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JUSTIFICATIVA O projeto de lei visa dar á Escola Municipal de Primeiro Grau no Jardim Guanabara, a denominação de Escola Municipal de Primeiro Grau Professor "FLORESTAN FERNANDES". A escolha do patrono foi de iniciativa da comunidade local, em reunião do Conselho de Escola onde participaram representantes de todos os segmentos, que se mobilizaram para colher assinaturas, numa manifestação de carinho e devoção a este educador, visando o registro de seu nome e perpetuando para sempre junto aos educandos de hoje e futuras gerações, buscando para tanto a autorização da família do indicado. (docs, anexos / Bibliografia de Professor Florestan Fernandes, Carta de Autorização da Família, Ata da Reunião do Conselho, Abaixo-assinado e Certidão de óbito. Florestan Fernandes nasceu em 22 de julho de 1920 e faleceu em 10 de agosto de 1995, nesta capital. Sociologo, professor da USP, pesquisador, deputado federal, falar de Florestan Fernandes não é tarefa fácil, o material é farto e volumoso, sua produção acadenúca e científica e suas memoráveis lutas políticas, falam por si e tudo o que se possa escrever e enalter seu trabalho e sua pessoa dificilmente terá o brilhantismo do homenageado tornando-se um verdadeiro desafio. Considerado um dos mais respeitáveis intelectuais brasileiros, sempre bradou por uma política educacional que atendesse aos interesses dos mais necessitados, priorizando o ensino gratuito e de qualidade em todos os ramos do saber, à pesquisa científica aplicada e á invenção tecnológica original, suas idéias de uma sociedade mais justa, custaram-lhe a liberdade, tendo sido preso em 1964, posteriormente foi morar no Canadá, lá permanecendo em 1969 e 1970. Segundo ele, a autonomia da produção do saber e do pensamento inventivo representam os alvos essenciais de uma Nação que pretenda crescer e diferenciar-se através do capitalismo. Tinha seu lar como uma "redoma de ouro", talvez por isso mesmo, não tivesse o hábito de falar de sua vida pessoal, para mante-la intacta, incólume, pois era lá que o homem, o pai de Myrian Lúcia, Sílvia, Beatriz, Noêmia, Heloisa e Florestan Júnior e marido de Dona Myrian se abrigava das agruras e desilusões, em cujo refitgio recebia o apoio, amor e afeto que davam sustentação ao intelectual e político. Para ele, "tudo na vida é sério, mas nada é definitivo". Segue abaixo algumas das obras de sua extensa relação: A organização social dos Tupinambá, São Paulo, Instituto Progresso Editorial, 1949; 2° edição, São Paulo, Livraria Pioneira Editora, Editora da Universidade de São Paulo, 1970.

JUSTIFICATIVAdocumentacao.camara.sp.gov.br/iah/fulltext/justificativa/JPL0304-19… · O negro no mundo dos brancos. SM Paulo, Difiisão Européia do Livro, 1972. Comunidade e sociedade

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JUSTIFICATIVAO projeto de lei visa dar á Escola Municipal de Primeiro Grau no JardimGuanabara, a denominação de Escola Municipal de Primeiro Grau Professor"FLORESTAN FERNANDES".

A escolha do patrono foi de iniciativa da comunidade local, em reunião doConselho de Escola onde participaram representantes de todos os segmentos, quese mobilizaram para colher assinaturas, numa manifestação de carinho e devoçãoa este educador, visando o registro de seu nome e perpetuando para sempre juntoaos educandos de hoje e futuras gerações, buscando para tanto a autorização dafamília do indicado. (docs, anexos / Bibliografia de Professor FlorestanFernandes, Carta de Autorização da Família, Ata da Reunião do Conselho,Abaixo-assinado e Certidão de óbito.

Florestan Fernandes nasceu em 22 de julho de 1920 e faleceu em 10 de agosto de1995, nesta capital.

Sociologo, professor da USP, pesquisador, deputado federal, falar de FlorestanFernandes não é tarefa fácil, o material é farto e volumoso, sua produçãoacadenúca e científica e suas memoráveis lutas políticas, falam por si e tudo oque se possa escrever e enalter seu trabalho e sua pessoa dificilmente terá obrilhantismo do homenageado tornando-se um verdadeiro desafio.

Considerado um dos mais respeitáveis intelectuais brasileiros, sempre bradoupor uma política educacional que atendesse aos interesses dos maisnecessitados, priorizando o ensino gratuito e de qualidade em todos os ramos dosaber, à pesquisa científica aplicada e á invenção tecnológica original, suasidéias de uma sociedade mais justa, custaram-lhe a liberdade, tendo sido presoem 1964, posteriormente foi morar no Canadá, lá permanecendo em 1969 e 1970.

Segundo ele, a autonomia da produção do saber e do pensamento inventivorepresentam os alvos essenciais de uma Nação que pretenda crescer ediferenciar-se através do capitalismo.

Tinha seu lar como uma "redoma de ouro", talvez por isso mesmo, não tivesse ohábito de falar de sua vida pessoal, para mante-la intacta, incólume, pois era láque o homem, o pai de Myrian Lúcia, Sílvia, Beatriz, Noêmia, Heloisa eFlorestan Júnior e marido de Dona Myrian se abrigava das agruras e desilusões,em cujo refitgio recebia o apoio, amor e afeto que davam sustentação aointelectual e político.

Para ele, "tudo na vida é sério, mas nada é definitivo".

Segue abaixo algumas das obras de sua extensa relação:

A organização social dos Tupinambá, São Paulo, Instituto Progresso Editorial,1949; 2° edição, São Paulo, Livraria Pioneira Editora, Editora da Universidadede São Paulo, 1970.

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Negros e brancos em São Paulo. em colaboração com Roger Bastide, EdiçãoIndependente, São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1959; 3° edição, 1971.Publicação prévia, Revista Anhembi, 1953; edição original, com outros trabalhosde vários autores, São Paulo, Editora, Anhembi 1955.

Mudanças sociais no Brasil. São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1960; 2°edição, refimdida com um ensaio global introdutório, 1974; 3° edição, 1979.

Ensaios de sociologia geral e aplicada. São Paulo, Livraria Pioneira Editora,1960; 2° edição, 1971; 3° edição, 1976.

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A sociologia numa era de revolução social. São Paulo, Companhia EditoraNacional, 1962; 2° edição reorganizada e ampliada, Rio de Janeiro, ZaharEditores, 1976.

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Comimidade e sociedade (organizador). Leituras sobre Problemas~Metodológicos e de Aplicação. São Paulo, Companhia EditoraNacional, 1973.

Comunidade e sociedade (organizador). Tomos ainda inéditos.

Las clases sociales eu América Latina (em co-autoria com N. Poulantzas e A.Touraine). México, Siglo Veintitmo Editores, UNAM, 1973; publicado no Brasilcomo As classes sociais na América Latina, Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra,1977.

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A universidade brasileira: reforma ou revolução?São Paulo, Editora Alfa-ômega, 1975; 2° edição, 1979.

Circuito fechado. Quatro Ensaios Sobre o "poder institucional". São Paulo,Editora Hucitec, 1976; 2° edição, 1977.

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O folclore em questão. São Paulo, Editora Hucitec, 1978.

Brasil: em compasso de espera. São Paulo, Editora Hucitec, 1980.

A natureza sociológica da sociologia. São Paulo, Editora Ática 1980.

Movimento socialista e partidos políticos. São Paulo, Editora Hucitec, 1980.

Que tipo de República? São Paulo, Brasiliense, 1986 (três edições).

Nova República? Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editora. 1986 (três edições).

O processo constituinte. Brasilia, Câmara dos Deputados, Centro deDocumentação e Informação. 1988

A Constituição inacabada, vias históricas e significado. São Paulo, EstaçãoLiberdade Editora, 1989.

O desafio educacional. São Paulo, Cortez Editora, 1989.

O significado do protesto negro. São Paulo, Cortez Editora, 1989.

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A transição prolongada. São Paulo, Cortez Editora, 1990.

As lições da deição. Brasília, Câmara dos Deputados, CDI, 1990.

Depoimento, in Memória viva da educação brasileira. 1, Brasília, INEP, 1991.

Parlamentarismo: contexto e perspectivas, Brasília, Câmara dos Deputados,Centro de Documentação e Informação, 1992.

Democracia e desenvolvimento - A transformação da periferia e o capitalismomonopolista da era atual. São Paulo, Editora Hucitecc, 1994.

Consciência negra e transformação da realidade.Brasília, Câmara dos Deputados, Centro de Documentação e Informação, 1994.

Tensões na educação. Salvador, Sarah Letras, 1995.Brasil 1986/1994: atraso e modernidade. Salvador, Sarah Letras (emorganização).

