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<< Rewind Músicas do Mundo Sudoeste Jazz em Agosto Paredes de Coura Maré de Agosto Noites Ritual Rock Avante! FIB Forward >> Número Experimenta Design Gay e Lésbico Imago DocLisboa Cinanima Seixal Jazz Sitges 01 outono 2005 trimestral 2 euros (IVA inc.) Temps d’Images www.festforward.com ISSN: 1646-3056 Festival

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<< RewindMúsicas do Mundo

SudoesteJazz em Agosto

Paredes de CouraMaré de Agosto

Noites Ritual RockAvante!

FIB

Forward >>Número

Experimenta DesignGay e Lésbico

ImagoDocLisboa

CinanimaSeixal Jazz

Sitges

01

outono 2005 trimestral 2 euros (IVA inc.)

Temps d’Images

w w w . f e s t f o r w a r d . c o m

ISSN: 1646-3056

Festival

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DirectorFilipe Pedro [email protected]

Director-adjuntoGonçalo Guedes Cardoso [email protected]

EditoresAna Serafim [email protected]ão Pedro Correia [email protected]

Consultor de ediçãoLuís P. Oeiras Fernandes

RedactoresCátia Monteiro, Pedro Moreira

Colaboram nesta ediçãoÁlvaro Áspera, Ana Baptista, Ana Duarte, Ana Isabel José,Ana Vieira, Bruno Ramos (fotografia), Catarina Medina, FilipeAraújo, João Paulo Gomes (fotografia), João Pedro Almeida,José Miguel Soares (fotografia), Jota Assis, Lino Ramos, LuísBento (fotografia), Luis Santos Batista, Márcio Alfama, RicardoLourenço Nunes, Rui A. Cardoso (fotografia), Vitor Pinto

CorrespondentesAlexandre Nunes de Oliveira (Barcelona), Luís Mateus (Veneza)

Design Gráfico e PaginaçãoFilipa LourençoLDI - Laboratório de Design Imaginativo www.ldi.ptImagina Design www.imaginadesignlab.com

ImpressãoMX3 Artes GráficasRua Alto do Forte, Sintra Comercial Park Fracção Q, n.º 16,Rio de Mouro

Registo no ICSn.º 220 710

ISSN1646-3056

PropriedadeAIFPS

PeriodicidadeTrimestral

DistribuiçãoAIFPS

ContactosFest Forward MagazineRua do Cerrado do Zambujeiro, n.º 27, 2.º Frente2610-036 AmadoraTelf. 93 412 30 04

91 852 07 71Email: [email protected]

PublicidadeTelf. 91 908 38 [email protected]

Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sobquaisquer meios e para quaisquer fins, inclusive comerciais.

Capa: Didon et Énée por Sasha Waltz — Festival Temps d’Images

04

editorial

Pluridisciplinar

BD.Ilustração

Design

Dança

Cinema.Video

Teatro

Música

Internacionais

Uma receita de sucesso

Sobrevivemos ao Verão, a apaixonante saison erótico-festiva,onde a maioria preferiu descansar do descanso, espraiando-sena chaise longue, bebendo um daikiri e dançando ao som deum seleccionado tema de Reggaeton, enquanto o país esteve,uma vez mais, em brasa.

Aos apreciadores de um bom gourmet, que souberam des-frutar das nossas sugestões culinárias durante a época estival,deixamos o nosso caloroso agradecimento. Foram tão ousadosem ler esta publicação quanto nós o fomos em cozinhá-la. Osegredo culinário? Muito miolo, pouca massa e demasiadostomates.

Para continuarmos a servir pratos com um grafismo deexcelência, fotos e textos bem condimentados, optámos pornos afastar dos chourições, marmelos e nabos que minam ocaldeirão cultural, valorizando os verdadeiros profissionais. Emmuitos casos, a credibilidade de um festival está, à partida,condenada pela ineficiência e falta de pimenta… Trocado pormiúdos: a total ausência de planeamento, a médio ou longoprazo, da maioria dos festivais portugueses estorrica os planosa quem quer apresentar um cardápio como este. Quando é queaprendem a fazer as coisas bem feitas com os seus congéneresinternacionais?

Para os próximos três meses os pratos do dia apresentam-se ricos e variados. A especialidade da casa é o Festival Tempsd´Images, evento pluridisciplinar que se divide por diversoslocais das cidades de Lisboa e Faro.

Os novos projectos culturais continuam a polvilhar a agoradenominada secção S. Martinho Apresenta e uma rigorosaselecção de festivais terá o seu habitual espaço de antevisão(Forward) e de reportagem (Rewind). Desta feita, o cinema, oteatro, o design e a BD assumem os lugares de destaque nomenu, completado por um ponto de escuta e de visão semespinhas (Stop) e uma agenda trimestral sem caroço (Play).

Com a saída desta FEST FORWARD MAGAZINE n.º 1, sóprometemos abrandar o lume quando toda a fruta for descas-cada, a mensagem bem passada e os festivais bem tempera-dos. O prato está servido — sente-se e aprecie. •

Fest Regards

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texto: Lino Ramos

Se pertence àquele grupo de atentos que guar-da religiosamente as já defuntas VHS com grava-ções caseiras dos melhores telediscos que já pas-saram e ainda passam pela cada vez mais estra-nha MTV e afins, aqui fica um grande motivo de jú-bilo — há alguém que anda a fazer-lhe o trabalhode casa e que sabe o que faz.

Entra em cena a Palm Pictures, uma editora ame-ricana que, à semelhança do que já fez há dois anosatrás com os trabalhos de Chris Cunningham, MichelGondry e Spike Jonze, vem juntar mais quatrograndes nomes à sua colecção de excepcionais DVDsque apelidou de Director’s Label — são eles MarkRomanek, Jonathan Glazer, Anton Corbijn eStephane Sednaoui.

Seguro sinal dos tempos, é agora quase pré-re-quisito essencial que qualquer prometedor jovem rea-lizador de longas-metragens tenha já realizado a suaconta de telediscos musicais e anúncios publicitáriostelevisivos. E, como aperitivo, aqui ficam alguns dostítulos a serem incluídos na segunda fornada, com da-ta de saída para este mês de Setembro — de MarkRomanek teremos “Hurt” (Johnny Cash), “Perfect

Drug” (NiN), “Devil’s Haircut” (Beck), o director’s cutde “Closer” (mais uma vez dos NiN e é de referir queeste videoclip tem a honra de pertencer à colecçãopermanente do Museum Of Modern Art de Nova Ior-que); de Jonathan Glazer veremos os seus telediscospara os Blur (“The Universal”) e UNKLE (“Rabbit InYour Headlights”), entre muitos outros; AntonCorbijn, uma das grandes figuras do panorama visualdos nossos tempos, contribuirá por sua vez com osseus famosos videoclips criados para bandas comoU2, Depeche Mode e Mercury Rev; e finalmente, dofrancês Stephane Sednaoui, dono de um impecávele alucinante sentido gráfico, veremos desfilar peque-nas jóias como “Possibly Maybe” (Björk), “Sly”(Massive Attack) e “Give It Away” (Red Hot ChiliPeppers), entre muitas outras.

Ficou de apetite aguçado? E se lhe disser que acompletar este fabuloso pacote serão incluídos docu-mentários, entrevistas e áudio-comentários remata-dos com um cuidadosamente preparado booklet de52 páginas para cada DVD? Perfeito, não?

Faça um favor a si mesmo e invista num destesDVDs dignos de pertencerem a um arquivo. Garanto-lhe que passará horas de volta deles. •

www.directorslabel.com

06 S. Martinho apresenta

Pequenos filmes musicaisDirector’s Label

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texto: Catarina Medina

Inaugurada a 30 de Março deste ano, a Video-Doc — Videoteca do Documentário é o mais recen-te espaço cinéfilo de Odivelas. A entrada é livre.

Doze anos são sinónimo de quantidade, que o di-ga a VideoDoc, onde mais de três mil cópias de cine-ma internacional conhecem morada, no Centro Cultu-ral da Malaposta, em Odivelas. Mais de uma décadade programação da já extinta Amascultura, que entreEncontros Internacionais De Cinema Documental e oFestival Internacional De Cinema Científico, resultouna VideoDoc, está disponível para ver ou rever nestanova casa do documentário.

«Um espólio valiosíssimo de cinema internacional,composto por peças internacionais únicas» diz AnaIsabel Strindberg, responsável pela área de cinemano Centro Cultural da Malaposta e ex-assistente dorealizador João César Monteiro. Inserido no projectoOdivelcultur — Gestão, Produção e Divulgação Cultu-ral, criado em 2002, o VideoDoc objectiva a culturaenquanto resposta educacional e, claro está, de lazer.Aí todos estão convidados a conhecer o resultado dotrabalho que contou com a colaboração da Apordoc— Associação pelo Documentário e da Videoteca deLisboa, sejam grupos escolares, ou até os habituaisespectadores da Cinemateca. «Estamos a ter uma ex-celente adesão e o público que frequenta esta casa é

distinto: jovens realizadores, estudantes universitáriose até reformados, mas todos gostam de cinema docu-mental», confirma a também directora da Apordoc.

O visionamento pode ser feito de 2.ª a 6.ª das14h30 às 17h30, enquanto atitude singular, ou, se pre-ferir, pode ir aos pares, ou até mais, mas só com mar-cação prévia. O processo é simples, pois todos os fil-mes estão catalogados e é possível fazer uma buscainformática por tema, o que permite um acesso fácil atodo o arquivo.

Mas não se pense que esta videoteca do docu-mentário se resume a mais de três mil fitas paradas àespera que algum precário bem disposto estado deespírito vá ao seu encontro. «Temos uma forte funçãopedagógica. Trabalhamos com escolas de Odivelas eda grande Lisboa organizando ciclos temáticos, ondeé utilizado o vasto espólio da Malaposta», afirma AnaIsabel Strindberg.

A VideoDoc não é mais uma entidade sossegadana sua imobilidade. Pelo contrário, esta casa do do-cumentário desenvolve regularmente ciclos de filmes,debates, estreias e até oficinas de formação de cine-ma. Como irá acontecer no próximo mês de Novem-bro, em que terão lugar duas oficinas, uma sobre ci-nema de animação e outra de realização cinematográ-fica, ambas de inscrição online. •

www.odivelcultur.com

08 S. Martinho apresenta

Casa do documentárioVideoDoc

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texto: Gonçalo Guedes Cardoso

Coloque no mesmo armário onde mantém osesqueletos toda a música que ouviu até aomomento. Limpe o pó das prateleiras e prepare-aspara o que vem a seguir.

Sugiro-lhe uma viagem por novas sonoridadesnascidas em Lisboa, cidade dinâmica e criativa, ondecoabitam três representantes de um Rock que se avi-zinha, cativante e promissor.

The Scope • Envoltos em nevoeiro, vislumbra-mos os Scope. Saídos de um universo sem datas,nomes, locais e influências, estes quatro guerreiroslutam pela supremacia de um Indie Rock mais Rockdo que Indie. As armas sonoras escolhidas? A classe,um descontentamento sem ser fatalista e algumaagressividade, mas com toques delicados. A con-quista prevê-se fácil, sem jogos sujos ou truques demagia. O requinte na composição, a mestria instru-mental, a postura calculista e realista do terreno debatalha e um amplo trabalho de campo, faz delesgrandes estrategas e perfeitos visionários. Comuni-cam em inglês e a sua determinação está a nu em“Second Nature”, o primeiro single, produzido em2005 pelo grupo. www.welcometothescope.biz

Oioai • Românticos por natureza, os fadistas doRock, trazem um tom descomplexado e poético aocancioneiro musical de uma cidade adormecida na

esquina da Europa. Foi nas vielas descalças e boé-mias do Cais do Sodré que durante vários meses con-quistaram o coração de admiradoras capazes de sen-tir prazer na força sublime da Língua Portuguesa. Co-rajosos, libertários e irreverentes, transmitem paixãono poder da palavra de Pedro Puppe, nas armas empunho de João Neto e Dodi (Toranja) e no bater do co-ração de Fred (Yellow W Van). Admiram os espaçospequenos, onde são recebidos com afecto, mas de-sejam partir para maiores voos, onde o destino sejamenos fatalista. O visto talvez lhes seja concedidomais cedo do que muitos prevêem. [email protected]

Linda Martini • Músculo, tensão, pulsação, suor ecérebro. Nasceram da experimentação laboratorial,motivados pela necessidade de modificar o códigogenético do Indie Rock Português. No seu balão deensaio, estes cinco cientistas misturaram rasgos deguitarras, um flow em estado de graça e uma dinâmi-ca instrumental dopante sem contra indicações demaior. O resultado está disponível em cápsulas paraadministração por via auditiva, contendo 100 mg deenergia para o corpo. A dose diária recomendadainclui “Este Mar” e “Amor Combate”. A fórmula com-pleta será revelada, através do novo laboratório far-macêutico (Naked), em Abril de 2006. A overdose épermitida. www.lindamartini.tk •

10 S. Martinho apresenta

Os novos heróis do Rock alfacinhaThe Scope, Oioai e Linda Martini

ilustração: Claúdia Guerreiro

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texto: João Pedro Correia

Está para breve o terceiro número da Jazz.pt, anova revista portuguesa sobre Jazz. De periodici-dade bimestral, com um preço de capa de cincoeuros, a Jazz.pt faz a viagem sobre o que acontecedentro e fora de portas, além de incluir uma rubricade crítica a discos. A revista chega de norte a sul dopaís mediante uma selecta rede de distribuição.

Propriedade do Jazz Ao Centro Clube (JACC), aJazz.pt construiu-se após a suspensão da revista AllJazz — que não se edita há cerca de um ano —, sendoalguns dos seus colaboradores os mesmos que inte-gravam aquela publicação. «Vamos lutar para não co-meter os mesmos erros do passado mas aprender comeles», escreveu Pedro Costa no primeiro editorial, refe-rindo que «as experiências anteriores foram batedoraseficazes» num terreno em que «existem pessoas inte-ressadas em saber mais sobre o Jazz».

Pedro Rocha Santos, director da Jazz.pt epresidente do JACC, revelou à FEST que a publicaçãoestá a deparar-se com dificuldades no seu financia-mento, nomeadamente na captação de investimentopublicitário. Isso explica as páginas de falsa pu-blicidade, convites a anunciantes em forma de provo-cação, que têm sido publicadas na revista. Iniciativa

realmente interessante e peculiar, no número um daJazz.pt podia encontrar-se uma página com um riscoem forma de sorriso e os dizeres «esta revista tem boaenergia», escritos com um tipo de letra semelhante aoda empresa alvo: a EDP. Já no número dois podia ler-se que «esta página é um convite e como tal encontra-se reservada para uma das instituições bancárias que,para além da excelência nos serviços prestados aosseus clientes, tem também uma grande responsabilida-de social», frase que destacava, com cor diferente, asletras que formam as siglas BES e CGD.

No fundo, até ao momento, a Jazz.pt existe devidoà «vontade de muita gente em fazer a revista e ao pra-zer que isso dá», confessou o director, que disse tam-bém não poder pagar a nenhum dos colaboradores.Uma dessas vontades parte da loja lisboeta especiali-zada em Jazz, a Trem Azul, que anuncia na revista e aapoia desde o início. «Esperamos, sinceramente, queno número quatro tenhamos já algumas receitas», con-cluiu Pedro Rocha Santos.

Com uma tiragem de três mil exemplares, a Jazz.ptestá disponível na cadeia de lojas Fnac, nas Livraria Al-medina espalhadas pelo país, além de outras livrariase lojas de discos. •

www.jacc.pt

12 S. Martinho apresenta

Jazz disponível nas bancasRevista Jazz.pt

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texto: Ana Duarte

14 ForwardPluridisciplinar

O Festival Temps D’Images conta este ano coma sua quarta edição e promete ocupar Lisboa eFaro durante o mês de Outubro, com um programadiversificado e aliciante.

Criado em 2002 pelo Canal ARTE, Ferme duBoisson e Scène Nationale Marne-la-Vallée, o FestivalTemps D’Images é uma iniciativa que se propõe adivulgar espectáculos e artistas, mantendo sempreligações entre artes cénicas e a arte da imagem. Tendocomo objectivo central o incentivo aos encontrosartísticos e à divulgação cultural, é hoje umaverdadeira rede europeia de circulação de obras e deexperiências na esfera das artes.

Entre os parceiros de diversos países europeus,Portugal vem participando há já três anos nestainiciativa, cuja edição de 2005 terá lugar em duascidades: de 6 Out (5.ª) a 16 (dom) em Lisboa, e de 15(sáb) a 29 (sáb) do mesmo mês em Faro. O festival éuma co-produção do Centro Cultural de Belém (CCB),da Duplacena (Lisboa) e DeVir/CAPA (Faro). Entretantoe até 11 Dez (Dom), o Temps D’Images desdobra-se

pela Europa.A abertura do Festival, em Lisboa, dar-se-á com a

exposição de William Kentridge, constituída porfilmes e instalações. A obra de Kentridge oferece umavisão histórica da África do Sul e do legado doApartheid. O trabalho do autor, conhecido pelas suascurtas-metragens realizadas a partir de desenhos acarvão, estará patente no Museu do Chiado de 6 Out(5.ª) a 31 Dez (sáb), naquilo que é uma estreia em soloportuguês.

No Teatro Nacional Dona Maria II, entre os dias 7Out (6.ª) e 16 (dom), serão apresentadas as peçasRespirações De Inês (no Salão Nobre) e Senso (na SalaEstúdio). Respirações De Inês é uma exploraçãoestética baseada num tema histórico-literário. A peçaconta com as interpretações de Eurico Lopes e MariaEmília Correia, que assina também a adaptação eencenação. Senso é antes um retrato de sociedade, apartir de uma novela de Boito, publicada em 1883 econsiderada a obra mais importante do autor, que deuorigem ao filme de Luchino Visconti. Carlos Pimentaparte do texto original e da película do italiano para

É tempo de imaginarFestival Temps D’Images 2005

Lisboa e Faro6 a 29 Out | www.tempsdimages-portugal.com

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ForwardPluridisciplinar 15 .

encenar Senso, peça que conta com a interpretaçãode Mónica Calle.

Na esfera da dança acontecerão váriasperformances durante o festival. No CCB destaca-seMetamorphis (de 8 Out [sáb] a 11 [3.ª], na Sala deEnsaio), um espectáculo dirigido por Alberto Lopes,em que é abordado o tema da transformação. Katafalktambém se anuncia como uma boa escolha. O corporeal e as imagens projectadas mantêm uma relaçãoestreita, tornando o espectáculo intenso. Seráapresentado em ciclos de oito sessões de meia hora,cada uma para 80 espectadores, completando assimuma performance contínua de duas horas (apre-sentações a 8 Out [sáb] e 9 [dom]). Este espectáculo éapresentado por uma companhia belga e concebidopor Nicole Mossoux.

Na área da música destaca-se o concerto dotrompetista norueguês Nils Petter Molvaer, que semovimenta na nova concepção do Jazz e queapresentará um espectáculo único, no dia 11 (3.ª), noGrande Auditório do CCB. O músico e sua bandapartilharão o palco com Jan Martin Leager, que sedeixará conduzir por uma linha de improvisação naconstrução da imagem.

Descentralização cultural

Em destaque na área do vídeo e com estreiamundial, será possível ver a projecção de MargemAtlântica, de Ariel de Bigault, na Sala Polivalente doCCB. Posteriormente, espera-se um ciclo de váriasprojecções, entre as quais Didon e Énée, com filme ecoreografia de Sasha Waltz; Wolf, de Alain Platel;Geórgia, Le coeur volé, de Stephanie Thiersch; eFrankfurt Dance Cuts, de Lutz Gregor, um filme queapresenta coreografias de Prue Lang, entre outros.

Mais direccionado para o público infanto-juvenil,será apresentado o espectáculo Bistouri, uma peça deteatro de marionetas pelo Tof/Théâtre, comencenação de Alain Moreau (Praça do Museu doCCB, 11 Out [3.ª] a 16 [dom]). Destinado a criançasmaiores de oito anos, este espectáculo conta ahistória de Léon e Willy, duas marionetas reformadas,que voltam à profissão de cirurgião para operar abarriga de um doente, onde vão descobrircaracterísticas humanas jamais exploradas.

Uma iniciativa que não deixará ninguémindiferente será Sand Table, uma peça do puzzleHighway 101, um projecto de Meg Stuart e DamagedGods. Sand Table é uma instalação viva, que passoupela Fundação de Serralves em Maio passado.

Em Faro, cidade capital nacional da cultura nopresente ano, serão repostos alguns espectáculos,entre os quais Sonho de Verão, a primeira criação deJoão Botelho para o palco, acessível no CAPA —Centro de Artes Performativas do Algarve. O desafiode colaborar com o Temps D’Images foi aceite pelorealizador, que este ano esteve no Festival de Veneza,e o resultado espera-se surpreendente. A peça contacom o desempenho de Suzana Borges.

Este festival destaca-se pela sua diversidade. Osartistas exploram o espaço teatral, relacionam-se comos espectadores, reflectem e reflectem-se emprojecções, projectam-se em imagens e ideias. Osbilhetes para os espectáculos custam entre três e 30euros.

O Temps D’Images

O festival prolonga-se por vários países, comoFrança, Portugal, Hungria, Bélgica, Itália e Alemanha,bem como em três dos mais recentes membros daUE, a Polónia, Letónia e Estónia.

O núcleo que hoje torna possível um evento destadimensão e pretensão é constituído por váriasestruturas, como a francesa La Ferme du Buisson, aportuguesa Duplacena, a húngara Le Trafo, a belgaLes Halles de Schaerbeek, o Festival Romaeuropa, aalemã Tanzhaus NRW, a polaca Zamek Ujazdowski, oNew Theatre Institute Of Latvia, o Theater n.º 99, e ocanal cultural ARTE. •

Programacao para faro:

CAPA – Centro de Artes Performativas do Algarve15 Out (sáb) a 29 (sáb)

Atlas, o antes de llegar a Barataria MAL PELO15 Out (sáb), às 21h

Senso, de Camillo BoitoCarlos Pimenta, Luciana Fina, Mónica Calle21 Out (6.ª) e 22 (sáb), às 21h

Sonho de VerãoJoão Botelho, com Suzana Borges28 Out (6.ª) e 29 (sáb), 21h

Bistouri,Tof Théâtre19 Out (4.ª) a 22 (sáb), local e horário a anunciar

Ciclo ARTE15 Out (sáb) a 29 Out (sáb)

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texto: Ana Serafim

16 ForwardPluridisciplinar

O Número é um festival que serve de ponto deencontro de experiências alternativas no panora-ma nacional e internacional, com música selecta aacompanhar. Jogos Neurológicos é o tema da edi-ção deste ano.

