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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJURPS CURSO DE DIREITO JUSTIÇA DESPORTIVA: ORGANIZAÇÃO, JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA MARCIO DE CASTRO FORLIN Itajaí (SC), dezembro de 2007.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJURPS CURSO DE DIREITO

JUSTIÇA DESPORTIVA:

ORGANIZAÇÃO, JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA

MARCIO DE CASTRO FORLIN

Itajaí (SC), dezembro de 2007.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

JUSTIÇA DESPORTIVA:

ORGANIZAÇÃO, JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA

MÁRCIO DE CASTRO FORLIN

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em

Direito.

Orientador: Professor MSc Wanderley Godoy Júnior

Itajaí (SC) dezembro de 2007.

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AGRADECIMENTO

A Deus, por ter guiado meus passos e me

conduzido até a vitória;

Aos meus pais, pelo amor e incentivo

constantes;

Ao Professor Wanderley Godoy Júnior, pela

ajuda e orientação, além da amizade e

grande estima;

Aos que contribuíram direta ou indiretamente

para a realização desta monografia, em

especial à minha amiga Nivana.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho:

A minha mãe e ao meu pai pela luta e

dedicação, sempre se mostrando guerreiros,

principalmente, nos momentos de extrema

dificuldade.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade

pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a

Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a

Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade

acerca do mesmo.

Itajaí (SC), dezembro de 2007.

Márcio de Castro Forlin Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade

do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Márcio de Castro

Forlin, sob o título Justiça Desportiva: Organização, Jurisdição e

Competência foi submetida em 30/11/2007 à banca examinadora

composta pelos seguintes professores: Msc Wanderley Godoy Júnior

[presidente da banca], Silvio Wolf [membro da banca], Eduardo Campos

[membro da banca] e aprovada com a nota 9,2 [nove vírgula dois].

Itajaí(SC), dezembro de 2007.

Professor MSc Wanderley Godoy Júnior Orientador e Presidente da Banca

Professor MSc Antonio Augusto Lapa

Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

§ Parágrafo

Ampl. Ampliada

Art. Artigo

Atual. Atualizada

CBD Confederação Brasileira de Desportos

CBDF Código Brasileiro Disciplinar do Futebol

CBF Confederação Brasileira de Futebol

CED Conselhos Estaduais de Desportos

CND Conselho Nacional de Desportos

CNE Conselho Nacional do Esporte

CRD Conselhos Regionais de Desporto

CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

CPC Código de Processo Civil

Ed. Edição

JD Justiça Desportiva

JJD Juntas de Justiça Desportiva

MEC Ministério da Educação e Cultura

n Número

OAB/SC Ordem dos Advogados do Brasil / Seção de Santa Catarina

p. Página

Rev. Revista

STJD Superior Tribunal de Justiça Desportiva

TJD Tribunal de Justiça Desportiva

v. Volume

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos

operacionais.

Código Brasileiro Disciplinar de Futebol

É um conjunto de normas legais e infralegais aplicáveis ao futebol.

Competência Desportiva

Competência é a capacidade, no sentido de poder, em virtude do qual a

autoridade possui legalmente atribuição para conhecer de certos atos

jurídicos e deliberar a seu respeito.1

Direito Desportivo:

É a parte ou ramo do Direito Positivo que regula as relações desportivas,

assim entendidas aquelas formadas pelas regras e normas internacionais e

nacionais estabelecidas para cada modalidade, bem como as

disposições relativas ao regulamento e à disciplina das competições.2

Justiça Desportiva

É a que tem por pressuposto o Direito Desportivo, ou seja, é a Justiça que

regula o direito desportivo, criando normas a fim de dirimir eventuais

conflitos nas relações desportivas, bem como estabelecendo regras para

organização e funcionamento do desporto.

1 COSTA; AUGUSTO; AQUAROLI. Dicionário jurídico. p. 121., 2 KRIEGER, César Ramos Marcílio. IBDD I. p. 40.

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Futebol

Jogo de bola com os pés, de origem inglesa, disputado por duas equipes

de onze jogadores cada uma.

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SUMÁRIO

RESUMO........................................................................................... XI

INTRODUÇÃO ................................................................................. 12

CAPÍTULO 1 .................................................................................... 15

ASPECTOS HISTÓRICOS DO FUTEBOL.... ................................... 15 1.1 A ORIGEM DO ESPORTE E DO FUTEBOL ........................................................15 1.1.1 O TSU-CHU DA CHINA .....................................................................................16 1.1.2 O KEMARI DO JAPÃO ......................................................................................18 1.1.3 O EPYSKIROS DA GRÉCIA ..................................................................................19 1.1.4 O HARPASTUM DE ROMA ..................................................................................20 1.1.5 OS MAIAS DO MÉXICO ....................................................................................22 1.1.6 O SOULE DA FRANÇA .......................................................................................22 1.1.7 O CALCIO FIORENTINO DA FRANÇA ...................................................................23 1.1.8 O FOOTBALL DO INGLESES .................................................................................24 1.1.9 OUTRAS REGISTROS RELACIONADOS À ORIGEM DO FUTEBOL ..................................26 1.2 A EVOLUÇÃO DO FUTEBOL ..........................................................................27 1.3 O FUTEBOL NA AMÉRICA PRÉ-COLOMBIANA .............................................29 1.4 A INTRODUÇÃO DO FUTEBOL NO BRASIL.....................................................30

CAPÍTULO 2 .................................................................................... 36

LEGISLAÇÃO DESPORTIVA NO BRASIL: EVOLUÇÃO HISTÓRICA......................................................................................................... 36 2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS.................................................................................36 2.2 LEGISLAÇÃO DESPORTIVA NO PERÍODO DE 1932 À 1945 ..........................36 2.3 LEGISLAÇÃO DESPORTIVA NO PERÍODO DE 1945 À 1987 ..........................41 2.4 PERÍODO POSTERIOR A REPÚBLICA FEDERATIVA DE 1988...........................45 2.5 CRIAÇÃO DO CÓDIGO BRASILEIRO DISCIPLINAR DE FUTEBOL..................50

CAPÍTULO 3 .................................................................................... 52

JUSTIÇA DESPORTIVA: ORGANIZAÇÃO, JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA ............................................................................... 52 3.1 ORGANIZAÇÃO.............................................................................................52 3.2 PRESIDENTE DOS TRIBUNAIS ..........................................................................57 3.3 VICE-PRESIDENTE DOS TRIBUNAIS.................................................................59 3.4 AUDITORES .....................................................................................................59 3.5 PROCURADORIA............................................................................................62 3.6 SECRETÁRIOS .................................................................................................63

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3.7 JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA .....................................................................63 3.8 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DESPORTIVA E SUAS COMISSÕES DISCIPLINARES .....................................................................................................65 3.9 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DESPORTIVA E SUAS COMISSÕES DISCIPLINARES ..68 3.10 JUNTAS DA JUSTIÇA DESPORTIVA ..............................................................71 3.11 DEFENSORES.................................................................................................71

CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 74

REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS........................................ 74

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RESUMO

A presente monografia, realizada com base em

pesquisa científica, apresenta e analisa os mecanismos jurídicos da Justiça

desportiva, bem como da sua organização, jurisdição e competência.

Abordou-se o surgimento do Futebol a nível mundial e a origem e

surgimento do mesmo no Brasil; foi feita uma pesquisa com o intuito de

apurar a organização, a jurisdição e a competência da Justiça

Desportiva, do desporto e, mais precisamente, do Futebol. Ressalta-se que

foi realizado um estudo científico, quanto à competência da Justiça

Desportiva, no que diz respeito às lides de cunho trabalhista, uma vez que

tal matéria vem suscitando discussões entre os estudiosos do direito

desportivo, pois para muitos, os litígios trabalhistas entre os atletas e seus

clubes constituem nítida afronta à disciplina desportiva, devendo, dessa

forma, serem julgados em sede desportiva, constitucionalmente

regularizada e competente para o julgamento do litígio. Observou-se,

entretanto, que a legislação determinou que, somente, as ações relativas

às disciplinas e às competições desportivas são de competência da

Justiça Desportiva.

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho de conclusão de curso tem como

objeto a Justiça Desportiva e, como objetivo geral, a análise da

organização, da jurisdição e da competência da Justiça Desportiva à luz,

principalmente, da Lei 9.615, de 24 de março de 1998, do Código Brasileiro

Disciplinar de Futebol, hoje denominado Código Brasileiro de Justiça

Desportiva e da doutrina.

O assunto apesar de vim de longa data é relevante

por ter a Lei 9.615, de 24 de março de 1998, e demais legislações esparsas

trazido inovações acerca do tema, no decorrer dos anos, adequando-se

as necessidades da Justiça Desportiva, do desporto e do Futebol.

Esta pesquisa tem como objetivos: institucional,

produzir monografia para obtenção do grau de bacharel em Direito, pela

Universidade do Vale do Itajaí – Univali; geral, verificar, estudar e conhecer

a organização da Justiça Desportiva Brasileira, bem como sua atividade

jurisdicional e sua competência para processar a julgar os processos e

recursos no âmbito de sua jurisdição.

Para a investigação do objeto e como meio para se

atingir os objetivos propostos adotou-se o método indutivo3,

operacionalizado com as técnicas4 do referente5, da categoria6, dos

3 O método indutivo consiste em ‘pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral’. [Pasold, 2001, p. 87]. 4 “Técnica é um conjunto diferenciado de informações reunidas e acionadas em forma instrumental para realizar operações intelectuais ou físicas, sob o comando de uma ou mais bases lógicas investigatórias”. [Pasold, 2001, p. 88]. 5 Referente “é a explicitação prévia do motivo, objetivo e produto desejado, delimitando o seu alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especial-mente para uma pesquisa”. [Pasold, 2001, p. 63]. 6 Categoria “é a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia”. [Pasold, 2001, p. 37].

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conceitos operacionais7 e da pesquisa bibliográfica, em conjunto com as

técnicas propostas por Colzani8, dividindo-se o relatório final em três

capítulos.

A pesquisa foi desenvolvida tendo como base as

seguintes hipóteses:

1ª De acordo com a Lei 9.615/98, com alterações

trazidas pela Lei 9.981/00 e pela Medida Provisória 2.193-6/01 e

observando o Código Brasileiro de Justiça Desportiva, são órgãos que

integram a Justiça Desportiva: o Superior Tribunal de Justiça Desportiva, os

qual funciona junto às entidades nacionais de administração do desporto,

os Tribunais de Justiça Desportiva, o qual funciona junto às entidades

regionais de administração do desporto e as Comissões Disciplinares, as

quais possuem competência para processar e julgar questões previstas

nos Códigos de Justiça Desportiva.

2ª Os órgãos da Justiça Desportiva, possuem

competência, observadas as disposições especiais do Código Brasileiro de

Justiça Desportiva, nos limites da jurisdição territorial de cada entidades,

para processar e julgar as infrações disciplinares praticadas por pessoas

físicas ou jurídicas direta ou indiretamente subordinadas à Confederação

ou a serviço de qualquer entidade.

O trabalho foi dividido em três capítulos, para uma

melhor abordagem do tema, objeto desse trabalho de conclusão de

curso. No primeiro capítulo tratar-se-á a respeito da história do Futebol e

da origem do Futebol. Sobre esse tema será estudado as várias

denominações dadas ao Futebol, em vários países. Será, também,

7 Conceito Operacional é a “definição para uma palavra e/ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos”. [Pasold, 2001, p. 51]. 8 COLZANI, Valdir Francisco. Guia para elaboração do trabalho científico.

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abordado o Futebol na América Pré-Colombiana e a introdução dessa

prática desportiva no Brasil.

No segundo, discorrer-se-á a respeito da evolução

histórica da Justiça Desportiva, da legislação inerente à ela; também, será

feita uma ampla e abrangente abordagem sobre o surgimento do Código

Brasileiro de Justiça Desportiva. A importância dessa abordagem é

necessária para um melhor entendimento do terceiro capítulo.

O terceiro e último capítulo, tema desta monografia,

versará sobre a organização da Justiça Desportiva, da sua jurisdição e

estabelece a competência da mesma, sendo reguladas pelo Código

Brasileiro de Justiça Desportiva.

Nas considerações finais apresentar-se-ão breves

sínteses de cada capítulo e demonstrar-se-á se as discussões dos

problemas foram ou não confirmadas.

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CAPÍTULO 1

ASPECTOS HISTÓRICOS DO FUTEBOL

1.1 A ORIGEM DO FUTEBOL

A origem do Futebol como prática desportiva é muito

remota, os historiadores divergem quanto ao lugar onde o futebol,

realmente, surgiu, pois não há registros verdadeiros e incontestáveis sobre

sua origem.

Sabe-se que sua organização coube aos ingleses, no

século XIX, ocorre que pesquisas feitas a respeito do surgimento do Futebol

mostram que tal esporte era praticado muito tempo antes do século XIX.

Através de muito estudo, alguns doutrinadores e

historiadores descobriram que a prática de esportes vinha desde as

civilizações primitivas, com o intuito muito mais de cunho religioso do que,

realmente, a prática do esporte.

Destaca Zainaghi9:

As civilizações primitivas (maias, incas, egípcios, etc.)

praticavam jogos com caráter esportivo, muitas vezes com

intuito religioso. A própria natação encontra sua origem

numa prática ‘esportiva’ que consistia em afogar o

adversário, sagrando-se vencedor aquele que conseguisse

sobreviver.

Ainda, para o mesmo doutrinador: “O futebol tem sua

origem muito discutida. Os pesquisadores encontram indícios de que este

9 ZAINAGHI, Domingos Sávio. Os atletas profissionais de futebol no direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1998. p. 17.

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esporte teve início muitos séculos a.C. Ocorre, todavia, que não existiam

dados comprobatórios exatos.” 10.

Em contribuição com a história do Futebol destaca-se

a seguir os vários lugares e os vários tipos de práticas desportivas que mais

se assemelham com o Futebol dos dias atuais.

1.1.1 O Tsu-chu dos Chineses

Entre 3.000 e 2.500 a.C., as primeiras manifestações do

Futebol começam a ocorrer com a prática do esporte nas civilizações

mais antigas, que nos levam a China, onde durante a dinastia do

Imperador Chinês Shih Huangti, era costume chutar crânios dos inimigos

derrotados11.

