Laura Lyas_A SERPENTE ENTRE AS FLORES[1º cap]

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  • 8/14/2019 Laura Lyas_A SERPENTE ENTRE AS FLORES[1 cap]

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    A SERPENTE ENTRE AS FLORES

    Quando os mortos clamam vingana, apenas o amor oferece

    proteo.

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    Laura Lyas

    QUARTA CAPA

    Julia parecia a mais feliz das criaturas. Casada com um

    milionrio que a amava loucamente, morava em uma manso

    deslumbrante, tinha tudo que qualquer pessoa pode sonhar. A

    vida, entretanto, parecia no querer lhe dar trguas. Primeiro foi

    o falecimento do marido, depois as dificuldades em comandar as

    empresas e quando tudo parecia tranqilo, o aparecimento de um

    filho bastardo de seu falecido esposo.Este homem misterioso a faria retornar a um tempo de sua vidaque gostaria de apagar, trazendo de volta no apenas suas

    recordaes, mas os mortos que deixara pelo caminho. Para

    piorar a situao, um tringulo amoroso se instala quando suamelhor amiga apaixona-se pelo mesmo homem que ela.

    Com uma trama profunda e misteriosa, onde a cada capitulo os

    personagens se modificam, A SERPENTE ENTRE AS FLORES um romance envolvente que voc no vai conseguir largar at

    chegar ultima pgina.

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    Dedico este livro aos muitos colegas e amigos que infelizmente

    no esto mais aqui, na certeza de que para sempre sero

    lembrados e amados.

    PRLOGO

    em em seus sonhos mais delirantes Julia podia imaginar um casamentocomo aquele. Tudo estava to perfeito! Gerald gastara uma pequenafortuna nos preparativos apenas para que ela se sentisse como uma

    verdadeira rainha. Ele era um sonho de homem.

    -Voc est linda! elogiou Marion, admirando a amiga.-Vou lhe mostrar uma coisa disse Julia Isto foi meu presente de casamento.- Meu Deus! carssimo! exclamou a outra, quando viu o tamanho das gemasfaiscantes do colar. Estou to feliz por voc!- Eu sei que est, querida. Vai adorar Gerald, ele o mais doce dos homens!Marion admirou a moa em seu longo e caro vestido branco, a tiara dediamantes, o buqu delicado. Ningum neste mundo merecia tanto a felicidadecomo Julia. Havia lutado tanto, sofrido tanto!- Voc realmente teve sorte, no ?- No sei se a sorte teve alguma coisa a ver com isso, Marion. Acho que sorte uma coisa que ns fazemos acontecer.

    Marion no entendeu muito bem, mas aquela no era hora para conversasprofundas. O que quer que a frase quisesse dizer, com certeza no era nadaimportante.Deixou a amiga sozinha para seu ltimo minuto de reflexo antes da cerimnia,imaginando quem poderia ter adivinhado um destino como aquele. A vida eramesmo imprevisvel.- Felicidade, aqui vou eu! disse Julia, quando se viu a ss.L fora o vento agitava o extenso jardim florido, trazendo at ela um aromafresco e suave.Ningum mais pode me atrapalhar agora pensou confiante.O tempo, entretanto, mostraria que no seria bem assim.

    N

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    CAPITULO I

    ulia... Olhe para mim... - disse de repente uma voz vinda do nada.Assustada, a moa arregalou os olhos e sentiu o corao disparar. Ohomem sentado a sua frente a encarava, esperando que lhe

    respondesse. Mas ela no ouvira a pergunta.- Sra. Crawford? chamou.Julia olhou-o, assustada.- Ouviu isso? perguntou.- Ouvir o qu?- A voz. Chamando por mim, no ouviu?

