Upload
others
View
0
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
LARISSA THAYSE SILVA DE LIMA
AVALIAÇÃO DA FÉCULA DE MANDIOCA COMO
FLOCULANTE AUXILIAR NAS ETAPAS DE
COAGULAÇÃO/FLOCULAÇÃO E FLOTAÇÃO POR AR
DISSOLVIDO PARA O TRATAMENTO DE ÁGUA
NATAL/RN
2019
LARISSA THAYSE SILVA DE LIMA
AVALIAÇÃO DA FÉCULA DE MANDIOCA COMO
FLOCULANTE AUXILIAR NAS ETAPAS DE
COAGULAÇÃO/FLOCULAÇÃO E FLOTAÇÃO POR AR
DISSOLVIDO PARA O TRATAMENTO DE ÁGUA
Trabalho de conclusão de curso de
graduação apresentado à Universidade
Federal do Rio Grande do Norte como
requisito para obtenção do título de
Engenheira Química.
Orientadora: Profa. Dra. Magna Angélica
dos Santos Bezerra Sousa.
NATAL/RN
2019
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede
Lima, Larissa Thayse Silva de.
Avaliação da fécula de mandioca como floculante auxiliar nas
etapas de coagulação/floculação e flotação por ar dissolvido para
o tratamento de água / Larissa Thayse Silva de Lima. - 2019. 55 f.: il.
Monografia (graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, Centro de Tecnologia, Curso de Engenharia Química, Natal, RN, 2019.
Orientadora: Profa. Dra. Magna Angélica dos Santos Bezerra Sousa.
1. Tratamento de água - Monografia. 2. Floculante auxiliar -
Monografia. 3. Fécula de mandioca - Monografia. 4.
coagulação/floculação - Monografia. 5. flotação - Monografia. I.
Sousa, Magna Angélica dos Santos Bezerra. II. Título.
RN/UF/BCZM CDU 628.16
Larissa Thayse Silva de Lima
Avaliação da fécula de mandioca como floculante auxiliar nas etapas de
coagulação/floculação e flotação por ar dissolvido para o tratamento de água
Trabalho de conclusão de curso de
graduação apresentado à Universidade
Federal do Rio Grande do Norte como
requisito para obtenção do título de
Engenheiro Químico.
Aprovado em 12 de junho de 2019
___________________________________________________
Profa. Dra. Magna Angélica dos Santos Bezerra Sousa – Orientadora
___________________________________________________
Me. José Wagner Alves Garrido – Membro Externo – UFRN
___________________________________________________
Izabella Regina de Souza Araújo – Membro Externo – UFRN
NATAL/RN
2019
AGRADECIMENTOS
A Deus, meu refúgio, que em sua infinita bondade e misericórdia tem me guiado,
amparado e protegido ao longo de toda minha vida.
À minha família, principalmente meus pais, por todos os ensinamentos, doação, apoio,
força e afeto que me deram desde sempre.
A Léon Edson pelos anos repletos de amizade, cumplicidade, paciência, suporte e
confiança. Por ter tornado essa jornada mais leve e divertida com seu companheirismo. Por
estar presente em todas as memórias boas que levarei desta etapa da minha vida. Que a nossa
amizade possa prosseguir.
À Izabella Regina pela amizade, ajuda e conversas agradáveis ao longo de todos esses
anos.
À Magna Angélica, minha orientadora e professora, por toda contribuição, instrução,
paciência, disponibilidade e amparo ao decorrer do curso, em especial, por ter aberto as portas
de seu espaço de trabalho e me dado a oportunidade de realizar este trabalho tão importante
para a conclusão desta trajetória.
A José Wagner pela gentileza e contribuição imprescindível para tornar possível a
realização deste trabalho.
A Gilmar pela paciência, ensinamentos e auxílio durante todo o processo de execução
desta tarefa.
Aos demais professores por se doarem e compartilharem seus conhecimentos
indispensáveis para a minha formação acadêmica.
Aos colegas de curso e a todos que de alguma forma cruzaram meu caminho e me
ajudaram a tornar esta caminhada melhor e possível de ser concluída.
A todos o meu muito obrigado.
RESUMO
Este trabalho aborda o uso de floculantes naturais como coadjuvantes no processo combinado
de coagulação/floculação, seguido pela etapa de flotação por ar dissolvido, em que o cloreto
férrico atua como floculante principal e a fécula de mandioca como floculante auxiliar. O uso
de floculantes naturais é uma alternativa interessante devido a sua biodegradabilidade e menor
agressão ao meio ambiente. O intuito é verificar se a fécula de mandioca, atuando como auxiliar
de coagulação/floculação, contribui para a remoção da turbidez da água, bem como se exerce
influência sobre os parâmetros: turbidez, pH e condutividade elétrica. A água bruta a ser tratada
é proveniente de um açude localizado em Santa Maria, município pertencente ao estado do Rio
Grande do Norte. As etapas de coagulação/floculação e flotação foram executadas em um
equipamento em escala de bancada denominado Flotateste, adotando o tempo de 3 minutos para
a etapa de mistura rápida e de 5 minutos para a de mistura lenta, enquanto para a flotação, os
tempos de coleta para realizar as análises dos parâmetros foram de 3 e 10 minutos. Os ensaios
foram feitos em duplicatas em duas colunas operando simultaneamente. A concentração total
de floculante injetada na coluna foi definida como 105 mg/L. Foram realizados vários
experimentos com diferentes concentrações de floculante auxiliar e floculante principal, a cada
ensaio se aumentava 25% da concentração de fécula de mandioca, ao mesmo tempo em que se
diminuía a concentração de cloreto férrico na mesma proporção, dando início em 0% de fécula
e 100% de cloreto, até atingir a combinação de 100% de fécula e 0% de cloreto. Ao final da
flotação, a maior eficiência de remoção conseguida foi de 69,05%, para o experimento sem a
presença da fécula de mandioca. Verificou-se que a medida que se aumentava a concentração
de fécula, menor era o percentual de remoção da turbidez, chegando a ocorrer um aumento
deste parâmetro para o ensaio em que a fécula de mandioca atuava sozinha como floculante,
aumentando a turbidez da água tratada em 3,81% a mais que o valor obtido inicialmente para a
água bruta. Para a condutividade, os valores variaram, mas não se teve uma tendência
previsível, crescente ou decrescente, ao passo em que se aumentava a concentração da fécula.
Para o pH, durante a atuação conjunta dos floculantes, os valores se mantiveram entre 6 e 7,
sendo menores que o valor inicial. Para o ensaio em que a fécula se encontrava como único
floculante do processo, o valor do pH foi alcalino e superior ao inicial. Ao final, é possível
concluir que a fécula de mandioca não contribuiu como auxiliar de coagulação/floculação para
um processo com o cloreto férrico como floculante principal para o tratamento de água.
Palavras-chave: flotação; turbidez; fécula de mandioca; floculante auxilar; cloreto férrico.
ABSTRACT
This work deals with the use of natural flocculants as coadjuvants in the combined
coagulation/flocculation process, followed by the dissolved air flotation stage, in which the
ferric chloride acts as the main flocculant and the cassava starch as auxiliary flocculant. The
use of natural flocculants is an interesting alternative due to its biodegradability and less
aggression to the environment. The purpose of this study was to verify if cassava starch, acting
as a coagulation/flocculation aid, contributes to the removal of turbidity from the water, as well
as influencing parameters: turbidity, pH and electric conductivity. The raw water to be treated
comes from a reservoir located in Santa Maria, a municipality belonging to the state of Rio
Grande do Norte. The steps of coagulation/flocculation and flotation were performed on a bench
scale equipment called Flotateste, adopting the time from 3 minutes for the rapid mixing step
and 5 minutes for the slow mixing step, while for flotation the time to perform the analyzes of
the parameters were 3 and 10 minutes. The assays were done in duplicates on two columns
operating simultaneously. The total concentration of flocculant injected into the column was
defined as 105 mg/L. Several experiments were carried out with different concentrations of
auxiliary flocculant and main flocculant, at each test, 25% of the cassava starch concentration
was increased, at the same time as the concentration of ferric chloride in the same proportion
was decreased, starting at 0% of starch and 100% chloride until a combination of 100% starch
and 0% chloride was reached. At the end of the flotation, the highest removal efficiency was
69.05% for the experiment without the presence of manioc starch. It was verified that as the
starch concentration was increased, the percentage of turbidity removal was lower, and an
increase of this parameter occurred for the test in which the cassava starch acted alone as a
flocculant, increasing the turbidity of the treated water in 3.81% more than the value initially
obtained for raw water. For conductivity, the values varied, but there was no predictable,
increasing or decreasing trend, while increasing the concentration of the starch. For the pH,
during the joint action of the flocculants, the values remained between 6 and 7, being smaller
than the initial value. For the test in which the starch was the only flocculant in the process, the
pH value was alkaline and higher than the initial one. At the end, it is possible to conclude that
manioc starch did not contribute as a coagulation/flocculation aid to a process with ferric
chloride as the main flocculant for the treatment of water.
Keywords: Flotation; turbidity; cassava starch; auxiliary flocculant; ferric chloride.
LISTA DE FIGURAS
Figura 3.1 — Cloreto férrico em sua forma sólida. .................................................................. 20
Figura 3.2 — Processo de produção da fécula de mandioca. ................................................... 21
Figura 3.3 — Fécula de mandioca depois de obtida................................................................. 21
Figura 4.1 — Localização do município de Santa Maria/RN. ................................................. 24
Figura 4.2 — Açude da propriedade Haras OM, de onde foi coletada a água a ser tratada. .... 25
Figura 4.3 — Utensílios, vidrarias e equipamentos utilizados. a) Béqueres, pisseta, balão etc.
b) Agitador magnético com aquecimento e c) Balança digital...................................................26
Figura 4.4 — Embalagem da fécula de mandioca utilizada. .................................................... 26
Figura 4.5 — Solução de fécula de mandioca preparada. ........................................................ 27
Figura 4.6 — Etiqueta do cloreto férrico utilizado.....................................................................28
Figura 4.7 — Solução de cloreto férrico preparada.................................................................. 28
Figura 4.8 — Equipamentos utilizados durante o processo: a) Turbidímetro, b) Condutivímetro;
c) pHmetro. ............................................................................................................................... 29
Figura 4.9 — Esboço geral do Flotateste. ................................................................................ 30
Figura 4.10 — Unidade do flotateste: Colunas. ....................................................................... 31
Figura 4.11 — Unidades do flotateste: a) Sistema de saturação; b) Regulador de pressão; c)
Compressor. .............................................................................................................................. 32
Figura 4.12 — Unidades do flotateste: a) Sistema rotacional constituído por motor, polias e
mandris; b) Variador de frequência. ......................................................................................... 33
Figura 4.13 — Fluxograma do processo de coagulação/flotação e FAD no flotateste...............35
Figura 4.14 — Fluxograma da metodologia resumida................................................................38
Figura 5.1 — Resultado da flotação para concentração ótima de cloreto férrico (105 mg/L). 40
Figura 5.2 — Comportamento anômalo para concentração de 150 mg/L de cloreto férrico. .. 40
Figura 5.3 — Gráfico da turbidez final versus concentração de fécula de mandioca (t = 3 min).
