Julio de Mesquita Filho - Jume4710

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  • MESQUITA FILHOJULIO DE

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  • Alceu Amoroso Lima | Almeida Jnior | Ansio TeixeiraAparecida Joly Gouveia | Armanda lvaro Alberto | Azeredo Coutinho

    Bertha Lutz | Ceclia Meireles | Celso Suckow da Fonseca | Darcy RibeiroDurmeval Trigueiro Mendes | Fernando de Azevedo | Florestan FernandesFrota Pessoa | Gilberto Freyre | Gustavo Capanema | Heitor Villa-Lobos

    Helena Antipoff | Humberto Mauro | Jos Mrio Pires AzanhaJulio de Mesquita Filho | Loureno Filho | Manoel Bomfim

    Manuel da Nbrega | Nsia Floresta | Paschoal Lemme | Paulo FreireRoquette-Pinto | Rui Barbosa | Sampaio Dria | Valnir Chagas

    Alfred Binet | Andrs BelloAnton Makarenko | Antonio Gramsci

    Bogdan Suchodolski | Carl Rogers | Clestin FreinetDomingo Sarmiento | douard Claparde | mile Durkheim

    Frederic Skinner | Friedrich Frbel | Friedrich HegelGeorg Kerschensteiner | Henri Wallon | Ivan Illich

    Jan Amos Comnio | Jean Piaget | Jean-Jacques RousseauJean-Ovide Decroly | Johann Herbart

    Johann Pestalozzi | John Dewey | Jos Mart | Lev VygotskyMaria Montessori | Ortega y Gasset

    Pedro Varela | Roger Cousinet | Sigmund Freud

    Ministrio da Educao | Fundao Joaquim Nabuco

    Coordenao executivaCarlos Alberto Ribeiro de Xavier e Isabela Cribari

    Comisso tcnicaCarlos Alberto Ribeiro de Xavier (presidente)

    Antonio Carlos Caruso Ronca, Atade Alves, Carmen Lcia Bueno Valle,Clio da Cunha, Jane Cristina da Silva, Jos Carlos Wanderley Dias de Freitas,

    Justina Iva de Arajo Silva, Lcia Lodi, Maria de Lourdes de Albuquerque Fvero

    Reviso de contedoCarlos Alberto Ribeiro de Xavier, Clio da Cunha, Jder de Medeiros Britto,Jos Eustachio Romo, Larissa Vieira dos Santos, Suely Melo e Walter Garcia

    Secretaria executivaAna Elizabete Negreiros Barroso

    Conceio Silva

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  • Jos Alfredo Vidigal Pontes

    MESQUITA FILHOJULIO DE

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  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Fundao Joaquim Nabuco. Biblioteca)

    Pontes, Jos Alfredo Vidigal. Julio de Mesquita Filho / Jos Alfredo Vidigal Pontes. Recife:Fundao Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010. 172 p.: il. (Coleo Educadores) Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7019-514-21. Mesquita Filho, Jlio de, 1892-1969. 2. Educao Brasil Histria. I. Ttulo.

    CDU 37(81)

    ISBN 978-85-7019-514-2 2010 Coleo Educadores

    MEC | Fundao Joaquim Nabuco/Editora Massangana

    Esta publicao tem a cooperao da UNESCO no mbitodo Acordo de Cooperao Tcnica MEC/UNESCO, o qual tem o objetivo a

    contribuio para a formulao e implementao de polticas integradas de melhoriada equidade e qualidade da educao em todos os nveis de ensino formal e no

    formal. Os autores so responsveis pela escolha e apresentao dos fatos contidosneste livro, bem como pelas opinies nele expressas, que no so necessariamente as

    da UNESCO, nem comprometem a Organizao.As indicaes de nomes e a apresentao do material ao longo desta publicao

    no implicam a manifestao de qualquer opinio por parte da UNESCOa respeito da condio jurdica de qualquer pas, territrio, cidade, regio

    ou de suas autoridades, tampouco da delimitao de suas fronteiras ou limites.

    A reproduo deste volume, em qualquer meio, sem autorizao prvia,estar sujeita s penalidades da Lei n 9.610 de 19/02/98.

    Editora MassanganaAvenida 17 de Agosto, 2187 | Casa Forte | Recife | PE | CEP 52061-540

    www.fundaj.gov.br

    Coleo EducadoresEdio-geralSidney Rocha

    Coordenao editorialSelma Corra

    Assessoria editorialAntonio Laurentino

    Patrcia LimaReviso

    Sygma ComunicaoIlustraes

    Miguel Falco

    Foi feito depsito legalImpresso no Brasil

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  • SUMRIO

    Apresentao por Fernando Haddad, 7

    Ensaio, por Jos Alfredo Vidigal Pontes, 11O educador, 15Da formao nacionalista concepo da universidade, 19Do inqurito sobre a instruo pblica criao da USP, 35Defensor da escola pblica, 45O jornalista, 56

    O Estadinho, 56Um revolucionrio na redao, 57Um grande debate cultural, 60O poltico, 66Anos revolucionrios, 68A Revolta do Forte de Copacabana, 68Civis e militares, 70A insatisfao urbana, 73Os desdobramentos de 1922, 76A Revoluo de 1924, 77A Coluna Miguel Costa Lus Carlos Prestes, 79A crise final da Repblica Velha, 81A Revoluo de 1932, 86O exlio, 92Uma curta vitria poltica, 92O fim da trgua para os liberais, 93

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  • 61964: novo desencanto, 95Mesquita Filho atual, 97

    Textos selecionados, 103Memrias de um revolucionrio: notas para um ensaiode sociologia poltica, 103Nordeste, 104Poltica e cultura, 104Conceitos e ideias de Armando de Salles Oliveira, 105O que uma universidade, 106A natureza orgnica da universidade, 108A Faculdade de Cincias e Letrase o esprito universitrio, 110Armando de Salles Oliveira e a cidade universitria, 112O dever de prestigiarem-se as universidades, 114Pensamento diretor dos fundadoresda Universidade de So Paulo, 118Fontes da doutrina, 119Humanidades clssicas ou humanidades modernas, 120Conceito integral da universidade, 122Um inqurito, 124Cincia e esprito de pesquisa, 128A misso da Faculdade de Filosofia, 129A universidade e o ensino secundrio, 132Esprito universitrio, 134A cidade universitria, 137Liberdade de ensino remunerada, 147Conceito de universidade, 149

    Cronologia, 163Bibliografia, 167

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  • 7O propsito de organizar uma coleo de livros sobre educa-dores e pensadores da educao surgiu da necessidade de se colo-car disposio dos professores e dirigentes da educao de todoo pas obras de qualidade para mostrar o que pensaram e fizeramalguns dos principais expoentes da histria educacional, nos pla-nos nacional e internacional. A disseminao de conhecimentosnessa rea, seguida de debates pblicos, constitui passo importantepara o amadurecimento de ideias e de alternativas com vistas aoobjetivo republicano de melhorar a qualidade das escolas e daprtica pedaggica em nosso pas.

    Para concretizar esse propsito, o Ministrio da Educao insti-tuiu Comisso Tcnica em 2006, composta por representantes doMEC, de instituies educacionais, de universidades e da Unescoque, aps longas reunies, chegou a uma lista de trinta brasileiros etrinta estrangeiros, cuja escolha teve por critrios o reconhecimentohistrico e o alcance de suas reflexes e contribuies para o avanoda educao. No plano internacional, optou-se por aproveitar a co-leo Penseurs de lducation, organizada pelo International Bureau ofEducation (IBE) da Unesco em Genebra, que rene alguns dos mai-ores pensadores da educao de todos os tempos e culturas.

    Para garantir o xito e a qualidade deste ambicioso projetoeditorial, o MEC recorreu aos pesquisadores do Instituto PauloFreire e de diversas universidades, em condies de cumprir osobjetivos previstos pelo projeto.

    APRESENTAO

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  • 8Ao se iniciar a publicao da Coleo Educadores*, o MEC,em parceria com a Unesco e a Fundao Joaquim Nabuco, favo-rece o aprofundamento das polticas educacionais no Brasil, comotambm contribui para a unio indissocivel entre a teoria e a pr-tica, que o de que mais necessitamos nestes tempos de transiopara cenrios mais promissores.

    importante sublinhar que o lanamento desta Coleo coinci-de com o 80 aniversrio de criao do Ministrio da Educao esugere reflexes oportunas. Ao tempo em que ele foi criado, emnovembro de 1930, a educao brasileira vivia um clima de espe-ranas e expectativas alentadoras em decorrncia das mudanas quese operavam nos campos poltico, econmico e cultural. A divulga-o do Manifesto dos pioneiros em 1932, a fundao, em 1934, da Uni-versidade de So Paulo e da Universidade do Distrito Federal, em1935, so alguns dos exemplos anunciadores de novos tempos tobem sintetizados por Fernando de Azevedo no Manifesto dos pioneiros.

    Todavia, a imposio ao pas da Constituio de 1937 e doEstado Novo, haveria de interromper por vrios anos a luta auspiciosado movimento educacional dos anos 1920 e 1930 do sculo passa-do, que s seria retomada com a redemocratizao do pas, em1945. Os anos que se seguiram, em clima de maior liberdade, possi-bilitaram alguns avanos definitivos como as vrias campanhas edu-cacionais nos anos 1950, a criao da Capes e do CNPq e a aprova-o, aps muitos embates, da primeira Lei de Diretrizes e Bases nocomeo da dcada de 1960. No entanto, as grandes esperanas easpiraes retrabalhadas e reavivadas nessa fase e to bem sintetiza-das pelo Manifesto dos Educadores de 1959, tambm redigido porFernando de Azevedo, haveriam de ser novamente interrompidasem 1964 por uma nova ditadura de quase dois decnios.

    * A relao completa dos educadores que integram a coleo encontra-se no incio deste

    volume.

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  • 9Assim, pode-se dizer que, em certo sentido, o atual estgio daeducao brasileira representa uma retomada dos ideais dos mani-festos de 1932 e de 1959, devidamente contextualizados com otempo presente. Estou certo de que o lanamento, em 2007, doPlano de Desenvolvimento da Educao (PDE), como mecanis-mo de estado para a implementao do Plano Nacional da Edu-cao comeou a resgatar muitos dos objetivos da poltica educa-cional presentes em ambos os manifestos. Acredito que no serdemais afirmar que o grande argumento do Manifesto de 1932, cujareedio consta da presente Coleo, juntamente com o Manifestode 1959, de impressionante atualidade: Na hierarquia dos pro-blemas de uma nao, nenhum sobreleva em importncia, ao daeducao. Esse lema inspira e d foras ao movimento de ideiase de aes a que hoje assistimos em todo o pas para fazer daeducao uma prioridade de estado.

    Fernando HaddadMinistro de Estado da Educao

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    JULIO DE MESQUITA FILHO(1892 - 1969)

    Jos Alfredo Vidigal Pontes

    Refletir acerca de Julio de Mesquita Filho um verdadeiroexerccio multidisciplinar, dadas suas vrias atividades em diversoscampos. Sua destacada atuao em favor da educao pblica nopas esteve sempre imbricada com a carreira jornalstica e, tam-bm, com seu grande envolvimento nos rumos polticos do Bra-sil, que lhe custou dezoito prises e dois exlios. Dissociar umaatividade da outra apenas uma tentativa didtica de expor dife-rentes facetas de uma mesma personalidade.

