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nova Economia_Belo Horizonte_19 (3)_475-506_setembro-dezembro de 2009 Juventude(s): desocupação, pobreza e escolaridade Rosana Ribeiro Professora da Universidade Federal de Uberlândia Henrique D. Neder Professor da Universidade Federal de Uberlândia Resumo Este artigo analisa a desocupação entre jo- vens pobres e não pobres, bem como as principais dificuldades enfrentadas na busca pelo emprego por parte dos jovens pobres. Os resultados revelam que os jovens pobres em relação aos não pobres enfrentam maio- res dificuldades de obtenção de ocupação. Além disso, os jovens pobres têm desvanta- gens no atributo “escolaridade”. De forma surpreendente, porém, a taxa de desocupa- ção não tem uma trajetória de redução entre os jovens pobres mais escolarizados, ao con- trário dos não pobres. Abstract This article analyses unemployment among young people, both poor and not poor, as well as the major difficulties faced by poor young people in job hunting. The results obtained reveal that poor young people face more difficulties than the not poor young people in obtaining a job. Besides, the main disadvantage faced by poor young people is their low level of education. Nevertheless, in a striking way, the unemployment rate doesn’t show a reduction among the most educated poor young people, unlike the situation for the not poor young people. Palavras-chave desocupação, pobreza, juventude. Classificação JEL J64. Key words unemployment, poverty, young people. JEL Classification J64.

Juventude(s) - desocupação, pobreza e escolaridade

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Juventude(s):desocupação, pobreza e escolaridade

Rosana RibeiroProfessora da Universidade Federal de Uberlândia

Henrique D. NederProfessor da Universidade Federal de Uberlândia

ResumoEste artigo analisa a desocupação entre jo-vens pobres e não pobres, bem como asprincipais dificuldades enfrentadas na buscapelo emprego por parte dos jovens pobres.Os resultados revelam que os jovens pobresem relação aos não pobres enfrentam maio-res dificuldades de obtenção de ocupação.Além disso, os jovens pobres têm desvanta-gens no atributo “escolaridade”. De formasurpreendente, porém, a taxa de desocupa-ção não tem uma trajetória de redução entreos jovens pobres mais escolarizados, ao con-trário dos não pobres.

AbstractThis article analyses unemployment among young

people, both poor and not poor, as well as the

major difficulties faced by poor young people in

job hunting. The results obtained reveal that

poor young people face more difficulties than the

not poor young people in obtaining a job.

Besides, the main disadvantage faced by poor

young people is their low level of education.

Nevertheless, in a striking way, the

unemployment rate doesn’t show a reduction

among the most educated poor young people,

unlike the situation for the not poor

young people.

Palavras-chavedesocupação, pobreza,juventude.

Classificação JEL J64.

Key words

unemployment, poverty,

young people.

JEL Classification J64.

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1_ IntroduçãoO conceito moderno de juventude estabe-lece que essa fase corresponde a uma etapada vida marcada pela transição entre a in-fância e a vida adulta, sendo esta última ca-racterizada pela independência e respon-sabilidade dos indivíduos. Essa transiçãoapresenta diferenciações entre os gêneros.No processo tradicional de transição, oshomens faziam o seguinte percurso: saí-da da escola após o término da educaçãoobrigatória,1 inserção no mercado de tra-balho e constituição de domicílio, inde-pendentemente do casamento e da pater-nidade. Enquanto, para as mulheres, atransição se realizava por meio da consti-tuição de domicílio e da maternidade, emgeral excluindo sua participação na ativi-dade econômica (Hasenbalg, 2003).

No Brasil, entretanto, não se podefalar que vigorou plenamente o modelo detransição tradicional da juventude para avida adulta, já que não temos tradição noacesso à educação obrigatória, haja vistaque a universalização do acesso ao antigocurso primário somente foi alcançada nosanos 1990. O modelo de transição juvenil,por sua vez, é mais adequado para a reali-dade dos jovens dos países desenvolvidosnum determinado período. Mas, mesmonessas nações, tal processo vem se modifi-cando, uma vez que cresce a proporção de

pessoas em faixas etárias mais elevadas quevivenciam estágios típicos da juventude.No caso específico do Brasil, segundo Ca-marano et al. (2006, p. 322):

[...] mais que um prolongamento da ju-

ventude, pode-se pensar em novas modali-

dades de transição para a vida adulta

provocadas por uma menor sincronia na

seqüência de eventos, uma simultaneidade

de participação nos vários eventos, bem

como uma delimitação mais tênue entre as

várias fases da vida.

As autoras constatam que a distân-cia entre o tempo que os jovens levam paraentrar no mercado de trabalho e sair de ca-sa aumentou no passado recente. Tambémse elevou a proporção de jovens que com-binam trabalho e escola. Essas são algumasevidências da simultaneidade de eventosjuvenis, que no Brasil já se verificava emoutras décadas para muitos jovens, sobre-tudo os oriundos de camadas populares.Noutras palavras, o processo tradicional detransição juvenil ficou restrito aos jovensda classe média brasileira residentes na zo-na urbana.

Neste artigo, nosso objetivo é o estu-do de uma parcela de jovens que está inse-rida na População Economicamente Ativa(PEA), mas na condição de desocupados.Assim, nosso objeto de estudo são os jovensque vivenciam um dos principais eventos

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1 No Brasil, a educaçãoobrigatória corresponde aoensino fundamental, ou seja,nove anos de estudo.

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na passagem para a vida adulta, qual seja, ainserção no mercado de trabalho, mas quese deparam com dificuldades na obtençãode ocupação. A desocupação2 juvenil é umadas principais preocupações de nações de-senvolvidas e em vias de desenvolvimento.Nosso principal interesse são os jovens apartir dos 18 anos, visto que, no caso daspessoas com essa idade, é elevada a pro-porção dos que integram a PEA e que nãoestudam (Rocha, 2007).

Essa constatação revela que, para osindivíduos a partir dessa idade, a importân-cia da inserção no mercado de trabalhoprevalece sobre a frequência à escola. Àguisa de ilustração, em 2006, segundo osdados da Pesquisa Nacional de AmostraDomiciliar (PNAD) do IBGE, cerca de52% das pessoas de 18 anos inseridas naPEA não estudavam, ao passo que o per-centual entre aquelas com 17 anos de idadefoi de 31%, o que corresponde a uma vari-ação de 21 pontos percentuais. Nesse ano,verifica-se também a maior pressão exerci-da pelos jovens de 18 anos sobre o merca-do de trabalho, já que a taxa de participa-ção3 passou de 47% entre os jovens de 17anos para 63% entre os de 18 anos.

Os estudos de Camarano et al. (2006)constataram, por sua vez, que várias pessoasentre 18 e 29 anos ainda vivenciam expe-riências típicas da juventude, como a per-

manência no domicílio de origem. Em 1995,segundo os dados da PNAD, em torno de30% dos jovens desocupados de 25 a 29anos viviam na condição de filhos nos do-micílios; em 2006, essa proporção atingiu38%. Assim, no passado recente, elevou-sea proporção de jovens que não completa-ram seu processo de autonomização destatus, mesmo em faixas etárias mais eleva-das. Em face do grande número de pessoasentre 18 e 29 anos que vivenciam eventosjuvenis, optamos pelo corte etário que in-clui pessoas nessa idade. Assim sendo, nes-te estudo os jovens compreendem pessoasde 18 a 29 anos de idade.

Em 2006, a taxa de desocupação ju-venil no Brasil atingiu 14,8%, enquanto pa-ra as pessoas com mais de 30 anos essa taxacorrespondeu a 5,2%. Os dados revelam queos jovens enfrentam maiores dificuldades deobtenção de emprego, possivelmente por-que têm experiência laboral insuficiente,além do que a própria fase da vida em quese encontram também influencia nessa taxa.Muitos jovens ainda contam com o supor-te familiar, o que lhes permite permanecermaior tempo na busca por uma ocupação.Entretanto, os jovens desocupados não for-mam um conjunto homogêneo. Isto é, entreeles há diferença no nível de escolaridade eem variáveis socioeconômicas que influen-ciam as probabilidades de conseguirem tra-

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2 A taxa de desocupação ea taxa de desempregoaberto são utilizadas pelosestudiosos comoequivalentes, porémexistem diferenças.O termo “desemprego” serefere à ausência de umtrabalho formal, enquantoa categoria “desocupação”se refere à ausência dequalquer ocupação (formale informal) conjugada coma busca de trabalho.3 A taxa de participaçãocorresponde à razãoentre PopulaçãoEconomicamente Ativa(PEA) e População emIdade Ativa (PIA). Ou seja,é uma proxy da oferta detrabalho relativa.

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balho. Desse modo, como alerta Abramo(2005), no presente o mais adequado é sereferir à juventude no plural: juventudes.Pensar juventude como grupo heterogê-neo é importante, pois, considerando o la-do da oferta, a qualificação das pessoas quebuscam trabalho pode influenciar de for-ma significativa suas chances de obtençãode um posto de trabalho.

A qualificação da força de trabalhoenvolve vários componentes, como o conhe-cimento formal (escolaridade), o conheci-mento adquirido no local de trabalho (ex-periência), hábitos e atitudes. Em relaçãoaos últimos componentes, os jovens estãoem desvantagem, já que muitos deles estãoem busca do primeiro emprego. Entretan-to, poderiam se destacar no item escolari-dade, uma vez que a expansão do sistemaeducacional brasileiro beneficiou, sobretu-do, as novas gerações.

No intuito de captar em algumamedida a heterogeneidade entre os jovensdesocupados, principalmente no atributo“escolaridade”, optamos por separá-los emjovens pobres e não pobres. O recorte en-tre jovens pobres versus não pobres tem se-us limites, já que existe enorme diversidadedentro de cada uma dessas categorias. Noentanto, o mérito desse recorte é delimitaro núcleo de jovens mais fragilizados eco-nomicamente e que exige ações imediatas

por parte do poder público. Além disso, osjovens desocupados foram segmentadosem faixas etárias, pois em geral a taxa dedesocupação tende a se reduzir com a ele-vação da idade. Assim, foram estabelecidasquatro faixas etárias: 18 a 20 anos, 21 a 23anos, 24 a 26 anos, 27 a 29 anos.