.................................................................................................................................................. 43
Figura 5.4 — Gráfico da turbidez final versus concentração de fécula de mandioca (t = 10 min).
.................................................................................................................................................. 43
Figura 5.5 — Gráfico da remoção de turbidez versus concentração de fécula de mandioca (t =
10 min). ..................................................................................................................................... 44
Figura 5.6 — Resultado final da flotação para o experimento com a mistura de 50% cloreto
férrico 50% fécula de mandioca. .............................................................................................. 45
Figura 5.7 — Resultado final da flotação para o experimento com 100% fécula de mandioca.
.................................................................................................................................................. 45
Figura 5.8 — Gráfico do pH versus concentração de fécula de mandioca (pH0 = 7,11). ........ 47
Figura 5.9 — Gráfico da variação da condutividade versus concentração de fécula de mandioca.
.................................................................................................................................................. 49
LISTA DE TABELAS
Tabela 4.1 — Parâmetros físico-químicos avaliados, métodos e equipamentos utilizados para
medição. .................................................................................................................................... 29
Tabela 4.2 — Experimentos realizados para cada mistura de floculantes utilizada....................37
Tabela 5.1 — Resultados dos testes iniciais para determinação da concentração ótima de CF.
.................................................................................................................................................. 39
Tabela 5.2 — Volumes de floculantes injetados em cada experimento. .................................. 41
Tabela 5.3 — Valores da turbidez em função da concentração de fécula de mandioca em cada
tempo de coleta. ........................................................................................................................ 42
Tabela 5.4 — Valores finais de pH para cada concentração de fécula de mandioca. .............. 47
Tabela 5.5 — Valores da condutividade final para cada concentração de fécula de mandioca.
.................................................................................................................................................. 48
Tabela 5.6 — Resultados para os experimentos complementares............................................ 50
LISTA DE SIGLAS E SÍMBOLOS
CF: Cloreto Férrico
ETA: Estação de Tratamento de Água
FAD: Flotação por Ar Dissolvido
FM: Fécula de Mandioca
LAMTRE: Laboratório de Monitoramento e Tratamento de Resíduos da Indústria do Petróleo
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
NTU: Unidade Nefelométrica de Turbidez
pH: Potencial Hidrogeniônico
rpm: rotações por minuto
uT: unidade de turbidez
µS: micro Siemens
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 14
2 OBJETIVOS .................................................................................................................... 16
2.1 OBJETIVO GERAL ....................................................................................................... 16
2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................................... 16
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 17
3.1 TURBIDEZ ..................................................................................................................... 17
3.2 pH NA COAGULAÇÃO/FLOCULAÇÃO .................................................................... 17
3.3 CONDUTIVIDADE ELÉTRICA NA COAGULAÇÃO/FLOCULAÇÃO .................. 18
3.4 PROCESSO DE COAGULAÇÃO E FLOCULAÇÃO .................................................. 18
3.5 FLOCULANTES ............................................................................................................ 19
3.5.1 Cloreto Férrico ......................................................................................................... 19
3.5.2 Fécula de mandioca .................................................................................................. 20
3.7 VANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DA FÉCULA DE MANDIOCA COMO
FLOCULANTE AUXILIAR ................................................................................................ 21
3.8 PRODUÇÃO NACIONAL DE FÉCULA DE MANDIOCA ........................................ 22
3.9 FLOTAÇÃO POR AR DISSOLVIDO (FAD) ............................................................... 22
4 METODOLOGIA ........................................................................................................... 24
4.1 ESPECIFICAÇÃO DA ORIGEM E COLETA DA ÁGUA BRUTA ............................ 24
4.2 MATERIAIS ................................................................................................................... 25
4.3 PREPARAÇÃO DA SOLUÇÃO DE FÉCULA DE MANDIOCA ............................... 26
4.4 PREPARAÇÃO DA SOLUÇÃO DE CLORETO FÉRRICO ........................................ 27
4.5 PARÂMETROS AVALIADOS E EQUIPAMENTOS UTILIZADOS PARA MEDIÇÃO
.............................................................................................................................................. 29
4.6 FUNCIONAMENTO DO FLOTATESTE ..................................................................... 29
4.6.1 Colunas de flotação .................................................................................................. 30
4.6.2 Câmara de saturação................................................................................................. 31
4.6.3 Sistema de rotação .................................................................................................... 32
4.7 ETAPAS DE COAGULAÇÃO/FLOCULAÇÃO E FLOTAÇÃO ................................ 33
4.8 EXPERIMENTOS INICIAIS — DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO ÓTIMA
DE FLOCULANTE .............................................................................................................. 35
4.9 EXPERIMENTOS PRINCIPAIS — MISTURA DOS FLOCULANTES NATURAIS E
SINTÉTICOS ........................................................................................................................ 36
4.10 EXPERIMENTOS COMPLEMENTARES ................................................................. 37
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................................................. 39
5.1 EXPERIMENTOS INICIAIS — DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO ÓTIMA
DE FLOCULANTE .............................................................................................................. 39
5.2 EXPERIMENTOS PRINCIPAIS — MISTURA DOS FLOCULANTES NATURAIS E
SINTÉTICOS ........................................................................................................................ 41
5.2.1 Turbidez ................................................................................................................... 41
5.2.2
pH..............................................................................................................................46_Toc1
1784067
5.2.3 Condutividade elétrica ............................................................................................. 48
5.3 EXPERIMENTOS COMPLEMENTARES .................................................................. 50
6 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 51
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 53
14
1 INTRODUÇÃO
Pensar em meios mais viáveis, tanto no ponto de vista econômico quanto ambiental, tem
sido um objetivo permanente para aqueles que buscam traçar caminhos que contemplem todas
as necessidades que um processo requer, desde ao menor custo de produção, aliado ao
desenvolvimento sustentável, respeitando todas as vertentes: econômica, ecológica e social, até
ao rendimento satisfatório ao final do processo.
As Estações de Tratamento de Água (ETA) se deparam com um desafio ao produzirem
água de qualidade, pois a atividade exige um sistema produtor de água potável que tenha
recursos suficientes para acompanhar e atender a demanda crescente por água, mantendo o
controle dos custos da forma mais favorável possível para a empresa e assegurando a qualidade
da água, assim como requer preocupação a respeito dos impactos que podem ser desencadeados
durante as etapas do processo e a necessidade de minimizá-los da melhor forma possível,
garantindo a segurança e a preservação do meio ambiente.
A coagulação e a floculação são etapas imprescindíveis durante o processo de
tratamento de água pelo fato de contribuírem não só para remoção da turbidez e da cor, como
também para auxiliar na retirada de bactérias, vírus, plânctons, entre outros. Desta forma, é de
suma importância garantir a eficácia destes processos para que haja o sucesso das etapas futuras,
pois eles contribuem para preparação da decantação ou da flotação, bem como da filtração
realizada posteriormente (RICHTER, 2009).
A aplicação de floculantes naturais como coadjuvantes nos processos de coagulação e
floculação configura um caminho alternativo capaz de agregar vantagens ao processo de
tratamento de água devido ao baixo custo e a facilidade de obtenção, preparo e aplicação. Desta
forma, conseguem se destacar dos floculantes sintéticos, já que estes geralmente demandam
alto custo e fazem uso normalmente de matérias-primas importadas (SOUZA, 2004).
Outros pontos positivos do uso de floculantes naturais, além de suas propriedades, são:
sua biodegradabilidade, o fato de serem menos agressivos ao meio ambiente e possuírem baixa
toxicidade, diferente dos floculantes inorgânicos, que geralmente contêm metais pesados em
sua composição, sendo prejudiciais ao solo e aos recursos hídricos quando descartados.
(JACKSON et al., 2006).
Seguindo esta temática de abordar outras alternativas menos agressivas ao meio
ambiente para as etapas de coagulação e floculação que compõem o tratamento de água, o
presente trabalho corresponde a avaliação do papel da fécula de mandioca como auxiliar natural
15
do cloreto férrico nestas etapas, atuando em diferentes concentrações, a partir de diversos
ensaios com variadas combinações percentuais para cada um dos floculantes, cloreto férrico
(CF) e fécula de mandioca (FM).
A fécula de mandioca é um produto de origem natural, com produção ampla no Brasil,
o que dificulta a ocorrência de desabastecimento do produto e diminui o risco de
comprometimento do processo devido à ausência do mesmo (MEIRA, 2004 apud SANTOS;
XAVIER; TOMÉ, 2012).
O cloreto férrico gera flocos densos que precipitam rapidamente e possuem uma
interação potente com os coloides, contribuindo para a utilização de uma menor quantidade de
floculante. (LIBÂNIO, 1995 apud SANTOS; XAVIER; TOMÉ, 2012).
A água utilizada para a execução deste trabalho foi proveniente de um açude localizado
no município de Santa Maria, Rio Grande do Norte. Foi realizada a caracterização da água
bruta, identificando os valores dos parâmetros de interesse, turbidez, pH e condutividade
elétrica, a preparação das soluções de floculantes para execução das etapas de coagulação e
floculação e, por fim, ocorre a Flotação por Ar Dissolvido (FAD).
A FAD tem se destacado por representar uma alternativa interessante para o
desenvolvimento de novos projetos de estações de tratamento, assim como para a expansão das
já existentes, pelo fato de propiciar, exigindo um menor custo, a produção de água potável de
qualidade que não deixa a desejar à de uma estação convencional (RICHTER, 2009).
Após o final do processo e da realização de todas as análises necessárias a partir das
amostras de água tratada coletadas, o intuito é verificar qual a influência exercida pela presença
da fécula de mandioca, enquanto floculante auxiliar do cloreto férrico, sobre a turbidez, o pH e
a condutividade elétrica da água tratada, bem como se há eficiência com relação a remoção da
turbidez desta água, apresentando e discutindo os resultados obtidos, fornecendo o
embasamento fundamental para formação da conclusão deste trabalho.
16
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Avaliar o desempenho da fécula de mandioca como auxiliar de floculação do cloreto
férrico no processo de tratamento de água por meio da coagulação/floculação e da flotação por
ar dissolvido, observando a sua influência nos parâmetros: turbidez, condutividade elétrica e
pH da água tratada.