    Sem saber direito o que responder, Brian Carlson sorriu e suspirou:- Talvez seja melhor deixarmos este assunto para amanh. Seus dias no tmsido fceis, no ? Muita presso nas empresas e agora este processo! Talvez sejamelhor descansar agora e continuamos pela manh, o que acha?Brian Carlson referia-se ao processo de reconhecimento de paternidade queLucas Mallone movia contra Julia. Scott era filho ilegtimo de Gerald, mas jamais se aproximara do pai. Agora que os negcios prosperavam, resolveraquerer seu quinho.A mulher sacudiu ligeiramente a cabea, como para colocar as idias no lugar.- No disse continue, por favor. Devo ter me confundido.- Tem certeza? perguntou Brian admirando a incrvel beleza de sua cliente.

    Julia Crawford, nascida Julia Spade, estava com 32 anos. Tinha estatura mdia,longos cabelos castanhos escuros, olhos verdes e um corpo de fazer inveja amuita menina de 18. A boca era cheia e sensual, a maneira de olhar incrivelmentesexy e a voz um pouco rouca, apenas o suficiente para fazer derreter qualquercorao de pedra.Mas a mulher era muito mais que bonita: era rica e poderosa. Muito poderosa.Quando h dois anos o marido Gerald passou dessa para melhor, Julia herdouno apenas casas e dinheiro. Herdou uma corporao farmacutica inteira e maisum bom nmero de outras empresas em ramos diversos espalhadas pelos quatrocantos do mundo. Em um primeiro momento, os associados de Gerald temerampelo futuro do patrimnio. A moa era enfermeira e no possua experincia

    alguma em gesto de empresas, mas Julia mostrou em muito pouco tempo quepodia dar conta do recado. Inteligente, esperta e rpida de raciocnio, tomou asrdeas das empresas e a elas se agarrou, acabando por tornar-se melhoradministradora que o falecido.Dona de um afiado tino comercial, pouca ou nenhuma misericrdia com osconcorrentes ou com quem a desobedecia, passou de esposa de milionrio mulher de negcios em meses e em tempo recorde uma aura se formou sobre seunome. Julia Crawford tornou-se sinnimo de administrao bem sucedida. Foi

    - J

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    capa de vrias revistas e sua foto e palavras estavam, invariavelmente, tanto nascolunas sociais quanto nas de economia e negcios.Julia, ao herdar as empresas do marido, tornara-se um sucesso to espetacularque matara, atravs de sua competncia, qualquer suspeita que se pudesse tersobre ela.Tudo comeara h oito anos, quando outra mulher usava o ttulo de senhoraCrawford: Rachel.Rachel e Gerald foram casados por 20 anos. Ela era uma mulher dinmica,simptica e apaixonada por esportes. Adorava nadar, esquiar, cavalgar e tudomais que a mantivesse em ao. Porm mais do que isso, amava profundamenteao marido, apesar da grande diferena de idade entre eles. Rachel era dez anosmais nova que o companheiro.Gerald tinha em Rachel a parceira ideal. Era bonita, excelente anfitri, sabiamuito bem discernir quem era quem no mundo dos altos negcios e nunca, jamais, o deixou embaraado pelo quer que fosse. Resolvia todos os problemasdomsticos com maestria e quando Gerald chegava em casa aps um longo diade trabalho, ou uma estafante viagem de negcios, l estava ela sorrindo, prontapara abra-lo e faz-lo feliz. Talvez a nica coisa que toldasse a dourada aura defelicidade que os envolvia era o fato de Rachel ser estril. No havia qualquertipo de opo para eles que no fosse a adoo e nenhum dos dois erasimpatizante da idia de criar uma criana que no fosse sua, portanto, com opassar dos anos, aceitaram o fato e seguiram em frente. O assunto jamais eralembrado e o casal tratava de se divertir e aproveitar a companhia um do outro omximo que era possvel.Tudo isso, no entanto, mudou quando, em 1995, Rachel sofreu uma quedadurante uma competio de esqui. Alm das fraturas, os mdicos encontraramum problema em seus pulmes e a mulher, antes ativa e cheia de energia, tornou-