Os jovens pobres comparados aosnão pobres, em qualquer grupo etário, apre-sentam indicadores de desocupação signi-ficativamente mais elevados. Em geral, ar-gumenta-se que esse diferencial resulta dobaixo nível de escolaridade entre os jovenspobres. Para muitos analistas, no Brasil, abaixa geração de postos de trabalho se con-jugou com transformações no sistema pro-dutivo que exigem um nível de escolarida-de mais elevado para que os trabalhadorespossam se adaptar adequadamente a váriospostos de trabalho. Em paralelo a essas mo-dificações, o nível de escolaridade entre aforça de trabalho se elevou. Ademais, os em-presários têm à sua disposição elevado nú-mero de trabalhadores experientes desocu-pados. Nesse contexto, os jovens poucoescolarizados enfrentariam maiores dificul-dades de obtenção de ocupação, principal-mente no mercado formal de trabalho.

Posto isso, espera-se que a menortaxa de desocupação esteja entre os jovensmais escolarizados. Neste artigo, analisare-mos a taxa de desocupação entre jovens

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pobres e não pobres segundo diferentes ní-veis de estudo.

O artigo contém quatro seções: aprimeira compreende uma exposição dametodologia utilizada no tratamento esta-tístico dos dados da PNAD/IBGE, bemcomo uma explanação sobre os conceitosadotados, ao passo que a segunda seçãoapresenta uma análise dos indicadores dedesocupação entre os jovens pobres e nãopobres. A terceira seção, por sua vez, com-preende um estudo sobre os jovens deso-cupados pobres e não pobres e seu nível deescolaridade. Por fim, as notas conclusivas.

2_ Metodologia, dados e variáveisA maioria dos estudos que utilizam dadosda PNAD não leva em consideração odelineamento da amostra, realizando sim-plesmente estimativas de ponto. Ou seja,os pesquisadores tratam os resultados ob-tidos por meio desta pesquisa como se fos-sem provenientes diretamente de uma po-pulação completa em vez de uma amostra,sem qualquer cuidado com a inferência es-tatística.4 A PNAD é o maior levantamen-to anual de dados sociais, demográficos eeconômicos das famílias, domicílios e pes-soas realizado no Brasil. O delineamentoda amostra segue um esquema misto, compré-estratificação de grupos regionais de

municípios e a constituição de conglome-rados em múltiplas etapas. Para cada Uni-dade da Federação (UF), subdivide-se suaárea em diversos estratos, que são agrupa-mentos de diversos municípios vizinhos.Além disso, os municípios são classificadosem três áreas censitárias: região metropoli-tana, municípios autorrepresentativos emu- nicípios não autorrepresentativos.

No caso das regiões metropolitanase dos municípios autorrepresentativos, to-dos os municípios integram a amostra. Emambos os casos, a unidade primária deamostragem (primary sampling unit – PSU) éo setor censitário, e os municípios são sele-cionados com probabilidade igual a 1.

Nos estratos que contêm os muni-cípios não autorrepresentativos em cadaUF, inicialmente são selecionados dois mu-nicípios com probabilidade proporcionalao seu tamanho (estimativa populacionalbaseada no último Censo Demográfico).Em seguida, diversos setores censitários sãoselecionados com probabilidade proporci-onal ao número de domicílios contido emcada setor. Por último, nos setores censitá-rios selecionados, é realizada uma amostrasistemática de domicílios. Conclui-se que, nocaso dos municípios não autorrepresenta-tivos, a amostra é realizada em três estágios,dos quais o primeiro (PSU) corresponde àescolha aleatória do município. Esse muni-

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4 Em alguns exercícioseconométricos, como nosmodelos de regressão, osdados das PNADs sãotratados como se fossemprovenientes de uma amostraaleatória simples. Nessesestudos, não se consideram osefeitos de elevação davariância nas estimativas.Essa elevação na variância sedeve aos diversos estágiosde amostragem.

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cípio sorteado permanece na amostra aolongo de uma década. Outro municípionão autorrepresentativo será sorteado apósa realização de novo censo demográfico. Aamostra da PNAD tem um delineamentomisto, já que, nas regiões metropolitanas enos municípios autorrepresentativos, o pro-cesso de seleção é realizado em dois estági-os; o primeiro corresponde, nesse caso, àseleção dos setores censitários.

Esse tipo de amostragem, que reduzconsideravelmente os custos operacionais,eleva substancialmente os erros probabilís-ticos em relação aos correspondentes auma amostra aleatória simples, pois em ca-da UF as unidades domiciliares ficam con-centradas em um conjunto mais restrito deáreas. Esse procedimento reduz a diversi-dade de informação captada da populaçãoe eleva a variância amostral dos estimado-res utilizados.

Neste artigo, todas as estimativas deindicadores levaram em consideração essascaracterísticas da amostra, para isso utili-zando duas variáveis que definem o dese-nho da amostra: o estrato a que pertence odomicílio e a unidade primária.5 Baseando-se nesses procedimentos, o software Stata foiutilizado na estimativa dos indicadores, umavez que, por meio de rotinas desse software,se pode obter o erro padrão dos indicado-res e, portanto, o grau de precisão das esti-

mativas para os diversos cortes amostrais.Essas rotinas permitem o cálculo dos tes-tes estatísticos de diferenças dos indicado-res analisados, considerando-se o delinea-mento de amostra complexa.

No transcorrer da elaboração dasrotinas, surgiram algumas dificuldades pro-venientes da existência de estratos comPSU único, enquanto os métodos adota-dos pelo Stata6 exigem um mínimo de doisPSUs em cada estrato. Nesse caso, op-tou-se por construir uma rotina para iden-tificá-los e agregá-los aos estratos de maiornúmero de observações, em cada UF, dilu-indo uma possível fonte de viés na estima-tiva da variância dos estimadores. A exis-tência de estratos com PSU único se deve àcriação de estratos referentes a novas uni-dades domiciliares, verificados na atividadeanual de recadastramento realizada peloIBGE. Em geral, o número de domicíliosnesses estratos não é muito elevado emcomparação ao conjunto da amostra.

Como se sabe, a partir de 1992, oconceito de trabalho adotado na PNADem sintonia com a definição da Organiza-ção Internacional do Trabalho (OIT) abar-ca as pessoas:

a. que exercem uma ocupação remu-nerada em dinheiro, produtos, mer-cadorias ou benefícios na produ-ção de bens e serviços;

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5 Em futuros trabalhos,pretende-se utilizar fatores decorreção de população finitapara a primeira etapa deseleção (PSUs), assim comoprocedimentos depós-estratificação da amostra.Os primeiros são necessáriospara obter estimativas maisprecisas para as variâncias dosestimadores, e os segundos,para eliminar eventuais vieses.6 O comando do Stata

denominado svy ratio,

que estima o valor de umarazão (neste trabalhoestimamos a taxa dedesocupação), utiliza emsua abordagem analítica ométodo da linearizaçãode Taylor, baseado naconhecida decomposiçãomatemática da fórmula doestimador e aplicada aodelineamento de amostragempor conglomerados.

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b. que exercem ocupação remunera-da em dinheiro ou benefícios noserviço doméstico;

c. que exercem ocupação sem remu-neração na produção de bens eserviços, desenvolvida durante pe-lo menos uma hora na semana;

d. que exercem uma ocupação na pro-dução para o próprio consumoou na construção para o própriouso durante pelo menos uma ho-ra na semana.

Esse conceito amplo de trabalho su-perdimensiona o número de ocupados, so-bretudo na agricultura, já que em áreas ruraissubdesenvolvidas predomina a subocupa-ção. No intuito de evitar essa superestima-ção, redefinimos o conceito de trabalho,que inclui, em nosso estudo, as pessoas queexercem ocupação remunerada, mas tam-bém aquelas que exercem ocupação semremuneração acima de 15 horas semanais.No entanto, em nosso conceito de traba-lho, desconsideramos as pessoas que exer-cem um trabalho para autoconsumo ou naconstrução para fins próprios.7

Tal redefinição torna mais adequa-da a categoria taxa de desocupação para osresidentes na zona rural, pois reduz a in-fluência da subocupação e a desocupaçãodisfarçada em seu cálculo.

Os indivíduos que executam trabalhosem remuneração durante menos de 15 ho-ras semanais sem procura de emprego sãoconsiderados inativos, enquanto as pessoasque exercem esse tipo de trabalho, mas pro-curam trabalho na semana de referência,são consideradas desocupadas. Já as pessoasque exerceram trabalho para autoconsumo,ou na construção para fins próprios, são con-sideradas desocupadas se procuraram tra-balho, ao passo que aquelas que não procu-raram são classificadas como inativas.8

Além disso, para o ano de 2006, fo-ram excluídas da PNAD as informaçõesreferentes às pessoas que residem na zonarural da região Norte (exceto rurais doEstado de Tocantins), no intuito de com-patibilizar nossa série.9

3_ Desocupação juvenil e pobrezaA partir dos anos 1980, a economia brasi-leira vem alternando períodos de cresci-mento e desaceleração do Produto InternoBruto (PIB). Todavia, nosso desempenhoeconômico piorou significativamente aolongo dos anos. Como ilustração, na dé-cada de 80, a variação real anual média doPIB foi de 3,0. Após a década de 90, veri-ficamos uma deterioração desse indica-dor; a variação real anual média do PIBpermaneceu em 2,1%, enquanto a taxa

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7 O estudo de Ramos (2007)adota definições semelhantesàs utilizadas neste artigo para acategoria trabalho.8 Essa compatibilização doconceito de ocupação serealizou por meio de umasintaxe cedida gentilmente porVandeli Santos Guerra(ex-funcionária do IBGE eatual consultora desse órgão).9 Somente em 2004 osresidentes de toda a área ruraldo Norte do Brasil foramincluídos na amostra daPNAD, que até entãopesquisava apenas os doEstado de Tocantins.

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de desocupação em 1992 foi de 7,1%;porém, no ano de 2006, essa taxa corres-pondeu a 9% (IPEA DATA; PNAD vá-rios anos).

A extraordinária elevação no indica-dor de desocupação se deve a um conjuntode fatores econômicos. Na década de 90, osmarcos regulatórios de nossa economia fo-ram alterados por meio da abertura comer-cial e da liberalização financeira. A aberturacomercial intensificou a pressão competitivasobre as empresas nacionais, que realizaramajustes produtivos através da adoção de ino-vações tecnológicas e organizacionais. O re-sultado dessas inovações foi o fechamentode vários postos de trabalho, em especial naindústria de transformação. Além disso, a ór-bita financeira assumiu importância sem pre-cedentes na estratégia de valorização da ri-queza. Esse novo espaço de valorização dariqueza reduziu a atratividade dos investi-mentos produtivos, que são importantesgeradores de emprego. Nesse período, con-jugaram-se desempenho macroeconômicomedíocre, privatizações de empresas estatais,reestruturação industrial e valorização cam-bial (sobretudo, no período 1994 a 1999).Esses fatores combinados resultaram naelevação do índice de desocupação.