2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Indicar os parâmetros físico-químicos de turbidez, condutividade elétrica e do pH da água
bruta;
• Definir a concentração ótima de cloreto férrico a ser utilizada no processo de
coagulação/floculação para o tratamento da água;
• Observar de que forma o cloreto férrico e a fécula de mandioca, tanto separadamente
quanto em conjunto, atuam na turbidez, na condutividade elétrica e no pH da água tratada;
• Analisar o desempenho da fécula de mandioca como auxiliar de coagulação/floculação
do cloreto férrico em meio a experimentos com concentrações distintas do sistema fécula-
cloreto para tratamento da água;
• Conferir a eficiência da fécula como auxiliar de coagulação/floculação do cloreto férrico
para promover a diminuição da turbidez da água tratada.
17
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 TURBIDEZ
Em uma ETA para atingir o padrão pré-estabelecido pela legislação para tornar a água
adequada para um determinado uso, assim como para escolher o tratamento que será empregado
para isso, é preciso conhecer as características físico-químicas e bacteriológicas da água.
Uma destas características é a turbidez, que corresponde a um parâmetro de análise
física e está relacionada à matéria suspensa existente na água, podendo ser de natureza variada,
matéria orgânica, inorgânica, plânctons, microrganismos, entre outros. Estas partículas
suspensas variam de tamanho, desde suspensões grosseiras até coloidais (RICHTER, 2009).
A existência destas partículas faz com que ocorra a dispersão e a absorção da luz, o que
resulta em uma água com aspecto turvo. Além de deixar a aparência desagradável, a turbidez
pode prejudicar a potabilidade da água e atrapalhar o desempenho do processo de desinfecção,
como por exemplo a ação do cloro, pelo fato de propiciar a proteção de certos microrganismos
(GAUTO; ROSA, 2011).
3.2 pH NA COAGULAÇÃO/FLOCULAÇÃO
Para atingir a otimização do processo, um dos parâmetros que exige atenção é o pH,
pois está diretamente ligado a eficiência do processo. A escolha do floculante, bem como a dose
a ser utilizada e a alcalinidade da água a ser tratada exercem influência direta no valor final do
pH (RICHTER, 2009).
Na maioria dos casos, os floculantes atuam como ácidos em soluções, o que provoca a
diminuição do pH e da alcalinidade, exigindo que seja inserido um alcalinizante no intuito de
promover o equilíbrio do pH (PAVANELLI, 2001).
Os floculantes inorgânicos são bastante eficientes para a remoção da cor e da turbidez
da água, todavia, provocam o aumento da geração de lodo da ETA e consomem alcalinidade, o
que ocasiona no aumento dos custos do processo, já que tornam necessário o uso de produtos
químicos para correção do pH. Já os floculantes orgânicos contribuem para a geração de uma
menor quantidade de lodo e não incorporam sais à água (ARNESEN et al., 2017).
Grande parte dos floculantes metálicos reage com a água gerando íons de hidrogênio
livres que promovem a diminuição da alcalinidade natural da água, se esta não for suficiente, a
aplicação de um floculante metálico pode ocasionar na redução do pH, de modo que se tenha
um valor abaixo da faixa de desempenho do floculante, resultando em uma coagulação ineficaz,
18
ou até mesmo inexistente. Para os coagulantes orgânicos, sua adição não influencia no pH e
nem na alcalinidade (RICHTER, 2009).
3.3 CONDUTIVIDADE ELÉTRICA NA COAGULAÇÃO/FLOCULAÇÃO
A condutividade elétrica é uma propriedade que se relaciona proporcionalmente a
quantidade de sais dissolvidos na água, contribuindo para que se tenha uma noção breve dos
sólidos presentes em uma amostra (GAUTO; ROSA, 2011).
A condutividade elétrica está diretamente ligada a presença de substâncias dissolvidas
capazes de conduzir eletricidade, tanto na forma aniônica quanto catiônica, de modo que quanto
maior for a concentração iônica da solução, maior a condutividade (BRASIL, 2006).
Quando aplicados nos processos de coagulação, os floculantes inorgânicos são capazes
de influenciar no aumento das concentrações de outros parâmetros de qualidade, como a
condutividade (ARNESEN et al., 2017).
3.4 PROCESSO DE COAGULAÇÃO E FLOCULAÇÃO
A maioria das partículas suspensas existentes na água se encontram em estado coloidal.
Estas partículas possuem a mesma carga elétrica, o que gera repulsão mútua, não possibilitando
a aproximação e a colisão delas para que formem aglomerados maiores e se sedimentem de
maneira natural. Sendo assim, faz-se uso de agentes químicos floculantes que sejam carregados
de modo oposto ao das partículas, promovendo a neutralização da carga elétrica e reduzindo as
forças que as separam, estimulando atração entre elas, este processo é denominado de
coagulação (GAUTO; ROSA, 2011).
Na coagulação ocorre a etapa de mistura rápida do floculante com a água. Logo depois,
acontece a segunda etapa, que corresponde a floculação, processo em que se promove os
choques entre as partículas, anteriormente desestabilizadas por meio da coagulação, através da
mistura lenta do material para a geração dos flocos. Deste modo, a coagulação e a floculação
consistem em transporte de fluido, relacionados à precipitação e ao agrupamento de partículas
primárias. A diferença entre as duas se dá pelo tempo e a intensidade de mistura (RICHTER,
2009).
Dentre os produtos utilizados nos processos de coagulação tem-se o sulfato de alumínio
e o cloreto férrico. Estes floculantes disponibilizam espécies químicas de alumínio e ferro que
possuem elevada densidade de cargas elétricas apresentando sinal contrário ao das partículas
que se encontram na água bruta, dando fim as forças de repulsão eletroestática existentes no
19
início (água bruta), facilitando a ocorrência da floculação e a formação de sedimentos maiores
e mais densos, tornando o processo mais rápido (BDT, 2001).
3.5 FLOCULANTES
3.5.1 Cloreto Férrico
Quando acrescentado a água em sua forma iônica, o cloreto férrico (FeCl3) sofre
conversão a hidróxido férrico ao reagir com as bases presentes na água. A interação do íon
férrico com o material coloidal é muito potente. Por possuir uma massa molar superior, seus
flocos possuem maior densidade, precipitando de maneira rápida e dando origem a uma lama
mais consistente, o que confere alguns benefícios para o processo, como: utilização de uma
menor quantidade de floculante, devido a maior potência na interação do floculante e o material
coloidal; e menor área, tornando seu uso mais vantajoso quando comparado a utilização de
outros floculantes, como o sulfato de alumínio (LIBÂNIO, 1995 apud SANTOS; XAVIER;
TOMÉ, 2012).
Na maior parte dos casos, os floculantes férricos se mostram satisfatórios em uma ampla
escala de pH, desde 4 até 11, sendo favoráveis, em especial, para coagulação da cor a pequenos
valores de pH e no processo de abrandamento, estimulando a geração dos flocos. Por possuírem
produtos de solubilidade muito baixos, o processo de coagulação com sais de ferro se dá
predominantemente por arrasto, ocorrendo a precipitação rápida dos hidróxidos de ferro,
gerando um precipitado de aspecto gelatinoso que captura outras partículas, promovendo a
coagulação por arrasto (RICHTER, 2009).
Os sais de ferro provenientes da adição do cloreto férrico como agente floculante
durante o tratamento de água reagem promovendo a neutralização das cargas negativas dos
coloides e contribuem para a geração de hidróxidos insolúveis de ferro, possibilitando a ação
em uma ampla escala de pH (FARIAS; FERREIRA, 2014).
O cloreto férrico é mostrado na Figura 3.1.
20
Figura 3.1 — Cloreto férrico em sua forma sólida.
Fonte: ZQ, 2019.
3.5.2 Fécula de mandioca
O polímero natural de fécula de mandioca corresponde a um floculante orgânico,
podendo ser empregado no processo de coagulação/floculação. A utilização de um polímero na
coagulação pode ser de forma auxiliar ou primária, neste caso, o processo se reduz à
neutralização por carga, sem ocasionar alterações no pH e nem na alcalinidade. O processo de
coagulação ocorre predominantemente por adsorção-desestabilização complementada por um
efeito de ligação de pontes entre partículas. Tanto para substituir ou auxiliar um coagulante
orgânico, é possível utilizar um polímero catiônico que se adere aos coloides, possibilitando a
ligação de várias partículas como laços em uma corda (RICHTER, 2009).
Os polímeros, também chamados de macromoléculas, apresentam pontos de carga
positiva que se unem as impurezas coloidais dando origem a uma ponte no espaço existente
entre as partículas ao redor, gerando partículas maiores (VESILIND; MORGAN, 2014).
Características como: extensão da cadeia molecular do polímero, o tamanho e a
disposição das partículas e o gradiente de velocidade influenciam significativamente no
rendimento do processo de floculação. Além disso, alguns polímeros demonstram maior
eficiência quando utilizados imediatamente após a etapa de mistura rápida do floculante
primário, já outros são mais favoráveis ao processo quando aplicados depois de um certo tempo
que a flotação foi sucedida (BERNARDO, A; BERNARDO, L., 2000).
De acordo com Camargo et al. (1984), citado por Vieira et al. (2010), a fécula de
mandioca pode ser caracterizada como um pó fino de cor branca, inodoro e sem sabor. A fécula
de mandioca corresponde a um polissacarídeo natural que possui em sua formação cadeias
lineares (amilose) e cadeias ramificadas (amilopectina). Sua obtenção se dá a partir das raízes
de mandioca, depois de realizados os processos de descascamento, trituração, desintegração,
21
purificação, peneiramento, centrifugação, entre outros para sua obtenção. A Figura 3.2 mostra
o processo de produção para a obtenção da fécula de mandioca:
Figura 3.2 — Processo de produção da fécula de mandioca.
Fonte: Adaptada de Santos (2016).
A Figura 3.3 mostra a fécula de mandioca após a realização de todo o processo para a
sua obtenção.
Figura 3. 3 — Fécula de mandioca depois de obtida.
Fonte: Mídia Max (2016).
3.7 VANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DA FÉCULA DE MANDIOCA COMO
FLOCULANTE AUXILIAR
A fécula de mandioca é uma alternativa vantajosa para o processo de floculação pelo
fato de ser um produto renovável, biodegradável e de simples elaboração, sendo possível ser
22
produzida no próprio local, viabilizando seu uso e descartando a necessidade de ser transportada
(SOUZA, 2004).
Por serem responsáveis por uma geração menor de lodo e livre de sais metálicos, os
floculantes orgânicos beneficiam os processos para a realização de sua compostagem e
disposição final (FARIAS FERREIRA 2014).
3.8 PRODUÇÃO NACIONAL DE FÉCULA DE MANDIOCA
Segundo Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO,
2016), citado pela CONAB (2018), o Brasil se encontra na quarta posição da produção mundial
anual com 21,08 milhões de toneladas de raiz de mandioca (CONAB, 2018).