    Jornalista por herana vocacional e familiar, sua inquietaointelectual em busca de horizontes para a formao de uma civili-zao brasileira o induziu a lutar nas arenas da poltica e da cultura.Na rea educacional, ficou mais conhecido por sua atuao decisi-va na criao da Universidade de So Paulo, mas no seria menosimportante sua luta pela instituio do dever do estado brasileirode prover escola bsica para todos, por meio das leis de diretrizese bases. Foi signatrio do Manifesto dos Pioneiros de 1932 e do Mani-festo de 1959, em luta pela escola pblica, laica e gratuita.

    Complexa e com diversos significados, a histria de MesquitaFilho excede o que se encontra aqui exposto. A extensa experinciapoltica do jornalista se deu em meio a fatos continuamente malcompreendidos da histria do Brasil no sculo XX, que formam

    N.E: Optamos pela grafia do nome do educador sem acento, assim como adotado pela

    imprensa, especialmente por O Estado de S.Paulo, que Julio de Mesquita dirigiu de 1927a 1969.

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    o panorama cultural e poltico estadual e nacional, por conseguinte,presentes nas pginas de O Estado de S. Paulo. Assim, alm de inves-tigar o educador Julio de Mesquita Filho em seu tempo, precisoconsiderar sua participao ou a de seu jornal em nossa histriapoltica.

    Mesmo antes de seu nascimento, o pai, Julio Mesquita, republi-cano militante, exercia relevantes atividades polticas e culturais. Elefoi certamente a maior influncia que recebeu em sua vida, portanto,sua histria brevemente destacada nesta introduo.

    Filho de imigrantes portugueses de Trs-os-Montes radicados nacidade de Campinas, Julio Mesquita tornou-se o mais importante jor-nalista de seu tempo em So Paulo e um dos mais influentes do Brasil.

    Portador de talento extraordinrio para as letras, Julio Mesqui-ta absorveu fortemente o esprito republicano que pairava emCampinas nas ltimas dcadas do imprio. Estudou no famosocolgio Culto Cincia, criado por republicanos e um dos marcosda histria da educao no Brasil, no qual eram lecionadas discipli-nas voltadas para o mundo natural, relativizando o ensino de hu-manidades, at ento hegemnicas nos ginsios do pas.

    Nesse colgio, fundado em 1873, eram cultivadas as aspira-es libertrias dos homens e dos espritos. Foi l que Julio Mes-quita teve como professor de histria e preceptor intelectual orenomado Francisco Rangel Pestana, que seria poucos anos de-pois o diretor de redao do jornal A Provncia de S. Paulo, rgorepublicano que passou a circular em 1875.

    Enquanto cursava o Culto, Julio Mesquita envolveu-se como Clube Republicano Acadmico, tornando-se amigo de outrosjovens igualmente avessos monarquia: Julio de Castilhos, AssisBrasil, Alberto Salles, Pedro Lessa e Afonso Celso. Na mesmapoca passou a frequentar a Charutaria King, onde se reuniam oscaifazes, republicanos radicais de Campinas liderados por LusGama, os quais patrocinavam alforrias, estimulavam fugas de es-

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    cravos e davam apoio material e jurdico aos quilombolas.Em 1884, j trabalhando como redator do jornal republicano

    A Gazeta de Campinas, Julio Mesquita casou-se com Lucila CerqueiraCsar, filha de Jos Alves de Cerqueira, advogado e poltico quena poca era um dos principais articuladores dos republicanospaulistas e um dos scios fundadores do jornal A Provncia de S.Paulo, rgo republicano na capital.

    Em 1885, Julio Mesquita passou a trabalhar nesse jornal, es-crevendo editoriais, ao lado de seu antigo professor e preceptorpoltico, Rangel Pestana. Neste mesmo ano, o jornal paulistanoentrou em grave crise financeira devido a certas crticas feitas porAlberto Salles, ento diretor do jornal, acerca da influncia portu-guesa no Brasil. Embora tambm fosse luso-brasileiro, AlbertoSalles, irmo do futuro presidente da Repblica, Jos de CamposSalles, exagerando em justos elogios aos italianos, havia escrito queuma das grandes infelicidades do Brasil era ter sido colonizadopor Portugal.

    Como boa parte dos anunciantes eram comerciantes portu-gueses, estes retiraram a propaganda no dirio republicano, quaseo levando falncia. Foi ento que Julio Mesquita, filho de portu-gueses, habilmente conseguiu desculpar-se com os patrcios dospais e trazer os anunciantes de volta.

    Aps a proclamao da Repblica, Julio Mesquita e seu sogroJos Alves de Cerqueira Csar foram adquirindo cotas de outrosacionistas fundadores, at que em 1902 Julio Mesquita assumiatotalmente o controle acionrio do jornal, rebatizado como O Es-tado de S. Paulo desde janeiro de 1890. Assim, Julio Mesquita conse-guia despartidarizar o jornal e transform-lo em rgo indepen-dente da poltica oficial, coisa rara naquele momento, principal-mente em So Paulo.

    Nesse mesmo ano, Julio Mesquita e Cerqueira Csar liderarama Dissidncia Republicana, quando o presidente Campos Salles

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    iniciou sua poltica de governadores, esvaziando o PoderLegislativo. Isto aconteceu apesar do parentesco que havia entreeles: Campos Salles era tio materno de Dona Lucila e, portanto,tio-av de Julio de Mesquita Filho. No ano seguinte (1903), OEstado apoiava uma greve geral ocorrida na cidade de So Paulo.

    Em pouco tempo, Julio de Mesquita transformou o antigorgo partidrio no dirio mais moderno do pas para sua pocae um dos mais influentes. Sobre ele disse o socilogo e historiadorJorge Caldeira:

    Em 39 anos de atividade, Julio Mesquita conseguiu se tornar donoda publicao onde comeou como funcionrio, transformar O Esta-do de S. Paulo numa publicao de importncia nacional e montar omaior parque grfico ao sul do Equador. (...) Sob seu comando,portanto, aconteceu a transformao de um rgo destinado a umnmero limitado de leitores com interesses polticos em outro quefalava a uma sociedade complexa. (Prefcio do livro A Guerra, deJulio Mesquita. So Paulo: Terceiro Nome, p. 21)

    A redao de O Estado sempre foi ponto de encontro de inte-lectuais, muitos deles trabalhando para o jornal. Foi Julio Mesquitaquem lanou Euclides da Cunha como escritor, ao contrat-lo,ainda no fim do imprio, como articulista e reprter. Nessa poca,escrevia sob o pseudnimo de Proudhon, com virulentos ataques moribunda monarquia.

    Anos depois, em 1897, j podendo assinar seus artigos com oprprio nome, Euclides seria enviado a Canudos, por Julio Mesqui-ta, para cobrir a campanha militar destinada a sufocar a cidadela dosfanticos seguidores de Antonio Conselheiro. O livro Os Sertes, pu-blicado em 1905, foi uma obra baseada nas observaes que pdefazer durante a campanha militar que arrasou Canudos.

    No s isso: o chefe da sucursal carioca de O Estado era ningummenos que o poeta Olavo Bilac e, em So Paulo, trabalhava outropoeta e acadmico, Amadeu Amaral. Este era o clima que se respira-va em O Estado: intelectuais em busca de caminhos para o Brasil.

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    Assim, o Grupo do Estado, como ficou conhecido, semprefoi referncia para os republicanos descontentes com os caminhosseguidos pelo Partido Republicano Paulista, o PRP, e as oligarquiasregionais de outros estados, na chamada poltica de governado-res iniciada por Campos Salles. Nesse ambiente cresceu Julio deMesquita Filho, o Julinho, como ficou conhecido para muitos.

    Julio de Mesquita Filho era o segundo dos dez filhos de JulioMesquita e tinha uma irm mais velha, Esther. Herdou do pai suasduas paixes, a poltica e o jornalismo, mas acrescentaria mais umaao longo da vida: a educao.

    O educador

    Na jovem democracia brasileira de hoje, a educao se mani-festa de formas diversas nos meios de comunicao: nos progra-mas explicitamente educativos ou na crtica aos maus resultadosdos estudantes em provas internacionais, tema que parece resumiras deficincias centenrias dos brasileiros. Nas salas de aula, am-biente educativo por excelncia, os jornais se convertem em recur-sos educativos. A busca de informaes em fontes jornalsticas valorizada como parte da formao do estudante de ensino bsi-co no pas. Veja-se, por exemplo, o Enem, o exame nacional doensino mdio, que tem parte das questes contextualizadas emmatrias jornalsticas. Diversas iniciativas colocam o jornal, ou, pelomenos, o texto jornalstico, nas mos dos alunos.

    Se na sociedade do conhecimento o jornalista tambm con-siderado um educador, o que poderia ser dito sobre Julio de Mes-quita Filho, jornalista num tempo em que a competncia leitora erareservada a poucos brasileiros? Pois este signatrio do Manifesto dosPioneiros da Educao Nova de 1932 e fundador da maior universida-de brasileira foi autor de extensa obra jornalstica, ainda poucoanalisada em estudos acadmicos. A mesma universidade, em cujapgina comemorativa de seus 75 anos na internet, estima sua fun-dao como parte de acordos feitos depois da Revoluo de 1932,

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    o que no est incorreto, mas ignora esforos dos anos 1920,notadamente o inqurito promovido por O Estado de S. Paulo edirigido por Fernando de Azevedo, redator do jornal.

    Interessa, portanto, esclarecer como e por que este jornalista,que participou dos movimentos cvico-militares mais importantesdo sculo XX, tomou a educao como bandeira. Como sua par-ticipao poltica e profissional dinamizou a educao, quais fo-ram suas propostas, como as viabilizou e atuou em renovadasfrentes a favor da educao e da cultura. Por que o esprito liberalde Julio de Mesquita Filho aplicou seu tempo e esforos, comodiretor de jornal e junto a seus familiares e correligionrios, emplanos que viabilizaram a criao de uma universidade pblica dequalidade em So Paulo, largamente protelada.

    Em suma, esclarecer seu papel propulsor no debate de funda-mentos de polticas pblicas que ainda hoje mantm importncia,sobretudo, o estatuto da qualidade do ensino bsico vinculado for-mao de professores que atendem a escola bsica. Foram esses ideaisque o animaram a se empenhar e colocar o jornal a servio, porexemplo, da Campanha de defesa da escola pblica, dos fins dosanos 50, cuja conveno a 5 de maio de 1960 teve Mesquita Filho mesa, ladeado pelo lder operrio Luiz Tenrio de Lima, polticoatuante do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Em defesa da edu-cao, ele superava as coloraes ideolgicas ou partidrias. Interessa-va-se, sobretudo, por educao pblica de qualidade, a partir da quallideranas polticas legtimas e esclarecidas pudessem ser formadas.

    Nos livros de Julio de Mesquita Filho publicados em vida,desde A crise nacional, de 1925, at Nordeste, de 1963, coletnea deeditoriais sobre trs estados da regio brasileira, e no publicadopostumamente, Poltica e Cultura uma educao popular colocadacomo subsdio essencial da democracia, da cultura e da evoluosocial, aes conjugadas organicamente pelos profissionais for-mados pela universidade, como ser visto adiante.

