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Lacan: raízes de uma teoria 1 LACAN: RAIZES DE UMA TEORIA "A obra não é nada fora do movimento que nos leva até essa obra"(Claude Lefort) Este trabalho constitui apenas um fragmento de um itinerário em curso, cujo objetivo é desvendar, passo a passo, a genealogia do pensamento de Lacan. Poderia intitular-se o nascimento de uma teoria. Optei pelo significante "raízes", pois o que aqui se registra é algo que ainda está em gestação, em trabalho oculto de germinação. Contudo, em olhando bem o que veio depois, já se poderá afirmar que o Lacan de 1950 já estava no de 1932, um dentro do outro, como o fruto dentro da casca. O motivo que me levou a empreender tal investigação foi a convicção firme de que somente é possível compreender bem um autor se nos adentrarmos nas origens e desenvolvimento do seu pensamento. Isto é sobremaneira válido para Lacan, cuja obra densa e extraordinariamente difícil vem sofrendo, ao longo destes anos, um penoso processo de "escolastização", que ameaça não apenas o valor e a pureza da teoria, mas igualmente o peso de sua contribuição à psicanálise. Não adianta repetir indefinidamente Lacan, se não se sabe o "como" e o "porque" de tais ou quais formulações. Isto é mero exercício de empobrecimento. Por outro lado, não é possível submeter Lacan a uma crítica séria sem o necessário conhecimento de causa, o qual somente será obtido através de uma leitura absolutamente rigorosa, única capaz de conduzir a uma interpretação fecunda. Não basta ler ou repetir as fórmulas condensadas, os aforismos, algoritmos ou matemas de Lacan. Isto não é certidão de conhecimento de sua obra. É preciso desenvolver estas fórmulas ou aforismos, e desenvolvê-los por inteiro significa reconstruir o conjunto de sua teoria, para lograr um conhecimento exato daquilo que ele, Lacan, quis dizer e porque o fez.1 Somente então será possível uma crítica digna deste nome, onde caberão de forma ordenada e consistente as objeções, os questionamentos, evitando-se, ao mesmo tempo, a facilidade do mimetismo e da mera repetição. Por outro lado, a leitura cronológica do autor permite seguir seu próprio conflito interior, seu próprio movimento criador. Isto se perde quando a leitura dos textos é feita de maneira aleatória. É evidente que esta forma de abordagem somente se completa quando não se perde de vista o movimento da totalidade da obra, onde o que vem depois é compreendido à luz do que veio antes e vice-versa.

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Lacan: raízes de uma teoria 1

LACAN: RAIZES DE UMA TEORIA

"A obra não é nada fora do movimento que nos leva até essa obra"(Claude Lefort)

Este trabalho constitui apenas um fragmento de um itinerário em curso, cujo objetivo é desvendar, passo a passo, a genealogia do pensamento de Lacan. Poderia intitular-se o nascimento de uma teoria. Optei pelo significante "raízes", pois o que aqui se registra é algo que ainda está em gestação, em trabalho oculto de germinação. Contudo, em olhando bem o que veio depois, já se poderá afirmar que o Lacan de 1950 já estava no de 1932, um dentro do outro, como o fruto dentro da casca. O motivo que me levou a empreender tal investigação foi a convicção firme de que somente é possível compreender bem um autor se nos adentrarmos nas origens e desenvolvimento do seu pensamento. Isto é sobremaneira válido para Lacan, cuja obra densa e extraordinariamente difícil vem sofrendo, ao longo destes anos, um penoso processo de "escolastização", que ameaça não apenas o valor e a pureza da teoria, mas igualmente o peso de sua contribuição à psicanálise. Não adianta repetir indefinidamente Lacan, se não se sabe o "como" e o "porque" de tais ou quais formulações. Isto é mero exercício de empobrecimento. Por outro lado, não é possível submeter Lacan a uma crítica séria sem o necessário conhecimento de causa, o qual somente será obtido através de uma leitura absolutamente rigorosa, única capaz de conduzir a uma interpretação fecunda. Não basta ler ou repetir as fórmulas condensadas, os aforismos, algoritmos ou matemas de Lacan. Isto não é certidão de conhecimento de sua obra. É preciso desenvolver estas fórmulas ou aforismos, e desenvolvê-los por inteiro significa reconstruir o conjunto de sua teoria, para lograr um conhecimento exato daquilo que ele, Lacan, quis dizer e porque o fez.1 Somente então será possível uma crítica digna deste nome, onde caberão de forma ordenada e consistente as objeções, os questionamentos, evitando-se, ao mesmo tempo, a facilidade do mimetismo e da mera repetição. Por outro lado, a leitura cronológica do autor permite seguir seu próprio conflito interior, seu próprio movimento criador. Isto se perde quando a leitura dos textos é feita de maneira aleatória. É evidente que esta forma de abordagem somente se completa quando não se perde de vista o movimento da totalidade da obra, onde o que vem depois é compreendido à luz do que veio antes e vice-versa.