Esse jogo apareceu na época da dinastia Hsia – Hia, o

qual era utilizado como treinamento militar da guarda do Imperador

Huang-ti, durante a dinastia Han, tornando-se muito popular.

O Futebol dos chineses de Shih Huangti, no entanto,

aproxima-se ainda mais do nosso Futebol, porque os crânios serviam como

bolas, depois substituídos pela mesma para servir nos exercícios militares.

Zanaighi12, destaque que:

No ano de 207 a.C. publicou-se, na China, um livro que

trazia o regulamento de uma prática militar muito parecida

com o Futebol. Interessante é que, segundo pesquisadores,

esta prática esportiva já era conhecida desde 2.500 a.C., à

época do Impredor Shih Huangti. Existia uma atividade

esportiva chamada de Kemaui, praticada por dezesseis

jogadores, oito de cada lada, num campo quadrado, com

a área de 14 metros, duas estacas fincadas no chão,

10 ZAINAGHI, Domingos Sávio. Os atletas profissionais de futebol no direito do trabalho. p. 24. 11 UNZELTE, Celso. O livro de outro do futebol. São Paulo: Ediouro, 2002. p. 09.

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ligadas por um fio de seda, bola redonda, com diâmetro de

22cm, devendo os participantes fazê-la passar além das

estacas.

Para Duarte13, o Futebol surgiu em 2.600 a.C.:

O País é a China. O Sr. Yang-Tsé inventa KEMARI. Oito

jogadores de cada lado, campo quadrado, de 14 metros,

duas estaca fincadas no chão, ligadas por um fio de seda,

bola redonda, com 22 centímetros de diâmetro. Dentro de

cada bolo colocavam-se cabelos e crinas para que ficasse

cheia. Os jogadores, sem deixar a bola cair, e com os pés,

tentam passá-la além das estacas. Aí começa a idéia de

Futebol (...). Há muita polêmica, controvérsias e discussões

sobre o assunto.

Tantas são as controvérsias sobre o nascimento do

Futebol, mas informações revelam que a China possui as primeiras formas

documentadas de Futebol, que seria o Tsu-chu, que em chinês significa

“lançar com pé” uma “bola recheada”, feita de couro.

Unzelte14 ressalta que a China foi a primeira civilização,

que se tem, documentalmente, comprovada a prática do Futebol.

A primeira forma documentada de Futebol de que se tem

notícia vem da China, com o tsu-chu, que em chinês

significa “lançar com o pé” uma “bola redonda, feita de

couro”. O esporte criado para fins de treinamento militar, foi

desenvolvido pó Yang-Tsé, integrantes da guarda do

imperador da dinastia Xia, em 2.197 a.C. Suas regras foram

redigidas em um manual de instruções militares.

Posteriormente, o tsu-chu transformou-se também em

passatempo da nobreza chinesa. Comente 20 séculos

depois, já na dinastia Han, a atividade passaria a ser

praticada pelas demais classes sociais.

12 ZAINAGHI, Domingos Sávio. Os atletas profissionais de futebol no direito do trabalho. p. 24. 13 DUARTE, Orlando. Futebol histórias e regras. São Paulo: Makron Books, 1997. p. 03. 14 UNZELTE, Celso. O livro de outro do futebol. pp. 10-11.

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No Tsu-chu o jogo era composto por 12 jogadores e

não 11 jogadores como no Futebol dos dias de hoje e as dimensões do

campo, também, seriam diferentes do atual, onde duas estacas de

bambu, separadas por quarenta centímetros e guarnecidas por redes de

fio de seda, faziam papel de traves15.

Relata-se que esse tipo de esporte criado para fins de

treinamento militar, foi desenvolvido por Yang-Tse, integrante da guarda

do imperador da dinastia Hia, em 2.197 a.C. Suas regras foram redigidas

em um manual de instruções militares, a qual a prática futebolística surgiu

apenas para treinar seus soldados para as guerras, para prepará-los para

batalhas16.

1.1.2 O Kemari dos Japoneses

Utilizava-se o Kemari, no Japão, como treinamento

militar, era mais um passatempo da realeza onde os praticantes deveriam

manter a bola no alto, para que treinassem sua habilidade com os pés.

Comenta Zainaghi17 a respeito do Kemari:

Que no ano de 207 a.C. publicou-se, na China, um livro que

trazia o regulamento de uma prática militar muito parecida

com o futebol. Interessante é que, segundo os

pesquisadores, esta prática esportiva já era conhecida

desde 2.500 a.C., à época do Imperador Shih Huang-ti.

Existia uma atividade esportiva chamada Kemari (...).

O Kemari foi difundido uma prática esportiva difundida

pelos imperadores. O campo onde se jogava o Kemari era quadrado e

15 UNZELTE, Celso. O livro de outro do futebol. pp. 10-11. 16 PORTO, Roberto. A história ilustrada do futebol brasileiro. São Paulo: Edobras, 1969. p. 11. 17 ZAINAGHI, Domingos Sávio. Os atletas profissionais de futebol no direito do trabalho. p. 25.

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possuía cada um dos lados uma árvore, os jogadores eram bastante

altos18.

Aquino19 ressalta que, no Japão, aonde os

imperadores também se interessavam pelo Kemari, o jogo era disputado

com toda delicadeza, desclassificando-se àquele que tocasse na

cabeleira de um dos adversários.

Kemari está diretamente relacionado com a religião,

apesar de ter sido na época uma exibição de habilidade dos que dele

participam.

O jogo deixou de ser um esporte da nobreza, por volta

do primeiro milênio a.C., passando a ser praticado pelas classes populares.

Diferentemente do jogo chinês, o Tsu-chu, as mulheres

não podiam participar do kemari.

1.1.3 O Epyskiros da Grécia

Sendo a Grécia o berço dos jogos olímpicos,

diferentemente não poderia ocorrer com o Futebol, onde surgiram as

primeiras práticas esportivas muito semelhantes ao Futebol dos dias atuais.

O Epyskiros, como era chamado o Futebol na Grécia,

ou o que dele mais se assemelha, foi criado pelos gregos no ano de 776

a.C., o qual integram a educação atlética da juventude helênica, era

disputado com os pés, por 2 (duas) equipes em um campo retangular

com 9 (nove) jogadores em cada, em campos maiores onde o Epyskiros

era praticado no século I a.C., podiam se posicionar até 15 (quinze)

18 UNZELTE, Celso. O livro de outro do futebol. pp. 11-12. 19 AQUINO, Rubim Santos Leão de. Futebol uma paixão nacional. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. p. 11.

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jogadores para cada equipe e a bola era feita de bexiga de boi e

recheada com ar e areia20.

A prática do Epyskiros era realizada em cavernas

durante os treinamentos militares, relatam os escritores da época que

durante o jogo eram utilizadas expressões como: bola longa, bola para

frente e passe curto.

Fica evidente que o “Futebol” da Grécia Antiga, ou

seja, o Epyskiros, foi apenas uma contribuição singela a história do Futebol

grego.

Mas, marcante e simbólico foi a prática do Harpastum,

em Roma, que veremos a seguir.

1.1.4 O Harpastum de Roma

Apesar de ter sido difundido em Roma, este jogo que

era praticado na Grécia e foi levado aos romanos, os quais se inspiraram

nos Epyskiros adotando uma bola e detalhando mais o jogo, vindo a surgir

o Harpastum, o qual foi praticado por volta de 200 a.C.21.

No Harpastum uma partida podia durar horas e com as

conquistas romanas o esporte chegou a outras regiões da Europa.

A disputa do Harpastum era realizada em um campo

regular, dividido por uma linha e duas linhas como metas, sendo dividindo

ao meio, no centro colocava-se uma bola pequena, ficando cada

equipe perfilada no fundo do campo. Após receberem autorização, os

jogadores lançavam-se em direção a bola, que podiam conduzir com os

20 UNZELTE, Celso. O livro de outro do futebol. p. 12. 21 UNZELTE, Celso. O livro de outro do futebol. p. 13.

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pés, ou com as mãos. A bola era chamada de folis pelos romanos, a qual

era feita de bexiga de boi coberta por uma capa de couro22.

Porto23 ressalta que os zagueiros denominavam-se

lócus stantium, os jogadores que ficavam na linha média do campo eram

os medicurrens, já os atacantes eram chamados de pilaes praetorvolantis

et superictae.

Zainaghi24, relata sobre a evolução do Haspartum:

Este jogo praticado na Grécia, foi levado pelos romanos

após a invasão daquele país (1.500 a.C.). Em Roma, esse

jogo recebeu o nome de harpastum, sendo praticado em

um campo demarcado por duas linhas, que seriam as

metas, sendo dividido ao meio. No centro colocava-se uma

bola pequena, ficando cada equipe perfilada no fundo do

campo. Após receberem autorização, os jogadores

lançavam-se em direção à bola, que podiam conduzir com

os pés ou com as mãos, sendo, portanto, tal prática

percussora do rugby.

Unzelte25, também, comenta a respeito da evolução

dessa prática desportiva:

O harpastum é descendente direto do epyskiros, praticado

por volta de 200 a.C., no Império Romano, é outro parente

distante do atual Futebol. Embora seja provável que os

romanos tenham praticado o harpastum em solo bretão,

durante expedições de Júlio César, ou mesmo nos quatro

séculos de domínio que exerceram a partir do ano 43 da

nossa era, não está provado que o soule tenha chegado à

Inglaterra sem antes haver chegado à França. O mais

antigo documento inglês a ele relacionado é o livro

Descriptio Nobilissimae Civitatis Londinae, de Wiliam

Fitztephen. Datada de 1.175, a abora cita um certo jogo

22 UNZELTE, Celso. O livro de outro do futebol. p. 13. 23 PORTO, Roberto. A história ilustrada do futebol brasileiro. p. 11. 24 ZAINAGHI, Domingos Sávio. Os atletas profissionais de futebol no direito do trabalho. p. 25. 25 UNZELTE, Celso. O livro de outro do futebol. pp. 14-16-17.

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22

disputado durante a Schrovetide (espécie de terça-feira

gorda) quando habitantes de várias cidades inglesas saíam

às ruas para chutar uma bola de couro, com o objetivo de

comemorar a expulsão dos dinamarqueses. A bola, no caso,

simbolizava a cabeça de um oficial do exército invasor, que

teria introduzido o jogo involuntariamente na Inglaterra.

O Harpastum, como o Kermari, dos japoneses e o Tsu-

chu, dos chineses era, principalmente, utilizado na preparação de militares

para possíveis combates.

1.1.5 Os Maias do México

No México, antiga Península de Yucatan, entre os anos

de 900 e 200 a.C., os povos Maias praticavam, anualmente, um jogo com

as mãos e os pés, o objetivo deste jogo era arremessar uma bola de

borracha maciça nos furos circulares localizados no meio de seis placas

de pedras quadradas. No centro das duas linhas de fundo, havia dois

templos elevados, onde o atirador-mestre da equipe perdedora era

sacrificado, seus restos mortais eram atirados a jaguares e serpentes26.

1.1.6 O Soule da França

Na França, na Idade Média, a camada mais pobre da

sociedade praticava um esporte que muito se assemelhava ao Futebol,

interpretado como Soule, versão do Harpastum, introduzido pelos

romanos, as regras do Soule variam de região para região até chegar aos

jardins aristocratas. A prática do Soule, era realizada por várias classes

sociais, desde o homem do povo até a realeza.

O Soule ou Chole francês era muito popular, dizem

alguns opositores que era um jogo menos violento que o jogo praticado

na Inglaterra.

26 UNZELTE, Celso. O livro de outro do futebol. p. 13.

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23

Aquino27 discorre a respeito do Soule: “As proibições

não se deviam exclusivamente á violência, responsável por dentes e

cabeças quebradas, ou por fraturas de pernas e braços, mas porque as

autoridades procuravam incentivar outras disputas mais úteis à

preparação militar.”.

No Soule as limitações eram destinadas apenas em

relação ao campo, que em duas extremidades opostas fincavam-se no

chão bastões paralelos; marcava ponto o ‘time’ do jogador que

arremessasse a ‘bola’ através do espaço entre os dois bastões.

A prática do Futebol é disputada até os dias de hoje

entre franceses, italianos e ingleses.

1.1.7 O Calcio Fiorentino da Itália

Em Florença, na Itália apareceu o chamado Calcio

Fiorentino.

Conforme a Encyclopaedia Britannica28:

Na Itália, no ano de 1.529, estando em Florença sitiada

pelos exércitos do príncipe de Orange, duas facções

políticas resolveram decidir uma velha rixa num jogo de

bola realizado na Piazza Santa Croce. Esse jogo entrou para

a historia, tanto que todos os anos, no dia 24 de junho, nas

festividades do dia de São João, padroeiro da cidade,

jovens fazem a reconstituição desse jogo, como

complemento das festividades.

Comenta Zainaghi29 que o Calcio “apareceu, na Itália,

uma prática esportiva denominada cálcio, mais precisamente em

27 AQUINO, Rubim Santos Leão de. Futebol uma paixão nacional. p. 15. 28 ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA. O Futebol. In: Enciclopédia Mirador Universal. São Paulo: Encyclopaedia Britannica do Brasil, 1987. p. 5030. 29 ZAINAGHI, Domingos Sávio. Os atletas profissionais de futebol no direito do trabalho. pp. 24-25.

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Florença. (...); conta-se que deste jogo participavam até papas e

monarcas.”.

Ainda, segundo escritos do mesmo doutrinador o

Calcio era disputado por 27 (vinte e sete) pessoas, onde as equipes eram

uniformizadas, uma de preto e outra de branco, o jogo durava mais ou

menos duas horas e era realizado com muita violência, tentava-se levar a

bola para os portões da cidade. Este jogo é reproduzido todo ano até

hoje no dia 24 de junho, dia da festa de São João padroeiro da cidade de

Florença30.

Cabe ressaltar, que a mais famosa partida de Cálcio

foi disputada no dia 17 de fevereiro de 1.529, em Piazza Santa Croce,

onde velhos rivais de facções políticas divergentes decidiram resolver seus

problemas e diferenças com um jogo de bola31.