A Contestação Necessária, S. Paulo, Ed. Ática (no prelo).

Traduções publicadas no exterior

La guerre et ,le sacrifice humain chez les Tupinambá. Tradução de SuzanneLussagnet Publicado e editado em separata por Journal le La Societé desAmericanistes. Paris, Musée de L' Homme, 1952.

Fundamentos empíricos da explicação sociológica.Méxixo, UNAM, sd (em espanhol).

The Negro in Brazilian society. Tradução de Jacqueline D. Skiles, A. Brunel eArthur Rothwell, editado por Phyllis B. Eveleth, New York /London, ColumbiaUniversity Press, 1969 e, como brochura, Atheneum, New York, 1971.

Die Integration des Negers In die Klassengesellschaft, Vol. 1, Verlag Gehlen,Bad Homburg v. d. H., Berlin/Zurich, 1969 (tradução do dr. Jugen Grabvener);vol. 2, Wilhelm Fink Verlag, Munchen, 1977 ( tradução de Angela Dulle).

La revolución burguesa en Brasil. Tradução de Eduardo Mofina. México, SigloVeintitmo Editores, 1978.

Refiections on the Brazilian counter-revohition. Organizado com introdução deWarren Dean. Armonlc, New Yorlc, M.E.Sharpe, Inc., 1981.

Pelo exposto, julgamos conveniente e oportuno o presente projeto, somando-se àsjustas homenagens que estão ocorrendo em todo o país, requeiro a aprovação dosnobres Edis para esta iniciativa

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PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO/—SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃOEMPG "JARDIM GUANABARA"

Av. Marguerite Long, s/n° - Jd. Guanabara - São Paulo - S.P.Fone: 520-2400

São Paulo, 25 de fevereiro de 1997.

Oficio n°002/97

AoSr. Vereador Estima

ASSUNTO: Nome definitivo para EIVWG "JARDIM GUANABARA"

Sr. Vereador

Conforme reunião do Conselho de Escola, realizada no dia 17 de dezembro de 1996;representantes de alunos, pais e professores aprovaram por unanimidade homenager comopatrono desta unidade escolar o sociólogo Florestan Fernandes.

Solicitamos de V. Sa. que encaminhe para Câmara Municipal nossa proposta referente aonome definitivo da EMPG JARDIM GUANABARA para Escola Municipal de Primeiro GrauProf. "FLORESTAN FERNANDES".

Informamos que consta um Projeto de Lei n° 01-0781/96 do Vereador Vicente Viscome,publicado no D.O.M. 05/12/96, página 31, que denomina esta unidade como Escola Municipal dePrimeiro Grau "José da Costa". Esclarecemos que o nome indicado é desconhecido pela nossacomunidade, pais e professores.

Ressaltamos a importância do encaminhamento deste com a máxima urgência para que aescola possa regularizar sua situação.

Na certeza da vossa colaboração em atender os anseios desta unidade, agradecemos desdeJá.

( --,,Cordialmente

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)RF: 578 993..2 041) ‘,RG: 15;528 27

DItetor do Escola j

Anexo: Bibliografia de Florestan Fernandes, Carta de Autorização da Família, Xerox da Ata daReunião do Conselho de Escola e Abaixo-Assinado.

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São Paulo, 21 de fevereiro de 1997

Ao Senhor, Gildo da Silva PradoDiretor da Escola Municipal Jardim Guanabara

É com muita honra e alegria para mim e minha familia saber quemeu pai, Florestan Fernandes foi o escolhido para dar nome a essaescola que educa jovens da periferia de São Paulo. Portanto, fica desde

• já registrada aqui nossa autorização para a utilização do nome doprofessor Florestan para este fim.

Sem mais, me coloco a disposição da diretoria desta escola paraauxiliar no que for necessário.

Cordialmente, saudações sinceras

Florestan Fernandes Júnior5ininr

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Outubro 1995 Adusp

PARA SAUDAR UM GRANDE HOMEM

Daniel Ituiz Gania

No dia 23 th . junho de /994 a Reitoria da

Universidade de São Mudo promoveu no

Centro Cultural da Rua Maria Antônio uma

sessão de honienagenr a Florestan Fernandes,

eont diversos promniciumentos. A pedido do

professor Flúvio Fava (te Moraes eu o saudei

CI71 11017W da universidade com 11171 discurso que

_ficou inédito e que vai transcrito abaixo."

• .• • m Florestan Fernandes - meu fraternal; companheiro e amigo há cinqüenta anos -

se juntam o estudioso de saber profundoe sólido, o professor rigoroso, o formadorde equipes notáveis que abre trilhas novas

.• à investigação, o autor de obras cuja im-portância é decisiva no campo das ciências sociais, ocidadão empenhado em tarefas essenciais do seu tem-po e o militante político consciente do dever de lutarpara a transformaçáo das bases desta sociedade iní-qua, na qual vivemos ao ritmo de umas desigualdadeseconômicas mais revoltantes do mundo.

Além disso, é preco destacar as qualidades hu-manas que fazem dele um exemplo e lhe permitiramconstmir unia carreira excepcional a partir das con-dições mais adversas que se possa imaginar. Homemde luta e homem de ideal. Florestai' l'ernandes en-frentou desde menino a tidversidade, com unia bra-

vura c uma eficiência difíceis de encontrar na bio-grafia dos homens eminentes da cultura. Na base,esteve sempre, sem dúvida, O destemor, a invariávelcoragem física, moral e mental com que empunhoua vida e abriu o seu caminho. Inclusive demonstran-do a rara capacidade de criar o escándalo necessárioe salutar, passando por cima do temível respeito hu-mano, quando se trata de afirmar o que é justo everdadeiro. Pesando bem as palavras, digo que em1 : lorestan l'ernandes estão presentes os traços quecaracterizam os grandes homens. Por isso, costumodizer que ele é, a meu ver, o único de nossa geraçãoa quem cabe com justeza este qualificativo.

Portanto, tiáo é de espantar que tenha feito uniacarreira universitária exemplar sol) todos os pontos devista, o que tornou mais odioso o ato que o separou docorpo docente de nossa faculdade. Como estudioso,professor, investigador e autor ele retine qualidades

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Simplificando, eu diri-aHtit ";dGãiheiiiHsllos'-- •anos de 1950, deu-se a rotação Os L,.. lorestanFernandes se empenhou numa realidade dramática donosso tempo: a situação do negro no Brasil. Associadoao nosso mestre Roger Basti& na pesquisa sobre rela-ções raciais promovida pela Uncsco, ele se tornou umdos mais importantes conhecedores e analistas dessegravíssimo problema social e transitou do passado aocoração mais dramático do presente. Assim, o teóricoque estava privilegiando cada vez mais a visão marxis-ta se associava ao pesquisador que privilegiava cadavez mais o estudo da situação contemporânea. Estavaportanto pronto o terceiro Florestan Fernandes, o damaturidade, a partir dos anos de 1960. Este foi, porexemplo, o da luta pela escola pública, em cuja defesapercorreu o país numa campanha memorável: foi odos pronunciamentos de corte socialista, que levarama ditadura a submeta-lo. em 1964, ao inquérito poli-cial-militar e, ante a sua firme reação de inlconformis-mo e destemor, a detê-lo num quartel do • Exército. Odesfecho veio em 1969: a aposentadoria punitiva, queo obrigou a viver alguns anos no exterior.

Na fase mais recente de Sua carreira, FlorestanFernandes acentuou a disposição de assumir no ãm-bito mais largo da sociedade posições regidas pelospressupostos socialistas, aplicando-se a temas de re-levo político na ação c na produção, como é o casodo estudo magistral sobre a República de Cuba ouas análises da realidade política brasileira. Eu costu-mava dizer que, sem pertencer a nenhum partido,ele se tornou com o tempo unia espécie de partidoindividual, pois as suas palavras e as suas ações va-liam pela de uma agremiação aguerrida e conscien-te. Sob este aspecto, é preciso dizer que a atitudepolítica foi sempre um baixo-contínuo na sua vida delutador no campo da educação e da cultura. Mas fi-nalmente ele decidiu adotar um enquadramentopartidário e entrou para o Partido dos Trabalhado-res, do qual tem sido um dos militantes mais capazese fecundos, eleito e reeleito deputado federal. Não.me cabe assumir a tarefa dc outros, falando da-suaatuação no Congresso Nacional. Cabe-me apenas di-zer que como deputado socialista Florestal] Fernan-des efetuou um movimento culminante na sua luta,inclusive porque se tornou simultaneamente um dosjornalistas políticos mais eficientes e penetrantesque temos tido, forjando um instrumento ajustadoao combate pela imprensa e se tornando, junto a pú-blicos vastos, intérprete do que se poderia chamarde pensamento socialista quotidiano. Da sala de au-la ao grande púgblico, ele modulou em escala cadavez mais ampla a sua atuação de analista da socieda-de e de combatente do socialismo.