De momento estão agendadas as entregas doPrémio Multimédia, atribuído pelo ICAM, e do Pré-mio Alcatel Alarga A Tua Vida, para além das inicia-tivas criadas na edição de 2004 — o evento Games 4Real II e um painel de conferências internacionais su-bordinadas ao tema Gazing At… Lisbon´s Cityscape.

O lançamento da nova N_Número Magazi-ne_Portugal será outro dos pontos altos de um eventoque deverá contar com inúmeros concertos. Noutrosanos passaram por lá artistas como Fischerspooner,Animal Colective, Pan Sonic, Aphex Twin, Chicks

On Speed, Bullet, Micro Audio Waves ou Loosers.Ciclos de cinema e vídeo experimental, apresentaçõesde trabalhos e instalações serão outras apostas — co-mo é, de resto, habitual — da organização.

Esta será a sexta edição de um evento que arran-cou em 2000 numa maratona de concertos e apresen-tações que durou 20 dias. O sucesso da primeira edi-ção levou a que se criasse uma editora discográfica —a N_records — responsável pelo lançamento de NoWaves, segundo álbum dos portugueses Micro AudioWaves; e uma editora de livros, a N_books.

Em seis anos, o Número tornou-se uma referêncianos eventos de época baixa a nível nacional e interna-cional — são as artes alternativas a tomar conta doOutono. Fiquem atentos, em breve já se saberá tudo oque é preciso. •

Outubro explora os contornos da produção ar-tística nacional. As Caldas da Rainha recebem asegunda edição do SONDA, a propor a intersecçãoentre a música, o vídeo, a dança, o cinema, asartes plásticas e o design.

Em 2004 o SONDA apresentou arrojadas propos-tas num programa pluridisciplinar, que contou com asparticipações de variados nomes, entre os quais Tâ-nia Carvalho, Mónica Calle e a dupla Bullet/AntónioJorge Gonçalves. Foi possível ver, também, umamostra dos filmes premiados no IndieLisboa, o lança-mento do Prémio Nacional de Cerâmica DecorativaFrazarte, concertos, exposições e outras festas.

Depois do sucesso de 2004, começa, a 15 Out(5.ª), a segunda edição do SONDA, que segue na linha

de uma programação pluridisciplinar que abordará va-riadas linguagens artísticas, sob a perspectiva de defi-nir um discurso construtor de uma identidade cultural.

A programação dividir-se-á entre o cartaz princi-pal, o SONDA, vocacionado para a mostra de projec-tos de produção nacional, e os Estaminais, projectoque apresentará, pela mão de estudantes da ESAD(Escola Superior de Artes e Design de Caldas daRainha), performance, instalação, pintura e artepública em vários locais determinados pelo seu uso ehistória, e determinantes para a fisionomia da própriacidade.

No programa deste ano destacam-se os trabalhosde três criadores nacionais, Patrícia Portela, FilipeViegas e Sérgio Cruz, bem como a retrospectiva depintura de João Fonte Santa. •

texto: Ana Baptista

Festival cerebral6.º Número Festival — Festival Internacional De Multimédia, Filmes E Música

Lisboa4 a 13 Nov | www.numerofestival.pt

Perscrutar novas linguagens2.º Festival SONDA

Caldas da Rainha15 a 29 Out | www.festivalsonda.com/sonda.htm

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Forward Ilustração 17 .

texto: Ana Vieira

Quando se é pequeno há sempre aquele livroque tem aqueles desenhos dos quais nos lembra-mos ainda hoje. São figuras que nos chamam aatenção, que se olham e tornam a olhar, se tocamcom a mão pequena e suja de comida, e que maistarde revisitamos com olhar de adulto.

A Ver Pra Ler — associação para a ilustração de li-vros para a infância — compreende o poder mágicodas imagens nos livros que se lêem quando somospequenos e entende a ilustração de livros para crian-ças como uma forma de arte, uma conjugação de be-las histórias com belos desenhos que nos transportampara o reino do delicioso. Formada em 2003 por JuGodinho e Eduardo Filipe, mantém uma programaçãoregular de exposições de originais de ilustração dosmelhores autores portugueses e estrangeiros.

O Ilustrarte é um encontro no Barreiro, de dois emdois anos, de ilustradores de livros para a infância, ori-ginais de ilustração, editores, coleccionadores eleitores, qualquer que seja a sua idade. É organizadopela Ver Pra Ler com o apoio da Câmara Municipal do

Barreiro, sendo composto por um concurso — oportu-nidade para ilustradores nacionais e estrangeiros prin-cipiantes ou consagrados participarem nesta iniciati-va, enviando três trabalhos originais, inéditos ou publi-cados há menos de um ano de modo a serem aprecia-dos por um júri composto por importantes personali-dades da arte e da ilustração nacional e mundial (asinscrições terminaram a 30 Jun) —, uma exposiçãodos trabalhos seleccionados e um catálogo de grandequalidade, registo e memória da bienal.

Este ano o artista plástico João Vaz de Carvalhoé o vencedor da segunda edição da Ilustrarte. O júriatribui ainda duas menções especiais à belga IsabelleVandenabeele e ao português André Letria. A quali-dade, inovação da técnica e composição plástica es-colhida levaram o júri a atribuir o primeiro prémio aJoão Vaz de Carvalho. Concorreram 930 artistasoriundos de 50 países, tendo inicialmente sido selec-cionados 50 ilustradores de 15 países diferentes (entreeles os portugueses Gémeo Luís e José ManuelSaraiva). São estes os trabalhos presentes naIlustrarte 2005 de 1 Nov (3.ª) a 31 Dez (sáb). •

Lugar às criançasIlustrarte 2005 — Bienal Internacional De Ilustração Para A Infância

Auditório Municipal Augusto Cabrita — Barreiro1 Nov a 31 Dez | www.ilustrarte.web.pt

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texto: Álvaro Áspera e Luís P. Oeiras Fernandes

18 Rec BD

O verdadeiro humor de Ricardo Ferrand

Entrevista a Ricardo Ferrand

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foto: José Miguel Soares

Durante o dia, é desenhador de uma marca deroupa. Ao cair da noite, este jovem multifacetadode 32 anos transfigura-se e faz banda desenhada.Por este duplo licenciado (em Engenharia do Am-biente e em Design Gráfico) ficamos a saber tudosobre o verdadeiro papel histórico do obscuro Zédo Pipo e que Cristo (ou Jota Cristo), na realidade,vive em Lisboa. Personagem simpática e descon-traída, que é impossível não tratar por tu, ele é oautor em destaque no Festival Internacional deBanda Desenhada da Amadora de 2005 (FIBDA).

Que imagem estás a pensar dar ao FIBDA des-te ano?

A imagem que estou a criar vem na sequência deum pedido, é quase uma ilustração editorial. Tive deseguir a linha do FIBDA deste ano, que é o sonho. Oponto de partida, de acordo com as directivas desteano, é um cartaz que tenha uma cama a voar. Nestemomento ainda estamos num processo de desenhos,de esboços e de troca de imagens e ideias, até che-garmos ao ponto ideal.

Muitos dos teus trabalhos, como A VerdadeiraHistória De Portugal, fazem uma relação constanteentre o tempo histórico e o tempo actual. Porquê?

Acho que a Verdadeira História De Portugal é umpouco o contrário de A Verdadeira História De JotaCristo. O Jota Cristo baseia-se numa história antigamas que transporto para os tempos de hoje. Ou seja,os elementos do cenário e do ambiente são dos nos-sos dias. Jota Cristo vive na Lisboa actual e, no entan-to, a narrativa que é contada é a narrativa de há doismil anos. A Verdadeira História De Portugal também sepassa antigamente e o cenário da história é o antigo,mas as acções, as falas e até mesmo, a nível visual,alguns ícones que vão aparecendo, já são coisas ac-tuais. E é essa transposição que tem piada e que é oabsurdo da questão.

O teu humor tem sempre um lado crítico muitoforte...

Tem. Esse é o meio que achei mais próprio parafazer a ponte entre o tempo dos acontecimentos his-tóricos e a realidade. É um pouco a influência doGoscinny, tanto de Asterix como de Iznogoud, quetêm muitas referências à época em que foram feitos.Referências da sociedade, da política, dos países poronde as personagens passam. Tudo isso é uma ma-neira de mostrar os acontecimentos históricos de talforma que possam ser encarados com um sorriso.

Muito do humor funciona disso, de desconstruir ascoisas, colocando-as numa situação ridícula ou de pu-

ros anacronismos, como as placas da GNR na Verda-deira História De Portugal.

O ponto de partida da Verdadeira História De Por-tugal foi brincar com a maneira de ser do português.Já me perguntaram por que não a mostro a editorasestrangeiras. Mas acho que as pessoas lá de fora nãoiriam entender as piadas. É preciso conhecer a manei-ra de ser do português, ter sido mandado parar pelaGNR, conhecer a função pública.

Quando fazes BD tens a intenção de ser peda-gógico? Ou só te preocupas com a vertente humo-rística?

É mais o segundo caso. A pedagogia nunca foi aintenção. No entanto, elas acabam por ser pedagógi-cas. Notei isso sobretudo nas feiras do livro que visi-tava. Metade das pessoas que me vinham pedir parafazer um desenho eram miúdos, na casa dos 10, 13anos. Muitos deles estavam a começar a ter contactocom a História de Portugal na escola e reconheciamos episódios. Os pais vinham-me dizer que aquilo ti-nha sido muito engraçado e importante porque osmiúdos conseguiam aprender os acontecimentos,mas de uma maneira não tradicional.

Nunca foi minha intenção dizer que foi o Zé doPipo o responsável pela conquista de Santarém por-que abriu a porta sem querer. Acho que os miúdos játêm maturidade intelectual suficiente para distinguir oque é uma brincadeira e o que não é.

Esse humor do absurdo nasce de que leituras,de que referências?

O meu gosto em BD é bastante vasto, mas situa-se sobretudo na tradição franco-belga. Os meus auto-res de referência, em termos de argumento de BD hu-morística, são o Greg e o Goscinny. Foram dois auto-res que me marcaram muito. Era o que lia em peque-no, eram essas histórias que na revista Tintin me cha-mavam mais a atenção e que ia sempre procurar.

Na parte mais adulta, se se quiser chamar assim,não há dúvida de que me marcaram autores comoGiraud e mais antigos, como o Edgar Pierre Jacobs.Em termos de argumentos, Jacobs marcou-me bas-tante porque eram obras bem feitas e que continuamactuais. Foi um autor que comecei a ler um poucomais tarde (porque não é um miúdo de dez anos quelê Blake & Mortimer). Noutra esfera completamente di-ferente, o Hugo Pratt, toda aquela poesia, especial-mente os livros a preto e branco, que acho fantásticos.Corto Maltese é uma referência. Quase todos eles nalinha europeia de BD, na linha franco-belga. Tenho aBD europeia muito mais presente do que a norte-ame-ricana ou a japonesa. Confesso que nunca tive grande

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apetência para o lado dos super-heróis.

Identificas-te com o humor que se faz emPortugal?

O humor português que se faz, do Herman José,dos Malucos Do Riso, é para a maioria. É um humorfácil, de piadinha, baseado nas anedotas, com um bo-cadinho de picante que é sempre muito bem aceite.Essas não são as minhas referências. Gosto principal-mente do que vem do Reino Unido, tanto dos MontyPython como do Blackadder. Este último é uma gran-de referência, porque, tal como na Verdadeira HistóriaDe Portugal, as épocas vão passando e as persona-gens mantêm-se.

Mas é muito difícil fazer humor em Portugal, no diaa dia. Chego à Segurança Social, dizem-me que hou-ve um erro e que devo duzentos contos. E eu digo: «Asério? Só? Isso é pouco, não posso pagar mais?». Apessoa que está no outro lado leva isso a sério... Umapessoa que até admiro, em termos de humor, é o sr.Pinto da Costa, que consegue jogar muito bem com aironia. É algo a que os portugueses não estão habitua-dos e que funciona muito bem para desconstruir ascoisas.

Concordas que o teu humor também tem muitoa ver com os Gato Fedorento?

Talvez. Como vivi na Irlanda conheço mal. Gosta-ria de conhecê-los melhor. Vejo isso de outra maneira:os Gato Fedorento têm as mesmas referências queeu. Os Monty Python, por exemplo. Mesmo em ter-mos físicos há imensas semelhanças entre eles.

E quanto a autores portugueses? Quais os au-tores actuais teus preferidos?

Em termos de influências, confesso que não ligavamuito à BD que era feita em Portugal, as minhas refe-rências são mesmo estrangeiras. No entanto, na se-quência da revista Tintin foi determinante, sem dúvida,ler Fernando Relvas, que tive o gosto de conhecerpessoalmente na livraria Dr. Kartoon. Gostava muitodo Espião Acácio, que julgo ser um dos melhores tra-balhos feitos em Portugal e que inclusivamente foi pu-blicado em revistas estrangeiras. Gosto muito dos tra-balhos do José Carlos Fernandes e do MiguelRocha. Do João Fazenda também, embora tenha pe-na que ele tenha passado mais para a área da ilustra-ção.

Como surgiu a ideia de fazer Que GrandeTrabalheira, uma BD sem textos?

Vem na sequência da maneira como encaro a BD:se puder dizer algo por imagens, não preciso de ter o

texto. O que não quero nunca transmitir é uma coisaóbvia. Era uma ideia que já tinha desde há bastantetempo, chegar ao ponto extremo de fazer BD sem sernecessário o texto.

Nesse aspecto, outra influência é o cinema mudode Buster Keaton. Pela expressão dele, por todo oseu universo, que era muito mais absurdo do que o deCharles Chaplin. Mais recentemente temos o Mr.Bean, que nos primeiros episódios nem sequer dizianada. Achava engraçado como ele conseguia transmi-tir ideias só pelas acções, pelas maneiras desengon-çadas, pelo olhar, pela expressão. Daí ter surgido a BDQue Grande Trabalheira, publicada em 2003.

Em que projectos estás a trabalhar actualmente?Durante o FIBDA deste ano sairá um novo livro

sem texto, cuja personagem é um coelho. A persona-gem principal de Que Grande Trabalheira era uma gali-nha e era claramente dirigido a um público infantil. Es-te coelho já é mais direccionado para um público umpouco mais adulto

Entretanto, não estou a trabalhar em nenhum pro-jecto a tempo inteiro É algo que me está a criar um bo-cado de formigueiro na cabeça, porque tenho neces-sidade de criar coisas novas.

Gostava de continuar a Verdadeira História DePortugal. A aceitação foi muito boa e tanto da minhaparte como da editora há vontade de continuar.

É difícil editar BD em Portugal? Tem sido difícilpara ti?

Relativamente. Tive uma sorte que a maioria dosautores não tem e que foi uma editora, a Witloof, terapostado em mim desde o início. Primeiro, colaboreina revista da livraria Dr. Kartoon [ligada à Witloof], emque tinha A Lenda do Cavaleiro Guilhão. Era umahistória em sequência, publicavam-se duas páginasem cada mês. Depois, editaram A Verdadeira HistóriaDe Jota Cristo, O Homem Que Não Parava De Urinar,e A Criança Que Tinha Cem Anos.

Também fizeste uma edição de autor, O Rei E OLouco.

Sim, porque não perdi grande tempo à procura deeditora. Foi um processo muito rápido. A ideia originalera fazer umas tiras para apresentar a jornais, para fa-zer cartoons satíricos, políticos. As personagens sãosempre um rei e um louco, o que muda é onde eles es-tão, que é ou no mar, ou numa ilha, ou a jogarem umjogo, enfim, nas mais variadas situações. São tão con-traditórios que há sempre motivo para discussões ediálogos. O Rei representa a racionalidade e a rigidezda sociedade. Porém, o seu único súbdito é um louco.

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Não obedece a regras nenhumas, tem a sua lógicaprópria, está-se a borrifar para que o outro seja rei. Aspersonagens são tão ricas naquilo que podem contarque surgiram as histórias e as quadras.

Esta BD era muito pessoal e tinha de estar numformato pequeno, um formato quadrado. Queria fazeruma coisa muito minha e não queria interferências denenhuma editora. Então assumi o carácter alternativoe resolvi fazer a edição de autor e pôr à venda noFIBDA 2003.

Correu bem?Tão bem que esgotou logo. A edição era muito li-

mitada, só 30 exemplares. Tenho uma lista de esperajá de umas dez pessoas.

Vamos ver esse livro editado no mercado?

Acho que sim. Já tive alguns contactos para isso.

Ouves música enquanto desenhas?Oiço sempre. Tanto gosto do Rock dos anos 60 e

70 como de música alternativa, mais dos nossos dias.Não sei se ainda é alternativo, mas sempre gostei mui-to do Nick Cave. Os Suede quando aparecerem, noprimeiro e segundo disco, eram muito bons, depois,creio que decaíram muito. Da mesma maneira, tambémoiço Bob Dylan e Jefferson Airplane dos anos 60.

Em que festival de música gostarias de encon-trar alguém a ler um livro teu?

No Live 8 [risos]. Se alguém estivesse a ler o meulivro e fosse apanhado por uma câmara de televisãoera bestial! [risos].

Se os pastéis são mesmo é em Belém e oslivros em Frankfurt, por cá, a banda desenha-da é na Amadora.

No cartaz da 16.ª edição do Festival Interna-cional de Banda Desenhada da Amadora (FIBDA)pode ver-se uma cama voadora. Não é para me-nos: o tema deste ano é o sonho. A imagem é deRicardo Ferrand, jovem desenhador que é, esteano, o autor em destaque (ver entrevista).

Outra aposta desta edição é o já consagradoJosé Carlos Fernandes. Vencedor de inúmerosprémios em Portugal e alguns no estrangeiro, esteé o autor da série A Pior Banda Do Mundo. Umgrupo de amigos que todos os dias, desde hátrinta anos, ensaia numa cave e dá liberdade àsua completa falta de talento e de ouvido musical,é a desculpa para conhecer algumas das maissugestivas personagens da nossa BD. Desdeclientes de um hotel que reclamam por terem tidosonhos de outros hóspedes durante a noite, até

gente que acorda cansada por passar a noite asonhar que tem insónias, há de tudo em A GrandeEnciclopédia Do Conhecimento Obsoleto, quartovolume desta série.

Na ordem do dia estará a comemoração doscem anos de Little Nemo In Slumberland deWinsor McCay (que também assinou obras comoSilas). Esta BD, publicada no New York Herald(hoje, Herald Tribune) entre 1905 e 1911, cujosepisódios terminam sempre quando o pequenoNemo acorda, é considerada um dos maisimportantes marcos na História dos quadra-dinhos. Haverá ainda espaço para revisitar NeilGaiman e a sua personagem, Sandman.

O festival estará na estação de MetroAmadora Este entre 21 Out (6.ª) e 6 Nov (dom). Oprograma detalhado só será divulgado após onosso fecho de edição, mas, com estas refe-rências, de certeza que vale a pena dar umpulinho a Belém, quer dizer, à Amadora. •

Os pastéis da AmadoraFestival Internacional De Banda Desenhada Da Amadora

Amadora21 Out a 6 Nov | www.amadorabd.com

texto: Luís P. Oeiras Fernandes

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texto: Ricardo Lourenço Nunes

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Com o objectivo de atrair milhares de visitan-tes, a quarta edição da ExperimentaDesign — Bie-nal de Lisboa decorre de 15 Set (5.ª) a 30 Out (dom),apresentando um programa multidisciplinar.

Iniciada em 1999, esta bienal internacional con-centra-se nas áreas da criatividade, experimentação emetodologia de projecto, tendo por base a disciplinado design. Promovendo a indústria e os criadores por-tugueses, a ExperimentaDesign (EXD) tem sido tam-bém um invulgar e bem sucedido espaço de apresen-tação e reflexão sobre os caminhos da produção cul-tural internacional.

Conforme refere a organização, a principal diferen-ça da EXD relativamente a eventos semelhantes naEuropa «reside no facto de esta se estabelecer comoevento de carácter experimental e não comercial», oque tem permitido que, desde a sua primeira edição,se concentre no âmbito do pensamento teórico e naelaboração de projectos inéditos, levando assim a umcrescente interesse e impacto nacional e internacional.

Depois de Intersecções do e no Design, em 1999,Modus Operandi, em 2001, e Para além do Consumo,em 2003, o tema para a edição de 2005 é O Meio é aMatéria. Fechando um ciclo, o tema para este ano fo-ca os objectivos, as metodologias e os intervenientespresentes nos meios de comunicação e nos objectoscomunicativos. Exposições, conferências, ciclos e de-bates promovem a reflexão sobre os meios e as maté-rias de comunicação e percepção, no intervalo entre ocriador e o consumidor.

Na semana inaugural concentra-se o programa deapresentações e inaugurações dos eventos, assim co-mo a realização dos debates e conferências. Distribuí-da por vários espaços na cidade, a EXD dispõe aindade um programa de visitas guiadas às exposições, umcentro de informação permanente onde se pode obterinformações e materiais específicos sobre todos oseventos e os seus protagonistas, bem como um espa-ço de encontro e convívio entre o público e os interve-nientes, denominado Lounging Space.

As exposições

My World, New Crafts — Artesanato e autono-mia no design contemporâneo pretende demonstrara crescente união entre o artesanato e o design no iní-cio deste século. Esta exposição reúne trabalhos deEspanha, Suécia, Reino Unido e Portugal, decorrendoentre 18 Set (dom) e 30 Out (dom) na Estufa Fria.

No Centro Cultural de Belém, de 16 Set (6.ª) a 27Nov (dom), Catalysts! — O design de comunicaçãoenquanto força cultural apresenta a importância dodesign de comunicação na expressão visual quotidiana,a sua relevância enquanto veículo de transmissão e oupropagação cultural, bem como o seu contributo para ocarácter da sociedade e cultura contemporânea.

Decorre entre 17 Set (sáb) e 30 Out (dom), no Tor-reão Nascente da Cordoaria Nacional, a exposiçãoS*Cool Ibérica — Design de Portugal e Espanha.Tendo por base uma oficina sobre o tema O Meio é aMatéria, onde participaram 13 escolas portuguesas e

O design ocupa LisboaExperimentaDesign 2005

Lisboa15 Set a 30 Out | www.experimentadesign.pt

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espanholas, a exposição apresenta uma selecção de20 projectos, trabalhos gráficos e protótipos.

