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Leide Laura Aparecida Kiihl A UTILIZAÇÃO DOS GÊNEROS TEXTUAIS COMO FERRAMENTA DE ENSINO DE LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL. Curitiba 2012

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Leide Laura Aparecida Kiihl

A UTILIZAÇÃO DOS GÊNEROS TEXTUAIS COMO

FERRAMENTA DE ENSINO DE LEITURA E PRODUÇÃO

TEXTUAL.

Curitiba

2012

A UTILIZAÇÃO DOS GÊNEROS TEXTUAIS COMO

FERRAMENTA DE ENSINO DE LEITURA E PRODUÇÃO

TEXTUAL.

Leide Laura Aparecida Kiihl

A UTILIZAÇÃO DOS GÊNEROS TEXTUAIS COMO

FERRAMENTA DE ENSINO DE LEITURA E PRODUÇÃO

TEXTUAL.

Monografia apresentada ao curso de Pós –

Graduação em Língua Portuguesa e

Estudos Literários da Faculdade de Ciências

Humanas, Letras e Artes Da Universidade

Tuiuti do Paraná. Como requisito parcial

para conclusão de curso.

Orientadora: Professora Drª Ivone Ceccato.

Curitiba

2012

AGRADECIMENTOS

Sem sombra de dúvida, tenho que agradecer a Deus que, sempre ao

meu lado, possibilitou-me dar mais esse passo em direção ao que eu não

imaginava conquistar um dia. Despertou em mim o desejo de quere sempre

mais e não me contentar com aquilo que muitos julgavam ser o suficiente.

À minha querida família, que mesmo sem ter um conhecimento mais

aprofundado daquilo que eu tanto buscava, sempre me apoiou e me mostrou

que eu era capaz de realizar tudo aquilo que almejava.

Ao meu esposo, que com muito amor e carinho sempre foi muito

compreensivo e dedicado. Muitas vezes ficando acordado até tarde, para que

eu não ficasse estudando sozinha, tenho a plena certeza de que sem ele ao

meu lado tudo seria muito mais difícil.

Por fim, agradeço à professora Ivone, por ser tão dedicada e atenciosa

e por compreender as dificuldades que eu encontrava pelo caminho.

DEDICATÓRIA

Acredito que tudo que realizamos na vida depende de nossos esforços

pessoais, porém acredito também que se torna impossível a realização de

nossos projetos sem o apoio daqueles que sempre buscam o nosso bem.

Desta forma, não poderia deixar de dedicar esse trabalho à minha família, pois

diante de tantas dificuldades que surgem quando nos propusemos a fazer

algo, ela sempre estava junto a mim, dizendo palavras que me faziam acreditar

que seria possível.

RESUMO Este trabalho tem o objetivo de defender a ideia de que todo e qualquer gênero textual pode e deve ser trazido para a sala de aula. Porém, se torna muito interessante ressaltar que nem todos os gêneros textuais são propícios para a produção escrita. Antes de qualquer análise feita para a produção de materiais a serem trazidos para a escola, é preciso, por parte do professor, um trabalho com nossos alunos para que estes se apropriem dos gêneros em estudos, para então poderem partir para produções escritas ou não. Por fim, para que o trabalho com os gêneros textuais em sala de aula seja proveitoso, é preciso um conhecimento prévio a respeito do que será solicitado, pois se torna impossível reproduzir algo que não se tem conhecimento. Nenhuma leitura pode se tornar prazerosa quando já está implícito junto à ela uma atividade. Precisamos formar alunos capazes de ler e compreender e não de realizar atividades de identificação. Palavras – chave: Gênero textual, leitura, escrita e produção textual.

ABSTRACT This paper has the objective to support the idea that all and any textual genre can and must be brought to the classroom. However, it is very interesting to note that not all the textual genres are suited to writing production. Before any analysis performed for the production of materials to be brought to the school, it is necessary, on the part of the teacher, to work with the students so that they learn the different textual genres , and then they can start the text productions or not. In the end, so that the work with the textual genres in the classroom is successful, there must be a prior knowledge about what will be required, because it is impossible to reproduce something that is not known. Any reading can become pleasurable when an activity is already implicit in it. We need to develop students able to read and understand and not to carry out activities of identification.

Words - the key: textual genre, reading, writing and textual production.

SUMÁRIO

1 Introdução...................................... ...........................................

09

2 Fundamentação Teórica............................ ...............................

12

2.1 A linguagem e suas funções intrínsecas.................................12

3 Oralidade, leitura e produção escrita.......... .........................16

3.1 A relação existente entre a oralidade e a escrita...................16

3.2 A prática da leitura: atividade prazerosa cheia de

Funcionalidade ...........................................................................20

3.3 Atividade de produção: um reflexo da leitura..........................26

4 O gênero textual na sala de aula................ ............................29

4.1 Contemplação do gênero textual: uma atividade

Indispensável............................................................................39

5 Considerações Finais............................. ................................42

6 Referências Bibliográficas....................... ...............................44

9

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por objetivo analisar e apresentar quais são os

procedimentos metodológicos que favorecem o trabalho com o gênero textual

em sala de aula. Para isso se tornou necessário um estudo mais aprofundado

acerca dos métodos mais viáveis para tal abordagem.

Para se chegar aos resultados esperados, foi necessário analisar

autores que buscam trabalhar o gênero textual como uma nova maneira de se

ensinar leitura e produção de texto em sala de aula. Para que se possam

visualizar novas metodologias voltadas para o trabalho com o texto em sala de

aula, foi preciso instaurar diferenças entre a oralidade e a escrita, pois mesmo

ambas sendo estudadas separadamente no decorrer do tempo, juntas podem

auxiliar o aluno em seu processo de ensino-aprendizagem,ou seja, é preciso

acabar com a ideia de que oralidade e escrita são sistema extremamente

distintos, ambos possuem suas especificidades e precisam de uma atenção

especial quando no momento de estudo.

O presente trabalho visa então delinear as práticas de ensino

adequadas para o ensino de língua, mediadas pela utilização dos gêneros

textuais, tendo como ponto de partida os Parâmetros Curriculares Nacionais (

PCNs) que apresenta desde a década de 80 o ensino de língua baseado nos

gêneros discursivos.

Ao se perceber a oralidade como uma prática inerente ao cotidiano de

nossos alunos, torna-se praticamente impossível realizar um trabalho em sala

de aula, onde o aluno tenha que deixar de lado uma atividade que utiliza com

muita frequência. É preciso uma percepção de que não precisamos ensinar

aquilo que o aluno já domina, ou seja, ele já é um falante nato, o que lhe falta é

uma adequação linguística para determinados contextos de uso. Sendo assim,

é muito mais fácil partir de onde o aluno já conhece para o desconhecido, pois

10

só a partir do momento que nossos alunos perceberem que a sua fala também

é objeto de estudo em sala de aula, ele vai compreender com maior facilidade

diversos gêneros textuais, orais ou escritos.

Um exemplo claro disto é o trabalho com os gêneros orais, muitos

professores acreditam que para que haja resultado em sala é preciso sempre

uma produção escrita, porém isto não passa de um mal entendido, pois é

possível realizar ótimos trabalhos voltados para a oralidade. A partir do

momento em que o aluno conseguir oralizar aquilo que ele estiver pensando,

facilmente ele conseguirá realizar produções futuras. Muito disso se deve ao

fato de professores não possuírem conhecimento a respeito, porém isto não

justifica deixar de lado todo o conhecimento oral de nossos alunos

Ao se conceituar o trabalho com a leitura, é preciso, antes de qualquer

coisa, ressaltar a ideia de que as leituras não precisam necessariamente

resultar em uma produção escrita. Quando o aluno já tem internalizado o

pensamento de que toda leitura deverá resultar em uma produção ou

interpretação de texto, esse dificilmente conseguirá contemplar o texto de

forma completa, pois no ato da leitura ele, automaticamente, irá buscar no

somente aquilo que lhe for solicitado posteriormente.

