesso ao

crédito também pode ser tomada como forte indicativo de que elas não almejassem

continuar no campo. Em pesquisa realizada no Oeste de Santa Catarina, 85% das jovens

entrevistadas nunca fizeram empréstimo para investir na propriedade. Carneiro (1998)

relatou a frustração de mulheres dessa região em terem sido escolhidas como

sucessoras. Em famílias compostas apenas por mulheres, elas se viram obrigadas a

desistir de seus projetos de vida, deixando de lado os estudos para cuidarem não só de

seus filhos, mas, também, dos pais durante a velhice. Além disso, não tinham a garantia

legal de que herdariam a propriedade dos pais após o falecimento destes.

Para Weisheimer (2007 apud BRUMER, 2004), a participação das mulheres

nas atividades produtivas no campo ocorre em três situações: a) nos trabalhos de

execução manual, como os de limpeza do solo e colheita da produção; b) na limpeza, na

seleção e na embalagem da produção; e c) no cuidado e criação dos animais. Segundo

Malán (2005)7, mesmo as mulheres participando do processo produtivo, elas

7 Como lo ilustra esta expresión y lo senala Campana al respecto, es usual que la mujer rural tienda a

pensarse a si misma primero como “ama de casa” y secundariamente considerarse como “productora o

trabajadora”: elemento que muchas veces suele invisibilizar el papel productivo que realmente tiene ésta

(MALÁN, 2005, p.26).

25

internalizam a percepção de que não fazem parte dele, que a sua função seria ser “dona

de casa” e, secundariamente, ajudar na produção. Reforça essa perspectiva o fato de

que, de acordo com o Censo Agropecuário de 2006 (IBGE, 2011), haveria em

Silveirânia apenas 77 (14,75%) mulheres agricultoras e em Coronel Xavier Chaves,

apenas 17 (4,74%). No entanto, analisando os dados desse mesmo censo, observou-se

que existiam 276 estabelecimentos agropecuários em Silveirânia, sendo 26 (9,42%)

femininos e 181 estabelecimentos agropecuários em Coronel Xavier Chaves, sendo

nove (4,97%) femininos. Esses dados reforçam a teoria sobre a masculinização que

estaria ocorrendo no campo. Já alarmante, vale ressaltar que poderiam existir casos em

que a mulher seja apenas registrada como agricultora para ter acesso aos programas do

governo, por comodidade ou por alguma pendência por parte do marido, sendo de fato a

atividade produtiva realizada integralmente pelo marido.

Dessa forma, fica evidente, através dos costumes relativos ao minorato, ao

morgadio e à preferência pelos sucessores do sexo masculino, que a tradição poderia

continuar a fornecer os parâmetros normativos que definiriam o processo sucessório.

Contudo, a força das transformações econômicas e sociais também age sobre as práticas

e tradições, pressionando-as. No próximo item são apresentados os fatores ligados à

modernidade que poderiam influenciar no processo sucessório, provocando mudanças

nos costumes e tradições até então vigentes.

1.2 A influência dos fatores ligados à modernidade sobre o processo sucessório

Outros fatores elencados como podendo ser intervenientes para a presença do

sucessor nas unidades familiares produtivas de leite são aqueles relacionados à

modernidade. Segundo Rodrigues (1997), tradição e modernidade são processos que se

opõem, marcados pela ruptura de processos considerados tradicionais para processos

definidos como modernos. A passagem do tradicional para o moderno é um processo

conflituoso, que demanda uma necessidade intrínseca de ultrapassagem dos seus valores

reconhecidos. Nesse sentido, seria plausível considerar que moderno é tudo o que se

demarca em relação àquilo que permanece como tradicional, tal como o tradicional é

tudo aquilo que se demarca em relação àquilo que se apresenta como moderno.

26

Ressaltou esse autor que, muitas vezes, o retorno a processos tradicionais também

poderia ser considerado manifestação de modernidade.

Traditio, em latim, significa a transmissão de valores e conhecimentos a

terceiros. Já o termo Modernus conduz à ideia de recente. Valendo-se de processos

considerados como tradicionais, com a utilização de mão de obra familiar e baixo uso

de tecnologia, a pecuária leiteira familiar estaria passando por uma redefinição dos

ideais modernos, sendo influenciada para a modernização de seus processos produtivos

através do uso da tecnologia e novas formas de gestão. De acordo com Rodrigues

(1997), o esgotamento dos recursos naturais, processos políticos, condições de vida da

população e ideais de emancipação pesariam sobre a decisão de romper com um

processo tradicional para o moderno. Na pecuária leiteira, vale ressaltar que as

Instruções Normativas 51 e 62 vêm exercendo considerável influência para que os

produtores familiares de leite revejam seus costumes, deixando para trás processos

tradicionais e manuais no processo produtivo para o emprego da tecnologia e modernas

formas de gestão. Esse elemento, além de melhorar a eficiência dos produtores, poderia

também influenciar na decisão de continuar na atividade pelos filhos ou outros possíveis

sucessores no estabelecimento.

Para Salomon et al. (1993), a ruptura entre o tradicional e o moderno criaria

possibilidades de melhoria nos padrões de vida dos agricultores, sendo a ciência e

tecnologia instrumentos primordiais para a realização dessas expectativas. Entretanto,

ressaltaram esses autores que ciência e tecnologia não poderiam ter efeitos socialmente

benéficos se o contexto cultural e político não estivesse preparado para absorvê-las,

sendo esse um processo muito mais difícil e complexo que uma mera transferência de

recursos.

Para a pecuária leiteira, ciência e tecnologia estariam provocando considerável

impacto ao reduzir o trabalho físico e melhorar a qualidade de vida dos produtores.

Entretanto, não se pode afirmar que condições para acesso às novas tecnologias

estariam sendo disponibilizadas para os pequenos produtores de leite. Ao mesmo tempo

que a tecnologia poderia proporcionar melhor qualidade de vida aos produtores, ela

poderia também se transformar em fator de exclusão para aqueles que não conseguem

se adaptar ao seu uso, seja por questões tradicionais, em não querer mudar uma prática

que consideravam que “está dando certo”, seja por falta de condições de acesso. Assim,

27

segundo Salomon et al. (1993), a tecnologia poderia ser considerada, por alguns, como

forma de escravização humana e destruição, como poderia ser considerada por outros,

como força libertadora de processos tradicionais que gera melhores condições de vida

para as pessoas. Para esses autores, fatores sociais e culturais influenciariam o papel que

a ciência e tecnologia desempenham em determinada sociedade. Entretanto, é certo que

políticas públicas, ciência e tecnologia, em conjunto, podem transformar estruturas

sociais e modos de comportamento.

A adoção da tecnologia isoladamente não implicaria, necessariamente,

mudança social nos agentes envolvidos. Porém, não se pode subestimar que a adoção de

novas tecnologias pode modernizar e aumentar a eficiência de atividades tradicionais,

proporcionando formas sustentáveis para exploração dos recursos naturais e provocar a

ruptura nos hábitos e meios de subsistência adotados (SALOMON et al., 1993). Para a

pecuária leiteira familiar, a acumulação de capital isoladamente não seria considerada

como garantia de crescimento. Valores culturais, como o gosto pela atividade, a

qualidade de vida e a organização do setor, também são fundamentais para satisfazerem

as necessidades dos agricultores, estimulando-os a continuar na atividade. Assim, para

Salomon et al. (1993) a análise de interação entre a sociedade e a tecnologia deveria ser

realizada, levando-se em conta as características de cada país ou sociedade. Qualquer

que seja o nível tecnológico adotado, o desenvolvimento das necessidades dos

agricultores só será alcançado através da mudança do tradicional para o moderno, e nem

sempre poderá ser mensurada quantitativamente apenas por indicadores econômicos.

Nesse sentido, torna-se necessário avaliar as implicações futuras sobre duas situações:

como modernizar sem sacrificar a tecnologia? E como preservar a tradição sem

comprometer a modernização? O dilema relatado se faria jus tendo em vista que o

Estado, que deveria ser o tomador de decisões capaz de conduzir todo o processo de

mudança do tradicional para o moderno, estaria se tornando cada vez menos influente

no controle de fenômenos econômicos, sociais, ambientais ou tecnológicos que ocorrem

presentemente no mundo.

Nesse cenário, concluem Salomon et al. (1993) que a ciência e tecnologia

podem contribuir significativamente para o desenvolvimento da sociedade, porém o

desenvolvimento é uma busca incerta, que levanta questionamentos sobre sua

viabilidade ou não. A ciência e tecnologia não oferecem solução pronta para o problema

de valores, decorrente da colisão entre tradição e modernidade. Consoante às rupturas

28

trazidas pela modernidade, a modernização, que não se confunde com aquela,

envolveria, segundo Solé (1998), além das variações quantitativas nas condições

materiais de existência, variações qualitativas nos modos de vida, como: alterações nos

valores que orientam as práticas e as atitudes e os comportamentos dos indivíduos. Tais

aspectos serão explanados nos itens que se seguem.

1.2.1 A influência da tecnologia e do associativismo na produção leiteira

Poderia, à primeira vista, parecer incoerente admitir que ciência e tecnologia

possam gerar, além das expectativas de progressão e êxito nas atividades, a expectativa

de abandono. O fato, porém, é que, às vezes, a modernização tecnológica vem por força

de determinações legais, como aconteceu, por exemplo, com a Normativa 51, de

18/09/2002, voltada para a atividade leiteira, a qual visava alcançar maior controle sobre

os animais e a ordenha mecanizada. Os agricultores, diante do imperativo da legislação,

foram obrigados a mudar a sua forma de produzir, a fim de se adequarem às exigências

da normativa, o que resultou na sobrevivência no mercado de menor contingente de

produtores. Silvestro et al. (2001), em estudo realizado no Oeste de Santa Catarina,

classificaram os produtores que mudaram a sua forma de produção para atender aos

imperativos da modernização agrícola como produtores especializados ou capitalizados.

Os dados apresentados na tabela 5 por Guanziroli et al. (2011) apontaram para esse

cenário de redução da participação dos pequenos produtores na atividade leiteira.

Tabela 5 – Participação na produção animal

Tipo de produção animal 1996 2006

Pecuária de corte 23,64 16,65

Pecuária de leite 52,05 38,88

Suínos 58,46 52,45

Aves 39,86 30,34 Fonte: GUANZIROLI et al., 2011.

29

Já no Uruguai, segundo Malán (2005)8, onde a pecuária leiteira também passou

por considerável modernização, com melhorias no manejo do rebanho, a introdução do

uso da genética para a apuração da raça, das melhorias no transporte, do uso de

equipamentos para resfriar o leite e da utilização da ordenhadeira para facilitar o

trabalho do produtor, tiveram efeito positivo sobre os pequenos produtores, que não

foram excluídos do processo de modernização; pelo contrário, melhoraram as suas

expectativas de continuidade na atividade. Nesse sentido, Stropasolas (2011) chamou a

atenção para o fato de que a adoção de tecnologia pelos pequenos produtores poderia,

sim, melhorar a qualidade de vida deles, mas, ainda assim, em determinadas atividades,

como a pecuária leiteira, a necessidade do trabalho diário, incluindo os finais de

semana, continuaria a se constituir em um fator desestimulante para os jovens, mesmo

para aqueles inseridos em estabelecimentos economicamente viáveis.

Outro aspecto levantado por Lemos (2010) que não se refere diretamente a

esses fatores culturais relacionados às expectativas dos jovens rurais quanto à atividade

leiteira diz respeito ao fato de que, mesmo considerando que a tecnologia possa

melhorar a condição de trabalho dos produtores rurais, nem sempre ela é desenvolvida

de forma a contemplar os pequenos produtores, não sendo compatível com as suas

necessidades. Além disso, segundo o referido autor, apenas o acesso à tecnologia de

produção não seria suficiente para a manutenção desses produtores no mercado, visto

que seria necessário a eles o acesso às estratégias de gestão do estabelecimento, as quais

eram ignoradas por parte significativa dos agricultores.

Para Buainain (2007), uma possível alternativa para aumentar os ganhos seria o

associativismo, prática utilizada pelos agricultores europeus no passado para enfrentar

as crises na agricultura e, também, por quase a metade dos agricultores familiares no Sul

do Brasil. O associativismo, além de gerar ganhos de escala, pode também reduzir os

custos dos insumos utilizados na pecuária familiar. As associações de pequenos

produtores têm exercido importante papel com a utilização de tanques coletivos, o que,

8 Dicho modelo consistió básicamente entre otros cambios en: la incorporación de praderas artificiales

plurianuales, que permitiron mejorar y estabilizar la oferta forrajera; avances em las prácticas sanitárias;

el mejoramiento en la base genética del ganado y em su manejo reprodutivo; introducción de máquinas de

ordene, equipos de frio y transporte, etc. además outra de las características que fueron destacables, fue

que durante el proceso de modernización la lecheria no margino a la pequena producción, sino que por el

contrario capto un número importante de productores familiares, que adoptó esta actividad al ser

desplazados de otros rubros (MALÁN,1995, p. 11).

30

além de gerar redução nos custos e ganho de escala na revenda do leite, fortaleceria a

relação entre os produtores e os possíveis sucessores no estabelecimento.

Para além das práticas associativistas, a adoção de tecnologias acessíveis aos

pequenos produtores tem sido apontada como capazes de dinamizar a atividade, bem

como melhorar a sua expectativa futura em relação à produção leiteira. Têm sido citadas

na literatura especializada as seguintes formas de manejo, práticas e uso de tecnologia: o

sistema de ordenha mecânica, em virtude de este ser percebido como capaz de reduzir a

necessidade de contratação de mão de obra; a realização de duas ordenhas diárias, em

razão da possibilidade de aumento da produtividade; o sistema de reprodução por

inseminação artificial; o manejo dos bezerros; e o manejo geral do rebanho, sendo

todas essas práticas voltadas para a busca de maior racionalidade na atividade (RUAS,

2010)9. Entretanto, os dados levantados por Guanziroli et al. (2011) referentes ao uso de

tecnologia entre os agricultores familiares indicam um quadro bem diferente em relação

à realidade desses (Quadro 6).

Tabela 6 – Uso de tecnologia entre os agricultores familiares no Brasil

Variáveis Selecionadas 1996 2006

Utiliza assistência técnica 16,67 20,88

Associado à cooperativa 12,63 4,18

Usa energia elétrica 36,63 74,1

Força animal 22,67 38,75

Força mecânica 27,5 30,21

Força manual 49,83 31,04

Usa irrigação 4,92 6,23

Usa adubos e corretivos 36,73 37,79 Fonte: GUANZIROLI et al., 2011.

Esses dados, por si, já dão uma dimensão do quanto o processo sucessório

entre produtores de leite poderia ser afetado pelo baixo nível tecnológico presente nas

atividades que desenvolvem.

9 Para Queiroz (2010), outro modelo que melhoraria a eficiência dos agricultores familiares seria o uso de

sistemas silvipastoris (SSPs). Para a pecuária familiar, uma opção seria a Integração Lavoura Pecuária

(ILP), que propõe a introdução de fileiras de eucaliptos entre a lavoura e o pasto. Nesse caso, a lavoura

poderia custear a recuperação do pasto e as árvores representariam uma opção de renda futura, sem a

perda da renda obtida com o uso do pasto.

31

1.2.2 Crédito

Segundo Mingatto (2005), as alterações no ambiente institucional na pecuária

leiteira dividiram o setor, aumentando a informalidade entre os produtores de leite, uma

vez que as alterações não foram acompanhadas pela oferta de crédito e capacitação para

os pequenos produtores. Nesse sentido, com o intuito de alavancar o segmento, o

Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) começou a

ofertar aos agricultores possibilidades de obtenção de financiamentos com baixas taxas

de juros. Para Mattei (2006), o programa, presente em quase todos os municípios

brasileiros, veio atender a uma antiga reivindicação dos pequenos produtores rurais que,

secularmente marginalizada pelas políticas públicas federais, demandavam a

implantação de políticas públicas para o setor, que, de acordo com o Censo

Agropecuário 2006, representava 84,4% dos produtores rurais.

Segundo Mattei (2006), o PRONAF estruturou-se, a partir de 2003, com quatro

linhas de crédito: a) financiamento da produção; b) financiamento de infraestrutura e

serviços municipais; c) capacitação e profissionalização dos agricultores familiares; e d)

financiamento da pesquisa e extensão rural. Embora essas linhas de crédito tenham

sofrido algumas modificações, especialmente no que diz respeito à rubrica destinada aos

serviços municipais, que foi deslocada para programas de caráter territorial, saindo do

Pronaf, o programa vem mantendo a sua estrutura básica, com mudanças efetivadas ao

longo desse período para a correção de distorções relativas à concentração na

distribuição dos recursos.

No Estado de Minas Gerais, por exemplo, apenas 5,5% do crédito era utilizado

pelos pequenos produtores. Ainda de acordo com esses autores, o programa apresenta

maiores avanços quantitativos do que qualitativos, pois a oferta de crédito se dá

desacompanhada de exigências específicas para a sua aplicação, como adequação à

legislação sanitária, fiscal e trabalhista, a capacitação do trabalhador rural e a

implementação de infraestrutura básica (estradas em boa condição de escoamento e

circulação do produto, saneamento básico, energia etc.). Essa lacuna tem dificultado o

desenvolvimento do setor (AZEVEDO; PESSOA, 2011).

