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pedro-ferreira
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Justificação na moral: conceitos tradicionais e naturais de moral
Ernest (diferente de Hume): o bem, como o objetivamente preferível, não
basta ser aceito por todos pois a aprovação e censura não são seres sensitivos
idênticos em todos. A afirmação geral prática precisa ser justificada e o que
está na base como justificação da aprovação é um conceito de ser-bom.
Exemplo: a moral cristã. Se uma criança socializada nessa moral
perguntar aos seus pais o motivo da reação negativa quando a criança faz
certas coisas seus pais responderão que foi Deus que os proibiu de agir dessa
maneira. Ser filho de Deus é a identidade da comunidade cristã e assim se
compreende o que é o bem, sendo o mal o que não agrada a Deus. Se a
criança prosseguir e perguntar como seus pais sabem que eles são filhos de
Deus e que Deus existe, seus pais o convencerão que isso é uma blasfêmia e
aí se caracteriza o alcance da fundamentação na moral tradicionalista. A
palavra de Deus é o fundamento último, não mais questionável. Assim, a moral
religiosa é incapaz de discutir com outros conceitos de moral pois só afirma sua
superioridade fechando-se para os outros. Aí está não só uma delimitação da
fundamentação, mas do próprio conceito de bom. Na perspectiva do
universalismo, sugerido pelo próprio conceito de bom, tudo aquilo que se tem
filiação divina é bom.
Para Ernst a posição de Lessing que afirma ser possível reconhecer o
bom a partir de muitas perspectivas pois para uma fé ser essencial para moral
ela exclui outro acesso, religioso ou não. Assim, para Lessing existe uma
incerteza entre moral religiosa e moral esclarecida.
Ernst se pergunta então até que ponto as morais tradicionalmente
fundamentadas conseguem fazer uma distinção entre normas válidas para
todos os seres humanos e aquelas que so valem para a própria comunidade.
Para ele, isso é uma pergunta empírica que em relações às diversas tradições
deverá ser respondida diversamente. Surge então o problema conceitual de se
saber que critério de justificação tem uma moral tradicional para as normas que
extrapolam a comunidade, talvez seja um critério empírico. Esse fato empírico
então pode levar à busca de uma justificação independente da identidade
religiosa. Ele abre o parêntese de que o contratualismo fornece, em parte, essa
justificação independente em relação às normas que resultam da “regra de
ouro” que aparece como núcleo comum em todos os conceitos morais.
Para Ernst muitos dizem que uma moral somente pode ser
fundamentada pela religião provém do fato de muitos de nós termos sido
socializados desta maneira e até hoje não existir uma fundamentação não
religiosa da moral com reconhecimento universal, sendo assim preferível para
muitos os conceitos morais religiosos do que nenhum.
Existe assim a necessidade de se chegar a um acordo sobre o conceito
moral pelo fato de hoje muitos não terem uma crença religiosa e de cada vez
mais formarmos uma comunidade mundial na qual nós precisamos nos
entender moralmente além dos limites religiosos.
Não dá pra responder a pergunta de “como se deve compreender um
ser justificado em um conceito moral não justificado em um conceito moral não
tradicional?” de maneira genérica e previamente. Pode-se antecipar ao menos
que a justificação, agora que ela não está previamente ligada a uma premissa
dada por uma crença, teria que ser absoluta. Porém, uma fundamentação
absoluta não pode ser compreendida. Isso significa que uma justificação não
tradicional precisa retornar estruturalmente o modelo tradicional? Na próxima
lição se verá que não é o caso.
Ernst então cita as tentativas de justificação moral mais importantes na
atualidade. Primeiro cita o Iluminismo, com Hume, que afirmava que a filosofia
apenas precisa reunir sistematicamente aquilo que supostamente todos
aprovam e criticam e com isso se abandonava toda a pretensão de justificação.
Essa corrente se enfraquece ao tomar como óbvio a consciência moral como
unitária e também afeta outras posições modernas. Kant igualmente crê que
somente existe uma consciência moral só que para ele ela pode ser justificada
e para Hume não, este último autor prepara o utilitarismo.
Um outro caminho consiste em procurar uma fundamentação não
religiosa e isto signifiica que de uma forma ou de outra maneira se teria que
recorrer à natureza do ser humano ou de parte dela, mas essa parte não
poderia ser qualquer uma e sim uma que indique a direção, esse foi o caminho
do racionalismo moderno Desenvolvido na ética de Kant. Ele procura uma
fundamentação absoluta, para ele a moral já está contida em conteúdo e forma
(imperativo). Ernst critica essa posição por não existir uma razão e por não
existir um “ter de absoluto. Kant então viu que quando se recorre à razão é
necessário se pressupor algo sobrenatural.
Schopenhauer, entretanto, apresensenta certo apelo a um sentimento
natural e a compaixão, sendo que um sentimento natural apenas alcança
exatamente até onde ele alcança, em uns ele mais forte e em outros não, logo
não dá pra esclarecer o caráter da obrigação moral a partir desses
sentimentos.
O segundo caminho é o mais importante e é o contratualismo em que
existem duas coisas. A primeira, segundo Rawls, é que se pode compreender o
elemento moral como resultante de um contrato ideal que todos fariam com
todos no sentido de que todos observem um certo sistema de normas, não
sendo pretendido por ele uma justificação da moral. Tais normas decorrem do
que se chama regra de ouro e podem ser divididas em três grupos: primeiro, as
regras de não prejudicar os outros; segundo, a regra de ajudar os outros;
terceiro, as regras especificamente cooperativas. A moral então tem seu
domínio nuclear no pacto implícito de que tais regras são boas para todos e
que serão observadas por todos no exercício da razão no seu sentido normal.
Entretanto, pergunta-se como é possível garantir a observância das regras?
Hobbes acredita que somente por meio Estado, ao se substituir a moral pelo
direito moral.
Não é possível justificar a formação de uma consciência (ao sentir
vergonha por quebrar uma regra, por ex) a partir da base contratualista, pois a
consciência não se deixa instrumentalizar. O contratualismo se caracteriza por
não ter um conceito de “bom” e sim um conceito relativo “bom para...”, por isso
é natural não designar o contratualismo como uma moral, Ernst o designa
como uma “quase moral”, podendo-se até afirmar que ele é uma moral daquele
que não tem um sentido moral.
Ernst então faz um resumão das posições filosóficas modernas: LEIAM
O ÚLTIMO PARÁGRAFO DA PÁGINA 77!