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0 Pós-Graduação – A Vez do Mestre Terapia de Família Kelly Siqueira Moura A interferência da família na escolha profissional. Niterói 2006

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Pós-Graduação – A Vez do Mestre

Terapia de Família

Kelly Siqueira Moura

A interferência da família na escolha profissional.

Niterói

2006

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÂO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Kelly Siqueira Moura

A INTERFERÊNCIA DA FAMÍLIA NA ESCOLHA PROFISSIONAL

Este publicação atende a complementação didático-

pedagógica de metodologia de pesquisa e a produção e

desenvolvimento de monografia, para o curso de pós-

graduação em Terapia de Família. Pela autora Kelly

Siqueira Moura.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos aqueles que direta e

indiretamente contribuíram para a realização da

minha monografia, ao corpo docente do Projeto

“A vez do Mestre” e a professora Maria Poope

pela revisão dos textos. Agradeço ainda, de

forma muito especial, a DEUS que ao longo de

minha formação acadêmica não me

desamparou e me proporcionou grandes

vitórias. Obrigada, SENHOR!!!

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DEDICATÓRIA

DEDICO ESSE TRABALHO A DEUS, AOS MEUS PAIS QUE MUITO AMO E ME ORGULHO E AO MEU NOIVO E GRANDE AMIGO, WANDERSON, PELO INCENTIVO E APOIO.

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RESUMO

O trabalho monográfico em questão tem por objetivo destacar a interferência

que a família pode produzir no processo de escolha profissional a adolescentes

próximos a prestarem vestibular. Tendo em vista, a fase da adolescência,

caracterizada pela tomada de grandes e importantes decisões, inclusive a

relacionada à profissão. Analisando o conceito de família, que vem sofrendo

modificações ao longo dos anos, destacando-a como transmissora de valores que

tanto podem facilitar as opções, como dificultá-las. Ressaltando a importância de

um trabalho em Orientação Vocacional em que a família possa participar

ativamente deste processo, contribuindo para uma escolha de uma profissão

consciente e coerente.

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METODOLOGIA

A intenção deste estudo foi o de investigar, por meio da pesquisa

bibliográfica, as interferências da família no processo da decisão profissional a

adolescentes às portas do vestibular, apoiando as aulas e palestras de conteúdo

progmático teórico, bem como as vivências adquiridas no decorrer do curso em

Terapia de Família.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................08

CAPITULO I ....................................................................................09

A escolha profissional em questão .............................................09

1.1 – As diferentes formas de se pensar a adolescência ............................09

1.2 - A Adolescência e a escolha profissional .............................................11

CAPITULO II ...................................................................................14

A interferência da família na escolha profissional .....................14

2.1 – A família com foi? Como vai? ...............................................................14

2.2 – A interferência da família na escolha profissional ..............................17

CAPITULO III ..................................................................................21

A contribuição da Orientação Vocacional ...................................21

3.1 – O surgimento da escolha profissional .................................................21

3.2 – A Orientação Vocacional segundo diferentes autores ......................22

3.3 – A inclusão da família na Orientação Vocacional .................................25

CONCLUSÃO ..................................................................................27

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ....................................................29

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INTRODUÇÃO

Hoje, mais do que no passado, evoluíram as incertezas a respeito do futuro

profissional de milhares de pessoas. É fato que às portas do vestibular, jovens não

sabem o curso que farão. Torna-se cada vez mais difícil, nos últimos anos fazer essa

opção.

A escolha profissional nem sempre foi um problema do homem. A possibilidade

da escolha profissional surge como questão importante na medida em que é instalado,

definitivamente o "estrangulamento" do mercado de trabalho.

Ao se admitir que o homem é um ser sócio-histórico formado de suas relações

com outros indivíduos, não poderíamos entender a escolha da profissão como algo

simplesmente isolado e individual. Um conjunto de elementos sociais e econômicos

interferem ou influenciam a escolha profissional.

A família é um interferente crucial na decisão profissional. Ela é vista como

transmissora de valores que tanto podem facilitar as opções, como dificultá-las. Não

apenas integra o indivíduo ao meio social, mas também lhe proporciona condições de

autonomia e, por isso mesmo, de interferência no meio social. É relevante mostrar que

a família tem uma importância eminentemente social, ainda que essa questão assuma

conotações diferentes através da história.

A intenção deste estudo é investigar as interferências que a família vem

"produzindo" no processo da decisão de uma escolha profissional à adolescentes em

vias de vestibular.

O primeiro capítulo, objetiva enfatizar o processo de escolha profissional,

colocando-a em questão, frente à fase da adolescência. O segundo, visa destacar o

conceito de família ao longo do tempo, vendo-a como um fator interferente no momento

em que o adolescente precisa tomar uma decisão profissional. O último, tem por

objetivo apresentar a Orientação Vocacional, como um recurso de auxílio para a opção

de uma profissão, enfatizando a importância da família ser incluída neste processo.

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CAPÍTULO I

A escolha profissional em questão

Ao se admitir que é na adolescência, momento em que vai se

estabelecendo uma identidade e tomada de grandes escolhas, inclusive, a relacionada

à profissão, buscamos por meio deste capítulo, discutir a escolha profissional

colocando-a em questão frente a fase da adolescência, caracterizada de formas

diversas por diferentes autores.

