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137 L M Kalagatos Kalagatos Kalagatos Kalagatos Kalagatos - REVISTA DE FILOSOFIA. FORTALEZA, CE, V. 6 N.11, INVERNO 2009 * Psicólogo, Doutor em Filosofia pela UNIVERSIDADE DE HEIDELBERG (Alemanha). Professor adjunto do Departamento de Filosofia da UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE –UFS. O presente trabalho foi realizado com o apoio da bolsa de DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO REGIONAL (CNPQ/ FUNCAP) no DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ–UFC. Recebido em mai. 2009 Aprovado em jun. 2009 TÁRIK DE ATHAYDE PRATA * PODE-SE EXPLICAR A CONSCIÊNCIA ATRAVÉS DE PROCESSOS CEREBRAIS? OS ARGUMENTOS DE JOHN SEARLE CONTRA A CONCEPÇÃO DE THOMAS NAGEL RESUMO O artigo analisa os argumentos de Searle contra a tese da lacuna explanatória, tal como ele a vê na teoria de Thomas Nagel. Seus argumentos (cf. seções III e IV) – baseados num exame do conceito de necessidade – exibem diversas fragilidades, de modo que ele fracassa em refutar a referida tese. PALAVRAS-CHAVE Consciência. Problema mente-corpo. Lacuna explanatória. John Searle. Thomas Nagel. ABSTRACT The article analizes Searle’s arguments against the explanatory gap thesis, so as he sees this thesis in the theory of Thomas Nagel. His arguments (see sections III and IV) – based on an investigation of the concept of necessity – have many fragilities, so that he fails to refuse the mentioned thesis. KEYWORDS Consciousness. Mind-body problem. Explanatory gap. John Searle. Thomas Nagel.

Kalagatos V6N11 Inv 2009 Artigo Tarik Prata1concepção d a estrutura geral das relações entre cérebro e mente (cf. SEARLE, 1983, p. 267 [370]; 1984, p. 23-4 [30]), a saber , a

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* Psicólogo, Doutor em Filosofia pela UNIVERSIDADE DE HEIDELBERG (Alemanha).Professor adjunto do Departamento de Filosofia da UNIVERSIDADE FEDERAL DE

SERGIPE –UFS. O presente trabalho foi realizado com o apoio da bolsa deDESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO REGIONAL (CNPQ/ FUNCAP) no DEPARTAMENTO DE

FILOSOFIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ–UFC.

Recebido em mai. 2009Aprovado em jun. 2009

TÁRIK DE ATHAYDE PRATA *

PODE-SE EXPLICAR A CONSCIÊNCIA ATRAVÉS DE PROCESSOS CEREBRAIS?OS ARGUMENTOS DE JOHN SEARLE CONTRA A CONCEPÇÃO DE THOMAS NAGEL

RESUMOO artigo analisa os argumentos de Searle contra a tese dalacuna explanatória, tal como ele a vê na teoria de ThomasNagel. Seus argumentos (cf. seções III e IV) – baseados numexame do conceito de necessidade – exibem diversasfragilidades, de modo que ele fracassa em refutar a referidatese.

PALAVRAS-CHAVEConsciência. Problema mente-corpo. Lacuna explanatória.John Searle. Thomas Nagel.

ABSTRACTThe article analizes Searle’s arguments against theexplanatory gap thesis, so as he sees this thesis in the theoryof Thomas Nagel. His arguments (see sections III and IV) –based on an investigation of the concept of necessity – havemany fragilities, so that he fails to refuse the mentionedthesis.

KEYWORDSConsciousness. Mind-body problem. Explanatory gap. JohnSearle. Thomas Nagel.

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09I. INTRODUÇÃO

Ao formular a sua solução para o problema mente-corpo, por ele chamada de “Naturalismo Biológico”,

o filósofo John Searle recorre explicitamente àpossibilidade de uma explanação causal dos fenômenosmentais através de processos cerebrais. Trata-se de umapossibilidade na medida em que tal explanação, no atualestado de nosso conhecimento neurocientífico, ainda nãose encontra ao nosso alcance. De todo modo, ele apresentaa eventual posse de uma explanação desse tipo comoessencial para a solução do problema mente-corpo: “Setivéssemos uma ciência do cérebro adequada, umadescrição do cérebro que fornecesse explanações causais

da consciência em todas as suas formas e variações, ese superássemos nosso erros conceituais, não restarianenhum problema mente-corpo.” (SEARLE, 1992, p. 100[148], grifo meu)1 Para se alcançar uma explanação

1 Note-se que os argumentos de Searle tratam, quase sempre, daconsciência, enquanto eu me refiro aos fenômenos mentais. Mas isso sejustifica pelo fato de que a consciência, para ele, é a base de nossa noçãode mente: “não ha como estudar os fenômenos da mente sem, implícitaou explicitamente, estudar a consciência. A razão básica disso é querealmente não temos noção do mental independentemente de nossanoção de consciência.” (SEARLE, 1992, p. 18 [31]) Cf. (Ibid., p. 84 [125-6]): “A razão para enfatizar a consciência numa explicação da mente éque ela é a noção mental central. De uma maneira ou de outra, todas asoutras noções mentais – como intencionalidade, subjetividade, causaçãomental, inteligência etc. – só podem ser plenamente compreendidas comomentais por meio de suas relações com a consciência.” A primeiranumeração é da página da edição original em inglês e a numeração entrecolchetes é a da tradução em língua portuguesa (quando disponível). Asreferências de todas as edições utilizadas estão no final do artigo. Ascitações em língua estrangeira foram traduzidas para o português peloautor do presente trabalho.

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detalhada do mental ele sugere o seguinte procedimento:(a) encontrar os correlatos neurais da consciência (NCC);(b) testar o caráter causal das correlações encontradase (c) construir uma teoria que articule as relações causaisespecíficas sob princípios gerais (cf. SEARLE, 2002, p.49; 2004, p. 146). O caráter causal seria constatado seos correlatos possuissem suficiência e necessidade

causais sobre a consciência.2 Mesmo que uma explicaçãodesse tipo ainda não esteja disponível, o autor acha queisso significa apenas a continuidade da parte empírica

do problema mente-corpo – cuja solução depende doprogresso das neurociências – pois a parte conceitual jáestaria resolvida na medida em que dipomos de umaconcepção da estrutura geral das relações entre cérebroe mente (cf. SEARLE, 1983, p. 267 [370]; 1984, p. 23-4[30]), a saber, a concepção de que os fenômenos mentaissão causados por processos cerebrais e realizados nosistema cerebral no nível macroscópico (cf. p. ex.SEARLE, 1992, p. 1 [7]).

Porém, Searle está plenamente ciente de umagrande dificuldade apontada por diversos pensadorespara um tal projeto de explanação dos fenômenos

2 “Para estabelecer a necessidade, nós descobrimos se um sujeitoque tem o NCC em questão removido perde, por causa disso, aconsciência; para estabelecer a suficiência nós descobrimos se umsujeito que, se outro modo, estaria inconsciente pode ser trazido àconsciência pela indução do NCC em questão” (SEARLE, 2002, p.50; cf. SEARLE, 1992, p. 74-5 [111-2]). “To establish necessity, wefind out whether a subject who has the putative NCC removedthereby loses consciousness; to establish sufficiency, we find outwhether an otherwise unconscious subject can be brought toconsciousness by inducing the putative NCC.”