A prática do Cálcio, segundo Unzelte32, espalhou-se

por outras regiões da Itália. A festa anual do Calcio Fiorentino realizou-se,

sistematicamente, até 1.699 com o fim da dinastia Médici, em 1.700, o

mesmo não foi mais praticado até 1.930, ano em que teve início uma

encenação anual, somente interrompida pela Segunda Guerra Mundial.

Sendo, historicamente, conhecido como o único jogo

organizado de toda a Idade Média e Renascença, o Calcio Fiorentino é

até os dias atuais o nome que define o Futebol na Itália.

1.1.8 O Football dos Ingleses

Os habitantes de Chester, aos poucos, popularizaram o

Football ou o Mass Football, pois antes o Futebol tinha um dever cívico e só

era jogado em comemorações.

30 ZAINAGHI, Domingos Sávio. Os atletas profissionais de futebol no direito do trabalho. p. 15. 31 ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA. O Futebol. p. 5049.

32 UNZELTE, Celso. O livro de outro do futebol. p. 16.

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25

No começo o Football não era jogado, tão somente,

como uma prática esportiva de relacionamento entre os times, apesar do

seu caráter competitivo. No século XVI, a violência do jogo cresceu de

forma que o Futebol era tido como um jogo de bárbaros onde se

estimulava a inimizade, o ódio e rancor; onde várias pessoas que

praticavam o Futebol dos ingleses saiam dos jogos com fraturas, dentes

quebrados e roupas rasgadas. Há relatos de acidentes fatais durante as

partidas e não eram raros os assassinatos resultantes da rivalidade do jogo.

Relata Unzelte33 que em Machester, uma bola quebrou

a vidraça de uma biblioteca, que foi invadida e destruída por uma

multidão. Assim era o Futebol em massa ou Mass Football.

Unzelte34, também, explicita bem a respeito do Futebol

em massa, ou melhor dizendo do Mass Football:

Durante muito tempo, o futebol teve um sentido

estritamente cívico para o povôo inglês, sendo disputado

apenas nesses festejos anuais. Pouco a pouco, porém

tornou-se popular entre os habitantes de Chester e,

principalmente, entre os de Kingston. No século XVI, a

violência do jogo cresceu de tal forma que levou o escritor

Philip Stubbes a referir-se ao futebol como “um jogo

bárbaro, que só estimula a cólera, a inimizade, o ódio, a

malícia, o rancor”. Não era para menos: o saldo da

brincadeira invariavelmente eram pernas quebradas,

dentes arrancados, roupas rasgadas, vidraças quebradas

partidas. Houve notícias de acidentes fatais, como o de um

jogador que se afogou ao saltar de uma ponte para

apanhar a bola. E não eram raros os assassinatos resultantes

da rivalidade no jogo. Em 1.608, em Manchester, uma bola

estilhaçou a vidraça de uma biblioteca, que foi invadida e

destruída por uma multidão. Assim era o mass football, ou

“Futebol em massa”. Durante o século XVIII, cerca de mil

pessoas, 500 de cada lado, percorreram quilômetros pelas

33 UNZELTE, Celso. O livro de outro do futebol. pp. 17-18.

34 UNZELTE, Celso. O livro de outro do futebol. pp. 17-18.

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ruas da cidade Inglesa de Chester, disputando uma bola. O

objetivo era leva-la até um dos portões da cidade – no caso

os gols.

A violência em campo não durou, sendo proibida

qualquer forma de agressão no Futebol. A partir daí o jogo começou a ser

mais organizado, com regras e punições para os infratores.

Com a criação de regras referentes ao jogo de Futebol

os jovens da Inglaterra começaram a deixar de praticar esportes antes

muito praticados como a caça, tiro, esgrima e equitação, para se

dedicarem a prática do futebol. Com essa organização o valor educativo

desse esporte começa a aparecer, sendo, então, limitados o número de

participantes e/ou jogadores e surge a figura do árbitro35, onde anuncia

suas decisões através de gritos.

O mais difícil foi à padronização do esporte, porque

em alguns colégios o Futebol era jogado apenas com os pés, enquanto

que em outros era praticado tanto com os pés quanto com as mãos,

assim, foi unificado dois esportes o Football e o Rugby, sendo criado o

chamado Football Rugby, que era o esporte praticado nas escolas

Inglesas.

1.1.9 Outros Registros Relacionados à Origem do Futebol

Alguns historiadores acreditam que os sul-americanos

tenham sido os primeiros a fabricarem bolas de resina para recreação.

Muitos dos jogos americanos eram praticados com as mãos e, talvez, em

virtude disso, não estejam, diretamente, ligados aos jogos que deram

origem ao Futebol36.

35 A figura do arbitro será estuda no próximo capítulo, no qual será feita uma abordagem sobre a organização, a jurisdição e a competência da Justiça Desportiva. 36 Conforme informações constantes na Encyclopédia Britânica. pp. 5.058-5060.

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27

Na Patagônia, os índios, praticavam o Tchoekah, jogo

parecido com o hóquei, no qual era utilizado um pedaço de madeira

para impulsionar a bola37.

No Oriente, mais precisamente no Egito e na Babilônia,

há mais de 30 (trinta) séculos, atividades antecedentes ao Futebol já eram

praticadas. Esses jogos teriam um caráter religioso, onde a bola

simbolizava o sol para os egípcios e a lua para os babilônios. A bola era

feita com uma bexiga de boi, inflada com ar38.

Segundo Zainaghi39, até mesmo no Egito, através de

pinturas encontradas em túmulos de faraós, têm-se indícios e/ou

indicações de pessoas praticando um jogo parecido com o Futebol.

1.2 A EVOLUÇÃO DO FUTEBOL

Durante o século XVI, os jogos com bola, ou seja, o

Futebol, sofrera diversas transformações. Oficialmente proibido na Grã-

Bretanha, devido à violência que era empregada nesse jogo na época,

mas o, então, Futebol foi crescendo, ganhando espaço e essa proibição

foi aos poucos desaparecendo.

Segundo Zanaighi40, no ano de 1863, os defensores da

prática do esporte, somente, com os pés, fundaram o Football Association,

uniformizando as regras.

Assim sendo, o Futebol, se difundiu, rapidamente, por

todo o Reino Unido, devido ao grande aceitamento que tinha entre os

estudantes, operários e os comerciantes; alcançando sua prática a

Europa Continental e, posteriormente, a América.

37 Conforme informações constantes na Encyclopédia Britânica. pp. 5.058-5060. 38 Conforme informações constantes na Encyclopédia Britânica. pp. 5.058-5060. 39 ZAINAGHI, Domingos Sávio. Os atletas profissionais de futebol no direito do trabalho. p. 27.

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Os jogos, antes violentos e proibidos, passaram a

ganhar um novo caráter e a integrar a educação física em muitas escolas,

sendo assim, na proporção em que ia deixando de ser um jogo violento, o

Futebol passou a ser um jogo muito apreciado por seus praticantes. Essa

grande mudança fez-se presente no início do século XVIII.

Esse século foi marcado por novas aberturas à prática

do Futebol; chegando o Futebol ao século XIX mais organizado, com a

adesão de muitos universitários, sendo aprovado pelos reis, admirado

pelos cronistas da época e engrandecido pela paixão popular, como nos

dias atuais.

Segundo constata-se na Encyclopedia Britannica41, os

responsáveis pela difusão do Futebol foram os ingleses, os quais levaram

essa prática desportiva para diversos países como a Argentina, Alemanha,

Dinamarca, França, Paises Baixos, Portugal, Suíça, entre outros tantos.

Consoante relato de Duarte42, o jogo começou a ser

organizado há 150 anos. Surgem os que seriam, depois, os árbitros. As

regras começam a por ordem. Jovens das famílias ricas da Inglaterra

começam a deixar de lado outros esportes para praticar o Futebol. No

século XIX, o Futebol está mais organizado, surgindo em 1868 a figura do

árbitro, o qual anunciava as decisões aos gritos.

Ainda, segundo o mesmo doutrinador o Futebol como

é hoje chegou à França em 1872, à Suíça em 1879, à Bélgica em 1880, à

Alemanha, Dinamarca e Holanda em 1889, à Itália em 1893, aos países da

Europa Central em 1900.

40 ZAINAGHI, Domingos Sávio. Os atletas profissionais de futebol no direito do trabalho. p. 27. 41 p. 5.059. 42 DUARTE, Orlando. Futebol histórias e regras. pp. 03-05.

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Mas, somente no século XX é que o Futebol começa a

se organizar, com a criação da Federação Internacional de Futebol

Association – FIFA43, em 21 de maio de 1904, os paises fundadores foram a

França, a Bélgica, a Espanha, a Suíça, a Dinamarca, a Suécia e os Países

Baixos; incorporando-se a não ano seguinte a FIFA, a Alemanha, a Áustria,

a Itália, a Hungria e a Inglaterra44.

Sobre a Fifa, Zainaghi45, relata que em 1904 foi fundada

a entidade, motivada pelo fato de ser o Futebol uma paixão que se

disseminava pelo mundo, numa progressão impressionante, sendo em

1920, incluído nos jogos olímpicos e, em 1930, é disputada a primeira Copa

do Mundo de Futebol.

Para Duarte46, a primeira Guerra Mundial foi o grande

obstáculo para o Futebol entre 1914 e 1919. Na década de 20 surgiu,

novamente, a idéia de mundial do Futebol. Com a eleição de Jules Rimet,

para a presidência da FIFA, teve uma nova fase para o Futebol. O francês

foi o realizador de um fato notável, o primeiro mundial do Futebol.

1.3 O FUTEBOL NA AMÉRICA PRÉ-COLOMBIANA

Relate-se, por muitos historiadores e doutrinadores, que

a prática do jogo da bola, o Futebol, era conhecida pelas populações

indígenas do continente americano. No Chile, onde viviam os Araucanos,

era chamado de pirimatum; na Patagônia os tethelches denominavam o

jofo de bola de tchoekan; e, nas populações aborígines da América do

Sul, também jogava-se bola.

43 Federação Internacional de Futebol Association, de agora em diante denomina-se FIFA. 44 Conforme informações constantes na Encyclopédia Britânica. p. 5.059.

45 ZAINAGHI, Domingos Sávio. Os atletas profissionais de futebol no direito do trabalho. p. 26. 46 DUARTE, Orlando. Futebol histórias e regras. p. 584.

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Na América Central, mas precisamente em Cópan,

disputava-se o pok-tai-pok; sendo que o campo tinha 490 pés de

comprimento e 100 pés de largura. Aqui, pela primeira vez na evolução

do Futebol, o jogo era realizado com bolas de borracha maciça47.

Campos48 destaca que “o jogo da bola possuía

significação cósmica, o campo simbolizava o céu noturno, a partida

representava o antagonismo entre a luz e a treva, a vitória ou derrota do

sol. Os jogadores eram dez ou mais, de cada lado.”.

E, para os Astecas, no México, a bola, era chamada

de ollin e simbolizava o sol; os campos onde eram realizadas as partidas

eram especiais e representavam firmamento.

1.4 A INTRODUÇÃO DO FUTEBOL NO BRASIL

Apesar de não ser predominante para os historiadores

do esporte, o Futebol surgiu de forma rudimentar no Brasil em 1878, através

dos tripulantes de um navio denominado Criméia que, ao

desembarcarem no Rio de Janeiro, supostamente teriam disputado uma

partida de Futebol na rua Paissandu, hoje conhecido logradouro do bairro

do Flamengo49.

Destaca Duarte50:

No Brasil, o futebol chegou por intermédio de marinheiros

ingleses, holandeses e franceses, na segunda metade do

século passado. Eles jogavam em nossas praias, na parada

dos navios.Iam embora e levaram as bolas. Para os nossos

brasileiros só restava admirar o esporte, sem saber que esse

seria o nosso esporte nacional, que anos depois seríamos

campeões do mundo. Fala-se também que funcionários da 47 AQUINO, Rubim Santos Leão de. Futebol uma paixão nacional. p. 13.

48 CAMPOS, Paulo Mendes. O gol é necessário. p. 77. 49 ZAINAGHI, Domingos Sávio. Os atletas profissionais de futebol no direito do trabalho. p. 28.

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São Paulo Railway, de Jundiaí, teriam aprendido a jogar em

1882. Também se comenta que os funcionários da

Leopoldina Railway, do Rio, no mesmo ano, também teriam

experimentado o futebol. Comenta-se o sensacional que foi

o jogo de marinheiros ingleses, em 1874, nas praias do Rio,

exatamente onde é o Hotel Glória.

Apesar do acima relatado, as dúvidas não pairam

sobre a verdadeira introdução do Futebol no País feita através de Charles

Miller, que, em 1894, o qual trouxe da Inglaterra alguns materiais do

esporte por lá já praticado, tais como bolas e uniformes. Sendo

considerado o patriarca do Futebol brasileiro.

Nesse sentido Duarte51 escreve:

O que vale é que, 1894, Charles Miller, nascido no Brás, em

1874, e que estudava na Inglaterra, trouxe de lá duas bolas

que permitiriam aos brasileiros praticar o futebol

regularmente. Charles Miller estudava na Banister Court

School, de Southampton, jogando futebol e gostando da

modalidade. Chegou a jogar na Seleção de Hampshire,

numa partida contra os amadores do Corinthians, de

Londres, efetuou uma excursão ao Brasil, em 1910,

promoção do Fluminense.

E, mais:

Charles Miller não trouxe só as duas bolas. Trouxe também

calções, chuteiras, camisas, bomba de encher a bola e a

agulha. Foi o início dessa loucura que é o futebol entre nós.

Charles Miller faleceu em 1953, em São Paulo, na cidade

onde nasceu. Foi um ótimo jogador, artilheiro, estimulador

da prática do futebol, criador da jogada Charles, que

depois virou chaleira. Miller também foi um bom árbitro. Era

um apaixonado torcedor do futebol, e responsável por tudo

50 Duarte, Orlando. Futebol histórias e regras. p. 05. 51 DUARTE, Orlando. Futebol histórias e regras. p. 05.

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o que aconteceu depois. No início tudo era importado da

Inglaterra, inclusive os ternos usados e livros de regras.”.52

Além dessas façanhas, Charles Miller reuniu, no Brasil,

um grande grupo de ingleses, dividindo-os em dois times, “The Team Gaz”

e “The São Paulo Railway”, realizando uma partida de Futebol no campo

da Companhia Viação Paulista, em 15 de abril de 189553.

