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JÚLIO CÉSAR MENDES DE SOUZA
TRADIÇÃO E MODERNIDADE NO PROCESSO SUCESSÓRIO ENTRE
PRODUTORES DE LEITE EM DOIS MUNICÍPIOS RURAIS DE MINAS
GERAIS
Dissertação apresentada à
Universidade Federal de Viçosa,
como parte das exigências do
Programa de Pós-Graduação em
Extensão Rural, para obtenção do
título de Magister Scientiae.
VIÇOSA
MINAS GERAIS - BRASIL
2013
Ficha catalográfica preparada pela Seção Catalogação e Classificação da
Biblioteca Central da UFV
Souza, Júlio César Mendes, 1980
Tradição e modernidade no processo sucessório entre
produtores de leite em dois municípios rurais de Minas Gerais / Júlio
César Mendes de Souza. – Viçosa, MG, 2013.
JÚLIO CÉSAR MENDES DE SOUZA
TRADIÇÃO E MODERNIDADE NO PROCESSO SUCESSÓRIO ENTRE
PRODUTORES DE LEITE EM DOIS MUNICÍPIOS RURAIS DE MINAS
GERAIS
Dissertação apresentada à
Universidade Federal de Viçosa,
como parte das exigências do
Programa de Pós-Graduação em
Extensão Rural, para obtenção do
título de Magister Scientiae.
APROVADA:
________________________________ ______________________________
Cláudia Maria Miranda Araújo Pereira Neide Maria de Almeida Pinto
________________________________________________
Ana Louise de Carvalho Fiúza
(Orientadora)
ii
Aos meus pais Maria Laura Mendes de Souza e José Mrad de Souza, que estiveram
presentes em todos os momentos de minha vida e me ensinaram a viver com dignidade.
iii
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela vida, saúde, família e pelos amigos.
A Danielle, pelo amor, companheirismo e paciência.
À minha orientadora Professora Ana Louise de Carvalho Fiúza, pela dedicação,
paciência, pelos incentivos e conhecimentos compartilhados, que proporcionaram meu
crescimento pessoal e profissional.
À CAPES e ao IF Sudeste-MG, pelo projeto MINTER em parceria com o
Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural da Universidade Federal de Viçosa e
corpo de docentes, em especial aos Professores Nora Beatriz Presno Amodeo, France
Maria Gontijo e Marco Aurelio Ferreira (Departamento de Administração).
Ao senhor Paulo Pio e aos técnicos da EMATER Leonardo Henrique F.
Calsavara (Coronel Xavier Chaves) e Eurides José Cominetti (Silveirânia), pela
disponibilidade e ajuda com a logística das entrevistas.
Ao meu grande amigo Antônio Cleber, pela hospedagem e apresentação aos
produtores de leite de Coronel Xavier Chaves.
Aos ex-presidentes da APLEI Antônio Nunes da Silva e José Antônio Resende
e ao presidente da APRUS José Silvério do Nascimento Líbero, pela autorização e pelo
apoio para a realização desta pesquisa.
À secretária da APRUS Jussandra, pela disponibilidade e cordialidade.
A todos os produtores que participaram deste trabalho, sem os quais não teria
sido possível a concretização deste trabalho.
A Patrícia Nascimento e Érika Amorin, por estarem sempre dispostas a ajudar.
Ao Cuco, amigo e o mais “figura” de todos - apesar do ronco, sem ele o quarto
não seria o mesmo.
A todos os funcionários do Hotel CEE, pela cordialidade.
À Valéria, amiga e companheira de viagem, pela amizade.
Ao Gustavo, pela valorosa ajuda com o SPSS.
Ao GERAR (Grupo de Estudos Rurais, Agriculturas e Ruralidades), pelas
contribuições desde o projeto até a conclusão da dissertação.
À minha coorientadora Professora Nora Presno Amodeo, pelos preciosos
auxílios.
iv
À minha também coorientadora Cláudia Maria Miranda, pelas contribuições
desde o início da escolha do tema para o projeto até a sua conclusão.
Aos meus colegas do Minter, do Mestrado em Extensão Rural e da disciplina
ADM663, pelo companheirismo.
A Anízia, Carminha e Romildo, pela cordialidade e disponibilidade de sempre.
v
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS .................................................................................. vi
LISTA DE ILUSTRAÇÕES ........................................................................ ix
LISTA DE QUADRO ................................................................................. xi
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................. xii
RESUMO ...................................................................................................... xiii
ABSTRACT .................................................................................................. xv
INTRODUÇÃO ............................................................................................ 01
1.1 Características dos municípios pesquisados ........................................ 04
1.2 Procedimentos metodológicos ............................................................... 10
1.2.1 Hipóteses ............................................................................................... 11
1.2.2 Amostragem ......................................................................................... 12
1.2.3 As entrevistas ....................................................................................... 13
1.2.4 Regressão .............................................................................................. 14
1.2.5 Análise exploratória dos dados, qui-quadrado e teste t ................... 16
CAPÍTULO I ................................................................................................ 18
FATORES INTERVENIENTES NA SUCESSÃO NAS UNDIDADES
PRODUTIVAS DE LEITE ..........................................................................
18
1.1 A influência dos costumes e tradições sobre o processo sucessório.... 19
1.1.1 O Minorato e a morgadia ................................................................... 20
1.1.2 Gênero e casamento ............................................................................. 23
1.2 A influência dos fatores ligados à modernidade sobre o processo
sucessório .......................................................................................................
25
1.2.1 A influência da tecnologia e do associativismo na produção
leiteira ............................................................................................................
28
1.2.2 Crédito .................................................................................................. 31
1.2.3 A relativização do tamanho da propriedade para a sucessão e a
influência da proximidade dos centros urbanos e do acesso à
escolaridade ...................................................................................................
32
CAPÍTULO II ............................................................................................... 36
A INFLUÊNCIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E DAS PRÁTICAS
DE CAPACITAÇÃO PARA A SUCESSÃO NA PECUÁRIA
LEITEIRA ....................................................................................................
36
2.1 A situação da eficiência produtiva nas unidades produtivas de leite
pesquisadas ....................................................................................................
46
CAPÍTULO III ............................................................................................. 56
O PROCESSO SUCESSÓRIO NAS UNDIADES PRODUTORAS DE
LEITE DE SILVEIRÂNIA E CORONEL XAVIER CHAVES ..............
56
3.1 Apresentação e análise dos dados para propriedades com sucessor
definido ..........................................................................................................
58
3.2 Apresentação e análise dos dados para propriedades com
possibilidade de sucessor ..............................................................................
68
3.3 Apresentação e análise dos dados sobre a percepção dos filhos dos
produtores .....................................................................................................
78
3.3.1 Fatores causais sobre o processo sucessório ...................................... 83
CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 86
REFERÊNCIAS ........................................................................................... 90
APÊNDICE ................................................................................................... 96
vi
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - População no município de Coronel Xavier Chaves – MG .... 05
Tabela 2 - População no município de Silveirânia – MG ........................ 08
Tabela 3 - Distribuição dos tanques coletivos .......................................... 09
Tabela 4 - Valores críticos associados ao grau de confiança na amostra.. 13
Tabela 5 - Participação na produção animal ............................................ 28
Tabela 6 - Uso de tecnologia entre os agricultores familiares no Brasil... 30
Tabela 7 - Participação dos estabelecimentos familiares brasileiros ....... 32
Tabela 8 - Caracterização da pecuária leiteira nas mesorregiões Zona da
Mata e Campo das Vertentes .....................................................
43
Tabela 9 - Ponto de nivelamento para produção de leite em Minas
Gerais ........................................................................................
47
Tabela 10 - Teste T de amostras independentes para idade – Silveirânia .. 49
Tabela 11 - Teste T de amostras independentes para idade – Coronel
Xavier Chaves ...........................................................................
49
Tabela 12 - Teste T de amostras independentes para tamanho da
propriedade – Silveirânia ..........................................................
50
Tabela 13 - Teste T de amostras independentes para tamanho da
propriedade – Coronel Xavier Chaves ......................................
51
Tabela 14 - Teste Qui Quadrado – Silveirânia – Tabela 2 x 2 – 1 ............. 52
Tabela 15 - Teste Qui Quadrado – Silveirânia – Tabela 2 x 2 – 2 ............. 53
Tabela 16 - Teste Qui Quadrado – Coronel Xavier Xaves – Tabela 2 x 2
– 1 ..............................................................................................
53
Tabela 17 - Teste Qui Quadrado – Coronel Xavier Chaves – Tabela 2 x 2
– 2 ..............................................................................................
53
Tabela 18 - Percepção sobre a possibilidade de existir sucessor nas
propriedades nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e
Coronel Xavier Chaves .............................................................
57
Tabela 19 - Possibilidade de existir sucessor nas propriedades rurais de
leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves – frequência .......
57
Tabela 20 - Possibilidade de existir sucessor nas propriedades rurais de
leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves – porcentagem ...
58
vii
Tabela 21 - AED perfil – sucessor definido nas propriedades rurais de
leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves ............................
59
Tabela 22 - Regressão sucessor definido nas propriedades rurais de leite
de Silveirânia e Coronel Xavier ................................................
59
Tabela 23 - AED das variáveis com sig < 0,10 presentes na regressão –
sucessor definido nas propriedades rurais de leite de
Silveirânia e Coronel Xavier Chaves ........................................
60
Tabela 24 - AED tecnologia – sucessor definido nas propriedades rurais
de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves .......................
61
Tabela 25 - AED estrutura fundiária sucessor definido nas propriedades
rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves .............
63
Tabela 26 - AED escolaridade e capacitação, sucessor definido nas
propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier
Chaves .......................................................................................
64
Tabela 27 - AED associação e IN 51, sucessor definido, nas
propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier
Chaves .......................................................................................
65
Tabela 28 - AED crédito, sucessor definido, nas propriedades rurais de
leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves ............................
66
Tabela 29 - AED sucessão, sucessor definido, nas propriedades rurais de
leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves ............................
67
Tabela 30 - Regressão possibilidade de sucessor nas propriedades rurais
de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves .......................
69
Tabela 31 - AED das variáveis com sig < 0,10 presentes na regressão
com possibilidade de sucessor nas propriedades rurais de leite
de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves ..................................
69
Tabela 32 - AED perfil dos produtores com possibilidade de sucessor
nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel
Xavier Chaves ...........................................................................
71
Tabela 33 - AED tecnologia, possibilidade de sucessor nas propriedades
rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves .............
72
Tabela 34 - AED crédito, possibilidade de sucessor nas propriedades
rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves .............
73
viii
Tabela 35 - AED estrutura fundiária, possibilidade de sucessor nas
propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier
Chaves .......................................................................................
73
Tabela 36 - AED área média nas propriedades rurais de leite de
Silveirânia e Coronel Xavier Chaves ........................................
74
Tabela 37 - AED escolaridade e capacitação, possibilidade de sucessor
nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel
Xavier Chaves ...........................................................................
75
Tabela 38 - AED participação em associações e IN 51e possibilidade de
sucessor nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e
Coronel Xavier Chaves .............................................................
76
Tabela 39 - AED sucessão, possibilidade de sucessor nas propriedades
rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves ............
77
Tabela 40 - AED idade dos filhos dos produtores entrevistados nas
propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier
Chaves .......................................................................................
79
Tabela 41 Teste Qui Quadrado ser sucessor e estudar 1 para os filhos dos
produtores rurais nos municípios de Silveirânia e Coronel
Xavier Chaves ...........................................................................
84
Tabela 42 Teste Qui Quadrado ser sucessor e estudar 2 para os filhos dos
produtores rurais nos municípios de Silveirânia e Coronel
Xavier Chaves ...........................................................................
84
Tabela 43 Teste Qui Quadrado realizar investimento e ser sucessor 1
para os filhos dos produtores rurais nos municípios de
Silveirânia e Coronel Xavier Chaves ........................................
85
Tabela 44 Teste Qui Quadrado realizar investimento e ser sucessor 2
para os filhos dos produtores rurais nos municípios de
Silveirânia e Coronel Xavier Chaves ........................................
85
ix
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Mapa de localização dos municípios estudados – MG, 2012. 05
Foto 1 - Loja agropecuária no município, em frente à praça ................ 06
Foto 2 - Praça central em Coronel Xavier Chaves ............................... 06
Foto 3 - Marca na parede deixada pelo alagamento de jan./2012. ....... 07
Foto 4 - Entrega do leite no tanque coletivo ......................................... 09
Foto 5 - Da esquerda para a direita, o pesquisador, o produtor e o Sr.
Eurides, técnico da Emater, após a entrevista. Silveirânia, MG
14
Foto 6 - Sr. Paulo Pio, aposentado, acompanhante do pesquisador em
Coronel Xavier Chaves .............................................................
14
Foto 7 - Tanque coletivo na Comunidade Mina – Silveirânia .............. 41
Foto 8 - Tanque coletivo na Comunidade Tejuco – Silveirânia ........... 41
Foto 9 - Tanque individual, utilizado por produtor em Coronel Xavier
Chaves .......................................................................................
42
Foto 10 - Capacitação dos produtores em Coronel Xavier Chaves –
EMATER e SMQL ....................................................................
46
Foto 11 - Capacitação dos produtores em Silveirânia – EMATER e
SMQL ........................................................................................
46
Foto 12 - Gado criado a pasto em Silveirânia-MG ............................ 61
Foto 13 - Momento de entrega do leite no tanque coletivo em
Silveirânia ..................................................................................
65
Foto 14 - Capela construída na propriedade de produtor – Coronel
Xavier Chaves ...........................................................................
70
Foto 15 - Pesquisador e família de produtores em Silveirânia ............... 77
Foto 16 - Pesquisador, pai e filho produtores de leite em Coronel
Xavier Chaves ...........................................................................
78
Gráfico 1 - Sexo dos filhos presentes nas propriedades ............................ 79
Gráfico 2 - Percepção do(s) filhos sobre quem irá assumir a propriedade
nos municípios pesquisados ......................................................
80
Gráfico 3 - Percepção dos filhos sobre como as decisões são tomadas no
estabelecimento nas propriedades rurais de leite de Silveirânia
e Coronel Xavier Chaves ...........................................................
80
x
Gráfico 4 - Pretensão de capacitação pelos filhos dos produtores nas
propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier
Chaves .......................................................................................
81
Gráfico 5 - Local de residência e trabalho dos filhos dos produtores nas
propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier
Chaves .......................................................................................
82
Gráfico 6 - Local onde pretendem residir e trabalhar os filhos dos
produtores nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e
Coronel Xavier Chaves .............................................................
82
Gráfico 7 - Pretensão profissional dos filhos dos agricultores nas
propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier
Chaves .......................................................................................
83
xi
LISTA DE QUADRO
Quadro 1 - Variáveis presentes na regressão ............................................ 15
xii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AED - Análise exploratória de dados
APLEI - Associação dos Produtores de Leite de Coronel Xavier Chaves
APRUS - Associação dos Produtores Rurais de Silveirânia
CBT - Contagem Bacteriana Total
CCS - Contagem de Células Somáticas
DAP - Declaração de Aptidão ao Pronaf
EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EPAMIG - Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
MDS - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome
NATUDOCE - Associação de Produtores e Produtoras Artesanais de
Silveirânia
PAA - Programa de Aquisição de Alimentos
SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SMQL - Sistema Mineiro de Qualidade do Leite
SILEMG - Sindicato da Indústria de Laticínios do Estado de Minas Gerais
SPSS - Statistical Package for Social Sciences
VBP - Valor Bruto da Produção
xiii
RESUMO
SOUZA, Júlio César Mendes, M. Sc., Universidade Federal de Viçosa, outubro de
2012. Tradição e modernidade no processo sucessório entre produtores de leite em
dois municípios rurais de Minas Gerais. Orientadora: Ana Louise de Carvalho Fiúza.
Coorientadoras: Cláudia Maria Miranda Araújo Pereira e Nora Beatriz Presno Amodeo.
Esta pesquisa teve por objetivo identificar quais fatores influenciavam no processo
sucessório das unidades familiares produtivas de leite, contrapondo fatores relativos à
modernidade, como tecnologia, gestão da propriedade e práticas associativistas; e
fatores ligados à tradição, como o minorato, a preferência pelo homem como sucessor e
o baixo nível educacional. Consideraram-se cinco hipóteses: 1ª) O nível tecnológico
interferiria na presença de sucessor nas unidades produtivas de leite; 2ª) O tamanho da
propriedade interferiria na presença de sucessor nas unidades familiares da produção de
leite; 3ª) O acesso ao crédito interferiria no processo sucessório dos produtores de leite;
4ª) A proximidade com o perímetro urbano da cidade influenciaria na presença ou
ausência de sucessor nas unidades familiares de produção de leite; e 5ª) A escolaridade
do produtor interferiria no processo sucessório. A pesquisa foi realizada através de um
survey, com entrevistas semiestruturadas contendo questões abertas e fechadas. Foram
aplicados 83 questionários: 52 em Silveirânia e 31 em Coronel Xavier Chaves, em
Minas Gerais. Após a aplicação dos questionários, realizou-se a análise dos dados,
através do software Statistical Package for Social Sciences (SPSS), utilizando-se
análises descritivas, de frequências, testes de regressão, qui-quadrado e teste t. Os dados
levantados na pesquisa negaram a hipótese de que o nível tecnológico presente em uma
unidade produtiva se constituiria em um fator interveniente na presença de sucessor nas
unidades produtivas de leite e confirmaram as outras quatro hipóteses. Concluiu-se,
através desta pesquisa, que a influência dos valores relativos à tradição e à modernidade
sobre a conduta e as práticas dos produtores rurais era muito influenciada pelo tipo de
cidade onde a unidade produtiva estava inserida. Em Silveirânia, cidade distante de
centros urbanos, percebeu-se mais a prevalência dos valores e das práticas tradicionais
sobre o processo sucessório, enquanto em Coronel Xavier Chaves, cidade próxima a um
centro urbano, a influência dos valores e práticas advindos da modernidade se mostrou
mais prevalente. Por traz dessa constatação, pode-se destacar que a prevalência de
xiv
valores modernos ou tradicionais sobre o processo sucessório em unidades produtivas
de leite é muito influenciada pelo tipo de cidade em que o campo está inserido.
xv
ABSTRACT
SOUZA, Júlio César Mendes, M. Sc., Universidade Federal de Viçosa, October of
2012. Tradition and modernity in the succession process among dairy farmers in
two rural municipalities of Minas Gerais. Adviser: Ana Louise de Carvalho Fiúza.
Co-Advisers: Cláudia Maria Miranda Araújo Pereira and Nora Beatriz Presno Amodeo.
This research aimed to identify the factors influencing the succession process in family
units of milk production, by contrasting factors related to modernity, such as
technology, property management and associative practices, with factors related to
tradition, such as minorato, preference for having men as successors and the low
education level of these men. The study considered five hypotheses: 1. the level of
technology would affect the presence of a successor in milk production units; 2. the size
of properties would affect the presence of a successor in family milk production units;
3. access to credit would affect the succession process of milk producers; 4. proximity
to urban areas would affect the presence or absence of successors of milk production
family units; and, finally, 5. the level of education of producers affects the succession
process. The research was conducted through a survey with semi-structured interviews,
consisting of multple-choice and written questions. Eighty-three questionnaires were
applied: 52 in Silveirânia and 31 in Coronel Xavier Chaves, in Minas Gerais. After the
application of the questionnaires, the data analysis was conducted using the Statistical
Package for Social Sciences (SPSS) software system. Descriptive and frequency
analyses were carried out, as well as regression, chi-square and t tests. The data
obtained denied the hypothesis that the present level of technology in a production unit
is a factor that influences in the presence of successors in milk production units and
corroborated the other four hypotheses. This research leads to the conclusion that the
influence of values related to tradition and modernity on the behavior and practices of
farmers greatly depend on the type of city in which production units are located. In
Silveirânia, a town that is far from urban centers, traditional values and practices
prevailed in the succession process, while in Coronel Xavier Chaves, which is closer to
a urban center, the influence of values and practices of modernity prevailed. Therefore,
it must be highlighted that the prevalence of modern or traditional values in succession
processes in milk production units depends on the type of city where the property is
located.
1
INTRODUÇÃO
Nesta dissertação, propôs-se estudar o processo sucessório entre produtores de
leite em dois municípios rurais de Minas Gerais. A motivação para o tema surgiu do
interesse do pesquisador em analisar um setor que pode ser considerado de suma
importância para a economia local, setor cujo mercado passou por consideráveis
transformações quando o Estado deixou de nele intervir na década de 1990, época em
que regulava o preço do leite e era o principal comprador dos produtores. Como
consequência da não intervenção estatal, novas formas de gestão e tecnologia foram
introduzidas e vêm sendo utilizadas, provocando significativas melhorias na produção
leiteira e na qualidade de vida dos produtores. Entretanto, essas novas formas de gestão
e tecnologia podem, porém, desestimular aqueles que não acompanham o
desenvolvimento tecnológico e gerencial da pecuária leiteira e mantêm, em seu processo
produtivo, formas tradicionais fundamentadas nas práticas passadas de geração a
geração, ocasionando, assim, consequências em relação à definição da sucessão na
unidade produtiva de leite.
Outros fatores que chamam a atenção para o tema são os dados sobre a
população brasileira, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), nos quais, em comparação com o Censo 2000, o Brasil, em 2010, diminuiu sua
população no campo. Em 2010, 15,65% dos brasileiros viviam no campo, ao passo que
em 2000 essa população representava 18,75% (IBGE, 2010). A redução e
envelhecimento da população residente no campo, aliados à desvalorização da profissão
de agricultor e à diminuição no número de filhos nas famílias rurais em algumas regiões
do país, podem reduzir o número de possíveis sucessores nas unidades de produção
familiar. Segundo Toledo (2008), os filhos de produtores rurais possuem, hoje, maior
acesso à educação, crescem com cultura diferente daquela dos pais e veem nos centros
urbanos melhor expectativa de vida e desenvolvimento do que no campo. O Censo
Agropecuário 2006, publicado em 2009, mostra que os agricultores familiares1
representam 84,4% dos produtores, mas ocupam apenas 24,3% da área de
1 O termo agricultor familiar é definido pela Lei 11.326 (2006). Alguns produtores, denominados não
familiares, possuem as mesmas características dos familiares; entretanto, são classificados como não
familiares devido às diferenças no tamanho da propriedade, no número e forma de contratação de
empregados ou no volume produzido. Em termos científicos, contudo, essa diferenciação não se sustenta.
Assim, neste trabalho não se fez distinção entre agricultores familiares e pequenos produtores, tendo em
vista que eles apresentam muitas semelhanças no processo produtivo e na estrutura da propriedade.
2
estabelecimentos rurais no Brasil, sendo responsáveis por 58% do leite nacional (IBGE,
2009).
A produção leiteira de 1998 a 2008 em Minas Gerais cresceu 45% em volume,
sendo o Estado o principal produtor do país (FONSECA, 2009). Gomes (2008)
ressaltou a situação dos pequenos produtores de leite no Estado, afirmando que, embora
representem cerca de 44% dos envolvidos na atividade, são responsáveis por apenas 8%
da produção estadual. Esse fato pode ser explicado, em parte, pelas alterações no
ambiente institucional, com legislações que podem ser desfavoráveis aos pequenos
produtores. Como exemplo, pode-se citar o caso da Instrução Normativa Nº 51, de
18/09/20022, que fixa os requisitos mínimos a serem observados para produção,
identidade e qualidade do leite cru refrigerado.
Uma das exigências introduzidas pela implantação da I.N. Nº 51 foi o
resfriamento do leite logo após a ordenha, com a utilização de tanques térmicos. Essa
exigência pôs fim ao tradicional “caminhãozinho do leite”, responsável pela coleta da
produção dos pequenos produtores. Diante da dificuldade para aquisição do tanque para
resfriamento do leite, observou-se, em alguns municípios, articulação entre a
Associação de Produtores com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
(EMATER), no intuito de adquirir tanques coletivos para o armazenamento do leite. A
aquisição dos tanques representou, além da possibilidade de sobrevivência dos
pequenos produtores de leite, a melhoria da organização entre eles. Assim, tornou-se
possível aumentar, além da qualidade do leite, o preço cobrado aos laticínios. A
profissionalização do setor vem gerando, de forma concomitante, o aumento da
eficiência e a tecnologização das unidades produtoras, mas, também, a redução do
número de produtores, mesmo com as ações desenvolvidas pelas instituições do Estado,
no sentido de mitigar os efeitos da modernização do setor. Esse fato é confirmado pela
comparação de dados entre o Censo Agropecuário de 1996 e o de 2006, que mostra o
aumento de 19,53% na produção de leite e a redução de 25,91% no número de
estabelecimentos agropecuários no Brasil.
2 A Instrução Normativa nº 51 foi alterada em 30/12/2011 pela Instrução Normativa nº 62. A principal
regra já começa a valer em 1º de janeiro de 2012, quando os produtores das Regiões Sul, Sudeste e
Centro-Oeste terão novos limites para Contagem Bacteriana Total (CBT) e Contagem de Células
Somáticas (CCS). Atualmente, esses índices podem chegar a 750 mil/ml. Agora, a tolerância será de até
600 mil/ml. Já no Norte e Nordeste do país a mesma exigência valerá a partir de janeiro de 2013.