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09mentais. Ele se refere explicitamente a um autor que foi

o precursor dessa discussão na filosofia da mentecontemporânea, Thomas Nagel3, reconhecendo que asteses desse autor são as “mais desafiadoras” (SEARLE,2002, p. 24) para a sua solução do problema mente-corpo. Trata-se do problema da lacuna explanatória

(explanatory gap), termo que se celebrizou a partir deum artigo de Joseph Levine publicado no início dos anos80 (cf. LEVINE, 1983), no qual o autor pretendia articularuma crítica ao materialismo. Entretanto, Levine tinhaobjetivos bem mais modestos do que outros críticoscontemporânos do materialismo, pois enquanto essescríticos pretendem afirmar uma distinção real entrefenômenos mentais e fenômenos físicos (o queconstituiria uma tese ontológica), Levine pretendiaapenas indicar uma limitação do nosso entendimento darelação entre tais fenômenos (o que não necessariamenteimplicaria uma tese no campo da ontologia). Asconsiderações de Levine são uma re-elaboração do famosoargumento modal de Saul Kripke contra a teoria daidentidade mente-cérebro – apresentado no clássicoNaming and Necessity, de 1972 – que Kripke articula aorefletir sobre um antigo argumento elaborado por RenéDescartes para apoiar a tese de uma distinção real entrea alma e o corpo do homem, exposto na sexta de suasMeditações Metafísicas, de 1641.4

3 “a possibilidade de qualquer solução para o problema mente-corpofoi vigorosamente desafiada ao longo dos anos pelos escritos deThomas Nagel” (SEARLE, 1992, p. 100 [148]).

4 Um exame detalhado do argumento cartesiano, com aconsideração de diversas possibilidades interpretativas, se encontraem BECKERMANN (1986).

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É fato que Nagel influenciou decisivamente oargumento de Levine.5 Mesmo assim, chama a minhaatenção que Searle se refira apenas a Nagel, quandodiscute o problema da explanação dos fenômenosmentais, ignorando Levine e David Chalmers, autor queinfluencia fortemente as discussões mais recentes sobreo tema. Ainda mais curioso é o fato de Searle discutir oproblema praticamente sem usar o termo “lacunaexplanatória”6, embora seja claro em algumas passagensque ele está se ocupando exatamente do problema daexplanação, cuja solução é essencial para o sucesso doNaturalismo Biológico.

O presente trabalho examina uma passagem daobra de Searle onde ele discute o problema da explanaçãodos fenômenos mentais de modo bastante detalhado – aseção número 3 do quarto capítulo do livro A redescoberta

da mente – recorrendo em alguns momentos a passagensde outras obras para clarificar a exposição, e tem comoobjetivo avaliar se os argumentos do autor contra aconcepção de Nagel são convincentes. Para isso, seráprimeiramente apresentado o modo como Searle

5 Sobre Nagel, Levine escreve o seguinte: “Meu argumento nesteartigo é influenciado pelo argumento de Thomas Nagel em seu textoComo é ser um morcego? (…) como leitores familiarizados com otexto de Nagel vão perceber ao longo do desenvolvimento do meuartigo” (LEVINE, 1983, p. 361). “My argument in this paper isinfluenced by Thomas Nagel`s in his paper What Is It Like To Be a

Bat? (...) as readers who are familiar with Nagel`s paper will noticeas it develops.”

6 Conheço uma única ocorrência do termo “explanatory gap” emtoda a obra de Searle, (cf. SEARLE, 2004, p.40), mas em umapassagem onde ele não faz menção a Levine ou a qualquer outroautor.

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09reconstitui a concepção de Thomas Nagel (seção II). Em

seguida serão examinados cada um dos argumentos queele apresenta contra essa concepção: a flexibilização daexigência de necessidade, a relativização ao backgroundteórico (seção III), a impossibilidade de um ponto de vistaexterno à subjetividade e a concepção nomológica danecessidade (seção IV). Por fim serão discutidos algumaslimitações da concepção de explanação de Searle que atornam insatisfatória (seção V).

II. A RECONSTITUIÇÃO DO ARGUMENTO DE THOMAS NAGEL

Na terceira seção do quarto capítulo de A

redescoberta da mente, intitulado “A consciência e seulugar na natureza”, Searle reconstitui a concepção deNagel da seguinte forma:

No presente, simplesmente não temos o aparatoconceitual nem sequer para conceber uma solução parao problema mente-corpo. Isto pelo seguinte motivo: asexplicações causais nas ciências naturais têm umaespécie de necessidade causal. Entendemos, porexemplo, como o comportamento de moléculas de H2Ofaz com que a água esteja numa forma líquida, porquepercebemos que a liquidez é uma conseqüêncianecessária do comportamento molecular. (SEARLE,1992, p. 100-1 [148]).

Nosso entendimento do modo como ocomportamento do sistema no nível microscópicocausaria a propriedade sistêmica no nível macroscópicodependeria da capacidade da teoria de nos mostrar,

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porque tem de ser assim. O motivo pelo qual uma teoriapoderia nos mostrar isso é tornado claro por ele atravésdo seguinte exemplo:

A teoria molecular faz mais que mostrar que sistemasde moléculas de H2O estarão líquidas sob determinadascondições; mais exatamente, mostra porque o sistematem que estar numa forma líquida. Supondo queentendamos a física em questão, é inconcebível queas moléculas se comportassem daquela maneira e aágua não estivesse num estado líquido. (SEARLE, 1992,p. 101 [149]).7

7 Interessante notar a afirmação de que a teoria em questão, maisdo que apenas mostrar que o sistema é liquido, mostra porque eletem que se encontrar nesse estado. Searle parece estar levando emconta a distinção entre conhecimento descritivo e conhecimentoexplicativo: “A busca por conhecimento científico remonta àantiguidade. Em algum ponto dessa empreitada, pelo menos porvolta do tempo de Aristóteles, os filósofos reconheceram que umadistinção fundamental deveria ser traçada entre dois tipos deconhecimento científico – em termos gerais, o conhecimento que eo conhecimento do porque. Uma coisa é saber que todos os planetasinvertem periodicamente a direção de seu movimento em relaçãoao pano de fundo das estrelas; outra coisa muito diferente é saberporque. Conhecimento do primeiro tipo é descritivo; conhecimentodo segundo tipo é explanatório. É o conhecimento explanatório queprovê um entendimento científico do mundo” (SALMON, 1989, p.3). “The search for scientific knowledge extends back into antiquity.At some point in that quest, at least by the time of Aristotle,philosophers recognized that a fundamental distinction should bedrawn between two kinds of scientific knowledge – roughly,knowledge that and knowledge why. It is one thing to know thateach planet periodically reverses the direction of its motion withrespect to the background of fixed stars; it is quite a different matterto know why. Knowledge of the former type is descriptive;knowledge of the latter type is explanatory. It is explanatoryknowledge that provides scientific understanding of our world”.