Duarte é contrariado por Zainaghi54 no que diz respeito

ao ano de 1884, onde este cita como sendo correto do ano de 1894, o

ano da introdução do Futebol no Brasil.

Mas, de forma incontestável, a introdução deste esporte no

Brasil dá-se em 1884 através de Charles Miller, que,

retornando da Inglaterra, trouxe duas bolas. Charles Miller

fez seus estudos na Inglaterra, onde jogou e aprendeu

Futebol na Universidade. No Brasil reuniu um grupo de

ingleses, promovendo uma partida em 15 de abril de 1895,

no campo da Companhia Viação Paulista.

Ainda, para Unzelte55:

Há indícios que o futebol tenha sido visto na Argentina e no

Brasil, pela primeira vez, por volta de 1864, em jogos

disputados por marinheiros franceses, holandeses e

particularmente ingleses, dos barcos mercantes e de guerra

ancorados no litoral do Cone Sul. Duas dessas peladas

iniciais entraram para a história do futebol brasileiro: uma

em1874, disputada nas praias cariocas, onde hoje está o

Hotel Glória, e a outra em 1878, quando tripulantes do navio

Criméia enfrentavam-se diante da residência da Princesa

Isabel.

52 DUARTE, Orlando. Todos os esportes do mundo. p. 88. 53 ZAINAGHI, Domingos Sávio. Os atletas profissionais de futebol no direito do trabalho. p. 28. 54 ZAINAGHI, Domingos Sávio. Os atletas profissionais de futebol no direito do trabalho. p. 28. 55 UNZELTE, Celso. O livro de outro do futebol. pp. 20-21.

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33

No entanto, há evidencia de que o Futebol já fora

conhecido pelos brasileiros, entre os anos de 1872 e 1873, tendo relatos de

que um dos padres do Colégio São José Luís, de Itu, em São Paulo,

organizou partidas entre seus alunos.

Por isso tem-se que, inicialmente, o Futebol

desenvolveu-se mais em São Paulo; porém com uma bola trazida da

Suíça, em 1896, Oscar Cox promove o incentivo à prática do Futebol no rio

de Janeiro. Onde, mais tarde cada um dos estados do Brasil teria o seu

Charles Miller56.

Depois de alguns anos da implantação do Futebol no

Brasil, começam a surgir clubes de Futebol em todo o País.

Frisa Godoy57, que:

Já no ano de 1899, existiam em São Paulo clubes dedicados

à prática do futebol, tais como o São Paulo Athletic e o A.

Mackenzi. Um ano depois, no Rio de Janeiro também

existiam clubes dedicados a esta prática, tais como o Rio

Cricket & Athletic Association, o The Paissandu Cricket

association e o Fluminense Tecna. Neste mesmo período

surge no Rio Grande do Sul, o Sport Club Rio Grande.

Ressalta-se que no início o Futebol só era praticado

pela classe alta da sociedade, sendo vetada a participação de operários

e pessoas das classes menos privilegiadas.

Ainda no início do século XX, começa a formação da

ligas de Futebol; sendo a primeira fundada em 1901, a Liga Paulista de

Futebol, em 1906, surge no Rio de Janeiro a Associação Metropolitana de

Futebol, sendo que em 1923é criada a Liga Carioca de Futebol e, em 1937

a Liga de Futebol do Rio de Janeiro.

56 UNZELTE, Celso. O livro de outro do futebol. p. 22.

57 GODOY, Wanderley Júnior. O contrato de trabalho do atleta de futebol profissional. Dissertação de Mestrado. p. 12.

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Porém, somente a partir de 1914 é que nasce a

primeira federação do Futebol a nível nacional.

Assim descreve Zainaghi58:

Em 1914 surge a “Federação Brasileira de Sports”, em 1.916 a

Confederação Brasileira de Desportos (CBD), esta

confederação dedicou-se aos esportes amadores,

obrigando os adeptos do profissionalismo a fundarem a

Federação Brasileira de Futebol em 1.923. Em 1.937, a FCF

uniu-se a CBD, iniciando a fase profissional do Futebol.

Em 1917, o Futebol brasileiro já havia sido difundido em

todo o território nacional, tornando-se uma verdadeira paixão nacional,

em todas as camadas sociais. Com o início deste profissionalismo, grandes

estádios começaram a ser construídos, o estádio de São Januário,

inaugurado em 1927, o Pacaembu, inaugurado em 1940.

Na cidade do rio de Janeiro, o Maracanã, teve sua

pedra fundamental lançada em 20 de janeiro de 1948, sendo construído

exclusivamente para a copa do mundo de 1950. Sua inauguração

ocorreu em 16 de junho de 195059.

Finalmente, os jogadores podiam dedicar-se somente

ao Futebol, sem precisar de outro trabalho para o seu sustento, os

ingressos passam a serem cobrados e os locais das partidas ficam sempre

lotados.

Porém ainda, muito se discute, sobre o surgimento do

Futebol no Brasil; para muitos historiadores e pesquisadores o Futebol foi

introduzido por Charles Miller, porém os mesmos têm dúvidas quanto à

verdadeira origem do Futebol brasileiro. Ainda, os pesquisadores

encontram indícios de que o Futebol teve início muitos séculos a.C..

58 ZAINAGHI, Domingos Sávio. Os atletas profissionais de futebol no direito do trabalho. p. 29. 59 UNZELTE, Celso. O livro de outro do futebol. p. 25.

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35

Ocorre, todavia, que não existem dados comprobatórios exatos; para

alguns historiadores, como Zainaghi, o Futebol surgiu em 2.500 a.C., já para

outros, como Duarte, surgiu em 2.600 a.C..

No segundo capítulo discorrer-se-á a respeito da

evolução histórica da Justiça Desportiva, mas precisamente da evolução

histórica da legislação da Justiça Desportiva.

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CAPÍTULO 2

LEGISLAÇÃO DESPORTIVA NO BRASIL

EVOLUÇÃO HISTÓRICA

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS

Quando se fala em aspectos históricos da legislação

desportiva no Brasil, estamos falando do conjunto de normas

constitucionais, legais e infralegais aplicáveis no desporto, onde

encontram-se atividades individuais e coletivas, as quais encontram-se em

três períodos a saber: o primeiro período ocorre entre 1932 à 1945, a

segunda fase, ou segundo período, ocorre entre 1945 à 1987 e, o terceiro,

e último, período a partir da promulgação da Constituição da República

Federativa do Brasil de 198860.

2.2 LEGISLAÇÃO DESPORTIVA NO PERÍODO DE 1932 A 1945

A crise do capitalismo americano em 1929 trouxe

como conseqüência o fim da República Velha, causando, em virtude

disso, abalo na economia mono exportadora brasileira. Já, em 1930, após

mais de uma década de enfrentamentos armados, as várias forças

econômicas e políticas emergentes no Brasil, em uma ação conjunta,

fizeram com que a aristocracia armada fosse deposta61.

Em virtude de uma nova burguesia que acaba se

aliando a outros setores da sociedade brasileira, boa parte do lucro com

60 KRIEGER, Marcílio César Ramos. Lei Pelé e legislação desportiva brasileira anotadas. p. 03 61 KRIEGER, Marcílio César Ramos. Lei Pelé e legislação desportiva brasileira anotadas. p. 03.

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as exportações de café, durante um bom tempo, foram investidos em

empreendimentos industriais, aliando-se essa burguesia a outros setores da

sociedade brasileira, formando-se em outubro de 1930, uma Aliança

Liberal que descontentes com o governo, promovem uma marcha militar

iniciada, no Rio Grande do Sul, a qual derruba o governo do, então,

Presidente Washington Luiz, que representava a decadente união café

com leite62.

Diferentes correntes revolucionárias, como amplos

setores do Exército, especialmente tenentes e capitães ávidos por galgar

novos postos na hierarquia militar e, consequentemente, no próprio seio

do poder, reuniram-se, em razão de promessas, como o voto secreto e

universal e o direito de voto para mulher, a liberdade de associação e o

limite da jornada de trabalho. Compondo o núcleo central da pequena

burguesia urbana, havia a elite formada por profissionais liberais como

advogados, médicos, engenheiros, professores e pequenos e médios

comerciantes, os quais aspiravam por substituir os representantes do

coronelismo e do latifúndio no aparato estatal63.

O número de trabalhadores aumentou,

significativamente, com a crescente urbanização no país, que levava ao

aumento dos serviços postos à disposição da população. A

industrialização teve grande importância neste contexto, uma vez que se

espalhava de maneira acelerada, estendendo sua composição da classe

operária nos grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro, locais

onde eram bem vividos os exemplos de combatividade e organização

62 KRIEGER, Marcílio César Ramos. Lei Pelé e legislação desportiva brasileira anotadas. p. 03. 63 KRIEGER, Marcílio César Ramos. Lei Pelé e legislação desportiva brasileira anotadas. pp. 03-04.

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dos imigrantes, dos operários, entre eles destacavam-se os italianos e os

espanhóis64.

Ressalta Krieger65 que, a vitória militar comandada por

Getúlio Vergas, deu-se numa época de intensas transformações em todo

o contexto mundial, com o imperialismo britânico e o imperialismo francês

perdendo, consequentemente, espaços físicos e, portanto mercados

consumidores de seus produtos e/ou fornecedores de matéria-prima para

suas indústrias. Nessa época o nacional-socialismo alemão aliava-se ao

fascino italiano e, mais adiante, com o imperialismo japonês, que

dominava o leste asiático.

Na União Soviética, nessa mesma época, na ambição

de dominar sozinho as duas máquinas burocráticas fundamentais, a do

Partido e a do Estado, Stalin comandava, pessoalmente, o assassinato de

milhares dos melhores quadros do Partido Comunista. Ainda, havia o

imperialismo americano que saído fortalecido da Guerra Mundial de 1914-

1918, ensaiavam os primeiros passos na montagem do que veio a ser, em

poucos anos mais, o formidável complexo industrial-militar, que dominaria

as relações comerciais e políticas de todo o mundo nas próximas

décadas66.

Porém, em 1937, com o rompimento as ligações que

levavam a Aliança ao poder, surgiu o Estado Novo, imposto por Getúlio

Vargas, Estado este que tinha como ideologia o fascismo, centralizando a

administração e utilizado-se dos poderes Legislativo e Judiciário como

64 KRIEGER, Marcílio César Ramos. Lei Pelé e legislação desportiva brasileira anotadas. p. 04. 65 KRIEGER, Marcílio César Ramos. Lei Pelé e legislação desportiva brasileira anotadas. p. 04. 66 KRIEGER, Marcílio César Ramos. Lei Pelé e legislação desportiva brasileira anotadas. p. 04.

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mero coadjuvantes do ditador na tarefa da rápida modernização do

Estado Brasileiro67.

E, finaliza Krieger, aqui surge a educação física, na

perspectiva do Estado Novo, ela tomava lugar de destaque, pelo que

significava para o “desenvolvimento da raça”. O instrumento legal

apropriado àquela ideologia eram os decretos-lei, por prescindir o

Parlamento68.

Quanto ao desporto, durante o período acima

analisado, surgiram os mais importantes decretos-lei, quais sejam: Decreto-

lei 526/38, Decreto-lei 1.056/39, Decreto-lei 3.199/41, Decreto-lei 6.517/41,

Decreto-lei 5.342/43, Decreto-lei 5.343/43 e Decreto-lei 7.674/45,

analisaremos agora separadamente cada um deles.

- Decreto-lei 526/38: instituiu o Conselho Federal de

Desportos – CFD69, que é o órgão de supervisão das

atividades relacionadas com o desenvolvimento cultural

do país, aí incluída a educação física, que abrangia os

esportes em geral;

- Decreto-lei1.056/39: instituiu a Comissão Nacional de

Desportos – CND70, a qual tinha o dever de realizar

minucioso estudo do problema desportivo nacional e

apresentar o plano geral de sua regulamentação;

- Decreto-lei 3.199/41: estabeleceu as bases da

organização dos desportos em todo o território nacional

e o CFD, de âmbito nacional e os Conselhos Regionais

de Desporto – CRDs71, de abrangência estadual. Este

decreto implantou, também, a unicidade por

modalidade desportiva, que seria a existência de uma

67 KRIEGER, Marcílio César Ramos. Lei Pelé e legislação desportiva brasileira anotadas. p. 04. 68 KRIEGER, Marcílio César Ramos. Lei Pelé e legislação desportiva brasileira anotadas. pp. 04-05. 69 Conselho Nacional de Desportos, de agora em diante denomina-se CND 70 Comissão Nacional de Desportos, de agora em diante denomina-se CND. 71 Conselhos Regionais de Desportos, de agora em diante denomina-se CRDs.

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única entidade nacional, legalmente, reconhecida, à

qual deveriam estar, obrigatoriamente, filiadas à

entidades regionais, ou por Estado ou por Território.

A Lei 8.672, de julho de 199372, a qual instituiu normas

gerais do desporto, extinguiu o CND e as CRDs. No entanto, o CND,

apenas no âmbito legislativo, no período de 14 de abril de 1914 à 06 de

julho de 1993, produziu 435 (quatrocentos e trinta e cinco) deliberaçoes e

resoluçoes, estabelecendo, determinado, instituindo, autorizando, fixando,

revogando, dispondo, retificando, concedendo, reconhecendo e

baixando instruções sobre esportes e o desporto em geral73.

- Decreto-lei 3.617/41: criou a Confederação Brasileira de

Desportos Universitários74, à qual seriam filiadas as

Federações Atléticas de cada universidade;

- Decreto-lei 5.342/43: instituiu a competência do CND

sobre disciplina das atividades desportivas, sendo que as

entidades nacionais de administração de cada

modalidade passaram a ter competência para aplicar

penalidades às associações, aos atletas aos auxiliares

técnicos e aos árbitros;

- Decreto-lei 5.343/43: determinou normas relativas à

direção da educação física nos estabelecimentos de

segundo grau;

- Decreto-lei 7.674/45: estabeleceu a existência, em cada

entidade ou associação de prática desportiva, de um

órgão fiscalizador de gestão financeira e criou

empréstimos da Caixa Econômica Federal para as

associações.

