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1 L REUNIÃO DE MINISTROS DE JUSTIÇA DO MERCOSUL E ESTADOS ASSOCIADOS FONTE: ARQUIVO GOOGLE.COM Patricia Lamego Teixeira Soares* CXLIV Encontro da Comissão Técnica da Reunião de ministros de Justiça do Mercosul e Estados Associados Sob a Presidência do Excelentíssimo Senhor Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, foi realizada a L Reunião de Ministros de Justiça do Mercosul e Estados Associados, celebrada em Foz do Iguaçu-PR, nos dias 05 e 06 de novembro de 2019, no âmbito da qual foi celebrado o CXLIV Encontro da Comissão Técnica da Reunião de Ministros de Justiça do Mercosul e Estados Associados, que contou com a presença das Delegações da República Argentina, da República Federativa do Brasil, República do Paraguai e ainda, com participação de Delegação do Estados Plurinacional da Bolívia. Entre os relevantes objetivos dessa reunião, destaca-se que os Estados Partes do MERCOSUL e Estados Associados deram continuidade aos esforços para aprofundar a cooperação jurídica internacional com vistas a lograr soluções comuns para o fortalecimento do processo de integração regional. ISSN - 2446 - 9211 / n o 55 - Novembro 2019

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L REUNIÃO DE MINISTROS DE JUSTIÇA DO MERCOSUL E ESTADOS ASSOCIADOS

FONTE: ARQUIVO GOOGLE.COM

Patricia Lamego Teixeira Soares*

CXLIV Encontro da Comissão Técnica da Reunião de ministros de Justiça do Mercosul e Estados Associados

Sob a Presidência do Excelentíssimo Senhor Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, foi realizada a L Reunião de Ministros de Justiça do Mercosul e Estados Associados, celebrada em Foz do Iguaçu-PR, nos dias 05 e 06 de novembro de 2019, no âmbito da qual foi celebrado o CXLIV Encontro da Comissão Técnica da Reunião de Ministros de Justiça do Mercosul e Estados Associados, que contou com a presença das Delegações da República Argentina, da República Federativa do Brasil, República do Paraguai e ainda, com participação de Delegação do Estados Plurinacional da Bolívia.

Entre os relevantes objetivos dessa reunião, destaca-se que os Estados Partes do MERCOSUL e Estados Associados deram continuidade aos esforços para aprofundar a cooperação jurídica internacional com vistas a lograr soluções comuns para o fortalecimento do processo de integração regional.

ISSN - 2446 - 9211 / no 55 - Novembro 2019

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Nesse sentido, cabe assinalar que através do estabelecimento de um ato normativo bilateral ou multilateral, os pedidos de cooperação jurídica internacional são tramitados de forma mais segura, já que seu texto é resultante de discussões e negociações em que foram analisadas as legislações nacionais dos Estados signatários com vistas a sua uniformização.

A partir de sua ratificação, o ato normativo internacional, por sua natureza compulsória, passa a impor deveres e obrigações aos Estados Partes, gerando a possibilidade de sanções pelo seu descumprimento. Na prática, fomenta-se a melhoria do acesso à Justiça, a partir da criação de uma nova alternativa para a implementação da cooperação jurídica internacional, consequentemente aprimorando-se o trabalho realizado pelos órgãos do Poder Executivo e dos demais órgãos que compõem o Sistema de Justiça. Com relação ao Mercosul, cumpre lembrar que a proposta original para criação do Bloco resultou de discussões ocorridas na década de 60, quando o foco era a constituição de um mercado econômico regional na América Latina. O primeiro tratado firmado entre os países da região foi o tratado que instituiu a Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC), posteriormente convertida em Associação Latino-Americana de Integração (ALADI). A época o contexto na região era de redemocratização e de busca por integração econômica.