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09Mas enquanto isso parece claro no caso da

liquidez (exatamente um dos exemplos de Searle paraclarificar a relação entre propriedades sistêmicas e o nívelmicroscópico do sistema), no caso do caráter qualitativode um estado de consciência as coisas são bem diferentes:

Nenhuma descrição possível do comportamentoneurônico explicaria porque, dado esse comportamento,temos que estar, por exemplo, com dor. Nenhuma descriçãopoderia explicar porque a dor foi a conseqüêncianecessária de certos tipos de descargas neurônicas. A provade que a descrição não nos fornece necessidade causal éque podemos sempre conceber o oposto. Podemos sempreconceber um estado de coisas no qual a neurofisiologia secomporte de qualquer maneira e que você queiraespecificar, mas no qual, mesmo assim, o sistema nãoesteja com dor. (SEARLE, 1992 p. 101 [149]).

A partir dessa diferença entre explanaçõescomuns das ciências naturais e as tentativas de explicara consciência Nagel tiraria a conclusão de que umaexplanação da consciência não está a nossa disposição.O argumento é resumido por Searle da seguinte maneira:

Se a explicação científica conveniente implicanecessidade, e necessidade implica inconceptibilidadedo oposto, então, por contraposição, a conceptibilidadedo oposto implica que não temos necessidade, o que,por sua vez, implica que não tenhamos nenhumaexplicação. (SEARLE, 1992, p. 101 [149]).

Um primeiro ponto que chama a minha atençãoé que Searle ressalta a exigência por necessidade na

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explanação, exigência que não é tão profundamentediscutida por Nagel – sendo por ele comentada rapidamenteem seu clássico artigo Como é ser um morcego? (cf. NAGEL,1974, p. 445-6) – e que é justamente o ponto central doargumento da lacuna explanatória tal como articulado porLevine. Ou seja, me parece claro que Searle interpretou ateoria de Nagel a partir do argumento da lacuna explanatóriasurgido na década de 1980, de modo que parece ainda maisestranho que ele não discuta explicitamente as idéias deLevine, que expressam mais diretamente o ponto de vistaque Searle ataca. Um segundo ponto que chama minhaatenção é que o filósofo caracteriza a necessidade exigidapara uma explanação científica como “causal”, o que nãose aplica aos pontos de vista de Nagel – que não caracterizaclaramente o tipo de necessidade que ele tem em mente –ou de Levine – que se refere a uma necessidade epistêmica

e não causal como diz Searle. A impressão que isso dá éque Searle está confundindo a posição dos autores atacadoscom a sua própria, ou no mínimo incorrendo numa falta derigor terminológico. No que se segue será apresentado omodo como Searle tenta refutar esse argumento, que eleatribui a Nagel.

Mas antes de passar para esse tema, é importantetecer algumas considerações sobre a noção desubjetividade articulada por Nagel, cujo entendimento énecessário para se compreender um dos argumentos deSearle contra ele (cf. seção IV.A. abaixo). Em Como é ser

um morcego? o autor afirma que as concepçõesreducionistas acerca da mente abordam o problema daconsciência de modo completamente equivocado, porquetais concepções não dão conta do aspecto mais importante

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09dos fenômenos mentais conscientes (cf. NAGEL, 1974, p. 435-

6), a saber, o seu caráter subjetivo. Se um determinadoorganismo possui experiência consciente, então, segundoNagel, tem de haver uma maneira como é ser esse organismo,como é para o organismo ser assim, vivenciar o mundo comoele vivencia (cf. ibid., p. 436) e isso é justamente o carátersubjetivo da experiência. Tal caráter constituiria umgigantesco obstáculo para as teorias reducionistas da menteporque ele estaria essencialmente ligado a um ponto de vista

particular, enquanto os fenômenos físicos, aos quais osfenômenos mentais conscientes deveriam ser reduzidos,existem de modo independente de qualquer ponto de vista(cf. ibid., p. 437). Para ilustrar a relação entre o carátersubjetivo e esse ponto de vista, Nagel introduziu umexperimento mental hoje clássico na filosofia da mente, quedeixa clara a diferença entre a abordagem de fenômenossubjetivos e objetivos na sua teoria.

Nagel usa o exemplo de um morcego, que percebe omundo externo através de um sonar, e nos pede para imaginarcomo é, para ele, perceber o mundo dessa forma. Uma vezque nossa percepção do mundo é feita de modo radicalmentediferente da do morcego (nós percebemos o mundoprincipalmente através da visão, enquanto o morcegopercebe principalmente através da audição, sendo quemesmo a audição do morcego e a nossa se diferenciamradicalmente, p.ex., no espectro de freqüências que sãoaudíveis para um e para outro), Nagel conclui,convincentemente no meu modo de entender, que épraticamente impossível para um ser humano imaginar isso,imaginar como é para o morcego perceber o mundo atravésde um sonar. Isso mostra que a experiência consciente do

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morcego está, na terminologia de Nagel, essencialmenteligada a um ponto de vista, que é inacessível para nós, nosentido de que não podemos assumí-lo. Tal ponto de vista,afirma Nagel, não diz respeito à vivência individual, não ésubjetivo no sentido de particular a um único individuo,mas é o modo como uma espécie percebe a realidade à suavolta (por sermos humanos, conhecemos o ponto de vistaque caracteriza a vivência de outros seres humanos – afirmaNagel, sem argumentar para isso). O problema para oreducionismo é que o exame da neurofisiologia objetiva domorcego não parece nos dar nenhuma constribuição paraque nós possamos saber como é, para o morcego, ser ummorcego (cf. NAGEL, 1974, p. 442). O exame de processosobjetivos (como os processos neurológicos do mocego) nãonos ajuda em nada se quisermos saber como é (para o serem questão) instanciar fenômenos mentais subjetivos. Aabordagem da objetividade (a independência de pontos devista) não nos aproxima da subjetividade, mas antes nosafasta dela (cf. NAGEL, 1974, p. 444-5). Essa caracterizaçãoda noção de subjetividade apresentada por Nagel devepermanecer presente quando se considerar aargumentação de Searle contra sua concepção.

