Lavagem de Dinheiro e o Crime Organizado Internacional

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Trata das políticas de cooperação entre os governos brasileiro e suíço no combate à lavagem de dinheiro.

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  • HUGO WOLOVIKIS BRAGA

    CONFEDERAO SUA:

    Lavagem de Dinheiro e o Estudo do Tratado de Cooperao Jurdica em Matria Penal entre a Repblica Federativa do Brasil e a Confederao Sua

    Hugo Wolovikis Braga, Advogado e Economista, Mestrando em Direito Internacional como Instrumento de Integrao Tributria , Econmica e Poltica.

    Braslia 2006

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    Sumrio

    1 - Introduo __________________________________________________________2

    2 - Sua _______________________________________________________________2

    2.1 Aspectos Histricos__________________________________________________ 2

    2.2 Formao do Estado Suo ___________________________________________ 2

    2.3 Aspectos Constitucionais _____________________________________________ 6

    2.4 Constituio Sua __________________________________________________ 8

    3 - Lavagem de Dinheiro e o Crime Organizado Internacional____________________ 11

    3.1 Lei de Lavagem de Dinheiro no Brasil ___________________________________13

    3.2 Lei de Lavagem de Dinheiro na Sua ___________________________________15

    3.3 Departamento de Ativos e Cooperao Jurdica Internacional DRCI ________ 17

    4 - Tratado de Cooperao Jurdica em Matria Penal entre Brasil e Sua_________ 20

    5 - Concluso___________________________________________________________22

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    1 - Introduo

    O presente artigo tem por objeto examinar aspectos jurdicos e constitucionais, nas

    relaes entre o Brasil e a Sua, principalmente no tocante ao acordo de cooperao

    jurdica em matria penal em fase de tramitao no Congresso Nacional.

    Pesquisar-se- algumas modificaes no ordenamento jurdico suo referente

    lavagem de dinheiro e ao crime organizado internacional.

    Far-se- uma pequena anlise do ordenamento constitucional e infraconstitucional

    de ambos os pases.

    2 Sua

    2.1 - Aspectos Histricos

    Embora estejamos falando sobre a histria, sempre bom lembrar as lies de

    Antnio Manoel Hespanha1 e Arnaldo Godoy2, que demonstram a relativa interpretao

    histrica dos fatos ocorridos em determinado Estado e em determinada era.

    2.2 - Formao do Estado Suo

    No sculo I antes de Cristo, a tribo dos helvcios deixou o que hoje a Alemanha

    meridional para atingir o planalto suo, estendeu o seu movimento para o ocidente, onde

    confrontaram com os romanos, sendo definitivamente rechaados e impelidos para o

    Planalto suo pelas tropas de Jlio Csar no ano de 58 antes de Cristo.

    A partir de ento, o territrio helvcio encontrava-se sob o domnio romano e a

    sociedade sofria a sua primeira importante transformao. Foi criada uma rede de estradas,

    os povoados desenvolveram-se entre os quais a bela vila de Aventicum (Avenches), nova

    capital dos Helvcios e de Augusta Raurica (Augst) no outro lado do pas.

    1 HESPANHA, Antnio Manoel, A Tcnica da Histria do Direito, Fundao Calouste Gulbenkian, So Paulo, 1993. 2 GODOY, Arnaldo, Direito e Histria: uma relao equivocada, Sergio Antonio Fabri, Porto Alegre, 2006.

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    Na Idade Mdia a nobreza e o clero enriqueceram e transformaram positivamente a

    atividade cultural. Verifica-se tal fato com o surgimento de fortalezas imponentes, castelos,

    conventos e novas cidades (sculos X e XIV).

    Com a assinatura da Carta de Aliana em 1291, pelos representantes dos cantes

    florestais de Uri, Schwyz e Unterwalden, foi criada a Confederao Helvtica. O conceito

    de aliana de Estados que se associaram, mas que conservaram a respectiva soberania, j

    estava presente no encontro de mesma data - ocasio em que juraram entre si uma

    assistncia mtua.

    Essa aliana respondia ao desejo de salvaguardar os direitos tradicionais (autonomia

    de jurisdio e de gesto) contra a poltica hegemnica dos Habsburgos3. Reza a tradio

    que o juramento foi prestado em 1 de agosto de 1291, na plancie de Grtli, s margens do

    lago dos Quatro-Cantes.

    Os camponeses da Sua central lanaram-se em uma srie de guerras para impor a

    sua lei aos feudos do Planalto e estenderam a aliana a outras cidades, para formar uma

    Confederao de oito, depois treze cantes, em 1513. Esta associao frgil serviu, a priori,

    para a defesa comum da independncia, reivindicada por cada um dos cantes e, depois,

    numa segunda fase, para conquistar novos territrios.

    Aps a ocupao da Sua pelas tropas do Diretrio (tropas francesas) em 1798, foi

    criada uma Repblica Helvtica unitria, que assistiu supresso de todos os privilgios e

    concesso da liberdade de culto e de imprensa.

    Em 1803, Napoleo Bonaparte pe fim luta que ope federalistas e

    centralizadores, editando uma Ata de Mediao, pela qual a Sua se tornaria uma

    Repblica Federativa de 19 cantes. Com a queda do imperador, torna-se novamente uma

    Confederao de Estados bastante frouxa, de 22 cantes. Os direitos democrticos foram

    limitados em favor das cidades e da aristocracia. Em 1815, a neutralidade da Sua foi

    reconhecida no plano internacional e aps 1830, sob a presso de vrios movimentos

    populares, doze cantes introduziram ideais liberais em suas constituies.

    Em 1848, ao termo de uma curta guerra civil entre sete

    cantes catlicos conservadores (que tinham concludo uma aliana em

    3 A Casa de Habsburgo (Hapsburg; tambm chamada a Casa da ustria) foi uma das famlias mais importantes da Histria da Europa. A famlia tem origem no sculo XII e o nome deriva de Habichtsburg, o castelo do falco, sua morada oficial, construdo em 1020, na Sua.

