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2. Tecnologias apropriadas. O que é isso? A água vem sendo considerada, neste novo milênio, o elemento mais importante para a preservação da qualidade de vida e sobrevivência da espécie humana. Entretanto, temos assistido no País a uma crescente deterioração nas suas características, principalmente nas proximidades dos centros urbanos, causada pela própria atividade humana e pela incapacidade da infra-estrutura de Saneamento Básico acompanhar a ocupação urbana desordenada e o crescimento populacional. O correto entendimento do modelo conceitual e dos fatores que tem levado a esta situação é condição essencial para o planejamento das ações de recuperação do meio ambiente, bem como para o entendimento correto dos termos “Tecnologias apropriadas ou Tecnologias modernas” utilizados na Lei 11.445. As cidades precisam de água para as suas • atividades e para a sobrevivência de seus habitantes.Entretanto, essa água precisa ter uma qualidade que não venha causar riscos à saúde da As cidades precisam de água para as suas • atividades e para a sobrevivência de seus habitantes. Entretanto, essa água precisa ter uma qualidade que não venha causar riscos à saúde da população. Para tanto, a água é captada dos mananciais mais próximos e tratada para adequá-la ao uso humano. No País, ainda existem 30 milhões de pessoas que não tem acesso à água encanada tratada (ABES, 2008).

Lei 11775 Saneamento Básico

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Page 1: Lei 11775 Saneamento Básico

2. Tecnologias apropriadas. O que é isso?

A água vem sendo considerada, neste novo milênio, o elemento mais

importante para a preservação da qualidade de vida e sobrevivência da

espécie humana. Entretanto, temos assistido no País a uma crescente

deterioração nas suas características, principalmente nas proximidades dos

centros urbanos, causada pela própria atividade humana e pela incapacidade

da infra-estrutura de Saneamento Básico acompanhar a ocupação urbana

desordenada e o crescimento populacional.

O correto entendimento do modelo conceitual e dos fatores que tem levado a

esta situação é condição essencial para o planejamento das ações de

recuperação do meio ambiente, bem como para o entendimento correto dos

termos “Tecnologias apropriadas ou Tecnologias modernas” utilizados na Lei

11.445.

As cidades precisam de água para as suas • atividades e para a sobrevivência

de seus habitantes.Entretanto, essa água precisa ter uma qualidade que não

venha causar riscos à saúde da As cidades precisam de água para as suas •

atividades e para a sobrevivência de seus habitantes.

Entretanto, essa água precisa ter uma qualidade que não venha causar riscos

à saúde da população. Para tanto, a água é captada dos mananciais mais

próximos e tratada para adequá-la ao uso humano. No País, ainda existem 30

milhões de pessoas que não tem acesso à água encanada tratada (ABES,

2008).

• Os filtros das estações de tratamento de água retém um lodo, rico em

minerais e matéria orgânica, retirados da água bruta, bem como coagulante

químico utilizado para a separação dessas substâncias. A limpeza dos filtros

gera uma água com alta concentração desses sólidos, a qual precisa ter um

destino. Pouquíssimas estações de tratamento de água no País possuem

sistemas de recuperação da água de lavagem. A maioria das unidades

existentes devolve esta água ao manancial, só que agora pontualmente e

concentrada com todas as impurezas e produtos químicos retidos nos filtros.

Do outro lado, as unidades que têm sistemas de recuperação, em geral, não

sabem o que fazer com o lodo agora desidratado,dispondo em locais onde

acabarão novamente carreados para os cursos d’água.

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• A água, após ser tratada, é distribuída à população. A média das perdas

físicas de água no sistema de distribuição das operadoras do País é da ordem

de 47% (Abes, 2008). Ou seja, é preciso captar do manancial 47% a mais que

o volume de água necessário para atender à demanda, de forma a garantir a

continuidade do abastecimento.

• As atividades humanas geram resíduos que precisam ser, em primeira

instância, afastados para proteger a saúde da população, bem como tratá-los e

dispô-los de maneira econômica, ambientalmente aceitável e segura em

termos de saúde pública.