III. FLEXIBILIZAÇÃO DA EXIGÊNCIA DE NECESSIDADE E RELATIVIZAÇÃO

AO BACKGROUND TEÓRICO

A) FLEXIBILISAÇÃO DA EXIGÊNCIA DE NECESSIDADE

Searle tenta, no meu modo de entender, flexibilizar

e exigência de necessidade na conexão entre fenômenosmentais e biológicos. Ele afirma que nem toda explicaçãocientífica é capaz de demonstrar uma conexão necessária

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09entre determinados fenômenos, como parece haver no

caso, p. ex. da propriedade de liquidez e o movimentomolecular: “a lei do inverso do quadrado é uma explicaçãoda gravidade, mas não mostra porque os corpos têm que

ter atração gravitacional” (SEARLE, 1992, p. 101 [150]).Sobre a necessidade exigida por Nagel, ele escreve em seumais recente livro:

Eu penso que esse senso de necessidade é em grandeparte uma ilusão gerada por analogias que nós traçamosentre movimento molecular e objetos comuns que noscercam. Nós pensamos que a mesa deve suportarobjetos porque nós pensamos o movimento molecularformando uma estrutura reticulada do tipo com o qualnós estamos familiarizados. Mas não é uma

característica geral das explanações em ciência que elas

devam expressar algum senso intuitivo de como as coisas

devem necessariamente ocorrer. Ao contrário, a naturezaé radicalmente contingente. Muitos dos maisimportantes princípios explanatórios em ciência não sãode modo algum intuitivos ou óbvios. Pense na equaçãode Schroendiger, na constante de Planck ou, no famosoe=mc2 de Einstein. Em cada um desses casos, isso éapenas o modo como a natureza veio a ser. Ela não teriaque se tornar desse modo, mas esse é de fato o modocomo ela veio a ser. (SEARLE, 2004, p. 147, grifos meus)8

8 “I think this sense of necessity is largely a illusion generated byanalogies we draw between molecular behaviour and familiarobjects around us. We think that the table must support objectsbecause we think of the molecular movements as forming a kind oflattice of the sort that we are familiar with. But it is not a general

feature of explanations in science that they should convey some

intuitive sense that this is how things must necessarily [Continua]

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Porém salta aos olhos que Searle recorre aqui aoexemplo de leis naturais fundamentais, e não é nada óbvioque o caso dessas leis possa ser comparado com o casodas propriedades sistêmicas (como a consciência). Noartigo em que propôs pela primeira vez o argumento dalacuna explanatória, LEVINE (1983) argumentaexplicitamente contra esse tipo de estratégia utilizadapor Searle. Levine reconhece que a lei da gravitaçãoexplica o fenômeno da queda dos corpos, e que o valorda constante de gravitação G não pode ser deduzido deleis mais fundamentais, de tal modo que parece se tratarde um fato bruto da natureza. Ele se questiona se essasituação gera a impressão de que algo mais deveria serexplicado, ou se se deveria esperar que alguns fatosparecessem ser assim arbitrários. Levine está inclinado,no caso da constante da gravitação, para a segundaatitude (ou seja, aceitar a aparente arbitrariedade), maspensa que a coisa é bem diferente no caso da relaçãoentre fenômenos mentais e físicos:

Primeiro de tudo o fenômeno da consciência surgeno nível macroscópico. Isto é, somente sistemasfísicos altamente organizados exibem fenômenosmentais. Isso é, é claro, o que alguém esperaria se osfenômenos mentais fossem um assunto da organização

[Continuação da Nota 8] occur. On the contrary, nature isradically contingent. Many of the most important explanatoryprinciples in science are by no means intuitive or obvious. Think ofthe Schroedinger equation or Planck’s constant or for the matter,Einstein’s famous e=mc2. In each case, this is just how nature turnedout. It did not have to turn out that way, but this is in fact how it didturn out.”

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09funcional. Agora, apenas parece estranho que fatos

primitivos do tipo aparentemente representado porasserções como (1) [dor é a estimulação das fibras C]e (3) [estar com dor é estar no estado funcional F]devessem surgir nesse nível de organização. (LEVINE,1983, p. 358).9

No caso de propriedades sistêmicas de nívelsuperior (diferentemente de leis naturais fundamentaiscomo a da gravitação) parece razoável esperar que umateoria pudesse mostrar porque a propriedade tem que

surgir a partir do comportamento da microesturtura. Orecurso ao caso de leis naturais fundamentais por si sónão parece ser de grande ajuda para esclarecer a aparentearbitrariedade das propriedades sistêmicas mentais,simplesmente porque o caso das leis naturais e o caso daspropriedades sistêmicas são radicalmente diferentes. Aorecorrer ao caso das leis naturais Searle parece desviarsua atenção do problema propriamente dito.

B) RELATIVIZAÇÃO AO BACKGROUND TEÓRICO

Searle tenta também explicar a aparência de umaconexão necessária entre fenômenos em uma explicação

9 “First of all the phenomenon of consciousness arises on themacroscopic level. That is, it is only highly organized physicalsystems which exhibit mentality. That is of course what one wouldexpect if mentality were a matter of functional organization. Now,it just seems odd that primitive facts of the sort apparentlypresented by statements like (1) [Pain is the firing of C-fibers] and(3) [To be in pain is to be in the functional state F] should arise atthis level of organization.”

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científica recorrendo ao nosso background teórico.10 Adiferença entre a explicação da liquidez através domovimento molecular, por um lado, e a explicação dosfenômenos mentais através dos processos cerebrais, poroutro lado, poderia ser devida ao fato de que, no primeirocaso, nós dispomos de uma teoria muito convincente,enquanto no segundo caso não. A explicação da liquidezatravés do movimento molecular nos parece evidente,mas poderia ser que ela não parecesse assim paraalguém que não dispusesse do background teóricoapropriado:

[...] a aparente “necessidade” de qualquer explicaçãocientífica pode ser meramente uma função do fato deque consideramos a explicação tão convincente que nãopodemos, por exemplo, conceber as moléculas semovimentando de um modo particular e a H2O nãosendo líquida. Uma pessoa na antiguidade ou na idade

10 Com a expressão “background teórico”, pretendo designar tantoo conhecimento de uma teoria quanto o seu conteúdo (e forçaexplanatória). Trata-se do fato de que alguém tem conhecimento(ou não) de uma teoria e do fato de que essa teoria consegue (ounão) explicar a relação entre certos fenômenos. Existem pessoas(como existiam na antiguidade ou na idade média), que nãodispõem de uma teoria sobre o movimento molecular, de modo queelas não dispõem do background teórico apropriado paracompreender a relação entre a liquidez e o movimento molecular.Nós estamos familiarizados com uma tal teoria, de modo quepodemos entender essa relação. Mas no caso dos fenômenos mentaisas teorias neurocientíficas disponíveis não parecem ter forçaexplanatória suficiente, de modo que, mesmo conhecendo essasteorias, não temos o background teórico apropriado para entendera relação entre fenômenos mentais e processos cerebrais.

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09média podia não ter considerado a explicação uma

questão de “necessidade”. (SEARLE, 1992, p. 101 [150]).

Ao que parece trata-se, para Searle, não de umanecessidade genuína, mas sim de uma impressão

subjetiva, que uma teoria convincente poderia gerar. Comessas reflexões Searle tenta, no meu modo de entender,fazer a necessidade das explicações físicas usuaisparecer questionável. Por isso me parece muito estranhoque ele logo em seguida tente mostrar que a explicaçãodo mental através do neurobiológico poderia, sim, sernecessária. Imediatamente após a ultima citação(SEARLE, 1992, p. 101 [150]). Searle escreve:

O “mistério” da consciência hoje é aproximadamenteda mesma espécie que o mistério da vida antes dodesenvolvimento da biologia molecular ou o mistériodo eletromagnetismo antes das equações de Clerk-Maxwell. Parece misterioso porque não sabemoscomo o sistema de neurofisiologia/consciênciafunciona, e um conhecimento adequado de como elefunciona eliminaria o mistério. (SEARLE, 1992, p.101-2 [150]).