Toda leitura deve ser baseada na contemplação do texto e não em uma

identificação de informações, pois ao fazermos isso estaremos impondo limites

ao texto, limites esses que o aluno dificilmente conseguirá ultrapassar.

Por fim, fez-se interessante uma pesquisa com o trabalho voltado para a

produção escrita, esta acredito ser a atividade mais temida pelos alunos. È

muito comum ouvirmos nossos alunos dizendo que não gostam de escrever,

porém, será que este não gostar não significa uma dificuldade com a

produção escrita. Para que as futuras produções de nossos alunos não os

causem medo, precisamos, antes de mais nada, mostrar-lhes que são

capazes de produzir ótimos textos.

11

Após algumas pesquisas constatou-se que não é possível produzir

nenhum gênero sem antes contemplá-lo. O aluno precisa conhecer para então

buscar reproduzir a seu modo.

Partindo dessas modalidades de ensino, buscarei nesta pesquisa

mostrar as várias possibilidades de se trabalhar de uma forma ampla com

gêneros textuais em sala, de modo que o aluno tenha prazer em realizar as

atividades solicitadas e não somente a realização de uma atividade imposta.

Mas antes de tudo, apresentarei um referencial sobre até que ponto se torna

viável a reprodução escrita e quando essa é desnecessária e somente a

oralização se faz suficiente.

Os procedimentos metodológicos a serem desenvolvidos nesse

trabalho, concretizam-se através de um levantamento bibliográfico,

fundamentando uma discussão a respeito dos aspectos relacionados ao

trabalho com o texto em sala de aula, como uma maneira prática de se ensinar

língua materna e não como uma forma rápida e prática de se preparar uma

aula. Sendo assim, constituem algumas sugestões teóricas e pedagógicas em

torno dos gêneros textuais, dessa forma não constitui uma maneira única de se

levar os textos para a sala. Acredito que cada professor tem a sua maneira (

metodologia) em sala de aula e espero auxiliar, com esse trabalho de

pesquisa, auxiliar alguns professores que encontram algumas dificuldades no

momento de preparar as suas aulas, pois sente receio em levar textos e não

solicitar produções após as leituras realizadas.

2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 - A linguagem e suas funções intrínsecas.

A língua é um fenômeno social, por isso heterogênea, indeterminada e

baseada em processos históricos e culturais, ela é parte integrante do

processo de formação do indivíduo, dessa forma, não podemos afirmar em

momento algum que ela é estanque, pois sofre alterações imensas com o

12

passar dos tempos e também varia muito dependendo da cultura em que estão

inseridos os indivíduos que dela se utilizam. A língua, como meio de interação,

existe a serviço da comunicação e possui função de mediação nas práticas

sociais.

Na concepção de linguagem de Bakhtin (1991: 95), a língua é vista com

um fenômeno social, pois, segundo o autor, “a palavra está sempre carregada

de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial”. Para ele, a

verdadeira essência da linguagem é a interação verbal, realizada pela

enunciação. Aprender a falar significa aprender a construir enunciações. A

língua, em seu uso prático, está vinculada ao seu conteúdo ideológico, sendo

assim, seus signos são variáveis e flexíveis, apresentando um caráter mutável,

histórico e polissêmico. Bakhtin defende uma abordagem histórica e viva da

língua, de forma que o sentido da palavra é totalmente determinado por seu

contexto. Em outras palavras, o enunciado é de natureza social e a prática viva

da língua se dá por meio da comunicação verbal concreta.

Portanto, não é possível fazer um uso mais aprofundado da língua

deixando de lado a questão da oralidade. Todo indivíduo se expressa através

dos gêneros, sendo que a maioria deles é voltada para a oralidade. Dessa

forma, por que fazer uso em sala de aula de metodologias que priorizem

gêneros escritos e orais concomitantemente?

A mediação entre os homens se faz por intermédio da palavra e a

capacidade humana de articular significados coletivos e compartilhá-los se dá

por intermédio da língua. Sendo assim, é muito importante que todo educador

conceba a língua como um significado amplo e dinâmico, significado este que

deve ir além do simples fato de identificação das palavras, e que esta se

relaciona plenamente com o processo de inserção dos indivíduos na

sociedade. Trabalhar a língua e as suas manifestações de uso em situações

13

de ensino não é somente ensinar as palavras, mas seus significados culturais

e sociais.

Nosso trabalho em sala de aula, muitas vezes, está voltado somente

para o favorecimento de gêneros escritos, deixando de lado gêneros que

favoreçam a comunicação dos alunos. Os gêneros que trabalham a oralidade

devem e podem ser trazidos para a sala como uma nova ferramenta para o

desenvolvimento de alunos críticos e capazes de interagir em nossa

sociedade.

Irandé Antunes afirma( 2003 ; 19 ) que:

... nesses limites, ficam reduzidos, naturalmente, os objetivos que uma

compreensão mais relevante da linguagem poderia suscitar – linguagem que só

funciona para que as pessoas possam interagir socialmente. Embora muitas

ações institucionais já se tenham desenvolvido, no sentido de motivar e

fundamentar uma reorientação dessa prática, as experiências de renovação,

infelizmente, ainda não ultrapassam o domínio de iniciativas assistemáticas,

eventuais e isoladas...

Sendo assim, é perceptível que embora alguns ainda busquem dizer o

contrário, a linguagem é tida como um meio de interação entre os indivíduos, e

que se isto acontece em toda a nossa sociedade, não há motivos para deixar

de estudar a linguagem e suas variantes dentro do ambiente escolar, para o

aluno seria uma atividade prazerosa, pois estaríamos favorecendo uma

modalidade que ele já domina e não demonstra dificuldades.

Devemos perceber a língua enquanto um sistema social que busca

atividades de interação verbal entre os indivíduos de determinados grupos

sociais, portanto, a língua se compõe e um sistema carregado de

funcionalidade, onde as suas circunstâncias de uso que irão ditar as suas

normas a serem estabelecidas. Para Antunes(2003), a língua só existe para

promover a interação entre as pessoas, portanto devemos concebê-la como

14

um processo interacionista da linguagem, eminentemente funcional e

contextualizada, podendo, desta forma, fundamentar um ensino de língua que

seja, individual e socialmente, produtivo e relevante.

A atividade da linguagem funciona como mediadora entre o sujeito e o

meio social ao qual o indivíduo está inserido, fazemos uso das funções da

linguagem em situações comunicativas, ou seja, desenvolvemos nossas

práticas sociais através das atividades da linguagem.

De acordo com Schneuwly e Dolz ,

“... é através dos gêneros que as práticas da linguagem materializam-se

nas atividades dos aprendizes. Por seu caráter intermediário e integrador, as

representações de caráter genérico das produções orais e escritas constituem

uma referência fundamental para sua construção. Os gêneros constituem um

ponto de comparação que situa as práticas da linguagem. Eles abrem uma porta

de entrada, para estas últimas, que evita que delas se tenha uma imagem

fragmentária no momento de sua apropriação. ( 2004; 74 )...”

Os gêneros podem ser considerados como um dos pilares da

comunicação, pois essa se fundamenta nos mesmos. A própria aprendizagem

da linguagem é realizada a partir da interação dos indivíduos, onde esses a

realizam. E, já que utilizamos dos gêneros para nossa interação social, é visto

que desde que iniciamos nossas primeiras atividades sociais através do uso da

linguagem já estamos expostos a diversos gêneros textuais, mesmo sem

percebermos. Por esse motivo, se torna muito interessante favorecer a

oralidade do aluno para então partir para processo de leitura e escrita, como

veremos a seguir.

