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Justificação na moral: conceitos tradicionais e naturais de moral Ernest (diferente de Hume): o bem, como o objetivamente preferível, não basta ser aceito por todos pois a aprovação e censura não são seres sensitivos idênticos em todos. A afirmação geral prática precisa ser justificada e o que está na base como justificação da aprovação é um conceito de ser-bom. Exemplo: a moral cristã. Se uma criança socializada nessa moral perguntar aos seus pais o motivo da reação negativa quando a criança faz certas coisas seus pais responderão que foi Deus que os proibiu de agir dessa maneira. Ser filho de Deus é a identidade da comunidade cristã e assim se compreende o que é o bem, sendo o mal o que não agrada a Deus. Se a criança prosseguir e perguntar como seus pais sabem que eles são filhos de Deus e que Deus existe, seus pais o convencerão que isso é uma blasfêmia e aí se caracteriza o alcance da fundamentação na moral tradicionalista. A palavra de Deus é o fundamento último, não mais questionável. Assim, a moral religiosa é incapaz de discutir com outros conceitos de moral pois só afirma sua superioridade fechando-se para os outros. Aí está não só uma delimitação da fundamentação, mas do próprio conceito de bom. Na perspectiva do universalismo, sugerido pelo próprio conceito de bom, tudo aquilo que se tem filiação divina é bom.

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Justificação na moral: conceitos tradicionais e naturais de moral

Ernest (diferente de Hume): o bem, como o objetivamente preferível, não

basta ser aceito por todos pois a aprovação e censura não são seres sensitivos

idênticos em todos. A afirmação geral prática precisa ser justificada e o que

está na base como justificação da aprovação é um conceito de ser-bom.

Exemplo: a moral cristã. Se uma criança socializada nessa moral

perguntar aos seus pais o motivo da reação negativa quando a criança faz

certas coisas seus pais responderão que foi Deus que os proibiu de agir dessa

maneira. Ser filho de Deus é a identidade da comunidade cristã e assim se

compreende o que é o bem, sendo o mal o que não agrada a Deus. Se a

criança prosseguir e perguntar como seus pais sabem que eles são filhos de

Deus e que Deus existe, seus pais o convencerão que isso é uma blasfêmia e

aí se caracteriza o alcance da fundamentação na moral tradicionalista. A

palavra de Deus é o fundamento último, não mais questionável. Assim, a moral

religiosa é incapaz de discutir com outros conceitos de moral pois só afirma sua

superioridade fechando-se para os outros. Aí está não só uma delimitação da

fundamentação, mas do próprio conceito de bom. Na perspectiva do

universalismo, sugerido pelo próprio conceito de bom, tudo aquilo que se tem

filiação divina é bom.

Para Ernst a posição de Lessing que afirma ser possível reconhecer o

bom a partir de muitas perspectivas pois para uma fé ser essencial para moral

ela exclui outro acesso, religioso ou não. Assim, para Lessing existe uma

incerteza entre moral religiosa e moral esclarecida.

Ernst se pergunta então até que ponto as morais tradicionalmente

fundamentadas conseguem fazer uma distinção entre normas válidas para

todos os seres humanos e aquelas que so valem para a própria comunidade.

Para ele, isso é uma pergunta empírica que em relações às diversas tradições

deverá ser respondida diversamente. Surge então o problema conceitual de se

saber que critério de justificação tem uma moral tradicional para as normas que

extrapolam a comunidade, talvez seja um critério empírico. Esse fato empírico

então pode levar à busca de uma justificação independente da identidade

religiosa. Ele abre o parêntese de que o contratualismo fornece, em parte, essa

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justificação independente em relação às normas que resultam da “regra de

ouro” que aparece como núcleo comum em todos os conceitos morais.