Estes foram os Decretos-lei instituídos no período de

1932à 1946, referentes à Justiça Desportiva, a prática do esporte no Brasil.

72 Revogada pela Lei 9.615, de 24 de março de 1998. 73 KRIEGER. Marcílio César Ramos. Lei Pelé e legislação desportiva brasileira anotadas. p. 06. 74 Confederação Brasileira de Desportos Universitários, de agora em diante denomina-se CBDU.

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2.3 LEGISLAÇÃO DESPORTIVA NO PERÍODO DE 1495 À 1987

Alemanha, Itália e Japão, forças eixo que foram

derrotadas pelos aliados Estados Unidos, Inglaterra, França e URSS, fez com

que o mundo a partir daí fosse dividido. A área norte-americana passou a

executar influência política, econômica e militar sob a América Latina,

razão pela qual os governos da América sofreram modificações, tendo

que se adaptarem aos novos tempos75.

Assim sendo, houve uma movimentação das forças

sociais internas, como o operariado, a pequena burguesia urbana e a

burguesia industrial, apoiadas pela nova ordem mundial; tal

movimentação influenciou para a deposição de Getúlio Vargas em

194576.

Ainda, assevera Krieger77, que no lapso de tempo que

vai da democratização do país até as vésperas da promulgação da

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, passando pelo

período da ditadura militar entre 1964 à 1985, a profusão de normas legais

e infralegais sobre desporto manteve uma visão autoritária quanto à

intromissão do Estado nos diversos setores da atividade humana.

Nesse período, também, foram atribuídas, pela Lei

6.251/75, ao CND as funções legislativas, executivas e judicantes relativas

ao desporto, reunindo em um só órgão todas as atribuições dos três

poderes, quais sejam, Executivo, Legislativo e Judiciário, concepção típica

do autoritarismo politico-militar, então vigente, e que tantas marcas deixou

75 KRIEGER. Marcílio César Ramos. Lei Pelé e legislação desportiva brasileira anotadas. p. 07. 76 KRIEGER. Marcílio César Ramos. Lei Pelé e legislação desportiva brasileira anotadas. p. 07. 77 KRIEGER. Marcílio César Ramos. Lei Pelé e legislação desportiva brasileira anotadas. p. 07.

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na estrutura jurídica do País, quanto na concepção de mundo de muitas

pessoas78.

Destacaremos, agora, as principais legislações,

referente ao desporto nessa época, sendo elas: os Decretos 47.978/60,

51.008/61 e 53.820/64, a Emenda Constitucional ao artigo 8º e as Leis

5.939/73 e 6.251/75.

- Decreto 47.978/60: regulamentou normas para o registro,

no CND, de Técnico Desportivo, diplomado por Escola

de Educação física;

- Decreto 51.008/61: regulamentou a profissão de atleta

de futebol, dispondo sua participação em competições;

- Decreto 53.820/64: também regulamentou a profissão de

atleta do futebol;

- Emenda Constitucional de 1969 ao artigo 8º, inciso XVII,

alínea q, da Constituição da República Federativa do

Brasil de 1967: estabeleceu a competência da União

para legislar sobre normas gerais do desporto;

- Lei 5.939/73: estabelece benefícios da seguridade social

aos atletas profissionais de futebol;

- Lei 6.251/75: cria normas gerais sobre o desporto, a

supervisão normativa e disciplinar do CND e sobre toda

a prática desportiva, bem como instituiu formas de

organização dos desportos.

As formas de organização das quais tratam a Lei

6.251/75, segundo Krieger79, são: comunitária (amadorista ou profissional),

estudantil (escolar e universitária), militar e classista.

a) comunitária – amadorista ou profissional –,

compreendendo as atividades de associações, ligas,

78 KRIEGER. Marcílio César Ramos. Lei Pelé e legislação desportiva brasileira anotadas. p. 07.

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federações e confederações, e do Comitê Olímpico

brasileiro;

b) estudantil, subdividida em duas formas: escolar,

supervisionada pela Secretaria de Educação Física e

Desportos do MEC, para as atividades desportivas

praticadas nas áreas de 1º e 2º graus; e, universitária, para o

desporto praticado nas unidades de ensino de 3º grau,

dirigidas nacionalmente pela Confederação Brasileira de

Desportos Universitários; nos estados, pelas associações

atléticas acadêmicos no âmbito das faculdades;

c) militar, compreendendo o desporto praticado nas

unidades do Exército, Marinha, Aeronáutica, Polícias

Militares e Corpos de Bombeiros estaduais, dirigidas e

coordenadas pelos respectivos órgãos de cada Ministério

Militar e da Inspetoria Geral de Polícias Militares;

d) classista, abrangendo associações desportivas

especialmente criadas no âmbito de cada empresa, as

quais eram coordenadas através dos centros regionais e

centros brasileiros de desportos classistas.

A Lei 6.251, em seu artigo 42, inciso III, instituiu a Justiça

Desportiva e, a Lei 6.354/76, definiu parâmetros para as relações de

trabalho do atleta profissional do futebol, vejamos:

a) conceitos de empregador e empregado, para efeitos fo

futebol, em seus artigos 1º e 2º;

b) o conteúdo do contrato de trabalho entre atleta e

associação (artigo 3º);

c) a possibilidade de associação aplicar penalidade, sejam

elas pecuniárias ou não, ao atleta (artigo 15);

d) as condições para rescisão contratual por justa causa

(artigo 20);

79 KRIEGER. Marcílio César Ramos. Lei Pelé e legislação desportiva brasileira anotadas. p. 08.

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e) a possibilidade de o atleta negar-se a competir, estando

com seus salários atrasados;

f) a suspensão automática da associação que estivesse

com o pagamento de salários de atletas em atraso, por

período igual ou superior a três meses (artigo 30);

g) o limite de idade para a celebração do contrato de

trabalho do atleta profissional, nos termos do artigo 5º;

h) a jornada de trabalho diário e semanal (artigo 6º);

i) o período de férias anuais (artigo 25);

j) as condições para cessão e/ou transferência do atleta e

os seus direitos quando de sua transferência definitiva

(artigos 9º à 14);

k) o passe como sendo o vínculo desportivo ligando o

atleta à associação mesmo após o termino do contrato

laboral entre ambos (artigo 11).

E mais, a Lei 6.354/76, em seu artigo 29, estabelecia a

competência da justiça Desportiva para apreciar litígios trabalhistas entre

atleta profissional e associação.

Art. 29. Somente serão admitidas reclamações à Justiça do

Trabalho depois de esgotadas as instâncias da Justiça

Desportiva, a que se refere o item II do artigo 42 da Lei nº

6.251 de 08 de outubro de 1975, que proferirá decisão final

no prazo máximo de 60 (sessenta) dia contados da

instauração do processo.

Parágrafo único. O ajuizamento da reclamação trabalhista,

após o prazo a que se refere este artigo, tornará preclusa a

instância disciplinar desportiva, no que se refere ao litígio

trabalhista.

Ressalta-se que o artigo 50, da Lei 9.615/98, a qual

instituiu normas gerais sobre o desporto, revogou a atribuição acima do

artigo 29, da Lei 6.354/76.

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2.4 PERÍODO POSTERIOR A REPÚBLICA FEDERETIVA DE 1988

Com a promulgação da Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988, o desporto, a Justiça Desportiva, o futebol,

passaram a ser tratados de maneira bastante abrangente, foram criados

diversos dispositivos constitucionais, artigo 5º e incisos XVII, XVIII, XXVIII, a,

artigo 24, inciso IX, artigo 217, incisos I, II, III, IV, parágrafos 1º, 2º e 3º,

iniciando-se, dessa forma, um novo ciclo legislativo ao desporto.

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de

qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e

estrangeiros residentes no País a invioabilidade do direito à

vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade, nos termos seguintes:

(...);

XVII – é plena a liberdade de associação para fins lícitos,

vedada a de qualquer caráter paramilitar;

XVIII – criação de associações e, na forma da lei, a de

cooperativas independem de autorização, sendo vedada a

interferência estatal em seu funcionamento;

(...).

A alínea a do inciso acima, assegura proteção à

reprodução da imagem e voz humanas nas atividades desportivas.

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal

legislar concorrentemente sobre:

(...);

IX – educação, cultura, ensino e desporto;

(...).

Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas

formais e não-formais, como direito de cada um,

observados:

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I – a autonomia das entidades desportivas dirigentes e

associações, quanto à sua organização e funcionamento;

II – a destinação de recursos para a promoção prioritária do

desporto educacional e, em casos específicos, para o

desporto de alto rendimento;

III – o tratamento diferenciado para o desporto profissional e

o não-profssional;

IV – a proteção e o incentivo às manifestações desportivas

de criação nacional;

(...).

§ 1º. O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à

disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se

as instâncias da justiça desportiva, reguladas em lei.

§ 2º. A justiça desportiva terá o prazo máximo de sessenta

dias, contados da instauração do processo, para proferir

decisão final.

§ 3º. O Poder Público incentivará o lazer, como forma de

promoção social.

Em virtude das normas constitucionais, surgidas com a

promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988,

foram criadas várias legislações esparsas, as quais fazem menção ao

desporto, entre elas destacam-se: as Leis 8.028/90, 8.672/93, 9.615/98,

9.981/00, o Decreto 2.574/98 e as Medidas Provisórias 2.193-6/01 e 39/02.

- Lei 8.028/90: dispõe sobre a reforma administrativa do

Poder Executivo, estabelecendo em seu artigo 33, que

esta lei geral sobre desportos, abordará a Justiça

Desportiva.

- Lei 8.672/93: cria normas gerais sobre desportos,

democratizando as relações existentes entre dirigentes e

atletas, criando condições para a profissionalização das

diversas modalidades de prática desportiva.

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Esta Lei, também, é conhecida como Lei Zico. Ela foi

regulamentada pelo Decreto 981/93.

- Lei 9.615/98: estabelece normas gerais sobre o

desporto e dá outras providências.

A Lei acima mencionada, também, é conhecida

como Lei Pelé. A qual revogou a Lei 8.672/93, sendo regulamentada pelo

Decreto 2.574/98. A criação dessa lei surgiu em virtude das imperfeições e

a da necessidade de atualização das normas do desporto.

- Decreto 2.574/98: estabelece normas gerais sobre o

desporto e dá outras providências.

- Lei 9.981/00: foi criado com o intuito de revisar a estrutura

da Justiça Desportiva, ajustando o texto da Lei 9.615/98,

as novas regras desportivas.

- Medida Provisória 2.193-6/01: estabelece normas gerais

sobre o desporto e dá outras providências.

- Medida Provisória 39/02: estabelece normas gerais sobre

o desporto e dá outras providências.

A Medida Provisória 39/02 alterou alguns dispositivos da

Lei 9.615/98.

Cabe ressaltar, que continuam em vigor, no todo ou

em parte, as normas legais e infralegais, as quais não foram tácita ou

expressamente revogadas.

A Lei 9.615/98, ou seja, a Lei Pelé, trouxe inovações

como o fim do passe do jogador de futebol e a obrigatoriedade da

constituição do clube empresa. Por se entender que tal obrigatoriedade

viola preceito constitucional (artigo 5º, incisos XVII e XVIII) e, uma vez que o

fim do vínculo desportivo ao término do contrato de trabalho (artigo 28,

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parágrafo 2º) dará margem a alternativas pouco ortodoxas, tais

inovações geraram muitas críticas e debates.

Sobre as modificações destaca Krieger80: “A

obrigatoriedade da constituição do clube-empresa (art. 27 e seu

parágrafo único) para as atividades relacionadas a competições de

atletas profissionais e o fim do passe do jogador de futebol.”.

Ainda para Krieger81:

Entendo que a redação do art. 27 fere a Constituição, pois

há uma clara interferência estatal no funcionamento das

associações desportivas quando a lei os obriga a assumir

essa ou aquela formalidade comercial. Nota-se que o art.

26 assegura que tanto os atletas quanto as entidades de

prática são livres para organizar a atividade profissional,

qualquer que seja sua modalidade, respeitando os termos

da lei.

Melo Filho, também, comenta a respeito do artigo 27,

da Lei 9.615/98:

De um lado, os defensores da medida argumentam que tal

princípio constitui mera adequação da Legislação à

realidade existentes na entidades praticantes de atividades

esportivas profissionais. Corrente de pensamento inversa

considera que a lei não pode obrigar a adoção de

determinada forma de organização às entidades que

participam de competições com atletas profissionais, já que

o artigo 217, inciso I da Constituição Federal assegura a

autonomia das entidades desportivas dirigentes e

associações quanto a sua organização e funcionamento.

Além disso, os incisos XVII e XVIII do art. 5º da Carta Magna

também garantem a liberdade de organização em

associações. Dessa maneira, o Estado não poderia fazer

80 KRIEGER. Marcílio César Ramos. Lei Pelé e legislação desportiva brasileira anotadas. p. 18. 81 KRIEGER. Marcílio César Ramos. Lei Pelé e legislação desportiva brasileira anotadas. p. 18.

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essa exigência, já que se trata de uma garantia

constitucional coletiva.

Em conseqüência do acima exposto por Melo Filho, foi

sancionada a Lei 9.981 de 14 de julho de 2000, com o intuito de revisar a

estrutura da Justiça Desportiva, a qual, mediante alterações, ajustou o

texto da Lei 9.615/98, alterando alguns dispositivos do artigo 27.

Art. 27. É facultado à entidade de prática desportiva

participantes de competições profissionais:

I – transformar-se em sociedade civil de fins econômicos;

II – transformar-se em sociedade comercial;

III – constituir ou contratar sociedade comercial para

administrar suas atividades profissionais.

Ocorre que o artigo 27, foi, novamente, alterado, dessa

vez pela Medida Provisória 39 de 14 de junho de 2002, voltando a ter,

praticamente, a redação original, vejamos:

Art. 27. Em face do caráter eminentemente empresarial da

gestão e exploração do desporto profissional, as entidades

de prática desportiva participantes de competições

profissionais e as ligas em que se organizarem que não

contratem sociedade comercial para administrar suas

atividades profissionais equiparam-se, para todos os fins de

direito, às sociedades de fato ou irregulares, na forma da lei

comercial.