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    Nordeste, como outras obras editadas do autor, resulta de reu-nio de artigos publicados em O Estado de So Paulo sobre aspectospolticos, sociais e ambientais de Pernambuco, Cear e Bahia. A par-tir de dados estatsticos e informaes obtidas em estudos de agro-nomia, questiona as interpretaes que polticos de formao exclu-sivamente jurdica alegam para o subdesenvolvimento da regio bra-sileira e fornece projetos de intervenes para repartir a terra, me-lhorar a economia e as condies de vida do povo. Na capital doEstado de Pernambuco, com seus 80% de analfabetos, observou oespetculo degradante dos 300.000 habitantes favelados. Registrou:

    doloroso vermo-nos na contingncia de dizer verdades to amar-gas; mas no h outra maneira de encarar friamente o problema eprocurar resolv-lo. Sabemos que esse estado de coisas nos induz aapresent-lo de um ponto de vista que nem sempre partilhado portodos os interessados no assunto, bem como a desprezarmos, mui-tas vezes, os mtodos pseudocientficos com que se obstinam emestud-los alguns espritos formados no simples contato com oslivros, ou em meios sociais que j chegaram a um alto grau de evolu-o humana. (Mesquita Filho, 1963, p. 20)

    Nesse texto, com a habitual verve crtica, Julio de MesquitaFilho valoriza o dado estatstico da educao como um indicadorpara avaliar a realidade social, uma prtica incomum entre seuscontemporneos, mas muito valorizada hoje em dia. Nesse senti-do, ele se expressa como analista da poltica da educao adiantede seu tempo. Por outro lado, pode-se reparar o uso franco daterminologia evolucionista, referencial terico que marcou sua for-mao e do qual nunca abriu mo. Esse entusiasmo terico dojornalista, j apontado anteriormente, tem de ser compreendidocomo parte do contexto de poca.

    Ao discorrer sobre a histria da sociologia brasileira, AntonioCandido observa que duas palavras devem ser invocadas: direitoe evolucionismo. Verifica que durante os primeiros anos da rep-blica a sociologia nacional foi produzida por juristas possudos

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    pelas doutrinas do evolucionismo cientfico e filosfico. (Cndi-do, 2006, p. 272). De fato, se lanarmos o olhar para o panoramamais amplo da constituio das cincias no mundo, quando Darwindivulgou suas ideias, pelo lanamento em 1858 da Origem das esp-cies, nenhuma conduta cientfica fazia oposio noo bblica so-bre a origem divina do ser humano.

    Assim, ao mesmo tempo em que uma enorme campanhadifamatria contra o autor das ideias de evoluo biolgica e seuscorreligionrios posta em marcha, pensadores de outros setores doconhecimento encamparam os conceitos criados pela nova cinciada biologia, que, finalmente, encontrara uma sntese explicativa. Emseu campo de origem, esses fundamentos perduram at hoje, reno-vados por conhecimentos das demais cincias biolgicas, os concei-tos centrais evolucionistas se preservam essencialmente os mesmos.Mas na sociologia os parmetros importados da biologia cederamlugar a outros, que se mostraram mais adequados a integrar a vidapoltica e social das naes, contudo os ecos do evolucionismo sefizeram presentes nos textos do autor durante dcadas.

    Julio de Mesquita Filho esteve entre os que buscaram referenciaisde interpretao da sociedade nos autores evolucionistas e mante-ve esse vis explicativo ao longo de sua vida. A noo de que ateoria sociolgica evolucionista seria capaz de proporcionar umaviso de totalidade est de acordo com o gosto pelos estudosgerais e as grandes snteses explicativas (Cndido, 2006, p. 272),marcantes da primeira etapa da sociologia nacional, antes da for-mao dos primeiros socilogos com formao universitria es-pecfica, o que s veio acontecer a partir dos anos 1940.

    Em um de seus ltimos textos publicados, o discurso de possede Julio de Mesquita Filho como scio honorrio da AcademiaPaulista de Medicina, o crdito a Spencer, principal autor doevolucionismo social, conferido pelo jornalista: Perteno a umagerao cujas convices filosficas tinham por fundamento as con-

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    cepes spencerianas. (Mesquita Filho, 1969; p. 209), mas, em se-guida, coloca a sociologia evolucionista em cheque, face ao que apren-deu sobre o confronto entre a gentica de Mendel e o evolucionismobiolgico, em 1918, que poria por terra os fundamentos da evolu-o. Na verdade, JMF no teria o que temer nesse terreno, poisainda que a sociologia evolucionista no tenha prosperado, a genti-ca passou a contribuir com a teoria da evoluo biolgica.

    De fato, a marca spenciariana pode ser percebida nos textosdo autor ao longo de sua produo, notando-se tambm que fazuso de outros referenciais diversos, pois, leitor voraz, nem em seutempo de exlio, deixou de reclamar livros para sua atualizao. Omais importante a se examinar na produo intelectual de Mesqui-ta Filho no est restrito ao que se depreende dos fundamentosepistemolgicos. preciso reconhecer suas aes, situando-as nobojo dos acontecimentos poltico-educacionais da poca.

    No tendo sido professor, acadmico ou autor de livroseducativos, Julio de Mesquita Filho no foi um educador no senti-do estrito do termo. Mas sem este mobilizador da opinio pbli-ca, a histria da educao brasileira teria sido outra, certamente.

    Da formao nacionalista concepo da universidade

    Julio de Mesquita Filho nasceu nos primrdios da Repblica, nodia 14 de fevereiro de 1892, na cidade de So Paulo. Durante todasua vida, se dedicaria a lutar pelo aperfeioamento do sistema pol-tico, pelo qual seu pai e seu av materno haviam se empenhado parainstaurar. O ambiente familiar j propiciava boa formao intelectuale poltica: seu pai, Julio Mesquita, era um dos mais destacados jorna-listas brasileiros de seu tempo, e seu av materno, Jos de CerqueiraCsar, um ilustre advogado e poltico republicano.

    Aluno da Escola Modelo no jardim de infncia e no primrio,o pequeno Julinho frequentou a instituio que inaugurou a prticada pedagogia renovada em nosso pas em uma escola pblica, nos

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    seus primeiros anos de existncia. Mais que isso, a escola da Praada Repblica na capital paulista foi paradigma para a educaorepublicana, ainda que tenha representado uma resposta fraca dianteda promessa republicana de criar uma escola pblica democrticae laica. Uma escola para todos, sem distino, e que poderia corri-gir as desigualdades sociais, segundo o iderio liberal da repblica.Seria um templo da cultura e do saber, que viabilizaria a nao e osbrasileiros.

    Vale recordar que no Brasil imperial a educao primria emdia era privilgio da elite econmica que tinha acesso escolaparticular religiosa. Em 1834, por Ato Adicional do Imperador, aescola primria e mdia tornou-se responsabilidade das provnci-as, descentralizando a organizao voltada a esses nveis de forma-o. Ao poder central ficaram reservadas a normatizao e a ges-to do ensino superior e do Colgio Pedro II, na capital federal.Contudo, nesses moldes, a educao bsica no prosperou namaioria das provncias, desprovidas de recursos financeiros, tribu-tos destinados educao bsica.

    Para o ensino mdio, a soluo mais comum era a criao deliceus, a partir da conjugao dos antigos mestres de aulas rgias,anteriormente mantidas pela coroa portuguesa. O ensino prim-rio, na maior parte do territrio nacional, foi relegado ao abando-no. E sobrevivia pela dedicao dos mestres-escolas. Esses profis-sionais, sem formao ou habilitao especfica, destinavam umlocal em sua prpria casa para receber estudantes de vrias idadese nveis de adiantamento, ou seja, uma classe multisseriada.

    Naquela poca, pleiteando o ensino superior avolumavam-seas vozes que em perodo anterior, logo aps a independncia, seelevaram a favor da criao da universidade. O deputado JosFeliciano Pinheiro da Silva defendeu a criao de dois polos uni-versitrios: um na capital federal e outro em So Paulo, localizaoestratgica pelo baixo custo de vida. Sobreveio uma disputa

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    regionalista, com diferentes propostas que apontavam outros es-tados como lugar melhor para a universidade. Finalmente, depoisde muita luta, foi aprovado em 4 de novembro de 1823 o projetode duas universidades: uma em Olinda e outra em So Paulo. Oitodias depois, Dom Pedro I dissolvia a Assembleia Constituinte etodo trabalho foi perdido. (Campos, 1954, p. 28)

    Em 1843, o tema da criao da universidade foi retomado poruma comisso especial que opinou pelo estabelecimento de umauniversidade na capital federal, que se chamaria Pedro II e se com-poria de faculdades de teologia, direito, medicina, cincias fsicas ematemtica. Mas o projeto no obteve apoio dos senadores, diantede protestos das provncias, que temiam o fechamento de cursoscriados no segundo reinado e no perodo de regncia.

    Em seu Histria da Universidade de So Paulo, Ernesto de SouzaCampos sintetiza:

    D. Joo VI, sob inspirao de grandes ministros de estado, fundounumerosos centros de educao e cultura. Pedro I nos deu cursos jur-dicos. O primeiro governou 13 anos e o segundo cerca de uma dcada.Em meio sculo do governo do segundo Imperador nada se fez pelauniversidade. Apenas durante a minoridade criou-se o Colgio PedroII no Rio de Janeiro (1837), (...) e as escolas de minas e metalurgia(1832) e de farmcia (1839), ambas em Vila Rica de Ouro Preto. Todas,porm, foram criadas durante o perodo de regncia. Pedro II, procla-mado Imperador, em 1840, somente lembrou-se de por em execuoa lei de 30 de outubro, que criou a escola de Minas e metalurgia, trinca equatro anos depois de se achar reinando. Dormiu sobre a lei durantemais de trs decnios. Em cinquenta anos de reinado nada fez esteImperador pelo desenvolvimento da educao superior no Brasil. Con-servou apenas os que os outros fizeram. Nem coragem teve para fun-dar a universidade que teria seu nome. Passaram-se cinco dcadas decompleta estagnao nos domnios da educao universitria, que per-maneceu na estaca zero, apesar de tantas iniciativas anuladas por falta doindispensvel calor imperial. (Campos, 1954, p. 32)

    Portanto, o estado indigente da educao bsica e superior nopas durante o imprio foi alvo de crticas tenazes dos opositores

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    republicanos, ao mesmo tempo em que depositam na educaosuas esperanas de um pas mais justo e progressista. Conforme aConstituio de 1889, foi delegada aos estados da Federao aresponsabilidade pelo ensino primrio e pela sade no Brasil. Logoaps a proclamao da Repblica os governantes do Estado deSo Paulo, representantes da oligarquia mais progressista, investi-ram em um sistema de ensino que funcionasse muito bem e fossepropaganda do novo regime. Este fato amplamente comentadopelos pesquisadores da histria da Educao brasileira.

    Em O legado educacional do sculo XX no Brasil, Saviani destaca ainstitucionalizao da escola pblica na experincia paulista:

    Foi somente com o advento da Repblica, ainda mais sob a gide dosistema federado, que a escola pblica, entendida em sentido pr-prio, fez-se presente na educao brasileira. Com efeito, a partir daque o poder pblico assume a tarefa de organizar e manter integral-mente as escolas, tendo como objetivo a difuso do ensino a todapopulao. Essa tarefa materializou-se na instituio da escola gradu-ada no Estado de So Paulo, de onde se difundiu para todo o pas.(Saviani, 2007, p 18).