No caso de jovens, em 1992, a razãoentre a taxa de desocupação juvenil (18 a29 anos) e a dos adultos correspondeu a

2,4. Transcorridos quatorze anos, o coefi-ciente entre essas duas taxas saltou para2,7. Ou seja, a partir dos anos 90, os dadosde desocupação revelam maiores dificulda-des de obtenção de trabalho para os jovens.

Em geral, o indicador de desocupa-ção dos jovens é duas vezes maior que o in-dicador dos adultos (Cacciamali, 2005). Nes-te estudo, não temos a pretensão de realizaruma análise exaustiva dos principais deter-minantes da desocupação juvenil, porémpodemos problematizar algumas teses quecreditam esse diferencial ao atributo “escola-ridade”. Focalizando esse atributo, os jovenstêm na verdade vantagens, pois, no ano de2006, segundo dados da PNAD/IBGE, osjovens desocupados de 18 a 29 anos ti-nham em média nove anos de estudo, en-quanto no caso das pessoas de 30 a 39 anosessa média era de oito anos. Cabe ressaltarque essa vantagem no nível de escolaridadenão pode ser generalizada entre os jovensdesocupados. Desse modo, urge analisar odiferencial de escolaridade e de desocupa-ção entre grupos juvenis.

As pessoas mais jovens, na verdade,têm de forma efetiva maior desvantagemno atributo “experiência de trabalho”. Nomesmo ano, cerca de 32% dos jovens de-socupados de 18 a 29 anos declararam quenunca trabalharam, enquanto entre as pes-soas de 30 a 39 anos essa proporção se re-

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duziu para 10%. Em faixas etárias meno-res, o percentual de jovens desocupadosem busca do primeiro emprego se elevasignificativamente. A título de exemplo, emtorno de 49% dos jovens de 18 a 20 anosem busca de ocupação nunca trabalharam.Os dados em geral, portanto, revelam quea maior desvantagem dos jovens desocu-pados em relação aos adultos é a insufici-ente experiência laboral em vez do nível deescolaridade. No Brasil, o diferencial da ta-xa de desocupação juvenil e dos adultos sedeve em grande parte ao diferencial na ex-periência laboral.

Fora isso, a evolução do indicadorde desocupação dos jovens brasileiros apartir da década de 1990 não revela ne-nhum cenário catastrófico particular paraos jovens. Atualmente, maiores dificulda-des de obtenção de emprego são enfrenta-das por todos os integrantes da PEA. Em1992, a taxa de desocupação para as pesso-as de 30 a 39 anos foi de 5,4%, e em 2006essa taxa alcançou 6,5%. Mas, como os jo-vens sempre tiveram um indicador de de-socupação maior que o dos adultos, elesforam os mais penalizados nesse contextode elevação brutal da desocupação.

Vale observar que os jovens deso-cupados enfrentam realidades distintas nabusca pelo trabalho. No intuito de apreen-dermos as particularidades dos diversos

grupos de jovens, principalmente no atri-buto “escolaridade”, optamos por dividi-los em jovens pobres e não pobres. Esseprocedimento permite a identificação donúcleo mais fragilizado economicamenteentre os jovens.

A definição de pobreza e de uma li-nha de pobreza envolve amplo debate en-tre os pesquisadores da denominada “áreasocial” no Brasil. Rocha (2003) ressalta aimportância da definição de uma linha depobreza que não seja relativa, mas pautadana observação do consumo das famílias.Essa linha permitiria diagnosticar a pobre-za e estabelecer critérios de acesso a benefí-cios ou a programas sociais. A autora con-sidera também necessária a construção dediversas linhas de pobreza que captem osdiferentes custos de consumo das famíliasbrasileiras. No entanto, o uso dessas linhasde pobreza não impede sua conjugaçãocom outros indicadores sociais, como onúmero de domicílios com acesso à águapotável e outros indicadores de privação. Aautora defende também a adoção de linhasde pobreza diferenciadas para diagnósticose avaliação, mas argumenta em favor deuma única linha de pobreza como critériode elegibilidade de programas sociais pormotivos operacionais.

Por outro lado, Sposati (2000) argu-menta que uma definição de pobreza ancora-

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da na abordagem do consumo seria bastanterestritiva. Segundo a autora, os estudos depobreza devem-se orientar por uma defini-ção multidimensional da pobreza que in-clua o acesso aos direitos sociais no cálculodos indicadores.

Lavinas (2007), por sua vez, consi-dera contraproducente a definição de váriaslinhas de pobreza, pois dispersa os esfor-ços, além de enfraquecer novas institucio-nalidades no enfrentamento da questão.No dizer da autora,

o desafio está justamente em operar mu-

danças na compreensão do que é pobreza,

dos seus conteúdos, na eleição de práticas

de mensuração velhas conhecidas e que

acabam por consolidar números mágicos,

cuja magnitude acaba sendo definida ex-

ante em consonância com a ordem de gran-

deza do politicamente aceitável.

Para Lavinas (2007), a experiênciada União Europeia na construção de indi-cadores sociais deve ser objeto de reflexão.Nesse caso, a opção foi a definição de umalinha de pobreza relativa, situada abaixo de50% da renda mediana per capita. Entretanto,Barr (2003) aponta que as várias medidasde pobreza têm ambiguidades. O resultadoda adoção dessa linha de pobreza relativanos países europeus foi o menor número depobres em Portugal que na Inglaterra. Esse

resultado reduz os custos da política anti-pobreza europeia, mas minimiza a neces-sidade de recursos para superar as diferen-ças entre os países europeus.

Em nosso país, há uma fração daspessoas pobres10 que enfrenta a insegurançaalimentar, além da exclusão de vários direi-tos sociais, ao passo que nos países europeusa pobreza não está vinculada à insegurançaalimentar. Ademais, o critério de acesso aosprogramas de assistência social do governofederal se baseia numa única linha de po-breza, cujo valor corresponde a uma deter-minada proporção do salário mínimo, emvez de partir de estruturas de consumo di-ferentes. Essa opção governamental se de-ve, em parte, às facilidades operacionais deuma única linha de pobreza.

A linha de pobreza utilizada nosprogramas de transferência de renda doexecutivo federal, dado o seu baixo valormonetário, na verdade contabiliza somenteos indigentes. No intuito de realizar um le-vantamento mais realista dos jovens po-bres, elegemos as linhas de pobreza defini-das por Rocha (2003).11

Em primeiro lugar, conforme de-monstra a Tabela 1, constatamos que a taxade desocupação dos jovens pobres é maiorque a taxa dos jovens não pobres; a razãomédia entre essas taxas foi de 2,5 nos anosestudados. Na verdade, uma das caracterís-

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10 Segundo Rocha (2003,p. 13), “[...] pobres são aqueles

com renda se situando abaixo do

valor estabelecido como linha de

pobreza, incapazes, portanto, de

atender ao conjunto de necessidades

mínimas naquela sociedade.

Indigentes, um subconjunto dos

pobres, são aqueles cuja renda é

inferior à necessidade para

atender apenas às

necessidades nutricionais”.11 As linhas de pobrezaforam gentilmente cedidaspela autora.

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ticas das pessoas pobres é uma taxa de de-socupação mais elevada em relação às nãopobres. Segundo Rocha (2004), essa dis-crepância se deve à baixa geração de postosde trabalho e à reestruturação produtivaque penalizou com maior intensidade aspessoas pouco qualificadas. Em nosso es-tudo, elegemos os anos de 1995, 2002 e2006, que se caracterizaram pelo baixo cres-cimento econômico e elevada taxa de de-socupação global.12

Os dados da Tabela 2 apontam queas razões entre a taxa de desocupação dos jo-vens pobres e não pobres são significativa-mente elevadas no período estudado. Cons-tata-se também que em 2002 o diferencialentre essas taxas teve uma queda; no entan-to, ainda permanece elevada a desvanta-gem dos indicadores de desocupação dosjovens pobres.

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12 A variação anual realdo PIB em 1995, 2002 e 2006foi 4,42, 2,66 e 3,75%,respectivamente. Enquanto ataxa de desocupação nessesanos correspondeua 6,5, 9,6 e 9,0%.

Tabela 1_ Taxa de desocupação segundo situação econômica e faixas etárias– 1995/2002/2006 (%)

Situação econômica Faixas etáriasTaxa de desocupação

1995 2002 2006

Pobres

18 a 20 anos 20,8 32,9 38,7

21 a 23 anos 19,9 26,6 32,6

24 a 26 anos 15,8 22,0 26,0

27 a 29 anos 12,1 17,2 18,6

Subtotal 25,2 20,6 29,4

Não pobres

18 a 20 anos 10,6 17,6 17,3

21 a 23 anos 7,7 11,4 11,4

24 a 26 anos 5,0 7,9 8,6

27 a 29 anos 3,8 13,2 6,0

Subtotal 21,6 6,0 21,7

Total

18 a 20 anos 10,3 14,9 15,1

21 a 23 anos 7,4 11,2 11,5

24 a 26 anos 5,7 9,3 8,8

27 a 29 anos 7,4 11,2 11,5

Total 9,2 14,3 14,8

Fonte: PNAD/IBGE (Elaboração própria).

Page 12: Juventude(s) - desocupação, pobreza e escolaridade

Nos anos de 1995, 2002 e 2006, to-dos os testes de diferença realizados entreas taxas de desocupação dos jovens pobrese não pobres na mesma faixa etária revela-ram resultados estatisticamente significati-vos, e o valor exato do nível de significân-cia (p13-value) foi de 0,000 (Tabelas 3, 4 e 5).Em resumo, em cada ano analisado, a tota-lidade dos testes de diferença entre taxas dedesocupação juvenis se revelou significati-va, ratificando de forma inferencial as desi-gualdades apontadas na Tabela 1.

Em seguida, observamos na Tabela1 que as taxas de desocupação normal-

mente revelam uma redução à medida queos jovens adquirem mais idade. As pessoasde faixas etárias mais elevadas, em geral,têm alguma experiência anterior de traba-lho que facilita a obtenção de um novo em-prego. Ou seja, com o passar do tempo, osjovens melhoram sua chance de inserçãoocupacional. No entanto, essa redução severifica com maior intensidade entre os jo-vens não pobres. O resultado disso é que arazão entre a taxa de desocupação de jo-vens pobres e não pobres cresce na medidaem que se passa para faixas etárias mais ele-vadas (Tabela 2).

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Juventude(s)486

13 O valor de p é definidocomo o menor nível designificância ao qual se poderejeitar uma hipótese nula.Neste trabalho, a hipótese nulaé a igualdade entre as duasrazões, ou seja, a diferençaentre as duas razõescorresponde a zero.