3
A redução no número de estabelecimentos de produtores de leite é compensada
pelo aumento na produção, conforme relatado no parágrafo anterior, mas é certo que a
queda de rentabilidade é sentida por todos, devido ao aumento superior dos custos
perante a receita, principalmente para os pequenos produtores, que por terem produção
menor perdem poder de negociação do preço de venda do leite. O baixo preço de venda
do leite em relação aos custos de produção, conjuntamente com as alterações
demográficas no campo e a exigência de novas formas de gestão da atividade leiteira,
apontam para a possível falta de sucessores entre os pequenos produtores de leite. Na
agricultura, o tema sucessão não é tratado de forma clara e aberta como nas empresas
capitalistas. Os costumes e a tradição se colocam de forma velada sobre as leis. Assim,
pesquisar a sucessão em meio a um momento de crise constitui desafio ainda maior.
As normatizações da pecuária leiteira e a introdução da tecnologia, com
utilização de ordenhadeiras mecânicas, tanques térmicos para resfriamento do leite e
métodos de gestão que aumentam a produção com a utilização de menor espaço pelos
produtores, foram instituindo novas práticas que tornassem a atividade leiteira
sustentável socioeconomicamente. Tais mudanças nas práticas produtivas repercutem,
assim, nas possibilidades de manutenção da atividade e, consequentemente, nas
possibilidades de se efetivar um sucessor. Para Abramovay (1998), Sacco dos Anjos
(2003), Mello (2003) e Costa (2006), o processo sucessório entre os produtores rurais
atualmente apresenta mudanças relacionadas ao modelo tradicional, como: a) o número
de filhos é menor; b) a sucessão não é mais uma obrigação moral; c) a falta de
perspectivas na agricultura traz como consequência o aumento do êxodo; d) a tecnologia
reduziu a necessidade de mão de obra; e e) o crescimento das atividades não agrícolas
no campo. Silva (2000) acrescentou que o contato dos jovens do campo com a cidade é
cada vez maior, de tal modo que em sua trajetória assimila valores urbanos aos rurais.
De acordo com Schneider (2009), as alterações provocadas nos sistemas
produtivos, proporcionadas pela tecnologia, pelos equipamentos de produção, pelos
insumos utilizados e pelas alterações no ambiente institucional, que resultaram na
melhoria da qualidade de vida da população residente no campo, nos países
desenvolvidos, não foram acompanhadas pelo Brasil nem pela maioria dos países latino-
americanos. Para Stropasolas (2004), esse modelo reduz as relações sociais que se
estabelecem entre os agricultores à lógica do econômico, quebrando os laços afetivos
que mantinham com a terra. Schneider (2009) acrescentou, ainda, que a busca por
4
assegurar novas fontes de renda para investimentos e manutenção da propriedade
estimula os filhos de agricultores a buscarem esse recurso em atividades não agrícolas.
Assim, analisaram-se nesta pesquisa duas perspectivas interpretativas acerca
dos fatores que estariam influenciando no processo sucessório nas unidades produtivas
de leite na atualidade: na primeira, vislumbrou-se a permanência dos costumes e da
tradição sobre a sucessão. Nesse sentido, alguns padrões culturais continuariam a
estabelecer o perfil do sucessor: a regra da primogenitura ou do minorato, do masculino
sobre o feminino, do menos escolarizado sobre o mais e do casado sobre o solteiro. Já a
segunda vertente interpretativa acerca do processo sucessório contemplou a influência
de fatores ligados à modernidade, como: o uso de tecnologias e de novas formas de
gestão, a proximidade dos estabelecimentos agropecuários das cidades e a participação
em associações e o acesso ao crédito.
1.1 Características dos municípios pesquisados
A pesquisa foi realizada com os produtores associados no Município de
Silveirânia, MG, localizado na mesorregião da Zona da Mata mineira, e no Município
de Coronel Xavier Chaves, MG, na mesorregião Campo das Vertentes. O mapa da
Figura 1 apresenta a localização dos dois municípios pesquisados.
5
Figura 1 – Mapa de localização dos municípios estudados – MG, 2012.
Fonte: Elaborado por SOUZA, J.C.M.; AMARAL, M.S., 2012.
Ambos os municípios têm a pecuária leiteira como sua principal atividade
econômica. De acordo com Rabelo (2012), a mesorregião da Zona da Mata mineira
totaliza 10% da produção mineira de leite e a mesorregião do Campo das Vertentes, 4%.
O Município de Coronel Xavier Chaves está a 168 km da capital mineira, Belo
Horizonte. Tem densidade demográfica de 23,42 hab/km2 e população em torno de
3.000 habitantes, podendo, assim, ser caracterizada como cidade rural3.
Tabela 1 – População no Município de Coronel Xavier Chaves, MG
População Ano % Ano %
2000 2000 2010 2010
Rural 1502 47,0 1501 45,0
Urbana 1683 53,0 1800 55,5
Total 3185 100,0 3301 100,0 Fonte: Censos do IBGE de 2000 e 2010.
3 A elaboração da tipologia para classificação dos municípios foi construída com base na concepção de
Veiga (2002). Segundo esse autor, classificam-se em municípios rurais aqueles com menos de 20.000
habitantes e, ou, densidade demográfica inferior a 20 hab/km2.
6
O município possui supermercado, lojas agropecuárias, lanhouse, padaria,
restaurante, algumas lojas, a prefeitura municipal, a sede da Associação dos Produtores
de Leite (APLEI), a sede da Polícia Militar, o Posto de Saúde e o Parque de Exposições.
Alguns produtores de leite residiam ao redor da praça central4. A população contava
também com os serviços da Universidade Federal de São João Del Rei, localizada a 12
km do município.
Foto 1 - Loja agropecuária no município, em frente à praça.
Fonte: Pesquisa de campo – fevereiro de 2012.
Foto 2 - Praça central em Coronel Xavier Chaves.
Fonte: Pesquisa de campo – fevereiro de 2012.
4 Outra parcela dos produtores que não residiam no campo eram de outros municípios, como São João Del
Rei e Belo Horizonte, e utilizavam a propriedade para lazer e a atividade leiteira como forma de gerar
renda para a sua manutenção.
7
A economia do município era sustentada na atividade agropecuária, mas o
turismo vem-se destacando devido à arquitetura de sua antiga capela e sobrados, à
existência de artesanato e às paisagens naturais, com destaque para as cachoeiras. O
município conta com a Associação dos Produtores de Leite de Coronel Xavier Chaves
(APLEI), que atualmente conta com 45 associados. A Associação mantém uma fábrica
que produz a ração utilizada pelos produtores e a revende para eles a preço mais
acessível. Os associados produzem em média 13.700 litros diários, estocados em 44
tanques térmicos individuais e um coletivo.
Os produtores de leite do município se capacitavam e realizavam investimentos
em tecnologia com o intuito de aumentar a produtividade e a qualidade do leite e suprir
a falta de mão de obra. A ordenha mecânica predominava entre os produtores. Cabe
ressaltar que os produtores já recebiam por qualidade do leite: no mês de março de
2012, receberam R$0,91 por litro, sendo esse valor possível de ser melhorado em
função do aumento da qualidade do leite produzido. A coleta do leite no município era
realizada diariamente, mas havia intercalação entre os produtores, de acordo com a sua
localização, sendo o leite recolhido em sua propriedade a cada dois dias. A cada dois
dias também um caminhão (com capacidade para 30.000 litros) do laticínio que
comprava o leite da Associação buscava o produto, que era estocado na Associação e
transportado para São Paulo. As estradas, no geral, apresentavam boas condições, mas
alguns produtores ainda costumavam ficar isolados no período de fortes chuvas, como
aconteceu no início de 2012.
Foto 3 - Marca na parede deixada pelo alagamento de jan./2012.
Fonte: Pesquisa de campo – fevereiro de 2012.
8
O segundo município pesquisado foi Silveirânia, localizado na Zona da Mata
mineira, a 241 km de Belo Horizonte, e apresentava perfil diferenciado de Coronel
Xavier Chaves, em termos da forma como se realizava a atividade leiteira. Silveirânia
também pode ser definida como cidade rural, com população que não ultrapassava os
3.000 habitantes, densidade demográfica de 13,92 hab/km2 e economia baseada na
produção leiteira.
Tabela 2 – População no município de Silveirânia, MG
População Ano % Ano %
2000 2000 2010 2010
Rural 1117 52,0 763 35,0
Urbana 1021 48,0 1429 65,5
Total 2138 100,0 2192 100,0 Fonte: Censos do IBGE de 2000 e 2010.
Os dados do Censo 2010 indicam o esvaziamento da população residente no
campo no Brasil, embora isso não necessariamente aponte para o abandono das
atividades rurais em razão, principalmente, da facilidade e rapidez de deslocamento
entre o campo e a cidade. O município conta com mercado, padaria, lotérica, pousada e
as sedes dos órgãos públicos, como da prefeitura, da câmara de vereadores, da Polícia
Militar e da Emater. A cidade está situada próxima ao Município de Rio Pomba, onde
está localizado um dos campi do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia
Sudeste de Minas Gerais, que oferece cursos de nível médio, ensino técnico, ensino
tecnológico e superior, em diversas áreas.
O município contava com uma associação de produtores rurais, a Associação
dos Produtores Rurais de Silveirânia (APRUS), com 211 produtores associados e uma
associação de produtores de doce artesanal, a NATUDOCE. Mais da metade (110) dos
associados da APRUS são produtores de leite. O município produzia de 10.000 a 13.000
litros diários de leite, que eram armazenados em 10 tanques coletivos, conforme
divididos na Tabela 3.
9
Tabela 3 – Distribuição dos tanques coletivos
Localidade Capacidade (Litros)
Cascalhau 2000
Córrego do Ribeiro 2000
Sítio Paraíso 3000
Córrego da Mina 2000
Fazenda São José 3000
Sítio São Pedro 4000
São José da Soledade 4000
Japão 3000
Quindiuba 3000
Bota Fogo (Japão) 3000
Anísio Inácio da Silveira Junior (Tanque individual) 2000
Nilson M. de Miranda Junior (Tanque Individual) 1500 Fonte: APRUS.
Conforme demonstrado na Tabela 3, o município é dividido em comunidades,
sendo a de São José da Soledade a mais distante do centro de Silveirânia. O percurso
para se chegar à comunidade tem a extensão de aproximadamente 18 km e é realizado
em cerca de 40 min, através de estradas que não apresentam boas condições para
veículos pequenos. Devido à considerável distância entre as residências, as unidades
produtivas e a cidade e às condições precárias das estradas, é comum que a realização
de festas e eventos fosse dividida por comunidades. O leite era entregue aos tanques
diariamente, entre 7 e 9 horas da manhã, e daí recolhido a cada dois dias, sendo a
carroça o transporte mais utilizado (Foto 4).
Foto 4 - Entrega do leite ao tanque coletivo.
Fonte: Pesquisa de campo – março de 2012.
10
Atualmente, a APRUS não mantém mais a fábrica de ração, mas compra o
produto e o revende aos produtores por preço mais acessível do que o das lojas
agropecuárias. A Emater, em parceria com o Sistema Mineiro de Qualidade do Leite
(SMQL), realiza, atualmente, treinamentos com o objetivo de aumentar a qualidade para
que os produtores possam pleitear a participação em programas dessa natureza. Entre os
produtores era predominante a ordenha manual, sendo o gado tratado no pasto durante
longo período, para minimizar os custos. O local de entrega do leite era também
utilizado para os produtores receberem o pagamento, sempre no dia 20 de cada mês. À
época da pesquisa, os produtores recebiam R$0,81 por litro de leite.
1.2 Procedimentos metodológicos
Para investigar como ocorria o processo sucessório entre os produtores de leite
familiares nos Municípios de Coronel Xavier Chaves e Silveirânia, foram utilizados
dois tipos de estratégias de pesquisa: um descritivo, descrevendo as características
socioeconômicas dos produtores, como o nível tecnológico, economia e formas de
produção; e o outro explicativo, para identificar os fatores que estavam interferindo no
processo sucessório das unidades produtoras de leite, utilizando para tanto a aplicação
de um survey.
A pesquisa com a utilização do survey permite que o pesquisador identifique
fatores que influenciam no comportamento da população estudada. Para sua realização,
elaborou-se um questionário, aplicado à população ou, na maioria dos casos, a uma
amostra desta. Grande parte dos surveys é destinado a descrever determinado fenômeno,
entretanto muitos objetivam, adicionalmente, fazer asserções explicativas. Explicar
quase sempre requer análise multivariada, ou seja, o exame simultâneo de duas ou mais
variáveis (BABIE, 2005).
Foram elaborados dois tipos de questionários, a fim de analisar os fatores
intervenientes no processo sucessório das unidades produtivas de leite: um modelo
direcionado ao gestor do estabelecimento agropecuário e outro aos filhos do
proprietário. No modelo aplicado ao gestor, o questionário foi estruturado em sete
partes: 1ª) Questões relativas ao perfil do produtor (idade, profissão, renda bruta
11
mensal, composição familiar e local de residência); 2ª) Questões relativas ao nível
tecnológico da atividade leiteira (máquinas utilizadas para redução do trabalho manual;
forma de aquisição; sistemas de ordenha utilizados, forma de reprodução do rebanho;
percepção da influência das associações no sistema produtivo, itens produzidos); 3ª)
Questões relativas à estrutura fundiária (tamanho da propriedade, situação em relação à
propriedade da terra, forma de aquisição das terras); 4ª) Relação com a cidade (forma e
frequência de acessibilidade à cidade); 5ª) Relação com o crédito (utilização, finalidade,
valor, modalidade); 6ª) Nível de capacitação do produtor (escolaridade do produtor,
cursos de capacitação já realizados); e 7ª) Questões relacionadas à sucessão no
estabelecimento. No modelo aplicado aos filhos dos produtores, foram relacionadas
questões sobre o perfil dos filhos (idade, escolaridade, estado civil) e perspectivas
futuras em relação ao trabalho e à moradia e sobre a sucessão no estabelecimento
agropecuário.
1.2.1 Hipóteses
As análises foram realizadas com o intuito de inferir sobre a veracidade das
seguintes hipóteses:
H1- O nível tecnológico em uma unidade produtiva constitui fator interveniente na
presença de sucessor nas unidades produtivas de leite.
H2- O tamanho da propriedade constitui fator interveniente na presença de sucessor nas
unidades familiares de produção de leite.
H3- O acesso ao crédito proporciona o desenvolvimento e interfere no processo
sucessório dos produtores de leite.
H4- A proximidade com a cidade interfere na presença de sucessor nas unidades
familiares de produção de leite.
H5- A escolaridade do produtor interfere no processo sucessório.
12
1.2.2 Amostragem
Para determinação da amostra da pesquisa, utilizou-se o método de
amostragem probabilística. De acordo com Triola (2008), o método de amostragem
probabilística seleciona os indivíduos, de modo que todos possam ter a mesma chance
de participarem da pesquisa. Ainda segundo esse autor, o planejamento da amostragem
é necessário para reduzir a possibilidade de erro amostral (diferença entre o resultado
populacional e o resultado amostrado). Os erros amostrais podem ocorrer devido à
coleta incorreta dos dados. Para estabelecer o número de produtores que deveriam fazer
parte da pesquisa, utiliza-se a fórmula da proporção finita quando se conhece o tamanho
da população (BOLFARINE; BUSSAB, 2005), dada por:
2
2
2 2
2
ˆ ˆ
ˆ ˆ ( 1)
Z p q Nn
Z p q N E
em que:
n = tamanho amostral
Z = valor tabelado
N = tamanho populacional
E = margem de erro ou erro máximo de estimativa
p = proporção populacional de indivíduos que pertencem à categoria estudada
q = proporção populacional de indivíduos que não pertencem à categoria estudada (q = 1 – p)
α = nível de significância
Segundo Hair et al. (2005), ao utilizar fórmulas estatísticas para determinar o
valor de uma amostra, três decisões devem ser levadas em consideração: 1) o grau de
segurança, ou seja, a máxima diferença aceitável entre o valor estimado da amostra e o
valor verdadeiro da população (geralmente 95%); 2) a margem de erro aceitável
(geralmente definida pelo pesquisador); e 3) homogeneidade da população. Na prática, é
improvável que se conheça a taxa de homogeneidade da população, devendo o
pesquisador utilizar estimativa de trabalhos anteriores ou, na falta destes, 50%. Neste
trabalho, utilizaram-se o valor de 50% (ou 0,5) como taxa de homogeneidade e 10% (ou
13
0,10) para erro amostral. De acordo com Triola (2008), os valores de confiança mais
utilizados e os valores de Z correspondentes são:
Tabela 4 – Valores críticos associados ao grau de confiança da amostra
Grau de segurança Valor crítico Zα/2
90% 1,645
95% 1,96
99% 2,575 Fonte: TRIOLA, 2008.
Assim, a amostra dos dois municípios pesquisados, utilizando-se 95% de grau
de confiança, foi determinada, conforme mostrado a seguir:
Coronel Xavier Chaves
n = (1,96)2 x 0,5 x 0,5 x 45 = 43,218 = 31
(1,96)2 x 0,5 x 0,5 + (45 – 1 ) x (0,10)
2 1,4004
Silveirânia
n = (1,96)2 x 0,5 x 0,5 x 110 = 105,644 = 52
(1,96)2 x 0,5 x 0,5 + (110 – 1 ) x (0,10)
2 2,0504
1.2.3 As entrevistas
Para entrevistar os produtores, o pesquisador foi acompanhado, em Coronel
Xavier Chaves, por um morador da região, aposentado, que possuía o hábito de
acompanhar a coleta do leite nas propriedades. Em Silveirânia, parte das entrevistas foi
realizada durante o período de capacitação dos produtores de leite pela Emater e do
Sistema Mineiro de Qualidade do Leite (SMQL). Nesse período, o pesquisador ia de
carona com o técnico da Emater até um dos tanques coletivos e aproveitava o momento
de entrega do leite para a realização da entrevista. Após o término da capacitação, o
14
técnico da Emater que se encontrava de férias acompanhou, gentilmente, o pesquisador
até a residência dos produtores para a realização das entrevistas.
Foto 5 – Da esquerda para a direita, o pesquisador, o produtor e o Sr.
Eurides, técnico da Emater, após a entrevista. Silveirânia,
MG.
Fonte: Pesquisa de campo – março 2012.
Foto 6 - Sr. Paulo Pio, aposentado, acompanhante do
pesquisador em Coronel Xavier Chaves.
Fonte: Pesquisa de campo – fevereiro 2012.
1.2.4 Regressão
Segundo Hair et al. (2005), a regressão é a técnica estatística que auxilia
determinar se há relação coerente e sistemática entre duas ou mais variáveis a
determinado nível de significância estatística. O programa Statistical Package for Social
Sciences (SPSS) representa a significância como a probabilidade de rejeitar a hipótese
nula quando ela é verdadeira. As orientações comuns dizem que, para ser considerada
15
estatisticamente significativa, a probabilidade deve ser menor do que <0,05. Contudo,
na área de ciências sociais é aceitável utilizar o nível de significância de 0,10, ou seja,
para uma probabilidade <0,10, considera-se que há associação entre as variáveis
analisadas. Se existir a relação entre as variáveis, devem-se analisar também a direção e
força de associação entre estas. A direção pode ser positiva ou negativa. Já a força de
associação pode ser classificada de leve até muito forte. Para o trabalho, foram
divididos dois casos: o primeiro considerando-se as propriedades que já possuíam
sucessor definido e o segundo levando-se em conta os casos em que ainda não estava
definido um sucessor, mas havia a possibilidade de isso acontecer. As variáveis foram
agrupadas conforme mostrado no Quadro 1.
Quadro 1 – Variáveis presentes na regressão
Regressão Variáveis Descrição
1 – Tecnologia
Máquina Se o produtor utilizava alguma máquina para
redução do trabalho manual.
Ordenha Sistema de ordenha utilizado (manual ou
ordenhadeira).
Criação Sistema de criação do gado (intensivo, semi-
intensivo e pasto).
Reprodução Monta natural, inseminação ou ambos.
2 – Estrutura
fundiária,
escolaridade e
gênero
Residência O produtor reside no campo ou na cidade.
Escolaridade Escolaridade do produtor.
Gênero Igualdade de direito para as mulheres.
Área Área da propriedade em hectare.
3 – Crédito
Crédito O produtor já utilizou algum financiamento.
Valor Valor financiado.
Modalidade Se foi Pronaf ou linha para produtor rural.
Finalidade Em que o produtor investiu na propriedade.
4 - Gestão
Associação Importância da associação para o produtor.
Capacitação Se o produtor já realizou alguma capacitação
Decisão Se os filhos participam nas decisões do
estabelecimento agropecuário.
Registros Se o produtor realiza algum registro.
5 – Perfil
Idade Idade do produtor.
Profissão Profissão do produtor.
Filhos Número de filhos residentes na propriedade.
Renda Renda bruta mensal.
6 – Composição
familiar
Composição
familiar
Composição familiar dos membros que
residem com o produtor.
Idade familiar Faixa etária do(s) filho(s) do produtor.
Ocupação
familiar
Ocupação dos membros da família, sem
considerar o proprietário.
Renda familiar Renda familiar total, considerando o
produtor e receita dos demais componentes. Fonte: Elaborado pelo autor.
16
As variáveis foram associadas levando-se em consideração o item a ser
analisado na regressão. Para análise de regressão, a soma das respostas de todas as
variáveis não poderia ultrapassar o número máximo de entrevistados, que em Coronel
Xavier Chaves foi de 31.
1.2.5 Análise exploratória dos dados, qui-quadrado e teste t
De acordo com Triola (2008), a análise exploratória de dados (AED) consiste
na utilização de técnicas estatísticas que fornecerão informações sobre medidas de
centro, medidas de variação e gráficos para investigação de um conjunto de dados, com
o intuito de compreender suas características mais importantes. Segundo esse autor, ao
utilizar a técnica, deve-se identificar e, se necessário, excluir os outliers que constituem
os valores discrepantes da média, que se localiza muito afastado de quase todos os
demais valores e pode influenciar nos resultados5.
Para AED foram utilizadas a média aritmética, definida como a soma dos
valores da variável dividida pelo número de valores e da mediana, que representa o
valor central dos dados, quando eles são organizados em ordem crescente ou
decrescente (KAZMIER, 2008). A AED foi utilizada para detalhar as principais
características das propriedades que possuíam sucessor definido e daquelas que
apresentavam possibilidade de sucessor, mas este ainda não estava definido, como
também foi utilizada para analisar os dados dos 21 filhos de produtores que
responderam aos questionários. Além da AED, utilizou-se o teste qui-quadrado.
Segundo Barbetta (2008), o teste qui-quadrado, designado por X2, é amplamente usado
em pesquisa social para testar a significância entre duas variáveis qualitativas. A
estatística do teste é uma medida de distância entre as frequências observadas e as
frequências esperadas. Para um “p” valor alto, deve-se considerar que as variáveis
analisadas são independentes.
5 Após realizar os testes de regressão com a presença dos outliers e excluindo-os, apenas a variável área
apresentou diferença significativa, e foram excluídos os outliers. Nas demais variáveis, nenhum outlier
foi excluído. Para a AED, os outliers serão excluídos quando apresentarem diferenças significativas e
relatados na análise dos dados.
17
De acordo com Larson (2010), um teste de hipótese é utilizado para testar a
afirmação sobre o valor de um parâmetro populacional. Segundo Anderson et al. (2008),
ao testar hipóteses, deve-se iniciar pela hipótese experimental, denominada hipótese
nula (H0) e, posteriormente, formular a hipótese alternativa (Ha). Posteriormente,
segundo Bruni (2007), calculam-se a média e desvio-padrão da amostra. Com esses
dados, pode-se comparar a média alegada. Busca-se saber se a alegação é aceitável ou
não. Se ocorrerem grandes desvios, a probabilidade de a afirmação ser falsa é maior, e
vice-versa. Ou seja, procura-se identificar se existem diferenças significativas sobre as
médias analisadas.
Por fim, no que diz respeito à estruturação da dissertação, esta consta de três
capítulos. No primeiro foram abordados os fatores intervenientes no processo sucessório
entre os produtores de leite, considerando-se os fatores relacionados à tradição e à
modernidade. No segundo capítulo, contemplaram-se a pecuária leiteira e as políticas
públicas voltadas para a sucessão em Minas Gerais. No terceiro, e último capítulo, foi
realizada à análise dos dados relativos ao processo sucessório nas propriedades
familiares de produção de leite nos dois municípios pesquisados.
18
CAPÍTULO I
FATORES INTERVENIENTES NA SUCESSÃO DAS UNIDADES
PRODUTIVAS DE LEITE
A transmissão da propriedade da terra de uma geração para outra tem
envolvido a elaboração de estratégias orientadas por princípios diferenciados ao longo
do tempo. Nas sociedades pré-capitalistas, o acúmulo de terras sustentava o poder
fundiário das famílias tradicionais, sendo o casamento, inclusive, decisivo para que
estas aumentassem seu patrimônio. Com o surgimento e avanço do capitalismo no
campo, a tecnologia e as formas de gestão da propriedade passaram a ser decisivas para
a manutenção de uma propriedade. Assim, mais importante que o acúmulo de terras, a
sua produtividade tornou-se fator decisivo.