32

A despeito disso, segundo Mattei (2006), o programa gerou efeitos positivos

para o desenvolvimento dos agricultores familiares, capitalizando e aumentando a

produtividade no campo brasileiro, melhorando, assim, as perspectivas dos futuros

sucessores. Segundo esse autor, em 10 anos de existência o programa tornou-se

referência para o desenvolvimento da agricultura familiar nacional. A análise

comparativa, realizada por Guanziroli et al. (2011), da agricultura familiar no Brasil

entre 1996, ano do início do PRONAF, e 2006, ano de publicação dos dados do Censo

Agropecuário, indicou a seguinte configuração dessa agricultura.

Tabela 7 – Participação dos estabelecimentos familiares brasileiros

Variável 1996 2006

Percentual de estabelecimentos familiares 85,17 87,48

Percentual da área dos estabelecimentos familiares 30,48 32,36

Percentual de VBP familiares 37,91 39,68

Percentual pessoal ocupado 76,85 77,99 Fonte: GUANZIROLI et al., 2011.

VBP (Valor Bruto da Produção).

Segundo Buainain (2007), entretanto, a ausência de modelos eficazes de gestão

e a iminência de uma situação de insegurança alimentar poderiam levar os agricultores

familiares a produzirem somente para a subsistência e até desviarem recursos oriundos

de créditos que deveriam ser utilizados para investimentos na propriedade. No que diz

respeito às questões relacionadas ao processo sucessório nas unidades produtoras de

leite, considera-se que os investimentos no estabelecimento, através do crédito, podem

melhorar as condições de trabalho do produtor e sua eficiência na atividade,

constituindo-se, assim, em fatores fundamentais para estimular os futuros sucessores.

1.2.3 A relativização do tamanho da propriedade para a sucessão e a influência da

proximidade dos centros urbanos e do acesso à escolaridade

De acordo com Romeiro (2007) e Silvestro et al. (2001), em um rural

tradicional o tamanho da propriedade poderia influenciar diretamente nos resultados

obtidos pelos agricultores familiares e na decisão sobre como seria conduzido o

processo sucessório. Assim, uma propriedade com tamanho reduzido poderia não ser

33

sustentável economicamente se dividida entre todos os herdeiros. Para Woortmann

(1995), a diminuição no número de filhos das famílias no campo estaria diretamente

ligada à quantidade de terras hoje disponíveis.

Segundo Ruas (2010), no Brasil a área média dos estabelecimentos familiares

seria de 18,37 ha, enquanto nos não familiares, 309,18 ha. Observou-se que entre os

agricultores familiares a quantidade de terras seria insuficiente para a divisão entre os

herdeiros, pois poderia não existir terras produtivas para todos. Na pesquisa realizada

por Perrachón (2011), no Uruguai, mesmo sendo a minoria no país, entre os agricultores

familiares pesquisados não existiam agricultores com área inferior a 100 ha, e 61,3%

possuíam área entre 100 e 500 ha para desenvolverem suas atividades. Nesse caso,

desde que produtivas, o tamanho da propriedade também poderia ser considerado

suficiente para a divisão entre os possíveis herdeiros.

Para Carneiro (1998), o tamanho da propriedade isolado não explicaria como

os produtores determinam as estratégias para a sucessão. Outros fatores como as

questões relacionadas à educação e o desejo de sucesso profissional interferiria na

decisão sobre a sucessão. Segundo Carneiro (2001), o maior nível de escolaridade e a

possibilidade de obtenção de emprego na cidade seriam considerados como meio de

ascensão social por parte dos rurais. O estudo que era compreendido como uma forma

de herança para os filhos que não se tornariam sucessores passa a ser percebido como

uma possibilidade de “melhorar de vida”, inclusive pelos pretensos sucessores. Segundo

Stropasolas (2011), as mulheres investiriam mais na educação do que os homens,

sobretudo para se prepararem para o mercado de trabalho na cidade. Em Minas Gerais,

jovens filhos de produtores de leite com maior nível de escolaridade e que participavam

de alguma atividade no processo produtivo acreditavam que realizar estudos técnicos ou

de nível superior na área de ciências agrárias pode diminuir o trabalho pesado exigido

pela atividade. Para os jovens com nível de educação superior, aspectos educacionais

associados às informações de mercado, gerência e qualidade foram considerados

fundamentais para o exercício da atividade leiteira (TEIXEIRA et al., 2012).

Para Stropasolas (2010), embora tenha aumentado a renda das famílias no

campo, a desvalorização da profissão de agricultor e a falta de opções no campo, no que

se refere a lazer e à pouca disponibilidade de tempo livre, em virtude da necessidade de

realização de trabalho, inclusive, nos finais de semana, têm levado os pais a

34

incentivarem os filhos a estudarem e a buscarem uma profissão alternativa à agricultura.

Essa busca estaria, sobretudo, correlacionada com as mulheres, que percebiam as

desigualdades a que estavam submetidas no meio rural.

Nesse sentido, Brumer (2007) afirmou que os jovens, entre 15 e 24 anos,

seriam os mais influenciados pelas mudanças trazidas pelo processo de modernização

por que passava o campo no Brasil. Segundo ela, os jovens que vivem no campo

desejam o acesso aos bens de consumo e lazer, manifestando, de forma mais intensa que

outros segmentos etários, uma tendência migratória. O fato de enxergarem na cidade

melhores oportunidades de emprego, de vida, acesso a bens de consumo e lazer, além de

acesso aos serviços públicos, seriam determinantes para isso. Tais perspectivas e

anseios por parte dos jovens rurais poderiam se constituir, portanto, em fatores

intervenientes no processo sucessório em estabelecimentos agropecuários.

Segundo Silvestro et al. (2001), o fato de o jovem se vislumbrar na cidade e

não no campo como sucessor poderia fazer que ele deixasse de se preparar para essa

função. Segundo esses autores, os jovens que se capacitassem para gerenciar o

estabelecimento agropecuário apresentariam menores chances de deixar a propriedade

do que aqueles que não se capacitassem. Assim, avaliar a vida na cidade como mais

vantajosa para si do que a vida no campo poderia constituir fator interveniente no

processo sucessório.

Mediante tais considerações, seria pertinente considerar, também, que os

processos culturais, políticos e econômicos do mundo contemporâneo, como a

globalização, o desemprego estrutural, as migrações nacionais e internacionais etc.,

envolveriam todos os indivíduos, independentemente de estarem na cidade ou no

campo. No entanto, em face desses processos que envolveriam transformações

estruturais, as tradições dos rurais não seriam soterradas ou dissolvidas. Suas

percepções e seus comportamentos seriam reelaborados de formas ativa e consciente.

As suas avaliações e julgamentos em relação aos processos de modernização

demonstrariam a sua condição de agentes sociais envolvidos em processos em níveis

local e global, capazes de efetivar as escolhas “possíveis” em face das transformações

vividas (BRUMER, 2007).

35

Seria pertinente também considerar, ainda, que a proximidade com os centros

urbanos se apresentaria, cada vez mais intensa, modificando os modos de vida das

pessoas que vivem no campo. Segundo Rambaud (1969), em seu estudo da sociedade

rural da França, na década de 1960, isso aconteceria porque os rurais avaliariam de

forma positiva o acesso à tecnologia poupadora de mão de obra e potencializadora da

produtividade, bem como o acesso aos bens duráveis, como carro, moto, trator etc., e a

outros bens de consumo, como eletrodomésticos, televisão, telefone, internet e tudo que

pudesse favorecer a melhoria da qualidade de vida no campo, segundo seu julgamento.

A busca por qualidade de vida e melhores condições de trabalho e remuneração

constituiria, aliás, segundo Ruas (2010), uma das razões pelas quais a atividade leiteira

estaria perdendo a atratividade entre os jovens rurais. Tradicionalmente, a atividade

leiteira, no Brasil, vem de uma história de baixo uso de tecnologia, devido à

possibilidade de utilização de terras marginais e pastos nativos pelos agricultores, a fim

de minimizar seus custos e resistir às variações dos preços. Entretanto, essa conduta ao

largo do aparato tecnológico teria resultado na utilização de práticas penosas de trabalho

e exigiriam longa jornada diária, que se iniciaria ainda de madrugada e terminaria já à

noite. Apesar disso, esses aspectos resultaram em baixa rentabilidade, fatores mais do

que suficientes para desestimular o interesse dos jovens pela atividade. Assim, as

agências de extensão rural, como a EMATER de Minas Gerais, vêm atuando no sentido

de adequar as práticas relacionadas à atividade leiteira às modernas formas de gestão e

às tecnologias utilizadas não apenas para aumentar a sua eficiência produtiva, mas,

também, para que os filhos dos produtores possam almejar continuar na atividade.

36

CAPÍTULO II

A INFLUÊNCIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E DAS PRÁTICAS DE

CAPACITAÇÃO PARA A SUCESSÃO NA PECUÁRIA LEITEIRA

Segundo Nogueira (2012), a pecuária leiteira brasileira estaria diante de boas e

oportunas chances. O preço recebido pelo produtor encontra-se no maior nível nos

últimos 12 anos. Entretanto, apesar dos preços mais elevados, as margens de lucro dos

produtores vêm recuando ano a ano. Tal recuo se explicaria pelo aumento superior dos

custos diante da receita, tendo como destaque o preço do milho e da mão de obra. Esta

última se revela menor e pouco qualificada, sendo exercida, muitas vezes, apenas pelo

proprietário, que, além de não poder contar com ajuda na produção, percebe que a

continuidade da atividade pode estar comprometida.

Assim, busca-se, neste capítulo, descrever as politicas públicas que poderiam

influenciar no processo sucessório em unidades familiares de produção de leite nos

municípios onde a pesquisa foi realizada, tais como programas de capacitação para os

produtores e seus filhos, possíveis sucessores, para que os mesmos produzam de acordo

com as atuais normas sanitárias, adoção de programas de pagamento por qualidade e as

principais carências do setor, apontadas no censo agropecuário de 2006, para o estado

de Minas Gerais.

Ainda segundo Nogueira (2012), o Brasil possuiria produtores altamente

tecnificados e gerenciariam suas propriedades com maior eficiência do que qualquer

produtor de qualquer parte do mundo. Entretanto, possuiria também produtores que se

enquadrariam em um cenário de produção rural da Idade Média e necessitariam

urgentemente mudar o seu modo de produção, por questões de segurança alimentar e

sobrevivência no mercado. Com o intuito de regular e melhorar a qualidade da pecuária

leiteira, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) criou a

Instrução Normativa nº 51/2002.

De acordo com Bourroul (2012), pela IN 51, desde julho de 2011 o leite

entregue à indústria deveria ter no máximo 400 mil/ml de Contagem de Células

37

Somáticas (CCS) e 100 mil/ml de Unidades Formadoras de Colônias de Bactérias

(CBT). Porém, pesquisa realizada pela Embrapa Gado de Leite revelou que 45% dos

rebanhos analisados ainda não atendiam às exigências da normativa. Assim, no dia 30

de dezembro de 2011, o MAPA publicou a IN 62, que prorrogou para 2016 o prazo para

que os produtores atingissem o valor máximo de 400 mil/ml de CCS e 100 mil/ml de

CBT. A justificativa para tais exigências expressas na normativa era de que os valores

de CCS e CTB impactariam na vida útil e sabor do leite produzido.

Para atingir esse patamar de qualidade, algumas políticas públicas foram

consideradas fundamentais pela Embrapa Gado de Leite, como: a) criação de um

Programa Nacional de Controle e Prevenção da Mastite; b) investimentos em energia

elétrica e estradas; c) capacitação para os técnicos em extensão rural; d) melhoria do

acesso ao crédito para a produção de leite; e) treinamento do ordenhador; e f) incentivo

às empresas de lácteos a adotarem programas de pagamento por qualidade (BOURROU,

2012).

Segundo Silvestro et al. (2001), existiria ampla demanda para o

desenvolvimento de políticas públicas para capacitar os jovens produtores rurais, a fim

de que estes pudessem melhorar a geração de renda na propriedade. Ainda segundo os

autores, faltariam políticas públicas voltadas para a sucessão familiar, preparando os

filhos que assumirão a propriedade. Os jovens rurais entre 15 e 24 anos não estariam

sendo incluídos satisfatoriamente nas políticas públicas voltadas para o campo. Esse

fato, aliado ao envelhecimento e masculinização da população no campo e ao cenário de

empobrecimento de grupos sociais rurais, desestimularia os jovens, comprometendo,

assim, a sucessão nos estabelecimentos rurais (STROPASOLAS, 2010). O depoimento

de um dos entrevistados, em Silveirânia, corrobora essa perspectiva apontada por

Stropasolas (2010). Segundo o entrevistado, todos os dias ele “força” que o casal de

filhos os ajude na ordenha para estimulá-los a tomar gosto pela atividade, mas a

sensação é de que os filhos deixarão o campo futuramente.

Segundo Bonnal (2007), novos temas deveriam ser colocados em discussão ao

se definirem as políticas públicas para o campo, entre os quais as questões de gênero e

sucessão. Para Brumer (2007), em se tratando do tema sucessão no campo, novas

políticas seriam necessárias, tendo em vista a mudança nos padrões sucessórios devida,

em parte, à significativa redução no número de filhos e, em parte, a mudanças nas

38

relações familiares, que possibilitem aos jovens buscar alternativas individualizadas em

relação ao seu futuro, principalmente para aqueles que residem próximos aos centros

urbanos. Para essa autora, a maioria dos agricultores brasileiros proprietários tem um

sucessor, enquanto os que ainda não o possuem têm a possibilidade de fazê-lo, no

momento oportuno, entre seus herdeiros. Entretanto, é importante a criação de projetos

com ênfase na análise de processos concretos de sucessão ou não sucessão dos

estabelecimentos familiares. Esses estudos deveriam ser realizados em regiões diversas

do Brasil, focalizando diferentes arranjos econômicos e situações familiares.

Segundo Comeford (2007), na região da Zona da Mata mineira, observa-se

uma conciliação entre o direito legal e as expectativas costumeiras das famílias para

elaborarem qual será a estratégia sucessória no campo. Conseguir conduzir um bom

processo de sucessão significa importante valoração moral e um acúmulo de reputação,

mesmo que, em termos de dimensão física e valor econômico, o patrimônio fundiário

seja pequeno. Esse autor relata dois casos na região da Zona da Mata mineira, em que os

interesses pessoais se sobrepuseram ao coletivo, o que gerou a partilha desigual após o

falecimento dos pais, sendo beneficiado aquele que cuidou dos pais durante a velhice,

sem ser o administrador da propriedade. Após a divisão, o herdeiro que ficou com a

maior parte veio a vendê-la para seu vizinho, desintegrando o patrimônio fundiário e o

relacionamento entre o restante da família, que não concordava com a atitude, mas

legalmente nada poderia fazer. Observa-se, no caso relatado, o desinteresse do filho(a)

que cuidou dos pais durante a velhice e foi contemplado com uma parcela a mais na

herança. Entretanto, a atividade leiteira não faria parte do futuro almejado por esse

filho(a), que ao vender sua parte na herança impossibilitou que os demais irmãos,

inclusive aquele que já administrava a propriedade, continuassem na atividade.

Situações de perda de interesse pela propriedade seriam minimizadas, segundo

Varella (2008), com o aumento da produção e do preço recebido pelo produtor, em

virtude do desencadeamento de um ciclo virtuoso que passaria pelo estímulo a

investimentos e a permanência do produtor e do futuro sucessor na propriedade.

Segundo Lima et al. (2010 apud FAGUNDES, 2005), os baixos e defasados preços

recebidos dificultariam que os produtores realizassem investimentos para se adequarem

às normas para a produção e comercialização do leite. Nesse sentido, a quantidade de

laticínios instalados na região seria essencial para o desenvolvimento dos produtores e

para a manutenção deles no mercado formal. Assim, segundo Lima et al. (2010), tornar-

39

se-ia necessária a capacitação dos produtores para a sua inserção ou continuidade no

mercado, citando como exemplo, em Minas Gerais, o projeto Programa de

Desenvolvimento da Pecuária Leiteira, fomentado pela Nestlé em parceria com as

Universidades Federais de Viçosa (MG) e de Goiânia (GO). O programa, por meio da

extensão rural, além de preparar melhor o estudante, levaria ao produtor leiteiro o

conhecimento tecnológico que permitiria o seu crescimento e continuidade na atividade.

De acordo com o site da Nestlé (2012), o programa seria executado com produtores que

demonstrassem interesse em participar e possuíssem propriedade nas proximidades de

uma das universidades parceiras. O auxílio seria dado por meio de assistência técnica às

propriedades, realizada por estudantes dos últimos anos de Medicina Veterinária,

Agronomia, Zootecnia, Tecnologia em Laticínios, Engenharia de Alimentos e

Agrimensura, sob a orientação de técnicos do projeto e professores das universidades.

Projetos de capacitação como esses com os pequenos produtores de leite têm

sido apontados, na literatura, como tendo ressonância para o processo sucessório em

virtude de possibilitar a transferência de tecnologia para os produtores e melhorar a sua

capacitação gerencial, o que resultaria no crescimento da atividade leiteira, no aumento

de sua competitividade e na melhoria da expectativa dos agricultores em relação à sua

permanência na atividade10. Segundo Lima et al. (2010), observaram-se maior nível de

escolaridade e menor idade entre os produtores que decidiram participar do programa.