A tentativa de Searle de sugerir que a explicaçãodo mental poderia ser necessária (embora ele tivesseacabado de afirmar que a necessidade de certasexplicações científicas poderia ser ilusória) se tornaainda mais clara, quando ele procura argumentar para atese de que a contingência que parece caracterizar arelação entre processos cerebrais e consciência pode sedever simplesmente à nossa ignorância. Poderia ser que

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essa relação nos parece contingente porque nãodispomos de uma teoria neurobiológica da consciência.A obtenção de uma tal teoria poderia nos colocar emposição de perceber uma relação necessária entreprocessos cerebrais e consciência: “Dado um completoentendimento do cérebro, parece-me provável queconsideraríamos óbvio que, se o cérebro estivesse emum determinado tipo de estado, teria que ser consciente.”(SEARLE, 1992, p. 102 [150]).

Com essa argumentação Searle parece quererfundamentar a tese de que poderia nos parecer evidente,que estados de consciência surjam como consequênciade determinados fenômenos neurobiológicos. Mas essaargumentação pode ser considerada comocompletamente inapropriada para tal objetivo. ComoMartine NIDA-RÜMELIN (2002a: 217) já destacou, aargumentação acima citada (SEARLE, 1992, p. 102 [121-2]) parece simplesmente ser uma argumentação para atese de que se poderia constatar conexões nomológicas

entre fenômenos mentais e processos cerebrais, o quede nenhum modo significaria que se poderia perceber arelação entre mente e cérebro com necessidade

conceptual (conceptual necessity):

Como tem sido claramente salientado por Levine,Chalmers e outros, o ponto não é que nós nãopoderíamos ter conhecimento de leis naturais queconectem estados cerebrais em termos de suamicrosestrutura com instanciações de propriedades c.11

11 “propriedades c” seriam propriedades que só existemacompanhadas de uma experiência consciente, cf. NIDA-RÜMELIN(2002a, pp. 206 e 220).

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09Se soubéssemos exatamente com base em dados

experimentais quais condições neurobiológicas estãoligadas com necessidade nomológica a, por exemplo, aexperiência da alegria, então em algum sentidopoderíamos explicar com base em dados sobre o cérebrode uma dada pessoa porque ele ou ela tem a experiênciade alegria em um certo momento: seu cérebro está emtal e tal estado, estados desse tipo fazem nomologicamentenecessário que a pessoa em questão tenha a experiênciada alegria; portanto a pessoa tem a experiência da alegria.Mas a possibilidade desse tipo de explanação nunca foiposta em dúvida por aqueles que defendem a tese dalacuna explantória. É claro que podemos saber da conexãonomológica entre estados cerebrais e a experiência daalegria e ainda assim não ter nenhum entendimento decomo é o caso que um cérebro com uma certamicroestrutura (a) leva ao surgimento de um sujeito deexperiência e (b) causa a ocorrência do tipo qualitativoespecífico em questão. (NIDA-RÜMELIN, 2002a, p. 216).12

12 “As has been clearly pointed out by Levine, Chalmers and others,the point is not that we couldn’t have knowledge about natural lawsthat connect states of the brain in terms of its microstructure withinstantiations of c-properties. If we knew on the basis of experimentaldata what exactly the neurobiological conditions are that lead withnomological necessity to for instance the experience of joy, then insome sense we could explain on the basis of data about the brain of agiven person why he or she experiences joy in a certain moment:Her brain is in such-and-such a state; states of this kind necessitatenomologically that the person at issue experiences joy; therefore theperson experiences joy. But the possibility of this kind of explanationhas never been doubted by those who defend the explanatory gapthesis. We can of course know of the nomological connection betweenbrain states and the experience of joy and yet not have nounderstanding of how it comes about that a brain with a certainmicrostructure (a) leads to the existence of a subject of experienceand (b) causes the occurrence of the specific qualitative kind at issue.”

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Assim, Searle parece confundir a capacidade dese constatar leis causais (como por exemplo entreferimentos e dores13), com a capacidade de se perceberuma relação entre fenômenos com necessidadeconceitual. Se for assim, ele passa longe do verdadeiroproblema quando tenta relativizar a necessidade aobackground teórico com a argumentação acima exposta.É claro que Searle se opõe à tese da lacuna explanatória,apresentada por Nida-Rümelin na passagem citada, maspara refutar a tese não basta afirmar que conexõescausais seriam suficientes, seria necessário fundamentar

essa concepção.E de fato Searle tenta fornecer uma tal

fundamentação, que poderia ser uma resposta à crítica(apresentada acima) de que ele confunde a necessidadeconceitual com a nomológica. O autor acredita que aconstatação de conexões nomológicas seria suficiente

para uma explicação genuína, mesmo se a relação entreos fenômenos (no nosso caso estados mentaisconscientes e processos cerebrais) não possa serpercebida como intuitivamente necessária.

13 “Repare que já aceitamos essa forma de necessidade causal deestados conscientes para fenômenos visíveis em geral. Por exemplo,se vejo um homem gritando com seu pé preso numa prensa deperfuração, então sei que o homem deve estar com uma dor terrível.Para mim é inconcebível, em certo sentido, que um ser humanonormal estivesse numa tal situação e não sentisse uma dor terrível.As causas físicas tornam necessária a dor.” (SEARLE, 1992, p. 102[150-1]).

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09IV. A IMPOSSIBILIDADE DE UM PONTO DE VISTA EXTERNO E A

NECESSIDADE CAUSAL NOMOLÓGICA

O passo seguinte de Searle em sua argumentaçãocontra Nagel é afirmar que mesmo se a relação entrefenômenos mentais e neurobiológicos nunca nosparecesse intuitivamente evidente, ou seja, mesmo queNagel tenha razão e a relação permaneça de um certomodo “misteriosa”, essa dificuldade não poderia colocarem questão o fato de que os fenômenos mentais têm umanatureza biológica. Pois a argumentação de Nagel teria aver com nossa capacidade de imaginação e não com omodo como o mundo de fato funciona.14 Apesar dadificuldade destacada por Nagel, nós teríamos motivossuficientes para aceitar que os fenômenos mentais têmuma natureza biológica.15 Searle procura primeiramente

14 “Entranto, admitamos a parte essencial da exposição de Nagelpara a finalidade de argumentação. Nada se deduz acerca de como omundo realmente funciona. A limitação para que Nagel chama aatenção é apenas uma limitação de nossas capacidades deconcepção.” (SEARLE, 1992, p. 102 [151]).