    se com o passar do tempo uma pessoa aptica entristecendo dia-a-dia. Apslongos meses no hospital voltou para casa, mas ainda requeria cuidadosconstantes. Gerald, procurando lhe dar o melhor, contratou uma equipe deenfermagem para assisti-la.Entre os membros da equipe estava uma jovem enfermeira a quem Rachel seafeioou enormemente: Julia Spade.Naquela poca a moa no lembrava em nada a poderosa mulher de negcios deagora. Embora sua beleza fosse evidente, havia nela uma doura e simplicidadeque hoje no eram mais visveis.Logo Rachel decidiu contrat-la em tempo integral e Julia juntou-se famlia,ocupando um espaoso aposento na manso Crawford, ao lado do quarto dos

    patres.Conforme os meses se tornavam anos, a sade de Rachel minguava e seu estadode nimo piorava a cada dia. Os mdicos creditavam isso depresso e asprescries se tornaram mais severas, com medicamentos fortssimos que adeixavam confusa e em nada a ajudavam.Finalmente, cinco anos aps o acidente, Rachel Crawford faleceu, vtima,segundo o atestado de bito de problemas respiratrios.

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    Gerald ficou arrasado. Mesmo Rachel estando doente, era ela sua grande parceirana vida, sua confidente, sua amiga. A pessoa que ouvia pacientemente seusproblemas e lhe sugeria solues simples e eficientes. Seus concorrentes nuncasouberam claro, mas muitas das jogadas de Gerald vieram das sugestes deRachel.Julia preparou-se para mudar-se dali, uma vez que nada havia que a prendessequela casa. Gerald, entretanto, lhe pediu que ficasse mais um tempo, at pelomenos conseguir superar a perda da esposa.Exatamente o que aconteceu ou como aconteceu, ningum saberia dizer, mas ofato que pouco mais de um ano aps a morte de Rachel, Gerald e Julia secasaram. boca mida as pessoas comentavam horrores acerca da unio. Que a moa deraum golpe, que Gerald estava ficando senil, que a dor pela morte de Rachel oafetara. Toneladas de comentrios maldosos brotaram instantaneamente e sfizeram crescer a curiosidade sobre o casal.Julia era trinta anos mais nova que o marido e muitos milhes de dlares maispobre que ele. Tinha a seu favor beleza e simpatia e contra ela toda uma legio depessoas que a olhava com desconfiana.Usando sua infalvel inteligncia e capacidade de planejamento, a moa passou avestir-se melhor, a freqentar caros cabeleireiros e joalheiros e quando se sentiupronta, passou a receber convidados em sua maravilhosa manso. A desconfianainicial cedeu lugar bajulao e ao interesse e ser convidado para um de seusjantares passou a contar pontos para o status social. As fofocas foram esquecidase Julia passou de golpista e encantadora em questo de meses.Gerald parecia encantado com tudo que a jovem esposa fazia e se lembrava-secom saudades de Rachel, no deixava transparecer a ningum. Bem ao contrrio,no se cansava de ressaltar as qualidades e a graciosidade da nova Sra. Crawford,

    dizendo a quem quisesse ouvir que nunca havia sido to feliz na vida.Tudo era felicidade na vida deles, at que em meados de 2002, Gerald comeou asentir-se mal.Primeiro veio o cansao, depois uma ligeira dificuldade para respirar. Por pressode Julia, consultou vrios mdicos, mas nenhum deles conseguiu encontrar nadaque pudesse explicar sua crescente indisposio. Gerald comeou a gerenciarseus negcios de casa, tentando assim aplacar as preocupaes da jovem esposaque se desdobrava em cuidados e carinhos. E ento, algum meses aps o inciodos sintomas, quando jantavam com amigos, Gerald caiu duro na frente dosconvidados, vitima de um enfarte fulminante.Uma tragdia, sem dvida, mas nada que pudesse levantar suspeitas de quem

    quer que fosse. Julia, assumiu seu papel no comando das empresas e como ditoanteriormente, saiu-se melhor que o esperado.