Para Silvestro et al. (2001), os produtores, ao se capacitarem, aumentam suas

possibilidade de se capitalizarem e, consequentemente, diminuem os problemas

enfrentados em relação à sucessão em seus estabelecimentos.

O desenvolvimento de práticas proativas avessas ao comportamento passivo de

esperar receber do Estado o amparo necessário faria parte do perfil produtivo favorável

à manutenção na atividade leiteira e à efetivação do seu sucessor. Em Minas Gerais,

analisando 615 produtores assistidos pelo programa de capacitação implementado pelo

Educampo em parceria com o SEBRAE-MG nos anos de 2009 e 2010, concluiu-se que

os produtores tiveram aumento de produtividade, alcançado através da avaliação que

tiveram a oportunidade de fazer em relação a firmarem contrato no qual avaliavam os

10

Em funcionamento desde 1988, a maior parte dos investimentos em Viçosa provém de recursos do

Dairy Partners Américas – “Parceiros em Laticínios nas Américas” (DPA) e, desde 2006, conta também

com a participação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE). Desde

1988, 282 propriedades participaram do programa nos dois Estados e apresentam, hoje, aumento médio

de 360% na produção (NESTLE, 2012).

40

custos e benefícios em pagar pela assistência técnica recebida. O valor cobrado foi

calculado sobre três variáveis: a produção do agricultor, o salário mínimo vigente e o

combustível gasto11 no deslocamento do técnico. O pagamento pelo serviço permitia ao

produtor o direito de cobrar pelos resultados, ao mesmo tempo que permitiria ao técnico

acompanhá-lo na implementação das práticas orientadas (GOMES, 2010).

O projeto tinha como pressuposto que para se firmar na atividade leiteira e

tornar-se capaz de passá-la ao seu sucessor, o produtor necessitaria, ainda, capacitar-se

gerencialmente. Assim, a capacitação era voltada para diagnosticar os problemas e

potenciais da propriedade e elaborar o planejamento da “empresa rural”, passando pelo

estabelecimento de metas, com a elaboração do cronograma de atividades e da avaliação

de resultados, sem deixar de lado a parte técnica da produção. O SEBRAE e o

Educampo visavam, através desse projeto, enfim, desenvolver a capacidade do produtor

em avaliar o impacto e a viabilidade da adoção de novas tecnologias e formas

gerenciais, a fim de que ele pudesse manter a propriedade viável para o futuro sucessor

na atividade. Atualmente, em Minas Gerais, o projeto atende 1.084 pecuaristas

individualmente, além de realizar palestras, dias de campo e outras atividades em grupo.

Os produtores contemplados com o programa passaram a recolher menos tributos por

litro de leite, devido ao ganho de eficiência e escala (NASCIF, 2012).

Teixeira et al. (2012), em pesquisa com jovens filhos de produtores de leite

cooperados, em Coronel Pacheco, Minas Gerais, identificaram que eles apontavam a

baixa rentabilidade da atividade leiteira, o trabalho penoso, a falta de internet e a

distância da cidade como restritivos para que eles continuassem na atividade leiteira. Os

jovens pesquisados acreditavam que mudanças efetivas na produção em direção à

especialização ocorreriam somente quando eles próprios assumissem a propriedade, em

vista de os seus pais manifestarem resistência à adoção da tecnologia e modernas

técnicas de gerenciamento da propriedade rural. Contudo, por força da lei, a necessidade

dessas mudanças já se colocou no presente na vida dos produtores de leite através da IN

51.

Acreditava-se, inicialmente, que a implantação da IN 51 seria motivo de

exclusão dos pequenos produtores de leite, que não teriam condições de se adequarem

11

O técnico recebe por visita, segundo a fórmula: ½ salário mínimo + quilometragem (1/3 do preço da

gasolina) + 1% da renda bruta do produtor, calculada sobre o preço-base do leite (GOMES, 2010).

41

às novas exigências. Contudo, iniciou-se um processo de adaptação. Diante da exigência

da refrigeração do leite como procedimento para garantir a sua qualidade, adotou-se o

financiamento de tanques coletivos ou comunitários, implantados, em sua maioria, com

intermediação de associações de produtores, permitindo o cumprimento da legislação e

a redução dos custos de produção, embora ainda seja necessário continuar o processo de

capacitação dos produtores para a utilização dos tanques coletivos (BRITO et al., 2010).

Outro aspecto a ser aprimorado se relacionava, segundo Brito et al. (2010), com o

trabalho em coletividade, diante da necessidade de que todos contribuíssem para a

melhoria da qualidade do leite em conjunto, reconhecendo cada um sua

responsabilidade pelo resultado final. Por fim, esses autores observaram que a

introdução do tanquinho como forma de armazenamento do leite, além de diminuir os

custos com transportes, facilitou a entrega do produto por parte dos produtores. Tais

inovações têm sido apontadas como capazes de manter os pequenos produtores de leite

na atividade, tornando-a, inclusive, mais rentável e atrativa.

Foto 7 - Tanque coletivo na Comunidade Mina – Silveirânia.

Fonte: Pesquisa de campo – março de 2012.

Foto 8 - Tanque coletivo na Comunidade Tejuco – Silveirânia.

Fonte: Pesquisa de campo – março de 2012.

42

Foto 9 - Tanque individual, utilizado por produtor em Coronel

Xavier Chaves.

Fonte: Pesquisa de campo – fevereiro de 2012.

Outra forma de intervenção com os pequenos produtores de leite de Minas

Gerais que vem dinamizando a atividade por eles desenvolvida é o Programa de

Aquisição de Alimentos (PAA). A modalidade de Incentivo à Produção e Consumo de

Leite (PAA Leite) foi criada para contribuir com o aumento do consumo de leite pelas

famílias que se encontravam em situação de insegurança alimentar e, também, como

forma de incentivar os pequenos produtores. O PAA Leite atualmente beneficia todos os

Estados da Região Nordeste e também o Norte de Minas Gerais (MDS, 2012).

Em parceria com laticínios, que devem participar de um processo licitatório

para aderirem ao programa, o governo garante a compra de toda a produção aos

produtores cadastrados. Para participar do programa, o produtor deve produzir no

máximo 100 litros diários, possuir declaração de aptidão ao Pronaf (DAP), enquadrar-se

nas categorias A, A/C, B, ou agricultor familiar, e comprovar estar com as vacinas dos

animais em dia. Todo esse processo, intermediado pelas associações de produtores, é

avaliado como podendo incentivar o produtor a realizar investimentos na propriedade e

vislumbrar o melhor futuro para a atividade (MDS, 2012). Dados retirados do Censo

Agropecuário de 2006 reforçam iniciativas como essa do PAA ao mostrarem o quadro

da sucessão familiar no campo das mesorregiões onde se encontram localizados os dois

municípios pesquisados.

43

Tabela 8 - Caracterização da pecuária leiteira nas mesorregiões Zona da Mata mineira e Campo das

Vertentes

Mesorregião

Unidade Campo das

Vertentes

Zona da

Mata

Filhos que serão sucessores % 67,44 43,02

Filhos que serão sucessores conciliando a

atividade leiteira com outra

% 11,63 20,93

Filhos que deixarão o campo % 9,30 23,26

Filhos que venderão a propriedade % 11,63 12,79

Filhos que pretendem abandonar a atividade % 6,67 18,18

Área total média ha 73,38 52,67

Tanque individual % 36,00 19,0

Tanque coletivo % 2,00 18,00

Ordenhadeira mecânica % 27,0 14,0

Idade média Anos 52,98 53,37

Origem do próprio município % 75,56 82,83

Origem de outro município % 22,22 16,16

Origem de outro estado % 2,22 1,01

Filhos menores de 12 anos Und 0,24 0,47

Filhos maiores de 12 anos Und 1,22 0,52

Filhos menores de 12 anos trabalhando na

produção do leite

Und 0,89 0,72

Filhos maiores de 12 anos trabalhando na

produção do leite

Und 0,07 0,04

Filhas menores de 12 anos Und 0,24 0,47

Filhas maiores de 12 anos Und 1,22 0,52

Filhas menores de 12 anos trabalhando na

produção do leite

Und 0,89 0,72

Filhas maiores de 12 anos trabalhando na

produção do leite

Und 0,07 0,04

Residem no campo % 66,67 70,71

Residem na cidade % 33,33 29,29

Fazem controle de receitas e despesas da

produção

% 24,44 15,15

Participaram de treinamento % 37,78 27,27

Treinamento SEBRAE % 0,0 3,33

Treinamento EMATER % 17,65 6,67

Treinamento Sindicato Rural % 64,71 36,67

Utilizou crédito rural % 40,00 21,21

Consideram fácil o acesso à propriedade % 62,22 96,97

Recebem por qualidade % 44,44 24,24

Falta orientação técnica aos produtores % 28,89 49,49

Faltam empregados capacitados % 28,89 15,15

Faltam tanques para resfriamento % 20,00 18,18

Falta acesso a crédito % 13,33 14,14

Produção diária L 178,92 185,30

Pretendem melhorar a tecnologia % 84,44 53,54 Fonte: Diagnóstico da pecuária leiteira em Minas Gerais, 2006 (adaptado pelo autor).

44

Considerando apenas os dados relativos ao percentual de filhos que deverão se

tornar sucessores, percebe-se, em contrapartida, um grande percentual de propriedades

que estão em situação de incerteza quanto ao seu futuro, o que gera, no mínimo, uma

falta de planejamento para a manutenção da atividade leiteira e, mesmo, da propriedade

no futuro. De acordo com o diagnóstico da pecuária leiteira em Minas Gerais (2006), o

setor seria carente das seguintes políticas públicas:

Investimento na capacitação dos filhos do produtor, justificado pelo aumento na

idade média do produtor, indicando uma possível falta de sucessores.

Crédito rural com melhores taxas.

Incentivo à educação. Segundo o diagnóstico, existe relação positiva entre o

volume produzido, a escolaridade do produtor e a decisão por continuar na

atividade.

Investimentos para aumentar o número de vacas em lactação em relação ao total

de vacas.

Capacitação para que sejam realizados controles administrativos e

estabelecimento de metas para as propriedades.

Treinamentos para a produção de leite com qualidade.

Acompanhamento por parte da entidade promotora do treinamento com vistas a

verificar se os produtores estão utilizando os conhecimentos na propriedade.

Treinamento específico para ordenhador.

Maior uso da inseminação artificial, que pode aumentar a produtividade,

principalmente entre os produtores até 50 L/D.

Pagamento por qualidade.

Melhores condições de infraestrutura (estradas e energia).

Ainda de acordo com o diagnóstico, as ações deveriam ser voltadas em essencial

para os produtores até 50 litros/dia, que no período de 1995 a 2005 apresentavam

considerável redução no número de estabelecimentos. Já os produtores com produção

acima de 1.000 litros/dia aumentaram o número de estabelecimentos, o que aumentou a

produção no Estado. As regiões mineiras Campo das Vertentes e Zona da Mata foram as

que apresentaram maior redução na quantidade de leite produzido.

No sentido de minimizar tais fragilidades foi lançado, no final de 2005, o

Programa Estadual da Cadeia Produtiva do Leite, Minas Leite, voltado para a

45

capacitação dos produtores de leite no Estado, a fim de aumentar a qualidade de vida

dos produtores e a gestão dos estabelecimentos onde é exercida a pecuária familiar, com

produção de até 200 litros/dia. O programa, executado em parceria com a Empresa de

Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Emater, prefeituras, sindicatos

rurais, cooperativas e associações, atende aqueles produtores que se candidataram,

voluntariamente, para participarem do programa (EMATER, 2012).

Outro programa que estaria se destacando em Minas Gerais, o Sistema Mineiro

de Qualidade do Leite (SMQL) vem capacitando os produtores de leite, por meio da

contratação da empresa neozelandesa Quality Consultants of New Zealand (Qconz) em

parceria com a Emater local para adequar as fazendas às boas práticas de produção.

Números divulgados pela empresa contratada para realizar a capacitação, QConz

América Latina, apontam a redução significativa na contagem bacteriana total (CBT) e

na contagem de células somáticas (CCS) nos laticínios que aderiram ao programa,

segundo o Sindicato da Indústria de Laticínios do Estado de Minas Gerais (SILEMG,

2011). A melhoria na qualidade do leite seria o primeiro passo para que os produtores

possam pleitear o aumento no preço recebido pela venda do produto e gerar maior

estímulo para que eles continuem a produzir o leite.

Nos meses de fevereiro e abril de 2012, os dois municípios pesquisados

receberam o treinamento de boas práticas pela empresa QConz América Latina e

Emater local, tendo o autor desta dissertação acompanhado e participado de alguns

momentos dessa capacitação.

Em Coronel Xavier Chaves, o treinamento foi ministrado pelo diretor da

empresa, Bernard Woodcock, uma agrônoma e o técnico da Emater no município. Foi

realizado um encontro geral no primeiro dia, na sede da APLEI, com explicações

teóricas e duas visitas por dia, pelos associados, em propriedades diferentes, durante

seis dias, para demonstrar na prática os conteúdos discutidos no primeiro dia.

Em Silveirânia, o treinamento foi realizado por uma zootecnista, acompanhada

do técnico da Emater local. A maior parte dos treinamentos ocorre nos tanques

coletivos, em muitos casos utilizando como estratégia o horário de entrega do leite pelos

produtores. O treinamento foi, também, realizado em propriedades particulares, com a

participação dos produtores mais próximos. Cabe ressaltar que, de acordo com a IN 51,

46

um tanque coletivo deve atender os produtores num raio de 5 km, o que dificultaria o

agendamento individual em propriedades particulares.

Foto 10 - Capacitação dos produtores em Coronel Xavier Chaves – Emater e

SMQL.

Fonte: Pesquisa de campo – fevereiro de 2012.

Foto 11 - Capacitação dos produtores em Silveirânia – Emater e SMQL.

Fonte: Pesquisa de campo – abril de 2012.

2.1 A situação da eficiência produtiva nas unidades produtivas de leite pesquisadas

O tema da eficiência12

produtiva aponta para um enquadramento de práticas e

racionalidades voltadas para o mercado. Um dos parâmetros para se estabelecer a

eficiência produtiva na pecuária leiteira é o equilíbrio entre os custos e a receita. Na

análise do Diagnóstico da Pecuária Leiteira de Minas Gerais 2006, Gomes (2007)

12

Considerou-se no trabalho o termo eficiência como práticas que podem contribuir para o aumento da

produtividade e redução dos custos dos produtores. Assim, o aumento da renda auferida pelos produtores

poderia ser uma consequência da eficiência produtiva, mas não necessariamente seu objeto principal.

47

estimou o ponto de equilíbrio13

, de acordo com o qual os custos do produtor se

igualariam à receita:

Tabela 9 – Ponto de nivelamento para produção de leite em Minas Gerais

Faixa de produção (litros/dia) Ponto de equilíbrio (litros/dia)

Até 50 65

50 – 200 163

200 – 500 313

500 a 1000 550

Acima de 1000 1339 Fonte: GOMES, 2007.

De acordo com Gomes (2007), em Minas Gerais os produtores com produção na

faixa até 50 litros e de 50 a 200 litros diários operam com prejuízo, porque a receita

gerada não é suficiente para cobrir os custos no processo produtivo. Já os produtores

com produção acima de 200 litros diários conseguem obter retorno financeiro na

atividade. Essa situação de baixa eficiência produtiva que atinge os pequenos produtores

de leite ainda se agravou na década de 1990, pelo fato de o governo brasileiro ter

diminuído as subvenções diretas para a agricultura e, no que tange à pecuária leiteira

especificamente, a implementar diretrizes normativas visando à melhoria da qualidade

do leite. Tais direcionamentos da política agrícola levaram à saída do mercado por parte

daqueles produtores que não se profissionalizaram.

Procurou-se assim, neste estudo, identificar os fatores que influenciavam na

eficiência produtiva dos pecuaristas de leite de caráter familiar nos dois municípios

pesquisados, os quais apresentavam produtores com perfil tecnológico diferenciado.

Tomou-se como variáveis independentes do estudo, ou seja, as variáveis que podem ser

manipuladas para investigar a causa de determinado efeito, o acesso ao crédito, o nível

de tecnificação e o tamanho da propriedade. As variáveis foram analisadas com o intuito

de verificar sua influência para a eficiência dos produtores de leite. Para classificar os

produtores em eficientes ou ineficientes, utilizou-se a tabela ponto de equilíbrio

apresentada por Gomes (2007). Em Silveirânia, 69,2% dos produtores viviam

exclusivamente da pecuária leiteira e 23,1%, além da pecuária leiteira, eram

aposentados. Já em Coronel Xavier Chaves, 48,4% viviam exclusivamente da pecuária

leiteira e 25,8%, além da pecuária leiteira, eram aposentados. Assim, observa-se em

13

Ponto de equilíbrio é o ponto em que as receitas e despesas do produtor se igualam, considerando-se

entre as despesas a mão de obra do produtor.

48

Coronel Xavier Chaves uma tendência para atividades pluriativas pelos produtores de

leite. As Tabelas 11 e 12 apresentam os resultados do teste t para a idade nos dois

municípios pesquisados e as Tabelas 13 e 14, dos testes t para o tamanho da

propriedade.

