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www.conteudojuridico.com.br Artigos Sexta, 13 de Dezembro de 2013 06h45 MAURÍCIO MAIA: Procurador Federal em São Paulo, membro efetivo da Comissão de Direito Administrativo da OAB/SP, e mestrando em Direito Constitucional pela PUC/SP. Direitos das pessoas com deficiência A Lei Nº 10.098/2000 como norma geral Resumo: A Constituição Federal, em seu artigo 24, XIV, aponta que a proteção e a integração social das pessoas com deficiência são matérias de competência legislativa concorrente entre a União, os Estados e o Distrito Federal, sendo que, nessa hipótese, conforme o §1º do mesmo artigo 24 da Constituição, competiria à União apenas a elaboração de normas gerais sobre as referidas matérias. Discutese se a Lei 10.098/2000, editada pela União, traz normas gerais sobre a proteção e a integração das pessoas com deficiência, ou se houve extrapolação pela União da competência legislativa que lhe foi conferida pela Constituição Federal. Palavraschave: Pessoas com deficiência; proteção constitucional das pessoas com deficiência; competência legislativa concorrente; normas gerais. I – Introdução O artigo 24, XIV, da Constituição Federal, dispõe que é matéria de competência legislativa concorrente a proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência”. Como matéria de competência legislativa concorrente, cabe à União o estabelecimento de normas gerais e aos Estados a suplementação dessa legislação, nos termos dos parágrafos do mesmo artigo 24 da Lei Maior. A União, então, editou a Lei nº 10.098/2000, exercendo a competência concorrente do artigo 24, XIV, da Constituição Federal, que tem a seguinte ementa: “Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências.” Questão que surge é se a União, ao editar a referida Lei nº 10.098/2000, não transbordou da competência que lhe é atribuída pelo artigo 24, §1º, da Constituição Federal, ou seja, se de fato a lei nº 10.098/2000 constituise em normas gerais para a proteção e integração social das pessoas com deficiência, ou se a norma referida padece de vício de

Lei 10098 - Artigo

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    ArtigosSexta,13deDezembrode201306h45

    MAURCIOMAIA:Procurador Federal emSoPaulo,membro efetivo daComisso deDireitoAdministrativodaOAB/SP,emestrandoemDireitoConstitucionalpelaPUC/SP.

    Direitosdaspessoascomdeficincia ALeiN10.098/2000comonormageral

    Resumo: AConstituio Federal, em seu artigo 24, XIV, aponta que a proteo e aintegrao social das pessoas com deficincia so matrias de competncia legislativaconcorrente entre a Unio, os Estados e o Distrito Federal, sendo que, nessa hiptese,conforme o 1 do mesmo artigo 24 da Constituio, competiria Unio apenas aelaborao de normas gerais sobre as referidas matrias. Discutese se a Lei n10.098/2000,editadapelaUnio, traznormasgeraissobreaproteoea integraodaspessoascomdeficincia,ousehouveextrapolaopelaUniodacompetncia legislativaquelhefoiconferidapelaConstituioFederal.

    Palavraschave: Pessoas com deficincia proteo constitucional das pessoas comdeficinciacompetncialegislativaconcorrentenormasgerais.

    IIntroduo

    Oartigo24,XIV,daConstituioFederal,dispequematriadecompetncialegislativa concorrente a proteo e integrao social das pessoas portadoras dedeficincia.

    Como matria de competncia legislativa concorrente, cabe Unio oestabelecimentodenormasgeraiseaosEstadosasuplementaodessa legislao,nostermosdospargrafosdomesmoartigo24daLeiMaior.

    A Unio, ento, editou a Lei n 10.098/2000, exercendo a competnciaconcorrentedoartigo24,XIV,daConstituioFederal,quetemaseguinteementa:

    Estabelecenormasgeraisecritriosbsicosparaapromoodaacessibilidade das pessoas portadoras de deficincia ou commobilidadereduzida,edoutrasprovidncias.

    QuestoquesurgeseaUnio,aoeditarareferidaLein10.098/2000,notransbordoudacompetnciaquelheatribudapeloartigo24,1,daConstituioFederal,ouseja, sede fatoa lein10.098/2000constituiseemnormasgeraisparaaproteoeintegraosocialdaspessoascomdeficincia,ouseanormareferidapadecedevciode

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    inconstitucionalidadeemrazodeusurpao,pelaUnio,decompetnciaquepertenceriaaosEstados.Esteotemadequetrataremos.