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raramente existentes em conjunto. Dotado cle uma po-500 derosa capacidade de atenção e concentração, é notá-~- .." Nd a maestria com que sempre se atirou aos textos, co-."' mo leitor privilegiado. Foi assim desde estudante, lati-.. to com relação às obras de sua especialidade, quanto aeil quaisquer outras, de história, literatura ou política.

Daí o cabedal enorme que juntou e sempre explorou11011° cie maneira penetrante, graças a uma segunda qualida-09 de: o poder de penetração analítica, que lhe permite. _.....", chegar ao fundo dos problemas. Em terceiro lugar eu

mencionaria o dom de correlacionar, que lhe permitiu'00,41 efetuar sínteses harmoniosas de teorias e pontos de,,a vista nem sempre afins, mas que ele decantou em

combinações originais cle raro poder explicativo. Pen-100 so, por exemplo, em pensadores como Marx, Dur-10" kheim e Weber, vistos freqüentemente no que têm cie

diferente uns dos outros, mas que ele soube passar pe-0.0 la máquina poderosa, seletiva e ao mesmo tempo bile-ooliol gradora da sua inteligência, transIbrmando-os em ele-; mentos de uma visão compreensiva.soá Sobre esta base, que estou simplificando para po-

der ressaltar as linhas gerais, Florestal' Fernandes foise inclinando cada vez mais na segunda ['ase da sua

I carreira para o marxismo, que sempre versara desdeO" moço c do estudo precoce dos escritos de Marx, inclu-o"! sive a notável análise que escreveu sobre Crítica daiem economia política. Nesta segunda fase surge um mar-,r xista aberto e compreensivo, justamente porque despi-

do de sectarismo teórico e embebido de sugestões‘ oriundas de outras fontes. Como Caio Prado Júnior,

- s'-- mas com maior amplitude de propósitos, ele forjou...-.1 um instrumento analítico e interpretativo cle corte

marxista, capaz de abolir qualquer imposição dogmáti-ca c de se abrir para as lições da realidade objetiva-

, mente observada.Ao lado dessa rotação teórica, convém assinalar

uma rotação paralela no domínio dos temas de investi-s- gação. Na fase inicial, Florestan Fernandes se tornou

l aqui c no exterior, devido sobretudo aos tra-famoso,• balhos admiráveis de reconstrução histórica c análise

- s etnológica sobre a organização social dos Tupinambá.Os documentos restantes sobre esses índios cle tantaimportância na história do Brasil eram conhecidos e

. explorados, mas considerados insuficientes para se co-• nhecer a sua organização. Daí os númerosos estudos

parciais sobre aspectos de sua cultura, como os de Mé-r„traux. É que faltava, aos estudiosos brasileiros e es-,

r"..._ trangeiros, a Ibrça analítica e a imaginação sociológica,.._ com que ele operou uma verdadeira quadratura do

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círculo, produzindo aos 27 anos o livro inovador e. s.- cientificamente revolucionário, cujo título era para os

. especialistas uma verdadeira provocação intelectual:mA anização social dos "Pipa:mitini. A estes dedicou

, •-"-- outra obra fundamental sobre a lunc, ão social da, guerra e tirou-se consequências teóricas num terceiro

trabalho, explorando a fundo as possibilidades pai-pormnadas pelo funcionalismo no estudo das fontes.

Antania Candida de Mello e Souza pmfes.sor aposenta-do de temia litenítia e literatura computada da Unitrai-dade de São Paulo.

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-• lorestan morreu. A/ dor que essa perda

, causa em nós é imen-sa e está espalhadaem cada canto dopaís, partilhada por

ta tos, que se contam aos milha-res, não só estudantes, não sóoperários, não só intelectuais,não só militantes mais e menosrevolucionários, não só simplesdonas-de-casa e homens do povo.

Morte prematura. Nem tive-mos a oportunidade de saber seele resistiria, se sua capacidadecle transformar fraqueza em for-ça o faria mais uma vez renascer.Ele que buscou incessantementea verdade, encontrou a mortenum erro, erro que não foi dele.É trágico, revolta, torna aindamais difícil suportar esse fim.

Seu lugar ficou vazio.Florestar] foi um fazedor de

caminhos. Enfrentando toda sor-te de dificuldades, abriu cami-nhos para si mesmo, para a Ciên-cia Social, para a educação públi-ca, para a universidade, para osocialismo.

A adversidade, em vez de oabater, á estimulava. Sabia queera preciso entendê-la para po-der vencê - la. 'trabalhava o tem-po lodo, sem trégua, pensando,estudando, pesquisando, para al-cançar esse entendimento e ofe-recê-lo t prática. Quando a dita-dura o perseguiu e tentou calara sua voz, n5o se calcw, respon-

ADEUS

Minam Limoeiro Cardoso

deu com produção ainda maior.Seu modo de ser, sua reflexão

criadora e seu compromisso polí-tico se entrecruzam e se inte-Ivan], fazendo dele um 1 tomemde verdade, raro.

Talvez urna de suas obras maisnotáveis tenha sido a vida quesoube construir para si próprio ea pessoa que soube tornar-se.Lutou sempre, incansavelmente,obstinadamente às vezes. Lutoucontra as condições pesadamenteadversas que a situação pessoal esocial que herdara lhe impu-nham. Mas se manteve fiel ft suaorigem humilde, tomando comodever representar aqueles com osquais ela o identificava, e o fezcom vigor e com alegria. Ele osamava. E jamais tomou comoseus os valores dominantes quelhe abririam vias mais fáceis paraa aceitação e a ascensão social.

Dignidade e integridade o dis-tinguem como pessoa. Era ho-mem de princípios, que o orien-tavam de fato em todos os planosda sua vida. Homem que não fa-zia concessões e não se deixavavergar, seja pelo poder, seja porinteresses mesquinhos. Sendo eleassim, não é difícil entender porque alguns O temiam ou mesmonão o .toleravam, mas tambémP r que tantos o admiravam e oamavam e vão continuar a achni-rá-lo e a amá-lo.

A preocupação ética o acom-panhava também no seu trabalho

30

intelectual e político. Entendiaque ciência c ordem social iníqua:Si() eticament incompatíveisportanto, que a liberdade, a críti-ca e o compromisso social sãocondição da atividade int I etuale científica. Conseqü nt m nt ,Florestai] Fernancl s era muitoexigente consigo ni smo. Buscousempre uma prática intel c-tual/política que lhe permitissproduzir o máximo de conh ci-mento rigoroso necessário àtransformação da sociedade,. co-nhecimento capaz de oferecer su-porte "para abrir ou aprofund rrupturas com a ord m", procu-rando ampliar tanto quanto pos-sível o alcance desse conhecimen-to para despertar consciências, norumo da construção d uma so-ciedade nova cl homens com-prometidos com essa construção.

Florestal) Fernandes era so-cialista. Durante quatro anos clsua juventude, participou do mo-vimento trotskista. Em s guida,admitiu que poderia s r mais útilcomo intelectual do qu na mili-tancia direta, mas s m perder clvista o horizonte cla luta pelo so-cialismo. Mais recent • mente, re-tornou à atividade política como1:11, exercendo um grande traba-lho pedagógico/político atravésda publicação periódica de seustextos em grandes jornais se(ornando parlam Mar pelo Parti-do dos Trabalhadores, como c! -putado feder:11 constituinte e

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um construtor de espaços institu-cionais para o desenvolvimentoda pesquisa e do ensino dasCiências Sociais. Sua contribui-ção para a construção da Facul-dade de Filosofia, Letras e Ciên-cias Humanas da Universidadede São Paulo foi, neste sentido,enorme e ímpar. Dela se afastouquando foi compulsoriamente"aposentado- pelo A1-5 em abrilde 1969 e, anos mais tarde, pordecisão própria, ao reconhece:-os limites institucionais e o isola-mento cultural da universidade.

Florestan Fernandes foi umfundador de ciência. Ele sabiaque estava implantando a socio-logia e a investigação sociológicacientífica em nosso meio. Masseu trabalho na área da ciênciaproduziu frutos ainda maiores emais belos. Seu esforço intelec-tual concretizou-se numa obraque não é somente vasta, mas éde ponta e, acima de tudo, é defi-nidora de uma problemática no-va, a partir da qual e dentro daqual se passou a pensar o Brasil eo capitalismo dependente. Ele éo autor, na ciência, de um univer-so de problemas original e fecun-do. Não mais as origens, as trêsraças e a miscigenação, conformeum viajante de outrora, que ha-via recomendado como se deviaestudar a história do país. Nãomais a tentativa de marcação detraços psicológicos trazidos parao campo social. Mas sim umaproblematização sociológica, aonível macro-histórico c estrutu-ral, das questões vivas c canden-tes da sociedade, na época. Emais, tais questões problematiza-das com rigor conceituai e comtratamento analítico compatívelcom a teorização explicativa quese espera de procedimentos cien-tíficos. Deve-se acrescentar queisso tudo ele fez mantendo umagrande coerência interna, coe-rência que deriva da perspectivasob a qual ele trabalhou desdesempre, a ótica dos dominados edos excluídos, do ponto de vistada transformação social.