Atualmente, com a crescente proximidade entre campo e cidade, presencia-se
outra forma de valorização que se impõe sobre a propriedade: a da natureza. O turismo
rural, a alimentação natural, o ar puro, a calma e as tradições têm-se constituído em
balizadores para que as propriedades rurais busquem explorar novas alternativas
econômicas para se reproduzirem. Percebe-se, dessa forma, que os critérios que
orientam as práticas sucessórias podem se modificar ao longo do tempo. Neste primeiro
capítulo discutem-se, de forma detalhada, os fatores que poderiam influenciar na
sucessão, considerando-se tanto a influência de fatores ligados à tradição e aos costumes
quanto de fatores ligados à modernidade.
Assim, diferentemente do modo como era praticada, a sucessão agrícola tende a
associar-se a uma lógica de inserção profissional. Na cadeia produtiva do leite, essa
inserção é configurada por fatores relativos à modernidade, com considerável influência
da tecnologia utilizada, do tamanho da propriedade, acesso a crédito e educação e da
proximidade dos estabelecimentos agropecuários com os centros urbanos, contrapondo-
se aos fatores tradicionais tais como o minorato, no qual o filho mais novo é o escolhido
para ser o sucessor, com a condição de cuidar dos pais durante a velhice; a
primogenitura, casamento entre primos; a predileção por sucessores homens e por filhos
19
pouco escolarizados. Enfim, não existe uma única forma de sucessão entre os
produtores de leite, mas, sim, um conjunto de fatores que influenciam no processo
sucessório; fatores que emergem diante de complexas e exigentes normas que regulam o
setor frente às expectativas do mercado, mas, também, relacionados ao tradicional modo
de vida dos produtores. Para Brumer (2007), seria preciso considerar que, para além dos
fatores que incidem sobre o processo sucessório, existe, também, a distância entre a
intenção de se tornar sucessor e a efetivação do fato. Segundo essa autora, citando
pesquisa realizada na Finlândia por Foxall (1983):
Dados obtidos através de um estudo de painel de 348 estabelecimentos, disponíveis
para o período de 1996 a 2001, do total de entrevistados, 58 (17%) pretendiam fazer
a sucessão de seus estabelecimentos nos próximos cinco anos e 290 (83%) não
pretendiam fazer isso. Entre os que pretendiam fazer a sucessão, apenas 18 (31%)
efetivaram seu projeto e entre os que não pretendiam transferir o estabelecimento
para um sucessor a maioria (279 ou 96%) cumpriu o plano, embora 11 (4,0%)
tenham feito a sucessão sem tê-la planejado (BRUMER, 2007 apud FOXALL, 1983,
p. 45).
No Brasil, as expectativas dos jovens em assumirem o lugar dos pais na
propriedade vêm-se reduzindo. Assim, investigar os fatores que possam estar
influenciando na decisão daqueles que manifestaram a intenção de gerenciar a
propriedade e com aqueles que já a estão gerenciando pode, de fato, fornecer
informações importantes para frear a intensidade da diminuição na efetivação do
processo sucessório.
1.1 A influência dos costumes e tradições sobre o processo sucessório
Um dos fatores elencados como podendo estar relacionado à diminuição do
número de efetivos sucessores nas unidades produtivas rurais é o fato de os pais
retardarem o máximo possível o momento da transmissão do patrimônio, visando
manter sua autoridade na propriedade, inclusive na definição das técnicas e formas de
gestão que serão empregadas no processo produtivo. A tendência a não mudar aquilo
que “está dando certo” funciona como um freio em face do desejo dos mais jovens que
preferem modernizar e inovar (BRUMER, 2007).
20
O reconhecimento de todos esses aspectos abaliza a afirmação de que se tornar
o sucessor em uma propriedade rural é situação complexa. A certeza que se tinha para o
futuro da propriedade e da família cresce com insegurança. Os filhos manifestam, de
forma crescente, o interesse pelo trabalho assalariado na cidade e pela qualidade de vida
que esta oferece. Hoje, mesmo para os produtores considerados tecnificados, a sucessão
ainda é um problema, pois o desinteresse dos filhos em continuarem na atividade
herdada dos pais é considerável. Nesse sentido, uma pesquisa realizada no Uruguai por
Perrachón, em 2011, constatou que 90% dos agricultores em atividade se encontravam
entre 46 e 64 anos ou acima desse intervalo. Contudo, o que esperar em face do
processo sucessório: a manutenção dos costumes ligados à sucessão, mesmo mediante
as transformações socioeconômicas em curso ou a instauração de um processo de
aculturação gerador da adaptação aos valores e práticas trazidos pela modernidade?
Nesse sentido, seria importante considerar, segundo Costa (2010), que a
sucessão na agricultura familiar envolve não apenas a transferência de um patrimônio e
de capital imobilizado ao longo das sucessivas gerações, mas revela, também, a
existência de um verdadeiro código cultural que orienta as escolhas e os procedimentos
dirigidos a garantir que, pelo menos, um dos herdeiros possa reproduzir a situação
original. Ainda segundo essa autora, citando Brumer (2007), os critérios sucessórios
adotados pelos pais são orientados por fatores tradicionais, mas podem, também, ser
decorrentes de fatores conjunturais que, de alguma maneira, a eles se impõem. No
próximo tópico, inicia-se a apresentação dos costumes e tradições relacionados às
práticas sucessórias.
1.1.1 O minorato e a morgadia
Segundo Carneiro (1998), a estratégia sucessória nas famílias rurais europeias
estava estruturada sobre quatro critérios: a condição de produção da unidade, o número
de filhos do casal, em especial os do sexo masculino e a sua posição na ordem de
nascimento. O processo sucessório incluía duas fases: a primeira referia-se à escolha do
sucessor, aquele que, além de administrar a propriedade, iria herdar a casa, as terras
produtivas, os equipamentos e os “pais”, visto que o sucessor ficava com a obrigação de
21
deles cuidar. A segunda fase referia-se à distribuição dos bens familiares para os demais
herdeiros. Nesse caso, geralmente os bens eram as terras menos produtivas ou dinheiro:
para estudo, para começar a vida ou para o enxoval, no caso das mulheres. Com relação
ao estabelecimento da sucessão esta, geralmente, ocorria em três circunstâncias: a) pelo
casamento do filho sucessor; b) pela aposentadoria ou invalidez do chefe da família; ou
c) pela morte do chefe da família.
Para Sacco dos Anjos e Caldas (2006), critérios como o minorato, que
representa a designação, meio sigilosa, mas de conhecimento de todos, do filho mais
novo como sucessor, evidenciam a supremacia do padrão tradicional na orientação do
processo sucessório. Outra estratégia utilizada era a primogenitura. Assim, quando uma
filha era a mais velha entre os irmãos, procurava-se arrumar um marido para ela,
geralmente algum primo. Essa estratégia, muito utilizada por colônias alemãs no Sul do
Brasil, visava resolver três problemas ao mesmo tempo: o casamento para a filha, o
impedimento de que o filho do irmão seguisse o caminho do celibato e a garantia de que
a propriedade tivesse um sucessor (WOORTMANN, 1995).
Segundo Santos (1996), a primogenitura era também adotada em Portugal. Em
um estudo de caso realizado no Entre Douro e Minho, constatou-se que a primogenitura
atendia à necessidade de não fragmentar a parte produtiva do estabelecimento
agropecuário. Assim, criou-se o costume de que os filhos menores se educariam para se
tornarem padres, médicos ou advogados, enquanto o direito à sucessão era majorado ao
filho mais velho. Essa estratégia se baseava no fato de que o filho padre abriria mão dos
bens familiares; o médico ou o advogado, pelos rendimentos advindos da profissão,
teria bens próprios suficientes, “justificando”, assim, a partilha desigual e possibilitando
a continuidade das atividades no estabelecimento agropecuário. A estratégia de
conceder ao filho primogênito o direito à sucessão era denominada no país por
morgadio.
Para Carneiro (1998), a mudança do morgadio para o minorato esteve
associada, em muitos contextos, ao fato de ter começado a haver a prática de se atrasar o
casamento do primogênito até o momento em que o pai fosse se retirar da produção.
Assim, a passagem da propriedade para o mais novo entre os filhos coincidiria de forma
mais próxima com o casamento e a passagem para a idade adulta do filho caçula do que
22
do mais velho. Abramovay et al. (1998) também apontaram que o atraso na passagem
do comando da propriedade favoreceria que a sucessão recaísse sobre o filho mais novo.
Esse atraso, segundo Carneiro (1998), não seria vivido sem tensão pela família;
no entanto, as insatisfações por parte dos filhos raramente são manifestadas antes do
falecimento dos pais, pois o controle do patrimônio fundiário é o último e mais forte
controle simbólico e material que o pai exerce sobre a sua família. Em alguns casos, o
filho sucessor, inclusive, já gerencia a propriedade, mas, legalmente, ela ainda
pertenceria a seus pais, o que, inclusive, asseguraria que o filho sucessor cuidaria dos
pais durante a velhice. Nesse caso, mesmo parecendo uma situação humilhante para
todos os filhos, inclusive o sucessor, eles não externam sua insatisfação com a situação,
mais uma vez respeitando a autoridade do pai, que nesse ato de discriminação com os
demais filhos não sucessores neutraliza possíveis conflitos entre eles.
Mesmo não estando em situação confortável, o momento em que o filho
sucessor gerenciava a propriedade, ainda sob o comando do pai, lhe era útil para que ele
pudesse acumular recursos para indenizar os demais irmãos quando fosse assumir
legalmente a propriedade. Com o predomínio do minorato, outro fato que indicava
quem seria o sucessor na propriedade era a nomeação de um filho específico para
receber o nome do pai. No Brasil, essa estratégia recebeu a denominação também de
ultimogenitura. A prática dessa estratégia sucessória, além de gerar a constituição de
uma nova família, renovava a força de trabalho ali existente (CARNEIRO, 1998).
Entretanto, a prática do minorato punia duplamente os não escolhidos como
sucessores quando estes, além de não receberem a mesma quantidade de bens como
herança, eram claramente preteridos da escolha para se tornarem sucessores. Esse ato
era inclusive garantido pela Lei de 7 de fevereiro de 1938, que defendia a não
fragmentação do patrimônio fundiário e, ao mesmo tempo, garantia aos demais
herdeiros indenização justa. Essa indenização era, por muitas vezes, realizada com
terras não produtivas, o que na prática favorecia ao herdeiro-sucessor, ao qual era
garantido também um quarto a mais na divisão do patrimônio em relação aos irmãos
(CARNEIRO, 1998).
23
1.1.2 Gênero e casamento
Com relação às relações de gênero em sociedades rurais, estudos como os de
Stropassolas (2004) vêm indicando que as mulheres ao saírem do campo para estudar ou
trabalhar dificilmente têm regressado. Ao buscarem estudo e trabalho na cidade, as
mulheres têm demonstrado a recusa em reproduzir a vida que as suas mães levavam no
campo. No que diz respeito ao processo sucessório no campo, o qual geralmente é
conduzido pelo pai, a escolha por uma mulher como sucessora ocorre apenas na falta do
filho homem (MALÁN, 2005)6. Além disso, segundo Woortmann (1995), no processo
sucessório as mulheres, além de herdarem a terra em quantidade menor que os seus
irmãos, quando o herdam, não usufruem de sua parte, pois esta passa a ser administrada
pelo marido.
Nas sociedades rurais tradicionais, a mulher era um objeto importante nas
estratégias de casamento. Na França, por exemplo, até antes da Primeira Guerra
Mundial, nas famílias abastadas, nas quais o sucessor era um primogênito, a noiva ideal
para esse seria oriunda de uma família de posses que pudesse pagar um dote à família
do noivo. Esse dote serviria para indenizar os não sucessores. Quando o primogênito de
uma família abastada era uma mulher, as terras da família poderiam ser aumentadas
através da união com outro primogênito ou com um “segundão” que tivesse recebido
dinheiro que servisse para a compra de mais patrimônio. Nesse caso, o genro
geralmente ficava sob o poder do pai da esposa até a morte deste, passando a gerir a
propriedade após a morte de seu sogro. Ou seja, a mulher praticamente não tinha a
oportunidade de conduzir ela própria, nem mesmo as terras herdadas da sua família,
com raras exceções (CARNEIRO, 1998).
Ainda no que diz respeito ao casamento, assim como o filho mais velho era o
preferido como sucessor em algumas estratégias de herança no campo; no que diz
respeito ao casamento, a preferência recaía sobre a filha mais velha. Para as famílias
6 Lo normal em este sentido, ES que el proceso sucesorio se articule em torno a este, quien es el que
decide, cuando y como se transferirán las responsabilidades sobre la gestión de la empresa, a los hijos...
de este modo la gestión por parte de mujeres resulta ser excepcional y geralmente solo posible, em casos
de ausência de um sucesor váron em la familia. Em este sentido se senala, que la mayoria de los jóvenes
declara que los padres no han ejercido influencia sobre su didación laboral, lo cual contrasta com las
respuestas de la generación anteriror... (MALÁN, 2005, p. 4 e 6).
24
mais ricas, a estratégia era realizar o casamento mais cedo, pois a partilha das terras não
comprometia a reprodução social da nova família. Já para as famílias mais pobres, além
de retardarem ao máximo o momento da transferência do estabelecimento, é função do
sucessor ajudar nos dotes das irmãs, para só após ter a permissão para assumir a
propriedade (WOORTAMANN, 1995). Essa situação leva à conclusão de que para as
famílias mais capitalizadas a quantidade de terras produtivas disponíveis seria suficiente
para todos os filhos. Já nas famílias mais pobres existiria terra produtiva apenas para o
sucessor, devendo o escolhido contribuir para a indenização, mesmo que simbólica, das
irmãs. Essa tradição “administrada” pela autoridade do pai no estabelecimento
colocava-se como tentativa de, ao mesmo tempo, amenizar possíveis conflitos
decorrentes da desigualdade na hora da partilha, além de contribuir para que a(s) filha(s)
tivesse(m) um dote, que poderia servir de incentivo para o casamento dela(s) e sua
manutenção no campo.
Nesse sentido, Silvestro et al. (2001) ponderaram que, para as mulheres de
menor renda permanecerem no campo, era muito mais uma fatalidade do que uma
opção. Ainda segundo esses autores, a falta de participação das mulheres no acesso ao
crédito também pode ser tomada como forte indicativo de que elas não almejassem
continuar no campo. Em pesquisa realizada no Oeste de Santa Catarina, 85% das jovens
entrevistadas nunca fizeram empréstimo para investir na propriedade. Carneiro (1998)
relatou a frustração de mulheres dessa região em terem sido escolhidas como
sucessoras. Em famílias compostas apenas por mulheres, elas se viram obrigadas a
desistir de seus projetos de vida, deixando de lado os estudos para cuidarem não só de
seus filhos, mas, também, dos pais durante a velhice. Além disso, não tinham a garantia
legal de que herdariam a propriedade dos pais após o falecimento destes.
Para Weisheimer (2007 apud BRUMER, 2004), a participação das mulheres
nas atividades produtivas no campo ocorre em três situações: a) nos trabalhos de
execução manual, como os de limpeza do solo e colheita da produção; b) na limpeza, na
seleção e na embalagem da produção; e c) no cuidado e criação dos animais. Segundo
Malán (2005)7, mesmo as mulheres participando do processo produtivo, elas
7 Como lo ilustra esta expresión y lo senala Campana al respecto, es usual que la mujer rural tienda a
pensarse a si misma primero como “ama de casa” y secundariamente considerarse como “productora o
trabajadora”: elemento que muchas veces suele invisibilizar el papel productivo que realmente tiene ésta
(MALÁN, 2005, p.26).
25
internalizam a percepção de que não fazem parte dele, que a sua função seria ser “dona
de casa” e, secundariamente, ajudar na produção. Reforça essa perspectiva o fato de
que, de acordo com o Censo Agropecuário de 2006 (IBGE, 2011), haveria em
Silveirânia apenas 77 (14,75%) mulheres agricultoras e em Coronel Xavier Chaves,
apenas 17 (4,74%). No entanto, analisando os dados desse mesmo censo, observou-se
que existiam 276 estabelecimentos agropecuários em Silveirânia, sendo 26 (9,42%)
femininos e 181 estabelecimentos agropecuários em Coronel Xavier Chaves, sendo
nove (4,97%) femininos. Esses dados reforçam a teoria sobre a masculinização que
estaria ocorrendo no campo. Já alarmante, vale ressaltar que poderiam existir casos em
que a mulher seja apenas registrada como agricultora para ter acesso aos programas do
governo, por comodidade ou por alguma pendência por parte do marido, sendo de fato a
atividade produtiva realizada integralmente pelo marido.
Dessa forma, fica evidente, através dos costumes relativos ao minorato, ao
morgadio e à preferência pelos sucessores do sexo masculino, que a tradição poderia
continuar a fornecer os parâmetros normativos que definiriam o processo sucessório.
Contudo, a força das transformações econômicas e sociais também age sobre as práticas
e tradições, pressionando-as. No próximo item são apresentados os fatores ligados à
modernidade que poderiam influenciar no processo sucessório, provocando mudanças
nos costumes e tradições até então vigentes.
1.2 A influência dos fatores ligados à modernidade sobre o processo sucessório
Outros fatores elencados como podendo ser intervenientes para a presença do
sucessor nas unidades familiares produtivas de leite são aqueles relacionados à
modernidade. Segundo Rodrigues (1997), tradição e modernidade são processos que se
opõem, marcados pela ruptura de processos considerados tradicionais para processos
definidos como modernos. A passagem do tradicional para o moderno é um processo
conflituoso, que demanda uma necessidade intrínseca de ultrapassagem dos seus valores
reconhecidos. Nesse sentido, seria plausível considerar que moderno é tudo o que se
demarca em relação àquilo que permanece como tradicional, tal como o tradicional é
tudo aquilo que se demarca em relação àquilo que se apresenta como moderno.
26
Ressaltou esse autor que, muitas vezes, o retorno a processos tradicionais também
poderia ser considerado manifestação de modernidade.
Traditio, em latim, significa a transmissão de valores e conhecimentos a
terceiros. Já o termo Modernus conduz à ideia de recente. Valendo-se de processos
considerados como tradicionais, com a utilização de mão de obra familiar e baixo uso
de tecnologia, a pecuária leiteira familiar estaria passando por uma redefinição dos
ideais modernos, sendo influenciada para a modernização de seus processos produtivos
através do uso da tecnologia e novas formas de gestão. De acordo com Rodrigues
(1997), o esgotamento dos recursos naturais, processos políticos, condições de vida da
população e ideais de emancipação pesariam sobre a decisão de romper com um
processo tradicional para o moderno. Na pecuária leiteira, vale ressaltar que as
Instruções Normativas 51 e 62 vêm exercendo considerável influência para que os
produtores familiares de leite revejam seus costumes, deixando para trás processos
tradicionais e manuais no processo produtivo para o emprego da tecnologia e modernas
formas de gestão. Esse elemento, além de melhorar a eficiência dos produtores, poderia
também influenciar na decisão de continuar na atividade pelos filhos ou outros possíveis
sucessores no estabelecimento.
Para Salomon et al. (1993), a ruptura entre o tradicional e o moderno criaria
possibilidades de melhoria nos padrões de vida dos agricultores, sendo a ciência e
tecnologia instrumentos primordiais para a realização dessas expectativas. Entretanto,
ressaltaram esses autores que ciência e tecnologia não poderiam ter efeitos socialmente
benéficos se o contexto cultural e político não estivesse preparado para absorvê-las,
sendo esse um processo muito mais difícil e complexo que uma mera transferência de
recursos.
Para a pecuária leiteira, ciência e tecnologia estariam provocando considerável
impacto ao reduzir o trabalho físico e melhorar a qualidade de vida dos produtores.
Entretanto, não se pode afirmar que condições para acesso às novas tecnologias
estariam sendo disponibilizadas para os pequenos produtores de leite. Ao mesmo tempo
que a tecnologia poderia proporcionar melhor qualidade de vida aos produtores, ela
poderia também se transformar em fator de exclusão para aqueles que não conseguem
se adaptar ao seu uso, seja por questões tradicionais, em não querer mudar uma prática
que consideravam que “está dando certo”, seja por falta de condições de acesso. Assim,
27
segundo Salomon et al. (1993), a tecnologia poderia ser considerada, por alguns, como
forma de escravização humana e destruição, como poderia ser considerada por outros,
como força libertadora de processos tradicionais que gera melhores condições de vida
para as pessoas. Para esses autores, fatores sociais e culturais influenciariam o papel que
a ciência e tecnologia desempenham em determinada sociedade. Entretanto, é certo que
políticas públicas, ciência e tecnologia, em conjunto, podem transformar estruturas
sociais e modos de comportamento.
A adoção da tecnologia isoladamente não implicaria, necessariamente,
mudança social nos agentes envolvidos. Porém, não se pode subestimar que a adoção de
novas tecnologias pode modernizar e aumentar a eficiência de atividades tradicionais,
proporcionando formas sustentáveis para exploração dos recursos naturais e provocar a
ruptura nos hábitos e meios de subsistência adotados (SALOMON et al., 1993). Para a
pecuária leiteira familiar, a acumulação de capital isoladamente não seria considerada
como garantia de crescimento. Valores culturais, como o gosto pela atividade, a
qualidade de vida e a organização do setor, também são fundamentais para satisfazerem
as necessidades dos agricultores, estimulando-os a continuar na atividade. Assim, para
Salomon et al. (1993) a análise de interação entre a sociedade e a tecnologia deveria ser
realizada, levando-se em conta as características de cada país ou sociedade. Qualquer
que seja o nível tecnológico adotado, o desenvolvimento das necessidades dos
agricultores só será alcançado através da mudança do tradicional para o moderno, e nem
sempre poderá ser mensurada quantitativamente apenas por indicadores econômicos.
Nesse sentido, torna-se necessário avaliar as implicações futuras sobre duas situações:
como modernizar sem sacrificar a tecnologia? E como preservar a tradição sem
comprometer a modernização? O dilema relatado se faria jus tendo em vista que o
Estado, que deveria ser o tomador de decisões capaz de conduzir todo o processo de
mudança do tradicional para o moderno, estaria se tornando cada vez menos influente
no controle de fenômenos econômicos, sociais, ambientais ou tecnológicos que ocorrem
presentemente no mundo.
Nesse cenário, concluem Salomon et al. (1993) que a ciência e tecnologia
podem contribuir significativamente para o desenvolvimento da sociedade, porém o
desenvolvimento é uma busca incerta, que levanta questionamentos sobre sua
viabilidade ou não. A ciência e tecnologia não oferecem solução pronta para o problema
de valores, decorrente da colisão entre tradição e modernidade. Consoante às rupturas
28
trazidas pela modernidade, a modernização, que não se confunde com aquela,
envolveria, segundo Solé (1998), além das variações quantitativas nas condições
materiais de existência, variações qualitativas nos modos de vida, como: alterações nos
valores que orientam as práticas e as atitudes e os comportamentos dos indivíduos. Tais
aspectos serão explanados nos itens que se seguem.
1.2.1 A influência da tecnologia e do associativismo na produção leiteira
Poderia, à primeira vista, parecer incoerente admitir que ciência e tecnologia
possam gerar, além das expectativas de progressão e êxito nas atividades, a expectativa
de abandono. O fato, porém, é que, às vezes, a modernização tecnológica vem por força
de determinações legais, como aconteceu, por exemplo, com a Normativa 51, de
18/09/2002, voltada para a atividade leiteira, a qual visava alcançar maior controle sobre
os animais e a ordenha mecanizada. Os agricultores, diante do imperativo da legislação,
foram obrigados a mudar a sua forma de produzir, a fim de se adequarem às exigências
da normativa, o que resultou na sobrevivência no mercado de menor contingente de
produtores. Silvestro et al. (2001), em estudo realizado no Oeste de Santa Catarina,
classificaram os produtores que mudaram a sua forma de produção para atender aos
imperativos da modernização agrícola como produtores especializados ou capitalizados.
Os dados apresentados na tabela 5 por Guanziroli et al. (2011) apontaram para esse
cenário de redução da participação dos pequenos produtores na atividade leiteira.
Tabela 5 – Participação na produção animal
Tipo de produção animal 1996 2006
Pecuária de corte 23,64 16,65
Pecuária de leite 52,05 38,88
Suínos 58,46 52,45
Aves 39,86 30,34 Fonte: GUANZIROLI et al., 2011.
29
Já no Uruguai, segundo Malán (2005)8, onde a pecuária leiteira também passou
por considerável modernização, com melhorias no manejo do rebanho, a introdução do
uso da genética para a apuração da raça, das melhorias no transporte, do uso de
equipamentos para resfriar o leite e da utilização da ordenhadeira para facilitar o
trabalho do produtor, tiveram efeito positivo sobre os pequenos produtores, que não
foram excluídos do processo de modernização; pelo contrário, melhoraram as suas
expectativas de continuidade na atividade. Nesse sentido, Stropasolas (2011) chamou a
atenção para o fato de que a adoção de tecnologia pelos pequenos produtores poderia,
sim, melhorar a qualidade de vida deles, mas, ainda assim, em determinadas atividades,
como a pecuária leiteira, a necessidade do trabalho diário, incluindo os finais de
semana, continuaria a se constituir em um fator desestimulante para os jovens, mesmo
para aqueles inseridos em estabelecimentos economicamente viáveis.