    IICompetncialegislativaconcorrente

    AConstituioFederal,emseuartigo24,estabeleceacompetncialegislativaconcorrenteentreaUnio,osEstadoseoDistritoFederal.Nesseartigo,assim,aLeiMaiorenumera uma srie de assuntos acerca dos quais os mencionados entes federativoslegislaroconjuntamente,fixando,nospargrafosregrasacercadecomotaiscompetnciasseroexercidas.

    Vejamosaredaodoartigo24daConstituioFederalnoquetocaaoexercciodascompetnciaslegislativasconcorrentes:

    Art. 24. Compete Unio, aos Estados e ao Distrito Federallegislarconcorrentementesobre:

    (...)

    1 No mbito da legislao concorrente, a competncia daUniolimitarseaestabelecernormasgerais.

    2AcompetnciadaUnioparalegislarsobrenormasgeraisnoexcluiacompetnciasuplementardosEstados.

    3 Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estadosexercero a competncia legislativa plena, para atender a suaspeculiaridades.

    4 A supervenincia de lei federal sobre normas geraissuspendeaeficciadaleiestadual,noquelheforcontrrio.

    EntendesequeoMunicpiotambmpoderexerceracompetncialegislativaconcorrentefaceodispostonoartigo30,II,daConstituioFederal,queassimdispe:

    Art.30.CompeteaosMunicpios:

    (...)

    IIsuplementaralegislaofederaleaestadualnoquecouber

    (...)

    ComentandoacercadaparticipaodoMunicpionacompetncia legislativaconcorrente,FernandaDiasMenezesdeAlmeidaassimleciona:

    Istonosignificaqueestesestejamexcludosdapartilha,sendolhesdadosuplementaralegislaofederaleestadual,noquecouber,conformedispeoartigo30,II,daConstituio.

    Como dissemos antes, tratase de modalidade de competncialegislativa concorrente primria, porque prevista diretamente naConstituio,masdiferentedacompetnciaconcorrenteprimriaqueenvolveaUnioeosEstados.EdiferenteporqueaConstituionodefineoscasoseasregrasdeatuaodacompetnciasuplementar

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    do Municpio, que surge delimitada implicitamente pela clusulagenricadointeresselocal[i].

    Visto,dessaforma,quetodososentesfederativosparticipamdaatribuiodecompetnciaslegislativasconcorrentes,cumpreverificarasuaformadeexerccio,conformeodispostonospargrafosdoartigo24daConstituioFederal.

    Em sntese, podemos dizer que no exerccio das competncias legislativasconcorrentesUniocabeaediodenormasgerais,competindoaosEstados,aoDistritoFederaleaosMunicpios(porforadodispostonoart.30,II,daCF),aediodenormasquevenhamacomplementlas.Inexistindolegislaofederalsobreoassunto,osdemaisentes federativos exercero a competncia legislativa plena, mas sobrevindo lei federalsobre normas gerais a eficcia da legislao estadual ficar suspensa, naquilo que lhecontrariar.

    Essa forma de repartio de competncias legislativas concorrentes,denominada porManoelGonalves Ferreira Filho de competncia legislativa concorrentenocumulativa, temcomoprincipalproblemaadiscussoacercadoqueseriam normasgerais,conformetrazidopeloart.24,1,daCF.Passamosaexaminartalquesto.

    IIINormasGerais

    Hgrandediscussoacercadoquevenhamaseras normasgerais, cujaelaborao,nocasodascompetnciaslegislativasconcorrentes,ficariaacargodaUnio.

    ComobemapontaCelsoAntnioBandeiradeMello[ii],caractersticadetodaequalquerleiserumanormageral.Dessaforma,seaConstituioexpressamentequalificaas leis a que se refere na repartio das competncias legislativas concorrentes comonormas gerais por considerar que tais normas devem ter uma generalidade especial,diferentedageneralidadequeinerenteatodasasleis.

    Nohumconsensodoutrinrioacercadoquevenhamaserasnormasgeraisparaofimderepartioconstitucionaldecompetncias.Fundamentalmente,apontasequeasnormasgeraisseriamaquelasqueapontamprincpios,direesaseremseguidaspelolegislador local noexerccio da competncia legislativa concorrente, no cabendo, assim,queotemasejadetalhadoemsuasmincias.Asnormasgeraisseriamdiretrizesaseremseguidaspelasnormasespecficas,estassimadetalhararegulaodoassunto.