15 “Dado nosso atual aparato explanatório, não é de modo algumóbvio, dentro desse aparato, como nós podemos explicar o caratercausal da relação entre descargas neuronais e estados conscientes,mas, no presente, do fato de que nós não sabemos como isso ocorre,não se segue que nós não sabemos que isso ocorre.” (SEARLE, 2002,p. 10) “Given our present explanatory apparatus, it is not at allobvious how, within that apparatus, we can account for the causalcharacter of the relation between neuron firings and consciousstates, but, at present, from the fact that we do not know how itoccurs, it does nor follow that we do not know that it occurs.” “Algunsfilósofos e neurocientistas acham que nunca teremos umaexpicação da subjetividade: pode ser que nós nunca expliquemosporque coisas quentes são sentidas como quentes[Continua]

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elucidar o fato de que a explicação do mental peloneurobiológico não exibe nenhuma necessidadeconceptual (ou seja, o fato de que é sempre possívelimaginar que existam processos cerebrais sem apresença de consciência) e em segundo lugar ele procuraespecificar que tipo de necessidade seria suficiente paraque se considere os fenômenos mentais como explicadosatravés de fenômenos neurobiológicos.

A) A IMPOSSIBILIDADE DE UM PONTO DE VISTA EXTERNO À

SUBJETIVIDADE

Para resolver a dificuldade que a aparentecontingência da relação entre mente e cérebro cria parao Naturalismo Biológico, Searle procura reduzir talcontingência a uma limitação da nossa capacidade deimaginação. A contingência não impediria que os

[Continuação da Nota 15] e coisas vermelhas são sentidas comovermelhas. Para esses céticos há uma resposta simples: nóssabemos que isso acontece. Nós sabemos que processos cerebraiscausam todas os nossos pensamentos e sensações internos,qualitativos e subjetivos. Porque nós sabemos que isso acontece,nós deveríamos tentar entender como isso acontece. Talvez no fimnós fracassemos mas nós não podemos supor a impossibilidade dosucesso antes de tentar.” (SEARLE, 2002, p. 43) “Some philosophersand neuroscientists think we can never have an explanation ofsubjectivity: We can never explain why warm things feel warm andred things look red. To these sceptics there is a simple answer: Weknow it happens. We know that brain processes cause all of ourinner qualitative, subjective thoughts and feelings. Because weknow that it happens, we ought to try to figure out how it happens.Perhaps in the end we will fail but we cannot assume theimpossibility of success before we try.”

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09fenômenos mentais sejam biológicos, porque ela não

teria a ver com o modo como o mundo realmentefunciona. Searle afirma que Nagel pode no máximo

mostrar que nós não podemos abandonar o nosso pontode vista subjetivo de modo a reconhecer a relaçãonecessária entre nossa consciência e a sua base material:

[...] no caso das relações entre fenômenos materiaise fenômenos materiais, podemos subjetivamenteformar uma imagem de ambos os lados da relação;mas no caso das relações entre fenômenos materiaise fenômenos mentais, um lado da relação já ésubjetivo, e, portanto, não podemos conceber suarelação com os fenômenos materiais da maneira quepodemos conceber as relações entre liquidez emovimento de moléculas, por exemplo. (SEARLE,1992, p. 102 [151]).

A argumentação de Nagel apontaria para umadiferença entre os fenômenos subjetivos e objetivos quenos levaria a não poder perceber como os dois tipos defenômenos poderiam estar em uma relação necessária(embora eles estejam, de fato, em uma relaçãonecessária). Searle afirma que essa diferença se devesimplesmente ao fato de que nós não podemos sair danossa subjetividade e alcançar um ponto de vista externo,de onde a formação de uma imagem seria possível:

Formamos uma imagem [picture] da necessidadebaseada na nossa subjetividade, mas não podemosdessa maneira formar uma imagem da necessidadeda relação entre a subjetividade e os fenômenos

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neurofisiológicos, porque já estamos na subjetividade,e a relação de fazer uma imagem [picturing relation]exigiria que nós saíssemos da subjetividade. (Se a solidezfosse consciente, iria parecer-lhe misterioso que fossecausada por movimentos vibratórios em estruturas deagregados, mas mesmo assim esses movimentosexplicam a solidez.) (SEARLE, 1992, p. 102-3 [151-2],grifo meu).16

Em consonância com a sua tentativa de mostrara explanação do mental através do neurobiológico comocausalmente necessária (cf. seção IV), Searle procuratornar essa objeção contra Nagel mais clara imaginandoum modo como se poderia apresentar a necessidade darelação entre mente e cérebro:

Suponha que Deus ou uma máquina pudessemsimplesmente detectar relações causalmente necessárias;então, para Deus ou a máquina não haveria nenhumadiferença entre as formas de necessidade matéria/matéria e as formas de necessidade materia/mente.(SEARLE, 1992, p. 103 [152]).

16 Me parece extremamente plausível que Searle esteja seinspirando, nesta passagem, na teoria da afiguração (picture theory,em inglês) de Wittgenstein. No seu Tractatus Logico-Philosophicus

Wittgenstein afirma que uma afiguração não pode afigurar a suaforma da afiguração, porque ela não pode se colocar fora dessaforma: “Sua forma de afiguração, porém, a figuração não podeafigurar; ela a exibe.” (WITTGENSTEIN, 2001: 2.172) “A figuraçãorepresenta seu objeto de fora (seu ponto de vista é sua forma derepresentação); por isso a figuração representa seu objeto corretaou falsamente.” (WITTGENSTEIN, 2001: 2.173) “A figuração, porém,não pode colocar-se fora de sua forma de representação.”(WITTGENSTEIN, 2001: 2.174).

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09Me chama especialmente a atenção que ele fale

nessa citação de “relações causalmente necessárias” poisno argumento de Nagel não se trata de uma necessidadecausal. Nagel fala de necessidade (cf. NAGEL, 1974: 445-6) mas à pergunta acerca de qual tipo de necessidade eletem em mente, a necessidade causal não me parece seruma resposta plausível. Nagel recorre explicitamente ànossa “imaginação” – cf. NAGEL, 1974: 439) paraformular o problema da explanabilidade, o que indica queele tem em mente uma questão epistêmica, ou seja, anecessidade ou contingência que tem a ver com aquiloque podemos imaginar ou conceber. O próprio Searleafirma que o argumento atacado por ele diz respeito àsnossas capacidades de concepção de modo que o uso doconceito de necessidade causal na passagem acima éestranho. Essa concepção de uma necessidade causal

surge na verdade na teoria de Searle e não na de Nagel.Sendo assim, é como se ele, ao discutir a concepção deNagel, tivesse em mente a sua própria solução para oproblema mente-corpo.

Com as reflexões apresentadas nesta seção Searleprocura elucidar por quais motivos não podemosperceber a necessidade da relação entre mente e cérebro(simplesmente porque não podemos sair da nossasubjetividade) e afirma que essa relação, entretanto, ésim necessária (como ilustra o exemplo de Deus ou damáquina) – apesar de nossa incapacidade de perceberessa necessidade. O modo como Searle concebe talnecessidade é o de relações causais entre processoscerebrais determinados e determinados estados deconsciência.