A partir dessa primeira experiência regional foi instituído em 1991, o Mercado Comum do Sul (Mercosul), formalizado pela assinatura do Tratado de Assunção, no Paraguai. O Tratado estabeleceu os marcos para a livre circulação interna de bens e serviços, possibilitando também, o estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum (TEC) no comércio com terceiros países.

No ano de 1995, foi instalada a zona de livre comércio entre os Estados Partes por meio da adoção de uma política comercial comum a qual, após duas décadas de evolução, permite que a quase totalidade das mercadorias produzidas dentro do Bloco sejam comercializadas sem tarifas comerciais.

Outra notável evolução foi o livre trânsito por nacionais do Bloco, que não necessitam de visto para ingressar nos demais países, onde podem passar a residir e exercer atividades laborais. Juntos, os países que compõe o Mercosul têm população estimada de 320 milhões de habitantes e PIB de 4,9 trilhões de dólares, em dados de 2019.

A estrutura institucional do Mercosul foi criada em 1994, por meio da assinatura do Protocolo de Ouro Preto, que outorgou ao Bloco personalidade jurídica de direito internacional. Tal fato ocasionou a ampliação gradativa da agenda de trabalho, que passou a englobar outros temas de discussão permanente, entre os quais assuntos políticos, de direitos humanos, sociais, de cidadania e de justiça. Atualmente, o Mercosul, como Bloco regional, objetiva promover a integração política, econômica e jurídica na América do Sul. Suplementarmente, foi instituída a Reunião dos Ministros de Justiça do Mercosul e Estados Associados, cuja quinquagésima Reunião acaba de ser realizada na cidade de Foz do Iguaçu. No âmbito desse foro têm sido discutidas e analisadas iniciativas legislativas que visam a progressiva unificação dos sistemas normativos dos países que compõe o Bloco.

Recorda-se que uma das primeiras e mais conhecidas dessas iniciativas legislativas foi o Protocolo de Assistência Mútua em Assuntos Penais, também denominado de Pacto de San Luis, assinado em San Luis, República Argentina, em 25 de junho de 1996, pelos governos da Argentina, Paraguai, Uruguai e Brasil, e, posteriormente promulgado pela Presidência da República, por meio do Decreto nº 3.468, de 2000.

O protocolo tem como princípio basilar promover a assistência jurídica mútua em questões penais entre as autoridades competentes dos Estados Partes, incluindo a investigação de delitos e a cooperação em procedimentos relacionados com assuntos penais.

Após o Pacto de São Luís, diversos outros acordos igualmente significativos foram negociados e estabelecidos, todos visando ampliar e fortalecer a rede de acordos de cooperação jurídica internacional para fazer frente a complexas questões de natureza civil, comercial, trabalhista, administrativa e penal.Sublinha-se que todos os acordos negociados e instituídos no âmbito do Mercosul e Estados Associados

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ensejam a consolidação da democracia, da estabilidade política e econômica, do respeito aos direitos humanos e às liberdades e garantias individuais dos cidadãos do Bloco.

Além do já citado Pacto de São Luís, constituem valiosas realizações normativas os seguintes tratados:

• Acordo sobre o Benefício da Justiça Gratuita e a Assistência Jurídica Gratuita entre os Estados Partes do Mercosul, a República da Bolívia e a República do Chile (Decreto nº 6.679, de 8 de dezembro de 2008);

• Acordo de Cooperação e Assistência Jurisdicional em Matéria Civil, Comercial, Trabalhista e Administrativa entre os Estados Partes do MERCOSUL, a República da Bolívia e a República do Chile (Decreto nº 6.891, de 2 de julho de 2009);

• Acordo, por troca de Notas, para Bilateralização do Acordo sobre Residência para Nacionais dos Estados Partes do Mercosul, Bolívia e Chile;

• Acordo, por troca de Notas, entre a República Federativa do Brasil e a República Oriental do Uruguai para a Bilateralização do Acordo sobre Residência para Nacionais do Mercosul; e

• Acordo, por troca de notas, entre o Brasil e a Argentina para bilateralização do Acordo sobre Residência para Nacionais do Mercosul e o seu Anexo.