A produção brasileira de fécula de mandioca se caracteriza pelo consumo e economia
interna, prevalecendo a subsistência e o abastecimento regional, não possuindo muita relevância
no âmbito internacional, com participação nas exportações inferior a 1%, o restante é
consumido pelo mercado brasileiro em diversas indústrias, como: de papel e papelão,
frigoríficos, alimentícia, química e têxtil (SEAB, 2017).
Do ponto de vista regional, a Região Norte garante a primeira colocação na produção
de mandioca nacional com a porcentagem 36,1%. Na segunda posição encontra-se a Região
Nordeste com 25,1%. Por último, tem-se a Região Sul com 22,1%. Já com relação a produção
de mandioca estadual, quem ocupa o primeiro lugar como o maior produtor estadual é o Pará,
representando 20,55% da porcentagem nacional, acompanhado do estado do Paraná com
14,79%. (EMBRAPA, 2018).
3.9 FLOTAÇÃO POR AR DISSOLVIDO (FAD)
Após a ocorrência da coagulação/floculação, o efluente contendo os flocos formados
segue para uma etapa de sedimentação ou flotação, tendo como objetivo realizar a separação
dos flocos suspensos.
A flotação se refere ao processo em que ocorre a separação da fase sólida, que contém
densidade inferior à do líquido suspenso, da fase líquida, tornando possível a flutuação da fase
sólida para a superfície. É um processo físico comumente empregado para a clarificação de
efluentes. Uma vantagem deste processo é que o equipamento requer pouco espaço para sua
instalação. Já um ponto negativo é o fato de exigir uma maior despesa operacional por conta da
mecanização (GAUTO; ROSA, 2011).
23
A flotação corresponde a uma operação pela qual ocorre a remoção das partículas a
partir da introdução de microbolhas de ar que ao entrarem em contato com as partículas
promovem a formação de um aglomerado bolha-partícula, possuindo densidade aparente
inferior à da água, possibilitando que ocorra a flutuação deste aglomerado para a superfície do
tanque de flotação, tornando possível sua remoção (LÉDO, 2008).
Há mais de um tipo de flotação, dentre elas, a Flotação por Ar Dissolvido que, como
corresponde ao procedimento utilizado neste trabalho para realização do tratamento da água,
será o único tipo abordado.
No procedimento de FAD ocorre a diminuição da densidade das partículas sólidas a
partir da adesão de bolhas de ar bem pequenas que são originadas a partir da diminuição
imediata da pressão na corrente líquida saturada de ar oriunda da câmara de saturação. Através
do uso de uma bomba, uma pequena porção de água é elevada à pressão (5% a 10% da vazão
que passa na unidade), que varia de 4 a 5,5 atm, e encaminhada ao tanque de saturação,
tornando-a saturada de ar advindo de um compressor. No processo ocorre a injeção desta água
que possui sua pressão reduzida rapidamente, liberando várias microbolhas de ar que se unem
aos flocos existentes e os torna capazes de flutuar, ascendendo para a superfície e promovendo
a formação de uma camada de lodo que pode ser retirada por meio de raspadores superficiais
(RICHTER, 2009).
A realização da FAD fornece mais flexibilidade ao tratamento devido a possibilidade de
trabalhar com uma maior faixa de pressão, favorecendo o controle eficaz com relação a
quantidade de ar desprendido, o que atrelado ao pequeno tamanho das bolhas, representa um
benefício primordial ao tratamento de água (AISSE et al., 2014).
24
4 METODOLOGIA
Para a realização do experimento foi necessária a utilização de todo um conjunto de
ferramentas, o que inclui vidrarias, equipamentos mecânicos e eletrônicos, floculantes
sintéticos e naturais, que viabilizaram o alcance do objetivo deste trabalho.
4.1 ESPECIFICAÇÃO DA ORIGEM E COLETA DA ÁGUA BRUTA
A água a ser tratada foi proveniente de um corpo hídrico superficial, um açude situado
em Santa Maria, município pertencente ao estado do Rio Grande do Norte, como mostrado na
Figura 4.1:
Figura 4.1 — Localização do município de Santa Maria/RN.
Fonte: IBGE (2019).
A coleta da água foi realizada contracorrente com uma distância média de 30 cm da
superfície, utilizando para seu armazenamento galões de 10 e 20 litros de capacidade. Após a
coleta, os galões foram levados imediatamente para o Laboratório de Monitoramento e
Tratamento de Resíduos da Indústria do Petróleo (LAMTRE) permanecendo sob refrigeração
em um freezer, com temperatura de aproximadamente 4 °C, durante todo o período necessário
para a realização dos experimentos conforme as recomendações do Guia Nacional de Coleta e
Preservação de Amostras (ANA, 2011).
O açude está localizado em uma propriedade privada chamada Haras OM. A Figura 4.2
mostra a imagem do açude:
25
Figura 4.2 — Açude da propriedade Haras OM, de onde foi coletada a água a ser tratada.
Fonte: Autor (2019).
4.2 MATERIAIS
• Balões volumétricos;
• Espátula;
• Bastão de vidro;
• Almofariz e pistilo;
• Béqueres;
• Funil;
• Pisseta;
• Pipetas de 10 ml;
• Balança digital Adventurer Ohaus AR2140;
• Agitador magnético Fisatom 752A.
A Figura 4.3 mostra os utensílios, as vidrarias e os equipamentos listados anteriormente
e que foram utilizados durante o processo.
26
Figura 4.3 — Utensílios, vidrarias e equipamentos utilizados. a) Béqueres, pisseta,
balão etc. b) Agitador magnético com aquecimento e c) Balança digital.
Fonte: Autor (2019).
4.3 PREPARAÇÃO DA SOLUÇÃO DE FÉCULA DE MANDIOCA
O floculante auxiliar para ser utilizado para a mistura com o cloreto férrico foi a fécula
de mandioca comercial da marca Caicó, mostrada na Figura 4.4:
Figura 4.4 — Embalagem da fécula de mandioca utilizada.
Fonte: Autor (2019).
27
Com base no estudo realizado por Souza (2004), citado por Santos; Xavier; Tomé
(2012), foi feita a mistura da fécula de mandioca (FM) na seguinte proporção: 1% em massa,
ou seja, a cada litro de água adiciona-se 10 g de fécula, resultando em uma concentração de
10.000 ppm. Após isso, a solução foi aquecida (100 °C) com agitação constante durante 20
minutos para que haja a mistura completa da solução. Depois de seu resfriamento, a solução já
se encontra apropriada para o uso.
Então, seguindo esta proporção, foi preparada uma solução de fécula de mandioca
contendo 1 g/100 ml, mostrada na Figura 4.5:
Figura 4.5 — Solução de fécula de mandioca preparada.
Fonte: Autor (2019).
A solução foi mantida sob refrigeração constante, sendo descartada ao final de cada dia
de experimento, a fim de manter suas propriedades, evitar proliferação bacteriana e sua
oxidação, já que se trata de um produto orgânico e natural. Da mesma forma foi feita para a
solução de cloreto férrico.
4.4 PREPARAÇÃO DA SOLUÇÃO DE CLORETO FÉRRICO
Como floculante principal do processo utilizou-se o cloreto férrico da marca Synth,
conforme mostrado na Figura 4.6:
28
Figura 4.6 — Etiqueta do cloreto férrico utilizado.
Fonte: Autor (2019).
A solução-base de CF, Figura 4.7, seguiu a mesma proporção adotada para a solução de
fécula de mandioca, dissolvendo 1 g CF em 100 ml de água. Depois de preparadas as soluções
(CF e FM), deu-se início aos experimentos com as misturas de floculantes utilizadas em cada
ensaio.
Figura 4.7 — Solução de cloreto férrico preparada.
Fonte: Autor (2019).
29
4.5 PARÂMETROS AVALIADOS E EQUIPAMENTOS UTILIZADOS PARA
MEDIÇÃO
A Tabela 4.1 mostra os parâmetros utilizados para a caracterização tanto da água bruta
quanto das amostras de água tratada, assim como os métodos e os equipamentos utilizados.
Tabela 4.1 — Parâmetros físico-químicos avaliados, métodos e equipamentos utilizados para
medição.
Parâmetro (unidade) Método Equipamento Marca Modelo
Turbidez (NTU) Nefelométrico Turbidímetro *** TB100
Condutividade (µS/cm) Eletrométrico
Condutivímetro Digimed DM-31
pH pHmetro Nova NI PHM
Fonte: Autor (2019).
A Figura 4.8 apresenta os equipamentos que serviram de aparato para a realização das
medições necessárias dos parâmetros.
Figura 4.8 — Equipamentos utilizados durante o processo: a) Turbidímetro, b)
Condutivímetro; c) pHmetro.
Fonte: Autor (2019).
4.6 FUNCIONAMENTO DO FLOTATESTE
Para a realização dos ensaios de coagulação, floculação e flotação por ar dissolvido foi
utilizado o equipamento nomeado flotateste. Este equipamento foi construído em escala de
30
bancada no LAMTRE, conforme Lacerda (1997), Pinto Filho (1999) e Lédo (2008). A Figura
4.9 representa um esquema geral do equipamento flotateste utilizado.
Figura 4.9 — Esboço geral do Flotateste.
Fonte: Adaptada de Lédo (2008).
4.6.1 Colunas de flotação
As etapas de mistura rápida (coagulação), mistura lenta (floculação) e flotação por ar
dissolvido ocorreram nas colunas do Flotateste, onde são introduzidos os floculantes e a água a
ser tratada. Os experimentos foram realizados em duplicata para cada combinação de mistura
analisada (CF + FM), ao final foi feita uma média dos valores obtidos em cada análise. Duas
das três colunas trabalhavam simultaneamente durante o processo.
A Figura 4.10 mostra as colunas de flotação que constituem o flotateste. Estas colunas
foram construídas em acrílico transparente, sendo possível visualizar todo o processo, com uma
base de alumínio, ligadas a conexões tubulares por onde ocorrem a inserção da água saturada e
a saída da água tratada. Elas possuem em seu interior paletas responsáveis pela agitação,
empregada para dispersar e homogeneizar os floculantes, que são injetados por meio de seringas
fixadas do lado direito de cada coluna. Ao final do processo as alíquotas necessárias para análise
são recolhidas pelos canais de saída, posicionados a esquerda de cada coluna.
31
Figura 4.10 — Unidade do flotateste: Colunas.
Fonte: Autor (2019).
4.6.2 Câmara de saturação
A câmara de saturação que compõe o flotateste é fabricada pela JBF-Aquaflot e
corresponde a um vaso fechado de inox com um volume total de 3,5 litros, responsável pelo
preparo da água saturada a ser utilizada para a recirculação. Segundo o fabricante a pressão
recomendada na câmara de saturação é de até 5 kgf/cm2.