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    separado Sonderbund com o objetivo de preservar a soberania cantonal)

    e os cantes protestantes (j providos de governos liberais), assistiam

    fundao do Estado Federativo Suo. Marcado pela concretizao de

    idias republicanas progressistas em pleno corao da Europa de

    monarquias restauradas. A nova Constituio aceita nesse mesmo ano,

    em votao popular. Foi totalmente revisada em 1874 e, mais tarde,

    adaptada, medida que novas exigncias iam aparecendo.4

    A histrica neutralidade Sua foi muito discutida por ocasio das guerras mundiais.

    Na segunda guerra mundial no s os judeus (que no tinham ptria, portanto no

    investiam em terras) como os alemes descontentes com a inflao no seu pas levaram

    seus valores para os bancos suos.

    Houve muitas transaes realizadas principalmente entre os bancos privados suos

    e o Reichsbank, da Alemanha. As primeiras somas em ouro para lavagem chegaram aos

    bancos do pas vizinho em 14 de janeiro de 1940, pouco depois da invaso da Polnia. O

    auge desses depsitos teria ocorrido em 1943, quando foram armazenados 592 milhes de

    francos suos em barras e moedas. Entre 1939 e 1945, os depsitos totalizaram 1,7 bilhes

    de francos suos.

    A justificativa do governo suo para sua colaborao com os nazistas se apoiava

    em trs princpios:

    Segundo Ziegler:

    (I), o fato de o Banco Nacional estar ligado ao padro-ouro obrigava-o a comprar o ouro que lhe era oferecido;

    (II), o Reichsbank tinha por certo reservas declaradas;

    (III) a poltica de agresso externa de Hitler afluiu ao Reichsbank de modo legal. Para entender essa cooperao, Ziegler ressalta que e preciso compreender o funcionamento do Estado suo. Segundo ele, uma iluso ver aquele pas como um Estado plurinacional. Ele explica que as razes para isso esto no fato de que seus mltiplos povos no vivem juntos, mas lado a lado, ignorando-se e tolerando-se mutuamente; a segunda que se trata no de um Estado, mas de uma comunidade de defesa. "S o estrangeiro preserva a Sua da dissoluo". Por outro lado, preciso

    4 Site da Embaixada Sua em Braslia: < http://www.eda.admin.ch/brasilia_emb/p/home/ch.html >

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    "satanizar" o estrangeiro. "Se ele deixasse de representar perigo, de onde viria a presso externa de que necessitamos para coeso interna?"5

    A criao da conta numerada pela Sua coincidiu com a eleio de Adolf Hitler, na

    Alemanha Nazista, no ano de 1934 e o apogeu industrial no mundo ocidental. Este tipo de

    conta veio a ser extinta na Sua somente em 2001 graas a nova legislao anti-lavagem de

    dinheiro, de 1997, facilitando assim o controle de capital mandado para os bancos suos.

    Tal fato foi imposto pelas naes ricas que se julgam ser, realmente, as controladoras do

    dinheiro no mundo.

    Os aliados (EUA, Gr-Bretanha, Frana bem como a U.R.R.S) sempre usaram o

    manto do sigilo bancrio suo, para suas operaes financeiras. Com a imigrao dos

    judeus e outros povos para exercerem atividades econmicas em pases do ocidente e com a

    extino da guerra-fria que comearam os esforos para acabar com as contas numeradas

    na Sua.

    Os herdeiros das vtimas do holocausto, entraram com aes judiciais para receber

    valores de seus pais que estavam escondidos nos Bancos Suos constituindo-se, tambm,

    em grande instrumento de presso.6

    2.3 - Aspectos Constitucionais

    A Confederao Sua um Estado Federativo situado em um territrio de 41.285

    km2 localizado no centro da Europa, tendo como capital a cidade de Berna. So quatro os

    idiomas considerados oficiais: alemo, francs, italiano e romanche.

    habitada por uma populao de aproximadamente 7,2 milhes, distribudos em

    um solo pobre em matrias-primas e uma superfcie coberta por lagos, montanhas e

    florestas, o que dificulta a produo de alimentos para a prpria subsistncia, tornando a o

    5 ZIEGLER, Jean, A Sua, o Ouro e os Mortos, Record,So Paulo, 1999, pg, 47. 6 Revista poca, edio 13 (17/08/98) - Os bancos suos dobraram sua oferta. Agora, US$ 1,25 bilho estar disposio de famlias de vtimas do Holocausto. Os bancos apoderaram-se do dinheiro das contas de judeus que morreram na Segunda Guerra Mundial. Em junho, a Unio dos Bancos Suos e o Crdit Suisse haviam oferecido metade da quantia atual para chegar a um acordo com os herdeiros dos mortos. Pelo menos 30 mil judeus americanos entraram com aes contra os bancos suos. Com medo de ter suas operaes nos EUA prejudicadas, os banqueiros subiram a oferta, aceita pelos judeus. O acordo foi intermediado pelo senador por Nova York, Alphonse d'Amato.

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    pas dependente da importao, do seguimento financeiro e da exportao dos seus

    produtos de ponta.

    A moeda em circulao o Franco Suo, e a poltica econmica adotada garante,

    de acordo com a Constituio Federal, a liberdade de comrcio e empresa, atravs de baixas

    taxas aduaneiras, pouqussimos limites de importao e interveno do Estado limitada.

    Essas medidas liberais e opostas ao protecionismo do mercado interno, refletem no

    alto padro de vida da populao e tambm um maior ndice de comrcio exterior por

    pessoa.

    A Sua o nico pas do mundo que adota uma posio neutra no contexto

    internacional. Esta postura foi engajada desde 1815, quando o Pas aderiu formalmente a

    neutralidade armada perptua, com o estatuto garantido pelo Direito Internacional. A

    neutralidade internacional da Sua permaneceu intacta, mesmo com o referendo popular

    que decidiu que o pas deveria fazer parte do sistema da Organizao das Naes Unidas

    (ONU).

    O Pas solcito, colabora e participa ativamente nas relaes internacionais,

    defendendo a coexistncia pacfica entre os Estados.