    - Absoluta. respondeu a moa arrancando o advogado de seus devaneios.- Como disse? perguntou ele, sem entender.- Parece que estamos ambos cansados, no? O senhor perguntou se eu tenhocerteza que quero continuar a conversa.- Claro, me desculpe senhora Crawford. respondeu, ajeitando-se no sof.

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    - O senhor me dizia que Lucas Mallone entrou, atravs do advogado, com umapetio para exumarem o corpo de Gerald...- Exatamente. A senhora sabe, para fazermos os exames de DNA.Julia olhou para Brian com ar estranho. Ela o via mexer os lbios, mas noconseguia ouvir uma palavra sequer do que o homem dizia. Sentiu um friohorrvel percorrer-lhe a espinha e ento a voz voltou a ecoar em seus ouvidos:- Julia... Veja como estou, olhe para mim...De um salto levantou-se do sof e olhou em volta apavorada.- Voc ouviu? Sabe de onde veio? perguntou assustada.Brian calou-se. Ele no havia ouvido absolutamente nada alm de sua prpriavoz explicando sobre as possibilidades da petio de Lucas ser ou no aceita.Aquele caso estava mexendo com os nervos da mulher e ele podia entender arazo, No lugar dele tambm estaria nervoso sob a perspectiva de perder toda afortuna que possua- No ouvi nada respondeu com expresso de dvida.Do que aquela mulher estava falando, afinal?- Algum me chamando, dizendo para eu olhar...- Algum? Como assim? Acha que h algum na casa?Julia voltou o olhar para o advogado parecendo no entender o que ele dizia.- Eu no sei...Brian suspirou:- melhor deixarmos isso para amanh, senhora. Creio que precisa de uma boanoite de sono para se recompor.Julia pousou neles seus olhos verdes e pediu, com voz inaudvel:- No v. Estou com medo.O homem olhou-a com ar espantado. Ela queria que ele dormisse ali? No queisso o ofendesse, mas no era certo. Ela era sua cliente, no podiam misturar as

    coisas.- No creio que seja aconselhvel, Sra. Crawford.Julia olhou-o, parecendo recobrar o juzo.- Claro, desculpe, no sei o que h comigo. Talvez seja mesmo cansao. Tive umlongo dia no trabalho... Um dia difcil realmente, e esta briga com Lucas Malloneme d nos nervos. Acho tudo isso to mesquinho e to desgastante!- Eu entendo, tenha certeza. Podemos marcar um horrio para amanh econtinuaremos a conversa de onde paramos.Ela sorriu e o acompanhou a porta, lutando contra o medo que sentia por ficarsozinha naquele casaro.Talvez pensou - seja hora de me mudar daqui.

    Mudar-se da grande construo conhecida como A Casa das Flores em razode seus imensos e floridos jardins fora seu plano desde o casamento. No queriamorar na casa de Rachel, casada com o marido de Rachel. Sentia-se mal com asvrias fotos e recordaes que os amplos ambientes traziam a seu ento marido.Mas Gerald no quis nem conversar sobre o assunto. Ele havia feito aquela casade acordo com os planos da falecida esposa. A casa era preciosa para a ex-mulhere ele no estava disposto a abandon-la.

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    Julia perguntou-se porque, afinal de contas, no havia se mudado quando Geraldmorreu e concluiu que os mesmos motivos que o impediram de sair dali dealguma forma a prenderam tambm ao lugar. No queria abandonar a memriadele.Mas agora... Agora era tudo diferente. A casa a assustava. Parecia haver umfantasma em cada canto e tudo ficava ainda mais confuso devido presena deLucas Mallone e seu odioso processo.Caminhou lentamente de volta ao sof e permitiu-se reunir mentalmente tudo oque sabia sobre o homem.Lucas havia surgido em sua vida meses antes daquele processo. O homem queriav-la, dizia que tinha coisas importantes a tratar, mas Julia se recusou a qualquercontato mesmo sem saber do que se tratava. No retornou nenhum dostelefonemas e simplesmente rasgou a correspondncia que vinha dele. Ento,algum tempo depois, ele ressurgiu na figura de um jovem advogado que aprocurou, alegando que representava o filho de Gerald.No incio ela no levou a srio, imaginando que era algum oportunista que a viacomo presa fcil de um golpe, porm logo ficou claro que o homem falava asrio. Aconselhada por seus advogados contratou Brian Carlson, um renomadoespecialista em casos deste tipo, e a partir de ento vinham travando uma batalhajudicial intensa com o suposto filho de Gerald.Nunca havia sequer visto o tal Lucas pessoalmente ou mesmo por fotos. Sabiaque ele havia sido criado na Inglaterra, pas para onde a me mudou-se aindagrvida e que retornara aos Estados Unidos somente quando a me, beira damorte, o informou sobre a identidade do pai. Gerald j estava morto h quasedois anos quando isso aconteceu.Mas quem era Lucas realmente? Seria filho de Gerald? O marido nunca lhe falarasobre o assunto, porm o prprio Lucas havia declarado que o pai desconhecia