A Casa Portuguesa — Novos conceitos parahabitações locais expõe a reflexão de 12 ateliers dearquitectura nacionais sobre o espaço habitacional edoméstico contemporâneo. Com recurso a materiaisreciclados e novas tecnologias, foram projectadas ha-bitações, tendo em vista o desenvolvimento sustentá-vel e as necessidades da vida contemporânea. Estaexposição decorre entre 17 Set (sáb) e 30 Out (dom)no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional.

De 19 Set (2.ª) a 30 Out (dom), na estação do Ros-sio, [P] apresenta uma síntese do design industrial edo design de comunicação português. Mais de cemcriadores nacionais demonstram as suas mais recen-tes reflexões e o porquê do crescente reconhecimentointernacional.

Outros eventos

Previstas para 15 Set (5.ª), 16 (6.ª) e 17 (sáb), como objectivo de estimular um debate aberto e informal,as Open Talks pretendem apresentar uma abordagempluridisciplinar dos temas desta bienal. No PalácioPombal, protagonistas nacionais e internacionaisabordam os panoramas culturais que dominam disci-plinas como o design de comunicação, o design in-dustrial, a arquitectura ou o urbanismo.

Durante os mesmos dias, no Centro Cultural deBelém, as Conferências de Lisboa pretendem ser umespaço de discussão e reflexão internacional sobre os

cenários contemporâneos do design e das várias dis-ciplinas focadas nesta bienal, contando com a presen-ça de figuras como Philippe Starck, MassimilianoFuksas, Stefan Sagmaister ou Eduardo Souto deMoura, entre outros.

Na Culturgest, entre 24 Set (sáb) e 27 (3.ª), o ciclo decinema intitulado Designmatography IV exibe obrasdos cineastas Morgan Fisher, Bruce Conner, ThomAndersen e Owen Land sob o tema da bienal, onde éfocado o cinema como disciplina de comunicação.

Por último, os Projectos Tangenciais represen-tam um conjunto de criações independentes que sereflectem no âmbito conceptual e inovador destabienal. Estes projectos, de naturezas diferentes,exploram universos artísticos e experimentais, de-monstram a vitalidade cultural do nosso país e podemser vistos no Palácio de Santa Catarina e no Museu daCidade a partir dos dias 15 Set (5.ª) e 16 (6.ª), respec-tivamente.

Numa conjuntura global de crise na produtividadee no consumo, o design enquanto disciplina que pro-cura soluções para as necessidades da sociedadecontemporânea revela-se, cada vez mais, um impor-tante meio na busca de novas dinâmicas económicase de produção. Vamos poder confirmá-lo, brevemente,em Lisboa. •

ForwardDesign 23

A ExperimentaDesign espalha-se por sete locaisdiferentes. Saiba qual a melhor maneira de lá chegar, semconduzir. Porque o petróleo está caro. E porque se utilizaros transportes públicos tem tempo para ler a FESTFORWARD MAGAZINE.

Centro Cultural de Belém Praça do ImpérioAutocarro: 14, 27, 28, 29, 43, 49, 51, 73 e 112Eléctrico: 15 e 17

Cordoaria Nacional Avenida da ÍndiaAutocarro: 14, 27, 28, 43, 49, 51 e 112Eléctrico: 15

Culturgest Rua do Arco do CegoAutocarro: 1, 21, 27, 32, 36, 38, 44, 45, 47, 49, 56, 83,90, 91 e 108Metro: estação Campo Pequeno

Estação do Rossio Praça D. João da CâmaraAutocarro: 2, 9, 11, 32, 36, 39, 44, 46, 59, 90, 91, 205 e207Metro: estações Rossio e Restauradores

Estufa Fria Parque Eduardo VII, Praça Marquês dePombalAutocarro: 1, 2, 12, 18, 20, 31, 38, 41, 42, 46, 49Metro: estações Marquês de Pombal, Parque e S.Sebastião

Palácio de Santa Catarina Rua de Santa Catarina, n.º 1Autocarro: 15 e 100Eléctrico: 28Elevador da Bica (à Calçada da Bica de Duarte Belo)Metro: estação Baixa-Chiado

Palácio Pombal Rua do Alecrim, n.º 70Autocarro: 100 e 58Metro: estação Baixa-Chiado

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texto: Lino Ramos

24 ForwardCinema

Certame seguramente a assinalar no panoramade festivais de cinema em Portugal, o Festival DeCinema Gay E Lésbico De Lisboa (FCGLL) dá esteano um grande passo em direcção à sua consoli-dação como um evento com uma cada vez maiscrescente relevância social e sociológica.

Uma das grandes novidades é a realização, pelaprimeira vez na história deste festival, de uma secçãocompetitiva, iniciativa essa já há muito ambicionadatanto pelos organizadores do FCGLL como tambémpelos responsáveis da Associação Cultural Janela In-discreta (ACJI). Com o claro objectivo de incutir umamaior dinâmica ao evento, assim como atingir umamaior projecção internacional, vão estar a concursonada menos que oito longas-metragens, 15 documen-tários e 44 curtas-metragens. Vale a pena assinalarque este ano foram recebidos mais de duzentos filmespara programação, dos quais cerca de cem serão exi-bidos. O júri internacional é constituído por CarlaDespineux (presidente), Margarida Cardoso, BrianRobinson e Cosimo Santoro, todos eles figuras impor-tantes na defesa e divulgação da cultura gay e lésbica.

Mas as novidades não se ficam por aqui — muito

pelo contrário. Associando-se à Cassefaz, estreou noTeatro da Comuna, a 9 Set (6.ª), o espectáculo GaySolo, escrito, encenado e interpretado por Luís Assis,primeira parte de uma proposta trilogia intitulada SexShop Trilogy. A iniciativa partiu da referida Cassefaz,que obteve do FCGLL uma pronta resposta positiva.Segundo o autor da peça, o Gay Solo «é um revolucio-nário guia para compreender o gay português em cin-co fáceis lições. E, sobretudo, é uma crítica corrosiva(e, às vezes, bem humorada) sobre algumas ideias fei-tas acerca do que é ser gay num pequeno país quegostamos de chamar Portugal!».

O que nos leva, por sua vez, ao tema central destanona edição: a cultura Queer. Afirmando-se cada vezmais como o elemento abrangente e unificador de to-das as sexualidades, procurou-se este ano uma ci-nematografia que represente o impacto desta culturana sociedade, nos comportamentos, na criação artís-tica, na sua articulação com a cultura mainstream.João Ferreira, director do festival, em entrevista àFEST explica: «Acho francamente redutor, e até desin-teressante, pensar uma cultura específica como algoestanque, fechado. Agrada-me o carácter flutuante doconceito Queer e a verdade é que a própria cultura gay

A cultura Queer9.º Festival De Cinema Gay E Lésbico

Cinema Quarteto, Instituto Franco-Português - Lisboa15 a 21 Set | www.lisbonfilmfest.org

Cairo Calling

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— e em particular a cinematografia gay — está cadavez mais contaminada deste conceito.» No interessedisto mesmo, realizam-se, de 16 Set (6.ª) a 17 Set(sáb), no Instituto Franco-Português, colóquios de es-tudos G(ay), L(ésbicos) e Q(ueer), moderados por es-pecialistas na matéria. A conferência de abertura seráfeita por Didier Eribon, filósofo e historiador das ideias.

E é claro que um festival sem público não é festi-val. João Ferreira orgulha-se de contar, ano após ano,com «um conjunto significativo de espectadores fiéis»e acrescenta que «a mudança do FCGLL para o espa-ço do Cinema Quarteto veio retirar-lhe — e ainda bem— alguma conotação de gueto que ele pudesse ter».No entanto, ainda contam com algumas dificuldades.«Com a redução do subsídio do ICAM em mais de60% em relação à edição anterior e a continuada recu-sa por parte da CML em nos dar um apoio financeirodirecto, tal como o têm os outros importantes festivais

de cinema de Lisboa, fizeram da questão financeira anossa maior luta deste ano».

Com uma programação fortíssima e um lequeatractivo de actividades paralelas, o FCGLL assume-se este ano como paragem obrigatória para todosaqueles que procuram entender melhor as culturasmarginais e marginalizadas da nossa sociedade ac-tual. Dê por lá um salto. Vai ver que não se arrepende.E, como aperitivo, aqui fica uma recomendação dopróprio director — chama-se Implicación e é umacurta-metragem do espanhol Julián Quintanilla queabrirá o Festival. «Não vou revelar muito do seu con-teúdo, apenas que tem um desempenho memorávelda Loles León e que trata de forma brutal o tema dahomofobia. É um filme que entendo que todo o paísdeveria ver. Talvez um dia programá-lo nos quatro ca-nais generalistas, às 20h, simultaneamente...». Ficadado o recado. •

programa seleccionado:

15 Set — Cinema Quarteto21h00 . Sala 2 . Abertura do FCGLL; Programa de curtas “De putamadre!”

16 Set — Cinema Quarteto15h00 . Sala 4 . Not Straight Forward, de Jennifer Ting (76’, EUA, 2004)

19h15 . Sala 4 . El Sexo De Los Angeles, de Frank Toro (80’, Espanha,

2004)

21h45 . Sala 2 . Hilde’s Journey, de Christof Vorster (90’, Suiça, 2004)

17 Set — Auditório do Instituto Franco-Português21h30 . L’Ennemi Naturel, de Pierre Erwan Guillaume (97’, França,

2004)

17 Set — Cinema Quarteto15h00 . Sala 4 . Comme Un Frère, de Bernard Alapetite e CyrilLegann (55’, França, 2005), Half A Life, de Claudia Laszczak e KayWishöth (55’, Alemanha, 2004)

17h15 . Sala 4 . Transazioni, de Mary Nicotra (29’, Itália, 2004), TrópicoDe Capricórnio, de Kika Nicolela (30’, Brasil, 2005), Enough Man, deLuke Woodward (61’, EUA, 2005)

19h30 . Sala 4 . Programa de curtas — “Laugh out loud”21h30 . Sala 4 . Programa de curtas — “As hard as it gets”23h30 . Sala 4 . Le Veau D’Or, de Stéphane Marti (30’, França, 2002),Mira Corpora, de Stéphane Marti (45’, França, 2004)

18 Set — Cinema Quarteto15h30 . Sala 4 . Annie Sprinkle’s Amazing World Of Orgasm, deAnnie Sprinkle e Sheila Malone (53’, EUA, 2004)

17h00 . Sala 2 . Lotta Libera, de Stefano Viali (15’, Itália, 2004), JusteUn Peu De Réconfort, de Armand Lameloise (43’, França, 2003)

19h00 . Sala 2 . Popular Music, de Reza Bagher (105’, Suécia, Finlândia,

2004)

21h30 . Sala 4 . Programa de curtas “Bad girls and sick boys”23h45 . Sala 4 . Mr. Leather, de Jason Garrett (70’, EUA, 2005)

19 Set — Auditório do Instituto Franco-Português21h30 . Chérie, de Liova Jedlicki (12’, França, 2004), Maris À ToutPrix, de Jean-Michel Vennemani e Yves Jeuland (90’, França, 2004)

19 Set — Cinema Quarteto15h30 . Sala 4 . Yes, de Hervé Joseph Lebrun (6’, França, 2004), TheTasty Bust Reunion, de Stephen Maclean (52’, Austrália, 2004)

17h00 . Sala 4 . Programa de curtas “It’s a queer world”19h30 . Sala 4 . City Of Happiness, de Michael Roes (85’, Argélia,

Alemanha, 2004)

21h45 . Sala 2 . L’Ennemi Naturel, de Pierre Erwan Guillaume (97’,

França, 2004)

20 Set — Cinema Quarteto15h30 . Sala 4 . Betty Ball Breaker Comes Home From Work, deTonje Gjevjon (2’, Noruega, 2000), Lesbian Gymnasts In USSR, deTonje Gjevjon (2’, Noruega, 2000), Red Dresses, de Tonje Gjevjon (3’,

Noruega, 2001), As You Wish, de Tonje Gjevjon (2’, Noruega, 2004),Talking In Tongues, de Tonje Gjevjon (2’, Noruega, 2004), AnnieSprinkle’s Amazing World Of Orgasm, de Annie Sprinkle e SheilaMalone (53’, EUA, 2004)

17h00 . Sala 4 . Programa de curtas “Oh England my lionheart”19h45 . Sala 4 . Kiki And Herb On The Rocks, de Mike Nicholls (75’,

Reino Unido, 2005)

22h00 . Sala 4 . The Legacy Of Cain, de Luca Acito e SebastianoMontresor (73’, Itália, 2005)

21 Set — Cinema Quarteto15h30 . Sala 4 . Chérie, de Liova Jedlicki (12’, França, 2004), Maris ÀTout Prix, de Jean-Michel Vennemani e Yves Jeuland (90’, França,

2004)

17h30 . Sala 4 . B-Girl, de Emily Dell (15’, EUA, 2004), Five Card Stud,de Jo-Ann Gaudry (65’, Canadá, 2005)

19h00 . Sala 4 . Comme Un Frère, de Bernard Alapetite e CyrilLegann (55’, França, 2005), Half A Life, de Claudia Laszczak andKay Wishöth (55’, Alemanha, 2004)

21h00 . Sala 2 . Atribuição dos Prémios da Secção Competitiva;Garçon Stupide, de Lionel Baier (94’, Suiça, 2004)

22h00 . Sala 4 . Harigata: The Alien Dildo That Turned Women IntoSex-Hungry Lesbos, de Szu Burgess (9’, EUA, 2003), Is Your WifeA Secret Lesbian?, de Szu Burgess (9’, EUA, 2002), Queer FactoryTales, de Vários Autores (69’, França, 2004), Acteur X Pour VousServir, de HPG (9’, França, 1997)

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texto: Cátia Monteiro

26 ForwardCinema

É já em Outubro que o Fundão alberga mais umaedição do IMAGO, este ano com secções inéditas econvidados de diversos quadrantes artísticos.

Na zona da sétima arte decorrem as secçõescompetitivas Oficial Internacional e Docs In Shorts,apostadas numa variedade de proveniências, com ca-da vez mais países a apresentarem obras a concurso.Pode por isso esperar-se uma selecção aberta a dife-rentes vivências culturais e modos de reinventar empelícula. Enquanto a secção Oficial Internacional sedebruça sobre a ficção, a animação e o experimental,o Docs In Shorts dedica-se exclusivamente ao docu-mentário, como a designação deixa antever. Tambémem competição, mas no formato vídeo, estreia-se asecção Under 25. O programa conta com 21 curtasrealizadas por jovens até aos 25 anos e que tenhamrecorrido a um baixo orçamento. O valor das recom-pensas a atribuir nas três secções ultrapassa os 10 mileuros, com a inclusão de um novo prémio, que levaráalguns dos filmes para o pequeno ecrã no âmbito doprograma Onda Curta, da 2:.

Programação especial

O realizador espanhol Jess Franco vai apresentarSnakewoman, deste ano, em ante-estreia mundial, in-serido num programa que conta com duas outrasobras, maioritariamente rodadas em Portugal. Parauma incursão teórica na restante obra do realizador, épossível a inscrição numa masterclass onde serão pri-vilegiados o diálogo e o debate.

A problemática dos mixed media, com a crescenteconvergência dos suportes de imagem a desempe-nhar um papel fulcral na nova forma de encarar a artevisual em movimento, é focada no trabalho de Rosto.O holandês vai apresentar uma exposição apoiada emmúltiplos suportes intitulada The World Of Mind MyGap, complementada por uma masterclass dedicadaaos Mixed Media — Novas Fronteiras da Imagem.

Terry Gilliam, nome projectado pelo culto estabe-lecido em torno dos Monty Phyton, vai ter alguns dosseus filmes exibidos na secção Early Years... Assina-lam-se duas décadas passadas desde a conclusão deBrazil, com curtas e longas anteriores a 1975, onde seinclui o mítico Monty Phyton And The Holy Grail.

Alargando a esfera temática e os géneros, dese-nham-se outros cardápios. Para assinalar os quatro-centos anos de D. Quixote De La Mancha criou-se umprograma de curtas e longas-metragens com diferen-tes visões do clássico de Cervantes. Na área do expe-rimental com rótulo europeu foi desenvolvido o pro-grama Europe In Shorts. Para além disto, o ProgramaEscolas, este ano com a iniciativa original de integrarunicamente filmes de animação realizados porcrianças. Totaliza 10 curtas de animação comproveniência nacional e da Bélgica.

IMAGO musicado

As noites do festival vão ser dinamizadas por ac-tuações ao vivo e DJ sets num cartaz que dá pelo no-me de Sound & Vision Experience. No dia de aberturachega da Noruega o espírito descontraído de Erlend

Imagens que se ouvemIMAGO 2005 - Festival Internacional De Cinema Jovem

Fundão1 a 8 Out | www.imagofilmfest.com

Ears Have No LidsCut

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ForwardCinema 27

Øye, cujo carácter ecléctico transforma as pistas dedança num mote à reinvenção estilística. Mas destavez os espectadores podem contar também com aapresentação de Unrest, editado à margem da duplaKings Of Convenience. A abertura da noite cabe aFrancisco Silva, que no formato Old Jerusalem lançanotas Folk e Country em toadas calmas.

A obra cinematográfica Entr’acte vai ser alvo derevisitação sonora, na forma de uma composição mu-sical original apresentada por Kubik e pelo maestroLuís Cipriano, que para o efeito se reunem à Orques-tra De Percussão da Associação Cultural da Beira In-terior e ao Coro Misto da Covilhã. Um filme-concertoa ter lugar no Pavilhão Multiusos.

Partindo igualmente da banda sonora dos filmespara uma reinterpretação ao vivo, os Norton preen-chem o Casino Fundanense com invocações de mo-mentos-chave de películas como Lost In Translation,de Sofia Coppola, onde abordam um tema dos MyBloody Valentine. Outras viagens a reboque dos SonicYouth e diversos ícones da cultura Indie, agendadaspara a noite de 4 Out (3.ª).

Para aperitivo, os Musgo oferecem um live act,enquanto a dupla mascarada mais conhecida doDJing português fornece a ceia através de misturas im-prováveis de hits clássicos e contemporâneos, e demanipulações da agulha que impulsionam o ritmo dapista de dança. Uma noite com Dezperados no EnglishClub para recordar que os DJs nunca são demais...

Berlim fornece a performance de 6 Out (5.ª), navoz e no movimento do multi-facetado Namosh, quedeixou a Turquia para se entregar à Electrónica da ca-

pital alemã. Em casa e a arrancar a noite, o projectoAnA apresenta um convite em formato electrónico.Sem as Chicks (On Speed) que a costumam acompa-nhar, mas com a atitude irreverente que caracteriza otrio, cabe a Alex Leslie-Murray a tarefa de finalizar anoite, atrás da mesa de mistura.

O intervalo nocturno que se segue é tomado deassalto pela editora de Badly Drawn Boy e Andy Votel,num Twisted Nerve Showcase que apresenta osToolshed em parceria com Malcom Mooney parauma série de revisitações de clássicos do cinema. Noalinhamento prossegue a viagem sonora pelo filme deanimação The Cybernetic Grandmother, lideradapelos Sirconical. A finalizar, Andy Votel reúne-se aCherrystones numa homenagem a Jess Franco ondese prometem descobertas pelos meandros das rarida-des sonoras.

A despedida adopta a designação de Kid Koala’sShort Attention Span Audio Theater, que incorpora atécnica do canadiano e dos convidados Jester e P-Love numa performance cuja definição dificilmente seextingue no rótulo de DJ set. Num total de oito gira-discos, pretende-se simular os sons de uma banda, aque se juntam instrumentos reais e a voz deLedrhosen Lucil, num cenário inusitado.

Em paralelo será possível visitar a Red Bull HomeGroove, onde actua Fernando Fadigaz, apoiado pe-las projecções dos Dub Video Connection, ou aindaas diversas iniciativas no âmbito do Heineken OpenSpace, numa simbiose entre música e imagem, com-binação que pauta toda a programação deste IMAGO2005. •

City Paradise Toolshed

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texto: Catarina Medina

28 ForwardCinema

«Em Outubro o mundo inteiro cabe em Lisboa».Era este o slogan que se fazia ouvir pelas salas daCulturgest durante o DocLisboa 2004, um dosmaiores eventos cinematográficos desse ano.Agora o DocLisboa 2005 regressa e traz com ele apromessa de que o mundo inteiro volte a caber nu-ma cidade, na terceira edição do Festival Interna-cional De Cinema Documental.

Como diz o provérbio, o bom filho a casa torna eeis que de 15 Out (6.ª) a 23 (dom) regressa o DocLis-boa, na Culturgest, o único festival de cinema portu-guês exclusivamente dedicado ao documentário. Maisuma vez organizado pela Apordoc (Associação peloDocumentário) em co-produção com a Culturgest,

conta com os mesmos três nomes na direcção: AnaIsabel Strindberg, Sérgio Tréfaut e Nuno Sena, os res-ponsáveis pela selecção dos filmes.

Para esta edição o festival contou com um reforçodo orçamento por parte do Ministério da Cultura e daCâmara Municipal de Lisboa. Sérgio Tréfaut, um dosdirectores do evento, suporta a importância do Doc-Lisboa dizendo que este é um festival «de cinema ex-clusivamente dedicado ao documentário, que se inte-ressa por novas formas de pensar, de ver o mundo ede comunicar». Integrado na Coordenação Europeiade Festivais de Cinema, teve quase 14 mil espectado-res durante os nove dias de 2004, e agora esperam-seainda mais, visto o número de candidaturas para com-petição ter duplicado.

A terceira parteDocLisboa 2005

Culturgest — Lisboa15 a 23 Out | www.doclisboa.org

El Cielo Gira

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ForwardCinema 29

Mas, como era de prever, o festivalmudou… para melhor. Entre as prin-cipais novidades está a criação deuma nova secção competitiva chama-da Investigações, ou seja, filmes sobrequestões de actualidade, documentários deinvestigação. Nas secções paralelas, destaque paraNacionalismos, Identidades e Fronteiras, comissariadopor Augusto M. Seabra; Documentário Russo Pós-Soviético, comissariado por Tue Steen Müller; e umaMostra Rectrospectiva Ross McElwee — o documen-tarista norte-americano de 58 anos também terá hon-ras de masterclass. A outra masterclass fica a cargo dofotógrafo e cineasta Raymond Depardon, de 63 anos.Estão ambas abertas ao público em geral e só énecessária inscrição prévia.