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Pelo exposto fica claro que não pretendo apresentar o pensamento de Lacan como um grande sistema girando em torno de categorias como o simbólico, o imaginário, o real, ou de conceitos tais como significante, desejo, etc. A minha intenção é seguir a trajetória do pensamento de Lacan, em busca de seus pressupostos. Todo questionamento é uma procura, diz Heidegger.2 O que se procura aqui, como orientação prévia, é investigar a entrada de Lacan na psicanálise, quando isto se fez, porque se fez e como se fez. Especificamente, a leitura crítica da tese de doutoramento de Lacan (1932) vai nos mostrar como as grandes questões ou os grandes eixos do seu pensamento posterior já se delineiam neste texto. Lacan mesmo diz que entrou na psicanálise aos 52 anos, isto é, em 1953.3 Marcelle Marini considera que o momento que vai de 1945 a 1952 constitui o período de passagem da psiquiatria à psicanálise, apesar dos seus escritos de 36 e de 38, onde já aparece o seu interesse pela doutrina freudiana.4 Ao publicar seus Écrits em 1966, o próprio Lacan, referindo-se ao seu próprio percurso, diz textualmente: "...se não nos tívessemos contentado com o cabide da autopunição que nos estendia a criminologia berlinense pela boca de Alexander e de Staub, teríamos desembocado em Freud".5 Esta passagem é interessante na medida em que aí Lacan parece minimizar o conceito de autopunição, chamando-o de "cabide" ("portemanteau"), quando na verdade ele constitui o pivot de toda uma armação conceitual que culmina com a invenção - logo abandonada! - de uma nova entidade clínica: a paranoia de autopunição, da qual Lacan visivelmente se orgulha no fim de seu trabalho doutoral. Vou tentar mostrar, em rápidas pinceladas, como já na sua tese de doutorado Lacan inicia um processo de deslizamento para o seio da psicanálise, e isto apesar de suas tergiversações ou ambivalência frente a originalidade e consistência da descoberta freudiana. Veremos como as grandes questões psicanalíticas que perseguirão Lacan em sua elaboração teórica pela vida em fora se encontram lançadas na tese. Para se compreender o pensamento de Lacan deve-se levar em conta: 1º) o cenário psicanalítico no momento em que ele faz a sua tese; 2º) a matriz clínica de Lacan, ou seja, a psicose; 3º) a influência do contexto cultural (surrealismo) e das disciplinas

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conexas (filosofia, antropologia, linguística) ou não (cibernética, topologia). Abordarei rapidamente os dois primeiros tópicos, antes de entrar na análise da tese propriamente dita.6 1º) O cenário psicanalítico - A partir da segunda tópica, com a introdução do superego, e sobretudo a partir de 1926, com a tematização da angústia e da culpabilidade,7 o debate vai centrar-se em torno de questões relativas à origem do superego, à culpa, à agressividade e ao crime. Aparecem, em consequência, vários trabalhos sobre a origem e a natureza do superego; sobre a criminalidade e a culpa (M.Klein, E.Jones, Fenichel, Reik, Alexander, Staub, Hesnard, Laforge, etc.). Lacan cita alguns destes trabalhos na sua tese, e tudo indica que o modelo explicativo que ele adota se apoia diretamente nessa corrente que ele chama de "criminalista", citando concretamente Alexander e Staub, que em 1927 haviam publicado um trabalho intitulado "Der Verbrecher und Seine Richter". Vale lembrar que por essa época M.Klein vem de publicar seus primeiros trabalhos, centrados na angústia e na agressividade. Nessa mesma época, se discutem também as questões da formação dos analistas, da institucionalização da psicanálise, da análise leiga, da análise infantil (M.Klein, Anna Freud), da técnica, da psicose. 2º) A matriz clínica: a psicose - Nos anos 20/30, o tema da psicose, que havia conquistado uma certa compreensão teórica com Freud, mas sem nenhum efeito terapêutico, domina a preocupação de alguns psicanalistas, tanto do ponto de vista da teoria, quanto do ponto de vista da técnica. Freud chegara à psicose graças sobretudo aos questionamentos colocados por Jung, como se pode facilmente constatar pela correspondência entre os dois.8 Enquanto Freud tenta explicar a psicose em função do modelo da teoria sexual nascida sob a matriz da histeria, Jung não se convence, levanta objeções e não compreende como isto pode ser feito. Isto leva Freud à introdução do narcisismo no seu esforço de explicação.9 Mesmo assim, a libido - um excesso de libido! - continua no centro das explicações. Freud ora usa o narcisismo para explicar a psicose; ora usa a psicose para entender o narcisismo. A psicose é definida, então, como uma regressão à etapa narcísica. No fundo, trata-se de um retorno a uma etapa geneticamente primitiva, onde o interior prevalece sobre o exterior, o indivíduo encontrando em si mesmo a capacidade de auto-satisfação.10 Com Luto e Melancolia (1917), introduz-se a problemática da identificação, a partir da qual a questão da psicose seguirá novos caminhos.11