Folha rt

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Q tia tisil se deslocauniversos de problemas, fazuma opção, a qual se afirma ne-gando — e, se possível, esque-cendo e fazendo esquecer — aproblemática llorestaniana e to-da a sua coerência teórica, me-todológica e política, o que se-guramente não deixa de ter níti-do significado teórico, metodo-lógico e político.

A problemática constituídapor Horestan Fernandes não seesgotou. Não somente porque éparte de uma obra científica devalor, que, como tal, é perene,mas porque permite pensarcundamen te, entender e explicara sociedade viva e em movimentoda qual fazemos parte. Essa pro-blemática não é, portanto, um ar-caísmo, ela não é apenas coisa dopassado. As formas, os conflitosc as lutas presentes se esclarecemquando colocados sob a sua re-flexão c a sua luz. Trabalhandocom essa problemática, fica fácilperceber, nela e com ela, queFlorestai] está vivo!

Devemos, portanto, falar deFlorestan Fernandes no presente.Sua obra está inscrita definitiva-mente na construção da CiênciaSocial. Seu modo de ser está mar-cado naqueles que tiveram o privi-légio de conviver com ele, naque-les que ouviram a sua voz ouacompanharam os seus gestos e osseus sonhos, e permanecerá comoexemplo cle unia vida toda vividano mais alto nível de integridadepessoal, intelectual e política.

E, como ele costumava dizerultimamente, enfrentando sem-pre tão digna e corajosamente adoença e seus continuados e atro-zes sofrimentos: É preciso ter pa-ciência! E continuar lutando!

Miriam Limoeiro Cardoso é pro-fessora da Universidade Federal doRio (k Janeiro, Departamento deCiências Sociais. Attuthnente de-senvolve a pesquisa "Para umahistória do socialismo no Brasil: aobra de Florestal! Fernanda".

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num segundo mandato como de-

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putado federal.Crítico severo do capitalismo,

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capitalista pudessem ser equacio-

• . a opressão geradas pela ordemreil,

nadas e resolvidas dentro desta

rilã

ri mesma ordem. Foi permanente-

mente um militante pela liberda-dc, pela democracia da maioria epela revolução socialista.

r._ Florestai] amou sobretudo a

......., • ! il.)ireerscs1()Irdee .t ,i(N) itilliiiiiie,enii) tuen (tile() cora-

tão

r,r...., .._ gem e de lucidez, alguém como

--. ele vai lazer 'alta, muita falta.risFlorestai] Fernandes é o nome

.-: maior. da sociologia .no cujo

rri,

Sua produção tient' R.„ cai( e,Iiiiii, conhecimento ainda não alcan-

çou a medida real do seu valor, ocoloca entre os grandes da Cién-

r cia Social mundial. Ele foi, sim,

rio um formador, um mestre, mas

r, foi, acima de tudo, um cientista,

Na universidade, nãor se con-

r,

tentou com abrir espaço apenaspara a sua própria afirmação

ri..,

um grande cientista.

profissional. Dedicou-se a for-p

'

,•- mar pessoas, educando-as para a....-

,tarefa cientifica, incutindo-lhes anecessidade da formação em

- •--- profundidade, do rigor e da dis-

rciplina para a investigação cien-

ia- tífica sistemática. Incentivadorr do trabalho coletivo, não exigia,

rll .._ porém, identidades, mas reco-

r

- nhecia c aceitava de bom grado

: as diferenças. intuito eraconstituir equipes de trabalhocapazes de produção autônomac dc alto nível, ara o que ofere-cia os maiores estímulos de quepudesse dispor.

A sua atividade formadora, nore

- entanto, foi ainda mais ampla.r ..... Foi um ardoroso defensor da

gr

educação pública e gratuita noBrasil, tendo participado ativa-

i ... mente das lutas desta causa, sejana Campanha de Defesa da Es-cola Pública, seja na elaboraçãoda Constituição de 198S ou nos encaminhamentos da Lei de Di-retrizcs c Bases da Educação Na-cional, ainda não concluída. E foi

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CONFLUÊNCIAS E CONTRAÇÕES

DA CONSTRUÇÃO SOCIOLÓGICA

Jacob Gorender

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Outubro 1995

11 atividade de Florestai] Fernandes como• • 1 sociólogo - desenvolvida nas funções de

ix professor, teórico e pesquisador - ficoumareada pela polarização entre as atra-ções do marxismo, enquanto doutrina da militância revolucionária, e a socio-

logia, enquanto disciplina acadêmica.Conforme afirmou em várias entrevistas, a origem

social o levou, em sua juventude, a sentir a forte atra-ção cio marxismo, com a conseqüente atuação numgrupo trotskista clandestino, sob cuja orientação sededicou à luta democrática contra o Estado Novo.Essa atração cio marxismo não se esgotou com a ju-ventude, como acontece com tantos intelectuais. Elase exerceria por toda a vida, até o último minuto.

Se o marxismo representou escolha iniciante, asociologia veio corno vocação acadêmica, como elei-ção de carreira científica.

Florestai] se empenhou na tarefa de colocar a ati-vidade sociológica universitária sobre bases teóricaso mais possível coerentes. Decerto, não se encontra-va solitário em semelhante empenho, uma vez que aele se entregaram tantos dos grandes nomes da so-ciologia no exterior e também no Brasil. Mas ao so-ciólogo paulista cabe o mérito inegável de haver da-do a contribuição principal à edificação conceituai emetodológica da disciplina em nosso país. Contribui-ção tão notável que ultrapassa o âmbito nacional ese integra no acervo internacional da sociologia.

A questão sempre presente em sua obra - sejanos livros de conceituação metodológica, seja naspesquisas concretas - é a de como a sociologia podee deve ser uma ciência, capaz de satisfazer às exigên-cias categóricas impostas a toda ciência. Mas Iam-

bém sempre presente esteve a atração original ciomarxismo. Til polarização poderia conduzir a incon-gruências e dilacerações esterilizantes. Não foi o ca-so de Florestan. Dedicou sua enorme capacidade detrabalho ao objetivo de substituir contradições porconfluências. Nem sempre o esforço se revelou bem-sucedido. Nem todas as contradições cia polarizaçãointelectual puderam ser efetivamente superadas.Mas o resultado de tal esforço é admirável, entre ou-tras muitas razões, precisamente pelo fato de quenão apaga Os vincos da polarização e de suas contra-dições intrínsecas.

A questão mencionada inexiste para Os marxistas,que identificam o materialismo histórico com a pró-.pria sociologia científica. O mais, para esses marxis-tas, seriam problemas cle procedimento na pesquisaempírica, porém nunca questionamentos teóricos."litl enfoque pôde ser fecundo nos países capitalistas,onde o marxismo por natureza assume urna posturacrítica e revolucionária. Se pôde ser fecundo, não ofoi, porém, naqueles casos, tão freqüentes, nos quaisa paixão dogmática prevaleceu sobre o imperativoda fidelidade aos latos objetivos. Já na antiga UniãoSoviética e nos demais regimes comunistas do Lesteeuropeu, o marxismo, uma vez convertido em dou-trina oficial, ficou impedido da postura crítica e seesterilizou enquanto corpo teórico inspiradorpesquisa sociológica. Ali, simultaneamente, se asfi-xiou o marxismo e se cortou pela raiz a própria pos-sibilidade de uma sociologia.

A solução escolhida por Florestai] consistiu emfazer de Marx um dos três fundamentadores da so-ciologia, em companhia de Émile Durkheim c deMax Weber. Assim, no plano da teoria, o materialis-

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Revisli, Adusp

mo histórico comparece a par com o funcionalismopositivista e com a sociologia compreensiva.

Os três elementos não poderiam fundir-se numasíntese na qual perderiam as identidades originais edariam lugar a algo com características inteiramentenovas. No plano mais rigoroso da teoria, materialis-mo histórico, sociologia dos tipos ideais e sociologiafuncionalista não teriam como ser combinados a fimde engendrar um corpo doutrinário, que, ao mesmotempo, conservasse e superasse a contribuição de ca-da uma dessas teorias fundantes.