1.1 - As diferentes formas de se pensar a adolescência

Diariamente ouvimos a afirmativa de que o momento da escolha profissional

coincide com a fase da adolescência, um período de crise, transição, adaptação e

ajustamento. Segundo Bohoslavsky, "todo adolescente é uma pessoa em crise, na

medida em que está desestruturando e reestruturando tanto seu mundo interior como

suas relações com o mundo exterior" (Bohoslavsky,1998,pg.36). È um momento de

ruptura, onde o indivíduo terá que se inserir no mundo dos adultos para o qual não se

encontra totalmente capacitado, deixando para trás seu mundo infantil, seguro e

conhecido, tendo de se adaptar a uma nova forma de vida. Segundo análise de

Aberastury (1981), o adolescente realiza três lutos fundamentais, são eles: a) o luto

pelo corpo infantil perdido em decorrência das mudanças biológicas comuns a fase da

adolescência; b) o luto pelo papel e a identidade infantil, que em função da

responsabilidade e busca de autonomia renuncia a relação de dependência e papéis

esclarecidos que mantinha de forma cômoda e prazerosa; c) o luto pelos pais da

infância, que significam proteção e refúgio, e que não mais atuarão como supridores a

partir do momento em que terão de tomar as decisões por si mesmo. Debesse (1946),

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considera que a adolescência está para além de uma simples transição entre a infância

e a fase adulta, possui uma mentalidade e psiquismo que lhe é peculiar.

Os existencialistas nomeiam a adolescência de ´nascimento existencial` em que a

identidade adulta começa a se definir, e o jovem passa a buscar melhor conhecer seus

gostos, interesses e motivações, impondo limite entre o que quer ser e o que não quer

ser. Logo, desequilíbrios e instabilidades são inerentes à crise preexistente na

adolescência,e, tal perspectiva marca a naturalização e universalização do

comportamento do adolescente.

A busca de si mesmo e da identificação, tendência grupal, necessidade de

intelectualizar e fantasiar, as crises religiosas, a deslocalização temporal, a evolução

sexual desde o auto-erotismo até a heterossexualidade, atitude reivindicatória,

contradições sucessivas em todas as manifestações da conduta, afastamento

progressivo dos pais, constantes flutuações do humor e do estado de ânimo, são

aspectos envolvidos no processo do adolescer. E foi com base nestas características,

que os autores, Aberastury e Knobel (1981), inauguraram a noção de "síndrome normal

da adolescência" ou "crise essencial da adolescência", onde todo o adolescente passa

por intranqüilidades e inconstâncias extremas e são vulneráveis a assimilar projeções

familiares, de amigos e da própria sociedade.

Osório (1992), vai além ao acreditar que a crise de identidade do adolescente só

tem sentido em se tratando de jovens oriundos de classes mais altas da sociedade.

Estes têm maior chance, dispõe de tempo para dedicar-se aos estudos e não

trabalham (ou não exercem atividades profissionais muito desgastantes), tem

condições de alimentar-se bem, de descansar bem, tem o dinheiro para comprar o

material necessário para o estudo e etc., o que difere das classes menos privilegiadas

que precisam lutar para sobreviver. No entanto, ele acaba por destacar a crise em

qualquer Jovem, mesmo aqueles em “ condições de vida extremamente adversas,

desde que assegurada a satisfação das necessidade básicas ”. A rebeldia e a

contestação indicam uma adolescência normal, o adolescente submisso é exceção à

normalidade.

Blasco (1997), acredita ser arriscada a posição que a Psicologia defende ao

admitir que a adolescência é uma etapa de crise e turbulência, rotulando como

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patológico o adolescente que não apresenta características ´comuns` como a rebeldia

ou dificuldades presentes na síndrome normal da adolescência. Outra questão

importante, ao considerar "saudável" o ´ ser anormal, é possível que problemas sérios

que apareçam na adolescência não sejam reconhecidos como tal, podendo o

adolescente apresentar alterações de comportamento sérios, sendo rotulados como

"bobagens da idade".

A Psicologia nos seus manuais supõe direitos e oportunidades iguais para todos

os adolescentes, sendo que na realidade as coisas não acontecem assim, na verdade

com este discurso vela-se e legitima-se as desigualdades sociais, vivendo de

idealizações.

A concepção da Psicologia sócio-histórica, diferente da visão naturalista e

universal do adolescente adotada pela Psicologia Tradicional, não nega a

adolescência, mas a entende não como uma fase natural ao desenvolvimento humano,

mas como uma fase, que é criada historicamente pelo homem nas suas relações

sociais, enquanto um fato e passa a fazer parte da cultura enquanto significado. A

adolescência na visão sócio-histórica, não deve ser explicada, e sim, compreendida em

sua origem e desenvolvimento histórico, dentro de uma tessitura social, que constitui

uma determinada adolescência.