49

Tabela 10 – Teste T de amostras independentes para a idade - Silveirânia

Teste de Levene

para igualdade de

variações

Teste t para igualdade de médias

F Sig. t df Sig. (2

extremidades)

Diferença

média

Erro-

padrão de

diferença

95% intervalo de

confiança da diferença

Inferior Superior

Idade

Variações iguais

assumidas 0,102 0,751 -0,595 50 0,555 -2,477 4,164 -10,841 5,887

Variações iguais não

assumidas

-0,544 9,090 0,599 -2,477 4,551 -12,756 7,801

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Tabela 11 - Teste T de amostras independentes para a idade – Coronel Xavier Chaves

Teste de Levene para

igualdade de

variações

Teste t para igualdade de médias

F Sig. t df Sig. (2

extremidades)

Diferença

média

Erro-padrão

de diferença

95% intervalo de

confiança da diferença

Inferior Superior

Idade

Variações iguais

assumidas 0,121 0,731 1,935 29 0,063 7,580 3,917 -,432 15,591

Variações iguais

não assumidas

1,911 26,246 0,067 7,580 3,966 -,570 15,729

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

50

Tabela 12 - Teste T de amostras independentes para tamanho da propriedade - Silveirânia

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Teste de Levene

para igualdade de

variações

Teste t para igualdade de médias

F Sig. t df Sig. (2

extremidades

)

Diferença

média

Erro-

padrão

diferença

95% intervalo de

confiança da

diferença

Inferior Superio

r

Área

Variações

iguais

assumidas

46,751 0,000 -3,424 50 0,001 -108,955 31,819 -172,864 -45,045

Variações

iguais não

assumidas

-1,470 7,049 0,185 -108,955 74,102 -283,931 66,022

51

Tabela 13 - Teste T de amostras independentes para tamanho da propriedade – Coronel Xavier Chaves

Teste de Levene

para igualdade de

variações

Teste t para igualdade de médias

F Sig. t df Sig. (2

extremidades

)

Diferença

média

Erro-

padrão de

diferença

95% intervalo de

confiança da

diferença

Inferior Superio

r

Área

Variações

iguais

assumidas

2,033 0,165 -1,278 29 0,211 -12,420 9,718 -32,296 7,455

Variações

iguais não

assumidas

-1,300 28,981 0,204 -12,420 9,551 -31,954 7,113

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

52

No próximo parágrafo são apresentadas as análises das Tabelas 11, 12, 13 e 14.

Para análise do teste t, deve-se analisar o primeiro sigma. Para um primeiro sigma >

0,05, analisa-se o segundo sigma, na primeira linha. Para um primeiro sigma < 0,05,

analisa-se o segundo sigma, na segunda linha. Para valores de sigma < 0,05, considera-

se que as médias analisadas são diferentes. Para analisar o teste do qui-quadrado, deve-

se analisar o valor de sigma encontrado no Chi-quadrado de Pearson. Para tabelas 2 x2,

analisa-se o valor de sigma encontrado na linha Correção de Continuidade, enquanto

para tabelas que possuam no máximo até 25% dos valores < 5 é analisado o sigma na

linha Fisher's Exact Test.

O teste t, usado para testar uma hipótese, apresentou como resultado sigma igual

a 0,555 em Silveirânia e 0,063 em Coronel Xavier Chaves, para a média das idades.

Nesse sentido, como o valor encontrado foi superior a 0,05, percebeu-se que a variável

idade era igual entre os produtores eficientes e ineficientes. Já a variável tamanho da

propriedade apresentou sigma igual a 0,185 em Silveirânia e 0,204 em Coronel Xavier

Chaves. Pode-se dizer assim que, para os agricultores familiares produtores de leite de

Silveirânia e Coronel Xavier Chaves, o tamanho da propriedade não influência na

eficiência do produtor, diferenciando-se da maior parte dos pequenos agricultores em

nível nacional, em que o tamanho da propriedade está diretamente relacionado com a

eficiência do estabelecimento, pois, geralmente, nesses estabelecimentos o gado é

criado solto, necessitando de maior espaço por parte do produtor. Cabe ressaltar que os

produtores de Coronel Xavier Chaves são mais tecnificados que os produtores de

Silveirânia, sendo uma das finalidades do uso da tecnologia gerar mais eficiência em

menor espaço para os produtores de leite. A seguir serão apresentadas as Tabelas 14, 15,

16 e 17, com o teste de qui-quadrado realizado nos dois municípios:

Tabela 14 – Teste qui-quadrado em Silveirânia - Tabela 2 x 2 - 1

Eficiência do produtor Total

Ineficiente Eficiente

Já utilizou financiamento? Não 16 2 18

Sim 28 6 34

Total 44 8 52

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

53

Tabela 15 – Teste qui-quadrado em Silveirânia - Tabela 2 x 2 - 2

Valor df Sig. assint. (2

lados)

Sig exata (2

lados)

Sig exata (1

lado)

Chi-quadrado de Pearson 0,386a 1 0,534

Correção de continuidadeb 0,047 1 0,828

Razão de probabilidade 0,404 1 0,525

Fisher's Exact Test

0,698 0,426

Associação Linear por Linear 0,379 1 0,538

N de casos válidos 52

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Tabela 16 – Teste qui-quadrado em Coronel Xavier Chaves – Tabela 2 x 2 - 1

Eficiência do produtor Total

Ineficiente Eficiente

Já utilizou financiamento? Não 7 5 12

Sim 7 12 19

Total 14 17 31

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Tabela 17 – Teste qui-quadrado em Coronel Xavier Chaves – Tabela 2 x 2 - 2

Valor df Sig. assint.

(2 lados)

Sig exata (2

lados)

Sig exata

(1 lado)

Chi-quadrado de Pearson 1,372a 1 0,242

Correção de continuidadeb 0,641 1 0,423

Razão de probabilidade 1,376 1 0,241

Fisher's Exact Test

0,288 0,212

Associação Linear por

Linear 1,327 1 0,249

N de casos válidos 31

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

No teste do qui-quadrado, para um valor de x2 alto, acima de 0,05, deve se

considerar que as varáveis não são dependentes. Nesse caso, como o valor encontrado

para alfa no teste do qui-quadro foi superior a 0,05 em todos os casos, parece lícito

54

supor que a eficiência do agricultor e o acesso ao crédito são variáveis independentes,

podendo indicar que apenas políticas públicas para acesso ao crédito não proporcionam

o desenvolvimento do setor e que o PRONAF, modalidade utilizada por 87% dos

produtores que declararam já terem realizado financiamento, pode ser uma política

pública equivocada por parte do governo. Entretanto, como parcela considerável dos

produtores foi classificada como ineficiente, 85% em Silveirânia e 45% em Coronel

Xavier Chaves, de acordo com as Tabelas 14 e 16, que evidenciam que outras ações,

além do acesso ao crédito, como participação em associações e cooperativas,

treinamento e uso de tecnologias adequadas, podem contribuir com os agricultores

produtores de leite.

Em Silveirânia, 65,4% dos entrevistados utilizavam ou já utilizaram algum

financiamento, sendo em sua totalidade o PRONAF. Já em Coronel Xavier Chaves,

61,3% dos entrevistados já utilizaram ou utilizavam algum financiamento, 38,7%

utilizaram o PRONAF e 22,6% usavam as linhas especiais para produtor rural. Nesse

sentido, não parece plausível considerar que o PRONAF beneficia apenas os produtores

mais capitalizados.

Para os produtores que já realizaram algum financiamento para investirem na

propriedade, em Silveirânia o motivo principal foi para investimentos em custeio

(aquisição de insumos, construção de um curral ou outras melhorias no

estabelecimento). Já em Coronel Xavier Chaves o principal motivo para a realização do

financiamento foi para investimento em equipamentos, corroborando, juntamente com o

fato de apenas 21,1% dos entrevistados em Silveirânia utilizarem a ordenhadeira

mecânica, diante de 90,3% em Coronel Xavier Chaves, município considerado mais

tecnificado que Silveirânia.

Os testes de hipóteses e qui-quadrado são importantes métodos para se avaliar o

resultado de políticas públicas. Portanto, ao avaliar a influência do crédito sobre a

eficiência dos produtores de leite associados em Silveirânia e Coronel Xavier Chaves,

observou-se que, em Silveirânia, a maior parte dos agricultores possuía baixa produção,

não conseguia cobrir os custos da atividade com a receita advinda da produção e não

conseguiria sobreviver exclusivamente com a produção do leite. Já em Coronel Xavier

Chaves observou-se volume maior de produção e mesmo entre os produtores que foram

classificados como ineficientes, os quais apresentaram boa produção e poderiam não

55

estar atingindo o ponto de nivelamento no momento devido ao fato de o rebanho não

estar no período de maior produtividade no ano, geralmente após a recria.

Deve-se ressaltar que os agricultores familiares não são especializados na

produção de um único produto e boa parte de sua produção é utilizada para consumo

próprio, algumas vezes, inclusive, com recursos que deveriam ser investidos na

propriedade. As alterações no ambiente institucional, como a IN 51, buscam melhorar a

qualidade do leite, através de normas sanitárias, como a exigência de resfriamento na

propriedade, mas ao mesmo tempo excluem os agricultores que não conseguem acesso

ao crédito para se adequarem à legislação ou o utilizam de forma incorreta. É essencial a

criação de políticas públicas direcionadas não somente ao acesso ao crédito, mas

também com o intuito de modernizar os métodos gerenciais e a tecnologia utilizada em

conformidade com a realidade desses agricultores, que por apresentarem certa

resistência à mudança e serem menos capitalizados podem não satisfazer os interesses

financeiros de empresas privadas.

56

CAPÍTULO III

O PROCESSO SUCESSÓRIO NAS UNIDADES PRODUTORAS DE LEITE DE

SILVEIRÂNIA E CORONEL XAVIER CHAVES

Após a apresentação, no capítulo anterior, das políticas públicas, programas e

projetos voltados para fortalecer a atividade leiteira entre os pequenos produtores,

busca-se, neste capítulo, analisar os fatores que estariam influenciando o processo

sucessório em unidades familiares de produção de leite nos municípios onde a pesquisa

foi realizada. Foram definidas duas situações: a) propriedades com sucessor já definido

e b) propriedades com forte possibilidade de que exista um sucessor, como mostrado na

Tabela 18.

Conforme salientado por Brumer (2007), a intenção de se tornar sucessor não é

garantia de que o filho assumirá a propriedade. Mas o que chama mesmo a atenção é o

baixo percentual daqueles produtores que afirmaram já ter um sucessor definido na

atividade leiteira em razão, talvez, do fato de a sucessão ser tratada como questão

melindrosa entre os produtores rurais. Quando se consideram aqueles que disseram que

não sabiam quem seria o sucessor, mas que a atividade terá um, mesmo que este ainda

não tenha sido definido, pouco mais da metade dos proprietários de Silveirânia

manifestou segurança quanto à perspectiva de continuidade da atividade leiteira no

futuro. Já em Coronel Xavier Chaves nem a metade dos produtores de leite se

manifestou dessa forma. Se comparados com os dados da Tabela 8 sobre a mesorregião

a que pertenciam, observa-se que Silveirânia está acima da média apresentada na Zona

da Mata sobre a expectativa de que haja pelo menos um sucessor na propriedade,

enquanto Coronel Xavier Chaves estava abaixo dos resultados apresentados para a

região Campo das Vertentes.

57

Tabela 18 - Percepção sobre a possibilidade de existir sucessor nas propriedades rurais de leite de

Silveirânia e Coronel Xavier Chaves

Variável Silveirânia

Coronel

Xavier Chaves

Freq. % Freq. %

Já foi definido 8 15,4 1 3,2

Não sabe quem ficará, mas um ficará 20 38,4 11 35,4

Não sabe se alguém ficará na propriedade 12 23,1 10 32,3

Ninguém demonstra interesse em ficar 6 11,5 2 6,5

A propriedade deverá ser vendida 3 5,8 1 3,2

Os filhos são muito jovens para fazer a escolha 3 5,8 6 19,4

52 100,00 31 100,0

0 Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Aprofundando mais a compreensão relativa à perspectiva de sucessão,

apresenta-se, a seguir, o cenário relativo aos proprietários entrevistados, por estrato de

produção média/diária de leite. Os dados das Tabelas 19 e 20 apontam para um cenário

futuro preocupante em Silveirânia. Segundo o estudo realizado por Gomes (2007) e

explicado no item 2.1, os produtores com produção diária inferior a 200 litros não

obteriam lucro com a atividade. A pesquisa realizada em Silveirânia mostrou que era

nesse estrato, justamente, que se concentravam o maior percentual de produtores que

afirmaram que provavelmente teriam um sucessor. Considerando esses parâmetros de

possibilidade de lucro estimado por Gomes (2007), a situação encontrada em Coronel

Xavier Chaves seria mais promissora, visto que as propriedades com possibilidade de

sucessor se encontravam em maior percentual, justamente, no estrato com produção

superior a 200 litros diários e estariam obtendo melhores retornos com a atividade, o

que pode estimular que os filhos almejem continuar na atividade futuramente.

Tabela 19 - Possibilidade de existir sucessor nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel

Xavier Chaves - Frequência

Estratos de produção (litros/dia)

Até 50 51 a 100 101 a 200 Acima de 200

Silveirânia

Já foi definido 1 4 2 1

Alguém ficará 6 4 8 2

7 8 10 3

Coronel

Xavier

Chaves

Já foi definido 0 0 0 1

Alguém ficará 0 2 3 6

0 2 3 7

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

58

Tabela 20 - Possibilidade de existir sucessor nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel

Xavier Chaves - Porcentagem

Estratos de produção (litros/dia)

Até 50 51 a 100 101 a 200 Acima de 200

Silveirânia

Já foi definido 1,92% 7,69% 3,85% 1,92%

Alguém ficará 11,54% 7,69% 15,38% 3,85%

13,46% 15,38% 19,23% 5,77%

Coronel

Xavier

Chaves

Já foi definido 0,0% 0,0% 0,0% 3,23%

Alguém ficará 0,0% 6,45% 9,68% 19,35%

0,0% 6,45% 9,68% 22,58%

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

3.1 Apresentação e análise dos dados para propriedades com sucessor já definido

Inicia-se, a partir de agora, a apresentação dos dados relativos aos produtores

rurais que apresentavam sucessor definido a partir da sua caracterização

socioeconômica, mostrando o seu perfil religioso, o seu estado civil e a sua renda.

Conforme os dados apresentados na Tabela 21, os produtores com sucessor

definido em Silveirânia possuíam as características típicas dos pequenos produtores:

utilização de mão de obra familiar, não realização de outras atividades, complementada,

basicamente, pela aposentadoria, recebida por 62,5% dos produtores entrevistados. As

famílias apresentavam, em média, quatro filhos. A renda mensal mais baixa entre as

famílias se aproximava de três salários mínimos. Considerando a produção para o

autoconsumo e os gastos, comumente inexistentes, com a moradia e água, pode-se

considerar que a renda permite a reprodução da família e a manutenção da unidade

produtiva. Em Coronel Xavier Chaves, o único produtor que já havia definido quem

seria o sucessor possuía nove filhos, renda complementada pela aposentadoria e

escolheu o filho do meio para ser o sucessor. O produtor possuía duas casas, uma na

cidade e outra no campo, onde realizava as atividades com a ajuda do filho que será seu

sucessor. Esse filho era casado e estava na idade entre 40 e 50 anos.

59

Tabela 21 - AED perfil – Sucessor definido nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel

Xavier Chaves

Variável Silveirânia

Coronel

Xavier

Chaves

Freq % Freq %

Religião Católica 8 100,0 1 100

Produtor rural 3 37,5 - -

Produtor rural e aposentado 5 62,5 1 100

Casado 6 75,0 1 100

Divorciado 2 25,0 - -

Renda familiar anual entre R$12.000,01 e

R$20.000,00 3 37,5 1 100

Renda familiar anual entre R$20.000,01 e

R$30.000,00 2 25,0 - -

Renda familiar anual acima de R$30.000,00 3 37,5 - -

Realiza as atividades sozinho 1 12,5 - -

Realiza as atividades com ajuda de familiares 6 75,0 1 100

Realiza as atividades com ajuda de empregados 1 12,5 - - Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

No Município de Coronel Xavier Chaves, nenhuma variável analisada

apresentou resultado significativo para os testes de regressão devido apenas ao fato de

uma propriedade possuir o sucessor definido. Em Silveirânia, de acordo com os

resultados da regressão, na Tabela 22 o fato de o produtor residir na cidade influencia

positiva e fortemente a definição do sucessor, ou seja, residir na sede do município não

se constituía em obstáculo para a continuação à frente da atividade leiteira; muito pelo

contrário, poderia ser, até, fator positivo. As variáveis tamanho da propriedade e renda

bruta também influenciam positivamente, mas de forma menos intensa, na definição do

sucessor. A análise de regressão apontou, portanto, para a influência do aumento da

área e, ou, da renda e, ou, da residência na sede do município em relação à possibilidade

de o sucessor ser definido. São consideradas significativas variáveis com sigma < 0,10.