15

3 – ORALIDADE, LEITURA E PRODUÇÃO ESCRITA

3.1 – A relação existente entre a oralidade e a escrita.

Quando falamos do estudo da língua, devemos ter a clareza de que ela

se aplica de duas formas distintas, uma na escrita e outra na oralidade. As

duas formas desempenham igual importância no processo de ensino-

aprendizagem de nossos alunos. Embora a oralidade seja mais espontânea e

livre de normas e a escrita esteja pautada em uma norma fixa ambas podem e

devem caminhar juntas, pois o indivíduo faz o uso das duas durante o seu

cotidiano.

A escrita está presente em diversas atividades a que o ser humano se

dispõe a realizar, ela é facilmente ligada ao ambiente escolar, talvez por esta

razão uma grande parcela de nossa sociedade acredita que ela é motivo de

segregação e quem a domina está um passo a frente da denominada

comunidade iletrada, porém ao colocarmos estas duas modalidades em pontos

16

opostos devemos estar cientes de que a oralidade pode ser fruto da escrita,

entretanto a escrita não é uma ação natural do homem, ela requer cuidado e

atenção, enquanto que a fala se dá de maneira espontânea.

Podemos concluir, então, que não existe um grau de hierarquia entre

essas duas modalidades de o indivíduo se comunicar. Haverá momentos em

que a escrita se fará mais importante, enquanto que em outros a oralidade

será necessária. Por isso, estas modalidades devem ser abordadas

simultaneamente, pois as duas são necessárias para o bom desempenho do

aluno.

Ao se trabalhar a fala e a escrita dos alunos, torna-se difícil encontrar

diferenças entre as mesmas, é preciso, antes de tudo levar em conta o

contexto em que as duas são utilizadas. Não é possível avaliar essas duas

modalidades de comunicação baseando-se em um determinado código, ou

seja, uma maneira padrão de se utilizá-las. Marcuschi menciona a criação, a

partir dos anos 80, de um conjunto de práticas sociais, pois até então se

estudava a oralidade e a escrita como ações contrárias. Ainda de acordo com

o autor:

“... Considerava-se a relação oralidade e letramento como dicotômica,

atribuindo-se à escrita valores cognitivos intrínsecos no uso da língua, não se

vendo nelas duas práticas sociais. Hoje predomina a posição de que se pode

conceber oralidade e letramento como atividades interativas e complementares no

contexto das práticas sociais e culturais... (2005;16 )”

Quando tratamos do estudo das práticas sociais é necessário estudar as

situações de uso da língua, para ser mais exata é preciso saber o que é língua

em uso. Embora o homem se manifeste em sua maioria através da oralidade,

não podemos afirmar que ela se sobreponha à escrita.

Marcuschi (2005) faz um comparativo entre a língua falada e a língua

escrita, vejamos:

17

Fala Escrita

Contextualizada Descontextualizada

Dependente Autônoma

Implícita Explícita

Redundante Condensada

Não-planejada Planejada

Imprecisa Precisa

Não-normatizada Normatizada

Fragmentária Completa

Esta visão acaba por distorcer alguns aspectos da oralidade e da

escrita, e muitos livros pedagógicos foram escritos tendo como ponto de

partida tal visão das modalidades.

Apesar de o indivíduo necessitar, algumas vezes, adequar a sua

maneira de falar de com a escrita, temos que atribuir à escrita e à fala

características próprias e importantíssimas para que o indivíduo se insira na

sociedade, e acreditar também que cada uma destas modalidades tem as suas

especificidades e merecem ser estudadas a fundo. Não podemos e não

devemos ter a escrita como uma representação da fala, pois a escrita não

conseguirá reproduzir todos os fenômenos existentes na oralidade, enquanto

que a escrita também tem a sua importância carregando elementos

significativos próprios, significados estes que não encontramos na fala, para

Marcuschi (2005; 22 ):

“... a oralidade e a escrita são práticas e usos da língua com características

próprias, mas não suficientemente opostas para caracterizar dois sistemas

linguísticos, as limitações e os alcances de cada uma estão dados pelo potencial

do meio básico de sua realização: som de um lado e grafia de outro...”

18

Percebemos então que cada uma destas modalidades merece um

estudo mais aprofundado, mas isto não quer dizer que mereçam ser estudadas

isoladamente, mas pelo contrário, uma complementa o estudo da outra.

Enquanto a fala é adquirida pelo indivíduo em atividades cotidianas, se

tornando fator de extrema importância para a sua inserção na sociedade, a

escrita é adquirida em contextos mais formais, mais precisamente a escola.

Talvez por isso esta tenha mais prestígio que a oralidade e tenha seu caráter

ligado à escolarização e á alfabetização, mas isto não passa de um equívoco,

pois ambas desempenham um papel na vida e interação do indivíduo diante da

sociedade.

Ao citar Marcuschi em seu Livro “ Aula de Português: encontro e

interação”, Irandé Antunes reforça a ideia de que existe uma quase omissão da

fala como objeto de exploração no trabalho escolar, isso se dá pelo simples

fato de acreditarem que como já utilizamos a fala em nossas atividades

cotidianos não é necessário trazê-la para a sala de aula.Pelo contrário, ensinar

a partir daquilo que nossos alunos já dominam é muito mais fácil do que partir

de uma marco inicial onde o aluno não domina o assunto a ser trabalhado em

sala de aula.

Antunes ainda destaca que:

“... uma equivocada visão da fala, como lugar privilegiado para a violação das

regras da gramática. De acordo com essa visão, tudo o que é “erro” na língua

acontece na fala e tudo é permitido, pois ela está acima das prescrições

gramaticais; não se distinguem, portanto, as situações sociais mais formais de

interação que vão, inevitavelmente, condicionar outros padrões da oralidade que

não o coloquial...” ( 2003 ; 24,25 )

Enquanto não houver a desmistificação, por parte dos docentes, de que

tanto a oralidade quanto a escrita desempenham papel fundamental na vida do

indivíduo, não será possível realizar um trabalho proveitoso em sala de aula.

19

Desta forma, torna-se interessante ressaltar que se ambas caminham

juntas, isto também deve acontecer na sala de aula, tanto a oralidade como a

escrita devem ser envolvidas nas atividades, pois os alunos dependem das

duas modalidades de utilização da língua para o desenvolvimento de suas

atividades diárias.

3.2 – A prática da leitura: atividade prazerosa cheia de

funcionalidade.

Para Antunes (2003; p. 70): “A atividade da leitura completa a atividade da

produção escrita”.Somente através do processo da leitura é que conseguimos

chegar com louvor ao processo da produção escrita. Mas antes de qualquer

coisa, não devemos buscar a leitura como antecessora de futuras produções.

O aluno deve buscar o texto por interesse, para descobrir o que existe em suas

entrelinhas e não para um processo de busca de dados para as suas

produções, ou pior ainda, busca o texto para identificar questões propostas

anteriormente.

Quando o professor sugere ao aluno uma interpretação de texto baseada

em questões fechadas e com uma interpretação única, além de impedir que o

aluno abra o seu leque de possíveis interpretações, ele estará impossibilitando

o aluno de analisar e aproveitar o texto lido, pois ele irá ao texto com uma

única intenção, encontrar e copiar as questões que o professor solicitou, sendo

assim dificilmente encontrará no texto informações além daquelas que

procurava.

A prática da leitura, esta não pode se resumir somente à identificação de

informações eminentemente óbvias, recolhidas em uma única leitura do texto.