Por ocasião do CXLIV Encontro da Comissão Técnica da Reunião de ministros de Justiça do Mercosul e Estados Associados foi discutida ampla pauta. Nota-se que vários pontos da agenda se inserem diretamente nas atribuições do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI) da Secretaria Nacional de Justiça (Senajus):

a) Questionário para a proposta de “Manual de Boas Práticas em Matéria de Alimentos”, que havia sido discutido por vídeo conferência no mês de setembro último a partir de comentários apresentados pela Delegação argentina, com posterior aprovação do documento pelas demais delegações presentes à reunião;

b) Apresentação de proposta de “Seminário em Matéria de Luta contra a Corrupção”, cujo escopo é o combate à corrupção em âmbito civil e administrativo. O Termo de Referência foi aprovado pelas delegações presentes que se comprometeram a apresentar suas instituições nessa temática, bem como circular as respectivas normas nacionais sobre o assunto. O Seminário deverá ser realizado no primeiro semestre de 2020;

c) Apresentação de proposta da “Declaração sobre o Combate aos Delitos Cibernéticos” no marco da Convenção de Budapeste”, cujo texto foi revisado e aprovado para elevação aos Ministro de Justiça do Mercosul e Estados Associados os quais, por sua vez, o assinaram;

d) Apresentação de proposta para a realização do evento “Diálogos Mercosul – Reino Unido no Combate aos Delitos Cibernéticos”, previsto para ocorrer no dia 03 de dezembro de 2019, em Brasília;

e) Discussão e troca de experiências sobre o tema “Equipes Conjuntas de Investigação”, que incluiu uma apresentação por parte das delegações sobre seus regulamentos internos e experiências na matéria. A Delegação brasileira pontuou a situação dos acordos vigentes sobre ECIs que foram firmados com o Paraguai e citou o recente Termo Aditivo ao Acordo de Cooperação Judiciária em Matéria Penal entre Brasil e França, negociado em abril de 2019. Como resultado das discussões, acordou-se compartilhar as legislações existentes sobre o tema;

f) Discussão sobre os mecanismos para a “Internalização de Acordos no âmbito do Mercosul”, incluindo uma análise dos Acordos não vigentes pendentes de ratificação apresentada pela Delegação brasileira. As delegações se comprometeram então, a revisar os acordos pendentes e informar seu interesse na ratificação durante a próxima reunião;

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g) Apresentação de proposta para o “Acordo em Cooperação Civil, Comercial, Trabalhistas e Administrativa Aplicável ás Localidades Fronteiriças”. A Delegação brasileira apresentou a proposta que foi discutida durante a reunião e que deverá ser finalizada na próxima reunião da Comissão Técnica de Justiça (CTJ);

h) Análise de “Adesões e Ratificações de Convenções da Haia”, que teve como objetivo impulsionar a aprovação de Convenções da Haia ainda não internalizadas pelos países que compõe o Bloco do MERCOSUL e Estados Associados, com vistas a fortalecer e agilizar a cooperação em matéria civil na região;

i) No término do evento, foi realizada apresentação por parte de representante do Grupo de Trabalho Especializado em Assuntos Penitenciários (GEAP).

Além desses pontos, foi enfatizado como um dos objetivos da reunião o tema da “tramitação eletrônica de pedidos de cooperação jurídica internacional em matéria civil e em matéria penal”, especialmente para o envio e recebimento de pedidos dessa natureza entre as Autoridades Centrais.

Por fim, cumpre ressaltar que ao longo da L Reunião de Ministros de Justiça do MERCOSUL e Estados Associados e do CXLIV Encontro da Comissão Técnica da Reunião de Ministros de Justiça do MERCOSUL e Estados Associados buscou-se aprimorar o trabalho da cooperação jurídica internacional entre os países que compõe o Bloco por meio de propostas voltadas para a atualização da pauta normativa regional e pelo intercâmbio de conhecimento acerca de normativas, políticas ou procedimentos inovadores de cooperação jurídica internacional. O objetivo maior é fomentar mecanismos para a consolidação do Estado de Direito e para o fortalecimento do Sistema de Justiça na América do Sul.