    DiogodeFigueiredoMoreiraNeto,emdetalhadoestudosobreotema,apontaoseguinteconceitodenormageral:

    Chegamos, assim, em sntese, a que normas gerais sodeclaraesprincipiolgicasquecabeUnioeditar, nousodesuacompetncia concorrente limitada, restrita ao estabelecimento dediretrizes nacionais sobre certos assuntos, que devero serrespeitadas pelos EstadosMembros na feitura das suas respectivaslegislaes,atravsdenormasespecficaseparticularizantesqueasdetalharo, de modo que possam ser aplicadas, direta eimediatamente,srelaesesituaesconcretasaquesedestinam,emseusrespectivosmbitospolticos[iii].

    Gilmar FerreiraMendes e Paulo Gustavo Gonet Branco entendem que asnormasgeraissonormasnoexaustivas, leisquadro,princpiosamplos,quetraamumplano,semdescerapormenores[iv].

    RicardoMarcondesMartins, por sua vez, apontando para a importncia dalegislao local como medida de efetivao do princpio democrtico e do princpio da

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    igualdade,tendoemvistaque,faceascaractersticascontinentaisdoBrasil,ocidadotemmaior acesso e poder de influenciar o legislador local do que o Congresso Nacional e,assim, o legislador local temmaiores condies de avaliar as peculiaridades regionais elevalasemconsideraonaediodas leis,entendequea justificativaparaaediodenormas gerais pela Unio encontrada na necessidade de manuteno da unidadenacional,bemcomonagarantiadaseguranajurdica.Aponta,assim,que

    As normas gerais, concluiuse, no possuem um elementomaterial preciso, previamente fixado. Cada matria a ser legisladadeveserexaminadapelolegisladorfederalesubmetidaaponderao.Esta indicar, com preciso, se e em que medida o princpio daigualdadeafastadopeloprincpiodasegurana jurdica.Asnormasgerais podero ou no ser editadas, podero ser mais ou menosminuciosas, tudo depender do peso do princpio da seguranajurdicadiantedascircunstnciasfticasejurdicas[v].

    Celso Antnio Bandeira de Mello, ele mesmo afirmando tratarse deentendimentoemdesacordo como comumenteapontado, afirmaqueas normasgeraisdevem ser entendidas de maneira flexvel, em sentido mais abrangente do que onormalmente apontado pela doutrina, levando em considerao cada uma das hiptesesconstitucionaisdecompetncia legislativaconcorrente,deacordocomo interessepblicoquesepretendeproteger.Defato,discorreoreferidoautoracercadasnormasgerais:

    Dessarte, de fora parte diretrizes, princpios e delineamentosgenricos,aUnioestaria tambmautorizadaaqualificar, emcasosde smile compostura, um patamar, um piso defensivo do interessepblico que as legislaes estadual e distrital no poderiamdesatender[vi].

    PontesdeMiranda,porsuavez,comentandoaConstituiode1967alteradapelaEmendaConstitucionaln1de1969,pareceentenderquealegislaofederalpodetercontornos mais amplos, chegando a afirmar que Para o corte como inconstitucional, preciso que o legislador central tenha ido a pormenores absurdos, pelo intervir emparticularidadesdoEstadomembro[vii].

    Assim,conformedemonstrado,nohumentendimentoassentenadoutrinaacerca do que sejamas normasgerais, sendopossvel, no entanto, apontar algumasdesuas caractersticas mais marcantes, como um grau maior de generalidade do que ocomumente encontrado nas leis, com o estabelecimento de diretrizes, princpios vetores,acerca das matrias que forma estabelecidas como sendo de competncia legislativaconcorrentedaUnio, dosEstadosedoDistritoFederal, deixandomargemao legisladorlocal para que proceda sua complementao, com vistas sua adequao speculiaridadesregionais.

    Parecenos acertado apontar que um importante vetor interpretativo para oreconhecimento das normas gerais a sua relao com a necessidade de tratamentouniforme de algumas diretrizes em mbito nacional, com vistas a prestigiar a seguranajurdicaeointeressepblicoaseratingido.Oestabelecimentodetaisdiretrizes,outrossim,no pode chegar ao ponto de ceifar doEstado ou doDistrito Federal a possibilidade deregulamentaodaquestoemnvellocal,ouseja,nopodeexauriramatria,oumesmofixarlhelimitesmuitoestreitosquepraticamenteretiremdolegislador localapossibilidadederegulaodotema.