Em sua parte superior, estão localizados um manômetro, uma válvula de segurança e
um orifício destinado a entrada de água. Na parte inferior da câmara de saturação estão
dispostas: uma abertura utilizada para a entrada de ar comprimido, ligada ao compressor,
pertencente a marca Schulz, modelo Twister; e uma saída para água saturada conectada as
colunas de flotação. A Figura 4.11 mostra estes equipamentos.
32
Figura 4.11 — Unidades do flotateste: a) Sistema de saturação; b) Regulador de pressão; c)
Compressor.
Fonte: Autor (2019).
4.6.3 Sistema de rotação
Por meio de um motor da marca Weg é possível colocar o conjunto de polias em
movimento, sendo cada uma das polias responsável pela movimentação de um eixo. Estes eixos
têm como função promover a fixação dos mandris, parte em que estão conectadas as hastes com
suas paletas. As hastes podem ser removidas quando não forem necessárias. O controle da
variação da velocidade rotacional é permitido por um variador de frequência da marca
Schneider Electricic, permitindo uma variação na faixa de 0 a 360 rpm. A Figura 4.12 os
equipamentos que compõem o sistema de rotação.
O sistema de rotação é utilizado para promover as agitações rápida e lenta, responsáveis
pelas etapas de coagulação e floculação, respectivamente.
33
Figura 4.12 — Unidades do flotateste: a) Sistema rotacional constituído por motor, polias e
mandris; b) Variador de frequência.
Fonte: Autor (2019).
4.7 ETAPAS DE COAGULAÇÃO/FLOCULAÇÃO E FLOTAÇÃO
Os valores definidos para os parâmetros: tempo da etapa de mistura lenta; tempo da
etapa de mistura rápida, velocidades de agitação para ambas as etapas, relacionados as etapas
de coagulação/floculação, assim como os utilizados na flotação, permaneceram constantes para
todos os ensaios.
Os valores para o tempo de mistura lenta e as velocidades de agitação para as etapas
rápida e lenta tiveram como base o trabalho desenvolvido por Magalhães (2014). O tempo de
mistura rápida e de flotação foram definidos com base em Paulo et al. (2013).
Para a execução dos processos e realização das misturas, empregou-se para a etapa de
mistura rápida uma duração de 3 minutos e uma rotação no valor de 226 rpm e para mistura
lenta uma duração de 5 minutos com rotação de 90 rpm, correspondendo, respectivamente, a
12,2 e 5,4, na escala do variador de frequência.
A cada coluna de flotação foi adicionado um litro da água bruta a ser tratada. Logo
depois, colocou-se dentro das colunas, a partir do uso das seringas, os floculantes utilizados de
acordo com as quantidades estabelecidas para cada experimento (CF + FM), e deu-se início
primeiramente a etapa de mistura rápida, registrada com o auxílio de um cronômetro digital.
34
Após o tempo decorrido, alterou-se a rotação, sendo favorável a formação dos flocos, e
realizou-se a etapa de mistura lenta.
Passados os cinco minutos, desligou-se o sistema de rotação e imediatamente ocorreu a
abertura das válvulas de cada coluna para a injeção da água saturada com ar comprimido com
taxa de recirculação de 10% do volume da coluna. Esta porcentagem de recirculação foi
definida com base em estudos realizados por Lédo (2008). A água utilizada para preparar a água
saturada foi proveniente do laboratório, do próprio sistema de abastecimento desta instituição.
Segundo Magalhães (2014), a taxa de recirculação proporciona uma medição de forma
indireta da porção de bolhas que são introduzidas na coluna, o que em termos percentuais,
corresponde a razão entre o volume de água saturada com ar comprimido em relação a
quantidade de água existente na coluna, que neste caso se trata de um litro de água.
Logo em seguida, cronometrou-se os tempos de coleta estabelecidos para o processo de
flotação (3 e 10 minutos), ao final destes tempos, realizou-se a coleta uma amostra (40 ml) pela
parte inferior de cada uma das duas colunas utilizadas para análise dos resultados com posterior
cálculo da média para os parâmetros: turbidez, pH e condutividade elétrica.
Ao final de cada procedimento em duplicata, realizou-se a limpeza das colunas com
água destilada e por meio das ferramentas apropriadas a fim de evitar alguma interferência do
experimento anterior no realizado posteriormente.
A Figura 4.13 apresenta um fluxograma que descreve os procedimentos realizados no
flotateste para a aplicação das etapas de coagulação/floculação e FAD.
35
Figura 4.13 — Fluxograma do processo de coagulação/flotação e FAD no flotateste.
Fonte: Autor (2019).
4.8 EXPERIMENTOS INICIAIS — DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO ÓTIMA
DE FLOCULANTE
Primeiramente foram realizados experimentos preliminares ao tratamento da água com
as misturas de floculantes (FM + CF) a fim de determinar a concentração ótima do cloreto férrico
para a partir dela estabelecer a concentração total de floculantes na coluna a ser utilizada nas
etapas coagulação/floculação. Para isso, optou-se por uma concentração inicial de 60 mg/L a
ser testada para o cloreto férrico e a partir dela variou-se as concentrações, aumentando sempre
em 15 unidades a próxima a ser testada, até atingir a concentração de 150 mg/L. A concentração
com a maior eficiência de remoção da turbidez foi a escolhida.
Os cálculos para verificar a eficiência de remoção da turbidez para cada concentração
de cloreto férrico testada foram efetuados a partir da Equação (1):
𝐸𝑓𝑖𝑐𝑖ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑚𝑜çã𝑜 (%) = (1 − (𝑇𝑢𝑟𝑏𝑖𝑑𝑒𝑧 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙
𝑇𝑢𝑟𝑏𝑖𝑑𝑒𝑧 𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙)) . 100 Equação (1)
Inserção da água bruta na
coluna de flotação (1 L)
Coagulação (mistura rápida) 3 min, 226 rpm
Floculação (mistura lenta) 5 min, 90 rpm
Aplicação da taxa de
recirculação
Flotação
Adição de floculantes
Água saturada (10%)
Coleta da água tratada 3min
10 min
Medição dos parâmetros de
turbidez, condutividade e
pH da água tratada
Descartes apropriados
Análise dos resultados
36
Em que:
Eficiência de remoção (%) = Percentual de remoção total da turbidez das amostras testadas;
Turbidez final = Turbidez da água após do tratamento.
Turbidez inicial = Valor da turbidez da amostra bruta, antes do tratamento.
Já o volume de floculante a ser injetado na coluna foi determinado a partir da Equação
(2):
C1. 𝑉1 = 𝐶2. 𝑉2 Equação (2)
Em que:
C1 = Concentração da solução de floculante preparada (1 g/100 mL de CF ou FM);
V1 = Volume de floculante a ser injetado (mL);
C2 = Concentração da solução de floculante total na coluna (105 mg/L);
V2 = Volume de água a ser tratada na coluna (1 L).
O valor obtido após os cálculos para determinação do volume total de floculante a ser
injetado, bem como as concentrações de FM e CF e os volumes utilizados em cada experimento
de acordo com as porcentagens de mistura de floculantes estabelecidas serão exibidos na seção
dos resultados.
4.9 EXPERIMENTOS PRINCIPAIS — MISTURA DOS FLOCULANTES NATURAIS E
SINTÉTICOS
Determinada nos experimentos iniciais a concentração total de floculante que seria
colocada na coluna para a coagulação/floculação, deu-se início a realização dos experimentos
com os floculantes (FM e CF), inserindo então a fécula de mandioca como auxiliar em
concentrações diferentes para cada mistura de floculantes utilizada, no intuito de verificar seu
comportamento com o decorrer da variação de sua concentração.
Para as combinações de floculantes foram executados cinco experimentos que variavam
as concentrações de CF e FM. A cada mistura de floculantes se aumentava 25% da concentração
de fécula de mandioca, ao mesmo tempo em que se diminuía a concentração de cloreto férrico
na mesma proporção, dando início em 0% de FM e 100% de CF, até atingir a combinação de
100% de FM e 0% de CF. Como mostra a Tabela 4.2:
37
Tabela 4.2 — Experimentos realizados para cada mistura de floculantes utilizada.
Experimento
Mistura de Floculantes
Concentração (%)
Cloreto férrico Fécula de mandioca
1 100 0
2 75 25
3 50 50
4 25 75
5 0 100
Fonte: Autor (2019).
4.10 EXPERIMENTOS COMPLEMENTARES
Os experimentos complementares foram realizados com o intuito de comparar os
valores finais da turbidez e a eficiência de remoção para dois experimentos, ambos com a
mesma concentração de cloreto férrico atuando como floculante. A diferença seria que em um
deles existiria a presença da fécula de mandioca, enquanto que no outro o CF promoveria
sozinho a coagulação/floculação.
Então, selecionou-se como base para comparação um dos experimentos utilizados nos
ensaios principais. O ensaio escolhido foi o composto por 25% da concentração total de
floculante sendo de cloreto férrico e os 75% restante sendo de fécula de mandioca (Experimento
2 dos experimentos principais). Desta forma, realizou-se para comparação um ensaio contendo
somente cloreto férrico com uma concentração correspondente a 25% da concentração total de
floculante estabelecida.
As informações sobre o procedimento experimental executado para a realização dos
experimentos iniciais, principais e complementares se encontram no tópico da metodologia que
descreve as etapas de coagulação/floculação e flotação. E os resultados obtidos para estes
experimentos serão apresentados na próxima seção que aborda os resultados, assim como as
discussões a respeito deles.
A Figura 4.14 apresenta um fluxograma que resume a metodologia explanada
anteriormente.
38
Pesagem
floculantes
(1 g cada) Solubilização da FM em
100 ml de água sob
aquecimento e agitação
Solubilização do CF
em 100 ml de água
100 ºC 20 min
Esfriamento natural até
temperatura ambiente
Calor Ensaios inicias de
flotação para achar
concentração ótima
do cloreto férrico
(CCFótima)
Adição
floculante
CF 10 min
Retirada alíquotas de
40 ml em 3 e 10 min
Medição turbidez da
água tratada
Concentração ótima
do cloreto férrico
(CCFótima = 105 mg/L)
Descartes
apropriados
Ensaios principais de
flotação com mistura
de floculantes em
sistemas de
concentrações
variadas
Descartes
apropriados Floculantes
(FM e CF)
10 min
Retirada alíquotas
40 ml em 3 e 10 min
Medição dos
parâmetros de
turbidez,
condutividade e pH
da água tratada
Descartes
apropriados
Análise dos
resultados obtidos
Legenda:
Preparação dos floculantes
Ensaios iniciais
Ensaios principais
Figura 4.14 — Fluxograma da metodologia resumida.
Fonte: Autor (2019).