1.2 - A Adolescência e a escolha profissional

Para melhor esclarecimento, a autora Adélia Clímaco (1991), traz questões

sociais, econômicos e culturais como fatores que possibilitam a compreensão do

surgimento da adolescência. Diz que, na modernidade, o trabalho, com todo o seu

aparato tecnológico, passou a exigir que os jovens adquirissem maior tempo de

formação escolar. A realidade do desemprego comum à sociedade capitalista forçou-os

a melhor se prepararem para o ingresso no mercado de trabalho, ficando maior parte

do tempo na escola, afastando-se do trabalho por algum tempo. O adolescente

treinado e controlado, para que esteja a serviço do capital.

O avanço tecnológico desafiou a sociedade resolvendo problemas humanos,

prolongando a vida, e abrindo perspectivas para o mercado de trabalho.

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Manter as crianças na escola por um período prolongado foi a solução encontrada

por muitos pais em que lhes foram dadas às condições para que se mantivessem as

crianças sob sua tutela sem ingressar no mercado de trabalho. A extensão do período

escolar, e conseqüentemente, o distanciamento dos pais e da família e a aproximação

de um grupo de iguais foram as conseqüências dessas exigências sociais. Neste

contexto ocorre a criação de um novo grupo social com características comuns entre si:

a juventude/ a adolescência.

Sendo assim, a adolescência, um período de latência social, e também, a

necessidade de se fazer uma escolha profissional coerente, foi gerada a partir da

sociedade capitalista, aonde questões sociais e históricas vão contribuindo para uma

fase em que o indivíduo afasta-se do trabalho e busca uma maior preparação técnica.

As mudanças corporais passam a ser tomada como marcas do corpo, que sinalizam a

adolescência.

Os jovens neste momento da vida, possuíam competência para ingressarem no

mundo adulto e capacidade de trabalho, porém, em suas necessidades sociais, não

estavam autorizados para exercerem sua autonomia e sustento mediante o mundo de

trabalho e vínculo de dependência do adulto, mesmo tendo condições de estar de outra

forma na sociedade.

Podemos dizer que deste contexto surgem sentimentos como a rebeldia, a

moratória, a instabilidade, a busca de identidade e os conflitos tão característicos dessa

fase. Mas há de se esperar, já que estando aptos para a atuação no mundo adulto são

vedadas as possibilidades deles experimentarem a realidade social.

A adolescência é considerada um momento crucial da vida do homem. Um

período de suma importância em que vai se dar a tomada de decisões, inclusive, a

relacionada a profissão, que muitas das vezes, compromete todo um futuro, se não

realizada conscientemente. A escolha de uma profissão coloca-se na listagem das

decisões a serem tomadas. Alguns adolescentes a tomam como a mais importante e

primordial para sua vida adulta, e desesperam-se frente à ideologia de que a escolha

de uma profissão é para a vida toda. Desesperam-se frente a esta imposição, por

vezes injusta, pois frente às inúmeras possibilidades, muitas não conhecidas, tem que

se escolher apenas uma, a “profissão certa”. A chegada ao ensino médio, por volta dos

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15 anos de idade, marca o início das preocupações com a carreira. São muitos os

adolescentes/jovens que no 3º ano do Ensino Médio, etapa final do ensino básico, não

sabem o que fazer e o que escolher, ou melhor, não tem acesso a maiores

informações sobre as diversas profissões. Muitos se formam e a beira de prestar um

vestibular ou ocupar-se profissionalmente não sabe o que farão.

Vale ressaltar, que a escolha profissional deve estar intimamente ligada às

afinidades e habilidades do estudante. Especialistas a uma reportagem a revista Época

(2003, p.97), alertaram que a vocação não é tudo para a definição da carreira, mas,

também, deve-se levar em conta aspectos como remuneração e o modo de vida que se

pretende no futuro, para então, medir sacrifícios e ambições. Inúmeros fatores

interferem diretamente na hora de um adolescente realizar a sua escolha por uma

profissão, sendo relevante, que o mesmo esteja atento a tais implicadores.

O momento de escolha profissional é um período em que o adolescente precisa

de subsídios familiar e emocional para a realização da melhor escolha possível. Logo,

não poderíamos entender a escolha profissional como algo simplesmente isolado e

individual. Uma série de fatores sociais e econômicos interferem na escolha de uma

profissão. Entre eles, a família apresenta-se como um fator interferente na escolha

profissional de um adolescente, e, é desse mesmo lugar que, muitas vezes, espera ser

atendido e apoiado.

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CAPÍTULO II

A interferência da família na escolha profissional

“Família, família, papai, mamãe, titia. Família, almoça junto todo dia. Nunca perde

essa mania”. Percebemos muitas vezes um certo saudosismo que nos acomete pela

lembrança de um tempo em que a letra da música do grupo Titãs representava um

espelho da sociedade. Homens e mulheres voltados para preocupações bem definidas,

ligados na tarefa mútua de gerar, criar e educar os seus filhos. Na hora das refeições,

aquela festa! Todos reunidos trocando idéias, comentando afazeres diários ou

desabafos por algum contratempo. Mas hoje a realidade é outra. A vida contemporânea

quebrou convenções, fazendo com que o ser humano convivesse numa nova e muito

diferente estrutura familiar. Sendo assim, pretendemos destacar neste capítulo a família

do passado e do presente, ressaltando-a como um fator interferente na escolha

profissional de um adolescente.

2.1 - A Família como foi ? Como vai?