* Patricia Lamego Teixeira Soares. Membro da carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental; Coordenadora de Tratados e Foros Internacionais do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional da Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

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Representantes do DRCI participam de curso sobre Transferência de Pessoas Condenadas promovido pelas autoridades chinesas

FONTE: ARQUIVO DRCI

Extradição e Transferência de Pessoas CondenadasExtradição e Transferência de Pessoas Condenadas

O instituto de transferência internacional de pessoas condenadas, de caráter essencialmente humanitário, possibilita que a pessoa condenada no exterior seja transferida ao seu país de origem para o cumprimento da pena, próxima de sua família e de seu ambiente social e cultural, o que vem a ser importante apoio psicológico e emocional facilitando sua reabilitação.

A Organização das Nações Unidas (ONU) tem insistido quanto à imprescindibilidade de tal cooperação, dirigindo esforços no sentido de difundir a proposta da transferência de presos como método moderno de reeducação para fortalecer o alicerce de reconstrução pessoal do preso diante da perspectiva de futura vida livre no convívio social.

Com o objetivo de ampliar a cooperação jurídica internacional, o Governo brasileiro tem envidado esforços no sentido de negociar tratados sobre o instituto da transferência de pessoas condenadas com diversos países, a fim de aumentar o espectro de pessoas que possam ser beneficiadas com a oportunidade de cumprir suas penas em suas próprias sociedades.

Um dos grandes esforços tem sido feito no sentido de aproximar os membros dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) por meio de acordos de cooperação jurídica internacional. Somente ao longo do ano de 2019, não só entrou em vigor o Acordo sobre Transferência de Pessoas Condenadas entre a República Federativa do Brasil e a República da Índia (o qual foi promulgado pelo Decreto nº 9.900, de 8 de julho de 2019), como também foi iniciada a negociação de acordo da mesma natureza com a África do Sul.

Além disso, foi negociado o Acordo de Transferência de Pessoas Condenadas com a China, o qual foi assinado no âmbito da Cúpula dos BRICS que ocorreu em novembro de 2019 em Brasília.

Levando em consideração o momento de aprofundamento das relações sino-brasileiras no âmbito da transferência de pessoas condenadas, o governo chinês convidou para um curso de 3 semanas em Beijing, duas servidoras do DRCI que trabalham diretamente com a matéria.

O curso é direcionado para funcionários do governo especialistas em execução de penas e transferência de pessoas condenadas. Conta com seminários e organiza visitas de campo. Os seminários são realizados em Beijing, e cobrem uma variedade de tópicos como um resumo do perfil do país, a contextualização da “Belt and Road Initiative (BRI)” e suas implementação, cooperação internacional judiciária e policial no âmbito da estrutura BRI, introdução ao direito penal da China, introdução ao sistema de execução de penas da China, sistema legal da China e prática de transferência de pessoas condenadas.

Trata-se de uma oportunidade importante para estreitar os laços com a China e facilitar, na prática, a tramitação de eventuais pedidos de transferência entre ambos países – tanto de brasileiros que

Rodrigo Antonio Gonzaga Sagastume *

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cumprem pena na China e desejam ser transferidos para presídios brasileiros, como de cidadãos chineses que solicitam cumprir sua pena no seu país de origem.

O conhecimento in loco, tanto do ordenamento jurídico e institucional chinês, quanto dos presídios que abrigam estrangeiros naquele país, poderá dar melhores subsídios à cooperação jurídica internacional no âmbito do instituto da transferência, pois dá melhores recursos à tomada de decisão por parte da Autoridade Central brasileira na matéria, exercida pelo Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI).