    Cumpreainda,apontaroentendimento,comoqualconcordamos,deFernandaDiasMenezesdeAlmeida,nosentidodequenovemoscomoevitarumacertadosedesubjetivismonaidentificaodasnormasgerais,oquesempreacabarsuscitandoconflitos

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    decompetncia[viii].Defato,amploocampoparaainterpretaoacercadoquevenhamasernormasgerais,sendomuitoestreitoolimiteentreoqueoestabelecimentodeumadiretrizeoquepodeserconsideradocomoumaespecificaodamatria.

    IVALein10.098/2000comonormageral:constitucionalidade

    O inciso XIV do artigo 24 da Constituio Federal traz como sendo decompetncialegislativaconcorrentedaUnio,dosEstadosedoDistritoFederalaproteoeintegraosocialdaspessoasportadorasdedeficincia.

    Emsendocompetncia legislativaconcorrente,Uniocompeteaediodenormasgeraissobreotema,comoacimavisto.Nessesentido,foieditadaaLein10.098,de19dedezembrode2000,cujoartigo1assimdispe:

    Art.1oEstaLeiestabelecenormasgeraisecritriosbsicosparaapromoodaacessibilidadedaspessoasportadorasdedeficinciaoucommobilidadereduzida,medianteasupressodebarreirasedeobstculos nas vias e espaos pblicos, no mobilirio urbano, naconstruo e reforma de edifcios e nos meios de transporte e decomunicao.

    Vemsediscutindo,noentanto,seareferidaLein10.098/2000defatolimitouseaoestabelecimentodenormasgeraissobreotemaouextrapolouacompetncialegislativadaUnio, tendominudenciado excessivamente o temae invadido, assim, a competncialegislativadosEstadosedoDistritoFederal.

    Parecenos que no h inconstitucionalidade, ao menos dessa ordem, deviolaodecompetnciadosoutrosentesfederativos,naLein10.098/2000.Vejamos.

    Oartigo1,supratranscrito,apenasapontaombitodeaplicaoda lei,nohavendo nenhuma disposio que possa ser taxada de inconstitucional ou transbordantedoslimitesdecompetnciadaUnio.

    Oartigo2trazapenasasdefiniesqueseroutilizadasnalei,nohavendo,tambm,que se falar em transbordamento de competncia. H, sim, disposio que foi revogadapela supervenincia da Conveno Sobre os Direitos da Pessoa com Deficinciapatrocinada pela Organizao das Naes Unidas ONU, aprovada pelo Brasil porintermdiodoDecretoLegislativon186,de09dejulhode2008,nostermosdo3doart.5 da Constituio Federal e, portanto, com equivalncia de emenda constitucional,ratificadaem1deagostode2008epromulgadapeloDecreton6.949,de25deagostode2009.Tratasedoconceitodepessoacomdeficincia, trazidopeloartigo2, III,daLein10.098/2000, que incompatvel com o conceito do artigo 1 da Conveno, que, comodissemos,temequivalnciadeEmendaConstituio.Devemos,assim,adotaroconceitodaConveno,queassimdispe:

    Pessoas comdeficincia soaquelasque tm impedimentosdelongo prazo de natureza fsica, mental, intelectual ou sensorial, osquais, em interao com diversas barreiras, podem obstruir suaparticipaoplenaeefetivanasociedadeemigualdadedecondiescomasdemaispessoas.

    No h, no entanto, no artigo 2 da lei, inconstitucionalidade em razo deusurpaodecompetncia.

    Asdisposiestrazidasnosartigos3a7[ix],limitamseaestabelecerdiretrizesacercadaacessibilidadenasviaseespaospblicos,semqualquerespecificaoqueno

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    permita o detalhamento pelo legislador local, estabelecendo apenas limites e normastcnicas mnimas que devem ser observadas em tais espaos. H, apenas, oestabelecimentodaobrigatoriedadedequeasviaseespaospblicossejamacessveis,comaobservncia,emalgunscasos,dasnormastcnicaspadronizadasdaABNT,oque,deformaalguma,impedeumaregulaoestadualoudistrital,quetem,ainda,amplocampodeespecificao.