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O estudo da psicose vai ser retomado pelos sucessores de Freud. M. Klein, por exemplo, adotará, nas suas teorizações, o modelo de funcionamento psíquico próprio à obsessão, onde prevalecem o ódio e a ambivalência. Segundo este modelo o mundo interno é dominado pela impulsividade e portanto sua orientação imediata é para o exterior, para a ação. Aqui se acentua sobretudo o caráter destrutivo, impulsivo, do id ou do inconsciente. Em 1932 Lacan escreve que a psicose "é o problema mais atual da psicanálise", que está a exigir uma solução, sob pena de se assistir ao "deperecimento da doutrina". E acrescenta que o problema terapêutico das psicoses torna mais necessária "uma psicanálise do eu do que uma psicanálise do inconsciente". Assim ele pretende, retomando o estudo do narcisismo, esta "terra incógnita", concepção de caráter malformado e estagnada na sua elaboração, avançar no estudo das psicoses. Tal é o seu projeto.12 De fato, Lacan vai entrar na psicanálise pela porta da psicose paranóica, centrando sua análise na questão do narcisismo e da identificação (PP,329). Aí, a psicose paranóica será vista como resultado de um conflito identificatório, e não como defesa contra o impulso homossexual.13 Esta matriz clínica vai determinar a orientação de suas preocupações teóricas posteriores: o ego, o narcisismo, a identificação, e até a própria técnica psicanalítica. Sendo levado à psicanálise pelo viés de uma tese de psiquiatria, resta ver como Lacan vai utilizar os conceitos psicanalíticos dos quais ele vai lançar mão. Vejamos como isto se coloca para ele na sua tese sobre a psicose paranóica. A TESE Lacan escreve a sua tese de doutorado no mesmo ano em que M. Klein publica o seu livro Psicanálise da Criança (1932).14 Ao contrário, porém, de M. Klein, que faz uma obra de psicanálise, aprofundando teses tipicamente freudianas (v.g., pulsão de morte, angústia, culpa, etc.), Lacan, na trilha de seus trabalhos anteriores (a partir de 1926), faz uma tese de psiquiatria. No entanto é por esta via que ele levantará questões extremamente importantes para a psicanálise, determinando, assim, o nascimento de uma teoria e a constituição futura de uma nova Escola de psicanálise, tal como o fez, mutatis mutandis, a própria M. Klein. É que as questoes levantadas por Lacan decorrerrão de sua própria prática clínica (as psicoses), bem diferente daquela de M. Klein, que, aliás, à diferença de Lacan, entrou na psicanálise sem passar pelos caminhos transversos da psiquiatria. Inicialmente, Lacan não se põe nenhuma questão de natureza psicanalítica. A questão precisa que lhe interessa

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concerne à busca de uma teoria da psicose e uma terapia eficaz. Mais especificamente, a partir de trinta casos de paranoia, ele vai tentar explicá-la e elaborar uma teoria própria, centrando seu estudo sobre um caso que lhe pareceu sobremaneira típico: o caso Aimée. Aimée fora internada na clínica Ste. Anne, em Paris, por haver agredido, com uma faca, uma atriz, naquela época muito apreciada pelo público parisiense. A vítima não prestou queixa, embora tenha tido dois tendões fletores dos dedos seccionados pelo ato agressivo. Tanto o conteúdo e a forma do delírio, como suas atitudes durante os últimos 10 anos que antecederam o crime, não deixavam dúvida quanto ao diagnóstico: um caso de paranoia. Após descartar as explicações clássicas para a paranoia como insuficientes, Lacan procura então construir sua própria teoria, uma teoria da personalidade, que seja apta não só a explicar o caso Aimée, mas que possa servir de base para um vasto estudo das psicoses, tanto do ponto de vista teórico, quanto do ponto de vista terapêutico. É então que ele vai perceber a importância da teoria psicanalítica para a sua investigação, embora manifestando reiteradas vezes que os dados da psicanálise apenas confirmavam o que ele mesmo havia descoberto pela pura observação dos fatos. Por outro lado, ele não perderá ocasião para tecer críticas, seja à teoria psicanalítica, pelas suas deficiências , seja ao seu método terapêutico, pelas suas limitações. A questão que Lacan se põe pode ser formulada assim: por que a eclosão da doença? E por que a cura inesperada após o crime? A primeira questão implica em descobrir qual a natureza inicial que vicia o desenvolvimento de Aimée. A segunda busca o mecanismo explicativo que justifique a brusca cessação do delírio. Segundo Lacan, a eclosão da doença se explica em decorrência de uma anomalia de estrutura oriunda de uma fixação no estádio sádico-anal do desenvolvimento da libido. Tal fixação é, em última análise, o fator responsável pela transformação de certos acontecimentos em conflitos vitais, desencadeadores da paranoia. Por este caminho, tomado de empréstimo a Abraham, ele vai confrontar-se com a questão do narcisismo e com o problema da gênese e natureza do superego. Por outro lado, a remissão brusca do delírio, vinte dias após perpetrar a agressão, deve-se, segundo Lacan, à realização de um desejo: o desejo de atingir-se a si mesma, de autopunir-se, não tanto pelo ato agressivo em si mesmo, quanto pelas consequências do ato. É bem verdade que o ato também a atingia, pela sua dimensão simbólica e representativa, cuja análise permite desvendar seu conteúdo indentificatório. Com efeito, em Mme. Z., a vítima, Aimée "queria" atingir todos os seus perseguidores, e, em última instância, sua irmã mais velha, primeira a lhe infligir humilhações, entre as quais a mais grave foi certamente a de lhe