    sua existncia. Sua me nunca procurara Gerald para pedir que reconhecesse acriana. Muito estranho! Que mulher abriria mo de tornar o filho milionrio? Epor que justo agora ele reivindicava seus direitos?Julia ponderou a situao com calma. Caso o juiz acatasse a petio para o examede DNA e o parentesco se comprovasse, ela se veria em uma situao delicada.Lucas tinha direito a boa parte da fortuna. Fortuna que ela havia trabalhado paraaumentar! No era justo que ele levasse uma fatia daquilo sem ter feito nada paramerec-la! Teve tambm que reconhecer que sua postura em nada facilitava ascoisas. Ela estava sendo dura e impessoal, recusando-se terminantemente a v-lo.Talvez fosse hora de tentar uma aproximao amigvel com o rapaz, quem sabeum acordo?

    Apagou as luzes da sala e encaminhou-se lentamente s escadas atapetadas, oscabelos macios balanando suavemente sobre seus ombros.Sem perceber o que fazia, lanou um olhar descuidado prpria mo e viurefulgir nela o precioso anel que Gerald lhe dera como presente. Querido e doceGerald... pensou, lembrando-se do olhar dele ao pedi-la.Pena que havia morrido to cedo... Mas, como era mesmo o ditado? Os bonssempre morrem antes?

    ***

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    Deitado, olhando para o teto enquanto fazia bolinhas com a fumaa do cigarro,Lucas Mallone contava as minsculas manchinhas ligeiramente descoloridas quea recente pintura do hotel havia deixado para trs.Aquele havia sido um dia particularmente difcil para ele.Quando decidiu permitir que o advogado entrasse com a petio, sabia que eraum passo sem volta. A sorte estava lanada, os dados j rolavam sobre a mesa. Oque quer que fosse que o exame dissesse seria a verdade. Verdade que eleabsolutamente no queria encarar.Esticou o brao e pegou o jornal do dia, dobrado na pgina que exibia umamatria sobre Julia Crawford e observou a foto da mulher.Bonita pensou com sarcasmo. Meu pai, se que ele era mesmo meu pai,tinha bom gosto.Pai. Esta era uma palavra estranha para ele. Crescera em Londres ouvindo, desdeque se entendia por gente, a me dizer que o pai havia morrido antes que pudessese casar com ela e que por isso Lucas no levava seu nome.Nos primeiros anos de vida isso o incomodava, queria ter um pai como todomundo, algum que o acompanhasse nos esportes, que o levasse escola, que odefendesse dos valentes do colgio. Mas depois, isso simplesmente deixou deter importncia. Sua me fizera o mximo por ele. Dera-lhe casa, comida,estudos e ele sempre sentira uma imensa gratido por tudo que tinha.Aos 23 anos, logo se que se formou, foi chamado para trabalhar na filial de umaempresa inglesa na Amrica do Sul onde ficou por onze anos, acostumando-se aocalor e s maneiras despreocupadas e alegres daquele povo. Gostava do pas ondemorava. Era mais barulhento e muito menos organizado do que a Inglaterra, massentia-se bem com a hospitalidade que recebia. Isso durou at ele ser chamado devolta Inglaterra, devido ao estado de sade da me.J ento um homem firme e acostumado a decises importantes, Lucas pensou