Para além de uma mera decodificação de informações, é preciso que aconteça

um conjunto de inferências por parte dos alunos na interpretação de textos.

20

O texto sempre tem algo a “dizer” para os indivíduos, então é preciso que

eles aprendam a perceber o que o texto tem a lhes dizer e não que seja dito

para o aluno o que está escondido no texto, pois cada um de nós possui a sua

maneira de ver o mundo e querer que todos possuam a mesma visão trata-se

de autoritarismo, e é exatamente o oposto que nossos alunos precisam. Eles

precisam de liberdade para encontrarem aquilo que vai de encontro com o que

ele espera do texto.

Ao realizarmos atividades com o único intuito de retirada de informações do

texto, estamos fazendo com que nossos alunos se tornem, de certa forma,

alienados à ignorância, pois o seu senso crítico não estará sendo trabalhado.

O conceito de que o texto é a base do ensino e aprendizagem de Língua

Portuguesa vem sendo aceito no Brasil há muitos anos. Durante muito tempo,

esta abordagem textual foi aplicada ao ensino de maneiras diferentes.

É fundamental que os estudantes compreendam que textos não são

somente aquelas composições escritas, tradicionais, com as quais se trabalha

na escola – descrição, narração e dissertação – mas, sim, que o texto é

produzido diariamente em todos os momentos em que nos comunicamos,

tanto na forma escrita como na oral. A partir do momento que o professor for

capaz de desmistificar a questão de que o aluno não sabe escrever, este

começará a perceber que ele produz textos diariamente e que o papel da

escola em sua formação é adequar aquilo que ele produz com tanta facilidade.

Mas quando não existe, por parte do professor, o interesse de

selecionar os materiais que serão trazidos para a sala, o trabalho com os

gêneros deixa de se tornar um ótimo meio de aprendizagem e passa a criar

mais problemas do que soluções. Pois com textos complexos, os alunos não

terão a chance de contemplá-los, a aula se tornará cansativa e maçante, pois

os alunos terão dificuldade na sua compreensão. No momento da escolha dos

materiais a serem utilizados em sala é preciso ter o cuidado de escolher textos

21

que vão ao encontro da faixa etária e contexto de nossos alunos. É

interessante levar para a sala de aula texto que nossos alunos vão sentir

interesse em ler e não aqueles que nós gostamos e achamos que eles devem

gostar também.

Bakhtin (1995 ;p. 94)afirma que:

“...O processo de decodificação ( compreensão) não deve , em nenhum caso, ser

confundido com o processo de identificação. Trata-se de dois processos

profundamente distintos. O signo é decodificado, só o sinal é identificado. O sinal é

uma unidade de conteúdo imutável. O sinal não pertence ao domínio da ideologia,

ele faz parte do mundo dos objetos técnicos, dos instrumentos de produção no

sentido amplo do termo...”

Nossa intenção, como professores, não deve estar pautada na

identificação de termos pertencentes ao texto, mas sim em um processo de

compreensão do texto. Compreensão esta que se dará a partir do momento

em que o leitor sentir que a leitura é uma atividade agradável e prazerosa.

A estrutura do ensino de língua escrita depende, antes de qualquer

coisa, da explicação dos objetivos que se pretendem atingir como processo de

ensino de uma língua. É preciso que, em suas aulas, professores estejam

cientes de que não estão ensinando para o aluno quais são as regras e

normas de determinados textos e interpretações únicas, mas, sim que o aluno

tenha liberdade de expressão na realização do desenvolvimento das

atividades, de forma que perceba que o conteúdo que lhe está sendo

ensinado, servirá de base como ferramenta para o alcance de um objetivo

maior, o conhecimento da língua.

O exercício da leitura, em ambientes escolares, não deve ser voltado

somente para a produção escrita, mas sim que o aluno perceba as

características do gênero discursivo em estudo. Não há a necessidade de a

todo momento partir para produções, elas são muitos importantes, mas não

22

apropriadas a todos os momentos, pois se realizadas em momentos

inoportunos, essa dificilmente alcançara os objetivos desejados pelo professor

De acordo com Lopes-Rossi ( 2002, p. 37 )

...O módulo de leitura proposto deve levar o aluno a discutir, comentar e

conhecer as condições de produção e de circulação do gênero discursivo

escolhido... é fundamental que o aluno tenha contato com o portador daquele

gênero... ainda que o professor reproduza o texto para todos, deve procurar levar

o original para a sala de aula. A percepção dos aspectos discursivos do gênero

permite entender melhor também a sua organização textual.

A partir do momento que o aluno conhece as características de

determinado gênero ele é capaz de partir para o processo de produção, o

aluno precisa conhecer bem o gênero para poder reproduzi-lo. Este trabalho

de apresentação pode ser feito de maneira gradual para que o aluno não se

confunda com a diversidade de gêneros, mas com o passar do tempo o

professor poderá se sentir à vontade para trazer vários gêneros para a sala de

aula, com a intenção de produção ou não.

Em alguns momentos a leitura se realiza por si própria, não

necessitando de uma produção. Antunes afirma que:

“... a leitura possibilita a expressão gratuita do prazer estético, do ler pelo

simples gosto de ler. Para admirar. Para deleitar-se com as ideias, com as

imagens criadas, com o jeito bonito de dizer literariamente as coisas. Sem

cobrança, sem a preocupação de qualquer prestação de contas posterior. Apenas

sentindo e, muitas vezes, dizendo: Que bonita!...” ( 2003 ; 71 )

Reclamamos diversas vezes que nossos alunos não têm o hábito de ler,

ou pior ainda, que nossos alunos não sabem ler. Porém não paramos e

analisamos a situação. Será que nossos alunos não gostam de ler, pois sabem

que logo após a leitura virá uma interpretação de texto fechada e sem

23

oportunidades para que eles possam exercem a sua criatividade. Acredito que

se dermos mais chances para as leituras sem cobranças em sala de aula,

estas se tornarão mais prazerosas e o interesse dos alunos possa ser

despertado para leituras futuras.

Todavia, quando o professor desejar que a leitura resulte,

posteriormente em uma futura produção, este tem de ser feita de maneira que

o aluno não reproduza algo semelhante ao texto, mas sim que o professor

permita que a criatividade de seus alunos seja explorada.

Quando no processo de produção, o texto produzido pelo aluno não

precisa resultar em uma produção definitiva, esta pode ser reescrita caso o

professor acredite que ela não de adéqua dentro das propostas solicitadas,

sendo que esta reescrita servirá para que o aluno perceba onde não

correspondeu ao gênero em estudo e não como uma forma de punição.

Muitas vezes pensamos no gênero discursivo como uma maneira prática

de prepara uma aula, entretanto, é preciso muita dedicação por parte do

professor, pois como já foi mencionado, em um primeiro momento teremos a

apresentação do gênero, para então partirmos ou não para a produção. Não é

recomendado que em uma ou duas aulas o professor encerre o assunto sobre

determinados gêneros, é preciso tempo e dedicação para que o aluno possa

contemplar o gênero em estudo, suas características e função social, para

então haver a aplicação do mesmo.

Por fim, se torna interessante fazer uso de algumas implicações

pedagógicas utilizadas por Antunes. Para a autora, para que o processo de

leitura seja viável é preciso a escolha de textos autênticos, textos que possuam

uma visão comunicativa. O texto precisa ser um local de interação entre quem

escreveu e quem está lendo, textos que possam ser lidos e relidos pela turma,

para que eles percebam que a sua atividade de produção teve uma

funcionalidade. A autora defende também a ideia de que desde as séries

24

iniciais é preciso que o professor desperte no aluno um senso crítico. Ele não

precisa aceitar tudo o que o texto nos traz, ele pode e deve expor o seu ponto

de vista a respeito dos textos.