Essas foram as legislações que mereceram destaque,

referente a Justiça Desportiva, no período posterior a Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988.

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2.5 CRIAÇÃO DO CÓDIGO BRASILEIRO DISCIPLINAR DE FUTEBOL

O esporte é um meio de unir as pessoas, sendo tão

relevante par ao bem-estar social, criou-se o Código Brasileiro Disciplinar

de Futebol – CBDF82.

“Não é sem razão que o desporto é o cartão-postal de

um país, parceiro da educação, da cultura e da cidadania.”. Esse é o

comentário de Melo Filho83 a respeito da importância do desporto.

Ainda, para o mesmo doutrinador84:

(...) numa sociedade globalizada, o desporto, tais como

direitos humanos, ecologia, comunicação, espaço aéreo,

etc, são matérias que refogem a uma normatização

exclusivamente nacional. Vale dizer, o desporto ignora

fronteiras, pois suas regras e estruturas são universais, o que

determinou a “mondialization du sport”, por sinal, na “Era

Del Deporte” e da “sociedade desportivizada” é evidente a

pujança e universalidade de valores que o fato desportivo

desperta, em todas a nações, independemente de

ideologias e graus de desenvolvimento sócio-econômico-

cultural.

Mas, houve a necessidade de se reunir todas as

normas legais e infralegais referente ao futebol brasileiro, a fim de

democratizar a regulamentação do desporto, criando-se, assim, o Código

Brasileiro Disciplinar do Futebol, aprovado pela Portaria do MEC 702, de 17

de dezembro de 1981, com as alterações trazidas pela Portaria do MEC

328/87. Ressalta-se que o Código Brasileiro de Justiça Desportiva

permanece em vigência, consoante artigo 91, da Lei 9.615/98, até a

aprovação dos Códigos de Justiça dos Desportos profissional e não-

profissional.

82 Código Brasileiro Disciplinar de Futebol, hoje conhecido como Código Brasileiro de Justiça Desportiva – CBJD e de agora em diante assim denominado.

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51

Leis, Decretos, Portarias, Deliberações, Resoluções estavam

esparsas em publicações diversas, nem sempre facilmente

encontráveis. Ao longo do tempo e da troca de

experiências com os Auditores do TJD/FCF, com os

Procuradores dos Tribunais Superiores, com advogados

militares neste forro especializado, me foi possível colecionar

cada um dos itens que consubstanciam do direito positivo

desportivo e anotar a relação de artigos do CBDF entre si e

com as demais disposições aplicáveis ao futebol.

Decorrente disso, com o intuito de facilitar a

compreensão e funcionamento das regras que regem o desporto, pela

busca de instrumentos jurídicos para prevenção, mediação e resolução

dos problemas e conflitos desportivos eminentes e futuros; criou-se, então,

o Código Brasileiro de Justiça Desportiva, uma vez que este deve atender

às exigências de qualidade e segurança do Sistema Brasileiro Desportivo.

E, a criação do Código Brasileiro de Justiça Desportiva,

veio para garantir a eficácia e efetividade do desporto, pois é um

instrumento hábil, capaz de influenciar mudanças sociais,

desenvolvimento educacional e estabilizar identidade cultural.

(...) ao compartir estímulos, emoções e ilusões, os povos se

unem e não se separam e, quando se joga ou se compete,

as diferenças sócio-culturais desaparecem, pois, nos

campos e quadras desportivas, custa distinguir o banqueiro

do bancário, o aristocrata do trabalhador, sendo, por isso

mesmo, ‘el deporte verdadeira manifestación del peculiar

modo de ser cultural de la sociedad de nuestro tiempo’.

(Melo Filho85) .

Constata-se, então, que surge a necessidade de

estabelecer regras gerais no sistema desportivo, em face da grande e

crescente importância do desporto para toda uma sociedade.

83 MELO FILHO, Álvaro. Novo ordenamento jurídico-deportivo. p. 15. 84 MELO FILHO, Álvaro. Novo ordenamento jurídico-deportivo. p. 17. 85 MELO FILHO, Álvaro. Direito desportivo no limiar do século XXI. p. 26.

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CAPÍTULO 3

JUSTIÇA DESPORTIVA

ORGANIZAÇÃO, JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA

3.1 ORGANIZAÇÃO

Consoante o que disciplina o artigo 217, parágrafos 1º,

2º e 3º, da Constituição da República Federativa do Brasil de 198886, e o

artigo 33, da Lei 8.028, de 12 de abril de 199087, a que se referem à Justiça

Desportiva, regula-se pelas disposições contidas no Capítulo VII, da Lei

9.615 de 24 de março de 199888, como nova redação dada pela Lei 9.981,

de 14 de julho de 200089 e pela Medida Provisória 2.193-6 de 21 de agosto

de 200190.

A constitucionalização da Justiça Desportiva, com

caráter administrativo, vem enunciada nos parágrafos do artigo acima

mencionados, da CRFB/88, veja-se:

(...).

§ 1º - O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à

disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se

as instâncias da justiça desportiva, reguladas em lei.

§ 2º - A justiça Desportiva terá o prazo de 60 (sessenta) dias,

contados da instauração do processo, para proferir decisão

final.

86 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, de agora em diante denomina-se CRFB/88. 87 Lei 8.028, de 12 de abril de 1990, de agora em diante denomina-se Lei 8.028/90. 88 Lei 9.615, de 24 de março de 1998, de agora em diante denomina-se Lei 9.615/98. 89 Lei 9.981, de 14 de julho de 2000, de agora em diante denomina-se Lei 9.981/00. 90 Medida Provisória 2.193-6, de 21 de agosto de 2001, de agora em diante denomina-se MP 2.193-6/01.

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§ 3º - O Poder Público incentivará o lazer, como forma de

promoção social.

Ainda, o referido artigo constitucional em seus incisos I,

II, II e IV, assim dispõe sobre o desporto:

Art. 217. É dever do Estado formentar práticas desportivas

formais e não-formais, com direito de cada um observados:

I – a autonomia das entidades desportivas dirigentes e

associações, quanto a sua organização e funcionamento;

II – a destinação de recursos públicos para a promoção

prioritária do desporto educacional e, em casos específicos,

para a do desporto de alto rendimento;

III – o tratamento diferenciado para o desporto profissional e

o não-profissional;

IV – a proteção e o incentivo às manifestações desportivas

de criação nacional.

(...).

Tal dispositivo diz respeito à celeridade processual,

visando o que obstáculos possam a vir impedir o normal andamento das

competições e seus calendários, os quais não podem ficar à mercê da

morosidade das decisões que são proferidas na Justiça Comum, daí o

porquê da existência da Justiça Desportiva.

E, ressalta-se que falta preparo e conhecimento por

parte da Justiça Comum para tratar de questões jurídico-desportivas, pois

tal matéria exige dos julgadores o conhecimento e a vivência de normas,

práticas e técnicas desportivas, as quais os julgadores da Justiça Estadual

não estão familiarizados.

Assim sendo, caso fosse da competência da Justiça

Comum o julgamento de conflitos desportivos, haveria o perigo de

denegação de justiça, pois há peculiaridades do Código Desportivo, as

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quais só seriam compreendidas e explicadas por quem atue e conviva

com a pratica desportiva91.

Segundo Melo Filho92:

(...) não será possível definir direito e aplicar justiça em

função de matéria desportiva fora do mundo do desporto,

sem o espírito da verdade desportiva, sem o sentimento da

razão desportiva. Aquele que decidir questão originária do

desporto, imbuído do pensamento formalizado nas leis terá

distraído a consciência da justiça.

Nota-se, então, que a CRFB/88 é taxativa ao dispor

que o Poder Judiciário só poderá conhecer das ações relativas à Justiça

Desportiva depois de esgotadas as instâncias da mesma, ou, ainda,

quando a decisão final não é proferida no prazo de 60 (sessenta) dias,

conforme parágrafo segundo do artigo 217, da CRFB/88, anteriormente

citado.

Consoante o entendimento de Carvalho93:

(...) as instâncias da justiça Desportiva ficam esgotadas, em

princípio, quando qualquer de seus órgãos profere decisões

de que não caibam recursos para outras instâncias o julga

no caso de competência originária. Sendo recorrível a

decisão não haverá esgotamento da instância se a parte

deixar de recorrer por qualquer motivo.

Quanto ao prazo de sessenta dias para a Justiça

Desportiva proferir a decisão final assim comenta Carvalho94: “(...) nesses

casos, pode a parte, abandonando o processo no estado em que se

encontrar, invocar imediatamente a proteção do Poder Judiciário.”.

91 MELO FILHO, Álvaro. Direito desportivo no limiar do século XXI. p. 170. 92 MELO FILHO, Álvaro. Direito desportivo no limiar do século XXI. p. 170. 93 CARVALHO, A. Dardeau de. Comentários à lei sobre desporto.p. 159. 94 CARVALHO, A. Dardeau de. Comentários à lei sobre desporto.p. 159.

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Sendo esgotado o prazo de 60 (sessenta) dias, tornam-

se preclusas as instâncias da Justiça Desportiva, a menos que a parte,

expressa ou tacitamente, concorde em, prosseguir com o andamento do

processo. Porém, esta concordância não impede que a parte, antes da

decisão final possa vir a valer-se das instâncias da Justiça Comum, ou seja,

do Poder Judiciário95.

Quanto a organização, ao funcionamento e as

atribuições da Justiça Desportiva, limitadas aos processos e julgamentos

das infrações disciplinares e às competições desportivas, serão definidas

em códigos desportivos, facultando-se às ligas constituir seus próprios

órgãos judicantes, na esfera desportiva, com a atuação restritiva às suas

competições96.

Referente aos Códigos Desportivos ensina Melo Filho97:

As infrações à disciplina e às competições desportivas hão

de ser ‘definidas em Códigos Desportivos’. O legislador

preferiu explicitar e ‘batizar’ os Códigos Desportivos apenas

no art. 91 desta Lei, onde estão previstos: um para o

desporto profissional e outro para o desporto não

profissional. Impede aduzir que caberá a estes Códigos

Desportivos igualmente definir ‘a organização, o

funcionamento e as atribuições da Justiça Desportiva’,

observados os parâmetros e os limites constitucionais e

legais, que tornam sua atuação adstrita ‘ao processo e

julgamento das infrações disciplinares e às competições

desportivas’.

Relativamente ao Futebol, a organização da Justiça

Desportiva, regula-se pelo Código Brasileiro de Justiça Desportiva, a que

ficam submetidas, em todo o território nacional, a Confederação Brasileira

de Futebol – CBF98 e as federações, ligas, associações desportivas e

95 Consoante Resolução 03/89. 96 Consoante artigo 50, da Lei 9.615/98, com nova redação dada pela MP 2.193-6/01. 97 MELO FILHO, Álvaro. Lei Pelé – comentários à Lei nº 9.615/98. p. 151. 98 Confederação Brasileira de Futebol, de agora em diante denomina-se CBF.

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pessoas físicas que lhes forem direta ou indiretamente subordinadas,

mediante ou não a uma remuneração99.

Krieger100 referente ao acima comenta:

(...) o futebol, como todo esporte institucionalizado, rege-se

por normas específicas que obrigam ao seu cumprimento os

que dele participam oficial ou formalmente. Entidades

dirigentes associações e as pessoas físicas que prestam

serviços como treinadores, massagistas, fisicultores, médicos

e, claro, atletas, bem como árbitros, não apenas não

podem ignorar essas normas como devem conhecê-las

perfeitamente, pois que a elas estão obrigados.

São órgãos que intregam a da Justiça Desportiva: o

Superior Tribunal de Justiça Desportiva, o qual funciona junto às entidades

nacionais de administração do desporto; os Tribunais de Justiça

Desportiva, funcionando junto às entidades regionais de administração do

desporto, das Comissões Disciplinares, com competência para processar e

julgar as questões previstas nos Códigos de Justiça Desportiva, sempre

assegurados a ampla defesa e o contraditório; e as juntas de Justiça

Desportiva (artigo 91, da Lei 9.615/98)101.

Ressalta-se, que os órgãos que compõem a justiça

Desportiva são autônomos e independentes das entidades de

administração do desporto de cada sistema.

Os princípios da ampla defeso e do contraditório, os

quais são assegurados pela Justiça Desportiva Brasileira decorrem da

exigência constitucional prevista no artigo 5º, inciso LV, da CRFB/88, in

verbis:

99 Consoante artigo 1º, do Código Brasileiro Disciplinar de Futebol. 100 KRIEGER, Marcílio César Ramos. Comentários ao código brasileiro disciplinar de futebol: CBDF. p. 5. 101 Consoante artigo 52, da Lei 9.615/98, com nova redação dada pela Lei 9.981/00.

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Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de

qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes no País a inviolabilidades do direito à

vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade, nos termos seguintes:

(...).

LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e

aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a

ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

3.2 PRESIDENTE DOS TRIBUNAIS

São atribuições dos Presidentes do Superior Tribunal de

Justiça Desportiva – STJD102 e do Tribunal de Justiça Desportiva – TJD103,

além das que lhe forem conferidas através de Lei ou por Regimento,

consoante o artigo 22 e incisos do Código Brasileiro Disciplinar do Futebol:

1. velar pelo perfeito funcionamento da Justiça Desportiva e

fazer cumprir suas decisões;

2. ordenar a restauração de processos;

3. dar imediata ciência, por escrito, das decisões e da

vagas verificada, no Tribunal, ao Presidente da entidade;

4. determinar sindicância e propor a aplicação de

penalidades de advertência e suspensão aos funcionários

da Secretária;

5. sortear os relatores dos processos, ou designá-los a seu

critério, quando houver motivo de caráter especial;

6. apresentar ao Presidente da entidade, até o dia 10 de

janeiro, relatório das atividades do órgão no ano anterior;

7. representar o Tribunal nas solenidades e atos oficiais,

podendo delegar essa função a qualquer dos seus

auditores;

102 Tribunal de Justiça Desportiva, de agora em diante denomina-se STJD. 103 Juntas de Justiça Desportiva, de agora em diante denomina-se JJD.