Tabela 2_ Razão entre a taxa de desocupação dos jovens pobres e não pobressegundo faixas etárias – 1995/2002/2006

Razões entre taxasde desocupação 1995 2002 2006

Razão 1 1,96 1,87 2,24

Razão 2 2,58 2,33 2,86

Razão 3 3,16 2,78 3,02

Razão 4 3,18 3,10 3,43

Legenda: Razão 1 =Taxa de desocupação jovens de 18 a 20 anos pobres

Taxa de desocupação jovens de 18 a 20 anos não pobres

Razão 2 =Taxa de desocupação jovens de 21 a 23 anos pobres

Taxa de desocupação jovens de 21 a 23 anos não pobres

Razão 3 =Taxa de desocupação jovens de 24 a 26 anos pobres

Taxa de desocupação jovens de 24 a 26 anos não pobres

Razão 4 =Taxa de desocupação jovens de 27 a 29 anos pobres

Taxa de desocupação jovens de 27 a 29 anos não pobres

Fonte: PNAD/IBGE (Elaboração própria).

Page 13: Juventude(s) - desocupação, pobreza e escolaridade

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Tabela 3_ Resultados dos testes de diferença entre taxas de desocupação juvenil – 1995

Diferençasentre razões(a) Estimativa(b) Erro padrão(c) Teste-T(d) p-value(e)

1-2 0,1004 0,0096 10,36 0,000***

3-4 0,1219 0,0094 12,85 0,000***

5-6 0,1084 0,0081 13,40 0,000***

7- 8 0,0832 0,0078 10,65 0,000***

1-3 0,0081 0,0115 0,71 0,478

3-5 0,0403 0,0113 3,57 0,000

5-7 0,0373 0,0107 3,48 0,001**

2-4 0,0296 0,0052 5,70 0,000***

4-6 0,0269 0,0041 6,47 0,000***

6-8 0,0120 0,0034 3,53 0,000***

Legenda: (a) A taxa de desocupação é uma razão entre desocupados e PEA.

(b) Esse valor equivale ao estimador da diferença entre as taxas de desocupação.(c) A precisão de uma estimativa é medida pelo seu erro padrão,

que corresponde ao desvio-padrão amostral do estimador.

(d) Se quisermos calcular a precisão da estimativa dos testes de diferença,também podemos usar o teste-t, que corresponde à estimativa dividida pelo erro padrão.Valores elevados desse teste indicam estimativas significativamente distintas de zero.

(e) O valor de p é definido como o menor nível de significância ao qual se pode rejeitar uma hipótese nula.Neste trabalho, a hipótese nula é a igualdade entre as duas razões, ou seja, a diferença entre as duasrazões corresponde a zero.

** Significativo em nível de 1%.*** Significativo em nível de 0,1%;

1 = Taxa de desocupação jovem 18-20 anos pobre;

2 = Taxa de desocupação jovem 18-20 anos não pobre;

3 = Taxa de desocupação jovem 21-23 anos pobre;

4 = Taxa de desocupação jovem 21-23 anos não pobre;

5 = Taxa de desocupação jovem 24-26 anos pobre;

6 = Taxa de desocupação jovem 24-26 anos não pobre;

7 = Taxa de desocupação jovem 27-29 anos pobre;

8 = Taxa de desocupação jovem 27-29 anos não pobre.

Fonte: PNAD/IBGE (Elaboração própria).

Page 14: Juventude(s) - desocupação, pobreza e escolaridade

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Juventude(s)488

Tabela 4_ Resultados dos testes de diferença entre taxas de desocupação juvenil – 2002

Diferenças entre as razões Estimativa Erro padrão Teste-T p-value

1-2 0,1529 0,0106 14,43 0,000***

3-4 0,1518 0,0100 15,09 0,000***

5-6 0,1401 0,0090 15,40 0,000***

7-8 0,1258 0,0081 15,49 0,000

1-3 0,0630 0,0125 5,03 0,000***

3-5 0,0463 0,0125 3,70 0,000***

5-7 0,0334 0,0107 3,12 0,002*

2-4 0,0620 0,0053 11,56 0,000***

4-6 0,0346 0,0044 7,77 0,000***

6-8 0,0191 0,0041 4,57 0,000***

Legenda: * Significativo em nível de 5%; *** Significativo em nível de 0,1%.

1 = Taxa de desocupação jovem 18-20 anos pobre; 2 = Taxa de desocupação jovem 18- 20 anos não pobre;3 = Taxa de desocupação jovem 21-23 anos pobre; 4 = Taxa de desocupação jovem 21-23 anos não pobre;5 = Taxa de desocupação jovem 24-26 anos pobre; 6 = Taxa de desocupação jovem 24-26 anos não pobre;7 = Taxa de desocupação jovem 27-29 anos pobre; 8 = Taxa de desocupação jovem 27-29 anos não pobre.

Fonte: PNAD/IBGE (Elaboração própria).

Tabela 5_ Resultados dos testes de diferença entre taxas de desocupação juvenil – 2006

Diferenças entre as razões Estimativa Erro padrão Teste-T p-value

1- 2 0,2138 0,0118 18,05 0,000***

3- 4 0,2117 0,0113 18,71 0,000***

5- 6 0,1741 0,0103 16,84 0,000***

7- 8 0,1457 0,0091 15,90 0,000***

1-3 0,0608 0,0139 4,37 0,000***

3-5 0,0656 0,0137 4,77 0,000***

5-7 0,0546 0,0125 4,37 0,000***

2-4 0,0587 0,0049 11,77 0,000***

4-6 0,0280 0,0041 6,77 0,000***

6-8 0,0263 0,0038 6,91 0,000***

Legenda: *** Significativo em nível de 0,1%.

1 = Taxa de desocupação jovem 18-20 anos pobre; 2 = Taxa de desocupação jovem 18-20 anos não pobre;3 = Taxa de desocupação jovem 21-23 anos pobre; 4 = Taxa de desocupação jovem 21-23 anos não pobre;5 = Taxa de desocupação jovem 24-26 anos pobre; 6 = Taxa de desocupação jovem 24-26 anos não pobre;7 = Taxa de desocupação jovem 27-29 anos pobre; 8 = Taxa de desocupação jovem 27-29 anos não pobre.

Fonte: PNAD/IBGE (Elaboração própria).

Page 15: Juventude(s) - desocupação, pobreza e escolaridade

Todos os testes de diferença entreas taxas dos jovens não pobres nos diver-sos grupos etários e quase todos os testesentre as taxas de desocupação dos jovenspobres nas diversas faixas etárias foramsignificativos. Na maioria das vezes, o valorexato do nível de significância (p-value14) foide 0,000; em alguns casos, esse nível atin-giu 0,001 e 0,002 (Tabelas 3, 4 e 5). Entre-tanto, o teste de diferença entre as taxasdos jovens pobres de 18 a 20 anos e 21 a 23anos não foi significativo em 1995 (comum p-value elevado de 0,478). Esse resulta-do revela que, no referido ano, a taxa de de-socupação iniciou sua queda somente apartir da terceira faixa etária (24 a 26 anos).

Os testes de diferença das taxas dedesocupação das diversas faixas etárias dosjovens pobres e não pobres ao longo do tem-po apontaram algumas particularidades. Nointervalo de 1995 a 2002, os resultados dostestes de diferença entre as taxas de desocu-pação dos jovens pobres nos diversos gru-pos etários foram significativos, e o nívelexato de significância foi de 0,000. Tam-bém se verificou o mesmo resultado paraos testes de diferença entre as taxas dos jo-vens não pobres nas diversas faixas etáriasem intervalo idêntico (Tabela 6).

Isso significa que, para todas as fai-xas etárias de jovens pobres e não pobres,se verifica uma elevação significativa das

taxas desocupação entre 1995 e 2002. En-tre 2002 e 2006, os resultados dos testes dediferença entre as taxas de desocupaçãodos jovens pobres foram significativos nosvários grupos etários, exceto no caso dosjovens de 27 a 29 anos (Tabela 7). No mes-mo período, os resultados desses testes dediferença para os jovens não pobres nãoforam relevantes.

Como se pode ver, os testes confir-maram que os jovens pobres nos intervalosestudados enfrentaram crescentes dificulda-des de obtenção de ocupação; porém, a úni-ca exceção foi os jovens pobres de 27 a 29anos no período de 2002 a 2006. Cabe sali-entar que o cenário não se revelou tão pro-blemático para os jovens desocupados nãopobres no intervalo de 2002 a 2006. Assim,a melhora no ambiente macroeconômico,nesses anos, não reverteu tampouco mitigouas dificuldades de grande parte dos jovenspobres em encontrar ocupação, mas permi-tiu no mínimo a estabilização das dificulda-des dos jovens não pobres. Os dados reve-lam que os jovens pobres, portanto, são maisduramente atingidos pela desocupação.

Nas Tabelas 8 e 9, constam as esti-mativas da diferença entre as variações dastaxas de desocupação entre os jovens po-bres e não pobres nos períodos 1995-2002e 2002-2006.

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14 Esse coeficientecorresponde à razão entre omomento centrado na médiaaritmética média de ordem 3 eo desvio padrão. Se o valor docoeficiente for menor quezero, tem-se assimetria àesquerda e, se maior que zero,assimetria à direita.Quando o coeficiente for iguala zero, verifica-se a presençade simetria.

Page 16: Juventude(s) - desocupação, pobreza e escolaridade

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Juventude(s)490

Tabela 6_ Resultados dos testes de diferença entre taxas de desocupação juvenil 1995-2002

Diferenças entre razões Estimativa Erro padrão Teste-t p-value

1a-1b -0,1242 0,0109 -11,38 0,000***

1c-1d -0,0726 0,0053 -13,67 0,000***

2a-2b -0,0749 0,0111 -6,72 0,000***

2c-2d -0,0405 0,0043 -9,38 0,000***

3a-3b -0,0607 0,0103 -5,88 0,000***

3c-3d -0,0317 0,0037 -8,65 0,000***

4a-4b -0,6579 0,0093 -7,09 0,000***

4c-4d -0,0193 0,0033 -5,93 0,000***

Legenda: *** Significativo em nível de 0,1%

1a = Taxa de desocupação jovem 18-20 anos pobre 1995; 1b = Taxa de desocupação jovem 18-20 anos pobre 2002;1c = Taxa de desocupação jovem 18-20 anos não pobre 1995; 1d = Taxa de desocupação jovem 18-20 anos não pobre 2002;2a = Taxa de desocupação jovem 21-23 anos pobre 1995; 2b = Taxa de desocupação jovem 21-23 anos pobre 2002;2c = Taxa de desocupação jovem 21-23 anos não pobre 1995; 2d = Taxa de desocupação jovem 21-23 anos não pobre 2002;3a = Taxa de desocupação jovem 24-26 anos pobre 1995; 3b = Taxa de desocupação jovem 24-26 anos pobre 2002;3c = Taxa de desocupação jovem 24-26 anos não pobre 1995; 3d = Taxa de desocupação jovem 24-26 anos não pobre 2002;4a = Taxa de desocupação jovem 27-29 anos pobre 1995; 4b = Taxa de desocupação jovem 27-29 anos pobre 2002;4c = Taxa de desocupação jovem 27-29 anos não pobre 1995; 4d = Taxa de desocupação jovem 27-29 anos não pobre 2002.