A família até o século XVIII, vivia sob um modelo patriarcal , onde o pai

considerado o ‘maioral’ do lar, tinha todos os direitos sobre a mulher e filhos, sendo-lhe

permitido, até mesmo, matá-los. Na época romana, a família era compreendida pelos

filhos casados, suas mulheres e filhos, e também, os escravos. Posteriormente, a

família fora reduzida ao pai, à mãe e aos filhos, mantendo o modelo patriarcal. Tinham

uma missão de transmitir de geração a geração valores como a procriação, a

transmissão dos bens e da tradição, a linhagem, a possessão de terras e a herança.

O casal tinha seus papéis divididos de acordo com o sexo, a saber: o homem

responsável em prover as necessidades básicas da família e a mulher tinha a função

de protetora do lar, onde os serviços domésticos e cuidado com os filhos faziam parte

de sua tarefa diária.

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A família vem sofrendo desagregação, no entanto, permanece sendo um espaço

privilegiado de socialização e de prática de tolerância e divisão de responsabilidades,

de busca coletiva de estratégias de sobrevivência e lugar inicial para o exercício da

cidadania sob o parâmetro da igualdade, do respeito e dos direitos humanos. A família

é o espaço indispensável para a garantia da sobrevivência de desenvolvimento e da

proteção integral dos filhos e de mais membros; independente do arranjo familiar ou

da forma que vem se estruturando.

“ É a família que propicia os aportes afetivos e sobretudo

materiais necessários ao desenvolvimento e o bem-estar dos

seus componentes. Ela desempenha um papel decisivo na

educação formal e informal é em seu espaço que são absorvidos

os valores éticos e humanitários, e onde se aprofunda os laços de

solidariedade. È também em seu interior que se constroem as

marcas entre as gerações e são observados valores culturais ” (

Ferrari, M. e Kaloustian, S.M.p.11).

O estatuto da criança e do adolescente ( Art. 4º) trata a família como sendo a

instituição responsável pela alimentação e proteção da criança, da infância à

adolescência. A socialização da criança, a sua inserção na cultura, valores e normas

começa deste lugar. Logo, para um desenvolvimento completo e harmonioso da

personalidade da criança faz-se necessário que a mesma cresça num contexto familiar

onde a felicidade, amor e compreensão sejam evidentes.

Atualmente, encontramos a chamada “família mosaico” , que segundo Claire

Garbar e Francis Theodore (2000,p.161), trata-se de um “conjunto de elementos

justapostos”, que numa família seriam as recombinações de inúmeros divórcios, dos

segundos casamentos e coabitações, onde um novo tipo de família vai surgindo.

Assim, “os meus filhos”, “os seus filhos” e “os nossos filhos”, pai, mãe, padrasto,

madrasta, irmãos, meio-irmãos e irmãos postiços, dão origem a um conjunto de

verdadeiros e falsos, avôs, avós, tios, tias, primos e primas.

Com base em diferentes estudos antropológicos, a família vem sofrendo

inúmeras e variadas mudanças sendo reinventada com novos arranjos. A saber, o

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etnólogo, Claude Lévi- Strauss (1982,p.357), em um de seus estudos observou de

forma nítida que a família consiste em “uma união mais ou menos duradoura,

socialmente aprovada, entre um homem, uma mulher e seus filhos”, constituindo

fenômeno universal, presente em toda e qualquer sociedade. No entanto, diferentes

sistemas de matrimônio e filiação se dão, de acordo, com o contexto sócio-histórico-

cultural de cada localidade.

Segundo Claude Lévi-Strauss (1982), a família pode ser baseada em

diferentes tipos de casamento. Como exemplo, a civilização mulçumana constitui-se em

uma sociedade polígama onde o homem pode ter ao mesmo tempo inúmeras esposas.

Na Índia, entre o Nayor e os Todas caracteriza-se por ser uma sociedade poliandra

onde uma mulher pode ter diversos maridos. Já no Nepal, os Pahari praticam um tipo

de poliandria fraterna em que uma mulher desposa o filho mais velho dos seus irmãos.

No tocante a filiação nem sempre os pais assumem a educação dos filhos. A

exemplo, entre os Mossis, na África, a mãe é considerada aquela que pare, amamenta

e educa. Entre os Trobian, na Melanésia, as crianças pertencem a linhagem materna.

O pai é visto pela criança como marido de sua mãe, delegando ao irmão da mulher o

lugar de verdadeiro pai. Diferentemente, em Israel as crianças desde os seis meses de

vida são criadas em grupos, nas conhecidas “casa das crianças” por babás, podendo

ver seus pais durante duas horas por dia, de acordo com a sociedade a filiação pode

ser materna ou paterna. Na ilha de Tori, na Etiópia, depois do casamento, cada cônjuge

volta a viver com seus pais , onde marido e mulher não precisam morar juntos. Nas

sociedades polígamas, cada esposa tem sua casa e o marido a visita regularmente.

Desta forma, constatamos que não existe um modelo único de família, e sim

diferentes formas de se pensar e vivenciar a família que devem ser compreendidas e

respeitadas.