Outro aspecto levantado por Lemos (2010) que não se refere diretamente a
esses fatores culturais relacionados às expectativas dos jovens rurais quanto à atividade
leiteira diz respeito ao fato de que, mesmo considerando que a tecnologia possa
melhorar a condição de trabalho dos produtores rurais, nem sempre ela é desenvolvida
de forma a contemplar os pequenos produtores, não sendo compatível com as suas
necessidades. Além disso, segundo o referido autor, apenas o acesso à tecnologia de
produção não seria suficiente para a manutenção desses produtores no mercado, visto
que seria necessário a eles o acesso às estratégias de gestão do estabelecimento, as quais
eram ignoradas por parte significativa dos agricultores.
Para Buainain (2007), uma possível alternativa para aumentar os ganhos seria o
associativismo, prática utilizada pelos agricultores europeus no passado para enfrentar
as crises na agricultura e, também, por quase a metade dos agricultores familiares no Sul
do Brasil. O associativismo, além de gerar ganhos de escala, pode também reduzir os
custos dos insumos utilizados na pecuária familiar. As associações de pequenos
produtores têm exercido importante papel com a utilização de tanques coletivos, o que,
8 Dicho modelo consistió básicamente entre otros cambios en: la incorporación de praderas artificiales
plurianuales, que permitiron mejorar y estabilizar la oferta forrajera; avances em las prácticas sanitárias;
el mejoramiento en la base genética del ganado y em su manejo reprodutivo; introducción de máquinas de
ordene, equipos de frio y transporte, etc. además outra de las características que fueron destacables, fue
que durante el proceso de modernización la lecheria no margino a la pequena producción, sino que por el
contrario capto un número importante de productores familiares, que adoptó esta actividad al ser
desplazados de otros rubros (MALÁN,1995, p. 11).
30
além de gerar redução nos custos e ganho de escala na revenda do leite, fortaleceria a
relação entre os produtores e os possíveis sucessores no estabelecimento.
Para além das práticas associativistas, a adoção de tecnologias acessíveis aos
pequenos produtores tem sido apontada como capazes de dinamizar a atividade, bem
como melhorar a sua expectativa futura em relação à produção leiteira. Têm sido citadas
na literatura especializada as seguintes formas de manejo, práticas e uso de tecnologia: o
sistema de ordenha mecânica, em virtude de este ser percebido como capaz de reduzir a
necessidade de contratação de mão de obra; a realização de duas ordenhas diárias, em
razão da possibilidade de aumento da produtividade; o sistema de reprodução por
inseminação artificial; o manejo dos bezerros; e o manejo geral do rebanho, sendo
todas essas práticas voltadas para a busca de maior racionalidade na atividade (RUAS,
2010)9. Entretanto, os dados levantados por Guanziroli et al. (2011) referentes ao uso de
tecnologia entre os agricultores familiares indicam um quadro bem diferente em relação
à realidade desses (Quadro 6).
Tabela 6 – Uso de tecnologia entre os agricultores familiares no Brasil
Variáveis Selecionadas 1996 2006
Utiliza assistência técnica 16,67 20,88
Associado à cooperativa 12,63 4,18
Usa energia elétrica 36,63 74,1
Força animal 22,67 38,75
Força mecânica 27,5 30,21
Força manual 49,83 31,04
Usa irrigação 4,92 6,23
Usa adubos e corretivos 36,73 37,79 Fonte: GUANZIROLI et al., 2011.
Esses dados, por si, já dão uma dimensão do quanto o processo sucessório
entre produtores de leite poderia ser afetado pelo baixo nível tecnológico presente nas
atividades que desenvolvem.
9 Para Queiroz (2010), outro modelo que melhoraria a eficiência dos agricultores familiares seria o uso de
sistemas silvipastoris (SSPs). Para a pecuária familiar, uma opção seria a Integração Lavoura Pecuária
(ILP), que propõe a introdução de fileiras de eucaliptos entre a lavoura e o pasto. Nesse caso, a lavoura
poderia custear a recuperação do pasto e as árvores representariam uma opção de renda futura, sem a
perda da renda obtida com o uso do pasto.
31
1.2.2 Crédito
Segundo Mingatto (2005), as alterações no ambiente institucional na pecuária
leiteira dividiram o setor, aumentando a informalidade entre os produtores de leite, uma
vez que as alterações não foram acompanhadas pela oferta de crédito e capacitação para
os pequenos produtores. Nesse sentido, com o intuito de alavancar o segmento, o
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) começou a
ofertar aos agricultores possibilidades de obtenção de financiamentos com baixas taxas
de juros. Para Mattei (2006), o programa, presente em quase todos os municípios
brasileiros, veio atender a uma antiga reivindicação dos pequenos produtores rurais que,
secularmente marginalizada pelas políticas públicas federais, demandavam a
implantação de políticas públicas para o setor, que, de acordo com o Censo
Agropecuário 2006, representava 84,4% dos produtores rurais.
Segundo Mattei (2006), o PRONAF estruturou-se, a partir de 2003, com quatro
linhas de crédito: a) financiamento da produção; b) financiamento de infraestrutura e
serviços municipais; c) capacitação e profissionalização dos agricultores familiares; e d)
financiamento da pesquisa e extensão rural. Embora essas linhas de crédito tenham
sofrido algumas modificações, especialmente no que diz respeito à rubrica destinada aos
serviços municipais, que foi deslocada para programas de caráter territorial, saindo do
Pronaf, o programa vem mantendo a sua estrutura básica, com mudanças efetivadas ao
longo desse período para a correção de distorções relativas à concentração na
distribuição dos recursos.
No Estado de Minas Gerais, por exemplo, apenas 5,5% do crédito era utilizado
pelos pequenos produtores. Ainda de acordo com esses autores, o programa apresenta
maiores avanços quantitativos do que qualitativos, pois a oferta de crédito se dá
desacompanhada de exigências específicas para a sua aplicação, como adequação à
legislação sanitária, fiscal e trabalhista, a capacitação do trabalhador rural e a
implementação de infraestrutura básica (estradas em boa condição de escoamento e
circulação do produto, saneamento básico, energia etc.). Essa lacuna tem dificultado o
desenvolvimento do setor (AZEVEDO; PESSOA, 2011).
32
A despeito disso, segundo Mattei (2006), o programa gerou efeitos positivos
para o desenvolvimento dos agricultores familiares, capitalizando e aumentando a
produtividade no campo brasileiro, melhorando, assim, as perspectivas dos futuros
sucessores. Segundo esse autor, em 10 anos de existência o programa tornou-se
referência para o desenvolvimento da agricultura familiar nacional. A análise
comparativa, realizada por Guanziroli et al. (2011), da agricultura familiar no Brasil
entre 1996, ano do início do PRONAF, e 2006, ano de publicação dos dados do Censo
Agropecuário, indicou a seguinte configuração dessa agricultura.
Tabela 7 – Participação dos estabelecimentos familiares brasileiros
Variável 1996 2006
Percentual de estabelecimentos familiares 85,17 87,48
Percentual da área dos estabelecimentos familiares 30,48 32,36
Percentual de VBP familiares 37,91 39,68
Percentual pessoal ocupado 76,85 77,99 Fonte: GUANZIROLI et al., 2011.
VBP (Valor Bruto da Produção).
Segundo Buainain (2007), entretanto, a ausência de modelos eficazes de gestão
e a iminência de uma situação de insegurança alimentar poderiam levar os agricultores
familiares a produzirem somente para a subsistência e até desviarem recursos oriundos
de créditos que deveriam ser utilizados para investimentos na propriedade. No que diz
respeito às questões relacionadas ao processo sucessório nas unidades produtoras de
leite, considera-se que os investimentos no estabelecimento, através do crédito, podem
melhorar as condições de trabalho do produtor e sua eficiência na atividade,
constituindo-se, assim, em fatores fundamentais para estimular os futuros sucessores.
1.2.3 A relativização do tamanho da propriedade para a sucessão e a influência da
proximidade dos centros urbanos e do acesso à escolaridade
De acordo com Romeiro (2007) e Silvestro et al. (2001), em um rural
tradicional o tamanho da propriedade poderia influenciar diretamente nos resultados
obtidos pelos agricultores familiares e na decisão sobre como seria conduzido o
processo sucessório. Assim, uma propriedade com tamanho reduzido poderia não ser
33
sustentável economicamente se dividida entre todos os herdeiros. Para Woortmann
(1995), a diminuição no número de filhos das famílias no campo estaria diretamente
ligada à quantidade de terras hoje disponíveis.
Segundo Ruas (2010), no Brasil a área média dos estabelecimentos familiares
seria de 18,37 ha, enquanto nos não familiares, 309,18 ha. Observou-se que entre os
agricultores familiares a quantidade de terras seria insuficiente para a divisão entre os
herdeiros, pois poderia não existir terras produtivas para todos. Na pesquisa realizada
por Perrachón (2011), no Uruguai, mesmo sendo a minoria no país, entre os agricultores
familiares pesquisados não existiam agricultores com área inferior a 100 ha, e 61,3%
possuíam área entre 100 e 500 ha para desenvolverem suas atividades. Nesse caso,
desde que produtivas, o tamanho da propriedade também poderia ser considerado
suficiente para a divisão entre os possíveis herdeiros.
Para Carneiro (1998), o tamanho da propriedade isolado não explicaria como
os produtores determinam as estratégias para a sucessão. Outros fatores como as
questões relacionadas à educação e o desejo de sucesso profissional interferiria na
decisão sobre a sucessão. Segundo Carneiro (2001), o maior nível de escolaridade e a
possibilidade de obtenção de emprego na cidade seriam considerados como meio de
ascensão social por parte dos rurais. O estudo que era compreendido como uma forma
de herança para os filhos que não se tornariam sucessores passa a ser percebido como
uma possibilidade de “melhorar de vida”, inclusive pelos pretensos sucessores. Segundo
Stropasolas (2011), as mulheres investiriam mais na educação do que os homens,
sobretudo para se prepararem para o mercado de trabalho na cidade. Em Minas Gerais,
jovens filhos de produtores de leite com maior nível de escolaridade e que participavam
de alguma atividade no processo produtivo acreditavam que realizar estudos técnicos ou
de nível superior na área de ciências agrárias pode diminuir o trabalho pesado exigido
pela atividade. Para os jovens com nível de educação superior, aspectos educacionais
associados às informações de mercado, gerência e qualidade foram considerados
fundamentais para o exercício da atividade leiteira (TEIXEIRA et al., 2012).
Para Stropasolas (2010), embora tenha aumentado a renda das famílias no
campo, a desvalorização da profissão de agricultor e a falta de opções no campo, no que
se refere a lazer e à pouca disponibilidade de tempo livre, em virtude da necessidade de
realização de trabalho, inclusive, nos finais de semana, têm levado os pais a
34
incentivarem os filhos a estudarem e a buscarem uma profissão alternativa à agricultura.
Essa busca estaria, sobretudo, correlacionada com as mulheres, que percebiam as
desigualdades a que estavam submetidas no meio rural.
Nesse sentido, Brumer (2007) afirmou que os jovens, entre 15 e 24 anos,
seriam os mais influenciados pelas mudanças trazidas pelo processo de modernização
por que passava o campo no Brasil. Segundo ela, os jovens que vivem no campo
desejam o acesso aos bens de consumo e lazer, manifestando, de forma mais intensa que
outros segmentos etários, uma tendência migratória. O fato de enxergarem na cidade
melhores oportunidades de emprego, de vida, acesso a bens de consumo e lazer, além de
acesso aos serviços públicos, seriam determinantes para isso. Tais perspectivas e
anseios por parte dos jovens rurais poderiam se constituir, portanto, em fatores
intervenientes no processo sucessório em estabelecimentos agropecuários.
Segundo Silvestro et al. (2001), o fato de o jovem se vislumbrar na cidade e
não no campo como sucessor poderia fazer que ele deixasse de se preparar para essa
função. Segundo esses autores, os jovens que se capacitassem para gerenciar o
estabelecimento agropecuário apresentariam menores chances de deixar a propriedade
do que aqueles que não se capacitassem. Assim, avaliar a vida na cidade como mais
vantajosa para si do que a vida no campo poderia constituir fator interveniente no
processo sucessório.
Mediante tais considerações, seria pertinente considerar, também, que os
processos culturais, políticos e econômicos do mundo contemporâneo, como a
globalização, o desemprego estrutural, as migrações nacionais e internacionais etc.,
envolveriam todos os indivíduos, independentemente de estarem na cidade ou no
campo. No entanto, em face desses processos que envolveriam transformações
estruturais, as tradições dos rurais não seriam soterradas ou dissolvidas. Suas
percepções e seus comportamentos seriam reelaborados de formas ativa e consciente.
As suas avaliações e julgamentos em relação aos processos de modernização
demonstrariam a sua condição de agentes sociais envolvidos em processos em níveis
local e global, capazes de efetivar as escolhas “possíveis” em face das transformações
vividas (BRUMER, 2007).
35
Seria pertinente também considerar, ainda, que a proximidade com os centros
urbanos se apresentaria, cada vez mais intensa, modificando os modos de vida das
pessoas que vivem no campo. Segundo Rambaud (1969), em seu estudo da sociedade
rural da França, na década de 1960, isso aconteceria porque os rurais avaliariam de
forma positiva o acesso à tecnologia poupadora de mão de obra e potencializadora da
produtividade, bem como o acesso aos bens duráveis, como carro, moto, trator etc., e a
outros bens de consumo, como eletrodomésticos, televisão, telefone, internet e tudo que
pudesse favorecer a melhoria da qualidade de vida no campo, segundo seu julgamento.
A busca por qualidade de vida e melhores condições de trabalho e remuneração
constituiria, aliás, segundo Ruas (2010), uma das razões pelas quais a atividade leiteira
estaria perdendo a atratividade entre os jovens rurais. Tradicionalmente, a atividade
leiteira, no Brasil, vem de uma história de baixo uso de tecnologia, devido à
possibilidade de utilização de terras marginais e pastos nativos pelos agricultores, a fim
de minimizar seus custos e resistir às variações dos preços. Entretanto, essa conduta ao
largo do aparato tecnológico teria resultado na utilização de práticas penosas de trabalho
e exigiriam longa jornada diária, que se iniciaria ainda de madrugada e terminaria já à
noite. Apesar disso, esses aspectos resultaram em baixa rentabilidade, fatores mais do
que suficientes para desestimular o interesse dos jovens pela atividade. Assim, as
agências de extensão rural, como a EMATER de Minas Gerais, vêm atuando no sentido
de adequar as práticas relacionadas à atividade leiteira às modernas formas de gestão e
às tecnologias utilizadas não apenas para aumentar a sua eficiência produtiva, mas,
também, para que os filhos dos produtores possam almejar continuar na atividade.
36
CAPÍTULO II
A INFLUÊNCIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E DAS PRÁTICAS DE
CAPACITAÇÃO PARA A SUCESSÃO NA PECUÁRIA LEITEIRA
Segundo Nogueira (2012), a pecuária leiteira brasileira estaria diante de boas e
oportunas chances. O preço recebido pelo produtor encontra-se no maior nível nos
últimos 12 anos. Entretanto, apesar dos preços mais elevados, as margens de lucro dos
produtores vêm recuando ano a ano. Tal recuo se explicaria pelo aumento superior dos
custos diante da receita, tendo como destaque o preço do milho e da mão de obra. Esta
última se revela menor e pouco qualificada, sendo exercida, muitas vezes, apenas pelo
proprietário, que, além de não poder contar com ajuda na produção, percebe que a
continuidade da atividade pode estar comprometida.
Assim, busca-se, neste capítulo, descrever as politicas públicas que poderiam
influenciar no processo sucessório em unidades familiares de produção de leite nos
municípios onde a pesquisa foi realizada, tais como programas de capacitação para os
produtores e seus filhos, possíveis sucessores, para que os mesmos produzam de acordo
com as atuais normas sanitárias, adoção de programas de pagamento por qualidade e as
principais carências do setor, apontadas no censo agropecuário de 2006, para o estado
de Minas Gerais.
Ainda segundo Nogueira (2012), o Brasil possuiria produtores altamente
tecnificados e gerenciariam suas propriedades com maior eficiência do que qualquer
produtor de qualquer parte do mundo. Entretanto, possuiria também produtores que se
enquadrariam em um cenário de produção rural da Idade Média e necessitariam
urgentemente mudar o seu modo de produção, por questões de segurança alimentar e
sobrevivência no mercado. Com o intuito de regular e melhorar a qualidade da pecuária
leiteira, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) criou a
Instrução Normativa nº 51/2002.
De acordo com Bourroul (2012), pela IN 51, desde julho de 2011 o leite
entregue à indústria deveria ter no máximo 400 mil/ml de Contagem de Células
37
Somáticas (CCS) e 100 mil/ml de Unidades Formadoras de Colônias de Bactérias
(CBT). Porém, pesquisa realizada pela Embrapa Gado de Leite revelou que 45% dos
rebanhos analisados ainda não atendiam às exigências da normativa. Assim, no dia 30
de dezembro de 2011, o MAPA publicou a IN 62, que prorrogou para 2016 o prazo para
que os produtores atingissem o valor máximo de 400 mil/ml de CCS e 100 mil/ml de
CBT. A justificativa para tais exigências expressas na normativa era de que os valores
de CCS e CTB impactariam na vida útil e sabor do leite produzido.
Para atingir esse patamar de qualidade, algumas políticas públicas foram
consideradas fundamentais pela Embrapa Gado de Leite, como: a) criação de um
Programa Nacional de Controle e Prevenção da Mastite; b) investimentos em energia
elétrica e estradas; c) capacitação para os técnicos em extensão rural; d) melhoria do
acesso ao crédito para a produção de leite; e) treinamento do ordenhador; e f) incentivo
às empresas de lácteos a adotarem programas de pagamento por qualidade (BOURROU,
2012).
Segundo Silvestro et al. (2001), existiria ampla demanda para o
desenvolvimento de políticas públicas para capacitar os jovens produtores rurais, a fim
de que estes pudessem melhorar a geração de renda na propriedade. Ainda segundo os
autores, faltariam políticas públicas voltadas para a sucessão familiar, preparando os
filhos que assumirão a propriedade. Os jovens rurais entre 15 e 24 anos não estariam
sendo incluídos satisfatoriamente nas políticas públicas voltadas para o campo. Esse
fato, aliado ao envelhecimento e masculinização da população no campo e ao cenário de
empobrecimento de grupos sociais rurais, desestimularia os jovens, comprometendo,
assim, a sucessão nos estabelecimentos rurais (STROPASOLAS, 2010). O depoimento
de um dos entrevistados, em Silveirânia, corrobora essa perspectiva apontada por
Stropasolas (2010). Segundo o entrevistado, todos os dias ele “força” que o casal de
filhos os ajude na ordenha para estimulá-los a tomar gosto pela atividade, mas a
sensação é de que os filhos deixarão o campo futuramente.
Segundo Bonnal (2007), novos temas deveriam ser colocados em discussão ao
se definirem as políticas públicas para o campo, entre os quais as questões de gênero e
sucessão. Para Brumer (2007), em se tratando do tema sucessão no campo, novas
políticas seriam necessárias, tendo em vista a mudança nos padrões sucessórios devida,
em parte, à significativa redução no número de filhos e, em parte, a mudanças nas
38
relações familiares, que possibilitem aos jovens buscar alternativas individualizadas em
relação ao seu futuro, principalmente para aqueles que residem próximos aos centros
urbanos. Para essa autora, a maioria dos agricultores brasileiros proprietários tem um
sucessor, enquanto os que ainda não o possuem têm a possibilidade de fazê-lo, no
momento oportuno, entre seus herdeiros. Entretanto, é importante a criação de projetos
com ênfase na análise de processos concretos de sucessão ou não sucessão dos
estabelecimentos familiares. Esses estudos deveriam ser realizados em regiões diversas
do Brasil, focalizando diferentes arranjos econômicos e situações familiares.
Segundo Comeford (2007), na região da Zona da Mata mineira, observa-se
uma conciliação entre o direito legal e as expectativas costumeiras das famílias para
elaborarem qual será a estratégia sucessória no campo. Conseguir conduzir um bom
processo de sucessão significa importante valoração moral e um acúmulo de reputação,
mesmo que, em termos de dimensão física e valor econômico, o patrimônio fundiário
seja pequeno. Esse autor relata dois casos na região da Zona da Mata mineira, em que os
interesses pessoais se sobrepuseram ao coletivo, o que gerou a partilha desigual após o
falecimento dos pais, sendo beneficiado aquele que cuidou dos pais durante a velhice,
sem ser o administrador da propriedade. Após a divisão, o herdeiro que ficou com a
maior parte veio a vendê-la para seu vizinho, desintegrando o patrimônio fundiário e o
relacionamento entre o restante da família, que não concordava com a atitude, mas
legalmente nada poderia fazer. Observa-se, no caso relatado, o desinteresse do filho(a)
que cuidou dos pais durante a velhice e foi contemplado com uma parcela a mais na
herança. Entretanto, a atividade leiteira não faria parte do futuro almejado por esse
filho(a), que ao vender sua parte na herança impossibilitou que os demais irmãos,
inclusive aquele que já administrava a propriedade, continuassem na atividade.
Situações de perda de interesse pela propriedade seriam minimizadas, segundo
Varella (2008), com o aumento da produção e do preço recebido pelo produtor, em
virtude do desencadeamento de um ciclo virtuoso que passaria pelo estímulo a
investimentos e a permanência do produtor e do futuro sucessor na propriedade.
Segundo Lima et al. (2010 apud FAGUNDES, 2005), os baixos e defasados preços
recebidos dificultariam que os produtores realizassem investimentos para se adequarem
às normas para a produção e comercialização do leite. Nesse sentido, a quantidade de
laticínios instalados na região seria essencial para o desenvolvimento dos produtores e
para a manutenção deles no mercado formal. Assim, segundo Lima et al. (2010), tornar-
39
se-ia necessária a capacitação dos produtores para a sua inserção ou continuidade no
mercado, citando como exemplo, em Minas Gerais, o projeto Programa de
Desenvolvimento da Pecuária Leiteira, fomentado pela Nestlé em parceria com as
Universidades Federais de Viçosa (MG) e de Goiânia (GO). O programa, por meio da
extensão rural, além de preparar melhor o estudante, levaria ao produtor leiteiro o
conhecimento tecnológico que permitiria o seu crescimento e continuidade na atividade.
De acordo com o site da Nestlé (2012), o programa seria executado com produtores que
demonstrassem interesse em participar e possuíssem propriedade nas proximidades de
uma das universidades parceiras. O auxílio seria dado por meio de assistência técnica às
propriedades, realizada por estudantes dos últimos anos de Medicina Veterinária,
Agronomia, Zootecnia, Tecnologia em Laticínios, Engenharia de Alimentos e
Agrimensura, sob a orientação de técnicos do projeto e professores das universidades.
Projetos de capacitação como esses com os pequenos produtores de leite têm
sido apontados, na literatura, como tendo ressonância para o processo sucessório em
virtude de possibilitar a transferência de tecnologia para os produtores e melhorar a sua
capacitação gerencial, o que resultaria no crescimento da atividade leiteira, no aumento
de sua competitividade e na melhoria da expectativa dos agricultores em relação à sua
permanência na atividade10. Segundo Lima et al. (2010), observaram-se maior nível de
escolaridade e menor idade entre os produtores que decidiram participar do programa.
Para Silvestro et al. (2001), os produtores, ao se capacitarem, aumentam suas
possibilidade de se capitalizarem e, consequentemente, diminuem os problemas
enfrentados em relação à sucessão em seus estabelecimentos.
O desenvolvimento de práticas proativas avessas ao comportamento passivo de
esperar receber do Estado o amparo necessário faria parte do perfil produtivo favorável
à manutenção na atividade leiteira e à efetivação do seu sucessor. Em Minas Gerais,
analisando 615 produtores assistidos pelo programa de capacitação implementado pelo
Educampo em parceria com o SEBRAE-MG nos anos de 2009 e 2010, concluiu-se que
os produtores tiveram aumento de produtividade, alcançado através da avaliação que
tiveram a oportunidade de fazer em relação a firmarem contrato no qual avaliavam os
10
Em funcionamento desde 1988, a maior parte dos investimentos em Viçosa provém de recursos do
Dairy Partners Américas – “Parceiros em Laticínios nas Américas” (DPA) e, desde 2006, conta também
com a participação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE). Desde
1988, 282 propriedades participaram do programa nos dois Estados e apresentam, hoje, aumento médio
de 360% na produção (NESTLE, 2012).
40
custos e benefícios em pagar pela assistência técnica recebida. O valor cobrado foi
calculado sobre três variáveis: a produção do agricultor, o salário mínimo vigente e o
combustível gasto11 no deslocamento do técnico. O pagamento pelo serviço permitia ao
produtor o direito de cobrar pelos resultados, ao mesmo tempo que permitiria ao técnico
acompanhá-lo na implementação das práticas orientadas (GOMES, 2010).
O projeto tinha como pressuposto que para se firmar na atividade leiteira e
tornar-se capaz de passá-la ao seu sucessor, o produtor necessitaria, ainda, capacitar-se
gerencialmente. Assim, a capacitação era voltada para diagnosticar os problemas e
potenciais da propriedade e elaborar o planejamento da “empresa rural”, passando pelo
estabelecimento de metas, com a elaboração do cronograma de atividades e da avaliação
de resultados, sem deixar de lado a parte técnica da produção. O SEBRAE e o
Educampo visavam, através desse projeto, enfim, desenvolver a capacidade do produtor
em avaliar o impacto e a viabilidade da adoção de novas tecnologias e formas
gerenciais, a fim de que ele pudesse manter a propriedade viável para o futuro sucessor
na atividade. Atualmente, em Minas Gerais, o projeto atende 1.084 pecuaristas
individualmente, além de realizar palestras, dias de campo e outras atividades em grupo.