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querer tirar o próprio filho. A ambivalência afetiva para com essa irmã, se, por um lado, a propunha como ideal e objeto de identificação, por outro lado a fazia odiada. A repressão afetiva do ódio, contrabalançado pelo amor, fazia com que Aimée tomasse cada vez mais distância da irmã, num movimento de defesa que visava proteger-lhe contra a agressão criminosa. E é nesse movimento que ela, Aimée, vai escolher, sucessivamente, figuras de valor representativo, que realizem em si mesmas a imagem do ideal amado e odiado ao mesmo tempo. Em suma, segundo Lacan, Aimée deseja autopunir-se porque é portadora de uma estrutura anômala,marcada pelo mecanismo de autopunição, fruto de uma fixação no estádio sádico-anal expulsivo do desenvolvimento da libido. Daí ele vai isolar uma entidade à qual ele dará o nome de paranoia de autopunição, que, segundo ele, é a única a explicar satisfatoriamente o caso Aimée. Fica claro, pelo exposto, o uso que Lacan faz de categorias psicanalíticas, estribando-se inicialmente na autoridade de Abraham. Mas, os conceitos da teoria psicanalítica ele os usa a seu modo, em função de uma opção teórica bem definida, qual seja a de construir uma teoria em torno do mecanismo de autopunição. Desta forma, ele lança mão de alguns conceitos, submetendo-os a torsões de leitura, omitindo consequências, tomando caminhos diferentes dos que se trilhavam na época, negando-se até, em alguns momentos, a reconhecer sua dívida à psicanálise. Vejamos um pouco o que resulta de sua utilização da psicanálise, bem como as prefigurações, já então esboçadas, de suas futuras elaborações teóricas. O EMPRÉSTIMO À PSICANÁLISE. LIMITES E CONSEQUÊNCIAS. O primeiro ponto a chamar a atenção é o pouco interesse demonstrado por Lacan em relação à noção de culpa, quando seria de se esperar que ele, em falando de autopunição, ressaltasse a importância, clínica e teórica, desse conceito. Ele não o faz, limitando-se a dizer que o sentimento de culpa representa a atitude subjetiva do mecanismo de autopunição (PP,251). Ora, isto é ir contra o ponto de vista sustentado pelos autores da época, que dizia exatamente o contrário, isto é: a necessidade de punição decorre do sentimento de culpa. Que se leia, a título de ilustração, o próprio Freud ou, para não ficar apenas nele, os trabalhos de M. Klein. Para Lacan, não. A autopunição vem primeiro. A culpa é sua consequência, ou, quando muito, seu correlato. E qual a origem da autopunição? Ela provém do superego e representa a expressão estrita da repressão social, forma