Tabela 22 - Regressão sucessor definido nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier

Município Variável B Sigma

Silveirânia

Residência (cidade) 4,448 0,011

Área 0,064 0,093

Renda bruta da propriedade 0,01 0,049 Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

60

Reforçando os dados do parágrafo anterior, a Tabela 23 realça a forma como a

residência na cidade parece estar associada com a definição do sucessor entre os

pequenos produtores de leite de Silveirânia. Outro fator que parece poder influenciar

indiretamente na manutenção da propriedade e, consequentemente, na possibilidade de

ela ter um sucessor é a receita dos produtores. Em Silveirânia, a receita bruta média

ficou em torno de R$3.142,80. Se for considerado que os pequenos agricultores

produzem parte dos alimentos que consomem e utilizam os pastos para a alimentação do

gado, seria razoável deduzir que a manutenção da propriedade poderia ser viável e

racional, ainda que a renda do leite isoladamente não desse lucro. Em Coronel Xavier

Chaves, como relatado anteriormente, o produtor possuía duas casas. Assim, ele

concentrava os dias de semana no campo com o filho e os finais de semana na cidade

com a esposa. A renda de R$5.000,00 mensais era superior à dos produtores de

Silveirânia, mas vale lembrar que em Coronel Xavier Chaves os produtores eram mais

tecnificados, o que aumentava sua eficiência.

Tabela 23 - AED das variáveis com sig < 0,10 presentes na regressão – Sucessor definido nas

propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves

Município Variável Freq % Média Mediana Mín Máx

Silveirânia

Resid. (Cid.) 6 75,0

Resid. (Campo) 2 25,0

Área (hectares) 42,0 51,0 12 65

Renda B. (R$) 3142,8 2100,00 1600,0 6000,0

Coronel

Xavier

Chaves

Resid. (Campo

e cidade) 1

100,

0

Área (hectares) 1 23,0

Renda B. (R$) 5000,0 Na análise da variável área foi excluído um outlier e na da variável renda bruta, dois outliers.

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Ao analisar o nível tecnológico das propriedades que já possuem sucessor

definido, de acordo com a Tabela 24, em Silveirânia, notou-se que 87,5% dos

produtores utilizavam o sistema tradicional para manutenção da atividade e 75% a

ordenha manual, indo na contramão do que sugerem os especialistas para aumentar a

produtividade e lucratividade na pecuária leiteira. Contudo, se tal sistema ainda tem se

mostrado compatível com a manutenção da propriedade atualmente, no futuro a

61

continuidade na atividade poderá ser difícil, mesmo que a manutenção da propriedade

se mostre viável mediante o investimento em outra atividade, a exemplo do plantio de

eucalipto.

Foto 12 - Gado criado a pasto em Silveirânia, MG.

Fonte: Pesquisa de campo – março de 2012.

Já em Coronel Xavier Chaves a propriedade era provida de todos os recursos

tecnológicos que podem auxiliar no aumento da produtividade e redução do esforço

físico, o que, além de estimular os produtores continuarem na atividade, contribuiu para

que o leite seja produzido dentro das atuais normas sanitárias.

Tabela 24 - AED tecnologia sucessor definido nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel

Xavier Chaves

Variável Silveirânia

Coronel

Xavier

Chaves

Freq % Freq %

Utiliza máquina para redução do trabalho manual 2 25,0 - -

Ordenhadeira 1 12,5 - -

Ordenhadeira e trator 1 12,5 1 100,0

Sistema de criação semi-intensivo (pasto e ração) 7 87,5 1 100,0

Ordenha manual 6 75,0 - -

Realiza uma ordenha por dia 5 62,5 - -

Realiza duas ordenhas por dia 3 37,5 1 100

Sistema de reprodução com inseminação 4 50,0 1 100

Sistema de reprodução com monta natural 4 50,0 - -

Utiliza algum sistema integrado de produção 0 0,0 - - Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

62

A Tabela 25 apresenta a condição do produtor em relação à terra. Os dados nela

apresentados podem ajudar a compreender a condição de proprietário rural em uma

cidade pequena como Silveirânia, cuja distância entre campo e cidade é de

aproximadamente 18 km, considerando-se a comunidade mais longínqua. Essa distância

permite ao proprietário, residente no campo ou na cidade, o deslocamento diário, fato

que pode se configurar como favorável para a manutenção da propriedade e continuação

do processo sucessório, ainda que a atividade leiteira não se mostre viável em algum

momento, ou seja, a propriedade mostrar-se-ia maior que a atividade leiteira, ou esta

não seria um fim em si mesmo. Corrobora tal afirmação o fato de que as práticas de

manejo e cultivo utilizadas por grande parte dos proprietários eram tradicionais ou semi-

intensivas, não requerendo muitos investimentos e gastos, mas gerando alimentos para o

autoconsumo e para comercialização mais restrita.

Mesmo com o reduzido uso da tecnologia, os produtores de leite de Silveirânia

com sucessor já definido consideram o tamanho médio da propriedade (que ficava em

torno de 40 ha) adequado para as atividades desenvolvidas e as terras de boa qualidade -

62,5% desses produtores receberam pelo menos parte da terra sob a forma de herança. O

fato de esses produtores já terem passado por um processo de sucessão pode ser

favorável para que outro processo ocorra no estabelecimento. Em Coronel Xavier

Chaves, o produtor também considerava seus 23 ha adequados e que suas terras eram de

boa qualidade. Entretanto, nessa localidade o uso da tecnologia era superior em

comparação com Silveirânia.

63

Tabela 25 - AED estrutura fundiária sucessor definido nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e

Coronel Xavier Chaves

Variável Silveirânia

Coronel

Xavier

Chaves

Freq % Freq %

As terras são próprias 7 87,5 1 100

Produtores que receberam 100% da terra de

herança 2 25,0 - -

Produtores que receberam parte da terra de

herança e compraram outra parte 3 37,5 1 100,0

Não foi o único herdeiro 4 50,0 1 100

Foi o único herdeiro 1 12,5 - -

Os demais herdeiros não continuam na

propriedade 3 37,5 1 100

Consideram o tamanho da propriedade adequado 6 75,0 1 100

Consideram as terras de boa qualidade 7 87,5 1 100

Utilizam insumos para melhorar a qualidade do

solo 7 87,5 1 100

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Outra variável considerada na pesquisa como podendo intervir no processo

sucessório nas unidades produtivas de leite é o nível educacional e, ou, a capacitação

profissional. A Tabela 26 apresenta a percepção dos produtores acerca do nível

educacional que eles consideram necessário para que um indivíduo possa ser um

produtor rural. Nos dois municípios pesquisados, corroborando os estudos de Silvestro

et al. (2001) e Carneiro (1998), observou-se a associação entre os que decidiram ficar na

propriedade e o baixo nível educacional apresentado. Entretanto, cabe ressaltar que

esses produtores estão se capacitando por meio de cursos ofertados pela Emater e

utilizando os conhecimentos adquiridos na propriedade. Além disso, um dado que se

destacou foi a afirmação de que consultavam os filhos, futuros sucessores, em relação às

decisões tomadas no estabelecimento.

Os dados indicaram, também, que a relação dos produtores rurais com a

propriedade não era de utilização de procedimentos gerenciais. As atividades

desenvolvidas não eram encaradas como atividades regidas pela lógica do mercado,

mas, antes, faziam parte do modo de vida rural dentro do qual o produtor nasceu e tem

vivido. Nesse sentido, algumas ações, como a participação em associações para a

produção, a compra e a venda de insumos e produtos, podem constituir porta de entrada

para o desenvolvimento de uma racionalidade voltada para o mercado.

64

Tabela 26 - AED escolaridade e capacitação, sucessor definido, nas propriedades rurais de leite de

Silveirânia e Coronel Xavier Chaves

Variável Silveirânia

Coronel

Xavier

Chaves

Freq % Freq %

Sugere o ensino médio para se tornar produtor 5 62,5 1 100

Possui o ensino básico 6 75,0 1 100

Consideram importante o estudo 8 100,0 1 100

Já realizou algum curso de capacitação 7 87,5 1 100

Utilizou o conhecimento adquirido na

propriedade 6 75,0 1 100

Possui e sabe utilizar computador 3 37,5 - -

Realiza registros da produção 1 12,5 - -

Os filhos participam das decisões 7 87,5 1 100

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

A Tabela 27 apresenta a percepção do produtor acerca da sua participação na

associação, ou seja, o julgamento que faz em torno da influência dessa participação para

os seus custos de produção e para o enfrentamento das exigências legais e a forma como

percebe a qualidade do leite mediante práticas coletivas. Além disso, o quadro apresenta

o percentual de produtores que tiveram acesso às inovações tecnológicas e às práticas de

caráter coletivo.

Segundo Buainain (2007), é essencial o papel das associações para que os

agricultores familiares possam manter-se no mercado, o que também foi afirmado pelos

próprios produtores. Em Silveirânia, 100% dos pesquisados consideravam importante os

subsídios fornecidos pela associação para a execução da atividade, principalmente para

a redução dos custos e, mesmo, para a melhoria da relação entre esses, visto que 75%

achavam que a associação melhorou a relação entre os produtores e tornou mais fácil a

entrega do leite. Vale ressaltar que, mesmo com a melhoria da qualidade do leite

promovida pela utilização dos tanques coletivos em Silveirânia, o leite ali produzido

ainda não se encontrava dentro dos padrões de qualidade exigidos pela atual legislação

e, por isso, os produtores ainda não recebiam por qualidade. Em Coronel Xavier

Chaves, mesmo sem o conhecimento da Normativa 51, o produtor possuía um processo

produtivo que se encaixava na atual legislação. Assim, parece lícito supor que, além de

diminuir o custo e melhorar o preço recebido, as associações auxiliavam para que os

produtores cumprissem as legislações pertinentes ao setor, o que poderia aumentar a

65

possibilidade de que possíveis produtores não fossem excluídos do mercado por estarem

produzindo de maneira informal.

Tabela 27 - AED associação e IN 51 sucessor definido, nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e

Coronel Xavier Chaves

Variável Silveirânia

Coronel

Xavier

Chaves

Freq % Freq %

A associação contribui com a atividade leiteira 8 100,00 1 100

Contribui com redução de custos 5 62,5 - -

Contribui com redução de custos e ganho de escala 3 37,5 1 100

Utilizam tanques próprios 1 12,5 1 100

Utilizam tanques coletivos 7 87,5 - - O tanque coletivo melhorou a relação entre os

produtores 6 75,0 - -

O tanque coletivo melhorou a qualidade do leite 5 62,5 - -

Conhece e utiliza a IN 51 1 12,5 - -

Conhece e utiliza parcialmente a IN 51 5 62,5 - -

Não conhece a IN 51 2 25,0 1 100

Considera que ficou mais fácil a entrega do leite 8 100,0 1 100 Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Foto 13 - Momento de entrega do leite no tanque coletivo em Silveirânia.

Fonte: Pesquisa de campo – março de 2012.

A Tabela 28 apresenta os dados em relação à variável crédito, trazendo a

percepção dos produtores sobre os efeitos desse benefício para a realização de suas

atividades e para a aquisição de terras. Na análise da variável crédito, constatou-se que

62,5% dos produtores de Silveirânia utilizavam o Pronaf para investir na propriedade.

66

Contudo, percentual bem mais baixo fez uso do financiamento para a compra de

equipamentos e animais, o que reforça um tipo de racionalidade desassociada do

mercado. Dos produtores que realizaram empréstimo, apenas dois (40%) fizeram

financiamento para investir em equipamentos. Ainda assim, isso foi feito acompanhado

da modalidade custeio, diferentemente do produtor em Coronel Xavier, que se valeu do

financiamento de R$15.000,00 para investir em equipamentos, aumentando o nível

tecnológico do processo produtivo. Notou-se, assim, que em Silveirânia os recursos não

foram utilizados, em grande parte, para investimentos em tecnologia e, sim, para

manutenção da propriedade. O valor médio financiado foi de R$16.800,00, sendo o

tempo médio para pagamento de 11 anos.

Tabela 28 - AED crédito, sucessor definido, nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel

Xavier Chaves

Variável Silveirânia

Coronel

Xavier

Chaves

Freq % Freq % Já utilizaram financiamento para investir na

propriedade 5 62,5 1 100

Nunca utilizaram financiamento 3 37,5 - -

PRONAF 5 100,0 - -

Já utilizaram o Pronaf para aquisição de terras 1 20,0 - -

Já utilizaram o Pronaf custeio 1 20,0 - - Já utilizaram o Pronaf para compra de animais e

custeio 1 20,0 - -

Já utilizaram o Pronaf para compra de equipamentos - - 1 100 Já utilizaram o Pronaf para compra de equipamentos e

custeio 2 40,0 - -

Consideram que o financiamento gerou efeitos

positivos 4 80,0 1 100

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Continuando a descrição acerca dos padrões tradicionais presentes no modo de

vida dos produtores rurais, apresenta-se a Tabela 29, referente às características do

processo sucessório. Nota-se, nessa tabela, que em Silveirânia a sucessão foi definida

com base em critérios estabelecidos de acordo com as tradições, com a escolha sendo

feita apenas pelo pai em 62,5% dos casos. Apesar de apenas dois produtores terem

respondido que as mulheres não possuíam as mesmas chances de serem escolhidas

como sucessoras, em nenhum dos oito casos havia a presença feminina como sucessora.

67

Nota-se, também, que os atuais proprietários utilizavam a estratégia de atrasarem ao

máximo a transferência da administração da propriedade e não pretendiam indenizar os

filhos não sucessores. O fato de esperarem que o filho sucessor cuide deles durante a

velhice reforça ainda mais a estratégia de atrasar o momento da transferência. Apenas

um produtor, classificado entre os mais produtivos do município, desejava realizar a

transferência imediatamente. Esse resultado reforça as conclusões do estudo de

Silvestro et al. (2001), que afirmaram que os produtores rurais mais capitalizados não

enfrentavam problemas sucessórios em seus estabelecimentos. Em Coronel Xavier

Chaves, o pai não influenciou na decisão do filho, e a decisão foi tomada pela família. A

transferência, entretanto, também não ocorrerá enquanto o pai estiver em condições de

trabalhar.

Tabela 29 - AED sucessão, sucessor definido, nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel

Xavier Chaves

Variável Silveirânia

Coronel

Xavier

Chaves

Freq % Freq %

Estimula o filho a ser produtor de leite 7 87,5 - -

Não estimula o filho a ser produtor de leite 1 12,5 1 100

A decisão foi tomada apenas pelo pai 5 62,5 - -

A decisão foi tomada pela família 3 37,5 1 100

As mulheres possuem as mesmas chances14

3 37,5 - -

As mulheres não possuem as mesmas chances 2 25,0 - -

Não possui filhas 3 37,5 - -

A transferência será realizada quando o sucessor

estiver preparado 3 37,5 - -

Não será feita enquanto o proprietário tiver

condições de trabalhar 2 25,0 - -

Não definiram ainda 2 25,0 - -

O mais breve possível 1 12,5 - -

Os filhos não sucessores receberão algum bem

para compensação 2 25,0 - -

Os filhos não sucessores não receberão nenhum

bem para compensação 6 75,0 1 100

Espera que o sucessor assuma a responsabilidade

de cuidar do proprietário na velhice 6 75,0 1 100

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

14

Outros três produtores (37,5%) não possuíam filhas e não consideravam a possibilidade de uma mulher,

uma sobrinha ou irmã, por exemplo, assumir a propriedade; os dois produtores restantes (25%) achavam

que as mulheres não possuíam as mesmas chances que os homens.

68

A seguir, analisar-se-á o processo sucessório em unidades produtivas onde o

sucessor ainda não foi definido, claramente, mas nas quais existe a possibilidade de

ainda sê-lo.

3.2 Apresentação e análise dos dados para propriedades com possibilidade de

sucessor

Entre as variáveis que mostraram ter influência sobre o processo sucessório em

propriedades nas quais o sucessor ainda não havia sido definido, claramente, aparecem:

a renda bruta da propriedade, o valor do crédito, a residência na cidade, a idade do

produtor e a participação dos filhos na tomada de decisão. Considerando-se como

significantes as variáveis com sigma < 0,10, de acordo com os dados da análise de

regressão da Tabela 30, em Silveirânia, o fato de o produtor residir na cidade e contar

com o auxílio dos filhos na tomada de decisões sobre as atividades executadas no

estabelecimento influência significativa e positivamente para que o estabelecimento

venha a ter um sucessor no futuro. As variáveis valor financiado e renda bruta da

propriedade também foram consideradas significantes, porém com leve influência sobre

a decisão, o que indica que, apesar de serem significantes, o aumento no valor

financiado e a receita não aumentarão consideravelmente a possibilidade de sucessores.

Já em Coronel Xavier Chaves, a variável residir na cidade possuía significância

e influência negativa para que a propriedade viesse a ter um sucessor. Um aspecto que

poderia explicar tal influência negativa diz respeito ao fato de que os produtores que

residem no campo possuem infraestrutura semelhante aos que moram na cidade e de o

acesso à cidade de São João Del Rei ser rápido e fácil. O fato de os filhos participarem

das decisões também foi considerado significante e positivo para o processo sucessório,

bem como a idade do produtor, que foi significativa e levemente positiva, indicando

que, quanto maior a idade do produtor, maior a chance de ter um sucessor escolhido.