Vale ressaltar que ler um texto é uma atividade muito importante para o

desenvolvimento do aluno, porém esta leitura deve esta pautada nas

informações citadas acima, pois ler um texto com o intuito de retirar deles

informações pré-estabelecidas trata-se de uma atividade sem fundamento,

pois acaba por deixar de lado todas as funções que ele poderia trazer para que

o aluno pudesse analisá-lo.

3.3 – Atividade de produção: um reflexo da leitura

25

Quando pensamos em produção escrita alguns critérios devem ser

levados em conta, o primeiro deles, é ter a certeza e que o aluno já assimilou o

gênero, feito isso é preciso que o professor traga para a sala de aula assuntos

relevantes com a sociedade atual bem como assuntos que o aluno domine ou

tenham sido estudados anteriormente. Faz-se interessante um diálogo com

professores de outras disciplinas para estar interado sobre o que os alunos

estão estudando. Uma produção para ser realizada com êxito precisa de dois

elementos básico, primeiro uma aproximação com o gênero discursivo e

segundo, um assunto que o aluno tenha afinidade ou conhecimento

prévio.Antunes afirma que:

“... a atividade da escrita é, então, uma atividade interativa de expressão, (

ex – “para fora” ), de manifestação verbal das ideias, informações, intenções,

crenças ou dos sentimentos que queremos partilhar com alguém, para, de algum

modo, interagir com ele. Ter o que dizer é, portanto, uma condição prévia para o

êxito da atividade de escrever. Não há conhecimento linguístico que supra a

deficiência do “ não ter o que dizer”...” ( 2003 ; 45 )

Antes de solicitar qualquer tipo de produção para nossos alunos

precisamos ter a certeza de que fornecemos subsídios para que ele possa

reproduzir aquilo que lhe foi solicitado. Ensinar um determinado gênero e pedir

que um aluno o reproduza abordando um tema que ele desconhece é o

mesmo que nada. Pois o aluno pode até reproduzir o gênero, entretanto, a

proposta não será alcançada. De nada adianta cobrar do aluno aquilo que não

lhe foi propiciado, para que nossos alunos possam escrever texto sobre

conteúdos que fujam de seu cotidiano, é preciso que estes conteúdos lhe

sejam apresentados e estudados em sala de aula.

Escrever sobre aquilo que não conhecemos é uma tarefa árdua e

penosa. Nossos alunos escrevem, muitas vezes, pelo receio de se não

escrever ficará sem nota, porém quando ele alcançar os critérios exigidos, a

26

produção se tornará uma tarefa prazerosa. Um último detalhe se torna muito

interessante no momento da produção textual, a funcionalidade do texto escrito

por nossos alunos, se a única função do texto for a correção do professor e a

obtenção de um conceito, este certamente não será feito com tanta

empolgação, todavia, se o texto for exposto ou trocado entre os alunos, este

será produzido com mais empenho e dedicação, pois os alunos saberão que,

além do professor, outros colegas terão acesso ao que eles se propuseram a

escrever.

Torna-se muito interessante uma análise, por parte do professor das

dúvidas mais frequentes por parte dos alunos, no momento de uma primeira

correção o professor pode detectar as principais dificuldades dos alunos. Estas

dificuldades podem estar no âmbito da produção textual ou de gramática, por

exemplo. Não é por que o aluno está fazendo uma produção que o professor

não pode intervir posteriormente com atividades que visem solucionar as

dúvidas mais recorrentes. Acredito que é uma forma de o professor perceber

onde estão as dificuldades de sues alunos bem como solucioná-las.

Quando no momento da produção escrita, alguns critérios precisam ser

estabelecidos e repassados para os alunos para que a aula de produção

textual se torne proveitosa, critérios estes que foram estabelecidos por Antunes

para facilitar a compreensão das distintas etapas da produção escrita de um

texto, esse esquema indica que o primeiro passo durante a produção é

planejar, nesta o indivíduo pode ampliar como delimitar seus conteúdos, eleger

objetivos e pensar em quem serão os seus futuros leitores. Numa segunda

etapa, é preciso partir para o processo da escrita, ou seja, colocar no papel

aquilo que já planejaram e tomar todo o cuidado para que não fujam daquilo

que planejaram em um primeiro momento. Após o texto escrito, partiremos

para a terceira etapa que consiste na re-escrita dos textos, ou seja, rever se o

texto está de acordo com o que foi solicitado, a percepção do gênero, se este

27

está de acordo com o que foi trabalhado em sala, avaliar clareza, objetividade

e questões gramaticais.

Esse esquema nos mostra que tanto a atividade da leitura quanto a de

produção escrita não podem se resumir em uma aula de 50 minutos, é preciso

tempo e dedicação, é neste momento que o aluno vai colocar em prática tudo

o que aprendeu durante as aulas anteriores. Desta forma, é notável que ele

precise de tempo pra planejar, escrever e estrutura o seu texto de acordo com

o que foi solicitado.

O acesso a uma diversidade de gêneros proporciona aos alunos um

conhecimento muito vasto, pois como gênero tem a sua funcionalidade, os

alunos poderão perceber e analisar quais são elas, os diversos suportes e

estruturas dos gêneros discursivos.

Por fim, vale ressaltar que é muito interessante uma demonstração de

diversos gêneros para os alunos, porém, quando se trata do processo de

produção, o professor deve prezar por uma quantidade menor, pois esse

processo necessita de um longo período para ser desenvolvido com precisão.

4 - O gênero textual na sala de aula.

Falar em gêneros textuais é, acima de tudo, falar do sujeito que interagem

com o seu texto e com as situações comunicacionais que envolvem essa interação.

Em outras palavras, o gênero pode ser definido por seus aspectos

sociocomunicativos e funcionais, segundo os quais surgirá a pluralidade textual e

expressa nos diferentes gêneros, que surge da necessidade de o sujeito se

28

expressar atendendo a objetivos específicos, visando a um público determinado e

limitado por uma singular situação comunicativa.

Promover uma aula baseada no conceito de gênero textual permite o

desenvolvimento de nossos alunos, mas exige alguns importantes

deslocamentos nos métodos e conteúdos a serem estudados. Parte-se do

princípio de que a língua portuguesa deixa de ser limitada por uma visão

gramatical teórica e passa a ser considerada uma atividade humana, um meio

de interagir enquanto indivíduo na sociedade. Isso nos desafia a levar essa

nova maneira de ensinar a língua em sala de aula, buscando aproximá-la de

seu uso cotidiano. Mas nesse momento, surge a pergunta: como alcançar

esses objetivos?

Antes de qualquer coisa, o professor precisa ter a certeza de que essa

nova metodologia de ensino é viável, e não somente uma estratégia utilizada

para ter menos trabalho em sala, pois o trabalho com os gêneros exige muita

atenção e dedicação, tanto de educadores como de seus alunos. Todas as

atividades humanas estão relacionadas com a utilização de linguagens e estas

não são apenas feitas de palavras, mas de cores, formas, gestos etc. Para se

tornarem “linguagem”, tais elementos precisam obedecer a certas regras que

lhes permitam entrar no jogo da comunicação. Uma delas é que toda

manifestação da linguagem se dá por meio de textos, os quais surgem de

acordo com as diferentes atividades humanas e podem ser agrupados em

gêneros textuais.