39
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Após o tratamento da água com as técnicas combinadas de coagulação, floculação e
flotação por ar dissolvido, realizou-se as coletas de água tratada de acordo com os tempos
estabelecidos para verificar os resultados com relação aos parâmetros: turbidez, pH e
condutividade elétrica. Como todos os experimentos foram realizados em duplicata, foi feita a
média dos valores obtidos para todos os parâmetros analisados.
5.1 EXPERIMENTOS INICIAIS — DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO ÓTIMA
DE FLOCULANTE
A Tabela 5.1 apresenta os resultados obtidos para os testes iniciais.
Tabela 5.1 — Resultados dos testes iniciais para determinação da concentração ótima de CF.
Turbidez
inicial
(NTU)
Concentração de
cloreto férrico
(mg/L)
Turbidez (NTU) Eficiência de remoção
(%)
Tempo de flotação (min)
3 10 3 10
136,00
60 137,82 93,01 -1,34 31,61
75 135,88 82,46 0,09 39,37
90 128,22 73,90 5,72 45,66
105 111,00 34,78 18,38 74,43
*120 99,50 42,80 26,84 68,53
*135 110,00 27,45 19,12 79,82
*150 108,00 28,60 20,59 78,97
*Comportamento anômalo. Ao invés de ocorrer flotação houve decantação em t = 10 min.
Fonte: Autor (2019).
Nota-se na Tabela 5.1 que todas as coletas após o tempo de flotação de 3 minutos não
tiveram uma redução significativa da turbidez, exceto, o primeiro experimento, em que o valor
foi superior ao da turbidez da água bruta, logo, nesta condição o cloreto férrico contribuiu para
o aumento da turbidez. Entretanto, as coletas após o tempo de flotação de 10 minutos
apresentaram índices de remoção mais significativos ao se comparar com a turbidez inicial.
As concentrações que estão acompanhadas por um asterisco (*) mostram as que
apresentaram comportamento anômalo, isto é, ao invés de ocorrer flotação houve decantação
após os 10 minutos. Então, descartou-se trabalhar com estas concentrações, mesmo se tendo
uma eficiência de remoção maior, já que nelas ocorre o oposto do que se deseja para este
trabalho, pois o objetivo é promover a flotação dos flocos, não a decantação deles.
40
A remoção mais significativa, sem que ocorresse o comportamento anômalo, foi com a
concentração de 105 mg/L de cloreto férrico na coluna, com 74,43% de eficiência de remoção.
A Figura 5.1 apresenta o resultado final da flotação para esta concentração feita em duplicata.
Figura 5.1 — Resultado da flotação para concentração ótima de cloreto férrico (105 mg/L).
Fonte: Autor (2019).
A Figura 5.2 mostra o resultado ao final da flotação em duplicata para uma das
concentrações que apresentaram comportamento anômalo, a de 150 mg/L de cloreto férrico, é
possível ver que ao final da flotação os flocos não se encontram na superfície da coluna.
Figura 5.2 — Comportamento anômalo para concentração de 150 mg/L de cloreto férrico.
Fonte: Autor (2019).
41
Partindo da concentração ótima de cloreto férrico como sendo 105 mg/L, definiu-se que
essa seria então a concentração total de floculantes (FM + CF) que iria ser utilizada para a
realização dos experimentos principais. A partir desta concentração e da Equação (2) exibida
na metodologia, obteve-se que o volume total de floculante a ser adicionado na coluna seria de
10,5 mL, então, para cada experimento e porcentagem de mistura estabelecida, teve-se o
volume de cada floculante a ser inserido no processo.
Os valores correspondentes as concentrações e os volumes de acordo com a
porcentagem de mistura estabelecida para cada experimento foram arredondados a fim de
facilitar a medição dos volumes das soluções de floculantes a serem utilizados durante o
processo para evitar possíveis erros de medição que podiam ser gerados se tivessem sido
mantidos os valores exatos.
A Tabela 5.2 mostra os resultados dos volumes a serem injetados de acordo com as
misturas definidas para cada experimento.
Tabela 5.2 — Volumes de floculantes injetados em cada experimento.
Experimento
Mistura de Floculantes
Cloreto férrico Fécula de mandioca
(%) mg/L mL (%) mg/L mL
1 100 105,00 10,50 0 0,00 0,00
2 75 80,00 8,00 25 25,00 2,50
3 50 50,00 5,00 50 55,00 5,50
4 25 25,00 2,50 75 80,00 8,00
5 0 0,00 0,00 100 105,00 10,50 Fonte: Autor (2019).
5.2 EXPERIMENTOS PRINCIPAIS — MISTURA DOS FLOCULANTES NATURAIS E
SINTÉTICOS
5.2.1 Turbidez
A Tabela 5.3 apresenta os valores resultantes para a turbidez após o tratamento, em
relação ao valor inicial que se tinha para este parâmetro (92,90 NTU), com relação a
concentração de fécula de mandioca para cada experimento e para cada tempo de coleta
realizado, além das remoções obtidas. O valor da turbidez da água antes do tratamento
42
Tabela 5.3 — Valores da turbidez em função da concentração de fécula de mandioca em cada
tempo de coleta.
Experimento
Concentração de
fécula
Turbidez (NTU) Eficiência de remoção (%)
Tempo de flotação (min)
(%) mg/L 3 10 3 10
1 0 0,00 50,35 28,75 45,80 69,05
2 25 25,00 43,50 32,75 53,18 64,75
3 50 55,00 54,70 39,45 41,12 57,53
4 75 80,00 64,50 47,85 30,57 48,49
5 100 105,00 99,77 96,44 -7,40 -3,81
Fonte: Autor (2019).
A partir da análise da Tabela 5.3, verifica-se que ao final da flotação, depois de decorrido
os dez minutos, o experimento contendo 0% da concentração total de floculante sendo de fécula
de mandioca (Experimento 1), ou seja, possuindo 100% de cloreto férrico, apresentou o menor
valor de turbidez alcançado (28,75 NTU), não sendo suficiente para atender ao padrão de
potabilidade estabelecido pela Portaria de Consolidação nº 5 de 2017 do Ministério da Saúde,
em que o valor máximo permitido é 0,5 uT para água filtrada por filtração rápida (tratamento
completo ou filtração direta) e de 1,0 uT para água filtrada por filtração lenta, estabelecidos no
Anexo 2 e conforme as metas progressivas definidas no Anexo 3, ambos pertencentes ao Anexo
XX. Logo, seria necessário a realização de mais operações preliminares a desinfecção, visando
a adequação deste parâmetro a condição exigida pela legislação.
O experimento contendo somente FM como floculante (Experimento 5), sem a presença
de CF, resultou no maior valor de turbidez obtido (96,44 NTU), superando o valor medido
inicialmente na água bruta (92,90 NTU), evidenciando a inviabilidade da aplicação do
floculante de fécula de mandioca para o tratamento da água utilizada e para as condições
empregadas.
Além dos valores de turbidez ao final de cada tempo de coleta, a tabela também mostra
as remoções totais de turbidez para cada experimento analisado de acordo com a concentração
de fécula de mandioca. Para o ensaio em que não se tinha a participação da fécula de mandioca
como floculante (Experimento 1), obteve-se a maior remoção (69,05%). Já para o seguinte,
contendo 75% de fécula de mandioca e 25% de cloreto férrico (Experimento 2), a remoção
obtida já foi menor (48,49%), enquanto que para o que toda concentração de floculante era
somente de FM (Experimento 5), ao invés da redução da turbidez, obteve-se ao final um
aumento de 3,81% em relação ao valor que se tinha para a água antes do tratamento.
43
As figuras 5.3 e 5.4 mostram os gráficos em que se encontram os valores finais de
turbidez de acordo com a concentração de FM utilizada em cada experimento durante o
processo para cada tempo de flotação, 3 e 10 minutos, respectivamente. De modo geral, pode-
se observar que a medida que se aumenta a concentração de fécula de mandioca, maiores são
os valores finais para a turbidez da água tratada.
Figura 5.3 — Gráfico da turbidez final versus concentração de fécula de mandioca (t = 3
min).
Fonte: Autor (2019).
Figura 5.4 — Gráfico da turbidez final versus concentração de fécula de mandioca (t = 10
min).
Fonte: Autor (2019).
0,00
20,00
40,00
60,00
80,00
100,00
120,00
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Turb
idez
(N
TU
)
Concentração de fécula (%)
0,00
20,00
40,00
60,00
80,00
100,00
120,00
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Turb
idez
(N
TU
)
Concentração de fécula (%)
44
O gráfico da Figura 5.5 apresenta as remoções resultantes em função da concentração
de fécula de mandioca para cada experimento ao final da flotação.
Figura 5.5 — Gráfico da remoção de turbidez versus concentração de fécula de mandioca (t =
10 min).
Fonte: Autor (2019).
Analisando a Figura 5.5 percebe-se que quanto mais se aumenta a concentração de
fécula de mandioca e diminui a de cloreto férrico, menor é o valor atingido para a eficiência de
remoção total da turbidez para cada experimento ao final do processo, evidenciando que não se
teve sucesso na utilização da fécula nem como floculante auxiliar na etapa de
coagulação/floculação, nem como único floculante em atuação, visto que a maior remoção
conseguida foi para o experimento em que não se tinha a participação dela. Sua presença resulta
no contrário do que é esperado, ao invés de atuar aumentando a remoção da turbidez, provoca
a diminuição do valor à medida que se eleva sua concentração.
No processo de coagulação/floculação foi possível observar a formação dos flocos
brancos da fécula de mandioca em uma quantidade significativa, porém, o tamanho deles era
muito pequeno, diferente dos flocos gerados a partir do cloreto férrico, que possuíam uma cor
alaranjada e conseguiam mais destaque quando observados a olho nu por serem maiores. Ao
final da flotação, não era perceptível a presença dos flocos brancos na camada formada na
superfície, mas ainda dava para enxergá-los, desta vez em menor quantidade, dispersos pela
coluna de tratamento.
A Figura 5.6 mostra as colunas contendo a água tratada para o experimento realizado
em duplicata com concentração de 50% cloreto férrico e 50% fécula de mandioca (Experimento
3), a fim de demonstrar a formação da camada de flocos ao final da flotação.
45
Figura 5.6 — Resultado final da flotação para o experimento com a mistura de 50% cloreto
férrico 50% fécula de mandioca.
Fonte: Autor (2019).
A quantidade de lodo formada na superfície ao final do tratamento era reduzida a medida
que se aumentava a concentração de fécula de mandioca e se diminuía a de cloreto férrico,
resultando em valores menores de remoção para os experimentos em que a fécula se encontrava
em maior concentração, indicando que a formação da camada de flocos no alto da coluna se
dava em grande parte pela ação do CF como floculante.
A Figura 5.7 apresenta o resultado final após a flotação realizada em duplicata para o
ensaio contendo somente fécula de mandioca.
Figura 5.7 — Resultado final da flotação para o experimento com 100% fécula de mandioca.