    Historicamente neutros, os suos no participaram em nenhuma das guerras

    mundiais. Em 2002, de acordo com a Constituio Federal de 1999, a Sua finalmente se

    tornou membro integral das Naes Unidas.7

    A Sua no aderiu Unio Europia (EU), bloco econmico europeu composto por

    25 pases, por vontade de seus cidados, contudo participa como defensora de valores

    essenciais.

    7 Site da Embaixada Sua < http://www.swissinfo.org/por/index.html > - 3 de maro2001: os suos apiam, atravs de apertada maioria no plebiscito popular, a adeso da Sua ONU: 21 de junho: Kaspar Villiger, presidente da Sua, assina em Berna o pedido oficial de adeso. 18 de julho: a Sua entrega oficialmente o pedido de adeso a Kofi Annan, secretrio-geral das Naes Unidas. Ao mesmo tempo, o governo federal refora a inteno de manter sua tradicional linha poltica: a Sua era e continua neutra, apesar de tornar-se membro da Organizao das Naes Unidas. 21 de julho: o Conselho de Segurana da ONU aceita a adeso da Sua e a submete Assemblia Geral

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    2.4 - Constituio Sua

    Desde sua fundao em 1848, a Confederao Sua adotou no mesmo ano uma

    constituio com idias republicanas progressistas. Tal constituio foi totalmente revisada

    em 1874 e, mais tarde, adaptada.

    Em 1967 foi encetada uma reviso completa da Constituio, e em 1987 o Conselho

    Federal foi encarregado de submeter ao Parlamento um projeto (aprovado pelo povo e pelos

    cantes) dando origem nova Constituio Federal. Em 1999 uma outra Constituio foi

    promulgada, sobre a qual destaca-se!

    (Segundo a Constituio Sua de 1999): Prembulo

    Em nome de Deus Onipotente!

    O povo suo e os cantes, conscientes de sua responsabilidade perante a criao, no esforo de reiterar a Confederao, para fortalecer a liberdade e a democracia, a independncia e a paz, em solidariedade e sinceridade perante o mundo, no anseio de viver em unidade a sua pluralidade, com respeito mtuo e considerao, conscientes das conquistas comuns e da responsabilidade perante as geraes futuras, na certeza de que somente livre aquele que faz uso de sua liberdade e que a fora do povo se mede no bem-estar dos fracos, se do a seguinte Constituio:8

    De acordo com a constituio de 1999, os cantes detm soberania, desde que sua

    soberania no seja limitada pela Constituio. O parlamento bicameral suo, a Assemblia

    Federal, primariamente quem exerce o poder. As duas casas, o Conselho de Estados e o

    Conselho Nacional, tm poderes iguais em todos os aspectos, inclusive quanto iniciativa

    legislativa.

    Os 46 membros do Conselho de Estados (dois de cada canto e um de cada um dos

    antigos semicantes) so eleitos diretamente em cada canto, enquanto os 200 membros do

    Conselho Nacional so eleitos diretamente num sistema de representao proporcional. O

    mandato dos membros da Assemblia de quatro anos. Por intermdio de referendos o

    8 Constituio da Confederao Sua, de 1999.

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    povo pode contestar qualquer lei votada pelo parlamento federal e por iniciativas introduzir

    emendas Constituio federal, o que faz da Sua uma democracia semi-direta.

    O rgo executivo mximo o Conselho Federal, um colegiado de sete membros.

    Embora a constituio determine a responsabilidade da Assemblia Federal pela eleio e

    superviso dos membros deste Conselho, aquele assumiu gradualmente um papel de

    destaque na direo do processo legislativo, alm de sua atribuio na execuo da lei

    federal. O Presidente da Confederao eleito dentre os sete conselheiros pela Assemblia

    Federal, e por um ano assume funes representativas especiais.

    Desde 1959, os quatro partidos majoritrios esto representados no Conselho

    Federal de acordo com a "frmula mgica", proporcional sua representao no

    Parlamento federal: dois democratas cristos (CVP/PDC), dois social-democratas

    (SPS/PSS), dois radicais democratas (FDP/PRD), e um do Partido Popular da Sua

    (SVP/UDC). Esta distribuio tradicional dos assentos, entretanto, no sustentada por

    nenhuma lei, e nas eleies de 2003 para o Conselho Federal o CVP/PDC perdeu seu

    segundo assento para o SVP/UDC.

    O Tribunal Federal zela pelo cumprimento da lei e resoluo de conflitos oriundos

    de violaes de autonomias cantonais e comunais, bem como de tratados internacionais;

    aprecia, alm disso, reclamaes por violao de direitos constitucionais. Seus juzes so

    eleitos pela Assemblia Federal para mandatos de seis anos.

    A Constituio Sua de 1999 possui 197 artigos e est dividida em cinco partes (1

    Disposies Gerais, 2 Direitos Fundamentais, Cidadania e Objetivos Sociais, 3

    Confederao, cantes e municpios, 4 Povos e Cantes, 5 Autoridades Federais) que

    tratam dos inmeros elementos formadores e reguladores da Confederao Sua.

    Aps o prembulo, a constituio sua trata no seu Titulo I (Disposies Gerais)

    sobre os cantes formadores da Confederao Sua juntamente com os princpios que

    regem tal confederao.

    O Titulo II cuida dos Direitos Fundamentais, Cidadania e Objetivos Sociais, sendo

    estes trs assuntos divididos em captulos 1, 2 e 3 respectivamente. Vale ressaltar o artigo

    8 da constituio que enfatiza a igualdade entre homens e mulheres.

  • 10

    Art. 8* - Homens e mulheres tm os mesmos direitos. A lei vela

    pela igualdade jurdica e efetiva, particularmente no que se refere famlia,

    formao e ao trabalho. Homens e mulheres tm direito ao mesmo salrio

    para um trabalho equivalente. 9

    Sobre a cidadania, a constituio define no seu artigo 37 que cidado suo ou

    cidad sua quem possui a cidadania de um municpio e a cidadania do canto. Deixando

    assim a incumbncia do reconhecimento da cidadania do povo suo para os municpios e

    cantes. O restante do captulo que trata sobre a cidadania d linhas gerais para a obteno

    e perda da cidadania, exerccio dos direitos polticos e sobre os suos residentes no

    estrangeiro.

