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2. Tecnologias apropriadas. O que é isso?
A água vem sendo considerada, neste novo milênio, o elemento mais
importante para a preservação da qualidade de vida e sobrevivência da
espécie humana. Entretanto, temos assistido no País a uma crescente
deterioração nas suas características, principalmente nas proximidades dos
centros urbanos, causada pela própria atividade humana e pela incapacidade
da infra-estrutura de Saneamento Básico acompanhar a ocupação urbana
desordenada e o crescimento populacional.
O correto entendimento do modelo conceitual e dos fatores que tem levado a
esta situação é condição essencial para o planejamento das ações de
recuperação do meio ambiente, bem como para o entendimento correto dos
termos “Tecnologias apropriadas ou Tecnologias modernas” utilizados na Lei
11.445.
As cidades precisam de água para as suas • atividades e para a sobrevivência
de seus habitantes.Entretanto, essa água precisa ter uma qualidade que não
venha causar riscos à saúde da As cidades precisam de água para as suas •
atividades e para a sobrevivência de seus habitantes.
Entretanto, essa água precisa ter uma qualidade que não venha causar riscos
à saúde da população. Para tanto, a água é captada dos mananciais mais
próximos e tratada para adequá-la ao uso humano. No País, ainda existem 30
milhões de pessoas que não tem acesso à água encanada tratada (ABES,
2008).
• Os filtros das estações de tratamento de água retém um lodo, rico em
minerais e matéria orgânica, retirados da água bruta, bem como coagulante
químico utilizado para a separação dessas substâncias. A limpeza dos filtros
gera uma água com alta concentração desses sólidos, a qual precisa ter um
destino. Pouquíssimas estações de tratamento de água no País possuem
sistemas de recuperação da água de lavagem. A maioria das unidades
existentes devolve esta água ao manancial, só que agora pontualmente e
concentrada com todas as impurezas e produtos químicos retidos nos filtros.
Do outro lado, as unidades que têm sistemas de recuperação, em geral, não
sabem o que fazer com o lodo agora desidratado,dispondo em locais onde
acabarão novamente carreados para os cursos d’água.
• A água, após ser tratada, é distribuída à população. A média das perdas
físicas de água no sistema de distribuição das operadoras do País é da ordem
de 47% (Abes, 2008). Ou seja, é preciso captar do manancial 47% a mais que
o volume de água necessário para atender à demanda, de forma a garantir a
continuidade do abastecimento.
• As atividades humanas geram resíduos que precisam ser, em primeira
instância, afastados para proteger a saúde da população, bem como tratá-los e
dispô-los de maneira econômica, ambientalmente aceitável e segura em
termos de saúde pública.
• O primeiro deles é o esgoto sanitário. Apenas 47% da população brasileira
são servidas com redes coletoras de esgoto (IBGE, 2006). O restante dispõe o
esgoto em fossas individuais, quando o terreno permite, deixando-o
simplesmente escoar nas ruas ou ligando uma saída nas galerias de águas
pluviais, quando existente. O destino desse esgoto, seja de forma indireta ou
direta, são os cursos d’água da região. Apenas uma parcela de 20% do esgoto
coletado é conectada às estações de tratamento (PMSS, 2006), o restante é
lançado in natura nos cursos d’água mais próximos. Mesmo uma parcela
significativa do esgoto considerado como tratado, não atende às exigências de
lançamento no corpo receptor, quer seja por ineficiência operacional, quer seja
por falta de sustentabilidade dos serviços prestados pela operadora ou, ainda,
dificuldades técnicas com a tecnologia empregada.
• O processo de tratamento do esgoto gera um lodo que precisa ser higienizado
e adequadamente disposto. O volume gerado depende da tecnologia
empregada, e, portanto, a escolha da alternativa tecnológica é fundamental na
redução da geração deste material, que corresponde a quase 50% dos custos
operacionais do sistema. A maior parte das unidades
de tratamento de esgoto no País não solucionou ainda a disposição do lodo,
limitando-se a dispô-lo em aterros, lixões, ou no próprio terreno próximo à
estação, sem proteção, ao invés de reciclá-lo de forma ambientalmente
aceitável e segura. Conseqüentemente, este material acaba também nos
cursos d’água da região.
• O segundo, são os resíduos sólidos das atividades humanas (lixo). Grande
parte dos municípios não possui um adequado sistema de coleta e varrição,
resultando no carreamento deste material para os cursos d’água da região
levados pelas águas de chuva. A disposição do material coletado é,
geralmente, feita em lixões, sem qualquer proteção, exposto a céu aberto e
sem sistema de retenção ou tratamento de chorume. Boa parte deste material
também acaba nos cursos d’água da região. Pouquíssimos municípios
possuem aterros sanitários adequadamente controlados.
• A impermeabilização do solo acarreta o aumento do volume de água de
escoamento superficial nas cidades. A inexistência de redes de drenagem em
grande parte das cidades brasileiras causa inundações e riscos à saúde da
população. Muitas vezes, as águas pluviais para receber tal volume de água,
transbordando e levando o esgoto sem tratamento para os cursos d’água. Da
mesma forma, as estações de tratamento de esgoto também não foram
projetadas para receber este acréscimo de água, o que acaba interferindo no
desempenho do processo, não só no momento das chuvas, mas muitas vezes
nas semanas seguintes. O resultado é a maior carga de poluição lançada no
corpo receptor.
Com as águas dos mananciais próximos às cidades recebendo tanta carga
poluidora, não é sem razão que estamos buscando água para abastecimento
das cidades cada vez mais longe e gastando cada vez mais recursos para
tratá-la e adequá-la às necessidades humanas.
Para quebrar este ciclo é importante, em primeiro lugar, entender a
necessidade de se ter uma visão integrada entre saúde pública, Saneamento
Básico, recursos hídricos, e meio ambiente,
Embora cada esfera de atuação tenha suas características próprias, elas fazem
parte de uma mesma equação que só será solucionada adequadamente se
abordada dentro de um conceito ambiental mais amplo. Se o planejamento do
uso dos recursos hídricos é importante, considerando os seus efeitos de
médio/longo prazo, não é menor a importância do controle das doenças de
veiculação hídrica causadas pela ausência de Saneamento Básico nas
cidades, o que pode ser resolvido por intervenções tecnológicas de efeito
imediato.
Se para todos esses problemas já existem soluções no “mercado”, elas são
geralmente caras e na maioria das vezes inadequadas à realidade local. Cabe
salientar, que muitas das dificuldades no equacionamento e solução desses
problemas decorrem da limitada capacidade institucional dos municípios em
lidar sozinhos com problemas tão abrangentes e complexos, que demandam
uma significativa quantidade de recursos financeiros e conhecimentos
tecnológicos, geralmente inexistentes nessas localidades.
Assim, para a efetiva aplicação da Lei é importante o desenvolvimento ou
aperfeiçoamento de tecnologias que otimizem o uso dos escassos recursos
financeiros disponíveis, visando à saúde da população, garantindo o acesso de
todos a serviços seguros de saneamento, e mantendo a sustentabilidade da
bacia hidrográfica. Isso é tecnologia apropriada, que respeita a capacidade de
pagamento dos usuários, a capacidade intelectual dos executores, e que
permite a sustentabilidade do empreendimento e uma gradual e constante
melhoria nas condições ambientais e de segurança ao acesso desses serviços.