    Marta Carvalho, por sua vez, destaca a renovao de mtodosque tinha lugar na escola pblica de So Paulo:

    O investimento bem-sucedido e o ensino paulista logra organi-zar-se como sistema modelar, em duplo sentido: na lgica quepreside a sua institucionalizao; e na fora exemplar que passa a ternas iniciativas de remodelao escolar de outros estados. Na lgicaque preside a institucionalizao do modelo escolar paulista, a pe-dagogia moderna entendida como arte de ensinar, em que a pr-tica da observao modula a relao ensino-aprendizagem, instau-rando o primado da visibilidade (Rodrigues, 1930). A Escola Mo-delo anexa Escola Normal instituio nuclear. Com moderno eprofuso material escolar importado e prdio apropriado, tinhacomo funo a criao de bons moldes de ensino. Nela, os futurosmestres podiam aprender a arte de ensinar vendo como as crianaseram manejadas e instrudas. (Carvalho, 2000, p. 112)

    Tal investimento na educao paulista se viabilizou mediante

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    a reforma da instruo pblica estadual, idealizada por RangelPestana e executada por Antonio Caetano de Campos, durante aadministrao de Prudente de Moraes, implementada entre 1890e 1896. Foi pioneira na organizao do ensino primrio em gru-pos escolares, criados inicialmente pelo agrupamento em ummesmo prdio de professores que ministravam classes em esco-las isoladas durante o regime monrquico. A reforma tinha pormetas a organizao pedaggica e administrativa das escolas, coma contribuio de inspetores escolares que atuavam em diversosestabelecimentos, bem como a construo de prdios especfi-cos para funcionamento da escola e a definio de corpo docen-te com formao especfica para atuar em classes seriadas. Dessemodo, pretendia-se ensinar de forma mais adequada aos alunospequenos ou maiores, graduando-se os contedos e propostas.A mesma reforma criou a Escola Modelo, anexa Escola Nor-mal, criada em 1890.

    Um informe de relatrio do inspetor Gabriel Prestes, sobre aEscola Modelo fornece um retrato do dia a dia das primeirasturmas que a frequentaram, entre quais se encontrava o futurojornalista:

    O ensino do primeiro ano, todo intuitivo quanto aos processosempregados, tem por objeto principal inspirar s crianas os hbitosde ordem e de trabalho, cultivando-se o poder da ateno de que elesso suscetveis. Mas como a natural atividade infantil faz com que oseu esprito no possa aplicar-se demoradamente sobre um mesmoobjeto, o tempo escolar subdividido em perodos de 15 minutosno mximo. Alm disso, para manter-se um justo equilbrio entre aatividade e a ateno que as crianas tm de manter, os exerccios sogeralmente intercalados de marchas entre bancos, de canto ou deginstica, que constituem verdadeiros perodos de recreio, em que ascrianas descansam o esprito, predispondo-se para novos exerccios.Outro meio de que lanam mo as professoras para manter o espri-to das crianas sempre disposto para o exerccio das faculdades inte-lectuais que apenas desabrocham, o de entret-las com constantes

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    ocupaes apropriadas sua tenra idade, ocupaes que os america-nos chamam de Busy-Work e que consistem em uma imensa cpiade pequenos exerccios tais como: a classificao de pedaos de papelde vrias cores e tamanhos, () a reproduo de tecidos em papel ououtras tantas ocupaes que se harmonizam com o gosto das crian-as. Esse gnero de ocupaes tem ainda a grande vantagem de per-mitir que se subdivida a classe, de modo que a mestra possa ocupar-se com menor nmero de alunos, enquanto os outros se entretmaprazivelmente a trabalhar brincando e ao mesmo tempo desenvol-vendo suas faculdades de observao. (Prestes, 1896, citado por Car-valho, 2000, p. 119).

    Podemos imaginar Julinho participando das atividades varia-das propostas na Escola Modelo, ao lado de crianas das melho-res famlias paulistanas, pois estas eram as primordialmente acei-tas para as concorridas vagas do Jardim de Infncia, uma vez queGabriel Prestes julgou mais adequada uma escola de meio pero-do para filhos de senhoras com governantas (Kuhlmann Jnior,1994, citado por Marcelino, 2004, p. 103). Brincavam nos formo-sos jardins do prdio, que hoje, centenrio, abriga a Secretaria deEstado da Educao.

    Em seu Um esboo de autobiografia (1969) Julio de Mesquita Filhoafirma nada recordar-se dos mtodos de ensino do primrio,mas elogia seu jardim de infncia ao afirmar: h evidente exageroao me referir a aulas do Jardim da infncia. O que se dava era que ascrianas nele matriculadas eram maternalmente distradas por umgrupo de professoras imbudas do esprito que deve presidir umestabelecimento daquela natureza e superiormente orientadas poressa alma de eleio que era chamada em vida de Dona Mimi Varella,cuja lembrana constitui at hoje uma das mais agradveis recorda-es para todos que tiveram a ventura de usufruir-lhe a vivificanteinfluncia. Respirvamos a seu lado a mesma sadia atmosfera quecaracterizava a minha casa e a de meus avs. Frequentavam-no osfilhos e filhas das mais antigas e ilustres famlias paulistas, ao lado dosfilhos e filhas da gente mais humilde, sem que se notasse a mnima

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    diferena no trato ou nas relaes da miualha. Era aquilo uma per-feita miniatura da gens paulista, to solidamente constituda e tosadia na sua maneira de viver e de conceber a vida. (O Estado de S.Paulo, edio de 13 de julho de 1969)

    Depreende-se que Julinho foi feliz ao vivenciar uma meto-dologia de ensino marcada pelas lies de coisas, o manuseio demateriais variados e do saber fazer com, nos primrdios dapedagogia intuitiva. Cantava. Explorava os sentidos e o mundo aoredor. Fazia ginstica e marchava.

    Essa escola, difundida para os demais estados brasileiros pe-los republicanos de primeira hora, comeava a olhar mais de per-to a aprendizagem. Moderniza-se influncia de educadores inter-nacionais, notadamente Frbel, criador do conceito de jardim deinfncia, Pestalozzi, Rousseau e Mme. Carpentier, cujos retratos aleo enfeitavam o trio do prdio do Jardim da infncia. Pode-mos visualizar a crianada olhando as figuras do passado e se per-guntado quem seriam... O Julinho desse tempo elegeu a figura doMarechal Deodoro como a mais empolgante: A sua bela cabea,enquadrada pela barba farta e grisalha, bem plantada sobre osombros poderosos e realada pelo brilho faiscante das numero-sssimas condecoraes que ostentava no largo peito, impunha-se minha sensibilidade infantil. Vagamente, muito vagamente, surgianas camadas profundas do meu esprito a ideia de vir a ser um diacomo aquele personagem, cuja significao real me escapava total-mente (Mesquita Filho, 1969).

    Aluno da escola pblica e moderna, Mesquita Filho foi, prati-camente, exceo na populao brasileira, ainda destituda de es-colas pblicas para a maioria dos cidados. Desse perodo, o me-nino JMF recorda, tambm, em seu Um esboo de autobiografia,primrdios de sua formao poltica:

    (...) assistia eu, atravs das frestas do escritrio de meu pai reunioque, diariamente, ali se verificava entre meu av, meu pai e meu tio

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    av Campos Salles, que alm de morar na casa contgua a nossa, era,nessa ocasio, presidente do estado. Muito pouco conseguia distin-guir o que ouvia. Mas a verdade que me sentia j ento irresistivel-mente atrado para o quadro que me ofereciam aqueles personagens,para mim da mais suma importncia, pelo tom severo e acaloradoem que decorria a conversa, o que me dava certeza de tratar de assun-to de suma gravidade.

    Tinha apenas dez anos de idade, quando seu pai e seu avcomandaram a Dissidncia Republicana em So Paulo, de 1901 a1906. Contudo, a convivncia com a famlia seria interrompida deforma brutal, qualificao por ele atribuda aos mtodos da es-cola portuguesa e aos efeitos de sua separao da famlia. Enviadopara estudar na Europa, primeiro em Portugal, aos doze anos edois anos depois na Sua, onde permaneceu por seis anos, o jo-vem participou, na condio de aluno, de modelos pedaggicosopostos, o que, somado a sua experincia na Escola Modelo daPraa de Repblica, contribuiu decisivamente para a formao deseu entendimento sobre a questo educacional.

    Em Portugal, as prticas disciplinares da bofetada e da palma-tria revoltaram o estudante brasileiro. Na Sua, aluno da escolamdia, sua formao intelectual se expande. Ele leu muito, especi-almente literatura, e adolescente fazia suas primeiras avaliaes acercada humanidade, influenciado por Rousseau e a ideia de bondadenatural. Para isso havia contribudo muito o ambiente encontra-do em La Chateleine, onde vivenciou uma experincia de cunhohumanstico notvel.

    Para Julio de Mesquita Filho, sua escola primria moderna,progressista e feliz contrastou fortemente com a instituio ondefez o ginsio. Assim, foi durante a adolescncia que juntou elemen-tos para construir suas prprias crticas educao tradicional ofe-recida no Brasil e em Portugal no comeo do sculo. Desde entoele nunca perdeu oportunidade de apontar as limitaes do ensinoque desmerece e deixa de incentivar as crianas e jovens, um ensi-

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    no baseado na violncia ou no constrangimento. Estes relatos po-dem ser recuperados:

    Fui matriculado num dos melhores colgios de Lisboa, na famosaEscola Acadmica, (...): os mtodos de ensino e o corpo docente nosofriam confronto com o nosso, eram-lhes imensamente superio-res. Tanto assim que desde logo alcancei progressos enormes. Passeia interessar-me pelas coisas do esprito e a sentir irresistvel atraopelas coisas intelectuais. [...] Quanto ao mais, a educao propria-mente dita, e o trato a petizada, era um horror: A as coisas se inver-tiam: o Brasil achava-se, em relao aos mtodos educativos, comcerteza 30 anos frente de Portugal. Processos os mais brutais e aestupidez mais crassa vigorava como normas de educao. Basta di-zer que era corrente, diria, a aplicao de palmatria e da bofetada. Econclui sua descrio sumria da educao tirnica: Positivamente,meu primeiro contato com a Europa foi tremendo e s serviu parafazer crescer, desmedidamente, o meu amor, por este grande, esteincomparvel Brasil. (Mesquita Filho, 1969)

    Julio de Mesquita Filho conduz sua autobiografia para deixarclaro que a educao afirmao da nacionalidade. Adquire estanoo por meio de experincias dolorosas ao sentimento, mas,contraditoriamente, valorosas para o esprito, na escola de Lisboa.A essa experincia somou-se a gratificante estada na escola suaonde aprendeu o valor do dilogo para a formao do jovem.Na escola sua, reconcilia-se o estudante com a escola como am-biente favorvel ao respeito e a dignidade:

    Vivia-se, ali, plenamente, sem a humilhante disciplina a que estavamsujeitos os desgraados alunos da Escola Acadmica. Em contatoconstante com a famlia do diretor e professores, a atmosfera quenele se respirava em nada diferia da que caracterizava as famlias bemformadas do meu So Paulo. [...]. Os professores, todos universit-rios, assemelhavam-se muito mais a amigos mais velhos do quesuperiores hierrquicos. [...]. O processo portugus havia feito demim um revoltado, sempre pronto a revidar s brutalidades de pro-fessores e vigilantes pela violncia. [...] Ao chegar Sua era aindaessa a minha atitude diante de meus superiores. A lealdade absolutacom que me tratavam, a ilimitada confiana que em mim deposita-

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    vam no tardaram, porm, a desarmar-me. Vi-me, repentinamente,diante de um outro eu mesmo, vencido e desejoso de inspirar, porminha vez, a confiana que em mim depositavam. A mudana severificara minha revelia, transformando o rebelde e insubmissonum colaborador e entusiasta de seus superiores. (Mesquita Filho,Um esboo de autobiografia, 1969).

