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6 Revista FURNAS - Ano XXXIV - N” 349 - Fevereiro 2008 CAPA BAGUARI: Abaixo, vista aérea do vertedouro em construção Fotos: Marcos Pinto 6 Revista FURNAS - Ano XXXIV - N” 349 - Fevereiro 2008

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6 Revista FURNAS - Ano XXXIV - Nº 349 - Fevereiro 2008

CAPA

BAGUARI:Abaixo, vista aéreado vertedouroem construção

Fotos: Marcos Pinto

6 Revista FURNAS - Ano XXXIV - Nº 349 - Fevereiro 2008

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Situada no rio Doce, estado de

Minas Gerais, a Usina Hidrelétri-

ca de Baguari acrescentará 140 MW

de capacidade instalada ao Sistema

Elétrico Brasileiro a partir do segun-

do semestre de 2009. O empreendi-

mento, resultado da sociedade entre

Baguari I (51%) – subsidiária integral

do Grupo Neoenergia -, Cemig (34%)

e FURNAS (15%), integra o Programa

de Aceleração do Crescimento (PAC)

e vai gerar 1,3 mil empregos diretos.

A construção segue em velocida-

de de cruzeiro. Em nove meses, fo-

ram concluídas a primeira fase do

desvio do rio, as escavações da casa

de força, concretados três pilares do

vertedouro e iniciada a concretagem

da saída de sucção da primeira má-

quina. A estimativa é de que 30% das

obras já estejam realizadas.

Com este ritmo, é possível que o

cronograma seja antecipado em dois

meses, e a primeira das quatro unida-

des geradoras entre em operação em

setembro de 2009. “Mesmo iniciando

a obra com 69 dias de atraso, a pri-

meira fase do desvio do rio ocorreu na

data prevista. Se mantivermos a se-

gunda fase no prazo planejado, con-

Obras da usina têm ritmo acelerado e propiciam mais de

mil empregos, capacitação de mão-de-obra e ações sociais

energia, empregoe desenvolvimento

texto Leonardo Cunha

seguiremos reduzir o tempo de cons-

trução de 31 para 29 meses”, afirma

Manoel Rafael de Oliveira Neto, dire-

tor técnico do Consórcio UHE Baguari.

Ele atribui a agilidade das obras à

estiagem ocorrida no mês de novem-

bro na região de Governador

Valadares e à disponibilidade de equi-

pamentos de escavação e montagem.

Dos 100 mil m3 de concreto previstos

para a usina, Oliveira Neto estima

que já foram executados 15 mil m3.

Fio d�águaAlém de aumentar a confiabili-

dade do Sistema Interligado Nacional

(SIN), Baguari tem sua importância

ressaltada por uma peculiaridade: a

usina operará a fio d’água com turbi-

nas bulbo, a mesma tecnologia a ser

empregada na Usina de Santo Antô-

nio, no rio Madeira (RO).

Como parte das empresas envol-

vidas no projeto de Baguari – FURNAS,

Construtora Norberto Odebrecht

(CNO), Cemig e Voith-Siemens – são

integrantes ou fornecedoras de ser-

viços e equipamentos do consórcio

Madeira Energia S.A. (Mesa), que ven-

ceu em dezembro o leilão para cons-

trução de Santo Antônio, a hidrelétri-

ca de Minas Gerais pode ser conside-

rada uma espécie de prévia da pri-

meira usina do Complexo do Madeira.

“Atualmente, apenas três hidre-

létricas acima de 30 MW utilizam tur-

binas bulbo no Brasil: Igarapava, da

Cemig; e Canoas I e II, da Companhia

Energética de São Paulo (Cesp).

Baguari será a quarta usina com tur-

binas bulbo no país, e a primeira com

participação de FURNAS”, conta o

gerente do Departamento de Cons-

trução de Geração Manso (DGA.C),

Dionésio Werner Júnior.

“A Superintendência de Empre-

endimentos de Geração (SG.C) pre-

tende designar profissionais para

acompanhar a montagem das tur-

binas de Baguari. Cada máquina da

usina tem 35 MW de potência, o que

representa a mesma ordem de gran-

deza das turbinas de Santo Antônio

(71 MW). Será possível identificar

quais são os testes e problemas tí-

picos da montagem desse tipo de

equipamento”, afirma o gerente da

Assessoria Técnica de Geração Hi-

dráulica (ATG.C), José Ricardo Cas-

tro de Almeida.

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CAPA

MUNICÍPIOS ABRANGIDOS:Governador Valadares, Periquito,Alpercata, Fernandes Tourinho,Sobrália e Iapú.

EMPREGOS DIRETOS E INDIRETOS:5,2 mil

CAPACIDADE INSTALADA:140 MW.

CUSTO ESTIMADO: R$ 450 milhões.

EXTENSÃO DO RESERVATÓRIO:20 km ao longo do curso do rioDoce e 5 km ao longo do rioCorrente Grande.

ELEVAÇÃO DO RESERVATÓRIO:185 m acima do nível do mar(máximo).

BARRAGEM: Solo e enrocamentocompactados.

CASA DE FORÇA: Abrigada

VERTEDOURO: Localizado namargem esquerda do rio Doce,adjacente à entrada do canal deadução, com seis vãos.

TURBINAS: Quatro turbinas bulbo,com potência de 35,9 MW cada.

GERADORES: Potência nominalunitária de 39,04 MVA.

LINHA DE TRANSMISSÃO:Em 230 kV, seccionará a LTMesquita I–Valadares II, da Cemig.