Na tentativa de colocar o estudo do gênero como uma ferramenta para a

realização do trabalho com o gênero em sala de aula, Dolz e Schneuwly

propõem as seguintes prioridades no preparo comunicativo dos alunos:

“...Prepará-los para dominar a língua em situações variadas,fornecendo-lhes

instrumentos eficazes;

29

Desenvolver nos alunos uma relação com o comportamento discursivo consciente

e voluntário, favorecendo estratégias de auto-regulação;

Ajudá-los a construir uma representação das atividades de escrita e de fala em

situações complexas, como produto de um trabalho e de uma lenta elaboração...”

(2004, p. 49).

O primeiro passo precisa ser dado para que nossos alunos tenham seu

interesse despertado para o trabalho com o gênero textual, pois se não houver,

por parte do docente, um interesse em despertar nos alunos o interesse pela

leitura, oralidade e escrita, o trabalho desenvolvido com as práticas dos

gêneros textuais não se tornará viável.

Uma vez que os gêneros são produtos culturais construídos por

determinada comunidade histórico-social, mudam de época para época e

passam por constantes alterações, não podemos nos preocupar apenas em

ensinar para os nossos alunos quais são as características estruturais dos

gêneros, pois somente isso não os ajudará a ler e a escrever bem.

O trabalho com gêneros textuais na escola pressupõe um modo próprio

de se relacionar com a linguagem e com o currículo da língua portuguesa. Se a

comunicação se realiza por intermédio dos textos, deve-se possibilitar aos

estudantes a oportunidade de produzir e compreender textos de maneira

adequada a cada situação de interação comunicativa. A melhor alternativa

para trabalhar o ensino de gêneros textuais é envolver os alunos em situações

concretas de uso da língua, de modo que consigam, de forma criativa e

consciente, escolher meios adequados aos fins que se deseja alcançar. É

necessário ter a consciência de que a escola é um autêntico lugar de

comunicação e as situações escolares são ocasiões de produção e recepção

de textos.

Ensinar um gênero pressupõe um convívio anterior com o mesmo, ou

seja, para que o aluno seja capaz de produzir determinados gêneros, é

30

imprescindível que este tenha um contato prévio e que esse contato não seja

superficial e baseado somente na identificação de informações óbvias. Toda

vez que o aluno for até o texto, ele deve buscar e encontrar informações além

do que está escrito e a partir do processo de leitura deverá ser capaz de

realizar inferências e estas deverão, aos poucos, fazer parte das competências

adquiridas pelos alunos.

Uma vez solicitado o texto para um aluno, este deve ter ciência de

algumas questões que facilitarão o seu processo de escrita. É importante

pensar em para quem se escreve, por que se faz, qual a real necessidade de

fazê-lo, o que o leitor efetivamente conhece sobre o tema, o que pensa dele,

como se fazer compreender, como usar a língua na produção desse texto,

como o texto solicita uma ou outra estratégia de leitura. Se for solicitado a um

aluno uma produção de texto sem os critérios estabelecidos acima, esta se

torna desnecessária e, com isso, o aluno acaba por perder a motivação pelo

ato de escrever , pois este não surtirá nenhum sentido, será somente mais um

trabalho de sala como outro qualquer. Mas para que não aconteça esta

desmotivação por parte do aluno, uma questão se faz muito interessante, o

primeiro passo para uma produção de texto, onde o aluno demonstre interesse

acontece quando o professor permite a ele contemplar um exemplo de um

gênero que ele deverá produzir posteriormente.

A partir do momento que o aluno tem conhecimento do gênero a ser

produzido, este não se torna tão complicado, o segundo passo é demonstrar

para o aluno que o texto que ele produzirá terá uma funcionalidade, e,

principalmente, a proposta deve ser extremamente clara e objetiva.

Muito se tem discutido a respeito da inserção do trabalho com os

gêneros textuais nos currículos escolares e a aceitação dos professores

também é bastante relevante. Os Parâmetros Curriculares Nacionais ( PCNs) ,

desde a década de 1990 propõe o ensino de língua portuguesa fundamentada

31

nos gêneros textuais, contudo, existem alguns contratempos que, muitas

vezes, dificultam o trabalho. O mais comum, é a falta de fundamentação

teórica por parte dos mesmos. Os professores se mostram muito interessados

em novas propostas, porém sofrem com a falta de fundamentação teórica e

exemplos práticos que surtiram resultados positivos.

De acordo com Lopes-Rossi (2003; 45) :

“... O contato profissional com professores de diversas cidades... levam-

me a crer que, fora dos meios acadêmicos, no entanto, o conhecimento sobre o

trabalho pedagógico com gêneros discursivos ainda é bem restrito. Os professores

manifestam-se muito interessados no assunto, porém carentes de fundamentação

teórica...”

Ainda de acordo com a autora, o trabalho com o gênero discursivo

favorece o desenvolvimento da autonomia do aluno quando no processo de

leitura e produção textual. O aluno só será capaz de produzir determinados

gêneros se tiver conhecimento do mesmo. È impossível solicitar que um aluno

produza uma tipologia injuntiva, se ele não sabe que se trata de um texto que

contenha instruções, como uma bula de remédio, por exemplo. Para ela:

“...Cabe ao professor, portanto, criar condições para que os alunos

possam apropriar-se de características discursivas e linguísticas de gêneros

diversos, em situações de comunicação real. Isso pode ser feito com muita

eficiência por meio de projetos pedagógicos que visem ao conhecimento, à leitura,

à discussão sobre o uso e as funções dos gêneros escolhidos e , quando

pertinente, à sua produção escrita e circulação social...(2003; 49 – 50 )”

Somente quando o aluno se apropriar das características do gênero em

estudo, é que ele será capaz de reproduzi-lo. É impossível solicitar que um

aluno produza um texto de qualidade sem ao menos ter um contato prévio com

o mesmo. Trata-se de solicitar um trabalho já sabendo que os resultados não

serão proveitosos.

32

É preciso , por parte do professor, a consciência de que nem todos os

gêneros são favoráveis à escrita, em determinados momentos, somente o fato

de o aluno ter o contato co determinados gêneros já será benéfico para o

aluno.De acordo com Lopes-Rossi ( 2003; 55 ):

“...Nem todos os gêneros se prestam bem à produção escrita na escola

porque suas situações de produção e de circulação social dificilmente seriam

reproduzidas em sala de aula ou porque o professor julga conveniente....”

Em determinados momentos, em sala de aula, devemos priorizar a

releitura de textos que não se adaptam para o contexto de sala de aula. Todo

gênero textual é formado a partir de sua função social e de seus propósitos

comunicativos, portanto, muitas vezes, se faz desnecessário tantas produções,

somente o fato de o alunos ter o contato com o gênero, compreender a sua

funcionalidade já compõe um exercício interessante. Diferentemente, se o

aluno tivesse que produzir alguns gêneros que não de adequam à sala de aula,

aí teríamos uma atividade cansativa e sem funcionalidade. A partir do processo

de leitura, o aluno facilmente se apropriará da funcionalidade do gênero, sem a

necessidade da produção.

Como professores, somos incumbidos de ensinar nossos alunos a ler e

a escrever, mas o ambiente escolar não deveria se resumir somente a isto.

Pois a vida do indivíduo não se baseará somente em práticas de leitura e

escrita. Como já foi dito anteriormente, somos uma sociedade voltada para a

oralidade, então como podemos nos preocupar somente com as práticas da

leitura e da escrita.

Por nos comunicarmos através do gêneros, temos que ressaltar que

estes não podem somente ser objeto de estudo voltados para a leitura e a

escrita. Em nossas aulas, se torna muito interessante um trabalho voltado para

os gêneros textuais, gêneros esses que favoreçam os três aspectos

mencionados neste capítulo, a leitura, a escrita e a oralidade.