*Rodrigo Antonio Gonzaga Sagastume. Membro da carreira de especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental; Coordenador de Extradição e Tranferência de Pessoas condenadas do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional da Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

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FONTE: ARQUIVO GOOGLE.COM

Cooperação Civil

É possível requerer alimentos de devedor que se encontre no exterior, mas eventual medida executória necessária para o adimplemento da prestação alimentar é definida pelo Estado requerido, com base na sua legislação doméstica. Assim, o foco do pedido de cooperação jurídica internacional deve estar na obtenção da pensão alimentícia, e não na prisão do devedor ou em outra medida executória na jurisdição estrangeira.

É muito comum que os pedidos de alimentos encaminhados pelas partes interessadas ou pelas

autoridades requerentes brasileiras destinados ao exterior sejam recebidos na Autoridade Central brasileira com o pedido de prisão civil do devedor de alimentos. É perfeitamente possível, em muitos casos, enviar o pedido de alimentos, mas não é lícito definir, na jurisdição brasileira, qual medida executória será usada pela autoridade competente do Estado estrangeiro para tal fim.

O Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), da Secretaria Nacional de Justiça, órgão do Ministério da Justiça e Segurança Pública, exerce o papel de Autoridade Central para diversos tratados, muitos deles úteis à prestação internacional de alimentos.

Desses tratados, merece destaque a Convenção da Haia sobre Alimentos (www.justica.gov.br/alimentos), a qual prevê, em seu artigo 34, rol exemplificativo de medidas que podem ser tomadas pelo país em questão. Essa definição é feita pelas próprias autoridades estrangeiras, sem prejuízo do verdadeiro objetivo da parte interessada brasileira, que é a devida prestação dos alimentos:

Artigo 34 – Medidas de execução

§ 1º Os Estados Contratantes tornarão disponíveis nos seus direitos internos medidas efetivas para executar as decisões com base nesta Convenção.

§ 2º Tais medidas poderão abranger:

a) retenção do salário;

b) bloqueio de contas bancárias ou de outras fontes;

c) deduções nas prestações de seguro social;

d) gravame ou alienação forçada de bens;

e) retenção do reembolso de tributos;

f) retenção ou suspensão de benefícios de pensão;

g) informação aos organismos de crédito;

h) denegação, suspensão ou revogação de certas permissões (carteira de habilitação, por exemplo); e

i) recurso à mediação, à conciliação ou a outros meios alternativos de solução de litígios que favoreçam a execução voluntária.

Viabilidade de Alimentos no Exterior sem Prisão Civil

Arnaldo José Alves Silveira*

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O Relatório Explicativo da Convenção em comento, documento oficial da Conferência da Haia sobre Direito Internacional Privado, está disponível no site supracitado em tradução para o português brasileiro feita pelo DRCI. No seu parágrafo 155, parte final, consta que:

“Algumas medidas de execução eficazes são listadas no artigo 34”. Já na parte inicial do parágrafo 583 do mesmo documento, consta: “A lista do parágrafo 2º é ilustrativa e não exaustiva. Ela descreve que tipo de medidas os Estados Contratantes poderão considerar para cumprir com a obrigação geral de disponibilizar medidas efetivas. Em alguns casos, o objetivo direto é efetivar o pagamento (por exemplo, a retenção do salário), mas, em outros casos, existem medidas que visam a pressionar o devedor, e, indiretamente, fazer com que ele pague (por exemplo, a suspensão da carteira de motorista)”.

Observa-se, assim, a possibilidade de demandar alimentos em outro país, mas a inviabilidade de pedidos que visem à prisão civil do devedor. De fato, na prática, a Autoridade Central nota que a mera menção à possibilidade de prisão do devedor de alimentos contamina negativamente o pedido de cooperação jurídica internacional, uma vez que não é prevista na legislação estrangeira.