69

Tabela 30 - Regressão possibilidade de sucessor nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel

Xavier Chaves

Município Variável B Sigma

Silveirânia

Residência (cidade) 2,931 0,027

Valor financiado 0,000 0,074

Filhos que participam das decisões 3,507 0,007

Renda bruta da propriedade 0,000 0,085

Coronel

Xavier

Chaves

Residência (cidade) -2,292 0,032

Filhos que participam das decisões 3,392 0,016

Idade do produtor 0,172 0,025 Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

A Tabela 31 complementa as análises apresentadas anteriormente quanto aos

fatores que incidem sobre a possibilidade de ter sucessor. Em Silveirânia, a tomada de

empréstimo do Pronaf para investimento na propriedade indicou estar relacionada com

aquelas propriedades que apresentam a possibilidade de ter um sucessor no

estabelecimento. Portanto, a variável crédito se mostrou influente para o processo

sucessório. Tal como os estudos de Teixeira et al. (2012), nas propriedades pesquisadas

a participação dos filhos na administração da propriedade também mostrou influenciar

na decisão de eles permanecerem na atividade. Assim, nos dois municípios pesquisados,

em mais da metade dos casos com possibilidade de sucessão, os filhos já participavam

das decisões no estabelecimento. Outro dado importante, considerando-se que esse foi

fator positivo para a possibilidade de haver pelo menos um sucessor, é que, de acordo

com a Tabela 8, nas mesorregiões onde estão inseridos, cerca de 30% dos produtores

residiam na cidade, média próxima dos valores encontrados nos dois municípios

pesquisados.

Tabela 31 - AED das variáveis com sig < 0,10 presentes na regressão com possibilidade de sucessor nas

propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves

Município Variável Freq % Média Mediana Mín Máx

Silveirânia

Resid. (cidade) 9 32,1

Valor financiado 15988,0 14500,00 3800,00 60000,0

Filhos (decisão) 15 53,6

Chance mulher 18 64,3

Renda 2908,00 2050,00 380,00 14000,0

Coronel

Xavier

Chaves

Resid. (cidade) 3 25,0

Filhos (decisão) 7 58,3

Idade 55,0 54,0 38,0 73,0 Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

70

A seguir, aprofunda-se a caracterização socioeconômica dos produtores rurais

que apresentam a possibilidade de terem sucessor. A religião católica não foi fator

influente na decisão sobre quem seria o sucessor, entretanto foi predominante entre

todos os produtores que apresentaram ou não a possibilidade de sucessor. De todos os

entrevistados, 96,2% em Silveirânia e 93,5% em Coronel Xavier Chaves declararam-se

católicos. Assim, em uma propriedade foi construída um capela, e em outra foi colocada

uma imagem na entrada da residência. A foto 14 apresenta a capela construída na

propriedade, em Coronel Xavier Chaves.

Foto 14 - Capela construída na propriedade de produtor – Coronel Xavier Chaves.

Fonte: Pesquisa de campo – março de 2012.

Em termos econômicos, os dados da Tabela 32 apontam para um baixo

percentual de produtores com renda mensal inferior a dois salários mínimos e que os

produtores de Coronel Xavier Chaves apresentavam percentual de renda mais elevado

do que os de Silveirânia. Em Coronel Xavier Chaves, 50% das propriedades com

possibilidade de sucessor possuíam renda familiar anual superior a R$30.000,00,

enquanto em Silveirânia esse percentual foi de 21,4%, assim como apresentava também

superioridade em relação ao percentual de produtores rurais aposentados. Em

Silveirânia, observou-se maior participação dos familiares nas atividades desenvolvidas,

ou seja: 72% contra 41,7%, em Coronel Xavier Chaves.

71

Tabela 32 - AED perfil dos produtores com possibilidade de sucessor nas propriedades rurais de leite de

Silveirânia e Coronel Xavier Chaves

Variável Silveirânia

Coronel

Xavier

Chaves

Freq % Freq %

Religião católica 27 96,4 12 100,0

Produtor rural 16 57,1 6 50,0

Produtor rural e aposentado 10 35,7 5 41,7

Casado 23 82,1 12 100,0

Família ajuda integralmente na propriedade 2 7,1 2 16,7

Família ajuda parcialmente na propriedade 18 64,9 3 25,0

Renda familiar anual até R$12.000,00 7 25,0 0 0

Renda familiar anual entre R$12.000,01 e

R$20.000,00 8 28,6 5 41,7

Renda familiar anual entre R$20.000,01 e

R$30.000,00 7 25,0 1 8,33

Renda familiar anual acima de R$30.000,00 6 21,4 6 50,0 Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

A Tabela 33 passa a apresentar aspectos referentes ao perfil produtivo relativo à

atividade leiteira. É notório que os produtores de Coronel Xavier Chaves são mais

tecnificados que os de Silveirânia, o que se revela na produtividade dos agricultores,

que foi de 135 litros/dia em Silveirânia e 251 litros/dia em Coronel Xavier Chaves.

Entretanto, a análise de regressão não considerou o fator tecnologia como significante

para a possibilidade de existir pelo menos um sucessor na propriedade. Ou seja, o fato

de 83,3% dos produtores em Coronel Xavier Chaves utilizarem alguma máquina para

redução do trabalho manual e 32,1% em Silveirânia, bem como na realização de duas

ordenhas diárias por 83,3% dos produtores em Coronel Xavier Chaves, em

contrapartida a 60,7% em Silveirânia, indica uma forma mais desenvolvida de manejo

entre os produtores de Coronel Xavier Chaves, o que possibilitaria a eles aumentar a

produtividade, mas isso não influenciou na possibilidade de que exista pelo menos um

sucessor.

72

Tabela 33 - AED tecnologia, possibilidade de sucessor nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e

Coronel Xavier Chaves

Variável Silveirânia

Coronel

Xavier

Chaves

Freq % Freq %

Utiliza máquina para redução do trabalho manual 9 32,1 10 83,3

Sistema semi-intensivo de criação 23 82,1 10 83,3

Ordenha mecânica 9 32,1 10 83,3

Utiliza inseminação 19 67,9 8 66,7

Utiliza sistema integrado de produção 3 10,7 3 25,0 Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

A Tabela 34 complementa esse perfil produtivo dos pesquisados nos dois

municípios, ao explicitar a finalidade do uso do crédito por eles acionado. O Pronaf foi

a modalidade de crédito mais utilizada entre os produtores rurais pesquisados. Em

Silveirânia, a média tomada emprestada foi de R$16.000,00 e em Coronel Xavier

Chaves, R$21.800,00. Em Silveirânia, os produtores utilizavam o crédito, em média, há

oito anos e em Coronel Xavier Chaves, 10 anos. Ao comparar os dados com a

mesorregião a que pertenciam, observou-se, de acordo com a Tabela 8, que os

produtores nos municípios pesquisados tomavam mais empréstimos em relação à média

na mesorregião.

Na mesorregião Campo das Vertentes, 40,0% dos produtores utilizavam o

crédito para investirem na propriedade, contra 50,0% em Coronel Xavier Chaves. Já na

mesorregião da Zona da Mata mineira, o crédito foi utilizado por 21,21% dos

produtores, contra 64,3% em Silveirânia. Porém, verificou-se que esses produtores não

chegavam a investir nem 35% do recurso em tecnologia, o que poderia comprometer a

sua eficiência produtiva. Assim, de acordo com o teste do qui-quadrado realizado no

item 2.1, os dados em relação ao crédito apontaram que seu acesso, de forma isolada,

não favoreceria o desenvolvimento eficiente dos produtores de leite. Entretanto, mesmo

sendo utilizado de forma a não favorecer a eficiência produtiva dos produtores, o crédito

mostrou-se associado à possibilidade de manutenção das unidades produtivas, de acordo

com os dados da regressão na Tabela 30, o que poderia aumentar a possibilidade de que

houvesse pelo menos um sucessor na propriedade.

73

Tabela 34 - AED crédito, possibilidade de sucessor nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e

Coronel Xavier Chaves

Variável Silveirânia

Coronel

Xavier

Chaves

Freq % Freq %

Já utilizou algum tipo de financiamento 18 64,3 6 50,0

Modalidade Pronaf 18 100,00 5 83,3

Investiu em tecnologia 5 27,8 2 33,3

Considera o financiamento oneroso 3 16,7 2 33,3

Considera burocrático realizar um financiamento 10 55,5 11 91,6 Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

A Tabela 35 amplia o perfil dos produtores, apresentando a sua situação em

relação à terra. Seus dados evidenciam que o tamanho das terras era considerado

adequado por 75% dos produtores em Silveirânia e 66,7% em Coronel Xavier Chaves,

mesmo com alguns deles utilizando terras arrendadas. A qualidade das terras também

foi considerada boa por 82,1% dos produtores em Silveirânia e 58,3% em Coronel

Xavier Chaves. Em Silveirânia, os agricultores possuíam as terras nas condições

apresentadas na Tabela 35, em média há 20 anos e, em Coronel Xavier Chaves, 18 anos.

Considerando a média de idade apresentada pelos agricultores dos dois municípios,

atualmente entre 55 e 56 anos, verificou-se que esses produtores adquiriram suas terras

com idade próxima aos 36 anos.

Tabela 35 - AED estrutura fundiária, possibilidade de sucessor nas propriedades rurais de leite de

Silveirânia e Coronel Xavier Chaves

Variável Silveirânia

Coronel

Xavier

Chaves

Freq % Freq %

As terras são próprias 21 75,0 9 75,0

As terras são arrendadas 6 21,4 3 25,0

Pelo menos uma parte das terras foi adquirida por

herança 16 57,1 6 50,0

Irmãos herdeiros venderam sua parte 9 32,1 3 25,0

Considera o tamanho adequado 21 75 8 66,7

Considera as terras de boa qualidade 23 82,1 7 58,3 Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

74

A Tabela 36 detalha a situação em relação à área total e à área utilizada pela

pecuária, relacionando-as com o percentual de possíveis sucessores. Nos municípios

pesquisados, entre as propriedades com possibilidade de sucessor, para determinar a

média do tamanho das propriedades, apenas uma possuía tamanho superior a 100 ha e

foi excluída da análise por ser classificada como um outlier (valor discrepante da média,

que pode influenciar no resultado). O tamanho reduzido das propriedades, com especial

atenção para Coronel Xavier Chaves, que possuía média inferior à de Silveirânia em

todas as classificações apresentadas, corrobora a necessidade do uso da tecnologia para

manter um processo produtivo eficiente e que uma propriedade com tamanho reduzido

poderia não ser sustentável economicamente se dividida entre todos os herdeiros.

Diferentemente do quesito crédito, as médias apresentadas nos municípios pesquisados

foram inferiores às das mesorregiões a que pertenciam, onde, de acordo com a Tabela 8,

a média geral do tamanho da propriedade foi de 52,67 ha na Zona da Mata mineira e

73,38 ha na mesorregião Campo das Vertentes.

Tabela 36 - AED área média nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves

Área total média (ha) Área média utilizada pela pecuária (ha)

Sucessor

definido

Possível

Sucessor

Geral Sucessor

definido

Possível

Sucessor

Geral

Silveirânia 39,86 56,00 46,81 38,29 31,64 28,66

Coronel

Xavier

Chaves

23,0 34,17 37,10 16,0 23,00 23,48

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

A escolaridade foi uma das variáveis, citadas na literatura, como intervenientes

no processo sucessório. A Tabela 37 apresenta os dados relativos ao nível de ensino dos

proprietários rurais pesquisados, bem como a qualificação para a atividade leiteira

através de cursos e a percepção dos produtores acerca da utilidade dos conhecimentos

adquiridos através dos eventos voltados para a qualificação na atividade leiteira para sua

prática cotidiana.

Em ambos os municípios pesquisados, apesar de a maioria dos produtores que

contavam com a possibilidade de sucessor ter apenas o ensino básico, eles acreditavam

que o estudo até o ensino médio, no mínimo, era importante para o jovem do meio rural.

75

Avaliaram como sendo úteis, ainda, os cursos técnicos e superiores voltados para a área.

Os cursos de capacitação dirigidos para as atividades agropecuárias foram também

considerados como importantes pelos produtores rurais. Contudo, a parte de formação

gerencial pareceu bastante deficitária entre os eles, em razão da baixa porcentagem de

produtores que faziam os registros relativos às atividades produtivas desenvolvidas nas

propriedades: 10,7% em Silveirânia e 33,3% em Coronel Xavier Chaves.

Tabela 37 - AED escolaridade e capacitação, possibilidade de sucessor nas propriedades rurais de leite de

Silveirânia e Coronel Xavier Chaves

Variável Silveirânia

Coronel

Xavier

Chaves

Freq % Freq %

Estudou até o ensino básico 22 78,6 7 58,3

Já participou de algum curso de capacitação 22 78,6 10 83,3

Utilizou os conhecimentos adquiridos na

propriedade 20 90,9 8 66,7

Realiza algum registro 3 10,7 4 33,3 Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Outro aspecto, de certo forma relacionado às práticas de gerenciamento da

propriedade, que diz respeito à participação do produtor em Associação de Produtores,

em que se ressaltam os aspectos julgados por eles como tendo tido repercussão para a

sua prática a partir da participação na associação, será apresentado na Tabela 38.

Os produtores que possuíam a possibilidade de ter um sucessor em seu

estabelecimento consideravam que a participação na associação repercutia na sua

atividade produtiva. Isso se dava sob dois aspectos: seja facilitando-lhes a armazenagem

do leite, especialmente entre os produtores de Silveirânia, pelo fato de, na condição de

associados, poderem utilizar o tanque coletivo, seja por favorecer-lhes a redução dos

custos na compra de insumos, seja pela venda em maior escala, o que lhes poderia

favorecer na negociação do preço pago pelo litro do leite. Tendo em vista que

aproximadamente ¼ dos produtores desconhecia a IN 51 e que 67,9% em Silveirânia e

58,3% em Coronel Xavier Chaves utilizavam parcialmente as normas da IN 51, as

associações mostraram-se importantes também para o auxílio na produção dentro das

76

atuais normas da legislação, para que os produtores pudessem, inclusive, pleitear o

aumento no preço recebido pelo leite ali produzido.

Tabela 38 - AED participação em associações e IN 51, possibilidade de sucessor nas propriedades rurais

de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves

Município Variável Freq %

Silveirânia

A associação contribui para a atividade leiteira 24 85,7

Utiliza tanque COLETIVO 26 92,8

Conhece e utiliza parcialmente a IN 51 19 67,9

Não conhece a IN 51 8 28,6

Coronel

Xavier

Chaves

A associação contribui para a atividade leiteira 11 91,7

Utiliza tanque PRÓPRIO 10 83,3

Conhece e utiliza parcialmente a IN 51 7 58,3

Não conhece a IN 51 3 25,0 Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Por fim, a Tabela 39, última apresentada neste item, traz os dados relativos às

respostas dos produtores rurais em relação ao definidor do sucessor, ao seu perfil etário,

ao momento que se dariam a sucessão e a forma de herança para os filhos que não se

tornarão sucessores. No que diz respeito à questão relativa ao definidor do sucessor, os

dados colhidos em ambos os municípios poderiam ser interpretados como tendo

apresentado suposta divergência entre si, visto que em Silveirânia o poder do pai na

definição do sucessor foi assumido mais abertamente, em 42,9% dos casos. Já em

Coronel Xavier Chaves, onde ele ficou subsumido dentro da família, apenas uma

família (8,3%) assumiu que a escolha seria realizada apenas pelo pai. Contudo, a ordem

que impera dentro da família segue o respeito aos desígnios paternos.

Assim, ter-se-ia mais uma confluência do que uma divergência em termos dos

parâmetros sucessórios, a qual se mostrou ancorada nos costumes familiares mais que

nas leis, sustentando a escolha relativa “ao filho homem mais velho”, em 39,3% das

propriedades com possibilidade de sucessor em Silveirânia e 33,3% em Coronel Xavier

Chaves, para dar continuidade à missão de manter o patrimônio da família. Quanto aos

que não forem se tornar sucessores, os dados apontaram que receberiam “indenizações

reparatórias” em 42,86% dos casos em Silveirânia e 33,3% em Coronel Xavier Chaves,

enquanto ao sucessor caberia a responsabilidade de cuidar dos pais.

77

Tabela 39 - AED sucessão, possibilidade de sucessor nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e

Coronel Xavier Chaves

Variável Silveirânia

Coronel

Xavier

Chaves

Freq % Freq %

A escolha do sucessor será feita apenas pelo pai 12 42,9 1 8,3

A escolha do sucessor será feita pelos pais 5 17,9 3 25,0

A escolha do sucessor será feita por todos os

membros da família 10 35,7 5 41,7

Sucessor será o filho mais velho 11 39,3 4 33,3

Sucessor será o filho mais novo 4 14,3 1 8,3

Sucessor será o(a) filho(a) que mais gostar da

propriedade 6 21,4 3 25,0

Outros (genro, sobrinhos e não definiram ainda) 7 25,0 4 33,3

A transferência ocorrerá quando os pais tiverem

renda garantida 3 10,7 1 8,3

A transferência ocorrerá quando o sucessor estiver

preparado 8 28,6 1 8,3

A transferência não será realizada enquanto o

proprietário estiver em condições de trabalhar 11 39,3 8 66,7

Não definiram ainda 6 21,4 2 16,7

Existem terras para todos os sucessores e, ou,

herdeiros 11 39,3 4 33,3

Existem terras apenas para o sucessor 15 53,6 8 66,7

Os filhos não sucessores receberão alguma

compensação 12 42,86 4 50,0

Espera que os filhos assumam o compromisso de

cuidar dos pais durante a velhice 17 60,7 6 50,0

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

As fotos que se seguem mostram os pais com os seus possíveis sucessores.