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socializada da pulsão agressiva. À base de todo este processo se encontra a fixação no estádio sádico-anal do desenvolvimento da libido. Era de se esperar também uma maior tematização da agressividade. Afinal trata-se de uma impulsão para agredir, para destruir, ou, pelo menos, para fazer alguém sofrer. No entanto, o tema da agressividade é praticamente silenciado. Lacan se recusa a dar-lhe uma origem independente, como o fazem os psicanalistas da época. E ele sai do impasse, mais uma vez, invocando o estádio sádico-anal. Apesar de citar o Para além do Princípio do Prazer, nem uma palavra sobre a pulsão de morte e seu derivado, a agressividade! Também nem uma referência à posição de M. Klein, cuja obra, em franca ascensão, acentua sobremaneira o papel do sadismo já nos primeiros meses de vida do bebê, e de seu correlato, a culpa. Assim como o sadismo, o masoquismo também é passado ao largo, embora ele cite o artigo de Freud,de 1924, O Problema Econômico do Masoquismo (PP,252). E por que isto? Parece que é porque a sua preocupação maior é com o narcisismo, verdadeiro pivot em torno do qual gira toda a sua construção. A teoria do desenvolvimento da libido e suas fixações serve-lhe de ensejo para introduzir o tema do narcisismo que, engenhosamente, é transformado, na sua argumentação, em conceito chave para compreender a gênese do superego. A libido ele a concebe em termos de tal modo vastos e abrangentes que parece não deixar lugar para aquilo que poderia definir a sua especificidade. Define-a, em consequência, como a medida comum a diferentes fenômenos psíquicos, cujo alcance encontra sua equivalência, diz ele, no conceito científico de energia ou de matéria em física (PP,257). Se, como se diz, para quem sabe ler um pingo é uma letra, desta concepção de libido, reduzida a um denominador comum, fica fácil compreender a dificuldade de Lacan em atribuir à agressividade um lugar próprio, uma fonte interna, independente, diferenciada da libido. Isto talvez ajude igualmente a compreender o porquê do expurgo do conflito intrapsíquico, tão caro a Freud e tão ausente em Lacan. É que enquanto Freud trabalha com dois princípios diferentes, independentes e irredutíveis - o ódio e o amor -15, Lacan o faz não com dois princípios, mas apenas com duas formas de libido (objetal e do ego). Por isso, o conflito será sempre entre o indivíduo e o mundo externo. A fonte da agressividade será o social, devidamente incorporado (PP,260), posto que a fonte interna é totalmente ocupada pela libido. Vê-se aí a distância que separa Lacan de M. Klein! Nesta mesma direção, o sadismo perde seu caráter prazeiroso resultante do entrançamento entre as dimensões libidinal e agressiva16, para ser relegado ao registro do esquecimento, como aliás acontece com o masoquismo.

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Agora, seria o caso de se perguntar: por que é que algo que vem de fora vai dar origem a um comportamento autopunitivo? A existência de algo anterior, interno ao sujeito, não deveria ser postulado como condição necessária à eclosão do conflito que levaria à autopunição? Lacan resolve o problema de forma insatisfatória, atribuindo o mecanismo da autopunição pura e simplesmente a uma anomalia de estrutura resultante da fixação sádico-anal. Mas é no registro do narcisismo que ele vai lançar o peso de sua argumentação, na medida em que é aí que ele pensa encontrar o ponto principal para a solução do problema da psicose e, particularmente, do caso Aimée, embora considere esta noção insuficientemente elaborada e até mesmo malformada (PP,260; 329s). Através de uma ligeira inflexão que o faz assimilar a libido à dimensão narcísica, ele vai conceber o superego como tributário de "um estádio da evolução das tendências narcísicas" (PP,260), de longe o melhor conhecido! Assim, a gênese do superego surge de uma diferenciação progressiva, a partir do id, que pode assim ser descrita: - Existe, inicialmente, um grande reservatório de libido, fechado sobre si mesmo. É o obscuro período do narcisismo primário; - Por força do princípio de realidade, o eu se diferencia do mundo dos objetos, isto é, uma parte desta libido narcísica é deslocada para os objetos (parentais, principalmente); - Em um terceiro momento, uma parte desta "energia" é reincorporada ao eu. É o nascimento do superego, correspondente à formação dos mecanismos de autopunição. Lacan chama este período de narcisismo secundário e diz que distúrbios nesta reincorporação "ficam então ligados a uma fixação afetiva da economia dita sádico-anal da libido neste período" (PP,260). Os pais, pelo seu valor pessoal, se tornam objetos privilegiados de incorporação, na medida em que "resumem em si mesmos todas as coerções que a sociedade exerce sobre o sujeito" (PP,332). Em outras palavras, os pais são veículos da socialização da criança, a sociedade sendo então o verdadeiro sujeito deste processo. Por outro lado, tal processo de incorporação é comandado por um fim puramente econômico, submetido ao princípio do prazer, em benefício do id, que aí encontra compensação pela perda parcial dos objetos e alívio das coerções repressivas. Lacan chama a este processo de identificação secundária do ego (PP,332). Façamos algumas observações críticas a esta leitura lacaniana do superego: l) É curioso que ele coloque a gênese do superego num ponto da evolução das tendências narcísicas, que ele chama de narcisismo secundário, segundo um processo dito de identificação secundária do ego, diferente de uma identificação primária do Édipo. 2) Assim fazendo, Lacan confunde a relação edipiana com a própria identificação quando sabemos que para Freud a identificação se dá no fim do processo edípico. Delineia-se aqui a