    O ttulo III refere-se Confederao, cantes e municpios onde trata com relao

    competncia e organizao dos referidos institutos. O ttulo III regulamenta diversas

    atividades, competncias e obrigaes que os elementos da confederao so responsveis.

    No Ttulo IV a constituio traa diretrizes para coordenar a Confederao e os

    Cantes traando as competncias, tarefas e cooperao entre os cantes e a confederao.

    Vale ressaltar neste ttulo a seco 7 que trata da parte econmica do Estado Suo,

    primando pela liberdade econmica. Os suos no mesmo captulo tratam da

    regulamentao dos jogos de azar.

    O Ttulo V refere-se s autoridades federais e suas competncias. O sigilo no mbito

    da Administrao Pblica tratado nesse captulo e segundo o artigo 169 ele no no

    sempre absoluto.

    Art. 169 Superviso

    1 A Assemblia Federal supervisiona o Conselho Federal e a Administrao federal, os tribunais federais e os demais detentores de atribuies da Confederao.

    2 As delegaes especiais de comisses de fiscalizao previstas por lei no podem ser contestadas com base em nenhuma obrigao ao sigilo (Grifo nosso)10

    9 Constituio da Confederao Sua, de 1999. 10 Constituio da Confederao Sua, de 1999

  • 11

    Finalmente o titulo VI, se refere reviso Constitucional e as disposies transitrias.

    Art. 192 Princpio

    1 A Constituio Federal poder ser revisada sempre, parcial ou totalmente.

    2 Onde a Constituio Federal e a legislao nela fundamentada no dispuserem de outra forma, efetua-se a reviso por via da legislao.

    Art. 193 Reviso total

    1 A reviso total da Constituio Federal pode ser proposta pelo povo, por um dos dois Conselhos ou decidida pela Assemblia Federal.

    2 Se a iniciativa partir do povo ou se os dois Conselhos discordarem entre si, cabe ao povo a deciso sobre a realizao da reviso total.

    3 Se o povo aprovar a reviso total, ambos os Conselhos devem ser novamente eleitos.

    4 As disposies imperativas do Direito Internacional no devem ser violadas. 11 (grifo nosso)

    A Sua alm de pas desenvolvido possui uma das mais evoludas democracias do

    mundo, deixando que at o cidado em ato conjunto com outros, possa mudar a lei

    fundamental do Estado suo.

    3 Lavagem de Dinheiro e o Crime Organizado Internacional

    Aps a Segunda Guerra Mundial pode-se perceber um esforo muito maior do que o

    at ento visto para a internacionalizao dos capitais.

    O fim da Guerra Fria (1946-89) estabeleceu um marco para a intensificao dessa

    internacionalizao do capital. O mundo socialista estava desagregado e representava um

    novo territrio a ser conquistado pelo capital, uma vez que constitua fronteiras de

    11 Constituio da Confederao Sua, de 1999

  • 12

    negcios, espao perfeito para a transferncia de capitais excedentes e de tecnologias,

    intensificando a generalizao dos movimentos de capital em escala mundial.

    "Nas duas ltimas dcadas, a lavagem de dinheiro e os crimes correlatos [...]

    tornaram-se delitos cujo impacto no pode mais ser medido em escala local. [...], seus

    efeitos perniciosos hoje se espalham para alm das fronteiras nacionais. 12

    O GAFI, (Grupo de Ao Financeira Sobre Lavagem de Dinheiro) ou FATF

    (Financial Action Task Force on Money Laundering), um dos principais organismos

    internacionais de referncia nesse trabalho, e o principal agente de integrao e

    coordenao das polticas internacionais neste sentido. Foi criado em 1989 por iniciativa

    dos pases do G-7 (Estados Unidos, Frana, Alemanha, Reino Unido, Japo, Itlia, Canad

    e posteriormente adeso da Rssia).

    Esse organismo internacional publicou, em 1990, um documento denominado

    "Quarenta Recomendaes", cujos objetivos principais so o desenvolvimento de um plano

    de ao completo para combater a lavagem de dinheiro e a discusso de aes ligadas

    cooperao internacional com vistas a esse propsito.13

    O combate lavagem de dinheiro, passou a ser tema de encontros e convenes,

    "Chefes de Estado e de Governo, bem como organismos internacionais, dispensaram maior

    ateno questo. Poucas pessoas param para pensar sobre a gravidade do problema,

    principalmente porque a lavagem de dinheiro parece distante de nossa realidade." 14

    Luiz Flvio Gomes destaca como fato marcante na histria do combate lavagem

    de dinheiro o encontro da ONU realizado em Npoles em 1994, na Itlia, momento em

    que foi dada grande ateno a uma necessidade cada vez mais crescente em identificar

    grupos empresariais que aplicam o dinheiro do crime, movimentando milhes de dlares

    todos os anos sem ter que justificar tal movimentao, sendo que o seqestro dos bens

    12 SENNA, Adrienne Giannetti Nelson de. Cartilha sobre lavagem de dinheiro. Ministrio da Fazenda Conselho de Controle de Atividades Financeiras, Braslia, pg 13. 13 Hoje j so 46 recomendaes devido a atualizaes. - SENNA, Adrienne Giannetti Nelson de. Cartilha sobre lavagem de dinheiro. Ministrio da Fazenda Conselho de Controle de Atividades Financeiras, Braslia, pg 9. 14 OECD: .05/07/2005

  • 13

    adquiridos com o dinheiro do crime e o congelamento das fortunas seriam pontos a serem

    abordados para um tratamento legal mais intensificado.15

    3.1 - Lei de lavagem de Dinheiro no Brasil

    No Brasil foi editada a Lei 9.613, de 03 de maro de 1998, posteriormente alterada

    pela Lei 10.467, de 11 de junho de 2002 e Lei 10.701, de 9 de julho de 2003., com a

    finalidade de tipificar o crime de lavagem de dinheiro, dispor sobre a preveno da

    utilizao do sistema financeiro e criar o Conselho de Controle de Atividades Financeiras

    COAF, assuntos a serem abordados na seqncia.