Mas existem muitas outras actividades, como umatelier de realização de filmes com um minuto de du-ração, destinado a jovens, além de sessões escola-res, fórum de debates e até uma videoteca paraconsulta livre.

O motor do festival continua a ser a filmografia.Recomenda-se especial atenção para o premiadoDarwin’s Nightmare, realizado por Hubert Sauper, umespelho da realidade política africana da região dosGrandes Lagos.

DocLisboa 2004

A última semana de Outubro do ano passado co-nheceu o 2.º Festival Internacional De Cinema Do-cumental De Lisboa. Os palcos desta iniciativa, quepretendeu «tirar o género do gueto», foram o pequenoe grande auditórios da Culturgest, tal como aconteceuna primeira edição. Durante oito dias foram exibidos60 documentários, alguns deles inéditos em Portugal,vistos por cerca de 13.500 espectadores. Em compe-tição estiveram filmes provenientes da Alemanha, Bél-gica, Bielorússia, Brasil, Cambodja, China, Cuba, Es-panha, Estados Unidos, Finlândia, França, Holanda,Índia, Israel, Itália, Portugal, Rússia e Suíça.

A história deste Festival remonta a 1989, ano dos

Encontros Internacionais de Cinema Documentalda Malaposta, que aconteceram até 2001. No ano se-guinte o Centro Cultural de Belém recebeu uma versãoremodelada do festival, a primeira edição do DocLis-boa — Festival Internacional De Cinema Documental,que veio preencher um espaço até então vazio no pa-norama cinematográfico português, divulgando o do-cumentário enquanto forma de expressão visual, ain-da pouco conhecida do grande público português,como reforça Nuno Sena: «lá fora vemos o documen-tário invadir os cinemas, as televisões e os festivaiscom uma nova intensidade, enquanto que em Portu-gal, não».

Nessa primeira edição o festival dividiu-se em vá-rias secções: a competição internacional, Para OndeVai O Documentário Português, Como Entender OMédio Oriente, Foco Sobre Espanha e as Sessões Es-peciais.

Da segunda edição guardam-se momentos comoos presentes no documentário Ydessa, Les Ours EtEtc…, de Agnès Varda. Ou ainda Miguel Mendes,que sem qualquer tipo de apoio financeiro realizou Au-tografia, baseado na obra de Mário Cesarinny — esteviria a ser o grande vencedor do prémio para o melhordocumentário português.

Ainda a destacar, o conjunto de filmes que retratoude forma próxima o conflito israelo-árabe, exemplomáximo foi o premiado Checkpoint, estranhamente fi-nanciado pelo Estado Israelita. E claro, não nos pode-ríamos esquecer da concorrida masterclass com orealizador de Être Et Avoir, Nicolas Philibert.

Este ano esperam-se mais pessoas, filas de espe-ra ainda mais longas, bilhetes laranjas e brancos ras-gados pelo chão, como símbolos de que a Culturgest,durante uma semana no mês de Outubro, volte a servirde residencial fácil a todos os que desejarem por lámorar. •

Darwin’s Nightmare

foto: J. Kuldelka

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texto: Cátia Monteiro

30 ForwardCinema

Nova investida do cinema francês, que contaeste ano com a presença de nomes firmados nasétima arte, como Michael Haneke, ou recém-che-gados, como Jérôme Salle.

O Instituto Franco-Português (IFP), em colabora-ção com a Embaixada de França, procura através daFesta Do Cinema Francês conseguir uma maior expo-sição da cinematografia francesa, com o objectivo fi-nal de alcançar o mercado de distribuição português.A 6 Out (5.ª) o Fórum Lisboa inaugura a Festa, chame-mos-lhe assim, que ali permanece nos dois fins-de-semana seguintes. Durante a semana, é na sede doIFP que se projectam os filmes.

Posteriormente, e à semelhança dos anos anterio-res, a Festa estende-se a outros pontos do país. Entre13 Out (5.ª) e 16 Out (dom) no Rivoli e no Cinema Ci-dade do Porto, de onde parte para Coimbra, ocupan-do o cinema Millenium Avenida de 17 Out (2.ª) a 20Out (5.ª). A cidade escolhida para o término dos feste-

os foi Faro, que entre 1 Nov (3.ª) e 3 Nov (5.ª) recebeuma selecção mais reduzida de filmes no Teatro Muni-cipal.

A programação é de carácter generalista, repre-sentando várias vertentes da escola cinematográficafrancesa, com filmes de autores consagrados e algu-mas surpresas. O realizador de A Pianista regressaeste ano com Caché, um drama que assenta nas inter-pretações de Juliette Binoche e Daniel Auteuil, ondeo investimento estético e a força dos diálogos servemum enredo de tensão crescente.

A acompanhar mais este filme de MichaelHaneke está Jérôme Salle, que traz ao palco da Fes-ta a sua segunda obra como realizador, intituladaAnthony Zimmer.

Uma das Oito Mulheres de François Ozon é ho-menageada nesta sexta edição. Para o efeito a Cine-mateca de Lisboa vai exibir um percurso alternativo daactriz Fanny Ardant. Ainda pensa ficar em casa? •

Operação de charme6.ª Festa Do Cinema Francês

Lisboa, Porto, Coimbra e Faro6 Out a 3 Nov | www.ifp-lisboa.com

Para além de uma secção competitiva, o festivalcontempla igualmente vários ciclos de cinema, alémde um conjunto de outras iniciativas paralelas, comoexposições, concertos e palestras. Foi ainda firmadoum acordo de cooperação entre o Festival De Goiás(Brasil), o Cine’Eco e um festival de cinema no Minde-lo, em Cabo Verde, que está a ser criado. Assim, oCine’Eco contará com uma mostra de filmes goianose outra de longas-metragens brasileiras do circuito co-mercial.

Com o objectivo de promover o vídeo como formade expressão artística, oferecendo um espaço para osurgimento de novos talentos e proporcionando umcontacto estreito entre os autores e o público, nasceuem 1996 o Ovarvídeo, um festival de vídeo de âmbito

nacional. Presentemente tem uma programação estru-turada de onde se destacam as oficinas de formaçãoe criação artística, as mostras internacionais, a com-petição nacional e as vídeo-instalações.

O Festival Internacional De Cinema Do Funchal(FICF) contará com a secção oficial de competição de-dicado ao Cinema Do Atlântico, com a secção dePanorama & Premiere, tendo por base os filmes já ad-quiridos para o mercado português e com a Animarte,uma secção dedicada aos mais novos. Conta ainda,com uma homenagem ao realizador madeirenseAntónio da Cunha Telles, uma retrospectiva decinema espanhol, curtas metragens e projecções ao arlivre de filmes de culto, num total de 40 sessões decinema. Paralelamente, o FICF organiza conferênciase debates, exposições, animações de rua e festasnocturnas no café do teatro. A organização do FICFestá a cargo da Plano XXI e da Cinema Novo(Fantasporto). • FP

Cine’Eco — 11.º Festival Internacional De Cinema E Vídeo De AmbienteDa Serra Da EstrelaCasa Municipal da Cultura — Seia21 a 30 Out | www.cineeco.org

OvarvídeoOvar27 a 30 Out | www.ovarvideo.com

1.º Festival Internacional De Cinema Do FunchalTeatro Municipal Baltazar Dias — Funchal5 a 13 Nov | www.funchalfilm.com

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ForwardCinema 31 .

texto: Filipa Lourenço

Animação sem fronteirasCinanima — Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho

Há 29 anos que o Cinanima contribui para adivulgação da animação em Portugal. Com a cons-trução do Centro de Multimeios de Espinho, em2000, o festival ganhou nova localização e outroímpeto.

Mais filmes e países a concurso fizeram superar asexpectativas relativamente ao número de participa-ções nesta edição. Um total de setecentas inscriçõesvindas dos quatro cantos do mundo, ocupando Portu-gal o terceiro lugar no ranking de participações com 61obras.

As 81 curtas-metragens da secção competitivainternacional integram The Mysterious GeographicExplorations Of Jasper Morello, do australianoAnthony Lucas, vencedor do grande prémio doFestival Internacional De Cinema De Animação DeAnnecy. Uma animação gótica de silhuetas passadanum mundo de navios aéreos, sobre o desonrado na-

vegador aéreo Jasper Morello, a quem é dada uma se-gunda oportunidade.

Inserida na competição nacional Prémio Do Jo-vem Cineasta, a curta-metragem A Ovelha Azul, deNelson Fernandes e Rodolfo Pimenta, foi realizada pe-la Cooperativa Cinema Jovem, em 2004. Participaramos alunos de oito escolas primárias do concelho doFundão (Peroviseu, Salgueiro, Quintãs, Monte Leal,Capinha, Alpedrinha, Castelo Novo e Orca).

Este ano, o Prémio António Maria será atribuído aorealizador Abi Feijó, fundador da Casa da Animação eda Filmógrafo, uma das principais produtoras na áreada animação na década de 90. Algumas das suasobras, entre as quais se contam Os Salteadores, FadoLusitano e Clandestino, são apontadas para integraruma mostra no Cinanima 2005.

O programa do festival inclui ainda sessões espe-ciais, exposições, uma oficina sobre stop-motion eoutras actividades. •

Centro Multimeios — Espinho 7 a 13 Nov | www.cinanima.pt

The Mysterious Geographic Explorations Of Jasper Morello

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texto: João Pedro Correia

32 ForwardDança

De 28 Out (6.ª) a 13 Nov (dom) tem lugar a Quin-zena De Dança De Almada (QDA), um dos princi-pais eventos do género no país. O festival concen-tra espectáculos pela companhia de dança da ci-dade, diversas oficinas, ateliers e conferências,além da central plataforma coreográfica interna-cional.

Os quatro primeiros dias da QDA estão a cargo dogrupo da casa, que apresentará dois espectáculos di-ferentes, um de Guillermo Horta Betancourt e outrosob a direcção de Ana Macara, este «concebido como objectivo de aproximar o público jovem da dançacontemporânea», compondo-se de «várias peças cur-tas e interligadas, representativas de diversos estilos dedança», esclarece a Companhia De Dança De Almada.

Em seguida é a vez de a companhia do Silesian

Dance Theatre, da Polónia, apresentar a peçaGlamour Of A Mundane — Dream From A Saint.

Entre 10 Nov (5.ª) e 12 Nov (sáb), tem lugar aplataforma coreográfica internacional, cuja numerolo-gia interessa realçar: três temas diferentes, ao longode três dias, com trabalhos de 21 coreógrafos prove-nientes de 13 países (EUA, Suécia, Hungria, Irlanda,México, Inglaterra e Tailândia, só para citar alguns). Aslinhas temáticas são Ligações — Sonhos e Reali-dades, Natureza e Vida — Encontros e Desencontros eHíbridos — Linguagens, Géneros e Culturas.

Além dos espectáculos, o festival oferece váriasactividades paralelas. Será possível frequentaroficinas de dança contemporânea e dança Butoh, ate-liers de dança para crianças e visionar uma mostra in-ternacional de trabalhos de mais de 30 criadores. Osespectáculos têm lugar no auditório municipal. •

PUBMX3

Almada, a capital da dança13.ª Quinzena De Dança De Almada

Almada28 Out a 13 Nov | www.cdanca-almada.pt

Breakthrough

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Forward Teatro 33

texto: Ana Duarte

Vila do Conde é uma cidade encantadora, mol-dada entre pinhais e mar. Mas há mais razões parair até lá. O Festival Pés No Palco subirá o pano jáem Setembro, seguido do Festival Ponto Pequeno,em Novembro. Teatro e marionetas tomam contada cidade.

O Círculo Católico de Operários (CCO) de Vila doConde, associação centenária, tem vindo a contribuirpara o crescimento da esfera cultural desta cidade,assumindo-se cada vez mais como estrutura e espaçode apoio às artes. Por isso, e acompanhado pela Co-rifeu Artes e pela Companhia De Teatro E MarionetasDe Mandrágora (CTMM), leva a palco várias compa-nhias nos dois festivais que se propõe apresentar:Festival Pés no Palco a decorrer de 9 Set (6.ª) a 11Out (3.ª); e Festival Ponto Pequeno a acontecer de 4Nov (6.ª) a 20 (dom).

Pés No Palco é uma mostra de teatro, que agendapara esta segunda edição um conjunto de espectácu-los para um público adulto. O programa é diversifica-do e o espectador poderá assistir a espectáculos do

teatro clássico (TIPAR apresenta Preconceito Vencido,de Marivaux, dia 30 Set [6.ª]), e mesmo de teatro con-temporâneo. Exemplo disso é Histórias Mínimas, pelaOficina De Teatro Da Maia, em que se sente a trans-versalidade disciplinar e se tocam outras artes, comoa dança ou o multimédia. Esta peça abrirá o festival,no dia 9 (6.ª), às 21h30. Nas manhãs de sábado abran-gidas pelo festival terá lugar a oficina Fazer de UmConto, organizado pela CTMM.

A companhia regressará, aliás, em Novembro, tra-zendo a alegria das marionetas à cidade, no FestivalPonto Pequeno. Durante duas semanas, pequenotes ecrescidos poderão deixar-se encantar pelos bonecoscom alma. Várias companhias de marionetas levarãoos seus espectáculos ao palco do CCO, destacando-se a estreia da nova produção da companhia organi-zadora: Auto Da Barca Do Inferno, de Gil Vicente.Ateliers e exposições de marionetas completam o pro-grama.

Os bilhetes custam entre dois e cinco euros, umpreço baixo que certamente é mais um incentivo paraacorrer ao teatro, em Vila do Conde. •

Três meses de teatro e marionetas2.º Festival Pés No Palco

2.ª Ponto Pequeno — Encontro Das Marionetas

Vila do Conde 9 Set a 11 Out e 4 a 20 Nov | www.marionetasmandragora.com

Histórias Mínimas

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texto: Jota Assis

00 Forward Teatro

Em 1998, a companhia S. A. Marionetas —Teatro & Bonecos teve a ousadia de organizar, pelaprimeira vez, em Alcobaça, o Festival MarionetasNa Cidade. Este ano, na oitava edição, volta a cairo pano e os actores entram em cena.

Aquando da sua criação, os objectivos da compa-nhia eram, tal como ainda hoje são, amplos e nobres.Para além de procurarem abrir ao público portuguêsuma porta de entrada nesta arte pouco conhecida emal divulgada e acordar a sociedade para o seu esta-do actual, os organizadores empenharam-se em moti-var a criação e inovação artísticas das marionetas eapresentaram espectáculos novos, tanto estética co-mo artisticamente. Em simultâneo, recuperaram e pre-servaram as formas tradicionais da arte bonecreira,com um programa composto por espectáculos de Ro-bertos e Bonecos de Santo Aleixo, representantes deduas das mais antigas tradições de teatro popular demarionetas em Portugal.

Continuando a experiência do ano anterior e embusca do formato ideal, o festival alargou-se para dezdias, em 1999, contando com seis espectáculos comuma programação específica para as escolas do con-celho, um debate centrado no tema A Marioneta EmPortugal, uma exposição de artes plásticas com o temaA Marioneta, animação de rua, seis espectáculos paratodos e o Primeiro Encontro De Teatro De Robertos.

Nos quatro anos seguintes, o Marionetas NaCidade teve uma taxa de sucesso elevado, atribuídaem grande parte às oficinas de construção de mario-netas, aos espectáculos inseridos na programaçãopara as escolas e à animação de rua.

As lotações esgotadas, uma afluência diversifica-da e a participação empenhada do público, deram no-vas esperanças aos artistas e criadores do projecto,que a partir de 2000 o dividiram por apenas quatrodias. Nesse mesmo ano houve ainda espaço para umadeclaração de interesse cultural dada pelo então mi-nistro da cultura dr. José Sasportes.

Já em 2004, alargaram-se os espectáculos de ruapara 10 e criou-se uma oficina de construção de ma-rionetas, proporcionada pela Escola Adães Bermudes.

Esta longevidade saudável prova que ao longodos seus sete anos de vida, o Marionetas Na Cidadetem apresentado uma programação heterogénea, comespectáculos nacionais de grande qualidade e repre-sentantes de várias tendências, prosseguindo a filoso-fia de programação que o tem pautado desde o iníciodo projecto. É hoje um festival consolidado no pano-rama nacional, tendo-se tornado uma referência e umponto de encontro para as companhias de teatro demarionetas portuguesas.

A edição de 2005, decorre de 13 Out (5.ª) a 16(dom) na cidade de Alcobaça, prevendo-se um suces-so ainda maior que nos anos anteriores. •

As marionetas vieram para ficarFestival Marionetas Na Cidade

Alcobaça13 a 16 Out | www.samarionetas.com

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O público já não precisa de fazer o pino paraconseguir ver determinados artistas em Portugal.A variedade tem crescido de forma considerávelnos eventos de menores dimensões e exemplo dis-so é o recém-criado Festival Para Gente Sentada.

A segunda edição chega ao Teatro AntónioLamoso a 30 Set (6.ª) e fica para o dia seguinte.Sondre Lerche, que entrega trocadilhos irónicos nu-ma bandeja melodiosa servida com boa disposição, éum dos nomes confirmados. Na crista do hype chegaPatrick Wolf, outro jovem multifacetado, que viu nosegundo álbum “Wind In The Wires” a oportunidadede cativar um público surpreendido. Damien Jurado éoutro dos nomes que figuram num cartaz que apelaaos contadores de vidas e cantores de histórias. •

O festival Rock de Portugal volta a marcar pre-sença no início do Outono, depois de um inter-regno devido aos cortes orçamentais que atingi-ram toda a actividade cultural em 2004.

O primeiro dia do Festival Barreiro Rocks é enca-beçado pelo poeta Billy Childish, acompanhado porum dos seus muitos projectos, os The Buff Medways,ficando o cartaz completo com Black Lips, The Hellse Los Chicos.

Apadrinhados por Jello Biafra, os The FlamingStars serão os responsáveis pelo encerramento dofestival, que conta ainda com a presença dos TheDT’s, The Coyote Men e The Magnetix.

Os bilhetes custam 10 euros, para um dia, ou 15para os dois. •

A Fonoteca Municipal de Lisboa volta a apostar

na promoção de novas bandas na quarta edição doFestival Phono, que culminará no lançamento deuma compilação com dois temas de cada uma dascinco bandas participantes.

Criado em 2002, o Festival Phono tem vindo a rea-lizar um trabalho importante na divulgação da músicafeita em Portugal e começa a ser um ponto de passa-gem obrigatório para bandas que auguram gravar oseu primeiro álbum. A Fonoteca proporciona assimuma oportunidade única para que bandas em início decarreira se possam mostrar aos diversos agentes mu-sicais presentes no evento.

Em 2005, tal como havia acontecido no ano ante-rior, o Phono verá editada uma compilação de forma aapoiar a divulgação do festival e a promoção das ban-das presentes. De recordar que, desde a sua primeiraedição, o festival é, em parte, responsável pelo suces-so de bandas como Old Jerusalem, Ashfield, TheUltimate Architects, Houdini Blues, My Tie, Wego ePost Hit, entre outros.

Os concertos têm lugar na sala de audição, umcompartimento da Fonoteca que se transforma numpequeno auditório com capacidade para cerca de 50lugares, com início às 21h30 e entrada livre. •

O Festival Sons Em Trânsito esteve em risco denão se realizar, em 2004, devido a dificuldadesorçamentais. Em 2005, embora as condições eco-nómicas continuem a ser adversas, o festival ex-pande-se, levando o melhor do que se faz na WorldMusic a outros cantos do país.

Até à data de fecho desta edição somente foi pos-sível confirmar a realização do festival e um dos no-mes em cartaz: Kimmo Pohjonen estará presente,com o seu projecto Animator, no qual colabora MaritaLiulia, também responsável pelo arrojado visual quepreencherá todo o espectáculo.

O Festival Sons Em Trânsito inclui cinema, docu-mentários e exposições, e na edição passada o seusucesso ficou a dever-se, em grande parte, aos norte-americanos Tuxedomoon. •

ForwardMúsica 35

textos: Cátia Monteiro e Pedro Moreira

Festival Sons Em TrânsitoAveiro, Famalicão, Vila Real e Bragança24 Nov a 3 Dez | www.set.com.pt

Phono’05Fonoteca Municipal — Lisboa22 a 26 Nov | www.cm-lisboa.pt/fonoteca

Pequenos grandes festivais

Festival Barreiro RocksJunto à Escola Alfredo da Silva, Barreiro7 e 8 Out | www.barreirorocks.com

2.º Festival Para Gente SentadaSanta Maria da Feira30 Set e 1 Out | www.cm-feira.pt

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texto: João Pedro Correia

36 ForwardMúsica

A julgar pelos músicos em cartaz, o regressadoSeixal Jazz corre o sério risco de se revelar o me-lhor festival da temporada.

É na segunda quinzena de Outubro que tem lugaro Seixal Jazz (SJ), este ano na sua oitava edição, a se-gunda após a passagem a evento bienal. Quatro quin-tetos, um sexteto e um quarteto compõem um cartazque manterá a configuração a que o festival nos ha-bitou: seis noites divididas por duas semanas, de 5.ª asáb, com dois espectáculos por noite, às 21h30 e às23h30. O cenário é o Auditório Municipal do Seixal, nocimo de uma colina com uma bela vista sobre a baíado Tejo.

O SJ é o terceiro vértice do triângulo da oferta jaz-zística da área da grande Lisboa e sua margem-sul, a

par com o Festival Do Estoril e o Jazz Em Agosto daFundação Calouste Gulbenkian. Os três são estetica-mente diferentes, com o Estoril — herdeiro do primeirofestival de Jazz português, o Cascais Jazz — manten-do e divulgando uma linhagem mais clássica, ao pas-so que o evento da Gulbenkian se caracteriza por pro-postas no extremo da vanguarda e fora do comum.Numa lógica de complementaridade não planeada, oSJ movimenta-se no meio.

Essencialmente acústico — a fusão entre o Jazz ea música electrónica não tem lugar, como sucede naGulbenkian — e privilegiando as novas tendências doJazz norte-americano, o SJ tem procurado executan-tes inovadores e renovadores. Pelo menos a progra-mação para a edição de 2005 é rica nisso mesmo.