    Pelo desejo de seu pai, Julio de Mesquita Filho permaneceriana Europa e estudaria medicina. Mas, em 1912, ele preferiu voltare cursar direito, em So Paulo no Largo So Francisco, j ciente desua vocao pelas cincias humanas e certo de que desejava contri-buir para a cultura brasileira.

    Assim, ao se tornar aluno da Faculdade de Direito, j haviaamadurecido seu modo de avaliar o sistema de ensino tirnico oudefasado de ento. No surpreendente, portanto, que viesse acriticar fortemente o ensino de sua faculdade:

    A mais completa falta do cumprimento do dever profissional carac-terizava, naquele tempo, como ainda hoje, a quase totalidade dosprofessores, com uma ou outra magnfica exceo, o quadro geralque se me deparava era desolador!

    Porm, a decepo em relao ao ambiente acadmico levou-o ao seu prprio caminho de leituras e reflexes. Leu Comte, nogrande resumo de Madame Martineau, e tambm Novicow,Condorcet, Montesquieu, mas principalmente Stuart Mill e Spencer.Disse ele em seu Um esboo de autobiografia:

    Atirei-me com voracidade ao Stuart Mill e ao Spencer, sobretudo aeste, cujas teorias se achavam na poca em pleno apogeu. Seduziu-me desde logo a teoria da evoluo, que me proporcionava umaviso total do mundo, como natureza strictu sensu e comosociedade. (Mesquita Filho, 1969)

    Expandiu os horizontes, lendo Durkheim e Lvy-Bruhl, e aindaa sociologia alem (Simmel, Max Scheler, Manheim), e posterior-mente historiadores antigos (Herdoto, Tucdides e Polbio) e mo-dernos (Mommsen, Buckle, Macaulay). Outros autores enriquece-ram suas leituras como Burckhardt, Guizot Michelet, Taine, Carlyle e,

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    especialmente, Spengler e Arturo Labriola de linhagem spengleriana.Em seus textos autobiogrficos, assinala que a Primeira Guer-

    ra Mundial o levaria concepes freudianas, substituindo o apa-rente otimismo de seus primeiros ideais. Alm de Freud, Hobbeslhe ofereceu uma imagem ainda mais marcante. Contudo, o libe-ralismo permaneceu como a mais arraigada, por herana, e laten-te, por convico.

    Conquanto leituras em humanidades tenham sido importantespara a formao de Julinho, as atividades polticas estudantis tam-bm tiveram papel fundamental. Como seu pai, Julio de MesquitaFilho tambm integrou uma sociedade secreta na faculdade, a Bu-cha. A Bucha (Burschenschaft) era a organizao mais influente daFaculdade de Direito do Largo So Francisco. Fundada por JuliusFrank, um professor do curso jurdico que havia fugido da Ale-manha por suas atividades antimonrquicas, a Bucha, como fi-caria conhecida, teve papel decisivo na articulao dos republica-nos em todo o Brasil, pois muitos de seus membros eram origin-rios de outras provncias e a elas retornavam aps a concluso dobacharelado (entre eles Joo Pinheiro, Jlio de Castilhos, Assis Bra-sil e Pinheiro Machado). No imprio, teve o papel poltico de dis-seminar a filosofia liberal, republicana e abolicionista. E Julinho,em 1916, seu ltimo ano de faculdade, foi o chaveiro. A Festa daChave daquele ano era especialmente anunciada em O Estado deS.Paulo:

    Realiza-se hoje, s 10 horas em ponto, com excepcional brilho, naFaculdade de Direito de S. Paulo, a tradicional Festa da Chave. Foramconvidados para solenidade acadmica, os exmos. srs. presidente e vicepresidente do estado, secretrios do Interior, Fazenda, Justia e Agri-cultura; senadores, deputados, juzes e outras pessoas graduadas. Nosalo da Faculdade, tocar uma seo da banda da Fora Pblica. OSalo Nobre acha-se ornamentado de flores. Receber os convidados porta, uma comisso de acadmicos, compostas dos srs. Lysippo Fra-ga, Affonso Paes de Barros, Cid Prado, Jair Ges, Cyro de Freitas Vallee Francisco Alves dos Santos. Em nome da congregao falar o exmo.

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    Sr. Frederico Vergueiro Steidel. Em seguida o bacharelando Julio deMesquita Filho entregar a chave ao quartanista Abelardo VergueiroCsar. Em nome do 5 ano falar o bacharelando Marcelo B. da SilvaTelles; em nome do 4 ano, o quartanista Pereira Lima. (O Estado de S.Paulo, edio de 2 de dezembro de 1916.)

    O chaveiro presidia a Bucha, possuindo um Conselho deapstolos e, outro, de invisveis. Os bucheiros procuravam ajudarfinanceiramente os alunos pobres com problemas para prosseguiro curso. Em seus encontros, vestiam mantos azuis e usavam faixasque podiam carregar uma cruz azul (representando a f), uma n-cora verde (a esperana) ou um corao vermelho (caridade).

    Entre os membros conhecidos que exerceram o papel de che-fia, encontram-se Rui Barbosa, Baro do Rio Branco, Afonso Pena,Prudente de Morais, Campos Salles, Washington Lus, Pedro Lessa,Bernardino de Campos e Francisco Morato. Os ilustres da Buchafiguravam no poder. Em suas memrias, Carlos Lacerda contaque Ademar de Barros levou uma lista com todos os nomes inte-grantes da organizao a Getlio Vargas, dizendo: No se podegovernar sem essa gente.

    De fato, tanto antes como depois do curso de direito, na vidaprofissional e na militncia poltica, alm de exercer a curiosidadeessencial a um reprter, recebeu influncias importantes e que fize-ram muito por sua formao intelectual, sua identidade poltica epessoal. Recm-formado, foi membro ativo da Liga Nacionalista,tendo acompanhado Rui Barbosa em viagens da ltima campanhacivilista, em 1919. No mesmo ano exerceu funo no ConselhoDeliberativo da Liga.

    Durante sua participao na Liga Nacionalista certamente, de-bateu as prticas higienistas e militaristas defendidas no ideriopedaggico da Liga e teve oportunidade de conhecer as salas deaula por ela mantidas. mesma agremiao pertenceu SampaioDria, diretor da instruo pblica a partir de 1920, cuja reformana educao criou grande celeuma e sobreviveu por apenas por

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    cinco anos. Tendo realizado o primeiro censo escolar de que setem notcia, o alagoano formado em direito em So Paulo con-cluiu que seria melhor ter menos escola para todos, do que umaescola mais completa para poucos. Criou a obrigatoriedade daescola de alfabetizao em dois anos e implementou cursos notur-nos para adultos e adolescentes operrios, com distribuio delivros didticos especialmente confeccionados para essa finalida-de. (Barboza, A. Cartilha do operrio: alfabetizao de adolescentes e adul-tos em So Paulo (1920 1930).

    A Liga Nacionalista de So Paulo, fundada em 1917, preconi-zou um programa poltico-educacional que integrasse os cabo-clos, os imigrantes e seus descendentes na formao da nao.Contava entre seus objetivos com a luta contra o analfabetismo ea disseminao do escotismo, em substituio aos exerccios mili-tares que compunham o currculo paulista do comeo do sculo.A Liga procurava combater a absteno eleitoral criando um elei-torado, pois ao analfabeto estava vetado o voto, por meio da LeiSaraiva. Calculava-se que o militarismo propiciaria a criao doesprito patritico. A nomeao de Oscar Thompson um ativistado movimento, para a Diretoria-geral de Instruo Pblica, ondepermaneceu de 1917 a 1920, ampliou as prticas nacionalistas nosgrupos escolares, alm do escotismo, o ensino da lngua, come-moraes cvicas, o culto bandeira, estudos de vultos nacionais.

    Na vigncia da diretoria de Sampaio Dria o escotismo con-tinua a ser fundamental para a formao das crianas no primrio,em conexo com a disciplina de moral e civismo, trariam o jovema desenvolver o amor pela ptria, o sentido de ordem e o valor aotrabalho (Souza, 2000). A formao cvica reclamada largamentepor Mesquita Filho em seu primeiro livro publicado: A crise nacio-nal: reflexes em torno de uma data, escrito para a edio de 15 denovembro de 1925 de O Estado de S. Paulo. O fechamento da Ligaum ano antes, por ato autoritrio de Artur Bernardes, entre tantos

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    eventos polticos daquele tempo tumultuoso, deve ter empolgadoo jovem jornalista a escrev-la.

    Em A crise nacional, (Mesquita Filho, 1925) o ainda jovem autorbusca compreender o movimento poltico nacional, inserido inter-nacionalmente e no contexto histrico. Preocupa-o problema daadaptao definitiva da democracia no Brasil (p. 3), face deca-dncia poltica que se seguiu implantao do regime republicano.Compara o momento com o panorama que antecedeu a instaura-o do novo regime e observa melhoria nos meios de comunica-o, quase nulos no tempo do imprio (p. 4), na oferta de escolasprimrias, centuplicadas no perodo, fatores insuficientes para a ade-so de intelectuais vida pblica. Tampouco corroboraram para alisura na seleo de representantes populares: hoje oferecemos aomundo o espetculo degradante de costumes polticos (p. 4). Asoluo encontrada assenta-se no trip: voto secreto, servio militarobrigatrio e educao mdia e superior de qualidade.

    Para explicar a debilidade da opinio pblica, durante o co-meo da repblica, o autor lana mo de argumentos de cunhoevolucionista, caractersticos da sociologia da poca. Na libertaodos escravos, v o elemento servil como principal fonte de de-sorganizao social e poltica, pois dela decorre forte trauma. Umcaos mental deturparia o organismo social das cidades dolitoral. Onde antes floresciam as elites intelectuais, aps o 13 demaio, acorreram africanos e as massas incultas se tornaram maio-ria. A carncia educacional dos negros, fruto do abandono do ex-escravo pelo imprio e pela nascente repblica, no os colocavaem condio do exerccio da cidadania recm-conquistada.

    Interpreta a oligarquia das primeiras dcadas da repblica. Apoltica passaria a responder vontade de alguns poucos, com acapacidade de acolher ou afastar os que pretendessem lugar noscongressos estaduais. Era o advento da oligarquia, nica forma degoverno compatvel ao estado geral da nao, que, por prazo

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    indeterminado, se integrara categoria daqueles povos que prefe-rem um governo qualquer a se governarem por si mesmos (p. 16).

    Identifica um conflito de foras latentes com o predomniopoltico das oligarquias, que, acredita, seriam gradualmente regula-das pelo advento do voto secreto. As elites intelectuais refugiadasnas carreiras liberais, na indstria, na agricultura, voltariam ativi-dade poltica. Do mesmo modo que na Frana e Estados Unidos,a maioria rural iria funcionar como pndulo regulador do meca-nismo poltico-social, impedindo que o fiel do manmetro doestado sofra oscilaes exageradas entre as duas tendncias extre-mas: o capital e o trabalho (pp. 61-62). Entende que o paulistaclama pelo voto secreto (p. 68), e sem se fazer de rogado, fazelogios aos paulistas e justifica vir deles a voz que se eleva a favorda evoluo social, pois os outros grandes vultos da histria tam-bm so filhos da mesma terra, como Feij e os bandeirantes. Noentanto, o voto secreto medida de emergncia que viria acalmaros espritos e renovar o sangue impuro que asfixia o parlamentonacional e assim provoca a monstruosa hipertrofia do executivo.Mas, sem outras reformas de carter mais lento e por isso mesmo deimportncia muitssimo maior, efmeros seriam seus resultadosprticos (idem, p. 74, grifo nosso).