A palavra família é destacada por Claire Garbar e Francis Theodore (2000), como

tendo dois sentidos. De um lado, entendida como um conjunto de seres do mesmo

sangue, por outro, um conjunto de pessoas que vivem sob o mesmo teto, dentro de

uma visão também sociológica. Já o demógrafo destaca a família por um grupo

formado por mãe e seus filhos; permitindo-lhe calcular o índice de natalidade. O INSSE,

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caracteriza a família como sendo composta de pelo menos duas pessoas: seja um

casal, casado ou não, com ou sem filhos, ou um adulto com um ou vários filhos.

Enfim, um ponto comum entre as “famílias tradicionais” e as “novas famílias”, é

que independente das definições oficiais referentes a família, esta é a “primeira

comunidade social da qual a criança participa... permite o aprendizado da vida em

sociedade e transmissão de valores”, segundo análise de Claire Garbar e Francis

Theodore (2000), destacando-a de suma importância na vida de uma criança e,

posteriormente, de um adolescente.

2.2 - A interferência da família na escolha profissional

A família é um espaço onde cada membro tem um papel a desempenhar, sendo

que os papéis principais na família devem ser desempenhados pelos pais. Grandes são

as responsabilidades e funções destinadas aos mesmos, tal como, função material,

psicológica e social de alimentar, vestir, cuidar, proteger, e também, estabelecer

relacionamentos saudáveis entre pais e filhos. A saber, todo o registro da comunicação,

verbal e não-verbal, irá possibilitar que a criança crie seus laços, tendo seus pais como

principais exemplos idendificatórios.

A família está para além de uma associação de pessoas, “ é onde as crianças

descobrem o amor e o ódio, onde elas podem esperar receber simpatia e tolerância,

mas também exasperação”, segundo análise da psicanalista Fançoise Polto (id. Claire

Garbar e Francis Theodore,2000, p.36).

A psicopedagoga, Silvia Amaral de Mello Pinto, a uma entrevista a revista época

(2003, p. 89), declarou que aos pais “não basta apenas treinar os filhos para passar no

vestibular e ser competitivos, se os pais não tiverem também como objetivo contribuir

para que eles se sintam realizados, todos esses planos podem acabar em frustração”.

Estudos afirmam que desde a primeira infância pode-se cultivar e estimular a

inteligência, a criatividade, a responsabilidade e o respeito às regras de boa

convivência social até mesmo na hora do brincar. Os primeiros anos de vida são

cruciais para o desenvolvimento das competências e habilidades que os filhos vão

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carregar por toda vida. As brincadeiras são importantes recursos para o

desenvolvimento psicológico e motor e para a convivência social da criança.

É importante que a escolha da escola esteja em consonância com o tipo de

formação dada em casa, seja ela liberal ou conservadora. A família deve estar atenta e

priorizar uma instituição adequada a essas aspirações. Levando em conta, as

afinidades naturais do adolescente, não optando por uma carreira, apenas pelos

retornos financeiros e preferências familiares.

Escolher uma escola adequada implica no currículo e tipo de formação intelectual

e moral que se pretende dar aos filhos. Se pais conservadores escolherem uma escola

liberal para seu filho, provavelmente, terá conflitos ” uma boa escola é aquela que se

preocupa com a criança em todos os seus aspectos: físico, cognitivo, afetivo e social ” ,

diz a psicopedagoga Silvia Amaral de Mello Pinto.

A família apresenta-se como um fator interferente, a partir do momento em que

exerce sua função socializadora. A exemplo, quando um bebê nasce,

conseqüentemente, é integrado no grupo social de referência pertencente a sua família.

Um bebê antes mesmo de chegar ao mundo, ocupa um lugar social, e também

psicológica, na vida dos integrantes da família. Logo, a família está encarregada de

apresentar o mundo ao bebê, junto a outras figuras significativas, e, é deste mesmo

lugar, que no futuro se dará a escolha profissional. Segundo Maria Luiza (1995,p.74) “

a forma como os pais dão significado aos elementos da vida ocupacional sempre está

presente no modo de um filho significar este universo”.

Geralmente quando um adolescente procura decidir-se profissionalmente, depara-

se com algumas pressões familiares. A família torce para o filho estudante conseguir

entrar numa faculdade, no entanto, algumas famílias exercem cobranças que podem

aumentar e comprometer o estresse e dificultar o desempenho do adolescente frente a

escolha profissional. Os pais devem ter em mente que o vestibular não é o fim das

coisas, e sim, uma etapa a ser alcançada. Os pais devem preocupar-se na realização

pessoal e profissional de seus filhos, incentivando-os a assumir responsabilidades da

vida adulta, mesmo que , na maioria das vezes, os pais continuem bancado-os

financeiramente.

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Maria Luiza (1995,p.78) diz que a escolha profissional influenciada pelos dilemas

familiares, poderá transformar-se em um “sintoma de grupo” , ou expressão de

ansiedades e conflitos compartilhados. Para melhor esclarecimento, o conceito

“identificação projetiva”, introduzido pela Melaine Klein (1946), contribui para entender

como se forma um “paciente-identificado” num contexto familiar, ou melhor um bode-

expiatório dos conflitos, um responsável pelos problemas familiares, mas que na

realidade expressam um dilema compartilhado, onde, através do sintoma as dores e

dificuldades de todo o grupo familiar são expressos.