Fonte: PNAD/IBGE (Elaboração própria).

Tabela 7_ Resultados dos testes de diferença entre taxas de desocupação juvenil 2002-2006

Diferenças entre razões Estimativa Erro padrão Teste-t p-value

1a-1b -0,0568 0,0120 -4,75 0,000***

1c-1d 0,0067 0,0054 1,23 0,218

2a-2b -0,0588 0,0119 -4,95 0,000***

2c-2d -0,0007 0,0043 -0,17 0,864

3a-3b -0,0383 0,0111 -3,44 0,001**

3c-3d -0,0053 0,0038 -1,42 0,155

4a-4b -0,0118 0,0099 -1,20 0,231

4c-4d -0,0016 0,0033 -0,48 0,634

Legenda: ** Significativo em nível de 1%;*** Significativo em nível de 0,1%

1a = Taxa de desocupação jovem 18-20 anos pobre 2002; 1b = Taxa de desocupação jovem 18-20 anos pobre 2006;1c = Taxa de desocupação jovem 18-20 anos não pobre 2002; 1d = Taxa de desocupação jovem 18-20 anos não pobre 2006;2a = Taxa de desocupação jovem 21-23 anos pobre 2002; 2b = Taxa de desocupação jovem 21-23 anos pobre 2006;2c = Taxa de desocupação jovem 21-23 anos não pobre 2002; 2d = Taxa de desocupação jovem 21-23 anos não pobre 2006;3a = Taxa de desocupação jovem 24-26 anos pobre 2002; 3b = Taxa de desocupação jovem 24-26 anos pobre 2006;3c = Taxa de desocupação jovem 24-26 anos não pobre 2002; 3d = Taxa de desocupação jovem 24-26 anos não pobre 2006;4a = Taxa de desocupação jovem 27-29 anos pobre 2002; 4b = Taxa de desocupação jovem 27-29 anos pobre 2006;4c = Taxa de desocupação jovem 27-29 anos não pobre 2002; 4d = Taxa de desocupação jovem 27-29 anos não pobre 2006.

Fonte: PNAD/IBGE (Elaboração própria).

Page 17: Juventude(s) - desocupação, pobreza e escolaridade

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Tabela 8_ Resultados dos testes de diferença entre a variação das taxas de desocupaçãodos jovens pobres e não pobres segundo faixas etárias no intervalo de 1995 a 2002

Diferenças entre as razões Estimativa Erro padrão Teste-t p-value

[1b-1a]-[1d-1c] 0,0525 0,0144 3,66 0,000***

[2b-2a]-[2d-2c] 0,0300 0,0138 2,17 0,030*

[3b-3b]-[3d-3c] 0,0316 0,0122 2,60 0,009***

[4b-4a]-[4d-4c] 0,0426 0,0113 3,78 0,000***

Legenda: * Significativo em nível de 5%;*** Significativo em nível de 0,1%.

1a = Taxa de desocupação jovem 18-20 anos pobre 1995; 1b = Taxa de desocupação jovem 18-20 anos pobre 2002;1c = Taxa de desocupação jovem 18-20 anos não pobre 1995; 1d = Taxa de desocupação jovem 18-20 anos não pobre 2002;2a = Taxa de desocupação jovem 21-23 anos pobre 1995; 2b = Taxa de desocupação jovem 21-23 anos pobre 2002;2c = Taxa de desocupação jovem 21-23 anos não pobre 1995; 2d = Taxa de desocupação jovem 21-23 anos não pobre 2002;3a = Taxa de desocupação jovem 24-26 anos pobre 1995; 3b = Taxa de desocupação jovem 24-26 anos pobre 2002;3c = Taxa de desocupação jovem 24-26 anos não pobre 1995; 3d = Taxa de desocupação jovem 24-26 anos não pobre 2002;4a = Taxa de desocupação jovem 27-29 anos pobre 1995; 4b = Taxa de desocupação jovem 27-29 anos pobre 2002;4c = Taxa de desocupação jovem 27-29 anos não pobre 1995; 4d = Taxa de desocupação jovem 27-29 anos não pobre 2002.

Fonte: PNAD/IBGE, (Elaboração própria).

Tabela 9_ Resultados dos testes de diferença entre a variação das taxas de desocupaçãodos jovens pobres e não pobres segundo faixas etárias no intervalo de 2002 a 2006

Diferenças entre as razões Estimativa Erro padrão Teste-t p-value

[1b-1a]-[1d-1c] 0,0609 0,0161 3,77 0,000***

[2b-2a]-[2d-2c] 0,0598 0,0156 3,85 0,000***

[3b-3b]-[3d-3c] 0,0340 0,0139 2,45 0,014*

[4b-4a]-[4d-4c] 0,0199 0,0121 1,65 0,100

Legenda: * Significativo em nível de 5%;*** Significativo em nível de 0,1%.

1a = Taxa de desocupação jovem 18-20 anos pobre 2002; 1b = Taxa de desocupação jovem 18-20 anos pobre 2006; 1c = Taxa dedesocupação jovem 18-20 anos não pobre 2002; 1d = Taxa de desocupação jovem 18-20 anos não pobre 2006; 2a = Taxa dedesocupação jovem 21-23 anos pobre 2002; 2b = Taxa de desocupação jovem 21-23 anos pobre 2006; 2c = Taxa de desocupaçãojovem 21-23 anos não pobre 2002; 2d = Taxa de desocupação jovem 21-23 anos não pobre 2006; 3a = Taxa de desocupação jovem24-26 anos pobre 2002; 3b = Taxa de desocupação jovem 24-26 anos pobre 2006; 3c = Taxa de desocupação jovem 24-26 anos nãopobre 2002; 3d = Taxa de desocupação jovem 24-26 anos não pobre 2006; 4a = Taxa de desocupação jovem 27-29 anos pobre 2002;4b = Taxa de desocupação jovem 27-29 anos pobre 2006; 4c = Taxa de desocupação jovem 27-29 anos não pobre 2002; 4d = Taxade desocupação jovem 27-29 anos não pobre 2006.

Fonte: PNAD/IBGE, (Elaboração própria).

Page 18: Juventude(s) - desocupação, pobreza e escolaridade

Nesse caso, testamos se a variaçãodas taxas de desocupação dos jovens po-bres é significativamente distinta da corres-pondente variação das taxas de desocupa-ção dos jovens não pobres, considerandoas mesmas faixas etárias. Entre 1995 e 2002,os resultados dos testes foram significati-vos em todos os grupos etários, mas o ní-vel exato de significância correspondeu a0,000, 0,009 e 0,03, revelando que, nesseperíodo, os jovens pobres enfrentaram umaevolução mais acentuada das taxas de de-socupação (Tabela 8).

Para o período entre 2002 e 2006,grande parte dos testes de diferença tam-bém foi significativa, exceto no caso dogrupo etário de 27 a 29 anos de idade (Ta-bela 9). Em geral, os testes ratificam que osjovens pobres em relação aos não pobresforam mais penalizados pela elevação dataxa de desocupação, mesmo em períodosde recuperação do crescimento econômico.

Os dados mostram também que ataxa de desocupação entre as diversas fai-xas etárias dos jovens pobres sempre ultra-passou um dígito, enquanto para os jovensnão pobres esse resultado se verifica ape-nas para aqueles com até 23 anos.

As maiores dificuldades de obten-ção de emprego na juventude, no caso daspessoas pobres em relação às pessoas nãopobres, geram problemas na transição des-

ses jovens para a vida adulta. Se entender-mos que, na passagem para a vida adulta, ainserção no mercado de trabalho se consti-tui num momento-chave, é no mínimopreocupante que os jovens pobres mante-nham e eternizem sua dificuldade de inser-ção. Ou seja, a recorrência do desempregopermanece elevada mesmo numa faixa etá-ria em que já se esperava sua redução signi-ficativa, como no caso dos jovens pobresde 27 a 29 anos.

Segundo Guimarães (2006, p. 177),

[...] a forma como o mercado de trabalho

vem se reestruturando põe em risco tal mo-

vimento de autonomização de status, cen-

tral no ciclo de vida. Somente se desligando

progressivamente da família, o jovem adqui-

riria um status social próprio, possibilitado

justamente pelo acesso ao trabalho regular

e ao rendimento dele decorrente, que lhe da-

riam as condições para se tornar um pro-

vedor autônomo da própria sobrevivência

e do grupo familiar que viria a constituir.

Como assinala Sposito (2005), a atualdificuldade de obtenção de ocupação põeem xeque a autonomia financeira inclusivedos adultos. Para a autora, diante dessasmudanças, talvez seja adequada a definiçãoda condição adulta para além da indepen-dência financeira. Ou, como sugere Cama-rano et al. (2006), uma delimitação mais tê-nue entre as várias fases da vida.

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A elevada taxa de desocupação, so-bretudo entre os jovens pobres, dificultasua transição para a vida adulta, que corres-ponderia, em tese, a uma fase de autonomiae independência. Além disso, a juventude éuma fase marcante, já que nessa etapa as pes-soas aprofundam a formação educacionale obtêm experiência profissional, que serãoa base para a sua trajetória ocupacional fu-tura. Todavia, entre os jovens pobres, severifica com maior intensidade a recorrên-cia do desemprego e, portanto, a perma-nente dificuldade de obtenção de um tra-balho regular. Esse percurso vai se refletirnos eventos profissionais futuros da vida.

4_ Jovens desocupados:pobreza e escolaridade

No presente, um dos determinantes apon-tados para a elevada taxa de desocupaçãodos jovens pobres é o baixo nível de esco-laridade. Em meio às transformações daorganização do trabalho e da produção nasempresas conjugada com elevada taxa dedesocupação global, o nível de escolarida-de assume papel preponderante. Nessecenário, os indivíduos com menores ní-veis de escolaridade teriam maiores difi-culdades de obtenção de uma ocupação.