À excepção do Quinteto De Laurent Filipe, o úni-

Miguel Zenón

Jazz regressa à baía do TejoFestival Internacional Seixal Jazz 2005

Seixal20 a 22 e 27 a 29 Out | http://srvweb.com-seixal.pt/seixaljazz

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fotos: Mariah Wilkins.Miguel Zenon Jimmy Katz.Jeremy Pelt

co conjunto falante de Português e todo ele compostopor músicos sobejamente conhecidos do Jazz nacio-nal, tudo é novidade no Seixal. De tal forma que o di-rector artístico do festival, Paulo Gil, confessou à FESTestar bastante expectante, «sobretudo para a segundasemana, que tem propostas extremamente inovadoras,três delas inéditas em Portugal e uma em especialpouquíssimo conhecida na Europa».

Paulo Gil refere-se particularmente ao QuintetoDe Mike Fahn E Mary Ann McSweeney, um casal demúsicos norte-americanos, ele trombonista e ela con-trabaixista. Praticamente desconhecido no circuitojazzístico europeu, Fahn destaca-se por manejar doistipos diferentes de trombone, o de varas (mais vulgar)e o de válvulas, e alterná-los no mesmo tema, coisarara de se ver e que Fahn fará no Seixal. Consigo vemo saxofonista Rick Margitza, músico lançado porMiles Davis no final da década de oitenta e com quemgravou três discos.

Antes disso tocam Miguel Zenón e David Binney,«duas estéticas contemporâneas do saxofone-alto,dois músicos particularmente imaginativos», descrevePaulo Gil, acrescentando que «será particularmente in-teressante ver e ouvir estas duas propostas, em diasseguidos».

Binney, que passou pelo Hot Clube de Lisboa ain-da antes do Verão, é um músico bastante controverso.Priveligia linguagens vanguardistas, com as suas com-posições alternando duros improvisos com baladasmelódicas e minimalistas.

Por seu lado, Zenón oferece um Jazz algo latiniza-do, influenciado pelo ambiente da sua terra natal, Por-to Rico. Do quinteto faz parte Luis Perdomo, excelen-te pianista, que deixou muito boas memórias a quemo viu actuar há um ano, em Oeiras.

Antes desta competição no saxofone-alto sobe aopalco o grupo de Kurt Rosenwinkel, «um guitarristafora do vulgar», nas palavras de Paulo Gil, que se fazacompanhar de um leque de músicos virtuosos. Obaterista Ari Hoenig será o melhor exemplo: «um des-concertante fenómeno da bateria», escreveu a revistafrancesa Jazzman, acerca do seu álbum gravado a so-

lo. O saxofonista Chris Cheek é um músico «bastanteinterventivo, óptimo para estimular Rosenwinkel», ex-plicou o director artístico do festival.

A abertura do evento está a cargo do quinteto dojovem Wayne Escoffery, «muito provavelmente umdos mais talentosos saxofonistas que passaram pelaMingus Big Band nos últimos cinco anos», revelouPaulo Gil.

Propostas alternativas

O Seixal Jazz desdobra-se em várias actividadescomplementares, sendo a mais interessante a série deespectáculos intitulada Seixal Jazz Clube. Desde o dia14 Out (6.ª) até ao final do festival, no edifício da ex-fábrica Mundet (recinto a cem metros do auditóriomunicipal) e até cerca das duas da madrugada,actuam vários grupos portugueses, a Escola Modernade Jazz do Seixal e o músico, compositor e director dareputadíssima Berklee School of Music (Boston, EUA),George Garzone — que vem ao Seixal também paraleccionar uma oficina de saxofone.

Outro acontecimento a reter é o lançamento do li-vro intitulado Jazz, da autoria de Rosa Reis, fotógrafaportuguesa que há já vários anos se dedica a registaro Seixal e a maioria dos festivais nacionais de Jazz.

Os bilhetes para o festival custam 10 euros, sendoque para o Seixal Jazz Clube a entrada é gratuita.

Ecos da crise

O Festival Internacional Seixal Jazz nasceu em1996, numa altura em que não existia qualquer ofertade relevo na cena jazzística nacional abaixo da grandeLisboa. A lotação esgotada foi uma tendência desde oprimeiro ano e o festival rapidamente alcançou o esta-tuto de referência.

Contudo, em 2002, o ano do célebre discurso datanga, pelo então primeiro-ministro Durão Barroso, aredução do orçamento da autarquia para a cultura di-tou que o SJ passasse a realizar-se ano-sim, ano-não,interrompendo-se logo nesse ano. •

Jeremy Pelt Wayne EscofferyLuis Perdomo

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Verdadeiramente britânicoThe London Design Festival 2005

Londres, Reino Unido15 a 30 Set | www.londondesignfestival.com

texto: Filipa Lourenço

Pelo terceiro ano consecutivo, Setembro é omês do design em Londres. O pretexto: celebrar epromover a criatividade de artistas do Reino Unido.

Abrangendo um vasto espectro na área do design,que vai desde o mobiliário à escrita criativa, a realiza-ção do London Design Festival resulta graças a umgrupo de centena e meia de entidades, divididas entreparceiros, apoiantes e patrocinadores, com o únicoobjectivo de promover e desenvolver a indústria criati-va britânica.

Segundo Will Knight, um dos responsáveis peloevento, «o festival reflecte o que Londres é. Todo o tra-balho a que as pessoas irão assistir dura as 52 sema-nas do ano, o festival é uma plataforma para o mostrar».

A exibição de acontecimentos e actividades portoda a cidade possibilita a chegada a uma vasta e va-riada audiência desse mesmo trabalho. Sendo a maio-ria dos eventos gratuitos e à semelhança do que acon-teceu em 2004, a organização avança com a previsãode 150 mil visitantes vindos de todo o mundo.

Durante duas semanas as criações apropriam-sedas principais artérias londrinas. A famosa TrafalgarSquare assistirá à construção do maior banco do Rei-no Unido a 19 Set (2.ª), com cerca de cem metros, fei-to a partir de 12 mil vulgares elásticos azuis, uma obrado conceituado designer de produto Tom Dixon.

Um dos eventos centrais é From Here To Here;Stories Inspired By The Circle Line, de 16 Set (6.ª) a12 Out (4.ª), uma exposição, uma série de cartazes eum livro, inspirados pelos locais, histórias e arquitec-tura das 27 estações da linha amarela do metro londri-no. O projecto resulta da colaboração criativa entre ogrupo de escritores 26, estudantes de design doLondon College of Communication e o metropolitanoda cidade. Para aqueles que não se puderem deslocarà capital britânica há sempre a hipótese de espreitar oprojecto em www.fromheretohere.com.

Após o crepúsculo e durante todo o período dofestival será possível avistar nas ruas as Light Bikes,um conjunto de instalações luminosas móveis, rebo-cadas por bicicletas, que acompanharão os visitantesentre os acontecimentos mais importantes, ligando-osentre si.

Este London Design Festival é, então, uma óptimadesculpa para visitar as terras de sua majestade. •

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outros destaques:

Design Mart: 22 Set (5.ª) a 25 (dom), Design Museum

Jerwood Applied Arts Prize: 8 Set (5.ª) a 20 Nov (dom),The Crafts Council Gallery

Import Export — Global Influences in ContemporaryDesign: 20 Set (3.ª) a 4 Dez (dom), V&A

Cockpit Arts at The Great Eastern Hotel: 12 Set (2.ª) a30 (6.ª), The Great Eastern Hotel

Truly British: 5 Set (2.ª) a 15 Out (5.ª), Harrods

Based Upon Design: 15 Set (5.ª) a 25 (dom), 97-99Sclater Street

Materialize . Afrodoti Krassa

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Forward Internacional 39

texto: Filipe Pedro

Nasceu em 1957 o London Film Festival, queeste ano vai para a sua 49.ª edição. O festival trans-forma a capital inglesa num gigante ecrã de cine-ma, onde são projectadas, em média, mais de duascentenas de filmes, sempre oriundas de mais de 50países.

A edição do ano passado não fugiu à regra, tendosido apresentados 283 projectos, incluindo 180 lon-gas-metragens e 103 curtas. Contou ainda com umnúmero de visitantes a rondar as 116 mil pessoas.Entre os filmes projectados em 2004, encontram-seobras como The Incredibles ou The Edukators, filmealemão que por estes dias vai passando por algumassalas portuguesas.

Este ano, o festival abre a 19 Out (4.ª), com The

Constant Gardener, do realizador brasileiro de Cidadede Deus, Fernando Meirelles. E fecha a 3 Nov (5.ª),com Good Night and Good Luck, o esperado filme deGeorge Clooney.

A directora do festival, Sandra Hebron, diz estar«deliciada com o facto de podermos abrir e fechar ofestival deste ano com dois filmes tão fortes e distintosao mesmo tempo, que honram o cinema de uma formatão segura e imaginativa. Embora muito diferentes emforma e estilo, as películas partilham uma relevânciasocial e uma visão progressiva do mundo, sendodeterminados e inventivos na abordagem dos temasde que tratam.»

O London Film Festival é, certamente, um pretextodigno de aproveitar as promoções das linhas aéreas ecomprar um voo com destino a Londres. •

Em 2005, o Festival De Sitges comemora apassagem de 30 anos sobre a estreia do filmeJaws (Tubarão), de Steven Spielberg. Anunciam-seprojecções da totalidade da saga, uma exposiçãoe a presença de convidados especiais.

O realizador Álex de la Iglesia receberá o PrémioMáquina Do Tempo por uma filmografia de referência,que inclui obras como El Día De La Bestia (O Dia DaBesta) e Crimen Ferpecto (Crime Ferpeito). Por outrolado, o japonês workaholic Takashi Miike volta acompetir em Sitges com uma nova realização, YokaiDaisenso, contando com Chiaki Kuriyama como pro-tagonista (GoGo Yubari no filme Kill Bill, de QuentinTarantino).

Extra-concurso estão, entre outros, Corpse Bride,de Tim Burton — filme de animação que recupera oimaginário de Nightmare Before Christmas (O Estra-nho Mundo De Jack) e Edward Scissorhands (EduardoMãos De Tesoura), com Johnny Depp, HelenaBonham Carter e Emily Watson nas vozes principais—, A History Of Violence, de David Cronenberg,Flightplan, de Robert Schwentke (com Jodie Foster)

e Sympathy For The Lady Vengeance, de Park Chan-Wook (derradeiro filme da trilogia que inclui Old Boy eSympathy For Mr. Vengeance).

Sitges proclama-se o maior festival de cinema fan-tástico do mundo. O estatuto tem-lhe permitido rece-ber a visita de estrelas como Quentin Tarantino, An-thony Hopkins, Wim Wenders, David Cronenberg ouMira Sorvino. •

Corpse Bride

texto: Jota Assis

Tubarão ataca na Catalunha38.º Sitges — Festival Internacional De Cinema De Catalunya

Sitges, Barcelona, Espanha 9 a 18 Out | www.cinemasitges.com

Londres, esse grande cinema49.º London Film Festival

Londres, Reino Unido 19 Out a 3 Nov | www.lff.org.uk

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texto: Luís P. Oeiras Fernandes

Política, paixão e traição são os temas destaedição de um dos mais antigos festivais de teatroda Europa. Uma das melhores épocas e desculpaspara visitar Dublin.

Escolhem-se seis encenadores e seis dramatur-gos e juntam-se dois a dois, à sorte, antes de seremembarcados, de manhã cedo, no primeiro comboio.No regresso a Dublin, terão um conjunto de actoresatribuídos aleatoriamente e exactamente cinco horaspara pôr de pé o espectáculo. À noite, cada dupla temde apresentar uma peça de cinco minutos com baseno que viu e nas pessoas que conheceu durante aviagem.

Este Madly Off In All Directions é um exemplo dosmuitos eventos das Olimpíadas Do Teatro, uma dasnovidades do Dublin Theatre Festival (DTF) deste ano.As olimpíadas incluem debates, oficinas e ciclos decinema. É também possível conhecer melhor doisverdadeiros patriarcas do teatro britânico contem-porâneo. Harold Pinter (cuja Conferência De Impren-sa E Outras Aldrabices foi recentemente encena-da/adaptada pelos Artistas Unidos) tem um fim-de-semana temático com filmes, debates e leituras (algu-mas pelo próprio). Peter Brook, famoso pelas suasinovadoras encenações shakespeareanas, é homena-geado no seu 80.º aniversário com uma exposição re-

trospectiva.Quanto ao programa principal, é aguardado o mu-

sical Some Girls Are Bigger Than Others, com músicasdos The Smiths. O espectáculo da Anonymous So-ciety baseia-se nas relações entre quatro mulheres edois homens. Tem sido descrito como uma mescla doespírito mais sombrio com a leveza que caracterizaesta banda de culto dos anos 80.

Na temática política, a peça Bloody Sundaypromete levantar polémica. O domingo sangrento de1972, que inspirou a famosa canção dos U2 com omesmo nome, é revivido em palco pela voz das víti-mas que participavam na manifestação e dos solda-dos que dispararam contra elas.

Mas falar dos três temas deste ano é, obviamente,falar de Shakespeare e ele chega-nos das maneirasmais surpreendentes. O Teatro Da Cidade De Vilniusapresenta-nos um Romeu e Julieta, em ambiente depizaria, que mistura os pecados da gula e da lascívia.Esta produção altamente visual e exótica prometeabrir todo o tipo de apetites a qualquer um.

Como cereja no topo de cada dia, o DTF tem umbar nocturno com programação exclusiva. O The Su-gar Club será cenário para comédias, concertos, fil-mes mudos com música ao vivo e outras iniciativasnoite fora. Dezasseis dias (e respectivas noites) degrande teatro. •

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Hamlet

À maluca em todas as direcçõesDublin Theatre Festival

Dublin, Irlanda30 Set a 15 Out | www.dublinfestival.com

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Forward Internacional 41 .

texto: Filipe Pedro

Só os americanos para se lembrarem de fazer umfestival na época das bruxas, no Sam Boyd Stadium,em pleno deserto, próximo de Las Vegas.

A organização não quer que ninguém deixe o dis-farce ou a máscara em casa, afirmando ter encontradoinspiração na cidade dos casinos e no espírito doHalloween para criar uma experiência inesquecível,com performances interactivas, mostra de instalaçõese concertos. Dave Matthews, Beck, Arcade Fire, Fla-ming Lips, Sleater-Kinney, Digable Planets, MichaelFranti & Spearhead e Devendra Banhart sãoalgumas das propostas irrecusáveis. O bilhete para oVegoose custa cerca de 105 euros (128,50 dólares). •

O nome deste festival soa-nos familiar. A proximi-dade geográfica e o facto de ser um festival itinerantede música independente ajuda. Em espaços citadinoscomo o magnífico Razzmatazz e o facto do cartaz in-cluir nomes como Ian Brown, Mercury Rev, The Go-Betweens, Supergrass, Dirty Three, Kaiser Chiefs, IAm Kloot, Delays, soa ainda mais familiar. Melhor sómesmo as festas de promoção do Wintercase, ondeAdam Green apresenta o álbum de 2005, Gemstones.Ora tomem nota: Barcelona (Razzmatazz, 12 Out [4.ª]),Valencia (Repvblica 2, 13 [5.ª]), Madrid (Arena, 14 [6.ª]),Bilbao (Antzokia, 15 [sáb]). •

Apesar do nome pomposo, o Rencontres TransMusicales (Trans), celebra-se desde 1979 e apresentamuito mais do que o que em Portugal entendemos porfestival. Depois de um formato mais ou menos caseiro,o Trans teve um crescimento significativo na transiçãodos anos oitenta para os noventa. Massive Attack,Nirvana, Björk, Portishead, Beck ou Ben Harper, sópara citar alguns, foram nomes dados a conhecer naEuropa Continental por estes encontros especiais,chamemos-lhes assim. Guardamos com carinho as

actuações de Goldfrapp, Nitin Sawhney, Delta 72,Make Up ou Bobby Conn para pouco mais de duzen-tas pessoas. Paulo Furtado, o nosso compatriota Le-gendary Tigerman, deixou os franceses boquiabertose a pedir dois encores, em 2003. Noutro caso, ter deoptar entre os concertos simultâneos de Gotan Pro-ject, Nicola Conte ou Zero 7 não foi mesmo nada fácil.Na 25.ª edição, Ben Harper e Beth Gibbons ofere-ceram prendas especiais ao festival: o primeiro actuousozinho em palco e segunda reuniu-se com os fran-

ceses Le Peuple De L'Herbe para interpretar temas deDummy, álbum de estreia dos Portishead. E fizeram-no sem cachet, agradecendo o empurrão inicial dofestival. Em 2004 passaram pelo Trans nomes comoDizzee Rascal, Tali, Lars Horntveth, Beastie Boys,Republic of Loose, Wakal, Teddybears Sthlm, Swamiou Vitalic. A receita para 2005? Mais do mesmo.Pensem em artistas novos, com álbum de estreia aeditar em breve e em meia dúzia de bandas indepen-dentes de culto. Jean-Louis Brossard, melómano inve-terado e director de programação do Trans, já confes-sou fazer o mesmo. •

Estranhos festivais de OutonoVegooseLas Vegas, EUA28 a 31 Out | www.vegoose.com

4.º Wintercase 2005Barcelona, Valência, Madrid, Bilbao, EspanhaOut e Nov | www.wintercase.com

27.º Rencontres Trans MusicalesRennes, França8 a 10 Dez | www.letrans.com

The Arcade Fire

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RewindMúsica 43

foto: Filipe Pedro texto: Luís Santos Batista

O Festival Do Tejo conheceu este ano a sua 6.ªedição, apresentando uma série de novidades.Para além da mudança do festival para a Quinta daMarquesa na Azambuja, também abriu a hipótesede participações estrangeiras.

Esta aposta acabou por incrementar algumacuriosidade em torno da nova apresentação do cartazque incluía ainda um palco Blitz. Tornou-se, noentanto, evidente que os habituais frequentadoresdeste festival cedo reclamavam saudades da Valada,no Cartaxo. A Quinta da Marquesa revelou-se um localcom características mais agrestes onde até asactividades paralelas ficaram um pouco aquém doque este festival nos habituou nas últimas edições.Porém, a disposição do espaço em formato anfiteatrobeneficiava os espectadores em relação ao palcoprincipal, acabando por se manifestar o trunfo maisconsiderável desta alteração de local.

E foi neste contexto que entre 22 Jul (5.ª) e 24(sáb) perto de sete mil pessoas passaram por estelocal para assistirem a uma rotatividade deacontecimentos e espectáculos. A abertura destamaratona coube aos Old Jerusalém, que, apesar daactuação um pouco tépida, conseguiram despertar aatenção do pouco público ainda presente. Nessemesmo dia foi possível experimentar as texturas FunkHip-Hop de Melo D e observar a dose habitual deRock dos Bunnyranch. O aliciante desafio dosTerrakota levou-nos a viajar por sonoridades ora maisquentes, ora mais mornas, visando sempre o binómio

musical África / América Latina. Os palcos desteprimeiro dia fecharam com a irreverente sensualidadee veia criativa assumida pelos Micro Áudio Waves,seguindo-se os Xutos & Pontapés.

O segundo dia, para além de estar generosamentemais composto, deixava antever alguma ansiedadeem torno da visita dos Transglobal Underground edos Asian Dub Foundation, as duas bandasestrangeiras que teriam direito a desfilar no palcoprincipal e por onde passaram ainda os BlastedMechanism. No palco Blitz e salpicados pelo fortearoma dos cachorros quentes, bifanas ou outrasiguarias mais gulosas, ainda passaram os Vicious 5,Ölga e o DJ Nel’Assassin.

Para fechar o festival foram recrutados sons maispesados, ficando o terceiro dia totalmente vestido denegro e com um cartaz de luxo. Se os Templemostraram o porquê de serem uma das maioresrevelações do Metal nacional, os germânicos Kreatorpura e simplesmente cilindraram o recinto com o seuesmagador Thrash Metal. Um best of… do seurepertório mais agressivo e corrosivo deixou o públicode rastos mas com garra suficiente para receber osMoonspell, que, à semelhança do que têm feitoultimamente, apresentaram um novo refresh noalinhamento. Sob o signo da lua, banda e públicocongregaram energias num espectáculo intenso.Esperamos que no próximo ano algumas falhaspossam ser polidas e que o festival consiga mantereste cariz tão peculiar que o torna diferente dosoutros. •

Rumo internacional6.º Festival Do Tejo

Quinta da Marquesa, Azambuja 22 a 24 Jul

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texto: Vítor Pinto

A edição de 2005, para a qual se adivinhavamalgumas mudanças no mais mediático festival na-cional, até correu pela positiva, mesmo em tempode vacas magras e de tanta oferta para tão poucoseuros.

Alargado para quatro dias, o festival do Alto Minhoarrancou debaixo de chuva e com os barcelensesOratory, que pouco cativaram a armada gótica galegaque se apresentou no recinto. A primeira grandevibração do dia foram os Anathema, cujo DanielCavanagh prometeu um novo álbum para breve.

No arranque do segundo dia, e depois de unsdiscretos Squeeze Theeze Pleeze, longa se tornou aespera até assistirmos ao regresso de Ian McCulloch eWill Sergeant dos Echo & The Bunnymen ao festival,23 anos depois e a meio da gravação do novo disco.Saudaram-nos com “Lips Like Sugar” e em formatorevivalista saltaram “Rescue”, “The Killing Moon” e“Seven Seas”.

Muito aguardado foi também Peter Murphy,agora com novo visual e novo disco (Unshatered), mascom a mesma sensibilidade de sempre. Depois de “I’llFall With Your Knife” e “Deep Ocean Vast Sea”,Murphy puro e simples brindou-nos com “StrangeKind of Love”, em guitarra acústica. Seguiu-se-lhe um

encore, com o inevitável “Cuts You Up”, e ainda umnovo regresso ao palco para uma dose de versões, docompanheiro Iggy Pop e dos Joy Division. No fim,apetecia dizer: obrigado pelos doces, mas... então eBauhaus?

Uma desilusão e um desejo tornado realidade

Lenda viva anunciada, Joe Cocker nãosurpreendeu. Por entre os clássicos “Summer in theCity” e “Up Where We Belong”, versões de U2 e NinaSimone, ou ainda originais como “Unchain My Heart”,Cocker não chegou para aquecer. Já Joss Stoneprovocou a maior enchente do festival — a bonitamenina goza de imensa popularidade por estes lados.