Melaine Klein (1946), utiliza tal expressão para designar o mecanismo através do

qual “ uma combinação de partes cindidas do EU é projetada em outra pessoa”, onde

os sentimentos e idéias derivados do mundo interno do indivíduo são divididos em

pedaços e projetados num objeto exterior. Assim, o sujeito se desprovêem de parte do

EU e a vivencia no objeto ou a outra pessoa, como se este possuísse a parte projetada.

A outra pessoa reciprocamente a recebe num processo de conivência, por laços que

permanecem inconscientes aos sujeitos.

O que ocorre é que neste caso o indivíduo e grupo familiar permanecem

descontentes e com seus conflitos. Daí podemos pensar, que a escolha profissional

pode se tratar de uma iniciativa de reparo e ‘conserto’ de algo que se encontra

estragado ou quebrado dentro do indivíduo, podendo surgir como significante de um

conflito grupal, numa tentativa de representar tais conteúdos e apresentar uma solução.

A saber, é comum que alguns pais façam de seus filhos um depósito de

seus próprios ideais não realizados ao longo da vida, ao invés de criá-los para serem

construtores de seus próprios sonhos. È fundamental, que os pais observem os

interesses dos filhos e os ajudem na descoberta de suas habilidades. Os pais devem

quebrar preconceitos e idealizações sobre as profissões, para evitar decepções futuras.

A família não precisa omitir o que gostaria que o estudante fizesse, já que todo filho

sabe que seus pais tem expectativas a seu respeito. No entanto, pressão não adianta,

o interessante é mostrar no dia-a-dia as referências que se pretende passar aos filhos.

Bohoslavsky (1997), destacou a importância de se estar atento aos movimentos

aparentes ou ‘falsas’ reparações enfatizando a necessidade de detectá-los, uma vez

que possivelmente terão maior probabilidade de frustrar o futuro profissional do que

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produzir resultados positivos. Já que normalmente resulta em uma situação de pura

aparência, como se a pessoa pudesse livrar-se de sensações interiores dolorosas, mas

que na realidade não resolve o problema e a ansiedade tornam-se fatores originais.

Daí a importância de dentro de um programa de Orientação Vocacional voltado

para adolescentes se dar a inclusão da família neste processo, a fim de se

compreender a psicodinâmica familiar que está inserida, e assim, auxiliá-lo,

considerando os processos envolvidos neste imaginário familiar, contribuindo para uma

escolha profissional consciente e coerente.

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CAPÍTULO III

A contribuição da Orientação Vocacional

O objetivo deste capítulo é destacar a contribuição da Orientação Vocacional no

processo da escolha profissional de um adolescente, ressaltando a importância da

participação da família do orientando no mesmo.

3.1 – O surgimento da escolha profissional

Na comunidade primitiva, os seres humanos organizavam o seu trabalho como

atividade de coleta e mais tarde de caça e não havia muita distinção entre as funções,

ou seja, viviam para sua própria sobrevivência. A coletividade era mínima, assentada

sobre a propriedade de terra e unida por laços de sangue, os seus membros eram

indivíduos livres, com direitos iguais. As mulheres e as crianças estavam em pé de

igualdade com os homens, havendo apenas uma hierarquia no que se refere a

assuntos de guerra e cuidados com a saúde, atividades desenvolvidas por questão de

bravura e/ou idade avançada. Não havendo necessidade nem a possibilidade de

grandes escolhas no desempenho das funções.

Na Grécia antiga, o ócio era uma atividade valorizada, a contemplação era uma

atividade dos homens não-livres, que tinham a função de produzir a existência material.

O trabalho era sinônimo de atividade penosa e degradante, sem valor social, ser

cidadão ou escravo, por exemplo, não dependia de qualquer tipo de escolha, mas da

condição de classe familiar, do indivíduo, ou de acordo com as vitórias ou derrotas em

guerra.

Na Idade Média, especificamente no feudalismo, a sociedade era estratificada

onde a posição e a ocupação do indivíduo era transmitida de pai para filho, com se

fosse uma determinação divina onde "os ricos cada vez ficam mais ricos e os pobres

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cada vez ficam mais pobres" . Assim sendo, neste modo de produção os sujeitos não

escolhiam uma profissão, os laços de sangue é que determinavam e explicavam a

estrutura social, não havendo, mobilidade social. O conceito de vocação que vigorava

era de cunho religioso a favor da manutenção da ordem social, colocando que esta era

determinada pela vontade de Deus.

A escolha profissional emerge na medida em que é instalado definitivamente o

sistema capitalista de produção. A característica principal deste modo de produção será

não mais a satisfação das necessidades humanas, mas a geração de lucro.

3.2 – A Orientação Vocacional segundo diferentes autores

As teorias e práticas da Orientação Profissional avançam e a seleção de pessoal

na contratação de mão-de-obra passa a ter importância, uma vez que prevalece a

ideologia capitalista : " o homem certo no lugar certo, visando a maior produtividade".

“A posição do indivíduo no capitalismo, não é mais determinado,

pelos laços de sangue. Agora esta posição é conquistada pelo

indivíduo segundo o esforço que despende para alcançar esta

posição. Se antes esta posição era entendida em função das leis

naturais referendadas pela vontade divina, agora, ao contrário, o

indivíduo pode tudo, desde que lute, estude, trabalhe, se esforce,

e também ( por que não ) seja um pouco aquinhoado pela sorte”.