Isso está em linha com os demais tratados para os quais o DRCI é a Autoridade Central e que podem ser úteis em casos de prestação internacional de alimentos, os quais também podem ser consultados a partir do link mencionado acima.

Por fim, cumpre lembrar que os apontamentos acima se referem à cooperação jurídica internacional em matéria civil, restando outros remédios jurídicos para questões afetas à seara penal.

Em caso de dúvidas, favor enviar e-mail para [email protected]

* Arnaldo José Alves Silveira. Membro da carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental; Coordenador-Geral de Cooperação Jurídica Internacional do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional da Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

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Adoção e Subtração Internacional de Menores

22ª reunião do Conselho das autoridades centrais brasileiras para Adoção Internacional de Crianças e Adolescentes (CACB) e o

aperfeiçoamento da gestão da Adoção Internacional no BrasilNos dias 24 e 25 de outubro de 2019, na cidade de Maceió-AL, foi realizada a 22ª Reunião do Conselho das Autoridades Centrais Brasileiras para Aoção Internacional de Crianças e Adolescentes (CACB).

Atualmente, o CACB está institucionalizado por intermédio do Decreto nº 10.064, de 14 de outubro de 2019, o qual “institui o Conselho das Autoridades Centrais Brasileiras para Adoção Internacional de Crianças e Adolescentes”.

O CACB é composto pela Autoridade Central Administrativa Federal, do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI) da Secretaria Nacional de Justiça (SENAJUS) do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), que o preside e realiza as atividades de Secretaria-Executiva, pelas Comissões Estaduais e Distrital Judiciárias de Adoção, pela Polícia Federal e pelo Ministério das Relações Exteriores.

As reuniões do CACB ocorrem semestralmente e têm como objetivo discutir políticas públicas, assim como propor e aprovar encaminhamentos, resoluções e recomendações referentes aos tema adoção internacional no Brasil.

A 22ª reunião contou com um alto grau de comparecimento dos membros do CACB1 e tratou de temas importantes para o fortalecimento e aperefeiçoamnto da gestão da adoção internacional no Brasil.

Dentre estes temas, ressalta-se a aprovação de resoluções que oferecem diretrizes e uniformizam nacionalemnte procedimentos para a operacionalização do processo de adoção internacional no país, com destaque para as seguintes:

- Resolução nº 20/2019, a qual “aprova a adoção de procedimentos para uniformização da habilitação e convocação de pretendentes para efetivação de adoções internacionais de crianças e adolescentes com residência habitual no Brasil”;

- Resolução nº 19/2019, a qual “aprova o fluxo de recebimento e processamento dos pedidos de acesso às informações de origem biológica de que trata o artigo 48 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, e o artigo 30 da Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, concluída na Haia, em 29 de maio de 1993, encaminhados por pessoas adotadas em território nacional por residentes no exterior”.

Outro tema importante para a gestão da adoção internacional no Brasil que foi item de pauta na 22ª reunião do CACB foi o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA)2 , o qual foi objeto de 1 Além da Autoridade Central Administrativa Federal, participaram representantes das Comissões Judiciárias de Adoção das seguintes Unidades da Federação: AC, AL, AP, AM, BA, DF, ES, GO, MA, MG, MS, MT, PA, PB, PR, PE, PI, RJ, RS, SC, SP, SE, TO.2 A implantação do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA) está disposta na Resolução nº 289, de 14 de agosto 2019, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

FONTE: Acervo da Coordenação-Geral de Adoção e Subtração Internacional de Crianças e Adolescentes/DRCI

Raul Miranda Menezes*

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apresentação por parte de integrantes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e de debate entre os participantes, sobretudo suas funcionalidades para adoção internacional.