    A reforma de carter lento a que Julio de Mesquita Filho serefere e que conclui sua primeira obra nada mais do que a funda-o da universidade, no seu entender, lugar de pesquisa altrusta,da formao da opinio pblica, de regulao da poltica nacionalsobre as slidas bases do conhecimento do passado. Uma forma-o acadmica que no seja voltada exclusivamente s cincias apli-cadas, que at ento imperavam no Brasil, posto que as faculdadesexistentes fossem apenas as de direito, medicina, agronomia, far-mcia e engenharia. Renovada essa crena na fora transformadorada educao, capaz de dotar o pas de classes dirigentes por meiode um organismo concatenador da mentalidade nacional, repre-

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    sentado, em todos os pases de organizao social completa, pelasuniversidades. (idem, p. 75)

    Para argumentar a favor da universidade no poupa seus pares,afirmando que ao mais superficial observador no escapar, real-mente, a insuficincia intelectual das chamadas classes cultas do pas.Nada existe entre ns que se parea com essas admirveis legies deestudiosos desinteressados, que no ambiente sereno das bibliotecase dos laboratrios indicam, em todas as naes cultas do universo,as diretrizes seguras por onde trilham confiantes os homens de ao.(...) Na Inglaterra, como no Japo, na Frana, como na Itlia, nosEstados Unidos, como j se vai verificando na Argentina, o poltico,o jornalista, e todos que direta ou indiretamente intervm na direodos negcios pblicos atuam, no terreno das realizaes prticassob as vistas vigilantes das elites intelectuais, que num trabalho inces-sante de investigao e estudos preparam a soluo dos problemasinfinitamente complexos com que lutam as sociedades modernas,impedindo, ou melhor, reduzindo ao mnimo as possibilidades deerro irreparvel. (idem, p. 75)

    Em parte, a viso de Julio de Mesquita Filho da universidade,no remoto ano de 1925, muito atual, porque valoriza o papel dapesquisa acadmica para a tomada de decises nas polticas pbli-cas, sublinha a importncia da intelectualidade na avaliao e asses-soria da atividade poltica. Ele assim intua com base em seu co-nhecimento da poltica internacional e num exerccio de futurologia,no qual acertou. E foi alm, pois j nesta obra primeira reclamaveementemente pela formao de professores secundrios emcursos universitrios, a quem caberia a funo de formar egressosda escola mdia com mentalidade altura do curso superior. As-sim, acreditou: em dez ou quinze anos, no mais, veramos ope-rar-se, estamos certo, milagrosa transformao na mentalidadebrasileira. Refundida nossa cultura, restabelecida a disciplina namentalidade do povo, sob a ao purificadora daqueles ncleos

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    de meditao e estudos, no tardaria a nao se aquietasse e quedesaparecessem os vcios inumerveis de nosso aparelhamentopoltico-administrativo, oriundos, na sua maioria, na sua quase to-talidade, da insuficincia cultural dos nossos homens pblicos(idem, p. 89). Aqui os prognsticos de Mesquita Filho falharam:nosso crescimento populacional foi proporcionalmente maior doque a oferta de escolas e os vcios polticos no se dissiparam coma oferta de educao para maiores contingentes de brasileiros.

    Portanto, desde 1925, com A crise nacional, Julinho elaborava oproblema da democracia ao Brasil, discutia a legitimidade da re-presentao atravs do voto secreto, que venceria sobre as oligar-quias, e a participao das diversas unidades da Federao. A edu-cao em todos os nveis seria o centro propulsor dessa democra-cia, com especial destaque para a formao de professores:

    O papel principal nessa obra de regenerao caberia, evidentemente,aos institutos de ensino secundrio que, disseminados de norte a suldo Brasil, criassem a mentalidade media nacional e se constitussemem reserva permanente de elementos para a constituio das indis-pensveis elites intelectuais, a cuja maior ou menor perfeio devemas naes de hoje a sua maior ou menor eficincia na luta pela exis-tncia. (p. 87)

    Do inqurito sobre a instruo pblica criao da USP

    A criao da universidade brasileira retardou demasiadamen-te, pois desde o sculo XVI houve propostas, todas frustradas.Especialmente inativo foi Dom Pedro II, deixando de ouvir pro-testos de toda ordem e de cumprir decises legislativas. A situaono se transformou de imediato com a Proclamao da Repbli-ca, pois durante seus primeiros vinte anos apelos repetidos dolegislativo no vingaram. Encabea a lista de rejeies e insucessosa proposta esboada j em 1892 por Pedro Amrico, deputadopela Paraba, que reivindicou trs universidades: uma no DistritoFederal, uma em So Paulo e a terceira em alguma capital do norte

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    ou do Nordeste. Ainda que nesse perodo algumas escolas de n-vel superior tenham se organizado (medicina, agronomia, enge-nharia e direito), a universidade sairia do plano terico apenas em1920, com a criao da Universidade do Rio de Janeiro, e, seteanos depois, com a Universidade de Minas Gerais, com sede emBelo Horizonte.

    A primeira universidade brasileira, a Universidade do Rio deJaneiro, foi instituda por decreto em 1920, reunindo as faculdadesj existentes de engenharia, direito e medicina, sem que acrescen-tasse um novo equipamento. Constitua-se como ato burocrtico.Assim, o Brasil foi o ltimo pas das Amricas a organizar seusistema universitrio. Pases mais novos j o possuam: Austrlia(4), Nova Zelndia (3), frica do Sul (2). Quando se fundou aprimeira universidade brasileira, no Distrito Federal, j existiam102 universidades nas duas Amricas, 76 na Amrica do Norte e26 na Amrica do Sul. (Campos, 1954, p. 20).

    Pode-se avaliar a urgncia e aflio dos brasileiros com a dis-crepncia do desenvolvimento do pas, em comparao com ou-tros vizinhos, em matria de universidade. Em consonncia estavaa indigncia que caracterizou a escola bsica por todo perodomonrquico e permanecia no comeo da Repblica. Foram in-teis, do ponto de vista quantitativo, as vrias reformas educacio-nais impostas pelos governantes:

    Entre 1890 e 1914, a matrcula geral no ensino primrio paulistadecuplicara, passando de 14. 427 para 152. 826 alunos; do mesmomodo, o nmero de grupos escolares aumentara de 38 unidades em1898, para 150 em 1914. Para Antunha (cf. 1976, p. 54), as medidastomadas com vistas expanso da rede de ensino, sem que tivessehavido correspondente aumento de recursos, teriam levado quedada qualidade do servio, ameaando assim as realizaes da reformade 1892. No interior, um grande nmero de grupos escolares foracriado, nem sempre contando com bons edifcios e mobilirio, mate-riais didticos e professores qualificados em nmero suficiente. Nacapital, as matrculas foram garantidas mediante o desdobramento

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    dos grupos escolares j existentes, ou seja, estes passaram a funcio-nar em dois turnos (cf. pp. 102-105). (Bontempi Jr., 2006, p. 2).

    Julio Mesquita, o pai, ainda em 1914 conduzira um inquritosobre a educao bsica, um conjunto de treze entrevistas basea-das nos mesmos tpicos gerais, publicadas em edies de datasdistintas do jornal O Estado de S. Paulo. Os entrevistados forma-vam um grupo de destaque no cenrio de educadores paulistas,formados pela Escola Normal, entre eles, o j citado OscarThompson, todos atuantes na vida pblica. Os tpicos integrantesdo inqurito abrangiam: lacunas e defeitos do ensino, a questodos programas, horrios de atendimento escolar, mtodos de en-sino, grupos escolares e escolas isoladas, escolas rurais e ambulan-tes, ensino rural, ensino moral e cvico, provimento das escolas,seleo do professorado, ordenados e recompensas do professo-rado, organizao de ensino, orientao pedaggica, direo doensino, escolha de livros didticos e, finalmente, um tpico reser-vado para a sugesto de reformas a serem empreendidas na ins-truo pblica do estado. (Bontempi Jr., 2006, p. 4).

    A Mesquita Filho no deveria escapar a importncia de reuniropinies de forma organizada e abrangente. Assim, passados dozeanos, ele prprio veio propor um inqurito sobre a instruo p-blica, agora, tendo como foco o ensino universitrio em articula-o aos demais graus. Encarregou Fernando de Azevedo, entocolaborador do jornal O Estado de S. Paulo da tarefa de preparar oquestionrio e coligir as opinies, alm de elaborar artigosintrodutrios ao inqurito.

    Em 1926, Fernando de Azevedo (1894 - 1974) j tinha sidoprofessor substituto de psicologia na Escola Normal de MinasGerais, seu estado natal. Formou-se bacharel em direito em SoPaulo em 1915, tendo sido, portanto, contemporneo de Julinho.Mas depois de formado regressou a Minas e escreveu uma tesepioneira no campo da educao fsica, Poesia do Corpo: defesa

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    de uma moral austera, que lhe deu ingresso ao magistrio daEscola Normal. Nos anos 20, ele j estava de volta a So Paulo,onde exerce o magistrio e o jornalismo, trabalhando inicialmentepara o Correio da Manh e depois em O Estado de S. Paulo. Entretan-to, o jovem intelectual logo abraaria a carreira de educador, ten-do se destacado tanto como professor universitrio na USP, ondefoi professor orientador de Florestan Fernandes, Antonio Candido,entre outros importantes socilogos. Como dirigente poltico exer-ceu cargo de secretrio da educao em diferentes ocasies noantigo Distrito Federal e em So Paulo, entre outras aes de pesopara a cultura e a educao nacionais.

    Curiosamente, segundo Julio de Mesquita Filho, a incumbnciade realizar o inqurito no foi abraada de imediato por Fernando deAzevedo, que, modestamente, alegava falta de capacidade. Contudo,uma vez aceita a tarefa, ela teria sido fundamental para o jovem aoperceber sua vocao em definitivo. Fernando de Azevedo recorda,em sua Autobiografia, a pesquisa publicada nas pginas de O Estado:

    Quando fazia a crtica literria de O Estado de S. Paulo, fui incumbidopelo meu amigo Julio de Mesquita Filho, de proceder a um inquritosobre a instruo pblica em So Paulo. Um vasto inqurito quedurou meses e do qual se concluiu que estvamos numa encruzilha-da, em que se abriam para a educao dois caminhos: o doconservantismo ou do reacionarismo, e o de transformaes radi-cais. Eu optava francamente por este, com o apoio sem reservas doestado. Mas a reao que esse inqurito provocou foi a mobilizaodas foras conservadoras contra as reformas que nele j se anuncia-vam, como necessrias. (Azevedo, Fernando de. Histria de minhavida. Rio de Janeiro: Livraria Jos Olympio Editora, 1971; p. 75.)

    Na medida em que o instrumento do inqurito documentopouco conhecido, hoje disponvel apenas em publicaes esgota-das, ser pertinente transcrev-lo na ntegra:

    1) Qual, a seu ver, a causa fundamental do insucesso quase completodas repetidas reformas que tm reorganizado o ensino secundrio esuperior da Repblica, sem conseguirem fazer do ensino um verda-

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    deiro aparelho de educao integrado no ambiente nacional um ins-trumento posto a servio da cultura do pas?