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B) NECESSIDADE CAUSAL

A solução completa do problema mente-corpoconsitiria segundo Searle na resolução tanto do problemaconceitual quanto do empírico, mas o naturalismo biológicofoi pensado apenas para a primeira dessas tarefas (aconceitual). A resolução da tarefa empírica remanescenteexigiria segundo ele a formulação de explanações causais

(cf. SEARLE, 1992, p. 100 [148]) Ao falar desse tipo deexplanação Searle tem em vista simplesmente a constataçãode relações causais – nesse caso entre processos cerebraise estados de consciência.17 O primeiro passo é constatar acorrelação entre determinados fenômenos – uma correlaçãoempírica – mas então é necessário ainda testar se se tratade fato de causação18, ou seja, se um fenômeno é necessário

e suficiente para o outro fenômeno.19 Poder-se-ia objetar

17 Argumentando para o modelo causal de explanação, Searle afirma:“Se aplicarmos estas lições ao estudo da mente, parece-me quenão há dificuldade em explicar as relações da mente com o cérebroem termos de funcionamento cerebral para causar estados mentais.”(SEARLE, 1984, p. 22 [28], grifos meus)

18 “Primeiro nós encontramos correlações entre fenômenosempíricos brutos. Então nós testamos as correlações para causalidademanipulando uma variável e vendo como ela afeta as outras.” (SEARLE,2002, p. 49) “First we find correlations between brute empiricalphenomena. Then we test the correlations for causality bymanipulating one variable and seeing how it affects the others.”

19 “O que nós estamos tentando estabelecer idealmente é uma provade que o elemento não está apenas correlacionado com a consciência,mas sim que ele é tanto causalmente necessário quanto causalmentesuficiente, outras variáveis permanecendo constantes, para apresença da consciência.” (SEARLE, 2002, p. 50) “what we are tryingto establish ideally is a proof that the element is not just correlatedwith consciousness, but that it is both causally necessary and

sufficient, other things being equal, for the presence of consciousness.”

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09contra essa estratégia que ela confunde tipos diferentes

de necessidade (cf. seção III. B). Uma coisa é constatarcorrelações causais. Uma outra coisa totalmentediferente é poder perceber que um fenômeno se seguede outro com necessidade conceitual.20 Porém Searleparece pensar exatamente que a constatação decorrelações causais é suficiente para fornecer umaexplanação de um fenômeno através de outro,propiciando um certo tipo de entendimento acerca dofenômeno explicado. A tentativa de Searle parece serdriblar a formulção de Nagel. Não precisaríamos de modoalgum de uma explanação que tornasse compreensívela relação necessária entre fenômenos mentais e osprocessos cerebrais subjacentes a eles. Tudo o queprecisaríamos seria a constatação de relações causais.Em Mind: A Brief Introduction Searle imagina umasituação na qual o problema da relação dos fenômenosmentais para com sua base biológica estivessesolucionado. Ele supõe o seguinte:

Suponha que realmente encontrássemos os várioscorrelatos neuronais do campo unificado deconsciência. Suponha que pudéssemos então, como um

20 A esse respeito LEVINE (1997, p. 548) escreveu: “A idéia básica é que aredução deveria explicar o que é reduzido, e o modo como nós constatamosse esse resultado foi alcançado é examinando se o fenômeno a ser reduzidoé tornado epistemologicamente necessário pelo fenômeno redutor, isto é,se nós podemos ver porque, dados os fatos citados na redução, as coisastem de ser do modo como elas se parecem na superfície.” “The basic idea isthat a reduction should explain what is reduced, and the way we tellwhether this has been accomplished is to see whether the phenomenonto be reduced is epistemologically necessitated by the reducingphenomenon, that is, whether we can see why, given the facts cited in thereduction, things must be the way they seem on the surface.”

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segundo passo, mostrar que esses elementoscorrelacionados fossem de fato causas. Isto é, suponhaque pudéssemos – por assim dizer – ativar a consciênciaao ativar esses processos neurobiológicos e desativar aconsciência ao destivar aqueles processos. Suponha,como um terceiro passo, que desenvolvessemos entãouma teoria de como todo o sistema trabalhava. Isto é,suponha que pudessemos embutir as asserções decorrelações causais em asserções de princípios e leisgerais. Me parece que isso é precisamente a estrutura que

temos aceitado em outros setores da ciência. (SEARLE,2004, p. 146, grifos meus)21

Para uma tal estratégia não existem, segundo ele,dificuldades insuperáveis, pois como ele escreve a esserespeito: “os testes usuais para relações causais podemser aplicados às relações do cérebro/consciência damesma forma que podem ser aplicados a quaisquerfenômenos naturais.” (SEARLE, 1992, p. 103 [152]) Asolução do problema da explanação seria para Searle aseguinte: se pudéssemos concluir a partir de correlaçõesempíricas a existência de relações causais entre processoscerebrais e fenômenos mentais, e se pudéssemos construirum modelo geral dessas relações através de uma teoria,

21 “Suppose we actually found the various neuronal correlates forthe unified conscious field. Suppose we could then, as a second step,show that these correlated elements were in fact causes. That issuppose we could – so to speak – turn on consciousness by turningthese neurobiological processes on, and turn off consciousness byturning them off. Suppose, as a third step, we then developed atheory as to how the whole system worked. Suppose, that is, thatwe could embed the statements of causal correlations in statementsof general laws and principles. It seems to me that this is preciselythe structure that we have accepted elsewhere in science.”

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09então o problema da explanação estaria resolvido, mesmo

se essa explanação não fosse intuitivamente evidentecomo no caso da liquidez e do movimento molecular, pois“o conhecimento das relações causais lawlike nosfornecerá toda a necessidade causal de que precisamos.”(SEARLE, 1992, p. 103 [152]). Ele argumenta que essetipo de explicação fornece um certo tipo de entendimento

acerca dos fenômenos mentais chamando a atenção paraos progressos das neurociências:

Não há nenhuma dúvida de que determinados tipos desemelhanças e diferenças neurofisiológicas sãocausalmente suficientes para determinados tipos desemelhanças e diferenças em experiências visuais. Alémdisso, podemos e iremos decompor a grande questão –como o cérebro causa a consciência? – em uma porçãode questões menores (por exemplo: como a cocaínaproduz determinadas experiências características). E asrespostas detalhadas que estamos começando a dar (porexemplo: a cocaína obstrui a capacidade de determinadosreceptores sinápticos de reabsorver a norepinefrina)já levam em consideração as inferências característicasque acompanham a necessidade causal (por exemplo:se você eleva a dose de cocaína, intensifica o efeito).(SEARLE, 1992, p. [152-3]).22

Porém, a questão sobre se esse tipo denecessidade é realmente suficiente será discutida aseguir.

22 Em textos mais recentes (cf. SEARLE, 2002, pp. 50-8; 2004, pp.150-6) Searle abandona essa estratégia de dividir o grande problemada consciência em problemas relativos a vivências conscientesespecíficas (que ele chama de building block approach), preferindoa abordagem que procura os correlatos neurais [Continua]

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V. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A fragilidade de alguns dos argumentos de Searlecontra a tese de Nagel acerca da impossibilidade (no atualestado de nossos conhecimentos) de uma explicação daconsciência em termos objetivos foram indicadas naterceira seção do presente trabalho: a sugestão de que nemtodas as explicações científicas são capazes de forneceruma necessidade intuitiva compara indevidamente

propriedades sistêmicas complexas (fenômenos mentais)com leis físicas básicas (cf. seção III.A); a simplesafirmação de que conexões nomológicas são satisfatóriascomo explicações dos fenômenos mentais através deprocessos cerebrais não é suficiente para refutar a teseda lacuna explanatória, um argumento tem de serapresentado (cf. seção III.B). Cabe agora fazer um examecrítico dos argumentos expostos na quarta seção acima.