Para Ernst muitos dizem que uma moral somente pode ser

fundamentada pela religião provém do fato de muitos de nós termos sido

socializados desta maneira e até hoje não existir uma fundamentação não

religiosa da moral com reconhecimento universal, sendo assim preferível para

muitos os conceitos morais religiosos do que nenhum.

Existe assim a necessidade de se chegar a um acordo sobre o conceito

moral pelo fato de hoje muitos não terem uma crença religiosa e de cada vez

mais formarmos uma comunidade mundial na qual nós precisamos nos

entender moralmente além dos limites religiosos.

Não dá pra responder a pergunta de “como se deve compreender um

ser justificado em um conceito moral não justificado em um conceito moral não

tradicional?” de maneira genérica e previamente. Pode-se antecipar ao menos

que a justificação, agora que ela não está previamente ligada a uma premissa

dada por uma crença, teria que ser absoluta. Porém, uma fundamentação

absoluta não pode ser compreendida. Isso significa que uma justificação não

tradicional precisa retornar estruturalmente o modelo tradicional? Na próxima

lição se verá que não é o caso.

Ernst então cita as tentativas de justificação moral mais importantes na

atualidade. Primeiro cita o Iluminismo, com Hume, que afirmava que a filosofia

apenas precisa reunir sistematicamente aquilo que supostamente todos

aprovam e criticam e com isso se abandonava toda a pretensão de justificação.

Essa corrente se enfraquece ao tomar como óbvio a consciência moral como

unitária e também afeta outras posições modernas. Kant igualmente crê que

somente existe uma consciência moral só que para ele ela pode ser justificada

e para Hume não, este último autor prepara o utilitarismo.

Um outro caminho consiste em procurar uma fundamentação não

religiosa e isto signifiica que de uma forma ou de outra maneira se teria que

recorrer à natureza do ser humano ou de parte dela, mas essa parte não

poderia ser qualquer uma e sim uma que indique a direção, esse foi o caminho

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do racionalismo moderno Desenvolvido na ética de Kant. Ele procura uma

fundamentação absoluta, para ele a moral já está contida em conteúdo e forma

(imperativo). Ernst critica essa posição por não existir uma razão e por não

existir um “ter de absoluto. Kant então viu que quando se recorre à razão é

necessário se pressupor algo sobrenatural.

Schopenhauer, entretanto, apresensenta certo apelo a um sentimento

natural e a compaixão, sendo que um sentimento natural apenas alcança

exatamente até onde ele alcança, em uns ele mais forte e em outros não, logo

não dá pra esclarecer o caráter da obrigação moral a partir desses

sentimentos.

O segundo caminho é o mais importante e é o contratualismo em que

existem duas coisas. A primeira, segundo Rawls, é que se pode compreender o

elemento moral como resultante de um contrato ideal que todos fariam com

todos no sentido de que todos observem um certo sistema de normas, não

sendo pretendido por ele uma justificação da moral. Tais normas decorrem do

que se chama regra de ouro e podem ser divididas em três grupos: primeiro, as

regras de não prejudicar os outros; segundo, a regra de ajudar os outros;

terceiro, as regras especificamente cooperativas. A moral então tem seu

domínio nuclear no pacto implícito de que tais regras são boas para todos e

que serão observadas por todos no exercício da razão no seu sentido normal.

Entretanto, pergunta-se como é possível garantir a observância das regras?

Hobbes acredita que somente por meio Estado, ao se substituir a moral pelo

direito moral.

Não é possível justificar a formação de uma consciência (ao sentir

vergonha por quebrar uma regra, por ex) a partir da base contratualista, pois a

consciência não se deixa instrumentalizar. O contratualismo se caracteriza por

não ter um conceito de “bom” e sim um conceito relativo “bom para...”, por isso

é natural não designar o contratualismo como uma moral, Ernst o designa

como uma “quase moral”, podendo-se até afirmar que ele é uma moral daquele

que não tem um sentido moral.

Ernst então faz um resumão das posições filosóficas modernas: LEIAM

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