Na atualidade, a transição da juven-tude para a vida adulta seria marcada pelasimultaneidade de vários estágios, como fre-

quência à escola e inserção no mercado detrabalho. A conjugação desses dois estágiosse deve em parte à elevação dos requisitos deescolaridade no processo de seleção e recru-tamento por parte das empresas nacionais.Segundo Madeira (2006), o resultado dessamudança foi o adiamento da idade de saídada escola entre uma parcela de jovens quebusca ampliar sua formação educacional.

O percentual de jovens (18 a 29 anos)que frequentam a escola e compõem a PEAse elevou nos últimos anos, confirmandoque a juventude na atualidade vivencia commaior intensidade a simultaneidade de vá-rias fases que marcam sua transição para avida adulta. Em 2002, em torno de 17% dosjovens inseridos na PEA também estuda-vam, enquanto no ano de 2006 essa propor-ção atingiu 22%. Apesar da elevação na pro-porção de jovens que combinam inserçãono mercado de trabalho e escola, predominaentre os jovens a saída precoce da escola.

Alguns indicadores revelam a gravesituação educacional dos jovens desocupa-dos pobres e não pobres, como o númeromédio de anos de estudo e o coeficiente deassimetria.15 Os resultados dos cálculos in-dicam que a escolaridade média dos jovenspobres nas diversas faixas etárias oscila en-tre seis e oito anos e meio de estudo, en-quanto para os não pobres esse intervalovaria de sete a dez anos de estudo (Tabela

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15 Esse coeficientecorresponde à razão entre omomento centrado na médiaaritmética média de ordem 3 eo desvio padrão. Se o valor docoeficiente for menor quezero, tem-se assimetria àesquerda e, se maior que zero,assimetria à direita.Quando o coeficiente for iguala zero, verifica-se a presençade simetria.

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10). O mais adequado seria que os jovens apartir de 18 anos tivessem no mínimo o en-sino médio ou 12 anos de estudo; no entan-to, o número médio de anos de estudo entreos jovens nos vários grupos etários é menor.Esses dados confirmam que prevalece en-tre os jovens uma saída precoce da escola,sobretudo no caso dos pobres. Os jovens de-socupados pobres distribuídos nas distin-tas faixas etárias têm números médios deanos de estudo e coeficientes de assimetri-as (em termos absolutos) menores do queos indicadores dos não pobres. Ou seja, osjovens pobres se concentram mais intensa-mente nos menores níveis de escolaridade.

O déficit educacional entre os jo-vens se evidencia também por meio de ou-

tros dados da PNAD do ano de 2006, querevelam que 40% dos jovens (18 a 29 anos)pobres desocupados não tinham sequer oensino fundamental completo, ao passoque entre os não pobres essa proporçãopermanecia em 14%. Além disso, 67% dosjovens desocupados pobres tinham no má-ximo 10 anos de estudo; porém, entre os nãopobres esse percentual atingia 39%. Nasfaixas de anos de estudo mais elevadas, taisproporções se invertem. Em torno de 33%de jovens pobres tinham mais de 11 anosde estudo, enquanto no caso dos não po-bres essa proporção era de 61%. Os dadosconfirmam mais uma vez a privação esco-lar da juventude em busca de trabalho.

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Tabela 10_ Número médio dos anos de estudo e o coeficiente de assimetriapara os anos de estudo segundo faixas etáriasde jovens desocupados pobres e não pobres – 2006

Faixas Etárias

18 a 20 21 a 23 24 a 26 27 a 29

Pobre Não pobre Pobre Não pobre Pobre Não pobre Pobre Não pobre

Média* 8,5 10 8 10 8 10 6 7

Coeficiente** -1,04 -1,62 -0,88 -1,06 -0,67 -0,95 -0,22 -0,73

Legenda: * Média dos anos de educação;** Coeficiente de assimetria para os anos de educação.

Fonte: PNAD/IBGE (Elaboração própria).

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As taxas de desocupação juvenil porgrupos de anos de estudo, por sua vez, re-velam algumas surpresas (Tabela 11). Emprincípio, como apontamos anteriormente,o senso comum sobre as novas tecnologiase seus impactos sobre a demanda de traba-lho estabelece que o corolário esperadofosse uma taxa de desocupação correlacio-nada negativamente com os anos de estu-do. Os dados não confirmam essa hipótesepara todos os grupos de anos de estudo,visto que os jovens com os menores níveiseducacionais também têm as menores ta-xas de desocupação.

Todos os resultados dos testes dediferença entre as taxas de desocupação

dos diversos grupos de anos de estudo dosjovens pobres e não pobres foram signifi-cativos (Tabela 12). Noutras palavras, ostestes de diferença entre as taxas de deso-cupação de jovens pobres e não pobres emcada grupo de anos de estudo se revelaramsignificativos, ratificando de forma infe-rencial as desigualdades apontadas na Ta-bela 12. Concluímos que os jovens pobresem grupos de anos de estudos idênticosaos não pobres enfrentam maiores dificul-dades de obtenção de ocupação. Não sepode atribuir, assim, o diferencial na taxade desocupação de jovens pobres e nãopobres exclusivamente ao baixo nível deescolaridade.

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Tabela 11_ Taxa de desocupação de jovens pobres e não pobressegundo grupos de anos de estudo – 2006 (%)

Grupos de anos de estudoTaxa de desocupação

Pobre Não pobre

Sem instrução* 15,5 6,8

1 a 3 anos de estudo 16,6 5,7

4 a 7 anos de estudo 24,2 7,3

8 a 10 anos de estudo 34,7 13,1

11 a 14 anos de estudo 40,2 11,6

15 anos ou mais anos de estudo 35,0 8,2

Legenda: * Pessoas sem instrução incluem todos os indivíduos que têm menos de um ano de estudo.

Fonte: PNAD/IBGE (Elaboração própria).

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Resta investigar o comportamentode algumas variáveis que poderiam contri-buir para explicar a evolução da taxa de de-socupação dos jovens pobres e não pobressegundo os grupos de anos de estudo. De-ve-se ponderar que existem determinantesda taxa de desocupação tanto do lado daoferta quanto do lado da demanda de tra-balho. Focalizando o lado da oferta, são va-riáveis importantes a condição econômicada família, o desenho familiar, a taxa departicipação e a proporção de jovens embusca de emprego.

Os jovens pobres e não pobres quetêm no máximo três anos de estudo reúnemas menores taxas de desocupação de cadagrupo. Os resultados desses testes, quandose compara as taxas de desocupação de jo-vens pobres sem instrução e aqueles quetêm entre um e três anos de estudo, não fo-ram significativos (Tabela 13). Essa mesmacomparação no caso de jovens não pobrestambém apontou resultados não significa-tivos. Provavelmente, os jovens com até nomáximo três anos de estudo enfrentam di-ficuldades semelhantes de obtenção de em-

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Tabela 12_ Resultados dos testes de diferença entre taxas de desocupação dos jovens pobrese não pobres segundo anos de estudo – 2006

Diferença entreas razões Estimativa Erro padrão Teste-t p-value

1a-1b 0,0865 0,0184 4,68 0,000***

1c-1d 0,1090 0,0136 8,00 0,000***

1e-1f 0,1681 0,0088 18,91 0,000***

1g-1h 0,2161 0,0112 19,18 0,000***

1i-1j 0,2860 0,0111 25,72 0,000***

1l-1m 0,2681 0,1095 2,45 0,014*

Legenda: * Significativo em 5%; *** Significativo em 0,1%.

1a = Taxa de desocupação jovem pobre sem instrução; 1b = Taxa de desocupação jovem não pobre seminstrução; 1c = Taxa de desocupação jovem pobre com 1 a 3 anos de estudo; 1d = Taxa de desocupação jovemnão pobre com 1 a 3 anos de estudo; 1e = Taxa de desocupação jovem pobre com 4 a 7 anos de estudo;1f = Taxa de desocupação jovem não pobre com 4 a 7 anos de estudo; 1g = Taxa de desocupação jovem pobrecom 8 a 10 anos de estudo; 1h = Taxa de desocupação jovem não pobre com 8 a 10 anos de estudo;1i = Taxa de desocupação jovem pobre com 11 a 14 anos de estudo; 1j = Taxa de desocupação jovem não pobrecom 11 a 14 anos de estudo; 1l = Taxa de desocupação jovem pobre com 15 anos de estudo ou mais;1m = Taxa de desocupação jovem não pobre com 15 anos de estudo ou mais.

Fonte: PNAD/IBGE (Elaboração própria).

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prego. Esse resultado não é surpreendente,uma vez que essas pessoas não concluíramsequer o antigo curso primário, portanto, asdiferenças educacionais são quase irrisórias.

Em geral, espera-se que os jovenscom baixo nível escolar integrem famíliasfragilizadas economicamente. Em 2006, arenda média familiar per capita dos jovensdesocupados pobres com no máximo três

anos de estudo foi de R$ 70,00, e a dos nãopobres correspondeu a R$ 244,00. Em tor-no de 60% dos jovens desocupados pobresnesse grupo de anos de estudo exerciampapéis-chave no núcleo domiciliar, na con-dição de pessoa de referência ou cônjuge,mas, entre os não pobres, essa proporçãose reduz para 28%. Desse modo, muitos jo-vens já formavam novo grupo familiar, e tais

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Tabela 13_ Resultados dos testes de diferença entre taxas de desocupaçãodos jovens pobres por grupos de anos de estudo e dos jovens não pobrespor grupos de anos de estudo – 2006

Diferença entreas razões Estimativa Erro padrão Teste-t p-value

1a-1c 0,0112 0,0191 0,59 0,557

1c-1e 0,0755 0,0148 5,11 0,000***

1g-1e 0,1054 0,0129 8,12 0,000***

1i-1g 0,0548 0,0146 3,75 0,000***

1l-1i -0,0521 0,1100 -0,47 0,636

1d-1b -0,0112 0,0111 -1,01 0,311

1f-1d 0,0164 0,0071 2,31 0,021*

1h-1f 0,0574 0,0050 11,42 0,000*

1j-1h -0,0150 0,0046 -3,27 0,001**

1m-1j -0,0342 0,0057 -5,99 0,000***

Legenda: * Significativo em 5%; ** Significativo em 1%; *** Significativo em 0,1%.

1a = Taxa de desocupação jovem pobre sem instrução; 1b = Taxa de desocupação jovem não pobre seminstrução; 1c = Taxa de desocupação jovem pobre com 1 a 3 anos de estudo; 1d = Taxa de desocupação jovemnão pobre com 1 a 3 anos de estudo; 1e = Taxa de desocupação jovem pobre com 4 a 7 anos de estudo;1f = Taxa de desocupação jovem não pobre com 4 a 7 anos de estudo; 1g = Taxa de desocupação jovem pobrecom 8 a 10 anos de estudo; 1h = Taxa de desocupação jovem não pobre com 8 a 10 anos de estudo;1i = Taxa de desocupação jovem pobre com 11 a 14 anos de estudo; 1j = Taxa de desocupação jovem não pobrecom 11 a 14 anos de estudo; 1l = Taxa de desocupação jovem pobre com 15 anos de estudo ou mais;1m = Taxa de desocupação jovem não pobre com 15 anos de estudo ou mais.