• O primeiro deles é o esgoto sanitário. Apenas 47% da população brasileira

são servidas com redes coletoras de esgoto (IBGE, 2006). O restante dispõe o

esgoto em fossas individuais, quando o terreno permite, deixando-o

simplesmente escoar nas ruas ou ligando uma saída nas galerias de águas

pluviais, quando existente. O destino desse esgoto, seja de forma indireta ou

direta, são os cursos d’água da região. Apenas uma parcela de 20% do esgoto

coletado é conectada às estações de tratamento (PMSS, 2006), o restante é

lançado in natura nos cursos d’água mais próximos. Mesmo uma parcela

significativa do esgoto considerado como tratado, não atende às exigências de

lançamento no corpo receptor, quer seja por ineficiência operacional, quer seja

por falta de sustentabilidade dos serviços prestados pela operadora ou, ainda,

dificuldades técnicas com a tecnologia empregada.

• O processo de tratamento do esgoto gera um lodo que precisa ser higienizado

e adequadamente disposto. O volume gerado depende da tecnologia

empregada, e, portanto, a escolha da alternativa tecnológica é fundamental na

redução da geração deste material, que corresponde a quase 50% dos custos

operacionais do sistema. A maior parte das unidades

de tratamento de esgoto no País não solucionou ainda a disposição do lodo,

limitando-se a dispô-lo em aterros, lixões, ou no próprio terreno próximo à

estação, sem proteção, ao invés de reciclá-lo de forma ambientalmente

aceitável e segura. Conseqüentemente, este material acaba também nos

cursos d’água da região.

• O segundo, são os resíduos sólidos das atividades humanas (lixo). Grande

parte dos municípios não possui um adequado sistema de coleta e varrição,

resultando no carreamento deste material para os cursos d’água da região

Page 3: Lei 11775 Saneamento Básico

levados pelas águas de chuva. A disposição do material coletado é,

geralmente, feita em lixões, sem qualquer proteção, exposto a céu aberto e

sem sistema de retenção ou tratamento de chorume. Boa parte deste material

também acaba nos cursos d’água da região. Pouquíssimos municípios

possuem aterros sanitários adequadamente controlados.

• A impermeabilização do solo acarreta o aumento do volume de água de

escoamento superficial nas cidades. A inexistência de redes de drenagem em

grande parte das cidades brasileiras causa inundações e riscos à saúde da

população. Muitas vezes, as águas pluviais para receber tal volume de água,

transbordando e levando o esgoto sem tratamento para os cursos d’água. Da

mesma forma, as estações de tratamento de esgoto também não foram

projetadas para receber este acréscimo de água, o que acaba interferindo no

desempenho do processo, não só no momento das chuvas, mas muitas vezes

nas semanas seguintes. O resultado é a maior carga de poluição lançada no

corpo receptor.

Com as águas dos mananciais próximos às cidades recebendo tanta carga

poluidora, não é sem razão que estamos buscando água para abastecimento

das cidades cada vez mais longe e gastando cada vez mais recursos para

tratá-la e adequá-la às necessidades humanas.

Para quebrar este ciclo é importante, em primeiro lugar, entender a

necessidade de se ter uma visão integrada entre saúde pública, Saneamento

Básico, recursos hídricos, e meio ambiente,

Embora cada esfera de atuação tenha suas características próprias, elas fazem

parte de uma mesma equação que só será solucionada adequadamente se

abordada dentro de um conceito ambiental mais amplo. Se o planejamento do

uso dos recursos hídricos é importante, considerando os seus efeitos de

médio/longo prazo, não é menor a importância do controle das doenças de

veiculação hídrica causadas pela ausência de Saneamento Básico nas

cidades, o que pode ser resolvido por intervenções tecnológicas de efeito

imediato.

Se para todos esses problemas já existem soluções no “mercado”, elas são

geralmente caras e na maioria das vezes inadequadas à realidade local. Cabe

salientar, que muitas das dificuldades no equacionamento e solução desses

problemas decorrem da limitada capacidade institucional dos municípios em

Page 4: Lei 11775 Saneamento Básico

lidar sozinhos com problemas tão abrangentes e complexos, que demandam

uma significativa quantidade de recursos financeiros e conhecimentos

tecnológicos, geralmente inexistentes nessas localidades.

Assim, para a efetiva aplicação da Lei é importante o desenvolvimento ou

aperfeiçoamento de tecnologias que otimizem o uso dos escassos recursos

financeiros disponíveis, visando à saúde da população, garantindo o acesso de

todos a serviços seguros de saneamento, e mantendo a sustentabilidade da

bacia hidrográfica. Isso é tecnologia apropriada, que respeita a capacidade de

pagamento dos usuários, a capacidade intelectual dos executores, e que

permite a sustentabilidade do empreendimento e uma gradual e constante

melhoria nas condições ambientais e de segurança ao acesso desses serviços.