A próxima reunião do CACB está agendada para o mês de maio de 2020, na cidade de Curitiba, Estado do Paraná

* Raul Miranda Menezes. Membro da carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental em exercício no Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional da Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

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Negociação de Tratado de Extradição entre a República Federativa do Brasil e a República Argentina

No mesmo semestre em que foi realizada a L Reunião de Ministros de Justiça do Mercosul e Estados Associados, foi submetido ao Congresso Nacional o texto do novo Tratado de Extradição entre a República Federativa do Brasil e a República Argentina, devidamente negociado entre as partes e assinado em Brasília, República Federativa do Brasil, em 16 de janeiro de 2019, pelo Ministro do Estado da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e pelo Ministro de Estado das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, ambos pelo Brasil, e, pelo Ministro de Relações Exteriores e Culto, Jorge Faurie e pelo Ministro da Justiça e Direitos Humanos, Dr. Germán C. Garavano, ambos pela República Argentina.

O Tratado estabelece novo marco jurídico para a tramitação dos pedidos de Extradição entre Brasil e Argentina tendo como objetivo conferir celeridade e segurança aos procedimentos. No âmbito desse novo marco jurídico promove-se a entrega, por um Estado a outro, de pessoa que em seu território deva responder a processo penal ou cumprir pena. Nesse sentido, a Extradição configura-se como um instituto de cooperação internacional entre Estados, pelo qual um Estado atende ao pedido de outro, remetendo-lhe pessoa processada no país solicitante por crime punido na legislação de ambos os países, não se extraditando, via de regra, nacional do país solicitado.

Nota-se que a Extradição pode ser requerida por meio de tratado bilateral, através de solicitações formalizadas pela via diplomática, quando assim estabelecido no texto do tratado. Com relação aos trâmites processuais da Extradição, estes serão centralizados em um único órgão em cada Estado - as Autoridades Centrais designadas para esse fim - dessa forma possibilitando melhor conhecimento da matéria e maior expertise por parte das equipes técnicas.

Cabe recordar que no Brasil as diretrizes do processo de Extradição estão regulamentados pela Portaria n° 217, de 27 de fevereiro de 2018, a qual estabelece os procedimentos administrativos relativos aos pedidos de Extradição passiva e ativa e de prisão cautelar para fins de Extradição ativa e passiva no âmbito do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Segundo a portaria, o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI) é a Autoridade Central competente para receber, analisar os requisitos de admissibilidade, e instruir os pedidos de extradição e de prisão cautelar para fins de extradição passiva e ativa. Essa tarefa é realizada pela Coordenação de Extradição e Transferência de Pessoas Condenadas (CETPC).

Ao se considerar o aumento considerável do fluxo de pessoas e de bens no espaço fronteiriço entre os dois países na última década, justifica-se a necessidade do alargamento e fortalecimento da rede de acordos de cooperação jurídica entre Brasil e Argentina, que já inclui a Convenção sobre Assistência Judiciária Gratuita com a Argentina, promulgada pelo Decreto nº 62.978, de 11 de Julho de 1968; o Acordo de Cooperação Judiciária em Matéria Civil, Comercial, Trabalhista e Administrativa, entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Argentina, de 20 de agosto de 1991, promulgado pelo Decreto nº 1.560, de 18 de julho de 1995; e o Tratado sobre a Transferência

Participação em Foros e Redes Internacionais

FONTE: ARQUIVO GOOGLE.COM

Patricia Lamego Teixeira Soares*

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de Presos, entre a República Federativa do Brasil e a República Argentina, celebrado em Buenos Aires, em 11 de setembro de 1998, e promulgado pelo Decreto nº 3.875, de 23 de julho de 2001.

Nesse sentido, destaca-se a importância do novo Tratado de Extradição entre a República Federativa do Brasil e a República Argentina já que uma vez em vigor estabelecerá um espaço de cooperação bilateral que vinculará ambos Estados no âmbito internacional e também no âmbito doméstico propiciando maior segurança jurídica na tramitação dos pedidos de Extradição entre os dois países.

* Patricia Lamego Teixeira Soares. Membro da carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental; Coordenadora de Tratados e Foros Internacionais do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional da Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça e Segurança Pública.