    Mesmonoscasosemquealeifixapercentuaismnimos(art.4,pargrafonicoeart.7,pargrafonico),talpercentualnfimo,sendopossvelafirmarque,sealeilocalpretendessereservarmenosdoqueoprevistonaleifederal,nenhumaproteoteriamaspessoascomdeficincia.SeriaocasodaquestoapontadaporCelsoAntnioBandeiradeMello,acimareferida,noqualdevealeifederalgarantirummnimodeproteoaodireitoquesequerproteger,sobpenadequeesterestetotalmentedesamparado.

    Comrelaoaosartigos8e9[x],quetratamdainstalaodesinaisdetrfegoe semforos para pedestres, nos parece que o artigo 8, fora de dvida, traz disposiogeral,apenas impondoodeverdequeomobiliriourbanoseja instaladode formaanodificultar ou impedir a circulao, deixando toda a regulamentao, assim, ao legisladorlocal.

    Oartigo9,quetrazespecificaesacercadossemforosparapedestres,nosparecedefato,trazerdisposiesqueextrapolamoestabelecimentodenormasgerais.Noentanto, tratadequestoeminentementedetrnsito,oquedecompetnciaprivativadaUnio,conformeartigo22,XI,daConstituioFederal.Assim,nohinconstitucionalidadetambmemtaldispositivo.

    Oartigo10daLein10.098/2000,porsuavez, trazdisposioqueapenasimpeodeverdeprojetarseeinstalarseosequipamentosdemobiliriourbanodeformaagarantir a acessibilidade, deixando todaa regulamentaopara o legislador local.Assim,tratase,defato,denormageral.

    Comrelaoaoartigo11,seucaputtraznormageral,jqueapenasestabeleceaobrigatoriedadedeconsiderarseaacessibilidadenaconstruo,ampliaoou reformade edifcios pblicos ou privados de uso coletivo, e ateno ao que expressamentedeterminadopelaConstituioFederal,emseusartigos227,2e244.

    Opargrafonicodoartigo11 traz requisitosmnimosdeacessibilidadequedevero ser observados na construo, ampliao ou reforma de edifcios pblicos ouprivados de uso coletivo e que, nos parece, novamente destinado a que no reste ointeresse que se quer preservar, a acessibilidade, completamente desamparado.Estabeleceseummnimo,deixandoamplamargemparaolegisladorlocal.

    Aindaassim,devemosapontarque,casoseentendadiversamente,noocasode se considerar tais disposies inconstitucionais, pois, pelo menos em relao aosedifcios pblicos federais tais normas so de observncia obrigatria. Como alertaFernandaDiasMenezesdeAlmeida[xi],comumqueasnormasgeraisdecompetnciadaUnio venham apresentadas conjuntamente, no mesmo diploma legal, com normasespecficasqueaUniodeveexpedirvoltadasparaasuaprpriaAdministrao,oquegeradvidasacercadeumeventualconflitodecompetncias.TalsituaoserepeteaolongodaLein10.098/2000,comoseveradiante.

    O artigo 12 da Lei n 10.098/2000 traz disposio tambm genrica,estabelecendo a obrigatoriedade de acessibilidade em relao aos locais de eventospblicos,deixandoaregulaoacargodolegisladorlocal,observandoasregrasABNT.

    Osseusartigos13e14trazemdisposiesgerais,relativasobrigatoriedadede

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    acessibilidadenosedifciosemquehajaelevadores,estabelecendorequisitosmnimosdeacessibilidade, deixando a regulamentao tambma cargo do legislador local. Tratase,novamente,deummnimo,semoquenorestariaproteonenhumaaodireitotutelado.

    O artigo 15 da Lei n 10.098/2000 disposio dirigida claramente Administrao Federal, relativo a poltica habitacional, no havendo, tambmtransbordamentodacompetnciadaUnio,jqueaestacompeteorganizarasuaprpriaAdministrao.

    Normageraltrazidapeloartigo16daleiemestudo,estabelecendoapenasqueos veculos de transporte coletivo devero cumprir os requisitos de acessibilidadeestabelecidosnasnormastcnicasespecficas,nohavendoaqualquerregulamentaoquepossaterultrapassadoolimitedeumaregrageral.Aobservnciadasnormastcnicas,alis,obrigatriaparaqualqueratividade.

    Tambmosartigos17e18trazemnormasabsolutamentegerais,estabelecendoobrigatoriedade de que seja garantida a comunicao e o acesso informao pelaspessoascomdeficincia,impondoaoPoderPblicoaformaodeprofissionaisintrpretesdaslinguagensdesinaisebraile.amplo,aqui,ocampoderegulamentaodolegisladorlocal,aoqualsomentefoiimpostaaobrigaodegarantiracomunicaodaspessoascomdeficincia.