    que nada mais poderia desestabiliz-lo, at que a Sra. Mallone lhe falou sobreGerald Crawford.A revelao de que seu pai estivera vivo at pouco tempo, de que a me jamaiscontara ao homem sobre a existncia de Lucas, que o falecido Gerald era um doshomens mais ricos e poderosos da Amrica, o deixou tonto.De alguma forma o menino adormecido dentro dele, o mesmo que chorara noitesa fio por no ter conhecido o pai, voltou vida.Lucas sentiu um misto de curiosidade e revolta em relao ao assunto, como sealgum lhe dissesse: hey, voc ganhou um prmio mas o roubaram de voc.Olhou para me sem saber o que dizer. Por fim, perguntou:- Por que no me contou isso antes?

    A mulher evitou encarar os agudos olhos escuros do filho e concentrou-se emalgum ponto no espao que apenas ela via:- Foi um caso sem importncia. Eu e Gerald nos vimos umas 4 ou 5 vezes nomximo e eu j estava com viagem marcada para a Inglaterra na ocasio. Nofazia idia de que estava grvida, filho. E quando descobri, no vi razo parafalar sobre isso com ele.- Me! Ele meu pai!

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    - , era... Depois de algum tempo pensei em procur-lo, mas Gerald j estavacasado na ocasio e nada faltava a voc, no precisvamos de ajuda para viver.Sinceramente achei que falar com ele aps tanto tempo s iria causar confuso etristeza.Lucas olhou-a, incrdulo. Seu pensamento era: se no falou antes, por que falaragora? Quanto perguntou isso me, ouviu dela que a proximidade da morte afizera pensar de maneira diferente e que no era justo que alm da companhia dopai, ele tambm fosse privado da herana a que tinha direito.Herana? perguntou-se na ocasio E quem disse que eu quero algumacoisa?Mas ele queria, sim. Ele queria saber se Gerald era mesmo seu pai e se fosse,queria o nome do homem em sua certido de nascimento. Devia isso ao meninodentro dele, devia isso sua infncia.Aps o falecimento da me, fez o que lhe pareceu mais indicado naquelascircunstancias: procurou por Julia Crawford, pensando em explicar mulher suasituao e conseguir de forma discreta que os devidos exames fossem feitos.Infelizmente a viva de Gerald se recusou a qualquer conversa ou contato e isso,ao invs de arrefecer seu nimo, irritou-o.Quem ela pensava que era para nem sequer querer saber por que ele a estavaprocurando? Se ela queria jogar duro, ok, ele jogaria duro.Procurou um advogado e iniciou uma ao de reconhecimento de paternidade ereivindicao de direitos de herana.No que quisesse um tosto sequer daquela mulher, mas queria dar-lhe umalio.Pegou o jornal e olhou novamente a foto.A moa era nova, bem mais nova que Gerald e Lucas se perguntou se aquelahavia sido uma unio completamente desinteressada ou se estava diante de um

    puro e clssico caso de golpe do ba.Caso isso fosse verdade, ela lutaria com unhas e dentes para impedi-lo de exumaro corpo. A pergunta era: ele queria se meter em uma ao complicada quepoderia se estender por anos nos tribunais? A resposta veio imediatamente: sim!Principalmente se percebesse que a tal jovem viva estava criandodificuldades. Ela podia ter enganado seu pai, mas a ele no enganaria.Lucas suspirou aborrecido. Estava fazendo conjecturas em cima de uma foto dejornal. Aquilo no estava certo.Talvez devesse voltar a procurar Julia Crawford e tentar conversar diretamentecom ela. Ao menos no poderia acusar-se de no ter tentado de tudo pararesolver aquela situao de forma civilizada e amigvel.