(Bock, 1995, p. 65).

A Orientação Vocacional surge como um recurso auxiliar e eficaz frente à decisão

de uma escolha profissional e exigências do mundo capitalista. Um instrumento que,

por sua vez, as escolas, atualmente, poderiam lançar mão como um recurso

colaborador no processo de decisão profissional. É essencial, o auxílio de um

profissional, o psicólogo, responsável por encaminhar todo o processo de

Orientação Vocacional a partir de uma postura responsável e ética. A escola pode

interferir na escolha de uma profissão de um aluno se usar de estratégias que o

capacite para enfrentar a realidade e prepará-lo para a sua inserção no mercado de

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trabalho, possibilitando-o um espaço reservado a reflexão, a análise e discussões

necessárias para a realização de uma escolha sólida.

Segundo Lucchiari (1993), a Orientação Profissional tem por objetivo

facilitar o momento da escolha ao Jovem, auxiliando-o a compreender sua situação

específica de vida, na qual estão incluídos aspectos pessoais, familiares e sociais. È a

partir dessa compreensão, que ele terá mais condições de definir qual a melhor escolha

possível no seu projeto de vida.

A Orientação Vocacional deve constituir-se em algo mais do que um momento

para a “descoberta” da profissão a seguir. Deve ser um processo em que os conflitos,

estereótipos e preconceitos sejam trabalhados a fim de superá-los; onde as

desinformações sejam enfrentadas e possíveis caminhos traçados; o auto-

conhecimento alcançado para que as decisões venham ser tomadas com base na

realidade social. A Orientação Vocacional como possibilidade de se criar uma

intervenção que a partir de informações e de reflexões sobre diversos aspectos, dê ao

sujeito condições de se apropriar de suas determinações, compreendendo-se como um

sujeito ao mesmo tempo único, singular, histórico e social é o que propõe, Gonçalves

(2001). Segundo o mesmo, quando a Orientação Profissional é proposta dentro de uma

visão naturalizada do que seja a adolescência, caracterizada por crises e dúvidas, a

própria escolha da profissão se naturaliza. Contudo, quando se considera que essa

fase é construída historicamente e que suas dificuldades são geradas

fundamentalmente pela contradição condição/autorização, terá outro tipo de proposta

para esses jovens. É ideal, que a Orientação Profissional possibilite ao indivíduo a

compreensão desse processo histórico, a fim de que se aproprie de suas

determinações e seja capaz de interferir no mundo social.

Bohoslavsky (1998), voltava o seu trabalho em Orientação Vocacional,

especificamente, para adolescentes de 15 a 19 anos, já que é basicamente neste

período que surgem as dificuldades e soluções de natureza vocacional. Para ele a

escolha de uma carreira e um trabalho podem ser auxiliados se o Jovem conseguir

assumir a situação que enfrenta e, ao compreendê-la, chegar a uma decisão pessoal

responsável. O adolescente é capaz de tomar uma decisão se conseguir elaborar os

conflitos e ansiedades em relação ao seu futuro.

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Para Müller, a Orientação Vocacional não se trata de um juízo, ou de um estudo

psicológico do qual se obtém “resultados”, nem tão pouco de um conselho ou

prescrição médica, “é um processo, uma trajetória, uma evolução mediante a qual os

orientandos refletem sobre sua problemática e buscam caminho para a sua elaboração”

(Müller,1988,pg.14). A Orientação Vocacional tem por objetivo levar o orientando a pôr

em prática o conhecimento pessoal, o conhecimento da realidade, e assim, tomar

decisões reflexivas e de maior autonomia, levando em conta suas próprias

determinações psicológicas e as circunstâncias sociais. A vocação faz-se subjetiva e

historicamente em interação com os outros, de acordo com as oportunidades familiares

e as disposições pessoais. Para ela, a Orientação Vocacional é:

“... uma tarefa clínica, cujo objetivo é acompanhar a um ou mais

sujeitos na elaboração de suas reflexões, conflitos e antecipações

sobre seu futuro, para tentar a elaboração de um projeto pessoal

que indica uma maior consciência de si mesmo e da realidade

sócio-econômico cultural e ocupacional, que permita aos

orientandos aprender a escolher um estudo ou ocupação e

preparar-se para desempenhá-lo” . (Muller,1988,p.9)

Para Bock (2001), a melhor escolha profissional que um indivíduo pode

realizar é aquela que consegue dar conta, no sentido de reflexão, do maior número de

determinações para, a partir delas, construir esboços de projetos de vida profissional e

pessoal.

“Para um adolescente, definir o futuro não é somente definir o que fazer, mas

fundamentalmente definir quem ser e, ao mesmo tempo, definir quem não ser”

(Bohoslavsky,1998, pg.28).

Em suma, a Orientação Vocacional deve contribuir para que o indivíduo entenda

sua relação com a sociedade de forma dinâmica e dialética, ampliando o processo de

construção e consciência de si mesmo e do mundo, tornando-o mais apto para resolver

da melhor maneira, questões pertinentes ao seu futuro profissional, organizando suas

ações e intenções baseado nas possibilidades e necessidades.