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8. designar dia e hora para as sessões ordinárias e

extraordinárias e dirigir os trabalhos;

9. dar posse ao Secretário do Tribunal.

Poderá o Presidente do Superior Tribunal de Justiça, em

casos excepcionais e no interesse do desporto, em ato fundamentado,

consoante disciplina o CBJD:

1. permitir ajuizamento, perante o STDJ, de qualquer medida

não prevista neste Código, desde que requerida no prazo

de 5 (cinco) dias contados da decisão ou desporto;

2. conceder efeito suspensivo a recurso cabível, quando a

simples devolução da matéria ao STJD possa causar prejuízo

irreparável ao recorrente.

Referente ao recurso cabível em sede de Justiça

Desportiva, nos termos do artigo 53, parágrafo 4º, da Lei 9.615/98, quando

a penalidade exceder de duas partidas consecutivas ou 15 (quinze) dias,

o recurso será recebido e processado com efeito suspensivo.

Art. 53. Junto ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva,

para julgamento envolvendo competições interestaduais ou

nacionais, e aos Tribunais de Justiça Desportiva, funcionarão

tantas Comissões Disciplinares quantas se fizerem

necessárias, composta cada qual de cinco membros que

não pertençam aos referidos órgãos judicantes e que por

estes serão indicados.

(...);

§ 3º. Das decisões da Comissão Disciplinar caberá recurso

ao Tribunal de Justiça Desportiva e deste ao Superior

Tribunal de Justiça Desportiva, nas hipóteses previstas nos

respectivos Códigos de Justiça Desportiva.

§ 4º. O recurso ao qual se refere o parágrafo anterior será

recebido e processado com efeito suspensivo quando a

penalidade exceder de duas partidas consecutivas ou

quinze dias.

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No que diz respeito as Juntas de Justiça Desportiva –

JJD, a qual é mencionada no artigo 22, incisos e parágrafos do CBJD, esta

não existe mais.

3.3 VICE-PRESIDENTE DOS TRIBUNAIS

O CBJD, dispõe que ao Vice-Presidente de TJD

compete exercer as funções do Corregedor, na forma do Regimento

Interno e substituir o presidente.

3.4 AUDITORES

Consoante disciplina o artigo 24 e seus incisos, do CBDF,

compete aos auditores, além das atribuições que lhe forem

conferidas nos Regimentos:

1. comparecer obrigatoriamente às sessões e audiências,

com a antecedência mínima de 15 (quinze) minutos,

quando regularmente convocados;

2. empenhar-se no sentido da estreita observância das Leis

e do maior prestígio das instituições desportivas;

3. não se manifestar sobre processos pendentes de

julgamento;

4. manifestar-se nos prazos processuais;

5. declarar-se impedido, quando for o caso;

6. representar a quem de direito contra qualquer

irregularidade ou infração disciplinar de que tenha

conhecimento;

7. apreciar, livremente, a prova dos autos, tendo em vista,

sobretudo, o interesse d desporto, fundamentando,

obrigatoriamente, a sua decisão;

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8. devolver à Secretaria, até 48 (quarenta e oito) horas

antes da sessão de julgamento, qualquer processo que

tenha em seu poder e que esteja incluído em pauta.

Os auditores do Superior Tribunal de Justiça Desportiva

– STJD104, com mandato coincidente como Presidente da CBF e os

auditores dos TJD, com mandatos, também, coincidentes com os

presidentes das Federações e Ligas, serão eleitos ou nomeados em

obediência ao artigo 55, da Lei 9.615/98, com nova redação dada pela

Lei 9.981/00, observado o disposto no artigo 91 da citada Lei que manteve

em vigor a CBJD.

A posse dos auditores realizar-se-á perante o Presidente

da respectiva entidade, nos termos do artigo 11, da CBJD.

A antiguidade dos auditores conta-se da data da

posse, quando houver ocorrido na mesma data, considera-se mais antigo

o auditor que tiver maior número de mandatos, se persistir o empate,

considera-se mais antigo o auditor mais idoso, conforme redação do

artigo 12, da CBJD.

Referente à vacância do cargo de auditor, o artigo 13

e seus incisos, da CBJD, assim dispõe como ocorre:

1. pela morte ou renúncia;

2. pela aceitação de cargo ou função incompatível com o

exercício da judicatura desportiva, nos termos do artigo 15,

da CBDF;

3. pela condenação passada em julgado, na Justiça

Desportiva, ou pela condenação passada em julgado, na

justiça Comum, por crime que importe incapacidade moral

do agente, a critério do TJD;

104 Superior Tribunal de Justiça Desportiva, de agora em diante denomina-se STJD.

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4. pelo não comparecimento a 3 (três) sessões consecutivas

ou 5 (cinco) intercaladas, salvo justo motivo, assim

considerado pelo TJD;

5. por declaração de incompatibilidade, decidida por 2

(dois) terços do TJD.

Sendo aberta a vaga de auditor, o Presidente do TJD

fará imediata comunicação da ocorrência ao órgão competente para

preenchê-la de acordo com o artigo 14, do CBDF.

Cabe ressaltar que o cargo de auditor é incompatível

com quaisquer cargos, funções de direção ou empregos nos Conselho

Nacional de Esportes105 – CNE106, Conselhos Estaduais de Desportos –

CED107 e, entidades ou associações desportivas, ressalvadas os casos

especificados em lei.

O artigo 16, do CBDF, proíbe de integrar o mesmo TJD

os auditores que tenham parentesco na linha ascendente ou

descendente, nem auditor que seja cônjuge, irmão, cunhado durante o

cunhadio, tio, sobrinho, sogro, padrasto ou enteado de outro auditor.

Ainda, o auditor é impedido de intervir em processo

nas seguintes hipóteses, obedecendo o estatuído no artigo 17 e incisos, do

CBJD:

1. quando for credor, devedor, avalista, fiador, sócio, patrão

ou empregado, direta ou indiretamente, de qualquer das

partes;

2. quando se houver manifestado, por qualquer forma,

sobre causa em julgamento.

105 Conselho Nacional do Esporte foi instituído pela MP 2.193-6/01. 106 Conselho Nacional de Esportes, de agora em diante denomina-se CNE. 107 Conselhos Estaduais de Desportos, de agora em diante denomina-se CED.

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O próprio auditor deve declarar-se impedido, assim

que lhe for distribuído o processo, se assim não fizer, podem as partes e a

Procuradoria da Justiça Desportiva argüi-las assim que tiverem a

oportunidade de se manifestarem no processo. Argüido o impedimento,

decidirá o TJD, em caráter irrecorrível.

No que diz respeito às licenças dos auditores, essas

deverão ser concedidas pelos TJD e, não poderão exceder 90 (noventa)

dias, sob pena de perda de mandato, salvo motivo de doença,

devidamente comprovada, respeitado o parágrafo único do artigo 21, do

CBJD.

3.5 PROCURADORIA

O CBJD, enumera as competências dos Procuradores

da Justiça Desportiva:

1. oferecer denúncia, nos casos previstos em lei;

2. das parecer nos processos de competência do STJD;

3. exercer as atribuições que lhes forem conferidas pela

legislação desportiva;

4. interpor os recursos previstos em lei.

Dispõe Krieger108 sobre a Procuradoria:

A procuradoria, na Justiça Desportiva, é quem toma

iniciativa para que o processo se concretize – e o faz

através da denúncia. É o órgão a que incumbe intentar a

ação penal/disciplinar correspondente à infração

praticada, promovendo os termos acusatórios necessários.

Compete-lhe, igualmente, promover a fiscalização da

execução das disposições legais e infra-legais aplicáveis ao

futebol. Da mesma forma, cabe à Procuradoria emitir

108 KRIEGER, Marcílio César Ramos. Comentários ao código brasileiro disciplinar de futebol: CBDF. p. 14.

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parecer fundamentado quando houver recurso ou qualquer

outra manifestação processual das partes interessadas.

Acrescenta o mesmo doutrinador109, que “há

situações, porém, que a competência para tomar a iniciativa processual é

privativa do Presidente do Tribunal ou Junta – como prevista no art. 91.”.

O STJD será composto por até 3 (três) procuradores. Os

TJD terão seus procuradores próprios e exclusivos, até o limite de 3 (três),

sendo 2 (dois) efetivos e 1 (um) substituto, consoante CBJD.

Ainda, o CBJD, regulamenta a forma de nomeação

dos procuradores, sendo que, em todos os casos, será realizada, em

obediências aos estatutos das entidades desportivas, ou por seus

presidentes, se os estatutos nada dispuserem sobre a forma de nomeação.

E, nos termos do CBJD, aplicam-se aos procuradores,

no que lhes couber, as incompatibilidades e impedimentos impostos aos

auditores.

3.6 SECRETÁRIOS

As atribuições dos Secretários estão previstas no CBJD,

artigo 27 e nos regimentos dos TJD ou das Comissões Disciplinares, no que

lhes couber.

3.7 JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA

Nos limites da jurisdição territorial de cada entidade, os

órgãos da Justiça Desportiva, observadas às disposições especiais do

CBDF, possuem competência para processar e julgar infrações

disciplinares praticadas por pessoas físicas ou jurídicas, direta ou

109 KRIEGER, Marcílio César Ramos. Comentários ao código brasileiro disciplinar de futebol: CBDF. p. 14

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indiretamente, subordinadas à Confederação ou a serviço de qualquer

entidade110.

Tocante aos atos praticados fora da jurisdição da

entidade a que estiverem subordinadas ou vinculadas, as pessoas físicas

ou jurídicas serão processadas e julgadas, ou somente julgadas, quando

for o caso, pela Comissão Disciplinar do STJD111.

Obedecendo ao que vem esculpido no parágrafo 2º,

do CBJD, a competência para o processo e julgamento de infrações

conexas ou continuadas será do tribunal de maior hierarquia jurisdicional.

Destaca-se que a Justiça Desportiva não tem

competência para processar e julgar matéria trabalhista e de Direito Penal

Comum. Tal proibição foi instituída pelo artigo 50, da Lei 9.615/98112 e

parágrafo 1º, do artigo 53, do Decreto 2.574, de 29 de abril de 1998.

Art. 50. A organização, o funcionamento e as atribuições da

justiça Desportiva serão definidas em Códigos de justiça

Desportiva, de cumprimento obrigatório para as filiados em

cada entidade de administração de desporto, nos quais

executar-se-ão as matérias de ordem trabalhista e Direito

Penal Comum.

Melo Filho113 ressalta que o Presidente da República

vetou o artigo 50, da Lei 9.615/98, embasado em razões apresentadas

pelo Ministro da justiça.

Não há necessidade de que a lei expresse que os Códigos

de Justiça Desportiva são de cumprimento, pois isto é

evidente. Além disso, a exceção das matérias de ordem

trabalhista e de Direito Penal Comum leva à falsa impressão

110 Consoante artigo 28, do CBDF, alterado pelo artigo 50, da Lei 9.615/98, com nova redação dada pela Lei 9.981/00. 111 Consoante parágrafo 1º, do artigo 28, do CBDF, alterado pelo artigo 52, da Lei 9.615/98, com nova redação dada pela Lei 9.981/00. 112 Redação dada pela MP 2.193-6/01. 113 MELO FILHO, Álvaro. Direito desportivo no limiar do século XXI. p. 187.

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65

de que outras lides não poderão ser objeto de exame da

justiça comum, o que é equivocado. Basta ver que o texto

constitucional deixa claro que a competência da justiça

Desportiva circunscreve-se as ações relativas à disciplina e

às competições desportivas. Tudo o mais deverá ser

apreciado por um juiz togado e mesmo as ações relativas à

disciplina e às competições desportivas deverão submeter-

se ao Poder Judiciário após esgotarem-se as instâncias da

Justiça Desportiva. Deve, portanto, o dispositivo ser vetado

por contrariar o interesse público.

Alterou-se, então, a redação do artigo 50, da Lei

9.615/98:

Art. 50. A organização, o funcionamento e as

atribuições da Justiça Desportiva, limitadas ao

processo e julgamento das infrações disciplinares e às

competições desportivas, serão definidas em Códigos

Desportivos.

Mas, houve outra alteração do citado artigo, dessa vez

alterado pela MP 2.193-6/01:

Art. 50. A organização, o funcionamento e as atribuições da

Justiça Desportiva, limitadas ao processo e julgamento das

infrações disciplinares e às competições desportivas, serão

definidas em códigos desportivos, facultando-se às ligas

constituir seus próprios órgãos judicantes desportivos, com

atuação restrita às suas competições.

3.8 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DESPORTIVA E SUAS COMISSÕES

DISCIPLINARES

O STJD, com jurisdição em todo o território nacional, é

composto por 9 (nove) membros114, dos quais:

114 Consoante artigo 3º, do CBDF, alterado pelo artigo 50, da Lei 9.615/98, com nova redação dada pela Lei 9.981/00.

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- 2 (dois) são indicados pela entidade de administração do

desporto;

- 2 (dois) indicados pelas entidades de práticas desportivas

que participem de competições oficiais da divisão principal;

- 2 (dois) advogados de notório saber jurídico desportivo,

indicados pela Ordem dos Advogados;

- 1 (um) representante dos árbitros, por estes indicados;

- 2 (dois) representantes dos atletas, por estes indicados.