Foi possível, porém, fazê-las confluir para a cons-tituição compósita de um cânone metodológico. Nu-ma obra densa, publicada em 1%3, Florestan reali-zou a façanha de explorar a riqueza canônica dastrês teorias, de extrair delas o que considerou maisgcrmitiativo para a pesquisa das relações sociais epropor uma norma pluralista para a sociologia. Ado-tada por Florestan e por seus discípulos, a confluên-cia metodológica se comprovou proficiente.

Decerto, a confluência con-tinha dificuldades e mesmoobstáculos insuperáveis, pró- O marxistprios das composições ecléti-cas. Mas abria espaço para a Florestan tãopesquisa e a explicação socio-lógica, fornecendo-lhe funda- três vertenhmentos empíricos. Foi esta abase doutrinária em que as- nz 'todo .1sentou a escola sociológicapaulista, da qual coube a Flo- marxismo

restan a liderança indiscutívelc respeitada. Sua influência se significação áfez sentir com o mesmo vigorliderante para além cio âmbito indicada

da sociologia, estendendo-se àantropologia e à historiografia. p squisa, de

Pode-se afirmar que a car-reira acadêmica permitiu a opções dcFlorcstan a realização de umaobra de alta significação para a cultura brasileira, coma ressalva por si mesma evidente de que a carreiraacadêmica não seria uma condição suficiente. O quehouve de importante consistiu em que ela salvou flo-restal-1 da submissão ao marxismo dogmático impe-rante em nosso país, de tal maneira sufocante que secontam pelos dedos de uma só mão os intelectuais co-munistas que, durante décadas, conseguiram produzirunia obra relevante. Condição necessária foram tám-bém, como não poderia deixar de ser, o talento pes-soal e a determinação para uni trabalho incansável.

Observe-se que, dez anos depois de Florestari e,ao que tudo indica, sem conhecê-lo, o sociólogo bri-tânico Anthony Giddens levou a termo o mesmoempreendimento de exame das contribuições deMarx, Durkheim e Max Weber à moderna teoria so-ciológica. Giddens seguiu inspiração própria, que

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não cabe aqui avaliar, I 'I glIC irtiVenepercorrido exatamente a me. . .eguida pelocolega brasileiro com um decênio de antecedência.O que denota, sem dúvida, a força da percepção in-telectual do mestre paulista, bem como sua extraor-dinária afinação com a contemporaneidade.

Contudo, o marxismo não foi para Florestan tão-somente uma das três vertentes confluentes do méto-do sociológico. O marxismo teve para ele a significa-ção singular e única de indicador dos temas de pes-quisa, de crivo inicial das opções de investigação. Nacondição de líder de uma escola de pensamento so-cial, sua orientação se imprimiu na atividade de váriosdos mais destacados sociólogos brasileiros. O próprioFlorestai] produziu trabalhos de grande envergadurasobre as questões em cuja priorização teve influênciadecisiva sua formação marxista. Questões como as desegmentos discriminados da sociedade brasileira, ouseja, os índios e os negros. Ou questões de relevânciaabrangente. Para o enlendintenlo tle nossa história e

da nossa vida social, como asda revolução burguesa, das

zão foi para classes sociais c do poder po-lítico num país dependente,

limite uma das do imperalismo e do desen-volvimento econômico numa

2nfluentes do situação de atraso histórico,da ditadura militar e da re-

9lógico. O construção democrática nu-ma sociedade impregnada

e para ele a pela tradição autoritária dasclasses dominantes.

ular e única de O mais notável foi, toda-via, que Florestan houvesse

s temas de acentuado sua orientaçãomarxista neste final cio nosso

vo inicial das século XX abreviado, preci-samente quando ruíam o

,estigação. Muro de Berlim e os regi-mes comunistas do Leste eu-

ropeu. Sua convicção socialista se fortaleceu precisa-mente no momento em que passou a lavrar confusãotremenda na esquerda mundial (ainda persistente),induzindo reações de ceticismo, de desânimo e, nãoraro, de mudança de campo ideológico. Já afetadopela enfermidade que lhe havia de ser fatal, o profes-sor universitário se dedicou inteiramente à militânciapolítica, colocando seu prestígio e fazendo ouvir suavoz a favor dos oprimidos, daqueles que caracteriza-va como os "de baixo". No parlamento, nas instân-cias do partido ao qual se finou, nos sindicatos e nasescolas, na coluna de jornal, envolveu-se por inteirona luta de classes e deixou unia lição de agudeza in-telectual, de firmeza política e de integridade moral.

faca!) Gorender é historiada; professor visitante doInstituto de Estudos Avançados da U,S7?

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O marxismo não foi para

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1n'evisto AduspOutubro 1995

FLORESTAN FERNANDES E O SOCIALISMO

in dos conceitosí1 preferidos e iais

reiteradamenteutilizados porrestan Fernandes,

• quer na sua obrasociológica, quer naquela pro-priamente política, era o de "de-senvolvimento desigual e combi-nado". Ele está presente namaioria de seus escritos de fôle-go, às vezes explicitamente, e àsvezes de modo implícito, comono primeiro parágrafo da suacontribuição na famosa coletâneasobre o Brasil, publicada em Les7èmps Modcmcs em 1967: "Brasilvive, simultaneamente, em váriasidades histórico-sociais. Presente,passado e futuro se entrecruzame confundem, de tal modo cicie épossível passar cle um estágio his-tórico para outro através do meiomais simples: o do deslocamentono espaço".

Florcstan e o PtilZ

Não é em absoluto irónico que.na hora da sua morte e do balançoapressado da sua obra e do seusignificado para o Brasil, o próprioflorestai] fosse considerado comourna expressão dessa "lei", ao serqualificado como "um dos de-miurgos do Brasil moderno", c co-mo o mais irredutivelmente socia-lista dos seus intelectuais, ou seja,

Osvaldo Coggiola

corno portador simultâneo ("com-binado") da "modernidade" (bur-guesa) e da sua negação socialista.Se, por um lado, temos aqui o nóda contradição à qual viu-se con-frontado, ao longo de toda a suatrajetória, aquele que não poucosconsideram o maior intelectualbrasileiro do século, temos tam-bém, por outro lado, uma das cha-ves para entender a relação entreo pensamento de Florestan e a lu-ta pelo socialismo no Brasil.

O conceito citado anterior-mente pertence ao arsenal dopensamento de Trotski, e a pró-pria relação de Florestan com osocialismo só se deixa entenderpela sua militância inicial (isto é,que precedeu à sua trajetóriaacadêmica) nos anos 40, no Parti-do Socialista Revolucionário, se-ção brasileira da IV Internacio-nal fundada por Leão Trótski em193ti. liderada por I lerminio ti:fe-chem% até a sua dissoluçao, noinício dos anos 50.

1:mbora o l'tik nunca atingis-se unia estatura politico-organi-zativa realmente partidária, a mi-litáncia nele marcou Florestai) deuni modo em absoluto superfi-cial. Ele próprio se referiu ver-balmente ao assunto, em palestranum curso de pós-graduação mi-nistrado por Carlos GuilhermeMota, no Departamento de His-tória da USP, no segundo semes-

tre de 1981, quando relatou a"crise de consciência" que lheprovocou a sua saída do PSR noinício dos anos 50, para cumprircom obrigações decorrentes dacarreira acadêmica, então nosseus primórdios (manifestoutambém o seu agradecimento re-troativo ao apoio que AntonioCandido lhe dera na ocasião).Em 1986, agora por escrito, vol-tou a adotar o tom confessionalpara referir-se a essa transiçãodecisiva, que o marcaria para orestante da sua existência:

"Passado o período de militân-cia, defrontei-me com uma aco-modação improdutiva: ou ser mili-tante, com o sacrifício de minhaspossibilidades intelectuais, ou seruniversitário, com atividades polí-ticas cle fachada, mistificadoras.Uma tormentosa crise foi resolvi-da c(iin a generosidade dos com-panheiros políticos. (INC viam claroa realidade: a esquerda ainda nãopossuía partidos que pudesse inaproveilar o intelectual rebelde deforma produtiva para 0 pensa-mento político revolucionário. Porsua vez, Antonio Cindido ajudou-me a conviver com feridas e frus-trações, que sugiam como uni pe-sadelo e me levaram a sublimar acastração política parcial com umaprática exigente e (acredito) auto-punitiva do significado da respon-sabilidade do intelectual".

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O "intelectual inorgânico"

dre Em 1981 ainda, Florcstan ex-' plicou que, superado o dilema• inicial, c já de retorno de uma'ex-

• periência acadêmica no exterior,defrontou-se com a inexistência

0 no Brasil de um partido de es-• querda ao qual pudesse servir dedik "intelectual orgânico", fora dow próprio PCB (do qual rejeitava ae sua natureza stalinista). Os cic-0 poimcntos de contemporâneos e

a pesquisa deveriam, hoje, ajudara reconstituir a passagem dc Mo-

• restan pelo PSR, que teve para' ele pelo menos tanta impor-

!!! tância, na sua opção político-• intelectual ulterior, quanto a

sua origem social na classeoperária, filho de uma lavadei-

* ra portuguesa e obrigado a▪ trabalhar desde criança. A

militância no PSR durou uniaiteb década (desde 1942-3 até

11% 1952), também os anos dc for-mação do Florestai] intclec-tual c acadêmico (que lecio-

• nou na Faculdade dc Filosofiaa partir dc 1945). Em 1991,Florcstan voltou sobre essee período, cm depoimento aTeoria d: Debate:

"Comecei a freqüentar asredações de O Estado de S.