Os produtores contemplados com o programa passaram a recolher menos tributos por
litro de leite, devido ao ganho de eficiência e escala (NASCIF, 2012).
Teixeira et al. (2012), em pesquisa com jovens filhos de produtores de leite
cooperados, em Coronel Pacheco, Minas Gerais, identificaram que eles apontavam a
baixa rentabilidade da atividade leiteira, o trabalho penoso, a falta de internet e a
distância da cidade como restritivos para que eles continuassem na atividade leiteira. Os
jovens pesquisados acreditavam que mudanças efetivas na produção em direção à
especialização ocorreriam somente quando eles próprios assumissem a propriedade, em
vista de os seus pais manifestarem resistência à adoção da tecnologia e modernas
técnicas de gerenciamento da propriedade rural. Contudo, por força da lei, a necessidade
dessas mudanças já se colocou no presente na vida dos produtores de leite através da IN
51.
Acreditava-se, inicialmente, que a implantação da IN 51 seria motivo de
exclusão dos pequenos produtores de leite, que não teriam condições de se adequarem
11
O técnico recebe por visita, segundo a fórmula: ½ salário mínimo + quilometragem (1/3 do preço da
gasolina) + 1% da renda bruta do produtor, calculada sobre o preço-base do leite (GOMES, 2010).
41
às novas exigências. Contudo, iniciou-se um processo de adaptação. Diante da exigência
da refrigeração do leite como procedimento para garantir a sua qualidade, adotou-se o
financiamento de tanques coletivos ou comunitários, implantados, em sua maioria, com
intermediação de associações de produtores, permitindo o cumprimento da legislação e
a redução dos custos de produção, embora ainda seja necessário continuar o processo de
capacitação dos produtores para a utilização dos tanques coletivos (BRITO et al., 2010).
Outro aspecto a ser aprimorado se relacionava, segundo Brito et al. (2010), com o
trabalho em coletividade, diante da necessidade de que todos contribuíssem para a
melhoria da qualidade do leite em conjunto, reconhecendo cada um sua
responsabilidade pelo resultado final. Por fim, esses autores observaram que a
introdução do tanquinho como forma de armazenamento do leite, além de diminuir os
custos com transportes, facilitou a entrega do produto por parte dos produtores. Tais
inovações têm sido apontadas como capazes de manter os pequenos produtores de leite
na atividade, tornando-a, inclusive, mais rentável e atrativa.
Foto 7 - Tanque coletivo na Comunidade Mina – Silveirânia.
Fonte: Pesquisa de campo – março de 2012.
Foto 8 - Tanque coletivo na Comunidade Tejuco – Silveirânia.
Fonte: Pesquisa de campo – março de 2012.
42
Foto 9 - Tanque individual, utilizado por produtor em Coronel
Xavier Chaves.
Fonte: Pesquisa de campo – fevereiro de 2012.
Outra forma de intervenção com os pequenos produtores de leite de Minas
Gerais que vem dinamizando a atividade por eles desenvolvida é o Programa de
Aquisição de Alimentos (PAA). A modalidade de Incentivo à Produção e Consumo de
Leite (PAA Leite) foi criada para contribuir com o aumento do consumo de leite pelas
famílias que se encontravam em situação de insegurança alimentar e, também, como
forma de incentivar os pequenos produtores. O PAA Leite atualmente beneficia todos os
Estados da Região Nordeste e também o Norte de Minas Gerais (MDS, 2012).
Em parceria com laticínios, que devem participar de um processo licitatório
para aderirem ao programa, o governo garante a compra de toda a produção aos
produtores cadastrados. Para participar do programa, o produtor deve produzir no
máximo 100 litros diários, possuir declaração de aptidão ao Pronaf (DAP), enquadrar-se
nas categorias A, A/C, B, ou agricultor familiar, e comprovar estar com as vacinas dos
animais em dia. Todo esse processo, intermediado pelas associações de produtores, é
avaliado como podendo incentivar o produtor a realizar investimentos na propriedade e
vislumbrar o melhor futuro para a atividade (MDS, 2012). Dados retirados do Censo
Agropecuário de 2006 reforçam iniciativas como essa do PAA ao mostrarem o quadro
da sucessão familiar no campo das mesorregiões onde se encontram localizados os dois
municípios pesquisados.
43
Tabela 8 - Caracterização da pecuária leiteira nas mesorregiões Zona da Mata mineira e Campo das
Vertentes
Mesorregião
Unidade Campo das
Vertentes
Zona da
Mata
Filhos que serão sucessores % 67,44 43,02
Filhos que serão sucessores conciliando a
atividade leiteira com outra
% 11,63 20,93
Filhos que deixarão o campo % 9,30 23,26
Filhos que venderão a propriedade % 11,63 12,79
Filhos que pretendem abandonar a atividade % 6,67 18,18
Área total média ha 73,38 52,67
Tanque individual % 36,00 19,0
Tanque coletivo % 2,00 18,00
Ordenhadeira mecânica % 27,0 14,0
Idade média Anos 52,98 53,37
Origem do próprio município % 75,56 82,83
Origem de outro município % 22,22 16,16
Origem de outro estado % 2,22 1,01
Filhos menores de 12 anos Und 0,24 0,47
Filhos maiores de 12 anos Und 1,22 0,52
Filhos menores de 12 anos trabalhando na
produção do leite
Und 0,89 0,72
Filhos maiores de 12 anos trabalhando na
produção do leite
Und 0,07 0,04
Filhas menores de 12 anos Und 0,24 0,47
Filhas maiores de 12 anos Und 1,22 0,52
Filhas menores de 12 anos trabalhando na
produção do leite
Und 0,89 0,72
Filhas maiores de 12 anos trabalhando na
produção do leite
Und 0,07 0,04
Residem no campo % 66,67 70,71
Residem na cidade % 33,33 29,29
Fazem controle de receitas e despesas da
produção
% 24,44 15,15
Participaram de treinamento % 37,78 27,27
Treinamento SEBRAE % 0,0 3,33
Treinamento EMATER % 17,65 6,67
Treinamento Sindicato Rural % 64,71 36,67
Utilizou crédito rural % 40,00 21,21
Consideram fácil o acesso à propriedade % 62,22 96,97
Recebem por qualidade % 44,44 24,24
Falta orientação técnica aos produtores % 28,89 49,49
Faltam empregados capacitados % 28,89 15,15
Faltam tanques para resfriamento % 20,00 18,18
Falta acesso a crédito % 13,33 14,14
Produção diária L 178,92 185,30
Pretendem melhorar a tecnologia % 84,44 53,54 Fonte: Diagnóstico da pecuária leiteira em Minas Gerais, 2006 (adaptado pelo autor).
44
Considerando apenas os dados relativos ao percentual de filhos que deverão se
tornar sucessores, percebe-se, em contrapartida, um grande percentual de propriedades
que estão em situação de incerteza quanto ao seu futuro, o que gera, no mínimo, uma
falta de planejamento para a manutenção da atividade leiteira e, mesmo, da propriedade
no futuro. De acordo com o diagnóstico da pecuária leiteira em Minas Gerais (2006), o
setor seria carente das seguintes políticas públicas:
Investimento na capacitação dos filhos do produtor, justificado pelo aumento na
idade média do produtor, indicando uma possível falta de sucessores.
Crédito rural com melhores taxas.
Incentivo à educação. Segundo o diagnóstico, existe relação positiva entre o
volume produzido, a escolaridade do produtor e a decisão por continuar na
atividade.
Investimentos para aumentar o número de vacas em lactação em relação ao total
de vacas.
Capacitação para que sejam realizados controles administrativos e
estabelecimento de metas para as propriedades.
Treinamentos para a produção de leite com qualidade.
Acompanhamento por parte da entidade promotora do treinamento com vistas a
verificar se os produtores estão utilizando os conhecimentos na propriedade.
Treinamento específico para ordenhador.
Maior uso da inseminação artificial, que pode aumentar a produtividade,
principalmente entre os produtores até 50 L/D.
Pagamento por qualidade.
Melhores condições de infraestrutura (estradas e energia).
Ainda de acordo com o diagnóstico, as ações deveriam ser voltadas em essencial
para os produtores até 50 litros/dia, que no período de 1995 a 2005 apresentavam
considerável redução no número de estabelecimentos. Já os produtores com produção
acima de 1.000 litros/dia aumentaram o número de estabelecimentos, o que aumentou a
produção no Estado. As regiões mineiras Campo das Vertentes e Zona da Mata foram as
que apresentaram maior redução na quantidade de leite produzido.
No sentido de minimizar tais fragilidades foi lançado, no final de 2005, o
Programa Estadual da Cadeia Produtiva do Leite, Minas Leite, voltado para a
45
capacitação dos produtores de leite no Estado, a fim de aumentar a qualidade de vida
dos produtores e a gestão dos estabelecimentos onde é exercida a pecuária familiar, com
produção de até 200 litros/dia. O programa, executado em parceria com a Empresa de
Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Emater, prefeituras, sindicatos
rurais, cooperativas e associações, atende aqueles produtores que se candidataram,
voluntariamente, para participarem do programa (EMATER, 2012).
Outro programa que estaria se destacando em Minas Gerais, o Sistema Mineiro
de Qualidade do Leite (SMQL) vem capacitando os produtores de leite, por meio da
contratação da empresa neozelandesa Quality Consultants of New Zealand (Qconz) em
parceria com a Emater local para adequar as fazendas às boas práticas de produção.
Números divulgados pela empresa contratada para realizar a capacitação, QConz
América Latina, apontam a redução significativa na contagem bacteriana total (CBT) e
na contagem de células somáticas (CCS) nos laticínios que aderiram ao programa,
segundo o Sindicato da Indústria de Laticínios do Estado de Minas Gerais (SILEMG,
2011). A melhoria na qualidade do leite seria o primeiro passo para que os produtores
possam pleitear o aumento no preço recebido pela venda do produto e gerar maior
estímulo para que eles continuem a produzir o leite.
Nos meses de fevereiro e abril de 2012, os dois municípios pesquisados
receberam o treinamento de boas práticas pela empresa QConz América Latina e
Emater local, tendo o autor desta dissertação acompanhado e participado de alguns
momentos dessa capacitação.
Em Coronel Xavier Chaves, o treinamento foi ministrado pelo diretor da
empresa, Bernard Woodcock, uma agrônoma e o técnico da Emater no município. Foi
realizado um encontro geral no primeiro dia, na sede da APLEI, com explicações
teóricas e duas visitas por dia, pelos associados, em propriedades diferentes, durante
seis dias, para demonstrar na prática os conteúdos discutidos no primeiro dia.
Em Silveirânia, o treinamento foi realizado por uma zootecnista, acompanhada
do técnico da Emater local. A maior parte dos treinamentos ocorre nos tanques
coletivos, em muitos casos utilizando como estratégia o horário de entrega do leite pelos
produtores. O treinamento foi, também, realizado em propriedades particulares, com a
participação dos produtores mais próximos. Cabe ressaltar que, de acordo com a IN 51,
46
um tanque coletivo deve atender os produtores num raio de 5 km, o que dificultaria o
agendamento individual em propriedades particulares.
Foto 10 - Capacitação dos produtores em Coronel Xavier Chaves – Emater e
SMQL.
Fonte: Pesquisa de campo – fevereiro de 2012.
Foto 11 - Capacitação dos produtores em Silveirânia – Emater e SMQL.
Fonte: Pesquisa de campo – abril de 2012.
2.1 A situação da eficiência produtiva nas unidades produtivas de leite pesquisadas
O tema da eficiência12
produtiva aponta para um enquadramento de práticas e
racionalidades voltadas para o mercado. Um dos parâmetros para se estabelecer a
eficiência produtiva na pecuária leiteira é o equilíbrio entre os custos e a receita. Na
análise do Diagnóstico da Pecuária Leiteira de Minas Gerais 2006, Gomes (2007)
12
Considerou-se no trabalho o termo eficiência como práticas que podem contribuir para o aumento da
produtividade e redução dos custos dos produtores. Assim, o aumento da renda auferida pelos produtores
poderia ser uma consequência da eficiência produtiva, mas não necessariamente seu objeto principal.
47
estimou o ponto de equilíbrio13
, de acordo com o qual os custos do produtor se
igualariam à receita:
Tabela 9 – Ponto de nivelamento para produção de leite em Minas Gerais
Faixa de produção (litros/dia) Ponto de equilíbrio (litros/dia)
Até 50 65
50 – 200 163
200 – 500 313
500 a 1000 550
Acima de 1000 1339 Fonte: GOMES, 2007.
De acordo com Gomes (2007), em Minas Gerais os produtores com produção na
faixa até 50 litros e de 50 a 200 litros diários operam com prejuízo, porque a receita
gerada não é suficiente para cobrir os custos no processo produtivo. Já os produtores
com produção acima de 200 litros diários conseguem obter retorno financeiro na
atividade. Essa situação de baixa eficiência produtiva que atinge os pequenos produtores
de leite ainda se agravou na década de 1990, pelo fato de o governo brasileiro ter
diminuído as subvenções diretas para a agricultura e, no que tange à pecuária leiteira
especificamente, a implementar diretrizes normativas visando à melhoria da qualidade
do leite. Tais direcionamentos da política agrícola levaram à saída do mercado por parte
daqueles produtores que não se profissionalizaram.
Procurou-se assim, neste estudo, identificar os fatores que influenciavam na
eficiência produtiva dos pecuaristas de leite de caráter familiar nos dois municípios
pesquisados, os quais apresentavam produtores com perfil tecnológico diferenciado.
Tomou-se como variáveis independentes do estudo, ou seja, as variáveis que podem ser
manipuladas para investigar a causa de determinado efeito, o acesso ao crédito, o nível
de tecnificação e o tamanho da propriedade. As variáveis foram analisadas com o intuito
de verificar sua influência para a eficiência dos produtores de leite. Para classificar os
produtores em eficientes ou ineficientes, utilizou-se a tabela ponto de equilíbrio
apresentada por Gomes (2007). Em Silveirânia, 69,2% dos produtores viviam
exclusivamente da pecuária leiteira e 23,1%, além da pecuária leiteira, eram
aposentados. Já em Coronel Xavier Chaves, 48,4% viviam exclusivamente da pecuária
leiteira e 25,8%, além da pecuária leiteira, eram aposentados. Assim, observa-se em
13
Ponto de equilíbrio é o ponto em que as receitas e despesas do produtor se igualam, considerando-se
entre as despesas a mão de obra do produtor.
48
Coronel Xavier Chaves uma tendência para atividades pluriativas pelos produtores de
leite. As Tabelas 11 e 12 apresentam os resultados do teste t para a idade nos dois
municípios pesquisados e as Tabelas 13 e 14, dos testes t para o tamanho da
propriedade.
49
Tabela 10 – Teste T de amostras independentes para a idade - Silveirânia
Teste de Levene
para igualdade de
variações
Teste t para igualdade de médias
F Sig. t df Sig. (2
extremidades)
Diferença
média
Erro-
padrão de
diferença
95% intervalo de
confiança da diferença
Inferior Superior
Idade
Variações iguais
assumidas 0,102 0,751 -0,595 50 0,555 -2,477 4,164 -10,841 5,887
Variações iguais não
assumidas
-0,544 9,090 0,599 -2,477 4,551 -12,756 7,801
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
Tabela 11 - Teste T de amostras independentes para a idade – Coronel Xavier Chaves
Teste de Levene para
igualdade de
variações
Teste t para igualdade de médias
F Sig. t df Sig. (2
extremidades)
Diferença
média
Erro-padrão
de diferença
95% intervalo de
confiança da diferença
Inferior Superior
Idade
Variações iguais
assumidas 0,121 0,731 1,935 29 0,063 7,580 3,917 -,432 15,591
Variações iguais
não assumidas
1,911 26,246 0,067 7,580 3,966 -,570 15,729
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
50
Tabela 12 - Teste T de amostras independentes para tamanho da propriedade - Silveirânia
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
Teste de Levene
para igualdade de
variações
Teste t para igualdade de médias
F Sig. t df Sig. (2
extremidades
)
Diferença
média
Erro-
padrão
diferença
95% intervalo de
confiança da
diferença
Inferior Superio
r
Área
Variações
iguais
assumidas
46,751 0,000 -3,424 50 0,001 -108,955 31,819 -172,864 -45,045
Variações
iguais não
assumidas
-1,470 7,049 0,185 -108,955 74,102 -283,931 66,022
51
Tabela 13 - Teste T de amostras independentes para tamanho da propriedade – Coronel Xavier Chaves
Teste de Levene
para igualdade de
variações
Teste t para igualdade de médias
F Sig. t df Sig. (2
extremidades
)
Diferença
média
Erro-
padrão de
diferença
95% intervalo de
confiança da
diferença
Inferior Superio
r
Área
Variações
iguais
assumidas
2,033 0,165 -1,278 29 0,211 -12,420 9,718 -32,296 7,455
Variações
iguais não
assumidas
-1,300 28,981 0,204 -12,420 9,551 -31,954 7,113
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
52
No próximo parágrafo são apresentadas as análises das Tabelas 11, 12, 13 e 14.
Para análise do teste t, deve-se analisar o primeiro sigma. Para um primeiro sigma >
0,05, analisa-se o segundo sigma, na primeira linha. Para um primeiro sigma < 0,05,
analisa-se o segundo sigma, na segunda linha. Para valores de sigma < 0,05, considera-
se que as médias analisadas são diferentes. Para analisar o teste do qui-quadrado, deve-
se analisar o valor de sigma encontrado no Chi-quadrado de Pearson. Para tabelas 2 x2,
analisa-se o valor de sigma encontrado na linha Correção de Continuidade, enquanto
para tabelas que possuam no máximo até 25% dos valores < 5 é analisado o sigma na
linha Fisher's Exact Test.
O teste t, usado para testar uma hipótese, apresentou como resultado sigma igual
a 0,555 em Silveirânia e 0,063 em Coronel Xavier Chaves, para a média das idades.
Nesse sentido, como o valor encontrado foi superior a 0,05, percebeu-se que a variável
idade era igual entre os produtores eficientes e ineficientes. Já a variável tamanho da
propriedade apresentou sigma igual a 0,185 em Silveirânia e 0,204 em Coronel Xavier
Chaves. Pode-se dizer assim que, para os agricultores familiares produtores de leite de
Silveirânia e Coronel Xavier Chaves, o tamanho da propriedade não influência na
eficiência do produtor, diferenciando-se da maior parte dos pequenos agricultores em
nível nacional, em que o tamanho da propriedade está diretamente relacionado com a
eficiência do estabelecimento, pois, geralmente, nesses estabelecimentos o gado é
criado solto, necessitando de maior espaço por parte do produtor. Cabe ressaltar que os
produtores de Coronel Xavier Chaves são mais tecnificados que os produtores de
Silveirânia, sendo uma das finalidades do uso da tecnologia gerar mais eficiência em
menor espaço para os produtores de leite. A seguir serão apresentadas as Tabelas 14, 15,
16 e 17, com o teste de qui-quadrado realizado nos dois municípios:
Tabela 14 – Teste qui-quadrado em Silveirânia - Tabela 2 x 2 - 1
Eficiência do produtor Total
Ineficiente Eficiente
Já utilizou financiamento? Não 16 2 18
Sim 28 6 34
Total 44 8 52
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
53
Tabela 15 – Teste qui-quadrado em Silveirânia - Tabela 2 x 2 - 2
Valor df Sig. assint. (2
lados)
Sig exata (2
lados)
Sig exata (1
lado)
Chi-quadrado de Pearson 0,386a 1 0,534
Correção de continuidadeb 0,047 1 0,828
Razão de probabilidade 0,404 1 0,525
Fisher's Exact Test
0,698 0,426
Associação Linear por Linear 0,379 1 0,538
N de casos válidos 52
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
Tabela 16 – Teste qui-quadrado em Coronel Xavier Chaves – Tabela 2 x 2 - 1
Eficiência do produtor Total
Ineficiente Eficiente
Já utilizou financiamento? Não 7 5 12
Sim 7 12 19
Total 14 17 31
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
Tabela 17 – Teste qui-quadrado em Coronel Xavier Chaves – Tabela 2 x 2 - 2
Valor df Sig. assint.
(2 lados)
Sig exata (2
lados)
Sig exata
(1 lado)
Chi-quadrado de Pearson 1,372a 1 0,242
Correção de continuidadeb 0,641 1 0,423
Razão de probabilidade 1,376 1 0,241
Fisher's Exact Test
0,288 0,212
Associação Linear por
Linear 1,327 1 0,249
N de casos válidos 31
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
No teste do qui-quadrado, para um valor de x2 alto, acima de 0,05, deve se
considerar que as varáveis não são dependentes. Nesse caso, como o valor encontrado
para alfa no teste do qui-quadro foi superior a 0,05 em todos os casos, parece lícito
54
supor que a eficiência do agricultor e o acesso ao crédito são variáveis independentes,
podendo indicar que apenas políticas públicas para acesso ao crédito não proporcionam
o desenvolvimento do setor e que o PRONAF, modalidade utilizada por 87% dos
produtores que declararam já terem realizado financiamento, pode ser uma política
pública equivocada por parte do governo. Entretanto, como parcela considerável dos
produtores foi classificada como ineficiente, 85% em Silveirânia e 45% em Coronel
Xavier Chaves, de acordo com as Tabelas 14 e 16, que evidenciam que outras ações,
além do acesso ao crédito, como participação em associações e cooperativas,
treinamento e uso de tecnologias adequadas, podem contribuir com os agricultores
produtores de leite.
Em Silveirânia, 65,4% dos entrevistados utilizavam ou já utilizaram algum
financiamento, sendo em sua totalidade o PRONAF. Já em Coronel Xavier Chaves,
61,3% dos entrevistados já utilizaram ou utilizavam algum financiamento, 38,7%
utilizaram o PRONAF e 22,6% usavam as linhas especiais para produtor rural. Nesse
sentido, não parece plausível considerar que o PRONAF beneficia apenas os produtores
mais capitalizados.
Para os produtores que já realizaram algum financiamento para investirem na
propriedade, em Silveirânia o motivo principal foi para investimentos em custeio
(aquisição de insumos, construção de um curral ou outras melhorias no
estabelecimento). Já em Coronel Xavier Chaves o principal motivo para a realização do
financiamento foi para investimento em equipamentos, corroborando, juntamente com o
fato de apenas 21,1% dos entrevistados em Silveirânia utilizarem a ordenhadeira
mecânica, diante de 90,3% em Coronel Xavier Chaves, município considerado mais
tecnificado que Silveirânia.
Os testes de hipóteses e qui-quadrado são importantes métodos para se avaliar o
resultado de políticas públicas. Portanto, ao avaliar a influência do crédito sobre a
eficiência dos produtores de leite associados em Silveirânia e Coronel Xavier Chaves,
observou-se que, em Silveirânia, a maior parte dos agricultores possuía baixa produção,
não conseguia cobrir os custos da atividade com a receita advinda da produção e não
conseguiria sobreviver exclusivamente com a produção do leite. Já em Coronel Xavier
Chaves observou-se volume maior de produção e mesmo entre os produtores que foram
classificados como ineficientes, os quais apresentaram boa produção e poderiam não
55
estar atingindo o ponto de nivelamento no momento devido ao fato de o rebanho não
estar no período de maior produtividade no ano, geralmente após a recria.
Deve-se ressaltar que os agricultores familiares não são especializados na
produção de um único produto e boa parte de sua produção é utilizada para consumo
próprio, algumas vezes, inclusive, com recursos que deveriam ser investidos na
propriedade. As alterações no ambiente institucional, como a IN 51, buscam melhorar a
qualidade do leite, através de normas sanitárias, como a exigência de resfriamento na
propriedade, mas ao mesmo tempo excluem os agricultores que não conseguem acesso
ao crédito para se adequarem à legislação ou o utilizam de forma incorreta. É essencial a
criação de políticas públicas direcionadas não somente ao acesso ao crédito, mas
também com o intuito de modernizar os métodos gerenciais e a tecnologia utilizada em
conformidade com a realidade desses agricultores, que por apresentarem certa
resistência à mudança e serem menos capitalizados podem não satisfazer os interesses
financeiros de empresas privadas.
56
CAPÍTULO III
O PROCESSO SUCESSÓRIO NAS UNIDADES PRODUTORAS DE LEITE DE
SILVEIRÂNIA E CORONEL XAVIER CHAVES
Após a apresentação, no capítulo anterior, das políticas públicas, programas e
projetos voltados para fortalecer a atividade leiteira entre os pequenos produtores,
busca-se, neste capítulo, analisar os fatores que estariam influenciando o processo
sucessório em unidades familiares de produção de leite nos municípios onde a pesquisa
foi realizada. Foram definidas duas situações: a) propriedades com sucessor já definido
e b) propriedades com forte possibilidade de que exista um sucessor, como mostrado na
Tabela 18.