    Em nosso pas, intensificaram-se os trabalhos para a normatizao do combate aos

    crimes de lavagem ou ocultao de bens, direitos e valores e a preveno da utilizao do

    sistema financeiro para os ilcitos, em 14 de junho de 1991, com a Aprovao do Texto da

    Conveno de Viena sobre trfico de entorpecentes e substncias psicotrpicas. Tal fato se

    deu pelo Decreto Legislativo n. 162 e, logo aps, em 26 de junho do mesmo ano, atravs

    da promulgao da mesma Conveno, pelo Decreto n. 154 do poder executivo.16

    A Conveno de Viena, que se refere se trfico ilcito de entorpecentes e

    substncias psicotrpicas ateve-se ao trfico ilcito de entorpecentes e substncias

    psicotrpicas, porm o narcotrfico no a nica fonte das operaes de lavagem de

    dinheiro e nosso legislador elaborou uma norma mais abrangente, reservando o novo tipo

    penal a condutas relativas a bens, direitos ou valores oriundos, direta ou indiretamente, de

    crimes graves e com caractersticas transnacionais.

    A Conveno, acima citada, influenciou, tambm, a formulao da lei de lavagem

    de dinheiro, para tanto foi elaborada a Exposio de Motivos n. 692/MJ, de 18 de

    dezembro de 1996, onde verifica-se o seguinte: "... em 1988, o Brasil assumiu, nos termos

    15 GOMES apud SADDI, Jairo. Lavagem de dinheiro no direito comparado: a experincia americana. Revista de direito mercantil. So Paulo, ano XXXIX, v. 117, p. 118-119, jan.-mar. 2000.

  • 14

    da Conveno, compromisso de direito internacional, ratificado em 1991, de tipificar

    penalmente o ilcito praticado com bens, direitos ou valores oriundos do narcotrfico." 17

    "De qualquer maneira, preciso ter em mente que no se quis banalizar o ilcito de

    lavagem de dinheiro, nem se permitiu mistur-lo com a receptao , como observa Nelson

    Jobim.18(Grifo Nosso)

    O rol dos crimes tipificados como fonte das operaes de lavagem de dinheiro

    taxativo, como se observou no estudo histrico realizado anteriormente, reduzindo ao

    mximo a possibilidade de tipos penais abertos.

    Segundo a Lei 9613/98 consideram-se crimes antecedentes, os seguintes:

    ...I - de trfico ilcito de substncias entorpecentes ou drogas afins; II de terrorismo e seu financiamento; (Redao dada pela Lei n 10.701, de 9.7.2003) III - de contrabando ou trfico de armas, munies ou material destinado sua produo; IV - de extorso mediante seqestro; V - contra a Administrao Pblica, inclusive a exigncia, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, de qualquer vantagem, como condio ou preo para a prtica ou omisso de atos administrativos; VI - contra o sistema financeiro nacional;*19 VII - praticado por organizao criminosa. VIII praticado por particular contra a administrao pblica estrangeira (arts. 337-B, 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 Cdigo Penal). (Inciso includo pela Lei n 10.467, de 11.6.2002)20

    * Ressalta-se, ainda, a grande utilizao da Lei no 7.492, de 16 de junho de 1986 que refere-se aos crimes contra o sistema financeiro.

    Os crimes contra a ordem tributria no foram includos no rol dos crimes

    antecedentes, visto que no representariam um aumento do patrimnio para o agente, que,

    to s, manteria o patrimnio, ao escapar da obrigao fiscal.

    Encontra-se no Cmara dos Deputados Projeto de Lei n. 6791/2006, que obriga as

    instituies financeiras a comunicar, ao COAF, as movimentaes financeiras feitas para

    um mesmo CPF ou CNPJ, no perodo de 30 dias, se a soma delas ultrapassar 100 mil reais.

    17 BRASIL. Exposio de Motivos n. 692/MJ. Ministrio da Fazenda. Disponvel em: .. 18 Exposio de Motivos n. 692/MJ, de 18 de dezembro de 1996, Supremo Tribunal Federal. Disponvel em: . 20Lei 9613/1998, Lei de Lavagem de Dinheiro.

  • 15

    3.2 - Lei de lavagem de Dinheiro na Sua

    O crime de lavagem de dinheiro caracteriza-se por:

    Um conjunto de operaes comerciais ou financeiras que

    buscam a incorporao na economia de cada pas, de modo

    transitrio ou permanente, de recursos, bens e valores de origem

    ilcita e que se desenvolvem por meio de um processo dinmico que

    envolve, teoricamente fases independentes que, com freqncia,

    ocorrem simultaneamente. 21

    A Legislao de combate lavagem de dinheiro na Sua proveniente do ano de

    1990, foi de vanguarda e definiu concisamente o crime de blanchissage dargent no artigo

    305 do Cdigo Penal, com a seguinte redao:

    1. Quem cometeu um ato idneo a pr obstculos identificao da

    origem, descoberta ou confiscao de valores patrimoniais, os quais

    ele sabia ou deveria presumir que eram provenientes de um crime, ser

    punido com aprisionamento ou multa.

    2. Nos casos mais graves, a pena ser de recluso de 5 (cinco) anos no

    mximo ou aprisionamento. A pena privativa de liberdade ser cumulada

    com uma multa de um milho de francos no mximo.

    O caso ser grave, notadamente quando o delinqente:

    a)age como membro de uma organizao criminosa;

    b)age como membro de uma quadrilha formada para praticar

    sistematicamente a lavagem de dinheiro;

    c)realiza uma receita ou um ganho (lucro) importante praticando

    profissionalmente a lavagem de dinheiro.

    3. O delinqente tambm ser punido ainda quando a infrao principal

    tiver sido cometida no estrangeiro desde que esta seja punvel no Estado

    onde foi cometida.22

    21 Sobre o COAF. Ministrio da Fazenda Conselho de Controle de Atividades Financeiras, Braslia. Disponvel em: < https://www.fazenda.gov.br/coaf/portugues/i_sobrecoaf.htm>.