Fonte: Autor (2019).
46
A partir desta imagem pode-se constatar a ausência da camada de lodo na superfície ao
final da flotação para o experimento em que toda a concentração de floculante era de fécula de
mandioca, evidenciando que não houve êxito na utilização da flotação para promover o
deslocamento dos flocos formados pela fécula para a superfície da coluna.
Possivelmente alguns fatores influenciaram para que a aplicação da fécula de mandioca
como auxiliar de coagulação/floculação do cloreto férrico não fosse capaz de trazer benefícios
a eficiência de remoção da turbidez para as condições estabelecidas, a combinação de
floculantes empregada e para a água bruta escolhida. Um deles pode ser o fato da fécula
utilizada se tratar de um produto de origem comercial, sem destinação específica para o uso em
operações de tratamento de água, e sim para ramo alimentício, podendo existir impurezas em
sua composição que afetaram o processo, bem como conservantes.
A escolha da água bruta também pode estar associada aos resultados obtidos, talvez a
fécula de mandioca não seja capaz de render resultados favoráveis para água proveniente de
qualquer origem, podendo atuar melhor quando inserida no tratamento de águas de origem
especifica.
Outra possiblidade é que o processo de flotação não seja a escolha mais recomendada
para o tratamento de água em que se faz uso da fécula de mandioca como floculante auxiliar, é
possível que os flocos formados pela fécula possuam densidade elevada, não sendo capazes de
serem carregados para superfície através da flotação para a formação da camada de lodo, tendo
mais facilidade para decantar.
Há diversos fatores que podem ser investigados, pois sabe-se pela literatura que alguns
parâmetros influenciam na eficiência do processo, como o pH da coagulação, a alcalinidade da
água a ser tratada, as condições estabelecidas, servindo como base para estimular estudos
futuros, contribuindo para determinar possíveis causas associadas ao desempenho insatisfatório
da fécula de mandioca quando empregada como auxiliar de coagulação/floculação neste tipo
de tratamento, possibilitando a otimização do processo através da realização de análises mais
aprofundadas que não foram feitas neste trabalho, visto que o aprofundamento acerca das razões
para tais resultados não faz parte do objetivo deste estudo.
5.2.2 pH
A Tabela 5.4 apresenta os valores obtidos para o pH com base em cada experimento
executado, de acordo com cada concentração de fécula utilizada.
47
Tabela 5.4 — Valores finais de pH para cada concentração de fécula de mandioca.
Experimento Concentração de fécula pH final (t=10 min)
(%) mg/L pH0 =7,11
1 0 0,00 6,26
2 25 25,00 6,23
3 50 55,00 6,35
4 75 80,00 6,65
5 100 105,00 7,38
Fonte: Autor (2019).
A Figura 5.8 exibe o gráfico feito a partir dos valores resultantes de pH para cada
experimento.
Figura 5.8 — Gráfico do pH versus concentração de fécula de mandioca (pH0 = 7,11).
Fonte: Autor (2019).
Pela análise da Tabela 5.4 e do gráfico da Figura 5.8, é possível observar que a medida
que se tem uma maior concentração de fécula de mandioca, consequentemente, uma menor
concentração de cloreto férrico, maior o valor do pH, sendo que para todos os experimentos em
que havia a presença do floculante CF, o pH se manteve ácido, com os valores estando sempre
entre 6 e 7, dentro da faixa permitida no sistema de distribuição (6,0 a 9,5) para água potável,
conforme a Portaria de Consolidação nº 5 de 2017 do Ministério da Saúde (BRASIL, 2017).
A queda do pH inicial da água bruta em relação aos valores medidos posteriormente ao
tratamento para cada combinação de concentrações de floculantes dos experimentos utilizados
se deve principalmente ao fato do cloreto férrico possuir caráter ácido ao ser adicionado na
água, logo, pode reagir coma alcalinidade do meio, consumindo-a, promovendo a diminuição
7,11
6,26 6,236,35
6,65
7,38
5,50
6,00
6,50
7,00
7,50
pH
Concentração de fécula (%)pH inicial pH para 0 fécula (100% cloreto)
pH para 25% fécula (75% cloreto) pH para 50% fécula (50% cloreto)
pH para 75% fécula (25% cloreto) pH para 100% fécula (0% cloreto)
48
do pH. Além disso, a possível presença de impurezas e conservantes da fécula de mandioca
utilizada podem ter interferido no valor do pH final dos experimentos.
Para o ensaio contendo a totalidade da concentração de floculante sendo somente de
fécula de mandioca (Experimento 5), obteve-se o maior pH (7,38), sendo maior que o pH inicial
da água bruta, e o único que após o tratamento foi alcalino, mostrando que a fécula de mandioca,
que não possui caráter ácido, contribuiu para esta elevação, conferindo alcalinidade a água
tratada.
5.2.3 Condutividade elétrica
A Tabela 5.5 apresenta os resultados obtidos com relação a condutividade final de
acordo com a concentração de fécula de mandioca empregada para cada experimento
executado.
Tabela 5.5 — Valores da condutividade final para cada concentração de fécula de mandioca.
Experimento
Concentração de fécula
de mandioca Condutividade final (t=10 min)
(%) mg/L (Condutividade0 = 358,00
µS/cm)
1 0 0,00 335,00
2 25 25,00 349,50
3 50 55,00 337,00
4 75 80,00 326,50
5 100 105,00 331,00 Fonte: Autor (2019).
A Figura 5.9 mostra o gráfico feito para mostrar a variação da condutividade de
acordo com a variação da concentração de FM em cada experimento.
49
Figura 5.9 — Gráfico da variação da condutividade versus concentração de fécula de
mandioca.
Fonte: Autor (2019).
Pela literatura, sabe-se que a presença de compostos orgânicos e inorgânicos tende a
interferir na condutividade da água de acordo com suas concentrações. Sendo assim, a presença
do cloreto férrico pode afetar a condutividade, devido aos sais provenientes dele que se
encontram dissolvido na água. Já no caso dos floculantes orgânicos, o comportamento esperado
é que ocorra a diminuição da condutividade, já que estes compostos não são capazes de conduzir
eletricidade.
Observando os resultados apresentados na Tabela 5.5 e no gráfico da Figura 5.9, nota-
se que, quando se tem somente o cloreto férrico como floculante (Experimento 1), a
condutividade resultante após o tratamento é de 335,00 µS/cm. Ao adicionar fécula de
mandioca, correspondendo a 25% da concentração total de floculante (Experimento 2), ou seja,
com o CF sendo responsável agora por 75% da concentração total, a condutividade aumenta
para 349,00 µS/cm. Ao aumentar mais a concentração de fécula de mandioca (50% -
Experimento 3), o valor da condutividade não segue a tendência de aumentar com a presença
da FM, como foi o caso do ensaio em que se adiciona 25% de fécula a concentração de
floculantes, pelo contrário, o valor é menor (337,00 µS/c), mesmo com a fécula de mandioca
em maior concentração. Para o experimento contendo só FM como floculante (Experimento 5),
o valor também é inferior aos dos experimentos citados. Um fato em comum para todos os
ensaios é que todos os valores resultantes após o tratamento foram inferiores ao valor da
condutividade inicial da água bruta.
Logo, percebe-se que a variação na condutividade não seguiu uma tendência previsível
(crescente ou decrescente) com o aumento da concentração de fécula de mandioca. A
325,00
330,00
335,00
340,00
345,00
350,00
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Conduti
vid
ade
final
(µ
S/c
m)
Concentração de fécula (%)
50
condutividade segue variando, aumentando ou diminuindo de acordo com cada experimento,
mas sem uma relação proporcional a concentração dos floculantes, tornando-se uma variável
difícil de se prever o comportamento através da adição de fécula ao processo. É possível a
existência de impurezas e conservantes na fécula de mandioca e a influência deles nos
resultados obtidos.
5.5 EXPERIMENTOS COMPLEMENTARES
A Tabela 5.6 apresenta os resultados que foram obtidos após a realização dos ensaios
complementares.
Tabela 5.6 — Resultados para os experimentos complementares.
Fonte: Autor (2019).
Por meio da análise da Tabela 5.6, observa-se que no experimento em que a fécula de
mandioca estava presente (Experimento 2), a remoção final da turbidez foi menor quando
comparada ao experimento 1, em que não havia a presença da fécula.
Mesmo a diferença das remoções não sendo extremamente grande, pode-se considerar
que além de não contribuir como auxiliar de coagulação/floculação, é possível que a fécula de
mandioca também atrapalhe o desempenho do processo com o cloreto férrico, não apresentando
sinergia ao ser combinada com ele para a água utilizada e para as condições estabelecidas para
a realização do tratamento, evidenciando a inviabilidade do seu uso neste caso.
Turbidez
inicial
(NTU)
Experimento
Concentração
de fécula de
mandioca
Concentraçã
o de cloreto
férrico
Turbidez (NTU) Eficiência
total de
remoção
(%)
Tempo de
coleta (min)
(%) mg/L (%) mg/L 3 10
92,90 1 0 0 100 25,00 63,74 41,42 55,41
2 75 80,00 25 25,00 64,50 47,85 48,49
51
6 CONCLUSÃO
Através dos resultados obtidos com a série de experimentos realizados e a sua posterior
análise explanada neste trabalho, conclui-se a realização deste estudo proporcionou o alcance
dos objetivos inicialmente propostos, sendo possível colocar em prática tudo aquilo que fora
planejado de antemão: a avaliação do desempenho da fécula de mandioca como floculante
coadjuvante no processo de tratamento de água, em que o cloreto férrico atuava como floculante
principal, tornando possível verificar de que forma os parâmetros turbidez, pH e condutividade
elétrica, que compõem a caracterização da água escolhida para ser tratada, eram afetados, quais
as diferenças existentes entre os valores iniciais e os resultados obtidos ao final do processo,
além de conferir de que forma a combinação de variadas concentrações dos floculantes (fécula
de mandioca e cloreto férrico) influenciava para a remoção da turbidez desta água, assim como
apresentar o resultado da performance individual de cada um deles nos processos de
coagulação/floculação e flotação por ar dissolvido.
Todas as análises efetuadas com a ajuda dos equipamentos específicos para a realização
de cada uma delas, o recolhimento de todos os dados obtidos e todos os estudos que foram
feitos serviram como embasamento para a conclusão deste trabalho, tornando possível a
avaliação dos parâmetros analisados, turbidez, pH e condutividade elétrica.