Foto 15 - Pesquisador e família de produtores em Silveirânia.

Fonte: Pesquisa de campo – março de 2012.

78

Foto 16 - Pesquisador, pai e filho produtores de leite em Coronel Xavier Chaves.

Fonte: Pesquisa de campo – março de 2012.

3.3 Apresentação e análise dos dados sobre a percepção dos filhos dos produtores

sobre a sucessão

O reduzido número de filhos que residiam com os produtores, aliado ao fato de

que 5,8% dos entrevistados em Silveirânia e 19,8% em Coronel Xavier Chaves

consideravam que os filhos eram jovens demais para possuírem opinião formada sobre

o tema da sucessão, resultou na realização de apenas 21 entrevistas com filhos de

produtores: 7 em Silveirânia e 14 em Coronel Xavier Chaves. Cabe ressaltar também

que, durante a pesquisa, muitos filhos encontravam-se ausentes, por estarem na escola

ou pelo fato de não residirem na propriedade, onde foi realizada a entrevista. Para

análise sobre a percepção dos filhos sobre a sucessão, foi utilizada a Análise

Exploratória de Dados (AED) com as opiniões separadas por município e a aplicação do

teste do qui-quadrado, considerando-se os dados dos dois municípios juntos.

Ao analisar os dados da Tabela 40, as maiores idades de filhos que moravam com

os pais e, ainda, não assumiram a propriedade, encontraram-se filhos com 42 e 47 anos

vivendo com os pais, indicando que se trata de um processo sucessório, marcado pela

gradual transferência de responsabilidades do patriarca ao filho sucessor, que

geralmente vai assumir a propriedade entre os 50 e 60 anos.

79

Tabela 40 - AED idade dos filhos dos produtores entrevistados nas propriedades rurais de leite de

Silveirânia e Coronel Xavier Chaves

Município Variável Média Mediana Mín Máx

Silveirânia Idade 25 22 14 42

Coronel

Xavier Chaves Idade 19 15 10 47

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Conforme demonstrado no Gráfico 1, os dados revelaram forte viés masculino

em relação aos filhos que ainda permaneciam no campo: 75% das mulheres

responderam que não gostariam de assumir a propriedade dos pais; ao passo que 88,2%

dos homens responderam que gostariam de assumir a propriedade. No entanto, ao

analisar a percepção dos filhos em relação a quem será o sucessor, percebeu-se quanto

este não é um tema que revela que a definição seja efetivada de forma clara, reforçando

o peso sutil da “gradualidade” na definição do sucessor.

Gráfico 1 - Sexo dos filhos presentes nas propriedades rurais de

leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves.

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Ao analisar o Gráfico 2 sobre a percepção dos filhos de quem irá assumir a

propriedade, assim como encontrado na análise dos gestores, a preferência sobre os

filhos recai sobre os mais velhos, 29% em Silveirânia e 14% em Coronel Xavier

Chaves. Em ambos os municípios, 29% dos filhos consideraram que irá ficar o filho(a)

que mais gostar da propriedade. Em Coronel Xavier Chaves, 50% dos filhos

entrevistados acreditavam que o sucessor ainda não teria sido definido.

80

Gráfico 2 - Percepção do(s) filho(s) sobre quem irá assumir a propriedade nos municípios pesquisados.

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Um dos aspectos da gradualidade presentes no processo sucessório se estabelece

em termos do envolvimento dos filhos na tomada de decisão, como pode ser observado

no Gráfico 3. A participação pode ser tomada como uma forma de socialização em

relação às questões cotidianas da propriedade. Ao longo dos anos e das décadas, o filho

sucessor que permanecerá na propriedade passará gradualmente a assumir maiores

responsabilidades até que estas se tornem plenas. Geralmente, o filho sucessor ao

assumir a propriedade já estará casado e com filhos adolescentes. Observou-se que nos

dois municípios pesquisados as decisões tomadas no estabelecimento envolviam toda a

família que residia no estabelecimento, com 57% em Silveirânia e 36% em Coronel

Xavier Chaves.

Gráfico 3 - Percepção dos filhos sobre como as decisões são tomadas no estabelecimento

nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves.

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

81

Já no que diz respeito à forma como os filhos que afirmaram que gostariam de

assumir a propriedade responderam que pretendiam se preparar para assumir a

propriedade as respostas divergiram nos dois municípios, conforme demonstrado no

Gráfico 4. Entre os filhos dos produtores de Silveirânia, menos tecnificados e

capitalizados, a percepção para 67% era de que os conhecimentos adquiridos com os

pais e, ou, a prática da atividade seria suficiente para que eles pudessem assumir a

propriedade. Já em Coronel Xavier Chaves os filhos pretendiam capacitar-se: 40% em

cursos superiores e 20% em cursos técnicos.

Gráfico 4 - Pretensão de capacitação pelos filhos dos produtores nas

propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves.

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Essa intenção referente à forma como os filhos manifestaram que pretendiam se

preparar para assumir a propriedade pode ser complementada pelos dados relativos aos

filhos que trabalhavam na propriedade, os quais estão expressos no Gráfico 5.

Observa-se que o percentual de filhos que trabalhavam no campo é maior em

Silveirânia, com 86%, contra 50% em Coronel Xavier Chaves, onde as propriedades

apresentavam nível inferior de tecnologia e capitalização. Daí, poder-se-ia considerar a

hipótese de que a sucessão, em unidades produtivas de municípios que apresentavam

características socioeconômicas semelhantes, não estaria relacionada à viabilidade

econômica de uma atividade em específico, mas antes sustentada em um modo de vida

rural, que se sustentaria através dos baixos gastos de investimento na propriedade.

82

Gráfico 5 - Local de residência e trabalho dos filhos dos produtores nas

propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves.

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

O Gráfico 6 apresenta a perspectiva dos jovens em relação ao trabalho e moradia

no campo. Em Silveirânia, constatou-se que a grande maioria dos jovens (71%)

considerou o campo como bom local para residir e trabalhar futuramente; ao contrário

de Coronel Xavier Chaves, onde a pretensão de morar no campo não chegou a 30%, e a

de nele trabalhar foi de 42%. Isso reforçou os dados que apontaram para o fato de que o

maior nível tecnológico da propriedade não constitui fator decisivo para a efetivação do

processo sucessório entre os produtores pesquisados.

Gráfico 6 - Local onde pretendem residir e trabalhar os filhos dos produtores

nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves.

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

83

O Gráfico 7 reforça ainda mais a constatação apresentada no parágrafo anterior.

Apenas 43% dos filhos de produtores de Silveirânia e 36% dos de Coronel Xavier

Chaves afirmaram que continuariam trabalhando com a pecuária de leiteira de forma

exclusiva. Chama atenção ainda o fato de que as propriedade de Coronel Xavier Chaves

são mais tecnificadas que as de Silveirânia, o que reforça a constatação de que a

tecnologia não seria fator determinante para a sucessão.

Gráfico 7 - Pretensão profissional dos filhos dos agricultores nas propriedades

rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves.

P.L. - Pecuária leiteira.

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

3.3.1 Fatores causais sobre o processo sucessório

Os dados a seguir apresentarão os resultados do teste do qui-quadrado que

procurou analisar as variáveis que teriam influência sobre o processo sucessório na

percepção dos filhos. Um dos princípios para que seja realizado o teste do qui-quadrado

é que no máximo 25% das respostas possuam valor < 5. Assim, apenas em duas

situações foi possível realizar o teste, sempre considerando os dados dos filhos

pesquisados, dos dois municípios em conjunto.

Nas tabelas 41 e 42 foi analisa a relação entre a opção do filho em tornar-se

sucessor e se o mesmo estudava a época da pesquisa. Analisando a tabela 41, observou-

se que 56,25% dos filhos que pretendiam assumir o lugar dos pais na propriedade não

estudavam e que 76,19% dos filhos entrevistados, gostariam de assumir a propriedade,

84

caso pudessem escolher, reforçando assim os estudos de Stropasolas (2010) e Silvestro

et al (2001), os quais indicam existir uma demanda de politicas públicas voltadas para a

capacitação dos jovens no campo.

Tabela 41 - Teste qui-quadrado ser sucessor e estudar 1 para os filhos dos produtores rurais nos

Municípios de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves

Estuda? Total

Não Sim

Caso pudesse escolher, gostaria de

assumir a propriedade de seu pai?

Não 0 5 5

Sim 9 7 16

Total 9 12 21

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Na tabela 42, o teste do qui-quadrado, com sigma igual a 0,045, indicou haver

associação entre o filho não estudar e almejar ser o sucessor na propriedade. Assim, de

acordo com a tabela 41, 100,0% dos filhos que não estudavam, gostariam de ser o

sucessor na propriedade, caso pudessem escolher, frente a 58,33% dos filhos que

estudavam a época da pesquisa.

Tabela 42 - Teste qui-quadrado ser sucessor e estudar 2 para os filhos dos produtores rurais nos

Municípios de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves

Valor df Sig. Assint. (2

lados)

Sig exata

(2 lados)

Sig exata

(1 lado)

Chi-quadrado de Pearson 4,922a 1 0,027

Correção de continuidadeb 2,893 1 0,089

Razão de probabilidade 6,752 1 0,009

Fisher's Exact Test

0,045 0,039

Associação Linear por

Linear 4,687 1 0,030

N de Casos Válidos 21

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Nas tabelas 43 e 44 foi analisada a relação entre a opção do filho em tornar-se

sucessor e se o mesmo realizava algum investimento na propriedade a época da

pesquisa. Analisando a tabela 43, observou-se que 68,75% dos filhos que pretendiam

85

assumir o lugar dos pais na propriedade já realizavam algum investimento na

propriedade e que 100,0% dos filhos entrevistados, que não realizavam nenhum

investimento na propriedade, não gostariam de assumir a propriedade, caso pudessem

escolher.

Tabela 43 - Teste qui-quadrado realizar investimento e ser sucessor 1 para os filhos dos produtores rurais

nos Municípios de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves

Investimento Total

Investe na

propriedade

Não investe na

propriedade

Caso pudesse escolher,

gostaria de assumir a

propriedade de seu pai?

Não 0 5 5

Sim 11 5 16

Total 11 10 21

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Na tabela 44, o teste do qui-quadrado, com sigma igual a 0,012, indicou haver

associação entre o filho realizar algum investimento na propriedade e almejar ser o

sucessor, ressaltando a importância do contado do jovem com a atividade para que o

mesmo tenha a atividade leiteira como perspectiva futura.

Tabela 44 - Teste qui-quadrado realizar investimento e ser sucessor 2 para os filhos dos produtores rurais

nos Municípios de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves

Valor df Sig. Assint. (2

lados)

Sig exata

(2 lados)

Sig exata

(1 lado)

Chi-quadrado de Pearson 7,219a 1 0,007

Correção de continuidadeb 4,726 1 0,030

Razão de probabilidade 9,190 1 0,002

Fisher's Exact Test

0,012 0,012

Associação Linear por

Linear 6,875 1 0,009

N de Casos Válidos 21

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

86

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo geral deste estudo foi compreender quais os fatores que

influenciavam o processo sucessório em unidades familiares de produção de leite,

contrapondo fatores relacionados à modernidade com fatores relacionados à tradição

nos Municípios de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves. A pesquisa foi realizada

procurando analisar a veracidade de cinco hipóteses: 1ª) o nível tecnológico presente em

uma unidade produtiva constitui fator interveniente na presença de sucessor nas

unidades produtivas de leite; 2ª) o tamanho da propriedade constitui fator interveniente

na presença de sucessor nas unidades familiares de produção de leite; 3ª) o acesso ao

crédito interfere no processo sucessório dos produtores de leite; 4ª) a proximidade com

a cidade interfere na presença de sucessor nas unidades familiares de produção de leite;

e 5ª) a escolaridade do produtor interfere no processo sucessório.

Tratando-se do processo sucessório, foi constatada nos dois municípios a

tendência de a sucessão ocorrer após os cinquenta anos de idade do sucessor, com os

pais transmitindo ao filho cinquentão a administração da propriedade, apenas quando

julgavam não ter mais condição de trabalhar. Quanto à primeira hipótese de que o nível

tecnológico presente em uma unidade produtiva se constituiria em um fator

interveniente na presença de sucessor nas unidades produtivas de leite, ela foi negada. O

nível de tecnificação não se mostrou como fator preponderante para que existisse a

possibilidade de um sucessor nas unidades produtivas.

Ao analisar o nível tecnológico das propriedades que já possuíam sucessor

definido em Silveirânia, notou-se que os produtores utilizavam o sistema tradicional

para a manutenção da atividade, indo na contramão do que sugerem os especialistas

para aumentar a produtividade e a lucratividade na pecuária leiteira. Tal fato demonstra

que a manutenção da propriedade não está associada a uma função produtiva e lucrativa

para este tipo de produtor. Nesse sentido, é importante agregar a esse dado referente à

tecnologia, o dado referente à receita bruta média das propriedades com sucessor

definido em Silveirânia, que ficou em torno de R$3.142,80. Se se considerar que os

pequenos agricultores produzem parte dos alimentos que consomem e utilizam os pastos

87

para a alimentação do gado, seria razoável deduzir que a manutenção da propriedade

poderia ser viável e racional, ainda que a renda do leite isoladamente não desse lucro.

No tocante à segunda hipótese, referente ao fato de o tamanho da propriedade

se constituir em um fator interveniente na presença de sucessor nas unidades familiares

de produção de leite, a influência foi confirmada. O teste de regressão para as

propriedades com sucessor definido em Silveirânia considerou a variável área como

significativa, indicando que o aumento da área aumentaria a possibilidade de existir

pelo menos um sucessor na propriedade. Mesmo com tamanho médio inferior as

mesorregiões a que pertencem os produtores, nos dois municípios pesquisados,

consideraram suas terras de boa qualidade e o tamanho adequado. Assim, a quantidade

de terras se mostrou um fator favorável à existência de sucessor, mas não se converteu

em um fator de aumento da produtividade.

Quanto à terceira hipótese, referente ao crédito interferir no processo

sucessório, constatou-se que este era utilizado, em sua maioria, para o custeio das

atividades (compra de insumos), indicando que os produtores não estavam conseguindo

manter as suas atividades apenas com a receita gerada pela produção, sendo, inclusive,

considerável a participação da aposentadoria para a manutenção da propriedade. O

acesso ao crédito isolado mostrou não gerar eficiência na atividade produtiva, tendo as

associações maior influência nesse quesito.

Quanto à quarta hipótese esta foi confirmada. De acordo com a análise de

regressão, o fato de o produtor residir na cidade influencia fortemente na definição do

sucessor, tanto positivamente, como ficou mostrado em relação à Silveirânia, quanto

negativamente, como em relação a Coronel Xavier Chaves, o que mostra que essa

variável não pode ser interpretada de forma descontextualizada. Em Silveirânia, a

proximidade entre a “rua” e a “roça” era considerada pequena. Já em Coronel Xavier

Chaves a mesma situação se dava. Contudo, a proximidade com uma cidade de porte

médio, como São João Del Rei, que possui uma Universidade Federal, comércio e

indústria desenvolvidos, constituía-se em um chamariz para os possíveis sucessores.

Assim, em ambos os casos ficou evidente que a distância da cidade se constituía, sim,

em fator interveniente na presença de sucessor. Contudo, a distância poderia influenciar

positiva ou negativamente, dependendo da localização do município em questão face a

outros. Quando a unidade produtiva está circunscrita no âmbito do contexto de uma

88

cidade rural, cuja base da economia é agrícola e as formas de sociabilidade são

perpassadas por uma cultura “ruralizada”, a distância não constitui fator negativo. Já no

caso da unidade produtiva, ela está circunscrita ao âmbito de influência de um centro

urbano, com opções de estudo e de trabalho, a distância entre a unidade produtiva e o

centro urbano constitui fator de influência negativo para a presença de sucessor, em

razão da força do mercado de trabalho e das possibilidades de estudo e lazer existentes

no centro urbano.

Por fim, no que se refere à quinta hipótese, a escolaridade mostrou-se como

fator interveniente no processo sucessório, constatando-se que a baixa escolaridade

favorecia que os pequenos agricultores continuassem no campo. Entretanto, o maior

nível de escolaridade mostrou-se diretamente associado com o nível de produtividade de

leite dos produtores. Nos dois municípios pesquisados, apesar de os gestores

entrevistados terem indicado pelo menos o ensino médio como o mínimo necessário

para que os futuros sucessores exercessem a atividade leiteira, os atuais gestores

apresentaram como média de escolaridade o ensino básico e, apesar de realizarem

cursos de capacitação, observou-se existir uma carência de procedimentos gerenciais

nas propriedades pesquisadas. O teste do qui-quadrado realizado com a opinião dos

filhos dos produtores, confirmou haver associação entre os filhos que não estudavam e

que gostariam de assumir o lugar dos pais na propriedade.