  • 16

    Segundo Castellar:

    V-se que, curiosamente, nos dispositivos penais suos no h nenhuma referncia expressa ao trfico de drogas ilcitas, ou a quaisquer outros crimes em particular, constando, todavia, a agravante relativa organizao criminosa. Deve-se registrar, entretanto, que o artigo 305 ter do Cdigo Penal suo prev a figura do defaut de vigilance em matire doperations financieres et de droit de communication estipulando que quem profissionalmente tenha aceitado, conservado, ajudado a colocar

    ou a transferir valores patrimoniais de um terceiro e que tenha se omitido

    em verificar a identidade do titular do direito econmico, conforme a

    vigilncia requerida pelas circunstncias, ser punido.23

    A Sua no ano de 1998 adotou uma nova e complementar legislao de combate

    lavagem de dinheiro que aperfeioou indiscutivelmente os sistemas referentes

    manuteno de registros contbeis, identificao dos clientes e denncia das transaes

    suspeitas. A legislao citada afeta no s os bancos, mas tambm contadores, advogados e

    consultores financeiros independentes, bem como as companhias seguradoras.

    Vale ressaltar, mesmo que brevemente, que no ano de 2000, na cidade de Feira, em

    Portugal, onde a Sua foi pressionada pela Unio Europia para que o Pas entregasse

    informaes bancrias atravs de trocas automticas. Contudo os suos deixaram bem

    claro que o segredo bancrio no era negocivel.

    Segundo Martins:

    Para acalmar os nimos, a Sua oferecia um desconto annimo

    na fonte de 35% sobre os lucros dos depsitos europeus em seus bancos.

    Desses 35%, 9% seriam retidos pelos bancos para cobrir despesas e

    comisses e os 26% restantes seriam creditados nos pases de residncia

    de seus depositantes. Tratava-se de uma manobra contbil para evitar a

    identificao dos clientes. 24

    22 Cdigo Penal Suo. 23 CASTELLAR, JOO CARLOS. Lavagem de dinheiro-A questo do bem jurdico. Rio de Janeiro: Revan, 2004, 210 p. 24 MARTINS, Rui, O Dinheiro sujo da Corrupo: por que a Sua entregou Maluf, Rui Martins, So Paulo, 2005,78 p.

  • 17

    Os acordos bilaterais entre Sua e EU, em 2004, permitiram que os suos

    prorrogassem o acordo de desconto de imposto na fonte, em lugar da transparente troca de

    informaes. Assim os depositantes europeus tero inicialmente um desconto de 15%,

    calculado sobre os lucros ou juros obtidos com o seu dinheiro depositado na Sua. Esse

    desconto subir gradativamente at atingir 35% em 2011, sem necessidade de revelar a

    identidade dos depositantes descontados.

    3.3 - Departamento de Ativos e Cooperao Jurdica Internacional DRCI

    O DRCI do Ministrio da Justia, criado em 2003, tem entre suas atribuies

    rastrear e repatriar bens que forem fruto da lavagem de dinheiro. J foram encontradas

    divisas em contas de parasos fiscais, como as Ilhas Cayman e a Sua, com indcio de

    lavagem de dinheiro. A pedido do governo brasileiro, tais quantias encontradas nessas

    contas bancrias foram bloqueadas. Contudo, volta da moeda s dever ocorrer depois da

    sentena transitada em julgado, sendo esta a regra internacional dos processos de

    repatriao. a primeira vez que o governo federal tem uma poltica clara para recuperar

    recursos desviados para o exterior.

    O acordo bilateral com a Sua, em tramitao no Congresso, possui alguns

    pormenores a mais do que os outros como, por exemplo:

    Preveno da apreenso dos bens enquanto o processo ainda est em andamento.

    Nem todos os pases permitem tais termos nos seus acordos. A legislao de cada pas onde

    est o dinheiro de importante considerao, pois a evaso de divisas, crime no Brasil, no

    considerada em outro.

    O Brasil assinou, em Berna com o governo suo um acordo de cooperao jurdica

    em matria penal25. O tratado visa a ampla troca de informaes entre Brasil e Sua para o

    combate lavagem de dinheiro, uma das modalidades mais freqentes do crime organizado

    25 Acordo de cooperao entre Brasil e Sua chega a etapa final -Braslia, 2/5/2003 (MJ) Ocorreu negociaes no Ministrio das Relaes Exteriores, entre o diretor de Cooperao Judiciria Internacional da Sua, Mrio-Michel Affentranger, e a coordenadora de Cooperao Judiciria Internacional em Matria Penal do MJ, Maria Cludia Cabral.

  • 18

    em todo o mundo. As novidades do tratado so a possibilidade de cooperao em fraude

    fiscal e, em casos excepcionais, a permisso de repatriamento do dinheiro de origem ilegal

    antes mesmo de sentenas definitivas (transitadas em julgado) contra os acusados.

    "Este um tratado de cooperao, desburocratizao e facilitao da cooperao

    internacional para a perseguio do crime organizado e, principalmente para o combate

    lavagem de dinheiro. Porque quando combatemos a lavagem de dinheiro, combatemos o

    crime organizado pela sua finalidade. fundamental que se estabelea no Brasil uma

    mentalidade, uma cultura de combate lavagem de dinheiro. E essa cultura passa

    necessariamente pela cooperao internacional, sem a qual no se pode ir muito longe",

    afirmou o Ministro da Justia, Mrcio Thomaz Bastos durante a assinatura do tratado que

    foi feita em conjunto com o Ministro da Justia e Conselheiro Federal da Sua, Christoph

    Blocher. O ministro explicou que, por meio do acordo, ao invs de grandes dossis que

    normalmente so enviados, a partir de agora basta uma comunicao inicial para que se

    faam os bloqueios devidos nas contas suspeitas. As provas sero produzidas quando

    possvel juntas, e, assim como os servios de inteligncia, sero permutadas entre os dois

    pases.