É da competência do STJD115:

A) processar e julgar originariamente:

1. os seus auditores e procuradores;

2. os litígios entre federações;

3. os membros de poderes e órgãos da Confederação;

4. as infrações cometidas no estrangeiro por pessoas físicas

ou jurídicas, direta ou indiretamente subordinadas ou

vinculadas à Confederação, quando não sujeitos a

julgamento de órgão internacional, e as infrações

praticadas contra o Conselho Nacional de Desportos, seu

Presidente e seus membros;

5. os mandados de garantia contra atos dos poderes da

Confederação e das Federações;

6. as revisões de sua próprias decisões;

7. os pedidos de reabilitação;

8. as ações patrimoniais propostas por associações ou

entidades estrangeiras contra associações ou entidades

com sede no Brasil;

9. os processos relativos à perda de pontos a que se refere o

artigo 301 e seus parágrafos;

115 Consoante artigo 30, incisos e alíneas, do CBDF.

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B) julgar:

1. os recursos das decisões das Comissões Disciplinares,

exceto as enumeradas no parágrafo 2º, do artigo 160;

2. os recursos das decisões dos TJD;

3. os Presidentes das Federações;

4. os recursos das decisões do Presidente ou da Diretoria da

CBF, não sujeitos a julgamento de outro poder;

5. os conflitos de competência entre os poderes da CBF,

salvo disposição em contrário de norma emanada do poder

público;

6. os conflitos de competência entre TJD;

7. os impedimentos opostos a seus auditores e procuradores;

8. os recursos de atos e despachos do Presidente do

Tribunal;

C) Conceder efeito suspensivo a qualquer recurso, em

decisão fundamentada, quando a simples devolução da

matéria possa causar prejuízo irreparável ao recorrente.

D) Declarar incompatibilidade do auditor.

E) Eleger seu Presidente e Vice-Presidente.

F) Instaurar inquéritos.

G) Estabelecer súmulas de sua jurisprudência dominante116.

H) Requisitar ou solicitar informações para esclarecimento

de matéria submetida à sua apreciação.

I) Expedir instruções ao TJD.

J) Solicitar à CBF a intervenção em associação ou entidade,

para assegurar a execução de decisão de Justiça

Desportiva.

116 A súmula deve ser estabelecida por 2/3 (dois terços) de auditores efetivos do STJD, em obediência ao disposto no artigo 30, do CBDF.

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L) Elaborar e aprovar seu Regimento Interno.

M) Deliberar sobre casos omissos.

Quando se tratar de julgamento que envolva

competições interestaduais ou nacionais, junto ao STJD, funcionarão a

quantidade necessária de Comissões Disciplinares, as quais serão

compostas cada uma por 5 (cinco) membros que não pertençam ao

órgão judicante e que por estes serão indicados117.

Caberá a Comissão Disciplinar aplicar sanções em

procedimentos sumário, assegurados a ampla defesa e o contraditório;

das suas decisões caberá recurso ao TJD e deste ao STJD, nas hipóteses

previstas nos Códigos de Justiça desportiva.

3.9 TRIBUNAIS DE JUSTIÇA DESPORTIVA E SUAS COMISSÕES DISCIPLINARES

Consoante o CBJD, o qual foi alterado pela Lei

9.615/98, com nova redação dada pela Lei 9.981/00, os TJD, com

jurisdição no território de cada federação, será composto por 9 (nove)

membros, dos quais:

- 2 (dois) serão indicados pela entidade de administração

do desporto;

- 2 (dois) indicados pelas entidades de práticas desportivas

que participem de competições oficiais da divisão principal;

- 2 (dois) advogados de notório saber jurídico desportivo,

indicados pela Ordem dos Advogados;

- 1 (um) representante dos árbitros, por estes indicados;

- 2 (dois) representantes dos atletas, por estes indicados.

Os membros que compõe o TJD poderão ser bacharéis

em Direito ou pessoas de conduta ilibada e de notório saber jurídico. O

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mandado dos membros terá duração máxima de 4 (quatro) anos, sendo

permitida a recondução apenas uma vez.

É vedado aos dirigentes desportivos das entidades de

administração e das entidades de prática desportiva, o exercício de

cargo ou função na Justiça Desportiva, exceção feita aos membros dos

conselhos deliberativos das entidades de prática desportiva.

Referente a eleição do Presidente e do Vice-Presidente

do TJD, estes serão eleitos pelos membros daqueles, para o mandato de 1

(um) anos, sendo permitida, apenas, uma reeleição.

Compete ao TJD118:

A) Processar e julgar:

1. os seus auditores e procuradores;

2. os membros de poderes da Federação e os Presidentes

das respectivas associações;

3. os mandatos de garantia contra atos dos poderes das

Ligas;

4. as revisões de suas próprias decisões;

5. as pessoas físicas ou jurídicas, direta ou indiretamente

subordinadas ou vinculadas à Federação, a serviço de

associação filiada, ressalvadas a competência de outro

órgão e a competência das Câmaras, quando existentes;

6. as infrações praticadas contra os Conselhos Regionais de

Desportos, seus Presidentes e seus membros;

B) Julgar:

1. os membros de poderes e órgãos das Ligas e os

Presidentes das respectivas associações;

117 Consoante artigo 53, da Lei 9.615/98, com nova redação dada pela Lei 9.981/00. 118 Consoante artigo 32, incisos e alíneas, do CBDF.

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2. os recursos das decisões de suas Comissões Disciplinares,

quando houver;

3. os recursos de atos e decisões do Presidente ou da

Diretoria da Federação, bem como os recursos de atos e

decisões do Presidente do Tribunal, desde que não sujeitos a

julgamento de outro poder ou entidade superior;

4. os recursos de atos de Presidentes de Ligas, não sujeitos a

julgamento de outro poder ou entidade superior;

5. os impedimentos opostos aos seus auditores e

procuradores.

C) Processar:

1. os recursos interpostos para o STJD;

2. o Presidente da Federação;

D) Declarar a incompatibilidade de auditor.

E) Solicitar ao STJD a intervenção na Federação, Liga ou

Associação, para assegurar a execução de decisão da

Justiça Desportiva.

F) Eleger seu Presidente e Vice-Presidente.

G) Instaurar inquéritos.

H) Requisitar ou solicitar informações para esclarecimento

de matéria submetida à sua apreciação.

I) Elaborar e aprovar seu Regimento Interno.

Assim como no STJD, o TJD criará tantas Comissões

Disciplinares quantas forem necessárias, as quais serão compostas por 5

(cinco) membros, os quais serão indicados pelo TJD, não podendo os

membros indicados serem integrantes deste órgão judicante.

A nomeação dos membros para compor as Comissões

Disciplinares, será feita pelo Presidente da entidade, após receber as

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indicações do TJ; os membros serão nomeados mediante portaria sua

posse dar-se-á em seção solene no TJD.

3.10 JUNTAS DA JUSTIÇA DESPORTIVA119

Respeitando CBJD, com jurisdição no território das

Ligas, serão constituídas por 3 (três) a 7 (sete) auditores efetivos e 2 (dois)

substitutos.

Cabe a JJD120:

A) Processar e julgar:

1. os seus auditores e procuradores;

2. as pessoas físicas e jurídicas, direta ou indiretamente

subordinadas à Liga, ressalvada a competência de outro

órgão;

3. os seus auxiliares;

4. os impedimentos opostos a seus auditores e procuradores;

5. a incompatibilidade de auditor;

6. as revisões de suas próprias decisões.

B) Processar os recursos para o TJD.

C) Solicitar ao TJD providencia para a intervenção na

respectiva Liga ou em associações filiada, para assegurar a

execução de decisão da Justiça Desportiva.

D) Elaborar seu Regimento Interno.

119 Com o advento do Novo Código Brasileiro de Justiça Desportiva, as Juntas da Justiça Desportiva passaram a não existir mais, portanto necessário foi coloca-las nesse trabalho para um melhor entendimento acerca do tema abordado nessa monografia. 120 Consoante artigo 35, incisos e alíneas, do CBDF.

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3.11 DEFENSORES

A CRFB/88, o Estatuto da Advocacia e o Estatuto da

Ordem dos Advogados do Brasil – OAB – Lei 8.906/94, em seus artigos,

respectivamente, artigo 133 e artigo 1º, inciso I, dispõe que somente o

advogado poderá funcionar como defensor, sendo que simples

declaração feita pela parte habilita o defensor a intervir no processo em

qualquer grau de jurisdição, nos termos do artigo 37, CBJD.

Art. 133. O advogado é indispensável à administração da

justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no

exercício da profissão, nos limites da lei.

Art. 1º. São atividades privativas da advocacia:

I – a postulação a qualquer órgão do Poder Judiciário e aos

juizados especiais;

II – as atividades de consultoria, assessoria e direção

jurídicas.

(...).

§ 2º. Os atos e contratos constitutivos de pessoas jurídicas,

sob pena de nulidade, só podem ser admitidos o registro,

nos órgãos competentes, quando visados por advogados .

Art. 37. A simples declaração feita pela parte habilita o

defensor a intervir no processo, até o final em qualquer grau

de jurisdição.

Krieger121 comenta a respeito da habilitação,a qual se

dá através da procuração: “Não havendo a ‘simples declaração (que

deve se dar, obrigatoriamente, na sessão de julgamento), o instrumento

legal de habilitação é a Procuração.”.

121 KRIEGER, Marcílio César Ramos. Comentários ao código brasileiro disciplinar do futebol: CBDF. p. 21.

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Não podem atura como defensores na Justiça

Desportiva os membros do Conselho Nacional do Esporte, dos Conselhos

Estaduais de desportos e dos órgãos da justiça Desportiva, em obediência

ao artigo 39, CBDF.

Respeitando o que disciplina os artigos 40 e 41, do

CBJD, no caso de menor de 21 (vinte e um) anos, quando este não tiver

defensor, o Presidente do TJD ou da JJD designara um advogado para

defendê-lo. Pois, os Presidentes dos TJD, possuem poderes para nomear

defensor dativo para o exercício de sua função122.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo investigar, à

luz da legislação, da doutrina e da jurisprudência, a organização, a

jurisdição e a competência da Justiça Desportiva Brasileira para processar

e julgar os processos e recursos no âmbito de sua jurisdição, de acordo

com os dispositivos legais.

O interesse pelo tema deu-se em razão de sua

diversidade e amplitude e importância; do modo como a Justiça

Desportiva Brasileira vem sendo abordado no contexto nacional. E em

decorrência da existência de inúmeros clubes, os quais desempenham

alguma prática desportiva, principalmente, o futebol.

Para seu desenvolvimento lógico o trabalho foi dividido

em três capítulos. No primeiro, foi abordado o surgimento do futebol a

nível mundial, as variações de origens remotas e indefinidas, a difusão

dessa prática esportiva em vários países, e, também, foi realizada uma

pesquisa sobre a introdução do futebol no Brasil.

No segundo capítulo, abordou-se sobre a evolução

histórica da legislação desportiva no Brasil, analisando-se as normas

constitucionais, legais e infralegais aplicáveis ao desporto, normas essas

que surgiram nos decorrer dos últimos anos, ou melhor, das últimas

décadas; verificou-se, também, a criação do Código Brasileiro de Justiça

Desportiva, sendo que este, passou a existir mediante a necessidade de

reunir as normas, tanto legais como infralegais vigentes e aplicáveis ao

122 Os artigos 40 e 41, do CBJD, devem respeitar o disposto no artigo 133, da CRFB/88 e o

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Futebol.

Ainda, no segundo capítulo, deu-se especial destaque

a vigente Lei 9.615/98, a qual institui normas gerias sobre desporto e rege o

esporte brasileiro, com algumas alterações, trazidas por leis posteriores,

diante da necessidade de atualização e adaptação as novas regras.

E, no terceiro e último capítulo, trabalhou-se a respeito

da organização da Justiça Desportiva, onde se identificou seus órgãos

integrantes e as atribuições de cada órgão, bem como se tratou respeito

da jurisdição e da competência da Justiça Desportiva, tudo regulado pelo

Código Brasileiro de Justiça Desportiva.

Conclui-se com o estudo do tema que aborda o

terceiro capítulo que a Justiça Desportiva Brasileira, somente tem

competência para processar e julgar matéria relativas à disciplina e às

competições desportivas, ficando fora da sua alçada as ações de cunho

trabalhista; sendo que, somente, há a possibilidade de ingresso na Justiça

Comum, nos casos em que esgotam-se as instâncias da Justiça Desportiva

e no caso de preclusão da mesma, para proferir decisão final, que terá o

prazo de sessenta.

Por fim, retomam-se as duas hipóteses básicas da

pesquisa:

1ª De acordo com a Lei 9.615/98, com alterações

trazidas pela Lei 9.981/00 e pela Medida Provisória 2.193-6/01 e

observando o Código Brasileiro Disciplinar de Futebol, são órgãos que

integram a Justiça Desportiva: o Superior Tribunal de Justiça Desportiva, os

qual funciona junto às entidades nacionais de administração do desporto,

os Tribunais de Justiça Desportiva, o qual funciona junto às entidades

regionais de administração do desporto, as Comissões Disciplinares, as

artigo 1º, inciso I, da Lei 8.906/94, Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB.

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quais possuem competência para processar e julgar questões previstas

nos Códigos de Justiça Desportiva.

2ª Os órgãos da Justiça Desportiva, possuem

competência, observadas as disposições especiais do Código Brasileiro de

Justiça Desportiva, nos limites da jurisdição territorial de cada entidades,

para processar e julgar as infrações disciplinares praticadas por pessoas

físicas ou jurídicas direta ou indiretamente subordinadas à Confederação

ou a serviço de qualquer entidade.

A primeira hipótese foi confirmada; no que foi

demonstrado, que são órgãos da Justiça Desportiva, enquanto não

criarem novos Códigos Desportivos: o Superior Tribunal de Justiça

Desportiva, o Tribunal de Justiça desportiva, as Comissões Disciplinares e as

Juntas de Justiça Desportiva, consoante disposição da Lei 9.615/98, com

alterações trazidas pela Lei 9.981/00 e pela Medida Provisória 2.193-6/01,

respeitado o disposto no Código Brasileiro de Justiça Desportiva.

Quanto a segunda hipótese, conclui-se que os órgãos

da Justiça Desportiva possuem competência para processar e julgar,

somente, as infrações disciplinares praticadas por pessoas físicas ou

jurídicas direta ou indiretamente subordinadas à Confederação Brasileira

de Futebol ou a serviço de qualquer entidade; restando, dessa forma,

evidente que a Justiça Desportiva não tem competência pra julgar

matéria que seja de cunho/lide trabalhista.

Registra-se que as duas hipóteses básicas que

nortearam o presente trabalho restaram integralmente confirmadas.

Ressalta-se e esclarece-se que, em virtude da escassez

de obras referente ao tema, foi de grande dificuldade a elaboração da

presente monografia; entretanto, não foi o objetivo desse trabalho esgotar

o tema, estando o mesmo aberto à críticas e sugestões.

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