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preponderância que Lacan atribuirá posteriormente ao narcisismo na sua própria concepção do Édipo... 3) É a sociedade quem comanda a perda dos objetos incestuosos neste processo e não a angústia e ameaça de castração, como quer a doutrina freudiana. A criança substitui a imposição da lei social externa por uma lei interna, o superego. Mas por que? O apelo que Lacan faz a uma finalidade econômica em benefício do id nao parece uma explicacão satisfatória. 4) Esta imposição social a que ele se refere, atribuindo-lhe tão importante função na gênese do superego, não prenuncia a sua ordem simbólica, responsável pela constituição do sujeito? 5) Seja como for, esta leitura do superego é feita às custas de uma torsão ao texto de Freud e numa direção oposta às tendências predominantes na época. Desaparece do superego a sua dimensão agressiva, de morte, de culpa. 6) Segundo Freud, o mundo externo, o destino, é o substituto das imagens parentais inconscientes.17 É o oposto do que Lacan diz! Por outro lado, para Freud o sentimento de culpa tem origem no desejo incestuoso. Lacan deixa a culpa de lado, considerando-a mera atitude subjetiva de autopunição! Enfim, segundo a teoria psicanalítica, a necessidade de punição é postulada como uma exigência interna decorrente de um conflito intrapsíquico18 e não deduzida de uma série de comportamentos. Ademais, é dela que surge a moralidade, e não o contrário como pensa Lacan! Vimos que é do narcisismo que Lacan precisa tirar uma explicação para o fenômeno da punição. Vimos também como ele considera esta noção teoricamente incompleta, malformada, estagnada. Esta insuficiência decorre da própria noção do ego que a funda e que é confusa (PP,331). Assim, através da leitura de O Ego e o Id, Lacan vai submeter o ponto de vista de Freud a uma severa crítica, que deixa entrever toda a sua posterior teorização sobre o ego e o imaginário... O grande erro de Freud, segundo Lacan, é que ele confunde as definições epistemológicas e as positivas ou empíricas. Em outras palavras, Freud confunde o ego enquanto sujeito psicológico, sede de funções, com o ego enquanto sujeito do conhecimento, através da noção do princípio de realidade que funcionaria como matriz do ego e, simultaneamente, como critério de decisão entre o verdadeiro e o falso. Assim fazendo, Freud dirá que a função do ego - a percepção/consciência - é a sua própria origem, ao mesmo tempo em que invoca sua regra de funcionamento, o princípio de realidade, como gênese deste mesmo ego, confundindo-o com o princípio de objetividade, cuja função é não apenas distinguir percepção de alucinação [princípio de realidade], mas também o verdadeiro do falso (PP,331s). Ora, dirá Lacan, o princípio de realidade não pode fundar o ego e ser ao mesmo tempo critério para distinguir o verdadeiro do falso, pois isto já pressupõe o ego como sujeito do conhecimento.

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Então: ou bem o princípio de realidade preexiste ao ego, e neste caso pode dar-lhe origem; ou bem, o princípio de realidade é uma função do ego, e neste caso não pode estar na gênese do ego. Ou é função, e neste caso é derivado; ou é origem, e neste caso não pode ser função! Por outro lado, se o princípio de realidade é um critério para distinguir o verdadeiro do falso, ele não tem nada a ver com a origem do ego, posto que é um princípio que se situa no plano epistemológico, referindo-se ao ego enquanto sujeito do conhecimento e não como sujeito psicológico. A crítica de Lacan procede. De fato Freud, em O Ego e o Id, confunde o sujeito do conhecimento com o sujeito psicológico, misturando as duas acepções da palavra "sujeito" através da noção de princípio de realidade, que funcionaria, ao mesmo tempo, como matriz do ego e como critério de separação entre o verdadeiro e o falso.19 Por isso, segundo Lacan, é preciso refazer toda uma teoria do ego. Ele rechassa esta concepção de Freud segundo a qual o ego seria a "superfície" do id, engendrada por contato com o mundo exterior. De fato, Lacan jamais vai seguir esta hipótese freudiana do ego enquanto "crosta" do id. Em consequência, ele vai procurar outra origem para o ego, e vai encontrá-la no terreno da identificação, afastando, ao mesmo tempo, qualquer tentativa de ligar o ego à objetividade ou ao sujeito do conhecimento. Ou seja: o que "interessa" ao ego na realidade externa não são objetos de conhecimento. São "outros", que vão servir-lhe de matriz. Na sua gênese, o ego não tem nada a ver com o princípio de realidade. Pelo contrário, na sua origem o ego tem a ver com uma ilusão. Ele surge de um processo de identificação que tem a ver com o outro. Daí a dizer que o ego é a sede da alienação, é um passo. Ao mesmo tempo, abre-se a porta que o levará à sua teoria do eu especular e da identificação primária, formadora do eu (fase do espelho). Donde também a sua preocupação com o narcisismo... No lugar do sujeito transcendental ou deste ego freudiano sujeito do conhecimento, Lacan vai introduzir a noção de sujeito que vem da filosofia: ele falará de sujeito do inconsciente ou de sujeito do desejo (Hegel). Assim, compreende-se mais facilmente a diferença entre a psicologia do ego - e até mesmo entre os kleinianos - e os lacanianos. Enquanto os primeiros vão insistir na vertente discriminatória, adaptativa, do ego, os últimos insistirão no seu caráter alienante, ilusório. A leitura que Lacan faz do ego e do narcisismo é, portanto, uma leitura na qual prevalecem as divergências. Todavia, ainda no que concerne a doutrina psicanalítica, o próprio Lacan afirma que "um exame sério" (PP,327) o leva "por um instante" (PP,335) a reconhecer na tipicidade do desenvolvimento e na equivalência entre os diversos fenômenos de