    2) Qual a atitude que assumiu e deve assumir o estado em face desteproblema, quer cooperando pelos seus representantes federais nasua soluo, quer tomando iniciativas para incrementar o ensino se-cundrio e superior, dentro dos seus limites?

    3) Podia apresentar-nos os principais erros desta ltima reformafederal (decreto 17782, de Janeiro de 1925) relativamente ao ensinosecundrio e organizao dos cursos profissionais superiores (m-dico, jurdico, politcnico etc.), na especialidade de que tem maiorconhecimento?

    4) No lhe parece que a questo do ensino secundrio, hoje reduzidoa uma funo puramente preparatria para os cursos superiores,ainda no se resolveu satisfatoriamente, entre ns, por termos perdi-do a conscincia de sua verdadeira finalidade no plano geral daeducao?

    5) favorvel ao ensino secundrio largamente baseado nas huma-nidades clssicas, ou, sem desprezo destas, baseado nas lnguasmodernas e nas cincias?

    6) Nas escolas de ensino secundrio cuja orientao se deve dirigirantes no sentido da universidade de conhecimentos (ideias ge-rais), deve-se, e, na hiptese afirmativa por que meios e em quealtura favorecer a especializao?

    7) At que ponto se tomar, no ensino secundrio, como uma reivin-dicao legtima, a aspirao includa no princpio inovador: umaescola nova para necessidades novas?

    8) No acha que nossos ginsios, antes organizados para instruir doque para educar, pouco tm contribudo e pouco podem contribuir,dentro de sua organizao atual, para a formao da sua organizaoatual, para a formao da cultura mdia do pas e, sobretudo, damentalidade e do carter nacional?

    9) Se um problema capital, em uma democracia, a formao daselites intelectuais, no lhe parece urgente tratar da fundao de esta-belecimentos de pesquisa cientfica e de cultura livre e desinteressada,que tenham por objetivo menos a organizao de um ensino geraldo que a contribuio, para o progresso do saber humanos?

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    10) Que pensa, pois, da criao de uma universidade em So Pauloorganizada dentro do esprito universitrio moderno?

    a) de maneira que se integrem, num sistema nico, mas sob a direoautnoma, as faculdades profissionais (de medicina, de engenharia ede direito), institutos tcnicos de especializao (farmcia, farmcia) einstitutos de altos estudos (faculdades de filosofia e letras; de cinci-as naturais e matemticas; de cincias econmicas e sociais; de educa-o etc.); b) e de maneira que, sem perder o seu carter de universi-dade, se possa desenvolver, como uma instituio orgnica e viva,posta pelo seu esprito cientfico, pelo nvel dos estudos e pela lar-gueza e eficcia de sua ao, a servio da formao e desenvolvimentoda cultura nacional?

    11) Por onde se deveria atacar logo, de maneira prtica, no estado,esse problema complexo de cuja soluo depende a organizao deverdadeiros ncleos de pensamento original e fecundo, de pesquisa ede disciplina mental, capazes de abrir caminho ao desenvolvimentoda cincia e cultura nacionais?

    12) no reconhece que de toda a necessidade, em So Paulo, a criaode uma secretaria autnoma, e, no governo federal, de um minist-rio de Sade e Instruo Pblica, sob cuja direo, nica, respectiva-mente no estado e na Repblica, fique todo o aparelhamento doensino de qualquer natureza e em todos os graus?

    (Campos, 1954, pg. 75 a 77)

    Ao leitor atual, habituado a pesquisas de opinio, no escapamdiversas questes formuladas de modo a induzir o respondente arefletir sobre certas informaes ou opinies pr-estabelecidas peloautor da pergunta, qui, para obter respostas mais satisfatrias porm no mais autnticas. Essa mesma observao deve ter leva-do Ernesto de Souza Campos a considerar propaganda (p. 75)o inqurito.

    Por outro lado, algumas questes poderiam ser teis ainda hoje,como a questo 4, sobre o carter propedutico do ensino mdio,assunto ainda em discusso na atualidade. Algumas questes do in-qurito investigam opinio sobre o papel da educao junto na-o, compelindo reflexo sobre a importncia das cincias e da

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    formao cultural mais ampla, trazendo uma viso de educaorenovada em seu tempo. Na questo 7, j est indicada a necessida-de de uma escola nova, tema de intenso debate nos meios educa-cionais e que se sistematiza no documento Manifesto dos Pioneiros daEducao Nova, em 1932, redigido por Fernando de Azevedo.

    Diferentemente da pesquisa anterior, dirigida a entrevistadosespecficos, o inqurito de 1926 foi aberto a quem desejasse par-ticipar. Publicado em O Estado de S. Paulo, obteve retorno de pou-cos intelectuais. Muito poucos, na opinio de Julio de MesquitaFilho, estavam em condies de responder a pesquisa:

    As respostas ao quesito sobre a necessidade da criao de um institutouniversitrio iam da afirmativa pura e simples de sua inadiabilidade,sem mais, negao peremptria de que tivesse chegado o momentode se pensar sua fundao. Outro fato que resulta do exame dessedocumento (conjunto de respostas ao inqurito) o nmero extre-mamente limitado das pessoas que, ao tempo de sua publicao esta-vam em condies de atender ao apelo de O Estado de S. Paulo. Aindaaqui Amadeu Amaral via bem as coisas, quando afirmava: excetuan-do-se uma pequenina minoria militante, to pequenina que talvez seconte pelos dedos, ningum mais mostra preocupar-se com tais ques-tes. (Mesquita Filho, Julio. Poltica e Cultura, p. 188)

    De fato, algumas respostas no indicam entusiasmo pela fun-dao da instituio. Amadeu Amaral, poeta e ensasta, contestaracom reticncias: A fundao de uma grande e orgnica universi-dade em So Paulo? Um belo sonho, mas... (idem, p. 186). Rui dePaula Souza, jurista e professor, diria que

    Seria muito bom desejar que se instalasse uma Universidade em SoPaulo. Como porm constitu-la atualmente, se para sua constitui-o nos falta justamente a Faculdade de Letras e Filosofia? (Campos,1954, p. 77).

    Julinho enfrentou essa questo crucial, organizando a seleona Europa de professores dispostos a lecionar em um pas subde-senvolvido, na cidade de So Paulo. Ele mesmo, no livreto A crisenacional, no ano anterior ao inqurito, j registrara:

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    (...) chegamos concluso de que no poderemos fugir criao deuniversidades, talhadas nos moldes dos institutos similares euro-peus. A iramos buscar professores que nos ensinassem os mto-dos de cultura geral; com a ajuda de suas luzes, formaramos, ento,o corpo docente capaz de remodelar eficientemente o nosso ensinode humanidades. Sem esse trabalho prvio, e relativamente fcil, nadade definitivo lograremos construir. Como se verificou em todo omundo, deveremos comear por formular o problema brasileiro tarefa a que s os espritos superiormente dotados e cultivados sepodero abalanar para depois procurarmos a sua soluo, peloesforo conjugado e metodizado de toda a nao. (p. 89).

    Segundo Mesquita Filho, a rica cultura europeia deveria estardisponvel para camadas mais amplas da populao, a educaono deveria ser privilgio dos que nasceram financeiramenteaquinhoados. Educao de qualidade s se faz com formao deprofessores, formados com nfase em estudos humansticos. Masa fundao da universidade teria que esperar at 1934, passadas asrevolues de 1930 e 1932, em circunstncias polticas que seroesclarecidas adiante.

    Em meio a intenso debate, a universidade criada pelointerventor do estado, Armando Salles de Oliveira por meio dedecreto em 25 de janeiro de 1934. Entre as consideraes iniciaisque a justificam, figura o valor primordial ao desenvolvimento dacultura filosfica, cientfica, literria, artstica, nas quais se fundam aliberdade e a grandeza de um povo. So estas as duas primeirasfinalidades da nova instituio: promover, pela pesquisa, o pro-gresso da cincia e transmitir, pelo ensino, conheci mentos queenriqueam ou desenvolvam o esprito, ou seja, teis a vida. Emterceiro lugar: formar especialistas em todos os ramos da cultura,e tcnicos e profissionais em todas as profisses de base cientficaou artstica. Completando o quadro de finalidades, a quarta eltima aponta para a realizao de obra social de vulgarizao dacincia, das artes e das letras, por meio de cursos, conferncias eoutros recursos. (Campos, pp. 100-101). O longo esforo do gru-

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    po de intelectuais que inclua Julio de Mesquita Filho e Fernandode Azevedo resultaria em um modelo de ensino superior comple-tamente novo no pas.

    Uma importante novidade na formao da nova universidadefoi a criao de uma Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras,abrangendo cadeiras sem antecedentes no ensino de nvel superiorna poca, para os quais professores estrangeiros foram convida-dos especialmente, o que ser detalhado adiante.

    A vinda dos professores estrangeiros foi um acontecimentomarcante na formao da instituio universitria paulista e hojeseria difcil argumentar contrariamente ao corpo docente constitu-do, que implantou cursos sobre cincias, at ento, pouco, ou nada,desenvolvidas entre ns, oferecidas, no mximo como esforo deautodidatismo de alguns mestres, e de forma assistemtica. Noentanto, na poca, as crticas se avolumaram, como a que proferiuo deputado Alfredo Ellis, na seo de 31 de julho de 1935 daAssembleia Legislativa Estadual de So Paulo:

    Na secretaria da Educao, o Exmo. senhor governador, contratandono estrangeiro professores para nos ministrar conhecimentos, tam-bm confessou, publicamente, a incompetncia em que se acha oEstado de So Paulo, sem embargo de possuir, de h muito,a nossagloriosa Faculdade de Direito, a Escola Politcnica de So Paulo, essaltima padro de glrias para o estado e que causa estupefao atodos quanto a visitam.

    Mostrarei, senhor presidente, em seus detalhes, que essas missescientficas seriam perfeitamente dispensveis diante dos recursosinexistentes em nosso estado. Temos uma universidade em quepontificam celebraes estrangeiras, mas, em contraposio, no te-mos alunos. (apud Reis, 2006, p. 80)

    Alfredo Ellis, o deputado que exarou a crtica acima, repre-sentava a voz das antigas oligarquias perrepistas, insensveis causada educao universitria mais ampla e atualizada, defendida porJulio de Mesquita Filho. Mas as crticas no vinham apenas doambiente externo universidade, pois, internamente, as contendas

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    no foram poucas, tendo em vista, as disputas na configuraodos regimentos das unidades mais antigas que se juntaram novaFaculdade de Filosofia, Cincia e Letras para conformar a univer-sidade, o que pode ser conferido nas primeiras atas do conselhouniversitrio. (Campos, 1954, pp. 122-123).