Mas o ponto alto da edição de Vilar de Mouros foia aparição dos Porcupine Tree, finalmente emPortugal. Após edição de mais de 10 discos, tivemoso prazer de ver e ouvir o Rock progressivo da bandade “Sound of Muzak” e “Blackest Eyes”. Nos temasmais recentes, houve projecções de videoclipsoferecidos pelos britânicos ao público presente, quenão os conseguiu aceitar de bom grado,provavelmente devido ao seu experimentalismo poucomelódico e por vezes demasiado excessivo, nãocompatível para todos os ouvidos. •

44 RewindMúsica

foto: Rui A. Cardoso

Peter Murphy

À procura do norteFestival Vilar De Mouros

Vilar de Mouros, Caminhar28 a 31 Jul | www.vilardemouros.com

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RewindMúsica 45

foto: Bruno Ramos texto: Ana Serafim

Recebidos os campistas meio dia depois dahora de abertura prevista, o Freedom Festival jádeixava antever algumas falhas de organização.Mas, na chegada à Barragem do Caia, ninguémpensava que ficasse tão longe.

Em pleno e tórrido Agosto alentejano, ventos des-confortáveis e incalculados expuseram a pouca aten-ção da Crystal Matrix aos pormenores essenciais paraa realização de um evento com a magnitude pretendi-da e anunciada. O público deparou-se com um recintosinuoso, mal iluminado e muito pouco limpo, a oferecerum main floor ventoso, parcamente iluminado, virtual-mente sem sombras e com sprinklers semi-mortos.

Na verdade, até à noite de encerramento, oespaço mostrava um ambiente de festival em pré-arranque, com alternativas de decoração e projecçãode vídeo fraquinhas, a aparecer pateticamente. Tudouma tentativa de desculpar e encobrir a totaldesatenção a possíveis (senão prováveis) alteraçõesclimatéricas, enquanto se mitificava uma supostaportentosa decoração montada e, infelizmente,desmontada ainda antes da abertura.

Quanto às projecções, um VJing pouco sedutor ereduzido a uma tela no palco, isto depois das telas la-terais terem rompido e voado com o vento, logo naprimeira noite.

O Cartaz

Haverá quem diga, com quota-parte de razão, quenem só de ambiente e infra-estruturas vive um festival.Relativamente mais cumpridor nesta matéria, oFreedom foi apresentando a espaços o line up de ar-tistas, sempre só diário e sempre sujeito a potenciaisalterações.

O público sedento de dança lançou-se a três diascom pouco a assinalar, para além das boas actuaçõesde Talamasca, no dia 19 Ago (6.ª), e dos InfectedMushroom, a 20 (sáb), para depois, já exausto, serpresenteado com um último dia de cabeças de cartazconsecutivos. 21 Ago (dom) nasceu para ver 1200Mics, G.M.S., Raja Ram, Hallucinogen e Astrix,entre outros, sempre a dançar, ao calor e sem in-tervalos.

Mais pontos para a tenda Chillout, cujo programaexistia secretamente definido para os quatro dias, aapresentar propostas interessantes, quer de música,quer de vídeo. De realçar a prestação dos Spongle,que conduziram um vasto auditório numa viagem porritmos étnicos e espirituais.

Nesta primeira edição, abaixo da linha de água, oFreedom Festival apresentou-se como um evento comnotório espaço e condições para crescer. Mas, até lá,mantém-se o compasso de espera entre Boom’s. •

A liberdade morreu na praiaFredoom Festival 2005

Barragem do Caia, Elvas18 a 21 Ago | www.freedom-festival.org

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texto: Filipe Pedro música e Gonçalo Guedes Cardoso ambiente

«Cantando espalharei por toda a parte, se atanto me ajudar o engenho e a arte». Cantando,cantava Camões no seu Canto I dos Lusíadas,buscando um ritmo ondulatório semelhante ao quelevou Vasco da Gama para além da Taprobana.Agora, em Sines, local de infância do navegador ecinco séculos após a sua epopeia, recolhem-se asamarras e recebem-se os novos conquistadores.

Anualmente, no último fim-de-semana de Julho,atraca no Alentejo litoral aquele que pode já ser hojeconsiderado como o evento nacional mais significativono território da World Music. Organizado pela CâmaraMunicipal de Sines desde 1999, a sétima edição doFestival Músicas Do Mundo (FMM) traduziu-se esteano num dos melhores exemplos de qualidade destafisionomia de eventos no Portugal do séc. XXI.

Durante os três dias de festa, o cenário históricodo Castelo de Sines (palco principal), alojou cerca de18 mil espectadores, mostrando-se insuficiente paraacolher outros milhares de pessoas que ficaram àporta, em vãs tentativas de conseguir bilhetes. Nosrestantes cenários, a Avenida da Praia, a Capela daMisericórdia e o Largo Marquês de Pombal, em PortoCovo, marcaram presença um número incalculável deamantes da multiculturalidade, embriagados por umpermanente aroma de hortelã no ar.

Tamanha afluência de público justifica-se à luz deuma série de factores apreciáveis: o preço de cinco

euros por dia, muito acessível, para os concertos docastelo, a par da inexistência de custo nos restantespalcos, esteve entre os argumentos principais. Emcomplemento, destaca-se a qualidade e diversidadedos 15 conjuntos musicais, provenientes de váriospontos do globo.

Um dos maiores louvores atribui-se à estruturaorganizativa, assente num mecanismo de experiência,competência, rigor e profissionalismo pouco visto porestas bandas. Assegurado pelo Gabinete deInformação e Relações Públicas da autarquia dacidade, o serviço de apoio à imprensa durante asemana do festival disponibilizou as condiçõestécnicas e logísticas mais do que essenciais aodesempenho das nossas funções e deve ser tidocomo um exemplo a seguir no nosso país.

Como se estas não fossem já razões de sobra, oclima quente de Verão, a proximidade da praia, aenergia positiva e harmoniosa no ar, bem como adiversidade cultural presente, deram à costa de Sinestesouros de valor incalculável.

Ljiljana, Amadou & Mariam

Tango pela voz do mestre da ironia, AlejandroGuyot, ao fim da tarde, no centro de Porto Covo, antesda chegada a um night clubezito. Os argentinos 34Puñaladas foram uma das revelações do FMM.Chegados ao Castelo de Sines encontrámos em palco

46 RewindMúsica

Astrid Hadad

Globalizaçãoem Sines

7.º Festival Músicas Do Mundo

Sines28 a 30 Jul | www.fmm.com.pt

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fotos: Filipe Pedro Astrid Hadad, Amadou & Mariam João Paulo Gomes KTU

a Brigada Victor Jara com Cristina Branco e Segue-me À Capela. Lusofonia pertinente, como raras vezesnos é sugerida. Os muçulmanos bósnios MostarSevdah Reunion honraram a canção tradicional — osevdah — juntando o vocalista Llijaz Delic, em posedandy, com a voz e presença de Ljiljana Buttler, maisgenuína do que qualquer personagem de bandadesenhada. Do Mali surgiu um peculiar casal deinvisuais com imenso talento musical — Amadou &Mariam chegaram ao mundo pela mão de ManuChao, que lhes produziu o fantástico Dimanche ABamako. A festa continuou com os sons ciganos dosromenos Mahala Rai Banda, tocando instrumentosde cordas e de sopro, numa grande diversidademusical, com muita alegria e dança, tanto em palcocomo na assistência. Luís Rei e Raquel Bulha, emmodo DJ, fecharam a noite com competência.

A extraterrestre Hadad

Infelizmente não pudemos testemunhar oconcerto da portuguesa Lula Pena. A pequeníssimacapela revelou-se um espaço totalmente inadequadopara concertos, garantindo-nos a organização queserá substituída pelo novo, cómodo e amplo Centrode Artes, no próximo ano.

No castelo, o guitarrista Marc Ribot deu um co-ncerto rico, acompanhado pelo baixista JamaaladeenTacuma, pelo baterista Calvin Weston e por AnthonyColeman nos teclados. Com sangue maia e libanês,Astrid Hadad chegou-nos do México com umconceito próprio de surrealismo e muita ironia social epolítica. A cada tema correspondeu uma mudança deindumentária, cada uma mais original que aprecedente, num fabuloso desfilar teatral e show decabaret.

O brasileiro nordestino Hermeto Pascoal deu umconcerto inesquecível em Sines, assente em trabalhosde voz experimentais, percussão em badalos e usooriginal de teclados. Quando alguém acidentalmente

desligou a alimentação do seu teclado, o músicoenraiveceu-se, chinelando as teclas com toda a suaforça. Ninguém saiu ferido e a boa disposição vingou.Descemos à praia para assistir aos guineenses BaCissoko, tocadores de kora com efeitos e distorçõesde inspiração Rock, e percussões a cargo de IbrahimBah. A fechar, o Techno maliano de DJ Mo.

Kem és TU?

Os japoneses Samurai 4 deram em Sines um dosseus primeiros concertos. O destaque vai para osdiálogos entre o tocador de shamisen (uma espécie debanjo de três cordas) Takemi Hirohara e o bateristaHiroshi Motofuji (tambor wadaiko). Após um enormeencore, com mais de 20 minutos, que incluiu We WillRock You, a banda viu-se obrigada a sair do palco. Jáno castelo, quatro mil anos de Master Musicians OfJajouka fez dos marroquinos a mais idosa banda domundo. Podemos considerar a sua música hipnóticaou monótona e, se adormecermos ao fim de algunsminutos, isso pode ser considerado terapêutico.

Um dos melhores concertos do FMM 2005 deveu-se a KTU — junção de Kluster (projecto do fabulosoacordeonista Kimmo Pohjonen e de Samuli Kosminenno sampler) com o duo TU (Trey Gunn na guitarra de10 cordas Warr e Pat Mastelotto nas percussões). Oresultado desta bizarra combinação sonora é de outroplaneta. Em formato septeto, os Kíla trataram Sinespor tu desde o primeiro minuto. No entanto, osirlandeses tiveram constantes dificuldades demunição de som e o vento acabou por arruinar parteda pirotecnia e efeitos reservados para o fim dasfestividades no castelo. Na praia, o concerto correubem melhor aos Konono N.º 1, cujos instrumentos doit yourself intrigaram muitos dos espectadores. Nofinal do FMM, Mário Dias e Vítor Junqueiraanimaram as hostes em modo DJ, com umarecomendável selecção musical. •

KTU Amadou & Mariam

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texto: Ana Baptista e João Pedro Almeida

Os destaques da edição deste ano vãodireitinhos para os Humanos, Underworld, LCDSoundsystem, Internacional Noise Conspiracy eaté para os Oasis, que finalmente actuaram nofestival.

O Sudoeste 2005 registou a maior afluência desempre, com 30 mil espectadores na primeira noite euma média de 50 mil por dia. Somente o campismonão esteve à altura, superlotado e desconfortável.Aparte isso, nota máxima para o palco Positive Vibes,sempre com muito público, e para o palco PlanetaSudoeste, pela diversidade musical e alternativa aopalco TMN.

Patrice muito modesto

A primeira noite de Sudoeste foi destinada à diver-são e à dança, com o cabeça-de-cartaz Sean Paul alevar ao rubro o público com os seus ritmos quentesde forte tensão erótica. Antes, o palco TMN recebeu oalemão Patrice, cuja actuação se pautou por um Soft-Reggae afunkalhado e que raramente criou ondula-ções, e a Orquestra Imperial que apresentou umcocktail de estilos musicais, muito balanço e humor. Odia arrancou com os Júnior, projecto Hip-Hop vence-dor do TMN Garage Sessions; Domingos António em

piano clássico e os Expensive Soul, que contaramcom uma ajudinha de Virgul, dos Da Weasel.

Na outra ponta do recinto, na tenda onde ficava opalco Planeta Sudoeste, após o desfile em regimebest-of de sketches ao vivo dos Gato Fedorento e ocancelamento da actuação dos Fischerspooner, o pú-blico ficou com os sons escuros e hipnóticos dosLadytron, a apresentar o seu novo trabalho WitchingHour.

Oasis, do princípio ao fim

Os primeiros acordes ouviram-se pelas 17h nopalco Planeta Sudoeste, com os You Should GoAhead, Klepht e Boite Zuleika. Mas o primeiro banhode multidão deu-se com o porta-estandarte do novoFolk americano, Devendra Banhart, que mostrou no-vas composições, além do seu repertório habitual.Mais tarde teve lugar o showcase da DFA Records, aeditora de James Murphy, líder dos LCD Soundsysteme os primeiros a abrir as hostes. Arrebatadores, leva-ram uma multidão suada à loucura. Seguiram-se osBlack Dice, que praticamente esvaziaram o recintocom sons pouco apropriados a públicos festivaleiros,e também os Hot Chip, The Juan MacLean e Delia &Gavin.

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Sudoeste em boa formaFestival Sudoeste TMN 2005

Zambujeira do Mar4 a 7 Ago | www.musicanocoracao.pt

D3O

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fotos: Luís Bento

Pelo palco TMN os grandes concertos tiveram iní-cio com os Da Weasel, a que se seguiram os Oasis.Estes apresentaram um espectáculo simples e coeso, ePortugal pôde ouvir os hits de há quase 10 anos atrás,entoá-los em coro e aplaudir euforicamente. A encerraro palco principal estiveram os Kasabian, cujos temasao vivo ganham outra sensualidade graças à simpáticae enérgica presença do vocalista Tom Meighan.

Ben Harper, mais uma vez

O terceiro dia de festival foi o mais eclético de to-dos. No palco Planeta Sudoeste assistiu-se ao HipHop dos Factor Activo e de Sagas (membro dos Mi-cro, agora a solo), ainda aos ambientes dos Hipnó-tica, ao Rock controlado de Sarah Bettens (a voz dosK´s Choice) e à Folk intimista de Louise Rhodes (a vozdos Lamb), até chegar a electrónica enfadonha deMylo, o Electro-Rock de Peaches e o DJing dos Dez-perados. Pelo meio, Josh Rouse e respectiva bandatransformaram canções intimistas em temas quaseépicos — para muitos foi o melhor concerto da noite,a par da prestação dos Humanos.

A performance dos Thrills foi, à excepção do te-ma “Big Sur”, semelhante à de uma vulgar banda depub, com um Conor Deasy de voz e postura demasia-do colada a Rod Stewart e uma banda mais compe-tente que esfusiante.

Já Donavon Frankenreiter mostrou-se um surfis-ta canastrão inspirado em Ben Harper e Jack John-son, mas sem o carisma e talento do primeiro, nem acapacidade para escrever canções leves e despreocu-padas do segundo.

Ben Harper optou por uma actuação mais Rock

do que é habitual, com poucas incursões acústicas eraros desvios de estilo, com excepção para “Burn OneDown” ou para a versão Reggae de “Excuse Me Mr.”

A recta final

Coube aos Vicious 5 abrir o último dia do festival.Infelizmente, a fraca qualidade do som tornou quaseinsuportável a audição. Já os D3O mostraram terRock na guelra.

Acabadas as prestações nacionais, subiram aopalco os Internacional Noise Conspiracy — Punk epolítica juntaram-se numa energia e presença inimagi-nável, aliada a grandes temas. A fechar, já que depoisa tenda ficava a cargo de DJs, a sexualidade musicale a luxúria forçosamente controlada dos The Kills,num excelente concerto, desgastante emocionalmen-te, que privilegiou o último álbum No Wow.

Do outro lado, pelas 20h, os Athlete abriam opalco TMN de forma simpática mas sem grandes as-somos de originalidade. Já os Doves foram impos-síveis de ignorar — o som grandioso que caracteriza abanda esteve presente, causando arrepios na espinha.Os Dinosaur Jr. não perderam a dinâmica nem a po-tência que os caracterizava no passado, contudo abarragem sónica admirável não animou muito o públi-co, que aguardava impacientemente a actuação dosKorn. Estes, apesar de ligeiramente ultrapassados,deram um concerto ao nível do já esperado (com mui-to pó pelo ar), chegando mesmo a apresentar novostemas. Por fim, os Basement Jaxx, que com um fabu-loso jogo cénico e de luzes, vozes fortes e temas a pu-xar a dança foram a banda sonora ideal para abando-nar o Sudoeste 2005. •

Devendra Banhart KasabianHumanos

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texto: João Pedro Correia

O Jazz Em Agosto é um festival a que se vai,não porque se goste, mas sim para ver se se gosta.

Desde que foram inaugurados, em 1969, o edifíciosede e jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, emLisboa, que por lá passam diariamente estudantes, ar-tistas de todos os ramos, pensadores, simples vera-neantes e muitos turistas, asiáticos de máquina foto-gráfica ao pescoço e europeus de todos os cantos docontinente. O que tem de especial a Gulbenkian? Temmuito — e tem Jazz, o Jazz Em Agosto (JA).

Durante duas semanas passaram pelos três pal-cos da Fundação 17 propostas musicais, de oito na-cionalidades diferentes, com especial relevância paraa Europa, e praticamente todas elas inéditas em solonacional. Porque «o Jazz europeu está muito mais in-teressante que o norte-americano» e também porquea tradição do festival é essa, mostrar coisas novas,«provocar, apelar à questionação, à exigência», escla-receu Rui Neves, director artístico do festival desde oano 2000.

A programação de 2005, de que a FEST só pôdeacompanhar alguns espectáculos, por motivos de fe-cho de edição, não fugiu a essa regra. Os concertos,três por dia (15h30, 18h30 e 21h30) dividiram-se pelaSala Polivalente e Grande Auditório da Fundação, en-cerrando-se o dia no Auditório ao Ar Livre do Centrode Arte Moderna.

As honras de abertura couberam à reputada

Globe Unity Orchestra, conjunto de 10 músicos ale-mães e um inglês, repartidos por um piano, duas bate-rias e restantes trombones, saxofones e clarinetes. Oconjunto tocou uma única peça com cerca de 90 mi-nutos, sempre em improvisação, sem pausas, sem lí-der, uma demonstração de Free Jazz na verdadeiraacepção das palavras — 11 tipos tocando cada umpara seu lado e a seu belo prazer.

Destacaram-se Alexander von Schlippenbach,pianista e mentor da orquestra desde 1966, pela ima-ginação; e Rudi Mahal, um sujeito magro e muito alto,vestindo jeans apertados, meio calvo mas com duaslongas patilhas ladeando as faces, que deu um espec-táculo visualmente exuberante nos solos, pela formacomo quase caía, além de que foi o melhor dos clari-netes-baixo.

A noite quente sufocou, o auditório ao ar-livre es-teve preenchido pela metade, o público bastante quie-to e as palmas quase não apareceram, excepto no fi-nal. Das duas, uma: ou a prestação da Globe UnityOrchestra, de um fôlego, não deu espaço a manifes-tações ou a mescla de sons — e até ruídos — intimi-dou mesmo os mais experientes. Seja como tiver sido,o arranque do JA 2005 estava feito, sem bússola.

Berliner original soundtrack

Na noite seguinte o grupo do multi-instrumentistaGebhard Ullmann propôs algo diferente. O decatetoberlinense — com todos os saxofones, incluindo o gi-gante barítono — interpretou vários temas da autoriade Ullmann, composições para bandas sonoras de fil-mes e documentários, sugerindo ambientes sombriose Berlim debaixo de chuva.

A dinâmica do grupo em palco foi interessante dese apreciar. Ullmann e o clarinetista Jurgen Kupke,dois líderes demarcados, conduziram o conjunto peloslongos temas em passo acelerado, abrindo espaçopara diversos solos e agarrando as linhas para devol-ver o olho às complexas composições. O público gos-tou e mostrou-o, ganhando um regresso rápido, paraum último tema.

Energia atómica

A fechar o terceiro dia do festival esteve o quintetonorueguês Atomic. Fulminante, o grupo entregou-se

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Jazz europeu, inédito e atómicoJazz Em Agosto 2005

Lisboa5 a 7 e 10 a 13 Ago | www.camjap.gulbenkian.org

Atomic

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fotos: CAM — FC Gulbenkian

totalmente, demonstrando ter pulmões dignos de velocistas.Foi particularmente agradável observar como o pianista HavardWiik e o baterista Paal Nilssen-Love improvisaram sobretrechos ou solos em progressão, debaixo da batuta dosaxofonista, clarinetista e líder Fredrik Ljungkvist, quegesticulava copiosamente a forma como deveriam entrar,enquanto também tocava.

Não obstante, o grupo foi muito coeso, com espaço paratodos brilharem — porque brilharam. O trompetista MagnusBroo bem se esforçou para arrancar os mais sinceros aplausosda noite nos seus solos. Nilssen-Love, na bateria, mostrou-secheio de recursos, vassourando, riscando e manejando váriospratos. E lá atrás, quase escondido, o baixista Ingebrid Haker-Flaten suou o bastante, irrepreensível.

Os Atomic, a proposta mais mainstream da primeirasemana deste JA — contudo, desconhecida quanto baste —,agradaram muito e conseguiram a maior e mais variadaassistência (menos cabeleiras grisalhas). Quem não comprou odisco à saída, certamente se arrependeu — estas pérolas nãoencontram o caminho da Noruega até Portugal.

O Jazz em Agosto

Ainda antes do início do JA, o director artístico do evento,Rui Neves, ajudou a FEST a conhecer melhor o festival de Jazzportuguês que esteticamente não pode ser comparado com ne-nhum outro. «Não temos a pressão da bilheteira, como a maioriados outros festivais. Por outro lado, somos o festival nacional[do género] com maior budget, apesar de não ser caro fazer umJA». Assim se explica a liberdade para construir cartazes comoo deste ano, recheado de inéditos e de experimentalismo, quasenuma lógica de: ao JA vai-se, não porque se goste, mas sim paraver se se gosta.

O cartaz deste ano propõs um olhar sobre «a nova geração“branca” e europeia do Jazz, fruto de influências diferentes dasdo Jazz norte-americano», desenvolveu. Daí que na segundasemana do JA se vejam grupos que fazem uso de elementoselectrónicos, como o de Jerry Granelli (EUA/Alemanha), osWibutee (Noruega) — em substituição dos Jaga Jazzist — e oprojecto Mephista (Suíça/Japão/EUA).

Outro argumento para aferir a unicidade do JA é a sua políti-ca de divulgação. «O festival começa a ser divulgado no estran-geiro antes de o ser em Portugal», revelou Rui Neves, o que setraduz num público transnacional, situação a que também não éalheio o facto de a fundação, por si, figurar nos roteiros turísticosde quem visita Lisboa. Os espectáculos do JA registam umamédia de ocupação na ordem dos 70 a 80 por cento. •

Magnus Broo (Atomic)

Gebhard Ullmann

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texto: Cátia Monteiro e Pedro Moreira

Tal como era previsível, a 13.ª edição doFestival Paredes De Coura (FPC) foi um sucesso,chegando a superar as expectativas criadas,graças à qualidade do cartaz apresentado. Até osol ajudou à festa.