Com relação ao parâmetro turbidez, o menor valor obtido foi de 28,75 NTU, para o
experimento em que a fécula de mandioca não participava da coagulação/floculação. Os demais
experimentos apresentaram valores maiores de turbidez a medida que a concentração de fécula
aumentava, sendo 96,44 NTU (superior ao valor da água bruta) para o ensaio em que toda a
concentração de floculante era de fécula. Desta forma, é possível concluir que este floculante
não contribuiu quando empregado como auxiliar no tratamento da água, assim como também
não apresentou um bom desempenho atuando como único floculante do processo, uma vez que,
neste caso, ocasionou o aumento da turbidez após o tratamento, apresentando um valor superior
ao medido para água bruta, provocando um aumento de 3,81% da turbidez em relação ao valor
inicial.
Os resultados obtidos podem estar associados a alguns fatores como: o fato de a fécula
utilizada ser comercial, podendo conter impurezas que interferiram no processo, a água bruta,
a combinação de floculantes utilizada e as condições estabelecidas, não sendo talvez o cenário
mais adequado para o desempenho de fécula. Além da escolha do processo de flotação não ser
o caminho mais favorável neste caso para o tratamento.
52
Os resultados mais favoráveis para a diminuição da turbidez foram adquiridos através
dos experimentos contendo uma menor concentração de fécula de mandioca e,
consequentemente, uma maior concentração de cloreto férrico, sendo 69,09% a eficiência
máxima de remoção alcançada, através do experimento com concentração de floculante sendo
em sua totalidade de cloreto férrico. Ao passo que se reduzia concentração de CF, dando espaço
para uma maior concentração de FM, o rendimento do processo era comprometido, resultando
em eficiências de remoções menores para a turbidez.
Para o pH, a conclusão que pode ser tirada é que ao aumentar a porcentagem da
concentração de fécula de mandioca com relação a concentração total de floculantes, os valores
resultantes para o pH eram maiores ao final do tratamento, mas sempre se mantiveram numa
faixa entre 6 e 7 para todos os ensaios contendo cloreto férrico, responsável pelo consumo da
alcalinidade da água. No caso do experimento formado apenas pela fécula de mandioca como
floculante, o pH final (7,38) foi alcalino e superior ao valor inicial obtido para a água bruta.
Com relação a condutividade elétrica, para esta não se conseguiu uma conclusão exata
de como a presença da fécula de mandioca influencia neste parâmetro, pois os resultados
apresentaram valores oscilantes, sem uma tendência previsível e proporcional, seguiram
aumentando e diminuindo ao passo em que se aumentava a concentração de fécula de mandioca
no processo. Todavia, todos os valores finais foram inferiores ao valor da condutividade inicial
medido para a água bruta e, no caso do experimento contendo somente fécula de mandioca o
valor da condutividade foi 331,00 µS/cm.
Mesmo para o experimento com a maior eficiência de remoção total obtida (69,09%),
não houve uma redução extremamente grande da turbidez, a ponto de atingir o valor
estabelecido para este parâmetro pela legislação para a potabilidade, o que sugere a
possibilidade de mudanças e correções com relação as condições estabelecidas para o processo,
bem como a aplicação de outras operações antes da realização da desinfecção, a possibilidade
de uma outra etapa alternativa a flotação, a realização de mais análises, que não foram possíveis
serem executadas neste trabalho, tais como a alcalinidade e a análise dos sólidos presentes na
água escolhida, promovendo um estudo mais aprofundado, a fim de encontrar condições mais
adequadas para a otimização do processo, sendo capaz de apresentar um maior desempenho
para o tratamento da água, havendo a oportunidade de alcançar eficiências de remoção de
turbidez ainda maiores.
53
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AISSE, M. M. et al. Pós-tratamento de efluentes de reatores anaeróbios por sistemas de
flotação. 2014. Disponível em: <
https://www.researchgate.net/profile/Marco_Reali/publication/239544396_6_POS-
TRATAMENTO_DE_EFLUENTES_DE_REATORES_ANAEROBIOS_POR_SISTEMAS_DE_
FLOTACAO/links/542eec2d0cf29bbc127159f8/6-POS-TRATAMENTO-DE-EFLUENTES-
DE-REATORES-ANAEROBIOS-POR-SISTEMAS-DE-FLOTACAO.pdf>. Acesso em: 08 de
junho de 2019.
ANA, 2011. Guia nacional de coleta e preservação de amostras. água, sedimento,
comunidades aquáticas e efluentes líquidos. Companhia Ambiental do Estado de São Paulo.
Organizadores: Carlos Jesus Brandão et al. – São Paulo: CETESB; Brasília: Agência Nacional
de Águas – ANA. Brasília/DF, 2011.
ARNESEN, A. S. et al. Aplicação de coagulante orgânico natural para o polimento de
efluente secundário de ete de produção de água de reuso industrial. Congresso Abes.
Fenasan. São Paulo, 2017.
BERNARDO, A. S. D.; BERNARDO, L. D. Uso de amido de mandioca catiônico como
auxiliar de floculação. XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e
Ambiental, São Paulo, 2000.
BDT@, 2001. Biblioteca didática de tecnologias Ambientais. Modulo Saneamento Ambiental.
O tratamento de água. Disponível em: <http://www.fec.unicamp.br/~bdta/f-aeracao.htm>
Acesso em: 23 de maio de 2019.
BRASIL, 2006. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Vigilância e controle
da água para consumo humano. Brasília: Ministério da Sáude, 2006. 212 p. (Série B. Textos
Básicos da Saúde).
54
BRASIL, 2017. Anexo XX da Portaria de Consolidação Nº 5 do Ministério da Saúde de 03 de
outubro de 2017. Do Controle e da Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano e
seu Padrão de Potabilidade (Origem: PRT MS/GM 2914/2011).
CONAB, 2018. Análise Mensal. Mandioca. Fevereiro de 2018. Disponível em:
<https://www.conab.gov.br/info-agro/analises-do-mercado-agropecuario-e-
extrativista/analises-do-mercado/historico-mensal-de-
mandioca/item/download/15104_87ab84e372faa534fa097d39adcb71c5>. Acesso em: 29 de
maio de 2019.
EMBRAPA, 2018. Mandioca em Números. Congresso de Mandioca 2018. Disponível em:
<https://www.embrapa.br/congresso-de-mandioca-2018/mandioca-em-numeros>. Acesso em:
21 de maio de 2019.
FARIAS, F. A.; FERREIRA, R. L. Avaliação da eficiência de diferentes agentes coagulantes
na remoção de cor e turbidez em efluente de fábrica de celulose não branqueada. Paraná,
2014.
GAUTO, M. A.; ROSA, G. R. Processos e operações unitárias da indústria química. Rio de
Janeiro: Editora Ciência Moderna Ltda., 2011.
IBGE, 2019. Rio Grande do Norte. Santa Maria. Disponível em:
<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rn/santa-maria/panorama>. Acesso em: 23 de maio de
2019.
JACKSON, J. V. et al. Desenvolvimento de metodologias com floculantes derivados da
fécula de mandioca para o tratamento de efluentes líquidos. Sociedade Brasileira de
Química (SBQ). São Paulo, 2006.
LÉDO, P. G. D. S. Flotação por ar dissolvido na clarificação de águas com baixa turbidez
utilizando sulfato de alumínio e sementes de moringa oleífera como coagulantes. Tese
(Doutorado em Pesquisa e Desenvolvimento de Tecnologias Regionais). Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, Natal, 2008.
55
MAGALHÃES, E. R. B. Avaliação de floculante natural à base de Moringa oleífera no
tratamento de água produzida na indústria do petróleo: aplicação da técnica combinada
floculação/flotação. 2014. 96f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Química) - Centro de
Tecnologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2014.
MAGALHÃES, E. R. B. Estratégias de tratamentos e aplicações para a água produzida
utilizando um efluente sintético. 2018. 129f. Tese (Doutorado em Engenharia Química) -
Centro de Tecnologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2018.
MIDIA MAX, 2016. Economia. Governo Autoriza Leilão de 768,1 Toneladas de Fécula de
Mandioca Estocadas em MS. Disponível em:
<https://www.midiamax.com.br/cotidiano/economia/2016/governo-autoriza-leilao-de-7681-
toneladas-de-fecula-de-mandioca-estocadas-em-ms/> Acesso em 27 d e maio de 2019.
PAULO, J. B. A et al. Tratamento de águas residuais da indústria do petróleo utilizando
floculante não-convencional e flotação por ar dissolvido. XXV Encontro Nacional de
Tratamento de Minérios e Metalurgia Extrativa & VIII Meeting of the Southern Hemisphere
on Mineral Technology, Goiânia /GO 2013.
PAVANELLI, G. Eficiência de Diferentes Tipos de Coagulantes na Coagulação,
Floculação e Sedimentação de Água com Cor ou Turbidez Elevada. 2001. 233f. Dissertação
(Mestrado) - Escola de Engenharia de São Carlos. Universidade de São Paulo, 2001.
RICHTER, C. A. Água: Métodos e Tecnologia de Tratamento. São Paulo: Blucher, 2009.
SANTOS, J. D. D. Tratamento de efluente de fecularia utilizando coagulação/floculação e
separação por membranas. 2016. 120 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Química) -
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Toledo, 2016.
SANTOS, G. O.; XAVIER, C. A. D. J.; TOMÉ, L. D. S. Polímero Natural de Fécula de
Mandioca como Auxiliar de Floculação de Tratamento de Água para Abastecimento
Público. Lins/SP, 2012. 45f. Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico
Salesiano Auxilium – UNISALESIANO, Lins-SP, 2012.
56
SEAB, 2017. Prognóstico Mandioca 2017/18. SEAB – Secretaria de Estado da Agricultura e
do Abastecimento. Disponível em:
<http://www.agricultura.pr.gov.br/arquivos/File/deral/Prognosticos/2018/Mandioca_2017_1
8.pdf>. Acesso em 29 de maio de 2019.
SOUZA, L. C. A. D. Influência da Aplicação de Polímero Natural de Fécula de Mandioca
como Auxiliar de Floculação na Estação de Tratamento de Água nº 2 de Valinhos. São
Paulo, 2004.
VESILIND, P. A.; MORGAN, S. M. Introdução à Engenharia Ambiental. São Paulo:
Cengage Learning, 2014.
VIEIRA, J. C. et al. Influência da Adição de Fécula de Mandioca nas Características do
Pão Tipo Chá. Curitiba, 2010. Disponível
em:<https://www.researchgate.net/profile/Flavio_Montenegro/publication/229015096_INFL
UENCIA_DA_ADICAO_DE_FECULA_DE_MANDIOCA_NAS_CARACTERISTICAS_DO_P
AO_TIPO_CHA/links/552675e60cf2628d5afdfa3d.pdf>. Acesso em 26 de maio de 2019.
ZQ. Weifang Zhongqing Fine Chemical Co., Ltd. 2019. Disponível em: <https://pt.made-in-
china.com/co_zqchemical/image_SGS-Ferric-Chloride-for-Industry-Water-
Treatment_euhoroghy_njHaSumhkbzy.html>. Acesso em 21 de maio de 2019.