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3.3 – A inclusão da Família na Orientação Vocacional

Incluir os pais e/ou familiares no trabalho de Orientação Vocacional não quer

dizer, necessariamente, tê-los concretamente em todo o momento do processo.

Diversos recursos podem ser adotados a fim de que investiguem as representações

vinculados ao processo de escolha profissional presente na família. O objetivo deste

tipo de trabalho “ não precisa se restringir a identificar as carreiras pertinentes ao

estudante, mas pode aspirar a auxiliá-lo na transposição dos impedimentos psíquicos e

elaboração das motivações inconscientes ao caminho da sua profissionalização”,

segundo Luiza(1995, pg. 77).

Ao se falar em projetos de vida profissional e pessoal de um orientando estará se

focalizando no mundo de representações do mesmo e de seu grupo familiar sobre o

mundo de trabalho e sentido da vida de uma forma geral. O que impossibilita que se

tenha uma visão descontextualizada, sendo necessário compreendê-lo junto as suas

ansiedades em referência ao grupo social que faz parte, entre eles, a família, amigos,

escola e etc..

O grupo familiar constitui o grupo de participação e de referência fundamental, e é

por isso que os valores desse grupo constituem bases significativas na orientação do

adolescente, quer a família atue como grupo negativo de referência ou positivo,

segundo análise de Bohoslavsky(1998).

Daí a importância de se destinar um espaço para se pensar a relação do jovem

estudante com a família e com as expectativas parentais. Além disso, prevenir, de

forma a estar atento a todo material psíquico trazido pelo orientando que o dificulta a

dificulta a decidir-se profissionalmente. Já dizia Levisky(1992), que qualquer um de nós,

enquanto ser-humano, já vivenciamos a experiência de como nossa capacidade de

concentração, trabalho, reflexão se alteram na dependência de nossos estados

emocionais. Quando conseguimos modular de forma adequada o nível de ansiedade, a

capacidade criativa, o pensar, o perceber e o aprender significados tornam-se mais

abrangentes. Logo, a participação dos pais no processo de Orientação Vocacional

contribui para a análise e elaboração, pelo indivíduo, destes elementos subjacentes à

escolha ocupacional.

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Cabe à família criar condições, para que o jovem/adolescente dapara-se com

suas questões, reflita sobre elas, aprofundando o conhecimento de si mesmo e da

realidade onde vive; levando em conta, que a escolha é um processo pessoal e

particular, e que são múltiplas as determinações envolvidas nesse processo. A família,

deve fazer valer seu papel social de “formadores de indivíduos” e “construtores de

cidadania”, e assim, contribuir para que o adolescente realize sua escolha profissional,

valorizando o espaço familiar como um fator interferente no projeto de sua vida futura.

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CONCLUSÃO

Entre as inúmeras nuances que interferem na decisão profissional, optamos por

destacar a família, como um dos interferentes cruciais neste processo de escolha.

No espaço familiar, caracterizado pela formação de indivíduos e construtores de

cidadania, os pais têm um papel fundamental; apresenta-se como um agente,

possibilitador ou não, para a resolução de uma opção profissional. Quando em

interação com seu filho, contribui para que o mesmo realize sua escolha calcada em

contribuintes da relação que mantém com os mesmos.

O cultivo ao brincar estimulam a inteligência, a responsabilidade e compromisso

desde a primeira infância quando os pais permitem que seus filhos entrem em contato

com o mundo através das brincadeiras. Já desde pequeno os pais podem contribuir

para um futuro profissional de seus filhos até mesmo na hora da escolha da escola,

sendo de suma importância que a opção pela escola do filho coincida com a criação

que os mesmos dão em casa.

Vale ressaltar, que aos pais não bastam, apenas, treinar seus filhos para terem

sucesso no ingresso à faculdade ou mercado de trabalho, muito mais do que isso,

devem prepará-los para serem construtores de sua própria história, capacitando-os

para realizarem escolhas coerente.

A família é a responsável pela socialização do indivíduo, desde a infância à

adolescência contribuem para um desenvolvimento completo e harmonioso na

personalidade da criança, logo, é necessário que se tenha um contexto familiar onde o

carinho, o afeto e compreensão estejam presentes, para que assim encontrem

subsídios emocionais para enfrentarem os implicadores envolvidos no processo de

escolha.

Ao se entender a família como um grupo de participação e de referência

fundamental, faz-se necessário a inclusão da família no processo de Orientação

Vocacional, recurso utilizado para auxiliar o adolescente no momento da escolha

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profissional, que quase sempre são envolvidas por pressões e questões familiares,

podendo ser trabalhadas neste espaço.

Incluir os pais na orientação Vocacional, não significa necessariamente tê-los em

todo o momento do processo, pelo contrário, é permitir que em um momento específico

do processo participem, a fim de que se investiguem a implicação da família na opção

profissional do adolescente.

Sendo assim, a família apresenta-se como um interferente na escolha de uma

profissão de um adolescente quando em interação com o mesmo, demonstra

disposição para ouvir questões referentes ao que terá que escolher futuramente: o

aluno em vias de se engajar no mercado de trabalho.

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