    Como sabido, as discusses no obliteraram as realizaesda universidade. Em 1937, como paraninfo da primeira turma daFaculdade de Filosofia, Cincias e Letras, Julio de Mesquita Filhosada os formandos reafirmando a universidade como realizaoda revoluo democrtica, lembrando a decadncia do ensino se-cundrio, sem professores especializados, que deve ser superada.A misso da universidade era uma ideia elaborada h muito, comosublinha neste discurso aos formandos da primeira turma da Fa-culdade de Filosofia Cincias e Letras:

    Da vossa dedicao s disciplinas puramente especulativas, do vossoexemplo de sacrifcio pelo bem pblico, h de com certeza originar-seum movimento de sadia transformao nos hbitos e mtodos deensino dos demais Institutos universitrios. Fostes os primeiros a[se] dedicar, de um lado, especializao, para a prtica do magistriosecundrio, de outro, cultura pela cultura. (Mesquita Filho. Poltica eCultura, p. 165)

    Evidentemente, a criao da USP tem sido objeto de refle-xes e anlises por especialistas em educao superior e polticauniversitria, indo alm do intuito deste ensaio. Assim, ser interes-sante pontuar algumas opinies de quem foi professor da institui-o, como o prof. Heldio Cesar Antunha. Em artigo publicadoem O Estado de S. Paulo, em 1979, o historiador da educao sadaos posicionamentos de Julio de Mesquita Filho, pois desenvolveuuma concepo de educao universitria profundamenteamadurecida, em que as ideias de integrao, de universalidade, ede autonomia prevalecem. Antunha est entre os que louvam aviso de longo alcance dos fundadores, que desde logo estipula-ram a criao da cidade universitria, para a qual se reservou um

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    vasto terreno na Fazenda Butant, vizinho de onde j funcionava oInstituto Butant, logo tornado rgo anexo universidade.

    O gegrafo Pierre Monbeig, francs que lecionou na USPdurante onze anos a partir de 1935, recorda a atitude amistosa evivificante de Mesquita Filho:

    Foi necessrio ao Dr. Julinho um entusiasmo obstinado para queseus grandes projetos se realizassem. evidente que ele teve deenfrentar a oposio de seus inimigos polticos mas teve tambmde convencer alguns de seus amigos, estreitamente apegados s tra-dies e antigas instituies. (Monbeig, 1979)

    Os testemunhos evidenciam, uma vez mais, a tenacidade doarticulador de polticas pblicas, para quem educao e cultura estoa servio da grandeza nacional. Foi Mesquita Filho quem escreveuem 27 de janeiro de 1934, no jornal O Estado de S. Paulo, saudando acriao da USP: A ao da universidade eminentemente civilizadorapois que tende a fazer da mocidade uma fora de renovao sociale de regenerao poltica. (Campos, 1954, p. 111)

    Defensor da escola pblica

    O tpico anterior comentou a decisiva participao de Mes-quita Filho na fundao da Universidade de So Paulo. Neste, aseguir, o objetivo ser elucidar sua participao na Campanha emDefesa da Escola Pblica, dos anos 1959 e seguintes, sob a ban-deira da escola gratuita, laica e universal, ideal defendido claramen-te no Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova. Mas, para situaresses movimentos preciso voltar dcada de 1920, quando di-versos protagonistas do histrico documento eram os ainda jo-vens reformadores da educao adeptos do civilismo.

    Em meio a mudanas significativas no cenrio econmico epoltico, a dcada de 1920 foi de grande efervescncia cultural eeducacional em todo pas. As reformas de ensino se multiplicaramem nvel estadual, com a participao dos educadores renovadores.Ansio Teixeira atuou na Bahia, Francisco Campos em Minas,

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    Fernando de Azevedo, no Rio de Janeiro, Loureno Filho, paulistade Porto Feliz, foi indicado por Sampaio Dria para atuar comotcnico na capital cearense, a convite dos polticos locais, e criar umaEscola Normal e Escola Modelo inspiradas na instituio da Praada Repblica e, segundo o iderio pedaggico em voga, dirigiu aInstruo Pblica do Estado do Cear. Tambm outros estados dafederao puseram em prtica reformas que buscavam alternar omodo de ensino, agora descrito sob a insgnia da escola ativa.

    A formao da nacionalidade supunha a educao de qualida-de, fazendo uso de materiais adequados e metodologia cientifica-mente refletida para as atividades dos estudantes, no mais sujeitos aprendizagem exclusivamente livresca. Mas essa escola renovadaestava longe de ser um consenso. Mltiplos atores fizeram inter-pretaes divergentes, enquanto a Igreja Catlica mostrava-se cr-tica, pois perdia a hegemonia no ensino, uma vez que a escolapblica ganhava importncia no atendimento ao ensino bsico.

    A pesquisadora Helena Bomeny aborda esses movimentos emconjunto com as iniciativas nos Campos da sade e da cultura:

    A dcada de 20 no Brasil tambm poderia ser conhecida como adcada dos viajantes. Descortinando um pas desconhecido, encon-tramos nossos modernistas em busca da autntica nacionalidade eda cultura original brasileira; cruzando o pas, os profissionais dacincia, em verdadeira caravana pela sade, confrontam-se com a do-ena no imenso hospital em que se transformara o Brasil, na ex-presso de Miguel Pereira; buscando os novos cidados, os indiv-duos brasileiros, chega a vez dos educadores, espalhados pelos esta-dos com seus experimentos empricos, um verdadeiro laboratriode reformas, ideias e projetos, inspirados, em sua grande maioria,em modelos estrangeiros. Mrio de Andrade e a caravana modernis-ta poderiam embarcar na mesma estao em que embarcaramOswaldo Cruz, Belisrio Pena, Artur Neiva, Carlos Chagas,Clementino Fraga, Ezequiel Dias - os cientistas da sade - enquan-to Ansio Teixeira, Loureno Filho, Fernando de Azevedo, FranciscoCampos os cientistas da pedagogia. Era uma luta nacional depreparao do indivduo para a sociedade de mercado, complexa e

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    diferente da sociedade da Primeira Repblica. A metfora do imen-so hospital se juntou ao diagnstico banalizado a respeito da edu-cao no pas: a grande chaga nacional. A nao brasileira nasciacom o desafio de minimizar os efeitos das duas manchas que seconfundiam: a da doena do analfabetismo, com o despreparo dapopulao para a sociedade emergente, e a da debilidade fsica, com odistanciamento dos padres mnimos de sade em meio a um am-biente insalubre, fruto da irresponsabilidade pblica. (Bomeny p. 1)

    Acrescente-se ao cenrio descrito a diversidade de associaese agrupamentos de classe em funcionamento, inclusive de profes-sores. Uma de grande destaque foi a Associao Brasileira de Edu-cao (ABE), uma frente ampla pela educao, fundada por enge-nheiros e advogados em 1924 e que viria apoiar a gesto de Fer-nando de Azevedo na Instruo Pblica do Distrito Federal, de1927 a 1930. Por ocasio de sua fundao, a ABE realizou uminqurito sobre educao, anlogo ao que Fernando de Azevedocoordenaria por iniciativa do jornal O Estado de S. Paulo.

    A reforma de ensino na capital federal, que conferiu grandevisibilidade aos princpios da Escola Nova, provocou reaes depolticos acostumados ao clientelismo poltico, pois os concursospblicos iriam admitir toda uma gama de funcionrios necessriosao funcionamento das escolas reformadas, desde os inspetores,mdicos escolares e professores para a escola primria, secundriae normal, at funcionrios para servios administrativos e gerais.(Paschoal Lemme v. 3). Alm desses, a educao tradicional cat-lica intensificou esforos para criticar a reforma, como se observana sntese apresentada por Rousseff:

    Numa dcada em que a Igreja, por meio de uma conduta agressiva, sepropunha a acordar o catolicismo dorminhoco e a arrebatar aintelectualidade brasileira, para fazer frente ao monoplio estatal daeducao e neutralidade laica do ensino, no sobrava aos renovadoresoutra atitude seno combater; e no havia quartel nessa luta: alm darenhidssima campanha do Centro D. Vital contra a educao renova-da, a que se somam as iniciativas individuais de seus soldados da f,como Tristo de Athayde, Tasso da Silveira e, mesmo, Plnio Salgado,

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    importante lembrar a poderosa influncia das Cartas Pastorais, comoa do Cardeal D. Leme, que aconselhava peremptrio: O ensino edu-cacional ministrado pelo governo, em virtude de uma delegao dasfamlias; tanto que delas saem os recursos para a manuteno dasescolas. (...) Resulta clarssimo que o estado no pode impor ensinoleigo, neutro ou o que seja, contra o sentir dos pais. (Russeff, p. 10)

    Em sentido contrrio no mesmo debate, manifestou-se a po-eta Ceclia Meirelles. Formada pela Escola Normal do Rio de Ja-neiro, tendo sido professora, diretora de escola pblica e renomadaautora da literatura, esteve entre os militantes da ABE. Publicoudiariamente entre 1930 e 1935 no Dirio de Notcias na pgina daeducao artigos prprios e de outros, com foco na educao e oque pode ser chamado, modernamente, a formao dos profes-sores. Defensora da renovao da escola do modo de ensinar ede interpretar a aprendizagem a famosa poeta apoiou a reformade Fernando de Azevedo na capital federal e no perodo seguintelanava seu nome para ministro da Educao. Mas os aconteci-mentos polticos de 1930 viriam alterar o cenrio em que se desen-volvia o debate educacional e forar as polarizaes j existentesentre o ensino pblico e privado, laico ou confessional.

    Em 1931, titular do recm-criado Ministrio da Educao eda Sade do governo provisrio, Francisco Campos sanciona de-cretos que organizaram o ensino secundrio e as universidadesbrasileiras ainda inexistentes.

    Em artigo que analisa as mltiplas reformas e transformaesda educao brasileira, observa Jamil Cury:

    O ano de 1931 traz, pelo menos, trs importantes mudanas: a intro-duo do ensino religioso nas escolas oficiais, a oficializao dos esta-belecimentos do ensino secundrio, via aceitao do regimento e curr-culos do Pedro II, e a criao do Conselho Nacional de Educao,rgo consultivo e opinativo do Ministrio da Educao e Sade P-blica, de cujas atribuies fazia parte firmar diretrizes gerais do ensinoprimrio, secundrio e superior, de tal modo que nelas os interessesdo pas se sobrepujassem a qualquer outro (Cury, C. 1996 p. 8). Erao governo central organizando e criando novos mecanismos e atribui-

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    es, divergindo do que os reformadores da escola haviam indicado erealizado nos anos precedentes, com as orientaes descentralizadasnas diretorias ou inspetorias de ensino estaduais exceto pela experi-ncia de propostas, materiais didticos e outras orientaes educacio-nais compartilhadas por educadores das diferentes regies do pas pelaatuao dos escolanovistas. O tema da obrigatoriedade do curso dereligio encontra-se entre os mais polmicos, considerando-se que gran-de parte da populao que ia escola estava matriculada em liceusprivados e confessionais, frequentemente em internatos, que aten-diam os jovens do interior do pas onde inexistiam escolas. Este debatese estende por algumas dcadas.

    O prprio Getlio Vargas, durante a 4. Conferncia de Edu-cao organizada pela ABE, em dezembro de 1931 na capitalfederal, suscitou os educadores a esclarecerem qual a reformaque pretendia:

    ... em memorvel discurso, disse aos educadores presentes que osconsiderava convocados para encontrarem a frmula feliz que defi-nisse o sentido pedaggico [sic] da Revoluo de 1930, que o gover-no se comprometia a adotar na obra em que estava empenhado dereconstruo do Pas. [...] Houve ento srias divergncias entre osparticipantes da Conferncia, o que redundou at na retirada do grupodos educadores catlicos, que discordaram das primeiras redaes dodocumento, em aspectos fundamentais, tais como prioridade outor-gada ao estado para a manuteno do ensino, ensino leigo, escolanica, coeducao dos sexos etc. Afinal, o documento foi concludo eaprovado pelo plen