05 Paulo, c principalmente da Eu-lha da Manhã, onde conheci oHermínio Sacchetta, que era

ma líder do movimento trotskista,ç. ligado à IV Internacional. As-Itl; SIM, em 43 me tornei militanteON do Partido Socialista Revolu-

cionário na célula a que perten-ciam o Sacchetta, Rocha Barros,e Plínio Gomes de Mello, Vítor de

ioN Azevedo c José Stacchini... Oscomunistas levavam as pessoaspara reuniões, festas, conferên-cias, mas havia um elemento au-toritário que eu repelia. Com a

C filiação ao PSR, a seção brasilei-" ra da IV Internacional, minha

militância se tornou sistemática.lea

Nessa época, fiz a tradução daCrítica dá ccánomia política, de

▪ Marx... (no PSR) Eu me mantive`- até o início dos anos 50. Aí os

próprios companheiros acharamque não seria conveniente que eudesperdiçasse o tempo cm ummovimento de pequeno alcance,quando podia me dedicar a tra-balhos de maior envergadura nauniversidade. O Sacchetta, queera um homem esclarecido, meaconselhou: "É melhor você seafastar da organização e se dedi-car à universidade, que vai sermais importante para nós".

A partir daí, teria início o dile-ma que preocupou e, visivelmen-te (pela freqüência com que apa-

Florestan defrontou-se com

uma tarefa tríplice: fundar

unia sociologia científica no

Brasil; fazê-lo com base no

desenvolvimento do

pensamento marxista e fazer

ambas as coisas combatendo

o dogmatismo, de cunho

stalinista, perigo inevitável

diante da preponderância do

PCB na intelectualidade de

esquerda brasileira.

rece nos seus trabalhos e depoi-mentos), até atormentou Flores-tan Fernandes, durante toda asua existência: o da unidade entreteoria c prática, sob o ângulo deum intelectual, ou seja, não ape-nas o do "engajamento" político-social, mas também o da perspec-tiva teórica a ser adotada no tra-balho intelectual, c a vinculaçãodeste com o desenvolvimento his-tórico real. São constantes as suasreferências a uma situação histó-rica que, nas suas próprias pala-vras, "arranca o sociólogo do ga-

rimetettegrantio .>‘kno.s_proces-sos de mudança social, faze—ridtiZi--sentir-se como alguém que possuio que dizer e que, eventualmente,poderá ser ouvido... A sociedade,que não lhe pode conferir sosse-go e segurança, coloca-o numaposição que o projeta no âmagodos grandes processos históricosem e fer,vescê ncia".

Florestai] defrontou-se comuma tarefa tríplice: 1) fundaruma sociologia científica no Bra-sil; 2) fazê-lo com base no desen-volvimento do pensamento mar-

xista; 3) fazer ambas as coisascombatendo o dogmatismo, decunho stalinista, perigo inevi-tável diante da preponderân-cia do PCB na intelectualida-de de esquerda brasileira. Le-vou-a ele adiante caindo numaespécie de ecletismo teórico,como parece sugerir CarlosGuilherme Mota? Ou a suavinculação com as "ciênciassociais" obedeceu ao padrãodefinido pelo sociólogo (e, en-tão, também trotskista) PicrreFougeyrollas: "A pretensa con-ciliação entre ciências sociais cmarxismo é comparável ao ca-samento da água com o fogo,cujo resultado só poderia ser aextinção do fogo. Entre aideologia das ciências sociais eo marxismo é preciso escolher.Escolhendo o marxismo, épossível integrar os saberesfragmentários fornecidos pelociências sociais. Escolhendo asciências sociais como tais, é

completamente impossível inte-grar o marxismo".

Florestai] foi sempre conscien-te da separação total entre a so-ciologia marxista c a não-marxis-ta, partidário declarado da pri-meira, o que lhe forneceu o con-ceito-chave para a sua análise di-ferenciada da "revolução burgue-sa no Brasil", definido nestes ter-mos: "Fora da sociologia marxistaprevalece o intento de explicar arevolução burguesa somente pelopassado (especialmente pela vitó-ria sobre uma aristocracia deca-

1.11E.

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Outubro 1995

dente e reacionária, variavelmen-te anticapitalista), ignorando-seou esquecendo-se a outra face damoeda, com freqüência mais de-cisiva: a imposição da dominaçãoburguesa à classe operária".

Sociologia e política

Não parece, portanto, que te-nha estado entre as suas intençõesa elaboração de uma "síntese ori-ginal" entre "Wright Mil Is, Thors-tein Veblen, Max Weber, KarlMannheim e Karl Marx" paraanalisar o Brasil, como afirmaEmitia Viotti da Costa, emboraela acerte em situar o dilema cen-tral de Florestan e seu contextohistórico-social:

"Como conciliar rigor acadê-mico e militância política é umaquestão que tem atormentado,senão mesmo paralisado, muitosintelectuais do nosso tempo. Sãopoucos os que, como FlorestanFernandes, conseguiram satisfa-zer as demandas, por vezes con-traditórias, desses dois tipos deenvolvimento. A maioria acaboupor sucumbir ao desafio, ouabandonou o trabalho intelec-tual para dedicar-se à política,ou sacrificou a militância às exi-gências da academia. Esse dile-ma é peculiar ao nosso tempo,quando o intelectual se prolissio-nalizou e suas atividades comoprofessor, pesquisador e escritortornaram-se cada vez mais ab-sorventes, em detrimento do en-gajamento político".

A tarefa múltipla

Vejamos mais de perto a tri-pNce tarefa com que se defron-tou a obra de Florestal]. De umlado, ele é legitimamente consi-derado como o principal introdu-tor (1:1 "sociologia moderna - noltrasil. No enlanlo, ele não se fa-zia ilusoes sobre essa sociologia,cujas origens históricas na crisedo capitalismo e da necessidadedesse sistema de adequar-se aela, ele sabia reconhecer: so-

ciologia nasceu da crise do siste-ma capitalista moderno, no sécu-lo XIX, corno um conjunto depreocupações que apanham amudança. Trata-se de um sistemade civilização que necessita damudança para se manter emequilíbrio. O essencial é partir daidéia de sociedades que mudam,que, quando não se transformam,se enfraquecem". Florestal] nadateria oposto à conhecida defini-ção de Anísio Teixeira: "Em ri-gor, as ciências sociais são ciên-cias políticas, só podendo seraplicadas quando forem aceitas

De um lado, ele

(Floresta/O é

legitimamente

considerado como o

principal introdutor

da "sociologia

moderna" no Brasil.

No entanto, ele não se

fazia ilusões sobre

essa sociologia.

politicamente, ou seja, quandoaceitas pela estrutura do poder".

Isto significa unia tarefa du-pla, ou um desdobramento neces-sário da tarefa inicial: induzir,junto à necessária introdução da"modernidade sociológica" (sema qual o pensamento brasileiro fi-caria atrelado ao padrão tradicio-nalista), a sua própria crítica. Es-ta provinha, simultaneamente, de11111 campo 1'NR:rio! ;.1 sociologia

aCallellliCa I1111'NIS1110, oiie elll

HOreSi:111 preCellell a SOC.111logi:1)C de 11111 C;11111/0 1111ellOr, comomanifestaçao da autoconsciênciada crise sociológica, tal comosintetizado pelo seu discípulo Oc-távio lanni: "Usitunos assistindo

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Revistn Adusp-•--- -- -

à decadência da "imaginação so-ciológica". Com a implantaçãoexpansão da divisão do trabalho •no campo das ciências humanas,com a institucionalização dessaatividade científica, com a redefi-nição social dos significados polí-ticos do conhecimento relativo aosocial, abandonam-se paulzttina-mente as possibilidades abertaspelos pioneiros das ciências hu-manas. Em especial, procura-abandonar a problemática dosclássicos e a compreensão básicados tipos de vinculação dos ho-mens entre si e com as configura-ções histórico-estruturais".