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personalidade (=medida comum, energia) o empréstimo que ele fez, ou "poderia fazer", à psicanálise (PP,327). De imediato, porém, ele acrescenta que estes dois "postulados" são idênticos àqueles já estabelecidos por ele para a ciência da personalidade! Por outro lado, eles se impõem, por uma exigência epistemológica, aos psicólogos que abordam a conduta humana concreta (PP,328). Ou seja, mesmo aqui a psicanálise não lhe acrescenta grande coisa! Mas ele está pronto a reconhecer a utilidade da psicanálise na medida em que ela materializa os conceitos de tipicidade e de energia sob as imagens intuitivas de fases e de libido, facilitando assim a compreensão àqueles que, por virem da clínica, são avessos às formas de pensamento científico, isto é, não sabem pensar em conceitos. É somente neste sentido que ele aceita falar de empréstimo à psicanálise (PP,328). Com efeito, para o conceito de energia psíquica em geral, a psicanálise fornece o conteúdo imaginário, intuitivo, de libido; para a idéia de tipicidade do desenvolvimento, ela fornece a imagem da sucessão das fases libidinais. Em outras palavras, entre o conceito e a imagem, a psicanálise optou por esta última, para poder oferecer um pequeno ponto de apoio ao pensamento daqueles que, formados na clínica, não sabem pensar senão por imagens. Lacan retoma aqui a oposição entre imagem e conceito, que remonta a Platão, para dizer que libido e fases do desenvolvimento não são conceitos e sim encarnações intuitivas desses conceitos por parte daqueles que precisam de imagens para pensar, posto que não sabem fazê-lo de outro modo. Isto constitui o embrião da crítica à dimensão imaginária do pensamento, e implica a determinação de expurgar a doutrina desta dimensão intuitiva, formalizando-a em termos rigorosamente científicos, conceituais. Não é isto que Lacan vai tentar fazer durante toda uma vida, buscando incessantemente depurar a linguagem através de fórmulas cada vez mais lógicas, das quais os matemas seriam a tentativa mais refinada? O seu próprio estilo não seria um reflexo desta sua postura avessa às facilidades de apreensão materializada nas formulações teóricas expressas em imagens intuitivas?20 Quanto aos fatos de observação, seria um engano pensar que Lacan foi buscar na psicanálise os dados referentes aos distúrbios sexuais, ao papel eletivo de certos conflitos e à preeminência da história infantil, para aplicá-los ao seu estudo da psicose. Não. Segundo ele, trata-se apenas de "um concurso imposto pelos fatos" (PP,325), decorrente do seu próprio método e que, pela sua evidência, o obrigou a adotá-los no estudo da psicose. Dir-se-ia que a psicanálise teve a sorte de ver seus dados confirmados pelas observações de Lacan! Resta dizer algo sobre os dados da técnica.