    O tratado firmado com a Sua um moderno instrumento bilateral e prev, entre

    outras medidas, assistncia em favor de procedimento penal no Estado requerente para a

    tomada de depoimentos e troca de informaes. Prev, alm disso, a entrega de documentos

    e elementos de prova (administrativa, bancria, financeira, comercial e societria), a

    restituio de bens e valores, busca pessoal e domiciliar, apreenso, seqestro e confisco de

    produtos de delito, intimao de atos processuais e transferncia temporria de pessoas

    detidas para fins de audincia ou acareao.

    Registros e documentos tambm podero ser fornecidos e incorporados como

    provas em processos criminais que estejam tramitando no Brasil. Ou seja, este acordo tem o

    papel de facilitar, ao mximo, a execuo de investigaes e aes penais em crimes de

    lavagem de dinheiro.

    O acordo com a Sua e outras naes que tenham grande potencial de cooperao

    internacional com o Brasil, alm daquelas conhecidas como parasos fiscais, representam

    uma das principais metas do governo brasileiro e esto definidas na Estratgia Nacional de

    Combate Lavagem de Dinheiro (Encla/2004).

  • 19

    A parceria entre o Brasil e a Sua foi negociada em maio e agosto de 2003, sob

    aparte brasileira, da secretria nacional de Justia, Cludia Chagas, e do diretor do

    Departamento de Recuperao de Ativos e Cooperao Jurdica Internacional (DRCI) do

    Ministrio da Justia, Antenor Madruga.

    Atualmente, o Brasil tem acordos de cooperao jurdica com Portugal, Estados

    Unidos, Canad, Colmbia, Frana, Itlia, Peru e Coria do Sul, alm dos pases do

    Mercosul, entre outros. Esto em negociaes tratados com o Reino Unido, Bahamas,

    frica do Sul, Alemanha e Liechtenstein. O objetivo ter, ao final do mandato do

    presidente Lula, tratados de cooperao jurdica firmados com os 50 pases com os quais o

    Brasil tem maior potencial de cooperao internacional.

    4 - Tratado de Cooperao Jurdica em Matria Penal entre Brasil e Sua

    O Tratado de cooperao penal referido no captulo anterior constituiu um

    instrumento moderno, destinado a ampliar a cooperao jurdica penal bilateral, que

    incorpora o uso de instrumentos de vanguarda para o fim da cooperao penal.

    O referido tratado impe a obrigao recproca de conceder a cooperao para

    tomada de depoimentos e outras declaraes; entrega de documentos, registros e elementos

    de prova, inclusive os de natureza administrativa, bancria, financeira, comercial e

    societria; restituio de bens e valores; troca de informaes; busca pessoal e domiciliar;

    busca, apreenso, seqestro e confisco de produtos de delito; intimao de atos processuais;

    transferncia temporria de pessoas detidas para fins de audincia ou acareao; quaisquer

    outras medidas de cooperao compatveis com os objetivos deste Tratado e que sejam

    aceitveis pelos Estados Contratantes.

    O pedido de cooperao ser executado conforme o direito do Estado Requerido, a

    menos que, nada obste em seu ordenamento jurdico a que seja estabelecido procedimento

    especifico a pedido do Estado Requerente, que dever descrev-lo no ato do pedido de

    cooperao.

    Somente se tipifica a conduta sobre a qual versa o pedido de cooperao no Estado

    Requerido que medidas de cooperao de carter coercitivo sero aceitas. O Tratado no

    aplicvel nos casos de busca, deteno ou priso de uma pessoa processada ou julgada

  • 20

    penalmente com o intuito de obter sua extradio ou para efeitos de execuo de sentenas

    penais. Por esse motivo, a transferncia de pessoas detidas ocorrer sempre em carter

    temporrio, desde que haja consentimento, entre outras hipteses.

    So motivos para a recusa para a cooperao jurdica os fatos:

    1 - o pedido sobre infrao ou crime considerado delito poltico ou delitos ou

    crimes conexos;

    2 - sobre delito militar que no constituam delitos de direito comum;

    3 - sobre infraes fiscais puramente;

    4 - se a execuo do pedido atentar contra a soberania do Estado Requerido, sua

    segurana, ordem pblica ou outros interesses essenciais do Estado;

    5 - se existirem razes essenciais do Estado;

    6 - se existirem razes ponderveis para se formar convico de que o pedido

    ancora-se em razes ligadas raa, religio, origem tnica, sexo ou opinies polticas da

    pessoa a que se intenta processar ou punir; e se existirem razes para acreditar que o

    procedimento penal contra essa pessoa no respeita as garantias estipuladas na legislao

    internacional de proteo aos direitos da pessoa.

    O Ato consagra princpios do direito penal internacional, como o ne bis in idem,

    pelo qual a cooperao ser recusada se o pedido visar fatos pelos quais a pessoa

    processada foi definitivamente absolvida quanto ao mrito ou se, condenada no Estado

    Requerido por delito essencialmente correspondente, a sano esteja em fase de execuo

    ou j tenha sido executada. Excetuam-se as hipteses de que os fatos objeto do julgamento

    tenham sido cometidos, no todo ou em parte, no territrio do Estado Requerente sem que o

    tenham sido no Estado Requerido; se os fatos visados pelo julgamento constituam delito

    contra a segurana ou contra outros interesses essenciais do Estado Requerente; e se os

    fatos foram cometidos por funcionrio do Estado Requerente com violao a seus direitos

    funcionais.

    O tratado prev a adoo de medidas cautelares pelo Estado Requerido caso o

    procedimento visado pelo pedido no parea manifestamente inadmissvel ou inoportuno

    (...) a fim de proteger interesses jurdicos ameaados ou de preservar elementos de prova

    (...) [e quando houver] perigo na demora. Nesse ponto, parece que o tratado reduziu os

  • 21

    quesitos impostos pelo ordenamento ptrio adoo de tais medidas, dos quais ainda consta

    a fumaa do bom direito.