Conforme salientado por Brumer (2007), a intenção de se tornar sucessor não é
garantia de que o filho assumirá a propriedade. Mas o que chama mesmo a atenção é o
baixo percentual daqueles produtores que afirmaram já ter um sucessor definido na
atividade leiteira em razão, talvez, do fato de a sucessão ser tratada como questão
melindrosa entre os produtores rurais. Quando se consideram aqueles que disseram que
não sabiam quem seria o sucessor, mas que a atividade terá um, mesmo que este ainda
não tenha sido definido, pouco mais da metade dos proprietários de Silveirânia
manifestou segurança quanto à perspectiva de continuidade da atividade leiteira no
futuro. Já em Coronel Xavier Chaves nem a metade dos produtores de leite se
manifestou dessa forma. Se comparados com os dados da Tabela 8 sobre a mesorregião
a que pertenciam, observa-se que Silveirânia está acima da média apresentada na Zona
da Mata sobre a expectativa de que haja pelo menos um sucessor na propriedade,
enquanto Coronel Xavier Chaves estava abaixo dos resultados apresentados para a
região Campo das Vertentes.
57
Tabela 18 - Percepção sobre a possibilidade de existir sucessor nas propriedades rurais de leite de
Silveirânia e Coronel Xavier Chaves
Variável Silveirânia
Coronel
Xavier Chaves
Freq. % Freq. %
Já foi definido 8 15,4 1 3,2
Não sabe quem ficará, mas um ficará 20 38,4 11 35,4
Não sabe se alguém ficará na propriedade 12 23,1 10 32,3
Ninguém demonstra interesse em ficar 6 11,5 2 6,5
A propriedade deverá ser vendida 3 5,8 1 3,2
Os filhos são muito jovens para fazer a escolha 3 5,8 6 19,4
52 100,00 31 100,0
0 Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
Aprofundando mais a compreensão relativa à perspectiva de sucessão,
apresenta-se, a seguir, o cenário relativo aos proprietários entrevistados, por estrato de
produção média/diária de leite. Os dados das Tabelas 19 e 20 apontam para um cenário
futuro preocupante em Silveirânia. Segundo o estudo realizado por Gomes (2007) e
explicado no item 2.1, os produtores com produção diária inferior a 200 litros não
obteriam lucro com a atividade. A pesquisa realizada em Silveirânia mostrou que era
nesse estrato, justamente, que se concentravam o maior percentual de produtores que
afirmaram que provavelmente teriam um sucessor. Considerando esses parâmetros de
possibilidade de lucro estimado por Gomes (2007), a situação encontrada em Coronel
Xavier Chaves seria mais promissora, visto que as propriedades com possibilidade de
sucessor se encontravam em maior percentual, justamente, no estrato com produção
superior a 200 litros diários e estariam obtendo melhores retornos com a atividade, o
que pode estimular que os filhos almejem continuar na atividade futuramente.
Tabela 19 - Possibilidade de existir sucessor nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel
Xavier Chaves - Frequência
Estratos de produção (litros/dia)
Até 50 51 a 100 101 a 200 Acima de 200
Silveirânia
Já foi definido 1 4 2 1
Alguém ficará 6 4 8 2
7 8 10 3
Coronel
Xavier
Chaves
Já foi definido 0 0 0 1
Alguém ficará 0 2 3 6
0 2 3 7
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
58
Tabela 20 - Possibilidade de existir sucessor nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel
Xavier Chaves - Porcentagem
Estratos de produção (litros/dia)
Até 50 51 a 100 101 a 200 Acima de 200
Silveirânia
Já foi definido 1,92% 7,69% 3,85% 1,92%
Alguém ficará 11,54% 7,69% 15,38% 3,85%
13,46% 15,38% 19,23% 5,77%
Coronel
Xavier
Chaves
Já foi definido 0,0% 0,0% 0,0% 3,23%
Alguém ficará 0,0% 6,45% 9,68% 19,35%
0,0% 6,45% 9,68% 22,58%
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
3.1 Apresentação e análise dos dados para propriedades com sucessor já definido
Inicia-se, a partir de agora, a apresentação dos dados relativos aos produtores
rurais que apresentavam sucessor definido a partir da sua caracterização
socioeconômica, mostrando o seu perfil religioso, o seu estado civil e a sua renda.
Conforme os dados apresentados na Tabela 21, os produtores com sucessor
definido em Silveirânia possuíam as características típicas dos pequenos produtores:
utilização de mão de obra familiar, não realização de outras atividades, complementada,
basicamente, pela aposentadoria, recebida por 62,5% dos produtores entrevistados. As
famílias apresentavam, em média, quatro filhos. A renda mensal mais baixa entre as
famílias se aproximava de três salários mínimos. Considerando a produção para o
autoconsumo e os gastos, comumente inexistentes, com a moradia e água, pode-se
considerar que a renda permite a reprodução da família e a manutenção da unidade
produtiva. Em Coronel Xavier Chaves, o único produtor que já havia definido quem
seria o sucessor possuía nove filhos, renda complementada pela aposentadoria e
escolheu o filho do meio para ser o sucessor. O produtor possuía duas casas, uma na
cidade e outra no campo, onde realizava as atividades com a ajuda do filho que será seu
sucessor. Esse filho era casado e estava na idade entre 40 e 50 anos.
59
Tabela 21 - AED perfil – Sucessor definido nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel
Xavier Chaves
Variável Silveirânia
Coronel
Xavier
Chaves
Freq % Freq %
Religião Católica 8 100,0 1 100
Produtor rural 3 37,5 - -
Produtor rural e aposentado 5 62,5 1 100
Casado 6 75,0 1 100
Divorciado 2 25,0 - -
Renda familiar anual entre R$12.000,01 e
R$20.000,00 3 37,5 1 100
Renda familiar anual entre R$20.000,01 e
R$30.000,00 2 25,0 - -
Renda familiar anual acima de R$30.000,00 3 37,5 - -
Realiza as atividades sozinho 1 12,5 - -
Realiza as atividades com ajuda de familiares 6 75,0 1 100
Realiza as atividades com ajuda de empregados 1 12,5 - - Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
No Município de Coronel Xavier Chaves, nenhuma variável analisada
apresentou resultado significativo para os testes de regressão devido apenas ao fato de
uma propriedade possuir o sucessor definido. Em Silveirânia, de acordo com os
resultados da regressão, na Tabela 22 o fato de o produtor residir na cidade influencia
positiva e fortemente a definição do sucessor, ou seja, residir na sede do município não
se constituía em obstáculo para a continuação à frente da atividade leiteira; muito pelo
contrário, poderia ser, até, fator positivo. As variáveis tamanho da propriedade e renda
bruta também influenciam positivamente, mas de forma menos intensa, na definição do
sucessor. A análise de regressão apontou, portanto, para a influência do aumento da
área e, ou, da renda e, ou, da residência na sede do município em relação à possibilidade
de o sucessor ser definido. São consideradas significativas variáveis com sigma < 0,10.
Tabela 22 - Regressão sucessor definido nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier
Município Variável B Sigma
Silveirânia
Residência (cidade) 4,448 0,011
Área 0,064 0,093
Renda bruta da propriedade 0,01 0,049 Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
60
Reforçando os dados do parágrafo anterior, a Tabela 23 realça a forma como a
residência na cidade parece estar associada com a definição do sucessor entre os
pequenos produtores de leite de Silveirânia. Outro fator que parece poder influenciar
indiretamente na manutenção da propriedade e, consequentemente, na possibilidade de
ela ter um sucessor é a receita dos produtores. Em Silveirânia, a receita bruta média
ficou em torno de R$3.142,80. Se for considerado que os pequenos agricultores
produzem parte dos alimentos que consomem e utilizam os pastos para a alimentação do
gado, seria razoável deduzir que a manutenção da propriedade poderia ser viável e
racional, ainda que a renda do leite isoladamente não desse lucro. Em Coronel Xavier
Chaves, como relatado anteriormente, o produtor possuía duas casas. Assim, ele
concentrava os dias de semana no campo com o filho e os finais de semana na cidade
com a esposa. A renda de R$5.000,00 mensais era superior à dos produtores de
Silveirânia, mas vale lembrar que em Coronel Xavier Chaves os produtores eram mais
tecnificados, o que aumentava sua eficiência.
Tabela 23 - AED das variáveis com sig < 0,10 presentes na regressão – Sucessor definido nas
propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves
Município Variável Freq % Média Mediana Mín Máx
Silveirânia
Resid. (Cid.) 6 75,0
Resid. (Campo) 2 25,0
Área (hectares) 42,0 51,0 12 65
Renda B. (R$) 3142,8 2100,00 1600,0 6000,0
Coronel
Xavier
Chaves
Resid. (Campo
e cidade) 1
100,
0
Área (hectares) 1 23,0
Renda B. (R$) 5000,0 Na análise da variável área foi excluído um outlier e na da variável renda bruta, dois outliers.
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
Ao analisar o nível tecnológico das propriedades que já possuem sucessor
definido, de acordo com a Tabela 24, em Silveirânia, notou-se que 87,5% dos
produtores utilizavam o sistema tradicional para manutenção da atividade e 75% a
ordenha manual, indo na contramão do que sugerem os especialistas para aumentar a
produtividade e lucratividade na pecuária leiteira. Contudo, se tal sistema ainda tem se
mostrado compatível com a manutenção da propriedade atualmente, no futuro a
61
continuidade na atividade poderá ser difícil, mesmo que a manutenção da propriedade
se mostre viável mediante o investimento em outra atividade, a exemplo do plantio de
eucalipto.
Foto 12 - Gado criado a pasto em Silveirânia, MG.
Fonte: Pesquisa de campo – março de 2012.
Já em Coronel Xavier Chaves a propriedade era provida de todos os recursos
tecnológicos que podem auxiliar no aumento da produtividade e redução do esforço
físico, o que, além de estimular os produtores continuarem na atividade, contribuiu para
que o leite seja produzido dentro das atuais normas sanitárias.
Tabela 24 - AED tecnologia sucessor definido nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel
Xavier Chaves
Variável Silveirânia
Coronel
Xavier
Chaves
Freq % Freq %
Utiliza máquina para redução do trabalho manual 2 25,0 - -
Ordenhadeira 1 12,5 - -
Ordenhadeira e trator 1 12,5 1 100,0
Sistema de criação semi-intensivo (pasto e ração) 7 87,5 1 100,0
Ordenha manual 6 75,0 - -
Realiza uma ordenha por dia 5 62,5 - -
Realiza duas ordenhas por dia 3 37,5 1 100
Sistema de reprodução com inseminação 4 50,0 1 100
Sistema de reprodução com monta natural 4 50,0 - -
Utiliza algum sistema integrado de produção 0 0,0 - - Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
62
A Tabela 25 apresenta a condição do produtor em relação à terra. Os dados nela
apresentados podem ajudar a compreender a condição de proprietário rural em uma
cidade pequena como Silveirânia, cuja distância entre campo e cidade é de
aproximadamente 18 km, considerando-se a comunidade mais longínqua. Essa distância
permite ao proprietário, residente no campo ou na cidade, o deslocamento diário, fato
que pode se configurar como favorável para a manutenção da propriedade e continuação
do processo sucessório, ainda que a atividade leiteira não se mostre viável em algum
momento, ou seja, a propriedade mostrar-se-ia maior que a atividade leiteira, ou esta
não seria um fim em si mesmo. Corrobora tal afirmação o fato de que as práticas de
manejo e cultivo utilizadas por grande parte dos proprietários eram tradicionais ou semi-
intensivas, não requerendo muitos investimentos e gastos, mas gerando alimentos para o
autoconsumo e para comercialização mais restrita.
Mesmo com o reduzido uso da tecnologia, os produtores de leite de Silveirânia
com sucessor já definido consideram o tamanho médio da propriedade (que ficava em
torno de 40 ha) adequado para as atividades desenvolvidas e as terras de boa qualidade -
62,5% desses produtores receberam pelo menos parte da terra sob a forma de herança. O
fato de esses produtores já terem passado por um processo de sucessão pode ser
favorável para que outro processo ocorra no estabelecimento. Em Coronel Xavier
Chaves, o produtor também considerava seus 23 ha adequados e que suas terras eram de
boa qualidade. Entretanto, nessa localidade o uso da tecnologia era superior em
comparação com Silveirânia.
63
Tabela 25 - AED estrutura fundiária sucessor definido nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e
Coronel Xavier Chaves
Variável Silveirânia
Coronel
Xavier
Chaves
Freq % Freq %
As terras são próprias 7 87,5 1 100
Produtores que receberam 100% da terra de
herança 2 25,0 - -
Produtores que receberam parte da terra de
herança e compraram outra parte 3 37,5 1 100,0
Não foi o único herdeiro 4 50,0 1 100
Foi o único herdeiro 1 12,5 - -
Os demais herdeiros não continuam na
propriedade 3 37,5 1 100
Consideram o tamanho da propriedade adequado 6 75,0 1 100
Consideram as terras de boa qualidade 7 87,5 1 100
Utilizam insumos para melhorar a qualidade do
solo 7 87,5 1 100
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
Outra variável considerada na pesquisa como podendo intervir no processo
sucessório nas unidades produtivas de leite é o nível educacional e, ou, a capacitação
profissional. A Tabela 26 apresenta a percepção dos produtores acerca do nível
educacional que eles consideram necessário para que um indivíduo possa ser um
produtor rural. Nos dois municípios pesquisados, corroborando os estudos de Silvestro
et al. (2001) e Carneiro (1998), observou-se a associação entre os que decidiram ficar na
propriedade e o baixo nível educacional apresentado. Entretanto, cabe ressaltar que
esses produtores estão se capacitando por meio de cursos ofertados pela Emater e
utilizando os conhecimentos adquiridos na propriedade. Além disso, um dado que se
destacou foi a afirmação de que consultavam os filhos, futuros sucessores, em relação às
decisões tomadas no estabelecimento.
Os dados indicaram, também, que a relação dos produtores rurais com a
propriedade não era de utilização de procedimentos gerenciais. As atividades
desenvolvidas não eram encaradas como atividades regidas pela lógica do mercado,
mas, antes, faziam parte do modo de vida rural dentro do qual o produtor nasceu e tem
vivido. Nesse sentido, algumas ações, como a participação em associações para a
produção, a compra e a venda de insumos e produtos, podem constituir porta de entrada
para o desenvolvimento de uma racionalidade voltada para o mercado.
64
Tabela 26 - AED escolaridade e capacitação, sucessor definido, nas propriedades rurais de leite de
Silveirânia e Coronel Xavier Chaves
Variável Silveirânia
Coronel
Xavier
Chaves
Freq % Freq %
Sugere o ensino médio para se tornar produtor 5 62,5 1 100
Possui o ensino básico 6 75,0 1 100
Consideram importante o estudo 8 100,0 1 100
Já realizou algum curso de capacitação 7 87,5 1 100
Utilizou o conhecimento adquirido na
propriedade 6 75,0 1 100
Possui e sabe utilizar computador 3 37,5 - -
Realiza registros da produção 1 12,5 - -
Os filhos participam das decisões 7 87,5 1 100
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
A Tabela 27 apresenta a percepção do produtor acerca da sua participação na
associação, ou seja, o julgamento que faz em torno da influência dessa participação para
os seus custos de produção e para o enfrentamento das exigências legais e a forma como
percebe a qualidade do leite mediante práticas coletivas. Além disso, o quadro apresenta
o percentual de produtores que tiveram acesso às inovações tecnológicas e às práticas de
caráter coletivo.
Segundo Buainain (2007), é essencial o papel das associações para que os
agricultores familiares possam manter-se no mercado, o que também foi afirmado pelos
próprios produtores. Em Silveirânia, 100% dos pesquisados consideravam importante os
subsídios fornecidos pela associação para a execução da atividade, principalmente para
a redução dos custos e, mesmo, para a melhoria da relação entre esses, visto que 75%
achavam que a associação melhorou a relação entre os produtores e tornou mais fácil a
entrega do leite. Vale ressaltar que, mesmo com a melhoria da qualidade do leite
promovida pela utilização dos tanques coletivos em Silveirânia, o leite ali produzido
ainda não se encontrava dentro dos padrões de qualidade exigidos pela atual legislação
e, por isso, os produtores ainda não recebiam por qualidade. Em Coronel Xavier
Chaves, mesmo sem o conhecimento da Normativa 51, o produtor possuía um processo
produtivo que se encaixava na atual legislação. Assim, parece lícito supor que, além de
diminuir o custo e melhorar o preço recebido, as associações auxiliavam para que os
produtores cumprissem as legislações pertinentes ao setor, o que poderia aumentar a
65
possibilidade de que possíveis produtores não fossem excluídos do mercado por estarem
produzindo de maneira informal.
Tabela 27 - AED associação e IN 51 sucessor definido, nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e
Coronel Xavier Chaves
Variável Silveirânia
Coronel
Xavier
Chaves
Freq % Freq %
A associação contribui com a atividade leiteira 8 100,00 1 100
Contribui com redução de custos 5 62,5 - -
Contribui com redução de custos e ganho de escala 3 37,5 1 100
Utilizam tanques próprios 1 12,5 1 100
Utilizam tanques coletivos 7 87,5 - - O tanque coletivo melhorou a relação entre os
produtores 6 75,0 - -
O tanque coletivo melhorou a qualidade do leite 5 62,5 - -
Conhece e utiliza a IN 51 1 12,5 - -
Conhece e utiliza parcialmente a IN 51 5 62,5 - -
Não conhece a IN 51 2 25,0 1 100
Considera que ficou mais fácil a entrega do leite 8 100,0 1 100 Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
Foto 13 - Momento de entrega do leite no tanque coletivo em Silveirânia.
Fonte: Pesquisa de campo – março de 2012.
A Tabela 28 apresenta os dados em relação à variável crédito, trazendo a
percepção dos produtores sobre os efeitos desse benefício para a realização de suas
atividades e para a aquisição de terras. Na análise da variável crédito, constatou-se que
62,5% dos produtores de Silveirânia utilizavam o Pronaf para investir na propriedade.
66
Contudo, percentual bem mais baixo fez uso do financiamento para a compra de
equipamentos e animais, o que reforça um tipo de racionalidade desassociada do
mercado. Dos produtores que realizaram empréstimo, apenas dois (40%) fizeram
financiamento para investir em equipamentos. Ainda assim, isso foi feito acompanhado
da modalidade custeio, diferentemente do produtor em Coronel Xavier, que se valeu do
financiamento de R$15.000,00 para investir em equipamentos, aumentando o nível
tecnológico do processo produtivo. Notou-se, assim, que em Silveirânia os recursos não
foram utilizados, em grande parte, para investimentos em tecnologia e, sim, para
manutenção da propriedade. O valor médio financiado foi de R$16.800,00, sendo o
tempo médio para pagamento de 11 anos.
Tabela 28 - AED crédito, sucessor definido, nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel
Xavier Chaves
Variável Silveirânia
Coronel
Xavier
Chaves
Freq % Freq % Já utilizaram financiamento para investir na
propriedade 5 62,5 1 100
Nunca utilizaram financiamento 3 37,5 - -
PRONAF 5 100,0 - -
Já utilizaram o Pronaf para aquisição de terras 1 20,0 - -
Já utilizaram o Pronaf custeio 1 20,0 - - Já utilizaram o Pronaf para compra de animais e
custeio 1 20,0 - -
Já utilizaram o Pronaf para compra de equipamentos - - 1 100 Já utilizaram o Pronaf para compra de equipamentos e
custeio 2 40,0 - -
Consideram que o financiamento gerou efeitos
positivos 4 80,0 1 100
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
Continuando a descrição acerca dos padrões tradicionais presentes no modo de
vida dos produtores rurais, apresenta-se a Tabela 29, referente às características do
processo sucessório. Nota-se, nessa tabela, que em Silveirânia a sucessão foi definida
com base em critérios estabelecidos de acordo com as tradições, com a escolha sendo
feita apenas pelo pai em 62,5% dos casos. Apesar de apenas dois produtores terem
respondido que as mulheres não possuíam as mesmas chances de serem escolhidas
como sucessoras, em nenhum dos oito casos havia a presença feminina como sucessora.
67
Nota-se, também, que os atuais proprietários utilizavam a estratégia de atrasarem ao
máximo a transferência da administração da propriedade e não pretendiam indenizar os
filhos não sucessores. O fato de esperarem que o filho sucessor cuide deles durante a
velhice reforça ainda mais a estratégia de atrasar o momento da transferência. Apenas
um produtor, classificado entre os mais produtivos do município, desejava realizar a
transferência imediatamente. Esse resultado reforça as conclusões do estudo de
Silvestro et al. (2001), que afirmaram que os produtores rurais mais capitalizados não
enfrentavam problemas sucessórios em seus estabelecimentos. Em Coronel Xavier
Chaves, o pai não influenciou na decisão do filho, e a decisão foi tomada pela família. A
transferência, entretanto, também não ocorrerá enquanto o pai estiver em condições de
trabalhar.
Tabela 29 - AED sucessão, sucessor definido, nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel
Xavier Chaves
Variável Silveirânia
Coronel
Xavier
Chaves
Freq % Freq %
Estimula o filho a ser produtor de leite 7 87,5 - -
Não estimula o filho a ser produtor de leite 1 12,5 1 100
A decisão foi tomada apenas pelo pai 5 62,5 - -
A decisão foi tomada pela família 3 37,5 1 100
As mulheres possuem as mesmas chances14
3 37,5 - -
As mulheres não possuem as mesmas chances 2 25,0 - -
Não possui filhas 3 37,5 - -
A transferência será realizada quando o sucessor
estiver preparado 3 37,5 - -
Não será feita enquanto o proprietário tiver
condições de trabalhar 2 25,0 - -
Não definiram ainda 2 25,0 - -
O mais breve possível 1 12,5 - -
Os filhos não sucessores receberão algum bem
para compensação 2 25,0 - -
Os filhos não sucessores não receberão nenhum
bem para compensação 6 75,0 1 100
Espera que o sucessor assuma a responsabilidade
de cuidar do proprietário na velhice 6 75,0 1 100
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
14
Outros três produtores (37,5%) não possuíam filhas e não consideravam a possibilidade de uma mulher,
uma sobrinha ou irmã, por exemplo, assumir a propriedade; os dois produtores restantes (25%) achavam
que as mulheres não possuíam as mesmas chances que os homens.
68
A seguir, analisar-se-á o processo sucessório em unidades produtivas onde o
sucessor ainda não foi definido, claramente, mas nas quais existe a possibilidade de
ainda sê-lo.
3.2 Apresentação e análise dos dados para propriedades com possibilidade de
sucessor
Entre as variáveis que mostraram ter influência sobre o processo sucessório em
propriedades nas quais o sucessor ainda não havia sido definido, claramente, aparecem:
a renda bruta da propriedade, o valor do crédito, a residência na cidade, a idade do
produtor e a participação dos filhos na tomada de decisão. Considerando-se como
significantes as variáveis com sigma < 0,10, de acordo com os dados da análise de
regressão da Tabela 30, em Silveirânia, o fato de o produtor residir na cidade e contar
com o auxílio dos filhos na tomada de decisões sobre as atividades executadas no
estabelecimento influência significativa e positivamente para que o estabelecimento
venha a ter um sucessor no futuro. As variáveis valor financiado e renda bruta da
propriedade também foram consideradas significantes, porém com leve influência sobre
a decisão, o que indica que, apesar de serem significantes, o aumento no valor
financiado e a receita não aumentarão consideravelmente a possibilidade de sucessores.
Já em Coronel Xavier Chaves, a variável residir na cidade possuía significância
e influência negativa para que a propriedade viesse a ter um sucessor. Um aspecto que
poderia explicar tal influência negativa diz respeito ao fato de que os produtores que
residem no campo possuem infraestrutura semelhante aos que moram na cidade e de o
acesso à cidade de São João Del Rei ser rápido e fácil. O fato de os filhos participarem
das decisões também foi considerado significante e positivo para o processo sucessório,
bem como a idade do produtor, que foi significativa e levemente positiva, indicando
que, quanto maior a idade do produtor, maior a chance de ter um sucessor escolhido.
69
Tabela 30 - Regressão possibilidade de sucessor nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel
Xavier Chaves
Município Variável B Sigma
Silveirânia
Residência (cidade) 2,931 0,027
Valor financiado 0,000 0,074
Filhos que participam das decisões 3,507 0,007
Renda bruta da propriedade 0,000 0,085
Coronel
Xavier
Chaves
Residência (cidade) -2,292 0,032
Filhos que participam das decisões 3,392 0,016
Idade do produtor 0,172 0,025 Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
A Tabela 31 complementa as análises apresentadas anteriormente quanto aos
fatores que incidem sobre a possibilidade de ter sucessor. Em Silveirânia, a tomada de
empréstimo do Pronaf para investimento na propriedade indicou estar relacionada com
aquelas propriedades que apresentam a possibilidade de ter um sucessor no
estabelecimento. Portanto, a variável crédito se mostrou influente para o processo
sucessório. Tal como os estudos de Teixeira et al. (2012), nas propriedades pesquisadas
a participação dos filhos na administração da propriedade também mostrou influenciar
na decisão de eles permanecerem na atividade. Assim, nos dois municípios pesquisados,
em mais da metade dos casos com possibilidade de sucessão, os filhos já participavam
das decisões no estabelecimento. Outro dado importante, considerando-se que esse foi
fator positivo para a possibilidade de haver pelo menos um sucessor, é que, de acordo
com a Tabela 8, nas mesorregiões onde estão inseridos, cerca de 30% dos produtores
residiam na cidade, média próxima dos valores encontrados nos dois municípios
pesquisados.