Assistência socialO reservatório de Baguari terá

16,06 km2, atingindo áreas resi-

denciais nas localidades de Pedra

Corrida e Beira Linha, ambas no mu-

nicípio de Periquito (MG). Com isso,

92 famílias serão reassentadas pelo

Consórcio UHE Baguari.

Segundo a psicóloga Sí lvia

Rodrigues Gomes, que atua no Posto

de Assistência Social (PAS) instalado

pelos empreendedores em Pedra Cor-

rida, o trabalho desenvolvido pelo

consórcio na comunidade auxilia no

esclarecimento das dúvidas da popu-

lação. “Através dessa interação, va-

mos reduzindo o medo das pessoas. O

que vemos é que elas querem mudar,

ganhar uma casa nova”, diz.

Além do suporte psicológico, o PAS

presta serviços nas áreas jurídica e de

assistência social. Por mês, são reali-

zados até 40 atendimentos no local.

O PAS também deu apoio ao progra-

ma de qualificação de mão-de-obra

realizado pelo consórcio, no qual 512

pessoas se formaram em pedreiro,

Raio-xDE BAGUARI

carpinteiro de obras, armador, solda-

dor, eletricista de painel, eletricista

de corrente alternada e técnico de

segurança do trabalho (NR10). Os cur-

sos foram ministrados pelo Serviço

Nacional da Indústria (Senai) de Go-

vernador Valadares.

EmpregoParte dos alunos encontrou tra-

balho no próprio canteiro de Baguari.

Este é o caso de Hudson Lucas dos

Santos, 37 anos. Ex-montador de

móveis, ele fraturou o punho num

acidente de moto e permaneceu 19

meses sem trabalhar. Com o curso de

Local onde será erguida a casa de força da Usina de BaguariFoto: Leonardo Cunha

Santos foi qualificadopelo Consórcio UHEBaguari e conseguiuemprego na obra

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capacitação, retomou sua antiga pro-

fissão de soldador e pretende seguir

trabalhando em grandes obras de

infra-estrutura. “Não quero mais fi-

car para trás”, diz o operário, que

recebe R$ 536 por mês.

Um pouco mais prosaica é a história

de Gigliojane Carmo Faria, o Labin. Há

oito meses, ele ingressou como assis-

tente administrativo em Baguari. Labin

conseguiu a vaga pouco antes de subir

ao altar. “O emprego salvou meu casa-

mento. Já havia conversado com a mi-

nha mulher que, se não arrumasse o

serviço, não ia me casar”, revela.

A Usina de Baguari beneficiará ain-

da a comunidade de Pedra Corrida (MG)

com a instalação de um posto policial;

ampliação da Escola Municipal Dom

José Maria Pires, que vai ganhar qua-

tro salas de aula, sala de professores,

pátio coberto, seis novos banheiros e

biblioteca; e reforma e ampliação do

posto de saúde. Na área ambiental,

será criada uma Reserva Particular do

Patrimônio Natural (RPPN) de aproxi-

madamente 34 hectares.

Foto

s:

Mar

cos

Pin

to

Maria da Conceição Abreu (foto acima), 52 anos, moradora de Pedra

Corrida, em Periquito, experimentou duas guinadas em sua vida. A

primeira delas quando descobriu que o falecido marido, ferroviário da Compa-

nhia Vale do Rio Doce, possuía um punhado de ações da empresa. Dona Maria

vendeu os papéis, dividiu o dinheiro com os cinco filhos e construiu, com sua

parte, uma casa de dois andares na rua principal do distrito.

Já a segunda guinada veio com as obras da Usina de Baguari. A pensão que

a ex-merendeira montou nos fundos de casa há um ano teve o movimento

multiplicado pela freguesia de engenheiros e técnicos do empreendimento. Por

R$ 7, come-se à vontade no pequeno restaurante. E se o cliente não se mostra

satisfeito com os pratos do bufê, dona Maria logo lhe oferece bife acebolado e

ovo frito (de galinha caipira, com gema amarelo escuro, é bom frisar) como

opções. “Tem dia que são 30, acho que até 40 refeições”, conta.

Essa imprecisão não deve ser tomada como descuido em relação aos negó-

cios. Se fosse assim, dona Maria não teria investido na compra de um

microcomputador para “recolher um trocadinho” a mais. A criançada da

vizinhança faz fila para acessar a internet e brincar na lan house improvisada.

A hora de navegação custa R$ 2. “Aqui não tinha internet. Hoje, falo pelo

computador com os meus filhos em Portugal”, afirma dona Maria. “Ainda vou

ser empresária”, completa, sem perceber que o tempo do verbo não precisa mais

ficar no futuro.

Um futuro melhor, aliás, é o que deseja outra moradora

de Pedra Corrida, a aposentada Geni Martins (foto ao

lado), de 77 anos. Residente na rua Fernando Diniz, que

será alagada pelo reservatório de Baguari, ela não vê a

hora de se mudar para uma das casas que serão

construídas na localidade para assentar a população

atingida pela usina.

Sua pressa tem justificativa. O tempo e as constan-

tes enchentes que afligem os ribeirinhos da Fernando

Diniz comprometeram seriamente o imóvel de dona Geni.

“Já pensou em morar num lugar que enche de água?”,

lamenta a aposentada, que antes de conversar com a Revista FURNAS, limpava

os escombros de uma parede interna que desmoronara.

Cerca de 30% das obras de Baguarijá foram executadas, como os trêsprimeiros pilares do vertedouro

Foto: Marcos Pinto

Esperançade umavida nova

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