A possibiNdade de sair dessaambigüidade situacional estariadada pela prática do que um ana-lista da obra cie Florestan definiucomo "saber militante"; ou seja,através de uma "sociologia eng,a-jacta", cujo padrão básico foradefinido por T B. Bottomore em1974: "O teste básico de qual-quer 'teoria crítica' ou `sociologide oposição' só pode ser o desen-volvimento ou o fracasso em de-senvolver movimentos sociais deampla escala, que busquem criae comecem a fazê-lo na prática,uma forma de vida social iguali-tária, não coercitiva. Neste meio-tempo a teoria permanece hipo-tética. O que justifica a sua exis-tência atualmente e torna tal in-vestigação teórica válida é a po-tencialidade que se manifestouno movimento operário) e nos no-vos movimentos sociais da déca-(la passada no sentido de urnaatividade renovada para transfor-mar a sociedade".

Num escrito) de 1967, Flores-tan nomeava esperançosamenteos potenciais membros da "esco-la " para a qual se considerava"fio condutor": "Servi como umaespécie de fio condutor, ligandohipóteses e conclusões funda-mentadas em várias investiga-çoes, realizadas por 1111111 ou porFernando I [enrique Cardoso,Odávio lanni, Luiz Pereira, Ma-rialice Mencarini 1Wacchi, PauloSinger, .1 tia 1Irandáo Lopes,

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(. 3 CM;É.P,WA II)12 109j;

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Leôncio Martins Rodrigues Net-to, Maria Nylvia Carvalho FrancoMoreira, Roberto Cardoso deOliveira, José Carlos Pereira, Jo-sé de Souza Martins, José CesarAprilanti Gnaccarini, GabrielCohn e vários outros colegas (al-guns de outras cadeiras, comoFrancisco C. Weffort, FernandoNovaes, Emília Viotti da Costa,Nícia Vilela Luz, Gioconda Mus-

Eunice Ribeiro Durhanetc.) E provável que, no futuro,se possa ir mais longe, corrigin-do-se as lacunas do esquema dereferência que tentei construirsobre fundamentos ainda relati-vamente precários".

Como é bem sabido, as identi-dades políticas construídas pelosmembros desse grupo foram asmais diversas, sendo as mais no-tórias (a começar pelo próprioFFIC) diametralmente opostasaos anseios políticos de Flores-tan. Como quer que seja, nosanos seguintes Florestal) seriamuito otimista quanto ao futurorumo político) da intelligentsia la-tino-americana e brasileira, emespecial sob a influência da revo-lução cubana, que teria dado"alento às correntes sociais quenão se empenhavam, apenas, emcombater `os problemas hUmanosdo subdesenvolvimento', mas emcorrigir, simultaneamente, os di-lemas materiais e morais da or-dem social capitalista; c compeliuos `círculos de esquerda', de di-versos matizes, a reverem e a mo-dificarem a estratégia anterior,de contenção do radicalismo po-lítico c de apoio decidido a umnacionalismo econômico despro-porcionalmente benéfico aos in-teresses empresariais".

Nesse quadro, c contra o pa-no-de-fundo das ditaduras milita-res, um importante papel históri-ca estava reservado aos intelec-tuais. Sobre esse papel potencial,Florestai) se expressou em termosclaramente otimistas: "As ditadu-ras militares atuais e seus possí-veis sucedâneos não podem evitarum colapso futuro (que poderia

ser evitado uniczunente se uma re-volução burguesa autónoma ocor-resse, como sucedeu nos VstadosUti id ) C no Japão). A consciên-cia política de tal situação históri-ca não foi alcançada por todos osintelectuais. No entanto, os círcu-los intelectuais mais maduros eresolutos da intelligentsia latino-atnericana estão aprendendo,através de experiências concretas.De um lado, estão descobrindo osmeios potenciais da revolução so-cialista na América Latina (tão di-versos dos modelos 'clássicos' jáconhecidos). Por outro lado, estãoacumulando novos C011heelillell-los sobre a estrutura e a dinâmicado sistema de classe sob o capita-lismo dependente, ou seja, conhe-cimentos que constituirão a basepara unia teoria viável da revolu-ção socialista na América Latina".

Intelectuais e socialismo

Uma década depois, Florestal]constatava que o colapso das dita-duras não realizava essas previ-sões, muito especialmente no quediz respeito à inevitável radicali-zação política da intelligentsia. Eleatribuiu às mudanças estruturaisdo capitalismo a raiz desse pro-cesso: "No presente, o capitalismooligopolista vinculado à automati-zação e à administração informa-tizada aumentou, sob esse aspec-to, o espaço da classe dominantec reduziu drasticamente a capaci-dade de iniciativa dos de baixo".

Por outro lado, deve-se cons-tatar que as condições de misériasocial que, no seu momento, pre-cederam o surgimento da "socio-logia crítica" não fizeram senãopiorar. Essas mesmas condições,combinadas com a crise políticadas ditaduras (o seu "colapso"),foram palco do nascimento demovimentos inéditos dos traba-lhadores, pela sua amplitude eprofundidade, ollle propiciaram,por exemplo, no /3rasil, o surgi-mento da CUT e do PT As con-dições objetivas e subjetivas quedeveriam favorecer um engaja-

int e A -talisizur ctuali-( ide, no cif nttn—pro-ruiiii-nrodei ,lorestan cons-tatou clara mente: "Muitos inte-lectuais e políticos da 'esquerda'- antigas vítimas da ditadura, lu-tadores de proa da década desessenta ou no início dos setentae grandes esperanças do radica-lismo democrático e do socialis-mo - aderiram a esse jogo, semrebuços. O mesmo acontece comorganizações c entidades políti-cas que deveriam ser proletáriasc se mostram 'aliancistas'. Aoque parece, o desenraizamentonão chegou tão fundo a ponto dedesprender os intelectuais rebel-des, Os políticos inconfortnistas eas organizações e entidades revo-lucionárias da ordem burguesa,identificando-os com o socialis-mo proletário. Conformam-seaos papéis de campeões da 'nor-malidade institucional', comocauda do movimento políticoconservador, cérebros do .`mu-dancismo' e mão civil da transi-ção lenta e segura..."

A perspectiva teórica de Flo-restar& se modificava no confrontocom o desenvolvimento históricoc a luta de classes. Não foi casualque, no 509 aniversário da mortede Leão Trótski, não vacilasse emrepor claramente "o conceito derevolução permanente de Marx eEngcls em uma perspectiva simul-taneamente teórica c prática, indoao fundo dos dinamismos coleti-vos das classes despossuídas naimpulsão c na fusão dialética dereforma e revolução sociais", fa-zendo desta reposição a base paraser "implacável com os 'fariseus.que se proclamam socialistas Ouex-marxistas, mas cerram fileirascom as correntes intelectuais damoda a partir dos centros de pro-dução cultural e de propagandadas nações capitalistas centrais. Ademocracia que nasce clo marxis-mo nada tem a ver com a demo-cracia plutocrática".

Com toda essa bagagem, Flo-restai] estava mais do que prepa-rado para denunciar o novo álibi

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Florestarz não se incorporou

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Trabalhadores ... denunciava que

"o socialismo comprometido com a

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forma de reprodução do sistema

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Outubro 1995

ideológico do reformismo e do la-risaísmo, posicionando-se, nas po-lêmicas iddeológicas mais recen-tes, contra a possibilidade de que"o socialismo desapareça e que omarxismo se torne uma peça demuseu, tema de mera reflexãoabstrata de historiadores, filósofose cientistas sociais. Ora, o . que équestionável é a existência de um`neoliberalismo'. Harold Laski jádemonstrou que o liberalismo nãosobreviveu à transformação histó-rica das condições que o engen-draram. Hoje, sua argumentaçãoencontra suporte ainda mais sé-rio. Que `neoliberalismo' poderiaajustar-se ao desenvolvimento dasmultinacionais, i internacionaliza-ção do modo de produção capita-lista em seu modelo oligopolista eao sistema de poder que resultoudessas metamorfoses do capital?"

Florestan no VI'

De tudo que antecede,se depreende que Flores-tai] não se incorporou acri-ticamente ao Partido dosTrabalhadores, sendo seudeputado federal mais vo-tado (depois de Lula) em1987, exercendo duas vezesesse mandato. No mesmomomento, denunciava que"o socialismo comprometi-do com a democracia bur-guesa ainda é uma formade reprodução do sistemacapitalista de poder. A revoluçãoproletária volta-se para a emanci-pação coletiva dos trabalhadorespelos próprios trabalhadores. Ouo PT decifra a solução corretadessa necessidade histórica nacena brasileira ou ele engrossaráas fileiras dos partidos reformis-tas imantados à 'reforma capita-lista do capitalismo', ao 'capita-lismo melhorado' ou ao 'capita-lismo do bem-estar social'. Pensoser esta a principal resposta às in-dagações, às esperanças e às con-vicções que nos lançam, dentrodo PT, à luta pelo socialismo pro-letário e revolucionário".