33

Para Schneuwly e Dolz (2004; 79 ):

“...O fato de o gênero continuar a ser uma forma particular de

comunicação, transforma-se em forma de expressão do pensamento, da

experiência ou da percepção. O fato de o gênero continuar a ser uma forma

particular de comunicação entre alunos e professores não é, absolutamente,

tematizado; os gêneros tratados, são, então, considerados desprovidos de

qualquer relação com uma situação de comunicação autêntica. Nessa tradição, os

gêneros escolares são os pontos de referência centrais para a construção, por

meio dos planos de estudo e dos manuais , da progressão escolar, particularmente

no âmbito da redação/composição...”

Para alguns, o gênero textual ainda não se fundamenta por si próprio,

ainda existe um pensamento de que os gêneros não estão relacionados à

situações reais de comunicação e, principalmente à relações sociais que os

indivíduos estão inseridos. É preciso desmistificar a ideia de que os gêneros

são formas fixas e são ensinados assim há muito tempo. A concepção de que

os gêneros textuais não são formas estanques e podem sofrer variações e até

deixar de existir com o passar dos tempos precisa ser assimilada por muitos

professores. Quando pensarmos em uma forma fixa de trabalhar produção

textual em sala de aula, estaremos voltando ao passado, pois precisamos ter

em mente a ideia de que os gêneros mudam de acordo com a sua

funcionalidade, se não são mais viáveis para a sociedade e a sua função se

tornou desnecessária, ele também o deixará de existir.

Para o trabalho em sala de aula interessante uma perspectiva de que os

gêneros fundamentam a linguagem do indivíduo, para tanto devem ser vistos

como tal. Devem ser trabalhados respeitando a sua função social, bem como

situações autênticas de uso.

Outra questão se torna interessante de ser estudada, não devemos

ensinar os gêneros textuais em sala de aula, pois esses já são inatos dos

34

falantes, o que devemos e adequá-los a diversos ambientes e contextos de

uso, bem como a sua função. Há um questionamento muito grande de que os

alunos não conseguem assimilar os gêneros textuais, porém surge uma dúvida

constante, será que os gêneros estão sendo aproximados da realidade do

aluno? Ele só conseguirá reproduzir um gênero que já tenha vivenciado, caso

contrário, o aluno até produzirá alguma coisa, mas totalmente diferente daquilo

que foi proposto.

Nossos alunos já dominam a fala, sendo assim, também já dominam

uma infinidade de gêneros, cabe ao professor ministrar aulas que venham a

ensinar para o aluno quando e onde ele deverá fazer uso desse gênero e

quando esses se adequarem à escrita, cabe ao mesmo ensinar para o aluno

que em determinadas situações de uso podemos utilizar uma variação

linguística e que isso é permitido, porém quando falamos em situações de

escrita o aluno deve saber que para essa existe uma norma e deve ser

respeitada.

Um exemplo claro disto é quando ensinamos para os alunos gêneros

orais e escritos ao mesmo tempo. Se em um momento ele está produzindo um

teatro ele tem a liberdade de utilizar algumas variações linguísticas, entretanto

se o próximo gênero em estudo for um artigo de opinião este deve respeitar

normas gramaticais pré-estabelecidas, ou seja, o aluno deve estar ciente de

que para toda variação linguística que ele fazer uso existe uma norma que em

determinados momentos deve ser respeitada.

O primeiro passo a ser dado quando se leva o texto para a sala de aula,

é o professor saber diferenciar gênero de tipologia textual. Ainda existe muita

dúvida por conta disso, pois a questão gênero ainda é desconhecida por

muitos professores, isso se dá pelo fato de que muitos ainda estão arraizados

à questão dos tipos de texto ( narração, dissertação, dentre outros ) e com isso

acreditam que é somente isto que deve ser ensinado, deixando de lado uma

35

infinidade de gêneros que poderiam estar sendo abordados. Com isso as aulas

de produção são baseadas em algumas tipologias não estão de acordo com o

contexto do que deveria ser ensinado. Porém isto acontece porque muitos

professores se recusam a deixar de lado velhas metodologias e se negam a

perceber que a partir dos gêneros textuais temos imensas possibilidades de

fazer com que nossos alunos desenvolvam grande parte de suas habilidades.

Para alguns é muito mais fácil continuar trabalhando da mesma forma a abrir

espaço para novos métodos.

Para Rojo e Cordeiro ( 2004 ; 7 ) :

“...Não é de hoje que circula e é aceita , no Brasil, a ideia de que o texto –

seja como material concreto sobre o qual se exerce o conjunto dos domínios de

aprendizagem, sobretudo leitura e produção de textos, seja como objeto de ensino

propriamente dito – é a base do ensino-aprendizagem da língua portuguesa... já

desde a década de 1980, esse princípio foi sendo afirmado por diversas propostas

curriculares e programas, em diferentes estados do Brasil...”

Fica evidente que o trabalho com o gênero pode ser novo, porém

aqueles que ainda não o aderiram podem ser considerados ultrapassados,

pois busca-se uma nova maneira de ensino da Língua Portuguesa, ensino este

que é voltado para o cotidiano e as atividades sócio-interativas desenvolvidas

pelos alunos.

Ainda de acordo com Rojo e Cordeiro ( 2004 ; 8 ) :

“... as teorias textuais ofereciam conceitos e instrumentos que

generalizavam as propriedades de grandes conjuntos de textos ( tipos ), abstraindo

suas especificidades e propriedades intrínsecas em favor de uma classificação

geral (tipologias) que acabava por preconizar formas globais nem sempre

compartilhadas pelos textos classificados...”

36

Cada gênero textual possui a particularidade e essas precisam ser

respeitadas e estudadas a fundo, entretanto quando generalizamos e o nosso

foco está voltado para a questão da tipologia textual acabamos deixando de

lada uma infinidade de questões que poderiam ser trabalhadas se o foco

estivesse voltado para a questão do gênero textual. o gênero passou a ser

aceito como um objeto de estudo, pois ele está presente nos momentos de

interação do aluno. Nós não nos comunicamos através de uma narração ou de

uma dissertação, mas sim de uma infinidade de gêneros que estão à nossa

volta e merecem ser analisados com muita dedicação.

Nossa função como professores de língua portuguesa está pautada em

desenvolver em nossos alunos a competência comunicativa daqueles que se

utilizam da língua, ou seja, a capacidade de o indivíduo adequar o seu discurso

nas diversas situações em que ele esteja inserido. Para Travaglia, em seu

livro, Gramática e interação, propiciar o contato do aluno com a maior

variedade possível de situações de interação comunicativa por meio de um

trabalho de análise e produção de enunciados ligados aos vários tipos de

situações de enunciação é o melhor método para se iniciar o trabalho com o

desenvolvimento da competência textual.

37

4.1 - Contemplação do gênero textual: uma atividade indispensável.

Com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Língua

Portuguesa, a partir da década de 80 começou a surgir estudos e trabalhos

relacionados ao processo de ensino-aprendizado da leitura e da escrita. O

resultado desses estudos, modificou a compreensão do que venha a ser o

aprender a ler e a escrever e, a partir daí, passou-se a repensar as práticas

que deveriam ser utilizadas em sala de aula, bem como, que tipo de material

deveria ser abordado por professores para que o ensino da língua materna

deixasse de ser focado em análise gramatical.

Esse documento traz o ideal de que não é possível formar bons leitores

oferecendo materiais de leitura empobrecidos, justamente no momento em que

as crianças são iniciadas no mundo da escrita, pois se o primeiro encontro que

o leitor tiver com o material de leitura não for agradável, este não terá o seu

interesse despertado para próximas leituras.