A aposta num cartaz virado para o Rockindependente revelou-se inteligente, trazendo ao FPCalgumas das bandas que mais vêm dando que falar nosúltimos tempos (sendo a maioria estreante em Portugal),mobilizando milhares de pessoas, que encheram orecinto. Notou-se um esforço na melhoria das condiçõesdo acampamento e do recinto, das quais se destacamas duas enormes áreas de restauração, que só pecavampela oferta limitada a meia dúzia de sandes.

Na primeira noite do festival, o palco secundáriorecebeu a festa de recepção, marcada por um intenso

cheiro a hortelã, que, diz o povo, ajuda a revitalizar ocorpo. A forma como o imenso público presenterecebeu o Indie Rock dos escoceses Sons AndDaughters, dançando e reagindo com algumaintensidade a cada grito da bela Adele Bethel, provaque o povo está certo. A dança prolongou-se noitedentro com Trailer Trash e Zig Zag Warriors.

O duo Death From Above 1979 teve aresponsabilidade de abrir o palco principal nosegundo dia do festival e fê-lo de forma brutal. Éimpossível ficar indiferente ao espectáculo doscanadianos, apesar dos altos e baixos do álbum deestreia You're a Woman, I'm a Machine.

Os !!! dilataram os minutos numa músicadançável, ilustrada pelo ritmo estimulante e enérgicode Nic Offer, que não se poupou a formas de apelar aopúblico numa coreografia interactiva e de carregada

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Altos, baixos e muitas estreias Paredes De Coura 2005

Paredes De Coura15 a 18 Ago | www.paredesdecoura.com

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fotos: Luís Bento

alusão sexual — uma orgia musical a que a assistêncianão foi alheia.

Enérgico estava a ser também o concerto dosKaiser Chiefs até que, em “Everyday I Love You LessAnd Less”, o endiabrado vocalista Ricky Wilson teve oazar de cair mal após um salto, e magoar-se num pé.

Já se sabe que é difícil sair desiludido de umconcerto dos Foo Fighters. Em Paredes de Coura nãofoi diferente. Toda a actuação ficou marcada pormomentos extasiantes, como na ode “In Your Honor”,ou o enorme meteoro que decidiu aparecer durante“My Hero”, ou, ainda, “Everlong” cantada em uníssonopela multidão presente e o final explosivo, com“Monkey Wrench”.

Muito quente mas sem aquecer

Ao terceiro dia caiu um anjo. Alasdair Robertspareceu ser a calma em pessoa. Algumas das músicastradicionais do Reino Unido que fazem parte do seuúltimo álbum, No Earthly Man, foram apresentadas,acompanhadas por histórias interessantes, fazendoum delicioso início de tarde.

Apesar da redundância calorífica do nome, os HotHot Heat não aqueceram o palco tanto quanto seesperava. Os temas do novo álbum, Elevator, aindaestão crus para uma audiência que só entra emebulição com as pérolas de ritmos cruzados eelectrizantes do disco anterior.

O Funeral dos Arcade Fire é um daqueles em queos trajes negros e as lágrimas dão lugar a umacelebração da vida. Baquetas descontroladas queatingem capacetes, cabeças e costas, violinistasapaixonados e uma boneca de trapos que ataca umacordeão. Um espectáculo em crescendo queculminou com Win Butler a mergulhar com a guitarranum mar de público em êxtase.

Apesar da versão de “Whole Lotta Love” e deoutro pico para “The Seed” — aqui sem CodyChesnutt — a actuação dos Roots não obteve grandeentusiasmo do público. Alguns virtuosismos naguitarra não chegaram para abstrair do que foi um errode casting neste festival.

QOTSA e Pixies repetentes

Lullabies to Paralyze foi o mote para mais umconcerto dos Queens Of The Stone Age, o terceiro

no FPC. O líder da banda, Josh Homme, ainda arecuperar de uma operação ao joelho, tentou fazeresquecer a falta do irreverente baixista Nick Oliveriapostando num concerto mais soturno que apenaspecou pela curta duração e pelo longo — edispensável — solo com que fechou a actuação.Ainda só tinha passado um ano desde a última vindados Pixies a Portugal. A fome era por isso mais ligeira,o que não impediu a refeição de ser bem guarnecida.Uns pratos calóricos e mais conhecidos para entrada,com umas iguarias exóticas a pontuar o repasto.

O último dia do festival começou com um atrasode uma hora, sendo os americanos The National ainiciar a ronda final de concertos. Matt Berninger senteprofundamente tudo o que canta e isso transbordapalco fora, influenciando o público e criando umambiente bastante intimista.

Em substituição dos Killing Joke, Woven Handchegou ao palco principal na noite de Nick Cave e delua cheia. Apontou o céu e fez cair o seu apelo. Umasubstituição divina, em que David Edwards pareceufazer convergir voz, música e gestos numa espécie detranse, que vai convertendo fiéis à medida queanoitece. Um espectáculo visualmente atraente,mesmo que pobre no campo musical — sempre épreferível a um que falhe ambos.

Este podia ser um argumento favorável a JullietteAnd The Licks, que surgiram em palco como uma girl+ boys band com ares Punk, mas que mantém oscódigos de vestuário, os tiques sexy e os cabelosagitados no ar. Pode ter sido um argumento favorável,mas apenas para quem isso é suficiente para accionaro gatilho da abstracção auditiva.

Vincent Gallo juntou em palco o cinéfilo aomelómano e o que daí resultou foi uma banda sonoradelicada e inspiradora de divagações do espírito. Mas olocal não era o mais apropriado para a capacidade deconcentração do público, cujos pontuais assobios sóforam acalmados pela versão contador de histórias,que Vincent encarnou nas pausas da meditaçãomusical. No final da noite, de dedo em riste e com umavoz profunda e poderosa, Nick Cave assemelhou-se aum pregador que converteu o palco do FPC numpúlpito de cânticos mais ou menos ortodoxos. Orepertório é demasiado vasto para satisfazer todos ospedidos do público, mas o alinhamento contemplou ainvocação de “Stagger Lee”, exemplo de uma líricamórbida e sarcástica, que envolveu os convertidosnuma adoração da figura de negro. •

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texto e fotos: Filipe Pedro

Na Ilha de Santa Maria, em pleno Atlântico, háum festival que une a World dos Celtas Cortos,Manecas Costa e Kila, o Reggae dos Skatalites, oBlues de John Lee Hooker Jr, a Pop de Lúcia Mo-niz, o Punk Rock dos Fonzie, o Rock dos Pluto, oFree Jazz dos Underpressure e a Electrónica deTânia Pascoal.

Ecléctica é a definição possível para este eventopeculiar, encaixado entre o mar e as montanhas, esteano sob a bênção de uma belíssima lua cheia. Com 21edições, o resistente Maré De Agosto conta com umassinalável culto, claramente visível no público que,dos oito aos 80, dos jovens casais às famílias inteiras,se reúne para ver os conjuntos populares. O festivaltem a particularidade de começar tarde (depois das23h30) e a meio gás. Só depois da uma da manhã éque o recinto começa a ficar composto. Reza ahistória que os concertos chegam a durar quatro ho-ras — como um famoso de Nuno Bettencourt, com apresença do ex-vocalista dos Extreme, Gary Cherone.A proximidade entre organização, artistas e público re-sulta do empenho da Associação Cultural Maré DeAgosto em fazer do Maré, chamemos-lhe assim, umfestival com um ambiente único. Até mesmo a músicaque se ouve entre concertos tem qualidade e ac-tividades circenses com fogo divertem a audiência.

Para muitos, uma rave

Em dia zero saliente-se a perícia de Tânia Pas-coal, exímia nas variações de tempo e gestão de gra-ves e agudos ao longo de três horas bem medidas deDeep e Hard House, habilmente condimentados comTechno, onde não faltaram alguns clássicos da editoraKaos, nem um tema menos conhecido de Tiesto. Ain-da assim, problemas técnicos com os gira-discos(controlo de pitch e agulhas) impediram a DJ portuen-se de tocar alguns vinis que trazia na mala. O piropomachista és tão boa ouve-se quando Tânia despe a t-shirt e traja um top justo. No aquecimento da noitemarcaram presença os DJs Johnny Big e Afonso.

O legado dos Skatalites

Na abertura da noite, os Fonzie deram um concer-to muito animado, com constantes descargas de adre-nalina por parte da banda e um crescendo de intensi-dade do público. Do álbum Wake Up Call ficam na me-mória os temas “Sorry, Gotta Get Away” e “Say Hello”,muito embora o primeiro disco Built To Rock não tenhaficado de fora do alinhamento.

«Não me canso de dizer obrigada, não me cansode dizer que adoro os Açores», afirmou uma visivel-mente emocionada Lúcia Moniz. Pela primeira vez no

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Maré-alta nos AçoresFestival Maré De Agosto

Santa Maria, Açores18 a 21 Ago | www.maredeagosto.com

Kila

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festival, a cantora açoriana mostrou o disco que lan-çou recentemente, Leva-me P’ra Casa, claramentemais pesado do que os álbuns anteriores Magnolia e67. No final da actuação, os Fonzie juntaram-se à fes-ta. O público pediu mais e Lúcia regressou para conti-nuar.

Os senhores que se seguiram chamam-se Skata-lites — uma escola e um claro exemplo de longevida-de —, já tocaram por todo o mundo e vem existindocom formações renovadas desde os anos sessenta.De regresso a Portugal, depois da passagem por Al-gés, em Abril, a banda viajou até Santa Maria, para de-leite do público açoriano, ao rubro com os velhinhostemas dos percursores do Reggae, Ska e Rocksteady(e amigos), como “Sugar, Sugar”, “Can’t You See”,“Nice Time, Don’t Stay Away” ou “By The Rivers OfBabylon”. O ambiente em palco foi extremamentefamiliar, com constantes cumplicidades, entre sorrisose boas vibrações, terminando a actuação quase àscinco da manhã.

Dançar a música do mundo

Tal como na véspera, a tardia chegada do públicopenalizou um pouco a actuação dos Pluto. Muito em-bora o vocalista Manel Cruz tenha estado pouco co-municativo, entre músicas e cervejas, o single “SóMais Um Começo” obteve a reacção calorosa que seesperava.

A actuação dos irlandeses Kíla no Maré não foiexactamente igual à de Sines, um mês antes. Este foium concerto de raízes, irlandês na essência, mas commais garra e improviso. Para além dos elogios pelomar, montanhas e beleza natural do local onde decorreo Maré de Agosto, os Kíla aceleram na recta final daactuação, respondendo o público com danças frenéti-cas e algum pó no ar. Despediram-se com um

«obrigado e até sempre, é provável que a gente se vejaa nadar por aí». Depois das energias gastas com osKila, o público aproveitou para uma pausa de comese bebes. Manecas Costas foi bastante penalizadocom isso, uma vez que a audiência demorou algumtempo a sintonizar os sons quentes e dançáveis daGuiné-Bissau. Acompanhado por excelentes músicos,Manecas aguentou a festa madrugada fora.

Sentir o calor do Blues

Apesar do virtuosismo na guitarra, Pedro Madale-no concedeu espaço aos Underpressure para impro-visos e solos de baixo (Miguel Amado), trompete(Lukas Frohlich) e bateria (Vicky). Momentos de caco-fonia em excesso e alguns problemas com o volumedos instrumentos tornaram, a dada altura, a actuaçãodemasiado longa, quase penosa.

«Are you ready for the Blues?». Neste caso, filhode peixe é bom nadador, e com presença e voz de ver-dadeiro entertainer John Lee Hooker Jr. Entrou empalco para apresentar o álbum Blues With A Vengean-ce. «O Blues tem de atravessar a vossa espinha. É aúnica forma de o sentirem», disse. No final, um prolon-gadíssimo encore em modo festa, com “We’re GonnaParty All Night Long” e mais uma descida ao fosso pa-ra emoções fortes e transição directa para a sessão deautógrafos improvisada, sem passar pelo camarim.Inesquecível.

Depois da passagem do furacão Hooker, qualquerconcerto seria considerado um erro de casting. Mas aactuação dos espanhóis Celtas Cortos foi mesmomuita parra para pouca uva. Curto, a despachar e de-sinspirado. Nem o anunciado caldeirão de Ska, Celtae Rock se confirmou eficaz. Obviamente que às quatroda manhã o público já dança qualquer coisa que lhedêem a escutar. In vino veritas. •

Tânia Pascoal John Lee Hooker Jr.

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texto: Vitor Pinto

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A vitória lusaNoites Ritual Rock

Porto26 a 27 Ago | www.noitesritual.com

Cool Hipnoise Supernada

As Noites Ritual Rock, na sua 14.ª ediçãoconsecutiva, são a prova viva de que um sonho devários jovens, apoiado numa revista cultural, setornou numa realidade adulta, de onde todossaíram vencedores: o público, a organizaçãoexemplar, a música portuguesa e a muy nobre einvicta cidade do Porto.

O arranque das festividades ficou marcado pelocancelamento dos Complicado, permitindo aosWordsong honras de abertura. Os jardins do Paláciode Cristal albergaram as palavras de Al Berto eFernando Pessoa, associadas a imagens electrónicasvindas de alguns dos elementos dos Rádio Macau,deixando, porém, o encaixe de voz de Pedro d’Oreymuito a desejar.

O palco secundário, inaugurado pelos Ölga,permitiu-lhes mais uma excelente apresentação doálbum What Is, numa série de momentos alucinantescriados pelo baixo e duas baterias. À sua volta,formava-se uma enorme mancha de gente interessadaem ver este projecto da Bor Land, marcado por umfinal explosivo com “Hassana” e “Money”.

De volta ao palco principal, vimos entrar os Plazanum formato robótico, por entre as plumas brancas emuita alegria. “(Out) On The Radio” e “July The 1st1984” revelaram-se os momentos mais dançantes,ambos retirados de Meeting Point, o álbum de estreiados irmãos Praça. Em tom de festa houve ainda tempopara “Flow”, tocado pela primeira vez no Porto, e asversões “We Came Through”, de Scott Walker, e “Your

Life Is A Lie”, de Legendary Tiger Man, presente nosecrãs.

Findo o êxtase, foi tempo de descer até à conchaacústica para presenciar outro projecto da editora BorLand, os Alla Polacca. Num ambiente mais sereno doque os anteriores Ölga, o colectivo portuense manteveas ondas flutuantes de psicadelismo por entre asguitarras e as árvores do jardim.

No encerramento da noite, o Funk dos CoolHipnoise tomou conta dos corpos. Em cima da mesacolocaram o Best Of de uma carreira com 10 anos,onde naturalmente não faltaram os temas-chave,acompanhados por um imenso groove no ar: “GrooveJunkie”, “Ponto Sem Retorno” o recente single“Brother Joe” e a versão “Come As You Are”. O grandfinal, em formato batucada, introduziu ritmos quentescom improvisos, ajudados por Ace e Presto, numanoite muito fria.

A noite dos rockers vivos

No início da segunda jornada, o público curvou-secom a actuação dos Gajos Baixos, o novo projectonacional de Alexandre Mano e Edamir Costa, que porentre alguma estranheza de diálogo entre os doisinstrumentos, levantaram a curiosidade e a promessa.

De seguida houve espaço para outro projecto deManel Cruz (mais um). Depois de Pluto, agoraSupernada, em formato agradável de se ouvir. Foi umregresso às origens dos Ornatos Violeta, claramentevincados em “Irreal”, “O Preço Das Uvas” ou “O Pai

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Rewind Música 57

fotos: Rui A. Cardoso

Natal”. Mesmo debaixo de chuva, toda a gente sefixou na voz inconfundível de Cruz e no desempenho,sem espinhas, de uma banda fabulosa que oacompanhou.

De volta ao palco dois, os Housanbassdispuseram-se a imprimir um ritmo mais dançante nanoite marcadamente Rock & Roll. Nos pratos, avistou-se um Dj Rui Reis em manobras House, sobre oacompanhamento algo despercebido do baixo deAlexandre Mano.

Com ou sem chuva, estiveram os Bunnyranch,perante um recinto muito bem composto e com Kaló,sempre ele, no seu habitual destaque de baterista efront man, em formato one man show. Indispensáveisforam “Liar Alone” e “Hungry”, o tema imortalizado em1966. Não faltou uma homenagem aos Mão Morta eno final deixaram o pássaro voar com “Litle Bird Get InShape”.

O Drum & Bass atmosférico de Alex FX musicouas imagens projectadas nas paredes da concha, comdestaque neste live-act para um tema de Amália, aquirevisitada.

A fechar mais um ano e pela primeira vez nacondição de cabeças de cartaz, os Wraygunnprovaram estar à altura do desígnio. Como já vemsendo habitual, o sempre enérgico e brilhante PauloSoul Power Furtado esteve num nível superior,apoiado pelo acréscimo vocal bem colocado de umnovo elemento feminino, Raquel Ralha. Em “There ButFor The Grace Of God Go I” e “Don’t You Know?”, estaprovou ter sido uma aquisição valiosa. A noite de

chuva não furtou Paulo de se juntar à assistência, em“Speed Freak”, repetindo a audácia em “All NightLong”. Com direito a encore, o tema escolhido foi “MyGeneration”, dos lendários The Who. Num concertocaptado para posterior edição em Inglaterra, a uniãoentre os Wraygunn, o público, a chuva, a noite e osjardins do palácio, resultou na perfeição.

De parabéns está a música Portuguesa, numevento exemplar. •

Durante o festival, a FEST FORWARD MAGAZINE aproxi-mou-se de três feiticeiros do caldeirão musical português,roubando-lhes as fórmulas das noites Ritual Rock.

Paulo Furtado . WraygunnÉ o único festival com esta longevidade e com grandeafluência de público, apenas com bandas portuguesas.Acho que é uma iniciativa fantástica e um dos meus locaispreferidos para tocar. Foi muito bom quando cá viemospela primeira vez. Foi também a primeira vez que aspessoas deram mais valor aos Wraygunn. Esta ediçãomarca uma estreia para nós como cabeças de cartaz numfestival, o que não deixa de ser reconfortante, e acho queisso só poderia ter acontecido aqui, curiosamente.

Kaló . BunnyranchFantástico…continuem! São 14 edições de glória. Eufalhei há 11 anos com os Tédio Boys por culpa própria,porque me portei mal e era um inconsciente desgraçado(risos). Mas são 14 anos consecutivos só com músicaportuguesa, com um impacto mediático, com as pessoasque traz todos os anos… Acho que só podem parar daquia uns cem!

Carlos Vieira . OrganizadorSão 14 anos positivos. Isto começou como um sonho deuma associação de jovens (Associação Juvenil deComunicação Social), que editou também uma revista, a“Revista Ritual”. Em 1988 propusemos ao pelouro deanimação da autarquia tornar tudo isso num festival. Doisanos depois, tudo foi possível. Tudo se foi desenvolvendoe hoje é um marco da música portuguesa. Por isso obalanço será sempre positivo.

Wraygunn

Bunnyranch

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texto: Márcio Alfama

Se tudo o que desejava em Agosto era umfestival de pequena dimensão, junto ao Tejo, acinco minutos de Lisboa, com espaço para agitar ocorpo, um ambiente sofisticado e urbano e umcartaz com atitude, lamentamos se não marcoupresença no Lisboa Soundz.

As cerca de três mil pessoas que se juntaram nu-ma espécie de parque de estacionamento acabarampor se divertir, muito por culpa da fatal combinaçãoentre cerveja para a bucha e música para os ouvidos.

Os Bunnyranch deram início às festividades comum Rock plagiado às sonoridades arcaicas, típicas deum Rockabilly visto e ouvido demasiadas vezes.Realça-se, ainda assim, a sua disposição em palco,em especial de Kaló, o carismático vocalista /baterista, a constante animação e a interactividadecom a assistência.

Feito o warm up, seguiram-se-lhes os JimmyChamberlin Complex, o conjunto do homónimo ex-baterista dos Smashing Pumpkins. Revelando-se umaagradável surpresa, fizeram o cruzamento, em termossonoros, entre os God Speed You! Black Emperor e osSubarachnoid Space, ainda que com menorqualidade. Jimmy falou com o público, elogiouPortugal e encantou a audiência.

É incontornável dizê-lo: os Mogwai foram os me-lhores da noite. Os pêlos arrepiaram-se, as cabeças

balançaram e os punhos ergueram-se. Estiveram emuníssono: o público e a banda. Foram uma espécie decântico divino, uma melodia que vem das estrelas, deum planeta distante e o que ouvimos encheu-nos deoptimismo. O melhor? “Hunted By A Freak” (a abrir oconcerto). O pior? Simplesmente não existiu.

No cair do pano, os escoceses Franz Ferdinandagitaram as massas, ecoando a quase totalidade doprimeiro álbum, completado com cinco temas dosegundo registo. Num total de 14 canções, “Take MeOut”, “This Fire” e “Do You Want To” assumiram des-taque. A meio da euforia instalada, houve quempreferisse sentar-se no chão, de costas para o palco,folheando a FEST FORWARD. Para além do elogioevidente à nossa publicação, a dúvida persiste se talmais não foi que uma mensagem à actuação da bandaescocesa. Para os que se mantiveram de pé, o eventotraduziu-se num grande motivo de festa.

Noite terminada, recolheram-se os copos,permaneceu no ar o cheiro do pão com chouriço, osom (demasiado alto) dos Franz Ferdinand deu lugar àpassividade do Tejo e o frio tomou conta dos corpos.

Haverá mais para o ano? Ainda é cedo pararesponder. Em caso afirmativo, espera-se que con-temple mais público, maior variedade na restauração,maior prestação de serviços (Multibanco, tabaco),menos imposição policial e, se possível, que tenhamais ambiente de festival. •

58 Rewind Música

Mini festival à soltaFestival Lisboa Soundz

Doca Pesca — Lisboa29 Ago | www.musicanocoracao.pt

fotos: Luís Bento

Mogwai Franz Ferdinand

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Rewind Música 59

foto: Filipe Pedro texto: Pedro Moreira

Um dos maiores eventos cultural de Portugalvoltou a ter lugar na quinta da Atalaia, no Seixal.Juntando milhares de pessoas de todas as gera-ções, a 29.ª Festa Do Avante! foi, certamente, amaior dos últimos 15 anos.

Políticas à parte, a Festa Do Avante! será, porven-tura, a única iniciativa capaz de reunir um grande nú-mero de artistas de todas as áreas, com uma ofertagastronómica dos quatro cantos do mundo.