    O Estado Requerente arcar, por solicitao do Estado Requerido, apenas com as

    despesas referentes a indenizaes; despesas de viagem e estada das testemunhas; despesas

    referentes ao transporte de pessoas detidas; honorrios, despesas de viagem e estada de

    peritos; custos com O estabelecimento da conexo para videoconferncia, bem como custos

    ligados sua disponibilizaro no Estado Requerido; a remunerao dos intrpretes;

    indenizaes s testemunhas, seus gastos de deslocamento no Estado Requerido.

    O Brasil tem ampliado a malha de acordos de cooperao jurisdicional nas reas

    civil e penal, valendo-se, tal como afirma a Exposio de Motivos do Ministro de Estado,

    de instrumento de cooperao dos mais preclaros e modernos, criado para combater a

    criminalidade, que hoje se beneficia como nunca antes da porosidade das fronteiras

    transnacionais.

    Dessa forma se interpreta, p.ex., como condio de inadmissibilidade de aceitao

    de pedido de medida cautelar (artigo 7), pela parte brasileira, a ausncia da fumaa do bom

    direito que, aliada ao perigo da demora, formam os quesitos previstos no ordenamento

    ptrio para a autorizao do procedimento, ainda que o primeiro assegure de forma

    expressa no artigo citado artigo.26

    5 - Concluso

    A Sua e o Brasil assinaram vrios tratados bilaterais em reas como a Aviao

    Civil, a Cooperao Tcnica e Cientfica e a Promoo e Proteo de Investimentos

    Diretos. Este ltimo, assinado em 1994, ainda aguarda a ratificao do Congresso Nacional.

    Faz-se relevante mencionar que na rea judicial existe entre ambos os pases um Tratado de

    Extradio, celebrado em 23 de julho de 1932.

    A Sua e o Brasil assinaram em julho de 1995 uma declarao na qual as partes em

    questo concordam em reatar as negociaes, o mais rpido possvel, para um Acordo

    26 Relatrio do Senador Jefferson Pres, 11/05/2006.

  • 22

    bilateral para evitar a bitributao. Reunies entre especialistas da rea tributria de ambos

    os pases j foram realizadas, sendo que a ltima em setembro de 2002.

    A Sua e o Mercosul tm mantido vrios contatos com vistas a uma cooperao.

    No final de 1998, a Sua em nome da AELE submeteu ao Mercosul um projeto para

    fortalecer esta cooperao.

    Finalmente o Acordo de Cooperao Jurdica em Matria Penal foi assinado pelas

    autoridades suas e brasileiras em maio de 2004. Este poderoso instrumento, que facilitar

    o trabalho conjunto dos dois pases na luta contra o crime, dever ser ratificado pelo

    Congresso Nacional (no Brasil) e pelo Parlamento (na Sua) para que possa entrar em

    vigor.

    Trata-se, o presente Pacto Internacional, de instrumento que representa importante

    avano na cooperao judiciria entre Brasil e Sua, tornando mais efetiva a atuao dos

    dois pases no que se refere ao combate das mais diferentes formas do crime organizado

    transnacional.

    Hodiernamente, com o advento da globalizao, um dos maiores desafios para os

    Estados constitui o combate aos crimes transnacionais. As aes delituosas assumiram

    novas formas que transcendem os limites territoriais de um pas. As fronteiras fsicas entre

    os Estados deixaram de ser barreiras efetivas contra a prtica de crimes. Assim, a efetiva

    preveno e a persecuo de crimes transnacionais requer, antes de qualquer coisa, o

    esforo conjunto das naes. A represso uniforme e a cooperao internacional,

    estabelecendo instrumentos de fiscalizao e intercmbio de informaes so aes

    imprescindveis, sem as quais o combate moderna criminalidade praticamente

    impossvel, desde que no se tornem elemento de constrangimento aos direito fundamentais

    e a segurana jurdica necessrios ao bom desenvolvimento da economia e o bem estar

    social.

    Cabe lembrar que o direito coletivo conseqncia do respeito a todos os direitos

    individuais.

  • 23

    Se vires um banqueiro suo saltar de uma janela, salta atrs dele. H

    certamente dinheiro a ganhar Voltaire

    Neutros nas grandes revolues de Estados que os circundam, os suos se

    enriquecem dos males dos outros e fundaram um banco sobre a

    calamidades humanas. Chateaubriand

    Deus Reina no Cu e o Ouro na terra.

    Por Dinheiro at o Diabo Dana.

    Provrbio Suo

  • 24

    REFERNCIAS

    CASTELLAR, JOO CARLOS. Lavagem de dinheiro-A questo do bem jurdico. Rio de Janeiro: Revan, 2004. CONSTITUO, da Confederao Sua, de 1999. FEHRENBACH, T. R., O que h por trs dos bancos suos, Distribuidora Nacional de Livros, Rio de Janeiro, 1966. GODOY, Arnaldo, Direito e Histria: uma relao equivocada. GOMES apud SADDI, Jairo. Lavagem de dinheiro no direito comparado: a experincia americana. Revista de direito mercantil. So Paulo, ano XXXIX, v. 117, p. 118-119, jan.-mar. 2000. HESPANHA, Antnio Manoel, A Tcnica da Histria do Direito. OECD: .05/07/2005

    MARTINS, Rui, O Dinheiro sujo da Corrupo: por que a Sua entregou Maluf, Rui Martins, So Paulo, 2005,78 p.

    Revista poca, edio 13 (17/08/98) SENNA, Adrienne Giannetti Nelson de. Cartilha sobre lavagem de dinheiro. Ministrio da Fazenda Conselho de Controle de Atividades Financeiras, Braslia. SITE da Embaixada Sua em Braslia: Sobre o COAF. Ministrio da Fazenda Conselho de Controle de Atividades Financeiras, Braslia. Disponvel em: < https://www.fazenda.gov.br/coaf/portugues/i_sobrecoaf.htm>. ZIEGLER, Jean, A Sua, o Ouro e os Mortos, Record, So Paulo, 1999. ZIEGLER, Jean, A Sua acima de qualquer suspeita, Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1977. ZIEGLER, Jean, Os Senhores do Crime, Record, Rio de Janeiro, 2003.