Confirmam-se, assim, nesta pesquisa, as hipóteses de que o tamanho da

propriedade, o acesso ao crédito, a proximidade do estabelecimento com o centro

urbano e o nível de escolarização se constituíam em fatores intervenientes no processo

sucessório nas unidades produtoras de leite. A idade do produtor e a participação dos

filhos na tomada de decisão também se constituíram em variáveis intervenientes no

processo sucessório. Entretanto, negou-se a hipótese de que o nível tecnológico presente

em uma unidade produtiva constituiria fator interveniente na presença de sucessor nas

unidades produtivas de leite. No entanto, tal fato aponta para a perda do potencial

produtivo da propriedade, a qual permaneceria tendo função patrimonial e de economia

de autossustentação, não desenvolvendo o seu potencial tecnológico voltado para a

economia de mercado.

Voltando ao objetivo geral desta pesquisa, poder-se-ia, então, concluir que a

influência dos valores relativos à tradição e à modernidade sobre a conduta e as práticas

89

dos produtores rurais são muito influenciados pelo tipo de cidade onde a unidade

produtiva está inserida. Em Silveirânia, percebeu-se mais a força dos valores e práticas

tradicionais sobre o processo sucessório, onde a sucessão não estaria relacionada

exclusivamente à viabilidade econômica de uma atividade em específico, mas, também,

sustentada em um modo de vida rural, que se sustentaria através dos baixos gastos de

investimento na propriedade, enquanto em Coronel Xavier Chaves a influência dos

valores e práticas advindos da modernidade se mostrou também presente. Por traz dessa

constatação, pode-se destacar a influência de uma cidade rural e de um centro urbano.

Em termos de políticas públicas voltadas para as unidades produtivas de leite,

poder-se-ia, então, recomendar políticas que permitissem aos pequenos produtores de

leite modernizarem o seu processo produtivo, visando ao aumento da eficiência, à

redução do esforço físico e à adequação às normas sanitárias exigidas para a produção

do leite, o que poderia ser realizado com a utilização de tecnologia, mas, também, com

práticas de manejo e gestão dos estabelecimentos mais eficientes, assim como através

de políticas de incentivo a programas de pagamento por qualidade, educação e

capacitação para os produtores rurais, visando adequar a administração da propriedade

às exigências do mercado. As propriedades que mostraram maior percentual de

sucessores foram aquelas com maior nível de produtividade. Assim, embora as

propriedades pouco produtivas continuem tendo sucessores, estes se apresentam em

porcentagem inferior.

Em termos de práticas extensionistas, acredita-se ser importante perceber a

influência do tipo de cidades de uma determinada região sobre o processo sucessório.

Morar na cidade e conduzir a propriedade não foi um fator que tivesse se mostrado

inviável entre os produtores de leite de um pequeno município sem a influência de um

centro urbano maior por perto. Nestes tipos de municípios, que se constituem a grande

maioria dos encontrados em Minas Gerais e no Brasil, a pluriatividade se mostra

compatível com a atividade leiteira. Contudo, a baixa produtividade da atividade precisa

ser um fator observado como podendo incidir sobre a redução do percentual de

produtores nos estratos menos produtivos. Portanto, suprir as carências dos produtores

de leite, com a introdução de práticas de melhor manejo do rebanho e potencializadoras

dos recursos obtidos através de créditos financeiros, em especial o PRONAF, poderiam

aumentar a renda na propriedade e estimular que os produtores de leite continuem na

atividade.

90

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96

APÊNDICE

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA RURAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EXTENSÃO RURAL

PROJETO: TRADIÇÃO E MODERNIDADE NO PROCESSO SUCESSÓRIO ENTRE

PRODUTORES DE LEITE EM DOIS MUNICÍPIOS RURAIS DE MINAS GERAIS

PERFIL DO PRODUTOR

1 – Dados do proprietário:

Nome:______________________________________________________________________________

Idade:__________ Sexo: ( )M ( )F Religião:___________________________________

Profissão:_________________________ Estado Civil:______________________________

Renda mensal da propriedade:____________ Renda oriunda da atividade leiteira:____________

2) Procedência: ( ) natural do município ( ) de outro município ( ) de outro estado ( ) de outro país

3) Caso não seja natural do município, há quanto tempo reside no município? ________

4) Quantos filhos tem: _______5) Quantos estão residindo na propriedade?__________

6) Composição da familiar

Parentesco Idade Escolaridade Ocupação Renda

07) Os componentes informados vivem: ( ) Na cidade ( ) No estabelecimento agropecuário

NÍVEL TECNOLÓGICO

01 - Possui energia elétrica no estabelecimento? ( ) Sim ( ) Não

02 - Utiliza alguma máquina para redução do trabalho manual?

( ) Sim ( ) Não (Pular para número 05) Se sim,

qual(s)?____________________________________

03 - Essa máquina foi adquirida com: ( ) Recurso próprio ( ) Financiamento

97

04 - Por que utiliza? ( ) Redução de custos ( ) Falta de mão de obra ( ) Outros ___________

05 - Qual o sistema utilizado para a criação do gado?

( ) Sistema intensivo ( ) Sistema semi-intensivo ( ) Pasto

06 - Como é realizada a ordenha?

( ) Mecânica com balde ao pé ( ) Mecânica canalizada ( ) Manual

07 - Quantas vezes por dia?

( ) Uma ( ) Duas ( ) Duas a maior parte do ano e três esporadicamente

08 - Local da ordenha:

( ) Curral ( ) Estábulo, sem piso de concreto ( ) Com piso de concreto ( ) Sala de ordenha

09 - Como é realizada a reprodução dos animais? ( ) Monta natural ( ) Inseminação ( ) Ambos

10 - Mantem as vacinas dos animais em dia?

( ) Sim ( ) Não Se não, por quê?___________________________________________

11 - Utiliza algum sistema integrado de produção?

( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(s)?_________________________________________

12 - Qual a quantidade de vacas (em lactação) possui? _________

13 - Qual a produção média diária? _______ litros

14 - Na sua opinião, qual o principal problema enfrentado na produção de leite?

( ) Mão de obra ( ) Acesso a inovação ( ) Acesso ao crédito

( ) Tamanho da propriedade ( ) Qualidade do solo ( ) Qualidade dos animais

15 - A associação contribui na atividade leiteira? ( ) Sim ( ) Não

16 - Se sim, como?

( ) Redução de custos de insumos ( ) Ganho de escala e facilidade para venda

( ) Ambos

17 - Utiliza o tanque para resfriamento do leite?

( ) Próprio ( ) Coletivo(Associação) ( ) Coletivo (produtores) ( ) Não utiliza

18 - Caso utilize, qual a capacidade do tanque? _______ litros

29 - No caso de utilizar o tanque coletivo:

O tanque coletivo melhorou a relação entre os produtores? ( ) Sim ( ) Não

Reduziu o custo no processo produtivo? ( ) Sim ( ) Não

Melhorou a qualidade do leite produzido? ( ) Sim ( ) Não

Fortaleceu o preço de venda com ganhos em escala ? ( ) Sim ( ) Não

20 - O Sr. conhece e utiliza as orientações da I.N 51 para a produção do leite?

( ) Conheço e utilizo ( ) Conheço e não utilizo

( ) Conheço e utilizo parcialmente ( ) Não conheço

21 - Durante este tempo que o(a) senhor(a) produz leite as exigências para entrega:

( ) Permaneceram as mesmas ( ) Se alteraram

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22 - Caso as exigências para a produção do leite tenham se alterado, elas trouxeram algum impacto para

os produtores?

( ) Sim ( ) Não Se sim, quais?_________________________________________

ESTRUTURA FUNDIÁRIA

01 - Qual a área total da propriedade? _______ hectares

02 - Qual a área aproximada utilizada para a produção de leite? ________ hectares

03 - Produz outros itens no estabelecimento?

( ) Sim ( ) Não Se sim, qual a área utilizada para os outros itens? _____ há

04 - O leite é o principal produto do estabelecimento?

( ) Sim ( ) Não Se não, qual o principal produto? ___________________

05 - Possui criação de gado para corte? ( ) Sim ( ) Não

06 - Qual a condição das terras?

( ) Própria ( ) Arrendamento ( ) Própria e Arrendada ( ) Não legalizada

07 - Há quanto tempo possui as terras nessa condição? ______

08 - Como obteve as terras - área própria?

( ) Através de herança ( ) Compra de parentes ( ) Compra de terceiros

( ) Por atribuição (colonização, etc.) ( ) Doação ( ) Outra

09 - Caso tenha obtido as terras através de herança:

Foi o único herdeiro? ( ) Sim ( ) Não

Os demais herdeiros continuam na propriedade? ( ) Sim ( ) Não

Caso não continuem, o que fizeram com as terras que herdaram? ___________________________

10 - As terras são utilizadas como forma principal:

( ) Para o consumo próprio ( ) Produção para revenda ( ) Outra

11 - Considera adequado o tamanho da propriedade? ( ) Sim ( ) Não

12 - Considera as terras utilizadas de boa qualidade? ( ) Sim ( ) Não

13 - Utiliza algum insumo para melhorar a qualidade do solo?

( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(s)?___________________________________________

14 - Considera fácil o acesso a produtos e serviços na cidade? ( ) Sim ( ) Não

15 – Atualmente o Sr.: ( ) Reside no estabelecimento agropecuário ( ) Reside na cidade ( ) Outro

16 - Como é a rotinha de trabalho na atividade leiteira?

( ) Trabalho pesado e sem folga ( ) Trabalho fácil e que não demanda muito tempo de dedicação

( ) Trabalho prazeroso

17 - Quem realiza estas atividades?

( ) O proprietário ( ) Proprietário e seus familiares ( ) Empregado(s)

Quantos?_________

99

CRÉDITO

01 - Já utilizou algum tipo de financiamento para investimentos na propriedade?

( ) Sim ( ) Não ( ) Não, mas pretendo utilizar.

02 - Ainda utiliza? ( ) Sim ( ) Não 03 – Há quanto tempo?________ anos

04 - Qual o valor financiado? R$___________________

05 - Qual a modalidade de financiamento?

( ) PRONAF ( ) Linha especial para produtor rural ( ) Outro modelo

06 - Qual a finalidade do financiamento?

( ) Compra de equipamentos ( ) Aquisição de terras ( ) Compra de animais ( ) Outros

07 - Considera que o financiamento gerou efeitos positivos? ( ) Sim ( ) Não

08 - Considera burocrático e oneroso realizar um financiamento?

( ) Burocrático ( ) Oneroso ( ) Burocrático e oneroso ( ) Nenhum

09 - Acha necessário novas linhas de crédito para o produtor rural? ( ) Sim ( ) Não

CAPACITAÇÃO

01 - Considera importante a educação para a produção de leite? ( ) Sim ( ) Não

02 – Já participou de algum curso para capacitação?

( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(s)?___________________________________________

03 - Utilizou os conhecimentos adquiridos na propriedade? ( ) Sim ( ) Não

04 - O(s) filho(s) participam das decisões sobre a administração do estabelecimento?

( ) Sim ( ) Não

05 - Utiliza os conhecimentos herdados de seu pai/mãe na atividade leiteira? ( ) Sim ( ) Não

06 - Se sim, considera que os conhecimentos herdados de seu pai/ mãe se modificaram?

( ) Sim ( ) Não Se sim, por quê?___________________________________________

07 - Possui computador? ( ) Sim ( ) Não 08 – Sabe utilizá-lo? ( ) Sim ( ) Não

09 - Realiza registros referentes a:

( ) Custos ( ) Produção ( ) Lucro ( ) Dívidas ( ) Outros _____________

( ) Não realiza registros

10 - Como realiza os registros: ( ) Manual ( ) Planilhas eletrônicas ( ) Mentalmente

11 - Considera a receita obtida com a produção de leite suficiente para cobrir os custos?

( ) Sim ( ) Não ( ) Iguala os custos

12 - Qual a escolaridade ideal para se tornar um produtor de leite?

( ) Ensino básico ( ) Ensino médio ( ) Ensino técnico ( ) Superior

( ) Nenhuma

13 - Qual a escolaridade do senhor:

( ) Ensino básico ( ) Ensino médio ( ) Ensino técnico ( ) Superior

( ) Nenhuma ( ) Outra _________________

100

SUCESSÃO

01 - Considerando sua experiência na pecuária leiteria o Sr.:

( ) Estimula todos os filhos a serem produtores de leite ( ) Estimula um só filho a ser produtor

( ) Não influência na decisão dos filhos ( ) Estimula os filhos a deixarem o campo

( ) Estimula todos os filhos a trabalharem na propriedade, mesmo que não seja na pecuária leiteira

( ) Outro

02 - Quem o Sr. acredita que ficará na propriedade?

( ) Já foi definido ( ) Não sabe quem ficará, mas um ficará

( ) Não sabe se alguém ficará na propriedade ( ) Ninguém demonstra interesse em ficar

( ) A propriedade deverá ser vendida ( ) Os filhos são muito jovens para fazer a escolha

( )Outra____________________________________

03 - Como será feita a escolha do sucessor?

( ) Apenas pelo pai ( ) Pelos pais ( ) Apenas pelos homens

( ) Todos os membros da família participarão ( ) Não definiu ainda

( ) Outra ___________________________

04 - Quem o Sr. acredita ser o(a) sucessor(a)?

( ) O filho(a) mais velho ( ) O filho(a) mais novo

( ) O filho(a) mais estudado ( ) O filho(a) menos estudado

( ) O filho(a) que mais gostar da propriedade ( ) O filho(a) que tem mais afinidade com o pai

( ) Não possui critério definido ( ) Outra _________________________________

05 - As mulheres possuem as mesmas chances que os homens de serem escolhidas como sucessoras?

( ) Sim ( ) Não ( ) Não se aplica

06 - Em qual momento acontecerá a transferência do controle da propriedade?

( ) Quando os pais tiverem uma renda garantida (aposentadoria, aluguel, etc...)

( ) Quando o sucessor estiver preparado

( ) Não será feita enquanto o pai estiver em condições de dirigir a propriedade

( ) Não pensaram ainda ( ) Outra _________________________

07 - O Sr. considera existir terras produtivas para todos os sucessores?

( ) Sim ( ) Não, apenas para um sucessor ( ) Não existe para nenhum sucessor

( ) Existe terra produtiva para o sucessor e não produtivas para os demais filhos

08 - Os filhos não sucessores receberão algum bem como compensação?

( ) Sim, dinheiro para estudos ( ) Sim, terras não produtivas ( ) Não decidiu ainda

( ) Sim, enxoval para as mulheres ( ) Não receberão nada ( ) Outra opção

09 - Espera que o sucessor assuma a responsabilidade de cuidar do Sr?

( ) Sim ( ) Não

101

ESPECTATIVAS DOS FILHOS

01 - Dados do filho(a)

Nome:______________________________________________________________________________

Idade:__________ Sexo: ( )M ( )F Religião:___________________________________

Estado Civil:______________________________

02 - Sua posição na família: ( ) Mais novo ( ) Mais velho ( ) Do meio ( ) Único filho (a)

03 - Estuda? ( ) Sim ( ) Não Que ano esta cursando ou parou?____________________

04 - Como considera a atividade leiteira atualmente?

( ) Ótima ( ) Boa ( ) Regular ( ) Ruim

05 - Pretende trabalhar na pecuária leiteira no futuro?

( ) Sim, exclusivamente na pecuária leiteira

( ) Sim, mas a pecuária leiteira não será a atividade principal

( ) Não pretende trabalhar na pecuária leiteira

06 - Gosta de morar no campo? ( ) Sim ( ) Não

07 - Onde pretende morar e trabalhar no futuro?

( ) Morar e trabalhar no campo ( ) Morar no campo e trabalhar na cidade

( ) Trabalhar no campo e morar na cidade ( ) Ainda não decidiu

08 - Atualmente você:

( ) Trabalha e mora no campo ( ) Trabalha no campo e mora na cidade

( ) Trabalha na cidade e mora no campo ( ) Não trabalha

09 - No caso de trabalhar, como utiliza a renda?

( ) Investe na propriedade para aumentar a produção ( ) Ajuda com as despesas da casa

( ) Investe em bens pessoais e guarda o restante ( ) Investe somente em bens pessoais

( ) Outro _______________________________

10 - Seus pais conversam com você sobre o futuro do estabelecimento? ( ) Sim ( ) Não

11 - Se sim, seus pais:

( ) Estimula todos os filhos a serem produtores de leite ( ) Estimula um só filho a ser produtor

( ) Não influência na decisão dos filhos ( ) Estimula os filhos a deixarem o campo

( ) Estimula todos os filhos a trabalharem na propriedade, mesmo que não seja na pecuária leiteira

( ) Outro

12 - No estabelecimento agropecuário, como as decisões são tomadas?

( ) Somente o pai ( ) O casal ( ) Toda a família que reside na propriedade

( ) Toda a família, inclusive quem não reside na propriedade

13 - Caso pudesse escolher, gostaria de se assumir a propriedade de seu pai? ( ) Sim ( ) Não

14 - Se sim, como pretende se preparar para assumir a propriedade?

( ) Com conhecimentos adquiridos com o pai ( ) Curso técnico ligado ao meio rural

( ) Curso superior na área de ciências agrárias ( ) Curso superior em outra área

( ) Outro

15 - Quem você considera que será escolhido para ser o sucessor?

( ) O filho mais velho ( ) O filho mais novo

( ) O filho mais estudado ( ) O filho menos estudado

( ) O filho que mais gostar da propriedade ( ) O filho que tem mais afinidade com o pai

( ) Ainda não foi definido ( ) Outro _________________________________