    Oartigo19 tambm trazdisposioqueapenas impeaobrigatoriedadedeadoodemedidasparapermitirousodelinguagemdesinaisnosmeiosderadiodifusosonora e de sons e imagens, sem impor qualquer procedimento, o que demonstra seucarter de norma geral. No entanto, a legislao sobre radiodifuso de competnciaprivativadaUnio, conformeartigo22, IV, daConstituioFederal, oque retiraqualquerdvidaacercadaconstitucionalidadedodispositivoemcomento.

    Osartigos20e21daLein10.098/2000 trazemdisposiesgenricas,queapenasdeveresaoPoderPblicodeeliminaodebarreirasurbansticas,arquitetnicas,detransporteedecomunicao,semoestabelecimentodequalquerprocedimento,oquecaracterizaanormageral,jquearegulaoficouacargodolegisladorlocal.

    Oartigo22destinadoAdministraofederal,criandoumprogramanombitodaSecretariadeEstadodeDireitosHumanosdoMinistriodaJustia,nohavendoquesefalaremusurpaodecompetncia.Omesmo,disposiodirigidaAdministraofederal,podemos afirmar do artigo 23 da lei em estudo, conforme expressamente consta dodispositivolegalcitado.

    Noartigo24hnovadisposiogeral, impondoaoPoderPblicoodeverdefazer campanhas de conscientizao acerca da acessibilidade e integrao social dapessoacomdeficincia.Cadaentefederativorecebeuliberdadenaexecuodetaltarefa,quedeverregularcomsualegislaoprpria.

    O artigo 25 da lei analisada aponta para sua incidncia sobre edifciosdeclarados bens de interesse cultural ou de valor histricoartstico, deixandoexpressamenteeventuaisadaptaesaocargodasnormasespecficasreguladorasdessesbens,oquedemonstraseucarterdenormageral.

    Permiteoartigo26daleiqueasorganizaesrepresentativasdepessoascomdeficincia acompanhem os requisitos de acessibilidade estabelecidos, o que norepresentaqualquerregulamentaoespecficadamatria.

    Porfim,oartigo27dodiplomalegalexaminadomeradisposioquedefineadatadeentradaemvigordalei.

    Assim entendemos que no h qualquer inconstitucionalidade referente ao

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    exerccio incorretodacompetncia legislativaconcorrentepelaUnionaediodaLein10.098/2000.

    VConcluso

    Narepartioconstitucionaldecompetnciasfoiestabelecida,peloartigo24daConstituioFederal,umasearadecompetncias legislativasconcorrentesparaaUnio,os Estados e o Distrito Federal, a que os Municpios tambm tm acesso em razo dodispostonoartigo30,II,daCF,emqueUniocompete,conformeo1domesmoartigo24 da Lei Maior, o estabelecimento de normas gerais, a serem complementadas pelosoutrosentesfederativos.

    ALein10.098/2000foieditadapelaUnioematendimentosuacompetnciadeeditarnormasgeraisrelativasproteoeintegraosocialdaspessoasportadorasdedeficincia, trazida pelo artigo 24, XIV daConstituioFederal, no havendo, emnossoentendimento, qualquer transbordamento da competncia da Unio, e conclumos, pois,quantoaoaspectodacompetnciaparaedio,pelasuaconstitucionalidade.

    REFERNCIASBIBLIOGRFICAS

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    Notas:

    [i]CompetnciasnaConstituiode1988.5edio.SoPaulo:EditoraAtlas,2010,p.139.

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    [ii]Oconceitodenormasgeraisnodireitoconstitucionalbrasileiro.InteressePblicoIP, Belo Horizonte, ano 13, n. 66, mar./abr. 2011. Disponvel emhttp://bidforum.com.br/bid/PDI0006.aspx?pdiCntd=72616. Acesso em: 09 de novembro de2012.

    [iii] Competncia concorrente limitada o problema da conceituao das normasgerais.RevistadeInformaoLegislativa,Braslia,ano25,n.100,out./dez.1988,p.159

    [iv]CursodeDireitoConstitucional.6edio.SoPaulo:Ed.Saraiva,2011,p.163.