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De saída, Lacan chama logo atenção para o fato de a técnica psicanalítica ter nascido a partir do estudo das neuroses (PP,326). Isto já é um primeiro indício de sua inadequação ao tratamento das psicoses. Com efeito, a técnica psicanalítica procura as significações inconscientes de comportamentos e fantasias, utilizando um método de interpretação cujo valor é avaliado pelos resultados que ele produz. Só que este método lança mão de simbolismos complexos, impondo aos dados imediatos uma grade interpretativa de relações de analogia (ex., faca=pênis; jóia=vagina, etc.), que bem mostra a distância entre os dados imediatos da comunicação e o código interpretativo. Ou seja, o sujeito diz uma coisa e significa outra! É como se os neuróticos precisassem de uma semântica muito elaborada e distante dos dados imediatos, para lograrem que seu inconsciente, mantido oculto às custas do recalque e da resistência, pudesse aparecer e ter um efeito catártico. Ora, pensa Lacan, isto não serve para a psicose, que pela sua própria sintomatologia delirante é por si mesma de uma "clareza significativa" (PP,327), o próprio delírio encontrando-se muito próximo da realidade inconsciente (PP,283). Não é preciso interpretar muito, portanto, pois o delírio já traz em si a chave de sua própria compreensão. Mas, se a cura pelo método psicanalítico passa pelo combate às resistências, a clareza significativa do delírio, que logo integra qualquer revelação do inconsciente ao conteúdo deste mesmo delírio, compromete todo esse trabalho. Por isso a terapia das psicoses está a exigir, diz ele, muito mais uma psicanálise do eu do que uma psicanálise do inconsciente. Lacan propõe então um melhor estudo das resistências do sujeito e uma nova experiência de seu manejo, na busca de melhores soluções técnicas (PP,283). Por outro lado, embora atribua um valor significativo às resistências do sujeito, Lacan vê aí apenas uma reação psicológica cujo alcance foi reconhecido pelos moralistas, bem antes do advento da psicanálise. Ou seja, antes que Freud tivesse mostrado o valor significativo das resistências, outros - os moralistas! - já o haviam feito, através de suas reflexões sobre a natureza humana: a verdade é insuportável ao homem, pois ela fere o seu amor próprio. É claro que entre esta noção de resistência e aquela descoberta por Freud há uma distância muito grande! Em todo caso aí se esboça o tratamento muito pessoal que Lacan dispensará à análise das resistências, particularmente em oposição a uma certa tendência na psicanálise, contra a qual ele vai polemizar veementemente... Procurei mostrar como a tese de doutorado de Lacan contém o germe de suas teorizações posteriores e como ele faz sua entrada na psicanálise. Estas teorizações lançam suas raízes em suas preocupações iniciais em torno da psicose, que o introduziram nos grandes temas da psicanálise: as questões relativas ao ego, à

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identificação, ao narcisismo. É desta época igualmente seu projeto de construir uma ciência da personalidade segundo as mais rigorosas exigências científicas. De fato, mostrar que a psicanálise é uma ciência será uma preocupação constante na obra de Lacan. Sua obra leva a marca do seu começo. Um maior conhecimento deste lança luzes para uma melhor compreensão daquela.

NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1) Cf. P.-J. Labarrière, Introduction à une lecture de la Phénoménologie de l'esprit (Paris: Aubier-Montaigne,1979). 2) M. Heidegger, Ser e Tempo (Petropólis: Vozes, 1988), p.30. 3) Cf. M. Marini, Lacan (Paris: Belfond, 1986), p. 134 e 161. 4) Op. cit. 5) J. Lacan, Écrits (Paris: Seuil, 1966), p.66. 6) As idéias aqui desenvolvidas se inspiram num curso de Renato Mezan sobre “O surgimento da problemática do imaginário no pensamento de Lacan”, ministrado ao longo dos anos 1985 e 1986, na PUC de São Paulo (texto mimeografado). 7) Cf. S. Freud, Hemmung, Symptom und Angst, GW,XIV, p. 111-205. 8) Correspondance Freud-Jung (Paris: Gallimard, 1975). 9) S. Freud, “Psychoanalytische Bemerkungen über einen autobiographisch beschriebenen Fall von Paranoia” in GW,VIII, p.239-316; “Zur Einführung des Narzissmus” in GW,X, p.137-170. 10) S. Freud, “Formulierung über die zwei Prinzipien des psychischen Geschehens” in GW,VIII, p. 229-238 11) S. Freud, “Trauer und Melancholie” in GW,X, p. 427-446. 12) J. Lacan, Da Psicose Paranoica em suas relações com a Personalidade (Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1987), p. 282, 283 e 330 respectivamente. - Esta obra será citada no próprio corpo do trabalho, assim: (PP,...). 13) S. Freud, “Über einen autobiographisch beschriebenen Fall von Paranoia” in GW,VIII, p. 239-316. 14) M. Klein, Psicanálise da Criança (S. Paulo: Mestre Jou, 1975). 15) S. Freud, ‘Triebe und Triebschicksale” in GW,X, p. 209-232; “Jenseits des Lustprinzips” in GW,XIII, p. 1-69. 16) S. Freud, “Triebe und Triebschicksale” in GW,X, p. 209-232. 17) S. Freud, “Das ökonomische Problem des Masochismus” in GW,XIII,p. 367-383. 18) J. Laplanche et J.-B. Pontalis, Vocabulaire de la Psychanalyse, (Paris: PUF, 1967), p.48 19) S. Freud, “Das Ich und das Es” in GW,XIII, p. 237-289. 20) Cf. a este respeito o que Lacan diz no Seminário 2, O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise (Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 1985), p. 394. Luís F.G. de Andrade João Pessoa, 10 de julho de l991