Tabela 31 - AED das variáveis com sig < 0,10 presentes na regressão com possibilidade de sucessor nas
propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves
Município Variável Freq % Média Mediana Mín Máx
Silveirânia
Resid. (cidade) 9 32,1
Valor financiado 15988,0 14500,00 3800,00 60000,0
Filhos (decisão) 15 53,6
Chance mulher 18 64,3
Renda 2908,00 2050,00 380,00 14000,0
Coronel
Xavier
Chaves
Resid. (cidade) 3 25,0
Filhos (decisão) 7 58,3
Idade 55,0 54,0 38,0 73,0 Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
70
A seguir, aprofunda-se a caracterização socioeconômica dos produtores rurais
que apresentam a possibilidade de terem sucessor. A religião católica não foi fator
influente na decisão sobre quem seria o sucessor, entretanto foi predominante entre
todos os produtores que apresentaram ou não a possibilidade de sucessor. De todos os
entrevistados, 96,2% em Silveirânia e 93,5% em Coronel Xavier Chaves declararam-se
católicos. Assim, em uma propriedade foi construída um capela, e em outra foi colocada
uma imagem na entrada da residência. A foto 14 apresenta a capela construída na
propriedade, em Coronel Xavier Chaves.
Foto 14 - Capela construída na propriedade de produtor – Coronel Xavier Chaves.
Fonte: Pesquisa de campo – março de 2012.
Em termos econômicos, os dados da Tabela 32 apontam para um baixo
percentual de produtores com renda mensal inferior a dois salários mínimos e que os
produtores de Coronel Xavier Chaves apresentavam percentual de renda mais elevado
do que os de Silveirânia. Em Coronel Xavier Chaves, 50% das propriedades com
possibilidade de sucessor possuíam renda familiar anual superior a R$30.000,00,
enquanto em Silveirânia esse percentual foi de 21,4%, assim como apresentava também
superioridade em relação ao percentual de produtores rurais aposentados. Em
Silveirânia, observou-se maior participação dos familiares nas atividades desenvolvidas,
ou seja: 72% contra 41,7%, em Coronel Xavier Chaves.
71
Tabela 32 - AED perfil dos produtores com possibilidade de sucessor nas propriedades rurais de leite de
Silveirânia e Coronel Xavier Chaves
Variável Silveirânia
Coronel
Xavier
Chaves
Freq % Freq %
Religião católica 27 96,4 12 100,0
Produtor rural 16 57,1 6 50,0
Produtor rural e aposentado 10 35,7 5 41,7
Casado 23 82,1 12 100,0
Família ajuda integralmente na propriedade 2 7,1 2 16,7
Família ajuda parcialmente na propriedade 18 64,9 3 25,0
Renda familiar anual até R$12.000,00 7 25,0 0 0
Renda familiar anual entre R$12.000,01 e
R$20.000,00 8 28,6 5 41,7
Renda familiar anual entre R$20.000,01 e
R$30.000,00 7 25,0 1 8,33
Renda familiar anual acima de R$30.000,00 6 21,4 6 50,0 Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
A Tabela 33 passa a apresentar aspectos referentes ao perfil produtivo relativo à
atividade leiteira. É notório que os produtores de Coronel Xavier Chaves são mais
tecnificados que os de Silveirânia, o que se revela na produtividade dos agricultores,
que foi de 135 litros/dia em Silveirânia e 251 litros/dia em Coronel Xavier Chaves.
Entretanto, a análise de regressão não considerou o fator tecnologia como significante
para a possibilidade de existir pelo menos um sucessor na propriedade. Ou seja, o fato
de 83,3% dos produtores em Coronel Xavier Chaves utilizarem alguma máquina para
redução do trabalho manual e 32,1% em Silveirânia, bem como na realização de duas
ordenhas diárias por 83,3% dos produtores em Coronel Xavier Chaves, em
contrapartida a 60,7% em Silveirânia, indica uma forma mais desenvolvida de manejo
entre os produtores de Coronel Xavier Chaves, o que possibilitaria a eles aumentar a
produtividade, mas isso não influenciou na possibilidade de que exista pelo menos um
sucessor.
72
Tabela 33 - AED tecnologia, possibilidade de sucessor nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e
Coronel Xavier Chaves
Variável Silveirânia
Coronel
Xavier
Chaves
Freq % Freq %
Utiliza máquina para redução do trabalho manual 9 32,1 10 83,3
Sistema semi-intensivo de criação 23 82,1 10 83,3
Ordenha mecânica 9 32,1 10 83,3
Utiliza inseminação 19 67,9 8 66,7
Utiliza sistema integrado de produção 3 10,7 3 25,0 Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
A Tabela 34 complementa esse perfil produtivo dos pesquisados nos dois
municípios, ao explicitar a finalidade do uso do crédito por eles acionado. O Pronaf foi
a modalidade de crédito mais utilizada entre os produtores rurais pesquisados. Em
Silveirânia, a média tomada emprestada foi de R$16.000,00 e em Coronel Xavier
Chaves, R$21.800,00. Em Silveirânia, os produtores utilizavam o crédito, em média, há
oito anos e em Coronel Xavier Chaves, 10 anos. Ao comparar os dados com a
mesorregião a que pertenciam, observou-se, de acordo com a Tabela 8, que os
produtores nos municípios pesquisados tomavam mais empréstimos em relação à média
na mesorregião.
Na mesorregião Campo das Vertentes, 40,0% dos produtores utilizavam o
crédito para investirem na propriedade, contra 50,0% em Coronel Xavier Chaves. Já na
mesorregião da Zona da Mata mineira, o crédito foi utilizado por 21,21% dos
produtores, contra 64,3% em Silveirânia. Porém, verificou-se que esses produtores não
chegavam a investir nem 35% do recurso em tecnologia, o que poderia comprometer a
sua eficiência produtiva. Assim, de acordo com o teste do qui-quadrado realizado no
item 2.1, os dados em relação ao crédito apontaram que seu acesso, de forma isolada,
não favoreceria o desenvolvimento eficiente dos produtores de leite. Entretanto, mesmo
sendo utilizado de forma a não favorecer a eficiência produtiva dos produtores, o crédito
mostrou-se associado à possibilidade de manutenção das unidades produtivas, de acordo
com os dados da regressão na Tabela 30, o que poderia aumentar a possibilidade de que
houvesse pelo menos um sucessor na propriedade.
73
Tabela 34 - AED crédito, possibilidade de sucessor nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e
Coronel Xavier Chaves
Variável Silveirânia
Coronel
Xavier
Chaves
Freq % Freq %
Já utilizou algum tipo de financiamento 18 64,3 6 50,0
Modalidade Pronaf 18 100,00 5 83,3
Investiu em tecnologia 5 27,8 2 33,3
Considera o financiamento oneroso 3 16,7 2 33,3
Considera burocrático realizar um financiamento 10 55,5 11 91,6 Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
A Tabela 35 amplia o perfil dos produtores, apresentando a sua situação em
relação à terra. Seus dados evidenciam que o tamanho das terras era considerado
adequado por 75% dos produtores em Silveirânia e 66,7% em Coronel Xavier Chaves,
mesmo com alguns deles utilizando terras arrendadas. A qualidade das terras também
foi considerada boa por 82,1% dos produtores em Silveirânia e 58,3% em Coronel
Xavier Chaves. Em Silveirânia, os agricultores possuíam as terras nas condições
apresentadas na Tabela 35, em média há 20 anos e, em Coronel Xavier Chaves, 18 anos.
Considerando a média de idade apresentada pelos agricultores dos dois municípios,
atualmente entre 55 e 56 anos, verificou-se que esses produtores adquiriram suas terras
com idade próxima aos 36 anos.
Tabela 35 - AED estrutura fundiária, possibilidade de sucessor nas propriedades rurais de leite de
Silveirânia e Coronel Xavier Chaves
Variável Silveirânia
Coronel
Xavier
Chaves
Freq % Freq %
As terras são próprias 21 75,0 9 75,0
As terras são arrendadas 6 21,4 3 25,0
Pelo menos uma parte das terras foi adquirida por
herança 16 57,1 6 50,0
Irmãos herdeiros venderam sua parte 9 32,1 3 25,0
Considera o tamanho adequado 21 75 8 66,7
Considera as terras de boa qualidade 23 82,1 7 58,3 Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
74
A Tabela 36 detalha a situação em relação à área total e à área utilizada pela
pecuária, relacionando-as com o percentual de possíveis sucessores. Nos municípios
pesquisados, entre as propriedades com possibilidade de sucessor, para determinar a
média do tamanho das propriedades, apenas uma possuía tamanho superior a 100 ha e
foi excluída da análise por ser classificada como um outlier (valor discrepante da média,
que pode influenciar no resultado). O tamanho reduzido das propriedades, com especial
atenção para Coronel Xavier Chaves, que possuía média inferior à de Silveirânia em
todas as classificações apresentadas, corrobora a necessidade do uso da tecnologia para
manter um processo produtivo eficiente e que uma propriedade com tamanho reduzido
poderia não ser sustentável economicamente se dividida entre todos os herdeiros.
Diferentemente do quesito crédito, as médias apresentadas nos municípios pesquisados
foram inferiores às das mesorregiões a que pertenciam, onde, de acordo com a Tabela 8,
a média geral do tamanho da propriedade foi de 52,67 ha na Zona da Mata mineira e
73,38 ha na mesorregião Campo das Vertentes.
Tabela 36 - AED área média nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves
Área total média (ha) Área média utilizada pela pecuária (ha)
Sucessor
definido
Possível
Sucessor
Geral Sucessor
definido
Possível
Sucessor
Geral
Silveirânia 39,86 56,00 46,81 38,29 31,64 28,66
Coronel
Xavier
Chaves
23,0 34,17 37,10 16,0 23,00 23,48
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
A escolaridade foi uma das variáveis, citadas na literatura, como intervenientes
no processo sucessório. A Tabela 37 apresenta os dados relativos ao nível de ensino dos
proprietários rurais pesquisados, bem como a qualificação para a atividade leiteira
através de cursos e a percepção dos produtores acerca da utilidade dos conhecimentos
adquiridos através dos eventos voltados para a qualificação na atividade leiteira para sua
prática cotidiana.
Em ambos os municípios pesquisados, apesar de a maioria dos produtores que
contavam com a possibilidade de sucessor ter apenas o ensino básico, eles acreditavam
que o estudo até o ensino médio, no mínimo, era importante para o jovem do meio rural.
75
Avaliaram como sendo úteis, ainda, os cursos técnicos e superiores voltados para a área.
Os cursos de capacitação dirigidos para as atividades agropecuárias foram também
considerados como importantes pelos produtores rurais. Contudo, a parte de formação
gerencial pareceu bastante deficitária entre os eles, em razão da baixa porcentagem de
produtores que faziam os registros relativos às atividades produtivas desenvolvidas nas
propriedades: 10,7% em Silveirânia e 33,3% em Coronel Xavier Chaves.
Tabela 37 - AED escolaridade e capacitação, possibilidade de sucessor nas propriedades rurais de leite de
Silveirânia e Coronel Xavier Chaves
Variável Silveirânia
Coronel
Xavier
Chaves
Freq % Freq %
Estudou até o ensino básico 22 78,6 7 58,3
Já participou de algum curso de capacitação 22 78,6 10 83,3
Utilizou os conhecimentos adquiridos na
propriedade 20 90,9 8 66,7
Realiza algum registro 3 10,7 4 33,3 Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
Outro aspecto, de certo forma relacionado às práticas de gerenciamento da
propriedade, que diz respeito à participação do produtor em Associação de Produtores,
em que se ressaltam os aspectos julgados por eles como tendo tido repercussão para a
sua prática a partir da participação na associação, será apresentado na Tabela 38.
Os produtores que possuíam a possibilidade de ter um sucessor em seu
estabelecimento consideravam que a participação na associação repercutia na sua
atividade produtiva. Isso se dava sob dois aspectos: seja facilitando-lhes a armazenagem
do leite, especialmente entre os produtores de Silveirânia, pelo fato de, na condição de
associados, poderem utilizar o tanque coletivo, seja por favorecer-lhes a redução dos
custos na compra de insumos, seja pela venda em maior escala, o que lhes poderia
favorecer na negociação do preço pago pelo litro do leite. Tendo em vista que
aproximadamente ¼ dos produtores desconhecia a IN 51 e que 67,9% em Silveirânia e
58,3% em Coronel Xavier Chaves utilizavam parcialmente as normas da IN 51, as
associações mostraram-se importantes também para o auxílio na produção dentro das
76
atuais normas da legislação, para que os produtores pudessem, inclusive, pleitear o
aumento no preço recebido pelo leite ali produzido.
Tabela 38 - AED participação em associações e IN 51, possibilidade de sucessor nas propriedades rurais
de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves
Município Variável Freq %
Silveirânia
A associação contribui para a atividade leiteira 24 85,7
Utiliza tanque COLETIVO 26 92,8
Conhece e utiliza parcialmente a IN 51 19 67,9
Não conhece a IN 51 8 28,6
Coronel
Xavier
Chaves
A associação contribui para a atividade leiteira 11 91,7
Utiliza tanque PRÓPRIO 10 83,3
Conhece e utiliza parcialmente a IN 51 7 58,3
Não conhece a IN 51 3 25,0 Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
Por fim, a Tabela 39, última apresentada neste item, traz os dados relativos às
respostas dos produtores rurais em relação ao definidor do sucessor, ao seu perfil etário,
ao momento que se dariam a sucessão e a forma de herança para os filhos que não se
tornarão sucessores. No que diz respeito à questão relativa ao definidor do sucessor, os
dados colhidos em ambos os municípios poderiam ser interpretados como tendo
apresentado suposta divergência entre si, visto que em Silveirânia o poder do pai na
definição do sucessor foi assumido mais abertamente, em 42,9% dos casos. Já em
Coronel Xavier Chaves, onde ele ficou subsumido dentro da família, apenas uma
família (8,3%) assumiu que a escolha seria realizada apenas pelo pai. Contudo, a ordem
que impera dentro da família segue o respeito aos desígnios paternos.
Assim, ter-se-ia mais uma confluência do que uma divergência em termos dos
parâmetros sucessórios, a qual se mostrou ancorada nos costumes familiares mais que
nas leis, sustentando a escolha relativa “ao filho homem mais velho”, em 39,3% das
propriedades com possibilidade de sucessor em Silveirânia e 33,3% em Coronel Xavier
Chaves, para dar continuidade à missão de manter o patrimônio da família. Quanto aos
que não forem se tornar sucessores, os dados apontaram que receberiam “indenizações
reparatórias” em 42,86% dos casos em Silveirânia e 33,3% em Coronel Xavier Chaves,
enquanto ao sucessor caberia a responsabilidade de cuidar dos pais.
77
Tabela 39 - AED sucessão, possibilidade de sucessor nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e
Coronel Xavier Chaves
Variável Silveirânia
Coronel
Xavier
Chaves
Freq % Freq %
A escolha do sucessor será feita apenas pelo pai 12 42,9 1 8,3
A escolha do sucessor será feita pelos pais 5 17,9 3 25,0
A escolha do sucessor será feita por todos os
membros da família 10 35,7 5 41,7
Sucessor será o filho mais velho 11 39,3 4 33,3
Sucessor será o filho mais novo 4 14,3 1 8,3
Sucessor será o(a) filho(a) que mais gostar da
propriedade 6 21,4 3 25,0
Outros (genro, sobrinhos e não definiram ainda) 7 25,0 4 33,3
A transferência ocorrerá quando os pais tiverem
renda garantida 3 10,7 1 8,3
A transferência ocorrerá quando o sucessor estiver
preparado 8 28,6 1 8,3
A transferência não será realizada enquanto o
proprietário estiver em condições de trabalhar 11 39,3 8 66,7
Não definiram ainda 6 21,4 2 16,7
Existem terras para todos os sucessores e, ou,
herdeiros 11 39,3 4 33,3
Existem terras apenas para o sucessor 15 53,6 8 66,7
Os filhos não sucessores receberão alguma
compensação 12 42,86 4 50,0
Espera que os filhos assumam o compromisso de
cuidar dos pais durante a velhice 17 60,7 6 50,0
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
As fotos que se seguem mostram os pais com os seus possíveis sucessores.
Foto 15 - Pesquisador e família de produtores em Silveirânia.
Fonte: Pesquisa de campo – março de 2012.
78
Foto 16 - Pesquisador, pai e filho produtores de leite em Coronel Xavier Chaves.
Fonte: Pesquisa de campo – março de 2012.
3.3 Apresentação e análise dos dados sobre a percepção dos filhos dos produtores
sobre a sucessão
O reduzido número de filhos que residiam com os produtores, aliado ao fato de
que 5,8% dos entrevistados em Silveirânia e 19,8% em Coronel Xavier Chaves
consideravam que os filhos eram jovens demais para possuírem opinião formada sobre
o tema da sucessão, resultou na realização de apenas 21 entrevistas com filhos de
produtores: 7 em Silveirânia e 14 em Coronel Xavier Chaves. Cabe ressaltar também
que, durante a pesquisa, muitos filhos encontravam-se ausentes, por estarem na escola
ou pelo fato de não residirem na propriedade, onde foi realizada a entrevista. Para
análise sobre a percepção dos filhos sobre a sucessão, foi utilizada a Análise
Exploratória de Dados (AED) com as opiniões separadas por município e a aplicação do
teste do qui-quadrado, considerando-se os dados dos dois municípios juntos.
Ao analisar os dados da Tabela 40, as maiores idades de filhos que moravam com
os pais e, ainda, não assumiram a propriedade, encontraram-se filhos com 42 e 47 anos
vivendo com os pais, indicando que se trata de um processo sucessório, marcado pela
gradual transferência de responsabilidades do patriarca ao filho sucessor, que
geralmente vai assumir a propriedade entre os 50 e 60 anos.
79
Tabela 40 - AED idade dos filhos dos produtores entrevistados nas propriedades rurais de leite de
Silveirânia e Coronel Xavier Chaves
Município Variável Média Mediana Mín Máx
Silveirânia Idade 25 22 14 42
Coronel
Xavier Chaves Idade 19 15 10 47
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
Conforme demonstrado no Gráfico 1, os dados revelaram forte viés masculino
em relação aos filhos que ainda permaneciam no campo: 75% das mulheres
responderam que não gostariam de assumir a propriedade dos pais; ao passo que 88,2%
dos homens responderam que gostariam de assumir a propriedade. No entanto, ao
analisar a percepção dos filhos em relação a quem será o sucessor, percebeu-se quanto
este não é um tema que revela que a definição seja efetivada de forma clara, reforçando
o peso sutil da “gradualidade” na definição do sucessor.
Gráfico 1 - Sexo dos filhos presentes nas propriedades rurais de
leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves.
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
Ao analisar o Gráfico 2 sobre a percepção dos filhos de quem irá assumir a
propriedade, assim como encontrado na análise dos gestores, a preferência sobre os
filhos recai sobre os mais velhos, 29% em Silveirânia e 14% em Coronel Xavier
Chaves. Em ambos os municípios, 29% dos filhos consideraram que irá ficar o filho(a)
que mais gostar da propriedade. Em Coronel Xavier Chaves, 50% dos filhos
entrevistados acreditavam que o sucessor ainda não teria sido definido.
80
Gráfico 2 - Percepção do(s) filho(s) sobre quem irá assumir a propriedade nos municípios pesquisados.
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
Um dos aspectos da gradualidade presentes no processo sucessório se estabelece
em termos do envolvimento dos filhos na tomada de decisão, como pode ser observado
no Gráfico 3. A participação pode ser tomada como uma forma de socialização em
relação às questões cotidianas da propriedade. Ao longo dos anos e das décadas, o filho
sucessor que permanecerá na propriedade passará gradualmente a assumir maiores
responsabilidades até que estas se tornem plenas. Geralmente, o filho sucessor ao
assumir a propriedade já estará casado e com filhos adolescentes. Observou-se que nos
dois municípios pesquisados as decisões tomadas no estabelecimento envolviam toda a
família que residia no estabelecimento, com 57% em Silveirânia e 36% em Coronel
Xavier Chaves.
Gráfico 3 - Percepção dos filhos sobre como as decisões são tomadas no estabelecimento
nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves.
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
81
Já no que diz respeito à forma como os filhos que afirmaram que gostariam de
assumir a propriedade responderam que pretendiam se preparar para assumir a
propriedade as respostas divergiram nos dois municípios, conforme demonstrado no
Gráfico 4. Entre os filhos dos produtores de Silveirânia, menos tecnificados e
capitalizados, a percepção para 67% era de que os conhecimentos adquiridos com os
pais e, ou, a prática da atividade seria suficiente para que eles pudessem assumir a
propriedade. Já em Coronel Xavier Chaves os filhos pretendiam capacitar-se: 40% em
cursos superiores e 20% em cursos técnicos.
Gráfico 4 - Pretensão de capacitação pelos filhos dos produtores nas
propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves.
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
Essa intenção referente à forma como os filhos manifestaram que pretendiam se
preparar para assumir a propriedade pode ser complementada pelos dados relativos aos
filhos que trabalhavam na propriedade, os quais estão expressos no Gráfico 5.
Observa-se que o percentual de filhos que trabalhavam no campo é maior em
Silveirânia, com 86%, contra 50% em Coronel Xavier Chaves, onde as propriedades
apresentavam nível inferior de tecnologia e capitalização. Daí, poder-se-ia considerar a
hipótese de que a sucessão, em unidades produtivas de municípios que apresentavam
características socioeconômicas semelhantes, não estaria relacionada à viabilidade
econômica de uma atividade em específico, mas antes sustentada em um modo de vida
rural, que se sustentaria através dos baixos gastos de investimento na propriedade.
82
Gráfico 5 - Local de residência e trabalho dos filhos dos produtores nas
propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves.
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
O Gráfico 6 apresenta a perspectiva dos jovens em relação ao trabalho e moradia
no campo. Em Silveirânia, constatou-se que a grande maioria dos jovens (71%)
considerou o campo como bom local para residir e trabalhar futuramente; ao contrário
de Coronel Xavier Chaves, onde a pretensão de morar no campo não chegou a 30%, e a
de nele trabalhar foi de 42%. Isso reforçou os dados que apontaram para o fato de que o
maior nível tecnológico da propriedade não constitui fator decisivo para a efetivação do
processo sucessório entre os produtores pesquisados.
Gráfico 6 - Local onde pretendem residir e trabalhar os filhos dos produtores
nas propriedades rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves.
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
83
O Gráfico 7 reforça ainda mais a constatação apresentada no parágrafo anterior.
Apenas 43% dos filhos de produtores de Silveirânia e 36% dos de Coronel Xavier
Chaves afirmaram que continuariam trabalhando com a pecuária de leiteira de forma
exclusiva. Chama atenção ainda o fato de que as propriedade de Coronel Xavier Chaves
são mais tecnificadas que as de Silveirânia, o que reforça a constatação de que a
tecnologia não seria fator determinante para a sucessão.
Gráfico 7 - Pretensão profissional dos filhos dos agricultores nas propriedades
rurais de leite de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves.
P.L. - Pecuária leiteira.
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
3.3.1 Fatores causais sobre o processo sucessório
Os dados a seguir apresentarão os resultados do teste do qui-quadrado que
procurou analisar as variáveis que teriam influência sobre o processo sucessório na
percepção dos filhos. Um dos princípios para que seja realizado o teste do qui-quadrado
é que no máximo 25% das respostas possuam valor < 5. Assim, apenas em duas
situações foi possível realizar o teste, sempre considerando os dados dos filhos
pesquisados, dos dois municípios em conjunto.
Nas tabelas 41 e 42 foi analisa a relação entre a opção do filho em tornar-se
sucessor e se o mesmo estudava a época da pesquisa. Analisando a tabela 41, observou-
se que 56,25% dos filhos que pretendiam assumir o lugar dos pais na propriedade não
estudavam e que 76,19% dos filhos entrevistados, gostariam de assumir a propriedade,
84
caso pudessem escolher, reforçando assim os estudos de Stropasolas (2010) e Silvestro
et al (2001), os quais indicam existir uma demanda de politicas públicas voltadas para a
capacitação dos jovens no campo.
Tabela 41 - Teste qui-quadrado ser sucessor e estudar 1 para os filhos dos produtores rurais nos
Municípios de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves
Estuda? Total
Não Sim
Caso pudesse escolher, gostaria de
assumir a propriedade de seu pai?
Não 0 5 5
Sim 9 7 16
Total 9 12 21
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
Na tabela 42, o teste do qui-quadrado, com sigma igual a 0,045, indicou haver
associação entre o filho não estudar e almejar ser o sucessor na propriedade. Assim, de
acordo com a tabela 41, 100,0% dos filhos que não estudavam, gostariam de ser o
sucessor na propriedade, caso pudessem escolher, frente a 58,33% dos filhos que
estudavam a época da pesquisa.