    [v] AsNormasGerais deDireitoUrbanstico.RevistaEletrnica sobre aReforma doEstado(RERE),Salvador,InstitutoBrasileirodeDireitoPblico,n.20,dez.,jan.,fev.,2009,2010. Disponvel em http://www.direitodoestado.com/revista/RERE20DEZEMBRO2009RICARDOMARTINS.pdf.Acessoem06denovembrode2012.

    [vi]Oconceitodenormasgeraisnodireitoconstitucionalbrasileiro.InteressePblicoIP, Belo Horizonte, ano 13, n. 66, mar./abr. 2011. Disponvel emhttp://bidforum.com.br/bid/PDI0006.aspx?pdiCntd=72616. Acesso em: 09 de novembro de2012.

    [vii]ComentriosConstituiode1967comaEmendan1de1969.2edio.SoPaulo:Ed.RevistadosTribunais,1974,TomoII,p.169170.

    [viii]CompetnciasnaConstituiode1988.5edio,SoPaulo,EditoraAtlas,2010,p.133.

    [ix] Art.3Oplanejamentoeaurbanizaodasviaspblicas,dosparquesedosdemaisespaos de uso pblico devero ser concebidos e executados de forma a tornlosacessveisparaaspessoasportadorasdedeficinciaoucommobilidadereduzida.Art.4Asviaspblicas,osparqueseosdemaisespaosdeusopblicoexistentes,assimcomoas respectivas instalaes de servios e mobilirios urbanos devero ser adaptados,obedecendose ordem de prioridade que vise maior eficincia das modificaes, nosentido de promovermais ampla acessibilidade s pessoas portadoras de deficincia oucommobilidade reduzida.Pargrafonico.Osparquesdediverses,pblicoseprivados,devem adaptar, no mnimo, 5% (cinco por cento) de cada brinquedo e equipamento eidentificloparapossibilitarsuautilizaoporpessoascomdeficinciaoucommobilidadereduzida,tantoquantotecnicamentepossvel.(IncludopelaLein11.982,de2009).Art.5O projeto e o traado dos elementos de urbanizao pblicos e privados de usocomunitrio, nestes compreendidos os itinerrios e as passagens de pedestres, ospercursosdeentradaedesadadeveculos,asescadase rampas,deveroobservarosparmetrosestabelecidospelasnormastcnicasdeacessibilidadedaAssociaoBrasileiradeNormasTcnicasABNT.Art.6Osbanheirosdeusopblicoexistentesouaconstruiremparques,praas,jardinseespaoslivrespblicosdeveroseracessveisedispor,pelomenos,deumsanitrioeumlavatrioqueatendamsespecificaesdasnormastcnicasdaABNT.Art.7Emtodasasreasdeestacionamentodeveculos,localizadasemviasouemespaospblicos,deveroser reservadasvagasprximasdosacessosdecirculaodepedestres,devidamentesinalizadas,paraveculosquetransportempessoasportadorasdedeficinciacomdificuldadedelocomoo.

    Pargrafonico.Asvagasaqueserefereocaputdesteartigodeveroseremnmeroequivalente a dois por cento do total, garantida, no mnimo, uma vaga, devidamentesinalizada e com as especificaes tcnicas de desenho e traado de acordo com asnormastcnicasvigentes.

    [x]Art.8Ossinaisdetrfego,semforos,postesdeiluminaoouquaisqueroutroselementos verticais de sinalizao que devam ser instalados em itinerrio ou espao deacesso para pedestres devero ser dispostos de forma a no dificultar ou impedir a

  • 30/05/2015 Imprimir:

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    circulao, e demodo que possam ser utilizados comamxima comodidade.Art. 9Ossemforos para pedestres instalados nas vias pblicas devero estar equipados commecanismo que emita sinal sonoro suave, intermitente e sem estridncia, ou commecanismo alternativo, que sirva de guia ou orientao para a travessia de pessoasportadorasdedeficinciavisual,seaintensidadedofluxodeveculoseapericulosidadedaviaassimdeterminarem.

    [xi]CompetnciasnaConstituiode1988. 5 edio.SoPaulo:EditoraAtlas, 2010, p.133.

    ConformeaNBR6023:2000daAssociaoBrasileiradeNormasTcnicas(ABNT),estetextocientficopublicadoemperidicoeletrnicodevesercitadodaseguinteforma:MAIA,Maurcio.DireitosdaspessoascomdeficinciaALeiN10.098/2000 como norma geral. Contedo Jurdico, BrasliaDF: 13 dez. 2013. Disponvel em:.Acessoem:30maio2015.