A primeira noite serviu de aquecimento, com pou-co público. Inserido nas comemorações dos 60 anosda queda do nazismo, o palco 25 de Abril recebeu aOrquestra Sinfonietta De Lisboa, dirigida pelo maestroVasco Pearce de Azevedo, que apresentou oespectáculo Opus 1945, onde se ouviram compo-sições de Ludwig van Beethoven, entre outros. Foiinteressante verificar a afluência de público jovem aeste tipo de espectáculo. Depois, no palco 1.º deMaio, soou o Reggae dos Kussondulola.

Logo ao início da tarde de sábado chegou agrande enchente, para a recepção aos PrimitiveReason. Dos galegos Skàrnio à bósnia LjiljanaButtler, acompanhada dos Mostar Sevdah Reunion,

passando pelos Telectu e sem esquecer o Festival DeBlues, com a presença de Otis Grand, a oferta foivariadíssima. No entanto, o grande momento da tardefoi da responsabilidade da Brigada Vítor Jara, com ainterpretação de “Ronda das Mafarricas”. De noite, odestaque foi para os Xutos & Pontapés e Clã.

O dia de encerramento não podia ter começadode melhor maneira, com os contagiantes Terrakota.Inesperada (ou não) foi a surpresa Dazkarieh, onde amúsica tradicional, Rock e música erudita deram osbraços. Depois do obrigatório comício de final detarde, a música voltou ao palco 25 de Abril, com osBlasted Mechanism que, com algum espanto,recuperaram “Swinging With The Monkeys”. Adespedida teve lugar com os almadenses Da Weasele o aguardado fogo de artifício.

Construída com o trabalho voluntário de membrose simpatizantes do Partido Comunista Português, aFesta Do Avante! realiza-se desde 1976. Actualmenteocupa toda a área da quinta da Atalaia e disponibilizauma dezena de palcos destinados à música e teatro,diversos espaços para debates, feira do livro e dodisco e um stand por cada distrito do país.•

Não há festa como esta

29.ª Festa do Avante!

Atalaia, Seixal2 a 4 Set | www.pcp.pt/festa-do-avante

Ljiljana Buttler & Mostar Sevdah Reunion

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texto: Filipe Pedro e Gonçalo Guedes Cardoso

Com o fantasma do 10.º aniversário a pairar so-bre a cidade Mediterrânica de Benicàssim, os es-trategas do Festival Internacional De Benicàssim(FIB) obrigaram-se a um esforço criativo para man-terem aceso o estatuto há muito conseguido defestival mais caliente do Verão europeu.

Recorrendo ao mercado anglófono de contra-tações, a organização do FIB 2005 habilmente assinoucom os nomes mais sonantes da primeira divisão damúsica Pop Rock e Electrónica mundial. A juntar aosol convidativo, a proximidade com a praia, os aressuaves do Mediterrâneo, a gastronomia aliciante e ospreços acessíveis da cerveja e da paelha, cerca de 30mil adeptos (10 mil britânicos) aceitaram o desafio,inundando o ambiente de cores, cheiros, sotaques esons difusos.

«La técnica es la técnica e sin técnica no hay téc-nica», afirmamos nós. Aqui jogou-se com toda a cate-goria: mais de uma centena de grupos divididos porcinco palcos, um auditório para curtas-metragens,uma tenda com desfiles de moda e um verdadeiroderby futebolístico, onde os músicos saíram humilha-dos, ante o show de bola dos jornalistas. Ficam osmelhores momentos do festival:

Toques polifónicos no FIBstart

Quando a Pop dos Beach Boys ganha a dinâmicados Flaming Lips, o resultado é Polyphonic Spree.Canções épicas e sentidas, distribuídas por 23 músi-cos em palco. De longe, o melhor momento doFIBstart.

The Tears não são os Suede, mas usam e abusamdo estatuto. Brett Andersen está habituado à ribalta e

acomodado à pose. Bernard Butler continua a ser umexcelente guitarrista. E daí? As músicas são desinte-ressantes e a apatia chega a ser incómoda.

Os Underworld mantêm vivo o espírito rave deoutrora, embora nestas actuações festivaleiras o mo-do best of seja ritual obrigatório, escutando-se os in-contornáveis “Rez” ou “Born Slippy”. O vocalista KarlHyde preservou a elegância e o público manteve-seao rubro, com as suas danças endiabradas.

O Carnaval chegou à cidade

Uma vez mais, prevaleceu a habitual química entreo casal Alison Mosshart e Jamie Hince num concertoenérgico dos Kills. A apresentação dos temas de NoWow ao vivo não podia ter resultado melhor. «Killsüber alles», dizem a dada altura.

Os Fischerspooner pisam o palco. O ambientedisco não engana, com direito a laser e a bola de es-pelhos. Infelizmente já não são os mesmos que trou-xeram o álbum de estreia ao Número Festival em2001. Perdeu-se grande parte da teatralidade, estéticae imprevisibilidade, ganhando-se uma banda Rock,como tantas outras. Peaches, a nossa companheirade outras andanças, veste e despe roupa ao sabor dovento, toca guitarra, parte a loiça toda, toma e dá ba-nho a uma audiência deliciada com as suas provoca-ções, berros e descargas de adrenalina.

A dupla Basement Jaxx, composta por FélixBuxton e Simon Ratcliffe, chega ao palco perseguidapelo macaco Adriano, com milhares de pessoas aossaltos. Uma carreira sólida com base nos álbunsRemedy, Rooty e Kish Kash celebra-se em festa per-manente, com ambiente carnavalesco.

60 Rewind Internacional

A invencível armada11.º Festival Internacional De Benicàssim

Benicàssim, Espanha4 a 8 Ago | www.fiberfib.com

Kings of Convenience

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Rewind Internacional 61 .

fotos: Filipa Lourenço

Na Na Na Na Naa

Devendra Banhart, aka o rapaz dos calções depraia retro, portou-se bem, tendo o seu Folk/Pop con-quistado a audiência. Merecia ter tocado mais tarde noalinhamento e de preferência num auditório fechado.

O vocalista Ricky Wilson torna os Kaiser Chiefsimparáveis e incontroláveis. Saltos constantes, trêsdescidas ao público, uma escalada até ao topo da tor-re de luzes e muitos ingleses ao rubro com os instantclassics de Employment, fizeram prever um motim.

Apesar de não estar ao nível do fabuloso concerto noPrimavera Sound 2004, a actuação dos !!! no FIB mos-trou toda a garra do imparável vocalista Nic Offer. A trocaconstante de instrumentos pelos membros da bandademonstrou originalidade e um funkdelismo em alta.

Jeans Team constituiu uma proposta alemã inte-ressante, com base num bom VJ e em aproximaçõesaos breakbeats, com samplers escolhidos a dedo.

Apesar da negrura aparente do novo discoWitching Hour, os Ladytron apresentaram uma Popescorreita e dançável, num ambiente propício à festa.

O triunfo nova-iorquino

Muitas influências nipónicas no som dos Pan Sonic(Flare, Cornelius) e outras europeias (LFO, Aphex Twin).Os trezentos corajosos que testemunharam oexperimentalismo ciclónico, gozaram de uma excelenteactuação — diversificada, criativa, poderosa.

Com a temperatura já em alta, o calor australianode Nick Cave & The Bad Seeds revelou-se um dosmomentos-chave do FIB 2005. Com 22 anos de carrei-ra e muito suor no corpo, Cave e as suas sementesplantaram em Espanha um nutriente elegante, charmo-

so e refulgente de Rock, Blues, Funk, Soul e Gospel.A ex-Moloko Roisin Murphy confessa ao público

do FIB que andou iludida uma série de anos. Acompa-nhada por excelentes músicos e com Ruby Blue, o re-cém-editado disco de estreia a solo, na bagagem,Roisin mostrou a fibra com que se cose. O concertodos Oasis, o mais esperado pelos peregrinos (na suamaioria britânicos) foi marcado por um desfilar deunion jacks, moças avantajadas, chapéus e t-shirtsalusivas à banda e uso abusivo de álcool e calão. Des-taca-se a dedicatória de "Rock & Roll Star" por partede Liam ao falecido ex-ministro dos negócios estran-geiros britânico Robin Cook, não se sabe se séria ouirónica.

O melhor de Kasabian foi o pior dos Oasis. A mul-tidão excessiva deu lugar a um espaço amplo onde osverdadeiros fãs coabitaram com os simples curiosos,todos empenhados em festejar em tom de Pop atmos-férico e psicadelismo electrónico um festival que seaproximava vertiginosamente do fim.

Entretanto subimos à tenda das bandas realmentefrescas, o palco Music Box, para escutarmos cincochilenos com muita onda Funk e Rock. O nome a fixaré Panico e o notável disco de estreia tem o títuloSubliminal Kill.

De volta ao palco principal, o ritmo impresso pelosLCD Soundsystem foi sabiamente pensado para nãopermitir que o público adormecesse. O último grandeconcerto do FIB presenciou um "Daft Punk Is PlayingIn My House" e outras pérolas em versão mais acele-rada, mas sem perda de identidade.

Ainda aos milhares, os resistentes permaneceramna tenda FIB Club madrugada fora, em espírito de fes-ta, ao ritmo das batidas sincopadas dos grupos e DJsda DFA records. •

!!!

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62 Stop Cd’s

KubikMetamorphosiaZounds Records

Kubik propõe uma exploração caleidoscópica, dançávele divertida. Avança para citações que incluem a bandasonora de Get Smart no final de “Night And Fog: Ya!” eHitchcock Apresenta em “Intro-middle: Hitch Song”. Otema “Driving With Your Fingers Crossed”, dos tambémportugueses Bypass, ganha nova designação na remis-tura “Sweet”, enquanto que um irreconhecível FranciscoSilva (Old Jerusalem) vocaliza “I'm A Vampire, I'mDisgust”. Qual ciberpoeta demoníaco, Adolfo LuxúriaCanibal é a escolha perfeita para a vocalização de “EraChegado O Tempo”. A fechar o álbum escutam-se sinos,cães, gatos, desenhos animados e fogo de artifício... oinsólito em formato canção-espírito-livre-ao-vento. Meta-morphosia é tal e qual. Um espécime a preservar junto deoutras raridades. • FP

www.kubik.com.pt

Xiu XiuLa FôretAcuarela / Pop Stock

O cliché «primeiro estranha-se, depois entranha-se»serve que nem uma luva a La Fôret, o quarto disco de XiuXiu, depois de Knife Play (2002), A Promise (2003) eFabulous Muscles (2004). Está escuro lá fora, o ambienteé soturno e inóspito (“Baby Captain”, “Dangerous YouShouldn't Be Here”). Há barulhos estranhos no ar(“Saturn”, “Mousey Toy”). Ian Curtis vive (“Pox”). A Björkpor aqui (“Ale”)? Afinal isto é cinema (“Yellow Raspberry”e “Rose Of Sharon”). No fim, tudo não passa de umpesadelo do vocalista Jamie Stewart, que desperta, emsobressalto (“Muppet Face”, “Bog People”). Fecha osolhos e o sonho recomeça (“Clover”). A floresta é imensae de tal modo misteriosa e viciante que não é fácilencontrar a saída. Quem tem medo do escuro? • FP

www.xiuxiu.org

Devendra BanhartCriple CrowYoung God / XL Recordings /Pop Stock

A proverbial hispanofilia dos texanos é amplamente reco-nhecida, porém Devendra Banhart pode tê-la levado umpouco mais além. O sucessor de Nino Rojo é a quartaviagem pelo amor, novos encontros, diferentes lingua-gens e uma espiritualidade adulta deste texano, que tro-cou os EUA pela Venezuela. Aqui, o talentoso cantor ecompositor atravessa a poesia e a pintura, transportandona mala 22 pequenos e melódicos temas, temperadoscom uma reinvenção de Folk, Country, Blues, ritmos lati-nos e africanos, na maioria dos quais apenas acom-panhado da sua guitarra acústica e percussão de mão.São canções autênticas, com enorme sensibilidade líricae alguma ingenuidade, onde o poderio da sua voz é talque a leitura da lista telefónica de Caracas bastaria paranos fazer pele de galinha. • GGC

Raum7 Pecados mortaisNinho de vespas / Trem Azul

A preguiça assume um tom vadio e desleixado e osinstrumentos transmitem alguma indolência e pro-longamento no tempo. O desejo ardente de posse revelauma ambição desmesurada e o Free Jazz liberta-se depreconceitos na cobiça. A riqueza melódica e glamourtransporta-nos para um salão de festas, onde a luxúriaimpera. A vaidade convida à futilidade e imodéstia,traduzida num registo sonoro de inconstância. Num ritmomais relaxado e sereno, chega-se às notas da avareza,marcado por uma série de falsas modéstias. A atracçãoirresistível por iguarias finas e sons arrojados toma formana gula, que se transforma num crescendo sonoro plenode sentimento, cólera e indignação através da ira.Se o Jazz pecou, este novo testamento é o seu acto decontrição. • GGC

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Stop Dvd’s 63

Na cidade do pecado os heróis são assassinos, a corrup-ção é a lei e as mulheres são quase todas prostitutas oustrippers. Violentíssimo, Sin City é a melhor conversão decomics em cinema alguma vez feita. Com excelente edi-ção e fotografia, Sin City foi filmado a preto e branco, ce-nários digitais e actores de carne e osso — basta referirBenicio Del Toro, Bruce Willis e Mickey Rourke. A ediçãoespecial de Sin City em duplo DVD inclui a versão quevimos em cinema e uma nova, de 147 minutos. Os bónusincluem comentários áudio do realizador RobertRodriguez com Frank Miller e Quentin Tarantino, paraalém de uma imensidão de documentários como TheCars Of Sin City, Making The Monsters: Special EffectsMake-Up, The Costumes Of Sin City ou Convincing FrankMiller To Make The Film. • FP

http://video.movies.go.com/sincity

A linha que separa a tragédia da comédia é ténue. Bastaolhar para o universo cinzento e deprimente da políticapara percebê-lo. Quem disse, afinal, que uma campanhamal dirigida ou um enorme défice público não podem darorigem a um humor sofisticado e cortante? Se dúvidasrestam, veja-se a forma como a BBC conseguiu canalizaras desventuras-tipo de um ministério britânico para ascaricaturar numa das melhores pérolas da britcom. Lan-çado 25 anos depois da sua estreia em televisão, numacaixa com 21 episódios com cerca de uma hora cada,Sim, Sr. Ministro vive precisamente disso. Da inspiraçãoque foi beber ao dia-a-dia do movimentado gabinete daAdministração Interna, com um ministro instrumentaliza-do e um corpo de assessores pouco preocupados em fa-zer andar o país. De chorar por mais. • FA

Na ressaca de uma inusitada crise de originalidade, decerta forma sentenciada pelas direcções dos grandes es-túdios, sabe bem olhar para trás e constatar que, pormais que a realidade insista em contrariá-lo, a esperançaé sempre a última a morrer. Dispondo de um pacote es-pecial com sete clássicos de Woody Allen, é a LNK quemdá o empurrãozinho à viagem. E vale mesmo a penaceder. De preferência, com uma primeira escala na ilha-fetiche do realizador para o filme de tributo ao mais no-bre palco de toda a sua cinematografia: Manhattan.Rodada em 1979, em película a preto e branco, esta odeao amor fugaz, ao cosmopolitismo e ao espírito das rela-ções modernas não só conta com um elenco de luxo, co-mo sintetiza na perfeição o espírito do cineasta. • FA

Sin CityRobert Rodriguez

& Frank MillerBuena Vista Home Entertainment

Their Law - The Singles1990-2005The Prodigy

XL Recordings / Pop Stock

Quem marcou presença no 2.º SBSR, em 1996, jamaisesquecerá o poder dos Prodigy ali testemunhado. Naaltura tinham apenas dois álbuns editados Experience eMusic For The Jilted Generation, e a promessa de umálbum que demoraria um ano a ser editado pela mão deLiam Howlett (o cérebro) e dos (pouco mais do que)dançarinos Maxim, Keith Flint e Leeroy Thornhill, The FatOf The Land. Apesar dos regressos em 1997 (Imperial AoVivo) e 2005 (SBSR) serem muito inferiores à estreia, ficoupatente um certo respeito pelos discos anteriores aAlways Outnumbered, Never Outgunned. Em boa horasurge este DVD, que reúne excertos de concertos etelediscos inesquecíveis como “Firestarter”, “Breathe”,“Smack My Bitch Up”, “Poison”, “Voodoo People”,“Charly” e “No Good (Start The Dance)”. «Fuck'em AndTheir Law!» • FP

www.prodigy.co.uk

Sim, Sr. MinistroSydney Lotterby

Prisvideo

ManhattanWoody Allen

LNK

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64 Play

Outubro2005

BD, Cinema, Dança, Design,Música, Teatro, Video

Cinema

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FotografiaDesign

8.º Outubro, Outono, Outonalidades . www.dorfeu.com

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31

TeatroMúsica . Video Dança

London Film Festival . www.lff.org.uk

IMAGO - Festival Internacional De Cinema Jovem . www.imagofilmfest.com

Dublin Theatre Festival . www.dublintheatrefestival.com

Festival Temps d’Images . www.tempsdimages.org

7.º Angrajazz . www.angrajazz.com

Docúpolis - Festival Internacional Documental De Barcelona . www.docupolis.org

Experimenta Design . www.experimentadesign.pt

Festival Expresso Oriente . www.culturgest.pt

Festival Para Gente Sentada . www.cm-feira.pt

Festival Internacional De Teatro Cómico Da Maia . http://sapp.telepac.pt/teatroartimagem

8.º Marionetas Na Cidade . www.samarionetas.com

SONDA . www.festivalsonda.com/sonda.htm

Doclisboa . www.doclisboa.org

Ovarvideo 2005 . www.ovarvideo.com

Cosmopolis — Festival Internacional De Artes Electrónicas . www.magicmusic.info

Otoño Aficionado, Festival De Teatro No Professional . www.festivales.com/torrelavegaaficionado

Festa Do Cinema Francês . www.ifp-lisboa.com

Sitges 2005 — Festival Internacional Cinema Catalunya . www.cinemasitges.com

11.º Cine’Eco . www.cineeco.org

12.ª Quinzena De Dança De Almada . www.cdanca-almada.pt

FIBDA — Festival Internacional De Banda Desenhada . www.amadorabd.com

Festival Pés No Palco . www.marionetasmandragora.com

Festival O Gesto Orelhudo . www.dorfeu.com

Barreiro Rocks . www.barreirorocks.com

Seixal Jazz . http://srvweb.cm-seixal.pt/seixaljazz

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Play 65

Novembro2005

BD, Cinema, Dança, Fotografia,Ilustração, Música, Teatro

Internacionais

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

BD . Ilustração

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

12.ª Quinzena De Dança De Almada . www.cdanca-almada.pt

Festival O Gesto Orelhudo . www.dorfeu.com

FIBDA — Festival Internacional De Banda Desenhada . www.amadorabd.com

London Film Festival . www.lff.org.uk

Festa Do Cinema Francês . www.ifp-lisboa.com

8.º Outubro, Outono, Outonalidades . www.dorfeu.com

Otoño Aficionado, Festival De Teatro No Professional . www.festivales.com/torrelavegaaficionado

Ilustrarte 2005 — Bienal De Ilustração Para A Infância . www.ilustrarte.web.pt

Jazz Ao Centro — II Parte . www.jacc.pt

Número Festival . www.numerofestival.com

Ponto Pequeno — 2.º Encontro Das Marionetas . www.marionetasmandragora.com/encontro

Festival Internacional De Cinema do Funchal . www.funchalfilmfest.com

Cinanima — 29.º Festival Internacional De Cinema De Animação De Espinho . www.cinanima.pt

BAC! Barcelona Arte Contemporáneo . www.lasanta.org

Festival Internacional De Humor De Lisboa . www.ccb.pt

Fade In Festival . www.fadeinfestival.com

Festival De Jazz De Málaga . www.teatrocervantes.com

FIKE — Festival Internacional De Curtas-Metragens De Évora . www.fikeonline.net

Phono’05 . www.cm-lisboa.pt/fonoteca

Arona — Festival de Cortometrajes Playa De Las Americas . www.arona.org

Cinemad — Festival De cine Independiente Y De Culto . www.cinemad.org

IDFA — International Documentary Film Festival Amsterdam . www.idfa.nl

38.º Rugissants . 38rugissants.com

43.º Festival Internacional De Cine De Gijón . www.gijonfilmfestival.com

Festival Sons Em Trânsito . www.set.com.pt

Cairo International Film Festival . www.cairofilmfestival.com

Pluridisciplinar

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Dezembro2005

Cinema, Design, Fotografia,Ilustração, Música, Teatro

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Tirana Iternational Film Festival . www.tiranafilmfest.com

Ilustrarte 2005 — Bienal De Ilustração Para A Infância . www.ilustrarteweb.pt

Seixal Metalfest 2005 . http://seixalmetalfest.pt.to

8.º Festival Beyond Media 05 . www.beyondmedia.it

8.º Outubro, Outono, Outonalidades . www.dorfeu.com

FIDIS — Festival Internacional De Imagem Subacuática . www.videosub.org

KOSMOPOLIS — Fiesta Internacional De La Literatura . www.cccb.org/kosmopolis

Barcelona Hayride . www.bcnhayride.com

MAGMA— European Winter Meeting Tenerife 2005 . www.magmameeting.com

Arona — Festival De Cortometrajes Playa De Las Americas . www.arona.org

Cairo International Film Festival . www.cairofilmfestival.com

Festival Internacional Del Nuevo Cine Latinoamericano de la Habana . www.habanafilmfestival.com

Purple Weekend . www.purpleweekend.com

Rencontres Trans Musicales . www.lestrans.com

Lesbian Festival . www.lesbianfestival.nl

Fade In Festival . www.fadeinfestival.com

Tendencias FMI . www.tendenciasfmi.com

BAF — Bellas Artes Festival . www.sala-apolo.com

Festival Sons Em Trânsito . www.set.com.pt

Cinemad — Festival De Cine Independiente Y De Culto . www.cinemad.org

43.º Festival Internacional De Cine De Gijón . www.gijonfilmfestival.com

Informações para a secção Play devem ser enviadas para [email protected]

Festival Jovem Día De Navarra . www.inoutnavarra.com

BAC! Barcelona Arte Contemporáneo . www.lasanta.org

Otoño Aficionado, Festival De Teatro No Professional . www.festivales.com/torrelavegaaficionado

38.º Rugissants . 38rugissants.com

IDFA — International Documentary Film Festival Amsterdam . www.idfa.nl

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