Llá mais de uma década, Flo-restai] Fernandes foi pela primeiravez vítima do colapso do sistemabrasileiro de saúde pública, quan-do, depois de uma operação semriscos, recebeu uma transfusão desangue contaminado pelo vírus dahepatite 13. A partir desse momen-to, começou a sofrer sistemáticosproblemas de saúde, originados dofígado, que o levaram nos últimostempos à beira da morte. Os siste-mas de detecção do vírus da hepa-tite 13 já eram bem conhecidos naépoca da tranfusão, mas não eramaplicados no sistema de saúde pú-Nica; isto em plena época do "mi-lagre brasileiro".

Desde então, a situação pio-rou, chegando aos níveis do paro-xismo, levando a saúde públicabrasileira a ostentar índices situa-dos entre os piores do mundo,

começando por uma epidemiasistemática de "infecções hospi-talares", que levaram milhares depacientes à morte CO()m conse-qiiència de coisas tão simplesquanto uma operação ele apendi-cite. É óbvio que se tratou deuma política conscien te de des-truição da saúde pública, ao ser-viço da privatização da saúde,que assistiu à constituição deenormes monopólios de merca-dores elo corpo (cujas empresasnão pagam impostos por serem"serviços de interesse gerar!).

Florestan Fernandes semprerecusou qualquer privilégio deri-

Rev;sici Adusp

vado da sua condição de figurapública e deputado (como o fa-moso expediente de "furar a fila"dos transplantes) e exigiu ser tra-tado pelo sistema de saúde públi-ca, como exemplo de luta para asua defesa. Recentemente, inclu-sive, recusou a oferta que lhe fi-zera Fernando Henrique Cardo-so, seu antigo aluno e discípulo,para um tratamento vip no exte-rior, sem gastos de sua parte.

A discusão que sua morte de-sata será uma ocasião para de-nunciar a destruição elo sistemade saúde pública, a serviço dosgrupos capitalistas. "Erro médi-co" ou "falha ele máquina": atéum néscio sabe que quanto pioro funcionamento dos instrumen-tos e equipamentos (por falta demanutenção) maiores são aschances ele erro humano. A atitu-

de valente de Florestandeve ter a merecida res-posta dos combatentesque permanecem.

A denúncia do segun-do assassinato de Flores-tai] Fernandes deve serunia plataforma em defe-sa da saúde e da educaçãopúblicas, contra os mono-pólios capitalistas, contrao imperialismo espoliadordo Brasil, contra o gover-no que impulsiona a polí-tica que acelerou a mortedo mestre do próprio pre-sidente da República.

Como disse um sindicalista,nem na hora da morte Florestandeixou cm paz os inimigos da clas-se trabalhadora. Ficam conosco oexemplo de uma vida e a fecundi-dade de uma obra que florescerãonas novas gerações de revolucio-nários do Brasil c da América La-tina, junto aos quais permanecerácomo um fermento de revolta cde pensamento crítico, em todasas circunstâncias, para sempre,Florestar: Fernandes.

Osvaldo Coggiola é professor doD(ronaniento de História 11(1 US1)e vice-preside/de do Adasp.

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'Re visl t Adusu_

ÁLBUM

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Acima, em 1926 (sentado na segunda fila, o

terceiro da esquerda para a direita), com a

turma do primário do

Grupo Escolar Maria José.

Em São João da Boa Vista, Florestan,

o segundo da direita para a esquerda,-

com os companheiros de Madureza.

Em 1925, aos 5

anos, Florestan

Fernandes numa de

suas primeiras

fotografias. Àdireita, em 1934,

com sua mãe, Dona

Maria Fernandes.

Fotos do arquivo da família

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Na Feira Nacional da Indústria

(São Paulo, 1940), Flores tan

com sua futura esposa,

Dona Myrian Rodrigues.

Em 1963, com o filho Júnior,

na Alameda Jaú.

'

Folha

no

Outubro 1995

Em 1936, no Tiro de

Guerra e, em 1944, com

um grupo de estudantes

da Faculdade de Filosofia,

Ciências e Letras da USP,

na divisa do Brasil com

o Paraguai.

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Durante o primeiro

comício da Campanha

das Diretas (novembro

de 1983/ Praça Charles

Müller), Flores tan com o

filho, Caio Prado Jr. e o

publicitário Carlito Maia.

1

1

Ao lado, na primeira

reunião da campanha

eleitoral (1986) e, abaixo,

com Antonio Candido e

Aziz Ab'Saber, em 1994, na

USP, durante o lançamento

do livro "13 razões para

votar em Lula".

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Outubro 1995

Homenagens

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) a seus 41) maior,da ate-

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Intelectual coerente

Florestal] Fernandes foi umsociólogo coerente com as suasorigens populares, de alfaiate,.garçom e engraxate. Como inte-lectual, cumpriu rigorosamenteo sentido da palavra "intus-le-geris - , ou seja, aquele que é ca-paz de ler por dentro. Toda me-todologia que ele adotou na suasociologia é aquela que nos ex-plica melhor as causas dos pro-blemas e dos fenômeno sociais.Por outro lado, um homem coe-rente com os seus princípios.Não era daquele que trocava deconvicção e de ideologia comoquem troca de camisa. Umapessoa coerente no sentido deque a razão pela qual ele tantose dedicou à militãncia e ao tra-balho intelectual não só conti-nua a existir, como cresce dia-riamente, que é. a pobreza nomundo e, em especial, no Brasil.Então, nesse sentido, o legadoque ele nos deixa é prosseguirnessa lula para superar esse es-tado de desumanidade da maio-ria da população. Destaco o lIi-

i. •iuilt.. Niel

balho que ele teve como deputa-do, ja que era um excelente ededicado parlamentar. A partici-pação dele, sobretudo na elabo-ração da Constituição, foi fun-damental para assegurar algunsdireitos sociais.

Carlos Alberto Libúnio Christo (FreiIletto) é escritor, autor de O paraíso per-dido - nos bastidores do socialismo.

Palavra de despedida

F01-111C pedido que falasseem nome da Congregação, dosprofessores, dos funcionarios,dos alunos c dos ex-alunos daFaculdade de Filosofia; que pro-nunciasse, neste momento, apalavra pequena c pobre da ho-ra solene da despedida, hora dosilêncio e do pranto.

Difícil palavra porque nosdespedimos de alguém que per-manece e permanecerá. 1•1!)

lugar, palavra de gratidãoDon:i Mvuiam, :tos filhos e pa

rentes do professor HorestanFernandes por lerem comparti-lhado conosco, seus alunos ecolegas, o privilégio de com eleconviver e de com ele aprender.()lie seja também palavra deapoio e de amizade de todosnós que nele tínhamos O

ti amig,o e companheiro.I: que seja também urna 1E1--

lavra aos alunos, aos jovens es-t lida n es, que Imã() Ii veraill ogrande privilégio de acompa-nhar suas aulas, de ouvir suaslições de professor competente eexigente, apaixonado pela causado ensino e da ciência.

Mesmo do exílio seus alunose ex-alunos recebiam comenta-

Revisin Adusp<1 Adusp1

rios longos c cuidadosos, escri-tos com tinta roxa, sobre os tra-balhos que lhe mandavam. Oargumento sempre lúcido doamigo que era, cio professor quenunca deixou de sê-lo.

Através da obra extensa c ri-gorosa, o professor continuaráensinando - ensinando a deci-frar os enigmas desta complexasociedade, a entender o nossopovo e o nosso país, a encontrarcantinhos e veredas.

O seu legado não se esgota•aí, porque ele foi ta In bém mes-tre de vida, de luta contra injus-tiças, de resistência ao que pu-desse arranhar até mesmo os di-reitos de seus adversários, cleempenho obstinado em favordos direitos dos que, como ele emuitos de nós, vieram cios re-cantos escuros da sociedade.

O professor Florestal] Fernan-des nos deixa um imenso legado.Não só legado à universidade àciência. Mas ao nosso país, aoqual ofereceu completamente,sem amargura, em retribuiçãogenerosa, o que de melhor a vidalhe dei!. Tudo retribuiu multipli-cado e comum gl.:111dC/.11.

Nesse intenso legado a seusalunos e a todos nós, o maior,certamente, d o legado da ale-gria de lutar pela ..,!rancle causa11;1 emancipação do homem detodas as carências e de todos oscativeiros - aqueles que se podever e os que não se deixam ver,mas oprimem e humilham.

Palavras pronunciadas no velório doprofessor Florestai' Fernandes, noSalão Nobre da Faculdade deFilosofia, Letras e Ciências Humanasda Universidade de São Paulo, no dia10 de agosto de 1995, pelo professorJosé de SOIM/ Martins, antigo aluno eassistente do professor FlorestanFernandes na cadeira de Sociologia

do”1, 110

fumarias), no dia)fessoro aluno estanologia

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