De acordo com João Wanderley Geraldi, em seu livro “ O texto na sala

de aula (2006 : 61 )”, para que o aluno tenha o seu interesse despertado é

preciso que lhe seja ofertado uma infinidade de leitura e não somente aquilo

que achamos que ele vai gostar ou não, de acordo com o autor, em um

primeiro momento de leitura, o que importa é a quantidade de textos que o

aluno terá contato, pois é a partir de tais leituras que se dá início ao processo

de formação de alunos-leitores. Não acredito que a partir de uma única

38

explicação o aluno se torne capaz de partir para uma produção, como já foi

mencionado anteriormente, é preciso um contato com o texto, inclusive com o

suporte original do mesmo, uma análise profunda, para a partir daí sugerir uma

produção em sala de aula. Ele afirma:

“...Em princípio nenhuma cobrança deveria ser feita, dado que o que se

busca é desenvolver o gosto pela leitura e não a capacidade de análise literária. A

avaliação, portanto, deverá se ater apenas ao aspecto quantitativo ( o aspecto

qualitativo das leituras realizadas pelos alunos dependerá, logicamente, da seleção

de obras feita pelo professor) ... não se deve fazer é tornar o ato de ler um martírio

par o aluno – que ao final da leitura terá que preencher fichas, roteiros ou coisas

parecidas. Nada disso me parece necessário...”

Então, partindo dessa ideia, destaca-se o fato de que, no ensino da

Língua Portuguesa, o professor deve, durante o período de preparação de

suas aulas, selecionar e oferecer aos alunos uma diversidade de gêneros

textuais, com temáticas que estejam relacionadas com a realidade dos alunos,

e que, além disso, estejam de acordo com a escolaridade e a faixa etária dos

mesmos, pois, muitas vezes, o professor leva para a sala de aula, textos que

fogem à compreensão dos alunos, dificultando, assim, o trabalho com o texto,

impedido-o de alcançar o sentido implícito no texto. Mas se essa escolha for

feita com cautela, pensando na realidade de sala de aula, será possível

desenvolver momentos significativos e prazerosos com a leitura e a escrita

desses materiais.

Muito se tem discutido a respeito de como trabalhar textos nas escolas,

de que modo abordá-los e o porquê de os alunos demonstrarem tanta

dificuldade no momento da escrita. Muitos acreditam que levar textos para a

sala de aula é um meio fácil de prepará-la, mas isso não é verdade, o trabalho

com o texto vai muito além do que se imagina, primeiro porque encontramos

39

nas salas de aulas uma forte resistência, por parte dos alunos, em relação à

leitura e à produção de texto. Para muitos estudantes, a ação de expressar

suas ideias oralmente é considerada algo totalmente natural, no entanto, o ato

de reproduzi-las em forma de texto representa um trabalho árduo e penoso,

pois inevitavelmente o aluno acredita que não sabe escrever, que não

consegue colocar no papel aquilo que tem em mente, que ele escreve tudo

errado. Num primeiro momento se torna interessante pedir que o aluno oralise

aquilo que ele tem em mente, que ele divida com professores e colegas as

suas ideias, desta forma, ele perceberá que outros colegas têm as mesmas

dúvidas e dificuldades e que ele não é o único a ter dúvidas no momento da

produção. Ao fazer isto, o professor pode auxiliá-lo para que El possa iniciar o

seu texto.

Em um segundo momento se torna interessante propiciar ao aluno

uma leitura semelhante à que lhe será proposta, pois, a partir desta, ele

buscará subsídios para a sua futura produção. É papel do professor

apresentar e trabalhar com os alunos os tipos e os gêneros textuais que fazem

parte do cotidiano dos alunos. Não podemos solicitar que um aluno escreva

um texto sem que ele sequer tenha lido um texto parecido, é preciso o

conhecimento a respeito para então partir para a prática.

40

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa monográfica permite identificar a importância de o

professor ter uma percepção especial com relação ao trabalho com os gêneros

textuais em sala de aula. Buscou-se nesse trabalho demonstrar a importância

da oralidade e da escrita caminharem juntas em um processo de ensino-

aprendizagem, afirmando que uma serve como complemento da outra. Sendo

que uma das maiores dificuldades encontradas em sala de aula trata-se de

deixar de lado as variantes encontradas na fala e dando à escrita um lugar

privilegiado. Ao trabalharmos os dois sistemas simultaneamente,

automaticamente o aluno será capaz de compreender as variantes que ele

deverá fazer uso em determinados contextos

Após a realização deste trabalho, podemos concluir que a leitura

desempenha papel fundamental na vida escolar de nossos alunos e que eles

só começarão a se sentir a vontade para produzir seus textos quando forem

capazes de ler e compreender diversos textos. Assim como ficou claro que a

atividade de interpretação de texto não deve ser baseada única e

exclusivamente na identificação de respostas automáticas, ou seja, retirar do

texto aquilo que lhe parece evidente. Toda atividade de leitura e interpretação

de texto deve ter o intuito de encontrar no texto aquilo que está implícito, pois o

explícito é facilmente identificado.

Vale ressaltar também que no momento das contemplações dos

gêneros, não se faz necessário uma reprodução automática do mesmo. O ato

de leitura vale por si próprio, o professor não precisa solicitar aos alunos uma

produção assim que estes terminarem a leitura, somente para intensificarem a

ideia de que o gênero foi trabalhado em sala. O fato de o aluno ler e

compreender o texto e conseguir oralizá-lo já é um grande ganho para o

processo de uma outra produção. O professor pode e deve buscar métodos

41

que visem explorar a oralidade do aluno e nela perceber se ele contemplou o

texto e encontrou nele aquilo que não estava implícito.

Por fim, torno a afirmar, com base nas pesquisas realizadas, que para

que o aluno se sinta capaz de produzir o gênero escrito, é preciso que ele

tenha conhecimento pleno do gênero e da temática a ser abordada. É muito

difícil para o aluno romper a barreira imposta de que eles não sabem escrever

e quando isso acontece, devemos incentivá-lo a produzir sempre mais,

lembrando sempre que a diversidade de gêneros é a melhor forma de não

deixar a aula cansativa e maçante, pois a cada sequência didática preparada o

aluno conhecerá uma nova tipologia e gênero.

Vale lembrar que todas essas modalidades de ensino, oralidade, leitura

e escrita desempenham um papel fundamental no processo de ensino-

aprendizagem do aluno e cabe ao professor definir em que momento elas

serão mais adequadas.

Finalizo com a ideia de que não pretendo dizer que esta ou aquela é a

melhor forma de se trabalhar o texto em sala, porém, é preciso um processo

de escolha de materiais para a sala de aula para que ao aluno não se sinta

intimidado com um gênero ou tipologia, pois acreditará que não será capaz de

contemplá-la.

REFERÊNCIAS

Revista Língua Portuguesa – Conhecimento prático. Editora Escala

Educacional - Nº 26

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de

retextualização - 6ª edição – São Paulo: Cortez, 2005.

42

GERALDI, João Wanderley. O texto na sala de aula – organizador – 4ª edição

– São Paulo: Ática, 2006.

ANTUNES, Irandé. Aula de Português: encontro e interação – São Paulo:

Parábola Editorial, 2003.

DIONÍSIO, Ângela Paiva, MACHADO, Anna Rachel, BEZERRA, Maria

Auxiliadora – organizadoras. Gêneros textuais e ensino. – 4ª edição – Rio de

Janeiro: Lucerna, 2005.

SCHNEUWLY, Bernard, DOLZ, Joaquim. Gêneros orais e escritos na escola –

Mercado de Letras , 2004.

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino

de gramática no 1º e 2º graus – São Paulo : Cortez,1996.

BAKHTIN,Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 7ª edição. São Paulo:

Hucitec, 1995.