Fonte: PNAD/IBGE (Elaboração própria).

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responsabilidades os pressionavam a exer-cer qualquer tipo de ocupação. Cabe salientarque obviamente os jovens desocupados po-bres se inserem em famílias com maior fra-gilidade econômica, além de uma propor-ção mais elevada desses jovens que assu-mem maiores responsabilidades familiares;contudo, eles também enfrentam maioresdificuldades de encontrar ocupação em re-lação aos não pobres pouco escolarizados.

Conforme nos revela a Tabela 11, ataxa de desocupação juvenil se eleva ao pas-sarmos da faixa de 1 a 3 para o grupo de 4 a7 anos de estudo entre os jovens pobres enão pobres. Os testes de diferença entre ataxa de desocupação desses dois grupos deanos de estudo para os jovens pobres e nãopobres foram significativos (Tabela 13). Emgeral, na medida em que a escolaridade seeleva, a condição econômica da família me-lhora, inclusive entre as pessoas pobres. Osjovens inseridos nessas famílias podem per-manecer maior tempo na busca pela ocu-pação. A renda média familiar per capita dosjovens pobres foi de R$ 88,00, e a do nãopobre atingiu R$ 281,00.

Cerca de 50% dos jovens desocupa-dos pobres que têm de 4 a 7 anos de estudoexerciam papéis-chave no domicílio, en-quanto no caso dos não pobres essa pro-porção foi de 28%. Para os jovens pobres,reduziu-se a proporção de pessoas que as-

sumem a condição de pessoa de referênciaou cônjuge em relação aos jovens com atétrês anos de estudo; porém, entre os jovensnão pobres, essa proporção se manteve es-tável. Assim, o maior número de jovens in-seridos na condição de filhos, sobretudono caso dos pobres, e a ligeira melhora nacondição econômica podem contribuir pa-ra explicar a elevação da taxa de desocupa-ção quando se passa do grupo de 1 a 3 paraa faixa de 4 a 7 anos de estudo.

Segundo a Tabela 11, no caso dosjovens não pobres a taxa de desocupaçãoatinge o patamar mais elevado entre aque-les que têm de 8 a 10 anos de estudo(13,1%), enquanto para os jovens pobresna mesma faixa de escolaridade essa taxapermanece em 34,7%. Os testes de dife-rença entre as taxas de desocupação dos jo-vens pobres nas faixas de 4 a 7 e de 8 a 10anos de estudos foram significativos, bemcomo os testes realizados no caso de nãopobres (Tabela 13).

Novamente, a renda média per capita

familiar dos jovens desocupados pobres seelevou para R$ 105,00, enquanto para os jo-vens não pobres essa renda foi de R$ 366,00.Os dados revelam mudanças significativasnos arranjos familiares. Em torno de 32%desses jovens pobres se inserem no núcleodomiciliar como chefe ou cônjuge e 59%como filhos; contudo, para os jovens não

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pobres, essa proporção foi de 21% e 66%,respectivamente. Essa mudança no dese-nho familiar apontando para o predomíniode jovens pobres e não pobres na condiçãode filho em seu domicílio e a melhora da si-tuação econômica das famílias contribuempara da elevação taxa de desocupação en-tre jovens.

Ao passarmos da taxa de desocupa-ção dos jovens não pobres na faixa de 8 a 10anos de estudo para essa taxa entre jovensnão pobres no grupo de 11 a 14 anos de es-tudos, verificamos uma queda, enquantoessa taxa para pobres se elevou. Os testesde diferença entre as taxas de desocupaçãodesses grupos de anos de estudo para osjovens pobres e não pobres foram tambémsignificativos (Tabela 13). A situação eco-nômica das famílias dos jovens que têm de11 a 14 anos de estudos melhorou, comoindica a renda média familiar per capita, queatingiu para os jovens pobres R$ 114,00 epara os jovens não pobres R$ 585,00.

Ademais, a proporção de jovens nacondição de filhos se eleva, sobretudo, en-tre os jovens não pobres (72%); porém, nocaso dos pobres, constata-se pequena varia-ção (61%) em relação aos percentuais atin-gidos entre os jovens que têm de 8 a 10 anosde estudo. Tais alterações na situação eco-nômica das famílias e no arranjo familiarcontribuem para a maior permanência do

jovem no sistema formal de ensino e/oumaior tempo na busca pela ocupação. Deacordo com a Tabela 11, no caso do jovemnão pobre, eleva-se a escolaridade e se re-duz o índice de desocupação; porém, entreo jovem pobre os dois indicadores se elevam.

A Tabela 11 revela ainda que os jo-vens não pobres com 15 anos ou mais têmuma das menores taxas de desocupação,enquanto entre pobres essa afirmação nãose verifica. Todavia, o teste de diferença en-tre a taxa de desocupação de jovens pobresque têm de 11 a 14 anos de estudo e aque-les com 15 anos ou mais de estudo indicouuma queda não significativa (Tabela 13). Omesmo teste de diferença para os jovensnão pobres apontou também uma redução,mas significativa. Em função desses resul-tados, optamos por detalhar somente as in-formações relativas aos jovens não pobres.A renda média familiar per capita entre essesjovens atingiu R$ 1.227,00. Em torno de76% de jovens pobres integram suas famí-lias na condição de filhos. Os jovens deso-cupados não pobres com 15 anos ou maisde estudo se inserem, portanto, em famíliasem melhor situação econômica e tambémem maior proporção na condição de filhosem seus núcleos domiciliares.

Em suma, as menores taxas de des-ocupação se encontram entre os jovens inse-ridos em famílias fragilizadas economica-

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mente, e nessas famílias esses jovens exer-cem principalmente papel de pessoa de re-ferência ou cônjuge. Entretanto, taxas dedesocupação relativamente reduzidas tam-bém são encontradas entre os jovens nãopobres que estão inseridos em famílias emmelhor condição econômica. Ademais, gran-de parte desses jovens não pobres em seudomicílio assume a condição de filho. Es-sas características contribuem também pa-ra que os jovens permaneçam maior tem-po no ensino formal.16

Outra variável que poderia influir nataxa de desocupação dos jovens pobres e nãopobres inseridos nos diversos grupos deanos de estudo é a taxa de participação17. A

suposição seria de que os jovens inseridosem grupos de anos de estudo com maiorestaxa de participação teriam também maio-res taxas de desocupação, já que a maiorpressão sobre o mercado de trabalho po-deria não ser acompanhada de uma varia-ção proporcional na taxa de ocupação.18

Aparentemente, a taxa de participa-ção dos jovens pobres revela uma tendên-cia de crescimento ao passarmos para asfaixas de anos de estudo mais elevadas, ex-ceto para as pessoas com 15 anos ou maisde estudo (Tabela 14). Entretanto, os resul-tados dos testes de diferença entre a taxade participação dos jovens pobres sem ins-trução e a taxa daqueles com 1 a 3 anos de

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16 As chances relativas de ascrianças e os jovenscompletarem o ensino formalsão influenciadas por váriosfatores, como a escolaridadedo pai. Ver Silva (2003).17 A taxa de participação é arazão entre População Eco-nomicamente Ativa (PEA)e População em IdadeAtiva (PIA).18 A taxa de ocupaçãocorresponde à razão entrePopulação Ocupada e a PEA.

Tabela 14_ Taxa de participação dos jovens pobres e não pobressegundo os grupos de anos de estudo – 2006 – (%)

Grupos de anos de estudoTaxa de participação

Pobre Não pobre

Sem instrução 57 55

1 a 3 anos de estudo 61 75

4 a 7 anos de estudo 61 78

8 a 10 anos de estudo 63 78

11 a 14 anos de estudo 70 82

15 anos ou mais de estudo 67 90

Total 63 80

Fonte: PNAD/IBGE (Elaboração própria).

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estudo, bem como o teste entre a taxa departicipação dos jovens que têm de 8 a 10anos de estudo e a taxa daqueles com 4 a 7anos de estudo foram significativos. Os de-mais testes de diferença entre as taxas departicipação dos jovens pobres distribuí-dos em outros grupos de anos de estudonão foram significativos. Ou seja, os testesde diferença não ratificam nenhuma ten-dência de elevação da taxa de participaçãodos jovens pobres, exceto quando passa-mos entre os grupos de anos de estudomencionados anteriormente. Não se podeafirmar que existe de forma efetiva tendên-cia de elevação da taxa de participação dosjovens pobres.19

No caso da taxa de participação dosjovens não pobres distribuídos no diversosgrupos de anos de estudo se verifica umatendência de elevação. Os testes de dife-rença entre essas taxas foram significativos,exceto o resultado do teste entre a taxa departicipação dos jovens não pobres que têmde 4 a 7 anos de estudo e a taxa daqueles com8 a 10 anos de estudo. Vale observar que ataxa de desocupação, quando se passa en-tre esses grupos, cresce significativamente;no entanto, esse movimento não pode seratribuído à maior pressão no mercado detrabalho, visto que não há variação signifi-cativa na taxa de participação desses doisgrupos. Os jovens pobres com 15 anos oumais de estudos têm ainda a maior taxa departicipação e uma das menores taxas dedesocupação. Assim, os jovens não pobresmais educados pressionam mais o mercadode trabalho e conseguem uma ocupação.

Poderia se esperar também que osjovens pobres, que são os mais fragilizadoseconomicamente, tivessem maior taxa departicipação no mercado de trabalho, ou se-ja, pressionassem mais esse mercado. Ape-sar da maior fragilidade econômica dos ar-ranjos familiares dos jovens pobres, os dadosrevelam que esses têm taxa de participaçãomenor que a dos não pobres em quase todosos grupos de anos de estudos (Tabela 14).

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19 Não se constitui nossoobjetivo explicar o diferencialentre a taxa de participaçãodos jovens pobres e nãopobres. Entretanto, segundoos dados da PNAD 2006, ataxa de participação de jovenspobres do sexo masculinocorrespondia a 81%, e a taxados jovens não pobrespermaneceu em 88%. Essataxa para as jovens pobres, nomesmo ano, permaneceu em48%, e para as não pobres, em71%. Os dados revelamgrande discrepância entre ataxa de participação dasmulheres jovens pobres e nãopobres. Essa menor pressão

das jovens pobres sobre omercado de trabalho se deveem parte às funções que emgeral são atribuídas àsmulheres nos arranjosfamiliares, que devem cuidardos filhos e dos serviçosdomésticos não remunerados.As jovens pobres que formamnovo núcleo familiar,diferentemente das nãopobres, não têm recursosmonetários para terempregada doméstica oupagar uma creche para osfilhos. Essas possibilidades sãodecisivas para a incorporaçãodas mulheres ao mercadode trabalho.