    ***Julia acordou sobressaltada, sentindo que havia algum a seu lado. Assustadaacendeu a luz e olhou em volta.Nada.Apenas o silencio e a tranqilidade da madrugada.O que deu em mim? Nunca fui disso! perguntou-se aborrecida, voltando adeitar.

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    Estava em um estado de semi-conscincia, quase adormecida, quando sentiu ascobertas se moverem como se fossem puxadas para baixo muito lentamente.Com o corao acelerado e a respirao entrecortada, fechou os olhos o maisforte que conseguiu e procurou se acalmar. Vinda do nada uma voz que, apesarde conhecida no conseguia identificar, disse:- Por que vai fazer isso comigo, Julia?Juntando todas as foras apesar do pavor que sentia, sentou-se e acendeu a luz.No havia ningum ali e as cobertas estavam exatamente onde deveriam estar.Suando frio, fez o sinal da cruz e rezou, pedindo que aquilo passasse.As oraes, entretanto, no a acalmaram e ela passou o resto da noite sentada nacama, luzes acesas, praticamente sem dormir.

    SOBRE A AUTORA:

    Laura Maria Elias tem 48 anos e natural de BarraMansa, estado do Rio de Janeiro. Nascida em umafamlia de leitores, desde muito nova conviveu com oslivros, aprendendo primeiro a apreci-los e mais tarde adevor-los avidamente, tornando-se, ainda naadolescncia, uma leitora compulsiva. Com muitafacilidade para a escrita, registrava suas primeirasobservaes em forma de frases e pequenos poemas,passando a interessar-se, ento, por poesias.

    Aos quatorze anos a autora escreveu seu primeiro livro,uma trama policial adolescente, que batizou de O Colarde Esmeraldas, e um livro de crnicas leves. A

    possibilidade de publicao, entretanto, jamais lhe passou pela cabea."Escrever era uma forma de colocar minhas emoes para fora, de registrarminha percepo do mundo, no uma profisso".

    Isso comeou a mudar em 2002 quando, a pedido do editor da Revista UFO,escreveu um artigo para publicao. A partir da seu nome passou a figurarvrias vezes nas pginas da revista, com artigos sempre bem recebidos pelopblico leitor.Em 2005 veio a oportunidade de escrever um romance, publicado sobpseudnimo. Desde ento, a autora j escreveu 32 livros, todos sobpseudnimos variados. O LTIMO CAVALEIRO a primeira obra achegar s livrarias com seu nome real, inaugurando assim uma nova fase nacarreira desta brilhante escritora.

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    Obras da Autora para Adultos

    Crepsculo Vermelho Mythos BooksO ltimo Cavaleiro Mythos BooksO Evangelho Esquecido obra indita

    Amor Oculto - obra inditaDepois Daquela Festa - obra inditaVidas que Mudam - obra indita

    Obras sob Pseudnimo (Mythos Books, romances de banca)

    Amores Perigosos - Loreley McKenziePara Sempre - Loreley McKenzieUma Segunda Chance L. McKenzieMuitas Vidas, Um Amor - Loreley McKenzieEntre o Cu e a Terra - Loreley McKenzieSendas do Tempo - Loreley McKenzieParaso Perdido - Loreley McKenzieSob a Luz das Estrelas - Loreley McKenzieSplica do Corao - Loreley McKenzieAconteceu no Titanic - Loreley McKenziePacto de Amor - Loreley McKenzieMais que Um Anjo - Loreley McKenzieAdorvel Cinderela Sophie H. JonesLaos do Passado Sophie H. JonesO Misterioso Senhor J - Loreley McKenzie

    Corao Selvagem - Loreley McKenzieRazes da Paixo Suzy StoneCorpos Ardentes Laura BrightfieldAlma Tuareg - Loreley McKenzie

    Obras Infanto-Juvenis:Tristin McKey e o Mistrio do Drago Dourado - Elizabeth CarrolTristin McKey e a Sala dos Rumores - Elizabeth Carrol.

    E-books:

    Corao Cigano Laura LyasInda Laura LyasAs Andorinhas de Paris Laura LyasA Serpente entre as Flores Laura Lyas