Tabela 42 - Teste qui-quadrado ser sucessor e estudar 2 para os filhos dos produtores rurais nos
Municípios de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves
Valor df Sig. Assint. (2
lados)
Sig exata
(2 lados)
Sig exata
(1 lado)
Chi-quadrado de Pearson 4,922a 1 0,027
Correção de continuidadeb 2,893 1 0,089
Razão de probabilidade 6,752 1 0,009
Fisher's Exact Test
0,045 0,039
Associação Linear por
Linear 4,687 1 0,030
N de Casos Válidos 21
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
Nas tabelas 43 e 44 foi analisada a relação entre a opção do filho em tornar-se
sucessor e se o mesmo realizava algum investimento na propriedade a época da
pesquisa. Analisando a tabela 43, observou-se que 68,75% dos filhos que pretendiam
85
assumir o lugar dos pais na propriedade já realizavam algum investimento na
propriedade e que 100,0% dos filhos entrevistados, que não realizavam nenhum
investimento na propriedade, não gostariam de assumir a propriedade, caso pudessem
escolher.
Tabela 43 - Teste qui-quadrado realizar investimento e ser sucessor 1 para os filhos dos produtores rurais
nos Municípios de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves
Investimento Total
Investe na
propriedade
Não investe na
propriedade
Caso pudesse escolher,
gostaria de assumir a
propriedade de seu pai?
Não 0 5 5
Sim 11 5 16
Total 11 10 21
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
Na tabela 44, o teste do qui-quadrado, com sigma igual a 0,012, indicou haver
associação entre o filho realizar algum investimento na propriedade e almejar ser o
sucessor, ressaltando a importância do contado do jovem com a atividade para que o
mesmo tenha a atividade leiteira como perspectiva futura.
Tabela 44 - Teste qui-quadrado realizar investimento e ser sucessor 2 para os filhos dos produtores rurais
nos Municípios de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves
Valor df Sig. Assint. (2
lados)
Sig exata
(2 lados)
Sig exata
(1 lado)
Chi-quadrado de Pearson 7,219a 1 0,007
Correção de continuidadeb 4,726 1 0,030
Razão de probabilidade 9,190 1 0,002
Fisher's Exact Test
0,012 0,012
Associação Linear por
Linear 6,875 1 0,009
N de Casos Válidos 21
Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
86
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo geral deste estudo foi compreender quais os fatores que
influenciavam o processo sucessório em unidades familiares de produção de leite,
contrapondo fatores relacionados à modernidade com fatores relacionados à tradição
nos Municípios de Silveirânia e Coronel Xavier Chaves. A pesquisa foi realizada
procurando analisar a veracidade de cinco hipóteses: 1ª) o nível tecnológico presente em
uma unidade produtiva constitui fator interveniente na presença de sucessor nas
unidades produtivas de leite; 2ª) o tamanho da propriedade constitui fator interveniente
na presença de sucessor nas unidades familiares de produção de leite; 3ª) o acesso ao
crédito interfere no processo sucessório dos produtores de leite; 4ª) a proximidade com
a cidade interfere na presença de sucessor nas unidades familiares de produção de leite;
e 5ª) a escolaridade do produtor interfere no processo sucessório.
Tratando-se do processo sucessório, foi constatada nos dois municípios a
tendência de a sucessão ocorrer após os cinquenta anos de idade do sucessor, com os
pais transmitindo ao filho cinquentão a administração da propriedade, apenas quando
julgavam não ter mais condição de trabalhar. Quanto à primeira hipótese de que o nível
tecnológico presente em uma unidade produtiva se constituiria em um fator
interveniente na presença de sucessor nas unidades produtivas de leite, ela foi negada. O
nível de tecnificação não se mostrou como fator preponderante para que existisse a
possibilidade de um sucessor nas unidades produtivas.
Ao analisar o nível tecnológico das propriedades que já possuíam sucessor
definido em Silveirânia, notou-se que os produtores utilizavam o sistema tradicional
para a manutenção da atividade, indo na contramão do que sugerem os especialistas
para aumentar a produtividade e a lucratividade na pecuária leiteira. Tal fato demonstra
que a manutenção da propriedade não está associada a uma função produtiva e lucrativa
para este tipo de produtor. Nesse sentido, é importante agregar a esse dado referente à
tecnologia, o dado referente à receita bruta média das propriedades com sucessor
definido em Silveirânia, que ficou em torno de R$3.142,80. Se se considerar que os
pequenos agricultores produzem parte dos alimentos que consomem e utilizam os pastos
87
para a alimentação do gado, seria razoável deduzir que a manutenção da propriedade
poderia ser viável e racional, ainda que a renda do leite isoladamente não desse lucro.
No tocante à segunda hipótese, referente ao fato de o tamanho da propriedade
se constituir em um fator interveniente na presença de sucessor nas unidades familiares
de produção de leite, a influência foi confirmada. O teste de regressão para as
propriedades com sucessor definido em Silveirânia considerou a variável área como
significativa, indicando que o aumento da área aumentaria a possibilidade de existir
pelo menos um sucessor na propriedade. Mesmo com tamanho médio inferior as
mesorregiões a que pertencem os produtores, nos dois municípios pesquisados,
consideraram suas terras de boa qualidade e o tamanho adequado. Assim, a quantidade
de terras se mostrou um fator favorável à existência de sucessor, mas não se converteu
em um fator de aumento da produtividade.
Quanto à terceira hipótese, referente ao crédito interferir no processo
sucessório, constatou-se que este era utilizado, em sua maioria, para o custeio das
atividades (compra de insumos), indicando que os produtores não estavam conseguindo
manter as suas atividades apenas com a receita gerada pela produção, sendo, inclusive,
considerável a participação da aposentadoria para a manutenção da propriedade. O
acesso ao crédito isolado mostrou não gerar eficiência na atividade produtiva, tendo as
associações maior influência nesse quesito.
Quanto à quarta hipótese esta foi confirmada. De acordo com a análise de
regressão, o fato de o produtor residir na cidade influencia fortemente na definição do
sucessor, tanto positivamente, como ficou mostrado em relação à Silveirânia, quanto
negativamente, como em relação a Coronel Xavier Chaves, o que mostra que essa
variável não pode ser interpretada de forma descontextualizada. Em Silveirânia, a
proximidade entre a “rua” e a “roça” era considerada pequena. Já em Coronel Xavier
Chaves a mesma situação se dava. Contudo, a proximidade com uma cidade de porte
médio, como São João Del Rei, que possui uma Universidade Federal, comércio e
indústria desenvolvidos, constituía-se em um chamariz para os possíveis sucessores.
Assim, em ambos os casos ficou evidente que a distância da cidade se constituía, sim,
em fator interveniente na presença de sucessor. Contudo, a distância poderia influenciar
positiva ou negativamente, dependendo da localização do município em questão face a
outros. Quando a unidade produtiva está circunscrita no âmbito do contexto de uma
88
cidade rural, cuja base da economia é agrícola e as formas de sociabilidade são
perpassadas por uma cultura “ruralizada”, a distância não constitui fator negativo. Já no
caso da unidade produtiva, ela está circunscrita ao âmbito de influência de um centro
urbano, com opções de estudo e de trabalho, a distância entre a unidade produtiva e o
centro urbano constitui fator de influência negativo para a presença de sucessor, em
razão da força do mercado de trabalho e das possibilidades de estudo e lazer existentes
no centro urbano.
Por fim, no que se refere à quinta hipótese, a escolaridade mostrou-se como
fator interveniente no processo sucessório, constatando-se que a baixa escolaridade
favorecia que os pequenos agricultores continuassem no campo. Entretanto, o maior
nível de escolaridade mostrou-se diretamente associado com o nível de produtividade de
leite dos produtores. Nos dois municípios pesquisados, apesar de os gestores
entrevistados terem indicado pelo menos o ensino médio como o mínimo necessário
para que os futuros sucessores exercessem a atividade leiteira, os atuais gestores
apresentaram como média de escolaridade o ensino básico e, apesar de realizarem
cursos de capacitação, observou-se existir uma carência de procedimentos gerenciais
nas propriedades pesquisadas. O teste do qui-quadrado realizado com a opinião dos
filhos dos produtores, confirmou haver associação entre os filhos que não estudavam e
que gostariam de assumir o lugar dos pais na propriedade.
Confirmam-se, assim, nesta pesquisa, as hipóteses de que o tamanho da
propriedade, o acesso ao crédito, a proximidade do estabelecimento com o centro
urbano e o nível de escolarização se constituíam em fatores intervenientes no processo
sucessório nas unidades produtoras de leite. A idade do produtor e a participação dos
filhos na tomada de decisão também se constituíram em variáveis intervenientes no
processo sucessório. Entretanto, negou-se a hipótese de que o nível tecnológico presente
em uma unidade produtiva constituiria fator interveniente na presença de sucessor nas
unidades produtivas de leite. No entanto, tal fato aponta para a perda do potencial
produtivo da propriedade, a qual permaneceria tendo função patrimonial e de economia
de autossustentação, não desenvolvendo o seu potencial tecnológico voltado para a
economia de mercado.
Voltando ao objetivo geral desta pesquisa, poder-se-ia, então, concluir que a
influência dos valores relativos à tradição e à modernidade sobre a conduta e as práticas
89
dos produtores rurais são muito influenciados pelo tipo de cidade onde a unidade
produtiva está inserida. Em Silveirânia, percebeu-se mais a força dos valores e práticas
tradicionais sobre o processo sucessório, onde a sucessão não estaria relacionada
exclusivamente à viabilidade econômica de uma atividade em específico, mas, também,
sustentada em um modo de vida rural, que se sustentaria através dos baixos gastos de
investimento na propriedade, enquanto em Coronel Xavier Chaves a influência dos
valores e práticas advindos da modernidade se mostrou também presente. Por traz dessa
constatação, pode-se destacar a influência de uma cidade rural e de um centro urbano.
Em termos de políticas públicas voltadas para as unidades produtivas de leite,
poder-se-ia, então, recomendar políticas que permitissem aos pequenos produtores de
leite modernizarem o seu processo produtivo, visando ao aumento da eficiência, à
redução do esforço físico e à adequação às normas sanitárias exigidas para a produção
do leite, o que poderia ser realizado com a utilização de tecnologia, mas, também, com
práticas de manejo e gestão dos estabelecimentos mais eficientes, assim como através
de políticas de incentivo a programas de pagamento por qualidade, educação e
capacitação para os produtores rurais, visando adequar a administração da propriedade
às exigências do mercado. As propriedades que mostraram maior percentual de
sucessores foram aquelas com maior nível de produtividade. Assim, embora as
propriedades pouco produtivas continuem tendo sucessores, estes se apresentam em
porcentagem inferior.
Em termos de práticas extensionistas, acredita-se ser importante perceber a
influência do tipo de cidades de uma determinada região sobre o processo sucessório.
Morar na cidade e conduzir a propriedade não foi um fator que tivesse se mostrado
inviável entre os produtores de leite de um pequeno município sem a influência de um
centro urbano maior por perto. Nestes tipos de municípios, que se constituem a grande
maioria dos encontrados em Minas Gerais e no Brasil, a pluriatividade se mostra
compatível com a atividade leiteira. Contudo, a baixa produtividade da atividade precisa
ser um fator observado como podendo incidir sobre a redução do percentual de
produtores nos estratos menos produtivos. Portanto, suprir as carências dos produtores
de leite, com a introdução de práticas de melhor manejo do rebanho e potencializadoras
dos recursos obtidos através de créditos financeiros, em especial o PRONAF, poderiam
aumentar a renda na propriedade e estimular que os produtores de leite continuem na
atividade.
90
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96
APÊNDICE
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA RURAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EXTENSÃO RURAL
PROJETO: TRADIÇÃO E MODERNIDADE NO PROCESSO SUCESSÓRIO ENTRE
PRODUTORES DE LEITE EM DOIS MUNICÍPIOS RURAIS DE MINAS GERAIS
PERFIL DO PRODUTOR
1 – Dados do proprietário:
Nome:______________________________________________________________________________
Idade:__________ Sexo: ( )M ( )F Religião:___________________________________
Profissão:_________________________ Estado Civil:______________________________
Renda mensal da propriedade:____________ Renda oriunda da atividade leiteira:____________
2) Procedência: ( ) natural do município ( ) de outro município ( ) de outro estado ( ) de outro país
3) Caso não seja natural do município, há quanto tempo reside no município? ________
4) Quantos filhos tem: _______5) Quantos estão residindo na propriedade?__________
6) Composição da familiar
Parentesco Idade Escolaridade Ocupação Renda
07) Os componentes informados vivem: ( ) Na cidade ( ) No estabelecimento agropecuário
NÍVEL TECNOLÓGICO
01 - Possui energia elétrica no estabelecimento? ( ) Sim ( ) Não
02 - Utiliza alguma máquina para redução do trabalho manual?
( ) Sim ( ) Não (Pular para número 05) Se sim,
qual(s)?____________________________________
03 - Essa máquina foi adquirida com: ( ) Recurso próprio ( ) Financiamento
97
04 - Por que utiliza? ( ) Redução de custos ( ) Falta de mão de obra ( ) Outros ___________
05 - Qual o sistema utilizado para a criação do gado?
( ) Sistema intensivo ( ) Sistema semi-intensivo ( ) Pasto
06 - Como é realizada a ordenha?
( ) Mecânica com balde ao pé ( ) Mecânica canalizada ( ) Manual
07 - Quantas vezes por dia?
( ) Uma ( ) Duas ( ) Duas a maior parte do ano e três esporadicamente
08 - Local da ordenha:
( ) Curral ( ) Estábulo, sem piso de concreto ( ) Com piso de concreto ( ) Sala de ordenha
09 - Como é realizada a reprodução dos animais? ( ) Monta natural ( ) Inseminação ( ) Ambos
10 - Mantem as vacinas dos animais em dia?
( ) Sim ( ) Não Se não, por quê?___________________________________________
11 - Utiliza algum sistema integrado de produção?
( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(s)?_________________________________________
12 - Qual a quantidade de vacas (em lactação) possui? _________
13 - Qual a produção média diária? _______ litros
14 - Na sua opinião, qual o principal problema enfrentado na produção de leite?
( ) Mão de obra ( ) Acesso a inovação ( ) Acesso ao crédito
( ) Tamanho da propriedade ( ) Qualidade do solo ( ) Qualidade dos animais
15 - A associação contribui na atividade leiteira? ( ) Sim ( ) Não
16 - Se sim, como?
( ) Redução de custos de insumos ( ) Ganho de escala e facilidade para venda
( ) Ambos
17 - Utiliza o tanque para resfriamento do leite?
( ) Próprio ( ) Coletivo(Associação) ( ) Coletivo (produtores) ( ) Não utiliza
18 - Caso utilize, qual a capacidade do tanque? _______ litros
29 - No caso de utilizar o tanque coletivo:
O tanque coletivo melhorou a relação entre os produtores? ( ) Sim ( ) Não
Reduziu o custo no processo produtivo? ( ) Sim ( ) Não
Melhorou a qualidade do leite produzido? ( ) Sim ( ) Não
Fortaleceu o preço de venda com ganhos em escala ? ( ) Sim ( ) Não
20 - O Sr. conhece e utiliza as orientações da I.N 51 para a produção do leite?
( ) Conheço e utilizo ( ) Conheço e não utilizo
( ) Conheço e utilizo parcialmente ( ) Não conheço
21 - Durante este tempo que o(a) senhor(a) produz leite as exigências para entrega:
( ) Permaneceram as mesmas ( ) Se alteraram
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22 - Caso as exigências para a produção do leite tenham se alterado, elas trouxeram algum impacto para
os produtores?
( ) Sim ( ) Não Se sim, quais?_________________________________________
ESTRUTURA FUNDIÁRIA
01 - Qual a área total da propriedade? _______ hectares
02 - Qual a área aproximada utilizada para a produção de leite? ________ hectares
03 - Produz outros itens no estabelecimento?
( ) Sim ( ) Não Se sim, qual a área utilizada para os outros itens? _____ há
04 - O leite é o principal produto do estabelecimento?
( ) Sim ( ) Não Se não, qual o principal produto? ___________________
05 - Possui criação de gado para corte? ( ) Sim ( ) Não
06 - Qual a condição das terras?
( ) Própria ( ) Arrendamento ( ) Própria e Arrendada ( ) Não legalizada
07 - Há quanto tempo possui as terras nessa condição? ______
08 - Como obteve as terras - área própria?
( ) Através de herança ( ) Compra de parentes ( ) Compra de terceiros
( ) Por atribuição (colonização, etc.) ( ) Doação ( ) Outra
09 - Caso tenha obtido as terras através de herança:
Foi o único herdeiro? ( ) Sim ( ) Não
Os demais herdeiros continuam na propriedade? ( ) Sim ( ) Não
Caso não continuem, o que fizeram com as terras que herdaram? ___________________________
10 - As terras são utilizadas como forma principal:
( ) Para o consumo próprio ( ) Produção para revenda ( ) Outra
11 - Considera adequado o tamanho da propriedade? ( ) Sim ( ) Não
12 - Considera as terras utilizadas de boa qualidade? ( ) Sim ( ) Não
13 - Utiliza algum insumo para melhorar a qualidade do solo?
( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(s)?___________________________________________
14 - Considera fácil o acesso a produtos e serviços na cidade? ( ) Sim ( ) Não
15 – Atualmente o Sr.: ( ) Reside no estabelecimento agropecuário ( ) Reside na cidade ( ) Outro
16 - Como é a rotinha de trabalho na atividade leiteira?
( ) Trabalho pesado e sem folga ( ) Trabalho fácil e que não demanda muito tempo de dedicação
( ) Trabalho prazeroso
17 - Quem realiza estas atividades?
( ) O proprietário ( ) Proprietário e seus familiares ( ) Empregado(s)
Quantos?_________
99
CRÉDITO
01 - Já utilizou algum tipo de financiamento para investimentos na propriedade?
( ) Sim ( ) Não ( ) Não, mas pretendo utilizar.
02 - Ainda utiliza? ( ) Sim ( ) Não 03 – Há quanto tempo?________ anos
04 - Qual o valor financiado? R$___________________
05 - Qual a modalidade de financiamento?
( ) PRONAF ( ) Linha especial para produtor rural ( ) Outro modelo
06 - Qual a finalidade do financiamento?
( ) Compra de equipamentos ( ) Aquisição de terras ( ) Compra de animais ( ) Outros
07 - Considera que o financiamento gerou efeitos positivos? ( ) Sim ( ) Não
08 - Considera burocrático e oneroso realizar um financiamento?
( ) Burocrático ( ) Oneroso ( ) Burocrático e oneroso ( ) Nenhum
09 - Acha necessário novas linhas de crédito para o produtor rural? ( ) Sim ( ) Não
CAPACITAÇÃO
01 - Considera importante a educação para a produção de leite? ( ) Sim ( ) Não
02 – Já participou de algum curso para capacitação?
( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(s)?___________________________________________
03 - Utilizou os conhecimentos adquiridos na propriedade? ( ) Sim ( ) Não
04 - O(s) filho(s) participam das decisões sobre a administração do estabelecimento?
( ) Sim ( ) Não
05 - Utiliza os conhecimentos herdados de seu pai/mãe na atividade leiteira? ( ) Sim ( ) Não
06 - Se sim, considera que os conhecimentos herdados de seu pai/ mãe se modificaram?
( ) Sim ( ) Não Se sim, por quê?___________________________________________
07 - Possui computador? ( ) Sim ( ) Não 08 – Sabe utilizá-lo? ( ) Sim ( ) Não
09 - Realiza registros referentes a:
( ) Custos ( ) Produção ( ) Lucro ( ) Dívidas ( ) Outros _____________
( ) Não realiza registros
10 - Como realiza os registros: ( ) Manual ( ) Planilhas eletrônicas ( ) Mentalmente
11 - Considera a receita obtida com a produção de leite suficiente para cobrir os custos?
( ) Sim ( ) Não ( ) Iguala os custos
12 - Qual a escolaridade ideal para se tornar um produtor de leite?
( ) Ensino básico ( ) Ensino médio ( ) Ensino técnico ( ) Superior
( ) Nenhuma
13 - Qual a escolaridade do senhor:
( ) Ensino básico ( ) Ensino médio ( ) Ensino técnico ( ) Superior
( ) Nenhuma ( ) Outra _________________
100
SUCESSÃO
01 - Considerando sua experiência na pecuária leiteria o Sr.:
( ) Estimula todos os filhos a serem produtores de leite ( ) Estimula um só filho a ser produtor
( ) Não influência na decisão dos filhos ( ) Estimula os filhos a deixarem o campo
( ) Estimula todos os filhos a trabalharem na propriedade, mesmo que não seja na pecuária leiteira
( ) Outro
02 - Quem o Sr. acredita que ficará na propriedade?
( ) Já foi definido ( ) Não sabe quem ficará, mas um ficará
( ) Não sabe se alguém ficará na propriedade ( ) Ninguém demonstra interesse em ficar
( ) A propriedade deverá ser vendida ( ) Os filhos são muito jovens para fazer a escolha
( )Outra____________________________________
03 - Como será feita a escolha do sucessor?
( ) Apenas pelo pai ( ) Pelos pais ( ) Apenas pelos homens
( ) Todos os membros da família participarão ( ) Não definiu ainda
( ) Outra ___________________________
04 - Quem o Sr. acredita ser o(a) sucessor(a)?
( ) O filho(a) mais velho ( ) O filho(a) mais novo
( ) O filho(a) mais estudado ( ) O filho(a) menos estudado
( ) O filho(a) que mais gostar da propriedade ( ) O filho(a) que tem mais afinidade com o pai
( ) Não possui critério definido ( ) Outra _________________________________
05 - As mulheres possuem as mesmas chances que os homens de serem escolhidas como sucessoras?
( ) Sim ( ) Não ( ) Não se aplica
06 - Em qual momento acontecerá a transferência do controle da propriedade?
( ) Quando os pais tiverem uma renda garantida (aposentadoria, aluguel, etc...)
( ) Quando o sucessor estiver preparado
( ) Não será feita enquanto o pai estiver em condições de dirigir a propriedade
( ) Não pensaram ainda ( ) Outra _________________________
07 - O Sr. considera existir terras produtivas para todos os sucessores?
( ) Sim ( ) Não, apenas para um sucessor ( ) Não existe para nenhum sucessor
( ) Existe terra produtiva para o sucessor e não produtivas para os demais filhos
08 - Os filhos não sucessores receberão algum bem como compensação?
( ) Sim, dinheiro para estudos ( ) Sim, terras não produtivas ( ) Não decidiu ainda
( ) Sim, enxoval para as mulheres ( ) Não receberão nada ( ) Outra opção
09 - Espera que o sucessor assuma a responsabilidade de cuidar do Sr?
( ) Sim ( ) Não
101
ESPECTATIVAS DOS FILHOS
01 - Dados do filho(a)
Nome:______________________________________________________________________________
Idade:__________ Sexo: ( )M ( )F Religião:___________________________________
Estado Civil:______________________________
02 - Sua posição na família: ( ) Mais novo ( ) Mais velho ( ) Do meio ( ) Único filho (a)
03 - Estuda? ( ) Sim ( ) Não Que ano esta cursando ou parou?____________________
04 - Como considera a atividade leiteira atualmente?
( ) Ótima ( ) Boa ( ) Regular ( ) Ruim
05 - Pretende trabalhar na pecuária leiteira no futuro?
( ) Sim, exclusivamente na pecuária leiteira
( ) Sim, mas a pecuária leiteira não será a atividade principal
( ) Não pretende trabalhar na pecuária leiteira
06 - Gosta de morar no campo? ( ) Sim ( ) Não
07 - Onde pretende morar e trabalhar no futuro?
( ) Morar e trabalhar no campo ( ) Morar no campo e trabalhar na cidade
( ) Trabalhar no campo e morar na cidade ( ) Ainda não decidiu
08 - Atualmente você:
( ) Trabalha e mora no campo ( ) Trabalha no campo e mora na cidade
( ) Trabalha na cidade e mora no campo ( ) Não trabalha
09 - No caso de trabalhar, como utiliza a renda?
( ) Investe na propriedade para aumentar a produção ( ) Ajuda com as despesas da casa
( ) Investe em bens pessoais e guarda o restante ( ) Investe somente em bens pessoais
( ) Outro _______________________________
10 - Seus pais conversam com você sobre o futuro do estabelecimento? ( ) Sim ( ) Não
11 - Se sim, seus pais:
( ) Estimula todos os filhos a serem produtores de leite ( ) Estimula um só filho a ser produtor
( ) Não influência na decisão dos filhos ( ) Estimula os filhos a deixarem o campo
( ) Estimula todos os filhos a trabalharem na propriedade, mesmo que não seja na pecuária leiteira
( ) Outro
12 - No estabelecimento agropecuário, como as decisões são tomadas?
( ) Somente o pai ( ) O casal ( ) Toda a família que reside na propriedade
( ) Toda a família, inclusive quem não reside na propriedade
13 - Caso pudesse escolher, gostaria de se assumir a propriedade de seu pai? ( ) Sim ( ) Não
14 - Se sim, como pretende se preparar para assumir a propriedade?
( ) Com conhecimentos adquiridos com o pai ( ) Curso técnico ligado ao meio rural
( ) Curso superior na área de ciências agrárias ( ) Curso superior em outra área
( ) Outro
15 - Quem você considera que será escolhido para ser o sucessor?
( ) O filho mais velho ( ) O filho mais novo
( ) O filho mais estudado ( ) O filho menos estudado
( ) O filho que mais gostar da propriedade ( ) O filho que tem mais afinidade com o pai
( ) Ainda não foi definido ( ) Outro _________________________________