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Quase todos os testes de diferençaentre a taxa de participação dos jovens po-bres e não pobres nos diversos grupos deanos de estudo foram significativos, excetoo resultado do teste de diferença entre a ta-xa de participação dos jovens pobres seminstrução e a dos não pobres sem instru-ção. Ou seja, os testes comprovam que jo-vens pobres exercem menor pressão sobreo mercado de trabalho; no entanto, eles sedeparam com maiores dificuldades de en-contrar trabalho.

Ademais, a proporção de pessoasque buscam emprego pela primeira vez emcada faixa de anos de estudo também po-deria influenciar os valores da taxa de deso-cupação em cada grupo de anos de estudo,uma vez que esses indivíduos têm maioresdificuldades de encontrar emprego (Tabela15). Muitos empregadores, principalmente

as empresas formalizadas, exigem expe-riência prévia dos candidatos no processode recrutamento e seleção; portanto, ostrabalhadores sem esse atributo se depa-ram com maiores dificuldades.

Quase todos os testes de diferençarealizados entre a proporção de jovens de-socupados pobres em busca do primeiroemprego nos diversos grupos de anos deestudo não foram significativos. Contudo,o resultado do teste entre essa proporçãode jovens pobres que têm de 4 a 7 anos e aproporção daqueles com 8 a 10 anos de es-tudo foi significativo. Grande parte dostestes de diferença entre a proporção de jo-vens desocupados não pobres em buscado primeiro emprego também não foi sig-nificativo. No entanto, o resultado do testeentre essa proporção de jovens de não po-bres que têm de 1 a 3 anos de estudo e a

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Tabela 15_ Proporção de jovens pobres e não pobres que buscam empregopela primeira vez segundo os grupos de anos de estudo – 2006 – (%)

Grupos de anos de estudoProporção dos jovens que buscam emprego

pela primeira vezPobre Não pobre

Sem instrução 23 37

1 a 3 anos de estudo 22 21

4 a 7 anos de estudo 24 26

8 a 10 anos de estudo 37 38

11 a 14 anos de estudo 33 36

15 anos ou mais de estudo 38 31

Total 31 35

Fonte: PNAD/IBGE (Elaboração própria).

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proporção daqueles sem instrução, bemcomo o teste entre a proporção desses jo-vens não pobres que têm de 4 a 7 anos e aproporção daqueles com 8 a 10 anos de es-tudo, foi significativo. Deve-se observarque os jovens pobres e os não pobres inse-ridos no grupo de 8 a 10 anos de estudotêm elevadas taxas de desocupação e tam-bém contam com elevada proporção de jo-vens em busca do primeiro emprego.

Além disso, os testes de diferençaentre a proporção dos jovens desocupadospobres em busca do primeiro emprego e aproporção desses jovens não pobres se-gundo cada grupo de anos de estudo nãoforam significativos. Entretanto, o teste dediferença entre a proporção total de jovensdesocupados pobres em busca do primeiroemprego (31%) e a proporção total dessesjovens não pobres (35%) é significativo.No computo geral, os jovens não pobresreúnem uma proporção maior daquelesque buscam emprego pela primeira vez; noentanto, os não pobres também têm me-nor taxa de desocupação em relação aos jo-vens pobres.

No que diz respeito à demanda, osjovens pobres e não pobres com baixo nívelde escolaridade têm uma das menores taxasde desocupação, haja vista a existência deocupações de baixa produtividade em al-gumas atividades econômicas, como setor

agrícola, comércio e reparação e construçãocivil,20 que absorvem esses trabalhadores.

Todavia, no passado recente, os jo-vens mais escolarizados elevaram seu pesono mercado de trabalho. Segundo dados daPNAD, em 2002 o percentual de jovenscom 11 anos ou mais de estudo na popula-ção ocupada juvenil correspondia a 41%,enquanto, no ano de 2006, essa proporçãoatingiu 52%. No mesmo período, a pro-porção dos jovens de 4 a 10 anos de estudona população ocupada teve redução de40% para 46%. Por outro lado, no ano de2002, jovens com no máximo três anos deestudo representavam 13% da populaçãoocupada juvenil; todavia, em 2006, essaproporção se reduziu para 8%.

Com base nesses dados, verifica-seque as empresas no processo de contrata-ção preferem, de forma clara, trabalhado-res mais escolarizados. Muitos empresáriosassumem essa estratégia no intuito de re-duzir seus custos de recrutamento e sele-ção mesmo para postos de trabalho queexigem força de trabalho pouco qualifica-da. Essa estratégia empresarial é factível nocenário atual, uma vez que existem muitostrabalhadores escolarizados em busca detrabalho. Resta entender nesse cenário porque os jovens pobres mais escolarizadosnão minimizam sua dificuldade de obten-ção de ocupação.

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20 Em 2006, cerca de 45% dosjovens ocupados com até trêsanos de estudos trabalhavamno setor agrícola, enquanto12% e 10% estavam ocupadosno comércio e reparação e naconstrução civil. A proporção,porém, desses jovens entre osocupados se reduziu.

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De um lado, características da de-manda por trabalho e, de outro lado, a pro-porção de pessoas em busca do primeiroemprego entre os jovens que têm de 8 a 10anos de estudo e o seu desenho familiarsão variáveis cruciais para que se compre-enda por que os jovens pobres e os não po-bres nesse nível de escolaridade têm eleva-das taxas de desocupação.

Os dados também revelam que osjovens pobres enfrentam maiores dificul-dades de encontrar ocupação em relação aosjovens não pobres mesmo quando contro-lamos a variável “escolaridade”. Além dis-so, pode-se afirmar que a evolução da taxade desocupação segundo os grupos de anosde estudo para jovens pobres e não pobresé distinta. Os jovens pobres com mais detrês anos de estudo se deparam com umaelevação contínua e significativa da taxa dedesocupação, exceto na passagem da faixade 11 a 14 anos de estudo para 15 anos oumais de estudo. Enquanto isso, os jovensnão pobres desocupados enfrentam umaelevação significativa da taxa de desocupa-ção somente para aqueles que têm de 3 até10 anos de estudo. Esses jovens, a partir de11 anos de estudo ou mais, experimentamuma redução significativa dessa taxa. A ele-vação na taxa de desocupação dos jovenspobres, em que pese a maior escolaridade,deve-se a outras variáveis que não foram

analisadas neste estudo. Algumas variáveis,como background familiar e qualidade doensino, podem contribuir para as maiorestaxas de desocupação dos jovens pobresmais escolarizados. Em trabalhos futuros,pretendemos desenvolver estudos acercadessas variáveis.

5_ Notas conclusivasNos dias atuais, a transição da juventudepara a vida adulta é marcada pela simulta-neidade de eventos, como a frequência es-colar e a inserção no mercado de traba-lho. Em particular, no caso de jovens (18a 29 anos) inseridos na PEA como deso-cupados e pobres, alguns estágios da tran-sição da vida adulta já foram cumpridos,pois 40% deles já constituíram novo do-micílio (pessoa de referência e cônjuge),enquanto entre os não pobres essa pro-porção correspondeu a 21%, no ano de2006. Esse passo também se conjuga comuma maior dificuldade de inserção ocu-pacional dos pobres, visto que a taxa dedesocupação desses jovens, no mesmoano, foi de 29,4%, enquanto entre os nãopobres essa taxa se reduz para 21,4%. Aorigem da pobreza não se deve à maiorproporção de jovens pobres que forma-ram famílias, mas sim à dificuldade des-ses jovens em obter uma inserção ocupa-cional adequada.

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Outro passo na transição para a vi-da adulta é a saída da escola. No entanto,vários jovens realizaram prematuramenteessa saída. Em torno de 36% dos jovensdesocupados pobres tinham no máximosete anos de estudo, enquanto entre os nãopobres esse percentual se reduz para 14%.Esse indicador é preocupante num perío-do em que muitos jovens e adultos prolon-gam seu período de permanência no ensi-no formal.

Do lado da oferta de trabalho, o atri-buto “escolaridade” é apontado como cru-cial para reduzir as dificuldades de obten-ção de uma ocupação. Os dados revelamque os jovens não pobres mais escolariza-dos têm uma das menores taxas de desocu-pação. Na verdade, no caso desses jovens,o declínio significativo dessa taxa se inicia apartir dos desocupados com mais de 11anos de estudo. No presente, as empresaspreferem contratar trabalhadores mais es-colarizados. Essa opção muitas vezes sedeve ao ajuste produtivo que as empresasrealizaram e que impõe maiores exigênciasde qualificação para a força de trabalho. Noentanto, os requisitos em relação ao nívelde escolaridade dos candidatos ao posto detrabalho se elevaram para postos de traba-lho que não exigem mão de obra qualifica-da. Essas empresas implementam essa es-tratégia no intuito de reduzir seus custos de

recrutamento e seleção, pois um menor ní-vel de escolaridade acarretaria um grandenúmero de candidatos à vaga. Além disso,os empresários têm à disposição grandecontingente de pessoas qualificadas em bus-ca de ocupação.

Os resultados dos jovens pobres, porsua vez, surpreendem na medida em querevelam que a taxa de desocupação dessesque têm de 11 a 14 anos de estudo não sereduziu, mas se elevou. Para Rocha (2004),a maior taxa de desocupação das pessoaspobres pode ser atribuída à reduzida quali-ficação dessa força de trabalho; entretanto,entre os jovens pobres, o esforço educacionalnão levou a uma queda dessa taxa. Resta in-vestigar por que o esforço educacional dosjovens pobres não reduz significativamentesua dificuldade de obtenção de ocupação.Algumas variáveis, como background famili-ar e qualidade da educação, podem contri-buir para essas maiores taxas de desocupa-ção dos jovens pobres mais escolarizados.

Em suma, o núcleo dos desocupa-dos que enfrentam maiores dificuldades deobtenção de ocupação é o dos jovens, con-forme vários estudos já apontaram; contu-do, entre os jovens pobres, tais dificuldadesse intensificam. No atual cenário econômi-co, nem mesmo os jovens pobres escolari-zados têm menores taxas de desocupação.

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Referências bibliográficas

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Artigo recebido em junho de 2008;aprovado em outubro de 2009.