A alegação de Searle de que não podemos percebera relação necessária entre processos cerebrais efenômenos mentais pelo fato de já estarmos na

subjetividade (cf. seção IV.A) me parece interessantecomo tentativa de explicar a (pelo menos aparente)contingência dessa relação para nosso entendimento. Defato, quando estamos imersos em uma determinadaperspectiva (como por exemplo uma determinadatradição cultural) temos grandes dificuldades para

[Continuação da Nota 22] da vivência consciente como um todo(unified-field approach). Mas essa mudança não altera o fato de queSearle busca explicações causais da consciência (segundo o modelodiscutido anteriormente) a partir de processos cerebrais objetivos,no sentido contrário à concepção de Nagel (cf. seção II).

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09perceber as coisas fora dela, e na subjetividade (no

sentido introduzido na filosofia contemporânea da mentepor Thomas Nagel – cf. seção II) estamos imersos de ummodo ainda mais radical do que na nossa tradiçãocultural. Entretanto, o alcance dessa consideração deSearle me parece muito limitado, pois ele não faz muitoalém de afirmar que não podemos perceber a relaçãonecessária por estarmos inseridos na subjetividade.Penso que ele teria de desenvolver mais essa idéia ejustificá-la, para realmente fornecer um argumentoconvincente. Uma observação como “se a solidez fosseconsciente, iria parecer-lhe misterioso que fossecausada por movimentos vibratórios em estruturas deagregados” (SEARLE, 1992, p. 102-3 [151-2]), evidenciao caráter altamente metafórico e especulativo dessasconsiderações do autor.

Quanto à tentativa de nos convencer de que umanecessidade causal seria suficiente (cf. seção IV. B), pensoque ela também deixa muito a desejar, e os motivos paraisso já foram parcialmente indicados na passagem deNida-Rümelin citada acima (cf. NIDA-RÜMELIN, 2002a,p. 216). A autora coloca que os defensores da tese dalacuna explanatória não duvidam de que poderíamosconhecer leis naturais que conectem processos cerebraiscom fenômenos mentais, mas negam que o conhecimentode tais leis nos desse entendimento de como os processoscerebrais geram um sujeito da experiência e causam aocorrência de um aspecto qualitativo específico. Emoutro texto, o “entendimento” é caracterizado pela autorada seguinte maneira: “Uma dada explicação transmiteum entendimento do que significa que uma certa

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regularidade subsiste, se a possibilidade de que essaregularidade não subsistisse, não é mais coerentementeconcebível para uma pessoa racional que compreendea explicação.” (NIDA-RÜMELIN, 2002b, p.330) Parececlaro que o modelo de explicação causal oferecido porSearle não é capaz de prover esse tipo de entendimento.Por mais detalhada que seja a descrição do processocerebral que está correlacionado, por exemplo, à dor ouà sensação de vermelho, o exame dessa descrição nãoparece capaz de excluir a possibilidade de que aqueleprocesso cerebral estivesse correlacionado a uma outrasensação, que não aquela à qual ele está, de fato,correlacionado, ou excluir a possibilidade de que aqueleprocesso cerebral não estivesse correlacionado asensação nenhuma.

A fragilidade da concepção de explicação de Searletambém é evidenciada, a partir de um outro ponto devista, por algumas considerações de Jaegwon Kim (2005)sobre o problema da lacuna explanatória. Kim se refereà tradição do emergentismo britânico, uma correntefilosófica do início do século XX que desafiava asexplicações mecanicistas (hoje poder-se-ia dizer“reducionistas”) dos fenômenos naturais e humanos,considerando que a realidade se divide em níveis defenômenos, que emergiriam dos níveis a eles subjacentessem que pudessem ser explicados nos termos dessesníveis dos quais eles emergem. A vida, por exemplo,emergiria da interação dos processos físico-químicos,sem que fosse possível, nem mesmo a partir de umconhecimento completo desses processos, prever que elaemergiria antes que de fato emergisse (o mesmo se

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09aplicaria à emergência dos fenômenos psíquicos e

sociais a partir de processos biológicos). Segundo Kim,os emergentistas britânicos, com o objetivo de deixarclara a maneira como uma explicação dos fenômenosemergentes é impossível, distingüiam entre dois tiposde previsão, a previsão indutiva e a previsão teórica (cf.KIM, 2005, p. 104). A previsão indutiva estariaassegurada quando, após constatar repetidas vezes acorrelação entre dois fenômenos (p. ex. digamos a dor eum determinado tipo de processo cerebral), pudéssemosprever que um fenômeno ocorreria (p. ex. a dor) quandoo outro fenômeno (p. ex. um processo cerebraldeterminado) ocorresse. Entretanto, o tipo decisivo depredição (que nos autorizaria realmente a dizer que ofenômeno está explicado) seria a predição teórica, queé uma predição que seria feita a partir do conhecimentoreferente apenas ao nível de base. Considerando apenaso nível molecular, podemos prever, observandomodificações no padrão de movimentos de moléculas,que um determinado sistema estará no estado sólido,líquido ou gasoso, sem ter de recorrer a correlações entreo movimento das moléculas e o estado do sistema e tirardaí uma, sempre frágil, conclusão indutiva. O caso é que,a observação da atividade neuronal não nos permiteprever que tipo de fenômeno mental será produzido, senós não levarmos em conta as correlações entre ospadrões de atividade neuronal e os fenômenos mentaisconstatadas ao longo de uma série de casos particulares.

Ao oferecer um modelo de explicação causal,Searle pretende alcançar, apenas previsões indutivas,mas uma previsão indutiva, no meu modo de entender, é

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algo muito limitado, incapaz de responder a todas asnossas dúvidas a respeito do fenômeno que está sendoexplicado, e sempre sujeita a ser descartada por fatosnovos que não se adequem à conclusão obtidaanteriormente através da indução. Sendo assim, o modelode explicação causal proposto por Searle termina ficandoaquém da tarefa que ele se propõe a cumprir: explicaros fenômenos mentais através de processos cerebrais.Portanto, os argumentos de Searle contra a concepçãode Nagel (segundo a qual os fenômenos mentais nãopodem ser explicados por meio de fenômenos objetivos,como por exemplo os processos cerebrais) não sãocapazes de refutá-la.

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09VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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9) SEARLE, J. R. (1983) Intentionality: a essay in the

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10) __________ (1984) Minds, Brains and Science. CambridgeMass., Harvard University Press. [Mente Cérebro e Ciência.Lisboa: Edições 70, s/d].

11) __________ (1992) The Rediscovery of the Mind. CambridgeMass., London: MIT Press. [A redescoberta da mente. SãoPaulo: Martins Fontes, 1997].

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